distribuição de espécies e perfil fenogenotípico da resistência

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE VETERINÁRIA DOUTORADO EM MEDICINA VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CLÍNICA E REPRODUÇÃO ANIMAL IGOR MANSUR MUNIZ DISTRIBUIÇÃO DE ESPÉCIES E PERFIL FENOGENOTÍPICO DA RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA EM Staphylococcus sp. ISOLADOS DA CAVIDADE ORAL DE GATOS NITERÓI 2012

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Page 1: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE VETERINÁRIA

DOUTORADO EM MEDICINA VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CLÍNICA E REPRODUÇÃO ANIMAL

IGOR MANSUR MUNIZ DISTRIBUIÇÃO DE ESPÉCIES E PERFIL FENOGENOTÍPICO DA RESISTÊNCIA

ANTIMICROBIANA EM Staphylococcus sp. ISOLADOS DA CAVIDADE ORAL DE GATOS

NITERÓI 2012

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IGOR MANSUR MUNIZ

DISTRIBUIÇÃO DE ESPÉCIES E PERFIL FENOGENOTÍPICO DA RESISTÊNCIA

ANTIMICROBIANA EM Staphylococcus sp. ISOLADOS DA CAVIDADE ORAL DE GATOS

Tese apresentada ao Programa de Pós Graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Doutor. Área de concentração: Clínica e Reprodução Animal.

ORIENTADOR: PROF. DR. WALTER LILENBAUM

NITERÓI 2012

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IGOR MANSUR MUNIZ

DISTRIBUIÇÃO DE ESPÉCIES E PERFIL FENOGENOTÍPICO DA RESISTÊNCIA

ANTIMICROBIANA EM Staphylococcus sp. ISOLADOS DA CAVIDADE ORAL DE GATOS

Tese apresentada ao Programa de Pós Graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Doutor. Área de concentração: Clínica e Reprodução Animal.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________ Prof. Dr. Walter Lilenbaum (UFF) – presidente

_____________________________________________________

Profa. Dra. Miliane Moreira (UFRRJ)

_____________________________________________________ Profa. Dra. Marcia Giambiagi de Marval (UFRJ)

_____________________________________________________

Profa. Dra. Shana de Mattos de Oliveira Coelho (UFRRJ)

_____________________________________________________

Profa. Dra. Ana Maria Ferreira (UFF)

NITERÓI

2012

Page 4: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente ao meu orientador, professor Walter Lilenbaum, por ter me concedido a oportunidade de realizar meu sonho, e por ter acreditado na minha capacidade. Ao laboratório de microbiologia pelo apoio financeiro para realização da pesquisa. Ao grande mestre, professor Alcides Pissinatti, pelo seu apoio incondicional e estímulo na realização deste curso. Ao meu amigo Bruno Penna, por ser essa pessoa tão generosa, ter um coração tão grande que mal cabe no peito, apesar de ainda nem me conhecer teve a grandeza de ofertar sua ajuda. À professora Renata Rabello, por passar sua experiência, mostrar dicas, e empregar seus conhecimentos para o desenvolvimento da minha pesquisa. Ao meu ex-aluno e hoje colega da pós- graduação Wiliam Mendes, pela ajuda concedida. A todo o grupo “STAPHYLO”. À Sabrina Alves Thomé pela grande ajuda, fazendo com que minha pesquisa desse um grande avanço. À Eliana Fernandes de Oliveira, por sempre estar pronta a preparar o material do estudo. À Luciana Fonseca, por estar sempre pronta a nos servir na compra de materias. Aos meus companheiros de trabalho, Vander da Silva e Ailton da Silva, por terem me apoiado constantemente na organização do material, sem essa ajuda seria impossível prosseguir com o trabalho. Ao técnico Marcus Vieira de Souza por ter me apoiado quando possível na bancada. Nem tenho palavras para agradecer as minhas queridas alunas Tamara de Souza Fernandes, Sara Rocha Pereira, Jéssica Pecene de Oliveira e Natália Nunes Costa, que me acompanharam incansavelmente durante a realização das provas bioquímicas, não se importando com dia ou hora. Posso dizer sem medo que sem a ajuda delas seria impossível classificar as amostras, pelo número infinito de tubos, repiques e semeaduras executados.

Page 5: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

Às minhas alunas Gessi Iara Rabello e Tatiana Mendes que me auxiliaram na coleta das amostras. A toda equipe do laboratório de microbiologia pelo apoio, pelo incentivo e pelas agradáveis horas de lazer que passamos juntos. Ao meu filho por saber compreender as minhas ausências. A Universidade Federal Fluminense, a qual foi o meu berço profissional. Ao Curso de Pós- Graduação da Medicina Veterinária. A todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho. Agradeço também, àqueles que não acreditaram ou não deram apoio, porque serviram como fonte de energia para que a cada dia eu tivesse forças para continuar.

Page 6: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

SUMÁRIO

Lista de tabelas. p. 7

Lista de figuras. p. 8

Resumo. p. 9

Abstract. p. 10

1. INTRODUÇÃO. p. 11

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA. p. 14

2.1. O GÊNERO Staphylococcus sp. p. 14

2.1.1 Características gerais. p. 14

2.1.2 Fatores de virulência. p. 15

2.1.3 Enzimas extracelulares. p. 16

2.1.4 Exotoxinas. p. 17

2.1.5 Epidemiologia. p. 19

2.1.6 Fisiopatogenia. p. 21

2.2. ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DE Staphylococcus sp. p. 22

2.3. RESISTÊNCIA AOS AGENTES ANTIMICROBIANOS. p. 25

2.4. MECANISMOS DE RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA. p. 27

2.5. Staphylococcus COAGULASE-NEGATIVOS. p. 31

2.6. Staphylococcus sp. RESISTENTES A METICILINA (MRS). p. 33

2.7. AS MORDEDURAS CAUSADAS POR ANIMAIS DE COMPANHIA. p. 39

3. OBJETIVOS. p. 50

3.1. OBJETIVO GERAL. p. 50

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS. p. 50

4. MATERIAL E MÉTODOS. p. 51

4.1. LOCAL DO ESTUDO. p. 51

4.2. ANIMAIS ESTUDADOS. p. 51

4.3. COLETA DAS AMOSTRAS. p. 52

4.4. PROCESSAMENTO BACTERIOLÓGICO. p. 52

Page 7: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

4.4.1. Cultura bacteriana. p. 52

4.4.2. Identificação bacteriana. p. 53

4.4.2.1 Teste da coagulase. p. 54

4.4.2.2 Teste da catalase. p. 54

4.4.2.3 Teste da oxidação e fermentação da glicose. p. 54

4.4.2.4 Produção de acetoína. p. 55

4.4.2.5 Redução de nitrato. p. 55

4.4.2.6 Fermentação de carboidratos. p. 55

4.4.2.7 Descarboxilação da arginina e ornitina. p. 56

4.4.2.8 Produção de fosfatase. p. 56

4.4.2.9 Hidrólise da ureia. p. 56

4.4.2.10 Teste PYR. p. 57

4.4.2.11 Teste da resistência a novobiocina, polimixina e

desferroxamina.p. 57

4.4.3. Teste de susceptibilidade aos antimicrobianos (TSA). p. 57

4.5. DETECÇÃO DO GENE mecA p.58

4.5.1. Liberação do DNA p.59

4.5.2. Reação em cadeia da polimerase p.59

5. ANÁLISE DE DADOS. P.60

6. RESULTADOS. p. 61

7. DISCUSSÃO. p. 71

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS. p. 79

9. OBRAS CITADAS. p. 80

10. APÊNDICE. p. 96

10.1 APÊNDICE I Termo de consentimento livre e esclarecido. p. 96

10.2 APÊNDICE II Artigo aceito para publicação. p.97

Page 8: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Distribuição de espécies de Staphylococcus sp. obtidas de amostras

da cavidade oral de 200 gatos da cidade de Teresópolis, RJ. p. 62

TABELA 2 - Perfil de resistência das 212 amostras de Staphylococcus sp. isoladas

da cavidade oral de gatos frente à classe e aos 16 antimicrobianos

testados. p. 63

TABELA 3 - Perfil de resistência das 212 amostras de Staphylococcus sp. isoladas

da cavidade oral de gatos em relação às dez classes de

antimicrobianos testadas. p. 64

TABELA 4 - Número de amostras resistentes dentre as 190 amostras de

Staphylococcus coagulase-negativas (CoNS) e 22 coagulase-

positivas (CoPS) isoladas da cavidade oral de gatos em relação à

classe de antimicrobianos e as 16 drogas testadas. p. 66

TABELA 5 - Número de amostras resistentes dentre as 190 amostras de

Staphylococcus coagulase-negativas (CoNS) e 22 coagulase-

positivas (CoPS) isoladas da cavidade oral de gatos em relação às

espécies e á 16 antimicrobianos testados. p. 68

TABELA 6 - Resultado dos testes moleculares de 30 amostras fenotipicamente suspeitas submetidas à pesquisa do gene mecA. p.70

Page 9: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

LISTA DE FIGURAS QUADRO 1: Gêneros comuns de bactérias aeróbicas e anaeróbicas isoladas de

feridas por mordeduras de gatos. p. 48

FIGURA 1: Coleta de amostra com swab estéril na região sublingual do gato. p.52 FIGURA 2: Padrão de resistência das 212 amostras de Staphylococcus sp. de

acordo com a quantidade de drogas, frente aos 16 antimicrobianos avaliados. p. 64

FIGURA 3: Eletroforese de produdos obtidos da PCR para pesquisa do gene

mecA de cepas de Staphylococcus sp. isoladas da cavidade oral de gatos em gel de agarose 1%. p. 69

Page 10: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

RESUMO

Membros do gênero Staphylococcus pertencem à família Staphylococcaceae e determinam infecções piogênicas com múltiplas apresentações clínicas. O aparecimento de cepas resistentes aos antimicrobianos representa um problema cosmopolita. Devido à estreita convivência com que o homem compartilha atualmente com seus animais de companhia, os acidentes envolvendo ataques desses animais aos humanos se tornou frequente. Logo, faz-se necessário verificar as espécies mais frequentemente encontradas na microbiota bucal dos animais e seu perfil de resistência, para orientação terapêutica em casos desses acidentes em humanos. O objetivo deste estudo foi identificar a presença de Staphylococcus na cavidade oral de gatos, verificando as espécies envolvidas bem como sua suscetibilidade aos antimicrobianos, em particular a resistência à meticilina, com vistas ao seu papel em Saúde Pública. As amostras foram colhidas da região sublingual de 200 gatos clinicamente saudáveis e processadas por métodos bacteriológicos padronizados, identificadas por provas bioquímicas e testadas quanto à susceptibilidade a 16 antimicrobianos. Das 212 amostras bacterianas obtidas, as espécies coagulase-negativas foram as mais frequentemente encontradas, tendo sido isoladas em 89,6% das amostras, enquanto as espécies coagulase-positivas foram obtidas em 10,4% delas. Dentre as espécies coagulase-negativas, a mais frequentemente isolada foi Staphylococcus xylosus (50,9%) seguida por Staphylococcus felis (27,4%), Staphylococcus simulans (6,1%), e Staphylococcus sciuri (5,2%). Já as espécies coagulase-positivas se distribuíram em Staphylococcus aureus (4,7%), e grupo intermedius (SIG) (5,7%). Quanto à resistência aos antimicrobianos, 39,1% das amostras se mostraram multirresistentes. Dentre os antimicrobianos testados no presente estudo a rifampicina foi a que apresentou melhores resultados, com 100% das amostras sensíveis. Por outro lado, altos índices de resistência foram observados para a penicilina e tetraciclina (58%;57,5%). Foram ainda encontradas 30 amostras classificadas fenotipicamente resistentes a meticilina (MRS) e destas, em 26 foi confirmada a presença do gene mecA pela realização da PCR.

Palavras - chave: Staphylococcus, antimicrobianos, resistência, gatos

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ABSTRACT

Members of the genus Staphylococcus belong to the Staphylococcaceae family and determine pyogenic infections with multiple clinical presentations. The emergence of strains resistant to antimicrobials represents a cosmopolitan problem. Due to the close interaction with the man currently share with their pets, accidents involving these animals to humans attacks became frequent. Therefore, it is necessary to verify the species most commonly found in the oral microbiota of animals and their resistance profile for therapeutic guidance in cases of such accidents in humans. The aim of this study was to identify the presence of Staphylococcus in the oral cavity of cats, checking the species involved and their antimicrobial susceptibility, particularly methicillin resistance, with a view to their role in public health. Samples were taken from the sublingual area of 200 clinically healthy cats, and processed by standard bacteriological methods, identified by biochemical and tested for susceptibility to 16 antibiotics. Of the 212 bacterial samples obtained, the coagulase-negative species were most often found and have been isolated in 89.6% of samples, while coagulase-positive species were obtained in 10.4% of them. Among the coagulase-negative species, was the most frequently isolated Staphylococcus xylosus (50.9%) followed by Staphylococcus felis (27.4%), Staphylococcus simulans (6.1%), and Staphylococcus sciuri (5.2%). Already coagulase-positive species were distributed in Staphylococcus aureus (4.7%), and intermedius group (SIG) (5.7%). As for antimicrobial resistance, 39.1% of the samples showed multiresistant. Among the antimicrobials tested in this study rifampicin showed the best results, with 100% of sensitive strains. Moreover, high levels of resistance were observed for penicillin and tetracycline (58%, 57.5%). We also found 30 samples classified phenotypically resistant to methicillin (MRS) and of these, 26 were confirmed the presence of the mecA gene by PCR. . Keywords: Staphylococcus, resistance, antimicrobial agents, cats,

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1. INTRODUÇÃO

Os estafilococos são conhecidos com esta denominação desde Ogston

(1882) devido à disposição em cachos de uva com que se apresentam. Membros

desse gênero pertencem à família Staphylococcaceae, e são Gram-positivos.

Relatos identificando os estafilococos causando infecções piogênicas com múltiplas

apresentações clínicas já foram descritos em diversos países, sendo um

microrganismo cosmopolita, isolado pela primeira vez por Rosembach (1884) apartir

de ferimentos humanos supurados. Todas as espécies animais são susceptíveis a

infecções causadas por estafilococos, independentemente do sexo, raça ou idade do

hospedeiro, além da estação do ano e clima. Esses microrganismos são residentes

da microbiota da pele e das mucosas de humanos, mamíferos e aves. Apesar disso,

são microrganismos oportunistas e estão rotineiramente envolvidos numa grande

variedade de doenças.

A patogenicidade dos estafilococos está associada com uma série de

enzimas e toxinas que estes microrganismos podem produzir.

Podem ser agentes de pneumonias, piodermites, furunculoses, abscessos,

conjuntivites, otites e septicemia. O potencial zoonótico dos estafilococos vem sendo

amplamente estudado e é relatada a transmissão entre animais de estimação e seus

proprietários. Tem ocorrido uma seleção de patógenos oportunistas resistentes a

antibióticos, com aumento da virulência originando doenças resistentes à terapia

usual.

Microrganismos multirresistentes a antibióticos são conhecidos desde a

década de 1960, e atualmente, representam um grande problema em Saúde

Pública. No início da década de 1940, com a introdução da penicilina, a letalidade

por infecções bacterianas diminuiu muito, mas em 1942 já haviam sido relatadas

cepas resistentes à penicilina. Muitos destes microrganismos têm padrões de

susceptibilidade aos antimicrobianos bastante variáveis, principalmente em função

da troca de material genético e em especial pela transferência de plasmídeos que

podem conter genes que conferem resistência a diferentes antimicrobianos às

bactérias. Desde a introdução das drogas antimicrobianas na prática da medicina

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veterinária moderna, os microrganismos evoluíram em resposta a essa pressão por

meio de resistência. O uso indiscriminado de drogas antimicrobianas,

frequentemente prescritas por clínicos de pequenos animais sem a prévia realização

de cultura bacteriana e testes de suscetibilidade aos antimicrobianos (TSA), também

tem contribuído para o aparecimento de cepas multiresistentes. Dentre estes,

Staphylococcus sp. vem se destacando pelo aumento de sua frequência como

causa de infecções nosocomiais, representando crescente problemática em

unidades de saúde e em comunidades do mundo inteiro.

Staphylococcus sp. resistentes a meticilina (MRS-methicillin resistant

staphylococci) são importantes causas de infecções nosocomiais, e sua frequência

tem aumentado e se tornando significativa em animais de companhia. Existem

diversos estudos recentes descrevendo amostras indistinguíveis de MRS em

humanos e animais, suspeitando-se da transmissão dessas cepas entre os humanos

e seus animais de companhia.

O dinamismo da transmissão de estafilococos interespécies ainda é pouco

estudado. Os animais de companhia têm sido colonizados e infectados com MRS e

têm atuado como reservatório de infecções para humanos. Técnicas moleculares

avançadas têm sido realizadas no intuito de caracterizar a origem dessas cepas.

Desde o fim do século XX, se reconhece a importância dos animais de

estimação para melhorar não só a qualidade de vida, como também a saúde física e

mental dos humanos. Historicamente, a convivência entre os humanos e os animais

tem aumentado consideravelmente, estreitando sobremaneira a relação de contato

entre essas duas espécies principalmente em relação aos animais ditos de

companhia como o cão e o gato. Esse íntimo contato tem facilitado o aparecimento

de injúrias ocorridas entre as espécies. Dados estatísticos revelam que a cada ano,

mais de 330.000 pessoas são admitidas em serviços de saúde, vitimas de

mordedura de cão, dados que na realidade podem ser bem mais vultuosos, já que

os pequenos acidentes não são computados. No caso de gatos, um estudo nos

Estados Unidos revelou que 300.000 pessoas procuram os serviços de saúde a

cada ano, tendo sido mordidas por esses felinos.

No Brasil, segundo dados oficiais do SUS (Sistema Único de Saúde), de 2000

a 2007 ocorreram 4.520 internações por mordeduras de gatos e outros mamíferos

(pequenos roedores) sem contar os cães e de 2008 á 2010 ocorreram 1.022

Page 14: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

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internações em consequência desses acidentes, gerando alto custo para Saúde

Pública.

Como os acidentes são muito frequentes, e que no caso das mordeduras de

gatos tem um grau de infecção elevado, o tratamento efetivo em substituição ao

empírico, evita as internações, diminuindo os gastos com a saúde pública. Conhecer

a microbiota da cavidade oral de gatos permite utilizar antimicrobianos mais

adequados nos casos de ferimentos causados por eles. As injúrias podem ocorrer

na população em geral e em grupos de riscos, como crianças com menos de dez

anos de idade, médicos veterinários e seus assistentes, e todos que lidam

diretamente com esses animais.

Page 15: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. O GÊNERO Staphylococcus

2.1.1. Características gerais

Staphylococcus são microrganismos da família Staphylococcaceae,

possuem metabolismo anaeróbio facultativo, são imóveis e catalase-positivos.

