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1 24/08/2011 Do Crime de Lavagem de Dinheiro Estudo da Lei 9613/1998 1. LAVAGEM DE DINHEIRO Consiste no processo por meio do qual se opera a transformação de recursos obtidos de forma ilícita em ativos com aparente origem legal, inserindo-se, assim, um grande volume de fundos nos mais diversos setores da economia. Referências Históricas 2. QUAL É A ORIGEM DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO? O termo “lavagem” tem sua origem nas organizações mafiosas que criaram várias lavanderias para dar aparência “lícita” a negócios “ilícitos”, ou seja, buscava-se justificar, por intermédio de um comércio legalizado a origem criminosa do dinheiro arrecadado. Da Convenção de Viena (1988) “Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas” 3. O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO É TIPIFICADO NO BRASIL? Muito embora o Brasil tivesse assumido desde a assinatura da Convenção de Viena de 1988, ratificada pelo Decreto N. 154, de 26-6-1991, perante a comunidade internacional, o compromisso de adotar uma postura repressiva no que se refere à lavagem de dinheiro proveniente do tráfico de entorpecentes, somente em 03-03-1998 foi promulgado o diploma legal que tipificaria a lavagem de dinheiro e criaria, atrelado ao Ministério da Fazenda, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras COAF, cuja função primordial é “ promover

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24/08/2011

Do Crime de Lavagem de Dinheiro

Estudo da Lei 9613/1998

1. LAVAGEM DE DINHEIRO

Consiste no processo por meio do qual se opera a transformação de recursos obtidos

de forma ilícita em ativos com aparente origem legal, inserindo-se, assim, um grande

volume de fundos nos mais diversos setores da economia.

Referências Históricas

2. QUAL É A ORIGEM DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO?

O termo “lavagem” tem sua origem nas organizações mafiosas que criaram várias

lavanderias para dar aparência “lícita” a negócios “ilícitos”, ou seja, buscava-se

justificar, por intermédio de um comércio legalizado a origem criminosa do dinheiro

arrecadado.

“Da Convenção de Viena” (1988)

“Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas”

3. O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO É TIPIFICADO NO BRASIL?

Muito embora o Brasil tivesse assumido desde a assinatura da Convenção de Viena de

1988, ratificada pelo Decreto N. 154, de 26-6-1991, perante a comunidade internacional, o

compromisso de adotar uma postura repressiva no que se refere à lavagem de dinheiro

proveniente do tráfico de entorpecentes, somente em 03-03-1998 foi promulgado o diploma

legal que tipificaria a lavagem de dinheiro e criaria, atrelado ao Ministério da Fazenda, o

Conselho de Controle de Atividades Financeiras – COAF, cuja função primordial é “ promover

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o esforço conjunto por parte dos vários órgãos governamentais do Brasil que cuidam da

implementação de políticas nacionais voltadas para o combate à lavagem de dinheiro”,

evitando que setores da economia continuem sendo utilizados nessas operações ilícitas.

“Da Convenção de Roma” (2003)

“Convenção das Nações Unidas contra a Delinquência Organizada Transnacional”

4. QUAL FOI OUTRO MARCO NO QUE DIZ RESPEITO AO CRIME ORGANIZADO?

Outro marco de extrema importância no combate ao crime de lavagem de dinheiro foi a

aprovação da Convenção de Roma, ratificada pelo Decreto n. 5.015 de 12.03.2004, no qual,

finalmente, operou-se a conceituação de grupo criminoso, conforme o artigo 2º, a, da

mencionada Convenção. Tal conceituação assume, aqui, especial relevo, na medida em que

grande parte dos bens, direitos e valores ilícitos “lavados” provém das organizações

criminosas.

"Grupo criminoso organizado" - grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na presente Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material;

5. QUEM PODE SER SUJEITO ATIVO DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO?

O Sujeito Ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive o autor, coautor e partícipe dos

delitos precedentes vinculadores. Ressalte-se que as atividades de lavagem de dinheiro

processam -se, via de regra, sob a direção e o controle dos autores dos crimes antecedentes,

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que, nestes casos, por não transferirem a titularidade dos produtos dos crimes e possuírem o

domínio do fato típico, configuram-se como autores. Com efeito, o delito de lavagem de

dinheiro tutela inúmeros bens jurídicos e não se limita a constituir singelo esgotamento do

crime antecedente.

6. QUEM PODE SER O SUJEITO PASSIVO?

O sujeito passivo é o Estado e a Sociedade.

7. QUAIS SÃO AS FASES DA LAVAGEM DE DINHEIRO?

A lavagem de dinheiro, como atividade complexa e concatenada que é, comporta três fases:

(i) colocação, (ii) ocultação e (iii) integração. Não se tratam verdadeiramente de etapas

distintas, isoladas e obrigatórias, visto que alguns casos caracterizam-se pela manifesta

interdependência de operações paralelas que se comunicam, quando não se sobrepõem, no

desenvolvimento do percurso da „lavagem‟”

1) Placement ou colocação: também conhecida na doutrina como etapa de introdução

ou colocação. Busca-se introduzir o dinheiro ilícito no sistema financeiro.

Promove-se, assim, o distanciamento dos recursos de sua origem, a fim de evitar

qualquer ligação entre o agente e o produto oriundo do cometimento de crime prévio.

Nessa fase, “para dificultar a identificação da procedência do dinheiro, os criminosos

aplicam técnicas sofisticadas e cada vez dinâmicas.

Exemplos: fracionamento dos valores que transitam pelo sistema financeiro; utilização

de estabelecimentos comerciais que usualmente trabalham com dinheiro em espécie;

conversão em moeda estrangeira por meio de doleiros; utilização de mulas para o

transporte físico de divisas para o exterior; importação de mercadorias superfaturadas

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ou inexistentes, para a remessa de dinheiro ao exterior. Mediante prévia combinação

com o exportador, a parte que excede o valor correto da transação é depositada em

conta bancária indicada pelo importador.

Terminologia:

Doleiros – Pessoas que fazem conversão de moedas no Brasil sem autorização legal

ou que, tendo autorização para determinadas modalidades, as faz além dos limites

permitidos. São assim chamados por ser o dólar a moeda mais transacionada.

Mulas – Pessoas que transportam valores ou mercadorias para terceiros, de um país

para outro, mediante remuneração, ou qualquer outra forma de favorecimento direto ou

indireto.

2) Layering ou ocultação: também conhecida na doutrina como etapa de

transformação ou dissimulação, na qual é realizada uma série de negócios ou

movimentações financeiras objetivando impedir o rastreamento e encobrir a

procedência ilícita dos recursos.

Na verdade é o envio do dinheiro através de várias transações financeiras para

mudar seu formato e dificultar o rastreamento. A ocultação pode ser feita através de

várias transferências de um banco para outro; transferências eletrônicas entre várias

contas de pessoas diferentes em países diversos; realização de depósitos e saques

a fim de alterar os saldos das contas; mudança de moeda e compra de artigos caros

(barcos, casas, carros, diamantes) para mudar a forma do dinheiro.

É a fase mais complexa do esquema de lavagem, e seu objetivo é dificultar ao máximo

o rastreamento da origem do dinheiro sujo. Consiste em dificultar o rastreamento

contábil dos recursos ilícitos. O objetivo é quebrar a cadeia de evidências ante a

possibilidade da realização de investigações sobre a origem do dinheiro,

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No processo de transferência, o dinheiro ilícito mistura-se com quantias

movimentadas legalmente. O desenvolvimento da Internet e da tecnologia do dinheiro

digital ampliou as possibilidades de ação dos agentes criminosos, propiciando-lhes

maior rapidez nas transações, com a garantia do anonimato. Nesta etapa, ocorrem as

transferências internacionais “via cabo” (wire transfer), e a utilização de sociedades em

centros de offshore e a compra de instrumentos financeiros com possibilidades de

rotação rápida e contínua, composta de ativos de fácil disponibilidade.

Offshore (paraíso fiscal) - Centros bancários extraterritoriais não-submetidos ao

controle das autoridades administrativas de nenhum pais e, portanto, isentos de

controle.É o nome que se dá a uma sociedade situada em um paraíso fiscal.

3) Integration ou integração: Nesta fase os bens, já com a aparência de

regulares, são formalmente incorporados ao sistema econômico, em geral

mediante operações no mercado mobiliário.

Neste momento o dinheiro é reincorporado ao sistema econômico de forma legítima -

parece que é proveniente de uma transação legal.

