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  • ISSN 1517-2201

    Novembro, 2008

    Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuriaEmbrapa Amaznia OrientalMinistrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

    Documentos348

    Estudos Realizados Sobre o Amarelecimento Fatal do Dendezeiro (Elaeis guineensis Jacq.) no Brasil

    Alessandra de Jesus Boari

    Embrapa Amaznia OrientalBelm, PA2008

  • Esta publicao est disponvel no endereo:http://www.cpatu.embrapa.br/publicacoes_online

    Embrapa Amaznia OrientalTv. Dr. Enas Pinheiro, s/n.Caixa Postal 48, CEP 66095-100 Belm, PA.Fone: (91) 3204-1000Fax: (91) 3276-9845E-mail: [email protected]

    Comit Local de EditoraoPresidente: Moacyr Bernardino Dias-FilhoSecretrio-Executivo: Walkymrio de Paulo LemosMembros: Adelina do Socorro Serro Belm Ana Carolina Martins de Queiroz Clia Regina Tremacoldi Luciane Chedid Melo Borges Vanessa Fuzinatto DallAgnol Reviso Tcnica: Armando Bergamim Filho Esalq/USP Hugo Bruno Correa Molinari - Embrapa Agroenergia

    Superviso editorial: Adelina BelmSuperviso grfica: Guilherme Leopoldo da Costa Fernandes Reviso de texto: Luciane Chedid Melo BorgesNormalizao bibliogrfica: Adelina BelmEditorao Eletrnica: Ione SenaFoto da capa: Alessandra de Jesus Boari

    1a edioVerso eletrnica (2008)

    Todos os direitos reservadosA reproduo no-autorizada desta publicao, no todo ou em parte,

    constitui violao dos direitos autorais (Lei n 9.610).

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)Embrapa Amaznia Oriental

    Boari, Alessandra de Jesus

    Estudos realizados sobre o amarelecimento fatal do dendezeiro (Elais Guineensis Jacq) / Alessandra de Jesus Boari. Belm, PA: Embrapa Amaznia Oriental, 2008.

    66p. : il. ; 21cm. - (Embrapa Amaznia Oriental. Documentos, 348)

    ISSN 1517-2201

    1. Dend. 2. Planta oleaginosa. 3. Doena de planta. 4. Nematide. I. Ttulo. II. Srie.

    CDD : 633.851

    Embrapa 2008

  • Autora

    Alessandra de Jesus Boari Engenheira Agrnoma, Doutora em Fitopatologia, Pesquisadora da Embrapa Amaznia Oriental, Belm, [email protected]

  • Agradecimentos

    Agradecemos s agroindstrias Marborges e Denpasa, e aos pesquisadores aposentados da Embrapa Amaznia Oriental Antnio Agostinho Mller e Jos Furlan Jnior pela disponibilizao dos relatrios de pesquisa e informaes pessoais sobre doena amarelecimento fatal do dendezeiro, para elaborao deste Documento.

  • Apresentao

    Apesar de ter sido introduzido no Brasil no sculo 17, o dendezeiro teve seu cultivo na Amaznia impulsionado pela utilizao de material gentico superior, produzido principalmente nas ex-colnias francesas da frica, em conjuno com uma combinao favorvel de grande disponibilidade de terras e de clima com a pluviosidade adequada.

    Os principais produtos dessa palmeira so os leos de palma e de palmiste, extrados industrialmente da polpa do fruto e da amndoa, respectivamente. Essa cultura vem assumindo importncia cada vez maior, graas crescente demanda por leos vegetais, para as indstrias alimentcia, medicinal, cosmtica e industrial, bem como por leo combustvel. As caractersticas especiais desse produto conferem-lhe grande versatilidade, o que possibilita sua aceitao por indstrias mundiais diversas.

    Entretanto, um dos principais entraves para a expanso dessa cultura em nosso estado a doena amarelecimento fatal (AF), de ocorrncia relativamente recente e que dizima milhares de plantas, levando a grandes perdas econmicas nas empresas vinculadas ao agronegcio do dend e a centenas de demisses no Par. Apesar de todos os esforos de pesquisa j efetuados, o AF ainda tem sua etiologia desconhecida, o que impossibilita a elaborao de medidas de controle.

    Este documento teve a finalidade de compilar e/ou revisar os inmeros trabalhos de pesquisa realizados no Brasil que tiveram o objetivo de elucidar a causa do AF, sendo muitos deles no publicados. Foram examinadas

  • diversas pesquisas nas reas de solos, entomologia, fitopatologia e melhoramento gentico, que no trouxeram resultados conclusivos sobre a causa do AF. Portanto, este trabalho vai possibilitar uma viso mais abrangente do que j foi realizado, auxiliando na elaborao de novas aes de pesquisa que visem ao controle e/ou prticas para minorar o problema e as perdas econmicas.

    Cludio Jos Reis de CarvalhoChefe-Geral da Embrapa Amaznia Oriental

  • Sumrio

    Introduo .................................................................................... 13

    Doenas do dendezeiro ............................................................. 15

    Amarelecimento fatal ................................................................. 15Sintomatologia ............................................................................. 15

    Amarelecimento fatal x pudricin del cogollo ..................... 20

    Importncia e distribuio do AF ............................................ 22

    Importncia da identificao da causa do AF ...................... 24

    Estudos realizados sobre o AF ................................................ 24Estudos visando uma possvel causa bitica ................................ 24

    Entomologia .............................................................................. 24

    Fitoplasmas ............................................................................... 27

    Fungos e bactrias ..................................................................... 29

    Vrus e virides .......................................................................... 35

    Nematides ............................................................................... 38

    Observaes de sintoma e histologia ............................................ 39

    Epidemiologia ............................................................................ 40

    Replantio .................................................................................. 41

    Rouguing .................................................................................. 41

    Transmissibilidade pela semente .................................................. 42

    Estudos visando a uma possvel causa abitica ........................... 42

  • Solo e nutrio .......................................................................... 42

    Avaliao foliar .......................................................................... 43

    Evoluo de sintomas do AF adubaes com omisso de macro e

    micronutrientes ......................................................................... 44

    Influncia do micronutriente ferro ................................................. 45

    Influncia das propriedades fsicas do solo .................................... 46

    Efeito da aplicao de calcrio dolomtico sobre o AF ..................... 52

    Resistncia gentica ao AF ...................................................... 52Clones ......................................................................................... 52Hbrido interespecfico ................................................................. 53Plantas remanescentes com potencial de resistncia ................... 55

    Fatos conhecidos a respeito do AF relacionados por diferentes pesquisadores .......................................................... 55

    Sugestes dos pesquisadores para novas pesquisas ......... 58

    Consideraes finais .................................................................. 59

    Referncias ................................................................................... 59

  • Estudos Realizados sobre o Amarelecimento Fatal do Dendezeiro (Elaeis guinensis Jacq.) no BrasilAlessandra de Jesus Boari

    Introduo

    O dendezeiro (Elaeis guineensis Jacq.) uma palmeira originria da Costa Ocidental da frica (Golfo da Guin), sendo encontrada em povoamentos subespontneos desde o Senegal at a Angola. No Brasil, foi introduzido no sculo 17 pelos escravos e adaptou-se bem ao clima tropical mido (TRINDADE et al., 2005).

    Os principais produtos do dendezeiro so os leos de palma e de palmiste, extrados industrialmente da polpa do fruto e da amndoa, respectivamente. Essa cultura vem assumindo, cada vez mais, maior importncia, graas crescente demanda por leos vegetais, para a rea alimentcia, medicinal, cosmtica, industrial e, principalmente, para o biodiesel, alm de ser fonte reconhecida de vitaminas A e E. As caractersticas especiais desse produto conferem-lhe grande versatilidade, o que possibilita sua aceitao por indstrias mundiais diversas (TRINDADE et al., 2005).

    Essa palmeira a oleaginosa de maior produtividade conhecida no mundo, permitindo extrair entre 4 e 5 toneladas de leo de palma (da polpa dos frutos) e de 1 a 1,5 tonelada de leo de palmiste (da amndoa) por hectare/ano (MLLER; ALVES, 1998). Sua rentabilidade tem sido boa, apesar do investimento alto para a implantao.

    Mundialmente, Malsia, Indonsia, Nigria, Tailndia e Colmbia destacam-se como os maiores produtores de leo de palma. No Brasil, a rea colhida de dend, no ano de 2005, foi de 63.700 ha, e a produo do leo de

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    palma foi em torno de 180.000 toneladas (t) (AGRIANUAL, 2006). O Pas consome 350.000 t de leo de dend e derivados e importa em torno de 170.000 t, mas tem mercado interno potencial de 400.000 t/ano. S no Par, existem mais de 5,5 milhes de hectares com boa aptido edafoclimtica para o dendezeiro (TRINDADE et al., 2005).

    No Brasil, o Par, com cerca de 55.066 ha de dendezais, a Bahia, com 5.800 ha, e o Amazonas, com 2.910 ha, so os maiores produtores do leo, sendo o primeiro responsvel por mais de 90 % da produo (AGRIANUAL, 2006). Socialmente, essa cultura muito importante, pois tem grande potencial para fixar mo-de-obra no campo. Os efeitos socioeconmicos bastante positivos propiciados por essa cultura esto sendo ameaados pela ocorrncia do distrbio conhecido como amarelecimento fatal (AF) do dendezeiro.

    Essa cultura tem sua produo afetada por algumas doenas, mas o amarelecimento fatal tem se destacado como responsvel por milhares de mortes de plantas nos pases produtores, como Brasil, Colmbia, Equador, Suriname, Costa Rica, Nicargua e Panam (FRANQUEVILLE, 2001).

    O AF uma ameaa ao desenvolvimento da dendeicultura no Par, agravada pelo fato de sua causa ser de origem desconhecida.

    Em decorrncia da alta incidncia de plantas mortas pelo AF, as pesquisas sobre a doena amarelecimento fatal do dendezeiro se iniciaram em 1986, quando ento foi assinado um convnio entre a Associao dos Produtores de Dend do Par e Amap (Aproden) e o governo brasileiro, por meio da Embrapa, no sentido de realizar pesquisas multidisciplinares para o melhor conhecimento do problema e soluo do mesmo. Entretanto, em virtude da escassez de recursos financeiros, as pesquisas foram interrompidas em 1991 e reiniciadas somente anos depois.

    Vrios trabalhos foram realizados com o objetivo de determinar a causa ou o agente causal do AF do dendezeiro. Entretanto, no foi encontrada ainda nenhuma correlao com insetos, problemas fisiolgicos, solo e patgeno. Este documento tem o objetivo de compilar os diversos resultados experimentais e observaes obtidos desde 1986, quando iniciaram os trabalhos de pesquisa para identificar a causa do AF.

