dnit deve indenizar por acidente ocorrido em estrada federal - leia a íntegra da decisão

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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL SEÇÃO JUDICIÁRIA DE GOIÁS NONA VARA Estatística Sentença Tipo A Processo 2009.35.00.002083-0 Classe 1900 Autor Ronaldo Rocha Costa Réu DNIT Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes SENTENÇA I – RELATÓRIO Ronaldo Rocha Costa propõe ação ordinária em face do DNIT – Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes objetivando a condenação da ré ao pagamento de indenização por danos materiais cominada com lucros cessantes, decorrentes de acidente de trânsito causado pela má conservação de estrada federal. Sustenta que é proprietário dos veículos cavalo mecânico marca/modelo Volvo NL 12 360 4X2, modelo 1995/1995, cor branca, chassis n° 9BVN2B5A0SE651000, placa BVC 6718/SP, e carreta semi-reboque acoplada C/aberta marca/modelo SR/Randon, ano de fabricação 1993/1994, cor branca, chassis n° 9ADG12430PS101634, placa KDC 6319. Alega que seu veículo sofreu acidente na Rodovia Federal BR 452, área rural do município de Itumbiara-GO, km 0177,8, que, conforme descrição do Boletim de Ocorrência de Acidente de Trânsito lavrado pela 4ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal ocorreu quando o condutor do veículo, Reinaldo Aquino da Rocha, “ao desviar-se dos buracos na pista, passou para o acostamento e deslizou para uma depressão de cerca de quatro metros de altura, vindo a capotar.” Afirma que em consequência do acidente, o veículo do autor sofreu vários danos, ficando impossibilitado de ser utilizado em virtude da realização de reparos e troca das peças danificadas. Alega que o valor despendido na reforma do caminhão alcança o montante de R$ 30.987,42 (trinta mil, novecentos e oitenta e sete reais e quarenta e dois centavos), e, para que este seja realizado, o veículo deverá ficar sem rodar por 60 dias, resultando na perda de R$ 422,00 (quatrocentos e vinte e dois reais) por

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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL

SEÇÃO JUDICIÁRIA DE GOIÁS NONA VARA

Estatística Sentença Tipo A Processo 2009.35.00.002083-0 Classe 1900 Autor Ronaldo Rocha Costa Réu DNIT – Departamento Nacional de Infra-Estrutur a de

Transportes

SENTENÇA

I – RELATÓRIO

Ronaldo Rocha Costa propõe ação ordinária em face do DNIT

– Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Trans portes objetivando a condenação da ré ao pagamento de indenização por danos materiais cominada com lucros cessantes, decorrentes de acidente de trânsito causado pela má conservação de estrada federal.

Sustenta que é proprietário dos veículos cavalo mecânico

marca/modelo Volvo NL 12 360 4X2, modelo 1995/1995, cor branca, chassis n° 9BVN2B5A0SE651000, placa BVC 6718/SP, e carreta semi-reboque acoplada C/aberta marca/modelo SR/Randon, ano de fabricação 1993/1994, cor branca, chassis n° 9ADG12430PS101634, placa KDC 6319.

Alega que seu veículo sofreu acidente na Rodovia Federal BR

452, área rural do município de Itumbiara-GO, km 0177,8, que, conforme descrição do Boletim de Ocorrência de Acidente de Trânsito lavrado pela 4ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal ocorreu quando o condutor do veículo, Reinaldo Aquino da Rocha, “ao desviar-se dos buracos na pista, passou para o acostamento e deslizou para uma depressão de cerca de quatro metros de altura, vindo a capotar.”

Afirma que em consequência do acidente, o veículo do autor

sofreu vários danos, ficando impossibilitado de ser utilizado em virtude da realização de reparos e troca das peças danificadas.

Alega que o valor despendido na reforma do caminhão alcança

o montante de R$ 30.987,42 (trinta mil, novecentos e oitenta e sete reais e quarenta e dois centavos), e, para que este seja realizado, o veículo deverá ficar sem rodar por 60 dias, resultando na perda de R$ 422,00 (quatrocentos e vinte e dois reais) por

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dia, culminando no valor de R$ 25.320,00 (vinte e cinco mil, trezentos e vinte reais) a título de lucros cessantes, somados no período, perfazendo o prejuízo total de R$ 56.307,42 (cinquenta e seis mil trezentos e sete reais e quarenta e dois centavos).

