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10 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS (MESTRADO) GEISA PELISSARI SILVÉRIO CONTUDO, ENTRETANTO E NO ENTANTO: UMA BREVE ANÁLISE DO VALOR ANAFÓRICO DOS TERMOS ADVERSATIVOS MARINGÁ – PR 2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS (MESTRADO)

GEISA PELISSARI SILVÉRIO

CONTUDO, ENTRETANTO E NO ENTANTO: UMA BREVE ANÁLISE DO VALOR ANAFÓRICO DOS TERMOS ADVERSATIVOS

MARINGÁ – PR 2016

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GEISA PELISSARI SILVÉRIO

CONTUDO, ENTRETANTO E NO ENTANTO: UMA BREVE ANÁLISE DO VALOR ANAFÓRICO DOS TERMOS ADVERSATIVOS

Dissertação apresentada à Universidade Estadual de Maringá, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Letras, área de concentração: Estudos Linguísticos. Orientador (a): Prof.ª Dr.ª Maria Regina Pante

MARINGÁ – PR 2016

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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) (Biblioteca Central - UEM, Maringá – PR., Brasil)

Silvério, Geisa Pelissari S587c Contudo, entretanto e no entanto: uma breve

análise do valor anafórico dos termos adversativos/ . –- Maringá, 2016.

88 f. : il., figs. , tabs. Orientadora: Profa. Dra. Maria Regina Pante. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de

Maringá, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Programa de Pós-graduação em Letras, 2016.

1. Descrição linguística. 2. Conjunções. 3.

Funcionalismo. 4. Gramaticalização. 5. Conectivos adversativos. 6. Caráter anafórico. I. Pante, Maria Regina, orient. II. Universidade Estadual de Maringá. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação em Letras. III. Título.

CDD 22. ED.415

JLM-001931

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por me permitir a aquisição de conhecimento, pelo amparo que sempre encontro diante das dificuldades e por me proporcionar a inspiração necessária nos momentos de estudo.

À minha orientadora, Prof.ª Dr.ª Maria Regina Pante, pela orientação no desenvolvimento deste trabalho, por me ensinar a paixão pelo estudo e, principalmente, pelo ensino da gramática da Língua Portuguesa, por sempre mostrar o lado humano do bom orientador com uma palavra de conforto nos momentos difíceis e risadas impagáveis nos momentos de descontração.

Aos meus pais, Catarina e Ismael, que sem dúvida alguma foram sempre minha força maior para continuar na busca pelo aperfeiçoamento profissional e pessoal.

Ao meu irmão Gedean, que sempre foi um exemplo para mim de dedicação e inteligência nos estudos, e que sempre esteve ao meu lado em todas as decisões profissionais, não importava quais fossem.

Ao meu companheiro Thiago, por me apoiar todas as vezes em que precisei, pela paciência nos momentos de estresse e ausência, pela dedicação com a qual sempre me auxilia, e por se interessar muito pelo meu crescimento profissional.

A toda a minha família, que foi inspiração para que eu nunca desistisse, em especial à tia Téia e ao tio Cláudio que nunca cansaram de me dizer: “vai fazer mestrado menina!”.

Aos meus amigos, por representarem sempre um alívio durante o processo que é desgastante e difícil.

Às professoras Luciana Cristina Ferreira Dias e Esther Gomes de Oliveira, pela participação na banca e pelas significativas contribuições a este trabalho.

À Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), pela bolsa concedida no período de 2014 a 2015.

A todos os funcionários e professores do Programa de Pós-graduação em Letras.

A todos que, direta e indiretamente, colaboraram para que esta pesquisa fosse desenvolvida.

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“Nenhum homem é uma ilha; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.

John Donne

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RESUMO

Assim como o comportamento humano, a língua em uso apresenta novas estruturas e funções para adequação ao objetivo da comunicação. O funcionalismo, corrente da descrição linguística que trabalha com dados da língua falada e escrita, procura, por meio do processo de gramaticalização, compreender a mudança sintático-semântico-pragmática que ocorre com determinados termos. Sendo assim, neste trabalho, objetiva-se pesquisar esse processo nos vocábulos contudo, entretanto e no entanto, com o intuito de expressar a passagem do tipo advérbio > conjunção e evidenciar o valor adversativo/discursivo dessas palavras e o atual caráter anafórico. Para isso, optou-se pelo uso do conceito clássico de gramaticalização, que determina, de acordo com Hopper e Traugott (2003), a ocorrência de itens lexicais, em determinados contextos, assumindo funções gramaticais ou desenvolvendo novas funções gramaticais, isto quando já gramaticalizados. Tem-se, nesse processo, uma evidente alteração semântica, isto é, outros significados apresentados por esses termos, inclusive uma mudança sintática em estudo, realocando-os em outra classe de palavra, de acordo com a gramática normativa, ou em outra categoria, conforme denominado por Câmara Jr (1976). Os corpora para investigação dessas mudanças basearam-se em textos midiáticos, já que eles atingem a um grande número de leitores, os quais passam a utilizar os recursos linguísticos apreendidos nessas leituras, consolidando essas novas aparições. Os textos selecionados são pertencentes a jornais e a revistas de grande circulação nacional. A análise evidenciou o já conhecido uso desses termos como conjunções adversativas e, em maior ocorrência, mas esperada, o seu emprego como adversativos/discursivos e o seu caráter anafórico no contexto em que ocorrem. Constataram-se também exemplos dos termos com valor semântico de conclusão à informação que foi apresentada e como expressão de realce. Palavras-chave: Funcionalismo; Gramaticalização; Conectivos Adversativos; Caráter Anafórico.

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ABSTRACT

As well as human behavior, language in use presents new structures and functions to fit the purpose of communication. The functionalism, theoretical current of the linguistic description that works with data from the spoken and written language, looking through the grammaticalization process, understand the syntactic-semantic-pragmatic change that occurs with certain terms. Thus, this work aims to investigate this process in words contudo, entretanto and no entanto, in order to express the passage of the type adverb > conjunction and highlight the adversative/discursive value of these words and the current anaphoric character. For this, it was chosen for the use of the classical concept of grammaticalization, which determines, according to Hopper and Traugott (2003), the occurrence of lexical items in certain contexts, assuming grammatical functions or developing new grammatical functions, that when they are already gramaticalized. In this process, it has a clear semantic change, that is, other meanings presented by these terms, including a syntactic change in study, relocating them in another word class, according to the normative grammar, or other category, as named by Câmara Jr. (1976). Corpora for research of these changes were based on media texts, as they reach a large number of readers, which start to use language resources apprehended in these readings, consolidating these new appearances. The selected texts are owned by newspapers and magazines of great national circulation. The analysis showed the well-known use of these terms as adversative conjunctions, and greater occurrence, but expected, its use as adversative/discursive and its anaphoric character in the context in which they occur. They also found examples of terms with semantic value of conclusion to the information that was presented and as to highlight expression. Keywords: Functionalism; Grammaticalization; Connective Adversative; Anaphoric character.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Modelo de Interação Verbal ......................................................22

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1: Formalismo e Funcionalismo segundo Dik ...............................17 QUADRO 2: Correlação entre categorias metafóricas, classes de palavras e tipos de constituinte.....................................................................................36

QUADRO 3: Relações entre cláusulas ..........................................................41

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Quantificação de posicionamento das ocorrências .................................62

Tabela 2: Quantificação das relações semântico-discursivas .................................70

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................... 12

CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ......................................... 15 1.1. A corrente funcionalista ................................................................. 15

1.1.1. Polo formalista e polo funcionalista .......................................... 15 1.1.2. As correntes funcionalistas ........................................................ 19 1.2. Gramaticalização ............................................................................ 25 1.2.1. Precursores da gramaticalização .............................................. 25 1.2.2. Definição .................................................................................... 27 1.2.2.1. Sincronia versus diacronia ................................................ 30 1.2.2.2. Princípio da unidirecionalidade ......................................... 32 1.2.3. Mecanismos de gramaticalização .............................................. 34 1.2.3.1. A metáfora ........................................................................ 34

CAPÍTULO II – PANORAMA DAS CONJUNÇÕES COORDENATIVAS ADVERSATIVAS E SUAS RELAÇÕES ...............

37

2.1. A visão normativa das conjunções adversativas e da articulação entre orações ........................................................................

37

2.2. Relação entre orações: as sentenças coordenadas no funcionalismo ...........................................................................................

41

2.2.1 A mudança semântica nas conjunções ...................................... 45 2.2.2 Micro e macroestrutura do texto ................................................. 47 2.2.3 A coesão textual: remissão e sequenciação .............................. 50

CAPÍTULO III – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ........................ 52 3.1. Composição dos corpora .............................................................. 52 3.2 Metodologia ...................................................................................... 53 3.3. Etimologia e definições das conjunções adversativas............... 55 3.3.1. O termo contudo ........................................................................ 57 3.3.2. O termo entretanto ..................................................................... 58 3.3.3. O termo no entanto .................................................................... 60

CAPÍTULO IV – ANÁLISE DOS DADOS .................................................. 62 4.1 Construções analisadas e o seu posicionamento ....................... 62 4.2 A classificação e a estrutura entre período simples e composto e o uso do falante ................................................................

