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Benzedeiros em Pelotas (RS): entre o dom, a tradição e a religião
Lorena Almeida Gill
Universidade Federal de Pelotas
Resumo: Nesta comunicação se pretende, dentro da proposta de trabalhar com ofícios em vias de extinção, discutir atividades como a das benzeduras, realizada por três homens na cidade de Pelotas, que a praticam por diferentes motivos. Está-se trabalhando com entrevistas de história oral, quando possível filmando-as, o que é importante, pois a mera descrição da atividade em suas falas nunca é a mesma coisa do que captar a imagem do praticante, com seus hábitos mais costumeiros ao trabalhar, e da qual seu corpo, sua voz, suas mãos são instrumentos básicos para a consecução de sua atividade e para a confiança das pessoas em seus resultados. A benzedura é uma atividade ainda comum nas zonas rurais ou periféricas das cidades pequenas e médias brasileiras, porque seus praticantes estão próximos daqueles que devem atender, ao mesmo tempo em que, em sua prática, revelam uma sabedoria construída através da tradição oral.
Palavras chave: Benzedura. Tradição. Dom. Religião. História Oral.
Desde o ano de 2008, o Núcleo de Documentação Histórica da UFPel realiza
pesquisa1 que investiga os ofícios que tendem a desaparecer, por uma transformação
substancial no mundo do trabalho, que vem se dando paulatinamente, embora em
processo contínuo, através, sobretudo, das inovações tecnológicas.
Por conseguinte, ainda que em tempos recentes fosse comum no imaginário das
cidades a presença de alfaiates, relojoeiros, estivadores, arrumadores de guarda-chuva,
afiadores de faca, dentre outros, atualmente poucos são aqueles que continuam a exercer
a mesma profissão, tendo em vista não encontrarem clientela interessada em seus
préstimos.
1 A pesquisa intitulada “À beira da extinção: memórias de trabalhadores, cujos ofícios estão em vias de desaparecer”, tem financiamento do CNPq e da FAPERGS. A equipe de trabalho é formada pelas professoras Lorena Almeida Gill e Beatriz Ana Loner, além das bolsistas Lóren Rocha, Marciele Vasconcelos e Micaele Scheer.
O projeto em desenvolvimento se articula em duas frentes do ponto de vista
metodológico: é feita uma pesquisa documental nos arquivos da Justiça do Trabalho2,
cujos processos estão sob guarda do NDH3, entre os anos de 1941 e 1990 e trabalha-se
com o que se convencionou chamar de história oral temática, ou seja, são realizadas
entrevistas com trabalhadores tendo, como foco de análise o ofício que praticaram
durante toda a vida ou em boa parte dela.
Para a execução do trabalho, no que diz respeito à história oral e à memória, alguns
autores têm sido importantes como Bosi (1987), Barros (1989), Benjamin (1994),
Portelli (1996), Ferreira (2000), Candau (2002), Halbwachs (2004), Alberti (2004),
Meihy e Holanda (2007).
Do ponto de vista teórico, no que tange à arte de curar, pode-se citar, por exemplo,
Sampaio (2001), Pimenta (1998), Figueiredo (2002) e Soares (2001). Weber (1999)
aparece como uma obra mais geral, que aborda o caso do Rio Grande do Sul. Há ainda
textos que analisam a saúde, a doença e a cura a partir de um olhar sobre regiões mais
específicas como Witter (2001) e Gill (2007). De toda a maneira, neste projeto, se
trabalha com a História do tempo presente a partir de uma fonte em especial — os
depoimentos de testemunhas vivas, atualizando algumas das discussões realizadas no
campo da chamada História das Doenças.
Há ainda relevantes obras sobre o mundo do trabalho e a legislação, como French
(2001), Hall (2002), Lara e Mendonça (2006), Ferreira (1997), Negro e Silva (2003),
entre outros.
Na procura por trabalhadores cujos ofícios estão em vias de desaparecer, um
outro universo foi se revelando, que é aquele vinculado à prática das benzeduras. Até o
momento, foram entrevistados 16 benzedores, de cidades como Jaguarão, São Lourenço
do Sul, Pelotas e Santana do Livramento.
