do cancioneiro da ajuda ao livro das cantigas de dom pedro - antonio resende de oliveira

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Revista de Historia das Ideias, Vol. lil 119331 ÉLNTÚNIO RESENDE DE ÚLWEIRA* ~- DO CANCIONEIRÚ 'DA AJUDA A0 HLIVRÚ DAS Cz¿'i.NTÍGASu DU CÚN-DE D. PEDRO Análise do acrescento à secção das cantigas de amigo de ls """ Introdução citam mando o meu Livro das Cantigas a El Rey de Cas- tellaa. O conde D. Pedro fazia assim, no seu testamento de 1350 (1), a primeira referência conhecida, até ao momento, à organização em livro- das composições dos trovadores galego- -portugueses cantadas nos pagos senhoriais e rëgios do ocidente peninsular a partir dos fins do séc. XII. Atendendo à data em que É mencionado, e sabendo nda da sua coincidência com o epilogo desta manifestação culttnal, tratar-se-a, sem dúvida, de uma compilação final, reunindo não trovadores do séc. XIII, mas também aqueles cuja obra pode ser situada na primeira metade do sec. XIV (3). * Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. H' :De to ao 'Livro das Cantigas' do conde D. Pedroa, tal deveria ser o título do trabalho qua apresentamos. Conseientes. no entanto. da pouca atenção que o meio historiográí-ico portugues tem prestado a esta manifestação cultural, optamos por um titulo menos enigmático c aceitável tambem, segundo cremos, de um ponto' da vista ctonologico. A sua rcda 'ão final foi melhorada ãaças às -sugestoes, sempre estimulantes, cloc‹Í°*rofessor Doutor Jose attoso. Podemos também beneficiar da leitura atenta do orifinal feita. em Roma. pelo Professor Doutor Giuseppe Tavani a quem agradecemos a amabilidade com que nos recebeu. Este frutuoso contacto somente foi possível em virtude da bolsa de estudo que nos foi atribuída, ao abrigo de um convênio celebrado entre o INIC e o GNR italiano. Gi Publ. por A. Caetano de Sousa, Provas do Historic Genealó- gica da Cesc Rec! Portuguese (ed. por M. Lopes de Almeida e C. regado). I. Coimbra. 1-946. nn- 174-7 (cu. p. 176). (2) Esta räuestäo tem sido inserida no conte-ato mais geral da tentativa de esc arecimen-to da tradicão manuscrito da lírica galego- -portuguesa. A hipotese foi avançada por Teofilo Braga e caucionada 591

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Artigo do historiador português António Resende de Oliveira. Artigo que precedeu a elaboração do sei importantíssimo e vasto estudo sobre a formação da tradição manuscrita da poesia travadoresca galego-portuguesa.

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  • Revista de Historia das Ideias, Vol. lil 119331

    LNTNIO RESENDE DE LWEIRA*

    ~- DO CANCIONEIR 'DA AJUDAA0 HLIVR DAS Cz'i.NTGASu DU CN-DE D. PEDRO

    Anlise do acrescento seco das cantigas de amigo de ls """

    Introduo

    citam mando o meu Livro das Cantigas a El Rey de Cas-tellaa. O conde D. Pedro fazia assim, no seu testamento de1350 (1), a primeira referncia conhecida, at ao momento, organizao em livro- das composies dos trovadores galego--portugueses cantadas nos pagos senhoriais e rgios do ocidentepeninsular a partir dos fins do sc. XII. Atendendo data emque mencionado, e sabendo nda da sua coincidncia com oepilogo desta manifestao culttnal, tratar-se-a, sem dvida,de uma compilao final, reunindo no s trovadores do sc. XIII,mas tambm aqueles cuja obra pode ser situada na primeirametade do sec. XIV (3).

    * Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.H' :De to ao 'Livro das Cantigas' do conde D. Pedroa, tal deveria

    ser o ttulo do trabalho qua apresentamos. Conseientes. no entanto.da pouca ateno que o meio historiogr-ico portugues tem prestadoa esta manifestao cultural, optamos por um titulo menos enigmticoc aceitvel tambem, segundo cremos, de um ponto' da vista ctonologico.

    A sua rcda 'o final foi melhorada aas s -sugestoes, sempreestimulantes, cloc*rofessor Doutor Jose attoso. Podemos tambmbeneficiar da leitura atenta do orinal feita. em Roma. pelo ProfessorDoutor Giuseppe Tavani a quem agradecemos a amabilidade com quenos recebeu. Este frutuoso contacto somente foi possvel em virtudeda bolsa de estudo que nos foi atribuda, ao abrigo de um convniocelebrado entre o INIC e o GNR italiano.

    Gi Publ. por A. Caetano de Sousa, Provas do Historic Geneal-gica da Cesc Rec! Portuguese (ed. por M. Lopes de Almeida eC. regado). I. Coimbra. 1-946. nn- 174-7 (cu. p. 176).

    (2) Esta ruesto tem sido inserida no conte-ato mais geral datentativa de esc arecimen-to da tradico manuscrito da lrica galego--portuguesa. A hipotese foi avanada j por Teofilo Braga e caucionada

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  • Rcuista de Histria das Ideias

    Apesar da sua importncia estamos, neste caso, peranteum testemunho indirecto- acerca da tradio manuscrito trova-duresca, numa altura em que a funo destes autores perdiaa sua eficacia nos crculos cortesos em que se de-senvo-lvera.Dois outros testemunhos, estes directos, permitem-nos ter umaideia mais exacta dessa tradio num momento em que a cul-tura trovadoresca se imponha ainda como sinal mais evidenteua ei-ristncia de uma cultura nobiliarquiea no noroeste penn-sular. Referimo-nos ao eCancioneiro da Ajudas e ao chamadoPergaminho Vindele (ii), o primeiro (A) contendo apenas scan-tigas de amore de trovadorcs do sc. XIII, na sua maioria por-tugueses, o segundo (N), uma efolha volantes contendo as seteecaotigas de aroigoe- de Martim Codaa, jogral galego tambmdo sec. XIII, acompanhadas da respectiva notao- musical (ii).Perante os autores neles inseridos e levando tambm em con-siderao as semelhanas paleogrficas ja anotadas entre am-bos, a sua feitura tem sido colocada nos finais do sec. XIII F).

    Giuseppe Tavani, a quem se deve a mais recente sistema-tizao dos nossos conhecimentos neste dominio (E), assinalouj, e justificou, a pobreza da tradio manuscrito peninsularquando comparada com os 95 cancioneiros provenais, os cerca

    por C. Michaelis de Vasconcelos, Cancioneiro da Ajuda, ll, Halle, 1904,em particular pp. 243-53 La partir de agora, Michalis, CA), e tem inere-ciuo' apoio unanimc da critica: v. introd. de L.F. Lindley Cintra aoE.'an.cioneiro Port-aguas da .Bibiioteca Vaticano (cod. 4iiii3), reproduofacsimilada, Lisboa, l9'l3, pp. XIV-XV; e Giuseppe Tavani, La poesialrica galego-po1*_t_ogheses, in Grundriss der Rotnanisciten Literarurendes iitfiiteiairers, vol. II, t- I, fase. ii, Heidelberg, 1980, p. 35 (a partir deagora Tavani, Grandriss). Uma rapida sntese com o estado da questosobre o problema da tradio manuscrito da cultura trovadorescapcninsular pode ver-se em Elsa Gonalves e Maria Ana Ramos, A Lricat}al_ego-Portuguesa. Lisboa, 1983, pp. 32-5.

    (3) Este manuscrito encontra-se hoje na Pierpont Morgan Library.em Nova Iorque Lv. Ismael Fernandez de la Cuesta, eLes cantigas deamigo de Martin Codaxe, Cahiers de Civilisation Medieval, XXV,Poitiers, 1982, p. 1'i9 a Manuel Pedro Ferreira, CI Soin de Mar-.tirn Cedar.Sobre a dimenso musical da iirica galego-poriugztesa (sculos XH--Jfilfl, L_isboa. 19815, p. ol). Em virtude da sua nova situao passaremosa designa-lo. conforme sugesto do Professor Tavani, com a sigla N.

    (ti Para o primeiro, que-passaremos a designar por A, o estudomais completo e` ainda o de Michaelis, CA, em particular pp. 135.-?9.Para o segundo ver a recente contribuio de Manuel Pedro Ferreira,oii. cit.. pp ol-'.i3.

    (5) Tavani, Grundriss, p. 2? e 3?; M. Pedro Ferreira. ob. cit.,n. T1 s: T3.

    iai Tavani, Grundriss. pp. 15-45, onde o autor remete para osseus trabalhos anteriores sobre o mesmo tema. iniciados em 1516?. Sobreos contributos de anna Ferrari, Elsa Gonalves e Jean-Marie d'Heurnara a discusso de-ste problema. ver a sntese de Elsa Gonalves eMaria Ana Ra-mos. ob. cir., pp. 34-35.

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  • eLiuro das Cantipass do Conde D. Pedro

    de 50 franceses c os mais de 100 italianos (l). Se estes nmerosdizem respeito, e certo, a toda a tradio manuscrito das areasconsideradas, contempornea ou no do fenomeno tro-vadorescoa que deu eco, no e menos verdade que a eles apenas poderia-mos acrescentar, do lado pcnnsular, mais 2 cancioneiros - o- daBiblioteca Nacional (B) e o da Biblioteca Vaticana {V) -. am-bos copiados em Itlia no sec. XVI, e duas transcries de umamesma composio, efectuadas na pennsula no sec. XVII (3).

    Esta pobreza, por um lado, a parcimonia e as dificuldadeslevantadas pelo caracter vago dos testemunhos ndirectos co-nhecidos (i'), por outro, lcvara-.tn a uma reorientao das inves-tigaees. no sentido de um aproveitamento mais esaustivo doscancioneiros para a resposta ao problema da sua constituio. pelo menos este o trajecto que se pode descortinar entre aprimeira tentativa de esclarecimento da questo, efectuada porC. Michaelis de_ Vasconcelos, e o novo ponto da situao, feitopor G. Tavani (W). Enquanto C. Mcltaelis, sem ter tido acesso

    Ui) Tavani. Grundriss, pp. 29-33.(3) Quanto ao primeiro cancioneiro, que passaremos a de_sigI1ur

    por B. veja-se o estudo de anna Ferrari, eFormazione e Struttura delCanzoniere Portoghese della Biblioteca Nazionale di Lisbona (Cod.10991: Co1oc.ci-Brancutile, Arquivos do Centro Cultural Portugues, XIV.Paris. 1979. pp. 29-139. Para o segundo. que passaremos a desimiar porV, faltam estudos aprofundados. Consulte-se, no entanto. para alem daobra de Tavani, Jeanellkla-rie d'I-leur -:Sur la Tradtion Manuscrite desChansonniers Galicieos-Portugaiss, Arquivos do Centro Cultural Porm-gaes. VIII. Paris. l9'i'4, pp. 4-13 e, do mesmo autor, Sur la genealogiades chansonnicrs portugais dftnge Coloccir. Boletim de Filologia.XXIX, Lisboa, 1934. pp. 23-34. As transcries mencionadas so os doisesemplares da teno entre Afonso Sanches e Vasco Martins de lle-scndc. conservados na Biblioteca Nacional de lL'la'drid (Ml e na Biblio-teca lrlunicipal do Porto (P), ed. respectivamente por J. l_cite de Vas-concelos. -1-:Teno entre D. affonso Sanchez e Vasco Martmzs, RevistaLusitana. VII. Lisboa. l9D2. pp. 145-7, e C. Michaelis de Vasconcelos,eltandglossen zum altportvgiesischen Licderbuch. XV. Vasco lvlartinzund D. Afonso Sancheae, in Zeitscltrifl ur rontanisclte Pluiologie, XXIX.Halle, 1905. P121. 633-Til-

    A estes cancioneiros e transcries devemos acrescentar. segtmdoindicao do Professor Tavani, um novo cancioneiro ainda no estu-dado. mas que parece ser uma copia de V feita em Italia nos idttntosanos do sec. XVI. Tal facto, a verificar-sc. tomar este cancioneiroirnprodutivo do ponto de vista em que nos colocamos._1s1:o . na pers-pectiva da elucidao da tradio manuscr.ita entre os [ms do sec. XIIIe meados do sc. XIV.

    ie) Michaelis, CA. II. pp. 232-75.(Hi) Ident, ibidern, pp. 22'?-SS. Tavani, ela tradizione manoscritta

    della prima Iirica galego-portogheses, Cultura Neolatina, XXVII, Mo-dena. i9o'l. pp. ill-94; reproduzido na obra do mesmo autor, Poesia delDuecenro nella Peninsula Iberica, Roma. 1969-. pp. 79-179. .