São mesófilos, podendo crescer em temperaturas entre 18 a 40ºC, têm

tamanhos variados de 0,5 a 1,5µm de diâmetro, sendo cocos Gram positivos

(BIBERSTEIN; HIRSH, 2003; COX, 2006). O nome Staphylococcus provém do

grego staphylé, que significa “cacho de uvas”, referindo-se as suas células que

crescem em grumos e se dividem em vários planos para formar cachos

irregulares seguindo um padrão que se assemelha a um cacho de uvas

(BIBERSTEIN; JANG; HIRSH, 1984). Essa configuração em cachos ajuda a

distinguir os estafilococos dos estreptococos, que por sua vez são

discretamente oblongos e normalmente aparecem em cadeias por se dividirem

em apenas um plano (TODAR, 2008). Dentre os microrganismos que não

formam esporos, Staphylococcus são dos mais resistentes à dessecação e aos

agentes desinfetantes (COX, 2006). As espécies não formam gás a partir de

carboidratos (BANNERMAN, 2003).

Uma importante modificação na taxonomia do gênero foi adotada e uma

nova espécie foi descrita, Staphylococcus pseudintermedius (DEVRIESE et al.,

2005). A espécie Staphylococcus intermedius, quando descoberta, foi de

extrema utilidade por possibilitar a separação desses estafilococos de

Staphylococcus aureus, evitando assim um importante equivoco

Page 16: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

15

epidemiológico, já que ambas são coagulase-positivas. Posteriormente, Van

Hoovels et al. (2006) conseguiram identificar uma estirpe desta nova espécie, e

pesquisadores japoneses relataram S. pseudintermedius resistentes à

meticilina em um hospital veterinário (SASAKI et al., 2007a). Uma investigação

exaustiva de 117 estirpes do mesmo grupo (SASAKI et al., 2007b) confirmou

esta observação pela análise filogenética das sequências sodA ou hsp60. Em

torno de 40 espécies do gênero Staphylococcus foram identificadas, além de

dez que contém subdivisões com subespécies (HAUSSCHILD; STEPANOVIC,

2008). Utilizando técnicas moleculares, tem sido demonstrado que as amostras

fenotipicamente identificados como S. intermedius, consistem em três espécies

distintas: S. intermedius, S. pseudintermedius e S. delphini, os quais, juntos,

representam o grupo intermedius (SIG) (BANNOEHR et al., 2009).

2.1.2. Fatores de virulência

A virulência das cepas está diretamente relacionada à presença de

cápsula, toxinas e enzimas extracelulares que produzem uma grande

variedade de efeitos biológicos no hospedeiro após a invasão tecidual. Os

fatores de virulência são mediados por plasmídeos ou fagos, e a maioria está

codificado no genoma dos estafilococos (TRABULSI; ALTHERTUM, 2008).

Dentre os principais mecanismos de agressão deste gênero estão à

produção e liberação de enzimas extracelulares, adesinas, cápsula e toxinas,

tais como lipases, estearases, desoxirribonucleases, hialuronidase, fosfolipase,

catalase, além da estafiloquinase, um potente ativador de plasminogênio, e

leucocidinas, que lisam leucócitos e macrófagos (KONEMAN, 2008). Algumas

espécies mais virulentas produzem ainda hemolisinas, que interferem na

resposta quimiotáxica das células de defesa, e coagulase, que além de ser um

dos mais importantes fatores de agressão dos estafilococos, pode ser utilizada

para a diferenciação e identificação de espécies patogênicas (BIBERSTEIN;

HIRSH, 2003).

Os polissacarídeos capsulares, também chamados de

exopolissacarídios, podem impedir a fagocitose do microrganismo por células

polimorfonucleares. Esse material pode promover a aderência dos

Page 17: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

16

microrganismos as células do hospedeiro e a próteses. A cápsula contribui

para patogenicidade e virulência dos estafilococos. As paredes celulares dos

estafilococos contêm peptideoglicanos que se assemelham aos encontrados

em outras bactérias Gram-positivas, além de ácidos teicóicos, que atuam na

aderência das bactérias Gram-positivas as mucosas. A parede celular dos S.

aureus contém ainda uma proteína, denominada proteína A, que atua como

fator de virulência ao interferir na opsonização e consequente fagocitose dos

microrganismos pelas células polimorfonucleares e ao ativar o complemento

desencadeando repostas de hipersensibilidade do tipo imediato e do tipo tardio

(KONEMAN, 2008). Um fator importante é a presença do biofilme que protege

os Staphylococcus contra a ação dos antibióticos administrado para o

tratamento das infecções e também contra o sistema imune do paciente. O

biofilme consiste em camadas de aglomerados de células incorporado a matriz

extracelular polissacarídica, chamada adesina polissacarídica intercelular (PIA).

A síntese da PIA é mediada por produtos do gene cromossomial ica. A

presença do biofilme facilita o desenvolvimento das infecções pelo

comprometimento do sistema imune do paciente e contribui para a falência da

antibioticoterapia que pode resultar em infecções recorrentes e a emergência

de patógenos multirresistentes (OLIVEIRA; CUNHA, 2010).

2.1.3. Enzimas extracelulares

Os estafilococos produzem diversas enzimas que contribuem para sua

virulência. A produção de catalase por esses microrganismos pode atuar ao

inativar o peróxido de hidrogênio e radicais livres tóxicos formados pelo sistema

da mieloperoxidase no interior das células fagocíticas, após a fagocitose dos

microrganismos. O fator de agregação, um material fixado a célula que tem a

capacidade de ligar-se ao fibrinogênio, é responsável pela ligação da bactéria

tanto à fibrina quanto ao fibrinogênio (TRABULSI; ALTHERTUM, 2008).

A coagulase, que pode existir na forma livre no meio ou numa forma

ligada a célula, liga-se à protrombina e torna-se enzimaticamente ativa,

catalisando a transformação do fibrinogênio em fibrina. Essa atividade pode

atuar para recobrir as células bacterianas com fibrina, tornando-as mais

Page 18: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

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resistentes a opsonização e a fagocitose. As fibrinolisinas produzem

degradação dos coágulos de fibrina e facilitam a disseminação da infecção

para os tecidos adjacentes. De forma semelhante, a hialuronidase hidrolisa o

ácido hialurônico da matriz extracelular nos tecidos, facilitando a disseminação

dos microrganismos para áreas adjacentes. As lipases podem ajudar a

disseminação dos microrganismos nos tecidos cutâneos e subcutâneos

(KARLSSON; ARVIDSON, 2002; BIBERSTEIN; HIRSH, 2003). Foi descrita

ainda uma fosfolipase C, e os tecidos afetados por essa enzima tornam-se

mais sensíveis à lesão e destruição por componentes do complemento e

produtos bioativos durante a ativação do complemento. As nucleases ou

fosfodiesterases com atividades tanto de exonuclease quanto de

endonucleases também podem ser produzidas (KONEMAN, 2008).

2.1.4. Exotoxinas

Membros do gênero Staphylococcus produzem diversas toxinas que

participam de diferentes síndromes clínicas (COX, 2006). As hemolisinas

possuem várias atividades biológicas. A α-hemolisina exerce efeitos letais

sobre uma ampla variedade de tipos celulares, incluindo polimorfonucleares, e

provoca lise de eritrócitos de diversas espécies animais. A toxina é uma

proteína com peso molecular de 33 kDa, e é secretada no meio durante o

crescimento logarítmico tardio. Também é dermonecrótica quando

administrada por injeção subcutânea, sendo letal para animais quando

administrada por via intravenosa (KANEKO; KAMIO, 2004).

A β-hemolisina é uma esfingomielinase, que possui atividade contra

uma variedade de células, mas não é dermonecrótica. Essa toxina é proteica,

com peso molecular de 35kDa, que é secretada no meio quase ao término da

fase de crescimento logarítmico. A atividade hemolítica requer íons magnésio e

a especificidade do substrato limita-se à esfingomielina e a lisofosfastidilcolina.

Ocorre susceptibilidade variável dos eritrócitos de diferentes espécies animais

à lise devido à variação da membrana em esfingomielina (TRABULSI;

ALTHERTUM, 2008).

Page 19: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

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A δ-hemolisina e a γ-hemolisina são encontradas em algumas cepas

bacterianas e também causam hemólise em uma variedade de tipos celulares.

A δ-hemolisina é uma proteína com peso molecular de 3kDa, secretada no

meio quase ao final da fase exponencial de crescimento. Produzida por mais

de 97% das cepas de S. aureus e de 50 a 70% dos estafilococos coagulase-

negativos. Essa toxina atua primeiro como surfactante, rompendo a membrana

celular, podendo também interagir com a membrana formando canais, e com o

decorrer do tempo resulta em extravasamento do conteúdo celular. O termo γ-

hemolisina descreve na realidade três proteínas que juntamente com as duas

proteínas que compreendem a leucocidina de Panton-Valentine (Leucocidina

PV), constituem seis toxinas de dois componentes. Nenhuma dessas proteínas

tem qualquer atividade hemolítica ou leucotóxica por si só. Apenas quando

combinadas exibem graus variáveis de atividade hemolítica, e lise dos

leucócitos (KONEMAN, 2008).

Dentre as toxinas superantigênicas as enterotoxinas são responsáveis

principalmente por intoxicações alimentares. Uma de suas principais

características é o fato de serem toxinas termoestáveis, o que facilita a sua

presença em alimentos já cozidos. Já a toxina da síndrome do choque tóxico,

que inicialmente foi denominada de exotoxina C pirogênica estafilococica, é a

principal toxina associada com a síndrome do choque tóxico em seres

humanos, que é caracterizada por febre alta, eritema difuso, hipotensão, além

de no mínimo três sistemas do organismo afetados (DINGES; ORWIN;

SCHLIEVERT, 2000).

As toxinas esfoliativas ou epidermolíticas são produzidas por algumas

cepas de Staphylococcus e são responsáveis pela síndrome da pele

escaldada, que se caracterizada por formação de bolhas na pele e perda de

camadas da epiderme. Dois tipos dessa toxina já foram descritos: ETA

(termoestável) cujo gene estrutural é cromossômico, e a ETB (termolábil) que

tem sua origem em plasmídios (TRABULSI; ALTHERTUM, 2008).

Page 20: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

19

2.1.5. Epidemiologia

As bactérias do gênero Staphylococcus sp. estão amplamente

distribuídas em infecções humanas e animais representando os patógenos

mais significantes dessas espécies (PITKALA et al., 2007; ZUBIER et al.,

2007).

Staphylococcus fazem parte da microbiota da pele e das mucosas de

humanos e animais havendo o isolamento de espécies coagulase- positivas e

coagulase-negativas. São patógenos oportunistas em humanos e animais.

Reconhecidos por vários autores como constituintes da microbiota de várias

espécies animais, ocasionalmente podem causar uma variedade de infecções

em cães e gatos (LILENBAUM et al., 2000; RICH, 2005; SASAKI et al. 2007a;

BERA et al., 2006; HANSELMAN et al. , 2009; MOODLEY et al., 2009; OTTO,

2009). No caso dos Staphylococcus coagulase-negativos, apesar de terem sido

considerados saprófitas por muito tempo, as infecções ocasionadas por eles

tem provado sua importância na clínica. Cada vez mais, estudos demonstram

que essas espécies também devem receber atenção especial (MORRIS et al.,

2006; SOARES et al., 2008). Mesmo as espécies de Staphylococcus isoladas

de animais clinicamente hígidos são potencialmente patogênicas (COX, 2006).

Não são somente colonizadores de humanos e outros mamíferos, mas também

já foram encontrados em populações naturais de aves, em répteis e em

indústrias de alimentos (CUNY et al., 2010).

A apresentação clínica mais comum nas infecções por estafilococos são

os abscessos, uma vez que os leucócitos representam o primeiro mecanismo

de defesa nas infecções por bactérias desse gênero (COX, 2006). Ainda

podem ocorrer pneumonias, piodermites, furunculoses, conjuntivites, infecções

do trato urinário, otites e septicemia (LILENBAUM et al., 2000; GARNIERE;

MEDAILLE; MANGION, 2005; ROUGIER et al., 2005).

Staphylococcus aureus e Staphylococcus epidermidis foram isolados de

aspirados de mordeduras por cães e gatos em crianças, sugerindo a presença

desses agentes na cavidade oral desses animais (BROOK, 1987). Esses

microrganismos têm sido isolados de gatos doentes e saudáveis, dependendo

da parte do corpo escolhida para a seleção da cultura bacteriológica e do meio

Page 21: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

20

habitado pelos gatos. Kohal; Pelz e Strub (2004) isolaram dentre outros

microrganismos, Staphylococcus sp. da cavidade oral de cães saudáveis. Em

mordeduras de gatos em mãos de humanos, coletas das feridas revelaram

dentre outros microrganismos Staphylococcus coagulase-negativos (COX et

al., 1985; MITNOVETSKI; KIMBLE, 2004).

Segundo Biberstein e Hirsch (2003), dentre as várias espécies deste

gênero, quatro delas merecem destaque na clínica de pequenos animais: S.

aureus, S. pseudintermedius, S. epidermidis e S. schleiferi coagulans. S.

aureus são frequentemente associados a infecções supurativas (HOEKSTRA;

PAULTON, 2002; CASEY; LAMBERT; ELLIOTT, 2007), enquanto S.

pseudintermedius é um residente da pele canina saudável (ROSSER JR,

2006), mas também é sabidamente o principal agente envolvido em infecções

de cães e gatos (DEVRIESE, 1990; GARNIERE; MEDAILLE; MANGION, 2005;

ROSSER JR, 2006; DEVRIESE; HERMANS; BAELE, 2009).

S. epidermidis é membro da microbiota de algumas superfícies

corpóreas dos animais, mas é pouco relatado como agente causador de

doenças em pequenos animais, embora tenha sido identificado como

responsável por diversas infecções profundas, em especial em animais

imunocomprometidos (LILENBAUM et al., 2000).

Num estudo em Lousiana (EUA), de isolamento de Staphylococcus de

gatos saudáveis, colhidos das narinas anteriores, boca, faringe, conjuntiva,

orelhas, ânus, vagina e prepúcio, das 827 amostras isoladas, 12 espécies

foram identificadas. S. simulans (43,9%) foram os mais encontrados, seguidos

por S. epidermidis (16,7%), S. intermedius (13,5%), S. xylosus (10,5%), e S.

aureus (5,0%). As espécies menos frequentes incluíram S. haemolyticus

(2,7%), S. sciuri (2,2%), S.warneri (1,6%), S.hominis (1,3%), S. hyicus (1,2%),

S. capitis (1,0%) e S. saprophyticus (0,5%). Das 87 amostras de S. xylosus

isoladas, 75 foram provenientes de gatos de gatis. S. xylosus e S. sciuri, tem

sido isolados de todos os mamíferos estudados (COX et al., 1985).

S. aureus é um agente etiológico importante associado às infecções

adquiridas tanto na comunidade quanto em hospitais, e se tornou um

paradigma das infecções bacterianas. Considerado um dos principais

patógenos humanos, tem sua frequência elevada e pode produzir doenças em

Page 22: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

21

indivíduos hígidos e imunocomprometidos por sua fácil disseminação intra-

hospitalar associada à resistência aos antibióticos. A forma mais comum de

introdução de MRSA (Staphylococcus aureus resistentes a meticilina) em uma

instituição se dá por meio da admissão de paciente colonizado ou infectado.

Uma vez que esta bactéria tenha sido detectada em um determinado hospital,

tende a persistir aumentando sua prevalência (MENEGOTTO; PICOLI, 2007).

As infecções por cepas HA-MRSA (nosocomiais) estão associadas a

ambientes hospitalares, mas cada vez mais vem aumentando as cepas CA-

MRSA (adquiridas na comunidade) (HAENNI et al., 2011). Essas cepas diferem

fenotipicamente e genotipicamente umas das outras (DEURENBERG;

STOBBERINGH, 2008).

2.1.6. Fisiopatogenia

Os estafilococos são bactérias piogênicas, frequentemente causadoras

de lesões supurativas. Pequenos traumas ou imunossupressão podem

predispor ao desenvolvimento de infecções (QUINN et al., 2005). O

conhecimento sobre a fisiopatogenia das infecções estafilocócicas ainda é

limitado, porém sabe-se que a virulência das cepas está diretamente

relacionada à presença de cápsula, toxinas e enzimas extracelulares que

produzem uma grande variedade de efeitos biológicos no hospedeiro após a

invasão tecidual (COX, 2006; TODAR, 2008).

S. aureus são organismos comensais ou patógenos porque se adaptam

rapidamente a pressões seletivas. Os elementos genéticos que produzem

mobilidade têm grande contribuição nesse processo de adaptação e

representam um meio de transferir informações genéticas (DNA) entre as

espécies bacterianas. Os elementos móveis carream fatores de virulência e

moléculas que conferem resistência aos antibióticos (MALACHOWA; DE LEO,

2010). A produção de coagulase pelos estafilococos é um importante indicador

de patogenicidade, e outros marcadores adicionais são a atividade da DNAse e

produção de proteína A (QUINN et al., 2005).

Staphylococcus coagulase- negativos, que anteriormente pensava-se

não terem importância por não serem patogênicos, estão cada vez mais sendo

Page 23: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

22

relatados como causadores de várias doenças, apresentando grande

significado clínico e resistência aos antimicrobianos (SOARES et al., 2008).

2.2. ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DE Staphylococcus sp.

Como ação inicial pode-se elaborar um esfregaço do material e realizar

a coloração pelo método de Gram (COX, 2006). Após identificação os

microrganismos são semeados em meios de cultura enriquecidos, sendo os

mais frequentemente utilizados para o isolamento de Staphylococcus sp. o

Agar sangue, Agar manitol salgado e Agar tripticase-soja (BIBERSTEIN;

HIRSCH, 2003).

O Agar manitol salgado ou meio de Chapman é o mais comumente

utilizado para isolamento dos Staphylococcus, sendo um meio de cultura sólido

com propriedades seletiva e indicadora. Sua seletividade deve-se à alta

concentração de NaCl (7,5%), que inibe o crescimento de outras espécies

bacterianas no meio, enquanto a atividade de indicador é dada por possuir

manitol em sua composição; este carboidrato é consumido apenas por algumas

espécies de Staphylococcus (manitol-positivas), que quando fermentam manitol

tornam o pH do meio ácido, mudando a coloração do meio de cultura, através

de um indicador de pH - o vermelho de fenol (BIBERSTEIN; HIRSCH, 2003).

Após o isolamento, as amostras são identificadas de acordo com provas

bioquímicas (HOLT et al., 1994; MAC FADDIN, 1997; BANNERMAN, 2003).

Métodos moleculares têm sido utilizados para estudos epidemiológicos

sobre membros do gênero Staphylococcus. A maioria dos estudos tem utilizado

metodologias que se baseiam na comparação de perfis de bandas de DNA em

géis de agarose, assim como a análise do DNA polimórfico amplificado

randomicamente pela reação em cadeia de polimerase (RAPD-PCR – random

amplified polymorphic DNA polymerase chain reaction) (SAIJONMAA-

KOULUMIES et al., 2003; HAENNI et al., 2011), a análise do perfil

eletroforético de isoenzimas (MLEE – multilocus enzyme electrophoresis)

(BARRS et al., 2000), e a análise de perfis de fragmentação de DNA por

digestão enzimática por eletroforese em gel de campo pulsado (PFGE –

pulsed-field gel electrophoresis) (SAZAKI et al., 2007a).

