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IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO DO UBM Direito, Desenvolvimento e Cidadania Barra Mansa RJ, Brasil. 24, 25 e 26 de agosto de 2016 DISSOLUÇÃO SOCIETÁRIA À LUZ DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL BRASILEIRO: HERMENÊUTICA PRAGMÁTICA DA NORMA PROTETIVA DO INVESTIMENTO PRIVADO. GT II: Direito ao Desenvolvimento Socioeconômico, Integração Econômica e Direito Empresarial. Pablo Gonçalves e Arruda 1 Saulo Bichara Mendonça 2 RESUMO A presente pesquisa tem por escopo escrutinar a dissolução de sociedade sob a ótica do Novo Código de Processo Civil Brasileiro em comparação ao regime da lei processual de 1973, com o objetivo de destacar avanços, choques e lacunas, a fim de indicar reflexões pragmáticas atinentes à hermenêutica da aludida nova norma processual. Ante ao propósito de atingir tais objetivos, serão examinadas de forma empírica e metodológica as normas de índole material e processual, além do entendimento jurisprudencial brasileiro sobre o assunto visando publicizar de forma cosmopolita os teores destas normas protetivas do investimento privado no Brasil por um viés pragmático. Palavras-chave: dissolução societária; direito empresarial; normas processuais; pragmatismo. Abstract This research has the scope to scrutinize the dissolution of society from the perspective of the New Brazilian Civil Procedure Code against the regime of procedural law 1973 in order to highlight advances, shocks and gaps in order to indicate pragmatic considerations relating to hermeneutics of the aforementioned new procedural rule. Before the way of achieving these objectives will be examined in an empirical and methodological way the rules of substantive and procedural nature, beyond the Brazilian jurisprudential understanding of the subject aimed at 1 E-mail: [email protected] Especialista em Direito do Consumidor pela PUC-RJ. Mestrando em Direito pela UVA Universidade Veiga de Almeida. Advogado, Coordenador do Núcleo de Direito Empresarial do IBDN Instituto Brasileiro de Direito dos Negócios, Professor de Direito Empresarial do LL.M da FGV-RJ. Professor de Direito Empresarial do LL.M do IBMEC-RJ. Expositor de importantes escolas oficiais de formação, tais como a Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ), a Escola da Magistratura Federal do Paraná (ESMAFE/PR). 2 E-mail: [email protected] Doutor em Direito pela UVA Universidade Veiga de Almeida, Pós-Doutorando em Direito pela UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professor Adjunto na UFF Universidade Federal Fluminense, lotado no Departamento de Direito do Instituto de Ciências da Sociedade Macaé, Pesquisador do Grupo de Estudo em Direito e Sustentabilidade Econômica GEDISE/UFF e do Grupo de Pesquisa em Direito Empresarial e outros Direitos GPDEO/UFF.

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IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO DO UBM

Direito, Desenvolvimento e Cidadania

Barra Mansa RJ, Brasil. 24, 25 e 26 de agosto de 2016

DISSOLUÇÃO SOCIETÁRIA À LUZ DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

BRASILEIRO: HERMENÊUTICA PRAGMÁTICA DA NORMA PROTETIVA DO

INVESTIMENTO PRIVADO. GT II: Direito ao Desenvolvimento Socioeconômico, Integração Econômica e Direito Empresarial.

Pablo Gonçalves e Arruda1 Saulo Bichara Mendonça 2

RESUMO

A presente pesquisa tem por escopo escrutinar a dissolução de sociedade sob a ótica do Novo Código de Processo Civil Brasileiro em comparação ao regime da lei processual de 1973, com o objetivo de destacar avanços, choques e lacunas, a fim de indicar reflexões pragmáticas atinentes à hermenêutica da aludida nova norma processual. Ante ao propósito de atingir tais objetivos, serão examinadas de forma empírica e metodológica as normas de índole material e processual, além do entendimento jurisprudencial brasileiro sobre o assunto visando publicizar de forma cosmopolita os teores destas normas protetivas do investimento privado no Brasil por um viés pragmático. Palavras-chave: dissolução societária; direito empresarial; normas processuais; pragmatismo.

Abstract

This research has the scope to scrutinize the dissolution of society from the perspective of the New Brazilian Civil Procedure Code against the regime of procedural law 1973 in order to highlight advances, shocks and gaps in order to indicate pragmatic considerations relating to hermeneutics of the aforementioned new procedural rule. Before the way of achieving these objectives will be examined in an empirical and methodological way the rules of substantive and procedural nature, beyond the Brazilian jurisprudential understanding of the subject aimed at

1 E-mail: [email protected]

Especialista em Direito do Consumidor pela PUC-RJ. Mestrando em Direito pela UVA – Universidade Veiga de Almeida. Advogado, Coordenador do Núcleo de Direito Empresarial do IBDN – Instituto Brasileiro de Direito dos Negócios, Professor de Direito Empresarial do LL.M da FGV-RJ. Professor de Direito Empresarial do LL.M do IBMEC-RJ. Expositor de importantes escolas oficiais de formação, tais como a Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ), a Escola da Magistratura Federal do Paraná (ESMAFE/PR). 2 E-mail: [email protected]

Doutor em Direito pela UVA – Universidade Veiga de Almeida, Pós-Doutorando em Direito pela UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professor Adjunto na UFF – Universidade Federal Fluminense, lotado no Departamento de Direito do Instituto de Ciências da Sociedade – Macaé, Pesquisador do Grupo de Estudo em Direito e Sustentabilidade Econômica – GEDISE/UFF e do Grupo de Pesquisa em Direito Empresarial e outros Direitos – GPDEO/UFF.

