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www.acasadoconcurseiro.com.br 1 Direito Civil DO DIREITO SUCESSÓRIO Considerações Gerais: A abertura da sucessão se dá no exato instante da morte de alguém, ou seja, com a morte de uma pessoa, há a transmissão imediata do seu patrimônio aos seus herdeiros 1 . É o que determina o art. 1784 do CC, ao dispor que: “Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros, legítimos e testamentários”. É importante referir que a sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido (art.1785 do CC 2 ) e regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao tempo da abertura daquela (art. 1787 do CC 3 ). A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade (art.1786 do CC). A sucessão que decorre da lei é chamada de sucessão legítima e a que decorre de disposição de última vontade é a chamada sucessão testamentária. Se a pessoa falecer sem deixar testamento, a herança irá então transmitir-se aos seus herdeiros legítimos, expressamente previstos em lei, seguindo uma ordem de vocação hereditária (art.1829 do CC); o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado nulo (art.1788 do CC). É importante referir que no caso da pessoa que deseja celebrar um testamento, se a mesma possuir herdeiros necessários (são herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge: art. 1845 do CC), a pessoa só poderá dispor da metade da herança (art. 1789 do CC). Assim, como dispõe o Código Civil em seu art. 1846, pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima. Caso não existam herdeiros necessários, a liberdade no testamento será total, ou seja, poderá a pessoa dispor de todo o seu patrimônio, inclusive afastando da sucessão os herdeiros colaterais (art. 1850 do CC). 1 Segundo Eduardo de Oliveira Leite: “A idéia de que a posse dos bens se transmite, imediatamente, aos herdeiros, desde a abertura da sucessão configura o princípio da saisine, do direito francês (o morto transmite ao sucessor o domínio e a posse da herança “le mort saisit le vif”). LEITE, Eduardo de Oliveira. Direito Civil Aplicado: Direito das Sucessões, Vol.VI. São Paulo: RT, 2004, pág. 36. 2 Ver art. 96 do CPC. 3 Conforme Francisco José Cahali e Giselda Maria Fernandes Hironaka: “A qualidade de herdeiro, e mesmo a extensão de seus direitos, é aferida de acordo com a legislação vigente na data do falecimento, com relevantes conseqüências jurídicas em razão de modificações já introduzidas no direito sucessório pela Constituição Federal e pelas leis relacionadas à união estável, e de alterações constantes do Código Civil de 2002, quanto à ordem de vocação hereditária...”.CAHALI, Francisco José. Direito das Sucessões/ Francisco José Cahali, Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka. 3 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, pág. 36.

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Aula XXDireito Civil

DO DIREITO SUCESSÓRIO

Considerações Gerais: A abertura da sucessão se dá no exato instante da morte de alguém, ou seja, com a morte de uma pessoa, há a transmissão imediata do seu patrimônio aos seus herdeiros1. É o que determina o art. 1784 do CC, ao dispor que: “Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros, legítimos e testamentários”.

É importante referir que a sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido (art.1785 do CC2 ) e regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao tempo da abertura daquela (art. 1787 do CC3).

A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade (art.1786 do CC). A sucessão que decorre da lei é chamada de sucessão legítima e a que decorre de disposição de última vontade é a chamada sucessão testamentária.

Se a pessoa falecer sem deixar testamento, a herança irá então transmitir-se aos seus herdeiros legítimos, expressamente previstos em lei, seguindo uma ordem de vocação hereditária (art.1829 do CC); o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado nulo (art.1788 do CC).

É importante referir que no caso da pessoa que deseja celebrar um testamento, se a mesma possuir herdeiros necessários (são herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge: art. 1845 do CC), a pessoa só poderá dispor da metade da herança (art. 1789 do CC). Assim, como dispõe o Código Civil em seu art. 1846, pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima. Caso não existam herdeiros necessários, a liberdade no testamento será total, ou seja, poderá a pessoa dispor de todo o seu patrimônio, inclusive afastando da sucessão os herdeiros colaterais (art. 1850 do CC).

1 Segundo Eduardo de Oliveira Leite: “A idéia de que a posse dos bens se transmite, imediatamente, aos herdeiros, desde a abertura da sucessão configura o princípio da saisine, do direito francês (o morto transmite ao sucessor o domínio e a posse da herança “le mort saisit le vif”). LEITE, Eduardo de Oliveira. Direito Civil Aplicado: Direito das Sucessões, Vol.VI. São Paulo: RT, 2004, pág. 36.

2 Ver art. 96 do CPC.3 Conforme Francisco José Cahali e Giselda Maria Fernandes Hironaka: “A qualidade de herdeiro, e mesmo a extensão

de seus direitos, é aferida de acordo com a legislação vigente na data do falecimento, com relevantes conseqüências jurídicas em razão de modificações já introduzidas no direito sucessório pela Constituição Federal e pelas leis relacionadas à união estável, e de alterações constantes do Código Civil de 2002, quanto à ordem de vocação hereditária...”.CAHALI, Francisco José. Direito das Sucessões/ Francisco José Cahali, Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka. 3 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, pág. 36.

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É de se ter presente que não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva (art. 426 do CC). Entretanto, o direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que disponha o co-herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública (art.1793 do CC). A herança é considerada um bem imóvel (art.80, II do CC), portanto, exige-se escritura pública e outorga uxória, para a validade da cessão.

A herança até a partilha é um todo indivisível, ou seja, até que ocorra a partilha, os herdeiros se comportarão em relação a ela, em um sistema de condomínio (art. 1791 do CC).

Também é importante referir que a herança compreende o patrimônio do de cujus como um todo, ou seja, importa na transmissão dos créditos, mas também dos débitos. Todavia, os herdeiros, conforme dispõe o art. 1792 do CC, não respondem por encargos superiores às forças da herança.

Direito das Sucessões (Artigos do Código Civil)

Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários.

Art. 1.785. A sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido.

Art. 1.786. A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade.

Art. 1.787. Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao tempo da abertura daquela.

Art. 1.788. Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado nulo.

Art. 1.789. Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade da herança.

Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes:

I – se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho;

II – se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles;

III – se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança;

IV – não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança.

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Direito Civil – Sucessão Geral – Profª Alessandra Vieira

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Da Sucessão Legítima

1. Conceito: A sucessão legítima ou ab intestato, é a que se opera por força de lei e ocorre quando o de cujus tem herdeiros necessários que fazem jus a recolher a cota parte indisponível (legítima) da herança.

Também se dá esta modalidade de sucessão quando o de cujus (morto) falece sem deixar testamento ou quando seu testamento caducou ou foi julgado ineficaz.

Assim, a lei convoca pessoas da família do finado, de acordo com a ordem nela fixada, denominada ordem de vocação hereditária, para receberem a herança.

2. Ordem de Vocação Hereditária: A ordem de vocação hereditária é a relação preferencial, estabelecida pela lei, das pessoas que são chamadas a suceder o finado. O legislador, nessa relação de pessoas, as divide em várias classes. Com efeito, dispõe o art. 1829 do CC:

Art. 1829 do CC: A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:

I – aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1649, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;

II – aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;

III – ao cônjuge sobrevivente;

IV – aos colaterais.

IMPORTANTE: Os herdeiros mais próximos excluem os mais remotos (salvo a hipótese de representação).

Assim, por exemplo, se o de cujus, que não tem cônjuge, deixa descendentes e ascendentes, os primeiros herdam tudo e os últimos nada, pois a existência de herdeiros da classe dos descendentes exclui da sucessão os herdeiros da classe ascendente. Deixando ascendentes e colaterais, aquele herda o patrimônio inteiro e estes nada recebem. Se o cônjuge concorre com colaterais, o primeiro recebe todo o patrimônio e os últimos nada.

