documento protegido pela lei de direito autoral · agitadas, desafiadoras, agressivas, passionais,...

51
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA TDA/H NA SALA DE AULA Por: Rosane Nunes Bruno Orientador Profa. Mary Sue Pereira Rio de Janeiro 2014 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

Upload: phungtruc

Post on 01-Dec-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

TDA/H NA SALA DE AULA

Por: Rosane Nunes Bruno

Orientador

Profa. Mary Sue Pereira

Rio de Janeiro

2014

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

TDA/ H NA SALA DE AULA

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Educação Especial e

Inclusiva.

Por: Rosane Nunes Bruno

3

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais

4

DEDICATÓRIA

Dedico aos alunos, que fizeram parte da

história da minha vida. Principalmente os

mais levados e com dificuldade de

aprendizagem. Foram eles a lixa que

possibilitou que eu aparasse as minhas

arestas, ativasse a curiosidade, buscasse

o estudo e o auto aperfeiçoamento,

desenvolvendo a paciência.

5

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo, pesquisar as dificuldades

encontradas pelos professores, principalmente nas séries iniciais, e ajudá-los a

encontrar soluções que venham a minimizar o estresse em sala de aula. O

tema TDA/H foi explanado nas suas características, causas e tratamentos e

orientações práticas para o professor em sala de aula.

Insisti em usar a sigla TDA/H, para Transtorno de Déficit de Atenção,

podendo apresentar ou não a Hiperatividade.

Considero que as crianças com Transtornos de Déficit de Atenção

(TDA) um problema igualmente sério. Na maioria das vezes silenciosos, não

dão trabalho e por isto só se tornam uma preocupação na hora da avaliação.

Enquanto que os Hiperativos (TDAH), marcam logo sua presença e logo são

encaminhados a uma avaliação, na espera de que diminuindo sua aceleração,

possam trazer mais tranquilidade ao ambiente escolar.

6

METODOLOGIA

Foram realizadas leituras e pesquisas em documentos coletados pela

internet, livros, observações diárias em sala de aula e experiência de casos

vivenciados ao longo de muitos anos como regente de turma no ensino

fundamental.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Características dos alunos com

transtornos de déficit de atenção e hiperatividade 10

CAPÍTULO II - Causas e tratamentos 19

CAPÍTULO III – O que o professor pode fazer ? 27

CONCLUSÃO 40

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 41

ANEXOS 44

ÍNDICE 50

FOLHA DE AVALIAÇÃO 51

8

INTRODUÇÃO

Inúmeros fatores podem ser considerados ao relacionar as causas dos

Transtornos de Déficit de Atenção e Hiperatividade.

Existe uma variedade de possíveis causas, mas nenhuma

isoladamente é comprovada como desencadeadora do transtorno.

Os estudos não apontam uma única razão.

Dentro do ventre materno e fora dele, somos bombardeados por

inúmeros estímulos, na maioria das vezes, desagradáveis.

Só há uma saída: transpormos as barreiras e superarmos os

inconvenientes senão quisermos desistir de viver.

Assim como qualquer problema na vida.

Como professores, cabe-nos a difícil tarefa de não nos determos nas

causas e procurarmos ações produtivas para minimizarmos os problemas, quer

sejam de alunos portadores de necessidades especiais, problemas de conduta

e os diversos transtornos sociais e psicológicos que nos acometem e aos

nossos alunos frequentemente.

As crianças hiperativas apresentam dificuldade de prestar atenção a

tarefas que consideram entediantes, repetitivas ou difíceis, e que não lhe dão

satisfação. Mas são capazes de se concentrar por horas a fio em uma

atividade que apreciam e na qual são boas.

O que me faz refletir, que poderia estar se referindo a qualquer um de

nós adultos. “Somos donos do nosso nariz.” Fazemos o que queremos, quando

queremos e do modo que queremos, quando temos dinheiro, poder e

autonomia para isto. Nós adultos não ficamos numa palestre, não assistimos

um programas, nem aguentamos uma conversa entediante, a menos que

sejamos obrigados. Não é mesmo ?

Pergunto ? Como são nossas aulas ?

9

A sala de aula do início do século XXI , apesar de todo conhecimento

tecnológico, não é muito diferente de uma na Idade Média. O professor

“detentor do saber” despejando seu conhecimento sobre os “ignorantes”.

Sugiro a cada professor se imaginar sentado numa das carteiras

assistindo a sua aula diariamente.

Agora vamos voltar a falar sobre o aluno TDA/H.

Falta ao aluno TDA/H o discernimento, o auto controle, que nós

adultos aprendemos com o tempo, os sensores da família, da escola, da

sociedade.

As crianças com TDA/H são frequentemente acusadas de não prestar

atenção, mas na verdade, elas prestam atenção a tudo. O que não possuem é

a capacidade para planejar com antecedência, focalizar a atenção

seletivamente e organizar respostas rápidas.

A proposta deste trabalho é ajudar o professor a diminuir as

dificuldades do aluno, promovendo um ambiente agradável de ensino

aprendizagem.

10

CAPÍTULO I

CARACTERÍSTICAS DOS ALUNOS COM

TRANSTORNOS DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E

HIPERATIVIDADE

...Eu vivo sempre no mundo da lua

Tenho alma de artista

Sou um gênio sonhador e romântico ...

(Lindo Balão Azul – Guilherme Arantes)

Ele é chamado às vezes de DDA ( Distúrbio do Déficit de Atenção). Em

inglês, também é chamado de ADD, ADHD ou de AD/HD.

É reconhecido oficialmente por vários países e pela Organização

Mundial de Saúde. Em alguns países, como nos Estados Unidos, indivíduos

que apresentam Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade ( TDA/H )

são protegidos pela lei quanto a receberem tratamento diferenciado na escola.

Existe inclusive um Consenso Internacional publicado pelos mais

renomados médicos e psicólogos de todo o mundo a este respeito. Consenso

é uma publicação científica realizada após extensos debates entre

pesquisadores de todo o mundo, incluindo aqueles que não pertencem a um

mesmo grupo ou instituição e não compartilham necessariamente as mesmas

ideias sobre todos os aspectos de um transtorno.

11

O Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade “TDA/H” é um

transtorno neurobiológico de causas genéticas, que aparece na infância e

frequentemente acompanha o indivíduo por toda a vida.

A tríade sintomatológica clássica da síndrome caracteriza-se por:

desatenção, hiperatividade e impulsividade.

As primeiras referências a hiperatividade e desatenção na literatura não

médica datam do século XIX.

“ George Frederic Still, em 1902, fez alguns estudos com

grupos de crianças que apresentavam características

agitadas, desafiadoras, agressivas, passionais, com a

finalidade de obter delas um comportamento mais

aceitável. Descobriu que, por não existirem maus tratos

pelos pais, os problemas deveriam ser de origem

biológica, pois alguns membros da família possuíam

problemas psiquiátricos como depressão, problemas de

conduta, alcoolismo, dentre outros.” (HALLOWELL, 1994,

p 271)

Na década de 40 surgiu a designação “Lesão Cerebral Mínima (LCM)”,

que já em 1962 foi modificada para “Disfunção Cerebral Mínima (DCM)”,

reconhecendo-se que as alterações características da síndrome relacionam-se

mais a disfunções em vias nervosas do que propriamente a lesões nas

mesmas.

A prevalência do transtorno tem sido pesquisada em inúmeros países

em todos os continentes.

Estudos nacionais e internacionais que utilizam os critérios plenos do

DSM IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - Psicoses

4ª edição) tendem a encontrar prevalências ao redor de 3% a 6% em crianças

em idade escolar, sendo a proporção entre meninos e meninas afetados

variando de aproximadamente 2/1 em estudos populacionais até 9/1 em

estudos clínicos. A diferença entre essas proporções provavelmente se deve

ao fato de as meninas apresentarem mais sintomas de desatenção e menos

12

hiperatividade, causando menos incômodo às famílias e à escola, e portanto,

serem menos encaminhadas ao tratamento.

A desatenção pode ser identificada pelos seguintes sintomas:

frequentemente deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por

descuido em atividades escolares ou atividades lúdicas; com frequência parece

não escutar quando lhe dirigem a palavra; com frequência não segue

instruções e não termina seus deveres escolares ou tarefas domésticas ( não

devido a comportamento de oposição ou incapacidade de compreender

instruções); com frequência tem dificuldade para organizar tarefas e

atividades, com frequência evita, antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas

que exijam esforço mental constante; perde coisas brinquedos, livros,

cadernos, lápis, etc... , sendo facilmente distraído por estímulos alheios à

tarefa.

A hiperatividade pode ser identificada pela presença frequente das

seguintes características: frequentemente agita as mãos ou os pés ou se

remexe na cadeira; frequentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou

outras situações nas quais se espera que permaneça sentado; frequentemente

corre ou escala em demasia, em situações na quais isto é inapropriado (em

adolescentes e adultos, pode estar limitado a sensações subjetivas de

inquietação); com frequência tem dificuldade para brincar ou se envolver

silenciosamente em atividades de lazer; está frequentemente “a mil” ou muitas

vezes age como se estivesse “a todo vapor”; frequentemente fala em

demasia.