66

4.3 Relações semântico-discursivas estabelecidas pelos itens contudo, entretanto, no entanto ..............................................................

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CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 82

REFERÊNCIAS .......................................................................................... 84

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INTRODUÇÃO

Considerar a língua portuguesa um conjunto de normas fechadas e

inalteradas é não considerar certos usos de seus falantes, visto que fogem ao

que é determinado como regra. Por isso, compreender esses diferentes usos é

tarefa difícil para aquele que a analisa somente pelos quesitos referenciados

pela gramática normativa. Essa mesma gramática impõe determinadas regras

que ora deixaram de ser utilizadas, devido às evoluções históricas que

permeiam qualquer língua, ora passaram a ser empregadas de modo nem

sempre igual aos preconizados pelas regras tradicionais.

Diante disso, os diferentes estudos gramaticais, e nesse caso o

funcionalista, procuram dar tratamento além daquilo que é limitado por essa

gramática tradicional. Portanto, com as diferentes situações comunicativas, faz-

se imprescindível acrescentar, aos aspectos morfológicos, sintáticos e

semânticos dos estudos normativos, a visão pragmática, a fim de que esta

auxilie na investigação das diversas aplicações linguísticas.

Para tanto, o funcionalismo, levando em consideração esse aspecto

pragmático, objetiva estudar a língua em uso a fim de compreender como se

expressam os falantes no ato comunicativo. Além disso, essa corrente permite

verificar o motivo pelo qual o falante faz determinada escolha linguística e de

que maneira isso interfere no discurso como um todo, e não

descontextualizado como o faz a gramática normativa.

A partir dessa teoria, muitos autores funcionalistas, tais como Chafe

(1980), Dik (1997), Neves (1997) e Castilho (2003), estudaram os processos de

conexão entre orações, questionando a rigidez de suas regras para as

cláusulas coordenadas e subordinadas. No viés desses estudos, Barreto

(1999) e Hopper e Traugott (2003) elaboraram trabalhos a respeito da

gramaticalização de termos que passaram a estabelecer relações sintáticas e

semânticas entre cláusulas, o que antes não faziam, bem como as relações

semântico-pragmáticas que apresentavam e outras que passaram a

apresentar.

Logo, este trabalho se justifica pela possibilidade de ampliação dos

estudos no rol dos processos de gramaticalização da Língua Portuguesa, uma

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vez que os estudos normativos da língua limitam-se a restringir certos termos a

uma função pré-determinada. É o caso dos elementos “contudo”, “entretanto” e

“no entanto”, classificados como conjunções adversativas que opõem uma

oração a outra em um período composto. Entretanto, como há ocorrências

diferenciadas dessa classificação, tanto na estrutura quanto no sentido, as

quais se tornam cada vez mais frequentes na linguagem, constata-se grande

relevância para a presente pesquisa.

Sendo assim, o objetivo geral deste trabalho é investigar o processo

denominado de gramaticalização e como os termos “contudo”, “entretanto” e

“no entanto”, considerados conjunções adversativas pelos estudos normativos,

ainda não apresentam esse processo consolidado. Este estudo será realizado

com o levantamento dos termos em diferentes gêneros textuais de jornais – em

sua maioria notícias e artigos de opinião – de grande circulação nacional e de

variados autores.

Os objetivos específicos são:

a) verificar se tais construções possuem de fato somente o valor

adversativo apregoado pela gramática normativa;

b) comprovar que essas construções, na maioria dos casos, não

aparecem opondo uma única oração, mas sim toda uma ideia anteriormente

mencionada;

c) analisar como essas construções funcionam como estratégias

argumentativas do falante, no que diz respeito ao seu posicionamento no

período e no texto, exercendo uma função anafórica de ênfase na informação a

ser transmitida e possivelmente maior persuasão do leitor.

Por isso, com a finalidade de se expor essas relações, dividiu-se este

trabalho em quatro capítulos. No primeiro deles, elaborou-se uma breve

retomada histórica das origens e do surgimento do funcionalismo. Nesse

sentido, apresentaram-se também as diferentes correntes funcionalistas e seus

enfoques de estudo, além da conceitualização do termo gramaticalização, tema

de estudo dessa corrente, e seus princípios e mecanismos, fundamentais para

consolidar a presente pesquisa.

No segundo capítulo, teceram-se considerações sobre a visão pré-

moldada da gramática normativa das relações de coordenação e de

subordinação e como o funcionalismo analisa essas relações de modo mais

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aberto e maleável. Também se apresentou a mudança semântica pela qual as

conjunções em estudo passaram e as noções de micro e macro estrutura do

texto para se verificar a possibilidade de contradição não só da oração anterior,

mas também de uma ideia por completo.

O terceiro capítulo expõe os jornais selecionados para a coleta dos

dados e os motivos para isso. Além disso, traz a metodologia aplicada a esta

pesquisa, de acordo com a frequência token e type defendida por Bybee et al.

(1994) e Bybee (2003), e a etimologia dos termos “contudo”, “entretanto” e “no

entanto”.

O quarto capítulo refere-se à análise das ocorrências selecionadas por

meio do posicionamento, classificação, estrutura e relações semântico-

discursivas estabelecidas nos exemplos coletados.

Por fim, inseriram-se as considerações finais deste trabalho, retomando

alguns pontos fundamentais desta pesquisa.

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CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1. A corrente funcionalista

No início do século XX, Ferdinand de Saussure propõe, em seu Cours

de linguistique générale (1916), o estudo da linguística visto como uma ciência,

motivo pelo qual é considerado pioneiro da linguística moderna. Suas ideias,

difundidas por seus dois grandes discípulos, Albert Sechehaye e Charles Bally,

determinavam que a língua era um sistema, ou seja, um todo organizado por

elementos.

Martelotta e Areas (2003) afirmam que mais tarde o termo sistema foi

substituído por estrutura, uma vez que, ao determinar a língua como um

conjunto de elementos, era necessário analisar seus fatores. Devido a essa

redefinição do termo, Saussure passa a ser denominado o mentor da corrente

estruturalista. Em seus estudos sobre a linguagem, optou por distinguir langue

e parole, dando enfoque para a primeira e desconsiderando os aspectos

relacionados à função da língua.

Apesar de ater-se somente à língua escrita, os estudos saussurianos

foram de fundamental importância para a linguagem. Câmara Jr. (1976)

ressalta que as ideias desse filósofo da linguagem serviriam de base para

inúmeros estudos posteriores sobre a língua, que ora se mantiveram no

mesmo caminho estruturalista, ora se opuseram às dicotomias apregoadas por

ele.

Sendo assim, derivado e influenciado por Saussure, o pensamento

linguístico, segundo Neves (1997), passa a apresentar dois grandes polos: o

formalismo e o funcionalismo que, apesar de se mostrarem divergentes,

possuem o mesmo objeto de estudo.

1.1.1. Polo formalista e polo funcionalista

Sabe-se que o estruturalismo apresentou enfoques diferentes conforme

os variados autores, o que leva à constatação de que não se tratava de uma

corrente linguística unificada. Esses distintos sucessores da concepção

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saussuriana redefiniram o ponto de vista dado ao termo função em seus

modelos teóricos, dividindo-se em formalistas e funcionalistas.

A vertente formalista elabora uma análise enfatizando a forma linguística

na qual, segundo Martelotta e Areas (2003), a ideia de função é deixada em

segundo plano. Neves (1997) corrobora com essa definição, utilizando-se da

ideia de primário e de secundário, ou seja, para esse polo a forma possui papel

primário na análise, enquanto os aspectos funcionais são secundários. Logo, a

língua é examinada fora de seu uso real, como um objeto independente.

No enfoque funcionalista, por outro lado, o papel desempenhado pela

língua no ato comunicativo é de fundamental importância para a análise, não

podendo ser vista como objeto autônomo, uma vez que está inserida em uma

situação comunicativa. Para Neves (1997), aqui as funções linguísticas

possuem papel de destaque.