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    Doenas do dendezeiro

    O dendezeiro pode ser afetado por vrias doenas, so elas: 1. arcada foliar ou doena da coroa, com evidncias de ser um problema de natureza gentica; 2. podrido-seca do corao ou mancha anular, que ocorre em mudas de viveiro e em plantas jovens e, possivelmente, transmitida por insetos; 3. Marchitez sorpresiva, hartrot, murcha fatal ou seca sbita, provavelmente causada pelo protozorio flagelado Phytomonas sp.; 4. fusariose ou secamento letal, causado pelo fungo Fusarium oxysporum f.sp. elaeidis; 5. anel vermelho, causada pelo nematide Bursaphelenchus cocophilus (Cobb) Baujard, transmitido de uma planta a outra pelo besouro Rhynchophorus palmarum, e 6. amarelecimento fatal (AF) ou guia podre ou podrido-da-flecha, cujo agente causal ainda desconhecido. No Brasil, a fusariose, o anel vermelho e o amarelecimento fatal so as doenas mais importantes por causarem as maiores perdas na produo (FREIRE, 1988).

    No mundo, j foram relatadas doenas do dendezeiro como: ferrugem (Pythium splendens, Rhizoctonia lamellifera), manchas das folhas (Cercospora elaeidis), antracnose (Botryodiplodia palmarum, Melanconium elaeidis, Glomerella cingulata), murcha de mudas (Curvularia eragrostidis), amarelecimento e murcha vascular (Fusarium oxysporum), apodrecimento basal do tronco (Ceratocystis paradoxa, Ganoderma spp., Armillaria mellea); fungo na coroa e apodrecimento das frutas (Marasmius palmivorus). O apodrecimento dos galos (brotos) causado pela bactria Erwinia spp., devastadora na frica Central (ERVAS..., 2008) Ganoderma boninense (REES et al., 2007)., Potyvirus (RIVERA et al., 1996; MORALES et al., 2002), Foveavirus (MORALES et al., 2002), Nanovirus, virides cadang-cadang (BEUTHER et al., 1992; VADAMALAI et al., 2006), phytoplasma (BRIOSO, 2003; ALVAREZ; CLAROZ, 2002).

    Amarelecimento fatal

    SintomatologiaO AF se caracteriza, inicialmente, pelo ligeiro amarelecimento dos fololos basais das folhas intermedirias (3, 4, 5 e 6) e, mais tarde, pelo

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    aparecimento de necroses nas extremidades dos fololos que evoluem para a seca total dessas folhas. Um dos principais sintomas do AF a seca da folha flecha e, eventualmente, pode ocorrer a remisso temporria da planta, seguida do declnio generalizado e morte (Fig. 1, 2, 3, 4, 5 e 6). Van Slobbe (1991) relata que, geralmente, as plantas morrem 7 a 10 meses aps o aparecimento dos primeiros sintomas, quando no ocorre a remisso. A partir da morte da folha flecha, no h mais a produo de cachos. Embora em algumas palmas possam ocorrer a remisso de folhas, a produo de cachos insignificante. Alm disso, o sistema radicular no se desenvolve aps o aparecimento dos primeiros sintomas do AF e, se houver remisso de folhas, a produtividade de cachos muito baixa. Nos tecidos do estipe e meristema das plantas com AF, no so observados apodrecimentos ou necroses do sistema vascular (informao verbal).1 Ayala (2001) e Bernardes (1999) ressaltam que o sistema radicular se apresenta necrosado log o no incio do aparecimento do amarelecimento dos fololos das folhas intermedirias. Os cachos originados de folhas no afetadas apresentam-se normais.

    Uma caracterstica do AF e mesmo a pudricin del cogollo (PC) a ausncia de sintomas internos, o que o diferencia de fusariose, anel-vermelho, entre outras. Nenhum microrganismo pode ser observado ou isolado para provar a causa de origem patognica da doena (VAN SLOBBE, 1991). Essa doena pode ocorrer em qualquer idade do dendezeiro.

    Souza et al. (2000) elaboraram uma cartilha para reconhecimento prtico do AF no campo. Nessa cartilha, so ilustrados quadros sintomatolgicos com uma escala de notas para diferentes graus de severidade (de 1 a 10). O referido material tambm foi desenvolvido com a finalidade de auxiliar nos diferentes testes de controle da doena.

    1 Dado fornecido pelo Engenheiro Agronmo Alexandre Sanz de Veiga (Empresa MARBORGES) em reunio no municpio de Moju-PA, em 2007.

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    Fig. 1. a) Dendezeiro: amarelecimento e necrose da ponta do fololo para base; (b) Necrose

    da folha flecha.

    Fig. 2. Planta de dend com AF com sintomas de remisso de folhas.

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    Fig. 3. Planta de dend com AF e com sintomas de remisso de folhas.

    Fig. 4. Planta de dend com AF e com sintomas

    de remisso de folhas.

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    Fig. 5. Planta de dend com mais de 25 anos de idade, apresentando AF e

    sintomas de remisso de folhas.

    Fig. 6. Plantio de dend dizimado pelo AF.

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    Amarelecimento fatal (AF) X pudricin del cogollo (PC)

    H controvrsias sobre o fato de o AF e a PC ou spear rot, em ingls terem a mesma origem. PC o nome dado para a doena na Colmbia. Inicialmente, a doena amarelecimento fatal foi denominada guia podre e podrido-da-flecha, mas, para evitar confuses com outras enfermidades do dendezeiro que tambm causam apodrecimento, passou a ter esse nome.

    Segundo Van Slobbe (1988), foi feito um inventrio sobre o AF em vrias plantaes do Brasil e de outros pases como Colmbia, Equador, Panam e Suriname. Nos vrios locais, os sintomas de AF e PC foram idnticos, especialmente no que se refere a folhas jovens clorticas e padro de infeco na coluna da flecha. Esse autor acredita que as doenas PC e AF so causadas pelo mesmo distrbio, mas falta o isolamento do possvel patgeno e/ou agente causal para que isso seja comprovado. Segundo Franqueville (2001), os sintomas do AF so semelhantes aos da pudricin del cogollo (PC), que ocorre em altas incidncias na Colmbia. Na doena pudricin del cogollo, h um apodrecimento do meristema do dendezeiro de odor ftido e necrose dos fololos e folha flecha (NIETO, 1996).

    Entretanto, Ayala (2001), em visita a plantaes de dend no Par, verificou que o AF diferente do PC, pois no se observou a podrido-mole e ftida do meristema (Fig. 7). Essa pesquisadora tambm observou o apodrecimento de razes em plantas de dend no Par.

    Turner (1981) descreve alguns sintomas que diferenciam a spear rot ou PC de amarelecimento fatal em uma plantao de Llanos, na Colmbia. O autor descreveu a presena de dois tipos de spear rot: a forma mais comum que afeta plantas jovens, em que foram isoladas espcies de Fusarium, mas no foi observada a clorose nas folhas jovens. O segundo tipo invade um invarivel nmero de folhas flechas at a base das folhas, causando necrose alm da parte apical do meristema. Na Colmbia, os sintomas associados com bud rot so apodrecimento da folha flecha, amarelecimento de folhas jovens, apodrecimento do tecido do meristema

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    e quebra de folhas e fololos (NIETO, 1996).

    Swinburne (1993) realizou uma comparao dos quadros sintomticos do PC e AF no Equador, Colmbia e Brasil e verificou diferenas na evoluo para o apodrecimento mido do meristema e na recuperao das plantas doentes. No Brasil, no ocorre o apodrecimento mido e as plantas no se recuperam.

    Zadock (1990) concluiu que os sintomas de podrido da folha flecha (PC) no Equador so bem diferentes dos sintomas do amarelecimento fatal no Brasil, mas ambos tm natureza letal. A sintomatologia de spear rot ou PC na Amaznia Equatoriana completamente diferente do amarelecimento fatal no Brasil. As folhas do topo so amarelas em tom de cobre ou bronze e no em tom amarelo claro como na Colmbia. Quando o amarelo se intensifica, as pontas dos fololos ficam necrticas. O amarelecimento no desce abaixo da folha n 15. rvores amarelas morrem dentro de 1 a 2 meses. Geralmente, o ponto de crescimento se necrosa dentro de 1 ms depois do aparecimento do sintoma, evoluindo para o sintoma de podrido da folha flecha.

    Fig. 7. Ausncia de sintomas de apodrecimento na base da folha flecha ou

    meristema em plantas com AF.

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    Importncia e distribuio do AF

    O AF foi relatado pela primeira vez numa lavoura estabelecida em 1967, no Par, em 1974, quando sua ocorrncia era espordica, afetando poucos dendezeiros. No entanto, no ano de 1978, em uma plantao da empresa Denpasa no Par, foram afetados 25 dendezeiros; em 1981, foram 125 e, em 1984, morreram 465 plantas. Em 1985, a doena exibiu um acrscimo sem precedentes, elevando o nmero de casos para 2.205 plantas mortas. Em 1986, registrou-se 9.968 plantas e, em 1987, ocorreram 32.673. Entre 1974 e 1991, totalizaram mais de 100.000 dendezeiros mortos nessa plantao. Ressalta-se que todas as plantas com AF foram eliminadas (corte da parte area) at um ms aps a constatao, sendo esta ao intensificada a partir de junho de 1987 com o objetivo de eliminar a fonte de inculo de um possvel patgeno (VAN SLOBBE, 1988). Entretanto, essa prtica no foi eficiente no controle da doena.

    Nessa rea, observou-se um agravamento da doena entre o 15o e o 16o

    ano ps-plantio.

    O AF passou a constituir um problema de grande importncia para os dendeicultores paraenses, a partir de 1984, ocasionando severas perdas em plantaes industriais, o que levou a centenas de demisses no Par. A ocorrncia do AF nesse estado est restrita ainda s reas localizadas na co-regio homognea de Belm, tendo essa doena desmotivado uma maior expanso do cultivo de dend no estado.

    Na Regio Norte, o AF tambm foi relatado em um pequeno plantio prximo a Tef (projeto piloto Socfinco), no Amazonas, e em uma plantao de dend localizada em Porto Grande Companhia Dend do Amap (Codepa) , prximo a Macap, AP (VAN SLOBBE, 1988).

    Em maio de 1989, Van Slobbe verificou que na plantao da Empresa Amazonense de Dend (Emade), em Tef, AM, o nmero de foco do AF passou de 1 para 2 de 1987 a 1989. A Denpasa passou a colaborar para treinar os tcnicos da Emade para reconhecimento de plantas com AF, com a finalidade de permitir a sua erradicao (VAN SLOBBE, 1991).

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    A rea de plantio da Socfinco, no Municpio de Porto Grande, prxima a Tef, AM, que se apresentava com um grande foco de AF, foi erradicada por determinao da Delegacia Federal de Agricultura (DFA) e do Ministrio da Agricultura (VAN SLOBBE, 1991).

    No Par, ela j foi observada nos principais municpios produtores, como Benevides, Santa Isabel do Par, Tom-Au, Santa Brbara, Santo Antnio do Tau, Bujaru, Moju, Belm e Acar.