Os sintomas de impulsividade são : frequentemente dá respostas

precipitadas antes das perguntas terem sido completadas; com frequência tem

dificuldade para aguardar sua vez, frequentemente interrompe ou se mete em

assuntos de outros, em conversas ou brincadeiras.

São três os tipos de TDA/H : a) com predomínio de sintomas de

desatenção, é mais frequente no sexo feminino e parece apresentar uma taxa

elevadas de prejuízo acadêmico; b) com predomínio de sintomas de

hiperatividade e impulsividade, são mais agressivas e impulsivas do que as

crianças com os outros dois tipos, e tendem a apresentar altas taxas de

13

rejeição pelos colegas e impopularidade; c) combinado, este é mais

fortemente associado ao comportamento de oposição e de desfio e apresenta

também um maior prejuízo no funcionamento global, quando comparado aos

dois outros grupos.

Como se pode perceber, as palavras frequente e frequentemente foram

as mais utilizadas. Um exagerado, seria a definição mais exata.

Muito comuns em nossas salas de aula no ensino fundamental, esses

alunos fazem parte da nossa rotina.

Enquanto a criança TDA/H perde de vista o que está fazendo buscando

interesse em outro lugar e acaba por tumultuar a da aula, a TDA parece não

chamar atenção sobre a sua pessoa, mantendo-se desatenta por longos

períodos, sem captar as informações quando o professor explica.

Essa criança perde detalhes essenciais das informações obtidas e as

processam de forma desordenada. O que aprendeu não está em sua memória

quando necessário. Suas lembranças são vagas, difusas e assim a impede de

realizar as tarefas.

Essa criança pode mudar rapidamente as primeiras impressões sobre as

informações que recebe. É por isso que, pode estar apagando e mudando tudo

o que faz, porque o que vê e escuta nem sempre é processado em conjunto.

Pode apresentar um processamento das informações obtidas e

resgatadas de forma lenta e não conseguir responder frente às pressões do

tempo. Assim os trabalhos escolares podem lhe consumir muito esforço,

esgotando-as rapidamente. Podem dar grandes surpresas de eficiência

quando lhes é dado um período maior de tempo para preparar as respostas.

Muitos desses jovens podem continuar com esses sintomas até a fase

adulta, com grande dificuldade de conhecer limites, ocorrendo em qualquer

classe social, cultural, econômica e racial.

Devido à complexidade que tem o TDA/H, é necessário rigor na coleta de

dados, extraídos dos pais e de profissionais responsáveis pela criança no

momento da avaliação. Um diagnóstico apressado, pode trazer transtornos

para jovens que apresentam outros problemas.

14

É importante que essa avaliação seja feita por uma equipe especializada,

pois os sintomas de hiperatividade ou de impulsividade, sem prejuízo na vida

da criança podem traduzir muito mais estilos de funcionamento ou de

temperamento do que um transtorno psiquiátrico, sendo necessária uma

avaliação cuidadosa de cada sintoma e não somente a listagem dos sintomas.

É importante não se restringir tanto ao número de sintomas no

diagnóstico de adolescentes, mas sim no grau de esforço necessário para a

manutenção do ajustamento.

Em geral, a criança com TDA/H é punida com castigos físicos e não são

poucos os comentários que fazem do seu caráter. Como tem dificuldade de

controlar os seus impulsos e se mete em confusões e desentendimentos em

família ou com outras crianças, acaba acreditando-se má, incapaz, um

estorvo. Muitas crianças demonstram o seu sofrimento revelando o desejo de

fugir de casa ou de se matar.

Embora todos reclamem, se esta criança for tratada adequadamente, os

resultados positivos começarão a surgir, e talvez por isso, muitas famílias

boicotem o tratamento, pois sua melhora pode ameaçar o sistema familiar,

que encontrou seu equilíbrio ou sua desculpa, nessa criança “problemática”.

Alguns membros da família são acusados de serem severos demais,

outros de bonzinhos, mas não entendem como uma criança que não se fixa

em nada e provoca uma confusão quando chega, consegue ficar horas a fio

grudada num jogo ou no computador.

Algumas crianças, sentem-se apoiadas em casa, não apresentando

problemas mais sérios. Mas, ao chegarem à escola e serem solicitadas a

cumprir metas e seguir rotinas, executar tarefas, sendo recompensada ou

punida de acordo com sua eficiência, começam a apresentar dificuldades. A

família não vai estar lá para facilitar as coisas para ela.

O desempenho escolar é marcado pela instabilidade. Num momento é

brilhante e no outro sofrível. Muitas vezes a criança é desatenta, incapaz de se

manter quieta, apresenta dificuldade de relacionamento com os coleguinhas.

Algumas vezes pode atropelar a atividade do grupinho com interrupções ou

gestos bruscos, querer impor regras ou insistir em continuar a brincadeira. Em

15

outros momentos, parece estranha, enjoa rapidamente da brincadeira para

fazer outra coisa. Pode falar demais, sem pensar, ofender alguém ou deixar

escapar algum segredo do coleguinha.

Quando essa criança é advertida, logo se dá conta, sente-se

inadequada, o que diminui mais ainda sua autoestima.

Por outro lado, pode ser capaz de inventar brincadeiras diferentes ou

histórias fantásticas. A criatividade pode levar a ter sucesso entre os colegas

na hora das brincadeiras, pois consegue inventar modos novos com os

recursos disponíveis. Isso pode ocorrer em sala de aula, quando resolve uma

situação matemática de uma forma diferente daquela apresentada pelo

professor. Eventualmente é repreendida como desobediente por executar as

coisas ao seu modo, sem seguir a forma padrão.

O problema encontrado pelos especialistas que se dedicam ao estudo

do Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade é que a epidemiologia em

psiquiatria é mais complexa do que em outras áreas da medicina. O ser

humano é único e individual, inúmeras variáveis poderão interferir na razão de

um comportamento.

Escalas são utilizadas para coletar dados. Nós questionamos se ao

somar esses resultados, não se está somando o que não se pode somar?

Será que não se está comparando resultados que são incomparáveis?

Diferentes pesquisas, que tem utilizado as mesmas escalas, com os

mesmos desvios padrão, são comparadas com resultados de outras pesquisas

no que se refere à idade ao sexo e às condições socioeconômicas. Espera-se

que tal informação forneça resultados semelhantes.

O especialista faz o diagnóstico e pode induzir os pacientes em suas

respostas. É difícil a pesquisa em que o especialista esteja num experimento

cego ou seja em que ele esteja isento de conhecimentos prévios. O método

nem sempre leva a resultados semelhantes. As pesquisas são conduzidas

para um conjunto de informações controvertidas.

Na maioria das vezes, a criança com TDA/H apresenta mais um distúrbio

associado. As pesquisas estimam que 70% das crianças com o déficit

apresentam outra comorbidade e pelo menos 10% apresentam três ou mais.

16

Os transtornos coexistentes podem gerar forte influência em como os

sintomas de TDA/H irão se manifestar. Assim , afetam o modo, o

comportamento e o desempenho escolar.

A maneira pela qual a criança será tratada, dependerá das desordens

secundárias. A mais comum é o Transtorno Opositivo Desafiador (TOD), um

transtorno de conduta que abrange, aproximadamente, um terço da população

de TDA/H.

Outras comorbidades frequentes são; a depressão, a ansiedade, os

tiques e a Síndrome de Tourette.

Os transtornos associados ao TDA/H e suas frequências são: Desordem

Secundária 66%, Problemas de leitura 60%, Transtorno Opositivo Desafiador

(TOD) 33% , Transtorno de Ansiedade 25% a 35% , Transtorno de Conduta

25% , Depressão de 10% a 30%, Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) de

10% a 17%, Transtorno de Leitura 10%, Síndrome de Tourette 7%.

Quanto a relação de TDA/H e os superdotados, não há relação direta. È

um transtorno neurobiológico altamente genético e pode ocorrer em qualquer

tipo de criança, tanto naquelas com inteligência normal, quanto nas

superdotadas. Elas são independentes e podem ocorrer ou não ao mesmo

tempo.

É muito comum algumas pessoas apresentarem alguns desses sinais e

já serem diagnosticadas com TDA/H sem realmente ser. Muitas crianças

recebem cedo esse diagnóstico, sem realmente possuir o transtorno. Isso

ocorre porque os sintomas são comuns em vários outros transtornos e também

a sintomas normais do dia a dia, que qualquer um pode ter. Um profissional

deve ser consultado para que a melhor observação e análise possam ser feitas

e o diagnóstico seja mais seguro. É muito importante avaliar se estão

ocorrendo motivos de ansiedade, conflitos familiares, bulling ou qualquer

situação difícil que a criança possa estar passando.

Além de auxiliar as crianças que sofrem com o transtorno, as terapias

também podem ser ótimas aliadas dos pais, que podem estar necessitando de

apoio devido ao aparecimento de quadro depressivo e ansioso ou mesmo

conflitos conjugais, os quais podem exacerbar dificuldades de convivência

17

familiar, podendo desestruturar ainda mias o ambiente e acarretar maiores

dificuldades na criança.