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publicizing cosmopolitan way the content of these protective rules of private investment in Brazil by a pragmatic bias . Keywords: corporate dissolution; business law; procedural rules; pragmatism. Introdução

Após as Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas, o Direito Brasileiro conheceu sua primeira norma de Processo Civil através do Decreto 737/1850, que regulamentava o Código Comercial de mesmo ano e que se mostrou ainda como o elo perdido na divisão dos três Poderes proposta pela Constituição de 1824.

Desde então, após algumas normas esparsas, vigeram os Códigos de Processo Civil de 1939, 1973 e, agora, o de 2015. E é exatamente nesses fatos históricos que se encontra um paradoxo. O Direito Processual Brasileiro se viu internamente positivado em razão de uma norma comercialista, mas a partir daí o Direito Processual deixou de focar o dito Direito Comercial.

Cento e sessenta e cinco anos se passaram desde o Decreto 737 e ainda se sentem os efeitos dos reflexos proporcionados pela demanda proveniente da ausência de regras processuais empresariais sólidas e que atentem à realidade fática da matéria.

Destarte, proceder-se-á à análise da dissolução societária nos formatos parcial e total, considerando as possibilidades da última se dar de pleno direito ou por determinação judicial, ressaltando ainda os contornos que se atribui à dissolução parcial da sociedade no que tange a permanência de um único sócio.

O estudo também considera os efeitos que a sociedade percebe em decorrência do óbito de um sócio, em decorrência do exercício do seu direito de retirada ou de sua exclusão. Verificando tais itens à luz do procedimento judicial de dissolução total e parcial, nos moldes dos Códigos de Processo Civil de 1939 e de 1973, comparando-os aos termos de dissolução total e parcial de Sociedade na Lei nº 13.105/15, conhecida como Novo Código de Processo Civil Brasileiro. 1. Dissolução societária: total e parcial.

Pode-se dividir a dissolução de sociedades em dois grandes grupos: a dissolução total e a dissolução parcial.

Sabe-se que a dissolução total ocorre quando a sociedade se resolve como um todo, encerrando a execução de seu objeto social, dando início ao procedimento de liquidação com vistas à sua extinção, “com a dissolução, que é o primeiro estágio dessa sequência de acontecimentos, declara-se a desconstituição da sociedade” (RIZZARDO, 2014, p. 725).

Na modalidade de dissolução parcial a sociedade se resolve em relação a um ou mais sócios, seja pela morte, exclusão ou exercício de retirada de um deles, mas sempre manutenindo a sociedade.

1.1. Dissolução total de sociedade

As hipóteses de dissolução total de sociedade estão dissipadas na legislação, mas podem ser agrupadas em dissolução de pleno direito e dissolução judicial.

Na primeira, a busca do judiciário apenas se opera quando a solução administrativa não é alcançada. Na segunda, a presença do Estado-Juiz é

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indispensável não apenas para promoção da liquidação, mas antes dela, é necessária para a própria dissolução da relação societária.

A dicotomia não estanca nesse ponto, uma vez que a ação e respectiva decisão, no caso de dissolução de pleno direito, são de natureza meramente declaratória, no sentido de declarar a ocorrência da dissolução em si; já na dissolução judicial, a demanda e sua decisão tem natureza desconstitutiva da relação societária.

Em qualquer caso, uma vez dissolvida a sociedade personificada, esta conserva sua personalidade jurídica até que seja liquidada, ou seja, até que haja a realização de todo o ativo e de todo o passivo, conforme preconizam os artigos 51 e 1109 do Código Civil e o artigo 207 da Lei nº 6.404/76.

Importante observar que, não se tratando de hipótese de dissolução judicial de sociedade, mas sim de dissolução de pleno direito, a liquidação poderá ser feita pela via extrajudicial, no contexto administrativo da própria sociedade, observado o procedimento de que tratam os artigos 1102 a 1110 do Código Civil e artigos 208, 210 e 211 da Lei nº 6.404/76.

1.1.1. Dissolução total de pleno direito

As sociedades contratualmente instituídas podem ser dissolvidas de pleno direito pela ocorrência de uma das hipóteses do artigo 1033 do Código Civil, insculpido no capítulo de Sociedade Simples, mas aplicável subsidiariamente às demais sociedades descritas no Código Civil, tudo sem prejuízo de outras hipóteses eventualmente previstas no Contrato Social, consoante se verifica a partir da leitura interpretativa do artigo 1035 do mesmo instituto legal:

Não é demais ressaltar que, em se tratando de Sociedade Limitada, as hipóteses de dissolução por deliberação de que tratam os incisos II e II do citado artigo 1033 do Código Civil, dependem irrestritamente da aprovação de três quartos (¾) do capital social, independentemente de estar a sociedade operando por prazo determinado ou indeterminado, como determina o procedimento previsto nos artigos 1071, inciso VI, e 1076, inciso I, ambos do Código Civil.