Exemplos: transferência bancária para a conta de uma empresa local; da venda de um

iate comprado durante a fase de ocultação; ou da compra de uma chave de fenda de

US$ 10 milhões de uma empresa da qual o criminoso seja proprietário.

Nesse estágio, o criminoso pode usar o dinheiro sem ser pego em flagrante. É muito

difícil pegar um criminoso durante a fase de integração se não houver documentação

durante as fases anteriores.

Os meios mais utilizados nesta etapa: os investimentos em cadeias hoteleiras,

supermercados, participação em capital social de empresas, compra de imóveis, ouro,

pedras preciosas, obras de arte, etc.

Outros Exemplos

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- Empresas de transporte, dedicadas ao traslado de dinheiro, drogas, produtos

químicos (utilizados na elaboração de entorpecentes) ou outros bens de contrabando;

- Agências de viagem, para facilitar a comercialização de mercadorias

contrabandeadas;

- Setores econômicos que movimentam grandes somas de dinheiro em espécie, para

poder misturá-lo com dinheiro de origem ilícita, como, por exemplo, cassinos,

supermercados, hotéis, postos de gasolina, agências de revenda de automóveis

usados, etc.

O CASO DE FRANKLIN JURADO (EUA, 1990-1996)

Economista colombiano formado em Harvard, Jurado coordenou a lavagem de cerca de

US$ 36 milhões em lucros obtidos por José Santacruz Londono com o comércio ilegal

de drogas. O depósito inicial – o estágio mais arriscado, pois o dinheiro ainda está

próximo de suas origens – foi feito no Panamá. Durante um período de três anos,

Jurado transferiu dólares de bancos panamenhos para mais de 100 contas em 68

bancos de nove países, mantendo os saldos abaixo de US$ 10 mil para evitar

investigações. Os fundos foram novamente transferidos, dessa vez para contas na

Europa, de maneira a obscurecer a nacionalidade dos correntistas originais, e, então,

transferidos para empresas de fachada. Finalmente, os fundos voltaram à Colômbia por

meio de investimentos feitos por companhias européias em negócios legítimos, como

restaurantes, construtoras e laboratórios farmacêuticos, que não levantariam suspeitas.

O esquema foi interrompido com a falência de um banco em Mônaco, quando várias

contas ligadas a Jurado foram expostas. Fortalecida por leis antilavagem, a polícia

começou a investigar o caso e Jurado foi preso.

Nos Estados Unidos, o Departamento de Justiça, o Departamento de Estado, o

FBI, a Receita Federal e a Agência de Combate às Drogas (DEA) têm divisões de

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investigação de lavagem de dinheiro e das estruturas financeiras que sustentam esta

prática.

No Brasil, o Ministério da Justiça coordena o Departamento de Recuperação de

Ativos e Cooperação Jurídica Internacional reúne cerca de 50 órgãos federais,

estaduais e municipais para alinhavar uma política comum de combate ao tráfico. Além

disso, o Brasil tem acordos bilaterais com vários países entre eles, Estados Unidos,

Argentina, Uruguai, Paraguai, Colômbia, França, Itália, Peru, Coréia do Sul e Portugal.

Como os sistemas financeiros globais têm um papel importante na maioria dos altos

esquemas de lavagem, a comunidade internacional está combatendo a lavagem de

dinheiro de várias maneiras, como a Força-Tarefa de Ação Financeira para Lavagem de

Dinheiro (FATF), que em 2005 tinha 33 membros incluindo Estados e organizações. As

Nações Unidas, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional também têm

divisões contra lavagem de dinheiro.

Alguns Métodos de Lavagem de Dinheiro

a) Mercado Negro de Câmbio Colombiano

Este sistema, que a DEA chama de "o maior mecanismo de lavagem de

dinheiro de drogas do hemisfério oeste", surgiu nos anos 90. Um oficial

colombiano se reuniu com o Departamento do Tesouro americano para

discutir o problema dos produtos americanos que estavam sendo importados

ilegalmente para a Colômbia usando o mercado negro. Quando pensaram na

questão considerando o problema de lavagem de dinheiro de drogas, os

oficiais americanos e colombianos analisaram os fatos e descobriram que o

mesmo mecanismo servia aos dois propósitos.

Este complexo arranjo conta com o fato de que há empresários na Colômbia -

geralmente importadores de produtos internacionais - que precisam de

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dólares para conduzir seus negócios. Para burlar os impostos do governo

americano para a conversão de pesos para dólares e as tarifas de importação,

estes empresários podem recorrer aos corretores de pesos do mercado negro

que cobram uma pequena taxa para conduzir a transação sem a intervenção

do governo.

Este é o lado da importação ilegal do esquema. Na lavagem de dinheiro

acontece assim: um traficante de drogas entrega dólares sujos para um

corretor de pesos na Colômbia. O corretor então usa dólares de drogas para

comprar produtos nos Estados Unidos para importadores colombianos.

Quando os importadores recebem os produtos (sem passar pelo radar do

governo) e os vendem em pesos na Colômbia, pagam o corretor usando os

rendimentos. O corretor então devolve ao traficante o equivalente ao original

em pesos (descontada a comissão), os dólares sujos do início do processo.

b) Depósitos Estruturados

Também conhecido como smurfing, este método consiste na quebra de

grandes quantias de dinheiro em quantias menores e menos suspeitas. Nos

Estados Unidos, esta quantia menor tem de ser de, no máximo, US$10 mil, a

partir da qual os bancos americanos devem declarar a transação ao governo.

No Brasil, o valor é de R$ 5 mil por depósito. O dinheiro é então depositado

em uma ou mais contas bancárias por várias pessoas (smurfs) ou por uma

única pessoa durante um determinado período.

c) Bancos Internacionais

Lavadores de dinheiro geralmente enviam valores através de várias "contas

offshore" em países protegidos pela lei de sigilo bancário, o que significa que

não importa qual o propósito, eles permitem movimentação bancária anônima.

Um esquema complexo pode envolver centenas de transferências bancárias

de e para bancos estrangeiros. De acordo com o FMI, os paraísos fiscais

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incluem as Bahamas, Bahrain, as Ilhas Cayman, Hong Kong, Antilhas,

Panamá e Singapura.

d) Sistema Bancário Alternativo

Alguns países da Ásia têm sistemas bancários alternativos legais e bem

estabelecidos que permitem depósitos, saques e transferências sem

documentação. São sistemas baseados na confiança, geralmente com raízes

na antiguidade, que não deixam rastro em papel e operam fora do controle do

governo. É o caso do sistema hawala no Paquistão e na Índia, e do fie chen

na China.

e) Empresas de Fachada

São empresas falsas que existem somente para lavar dinheiro. Elas recebem

dinheiro sujo como pagamento por supostos bens e serviços que nunca

existiram na prática; simplesmente criam a aparência de transações legítimas

através de notas fiscais e balanços falsos. Muito comum no Brasil em casos

de financiamentos públicos desviados como no caso dos milhões de reais

desviados da Superintendência da Amazônia (Sudam) descobertas entre

2000 e 2002.

f) Investimento em Empresas Legítimas

Os criminosos às vezes colocam dinheiro sujo em empresas legítimas para

limpá-lo. Eles podem usar empresas grandes, como corretoras de valores ou

cassinos que manipulam tanto dinheiro fazendo o dinheiro sujo se perder no

meio, ou usam negócios menores, que usam bastante dinheiro vivo, como

bares, lava-rápidos, casas noturnas ou lojas. Estas empresas são as

"empresas de frente" que fornecem bens e serviços de verdade, mas cujo real

propósito é limpar o dinheiro do criminoso. Este método geralmente funciona

de dois modos: o criminoso consegue mesclar seu dinheiro sujo com receita

limpa da empresa - neste caso, a empresa declara receitas maiores do que as

reais para seu negócio lícito; ou o lavador de dinheiro pode simplesmente

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esconder o dinheiro sujo nas contas legítimas da empresa na esperança de

que as autoridades não vão comparar os extratos bancários com os relatórios

financeiros da empresa.

g) Compra de Bilhetes Sorteados

No Brasil, um tipo de lavagem de dinheiro diferente é a compra de bilhetes

sorteados da loteria. Com a ajuda de funcionários da Caixa Econômica

Federal (CEF), banco responsável pelo pagamento dos prêmios, os golpistas

conseguem limpar o dinheiro dizendo que ganharam na loteria. Nesse caso, o

funcionário paga o valor do bilhete para o verdadeiro ganhador, mas na hora

de registrar o vencedor registra no nome do criminoso.

