documento oficial viagem gtec conilon ao vietn� 2016

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Vitória/ES, 11 de novembro de 2016 JORNADA TÉCNICA GTEC CONILON AO VIETNÃ Esteve reunido entre os dias 2 e 9 de novembro do corrente ano na cidade de Buon Ma Thuot, província de Dak Lak, Vietnã, parte de Grupo Técnico de Especialistas em Cafeicultura Conilon – GTEC Conilon. Sendo o Vietnã o maior produtor de café robusta do mundo, o objetivo do grupo foi de prospectar informações relevantes desta cafeicultura e que ajudem a sustentar as diversas estratégias de progresso do Café Conilon Brasileiro. Ao longo deste período foram visitadas diversas propriedades, uma trade (Olam Coffee), uma indústria de torrefação de projeção internacional (Nestlé) e uma instituição de pesquisa nacional que atua no desenvolvimento técnico do café robusta da região central do país (WASI) auxiliando com informações capitais para construção deste documento. Em termos de área, o Vietnã possui reportados 653.000 hectares de café, sendo 53.000 hectares de café arábica produzidos nas terras altas do norte do país e 600.000 hectares de café robusta distribuído basicamente da região central do país (Central Highlands) em 5 diferentes províncias (Dak Lak, Giai Lai, Dak Nong, Lam Dong e Kon Tum) sendo a de Dak Lak, a principal dela, com 204.000 hectares. Esta cafeicultura em sua totalidade é formada por pequenos produtores (agricultura familiar), com módulos rurais que variam de 0,5 a 1,5 hectares de café em produção, o que gera algo em torno de 400.000 propriedades e empregam diretamente 2 milhões de pessoas. Há de se salientar que quase 50% da população do Vietnã está no campo, caracterizando-o como um país altamente dependente da agricultura de modo geral. Mais de 20% de toda a cafeicultura é formada por lavouras com mais de 25 anos, evidenciando ser antiga e que necessita de renovação. Um dos gargalos na renovação é o problema com nematoides (Pratylenchus coffeae e Meloidogyne inconita) que interferem diretamente no início da formação da lavoura. À luz das informações da trade Olam Coffee, foram renovados nos últimos 6 anos algo em torno de 61.199 hectares e, para os próximos 5 anos espera-se 80.000 hectares. Quanto a produção de café robusta, de acordo com os dados reportados por instituições privadas (OLAM e Nestlé) e publica (WASI), percebeu-se uma alta concordância entre os mesmos, sendo 25.683.000 sacas produzidas no ano anterior (2015) e uma previsão de 22.700.000 sacas de robusta para a atual safra (2016). Há de se salientar que a safra atual está no início da colheita e irá apresentar uma quebra de 15 a 20% em comparação com a anterior, em virtude do problema climático trazido pelo fenômeno El Niño. Para a safra seguinte, de acordo com a Olam Coffee, espera-se um incremento de 10% em relação a safra que começou a ser colhida neste ano, caso todos os fatores agronômicos sejam favoráveis para tal. Relativo ao consumo de café, o Vietnamita ainda bebe pouco daquilo que produz (10%), porém, é nítido que o mesmo é crescente (20% ao ano) visto a grande quantidade de cafeterias presentes nas cidades. Outra informação relevante diz respeito ao perfil paciente

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Page 1: Documento oficial viagem gtec conilon ao vietn� 2016

Vitória/ES, 11 de novembro de 2016

JORNADA TÉCNICA GTEC CONILON AO VIETNÃ

Esteve reunido entre os dias 2 e 9 de novembro do corrente ano na cidade de Buon Ma

Thuot, província de Dak Lak, Vietnã, parte de Grupo Técnico de Especialistas em Cafeicultura

Conilon – GTEC Conilon. Sendo o Vietnã o maior produtor de café robusta do mundo, o

objetivo do grupo foi de prospectar informações relevantes desta cafeicultura e que ajudem a

sustentar as diversas estratégias de progresso do Café Conilon Brasileiro. Ao longo deste

período foram visitadas diversas propriedades, uma trade (Olam Coffee), uma indústria de

torrefação de projeção internacional (Nestlé) e uma instituição de pesquisa nacional que atua

no desenvolvimento técnico do café robusta da região central do país (WASI) auxiliando com

informações capitais para construção deste documento.

