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w DIA INTERNACION DA MULHER 8 DE MARÇO 0 & m 1993 Documentação COMITÊ 8 DE MARÇO "Algumas vezes, duranfe discussões abstratas, irritei-me ao escutar os homens me dizerem: Você penso isso porque é mulher. E eu sabia que a minha única defesa era responder; Eu o penso porque é verdadeiro.'". (SIMONE DE BEAUVOIR) AS!*X a>(MtM5 5€*>M5 SÃO f&KVÍ/WS. Oi Pf>S iOOOS, 'XGÜtJOAS 6 fe3ÇV(5 ejiO(*$A$ HiW. SAO lAMdért MVUf€&<. çoefAiei* cams, W, M*0 SMtK ftiejjpo MÍAQ& (Ç-CtÁM 0 6AtíH0. t W> Uoif?}, COMO (vmA$, Kr;eAM sorns. *A$ UÃO é ACASO tive Mwçe t Homec. Wl&ÇOé PtfÁ&MS. MAiçü é W5 VíTIMAS 9A v;0íê*lC'*A, cw nitoMpfseusÁo, vo fmAuto, cpMOJweienwAioiik ? fAAtyO' 6ioe rtAucou -nerAS tá* n% oHüfiK fetiàoi tu zme V/'P4 ve OMH mu Jotoim Vi HOZAS PiÁVA$. tw $0 çoçfíAM wee. MiMOK. GESTÃO PARTICIPATIVA NO BRASIL, EUA E JAPÃO O SAQUE DOS RATOS AO FGTS A FUGA DO MATADOR DE CHICO MENDES QUEM TEM MEDO DO IPMF 33 MILHÕES DE FAMINTOS E A PROPOSTA DO PT EUA, JAPÃO E ALEMANHA: ACABOU O CARNAVAL

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Page 1: Documentação DIA INTERNACION DA MULHER 8 DE MARÇO · 2013. 2. 2. · w DIA INTERNACION DA MULHER 8 DE MARÇO 0 & m 1993 Documentação COMITÊ 8 DE MARÇO "Algumas vezes, duranfe

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DIA INTERNACION DA MULHER

8 DE MARÇO

0 & m 1993 Documentação

COMITÊ 8 DE MARÇO

"Algumas vezes, duranfe discussões abstratas, irritei-me ao

escutar os homens me dizerem:

— Você penso isso porque é mulher.

E eu sabia que a minha única defesa era responder;

— Eu o penso porque é verdadeiro.'".

(SIMONE DE BEAUVOIR)

AS!*X a>(MtM5 5€*>M5 SÃO f&KVÍ/WS. Oi Pf>S iOOOS, 'XGÜtJOAS 6 fe3ÇV(5 ejiO(*$A$ HiW. SAO lAMdért MVUf€&<. çoefAiei* cams, W, M*0 SMtK ftiejjpo MÍAQ& (Ç-CtÁM 0 6AtíH0. t W> Uoif?}, COMO (vmA$, Kr;eAM sorns. *A$ UÃO é ACASO tive Mwçe t Homec. Wl&ÇOé PtfÁ&MS. MAiçü é W5 VíTIMAS 9A v;0íê*lC'*A, cw nitoMpfseusÁo, vo fmAuto,

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tá* n% oHüfiK fetiàoi

tu zme V/'P4 ve OMH mu Jotoim Vi *é HOZAS PiÁVA$. tw $0 çoçfíAM wee. MiMOK.

• GESTÃO PARTICIPATIVA NO BRASIL, EUA E JAPÃO

• O SAQUE DOS RATOS AO FGTS

• A FUGA DO MATADOR DE CHICO MENDES

• QUEM TEM MEDO DO IPMF

• 33 MILHÕES DE FAMINTOS E A PROPOSTA DO PT

• EUA, JAPÃO E ALEMANHA: ACABOU O CARNAVAL

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Quinzena Tendências do Trabalho -N'223. Fevereiro 1993

® Trabalhadores

O NOVO PROFISSIONAL DE TREINAMENTO QUE A EMPRESA REQUER CARACTERÍSITICAS E TENDÊNCIAS

Historicamente, as empresas brasileiras não apresentam uma relação direta com seus empregados. A relação entre capital e trabalho era e ain- da é freqüentemente intermediada pelo Estado, que muitas vezes dificul- ta ainda mais urria proximidade entre as duas partes.

Com a concorrência extema e a mobilização sindical, algumas organi- zações brasileiras passaram a adotar um modelo participativo. Modelo este, que impulsionou empresas americanas e japonesas a conquistarem os primeiros lugares no ranking de produtividade e qualidade.

A partir destas constatações, o pesquisador da COPPE (UFRJ), Fer- nando A. de Santana aborda, abaixo, a questão da gestão participativa em diferentes culturas como o Brasil, EUA e Japão.

A gestão participativa é hoje uma dução, acarretando uma superiorida- Nova Estratégia realidade irrevereível. Ela represen- ^ de capacidade produtiva em re- ta, antes de tudo, a política gerencial lação às demandas. A combinação dess.ís três fatores referente à nova estratégia do capita- ^ causas para essa inversão demanda uma nova estratégia de lismo, devido às mudanças ocorridas estão na redução do poder de compra produção, para responder aos se na estrutura produtiva das socieda- dos países centrais e no aumento da guintes imperativos: des- concorrência internacional provoca- 1 "Fabricar produtos cada ve/

Entretanto, a implantação dos sis- do pela entrada cm cena de novos mais diversificados e diferenciados temas participativos está sempre produtores. ^- Atender a padrões de qualida- submetida às características culturais Sobre o sistema produtivo, este de bem mais arrojados, de cada país. fato atuou substituindo a produção 3 "Utilizar um tipo de tecnologia

Neste artigo, apontamos como as em quantidade pela produção quali- dc extrema sofisticação, condições específicas de cada socic- tativa, capaz de adaptar-se a produ- 4 ~ Aten<ler encargos sociais em dade tomam diferentes as práticas de tos diferentes para mercados especí- crescente aprimoramento, gestão participativa. ficos. Desta forma, ingressando numa

Para tal, fazemos uma breve aná- O segundo fator diz respeito às nova fc» do capitalismo intemacio lise do porquê do novo modelo ad- novas tecnologias. nal, é posta para as organizações a ministrativo, hoje, demonstrando 0 surgimento da nova geração dc necessidade de uma abordagem dife como o modelo japonês se modifica equipamentos microeletrônicos pos- rendada das relações humanas no ao penetrar em países culturalmente sibilitou a criação de novas formas ambiente de trabalho, d.ferentes como EUA e BrasiL dc organizaçáo da produção, ofere- É a este imperativo que as poliu

A política de mtegraçâo do eto- Cendo o impulso técnico para a pro ^ participativas vêm responder

rr= nThiS^c^ àT"rnfabricrr à™L*:zz-^^ F diferenciados, de forma integrada e vel. ,. ' em alta velocidade. Ja nos anos 30, com a escola nor- r> <i^ ^ O Modelo Janonéc . , , . Por úlümo, assisümos na década w w,oae10 Japonês

te-amencana de relações humanas e . _„ .rio Partirina^ãr. „ ^ <n , ^ • de 70 ao crescimento de uma séne ae ranicipaçao nos anos 60 com a escola sociotécm- . j . . de movimentos sociais pela melhoria

ca, destacava-se a necessidade de . ,•.,.,. ~ c .* f»._ . .* , . j _ . da qualidade de vida, que refletem Se é fato que a gestão participau- considerar o fator humano dentro das . , . i^ J

j. um conjunto de novas aspirações so- va representa a política de pessoal

^Tlnto, diferente das propôs, ^^ 0 -P^- ***' ^^tS^SÍ; L^St

SJS^d: sss0^ ^Trd^^b=resda r ssr M*das difcrcntcs" brevivência empresarial, em função ^oTelo a^erço^nín^das15^- Em outras palavras, assim como o dos fatores que influenciam a nova g.slações de ^^ ^ consumidor taylorismo revelou-se diferenciado organização do trabalho. e de qualidade dos produto,,, termi- entre os P^865 industriais, em

O primeiro desses fatores é a crise "ando com a entrada em cena dos bin'&0 de realidades nacionais dis de instabilidade pela qual passavam movimentos de defesa do meio am- tintas' 0 mesmo ocorre com a &**0

■ J- * • J hipntí" participativa, os setores mais dinâmicos da pro- oicnic. ASSINATURAS: '"^"a1 Cr$ 15a000,00 (6meses) eCr$30a000.00(12meses) . „-«-_-,. - ^ . A Entidades sindicais e outros Cr$ 20a000.00 (6meses) eCr$4Oa0OO,0O (12 meses) * QUINffiNA divulga o debate do movunen- Exterior (via aérea) US$50.00(6meses) e USS KX)^ 12meses tJSTíS^l^^Sl^SSSSLTS- Opagamento deverá ser leito em «xne do CPV - Cenro de Documentação e Pe^uisa Vergueiro em cheque Jg* JfSjS TlSZSZSUÍÍ n«ninal cruzado, ou vale postal DESDE QUE SEJA ENDEREÇADO PARA A AGÊNCIA DO CORREIO BELA £■ , dmipanheirtano, eviundo-se os ataques VISTA - CEP 01390-970 - Código da Agônda 4031300. pessoais. Nos rarramos o direito de divul-

garmos apenas as partes significativas dos tez- OUINZENA - Pubücaçáo do CPV- Caixa Postal 65.107 - CEP 01390-970 - Sâo Paulo - SP tos, seja por imposição dc espaço, seja por so-

Fone (011 )285-6288 Inç^o de redação.

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fsi*

Quinzena M Trabalhadores Neste sentido, como a partici-

pação não depende de soluções téc- nicas e sim sociais, enfatizamos a mexistência de uma "única via" de modernização gerencial, sendo possível um leque de soluções so- ciais diferentes.

O modelo japonês, que conseguiu, num estreito lapso de tempo, alcan- çar uma posição invejável no cenário internacional, vem sendo utilizado por empresas de inúmeros países que buscam posições mais competitivas no mercado.

Entretanto, a maioria delas não tem conseguido atingir o êxito al- cançado pelas organizações japone- sas

Isso porque, a nosso conceito, vêm secundarizando o aspecto prin- cipal na adoção de qualquer política gerencial - as condições específicas sócio-culturais nas quais se inserem as diferentes formas de organização.

Desde o fim da 2* Guerra Mun- dial, começou a ser desenvolvida no Japão uma nova "filosofia produti- va" que, visando a conquista do mercado externo, investe numa con- cepção diferenciada da natureza do trabalho.

Cabe destacar que os produtos ja- ponesas, até a década de 50, sofriam um a^o grau de rejeição no mercado internacional devido a sua baixa qualidade.

Desta forma, com o apoio maciço do Estado, foram incorporadas técni- cas norte-americanas de controle de qualidade, transformadas num con- ceito global de produção e numa forma eficaz de mobilização e en- volvimento dos trabalhadores com os objetivos empresariais.

Essa nova cultura produtiva surge úO seio de uma estrutura social com tradições e valores bastante diferen- tes da cultura Ocidental.

A busca dos objetivos, além de mudanças radicais na organização do trabalho - produção em tempo certo, racionalização da fábrica, filosofia da qualidade total - envolveu' também uma profunda cooptação do trabalhador para os projetos patro- nais, investindo na dedicação e leal- dade dos funcionários para com as empresas.

Criando, ainda, canais eficientes de aproveitamento dos conhecimen- tos do quadro funcional e de incenti- vo à participação - os círculos de qualidade.

No entanto, o chamado "milagre japonês" se deu no interior de uma tradição cultural plena de elementos

que favoreceram o surgimento desse evento.

Fatores como: — a hierarquia da relação social

nipónica, assentada sobre padrões de respeito à senioridade;

— o forte sentido que o grupo exerce sobre o cidadão japonês, de- senvolvendo neste a necessidade de identificação com o grupo; e

— o valor moral atribuído à família e ao trabalho, enquanto extensão desta, dentre outros, consistem em elementos culturais facilitadores à implementação desse modelo, onde captados para a estrutura empresarial são transformados em "status" para os funcionários.

Além disso, outros elementos são também importantes de serem abor- dados.

A organização operária japonesa se dá por empresa e nâo por pro- fissão, facilitando a negociação dire- ta com os trabalhadores.

O emprego vitalício, que, mesmo não abrangendo o conjunto dos tra- balhadores, foi utilizado também como estratégia de estímulo à mobi- lização dos funcionários.

O próprio trabalho em grupo já se constituía numa prática rotineira, an- tes mesmo da penetração do taylo- rísmo nesse país, que teve que se adaptar ao sistema tradicional de tra- balho, realizado por grupos coman- dados por um líder (sistema Yoka- ta/Kokata).

Em Unhas gerais, esses são alguns fatores específicos da realidade so- cial japonesa. Em contextos diferen- tes, outros aspectos particulares po- dem dificultar, modificar ou mesmo inviabilizar a estratégia de gestão participativa nos moldes descritos.

O Modelo Japonês nos EUA

A cultura norte-americana assimi- la de forma diferente a aplicação do modelo de participação descrito aci- ma.

Sua tradição legou um quadro de características peculiares que interfe- rem na utilização do modelo japonês, criando dificuldades "especificamen- te americanas".

Uma primeira característica ian- que, diz respeito à necessidade de afirmar a responsabilidade de co- mandar como um direito adquirido e legítimo do superior, tomando difícil dissociar a tomada de decisão indi- vidual da responsabilidade pessoal que a acompanha.

Este fato, leva à necessidade de

adaptar, ao modelo japonês aplicado nos EUA, o respeito da autoridade e iniciativa dos superiores com o tra- balho cm grupo.

Outro ponto importante se refere à ambição do cidadão norte-america- no, que não se realiza apenas perten- cendo a um grupo.

A construção do capitalismo neste país forjou toda uma ética do "traba- lhar americano", herdada da for- maçSo protestante, impondo um grande esforço para conjugar a ex- pectativa de realização individual com a proposta de adesão a um pro- jeto coletivo.

Outrossim, o chamado "patriotis- mo de empresa", largamente difun- dido no Japão, esbarra em empeci- lhos típicos do contexto americano.

Primeiramente, o trabalhador ame- ricano procura realização, antes, no "valor de mercado" do que na fide- lidade a um projeto organizacional, onde seu maior indicador de "sta- tus" social ainda é o contra-cheque.

Por outro lado, o culto à persona- lidade, outro aspecto marcante nesta cultura, rica em exemplos de "self made man", legitima o papel de de- cisor atribuído aos dirigentes nas mobilizações coletivas.

Há, nesta cultura, um obstáculo à decisão coletiva devido ao fato de os americanos, mesmo que através do debate em grupo, destinarem um pe- so maior para a responsabilidade in- dividual do decisor final.

Por fim, o chamado "american way of life" representa uma defi- nição que nada mais é do que um estágio do desenvolvimento social, específico desse ambiente.

Desta forma, parece claro que as possíveis trajetórias de gestão parti- cipativa sejam trilhadas por cami- nhos diversos.

Gestão à Brasileira

Em nosso país as relações de tra- balho foram, historicamente, per- meadas pela ausência de negociação direta entre as partes e pela constan- te presença do Estado como media- dor da relação entre capital e traba- lho.

Em finais dos anos 70, fatores ex- ternos como o estreitamento dos mercados internacionais e internos, como o crescimento da organização sindical e o advento da democracia, aliados ao sucesso alcançado pelo modelo de gestão asiático, impuse- ram, também para as empresas na- cionais, sobretudo, àquelas que

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Quinzena

atuavam em mercados mais concor- renciais, a necessidade de adotar no- vos modelos gerenciais.

Essa nova funcionalidade da área de relações humanas, que procura, dentre outras coisas, mobilizar os funcionários para a realização dos objetivos empresariais, pressupõe um novo "locus" de negociação traba- lhista, exigindo redefinição dos

papéis, tanto para a administração empresarial quanto para as organi- zações sindicais.

No entanto, na trajetória brasilei- ra, as questões trabalhistas foram transferidas para a esfera de decisão do Estado, forjando um modelo in- dustrial baseado no paternalismo, onde sua essência repousou na con-

cessão de benefícios sem conside- rações de legalidade ou justiça.

Com as mudanças ocorridas, sur- ge um novo quadro, onde a aprendi- zagem é a característica principal das empresas que buscam a moderni- zação das práticas gerenciais, procu- rando responder a duas novidades no cenário nacional: encarar o sindica- lismo não mais como o inimigo do crescimento empresarial, mas como essência do próprio sistema, onde a produtividade está, necessariamente, associada à melhoria das condições de trabalho e aprender a negociar aberta e diretamente com as repre- sentações dos trabalhadores, função esta que era exercida pelo Estado que, via de regra, favorecia o capi- tal.

Fatores estruturais também apon- tam para a necessidade de cons-

w Trabathadore§

DADOS COMPARATIVOS SOBRE INVESTWENTO EM PARTICIPAÇÃO E PAGAMENTO DE SALÁRIOS ENTRE JAPÃO, EUA E BRASIL.

////

/////

li liII

lllllll

Classificação mundial quanto

ao número de programas

participativos - CCQ -

desenvolvidos.

Diferença entre o menor

e o maior salário pago por

empresa

JAPÃO 19 Lugar Em torno de 20 vezes

EUA 29 Lugar Em tomo de 100 vezes

BRASIL 39 Lugar Em tomo de 150 vezes

O Estado de Sáo Pauto - 07.02.93

trução de um modelo gerencial na- cional.

O alto índice de desemprego e o pagamento de baixos salários, que favoreceram as organizações no pro-

cesso brasileiro de acumulação capi- talista, podem agora se tornar con- traproducentes, uma vez que as polí- ticas de participação requerem um perfil de mão-de-obra diferenciado.

O esforço desprendido com téc- nicas participativas e com programas de qualidade demandam, para que os objetivos sejam alcançados, a for- mação de um tipo de trabalhador com maior perspectiva de segurança no emprego e com maiores recom- pensas.

Além disso, a modemizaçào pres- supõe também um conjunto de novas qualificações para os funcionários -

cooperação, confiabilidade etc que só serão alcançadas mediante uma mudança efetiva nas relações de trabalho.

A adoção de técnicas referente^ à outras realidades, sem a coirespon dente transformação das relações de trabalho, corre o risco de assumir um perfil de utilitansmo ou concessão, concorrerdo para sua inviabilização

Por ultimo, há que se considerar a dimensão continental do Brasil, coe- xistindo várias culturas empresariais, inseridas em fortes tradições regio- nais, formando um ambiente produ tivo diversificado.

Apontando para, além da exigên- cia de atentar ao contexto nacional assimilar variações dentro deste mesmo espaço. •

Brasil expulsa da produção 70% de sua mão-de-obra

HELENA DALTRO

BRASÍLIA — Apesar de ter o terceiro maior superávit do planeta e o oitavo Produ- to Industrial Bruto (PIB) do Ocidente, o Brasil expulsa 70% de sua populaçAo econo- micamente ativa do proces- so produtivo, por n&o ser ca- paz de lhes proporcionar um bom nivel educacional. Ape- nas 12% dos brasileiros estAo preparados para produzir em uma sociedade teCnologlca- mente moderna. Os dados B&o de relatório da Organiza- ção das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação -(FAO), que aponta o Brasil como "um dos países mais viáveis do mundo", mas re-

conhece que nenhuma eco- nomia pode estabillsar-se com tais desequilíbrios es- truturais da sociedade.

De acordo com o relatório, o Brasil está situado entre os piores países no que se refere aos indicadores sociais. Em termos de renda per capita, o Pais ocupa o 38* lugar, abai- xo de países como Irá, Trlnl- dad e Tobago, Omá, Líbia e Grécia.