Page 24: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

23

Técnicas de tipagem molecular como sequência multilócus, “pulsed- field

gel eletroforesis” (PFGE), e detecção de SCCmec (estafilococo cassete

cromossomo) são úteis na tipificação das cepas (MENEGOTTO; PICOLI,

2007), sendo assim, a tipificação das cepas é uma parte integrante do estudo

epidemiológico e controle da infecção hospitalar. Os métodos moleculares

devem ser explorados para tipificar as amostras isoladas de Staphylococcus

meticilina resistentes (MRS). Dentre os vários métodos, a genotipagem spa é

simples, rápida e prática para se monitorar a variação na população de MRS de

várias regiões (MEHNDIRATTA et al, 2009).

A PFGE é o método mais discriminativo para S. aureus e é considerado

prova padrão ouro para investigar surtos de MRSA em hospitais

(DEURENBERG; STOBBERINGH, 2008).

Martineau e colaboradores (2001) desenvolveram um ensaio espécie-

específico para Staphylococcus baseado na identificação do gene tuf, que

mostrou boa sensibilidade e especificidade para identificação das 27 espécies

do gênero Staphylococcus isolados de amostras clínicas humanas. Então,

baseando-se em identificação molecular, uma importante modificação na

taxonomia do gênero foi adotada: uma nova espécie foi descrita, S.

pseudintermedius (DEVRIESE et al., 2005). Posteriormente os isolados

fenotipicamente identificados como S. intermedius foram reclassificados por

meio de análise molecular filogenética por sequenciamento parcial dos genes

sodA e hsp60 (SASAKI et al., 2007b).

A identificação dos Staphylococcus resistentes à meticilina (MRS) no

laboratório é complicada pela natureza heterogênea da resistência e pelas

variáveis que influenciam a expressão, como o tamanho do inóculo, pH,

temperatura, e concentração salina. Vários estudos demonstram que a PCR

(reação em cadeia da polimerase) é um método sensível para detecção da

resistência à meticilina em CoNS (Staphylococcus coagulase-negativos)

(OLIVEIRA et al., 2007), como também a estrutura do SCCmec pode ser

determinada com um número de métodos baseados em PCR (DEURENBERG;

STOBBERINGH, 2008).

Vários pesquisadores têm descrito técnicas baseadas em DNA para

tipificar amostras de S.aureus. Eletroforese em campo pulsado (PFGE) é

Page 25: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

24

reconhecida como a mais discriminatória, mas seu custo é alto e tecnicamente

complexo. Alternativamente, os métodos baseados em PCR têm sido utilizados

com sucesso para esse propósito (MEHNDIRATTA et al., 2009).

Métodos distintivos e que possam tipificar as amostras isoladas são

necessários para estudar a epidemiologia dos MRS. Os métodos

frequentemente utilizados incluindo a ribotipagem, PFGE e PCR, produzem

resultados diferentes, em diferentes laboratórios devido à alta variabilidade e

envolvimento da região genômica bacteriana. Vinte estudos descreveram

clones de MRSA no Brasil, sendo a primeira a descrição de um clone de MRSA

de hospitais de São Paulo entre 1990 e 1992 (RODRÍGUEZ-NORIEGA et al.,

2010). Na tentativa de diminuir custos, na última década, programas

simplificados mostrando bons níveis de acurácia para identificação dos

estafilococos têm sido desenvolvidos. Entretanto, tais métodos identificam

poucas espécies de estafilococos e assim continua-se utilizando um grande

número de testes, tornando a rotina laboratorial mais difícil. Um estudo

utilizando método simplificado composto por nove testes para identificação de

isolados de estafilococos mostrou que o curto tempo de incubação usado

nesse sistema é impróprio, especialmente quando se analisa estafilococos

coagulase-negativos, tornando a acurácia de identificação muito difícil (IÓRIO

et al., 2007).

As diferentes técnicas laboratoriais tem variabilidade em especificidade e

sensibilidade para resistência à meticilina. A PCR é a técnica de escolha para

identificar o gene mecA (DUQUETTE; NUTTALL, 2004), e uma boa opção para

triagem de resistência à oxacilina é o teste de difusão em disco (OLIVEIRA et

al., 2007). O teste da susceptibilidade em discos de cefoxitina é recomendado

como equivalente ou substituição do teste de susceptibilidade a oxacilina para

S. aureus e grande parte dos coagulase-negativos (BEMIS et al., 2006) e em

um estudo de testes em disco, a especificidade do teste em disco da cefoxitina

foi de 100% para todas as espécies de Staphylococcus coagulase-negativos

(CoNS), enquanto que o teste em disco de oxacilina foi de 64% em todas as

espécies de CoNS (PERAZZI et al., 2006).

Page 26: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

25

2.3. RESISTÊNCIA AOS AGENTES ANTIMICROBIANOS

Antes da introdução dos antimicrobianos na prática clínica, a letalidade

por doenças infecciosas era muito alta. No início da década de 1940, quando

houve a introdução da penicilina, o prognóstico dos pacientes melhorou muito.

No entanto, rapidamente (1942) foram relatadas cepas de S. aureus resistentes

à penicilina. A resistência à penicilina foi então reconhecida, inicialmente, em

cepas hospitalares e logo em seguida, na comunidade. No final dos anos 1960

a resistência de cepas hospitalares já chegava a 90% (JESSEN et al., 1969

apud MIMICA; MENDES; LOWY, 2003; MIMICA; MENDES, 2007).

S. aureus foi identificado em 1880, e desde então tem se mostrado como

uma bactéria Gram-positiva patogênica (DEURENBERG; STOBBERINGH,

2008). Estudos conduzidos desde 1950, quando os antibióticos foram

introduzidos no uso clínico em gatos, mostraram que a maioria dos S. aureus

isolados das narinas destes animais eram susceptíveis à penicilina. Desde

então, Staphylococcus isolados de gatos se tornaram resistentes a pelo menos

uma classe de antibióticos (LOVE et al., 1981; WESTLING, K.; JORUP, 2009)

S. aureus foram capazes de apresentar rapidamente resistência aos

antibióticos, tornando-se resistentes a oxacilina na década de 1960, devido à

presença do gene mecA, que caracterizava a resistência aos antibióticos β-

lactâmicos em geral. Esses antimicrobianos interagem com as PBP´s (Penicillin

Binding Proteins), impedem a formação completa da camada de

peptideoglicano da parede celular, desencadeando a morte bacteriana. Na

presença do gene mecA, ocorre alterações das proteínas de ligação através de

uma nova proteína alvo, PBP2a, que apresenta baixa afinidade aos β-

lactâmicos (MENEGOTTO; PICOLI, 2007).

Em 1959, o isolamento do ácido 6- aminopenicilânico (6 APA) tornou

possível a produção de penicilinas semissintéticas. As modificações na cadeia

desse precursor da penicilina possibilitaram a proteção do anel betalactâmico

contra a ação hidrolítica das betalactamases. Os primeiros desses

antimicrobianos disponíveis para uso clínico foram a oxacilina e a meticilina,

que, temporariamente, solucionaram o problema da resistência, mas

Page 27: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

26

rapidamente, já em 1961, surgiam as cepas resistentes (MARANAN et al.,

1997).

Amostras de S.aureus meticilina resistentes (MRSA) foram

primeiramente identificadas em 1961, imediatamente depois da introdução da

meticilina no uso clínico. Subsequentemente, a resistência à meticilina entre os

isolados de S.aureus aumentou e vem sendo observada em todo o mundo

(MEHNDIRATTA et al., 2009).

Ao longo dos anos vem ocorrendo à disseminação de cepas resistentes

aos beta-lactâmicos, anteriormente eficazes no tratamento das infecções

estafilocócicas (COELHO et al., 2007). A transmissão de Staphylococcus

patogênicos entre humanos e animais foi primeiramente suspeitada em animais

de fazenda em 1960. Estudos recentes, investigando a transmissão

interespécies, elucidaram resultados contraditórios, embora amostras similares

e distintas tenham sido isoladas de animais e pessoas em contato com eles. As

primeiras análises genéticas dos MRSA (Staphylococcus aureus resistente a

meticilina) de origem canina e felina indicam mas não provam, que os isolados

dessas espécies foram originados em hospitais humanos e que a transmissão

original ocorreu dos humanos para seus animais de companhia. A importância

do contato com humanos portadores de MRSA no desenvolvimento de

infecções caninas e felinas por MRSA indica que essa potente fonte de contato

deve ser considerada (LOEFFER; LLOYD, 2010).

A idéia de que animais de companhia podem agir como reservatórios de

bactérias e transmiti- las para humanos não é nova. Em 1959, S. aureus eram

isolados das narinas de cães e gatos e foi sugerido que estes animais

poderiam ser portadores de infecções estafilocócicas para humanos. Fica claro,

em vários estudos, que os animais domésticos podem adquirir MRSA de

humanos. A frequência da transmissão entre animais e humanos parece ser

muito baixa, embora seja possível que vários casos não sejam investigados e

não sejam computados (DUQUETTE; NUTTALL, 2004).

Várias publicações científicas relatam a relação entre os antibióticos usados

em animais e o aparecimento de resistências em cepas bacterianas de

importância em patologia humana e animal como resultado da exposição aos

antibióticos (POETA; RODRIGUES, 2008). A resistência bacteriana continua

Page 28: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

27

sendo um problema global de saúde pública que ameaça a terapia

antibacteriana e também desafia o desenvolvimento de novos antibacterianos.

Uma grande variedade de patógenos isolados pelo mundo, tem se tornado

multirresistente (LI; NIKAIDO, 2009).

2.4. MECANISMOS DE RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA

Os cães e gatos se tornaram uma parte importante na sociedade moderna,

especialmente em países desenvolvidos. Uma grande parte da população

mantém contato diário com esses animais, e isto se torna um risco potencial

para transferência de bactérias ou genes de resistência entre os animais de

companhia e humanos (MALIK; PENG; BARTON, 2005).

Diversos mecanismos são utilizados pelos microrganismos para escapar da

ação dos antimicrobianos, entre eles, a alteração da estrutura molecular dos

antimicrobianos, produção de enzimas que inativam a droga, alteração das

proteínas ligadoras da penicilina ou outros pontos-alvo nas paredes das

células, alvos modificados da DNA-girase, mutações de permeabilidade e

modificações ribossômicas (CATÃO et al., 2005) e as bactérias também podem

usar várias vias bioquímicas para escapar da ação letal das drogas. A

coexistência de vários desses mecanismos no mesmo patógeno pode conduzir

a multirresistência, que é definida quando o microrganismo possui resistência a

três ou mais classes de drogas (DEPARDIEU et al., 2007).

A resistência intrínseca às penicilinas causada pela produção de β-

lactamases é amplamente distribuída. A detecção do gene mecA que é

responsável pela produção da proteína PBP2A, que tem baixa afinidade de

ligação à penicilina é importante na epidemiologia. Quatro diferentes genes de

resistência à tetraciclina têm sido detectados, sendo eles das classes K, L, M e

O. Esses genes conferem mecanismos de resistência ocasionando proteção

ribossomal. Nos macrolídeos ocorrem as metilases, inativação enzimática, e

vários genes estão envolvidos. A resistência as fluoroquinolonas ocorre por

mutações na DNA girase. Para as sulfonamidas e trimetropim ocorre

superprodução de p-amino ácido benzóico, provavelmente por mutação no

DNA. Quanto ao cloranfenicol, a resistência ocorre por inativação enzimática.

Page 29: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

28

Face aos aminoglicosídeos, vários genes causam resistência por

acetiltransferases, nucleotideotransferases e fosfotransferases (PATEL;

LLOYD; LAMPORT, 1999; SCHWARZ; NOBLE, 1999; PRESCOTT et al., 2002;

GANIERE; MEDAILLE; MANGION, 2005).

Rich (2005) citou vários mecanismos de resistência dos microrganismos

aos antimicrobianos. Na família dos β-lactâmicos, os microrganismos formam

as β-lactamases ou causam diminuição na permeabilidade, os

aminoglicosídeos, metilação ribossomal com modificação enzimática, nas

tetraciclinas, mecanismos de efluxo ocorrendo ligação alterada, nas

sulfonamidas, alteração do metabolismo enzimático aumentando a produção

do PABA, redução da apreensão, nas quinolonas mutação dos genes e

mecanismos de efluxo, nas rifampicinas alteração da RNA polimerase, nos

glicopeptídeos, mutações, nas polimixinas o aumento de permeabilidade.

Dois mecanismos básicos são responsáveis pela resistência dos

estafilococos aos antimicrobianos β-lactâmicos; em primeiro lugar a produção

de β-lactamases que destroem esses agentes e depois a alteração das

proteínas localizadas na parede celular das bactérias, chamadas de proteínas

de ligação à penicilina (PBP).

O mais comum dos mecanismos de resistência à oxacilina pelos

estafilococos é mediada pelo gene mecA, que codifica a produção da proteína

PBP2a ou PBP2` as quais são expressadas homogeneamente ou

heterogeneamente. A PBP2a possui baixa afinidade aos antibióticos β-

lactâmicos. A resistência homóloga é facilmente detectada com testes padrões,

enquanto a expressão heterogênea é mais difícil de detectar com alguns

métodos, porque somente uma fração da população bacteriana (Um em

100.000 células) expressa à resistência fenotípica (OLIVEIRA et al., 2007).

O SCCmec (estafilococo cassete cromossomo) é o elemento genético

móvel que carreia o gene mecA que é determinante para resistência à

meticilina, possibilita o estafilococo a manter a integridade da parede celular e

continuar seu desenvolvimento na presença de antibióticos β-lactâmicos

(BERGLUND et al., 2009).

Os elementos genéticos móveis foram primeiramente descritos em 1940,

e são um importante meio para transferência de informações genéticas entre

Page 30: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

29

procariotas e eucariotas. Os elementos móveis são tipicamente identificados

como fragmentos de DNA que codificam uma variedade de fatores de

virulência e determinantes de resistência bem como as enzimas que mediam

sua própria transferência e integração. A transferência de elementos móveis

entre células é conhecida como transferência de genes lateral ou horizontal. Os

elementos móveis podem consistir de sequências de inserções, elementos de

transposição, fagos, plasmídeos, ilhas patogênicas e cassete- cromossomos.

Esses segmentos de DNA são amplamente propagados por transferência

vertical de genes, com transmissão da informação genética das células mães

para as células filhas (MALACHOWA; DE LEO, 2010).

O elemento genético SCCmec onde está localizado o gene mecA tem

um maior reservatório de genes nos estafilococos coagulase-negativos (CoNS)

que em S. aureus. Os CoNS meticilina resistentes tem sido obtidos

provenientes de animais e são uma potencial fonte de infecções humanas e

reservatórios de genes de resistência à meticilina (ZHANG; AGIDI; LEJEUNE,

2009).

A resistência nos estafilococos aos aminoglicosídeos por genes que

fazem com que haja produção de uma enzima bifuncional encontrado em 70%

a 90% dos resistentes é o mecanismo mais comum. Modificações ribossomais

conferem resistência a eritromicina, e a resistência aos macrolídeos pode

ocorrer também por efluxo ativo pela membrana. Esses genes de resistência

estão nos cromossomos ou carreados por elementos como os tranposons e

plasmídeos (ZHU et al., 2007).

Os plasmídeos são provavelmente uma parte muito importante na

propagação da resistência aos antimicrobianos nos estafilococos. Os

plasmídeos podem agir diretamente carreando os genes de resistência ou

como vetores para transportar esses genes (SCHWARZ; NOBLE, 1999).

Os plasmídeos são moléculas de DNA auto-replicantes. Staphylococcus

tipicamente carream um ou mais plasmídeos por célula e eles tem uma

variedade no conteúdo de genes. Os plasmídeos nos estafilococos são

classificados em três grupos: plasmídeo pequeno que determina uma

resistência única; maior, que geralmente carrega vários determinantes de

Page 31: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

30

resistência; e plasmídeos de multirresistência conjugada, que são os maiores

plasmídeos (MALACHOWA; DE LEO, 2010).

Uma forma induzida de resistência à clindamicina pode estar presente

em alguns estafilococos. As cepas de estafilococos parecem susceptíveis num

teste de susceptibilidade antimicrobiana de rotina, mas a resistência pode ser

induzida durante o tratamento, resultando em falência deste. A detecção da

resistência induzida à clindamicina pode ser efetuada utilizando-se o D-teste e

o teste de difusão em disco, mas este não é utilizado de rotina nos laboratórios

veterinários comerciais (FAIRES et al., 2009).

Genes específicos de resistência aos antibióticos estão distribuídos em

S. epidermidis, e em vários países 75% a 90% das cepas isoladas de hospitais

são resistentes à meticilina. Além desta resistência, também foi verificada a

resistência adquirida a vários outros antimicrobianos, como rifampicina,

fluoroquinolonas, gentamicina, tetraciclina, cloranfenicol, eritromicina,

clindamicina e sulfonamidas. A maioria dos genes de resistência aos

antibióticos é transferida por plasmídeos. Esse amplo perfil de resistência só

reflete o uso indiscriminado de antibióticos (OTTO, 2009).

A resistência à oxacilina resulta em resistência cruzada a todos os

antibióticos β-lactâmicos, como penicilinas, cefalosporinas e carbapenêmicos

(ALMEIDA et al., 2007).

Os bacteriófagos parecem ter grande impacto na diversidade e evolução

dos estafilococos. Todos os fagos são classificados como líticos ou

temperados. As ilhas de patogenicidade são elementos móveis. Essas ilhas

estão integradas em um dos seis locais diferentes específicos no cromossomo.

Os SCCmec são fragmentos do DNA relativamente grandes, sempre inseridos

dentro do gene orfX no cromossomo. Os elementos de transposição

(transposons) predominantemente codificam genes de resistência aos

antimicrobianos. Geralmente estão inseridos no cromossomo ou nos elementos

móveis como os SCC ou plasmídeos (MALACHOWA; DE LEO, 2010).

Page 32: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

31

2.5. Staphylococcus COAGULASE-NEGATIVOS

Os estafilococos coagulase-negativos (CoNS) fazem parte da microbiota

(BANNERMAN, 2003; SOARES et al., 2008). Sua transmissão entre os

animais e humanos tem sido relatada sugerindo que os estafilococos nas

espécies animais podem servir como reservatórios para infecções humanas

(ZHANG; AGIDI; LEJEUNE, 2009). Essas várias espécies de Staphylococcus e

entre elas, muitas coagulase-negativas resistentes à meticilina provenientes de

animais, indicam um vasto reservatório de Staphylococcus coagulase-

negativos e genes mecA em animais. Um estudo isolou Staphylococcus de

diversas fontes animais e obteve várias espécies coagulase- negativas,

incluindo S. xylosus, isolados de bovinos, cabras, porcos e até mesmo do leite

(ZHANG; AGIDI; LEJEUNE, 2009), enquanto Rich (2005) isolou de gatos S.

felis, S. saprophyticus, S.sciuri e S. xylosus.

S. aureus, e várias espécies coagulase-negativas foram isoladas da pele

e membrana mucosa de gatos saudáveis. As espécies coagulase-positivas são

as causas mais comuns de infecções estafilocócicas em gatos, entretanto os

Staphylococcus coagulase-negativos receberam renovada atenção em

consideração à importância médica em humanos e gatos (GANIERE;

MEDAILLE; MANGION, 2005).

