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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA OS LIMITES E POSSIBILIDADES NA ÓTICA DO CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS: A QUESTÃO DO PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO Jacqueline Barbosa Correia Orientadora Prof a . Gisele Leite Rio de Janeiro 2016 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

OS LIMITES E POSSIBILIDADES NA ÓTICA DO CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS: A QUESTÃO DO PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

Jacqueline Barbosa Correia

Orientadora

Profa. Gisele Leite

Rio de Janeiro

2016

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

OS LIMITES E POSSIBILIDADES NA ÓTICA DO CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS: A QUESTÃO DO PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada

como requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Gestão e Planejamento Tributário.

Por: Jacqueline Barbosa Correia

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AGRADECIMENTOS

Ao meu marido pela presença constante,

força e o total amor demonstrado ao longo

desta jornada, incentivando os meus sonhos.

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DEDICATÓRIA

Ao meu marido, mãe, amigos e familiares pelo

carinho e paciência.

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RESUMO

O objetivo geral do presente estudo é definir os limites da liberdade dos contribuintes em organizar seus negócios de forma a manter os efeitos tributários, surgidos a partir dos eventos societários, como oponíveis ao Fisco. Para alcançar o objetivo pretendido, apresentam-se os fundamentos teóricos que sustentarão a análise, especialmente o que se entende por planejamento tributário, reorganizações societárias, vícios do negócio jurídico e seus efeitos e consequências na elaboração e execução do planejamento tributário. A importância da pesquisa transcende o interesse acadêmico, pois ao trazer a estudo os julgados do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, buscando demarcar a fronteira entre o permitido e o proibido em questões relativas ao planejamento tributário, certamente trará muitos benefícios, destacando-se a segurança jurídica, obtida através da diminuição do risco do negócio jurídico ser desconsiderado pelo Fisco. Palavras-chave: Planejamento tributário. Reorganizações societárias. Vícios do negócio jurídico. Segurança jurídica.

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METODOLOGIA

Para o desenvolvimento do trabalho foi utilizado levantamento de dados

através de textos teóricos redigidos por especialistas e livros didáticos voltados ao

assunto de auditoria. A metodologia utilizada foi a qualitativa, pois descreve qual é a

importância do planejamento tributário.

Foram realizadas leituras de livros, artigos e sites especializados onde

buscou-se encontrar embasamento na opinião dos autores para demonstrar a

importância do contexto que envolve o planejamento tributário. O estudo, portanto,

foi realizado através das referências teóricas e análise dos textos encontrados sobre

o assunto.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 8 2 PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO ............................................................................ 10 2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS .............................................................................. 10 2.2 DELIMITAÇÃO DO PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO ......................................... 12 2.3 PRINCÍPIOS NORTEADORES ........................................................................... 16 2.3.1 Liberdade fiscal ................................................................................................ 16 2.3.2 Função social do contrato ................................................................................ 17 2.4 FIGURAS CORRELATAS AO PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO ......................... 18 2.4.1 Elisão, Evasão e Elusão Fiscal ........................................................................ 18 2.4.2 Opções fiscais .................................................................................................. 22 2.4.3 Substituição jurídica – negócio jurídico indireto ................................................ 23 2.5 VÍCIOS DO NEGÓCIO JURÍDICO ...................................................................... 23 2.5.1 Simulação ......................................................................................................... 24 2.5.2 Abuso de direito ............................................................................................... 26 2.6 REORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIA ...................................................................... 28 2.6.1 Fusão ............................................................................................................... 29 2.6.2 Incorporação .................................................................................................... 29 2.6.3 Cisão ................................................................................................................ 29 3 CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO FISCAL FEDERAL ...................................... 31 3.1 PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL: CONSIDERAÇÕES GERAIS ........... 31 3.2 PROCESSO E PROCEDIMENTO ...................................................................... 32 3.3 CONSTITUIÇÃO E FORMALIZAÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO ................... 33 3.4 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO................................................................... 34 3.4.1 Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento ................................... 36 3.4.2 Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF)..................................... 37 3.5 PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO E QUALIFICAÇAO JURÍDICA DOS FATOS: FASES DO DEBATE QUANTO À OPONIBILIDADE AO FISCO .............................. 41 CONCLUSÃO ............................................................................................................ 44 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 47

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INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo investigar o limite de legalidade aceito pelo

Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), relativo a planejamento

tributário instrumentalizado através de reorganização societária, cujo resultado é

uma economia de tributos.

Sabe-se que a relação fisco-contribuinte é por natureza conflituosa,

colocando-se, de um lado, o contribuinte que vê o Estado imiscuindo-se no seu

patrimônio e, de outro, este mesmo Estado enxergando o tributo como instrumento

indispensável para a realização de seus fins institucionais. Aparece, nesse contexto,

o planejamento tributário, visto como um conjunto de medidas lícitas, realizadas em

conformidade com o direito, portanto existentes de fato e desprovidas de vícios,

adotadas pelos contribuintes (pessoas físicas ou jurídicas) com vistas a alcançar

uma legítima economia de tributos.

Parte-se do princípio de que o contribuinte tem a liberdade para conduzir suas

atividades econômicas do modo que melhor lhe aprouver, podendo, assim,

estruturar seus negócios com a formatação que lhe proporcione uma economia de

tributos. Isto é, ninguém é obrigado a optar por forma organizacional que

representará maior ônus tributário.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT, 2014),

a carga tributária brasileira vem crescendo continuamente. Em 1986 ela era de

22,39% do Produto Interno Bruto (PIB), passando para 29,91% em 1990, para

30,03% em 2000, para 34,22% em 2010, para 36,02% em 2011 e para 36,27% do

PIB em 2012.

A busca constante de redução dos custos empresariais, através de

permissivos legais que autorizem o planejamento de práticas organizacionais as

quais resultem em redução, postergação ou até mesmo inexistência de tributação

em suas operações, são alternativas eficazes, tendo em vista a elevada carga

tributária do país.

Por outro lado, o artigo 421 do Código de Processo Civil estabelece que a

liberdade de contratar tem como razão e limite a função social do contrato. No artigo

422 do mesmo código consta que os contratantes devem seguir os princípios de

probidade e boa-fé. Portanto, os contratos realizados devem ser revestidos de forma

e substância, cuja justificativa e suporte surgirão da própria atividade econômica,

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isto é, a formalidade jurídica adotada deve retratar fielmente a realidade fática.

Assim, o contribuinte somente poderá se auto-organizar, tanto na vida privada como

na empresarial, se o fizer de acordo com os parâmetros impostos pela função social

da propriedade e dos contratos.

Passada a Seção 1 de Introdução, em termos metodológicos, para alcançar o

objetivo pretendido, na Seção 2 serão apresentados os fundamentos teóricos que

sustentarão este trabalho, dedicando-se ao que se entende por planejamento

tributário, reorganização societária, diferenças entre elisão e evasão fiscal e a

relação existente entre elisão fiscal e planejamento tributário, bem como os vícios do

negócio jurídico e seus efeitos e consequências na elaboração e execução do

planejamento tributário. Na Seção 3, tratar-se-á do conceito de processo e

procedimento, apresentando-se as principais diferenças, e do contencioso

administrativo fiscal, sua estrutura, funcionamento e o papel do Conselho

Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) dentro do macro sistema de constituição

e julgamento do crédito tributário. Por fim, na Seção 4, a análise dos julgados do

Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, proferidos no período compreendido

entre 1º de janeiro de 2011 e 31 de dezembro de 2014, relativos a planejamento

tributário instrumentalizado através de reorganização societária.

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2 PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

Procura-se, nesta Seção, apresentar os fundamentos teóricos que

sustentarão este trabalho, dedicando-se ao que se entende por planejamento

tributário e reorganização societária. Inicialmente, serão trazidas considerações

gerais envolvendo a relação existente entre a carga tributária brasileira e a

competitividade empresarial; o conceito de planejamento tributário, pontuando-se as

diferentes concepções; os princípios norteadores e as figuras correlatas ao

planejamento tributário, bem como as diferenças entre elisão, elusão e evasão fiscal

e a relação existente entre elisão fiscal e planejamento tributário. Em sequência, o

significado de reorganização societária e suas formas. Por fim, serão tratados os

vícios do negócio jurídico, entre eles o instituto da simulação (absoluta e relativa) e

seus efeitos e consequências na elaboração e execução do planejamento tributário.

2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

Como é cediço, o pagamento de tributos é compulsório e definido em lei,

decorrente da subsunção entre a hipótese abstrata prevista na norma tributária e a

ocorrência do fato gerador. Da conjugação desses dois fatores surge a obrigação

tributária que, após o lançamento, faz nascer um crédito em favor do Fisco (Sujeito

Ativo) e uma obrigação para o contribuinte (Sujeito Passivo). Assim, o pagamento de

tributo significa uma transferência de parte do patrimônio do particular para o

Estado, titular do crédito tributário. Destarte, é razoável pensar que o contribuinte

(pessoa física ou jurídica) busque alternativas para não pagar ou ao menos diminuir

suas obrigações perante o Fisco.

É voz corrente que uma das dificuldades do Brasil para atrair investimentos é

o que se convencionou chamar de “Custo Brasil”, que, simplificadamente, significa o

preço que se paga para criar e manter negócios no Brasil. Como se sabe, a

tributação da atividade econômica exerce um forte efeito na rentabilidade dos

negócios. Também, que um dos elementos formadores desse custo é a carga

tributária, pois os tributos (impostos, contribuições e taxas) são elementos

importantes na formação do custo das empresas. Por essa razão, as decisões de

investimento e escolhas de modelos de negócios acabam sendo condicionadas, em

grande parte, por questões tributárias que necessitam ser devidamente

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equacionadas. Assim, nada mais natural que as empresas atuem no sentido de

reduzir estes custos, promovendo a economia fiscal (RIBEIRO, 2008, p. 89).

Como visto na Introdução, segundo o IBPT (2014) a carga brasileira vem

crescendo continuamente. Este comportamento da receita tributária faz com que as

empresas criem modelos organizacionais capazes de reduzir o impacto dos tributos

em seus negócios, resultando em ganhos que permitem assegurar sua

competitividade no mercado. Portanto, a redução dos custos tributários, através de

permissivos legais que autorizem o planejamento de práticas organizacionais as

quais resultem em redução, postergação ou até mesmo inexistência de tributação

em suas operações, é medida que se impõe às empresas para estas continuarem

competitivas e, por conseguinte, permanecerem no mercado. Desse modo, conhecer

os limites, legais e jurisprudenciais, nos quais os contribuintes podem atuar, uma vez

que os interesses dos contribuintes e do fisco, não raras vezes, são conflitantes,

sendo os primeiros orientados pela busca da menor onerosidade fiscal possível e o

segundo voltado ao alcance de maior eficácia na aplicação da lei, com a finalidade

de alcançar maior arrecadação, é de suma importância para o planejamento

organizacional, pois uma gestão fiscal eficiente resultará em redução de custos e

maior rentabilidade.

Com efeito, o planejamento tributário tem como objetivo principal promover

uma diminuição dos custos das empresas, através de uma redução legal de tributos

a serem pagos (MARINS, 2002, p. 33). Não menos verdade é dizer que a carga

tributária brasileira é alta e que o país possui um sistema tributário complexo e caro.

Assim, sem maior esforço intelectual, considerando-se que o mundo onde as

empresas gravitam é altamente competitivo, pois se vive hoje em um sistema de

economia global, claro está que o elemento tributação na formação do custo das

empresas é bastante relevante.