Atraso — Em educação, o Bra- «11 ocupa o 74» lugar, numa lista de 120 países classifica- dos pelo Banco Muhdlal, fi- cando abaixo de Madagas- car, Oana, Indonésia, Zlm- bábue, Tunísia, Malásia,

Zaire e Egito. São totalmen- te analfabetos 18% dos brasi- leiros (rer gráfico). Outros 15% têm o primeiro grau completo, mas n&o possuem preparo específico, enquan- to 35% s&o alfabetizados, com o primeiro grau Incom- pleto. Há 20% classificados como analfabetos funcionais (que se alfabetizaram, mas n&o tôm preparo escolar).

Em outra amostragem, a FAO informa que o conjunto de 70% da populaç&o expulsa do processo produtivo é for- mado por 30% que n&o traba- lham, 22% subempregados e 18% desempregados. Os ou- tros 30% da populaç&o est&o devidamente Integrados no

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Quinzena ® Trabalhadores

mercado formal de trabalho (com carteira assinada). Ca- da trabalhador brasileiro sustentaria quatro pessoas, enquanto nas economias mais equilibradas essa pro- porção é de um para um.

Dualismo — O Brasil tem um dualismo básico, aponta o estudo. Está dividido entre "uma minoria da sociedade que opera um parque Indus- trial e tecnológico moderno, com renda per capita da or- dem de US$ 4 mil, e por outra sociedade, representada pela maioria dos brasileiros, que opera uma economia primi- tiva, com renda per oaplta inferior a US$ 400,00".

Em total contraste oom sua situação social, o Pais tem um moderno e bem inte- grado parque industrial, re- cursos naturais abundantes e grandeza geográfica, sa- lienta o relatório. Está clas- sificado como o quarto do mundo em território, o quin- to em população e o nono em exportação.

Em matéria de distribui- ção de renda, no entanto, o Brasil fica entre os djjglor situaçáo, com os tf0% mais pobres tenao participação de apenas 16,1% na renda nacio- nal, enquanto os 10% mais ricos abocanham 4ff\S% da renda. O relatório ressalta que 1% dos ricos detêm 17,3% da renda nacional.

i mmm (% da populaçio aconomlcamanta ativa)

AnalfabttM

Alfabetizado», ma» «•m preparo «scolar

Prtparado* para produzir am «oeiadada tecnológica moderna

Primeiro grau completo, aem preparo especifico

Alfabetizado» com primeiro grau incompleto

(% da populaçAo aconomlcamanta ativa)

/

Integrados no mercado formal da trabalho

Náo trabalham

Sub-empregados Desempregados

fonte: FAO

As famílias em estado de miséria, com renda per capi- ta igual ou inferior a um quarto do salário mínimo (Crj 312.675,00), representam 15% da faixa de pobreza abso- luta, classificada pela FAO como aquela que tem renda até meio salário mínimo (Crj 625.350,00). Essas famí- lias em estado de miséria re- presentam também entre 35% e 66% dos brasileiros com renda per capita até um salário mínimo (Cr$ 1.250.700,00).

A remuneraçáo do traba- lho também é apontada co- mo muito desigual pela FAO, na medida em que 27% dos trabalhadores ganham salário igual ou inferior ao salário mínimo. Outros 21% tôm renda mensal entre um e dois salários mínimos (Crj 2.6 milhões). Esses Indicado- res significam que quase a metade dos trabalhadores brasileiros recebem salário Inferior a dois mínimos.

Jornal do Brasil 14.02.33

A LEGIÃO DOS PEQUENOS TRABALHADORES DE SÃO PAULO Ana Cecília Americano

Sem muitos sonhos, ele acorda às sete da manhã, no elegante bairro do Morumbi, chega ao trabalho às 10 ho- ras, na Praça da Sé, e por lá fica até às nove da noite. Uma carga horária de onze horas seguidas, já que o al- moço se resume a um rápido lanche em pleno posto. Com um rendimento mensal de Cr$ 3,2 milhões, Verinaldo Sevemo da Silva garante parte do sustento da família em Orobó, em Pernambuco, e segue sobrevivendo do sustento de uma banquinha de balas e chocolates no coração de São Paulo. Uma carga pesada para quem só tem 16 anos. Especialmente pesada para quem viu siu infância chegar ao fim aos nove, puxando a enxada na dis- tante roça de milho e feijão do pai, lá vo Norte.

Anônimo e conformado, Verinaldo é uma das 430 mil crianças e adoles- centes que trabalham na Grande São Paulo. Segundo o Departamento Intcr-

sindical de Estatísticas e Estudos só- cio-econômicos (Dieese), no entanto, ele tem uma posição mais privilegiada que outros 260 mil menores da região. Um contingente que entrou no merca- do de trabalho, mas não encontrou qualquer ocupação até dezembro pas- sado, e resultou num verdadeiro exér- cito de menores desempregados. De acordo com o Dieese, o desemprego das crianças entre 10 e 14 anos cres- ceu 31% em 1992 e 54,9% entre os adolescentes de 15 a 17 anos. Um re- flexo da alta de 27% no desemprego entre os ânimos de família no mesmo período, forçando a entrada de novas levas de crianças no mercado, a maior parte sem qualquer qualificação pro- fissional.

Vale lembrar, no entanto, que este problema social não é novo. A mesma cidade de São Paulo foi palco de inú- meras atrocidades contra a infância. Há apenas cem anos, conta a historia- dora Esmeralda Blanco Bolsonaro de

Moura, fábricas como a Mariangela, do GrupoTM atarazzo, usavam na con- fecção têxtil crianças de até sete anos de idade, em turnos que chegavam a quatorze horas diárias. As máquinas

eram reduzidas, especialmente fabri- cadas para o tamanho dos menores. Uma época de castigos corporais para garantir uma férrea disciplina em jar- dins-de-infâocia insalubres e mal ven- tilados. "Naquela época, o trabalho infantil era remunerado na proporção de um terço do salário de um chefe de família. O mesmo se dava com o tra- balho da mulher", informa.

Um século mais tarde, as distorções só não são maiores porque o salário do adulto está muito achatada Em 1989, por exemplo, o IBGE calculava 13 milhão de crianças recebendo de um a dois salários mínimos - o mesmo que dezenas de milhares de trabalha- dores adultos. Ainda assim, esta apa- rente conquista histórica não se esten-

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Quinzena

de a todas as crianças: no mesmo ano, 1,5 milhão de pequenos brasileiros re- cebiam menos do que um quarto de salário mínimo; outros 1,7 milhão de menores tiveram como receita mensal algo entre um quarto e meio salário mínimo. Do ponto de vista da lei, es- tas 2,2 milhões de crianças estão cla- ramente sendo lesadas. A legislação veta a remuneração de qualquer crian- ça abaixo de um salário mínimo. E vai além: proíbe a exigência de horas ex- tras no caso dos menores, além de tra- balhos insalubres, perigosos ou que impliquem em esforço física Veta ainda o emprego de menores de 12 anos. E determina que as empresas fa- cilitem os horários dos seas pequenos empregados, a fim de que possam es- tudar.

Tanta utopia num País em recessão só é cumprida em alguns bolsões de boa vontade, a exemplo dos progra- mas de iniciação ao trabalho da Se- cretaria Estadual da Criança, Família e Bem Estar Social de São Paulo. Por esta estreita porta foram encaminha- dos à iniciativa privada nos últimos cinco anos 1.400 jovens, através de um Balcão de Empregos. Eles rece-

bem orientação prévia e um acorapa-

w Trabalhadores

PERFIL DA CRIANÇA TRABALHADORA

Dados gerajs(*) Menores que trabalham 7,5 milhões Menores sem carteira de trabalho: entre 10 e 14 anos: 89,4% do total desta faixa etária entre 15 e 17 anos: 65,4% do total desta faixa etária

Menores que trabalham mais de 40 horas semanais: 46,5% dos ocupados

Remuneração dos menores(**) Até 1/4 do salário mínimo - 1,5 milhão De 1/4 a 1/2 salário mínimo - 1,7 milhão De 1/2 a um salário mínimo - 2 milhões De um a dois salários mínimos - 1,3 milhão Mais de dois salários mínimos - 750 mil

Distribuição da força de trabalho de menores na economia(***)

Setor agrícola -10,4% Indústria de transformação - 18,5% Indústria da construção civil - 6,8% Comércio - 18,4% Prestação de serviços diversos - 31,8% Outras ocupações -14,1%

(*) IBGE/1989 (**) Dados aproximados IBGE/1989 (***)IBGE/1988

nhamento posterior ao ingresso no trabalho, de técnicos especializados, os quais fiscalizam as condições do

ambiente profissional, certificndo-se da legalidade do vínculo empregatí- cio.

1992: UM ANO MARCADO PELA VIOLÊNCIA POLICIAL

EM SÃO FÉLIX DO XINGU-PA Na retrospectiva do ano 1992, em

São Félix do Xingu, é marcante so- bretudo a violência policial como um dos maiores problemas do nosso ter- ritório. A violência foi praticada seja pela polícia civil seja pela militar. A função da polícia deveria ser: manter a ordem, garantir a segurança do po- vo, defender os direitos dos cidadãos e protegê-los de todo o crime contra a vida, mas nada disso aconteceu, ao contrário a polícia foi para a popula- ção uma contínua ameaça.

A presença da mesma em nossa ci- dade nos trás medo, insegurança, ten- são e mais violência.

Ao longo do ano 1992 houve es- pancamentos de menores e pessoas na rua, houve espancamentos e torturas de presos sempre pelas mãos de poli- ciais. No mês de julho um menor, Eu- gênio, e um rapaz de 19 anos, Edinal- do, foram presos por causa de roubo.

foram espancados e tiveram queima- duras de isqueiro em várias partes do corpo.

O promotor da justiça de São Félix do Xingu me mostrou, naquele tempo, uma lista de casos que foram espanca- dos na rua e na cadeia pelas mãos dos policiais.

No mês de dezembro um policial da polícia civil, chamado Teteo, e um P.M., chamado "Manga Rosa", pren- deram um jovem acusado dum crime que nunca fez e nem nunca pensou em fazer. O jovem, E.M.A., foi levado para a cadeia e ficou, dentro de uma sala umas horas para ser interrogado. Durante o interrogatório os policiais o espancaram com uma palmatória e o ameaçaram com o resolver. Logo após esses acontecimentos o liberaram por- que era completamente inocente. A mesma violência policial chegou tam- bém ao ponto de matar "à toa". A ci-

dade de São Félix do Xingu, no dia 19 de dezembro, foi profundamente chocada pela morte violenta, injusta e desumana do jovem, Ronaldo Ribeiro, pelas mãos do soldado Antônio.

O fato aconteceu durante uma se- resta no Drinks Bar. Segundo uns de- poimentos o soldado Antônio estava no Drinks Bar com uma mulher de

nome Rosa, que acompanhava ele, A mulher, saindo do local para comprar o churrasco, se encontrou com o jo- vem Ronaldo, mais conhecido por "Cabeção". Como Ronaldo a viu a chamou de safada porque, já casada, estava namorando com o soldado. A mulher, voltando para o local, falou para o soldado que o rapaz a tinha in- sultado. O militar, vestido à paisana, levantou-se e tomando a arma que es- tava em poder da mulher procurou o jovem e, depois de discutir com ele.

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Quinzena Trabalhadores atirou à queima-roupa, um tiro no rosto do jovem bem abaixo do olho direita Este caiu DO chão, ficou logo sem fala, pois a bala lhe atravessou o rosto e saiu pela cabeça. Ele morreu após algumas horas oo hospital parti- cular chamado "Samaritano". O sol- dado, logo em seguida de ter atirado, saiu junto com a mulher ameaçando a todos que se encontravam no local com o revólver em punho, entrou num jipe de propriedade Peracchi de Tu- cumã e fugiu.

Depois deste acontecimento, várias entidades de São Félix do Xingu pre- param uma nota de repúdio e de pro- testo contra a violência policial. A nota foi distribuída à população no dia do enterro. A nota, além de toda a violência do ano 1992, denunciou também os seguintes fatos: l2) - A

polícia local pediu, após a morte de Ronaldo Ribeiro, reforço de fora para se proteger e não para dar segurança à população; 2-) - Frente a uma mani- festação pacífica do povo, no dia da morte do jovem Ronaldo, com uma grande presença de mulheres, crianças e adolescentes, pedindo justiça, o sol- dado Gilberto, conhecido como "Manga Rosa", ameaçou todo mundo de metralhadora na mão; 3-) - Os constantes abusos de policiais que vi- vem bebendo nos bares e botecos an- dando sempre armados e à paisana.

As várias entidades que assinaram a nota, pediram às autoridades com- petentes não a transferência do assas- sino, mas a sua justa punição. Elas organizaram um abaixo assinado não somente para pedir a justa punição mas também o afastamento da polícia

militar e civil e para propor, em subs^

tituição delas, a criação dum corpo de polícia municipal.

Os assinantes foram: Conselho Pastoral da Igreja Católica, Sintepp, CPT-Alto Xingu, Cebs, Grêmio Estu- dantil, Grupos de Jovens, Movimento Social de Luta (M.S.L.), Cooperativa Alternativa.

Isso quer dizer que a população de São Félix do Xingu não acredita mais na polícia civil e militar e pede uma polícia que seja garante da justiça so- cial. A alternativa é uma polícia mu- nicipal feita de pessoas do lugar capa- citadas de assumir este serviço a favor do povo.

Pe. Adriano Sella

Correio Braziliense - 1X02.93

Procuradoria investiga saques em 403 mil contas inativas do FGTS

Rio — A Procuradoria da Re- pública decidiu investigar 403 mil contas inativas do Fundo de Garantia por Tempo d^ Serviço (FGTS) liberadas no ano passado pela Cajxa Econômica Federal (CEF) no Rio, por meio de limi- nares concedidas pela Justiça Fe- deral. O levantamento completo de todas as contas foi pedido pela procuradora-chefe Célia Regina Souza Delgado, que pretende analisar "caso a caso" os 336 mandado de busca e apreensão expedidos ao longo de 1992, para saber se houve fraudes nos sa- ques. O levantamento vai tentar descobrir se os Cr$ 5,7 trilhões liberados pela CEF — em valores nào atualizados — chegou aos titulares das contas ou se foram "desviados no meio do caminho".

Todas as contas liberadas por meio de liminares concedidas pe- la Justiça Federal são de funcio- nários públicos que tiveram o re- gime de trabalho modificado a

partir da promulgação da Lei 8.112, que institui o Regime Úni- co de Trabalho. A Lei 8462 veda aos funcionários públicos o saque do FTGS, mas alguns juizes cari- ocas entendem que com a mu- dança do regime nouve uma dis- pensa sem justa causa do funcio- nário e tem concedido liminares em todos os processos, Na quar- ta-feira, o Supremo Tribunal Fe- deral (STF) deverá colocar um ponto final na questão, ao Julgar a legalidade da Lei 8.162.

Apenas em janeiro deste ano, a CEF pagou no Rio Cr* 1.09 tri- lhão em contas inativas que foram desbloqueadas pela Justiça. Este valor supera o total líbfírado em todo o Pah e mesmo pára o Rio representa duas vezes e meia a média mensal de saques. A Pro- curadoria da República descobriu que milhares de contas foram sa- cadas sem o conhecimento dos seus titulares. Os advogados Ri- cardo e Tânia Femandez estão

presos na Polícia Federal, acusa- dos de incluírem cerca de 12 mil nomes da Associação dos Servi- dores da Minas Caixa em um processo que beneficiava cerca de dez mil funcionários da FUP dação Estadual de Estímulo ao Menor (Feem). Em apenas 30 dias, o casal de advogados conse- guiu liberar Cr$ 420,5 bilhões em contas inativas do FGTS.

A Polícia Federal e a Procura- doria da República também estão investigando uma incrível coinci- dência: cerca de 90 por cento do dinheiro sacado foi pago com cheques administrativos emitidos pela agência da CEF que funcio- na no prédio do Ministério da Fazenda, no centro. Os cheques eram depositados na própria agência diretamente na conta dos advogados. O superintendente da Polícia Federal, Edson Antônio Oliveira, acredita que existem quadrilhas que se especializaram nas fraudes contra o FGTS. «

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Quinzena Trabalhadores Jornal de Brastla • 14.02.93

Juíza manda libertar advogados que são acusados de fraudar o FGTS

Por determinação da juíza Nizete Lobato Rodrigues, da 4! Vara Fede- ral, foi libertado ontem ao meio-dia o casal de advogados Ricardo e Tânia Pemandez, acusados de irregularida- des na liberação de milhares de contas inativas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Os dois estavam presos na Polícia Federal desde a manhã de terça-feira, logo após denúncia apresentada pela Pro- curadoria da República. O prazo da prisão provisória, que havia sido de- cretada pelo juiz André Koslowski, terminou ontem sem que a PF tivesse concluído o inquérito e a juíza Nizete Lobato negou o pedido de prorroga- ção da prisão por mais cinco dias, apresentado pelo procurador André Barbeitas.

Ricardo e Tânia Femandez deixa- ram o prédio da Polícia Federal sem falar com os jornalistas. O advogado Paulo Goldrachj, contratado para a defesa do casal, negou que tenha ha- vido fraude na liberação das contas do

FGTS. "No máximo, houve um delito processual", afirmou. Ricardo e Tânia incluíram uma listagem de servidores da Minas Caixa numa liminar conse- guida pela Associação de Funcioná- rios da Fundação Estadual de Estí- mulo ao Menor (Feem), o que possi- bilitou o saque irregular de 10 mil contas inativas do FGTS.

Em apenas um mês, o casal conse- guiu sacar Cr$ 420,5 bilhões da Caixa Econômica Federal (CEF), mas con- seguiram provar que praticamente to- do o dinheiro foi repassado às duas associações de funcionários. Goldra- chj defendeu a apuração rigorosa das fraudes contra o FGTS, mas acha que, no caso dos seus clientes, "houve apenas um equívoco". Segundo ele, o casal teria incluído na mesma ação uma listagem que faria parte de outro processo. "O importante é que o di- nheiro foi repassado imediatamente aos legítimos donos", disse.

Ontem, o advogado Jorge Luís Al-

ves de Castro anunciou que vai pro- cessar "por calúnia, difamação e da-

nos morais" o presidente da Associa- ção dos Funcionários da Universidade Federal de Minas Gerais (Assufemg), Irany Campos, que acusou o advoga- do de ter ficado com cerca de Cr$ 9,5 bilhões em contas inativas do FGTS de servidores daquela universidade. Castro entregou cópia de um depósito bancário no mesmo valor realizado no dia 15 de janeiro, em nome deo Sind- Ifes de Belo Horizonte.

De acordo com os documentos apresentados pelo advogado, uma as- sembléia de Assufemg, realizada no dia 1- de dezembro do ano passado, transferiu para o Sind-Ifes todas as causas jurídicas em nome da associa- ção. "O dinheiro foi entregue a quem de direito", disse Castro. Segundo ele, o presidente da Assufemg "agiu de má-fé", pois tinha conhecimento de que o dinheiro já estava em pder do Sind-Ifes. "Ele vai ser processado por isso", disse o advogado. Segunda- feira (15), ele entrega à Polícia Fede- ral cópia dos documentos que confir- mam o repasse do dinheiro aos fun- cionários de Minas Gerais.

Correto Brazliense • 15.02.93

Dívida dos estados com o FGTS é de Gr| 6 tri

Os estados e municípios estão deixando de recolher junto à Cai- xa Econômica este ano cerca de Cr$ 6 trilhões referentes a parce- las dos empréstimos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). De acordo com dados do Ministério do Trabalho, a ina- dimplência nos empréstimos do FGTS chega a 30 por cento, nível que levaria qualquer instituição financeira à falência. Os dados constam de um documento que será analisado na reunião de boje do conselho curador do FGTSi onde se constata que os saques das contas inativas a partir de maio podem provocar um rombo de 2,5 bilhões de dólares nos cofres do Tesouro. Para evitar'ó colapso, o documento propõe que

os saques sejam parcelados em 36 meses.