Além das hipóteses acima, as sociedades contratuais também restarão dissolvidas in totum quando esta for a vontade dos sócios remanescentes no caso de morte, “os sócios remanescentes é que poderão, em face da morte, preferir a dissolução da sociedade. Neste caso, é a vontade dos sócios que determina a dissolução, não a morte propriamente dita.” (REQUIÃO, 2003, p. 333). Hipótese alternativa se verifica no que tange à retirada de um ou mais sócios, nos termos dos artigos 1028, inciso II, e 1029, parágrafo único, ambos do Código Civil.

Na Lei de Sociedades por Ações, o inciso I do artigo 206, verificam-se hipóteses de dissolução de pleno direito, em perfeito espelhamento com os termos citados a partir da leitura do Código Civil, verificando plena consonância entre os referidos institutos legais no que tange ao tema em estudo.

1.1.2. Dissolução total judicial

O artigo 1034 do Código Civil apresenta as hipóteses em que a sociedade contratual apenas se dissolve após proferida decisão judicial, termos aos quais se soma a situação da falência, que também é causa de dissolução judicial, nos termos dos artigos 1044, 1046 e 1087, do mesmo diploma legal.

Este ponto não foi incluído no rol do artigo 1033 do referido Código Civil uma vez que este está inserido no capítulo de Sociedade Simples Pura, de natureza não empresária e, portanto, não sujeita à falência, diferentemente das Sociedades Em

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Nome Coletivo, Em Comandita Simples e Limitada. Já as sociedades por ações serão levadas à dissolução judicial nos casos do inciso II do artigo 206 da Lei nº 6.404/76.

2. Resolução da sociedade em relação a um sócio

A dissolução parcial das sociedades contratuais pode ser reunida em três grupos: óbito, retirada e exclusão. Assim como na dissolução total, a dissolução parcial pode ser de pleno direito ou judicial. Resolvida a sociedade em relação a um sócio, seus haveres hão de ser, em regra, apurados, promovendo-se a liquidação de suas quotas em seu favor ou do seu espólio, o que não se confunde, em hipótese alguma, com a liquidação de sociedade. 2.1. Óbito do sócio

O inexorável falecimento de sócio único em sociedade de pessoas acarretará, de pleno direito, a resolução da sociedade em relação ao falecido, com a respectiva apuração de haveres em favor do seu espólio, nos termos do caput do artigo 1028 do Código Civil, ressalvada cláusula contratual preestabelecida em sentido diverso, opção pela dissolução total ou pacto superveniente, nos termos dos incisos do mesmo dispositivo legal aludido.

Em se tratando de sociedade de capital, o falecimento de sócio importa na transferência dessa qualidade a seus sucessores, consoante se verifica nos termos do inciso II do parágrafo único do artigo 993 do Código de Processo Civil de 1973.

As Sociedades Limitadas, dada a sua natureza hibrida que concentra caracteres intuitu personae e intuitu pecuniae, deverá observar, salvo estipulação contratual expressa, as regras do artigo 1028 do Código Civil ou do inciso II do parágrafo único do artigo 993 do Código de Processo Civil de 1973, quando estiverem regidas, respectivamente, subsidiariamente pelo capítulo de Sociedades Simples Pura (Art. 1.053, caput, Código Civil) ou supletivamente pela Lei nº 6.404/76 com fundamento nos termos do artigo 1053, parágrafo único do Código Civil. Ou seja, nas Sociedades Limitadas o óbito de um sócio único pode implicar ou não em sucessão nesta condição aos sucessores do falecido, a depender da norma aplicável. 2.2.. Exercício do direito de retirada pelo sócio

O exercício do direito de retirada pelo sócio tem como fundamento o direito constitucional pétreo à livre associação, estabelecido no artigo. 5º, inciso XX, da Constituição Federal de 1988, devendo seu exercício respeitar as particularidades de cada tipo societário regulamentado por lei.

No caso de sociedades de pessoas que operem por prazo indeterminado, a retirada espontânea acarreta a resolução da sociedade em relação ao retirante de pleno direito após findo o aviso prévio do sessentídio legal de que trata o artigo 1029 do Código Civil.

Se, porem, a sociedade funciona por prazo determinado, a retirada é judicial e a causa será examinada pelo julgador. Em qualquer hipótese, os demais sócios podem optar pela dissolução total, desde que sobre isso se manifestem no prazo decadencial de trinta dias após serem noticiados do interesse do retirante, consoante o parágrafo único do dispositivo legal mencionado.