Os estafilococos coagulase-negativos são frequentemente isolados de

hemoculturas, contribuindo com um terço das bacteremias nosocomiais. A

notável habilidade de S. aureus e CoNS em adquirirem resistência aos

antibióticos limita as opções de terapia e consequentemente podem aumentar

a morbidade e mortalidade dos pacientes (IÓRIO et al., 2007), com isso o

aumento do número de infecções por estafilococos coagulase-negativos, e sua

frequente resistência à meticilina tem se tornado uma dificuldade adicional no

controle da infecção por estes agentes (PALAZZO; DARINI, 2006). Um

aumento na resistência em estafilococos coagulase-negativos à lincomicina,

enrofloxacina e oxitetraciclina foi reportado na Inglaterra (PATEL; LLOYD;

LAMPORT, 1999).

O gene mecA foi detectado em Staphylococcus coagulase-negativos

isolados de amostras clínicas de animais. Foram isoladas amostras de gatos,

Page 33: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

32

cães, cavalos, bovinos e pássaros. A resistência à ampicilina, tetraciclina,

eritromicina e lincomicina foi comum neste estudo (DUIJKEREN et al., 2004).

Num estudo isolando Staphylococcus de cães e gatos, dos 252 animais

analisados foram encontrados dez MRS (Staphylococcus meticilina resistente).

As espécies mais encontradas em animais sadios foram os coagulase-

negativos, e os MRS compostos por S. haemolyticus, S. warneri, S. hominis e

S. epidermidis (MALIK; PENG; BARTON, 2005).

Oliveira et al., (2007) isolaram 69 Staphylococcus coagulase-negativos

de queratites, conjuntivites e endoftalmites humanas, sendo 71% mecA

positivos e 29% mecA negativos. Os isolados coagulase positivos foram mais

resistentes à penicilina G, amoxicilina, cefazolina, eritromicina, clindamicina,

gentamicina e tetraciclina, já em 72 isolados de estafilococos coagulase-

negativos obtidos de amostras humanas e animais, S. xylosus foi o

microrganismo mais isolado da amostragem animal, sendo detectado um

elevado nível de resistência à penicilina e ampicilina (SOARES et al., 2008). S.

xylosus é uma bactéria comensal encontrada habitando a pele e membrana

mucosa de mamíferos e aves. A habilidade desta bactéria em formar biofilme e

a ubiquidade pode ser explicada pela habilidade de se adaptar a diferentes

ambientes (DORDET-FRISONI et al., 2007).

Num hospital veterinário no Reino Unido, foram isolados estafilococos de

humanos (funcionários), cães e gatos num total de 118 coagulase-positivos e

162 coagulase-negativos, e esses últimos predominaram nos gatos. Vários

padrões de resistência aos antimicrobianos foram encontrados, como

amoxicilina, ciprofloxacina, meticilina, clindamicina e β-lactâmicos (LOEFFLER

et al., 2005).

Tenssay (2000), em seu estudo, analisou 432 CoNS e encontrou 95% de

resistência à penicilina. Já Barelli et al. (1999) encontraram 88,6% em 42

amostras e Farias (2002) relatou que os aminoglicosídeos se mostraram

efetivos contra infecções por estafilococos, sendo apontados como fármacos

de eleição para tratamento dessas infecções.

A resistência à vancomicina entre os Staphylococcus coagulase-

negativos foi relatada a primeira vez há 20 anos e as amostras (CoNS) têm

demonstrado aumento na resistência a esse antibiótico (SOARES et al., 2008).

Page 34: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

33

Num estudo da prevalência de Staphylococcus isolados da saliva de

gatos clinicamente saudáveis, provenientes da região sublingual com swab

estéril foram obtidos 104 isolados. As espécies coagulase-negativas foram as

mais comuns, representando 71% dos isolados. A espécie mais

frequentemente isolada foi S. felis, e entre outros coagulase-negativos isolados

estavam S. haemolyticus, S. simulans, S. epidermidis, S. saprophyticus. Os

Staphylococcus coagulase-positivos foram isolados de 30 gatos e 23 amostras

se mostraram resistentes à oxacilina, 33 à tetraciclina, 24 à enrofloxacina e o

antimicrobiano mais ativo contra os Staphylococcus isolados da saliva dos

gatos foi à gentamicina (LILENBAUM; ESTEVES; SOUZA, 1999).

No Japão, Igimi et al. (1994) estudando a frequência dos Staphylococcus

mais isolados de amostras clínicas de gatos, das 93 amostras, encontraram

45% de S.felis, outras espécies como S.xylosus, S. epidermidis S. aureus S.

simulans e S. sciuri foram encontradas em menor escala.

2.6. Staphylococcus sp. RESISTENTE A METICILINA (MRS)

A resistência à oxacilina em Staphylococcus é determinada por um gene

localizado no cromossomo, o gene mecA. Ele é responsável pela síntese da

PBP2a ou PBP2’ que substitui as outras proteínas ligadoras de penicilina na

membrana, e tem baixa afinidade não só para a oxacilina como para os outros

antibióticos β-lactâmicos. O gene mecA faz parte de uma ilha genômica de

resistência chamada staphylococcal cassete chomosome mec (SCCmec),

podendo essas ilhas conter também outros genes de resistência a

antimicrobianos. Os MRSA nosocomiais (HCA-MRSA) carregam SCCmec dos

tipos I a III, e os MRSA comunidade adquiridos (CA-MRSA) estão mais

associados aos tipos IV e V. Os tipos IV e V são elementos genéticos menores

e com mais mobilidade de que os outros. Esses tipos carregam menos genes

de resistência do que os tipos I, II e III. Por isso os CA-MRSA tende a ser

menos multirresistentes que os HCA-MRSA (DUIJKEREN et al., 2004;

MACHADO et al., 2007; MIMICA; MENDES, 2007; OLIVEIRA et al., 2007;

DESCLOUX; ROSSANO; PERRETEN, 2008; WAN et al., 2011).

Page 35: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

34

A organização genética do mecA é definida como complexo gene mec e

nos S. aureus três maiores classes tem sido descritas: Classe A, contendo o

mecA completo (mecI-mecR1-mecA), e Classes B e C, contendo genes

regulatórios partidos por sequências de inserções. A mobilidade do SCCmec

em parte se dá pela presença do complexo gene cromossomo cassete

recombinase (ccr). Esse complexo pode ser constituído por dois genes (ccrA e

ccrB) ou por um gene só (ccrC) (KIM et al., 2007; MILHEIRIÇO; OLIVEIRA;

LENCASTRE, 2007).

O SCCmec contém uma combinação característica de dois

componentes genéticos essenciais, o complexo gene mec com mecA e seu

regulador de genes e o ccr que garante a mobilidade. O SCCmec é classificado

em I, II, III, IV, V ou VI, dependendo da combinação do complexo gene mec

(classe A, B ou C), e do ccr gene complexo (tipo 1, 2, 3, 4 ou 5) contidos nele.

A região J1, localizada entre o ccr e a região inferior no cromossomo, é a mais

importante região para classificar os subtipos do tipo IV SCCmec (KONDO et

al., 2007; BERGLUND et al., 2009).

Mais recentemente sete tipos mais subtipos de SCCmec tem sido

identificados, e sua identificação pode ser usada para caracterizar

epidemiologicamente isolados e investigar seus relacionamentos. A expressão

do mecA é regulada pela associação dos genes repressor e indutor (mecR,

mecI), e por vários outros genes (fem, aux) (LOEFFER; LLOYD, 2010).

A resistência fenotípica à oxacilina é extremamente variável e depende

da expressão do gene mecA. Essa variabilidade é reconhecida como

heterorresistência fenotípica, e se caracteriza pelo fato de que de toda a

população bacteriana heterogeneamente resistente carrega o gene mecA, mas

nem todas expressam fenotipicamente sua resistência da mesma forma

(MIMICA; MENDES, 2007).

Embora evidências científicas suportem a transferência horizontal do

mecA, o mecanismo de transferência ainda não foi elucidado. Análise do SCC,

o veículo do mecA, pode prover valiosas informações nas bases genéticas, a

qual mecA se transfere entre os Staphylococcus. Novos tipos de SCCmec

estão sendo descobertos continuamente pelo mundo (ZHANG; AGIDI;

LEJEUNE, 2009).

Page 36: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

35

Pouco se sabe sobre as origens do gene mecA provenientes de animais

de companhia. Na medicina humana tem sido demonstrada uma transferência

horizontal proveniente de uma espécie primitiva de Staphylococcus, S. sciuri. A

descoberta do SCCmec nas amostras de MRSA de origem humana distanciam

os avanços da teoria que o mecA pode ser compartilhado entre as espécies de

Staphylococcus. O SCCmec tem um tamanho aproximado de 20 a 68 kbp

(MALIK; PENG; BARTON, 2006).

A magnitude da ameaça à saúde causada pelas bactérias resistentes

aos antibióticos em geral e em particular os Staphylococcus aureus meticilina-

resistente (MRSA) tem sido amplamente reconhecida pelas agências de saúde

pública, e pelos governos (STRUELENS et al., 2009), os MRSA não podem

mais ser considerados patógenos restritos a serviços de saúde, visto que, a

partir dos anos 1990, relatos associados à comunidade foram descritos em

várias partes do mundo inclusive no Brasil. Assim, o diagnóstico correto da

resistência à oxacilina é vital por razões clínicas e epidemiológicas.

Inicialmente os Staphylococcus resistentes (MRSA) estavam restritos a

grandes centros hospitalares, mas logo se alastraram para os centros de saúde

menores em todas as partes do mundo (CHAMBERS, 2001; MALIK; PENG;

BARTON, 2006; MIMICA; MENDES, 2007).

As amostras de MRSA comunidade-adquiridas possuem um tipo de

SCCmec (elemento móvel) denominado de tipo IV, que é fisicamente menor

que os outros tipos de SCCmec e não carreia outros genes de resistência, a

não ser o gene mecA. Geralmente são mais virulentos que os MRSA

nosocomiais (REINERT et al., 2008), esses microrganismos podem persistir em

diversos sítios de portadores, pelo menos por três meses depois da alta

hospitalar (CAVALCANTI et al., 2006).

No Brasil, a prevalência de infecções hospitalares por S. aureus tem

variado de 17% a 26% e aproximadamente 70% a 100% são causadas por

cepas multirresistentes (ALMEIDA et al., 2007), sendo que vários clones de

MRSA têm sido identificados pelo mundo. Apesar de relatos no Brasil, a

epidemiologia molecular dos MRSA na América latina ainda é muito

desconhecida (RODRÍGUEZ-NORIEGA et al., 2010).

Page 37: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

36

Os clones brasileiros adquiriram genes de multirresistência e as

amostras tem demonstrado resistência a vários antimicrobianos. No entanto,

entre 1992 e 1994, em torno de 74% de clones brasileiros isolados de hospitais

de ensino eram sensíveis somente à vancomicina. Os clones brasileiros de

S.aureus demonstraram potencial para aquisição de genes para produção de

biofilme, como também genes para produção de PVL, toxina capaz de destruir

células. Esses clones desenvolvem rapidamente resistência a antibióticos e em

2008, mais de 90% das amostras de S. aureus eram resistentes à penicilina e a

incidência de MRSA na América Latina foi maior que 50% de todos os isolados

em outros continentes (GONANO et al., 2009; RODRÍGUEZ-NORIEGA et al.,

2010).

O monitoramento da resistência à meticilina é crucial para o tratamento

e programas de vigilância epidemiológica. Nos hospitais brasileiros, MRSA são

responsáveis por 37% das infecções estafilocócicas. Dos 68 MRSA isolados de

hospitais do sul do Brasil, foi encontrada alta resistência à gentamicina

(94,1%), clindamicina (91,1%), ciprofloxacina (89,7%), sulfa-trimetropim

(88,2%), penicilina (97,0%), cloranfenicol (47,0%), tetraciclina (83,8%) e

rifampicina (76,4%) (HANSELMAN et al., 2009; PEREZ; D´AZEVEDO, 2009).

Embora muitos MRSA não expressem multirresistência a drogas, eles

podem mostrar resistência clinicamente relevante a uma parcela de compostos

frequentemente utilizados na profilaxia e terapia, e com isso reduzir o sucesso

do tratamento. MRSA tem sido reconhecidos como patógenos veterinários

importantes. Desde então, os animais hospedeiros tem sido implicados como

reservatórios e vetores para infecções humanas fora dos hospitais. Isto tem se

tornado claro pelas diferenças genéticas e epidemiológicas importantes que

existem nessas amostras infectantes de MRSA encontradas em diferentes

hospedeiros animais (LOEFFER; LLOYD, 2010), sendo assim, reconhecendo a

importância da resistência antimicrobiana que a cada dia vem crescendo na

área da medicina humana e veterinária, os clínicos estão sendo estimulados a

usar antimicrobianos com maior prudência (ROY et al., 2007). Adicionalmente o

uso de antibióticos com fins profiláticos ou terapêuticos na veterinária contribui

para seleção de bactérias resistentes, portanto é necessária a colaboração

Page 38: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

37

entre diferentes profissionais para o uso racional de antibióticos para controlar

esse problema (POETA; RODRIGUES, 2008).

O interesse da resistência aos antimicrobianos nos animais de

companhia tem aumentado. Isso se deve em parte ao aumento do número de

casos relatados de animais infectados ou colonizados com microrganismos de

importância clínica e epidemiológica multirresistentes a drogas, como os S.

aureus (MRSA) (GANIERE; MEDAILLE; MANGION, 2005; MURPHY et al.,

2009).

Os primeiros relatos de MRSA em animais de companhia são do Reino

Unido, e o tipo de cepa analisada, sugere sua origem em hospitais humanos.

Os riscos vêm aumentando com a distribuição e transferência de genes de

resistência, e alguns mecanismos ainda não são bem conhecidos. A

transferência dos MRSA dos animais para os humanos causa grande impacto e

torna-se necessário a regulação do uso de antimicrobianos nesses animais. A

prevenção da disseminação dos MRSA com potencial zoonótico necessita da

ação do controle da infecção veterinária, dos especialistas e clínicos (CUNY et

al., 2010), vários animais de companhia como cães, gatos e cavalos tem sido

implicados mais frequentemente como potenciais reservatórios de MRSA

(LOEFFLER et al., 2005; MIDDLETON et al., 2005; JONES et al., 2007;

MOODLEY et al., 2009, COUTO et al., 2012) e estudos epidemiológicos e

moleculares dos MRSA provenientes de origem humana e animal revelaram

que algumas amostras apresentam infecção cruzada entre animais e humanos

ou vice-versa (ZUBEIR et al., 2007).

Por muitos anos os MRSA eram considerados somente um patógeno

humano. Devido à interação social entre os animais de companhia e os

humanos, é esperado que nesse contato ocorra aquisição de MRSA pelos

animais. O carreamento de MRSA em mucosas de atendentes em veterinárias,

donos de animais e trabalhadores da saúde tem sido demonstrado em diversos

estudos. A transferência de MRSA entre humanos e animais tem sido

corroborada por estudos de tipificação, os quais mostram que os MRSA

provenientes de cães e gatos são tipicamente idênticos aos associados a

linhagens hospitalares. A identificação pode facilitar um desenho apropriado de

controle da infecção e estratégias de prevenção nas práticas veterinárias com

Page 39: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

38

adicional benefício à saúde pública (MAGALHÃES et al., 2010), e tem sido

relatado o aumento de MRS em animais (DUIJKEREN et al., 2011; PAUL et al.,

2011).

MRSA têm sido isolados de animais doentes e saudáveis. Embora

amostras provenientes de cães e gatos tipicamente mostrem mutirresistência

às drogas, a maioria das infecções pode ser tratada com sucesso. Drogas

antimicrobianas com eficácia “in vitro” contra MRSA são avaliadas para uso em

animais de companhia em vários países, incluindo trimetropim-sulametoxazol,

tetraciclinas, clindamicina, e fluoroquinolonas (SASAKI et al., 2007b;

LOEFFER; LLOYD, 2010), mas uma grande preocupação pode ser a

transferência de resistência aos antimicrobianos de espécies de

Staphylococcus animais para espécies humanas. O uso prudente na terapia

antimicrobiana na prática veterinária limita a emergência da resistência múltipla

aos antibióticos em todas as espécies de bactérias, e reduz o risco de

possíveis transferências de genes de resistência para bactérias comensais ou

patogênicas humanas. O uso de antibióticos na rotina influi na microbiota

normal e pode aumentar a pressão de seleção e ser um fator de contribuição

para o aparecimento dessas cepas resistentes. Os MRSA são incomuns em

animais, e o grande risco de infecção são animais hospitalizados,

especialmente aqueles com cateter intravenoso, os que vão sofrer intervenção

cirúrgica principalmente com implantes, e animais imunocomprometidos

(DUQUETTE; NUTTALL, 2004; COELHO et al., 2007; HUNTER et al., 2010),

enquanto Duijkeren et al (2011) relatam que os animais positivos com cepas

MRS vem aumentando, o que também foi relatado por outros estudos em

Portugal (COUTO et al., 2012), na Itália (PAUL et al., 2011) e nos USA

(MORRIS et al., 2012).

A transmissão de amostras bacterianas entre animais de companhia e

seus donos tem sido demonstrada em várias instâncias. A análise molecular

tem mostrado a presença indistinguível de MRS em pets e humanos moradores

da mesma casa, sugerindo a direção da transmissão. Os isolados provenientes

de cães e gatos se assemelham aos MRS nosocomiais, assumindo que os

animais de companhia os adquirem dos humanos. Tanto os animais quanto os

Page 40: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

39

humanos são mais colonizados que infectados e ambos funcionam como

reservatórios de MRS (PANTOSTI, 2012).

Existem diferenças na ocorrência dos MRSA entre animais de

companhia e animais de campo. Até 2006 os MRSA eram raros em animais de

companhia, e agora estão aumentando (OLIVEIRA et al., 2001;

STROMMENGER et al., 2006; MATLOW; MORRIS, 2009; HUNTER et al.,

2010), o que vem sendo observado, como na pesquisa da prevalência de S.

pseudintermedius isolados de amostras clínicas de animais de companhia e

equinos na Alemanha, das 870 amostras, todas mostraram resistência à

oxacilina (RUSCHER et al., 2009).

2.7. AS MORDEDURAS CAUSADAS POR ANIMAIS DE COMPANHIA

Os cães foram domesticados cerca de 15.000 anos atrás e o primeiro

gato domesticado há cerca de 9.500 anos. Hoje aproximadamente 75 milhões

de cães e 88 milhões de gatos são animais de companhia só nos EUA, e

aproximadamente 30% das famílias possuem gatos. Na Europa é estimado que

existam de quatro a 16 gatos para cada 100 habitantes (OEHLER et al., 2009),

o fato é que o número de pessoas que possuem animais de estimação é muito

alto na Europa e Estados Unidos (DUIJKEREN et al., 2011). Segundo a

Associação Nacional dos fabricantes de Alimentos para animais de estimação,

no Brasil, a população de cães foi estimada em 33 milhões e de gatos em 17

milhões, somente de animais domiciliados (ANFAAE, 2010).

A população de animais de estimação está continuamente aumentando.

