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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU Livre arbítrio ou descarte: reflexões acerca da eutanásia Ester de Lima Seixlack Profa. Orientadora: Dra. Maria Poppe): CASCAVEL - PR 2011 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Livre arbítrio ou descarte: reflexões acerca da eutanásia

Ester de Lima Seixlack

Profa. Orientadora: Dra. Maria Poppe):

CASCAVEL - PR 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Livre arbítrio ou descarte: reflexões acerca da eutanásia

Ester de Lima Seixlack

Monografia apresentada ao Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial

para a obtenção do título de especialista em Saúde da Família

Orientador: Profa. Dra. Maria Poppe

CASCAVEL - PR 2011

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus por ter me dado força para essa nova empreitada

Em segundo, às minhas filhas Maria Anália e Ana Paula pelo incentivo a seguir em frente quando tantas vezes pensei em desistir.

Por fim, gostaria de agradecer a toda a equipe de IAVM, em especial aos

tutores e mentores, por todo o aprendizado e oportunidade de crescimento.

EPÍGRAFE

"Morrer é dormir. Nada mais. E por um sonho,

diremos, as aflições se acabarão e as dores sem

número, patrimônio da nossa débil natureza. Isto é o

fim que deveríamos solicitar com ânsia. Morrer é

dormir... e talvez sonhar”. William Shakespeare.

RESUMO

O presente trabalho tem como foco a eutanásia, um assunto que sempre levanta

muita polêmica devido ao seu caráter de transpor a bioética e a moral de cada

indivíduo, não havendo consenso desta prática nem mesmo entre os médicos. É de

extrema importância o conhecimento em torno da eutanásia para pessoas com

doenças terminais incuráveis, na qual a manutenção da vida se faz independente da

inexistência de chances de cura, prolongando o sofrimento do paciente, bem como o

da família que assiste a dor do familiar de forma desesperançosa com o declínio

gradativo do estado de saúde, refletindo no estado psicológico, físico e social desses

parentes. A pesquisa teve como objetivo contribuir para a construção de

conhecimentos e trazer reflexão acerca do assunto a fim de esclarecer as vantagens

e desvantagens da técnica da morte assistida e as repercussões que a eutanásia tem

tido no mundo, bem como explorar o assunto acerca da sua origem, conceitos e

aspectos éticos, resgatando o histórico da eutanásia e como se apresenta a situação

atualmente no Brasil e no mundo. Encerra-se destacando a importância da cautela ao

se optar por essa técnica, principalmente analisando a irreversibilidade da doença,

para que a eutanásia não passe de um exercício de dignidade a um mero descarte de

seres humanos.

Palavras- chaves: eutanásia, morte, sofrimento, doença terminal, dignidade, suicídio

assistido.

METODOLOGIA

Esse trabalho teve como enfoque a pesquisa bibliográfica de obras que

abordam acerca da eutanásia e de como essa técnica pode repercutir na vida das

pessoas, suas vantagens e desvantagens.

Também foram buscados artigos científicos sobre o tema nos

principais bancos de dados e nas revistas científicas, principalmente sobre saúde

coletiva. Dentre os principais autores pesquisados destacam-se Bizzato e Licurzi que

serviram de base ao histórico da eutanásia. Já os autores D’Urso, Borges e o

renomado Goldim foram mais utilizados na conceituação e classificação dos tipos de

eutanásia e nas questões éticas. Outros que também tiveram relevância para a

construção do desenvolvimento desse estudo foram Gomes, Menezes, De Sá,

Miranda e Nogueira, bem como a lei em geral e sites jurídicos.

Além dessas, pesquisou-se outras bibliografias, tais como apostilas,

livros técnicos, resumos, teses, dissertações e documentos resultantes de

conferências e congressos com o intuito de proporcionar maior fundamentação teórica

a um assunto tão atual e importante.

SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 9

CAPÍTULO I: CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................... 10

1.1 Conceito e Classificação ............................................................................ 10

1.1.2 Distanásia ................................................................................................. 11

1.1.3 Ortotanásia ............................................................................................... 12

1.1.4 Mistanásia ................................................................................................ 13

1.2 Histórico da Eutanásia................................................................................ 13

1.3 Espécies de Eutanásia .............................................................................. 18

1.3.1 Eutanásia Espontânea ou Libertadora ................................................. 18

1.3.2 Eutanásia Eliminadora ou Eugênica ...................................................... 19

1.3.3 Eutanásia Econômica .............................................................................. 19

1.3.4 Quanto ao consentimento do paciente: ................................................ 20

1.3.5 O suicídio assistido: ................................................................................. 20

CAPITULO II: Eutanásia vista sob vários pontos de vista ............................ 21

2.1 Sob o Aspecto Médico................................................................................ 21

2.1.1 A decisão médica ................................................................................... 23

2.1.2 A decisão da família ............................................................................... 23

2.2 Os prós e os contras................................................................................... 24

2.3 Sob o Aspecto Jurídico............................................................................... 25

2.4 Sob o Aspecto Religioso ............................................................................ 27

2.4.1 Cristianismo .............................................................................................. 27

2.4.2 Adventista do Sétimo Dia ........................................................................ 28

2.4.3. Mórmons (Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias) ....... 28

2.4.4 Igrejas Ortodoxas Orientais .................................................................... 29

2.4.5.Igreja Episcopal ....................................................................................... 29

2.4.6 Igrejas Batistas......................................................................................... 30

2.4.7 Presbiteriana ............................................................................................ 30

2.4.8Testemunha de Jeová .............................................................................. 30

2.4.9 Igreja Metodista Unida ............................................................................ 31

2.4.10. Igreja Luterana ...................................................................................... 31

2.4.11.Budismo .................................................................................................. 32

2.4.12.Islamismo ............................................................................................... 32

2.5 Sob o ponto de vista ético e bioético ....................................................... 33

CAPITULO III: Eutanásia no Brasil e no Mundo ............................................ 35

BÉLGICA ............................................................................................................ 36

GRÃ-BRETANHA .............................................................................................. 37

DINAMARCA ..................................................................................................... 37

FRANÇA ............................................................................................................. 38

ALEMANHA ....................................................................................................... 38

ITÁLIA ................................................................................................................. 38

HOLANDA .......................................................................................................... 39

NORUEGA ......................................................................................................... 40

ESPANHA .......................................................................................................... 40

SUÉCIA .............................................................................................................. 41

SUÍÇA ................................................................................................................. 41

CONCLUSÃO .................................................................................................... 42

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................. 44

INTRODUÇÃO

O presente trabalho possui como foco a Eutanásia, um assunto que

sempre levanta muita polêmica devido ao seu caráter de transpor a bioética, assim

como a moral de cada individuo, não havendo consenso dessa prática, nem

mesmo entre os médicos.

É de extrema importância o conhecimento em torno da eutanásia para

pessoas com doenças terminais incuráveis, na qual a manutenção da vida se faz

independente da inexistência de chances de cura, prolongando o sofrimento do

paciente, bem como o da família que assiste a dor do familiar de forma

desesperançosa com o declínio gradativo do estado de saúde, refletindo no estado

psicológico, físico e social desses parentes.

Com esse estudo pretende-se contribuir para a construção de

conhecimentos acerca do assunto para que se esclareçam as vantagens e

desvantagens da técnica da morte assistida e quais as repercussões que a

eutanásia tem tido no mundo, bem como explorar o assunto acerca da sua origem,

conceitos e aspectos éticos, resgatando o histórico da eutanásia e como se

apresenta a situação atualmente no Brasil e no mundo e também discorrendo

sobre as conceituações da eutanásia, suas técnicas, os cuidados e aspectos

observados no processo decisório para adesão à prática, bem como o dilema do

direito ao livre arbítrio até o final da vida e suas questões éticas assim como suas

vantagens e desvantagens para o indivíduo e a sua família, esclarecendo alguns

pontos relevantes sobre o que diz a lei quando o assunto é eutanásia, bem como

colocar a posição de alguns doutrinadores (POR: Ester de Lima Seixlack)

CAPÍTULO I: CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O capítulo inicial desse estudo inicia conceituando e clasificando a

eutanásia nas suas diversas categorías.

Em seguida, é realizado um resgaste histórico sobre as origens da

eutanásia no Brasil e no mundo no qual se observa que, segundo Almeida (2000) a

história da eutanásia é tão antiga quanto a própria história da humanidade,

sendo observada desde a Antigüidade e na Idade Média, sendo realizada até

mesmo por membros do clero (ALMEIDA, 2000).

Por fim, o capítulo se encerra discorrendo sobre as diversas espécies de

eutanásia.

1.1 Conceito e Classificação

1.1.1 Eutanásia

A palavra eutanásia traz sua construção semântica dividida em "Eu" (que

significa "boa" ou "bem") e "thanatos" ou "thanasia" (que significa morte). O vocábulo

eutanásia deriva do grego "eu" adicionado a "thanatos" (duas palavras gregas na sua

etimologia) que tem por sentido literal. Define-se como sendo uma teoria segundo a

qual será lícito apressar a morte dos doentes incuráveis, para lhes evitar o sofrimento

da agonia. Por eutanásia entende-se quando alguém causa deliberadamente a morte

de outrem que está mais fraco, debilitado ou em sofrimento (MARCÃO, 2002).

O termo foi criado em 1623 pelo filósofo Francis Bacon, em sua obra "Historia

vitae et mortis", como sendo o "tratamento adequado as doenças incuráveis".

Significava, portanto, "boa morte" (SOUZA, 2002).