Castilho, ao definir os dois pontos de vista, admite concordar com Dell

Hymes (1974) e Dik (1987/1981:5,1989), caracterizando esses dois polos da

seguinte forma:

Formalismo: A língua é um conjunto de orações, cujo correlato psicológico é a competência, isto é, a capacidade de produzir, interpretar e julgar a gramaticalidade das orações. Segue-se que as orações devem ser descritas independentemente de sua localização contextual, e a sintaxe é autônoma com respeito à semântica e à pragmática. Diferentes graus de idealização dos dados podem ser considerados, sendo indispensável seguir considerando uma língua I, distinta de uma língua E1. Funcionalismo: A língua é um instrumento de interação social, cujo correlato psicológico é a competência comunicativa, isto é, a capacidade de manter a interação por meio da linguagem. Segue-se que as descrições das expressões linguísticas devem proporcionar pontos de contato com seu funcionamento em dadas situações. A Pragmática é um marco globalizador, dentro do qual se deve estudar a Semântica e a Sintaxe. (CASTILHO, 2012, p. 64)

Por meio das definições apresentadas, constatam-se os aspectos

claramente distintos que cada enfoque procura analisar no interior dos estudos

linguísticos. A seguir, expõe-se um quadro comparativo organizado por

1 “Língua I = língua internalizada, de natureza mental. Língua E = língua externalizada, de natureza vocal ou gestual.” (CASTILHO, 2012, p. 64).

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Castilho (2012) com base nos pressupostos de Dik (1978/1981:4) com as

características significativas dos dois polos em discussão:

PARADIGMA FORMAL PARADIGMA FUNCIONAL

1. A língua é um conjunto de sentenças. 1. A língua é um instrumento de

interação social.

2. A função primária da língua é a

expressão dos pensamentos.

2. A função primária da língua é a

comunicação.

3. O correlato psicológico da língua é a

competência: a capacidade de produzir,

de interpretar e de julgar sentenças.

3. O correlato psicológico da língua é a

competência comunicativa: a habilidade

de conduzir a interação social por meio

da língua.

4. O estudo da competência tem uma

prioridade lógica e metodológica sobre o

estudo do desempenho.

4. O estudo do sistema linguístico deve

ter lugar no interior do sistema de usos

linguísticos.

5. As sentenças de uma língua devem

ser descritas independentemente do

contexto em que ocorreram.

5. A descrição dos elementos

linguísticos de uso de uma língua deve

proporcionar pontos de contato com o

contexto em que ocorreram.

6. A aquisição da língua é inata. Os

inputs são restritos e não estruturados. A

teoria do estímulo é pobre.

6. A criança descobre o sistema que

subjaz à língua e ao uso linguístico

ajudada por inputs de dados linguísticos

extensos e altamente estruturados,

presentes em contextos naturais.

7. Os universais linguísticos são

propriedades inatas do organismo

biológico e psicológico dos homens.

7. Os universais linguísticos são

especificações inerentes às finalidades

da comunicação, à constituição dos

usuários da língua e aos contextos em

que a língua é usada.

8. A sintaxe é autônoma em relação à

semântica. A sintaxe e a semântica são

autônomas com relação à pragmática, e

as prioridades vão da sintaxe à

pragmática via semântica.

8. A pragmática é a moldura dentro da

qual a semântica e a sintaxe devem ser

estudadas. A semântica é dependente

da pragmática, e as prioridades vão da

pragmática para a sintaxe via semântica.

Quadro 1: Formalismo e Funcionalismo segundo Dik (1978/1981:4) Organizado por Castilho (2012, p. 66).

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Ao se distinguirem as características das duas vertentes, também se

observam os diferentes autores que delas fazem parte. Dirven e Fried (1987)

separam de modo compreensível esses pesquisadores. Para eles, no foco

formalista, tem-se o estruturalismo americano, de nomes como Bloomfield,

Trager, Bloch, Harris e Fries, e sucessivos modelos de gerativismo, que levam

à teoria padrão de Chomsky. Por sua vez, na frente funcionalista, aparecem a

Escola de Genebra, com Saussure, Bally e Tesnière; a Escola de Praga, com

Mathesius, Trubetskoy, Jakobson, Danes, Firbas, Vachek, Sgall; a Escola de

Londres, com Firth e Halliday; e o Grupo da Holanda, com Reichling e Dik.

Vale ressaltar que essa separação não impede que esses autores

deixem de ter características do polo oposto no qual estão inseridos, nem

tampouco se deve considerar uma vertente com primazia sobre a outra, ou

ainda como alternativas, como o fazem Votre e Naro (1989), pois ambas

possuem real importância para os estudos da linguagem. De acordo com o que

afirma Nascimento (1990), reiterado por Dillinger (1991), tanto os formalistas

como os funcionalistas possuem o mesmo objeto de estudo, motivo pelo qual

não devem ser vistos como opções excludentes entre si. São, sim, maneiras

distintas de examinar a língua, cada qual podendo trazer sua contribuição para

a compreensão da linguagem.

Como afirma Camara Jr., “a língua existe essencialmente como meio de

comunicação entre os homens e as significações linguísticas estão

evidentemente na base de tal comunicação” (2009, p. 13). Dessa maneira, a

vertente funcionalista, que norteará este estudo, ao considerar a língua em uso,

abre possibilidade para diferentes correntes teóricas.

Nichols (1984) separa as correntes funcionalistas em três tipos: o

conservador, o moderado e o extremado. Neves, embasada no autor, define-os

da seguinte maneira:

O tipo conservador apenas aponta a inadequação do formalismo ou do estruturalismo, sem propor uma análise da estrutura. O tipo moderado não apenas aponta essa inadequação, mas vai além, propondo uma análise funcionalista da estrutura. O funcionalismo extremado nega a realidade da estrutura como estrutura, e considera que as regras se baseiam internamente na função, não havendo, pois,

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restrições sintáticas. (NEVES, 1997, p. 55 e 56).2

Portanto, embora haja diferentes “funcionalismos”, Antonio (2009)

lembra que eles possuem em comum a análise da língua em sua função

comunicativa, além de considerarem que o falante se comunica por meio do

discurso multiproposicional.

1.1.2. As correntes funcionalistas

Como se pode depreender, o funcionalismo estuda a língua em uso,

considerando as intenções do falante e seu contexto de produção. Para Cunha

(2012), esse instrumento de interação social que é a linguagem, ao determinar

a relação entre linguagem e sociedade ultrapassa a simples estrutura

gramatical, procurando a motivação para os fatos.

A autora assevera que,

Na análise de cunho funcionalista, os enunciados e os textos são relacionados às funções que eles desempenham na comunicação interpessoal. Ou seja, o funcionalismo procura essencialmente trabalhar com dados reais de fala ou escrita retirados de contextos efetivos de comunicação. É a universalidade dos usos a que a linguagem serve nas sociedades humanas que explica a existência dos universais linguísticos (...). (CUNHA, 2012, p.158).

A corrente funcionalista surge como um movimento particular inserido no

estruturalismo, do mesmo modo que, de acordo com Pezatti (2007), outras

correntes também aparecem como a Sociolinguística, a Linguística Textual, a

Análise do Discurso, a Análise da Conversação, entre outras. Conforme a

própria autora, porém, o funcionalismo é muito mais antigo que essas mais

recentes tendências.

As primeiras análises funcionalistas são atribuídas aos membros da

Escola de Praga, na qual surgiu o Círculo Linguístico de Praga, em 1926,

idealizado pelo linguista tcheco Vilém Mathesius. A contribuição maior desse 2 Dentre as três correntes funcionalistas definidas por Neves (1997), nota-se que é o tipo moderado que apresenta um sensato estudo da língua em uso, pois visa não só criticar o que não é apropriado, mas também promove análises objetivando compreender o funcionamento da língua, não estando em um ou outro extremo dos estudos funcionalistas.

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grupo é vista no “uso dos termos função/funcional, no estabelecimento dos

fundamentos teóricos básicos do funcionalismo e nas análises que levam em

conta parâmetros pragmáticos e discursivos” (CUNHA, 2012, p. 159).

Além dos relevantes trabalhos desempenhados por Trubetzkoy e

Jakobson na área fonológica da língua, Pezatti (2007) dá importante destaque

à ampliação das funções da linguagem elaboradas por Jakobson, as quais

passaram a levar em conta os participantes da comunicação verbal. Outra

especificidade de Jakobson, segundo Paveau e Sarfati (2006), foi conceber a

literatura e a linguística intrinsicamente relacionadas nos fundamentos da

poética.

Para Neves (1997), a abordagem de tal escola é denominada

estruturalismo funcional, isto é, a língua é um sistema funcional, no qual

aparecem conjuntamente o estrutural (sistêmico) e o funcional. Vale destacar

que nessa escola os itens que se estruturam no enunciado são multifuncionais,

aspecto que será validado tanto por Halliday como por Dik, já que a descrição

de uma estrutura que se restringe à indicação das funções gramaticais não

pode ser considerada esgotada. Por isso, evidencia-se o enfoque funcionalista

nas “teses de Praga” quando seus autores definem a língua como um sistema

de meios apropriados a um fim.