Aduz o autor que, consoante consta do Boletim de Acidente de

Trânsito, o condutor do veículo reputa condições ruins à pista de rolamento, o que caracteriza a culpa aquiliana da ré, que, por negligência, não zelou da segurança daqueles que transitam pela rodovia, uma vez que esta se encontra em estado precário com buracos, falta de sinalização e acostamentos encobertos pelo matagal.

Instruiu a inicial com procuração e documentos de fls. 12-67. A ação foi proposta inicialmente na Subseção Judiciária de Rio

Verde/GO. O pedido de assistência judiciária gratuita foi indeferido à fl. 69. O DNIT – Departamento Nacional de Infra-estrutura de

Transportes apresentou contestação às fls. 74-85, acompanhada dos documentos de fls. 86-89, onde alega, preliminarmente, a carência de ação por inépcia da petição inicial, haja vista o autor não a ter instruído devidamente, deixando de acostar à peça o laudo pericial e comprovantes relativos ao pedido de lucros cessantes.

No mérito, sustenta que não restou comprovada a

responsabilidade subjetiva da União, segundo a qual se exige a comprovação do elemento culpa. Refuta o pedido de lucros cessantes ao argumento de que a parte autora não demonstrou documentalmente o valor pretendido a título de indenização decorrente do período em que o caminhão ficou sem rodar, bem como não comprovou os prejuízos advindos do que efetivamente perdeu ou que razoavelmente deixou de lucrar.

Alega que primeiramente deverão ser descontados do valor

devido, em caso de possível indenização, os valores pagos ao autor pelo seguro obrigatório (DPVAT).

Aduz que o veículo trafegava transportando volume de carga

superior ao limite permitido, além da inexistência nos autos dos discos do tacógrafo do caminhão que comprovariam a velocidade do veículo no momento do acidente.

Impugnação à contestação (fls. 94-97). Na fase de especificação de provas as partes requereram a

oitiva de testemunhas (fls. 100-101 e 106-107). Por meio da decisão de fls. 109-110 a Juíza da Vara Única de

Rio Verde/GO declinou de sua competência em favor de uma das Varas Cíveis desta Seção Judiciária, tendo sido os autos distribuídos a este Juízo.

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Foram inquiridas as seguintes testemunhas: Marcelo de Azevedo, arrolada pelo DNIT (fls. 138-139); Maciene Paiano, Francisco Roberto da Silva e José Fonseca Costa, arroladas pela parte autora (fls. 163-167).

Alegações finais pelo autor às fls. 172-173 e pelo réu às fls.

178-186. Por meio da decisão de fls. 188-189 o julgamento foi convertido

em diligência para a juntada de documentos e informações acerca do recebimento pelo autor de eventuais importâncias que tenham por objeto a cobertura de seguro pelo acidente referido nestes autos. Foi designada nova audiência.

O autor juntou documentos às fls. 192-302, no intuito de

demonstrar o valor das despesas com o conserto do caminhão e os lucros cessantes. O DNIT se manifestou sobre os aludidos documentos (fls. 308-310).

Realizada audiência de tentativa de conciliação às fls. 312-313. Às fls. 323-424 e 435-478 encontram-se as respostas das

empresas seguradoras quanto ao questionamento judicial de fl. 188. Alegações finais pelo autor (fls. 317-320) e pelo réu (fls. 426-

434).

II – FUNDAMENTAÇÃO

Preliminar O autor não é carecedor da ação. A petição inicial atendeu aos

requisitos do art. 282 e art. 283 do CPC. Os documentos que instruem a inicial são suficientes para o deslinde da ação.

Rejeito , pois, a preliminar de carência da ação – inépcia da

inicial.

Mérito Requer o autor indenização por danos materiais e lucros

cessantes em razão de acidente que seu veículo sofreu em decorrência das más condições da BR 452, altura do km 0177,8. Imputa ao DNIT a responsabilidade pelo prejuízo sofrido.

O autor atribui a causa do acidente aos buracos encontrados

na rodovia por onde transitava seu veículo, uma vez que, em razão das irregularidades da pista seu motorista se viu obrigado a efetuar manobra evasiva de desvio, indo em direção ao acostamento e deslizando para uma depressão, ocasionando o capotamento do caminhão.