No Brasil, de uma população alvo em torno de 17 milhões, somente 30

mil estão em tratamento. No Canadá, numa população alvo de

aproximadamente 13 milhões, 8 milhões encontram-se em tratamento. Na

Alemanha, numa população alvo de 25 milhões de habitantes,

aproximadamente 8 milhões encontram-se em tratamento. E, nos Estados

Unidos, numa população alvo em torno de 25 milhões de pacientes, mais de

10 milhões encontram-se em tratamento.

Pelas informações citadas acima, pode-se avaliar a atual situação dos

países desenvolvidos em relação ao portador de TDA/H comparada a situação

no Brasil. Pode-se perceber que estamos muito longe do ideal. É preciso que

nossas crianças com necessidades especiais, entre elas as com Transtorno de

Déficit de Atenção (TDA) e as com Transtornos de Déficit de Atenção e

Hiperatividade (TDAH) tenham maior atenção nas escolas e postos de saúde.

Sendo reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o

Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade (TDA/H), se não for tratado

com seriedade e dedicação, pode trazer sérias consequências para o futuro

dos pequenos.

A maioria dos portadores de TDA/H na infância mantém sintomas

evidentes ou residuais após a adolescência. Cerca de 1 em 20 crianças ( 5%

da população ) mantem os sintomas e dificuldades na vida adulta. Em

adolescentes e adultos o transtorno é um pouco diferente de quando em

crianças. A proporção entre homens e mulheres é quase a mesma e o

comportamento hiperativo é menos evidente, pois, geralmente, os sintomas

que predominam são a desatenção e a impulsividade. Na criança, incomoda a

hiperatividade e o baixo desempenho escolar. No adulto, o transtorno afeta

seriamente a qualidade de vida, na área afetiva, social, acadêmica ou

profissional. A maioria possui quadros variáveis, como dificuldades de se

organizar, planejar, administrar o tempo e lembrar-se de datas e compromissos

importantes. Isto leva o indivíduo a enfrentar: baixo rendimento no trabalho,

18

dificuldades conjugais, problemas em participar de projetos de médio e longo

prazos, constantes atrasos e desorganização.

No Brasil, cerca de 2 milhões de brasileiros adultos sofrem com esse

transtorno, em grande parte por não se reconhecer assim. A maioria dos

nossos alunos são recebe diagnóstico na infância e passa grande parte da

vida com dificuldades buscando adaptações constantes. São rotulados de

malcriados, mimados, sem limites, deficientes intelectuais e excêntricos.

Podendo gerar outros problemas de saúde como : ansiedade, depressão,

distúrbios de conduta, dislexia e tiques. O problema não aparece em exames,

sendo o diagnóstico fruto de avaliação médica abrangente e estruturada

durante uma consulta. Mesmo sendo diagnosticados e tratados

adequadamente, muitos adultos não conseguem lidar com os sintomas,

causando estresse em casa ou no trabalho.

19

CAPÍTULO II

CAUSAS E TRATAMENTOS

“Quando nasci veio um anjo safado/

O chato dum querubim/

E decretou que eu tava predestinado/

A ser errado assim/

Já de saída a minha estrada entortou/

Mas vou até o fim

“Até o fim”

(Chico Buarque)

Apesar de todos os estudos realizados para tentar descobrir as possíveis

causas do Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade (TDA/H), elas

continuam ainda desconhecidas. São muitas as hipóteses, mas nenhuma

responde satisfatoriamente em todos os casos.

Nenhuma hipótese isolada obteve aceitação, porém várias formas

apoiadas por evidências convincentes focalizadas em alguma anormalidade de

funcionamento cerebral, genética ou adquirida e até mesmo através da

socialização.

Não existe base neurofisiológica ou neuroquímica específica para o

transtorno. O TDA/H está associado a outros transtornos que afetam as

funções cerebrais, como o transtorno de aprendizagem.

As exposições tóxicas no período de gestação, a prematuridade e insulto

mecânico ao sistema nervoso central fetal, também são fatores que podem

contribuir para o TDA/H. E apesar de estar caracterizado por sintomas de

desatenção, hiperatividade e impulsividade, existem diferentes quadros

20

clínicos, bem como várias possibilidades de tratamento, indicando, pelo menos

ao nível fenotípico, o TDA/H é uma patologia heterogênea.

A primeira ligação entre a hiperatividade e a hereditariedade foi

estabelecida pelos estudos dos familiares da criança hiperativa. O

comportamento dos pais aflitos e agitados, pode proporcionar que uma

criança tenha hiperatividade, e esta criança pode desencadear problemas

comportamentais em outros membros pela difícil convivência e pelo ambiente

caótico que geram.

Muitos cientistas acreditavam que algumas crianças poderiam ter

sofrido uma lesão cerebral mínima ou sutil no período fetal e perinatal, no

Sistema Nervoso Cerebral. Lesão causada por insultos circulatórios, tóxicos,

metabólicos, mecânico, bem como por estresse e insulto físico ao cérebro

durante a primeira infância, causados por infecção, inflamação e

traumatismo. Esta gravidade mínima, sutil e subclínica da lesão cerebral

poderia ser responsável pela gênese de distúrbios do aprendizado e do

TDA/H. Sinais neurológicos leves são frequentes.

Porém, com o passar do tempo, os cientistas perceberam que a

maioria das crianças com TDA/H não apresentavam história de lesões

cerebrais, estando apenas relacionadas em 5 a 10% das crianças que

desenvolveram o TDA/H devido algum tipo de lesão cerebral, embora deva

haver algo disruptivo no desenvolvimento dessa porção do cérebro.

Alguns cientistas sugeriram que alguns neurotransmissores se

encontravam diminuídos nos portadores do TDA/H, alguns associados com os

sintomas de déficit de atenção e hiperatividade, como efeito positivo das

medicações sobre o transtorno. A dopamina e noradrenalina são afetadas

pelos estimulantes, levando a hipótese de neurotransmissores que incluem

uma possível disfunção dos sistemas, tanto adrenérgico quanto

dopaminérgico. Vários neurotransmissores podem estar envolvidos no

processo, o que evidencia que não existe um único neurotransmissor

responsável no desenvolvimento do TDA/H.

21

Algumas crianças apresentam um atraso no amadurecimento na

sequencia evolutiva e podem apresentar um quadro clínico temporário do

TDA/H, que com o tempo pode ser normalizado, quando logo detectado pelo

EEG.

Estudos confirmaram que altos níveis de chumbo no sangue produzem

transtornos cognitivos e comportamentais em algumas crianças, estando esses

associados a um maior risco de comportamento hiperativo e desatenção. Por

ser um metal sem nenhum valor biológico conhecido, quando ingerido, pode

envenenar o sistema energético humano. Alguns estudos, mostraram que

níveis altos de chumbo no organismo podem causar o TDA/H.

O ambiente psicossocial é de suma importância para tentar diagnosticar

caudas do TDA/H. Crianças que experimentaram perdas ou separações

precoces apresentam sintomas característicos deste transtorno, já que os

sintomas de TDA/H são intensificados por estresse, por situações não

estruturadas e por exigências complexas por desempenho.

Os ambientes da sociedade atual são excessivamente estimulantes à

criança, com jogos de videogames, televisão, múltiplas atividades além das

escolares. Muitas crianças convivem com pais estressados que vivem correndo

sem tempo para nada, inclusive para elas, e que a cobram excessivamente;

consequentemente, elas podem ficar habituadas a muitas novidades,

estímulos complexos e seus sistemas de atenção podem não responder aos

estímulos de um nível mais baixo envolvido no trabalho escolar.

Alguns cientistas observaram que crianças nascidas de mães

alcoólatras apresentavam maior risco de problemas comportamentais como

hiperatividade e falta de atenção, e até mesmo como TDA/H clínico. Algumas

pesquisas científicas evidenciam que a exposição ao fumo de cigarro se

relaciona a problemas de comportamento semelhantes ao TDA/H.

Existem vários mitos sobre as possíveis causas do TDA/H sem nunca ter

tido base científica para tais. Pesquisas evidenciaram que não existe nenhuma

relação desses fatores com o TDA/H. Entre eles, se encontram: a ingestão de

produtos químicos e aditivos nos alimentos, o açúcar, deficiências de

22

vitaminas, fungos, problemas no aparelho vestibular, fraco controle paternal

sobre as crianças, televisão em excesso.

Estudos mostraram que os pais que apresentam o TDA/H são mais

propensos a ter filhos com este transtorno, devido aos fatores hereditários,

bem como complicações durante a gravidez ou no parto, mãe fumante,

consumidora de álcool, mãe com convulsões, internadas várias vezes durante

ou após o parto, bebês prematuros e de baixo peso, têm maior probabilidade

de desenvolver o TDA/H mais tarde, durante a infância.

Podemos perceber que existe uma variedade de possíveis causas para

o TDA/H, mas que nenhuma isoladamente é comprovada como a

desencadeadora desse transtorno. Verificamos ainda, que os fatores genéticos

e alguns problemas ocasionados pela lesão cerebral constituem uma das

causas mais importantes para a explicação do TDA/H.