É importante mencionar que os herdeiros legítimos dividem-se em necessários e facultativos.

Necessários: Os herdeiros necessários são: (descendentes, ascendentes, sem limitação de grau e cônjuge sobrevivente concorrendo com as duas categorias). São os parentes que tem direito a uma cota-parte da qual não podem ser privados. A parte que lhes é reservada chama-se legítima (constitui-se em metade dos bens do falecido).

A existência de herdeiros legítimos necessários impede a disposição testamentária dos bens constitutivos da legítima (art.1846 do CC).

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Facultativos: Os herdeiros facultativos são os herdeiros que podem vir a herdar, quando faltarem herdeiros necessários. Por isso, diz-se facultativo. Se o de cujus falecer sem deixar herdeiros necessários e sem testamento, os facultativos são chamados a suceder sucessivamente. Para excluí-los da sucessão basta que o testador disponha dos bens, sem os contemplar (art. 1850 do CC).

3. Da Sucessão do Descendente: Aberta a sucessão legítima, são chamados, em primeiro lugar, os descendentes. Se o falecido era casado, o cônjuge concorre com os descendentes.

A sucessão dos descendentes ocorre por cabeça (quando os herdeiros se encontram no mesmo grau de parentesco do de cujus) ou por estirpe (quando há herdeiros de graus diferentes).

Assim, se o de cujus deixou três filhos, herdam todos por cabeça e a herança se divide em três partes iguais.

Se o de cujus só deixou netos, porque todos os filhos já faleceram, herdam todos os netos, igualmente, por cabeça, pois se encontram no mesmo grau.

Mas, se à herança concorrerem descendentes de graus diferentes, a sucessão se processa por estirpe. Assim, se o de cujus tinha dois filhos vivos (B e C) e dois netos (X e Y) de um filho pré-morto (A), a herança se divide em três partes referentes às duas estirpes: uma estirpe dos filhos vivos (B e C) e uma estirpe dos netos (X e Y), filhos do filho pré-morto.

Logo, os netos do de cujus poderão receber quinhão maior ou menor na sucessão do avô, conforme herdem por direito próprio (por cabeça) ou por representação (por estirpe).

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Direito Civil

TUTELA

Art. 1.728. Os filhos menores são postos em tu-tela:

I – com o falecimento dos pais, ou sendo es-tes julgados ausentes;

II – em caso de os pais decaírem do poder familiar.

Art. 1.729. O direito de nomear tutor compete aos pais, em conjunto.

Parágrafo único. A nomeação deve constar de testamento ou de qualquer outro docu-mento autêntico.

Art. 1.730. É nula a nomeação de tutor pelo pai ou pela mãe que, ao tempo de sua morte, não tinha o poder familiar.

Art. 1.731. Em falta de tutor nomeado pelos pais incumbe a tutela aos parentes consanguí-neos do menor, por esta ordem:

I – aos ascendentes, preferindo o de grau mais próximo ao mais remoto;

II – aos colaterais até o terceiro grau, prefe-rindo os mais próximos aos mais remotos, e, no mesmo grau, os mais velhos aos mais moços; em qualquer dos casos, o juiz esco-lherá entre eles o mais apto a exercer a tu-tela em benefício do menor.

Art. 1.732. O juiz nomeará tutor idôneo e resi-dente no domicílio do menor:

I – na falta de tutor testamentário ou legí-timo;

II – quando estes forem excluídos ou escu-sados da tutela;

III – quando removidos por não idôneos o tutor legítimo e o testamentário.

Art. 1.733. Aos irmãos órfãos dar-se-á um só tu-tor.

§ 1º No caso de ser nomeado mais de um tutor por disposição testamentária sem in-dicação de precedência, entende-se que a tutela foi cometida ao primeiro, e que os outros lhe sucederão pela ordem de nome-ação, se ocorrer morte, incapacidade, escu-sa ou qualquer outro impedimento.

§ 2º Quem institui um menor herdeiro, ou legatário seu, poderá nomear-lhe curador especial para os bens deixados, ainda que o beneficiário se encontre sob o poder fami-liar, ou tutela.

Art. 1.734. As crianças e os adolescentes cujos pais forem desconhecidos, falecidos ou que ti-verem sido suspensos ou destituídos do poder familiar terão tutores nomeados pelo Juiz ou serão incluídos em programa de colocação fa-miliar, na forma prevista pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

DOS INCAPAZES DE EXERCER A TUTELA

Art. 1.735. Não podem ser tutores e serão exo-nerados da tutela, caso a exerçam:

I – aqueles que não tiverem a livre adminis-tração de seus bens;

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II – aqueles que, no momento de lhes ser deferida a tutela, se acharem constituídos em obrigação para com o menor, ou tive-rem que fazer valer direitos contra este, e aqueles cujos pais, filhos ou cônjuges tive-rem demanda contra o menor;

III – os inimigos do menor, ou de seus pais, ou que tiverem sido por estes expressamen-te excluídos da tutela;

IV – os condenados por crime de furto, rou-bo, estelionato, falsidade, contra a família ou os costumes, tenham ou não cumprido pena;

V – as pessoas de mau procedimento, ou fa-lhas em probidade, e as culpadas de abuso em tutorias anteriores;

VI – aqueles que exercerem função pública incompatível com a boa administração da tutela.

DA ESCUSA DOS TUTORES

Art. 1.736. Podem escusar-se da tutela:

I – mulheres casadas;

II – maiores de sessenta anos;

III – aqueles que tiverem sob sua autorida-de mais de três filhos;

IV – os impossibilitados por enfermidade;

V – aqueles que habitarem longe do lugar onde se haja de exercer a tutela;

VI – aqueles que já exercerem tutela ou curatela;

VII – militares em serviço.

Art. 1.737. Quem não for parente do menor não poderá ser obrigado a aceitar a tutela, se hou-ver no lugar parente idôneo, consanguíneo ou afim, em condições de exercê-la.

Art. 1.738. A escusa apresentar-se-á nos dez dias subsequentes à designação, sob pena de

entender-se renunciado o direito de alegá-la; se o motivo escusatório ocorrer depois de aceita a tutela, os dez dias contar-se-ão do em que ele sobrevier.

Art. 1.739. Se o juiz não admitir a escusa, exer-cerá o nomeado a tutela, enquanto o recurso interposto não tiver provimento, e responderá desde logo pelas perdas e danos que o menor venha a sofrer.

DO EXERCÍCIO DA TUTELA

Art. 1.740. Incumbe ao tutor, quanto à pessoa do menor:

I – dirigir-lhe a educação, defendê-lo e pres-tar-lhe alimentos, conforme os seus haveres e condição;

II – reclamar do juiz que providencie, como houver por bem, quando o menor haja mis-ter correção;

III – adimplir os demais deveres que nor-malmente cabem aos pais, ouvida a opinião do menor, se este já contar doze anos de idade.

Art. 1.741. Incumbe ao tutor, sob a inspeção do juiz, administrar os bens do tutelado, em pro-veito deste, cumprindo seus deveres com zelo e boa-fé.

Art. 1.742. Para fiscalização dos atos do tutor, pode o juiz nomear um protutor.

Art. 1.743. Se os bens e interesses administra-tivos exigirem conhecimentos técnicos, forem complexos, ou realizados em lugares distantes do domicílio do tutor, poderá este, mediante aprovação judicial, delegar a outras pessoas físi-cas ou jurídicas o exercício parcial da tutela.

Art. 1.744. A responsabilidade do juiz será:

I – direta e pessoal, quando não tiver nome-ado o tutor, ou não o houver feito oportu-namente;

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Direito Civil – Da Tutela e Curatela – Profª Alessandra Vieira

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II – subsidiária, quando não tiver exigido ga-rantia legal do tutor, nem o removido, tanto que se tornou suspeito.