Isto é uma consequência do reconhecimento dos benefícios em possuir esses

animais, que podem promover um bem estar para seus donos, em especial

crianças. Entretanto, os animais de companhia que vivem em estreito contato

com os humanos representam uma potencial fonte de zoonoses e ferimentos

causados direta ou indiretamente (OSTANELLO et al., 2008; ABRAHAMIAN;

GOLDSTEIN, 2011) com isso, devido à urbanização da sociedade

contemporânea e a limitação das áreas ambientais, a ameaça dos ataques

animais ainda é um problema médico e social. Ferimentos sérios no corpo

muitas vezes são causados por ataques de grandes animais. Os ataques por

Page 41: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

40

animais de pequeno porte normalmente não causam ferimentos que requerem

hospitalização, mas podem representar uma séria ameaça por causa da

transmissão de doenças infecciosas (NOGALSKI et al., 2007).

De acordo com os serviços de Saúde Pública dos EUA, mais que um

milhão de mordeduras animais que ocorrem a cada ano requerem atenção

médica, embora a maioria desses ferimentos possa parecer inofensivos

inicialmente, eles podem evoluir para sérias complicações (BROOK, 1987).

Devido a popularidade dos animais domésticos, continua a crescer a

incidência das mordeduras por esses animais que vem se desenvolvendo

numa proporção epidêmica, representando um importante problema de Saúde

Pública nos EUA. É estimado que 2 milhões de americanos são mordidos por

um animal doméstico a cada ano, e que 50% dos americanos ainda será

mordido em sua vida. As mordeduras animais constituem em torno de 1% dos

atendimentos de todo o serviço de emergência (BENSON et al., 2006). Dessas

lesões, 3-18% das mordeduras de cães e 28-80% das mordeduras por gatos

tornam-se infectadas, com sequelas ocasionais como meningites,

endocardites, artrite séptica e choque séptico. Num estudo na Espanha duas

mulheres apresentaram celulite após serem mordidas por gatos (TALAN et al.,

1999; PENNIE et al., 2004; GARCIA et al., 2009).

Estudos recentes dos EUA, Austrália, e Itália são consistentes em

afirmar que os cães são a espécie mais frequentemente responsável por

injúrias relacionadas com mordeduras associadas a animais vertebrados,

seguida pelos gatos (80% e 20% respectivamente). As mordeduras continuam

a ter uma importância particular em crianças (PATRONEK; SLAVINSKI, 2009;

KRAMER et al, 2010). No Brasil, embora os números exatos não sejam

conhecidos, sabe-se que os cães são responsáveis pela maioria das

mordeduras de animais, seguidos pelos gatos (SANTOS et al., 2007).

Nos EUA, a cada ano, 300.000 visitas às unidades de emergência são

devido a mordeduras de gatos (WESTLING et al., 2006) e a proximidade dos

donos e seus animais faz com que haja um potencial de transmissão de até 30

agentes infecciosos (OEHLER et al., 2009).

Os ataques animais a pessoas em todo o mundo resultam em milhões

de injúrias e centenas de mortes. Esses ataques afetam tanto a população rural

Page 42: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

41

quanto a urbana. Muitas pessoas com injúrias menores não contactam os

serviços de saúde e com isso esses casos não são computados na estatística.

Os relatos de injúrias causadas por animais tem uma baixa porcentagem em

todos os pacientes com injúrias, mas exige uma abordagem individual de cada

paciente (NOGALSKI et al., 2007).

As principais complicações das mordeduras por mamíferos são os danos

teciduais, a infecção e o estresse psicológico. O trauma psicológico seguido

das mordeduras animais ainda é um problema subestimado. As lesões sofridas

por mordidas são dependentes da espécie animal e dentição, da ferocidade do

ataque e da região anatômica da mordida. As mordeduras por cães resultam

mais em esmagamentos, lacerações e abrasões, em contraste as mordeduras

por gatos quase sempre são puntiformes devido aos seus dentes incisivos

serem muito longos e delgados. As feridas podem parecer menores na

superfície da pele, mas podem penetrar profundamente e atingir ossos,

articulações e tendões. Isto é de particular importância nas mãos, onde a

penetração nas articulações é facilmente encontrada por clínicos. A maioria

das feridas por mordeduras animais podem ser gerenciadas em práticas

rotineiras, entretanto é importante reconhecer quando uma ferida tem alto risco

de infecção e quando um hospital deve ser procurado (MITNOVETSKI;

KIMBLE, 2004; BENSON et al., 2006; WESTLING et al., 2006; DENDLE;

LOOKE, 2009; OEHLER et al., 2009; WESTLING; JORUP, 2009).

As mordeduras de gatos podem ser devastadoras em temos de

infecção e incapacidade permanente se não for tratada apropriadamente. As

extremidades superiores, especialmente as mãos, são particularmente

vulneráveis às feridas por mordidas de gatos. De todos os casos de

mordeduras de gatos, as mãos estão envolvidas em 45-63% dos casos. As

taxas de infecção representam o dobro das taxas por mordidas de cães. Alguns

pacientes mordidos por gatos necessitam de intervenção cirúrgica

(MITNOVETSKI; KIMBLE, 2004).

As feridas por mordeduras de animais têm sido categorizadas em três

grupos com base no tipo de injúria, avulsão, laceração ou perfurantes. As

avulsões ocorrem quando a pele é arrancada do tecido subjacente e osso.

Laceração são rupturas na pele; em instâncias mais graves podem incluir

Page 43: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

42

rupturas no tecido subcutâneo e resultar em bordas irregulares. Perfurações

resultam da penetração dos dentes na pele e a possibilidade de estruturas

mais profundas. Os gatos primeiro mordem e depois seguram sua presa até

que fiquem imóveis. Como tal, as mordidas de gatos mais frequentemente

resultam em feridas perfurantes. Os dentes longos e afiados dos gatos podem

facilmente perfurar estruturas subjacentes, incluindo ligamentos, ossos,

cápsulas articulares, tendões, nervos e estruturas vasculares, além disso, as

feridas perfurantes causadas pelos felinos normalmente envolvem uma

penetração profunda e a preservação de uma parte da ferida fechada

(SANTOS et al., 2007; PATRONEK; SLAVINSKI, 2009).

A mistura da biota aeróbica e anaeróbica juntamente com a injúria

frequentemente complexa de estruturas profundas pode acarretar em infecção.

A microbiota bucal contém uma grande variedade e concentração bacteriana,

que tornam susceptível a infecção da ferida, sendo a principal complicação das

mordeduras (SANTOS et al., 2007; KRAMER et al, 2010; SYRMOS et al.,

2010; MADSEN; JUSTESEN, 2011), sendo assim a mordedura do gato, faz

uma lesão penetrante que instila microrganismos no tecido subcutâneo

traumatizado enquanto uma lesão fechada predomina, permitindo que os

microrganismos mais sensíveis possam encontrar refúgio (LOVE; MALIK;

NORRIS, 2000).

As complicações geradas pelas mordeduras dependem de vários

fatores, como a microbiota específica da saliva do animal, a isquemia tissular

na região da ferida causada pela força compressiva, responsável pela maior

dificuldade para os anticorpos realizarem a proteção do organismo contra as

bactérias, e também é mais difícil para que os antibióticos cheguem em suas

concentrações terapêuticas no tecido esmagado e isquêmico (NOGALSKI et

al., 2007), já as taxas de infecção por mordeduras diferem entre as espécies

animais, dependendo da microbiota oral e do tipo de injúria. Os organismos

infectantes mais comumente são provenientes da boca do animal mordedor,

entretanto eles também podem ser provenientes da própria biota do hospedeiro

ou do meio ambiente. As infecções por mordeduras de animais devem ser

consideradas polimicrobianas, mas certamente patógenos incomuns podem ser

característicos de determinadas espécies animais, e o conhecimento deste fato

Page 44: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

43

é útil na orientação da escolha do antibiótico (DENDLE; LOOKE, 2009;

WEINBERG; BRANDA, 2010).

A microbiota oral de humanos e animais é extremamente variada e

esses microrganismos estão frequentemente envolvidos em muitas doenças

(KRAMER et al., 2010). Num estudo realizado em Goiás, na microbiota oral de

cães pastores saudáveis, foram encontrados diversos gêneros bacterianos,

entre eles, Staphylococcus (S. hycius, S. xylosus, S. saccharolyticus e S.

auricularis) (LEE,1994; BRAGA et al., 2005), enquanto que outros patógenos

comuns nas mordeduras dos gatos (Quadro1) são: Streptococcus sp.;

Fusobacterium sp.; Bacteroides sp.; Porphyromonas sp.; Moraxella sp.;

Pasteurella multocida e Staphylococcus sp. (OEHLER et al., 2009;

ABRAHAMIAN; GOLDSTEIN, 2011). Em outro estudo microbiológico de

mordeduras de animais, 20 das feridas foram nas mãos, dez nas pernas, seis

no pescoço e cabeça e três no tronco. Linfadenopatia foi observada em 11

casos. Foram recuperadas 39 espécies de bactérias obtidas das feridas. Os

agentes bacterianos mais frequentemente isolados nas mordeduras animais

foram S. aureus e Pasteurella multocida. A atividade da β-lactamase foi notada

em 18 isolados. As bactérias obtidas das feridas infectadas por mordeduras

geralmente colonizam a pele e cavidade oral dos animais e humanos. Em 41%

dos isolados havia produção de β-lactamases, suscitando-se então a questão

se as penicilinas representam terapia adequada para mordeduras infectadas

(BROOK, 1987).

Em ensaios clínicos tem sido demonstrado que embora 80% das feridas

por mordeduras de cães apresentem cultura positiva para bactérias, somente

de 3-20% virão a ser infectadas (MEYERS et al., 2008). Já no estudo de 110

pacientes nos USA com mordeduras de cães e gatos, 57 pacientes tiveram a

ferida infectada proferida por gatos. A idade média das vítimas era de 39 anos,

e a maioria dos pacientes eram mulheres. Desses 85% das feridas por

mordeduras de gatos eram perfurantes, 3% lacerações e 12% uma

combinação das duas. Uma mistura de infecção por aeróbios e anaeróbios

estava presente em 56% de todas as feridas, sendo que 63% nos gatos.

Staphylococcus foram isolados em 52% das feridas. Foram hospitalizados 33

pacientes (31%), e realizado tratamento com antibióticos intravenosos.

Page 45: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

44

Aproximadamente 20% dos pacientes com infecções, nesse estudo, foram

tratados empiricamente com penicilina, ampicilina ou cefalosporinas de

primeira geração (TALAN et al., 1999).

Em decorrência dos S. aureus meticilina resistente terem se tornado

patógenos comuns adquiridos na comunidade, eles podem ser identificados em

culturas bacterianas de amostras provenientes de feridas por mordeduras. As

espécies aeróbias mais comuns identificadas são: Streptococcus,

Staphylococcus, Moraxella, Corynebacterium, e Neisseria (PATRONEK;

SLAVINSKI, 2009).

Segundo dados do SUS (Sistema Único de Saúde) no Brasil, de 2000-

2007, houve 4.520 internações ocasionadas por mordeduras de gatos e outros

mamíferos excetuando-se os cães, e dados mais recentes de 2008-2010 já

computam 1022 internações, sem contabilizar os atendimentos ambulatoriais,

gerando alto custo à saúde pública (BRASILa; BRASILb). As mordeduras e

arranhões representam a questão mais importante na saúde pública

relacionada a cães e gatos por causa do trauma físico e psicológico, também

computa-se as feridas infectadas por diferentes microrganismos e o risco da

transmissão de zoonoses. No passado, o risco da transmissão da raiva era a

questão de saúde pública mais importante ligada a esses ferimentos, mas a

atenção vem sendo focada na associação médica e custos com a saúde

pública (OSTANELLO et al., 2008).

Não obstante a natureza da maioria das mordeduras, o custo dos

ferimentos causados por cães permanece substancial. A partir de dados

coletados provenientes de 904 hospitais em 17 estados dos EUA (Estados

Unidos), foi estimado em pelo menos 330 000 visitas em departamentos de

emergência e 5.991 altas hospitalares relacionadas com injúrias por

mordeduras de cães. A estimativa com cuidados médicos diretos ocasionados

por cães é de165 milhões de dólares (PATRONEK; SLAVINSKI, 2009).

Os atendimentos de emergência nos USA causados por mordeduras de

cães e gatos compreendem 1% de todos os atendimentos, e números similares

são vistos na Europa. As mordeduras por gatos são mais comuns em mulheres

e idosos. A maioria das exposições ocorre em crianças entre cinco e nove anos

de idade (OEHLER et al., 2009).

Page 46: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

45

A ameaça de ataques animais a pessoas é ainda um enorme problema

médico e social. Esses ataques resultam em milhões de injúrias e milhares de

mortes por todo o mundo. Na Turquia entre 1995-2004, 240 mordeduras

animais resultaram em mortes e um total de 39. 511 pacientes necessitaram de

hospitalização. Uma média de 177 fatalidades por ano relacionada a animais é

relatada nos USA. Além disso, os custos médicos desses incidentes fatais e

não fatais tem um impacto significante na saúde pública. No departamento de

emergência na Turquia em dois anos, um total de 921 lesões relacionadas a

injúrias animais deram entrada. Dos pacientes, 73,2% eram homens e 44,4%

crianças. A hospitalização ocorreu em 5,6% dos pacientes. A maioria das

lesões foram ocasionadas no verão(91,3%) e em períodos de alta umidade do

ar. Os gatos se encontraram em terceiro lugar como causadores de

mordeduras neste estudo, já que, os cavalos estavam em segundo lugar entre

os mamíferos. Já na Suiça, Espanha e USA, estes permaneceram logo depois

dos cães (EMET et al., 2009).

Em um estudo nos USA , o número de dias de internação dos pacientes

por mordidas de gatos foi de 2-8 dias. Todos os pacientes necessitaram de

tratamento cirúrgico. Quarenta e sete pacientes foram alocados na categoria 1,

com custos de 1.880 dólares, 30 pacientes na categoria 2 (internação), com

custos de 11.174 dólares, e 21 pacientes na categoria 3, (internação e

procedimento cirúrgico), 17.906 dólares. Na categoria 4 se enquadram os

pacientes com complicações e tratamento por seis semanas de antibióticos,

envolvendo um custo de 77.730 dólares. Na categoria 5, seis pacientes, foram

submetidos a debridamento ósseo, e reparo de nervos e tendões, com custo de

81.926 dólares (BENSON et al., 2006).

Nas mordeduras animais os estudos de sensibilidade “in vitro”

frequentemente não são realizados por fatores técnicos ou de contenção de

custos, e consequentemente os clínicos fazem o uso empírico dos

antimicrobianos (GOLDSTEIN et al., 1997; KRAMER et al., 2010) e isso faz

com que a escolha do antimicrobiano adequado para as infecções causadas

por mordidas humanas ou animais representem um dilema para os clínicos

(JAINDL et al., 2012). Aproximadamente 80% das feridas por mordidas

albergam potenciais patógenos, incluindo bactérias aeróbicas e anaeróbicas.

Page 47: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

46

Embora alguns clínicos defendam o uso oral de cefalosporinas para feridas por

mordeduras, estão aumentando os relatos de falhas clínicas. Estudos revelam

a alta resistência bacteriana tipicamente encontrada nas feridas por

mordeduras a esse grupo. A amoxicilina associada ao ácido clavulânico se

mostrava clinicamente efetiva no tratamento de feridas infectadas causadas por

mordeduras e era considerada por vários como sendo a droga de escolha na

terapia empírica (GOLDSTEIN; CITRON, 1988).

A profilaxia realizada com antibióticos para pequenas feridas de

mordeduras de gatos, tem se mostrado efetiva em reduzir as taxas de infecção,

e a amoxicilina associado ao clavulanato tem se mostrado mais efetiva que

outros antibióticos nas infecções depois de mordeduras animais

(MITNOVETSKI; KIMBLE, 2004). A profilaxia com antimicrobianos tem sido

muito discutida e há muitas controvérsias sobre o assunto (JAINDL et al, 2012).

Mesmo feridas aparentemente menores requerem exploração

cuidadosa, porque as lesões que podem parecer superficiais podem recobrir

fraturas, laceração de tendões, vasos, ou nervos, se estender em cavidades do

corpo, penetrar espaços articulares ou danos a estruturas como os olhos.

Mesmo quando recebem atenção imediata cerca de 85% das mordidas

abrigam patógenos potenciais. A prevenção da infecção depois das feridas

permanece controvérsia, embora estudos recentes reportem taxas de infecção

mais altas que 45% depois de mordidas por cães e gatos. Os antibióticos são

quase sempre recomendados para as feridas de alto risco, tais como as

perfurantes profundas (causadas por gatos), e aquelas que requerem reparo

cirúrgico, e as que envolvem as mãos. Ocasionalmente infecções severas

podem se desenvolver depois de mordeduras, resultando da disseminação

hematógena, causando sepsis, endocardites, meningites ou penetração não

detectada em estruturas profundas, ocasionando abcessos cerebrais e artrites

sépticas (FLEISHER, 1999; SANTOS et al., 2007; KRAMER et al., 2010). As

infecções estafilocócicas são mais complicadas pela frequente multirresistência

aos antibióticos. A resistência a meticilina é comum (QUECK et al., 2009).

As mordeduras de gatos nas mãos de humanos tem ganhado atenção

especial por causa do alto potencial de infecção e complicações. A

administração profilática de antibióticos permanece controversa. Um estudo

Page 48: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

47

prospectivo bem delineado e padronizado é necessário para examinar a

eficácia da profilaxia e tratamento das feridas. O tratamento antimicrobiano

deve ser direcionado contra os patógenos típicos associados com a microbiota

oral do animal mordedor e a pele da vítima e aqueles com maior probabilidade

de causar infecções (PATRONEK; SLAVINSKI, 2009).

Num estudo feito na Itália, avaliando mordeduras e arranhões

provenientes de mamíferos admitidos nos serviços de saúde, foram estudados

1509 pacientes, a maioria das injúrias foram causadas por cães (76,9%),

seguidas pelos gatos (19,7%). Os ferimentos por cães ocorreram mais em

homens, enquanto que os ferimentos por gatos ocorram em maior frequência

em mulheres. As lesões causadas por gatos mais frequentemente envolviam

as mãos (69,6%), extremidades baixas (14,7%), braços (13,3%), e face,

cabeça e pescoço (2,3%) (OSTANELLO et al., 2008).

No Canadá, uma a duas pessoas em média morrem ao ano por ataques

de cães. Num estudo realizado nesse país, 85,7% dos ataques foram em

crianças e com menos de 12 anos de idade, e 60% das vítimas eram homens

(RAGHVAN, 2008). As mordeduras de animais podem causar sérias

complicações como no caso relatado na África de um menino de 21 meses que

havia sido mordido por um cão há um mês, e apresentou um abcesso cerebral

que teve que ser tratado cirurgicamente onde foi drenado 100 microlitros de

pus (JONES, 2000).

Um estudo no Reino Unido, revelou que duas semanas após ser

mordida, uma senhora de 66 anos apresentando boa saúde desenvolveu

endocardite por S.aureus. Vários casos são descritos na literatura. Uma boa

higiene da ferida e o uso de antimicrobianos de amplo espectro em casos de

mordeduras animais devem sempre ser considerados (BRADSHAW, 2003),

porque podem provocar doenças graves como pneumonia, abcessos

pulmonares, peritonites, endocardites, meningites, e sepsis que são bem

conhecidas, especialmente em pacientes imunocomprometidos. Na Croácia foi

relatado um caso de um paciente imunocomprometido que foi mordido por um

gato desconhecido, e rapidamente desenvolveu sepsis, morrendo 70 horas

após a mordida apesar de todo o tratamento intensivo realizado

(DRENJANCEVIC et al., 2008).