8. O QUE SÃO OS CHAMADOS “PARAÍSOS FISCAIS” ?

Os paraísos fiscais também podem ser denominados como: refúgio fiscal, porto fiscal,

oásis fiscal. São aqueles países onde os encargos e obrigações tributárias são

reduzidos ou inexistentes em relação à movimentação, aplicação e trânsito de recursos

financeiros de origem local ou externa.

9. QUAL É A SUA CARACTERÍSTICA PRINCIPAL ?

Regime fiscal privilegiado decorrente de não-incidência de imposto de renda sobre

pessoas físicas e jurídicas, cujos recursos financeiros sejam detidos por não-residentes

ou porque exerçam suas atividades fora do âmbito local.

10. QUAIS SÃO AS DEMAIS CARACTERÍSTICAS DOS “PARAÍSOS FISCAIS”?

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a) Reduzida tributação sobre lucros, dividendos, royalties bancários;

b) Alta proteção e garantia de segredo comercial e sigilo bancário;

c) Legislação financeira e societária flexível;

d) Estabilidade política, social e econômica;

e) Eficiente sistema de comunicações e de acesso físico;

f) Existência de sistema bancário desenvolvido e interligado;

g) Tratados fiscais favoráveis a não-residentes;

h) Mínimo controle monetário;

i) Baixo custo de instalação e manutenção de empresas offshore;

j) Limitação de extradições;

k) Proximidade de representações diplomáticas;

l) Não-criminalização de ilícitos fiscais e cambiais.

11. QUE CONDUTAS CRIMINOSAS SÃO PERPETRADAS NOS PARAÍSOS

FISCAIS ?

Sonegação fiscal, corrupção, fraudes cambiais, contrabando, suborno, fraudes

financeiras, etc. Os paraísos fiscais transformaram-se nos principais focos de lavagem

de dinheiro, possibilitando o apagamento de rastros identificadores de origem espúria,

recursos financeiros para posterior aplicação em empreendimentos e atividades lícitas.

A partir dos anos 70, uma sofisticada rede de instituições financeiras passou a se

especializar em canalizar operações para refúgio fiscal ou zonas francas bancárias.

Categorias de paraísos fiscais

a. Sem motivação fiscal: em que não há reflexo sobre o pagamento de impostos

nacionais.

b. Com efeito fiscal: em que existem isenções e incentivos fiscais para os não

residentes.

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c. Por estratégia fiscal: mediante planejamento, procura-se a via fiscal menos

onerosa.

d. Para fraudes fiscais: em que se usam meios fraudulentos (simulação, falsidade,

etc.) para omissão de rendimentos.

e. Para lavagem de dinheiro: em que se almeja apagar a origem ilícita dos ativos,

até com eventual pagamento de tributos.

Técnicas utilizadas nos paraísos fiscais

a. Transferências de lucros por meio do aumento ou diminuição do volume

dos negócios;

b. Interposição de uma sociedade intermediária;

c. Utilização dos tratados fiscais.

12. QUAIS SÃO OS MÉTODOS MAIS UTILIZADOS PELOS CRIMINOSOS PARA

A LAVAGEM DE DINHEIRO ?

a) Mercado Imobiliário: por meio da transação de compra e venda de imóveis, os

agentes criminosos lavam recursos com relativa facilidade. O investimento no setor da

construção civil também é usado, na medida em que ao aportar recursos para um

empreendimento imobiliário, nem sempre a origem dos recursos é declarada ou, muitas

das vezes, é dissimulada.

b) Jogos e Sorteios: envolvem a manipulação das premiações e a realização de

alto volume de apostas em uma determinada modalidade de jogo, buscando fechar

combinações. A compra de bilhetes premiados também é um método bastante utilizado.

c) Auto-Empréstimo: efetua-se um depósito em conta bancária, em um país onde

não existam maiores controles, em nome de um terceiro ou de uma empresa de

fachada. Com um comprovante de depósito, o “lavador” solicita um empréstimo em

outro banco, geralmente em outro país, utilizando o depósito efetuado como garantia, e

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simulando a aplicação do crédito em algum negócio. Posteriormente, o empréstimo não

é pago e a instituição financeira executa a garantia, recebendo o dinheiro “sujo”, com

aparência de legalidade. Ao mesmo tempo, o dinheiro recebido pelo “lavador”, através

da instituição, (empréstimo) também tem aparência de legalidade, conseguindo-se,

assim, o intento de dissimular a origem ilícita do dinheiro.

d) Superfaturamento e Subfaturamento: superfaturar é atribuir a uma operação

de caráter econômico valor superior ao valor real da operação, enquanto subfaturar é

realizar o contrário. Para fins de lavagem de dinheiro, empresas ligadas aos criminosos

geralmente simulam rendimentos, superfaturando lucros, créditos, pagamentos, etc.,

para fazer com que o dinheiro sujo pareça ser proveniente da atividade comercial.

Nesse tipo de operação, os delinqüentes são grandes pagadores de impostos, já que

demonstram um lucro sobre o qual pagam corretamente a porcentagem que a

legislação exige. É por esse motivo que muitos países têm investigado pessoas que

recolhem impostos de maneira excessivamente correta e pontual. A utilização do

método de super/subfaturamento na atividade de importação e exportação também

possibilita a lavagem de dinheiro e a evasão de divisas na medida em que favorece a

entrada e saída de dinheiro entre os países envolvidos na transação. Prática comum no

Brasil é o superfaturamento de obras públicas para pagamento de propinas a políticos.

d) “Laranjas” ou “Fantasmas”: os “laranjas” são pessoas encarregadas de figurar

como titulares de contas bancárias utilizadas pelos criminosos para receber depósitos e

transferências no intuito de fazer circular o dinheiro ilícito. Sua utilização visa, portanto,

dificultar a tarefa do investigador já que contribuem para manter no anonimato os

verdadeiros donos do dinheiro. Os laranjas geralmente são “contratados”, emprestando

dados pessoais ou efetivamente comparecendo à instituição bancária para abrir contas

correntes ou efetuar movimentações financeiras.

f) Agências de Turismo e Empresas de Factoring: Agências de Turismo

trabalham, em geral, com vários tipos de moedas, pois são receptoras de bilhetes e

divisas estrangeiros, como agentes de câmbio, podendo efetuar transferências de um

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país a outro (bilhetes, cheques de viagem, etc.). Dessa forma, podem-se constituir em

verdadeiros mercados paralelos de movimentação de dinheiro. Pelo fato de terem maior

facilidade no transporte de pessoas, torna-se viável sua participação no contrabando de

bens em geral.

As Factorings são empresas voltadas para a prestação de serviços de assessoria

creditícia e mercadológica, gestão de crédito, seleção e riscos, administração de contas

a pagar e a receber, compra de direitos creditórios resultantes de vendas mercantis a

prazo ou de prestação de serviços. Pelo fato de suas atividades envolverem

movimentação de créditos e valores volumosos podem ser usadas para a prática dos

crimes em comento.

g) Advogados, Contadores e Tabeliães: as atividades de alguns profissionais

liberais, entre eles advogados, contadores e tabeliães, baseiam-se em uma especial

relação de confiança com seus clientes. Como ocorre também com o sigilo bancário,

certas transações não podem transparecer em razão do sigilo profissional.

Aproveitando-se destas particularidades, tais profissionais podem ser usados para

importantes atividades ligadas à lavagem de dinheiro, tais como: a) Empréstimo

temporário de suas contas bancárias; b) Compra de imóveis ou outros bens de alto

valor em nome próprio, mas por encargo de seu cliente; c) Estabelecimento de

empresas fictícias, criadas com o fim único de ocultar recursos de origem criminosa

dentro das atividades normais de estruturas controladas pela organização criminosa.

h) Outros Métodos: o financiamento de campanhas políticas também vem sendo

utilizado há algum tempo como um escoadouro para a lavagem de dinheiro, como

revelam as recentes investigações da Polícia Federal e das Comissões Parlamentares

de Inquérito do Congresso Nacional. Destacam-se, ainda, as operações de compra e

venda de jóias, pedras e metais preciosos, objetos de arte e antiguidades.

31/08/2011

13. QUAL É A LEGISLAÇÃO EM VIGOR NO QUE DIZ RESPEITO AO CRIME DE

LAVAGEM DE DINHEIRO?

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É a Lei nº 9.613/98.

Mostra-se fundamental, todavia, como requisito para a “”caracterização do crime de

lavagem de dinheiro o “exame da proveniência ilícita dos bens”, o que “só se

concretizará” quando demonstrada a “correspondência entre o CRIME

ANTECEDENTE e o rol previsto no artigo 1º da Lei n. 9613/98”.