    Plantas com sintomatologia semelhante, e tambm de agente causal desconhecido, ocorrem no Equador, Colmbia, Costa Rica, Panam, Nicargua e Suriname. No se tem dados sobre a incidncia desse distrbio fora da Amrica Latina (VAN SLOBBE, 1988).

    Importncia da identificao da causa do AF

    Sendo o AF do dendezeiro o principal problema limitante para a expanso da cultura no Brasil, a identificao do agente ou fator causal de extrema importncia para a elaborao da estratgia de controle. S no Par, o dendezeiro apresenta um potencial de mais de 500.000 ha de rea com condies edafoclimticas propcias ao cultivo dessa promissora oleaginosa, que tanto pode ajudar a recuperar reas em processo de degradao decorrente do mau uso inicial, como pode se apresentar como a maior e melhor fonte de energia renovvel disposio da humanidade. Alm disso, muito importante para a produo de alimentos sem gordura trans, nociva sade.

    A expanso da cultura do dend ser muito importante para que haja mais fixao de mo-de-obra ao meio rural, por ser uma cultura perene que emprega mo-de-obra o ano inteiro.

    Em decorrncia da falta de informaes sobre a causa dessa enfermidade, impossvel a realizao de testes visando obteno de cultivares resistentes a ela ou de qualquer estratgia de manejo.

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    Estudos realizados sobre o AF

    At o momento, foram desenvolvidas vrias aes de pesquisa visando obter conhecimento sobre a causa do AF, tanto na busca por um agente fitopatognico isolamento, transmisso, sintomatologia, testes diagnsticos, insetos vetores (entomologia) e medidas de controle da doena , como por fatores do solo, hdrico e fisiolgicos. Estudos de epidemiologia tambm foram realizados para estudar o comportamento da distribuio do AF com a finalidade de indicar se a sua causa ou no de origem bitica.

    Estudos visando uma possvel causa biticaEntomologiaA iniciativa para a realizao de trabalhos de pesquisa na rea de entomologia foi baseada na observao (de campo) preliminar que levantou a hiptese de que a doena era disseminada por insetos pelo fato de a disseminao ocorrer no sentido dos ventos, o que coincidia com a rea de progresso do AF no campo; com sua distribuio aleatria e, em alguns casos, no primeiro tero da parcela ao longo das estradas, onde ocorriam gramneas, e tambm com a sua alta incidncia depois da suspenso do uso de inseticida contra lagartas desfolhantes e brocas do dendezeiro. Outro fato que concorreu para essa hiptese foi a semelhana da doena lethal yellowing dos coqueiros, que ocorre nos Estados Unidos, cujo agente causal o fitoplasma transmitido pelo homptero Mindus sp. (CELESTINO FILHO et al., 1993).

    Considerando o envolvimento de insetos com o AF, foi realizado um inventrio desses insetos nos dendezais e estudos com transmisso do possvel patgeno causador da doena. No inventrio, foram feitas coletas de insetos com frascos diretamente nos dendezais e plantas de cobertura e utilizadas armadilhas amarelas com cola e redes entomolgicas. Nos ensaios de transmisso, foram utilizadas gaiolas confeccionadas com madeira e tela de nylon, para isolar plantas sadias, nas quais foram liberados os insetos coletados em reas focos. Foram catalogadas no inventrio 533 espcies de hompteros e 111 de hempteros, das quais 40 de hompteros e 1 de hempteros foram encontradas pelo menos 100

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    vezes sobre o dendezeiro. No entanto, no foram encontradas relaes entre a fauna de insetos e as reas afetadas (CELESTINO FILHO et al., 1993).

    Do total de insetos catalogados, prevalece a famlia Cicadellidae (Fig. 8), com 266 espcies registradas. Nos ensaios de transmisso, 815.914 insetos foram coletados e liberados nas gaiolas (Fig. 9). Foram realizadas liberaes monoespecficas com insetos mais relacionados com o dendezeiro, tais como Contigucephalus sp., Patara sp., Omolicna sp. e Myndus crudus, e mistura de espcies com as principais famlias catalogadas, entre a quais Aethaelinidae, Cercopidae, Fulgeridae, Dephacidae, Dictyopharidae, Nogodinidae, Issidae, Ricanidae, Derbidae, Cixiidae, Cicadellidae, Flatidae e Membracidae. Aps 6 anos de pesquisa, no se obteve resultados positivos com relao transmisso do AF com insetos. Assim, os autores concluram que se deve descartar a hiptese de um homptero transmissor que tenha estreita relao com o dendezeiro. Os insetos Contigucephalus sp., Omolicna sp. e Myndus crudus foram exaustivamente estudados quanto transmisso de um possvel patgeno com todos resultados negativos. Alm disso, sugerem que possvel que o vetor seja uma espcie de inseto extremamente rara e muito ativa (CELESTINO FILHO et al., 1993).

    Celestino et al. (1987) realizaram um levantamento de insetos em lavouras com AF no Amap, nas empresas Codepa e Munguba, com o objetivo de comparar os insetos de l com os existentes no Par. Os mesmos autores relataram a ocorrncia de AF na lavoura da empresa Codepa, tanto em reas cobertas com Puerria como em reas onde existem gramneas, em especial a Brachiria, sugerindo que o tipo de cobertura no exerce influncia na ocorrncia e distribuio da doena. Entretanto, obteve-se um maior nmero de espcies em diferentes famlias de hompteros (Derbidae, Cicadellidae e Flatidae) em reas cobertas com gramneas .

    Contradizendo Bergamim et al. (1998) e Laranjeira et al. (1998), Van Slobbe (1988) relatou que a doena se propaga na mesma direo do vento predominante e suspeitou que seu agente causal poderia ser disseminado por um inseto sugador de folhas, sendo a cigarrinha da famlia Cixiidae, Mindus crudus, um dos principais suspeitos, por se encontrar

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    nas lavouras onde ocorre o AF e ser o transmissor do fitoplasma causador do amarelecimento fatal dos coqueiros na Flrida, EUA. Esse inseto foi identificado pela Universidade Federal do Paran, em Curitiba, PR.

    Fig. 8. Cigarrinhas coletadas em folhas de dendezeiros.

    Fig. 9 . Ensaio sobre transmisso do agente causal do AF por meio de cigarrinhas: (a) aquisi-

    o do possvel agente causal pela cigarrinha; b) transmisso para mudas de dend.

    Um inventrio de Homoptera spp. e Heteroptera spp. foi realizado em plantios sadios e com amarelecimento fatal na Denpasa, em 1988. Foram encontradas 187 espcies de Homoptera e 55 espcies de Heteroptera. Doze espcies de Homoptera foram consideradas suspeitas (LOUISE, 1990).

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    Em 1988, os pesquisadores fitopatologistas Renard do IRHO-Frana e Anton de Kom Universitat van de Lande, da Adekus, Suriname, visitaram experimentos de amarelecimento fatal do dendezeiro na Denpasa, juntamente com o pesquisador Hrcules M. Silva, e verificaram o ataque de lagartas Sagalassa sp. em razes de dend, mas no foram consideradas como causa provvel do AF (EMBRAPA,1989). Essa praga j foi relatada na Bahia e no Amap, na Codepa.

    FitoplasmasPor meio de teste molecular usando a Reao da Polimerase em Cadeia (PCR), Brioso et al. (2003) relataram a associao do fitoplasma do grupo 16S rRNA I em amostras de dendezeiro com AF provenientes do Par. Posteriormente, num estudo de comparao da seqncia do fragmento de DNA do 16S rRNA do isolado brasileiro com os disponveis no banco de dados do Genbank, Brioso et al. (2006) confirmaram a natureza fitoplasmtica do organismo associado ao AF.

    Os fitoplasmas so organismos procariontes, pleomrficos, pertencentes seo Eubactria e membro da classe dos Mollicutes. So desprovidos de parede celular e apresentam sensibilidade tetraciclina. Localizam-se, geralmente, no floema e apresentam formas variando de arredondadas, filamentosas e pleomrficas e tamanho variando de 100 a 1.000 nanmetros. At o momento, todos os fitoplasmas identificados causando problemas em plantas so transmitidos por insetos da ordem Homoptera, conhecidos popularmente como cigarrinhas. Dessa ordem de insetos, as superfamlias Cicadellidae, Delphacidae e Cixiidae so conhecidas como transmissoras de fitoplasmas. Os fitoplasmas podem ser diagnosticados por meio de testes sorolgicos, PCR e microscopia eletrnica. Esses microrganismos encontram-se em baixo nvel de concentrao nas plantas afetadas, sendo mais observado em determinados tecidos da planta, o que pode dificultar a sua deteco (BRIOSO et al., 2005). O mesmo autor avaliou mais de 100 amostras de dendezeiros com sintomas de AF por meio de PCR, mas verificou a presena de fitoplasma em apenas quatro delas, nmero este considerado pequeno por vrios pesquisadores, j que se trata de um teste altamente sensvel.

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    Por vrios anos, amostras de tecido de plantas com AF foram examinadas para deteco de fitoplasmas. Tanto IRHO como o Dr. E. W. Kitajima, da Universidade de Braslia, no detectaram esses microorganismos por microscopia eletrnica de transmisso.

    Van Slobbe (1988) no observou o cessamento do crescimento do dendezeiro antes do aparecimento dos primeiros sintomas, como ocorre em coqueiro infectado pelo fitoplasma, conforme relatado pelo Dr. F. W. Howard. Foram feitos testes de injeo de antibiticos oxitetraciclina e estreptomicina para controle de fitoplasmas, utilizando a pistola injetora, tanto na preveno de dendezeiros aparentemente sadios, quanto na reao da sintomatologia da doena, indicando que a patognese no pertence ao grupo dos MLOs e bactrias. Com objetivo de conter o AF, fez-se a eliminao da cobertura, puerria e ervas daninhas em uma rea de 38 ha, com o foco da doena, mas no diminuiu o ndice aparente de infeco, indicando que o inseto transmissor no precisa da cobertura para sobreviver. Ainda foi feita aplicao mensal de inseticidas nos dendezais, com o objetivo de controlar um possvel vetor, mas no foi diminudo o ndice aparente de infeco, embora deva ser mencionado que impossvel cobrir completamente os dendezeiros adultos com inseticidas. Fez-se tambm a absoro radicular de monocrotophos, bimensal, em 80 ha, na tentativa de diminuir o nmero de insetos sugadores e assim diminuir a disseminao, mas no se obteve resultado. Os experimentos de transmisso com cinco espcies de Homoptera, Derbidae e um Ciciidae, coletados nas palmeiras da plantao, que se alimentaram em dendezeiros doentes e sadios, no trouxeram resultados positivos. Milhares de insetos foram introduzidos em gaiolas e gaiolas de folhas.

    Dr. M. Schuilling, que trabalha com coqueiros infectados pelos fitoplasmas na Tanznia, visitou a Denpasa e executou um teste histoqumico, o DAPI (uso de corante especfico para DNA, que atua como uma sonda fluorescente), nas amostras de dendezeiros doentes e sadios. No entanto, nas mais de 1.000 observaes, todos os resultados foram negativos, indicando que o AF no era causado pelos fitoplasmas (VAN SLOBBE, 1991).