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No campo da responsabilidade civil do Estado, a regra é a responsabilidade objetiva (art. 37, § 6º, da CF), segundo a qual está o Poder Público obrigado a reparar o dano por ele causado a outrem por meio de uma ação lícita ou ilícita de seus agentes, bastando, nessas hipóteses, a demonstração da ocorrência do prejuízo e o nexo causal entre a conduta e o dano.

Por outro lado, se o alegado prejuízo adveio de uma omissão

do Estado, ou seja, pelo não funcionamento do serviço, ou seu funcionamento tardio, deficiente ou insuficiente, invoca-se a teoria da responsabilidade subjetiva.

Nesta senda é a lição de Maria Helena Diniz, in verbis:

“Na hipótese de dano por comportamento omissivo a responsabilidade estatal é subjetiva, por depender de procedimento doloso ou culposo. Os prejuízos não são causados pelo Estado, mas por acontecimento alheio a ele, já que a omissão é condição do dano, ou melhor, é o evento cuja ausência enseja a ocorrência de lesão da lesão. Portanto, no caso de dano por comportamento omissivo, a responsabilidade do Estado é subjetiva, porquanto supõe dolo ou culpa em sua modalidade de negligência, imperícia ou imprudência, embora possa tratar-se de uma culpa não individualizável na pessoa de algum funcionário, mas atribuída ao serviço estatal genericamente. É a culpa anônima ou falta do serviço [...] Deveras, se o Estado não agiu, não poderá ser o autor do dano, logo, somente se poderá responsabiliza-lo se estava obrigado a impedir o dano e não o fez. Será responsável simplesmente porque se descurou da obrigação que lhe cabia, ou melhor, por que não cumpriu o dever legal de obstar o evento danoso [...] Além da relação entre a omissão estatal e o prejuízo sofrido, será imprescindível para configurar sua responsabilidade subjetiva, que exista o dever legal de impedir o evento lesivo, mediante atuação diligente.[...] É mister, portanto, que haja comportamento ilícito do Estado, por não ter obstado o dano, respondendo por esta incúria, negligência ou deficiência. O Estado eximir-se-á da responsabilidade se não agiu com culpa ou dolo, se o dano for inevitável em razão de força maior ou estado de necessidade, se houve culpa da vítima ou de terceiro.”

A responsabilidade pela manutenção e conservação das rodovias federais é do órgão reclamado, conforme se depreende de seu regimento interno, no art. 4°, verbis:

Art. 4º Ao Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transporte – DNIT, compete:

[...]

VI – administrar e operar diretamente, ou por meio de convênios de delegação ou cooperação, os programas de construção, adequação de capacidade, operação, manutenção e restauração de rodovias, ferrovias, vias navegáveis, terminais e instalações portuárias;

VII – gerenciar, diretamente ou por meio de instituições conveniadas, projetos e obras de construção, restauração, manutenção e ampliação de rodovias, ferrovias, vias navegáveis, terminais e instalações portuárias;

[...]

Destarte, tratando-se de acidente ocorrido em virtude de falta

de manutenção em rodovias federais, uma vez comprovado o dano, é

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responsabilidade do órgão responsável por esta atribuição o ressarcimento a quem os tenha sofrido.

Há nos autos provas contundentes a demonstrar que os fatos

se deram conforme narrado pelo autor, como é o caso do Boletim de Acidente de Trânsito (fl. 18), que esclarece que a pista encontrava-se “danificada”, senão vejamos:

“Conforme averiguações feitas no local e testemunho do condutor de V1, constatamos que V1 seguia em sua mão-de-direção quando, ao desviar-se de buracos na pista, passou para o acostamento e deslizou para uma depressão de cerca de quatro metros de altura, vindo a capotar. Posição final do veículo: tombado sobre o lado esquerdo.” A despeito das alegações da ré de que o Boletim de

Ocorrência de Acidente de Trânsito é insuficiente como elemento probatório apto a esclarecer as causas do acidente, a prova juntada pelo autor é adequada ao esclarecimento da questão. Ademais, quando considerada em conjunto com os demais elementos elucidativos colacionados aos autos, dá perfeito suporte à versão do acidente conforme foi descrito na petição inicial.