14. O ROL DE CRIMES PREVISTO NA LEI nº 9.613/98 É TAXATIVO?

SIM, o rol é taxativo. Do contrário, não seria necessário mencionar crime por crime nos

incisos. Bastaria a existência do caput.

“Embora possua essa natureza, percebe-se que o legislador não ficou adstrito

ao crime precedente de tráfico de entorpecentes ( cf. Convenção de Viena de

1988), nem optou por considerar o crime anterior infração penal”.

O legislador elencou taxativamente os crimes precedentes, mas, por outro

lado, evitando engessar o tipo penal, “ abriu uma porta” ao inserir em seu rol os

valores, bens ou direitos, provenientes de “organizações criminosas”, o que

possibilitou abarcar uma gama de crimes praticados por tais organizações e

que não se encontram nesse rol legal.

Desse modo, o elenco de crimes estabelecidos no caput do art. 1º da Lei

9.613/98 passou a vigorar da seguinte maneira:

Art.1º- “Ocultar ou dissimular a

1) natureza;

2) origem;

3) localização;

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4) disposição;

5) movimentação; ou,

6) propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de crime:

I - de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes ou drogas afins;( são as figuras previstas nos artigos 33

a 37 da Lei n. 11.343/2006)

II – de terrorismo e seu financiamento; (Redação dada pela Lei nº 10.701, de 9.7.2003). ( o crime de

terrorismo é previsto no artigo 20 da Lei n. 7170/83).

III - de contrabando ou tráfico de armas, munições ou material destinado à sua produção; ( aqui pode ser

o delito previsto no artigo 17 ( comércio interno) ou no artigo 18 ( tráfico internacional) da Lei

n.10.826/2003 ( Estatuto do Desarmamento) ou no artigo 12 da Lei n. 7170/83 ( Lei de Segurança

Nacional) dependendo do tipo de armamento e da finalidade do agente.

IV - de extorsão mediante sequestro; ( é a figura prevista no artigo 159 do Código Penal).

V - contra a Administração Pública, inclusive a exigência, para si ou para outrem, direta ou indiretamente,

de qualquer vantagem, como condição ou preço para a prática ou omissão de atos administrativos; (são

todos os previstos no Título XI do CP – arts. 312 até o artigo 359-H), bem como outros estabelecidos em

leis especiais, como, por exemplo, os delitos relativos a licitações e contratos da administração pública –

Lei 8666/93).

VI - contra o sistema financeiro nacional; ( são as figuras típicas incriminadoras previstas na Lei

n.7492/86).

VII - praticado por organização criminosa ( Lei 9034/95)

VIII – praticado por particular contra a administração pública estrangeira (novas figuras típicas incluídas

pela Convenção de Paris sobre o combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros : arts.

337-B “Corrupção Ativa em Transação comercial Internacional”, 337-C “Tráfico de Influência em

Transação comercial Internacional” e 337-D “Funcionário Público Estrangeiro” do Decreto-Lei no 2.848,

de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal). (Inciso incluído pela Lei nº 10.467, de 11.6.2002)

Pena: reclusão de três a dez anos e multa.

Critica-se a omissão do legislador em não incluir o crime de tráfico internacional de

pessoas (art. 231 do CP, com as modificações determinadas na Lei n. 11.106/2005)

nesse rol legal, já que se trata, atualmente, da terceira atividade ilícita mais rentável

(perdendo apenas para o tráfico de drogas e o de armas), conforme dados estatísticos

divulgados oficialmente pela ONU.

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17

Mas, em que pese a omissão do legislador, o crime de tráfico internacional de pessoas

poderá ser punido se tal delito for cometido por organização criminosa, pois o

bem ou valor proveniente de crimes por esta praticados se encontra abrangido

pela lei em estudo.

15. QUAL É O OBJETO JURÍDICO DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO?

O objeto jurídico é complexo envolvendo a:

1) Ordem Econômica,

2) Sistema Financeiro,

3) Ordem Tributária,

4) Paz Pública,

6) Administração da Justiça.

16. QUAL É O OBJETO MATERIAL DO CRIME ?

O objeto material do crime será o bem, direito ou valor provenientes, direta ou

indiretamente do crime antecedente.

Desta forma, o objeto material do crime é bastante amplo, de modo a abranger bens

móveis e imóveis.

Abrange os produtos diretos do crime (por exemplo, propriedades adquiridas por

intermédio da prática de crime de corrupção) e indiretos do crime (por exemplo,

dinheiro adquirido com a venda da propriedade).

Análise dos Tipos Penais - Modalidades Típicas

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1ª MODALIDADE TÍPICA

17. QUAL É A 1ª MODALIDADE TÍPICA DO CRIME DE LAVAGEM DE

DINHEIRO?

“Ocultar ou Dissimular a origem dos bens, direitos e valores provenientes da atividade ilícita”.

Verificamos, assim, que duas são as ações nucleares típicas: OCULTAR (esconder,

encobrir) ou DISSIMULAR (camuflar, disfarçar) no caso, a natureza, origem,

localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores

provenientes, direta ou indiretamente, de crime.

18. QUEM PODERÁ SER SUJEITO ATIVO DESSE CRIME?

Poderão ser sujeitos ativos desse crime o autor, coautor ou partícipe do crime

antecedente. Portanto, o crime de lavagem de dinheiro NÃO se constitui em “post

factum impunível”, afastando-se, assim, o princípio da consunção.

Deverá o agente responder pelo “concurso material de crimes”, dado que, além de

as condutas serem praticadas em momentos distintos, ofendem bens jurídicos

diversos.

Da INEXISTÊNCIA de Tipos Penais CULPOSOS

19. O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO PODE SER PRATICADO NA

MODALIDADE CULPOSA?

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Dada a ausência de previsão de tipos culposos, os delitos constantes da Lei n.

9.613/98 são todos DOLOSOS em conformidade com o disposto do art. 1o, c/c o art.

18, parágrafo único, do CP, que fala que o crime será doloso quando o agente quis o

resultado ou assumiu o risco de produzi-lo e o seu respectivo parágrafo único que

preconiza: salvo os casos expressos em lei, ninguém poderá ser punido por fato

previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.

Assim...

“É fundamental que o agente tenha conhecimento da ocorrência do delito anterior

(ou seja, dos oito crimes elencados em rol taxativo do artigo 1º da Lei 9613/1998) E

origem espúria dos bens obtidos ilegalmente, entendendo seu caráter criminoso

(elemento normativo do tipo) e, ainda sim, queira efetuar a ocultação ou a

dissimulação daqueles.

Da Exigência de Dolo Direto

20. QUAL É O DOLO TÍPICO DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO?

Exige-se, para a configuração da lavagem de dinheiro, o dolo direto, muito embora

haja quem defenda que a letra da lei abarcaria também o dolo eventual na figura do

art.1o, caput, da lei (Rodolfo Tigre Maia, Marcia e Edilson Mougenot Bonfim).

Em síntese, o dolo típico do crime de lavagem é integrado pelo “conhecimento

do agente acerca dos bens obtidos irregularmente”, “pela existência de um dos crimes

antecedentes indicados no art. 1o da Lei n. 9613/98” e pela “ligação entre os referidos

bens e o delito cometido em momento prévio”.

Do Momento Consumativo do Crime

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21. QUAL É O MOMENTO CONSUMATIVO DO CRIME?

No tocante à consumação, trata-se de “CRIME FORMAL”, isto é, perfaz-se com a

“ocultação” ou “dissimulação” dos “bens”, “direitos” ou “valores”, independentemente de

serem introduzidos no sistema econômico ou financeiro.

Da Existência de Crime Permanente

22. SE O AGENTE CONSEGUIR CONCLUIR UMA OPERAÇÃO, ENCOBRINDO A

NATUREZA, LOCALIZAÇÃO, PROPRIEDADE DE BENS, DIREITOS OU VALORES

PROVENIENTES, DIRETA OU INDIRETAMENTE DE CRIME, A OCULTAÇÃO E A

DISSIMULAÇÃO DESAPARECERÃO COM A CONCRETIZAÇÃO DA OPERAÇÃO

ILÍCITA?

Não, porque trata-se de CRIME PERMANENTE.

“Assim, ainda que o agente consiga concluir uma operação, encobrindo a natureza,

localização, disposição, movimentação. de um bem ou valor, o fato é que nem a

ocultação, nem a dissimulação, desaparecem com a concretização da mesma”

(Marcia e Edilson Mougenot Bonfim).