No diagnóstico sobre a situação do FGTS, o documento observa que, além da inadimplência de 30 por cento nos empréstimos a pre- feituras e governos estaduais, a sonegação no recolhimento do Fundo chega a outros 30 por cen- to. O fluxo do FGTS está sendo comprometídq anò a ano por cau- sa de acordos de refinanciamen- tos dos débitos, nos quais as par- celas nâó pagas são incorporadas ao saldoidevedór. O documento calcula que se os pagamentos fos- sem feitos de acordo com çs con- tratos originais, a receita (ie,re- tomo, aé ; einprésíimos poderia saltar dós atuais Çr| 14 trilhões por ano para Cr$ 30 trilhões.

AGENTES E AMBIENTES INSALUBRES, DOENÇAS

PROFISSIONAIS

RECONSTRUÇÃO

A VENDA NO CPV

VALOR Cr$52.000»00

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Quinzena Folha Oe Londrina-17.02.93

w TraboBiadons

O RESGATE DO FUNDO DE GARANTIA

O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço pertence aos trabalhadores. Não é do Governo, da Caixa, dos pa- trões. É do trabalhador. E por sua fi- nalidade e, também, por sua origem, deveria ser sagrado. Sua administra- ção traia que ter sido impecável. É bom lembrar que o FGTS surgiu para substituir o instituto da estabilidade, consagrado pela CLT e que, segndo alguns patrões de curta visão, consti- tuía um entrave. Até o surgimento do FGTS os empregados eram regidos pelo CLT e tinham a estabilidade: quem chegasse aos 10 anos de traba- lho na mesma empresa se tornava es- tável Se fosse mandado embora antes disto tinha direito a uma indenização que era contada pelo tempo de traba- lho: um mês de salário por ano traba- lhado.

Como no Brasil as coisas são sem- pre diferentes, era intenso o combate à estabilização. Enquanto pelo mundo afora há trabalhador que se ufana de começar e acabar a vida na mesma empresa, enquanto há também empre- sas que se orgulham de seus funcioná- rios que ficam ali pelos anos de sua atividade, sempre produtivos, no Bra- sil era diferente. O patrão temia o "estável" porque não poderia mais dispensá-lo. Era como se depois de 10 anos de bons trabalhos - e ninguém fica tanto tempo numa firma sem ter mérito - o funcionário se transformas- se em um vagabundo, um perigo. En- tão, o Governo ditatorial que se im- plantou no Brasil em 1964 para "aca- bar com o comunismo", atendeu aos reclamos do empresariado e liquidou a estabilidade, criando o Fundo de Ga- rantia por Tempo de Serviço.

A idéia tinha alguns méritos, prin- cipalmente o de forçar a criação de uma poupança compulsória. Afinal, 8% de todos os salários pagos no país todo mês representam, sem dúvida, uma quantia de respeito. Um Fundo que poderia financiar obras importan- tes, caras, vitais para o desenvolvi-

mento. E que seria, também, uma se- gurança para o trabalhador. No come- ço até que funcionou. Milhares de ca- sas populares foram construídas pelo país com o dinheiro do FGTS. Obras de saneamento básico, também. E o Fundo crescia. Ocorre que agora, 26 anos depois de criado, faz-se a primei- ra auditoria e o que se descobre? Que o Fundo é um "buraco sem fundos", que Estados e municípios devem tri- lhões de cruzeiros, quem ninguém sa- be onde esá o dinheiro do trabalhador. Isto sem falar nos truques que suces- sivos governos adotaram para corrigir em percentuais menores que os da in- flação o capitai que era dos trabalha- dores. Mesmo com a roubalheira ofi- cial, ainda é um valor imenso. E sim- plesmente não se sabe onde foi parar o dinheiro.

É mais uma de tantas "heranças malditas" que o Governo Itamar Fran- co recebe. Não é responsabilidade do Governo. Mas é deste Governo que se vai cobrar a investigação e a solução para este enorme roubo que se fez do dinheiro que empresas depositaram para seus trabalhadores. Não se pode exigir que o Governo, que o ministro Walter Barelli, que o presidente Ita- mar Franco façam surgir, por mágica, o dinheuiro que sumiu. Mas é exigfvel que haja investigação, cobrança e re- sultados, para resgatar o dinheiro do trabalhador e a credibilidade do Fun- do de Garantia. Os escândalos que vêm sendo noticiados sobre retirada de verbas do FGTS são pouca coisa face ao rombo que se anunciou nesta primeira passagem da auditoria. É im- prescindível que este Governo vá ao fundo na investigaçã, puna os respon- sáveis e resgate o dinheiro que é do pobre trabalhador brasileiro e que não pode ser assim escamoteado.

Jornal da Tarda-18.02.93

O ROMBO PODE SUPERAR US$ 7 BILHÕES

Hoje, o rombo do FGTS pode che- gar a US$ 7,5 bilhões - US$ 3,5 bi- lhões para pagamento das contas ina- tivas: US$ 1,5 bilhão para obras já contratadas: US$ 2,3 bilhões se a Jus- tiça liberar o saque para os funcioná- rios públicos que passaram a ser cele- tistas. Tratam-se de compromissos as- sumidos, sem a previsão de entrada de recursos.

Foi por ocasião da troca de gerên- cia do FGTS, transferida do extinto BNH para a Caixa Econômica Fede- ral, em 1986, que algumas irregulari- dades com os recursos do Fundo co- meçaram a vir à tona. Em 19 89, não houve mais jeito de encobrir a sua fa- lência: a Caixa deixou de publicar os balanços contábeis do Fundo e sus- pendeu a liberação de recursos: o go- verno foi obrigado a admitir que o Fundo estava quebrado. Naquele ano o deputado Prisco Viana conseguiu li- berar os recursos, em apenas uma se- mana, para obras de prefeituras da Bahia (seu Estado) e do Maranhão (Estado do ex-presidente Josfel Sar- ney).

No governo Collor, Alagoas foi benefiado com liberações generosas do Fundo para obras de saneamento básico. Em 1990, o Estado recebeu volume de recursos 12 vezes maior do que arrecadou com o FGTS: São Paulo recebeu 88 vezes menos do que arrecadou. Em 1992 vários foram os golpes contra o Fundo, O primeiro veio de Brasília: segundo documentos obtidos pela CUT, 61% dos recursos (Cr$ 34 bilhões) destinados ao Dis- trito Federal para a construção de ca- sas populares foram desviados para duas construtoras de propriedade dos amigos de Collor: a de Paulo Octávio e do Grupo OK, para a construção de moradia de classe média e média alta.

Denijncias foram feitas também contra a distribuição de recursos, da ordem de US$ 3,5 bilhões, para aten- der a interesses políticos. Prefeituras, empreiteiras, especialmente do Paraná e de São Paulo, faziam parte de um esquema com o Ministidrio da Ação Social para vencer licitações de obras publicas. O esquema provocou prejuí- zos de US$ 1 bilhão em 1991, segun- do o Conselho Curador. (RJ*.) «

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Quhnmta Jornal do Commércio - RJ • 18.02.33

CUT QUER CONTAS

RENDENDO

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) apresentou ao Governo suges- tões para diminuir o impacto de saque de Cr$ 57,7 trilhões (cálculo da Caixa Econômica Federal) depositados nas mais de 87 milhões de contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

O representante da Central no Con- selho Curador do FGTS, Douglas Braga, informou ontem que as princi- pais são o pagamento de juros de Ca- derneta de Poupança enquanto as contas permanecerem intocadas e re- muneração superior para aquelas que não forem mexidas durante dois anos.

O ministro Walter Barelli dará a resposta do Governo no próximo dia 2. "A CUT é radicalmente contra qualquer úpo de restrição do saque, inclusive a que transforma as dívidas em Certificados de Privatização", es- clareceu Braga. De açodo com Bra- ga, qualquer ação do Governo nesse sentido será inconstitucional. "É um direito adquirido do trabalhador", dis- se. Para Braga, se o presidente Itamar Franco usar "violência legislativa", como uma medida provisória, para evitar os saques estará comprando uma guena com as três centrais sindi- cais e talvez não agüente o peso de um movimento organizado de traba- lhadores. "Não importa que dentro do governo esteja A ou B", declarou.

- Nós vamos partir para a guerra com ações jurídicas e com grande mo- bilização. Braga disse ainda que o Governo deveria apressar uma defini- ção sobre as contas inativas devido ao clima de instabilidade criado.

Jornal do Commércio -RJ- 1S.02S3

NOVA FRAUDE

ENVOLVE 32

Uma fraude que já chegou, em va- lores atualizados, a Cr$ 1 bilhão con- tra o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) foi revelada ontem pela Procuradoria da República no Rio. A fraude envolve 32 pessoas que sacaram o Fundo duas vezes - no Banco do Brasil e na Caixa Econômi- ca Federal - aproveitando-se de duas liminares concedidas pela 28- Vara Federal, em maio e junho de 1992. Estas pessoas fazem parte do grupo de 22 mil que se habilitaram a receber o FGTS entrando como litisconsorti em ação impetrada pelo Sindicato dos Trabalhadores da Previdência Social (Sindisprev).

A nova irregularidade foi detectada pela procuradora Solange Mendes de Souza. Os fraudadores teriam se ser- vido da liminar favorável à retirada do Fundo, expedida por um juiz federal, obtida por determinada associação de trabalhadores. A listagem original, milhares de nomes de supostos asso- ciados seriam acrescentados poste- riormente. Assim, enorme soma da CEF, gestora do Fundok foram libera- das.

A fraude descoberta na 28s Vara fez com que a Procuradoria da Repú- blica no Rio pedisse a sustação das liminares que seiram cumpridas a par- tir de 11 de março. São 97 processos, num total de 126.043 contas. O mon- tante das contas ainda será computado

pela procuradora Solange Mendes. De janeiro de 92 até agora, já foram con- cedidas 384.481 liminares para a libe- ração do FGTS num toral de Cr$ 5,7 trilhões. Destas, 225.665 liminares fo- ram concedidas pela 20- Vara Fede- ral. •

Jornal do Commércio -RJ-18.02.93

CONSELHO APONTARÁ CULPADOS POR FRAUDE

Nos próximos 30 dias, os repre- sentantes do Conselho Curador do Fundo de Garantia por Tempo de Ser- viço (FGTS) vão apresentar medidas, apontar os responsáveis e as punições cabíveis para os atos irregulares, pra- ticados contra o FGTS em 1990 constatado a partir da auditora feita pelas secretarias; de controle interno dos Ministérios do Trabalho, do Bem- Estar Social e do Banco Central. O ministro do Trabalho, Walter Barelli, disse que os representantes do conse- lho está examinando os resultados da auditoria.

— A questão agora é saber como o Governo poderá cobrar judicialmente esses prejuízos - acrescentou Barelli.

Barelli disse que os resultados da auditoria "são estarrecedores". Para recuperar a crise financeira do FGTS, o Conselho Curador decidiu, na reu- nião de terça-feira que o Banco Cen- tral, a CEF e o ministérios do Traba- lho e do Bem Estar Social vão traba- lhar de forma mais coordenada para controlar a gestão e recursos do fun- do.

Dentre as principais irregularidades cometidas contra o FGTS em 1990, Barelli destacou as leis 7.839, de 1989, e 8.036, de 1990 além do De- creto 99.684, de 1990, várias resolu- ções do Conselho Curador do FGTS não foram cumpridas pela CEF; a CEF não cumpre o orçamento pro- gramado do FGTS para aquele ano, desrespeitando os valores fixados e também a distribuição dos recursos; a CEF financiou unidades habitacionais construídas em Campo Mourão (PR) por valores acima do limite fixado pelo Conselho Curador, quase de 5 mil UPF (Cr$ 578 milhões) e a CEF, aprovou seis empréstimos para a construção de habitações populares sem o conhecimento do então Ministé- rio da Ação Social.

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Quhtxena ssssSsa*

Trabalhadores O Estado de São Paulo-18.02.33

CUT ameaça FGTS com milhões de ações Central coordenará "avalanche" de processos se Procuradoría-Geral

não iniciar ação públka exigindo atualização dos saldos desde 1967

Fernando Fesciotta

Diretores e advogados da Central Única dos Trabalhadores (CUT) se seuniram ontem, em São Paulo, com a procuradora-chefe da Procuradoria- Geral da República no Estado, Cleide Trevitalle, para pedir pressa no pro- cesso que a entidade move contra a correção irregular do Fundo de Ga- rantia do Tempo de Serviço (FGTS). Em junho, a CUT ingressou, em nome de todos os trabalhadores, com pedido para a procuradoria ajuizar ação civil pública exigindo que o FGTS fosse corrigido corretamente desde 1967.

O advogado do sindicato dos Me- talúrgicos de São Bernardo do Cam- po, Marcelo Mauad, explicou que a central estaria disposta a "montar uma barraca em cada esquina para coorde- nar uma avalanche de ações", caso a Justiça recuse a ação sob o argumento de que a Central não pode representar todos os trabalhadores.

Ontem, Cleide Trevitalle anunciou aos sindicalistas que o processo foi remetido à Subprocuradoria-Geral da República, sob responsabilidade de Álvaro Augusto Ribeiro costa. "A ação é de interesse de todos os traba- lhadores brasileiros", justificou Clei- de.

Esse tipo de ação, explicou Mauad, é semelhante àquela movida pelas fe- derações dos aposentados reivindi-

cando o pagamento dos 147% de cor- reção das aposentadorias e pensões. O advogado Douglas Braga, represen- tante da CUT no Conselho Curador do FGTS, disse que espera um laudo da procuradoria para saber o valor da correção do fundo.

DIEESE Braga revelou, porém, que cálculos

do Departamento Intersindical de Es- tatística e Estudos Sòcio-Econômicos (Dieese) indicam a necessidade de correção de 431,33% no saldo das contas do FGTS.

"Com essa ação, queremos evitar que os trabalhadores sejam explorados

por escritórios de advocacia que já rondam as portas de fábricas em busca de dinheiro fácil", disse Braga. De acordo com ele, "esses advogados" cobram Cr$ 700 mil só para dar início a uma ação.

PLANO COLLOR A Força Sindical, maior adversária

da CUT, ingressou com outra ação na Justiça Federal de São Paulo pedindo correção de 44,8% no saldo do FGTS. Esse índice corresponde à inflação expurgada pelo Plano Collor, em mar- ço de 1990. A entidade contratou o advogado Fernando Marques Ferreira,

que entrou com a ação em nome de 60 sindicatos. ■

O Estado de Sáo Paulo - 19.02.93

O escândalo do FGTS Não se pode levar a saio a pro-

posta do secretário-geral do Ministério da Fazenda ao Conselho Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Ser- viço (FGTS) de pagar as contas inati- vas com Certificados de Privatização, que os trabalhadores poderiam utilizar para participar de leilões de vendas de estatais.

Trata-se de um chiste, uma piada

de mau gosto, um atentado. Os assala- riados acabariam por vender esses pa- péis abaixo do preço, mesmo porque eles já perderam muito de seu valor com as novas regras de "privatiza- ção" decretadas pelo presidente da República, Itamar Franco, e os títulos terminariam, a preços reduzidos, nas burras dos fundos de pensão...

Reconhecemos que o governo en-

frenta um grave problema: pagar pelo menos 87,4 milhões de contas inativas - paradas há mais de três anos - no valor de Cr$ 57,7 trilhões, algo em tomo de US$ 2,8 bilhões. Não tem dinheiro porque os recursos do FGTS foram vergonhosamente dilapidados nos últimos anos por empréstimos malfeitos e não recebidos a Estados e prefeituras e pela dívida crescente de ambos e ainda de órgãos do governo que não recolheram o Fundo de Ga- rantia dos seus empregdos. Segundo relatório do Ministério do Trabalho, o rombo é de 75%.

A situação é de tal forma calamito- sa que o procurador-geral da Repúbli- ca chegou a aventar a necessidade de uma ação policial e da Justiça. Não nos referimos aos saques fraudulentos, mas ao comprometimento, com obras duvidosas, do orçamento de vários anos do Fundo. Em julho do ano pas- sado, tais compromissos sem cobertu- ra eram estimados pelo Ministério do Trabalho em US$ 5 bilhões. Só a ex- ministra Margarida Procópio liberou, apenas na semana de 25 a 31 de de- zembro de 1991, cerca de US$ 1 bi- lhão de recursos do FGTS para tais obras. Ela e o então presidente da

Caixa Econômica Federal, Álvaro Mendonça. Depois disso veio o fura- cão Fiúza na onda do impeachment... Um escândalo que o presidente da República, Itamar Franco, não enten- demos por que, insiste em manter im- pune.

Urge encontrar recursos para pagar os empregados ou oferecer-lhes um atrativo para que não saquem os CR$ 57,7 trilhões de uma vez a partir de maio. Fala-se numa caderneta especial do tipo Depósitos Remunerados, ren- dendo mais que a poupança normal. Idéia aceitável, porquanto não fere o direito do trabalhador de sacar, se as- sim o entender. Este é o princípio inalienável; o direito de assalariado deve ser respeitado. Não se pode em- purrar-lhe, à força, papéis que na prá- tica vaiem menos, ou prorrogar o pra- zo de pagamento, mesmo porque tais artifícios seriam derrubados na Justi- ça. Mas tão importante quanto honrar os 87,4 milhões de contas inativas é moralizar o FGTS. O que vem ocor- rendo, no momento, é um estelionato, que não pode continuar. «

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Quinzena

O Estado de São Paulo - 21.02.93

Trabalhadores

Comissão estuda saque de conta inativa Pará os sindicalistas, impedir a retirada do dinheiro das contas a partir de 14 maio é inconstitucional

Para esclarecer dúvidas sobre o FGTS o Conselho Curador do Fundo vai iniciar após o carnaval uma campanha de divulgação que inclui cinco cartilhas a serem distribuídas nas empresas e nos

sindicatos. Abaixo, tudo que ó preciso saber sobre o Fundo e as contas inativas

Em que casos o trabalhador pode sacar o FGTS? ■ despedida sem justa causa ■ extinção da empresa ■ aposentadoria ■ falecimento do trabalhador e em alguns casos de doenças graves, como Aids ■ abatimento de prestação, amortização ou liquidação do débito ou compra de imóvel fora do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), desde que nas condições do sistema ■ suspensão do trabalho avulso ■ final do trabalho a termo ■ após permanecer três anos como conta inativa, depois de 1 4 de maio de 1990

O que é conta inativa? . ^^ .:. ',.s,,. .„..„:^ t aquela que deixou de receber saques ou depósitos. Existe porque, ao deixar o emprego, muitas vezes o trabalhador não saca o FGTS

Tipos de conta inativa

a) sem justa causa ou residual: esse tipo de conta ficou inativa porque ao ser demitido sem justa causa, o trabalhador deixou de sacar o saldo total, mesmo tendo direito ao saque garantido por lei. Ou então, após o saque, a conta recebeu depósito de i"rc?s e correção monetária do trimestre anterior, não sendo encerrada (a correção passou a ser mensal a partir de 1 989). b) justa causa e pedido de demisão: ao ser demitido por justa causa ou pedir demissão, o trabalhador legalmente perde direito de sacar o FGTS. Embora perca o direito de saque, não perde o FGTS. Ao arrumar outro emprego será aberta nova conta, permanecendo a anterior como inativa.