Contudo, para alguns autores o termo Eutanásia passou a ser utilizado para

designar a morte deliberada de uma pessoa que sofre de enfermidade incurável ou

muito penosa, sendo vista como meio para suprir a agonia demasiadamente longa e

dolorosa do, então chamado, paciente terminal. Porém, seu sentido ampliou-se

passando a abranger o suicídio, a ajuda em nome do “Bom Morrer”, ou “Homicídio

Piedoso". Em Medicina legal e Direito Penal, denomina o homicídio, por motivos de

piedade, contra doente desenganado ou portador de doença incurável (NÁUFEL,

1998; NOGUEIRA, 1995).

Modernamente, eutanásia é a morte consentida de uma pessoa em grande

sofrimento sem perspectiva de melhora, produzida por médico. Nos países que a

legalizaram ou a toleram, o consentimento do paciente exclui a ilicitude da

intervenção, consagrando o princípio da vontade livre como garantia suprema do

exercício e renúncia a direitos fundamentais. Eutanásia não é morte por piedade, mas

é morte por vontade (LIMA NETO, 2003).

1.1.2 Distanásia

A distanásia é a situação na qual a pessoa, em plena lucidez, sofre dores

físicas e morais, considerando como libertadora a morte que se aproxima em passos

lentíssimos. É a morte lenta, ansiosa e com muito sofrimento, em que o médico,

visando manter o paciente vivo, submete-o, ainda que de forma não-intencional, a

tratamentos fúteis ou inúteis, não prolongando propriamente a vida, mas o processo

de morrer. Alguns autores assumem a distanásia como sendo o antônimo de

eutanásia contudo reside aí a possibilidade de confusão e ambigüidade (LIMA NETO,

2003; CORREIA, 2003).

A tradição hipocrática tem acarretado que os médicos e outros profissionais

de saúde se dediquem a proteger e preservar a vida (SOUZA, 2002).

O respeito pela dignidade da vida exige o reconhecimento de que

“tratamentos” inúteis ou fúteis apenas prolongam a mera “vida biológica”, sem

nenhum outro resultado (BORGES, 2005).

A obstinação terapêutica e os excessos de tecnologia surgem como um ato

extremamente desumano e atentatório à dignidade da pessoa e a seus direitos mais

fundamentais. Certos tratamentos médicos se tornam um fim em si mesmos,

passando o ser humano para um segundo plano, tornando então o procedimento o

tópico principal e não o paciente em sofrimento. Isso se torna um ato profundamente

anti-humano que atenta contra a pessoa e a seus direitos mais fundamentais.

(BORGES, 2005).

Se a distanásia for entendida como mero prolongar do sofrimento ele se opõe

ao de eutanásia que é o abreviar desta situação. Porém se for assumido o seu

conteúdo moral, ambas convergem. Tanto a eutanásia quanto a distanásia é tida

como sendo eticamente inadequadas (GOLDIM, 2004).

1.1.3 Ortotanásia

Em oposição à distanásia, surge o conceito de ortotanásia.

Etimologicamente, ortotanásia significa morte correta: orto: certo, thanatos: morte.

Significa o não prolongamento artificial do processo de morte, além do que seria o

processo natural (DINIZ, 2001).

É a atuação correta frente à morte. É a abordagem adequada diante de um

paciente que está morrendo. A ortotanásia pode desta forma, ser confundida com o

significado inicialmente atribuído à palavra eutanásia. A ortotanásia poderia ser

associada, caso fosse um termo amplamente, adotado aos cuidados paliativos

adequados prestados aos pacientes nos momentos finais de suas vidas (GOLDIM,

2004).

Na situação em que ocorre a ortotanásia, o doente já se encontra em

processo natural de morte, processo este que recebe uma contribuição do médico no

sentido de deixar que esse estado se desenvolva no seu curso natural. Apenas o

médico pode realizar a ortotanásia. Entende-se que o médico não está obrigado a

prolongar o processo de morte do paciente, por meios artificiais, sem que este tenha

requerido que o médico assim agisse. Além disso, o médico não é obrigado a

prolongar a vida do paciente contra a vontade deste. A ortotanásia é conduta atípica

frente ao Código Penal, pois não é causa de morte da pessoa, uma vez que o

processo de morte já está instalado (BORGES, 2005).

Para o autor espanhol Mateo (1987), não há dúvidas sobre a licitude da

ortotanásia, mas, há algumas objeções. O principal argumento contrário é o de que,

com o intenso desenvolvimento do conhecimento médico, a determinação da

irreversibilidade de um quadro de saúde pode ser falha. Por causa da consciência da

existência de limites da ciência, os cuidados contra o arbítrio devem ser maximizados

1.1.4 Mistanásia

Também chamada de eutanásia social. Leonard Martin sugeriu o termo

mistanásia para denominar a morte miserável, fora e antes da hora. Segundo este

autor, "dentro da grande categoria de mistanásia quero focalizar três situações:

primeiro, a grande massa de doentes e deficientes que, por motivos políticos, sociais

e econômicos, não chegam a ser pacientes, pois não conseguem ingressar

efetivamente no sistema de atendimento médico; segundo, os doentes que

conseguem ser pacientes para, em seguida, se tornar vítimas de erro médico e,

terceiro, os pacientes que acabam sendo vítimas de má-prática por motivos

econômicos, científicos ou sociopolíticos. A mistanásia é uma categoria que nos

permite levar a sério o fenômeno da maldade humana (GOLDIM, 2004).

1.2 Histórico da Eutanásia

Historicamente, podemos salientar que a eutanásia não é um fenômeno

recente, muito pelo contrário, vem acompanhando a humanidade ao longo de sua

existência, e não sendo um problema novo, é possível encontrar registros sobre a

eutanásia através dos tempos. Diversos povos, como por exemplo os celtas, tinham

por hábito que os filhos matassem os seus pais quando estes estivessem velhos e

doentes (FRANÇA, 1991; FÁVERO,1930).

Na Índia, pessoas com doenças incuráveis tinham suas narinas e bocas

tapadas com lama, quando eram levadas as margens do Ganges, e após ter sido feito

isto eram atiradas nele para morrerem (BORGES, 2005).

Na Biblia existe uma situação na qual pode ter acontecido a eutanásia, no

segundo livro de Samuel, onde o Rei Saúl pedira a própria morte a um amalecita

(SAMUEL, Cap. 31, Versículos 1 a 13).

O gesto dos guardas romanos ao darem a Jesus uma esponja ensopada em

vinagre pode ter sido uma maneira piedosa de amenizar seu sofrimento, pois segundo

consta, não era vinagre e sim, o vinho da morte, num gesto de extrema piedade e

compaixão já que a substância produzia um sono profundo e prolongado, durante o

qual o crucificado não sentia nem os mais cruentos castigos, e por fim, caía em

estado letárgico, chegando à morte insensivelmente (LICURZI, 1934).

Licurzi (1934) ainda defendeu calorosamente a eutanásia com argumentos

lógicos, em seu livro "O Direito de Matar (Da Eutanásia à Pena de Morte)". Demonstra

claramente seu ponto de vista nestas palavras: "a última vitória da Medicina - frente a

sua impotência científica - quando é impossível triunfar sobre o mal incurável, será

adormecer o agonizante na tranqüila sonolência medicamentosa que leva ao letargo e

à morte total suavemente.

Outro defensor da eutanásia foi Nóvoa Santos, um professor espanhol que,

no seu livro "O Instinto da Morte", afirmou que o poder de desejá-la algum dia é o

único tesouro que nos distancia dos outros animais, pois temos consciência de nossa

finitude e graças a essa consciência da morte nos alegramos em toda grandeza que

nos envolve e penetramos muito alem das fronteiras de nossa reles existência

individual, sendo o homem o único animal com capacidade de desejar a morte

(CORREIA, 2003).

Na Idade Média existia o “punhal da misericordia”, um artefato com o qual os

soldados livravam dos sofrimentos atrozes os mortalmente feridos. Já no caso de dos

valores sociais, culturais e religiosos abordando a questão da eutanásia, vem desde

a Grécia antiga. Naquela época, Platão, Sócrates e Epicuro defendiam a idéia de que

o sofrimento resultante de uma doença longa e dolorosa justificava plenamente o

suicidio. E mesmo o homicidio dos velhos, incuráveis e enfermos era preconizado por

Platão (SILVA, 2010).

Pensava no sentido de “se conscientizar os professores, para que fizessem

saber aos incuráveis, debilóides e outros, que deveriam eliminar-se” (BIZATTO, 2000,

p. 44). Para ele, todos aqueles que se sentiam inúteis .deveriam, auto destruir-se,

como um meio de ajudar a sociedade progredir economicamente.

Assim como as prostitutas, os homossexuais, as mal-amadas e tantas outras

categorias, que usam seu corpo da melhor maneira que lhes convém, sem nenhuma

repreensão de ordem legal, também deve ser lícito dispor da sua vida aquele que se

encontra na encruzilhada entre a vida e a morte (BIZATTO, 2000).

Na Antigüidade, os filhos matavam os seus pais alcançavam a velhice ou,

se encontravam com alguma enfermidade, sob o argumento de que esses não

mais prestavam para a sociedade, pois prejudicavam o fortalecimento, o bem-

estar e a economia da coletividade. Tudo isso se devia ao espírito bélico, sob o qual

só o filho homem era visto como um bom soldado. Para a família, era vergonhoso

possuir uma prole incapacitada para as glórias da guerra. Assim, aqueles que não

possuíam essas qualidades, eram vítimas da Eutanásia eugênica, quer dizer,

tinham suas vidas suprimidas, não porque se encontravam próximos da morte,

mas sim porque eram considerados degenerados ou inúteis (BIZATTO, 2000).