O tratamento do TDA/H envolve uma abordagem múltipla englobando

intervenções psicossociais e psicofarmacológicas.

No âmbito das intervenções psicossociais, o primeiro passo deve ser

educacional, através de informações claras e precisas à família a respeito do

transtorno. Muitas vezes, é necessário um programa de treinamento para os

pais, para que aprendam a manejar os sintomas dos filhos. É importante que

eles conheçam as melhores estratégias para o auxílio de seus filhos na

organização e no planejamento das atividades.

Intervenções no âmbito escolar também são importantes. As

intervenções escolares devem ter como foco o desempenho escolar. Nesse

sentido, idealmente, os professores deveriam ser orientadas.

O tratamento com a educação psicomotora pode estar indicado para

melhorar o controle do movimento.

A psicoterapia individual de apoio ou de orientação analítica pode estar

indicada para : a) abordagem das comorbidades ( principalmente transtornos

depressivos e de ansiedade); e b) a abordagem de sintomas que

comumente acompanham o TDA/H ( baixa auto estima, dificuldade de controle

de impulsos e capacidades sociais pobres). A modalidade psicoterápica mais

estudada e com maior evidência científica de eficácia para os sintomas

23

centrais do transtorno ( desatenção, hiperatividade, impulsividade), bem como

para o manejo de sintomas comportamentais comumente associados

( oposição desafio, teimosia) é a cognitivo comportamental, especialmente os

tratamentos comportamentais.

Os sintomas do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade é um

problema de saúde pública, considerando os problemas causados, seja na

infância e adolescência e na escola, seja na idade adulta e no trabalho, ou em

ambas, nos relacionamentos com os demais.

É bem provável que uma criança com TDA/H seja avaliada em um setor

de emergência, e até mesmo em situação de urgência, não por causa dos

sintomas (desatenção, hiperatividade e impulsividade, e sim pelos prejuízos

causados por esses sintomas, como: traumas ocorridos em acidentes em

prayground, quedas e colisões durante jogos, ou esporte e traumas dentários.

Esses acidentes podem ocorrer com qualquer pessoa, mas é a partir de

um determinado número de sintomas e do prejuízo causado por eles, que um

indivíduo passa a ser classificado como possuindo o transtorno.

O diagnóstico precoce de crianças com TDA/H é de vital importância em

serviços de emergência, pois podem estar sob risco. É preciso que pelo menos

seis de nove sintomas de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade

estejam presentes de forma frequente nos últimos seis meses para se fazer o

diagnóstico.

O uso de serviços de saúde pelos indivíduos com TDA/H ao longo da

vida causa um impacto econômico, por ser um dos transtornos mais referidos

em cuidados primários.

Outro fator de importância do TDA/H é a presença de comorbidade.

Corresponde a associação de pelo menos duas patologias num mesmo

paciente. com transtornos psiquiátricos já na infância, como transtorno bipolar,

do humor, transtorno de conduta e transtorno de uso de substâncias.

No caso do TDA/H, as crianças serão atendidas inicialmente por um

pediatra.

A identificação de características clínicas com um risco aumentado para

transtorno bipolar poderia favorecer o diagnóstico, o prognóstico e o

24

tratamento. Um grande número de pacientes dão entrada na emergência com

mania e hipomania. São pacientes com transtorno bipolar que já haviam

recebido estimulante.

A violência escolar, talvez a tradução mais próxima de bullying, também

teve demonstrada sua relação com TDA/H, em estudo com crianças de 10

anos, tanto como agressores como vítimas. Outro estudo encontrou crianças

autistas com TDA/H em risco aumentado para comportamentos violentos na

escola.

Entre as várias comorbidades encontradas, parece que o TDA/H é uma

das mais prevalentes em crianças e adolescentes, provavelmente pela

impulsividade, na associação significativa entre jogar videogame por mais de

uma hora por dia e desatenção.

Em um grupo de meninas brasileiras, foi encontrado um alto número de

pacientes com TDA/H e transtorno de compulsão alimentar, tinham taxas de

depressão, transtornos de ansiedade e transtornos disruptivos do

comportamento.

Entre os fatores associados com piores prognósticos em pacientes com

TDA/H, estão aqueles sem uso de medicação, inadequação parental,

ambientes sociais e familiares adversos e estresse psicossocial.

É necessário identificar fatores associados a estes riscos, sejam eles

comorbidades mais comumente associadas ao TDA/H ou outros fatores de pior

prognóstico, para um tratamento mais adequado para aquela situação.

É importante que exista uma interação entre pais e profissionais para

tornar a qualidade de vida da pessoa com Transtorno de Déficit de Atenção /

Hiperatividade cada vez melhor.

O tratamento do TDA/H envolve uma abordagem múltipla, englobando

intervenções psicossociais e psicofarmacológicas. É importante que o

acompanhamento seja feito pela equipe multidisciplinar, na qual exerce a sua

parcela de contribuição no processo. Alguns profissionais como : Professores,

Psiquiatras, Neurologistas, Psicopedagogos, Psicólogos e Nutricionistas,

podem ser consultados.

25

O tratamento com o Fonoaudiólogo é indicado, pois a pessoa que

possui TDA/H apresenta dificuldade na leitura (dislexia) ou na escrita

(disortografia), pois a dificuldade de manter a atenção, a desorganização e a

inquietação atrapalham bastante o rendimento escolar.

O Psicólogo ajuda o paciente com técnicas para lidar com sua rotina

pessoal e escolar, além de trabalhar suas crenças e pensamentos em relação

à doença, pois muitas vezes a criança é excluída no ambiente escolar e

fortemente repreendida pela família. Por isso, a orientação de pais e

educadores é muito indicada como forma de amenizar o sofrimento da criança

e favorecer um ambiente sadio para seu desenvolvimento.

A indicação de remédios é defendida por alguns especialistas como a

maneira mais eficaz de amenizar os sintomas do transtorno – como a falta de

foco, a impulsividade e a hiperatividade. Por outro lado, há quem condene as

medicações utilizadas para essa finalidade, criticando seus efeitos colaterais e,

principalmente, o uso indiscriminado do medicamento. O medicamento serve

para reequilibrar e reajustar a falta de substâncias químicas no cérebro que

interferem no comportamento.

Um grande estudo realizado em centros universitários nos Estados

Unidos e no Canadá ( MTA – Multimodal Treatment Assessment) mostrou que

as crianças tratadas com medicamentos, seja associado ao uso de

psicoterapia ou não, tiveram elevado grau de melhora e um controle maior dos

sintomas.

O problema que que é preciso ter certeza de que se trata mesmo do

distúrbio, pois muitos pacientes são medicados sem um diagnóstico certeiro,

contribuindo para o exagero na prescrição medicamentosa e para um alto

índice de efeitos adversos.

O medicamento administrado de forma indiscriminada pode causar além

das reações adversas, toxidade e prejuízo ao desenvolvimento das crianças

que ainda estão com o organismo em formação, um estimulante do sistema

nervoso tem o mesmo mecanismo de ação das anfetaminas e da cocaína.

Aumentando a concentração de dopaminas (neurotransmissor associado ao

prazer) nas sinapses ( responsáveis pela troca de informações entre os

26

neurônios e as células), mas não em níveis fisiológicos. Sendo um risco muito

alto para o desenvolvimento da criança muitos médicos preverem não indicar.

Alegam que se uma criança desenvolver dependência química, pode

enfrentar crise de abstinência, ou apresentar surtos de insônia, sonolência,

piorando na atenção e na cognição, surtos psicóticos e até alucinações. Além

de cefaleia, tontura e efeito zombie like (a pessoa fica quimicamente contida

em si mesma). No sistema cardiovascular, a droga pode causar hipertensão,

taquicardia, arritmia e até parada cardíaca. No sistema gastrointestinal, pode

provocar boca seca, falta de apetite e dor no estômago. Interferindo em todo o

sistema endócrino, altera a secreção de hormônios sexuais e diminui a

secreção do hormônio do crescimento. Logo as crianças ficam mais baixas e

também essa droga age no seu peso.

O tratamento mais indicado é aquele que envolve a família, podendo

incluir medicamentos, acompanhado de psicoterapia. Às vezes uma orientação

aos pais, uma ajuda pedagógica na escola ou terapia são suficientes para

tratar a criança.

27

CAPÍTULO III

O QUE O PROFESSOR PODE FAZER ?

“Cérebros brilhantes

também podem produzir

grandes sofrimentos...

É preciso Educar Corações.

Dalai Lama

Vivemos um tempo em que tudo se tornou urgente, com vários

dispositivos para facilitar a comunicação, para aproximar distâncias, mas que

formam uma rede tão grande que muitas vezes provocam o distanciamento

entre as pessoas, das circunstâncias, do toque.

O tempo em que vivemos solicita uma atenção simultânea. Uma criança

tem ao seu dispor inúmeros dispositivos, luminosos, sons, cartazes, slogans,

inúmeros canais num aparelho de TV, jogos eletrônicos. Várias ordens que

devem ser obedecidas sem tempo de análise.