O eg. Superior Tribunal de Justiça, sobre a idoneidade do

Boletim de Ocorrência como meio de prova, tem se manifestado da seguinte maneira:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. CULPA. DEVER DE INDENIZAR. SÚMULA N.º 07 DO STJ. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 83 DO STJ. VIOLAÇÃO DO ART. 535, II, DO CPC. INOCORRÊNCIA. 1. Ação Ordinária de Reparação de Danos Causados em Acidente de Trânsito, em desfavor da ora recorrente, fundada na negligência de preposto, que ocasionou danos materiais, estéticos e morais à ora recorrida. 2. O Recurso Especial não é servil ao exame de questões que demandam o revolvimento de cláusulas contratuais e do contexto fático-probatório dos autos, em face do óbice erigido pelas Súmula 07/STJ. 3. In casu, sobressai inequívoco que o Tribunal, a despeito da tese sustentada pela defesa, entendeu da responsabilidade objetiva porquanto o veículo da concessionária estava a serviço da mesma no momento do evento. 4. A divergência jurisprudencial, ensejadora de conhecimento do recurso especial, deve ser devidamente demonstrada, conforme as exigências do parágrafo único do art. 541 do CPC, c/c o art. 255 e seus parágrafos, do RISTJ. 5. Visando a demonstração do dissídio jurisprudencial, impõe-se indispensável avaliar se as soluções encontradas pelo decisum recorrido e os paradigmas tiveram por base as mesmas premissas fáticas e jurídicas, existindo entre elas similitude de circunstâncias. 6. Incidência da Súmula 83/STJ: ''NÃO SE CONHECE DO RECURSO ESPECIAL PELA DIVERGÊNCIA, QUANDO A ORIENTAÇÃO DO TRIBUNAL SE FIRMOU NO MESMO SENTIDO DA DECISÃO RECORRIDA.'' 7. O aresto paradigma entendeu que o boletim de ocorrência pode rá servir como prova direta, com força probante, se em consonância com os demais elementos probantes, na ausência de contra-prova, i dêntica posição adotada pelo aresto objurgado, que se manifestou no sentido de que o BO há de ser considerando conjuntamente a todo o conjunto probatório, a fim de se evitar decisões injustas. 8. Inexiste ofensa ao art. 535 do CPC, quando o tribunal de origem pronuncia-se de forma clara e suficiente sobre a questão posta nos autos. Ademais, o magistrado não

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está obrigado a rebater, um a um, os argumentos trazidos pela parte, desde que os fundamentos utilizados tenham sido suficientes para embasar a decisão. 9. Agravo Regimental desprovido. (AARESP 200600285269, LUIZ FUX, STJ - PRIMEIRA TURMA, 15/10/2007) Original sem negrito. Acidente de trânsito. Responsabilidade da empresa l ocadora. Boletim de ocorrência feito por policial rodoviário, o qual chegou poucos minutos após o evento. Precedentes. Súmula n° 492 d o Supremo Tribunal Federal. 1. O boletim de ocorrência feito por policial rodoviário federal, o qual chegou ao local minutos após o acidente, serve como elemento de convicção para o julgamento da causa, não se equiparando com aquele boletim decorrente de rel ato unilateral da parte. 2. "A empresa locadora de veículos responde, civil e solidariamente com o locatário, pelos danos por este causados a terceiro, no uso do carro locado" (Súmula n° 492, do Colendo Supremo Tribunal Federal). 3. Recurso especial não conhecido. (RESP 200100105572, CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, STJ - TERCEIRA TURMA, 04/02/2002) Original sem negrito.

Os depoimentos das testemunhas, colhidos em audiência,

confirmam a evidência de que o acidente se deu em virtude das más condições da rodovia BR-452, que, à época do sinistro, encontrava-se com inúmeros buracos.