Neste período, havia em Marselha um depósito público de cicuta a disposição

de todos. Aristóteles, Pitágoras e Hipócrates, ao contrário, condenavam o suicídio. No

juramento de Hipócrates consta: "eu não darei qualquer droga fatal a uma pessoa, se

me for solicitado, nem sugerirei o uso de qualquer uma deste tipo". Desta forma a

escola hipocrática já se posicionava contra o que hoje tem a denominação de

eutanásia e de suicido assistido (MENEZES, 2007).

Desde a Grécia Antiga, ex: Platão, Sócrates e Epicuro defendiam a idéia de

que sofrimento é resultado de uma doença dolorosa que justificava o suicídio. A

eutanásia que os gregos conheceram, praticaram e da qual se tem provas históricas é

a que se chama "falsa eutanásia", ou seja, a eutanásia de fundamento e finalidade

"puramente eugênica" (SILVA e BARBOSA, 2008).

Em Esparta, era comum, a fim de evitar qualquer sofrimento ou vir a tornar-se

carga inútil, a precipitação de recém-nascidos malformados do alto do Monte Taijeto.

Vale salientar que em Esparta o homicídio não era considerado crime, desde que

praticado em honra de deuses e o assassinato dos velhos era uma obra de piedade

filial quando muito pedido por eles mesmos. Em Atenas, o Senado tinha poderes

absolutos de facultar a eliminação dos velhos e incuráveis, dando-lhes bebida

venenosa ("conium maculatum") em cerimônias e banquetes especiais. (BIZATTO,

1990).

No Egito, Cleópatra VII (69aC-30aC) criou uma "Academia" para estudar

formas de morte menos dolorosas (LIMA NETO, 2003).

A discussão sobre o tema, prosseguiu o longo da história da humanidade,

com a participação de Lutero, Thomas Morus (Utopia), David Hume (On suicide), Karl

Marx (Medical Euthanasia) e Schopenhauer. No século passado, o seu apogeu foi em

1895, na então Prússia, quando, durante a discussão do seu plano nacional de saúde,

foi proposto que o Estado deveria prover os meios para a realização de eutanásia em

pessoas que se tornaram incompetentes para solicitá-la (LIMA NETO, 2003).

No Brasil, inúmeras teses foram desenvolvidas neste assunto entre 1914 e

1935. Na Europa, muito se falou de eutanásia associando-a com eugenia. Esta

proposta buscava justificar a eliminação de deficientes, pacientes terminais e

portadores de doenças consideradas indesejáveis. Nestes casos, a eutanásia era, na

realidade, um instrumento de "higienização social", com a finalidade de buscar a

perfeição ou o aprimoramento de uma "raça", nada tendo a ver com compaixão,

piedade ou direito para terminar com a própria vida (GOLDIM, 2000).

Em 1931, na Inglaterra, o Dr. Killick Millard propôs uma lei para legalização da

eutanásia voluntária, que foi rejeitada em 1936 pela Câmara dos Lordes. Todavia, a

proposta serviu de base para o modelo holandês posteriomente (GOLDIM, 2000).

O Uruguai, em 1934, incluiu a possibilidade da eutanásia no seu Código

Penal, através da possibilidade do "homicídio piedoso". Esta legislação uruguaia

possivelmente seja a primeira regulamentação nacional sobre o tema. Vale salientar

que esta legislação continua em vigor até o presente. A doutrina do Prof. Jiménez de

Asúa, penalista espanhol, proposta em 1925, serviu de base para a legislação

uruguaia, afirmando ele, que todos estamos condenados à morte em prazo

desconhecido, porém certo. Prolongar a vida é vivê-la. Então, por que renunciar a um

período de existência prolongada, que a medicina pode proporcionar? Tais

argumentos o ilustre penalista espanhol contrapõe aos partidários da eutanásia

(BARBOSA, 2007).

Um exemplo da utilização de eutanásia foi o “programa” de Hitler, de 1939,

que destruiu um clã inteiro de ciganos, seis milhões de judeus e, talvez, quase todos

os prisioneiros poloneses, russos, europeus da Europa Central , nos seus quase dois

anos de funcionamento, antes de ser extinta em 1943 (ALEXANDER,1949).

Nietzsche, postulando a criação das (Ubermensch), uma raça de super-

homens, preconizava que os indivíduos doentes constituíam um grande perigo para

a humanidade (JUNGES, 2006).

Em 1954, o teólogo episcopal Joseph Fletcher, publicou um livro denominado

"Morals and Medicine", onde havia um capítulo com título "Euthanasia: our rigth to

die". A Igreja Católica, em 1956, posicionou-se de forma contrária a eutanásia por ser

contra a "lei de Deus". O Papa Pio XII, numa alocução a médicos, em 1957, aceitou,

contudo, a possibilidade de que a vida possa ser encurtada como efeito secundário a

utilização de drogas para diminuir o sofrimento de pacientes com dores insuportáveis,

por exemplo. Desta forma, utilizando o princípio do duplo efeito, a intenção é diminuir

a dor, porém o efeito, sem vínculo causal, pode ser a morte do paciente (GOLDIM,

2000).

Em 1968, a Associação Mundial de Medicina adotou uma resolução contrária

à eutanásia. E, em 1980, o Vaticano divulgou uma declaração que dispõe sobre os

valores e virtudes da vida humana, posicionando-se acerca de que ninguém

poderia permitir que um ser humano inocente fosse morto, fosse ele um feto ou

embrião, uma criança ou um adulto, um velho ou alguém sofrendo de doença

incurável, ou mesmo, uma pessoa que estivesse morrendo. (SEPER, HAMER,

1980).

Em 1971, na Holanda, uma médica geral, Dra. Geertruida Postma, foi julgada

por eutanásia, praticada em sua mãe, com uma dose letal de morfina. A mãe havia

feito reiterados pedidos para morrer, tinha paralisia e ficava amarrada a uma cadeira

para nao cair. Foi processada e condenada por homicídio, com uma pena de prisão

de uma semana (suspensa), e liberdade condicional por um ano. Neste julgamento

foram estabelecidos os critérios para ação do médico (HUMPHRY, 2010).

Em maio de 1997 a Corte Constitucional da Colômbia estabeleceu que

ninguém poderia ser responsabilizado criminalmente por tirar a vida de um paciente

terminal que tenha dado seu claro consentimento. Esta posição estabeleceu um

grande debate nacional entre as correntes favoráveis e contrárias. Vale destacar que

a Colômbia foi o primeiro país sulamericano a constituir um Movimento de Direito à

Morte, criado em 1979 (DINIZ, 1998).

Em maio de 2001, o senado holandês aprovou lei que permite a eutanásia. A

Holanda é o primeiro país do mundo a permitir, oficialmente, que os médicos

possibilitem a morte de doentes terminais. direito é expressamente negado a não-

residentes na Holanda. Antes da votação, a ministra holandesa da Saúde, Els Borst,

assegurou que os pacientes estarão protegidos caso não queiram que a eutanásia

seja feita. O pedido deverá ser feito voluntariamente e pessoalmente enquanto o

paciente estiver consciente. Os médicos nunca deverão sugerir a eutanásia como

uma opção (CONJUR, 2001).

A Bélgica foi o segundo país do mundo a legalizar a eutanásia, em 2002. O

pedido de autorização para a eutanásia deve ser feito por escrito e o médico precisará

apresentar para o paciente todas as alternativas e métodos paliativos para o seu

tratamento. Um médico independente, que não seja o do paciente, precisará avaliar a

gravidade da doença e autorizar o procedimento. Pela nova legislação, cada cidadão

belga poderá assinar uma declaração antecipada, com validade de cinco anos, para

autorizar um médico a nele praticar a eutanásia (BBC BRASIL, 2002).

1.3 Espécies de Eutanásia

1.3.1 Eutanásia Espontânea ou Libertadora

É a eutanásia convencional. É realizada por solicitação de um paciente

portador de doença incurável, submetido a um grande sofrimento atroz. Esse tipo de

eutanásia se dá quando o paciente, acometido por uma doença incurável, é

exposto a um grande e temeroso sofrimento portanto, está relacionada com a

aceleração da morte, quer realizando métodos terapêuticos, quer interrompendo-os,

ou até não os iniciando; tudo com o mesmo objetivo, qual seja: a abreviação do

sofrimento (ASÚA, 1942).

1.3.2 Eutanásia Eliminadora ou Eugênica

Acontece quando a morte é provocada a fim de eliminar o paciente do seio da

família e do convívio social, independentemente de estar o mesmo próximo da morte

ou não. Ocorre em pessoas portadoras de doenças mentais pela eliminação daqueles

seres apsíquicos e associais absolutos entre outras enfermidades congêneres. A

eutanásia eugênica possuía um claro fator sociológico de supressão de todo e

qualquer ser que não pudesse cumprir o seu papel na sociedade, fosse por

incapacidade física ou psíquica (ASÚA, 1942).

Para exemplificar essa espécie de Eutanásia, pode-se citar a era da

Alemanha nazista, época em que vigorou um programa de extermínio, o

chamado “Aktion 4”, utilizado em massa e que matou por volta de 100.000 pessoas

em menos de dois anos, sendo que o seu objetivo era somente uma espécie de

eugenia social. Hitler pretendia eliminar seres que não possuíam uma vida que

merecesse ser vivida. Estas idéias bem demonstram a interligação que havia nesta

época entre a eutanásia e a eugenia, isto é, na utilização daquele procedimento para

a seleção de indivíduos ainda aptos ou capazes e na eliminação dos deficientes e

portadores de doenças incuráveis (SOUZA, 2002).