2ª MODALIDADE TÍPICA

23. QUAL É A 2ª MODALIDADE TÍPICA DO CRIME DE LAVAGEM DE

DINHEIRO?

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Prevista no § 10 do art. 1o, o qual dispõe que incorre na mesma pena quem, para

ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de qualquer

dos crimes antecedentes referidos no art. 1o:

a) os converte em ativos lícitos (inciso I);

b) os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em garantia, guarda, tem

em depósito, movimenta ou transfere (inciso II);

c) importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos

verdadeiros (inciso III).

Aqui, estamos diante de um CRIME DE AÇÃO MÚLTIPLA ou CONTEÚDO VARIADO.

Ou seja, a prática de qualquer uma das ações é apta a configurar o tipo penal.

Exige-se, ainda, que as condutas sejam realizadas com a finalidade específica de

ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de crime

anterior.

Pune-se, assim, as ações que antecedem a ocultação ou dissimulação dos bens,

direitos ou valores.

Trata-se de CRIME FORMAL, pois se consuma com a mera prática dos atos acima

mencionados, independentemente de o agente lograr a ocultação ou dissimulação,

sendo perfeitamente ADMISSÍVEL A TENTATIVA.

3ª MODALIDADE TÍPICA

24. QUAL É A 3ª MODALIDADE TÍPICA DO CRIME DE LAVAGEM DE

DINHEIRO?

Prevista no art. 1o, § 2o, dispõe que incorre, ainda, na mesma pena:

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a) quem utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos, ou

valores que sabe serem provenientes de qualquer dos crimes

antecedentes previstos no artigo em estudo (inciso I):

Nessa modalidade criminosa se incrimina a ação posterior à ocultação e

simulação dos bens, direitos e valores, consistente em utilizá-los, em

atividade econômica e financeira, sabendo sua origem espúria;

b) quem participa de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de

que sua atividade principal ou secundária é dirigida à prática de crimes

previstos na lei em estudo (inciso III):

Vejam que o tipo penal NÃO exige que o integrante do grupo, associação ou escritório

REALIZE qualquer das condutas relacionadas à lavagem de dinheiro.

Basta que participe do grupo, associação ou escritório, SABEDOR de que estes, de

alguma forma, desenvolvem atividade relacionada à lavagem de dinheiro.

Em ambas as condutas somente se admite o DOLO DIRETO.

Do Crime Antecedente

25. O QUE A LEI QUIS DIZER COM “CRIME ANTECEDENTE”?

O termo “crime” constitui elemento normativo do tipo, e é de importância ímpar para

a caracterização da lavagem de dinheiro, haja vista que sem tal elementar resta

excluída a tipicidade do delito.

Não se está falando no cometimento de qualquer delito, mas daqueles a que se faz

expressa alusão no art. 1o da Lei n. 9.613/98.

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Do CRIME ANTECEDENTE e a Previsão do Art. 2o, §1o

26. O AUTOR DO CRIME ANTECEDENTE DEVE SER IMPUTÁVEL?

Art. 2o, § 1o, “a denúncia será instruída com indícios suficientes da existência do crime

antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nessa Lei, ainda que desconhecido ou

ISENTO DE PENA o autor daquele crime”.

A lavagem de dinheiro, para sua existência, depende da prática de um crime

antecedente, no caso, os elencados no art. 10 da lei. Esse fato anterior deve ser

típico e antijurídico, NÃO se exigindo, entretanto, a culpabilidade do seu autor.

Assim, haverá o crime de lavagem ainda que o autor do delito antecedente seja

inimputável.

27. A ABSOLVIÇÃO DO AGENTE FUNDADA NO ART. 386,V, CPP – “NÃO

EXISTA PROVA DE TER O RÉU CONCORRIDO PARA A AÇÃO PENAL” PODE

IMPEDIR A CONFIGURAÇÃO DO CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO?

A absolvição do agente fundada na sua imputabilidade NÃO impede a configuração do

crime de lavagem de dinheiro.

28. E SE FOR DESCONHECIDO O AUTOR DO CRIME ANTERIOR, HAVERÁ

CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO?

Haverá o crime de “lavagem” ainda que desconhecido o autor do crime anterior.

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29. SE O CRIME ANTECEDENTE NÃO SE CONSUMAR, ESGOTANDO-SE NA

TENTATIVA?

Poderá ela render ensejo à prática da lavagem quando a ação anterior propiciar o

surgimento do objeto material do delito em comento.

Ex. Latrocínio

30. EM RELAÇÃO AO CRIME PRECEDENTE, QUE CIRCUNSTÂNCIAS

AFASTAM O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO?

a) Se incidente alguma causa de exclusão da tipicidade ou da ilicitude;

b) Provada a inexistência do fato: autor absolvido com fundamento no art.

386, I, CPP;

c) Não constituir o fato infração penal: autor absolvido com fundamento no

art. 386, III, CPP;

d) Existência de circunstância que exclua o crime: autor absolvido com

fundamento no art. 386, VI, CPP;

31. E SE HOUVER ALGUMA CAUSA EXTINTIVA DA PUNIBILIDADE PREVISTA

NO ARTIGO 107, CP?

As causas extintivas da punibilidade, previstas no art. 107 do Código Penal, NÃO

retiram o caráter delituoso do fato praticado, com EXCEÇÃO da ANISTIA (declaração,

pelo Poder Público de que determinados fatos se tornam impuníveis por motivo de

utilidade social) e da ABOLITIO CRIMINIS (lei nova deixando de considerar nova

conduta como crime).

Do Crime Antecedente e a Previsão do Art. 2o, II, da Lei

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32. O PROCESSO E JULGAMENTO DOS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO

FICAM NA DEPENDÊNCIA DO PROCESSO E JULGAMENTO DOS CRIMES

ANTECEDENTES ?

De acordo com a redação dada ao art. 2o, II, da Lei n. 9.613/98, “o processo e

julgamento dos crimes previstos nesta Lei (...) II – independem do processo e

julgamento dos crimes antecedentes referidos no artigo anterior, ainda que praticados

em outro país”. Embora a lei tenha consagrado a autonomia do processo e julgamento

do crime de lavagem de dinheiro, a doutrina tem exigido CAUTELA na aplicação desse

dispositivo legal, de forma que, consoante Antônio Sérgio A. de Moraes Pitombo, “no

fenômeno sob análise, se não operar a conexão, deve-se atentar à prejudicialidade

homogênea. Tudo no escopo de evitar decisões antiéticas, ou dotadas de

incompatibilidade objetiva”.

33. E SE O CRIME ANTECEDENTE FOR PRATICADO NO EXTERIOR?

Se o crime antecedente tiver sido perpetrado fora do território nacional, deverá ser

analisado se o fato prévio está tipificado tanto no país em que foi cometido quanto

naquele em que se consumou a lavagem, ainda que tenha diverso “nomen iuris”,

classificação ou pena, incidindo o princípio da dupla incriminação (art. 7o,§ 2o, b, do CP

e art. 6.2, c da Convenção de Palermo).

34. E SE RESTAR CONSTATADO QUE O FATO NÃO SE CARACTERIZA COMO

CRIME NUM DOS DOIS SISTEMAS JURÍDICOS ?

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Em se constatando que o mencionado fato não se caracteriza como crime num dos

dois sistemas jurídicos, ele não pode ser concebido como delito anterior à lavagem de

dinheiro.

35. PARA FINS DE RECEBIMENTO DA DENÚNCIA, SERÁ NECESSÁRIA A

PROVA CABAL RELATIVAMENTE À PROVA DA EXISTÊNCIA DO CRIME

ANTERIOR?

Não, somente “indícios suficientes da existência do crime antecedente”. Isto porque a

Lei, em seu artigo 2º, §1º, objetivou minimizar as exigências referentes à prova da

ocorrência do fato criminoso prévio, para fins de recebimento da denúncia pela

autoridade judiciária.

36. ESSE ENTENDIMENTO É PASSÍVEL DE CRÍTICAS?

Para um segmento da doutrina sim, pois se argumenta que somente se pode concluir

que a lavagem de dinheiro realmente se concretizou se houver plena certeza da

existência do fato precedente, o que afastaria lançar mão de meros indícios ou

presunções para oferecer a denúncia.