Outra corrente fortemente influenciada pelas ideias saussurianas foi a

Escola de Genebra, com representantes como Sechehaye, Frei e Bally. Este

último foi quem expôs a vertente funcionalista para a escola, pois, ao observar

quais os desvios que o uso individual (fala) impõe ao sistema (a língua), Cunha

(2012) afirma que Bally fundamentou-se no fato de que não existe divisão

intransponível entre língua e fala, definição funcionalista por excelência.

Influenciado pela tradição etnográfica de Boas-Sapir-Whorf e o

funcionalismo etnográfico e o contextualismo desenvolvido por Malinowski, está

Halliday, base da Escola funcionalista de Londres. Segundo Antonio (2009),

sua orientação textual é clara, pois esse modelo gramatical é construído para

analisar textos. A Gramática Sistêmico-Funcional (Systemic Functional

Grammar – SFG), como é definida essa vertente, toma a língua como uma

rede interconectada de possibilidades que permitem ao falante fazer escolhas,

que vão dos traços específicos aos mais gerais. Além disso, observa a língua

considerando a função de cada elemento no sistema como um todo.

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Uma característica da abordagem que estamos adotando aqui, a da teoria sistêmica, é que ela é abrangente: ela está preocupada com a língua na sua totalidade, de modo que tudo o que é dito sobre um aspecto é para ser entendido sempre com referência à imagem total. Ao mesmo tempo, é claro, o que se diz sobre quaisquer conceitos básicos para o estudo de um aspecto da língua também contribui para o quadro total (...). (HALLIDAY e MATTHIESSEN, 2004, p. 19, tradução nossa)3.

Cunha (2012) destaca que Halliday opta por conceituar o termo função

de modo amplo, inserindo as funções de enunciados e textos e as funções de

unidades no interior de uma estrutura e determinando, como componentes

essenciais do sentido da língua, três metafunções: a ideacional e a

interpessoal, relacionadas aos aspectos externos da língua, e a textual,

inerente à língua. Butler (2003) assevera que Halliday, ao rejeitar a autonomia

do sistema linguístico, rejeita também o conceito de competência comunicativa,

uma vez que não deseja opor conhecimento de língua com uso da língua,

preferindo pensar em termos de potencial linguístico.

A tendência funcionalista está presente também no denominado grupo

holandês. Motivado pelos estudos de Reichling, Dik (1997) considera

fundamental o fato de a língua ser usada primeiramente para a comunicação

em contextos sociais e psicológicos. Ou seja, para ele, esse paradigma revela

a instrumentalidade da língua em relação ao que as pessoas fazem e alcançam

com a interação verbal, considerando a competência comunicativa do falante.

Pezatti (2007), ao citar Dik (1989), lembra que a interação verbal é um

modo de atividade cooperativa estruturada, em torno de regras sociais, normas

ou convenções. A autora afirma ainda que o foco são os objetivos

comunicativos dessa interação, e os aspectos linguísticos devem ser tratados

como instrumentais. Isso se torna evidente no modelo de interação proposto

por Dik (1989a, apud NEVES, 1997, p. 19):

3“A characteristic of the approach we are adopting here, that of systemic theory, is that it is comprehensive: it is concerned with language in its entirety, so that whatever is said about one aspect is to be understood always with reference to the total picture. At the same time, of course, what is being said about any Basic concepts for the study of language one aspect also contributes to the total picture (…).” (HALLIDAY e MATTHIESSEN, 2004, p. 19).

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FIGURA1–MODELODEINTERAÇÃOVERBAL

Butler (2003) enfatiza que Dik dá importância fundamental à semântica e

à pragmática. Isso se deve ao fato de que, ao produzir textos, o falante

antecipa a interpretação do interlocutor para que os seus objetivos na interação

verbal sejam cumpridos. Logo, esse falante busca promover modificações e

efeitos no interlocutor, que seria a quantidade de informação pragmática que

ele leva consigo, visando à intenção comunicativa que estipulou para aquela

interação. Nesse momento, ele também estabelece a expressão linguística que

utilizará. A partir disso, o interlocutor interpretará o que lhe foi transmitido,

buscando em seus constructos pragmáticos a melhor formulação que manterá

a interação e procurando atingir a intenção comunicativa do falante.

Sendo assim, a Gramática Funcional (Functional Grammar – FG) de Dik

procura, segundo Neves, aplicar dois princípios de explicação funcional:

a) uma teoria da linguagem não deve se contentar em apresentar as regras e princípios que estão subjacentes à construção das expressões lingüísticas, mas deve tentar, dentro do possível, explicar essas regras e princípios em termos de sua funcionalidade em relação aos modos de uso das expressões. b) embora em si própria uma teoria das expressões lingüísticas não seja o mesmo que uma teoria da interação verbal é natural exigir que ela seja planejada de tal modo que possa mais fácil e realisticamente ser incorporada em uma teoria pragmática mais ampla de interação verbal. (NEVES, 1997, p. 78).

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Conforme Butler (2003), a FG rejeita a arbitrariedade e a independência

do sistema linguístico e propõe que as formas gramaticais são o resultado de

comparação das motivações funcionais. Martellota e Areas (2003) expõem

ainda que, nesse modelo de sintaxe funcional, as sentenças são analisadas em

três níveis diferentes: o semântico, o sintático e o pragmático, evidenciando a

sintaxe como elemento importante para a realização do significado.

Além das vertentes europeias apresentadas, estudos linguísticos norte-

americanos de caráter funcionalista têm trazido importantes contribuições para

a compreensão da linguagem. De acordo com Pezatti (2007), tem-se em

Buffalo, New York, uma corrente denominada Gramática de Papel e Referência

(Role and Reference Grammar – RRG).

Para a RRG, proposta por Foley e Van Valin (1984), o critério em

destaque nas várias abordagens funcionais é a crença de que a linguagem

deve ser estudada em relação ao seu papel na comunicação humana. Os

autores afirmam que a linguagem é vista como um sistema de comunicação

humana, e não como um conjunto infinito de descrições estruturais de

sentenças.

As línguas são sistemas, e não coleções aleatórias de construções gramaticais. Quando nós as exploramos a partir da perspectiva de como elas atingem um determinado fim comunicativo, vemos sua natureza sistemática mais claramente.4 (FOLEY e VAN VALIN, 1984, p. 11, tradução nossa, grifo do autor).

Butler (2003) evidencia que Foley e Van Valin procuram caracterizar

também a competência comunicativa, não se atendo somente à sintaxe e

também não rejeitando a sua autonomia, apregoada pelos formalistas, mas sim

ressaltando que a sintaxe é parte constituinte do sistema linguístico.

Outra tendência norte-americana, voltada para as figuras de Lakoff e

Langacker, em Berkeley, é chamada de funcional cognitiva. Cunha (2012)

4“Languages are systems, not random collections of grammatical constructions. When we explore them from the perspective of how they achieve a certain communicative end, we see their systematic nature most clearly.” (FOLEY e VAN VALIN, 1984, p. 11, grifo do autor).

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afirma que esses autores também rejeitam a tese de autonomia da sintaxe e

propõem a inserção de aspectos sociais e cognitivos nos estudos da

linguagem. Essa vertente, segundo Decat (2001), pressupõe que a

estruturação das categorias linguísticas realiza-se seguindo os mesmos

princípios que as categorias humanas.

Um grupo de pesquisadores centrados na Califórnia (EUA) representam

o funcionalismo da Costa-Oeste (West Coast Funcionalism – WFC) e tem como

principais nomes Talmy Givón, Charles Li, Sandra Thompson, Wallace Chafe,

Paul Hopper, Scott Delancey, John DuBois, entre outros. Esses estudiosos,

assim como todas as outras correntes funcionalistas aqui mencionadas,

defendem que, sem referência à sua função comunicativa, não há como uma

determinada estrutura da língua ser descrita.

Segundo Martelotta e Areas (2003) e Cunha (2012), o WCF defende

uma linguística fundamentada no uso, observando a língua com base no

contexto linguístico e na situação extralinguística. Devido às vicissitudes do

discurso, essa concepção trata a sintaxe como uma estrutura em constante

transformação. Sendo assim, é preciso estudar a língua em seus efetivos

contextos discursivos, uma vez que é nesse contexto que ocorre a construção

da gramática. Isso corresponde às noções de “gramática emergente” (Hopper,

1998) e de “sistema adaptativo” (Du Bois, 1985), de acordo com Cunha (2012).

Sobre esse aspecto esta autora conclui que

Considerar a gramática como um organismo maleável, que se adapta às necessidades comunicativas e cognitivas dos falantes, implica reconhecer que a gramática de qualquer língua exibe padrões morfossintáticos estáveis, sistematizados pelo uso, ao lado de mecanismos de codificação emergentes. Em outras palavras as regras gramaticais são modificadas pelo uso (isto é, as línguas variam e mudam), e, portanto, é necessário observar a língua como ela é falada. (CUNHA, 2012, p. 164).