É o caso da testemunha Marcelo de Azevedo (fl. 139), que em

juízo declarou o seguinte: “que ratifica os termos do Boletim de Ocorrência; que na época em que trabalhava na região a rodovia estava muito esburacada, eram poucos os trechos onde não haviam buracos, época esta que coincide com a data do acidente. (...) que foi acionado pelo condutor, tendo chegado ao local do acidente após a ocorrência do mesmo; que as informações constantes do Boletim de Ocorrência foram prestadas pelo condutor do veículo. – grifei. Já a testemunha José Fonseca Costa (fl. 167), além de

confirmar que a rodovia realmente encontrava-se em péssimas condições, acrescentou que seu carro já sofreu danos ao trafegar por aquela estrada, afirmando, ainda, que outros motoristas já tiveram grandes prejuízos ao rodarem por ali. Confira-se, in litteris:

“que nada sabe dizer sobre o acidente ocorrido no dia 17 de abril de 2006, envolvendo o caminhão descrito na inicial, mas sabe falar sobre a rodovia BR 452; QUE o km 177 da BR 452 fica próximo ao povoado de Sarandi, indo para Itumbiara sentido Rio Verde – Itumbiara; QUE em 2006 o trecho da rodovia que vai de Bom Jesus até Itumbiara estava em péssimo estado, isto é, quase sem condições de trafegabilidade, explicando melhor, a rodovia tinha muito buraco, praticamente um em cima do outro; QUE os buracos eram de todo tamanho, rasos e fundos; QUE nessa época a testemunha andava numa pickup Strada e nesse trecho da rodovia (Bom Jesus-Itumbiara), não conseguia passar de 30 km; QUE um caminhão carregado também não poderia passar dessa velocidade; QUE a testemunha já teve molas e pneus deslocados no seu carro exatamente nesse trecho em seus caminhões, mas nunca teve caminhão capotado; QUE evita passar nesse trecho, utilizando a via Quirinópolis/Cachoeira Dourada; QUE nunca ouviu falar que alguém mais tenha capotado nessa estrada, apesar de sua condição, mas já ouviu dizer de outras pessoas que tiveram grandes prejuízos. (...) QUE tinha passado na rodovia uns quinze

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dias antes do acidente; que não havia sinalização e nem acostamento. (...) QUE possui empresa de transporte.” – grifei. Dessa forma, o nexo causal encontra-se perfeitamente

demonstrado, ocasionando a responsabilidade subjetiva do Estado, uma vez que para a caracterização dessa modalidade de responsabilidade é necessária a configuração de negligência por parte da Administração, elemento que foi perfeitamente demonstrado acima.

Assim, resta comprovado que os danos experimentados pelo

autor se deram em virtude da má conservação da Rodovia BR-452, sendo, portanto, dever de quem deveria conservá-las, reparar o dano. Nesse sentido dispõe o Código Civil, in verbis:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar o direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

No mesmo sentido o seguinte precedente do E. Tribunal Regional Federal da 1ª Região:

PROCESSUAL CIVIL. CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. AGRAVOS RETIDOS NÃO CONHECIDOS. REEXAME NECESSÁRIO. RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA. LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DO DNIT. ACIDENTE EM RODOVIA FEDERAL COM MORTE DO CONDUTOR. MÁ CONSERVAÇÃO DA PISTA. OMISSÃO DA AUTARQUIA. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. CABIMENTO. REDUÇÃO DO VALOR. 1. Impossibilidade de conhecer dos agravos retidos em vista do não cumprimento do determinado no art. 523, §1° do CPC, ou seja, o requerimento expresso, nas razões ou na resposta da apelação, da apreciação do recurso pelo Tribunal. 2. Nas ações ajuizadas em data posterior à extinção do DNER, possui o DNIT legitimidade passiva ad causam exclusiva para responder à demanda, como na espécie em causa, em que a ação foi ajuizada em 19/08/2005, após, inclusive, a conclusão dos trabalhos de inventariança do DNER, efetivada em 08/08/2003, a teor do Decreto 4.803/2003. Precedentes. 3. Restou suficientemente comprovado nos autos, principalmente pelo Boletim de Ocorrência Policial, que o acidente que destruiu o veículo e causou a morte do marido da autora e genitor dos co-autores, ocorreu em estrada federal – BR 452, sendo provocado em razão de um “buraco na pista”. 4. No que tange à responsabilidade civil da Administração Pública, a princípio, de acordo com o art. 37, § 6º da Constituição Federal, é objetiva. Todavia, a responsabilidade por omissão estatal assenta-se no binômio falta do serviço - culpa da Administração. Em tais hipóteses, o dever de indenizar surge quando, no caso concreto, o Estado devia e podia agir, mas foi omisso, e dessa omissão tenha resultado dano a terceiro. De fato, não se pode dizer que o Estado é o autor do dano. Na verdade, sua omissão ou deficiência teria sido a condição do dano e não a sua causa, razão pela qual se aplica, para o caso em tela, a teoria da responsabilidade subjetiva, aferindo-se, também, a culpa da administração.