No que tange à Sociedade Limitada há que se verificar o que se determina em seu Capitulo próprio no Código Civil (artigos 1.052 a 1.087), sobre a retirada espontânea por dissidência na aprovação da modificação do contrato, fusão da

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sociedade, incorporação de outra, ou dela por outra, caracterizando retirada de pleno direito. Entretanto, por força do caput do artigo 1053 do Código Civil, estaria também a Sociedade Limitada sujeita ao exercício do direito de retirada de sócio na forma do artigo 1029, tratado no parágrafo acima. Aliás, este dispositivo legal seria aplicável às Sociedades Limitadas ainda que regidas supletivamente pela Lei nº 6.404/76, por analogia, sendo este o sentimento dos Tribunais (STJ REsp 1139593 SC 2009/0089296-7) até mesmo para a Sociedade por Ações de capital fechado quando presente (e então rompido) o affectio societatis, o que se opera especialmente quando o núcleo de sócios é formado por entes de uma mesma família.

Aos acionistas de Sociedades por Ações, por sua vez, restam mais limitadas as hipóteses do exercício do direito de retirada, direito essencial, nos termos do inciso V do artigo 109 da Lei nº 6.404/76. O recesso por dissidência estaria adstrito a aprovação de certas e determinadas matérias, mais precisamente aquelas previstas no artigo 136-A e nos incisos I a VI e IX do artigo 136, conforme determina o artigo 137, todos da mesma lei especial.

2.3. Exclusão do sócio

O Código Civil divide a exclusão de sócio em quatro grupos: sócio remisso, sócio supervenientemente incapaz, sócio faltoso e sócio cujas quotas tenham sido expropriadas.

Sendo remisso o sócio que não integraliza suas quotas ou ações nos termos designados no contrato, no estatuto ou no boletim de subscrição. Nas sociedades contratuais previstas no Código Civil a regra é de exclusão por deliberação da maioria percentual dos demais sócios, após o remisso ser constituído em mora e vencido o prazo de 30 dias para a purga após ter sido notificado nos termos do artigo 1.004 e seu parágrafo único do Código Civil.

Essa exclusão não desafia, portando, o processo judicial. As quotas do remisso serão liquidadas e seus haveres apurados nos termos do artigo 1031 da mesma codificação.

As regras acima são aplicadas também às Sociedades em Nome Coletivo, em Comandita Simples e Sociedades Limitada, sendo que, quanto a esta última, pode não ser promovida a apuração de haveres se os sócios optarem por aplicar o artigo 1058 do Código Civil e simplesmente devolver ao excluído o montante até então integralizado.

Nas Sociedades Anônimas o remisso é excluído após a alienação forçada de suas ações em bolsa de valores (independentemente da companhia ser de capital aberto ou fechado), nos termos do inciso II, do artigo 107 da Lei nº 6.404/76.

A exclusão de sócio por incapacidade superveniente é aplicável apenas às sociedades de pessoas (Simples Pura, Nome Coletiva, Comandita Simples) e às Limitadas com cláusula geral de regência subsidiária prevista no Capítulo de Sociedades Simples Pura.

Assim, a exclusão de sócio incapaz será sempre judicial, dependente da iniciativa processual da maioria percentual dos demais sócios participantes do capital social, detentores da legitimidade ativa, consoante artigo 1030 do Código Civil.

A exclusão de sócio por falta grave observa, em regra, o disposto no citado dispositivo legal, ressaltando que, a iniciativa processual da maioria percentual dos demais sócios será computada não por pessoa, mas pelo quantitativo com o qual o sócio participa no capital social.

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Observa-se que tanto na exclusão de incapaz superveniente, quanto na exclusão de faltoso e de remisso (podendo ser quanto a este último extrajudicial) prevalecerá a vontade proporcional da maioria dos demais sócios, o que admite a exclusão de sócio majoritário, desde que dentre os demais essa seja a decisão da maioria.

Sem prejuízo das hipóteses acima, a Sociedade do tipo Limitada dispõe de regra de exclusão administrativa, de sócio que cometa ato faltoso contra a sociedade, consoante se verificam os artigos 1.085 e 1.086 do Código Civil, desde que haja previsão contratual neste sentido e sejam respeitados a ampla defesa e o contraditório, devendo o excluindo ser convocado para participar de assembleia específica, com indicação das faltas que lhe são imputadas.

Além disso, a exclusão extrajudicial pressupõe aprovação da maioria do capital social, ou seja, apenas alcança os minoritários. De qualquer forma, em se tratando de majoritário faltoso e/ou não havendo cláusula de exclusão administrativa é admissível a exclusão judicial nos termos do já mencionado artigo 1030 do Código Civil, independente das regras de regência subsidiária pela Sociedade Simples Pura ou supletiva pela Sociedade Anônima.

É ainda cabível a exclusão automática de sócio e a de pleno direito no caso de perdimento de quotas por dívidas particulares, com a penhora de quotas prevista no parágrafo único do artigo 1026 do Código Civil, artigos 655, inciso VI e 685-A, §4º do Código de Processo Civil de 1973 e artigos 835, inciso IX, e 861 do Código de Processo Civil de 2015 ou arrecadação em falência ou insolvência civil.