Contas inativas podem ser sacadas por motivo de rescisão do contrato de trabalho? As contas por demissão sem justa causa ou residual podem ser sacadas a qualquer tempo, bastando para isso que o trabalhador apresente o termo de rescisão contratual sem justa causa na CEF. A lei não fixa prazo para saque do FGTS. O mesmo não acontece com as contas inativas por justa causa e pedido de demisão. Pela lei, esse tipo de conta não pode ser sacada a qualquer tempo mediante a apresentação do termo de rescisão contratual.

Não sehíJò por rescisão contratual (quando sai do emprego) motivada por justa causa, sem justa causa,ou pedido de demisão, em que hipótese as contas inativas podem ser sacadas? ■ aposentadoria do titular ■ falecimento do titular ■ abatimento da prestação de financiamento do SFH ■ amortização ou liquidação de débito do SFH ■ compra (pagamento total ou parcial) de imóvel fora do SFH, desde que nas condições do SFH ■ após permanecer três anos como conta inativa

Por que as contas inativas só podem ser sacadas após ficar três anos sem receber depósitos? Essa prerrogativa foi criada com a nova lei do FGTS, em 11 de maio de 1 990. Antes esse direito não existia. Isto significa que todas as contas que se tornaram inativas até 14 de maio de 1 990 estarão completando três anos em 1 4 de maio deste ano. Os titulares dessas contas poderão, portanto, sacar o dinheiro a partir desta data. — -r -r. -. ■■■ ! -rrrr-—; ' —^—: 1—: ;—; -r : z E uma conta que tenha se tornado inativa, por exemplo/em 10 de outubro de 1992? Se for uma conta que tenha se tornado inativa por demissão por justa causa ou por pedido de demissão, ela poderá ser sacada somente a partir de 11 de outubro de 1 995. Ou a qualquer tempo, se o motivo apresentado para saque for aposentar doria, falecimento do titular, uso para compra de moradia ou demissão sem justa causa.

O Estado de Sáo Paulo -17.02.93

Viúva de líder seringueiro acusa UDR e políticos de financiar fuga

GABRIEL NOGUEIRA

RIO — A fuga da prisão dos assassinos de Chico Mendes, o fazendeiro Darly Alves da Silva e seu filho Darci Alves Pereira, que cumpriam pena de 19 anos na Penitenciária Estadual do Acre, foi financiada pela UDR (Uniáo Democrática Ruralista) daquele Estado e por políticos locais interes- sados no seu silêncio. A acu-

sação foi feita ontem pela viúva do líder seringueiro, Ilzamar Mendes, ouvida pe-' Ia Agência Estado em Xapuri, onde dirige a Fundação Chi- co Mendes. ,■; -

A viúva de Chico MencTes vai a Brasilia depois do car- naval para pedir ao presi- dente Itamar Franco uma grande mobilização policial para a prisão- dos assassi- nos. Ela náo acredita na po- licia local e suspeita de que

ela tenha facilitado a fuga. "Esse nâo foi um crime de Xapuri mas uma violência de repercussão mundial", afirmou.

Reação — No dia 23 de março, Darly seria levado para Umuarama, no Paraná, pa- ra ser julgado por um júri popular pela morte do cor- retor de imóveis Acir Uriz- zi, ocorrida há 14 anos. Esse crime prescreve em agosto.

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Quinzena Mim

W wmmwíÉwSmm Trabalhadores

Segundo Ilzamar, Darly praticou no Acre vários as- sassinatos, a mando de pro- prietários rurais e de gru- pos políticos que temiam a sua reaçáo caso fosse trans- ferido para o Paraná.'Nesse Estado, segundo Ilzamar, o fazendeiro náo teria os mes- mos privilégios da prisão de Rio Branco, onde estava desde a condenação, em de- zembro de 1990.

Foi o crime praticado no Paraná há 14 anos. Que pro-, vocou a fuga de Darlypará Ò Acre, recorda a viúvat de Chico Mendes. "Soltaram- Darly e Darci e há uma série de pessoas envolvldas^òr trás disso", afirmou.

A fuga dos assassinos foi festejada pelos parentes de Darly Alves da Silva, que mantém uma fazenda em Xapuri, onde começaram os conflitos de terra que cul- minaram com a morte de Chico Mendes, em 22 de de- zembro de 1988, disse Ilza- mar. "O Darllzinho (um dos filhos de Darly Alves da Sil- vai riu na minha cara ao cruzar comigo aqui na cida- de", protestou Ilzamar.

Aviso — Da prisão, onde con- tinuava a comandar os seus pistoleiros, contou Ilzamar que Darly mandou avisar aos seringueiros e a ela que continuava com poder de mandar matar quem quises- se. "Darly disse para tomar- mos cuidado porque mesmo

dentro da prisáo continua- va mandando matar", disse.

Ilzamar teme que a fuga incite outros proprietários rurais em conflito com se- ringueiros a praticar novos crimes, como era comum até a morte de Chico Men- des. "Antes apareciam se- ringueiros mortos todos os dias e ninguém era conde- nado pelos crimes", lembra. Darly foi preso como man- dante e Darci como assassi- no do líder seringueiro.

Temor — Ilzamar agora teme pela sua segurança e a dos dois filhos que teve com Chico Mendes, Elenira, de oito anos e Sandino, de seis. Dias antes de ser assassina- do, Chico Mendes acusou várias pessoas que estariam envolvidas na trama da sua morte, inclusive a Policia Federal do Acre. que estava encarregada da sua prote- ção. "Na hora certa vou dar o nome dessas pessoas", dis- se. Mas nâo teve tempo.

Ilzamar manifestou sua convicção de que a fuga de Darly e de Darci obteve re- percussão em todo o mundo. "Ninguém esqueceu o nome de Chico Mendes nem o que ele representa", disse à Agência Estado. Ilzamar tem informação de que os assas- sinos saíram do Estado, po- dendo ter fugido para a Bo- lívia, cuja fronteira é facil- mente transposta a partir do Acre. c

Jornal do Braai -18.02.93

Fax coloca sol) suspeita o governo do Acre

RIO BRAN- CO — Na últi- ma segunda- feira, dia 15, quando Darli Alves da Silva e seu filho Darci Alves Pereira fugiram da Penitenciária de Rio Branco, o governador do Acre, Romildo Magalhães, enviou ao mi- nistro da Justiça, Maurício Corrêa, um fax em que comunicava o fato e lembrava suas constantes reivindi- cações para reforma do presidio e construção de outro. O fax è proce- dente de Rio Branco, tem a assina- tura de Romildo e data de 15 de fevereiro. Só que, desde o dia 11,

■Romildo está fora do estado. Segundo o agrônomo Gumer-

cindo Rodrigues, assessor do Sindi- cato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, o governador Romildo Magalhães precisa agora provar com clareza que não deixou o co-

municado assinado antes de viajar no dia 11, quando seguiu para São Luis. no Maranhão, onde partici- pou de reunião do Conselho Deli- berativo da Sudam.

O documento aumenta as sus- peitas de que o governo do Acre e empreiteiras tenham utilizado os foragidos para pressionar o gover- no federal e liberar CrS 70 bilhões para a reforma do presidio de Rio Branco e construção de um novo. Segundo o deputado Nilson Mou- rào (PT), o governador Romildo Magalhães e 32 assessores estavam na Praia de Jenipabu, em Natal, no dia 15. Comissão de sindicância da Assembléia Legislativatío Acre, criada para apurar responsabilida- des pela fuga dos assassinos do lí- der seringueiro Chico Mendes, vai solicitar informações sobre o fax ao governo estadual.

No documento, Romildo informa que Darli e Darci fugiram por volta das cinco da manhã da segunda-feira

e que pessoalmente e através de expe- dientes fez ver a Maurício Corrêa o quanto era frágil e vulnerável o siste- ma penitenciário do Acre. "E mais, na ocasião salientei a grande respon- sabilidade do governo acreano em ter sob sua guarda prisioneiros de proje- ção internacional", acrescentou. AJém disso, o governador comunicou as providências que já haviam sido tomadas pela Secretaria de Seguran- ça para apurar o caso e recapturar os assassinos.

Expediente semelhante foi uti- lizado pelo governador Edmundo Pinto, assassinado no dia 17 de maio em São Paulo, para obter a liberação de USS 112 milhões do FGTS para a construção do Canal da Maternidade e da estação de

tratamento de água do Rio Bran- co. Dias antes da reunião do Con- selho Curador do FGTS, Pinto enviou uma carta de tom alar- mante sobre a ocorrência de casos de cólera no estado. Mas o Acre e o único estado da Região Amazô- nica onde não se registrou até on tem a presença do vibrião.

O assessor interino de Comunica- ção do governo estadual. Juraci Ba- tista de Oliveira, disse que Romildo está em viagem pelo Nordeste a inte- resses do Acre. "Ele assinou o fax com o teor preparado pela assessoriu do Palácio." Para o secretário de Segurança, José Elias Chaul. o fato não caracteriza má-fé. "O gabinete do governador é itinerante." #

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Quinzena Folha de Sáo Paulo - 18.02.93

w Traballtodortfs

Sindicalista critica ministro da Justiça Da Agência Folha,

em Rio Branco e Manaus

O líder seringueiro Osmarino smaneio disse considerar "estrei-

ta " a visão do ministro da Justiça, Maurício Corrêa, sobre o tom de exagero que permeia as denúncias de ameaças de morte no campo:

Ainda morre um trabalhador a rada dois dias no interior do país'', disse Amâncio.

Presidente afastado do Sindicato de Brasiléia, Osmarino viajou on- icm para São Paulo para participar de reunião da executiva da CUT.

Folha — Com a fuga de Dariv c Darci o senhor pretende solici- t:ir segurança do Estado?

Osmarino — De jeito nenhum. A segurança da polícia até facilita

-■ morte. A polícia local e' muito corrupta e cheia de envolvimentos

GREVES TANQUEIROS DE SÃO PAULO

A greve dos tanqueiros de São Paulo iniciada dia 25 de fevereiro conta com a adesão de 70% dos 10.500 trabalhadores. Nos demais es- tados o movimento não vingou. Os trabalhadores reivindicam reajuste do frete em 60%, conforme acordado com o governo em janeiro último. O Sindicato e as distribuidoras particula- res tentam chegar a um acordo quanto a um percentual mínimo de combustí- vel a ser distribuído aos postos de ga- solina.

POLÍCIA MILITAR DE RONDÔNIA

A greve da Polícia Militar de Porto Velho-RO terminou dia 19 passado, após 4 dias de paralisações. O fim da greve aconteceu depois que o general Nicodemus deu um ultimato aos PMs, ameaçando-os de processos de deser- ção. O governador Osvaldo Piana prometeu 176% de reajuste aos solda- dos. Os PMs. consideraram o aumento pequeno e suas mulheres ameaçam

com pistoleiros e esquadrão da morte. A Polícia Federal só vai limpar sua imagem com o movi- mento de seringueiros quando Mauro Sposito, atual superinten- dente do Amazonas, explicar por- que segurou-por 16 dias a carta precatória que prenderia Darly e evitaria morte de Chico Mendes. Sposito foi até promovido.

Folha — Quais são as medidas de segurança que senhor toma ?

Osmarino — Ando de revólver, não durmo sozinho em casa e evito sair à noite. É uma vida sem privacidade. Às vezes penso em largar tudo e voltar para o mato. Quero poder ter uma família, filhos, uma vida normal.

Fotbd - Como é sua rotina como ameaçado de morte?

Osmarino - Olha, eu não tenho rotina. Eu estou preocupado como

você conseguiu o telefone do ho tel. Geralmente só duas pessoas de estrita confiança sabem onde eu estou. Não se sabe a hora que eu saio. Não fico mais de doi^ dias em uma casa.

Folha — Depois do julgamen- to de Chico Mendes, o que mudou na violência no Estado?

Osmarino — Muito pouco. Foi importante para que a sociedade discutisse o problema dos assassi- natos no campo. Mas a impunida de corre solta por aqui.

Folha - Como o sr. analisa a fuga de Darci e Darly?

Osmarino - A fuga foi preme ditada com a conivência do Esta do. Hoje (ontem) foi divulgado que Darci Alves vai se entregar depois que prescrever o processo contra ele em Umuarama (PR), no dia 3 de abril.

continuar com manifestações de pro- testo.

TRABALHADORES DA PANASONIC

Até dia 20 a linha de produção de pilhas da Panasonic em São José dos Campos-SP permanecia parada total- mente desde o dia 16. Os 700 traba- lhadores em greve reivindicam 150% de aumento real e estabilidade no em- prego. Segundo o Sindicato dos Me- talúrgicos de São José a greve é por tempo indeterminado.

TRABALHADORES DA TRENSURB

Os trabalhadores da Empresa de Transportes Urbanos de Porto Alegre- RS voltaram ao trabalho após um protesto de 24 horas pelo não paga- mento de débitos trabalhistas. A dire- ção da Trensurb disse que vai reque- rer na justiça a abusividade da greve, sob a alegação de que a categoria não avisou a deflagração do movimento com 72 horas de antecedência, con- forme prevê a Lei de Greve.

MENOS GREVES EM DEZEMBRO

O número de greves registradas no país em dezembro chegou a 36, com um total de 50 mil trabalhadores para- dos. Estes números representam uma queda de 21,7% em relação a novem-

bro que teve 46 greves envolvendo 269 mil trabalhadores. A greve com maior duração foi a dos servidores da saúde de Santa Catarina que comple-

tou 35 dias parados.

SOUZA CRUZ FECHA FÁBRICA

A fábrica de ciganos Souza Cruz de Porto Alegre-RS foi fechada, mas os trabalhadores realizaram um pro- testo. Houve 420 demissões. Se a fá- brica não for reaberta, os trabalhado- res reivindicarão melhores indeniza- ções.

SEM-TERRAS FAZEM MANIFESTAÇÃO

Mais de 600 dos 3.500 Sem-Tenas da Fazenda Ipanema, em Iperó-SP, participaram de uma caminhada de 8 Km entre o acampamento e a cidade, em protesto contra a fome que vem passando pelo descaso das autorida- des. E também porque morreu o meni- no Marcelo Nogueira, de 11 meses, vítima de infecção intestinal provoca- da por alimentação inadequada. Du- rante a manifestação muitas pessoas colaboraram com os Sem-Terras, mas os comerciantes fecharam as portas.

AGRICULTORES FAMINTOS Cerca de 400 agricultores famintos

ocuparam dia 16 a prefeitura de

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Quinxmmi —

Trabafhadore§

Águas Belas-PE, pedindo emprego e comida. Vítimas de seca M um ano, eles abandonaram a zona rural e diri- giram-se para a cidade. Só voltaram às suas casas depois que a prefeitura ce- deu transporte e prometeu cestas bási- cas. Temendo novas ocupações e sa- ques no comércio, o prefeito José An- drade reivindica ajuda aos governos federal e estadual. AS mil cestas bási- cas providenciadas pelo prefeito são suficientes para apenas uma semana e só atendem a 50% das nove mil pes- soas que estão passando fome.

CUSTAS DEMISSÕES 93

As micro e pequenas indústrias de São Paulo demitiram em janeiro cerca de 23 mil trabalhadores alegando um alto endividamento de suas firmas. Nos últimos 3 anos o mercado formal de trabalho (com carteira assinada) envolvendo 3,5 milhões de empresas, extinguiu quase 2,5 milhões de em- pregos, de acordo com pesquisa di- vulgada pela Secretaria de Políticas de Emprego e Salário do Ministério do Trabalho. Na Inglaterra a taxa de de- semprego já é de 10,5%, o que repre- sentam 3,1 milhões de trabalhadores sem emprego. A Boeing Co., fabri- cante americana de aviões anunciou que irá demitir 30 mil trabalhadores nos próximos 18 meses. A Siderúrgica alemã Krupp anunciou a demissão de 4 mil trabalhadores. A General Motors nos EUA deverá dispensar até 11 mil trabalhadores na primeira semana de março.

PERDA SALARIAL CHEGA A 37,66% EM JANEIRO

Pesquisa realizada pela Consultora Arthur Andersen, patronal, constatou que em janeiro as perdas salariais chegaram a 37,66%. De 13 ramos pesquisados, apenas 3 registravam ga- nhos salariais em janeiro. Já a CNI (Confederação Nacional das Indús- trias) constatou que houve "uma ex- pressiva redução da massa salarial" nas indústrias de 11 Estados onde faz pesquisa mensal. As maiores quedas

foram verificadas no Ceará (1539%), Bahia (1536%) e Rio (8,84%).

PATRÕES QUEREM AUMENTO DA JORNADA DE TRABALHO Hans Peter Stihl, presidente da

Câmara de Indústria e Comércio da Alemanha, pediu a volta da jornada de 40 horas de trabalho por semana para os trabalhadores, na tentativa de ''re- verter a tendência de encolher o nú- mero de horas trabalhadas na Alema- nha". Stihl reconhece que os sindica- tos vão tentar impedir um retomo à semana de 40 horas, mas disse que "agora existem maiores probabilida- des de se convencer os alemães a se aposentarem após os 60 anos de ida- de, ou então a própria Alemanha vai se aposentar no que se refere à com- petição internacional". Os trabalhado- res alemães trabalham em média 37 horas semanais. Primeiro mundo para os patrões, 3- mundo para os traba- lhadores.

ELEIÇÕES SINDICAIS As eleições metalúrgicas de São

Paulo, em março, terão 3 chapas: a do Medeiros, a da CGT-MR 8, e a da CUT (Chapa 2). Paulinho, da Força

Sindical, integrante da chapa de Me- ■ deiros, disse que a cnapa do MK 8 deverá ter entre 3% e 4% dos votos, enquanto que a da CUT entre 5% e 7%, ficando Medeiros com 83%. Em São Bemardo do Campo, Vicentinho encabeça a chapa do sindicato que concorrerá em maio. No início de março uma assembléia deverá aprovar formalmente a unificação dos Sindi- catos de São Bemardo, Diadema, Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, bem como ele- ger uma diretoria provisória composta por diretores de São Bemardo e Santo André. A partir daí começará o pro- cesso eleitoral. O Sindicato único do ABC deverá abrigar cerca de 150 mil metalúrgicos.

NAOSAIU NOJOML

A TODOS QUE APOIAM A REFORMA AGRÁRIA

Assunto: Lei Agrária aprovada na Câmara

1. Como todos sabem foi aprovada, no dia 27 último, a nova Lei Agrária, na Câmara dos Deputados.

2. Fazendo uma avaliação política e jurídica, concluímos que precisamos fazer uma luta agora para que o Presi- dente da República, Itamar Franco, VETE, ou seja, transforme sem efeito os seguintes artigos (caso contrário está inviabilizada a reforma agrária):

- Artigo 79 - porque da margem a maracutaias com projetos técnicos que impediriam a desapropriação;

- Artigo 142 - que permite que o fazendeiro ficar na área até transcorrer todo o processo desapropriatório, que leva anos;

- Artigo 15e - que impede desa- propriação das fazendas que os ban- cos receberam por dividas;

- Artigo 172 . Parágrafo Único - que define que a desapropriação deve

começar peças terras mais mal utiliza- das a nível nacional. Com isso so- mente seria possível desapropriar na Amazônia;

- Artigo 192 - Parágrafo I - que permite que o fazendeiro seja também assentado e fique na sede da fazenda e com todas as benfeitorias. Pode-se imaginar os conflitos que resultarão se isso se mantiver.