Em termos de área, o Vietnã possui reportados 653.000 hectares de café, sendo

53.000 hectares de café arábica produzidos nas terras altas do norte do país e 600.000

hectares de café robusta distribuído basicamente da região central do país (Central Highlands)

em 5 diferentes províncias (Dak Lak, Giai Lai, Dak Nong, Lam Dong e Kon Tum) sendo a de Dak

Lak, a principal dela, com 204.000 hectares. Esta cafeicultura em sua totalidade é formada por

pequenos produtores (agricultura familiar), com módulos rurais que variam de 0,5 a 1,5

hectares de café em produção, o que gera algo em torno de 400.000 propriedades e

empregam diretamente 2 milhões de pessoas. Há de se salientar que quase 50% da população

do Vietnã está no campo, caracterizando-o como um país altamente dependente da

agricultura de modo geral.

Mais de 20% de toda a cafeicultura é formada por lavouras com mais de 25 anos,

evidenciando ser antiga e que necessita de renovação. Um dos gargalos na renovação é o

problema com nematoides (Pratylenchus coffeae e Meloidogyne inconita) que interferem

diretamente no início da formação da lavoura. À luz das informações da trade Olam Coffee,

foram renovados nos últimos 6 anos algo em torno de 61.199 hectares e, para os próximos 5

anos espera-se 80.000 hectares.

Quanto a produção de café robusta, de acordo com os dados reportados por

instituições privadas (OLAM e Nestlé) e publica (WASI), percebeu-se uma alta concordância

entre os mesmos, sendo 25.683.000 sacas produzidas no ano anterior (2015) e uma previsão

de 22.700.000 sacas de robusta para a atual safra (2016). Há de se salientar que a safra atual

está no início da colheita e irá apresentar uma quebra de 15 a 20% em comparação com a

anterior, em virtude do problema climático trazido pelo fenômeno El Niño. Para a safra

seguinte, de acordo com a Olam Coffee, espera-se um incremento de 10% em relação a safra

que começou a ser colhida neste ano, caso todos os fatores agronômicos sejam favoráveis

para tal.

Relativo ao consumo de café, o Vietnamita ainda bebe pouco daquilo que produz

(10%), porém, é nítido que o mesmo é crescente (20% ao ano) visto a grande quantidade de

cafeterias presentes nas cidades. Outra informação relevante diz respeito ao perfil paciente

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que o cafeicultor possui no momento de comercializar seu produto. A priori, ele vende 50% do

que é colhido a curto prazo e retém a outra parte da produção para ser vendido ao longo do

ano, não ficando refém dos preços da commoditie, caso o mesmo não esteja favorável,

certamente, mostrando que o cafeicultor vietnamita está capitalizado. Hoje, a saca de café

está sendo vendida a US$ 120,00 e a rentabilidade média do produtor tem sido de 50%.

Nas visitas a campo viu-se um incremento espantoso de plantio de pimenta do reino

em consórcio com a lavoura de café já implantada, certamente, devido ao alto preço de venda

do produto (US$ 7,00/kg). Tem sido utilizada uma grande variedade de tutores vivos para tal

(ex.: Acácia), alguns deles com mais de 4 metros de altura, clones altamente produtivos (12 kg

de semente seca/pé) e plantas com excelente padrão fitossanitário e nutricional. Espelha-se a

isso o padrão da lavoura cafeeira vista ao longo das visitas: plantas mostrando boa produção e

um excelente crescimento vegetativo com boa carga pendente para a próxima safra,

independente da idade da lavoura. As lavouras que estão sendo renovadas, o produtor tem

utilizado materiais genéticos altamente produtivos (TR4, TR7, TR9, etc), fazem um bom manejo

nutricional e de poda, sendo este último peculiar da região (desponte com condução

horizontal dos ramos produtivos a longo prazo).

Devido ao grande desafio enfrentado pelo cafeicultor no momento da renovação do

cafeeiro em virtude do alto índice populacional de nematóides (Pratylenchus coffee e

Meloidogyne incognita), percebeu-se uma grande preocupação do instituto nacional de

pesquisa local (Wasi), recebendo inclusive fomento de empresas privadas (Nestle) do setor, a

fim de desenvolver novos materias genéticos que mostrem alguma tolerância ou, possível

resistência, bem como diversos tipos de manejos (solo, sucessão com outras culturas,

alqueive, enxertia em materiais tolerantes – “escelssa”) a fim de proporcionar maior

possibilidade de sucesso no momento da renovação.

A fim de contextualizar de maneira geral o que o que foi visto, segue abaixo análise das

principais fortalezas e fraquezas da cafeicultura robusta do Vietnã e possíveis oportunidades e

ameaças ao Conilon brasileiro:

Fortalezas

o Estrutura fundiária – pequenos produtores / Cafeicultura familiar;

o Alta capacidade dinâmica em todos os processos de produção da lavoura

cafeeira, principalmente da colheita do café;

o Clima altamente favorável (principalmente em termos de pluviosidade);

o Solos ricos;

o Disponibilidade de mão-de-obra a custo baixo;

o Não há qualquer tipo de encargos sociais trabalhistas a ser pago;

o Alto dinamismo em adesão e implantação de novas commodities em virtude

do valor;

o Boa estrutura de escoamento da produção – malha rodoviária;

o Facilidade em termos de mobilidade da mão-de-obra (uso intensivo de

motocicletas);

o Disciplina em todo processo produtivo;

o Consumo interno crescente (20% ao ano);

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o Boa interação entre iniciativa pública e privada no desenvolvimento de novas

tecnologias;

o Marketing interno feito em prol da cafeicultura do país.