Givón, em 1979, influenciado pelas descobertas de Sankoff, publica

From discourse to syntax: gramar as a processing strategy, evidenciando com

esse texto que a sintaxe existe para desenvolver uma determinada função, e

esta é quem estabelece a maneira de ser do discurso. Butler (2003) ressalta

que a WFC realiza uma crítica ao gerativismo chomskiano, condenando a

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descrição autônoma da gramática. Para compreender “como a língua é” e “por

que é daquele modo”, é indispensável remeter à situação comunicativa.

Após uma breve apresentação das diferentes correntes funcionalistas,

que ainda poderiam ser mais amplamente explanadas, observa-se que os

principais temas de estudos funcionalistas são: informatividade, iconicidade,

marcação, transitividade e plano discursivo, prototipia, conceito de Tópico, a

estrutura argumental preferida e fluxo de informação e gramaticalização. Esta

última é a que nos interessa neste trabalho, seguindo uma seção com especial

atenção a esse conceito.

1.2. Gramaticalização

1.2.1. Precursores da gramaticalização

Os estudos que dão significado ao que hoje é determinado como

gramaticalização não possuem origem recente. De acordo com Heine et al.

(1991), são os chineses do século X que dão indícios sobre o entendimento de

categorias gramaticais, ao reconhecerem a diferença entre signos plenos e

vazios, evidenciando que os primeiros surgem dos segundos.

Na França do século XVIII, filósofos franceses, como Condillac e

Rousseau, já afirmavam que os lexemas concretos motivavam a complexidade

gramatical e também o lexema abstrato. Ainda no mesmo século, Neves (1997)

assevera que, na Inglaterra, Tooke apresenta a noção de “abreviação” ou

“mutilação”, a qual demonstra, a partir da abreviação de nomes e de verbos, o

desenvolvimento de advérbios, de preposições e de conjunções.

No século XIX, na Alemanha, surgem importantes nomes como Bopp,

Schlegel, Humboldt, Gabelentz, e nos Estados Unidos, Whitney. Segundo

Hopper e Traugott (2003), Humboldt defende que há um estágio evolucionário

da língua em que somente as ideias concretas eram expressas, e que isso

originou a estrutura gramatical das línguas humanas.

Apesar dos fundamentais trabalhos propostos pelos autores citados, a

figura central do tema em questão é Antoine Meillet. Esse autor, ao introduzir o

termo gramaticalização, compreende a importância desse processo de

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mudança linguística. Ele ressalta que é necessário que a discussão sobre a

temática vá além da origem das formas gramaticais, expondo as

transformações por elas sofridas. O autor define gramaticalização como “a

atribuição de um caráter gramatical a uma palavra anteriormente autônoma”

(1975, p. 131). Isso o levou a constatar que essa transição para palavra

gramatical ocorre como uma espécie de continuum, cuja fonte é sempre uma

palavra lexical. Logo, a gramaticalização altera todo o sistema linguístico, uma

vez que produz ou principia categorias gramaticais novas sem expressão

linguística.

Observa-se ainda que, para ele, os falantes procuram formas de criar na

linguagem para mencionar ideias já conhecidas, devido à ânsia de serem mais

expressivos, o que resulta no processo em estudo.

Conforme Silva, Meillet afirma, em relação às conjunções, que

Essas tendem a enfraquecer pelo uso frequente e velocidade com que são pronunciadas, o que acaba favorecendo o desgaste de material semântico e a perda de expressidade, necessitando, então, da renovação das formas. Os falantes, por sua vez, inconscientemente, reagem à automatização, criando formas alternativas a partir do repertório existente na língua. (2010, p.22).

Meillet ainda enfatiza que a gramaticalização não possui um fim. Isso

significa dizer que os termos criados de maneira não previsível, devido à

necessidade de se expressar, em certo estágio, vão se desgastando, sendo

usados somente como acessórios gramaticais.

Após os trabalhos de Meillet, Hopper e Traugott (2003) afirmam que a

gramaticalização passou a ser estudada como linguística histórica, pois a

linguística era discutida intensamente pelos estudos estruturalistas de base

saussureana. Autores como Kurylowicz (1965), Watkins (1965) e Benveniste

(1965) promoveram as análises mais representativas da época as quais

abordavam aspectos da mudança linguística. Somente em 1970 a

gramaticalização passou novamente a ter destaque nas discussões

linguísticas, já que se indagava a respeito do caráter estático da descrição

linguística e iniciou-se um interesse pela pragmática.

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1.2.2. Definição

Conforme expõe Cunha (2012), como a gramaticalização é um

fenômeno ligado à necessidade de se refazer que toda gramática possui,

conceituar de um só modo esse termo não é viável, visto que, embora com

ideias similares, os diversos estudos sobre o tema demonstram diferentes

aspectos desse processo. Gonçalves et al. (2007) asseveram que todos os

estudiosos sobre o tema dividem o mesmo posicionamento no que diz respeito

à gramaticalização:

(i) fazem a distinção entre itens lexicais, signos lingüísticos plenos, classes abertas de palavras, lexemas concretos, palavras principais, de um lado, e itens gramaticais, signos lingüísticos “vazios”, classes fechadas de palavras, lexemas abstratos, palavras acessórias, do outro; (ii) consideram que as últimas categorias tendem a se originar das primeiras. (p.19)

Para Castilho (2012), a gramaticalização é comumente conceituada

como um conjunto de processos pelo qual uma palavra passa, adquirindo

novas propriedades sintáticas, morfológicas, fonológicas e semânticas,

alterando-se para uma forma presa e podendo deixar de existir, resultado de

uma cristalização externa. Corroborando com essa ideia, Longhin-Thomazi

(2004) enfatiza que se trata justamente do processo pelo qual a gramática de

uma língua se molda permanentemente, lembrando que a trajetória de

formação das conjunções explicita esse processo de constituição da

linguagem.

Castilho (2003) deixa evidente que o processo da gramaticalização

possui uma divisão em multissistemas, uma vez que, a seu ver, a

gramaticalização possui um caráter processual. Isso porque ela seria um

sistema complexo e dinâmico, tendo como subsistemas: (a) léxico; (b) discurso;

(c) semântica; (d) gramática, nos quais estariam agrupadas as categorias,

contrariando, assim, a visão de língua como uma combinação linear de itens

separáveis. Com isso, o autor defende que

a gramaticalização é um processo de criação lingüística, o que demandará uma teoria dinâmica sobre a língua. Mais que isso,

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a gramaticalização é um dentre outros processos de criação linguística, o que demandará a postulação de uma teoria multissistêmica da língua para a identificação dos demais processos. [...] a língua é um multissistema dinâmico, que pode ser graficamente representado numa forma radial, tendo ao centro o Léxico e à volta a Semântica, o Discurso e a Gramática. (CASTILHO, 2003, p.3)

É possível dizer que o processo de gramaticalização, para Traugott e

Heine (1991), discorre sobre a teoria da linguagem que possui como foco a

interdependência entre langue e parole, entre o categorial e o menos

categorial, entre o fixo e o menos fixo na língua. Isso evidencia a tensão

existente entre o lexical, o qual é livre de restrições, e o código morfossintático,

sujeito a restrições, destacando a indeterminação relativa da língua e o aspecto

não discreto de suas categorias.

Para Cunha et al., esse processo dá privilégio “a) à trajetória dos

elementos linguísticos do léxico à gramática; b) à trajetória de categorias

menos gramaticais para categorias mais gramaticais, como o de categorias

invariáveis para categorias flexionais” (2003, p. 51).

Gonçalves et al. (2007) elaboram um esquema apresentando a definição

dada por Meillet para gramaticalização, a qual contempla a passagem do

lexical para o gramatical e, inserido no gramatical, há a passagem do sintático

para o morfológico, como se constata abaixo.

[item lexical] > [item gramatical]

[item sintático] > [item morfológico]

O esquema apresentado evidencia que, para Meillet (1975), o processo

de gramaticalização é substancialmente diacrônico e gradual. Desse modo,

seriam três as classes de palavras: palavras principais (um verbo locativo, por

exemplo), palavras acessórias (um verbo de ligação) e palavras gramaticais

(um verbo auxiliar); haveria, assim, proveniente da unidirecionalidade, uma

transição gradual entre essas palavras, estando relacionada ao esvaimento de

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sentido e de forma. Isso justifica o porquê de, no início do processo de

gramaticalização, haver um item lexical e, no final, um item gramatical.

Kurylowicz ([1965] 1975, p.52, apud Neves, 1997, p.115, tradução

nossa) considera o tema em estudo “o aumento do uso de um morfema, que

avança de um status lexical para um status gramatical ou de um menos

gramatical para um mais gramatical, por exemplo, de um formante derivacional

para um formante flexional”5.