37. QUAL É O ENTENDIMENTO MAJORITÁRIO ACERCA DESTE ASSUNTO?

Sustenta-se que, para efetuar uma acusação, exige-se um mínimo de prova, ou seja,

uma justa causa, sob pena de se ferir o princípio da presunção de inocência (

conforme CF, art. 5º, LVII). Dessa maneira, com o propósito de facilitar a

admissibilidade da denúncia, o ônus da prova é deixado para um momento posterior

da persecução penal, pois só ao longo da instrução incumbirá à acusação demonstrar

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a proveniência ilícita dos bens, direitos ou valores objeto da pretensa lavagem de

dinheiro.

Da Causa de Aumento de Pena

38. O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO PODE SER PRATICADO DE FORMA

HABITUAL? EM CASO POSITIVO, QUAL SERÁ A CONSEQUÊNCIA DESTE ATO?

De acordo com o § 4º do artigo 1º a pena será aumentada de um a dois terços se o

crime for cometido de forma habitual.Neste caso, há a reiteração criminosa, ou seja, o

agente comete a lavagem de dinheiro quando os delitos antecedentes são os previstos

nos incisos I a VI, várias vezes. Não é a transformação do delito em crime habitual, em

que se pune, somente, o conjunto das ações delituosas. É a chamada habitualidade

imprópria.

39. E SE O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO FOR PRATICADO POR

INTERMÉDIO DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA, HAVERÁ ALGUMA

CONSEQUÊNCIA ?

De acordo com o § 4º do artigo 1º a pena será aumentada de um a dois terços se o

crime for cometido por intermédio de organização criminosa. Sempre que o delito de

lavagem de dinheiro for cometido por meio de organização criminosa, eleva-se a pena.

Da Delação Premiada

40. APLICA-SE O INSTITUTO DA DELAÇÃO PREMIADA AO CRIME DE

LAVAGEM DE DINHEIRO?

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De acordo com o § 5º, do artigo 1º, se o autor, coautor ou partícipe colaborar

espontaneamente com a autoridade: (a) prestando esclarecimentos que levem à

apuração das infrações penais e de sua autoria ou (b) prestando esclarecimentos que

levem à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime antecedente, poderá

ser contemplado com um dos seguintes benefícios legais: a pena será reduzida de um

a dois terços e começará a ser cumprida em regime aberto, podendo o juiz deixar de

aplicá-la ( perdão judicial) ou substituí-la por pena restritiva de direitos.

41. EM QUE MOMENTO PROCESSUAL A DELAÇÃO PODERÁ SER

PRATICADA?

A delação pode ser realizada tanto na fase de inquérito policial quanto na fase

processual, desde que até a sentença, pois é nesse momento que o delator será

contemplado com o prêmio.

Da Competência

42. QUAL É A JUSTIÇA COMPETENTE PARA JULGAR OS DELITOS DE

LAVAGEM DE DINHEIRO?

O processo e julgamento dos crimes previstos na Lei n. 9613/98 será de competência da

Justiça Federal, de acordo com o artigo 2º, II, da lei :

a) Quando praticados contra o Sistema Financeiro e a Ordem Econômico Financeira

ou em detrimento de bens e serviços ou interesses da União, ou de suas entidades

autárquicas ou empresas públicas.

b) Quando o crime antecedente for da competência da Justiça Federal. Na realidade,

não haveria necessidade de tal previsão legal, pois incide aqui a Súmula 122 do

STJ, verbis:

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“Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos

crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a

regra do art. 78, II, “a”, do Código de Processo Penal”.

Da Fiança e Liberdade Provisória

43. NOS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO, É POSSÍVEL A CONCESSÃO

DE FIANÇA E LIBERDADE PROVISÓRIA?

De acordo com o art. 3o, “os crimes disciplinados nesta Lei são insuscetíveis de

fiança e liberdade provisória.

Todavia, o STJ, em alguns julgados, entendeu que a proibição da liberdade provisória,

sem que estejam presentes os requisitos da prisão cautelar, ofende o princípio

constitucional do estado de inocência previsto no artigo 5º, LVII, CF. Todos se

presumem inocentes até que se demonstre sua culpa, salvo se estiverem presentes os

requisitos do periculum in mora e do fumus boni juris.

O fumus boni juris consiste na existência de elementos indiciários suficientes, que

possam autorizar o juízo de probabilidade (não necessariamente de certeza) da autoria

de uma infração penal. É a prova mínima capaz de infundir no espírito do julgador, ao

menos, a possibilidade, de que o indiciado ou réu tenha cometido o fato típico e ilícito

que lhe imputam.

O periculum in mora reside na temeridade de aguardar o desfecho do processo, para,

só então, prender o indivíduo, diante da probabilidade de que, solto, venha a colocar

em risco a ordem pública (cometendo outros crimes), turbar a instrução criminal

(ameaçando testemunhas e destruindo provas) ou frustrar a aplicação da lei penal

(fugindo sem deixar notícias de seu paradeiro). Presentes os requisitos, não resta

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dúvida de que a prisão provisória deve ser decretada. Nesse caso, tem incidência a

Súmula 09 do STJ, no sentido de que a prisão provisória não colide com o estado de

inocência. A própria CF, ao prever a prisão em flagrante (art. 5º, LXI), deixa clara a

possibilidade de prisão antes da condenação definitiva. Bem diferente, no entanto, é

proibir de antemão toda e qualquer liberdade provisória, independentemente de

estarem presentes os requisitos da tutela cautelar, apenas porque o agente está sendo

acusado ou investigado pela prática de determinado ilícito penal.

Proibir a liberdade provisória por meio de uma regra geral implica subtrair do Poder

Judiciário o exercício da atividade decisória e, consequentemente, violação aos

princípios da independência e separação de poderes. O Poder Legislativo estaria

julgando todos os casos antecipadamente, subtraindo função típica do Poder Judiciário,

o que contraria o artigo 2º da CF. Além disso, a prisão de uma pessoa, sem

necessidade cautelar, viola frontalmente o princípio do estado de inocência, previsto no

artigo 5º, LVII da CF. Se uma pessoa, presumivelmente inocente, estiver presa antes

mesmo da formação da culpa e sem que haja necessidade da prisão para o processo,

está, na verdade, cumprindo antecipadamente a pena que lhe poderia ser imposta ao

final. Nessa hipótese, se ela já está cumprindo a pena, não se pode dizer que há

presunção de inocência, mas sim, ao contrário, presunção de culpa. Executar-se-á a

pena sem a certeza da responsabilidade do agente.

Da Apelação em Liberdade

44. O RÉU PODERÁ APELAR EM LIBERDADE?

De acordo com o art. 3o, o juiz, quando da prolação da sentença condenatória,

deverá decidir de forma fundamentada se o réu poderá apelar em liberdade.

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A Lei, de forma bastante rigorosa, proibiu em qualquer hipótese, que o réu, condenado

em primeira instância, apele em liberdade.

Desse modo, mesmo que ausentes os requisitos autorizadores da prisão cautelar

(fumus boni juris e periculum in mora), será obrigatório o encarceramento provisório.

Segundo a doutrina, trata-se de simples antecipação da execução da sentença

condenatória, o que conflita com o princípio do estado de inocência.

Além disso, como já se falou, não pode o Poder Legislativo, de antemão, julgar todos

os casos de apelação em liberdade, no lugar do Judiciário, por força do princípio da

separação de poderes.

Na hipótese de réu que já vinha respondendo preso ao processo, no entanto, a

situação é diversa.

O STJ vem se manifestando no sentido de que, nesse caso, o réu não poderá apelar

em liberdade, aplicando-se o dispositivo em tela, uma vez que, se havia motivos para a

sua prisão provisória antes da sentença, com maior razão haverá após a sua prolação.

É que a decisão condenatória não pode funcionar como fato novo a autorizar a saída

de quem já estava recolhido cautelarmente.

Das Medidas Assecuratórias

45. PODERÁ SER DECRETADA A APREENSÃO OU SEQUESTRO DE BENS DO

RÉU? QUEM TEM LEGITIMIDADE PARA PLEITEAR TAL MEDIDA?

De acordo com o art. 4o, poderá o juiz, de ofício, a requerimento do Ministério

Público ou representação da autoridade policial, desde que ouvido, dentro de 24

horas, o Parquet, decretar a apreensão ou sequestro de bens, direitos ou valores do

acusado existentes em seu nome, objeto dos crimes previstos na Lei n. 9613/98, desde

que haja indícios suficientes da origem ilícita do bem.

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46. QUAL É O PROCEDIMENTO A SER SEGUIDO?

O procedimento a ser seguido será o previsto nos arts. 125 a 144 do CPP.

47. EXISTE ALGUMA ESPECIFICIDADE SE A MEDIDA FOR DECRETADA

DURANTE O INQUÉRITO POLICIAL?