1.3.3 Eutanásia Econômica

Os defensores da modalidade da Eutanásia econômica baseavam-se no

binômio custo-benefício; na idéia de que as pessoas portadoras de doenças

prolongadas, em tratamento, são pacientes extremamente dispendiosos e que a

manutenção desses não interessa a uma sociedade capitalista (ASÚA, 1942).

A eutanásia econômica atinge àqueles doentes em situação de

vulnerabilidade, que acabam por serem vítimas da desigualdade social, do

preconceito e das questões financeiras. Os desiguais, pela sua precária condição

financeira, são “assassinados” em prol dos demais e, às vezes, até mesmo por

crueldade e egoísmo (ASÚA, 1942).

1.3.4 Quanto ao consentimento do paciente:

Podem ser classificadas de três formas (FRANCISCONI e GOLDIM, 2006):

Eutanásia voluntária: quando a morte é provocada atendendo a uma vontade do

paciente.

Eutanásia involuntária: quando a morte é provocada contra a vontade do paciente.

Eutanásia não-voluntária: quando a morte é provocada sem que o paciente tivesse

manifestado sua posição em relação a ela.

1.3.5 O suicídio assistido:

O suicídio assistido ocorre quando uma pessoa, que não consegue concretizar

sozinha sua intenção de morrer, solicita o auxílio de um outro indivíduo. A assistência

ao suicídio de outra pessoa pode ser feita por atos (prescrição de doses altas de

medicação e indicação de uso) ou, de forma mais passiva, através de persuasão,

convencimento ou de encorajamento. Em ambas as formas, a pessoa que contribui

para a ocorrência da morte da outra compactua com a intenção de morrer através da

utilização de um agente causal (GOLDIM, 2004).

Foi nas condutas do Dr. Jack Kevorkian que tal prática ganhou expressão

mundial a partir de 1990. O suicídio assistido e até mesmo a eutanásia foram

praticadas várias vezes pelo referido médico nos Estados Unidos. Os pacientes que

solicitaram tal conduta eram portadores das mais diferentes patologias e não,

necessariamente, eram pacientes terminais (CORREIA, 2003).

CAPITULO II: Eutanásia vista sob vários pontos de vista

2.1 Sob o Aspecto Médico

Com o constante avanço tecnológico da medicina, muitas doenças hoje

consideradas incuráveis poderão não o ser amanhã. Alguns procedimentos médicos,

em vez de curar ou de propiciar benefícios ao doente, apenas prolongam o processo

de morte. Portanto, cabe indagar se isso se trata realmente de prolongar a vida ou

de prolongar a morte do paciente terminal (D´URSO, 2005).

Há situações em que os tratamentos médicos se tornam um fim e o ser

humano passa a estar em ultimo plano. A atenção tem seu foco no procedimento,

na tecnologia, não no paciente que padece. Nesta situação o paciente sempre esta

em risco de sofrer medidas fúteis e não apropriadas, pois os interesses da tecnologia

deixam de estar subordinados aos interesses do ser humano (MENEZES, 1977).

No Brasil, segundo D`urso (2005), o médico que de alguma forma

concorrer para dar a morte a alguém cometerá homicídio. Para ele, a eutanásia seria

uma fatalidade entre os homens, que em seu entender tem o propósito mórbido e

egoístico de poupar-se ao pungente drama da dor alheia, encargos econômicos e

pessoais que ela representa.

Menezes (1977) argumenta que, mesmo com todos os avanços da medicina,

na grande maioria dos casos, não haverá certeza absoluta da incurabilidade de uma

doença, muito menos, do diagnóstico mortal do processo.

Mas como ter certeza da incurabilidade da moléstia , sendo que , é um dos

conceitos mais duvidosos, e que devido o homem ter alcançado um grau de

desenvolvimento tecnológico-cientifico, torna-se bastante difícil afirmar com certeza

sobre a incurabilidade de uma doença. Assim como em outros tempos passados ,

doenças como difteria, tifo, tuberculose e muitas outras , dizimaram inúmeras

pessoas e a medicina descobriu a cura, e hoje mesmo alguns tipos de câncer, tem

sido tratados satisfatoriamente (SILVA, 2000).

O Código de Ética do Conselho de Medicina do Brasil (Resolução CFM n.

1.246, de 08 de janeiro de 1988. Diário Oficial da União; Poder Executivo, Brasília,

DF, 26 jan. 1988), é taxativo quanto ao assunto; no Capítulo V, quando tratam das

“Relações com o Paciente”:

É vedado ao médico:

Art. 56 - Desrespeitar o direito do paciente de decidir livremente sobre a

execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente perigo

de vida.

Art. 57 - Deixar de utilizar todos os meios disponíveis de diagnósticos e

tratamento a seu alcance em favor do paciente.

Art. 58 - Deixar de atender paciente que procure seus cuidados profissionais

em caso de urgência, quando não haja outro médico ou serviço médico em

condições de fazê-lo.

Art. 59 - Deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos

e objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta ao mesmo possa

provocar-lhe dano, devendo, nesse caso, a comunicação ser feita ao seu

responsável legal.

Art. 60 - Exagerar a gravidade do diagnóstico ou prognóstico, complicar a

terapêutica, ou exceder-se no número de visitas, consultas ou quaisquer outros

procedimentos médicos.

Art. 61 - Abandonar paciente sob seus cuidados.

Parágrafo 1º - Ocorrendo fatos que, a seu critério, prejudiquem o bom

relacionamento com o paciente ou o pleno desempenho profissional, o médico tem o

direito de renunciar ao atendimento, desde que comunique previamente ao paciente

ou seu responsável legal, assegurando-se da continuidade dos cuidados e

fornecendo todas as informações necessárias ao médico que lhe suceder.

Parágrafo 2º - Salvo por justa causa, comunicada ao paciente ou a

seus moléstia crônica ou incurável, mas deve continuar a assisti-lo ainda que

apenas para mitigar o sofrimento físico ou psíquico.

Art. 62 - Prescrever tratamento ou outros procedimentos sem exame direto do

paciente, salvo em casos de urgência e impossibilidade comprovada de realizá-

lo, devendo, nesse caso, fazê-lo imediatamente cessado o impedimento.

Art. 63 - Desrespeitar o pudor de qualquer pessoa sob seus cuidados

profissionais.

Art. 64 - Opor-se à realização de conferência médica solicitada pelo paciente

ou seu responsável legal.

Art. 65 - Aproveitar-se de situações decorrentes da relação médico-

paciente para obter vantagem física, emocional, financeira ou política.

Art. 66 - Utilizar, em qualquer caso, meios destinados a abreviar a vida

do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu responsável legal

2.1.1 A decisão médica

Sob todos os aspectos a medicina deve prezar a vida e o médico deve

cumprir os seus ensinamentos “O médico não pode contribuir, direta ou indiretamente,

para apressar a morte do doente.”(Artigo 57 Código de ética Médica, elaborado nos

Artigo 30 da Lei nº 3.268/57).

Não há, primeiramente, direito de matar. A vida, ainda que dolorosa ou

sofredora, deve ser sempre respeitada, aduzindo que não existe direito de matar,

nem o de morrer, pois a vida tem função social. A missão da ciência, segundo o

penalista, não é exterminar, mas lutar contra o extermínio (NORONHA, 1983).

A atuação médica é movida por dois grandes princípios morais: a preservação

da vida e o alívio do sofrimento. Esses dois princípios complementam-se na maior

parte das vezes (OLIVEIRA et al, 2003).

Entretanto, em determinadas situações, podem tornar-se antagônicos,

devendo prevalecer um sobre o outro. Se for estabelecido como princípio básico o de

optar-se sempre pela preservação da vida, independentemente da situação, poder-se-

á, talvez, com tal atitude, estar negando o fato de que a vida é finita (D’URSO, 2005).

Médicos e especialistas em bioética defendem, na verdade, um tipo

específico de eutanásia, a ortotanásia, que seria o ato de retirar equipamentos ou

medicações que servem para prolongar a vida de um doente terminal. Ao retirar esses

suportes de vida, mantendo apenas a analgesia e tranqüilizantes, espera-se que a

natureza se encarregue da morte (COLLUCI, LEITE, GOIS, 2005).

2.1.2 A decisão da família

Nos casos de pacientes incapacitados ou impossibilitados de expressar

sua vontade, os familiares deverão servir-lhes de voz ativa, pois são pessoas

que possuem melhores condições de interpretar seus desejos, seus valores e

aspirações que se fariam valer caso pudessem expressar seus desígnios em plena

consciência (MENEZES, 1977).

Na eutanásia ativa, principalmente quando solicitada pelo agonizante, se diz

que o consentimento da família é indispensável para sua configuração e na

impossibilidade do paciente optar pela prática da eutanásia, ou não, a decisão

deverá ser tomada por aqueles que têm direitos legais e laços familiares com o

paciente, respeitando sempre a vontade razoável e os interesses legítimos do

mesmo (NORONHA, 1983).