Page 49: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

48

Mitnovetski e Kimble (2004) conduziram um estudo com mordeduras de

gatos na Austrália, e observaram que a maioria dos pacientes que sofreram as

injúrias foram mulheres de meia idade. Geralmente apresentavam dor, eritema,

inchaço, ao redor da perfuração, embora outros sinais pudessem ser

evidenciados, como elevação da temperatura, linfangite, linfadenite, e coleção

de pus. A infecção é a complicação mais comum de mordeduras de gatos nas

mãos.

Na Suécia, em 72 episódios, 91% das mordidas de gatos foram

localizadas na mão ou no braço, cinco nos pés ou pernas, e dois na face.

Dezenove pacientes foram hospitalizados devido à doença severa ou cirurgias.

Complicações ocorreram em 14 pacientes (18%). As mordidas por gatos foram

mais comum em mulheres (70%) neste estudo, e esse achado é similar em

vários outros (WESTLING et al., 2006).

Quadro 1. Gêneros comuns de bactérias aeróbicas e anaeróbicas isoladas de feridas por mordeduras de gatos.

Microrganismos aeróbicos Referências

Pasteurella multocida Mitnoveski and Kimble, 2004; Westling et al., 2006;

Santos et al., 2007; García et al., 2009; Patroneck

and Slavinski, 2009

Staphylococcus sp. Mitnoveski and Kimble, 2004; Westling et al., 2006;

Santos et al., 2007; Patroneck and Slavinski, 2009

Streptococcus sp. Mitnoveski and Kimble, 2004; Westling et al., 2006;

Santos et al., 2007; Patroneck and Slavinski, 2009

Neisseria sp. Patroneck and Slavinski, 2009

Moraxella sp. Patroneck and Slavinski, 2009; Weinberg and Branda,

2010

Corynebacterium sp. Patroneck and Slavinski, 2009

Enterococcus sp. Abrahamian and Goldstein, 2011

Bacillus sp. Abrahamian and Goldstein, 2011

Microrganismos anaeróbicos Referências

Porphyromonas sp. Westling et al., 2006

Page 50: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

49

Bacteroides sp. Westling et al., 2006; Patroneck and Slavinski, 2009

Prevotella sp. Westling et al., 2006; Patroneck and Slavinski, 2009

Propionibacterium sp. Westling et al., 2006

Fusobacterium sp. Westling et al., 2006; Patroneck and Slavinski, 2009

Page 51: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

50

3. OBJETIVOS

3.1. OBJETIVO GERAL

Identificar a presença de Staphylococcus na cavidade oral de gatos,

verificando as espécies envolvidas bem como sua susceptibilidade aos

antimicrobianos, em particular a resistência à meticilina, com vistas ao seu

papel em Saúde Pública.

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Isolar e identificar as espécies de Staphylococcus presentes na cavidade

oral de gatos clinicamente saudáveis.

Avaliar a sensibilidade aos antimicrobianos dos Staphylococcus

isolados.

Detectar a resistência à meticilina por métodos fenotípicos e genotípicos.

Page 52: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

51

4. MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi aprovado pelo Comitê de ética no uso de animais (CEUA) da

Universidade Federal Fluminense e recebeu o número 141/09.

4.1. LOCAL DO ESTUDO

O estudo foi realizado na cidade de Teresópolis, estado do Rio de Janeiro.

Foram estudados animais de 13 bairros da cidade, como Alto, Agriões, Várzea,

Vale do Paraíso, Panorama, São Pedro, Pimenteiras, Canoas, Féo, Araras,

Fazendinha, Golf e Barra, em Julho de 2009.

4.2. ANIMAIS

A pesquisa foi realizada colhendo-se amostras de 200 gatos, sendo 128

machos e 72 fêmeas, adultos (acima de um ano de idade), sendo 174 SRD

(sem raça definida) e 26 animais de raça (18 siameses e oito persas),

clinicamente saudáveis (mucosas normocoradas, ausência de lesões na

cavidade oral, ausência de lesões corporais e secreções e bom escore

corporal). Os critérios de inclusão previam ausência de qualquer doença

infecciosa e ausência de tratamento com antimicrobianos há pelo menos 30

dias. Foram excluídos 27 animais do estudo. Todos os animais possuíam dono.

Em casas com grande número de animais, limitou-se a coleta a cinco animais.

Todos os proprietários foram esclarecidos quanto aos objetivos do estudo e

assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido para participação da

pesquisa.

Page 53: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

52

4.3. COLETA DAS AMOSTRAS

As amostras foram colhidas por três pessoas na clínica escola de

medicina veterinária do UNIFESO (Centro Universitário Serra dos Órgãos), e

nos domicílios dos animais no mês de Julho de 2009. Após contenção física, a

colheita de amostras foi realizada com auxílio de swab estéril na região

sublingual de cada gato (Figura 1). Os swabs em meio de Stuart (ABSORVE,

JIANGSU, CHINA) foram então identificados e acondicionados, sendo

mantidos sob refrigeração até o transporte ao laboratório.

Figura 1: Coleta de amostra com swab estéril na região

sublingual do gato.

4.4. PROCESSAMENTO BACTERIOLÓGICO

4.4.1. Cultura bacteriana

Todas as amostras foram identificadas por número e semeadas em

placa contendo o meio Agar manitol salgado (Agar Chapman – HIMEDIA,

MUMBAI, INDIA) e incubados a 37ºC em aerobiose, em estufa bacteriológica

por 24h. Uma vez que tal meio é seletivo e indicador para Staphylococcus sp.,

não foram considerados outros microrganismos. Amostras em que não se

Page 54: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

53

observou nas placas crescimento sugestivo de Staphylococcus sp. foram

inoculadas em caldo BHI (Brain Hearth infusion - HIMEDIA, MUMBAI, INDIA)

em tubos para enriquecimento por 24h a 37ºC para posteriormente serem

novamente semeadas em Agar manitol salgado. Foi realizada nova semeadura

em Agar manitol salgado de todas as mostras para purificação das colônias.

As colônias foram categorizadas de acordo com suas características

macroscópicas. Essas colônias isoladas foram semeadas em meio ATS (Agar

tripticase soy - HIMEDIA, MUMBAI, INDIA) para formação de massa

bacteriana. Foram incubadas à 24h/37ºC. Foram retiradas das placas e então

congeladas em crio tubos contendo meio com leite e glicerol a 10%,

previamente esterilizado por autoclavação, devidamente identificadas e

armazenadas em freezer a temperatura de -20°C.

4.4.2. Identificação bacteriana

Em todas as provas foram utilizadas cepas controle positivas e

negativas, como, S. epidermidis (ATCC 14990), S. haemolyticus (ATCC

29970), S. aureus (ATCC 12600), S. hominis hominis (ATCC 27844), S.

saprophyticus saprophyticus (ATCC 15305), S. cohnii cohnii (ATCC 29974), S.

xylosus (ATCC 29971), S. lugdunensis (DSMZ 4804), S. schleiferi scheiferi

(DSMZ 4807) e S. warneri (ATCC 10209).

As amostras bacterianas sugestivas de pertencerem ao gênero

Staphylococcus sp. foram identificadas com base nas características coloniais,

morfo-tintoriais, produção de pigmento e provas bioquímicas diversas (HOLT et

al., 1994; MAC FADDIN, 1997; BANNERMAN, 2003).

As provas utilizadas para confirmação de gênero foram à prova da

catalase e prova OF (fermentação/oxidação) da glicose em meio Hugh e

Leifson (BAKER; HACKETT; SIMARD, 1986).

As provas utilizadas para identificação das espécies foram o teste da

coagulase em tubo, produção de acetoína, fosfatase, redução de nitrato a

nitrito, urease (VETEC - DUQUE DE CAXIAS, RJ, BRASIL), resistência à

polimixina, desferrioxamina, novobiocina (SENSIFAR - SÃO PAULO, SP,

Page 55: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

54

BRASIL), descarboxilação da arginina e ornitina e produção da enzima

pirrolidonil arilamidase (PYR), além da fermentação aeróbica de sacarose, D-

manose, D-celobiose, D-xilose, ribose, D-trealose, maltose, lactose e D-manitol

(VETEC - DUQUE DE CAXIAS, RJ, BRASIL) (BANNERMAN, 2003).

4.4.2.1 Teste da coagulase: A coagulase é uma enzima que é

secretada durante o crescimento bacteriano. Foi diluído o

plasma liofilizado de coelho em salina (0,85%) e adicionado

cinco colônias da amostra em estudo e colocados em tubos

estéreis e incubados a 37°C. A leitura foi realizada com 4h e

as negativas confirmadas em 24h de incubação. O resultado

positivo foi quando se formou um coágulo e a prova negativa

não houve formação.

4.4.2.2 Teste da catalase: Este teste foi utilizado para diferenciação

dos gêneros Staphylococcus e Streptococcus. Os

estafilococos em contato com a solução de H₂O₂ produzem

formação de bolhas. Foi adicionado á lâmina de vidro de

microscopia uma gota de H₂O₂ e com auxilio de agulha

bacteriológica tocou-se a colônia em teste e colocou-se em

contato com a gota.

4.4.2.3 Teste da oxidação e fermentação da glicose (OF): Teste

utilizado para diferenciação entre os gêneros Micrococcus e

Staphylococcus. Os Staphylococcus sp. apresentam

metabolismo fermentativo, fazendo com que o meio de cultura

inicialmente verde, se torne amarelo. Preparou-se dois tubos

com 5mL para cada amostra com meio de Hugh & Leifson`s,

pH7,1, repicou-se uma colônia em cada tubo, sendo que um

tubo foi coberto com óleo mineral. Os meios e o óleo foram

esterilizados. A incubação foi feita a 37°C por 48h.

Page 56: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

55

4.4.2.4 Produção de acetoína: Avaliou a produção de acetoína

proveniente da glicose ou piruvato. Foi utilizado o caldo de

Clark & Lubs, pH 6,9 em tubos com 3mL esterilizados por

autoclavação. Colocou-se uma gota do inoculo pela escala de

Mc Farland equivalente a 2.0. A incubação foi feita a 37°C por

48h. Após esse período foi adicionado 0,6 mL do reativo alfa-

naftol a 5% e em seguida 0,2mL do reativo KOH 40%. A

leitura foi feita com 15min e até uma hora após a adição dos

reagentes. O resultado positivo apresentou coloração rosa-

vermelho, e no negativo não houve alteração de cor do meio.

4.4.2.5 Redução do nitrato: Preparou-se o caldo nitrato, pH 7,0.

Distribuiu-se 2,0 mL por tubo e realizada a esterilização por

autoclavação. Adicionou-se três gotas do inoculo equivalente

a 2,0 na escala de Mc Farland. Incubou-se a 37°C por 24 h, e

procedeu-se a adição de 0,5 mL de cada reagente. Alfa

naftilamina a 0,5% e em seguida ácido sufanílico a 0,8%. O

teste positivo apresentou cor rosa-vermelho e o negativo não

apresentou alteração de cor do meio. A coloração marrom

apareceu em amostras fortemente positivas.

4.4.2.6 Fermentação de carboidratos: Utilizou-se o caldo base

vermelho fenol, pH 7,4. Esse caldo foi esterilizado por

autoclavação e após a solução de açúcar foi adicionada já

filtrada por filtros Millipore estéreis. Distribuiu-se 3mL por tubo

e a solução final dos açúcares ficou em 1%. Foi inoculado 5

gotas de cultura na turvação de 2,0 da escala de Mc Farland e

incubados a 37°C, por 72h. As leituras foram feitas 24, 48 e

72h, sendo que em cada uma delas eram retirados os tubos

positivos. Foram utilizados nove açúcares para cada amostra

(lactose, manitol, manose, maltose, celobiose, xilose, trealose,

ribose e sacarose). O resultado positivo produziu coloração

amarela (pH ácido 6,8), o resultado negativo coloração

Page 57: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

56

vermelho-rosa (pH alcalino) e quando apresentou coloração

laranja, indicou prova duvidosa, foi repetida.

4.4.2.7 Descaboxilação da Arginina e ornitina: Utilizou-se o meio base

Moller descarboxilase, pH 6,0. Foi distribuído 1 mL por tubo e

esterilizados por autoclavação. Foi adicionado inoculo pesado

uma gota com turvação 2,0 da escala de Mc Farland em salina

em cada tubo e cobertos com óleo mineral estéril. A incubação

foi feita a 37°C, por 72h. Os tubos com resultado positivos

apresentaram coloração roxa e os negativos, coloração

amarela.

4.4.2.8 Produção de fosfatase: Preparou-se o caldo PDP, pH 7,5. Foi

realizada a esterilização por autoclavação e distribuição de 3,0

mL por tubo. Foi adicionado uma gota da solução PDP

(difosfato de fenolftaleína 0,5%) por tubo. Esta solução foi

esterilizada por filtração em membrana Millipore. Adicionou-se

5 gotas do inoculo pesado equivalente ao grau 2,0 na escala

de Mc Farland em salina. Procedeu-se a incubação a 37°C por

24h. Após o período de incubação foi adicionado uma gota de

solução Na OH 40%. Os tubos positivos apresentaram

coloração rosa-vermelho e nos tubos negativos não houve

alteração de cor do meio.

4.4.2.9 Hidrólise da uréia: Verificação da presença da enzima urease.

Utilizou-se o caldo uréia Rustigian & Stuart`s, pH 6,8. Meio

esterilizado por autoclavação e distribuídos 3,0mL por tubo.

Adicionado cinco gotas do inoculo equivalente ao grau 2,0 na

escala de Mc Farland. A incubação foi feita a 37°C por 48h. A

prova positiva apresentou coloração rosa-vermelho e na prova

negativa não houve alteração na coloração do meio.

Page 58: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

57

4.4.2.10 Produção da enzima pirrolidonil arilamidase (PYR): A atividade

da pirrolidonil arilamidase pode ser determinada pela hidrólise

da piroglutamil-beta naftilamida à L-pirrolidona e beta-

naftilamina, os quais combinados com o reagente PYR (p-

dimetilaminocinamaldeido) produz coloração vermelha. Foi

utilizado Kit comercial da Probac do Brasil®. Os discos foram

colocados em lâmina de vidro e umedecidos com água

destilada estéril. Com auxílio de alça flambada foi feito um

esfregaço com a bactéria no disco. Após 5 minutos a

temperatura ambiente colocou-se uma gota do PYR reagente.

As reações ocorreram em um minuto. As amostras positivas

apresentaram coloração vermelho cereja. As amostras

negativas apresentaram coloração amarela ou alaranjada.

4.4.2.11 Teste de resistência a novobiocina, polimixina e

desferrioxamina: Foi realizado o teste de suscetibilidade em

discos no meio de cultura Mueler Hinton com inoculo 0,5 da

escala de Mc Farland. Foram utilizados discos comerciais de

polimixina B (300µg) e discos de novobiocina. Foram

preparados discos de desferrioxamina (100µg). A

sensibilidade da novobiocina foi indicada pela zona de inibição

≥16mm, a susceptibilidade a polimixina B foi indicada pela

zona de inibição ≥ 6mm diferenciando S. epidermidis (R) S.

hominis (S). A desferrioxamina foi utilizada para diferenciação

de S. warneri(R) S. hominis (S).

4.4.3. Testes de suscetibilidade aos antimicrobianos (TSA)

Utilizou-se suspensões bacterianas em solução salina estéril, ajustadas

em turvação equivalente ao grau 0,5 da escala de McFarland e obtidas a partir

de colônias isoladas após o crescimento em Agar Chapman (HIMEDIA –

MUMBAI, INDIA) e repicadas em meio ATS (HIMEDIA – MUMBAI, INDIA) para

então serem semeadas em placa contendo o meio Agar Muller Hinton

Page 59: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

58

(HIMEDIA – MUMBAI, INDIA) para a realização do TSA pelo método de difusão

de discos, de acordo com as recomendações do Clinical and Laboratory

Standards Institute - CLSI (CLSI, 2008; CLSI, 2010). Resumidamente,

pequenos discos comerciais (Laboratório Sansifar) de papel de filtro

impregnados com concentrações conhecidas e pré-definidas (concentração

plasmática que a droga alcança após administração sistêmica) de

antimicrobianos foram colocados equidistantes na superfície do meio. As

placas foram incubadas à 35ºC(+ ou – 2) por 24 horas, quando então foram

medidos os halos de inibição de crescimento para cada antimicrobiano. De

acordo com o tamanho desses halos, medidos com auxílio de halômetro e

conferidos com a literatura (CLSI, 2008), as amostras foram classificados como

sensíveis ou resistentes.

Para o presente estudo foram testados os antimicrobianos de acordo

com uma escolha realizada pelas recomendações do CLSI humano e

veterinário, totalizando 16 drogas, já que o intuito seria o tratamento de seres

humanos mordidos por animais. A classe dos aminoglicosídeos foi

representada pela gentamicina (10µg), tobramicina (10 µg), enquanto as

fluoroquinolonas foram representadas pela enrofloxacina (5µg), ciprofloxacino

(5µg) e norfloxacino (10µg). Penicilinas foram representadas pela cefoxitina (10

µg), oxacilina (1µg) penicilina (10 UI). No grupo dos nitrofuranos a

nitrofurantoína (300µg). No grupo das tetraciclinas foram testadas a tetraciclina

(30µg) e a doxiciclina (30µg). No grupo das lincosamidas a clindamicina (2µg) e

no grupo dos macrolídeos a eritromicina (15µg). No grupo dos inibidores de

folato o trimetropim + sulfametoxazol (1,25/23,75µg). No grupo dos fenicóis, o

cloranfenicol (30µg), e no grupo das ansamicinas foi testada a rifampicina

(5µg). Os discos utilizados foram do laboratório SENSIFAR (SÃO PAULO, SP).

4.5 Detecção do gene mecA

Todas as amostras de Staphylococcus sp. foram submetidas à detecção

do gene de resistência à meticilina mecA pela reação em cadeia da polimerase

para confirmação dos resultados da análise fenotípica. Este método permitiu

também a comparação do uso dos discos de cefoxitina e oxacilina para

amostras de origem veterinária. Todas as amostras que foram consideradas

Page 60: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

59

resistentes a meticilina no método de difusão de discos como também as não

resistentes foram submetidas à detecção do gene mecA.

4.5.1 Liberação do DNA

A extração do DNA bacteriano foi realizada pelo método de lise térmica

como descrito por Pacheco e colaboradores (1997). As amostras foram

semeadas em meio Agar tripticase soja e incubadas a 37ºC em aerobiose

durante 24 horas.

A partir desse crescimento bacteriano foi preparada uma suspensão em

1,5mL de tampão TE [Tris-HCl 10mM (pH 8,0), EDTA 1mM (ph 8,0)] ajustadas

em turvação equivalente ao grau 6,0 da escala de McFarland. Um volume de

558μL da suspensão original foi centrifugada a 12.000 x g por um minuto. Após

a centrifugação, o sobrenadante foi descartado e 200 μL de tampão TE foram

adicionados ao sedimento. Essa nova suspensão foi, então, submetida à

fervura por 10 minutos e em seguida, foi centrifugada e, agora, o sobrenadante

separado para ser utilizado como fonte de DNA nas reações de amplificação.

