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SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVAVEIS IBAMA SERViÇO DE DEFESA AMBIENTAL - SOA . - - AREA D~ EDUCACAO AMBIENTAL. E DIVULGAÇAO MUSEU DA FLORA E FAUNA AQUÁT&~S DO ESTADO eo RIO DE JANEIRI , DISTRIBUICÃO E ABUNDÂNCIA DO PEIXE- REI XENOMELANIRIS brosiliensis eQUOY E GAIMARD,I824} NA BAíA DE SEPETIBA- RJ POR - & DIL.MA CONCEIÇAO DE SOUZA FRANCISCO GERSON ARAÚJO" * PESQUISADORA 00 IBAMA- RJ •• PROFESSOR DA U.F.R.R.J

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SECRETARIA DO MEIO AMBIENTEINSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE

•E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVAVEIS

IBAMA

SERViÇO DE DEFESA AMBIENTAL - SOA. - -AREA D~ EDUCACAO AMBIENTAL. E DIVULGAÇAO

MUSEU DA FLORA E FAUNA AQUÁT&~S DO ESTADO eo RIO DE JANEIRI

, DISTRIBUICÃO E ABUNDÂNCIA DO PEIXE- REIXENOMELANIRIS brosiliensis eQUOY E GAIMARD,I824}

NA BAíA DE SEPETIBA- RJ

POR

- &DIL.MA CONCEIÇAO DE SOUZA

FRANCISCO GERSON ARAÚJO"

* PESQUISADORA 00 IBAMA- RJ

•• PROFESSOR DA U.F.R.R.J

SECRETARIA DO MEIO AMBIENTEJose Lutzenbergcr

INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEISTania Maria Tonelli Munhoz

SUPERINTENDÊNCIA DO IBAMA DO ESTADO DO RIO DE JANEIROJosé Fernando Pedrosa

seRVIço DE DEFESA AMBIENTALAndrea Capelli Junior

Distribuição e Abundância do Peixe-Rei Xenomelaniris brasiliensis(Quoy e GAimard, 1824) na BAtA DE SEPETIBA, SOUZA, D. C. * &ARAt1JO F. G. ** (*) INSTITUTO BRASILEIRO DO tfEIO AMBIEi.-ITEE DOSRECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS/IBAl1A-RJ (**) UNIVERSIDADE FEDERALRURAL DO RIO DE JANEIRO (UFRRJ).

RESUMO

Foram feitas capturas mensais de arrasto de praiaentre junho de 1983 e julho de 1985 em catorze estações fixas,da praia do Sai (Mangaratiba) ati a Barra de Guaratiba, onde213 amostras foram realizadas e 7770 indivíduos capturados.

Atraves da distribuição sazonal dos dois ciclosanuais, observou-se que o aparecimento da maioria destes peixesocorre na primavera com 35 mm de CT, chegando no outono a 70 mmde CT. A partir deste tamanho os indivíduos tendem a sair daárea, dando o lugar para. novos "recruta.s" que aparecem com 30-40 mm CT e no inverno apresentam 100-110 mm CT.

ABSTRACT

Capture surveys with beach seine were accom~ishedmonthly between June 1983 and Ju1y 1985 in fourteen fixedstations, from Praia do Sai (Mangaratiba) to Barra de Guaratiba(Rio de Janeiro), where 213 samples were accomp1ished and 7770individuaIs caught.

Through the seasona1 distribution of lhe two yearIycicIes, it was observed that the appearence of most of the"Xenomelaniris brasiliensis" occurs ins Spring with 3Smm of TL,reaching 70mm in Autumn. From this size on, the individuaIstend to 1eave the area, giving place to new "recruits" thatappear with 30 to 40mm of TL and in winter present 100-110mffi.

INTRODUÇÃO

A família Atherinidae apresenta uma ampla distribuição nos mares e rios, com um grande número de genero (46) eespec í e (200) (Nelson, 1976).

O Peixe-Rei (Xenomelaniris brasiliensis) e uma e~pecie de pequeno porte, que alcança um comprimento total mâximo de 16 em, e distribui-se da Venezuela ate o sul do Brasil(Cervigon, 1966; Figueredo e Menezes, 1978), sendo comum embaías e lagoas costeiras.

A Baía de Sepetiba, na região sudeste do Estadodo Rio de Janeiro, compreende uma area de cerca de 470 km2, limitada aO norte pelo continente e ao sul pela Restinea daMarambaia, comunica-se com o mar a leste através de um estreito canal na Barra de Guaratiba e a oeste com ampla comunicação como oceano. Apesar de atingir profundidade entorno de 30m nasprofundidades da Ilha de Itacuruçã, possui cerca de 40% de suaarea com profundidade inferior a Sm.

Com o desenvolvimento, na última década, do póloindustrial de Santa Cruz aO sul da cidade do Rio de Janeiro, aBaia de Sepetiba tornou-se o principal corpo receptor dos efluentes industriais da area. Tal fato tem aumentado substancialmente o nível de poluição de suas ~guas (Pfeiffer et alIí., 1984)alterando desta forma o ecossistema.