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    Amostras de plantas com AF foram enviadas para o prof. Nienhaus da Universidade de Bonn, Alemanha, e no foi detectada a presena de fitoplasma.

    Alvarez e Claroz (2002) identificaram fitoplasmas em amostras de plantas de dend na Colmbia com sintomas de Marchitez Letal. Segundo os autores, o teste de DAPI e PCR detectaram com grande sensibilidade o fitoplasma membro do 16 SrI no grupo do aster yellow nos tecidos do meristema, inflorescncia e base das folhas.

    Fungos e bactriasEm fitopatologia, considerando a possibilidade de que fungos e/ou bactrias sejam causadores dessa doena, Silva (1989) coletou amostras de plantas doentes e, a partir destas, foram realizados isolamentos de organismos associados aos tecidos dos pecolos, rquis, fololos, flechas e razes. Os fungos e bactrias obtidos desse modo foram inoculados em plantas jovens e adultas na tentativa de reproduzir (postulado de Koch) os sintomas da doena, passo esse fundamental para o conhecimento do agente causal da mesma, e, conseqentemente, o estabelecimento do mtodo de controle.

    Segundo Silva (1989), cerca de 26 isolados de fungos e 7 de bactrias foram obtidos, tendo-se realizado inoculaes em plantas sadias com 9 fungos e 1 bactria. A identificao foi realizada pelos pesquisadores Dr. I. L. Renard (IRHO), Dr. J. L. Bezerra (Ceplac) e Dr. Chales Robbs (UFRRJ). Estes verificaram que existe uma ampla gama de fungos e bactrias (Tabela 1), obtidos de isolamentos feitos da parte area de plantas doentes, que foram cultivados e inoculados da mesma maneira (parte area), sem atentar para as particularidades inerentes aos hbitos de cada um.

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    Tabela 1. Relao de fungos e bactrias isolados de dendezeiros com amarelecimento fatal.

    FungosLasiodiplodia theobromae Pythium sp. Chaetomium sp.Microsphaera olivacea Fusarium solani Rhizoctonia sp.Curvularia pallescens Fusarium oxyesporum Graphium sp.Dacrylaria sp. Fusarium sp. Mucor racemosusMycelia sterilia Pestalotiopsis sp. Curvularia hamataPhytophtora sp. Thielaviopsis sp Phoma sp.Colletotrichum sp. Phomopsis sp. Gloeosporium sp.

    BactriasAerobater aerogenes Erwinia herbicola Psedomonas aeruginosaBacillus polimixe P. putida P. fluorescens

    Fonte: Silva (1989).

    A princpio, os fungos foram cultivados em placas de Petri contendo BDA e, aps 15 dias de cultivos, quando se obteve o crescimento total nas placas, o contedo (miclio) de dez placas foi triturado em 1 litro de gua e, dessa suspenso, 20 mL foram injetados no centro da coroa das plantas e o mais prximo possvel da base das flechas. Com a falta de resultado positivo, optou-se por induzir a esporulao dos fungos para permitir a dosagem ou quantificao dos esporos dos fungos in vitro, de modo a uniformizar a sua concentrao. Utilizou-se, para tanto, diferentes meios seletivos apropriados para cada fungo. Para Pythiaceos, a melhor esporulao foi obtida cultivando o fungo por 15 dias em meio lquido de palmito de dendezeiro e gua (200 g de palmito e 1.000 mL de gua), sendo filtrado depois, e o miclio adicionado ao frasco contendo extrato de solo no esterilizado. Em seguida, foi incubado por 48 horas para produo de osporos e zosporos de Pythium sp., utilizados nas inoculaes.

    Em 1986, o Dr. Renard tambm isolou um fungo do gnero Pythium e considerou que deveria ser dada prioridade ao estudo desse fungo.

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    Dessa forma, Silva (1989) realizou alguns testes preliminares e verificou que o desenvolvimento vegetativo de Pythium spp. muito maior em meio lquido do que em meio slido. Aps o crescimento micelial do fungo no meio lquido, foi utilizada a tcnica do choque trmico, colocando os frascos com fungo em geladeira ( 5 oC), por 20 minutos, para provocar a produo de osporos. Em testes preliminares, foram utilizados meios lquidos de cenoura-gua e palmito de dendezeiro-gua, obtendo excelente resultado em termos de crescimento. Fusarium foi cultivado em meios de farelo de trigo e farelo de arroz com bom resultado.

    Para Fusarium sp., cultivou-se o fungo em meio de farelo de trigo ligeiramente umedecido durante 15 dias, fazendo viragem diria do meio para revolver o fungo e faz-lo ocupar todos os espaos no frasco. Obteve-se, por esse mtodo, grande esporulao tipo macrocondios, que, aps calibragem do inculo, foi utilizada nos testes de patogenicidade.

    O basidiomiceto foi cultivado em meio gar-cenoura, no qual formou apenas miclio e, a seguir, foi repicado para uma camada muito fina de gar-gua, obtida dispensando-se 5 mL desse meio no fundo de erlemeyer de capacidade 100 mL. Com esse mtodo, obteve-se formao de basidiocarpos in vitro. O pleo dos basidiocarpos maduros foram retirados com auxlio de uma pina e fixados com vaselina estril. Aps a liberao dos esporos na gua, por meio de diluies sucessivas, conseguiu-se obter o inculo calibrado pela contagem em hemacitmetro de Newbauer.

    Posteriormente, foi instalado um novo teste de patogenicidade, desta vez utilizando-se o inculo calibrado. Nesses testes, foram inoculadas plantas de viveiro, com um ano de idade, e os fungos inoculados foram Fusarium sp., Pythium sp., Coprinus sp. e mistura dos trs fungos. O delineamento foi inteiramente casualizado, usando-se 15 plantas por tratamento com 5 tratamentos, incluindo testemunha. O mtodo de inoculao consistiu em se inocular 20 mL de suspenso de esporos no germinados na base das plantas e a concentrao de esporos foi de 2 x 104 esporos por mL para todos os fungos. Cinco plantas foram feridas na base das flechas com um estilete de ferro esterilizado antes da inoculao e cinco foram inoculadas sem ferimento. Mais cinco plantas, trs com ferimento e duas sem ferimento, foram deixadas como testemunha, sem receber inoculao.

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    Aps as inoculaes, as folhas centrais das plantas foram envolvidas com sacos plsticos previamente pulverizados com gua, de modo a manter uma cmara mida, deixadas durante 48 horas sombra de rvores no campo.

    Durante os trabalhos de isolamentos de fungos e bactrias de plantas doentes e inoculaes em plantas sadias, Silva (1989) observou que plantas em bom estado de nutrio e vigor, quando inoculadas, no apresentavam sintomas de AF. Todavia, plantas de viveiro que vinham recebendo inoculaes a cada 3 meses durante um ano e foram podadas, com a retirada de 70 % de suas folhas, apresentaram sintomas de AF 3 meses aps a poda. Entre os microorganismos testados, os mais suspeitos foram Fusarium sp., Pythium sp., Phytophthora sp., Erwinia sp., Pseudomonas sp. e nematides no-identificados. Entretanto, segundo o autor, os resultados no mostraram resposta satisfatria em termos de obteno da transmisso da doena. Os trabalhos de isolamentos mensais e inoculaes quinzenais foram realizados durante um ano sem lograr resultados satisfatrios.

    Tambm se fez inoculaes de fungos em dendezeiros sadios, isolados dos dendezeiros doentes, mas no apresentaram resultados positivos. O mesmo aconteceu em experimentos com transmisso mecnica por meio de corte das folhas jovens clorticas e da coluna da flecha dos dendedeiros doentes com sintomas iniciais, seguido de cortes de plantas sadias, cerca de 60 cm acima do pice. O tratamento da superfcie cortada com fungicidas no curou as palmeiras, muito embora tenha ocorrido, apenas temporariamente, o renascimento de folhas clorticas, mesmo sem aplicao de produtos qumicos.

    Os patgenos testados foram selecionados de acordo com as peculiaridades mais relacionadas aos sintomas, ou por estarem mais freqentes nos isolamentos realizados. Os trabalhos foram intensificados com esses fungos, procurando criar todas as condies adequadas para que estes pudessem ter chances de expressar sua patogenicidade. Os fungos mais freqentemente isolados de dendezeiros com AF foram os dos gneros Pythium e Fusarium. Isolados bacterianos e fngicos foram inoculados isoladamente e em misturas em plantas de viveiro e adultas, para teste em diferentes mtodos de inoculao:

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    Inoculao com suspenso de tecido de flechas e da zona meristemtica de plantas com AF.

    Inoculao de fungos e bactrias em plantas submetidas a estresses hdricos e fsicos.

    Enxertos de pedaos de rquis de plantas doentes em sadias.

    Uso de ferramenta de despalma, primeiro cortando as plantas doentes e, depois, as sadias.

    Van Slobbe (1988) realizou experimentos visando ao controle de um possvel fungo causador do AF, utilizando a injeo, por meio de pistola injetora, de trs solues fungicidas: Benomyl visando ao controle de Fusarium sp.; Metalaxyl + Folpet de Phytophthora sp.; e Fessetil + Alumnio, visando ao controle de fungos da famlia Pythiacea. Alm disso, foram testadas injees de solues de estreptomicina para controlar uma possvel bactria causadora do AF. Entretanto, nenhum desses tratamentos teve sucesso na indicao de um possvel patgeno. No foi apresentado nenhum resultado, tanto na preveno de palmeiras aparentemente sadias, quanto na reao da sintomatologia da doena, indicando que a patognese no pertence ao grupo dos fungos.

    A Denpasa tambm realizou alguns trabalhos visando identificao do agente causal, testando tratamentos com fungicidas, incluindo benomyl, ridomyl, aliette, vitamax, antibiticos (oxitetraciclina, estreptomicina e formalina) e inseticidas, o quais no propiciaram nenhum efeito curativo ou profiltico. Esses fungicidas foram aplicados em plantas sadias e com AF. Testou-se tambm a aplicao de becemil, um produto usado para tratamento animal, com efeito fungicida, bactericida e viricida.

    Segundo Bernardes (1999), de 11 amostras de razes de plantas sem sintomas de AF, oito apresentaram algum tipo de bactria, as quais no foram identificadas, uma com o fungo Geotrichum sp. e outra com o fungo Fusarium sp. De 12 amostras obtidas de plantas com AF, dez apresentaram Fusarium sp., duas com Geotrichum e nenhuma com bactria. O fungo Fusarium sp. tambm foi isolado da regio do colo de plantas com AF. As razes de plantas avaliadas com sintomas apresentavam-se necrosadas.