Desse modo, justificamos essa decisão familiar, por serem os parentes

as pessoas mais próximas do enfermo e que, por essa razão, o conhecem

profundamente, em seu íntimo. Ademais, por existir uma relação de afeto entre o

paciente e a família, essa jamais tomaria uma atitude que soubesse ser contra

os desígnios do doente . E nessa hora de decisão final não se deve dar preferência

para esse ou aquele parente, tal como privilegiar se o cônjuge, o pai ou o filho do

enfermo e nesse caso o que tem mais peso é ligação entre o familiar e o mesmo, ou

seja é a convivência entre eles , que passa a ser o fator determinante na hora da

decisão (BIZATTO, 2000).

A triste realidade de ver um ente querido sofrendo por uma moléstia, em

estado terminal, geralmente conduz a família a dividir-se entre a vontade de

salvar o doente e a de pôr fim ao seu sofrimento. De qualquer forma, a escolha é

sempre sofrida e dolorosa. Devem participar ativamente desse processo decisório o

uma junta médica que elaborará o laudo médico. Após isso, integrarão na decisão,

ativamente, o paciente, o marido ou mulher, os filhos, os pais do paciente, o tutor ou

curador e ou aquele cuja dependência legal estiver o paciente, o MP, um ministro

religioso da religião do paciente (BIZATTO, 2000).

2.2 Os prós e os contras

São muitos os argumentos contra a eutanásia, desde os religiosos, éticos até

os políticos e sociais. Do ponto de vista religioso, a eutanásia é tida como uma

usurpação do direito à vida humana, devendo ser um direito exclusivo reservado ao

Criador, ou seja, só Ele pode tirar a vida de alguém. Contudo, não se pode elevar a

vida física à espiritual, pois a vida corpórea não é toda a vida de uma pessoa e há

bens que superam em valor a matéria. Nesse raciocínio, a morte do corpo deve

ser aceita quando a vida espiritual assim a exigir (PINTO, SILVA, FLORIDO, 2004).

Os que são contrários à prática da eutanásia e do suicídio assistido

sustentam ser dever do Estado preservar, a todo custo, a vida humana, que é o bem

jurídico supremo. O poder público estaria obrigado a fomentar o bem-estar dos

cidadãos e a evitar que sejam mortos ou colocados em situações de risco. Eventuais

direitos do paciente estariam, muitas vezes, subordinados aos interesses do Estado,

que obrigaria a adoção de todas as medidas visando ao prolongamento da vida, até

mesmo contra a vontade da pessoa. (MENDES, 2006).

Autores que defendem a prática da eutanásia, tais como Carlin (1988),

apontam para a necessidade de que seja respeitada a liberdade de escolha do

homem que padece e que decide pôr fim aos seus dias, propiciando que se livre o

enfermo de um sofrimento insuportável, encurtando uma vida considerada sem

qualidade – pelo próprio paciente – não albergando mais nenhum sentido para ser

vivida,ou seja se evitando a dor e o sofrimento de pessoas em fase terminal , o

termino de uma fica em que , quem morre não perde o poder de ator e agente digno

ate ao fim.

2.3 Sob o Aspecto Jurídico

Atualmente, no Brasil, a Eutanásia, em qualquer de suas modalidades, é

crime. Se quem pratica a Eutanásia é um médico, um familiar ou um amigo, quer

seja, ou não, com o consentimento do paciente, cometerá homicídio privilegiado,

atenuando-se a pena pelo relevante valor moral que motivou o agente. Assim o juiz

poderá reduzir a pena de um sexto a um terço (GOMES, 2006).

De acordo com D’Urso (2005), nem mesmo a tentativa de eutanásia merece

ou pode ser punida, visto que o enfermo quer se dar a pena máxima , ou seja a morte,

assim simplesmente não adiantaria imputar-lhe uma punição para que não reitere

nessa conduta. Entretanto, está tramitando um anteprojeto de Lei, na Câmara

Federal, baseado no Decreto Lei nº 2.848, de 07/12/1984, que altera os dispositivos

do código Penal com a seguinte redação:

Homicídio – Artigo 121 Matar alguém:

Pena – Reclusão, de seis a vinte anos.

Crime Eutanásico:

§ 3º . – “Se o autor do crime agiu por compaixão, a pedido da

vítima, imputável e maior, para abreviar-lhe o sofrimento insuportável, em razão

de doença grave:

Pena: Reclusão de três a seis anos.

Exclusão de Ilicitude:

§ 4º . – “Não constitui crime deixar de manter a vida de alguém por

meio artificial, se previamente atestado por dois médicos, a morte como iminente e

inevitável, e desde que haja consentimento do paciente, ou na sua

impossibilidade, de ascendente, descendente, cônjuge, companheiro ou irmão.

De acordo com a legislação brasileira, a legalizacao da Eutanasia somente se

daria, quando a vida do doente deixasse de ser mantida , por meios artificiais, tais

como aparelhos, respiradores etc...sendo a morte iminente e inevitável ,tendo ainda

que contar com o consentimento do paciente ou de seus familiares;

A lei penal brasileira não escolhe, portanto, o chamado “homicídio

piedoso”, como no caso do Uruguai. Isso porque a vida é um direito

indisponível, conforme assegura o art. 5º , “caput”, da Constituição Federal, ao qual

não se pode renunciar, não sendo conferido as pessoas o direito de morrer,

sendo inclusive previsto o uso de violência para impedir que uma pessoa se suicide

(CP. artigo 146, parágrafo 3º , II).

2.4 Sob o Aspecto Religioso

2.4.1 Cristianismo

Há uma enorme diferença entre matar e deixar morrer. Neste último, apenas

permite-se que a natureza siga seu curso natural, não empregando para isso

tratamentos desnecessários e fúteis em paciente terminal no instante em que nada ou

quase nada pode ser feito. Por isso para os católicos só é permitido ou aceitável pelo

menos, a eutanásia passiva e a ortotanásia , quando se espera a morte de uma

maneira espontânea , sem artifícios inúteis para tentar prolongar a vida (DE SÁ, 2001)

Em fevereiro de 1993 o Vaticano voltou a condenar a eutanásia em face de

decisão de o parlamento holandês tê-la aprovado. Após termos visto a visão da Igreja

Católica, consideremos que a posição de outras denominações cristãs mais

significativas em sua maioria é a favor da eutanásia passiva, a fim de evitar o

prolongamento do sofrimento do paciente, mas são contra a eutanásia ativa

(NOGUEIRA, 1995).

Sob o ponto de vista da Igreja Católica, a vida da pessoa é um bem

fundamental, mas não absoluto. “Só assim é que se pode compreender que ela seja

colocada em risco ou, inclusive, oferecida por um valor considerado superior, como

própria fé, o amor a Deus e aos outros (MIRANDA, 1998).

A eutanásia foi condenada pelo Papa João Paulo II, que reafirmou que nada

nem ninguém podem autorizar a morte de um ser humano inocente. Porém, diante

de uma morte inevitável e dolorosa, a pesar dos meios empregados, é lícito

renunciar a alguns tratamentos que procurariam unicamente uma prolongação

precária e penosa da existência, sem interromper, entretanto as curas normais

devidas ao enfermo em casos similares (RTP, 2009).

Em 2009, o Papa Bento XVI afirmou que a eutanásia é uma "falsa solução

para o drama do sofrimento", tratando-se de um ato "indigno do homem", durante a

oração do Angelus, na praça de S. Pedro, no Vaticano (RTP, 2009).

O cristianismo adota uma atitude contrária a eutanásia, não reconhecendo a

Biblia , o conceito ou a pratica da eutanásia . E ética cristã não é centrada no belo ou

no são, privilegia-se o cuidado para com os enfermos e muito embora o judaísmo

marginalizasse os leprosos , não existia a possibilidade de suprimir a vida dos

mesmos. Assim tanto o Antigo, quanto o Novo testamento tinham grande respeito e

solidariedade para os que sofriam e pelos anciãos, por sua experiências e sapiência

(PESSINI, BARCHIFONTAINE, 2000)

2.4.2 Adventista do Sétimo Dia

Os Adventistas do Sétimo Dia crêem que permitir que um doente morra por

ausência de intervenções médicas, que apenas prolongam o sofrimento e adiam o

momento da morte, é moralmente diferente de ações que tenham como principal

intenção retirar diretamente a vida (ADVENTISTAS, 1992)

No cuidado dos moribundos, é uma responsabilidade cristã aliviar a dor e o

sofrimento, na maior medida possível, sem incluir a eutanásia ativa. Quando for claro

que a intervenção médica não curará o doente, o principal objetivo do cuidado a

prestar deverá passar a ser o de aliviar o sofrimento (ADVENTISTAS, 1992).

2.4.3. Mórmons (Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias)

Na visão deste segmento religioso, quando a morte é inevitável, ela deve ser

vista como uma bênção e intencionalmente parte da existência eterna. Não existe a

obrigação de estender a vida mortal por meios não razoáveis. A pessoa que participa

de uma prática eutanásica, deliberadamente causando a morte de outra que esteja

sofrendo de uma condição ou doença terminal, viola os mandamentos de Deus

(PESSINI, 2004).

A igreja tornou-se defensora forte e pública da família nuclear e, por vezes,

desempenhou papel proeminente em questões políticas, incluindo a oposição de

bases de mísseis MX Peacekeeper em Utah e Nevada em 1983, jogos

especializados, oposição ao casamento homossexual e oposição ao aborto e ao uso

da eutanásia. Para além das questões que considera ser os da moralidade, no

entanto, a igreja geralmente mantém uma posição de neutralidade política

(WIKIPEDIA, 2010).

2.4.4 Igrejas Ortodoxas Orientais

A igreja ortodoxa enfatiza a dimensão existencial da dor, da doença e da

morte iminente. Tem a visão de que tudo o que pessoa passa tem um valor e que

ninguém tem o direito de interferir nos planos de Deus. A morte constitui o começo de

um novo modo de existência (PESSINI, 2004).