Diante da situação acima exposta, para se manterem competitivas, as

empresas precisam criar modelos que permitam uma redução de custo, sendo o

planejamento tributário um dos meios para atingir esse desiderato. Desse modo, o

planejamento tributário tornou-se peça importante na estratégia da empresa, seja

para continuar existindo, seja para ser lucrativa, devendo ser estudado em todos os

seus aspectos, principalmente quanto à sua oponibilidade frente ao Fisco. Dizendo

de outro modo, existem limites que devem ser observados por ocasião da

elaboração de um planejamento, pois de nada adianta uma sociedade empresarial

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elaborar um planejamento tributário, produzindo-se a desejada economia fiscal, e

este ser desconsiderado pelo fisco, trazendo como consequência a cobrança exigida

de ofício dos tributos que deixaram de ser pagos, acrescida dos encargos legais

pertinentes. Portanto, delimitar com a clareza possível a fronteira entre o permitido e

o proibido em questões relativas ao planejamento tributário trará maior segurança

jurídica aos contribuintes.

Por outro lado, tem-se um Estado que é demandado pela sociedade que

clama por gastos e investimentos públicos, seja na área de infraestrutura, seja em

educação, saúde, previdência, assistência social, entre outras. É certo que a

tributação é a maior fonte de receita do Ente Público, sendo o motor propulsor na

promoção do bem comum, necessária, então, para que o Estado cumpra seu papel

definido na Constituição. Entretanto, o sistema jurídico pátrio, integrante dos

sistemas constitucionais modernos, fundado nos princípios da igualdade e

solidariedade, exige que a escolha daqueles que sofrerão o gravame do tributo

tenha como fundamento os valores esculpidos na constituição, isto é, a ordem

constitucional assegura aos administrados garantias e direitos que devem ser

observados pelo poder tributante (SHOUERI, 2010, p.13).

2.2 DELIMITAÇÃO DO PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

Antes de apresentar o conceito de planejamento tributário, mister se faz

esclarecer que existem inúmeras divergências entre os doutrinadores quanto à

denominação adotada e ao seu significado. Com o intuito de exemplificar, somente

para nominar “planejamento tributário”, encontram-se diferentes termos usados

pelos estudiosos, como elisão fiscal, elisão lícita, gestão tributária, planejamento

fiscal, economia tributária, engenharia tributária, evasão lícita, elusão, entre outros.

Não muito diferente, quando se busca estabelecer as fronteiras na qual se

situa o planejamento tributário, o fenômeno se repete. Em razão disto, deve-se

estabelecer com precisão o conceito dos institutos que serão adotados no presente

trabalho. Neste diapasão, importante reproduzir a lição de Marco Aurélio Greco

(2011, p. 85):

Não existe nenhuma obrigação, nem erro de raciocínio, ou heresia científica

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ao utilizar esta ou aquela palavra para designar determinado fenômeno em exame. Qualquer palavra é boa para designar qualquer coisa desde que haja uma convenção prévia quanto ao que está sendo examinado e à palavra que vamos utilizar.

Assim, com o propósito de trazer as diferentes concepções acerca do

planejamento tributário, seja no que se refere à denominação utilizada ou ao seu

significado, colacionam-se a seguir o entendimento de alguns dos renomados

doutrinadores.

Conforme Marins (2002, p. 33), denomina-se planejamento fiscal ou tributário

lato sensu:

A análise do conjunto de atividades atuais ou dos projetos de atividades econômico-financeiras do contribuinte (pessoa física ou jurídica), em relação ao seu conjunto de obrigações fiscais com o escopo de organizar suas finanças, seus bens, negócios, rendas e demais atividades com repercussões tributárias, de modo que venha a sofrer o menor ônus fiscal possível.

Com efeito, o planejamento tributário comporta uma infinidade de formas para

se alcançar a economia de impostos, tais como: escolha do sistema mais

conveniente de tributação, seja Lucro Real, Presumido ou SIMPLES, tributação

cumulativa ou não cumulativa das contribuições, o uso de reorganização societária,

o aproveitamento de incentivos fiscais, dentre outras (MARINS, 2002, p. 33).

O mesmo autor (2002, p. 34) anota que:

Integra-se também ao conjunto de medidas relacionadas com o planejamento fiscal a recuperação de possíveis créditos fiscais, escriturais ou em moeda, ou mediante pedidos de repetição ou mesmo compensação de tributos pagos a maior ou indevidamente, e até mesmo a administração e a redução do passivo tributário por meio do aproveitamento de remissões, anistias e parcelamento. Também o manejo dos instrumentos processuais, como a discussão judicial ou administrativa de tributos que estejam onerando indevidamente o contribuinte se inclui entre as medidas de planejamento lato sensu.

Na mesma linha de entendimento, Marcus Abraham (2007, p. 277-278),

define planejamento fiscal como “um conjunto de atos concatenados que levam a

um resultado efetivo, seguindo um roteiro de métodos pré-determinados”. Segundo o

autor, não se trata apenas de encontrar falhas na legislação ou realizar

malabarismos societários, contratuais ou financeiros para se obter vantagens fiscais,

sendo que uma das maneiras mais seguras de implementar um planejamento

tributário é buscar no próprio ordenamento jurídico, dentre as opções fiscais

oferecidas pelo sistema, aquela que se amolda com o seu ramo de atividade e

oferece o menor custo tributário.

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Por sua vez, para o doutrinador português José Luís Saldanha Sanches

(2006, p. 21) o planejamento tributário legítimo deve ser entendido como

[...] uma técnica de redução da carga fiscal pela qual o sujeito passivo renuncia a certo comportamento por este estar ligado a uma obrigação tributária ou escolhe, entre as várias soluções que lhe são proporcionadas pelo ordenamento jurídico, aquela que, por ação intencional ou omissão do legislador fiscal, está acompanhada de menos encargos fiscais.

Para o Conselheiro (1ª Seção do CARF) Alexandre Antônio Alkmim Teixeira

(BRASIL, 2014b), planejamento tributário pode ser assim entendido:

Não se olvida que o direito entende que o planejamento tributário consiste na prática de condutas lícitas, permitidas pelo direito, adotadas pelo contribuinte, e que tem como efeito a redução ou não pagamento do tributo que, caso não tivesse havido o planejamento, seria devido. Nesse sentido, o planejamento tributário é antes de tudo e nada mais além do que um planejamento. Trata-se de um pensar com antecedência, um se organizar, um planejar, tendo em mente que, para se alcançar determinado resultado negocial, existe uma alternativa ou outro negócio jurídico lícito que, se realizado, levará à redução ou não pagamento de tributo. Neste sentido, quando se está diante de um planejamento tributário, pressupõe-se a existência de um negócio normal (não planejado) que enseja uma determinada carga de tributação, e um negócio jurídico alternativo (planejado), que tem por efeito a redução ou não pagamento de tributos pelo contribuinte.

Na visão de Heleno Taveira Tôrres (2003, p. 175), o “planejamento tributário é

expressão que deve servir para designar, tão só, a técnica de organização

preventiva de negócios, visando a uma lícita economia de tributos”. No seu

entendimento, planejamento tributário deve ser analisado sob os aspectos do

“processo” e do “produto”. Estas foram as suas considerações:

A noção de planejamento tributário comporta uma análise sob a díade “processo” e “produto” para sua melhor explicação. Uma coisa é o procedimento de planejar e outra, bem distinta, o produto desse procedimento, seu resultado, o respectivo conteúdo, o ato planejado. Enquanto procedimento, “planejar” é trabalho de preparação para qualquer empreendimento, segundo roteiro e métodos determinados, por etapas e com bases técnicas de objetivos definidos. [...]

E como ato, o planejamento corresponde à orientação que é dada à conduta

humana, na constituição dos atos jurídicos, a partir do plano elaborado para otimizar

os custos com as obrigações tributárias, pela identificação e organização das

melhores e mais econômicas alternativas de formação dos negócios jurídicos

permitidos pela legislação, reduzindo as possibilidades de conflitos com o fisco.

Por sua vez, Luciano Amaro (1995, p. 115-116), aborda o planejamento

tributário dentro do planejamento global da organização, relacionando-o com as

decisões a serem tomadas com vistas à otimização do lucro, objetivo primeiro da

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empresa. Entre as decisões estão a escolha do setor, do produto, da matéria-prima,

do fornecedor, da região, além da opção pela verticalização ou horizontalização da

produção, bem como a forma societária a ser adotada. Em razão disso, de acordo

com seu entendimento, é reservado à tributação um papel importantíssimo, campo

onde se insere o planejamento tributário.

Em outro caminho, Marco Aurélio Greco (2011, p. 104; 120; 123), ensina que

a figura das opções fiscais, caracterizadas pelas alternativas oferecidas pelo

ordenamento jurídico e colocadas à disposição dos contribuintes, está fora do

campo de estudo do planejamento tributário:

Elas estão fora do âmbito do planejamento, pois correspondem a escolhas que o ordenamento positivamente coloca à disposição do contribuinte, abrindo expressamente a possibilidade de escolha. O ordenamento indica dois caminhos e deixa ao contribuinte a escolha de seguir um ou outro, sendo que eventualmente um deles pode ser mais oneroso do que o outro. Nas opções estamos sempre perante hipóteses em que há uma escolha expressa que o ordenamento coloca à disposição do contribuinte, hipótese clássica de lei dispositiva. (GRECO, 2011, p. 104).

Para esse autor, o planejamento tributário existe quando o contribuinte

constrói o pressuposto de fato, através de uma montagem ou substituição jurídica,

que poderá ou não ser eficaz perante o Fisco. Assim, a questão fundamental que

cerca o planejamento tributário consiste em saber, frente a uma situação concreta

ou conjunto delas, se os efeitos tributários são oponíveis ou não ao Fisco. Isto é, a

análise deve se dar tanto na licitude dos atos quanto na sua eficácia. Portanto, os

atos ou negócios jurídicos além de lícitos devem ser eficazes perante a Fazenda

Pública. Para o autor, “o núcleo do tema é a eficácia fiscal dos atos ou negócios

jurídicos realizados, vale dizer, não basta ser lícito, é preciso ser eficaz perante o

Fisco” (GRECO, 2011, p. 120). O autor assim resume seu entendimento:

[..] quando mencionamos planejamento tributário, estamos falando do conjunto de condutas que o contribuinte pode realizar visando buscar a menor carga tributária legalmente possível. Ao dizer “legalmente” estou falando de atos lícitos. Mas não estou me referindo apenas à licitude no sentido de não haver agressão a nenhuma norma específica; “conduta legal” neste contexto tem um sentido mais amplo por dizer respeito às condutas que estejam de acordo com a lei (preceitos específicos) e com o Direito (que abrange, além das leis, os princípios e os valores prestigiados pelo ordenamento). (GRECO, 2011, p. 123).

Como visto, são vários os conceitos de planejamento tributário encontrados

na doutrina, o que nos leva a esclarecer que, para fins deste estudo, planejamento

tributário é um conjunto de medidas lícitas, realizadas em conformidade com o

direito, portanto existentes de fato e desprovidas de vícios, adotadas pelos

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contribuintes (pessoas físicas ou jurídicas) com vistas a alcançar uma legítima

economia de tributos, incluindo-se as opções fiscais previstas no ordenamento

jurídico. Desse modo, o critério a ser usado para considerar válido um planejamento

tributário, no caso concreto, é a licitude dos atos e negócios jurídicos e sua eficácia

frente ao Fisco.