Estes benzedores, em sua maioria mulheres, podem ser classificados (a fim de
facilitar a compreensão) como benzedores de tradição e benzedores de religião. Os
primeiros seriam aqueles que aprenderam as práticas com parentes, amigos, vizinhos,
2 A Justiça do Trabalho foi criada em 1941 no Governo Varguista e, embora, muito de seus acervos documentais tenham sido queimados, com a guarida da lei, uma parte considerável de autos findos foi preservado, sendo mantidos, muitas vezes, sob a guarda de Universidades ou Centros de Memória, como a Universidade Federal de Pelotas, a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, a Universidade de Santa Cruz, o Centro de Memória, Arquivo e Cultura do TRT de Campinas e o Memorial da Justiça do Trabalho do RS, dentre outros.3 O NDH possui um outro importante acervo, que é o da Delegacia Regional do Trabalho, entre os anos de 1933 e 1968. Este fundo documental inclui cerca de 630 mil fichas de qualificação profissional, utilizadas para a confecção das carteiras de trabalho em todo o estado. O material está sendo digitalizado e permitirá estabelecer trocas com o acervo da Justiça do Trabalho.
sobretudo através do ato da observação. Já os segundos seriam os vinculados a uma
religião em específico, como os cuidadores evangélicos encontrados na colônia de São
Lourenço do Sul ou os umbandistas da cidade de Pelotas. Nos terreiros é comum que os
filhos de corrente aprendam com as mães ou pais de santo a benzer, após o recebimento
de um espírito.
Alguns textos4, decorrentes das análises das entrevistas, têm sido escritos sobre
as mulheres benzedeiras e o ato do cuidar5, mas nesta comunicação o objetivo é
apresentar a história de três homens que benzem, a partir de motivações diferentes,
expressas por cada um deles: seu Dario revela ter recebido um dom; seu Bruno vincula
a sua prática à cultura pomerana e seu Geovegildo anuncia que o aprendizado aconteceu
através da observação e imitação daquilo que sua mãe e a avô faziam.
É importante ressaltar que a procura pelos benzedores não se dá apenas em
regiões nas quais há poucos médicos ou outros profissionais de saúde, mas também em
lugares onde há postos de saúde e hospitais. O benzedor, algumas vezes, é o primeiro ao
qual recorrem, pois conhece e interage com as pessoas a quem dará atendimento, de
forma que sua saúde costuma ser vista de forma mais integral. De outra maneira, pode
ser o último, quando o diagnóstico é muito grave e não se percebe esperanças dentro da
medicina tradicional.
O dom do seu Dario
Dario de Almeida Marques nasceu no dia 15 de outubro de 1933, em Pelotas.
Filho do padeiro e pequeno agricultor Joaquim Almeida Marques e de Rosa Valente
Marques, cresceu ajudando a família na horta e depois foi feirante.
Segundo ele, recebeu o dom de benzer, após ter sido atropelado, em 1969, por
um carro em alta velocidade e de ter ficado em coma durante 35 dias. Em seu leito de
4 Na XVI Conferência Internacional de História Oral realizada em Praga, em julho de 2010, foi apresentado trabalho intitulado “Memories about the care and the healing: narrative of the healing prayers”; já em Recife, no mês de abril do mesmo ano, durante o X Encontro Nacional de História Oral, a análise, feita em parceria com a professora Beatriz Ana Loner, pautou-se no tema “Memórias sobre o cuidado: o (a)s benzedeiro (a)s na região sul do RS”.5 Em nossa sociedade, mesmo com todas as mudanças que têm ocorrido com relação à participação das mulheres no mundo do trabalho e da política, por exemplo, ainda cabe prioritariamente a elas o cuidado com os outros, o que inclui a atenção às crianças, aos idosos, aos doentes e assim por diante. Este assunto tem sido tratado por vários campos de conhecimento, dentre eles, a História, as Ciências Sociais, a Enfermagem, a Medicina, a Antropologia.
morte recebeu mensagem de que ficaria bom, percebendo que como sua fé o tinha
curado, poderia salvar também outras pessoas em nome de Jesus Cristo.