Os meios mecânicos extraordinários podem deixar de ser utilizados, ou

removidos, quando os sistemas orgânicos principais falharam e não existe razoável

expectativa de recuperação. O bem-estar espiritual do paciente, em algumas

instâncias, é garantido pela remoção dos mecanismos de suporte de vida. Estimulam-

se os cuidados paliativos e as instruções do paciente quanto ao final de vida. A

eutanásia constitui a ação deliberada de tirar a vida humana e, como tal, é condenada

como assassinato (PESSINI, 2004).

2.4.5.Igreja Episcopal

Não existe a obrigação moral de prolongar o morrer por meios externos se a

pessoa está morrendo e não existe esperança de recuperação. Tais decisões cabem,

em última instância, ao paciente ou seu procurador, e podem ser expressas

antecipadamente pelo paciente. É moralmente errado tirar intencionalmente a vida

humana para aliviar o sofrimento causado por uma doença incurável, incluindo uma

dose letal de medicamento ou veneno, uso de armas letais, atos homicidas e outras

formas de eutanásia ativa (PESSINI, 2004).

2.4.6 Igrejas Batistas

Matar por misericórdia, mesmo com consentimento de quem está sofrendo,

não é moralmente correto, e tal pedido equivale ao suicídio. Assim, quem pratica esse

tipo de eutanásia é cúmplice de suicídio. A situação se torna ainda mais grave quando

é praticada sem o consentimento do paciente. Segundo a religião batista, a vida é

santa em si e somente Deus pode e tem o direito de dar a vida e de tornar a tirá-la. O

nosso dever é aliviar o sofrimento das pessoas por outros métodos e não tirando-lhes

a vida (JAIRO, 2008).

Tirar a vida em caso de pena capital, na guerra e no homicídio acidental não a

mesma coisa que desligar um equipamento num hospital para apressar a morte de

alguém que está desenganado dos médicos ou oferecer drogas para antecipar o óbito

(JAIRO, 2008).

2.4.7 Presbiteriana

Para esta Igreja, o prolongamento da vida ou o processo de morrer de uma

pessoa que está acometida de doença gravíssima e que, portanto, tem pouco cura,

não é necessário. Contudo, admitem a não interrupção ou não utilização de sistemas

de suporte de vida para que o paciente tenha uma trajetória natural em direção à

morte (PESSINI, 2004).

A religião prega que não nos compete tomar a vida, mas temos, sim, o dever

de preservá-la. Adicionam que Deus ama aos Seus e está ciente dos seus

sofrimentos e das suas dores e que Ele pode nos sustentar e deve ser buscado nas

ocasiões em que tivermos de tomar decisões, em oração (PORTELA, 2004).

2.4.8Testemunha de Jeová

Em se tratando a morte de um fato iminente e inevitável, não são exigidos

meios extraordinários (e onerosos) para prolongar a vida, de acordo com as

Escrituras. Para esta religião, a eutanásia ativa é considerada um assassinato que

viola a santidade da vida (PESSINI, 2004).

A eutanásia assegurado o direito (não o dever) à vida, e não se admite que o

paciente seja obrigado a se submeter a tratamento. O direito do paciente de não se

submeter ao tratamento ou de interrompê-lo é conseqüência da garantia

constitucional de sua liberdade, de sua liberdade de consciência (como nos casos de

Testemunhas de Jeová), de sua autonomia jurídica, da inviolabilidade de sua vida

privada e intimidade e, além disso, da dignidade da pessoa, erigida a fundamento da

República Federativa do Brasil, no art. 1º da Constituição Federal (BORGES, 2005).

2.4.9 Igreja Metodista Unida

Entendem que toda pessoa tem direito de morrer com dignidade, ser cuidada

com carinho e sem esforço terapêutico que apenas prolongam, de forma indevida,

doenças terminais, simplesmente porque existe tecnologia disponível. É importante

destacar que essa denominação, através da Conferência do Pacífico, apoiou a

iniciativa de Washington, Estados Unidos, para legalizar o suicídio assistido e a

Eutanásia Voluntária (PESSINI, 2004).

2.4.10. Igreja Luterana

Aprovam a descontinuação de medidas extraordinárias ou heróicas de

prolongamento de vida. Administrar medicação contra a dor, mesmo com o risco de

apressar a morte, é permitido. A expressão antecipada dos desejos do paciente é

estimulada. O tratamento pode ser interrompido, não aplicado ou recusado se o

paciente está irreversivelmente morrendo ou se vai lhe impor sacrifícios

desproporcionados. A eutanásia é sinônimo de morte piedosa, que envolve suicídio

e/ou assassinato, e é contrária à Lei de Deus. A eutanásia ativa destrói

deliberadamente a vida criada à imagem de Deus e é contrária à consciência cristã e

administração da vida. O uso deliberado de drogas e outros meios para abreviar a

vida é ato de homicídio intencional (PESSINI, 2004).

O pastor Pinz (2009) da Igreja Luterana acredita que aceitar a vida e vivê-la,

enfrentando tudo o que vier pela frente, exige fé e, aceitar a morte pode exigir mais fé

ainda. Acrescenta que não devemos desistir da vida, ao menos enquanto existir

esperança. Contudo, não podemos confundir esperança com ilusão. A Bíblia nos diz:

"Se a nossa esperança em Cristo só vale para esta vida, nós somos as pessoas mais

infelizes deste mundo" (1 Co 15.19), infelizes e iludidas. A verdadeira esperança está

em Cristo, pois por sua "boa morte na cruz" ele conquistou o perdão, a Salvação e a

Vida eterna.

2.4.11.Budismo

De acordo com a filosofia budista, a vida é um bem precioso, porem não

divina, visto não acreditarem na existência de um ser supremo, ou deus criador de

tudo. E no momento da morte, o que mais conta é o estado de consciência e paz ,

não existindo pois uma oposição ferrenha á Eutanásia passiva e ativa que

geralmente até podem ser aplicadas sob determinadas circunstâncias (NOGUEIRA,

1995).

Entre os budistas não há qualquer discussão a respeito da existência de

um “Deus criador”, por isso não consideram a vida “divina”. Para eles, a preciosidade

está no espírito e não na existência da matéria propriamente dita. O objetivo de todos

os praticantes do budismo é a iluminação (nirvana), que consiste num estado

de espírito e perfeição moral que pode ser conseguido por qualquer ser humano

que viva conforme os ensinamentos do mestre Buda (NOGUEIRA, 1995).

2.4.12.Islamismo

O islamismo é totalmente contra a eutanásia, visto que a concepção da vida

é considerada sagrada, aliada a limitação drástica da autonomia da ação humana, a

proíbem, bem como o suicídio, pois para seus seguidores o médico é um soldado

da vida, sendo que não deve tomar medidas positivas para abreviar a vida do

paciente. No entanto, se a vida não pode ser restaurada é inútil manter uma pessoa

em estado vegetativo utilizando-se de medidas heróicas. O médico não tem direito

de utilizar qualquer procedimento que impeça o processo de instalação da morte,

ocasionando, pela fé islâmica, o começo de uma nova vida. A morte é vista como

obediência a vontade de Deus, limitando de forma definitiva e drástica a autonomia da

ação humana para a manutenção da vida (PESSINI, 2004).

2.4.13 Judaísmo

O judaísmo é a mais velha tradição de fé monoteísta do ocidente. É uma

religião que estabelece regras de conduta para seus seguidores. Em relação à

eutanásia, assinala que a tradição legal hebraica é contra, pelo fato do médico servir

como um meio de Deus para preservar a vida humana, sendo lhe proibido arrogar-se

à prerrogativa divina de decisão entre a vida e a morte de seus pacientes. O conceito

de que a vida é santificada, significa que não pode ser terminada ou abreviada, tendo

como motivações a conveniência do paciente, utilidade ou empatia com o sofrimento

do mesmo, portanto a vida de um doente não pode ser abreviada tendo em vista, a

conveniência do paciente, a empatia com o sofrimento dele, ou a sua utilidade

(PESSINI, 2004).

2.5 Sob o ponto de vista ético e bioético

Etimologicamente, o termo ética deriva do grego ethos que significa modo de

ser, caráter. Pode ser entendida como uma reflexão sobre os costumes ou sobre as

ações humanas em suas diversas manifestações, nas mais diversas áreas

(CARNEIRO et al, 2010).

Conforme Carvalho (2001), a consciência se manifesta na capacidade de

decidir diante de possibilidades variadas, decorrentes de alguma ação que será

realizada. No processo de escolha das condutas, avaliam-se os meios, em relação

aos fins, pesa-se o que será necessário para realizá-las, quais ações a fazer, e que

conseqüências esperar, ocupando-se então a ética biomédica com aqueles temas

morais que tem sua origem no avanço da ciência , da medicina ou nas pesquisas

tecno-bio-medicas, fazendo-se necessário um consenso entre a medicina e a ética, e

ao mesmo tempo interesses humanísticos, mobilizando os agentes envolvidos a

examinar com uma visão critica , os princípios e conceitos gerais éticos e como eles

se aplicarão a pratica da medicina (CARVALHO, 2001; CARLIM, 1998).

No Brasil, faz-se necessária a reflexão consistente e urgente sobre o tema

relacionado à defesa da vida e sua proteção legal e o bem estar da população. O

sofrimento penoso por dias, semanas e meses, sabendo-se que não haverá mudança

gera um grande conflito entre a dignidade humana e a legislação vigente (SANTOS,

2002).