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    Martins (2001) e Furtado (2001) analisaram as mesmas dez amostras de razes de dendezeiros com e sem AF quanto sanidade vegetal e identificaram os fungos fitopatognicos Fusarium sp. e Ceratocystis sp. (atualmente chamado de Chalara sp.). Segundo Martins (2001), os fungos pertencentes ao gnero Ceratocystis so importantes agentes causais de murchas vasculares, cancros e seca de ramos em rvores. A espcie Ceratocystis fimbriata capaz de produzir etileno, que pode interferir no crescimento e desenvolvimento da planta. Algumas espcies de Ceratocystis so transportadas pelos vasos das plantas, quase exclusivamente via xilema, alm de terem a capacidade de produzir toxinas dentro da planta hospedeira. J no gnero Fusarium, existem vrias espcies patognicas causadoras de murchas e apodrecimento de razes. Martins (2001) ressalta que os fungos Fusarium e Ceratocystis colonizadores do sistema vascular induzem o aparecimento de sintomas semelhantes aos de deficincias nutricionais.

    Silva (1989), nas observaes do dia-a-dia no campo, durante os trabalhos de erradicao de plantas e testes de mtodos de controle, verificou que as reas onde havia maior ocorrncia de plantas com AF coincidiam com manchas de solo de caractersticas poucos desejveis para a agricultura, por serem ora excessivamente arenoso, compactos, outras vezes com afloramento de laterita, ou ainda sujeitas a alagamentos peridicos em decorrncia da m drenagem.

    Alguns pesquisadores tm observado uma correlao positiva entre a chuva e a incidncia da doena, mas no esclarece qual a causa ou o relacionamento associativo entre os dois. Tambm foi observado um aumento da incidncia em direo ao vento, entretanto, Bergamin et al. (1998) contesta essa observao aps avaliao epidemiolgica temporal do AF.

    Vrios pesquisadores isolaram fungos e bactrias patognicas provenientes de tecidos da parte area do dendezeiro, mas no obtiveram a reproduo da doena. Assim, faz-se necessrio observar microrganismos em tecidos que no tenham sido estudados, tais como razes e colo da planta, incluindo tecidos de plantas sadias. A observao da variabilidade de sintomas e evoluo do problema tem levado a acreditar que diferentes

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    doenas existem em diferentes pases. Assim, deve ser confirmado se suas diferenas so decorrentes somente das condies climticas ou da presena de diferentes patgenos.

    Alguns pesquisadores associam o AF pudricin del cogollo (PC) que ocorre na Colmbia. Entretanto, Ayala (2001), aps uma visita a plantaes no Par, discordou da semelhana, j que o PC causa podrido do meristema, o que no ocorre no Brasil. A mesma pesquisadora ressalta que o AF bastante diferente do PC problema que ocorre no Equador (mais agressivo) e na Colmbia , bem como destaca a estreita correlao da presena do patgeno com condies predisponentes do ambiente e da planta. Ayala (2001) tambm observou que todas as razes das amostras coletadas de plantas com AF apresentaram algum tipo de podrido, o que pode explicar os sintomas de amarelecimento e necroses na parte area.

    Na Colmbia, por meio do Postulado de Koch, provou-se que o PC causado pelo fungo Thielaviopsis paradoxa (NIETO,1996), hoje denominado Chalara paradoxa.

    Vrus e viridesCom os resultados negativos das inoculaes de bactrias e fungos em dendezeiros, levantou-se a hiptese de que vrus e virides poderiam estar associados ao AF, pois so relatados em coqueiros e tambm em palmceas. Para deteco desses em dendezeiros, testaram-se os mtodos de transmisso mecnica, microscopia eletrnica de transmisso e eletroforese bidimensional, envolvendo pesquisadores de instituies nacionais e internacionais.

    Os testes de transmisso foram feitos por meio de ferramentas cortantes introduzidas em plantas com AF e, posteriormente, em plantas sadias. Alm disso, foram feitos testes de extratos de palmas para palmas sadias, de palmas para plantas indicadoras de vrus e de razes, estipe e rquis de plantas com AF para plantas indicadoras de vrus. Entretanto, as transmisses mecnicas no tiveram sucesso aparente (TRINDADE et al., 2005).

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    Kitajima (1991) por meio da microscopia eletrnica de transmisso, foram observados tecidos ultrafinos de razes, folhas e flechas de plantas sadias e com AF, mas nenhum patgeno foi verificado. Entretanto, o autor salientou que vrus isomtricos pequenos e de baixa concentrao so de difcil observao. Tambm no foi observada a presena de fitoplasmas, espiroplasmas e fitomonas.

    Graas observao de disseminao ao longo do vento predominante, levantou-se a hiptese de o plen ser o possvel disseminador do possvel causador do AF. Assim, montou-se um ensaio de polinizao assistida durante 17 meses, utilizando plens de plantas infectadas e a polinizao de 89 plantas sem sintomas isoladas das doentes. Entretanto, no se obteve resultado.

    Lin (1990) analisou comparativamente o padro de protenas utilizando extratos de plantas com e sem AF por meio de eletroforese em gel de poliacrilamida e verificou a presena de dez bandas de protenas com peso molecular que variaram de 31 kDa a 91 kDa, mas ambas no revelaram nenhuma diferena qualitativa aparente.

    Lin (1989) avaliou amostras com e sem AF por meio de um protocolo de purificao viral, a partir de folhas de dendezeiros, at chegar etapa de gradiente de sacarose, que foi analisada no fracionador de gradiente de densidade modelo ISCO 640, acoplado no detector de absorbncia modelo ISCO UA-5, com filtro 254 nm. A anlise indicou a presena de macromolculas com coeficientes maiores que os observados em amostras sem AF. Em 1990, Lin tentou repetir sem sucesso o resultado obtido anteriormente.

    A avaliao da presena de virides em plantas foi feita pelos pesquisadores Singh, Simone Ribeiro, Andr Dusi e Antnio vila, utilizando o protocolo de Singh, modificado na Embrapa Hortalias, em Braslia, DF. Foram coletadas cerca de 130 amostras de folhas e razes, submetidas anlise de eletroforese. Eles detectaram a presena de cidos nuclicos patognicos, indicando que um organismo do tipo vrus ou virides poderia estar associado ao AF. Ocorre que, nas ltimas 70 anlises, os resultados no foram satisfatrios, indicando haver pouca possibilidade de

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    se tratar de um organismo do tipo virides. Outro fato que concorre para enfraquecer a hiptese de haver um organismo do tipo viride que no houve transmisso do AF por meio de ferramentas, o que, na prtica, seria o meio mais eficiente de transmisso desse tipo de agente patognico. Nos estudos de eletroforese realizados, utilizaram-se como controle sadio amostras coletadas na rea do Rio Urubu, AM, onde no ocorre a doena. Testaram-se oito mtodos de extrao de cido nuclico e, a princpio, verificou-se a presena de maior quantidade de RNA de fita dupla do tipo viride em amostras doentes, quando comparado com as sadias, mas no chegaram a uma concluso para o fato (SINGH et al., 1988). Ribeiro (1990), aps vrias repeties com plantas de dend com e sem sintomas provenientes da Denpasa, observou dados inconsistentes, pois verificou de duas a quatro bandas tpicas em plantas sadias e no em doentes e vice-versa. Bandas idnticas foram observadas em plantas de dend do Rio Urub, local onde o AF no ocorre. Em 1984, Dollet, estudando 12 amostras de folhas de dendezeiro, verificou uma banda fraca de cido nuclico por meio da eletroforese bi-direcional (VAN SLOBBE, 1991).

    Segundo Reisner e Beuther (1989), os RNAs de fita dupla (dsRNA) encontrados nas amostras podem ser uma indicao de infeco viral. Os autores destacam que, embora no se possa excluir definitivamente essa hiptese, a ocorrncia de virides em dendezeiros pouco provvel.

    Em novas anlises para avaliar a ocorrncia de virides, Beuther et al. (1992) realizaram testes de hibridizao molecular utilizando sondas contra coconut cadang-cadang viroid (CCCVd), potato spindle tuber viroid (PSTVd) e citrus dwarfing (CdVd1). CCCVd j foi relatado infectando dendezeiro. Entretanto, no se obteve sucesso na deteco de virides em amostras de dendezeiro com AF. Tem-se detectado dsRNA tanto em amostras doentes como sem sintomas. Mais de 15 espcies de dsRNA tm sido observadas com tamanho entre 400 e 4.000 pares de bases nesses dendezeiros. Esses autores relatam a pouca probabilidade de o AF ser causado por vrus ou virides.

    Amostras de dendezeiros com AF foram enviadas a vrios pesquisadores envolvidos em estudos com vrus e virides, como os professores F. Nienhaus, da Universidade de Bonn, na Alemanha; Riesner, Heinrich Heine,

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    Universidade de Dusseldorf, Alemanha; Kastelein e De Leeuw, da Holanda, que realizou estudos histopatolgicos do floema e xilema; M. T. Lin, da Bioplanta do Brasil, que realizou estudos sorolgicos; E. W. Kitajima, da Universidade Federal de Braslia, e Dollet (IRHO), que realizaram anlises de microscopia eletrnica. Seus estudos no evidenciaram a associao de vrus ou virides com o AF.

    NematidesSegundo Silva (1996), suspeitou-se do envolvimento de fitonematides com o AF em virtude de uma srie de observaes, como a ocorrncia de AF em reas onde se observaram, inicialmente, plantas com sintomas de anel-vermelho (AV), causado por Bursaphelenchus cocophilus, e a ocorrncia de nematides no identificados em tecidos de plantas com a doena, junto a reas necrosadas das rquis da flecha ou das folhas mais novas, centrais, amarelecidas e/ou com ressecamento progressivo, em cultivos da Denpasa. O autor, ao final das observaes, conclui que no foram encontradas formas efetivamente fitoparasitas de nematides que pudessem causar diretamente o AF, como causa primria (Tabela 2).

    Analisando solos e plantaes de dend, Ferraz (2001) observou o nematide Bursaphelenchus cocophilus em baixa populao na parte area da planta. Entretanto, esse nematide no foi observado em tecidos necrosados do rquis da flecha ou das folhas mais novas, centrais e amareladas e/ou com secamento progressivo. Nos solos e razes de plantas aps a remisso das folhas, observou-se Helicotylenchus spp. e Scutellonema apenas no solo. Em plantas com sintomas iniciais, verificou-se a presena de Helicotylenchus sp. e nematides predadores em altos nveis populacionais. O mesmo autor afirma no ter encontrado formas efetivamente parasitas que pudessem estar causando o mal, no sendo o nematide a causa primria do AF, mas no foram realizados testes de inoculao com os mesmos em dendezeiros.

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    Tabela 2. Espcies de nematides identificados em amostras de solo e razes de dendezeiro com AF.

    NematidesRhadinphelenchus cocophilus Hemicicliphora poranga Paratrichodorus sp.Xiphinema yaporense Tylenchorhynchus

    crassicaudatusDorylaimellus sp.

    Xiphinema brasiliensis Basirotyleptus sp. Tylenchus sp.Aorolaimus sp. Bursaphelenchus sp. Criconemella sp.Hoplolaimus sp. Meloidogyne spp. Scutellonema sp.

