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1 Do Poder Político e Discursivo das Imagens de Protestos Feministas Chamada de capítulos para publicação de E-book Editores: Zara Pinto-Coelho (Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade- CECS), Ana Maria Brandão (Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais- CICS-UMinho), Silvana Mota-Ribeiro (CECS) Edição: Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, Universidade do Minho, Braga, Portugal Nas últimas duas décadas, têm-se multiplicado as ações feministas de protesto nas ruas das cidades à volta do mundo. Motivadas por questões que integram a agenda histórica dos feminismos, mas que atestam também as recomposições e mudanças do feminismo contemporâneo (no sentido, por exemplo, da interseccionalidade, transnacionalidade, popularização, descentralização e individualização), estas ações envolvem frequentemente o recurso à Internet e à comunicação móvel para a constituição ou uso de redes. Como é sabido, estas tecnologias têm oferecido inúmeras potencialidades para as causas a nível local e a possibilidade de construção de solidariedades transnacionais. As muitas mulheres que foram para a rua na primavera Árabe de 2011, as várias “marchas das vadias”, 2011, no Brasil, as mobilizações do #niunomenos, 2015, na Argentina, a Marcha das Mulheres#nãoSejasTrump, 2017, nos EUA, as ações de protesto instigadas pelo #MeToo, as realizadas no dia Internacional da Mulher 2018, com réplicas por todo o mundo, o protesto nacional “Mexeu com uma, mexeu com todas”, 2018, são alguns dos exemplos desta mais recente mobilização política das mulheres. Neste volume, apelamos à submissão de capítulos que explorem as componentes visuais destes protestos – tanto as imagens produzidas no contexto das práticas de protesto, como as divulgadas nos média. Nas imagens produzidas do interior, incluímos artefactos retóricos, em geral de natureza multimodal, que integram o reportório clássico dos movimentos sociais (placards, cartazes, faixas, posters, desenhos, cartoons, símbolos,

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Do Poder Político e Discursivo das Imagens de

Protestos Feministas

Chamada de capítulos para publicação de E-book

Editores: Zara Pinto-Coelho (Centro de Estudos de Comunicação

e Sociedade- CECS), Ana Maria Brandão (Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais- CICS-UMinho), Silvana Mota-Ribeiro (CECS)

Edição: Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade,

Universidade do Minho, Braga, Portugal

Nas últimas duas décadas, têm-se multiplicado as ações feministas de protesto nas ruas das cidades à volta do mundo. Motivadas por questões que integram a agenda histórica dos feminismos, mas que atestam também as recomposições e mudanças do feminismo contemporâneo (no sentido, por exemplo, da interseccionalidade, transnacionalidade, popularização, descentralização e individualização), estas ações envolvem frequentemente o recurso à Internet e à comunicação móvel para a constituição ou uso de redes. Como é sabido, estas tecnologias têm oferecido inúmeras potencialidades para as causas a nível local e a possibilidade de construção de solidariedades transnacionais. As muitas mulheres que foram para a rua na primavera Árabe de 2011, as várias “marchas das vadias”, 2011, no Brasil, as mobilizações do #niunomenos, 2015, na Argentina, a Marcha das Mulheres#nãoSejasTrump, 2017, nos EUA, as ações de protesto instigadas pelo #MeToo, as realizadas no dia Internacional da Mulher 2018, com réplicas por todo o mundo, o protesto nacional “Mexeu com uma, mexeu com todas”, 2018, são alguns dos exemplos desta mais recente mobilização política das mulheres. Neste volume, apelamos à submissão de capítulos que explorem as componentes visuais destes protestos – tanto as imagens produzidas no contexto das práticas de protesto, como as divulgadas nos média. Nas imagens produzidas do interior, incluímos artefactos retóricos, em geral de natureza multimodal, que integram o reportório clássico dos movimentos sociais (placards, cartazes, faixas, posters, desenhos, cartoons, símbolos,

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cores, grafismos), mas também o corpo-imagem (postura, gestos, roupas, acessórios, etc.) e imagens digitais – e.g. memes, infografias - usadas como signos de protesto. Qual é o potencial comunicativo destas imagens? Que discursos produzem, isto é, que conhecimentos, avaliações, formas de estar e de ser realizam, que diálogos e comunidades encetam e em que regime visual se inscrevem? Como é que estes discursos são produzidos? Que papel têm os recursos semióticos usados nas imagens de protesto nesse processo de produção de discursos? Para além de querermos destacar o funcionamento discursivo das imagens de protesto, julgamos essencial pensá-las nos contextos em que são difundidas. Que funções políticas e culturais realizam essas imagens no quadro de um evento de protesto específico e, ao nível mais geral, do discurso público e da cultura? A segunda dimensão importante da visualização das ações de protesto que incluímos nesta chamada de trabalhos é a referente à esfera mediática. Em maior ou menor grau, durante ou após as ações de protesto, os média continuam a ter um importante papel na recontextualização das práticas de protesto, por via da reportagem fotográfica ou de vídeos. E já se sabe também que as imagens usadas nos protestos assumem não raramente o carácter de “imagens-evento”, quer dizer, de imagens orquestradas para a difusão mediática, com propósitos de marcar a agenda pública, mas também de entrar em diálogo, estabelecer fronteiras, alargar horizontes ideológicos, contestar e subverter ordens de género ou, simplesmente, afirmar existências e manter o movimento. Neste quadro, as fotografias ou vídeos que acompanham a cobertura noticiosa dos eventos de protesto adquirem não raras vezes o estatuto de símbolos ou ícones e, com isso, o poder de delimitar ações, comunidades e construir memórias futuras. Constituem, portanto, o suporte ideal para explorar a forma como jornalistas e sistema mediático modelam a visualização do protesto e, assim, a sua perceção pública. Que representações oferecem os média dos protestos e como convidam leitores e telespetadores a relacionar-se com as cenas mostradas? Que identidades atribuem aos atores de protesto? E que relações há entre essas escolhas e as situações comunicativa e social em que são feitas? Quais são as implicações políticas dessas escolhas? Num momento em que uns dizem que o feminismo morreu e outros sublinham o seu ressurgimento, importaria conhecer melhor a complexidade destas novas realidades de protesto e ativismo feministas, as suas declinações e especificidades locais, bem como eventuais continuidades com manifestações anteriores. Se bem que, na literatura dos

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movimentos sociais e da mobilização política, estejam já identificados muitos dos traços da imagética do protesto, ainda são poucos os estudos a mostrar o poder específico dos recursos semióticos no funcionamento discursivo e político dos protestos visuais, com um interesse particular nos conflitos de género nas sociedades contemporâneas. Este volume apela à participação de investigadores das áreas das Ciências Sociais e Humanas com particular interesse nas visualidades e nos feminismos e em abordagens discursivas. Serão bem aceites propostas de natureza interdisciplinar. Algumas áreas de exploração poderão incluir, mas não estão limitadas a: - Média e cultura popular

- Culturas políticas feministas

- Agências feministas

- Religião, raça, etnia e transgenderismo

- Identidade e subjetividade feministas

- Violências (económica, social, política, sexual) contra as mulheres

- Exclusão e desigualdades

- Sexualidades e género

- Discriminação em razão do género e da identidade do género

- Corpo, género e feminismos

- Estética e criatividade feministas

Enviar as propostas (em documento PDF ou WORD) para [email protected] até 30 de abril. As propostas devem incluir um resumo (250 a 300 palavras) e uma pequena nota biográfica (incluindo filiação, morada institucional e endereço de e-mail). Os textos integrais (entre 6000 e 7000 palavras) deverão ser submetidos até 15 de julho.