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  • Revista de Histria das Ideias

    directo aos cancioneiros italianos do seculo XVI, se viuobrigada a privilegiar os testemunhos ndirectos de que dis-punha - e que entretanto no foram aumentados -, Tavanipode partir do conhecimento adquirido em relao a esses mes-mos cancioneiros, controlando assim de um modo- mais eficaztodas as referncias coligidas por C. Michalis, respeitantes apresumiveis cancioneiros medievais. Baseando-se principa].men-te numa anlise interna dos cancioneiros A, B e V, aos quaisjuntou um ndice de auto-res portugueses feita por Colucci (C)-- por a considerar como vestgio de um cancioneiro perdido --,Tavani tentou estabelecer as relaes entre eles, definindo umarvore genealgica do conjunto dos cancioneiros galego-portwgueses existentes ou presumiveis e procurando situar cronolo-gicamente as principais fases de constituio dessa tradiomanuscrita (11).

    Para o periodo que nos propomos abordar, dos finais dosc. XIII a meados do sc. XIV, a tradio- manuscrita da cu1~tura trovadoresca est reduzida aos elementos emmciados noinicio, isto , a A e N, de um lado, e ao sLivro das cantigassdo conde de Barcelos, do outro. Segundo C. Michalis e G. Ta-vani, A seria uma cpia inacabada da primeira grande compi-lao a qual, por sua ves, teria surgido da juno e ordenaode rolos ou folhas soltas onde trovadores e jgrais escreviamou mandavam escrever as suas composies. N retrataria, se-gundo Tavani, precisamente essa fase inicial, pr-existente feitura dos cancioneiros propriamente ditos. primeira grandecompilao referida, albergando apenas autores do sc. XIII,teriam sido acrescentados, ainda segundo os mesmo autores,novos rolos e um ou outro cancioneiro individual - o caso deD. Dinis, por exemplo - de autores dos fins do sec. XIII e daprimeira metade do sec. XIV. eLivro das Cantigass do condeD. Pedro no seria mais do que essa primeira compilao, ouuma sua cpia, acrescentada de novos rolos ou pequenos can-cioneiros individuais pertencentes a trovadores e jograis cro-nologicamente posteriores sua confeco ou, pelo menos, porela esquecidos (H).

    A elucidao do problema da tradio manuscrita entreos fins do so. XIII e meados do sc. XIV passa, assim, por umconfronto entre a grande compilao inicial e o que se supe .

    (11) Tavani, iidem, c Grandrss, pp. 25-46. Para os pontos emdiscusso, que no dizem respeito ao periodo em que nos situamos,v. Elsa Goncalves e Maria Ana Ramos, ob. oii., pp. 34-5.

    (11) Michalis, CA. PP- 236-7; Tavani, Graudriss, p. 35. No nospropomos analisar, por agora, algumas divergncias entre ambos osautores sobre este pe-riodo da tradio manuscrita.

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  • :Livro das Caatigasv do Conde D. Pedro

    ser o sLivro das Cantigass do conde, ou seja, segundo a parteinicial do stemma codioum proposto por Tavani,

    ai

    .___m|___m_.I I,A at

    II

    por um confronto entre tv e s, ambos perdidos. Apesar de querum quer outro no existirem enquanto cancioneiros autnomos,podemos fazer uma aproximao ao seu contedo, -atravs doscancioneiros existentes: utilizando para W a sua cpia parcial Ae tambm B e V (nas partes consideradas como reflectindo ain-da o estado da compilao nos finais do sc. XIII); e, para tt,apoiando-nos apenas nos cancioneiros copiados em 'Itlia nosc. XVI, B e V, eapurgados dos acrescentos incorporados nosc. XV (13).

    Demos

    0 eaame comparativo dos trs cancioneiros conhecidos- A, B e V -, nas suas partes comuns, levou, desde cedo, aoreconhecimento de enotveis ooncordnciass entre eles, em vir-tude de composies e autores seguirem, em geral, uma orde-nao idntica em todos (H). Tal facto, sintoma da utilizaode uma matriz comum, permitiria certamente 'inferir a estru-tura dessa mesma matria, isto- , na terminologia de Tavani,de re, enquanto arqutipo de uma tradio manusorita de queos trs cancioneiros mencionados se constituam como elosmais salientes.

    Foi Ciarolina lvichalis, mais uma vez, quem fez um pri-meiro balano sobre os critrios subjacentes feitura de A, B

    (13) Estes acrescentos so em nmero reduzido; vz- listaapresentada por Giulia Lancani, ea proposito cli nn testo attribuitoaglrnan liplios, Estados Italianos em Portugal, 33-39, Lisboa, 1975-

    ilgl Michalia. CA, II. pp. 180-209. Ci. G. Poesia del .Dae-oenro...., np. 9?-lil. Ambos os autores .ilustram as afinidades entre ostres cancioneiros. suaves da apresentao de um quadro com as cor-respondnoias e divergncias recproca.-s.

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  • Revista de Histria das Ideias

    e V, vestgios importantes, segundo ela, de uma cespcie deCancioneiro Geral da primeira epoca da lyrics peninsulars (15).Apoiando-se na disposio das composies nos diversos can-cioneiros e conjugando-a com os elementos de ordem biogrficados autores ai presentes - recolhidos de vrias fontes da epocae, em particular, dos livros de linhagens -, concluiu que essecancioneiro Gerais fora organizado tendo em conta no sos principais gneros poticos utilizados pelos tro-vado-res, comotambm a prpria cronologia dos autores nela inseridos. Assim,feita a recolha de rolos e folhas contendo as composies deum ou mais autores, a obra de cada um deles teria sido dis-tribuda pelas trs seces previamente estabelecidas - a dascantigas de amor, em primeiro lugar, a das cantigas de amigo,de seguida e, finalmente, a das cantigas de escrnio e de mal-dizer~--, isto, evidentemente, apenas quando o autor em causapossuia composies dos trs gneros assinalados. Feito estefraccionamento, uma segunda preocupao ter norte-ado, se-gundo a mesma autora, a aco do compilador: a de estabeleceruma certa cronologia dentro de cada seco, agrupando osautores mais antigos na parte inicial de cada uma delas e assimsucessivamente, at aos mais recentes (H). O quadro que apre-sentamos de seguida, conrrna a organizao tripartida doeancioneiro Gerais e permite-nos visualizar melhor o lugarnela ocupado pelos trs cancio-neiros que nos restam e as res-pectivas correspondncias.

    c. amor c. amigo c. escrnio

    . ...l(*)- 310 - -

    B 1 - 62.5 626 -1330 133Gb- IE-E-*-...(*)

    V ...1[*)-226 227- 9315 937 -1205...(*]

    Sinais de uma ordenao pelos trs gneros poticos so,ainda hoje, as rubricas indicadores do inicio, em B e V, dasseces das cantigas de amigo e das cantigas de escrnio de

    (15) Michaelis, CA, II. pp. 130 e 210.(15) Idem, ibidcm, pp. 210-4.(*) Az e V apresentam lacuna inicial. Al corresponde a H91 e Vl

    a E391. Em A, como sobressai do quadro. apenas foi copiada a secodas cantigas de amor. B e V apresentam, por seu lado, lacima final.O ndice de trovadores portugueses de Colucci (C) regista ainda, comefeito, sob o n. 1675, o inicio das cantigas de escarnio de Juin Bolseiro.

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  • Livro dos Cantigas: do Conde D. Pedro

    ambos os cancioneiros (17). Quanto eazistncia de uma se-quncia de autores respeitado-ra da sua maior ou menor anti-guidade no contexto da cultura trovadoresca, as indicaes deC. Michalis de que aos que postaram mais cedo, de 1200 a 1245,figuram, sem excepo, no principio do velho- pergaminho, ounas partes que lhe faltam, sendo-nos supridos por Ba (15), man-tem uma quase completa actualidade (19). Referindo-se aquiapenas a A, isto , ' seco das cantigas de amor, a autoratinha, todavia, a conscincia de que 1.-una mesma seriao exis-tia nas restantes seces do cancioneiro a partir do qual Afora copiado (W).

    Definida, em traos gerais, a estrutura da compilao ini-cial, ou seja, de ut, resta sabermos se ela foi ou no mantidana totalidade dos cancioneiros aos quais temos hoje acesso.A prpria C. Michalis se deu conta de que, quer a separaodos trs gneros, quer a ordenao cronolgica dos autores,no tinham sido realizadas na ma totalidade (21). Colocada, noentanto, na perspectiva de anlise de A, descurou um examemais aturado dessas divergncias e do seu alcance para a com-preenso do desenvolvimento da tradio manuscrita entre osns do sc". XIII e meados do sec. XIV (f). Com efeito, se Ano acusa propriamente desvios as normas atrs referidas, omesmo no podemos dizer de B e de V. Um olhar atento strs seces de ambos os cancioneiros revela que, apesar de emboa parte delas se manterem os critrios propostos por C. Mi-chalis, a partir de dada altura, na parte final de cada umadessas seces, esses critrios deixaram de estar presentes noespirito do compilador. esquecida no somente a diviso porgneros poecos, incluindo-se, por exemplo, cantigas de amigoe cantigas de escrnio na seco das cantigas de amor, mastambm a preocupao- por uma sequncia minimamente crono-lgica dos autores F3).

    .'_1'f} BE-26 e i33bis (Reprodueo facsimilada, Lisboa, 1981, pp.306 e 605); V E2? E 93? (Rep. facs., Lisboa, 1973. 1113. 93 e 324).

    (13) Michalis, CA, II, p. 222.(19) Na parte inicial, que falta cm A, provvel a existencia de

    ma ou outra czcepo resultante de acresccntos posteriores nessa zonac er.

    (W) Michalis, CA, II, p. 212.(21) Idem, ibidem, pp. 215-'i'.(22) C. Miobalis inicia, a partir da p. 22? da ob. cit., o caame

    deste problem-a, apoiando-se no numa analise interna dos cancioneiros, mas, como referimos, em testemunhos indireictos sobre a existen-cia de reais ou prcsumivcis cancioneiros medievais.

    (23) 0 facto de serem as zonas finais de oada seco aquela-sonde esta perturbao mais evidente, torna credivel a hipotese for-

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  • Revisto de Historia dos Ideias

    A resposta para esta viragem, para esta divergncia decritrios, deve ser procurada a partir de algumas caracteristicasproprias destas sonas mais conturbadas dos cancioneiros B e TT.Ao novo ordenamento destas zonas finais de cada uma dasseces, ou, se se quiser, falta dele, correspondeu uma visomais alargada do fenomeno trovadoresco, no s de um pontodervista sociolgico, como tambm de'urn ponto_de vista geo-pra_._f1ct:; oncrefizanddo tom aristocratico anteriotr da copgpt-aao ot comp emen o, nestas zonas - e tan o quan o

    podemos saber pelos elementos biogrficos conhecidos -, pelaintegrao de jo-grais e clrigos e tambm pela incluso deobras rgias. A este alargamento- do quadro sociolgico dosautores presentes nos cancioneiro-s, acrescente-se uma melhordefinio da geografia trovadoresca, atravs da incorporaode um grupo de novos autores cuja natmalidade tem sido si-tuada na Galiza {i"). Um ltimo elemento a tomar em consi-derao a cronologia dos autores aqui presentes. Ao contrriode ht, onde dominam claramente os trovadores dos primeirostrs quartis do sc. XIII (25), nestas zonas vamos encontrarmuitos autores dos finais do sc. XIII e da primeira metadedo sc. XIV (H). Este ctnjunto de novidades, por comrpraocom os critrios de m, o riga-nos a pensar que nos co enta-mos, sem dvida, com um novo compilador, cuja mentalidade,forjada pela conscincia da degradao da manifestao culturalque pretendia resguardar, se afasta j nitidamente da que haviapresidido compilao de le. Na verdade, ao espirito de selec-ao e organizao visveis neste, sobrepe-se agora a urgnciade tudo preservar, sentindo-se mesmo a necessidade de justi-ficar, em casos mais imprevisiveis, a respectiva incluso (fi).