Qualquer indivíduo que estivesse adormecido por algum tempo ficaria

confuso e desatento com tantos atrativos e tantas informações.

A escola está sendo pressionada a refletir sobre a sua atuação e assim

como a família, foi abalada na sua estabilidade. Professores precisam

repensar seus saberes, é preciso interromper o que se imaginava conhecido, e

28

escutar o que quebra o padrão. A história das pessoas está sempre por ser

escrita. Contando com as relações de tensão e de disputa constantes.

“O padrão, entretanto, poderá ser alterado por adição, por

repetição ou por qualquer coisa que force vocês a terem

uma outra percepção dele, e essas alterações nunca

podem ser previstas com certeza absoluta porque ainda

não aconteceram.” (BATESON)

No contexto educacional brasileiro, encontramos uma série de fatores

que contribui para um baixo rendimento escolar, como a superlotação das

salas de aula e o despreparo dos professores, reflexo da defasagem na

formação profissional e da sua má remuneração financeira. Além disso, o

mecanismo do sistema educacional, tradicionalmente, concentrando os

objetivos de ensino-aprendizagem no âmbito cognitivo.

Esses objetivos têm sido os mesmos para todos os alunos, e o ponto de

referencia é o aluno padrão. Tal posicionamento levou a uma situação

caracterizada pela homogeneização e inflexibilidade do ensino, a uma

avaliação em função dos objetivos e organização das atividades iguais para

todos.

Desconsiderando as diferenças individuais, a escola atual está

despreparada para as diversidades, sendo incapaz de adequar recursos e

metodologias para a maioria dos alunos e muito mais para os que requerem

um tipo de atendimento mais individualizado.

Uma escola aberta à diversidade tem que dar respostas às necessidades

concretas de todos os alunos, rompendo modelos rígidos e inflexíveis dirigidos

ao aluno médio.

Muitas das dificuldades de aprendizagem e má adaptação escolar do

aluno com TDA/H correm o risco de aumentar devido ao planejamento rígido e

inadequado, os objetivos e metodologia comuns a todos os alunos, quanto

pela falta de interação com o professor ou com os colegas da turma.

29

A presença de alunos com necessidades educacionais especiais numa

escola regular, deveria levar a ajustes periódicos nos currículos.

As acomodações devem ser fundamentadas nas necessidades

educacionais reais do aluno e não em rótulos.

Ao identificar o TDA/H no aluno, encaminhar ao profissional da saúde que

o acompanhe e atender as recomendações educacionais necessárias ao caso.

No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9.394/96 dedica um

capítulo específico à educação especial, deixando bem claro o papel e as

obrigações das instituições sobre a adequação do ensino aos alunos com

necessidades especiais, entre as quais poderíamos incluir o, TDA/H embora

esse transtorno não seja citado.

No seu artigo 59, está exposto:

“ Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com

necessidades especiais:

I – currículos, métodos, técnicas, recursos

educativos e organização específicos, para atender

às suas necessidades;

II - terminalidade específica para aqueles que não

puderam atingir o nível exigido par a conclusão do

ensino fundamental, em virtude de suas

deficiências, e aceleração para concluir em menor

tempo o programa escolar para os superdotados;

III – professores com especialização adequada em

nível médio ou superior, para atendimento

especializado, bem como professores do ensino

regular capacitados para a integração desses

educandos nas classes comuns.”

Portanto, a possibilidade de flexibilidade na implementação de currículos

adaptados, com processos de avaliação diferenciados e estratégias

individualizadas, é amplamente prevista e incentivada pelo órgão regularizado.

30

Deveria, mas não é isto que tem acontecido. Na maioria das vezes, o que

vemos é um sistema educacional bastante estratificado, com professores

encontrando dificuldades para fazer adaptações que se fazem necessárias

para atender aos alunos com TDA/H.

O TDA/H tem um impacto grande no desenvolvimento educacional da

criança, que corre o risco de fracasso duas a três vezes maior do que crianças

sem dificuldades escolares e com inteligência equivalente.

A desatenção e a falta de auto controle, intensificam-se em situações de

grupo, dificultando, ainda mais, a percepção seletiva dos estímulos relevantes,

a estruturação e a execução adequada das tarefas, colocando a criança em

grande risco para as dificuldades escolares, em termos de desempenho

acadêmico e interações com adultos e outras pessoas. Com grande dificuldade

em terminar o trabalho de aula na classe ou de participar tranquilamente de

uma equipe de esportes.

O professor pode observar que o potencial intelectual da criança não

corresponde ao seu desempenho nas avaliações.

Essas crianças precisam de uma escola que as incluam nas suas

adaptações curriculares, para que possam se beneficiar do convívio com os

colegas da mesma idade e aprender a lidar com regras, com a estrutura e os

limites de uma educação organizada, para que possam se preparar para a

sociedade em que irão viver quando adultos.

E isto é possível com pequenas intervenções no ambiente estrutural,

modificação de currículo e estratégias adequadas à situação. Uma escola que

tenha preocupação com o desenvolvimento global do aluno, em vez de visar

um tipo específico de sucesso ( acadêmico, artístico, esportivo).

A escola que melhor atende as crianças com TDA/H é aquela cuja

preocupação maior está em desenvolver o potencial de cada um, respeitando

as diferenças individuais, reforçando os seus pontos fortes e auxiliando na

superação dos pontos fracos, pois eles precisam de apoio e intervenção

psicológica e pedagógica mais intensa.

É preciso esclarecer e capacitar direção e professores a respeito do TDA

e TDAH, verificando se existe disposição para aprender e auxiliar de maneira

31

adequada. Com boa vontade por parte da equipe escolar e flexibilidade nas

estruturas para permitir as mudanças que se fizerem necessárias; como um

trabalho multidisciplinar, com abertura para a cooperação de outros

profissionais especialistas.

Levando em consideração na avaliação, o comportamento e o

desempenho do aluno em várias atividades e situações, material do aluno,

seus testes, trabalhos de aula e de casa bem com a observação direta são

fontes de informação a serem analisadas na busca da compreensão do

problema.

Tendo o cuidado de não diagnosticar, mas apenas descrever o

comportamento e o rendimento do aluno, propondo um possível curso de ação.

Uma avaliação adequada supõe entrevista com um profissional

capacitado; análise do histórico familiar e do comportamento da criança no

ambiente da família, avaliação neuropsicológica e avaliação do

desenvolvimento emocional e afetivo.

Uma avaliação que não leve a uma modificação da situação é uma perda

de tempo.

Uma vez determinado o problema, novamente se faz necessário o

trabalho multidisciplinar – pais, professores e terapeutas devem fazer um

planejamento quanto às estratégias e intervenções que serão implementadas

para o atendimento do aluno, incluindo adaptação do currículo, modificação do

ambiente, flexibilidade na realização e apresentação de tarefas, adequando

tempo e atividade, administração e acompanhamento de medicação, quando

necessário.

A escola de agora deve estar aberta a reciclar seus saberes e isto é

inclusão. Muitos indivíduos que em outros tempos seriam naturalmente

excluídos ou expulsos dos bancos escolares, por serem julgados incapazes,

agora chegam as nossas portas exigindo o direito que muitas vezes lhes é

negado. A entrada no mercado de trabalho, a acessibilidade, a possibilidade

de ascenderem socialmente e terem suas necessidades respeitadas levam a

cada dia a nós professores nos atualizarmos.

32

“ Nenhuma desculpa pode ser dada a uma escola que

não acolhe e não faz ensinar” (Cláudia R. Freitas)

Durante o século XX, o “distúrbio” aqui estudado, era referido de

diversas formas. Primeiramente como “Lesão Cerebral Mínima” (LCM) ; depois,

como “ Disfunção Cerebral Mínima (DCM). Posteriormente passou a ser

chamado de hipercinesia ou hipercinese e, logo a seguir, hiperatividade, nome

que ficou mais conhecido e perdurou por mais tempo. Em 1987, a terminologia

“Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade” é utilizada na edição atual

do DSM IV.

Como já foi dito não cabe ao professor diagnosticar, mas caso perceba

sintomas característicos em algum aluno, orientar a família a procurar ajuda.

Quanto antes o tratamento médico e/ou psicoterápico for iniciado, menos

dificuldades na vida escolar, que se refletirão na vida adulta. Frisamos mais

uma vez a importância de manter contato com outros profissionais da escola,

bem como médicos ou psicólogos que cuidam dessa criança.

“A escola, diante da criança que não para, com muita

frequência abdica de seu saber ou de sua possibilidade

de investigar e ensinar, e encaminha o sujeito a uma

avaliação médica. São crianças que inquietam seus

professores não pelo seu aproveitamento escolar, mas

por ocuparem o seu olhar a partir do movimento de seus

corpos. São crianças que parecem perder sua condição

de crianças e deixam de ser lembradas por seus nomes,

mas passam a ser nomeadas por uma sigla – TDAH- que

as define por inteiro.” (Cláudia R. Freitas)

A avaliação de um indivíduo com TDA / H é na maioria das vezes da

competência dos familiares e dos professores. Sendo assim, cabe aos

professores lerem e se informarem. Conscientes de que suas informações

33

serão de grande importância e irão nortear a medicação, a orientação

psicológica ou psiquiátrica que a criança irá seguir.

O Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade não é considerado

uma dificuldade de aprendizagem, pois esta só ocorre porque essas pessoas

possuem outras características que dificultam o processo, como desatenção,

hiperatividade e impulsividade. Mas, se forem adequadamente tratadas e

medicadas, podem passar pelo processo tranquilamente, já que não possuem

deficiências na capacidade de aprender.

Cada um possui um jeito próprio de aprender. A expectativa de

aprendizagem média pode ser rápida para uns e lenta para outros. O professor

deve rever seus métodos de ensino, dependendo do andamento geral da

turma. A uns ele tira dúvidas particulares, explica de uma forma para um aluno

e de outra forma ao outro que não entendeu. Tudo para que todos possam

seguir juntos no aprendizado do conteúdo. A medicação é importante, no

sentido de minimizar os efeitos do processo neurológico que o transtorno

apresenta, mas o professor precisa fracionar as explicações e os exercícios em

pedaços menores, para ajudar o aluno a acompanhar o conteúdo.

Aconselha-se conversar com os pais regularmente, evitando que eles

sejam chamados para reuniões somente em momentos de crise. Usando a

agenda como canal de comunicação, mantê-los informados dos

acontecimentos importantes ocorridos em casa e na escola.

Conscientizar os pais que a criança precisa de um ambiente silencioso,

sem maiores estímulos visuais, para estudar em casa, evitando estímulos

concorrentes, como televisão e videogame. Aconselhar aos pais a discutir com

os filhos o que foi noticiado pelo jornal, mostrar como se faz o orçamento

familiar, fazer listas de compras e calcular o troco, mostrar aos filhos as contas

de gás, luz ou telefone, observando as indicações em forma de tabela que

indicam o consumo médio durante os meses, levando-os a comparar os de

maior e menor consumo e refletirem porque, a desenhar a planta da casa, com

necessidade de medir os cômodos e coloca-los no papel.

Quando os pais amadurecem e passam a aceitar o filho com suas

dificuldades e limitações, o processo flui e a criança consegue ser incluída no

34

ambiente que frequenta. Nesse momento, os pais deverão encontrar situações

prazerosas para seu filho, tendo uma percepção dos seus esforços, empenho

e talento. Pais e parentes bem informados facilitam o tratamento e diminuem

possíveis problemas ocasionados pelo TDA/H.

“ É curioso notar que o distraído é alguém extremamente

concentrado, que não é meramente desatento, mas cuja

atenção se encontra em outro lugar.” (Kastrup)

O ideal é que a sala de aula esteja bem estruturada e com poucos

alunos. Ter uma dose extra de paciência é fundamental. Isso não significa ser

permissivo e tolerante em excesso. É importante manter a disciplina em sala e

exigir que os limites sejam obedecidos. Com bom senso, sem exageros.

Rotinas diárias e ambiente escolar previsível ajudam essas crianças a

manterem o controle emocional. A criança com TDA/H tem dificuldade de

organizar suas próprias regras e de controlar seu comportamento. Por isso é

fundamental que, na rotina das aulas, o professor deixe as regras bem claras,

explícitas e visíveis. A criança precisa saber com clareza o que é esperado

dela e como ela deve se comportar.

É bom usar ferramentas para compensar as dificuldades de memória:

tabelas com datas sobre prazo de entrega dos trabalhos solicitados, agendas,

post-it para fazer lembretes e anotações para que o aluno não esqueça o

conteúdo. Assim como: etiquetar, iluminar, sublinhar e colorir as partes mais

importantes de uma tarefa, texto ou prova.

Permitir como respostas de aprendizagem apresentações orais,

trabalhos manuais e outras tarefas que desenvolvam a criatividade do aluno,

encorajando o uso de computadores, vídeos, assim como outras tecnologias

que possam ajudar no aprendizagem, no foco e motivação.

Um bom conselho é estabelecer contato com o olhar. Olhando nos

olhos da criança, o professor pode “despertá-la” dos seus devaneios e trazê-la

de volta às explicações. Isso vale para as broncas também.

35

Seria aconselhável às vezes, falar baixinho, quase em sussurros. O

aluno “ouve” melhor do que com gritos. Convém elogiar o aluno quando ele

conseguir se comportar bem ou realizar uma tarefa difícil. É melhor que puni-lo

seguidas vezes. Estimulá-lo a compensar os erros que cometeu. Com

pequenos elogios, estrelinhas no caderno, palavras de apoio, um aceno de

mão ou um olhar.

As tarefas propostas não devem ser demasiadamente longas e

necessitam ser explicadas passo a passo.

Permitir que o aluno se levante em momentos para: apagar o quadro,

levar um bilhete na secretaria, ir ao banheiro ou beber água. Alunos com

hiperatividade necessitam de alguma atividade motora em determinados

intervalos de tempo.

Na medida do possível, supervisionar e ajudar o aluno a organizar os

seus cadernos, mesa, armário ou arquivar papéis importantes.

Orientar os pais ou responsáveis que os cadernos e livros sejam

“encapados” com papéis de cores diferentes. Assim como o uso de pastas

plásticas para envio de papéis e apostilas para casa e retorno para a escola.

Este procedimento ajuda na organização, na memorização e diminui a perda

dos materiais.

Na medida do possível, oferecer ao aluno e toda a turma tarefas

diferenciadas. Os trabalhos em grupo e a possibilidade do aluno escolher as

atividades nas quais quer participar são elementos que despertam o interesse

e a motivação.

É importante que o aluno com TDA/H receba o máximo possível de

atendimento individualizado. Ele deve ser colocado na primeira fila da sala de

aula, próximo à professora e longe da janela, ou seja, em local onde ele tenha

menor probabilidade de distrair-se. Se possível, próximo de um colega afetivo

e positivo, longe da passagem das pessoas e de amigos tagarelas.

Quando o professor der alguma instrução, pedir ao aluno para repetir as

instruções ou compartilhar com um amigo antes de começar as tarefas.

Sugerimos a técnica de “aprendizagem ativa” (high response strategies):

36

trabalhos em duplas, respostas orais, possibilidade do aluno gravar as aulas

e/ou trazer seus trabalhos gravados em CD ou computador para a escola.

Estratégias de ensino ativo que incorporem a atividade física como o

processo de aprendizagem são fundamentais.

Muitas vezes, as crianças com TDA/H precisam de reforço de conteúdo

em determinadas disciplinas. Isso acontece porque elas já apresentam

lacunas no aprendizado no momento do diagnóstico, em função do TDA/H.

Outras vezes é necessário um acompanhamento pedagógico centrado na

forma do aprendizado, como, por exemplo, nos aspectos ligados à organização

e ao planejamento do tempo e de atividades.

É importante não confundir compreensão sobre os sintomas que o

TDA/H provoca com displicência na hora de educar as crianças, pais e

professores deve saber que não é por causa do transtorno que a criança deve

ser poupada ao estabelecer limites e regras. Para construir um processo

educativo é preciso um exercício de ambas as partes, com diálogo, respeito

em relação ao tempo da criança, escutar, aprender e ensinar.

Uma das grandes dificuldades enfrentadas pelo aluno com TDA/H e sua

família é a realização do dever de casa. Ao passar uma tarefa, é bom lembrar

que o tempo que um estudante com TDA ou TDAH leva para fazer pode ser

três ou quatro vezes maior que seus colegas. Sugerimos fazer adequações

para que a quantidade de trabalho não exceda o limite da possibilidade. Ter

sempre presente que a lição de casa tem o objetivo de revisar e praticar o que

foi aprendido em sala de aula. Pais não devem fazer o papel de professores.

Acima de tudo, o dever de casa não deve ser um castigo ou consequência de

mau comportamento na escola.

Estabelecendo objetivos realistas a serem alcançados e mantendo

expectativas dentro do limite das possibilidades desse grupo especial,

modificando vários aspectos no processo de ensino-aprendizagem do aluno

com TDA/H , como o meio ambiente, a estrutura da aula, os métodos de

ensino, os materiais utilizados, as tarefas solicitadas, as provas, o reforço, o

nível de apoio, o tempo despendido, o tamanho e a quantidade das tarefas.

37

Em caso de dificuldades muito graves, talvez seja necessária a ação de

um tutor junto ao aluno, mesmo durante o período regular de aula. Ele seria

um intermediário entre o que o professor propõe para a classe como um todo e

o aluno que tem suas possibilidades de desempenho muito reduzidas,

orientando-o em suas necessidades específicas ou adequando as atividades à

sua capacidade.

Reforçar os aspectos positivos da criança, parabenizando por seus

acertos. Dar instruções claras e objetivas, facilitando o entendimento.