Se a medida for decretada no curso do inquérito policial, exige o § 1odo art. 4o que a

ação penal deverá ser proposta no prazo de 120 dias, contados da data em que ficar

concluída a diligência, sob pena se operar o levantamento das mesmas.

48. EXISTE ALGUMA HIPÓTESE EM QUE O JUIZ PODERÁ DETERMINAR A

LIBERAÇÃO DOS BENS DO RÉU?

Sim, O juiz poderá determinar a liberação dos bens, direitos ou valores, quando

comprovada a origem lícita dos mesmos (cf. § 2o).

49. NO CASO DE LIBERAÇÃO DOS BENS, A LEI DETERMINA ALGUMA

PECULIARIDADE NO ATO DE ENTREGA DOS BENS?

Sim, a restituição do bem somente será possível se o acusado comparecer

pessoalmente (cf. § 3o).

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50. NO CASO DO ARTIGO 366, CPP, OU SEJA, “ se o acusado, citado por

edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo

e o curso do prazo prescricional podendo o juiz determinar a produção

antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão

preventiva nos termos do disposto no artigo 312” O QUE DEVERÁ FAZER O

JUIZ?

O juiz poderá determinar a prática dos atos necessários à conservação dos bens,

direitos e valores, conforme determina o parágrafo terceiro.

Análise do Artigo 5º

51. QUEM CUIDARÁ DOS BENS APREENDIDOS OU SEQUESTRADOS?

O art. 5o prevê a possibilidade de o juiz, ouvido o Ministério Público, nomear pessoa

qualificada para a administração dos bens, direitos ou valores apreendidos ou

sequestrados, mediante termo de compromisso.

Análise do Artigo 8º

52. QUAIS MEDIDAS DEVERÁ TOMAR O JUIZ, NO CASO DE SOLICITAÇÃO,

PELA AUTORIDADE ESTRANGEIRA, DA APREENSÃO OU SEQUESTRO DE

BENS, DINHEIRO OU VALORES ORIUNDOS DOS CRIMES PREVISTOS NO

ARTIGO 1º E PRATICADOS NO ESTRANGEIRO PELO RÉU?

O artigo 8º permite ao magistrado, desde que exista tratado ou convenção

internacional, determinar a apreensão ou sequestro de bens, dinheiro ou valores

oriundos de crimes descritos no artigo 1º e praticados no estrangeiro.

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53. E SE NÃO HOUVER TRATADO OU CONVENÇÃO INTERNACIONAL?

A apreensão ou sequestro poderá ser determinada, com base no §1º do artigo 8º, mas

desde que o governo do país da autoridade solicitante prometer reciprocidade ao

Brasil.

54. NESTE CASO, OS BENS PERTENCERÃO À AUTORIDADE ESTRANGEIRA?

De acordo com o parágrafo segundo do artigo 8º, na falta de tratado ou convenção, os

bens, direitos ou valores apreendidos ou sequestrados por solicitação da autoridade

estrangeira competente ou os recursos provenientes de sua alienação serão repartidos

entre o Estado requerente e o Brasil, na proporção de metade, ressalvado o direito de

lesado ou terceiro de boa -fé.

Da Ação Controlada

55. O QUE DEVERÁ FAZER O JUIZ SE, AO ANALISAR O CASO CONCRETO,

DETECTAR QUE A ORDEM IMEDIATA DE PRISÃO DE PESSOAS OU DA

APREENSÃO OU SEQUESTRO DE BENS, DIREITOS OU VALORES PUDER

COMPROMETER O CURSO DAS INVESTIGAÇÕES ?

Prevê o §4o do art. 4o modalidade de ação controlada, pela qual “a ordem de prisão de

pessoas ou da apreensão ou sequestro de bens, direitos ou valores, poderá ser

suspensa pelo juiz, ouvido o Ministério Público, quando a sua execução imediata

possa comprometer as investigações”.

Trata-se do instituto da ação controlada, também objeto de estudo no crime

organizado.

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Ação controlada é o retardamento da realização da prisão em flagrante, mesmo

estando a autoridade policial diante da realização do crime praticado por organização

criminosa, sob o fundamento de se aguardar o momento oportuno para tanto,

colhendo-se mais provas e informações.

Assim, quando, futuramente, a prisão se concretizar, será possível atingir um maior

número de envolvidos, especialmente, se viável, a liderança do crime organizado.

De acordo com o disposto no artigo 301 do CPP, qualquer do povo poderá e a

autoridade policial e seus agentes deverão prender em flagrante quem quer que esteja

nessa situação. Desta forma, quanto à obrigatoriedade do ato, foram previstos o

flagrante obrigatório e o flagrante facultativo.

Com a entrada em vigor da Lei n. 9034/95 criou-se uma nova modalidade de flagrante

para a autoridade policial e seus agentes, inconfundível com as espécies anteriormente

mencionadas: trata-se do flagrante discricionário quanto ao momento de sua

efetivação (flagrante retardado).

Dessa forma, também no crime de lavagem de dinheiro o agente policial terá

discricionariedade para, após determinação judicial e, ouvido o Ministério Público

Federal, presenciando a prática de uma infração penal, em vez de efetuar a prisão em

flagrante, aguardar um momento mais propício e mais eficaz do ponto de vista da

formação da prova e do fornecimento de informações.

56. QUAIS SÃO OS EFEITOS DA CONDENAÇÃO, NO CASO DO CRIME DE

LAVAGEM DE DINHEIRO?

Estão previstos no art. 70 , além dos elencados no CP, em seus artigos 91 e 92.

Prevê o art. 7º: São efeitos da condenação, além dos previstos no Código Penal:

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I - a perda, em favor da União, dos bens, direitos e valores objeto de crime

previsto nesta Lei, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé;

II - a interdição do exercício de cargo ou função pública de qualquer natureza e de

diretor, de membro de conselho de administração ou de gerência das pessoas jurídicas

referidas no art. 9º, pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade aplicada.

Disposições Administrativas

57. O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO SÓ É DESCOBERTO QUANDO DA

INVESTIGAÇÃO DO CRIME ANTECEDENTE. A LEI, EM VISTA DESTA

PECULIARIDADE, E COM O OBJETIVO DE PREVENIR A PRÁTICA DO DELITO,

POSSIBILITOU ALGUMA MEDIDA ESPECÍFICA ÀS PESSOAS JURÍDICAS?

Com o intuito de detectar prontamente o crime de lavagem de dinheiro, bem como de

prevenir a sua prática, a lei obrigou, em seus arts. 10 e 11, as pessoas mencionadas

no art. 9o, por exemplo, as instituições financeiras, a tomarem medidas no sentido da

identificação dos seus clientes e manutenção de registro, bem como a comunicar

operações financeiras às autoridades competentes, prevendo, inclusive, a sua

responsabilidade administrativa.

Dispõe o artigo 9º, verbis:

Art. 9º Sujeitam-se às obrigações referidas nos arts. 10 e 11 as pessoas

jurídicas que tenham, em caráter permanente ou eventual, como atividade

principal ou acessória, cumulativamente ou não:

I - a captação, intermediação e aplicação de recursos financeiros de

terceiros, em moeda nacional ou estrangeira;

II – a compra e venda de moeda estrangeira ou ouro como ativo

financeiro ou instrumento cambial;

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III - a custódia, emissão, distribuição, liquidação, negociação,

intermediação ou administração de títulos ou valores mobiliários.