    '

    rnulada nor C. Michalis, oh. sit., p. 211. de que ecada uma das tresPartes formas_se originariamente um grosso ia-foiio separado, e quesomente nas copias cartaceas as juntassem, reduzindo o volume noromisso das musicas c por substituio da letra de codices pelocursivos.

    (24) Para os autores da zona final da seco das cantigas deamigo, a mais estensa sz aquela onde estas caractersticas so maisvisveis. v. as fichas biogrficos que juntamos em apndice.

    t-'tl Michaelis, CA, II, p. 222.(W) Aos autores que constam das fichas biogrficas do apn-

    dice, podemos acrescentar D. Afonso XI, Caldeiron, D. Dinis, EstvoFernandes Barreto, Estvo da Guarda, Ferno Rodrigues Redondo.Too Romeu de Lugo, Joo Velho de Pedregais, o conde D. Pedroe ainda liidal.

    (27) As duas cantigas de amor de Yidal, judeu de Elvas, colo-cadas na zona final da seco das cautigas de escrnio, so anteeedi-das pela -seguinte rubrica. Estas duas cantigas fez h. judeu d'E1vasque avia nome Vidal por amor da judia de ssa vila que avia nome

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  • eLi'uro das Cantigas: do Conde D. Pedro

    Podendo admitir-se, partida, a interveno de um ou maiscompiladores na fase final das trs seces do cancioneiro, estesacrescentos a W teriam sido efectuados, de qualquer modo, jno sc. XIV e, pelo menos em alguns casos, por volta de mea-dos do sculo (W). Por outras palavras, situmo-nos precisa-mente no nivel e de Tavani, associado, desde cedo, ao Livrodas Cantigass do conde D. Pedro (W).

    Ao deixarem ainda bem visveis as marcas de duas gran-des intervenes no seu seio, B e V transformam-se, assim, empalco privilegiado, e provavelmente nico, para ajuizarmos daevoluo da tradio manuscrita no periodo em anlise. A par-tir dessas marcas pudemos assinalar a existncia dos niveislr- e e, incorporados por ambos os cancioneiros. Procurarerncsagora, tambm com a ajuda de A, acercarmo-nos mais dessesdois niveis, tentando definir a zona de interseco entre eles.

    Conhecidos os critrios subjacentes compilao de el,verificamos a sua manuteno na seco das cantigas de amorat ao ltimo autor presente em A, Rui Fernandes de San-tiago (), na seco das cantigas de amigo at s duas cantigas

    Dona. E pero que e ben que o ben que home faz se non pere-a manda-molo screver; e non sabemos mais delas mais de duas cobras, a primeiracobra de cada haa. Ef, Luciana Stegagno Picchio, As cantigas deamor de Vidal judeu de Elvasn, na obra da mesma autora, A Lio doTexto. Filologia e literatura. I --Idade Media, Lisboa, 19'l'9, pp. 69-71.

    (15) Registe-se 3 presena, nestas zonas, de D. Afonso XI, D. Dinis,Estevo da Guarda, Ferno Rodrigues Redondo, Joo, jogral de Leo,D- Joo Mendes .de Briteiros, Martim Peres Alvim e do conde D. Pedro,todos vivos nos incios da dcada de 20 do sc. XIV e, alguns deles,ainda em meados do mesmo sculo.

    (W) Ver G. Tavani, Poesia del Daecerrto...., pp. 136-7, e LF. Lin-dley Cintra, ob. cit., pp. .XIV-XV.

    (im) A3IIl$-310 i_Miehal.is, CA, I, pp. 619-23). Este cancioneiroapresenta, na sua parte final, divergncias em relao a B e a V (v.primeira coluna do quadro com a zona de interseco entre ru e cr, emapndice), Solaz, Padrom, Ponte, Calvelo, Moya e Rui Fernandes, osltimos autores de A, faltam nas zonas respectivas de B e V, compa-recendo, no entanto. na seco das cantigas de amigo de ambos oscancioneiros, mas j na sua zona conturbada, isto e, no nvel ar, comincluso parcial ou total das cantigas de amor presentes em A. SegundoC. Michailis, CA, II. pp. 21?-8, a ordenao primitiva a de A, tendo-sedado posteriormente um deslocamento dessas composies para a sec-o das cantigas de amigo. G. Tavani, Poesia ds! Drrecerrto...., pp. 1-45--SD, e Jean-Marie d'l-'-leur, ehlomenclature des Tronbadorns Galiciens--Portugais [XIIP-XIV* siclesls, Arquivos do Centro Cultural Portrzrgas,VII. Paris, 1973, p. 73, privileglaram, como mais correcta, a colocaodestes autores na seco das cantigas de amigo. No entanto, a inserodas cantigas de amigo de Solaz, Ponte e Calvelo na respectiva seco,na parte final da zona em que ainda se observam os critrios ordena-dores de tc, confirmam a interpretao de C. Michalis [na segundacoluna do quadro, em apndice. pode ver-se a colocao de Pedr'Eanes

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  • Renistc de Histria dos Ideias

    do mesmo gnero de Vasco Rodrigues de Calvelo (iii) e, na see-o das cantigas de escnio e de maldizer, at s treze cantigasde escrnio de Afons' Eanes do Co-ton (33). Pondo de parte algu-mas fugas s normas mencionadas para estas sonas do cancio-neiro, que interpretamos como sinais do seu manuseio posteriore no analisaremos neste momento, estamos perante aquiloque seria le no momento da sua compilao. Ate cerca de mea-dos do sc. XIV nele, ou numa sua cpia, foram inseridas, :tes-salvando os j aludidos acrescentos do sc. XV e, eventualmente,algumas deslocaes de autores j incorporados, as restantescomposies. Assim, a primeira seco teria recebido as com-posies que surgem, apenas em B e V, na sequncia das deRui Fernandes F3); a segunda, as que se seguem s de VascoRodrigues Fit); e a ltima seco, as que completam o cancio-neiro aps as treze de Afons-' Eanes (35).

    A definio desta sons de interseco entre ta e tt somentepde ser :feita aps um cuidadoso et-:ame da colocao dos auto-res- nos cancioneiros A, E e V, combinado com a sua cronologia,o tipo de composies com que aparecem nessa sons, a suanaturalidade e a sua condio social. Eaempliicando com osautores que pensamos terem sido incorporados nos cancioneirosnuma fase posterior a te, os que se seguem a Rui Fernandes

    Solar, Pero da Ponte e Vasco Rodrigues nessa zona. Apesar deste novoenquadramento, esta ouesto, no fica, porem. completamente escla-recida. Como se depreender do eitame da colocao destes autores,feito na seqtrencia deste estudo, se a hintese do seu deslocamento e amais credvel, ficam ainda por solucionar oe. problemas resultantes dano correspondencia entre o nmero das compostoes presentes emA. nor um lado. e em BV, por outro, e tambm do estado das com-nosices em ambos os cancioneiros fr. ficha de Pedr'Eanes Solasl.Embora a possibilidade da ei-tistncia de uma outra tradio manus-crita, pelo menos para trs desses autores, possa iusfioar algumas dasdiscrepncias verificadas, podem. no entanto, ter in_te1ndo outros fac-tores. Estamos. seguramente, perante a aona mais conturbada doscancioneiros. rnerecedora, por si s. de um estudo atento E aturado.cuias concluses poderiam ser da maior itnporiinoia *para preotsar omodo como to. A e BV se relacionaran-1 entre si.

    (3111 1385!)-851 fed. cit.. PP. 385-9). V-43? [ed. cit.. pp. 166-71-Note-se que este autor ti o anteoenltimo de A.

    iiil B 15719-1591 (pp. Tila-?D8). VIII!-1123 (PD. 393-il).(W) E454-1525 (np. 225-Hdl, V dl-226 (pp. 3?-93l. V ti lacunar no

    inicio deste acrescento.(34) E852-1330 (pp. 339-605), V 438-936 (pp. 16'?-324).(351 E1592-1664 (pp. 'TDB-'?52), V1124-12115 (PP. 39?-421). Da sua

    comparaco com o indice de autores portugueses de Colocci {C},deduz-se que a parte final de ambos os cancioneiros esta incompletafr. Elsa Gonalves, La Tavola Colocciana, Aatori portughesis, Arqui-uos do Centro Czztltt-tre! Port-ttgtts, X, Paris, 19%, pp. 433 e 448).

    Till]

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  • eLirro das Cantigas: do Conde D. Pedro

    na primeira seco afastam-se dessa mesma compilao pelotipo de composies ai inseridas, bem como pela sua cronologia.Na seco das cantigas de amigo, e eaceptuando o caso deMendinbo, a situao idntica, embora coloque outros pro-blemas (ii). Na ltima seco, onde os primeiros autores doacrescento obedecem organizao de te, isto e, comparecemapenas com cantigas de escarnio, a sua colocao no nivel sresulta do facto de, ausentes das anteriores seces de tv, apa-recerem apenas nos grupos de autores acrescentsdes secodas cantigas de amigo desse cancioneiro. O caso de Diego- Peac-lho, presente somente na ltima seco, o mais duvidoso.Incluimo-lo nos autores de a em virtude da sua condio dejogral. As concluses deste trabalho podero tornar mais acei-tvel esta opo.

    O acrescento ti seco das cantigas de amigo de ts

    Se os novos autores acrescentados as primeira e _ terceiraseces, pelo seu reduzido nmero, no levantam grandes pro-blemas, o- mesmo no se poder dmer daqueles que do se-quncia seco das cantigas de amigo. Com efeito, ao con-trrio do que acontecera nas restantes seces, aqui o nmerode novos autores significativamente maior do- que os j sais-tentes nessa seco em tv. Aos 45 autores ai incluidos (iii), so-mam-se agora mais E7, numa numerao que vai de 1 a 79 (iii),o que significa que alguns deles nos aparecem mais de uma ves.Esta anomalia adquire maior relevo quando comeamos a veri-ficar a dominncis da presena galega neste amplo grupo deautores. De facto, os trovadores portugueses, impondo-se clara-mente aos restantes nas outras zonas do cancioneiro, surgemaqui mais espaadamente, isolados ou em pequenos grupos- dedois ou de trs (39).

    Tavani, nos seus estudos sobre s tradio manuscrita dalrica galego-portuguesa, cbamars j a ateno, desde 1967, paradois elementos, de certo modo estranhos, presentes nesta zona

    GW) Vejam-se as ichas individuais dos autores deste scresomto,em apndice, e. na parte em que analisamos a sua estratigras, asdvidas suscitadas pela colocao de Mendinho.

    (37) Este nmero no toma em considerao os possiveis acres-centos verificados nesta seco de rs a partir de fins do sec. XIII.

    {33} V., em apndice. o quadro da colocao dos autores desteacrescento.

    (iii) V., em apndice, os dados biogrficos reunidos para cadeum dos autores em anlise.