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5. De acordo com as fotografias juntadas aos autos, constata-se que o estado de conservação da pista não era o adequado, o que aumenta a dificuldade de qualquer condutor de veículo, mesmo dirigindo com atenção, de desviar de diversos buracos existentes no asfalto. Logo, não foi comprovada a existência de imprudência ou imperícia por parte do condutor. 6. Os danos materiais sofridos, correspondentes ao valor despendido com o funeral, foram comprovados com a apresentação de nota fiscal. 7. Em relação aos danos morais, a condenação do DNIT ao pagamento de indenização no valor de R$ 160.000,00 (cento e sessenta mil reais) para a esposa do falecido, à vista da iterativa jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, mostra-se excessiva. Em tal contexto, a minoração do valor da indenização para R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais) se mostra adequada a casos da espécie. 8. Adequada, ainda, a condenação do DNIT ao pagamento em favor de Geny Fernandes Queiroz, a título de pensão alimentícia, do valor mensal equivalente a um salário-mínimo mensal até que a referida autora complete 70 (setenta) anos de idade. 9. Corrige-se erro material na sentença que, ao fixar a verba honorária, consigna valor numérico diferente da quantia transcrita por extenso, de modo que se impõe a prevalência do montante mencionado por extenso. 10. Remessa oficial parcialmente provida, para reduzir a verba indenizatória em favor da autora Geny Fernandes Queiroz para R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), ajustando o valor da condenação à orientação contida na pacífica jurisprudência do STJ, bem como corrigir erro material contido na sentença. (TRF1. 5ª Turma. reexame necessário 200538030059179/MG, relator Desembargador Federal Fagundes de Deus)

Destarte, uma vez comprovados o nexo de causalidade e a

responsabilidade subjetiva do Estado, impõe-se o deferimento do pedido.

Do quantum indenizatório O autor postulou o pagamento de indenização por danos

materiais no montante de R$ 30.987,42 (trinta mil, novecentos e oitenta e sete reais e quarenta e dois centavos) relativamente ao dano emergente, a título de reparação do veículo de sua propriedade, bem como o valor de R$ 25.320,00 (vinte e cinco mil, trezentos e vinte reais), a título de lucros cessantes.

Consoante disposto no parágrafo único, do artigo 459, do CPC:

“quando o autor tiver formulado pedido certo, é vedado ao juiz proferir sentença ilíquida.”

Assim, passo a análise da prova constante dos autos em

relação à quantificação do dano emergente e do lucro cessante. A parte ré aduz às fls. 309 que os documentos de fls. 194-302

não podem ser considerados, pois são extemporâneos e não se coadunam com a verdade dos fatos.

Com razão a parte ré, pois a apresentação da prova

documental deve ser feita juntamente com a petição inicial (art. 396, CPC).

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Assim, não se tratando de documentos novos destinados a fazer prova de fatos ocorridos depois dos articulados, ou para contraposição a outros juntados aos autos, incabível a juntada de novos documentos (art. 397, CPC), razão pela qual não conheço dos documentos de fls. 194-302.

Dano emergente

Para a comprovação do dano emergente a parte autora

apresentou os seguintes orçamentos: I – para conserto da carreta: a) Facchini M. Paiano Ltda., no valor de R$ 16.804,00

(dezesseis mil, oitocentos e quatro reais) – fls. 30-31; b) Brasil Central Implementos Rod. Ltda., no valor de R$

17.275,80 (dezessete mil, duzentos e setenta e cinco reais e oitenta centavos) – fls. 32 e 32-v;

c) Rio Verde Implementos Rodoviários Ltda., no valor de R$

19.898,60 (dezenove mil, oitocentos e noventa e oito reais e sessenta centavos) – fls. 33-34;

II – para conserto do cavalo mecânico: a) Suécia Veículos Ltda. (mão de obra e peças), no valor total

de R$ 70.911,02 (setenta mil, novecentos e onze reais e dois centavos) - fls. 26-29; b) Da Lata (mão de obra) e Rodovel Acessórios (peças), no

valor total de R$ 14.183,42 (quatorze mil, cento e oitenta e três reais e quarenta e dois centavos) - fls. 35-36

c) Funicar (mão de obra) e José Diomar Mendes de Brito e Cia.