Incentivar a criança a terminar aquilo que já iniciou. Estimular a autonomia da

criança. Por mais difícil que seja cumprir os prazos e currículos propostos pela

Unidade Escolar, ter sempre um tempo para conversar e brincar com as

crianças. Quando a criança fizer algo inapropriado, dizer que foi errado e

explicar como seria a maneira mais correta, levando-a a tirar conclusões sobre

o objetivo e a lógica no proceder. Ensinar através de exemplos é a melhor

maneira para levar a criança a aplicar o que aprendeu.

O que fazer com a escola do nosso tempo, uma escola inclusiva apta a

receber alunos com diferentes necessidade? A resposta que encontramos,

pode ser apenas uma sugestão, mas uma experiência com grandes chances

de se tornar copiada na escola do futuro.

O projeto desenvolvido pelo professor José Pacheco, na Escola da Ponte,

em Vila das Aves, Portugal; pode ser um rascunho muito interessante de uma

escola para o futuro. Onde o trabalho diversificado é o dia a dia. Onde cada

aluno, com sua diferença, sua personalidade e interesses direcionam o

currículo, a avaliação e todo o processo de ensino aprendizagem. Onde o

professor partilha com cada aluno pela busca do saber. Em que as

necessidade especiais não são dos alunos considerados “deficientes”, mas de

todos que partilham do desejo de aprender.

“ Escola da Ponte: um único espaço partilhado por todos,

sem separação por turmas, sem campainhas anunciando

o fim de uma disciplina e o início de outra. A lição social:

todos partilhamos de um mesmo mundo. Pequenos e

38

grandes são companheiros numa mesma aventura. Todos

se ajudam. Não há competição. Há cooperação. Ao ritmo

da vida: os saberes da vida não seguem programas. São

crianças que estabelecem os mecanismos para lidar com

aqueles que se recusam a obedecer às regras. Pois o

espaço da escola tem de ser como o espaço do jogo:

para ser divertido e fazer sentido, tem de ter regras. A

vida social depende de que cada um abra mão da sua

vontade, naquilo em que ela se choca com a vontade

coletiva. E assim vão as crianças aprendendo as regras

de convivência democrática, sem que elas constem de

um programa...”( Rubem Alves )

O interessante no trabalho do professor José Pacheco , pelo que me

pareceu na leitura do livro de Rubem Alves, é que ele conseguiu aplicar em

uma escola inteira o trabalho diversificado. Não é fácil, um trabalho com

diversidade de materiais que consiga entreter os alunos, principalmente com

diferenças chamadas “necessidades especiais”, e mesmo aqueles que não a

possuem, mas gostariam de obter conhecimentos em algum assunto que não

se encontra no planejamento curricular daquela série, ou daquela escola.

O trabalho diversificado exige do professor dedicação e humildade,

para descer do seu pedestal de detentor do saber e se dispor a aprender com

cada aluno.

Uma escola que possibilite ao aluno ser avaliado naquilo que ele se

propôs estudar. Uma criança com Transtorno de Déficit de Atenção, quer

apresente ou não Hiperatividade, aqueles considerados com Altas Habilidades

ou com Déficit Cognitivo, podendo ser acompanhados, e ter o seu plano

curricular adaptado as suas necessidades, assim como a sua capacidade de

demonstrar aquilo que aprendeu. De cada assunto tratado o professor

selecionando os textos a serem trabalhados para que o conteúdo de cada

série seja atingido.

39

Talvez, na escola do futuro isso consiga ser efetivado em todas as

escolas. Assim todas as crianças serão tratadas na sua individualidade, dentro

das suas potencialidades e nenhum cidadão será excluído na sociedade.

Havendo respeito pelas diferenças e oportunidades de superação de

dificuldades.

40

CONCLUSÃO

A presença de professores compreensivos e que dominem o

conhecimento a respeito do transtorno, a disponibilidade do sistema

educacional junto com a família, apoiadas no atendimento médico e/ou

psicoterápico, são importantes para buscar os meios de superação e levar o

aluno a transpor as barreiras e melhorar o desempenho escolar. Para isso é

importante que nunca lhe falte ao educador a paciência e a boa vontade.

É preciso ter em vista que cada aluno aprende no seu tempo e que as

estratégias deverão respeitar a individualidade e especificidade de cada um.

O professor que utiliza materiais audiovisuais, computadores, vídeos,

DVD, e outros materiais diferenciados como revistas, jornais, livros etc...,

aumenta consideravelmente o interesse dos alunos.

41

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Associação Brasileira do Déficit de Atenção (www.tdah.org.br)

ALVES, Rubem A escola que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir

Papirus Editora 7ª edição 2004

BARBOSA, Jane Bardawil. Prevalência do Transtorno de Déficit de

Atenção/Hiperatividade numa Escola Pública Primária. Arq Neuropsiquiatr

2003

FREITAS, Cláudia Rodrigues de- Corpos que não param: Criança “TDAH” e

escola. Universidade do Rio Grande do Sul. Faculdade de Educação.

Programa de Pós Graduação em Educação. Porto Alegre 2011

GOLDSTEIN, S.; GOLDSTEIN, M. Hiperatividade: como desenvolver a

capacidade de atenção da criança. 3ª ed. Campinas: Papirus, 1998

LANDSKRON, Lílian Marx Flor e SPERB, Tania Mara Narrativas de

professoras sobre TDAH. Revista Semestral da Associação Brasileira de

Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE) Volume 12 número 1

janeiro/junho 2008

MARCHESI, A. Desenvolvimento psicológico e educação – necessidades

educativas especiais e aprendizagem escolar. Porto Alegre : Artmed, 1993

42

REINHARDT , Marcelo C. e REINHARDT, Caciane A.U. Transtorno de déficit

de atenção/hiperatividade, comorbidades e situações de risco Jornal de

Pediatria SPB 25/11 2013

RELVAS, Marta Pires Neurociências e transtornos de aprendizagem: as

múltiplas eficiências para uma educação inclusiva. 5ª ed Rio de Janeiro Wak

Ed., 2011

Revista “ Como tratar o déficit de atenção” 100% Saúde Especial Ano3 , nº 6

2014 . Alto Astral editora

ROHDE, Luis Augusto; BARBOSA, Genário; TRAMONTINA, Silzá e

POLANCZYK, Guilherme - Transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade .

Revista Brasileira de Psiquiatria 2000.texto extraído da internet.

ROHDE, Luis A.; HALPERN, Ricardo Transtorno de déficit de

atenção/hiperatividade: atualização. Jornal de Pediatria 2004 by Sociedade

Brasileira de Pediatria. Texto extraído da internet

ROHDE, L.A.,Mattos, P & cols. Princípios e práticas em TDAH. Porto Alegre:

Artes Médicas, 1995

ROSSI, Liene Regina – Efeitos de um programa pedagógico – comportamental

sobre TDAH para professores do ensino fundamental. Universidade Estadual

Paulista – UNESP. Faculdade de Ciências. Programa de Pós-Graduação em

Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem. Bauru 2008

SAMPAIO, Simara, TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade:

Informações e Orientações. http://www.profala.com/arthiper2.htm

43

SIBILE, Alice; ROSA, Dayane Diomário da. Transtorno do Déficit de Atenção e

Hiperatividade texto extraído da internet

SILVA, Ana Beatriz B. Mentes Inquietas : TDA/H: desatenção, hiperatividade e

impulsividade. Rio de Janeiro : Objetiva 2009

VASCONCELOS, Marcio M.; WERNER Jr; MALHEIROS, Ana Flávia de

Araújo; LIMA, Daniel Fampa Negreiros; SANTOS, Ítalo Souza Oliveira,

BENEDETTI, Ieda; URT, Sônia da Cunha Escola, ética e cultura

contemporânea: reflexões sobre a constituição do sujeito que “não aprende”

Psic. da Ed., São Paulo, 27, 2º sem. De 2008,pp.141-155

44

ANEXOS

Índice de anexos

Anexo 1 Transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade

texto de Luis Augusto Rohde, Genário Barbosa, Silzá Tramontina e

Guilherme Polanczyk publicada na Rev Bras Psiquiatr 2000;22(Supl II)

Anexo 2 Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade Texto de Luis Augusto Rohde, Genário Barbosa, Silzá Tramontina e

GuilhermePolanczyk publicada na Rev Bras Psiquiatr 2000;22(Supl II) Anexo 3 Prevalência de tdah em quatro escolas públicas brasileiras

Texto de Rosiane da Silva Fontana, Márcio Moacyr de Vasconcelos, Jairo Werner Jr., Fernanda Veiga de Góes, Edson Ferreira Liberal