Art. 1.745. Os bens do menor serão entregues ao tutor mediante termo especificado deles e seus valores, ainda que os pais o tenham dis-pensado.

Parágrafo único. Se o patrimônio do menor for de valor considerável, poderá o juiz con-dicionar o exercício da tutela à prestação de caução bastante, podendo dispensá-la se o tutor for de reconhecida idoneidade.

Art. 1.746. Se o menor possuir bens, será sus-tentado e educado a expensas deles, arbitrando o juiz para tal fim as quantias que lhe pareçam necessárias, considerado o rendimento da for-tuna do pupilo quando o pai ou a mãe não as houver fixado.

Art. 1.747. Compete mais ao tutor:

I – representar o menor, até os dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-lo, após essa idade, nos atos em que for parte;

II – receber as rendas e pensões do menor, e as quantias a ele devidas;

III – fazer-lhe as despesas de subsistência e educação, bem como as de administra-ção, conservação e melhoramentos de seus bens;

IV – alienar os bens do menor destinados a venda;

V – promover-lhe, mediante preço conve-niente, o arrendamento de bens de raiz.

Art. 1.748. Compete também ao tutor, com au-torização do juiz:

I – pagar as dívidas do menor;

II – aceitar por ele heranças, legados ou do-ações, ainda que com encargos;

III – transigir;

IV – vender-lhe os bens móveis, cuja con-servação não convier, e os imóveis nos ca-sos em que for permitido;

V – propor em juízo as ações, ou nelas assis-tir o menor, e promover todas as diligências a bem deste, assim como defendê-lo nos pleitos contra ele movidos.

Parágrafo único. No caso de falta de autori-zação, a eficácia de ato do tutor depende da aprovação ulterior do juiz.

Art. 1.749. Ainda com a autorização judicial, não pode o tutor, sob pena de nulidade:

I – adquirir por si, ou por interposta pessoa, mediante contrato particular, bens móveis ou imóveis pertencentes ao menor;

II – dispor dos bens do menor a título gra-tuito;

III – constituir-se cessionário de crédito ou de direito, contra o menor.

Art. 1.750. Os imóveis pertencentes aos me-nores sob tutela somente podem ser vendidos quando houver manifesta vantagem, mediante prévia avaliação judicial e aprovação do juiz.

Art. 1.751. Antes de assumir a tutela, o tutor de-clarará tudo o que o menor lhe deva, sob pena de não lhe poder cobrar, enquanto exerça a tu-toria, salvo provando que não conhecia o débito quando a assumiu.

Art. 1.752. O tutor responde pelos prejuízos que, por culpa, ou dolo, causar ao tutelado; mas tem direito a ser pago pelo que realmente des-pender no exercício da tutela, salvo no caso do art. 1.734, e a perceber remuneração propor-cional à importância dos bens administrados.

§ 1º Ao protutor será arbitrada uma gratifi-cação módica pela fiscalização efetuada.

§ 2º São solidariamente responsáveis pelos prejuízos as pessoas às quais competia fis-calizar a atividade do tutor, e as que concor-reram para o dano.

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DOS BENS DO TUTELADO

Art. 1.753. Os tutores não podem conservar em seu poder dinheiro dos tutelados, além do necessário para as despesas ordinárias com o seu sustento, a sua educação e a administração de seus bens.

§ 1º Se houver necessidade, os objetos de ouro e prata, pedras preciosas e móveis serão avaliados por pessoa idônea e, após autorização judicial, alienados, e o seu pro-duto convertido em títulos, obrigações e le-tras de responsabilidade direta ou indireta da União ou dos Estados, atendendo-se pre-ferentemente à rentabilidade, e recolhidos ao estabelecimento bancário oficial ou apli-cado na aquisição de imóveis, conforme for determinado pelo juiz.

§ 2º O mesmo destino previsto no parágrafo antecedente terá o dinheiro proveniente de qualquer outra procedência.

§ 3º Os tutores respondem pela demora na aplicação dos valores acima referidos, pa-gando os juros legais desde o dia em que deveriam dar esse destino, o que não os exi-me da obrigação, que o juiz fará efetiva, da referida aplicação.

Art. 1.754. Os valores que existirem em estabe-lecimento bancário oficial, na forma do artigo antecedente, não se poderão retirar, senão me-diante ordem do juiz, e somente:

I – para as despesas com o sustento e edu-cação do tutelado, ou a administração de seus bens;

II – para se comprarem bens imóveis e títu-los, obrigações ou letras, nas condições pre-vistas no § 1º do artigo antecedente;

III – para se empregarem em conformidade com o disposto por quem os houver doado, ou deixado;

IV – para se entregarem aos órfãos, quando emancipados, ou maiores, ou, mortos eles, aos seus herdeiros.

DA PRESTAÇÃO DE CONTAS

Art. 1.755. Os tutores, embora o contrário tives-sem disposto os pais dos tutelados, são obriga-dos a prestar contas da sua administração.

Art. 1.756. No fim de cada ano de administra-ção, os tutores submeterão ao juiz o balanço respectivo, que, depois de aprovado, se anexará aos autos do inventário.

Art. 1.757. Os tutores prestarão contas de dois em dois anos, e também quando, por qualquer motivo, deixarem o exercício da tutela ou toda vez que o juiz achar conveniente.

Parágrafo único. As contas serão prestadas em juízo, e julgadas depois da audiência dos interessados, recolhendo o tutor imediata-mente a estabelecimento bancário oficial os saldos, ou adquirindo bens imóveis, ou títu-los, obrigações ou letras, na forma do § 1º do art. 1.753.

Art. 1.758. Finda a tutela pela emancipação ou maioridade, a quitação do menor não produzi-rá efeito antes de aprovadas as contas pelo juiz, subsistindo inteira, até então, a responsabilida-de do tutor.

Art. 1.759. Nos casos de morte, ausência, ou in-terdição do tutor, as contas serão prestadas por seus herdeiros ou representantes.

Art. 1.760. Serão levadas a crédito do tutor to-das as despesas justificadas e reconhecidamen-te proveitosas ao menor.

Art. 1.761. As despesas com a prestação das contas serão pagas pelo tutelado.

Art. 1.762. O alcance do tutor, bem como o saldo contra o tutelado, são dívidas de valor e vencem juros desde o julgamento definitivo das contas.

DA CESSAÇÃO DA TUTELA

Art. 1.763. Cessa a condição de tutelado:

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Direito Civil – Da Tutela e Curatela – Profª Alessandra Vieira

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I – com a maioridade ou a emancipação do menor;

II – ao cair o menor sob o poder familiar, no caso de reconhecimento ou adoção.

Art. 1.764. Cessam as funções do tutor:

I – ao expirar o termo, em que era obrigado a servir;

II – ao sobrevir escusa legítima;

III – ao ser removido.

Art. 1.765. O tutor é obrigado a servir por espa-ço de dois anos.

Parágrafo único. Pode o tutor continuar no exercício da tutela, além do prazo previsto neste artigo, se o quiser e o juiz julgar con-veniente ao menor.

Art. 1.766. Será destituído o tutor, quando ne-gligente, prevaricador ou incurso em incapaci-dade.

Da Curatela

Dos Interditos

Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela:

I – aqueles que, por enfermidade ou defici-ência mental, não tiverem o necessário dis-cernimento para os atos da vida civil;

II – aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua vontade;

III – os deficientes mentais, os ébrios habi-tuais e os viciados em tóxicos;

IV – os excepcionais sem completo desen-volvimento mental;

V – os pródigos.

Art. 1.768. A interdição deve ser promovida:

I – pelos pais ou tutores;

II – pelo cônjuge, ou por qualquer parente;

III – pelo Ministério Público.