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  • Revista de Histdria das Ideias

    da seco- das cantigas de amigo (ff). O primeiro, a presenade um grupo de clrigos todos reunidos na parte inicial destasons, entre os n..' 5 e 17. A sua relativa autonomia em relaoao cancioneiro era ditada no s pela pertena ao mesmo es-trato social como pelo completo desrespeito em relao orga-nisao inicial do cancioneiro nos trs grandes gneros poticos.Inseridos na seco das cantigas de amigo, ai se encontravaretmids toda a sua obra, englobando no apenas cantigas deamigo, mas tambm cantigas de amor, cantigas de escrnio ede maldiser, prantos, etc. O segundo elemento estranho era,segundo o mesmo autor, a rubrica que antecedia as cantigasde amor de Bernal de Bonaval (n. 30): eEn esta folha adeantese comensam as cantigas d'amor. Primeyro trobador: Bernalde Bonavsllea (41). Elemento estranho no tanto pela sua eitis-tncis em si -- no inicio das seces das cantigas de amigo edas cantigas de escrnio e de maldiser h rubricas idnticas --,mas pelo lugar e contento em que nos surge: no meio da secodas cantigas de amigo e encimando as cantigas de amor doreferido autor e de alguns mais que o seguem (n.i 30 a 43).Partindo destes dados, Tavsni concluia tratar-se, .em ambos osc-ssos, de i-ndicios de erecolhas parciais de tipo diversos que,tal como os rolos ou folhas volantes e os cancioneiros indivi-dusis atrs mencionados, teriam sido sucessivamente integra-dos no arqutipo de A. E ia mesmo mais longe: ele linea teo-rica non impossibile che Parclietipo della tradisione 'canso-nieresca non sia stats n ls prima n la sola antologia organis-sata secando lo stesso principio della divisione per generi: moltidei rotuli individuali ipo-teticsmente riconoscibili nella tradi-sione e lo stesso 'Liederbuchi di D. Denis rivelano 1m'organissa-sione snaloga; ma, accanto- a questi esempi, possibile con-getturare l'esistenas di sillogi minori che avrebbero raccoltoi testi di poeti laseiati fuori della silloge maggiors per i motivicronologici, prstici o estetici, ai quali si sccennatoa (W).

    A dimenso do acrescento seco das cantigas de amigode tv, o nmero de -autores galegos ai presentes, as novas formasde ordenao de autores e composies ai detectadas e, final-mente, o indicio claro de eaistncia de uma outra compilao,dado pela rubrica que antecede as cantigas de amor de Bernalde Bonavsl, transformam este acrescento num caso singular dedvidas e perpleitidades. Dada a importncia da resoluo dosproblemas que levanta, orientaremos para ele, a partir de agora,a nossa ateno. _

    PW) Cf. Tavsni, Grttndriss, pp. 41-2.(4-1) Antes de B 1062 (p. 486] e de 11653 (p. 235).(43) Tavani, Grttrtdriss, p. 41.

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  • :Li-oro dos Cantigas: do Conde D. Pedro

    A primeira observao que se poder, desde logo, faser a de que o compilador de meados do sc. XIV no- se terlimitado a incorporar ai, e de um modo mais ou menos anr-quico, apenas pequenos rolos ou cancioneiros individuais de au-tores ausentes de M mas, pelo contrrio, ter tido acesso a com-pilaes mais alargadas e, elemento no- menos importante, fei-tas com um espirito diferente daquele que tinha presidido elaborao da primeira grande compilao (veja-se, por enem-plo, o grupo de clrigos situado na parte inicial deste acres-cento). A segunda e ltima observao prende-se com a forada presena galega neste mesmo acrescento. Uma excepo,como vimos, se tivermos em conta o resto do cancioneiro. primeira vista pode pensar-se que, com este compilador, con-fluiram no cancioneiro portugus tradies manuscritas cujotrajecto anterior teria sido no s independente da compilaoportuguesa, mas tambm exterior ao proprio espao portuguse aos crculos cortesos frequentados pelos seus trovadores.

    A resoluo destas observ-aes e hipteses passa, natural-mente, por uma anlise mais atenta do conjunto dos autoresque constituem o acrescento cuja formao nos propomos elu-cidar. Para tal, partimos de uma investigao individual levadaa cabo sobre cada um desses autores, onde pusemos em con-fronto, no fundamental, os elementos utilizados j na definioda zona de interseco de ta com s, ou seja: sua colocao, tipode composies, cronologia, naturalidade e condio social (ti).A escolha desta grelha foi ditada pelos objectivos que preten-demos alcanar: o esclarecimento dos diversos grupos ou es-tratos inseridos neste acrescento, a sequncia e cronologia pro-vveis da sua incorporao, o seu grau de coerncia e autono-mia previamente a essa incorporao e, finalmente, a crono-logia provvel da sua juno ou compilao, nos casos em queisso se possa ter verificado. Objectivos a que ser dificil noreconhecer importncia no contento da evoluo da tradiomanuscrita entre os fins do sc. XIII e meados do sc. XIV.Uma aproximao mais enacta cronologia de vrios autoresmenos conhecidos surgir por acrscimo. As concluses que ti-rarmos podero, finalmente, propor um novo enquadramento

    {4~'-") As fichas individuais resultantes dessa investigao foramdivididas em dois blocos. No primeiro, discutimos todos os problemaslevantados pela colocao do autor em analise; no segundo, trocamosuma rpida biografia desse mesmo autor. Na economia do trabalho,estas fichas deveriam anteceder o exame da estratigrafia deste acres-cento. Dado, no entanto, o seu carcter probatrio e no sentido de noquebrarmos a sequencia da exposio, remetemos esses elementos paraum dos apndices deste estudo.

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  • Revista da Historia dos Ideias

    para a resoluo das muitas dificuldades levantadas pelo estadoem que nos chegaram as composies trovadorescas: as atri-buies de uma mesma cantiga a dois autores diferentes ou asua repetio na obra de um mesmo autor, as indicaes deexistncia de rolos, a presena das mesmas composies emdois lugares diferentes dos cancioneiros, etc., etc.

    O mtodo utilizado no novo. Limitmo-nos a seguir ocaminho aberto por C. Michalis na anlise das relaes entreA, B e V {**), ampliando um pouco os elementos por ela ma-nejados e aplicando-os ao esclarecimento da tradio manuscrita.Pudemos tambm beneficiar de uma certa efervescncia veri-ficada, durante as ltimas duas dcadas, no estudo da lricagalego-portuguesa, cujo resultado se cifrou, indubitavelmente,num conhecimento mais profundo dos cancioneiros medievais.Da nossa parte, contribuimos com o olhar do historiador, pro-tegido por uma informao mais completa sobre os trovadores,em particular os portugueses. Dai termos destacado, na sepa-rao dos vrios estratos do acrescento, os critrios da natu-ralidade e da condio social. Com excepo dos acrescentosps-trovadorescos, j conhecidos, pareceram-nos os mais indi-cados para podermos reconstituir os grupos ai existentes. A es-colha no foi, portanto, arbitrria. Por outro lado, como acen-tuamos, dada a ausncia da organizao de fa neste e nos outrosacrescentos, a utilizao dos critrios da colocao _e do tipode composies no seria adequada a essa reconstituio. No en.-tanto, tuna vez separados esses grupos, a sua anlise internano pde prescindir de ambos os critrios bem como da crono-logia dos autores ai presentes. Desta ltima, no sentido deprcpormos uma datao para a constituio desses grupos epara a sua incorporao em la; daqueles, no intuito de aquila-tarmos da consistncia interna desses mesmos grupos.

    Ao longo da seriao individual - em apndice - foramsendo anotadas afinidades, de tipo diverso, entre vrios autores.Sero elas que nos condnziro agora a uma definio maisdetalhada e sistemtica de cada um desses conjuntos de autorestomados isoladamente. Optamos por uma inventariao feita apartir do estado deste acrescento nos incios do sc. XVI, dataem que o cancioneiro portugus copiado em Itlia. Permitir--nos- visualizar melhor, embora em sentido inverso, a progres-siva formao do ncleo de autores em estudo.

    (H) Michalis, CA, II, pp. 180-226.

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  • :Livro doa Czcmtigaaa do Conde D. Pedro

    1. ..-'-lcrescentos pda-trooedores.cos (*}

    (19) Anonimo

    (32) Diogo Gonalves de Montemor-o-Novo(34) Annimo(53) AndrlirnoSomente a partir de meados da dcada de sessenta, graas

    aos estudos da critica italiana e, em particular, de G. Tavani,comearam a ser enmuadoa dos cancioneiros B e V um con-junto de textos, at ento considerados como pertencentes lrica galego-portuguesa medieval, mas cuja anlise revelou tra-tar-se de interpolaes tardias, efectuadas ao longo do sc. XV'no ou nos cancioneiros medievais anteriores (ii). Alheios tra-dio potica da cultura trovadoresca peninsular, interessammenos elucidao do problema da constituio do cancioneiroat meados do sc. XIV do que ao conhecimento do seu estadono periodo posterior.

    Alguns desses tantos foram incluidos no acrescento emanlise. Estamos, em todos os casos, perante intervenes depouca importncia, limitando-se a preencher alguns espaosdeinados em branco no- cancioneiro IFE). Dai uma distribuiode certo modo- aleatria. Dois deles (n. 19 e 53) tero apro-veitado, no- entanto, zonas do cancioneiro j perturbadas porarranjos anteriores.

    2. Os trovadores portugueses( 2) Afonso Pais de Braga.( 3) D. Mem Rodrigues de Briteiros( 4) D. Joo Mendes de Briteiros(10) Pero Gonalves de Portocarreiro(11) Pero Goterres(12) D. Estevo Peres Froio

    (*] Quando a se uncia dos autores, nas listas que se seguem,no corresponde a seoillncia desses mesmos autores nos cancioneiros,optamos por separa-los a dois espaos. Quando, pelo contrrio. essasequncia reproduz a dos cancioneiros, utilizamos apenas um espaco.Nos casos em que a presena de .um autor nos oa11oionci.ros est decen-dcnte da obra de outro, mantivemos a nmneraeo da obra destelmo acrescida do nmero 2.

    (ul Ver Giulia Lanciani, ob. eir.. pp. 15'?-9.(H) Anna Ferrari, ob. cir., p. 128.

    *E 'THE

  • Revisto de Histria das Ideias

    ? (20) Aires Engeitado(21) Rodrigu' Eanes dilvares(25) Rui iifimtins d'0liveira(26) D. Pero Gomes Barroso(28) Martim Peres Alvim(36) Estevo Fernandes d'E1vas(44) Joo, jogral de Leo

    (46) Pero Mendes da Fonseca(51) Joo Zorro(52) Rui Ivlartins do Casal

    (76) Fernand' Esquio(T7) Estevo da Guarda(78) Joo Fernandes d'Arde1eiro(79) D. Mem Rodrigues de Briteiros

    Apesar do titulo, nem todos os trovadores so portugueses.A incluso de Aires Engeitado, sobre o qual nada se sabe deconcreto, neste grupo feita mais pela negativa, isto , pelofacto de nada o ligar aos grupos ou autores que sero ana-lisados posteriormente. Note-se, no entanto, a sua associaoao trovador portugus Rodrigu'Eanes d'A1vares, entre as com-posies de Joo Aires de Santiago e as de algtms autores des-locados de A (n." 22-24), numa situao igual de Rui Martinsd'Oliveira e de D. Pero Gomes Barroso, ambos tambm tro-vadores portugueses. Quanto s restantes excepes, o jogralJoo e Fernand'Esquio, apenas o so em virtude da sua natu-ralidade e no em termos de colocao. A resena do primeiroem Portugal, na primeira metade do sc. justifica um tipode colocao idntica dos restantes autores portugueses. Podeter sucedido o mesmo ao segundo, embora nos faltem elementoscomprovativos. De qualquer modo, a jun-o das suas cantigasde amor e de amigo afasta-os dos autores que o antecedem,tambm galegos, mas pertencentes certamente a um estratosocial inferior ao seu.

    A colocao deste grupo de trovadores portugueses numafase j avanada da formao deste acrescento, -nos ditada poruma situao pouco homognea, no s do ponto de vista dasua insero - 20 autores em 10 lugares diferentes deste acres-cento -, como tambm do gnero, muito diversificado, das com-posies que constituem a sua obra. Olhando o quadro geral

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  • :Liu-ro dos Centigass do Conde D. Pedro

    nota-se, alm disso, que a sua incluso, parecendo um tantoaleatria, obedeceu j, com poucas excepes, a uma estruturapr-existente.