3. Os Códigos de Processo Civil de 1939 e de 1973 e o procedimento judicial de dissolução societária

A dissolução societária, total ou parcial, não depende necessariamente de provimento jurisdicional. As hipóteses de dissolução total de pleno direito admitem liquidação administrativa extrajudicial.

Porém, quando não se opera o consenso entre os sócios, a liquidação será promovida em juízo. E em juízo sempre será a liquidação nas hipóteses em que a dissolução depende de provimento judicial.

O Código Civil dispõe de dispositivo lacônico sobre o tema. O artigo 1111 deste Codex dita que, quando judicial, a liquidação observará a lei processual. O parágrafo único do artigo 206 da Lei nº 6.404/76 determina de forma consoante. O Código de Processo Civil de 1973, por sua vez, também não ostenta solução própria. O inciso VII do artigo 1218 do Código de Processo Civil de 1973 conservou vigentes os dispositivos do Código de Processo Civil de 1939 sobre o procedimento especial de dissolução de sociedades (artigos 655 a 674 do CPC/39), de forma que, o procedimento de dissolução e liquidação de sociedades é regido pelo CPC de 1939, sendo que, no caso de sociedades em comum e sociedades anônimas, aplica-se o procedimento ordinário contido nos artigos 613 e 614, CPC/39. Assim o foi, enquanto vigente o CPC/73.

Apesar do enorme hiato temporal havido entre o Código de Processo Civil de 1939 e o Código Civil de 2002, os dois conjuntos normativos codificados permitiram que se promovesse um bom diálogo, como poderá ser visto adiante.

O procedimento especial previsto no CPC/39 e ainda vigente até a entrada em vigor do Novo CPC/2015 prima pela fase de liquidação, tratando a cognição acerca da dissolução de sociedade e suas causas de forma extremamente sumária.

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Têm-se, assim, duas etapas processuais: uma primeira, de cognição sumária, atinente à dissolução; e uma segunda, certamente mais extensa, dedicada à liquidação.

O prazo para contestar, por exemplo, serão de parcas 48 horas quando se tratar de dissolução de pleno direito e 5 dias quando se trata de dissolução que depende de provimento jurisdicional. Findo o prazo da contestação o juiz decidirá de plano, salvo se julgar insuficientes as provas, quando designará audiência de instrução e julgamento.

Nos termos do artigo 657 do CPC/39, o juiz declarará dissolvida a sociedade (quando a dissolução for de pleno direito – artigo 655 CPC/39) ou decretará sua dissolução, quando contenciosa e dependente de decisão judicial e desde logo nomeará liquidante, que deverá tomar posse e procederá a liquidação nos termos dos artigos 660 a 667 do CPC/39.

Não dispondo o contrato sobre quem deva assumir a função de liquidante, será designada assembleia judicial de sócios, nos termos do artigo 1112 do Código Civil, aprovando-se a nomeação por maioria absoluta, salvo em Sociedade Limitada e Sociedade Anônima, quando a aprovação se der por maioria simples, nos termos dos artigos 1071, inciso VII e 1076, inciso III, ambos do Código Civil e artigo 129 da Lei nº 6.404/76 Em caso de empate caberá ao juiz nomear terceiro estranho para o cargo.

Ressalta-se que, nos termos do artigo 614 do CPC/39, o procedimento especial liquidatório previsto no vetusto Código somente se aplica às sociedades anônimas, se iniciado o processo pelo procedimento ordinário e não haja oferecimento de contestação.

No curso do feito e enquanto não é nomeado o liquidante, admite-se o sequestro de bens, consoante se verifica no artigo 659, CPC/39), que exige que haja “fundado receio de rixa, crime, ou extravio, ou danificação de bens sociais”. Tal medida acautelatória se molda perfeitamente ao procedimento cautelar incidental de que trata §7º do artigo 273 do CPC/73 e o sequestro é aquele de que tratam os artigos 822 a 825 do mesmo diploma legal que encontra como dispositivos correspondentes os artigos 294 a 311 do CPC/15.

O procedimento especial de que trata o CPC/39, cuja eficácia foi mantida pelo artigo 1218, VII do CPC/73, somente não se aplicaria nas hipóteses de dissolução total de sociedade não personificada (artigo 673 CPC/39 e artigo 986, CC) e de Sociedade Anônima (artigo 674 CPC/39), cuja dissolução desafia procedimento ordinário (artigo 282 e seguintes do CPC/73 e artigo 318 do CPC/15). Quanto à Anônima, entretanto, não contestado o pedido, a liquidação observará o disposto no procedimento especial do CPC/39.

4. Procedimento judicial de resolução da sociedade em relação a um sócio, nos moldes do CPC/39 e do CPC/73

A sociedade contratual se resolve em relação a um sócio por morte (no caso de Sociedade Anônima e Sociedade Limitada regida supletivamente pela Lei nº 6.404/76), ocorre a sucessão na condição de sócio no caso de morte (artigo 993, parágrafo único, inciso II, CPC/73 e artigo 620, §1º, inciso II, CPC/15), retirada ou exclusão, sendo a morte causa de resolução de pleno direito (salvo quando há cláusula em sentido diverso, opção pela dissolução total ou outro acordo superveniente).