2.3 PRINCÍPIOS NORTEADORES

Como é sabido, o Brasil é uma República Federativa que se constitui em

Estado Democrático de Direito (BRASIL, 1988), facultando ao contribuinte o direito

de planejar suas atividades e optar pelo encargo tributário que lhe seja menos

oneroso. Também, que o contribuinte é livre para organizar seus negócios da forma

que melhor lhe aprouver, podendo se colocar em uma situação na qual incida uma

carga tributária menor. Ainda, a Constituição Federal apresenta uma série de

princípios que deverão ser atendidos tanto pelo legislador quanto pelos profissionais

do direito. Tarefa esta difícil quando se sabe que a Assembleia Nacional

Constituinte, por ocasião do embate entre as correntes que defendiam, por um lado,

a existência de um Estado Liberal não Intervencionista e, por outro, um Estado

Social Intervencionista, optou por contemplar as duas posições, conforme as

palavras de Greco (2011, p. 51):

[...] o texto aprovado (a Constituição de 1988) resulta da fusão das duas linhas ideológicas, dando vida a essa figura híbrida que é o Estado Democrático de Direito. Como nenhuma das duas concepções ideológicas foi rejeitada, o resultado prático dessa decisão de compromisso tomada no âmbito da Assembleia Constituinte, foi a Constituição de 1988 consagrar postulações de ambas as visões.

Diante disso, a questão que se apresenta é saber em quais fundamentos se

sustentam os contribuintes para defender uma carga fiscal menos onerosa e qual o

limite à sua auto-organização.

2.3.1 Liberdade fiscal

Depreende-se da interpretação da Constituição Federal (1988) que a busca

do contribuinte pela menor carga fiscal encontra guarida nos artigos 1º, inciso IV e

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170 caput (livre iniciativa); no artigo 170, inciso VI (livre concorrência) e nas

liberdades dispostas no artigo 5º.

De acordo com Greco (2011, p. 124), o ordenamento constitucional consagra

uma liberdade para o cidadão que, a partir de então, permite nascer o planejamento

tributário, isto é, montar sua estrutura negocial visando a menor carga fiscal

possível.

2.3.2 Função social do contrato

É sabido que todas as atividades econômicas (empresas) possuem um

objetivo social e que são criadas, em regra, para perpetuarem. Assim, não se

concebe que uma empresa inicie e encerre suas atividades no mesmo dia sem que

nenhuma operação tenha se realizado, seja uma compra ou venda, intermediação,

prestação de serviços ou outra operação qualquer, conforme seu ramo de atividade,

e ainda, diante dessa situação, entender que seu contrato social restou cumprido.

Nesse ponto, importante registrar que o artigo 421 do Código de Processo

Civil estabelece que “a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites

da função social do contrato” (BRASIL, 2002). No artigo 422 do mesmo Código

consta que os contratantes devem seguir os princípios de probidade e boa-fé.

Assim, o contribuinte somente poderá se auto-organizar, tanto na vida privada

como na empresarial, se o fizer de acordo com os parâmetros impostos pela função

social da propriedade e dos contratos (ABRAHAM, 2007, p. 558). Sobre o tema,

assim se manifestou Marcus Abraham:

[...] hoje, muito mais do que um código civil que apenas regula juridicamente a forma do cidadão dispor individualmente sobre a sua vida privada, temos um estatuto voltado para a realização da justiça social, através de um conjunto de princípios e regras, ética e moralmente justos.

Portanto, os contratos realizados devem ser revestidos de forma e substância,

cuja justificativa e suporte surgirão da própria atividade econômica, isto é, a

formalidade jurídica adotada deve retratar fielmente a realidade fática.

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2.4 FIGURAS CORRELATAS AO PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

Estudam-se, aqui, as figuras relacionadas à ocorrência do fato gerador,

importantes na demarcação dos limites de eficácia do planejamento tributário frente

ao Fisco.

Busca-se delimitar o que se deve entender por condutas lícitas ou ilícitas na

elaboração e execução do planejamento tributário e a nomenclatura a ser adotada

neste estudo, uma vez que diferentes estudiosos nem sempre utilizam os termos

elisão, evasão e elusão com a mesma acepção. Importante registrar que

planejamento tributário e elisão fiscal, nas palavras de Marco Aurélio Greco (2011, p.

85), “são conceitos que se reportam à mesma realidade, diferindo apenas quanto ao

referencial e à tônica que atribuem a determinados elementos”. Quando se

menciona planejamento, volta-se para a conduta de alguém (o contribuinte),

destacando-se a conduta e seus elementos (liberdade contratual, licitude, momento

etc.). Ao se reportar a elisão, o foco de análise é o resultado da conduta em relação

à incidência e cobrança de tributo (capacidade contributiva, isonomia etc.).

2.4.1 Elisão, Evasão e Elusão Fiscal

De acordo com Hiromi Higuchi (2012, p. 680), existe consenso na doutrina no

sentido de que elisão corresponde à forma lícita de se obter economia de tributos e

evasão é ato praticado com o mesmo intuito, porém com violação de lei, o que é

repelido pelo ordenamento jurídico brasileiro. Isto é, elisão fiscal é a prática de ato

com total observância de leis, para evitar a ocorrência do fato gerador. Em sentido

oposto, na evasão fiscal o fato gerador já ocorreu e esse acontecimento é

acobertado com roupagem jurídica simulada ou dissimulada.

Assim, resumidamente e de forma geral, conforme leciona Lívia De Carli

Germano (2013, p. 47-50), a maioria da doutrina brasileira adota dois critérios para

caracterizar a diferença entre evasão e elisão: o da licitude e o temporal. Nessa

concepção, a elisão é lícita, podendo ser comissiva ou omissiva, e tem por objetivo

eliminar, reduzir ou suprimir o tributo devido, impedindo ou retardando a ocorrência

do fato gerador, através da prática de atos ou negócios jurídicos que produzem o

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mesmo resultado originalmente previsto, porém antes do surgimento da obrigação

tributária ou com menor ônus tributário. Já a evasão é sempre ilícita e se configura

na prática de condutas fraudulentas, realizadas após a ocorrência do fato gerador,

representadas, principalmente, nas figuras da sonegação e simulação, com o

objetivo de não pagar o tributo devido.

No entanto, alguns doutrinadores divergem, no todo ou em parte, da

classificação acima exposta.

No entendimento de James Marins (2002, p. 30-32) elisão fiscal é conduta

lícita, omissiva ou comissiva, praticada pelo contribuinte, cuja finalidade é evitar ou

retardar o pagamento do tributo, uma vez que evitam licitamente a prática do fato

imponível da obrigação tributária. Em outro sentido, a evasão fiscal ocorre quando o

contribuinte se utiliza de meios proibidos pelo ordenamento jurídico para diminuir,

deixar de pagar ou retardar o pagamento de tributos. É, portanto, economia ilícita ou

fraudulenta de tributos, porque sua realização passa necessariamente pelo

descumprimento de regras de conduta tributária ou pela utilização de fraudes. Para

o autor, a licitude ou a ilicitude da conduta é o principal critério para distinguir a

elisão da evasão fiscal.

De maneira diferente, Hugo de Brito Machado (2005, p. 143) entende que a

diferença de significado dos dois termos em questão deve ser interpretada de forma

inversa, ou seja, a evasão é uma conduta lícita e a elisão é uma conduta ilícita.

Explica que a palavra evasão, assim como a palavra elisão, podem ser utilizadas em

sentido amplo como em sentido restrito. Em sentido amplo, evasão e elisão, lícitas

ou ilícitas, correspondem a toda forma de fuga ao tributo. Entretanto, em sentido

restrito, significam a fuga ao dever jurídico de pagar o tributo cujo comportamento

deve ser considerado ilícito. O autor resume seu entendimento no parágrafo abaixo

transcrito:

Com efeito, elisão é ato ou efeito de elidir, que significa eliminar, suprimir. E evasão é o ato de evadir-se, a fuga. Tanto se pode dizer elisão fiscal, no sentido de eliminação ou supressão do tributo, como evasão fiscal, no sentido de fuga ao imposto. Elisão e evasão têm sentidos equivalentes. Se tivermos, porém, de estabelecer uma diferença de significado entre esses dois termos, talvez seja preferível, contrariando a preferência de muitos, utilizarmos evasão para designar a conduta lícita, e elisão para designar a conduta ilícita. Realmente, elidir é eliminar, ou suprimir, e somente pode eliminar, ou suprimir, o que existe. Assim, quem elimina ou suprime um tributo, está agindo ilicitamente, na medida em que está eliminando ou suprimindo a relação tributária já instaurada. Por outro lado, evadir-se é fugir, e quem foge está evitando, podendo a ação de evitar ser preventiva. Assim, quem evita pode estar agindo licitamente. (MACHADO, 2005, p. 143).

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Por sua vez, Ricardo Lobo Torres traz um novo entendimento para as figuras

em estudo. Para o autor, “evasão lícita e a elisão [lícita ou ilícita] precedem a

ocorrência do fato gerador. A sonegação e a fraude [= evasão ilícita] dão-se após a

ocorrência daquele fato” (TORRES, 2013, p. 8-9). Desse modo, a economia de

imposto obtida através da evasão é aquela em que o sujeito deixa de praticar o fato

gerador, portanto é sempre lícita. No entanto, a elisão pode ser lícita ou ilícita, sendo

no primeiro caso a economia de tributos alcançada por interpretação razoável da lei

tributária e no segundo a economia é obtida pela realização de negócio jurídico cuja

forma não se subsume a descrição abstrata da lei.

Já Heleno Taveira Tôrres traz em seu estudo, além dos conceitos de elisão e

evasão, já tratados, a figura da elusão fiscal, descrevendo-a do seguinte modo

(TÔRRES, 2003, p. 189):

É o fenômeno pelo qual o contribuinte, mediante a organização planejada de atos lícitos, mas desprovidos de “causa” (simulados ou com fraude à lei), tenta evitar a subsunção de ato ou negócio jurídico ao conceito normativo do fato típico e a respectiva imputação da obrigação tributária. Em modo mais amplo, elusão tributária consiste em usar de negócios jurídicos atípicos ou indiretos desprovidos de "causa” ou organizados com simulação ou fraude à lei, com a finalidade de evitar a incidência da norma tributária impositiva, enquadrar-se em regime fiscalmente mais favorável ou obter alguma vantagem fiscal específica.

Assim, na elusão o sujeito se aproveita de atos ou negócios jurídicos indiretos

que, isoladamente, são considerados lícitos, porém desprovidos de causa,

simulados ou com fraude à lei, praticados com o objetivo de economizar tributos. Na

elisão, os atos são lícitos e o objetivo também é a economia fiscal, porém são

praticados sem violação aos dispositivos legais. No entanto, na evasão, o sujeito

age dolosamente para escapar do pagamento do tributo (TÔRRES, 2003, p. 170-

178).

Também, Paulo Caliendo (2009, p. 237-242) agrega em seus estudos

relacionados à tributação das atividades econômicas a definição de elusão fiscal.

Para o autor, a distinção entre as figuras da evasão, elisão e elusão tributária

obedecem a quatro critérios. São eles:

a) Cronológico – Refere-se à ocorrência do fato gerador: se realizado

anteriormente é caso de elisão; se posterior é evasão;

b) Causal – Refere-se à causa do negócio jurídico: se a causa for lícita, trata-

se de elisão; se a causa for falsa, ilícita ou ausente, tem-se a elusão;

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c) Econômico – Refere-se ao sentido econômico da operação: se a operação

possui um sentido econômico (substância negocial) tem-se a elisão e na ausência a

elusão;

d) Sistemático – Refere-se à estrutura do negócio jurídico (forma, conteúdo e

finalidade): se a forma usada for dotada de uma finalidade negocial, isto é, se

coerente com a organização dos negócios, tem-se um caso de elisão, entretanto se

houver manipulação artificiosa da estrutura negocial estará configurada a elusão.

No entendimento de Caliendo, evasão, elisão e elusão tributária consistem

em:

Evasão - É a conduta de má-fé do contribuinte, por ação ou omissão, de descumprimento de direito, total ou parcial, das obrigações ou deveres tributários. Elisão – É o planejamento lícito de negócios, realizado conforme os princípios constitucionais que orientam a livre-iniciativa e a livre concorrência, com o objetivo de obter o menor impacto fiscal. Elusão – É um modo particularmente relevante de compreensão de condutas ilícitas por manejo da ocorrência do fato gerador, ocultando, dificultando ou impedindo a sua ocorrência de modo ilegítimo. (CALIENDO, 2009, p. 237).