    A identificao foi realizada pelos pesquisadores Dr. I. L. Renard (IRHO) e L. C. C. B. Ferraz

    (Esalq).

    Observaes de sintoma e histologiaSegundo Kastelein et al. (1990), plantas com AF no tm radicelas, ao contrrio de plantas aparentemente sadias. Tecidos de folhas, regio apical de meristemas e radicelas de plantas sadias e com AF foram examinadas pelo microscpio de luz. Fungos e bactrias foram, freqentemente, mas nem sempre, observados em leses necrticas nas folhas. Entretanto, no foram observados fora das leses ou em tecidos vasculares das plantas com AF ou em tecidos de plantas aparentemente sadias. Observaram-se tiloses, freqentemente, obstruindo vasos do xilema das folhas afetadas. Em um dendezeiro doente no Equador, observaram-se clulas hipertrficas na camada epidrmica dos fololos de uma folha flecha com leses encharcadas.

    De acordo com Van Slobbe (1991), palmeiras afetadas pelo AF no tm as pontas de razes brancas. Embora as razes primrias exibam a aparncia sadia, mesmo aps a dissecao, elas so completamente lignificadas e de colorao marrom a preta para muitas pontas. Razes secundrias e muitas tercirias so completamente lignificadas tambm, sendo reduzido o volume das tercirias e, especialmente, das secundrias. No incio da doena, entretanto, muitas razes quaternrias so brancas. Segundo Kastelein et al. (1990), na regio apical do meristema e razes das plantas doentes, foram detectadas somente poucas clulas meristemticas. Nenhum sinal de necroses ou apodrecimento pode ser detectado. Van Slobbe (1991) relata que, possivelmente, este seja o primeiro sintoma do

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    AF, mesmo aparentemente sadias na parte area. A ausncia de pontas de razes brancas no incio do AF em palmas sugere que o crescimento das razes tenha sido reduzido grandemente ou talvez interrompido completamente. Conseqentemente, a absoro de nutrientes e gua pode ser reduzida consideravelmente. A emisso de pequeno nmero de folhas ocorre, possivelmente, graas reserva da planta.

    EpidemiologiaEm virtude da complexidade da doena, Bergamin et al. (1998) e Laranjeira et al. (1998) realizaram testes epidemilgicos com a finalidade de verificar se o crescimento do AF no campo era de natureza linear ou exponencial, de uma doena infecciosa ou no-infecciosa, o que poderia indicar a sua causa.

    Laranjeira et al. (1998), por meio do estudo do progresso espacial do AF numa lavoura no Municpio de Benevides, PA, a partir de dados fornecidos pela Denpasa, concluram que o AF de natureza abitica, pois verificaram que no houve um padro definido, tanto para o aparecimento quanto para o crescimento de focos. Alm disso, no verificaram uma direo preferencial de disseminao e observaram uma tendncia de plantas sintomticas se concentrarem s margens dos riachos. Bergamim et al. (1998), tambm a partir de dados fornecidos pela Denpasa, obtiveram a mesma concluso aps a anlise temporal do AF em lavouras no Municpio de Benevides, PA, pois o progresso mensal do AF foi linear entre os anos de 1985 e 1992, como acontece com problemas abiticos de outras plantas perenes, alm de terem sido observadas curvas anuais com taxa mais-que-exponencial entre os anos de 1992 a 1997, o que no observado por nenhuma doena bitica.

    Bergamin et al. (1995) sugeriu que o AF poderia ser causado por estresse provocado por fatores como pouca ou muita gua, alta ou baixa temperatura, alto contedo de sais solveis no solo, pH do solo inadequado ao dendezeiro, deficincias ou excessos nutricionais, presena de compostos orgnicos txicos e intensidade e equilbrio de nutrientes (INB). O mesmo autor compara o AF com declnio do citros, causado pelo INB associado ao excesso e deficincia de gua, e sugeriu estudos visando a fatores abiticos para explicar a causa do AF.

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    Entretanto, segundo Van de Lande e Zadocks (1999), aps avaliao epidemiolgica espacial de dendezeiros com sintomas semelhantes ao do AF no Suriname, concluram que a doena era causada por algum fitopatgeno e disseminado pelo vento.

    Van Slobbe (1991) observou que as maiores percentagens de plantas afetadas pelo AF ocorriam nos perodos mais chuvosos.

    Ao longo dos anos, o AF foi se disseminando pelos talhes de plantio da Denpasa. Em 1985, eliminou-se uma quadra, em 1986, outra quadra e, em 1990, j havia inmeras quadras eliminadas pelo AF. No entanto, observou-se a disseminao no sentido do vento prevalecente (Sul-Oeste). O plantio de 1979 (IRHO) teve uma taxa de plantas doentes menor que do plantio de 1983. Hoje, existem vrias plantas do plantio de 1979, provavelmente com potencial de resistncia ao AF, j que estiveram expostas doena por quase 30 anos.

    ReplantioSegundo Van Slobbe (1988), parte area de plantas de dend com AF foram eliminadas com o objetivo de diminuir a fonte de inculo de um possvel patgeno e, posteriormente, foram replantadas mudas sadias no mesmo local. Entretanto, aps cerca de 8 meses, as novas plantas manifestaram os sintomas de AF mostrando a inviabilidade do replantio na rea onde foi detectada, comprometendo de forma significativa a cultura do dend. Esse fato foi observado tambm em outros plantios, alm dos localizados em Benevides, PA.

    RouguingSegundo Van Slobbe (1991), com o objetivo de eliminar ou diminuir a disseminao da doena no plantio, plantas com AF foram eliminadas. Entretanto, observou-se um aumento da incidncia da doena com o tempo. Foi feita a eliminao de plantas em V a partir da planta com AF ao longo do vento, com o objetivo de conter a doena, j que o autor observou que o AF se disseminava a partir do foco sob influncia do vento. Tambm no foi observado resultado.

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    Transmissibilidade pela sementeVan Slobbe (1990) levantou a hiptese de o AF ser transmitido pela semente proveniente de plantas doentes, pois observou na Diviso I (abandonada) da Denpasa muitas plantas que germinaram espontaneamente, mas muitas delas, j com mais de um metro de altura, apresentavam sintomas da doena. Assim, coletaram-se milhares de sementes de 32 plantas de dend com 6 e 20 anos de idade com AF. O autor misturou as sementes e semeou para proceder germinao. Aps 19 meses da geminao, as plantas no exibiram sintomas de AF. Os resultados sugeriram que um possvel patgeno causador do AF no seja transmitido pela semente.

    Estudos visando a uma possvel causa abiticaSolo e nutrioVan Slobbe (1988) relata que o PC e o AF so doenas e no um distrbio funcional. Segundo o autor, os tipos de solo, nos vrios locais onde o problema existe, so totalmente diferentes: na rea de Santo Domingo, no Equador, os solos so vulcnicos jovens; na Bajo Calima e La Arenosa, na Colmbia, so aluviais e pesados, e no Suriname e no Brasil, so laterticos e arenosos. O pH desses solos varia de 4 a 7, enquanto a pluviosidade anual est cerca de 1.600 mm na Codepa (Amap, Brasil) e cerca de 6.000 mm na Bajo Calima (Colmbia). Em algumas localidades onde ocorre o AF, o dend a primeira cultura aps a derrubada da floresta. Entre elas, esto a Denpasa e o projeto piloto Socfinco, no Amazonas, Brasil; o Shushufindi e o Palmoriente, no Equador; Victria, Phedra e Patamaca, no Suriname, e El Castilho, na Nicargua. Em outros locais, a primeira cultura foi a da banana, como o caso da plantao em Santo Domingo, no Equador; Sixaola, na Costa Rica; Cukra Hill, na Colmbia, e de pinus na Codepa, no Par, Brasil.

    O AF foi relatado em reas cujos solos eram constitudos de manchas de areia quartzosa intercaladas com manchas de concrees laterticas no Par e, na Denpasa, onde ocorreu o AF, a rea era de vrzea alta, sujeita inundao por perodos prolongados de 5 a 6 meses por ano (VAN SLOBBE, 1991).

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    Hartley (1968), em relatrio de viajem de consultoria tcnica s plantaes de dend do Par, afirmou que cerca de 60 % dos solos da propriedade ex-SPVEA e ex-Sudam, hoje da Denpasa, deveriam ser evitados em razo das caractersticas edficas inadequadas ao cultivo da palmeira, alm de a distribuio de chuvas ser concentrada nos 5 primeiros meses do ano, baixando para nveis pouco recomendveis nos meses de julho a novembro. No Amazonas, uma grande plantao foi projetada e iniciada em 1984, no Municpio de Tef, pelo governo daquele estado, baseado no sistema Felda, da Malsia. Foram plantados 1.400 ha em uma rea de vrzea alta do Rio Tef, sujeita inundao por um perodo prolongado de 5 a 6 meses dezembro a maio , alternado com um perodo de estiagem de agosto a novembro, em que o solo resseca, chegando a rachar superficialmente (ALVARES-AFONSO et al., 1991). Aps um perodo de abandono da cultura, foi feita a limpeza e poda severa das folhas do dendezal, em virtude da invaso de leguminosa trepadeira (puerria), e em menos de 1 ano houve um aumento de 36 para 1.950 plantas com AF na Diviso I do projeto (ALVARES-AFONSO, 1990).

    Avaliao foliarVigas et al.(2000) realizaram um estudo sobre a concentrao dos nutrientes Cu, Fe, Mn e Zn nas folhas 1 (F1), 9 (F9) e 17 (F17) em dendezeiros Tenera sadios e com AF e o hbrido resistente Elaeis oleifera x E. guineenses) na rea da Denpasa, onde foram selecionadas quatro plantas por tratamento. Com relao a Cu, verificaram que tanto as plantas de Tenera, nos diferentes tipos de folhas doentes, quanto as sadias tiveram a concentrao abaixo da faixa ideal, apresentando as plantas com AF concentraes menores que as sadias. Plantas do hbrido tiveram concentraes adequadas (5 mg/kg a 8 mg/kg). Para Fe, observou-se na folha 1 teor de ferro acima do nvel crtico (NC) somente no hbrido, sendo o nvel em sadias e com AF semelhante. Na F9 e F17, todas as plantas tiveram suas concentraes acima do NC (50 mg/kg). Segundo os autores, o fato de a concentrao ter sido, em plantas com AF, bem superior das demais, pode-se conjecturar da relao da toxidez de Fe com o aparecimento do AF. Para Mn, observou-se tambm a concentrao acima de NC para todas as folhas sadias, com AF e hbridos, com exceo

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    da planta com AF na F1. Na F17, verificou-se que a concentrao estava abaixo que das demais. Para Zn, verificaram que todas as trs folhas de plantas com AF apresentaram concentraes abaixo da faixa adequada em todas as folhas, enquanto folhas de plantas sadias e de hbridos tiveram a concentrao dentro da faixa adequada. Viegas et al. (2000), com base nos dados do ensaio, sugeriram que os micronutrientes Cu, Zn, Mn, e Zn sejam responsveis pelo aparecimento do amarelecimento fatal do dendezeiro e relataram a necessidade de aprofundar a pesquisa sobre a interao entre os nutrientes e o amarelecimento fatal (Tabela 3).