A medicina atual, na medida em que avança na possibilidade de salvar mais

vidas, cria inevitavelmente complexos dilemas éticos que permitem maiores

dificuldades para um conceito mais ajustado do fim da existência humana. Além

disso, o aumento da eficácia e a segurança das novas modalidades terapêuticas

motivam também questionamentos quanto aos aspectos econômicos, éticos e legais

resultantes do emprego exagerado de tais medidas e das possíveis indicações

inadequadas de sua aplicação (FRANÇA, 1991).

O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp)

considera ético limitar ou suspender procedimentos que prolonguem a vida do doente

incurável em fase terminal. Já a eutanásia ativa - que ocorre quando o médico

provoca a morte do paciente, pela administração de medicação, por exemplo - não é

tratada pela resolução do Cremesp (ESTADO DO PARANÁ, 2005).

Assim a eutanásia ativa, alem de configurar crime e conseqüentemente

sujeito sanções penais , é também uma violação aos princípios éticos, subvertendo

toda a doutrina hipocrática , aviltando e distorcendo o próprio exercício da medicina,

cujo objetivo primordial é o bem do homem e de toda a humanidade, no cuidado das

doenças, tratando as pessoas e amenizando sofrimentos , quando não é possível a

cura (FRANÇA, 2001).

CAPITULO III: Eutanásia no Brasil e no Mundo

O Brasil, nos seus primitivos tempos, também conheceu a eutanásia. O

historiador Von Marthius, em estudos feitos sobre os silvícolas, detectou entre estes a

prática da eutanásia. Algumas tribos deixavam à morte seus idosos, principalmente

aqueles que já não mais participavam das festas, caças, etc. Assim, a morte viria

como benção, uma vez que a vida sem aquelas atividades perdera todo seu

significado (SILVA, 2000).

Além da prática entre indígenas, a eutanásia no Brasil apresentou-se na

época colonial como conseqüência da tuberculose, moléstia até então sem cura e que

conduzia a um definhamento crescente até a morte. A literatura dá-nos alguns

exemplos, através de poetas do romantismo que, atacados de tuberculose, pediam e

deixavam-se morrer mais rapidamente, já que era certa a morte (SILVA, 2000).

Em linhas gerais podemos afirmar que a todos é assegurado o direito à vida,

o que de fato é consagrado em nosso ordenamento jurídico, pois ele é o fundamental

alicerce de qualquer prerrogativa jurídica da pessoa, razão pela qual o Estado protege

a vida humana. No Brasil a eutanásia é definida como crime e categorizada como

homicídio privilegiado ou homicídio eutanásico (MACEDO, 2008).

O suicídio assistido constitui infração penal – é o ato de induzir ou instigar

alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça. As penas variam de 12 a

30 anos e de dois a seis anos, de prisão respectivamente. Isto também se deve ao

fato de ser de tradição católica , mas mesmo assim tramita desde 1995, Projeto de

Lei de nº 125, no sentido de ver legalizada a “morte sem dor”. Tal projeto prevê a

possibilidade de solicitação, por parte daquele que está acometido de sofrimento

físico ou psíquico, da realização de procedimentos que conduzam a sua morte. No

caso de o paciente estar impossibilitado de fazê-lo, tal autorização pode ser obtida

judicialmente, a partir do pedido de um familiar ou amigo. A autorização será

concedida por uma junta médica composta com cinco componentes, sendo dois

especialistas no problema do paciente (FRANCISCONI & GOLDIM, 2006).

O Código Penal brasileiro não faz referência à eutanásia e sim à omissão de

socorro. Conforme a conduta, a eutanásia pode se encaixar na previsão do homicídio,

do auxílio ao suicídio ou pode, ainda, ser atípica. No Brasil, o que se chama de

eutanásia é considerado crime. Encaixa-se na previsão do art. 121, homicídio.

Quando se trata mesmo da eutanásia verdadeira, cometida por motivo de piedade ou

compaixão para com o doente, aplica-se a causa de diminuição de pena do parágrafo

1º do artigo 121, que prevê: "se o agente comete o crime impelido por motivo de

relevante valor social ou moral, ou sob domínio de violenta emoção, logo em seguida

à injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço"

(MENEZES, 2007).

Na Europa, as leis sobre o assunto variam muito. Alguns países toleram a

prática de permitir ou autorizar um doente terminal ou desenganado a morrer sem dor.

No entanto, o tema continua um forte tabu e muitos países retrocederam em sua

atitude de aprovar um legislação para regular oficialmente a eutanásia. A Bélgica e a

Holanda são as duas únicas nações no mundo a ter prática da eutanásia

completamente legalizada (UOL, 2005).

Segue um resumo sobre o posicionamento atual de outros países europeus

quanto a eutanásia:

BÉLGICA

Em 23 de setembro de 2002, a Bélgica legalizou parcialmente a morte

assistida sob condições estritas. A partir daí, qualquer médico que ajude um paciente

a morrer não é considerado um criminoso desde que o paciente adulto seja terminal

ou sofra de algum mal intolerável e sem esperança de recuperação. O doente precisa

estar em sã consciência e tomar a decisão por si próprio (UOL, 2005).

A lei foi derivada de uma diretriz emanada pelo Comitê Consultivo Nacional

de Bioética daquele país, Diferentemente da lei da Holanda que surgiu de uma longa

trajetória de casos, ou seja, de uma jurisprudencia prévia, a lei belga surgiu de um

debate sobre a sua necessidade e adequação (GOLDIM, 2003).

A lei belga é mais restritiva que a holandesa. Uma diferença fundamental é a

garantia do anonimato presente na legislação belga e, também, que a lei não se

aplica a menores de dezoito anos ou a qualquer paciente incapaz de tomar a decisão

conscientemente como os excepcionais. Em dois anos, cerca de 500 mortes foram

registradas sob a lei 'morte com dignidade' (GOLDIM, 2003; UOL, 2005).

Há possibilidade de solicitação de eutanásia por uma pessoa que não esteja

em estado terminal. Neste caso será necessária a participação de um terceiro médico

para dar a sua opinião sobre o caso. Todos os procedimentos são revistos por um

comitê especial que avalia se os critérios legais foram efetivamente cumpridos

(GOLDIM, 2003)

GRÃ-BRETANHA

Sob a lei britânica, a eutanásia é considerada um crime passível a 14 anos de

prisão, mas o debate é amplo graças a dois casos controversos. Em maio de 2002,

Diane Pretty, de 43 anos e paralítica incurável, morreu após prolongadas batalhas

tanto na Corte Britânica quanto na Européia de Direitos Humanos, que se recusaram

a conceder o direito à mulher de ter a ajuda do marido para morrer. Outra paciente

grave de paralisia, conhecida apenas como "Miss B", obteve a permissão legal de ter

os tubos de respiração removidos. A mulher, que requisitou o procedimento por conta

própria, morreu em abril de 2002 (UOL, 2005).

Em junho de 2010, a associação de deficientes físicos britânicos Not Dead

Yet (Ainda vivos) lançou a “Campanha de Resistência” na Inglaterra, na qual pede

aos parlamentares rechaçar a legalização da eutanásia já que “os casos de

deficientes físicos que querem morrer são a exceção, não a regra” (ACIDIGITAL,

2010).

DINAMARCA

A Dinamarca baniu a eutanásia ativa, que pode provocar prisões de até três

anos, mas permite que qualquer paciente de uma doença incurável tome a decisão

sobre quando interromper um tratamento vital. Desde 1º de outubro de 1992,

pacientes como doenças terminais ou vítimas de acidentes sérios podem deixar um

'testamento médico' que os médicos são obrigados a respeitar (GOLDIM, 2003).

O Comitê Dinamarquês de Ética disse não à legalização da eutanásia ativa

em 1996 e recomendou o incremento dos cuidados paliativos na área da pesquisa e

educação dos profissionais de saúde (HOLM, 1999).

FRANÇA

A eutanásia permanece tecnicamente ilegal, embora em 2004, legisladores

franceses aprovassem um lei permitindo o direito de morrer para pessoas com

doenças incuráveis. Nenhuma medida exagerada pode ser tomada para sustentar a

vida e os pacientes terminais podem escolher o momento de limitar ou parar um

tratamento ou requisitar medicação para dor, mesmo que esta acelere sua morte

(UOL, 2005).

Todavia, o senado francês reprovou, por maioria, a proposta de lei para a

prática da eutanásia em França, durante um recente debate em 26 de janeiro de

2006. O texto previa no artigo primeiro que "toda pessoa capaz e maior, em fase

avançada ou terminal de uma infecção ou patológica grave e incurável que causasse

sofrimento psíquico ou físico, que não pudesse ser aliviado ou que fosse insuportável,

poderia pedir assistência médica para uma morte rápida" (ANGOLAPRESS, 2011).

ALEMANHA

Administrar um droga mortal na Alemanha é equivalente a um assassinato,

passível a seis meses a cinco anos de prisão. Contudo, a lei permite a eutanásia

passiva, ou seja, a interrupção de um tratamento destinado apenas a manter a vida,

mas somente quando tiver feito um pedido expresso para isso (UOL, 2005).

A ministra da Justiça alemã, Sabine Leutheusser-Schnarrenberger, elogiou a

sentença, por trazer clareza jurídica a casos semelhantes e respeitar os direitos

individuais e a "dignidade humana". A decisão, porém, não legaliza o suicídio

assistido ativo, punido no país com até cinco anos prisão (BBC BRASIL, 2010).