    Concretiaando, o primeiro subgrupo de autores (15 com_po-sies) inicia praticamente este acrescento, imediatamente an-tes do conjunto de clrigos ai presente. O segundo (T com-posies) .aparece integrado neste conjunto de clrigos, masprximo duma aona que teria sido previamente reformuladacom a incluso de autores de A (n.=' 'T-8). Os dois subgrupos se-guintes (4 e 5 composies, respectivamente), surgem' numazona igualmente reformulada pela insero de novos autoresde A (n.' 22-24), e entre as cantigas de amor e as cantigasde amigo de Joo Aires de Santiago. Martim Peres .Alvim(7 composies), molado, segue-se a Joo iras e precede umgrupo de autores relativamente homogneo, onde se verificauma separao ntida entre cantigas de amor e cantigas deamigo. O jogral Joo (2 composies) e Pero Mendes da Fon-seca (5 composies), separados por Pedro de Berdia, separam,por sua ves, as cantigas de amor das cantigas de amigo dessegrupo. 0 ltimo subgrupo (38 composies), encabeado- por Fer-nand' Esquiot finaliza este acrescento-, imediatamente antes daseco das cantigas de escroio e de maldiaer. Somente EstevoFernandes d*Elvas (3 composies) e c subgrupo constitudo porJoo Zorro e Rui Martins Casal (17 composies), quebraram,a scquncia de cantigas de amor e cantigas de amigo desteacrescento. Concluindo, a colocao dos trovadores portuguesesparece ter obedecido a uma ocupao dos pontos mais frgeisduma cadeia sequencial anterior, em locais que no punham emcausa a homogeneidade dos diversos grupos a inseridos, ou,quando o fiaeram, em virtude de novos acreseentos entretantoai verificados.

    A cronologia da obra destes trovadores, activos princi-palmente nos fins do sc. XIII e na primeira metade do sc. XIV,remete para uma incluso efectuada talves no segundo quarteldeste sculo, sendo de admitir a hipotese de, num ou noutrocaso, ela poder ter-se dado um pouco depois (veja-sc, por exem-plo, Estevo da Guarda cuja morte, como referimos na respec-tiva ficha, ocorreu j na dcada de sessenta deste sculo).

    Pertencendo, na sua maioria, a uma nobreza secundriaou mesmo obscura que cumpria certamente funes de ordemvasslica junto de casas senboriais mais importantes, a recolhadas suas composies poder ter sido mais morosa do que a dealguns trovadores ligados corte rgia.

    TD?

  • Revista de Historia das Ideias

    3. Autores com cantigas de amor de A

    ( 7) Martim Moya (*)( 8-) Rui Fernandes de Santiago

    ? (19) Afons'Eanes(22) Ferno Padrom(23} Pero da Ponte(24) Vasco Rodrigues de Calvelo(dl) Pedr' Eanes Solari

    Deste grupo de 'T autores, Ei esto unidos por uma mesmapresena no final de A e pelo deslocamento das suas cantigasde amor desse cancioneiro, no todo ou em parte, para esteacrescento seco das cantigas de amigo de fe. A nica ea-cepo Aionsi Eanes (do Coton), pa.ra o- qual aventamos ahiptese de ser um dos autores annimos de A (tr. re'speetieaficha).

    Ao contrrio da sua situao em A, estes autores apare-cem um tanto dispersos neste acrescento: Martim Moya e RuiFernandes no grupo dos clrigos; Ferno Padrom, Pero daPonte e Vasco Rodrigues, com alguns trovadores portugueses,entre as composies de Joo Aires de Santiago; Pedr'EanesSolar, finalmente, no meio de um grupo de autores apenas comcantigas de amigo, numa zona j avanada deste acrescento.Compare-se, no entanto, a sequncia de A com a ordem emque surgem neste acrescento:

    A Bei.-"- . . Fi _

    Martim MoyaPedr' Eanes Solaz ' _ *Fn Padmm Rui Fernandes e SantiagoPero da Ponte Ferno Padrotn

    Martim Moya Vaseo Rodrigues de CalveloRui Fernandes de S. _Pedr' Eanes Solar

    Uaseo Rodrigues de C. 1 Pero da Ponte

    Martim Moya e Rui Fernandes, os ltitnos autores de A,so os primeiros a comparecer nesta seco. Seguem-se os trsanteriores de A, novamente juntos e pela mesma ordem. Pe-dr* Eanes Solae, o primeiro de-ste grupo em A, o ltimo deles

    (*) Sobre o nome deste autor, ver a ficha biografica respectiva,em apndice.

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  • Litera das Cantigas do Conde D. Pedro

    nesta seco, bastante 'afastado j dos trs anteriores. Peranteesta inverso, em trs grupos, da ordem de A, de admitirum deslocamento por fases, contemporneo ou j posterior incluso dos principais ncleos deste acrescento, que sero ana-lisados na sequncia deste trabalho-. Embora para trs destesautores se possa por a hipotese da existncia de duas tradiesmanuscritas diferentes (v. fichas de Martim Moya, de Pedr' Ea-nes Solar. e de Roi Fernandes), o mais natural e ter-se veri-ficado um deslocamento de cantigas de amor da respectiva sec-o de te para o acrescento em anlise, na altura em que umconjunto de novos autores, na sua maioria portugueses, foramacrescentados seco das cantigas de amor desse cancioneiro.

    Se a nossa hipotese correcta, isto e, se essa transfernciase ficou a dever aos novos autores acrescentados seco dascantigas de amor de et, podera pensar-se numa insero iei-.ano segundo quartel do sec. XIV, contempornea ou talves umpouco anterior dos autores portugueses presentes nesteacrescento.

    4. O cancioneiro galego

    (29) Pero de Ver `(30) Bernal de Bonaval(3012) Abril Peres(31) Jo'-o Servando

    (33) Juio Bolseiro

    (35) Pero d*A.rmea

    (37) Pedr' Amigo de Sevilha(33) Aires Pais

    E. EHIDT'

    (39) Loureno(413) Joo Baveca(41) Galisteu Fernandes(42) Lopo(43) Loureno _

    (45) Pero de Berdia `

    (47) Nuno Porco -(es) Para de vez- ' mg(49) Bernal de Bonaval(50) Joo Servando _

    'N19

  • Revista de Histria das Ideias

    (54) Juio Bolseiro _(55) Martim Campina(56) Pero Meogo(57) Martim de Caldas(53) Nuno Tree(59) Pero d*A.rmea(60) Pedr'.migo de Sevilha

    (52) Joo Baveca(63) Pero de Atnbroa(54) Pai Calvo .(65) Martim Padrozelos ' amigo' icnnm(66) Lopo(57) Galisteu Fernandes(dd) Loureno(69) Golparro(70) Joo de Cangas(71) Martim de Ginzo(72) Martim Cedar-t(73) Aires Pais(74) Ferno do Lago(75) Joo de Requeixo __A juno deste vasto grupo impe-se pelas caractersticas

    particulares da sua colocao. Com efeito, ao contrrio do carc-ter um tanto -anrquico da insero dos grupos de autores ante-riormente reeridos, nota-se desde logo, neste conjunto de au-tores, uma organizao previa sua incluso neste acrescento.atssim, aparecem-nos primeiro as cantigas de amor (n.' 29-43),depois as cantigas de amigo (n.' 45-75) e finalmente as cantigasde escnio e de maldizer, mas estas integradas no- acrescentoda respectiva seco ou mesmo no contento da organizaocial dessa seco em te (v. fichas de Joo Servando, Loureno,Joo Baveca e Pero de Arnbroa). Todos os autores com canti-gas de amor reaparecem de seguida, com cantigas de amigo,no respectivo ncleo, boa partia deles pela mesma ordem, e, amaioria, so incorporados tambm na seco das cantigas deascarnio e de maldizer com igual tipo de composies.

    Diante destes elementos no temos dvidas em afirmarestarmos perante um cancioneiro galego-portugus, integradoposteriormente no arqutipo de A, mas dei:-:ando ainda bemvisveis as marcas da sua organizao anterior. Uma organiza-o que se aproaimava, alias, da existente em w, no que diziarespeito diviso- em trs partes, em virtude dos trs gnerospoticos mais utilizados pelos trovadores. Deste cancioneiro,B e V conservaram ainda a rubrica com que se iniciavam as

    710

  • :Livro das Cantigas: do Conde D. Pedro

    suas cantigas de amor (v. ficha de Bernal de Bonaval); umarubrica, note-se, bastante semelhante s que encimavam asseces das cantigas de amigo e das cantigas de escarnio e demaldizer de tu.

    A sua ordenao actual no deve ser, no entanto, a ori-ginal. Para alm dos rearranjos posteriores a que deve ter sidosubmetido, quando da integrao de outros autores no seu seio,principalmente portugueses como vimos, natural que outrasperturbaes tenham ocorrido no momento da sua insero nesteacrescento. O deslocamento das suas cantigas de escrnio jfoi assinalado. A presena das cantigas de amor de Ntmo Porcoe de Pero de Ambroa, uma em cad-a caso, junto das cantigasde amor de tu, revela outro deslocamento, o qual deve ter-severificado nesta altura, ou mesmo depois. Assinale-se, final-mente, o facto das cantigas de amor de Pero de Ver, autor queantecede Bernal de Bonaval no ncleo das cantigas de amore tambm das de amigo, precederam a rubrica indicadora doinicio das cantigas de amor deste cancioneiro. Para esta ano-malia no encontramos, de momento, outra justificao a noser a possibilidade de este cancioneiro, mesmo antes de serincorporado neste acrescento, poder ter sido alterado tambmpela incluso de um ou mais autores.

    Para alm da colocao, um segundo elemento parece unireste conjunto de auto-res: a sua naturalidade galega. A partirdo nome, das referncias das suas composies, das ligaes aoutros autores galegos, tal naturalidade tem sido atribuda aAires Pais, Bernal de Bonaval Golparro, Joo Baveca, Joo deCangas, Joo de Requeixo, Joo Servando, Lopo, Pero d'A.r-mea, Pero de Berdia, e Pero Meogo (H). Em relao aos res-tantes, as dvidas tm sido maiores. Quanto a Abril Peres (in-cluido na obra de Bernal de Bonaval), Ferno do Lago, JuioBolseiro, Martim de Caldas, Martim Campina, Martim de Gineo,Martim de Padrozelos, Pai Calvo e Pero de Ver, a critica temmanifestado mais reticncias, ou tem-se dividido entre umanaturalidade galega ou portuguesa. Finalmente, para um ter-ceiro grupo, constituido por Galisteu Fernandes, Loureno eNuno Porco, as atribuies, sem argumentos que se possamconsiderar completamente seguros, tm-se inclinado mais paraLeo, no primeiro caso, e para Portugal, nos dois restantes.

    Perante os elementos de carcter biogrfico disponiveis(e que apresentamos em apndice) e conjugando-os agora como facto de aqui nos aparecerem como um- bloco dotado de certa

    (ii) Ver fichas biogrficos individuais, em apndice. No encon-tramos, para qualquer deles, elementos biogrficos seguros que pudes-sem por em causa a naturalidade que lhes tem sido atribuda.

    711

  • Revisto de Histdrio. dos Ideias

    coerncia, refora-se, a nosso ver, a possibilidade de estarmospermite um cancioneiro contendo maioritria ou mesmo exclu-sivamente autores galegos. No minimo, os casos ma-is duvidososdevem ser repensados neste novo conteato. Com efeito, retor-ando, em nosso- entender, a naturalidade atribuida aos autoresdo grupo j provadamente galego, esta anlise leva-nos, desdej, a admitir como provvel uma mesma naturalidade para osdois grupos ainda duvidosos. Lembramos que nos casos de Fer-no do Lago, Martim Caldas, Martim Campina, Martim deGinzo, Martim Padrozelos e Pero de Ver, o apelido de todoseles tambm topnimo galego. Quanto- a Abril Peres, JuioBolseiro, Pai Calvo, Galisteu Fernandes, Loureno e NunoPorco, teremos de verificar para cada um deles, a partir danova hiptese, a sua naturalidade galega.