    Tabela 3. Concentrao de nutrientes em diferentes folhas de plantas de dend dos tipos Hbrido e Tenera.

    Tipos Folha 1 Folha 9 Folha 17Cu Fe Mn Zn Cu Fe Mn Zn Cu Fe Mn Zn

    Hbrido 9 46,6 59,6 18,6 5,7 65,3 90,3 14,0 5,2 70,0 152,3 11,0Tenera 4,6 37,3 46,3 16,3 4,1 64,6 135,5 15,3 4,1 61,0 177,5 13,6

    Fonte: Vigas et al. (2000)

    Evoluo de sintomas do AF a adubaes com omisso de macro e micronutrientesCom o objetivo de comparar os efeitos da adubao com e sem omisso de nutrientes sobre a evoluo dos sintomas do AF do dendezeiro, foi realizado um ensaio na plantao de dendezeiro Tenera (IRHO), de 4 anos de idade, da Denpasa, no Municpio de Santa Brbara, PA, em solo caracterizado como latossolo amarelo, textura mdia e clima do tipo Af, segundo classificao de Kppen (SILVEIRA et al., 2000).

    O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado, com duas repeties, em uma rea de 40 ha. As parcelas foram escolhidas ao acaso, sendo a escolha orientada pelo controle de identificao fitossanitrio da empresa, que avaliou a evoluo espao-temporal do AF. Cada parcela foi composta, inicialmente, por nove plantas, em diferentes estdios de evoluo do AF, totalizando 252 plantas em todo o ensaio. Foram avaliados 14 tratamentos formados pelo modelo elementos faltantes (nitrognio, fsforo, potssio, clcio, magnsio, enxofre, boro, ferro, mangans, cobre, zinco e molibdnio) e com base em um tratamento de adubao

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    completa, que teve todos os elementos essenciais nutrio das palmeiras. Um tratamento testemunha zero (sem adubao) foi implementado paralelamente como parmetro comparativo. Foram aplicados 5 litros da adubao foliar por planta por meio de um pulverizador costal de vara longa, sem bico, com pulverizao prximas folha flecha.

    A evoluo dos sintomas foi avaliada mensalmente, durante 34 meses, com base em um sistema de notas de zero (0) a dez (10), de acordo com Souza et al. (1999), em que zero indica uma planta aparentemente sadia e dez, uma aparentemente morta (podendo ocorrer remisso).

    Os autores observaram uma tendncia de recuperao das plantas nos tratamentos com omisso de macronutrientes, semelhante ao tratamento de adubao completa, com exceo de Ca e S, em que houve uma certa estabilidade dos sintomas. A omisso de micronutrientes evoluiu para um aumento quase generalizado dos sintomas do AF, exceto para zinco. Houve uma evoluo pronunciada na omisso de B e Cu, na qual o Cu se destacou mais. No tratamento com formulao completa, observou-se uma tendncia de recuperao das plantas com AF. Sugeriu-se a adubao foliar das plantas com formulao completa, com exceo do N e P, para a rea estudada.

    Influncia do micronutriente ferroVigas et al. (2000) cogitaram a possibilidade de o AF ser causado pelo desequilbrio fisiolgico provocado pela falta ou excesso de nutrientes ou pela interao negativa entre os mesmos, podendo ser ocasionada pela falta de oxignio no solo. O encharcamento temporrio, decorrente da presena de uma camada compactada, que ocorre entre 20 cm e 50 cm, pode permitir a anoxia em perodos determinados, o que provavelmente transforma o Fe por oxidao, ou mesmo fortemente absorvido, tornando-se indisponvel para as plantas. Assim, com base nos resultados obtidos por Vigas et al. (2000), nos quais foram observados teores de Fe mais elevados nas folhas 1, 9 e 17, quando comparado com o Tenera com AF, os autores executaram um ensaio em um plantio de dend Tenera de 4 anos, no qual o solo um latossolo amarelo de textura mdia, com caractersticas cidas, pobre de bases trocveis e com baixo teor de fsforo assimilvel. Segundo os autores, a deficincia

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    de Fe pode ocorrer nas seguintes condies: a) em solos com baixo teor de Fe total; b) com altas concentraes de P, Ca, Mg, Cu, Mn e Zn; c) pH elevado; d) pH baixo acmulo de Mn+2 no solo inibe a absoro de Fe-; e) deficincia de K; f) variao gentica. Altos nveis de P no substrato podem insolublizar o Fe no solo e precipit-lo na superfcie das razes, nos espaos intercelulares e no xilema, causando o aparecimento de sintomas de deficincia de ferro. O delineamento utilizado foi o de blocos ao acaso com quatro repeties, perfazendo um total de 32 plantas. Cada unidade experimental foi representada por uma planta. Os tratamentos utilizados foram os com e sem sulfato ferroso em plantas sem e com AF (notas 0, 3, 5 e 8 de severidade). A soluo de sulfato ferroso na dosagem de 50 mL por palmeira foi aplicada, acondicionada em saco plstico e aplicada na raiz primria, com base na metodologia de Mariau e Genty (1992). A raiz foi cortada perpendicularmente ao eixo, de modo que no perfurou a bolsa ou saco plstico com a soluo. Os efeitos dos tratamentos foram avaliados mensalmente, por meio da observao da reduo ou evoluo dos sintomas do AF nas folhas, bem como os teores de nutrientes nas folhas, principalmente o micronutriente Fe. Aps 120 dias, observou-se que no houve nenhuma reduo de sintomas nas plantas tratadas com sulfato ferroso. Algumas repeties, de plantas que receberam ou no a soluo, no apresentaram evoluo do AF, o que pode ser explicado pela variabilidade gentica de dendezeiros.

    Influncia das propriedades fsicas do soloUma das hipteses da causa do AF so as propriedades fsico-qumicas do solo em reas de ocorrncia da doena. Diante disso, Baena (1999) selecionou trs plantas em trs reas na Denpasa, em funo do estado da planta, estabelecendo as seguinte notas:

    AF nota 0 isenta de AF parcela B3B, linha 90, planta 4, plantio de 1997.

    AF nota 3 ocorrncia mdia de AF parcela 108B, linha 43, planta 4, plantio de 1988.

    AF nota 9 grande ocorrncia de AF parcela 108B, linha 17, planta 24, plantio de 1988.

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    Em cada local, foi aberto um perfil de trincheira e, nas profundidades de 30 cm, 60 cm, 90 cm e 120 cm, foram coletadas amostras deformadas para determinar a granulometria e trs amostras indeformadas, em anis volumtricos de 100 cc, para determinar a densidade aparente; as porosidades totais, macro e micro; a capacidade de campo; o ponto de murcha e a capacidade de armazenar gua disponvel.

    Os solos da rea da Denpasa so, predominantemente, o latossolo amarelo textura mdia, na maioria das vezes, poucos mosqueados na profundidade de 30 cm a 40 cm, o que indica impedimento de drenagem.

    Os valores mdios da granulometria foram semelhantes entre as profundidades dos locais estudados, com destaque para o teor de argila, o que indica serem os solos da mesma classe textural.

    Os valores de densidade aparente foram mais elevados no AF0, indicando ser este local mais compactado que outros. A porosidade total mais baixa no AF0, em conseqncia de sua maior densidade. A microporosidade apresentou valores semelhantes entre locais. A macroporosidade apresentou-se mais elevada na profundidade 30 cm do local AF3.

    Os baixos valores das capacidades de campo e de armazenar gua disponvel, bem como os relativamente altos do ponto de murcha, indicaram que basta um pequeno perodo sem chuva para se estabelecer condio de deficincia hdrica s plantas. Essa situao sugere a necessidade de se determinar a condio da gua no solo, usando-se sonda de nutrons, em dias alternados, no perodo mnimo de um ano (BAENA, 1999).

    Silveira et al. (1999 ), com o objetivo de determinar se as propriedades fsicas e qumicas do solo podem contribuir com a ocorrncia do AF, instalaram um experimento em reas onde ocorre a doena. Para estudar a influncia das propriedades fsico-hdricas dos solos, foram abertos e descritos morfologicamente 19 perfis pedolgicos distribudos em diversas parcelas, s proximidades de plantas sadias e doentes. Nesses perfis, foram coletadas amostras de solo deformadas para anlise qumica de macro e de micronutrientes, anlises granulomtricas (fraes: areia, silte e argila), densidade global e real. Por outro lado, foram coletadas amostras

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    indeformadas em oito perfis, para determinao de reteno de gua e de micro e macroporosidade e porosidade total do solo, totalizando, aproximadamente, 120 amostras deformadas e 48 indeformadas. Foram tambm coletadas amostras de fololos de dendezeiros sadios e com AF em parcelas nas quais foram abertos os perfis pedolgicos com a finalidade de se verificar o estado nutricional dessas palmeiras. Essas amostras foram analisadas na Embrapa Amaznia Oriental, para determinao dos teores de macro e micronutrientes.

    Os solos analisados foram caracterizados como latossolo amarelo textura mdia, naturalmente bem drenados e profundos. Ficou evidenciada a presena de um adensamento ou compactao entre as profundidades de 30 cm e 60 cm, assim como a ocorrncia de mosqueados na transio do horizonte A para o horizonte B (30 cm a 60 cm de profundidade), nas parcelas B2A, B3B, 64C, 97B, mostrando a saturao do solo na camada superficial, no perodo de maior precipitao pluviomtrica do ano.

    A saturao do solo com gua, nesse perodo, acarreta a deficincia de oxignio, na camada superficial do solo, sendo prejudicial ao dendezeiro por ser planta com dominncia do sistema radicular distribudo horizontalmente prximo superfcie do solo.

    A anlise e interpretao de resultados obtidos referente s propriedades fsicas de solos cultivados com dend nas reas de ocorrncia do AF revelaram a ocorrncia de uma camada mais adensada (compactada), principalmente nos horizontes AB e BA, evidenciada pelos valores mais altos de densidade aparente. Esse fato ocasiona uma diminuio da macroporosidade, provocando a saturao das camadas superficiais do solo, no perodo de maior precipitao pluviomtrica. A saturao do solo com gua durante esse perodo pode acarretar uma deficincia de oxignio ao sistema radicular das plantas, ocasionando como conseqncia o apodrecimento de razes. Esse fato pode induzir ao aparecimento de algum tipo de sintomas areos na forma de amarelecimento.

    Os valores de densidade variando de 1,365 kg/m a 1619 kg/m prejudicam o desenvolvimento normal do sistema radicular, em virtude da dificuldade das razes em romper essa camada mais compactada segundo Donahue et

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    al. (1983). Essa compactao pode ser resultante do emprego de mquinas e implementos pesados na preparao do solo e manejo da cultura. A porosidade total nesses solos considerada de baixa porosidade. Quanto s condies de aerao, estas podem ser consideradas como mdias a altas. No entanto, deve ser ressaltado que, durante o perodo chuvoso, as condies de aerao so diminudas do solo.