4.5.2 Reação em cadeia da polimerase (PCR)

As amostras de estafilococos foram submetidas à PCR para detecção do

gene de resistência à meticilina mecA. Com isto, foi realizada a confirmação

das amostras bacterianas em MRS e, também, sugeriu a determinação da

eficiência dos discos de cefoxitina e oxacilina para detecção desta resistência

em amostras de origem veterinária.

A detecção do gene mecA foi realizada de acordo com Zhang e

colaboradores (2005), com modificações. A reação consistiu de um volume

final de 25μL com os seguintes reagentes: 50 mM de KCl, 20 mM de Tris-HCl

(pH 8.4), 2,5 mM de MgCl2, 0,2 mM of dNTP, 0,2 M de cada iniciador (todos os

reagentes obtido da Invitrogen, Carlsbad, California, EUA), além de 2 μL da

solução contendo DNA obtida após a liberação. Foram utilizados os iniciadores:

5’-GTG AAG ATA TAC CAA GTG ATT-3’ e 5’-ATG CGC TAT AGA TTG AAA

GGA T-3’.

A amplificação foi realizada em um termociclador (Applied Biosystems,

Page 61: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

60

California, EUA) e consistiu de uma etapa de desnaturação inicial de 94ºC por

cinco minutos, seguido por 30 ciclos de 94ºC por 45 segundos, 65ºC por 45

segundos e 72ºC por um minuto e meio, e uma etapa de extensão final de 72º

C por dez minutos.

A visualização dos produtos da reação foi realizada por meio de

eletroforese em gel de agarose a 1% em tampão TBE 0,5X (0,05 nM de Tris,

1,25 mM de EDTA e 0,05 M de ácido bórico). Foi utilizado um marcador

molecular de 100 pb (Invitrogen). O produto da amplificação foi visualizado sob

luz ultravioleta após o gel ser corado com brometo de etídio a 0,5 μg/mL. O

peso do produto esperado foi de 147 pb.

5. ANÁLISE DE DADOS

Os dados coletados foram armazenados em planilha de Excel. Avaliou-

se a frequência da ocorrência das diferentes espécies de Staphylococcus.

Foram empregados testes não paramétricos para avaliar a resistência aos

antibióticos das diferentes espécies de Staphylococcus, assim como a

ocorrência do gene mecA. Empregou-se o teste de qui-quadrado.

Page 62: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

61

6. RESULTADOS

Das 200 amostras colhidas dos 200 gatos, 141 (70,5%) apresentaram

crescimento de Staphylococcus, enquanto em 59 amostras (29,5%), não houve

crescimento de microrganismos deste gênero, mesmo após a etapa de

enriquecimento em caldo BHI (após o enriquecimento em BHI houve 10% de

crescimento nas amostras não crescidas inicialmente em Chapman).

Das 141 amostras em que houve crescimento compatível com

Staphylococcus sp, em 88 (44%) obteve-se o crescimento de apenas um tipo

colonial sugestivo deste gênero, enquanto em 35 (17,5%) obteve-se dois tipos

distintos e em 18 (9%) obteve-se três tipos coloniais. Assim, a partir das 141

amostras onde ocorreu crescimento de microrganismos deste gênero, foram

obtidas um total de 212 amostras bacterianas de Staphylococcus sp.

Destas 212 amostras bacterianas, 190 mostraram-se como

Staphylococcus coagulase-negativos (89,6%), sendo estes mais frequentes

(<0,0001) na população do que os coagulase-positivos, com 22 amostras

(10,4%). De acordo com a análise bioquímica para classificação das espécies,

dos 212 isolados, a espécie mais frequente foi S. xylosus (50,9%), seguida de

S. felis (27,4%), S. simulans (6,1%), grupo S.intermedius (SIG) (5,7%), S. sciuri

(5,2%), e com menor frequência S. aureus (4,7%) (Tabela 1).

Page 63: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

62

Tabela 1: Distribuição de espécies de Staphylococcus sp. obtidas de amostras da cavidade oral de 200 gatos da cidade de Teresópolis, RJ

ESPÉCIES Coagulase N° %

S. xylosus Negativa 108 50,9

S. felis Negativa 58 27,4

S. simulans Negativa 13 6,1

S. sciuri Negativa 11 5,2

Grupo S. intermedius (SIG) Positiva 12 5,7

S. aureus Positiva 10 4,7

TOTAL 212 100

No que se refere aos resultados das provas de susceptibilidade aos

antimicrobianos, verificou-se que penicilina e tetraciclina foram os

antimicrobianos aos quais as amostras bacterianas apresentaram maior

resistência (56,1%).

A resistência à eritromicina foi de 25,9%, ao cloranfenicol (24,5%), à

clindamicina (18,8%) à norfloxacina (8,9%), à enrofloxacina e ciprofloxacina

(8,0%), tobramicina (3,8%), nitrofurantoína (3,3%), sulfametoxazol+trimetropim

(1,9%), doxiciclina e gentamicina (0,9%), oxacilina (14,1%) e nenhuma amostra

foi resistente à rifampicina. Com relação à clindamicina 21 amostras

apresentaram resistência induzida na presença da eritromicina, no teste de

sensibilidade aos antimicrobianos (método de difusão em discos) quando

colocados os discos de eritromicina e clindamicina um ao lado do outro sendo

observado à formação do “D” no halo. (Tabela 2).

Page 64: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

63

Tabela 2: Perfil de resistência das 212 amostras de Staphylococcus sp.

isoladas da cavidade oral de gatos frente a classe e aos antimicrobianos testados

* As amostras coagulase negativas foram testadas com discos de cefoxitina.** 21 amostras apresentaram resistência induzida.

A multirresistência, ou seja, a resistência a três ou mais classes de

antimicrobianos foi observada em 83 (39,1%) amostras, sendo que 15 eram

CoPS (Staphylococcus coagulase-positivos) e 68 eram CoNS (Staphylococcus

coagulase-negativos). A diferença de ocorrência de multirresistência entre

CoPS e CoNS não foi estatisticamente significante.

Classe Antimicrobiano N° de amostras resistentes a droga

%

Aminoglicosídeos

Gentamicina Tobramicina

2 8

0,9 3,8

Fluoroquinolonas

Enrofloxacina Ciprofloxacino Norfloxacino

17 17 19

8,0 8,0 8,9

Penicilinas

Oxacilina* Penicilina

30 119

14,1 56,1

Nitrofuranos

Nitrofurantoína

7

3,3

Tetraciclinas

Tetraciclina Doxiciclina

119 2

56,1 0,9

Lincosamidas

Clindamicina**

40

18,8

Macrolídeos Eritromicina 55 25,9

Inibidores do folato

Sulfa/Trimetropim

4

1,9

Fenicóis

Cloranfenicol

52

24,5

Ansamicinas

Rifampicina

0

0

Page 65: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

64

De acordo com a classificação fenotípica, 14,1% das amostras

bacterianas estudadas se mostraram como Staphylococcus meticilina

resistente (MRS).

Foi verificada a resistência a pelo menos uma droga em 83,9% das

amostras, sendo que 44 apresentaram resistência a uma droga, 44 resistência

a duas drogas, 34 a três drogas, 16 a quatro drogas, 18 a cinco drogas, 11 a

seis drogas, sete a sete drogas, duas a oito drogas e duas a nove drogas

(Figura 2).

Figura 2: Padrão de resistência das 212 amostras de Staphylococcus sp. de acordo com a quantidade de drogas, frente aos 16 antimicrobianos avaliados.

Já no que se refere à resistência as classes de antimicrobianos, dez

amostras apresentaram resistência aos aminoglicosídeos, 20 à classe das

fluoroquinolonas, 123 a classe das penicilinas, sete a classe das

nitrofurantoínas, 122 a classe das tetraciclinas, 40 a classe das lincosamidas,

55 a classe dos macrolídeos, quatro a classe dos inibidores de folato, 52 a

classe dos fenicóis e nenhuma apresentou resistência à classe das

Page 66: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

65

ansamicinas (Tabela 3). A classe das penicilinas foi o grupo de drogas onde foi

observado um maior número de amostras resistentes, 123 (58,0%).

Tabela 3: Perfil de resistência das 212 amostras de Staphylococcus sp.

isoladas da cavidade oral de gatos em relação as dez classes de antimicrobianos testadas

CLASSE N %

AMINOGLICOSÍDEOS 10 4,7

FLUOROQUINOLONAS 20 9,4

PENICILINAS 123 58,0

NITROFURANOS 7 3,3

TETRACICLINAS 122 57,5

LINCOSAMIDAS 40 18,8

MACROLÍDEOS 55 25,9

INIBIDORES DO FOLATO 4 1,9

FENICÓIS 52 24,5

ANSAMICINAS 0 0

Com exceção da classe das tetraciclinas, os Staphylococcus coagulase-

positivos (CoPS) foram mais resistentes a todas as classes de antimicrobianos

do que os coagulase-negativos (CoNS). Assim, em relação à classe dos

aminoglicosídeos, os CoPS apresentaram maior resistência do que os CoNS.

Já na classe das fluoroquinolonas, verificou-se que os CoPS apresentaram

27,3% das amostras resistentes, enquanto que os CoNS apresentaram 24,6%.

Em relação à classe das penicilinas os CoPS apresentaram resistência maior

com 70%, enquanto os CoNS mostraram 65,9%, o que também pôde ser

observado na classe das nitrofurantoínas com 4,5% dos CoPS resistentes e

3,1% dos CoNS. Para o grupo das tetraciclinas foi observado maior resistência

nos CoNS com 58,3% para 54% dos CoPS. Na classe das lincosamidas 54,5%

dos CoPS foram resistentes para 14,7 dos CoNS. Nos macrolídeos os CoPS

também prevaleceram com 59% de resistência e nos CoNS 21,6%. Na classe

dos inibidores do folato os CoPS também apresentaram maior resistência, com

4,5% enquanto que os CoNS apresentaram 1,6%, o que também foi observado

na classe dos fenicóis com 27,3% para os CoPS e 23,1% nos CoNS. Já na

Page 67: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

66

classe das ansamicinas não houve resistência de ambos os grupos de

Staphylococcus (Tabela 4).

Tabela 4: Número de amostras resistentes dentre as 190 amostras de

Staphylococcus coagulase-negativas (CoNS) e 22 coagulase-positivas (CoPS) isoladas da cavidade oral de gatos em relação à classe de antimicrobianos e as 16 drogas testadas

Classe ATBa CoNS (190)

% CoPS (22)

%

Aminoglicosídeos GEN 2 1,0 0 0

TOB 5 2,6 2 9,1

Fluoroquinolonas ENO 16 8,4 2 9,1

CIP 14 7,3 2 9,1

NOR 17 8,9 2 9,1

Penicilinasb OXA 26 13,7 4 18,2

PEN 102 53,7 15 68,1

Nitrofuranos NIT 6 3,1 1 4,5

Tetraciclinas TET 109 57,3 12 54,5

DOX 2 1,0 0 0

Lincosamidas CLI 28 14,7 12 54,5*

Macrolídeos ERI 41 21,6 13 59,0

Inibidores folato SUT 3 1,6 1 4,5

Fenicóis CLO 44 23,1 6 27,3

Ansamicinas RIF 0 0 0 0 a ATB: antimicrobiano; GEN: gentamicina; TOB: tobramicina; ENO: enrofloxacina; CIP: ciprofloxacina;

NOR: norfloxacina; CFO: cefoxitina; OXA: oxacilina; PEN: penicilina; NIT: nitrofurantoína; TET: tetraciclina; DOX: doxiciclina; CLI: clindamicina; ERI: eritromicina; SUT: sufa + trimetropim; CLO: cloranfenicol; RIF: rifampicina. *Indica diferença estatisticamente sigfnificativa (p<0,0001)

Penicilinasb: Os CoNs foram avaliados por discos de cefoxitina e os CoPs por discos de oxacilina.

Em relação à resistência das espécies de Staphylococcus para as

classes de antimicrobianos testadas, foi observada para os CoNS, S. simulans

com 2,1% de resistência para classe dos aminoglicosídeos, seguidos de S. felis

com 1,0%, S. xylosus com 0,5% e S. sciuri, que não apresentou resistência à

classe. Já para os CoPS foi observado 4,5% em S. aureus e 4,5% no grupo

SIG.

Page 68: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

67

Na classe das fluoroquinolonas, quanto aos CoNS, S. xylosus

apresentou 16,8% de resistência seguido de S. felis 7,3%, S. sciuri 0,5% e S.

simulans, que não apresentou resistência. Nos CoPS, S. aureus 13,6% e o

grupo SIG com 13,6%.

Na classe das penicilinas entre os CoNS foi observado 40,6% de

resistência nos S. xylosus, 20,5% nos S. felis, 5,2% nos S. simulans, 1,0% nos

S. sciuri e nos CoPS, 5,2% de resistência nos S. aureus e 4,7% no grupo SIG.

Na classe das nitrofurantoínas nos CoNS, observou-se 2,1% de

resistência nos S. xylosus, 0,5% nos S. felis, 0,5% nos S. simulans, não foi

observado resistência a essa classe nos S. sciuri, e nos CoPS 0,5% de

resistência nos S. aureus e nenhuma no grupo SIG.

A resistência observada na classe das tetraciclinas nos CoNS foi de

35,8% nos S. xylosus, 16,8% nos S. felis, 3,7% nos S. simulans, 2,1% nos S.

sciuri, no grupo dos CoPS observou-se 27,3% de resistência nos S. aureus e

27,3% no grupo SIG.

Nas lincomicinas os CoNS apresentaram 8,9% nos S. xylosus, 3,1% nos

S. felis, 2,1% nos S. simulans e 0,5% nos S. sciuri. Já nos CoPS, 31,8% de

resistência nos S. aureus e 22,7% nos grupo SIG.

Na classe dos macrolídeos nos CoNS, o S. xylosus apresentou 11,0%

de resistência, S. felis 6,8%, S. simulans 3,1% e S. sciuri 0,5%. Nos CoPS, S.

aureus 31,8% e o grupo SIG 27,2%.

Para os inibidores do folato os CoNS apresentaram 0,5% nos S. xylosus,

1,0% S.felis, e S. simulans e S. sciuri não mostraram resistência. Nos CoPS, S.

aureus não mostrou resistência e o grupo SIG 4,5%.

Na classe dos fenicóis, no grupo dos CoNS, S. xylosus apresentou

12,6% de resistência, S. felis 7,3%, S. simulans 2,1%, S. sciuri 1,0%. No grupo

dos CoPS, S. aureus 9% e o grupo SIG 18,1%.

Na classe das ansamicinas ambos os grupos CoNS e CoPS não

demonstraram resistência (Tabela 5).

Page 69: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

68

Tabela 5: Número de amostras resistentes dentre as 190 amostras de

Staphylococcus coagulase-negativas (CoNS) e 22 coagulase-positivas (CoPS) isoladas da cavidade oral de gatos em relação às espécies e á 16 antimicrobianos testados.

Espécies de Staphylococcus resistentes

Classe ATB S. xylosus

S. felis

S. simulans

S. sciuri

TotalCoNS

S. aureus

SIG TotalCoPS

Aminoglicosídeos GEN 0 1 1 0 2 0 0 0

TOB 1 1 3 0 5 1 1 2

Fluoroquinolonas ENO 10 5 0 1 16 1 1 2

CIP 10 4 0 0 14 1 1 2

NOR 12 5 0 0 17 1 1 2

Penicilinasb

CFO 16 8 2 0 26 - - -

OXA - - - - - 1 3 4

PEN 61 31 8 2 102 8 7 15

Nitrofuranos NIT 4 1 1 0 6 1 0 1

Tetraciclinas TET 67 31 7 4 109 6 6 12

DOX 1 1 0 0 2 0 0 0

Lincosamidas CLI 17 6 4 1 28 7 5 12

Macrolídeos ERI 21 13 6 1 41 7 6 13

Inibidores folato

SUT 1 2 0 0 3 0 1 1

Fenicóis CLO 24 14 4 2 44 2 4 6

Ansamicinas RIF 0 0 0 0 0 0 0 0

a ATB: antimicrobiano; GEN: gentamicina; TOB: tobramicina; ENO: enrofloxacina; CIP: ciprofloxacina;

NOR: norfloxacina; CFO: cefoxitina; OXA: oxacilina; PEN: penicilina; NIT: nitrofurantoína; TET: tetraciclina; DOX: doxiciclina; CLI: clindamicina; ERI: eritromicina; SUT: sufa + trimetropim; CLO: cloranfenicol; RIF: rifampicina.

Penicilinasb: Os CoNs foram avaliados por discos de cefoxitina e os CoPs por discos de oxacilina.

Resultado da Análise molecular (PCR)

Foi realizada a Reação em Cadeia da Polimerase para identificação do

gene mecA nas 212 amostras.

Das 212 amostras, 30 apresentaram-se fenotipicamente como

Staphylococcus meticilina resistentes (MRS). Das 182 amostras

negativas fenotipicamente, confirmaram-se negativas com a realização

Page 70: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

69

da PCR, ou seja não apresentavam o gene mecA. Das 30 amostras

fenotipicamente suspeitas, 26 (12,3%) apresentaram-se positivas

(Tabela 6), ou seja, confirmando a presença do gene MecA (Fig.3)

pela realização da PCR.

Figura 3: Eletroforese de produtos obtidos da PCR para pesquisa do gene mecA de

cepas de Staphylococcus sp. isoladas da cavidade oral de gatos em gel de agarose 1%

Page 71: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

70

Tabela 6 : Resultado das amostras (30) fenotipicamente suspeitas

submetidas à PCR para pesquisa do gene mecA

ESPÉCIE/ COAGULASE OXACILINA CEFOXITINA mecA

S. xylosus N I R + S. xylosus N R R + S. xylosus N R R + S. xylosus N R R + S. xylosus N R R + S. xylosus N S R - S. xylosus N R R + S. xylosus N R R + S. xylosus N R R + S. xylosus N R R + S. xylosus N R R + S. xylosus N R R + S. xylosus N R R + S. xylosus N R R + S. xylosus N R R + S. xylosus N R R + S. xylosus N R R + S.felis N R R + S. felis N R R - S. felis N R R + S. felis N R R + S. felis N R R + S. felis N R R + S. felis N R R - S. simulans N R R + S. simulans N R R + S. simulans N I R + S. simulans N R R + Grupo intermedius P R R + Grupo intermedius P R S -

N – Coagulase negativa; P – Coagulase positiva; R – Resistente, S – Sensível, I – Resistência intermediária.

Page 72: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

71

7. DISCUSSÃO

Membros do gênero Staphylococcus sp. estão amplamente distribuídos

em infecções e também são residentes da microbiota da pele e das mucosas

de humanos e animais. Tal fato pôde ser confirmado no presente estudo, uma

vez que tais microrganismos foram recuperados em cultura pura a partir de

amostras da cavidade oral de gatos saudáveis, conforme esperado (Zubier et

al. 2007, Moodley et al., 2009, Otto 2009 e Pantosti 2012). A frequência de

recuperação de 70,5% verificada no presente estudo se assemelha ao estudo

realizado na mesma população (Lilenbaum; Esteves; Souza, 1999) quando se

relatou o isolamento de 104 cepas deste microrganismo apartir da saliva de

150 gatos hígidos (69,3%).