Art. 1.769. O Ministério Público só promoverá interdição:

I – em caso de doença mental grave;

II – se não existir ou não promover a inter-dição alguma das pessoas designadas nos incisos I e II do artigo antecedente;

III – se, existindo, forem incapazes as pesso-as mencionadas no inciso antecedente.

Art. 1.770. Nos casos em que a interdição for promovida pelo Ministério Público, o juiz nome-ará defensor ao suposto incapaz; nos demais ca-sos o Ministério Público será o defensor.

Art. 1.771. Antes de pronunciar-se acerca da in-terdição, o juiz, assistido por especialistas, exa-minará pessoalmente o arguido de incapacida-de.

Art. 1.772. Pronunciada a interdição das pes-soas a que se referem os incisos III e IV do art. 1.767, o juiz assinará, segundo o estado ou o de-senvolvimento mental do interdito, os limites da curatela, que poderão circunscrever-se às restri-ções constantes do art. 1.782.

Art. 1.773. A sentença que declara a interdição produz efeitos desde logo, embora sujeita a re-curso.

Art. 1.774. Aplicam-se à curatela as disposições concernentes à tutela, com as modificações dos artigos seguintes.

Art. 1.775. O cônjuge ou companheiro, não se-parado judicialmente ou de fato, é, de direito, curador do outro, quando interdito.

§1º Na falta do cônjuge ou companheiro, é curador legítimo o pai ou a mãe; na falta destes, o descendente que se demonstrar mais apto.

§ 2º Entre os descendentes, os mais próxi-mos precedem aos mais remotos.

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§ 3º Na falta das pessoas mencionadas nes-te artigo, compete ao juiz a escolha do cura-dor.

Art. 1.776. Havendo meio de recuperar o inter-dito, o curador promover-lhe-á o tratamento em estabelecimento apropriado.

Art. 1.777. Os interditos referidos nos incisos I, III e IV do art. 1.767 serão recolhidos em estabe-lecimentos adequados, quando não se adapta-rem ao convívio doméstico.

Art. 1.778. A autoridade do curador estende-se à pessoa e aos bens dos filhos do curatelado, observado o art. 5º.

DA CURATELA DO NASCITURO E DO ENFERMO OU PORTADOR DE

DEFICIÊNCIA FÍSICA

Art. 1.779. Dar-se-á curador ao nascituro, se o pai falecer estando grávida a mulher, e não ten-do o poder familiar.

Parágrafo único. Se a mulher estiver interdi-ta, seu curador será o do nascituro.

Art. 1.780. A requerimento do enfermo ou por-tador de deficiência física, ou, na impossibilida-de de fazê-lo, de qualquer das pessoas a que se refere o art. 1.768, dar-se-lhe-á curador para cuidar de todos ou alguns de seus negócios ou bens.

DO EXERCÍCIO DA CURATELA

Art. 1.781. As regras a respeito do exercício da tutela aplicam-se ao da curatela, com a restri-ção do art. 1.772 e as desta Seção.

Art. 1.782. A interdição do pródigo só o privará de, sem curador, emprestar, transigir, dar qui-tação, alienar, hipotecar, demandar ou ser de-mandado, e praticar, em geral, os atos que não sejam de mera administração.

Art. 1.783. Quando o curador for o cônjuge e o regime de bens do casamento for de comunhão

universal, não será obrigado à prestação de con-tas, salvo determinação judicial.

TUTELA

1) CONCEITO: Tutela é o encargo conferido por lei a uma pessoa capaz, para cuidar da pessoa do menor e administrar seus bens. Destina-se a suprir a falta do poder familiar e tem nítido ca-ráter assistencial1 .

É um instituto jurídico que se caracteriza pela proteção dos menores, cujos pais faleceram ou que estão impedidos de exercer o poder fami-liar, seja por incapacidade, seja por terem sido dele destituídos ou terem perdido esse poder2. 3

Art. 1.728. Os filhos menores são pos-tos em tutela :

I – com o falecimento dos pais, ou sendo estes julgados ausentes;

II – em caso de os pais decaírem do poder familiar3.

1 O tutor exerce um múnus público, uma delegação do Estado que, não podendo exercer essa função, trans-fere a obrigação de zelar pela criação, pela educação e pelos bens do menor a terceira pessoa. É considerada um encargo público e obrigatório, salvo as hipóteses dos arts. 1736 e 1737 do CC.

2 A tutela é um sucedâneo do poder familiar e é incom-patível com este. Se os pais recuperarem o poder fa-miliar, ou se este surgir com a adoção ou o reconhe-cimento de filho havido fora do casamento, cessará o aludido instituto. Se o menor ainda se encontrar sob o poder familiar, só se admitirá a nomeação de tutor depois que os pais forem destituídos de tal encargo.

3 Assim serão colocados sob tutela os filhos menores cujos pais faleceram ou foram julgados ausentes, bem como no caso dos filhos em que os pais decaíram do poder familiar (art.1728 do CC). Como refere o ECA, a tutela é uma das formas de inserção do menor em fa-mília substituta (art. 28 do ECA).

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2. CARACTERÍSTICAS DA TUTELA:

a) A TUTELA É UM MÚNUS PÚBLICO, UM ENCARGO IRRENUNCIÁVEL: Todavia, podem escusar-se da tutela, as pessoas que se en-caixarem em algum dos motivos elencados no art. 1736 do CC, como, por exemplo, as pessoas que estiverem impossibilitadas de exercer a tutela em virtude de enfermidade. Importante dizer que o juiz poderá não ad-mitir a escusa e caso isso aconteça exerce-rá o nomeado a tutela, enquanto o recurso interposto não tiver provimento, e respon-derá desde logo pelas perdas e danos que o menor venha a sofrer (art. 1739 do CC).

c) FUNÇÃO, VIA DE REGRA, REMUNERADA: Importante dizer que a função de tutor é remunerada, ou seja, o tutor percebe re-muneração proporcional à importância dos bens administrados, art. 1752 do CC.

O art. 1752 do CC permite que se pa-gue ao tutor “remuneração propor-cional à importância dos bens admi-nistrados”, salvo no caso do art. 1734 do CC, que concerne aos menores abandonados.

d) É UM ENCARGO INDELEGÁVEL: Todavia, o exercício da tutela poderá ser parcial-mente delegado no caso específico previs-to no art. 1743 do CC, que permite a dele-gação parcial da tutela a pessoas físicas ou jurídicas. A aprovação judicial é indispensá-vel. A pessoa a quem foi delegado o exercí-cio da tutela, quanto aos bens e interesses do menor, e nos limites da delegação, age como tutor, podendo ser considerado um cotutor, aplicando-se-lhe as regras a respei-to dos tutores.

e) É UMA FUNÇÃO TEMPORÁRIA: O tutor está obrigado a servir apenas pelo prazo de dois anos (art.1765 do CC). Todavia, pode-rá o tutor continuar no exercício da tutela,

além do prazo previsto neste artigo, se o quiser e o juiz julgar conveniente ao menor.