No que tange a retirada e a exclusão de sócio podem ser de pleno direito (retirada imotivada quando a sociedade opera por prazo indeterminado, retirada por

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dissidência, exclusão de remisso, de sócio que tem as quotas expropriadas e de sócio faltoso em limitada que admite a expulsão extrajudicial) ou contenciosa judicial (retirada motivada em sociedade que opera por prazo determinado, exclusão de sócio faltoso ou de sócio que tenha se tornado incapaz).

Quando a resolução da sociedade em relação a um sócio (então dissolução parcial) se opera de pleno direito, a apuração de haveres poderá ser feita administrativamente, pela via extrajudicial. Não havendo consenso, a apuração será judicial, não prevalecendo a apuração não aprovada pelo sócio excluído, retirante ou pelo espólio do falecido (Súmula 265, STF). Nas hipóteses de dissolução parcial litigiosa judicial, a apuração dos haveres e respectiva liquidação das cotas serão judiciais.

Nos termos do artigo 668 do CPC/39, se a morte ou a retirada não causarem a dissolução total, serão apurados exclusivamente os haveres do sócio falecido ou retirante. Seria a norma exclusivamente de Direito Material ou teria também índole Processual? Em se concluindo tratar-se de norma material, a apuração de haveres observaria o procedimento ordinário. Por outro lado, sendo classificada como norma heterotópica, haveria de ser observado o procedimento especial do CPC/39. Neste sentido lê-se o Recurso Especial 282.300/RJ, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, Apelação Cível 0143943-58.2009.8.19.0001, 20ª Câmara Cível do TJ/RJ e REsp 1.139.593-SC, 3ª Turma do STJ.

O referido caso concreto no qual se decidiu pela apuração de haveres em razão da retirada de sócio restou notório a aplicação pragmática do procedimento especial do CPC/39. Em sentido contrário apresenta-se o precedente pela aplicação do procedimento ordinário em caso de dissolução parcial

5. Dissolução de Sociedade na Lei nº 13.105/15 – o Novo Código de Processo Civil

A Lei nº 13.105, de 16 de Março de 2015, conhecida como novo Código de Processo Civil, entrou em vigor em março de 2016, após vacância ânua, nos termos do seu artigo 1045, restando expressamente revogada a Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (CPC/73).

A partir de sua vigência, tornaram-se inaplicáveis os procedimentos especiais do CPC/39 que até então mantinham sua vigência por força do artigo 1218 do CPC/73, o que inclui o procedimento especial de dissolução e liquidação de sociedades, para o que, salvo expressa previsão do Novo Código, será aplicado o Procedimento Comum, como determina o §3º do artigo 1046, CPC/15.

Destarte, a dissolução total de sociedade, quando judicializada, passará a observar o procedimento comum previsto na Lei nº 13.105/15, não mais se aplicando o procedimento especial previsto no CPC/39. Soma-se, ainda, o fato de que o artigo 1049 da referida Nova Lei Processual afirma que “sempre que a lei remeter a procedimento previsto na lei processual sem especificá-lo, será observado o procedimento comum previsto neste Código”, e o artigo 1111 do Código Civil e artigo 209, parágrafo único da Lei nº 6.404/76 fazem essa exata referência.

Por outro lado, a resolução judicial da sociedade em relação a um sócio passa a ter procedimento especial na Nova Lei Processual que disponibiliza onze dispositivos legais para tratar a matéria (artigos 599 a 609).

Inicialmente, destaca-se que o CPC/15 traz a expressão “dissolução parcial de sociedade”, colocando em xeque o argumento esposado no sentido de que tal dicção seria a técnica após a entrada em vigor do Código Civil de 2002, que

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nominou o instituto de “resolução da sociedade em relação a um sócio”, o que serviu de filigrana para esta pesquisa.

O artigo 599 do CPC/15 trata do objeto do procedimento especial de dissolução parcial, delimitando-o, em princípio, à resolução da sociedade em relação a um sócio e/ou a apuração de haveres.

Nos casos em que a resolução da sociedade em relação a um sócio se opera independente de provimento judicial, a demanda versará apenas sobre a apuração de haveres. Nas hipóteses em que a resolução em relação a um sócio dependa de decisão judicial, a ação será de dissolução e apuração de haveres.

A despeito de o inciso I do artigo 599 do CPC/15, a resolução parcial de sociedade contratual (o que se confirma com a leitura do parágrafo primeiro do mesmo dispositivo legal, que exige a juntada do contrato social, e não de estatuto social), a que se verificar que o seu §2º admite que a “ação de dissolução parcial de sociedade tenha também por objeto a sociedade anônima de capital fechado quando demonstrado, por acionista ou acionistas que representem cinco por cento ou mais do capital social, que não pode preencher o seu fim”.