3. A seqüência da Lei agora e a se- guinte:

l2) O presidente tem 15 dias úteis para VETAR alguns parágrafos, arti- gos e sancionar o restante ou toda a Lei (ou seja, até 18.02.93);

2°) Sancionada a Lei e publicada (até 18.02) e entra em vigor imedia- tamente. Caso o presidente vete al- guns artigos, estes não terão mais va- lor;

3e) Os possíveis vetos do Presi- dente voltam para a Câmara dos De- putados que terá 30 dias pra derrubar ou aceitar os vetos. Para derrubar o veto ou manter o artigo proposto, pre- cisam de maioria absoluta, ou seja, 252 votos de deputados. O que é muito difícil;

4") Caso a Câmara não julgue em trinta dias, a Lei continua em vigor com os vetos. Ou seja, os artigos ve-

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Economia tados não têm valor. É como se não existissem.

A CPT-MG junto com outras enti- dades vêm desenvolvendo uma cam- panha para pressionar o Presidente Itamar Franco a votar estes artigos citados. Assim pedimos que enviem mensagens ao Presidente com esse objetivo.

SUGESTÃO DE TELEGRAMA:

Sr. Presidente

Para viabilizar a Reforma Agrária

reivindicamos sejam vetados na Lei Agrária os artigos 7S, 149, 152, pará- grafo único do 172, parágrafo I do 192

e no 6-, o inciso V do parágrafo 32 e o parágrafo T2.

Enviar para:

Presidente Itamar Franco Palácio do Planalto Brasüia-DF

Telex (061) 1148/1151 Fax (061) 226 7566

Bate Forte - Fevereiro 1993

TRAMBIQUEIROS E PELEGOS

CONTRA O I.PM.E O imposto criado pelo governo

Itamar Franco - IPMF (Imposto sobre Movimentação Financeira), está dei- xando os parasitas indignados. Este imposto penaliza os especuladores fi- nanceiros, gente que vive de negócio com o dinheiro alheio, ganham fortu- nas sem nada produzir e alimentam a inflação.

Serão cobrados 0,25 por cento so- bre os cheques. Quem recebe até dez salários mínimos e aposentados, rece- berão um desconto da Previdência, que neutraliza esse imposto. Quem re- cebe por exemplo, 30 milhões, vai pa- gar apenas 75 mil cruzeiros. Uma ni- nharia, menos do que as mensalidades dos sindicatos pelegos.

Desta maneira, esse imposto apa- nhará aqueles que trapaceiam diaria- mente no mercado financeiro. Sendo ele (o imposto), descontado no che- que, fca difícil para os trambiqueiros sonegarem.

Quem está contra o IPMF, são os maiores sonegadores de impostos. Devem 70 trilhões de cruzeiros à Pre- vidêMcia. Devem bilhões ao FGTS. Sonegam imposto de renda e todos os outros impostos necessários para os investimentos nas áreas de saúde, transporte e educação, por exemplo. São estes parasitas, apoiados por diri- gentes sindicais matreiros, responsá- veis pela inflação e a miséria do povo brasileiro.

Até o Salim Maluf, que aumentou o IPTU em 200 por cento acima da in- flação, está protestando contra o IPMF. Salim e seus comparsas, sabem que o IPTU aumentado será carreado para seus amigos parasitas. Ao passo que os trambiqueiros não vão conse- guir meter a mão no IPMF, porque sua destinação já está acertada; 18 por cento para a educação de menores ca- rentes e 20 por cento para construção de casas populares.

Os trapaceiros ameaçam repassar este imposto para as mercadorias. Se isto ocorrer, cabe a nós, trabalhado- res, obrigá-los a dar este mesmo au-

mento para os nossos salários. O que é bom para os patrões, não é

bom para os trabalhadores.

Apesar das boas intenções que originaram o IPMF, é preciso também salientar que ele não vai resolver os problemas da eco- nomia brasileira. Para isso, são necessárias mu- danças muito mais profundas, que esse governo com certeza não terá coragem de implantar.

Análise Semanal de Conjuntura Econômica 13 de Maio - NEP -25.02.93

IPMF: Por Dentro do Caixa Dois

Os empresários resolveram enfren- tar o governo Itamar, armando uma verdadeira guerra contra o Imposto Provisório de Movimentação Finan- ceira (IPMF). Diante de tanta radicali- zação e estardalhaço, cabe perguntar por que este confronto está aconte- cendo, por causa de um imposto que aparentemente arrecadaria no máximo 4 bilhões de dólares? É claro que o motivo alegado pelos empresários, pelegos e neo-pelegos, que cantaram de mãos dadas o hino nacional, se- gundo o qual eles estavam preocupa- dos com os pobres que acabariam pa- gando este imposto, não deve ser le- vado a sério. Nem mesmo a média classe média será atingida - um salá- rio mensal de Cr$ 20 milhões pagará a irrisória quantia de Cr$ 50 mil, valor inferior a um bem sanduíche com gua- raná. Ou coca-cola, se preferir.

A resposta, na verdade, deve ser procurada em dois pontos muito im- portantes. Primeiro: o valor real que o governo poderia arrecadar cem este imposto seria maior, bem amior que os 4 bilhões de dólares previstos ante- riormente. Seria, na verdade, algo em tomo de 35 bilhões de dólares. Se- gundo: pela primeira vez um governo no Brasil conseguiria tributar a renda efetiva dos ricos, porque o novo im- posto teria condições de alcançar o caixa dois das empresas e também a economia paralela, também conhecida como "economia informal". Em re- sumo, a guerra contra o IPMF foi de- clarada porque, finalmente, a mão ex- propriadora do Estado está chegando muito perto do bo.so das abastecidas casacas e cartolas nacionais.

AMEAÇA AO CAPITAL CLANDESTINO

Existe um enorme volume de recur- sos que transitam no país pelas vias marginais da economia paralela, a chamada "economia informal". Esta é a artimanha usada pelos proprietários do capital para escaparem do paga-

mento de qualquer tipo de imposto. Esta clandestinidade permite escapar da conta social necessária para se

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Quinzena

construir estradas, escolas, hospitais, saneamento básico, asfalto, usinas elétricas, etc, e ao mesmo tempo se beneficiar de tudo isso. Com a tribu- tação dos cheques, através do IPMF, o governo teria criado a surpreendente, possibilidade de atingir não apenas a tradicional sonegação, mas também as fraudes fiscais, o contrabando, o tráfico de tóxicos, o jogo do bicho e, principalmente, o fantasmagórico cai- xa dois escondido pela maioria das empresas. Calcula-se que o montante destes recursos clandestinos pode al- cançar mais de 200 bilhões de dólares, a metade do Produto Interno Bruto (PB) oficial.

NÃO DÁ PARA FUGIR Os empresários alegam que haverá

uma "desintermediação financeira" com a implantação do IPMF. Esta pomposa expressão quer dizer sim- plesmente que as pessoas deixariam de operar os recursos através de con- tas bancárias e cheques, optando pelas transações em moeda nacional ou dó- lar. O problema é que se eles fizerem isso, estarão caindo em uma armadilha ainda mais custosa. Se decidiran dei- xar o dinheiro em casa - em dólar ou em cruzeiros - estarão indefesos frente à desvalorização de uma infla- ção de 1% ao dia, bem maior que os minúsculos 0,25% do IPMF. No caso do dólar, também aqui o mercado pa- ralelo tem ficado abaixo das demais aplicações financeiras, inclusive da popular caderneta de poupança. Isto sem falar no risco doméstico de tenta- tivas de expropriação direta pelos chamados "deserdados da fortuna."

Assim, como observou a Revista Veja da semana passada, o melhor é mesmo sujeitar-se ao IPMF, a solução mais barata para os sonegadores.

TEM MUITO DINHEIRO EM JOGO

Segundo cálculos da Receita fede-

ral, com base em dados da movimen- tação do sistena bancário nacional, prevê-se a possibilidade do governo

arrecadar aproximadamente 37 bilhões de dólares anuais de imposto sobre o valor global da economia paralela. Ou seja, 8,5% do PIB, que estaria sendo anualmente sonegado. Segundo a Ga- zeta Mercantil de 11/02/93, a Receita prevê que, implantado o IPMF, o go- verno passaria a cobrar não apoias a taxa de 0,25% sobre a economia pa- ralela, mas teria condições de sair a campo para, em seguida aplicar-lhes também a cobrança do Imposto de Renda que hoje é sonegado. Esta pos- sibilidade vem do fato de a mecânica do IPMF, permitir o acesso da Receita Federal às contas bancárias dos depo- sitários de operações da economia pa- ralela, sem necessidade de mudanças na lei do sigilo bancário.

Apenas para se ter uma idéia do que representam 37 bilhões de dólares a mais arrecadados, basta se lembrar que a parcela da União na arrecadação total de impostos do país, em 1992, foi de apenas 26,9 bilhões - em um total arrecadado de 90 bilhões do dó- lares, dividido entre União, Estados e Municípios. Assim os eventuais 37 bilhões que, a médio prazo poderiam ser arrecadados, eqüivaleriam a cerca de 133% do valor anualmente obtido pela União

O PROBLEMA POLÍTICO Com o dinheiro extra arrecadado, o

governo Itamar contaria com recursos suficientes não apenas para recuperar as finanças públicas e combater a in- flação, mas quem sabe até para res- suscitar as suas falecidas estatais, dentro de um pacote de investimentos púbücos capaz de iniciar uma firme retomada do crescimento econômico. Além disso, o atual governo estaria em condições também de atender aos tradicionais pleitos clientelistas de to-

dos os parlamentares. Paralelamente, também os prefeitos e os governado- res seriam atendidos. Isto explicaria porque a câmara e o Senado deram número mais do que suficiente para a aprovação da emenda constitucional do IPMF. É desnecessário dizer que tudo isto representaria um brutal for- talecimento político de Itamar e o grupo que o cerca.

Este cenário não interessa, eviden- temente, ao "bloco do caixa dois" Por isso eles resolveram jogar duro e declarar a guerra contra o IPMF. O ex-ministro e deputado Delfin Neto já indicou que a categoria que ele repre- senta deverá apontar sois mísseis contra as estatais. Delfin alega que o governo não precisa mais de dinheiro que o déficit público já acabou no Brasil. "Há vinte mese o Tesouro dei- xou de ser um instrumento de pressão inflacionária - informou apenas agora Delfin - pois temos no setor público um quadro de equilíbrio operacional" Mas, continua Delfin, se a inflação apesar disso, ainda não acabar é por- que ela "resulta da absoluta desordem que reina nas contas da empresas es- tatais" Gazeta Mercantil de 11/02/93. Assim, a solução, aponta o ex-minis- tro e agora consultor do FIESP e FE- BRABAN, é evitar que Itamar cobre mais impostos para dá-los às estatais. A I misca reformulação da teoria orto- doxa da inflação, por parte do glorio- so ministro da ditadura militar, parece indicar que ele está temendo a capaci- dade do Governo Itamar de, com a re- ceita do IPMF e seus desdobramentos, revitalizar excessivamente o combali- do estado brasileiro. Ou talvez indica- ria que a campanha contra as estatais poderia colocar o governo em xeque, atacando-o no seu ponto fraco - na- cionalismo - para levá-lo a negociar na defensiva e a recuar na implanta- ção do novo imposto.

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Folhe d» Sáo Paulo - 20X2*3

Quem são as vítimas A oferecer uma explicação

para o repentino movimento do empresariado paulista conte o ÍPMF. o chamado ' 'imposto do cheque'' anteontem aprovado em primeira votação do Sena- do, fiz aqui uma referência em que o senador Albano Franco não scnfiu btm retratadas a sua e a posição da Confederação Nacional da Indústria, por ele presidida. Com base em resu- mo do seu discurso no Senado, dele extrai a correlação feita entre o seu voto favorável ao IPMF e a redução do Finsocial é da Contribuição Social sobre o Lucro, reivindicada por ele e pelo empresariado paulista.

Senadores que ouvi sobre as negociações no Senado, em torno do IPMF, confirmaram todos que o senador Franco lhes reiterou então, inúmeras vezes, a correlação aqui descri- ta. Talvez a posição do senador não esteja posta com clareza suficiente. Por isso, e por con- siderações de interesse geral que faz. é oportuno transcrever e comentar os trechos essen- ciais de sua carta, aliás, tão gentil quanto o próprio sena- dor. Diz ela:

'Nas várias oportunidades em que o assunto (imposto) foi discutido na CNI, ficou claro que o atual sistema tributário é talho, especialmente porque (a) incide sobre pequena parte das pessoas (físicas e jurídicas); (b) grava demais a produção e pouco o consumo; (c) permite enorme sonegação''.

Nenhum dos três pontos é inverdadeiro, mas nenhum 6 preciso, a meu ver. O imposto que incide sobre poucos contri- buintes é o de renda. O que decorre do grande número de desempregados, dos obrigados a viver do trabalho biscateiro e da grande massa de salários tão baixos, que não chegam nem ao primeiro grau do Imposto de Renda. O problema, portanto, está mais nos métodos empre- sariais e na economia do que no sistema tributário.

Os impostos não recaem '/demais sobre a produção e pouco sobre o consumo'' dado 9'fato. simples e definitivo, de tyhe o consumo é que paga, mcluídos nos preços, todos os impostos da produção e do comércio. Industriais e comer- ciantes não admitem a obvieda- de de que eles são, ou devem

ser, repassadores dôt impostos que recebem do eonsútnidor. E porque menos da metade dos empresários cumpre este papel de intermediário, preferindo a maioria apropnar-se éo impos- to recebido, em vez de repassá- 4o to governo, •dá-se o volume grandioso da sonegação. A grande maioria dos contribuin- tes individuais não sonega: são os assalariados, descontados na fonte.

Em razão daqueles três pon- tos que reputo equivocados, a CNI, diz a carta, "defende o aumento de impostos para quem nada paga; a redução dos que pagam demais; a diminui- ção da tributação na ponta da produção, e o aumento na pon- ta do consumo. O IPMF foi aceito pela CNI por obedecer aos referidos princípios. Daria à União aumento de arrecada- ção proveniente dos que boje nada pagam ou pagam pouco pois o chamado "imposto sobre o cheque " incidiria em todas as operações, independentemente, da empresa emitir ou não a nota fiscal. É exatamente isso, e nada mais do que isso, que defendi no Senado Federal". E, acrescento, que nos põe em posições contrárias.

Quem nada paga de Imposto de Renda, ou está sonegando, ou não ganha nem ridículos 7 e meios salários-mínimos, pois a partir de Cr$ 9 milhões 597 mil Já estará pagando a brutalidade de 15% de IR na fonte. Se ganhar irrisórios 15 salários- mínimos, já estará pagando na fonte os mesmos 25% de IR devidos, e raramente pagos, pelos não-assalariados que ga- nham centenas de ■ milhões e mesmo bilhões de cruzeiros por mês.

Mas os assalariados é que fazem a quase totalidade da "ponta de consumo", que os industriais desejam ver pagan- do mais impostos, para que "a ponta da produção", ou os mesmos industriais, paguem menos (em vez de pçgar, me- lhor sena dizer recolham como intermediários). É também aos assalariados que não sonegam, até. porque não podem, que o IPMF vem onerar. Seja nos cheques com que retirem os salários, seja nos preços que vão, é claro, incluir o IPMF do industrial e do comerciante. •

Jornal do Brmaã-17.02.93

CUT apoia com

alguma restrição A comissão executiva da Cen-

.tra] Úuica dos Trabalhadores de- cidiu apoiar com ressalvas o pro- jeto do Imposto Provisório sobre Movimentação Financeiras (IPMF). "Apoiamos desde que haja isenção total dos salários c que o dinheiro arrecadado seja aplicado exclusivamente em habi- tação, saúde, educação, combate à fome, reforma agrária c política agrícola para pequenos produto- res", frisa o presidente da CUT, Jau Meneghelli. Outra condição é

o controle da sociedade sobre a elaboração dos projetos destina- dos a estas seis áreas e na aplica- ção do» recursos. "Em hipótese nenhuma o dinheiro deve ser asa- do para pagar a dívida pnblica", disse Meneghelli depois da reu- nião. A CUT critica a política econômica do governo e pede uma reforma tributária profunda, mas admite que o Estado necessi- ta de recursos emcrgenciais que poderão ser arrecadados através do IPMF.

SETE ANOS DE LUTA

MOVIMENTO DAS COMISSÕES

À VENDA NO CPV

VALOR Crt 41.000 .00

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Quinzena Jornal do Brasil -16.02.93

Fiesp e Medeiros protestam no Chá Empresários da Fiesp e trabalhado-

res da Força Sindical voltaram a se encontrar ontem no palanque, em uma nova manifestação contra o Imposto Provisório sobre Movimentação Fi- nanceira (IPMF) no Viaduto do CM, na zona central. Foi o primeiro passo da campanha organizada pela Força Sindical para colher assinaturas contra o projeto. Desacostumado a palan- ques, o vice-presidente da Fiesp, Max Schrappe, falou menos de um minuto, ele afirmou que a implantação do IPMF vai "tirar mais dinheiro do po- vo". O presidente da entidade, Morei- ra Ferreira, não compareceu. O ato reuniu 300 pessoas.

O presidente da Força Sindical, Luiz Antônio de Medeiros, disse que a campanha vai se estender às portas de fábrica. Mesmo ao lado da Fiesp, Medeiros garantiu que "só o trabalha- dor vai pagar pelo IPMF, porque as empresas repassam os prejuízos para os preços ou demitem os trabalhado- res". Foram recolhidas ontem no Via- duto do Chá cerca de 10 mil assinatu- ras, segundo a Força Sindical. O ob- jetivo é conseguir 70 mil até a votação pelo Senado. Também estavam no ato o presidente do Sindicato das Peque-

nas e Médias Empresas, Joseph Couri, e o presidente da Associação Comer- cial de São Paulo, Lincoln Poeira.

Pereira criticou o fato de o Brasil possuir 58 tributos. "Não agüentamos mais um. É preciso parar de gastar, retomar o crescimento e e recuperar o nível de emprego." O vice-presidente da Associação Comercial, Alberto Bo- rin, admitiu que os empresários ava- liaram mal a importância do projeto. "Se a mobilização tivesse sido feita há dois meses, não teríamos esse pro- blema agora", afirmou.

O sindicalista alemão, da Força Sindical, caracterizou o ato como mais uma "jornada cívica". Menos poético, ele comparou o Estado bra- sileiro a um doente com vermes, que possui um apetite insaciável. "O país precisa de um remédio para acabar com todos os vennes do Planalto. O presidente Itamar precisa saber que ele não pode tudo."

Apesar da manifestação, os senado- res paulistas continuam dispostos a votar favoravelmente ao IPMF na vo- tação do Senado, que deve ocorrer ainda esta semana. O senador Mário Covas (PSDB) disse que não vê razão para tanta celeuma.

Convergência Socialista - N? 357 -11.02.93 a 17.02.93

Oito propostas para um plano anti-inflacionário

A inflação ameaça romper a barreira dos 30% e entrar em uma espiral íncontrolável. Os trabalhadores já se acostumaram a ver planos e mais planos

surgirem e fracassarem uns após outros. O descrédito crescente que acompanha o lançamento de um pacote logo se confirma pela continuidade da inflação.

ceticismo em relação aos pianos burgueses é

muito positivo. Expressa o instinto de ciasse que acha que nada de bom virá do governo e dos patrões. No entanto, não deve levar a uma idéia de que não há nenhuma saída para a inflação. Isto não é verdade. O que não funcionam são os planos bur- gueses. Só conseguiram baixar pardal e por pouco tempo os Índices in- flacionários, e sempre as custas de um maior empobrecimento dos trabalha- dores, que são os que pagam a conta.