3. FUNÇÕES DO TUTOR: Os arts. 1740; art. 1747 do CC estabelecem as funções do tu-tor que são:

a) DEVER DE DEFESA E DE ALIMENTOS: Compete ao tutor representar ou assistir o menor nos atos em que for parte (art. 1747 do CC). A obrigação mais importante da tutela é a assistência, a educação, a di-reção moral do pupilo. Deve o tutor pres-tar assistência moral e material ao menor, opondo-se a terceiros, inclusive aos pais, quando suspenso ou extinto o poder fami-liar. Quanto ao dever de prestar alimentos, se o menor possuir bens, é sustentado e educado a suas expensas, arbitrando o juiz, para tal fim, as quantias, que lhe pareçam necessárias.

b) DEVER DE PRESTAR-LHE EDUCAÇÃO: O tutor não pode, para corrigir o menor, apli-car-lhe castigos físicos, ainda que modera-damente, devendo reclamar providências ao juiz. Incumbe ao tutor orientá-lo e cor-rigi-lo, aplicando-lhe punições leves como a proibição de estar presente em alguma festa, por exemplo. Em casos mais graves, quando o menor apresenta conduta des-regrada, cabe ao tutor recorrer ao juiz, re-clamando providências. Jamais deverá, no entanto, aplicar castigos físicos no tutelado.

c) DEVER DE ADMINISTRAR O PATRIMÔNIO DO MENOR, SOB A FISCALIZAÇÃO DO JUIZ: Aduz o art. 1741 do CC, que o tutor deve administrar o patrimônio do menor, sob a fiscalização do juiz, com zelo e boa-fé. A administração atribuída ao tutor implica conservação e gestão dos bens do pupilo, com o zelo do bom pai de família. Receben-do os bens do menor, mediante termo es-pecificado, o tutor passa a deles cuidar com atenção especial, visando resguardar os in-teresses do menor. A administração tem por objetivo conservar o patrimônio adminis-trado, obter seus frutos, produtos e rendi-mentos e, se possível, sua valorização.

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Se o menor contar com pelo menos 12 anos de idade deverá ser ouvido, de acordo com o art. 1740 do CC e art. 28, parágrafo primeiro do ECA que prevê a oitiva do menor para que opine sobre seus interesses na tutela, se já contar com doze anos de idade.

* NECESSIDADE DA PRESTAÇÃO DE CONTAS: Importante mencionar que na administra-ção do patrimônio o tutor é obrigado a prestar contas, ainda que os pais tenham estipulado o contrário (art. 1755 do CC). No final de cada ano o tutor apresentará um balanço (art. 1756 do CC), devendo obriga-toriamente prestar contas de dois em dois anos ou quando o juiz julgar conveniente (art. 1757 do CC). As despesas da prestação de contas são pagas pelo menor (art. 1761 do CC).

* PROTUTOR: Também é importante men-cionar que pode o juiz nomear um protutor para fiscalizar os atos do tutor (art. 1742 do CC), que receberá uma gratificação módica pela fiscalização efetuada (art. 1752, §1º do CC).

4. ESPÉCIES DE TUTELA: A tutela pode ser de três modalidades:

a) TUTELA TESTAMENTÁRIA: Está nos arts. 1729 e 1730 do CC. É a que dá o direito de nomear tutor somente aos pais, em conjun-to. Não há prevalência da vontade de um sobre o outro. Se estão vivos, a nomeação deve ser feita por ambos, pois só se admite a nomeação por apenas um deles se o outro for falecido. A nomeação deve constar de testamento ou qualquer outro documento autêntico, como codicilo, escritura pública ou escrito particular (art.1729, § único do CC), desde que as assinaturas estejam reco-nhecidas por tabelião4 .

4 Optando por nomear tutor para os filhos menores me-diante testamento, não poderão os genitores fazê-lo na mesma cédula testamentária, uma vez que o testa-

Só podem nomear tutor para os fi-lhos os pais que, “ao tempo de sua morte, e não quando da elabora-ção do testamento, detinham o poder familiar. O art. 1730 do CC, considera nula a nomeação feita por quem não preenchia esse re-quisito.

b) TUTELA LEGAL OU LEGÍTIMA: Não haven-do nomeação de tutor por testamento ou outro documento autêntico, incumbe a tu-tela aos parentes consanguíneos do menor, sendo chamada de legítima. Neste caso, o juiz obedecerá a uma ordem de preferência estabelecida no art. 1731 do CC. Assim, é importante observar que esta ordem não é absoluta, pois deve ser observado o melhor interesse do menor.

Art. 1.731. Em falta de tutor nomeado pelos pais incumbe a tutela aos paren-tes consanguíneos do menor, na se-guinte ordem:

I – aos ascendentes, preferindo o de grau mais próximo ao mais re-moto;

II – aos colaterais até o terceiro grau, preferindo os mais próximos aos mais remotos, e, no mesmo grau, os mais velhos aos mais mo-ços; em qualquer dos casos, o juiz escolherá entre eles o mais apto a exercer a tutela em benefício do menor.

c) TUTELA DATIVA: Ocorre quando não há tutor testamentário, nem a possibilidade de nomear-se parente consanguíneo do me-

mento conjuntivo é expressamente proibido no orde-namento jurídico brasileiro (art. 1863 do CC). Ambos poderão comparecer juntos ao cartório de notas, se preferirem, mas farão a declaração em seu próprio tes-tamento.

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nor, ou porque não existe nenhum, ou por-que os que existem são inidôneos, foram ex-cluídos ou se escusaram. Neste caso, o juiz nomeará pessoa estranha à família, idônea e residente no domicílio do menor. A tutela dativa tem, portanto, caráter subsidiário.

Art. 1.732. O juiz nomeará tutor idô-neo e residente no domicílio do me-nor:

I – na falta de tutor testamentário ou legítimo;

II – quando estes forem excluídos ou escusados da tutela;

III – quando removidos por não idôneos o tutor legítimo e o testa-mentário.

Importante dizer que aos irmãos órfãos dar-se-á um só tutor (art. 1733 do CC). Pre-tende-se, com isso, facilitar a administração dos patrimônios e manter juntos os irmãos, em razão dos laços de afetividade que os unem. Entretanto, tal regra não deve ser interpretada de forma absoluta, podendo o juiz dividir a tutela, conforme o caso para melhor atender aos interesses dos irmãos menores.

ImportanteObs: Quem não for parente do menor não poderá ser obrigado a aceitar a tutela, se houver no lugar parente idôneo, consanguíneo ou afim em condições de exer-cê-la. Ver art. 1737 do CC.

d) TUTELA ESTATAL: é a tutela deferida aos menores abandonados que terão tutores nomeados pelo juiz, ou serão incluídos em

programa de colocação familiar, na forma prevista pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescen-te.

Art. 1.734. As crianças e os adolescen-tes cujos pais forem desconhecidos, falecidos ou que tiverem sido suspen-sos ou destituídos do poder familiar terão tutores nomeados pelo Juiz ou serão incluídos em programa de colo-cação familiar, na forma prevista pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)

A tutela dos índios também é considerada uma tutela especial. O índio pertence às co-munidades não integradas e é considerado incapaz desde o nascimento, sendo neces-sária a participação da Funai para a prática de qualquer ato da vida civil. Poderá ser li-berado da tutela da União se estiver adap-tado à civilização, preenchendo os requisi-tos do art 9, da Lei 6001/1073, ou seja, do Estatuto do Índio, mediante solicitação fei-ta à Justiça Federal, com a manifestação da Funai. A tutela dos silvícolas também é uma espécie de tutela estatal.

e) Tutela ad hoc, provisória ou especial: ocorre quando uma pessoa é nomeada tutora para a prática de determinado ato, sem destituição dos pais do poder familiar. Muitas vezes para atender aos interesses do menor, o juiz nomeia-lhe um tutor somen-te para consentir no seu casamento, por exemplo, porque os pais encontram-se em local ignorado. Também se denomina tutor “ad hoc” o curador especial nomeado pelo juiz quando os interesses do incapaz colidi-rem com os do tutor (art. 1692 do CC).

5. ESCUSA DOS TUTORES: Embora a tute-la decorra de uma imposição legal e seja exercida por delegação do Estado, sendo,

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portanto, de cumprimento obrigatório na condição de múnus público, admitem-se al-gumas escusas, de acordo com o art. 1736 do CC. Importante dizer que consiste em uma faculdade do nomeado alegar ou não a escusa, nada impedindo que a exerçam.Trata-se da chamada escusa voluntária (dispensa concedida por justa causa).