A prática da benzedura realizada por ele é bastante diferenciada, pois corta
partes de tunas, um tipo de vegetal da família dos cactus, retira seus espinhos e desenha
os pés dos adoentados em dois pedaços do vegetal, colocando-os para secar. Caso as
tunas fiquem absolutamente secas significa que o enfermo ficará curado, todavia, se
alguma parte permanecer com tom esverdeado, será necessário repetir a benzedura, até
atingir o objetivo final. As rezas são realizadas por três, cinco, sete ou nove vezes,
dependendo da gravidade da doença.
Dario declara ter sob tratamento atualmente cerca de 120 pessoas, com as
moléstias muito variadas como: cobreiro6, bronquite, bursite, diabetes, câncer.
Questionado sobre o tratamento para o câncer, Dario declara que as pessoas
continuam consultando os médicos e, muitas vezes, tomam os remédios indicados, mas
também realizam benzeduras, algumas vezes sugeridas pelos próprios especialistas.
Reforça, com isso, a autoridade que admite ter como curador, ao referir a ligação e o
reconhecimento que vários médicos têm com seu trabalho.
Segundo Bourdieu (1998) a sociedade é constituída por campos que disputam o
poder entre si. Os agentes sociais buscam, através da aquisição de capital simbólico,
alcançar reconhecimento, o que lhes proporciona poder e legitimidade frente aos
demais. O diploma médico, sem dúvida, é uma forte expressão desse capital simbólico,
contudo, o fato de diplomados procurarem por pessoas que praticam atos mágicos, que
na maior parte das vezes não compreendem, reforça sua importância dentro da
sociedade, fazendo com que certas práticas passem a ser reconhecidas como necessárias
e prenhes de respeito social.
Em seu trabalho se utiliza de frutas e ervas para fazer xaropes, como um
indicado para a bronquite, fabricado com nove rodelas de cacho da banana, nove folhas
de guaco, nove cravos da índia, meio quilo de mel puro e um litro e meio de água. Tudo
é fervido durante uma hora e toma-se o xarope por sessenta dias.
Há ainda a utilização de tripa de galinha para o diabetes, chá de marcela, louro e
murta para a pressão e infusão de folha de batata doce com funcho para o câncer.
Dario não utiliza apenas plantas e frutas, mas também partes de animais para
fazer caldos, que servem para fortificar o organismo. As infusões, de toda a forma, são
apenas acessórias, pois o primeiro tratamento para qualquer moléstia é com a tuna. Ele
6 Nome popularmente utilizado para uma espécie de herpes.
aparece como um adepto da Medicina natural, embora não fique explícito, em sua
narrativa, como aprendeu a se utilizar de elementos tão diferenciados. Algumas das
misturas que realiza são bastante comuns no campo da sabedoria popular, outras, no
entanto, parecem fazer parte de um universo mágico próprio.
A cultura de seu Bruno
Bruno Gehrke nasceu no dia 8 de novembro de 1939, em São Lourenço do Sul.
É filho de Adolfo e Irma, ambos agricultores, sendo esta a atividade que também
desenvolveu durante boa parte de sua vida plantando feijão, milho, batata e mandioca e,
por último, fumo, atividade que há alguns anos se disseminou na colônia. Hoje está
aposentado.
Sua esposa Magali também sabe benzer pequenos problemas relacionados às
pessoas, como cobreiro, sapinho7, mau-olhado8, pois aprendeu pela necessidade de
utilizar o ato mágico para seus três filhos, que, muitas vezes, não tinham acesso a
médicos na hora em que precisavam.
A atividade da benzedura foi aprendida por Bruno com a avó, a qual, como ele,
benzia animais. Para ele é fácil reconhecer a necessidade da reza, uma vez que o animal
demonstra tristeza e dificuldade de locomoção quando doente.
Bruno revela que toda a benzedura é feita em pomerano e repetida três vezes. Na
terceira parte da oração o animal já está melhor. Somente em último caso é chamado um
veterinário, quando se julga que não há mais possibilidade de as orações resolverem.