Publicado por : Arq. Neuro-Psiquiatr. vol.65 no.1 São Paulo Mar. 2007

45

ANEXO I

Rev Bras Psiquiatr 2000;22(Supl II):7-11

Luis Augusto Rohde, Genário Barbosa, Silzá Tramontina e Guilherme Polanczyk - Transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade páginas 9 e 10 O tratamento do TDAH envolve uma abordagem múltipla, englobando intervenções psicossociais e psicofarmacológicas.15 No âmbito das intervenções psicossociais, o primeiro passo deve ser educacional, através de informações claras e precisas à família a respeito do transtorno. Muitas vezes, é necessário um programa de treinamento para os pais, a fim de que aprendam a manejar os sintomas dos filhos. É importante que eles conheçam as melhores estratégias para o auxílio de seus filhos na organização e no planejamento das atividades. Por exemplo, essas crianças precisam de um ambiente silencioso, consistente e sem maiores estímulos visuais para estudarem.16 Intervenções no âmbito escolar também são importantes. As intervenções escolares devem ter como foco o desempenho escolar. Nesse sentido, idealmente, as professoras deveriam ser orientadas para a necessidade de uma sala de aula bem estruturada, com poucos alunos. Rotinas diárias consistentes e ambiente escolar previsível ajudam essas crianças a manterem o controle emocional. Estratégias de ensino ativo que incorporem a atividade física com o processo de aprendizagem são fundamentais. As tarefas propostas não devem ser demasiadamente longas e necessitam ser explicadas passo a passo. É importante que o aluno com TDAH receba o máximo possível de atendimento individualizado. Ele deve ser colocado na primeira fila da sala de aula, próximo à professora e longe da janela, ou seja, em local onde ele tenha menor probabilidade de distrair-se. Muitas vezes, as crianças com TDAH precisam de reforço de conteúdo em determinadas disciplinas. Isso acontece porque elas já apresentam lacunas no aprendizado no momento do diagnóstico, em função do TDAH. Outras vezes, é necessário um acompanhamento psicopedagógico centrado na forma do aprendizado, como, por exemplo, nos aspectos ligados à organização e ao planejamento do tempo e de atividades. O tratamento reeducativo psicomotor pode estar indicado para melhorar o controle do movimento.

46

ANEXO II

Rev Bras Psiquiatr 2000;22(Supl II):7-11

Transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade Luis Augusto Rohde, Genário Barbosa, Silzá Tramontina e GuilhermePolanczyk

Introdução As primeiras referências aos transtornos hipercinéticos na literatura médica apareceram no meio do século XIX. Entretanto, sua nomenclatura vem sofrendo alterações contínuas. Na década de 40, surgiu a designação “lesão cerebral mínima”, que, já em 1962, foi modificada para “disfunção cerebral mínima”, reconhecendo- se que as alterações características da síndrome relacionam- se mais a disfunções em vias nervosas do que propriamente a lesões nas mesmas.1 Os sistemas classificatórios modernos utilizados em psiquiatria, CID-102 e DSM-IV3, apresentam mais similaridades do que diferenças nas diretrizes diagnósticas para o transtorno, embora utilizem nomenclaturas diferentes (transtorno de déficit de atenção/hiperatividade no DSMIV e transtornos hipercinéticos na CID-10). Os estudos nacionais e internacionais situam a prevalência do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) entre 3% e 6%, sendo realizados com crianças em idade escolar na sua maioria.4 O impacto desse transtorno na sociedade é enorme, considerando-se seu alto custo financeiro, o estresse nas famílias, o prejuízo nas atividades acadêmicas e vocacionais, bem como efeitos negativos na auto-estima das crianças e adolescentes. Estudos têm demonstrado que crianças com essa síndrome apresentam um risco aumentado de desenvolverem outras doenças psiquiátricas na infância, adolescência e idade adulta.5 A presente atualização busca uma revisão crítica dos elementos essenciais referentes ao diagnóstico e às abordagens terapêuticas do TDAH. Uma revisão mais completa (porém menos atualizada) incluindo dados epidemiológicos, etiológicos, relacionados ao substrato neurobiológico e de evolução do transtorno podem ser encontrados em Rohde et al. (1998).4 No presente artigo, o termo criança será utilizado englobando a faixa etária da infância e adolescência, a menos que seja indicado o contrário.

47

ANEXO III

Arq. Neuro-Psiquiatr. vol.65 no.1 São Paulo Mar. 2007

PREVALÊNCIA DE TDAH EM QUATRO ESCOLAS PÚBLICAS BRASILEIRAS Rosiane da Silva Fontana, Márcio Moacyr de Vasconcelos, Jairo Werner Jr., Fernanda Veiga de Góes, Edson Ferreira Liberal

O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é o distúrbio neurocomportamental mais comum da infância1. Muitos fatores etiológicos foram propostos para esse transtorno e cada um deles é capaz de levar à mesma apresentação comportamental2. Os principais fatores implicados na etiologia do TDAH são de natureza genética, biológica e psicossocial. Não existem testes laboratoriais, achados de neuroimagem ou perfis em testes neuropsicológicos que sejam patognomônicos de TDAH3. Assim, o diagnóstico de TDAH é essencialmente clínico, baseado em critérios claros e bem definidos4. A Associação Americana de Psiquiatria5 elaborou critérios diagnósticos para o TDAH. Segundo tais critérios, a característica fundamental do transtorno é um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade, mais freqüente e intenso que aquele apresentado por indivíduos de nível equivalente de desenvolvimento. Para receber tal diagnóstico, o indivíduo deve apresentar seis ou mais dos nove sintomas de desatenção definidos e/ou seis ou mais dos nove sintomas de hiperatividade/impulsividade durante pelo menos seis meses. Além disso, alguns sintomas que causam prejuízo devem estar presentes antes dos sete anos e não devem ser melhor explicados por outros transtornos mentais.

Com base nos sintomas, os indivíduos portadores de TDAH podem ser classificados em três subtipos: misto, predominantemente hiperativo e predominantemente desatento5. Existem diferenças importantes entre os subtipos que incluem os sintomas centrais de desatenção, hiperatividade e impulsividade, mas não se limitam a eles6. Baumgaertel, Wolraich e Dietrich7 analisaram 1077 estudantes de nível elementar utilizando escalas comportamentais respondidas pelos professores. Os sujeitos portadores do subtipo misto apresentavam maiores taxas de comorbidade com transtorno desafiador opositivo (50%), em comparação com sujeitos portadores do subtipo predominantemente hiperativo (30%) e do predominantemente desatento (7%). Além disso, há também diferenças entre os subtipos em relação ao prognóstico. Steinhausen et al.8 estudaram a evolução do TDAH do final da infância à adolescência ao longo de um período de 2,5 anos e concluíram que a quantidade de sintomas de hiperatividade/impulsividade na avaliação inicial, e não a quantidade de sintomas de desatenção, contribui para a persistência do TDAH.

O objetivo deste estudo foi determinar a prevalência de TDAH em crianças escolares de quatro escolas públicas brasileiras. A prevalência tradicionalmente mencionada deste distúrbio é de 3 a 5%2. No entanto, 11 estudos epidemiológicos comunitários mostraram que a prevalência deste transtorno era maior, ficando entre 4 e 12%2. Um estudo brasileiro analisando uma amostra de escolares de Niterói-RJ encontrou uma prevalência de 17,1%9.

48

ANEXO IV CRITÉRIO A: Assinale com um X na coluna correta

49

CRITÉRIO B: Responda SIM ou NÃO Alguns desses sintomas estavam presentes antes dos 7 anos de idade?

CRITÉRIO C: Responda SIM ou NÃO Existem problemas causados pelos sintomas acima em pelo menos 2 contextos diferentes (por ex., na escola, no trabalho, na vida social e em casa)?

CRITÉRIO D: Responda SIM ou NÃO Há problemas evidentes na vida escolar, social ou familiar por conta dos sintomas?

CRITÉRIO E: Responda SIM ou NÃO Se existe um outro problema (tal como depressão, deficiência mental, psicose, etc.), os sintomas podem ser atribuídos a ele?

Como suspeitar do diagnóstico:

1) É necessário haver pelo menos 6 sintomas assinalados na coluna laranja ou vermelha, no CRITÉRIO A.

• Pelo menos 6 sintomas VERDES e menos que 6 sintomas ROSA: TDAH Tipo Predominantemente Desatento

• Pelo menos 6 sintomas ROSA e menos que 6 sintomas VERDES: TDAH Tipo Predominantemente Hiperativo-Impulsivo

• 6 ou mais sintomas VERDES e 6 ou mais sintomas ROSA: TDAH Tipo Combinado.

2) Os CRITÉRIOS B, C, D devem obrigatoriamente ter resposta SIM.

3) O CRITÉRIO E necessita da avaliação de um especialista, uma vez que os sintomas do Critério A ocorrem em muitos outros transtornos da infância e adolescência.

Se os critérios A, B, C, D e E estiverem atendidos de acordo com o julgamento de um especialista, o diagnóstico de TDAH é garantido.

extraído do site da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (http://www.dda.med.br/), extraído do Manual de Diagnóstico e Estatística - IV Edição (DSM-IV) da Associação Psiquiátrica Americana. É utilizado por profissionais especializados em TDAH para o diagnóstico clínico.

50

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

CARACTERÍSTICAS DOS ALUNOS COM TRANSTORNOS

DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE 10

CAPÍTULO II

CAUSAS E TRATAMENTOS 19

CAÍTULO III

O QUE O PROFESSOR PODE FAZER ? 27

CONCLUSÃO 40

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 41

ANEXOS 44

ÍNDICE 50

51