Apesar da grande abundância na area e de sua conseqUente importância no ecossistema, esta espécie não tem sidoaté então, estudada para a região; em outros locais alguns tr~balhos tem sido deser.volvidos sobre esta espécie. Carvalho, J.P. (1953), através de coletas realizadas na praia de Cananéia-SP, estudou o seu hábito alimentar. Ramos - Porto eVasconce10s(1978), fizeram um estudo da disponi bilidade de peixe-rei comoalimento para os peixes contropomideos na região de Itamaracã-Pé; Sazima e Uieda - (1980), estudaram o comportamento lepid~fãgico de Oligoplites saurus sobre o Xenomelaniris; Bemvenuti(1984), estudou a bioecología da espécie na Região EstuMialdaLagoa dos Patos, RS.

O presente estudo objetiva a descrição dos aspe~

tos do ciclo de vida do Xenomelaniris brasiliensis na Bala deSepetiba, atrav~s da análise da abundância e distribuiçã. dosjuvenis e subadu1tos. Também ê feita uma análise pre11minarde crescimento atraves da distribuiçao de freqUências de comprimento.

'REA DE ESTUDO

A Baia de Sepetiba localiza-se 'entre os mun i cÉp i esde Mangaratiba, ao su1t e Rio de Janeiro (Barra de Guaratíba),ao norte. Situa-se entre as latitudes 229 :'4' e 239 04' S e as10ng1tudes 439 34' e 449 00' W.

A área de estudo compreende a zona litoral da pa~te centinental da baía, da margem até a profundidade aprox1m~d a de l,Sm, numa extensão de cerca de 60 Km , desde Praia do Sai(Mangaratiba), região mais despretegida da baía e cem mais ampia comunicaçÃo com o oceano, até a Harra de Guaratiba, ao Iado do estreito canal de ligação da baía com o mar.

Na escolha das estações foram consideradas, alemda acessibilidade ã área, a diversidade de locais, como praiasarenosas, lamosas, costões rochosos, manguezais e embocadurade riachos. Foram estabe1ec1das 14 estaçees fixas ao longo damargem continental (Fig. 1) seguindo esta ordem: (1) Praia doSaí, (2) Muriqui, (3) Praia de Itacuruçá, (4) Rio ltacuruçá,( 5 ) Coroa Grande, (6) I 1h a da Ma d e ira, (7) R i o 11ha da Madeira,(8) Praia de Sepetiba, (9) Enseada das Garças, (10) Ponta Grossa, (11) Pedra de Guaratiba, (12) Sitio, (13) Mangueza1, (14)Barra de Guaratiba.

METODOLOGIA

D~ ju~ho de 1983 ã julho de 1985, foram realizadtlS um total de 213 amostras distribuídas entre as 14 estaçoesfixas (tabela fi. Em cada estaçÃo foram efetuadas 2 arrastosparalelos i ~raia, sendo um em sentido centrirío ao outro, p~dronizando-se o conjunte cemo um arrasto.

Foi utilizado uma rede de calão de 10m de comprimento, com urna malha de 7mm e 3,5m de altura.

Imediatamente apos as coletas es peixes foram fixados em formo] a 10%. Posteriormente, em laboratêrio, forarr.identificados, contados, pesados e medidos, desde a ponta dofocinho ã extremidade posterior da nadadeira caudal (cemprime~to total - CT - em milímetros).

o cicIe de vida foi interpretado através da abundância relativa, distribuição temporal e espacial e, ainda, p~

Ia análise da distribuiçãe temporal de freqUências dos compro!mentos.

Atribui-se como índice de abundância relativa, aonúmero ou pese médio dos indivíduos capturados pelo tetal dearrasto durante o mês tCPUE).

RESULTADOS

a) Distribuição espacial e te~poral

A abundância foi elevada (acima de 100 indivíduos/arrasto) em apenas duas estações: a primeira (estação Rio Itacuruçã), na zona mais ao sul, junto a embocadura de um corrego,e a segunda (estação Manguezal), próxima ã ligação ao norte daBaía com o oceano, onde predomina vegetação de mangue.

Em relaçao a freqUência de ocorrênc~a, esta varia-çao foi menor. Apenas a estação Rio l111a da Madeira, apresen-

tou freqUência de ocorrência abaixo de 507..

A distribuiç~o temporal apre~entou-se muito vari~da, não observando-se um padrão de sazonal idade na ocorrênciadeste grupo de indivíduos.

A Anilise espacial e sazonal do numero e -peso deindivíduos, indicou que as maiores abundâncias, localizadas nasestaç~es de Manguezal e Rio Itacuruçi foram constantes ao lo~go das estaç~es do ano, .em ciclos sazonais de abundâncias. Asmaiores abundâncias nas proximidades da estaçÃo Rio Itacuruçi,-Coroa Grande e Ilha da Madeira, indica que esta area provav~!mente e a de maior concentração desta espécie.b) Tamanho

A distribuiçao temporal de freqUências de compr~

mento, foi feita com base nos deis ciclos anua1S estudados.