Staphylococcus vem sendo isolados de gatos com frequência em

diferentes países, como relatado por Cox et al (1985), que isolaram várias

espécies de Staphylococcus de gatos saudáveis das narinas anteriores, boca,

faringe, conjuntiva, orelhas, vagina e prepúcio nos USA. Já Loeffler et al.

(2005) isolaram Staphylococcus da mucosa bucal e nasal de gatos no Reino

Unido, assim como Malik, Peng e Barton (2005), que isolaram Staphylococcus

da pele de gatos hígidos na Austrália. Já Rich (2005) isolou vários

Staphylococcus provenientes de amostras da pele de gatos doentes no Reino

Unido. Desta forma, é consenso à presença de Staphylococcus tanto em gatos

saudáveis como doentes.

Staphylococcus coagulase-negativos foram prevalentes nesse estudo

(89,6%), o que também foi verificado por Lilenbaum, Esteves e Souza (1999) e

Loeffler et al. (2005). Embora pequenas variações na biota possam ocorrer

devido à população analisada, ao grupo a que vivem, tipo de manejo e do meio

Page 73: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

72

ambiente habitado por esses animais, é também consenso que Staphylococcus

coagulase-negativos são membros majoritários da microbiota dos gatos (Rich,

2005; Ganiere, Medaille e Mangion, 2005; Malik, Peng, Barton, 2005; Soares et

al. 2008).

A maior frequência de amostras de S. xylosus foi outro achado não

surpreendente, visto que, esta vem sendo a espécie mais isolada da

amostragem animal (Rich, 2005; Soares et al. ,2008). No entanto, Lilenbaum;

Esteves; Souza (1999) relataram S. felis como a espécie de maior prevalência.

É digno de nota que, mesmo considerando que o estudo citado tenha sido

conduzido também no Rio de Janeiro, as populações estudadas são diferentes,

e também ao longo dos anos o perfil das espécies de estafilococos

pertencentes à microbiota normal possa estar em contínua modificação, visto

que, ocorrem mudanças ambientais, adaptação dos microrganismos e

evolução das espécies. Também Igimi et al. (1994) no Japão, em condições

distintas, relataram predominância de S.felis em diversas amostras clínicas de

gatos, além da presença, em menor escala, de S. simulans, S. aureus, S.

intermedius, S. sciuri, S. epidermidis, S. haemolyticus, S. xylosus, S. cappitis,

S. equorum, S. galinarum e de S. lentus. Tal variabilidade de espécies é

esperada, já que são grupos populacionais distintos de animais, épocas

diferentes de análise, climas diferentes e animais criados com manejos

variados.

Enfatizando a importância do manejo e da ambientação diferentes na

variabilidade das espécies de Staphylococcus, Cox et al. (1985) encontraram

S. simulans (43,9%) como a espécie mais frequente. Deve- se observar que

tais autores estudaram amostras provenientes de gatos de gatis, onde há

grande concentração de animais; a fim de evitar tal viéis, no presente estudo

limitou-se a coleta de amostras ao máximo de cinco animais por residência.

Embora tenham sido encontrados em menor número no presente

estudo, deve-se observar que os CoPS, tais como S. aureus e membros do

grupo SIG, são microrganismos virulentos envolvidos em diversos processos

infecciosos, como cistites, piodermites, septicemias e pneumonias (PITKALA et

al., 2007; PANTOSTI, 2012) nos animais e no homem. Sua presença em

amostras nasais e retais de gatos foi relatada no Canadá (HANSELMAN et al.,

Page 74: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

73

2009) assim como no Brasil (LILENBAUM; ESTEVES; SOUZA, 1999). Apesar

da possibilidade de causarem processos infecciosos, estes microrganismos

foram isolados também de animais sadios, indicando que estas cepas podem

fazer parte da microbiota normal de gatos.

Desta forma, considerando-se a grande ocorrência de membros do

gênero Staphylococcus sp, tanto CoNS quanto CoPS, na cavidade oral de

gatos, não é surpreendente que tais microrganismos tenham sido relatados em

infecções secundárias às mordeduras por gatos em mãos de humanos

(MITNOVESTSKI; KIMBLE, 2004), evidenciando o potencial zoonótico destes

agentes e os prejuízos que estes eventos podem determinar para a saúde

pública.

Um achado alarmante diz respeito a alta frequência de resistência aos

antimicrobianos nas cepas isoladas, visto que 83,9% das amostras bacterianas

foram resistentes a pelo menos uma droga. Apesar de preocupante, este não

foi um achado inesperado, visto que já há três décadas sabe-se (LOVE et al.,

1981) que Staphylococcus isolados de infecções de gatos tem se revelado

resistentes às drogas antimicrobianas. Tal fenômeno vem sendo reforçado ao

longo dos anos com o aumento da resistência de amostras de origem felina

relatado na literatura (Cox et al.,1985; Lilenbaum; Esteves; Souza, 1999; Otto

2009). Pôde ser observado também neste estudo que com exceção da classe

das tetraciclinas, os CoPS foram mais resistentes a todas as classes de

antimicrobianos do que os CoNS, fato este que também foi observado em

outros estudos (Lilenbaum; Esteves; Souza, 1999; Malik, Peng, Barton, 2005),

e que possivelmente possa haver uma mudança neste perfil ao longo dos anos,

já que os CoNS são causadores de infecções, estando em constante contato

com diversos antimicrobianos.

Tal resistência variou bastante quanto à classe de antimicrobianos. Em

relação às penicilinas, esta vem sendo relatada e pode variar desde 15,3%

(Poeta e Rodrigues, 2008) a índices alarmantes (Malik, Peng, Barton, 2005),

tais como 58,6%. Rich (2005), com 62% ou 65,4% (Lilenbaum, Esteves e

Souza, 1999) para amostras obtidas de gatos, taxas bem altas comparáveis às

encontradas no presente estudo (58,0%). Analisando ainda a resistência á

classe das penicilinas, Soares et al. (2008) encontraram 95% de resistência,

Page 75: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

74

concordando com Mimica e Mendes (2007) onde foram observadas as taxas de

90% em hospitais e 70% na comunidade e com Gonano et al. (2009) que em

225 amostras de S. aureus encontraram 40,6% de resistência em amostras

humanas. Embora tenha sido recentemente relatado que a penicilina V seria

suficiente para tratar mordeduras de gatos infectadas (Westling e Jorup, 2009),

tal recomendação se encontra em desacordo com o presente estudo e outros

relatos, que apontaram altas taxas de resistência das cepas de estafilococos a

esta classe. Tal resistência se deve principalmente pela produção de β-

lactamases, ou presença do gene mecA, frequentemente encontrado tanto em

amostras de origem animal quanto humana (PRESCOTT et al., 2002;

OLIVEIRA et al., 2007; BERGLUND et al., 2009).

Ao analisar a resistência à classe das tetraciclinas, um estudo

demonstrou um baixo índice (Poeta e Rodrigues, 2008) encontrando 11,5%,

discordante de outros (Ganieri, Medaille e Mangion, 2005) que verificaram 46%

de resistência e 60% (Rich, 2005). Índices esses próximos aos verificados no

presente estudo (57,5%). Lilenbaum, Esteves e Souza (1999) reportaram

31,8% à classe das tetraciclinas. Duijkeren et al. (2004) relataram ter

encontrado alta resistência de CoNS a esta classe enquanto Prescott et al.

(2002) relataram ser comum à resistência a esta droga.

Já no que se refere à classe das fluoroquinolonas, a resistência parece

ser frequente no Brasil (Malik, Peng, Barton, 2005), com índices oscilando

entre 7,6% (Poeta e Rodrigues, 2008) e 23,1% (Lilenbaum, Esteves e Souza,

1999). Embora tais achados estejam em concordância com os verificados no

presente estudo (9,4%), contrastam com relatos de outros países, tais como na

França, onde foi reportado 2% de resistência (Garnieri, Medaille e Mangion,

2005), ou no Canadá (Murphy et al., 2009) que não encontraram nenhuma

amostra proveniente de gato resistente as fluoroquinolonas.

Na classe dos aminoglicosídeos, as taxas verificadas foram

inesperadamente baixas (4,7%), uma vez que outros estudos brasileiros

reportaram 9,6% (Poeta e Rodrigues, 2008) e 15,4% (Lilenbaum, Esteves e

Souza, 1999) de resistência à classe. Já no Canadá, não encontraram (Murphy

et al., 2009) amostras resistentes a esta classe. Fenômeno similar foi

observado em relação à classe dos inibidores do folato. Embora tenham

Page 76: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

75

encontrado 9,6% de resistência (Poeta e Rodrigues, 2008), índices mais altos

foram verificados com 52% (Garnieri, Medaille e Mangion, 2005) e 64% de

resistência a esta classe (Rich, 2005), bastante inferiores ao índice de 1,9%

verificado no presente estudo.

Na classe dos fenicóis, foi demonstrado 28% de resistência (Ganieri,

Medaille e Mangion, 2005) similar aos 24,5% verificados no presente estudo,

embora bastante inferiores aos achados de outro trabalho que observou 53%

de resistência à classe (Rich, 2005), similarmente, os achados presentes

(18,8%) foram bastante próximos á literatura para a classe das lincosamidas,

uma vez que foram encontrados 22% de resistência (Ganieri, Medaille e

Mangion, 2005) e 24,8% (Rich, 2005). Foi comum a resistência para os

macrolídeos, o que não é um achado surpreendente, visto ter sido relatado por

Prescott et al. (2002) e Duijkeren et al. (2004). Os índices verificados no

presente estudo (25.9%) são bastante próximos aos relatos de 28% (Garnieri,

Medaille e Mangion, 2005) e 24,8% (Rich, 2005).

Os MRS têm sido uma ameaça à saúde pública, por serem

microrganismos amplamente distribuídos e que apresentam alto grau de

resistência aos antimicrobianos (Struelens et al., 2009). Os MRS foram

descritos pela primeira vez em equinos (Hartmann, 1997), em bovinos (De

Vriese et al, 1972) e em animais de companhia (Rich, 2005). Nos países

industrializados os animais de companhia tem se tornado parte integrante dos

lares e cada vez mais numerosos, ocorrendo à transmissão de amostras

bacterianas entre os animais e seus donos (PANTOSTI, 2012). O aumento de

animais de companhia que albergam amostras MRS nos EUA e Europa foi

recentemente reportado (Duijkeren et al., 2011). Clones brasileiros de MRSA

adquiriram genes de resistência a várias drogas, sendo a incidência de MRSA

na América latina 50% maior do que em outros continentes (Rodriguez-Noriega

et al., 2010). Adicionalmente, Staphylococcus coagulase-negativos tem sido

isolados de grande número de infecções humanas, incluindo amostras

resistentes á meticilina (PALAZZO; DARINI, 2006).

Em diversos países a colonização por MRS em animais de companhia

saudáveis é rara (Baptiste et al, 2005; Loeffler et al, 2005 e Hanselmann et al,

2009; Pantosti, 2012), no entanto estudos recentes (Loeffler et al, 2011)

Page 77: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

76

demonstram a presença de 2,1% dos gatos colonizados, também constatada

em nosso estudo, o que sugere o aumento da colonização dos animais de

estimação ao longo do tempo.

No presente estudo verificou-se a presença de amostras

multirresistentes, incluindo cepas resistentes à meticilina, na cavidade oral de

gatos saudáveis. Observação similar foi relatada no Reino Unido onde

constatou-se a presença de MRS em várias espécies de animais de companhia

(Loeffler e Lloyd, 2010), e no Brasil, onde 22,1% das amostras de staphylococci

isoladas da cavidade oral de gatos mostrou-se MRS (LILENBAUM; ESTEVES;

SOUZA, 1999), já num estudo na Philadelphia (EUA) em animais saudáveis foi

demonstrado uma proporção considerável de MRS nos animais de companhia

(11,6%) (MORRIS et al., 2012) enquanto na França em amostras de gatos

doentes foi verificado a presença de 1,8% de MRS (HAENNI et al., 2011),

sugerindo a importância dos animais de companhia saudáveis como

reservatórios. Os estudos ao longo dos anos vem apontando o crescimento

desses microrganismos resistentes e seu isolamento nos animais de

companhia, o que provavelmente vem ocorrendo pelo uso maciço de

antimicrobianos na clínica veterinária e pela convivência cada vez mais estreita

entre os homens e os animais de estimação.

Os MRS vêm sendo identificados nos animais de companhia, tanto em

animais doentes quanto saudáveis, assim como em hospitais veterinários

(MIDDLETON et al., 2005) e mostram multirresistência as drogas (LOEFFLER;

LLOYD, 2010), o que reforça a necessidade de seu controle efetivo, ou seja, a

adoção racional do uso dos antimicrobianos e conscientização dos

proprietários sobre medidas higiênicas que devem fazer parte da rotina no

convívio entre ambos A transferência de MRS entre humanos e animais

apresenta potencial para determinar grande impacto, pois representa um

problema mundial de saúde pública (CUNY et al., 2010) e têm sido

demonstrada com estudos de tipificação que constatam claramente que

amostras provenientes de cães e gatos estão associadas às linhagens

humanas hospitalares (MAGALHÃES et al., 2010). A colonização por MRS

pode ser persistente nas pessoas e é horizontalmente transmissível, e a

literatura sugere que os animais domésticos podem também participar na

Page 78: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

77

transmissão cruzada (MORRIS et al., 2012). Análises moleculares têm

apontado a presença de amostras de MRS indistinguíveis em humanos e

animais de companhia residentes nos mesmos lares, sugerindo esta

transmissão (WEESE, 2010). Humanos e animais são mais frequentemente

colonizados do que infectados e ambos podem funcionar como reservatórios

de MRS para recirculação das amostras dentro do ambiente doméstico

(MORGAN, 2008). De acordo com estudos realizados no Canadá, os donos de

animais de companhia tem taxas de colonização por MRS de 18%,

significativamente mais altas que a população em geral (1-2%), o que reafirma

a importância dos pets no ciclo de transmissão (PANTOSTI, 2012).

O tratamento empírico das mordeduras causadas por animais com

amoxacilina, como sugerido por Goldsteisn et al. (1997) e por Santos et al.

(2007) pode contribuir para o aumento da resistência às drogas

antimicrobianas, levando à complicações clínicas, gerando hospitalizações e

grande prejuízo a saúde pública (WESTLING et al., 2006). Um tratamento

empírico com benzilpenicilina teve que ser descontinuado após três dias pelo

insucesso após mordedura por gato na Dinamarca (MADSEN; JUSTESEN,

2011) confirmando mais uma vez a necessidade de análise com a terapia.

Note-se que, no presente estudo, verificou-se que 58% das amostras

bacterianas isoladas eram resistentes à classe das penicilinas, que inclui a

amoxicilina. O tratamento antimicrobiano empírico profilático nas mordeduras é

muito discutido e controverso na literatura atual (JAINDL et al., 2012). Devem

ser adotadas medidas realizando coleta de dados atuais de diversos estudos

para que se chegue a um senso comum visando à utilização racional de

antimicrobianos nos casos de acidentes por mordeduras, evitando assim o

insucesso nas terapias e gastos desnecessários com a saúde pública.

No Brasil, entre 2008 e 2010 ocorreram 1022 internações consequentes

de acidentes por mordeduras de gatos e outros mamíferos excetuando-se os

cães (DATASUS, 2010), o que, além de apresentar potencial para

determinação de infecções, gera também altos custos para saúde pública. Tais

custos podem ser muito mais vultosos caso ocorram complicações no

tratamento, como infecções e/ou cirurgias, gerados pelo insucesso do

tratamento empírico. Como a população de animais de estimação cresce

Page 79: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

78

continuamente (OSTANELLO et al., 2008), o número de casos de acidentes

envolvendo tais indivíduos também tende a aumentar, já que o convívio cada

vez se torna mais estreito na relação homem- animal. As mordeduras de

animais representam um grande desafio à saúde pública mundial (PATRONEK;

SLAVINSKI, 2009), isso porque, por todo o mundo acontece um grande

número de acidentes, gerando não só elevados custos á saúde pública como

também desabilitando pessoas ao trabalho e em muitos casos levando a óbito.

Gatos se destacam como os segundos maiores responsáveis por casos de

mordeduras, apenas abaixo dos cães (SANTOS et al., 2007), sendo que ao

contrário dos ferimentos ocasionados por estes, de 28 a 80% das mordeduras

daqueles se tornam infectadas, principalmente devido ao tipo de dentição e a

profundidade a qual os microrganismos são inoculados no tecido (DENDLE;

LOOKE, 2009). Tais infecções podem levar a sérias complicações como sepse,

meningites, endocardites e peritonites (OEHLER et al., 2009).

Page 80: Distribuição de Espécies e Perfil Fenogenotípico da Resistência

79

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos resultados do presente estudo, pode-se concluir que

Staphylococcus são membros comuns da microbiota normal da cavidade

oral de gatos, com predominância das amostras coagulase-negativas;

As amostras bacterianas isoladas apresentaram grande resistência à

maioria das drogas antimicrobianas testadas, dentre elas a oxacilina;

Foi constatada a presença do gene mecA em diferentes espécies de

estafilococos presentes nos animais estudados;

A resistência aos antimicrobianos apresentadas no estudo aliadas a

anatomia dos dentes felinos, infere-se que haja uma grande

possibilidade de infecções nas feridas em casos de injúrias ocasionadas

por mordeduras.

Devido ao alto índice de resistência aos antimicrobianos encontrados e

presença de cepas MRS, faz-se necessário refletir sobre o tratamento

empírico e o impacto nos custos com a saúde pública nos casos de falha

da terapia.

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APÊNDICE

APÊNDICE I :TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Esta pesquisa faz parte do trabalho de tese de doutorado do aluno Igor

Mansur Muniz, do curso de Pós Graduação em Clínica e Reprodução Animal

da Universidade Federal Fluminense, orientado pelo professor Walter

Lilenbaum. O objetivo desta pesquisa é isolar Staphylococcus da cavidade oral

de gatos clinicamente saudáveis, realizando estudo genotípico e fenotípico. Os

resultados deste estudo serão publicados em literatura especializada.

_________________________________________

Participante

_____________________________ Igor Mansur Muniz Tel: 21-97116410 Teresópolis,_____,de___________________de 2010.

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APÊNDICE II :ARTIGO ACEITO PARA PUBLICAÇÃO

06-Nov-2012 It is a pleasure to accept your manuscript entitled "TREATING ANIMAL BITES: SUSCEPTIBILITY OF STAPHYLOCOCCI FROM ORAL MUCOSA OF CATS" in its current form for publication in the Zoonoses and Public Health. The comments of the reviewer(s) who reviewed your manuscript are included at the foot of this letter. If you haven't already signed the Copyright Transfer Agreement, please find this attached. If you are unable to open the attachment, the form can also be found here: http://media.wiley.com/assets/1540/86/ctaaglobal.pdf Please either scan the form and email it to: [email protected], or send it by regular mail or fax to the address or number below: Delia Malim-Robinson Editorial Assistant Health Sciences Wiley 9600 Garsington Road Oxford OX4 2DQ United Kingdom F +44 (0)1865 714 591 [email protected] Fax: +44 (0)1865 714591