    A reduo da infiltrao da gua nesses solos pela compactao pode ser provocada pelo uso de veculos e mquinas do solo.

    Os resultados obtidos nesse estudo, segundo o autor, no permitiram estabelecer uma relao com o AF, embora teoricamente existam probabilidades de que essa hiptese seja aceita. O autor sugere a continuidade dos estudos referentes aos efeitos das propriedades fsicas do solo.

    Bernardes (2001) verificou, at ento, que o estado do sistema radicular das plantas tinha sido pouco estudado e isso o motivou a realizar estudos das caractersticas do solo e sistema radicular.

    Bernardes (2001) analisou reas de plantio da Denpasa quanto fertilidade, nutrio foliar e compactao do solo. Na parcela 76d com alta incidncia de AF, verificou-se altos teores de nutrientes na folha, principalmente fsforo, potssio, enxofre, clcio e magnsio, apontando como indicador a improbabilidade da causa do AF ter origem na deficincia ou desequilbrio nutricional, embora as demais parcelas vizinhas tenham tido os mesmos tratos culturais. Observou-se a inexistncia de um gradiente claro dos sintomas, na planta ou no terreno, gradiente este tpico de deficincias nutricionais ou de toxidade.

    Quanto ao solo, verificaram-se indcios de que o pH decresce e os teores relativos de alumnio (m%) aumentam com o tempo. Ressaltou-se a baixssima saturao de bases (V%) e o baixo teor de Mg em todas as amostras. A proporo entre Ca e Mg, com valores desejveis na faixa de 2,8 a 33, tambm foi bastante desequilibrada, apresentando valores entre 3 e 12.

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    Em um ensaio, foram coletadas amostras de solo, em diversas parcelas, comparando-se, individualmente, o solo em torno de plantas sadias e com AF. Tambm foram coletadas amostras de razes para anlise qumica e do peso seco. Na parcela D4a, plantio 1992, analisando duas sem sintomas, duas com sintomas nota 8 e duas com sintomas nota dois, verificou-se uma tendncia de as plantas mais doentes estarem localizadas em solos com maior saturao de alumnio, menor saturao de bases e maior teor de mangans. A anlise qumica de razes e radicelas de plantas sem e com sintomas de AF na parte area mostrou uma leve tendncia de ocorrer maior teor de alumnio e ferro nos tecidos de plantas com AF. Entretanto, verificou-se o inverso em alguns casos o que pode ser explicado pelo fato de plantas sem AF j estarem com sistema radicular danificado. O autor ressaltou que pouco provvel que os altos teores de alumnio e ferro, encontrados nas razes e radicelas dos dendezeiros da Denpasa, sejam os causadores do mal, pois razes de dendezeiros plantados na Esalq em terra roxa tambm possuem condies semelhantes.

    Com relao a gua no solo e drenagem, o potencial de gua no solo (fora com que a gua retida no solo), medido por tensimetro, observou-se no ms de maro valores de baixa aerao, sendo os valores entre 0 bar e 0,075 bar indicadores de baixa aerao para a planta e, entre 0,075 bar e 0,30 bar, mais adequados para a planta. Bernardes (2001) ressalta que plantas mantidas a baixa aerao podem favorecer a incidncia de molstias de raiz e, alm disso, esta uma situao que desfavorece o efeito corretivo de aplicaes do solo com calcrio e gesso.

    Quanto ao peso seco das razes, obtido de bloco de solo de 40 cm x 20 cm x 20 cm = 16 dm3, verificou-se uma quantidade inferior (8,1g) quela esperada pela dimenso da parte area, comparando-se com as plantas sem AF (16 g).

    Diante do quadro avaliado, Bernardes (2001) no chegou a alguma concluso, levantou algumas hipteses e postulou que a causa primria do AF est na danificao do sistema radicular das plantas e que os danos podem ser de origem qumica, fsica, biolgica ou da combinao destas, sendo todas predisponentes ao aparecimento do AF. No caso de origem qumica, levantou as hipteses de deficincia de algum elemento

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    favorecido pela anaerobiose do solo como o nitrito. A drenagem deficiente tambm poderia reduzir a nitrificao do nitrognio orgnico do solo, causando deficincia de nitrognio, cujos sintomas mais comuns so amarelecimento das folhas. Em suas anlises realizadas a partir de tecidos das plantas (razes e folhas), Bernardes (2001) no conseguiu demonstrar a associao evidente entre alguma desordem nutricional e o AF. Alm disso, afirmou que h indcios de que o AF aparece mais intensamente no final do perodo chuvoso, na Denpasa. Quanto origem biolgica, o autor especula que se deve tratar de fungos apodrecedores de razes. Segundo o autor, os sintomas apareceram em reboleiras em dendezeiros e, quando a planta com AF replantada em outro local, o processo de agravamento da doena continua. No momento que os sintomas aparecem pelo amarelecimento da folha flecha, o sistema radicular j est bastante prejudicado, o que inviabiliza qualquer tentativa de controle via adubao do solo. Alm disso, isso tambm inviabiliza a eliminao da parte area de uma planta com o objetivo de reduzir a evoluo espacial do AF, porque a sua fonte de propagao pode estar na raiz da planta afetada.

    Bernardes (2001) ressaltou que a compactao da camada superficial dos solos da empresa Palmas aparentemente maior que os da Denpasa, pelo menos nas entrelinhas em que ocorre o trnsito de mquinas, e no ocorre AF naquela rea. Assim, a compactao do solo, isoladamente, no poderia ser associada ao AF. O mesmo autor associa o insucesso das erradicaes (apenas corte da parte area) de plantas com AF com objetivo de eliminar uma possvel fonte de inculo de fitopatgeno com o fato de este poder ser habitante do solo. Ele, ento, sugeriu que o fato de o sistema radicular j estar bastante danificado no incio do aparecimento radicular pode explicar a falta de resposta das plantas s aplicaes de nutrientes via solo.

    Rodrigues et al. (1999, 2000) tambm relataram camadas compactadas que podem ter levado ao esgotamento de oxignio temporariamente, durante o perodo de maior precipitao pluviomtrica, e sugeriram o uso de subsolagem profunda, a eliminao de plantas como a puerria, para permitir a evapotranspirao e a realizao de uma rede de drenagem para remover o excesso de gua.

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    Efeito da aplicao do calcrio dolomtico sobre o AFFoi montado um experimento em casa-de-vegetao da Embrapa Amaznia Oriental, com o objetivo de avaliar a relao entre a acidez do solo causada pelo alumnio e o aparecimento do amarelecimento fatal do dendezeiro. A necessidade de calcrio (NC) foi calculada pelo mtodo de saturao por bases, segundo a frmula NC = (V2-V1)T/100 onde T = S + H + A; S = Ca + Mg + K + e V = 100S/T. Foram testados os seguintes tratamentos: T1 0 % (saturao por base inicial do solo); T2 20 % de saturao por bases; T3 40 % de saturao por bases; T4 60 % de saturao por bases e T5 80 % de saturao por bases.

    O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso com seis repeties. Como substrato, utilizou-se material coletado da camada de 30 cm de profundidade de um latossolo amarelo de uma antiga quadra da Denpasa, onde todas plantas de dend foram dizimadas pelo amarelecimento fatal. A avaliao foi feita 7 meses aps o plantio de mudas referentes altura das plantas, circunferncia do coleto e nmero de folhas em funo dos tratamentos. Verificou-se que as plantas apresentaram bom desenvolvimento vegetativo. Apenas uma planta do tratamento com 40 % de saturao apresentou-se com leve suspeita de AF, mostrando amarelecimento dos fololos com necrose inicial nas extremidades, mas no teve diagnstico preciso.

    Os resultados no ofereceram sobre aspectos nutricionais nenhuma indicao de uma possvel relao entre o efeito dos nutrientes e o aparecimento do AF. Os autores sugeriram que novos estudos desse tipo fossem realizados para chegar a uma concluso definitiva.

    Resistncia

    ClonesSegundo Teixeira (1996), o dendezeiro uma planta de fecundao cruzada, cujo melhoramento demora de 10 a 15 anos para a avaliao de um cruzamento de Dura x Pisfera. H uma distribuio aproximadamente normal em termos de produo de frutos por planta entre as populaes de Tenera, que varia entre 21 kg a 77 kg, correspondendo de 3 a 11

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    toneladas de leo por ano. A produo de clones a partir de plantas com caractersticas agronmicas ideais levaria a uma maior produo de leo por hectare. Alm disso, a clonagem permitiria a manuteno do jardim clonal de diversas matrizes, dentre elas as de Dura e Pisfera para produo de sementes superiores.

    Teixeira (1996) aponta que h vrios trabalhos relatados referentes metodologia de cultura de tecidos de dend, entretanto, comercialmente, h somente clones desenvolvidos e patenteados por uma empresa francesa. Em vrios trabalhos, obtiveram-se plantas clones com anormalidades, tais como: inflorescncia andrgina, frutos do tipo Mantled e partenocrpicos. Comparando clones e cruzamentos, observaram-se maior homogeneidade dentro dos clones e o aumento de 14 % na produo de cachos. H variaes de anormalidades, que podem variar de poucas anormalidades em frutos at abortamento de cachos. H raras anormalidades srias, mas muitas delas pode ser revertidas.

    Existem vrias vantagens para o uso de clones e, dentre elas, est a maior sincronizao do florescimento; o aparecimento de anormalidades da ordem de 3 %, sendo parte reversvel; o comportamento da populao de clones melhor; a uniformidade dentro dos clones sempre alta; o ganho em produo maior em 14 % para as melhores matrizes e pode ser melhor ainda de acordo com a seleo (TEIXEIRA, 1996).

    At o presente momento, no h no Brasil protocolos de produo de clones de dendezeiro. Este se encontra em fase de pesquisa na Embrapa Recursos Genticos e Biotecnologia (Cenargen) e na Embrapa Amaznia Oriental (CPATU).

    Hbrido interespecficoNo gnero Elaeis, existem duas espcies com interesse agronmico, que so: E. guineenses ou dend africano e E. oleifera ou caiau, ou ainda dend americano. Segundo Barcelos et al. (1987), a espcie africana a oleaginosa de maior produtividade, alcanando at 7 toneladas de leo por hectare, enquanto, de acordo com Ooi et al. (1981), a segunda espcie alcana somente 25 % desse valor.

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    Hartley (1988) salientou a importncia do E. oleifera, conhecida com o nome comum de caiau, que se comportava resistente em reas com AF, para o programa de melhoramento gentico quando cruzado com E. guineensis, originando um hbrido interespecfico. Da, deu-se os procedimentos com o programa de melhoramento e, recentemente, obteve-se um hbrido com resistncia e produtividade boa de leo.

    A espcie E. oleifera amplamente d