Na análise dos deis ciclos anuais observou-seaparecimento dos peixes, na primavera, com CT de 70mm (primeirociclo anual - inverno/~3 ã inverno/~4).

A part1r dai estes indivrduos nao sao maistrados na área de e!tudo.

regi.!

o aparecimento de outro grupo ce peixes com CT30-40mm se verificou no inverno/84 e verÃo/8S. O acompanhamentodesta classe indica que no inverno/8S estes indivíduos estão cemCT de lOO-llOmm (seg~ndo ciclo anual-inverno/84 ã inverno/8S).

Atraves da distribuiçÃo mensais de freqUência decomprimento observou-se que a amplitude de t~manho doscapturados foi de IOmm de CT até 140mm de CT.

peixes

Individuos com CT de ~proximadamente 30mm ocorremao longo de todos os meses do ano.

Individuos menores (Cl ;30mm) foram registradosem maior abundância nas capturas de setembro ã novembro de 1983e o acompanhamento desta classe modal indica que este grupo pe~maneceu na área até setembro de 1984, quando apresentam comprimento total de aproximadamente IOOmm.

Um novo longo recrutamento ~ observade de fevereiro a junho de 1984. pe~manecendo este grupo modal até dezembrode 19b4, quando apresentam CT de aproximadamente 90mm.

Um terceiro recrutamento nestes dois ciclos anuaisestudados foi verificado em novembre/dezembro de 84; em julhodeste ano, este grupo moda1 apresentou CTlOOmm.

de aproximadamente

DISCUSSÃO

A presença de Xenomelaniris brasiliensis em todaextensao da Baía de Sepetiba durante todo o período de estudo,confirma o fato desta espécie ser comum em áreas rasas de ba í as ,estuários e zonas costeiras adjacentes conferme Bemvenuti (19~4).

Não constatou-se evidencias para as mais acentua

da~ abundâncias nas estaçoes de Rio Itacuruçá e Manguezal; ~proximidade destas estações de zonas de manguezais poderá indicar que a vegetação mangue atua potencialmente corno substr~t~ de fixação para os ovos, que aderem-se as vegetaçoes atravês de seus filamento~, característica da família Atherinídae,conforme sugestÃo de Davis & Loudex (1969).

A existência de uma única classe moda1 indica umperLe de de desova mais acentuado na pr í mav era r ê o , com estes iE.dívíduos ocupando a área até o mesmo período do ano seguinte,quando cedem lugar para o aparecimento e ocupação da área peles novos recrutas que apareceram no inverno/84 e verão/8~.

Conforme foi observado por Bemvenuti (1984) é caracteristica da famíl1a Atherin1dae, manter desovas parcel~das, fato este comprovado neste trabalho através da distribuição sazonal e mensal de freqUências de comprimento no qual conc1uimos haver des~vas ao longo de todo o ano, demonstraao p~1a ocorrencia de indivíduos com comprimento de aproximadameE.te 30mm, especialmente na primavera, verio e inverno.

A partir do CT - lOOmm, os individuos nao sio maisregistrado!, seguindo um deslocamento para locais de maiorprofundidade, desocupando a área para nova cla~se modal de reCl-U tas.

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tABELA 1 - AIIASTO DE PRAIA (AKOSTRACENS) POR ESTAÇÃO DE COLETAS NA BAlA DE SEP!TIBAno p.~íodo de junho de 1983 • julho de 1985

AMO • DATA. 1. II

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LITERATURA CITADA

Bemvenuti, M.A. - 1984 - Abundincia, distribuiçio e hibito alimentares de peixe-rei {Athenerinidae}na Regiio estuaria1 da Lagoa dos Patos, RS, Brasil. Tese de me s t rado .Curso de P6s-Graduaçio em Oceanor.r,!.fia Bio16gica. Funda~io Universidadedo Rio Grande - RS.1 - 93 pp.

Carvalho, J.P. - 1953 - Alimentação de Xenome1aniris brasiliensis(Quoy & Gaimard) (Pisces - mugi1oidei-Atilerinidae), Bolm. Inst. Oc eanogr .,S.P. IV (1 e 2): 127 144.

Cervigon, F. - 1966 - Los peces marinos de Venezue1a. Fund.La Salle Cienc. Nat. 2: 499 - 542 pp.Caracas.

Davis, J.R. and Louc1e,D.E.1969 - Life history a nd e cology ofMenidia extensa. Trans. Am. Fish 500

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Sazima, I e Uieda, V.S. - 1980 - Comportamento LepidofÃgico deOligoplites saurus e registro de lePido f ag i a em O. palam e t a e O. saliens (pe~ces, carangidae) Revista Brasileira deBiologia-40 (4): 701-710.

Impresso na Reprográfia do IBAMA no Estado do Rio de Janeiro