Givón (1979) organiza em seus estudos a seguinte escala de mudança:

Discurso > Sintaxe > Morfologia > Morfofonêmica > Zero. Ou seja, segundo ele,

o discurso iria em direção à morfossintaxe no processo de gramaticalização,

evidenciando a ideia de que a reanálise ocorre também dos padrões

discursivos para os padrões gramaticais. O autor expõe o conceito de que as

estruturas discursivo-pragmáticas, comumente mais “frouxas”, com o tempo se

transformam em estruturas sintáticas gramaticalizadas, tipicamente mais

“ajustadas”. Segundo Silva, “esse desenvolvimento se dá via sintaticização6,

em que as formas do discurso são vistas em clines e variantes entre os pólos

pragmático e sintático” (2010, p.27).

Por sua vez, Hopper e Traugott (2003) sugerem o seguinte cline de

mudança, que enfatiza o caráter categorial do léxico: [item de conteúdo] >

[palavra gramatical] > [clítico] > [afixo flexional]. Com isso, ressaltam a

afirmação de que a gramaticalização é um processo no qual itens e

construções lexicais passam a assumir funções gramaticais, em determinados

contextos, e, após gramaticalizados, continuam a desenvolver novas funções

gramaticais. Essa definição condiz com os termos que aqui serão investigados,

uma vez que eram itens lexicais que funcionavam como advérbio e passaram a

ter papel de conjunção em certos contextos, sendo mais gramaticais que os

advérbios.

Segundo Silva (2010), Bybee, assim como Traugott, considera que a

gramaticalização vincula-se à criação de novas construções. A gramática não é

estática, fechada, consoante a autora, e não possui um conteúdo próprio, mas

5“Grammaticalization consists in the increase of the range of a morpheme advancing from a lexical to a grammatical or from a less grammatical to a more grammatical status, e.g. from a derivative formant to an inflectional one”. (Kurylowicz ([1965] 1975, p.52, apud Neves, 1997, p.115.) 6 Givón em seus estudos prefere o termo sintacização ao termo gramaticalização.

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sim está predisposta à mudança e é altamente afetada pelo uso linguístico.

Bybee (2002) apresenta algumas características do processo de

gramaticalização:

i. palavras e sintagmas que sofrem gramaticalização são reduzidos

foneticamente, por meio de assimilações e eliminações de consoantes e

vogais, produzindo sequências que exigem menos esforço muscular.

ii. significados concretos que entram no processo tornam-se

generalizados e mais abstratos e, como resultado, tornam-se apropriados

a uma crescente gama de contextos.

iii. a frequência de uso das construções gramaticalizadas aumenta

radicalmente conforme a gramaticalização se desenvolve, fazendo

crescer também os tipos de contexto em que as novas construções são

possíveis.

iv. as mudanças na gramaticalização ocorrem muito gradualmente e são

acompanhadas por muitas variações na forma e na função.

Como se observa, as diferentes concepções se completam e remontam

à definição clássica trabalhada por Meillet. É necessário, ainda, para bem

compreender o processo de gramaticalização, expor os possíves recortes

temporais que podem ser promovidos e seu princípio de unidirecionalidade.

1.2.2.1. Sincronia versus diacronia

De acordo com Neves (1997), uma grande discussão no que diz respeito

à gramaticalização sempre foi a seleção do campo de estudo desse fenômeno:

sincrônico ou diacrônico.

Como aqui já mencionado, a gramaticalização foi vista até 1970 como

elemento de estudo da linguística histórica, na qual se observava a evolução

linguística, refazendo a história de uma língua específica ou de grupos de

línguas ou relacionando estruturas do momento com os padrões anteriores,

segundo Heine et al. (1991). Os estudos de gramaticalização subsequentes

dessa data conferiram, então, destaque à compreensão da gramática pelo viés

da sincronia.

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Separar sincronia e diacronia é um tanto quanto inadmissível, de acordo

com Heine et al. (1991), visto que esse desmembramento não é nítido. Para os

autores, uma não pode ser entendida independentemente da outra. Hopper e

Traugott (2003) expõem essas duas perspectivas de estudo de

gramaticalização. A perspectiva sincrônica, na qual se observa o fenômeno

com enfoque nos padrões fluidos de uso linguístico; e a histórica ou diacrônica,

que possibilita tratar da gênese das formas gramaticais e as mudanças típicas

que as afetam. Todos esses autores advogam em favor da junção das duas

perspectivas, em uma visão pancrônica da língua.

Alguns autores brasileiros como Furtado da Cunha et al.(1999) também

defendem a importância da interação e da interdependência entre sincronia e

diacronia na compreensão do processo de gramaticalização. Para eles, a

gramaticalização deve ser estudada como um processo pancrônico, ou seja, a

investigação histórica dos fatos linguísticos com a descrição sincrônica:

Estudar a mudança lingüística – intrínseca à gramaticalização – envolve a pesquisa e a comparação de estágios lingüísticos distintos, utilizando modelos ou teorias desenvolvidos nas pesquisas sincrônicas. Por outro lado, esses modelos podem ser testados a partir de dados históricos, e só podem ser considerados completos se permitirem a incorporação da mudança na gramática. A combinação de informação sincrônica e diacrônica, o que se caracteriza como uma abordagem pancrônica do estudo da língua, fornece uma descrição mais densa, com possibilidade de explicação mais completa do fenômeno sob investigação. (FURTADO DA CUNHA et al., 1999)

Desse modo, Cunha et al. afirmam que “a gramaticalização é

interpretada como um processo diacrônico e um contínuo sincrônico que

atingem tanto as formas que vão do léxico para a gramática como as formas

que mudam no interior da gramática” (2003, p. 53).

Constata-se, portanto, que a linguística funcional é fundamentalmente

pancrônica, já que as convicções que a orientam podem ser aplicadas seja

pelos padrões fluidos do uso da língua, os quais são observados em um corte

sincrônico, seja pelos processos de mudança que se inferem na trajetória

diacrônica.

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1.2.2.2. Princípio da unidirecionalidade

Após os estudos de Givón (1979), propondo o ciclo funcional Discurso >

Sintaxe > Morfologia > Morfofonêmica > Zero, desenvolveu-se, segundo

Martelotta (2003), a ideia de que o uso da língua em âmbitos comunicacionais

efetivos proporciona as modificações que sofrem os elementos linguísticos no

decorrer do tempo, e essas modificações apresentam unidirecionalidade, isto é,

vão do discurso para a gramática. Para o autor,

Os elementos lingüísticos, com o processo de gramaticalização, perdem a liberdade típica da criatividade contextualmente motivada do discurso e tornam-se mais fixos e mais regulares. Assim, advérbios de lugar assumem função de conjunção, e não vice-versa; vocábulos transformam-se em afixos, e não vice-versa. (MARTELOTTA, 2003, p. 59).

Um exemplo atual que se pode descrever de vocábulos que se tornam

afixos, e não o contrário, seria o papel do item – mente, que hoje é um sufixo

formador de advérbio. A trajetória diacrônica desse elemento, embasada em

Câmara Jr. (1986) e Hopper e Trauggot (2003), expõe que a forma original do

item é o nome substantivo mente, o qual era utilizado no latim vulgar anexado a

adjetivos para expressar “o modo”, “a maneira” como uma pessoa pensava:

boamente significava “de boa mente”, “de mente boa”; claramente significava

“de clara mente”; “de mente clara”. Posteriormente, passou a ser anexado a

qualquer adjetivo, quer se referisse à mente ou não: felizmente,

constantemente etc.

Tal como proposta pela teoria da gramaticalização, essa noção de

unidirecionalidade leva a crer na suposição de que há fatores de ordem

cognitiva, sociocultural e comunicativa que encaminham a mudança. Sendo

assim, a unidirecionalidade é considerada um aspecto substancial do processo

de gramaticalização, no qual os itens passam de uma categoria para outra

seguindo uma trajetória específica, a qual não pode retroceder.

Para Hopper e Traugott (2003), a unidirecionalidade possui como

trajetória: item lexical usado em contextos específicos > sintaxe > morfologia.

Isto é, para eles a passagem do lexical para o gramatical não é direta,

evidenciando a necessidade do contexto na trajetória de mudança. A fim de se

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constituírem em um morfema, inicialmente os itens lexicais que se tornam

gramaticalizados precisam desempenhar funções discursivas, tornando-se

sintaticamente fixos. Logo, a postulação básica é a de que há “uma relação

entre dois estágios A e B, tal que A ocorre antes de B, mas não vice e versa.

Isso é o que se entende por unidirecionalidade” (HOPPER e TRAUGOTT,

2003, p.95). Os autores asseveram que

a hipótese da unidirecionalidade é forte. Há evidências de um grande número de exemplos de surgimento de estruturas gramaticais que envolveram o desenvolvimento de itens ou sintagmas lexicais ou, por meio do uso discursivo, de sintagmas lexicais em itens gramaticais, e desse para um item mais gramatical. Outro fator notado é que essas mudanças são acompanhadas pela descategorização de uma categoria maior para uma menor7. (HOPPER e TRAUGOTT, 2003, p. 128, tradução nossa).