A doença estaria relacionada ou à comida, ou à água ou ao vento, assim, a
oração evoca o motivo para se ter um bom resultado. Ele não se pergunta de onde vem
este conhecimento, nem o questiona, aceitando o aprendizado secular que foi repassado
por seus antepassados.
O senhor Bruno trabalha com uma ideia até agora só encontrada na colônia de
São Lourenço e que diz respeito à transmissão de saberes. Ele foi ensinado por uma
mulher e deve repassar os seus conhecimentos à outra uma mulher, para que a tradição
ocorra de forma eficiente. Segundo ele, no entanto, não encontrou ainda alguém
disposto a benzer animais, a quem pudesse ensinar o ofício.7 Trata-se de uma infecção fúngica bucal, geralmente vista em crianças pequenas.8 Mau-olhado seria deliberado, em virtude da cobiça; já quebrante aconteceria em decorrência da inveja.
Ele faz parte de uma comunidade com fortes traços da cultura pomerana,
relacionados à linguagem, à alimentação, às atividades culturais e às práticas de cura,
que embora tenham semelhanças com outros grupos, revela algumas singularidades.
A tradição de Geovegildo
Geovegildo Freitas tem 92 anos e nasceu na colônia de Pelotas, mais
precisamente na região da Cascata. Os pais se chamavam Geraldo Freitas e Inácia da
Silva e trabalhavam fazendo de tudo: plantavam, cuidavam de animais, tropeavam,
domavam, além de realizarem pequenos serviços, quando solicitados. O mesmo
caminho foi trilhado por ele.
O ofício foi aprendido com sua mãe, que benzia de dor de dente, de ar, de sol.
Ele, ainda menino, contou que espiava a mãe rezando e que, com isso, aprendeu sobre
os diferentes atos, embora revele que depois a mãe tenha ensinado algumas rezas
específicas, assim como aprendeu também com outras pessoas, durante sua vida.
Geovegildo aparece como um benzedor completo. Pronuncia orações na
presença do doente, faz rezas em roupas ou até mesmo com o nome do enfermo e
alguns dos seus dados pessoais, além de procurar deixar mais leve diferentes ambientes.
Uma de suas práticas reproduz uma espécie de operação. Quando alguém se
machuca, se corta, sofre um mau jeito, o benzedor pega um pequeno tecido, uma linha e
agulha virgem e costura o tecido, como se estivesse fechando o machucado. Neste
momento, pergunta ao enfermo, o que está cosendo e o benzido deve responder a partir
do mal que está sentindo. Dá-se uma interação entre ambos, que constroem uma
simbologia que proporciona o ato da cura.
Ele também benze animais, principalmente de tristeza, de problema para urinar e
de bicheira.
A benzedura se dá através de números ímpares, como é próprio da prática de
todo o benzedeiro. Para iniciar se reza por três dias, que podem se estender até nove, se
a doença for muito grave.
Ele distingue simpatias de benzeduras, ao dizer que a primeira é mais simples,
devendo ser feita uma única vez. É o caso da bronquite, ou seja, vê o doente uma vez e
depois ele deve tomar um xarope especial feito pelo benzedor.
Geovegildo benze com brasa, com ervas, com faca, com linha, agulha e tecidos e
até mesmo à distância. Faz orações também para a proteção de uma casa.
Embora tenha afirmado a preocupação em ensinar o que aprendeu a outras
pessoas, pensa que a benzedura, tal como a prática, está em vias de desaparecer, pois
não percebe um desprendimento das pessoas jovens em ajudar as pessoas mais
necessitadas.
Um outro ponto enfatizado na entrevista, em vários momentos, foi o fato de não
cobrar nada pelo ato, que só funciona quando a pessoa acredita. Essa discussão foi
recorrente nas narrativas de todos os benzedores, que afirmaram nada cobrar, aceitando,
caso o enfermo quisesse, algum agrado, como uma retribuição pelo cuidado exercido,
algumas vezes, durante um longo período.
Considerações Finais:
Esta comunicação tem como objetivo apresentar uma exposição inicial sobre o
assunto em pauta, tendo em vista que várias outras cidades serão pesquisadas, tanto na
zona urbana como rural, por se perceber que existem peculiaridades regionais no que
diz respeito às práticas de benzedura.