    Este ltimo grupo de autores, pelas dificuldades que aindalevanta, merece-nos uma ateno- particular. No desconhece-mos que, em relao a Abril Peres, a sua estadia em Portugal incomoda para o ponto de vista adoptado (ii). No-te-se, no en-tanto, que somente a sua considerao como jogral galego- resol-veria de um modo aceitvel as dificuldades resultantes quer dasua colocao no cancioneiro-, dependente da do segrel galegoBernal de Bonaval, quer do facto, registado como paradoxal,da sua presena em Lisboa na fase inicial desta manifestaocultural. Para justicarmos esta presena basta pensarmos nahiptese, bastante plausvel, de nos encontrarmos para-nte umjogral trazido da Galiza por D. Gonalo Mendes de Sousa e peloseu irmo, o'- trovador D. Garcia Mendes d"Eiao, ambos ausentesde Portugal durante parte da segunda dcada do sc. XIII (ii).Quanto aos restantes, teremos que aguardar por elementos maisseguros. Pensamos, no entanto, para Galisteu Fernandes e NunoPorco, que a hiptese galega s por si mais verosimil do quea de C. Michalis, quando os considerou ao prirneiro leons eao segundo portugus. Finalmente, em relao a .Tuio Bolseiro,Loureno- e Pai Calvo, trazemos um novo dado que no podedeixar de ser tido em considerao, em particular no caso deLou.ren_;o- (W), numa possivel reavaliao da sua naturalidade.

    A falta de apoio documental para o estabelecimento danaturalidade, condio social e cronologia destes autores ,como vemos, um dado comum a quase todos eles. Com a err-cepo de Ambroa, Pedr'Amigo e provavelmente Abril Peres,

    [iii Ver Ficha respectiva, em apndice.(49) Jose Mattoso, Cavaleiros andantes: a Fic-sao e a realidades.

    in Idem, A Nobrega Medieval Portuguesa. A Familia e o Poder, Lisboa,1981, p. 359 e ea nobreza medieval galaico-portuguesa. A identidadec a diferencas, Ler Histria, I, 1983, pp. 15-lo.

    (50) Ver ficha respectiva, em apndice.

    'U2

  • Livro dos Cantigas: do Conde D. Pedro

    tudo o que deles podemos conhecer se baseia nas indicaesretiradas do seu nome, das suas composies e da sua colo-cao. Para alguns deles, muito provavelmente, sero sempreos nicos elementos com que contaremos. Tal facto conduz-nosa um terceiro elemento, que novamente os parece associar entresi: a sua condio de segreis ou jograis (v. fichas biogrficasem apndice). De condio popular o-u nobre, mas -neste casode uma nobreza secundria e sem grandes meios de fortuna,assumindo a cano trovadoresca como uma profisso da qualesperavam retirar os dons necessrios mia subsistncia, estesautores raramente ter-o deixado marca da sua presena nadocumentao da altura.

    Verificada a coerncia do conjunto e as suas provveiscaracteristicas -- ou seja a origem galega dos seus elementose a sua categoria comum de jograis e segreis -, temos agorade examinar a sua cronologia. Com efeito, baseando-nos emdados internos e esternos at agora descobertos pelos especia-listas e pelos que indico nas biografias, verificamos que o autormais recente deste conjunto Aires Pais, jogral ao servio deD. Sancho IV de Castela nos finais do sc. XIII. Nos iniciosdo sc. XIV mantm-se ainda activo, mas no nordeste penin-sular. Conscquentemente, o cancioneiro poderia ter sido orga-nizado j nos finais do sc. XIII ou, o mais tardar, nos iniciosdo sculo seguinte. A sua incorporao no acrescento secodas cantigas de amigo de to seria, portanto, posterior a estas.datas, mas anterior incluso no cancioneiro dos grupos deautores anteriormente analisados.

    A. ser aceite a nossa argumentao, a definio deste can-cioneiro vem redimensionar o estudo da cultura trovadorescagalego-portuguesa em vrias vertentes. Gostaramos, para con-cluir, de esboar algumas delas. Em primeiro lugar, do pontode vista da tradio manuscrita e ao acrescentar mais um can-cioneiro aos anteriormente conhecidos, introduz um novo dadopara se reavaliar a genealogia proposta por G. Tavsni paraa fase inicial dessa tradio, no que dia respeito aos cancio-neiros propriamente ditos. Em segundo- lugar, e tom-ando- agoraem linha de conta a sociologia dos autores aqui presentes, nota--se a feio mais jogralesca que tomou a cultura trovadorescana Galiza, ao contrario do verificado em Portugal. Apesar derelativ-izada pelos trovadores galegos inseridos no resto do can-cioneiro, essa feio no dei:-ta, mesmo assim, de ser significa-tiva da divergncia das solues encontradas em ambas as re-gies no momento de assirnilarem uma manifestao culturalnascida alm Pirenus. O sinal maior dessa divergncia , semdvida, o peso esmagado-r das cantigas de amigo neste cancio-neiro, mais uma vez em contradio com o que acontece em rs.

    713

  • Revista de Histdriza das Ideia.:

    Registe-se, ainda, o tecto cronolgica proposto para todos eles.Com excepo de Aires Pais, nenhum daqueles cuja obra podeser minimamente datada ultrapassar em muito o terceiroquartel do se. XIII. Portanto, at que novos elementos bio-grficos venham, eventualmente, a pr em causa as balisascronolgicas apontadas, podero situar-se antes de c, 1275 osautores mais obscuros, e que at agora se consideravarn im-possiveis de datar.

    5. O cancioneiro de .Iodo Aires de Santiago

    (16) Pero Anes Marinho(18) Joo Aires de Santiago-c. amor(27) Joo Aires de Santiago--c. amigo(2'?]2) Rui Mains

    Atendendo ao nmero das suas composies, mais de B0, sua colocao e a uma organizao por gneros po-ticos, quase certo estarmos perante um dos cancioneiros individuaisacrescentados depois de finais 'do sc. XIII -- a si (51). A or-denao idntica do cancioneiro galego: primeiro, as can-tigas de amor, depois, a pouca distncia, as cantigas de amigoe, finalmente, as cantigas de escrnio na respectiva seco, masintegradas no ncleo original de ai.

    A sua feitura e posterior insero neste cancioneiro devemter sido sensivelmente contemporneas do cancioneiro galego.Aps esta insero, deve ter sofrido alguns arranjos na zonade separao entre as cantigas de amor e as cantigas de amigo,com o deslocamento de autores da seco das cantigas de amorpara essa zona e com o acrescento de novos autores portuguesesTalvez por isso, Pero Anes Marinho, que iniciaria as cantigas

    (51) Jos Luis Rodriguez, na sua edio da obra de Joo Airesiv. ficha respectiva), c apoiado na repetio do seu nome no grupo dascantigas de escrnio e maldizer e tambm na repetio de duas dascantigas de amigo, e de opinio contrria. O exame atento de B refutaa primeira objeoo, porquanto 3 duplicao da rubrica atributiva sedeveu a Colocci, apos engano do coptsta (ed. cit., pp. 1547-549). Quanto renetico de duas cantigas de amigo, a admitir-se uma dupla atri-buio, cla pode ter existido antes da compilao do cancioneiro indi-vidual e, por descuido ou indeciso do copista, ter deixado algunstraos no cancioneiro.

    'i'14

  • -:Livro -dos Cantigas: do Conde D. Pedro

    de amigo deste autor -- a sua cantiga de amor est dependenteda primeira cantiga de amigo de Joo Aires -, nos apareahoje um tanto deslocado, na parte final do grupo dos clrigos,A. ltima composio do grupo das cantigas de amigo desteautor uma teno, incompleta, com um jogral de nome RuiMartins. a nica referncia conhecida a este jogral, da asua incluso- na sequncia inicial, embora com a numeraodeste grupo de composies de Joo Aires.

    ii. O grupo de clrigos

    ( 5) Aires Nunes( 6) A. Gomes

    ( 9) Martim Moya

    (13) D. Gomes Garcia(14) Rui Fernandes(15) Pai de Cana

    (17) Sancho Sanches

    Deve ter sido o primeiro ncleo, com alguma importncia,acrescentado a lv. A colocao de A.. Gomes, jogral de Sar-ria, depende de Martim Moya (v. fichas de ambos). Dai amanuteno da sua colocao neste grupo. Aquilo que liga todosestes autores apenas a sua pertena a um mesmo estrato social.Ao contrrio de Joo- Aires ou do cancioneiro galego, no sevislumbra aqui qualquer tipo de organizao para as com-posies. A sua reunio pode ter ocorrido por mera juno dasfolhas ou rolos nos quais estavam transcritos as cantigas,e pode ter sido efectuada antes ou mesmo na altura da suaincorporao no acrescento em anlise.

    Com excepo de Sancho Sanches, do qual nada se sabede concreto, os autores mais tardias deste grupo, D. GomesGarcia e Aires Nunes, situam-se no mbito da corte de San-cho IV de Castela, na dcada de oitenta do- sc. XIII. A com-posio de A. Gomes, pela referncia a Martim Moya, poderser tambm desta altura ou talvez um pouco anterior. O agru-pamento destes autores, se anterior ao seu 'acrescento ao arqu-tipo, poder assim ter-se verificado nos ltimos anos do sc. XIIIou no primeiro quartel do sc. XIV.

    715

  • Revista de Histria das Ideias

    7. Mendinho

    (1) Mendinho

    Deixamos para o fim o autor cuja colocao mais dificilde elucidar (v. ficha respectiva), porquanto nos surge numaencruzilhada de tradies man-uscritas diferentes, mantendo re-laes -algo contraditrias com aquelas em que poderia sereventualmente inserido. A soluo, no entanto, deve estar numade duas opes possiveis, embora no completamente satis-atrias:

    1-Presena em HJ.Possuindo somente uma cantiga de amigo, Mendinho apa-

    rece correctamente incluido na respectiva seco, no tim deum conjunto de trovadores com o mesmo tipo de composiese imediatamente antes dos primeiros autores acrescentados aessa seco, j no sec. XIV, com cantigas de amor. Neste con-texto, e no possuindo cantigas de amor nem cantigas de escar-nio, seria o ltimo autor da seco das cantigas de amigo de ts.Tretando-se, todavia, de um cancioneiro de cavaleiros, como sedepreende da- rubrica que anuncia esta mesma seco, a suaprovvel condio de jogral no se coaduna bem com estasoluo.

    2-Autor do cancioneiro galego.Pela sua naturalidade, pela sua condio de jogral e tam-

    bm pela composio dele conservada, pertenceria naturalmen-te ao cancioneiro galego. A sua colocao no o aproxima,porem, deste cancioneiro, a no ser admitindo- s hiptese deum deslocamento- da sua cantiga de amigo para uma zona dife-rente da inicial. Da anlise do quadro geral no- retiramos,todavia, quaisquer indicaes nesse sentido. Esta hiptese, ape-sar de tudo, a que nos parece mais credivel. Dai s colocacoque lhe destinamos, no inicio deste acrescento, e a sua dis-cusso neste local.

    Concluso

    A anlise do mais importante acrescento feito a ts, vemtrazer-nos alguns elementos para podermos ajuizar com maiorrigor o que se passou no- dominio da tradio manuscrita, napassagem do sec. XIII para o sc. XIV, numa altura em quea cultura trovadoresca, atravessado um j longo caminho, en-contrara um apoio de relevo nas principais cortes rgias do oci-dente peninsular.