ITÁLIA

Na Itália, um forte país católico, a eutanásia é proibida e o assunto é mais ou

menos tabu. Um debate vem crescendo no país e o ministro da Saúde Girolamo

Sirchia, em 2003, trouxe a discussão à tona sobre a possibilidade de permitir o livre-

arbítrio às pessoas que se opõem a meios extremos para manter a vida (UOL, 2005)

Morreu por eutanásia em 2009 a italiana Eluana Englaro, de 38 anos, que há

17 estava em estado vegetativo devido a um acidente de trânsito em 1992 que a

deixou em coma. Em novembro de 2008, seus pais obtiveram na Justiça, em última

instância, uma autorização para deixar a filha morrer. A sentença, no entanto, foi

ameaçada por um projeto de lei proposto pelo premiê italiano, Silvio Berlusconi

(VEJA, 2009).

HOLANDA

No ano 2000, a Holanda foi o primeiro país a aprovar a eutanásia. Esta lei

holandesa também ganhou atenção mundial, mas não houve admiração. Depois da

Holanda, apenas dois outros países deram o mesmo passo: a Bélgica, em 2002, e

Luxemburgo, em 2009 (RNW, 2010).

A Holanda foi o primeiro país no mundo a legalizar a eutanásia sob certas

condições em um lei que entrou em vigor em 1º de abril de 2002, embora a prática já

fosse tolerada desde 1997. A lei concede proteções legais aos médicos desde que

eles usem de estritos critérios. Em 2003, autoridades médicas registraram mais de

1.800 casos de pessoas que tiveram a vida terminada desde a adoção da lei (UOL,

2005).

Para os holandeses, parece ser mais fácil aceitar a ideia de que um médico

pode ajudar ativamente a pôr fim a uma vida graças a conhecidos valores nacionais

como tolerância, transparência e controle: “Por causa da grande tolerância, o desejo

de outras pessoas é levado a sério. E por nossa abertura, é muito mais fácil falar aqui

sobre o desejo de morrer”, acredita o professor Van Leeuwen (RNW, 2010).

Ao invés de seguidores, a política de eutanásia holandesa recebeu muitas

críticas internacionais nos últimos dez anos. O Ministro italiano Carlo Giovanardi

afirma que as leis nazistas e as ideias de Hitler estão voltando através da lei

holandesa da eutanásia e do debate sobre como crianças doentes serão mortas

(RNW, 2010).

Estas imagens assustadoras não são apoiadas pelas cifras: o número de

casos de eutanásia ativa está há anos em torno de 2500, um pouco abaixo do que

antes da aprovação da lei da eutanásia. Já a crítica sobre o assassinato de crianças

se refere a um protocolo médico de alguns neonatologistas sobre pôr fim à vida de

bebês recém-nascidos em casos de sofrimento insuportável e quando não há

esperança de sobrevivência. De acordo com o professor Van Leeuwen, este

protocolo, na prática, quase não é utilizado. “Pode-se questionar se ele era mesmo

necessário”, conclui Van Leeuwen (RNW, 2010).

NORUEGA

A eutanásia ativa é ilegal e passível a sentenças iguais a de homicídios. No

entanto, a forma passiva da eutanásia é permitida se o paciente ou a família

requisitarem - este último no caso de o doente não poder se comunicar (UOL, 2005).

A prática passive da eutanásia sem uma solicitação prévia pela família ou

paciente, em contrapartida, é um crime que pode levar a ações legais ou a cassação

da licença médica (UOL, 2005).

ESPANHA

A lei espanhola determinou em 1995 que a eutanásia e o suicídio assistido

não deviam ser considerados assassinato. Sentenças de prisão não são aplicáveis se

o paciente fez um requisição específica e repetida para ser liberado a morrer, no caso

de o doente sofrer de um mal incurável ou um enfermidade limitante e que provoque

sofrimento extremo e permanente, sendo a Espanha, um dos primeiros países a

discutir a questão da regulamentação da eutanásia. Na Espanha, a eutanásia e o

suicídio assistido constituem-se crimes. Auxiliar uma pessoa que deseja se suicidar

pode ter uma pena de seis meses a seis anos de prisão (UOL, 2005).

Em 2007, o governo da região da Andaluzia, no sul da Espanha, aprovou o

desligamento do aparelho de respirar que mantém com vida uma mulher que sofre de

distrofia muscular, informaram fontes da Secretaria de Saúde. O aval foi emitido pelo

Comitê Autônomo de Ética do Governo andaluz, que considerou que a situação de

Inmaculada Echevarría, de 51 anos, pode ser enquadrada no caso de "limitação do

esforço terapêutico", reconhecido pela lei de Autonomia do Paciente. Pode criar

precedente para pacientes que no futuro se encontrem em uma situação similar à de

Inmaculada e queiram fazer valer seu direito de morrer dignamente (UOL, 2007).

SUÉCIA

Na Suécia, qualquer ato ligado à eutanásia pode enfrentar inquérito. A morte

assistida é uma ofensa passível a cinco anos de prisão. Um médico pode, no entanto,

em casos extremos, desligar os parelhos que sustentam a vida (UOL, 2005).

Em maio de 2010, uma mulher de 32 anos totalmente paralisada desde os 6

anos de idade, morreu na Suécia, após o desligamento do aparelho respiratório que a

mantinha viva, anunciou o hospital, reconhecendo o primeiro caso de eutanásia no

país. No mês anterior as autoridade de saúde suecas autorizaram o desligamento do

aparelho, após o sinal verde da Sociedade de Medicina da Suécia. A legislação sueca

autoriza um paciente a interromper o tratamento, mas considera crime a ajuda à

eutanásia (R7, 2010).

SUÍÇA

A eutanásia ativa e direta é vetada na Suíça, mas a assistência passiva do

suicídio é legal. Um médico pode providenciar a um doente terminal ou incurável, que

deseje dar cabo de sua vida, uma dose letal de drogas. O paciente tem de administrar

esta dose por conta própria em seu corpo, sem a ajuda médica (UOL, 2005).

Um casal britânico em estágio terminal de câncer morreu em uma clínica de

eutanásia na Suíça. Peter Duff, de 80 anos, e Penelope, de 70, morreram na clínica

Dignitas, em Zurique, em 2009. A clínica foi criada pelo advogado Ludwig Minelli há

dez anos como uma organização sem fins lucrativos. O suicídio assistido é permitido

pelas leis suíças desde que quem contribui para que ele aconteça não ganhe com

isso. A prática é proibida em vários países e quase mil pessoas já viajaram para a

Suíça para morrer com a ajuda da clínica (BBC BRASIL, 2009).

CONCLUSÃO

A eutanásia sempre esteve e sempre estará presente em nossa história. Sua

prática nos acompanha desde os primórdios das civilizações e a etimologia surgiu da

Grécia Antiga para se expandir pelo mundo. Como pudemos analisar durante todo o

trabalho, aquilo que era prática comum e/ou obrigatória passou a ser condenável,

conforme a consciência daquilo que seria ético ou imoral foi se aperfeiçoando e

atingindo a opinião das pessoas e, conseqüentemente, da Lei, que as acompanha.

Essa lei, que hoje defende ferrenha e sabiamente o direito à vida, impedindo qualquer

tentativa contra ela, também impede que o exercício de dignidade da pessoa humana

possa ser exercido em toda sua plenitude, visto que o enfermo já não pode dispor do

seu bem mais precioso, que é a sua vida caso viva em sofrimento atroz.

O objetivo da eutanásia não é exterminar humanos, como ocorreu na

Segunda Guerra Mundial, onde quem não fosse da raça ariana era impuro, inferior e

não merecia viver. A eutanásia visa o respeito ao ser humano, evitando sofrimento e

tortura ao seu término.

Este estudo a respeito da finitude e do sofrimento permitiu que se pudesse

vislumbrar a eutanásia como possibilidade de alívio para uma existência miserável e

sem sentido, desde a perspectiva de seu titular. Nesta circunstância, a bioética surge

para permitir o amparo daquele que padece, garantindo sua autonomia em poder

optar por uma boa morte. Para piorar, há situações em que os médicos se empolgam

na sua missão de salvadores preferindo um tratamento desnecessário frente ao

quadro clínico irreversível e fortunas são gastas com esses pacientes. É importante

destacar que a vida humana não merece economia, mas ao invés de gastar quantias

altíssimas em casos irrecuperáveis, o dinheiro poderia ser investido em outros setores

da saúde pública (SIQUEIRA-BATISTA, 2004).

Silva (2000) observa que o Estado não proíbe ao indivíduo dispor de sua

própria pessoa, quando este elege uma profissão perigosa, como a de aviador, pára-

quedista, mineiro, domador de feras, equilibrista, acrobata, etc... então porque o

indivíduo não teria o direito de conduzir sua própria vida?

O simples fato de o ser humano querer poupar-se de sofrimento fente à morte

inevitável, não deve ser visto como afronte a Constituição Federal no tocante do

direito à vida. Sendo a eutanásia um tema polêmico e complexo e não se sabe se é

um direito de matar ou um direito de morrer, proibí-la para quem a deseja seria anular

o principio da autonomia da vontade.

Atendida a proposta desta pesquisa, que é a de oferecer uma reflexão, sem

pretensão alguma de ser conclusiva, sobre a eutanásia, encerramos destacando a

importância da cautela ao se optar por essa técnica, principalmente analisando a

irreversibilidade da doença, para que a eutanásia não passe de um exercício de

dignidade a um mero descarte de seres humanos.

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