Art. 1.736. Podem escusar-se da tutela:

I – mulheres casadas: Tem recebido críticas, pois fere o princípio constitucional da igual-dade entre o homem e a mulher (art. 5, I da CF/88 e art. 226, parágrafo sexto, CF/88). Aliado a isso, não faz menção à mulher que vive em União Estável.

II – maiores de sessenta anos: Presume a lei que em razão da idade avançada, o exer-cício da tutela se torne cada vez mais difícil. Fez-se uma analogia ao Estatuto do Idoso que protege as pessoas acima de sessenta anos.

III – aqueles que tiverem sob sua autori-dade mais de três filhos: O objetivo é não onerar por demais o tutor, a ponto de preju-dicá-lo e também à sua família.

IV – os impossibilitados por enfermidade: Basta que comprovem que a moléstia de que padecem é incompatível com o exercí-cio do encargo.

V – aqueles que habitarem longe do lugar onde se haja de exercer a tutela: A exo-neração do encargo é compreensível, visto que encontrarão maiores dificuldades para administrar o patrimônio do tutelado, bem como para zelar por sua pessoa.

VI – aqueles que já exercerem tutela ou curatela: A cumulação de atribuições jus-tifica a escusa permitida aos que já estive-rem no exercício da tutela ou curatela. Se justifica para que eventual nomeação não venha a prejudicar o exercício de tutela ou de curatela já existente. Assim possibilita-se a divisão do encargo, atribuindo-se o novo a outra pessoa, uma vez que os encargos

sociais devem ser distribuídos na comuni-dade.

VII – militares em serviço: Os militares em serviço podem também recusar a nome-ação, porque entende o legislador que os membros das Forças Armadas que estejam na ativa, em razão da natureza do trabalho que executam, estão sujeitos a transferên-cias constantes de um lugar para outro, em prejuízo do pupilo.

Art. 1.737. Quem não for parente do menor não poderá ser obrigado a aceitar a tutela, se houver no lugar parente idôneo, consanguíneo ou afim, em condições de exercê-la: Os estra-nhos apenas são obrigados a servir quando não houver no lugar parentes idôneos em condições de serem investidos no cargo. Se, porventura for nomeado tutor pessoa sem vínculo de pa-rentesco com o menor, havendo parentes em condições de exercer o múnus, pode aquela es-cusar-se, invocando o benefício de ordem.

As pessoas legitimadas, que não incorram nos impedimentos elencados no art. 1735 do CC, nem se encontram na situação de poder invocar uma das causas legais de escusa, não se podem furtar a exercer a tutela, seja decorrente de nomeação em testamento, seja deferida pelo juiz.

6. IMPEDIMENTO PARA EXERCER A TUTELA: O Código Civil, em seu art. 1735 estabele-ce os incapazes (impedidos) de exercer a tutela, ou seja, aqueles que não poderão exercer o encargo e serão exonerados caso a exerçam. São as chamadas escusas proi-bitórias5 .

5 Assim, considera incapazes de exercer a tutela pes-soas que não têm a livre administração de seus bens, ou cujos interesses colidam com os do menor, ou que tenham sido condenados por crime de natureza patri-monial e não sejam probas e honestas, ou ainda que exerçam função pública incompatível com a boa admi-nistração da tutela.

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Art. 1.735. Não podem ser tutores e serão exo-nerados da tutela, caso a exerçam:

I – aqueles que não tiverem a livre admi-nistração de seus bens: Obviamente quem não reúne condições para administrar os seus próprios bens não pode cuidar do tu-telado e do seu patrimônio. Por exemplo: menores, interditos, ou seja, todos os abso-lutamente ou relativamente incapazes dos arts. 3 e 4 do CC. Assim só pessoas dota-das de plena capacidade, seja em razão da maioridade, seja do discernimento adquiri-do quanto à prática dos atos e negócios jurí-dicos, podem exercer a tutela.

II – aqueles que, no momento de lhes ser deferida a tutela, se acharem constituídos em obrigação para com o menor, ou tive-rem que fazer valer direitos contra este, e aqueles cujos pais, filhos ou cônjuges tive-rem demanda contra o menor: São hipó-teses em que há um manifesto conflito de interesses com os do tutelado. A proibição de ser nomeado tutor não é absoluta, pois o art. 1751 do CC estatui que o tutor, antes de assumir a tutela, deve declarar tudo o que o menor lhe deva, e a pena para a omissão é não poder ele cobrar do pupilo a dívida, enquanto exerça a tutoria, salvo provando que não conhecia o débito quando assumiu.

III – os inimigos do menor, ou de seus pais, ou que tiverem sido por estes expressa-mente excluídos da tutela;

IV – os condenados por crime de furto, roubo, estelionato, falsidade, contra a fa-mília ou os costumes, tenham ou não cum-prido pena: Pessoas que apresentem tais antecedentes são havidas como inidôneas e, portanto, impedidas de cuidar da pessoa e, principalmente do patrimônio do menor. Denota-se a intenção do legislador de res-guardar o menor não só da ação maléfica de ladrões, estelionatários e falsários, como também do mau exemplo daqueles que, por terem sido condenados por crime con-tra a família ou os costumes revelam perso-nalidade incompatível com a responsabili-

dade pela criação e educação de crianças e adolescentes.

V – as pessoas de mau procedimento, ou falhas em probidade, e as culpadas de abu-so em tutorias anteriores;

VI – aqueles que exercerem função pública incompatível com a boa administração da tutela: Existem certas funções públicas que, por exigirem dedicação exclusiva do agente, são incompatíveis com o exercício da tutela. Deve ficar evidenciado, no caso concreto, que a natureza da função e a forma do exer-cício dificultam ou obstam à boa e diligente administração dos bens do pupilo e, espe-cialmente, aos deveres do tutor quanto à educação, guarda e vigilância dele. Vide art. 29 do ECA.

7. GARANTIA DA TUTELA: Visando resguar-dar os interesses do tutelado, determinado o art. 1745 do CC que os bens do menor sejam entregues ao tutor mediante termo especificado deles e seus valores, ainda que os pais o tenham dispensado.

Aduz o parágrafo único que, se o patrimô-nio do menor for de valor considerável, po-derá o juiz condicionar o exercício da tutela à prestação de caução bastante, podendo dispensá-la se o tutor for de reconhecida idoneidade.

O Código Civil alude acerca da responsabili-dade do magistrado, caso venha a negligen-ciar dever de priorizar o interesse do menor, causando-lhe prejuízo. O juiz responde, com efeito, subsidiariamente pelos prejuízos que sofra o menor, quando não tiver exigido ga-rantia legal do tutor, nem o removido, tanto que se tornou suspeito, e direta e pessoal-mente, quando não tiver nomeado o tutor, ou não o houver feito oportunamente (art. 1744, I, II do CC)6.

6 É um dever impostergável do juiz nomear tutor nos casos previstos. Se não cumpre o seu dever, ou por deixar de nomeá-lo, ou por retardar o ato designativo, comete falta funcional pela qual responde direta e pes-soalmente. Se chega ao seu conhecimento que o tutor nomeado (seja ele testamentário, legítimo ou dativo)

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8. PROTUTOR: O art. 1742 do CC autoriza o juiz a nomear um protutor para fiscalização dos atos do tutor, ou seja, é uma pessoa in-cumbida de intervir ou fiscalizar as funções de tutela. Sua função é vigiar para que o tutor exerça sua gestão corretamente. Ele é um auxiliar do juiz, informando o magis-trado sobre qualquer malversação dos bens por ele recebidos, mediante termo especifi-cado. Prevê o art. 1752, parágrafo primeiro que tem direito o protutor à percepção de uma gratificação módica pela fiscalização efetuada.