A norma, nitidamente heterotópica, tende a promover enorme confusão entre os institutos de resolução da sociedade em relação a um sócio e dissolução total de sociedades. A Lei nº 6.404/76 prevê em seu artigo 206, que quando a sociedade não atinge seu fim, uma minoria ativa formada por acionista(s) que represente(m) ao menos 5% do capital social pode(m) propor a dissolução total da sociedade e não a resolução da sociedade em relação a um sócio, como sugere o §2º do artigo 599 do CPC/15.

A inexequibilidade do fim social não pode levar à dissolução parcial, resolvendo-se a sociedade apenas em relação a quem promover a demanda. Se inexequível é o objeto, o é para toda a sociedade e não em relação a um sócio. O Código Civil, no inciso II do artigo 1034 já trata a matéria como hipótese de dissolução total, como já fazia (e ainda faz) a Lei das Sociedades por Ações. A matéria já era assim regida quando ainda vigente o Código Civil de 1916 em seu artigo 1399 e, frise-se, quando da vigência da 1ª Parte do Código Comercial de 1850, artigo 336.

A toda evidencia a norma insculpida no §2º do artigo 599 do CPC/15 não merece guarida. Evidente também que não foi capaz de revogar o artigo 206, II, “b” da Lei nº 6.404/76 e menos ainda o inciso II do artigo 1034 do Código Civil. Caberá ao Poder Judiciário e aos estudiosos e pesquisadores debruçarem-se sobre a temática em busca de uma alternativa hermenêutica pragmática e eficiente e, espera-se, afastar a aplicação do dispositivo.

Vale aqui ressaltar que os Tribunais, inclusive o STJ (REsp 917.531-RS, julgado em 17/11/2011; EREsp 111.294-PR, DJ 10/9/2007; e REsp 1.129.222-PR, DJe 1º/8/2011), há muito admitem a retirada espontânea de sócio de Sociedade Anônima de capital fechado quando verificada a existência de affectio societatis e sua consequente quebra. Nesse sentido, o procedimento especial de dissolução parcial de sociedade previsto no novo CPC/15 se mostra aplicável, por analogia.

A legitimidade para propor as ações de dissolução parcial de sociedade e apuração de haveres é tratada no artigo 600 do CPC/15 que nos seus incisos I a III

definem os legitimados ativos na hipótese de morte de sócio, demonstrando que tais dispositivos estão alinhados à norma material e à norma processual aplicáveis ao tema.

O inciso IV do dispositivo retro aludido trata da legitimidade ativa do sócio que exerce direito potestativo de retirada, nos termos do artigo 1029, primeira parte,

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e artigo 1077, ambos do Código Civil, mas não vê formalizado seu desligamento registral da sociedade.

Nesse caso, demandaria declaração de dissolução parcial cumulada com apuração de haveres. O dispositivo, combinado com o inciso III do artigo 599, CPC/15, deve também legitimar o retirante que, a despeito de ter visto operar a averbação de sua retirada, não percebeu a apuração de haveres e somente sobre ela demanda.

A legitimidade para a ação de exclusão de sócio foi tratada no inciso V do mesmo artigo 600. Optou o Legislador por conferir legitimidade à Sociedade e não aos sócios, inovando em relação ao artigo 1030 do Código Civil, que textualmente legitima os sócios ao falar em “iniciativa da maioria dos demais sócios”. Nada impede, entretanto, que o sócio que tenha sido excluído extrajudicialmente proponha a demanda pare ver apurados os seus haveres (inciso IV do artigo 600, CPC/15).

A grande mudança quanto à legitimidade ativa para a dissolução parcial de sociedade ficou para o parágrafo único do artigo 600 do CPC/15, de índole heterotópica. Segundo o texto, o “cônjuge ou companheiro do sócio cujo casamento, união estável ou convivência terminou poderá requerer a apuração de seus haveres na sociedade, que serão pagos à conta da quota social titulada por este sócio”. Deixa-se porem, para os estudiosos e pesquisadores do Direito de Família a secção entre união estável e convivência.

O dispositivo possibilita a apuração de haveres sem que tenha havido dissolução parcial e legitima terceiro não sócio e não sucessor de sócio. Não se trata de situação análoga à morte de sócio, em que se opera dissolução parcial e consequente apuração de haveres, nos interesses do espólio.

O texto afronta o artigo 1027 do Código Civil, considerando que o ex-cônjuge de sócio não é sócio, assim como não o são os sucessores do cônjuge falecido. Não tendo havido falecimento do próprio sócio, o Legislador Civil preferiu garantir o direito dos interessados por meio da colheita dos frutos das cotas (dividendos) e a futura apropriação dos valores que tocarão o sócio em caso de liquidação da sociedade ou apenas de suas cotas, em evento futuro e certo (certo ao menos quanto ao óbito do próprio sócio).

Nunca pareceu razoável a ideia de admitir que no caso de extinção do casamento por divórcio ou morte do cônjuge de sócio, o ex-cônjuge ou seus herdeiros pudessem tomar parte na sociedade; seria ferimento mortal ao affectio societatis e à própria consecução do objeto social.