Fraquezas

o Desafio no controle do nematoide;

o Parque cafeeiro antigo;

o Baixo consumo interno do total produzido (10%);

o Alto custo para renovação;

o Baixa uso de mecanização;

o Sistema de irrigação deficitário;

o Renovação lenta do parque cafeeiro;

o Reatividade do agricultor em aderir ao plantio de qualquer cultura em virtude

do alto preço pago (Ex: pimenta do reino);

o Estrutura de beneficiamento rudimentar;

o Alta dependência do clima no momento da colheita e beneficiamento –

QUALIDADE;

o Limitação de área para novos plantios.

o Não há interessa em adesão a mecanização da lavoura;

o Alto custo da propriedade rural;

o Sucessão familiar.

Oportunidades

o A alta taxa de plantio da pimenta do reino fará com que o produtor diminua

foco na cafeicultura;

o Falta de área para novos plantios limitando o aumento da produção do

robusta;

o Aumento de consumo interno de café;

o Custo de produção crescente.

Ameaças

o Capacidade de produção;

o Qualidade do café produzido;

o Introdução de novos materiais clonais com alto teto produtivo;

o Mercado aberto para receber Trades, sem interferência do governo.

Ao longo desta jornada, de acordo com o que foi visto, algumas percepções foram

construídas pelo grupo com relação a diversas informações coletadas e realidades vistas.

Inicialmente, com relação a área de produção: talvez a mesma seja maior que o reportado,

visto a grande produção de café do país atrelado as lavouras vistas no campo. Por melhores e

mais vigorosas que estejam, o baixo stand de plantas por hectares (média de 1000 plantas por

hectare) não conferem as altíssimas produtividades para sustentar tal produção. Outra

percepção seria quanto ao incremento da produção de café para a próxima safra: a província

de Daklak é a mais importante na produção de café robusta do Vietnã, sendo a mesma local de

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nossas visitas a campo. Viu-se ao longo das visitas que os cafeeiros mostravam-se muito

vigorosos e com bom desenvolvimento vegetativo, alta carga pendente para a próxima safra,

de modo que os 10% de incremento reportado internamente para a próxima safra deva ser

uma análise tímida para a realidade, podendo girar em torno de 15% de aumento real na

produção. Outra percepção muito importante a ser analisada foi o plantio da pimenta do reino

em alta escala consorciada com café o que poderá gerar duas consequências diretas a curto

prazo: queda do preço da pimenta do reino e diminuição do foco do produtor na lavoura

cafeeira, gerando uma ligeira queda na produção devido a competitividade agronômica por

área de ambas culturas, sendo estas percepções basicamente as mais importantes geradas ao

longo das visitas e reuniões. Como reconhecimento, ficou claro a importância que o país dá a

produção de café: praticamente em todos pontos turísticos visitados, aeroportos, praças,

shoppings, etc, há alguma banca vendendo café do Vietnã, vários tipos de mídias, ratificando

tal relevância dada a este produto.

Certamente, tal jornada não seria possível sem a cooperação mútua de diversas

empresas que suportaram o grupo de forma singular. Fica expresso aqui os agradecimentos a

Nestlé do Brasil e Olam Coffee do Brasil pelo contato com suas partes que atuam no Vietnã e

abriram caminho para as visitas e a Syngenta Proteção de Plantas que organizou a viagem,

recebeu, acompanhou o grupo e deu todo suporte necessário durante todas as visitas no

Vietnã.

A plataforma GTEC é uma iniciativa da Syngenta Proteção de Cultivos LTDA.

Estiveram presentes nesta viagem técnica ao Vietnã representando o GTEC Conilon:

Amarildo Stefenoni;

Amistrong Luciano Zanotti;

Eduardo Bortolini;

Fernando de Martins

Francisco Luiz Felner;

José Jânio Bizi;

Luiz Henrique Monteiro Fernandes;

Moyses Alvino Covre;

Olival José Covre;

Rogério Emílio Chiabai;

Theodoro Antônio Zanotti.

________________________________

José Silvano Bizi

Presidente GTEC Conilon

________________________________

Luiz Henrique Monteiro Fernandes

Coordenador GTEC Conilon

Syngenta Proteção de Cultivos LTDA