9. ATOS QUE O TUTOR NÃO PODE PRATI-CAR, SEM AUTORIZAÇÃO JUDICIAL: Art. 1.748. Compete também ao tutor, com au-torização do juiz7 :

I – pagar as dívidas do menor: Embora as dívidas devem ser honradas, o pagamento, na hipótese, está sujeito ao controle do tu-tor, para evitar que o tutelado, por inexperi-ência e falta de maturidade, seja explorado, passando também pelo crivo do juiz, que precisa verificar se a dívida é legítima e cor-reto o seu montante.

II – aceitar por ele heranças, legados ou doações, ainda que com encargos: Deve--se ter presente que a liberalidade desin-

descumpre com as suas obrigações, na administra-ção da pessoa ou bens do tutelado, e não remove de pronto, responde subsidiariamente pelos danos con-sequentes. A legitimidade para promover os procedi-mentos pertinentes além do Ministério Público cabe a quem demonstre legítimo interesse, nos termos da lei processual.

7 O exercício da tutela assemelha-se ao do poder fami-liar, mas não se lhe equipara, pois sofre algumas limi-tações, sendo ainda sujeito à inspeção judicial. O tutor assume o lugar dos pais, com os direitos e deveres que estes teriam no tocante à pessoa e aos bens do tutela-do, porém com algumas restrições. Assim necessita o tutor da autorização do juiz, por exemplo, para pagar as dívidas do menor, aceitar por ele heranças, legados ou doações, transigir, vender-lhe imóveis e os móveis cuja conservação não convier, promover em juízo as ações e defendê-lo nos pleitos contra ele movidos (art. 1748 do CC). Também não pode o tutor emancipar vo-luntariamente o pupilo. A emancipação do tutelado dá-se por sentença judicial (art. 5, parágrafo único do CC).

teressada e incondicionada pode trazer gravames indiretos ao beneficiário, como o elevado valor dos impostos em atraso que recaem sobre o imóvel doado, por exemplo, tornando desinteressante para o menor a sua aceitação.

III – transigir: Necessária a autorização para o tutor transigir, representado o menor, uma vez que toda transação envolve con-cessões recíprocas e, pode haver renúncias ou alienações patrimoniais desvantajosas e até prejudiciais ao tutelado.

IV – vender-lhe os bens móveis, cuja con-servação não convier, e os imóveis nos casos em que for permitido: Refere-se aos bens móveis cuja conservação seja dispen-diosa ou inconveniente. Quanto aos imó-veis, dispõe o art. 1750 do CC que os per-tencentes aos menores sob tutela somente podem ser vendidos quando houver mani-festa vantagem, mediante prévia avaliação judicial e aprovação do juiz.8

V – propor em juízo as ações, ou nelas as-sistir o menor, e promover todas as diligên-cias a bem deste, assim como defendê-lo nos pleitos contra ele movidos: Cabe ainda ao tutor promover as ações e medidas judi-ciais de interesses do pupilo, e ainda defen-dê-lo naqueles casos em que seja réu.

Parágrafo único. No caso de falta de auto-rização, a eficácia de ato do tutor depende da aprovação ulterior do juiz.

10. ATOS QUE O TUTOR NÃO PODE PRATI-CAR SOB PENA DE NULIDADE: Art. 1.749. Ainda com a autorização judicial, não pode o tutor, sob pena de nulidade:

8 São três, portanto, os requisitos para a venda de bens imóveis de menor sob tutela: a) que haja manifesta vantagem na operação; b) prévia avaliação judicial; c) aprovação do juiz. Demonstrada a manifesta vanta-gem do negócio para o tutelado, o juiz determinará a avaliação do imóvel e autorizará a venda, após a mani-festação favorável do Ministério Público, por valor não inferior ao apurado, cabendo ao tutor pestar as respec-tivas contas.

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I – adquirir por si, ou por interposta pes-soa, mediante contrato particular, bens móveis ou imóveis pertencentes ao menor: Essas aquisições são sempre suspeitas de desonestidade. A vedação evita que o tutor abuse de sua função, simulando aquisições onerosas, tendo, portanto, um cunho mo-ral.

II – dispor dos bens do menor a título gra-tuito: Não pode dispor da coisa e do direi-to de outrem. Só quem é dono pode ceder gratuitamente o que lhe pertence, renun-ciar créditos ou recebimentos. O tutor não é proprietário, e, portanto, a doação, a renún-cia, excede as faculdades de administração a ele conferidas.

III – constituir-se cessionário de crédito ou de direito, contra o menor: A sua prática faz nascer para o tutor um conflito incompatí-vel com a tutela.

Antes de assumir a tutela o tutor de-clarará tudo o que o menor lhe deva, sob pena de não lhe poder cobrar, en-quanto exerça a tutoria, salvo provando que não conhecia o débito quando a as-sumiu (art. 1751 do CC). Assim, o tutor deve declinar o que o menor lhe deve, não podendo exercer seu direito de co-brança enquanto estiver na tutoria. A cobrança desse crédito, portanto, fica neutralizada nesse período. Não have-rá renúncia ao crédito, mas suspensão temporária de seu exercício.

11. PRESTAÇÃO DE CONTAS: Como toda pessoa que administra bens alheios, ao tutor compete prestar contas, ainda que dispensado pelos pais do tutelado. É ele obrigado a apresentar balanços anuais e a prestar contas em juízo, sob forma contábil, de dois em dois anos, de sua administração (art. 1757, caput e parágrafo único do CC).

Esses prazos não são taxativos, devendo ser prestadas contas toda vez que o juiz enten-der necessário, uma vez que a ele incumbre preservar o interesse do menor.

Se o tutor descumpre a obrigação e não apresenta, por iniciativa própria, as con-tas de sua administração, podem elas ser exigidas por meio da competente ação de prestação de contas, por quem tenha legi-timidade. A omissão quanto à apresenta-ção, poderá ensejar a destituição do tutor e o ajuizamento da ação de indenização pelo Ministério Público ou outro interessado. Caberá aos herdeiros ou representantes do tutor a responsabilidade pela apresentação das contas, no caso de morte, ausência ou interdição do tutor (art. 1759 do CC).

As despesas com a prestação de contas se-rão pagas pelo tutelado (art. 1761 do CC). São elas verificadas pelo representante do Ministério Público e julgadas pelo juiz.

12) CESSAÇÃO DA TUTELA: Art. 1.763. Ces-sa a condição de tutelado:

I – com a maioridade ou a emancipação do menor;

II – ao cair o menor sob o poder familiar, no caso de reconhecimento ou adoção.

Art. 1.764. Cessam as funções do tutor:

I – ao expirar o termo, em que era obrigado a servir;

II – ao sobrevir escusa legítima;

III – ao ser removido.

Art. 1.765. O tutor é obrigado a servir por espa-ço de dois anos.

Parágrafo único. Pode o tutor continuar no exercício da tutela, além do prazo previsto neste artigo, se o quiser e o juiz julgar con-veniente ao menor.

Art. 1.766. Será destituído o tutor, quando ne-gligente, prevaricador ou incurso em incapaci-dade.

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Tendo em vista a natureza protetiva do ins-tituto, cessa a tutela com a maioridade e a emancipação, pois presume-se dispensa-da esta proteção que a lei confere aos in-capazes. Sendo a tutela um sucedâneo do poder familiar, não mais se justifica a sua existência com o surgimento deste em vir-tude do reconhecimento pelo pai, do filho havido fora do matrimônio, ou da adoção, que transfere ao adotante o aludido poder, reputado um meio mais eficaz e mais natu-ral de proteção.