O legislador viu dois interesses confrontados: de um lado, o do cônjuge (ou seus herdeiros) do sócio no caso de extinção do casamento; e de outro, o da sociedade e dos demais sócios, de ver preservada a sociedade, blindada em relação às relações conjugais de sócio. Inicialmente, preservou o segundo interesse. Agora, preserva o primeiro (parágrafo único do artigo. 600 do CPC/15).

Estaria, então, revogado tacitamente o artigo 1027 do Código Civil? Poder-se-ia asseverar que sim, mas o novo dispositivo depende de interpretação extensiva, uma vez que trata apenas do interesse do ex-cônjuge de sócio em caso de extinção da relação, mas não dos herdeiros de tal cônjuge quando da sua morte. Sendo idênticos os interesses, não se admitem tratamentos diversos.

A legitimidade passiva para os processos de dissolução parcial e apuração de haveres cabe aos sócios e à sociedade, quando, claro não integram o polo ativo (artigo 601, CPC/15), dispensando-se à presença da sociedade no polo passivo, caso todos os sócios integrem a lide (parágrafo único do artigo 601, CPC/15), que, citada, poderá apresentar na própria contestação (artigo 343) reconvenção

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pretendendo indenização compensável com o valor dos haveres a apurar, nos termos do artigo 602 do mesmo Codex.

Não havendo oposição dos réus, o Juiz decretará (ou declarará, se a dissolução parcial for de pleno direito) resolvida a sociedade em relação ao sócio, deflagrando o procedimento liquidatório, hipótese em que não haverá sucumbência quanto aos honorários e promovendo-se o rateio das custas na proporção da participação societária.

Contestado o pedido, o conhecimento das causas dissolutórias observará o Procedimento Comum, mas a liquidação com apuração dos haveres será promovida pelo procedimento especial de que trata o Capítulo V do Título III do Título I da Parte Especial do Código Civil. Assim, a apuração de haveres será feita nos termos do disposto no contrato social e, nas omissões, conforme firma o artigo 606 do CPC/15.

A decisão de fixação dos critérios de apuração é precária, podendo ser modificada até o início da perícia, quando se estabiliza.

O dispositivo renova a base do artigo 1031 do Código Civil, acrescendo elementos já consagrados na Doutrina e na Jurisprudência, no sentido de se fazer incluir expressamente bens tangíveis e intangíveis. Entretanto, o STJ tem entendimento no sentido de que a apuração de haveres observará o valor econômico das quotas, se a Sociedade for Empresária (REsp 52.094-SP, DJ 21/8/2000; REsp 271.930-SP, DJ 25/3/2002; REsp 564.711-RS, DJ 20/3/2006, e REsp 130.617-AM, DJ 14/11/2005. REsp 907.014-MS, Rel. Min. Antônio Carlos Ferreira, julgado em 11/10/2011.), ou observará o valor patrimonial contábil, se Simples a Sociedade.

Não nos parece que a jurisprudência guinará para avaliação meramente patrimonial contábil (balanço patrimonial) independentemente da natureza da sociedade (Simples ou Empresária). Isso se confirma pelo parágrafo único do mencionado artigo 606, CPC/15 ao preferir, quando da nomeação de perito, que esta recaia sobre especialista em avaliação de sociedades. Considerações finais

A entrada em vigor de um novo Código de Processo Civil já atrai, de per si, um enorme desafio, mais do que uma evolução, é uma revolução. Toda revolução traz a reboque soluções e novos problemas a serem investigados empírica e academicamente com vistas ao encontro de uma propositura hermenêutica eficiente e pragmática que contribua, no que tange ao tema proposto especificamente, para que se promova uma efetiva proteção jurídica ao investimento privado.

O regramento processual especial trazido pelo CPC/15 é bem-vindo, estabelecendo, ao menos quanto ao procedimento aplicável, segurança jurídica. Por outro lado, ao extrapolar sua essência processual, o CPC/15 adentra questões materiais sem propriedade ou, no mínimo, contrariando a norma material existente e a posição consolidada dos Tribunais.

A nova lei processual supre a discussão sobre o procedimento para dissolução parcial, mas, tendo revogado definitivamente o CPC/39, entrega à dissolução total de sociedades o Procedimento Comum, antes muito bem regida pelo procedimento especial da década de trinta.

A adoção de Procedimento Comum para a dissolução total de sociedade ignora o fato de que, ao menos nas hipóteses de sua ocorrência de pleno direito (artigo 1033 CC), a cognição merece ser curta, de sorte a concentrar a discussão na fase de liquidação, sob pena de perecimento de ativos. Ficaremos saudosos do CPC/39.

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Por fim, temos ciência de que o tema não se resta exaurido neste estudo, mas espera-se que os raciocínios aqui desenvolvidos possam ter contribuído para o fomento de reflexões atinentes ao tema que venham corroborar para a melhor aplicação da norma ante ao fim ao qual o Direito se destina, qual seja, a organização dos fatos da vida em sociedade.

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