Heine et al. (1991) subespecificam em outras essa importante

característica do processo de gramaticalização:

a) precedência do desvio funcional (conceptual ou semântico), sobre o

formal (morfossintático e fonológico);

b) descategorização de categorias lexicais prototípicas;

c) possibilidade de recategorização, com restabelecimento de iconicidade

entre forma e significado;

d) perda da autonomia de um elemento (uma palavra autônoma passa a

clítica, um clítico passa a afixo);

e) erosão ou enfraquecimento formal.

Os estudiosos que advogam a hipótese da unidirecionalidade já se

apropriam dela previamente, de acordo com Gonçalves et al. (2007), visto que

se trata de elemento determinante do próprio processo de gramaticalização,

subentendendo invariavelmente o aumento de gramaticalidade, e também faz

parte dos mecanismos que regem os processos: sintaticização (menos fixo >

mais fixo), morfologização (item lexical > morfema), generalização de 7“The unidirecionality is a strong hypothesis. The evidence is overwhelming that a vast number of known instances of the development of grammatical structures involved the development of a lexical item or phrase through discourse use into a grammatical item, and then into an even more grammatical item, and that these changes were accompanied by decategorialization from a major to a minor category.”(HOPPER e TRAUGOTT, 2003, p. 128)

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significados (concreto > abstrato) e erosão fonética (mais material fonológico >

menos material fonológico).

É válido destacar o posicionamento de Castilho (2008), que contraria a

visão clássica de unidirecionalidade. Para ele, os estudiosos de modo geral

assumem a ideia de língua como uma instituição estática, heterogênea,

suscetível a uma linearidade em que as categorias estão uma após a outra,

sendo derivações constituídas entre elas. Isso porque, para o autor, essas

categorias provêm de diferentes âmbitos, como o léxico, a semântica, o

discurso e a gramática, e os dois primeiros são vistos como domínios

linguísticos distintos e básicos. Por isso, aceita que categorias lexicais,

inseridas em linearidade, originam categorias gramaticais, isto é, elementos

que adquirem novas propriedades passando a ser membros de uma nova

categoria, e estas geram categorias ainda mais gramaticais.

1.2.3. Mecanismos de gramaticalização

Para Traugott e Heine (1991), há um grande número de mecanismos de

mudança linguística considerados relevantes para o processo de

gramaticalização. Dentre eles, destacam-se: metáfora, metonímia, reanálise e

analogia. Os autores ainda ressaltam que todos esses mecanismos tornam

possível a mudança linguística, mas não são restritos à gramaticalização, além

de serem independentes da unidirecionalidade, que é associada à

gramaticalização.

Expõe-se, nesta subseção, o principal mecanismo cognitivo envolvido

nos processos de gramaticalização, a metáfora, com o intuito de se evidenciar

a contribuição desse mecanismo para o processo de gramaticalização de

conjunções adversativas.

1.2.3.1. A metáfora

De acordo com Gonçalves et al. (2007), inúmeros autores (SWEETSER,

1990; HEINE et al., 1991; LICHTENBERK, 1991 apud BYBEE, 1994) têm

considerado o processo metafórico o principal mecanismo de mudança.

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Nesse processo, constata-se que a abstratização de conceitos de

aspecto lexical ou menos gramatical são ampliados metaforicamente a fim de

delinear significados de domínio gramatical ou mais gramatical. Sendo assim,

os processos metafóricos podem ser elucidados como processos de

transferência de sentidos por meio de fronteiras conceituais. E é nesse

processo que o bleaching8 semântico da forma fonte de um processo de

gramaticalização é reconhecido.

Com isso, fica evidente o posicionamento de Heine et al. (1991) ao

declararem que, com a finalidade de expressar funções mais abstratas,

entidades concretas são selecionadas, verificando-se que essa transferência

metafórica é uma das fundamentais maneiras do desenvolvimento de

categorias gramaticais.

Apesar de a literatura a respeito de gramaticalização apresentar

trabalhos que associam os processos metafóricos com a mudança semântica,

Martelotta expõe que “os processos metafóricos parecem ocorrer em situações

que os estimulam, o que relaciona aspectos cognitivos com aspectos

comunicativos” (2003, p. 68). Hopper e Traugott (2003) também corroboram

com essa ideia, afirmando que, como são baseados na comunicação, esses

processos estão relacionados à pragmática.

A seguinte escala é proposta por Heine et al. (1991): pessoa > objeto >

processo > espaço > tempo > qualidade. Ela destaca uma crescente escala de

abstratização para a direita, o que, segundo Neves (1997), governará o

processo metafórico. Essa disposição categorial deixa clara a noção de

metáfora categorial, já que, representando um domínio de conceituação

importante para a construção da vivência humana, uma categoria mais à direita

pode ser conceitualizada a partir de uma mais à esquerda. Isso ocorre, por

exemplo, com a noção de tempo, a qual permite ser estruturada em

decorrência da noção de espaço.

8Bleaching, segundo Heine et al. (1991), significa a perda de traços do sentido original de um termo, ou seja, um vocábulo já existente utilizado em novos contextos perdeu partes do seu significado base. Dessa forma, quando um item já existente é usado em novos contextos, traz novas interpretações aos novos usos. Em decorrência disso, apesar da perda de certos traços, evidencia-se um novo significado para esse item, tornando-o mais gramatical e, como consequência, mais funcional.

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Por meio de uma alteração sofrida com o verbo to go (ir), Heine et al.

determinam algumas propriedades de um processo metafórico:

(a) envolve um significado reconhecido como “literal” e outro que é o “transferido” ou “metafórico”; (b) envolve transferência ou projeção de um domínio conceitual (espaço) em termos de outro (tempo dêitico); (c) aparentemente envolve violação de regras e anomalias, como o caso de um verbo de movimento, que tipicamente requer um sujeito humano, vir a co-ocorrer com sujeito inanimado; (d) envolve conceitos que se associam ao mundo humano para referir-se a conceitos inanimados; (e) em contextos específicos, a expressão metafórica pode também ser entendida no sentido literal, não transferido, o que resulta em ambiguidade, principalmente homonímica.

(HEINE et al., 1991, p.46)

Heine et al.(1991) também demonstram de que modo essas categorias

da escala acima apresentadas refletem outros aspectos da estrutura das

línguas, correlacionando-as com a divisão de classes de palavras e os tipos de

constituintes, como ilustrado no quadro a seguir.

Categoria Classe de palavras Tipo de constituinte

PESSOA Nome humano Sintagma nominal

OBJETO Nome concreto Sintagma nominal

ATIVIDADE Verbo dinâmico Sintagma verbal

ESPAÇO Advérbio, adposição Sintagma adverbial

TEMPO Advérbio, adposição Sintagma adverbial

QUALIDADE Adjetivo, verbo de estado, advérbio Modificador

Quadro 2: Correlação entre categorias metafóricas, classes de palavras e tipos de constituinte (HEINE et al., 1991, p. 53-54.)

Esses autores ainda identificam que a transferência metafórica resulta

em uma mudança súbita de um domínio para o outro, enquanto a

gramaticalização sugere uma mudança gradual. Portanto, a metáfora é

compreendida como uma tática cognitiva, que não explica a gramaticalização

ou o comportamento gramatical, mas contribui para o entendimento desse

processo.

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CAPÍTULO II – PANORAMA DAS CONJUNÇÕES COORDENATIVAS ADVERSATIVAS E SUAS RELAÇÕES

2.1. A visão normativa das conjunções adversativas e da articulação entre orações

Inseridas como uma classe de palavra pertencente aos estudos

morfológicos da gramática tradicional, as conjunções são comumente definidas

pelos gramáticos normativos como um termo invariável que liga duas orações

ou palavras com a mesma função sintática, sendo conceituadas como

coordenativas, ao relacionarem orações independentes, e subordinativas, ao

estabelecerem relação de dependência entre as orações. Em relação às

conjunções coordenativas, Azeredo assevera que é denominada “conjunção

coordenativa a espécie de palavra gramatical que une duas ou mais unidades

(palavras, sintagmas ou orações) da mesma classe formal e mesmo valor

sintático” (2011, p. 198).

Nesse viés, são inseridos itens que conectam as orações,

estabelecendo relações sintáticas e semânticas, mas que não possuem

características semelhantes àquelas das conjunções prototípicas. Dentre esses

itens, estão os termos selecionados para análise neste trabalho: entretanto, no

entanto e contudo.