    716

  • sLiuro das Cantigass do Conde D. Pedro

    So-bressai, desde logo, a efervescente actividade na compi-lao de cancioneiros colectivos. A primeira grande compilao,H, juntara-se uma sua cpia parcial, A, e, pela mesma altura,reunia-se tambm a produo potica de um conjunto vasto deautores galegos. O cancioneiro de Joo Aires de Santiago, apesarde individual e a admitir-se a hiptese que propomos, merecetambm algum destaque pelo nmero de composies que al-berga. Atendendo nova cronologia gizada para a actividadedeste autor, muito provavel que a sua compilao se tenhaefectuado pela mesma altura.

    Um segundo elemento a destacar e -a homogeneidade veri-ficada na organizao destes cancioneiros. Em todos eles, comefeito, se respeit-auma diviso tripartida, reveladora da cons-cincia da distino entre os. principais gneros poticos prati-cados. Mais, a bierarquizao dos gneros a mesma em todoseles. As compilaes comeam todas com as cantigas de amor,passam, de seguida, s cantigas de amigo, e concluem-se coma seriao das cantigas de eso-rnio e de maldizer. Um indicador,a juntar a outros, sobre o ou os locais de onde podera ter par-tido este interesse pela reunio dos autores em cancioneiros.

    O grupo dos clerigos levanta outros problemas. Prximo,pelo esprito de compilao, dos anteriores, afasta-se deles peladesorganizao que presidiu sua feitura. Perante este facto,sera talvez mais seguro- considerar esta compilao como resul-tado de um interesse individual, certamente de um clrigosem ligao ao centro ou centros onde, pela mesma altura,se pr.ocedia tambm a compilaes, mas com outros critrios.A. no ser, como sugerimos, que a juno deste grupo se tenhadado apenas na altura da sua incluso no acrescento- analisado.Em qualquer dos casos, este grupo traz ainda bem visveis osestigmas da tradio manuscrita anterior a finais do sc. XIII.momento em que dominavam os cancioneiros individuais oufolhas e rolos com composies de um ou mais autores, semquaisquer preocupaes de sistematizao e de ordenao (ii).

    Se esta compilao obedeoesse s regras dos cancioneirosreferidos anteriormente, teriamos fortes- razes para acrescen-tar urna nova tripartio para alem da referente organizaointerna dos cancioneiros, isto , estaramos perante a feitura,em simultneo ou quase, de trs cancioneiros, um de cavaleiros,o segundo jogralesco e o ltimo clerical. Constituiriam ento,no seu conjunto, uma espcie de scancioneiro gerals da cultura

    {i'J Sobre esta fase da tradio manuscrita v. Tavani, Graadriss,pp. 33 e 3?-9.

    71'?

  • Revista de Histria das Ideias

    trovadoresca galego-portuguesa tal como ela se tinha desenvol-vido at finais do sc. XIII.

    Esta nova tripartio, a eaistr, complicaria a situaode na como primeiro momento, no stenrrns codicmfn propostopor Tavani, das grandes compilaes trovadorescas (iii). Assi-nale-se, todavia, que se de um cancioneiro clerical obedecendo organizao dos anteriores no ha quaisquer vestgios, h-osde um cancioneiro de tipo jogralesco. Do ponto de vista da tra-dio manuscrita, a concluso lgica a tirar, parece-nos, a deque a partir de agora no se poder confundir la com um hipo-ttica ccancioneiro gerais da lrica galego-portuguesa, a no sercom a ressalva de que representar de facto esse scancioneirogeral mas- somente da sua vertente mais aristocrtica.

    .et deteco da corte ou cortes de onde partiu a confecodestes cancioneiros e o modo como posteriormente foram acres-centados ao arqutipo de A, no nos ocuparo de momento.Enigiriam uma analise global de todos os acreseentos a estemesmo arqutipo, assunto fora do nosso propsito desde oincio, e, alm disso, obrigar-nos-iam a combina-la com a acti-vidade cultural e poltica da sociedade cortes do ocidente pe-nnsular de fins do sc. XIII e primeira metade do sc. XIV,alongando em demasia este trabalho. Contamos voltar ao temaem tempo oportuno, esperando trazer algumas certezas a esteainda obscuro problema (ii).

    A actividade compilatria registada nos fins do sc. XIIIou, o mais tardar, nos incios do sc. XIV, no se manteve coma mesma constncia ao longo da primeira metade deste sculo.Da Galiza, de Leo ou de Castela, no s no se conhecemcontributos importantes, como tambm a anlise de B e V nonos conduz nesse sentido. Em relao a Portugal, uma con-cluso semelhante pode retirar-se da colocao dos autoresportugueses no acrescento analisado, onde, com poucas encap-es, nos aparecem com um reduzido nmero de composies.Estas, circulariam em folhas volantes ou rolos, acrescentadosa sr talvez medida que o compilador os ia recolhendo.B conservou provavelmente um resduo dessa situao na obrade Pero Mendes da Fonseca (n. 46). Com efeito, as suas5 cantigas de amor so ai antecedidas pela indicao- sutroE." se comeca asszvr e, mais abaixo, sli." par deus senhor queromeu hrs, transcrevendo o primeiro verso da primeira cantgadeste autor (ii). , no entanto, admissvel a presena, em casos

    (55) Idem, ibidem, pp. 34-6. _ p(54) Tufeja-se, no entanto, Tavam, Grondrtss, pp. 34-5 c 42-3.(55) Antes de E1122 fp. 516).

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    Lili-I

  • Livro das Cantigas: do Conde D. Pedro

    eacepcionais, de cancioneiros individuais onde, como em JooAires, se observou o princpio da diviso por gneros. A calo-cao das composies de Estevo da Guarda e a observaorigorosa., nela verificada, dessa diviso (v. ficha respectiva),sugerem esta possibilidade para este autor (ii).

    A viragem do seculo fechou, assim, o periodo das grandescompilaes da comunidade trovadoresca da ocidente penia-sular. A tradio manuscrita posterior, privilegiando os autoresportugueses, revela um certo retraimento geogrfico desta ma-nifestao cultural, coniinando-a praticamente ao territrio por-tugus. Utna imagem certamente sem correspondncia com arealidade, mas que no deixa de reflectir, de qualquer modo,a importancia da presena portuguesa no processo de trans-misso manuscrita por volta de meados do sec. XIV. Aqueleatraves do qual podemos chegar hoje- ao conhecimento destamanifestao cultural

    [H] Outro exemplo, este conhecido. . o da cancioneiro deD. Dinis, cujas componentes principais esto integradas na acrescento seco das cantigas de amor de tu. Cf. Tavani, Grtmdriss, -pp. 39-41.

    'I19

  • Rcoistc de Historia das Ideias

    lll DS AUTDRES DO ACRESCENTD A SECU DAS CAHTIGASDE AMIGU DE to; DAIJUS BIUGRFICUS E. CDLDCAU

    Retmem-se neste apndice, e para cada um dos compositorespresentes no acrescento analisado, os varios elementos cujo eaametornou possvel a definio de uma estratigrafia para esta aona doscancioneiros B e V ou, se se quiser, de es. Lada ficha individual com-porta no so uma anlise critica da colocao do autor respectivo. mastambm os elementos de ordem biogrfica que nos permitem situa-lono contento da manifestao cultural em que se inseriu.

    Para a discusso da colocao de cada um deles tivemos emconta o tipo de composies que nos deitou, a eventual presenanoutras canas do cancioneiro e, quando necessario, a sua condiosocial. A terminologia utilizada nesta discusso-seces, acreseentosa seces, te, etc. - resulta j da tentativa de clarificao da evoluodo cancioneiro entre tc e a, levada a cabo na segunda parte do trabalho.

    Na parte biogriica aproveitamos, sempre que possivel, os ele-mentos j conhecidos. A pesquisa entretanto efectuada na documentaomedieval permitiu-nos, no entanto, trazer dados novos que contri-buiro, por certo, para um melhor conhecimento de alguns autorese, em ltima anlise, para uma compreenso mais cabal da evoluoda cultura,_ trovadoresca no ocidente peninsular. Porque o trabalhono o justificava, no tivemos preocupaes de exaustividade nestecampo, cingindo-nos aos elementos considerados essenciais para definir.1 cronologia e geografia do autor em causa. Registose, finalmente,que a indeciso presente nalgumas biografias podera ser atenuadaaps a analise da estratigrafia deste acrescento. Remetemos, portanto.para essas paginas, para esclarecimentos que possam vir a ser Feitosem relao a alguns autores.

    1. ABRIL. PERES(n. 32)

    A sua nica composio, uma teno com Bernal de Honaval.encontrase inserida na obra deste autor t_v. ficha respectiva).

    No citando quaisqter personagens, essa composio ligao, noentanto, ao segrel galego ernal de_Bonoval, cuja actividade potica sesitua na primeira metade do sec. XIII (1). Foi a volta deste elementoe do conhecimento de individuos com a mesmo nome, que girou oproblema da identificao deste autor. as principais posies sobreo mesmo Foram definidas logo nos inicios deste sculo. quer a favorde um abril Peres, burguds de Santiago de Compostela Fl. Quer afavor do magnata portugues D. Abril Peres de Lumiares (31 (ls inves-tigadores subsequentes, mais cautelosos certo, acabaram por optarpor uma ou por outra posicao. Trata-se de um caso exemplar dasdificuldades de atribuio de composies cuja indicao de autoriaii de certo modo ambgua e no encontra fora dos cancioneiros ele-mentos que a esclnream.

    ill Marin Luisa Intlini, Eernnl da Bonoval. Poesia. Earl. lilll. pp. 9-11'.(El Antonio Lopez Ferreiro. Historia de lo .flame -M. iglesia de Santiago :le

    tC.'onnpo.r:.-fia. t. V. Santiago de Compostela. 19D1. p. 315.(El Micbalis. Cri. TI. FF 'lll-HDD, 555.

    'i'2D

  • -:Livro das Cantigas: do Conde D. Pedro

    Num documento de 18 de Junho de 1221, de mosteiro de 5. Vicentede Fora, ue ntsooa, aparece como testemuuna um 1.1. aoru, jogral ta).eenue a unica motcaao que possuimos oa eatsteucta de um uuuvtouucom este nome associado ao meto truvauoresco peninsutat' podemos,muito provavelmente, estar perante o aoru reres nos cancioneirosmedievais. ror outras palavras, aortl Peres seria um _ogra.l somadoem Ltsooa nos imctos no sec. .~.Llt. esta situaao e, tooavta, paraoo-sai. Liom efeito, encontramo-nos ainda numa tase oe arranque destamanifestao cultural e meus os restantes elementos connectuos apon-tam meqtuvocamente as regies da Lianaa e lalertc de Portugal comopeles do seu desenvolvimento inicial. A espiicao deste deslocamentogeogrfico podera estar, pelo menos em parte, no documento menclonado. A, D. Abril surge-nos associado aos Sonsas, uma das familiasnobres portuguesas mais importantes de see. XIII, cujos bens patri-moniais se sttuavam, a blorte de Douro, nas terras de Aguiar de Sousa,Penafiel, Santa Cruz e Felgueiras (5). A sua categoria de jogral sugereque fosse um dependente da corte senhorial desta importante linhageme que os teria acompanhado numa deslocao para fora da rea emque normalmente viviam. Neste contento fica de 'pe a hipotese de umjogral de origem galega ao servio dos Sousas, mas excluda, 3 noser que se recuse a identificao com o indivduo registado em Lisboa,a atribuio da teuo com Bernal de Bonaval a Abril Peres deLumiares.

    2. AFDl~lS'EaNES [DCI CDTON)(nf 19)

    Situado neste acrescento com duas cantigas de amor e umateno com Pero da Ponte.