(peças) no valor total de R$ 14.985,64 (quatorze mil, novecentos e oitenta e cinco reais e sessenta e quatro centavos) - fls. 37-38.

Assim, arbitro a indenização pelos danos materiais para o

concerto da carreta na importância de R$ 16.804,00 (dezesseis mil, oitocentos e quatro reais), em conformidade com o orçamento de fls. 30-31, e para o concerto do cavalo mecânico no valor de R$ 14.183,42 (quatorze mil, cento e oitenta e três reais e quarenta e dois centavos), conforme orçamento de fls. 35-36, totalizando R$ 30.987,42 (trinta mil, novecentos e oitenta e sete reais e quarenta e dois centavos), sobre o qual deve incidir correção monetária desde a data do último orçamento (26/04/2006).

Lucros cessantes

Para a comprovação dos lucros cessantes a parte autora juntou

apenas o documento de fl. 39, supostamente emitido pela Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano, denominado controle empresa da

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remuneração, apresentando valores de fretes no montante total de R$ 52.502,8 (cinqüenta e dois mil, quinhentos e dois reais e oitenta centavos).

Tal documento, todavia, não é apto para a comprovação

pretendida. De fato, trata-se apenas de uma relação de valores sem

qualquer indicação de quem recebeu, ademais, não comprova sequer que representam transportes realizados pelo caminhão acidentado.

Assim, inviável extrair a ilação pretendida pela parte autora, de

que os valores ali expostos representavam a média da remuneração auferida pelo autor com a utilização do veiculo.

Portanto, não se desincumbiu a parte autora do ônus

probatório, devendo arcar com o respectivo ônus, conforme disposto no art. 333, I, CPC.

Seguro obrigatório

A parte ré postulou que do valor resultante de eventual

condenação deve ser descontado o valor recebido pela parte autora a título de seguro obrigatório.

De fato, conforme disposto na súmula 246, do Superior

Tribunal de Justiça “o valor do seguro obrigatório deve ser deduzido da indenização judicialmente fixada”.

Assim, do montante da condenação acima deve ser abatido

eventual valor recebido pela parte autora relativamente ao seguro obrigatório. Para efetivação do referido abatimento, este juízo oficiou à

entidade responsável pelo DPVAT e pelo resseguro para informar sobre eventual pagamento de indenização.

Todavia, conforme ofícios de fls. 323/480, não foi detectado

qualquer pagamento de seguro obrigatório relativo ao acidente objeto desta ação. Portanto, por ora, não há que se falar em dedução de

quaisquer valores, facultando-se, contudo, à parte ré demonstrar eventual pagamento na fase executiva da presente ação. III – DISPOSITIVO

Ante o exposto, julgo parcialmente procedentes os pedidos

formulados na inicial (art. 269, I, CPC) para condenar a parte ré ao pagamento de indenização por danos materiais (dano emergente) em favor do autor Ronaldo Rocha Costa , no valor de R$ 30.987,42 (trinta mil, novecentos e oitenta e sete reais e quarenta e dois centavos), sobre o qual deve incidir correção monetária desde a

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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL Proc. 2009.35.00.002083-0 - continuação da sentença

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data do último orçamento (26/04/2006) e juros de mora à taxa de 1% ao mês, desde a citação.

Em razão da sucumbência parcial, os honorários advocatícios,

ora fixados em R$ 3.000,00 (três mil reais), com fundamento nos arts. 20, § 4º, do CPC, ficam assim distribuídos, 60% em favor da parte autora e 40% em favor da parte ré, com compensação da parcela recíproca nos termos do art. 21 do CPC e da súmula 306/STJ. Dessa forma a diferença resultante, R$ 600,00 (seiscentos reais), deve ser paga pela parte ré.

Custas iniciais pela parte autora e custas finais pela parte ré. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Goiânia, 30 de setembro de 2010.

Roberto Carlos de Oliveira Juiz Federal Substituto

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