Nós, marxistas, defendemos que

a CUT, os sindicatos e a UNt apre- sentem um plano contra a inflação. Cruzado, Bresser, Verão e Collor. Todos os planos sempre estiveram prisioneiros dos interesses de diversos setores da burguesia, Para acabar com a inflação é necessário que al- guém perca. Porque a crise inflacio- nária crônica expressa o conflito pela distribuição da riqueza entre as classes. Até agora todos os planos fizeram com que os trabalhadores perdessem. O nosso é o inverso: são os patrões que produziram a crise Podem e devem pagar por ela. O nosso é diferente também porque

não propõe mais recessão para com- bater a inflação. Ao contrario de- fendemos que é possível a reativação da economia junto com a redução da inflação.

Congelamento dos preços, aluguéis, tarifas e mensalidades escolares. Nenhum plano anti- inflacionário pode prescindir de al- gum grau de controle dos preços. E nenhum controle é melhor do que o congelamento. No entanto os con- gelamentos estão desmoralizados, porque todo o mundo sabe que afinal das contas só o que fica congelado mesmo são os salários. Os empresá- rios reajustam seus preços de todas as maneiras que podem e sabotam o plano. Por istonenhum congelamento vai funcionar sem que haja a firme disposição de expropriar todos os especuladores, atravessadores c sonegadores. Para garantir a apli- cação destas medidas o movimento popular e sindical deve controlar o congelamento.

Aumento geral dos salários. Não são os salários miseráveis que causam a inflação. Se fosse assim, o Brasil tinha uma inflação menor que a da Suíça. Os aumentos salariais são decisivos para que haja uma reativação da economia e crescimento eco- nômico. É preciso incorporar ao mercado interno 60 milhões de pessoas que vivem na miséria. Pelo salário mínimo do Dieese, que agora Barelli nega. Reajuste mensal integral.

Reforma agrária sob con- trole dos trabalhadores.

A produção de alimentos pode se duplicada ou triplicada com o acesso à terra dos dez milhões de camponeses sem terras. Somente 25% das teras férteis do país são produtivas. O Brasil produz 67 milhões de toneladas de grãos. A China Popular produz mais de 300 milhões. Uma reforma agraria am- pla e radical interromperia o êxodo rural, deslocando para a agricultura uma parte substancial dos milhões de desempregados urbanos. Com o apoio técnico e financeiro ne- cessário teríamos a possibili- dade de, em poucos anos, dar um salto na produção agraria e reduzir os preços dos alimentos.

A.

Não pagamento da divida externa. Na década de 80 o Brasil

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Quinzena se tornou um exportador de capitais. Mais de US$ 70 bilhões foram pagos íOS credores, corno revelou o ex-ministro Funarc. Estes recursos seriam suficientes para investir na reforma agraria e no plano de obras publicas, neces- sários ao combate a inflação e à reativação da economia.

Suspensão do pagamento da dívida interna para as grandes empresas. Hoje os juros da dívida interna são um dos maiores fatores da inflação. O governo eleva as taxas de juros que paga pelos títulos públicos para poder receber mais empréstimos dos grandes bancos e empresas, e assim con- tinuar pagando o que já deve com novos empréstimos. Os juros altos se transmitem a toda a economia aprofundando a recessão e também a inflação ao serem repassados pelos industriais e comerciantes aos preços dos produtos. Pro- pomos a suspensão do paga- mento üú divida dos títulos pú-

m :' ÍSÍI8885

Folha de Sâo Paulo- 19.02.93

blicos aos grances empresta- dores (bancos e empr-s^s) de acima de 40 mil dólares (720

milhões de cruzeiros).

Estatização do sistema financeiro. Não existe plano inflacionário que resista à espe- culação financeira provocada pelos banqueiros. Haverá sabotagem com o dólar e com ouro, vão retirar capitais do país, se recusar a financiar a produção, etc. É neces- sária a estatização do sistema financeiro tanto pira evitar a especulação como para garantir o financiamento dos projetos prio- ritários de produção. Junto com isto é necessário também o fim do sigilo bancário.

Plano de obras publicas. Para a reativação da produção e reab- sorção da enorme massa de de- sempregados do país é necessário um plano que transforme o pais

em um enorme canteiro de obras. p«ra a edificação de casas popu- lares, hospitais, escolas, creches e centros de cultura. Este tipo de plano teria um enorme impart'" social não só por atacar problemas candentes como o déficit habi tacional de dez milhões de casas como por servir de alavanca prin cipal para a reativação da economia.

Controle da produção pelos trabalhadores - Os grandes mo- nopólios vão ameaçar com a para lisaçãoda produção. Os trabalhadores devem exigir a abertura dos livros de contabilidade da empresa eoo jntrole da produção por comitês de traba- lhadores. Não se pode aceitar a chantagem de que a diminuição dos lucros dos patrões signifiquem o fechamento das empresas. Isto pode sei evitado pelo controle da produção pelos próprios trabalhadores

Eduardo Almeida

Empresas prevêem estagnação em 93

A economia brasileira deverá ficar praticamente estagnada este ano. Pesquisa divulgada ontem pela consultoria Price Waterhouse aemonstra que 60% das 500 maiores empresas do país estimam que a taxa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) para este ano será entre 0% e 2%. i*Isto 6 pouco para o Brasil. Teríamos que ter entre 4% e 5% para recuperar as perdas da última-década", diz Irineu De Mula, 53, sótio da consultoria.

O levantamento mostra que a expectativa média é de um fatu- ramento 10% maior que o de 1992 —expansão explicada pela variação do volume de vendas, para 80% das empresas, e pelo nível de preços, segundo as 20% restantes. "Isso não é nada perto do que já se perdeu ", diz Irineu.

A pesquisa, que demonstra ten- dências da economia do país, foi feita junto a 240 empresas nacio- nais, multinacionais e estatais (ex-

ceto bancos), em dezembro e ja- neiro passados. A amostra serve como parâmetro para o que pre- tendem e esperam as 500 grandes empresas.

Outro dado que demonstra a paralisação da economia é a dimi- nuição dos investimentos. Ano passado, as empresas esperavam investir 15,9% de seus ativos totais em 1993. Agora, trabalham; com uma porcentagem de invés-■ timento de 11,4%. Em 1989, oi investimento foi de 21,8%, revelai pesquisa anterior.

Projeções feitas na virada <do'. ano mostram ainda que, na média,! haverá redução de 1,2% do nume-; ro de empregados em relação a* 1992. Na ponta do lápis, cerca dei 30 mil pessoas irão perder seus' empregos ao longo do ano.

Segundo Celio Lora, 42, diretor i da Price, há um aspecto positivo' que aparece na pesquisa; 61% das; empresas citaram a retração das;

vendas como um dos principais problemas .neste quadrimestre do ano. Na pesquisa anterior, o item aparecia com o índice de 70,6%.

A utilização da capacidade ins- talada hoje seria de 79,6% e até o final do ano subiria para 82,4%. Isto indica uma curva ascendente. Na média do ano passado, indús- trias e empresas trabalhavam com 78,7 % de sua capacidade.

"O doente saiu do CTI (Centro de Terapia Intensiva!, mas conti- nua doente'', afirma Lora.

Em contrapartida, os empresá- rios aumentaram sua preocupação em relação à instabilidade da eco- nomia. No último quadrimestre de 92, este fator foi mencionado por 43,7% das empresas pesquisadas, contra 61% hoje.

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Tribuna Metalúrgica-13.01.93

Fome ameaça mais de 33 milhões de brasileiros Pobreza, e não a preguiça, explica porque parte da população

Nós chamamos de fome aquela sensação de vazio no estômago, tonteira, boca amarga que sentimos quando deixamos de almoçar, por qualquer motivo. Mas fome mesmo é o que sentem, hoje, cerca de 33,5 milhões de brasileiros miseráveis, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Esses milhões de pessoas (mais de 25% da população), classificados como indigentes, são o retrato da fome no Brasil. Eles vivem em favelas, debaixo de viadutos e pontes, nas ruas ou lutam por um pedaço de terra nos campos.Segundo a nutricionista de dietoterapia do Hospital Sorocabana, Ana Lúcia Matos, a fome tem conseqüências sérias no desenvolvimento das crianças e na saúde de crianças e adultos. As vítimas da fome são mais baixas do que o brasileiro médio, têm olhos grandes e arregalados, têm coração e fígado grandes (hipertrofiados).

pressão arterial alta, taquicardia (o coração bate muito rápido), c muitos sofrem de depressão e problemas mentais.

A fome provoca, especialmente nas crianças, pele descarnada e seca e unhas em forma de colher, um andar cansado, desânimo e dificuldade de aprender. A fome é responsável pela fuga de milhares de crianças das escolas, pela preferência por pedir esmolas a procurar trabalho, pelo cansaço que faz uma criança de 6 anos ter um olhar de 80.

Em todas as regiões do Brasil, milhões de crianças deixam de estudar em conseqüência da fome, porque a falta de vitaminas, proteínas c sais minerais compromete a capacidade de aprender e provoca uma sonolência e uma indolência que as nossas elites costumam chamar de "preguiça do povo brasileiro", usando esse argumento para

vive como indigente

justificar a existência desses miseráveis. "Quem quer sempre arruma emprego", costumam dizer. Mas a verdade dos números é outra.

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 43,1 % das crianças brasileiras de até 5 anos vivem em estado de extrema pobreza e fome.

No Nordeste os números são piores: em 1981, cerca de 62,5% da população de crianças e adolescentes do Ceará era miserável. Esses números subi ram para 70,4%, em 89. Em Salvador, capital da Bahia, 1,5 milhão de pessoas, dos cerca de 2,5 milhões de habitamtes da cidade, vivem em estado de pobreza crítica, segundo pesquisa realizada pela Universidade Federal da Bahia, Maceió é a capital da fome: 26% das crianças que morrem antes de completar um ano morrem de doenças ligadas diretamente à desnutrição.

O Estado de Sáo Paulo -14.02.93

f 92% da populsçio de rua tém menos de 40 anc. • 68% sáo homens • 11% são analfabetos • 28% sáo paulistas • 14% sáo da Capital • 87% trabalharam com carteira profissional assinada • 27% tiveram registro em carteira profissional há menos de um ano • 4,5 milhões têm carência social • 3 milhões vivem em subabitações coletivas • 600 mil vivem em pobreza extrema • 329 pontos (marquises, viadutos etc) servem de pontos de pernoite • 1.100 pessoas sáo atendidas diariamente em dois albergues no Centro • 5.000 pessoas freqüentam diariamente as casas de convivência

Fonf ■ estudo Dutlidêdt tntn gnndiit» pobrnt ■ A b»M» do equilíbrio do social» do seonómico. ds Sscrsutia Municipsl d* Fsmllis tdoBsm £stsr Soem/

Jornal do Brasi - 10.0Z93

ITAMAR ACEITA PLANO DE LULA

CONTRA A FOME Apesar da cnse aoerta com a no-

meação de Luiza Erundina para a Se- cretaria de Administração Federal, o presidente Itamar Franco e o presi- dente do PT, Luís Inácio da Silva, chegaram a um consenso em relação ao combate à fome, durante a reunião realizada ontem, no Palácio do Pla- nalto. Depois de mais de uma hora de conversa, itamar aprovou as propostas do partido, acertando a formação de um grupo, com a participação de qua- dros do PT, que se reunirá no próximo dia 18 para definições de estratégias de curto prazo para combater a fome. Durante o encontro, no entanto, nem uma palavra sobre a nomeação de Erundina. "Seria indelicadeza de mi- nha parte puxar esse assunto com o

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Quinzena PoítHea Naeimmí presidente Itamar, seria indelicadeza da parte dele puxar esse assunto co- migo", comentou Lula, após o encon- tro.

Lula esclareceu que o PT não par- ticipará do programa de combate à fome "enquanto partido", mas seus

técnicos poderão integrar o grupo de discussões, uma vez que colaboraram na elaboração do projeto. Ele salien- tou que a postura oposicionista do PT não o impede de conversar. Em sua opinião, a questão da fome é supra- partidária.

Além do combate à fome, a curto prazo, o plano do PT denominado "Política Nacional de Segurança Ali-

mentar", trata de políticas de distri- buição de renda, modelo de desenvol- vimento, recuperação do poder de compra, política agrícola, reforma agrária, armazenamento e distribuição, entre outros pontos. "É um projeto muito amplo que o governo poderá utilizar desse projeto uma vírgula, uma palavra, uma página ou quem sa- be, quase todo o projeto", assinalou o presidente do PT.

CONSELHO Lula relatou que Itamar se mostrou

efetivamente interessado em colocar o combate à fome como prioridade, na medida em que seu governo tem um

mandato de dois anos. O PT propôs a formação de uma Secretaria ligada à

Previdência da República paia execu- ção do programa e un conselho con- sultivo da sociedade civil para fiscali- zar sua execução. Lula descartou a possibilidade de o PT vir a coordenar esta secretaria. "Esse projeto não é para ser coordenado por um partido político nem tampouco por uma cen- tral sindical - seja PT, PMDB, PDS ou PSDB - porque um programa des- sa magnitude tem que envolver a so- ciedade civil porque ela é hoje possi- velmente a única capaz de levar um plano contra a fome ao sucesso", jus- tificou.

Folha de São Paulo ■ 10.02.93

TRECHOS DA PROPOSTA DO PT E RESPOSTA DO GOVERNO

PROPOSTA DO PT

1 Elevar os salários reais e recuperar os ní- veis de emprego.

2 Reforma Agrária O Plano de Reforma Agrária do partido contempla um horizonte de 15 anos mobili- zando cerca de 3 milhões de famílias. Pro- põe, no curto prazo, uma ação emergenàal para atender aproximadamente 100.000 famílias (acampadas e assentadas).

3 Concentrar todos os instrumentos de poH- tica agrícola no apoio aos pequenos e mé- dios agricultores.

é Apoio à constituição de cooperativas agroindustriais de pequenos e médios agri- cultores.

5 Rever a composição da cesta básica — O PT apresenta uma lista de 12 produtos e pro- põe um controle de preços e margem de lu- cro sobre tais produtos: a) Preço do produtor - obrigatoriedade de aquisição pelo gover- no federal de acordo com a política de pre- ços mínimos, apenas para os pequenos e médios agricultores; b) Preço ao consumidor, -controle de preços da agroindústria. - estimular a concorrência no setor da agroindústria para reduzir sua oligopoliza- ção. - manutenção e utilização de estoques re- guladores; c) Reestruturar as Ceasas (controle de pre- ço produtos/consumidor para horüfruti- granjeiros).

6 Ações de combate à fome e à desnutrição: a) Programas de alimentação voltados para as necessidades das famílias carentes (com renda familiar mensal de até 3 salários-mí- nimos); b) Apoiar a organização de pequenos vare- jistas; c) municipalização da merenda escolar; d) ampliar o Programa de Alimentação do Trabalhador - PAT; e) Reordenamento e ampliação das ações dirigidas aos grupos de risco, com ênfase ao combate á desnutrição.

POSICIONAMENTO DO GOVERNO

■) Representa prioridade básica da política governamental: a) Os Ministérios setoriais estão elaboran- do Programas Compensatórios de Geração de Emprego e Renda com objetivo principal de criar novos postos de trabalho; b) O Ministério do Trabalho tem concen- trado esforços na revisão da política sala- rial e na recuperação do poder aquisitivo do salário mínimo.

2 O Governo dará continuidade ao Programa de Reforma Agrária. O cronograma de im- plementação encontra-se defasado, exigin- do revisão das metas iniciais de assenta- mento de 400.000 famílias de trabalhado- res rurais sem terra até 1994, da emancipa- ção de cerca de 190.000 projetos de assen- tamento e colonização, além das atividades de regulação fundiária e distribuição de documentos de titulação.

3 Os instrumentos de política agrícola devem ser acessíveis a todos os produtores rurais e

compatíveis com o objetivo de aumentar a produção. Para o apoio aos agricultores de subsistên- cia deverão ser analisadas medidas espe- ciais, tais como: fomedmento de equipa- mentos e de sementes selecionadas, compra antecipada de produção, etc.

4 No Âmbito dos Programas Compensatórios de Geração de Emprego e Renda, está sen- do analisada a participação dos Bancos ofi- ciais no financiamento de pequenas e mé- dias agroindústrias.

5 Há concordância quanto à revisão da com- posição da cesta básica (ração essencial mí- nima) que foi definida no final dos anos 30, e não incorpora as mudanças dos hábitos afimen tares: a) A Política de Garantia de Preços Míni- mos tem por objetivo estimular o plantio e garantir o retomo do investimento ao pro- dutor independentemente de seu tamanho. Apoio exclusivo aos agricultores de subsis- tência deve ser concedido através de outros instrumentos conforme mencionado ante- riormente; b) A Política do Governo é promover acor-

dos com o setor produtivo e os trabalhado- res para conter o encarecimento dos gêne- ros alimentícios. No médio prazo o seu ba- rateamento deverá se realizar através de medidas de estímulo à produção, produti- vidade e regularização do mercado;

• A Seplan está analisando proposta de isentar e/ou diminuir ICMS dos produto- res básicos. • O governo aplicará a Lei 8.158 de 08 de janeiro de 1991 (Lei Antítruste) para punir os abusos nos reajustes de preço (prática de lucro abusivo). • O governo possui atualmente estoques reguladores dos principais gêneros básicos que estão sendo utilizados para estabilizar os preços de mercado. c) a proposta de reestruturação das Ceasas deverá ser submetida à análise dos órgãos competentes.

6 Ações de combate à fome ei desnutrição: a) O governo federal deverá promover a di- vulgação de experiências bem sucedidas a exemplo do "Programa Sacola Econômica" desenvolvido pdo Sesi-RS. É importante ressaltar que programas de abastecimento e alimentação (tipo mercadão, sacolão, res- taurantes populares etc) devem ser im- plementados pelos Estados e municípios representando a contrapartida local e par- ceria dessas instâncias de governo na res- ponsabilidade nadonai pda política de alimentação e nutrição; b) A Conab/Mara lançou o programa de Rede Somar, que tem entre seus objetivos o apoio aos pequenos varejistas; c) O Ipea/Seplan elaborou uma proposta de descentralização da merenda que já está sendo estudada pela FAE e que conta com o apoio do Ministro da Educação; d) O Ipea/Seplan apresentou uma proposta de ampliação do PAT ao Ministério do Trabalho. Poderia ser avaliada uma inclu- são nos incentivos fiscais de outros tribu- tos, tipo IP1 ou Finsodal, com objetivo de beneficiar as pequenas e médias empresas; e) Proposta do Programa "Leite é Saúde". Este programa atende todas as exigências da proposta do PT no combate i desnutri- ção materno-infantil (indusive no que se refere ao Sisvan).

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Quinzena FoMtiea MMíOIMI Convergência Socialista-N?356-04.0Z93a 10.02.93

Entrar em governos burgueses é uma traição A entrada de Luíza Erundina no governo de Itamar Franco, ou seja, de uma liderança de um partido operário num governo burguês, não constituí uma experiência sem precedentes na história do movimento socialista. Não foram poucos os dirigentes que construíram seu prestigio nas lutas populares para depois abandonarem

estas lutas em troca de um cargo governamental.

Henrique Carneiro A principal forma da burguesia

neutralizar as tendências à radicaliza- ção das massas diante das insuportá- veis condições da exploração capita- lista é corrompendo e co-optando as lideranças operárias e populares.

No século passado, quando os pri- meiros partidos operários socialistas organizavam-se na Europa, era um princípio do movimento socialista não compartilhar de responsabilidades go- vernamentais com a burguesia. Era uma convicção unânime que a presen- ça de dirigentes ligados ao movimento operário nos governos burgueses era uma traição e servia não para mudar a natureza desses governos, mas sim pa- ra mudar a natureza desses dirigentes e sacrificar a independência política duramente conquistada.

O primeiro caso famoso de partici- pação de um dirigente socialista num governo burguês foi quando o social- democrata Millerrand entrou para o governo da França, em 1899, no cargo de ministro da Indústria.