Conclui o autor que o modo elisivo se traduz na conduta do contribuinte em

organizar seus negócios de modo a, mantendo a causa do negócio, reduzir seu

efeito fiscal. Na evasão ocorre o descumprimento direto da norma impositiva e na

elusão os negócios jurídicos são realizados de acordo com estruturas válidas que

impedem a ocorrência do fato gerador, porém se utiliza de fraude ou abuso ao

ordenamento jurídico-tributário.

Na verdade, a questão terminológica não parece ter tanta relevância. Afigura-

se importante, porém, investigar a conduta do contribuinte, se lícita ou ilícita, quando

pratica atos ou negócios jurídicos visando economizar tributos. Portanto, para fins

deste estudo, seguindo o entendimento de James Marins (2002, p. 30-32),

considerar-se-ão tão somente as figuras da elisão como meio lícito de economia

fiscal e a evasão como forma ilícita. Desse modo, o principal critério para distinguir a

conduta do contribuinte será a licitude ou ilicitude.

Assim, pode-se dizer que elisão corresponde ao uso de mecanismos lícitos ou

não defesos em lei, utilizados pelo contribuinte na organização de seus negócios,

com vistas a obter vantagens fiscais, seja através de meios que impeçam a

ocorrência do fato gerador, seja por meios que o retardem ou ainda que reduzam o

quanto de tributo a pagar. Portanto, a licitude é o elemento identificador por

excelência da elisão, é de sua essência. Deve, pois, integrar a definição do instituto.

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Desse modo, para a conduta do contribuinte se situar no campo da elisão

fiscal os meios utilizados devem ser lícitos ou não vedados pelo Direito. Portanto,

elisão fiscal pode ser caracterizada como a prática de condutas lícitas, sejam

omissivas ou comissivas, que tenham por finalidade evitar a ocorrência do fato

gerador, reduzir o montante de tributo a pagar ou postergar seu cumprimento. De

modo contrário, a evasão fiscal se caracteriza pela prática ilícita da conduta do

contribuinte. Trata-se de figura não admitida pelo ordenamento jurídico e, como tal,

deve ser reprimida e combatida pelas instituições estatais. A conduta se efetiva pela

utilização de meios vedados pelo legislador. Desse modo, evasão fiscal pode ser

definida como a prática de condutas visando à redução, à postergação ou ao não

pagamento do tributo devido, porém proibidas pelo ordenamento jurídico. É,

portanto, economia tributária ilícita ou fraudulenta, concretizada pelo

descumprimento de regras de conduta tributária ou pela utilização de fraudes. Isto é,

o fato imponível é praticado, fazendo nascer a obrigação tributária, entretanto o

contribuinte se nega a satisfazê-la.

2.4.2 Opções fiscais

As opções fiscais são alternativas criadas pelo próprio ordenamento jurídico e

colocadas à disposição dos contribuintes para que delas se aproveitem conforme

sua conveniência. Isto é, a opção fiscal estrutura uma hipótese de conduta

positivamente autorizada pelo sistema jurídico. Têm-se, como exemplos, a tributação

com base no lucro presumido ou no SIMPLES Nacional como alternativa ao Lucro

Real, a tributação cumulativa ou não cumulativa das contribuições, o uso do

desconto padrão na tributação do Imposto de Renda da Pessoa Física, entre outras.

As opções fiscais como espécies de planejamento tributário não são

consenso na doutrina, sendo incluídas no conceito por alguns e excluídas por

outros. Para Marins (2002, p. 33), as opções fiscais integram o instituto do

planejamento tributário. No mesmo sentido, Abraham (2007, p. 278) entende que

“uma das maneiras mais seguras de se implementar um planejamento fiscal é

buscar as opções que a própria lei oferece”. Em sentido contrário, Greco (2011, p.

104) defende que as opções fiscais estão fora do âmbito do planejamento tributário.

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2.4.3 Substituição jurídica – negócio jurídico indireto

Utiliza-se, no negócio jurídico indireto, uma figura negocial típica para atingir

objetivos que não lhe são próprios, sem que haja efetiva intenção de prejudicar

terceiros.

De acordo com Lívia de Carli Germano (2013, p. 108-113), a doutrina

costuma identificar como negócio jurídico indireto aquela categoria de negócios que

são utilizados para alcançar resultado diverso daquele para o qual foram instituídos.

Para a autora, no negócio jurídico indireto as partes desejam todas as

consequências jurídicas do negócio jurídico adotado, embora seja apenas um meio

para atingir um resultado outro. Portanto, é um negócio sério, real, efetivamente

querido pelas partes.

Nas palavras de Abraham (2007, p. 221) “no negócio indireto, usa-se uma via

oblíqua, em lugar da via normal; usa-se um negócio típico fora de seu fim específico,

porém este é de fato perseguido, embora não dentro da normalidade”.

Para Alberto Xavier (2002, p. 59), denomina-se negócio indireto “o negócio

jurídico que as partes celebram para através dele atingir fins diversos dos que

representam a estrutura típica daquele esquema negocial”. Ensina o autor que a

característica essencial do instituto está na utilização de um negócio típico, usado

para realizar um fim distinto daquele para o qual foi criado. Trata-se, portanto, de

uso de meios que não são comuns para aquele tipo de negócio, porém o resultado

não é contrário ao direito.

2.5 VÍCIOS DO NEGÓCIO JURÍDICO

No tocante aos vícios do negócio jurídico relacionados ao instituto do

planejamento tributário, considerando-se o objeto do presente estudo, têm-se as

figuras da simulação e abuso de direito.

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2.5.1 Simulação

O termo “simulação” tem sua origem no latim, significando disfarce,

fingimento, artifício, simulacro, hipocrisia, impostura. É simulada a situação jurídica

caracterizada pela realização de negócio discrepante da realidade, mediante acordo

entre as partes, estabelecendo divergência intencional entre a vontade e a

declaração, com o intuito de enganar terceiro (FERREIRA, 2012).

O Ministro José Carlos Moreira Alves, do Supremo Tribunal Federal (STF)

ensina que (ALVES, 2003, p. 13):

O negócio jurídico simulado é aquele que cria uma aparência querida pelas partes. É uma aparência que se cria, ou com a finalidade de apenas criá-la, sem se querer ocultar algo que realmente se deseja, ou então se cria essa aparência para ocultar o que realmente se deseja.

Sobre as características do negócio simulado, o Ministro do STF (ALVES,

2003, p. 13) assim explica:

Para que haja simulação, é preciso, primeiramente, que exista divergência entre a vontade interna e a vontade manifestada. A vontade interna na simulação absoluta, por exemplo, é aquela, no exemplo dado, de livrar uma parcela do nosso patrimônio do confisco. Já a vontade manifestada é a da aparente transferência do direito de propriedade daquilo que continua no nosso domínio. Em segundo lugar, é preciso que o acordo simulatório ocorra entre as partes, havendo, portanto, necessidade de um acordo. Consequentemente, ambas as partes sabem exatamente o que estão fazendo. Finalmente, esse negócio simulado há de ter por objetivo enganar terceiros estranhos a esse ato simulado.

A simulação, no entendimento de James Marins (2002, p. 34), é:

Instituto de Direito Civil e compreende a realização de atos ou negócios jurídicos através de forma prescrita ou não defesa em lei, de modo que a vontade formalmente declarada no instrumento oculte deliberadamente a vontade real dos sujeitos da relação jurídica, desde que com a finalidade de prejudicar terceiros.

Marins classifica a simulação em absoluta e relativa. Na absoluta dá-se um

acordo simulatório em que do negócio simulado não se espera qualquer espécie de

resultado jurídico. Na simulação relativa (denominada por parte da doutrina de

dissimulação) a prática do ato ou negócio simulado é o caminho encontrado para a

obtenção de um resultado jurídico, esse sim verdadeiro e desejado (MARINS, 2002,

p. 35).

Para o Procurador da Fazenda Nacional Marcus Abraham (2007, p. 220),

entende-se por simulação:

A prática de um ato volitivo, cujo objetivo é produzir efeitos diferentes do que externamente se apresenta, para encobrir o que realmente se pretende

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fazer. Há algo oculto que se quer realizar e algo ostensivo que não se quer, mas este último serve de disfarce para o intento desejado. Encontra-se na sua essência o seu objetivo final: enganar terceiros. O ato simulado é o que se apresenta perante terceiros, enquanto o dissimulado é o verdadeiro ato que se pretendia realizar, mas está oculto sob o manto da simulação.

A simulação apresenta as seguintes características, segundo Abraham (2007,

p. 220-221): incompatibilidade entre a manifestação e a verdadeira intenção; acordo

entre as partes; e objetivo de enganar terceiros. Na simulação, as partes fingem um

ato que é mera aparência, sem conteúdo negocial por detrás. Na dissimulação, há

um negócio aparente (simulado) que esconde outro, o dissimulado (oculto).

Na concepção de Alberto Xavier (2002, p. 52-54), a simulação consiste na

divergência entre a vontade real e a declarada, que surge com o acordo entre o

declarante e o declaratário, com o intuito de prejudicar terceiros. Tem como

elementos essenciais a intencionalidade, o acordo simulatório e o intuito de enganar

terceiros. Classifica a simulação em absoluta e relativa. Na absoluta, aparenta-se

celebrar um negócio jurídico, quando na realidade não se quer fazer negócio algum.

Na relativa, as partes celebram efetivamente um contrato, porém o ocultam

com outro distinto do primeiro pela sua natureza ou pelas suas cláusulas e

condições. Conclui dizendo que, enquanto na simulação absoluta existe apenas um

negócio jurídico correspondente à vontade declarada (contrato simulado), na

simulação relativa existem dois negócios jurídicos: o negócio simulado,

correspondente à vontade declarada enganadora, e o contrato por baixo dele, oculto

ou encoberto (o negócio dissimulado), correspondente à vontade real dos seus

autores.

Já Marco Aurélio Greco (2011, p. 190-193) trilha caminho diferente para situar

o negócio simulado no contexto do planejamento tributário. Para o autor, a

simulação deve ser vista como vício da causa ou do motivo do negócio jurídico, que

se configura sempre que houver discrepância entre o motivo aparente e o motivo

real ou entre a causa do negócio e o perfil com que ele se apresenta. Isto é, o

elemento-chave é a causa (ou o motivo) do negócio jurídico e não a vontade.

Questiona-se até que ponto as causas reais coincidem com as causas

aparentes, portanto não é mais uma confrontação entre vontade real e vontade

aparente, mas entre causa real e causa aparente ou negócio aparente.

Hodiernamente, a simulação é instituto de Direito Civil, disciplinada no artigo

167, §1° do Código Civil (BRASIL, 2002):

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Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. §1° Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I – aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II – contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III – os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.

Assim, a simulação compreende a realização de atos ou negócios jurídicos

através de forma prescrita ou não defesa em lei, mas de modo que o contrato

aparente ou não existe no mundo dos fatos (simulação absoluta) ou esconde outro

(simulação relativa), com a finalidade de prejudicar terceiros. Pode-se dizer, então,

que a simulação ocorre quando as partes, intencionalmente, contratam determinado

negócio jurídico, entretanto almejam efeito diferente daquele demonstrado, visando

fraudar terceiros ou a lei, sendo que a fraude é elemento indicador da simulação.