    Se tivermos em conta fa, as suas cantigas de amigo e a maiorparte das cantigas de escarnio surgem colocadas nas respectivas sec-es, entre outros autores seus contemporneos e j na parte finaldesse cancioneiro (ii. O mesmo no se passa com as suas cantigas deamor. Em ves de surgirem na parte final da respectiva seco, apare-cem integradas na seco das cantigas de amigo, na parte acrescen-tada a to e na sequencia dos vrios clerigos ai inseridos. Uma anomaliadeste ti?o no , no entanto, especfica das composies deste autor.As cant gas de atnor de Pedr'Eanes Solar. Ferno Psdrom, Pero daPonte, Vasco Rodrigues de Calvelo, Martim Moya s Rui Fernandes deSantiago, todos eles presentes em A, foram deslocados parcial ou total-mte, para o mesmo acrescento. Uma possvel enplicaco Dara estedeslocamento poder estar na reformulao da parte final da secodas cantigas de amor de tu, ou de uma sua copia-o que exolicsriaas divergncias entre A, B e V nesta sena -, aquando da incorporao,na 'primeira metade do sec. XIV, de novos autores nessa parte- docancioneiro. A associao de ambos os deslocamentos, o de Cetone o dos restantes autores mencionados, leva-nos a formular uma ltima

    (ii TI'-5. Fleetue, m. II. doe. 15. Trata-se de uma curte de eee.l`i|-mario.por D. Guiomar Mendes de Sousa. de uma vende feita por seu irmo D. Goncalo Mendes.Devemos esta preciosa indiceo _l smelzrilldede de nene culesa I3Ir.l Ieontlun 'Ventura

    (Hi .lote Mattoso, Identirueie de um Pais, I, Lisboa, i-985. pp. 153461.te] A. me colocao em m poderli ser viste ne quadro de seus de interseco entre

    ,zu e ,;. em ependiee. Para se e:p_lIcecdee que se seguem deve-se, igualmente. ter presente omesmo quadro.

    H 1:1

  • Retlistd de Histria das Ideias

    hipotese. Na seco das cantigas de amigo de t, a Eioton seguem-seSola: e Ponte. Se voltarmos agora a seco das cantigas de amor domesmo cancioneiro, representado por a, verificamos que a colocaoe identico para os dois ltimos autores. Entre el-es, situa-se apenasFerno Padrom de quem se conservaram somente cantigas de amor. Ascomposies que antecedem Solaz, porque conservadas apenas por A-onde no ertistem rubricas atributivas -, no tem autoria segura. D mes-mo cancioneiro indica, pelo espao reservado para as miniaturas, tratar--se de tres autores diferentes. Dra, se nesta seco esistin, originalmente,uma sequncia semelhante a da seco das cantigas de amigo, umdesses tres autores annimos sera afons'Eanes de Coton.

    . biografia de Coton tem estado dependente das suas compo-sies. aparece relacionado com Martim Soares e com Pero da Ponte,autores cuja obra se situa em boa parte na primeira metade do sec.XIII FJ. Numa clebre composio de Afonso X, em que Pero da Ponteti acusado de roubar os versos de Coton. este autor e dado ja comofalecido. Segundo lvlenendea Pidal (li) era natural da Corunha. A suacondio de segrel-dia-se escudeiro, numa das suas cantigas -levou-o,pelo menos, a Leo e a Castela.

    3. A. GOMES, jogral de Sarria(11- fi)

    A sua presena e colocao no cancioneiro parece dever-se aoautor que o segue, Martim Moya. De facto, a nica. composio deleconservada e uma cantiga de maldizcr dirigida aquele trovador, ondesatiriza a sua longevidade. E provavel que a sua incluso no grupodos clerigos presentes nesta sena do cancioneiro se deva ao facto destacomposio ter andado inserida na obra de Martim Moya (5).

    Segundo a rubrica que antecede a sua composio em E c V, eraiogral de Sarria. A falta de outros elementos, a sua cronologia estdependente da de Martim Moya. A referencia sua velhice devecoloca-lo na gerao posterior a deste trovador.

    4. .tronso Plus na Brutos(nf 2)

    .II|

    Surge com cinco cantigas de amor, as nicas que dele possuimos,na parte inicial do acrescento seco das cantigas de amigo de ru.Tal facto revela que a sua incluso se verificou ,i nos fins do sec.XIII ou na primeira metade do sec. XIV. Pela colocao no cancio-neiro, aparece associado a dois outros trovadores portugueses, D. MemRodrigues de Briteiros e D. Joo Mendes de Briteiros, que comungamcom ele de idntica situao

    Da linhagem dos Braga, os livros de linhagens medievais perm-gneses conscrvaram apenas a memoria de D. Sancho Martins de Braga

    (Ti Hichiilltl, CH. 11.. relp-eolivlmente pp. 321-35 E HU-G4.(E1 R. Mencndec Fidel. Forno ,fugfmfesee _v ,lrrgleree_. Madrid. 1979. p. lll=9 [s partir

    de agora apenas Fidel, Poesia). Ef. Silverio Fanunaio. ttd.fons'Esnes do Coluna. ln GrandeDirendrie de Iiferurure Portuguese e de Teoria Lirerdldd, dir. por Joo Jose Ceehofei. I.Lisboa, ITT, pp. 69-70. G. Tlvntti. Grrutdrisr. fato. B, IEEE, p. 9.

    (ei Este insero e uma das hlpeteses avanadas l per Luciane tegartuo, Plcchie.Martim Hope. L! Poesia, Roma. l, p. 55.

    122

  • eLtaro'dos Cantigas: do Conde D. Pedro

    pelo facto de ter casado com Pero Salvadores de Ur-geses ii'-`-'). Em 1258os filhos de ambos possuam um casal em S. 'Eullia de Fermentes.inato ao rio Selho e perto de Guimares. Nessa mesma povoao, ctambem com um casal cada. -concorrem uma D. Elvira de Braga e tnnafonso Pais, -que pensanros ser o nosso trovador. E certamente .o mesmoafonso Pais que, com Paio Peres e afonso Gonalves, tinha feito umagrande vinha ntnn reguengo do rei, na_parquia_ vizinha de SJ* Mariade Silvares (11). Corroborando a ligao aos Briteiros, presente nosCancioneiros, assinale-se que esta linlragem era natural desta mesmaregio. A ser correcta esta identificao, afonso Pais de Braga senacontemporneo de Mem Rodrigues de Briteiros. tambem referido naslnqturics de 1258 e -ainda vivo= nos inicios do sc. XIV.

    5. AIRAS EHGEITADD(n.' 20)

    Conser_-varam-se deste autor trs cantigas de amor, colocadaspouco depois do grupo dos clrigos, Dada a sua ausencia de A. podepensar-se numa incluso tardia, nos-'fins do st-ic. XIII ou j na primeirametade do sec. XIV. -Aparece associado ao trovador portugues Ro-driguilanes d'Alvares e. se a hiptese levantada para Afons'Eanes deCoron e correcta, entre varios trovadores cujas cantigas de amor.presentes em parte em A., foram posteriormente deslocadas para estatona da- seco das cantigas de amigo.

    No foram ainda encontrados elementos documentais .que per-mitam sitn-l_o crpnelogica e geograficamente. A sua ligago, nos can-cioneiros, a Ro'drign*Eanes d'Alvare.s no indica necessariamente estar-mos perante um autor portugues, embora- este elemento, -associado aofacto de dele se conhecerem apenas cantigas de amor, possa indu-sir-nos nesse sentido (U).

    6. AIRAS NUNES clrigotrt' 5)

    Com eitcepo de uma cantiga de es_cInio, as suas composi des,incluindo cantigas de amor, cantigas de amigo, cantigas de esernioe de maldiser, encontram-se reunidas no amplo conjunto de autoresacrescentados a sccco das cantigas dc- amigo de ts e no inicio dogrupo dos clerigos ai presentes (13). Asus incluso numa data posteriorir da feitura de to ressalta do desrespeito, verificado na sua obra. poruma ordenar-o de autores apos 'Drvia diviso do cancioneiro porgneros poticos. No sen- caso, surgindo associado a vrios outrosclrigos, parece ter sido privilem`ado o estatuto social como elementoorganizador e no o seu contributo enquanto trovador. Es-tas conside-races podem estender-se. alias. aos restantes clrigos, cuja obra revelaid-iatica rebeldia as regras da compilao: inicial.

    {1D} Livro de Unimgu do Comic IJ. Pedro. ed. critica de lies! Mattoso. Lisboa.IQED. 491.4 (1 partir de :nora apena: LCI). ,

    U1) Forrageiras Mennmenm Hsrorfrn. Inecsiiiones. 9 fase. publ., lisboa. 1388--IHTT. p. Ti!! a Tlh [a partir de agora apenas Irro._l. `

    (12) Tavani, apoiando-se em :iementos tesnldees e estilistieos. coloca-o em meadosou no terceiro quartel do see. EBI. Ef. Girundriss. fue. 6. p. 159.

    (13) Sobre _: dupla frsdi-ele lnanusetita densa: composies. ver G. Tavani, Lepoesia- di Aires Nunes. Iiiio, IE-Ii, pp. 'ltl-IT.

    'i

  • Revisto de Historia dos Ideiozil

    Apoiado em duas referncias a ele feitas num registo de contasda Chancelaria de D. Sancho IV de Castela para os anos de 1283-1286e tambem nos temas e personagens citados nas suas cantigas de escar-nio e de maldiser, Tavsni pode definir, com eaactido, o ambito crono-logico da sua actividade potica bem como o crculo corteso que terafrequentado. Trata-se de um clerigo, provavelmente galego. ao serviode Sancho IV nos anos de 1284 a 1239 (H).

    7. AIRAS PAIS, jogral(nal 33 e 73)

    Integrado apenas nesta sons da seco das cantigas de amigo.surge ai em dois locais diferentes. No primeiro (nf 38) com duas. can-tigas do amor e no segundo (nr 73) com duas cantigas de amigo. Estasituao, pouco natural caso tentssemos inseri-lo no conjunto deautores subordinados ordenao de ai, associao no entanto a umgrupo de des autores cuja insero e idntica sua: Pero de Ver.Bernal de Bonaval, Joo Servando, Iuio Bolseiro, Pero d'A1'n'rea.Peclr'Amigo de Sevilha, Loureno, Joo Baveca, Galisteu Fernandese Lopo. Em todos eles se verifica uma distribuio por dois locaisdiferentes, com a excepo irrelevante de Loureno, que ocupa treslugares. correspondente ao mesmo tempo a uma diferenciao de gne-ros poticos. Entre os n.l 29 e 43, aparecem-nos todos eles pela pri-meira vea com as suas cantigas de amor, repetindo-se os seus nomesentre os nie 48 e 'i'3. agora com as suas cantigas de amigo- Drdenasosingular. em que os autores aparecem dimensionados apenas para estaparte do cancioneiro, quebrada somente- nos casos em que as respec-tivas cantigas de escrnio foram deslocadas para a seco corres-pondente.

    A referncia, numa das suas cantigas de amigo, ermida deS. Maria de Rea, da-lhe como naturalidade provavel a regio deDrcnsc, na Galiza. Em 1293 era um dos jograis ao servio de B. SanchoIV de Castela, mantendo-se ainda em actividade, no nordeste penn-sular, nos incios do sc. XIV P5).

    B. Anonimoin." 19)

    Fragmento de uma composio inserida no interior da obra deAons'Eanes do Coton, D'Heur ps a hipotese de se tratar de umainterpolao tardia (li). Em V so transcritos os quatro primeirosversos, aos quais se segue um pequeno espao em branco no fim dapagina. B, mais cauteloso nestes casos. transcreve o primeiro verso,ea quantos sabem trobars, deixando cerca de meia pagina em branco.

    (14) G. Tavani, Le poe.|ie,..., pp. 21-27. o Grturdrlts. fue. B. pp. 11-11.-{15} Ci. Jose Joaquim Htmee, Guanaes de .amigo dos trovadores goiano portas-seres.

    I. Lisboa. 19131. pp. 19-E-3 (1 partir de more apenas Nunes. studio] e Fidel, Poesia, p. 133.(16) Jean Marie Dil-Ieur. ehlomenelatnre dee Iroubedourt Galician: Portugais Ome-

    -H-_IVe lieclesis. .lrmuvos do Ceruro Cnfrnrol Forrngul. vol- Tl, Paris. 197!. p. 37 CIL' 91'11-

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