O que se obteve com essa entrada de um socialista no governo? Segundo Lênin: ' 'Em troca deste infinito avil- tamento e auto-hwnilhação do socia- lismo perante o mundo inteiro, da corrupção da consciência socialista das massas operárias — única base que nos pode assegurar a vitória —, em troca de tudo isto, oferecem-nos uns escandalosos projetos de miserá- veis reformas; tão miseráveis, que se teria conseguido obter mais dos go- vernos burgueses!"

TRISTE FIM DE MILLERAND

Alguns meses depois, Millerand, ao

reprimir a greve dos ferroviários, de- monstrava seu verdadeiro papel no gabinete: usar o prestígio de um diri- gente que provinha do movimento so-

cialista para melhor reprimir o movi- mento operário. Não simplesmente porque os ex-dirigentes operários se- jam os melhores carrascos, mas por- que lançam confusão e desmoraliza- ção entre a classe operária devido ao seu prestígio e passado de lutadores.

Após a entrada de Millerrand para o governo, a social-democracia mun- dial logo perdeu todos os pudores e passou a atirar-se sequiosamente na caça aos ministérios burgueses. Os socialistas franceses entraram até mesmo - o que à luz da história é es- pantoso! - para o governo Pétain, co- laboracionista do nazismo, que contou com dois ministros socialistas. Seme- lhantes traições levaram o partido so- cialista francês, conhecido até então como SFIO (Seção Francesa da Inter- nacional Operária), a praticamente de- saparecer no pós-guerra, só retornan- do com força à cena política francesa após 1968, com a ascensão de um ex- ministro de assuntos coloniais do ge- neral De Gaulle durante a guerra da Argélia, o atual presidente François Mitterrand.

EXEMPLOS NÃO FALTAM Na Alemanha, país do mais forte

movimento operário do século passa- do, após a queda da monarquia em 1919, os social-democratas Ebert e Scheidemann compuseram um gover- no com a burguesia sob a presidência do primeiro. Esse governo afogou em sangue a revolução proletária e foi responsável pelo assassinato de Rosa Luxemburgo e Kark LiebknechL Na Alemanha exemplificou-se de forma

trágica porque é útil para a burguesia ter os partidos operários no governo: para hipotecar o seu prestígio na defe- sa do Estado burguês e da propriedade dos monopólios nos momentos em que a crise é tão grande que as massas não mais aceitam serem governadas pelos partidos e representantes burgueses.

Na Espanha de 1936, até os anar- quistas entraram para um governo que acabou facilitando a vi-tória do dita- dor Francisco Franco.

Um dos exemplos mais recentes é o do Chile. Em 1970, elegeu-se um go- verno formado por burgueses, socia- listas e comunistas, presidido por Sal- vador Allende. Ao invés de estimular as lutas populares, esse governo dedi- cou-se a reprimi-las e a chamar a con- fiança nas Forças Armadas, cujo che- fe, Pinochet, nomeado pelo próprio Allende, acabou por derrubá-lo no golpe de 1973. Poucos meses antes do golpe, Allende delegava às Forças Armadas, através da "Lei de Apreen- são de Armas", a tarefa de invadir as fábricas em busca das armas que os operários armazenavam para se defen- derem da ameaça golpista.

Dentre esses exemplos históricos é preciso diferenciar dois tipos de go- vernos burgueses que contam com a participação de representantes dos partidos operários: aqueles em que os partidos operários são maioria e aqueles em que os partidos operários são minoria. No primeiro caso, a pre- sença da burguesia num governo so- ciai-democrata serve como fiadora de que esse governo respeitará a proprie- dade e a legali càde capitalista; no se- gundo caso, os dirigentes operários entram como íiadores do projeto bur- guês. ,

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Quinzena PolHíca Naeionai

— Pró Central de— Movimentos Populares

ANÁLISE DE CONJUNTURA

IMPEACHMENT DE COLLOR Marca uma derrota política do Neo-

liberalismo mas não é ainda uma der- rota ideológica do Neo-liberalismo. O governo Collor havia reagrupado seto- res da burguesia no aparelho de Esta- do e estabeleceu com seus planos um eixo comum de enfrentamento da crise econômica, garantindo a acumulação privada desses setores delapidando o patrimônio público com as privatiza- ções, desvio de verbas das políticas sociais, penalizando a maioria da po- pulação, defundindo e sustentando

ideologicamente o neo-liberalismo. Vivemos no período que antecedeu

a votação a retomada de grandes mo- bilizações, a emergência de novos ato- res, como os jovens "cara-pintadas", o movimento pela ética na política. Este processo foi apenas parte de um movimento de democratização do Es- tado e das Instituições. A queda de Collor, entretanto, não atingiu os cor- ruptores. Mas a sociedade desperta e presta mais atenção à CPI da VASP, da CPI da NEC.

O Governo Itamar tenta cooptar forças com os ministérios. Os contor- nos de seu governo não estão defini- dos, embora esteja no campo do neo- liberalismo, mas pontue diferenças com o governo Collor, especialmente quanto ao caráter de modernidade e modernização vinculada à miséria da maioria da população. Em menos de dois meses depois o governo Itamar encontra-se numa situação que regis- tra um aprofundamento da crise social e econômica provocada pelo modelo de desenvolvimento no Governo Col- lor.

Se o governo Itamar não assumir uma postura firme que enfrente a crise o caos social vai levar o país a uma explosão social e a um "Apartheid Social" que já se percebe no trato dos arrastões, saques e no massacre do Carandiní. "Apartheid" perceptível em situações como a rebelião da FE- BEM, a discriminação nas praias do

Rio. 0 Brasil vive um prolongado pe-

ríodo de estagflação, isto é, de infla- ção alta somada à estagnação econô- mica. Com isso, a recessão, o desem- prego, o arrocho, o delibitamento da economia formal levantam a urgência de reformas sociais e econômicas. Existe a necessidade de pelo menos um programa mínimo de reformas.

Os resultados eleitorais em meio a tudo isso apontam 03 tendências:

1 - Ocorre uma polarização da es- querda em: Salvador, Belo Horizonte, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Ma- ceió, entre outros importantes centros urbanos e capitais. Saem derrotados nessas eleições A.CM, Brizola e Quércia. Por outro lado, Maluf apare- ce como alternativa de reaglutinação da direita.

2 - Há também um crescimento re- lativo de prtidos de Centro-esquerda e centro-direita. O PMDB por sua vez vai se configurando como um partido das cidades do interior.

3 - Por fim notou-se o debilita- mento dos partidos de direita que atu- raram no apoio e sustentação de Col- lor como no caso do PFL, PRN, PDC, etc. O PFL, entretanto, pelo seu clienteiismo e fisiologismo permanece como uma força eleitoral em várias regiões do país. E necessário conside- rar ainda que o número de votos nulos e branco expressam, por um lado, a rejeição de amplas parcelas da popu- lação do conjunto dos partidos políti- cos, e por outro lado, a incapacidade dos partidos de esquerda apresenta- rem-se como alternativa junto a estes setores.

Um fato novo, entretanto, é o forte discurso contra as administrações de- mocráticas e populares. Este discurso se proliferou, como uma espécie de versão brasileira do antí-comunismo europeu. Os seus portadores creden- ciam-se como os que desejam "salvar a elite brasileira de uma vitória da es- querda em 1994".

Embora inúmeras ações específicas e localidades há uma crise dos Movi-

mentos Populares Urbanos. Extrema- mente fragmentados, como a ausência de um movimento hegemônico e com

dificuldades de articular-se com outras esferas da sociedade civil, não pres- sionam os rumos do Governo Itamar.

Embora a complexidade da con- juntura não permita a projeção de ce- nários com maior segurança, cabe destacar algumas variantes.

Primeiramente, há uma indefinição dos rumos do governo Itamar. Está colocado o desafio para os movimen- tos populares de apresentarem pro- postas concretas para enfientar a cri- se.

O outro aspecto é que 1993 será um ano de grande importância para a agenda Institucional, com o Plebiscito sobre o sistema de governo e a Revi- são Constitucional num quadro em que se exigem alternativas efetivas e concretas para intervir na crise eco- nômica social.

A Reforma Constitucional em ou- tubro ou mais (se for antecipada) po- derá ter uma abrangência ampla e res- trita. Nesse momento a classe domi- nante buscará provocar retrocessos aos avanços conquistados na Consti- tuição. Nessa linha vai a reorganiza- ção de um "Centrão" como as campa- nhas da TFP e outros atores da direita.

O grande desafio colocado para os movimentos populares é intervir no plano institucional ao mesmo tempo em que se enfrenta concretamente a crise.

Especificamente aparecem seis de- safios:

1. Elaborar propostas que apontem para democratização social, econômi- ca e cultural da sociedade brasileira.

2. Articular-se com outros setores da sociedade civil no sentido de cons- tituição de um bloco hegemônico de- mocrático popular.

3. Encontrar canais e meios de su- perar a fragmentação e o corporati- vismo presentes provocando uma arti- culação entre as reivindicações locais e setoriais com programas de reivindi- cação global e de caráter nacional.

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Quinzena iiiiiiii Wmm

PoHtiea Nacional 4. Avanços no diálogo e na articu-

lação com o conjunto dos "excluídos" e "marginalizados" que não repre- sentam através dos movimentos so- ciais.

5. Ocupar-se o vazio e a indefini-

ção das políticas sociais através de propostas que signifiquem avanços reais no combate à miséria articulados a um programa econômico com uma nova concepção de desenvolvimento.

6. Potencializar as administrações democráticas e populares de nível municipal como expressão da possibi- lidade de um governo comprometido com as maiorias "excluídas" e que in- corporam esses segmentos sociais co- mo sujeitos ativos do processo de de- mocratização.

A posição da PnS-Cenlial frente a

esses desafios nos colocam face a al- gumas importantes questões:

- Precisamos ter um projeto alter- nativo neste momento de indefinição política, um conjunto de propostas pa- ra a afirmação de um programa míni- mo, implementando a ação estratégica do movimento popular.

- Fortalecer os movimentos emer- gentes, fazer contato com os movi- mentos já existentes e implementar um processo de articulação desses movi- mentos em lutas conjuntas. É necessá- rio reforçar a discussão sobre os eixos de luta e a unificação das lutas para tentar um caráter estratégico.

- Implementar as lutas da Pró- Central como luta pela vida.

- Realizar uma campanha nacional contra a violência, a repressão, a fome e a miséria; pela vida e contra o "A-

partheid social". - Apoiar a luta do MST e denún-

cias a prisão dos companheiros que estão sendo julgados como presos co- muns.

- Entender melhor e aprofundar a compreensão dos valores culturais e imaginário popular.

- Fazer uma listagem das conquis- tas constitucionais, e a partir para a defesa desses direitos pressionando o Congresso para não retroceder nas conquistas já alcançadas na Consti- tuinte.

- Convocar os setores organizados comprometidos com a luta da popula- ção explorada e marginalizada para garantir e ampliar os direitos dos tra- balhadores no processo de Reforma Constitucional como: Reforma Urba- na, Reforma Agrária e a Cidadania. c

Análise Semanal de Conjuntura Econômica 13 de Maio - NEP -18.02.93

Internacional

Acabou o Carnaval O novo presidente dos Estados

Unidos pretende implantar uma nova política econômica naquele país. Ele- var impostos, reduzir despesas milita- res, aumentar as verbas federais para o sistema de saúde pública, educação e infra-estrutura. Quanto às relações com o resto do mundo, é cada vez mais clara uma postura de elevação das exportações americanas e de bar- reiras à importação. O ministro da economia do Japão passou toda a se- mana passada nos Estados Unidos, tentando descobrir as intenções do novo governo americano quanto ao relacionamento econômico com seu país. Esteve inclusive com o próprio Bill Clinton, em uma reunião marcada pela dureza e ameaças de retaliações comerciais, caso o Japão não reduza o seu gigantesco superávit comercial com os Estados Unidos. De volta a seu país, na segunda-feira, o ministro japonês foi acometido de um mal sú- bito, quando explicava no parlamento os resultados de sua visita aos Estados Unidos. Deve passar pelo menos dez dias no hospital para se recuperar de uma profunda gripe e elevada estafa, conforme o diagnóstico dos médicos.

A economia americana começa a pagar a conta de uma festa que durou mais de 10 anos. Durante as adminis-

trações de Reagan e Busch, nos anos 80, a orgia de endividamento e con- sumo daquela economia deu o ritmo para o restante da economia mundial. Os Estados Unidos se transformaram no grande escoadouro das exportações do resto do mundo. Mas não foi só isto. O liberalismo da política ameri- cana garantiu a chamada globalização dos mercados, com uma derrubada das barreiras nacionais não apenas para os fluxos comerciais, mas também para o livre trânsito do capital financeiro e das empresas multinacionais. Quem mais lucrou foram os grandes bancos e as grandes corporações. As econo- mias que mais cresceram foram as do Japão e Alemanha. Enquanto os Esta- dos nacionais se colocaram a serviço do capital multinacional, as políticas econômicas domésticas reduziam os recursos para os serviços essenciais da

sua população: saúde, educação, transporte coletivo, aposentadoria, sa- neamento, etc. Tudo isto fd destruído no período em que reinou o chamado neoliberalismo.

Os mendigos e desempregados se multiplicam aos milhões nos Estados Unidos e na Europa. No Japão e nos Tigres asiáticos (Coréia, Cingagura. Hong Kong, Formosa, China Malás- sia) as condições de vida dos traba-

lhadores pioraram como nunca, apesar do pleno-emprego garantido pelas ex- portações de bens de luxo para os Estados Unidos e Europa. Na América Latina nunca se acelerou com tanta força a miséria e o desespero da maior parte da população. No México, um dos países latino-americanos mais atingidos pela onda neo liberal dos úl- timos dez anos, a parte mais pobre da população já incorporou à sua sobre- vivência o consumo de insetos-bara- tas, mosquitos, aranhas, etc. Isto co- meça a se espalhar também para ou- tros países, como Venezuela, Colôm- bia, Brasil, etc. Os cínicos represen- tantes de organizações científicas in- ternacionais se apressaram em atestar que estes insetos compõem uma fonte alimentar muito rica em proteínas! O Leste europeu se afunda mais e mais na catástrofe econômica e na desagre- gação dos Estados nacionais. Os con- flitos tribais retornam com toda a for- ça no continente africano, inviabili- zando qualquer possibilidade de de- senvolvimento econômico naquela área. O Oriente Médio se esfacela no fogo cruzado do imperialismo e das oligarquias árabes.

O problema dos americanos é que a sua população também está sendo atingida por esta destruição das forças

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Quinzena

produtivas mundiais. A indústria na- cional americana está ameaçada pela concorrência dos baixos salários do terceiro mundo, pelas políticas prote- cionistas da Comunidade Econômica Européia e Japão, pelo endividamento dos anos 80. Como se tudo isto não bastasse, uma crise econômica ameaça quebrar milhões de empresas e au- mentar ainda mais o desemprego nas principais economias. Bill Clinton ga- nhou a eleição de Busch, porque este último não conseguiu estancar esta situação de crise econômica e social que atingiu aquela economia, O plano econômico de Clinton, lançado nesta

w8MttsXXMMfMMW(M^í!i Intmrnmeionmt

Gazela Mercanü -16.02.93

semana, é o começo de uma grande mudança no ambiente econômico que prevaleceu nos últimos dez ou doze anos na economia mundial. As fanta- sias neoliberais começam a ser apo- sentadas. A volta das intervenções do Estados não vai resolver os problemas econômicos e sociais aprofundados nos últimos anos. O que se procura, na sede do império, é uma forma de se organizar melhor a quarta-feira de cinzas do carnaval neoliberal. O que vem pela frente não é uma "nova era de crescimento", mas um aumento das pressões nacionalistas e protecionistas no mercado mundial. Se Clinton exa-

gerar na dose, as bolsas de valores, que medem o nível de valorização do capital mundial, podem desabar como castelos de cartas. Do mesmo modo que o enorme endividamento da eco- nomia americana serviu para acelerar as artérias do capital global, o paga- mento desta enorme conta pode pro- vocar uma profunda pneumonia e es- tai a no resto da economia mundial, e não apenas no apavorado ministro da economia do Japão. O pacote econô- mico de Clinton significa que ele está disposto a começar a pagar aquela conta. As portas se abrem um pouco mais para o previsto choque econômi- co mundial em 1993.

A economia e a síndrome de Peter Pan por Charles Leadbeater

do Financial Times

O clímax do milagre eco- nômico japonês terminou. Os dias em que os financis- tas, fabricantes e varejis- tas japoneses podiam fazer testa numa economia que crescia a mais de 4% ao ano já passaram, talvez de

, uma vez. O Japão tornou-se uma economia adulta.

Naobiro Amaya, ex-vice- ministro do Ministério do Comércio e Indústria Inter- nacional — um dos arquite- tos do sucesso do JapSo —, explicou esse fato da se- guinte forma: "O Japão é particularmente suscetível à síndrome de Peter Pan. Muito embora a economia seja adulta agora, muitas pessoas se copmportam co- mo se fôssemos crianças".

Amaya acredita que a economia japonesa está co- meçando um longo período de ajuste, durante o qual crescerá apenas lentamen- te, um período que poderá prolongar-se até fins da dé- cada de 90.

As principais indústrias que puxam o crescimento econômico — a automotiva e a eletrônica — estão en- frentando acentuada queda de demanda, o que as obri- ga a reconsiderar suas tra- dicionais estratégias de crescimento acelerado. Os. bancos japoneses estão so- brecarregados com dívidas de empréstimos problemá- ticos que levarão vários anos para serem elimina- das. O setor de serviços do país está enfrentando sua primeira recessão. Os gas- tos dos consumidores, de- pois do notável consumo da década de 80, estão estacio- nados.

Se este quadro estiver correto, então o corte re- cente de 0.75% na taxa ofi-

cial de redesconto — que caiu para o nível histórico de 2,5% — poderá não ser suficiente para reativar a economia, que, segundo o governo, deve crescer ape- nas 1,6%'ao ano até março (final do exercício fiscal de 1992), em comparação com 5%, há dois anos (ver qua- dro).

Mesmo assim, esta opi- 'nião é a da minoria, em meio ao otimismo que do- mina a maioria dos depar- tamentos do governo e das instituições financeiras. . VISÃO DOS OTIMISTAS

05 otimistas argumen- tam que o Japão está pas- sando por um declínio cícli- co, depois do colapso da "bolha" especulativa que inflou a economia de 1987 a 1989, quando o crédito era barato e os preços das ações, os valores dos imó- veis e os lucros dispararam para níveis recordes. Logo que a demanda se recupe- rar, alimentada pelas bai- xas taxas de juro e pelos gastos públicos, os otimis- tas acreditam que a econo- mia deverá crescer, a par- tir do próximo outono (setembro-dezembro), mais de 3% ao ano (ver gráfico).

Os próximos seis meses mostrarão se o Japão vai voltar a ganhar impulso de- pois da recessão ou se a economia precisa de uma reforma estrutural durante vários anos. A reestrutura- ção da economia japonesa depois do primeiro choque do petróleo em 1973 levou quatro anos. Será que ago- ra irá durar tanto tempo?

O governo confia que a economia não terá necessi- dade de uma reforma total, em grande parte porque es- tá empenhado num ambi- cioso esforço para

sustentá-la. A redução da taxa de juros faz parte des- se esforço.