2.5.2 Abuso de direito

Para melhor compreender esse instituto, é importante trazer a lume a

compreensão de que o Direito vem caminhando no sentido de valorizar a ética e a

solidariedade nas relações sociais. Observa-se significativa mudança naquela

postura que até então considerava lícito tudo aquilo que não contrariava a lei. Vê-se

que o Direito exige um novo modo de agir, onde os valores da boa-fé, dos bons

costumes e dos interesses sociais devem se fazer presentes para que se possa

considerar lícito o ato praticado. Tal compreensão se contrapõe ao modelo

egocêntrico no uso do direito individual. Assim, os princípios da autonomia da

vontade e o do fim social da propriedade devem ser ponderados. Nesse sentido,

pode-se entender o Direito como um instrumento que deve ser usado como meio

para que objetivos individuais e coletivos sejam alcançados (GRECO, 2011, p. 24;

46; 65-71).

Relevância maior ganhou esse instituto por ocasião da entrada em vigor da

Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (BRASIL, 2002), que em seu artigo 187

dispôs que “também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,

excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela

boa-fé ou pelos bons costumes”. Corroborando esse entendimento, traz-se à

colação a lição de Diogo de Figueiredo Moreira Neto (1992, p. 87):

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[...] ordenamentos jurídicos de todo o mundo vêm ampliando a sua dimensão ética para exigir que a conduta humana, além de legal, seja também legítima, vale dizer, adequada à realização de um Estado de Justiça.

Para Marco Aurélio Greco (2011, p. 201-217) a interpretação e aplicação do

direito, na constância de um Estado Democrático de Direito, supõem uma

conjugação entre os valores típicos do Estado de Direito (liberdade negativa,

legalidade formal, proteção à propriedade) com aqueles próprios do Estado Social

(igualdade, liberdade positiva, solidariedade), sem que as garantias fundamentais da

pessoa humana sejam abandonadas. O autor leciona que é preciso distinguir entre

critérios ligados à existência do direito e critérios ligados ao seu uso ou exercício, e

aduz que:

Neste passo, tem pertinência o tema do “abuso do direito”, categoria construída para inibir práticas que, embora possam encontrar-se no âmbito da licitude (se o ordenamento positivo assim tratar o abuso), implicam, o seu resultado, uma distorção no equilíbrio do relacionamento entre as partes, (i) seja pela utilização de um poder ou de um direito em finalidade diversa daquela para a qual o ordenamento assegura sua existência, (ii) seja pela sua distorção funcional, por implicar inibir a eficácia da lei incidente sobre a hipótese sem uma razão suficiente que a justifique. De qualquer modo, seja o ato abusivo considerado lícito ou ilícito a consequência perante o Fisco será sempre a sua inoponibilidade e de seus efeitos. (GRECO, 2011, p. 203).

Greco defende que a teoria do abuso de direito pode ser aplicada em matéria

tributária, sendo que “sua aplicação não se volta a obrigar ao pagamento de maior

imposto, mas inibir as práticas sem causa, que impliquem em menor tributação”

(GRECO, 2011, p. 2013). O autor diz que “o abuso de direito em matéria fiscal

caracteriza-se por implicar ‘inoperância’ ou ‘ineficácia’ do ato em relação ao Fisco,

independente de ser ilegal ou ilícita a operação” (GRECO, 2011, p. 217).

Na mesma linha de Greco, Ricardo Lobo Torres (2006, p. 128-132) se

posiciona favoravelmente à doutrina do abuso de direito, reconhecendo a liberdade

do contribuinte para planejar seus negócios na busca do menor ônus tributário.

Entretanto, ressalva que ao ultrapassar os limites da razoabilidade e

proporcionalidade na utilização de formas do Direito Privado, o contribuinte estará

cometendo abuso. Assim se posiciona o autor:

Não pode ultrapassar os limites da razoabilidade, aproveitando-se da zona cinzenta e da indeterminação dos conceitos e ofendendo valores como os da justiça e da segurança jurídica e princípios como os da unidade da ordem jurídica, da interação entre direito tributário e economia, da capacidade contributiva e da legalidade democrática do Estado de Direito. (TORRES, 2006, p. 130).

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Conclui o autor ensinando que o pluralismo metodológico, com fundamentos

na jurisprudência dos valores e no pós-positivismo, aceita o planejamento fiscal

como forma legítima de economizar tributos, desde que ausente o abuso de direito.

Por seu turno, Alberto Xavier (2002, p. 106-109) entende que não pode haver

a transposição da doutrina civilista do abuso de direito para o Direito Tributário. Isso

porque ela conduz a um grau de subjetivismo na aplicação da lei tributária, tornando-

se incompatível com a segurança jurídica. Também, porque a doutrina do abuso de

direito é cientificamente equivocada, pois transplanta para as relações de Direito

Público entre indivíduo e Estado conceitos aplicáveis exclusivamente às relações

entre particulares. Xavier defende que a referida doutrina pressupõe direitos e

relações paritárias, situadas no mesmo plano, objetivando vedar que o exercício de

um direito subjetivo de um particular atinja o direito de outro. Ademais, as relações

entre particular e Estado não são relações paritárias, nem o Estado é titular de

direito subjetivo passível de ser lesado pelo exercício de um direito subjetivo pelo

particular.

Para fins deste trabalho, considera-se que o Direito não pode assumir

posições que o qualifiquem como um fim em si mesmo, mas um meio para que

indivíduo e coletividade possam alcançar seus objetivos. Significa dizer que inexiste

direito absoluto no ordenamento jurídico pátrio.

2.6 REORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIA

Resumidamente, reorganização societária consiste em estruturar toda a

organização empresarial, em um modelo negocial que atenda as necessidades das

sociedades envolvidas, em razão de economia de custos, aumento de eficiência,

melhor posicionamento no mercado, entre várias outras. Destaca-se, pela natureza

deste estudo, a busca das empresas pela economia fiscal através das formas de

reorganização societária, como a fusão, cisão e incorporação. Apresentam-se, a

seguir, os conceitos das modalidades de reorganização societária que são

empregadas na elaboração de um planejamento tributário.

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2.6.1 Fusão

De acordo com o disposto no art. 228 da Lei nº 6.404/76 (BRASIL, 1976),

fusão “é a operação pela qual se unem uma ou mais sociedades para formar

sociedade nova, que lhes sucederá em todos os direitos e obrigações”. Caracteriza-

se pelo desaparecimento das sociedades que se fundem, nascendo uma nova

sociedade que assumirá toda e qualquer obrigação, ativa e passiva, das sociedades

fusionadas.

2.6.2 Incorporação

A incorporação, segundo o art. 227 da Lei n. 6.404/76 (BRASIL, 1976), “[...] é

a operação pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhes

sucede em todos os direitos e obrigações.” Na operação de incorporação

desaparece a sociedade incorporada, entretanto permanece inalterada a

personalidade jurídica da incorporadora, ocorrendo modificações em seu estatuto ou

contrato social, onde deverá constar a indicação do aumento do capital social e do

seu patrimônio.

2.6.3 Cisão

A cisão está definida no art. 229, da Lei n. 6.404/76 (BRASIL, 1976), nos

seguintes termos:

Cisão é a operação pela qual a companhia transfere parcelas do seu patrimônio para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes, extinguindo-se a companhia cindida, se houver versão de todo o seu patrimônio ou dividindo-se o seu capital, se parcial a versão.

A operação de cisão implica na extinção total ou parcial de uma empresa, dando

origem a duas ou mais sociedades. No caso de cisão total, extingue-se a sociedade

cindida e duas ou mais sociedades se formam na proporção do patrimônio

transferido, assumindo os direitos e obrigações referentes à determinada porção do

patrimônio que foi transferida. Destarte, reorganizações societárias são eventos

promovidos pelas organizações visando otimizar seu funcionamento, sendo a cisão,

fusão e incorporação as formas existentes.

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Encerra-se, aqui, este Capítulo desta monografia. Tratar-se-á, a seguir, do processo

administrativo fiscal na esfera federal, sua estrutura, funcionamento e o papel do

Conselho Administrativo de Recursos Fiscais dentro do macrossistema em que se

situa o contencioso administrativo fiscal.

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3 CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO FISCAL FEDERAL

Compõem esta Seção, além de considerações gerais relacionadas ao

processo administrativo fiscal na esfera federal, o conceito de processo e

procedimento, apresentando-se as principais diferenças, e o contencioso

administrativo fiscal, sua estrutura, funcionamento e o papel do Conselho

Administrativo de Recursos Fiscais dentro do macrossistema de constituição e

julgamento do crédito tributário.

3.1 PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL: CONSIDERAÇÕES GERAIS

O Processo Administrativo Fiscal, cunhado pela sigla PAF, também tratado

como Processo Administrativo Tributário, formalizado em razão de exigência de

crédito tributário, além de consultas à legislação tributária e de outros procedimentos

previstos em regulamentos, não tratados aqui por não se incluírem no escopo do

presente trabalho, é regulado pelo Decreto nº 70.235 (BRASIL, 1972), de 6 de março

de 1972 (tem hierarquia de lei ordinária). Subsidiariamente, aplicam-se as

disposições da Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999 (BRASIL, 1999) e do Código

de Processo Civil. Importante registrar que o Decreto nº 7.574, de 29 de setembro

de 2011, consolidou em regulamento a legislação que trata do processo de

determinação e exigência de créditos tributários da União.

É cediço que a Administração Pública, para legitimar sua atuação definida na

Constituição Federal, deve buscar a efetivação da justiça. Nesse contexto, o

processo administrativo fiscal é um instrumento à disposição do Estado para, no

caso concreto, aplicar a Lei e o Direito nas disputas entre Fisco e contribuinte

relacionadas à exigência de crédito tributário (BRASIL, 1964). É, também, um meio

de controle de legalidade pela própria Administração, consoante disposto no artigo

53 da Lei nº 9.784/99 em que explicita que “a Administração deve anular seus

próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo

de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos” (BRASIL,

1999).

Com relação ao administrado (contribuinte) é um instrumento que assegura o

pleno exercício do direito à ampla defesa e o contraditório, conforme dispõe o art. 5º,

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inciso LV, da Constituição Federal, onde consta expressamente que aos litigantes

em processo administrativo são garantidos o contraditório e a ampla defesa, bem

como os meios e recursos a ela inerente (BRASIL, 1988). Tenha-se, também, que o

sistema constitucional brasileiro consagra o princípio do devido processo legal (art.

5º, LIV, da CRFB/88), projetando-se tanto na esfera judicial quanto na administrativa.

No magistério de Eduardo Arruda Alvim (2004, p. 31), o princípio do devido

processo legal pode ser entendido em sua acepção processual, mas também

repercute no plano do direito material.

Não se olvide que um dos grandes desafios da Administração Fazendária é

resolver com celeridade as controvérsias envolvendo Fisco e contribuinte,

alcançando, assim, a desejada eficácia do sistema arrecadatório federal.

3.2 PROCESSO E PROCEDIMENTO

Entende-se como importante fazer-se a distinção entre processo e

procedimento, também na seara do contencioso administrativo fiscal federal, pois

não raras vezes os termos e institutos jurídicos são utilizados em sentido diverso.

Nas palavras do jurista Hugo de Brito Machado (2005, p. 443-444), a

expressão “processo administrativo fiscal” pode ser usada em sentido amplo e em

sentido restrito. Em sentido amplo, designa o conjunto de atos administrativos

tendentes ao reconhecimento de uma situação jurídica pertinente à relação fisco-

contribuinte. Em sentido restrito, designa a espécie do processo administrativo

destinada à determinação e exigência do crédito tributário.