Parágrafo único. Sujeitam-se às mesmas obrigações:

I - as bolsas de valores e bolsas de mercadorias ou futuros;

II - as seguradoras, as corretoras de seguros e as entidades de

previdência complementar ou de capitalização;

III - as administradoras de cartões de credenciamento ou cartões de

crédito, bem como as administradoras de consórcios para aquisição de bens

ou serviços;

IV - as administradoras ou empresas que se utilizem de cartão ou

qualquer outro meio eletrônico, magnético ou equivalente, que permita a

transferência de fundos;

V - as empresas de arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento

comercial (factoring);

VI - as sociedades que efetuem distribuição de dinheiro ou quaisquer

bens móveis, imóveis, mercadorias, serviços, ou, ainda, concedam

descontos na sua aquisição, mediante sorteio ou método assemelhado;

VII - as filiais ou representações de entes estrangeiros que exerçam no

Brasil qualquer das atividades listadas neste artigo, ainda que de forma

eventual;

VIII - as demais entidades cujo funcionamento dependa de autorização

de órgão regulador dos mercados financeiro, de câmbio, de capitais e de

seguros;

IX - as pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras, que

operem no Brasil como agentes, dirigentes, procuradoras, comissionarias ou

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por qualquer forma representem interesses de ente estrangeiro que exerça

qualquer das atividades referidas neste artigo;

X - as pessoas jurídicas que exerçam atividades de promoção

imobiliária ou compra e venda de imóveis;

XI - as pessoas físicas ou jurídicas que comercializem joias, pedras e

metais preciosos, objetos de arte e antiguidades

XII – as pessoas físicas ou jurídicas que comercializem bens de luxo ou

de alto valor ou exerçam atividades que envolvam grande volume de

recursos em espécie. (Incluído pela Lei nº 10.701, de 9.7.2003)

58. SEGUNDO A LEI, O QUE DEVERÃO FAZER AS PESSOAS JURÍDICAS?

Diz a lei em seus artigos 10 e 11, verbis:

Art. 10. As pessoas referidas no art. 9º:

I - identificarão seus clientes e manterão cadastro atualizado, nos

termos de instruções emanadas das autoridades competentes;

II - manterão registro de toda transação em moeda nacional ou

estrangeira, títulos e valores mobiliários, títulos de crédito, metais, ou

qualquer ativo passível de ser convertido em dinheiro, que ultrapassar

limite fixado pela autoridade competente e nos termos de instruções por

esta expedidas;

III - deverão atender, no prazo fixado pelo órgão judicial competente,

as requisições formuladas pelo Conselho criado pelo art. 14, que se

processarão em segredo de justiça.

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§ 1º Na hipótese de o cliente constituir-se em pessoa jurídica, a

identificação referida no inciso I deste artigo deverá abranger as pessoas

físicas autorizadas a representá-la, bem como seus proprietários.

§ 2º Os cadastros e registros referidos nos incisos I e II deste artigo

deverão ser conservados durante o período mínimo de cinco anos a partir

do encerramento da conta ou da conclusão da transação, prazo este que

poderá ser ampliado pela autoridade competente.

§ 3º O registro referido no inciso II deste artigo será efetuado também

quando a pessoa física ou jurídica, seus entes ligados, houver realizado,

em um mesmo mês-calendário, operações com uma mesma pessoa,

conglomerado ou grupo que, em seu conjunto, ultrapassem o limite fixado

pela autoridade competente.

Art. 10A. O Banco Central manterá registro centralizado formando o

cadastro geral de correntistas e clientes de instituições financeiras, bem

como de seus procuradores. (Incluído pela Lei nº 10.701, de 9.7.2003)

Art. 11. As pessoas referidas no art. 9º:

I - dispensarão especial atenção às operações que, nos termos de

instruções emanadas das autoridades competentes, possam constituir-se

em sérios indícios dos crimes previstos nesta Lei, ou com eles relacionar-

se;

II - deverão comunicar, abstendo-se de dar aos clientes ciência de tal

ato, no prazo de vinte e quatro horas, às autoridades competentes:

a) todas as transações constantes do inciso II do art. 10 que

ultrapassarem limite fixado, para esse fim, pela mesma autoridade e na

forma e condições por ela estabelecidas, devendo ser juntada a

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identificação a que se refere o inciso I do mesmo artigo; (Redação dada

pela Lei nº 10.701, de 9.7.2003)

b) a proposta ou a realização de transação prevista no inciso I deste

artigo.

§ 1º As autoridades competentes, nas instruções referidas no inciso I

deste artigo, elaborarão relação de operações que, por suas

características, no que se refere às partes envolvidas, valores, forma de

realização, instrumentos utilizados, ou pela falta de fundamento econômico

ou legal, possam configurar a hipótese nele prevista.

§ 2º As comunicações de boa-fé, feitas na forma prevista neste artigo,

não acarretarão responsabilidade civil ou administrativa.

§ 3º As pessoas para as quais não exista órgão próprio fiscalizador ou

regulador farão as comunicações mencionadas neste artigo ao Conselho

de Controle das Atividades Financeiras - COAF e na forma por ele

estabelecida.

59. CASO AS PESSOAS JURÍDICAS DESCUMPRAM AS DETERMINAÇÕES

ACIMA PRECONIZADAS, ESTARÃO SUJEITAS A QUAIS SANÇÕES ?

Art. 12. Às pessoas jurídicas que deixarem de cumprir as obrigações acima

previstas serão aplicadas, cumulativamente ou não, pelas autoridades

competentes, as seguintes sanções:

I - advertência;

II - multa pecuniária variável, de um por cento até o dobro do valor da

operação, ou até duzentos por cento do lucro obtido ou que presumivelmente

seria obtido pela realização da operação, ou, ainda, multa de até R$

200.000,00 (duzentos mil reais);

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III - inabilitação temporária, pelo prazo de até dez anos, para o exercício

do cargo de administrador das pessoas jurídicas referidas no art. 9º;

IV - cassação da autorização para operação ou funcionamento.

§ 1º A pena de advertência será aplicada por irregularidade no

cumprimento das instruções referidas nos incisos I e II do art. 10.

§ 2º A multa será aplicada sempre que as pessoas referidas no art. 9º,

por negligência ou dolo:

I – deixarem de sanar as irregularidades objeto de advertência, no prazo

assinalado pela autoridade competente;

II – não realizarem a identificação ou o registro previstos nos incisos I e

II do art. 10;

III - deixarem de atender, no prazo, a requisição formulada nos termos

do inciso III do art. 10;

IV - descumprirem a vedação ou deixarem de fazer a comunicação a

que se refere o art. 11.

§ 3º A inabilitação temporária será aplicada quando forem verificadas

infrações graves quanto ao cumprimento das obrigações constantes desta

Lei ou quando ocorrer reincidência específica, devidamente caracterizada em

transgressões anteriormente punidas com multa.

§ 4º A cassação da autorização será aplicada nos casos de reincidência

específica de infrações anteriormente punidas com a pena prevista no inciso

III do caput deste artigo.

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60. O QUE VEM A SER O “COAF”?

O COAF foi criado juntamente com a Lei de Lavagem de Dinheiro e é previsto no

artigo 14 . Significa: CONSELHO DE CONTROLE DE ATIVIDADES FINANCEIRAS. É

atrelado ao Ministério da Fazenda. Funciona como uma Unidade de Inteligência

Financeira do Brasil e possui status de Secretaria.

61. QUAL É A FINALIDADE DO COAF ?

A sua finalidade é disciplinar, aplicar penas administrativas, receber, examinar e

identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas previstas na Lei de Lavagem

de dinheiro, sem prejuízo da competência de outros órgãos e entidades.

62. QUAL É A MISSÃO DO COAF?

É coordenar e propor mecanismos de cooperação e de troca de informações que

viabilizem ações rápidas e eficientes no combate à ocultação ou dissimulação de bens,

direitos e valores.

63. QUAIS MÉTODOS O COAF PODERÁ UTILIZAR?

O COAF poderá requerer aos órgãos da Administração Pública as informações

cadastrais bancárias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades suspeitas.

64. CASO O COAF CONCLUA PELA EXISTÊNCIA DE CRIMES PREVISTOS NA

LEI DE LAVAGEM DE DINHEIRO, COM FUNDADOS INDÍCIOS DE SUA PRÁTICA

OU DE QUALQUER OUTRO ILÍCITO, O QUE DEVERÁ FAZER?

Deverá comunicar imediatamente à autoridade competente para a instauração dos

procedimentos cabíveis.

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65. QUAL É A COMPOSIÇÃO DO COAF?

O COAF será composto por servidores públicos de reputação ilibada e reconhecida

competência, designados em ato do Ministro de Estado da Fazenda, dentre os

integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do Brasil, da Comissão de

Valores Mobiliários, da Superintendência de Seguros Privados, da Procuradoria-Geral

da Fazenda Nacional, da Secretaria da Receita Federal, de órgão de inteligência do

Poder Executivo, do Departamento de Polícia Federal, do Ministério das Relações

Exteriores e da Controladoria-Geral da União, atendendo, nesses quatro últimos casos,

à indicação dos respectivos Ministros de Estado. (Art.16)

66. POR QUEM SERÁ NOMEADO O PRESIDENTE DO CONSELHO ?

Pelo Presidente da República, por indicação do Ministro de Estado da Fazenda.

67. DAS DECISÕES DO COAF RELATIVAS À APLICAÇÃO DE MEDIDAS

ADMINISTRATIVAS CABERÁ ALGUM RECURSO?

Das decisões do COAF relativas às aplicações de penas administrativas caberá

recurso ao Ministro de Estado da Fazenda.