De outra forma, o projeto não se detém apenas na história oral como
metodologia, mas se utiliza da análise documental de um grande acervo, relacionado à
Justiça do Trabalho, cujos processos só foram analisados no que diz respeito aos dez
primeiros anos, tendo em vista ser a leitura do processo um ato demorado, pois alguns
deles levaram anos para serem concluídos e contêm várias páginas. Nos processos,
muitas vezes, estão presentes atestados médicos, trechos de jornais da época, exames de
saúde, cartas, além de vários outros documentos avulsos, que servem para reforçar as
teses de um e de outro lado em litígio.
Em um universo de dezesseis entrevistados, três foram homens, com motivações
diferentes para a prática da benzedura.
É claro que a benzedura se relaciona mais diretamente às mulheres, a quem
tradicionalmente cabe a tarefa do cuidado do outro, mas alguns homens também se têm
dedicado à cura, a partir de formas diversas.
Chama a atenção, no entanto, que dois deles, Bruno e Geovegildo, se dedicam,
de forma especial, ao cuidado dos animais. Bruno só realiza rezas relacionadas a
tratamento de cavalos, de bois e de vacas; já Geovegildo tem uma abrangência maior no
campo da cura, ainda que seja comum, segundo seu relato, ser buscado em sua casa,
para atuar em campos de produção, nos quais os animais necessitem de seus préstimos.
Embora a perspectiva inicial considerasse que a benzedura estava em vias de
desaparecer, não é isto que se tem visto, sobretudo em cidades pequenas e médias do
interior do Estado.
Os benzedores de tradição são menos frequentes, mas ainda existem em vários
bairros de muitas cidades, já os benzedores de religião são encontrados em número
considerável, muitos deles relacionados à umbanda.
Em Pelotas, por exemplo, são vários os terreiros de umbanda. Em cada um deles
existe uma mãe ou pai de santo, a quem cabe ensinar aos seus filhos de corrente os
fundamentos da religião. Muitos desses mestres dedicam-se à atenção e à cura de
moléstias, desde as mais simples, tratadas através de simpatias, até as mais complicadas,
que podem ser resolvidas com benzeduras e/ou serviços.
Uma das questões que une os três benzedeiros é o momento da reza. O senhor
Bruno rezou em pomerano, tendo presente que os entrevistadores não compreendiam as
palavras ditas; já Dario não demonstrou o momento da oração, embora tenha explicado
demoradamente como era a limpeza da tuna e, inclusive, como estas ficavam ao secar;
por último, Geovegildo fez questão de mostrar como a benzedura se realizava, ao rezar
pelas entrevistadoras, com três folhas de arruda e um copo de água, mas suas palavras
começaram de forma audível para depois se tornarem uma espécie de sussurro
incompreensível. Os três, portanto, deixaram implícito que não caberia a um não-
iniciado compreender aquilo que diziam, uma vez que, de alguma forma, suas palavras
estavam vinculadas a uma dádiva sagrada.
Há um grande universo por se descobrir, tanto no que diz respeito ao mundo do
trabalho, às questões de gênero, à religiosidade e às práticas de cura.
A pesquisa, que permite várias interfaces, inclusive no campo disciplinar, está
apenas começando.
Fontes:
- Entrevista realizada com o senhor Bruno Herr Gehrke, no dia 7 de agosto de 2009, na casa dele, na colônia Evaristo, de São Lourenço do Sul. Entrevistadores: Lorena Almeida Gill, Lóren Rocha e Micaele Scheer.
- Entrevista realizada com o senhor Geovegildo Freitas, no dia 19 de abril de 2010, na casa de sua filha, na colônia Cascata, de Pelotas. Entrevistadores: Lorena Almeida Gill, Lóren Rocha e Marciele Vasconcelos.
- Entrevista realizada com o senhor Dario de Almeida Marques, no dia 13 de novembro de 2010, na casa dele, na zona central de Pelotas. Entrevistadores: Lorena Almeida Gill, Lóren Rocha e Marcielle Vasconcelos.
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