Em sua acepção genérica, o termo “processo” representa a atividade

dinâmica de qualquer fenômeno. O vocábulo deriva do latim (procedere, ir de um

lugar para outro) e significa a sequência de atos, interligados entre si, realizados

dentro de um sistema lógico, objetivando alcançar um fim específico. Transportando

o conceito para o Direito Administrativo, o processo caracteriza-se pela atuação de

interessados ante a Administração Pública, com intuito de obter determinada

providência ou reconhecimento de um direito. Todavia, se a matéria postulada frente

à Administração Pública versa sobre exigência de crédito tributário, dentre outras

matérias de mesmo cunho, tem-se o processo administrativo fiscal. Por sua vez,

procedimento é um método para que se concretize o processo. Assim, processo e

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procedimento se diferenciam quanto aos seus conteúdos jurídicos: o primeiro retrata

a relação jurídica específica e o segundo define o desenrolar dos atos e fatos que

configuram o caminho que se pretende percorrer para chegar ao ato final (NEDER;

LÓPEZ, 2004, p. 28-29).

Para Fabiana Del Padre Tomé (2008, p. 278-279), não se pode confundir

processo com procedimento administrativo tributário, pois este tem por finalidade

preparar o ato de lançamento, mediante o qual se formaliza a exigência do crédito

tributário, e aquele surge tão somente após a resistência do contribuinte à pretensão

do Fisco. Resumidamente, para a autora, procedimento é o caminho perseguido

para a realização do ato de lançamento ou de aplicação de penalidade, configurando

processo a composição administrativa dos conflitos fiscais. Ainda, o procedimento

administrativo tributário é marcadamente fiscalizatório e apuratório, visando preparar

o ato constituidor da obrigação tributária, enquanto que o processo somente aparece

em momento posterior ao nascimento do crédito tributário, mediante impugnação do

ato da autoridade fiscal.

Por sua vez, José dos Santos Carvalho Filho (2013, p. 152; 970-971; 1099),

ensina que procedimento administrativo “é a sequência de atividades da

Administração, interligadas entre si, que visa a alcançar determinado efeito final

previsto em lei” (p. 152). É, portanto, atividade contínua em que os atos e operações

se colocam de maneira ordenada para se chegar a um fim predeterminado. Com

relação ao processo, o autor o define como “a relação jurídica integrada por algumas

pessoas, que nela exercem atividades direcionadas para determinado fim” (p. 970).

Isto é, a ideia de processo reflete função dinâmica, em que os atos e os

comportamentos de seus integrantes se apresentam em sequência ordenada com o

objetivo a que se destina o processo.

3.3 CONSTITUIÇÃO E FORMALIZAÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

O crédito tributário, de acordo com o Código Tributário Nacional (BRASIL,

2014a), “decorre da obrigação principal e tem a mesma natureza desta”. No

entendimento de Hugo de Brito Machado (2005, p. 180), o crédito tributário é o

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[...] vínculo jurídico, de natureza obrigacional, por força do qual o Estado (sujeito ativo) pode exigir do particular, o contribuinte ou responsável (sujeito passivo), o pagamento do tributo ou da penalidade pecuniária (objeto da relação obrigacional).

A constituição do crédito tributário é da competência privativa da autoridade

administrativa, concretizando-se pelo lançamento, que é um procedimento

administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador, identificar o sujeito

passivo, determinar e calcular a matéria tributável e aplicar penalidade, se cabível

(MACHADO, 2005, p. 180-181). Sua exigência é formalizada por auto de infração,

distinto para cada tributo ou penalidade (BRASIL, 1972).

Cientificado o contribuinte da exigência fiscal, formalizada através de auto de

infração, abrem-se as seguintes possibilidades: pagar (parcelar) o valor devido;

impugnar o ato administrativo ou não fazer nada (revelia). Para este estudo vai

interessar a segunda alternativa, impugnar o lançamento, estabelecendo-se, assim,

o litígio entre a Fazenda Pública e o contribuinte. De acordo com o artigo 14 do

Decreto nº 70.235, de 1972, “a impugnação da exigência instaura a fase litigiosa do

procedimento”.

O contribuinte possui o prazo de 30 (trinta) dias, a contar da ciência do auto

de infração, para apresentar impugnação junto à Delegacia da Receita Federal do

Brasil de seu domicílio fiscal, autoridade preparadora que encaminhará o processo à

Delegacia da Receita Federal de Julgamento, órgão julgador de primeira instância.

No caso de decisão desfavorável, pode o contribuinte recorrer no prazo de 30 (trinta)

dias da ciência do acórdão que julgou improcedente a impugnação, apresentando

recurso ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, órgão julgador de segunda

e última instância.

3.4 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO

A estrutura jurídica adotada no Brasil para solução de litígios tem origem em

dois principais sistemas, sendo o sistema francês composto de dupla jurisdição

(Judiciário e Executivo) e o sistema inglês em que a jurisdição é una. O primeiro se

caracteriza por ser a função jurisdicional compartilhada com a Administração Pública

que, além das funções executivas tradicionais, também julga. Quanto ao segundo, a

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jurisdição é única e a solução das controvérsias entre os particulares e a

Administração ou entre os vários órgãos desta é da competência do Poder

Judiciário. No Brasil, sob a influência do sistema inglês, prevaleceu o princípio da

universalização de jurisdição, isto é, existe uma reserva absoluta de jurisdição aos

órgãos do Poder Judiciário, proibindo-se a atribuição jurisdicional a órgãos de outros

Poderes, bem como a exclusão da apreciação do Poder Judiciário de quaisquer

lesões de direitos (NEDER; LÓPEZ, 2004, p. 23-24).

A legitimidade da existência de órgãos jurisdicionais administrativos se

encontra na Constituição Federal (BRASIL, 1988), notadamente no artigo 5º, incisos

XXXIV, alínea “a”, LIV e LV, que expressamente garantem o direito de petição aos

Poderes Públicos, o direito ao devido processo legal e o contraditório e ampla

defesa aos litigantes em processos administrativos (BRASIL, 2014b). Todavia, deve-

se atentar para a existência do princípio da inafastabilidade da jurisdição, exarado

no inciso XXXV do art. 5º da CRFB/88, dispondo que “a lei não excluirá da

apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Destarte, não significa

dizer que a Administração Pública não detém o poder de rever os seus próprios

atos, pelo contrário, o art. 53 da Lei nº 9.784 de 1999, dispõe que “a Administração

deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode

revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos

adquiridos”.

Assim, há órgãos administrativos dotados de competência específica que

decidem litígios. Contudo, as decisões dos órgãos administrativos não são

detentoras da definitividade própria das decisões do Judiciário, sujeitando-se à sua

revisão, desde que provocadas.

Os órgãos administrativos de julgamento, no âmbito dos litígios que envolvem

questões tributárias e o contribuinte, atuam primordialmente no controle de

legalidade do ato administrativo, notadamente o lançamento, ato pelo qual a

autoridade administrativa constitui o crédito tributário (BRASIL, 2014a), visando à

solução de controvérsias dele decorrente. Compõem-se pelas Delegacias da

Receita Federal de Julgamento, órgão julgador colegiado de primeira instância e

pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, órgão colegiado paritário, de

segunda instância de julgamento, composto por representantes da Fazenda

Nacional e dos contribuintes.

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Importante registrar que o contribuinte, não resignado com a exação imposta

pelo Fisco, que buscou a via administrativa para a solução do litígio, pode a qualquer

tempo desistir desta opção e buscar no Poder Judiciário o desfecho da controvérsia.

3.4.1 Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento

As Delegacias da Receita Federal do Brasil de Julgamento (DRJ) são órgãos

colegiados, constituídos por turmas de no mínimo 03 (três) e no máximo 07 (sete)

integrantes, todos Auditores Fiscais da Receita Federal, denominados “Julgadores”,

nomeados por ato do Secretário da Receita Federal para mandato de 03 (três) anos,

renováveis, com a competência de julgar processos administrativos fiscais, em

primeira instância de julgamento, envolvendo litígios entre a Fazenda Pública

Federal e o contribuinte. Atualmente são 14 (quatorze) unidades, todas com

jurisdição nacional, localizadas nas principais cidades do País.

De acordo com o disposto no art. 233, da Portaria MF nº 203, de 14 de maio

de 2012 (BRASIL, 2012), alterada pela Portaria MF nº 512, de 2 de outubro de 2013

(BRASIL, 2013), estas são as atribuições das DRJs:

Art. 233. Às Delegacias da Receita Federal do Brasil de Julgamento - DRJ, com jurisdição nacional, compete conhecer e julgar em primeira instância, após instaurado o litígio, especificamente, impugnações e manifestações de inconformidade em processos administrativos fiscais: I - de determinação e exigência de créditos tributários, inclusive devidos a outras entidades e fundos, e de penalidades; II - de infrações à legislação tributária das quais não resulte exigência do crédito tributário; III - relativos à exigência de direitos antidumping, compensatórios e de salvaguardas comerciais; e IV - contra apreciações das autoridades competentes em processos relativos à restituição, compensação, ressarcimento, reembolso, imunidade, suspensão, isenção e redução de alíquotas de tributos, Pedido de Revisão de Ordem de Incentivos Fiscais (PERC), indeferimento de opção pelo Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte (Simples) e pelo Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Simples Nacional), e exclusão do Simples e do Simples Nacional. §1º O julgamento de impugnação de penalidade aplicada isoladamente em razão de descumprimento de obrigação principal ou acessória será realizado pela DRJ competente para o julgamento de litígios que envolvam o correspondente tributo. §2º O julgamento de manifestação de inconformidade contra o indeferimento de pedido de restituição, ressarcimento ou reembolso, ou a não homologação de compensação, será realizado pela DRJ competente

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para o julgamento de litígios que envolvam o tributo ao qual o crédito se refere.

A decisão é formalizada por acórdão, assinada pelo Relator e pelo

Presidente, sendo cientificado o sujeito passivo, facultando a interposição de recurso

ao Conselho Administrativo de Recursos no prazo de 30 (trinta) dias, no caso de

improcedência, total ou parcial, da impugnação interposta pelo sujeito passivo.

3.4.2 Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF)

O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), órgão colegiado

paritário, vinculado à estrutura do Ministério da Fazenda, composto por

representantes da Fazenda Nacional (Auditores Fiscais da Receita Federal) e dos

contribuintes (Advogados indicados por lista tríplice, elaborada pelas confederações

representativas de categorias econômicas de nível nacional), tem a responsabilidade

de julgar, em segunda e última instância, os litígios de natureza fiscal (processos de

exigência de crédito tributário, de compensação de prejuízos fiscais, de restituição,

de compensação, entre outros) envolvendo a Fazenda e os contribuintes, conforme

se constata dos excertos do Decreto nº 70.235, de 1972, abaixo colacionados

(BRASIL, 1972).

Art. 25. O julgamento do processo de exigência de tributos ou contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal compete: II – em segunda instância, ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, órgão colegiado, paritário, integrante da estrutura do Ministério da Fazenda, com atribuição de julgar recursos de ofício e voluntários de decisão de primeira instância, bem como recursos de natureza especial. § 1º O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais será constituído por seções e pela Câmara Superior de Recursos Fiscais. § 2º As seções serão especializadas por matéria e constituídas por câmaras. § 3º A Câmara Superior de Recursos Fiscais será constituída por turmas, compostas pelos Presidentes e Vice-Presidentes das câmaras. Art. 37. O julgamento no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais far-se-á conforme dispuser o regimento interno. [...] § 2º Caberá recurso especial à Câmara Superior de Recursos Fiscais, no prazo de 15 (quinze) dias da ciência do acórdão ao interessado: [...] II – de decisão que der à lei tributária interpretação divergente da que lhe tenha dado outra Câmara, turma de Câmara, turma especial ou a própria Câmara Superior de Recursos Fiscais.