Por si só, este corte na ta- xa de redesconto terá ape- nas um impacto limitado sobre a economia. Os maio- res beneficiários serão os atribulados bancos japone- ses, que estão enfrentando dívidas crescentes resul- tantes de empréstimos es- peculativos para o setor de imóveis. Taxas de juro ofi- ciais menores reduzirão os custos de sua tomada de empréstimos junto ao Ban- co do Japão e lhes permiti- rão, desta forma, ampliar as margens de lucro. <'

Mas mesmo com a taxa de redesconto em seu nível histórico mais baixo, é im- provável que esse corte, por si só, venha a reativar os gastos de consumo ou o

investimento. 0 investi- mento das companhias es- tá sendo drasticamente re- duzido porque muitas In- dústrias estão com capaci-, dade ociosa, visto que os in- vestimentos planejados em fins da década de 80 come- çaram a fluir na economia num momento em que a de- manda estava em baixa.

As famílias japonesas são extraordinariamente poupadoras, a tal ponto que o rendimento de suas eco- nomias é duas vezes maior do que seus pagamentos de juros sobre os empréstimos tomados.

A redução das taxas po- derá desestimulá-los de poupar mais, mas reduzirá também sua renda disponí- vel.

Mas vai haver mais apoio á economia na forma de gastos públicos e redu- ções fiscais. O pacote de gastos de emergência de 10,700 trilhões de Ienes, aprovado pelo Parlamento

iilii-iiii

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Quinzena Intmrnaeíanal no final do ano passado, es- tá apenas começando a fil- trar-se pela economia.

O orçamento deste ano, que aumenta as despesas gerais em cerca de 7%, de- verá ser aprovado no próxi- mo mês. Um grupo de tra- balho do Partido Liberal Democrático (PLD), do go- verno, está traçando pla- nos para mais um pacote de emergência, no valor talvez de 4 trilhões de ienes (US$ 33,15 bilhões), que provavelmente incluirá re- duções fiscais e poderá ser anunciado nos próximos meses.

ESTIMULO FISCAL

Robert Feldman, princi- pal economista da Salomon Brothers, corretora de ações norte-americana, acredita que esse estímulo fiscal é tSo grande que eventualmente reativará o consumo. A taxa de cresci- mento do consumo pessoal se reduziu à metade, de 2,6%, em 1991, para cerca de 1,3%, neste ano.

Segundo Feldman, exis- tem agora as bases para uma recuperação, liderada pelo consumo. O desempre- go tinda é de apenas 2,4%, com o emprego ainda^cres- cendo, embora lentamente, e a remuneração por em- pregado aumentará prova- velmente entre 3e4% neste ano, aproximadamente o mesmo nível de meados-da década de 80. Isso permiti- rá que a economia cresça 3% neste ano e no próximo.

A equação pode não ser tio simples. Em primeiro lugar, existem dúvidas se o

consumo responderá ao es- tímulo fiscal.

0 declínio nos gastos de consumo neste ano confun- diu os economistas, princi- palmete porque o mercado de trabalho continua aper- tado e as finanças familia- res estão relativamente saudáveis. Alguns observa- dores atribuem o declínio do consumo á mudança de preferências e atitudes. Depois da orgia de gastos, em fins da década de 80, muitos japoneses estão vol- tando às coisas básicas —

produtos mais simples, que representam uma boa com- pra. Os mercados de produ- tos eletrônicos e de carros estão saturados, depois do alto crescimento em fins da década de 80.

Um segundo obstáculo à recuperação poderão ser os problemas estruturais no setor de finanças e na in- dústria. A maioria das companhias está enfren- tando um quarto ano conse- cutivo de declínio de lu- cros. Uma recuperação dos lucros corporativos é vital para financiar novos inves- timentos. Mas os lucros só se recuperarão se as com- panhias japonesas supera-

' rem seus custos, que cres- ceram mais rapidamente do que na década de 80.

As apertadas margens de lucro em muitas compa- nhias japonesas as deixa vulneráveis a uma ligeira queda das vendas. Isto por- queseus custos fixos e-as folhas de salários cresce- ram rapidamente durante a década de 80.

"A reestruturação ba- seada no aperto ou redução

dos custos pessoais é uma prioridade urgente. Em al- guns casos, está em jogo a própria subsistência das empresas", diz o Instituto de Pesquisa do Japão, gru- po de pesquisa do setor pri- vado. A redução de custos na escala exigida pode du- rar anos, tendo em vista as restrições do sistema de emprego vitalício do Ja- pão.

BANCOS COM PROBLEMAS

O setor financeiro não es- tá em situação melhor. Os bancos estão enfrentando um número cada vez maior de dívidas de empréstimos não pagos, que poderão chegar a mais de 50 tri- lhões de ienes (US$ 414,25 bilhões), o equivalente a cerca de 12% do PNB. Em- bora estejam tentando re- duzir essas dívidas, os em- préstimos poderão ficar li- mitados. O baixo nível de concessão de empréstimos bancários é um dos princi- pais fatores da recente con-

tração sem precedentes dos meios de pagamento. Por isso, se o consumo não começar a reativar-se, uma recuperação poderá ser sufocada pela in a capa- cidade dos bancos de con- ceder empréstimos para promover o crescimento.

UAia outra incerteza obs- curece a perspectiva eco- nômica. Embora a visão otimista prevalesça nos círculos do governo e da burocracia, existe certa discordância a respeito da maneira como responder à recessão.

O Banco do Ja-

pão só concordou em redu- zir a taxa de redesconto de- pois que o Ministério das Finanças e o PLD fizeram pressão. - h

Mais importante do que isso, não existe acordo al- gum a respeito do objetivo estratégico da política eco- nômica. Os dirigentes do PLD querem uma forte re- cuperação para garantii\ a vitória numa eleição geral, a ser realizada em abril do próximo ano. Querem íarti- bém libertar-se da pressão de Washington para que'o Japão reduza seu superávit comercial através de um crescimento maior da eco- nomia japonesa.

Mas alguns representan- tes do Banco do Japão e do Ministério das Finanças acreditam que o cresci- mento acelerado e o crédito barato da década de 80 mi- nimizaram e retardaram a necessidade de que a rees- truturação a longo prazo se ajustasse ao crescimento mais lento. Como disse uma fonte do Ministério das Finanças: "As compa- nhias tiveram grandes lu- cros em fins da década de 80, agora devem ter alguns sofrimentos. Temos de aprender que não somos como a Coréia: não somas mais uma nação em desen- volvimento. Tenfos que nos desacelerar".

Mas quanto mais tempo durar o declínio econômi- co, tanto mais será prová- vel que o Japão tenha de passar por um período do- loroso de reestruturação, que poderá durar até a se- gunda metade desta déca- da.

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Quinzena Exame-N* 4-17.02.93

w Intemaeionoí

APÓS A FESTA, UMA RESSACA QUE SÓ PIORA Pouco mais de dois anos depois da reunificação, Kohlpede sacrifícios que ninguém quer fazer

O primeiro-ministro alemão, Hel- mut Kohl, perdeu há pouco mais de dois anos uma excelente oportunidade de não fazer o papel de profeta ca- nhestro. "Depois da unificação, a si- tuação não vai piorar para ninguém e vai melhorar para a maioria", afirmou Kohl, na época em campanha à reelei- ção. O fato é que piorou para todos. Donos de boa memória, os alemães lembram-se muito bem da promessa. Eles deixaram isso claro no ano pas- sado atirando ovos em Kohl e espa- lhando greves por todo o país. Dois anos e quatro meses após a grande festa da reunificação, a ressaca não faz senão subir de grau. Os alemães estão mais divididos - e endividados - do que nunca, A conta da festa é de arromba: 100 bilhões de dólares anuais. O desafio é elevar o padrão de vida dos 17 milhões de habitantes da extinta Alemanha Oriental ao nível dos 62 milhões de prósperos cidadãos da capitalista metade ocidental. A ta- refa está exigindo sacrifícios que pou- cos estão dispostos a fazer. "Não po- demos agir como se a reunificação não tivesse acontecido", diz Kohl.

Esses sacrifícios se traduzem em mais impostos, salários estagnados, inflação em alta e elevadas taxas de juro. Para financiar o desenvolvi- mento da porção oriental, o governo criou em 1991 o chamado "imposto de solidariedade" - uma sobretaxa de 7,5% no imposto de renda e no preço dos combustíveis. Não deu nem para o começo. Para pagar a conta, o gover- no endividou-se alucinadamente desde então. O resultado imediato foi um aumento nos juros, para desespero dos demais países da Comunidade Eco- nômica Européia. Em julho passado, o Bundesbank, o banco central alemão, elevou em 0,75 ponto percentual sua

taxa de redesconto, que ficou em 8,75% ao ano. O Impacto no resto do continente, enorme, perdura até hoje. A medida desviou o fluxo de capitais para a Alemanha, que precisava do dinheiro para as despesas da reunifi- cação. Outros países, como a Itália, foram obrigados a elevar também suas taxas de juro para tentar evitar a des-

valorização de suas moedas e compe- tir com a atraente remuneração de ca- pital oferecida pela Alemanha, a maior nos últimos sessenta anos.

Nem assim deu certo. A cotação de várias moedas despencou. Até o sis- tema Monetário Europeu, o mecanis- mo criado há quatorze anos para manter estável a paridade entre as moedas e evitar terremotos financei- ros, entrou em pane. A lira italiana e a libra esterlina abandonaram o SME logo após a primeira crise nos merca- dos. A medida do Bundesbank provo- cou várias críticas à Alemanha, que passou a ser responsabilizada pela re- cessão na Europa e de certa forma até pela mundial. Os efeitos não foram apenas externos. A elevação das taxas de juro pode ter atraído capitais e se- gurado a inflação, mas jogou a eco- nomia alemã para baixo. No final de novembro Kohl admitiu publicamente que o país estava em recessão. O alto custo do dinheiro nos bancos inibiu investimentos, consumo e produção. Os resultados foram um aumento no índice de desemprego e uma queda no produto interno bruto. Depois de ter crescido apoias 1,5% no ano passado, o PIB deve cair em tomo de 1% em 1993. A renda dos alemães vem min- guando. O trabalhador médio só deve- rá recuperar o seu poder aquisitivo de 1990 em 1995. E a inflação passou de 4% no último ano, uma das mais alta da Europa. E o preço da unificação.

"REPÚBLICA DE VERANISTAS"

Os alemães não parecem dispostos a pagar essa conta. A maioria deles não precisou fazer os sacrifícios ne- cessários para reerguer o país após a derrota na II Guerra Mundial e só co- nheceu prosperidade. Nesses quase cinqüenta anos, os alemães trocaram seus Volkswagen por Mercedes e fins de semana no interior por férias de um mês em praias tailandesas. Eles detêm atualmente o melhor padrão de vida do mundo. Os alemães ganham mais, vivem melhor e trabalham menos do que qualquer outro povo. Com 42 dias de férias e feriados por ano, trablham uma média anual de 1.499 horas con-

tra 1.847 dos americanos e 2.139 dos japoneses. Mesmo assim, poucos no mundo perdem tantos dias de trabalho por supostos motivos de saúde - prin- cipalmente às sextas-feiras e segun- das-feiras. São 145 horas por ano. Os americanos perde 57 e os japoneses, 36. Para Kohl, a Alemanha se trans- formou numa "república de veranis- tas", presenteados com dois meses e meio de dias úteis ranunerados por ano. "Nós nos tomamos um povo que colhe mas não semeia", afirma o pre- sidente da Federação das Indústrias Alemãs, Heinrich Weiss. Exortações desse gênero não comovem ninguím. "Nós nos recusamos a pagar pelos gi- gantescos enros cometidos por Kohl em nome da reunificação", diz Ursuia Mõllmann, secretária em Berlim.

Os trabalhadores não estão sozi- nhos. Os empresários, queixosos, acham que já está bom demais o im- posto de 66% sobre seus lucros, a maior tributação desse tipo em todo o mundo. Eles ameaçam instalar suas fábricas em outros países se tiverem de rachar a conta da unificação. Por

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Internacional

causa da recessão, muitos já estão fa- zendo isso. Em vez de investir no de- senvolvimento do lado oriental do pais, algumas empresas estão produ- zindo na República Checa, na Hun- gria e na Polônia, onde os salários são mais baixos do que na Alemanha. Os investimentos no lado ocidental tam- bém estão minguando. A Volkswagen, por exemplo, deve cortar pela metade os 6 bilhões de dólares previstos ante- riormente em investimentos para 1993 e demitir 30.000 funcionários somente este ano. A Audi, subsidiária da Vol- kswagen, deve mandar embora mais de 10% dos seus 37.500 trabalhado- res. A Daimler-Benz, fabricante do Mercedes, também vai demitir este ano. Pela primeira vez em sua histó- ria, a empresa adotará redução de jor- nada de trabalho para evitar um núme- ro maior de cortes. A Bayer, a terceira maior indústria química da Alemanha, está sofrendo queda acentuada nas vendas e também demitiu no ano pas- sado. "Nunca passamos por isso an- tes", diz o presidente da Bayer, Man- fred Schneider.

Kohl está tentando costurar o que ele batizou de "pacto de solidarieda- de". Em jantares com lideranças polí- ticas, sindicais e industriais, propôs um programa de desenvolvimento au- to-sustentado na parte oriental do país. Dos empresários, Kohl quer in- vestimentos para acelerar o cresci- mento da parte ex-comunista e amorti- zar a conta da unificação. Dos tralha- dores, pede moderação nas reivindica- ções salariais. Em troca disso tudo, promete gastar menos e reduzir o dé- ficit orçamentário, que já passa de 6% do PIB de 1,8 trilhão de dólares. Kohl promete ainda reduzir as taxas de juro em até 2,5 pontos percentuais. Com essa medida, o governo baratearia o custo do dinheiro e incentivaria os in- vestimentos necessários para manter a economia competitiva e tirar o país da recessão. Dos políticos de oposição, Kohl quer apoio a cortes nos progra- mas sociais e tolerância com a perda de rendimentos da população. Para compensar, o governo se compromete a manter os subsídios às indústrias estatais da ex-Alemanha Oriental, uma exigência dos social-democratas na oposição.

TOMA LÁ, DÁ CÁ As partes envolvidas estão relu-

tantes em entrar nesse toma lá, dá cá. Preocupados com a saúde de seus ne- gócios, os empresários não querem ar- riscar-se na metade oriental. Mas isso ainda é o de menos, com uma inespe- rada queda no nível de emprego, os sindicatos estão pressionando as em- presas a concentrar seus investimentos na parte ocidental. Eles também não estão satisfeitos cm os acordos feitos com seus conterrâneos pobres. Segun- do o acerto costurado após a unifica- ção, o governo garantiria equiparação salarial para os trabalhadores do lado oriental até 1995. Os metalúrgicos, por exemplo, deverão receber em abril um aumento de 26% por conta desse acordo. Os trabalhadores do lado oci- dental não acham isso justo. Eles pro- duzem o triplo de seus conterrâneos ex-comunistas. Os trabalhadores oci- dentais ganham hoje o dobro de dez anos atrás, mas não estão inclinados a dividir o que têm.

CORTE NOS BENEFÍCIOS

Com 3 milhões de desempregados no lado oriental, o governo está de- sembolsando uma fortuna também com seguro social. Uma família de quatro pessoas recebe em seguro-de- semprego quase 10% mais do que se estivesse trabalhando. Kohl propõe um corte de 3% nesses benefícios em todo o país, seguido de um congela- mento por tempo indeterminado. Isso representa uma redução de mais de 35 bilhões de dólares em programas so- ciais nos próximos quatro anos. "O governo não quer cortar apenas um galho do sistema de bem-estar social, mas sim toda a árvore", dz o líder social-democrata Bjom Engholm.

A oposição promete impedir isso, já que tem maioria na Câmara Alta do Parlamento, mas também não propôs até agora nenhuma alternativa para o pagamento da conta da unificação. Segundo uma pesquisa divulgada no final do ano passado, seis em cada dez alemães acham que a unificação trou- xe mais problemas do que alegrias. E

outro tanto de alemães ocidentais não faz a mínima questão de conhecer o outro lado do seu país. O resultado

prático disso é que a Alemanha etá conhecendo a pobreza pela primeira vez em muito tempo. Segundo dados do próprio governo, pelo menos 8 milhões de pessoas estão nessa faixa. Cerca de 15.000 alemães não têm on- de morar, 800.000 vivem em abrigos e albergues do governo e 1,5 milhão não está conseguindo pagar o aluguel. E: até a Alemanha vai mal, um sinal definitivo de que a crise que se espa- Ihha pelo mundo é particularmente ruinosa. •

ROBERT KURZ

O COLAPSO DA i MODERNIZAÇÃO

Da derrocada do iocialismo de coser no a crise da economia mundial

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DO IDEAL SOCIALISTA AO SOCIALISMO REAL

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Quinzena ® iv^i^^i&^wwSTO^^SSi^^iw^x^y^^w^

Cultura

8 DE MARÇO

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

A rainha-escrava do lar, a Cinderela dos escritórios, fábricas, saias de aula, as mari- posas da noite e borboletas do dia se encontram hoje e saem de suas gaiolas. E negras, brancas, velhas e moças, nos juntamos para construir nossa alegria e a nossa força.

Viemos para gritar, dançar, ocupar as ruas e marcar nossa presença, nosso existir, nós que somos a metade esquecida da humanidade. A metade Mulher.

Viemos para manifestar nosso protesto contra todas as formas de discriminação. E nos somar, na mesma luta que nos irmana negras e brancas, no resgate de identidade atra- vés da conquista de uma verdadeira abolição da escravatura, hoje disfarçada em discrimina- ção e limitação das possibilidades reais da conquista de uma vida plena.

Para que possamos exercer esse direito que ninguém pode nos roubar, muitas coi- sas têm que mudar; coisas essas que têm sido objeto de nossa luta: o direito a creches que não sejam meros depósitos de crianças e que reflitam os nossos ideais de educação, o atendimento integral à saúde, à educação não-alienada e nem sexista, o direito à moradia e à terra também para as mulheres, o exercício do direito de ter ou não ter filhos, o direito ao trabalho, ao salário igual aos homens no exercício das mesmas funções, o direito de tomar parte nas decisões políticas em todas as instâncias.

Continuamos ainda na denúncia e combate à violência que se exerce contra as mu- lheres em casa, nas ruas e no trabalho; no combate à discriminação racial e sexual. Quere- mos garantir a licença paternidade, e que a licença maternidade de 120 dias não implique na demissão em massa das mulheres de seus empregos, como já se ameaça fazer. Precisamos do reconhecimento pleno da empregada doméstica como trabalhadora com iguais dreitos, e precisamos ainda que a sociedade reconheça a importância do trabalho doméstico bem co- mo sua função social.

E sobretudo, acima de tudo, precisamos reconquistar a nossa dignidade de Mulher, em qualquer função, em qualquer lugar, em todos os momentos, e nos expandir, como um pássaro que sai do ovo, e que de espaço e asas faz o seu aprendizado, num mágico vôo.

Nestes anos, o avanço de nossa consciência feminista vem se refletindo na nossa capacidade de organização e em nossa alegria. Já somos muitas, em todas as cidades, e em cada um dos bairros, no centro e na periferia, na cidade e no campo. Lutando nas lutas ge- rais do povo, e nas nossas batalhas de mulher. Unidas pelo mesmo ideal: o combate ao ma- chismo, ao racismo, à exploração, que oprimem a grande maioria da nossa sociedade, e na recuperação de nossa dignidade.

Neste 8 de Março, quando as mulheres do mundo inteiro estão voltadas para as ma- nifestações desta data, nós, mulheres brasileiras, estamos solidárias com todas, e particu- larmente com as mulheres chilenas, palestinas, nincaraguenses, colombianas, paraguaias, sul-africanas, além das nossas índias brasileiras, que somam seus esforços junto com seus povos em busca da libertação.

Nossa luta não é isolada: ela faz parte da luta de todos aqueles que buscam a liber- dade, justiça, dignidade e a construção de uma nova sociedade.