do sentimento de dó

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( lat dolu ) 1 Compaixão, lástima, comiseração. 2 Tristeza. 3 Luto: Vestido de dó . Comiseração s.f. Que sente comiseração pelos problemas alheios; que sente pena pelo sofrimento de outra(s) pessoa(s); misericórdia. (Etm. do latim: commiseratio.onis) O que acontece com quem não conhece música? Não aprendeu e não ouve, não estuda ou não experiencia? Ouve qualquer estilo pouco refinado, nada trabalhado, com uma mensagem estúpida e acha bom. O que se passa na cabeça de um médico, vendedor de carro ou um músico quando olha para um prédio lindo de se ver? Acha maravilhoso e ponto. Não sabe se o encanamento está bom (pra isso, precisa-se do encanador, acho eu), não sabe se a estrutura foi bem montada (acho que deve precisar de um arquiteto). O que um psicólogo ouve quando alguém está falando de física quântica? Vozes. Existe, de certa forma, uma ciência em tudo isso. Anos de estudo, pesquisa, análise, discussão e replicações. A sua pergunta envolve, no mínimo, duas questões fundamentais. Uma: o que é dó. Já começa fudendo tudo porque, apesar de existir um dicionário e definições acadêmicas, as coisas vão se perdendo e cada um acha o que aprendeu a achar. Nomear sentimento é uma dos aprendizados mais difíceis. Alguns vão mais fundo, outros não. A outra é: como posso responder essa questão? Com a minha própria experiência? Com a observação das experiências dos outros? Com os dois? Com ciência? Talvez, a junção de todas essas pode ser a mais interessante.

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Page 1: Do sentimento de dó

Dó(lat dolu) 1 Compaixão, lástima, comiseração. 2 Tristeza. 3 Luto: Vestido de dó.

Comiseração

s.f. Que sente comiseração pelos problemas alheios; que sente pena pelo sofrimento de outra(s) pessoa(s); misericórdia.(Etm. do latim: commiseratio.onis)

O que acontece com quem não conhece música? Não aprendeu e não ouve, não estuda ou não experiencia? Ouve qualquer estilo pouco refinado, nada trabalhado, com uma mensagem estúpida e acha bom. O que se passa na cabeça de um médico, vendedor de carro ou um músico quando olha para um prédio lindo de se ver? Acha maravilhoso e ponto. Não sabe se o encanamento está bom (pra isso, precisa-se do encanador, acho eu), não sabe se a estrutura foi bem montada (acho que deve precisar de um arquiteto). O que um psicólogo ouve quando alguém está falando de física quântica? Vozes.

Existe, de certa forma, uma ciência em tudo isso. Anos de estudo, pesquisa, análise, discussão e replicações.

A sua pergunta envolve, no mínimo, duas questões fundamentais. Uma: o que é dó. Já começa fudendo tudo porque, apesar de existir um dicionário e definições acadêmicas, as coisas vão se perdendo e cada um acha o que aprendeu a achar. Nomear sentimento é uma dos aprendizados mais difíceis. Alguns vão mais fundo, outros não. A outra é: como posso responder essa questão? Com a minha própria experiência? Com a observação das experiências dos outros? Com os dois? Com ciência? Talvez, a junção de todas essas pode ser a mais interessante.

Por isso, deixo um pouco da contribuição da ciência e outro pouco de mim...

Eu, Celina, acho que sentir dó, pena, comiseração, piedade, compaixão, dói. E dói, também, porque a gente acredita que tá doendo no outro. Afirmar ser superior ou inferior não é tão importante. Dó (e todos os seus sinônimos) é um sentimento que exige sensibilidade. E isso, a gente sabe que não é tão comum. Agora, a ciência (e, na minha opinião, combinada com muita sensibilidade):

É comum ouvir-se que “não se deve ter pena dos outros”. Afirmações desse tipo parecem emergir da incompreensão dos fatores determinantes do

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sentimento de pena, equívoco que autorizaria tal avaliação valorativa dessa classe de sentimento.Assim, o observador (a pessoa que sente pena de alguém) deve: 1. identificar que algum evento aversivo atingiu, atinge ou atingirá o outro Por exemplo, o outro pode ter sido abandonado por alguém a quem está afetivamente ligado.2. identificar que a ocorrência do evento tem, necessariamente, função aversiva para o outro, mas não tem que ser aversivo para o observador. 3. discriminar que aquilo que é aversivo para si mesmo é o sofrimento do outro e não, necessariamente, o evento que atinge a este. Assim, deve ser enfatizado que o observador fica sob controle do sentimento (de sofrimento, de dor, de angústia etc.) do outro e não sob controle do evento em si, pois tal evento não precisa ser (e, em geral, não o é) aversivo para ambos.4. discriminar que a pessoa que sofre não possui repertório comportamental que a habilite para evitar ou para eliminar o evento aversivo, isto é, não apresenta comportamento de fuga-esquiva eficaz.5. discriminar que o observador também não possui repertório de comportamento que possibilite impedir que o outro sofra o impacto do evento aversivo.6. constatar que a pessoa que sofre tem função reforçadora positiva para o observador, pois se assim não o fosse, o sofrimento do outro poderia não ter função aversiva para ele.“O sentimento de pena tem subjacente outros dois sentimentos: sensibilidade à dor do outro (‘sofro pela dor dele’); e impotência  para minimizar a nossa dor (‘a dele e a minha’).” (Hélio José Guilhardi)