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O Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais

(RICARF), instituído pela Portaria MF nº 256, de 22 de junho de 2009 (BRASIL,

2009), define as competências do Colegiado, a saber:

Art. 1° Compete aos órgãos julgadores do CARF o julgamento de recursos de ofício e voluntários de decisão de primeira instância, bem como os recursos de natureza especial, que versem sobre tributos administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil. [...] Art. 9° Cabe à Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF), por suas turmas, julgar o recurso especial previsto no inciso II do art. 64, contra decisões de Câmara, de turma ordinária ou de turma especial, observada a seguinte especialização: I - à Primeira Turma, os recursos referentes às matérias previstas no art. 2°; II - à Segunda Turma, os recursos referentes às matérias previstas no art. 3°; III - à Terceira Turma, os recursos referentes às matérias previstas no art. 4°. Art. 10. Ao Pleno da CSRF compete a uniformização de decisões divergentes, em tese, das turmas da CSRF, por meio de resolução. § 1° Ao Pleno da CSRF cabe, ainda, por proposta do Presidente, dirimir controvérsias sobre interpretação e alcance de normas processuais aplicáveis no âmbito do CARF. § 2° As resoluções de que trata este artigo vincularão as turmas julgadoras do CARF.

O CARF está estruturado em 03 (três) Seções, especializadas por matéria,

formadas por Câmaras que são compostas por Turmas Ordinárias e Especiais e

pela Câmara Superior de Recursos Fiscais, esta composta por três turmas e pelo

Pleno, cuja finalidade é uniformizar a interpretação da legislação tributária federal

(BRASIL, 2009).

À Primeira Seção cabe processar e julgar recursos de ofício e voluntário de

decisão de primeira instância que versem sobre aplicação da legislação de IRPJ;

CSLL; IRRF (quando se tratar de antecipação do IRPJ); SIMPLES; Penalidades pelo

descumprimento de obrigação acessória pelas pessoas jurídicas, relativamente aos

tributos acima referidos, empréstimos compulsórios e matéria correlata não incluídos

na competência julgadora das demais Seções.

À Segunda Seção cabe processar e julgar recursos de ofício e voluntário de

decisão de primeira instância que versem sobre aplicação da legislação de IRPF;

IRRF; ITR; Contribuições Previdenciárias e Penalidades pelo descumprimento de

obrigações acessórias pelas pessoas físicas e jurídicas, relativamente aos tributos

aqui mencionados.

À Terceira Seção cabe processar e julgar recursos de ofício e voluntário de

decisão de primeira instância que versem sobre aplicação da legislação de

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PIS/PASEP; COFINS; IPI; Crédito Presumido de IPI para ressarcimento da

Contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS; CPMF; IOF; CIDE; II; IE;

Contribuições, taxas e infrações cambiais e administrativas relacionadas com a

importação e a exportação; Classificação tarifária de mercadorias; Isenção, redução

e suspensão de tributos incidentes na importação e na exportação; Vistoria

aduaneira, dano ou avaria, falta ou extravio de mercadoria; Omissão, incorreção,

falta de manifesto ou documento equivalente, bem como falta de volume

manifestado; Infração relativa à fatura comercial e a outros documentos exigidos na

importação e na exportação; Trânsito aduaneiro e demais regimes aduaneiros

especiais, e dos regimes aplicados em áreas especiais, salvo a hipótese prevista no

inciso XVII do art. 105 do Decreto-Lei n° 37, de 18 de novembro de 1966; Remessa

postal internacional, salvo as hipóteses previstas nos incisos XV e XVI, do art. 105,

do Decreto-Lei n° 37, de 1966; Valor aduaneiro; Bagagem; e Penalidades pelo

descumprimento de obrigações acessórias pelas pessoas físicas e jurídicas,

relativamente aos tributos mencionados neste parágrafo.

Com relação à Câmara Superior de Recursos Fiscais, competem à Primeira

Turma os recursos referentes às matérias relativas à Primeira Seção; à Segunda

Turma, os recursos referentes às matérias relativas à Segunda Seção e, à Terceira

Turma, os recursos referentes às matérias relativas à Terceira Seção. Importante

registrar que as decisões finais proferidas pelo Conselho Administrativo de Recursos

Fiscais, isto é, aquelas que não mais admitem recurso algum, quando julgadas

favoravelmente ao contribuinte, convertem-se em decisões definitivas, conforme

dispõem os artigos 42 e 45 do Decreto nº 70.235, de 1972 (BRASIL, 1972).

Entretanto, quando julgadas em desfavor do sujeito passivo, pode-se buscar a tutela

do Poder Judiciário no sentido de reverter a situação contrária aos interesses do

contribuinte.

Assim como ocorrido na doutrina, a jurisprudência do CARF acerca da

validade do planejamento tributário sofreu alterações ao longo do tempo.

No Acórdão nº 1401-001.059 – 4ª Câmara / 1ª Turma Ordinária (BRASIL,

2014b), o Conselheiro Relator Alexandre Antônio Alkmin Teixeira, destaca a

evolução do entendimento do CARF acerca da qualificação do planejamento

tributário, tendo como ponto de partida o entendimento do antigo Conselho de

Contribuintes que considerava a licitude dos negócios jurídicos como suficiente para

validá-lo, chegando-se aos dias atuais em que além da licitude dos negócios deve

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ser verificada a realidade dos fatos, conforme se pode observar do excerto a seguir

colacionado.

Observando a jurisprudência administrativa reinante no extinto Conselho de Contribuintes do Ministério da Fazenda, identificamos que a verificação da licitude negocial era feita na análise do negócio jurídico realizado pelo contribuinte (planejado), de forma a identificar se o mesmo se coadunava com o direito, sendo certo que “aquilo que não era proibido, era permitido” segundo o princípio da liberdade negocial que rege o mundo privado. Neste prisma, a análise do negócio planejado era suficiente, por si só, para dizer se se estava diante de uma elisão fiscal, cujos efeitos de redução tributária deveriam ser respeitados pela Fazenda Pública, ou se se estava diante de um negócio jurídico ilícito, cujos efeitos tributários deveriam ser afastados pelo Fisco. No entanto, com a evolução da jurisprudência administrativa, principalmente a partir de 2006, cresceu o entendimento de que não basta o negócio jurídico realizado ser tido por lícito. É necessário verificar-se a realidade do negócio praticado, pois é dessa realidade (evento) que se extrai o fato jurídico tributário. (BRASIL, 2014).

Por sua vez, o Conselheiro Relator Ricardo Marozzi Gregório, voto vencido no

julgamento de que trata o Acórdão nº 1102000.982 – 1ª Câmara / 2ª Turma

Ordinária (BRASIL, 2014), explica que a jurisprudência do CARF mudou seu

entendimento quanto à análise de validade do planejamento tributário, passando de

uma visão focada unicamente na autonomia privada para uma posição em que a

análise objetiva da causa do negócio jurídico reserva papel preponderante quanto à

validade do planejamento tributário. Veja-se o excerto extraído do referido voto.

É cediço que esta Casa, até praticamente a virada do século passado, manteve uma posição bastante firme no sentido de que se as operações engendradas pelos contribuintes fossem conformadas com os trâmites formais previstos no direito privado a autoridade fiscal não poderia desconsiderá-las para efeitos tributários. Somente em caso de simulação, o Fisco estaria autorizado a refutar os atos e negócios praticados com a finalidade de evitar ou reduzir a incidência tributária. [...] O que importa é perceber que a jurisprudência administrativa desta Casa mudou sua orientação no que diz respeito ao enfrentamento dos casos em que ocorrem os chamados planejamentos tributários. De uma postura permissiva unicamente focada na autonomia privada (liberdade, salvo simulação por vício de vontade), partiu para uma posição mais sintonizada com o plano internacional, na qual aquela autonomia é temperada pela análise objetiva do propósito preponderante dos negócios jurídicos engendrados (liberdade, salvo simulação por vício de vontade ou por vício de causa). Essa mudança teve efeito mesmo sem a edição da lei ordinária reclamada pela norma geral positivada pela Lei Complementar nº 104/01. Tudo foi feito com base na adesão ao conceito amplo de simulação e na possível reinterpretação jurisprudencial do conceito aberto prescrito no Código Civil. Com a mudança do status de “defeito do negócio jurídico”, no Código de 1916, o qual ensejava mera anulação e maiores questionamentos sobre a ação do Fisco, para o status de “hipótese de invalidade do negócio jurídico”, no Código de 2002, o qual enseja a nulidade e sua indubitável inoponibilidade ao Fisco, maior razão emergiu para a consolidação dessa construção jurisprudencial. Nada obstante a eficácia do reconfigurado conceito de simulação para o tratamento das situações concretas

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concernentes aos planejamentos tributários, a doutrina recorre a outros conceitos que poderiam também ser utilizados para o enfrentamento do tema. Neste sentido, fala-se na fraude à lei (frau legis) e no abuso de direito. A fraude à lei, a meu ver, pode também ser um eficaz instrumento para confrontar o assunto. Sobretudo, quando se percebe que ela desfruta do mesmo status de “hipótese de invalidade do negócio jurídico” no novo Código Civil (artigo 166, VI). Por outro lado, o abuso de direito parte de pressupostos que me parecem insuperáveis diante da concepção filosófica que adoto para a teorização dos conflitos normativos. Entretanto, este não é o espaço adequado para tais digressões. A exposição supra já é suficiente para os propósitos do presente voto. (BRASIL, 2014).

Finalizada esta Seção, far-se-á, a seguir, a análise dos julgados do Conselho

Administrativo de Recursos Fiscais, do período compreendido entre 01 de janeiro de

2011 e 31 de dezembro de 2014, relativos a planejamentos tributários em que a

ênfase é a reorganização societária. Busca-se identificar um padrão que permita

concluir qual o limite entre o permitido e o proibido, na perspectiva do CARF, nas

referidas operações, tendo como resultado uma economia fiscal.

3.5 PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO E QUALIFICAÇAO JURÍDICA DOS FATOS: FASES DO DEBATE QUANTO À OPONIBILIDADE AO FISCO

O ordenamento jurídico brasileiro consagra uma liberdade para o contribuinte

de montar seu negócio de maneira a pagar o menor tributo possível, considerando-

se as perspectivas da legalidade, efetividade e legitimidade (GRECO, 2011, p. 124).

Continuando, o autor assim se manifesta:

Não há dúvida de que existe essa liberdade individual. A questão não é esta. O ponto é saber se a simples existência da liberdade é suficiente para justificar qualquer substituição ou montagem jurídica ou se o ordenamento impõe limites ao seu exercício. (GRECO, 2011, p. 124).

Por outro lado, têm-se outros valores constitucionais (princípios) que devem

ser considerados na qualificação jurídica de um planejamento tributário, dentre eles

se encontra o princípio da legalidade, isto é, dentro da matéria consagrada

constitucionalmente como passível de tributação, reservou-se ao legislador a

competência para estabelecer àquela que dará azo à incidência tributária

(SCHOUERI, 2010, p. 14-15).

Nessa perspectiva, na visão de Marco Aurélio Greco (2011, p. 130-135; 194-

203; 319-329), é possível identificar três fases no debate do tema planejamento

tributário, apresentando-se três diferentes visões das questões jurídicas a serem

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enfrentadas no que tange aos limites à liberdade do contribuinte de organizar seus

negócios.

A primeira fase pode-se nominar de “fase da liberdade salvo simulação”, cujo

tema central era tão somente a simulação na compreensão dada pelo Direito Civil.

A segunda fase equivale a “liberdade salvo patologias dos negócios jurídicos”,

em que são examinados outros temas, como a fraude à lei, o abuso de direito e o

abuso de forma.

A terceira é a fase da “liberdade com capacidade contributiva”. Prosseguindo

em sua análise, assim se posiciona Greco (2011, p. 133):

[...] é importante sublinhar que todas as fases principiam pelo elemento “liberdade”. Esta não pode ser aniquilada nem substituída pelos valores sociais os quais – apesar de relevantes – devem ser compostos com ela e não sobrepostas a ela.