O art. 1764 do CC estabelece as hipóteses em que cessam as funções de tutor, sem que cesse a tutela. O tutor é obrigado a ser-vir somente pelo prazo de dois anos (art. 1765 do CC). Decorrido o lapso temporal, assiste-lhe o direito de requerer a exonera-ção do encargo. Não o fazendo dentro dos dez dias subsequentes à expiração do ter-mo, entender-se-á reconduzido, salvo se o juiz o dispensar (art. 1198 do CPC). Pode, portanto, continuar além desse prazo no exercício da tutela se o quiser e o juiz julgar conveniente ao menor (art. 1765, parágrafo único do CC).

CURATELA

1. CONCEITO: É o encargo deferido por lei a alguém capaz, para reger a pessoa e admi-nistrar os bens de quem, em regra maior, não pode fazê-lo por si mesmo, ou seja, é um encargo público conferido por lei a al-guém, para dirigir a pessoa e administrar os bens dos maiores que por si não possam fazê-lo.

A curatela assemelha-se à tutela por seu ca-ráter assistencial, destinando-se igualmen-te, a proteção de incapazes. Por essa razão, a ela são aplicáveis as disposições legais re-lativas à tutela, com apenas algumas modi-ficações (art. 1774 do CC). Vigoram para o curador as escusas voluntárias (art. 1736 do CC) e proibitórias (art. 1735 do CC). É obri-

gado a prestar caução bastante, quando exi-gida pelo juiz, e a prestar contas; cabem-lhe os direitos e deveres especificados no capí-tulo que trata da tutela; somente pode alie-nar bens imóveis mediante prévia avaliação judicial e autorização do juiz.

Apesar dessa semelhança, os dois institu-tos não se confundem. Podem ser aponta-das as seguintes diferenças:

2. DIFERENÇAS ENTRE A TUTELA E A CURA-TELA:

a) A tutela destina-se aos menores de 18 anos, ao passo que a curatela, a princípio, destina-se aos maiores incapazes9;

b) A tutela abrange pessoa e patrimônio, ao passo que a curatela pode abranger so-mente o patrimônio (curatela dos pródi-gos);

c) A tutela pode ser deferida pelos pais através de testamento (tutela testamentá-ria). A curatela é sempre deferida pelo juiz através de processo de interdição, sendo assim como a tutela um procedimento, via de regra, temporário;

d) Os poderes do curador são mais restri-tos do que os do tutor.

3. CARACTERÍSTICAS DA CURATELA:

a) Finalidade Assistencial

b) Caráter Público: advém do fato de ser dever do Estado zelar pelos interesses dos incapazes. Tal dever, no entanto, é delegado a pessoas capazes e idôneas, que passam a

9 Não é absoluta a regra de que a curatela destina-se somente aos incapazes maiores. O Código Civil prevê a curatela do nascituro, sendo também necessária a nomeação de curador ao relativamente incapaz, maior de 16 anos e menor de 18 anos, que sofra das facul-dades mentais, porque não pode praticar nenhum ato da vida civil. O tutor só poderia assistir o menor, que também teria de participar do ato. Não podendo haver essa participação, em razão da enfermidade ou doença mental, ser-lhe-á nomeado curador, que continuará a respresentá-lo mesmo depois de atingida a maiorida-de.

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Direito Civil – Da Tutela e Curatela – Profª Alessandra Vieira

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exercer um múnus público, ao serem nome-adas curadoras;

c) Caráter Supletivo da Capacidade: surge do fato de o curador ter o encargo de repre-sentar ou assistir o seu curatelado, cabendo em todos os casos de incapacidade não su-prida pela tutela.

d) Temporária: perdura somente enquanto a causa da incapacidade se mantiver (cessa-da a causa, levanta-se a interdição);

4. PESSOAS SUBMETIDAS À CURATELA:

Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela:

I – aqueles que, por enfermidade ou defi-ciência mental, não tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil;

II – aqueles que, por outra causa duradou-ra, não puderem exprimir a sua vontade;

III – os deficientes mentais, os ébrios habi-tuais e os viciados em tóxicos;

IV – os excepcionais sem completo desen-volvimento mental;

V – os pródigos.

O art. 1767 do CC dispõe todas as pes-soas que estão sujeitas à curatela. Além das pessoas mencionadas no referido artigo, é importante mencionar que estão sujeitas à curatela também as pessoas mencionadas no art. 1780 do CC (enfermo e portador de deficiência física), a seu requerimento, ou, na im-possibilidade de fazê-lo, de qualquer das pessoas a que se refere o art. 1768 do CC, para cuidar de todos ou alguns de seus negócios ou bens. E também o nascituro (art. 1779 do CC).

Essas curatelas não se confundem com a curatela especial que se distinguem pela finalidade específica, que, uma vez exauri-da, esgota a função do curador, automati-

camente. Têm cunho meramente funcional. Não se destinam à regência de pessoas, mas sim, à administração de bens ou à defesa de interesses. Ex: art. 1692 do CC.

A interdição das pessoas privadas do ne-cessário discernimento é total, compreen-siva de todos os atos da vida civil. Serão representadas pelo curador, sob pena de nulidade do negócio ou ato realizado pes-soalmente (art. 166, I, do CC). A interdição do pródigo só interfere em atos de dispo-sição e oneração do seu patrimônio. Pode inclusive administrá-lo, mas ficará privado de praticar atos que possam desfalcá-lo, como emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar. Tais atos dependem da assistência do curador. Sem essa assistên-cia são anuláveis (art. 171, I, do CC). Vide art. 1782 do CC.

5. PESSOAS QUE PODEM REQUER A INTER-DIÇÃO: Art. 1768 do CC: pais e tutores; côn-juge ou qualquer parente e também o Mi-nistério Público. A enumeração é taxativa, mas não preferencial. Qualquer das pessoas indicadas pode promover a ação, inclusive o companheiro ou a companheira, embora não mencionados, em face da equiparação da união estável ao casamento.

6. MINISTÉRIO PÚBLICO: Art. 1769 do CC. O Ministério Público só promoverá a inter-dição em caso de doença mental grave ou se não existir ou não promover a interdição alguma das pessoas mencionadas nos inci-sos I e II do art. 1768 do CC. Também pro-moverá a interdição o Ministério Público, no caso das referidas pessoas mencionadas nos incisos I e II do art. 1768 do CC serem incapazes. Pronunciada a interdição o juiz determinará, em razão do estado ou desen-volvimento mental do interdito, os limites da curatela (art. 1772 do CC).

7. PESSOAS QUE PODEM EXERCER A CURA-TELA: O art. 1775 do CC estabelece uma ordem de preferência na curatela, ou seja, refere que o cônjuge ou companheiro, não separado judicialmente ou de fato, é de di-

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reito curador do outro, quando interdito. Também refere que na falta destas pesso-as é curador legítimo o pai ou a mãe, e na falta deste o descendente que se mostrar mais apto. Entre os descendentes, os mais próximos excluem os mais remotos. Por fim aduz a lei que na falta das pessoas mencio-nadas, competirá ao juiz à escolha do cura-dor (curador dativo).

Aplicam-se a curatela as disposições referentes à tutela, com algumas modi-ficações previstas nos arts.1775 à 1783 do CC. Assim vigoram para o curador as escusas voluntárias (art. 1736 do CC) e proibitórias (art. 1735 do CC). É obri-gado a prestar caução, quando exigido pelo juiz e a prestar contas. Vide art. 1745 e art. 1755 do CC. Cabem-lhe os direitos e deveres especificados no ca-pítulo que trata da tutela, somente po-dendo alienar bens imóveis mediante prévia avaliação judicial e autorização do juiz.

Por fim é importante mencionar que quan-do o curador for o cônjuge e casado com o curatelado no regime da comunhão univer-sal de bens, não será obrigado a prestação de contas, salvo determinação judicial em contrário. A curatela extingue-se quando le-vantada a interdição, sempre que cessar a causa que a ensejou e se tal fato for reco-nhecido por meio de sentença judicial.