Na primeira fase, tanto doutrina quanto jurisprudência, em sua maioria,

compreendem o relacionamento entre Fisco e contribuinte tendo como base uma

liberdade absoluta do indivíduo, na qual pode agir a seu livre arbítrio para dispor de

seus negócios, salvo se os atos forem ilícitos, realizados depois do fato gerador ou

com vício simulatório. Tem como sustentação teórica o entendimento de que no

relacionamento entre contribuinte e Estado aquele preexistiria a este e o tributo era

visto como uma agressão ao patrimônio do particular, portanto o cidadão precisava

se defender da invasão do Estado. O autor afirma que o modo de pensar desta

primeira fase decorre de uma visão particular de relacionamento entre cidadão e

Estado. Para ele, “o tema central é o significado da tributação para o contribuinte e

como ele deve se comportar perante ela” (GRECO, 2011, p. 134).

O axioma dessa primeira fase pode ser sintetizado na expressão “tudo o que

não é proibido é permitido”, isto é, a norma tributária só alcança o contribuinte se a

conduta por ele praticada estiver expressamente definida no texto legal. Assim

Marco Aurélio Greco (2011, p. 138) cunhou sua impressão sobre o debate desta

primeira fase:

[...] se o Fisco só pode cobrar mediante tipicidade fechada e legalidade estrita, então tudo aquilo que não estiver a elas submetido será uma área não alcançada pela lei tributária, portanto de lacuna. Assim, quando o contribuinte se conduzir dentro de uma área de lacuna poderá agir tranquilo, pois o Fisco nada poderá objetar.

Destarte, os principais argumentos utilizados na primeira fase do debate

acerca da qualificação jurídica do planejamento tributário podem ser resumidos na

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defesa da (i) liberdade absoluta; (ii) legalidade estrita; (iii) tipicidade fechada; (iv)

proibição da analogia e (v) lacuna, vista como vazio legislativo.

Em outros termos, trata-se do modelo clássico de estado liberal. Na segunda

fase do debate a abranger a qualificação jurídica do planejamento tributário, além da

figura da simulação, outras patologias do negócio jurídico ganham destaque, como o

abuso de direito e a fraude à lei. A presença de uma destas patologias traz como

consequência, assim como na primeira fase do debate, a desconsideração do

negócio jurídico, tornando-o inoponível ao Fisco. A base teórica desta fase do

debate se encontra nos fundamentos do Estado Democrático de Direito, em que na

interpretação e aplicação do Direito a conjugação e compatibilidade entre valores

próprios do Estado de Direito (liberdade negativa, legalidade formal e proteção à

propriedade) como àqueles inerentes ao Estado Social (igualdade, liberdade positiva

e solidariedade) devem se fazer presentes, mantendo-se as garantias e direitos

fundamentais da pessoa humana. Isto é, a inclusão de outras limitações ao

planejamento tributário, caracterizadas pelas patologias acima citadas, é a

manifestação da percepção de um novo modelo de relação entre o Estado e o

indivíduo, cuja origem é a CRFB/1988, que introduziu novos valores. Assim, se na

primeira fase do debate preponderavam os valores próprios do individualismo

(direito absoluto de se auto-organizar), na segunda fase outros valores passaram a

ser considerados, como o da igualdade (artigo 5º caput), solidariedade (artigo 3º, I) e

justiça social (artigo 3º, I). Assim, a eficácia do planejamento tributário passa a ser

analisado “não apenas sob a ótica das formas jurídicas admissíveis, mas também

sob o ângulo da sua utilização concreta, do seu funcionamento e dos resultados que

geram à luz dos valores básicos igualdade, solidariedade social e justiça” (GRECO,

2011, p. 202).

Na terceira fase do debate, além dos elementos tratados na primeira e

segunda fase, acrescenta-se o princípio da capacidade contributiva, o qual, por ser

um princípio constitucional tributário, concorre com o da liberdade individual que até

então reinava absoluto na questão do planejamento tributário. Segundo as palavras

de Greco (2011, p. 319):

Ou seja, mesmo que os atos praticados pelo contribuinte sejam lícitos, não padeçam de nenhuma patologia; mesmo que estejam absolutamente corretos em todos os seus aspectos (licitude, validade), nem assim o contribuinte pode agir da maneira que bem entender, pois sua ação deverá ser vista também da perspectiva da capacidade contributiva.

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Ressalta o autor que, ao contrário daquela visão da primeira fase em que o

tributo era percebido como uma agressão ao patrimônio do cidadão, passa agora a

ser visto como instrumento a viabilizar o custeio do Estado. Isto é, o planejamento

tributário ultrapassa o “formalismo fiscal”, aquele em que se dá maior importância à

licitude das formas do negócio jurídico em cada etapa do planejamento, alcançando-

se o “realismo fiscal”, onde a substância, conteúdo e finalidade do negócio jurídico

como um todo devem ser analisados.

Portanto, a partir dessa fase, o quesito liberdade deve ser compatibilizado

com o da solidariedade social. Assim, o debate sobre o planejamento tributário deve,

simultaneamente, considerar e conjugar tanto a liberdade quanto a solidariedade.

CONCLUSÃO

Buscou-se, no decorrer deste estudo, trazer elementos que permitissem ao

leitor demarcar a fronteira entre o permitido e o proibido, na compreensão do

Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, em matéria de planejamento tributário,

instrumentalizado através de reorganizações societárias, de tal forma que fosse

possível estabelecer critérios mínimos de oponibilidade ao Fisco. Assim, uma

operação estruturada como a que ora está sendo examinada indica a existência de

um objetivo único, predeterminado à realização de todo o conjunto, indicando,

também, uma causa jurídica única. Em situações como a descrita, cumpre examinar

se há motivos autônomos, pois, se inexistente, o fato a ser enquadrado é o conjunto

deles e não cada uma das etapas.

Com relação à “causa do negócio”, não basta saber que esta tem importância

capital na qualificação de um planejamento tributário como oponível ao Fisco. Faz-

se necessário investigar quais as circunstâncias que levam um Conselheiro a

considerar que determinado negócio é “provido de causa”. No entanto, não se trata

de questão fácil, pois, conforme já mencionado, a análise dos julgados mostra a falta

de uniformidade na aplicação dos institutos de direito que fundamentam a

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desconsideração do negócio jurídico, permitindo-se a aplicação da legislação

tributária ao caso concreto. Por outro lado, observava-se, também, que casos

semelhantes tinham o mesmo desfecho, muito embora a fundamentação fosse

diferente.

Assim, dos recursos impetrados pelos contribuintes e julgados improcedentes

pelo CARF, constata-se que em 90% dos casos as operações eram realizadas entre

empresas vinculadas, submetidas a uma única vontade, pois realizadas dentro do

mesmo grupo empresarial, cujos eventos societários (em 86% dos recursos) eram

realizados em sequência, em curto espaço de tempo. Outro fator relevante adotado

para considerar inoponível ao Fisco um negócio jurídico (em 68% dos recursos) é a

existência ou não de um motivo autônomo, isto é, se a realização de cada etapa da

reorganização societária tem uma razão autônoma ou se ela só faz sentido existindo

a etapa anterior. Ou ainda, deve ser verificado se o conjunto de operações tem

como objetivo um único fim específico, cujo resultado já se sabia de antemão.

Portanto, o conjunto dessas etapas (criação da empresa; integralização de

capital mediante entrega de imóveis avaliados pelo valor contábil, sem nenhum fluxo

financeiro; alteração do objeto social da empresa; utilização de empresa veículo sem

nenhuma outra atividade operacional e finalmente a vendas de todos os bens

imóveis e distribuição integral do lucro líquido para os seus sócios) corresponde

apenas a uma pluralidade de meios para atingir um único fim: a redução da

incidência tributária sobre o ganho de capital apurado na venda dos bens imóveis

dos sócios da empresa (dentre os quais figurava o Supermercado, ora recorrente).

Por outro lado, dos recursos julgados favoravelmente aos contribuintes,

constata-se que, em geral, são oponíveis ao Fisco os planejamentos tributários em

que os negócios jurídicos são realizados entre partes independentes, os providos de

“causa negocial” e aqueles em que houve o efetivo dispêndio de recursos.

À República Federativa do Brasil, aclamada como Estado Democrático de

Direito, cabe garantir aos indivíduos os direitos relativos à liberdade, à justiça e ao

desenvolvimento econômico e social.

Notoriamente, a carga tributária brasileira é altamente árdua e neste sentido

deve estar sempre à vista dos gestores das empresas e demais interessados, sendo

de suma importância a correta aplicação da legislação tributária, tanto as obrigações

principal e acessória, objetivando, inicialmente, a não criação de litígios fiscais.

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Atingido o primeiro objetivo, todos os interessados devem buscar no

ordenamento jurídico que rege as práticas tributárias, formas lícitas que possam

visar à economia de tributos, o que vai proporcionar aumento da margem de lucro ou

diminuição dos preços de venda para os consumidores.

A busca da sinergia entre os objetivos apresentados acima será forte na

apresentação de uma melhor gestão tributária, visando sempre a diminuição dos

custos dos produtos de forma geral, acarretando aumento de capital de giro,

investimentos etc.

Compreendeu-se que o contribuinte tem a liberdade para conduzir suas

atividades econômicas do modo que melhor lhe aprouver, fundado nos valores da

livre iniciativa e no princípio da propriedade privada expressos na Constituição

Federal de 1988, podendo, assim, estruturar seus negócios com a formatação que

lhe proporcione uma economia de tributos. Também, que esses valores não são

absolutos, mas colocados em uma ordem que contempla tanto os aspectos

econômicos quanto os sociais, tendo como fim a construção de uma sociedade

justa, livre, solidária, sem pobreza e com um mínimo de desigualdade social.

Constatou-se que o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, para

considerar um determinado planejamento tributário como oponível ao Fisco, busca

identificar no mundo dos fatos aquele que realmente ocorreu, atribuindo-lhe a

qualificação jurídico-tributária. Portanto, além da licitude do negócio jurídico, quando

analisado em suas etapas, o que realmente importa é se a operação efetivamente

se concretizou e se ela se coaduna com a atividade empresarial do contribuinte.

Assim, não obstante o prestígio que possui a corrente positivista formalista,

não se pode deixar de lembrar que a sociedade evoluiu e com ela a compreensão

de Direito, o que conduz à fixação de novos parâmetros para o estudo relativo à

tributação. Nessa toada, mesmo inexistindo alteração legislativa capaz de sustentar

uma mudança de entendimento, a jurisprudência do Conselho Administrativo de

Recursos Fiscais passou a não aceitar determinadas estruturas negociais

engendradas pelos contribuintes com a finalidade de reduzir ou eliminar a incidência

tributária.

Destarte, resumidamente, pode-se dizer que os critérios adotados pelo CARF

para considerar oponível ao Fisco um planejamento tributário, implica verificar, entre

outras coisas, se a finalidade da reorganização societária foi exclusiva e

predominantemente tributária, isto é, analisar a existência de um propósito negocial,

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compreendido como a vontade objetiva final do negócio jurídico. Assim, verificada a

divergência entre a realização prática aferida objetivamente (causa objetiva) e a

causa típica do negócio jurídico (conteúdo formal), tem-se um planejamento

tributário inválido, sendo os efeitos dos negócios jurídicos realizados inoponíveis ao

Fisco.

Por fim, pode-se dizer que o critério mais importante adotado pelo CARF para

considerar oponível ao Fisco um planejamento tributário, implica verificar se existe

uma “causa negocial”, compreendida como a vontade objetiva final do negócio

jurídico.

Portanto, um planejamento tributário montado a partir de uma reestruturação

societária, para ser oponível ao Fisco, deve ser dotado de real objetivo societário, o

que pressupõe a existência do afecttio societatis, que, simplificadamente, significa o

desejo dos sócios de constituir uma sociedade que tenha um mínimo de duração

capaz de realizar seus objetivos sociais.

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