Bechara (2009) expõe que as conjunções são denominadas

coordenadas por figurarem em um mesmo nível sintático e, consequentemente,

poderem ocorrer em enunciados separados. Buscando comprovar sua ideia, o

autor dá o seguinte exemplo:

(1) “Pedro fez concurso para medicina, e Maria se prepara para a mesma profissão.”

(p.319, grifo do autor)

Para ele, os enunciados acima apresentados podem ser ditos

separados, evidenciando a independência existente entre eles. Por isso, define

a conjunção coordenativa como um conector, diferentemente da subordinativa,

a qual tratará como um transpositor.

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No que diz respeito aos termos em questão, o autor afirma serem

unidades adverbiais, e não conjunções coordenativas, classificadas

tradicionalmente como conjunções.

Levada pelo aspecto de certa proximidade de equivalência semântica, a tradição gramatical tem incluído entre as conjunções coordenativas certos advérbios que estabelecem relações interoracionais ou intertextuais. É o caso de (...) entretanto, contudo, todavia, não obstante. (...) Não incluir tais palavras entre as conjunções coordenativas já era lição antiga na gramaticografia de língua portuguesa. (...) Perceberam que tais advérbios marcam relações textuais e não desempenham o papel conector das conjunções coordenativas, apesar de alguns manterem com elas certas aproximações ou mesmo identidade semânticas. (BECHARA, 2009, p. 322)

Sendo assim, para ele, esses termos não são conjunções coordenativas

porque possuem determinadas características: a compatibilização com outras

conjunções; a possibilidade de aparecerem em qualquer posição na oração em

que se inserem; a não constituição de um bloco unitário de enunciados

coordenados; o não estabelecimento de coordenação entre subordinadas

equifuncionais; e a possibilidade de ocorrerem em uma subordinada para

marcar certa relação semântica, mas não conectar os enunciados.

O aspecto que discorre sobre a posição desses termos na sentença

também é discutido por Azeredo (2011), ao mencionar os termos porém,

contudo, entretanto, no entanto e todavia. O autor afirma que “são

tradicionalmente classificadas como conjunções, mas têm características que

as assemelham a advérbios – como a mobilidade posicional na frase – e

comportam-se como verdadeiros equivalentes de ‘ainda assim’, ‘infelizmente’,

‘pelo contrário’, ‘apesar disso’ etc” (AZEREDO, 2011, p. 306). Ademais, o autor

mostra a possibilidade de esses termos ocorrerem no interior da oração,

mesmo que a sentença apareça antecedida pela conjunção e.

Said Ali (1971), ao abordar as conjunções, definiu os termos contudo e

entretanto como correlatos enfáticos das conjunções concessivas, além de

afirmar que o termo contudo pode vir em companhia da adversativa mas, como

exemplo dado pelo próprio autor:

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(2) Não deyxo de entender... Mas comtudo eu vejo que os príncipes... sempre

estimaram muyto homens letrados (Heitor Pinto 231) (p.223, grifo do autor).

De acordo com Said Ali (1971), o uso desses termos como correlativos

enfáticos é uma ocorrência meramente ocasional. Com exceção desses casos,

não se sabe, para ele, se os termos em estudo funcionam como conjunções ou

advérbios, pois se situam justamente na fronteira “indecisa” que permeia o

advérbio e a conjunção. Com isso, ele demonstra que “à tendência de incluí-los

na categoria das partículas adversativas em atenção a terem sentido

semelhante ao da palavra mas, objeta-se que a sinonímia é imperfeita, e tanto

que se usam, ou se podem usar concomitantemente com essa partícula” (SAID

ALI, 1971, p. 223, grifo do autor).

Câmara Jr. (1976) corrobora com a ideia de Said Ali (1971), afirmando

que há um grande número de advérbios, ou ainda perífrases adverbiais, que

passaram a exercer essa função de coordenar sentenças, como contudo e

entretanto. Para o autor, alguns desses advérbios são puramente modais,

recebendo também a função coordenativa.

Compreendendo as reflexões apresentadas, Castilho (2012) afirma que

esses termos são resultado do processo de gramaticalização pelo qual muitos

advérbios se tornam conjunções. Ao discutir sobre o assunto, o autor

compreende que

As demais conjunções adversativas mencionadas nas gramáticas descritivas, tais como porém, contudo, todavia e entretanto, refugiaram-se na língua escrita, sendo raras suas ocorrências na língua falada (Dias de Moraes, 1987: 126-128). Elas derivam da gramaticalização ou de sintagmas preposicionados (cf. por+inde > porende > porém; com+tudo > contudo; entre+tanto > entretanto) ou sintagma nominal (tota+via>todavia). A presença dos quantificadores tudo, todo e tanto unifica esse processo. (CASTILHO, 2012, p. 354, grifos do autor).

Em uma tentativa de distinção entre conjunções coordenativas e

advérbios, Rojas Nieto (1970) apresenta quatro marcas importantes presentes

naquelas: “a) relacionar tanto orações quanto constituintes; b) introduzir

construções com ordem fixa; c) poder relacionar orações de imperativo; d)

relacionar elementos introduzidos por nexos subordinantes” (p.124).

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No que diz respeito à articulação entre oração, a divisão do período

composto é separada em coordenada e subordinada pela Nomenclatura

Gramatical Brasileira (NGB), assim designada porque a gramática normativa

considera, como critérios relevantes para a classificação, apenas os aspectos

morfológicos, sintáticos e semânticos, entretanto, nem sempre de maneira

uniforme, isto é, nem todos consideram todos esses critérios.

Para a linguística moderna, conforme Said Ali (1971), em vez de

coordenação e subordinação, opta-se pelos termos parataxe e hipotaxe,

respectivamente. Para definir essas relações, diversos autores utilizam as

expressões “dependentes” e “independentes” para nomeá-las, como o fez

Azeredo.

Coordenação (ou parataxe) e subordinação (ou hipotaxe) são, portanto, dois processos de construção: a coordenação une partes do texto – palavras, sintagmas ou orações – formal e funcionalmente equivalentes; a subordinação une partes formal e funcionalmente distintas. A chave desta distinção é a noção de ‘hierarquia’. Com isto estamos dizendo que ao se combinarem numa construção, as unidades gramaticais – palavras, sintagmas, orações – se associam por dois modos básicos distintos: ou elas se situam no mesmo nível de modo que a presença de uma independe da presença da outra (coordenação ou parataxe), ou elas se situam em níveis distintos, imediatos ou não, de modo que uma delas é a base e a outra serve de complemento ou de termo adjacente (hipotaxe ou subordinação). A unidade subordinada sempre vem contida numa unidade maior, que lhe é superior na hierarquia gramatical interna da oração. (AZEREDO, 2011, p. 294)

Para Said Ali (1971), a parataxe ocorre ao se acrescentar a uma

proposição inicial uma sentença copulativa, adversativa ou disjuntiva,

compreendida pela presença da conjunção característica ou pelo contexto, no

caso das construções sem conjunção – assindéticas ou justapostas.

Fica evidente com a literatura exposta acima que, para muitos autores,

os itens em questão mantêm marcas adverbiais, mesmo quando apresentam

características de conjunção. Isso explicita possíveis traços de

gramaticalização. A fim de entender melhor esse processo, na sequência,

tratar-se-á da articulação de orações na visão funcionalista.

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2.2. Relação entre orações: as sentenças coordenadas no funcionalismo

Devido a essa limitação determinada pela gramática tradicional, diversos

autores pertencentes à corrente funcionalista reconfiguraram as relações

estabelecidas entre as diferentes cláusulas que os contextos discursivos

permitem construir. Para Hopper e Traugott (2003), as relações entre cláusulas

podem se manifestar com diferentes graus de dependência e de encaixamento

(ser constituinte ou não da cláusula à qual se refere, nomeada como cláusula

núcleo ou matriz). Portanto, intitulam essas relações como parataxe, hipotaxe e

subordinação, definindo-as no quadro que segue:

Parataxe > Hipotaxe > Subordinação

- dependente + dependente + dependente

- encaixada - encaixada + encaixada

Quadro 3: Relações entre cláusulas. (HOPPER e TRAUGOTT, 1993, p. 170)

Como o objetivo deste trabalho é estudar elementos classificados

comumente como coordenativos, dar-se-á enfoque ao estudo das sentenças

coordenadas, apesar de a coordenação também ser estabelecida entre termos

de uma oração.

A fim de se conceituar claramente o estatuto da coordenação ou

parataxe, é preciso, de acordo com Carone (2000), compreender inicialmente

as características que esse tipo de sentença não possui. Isso porque, ao

contrário das gramáticas normativas, que apresentam primeiramente o ensino

da coordenação, dando mais espaço para a explicação e a discussão da

subordinação, as sentenças coordenadas são mais complexas do que

habitualmente se observa.

Sabe-se que as estruturas coordenadas não estruturam internamente

uma frase, função da subordinação. Além disso, não modificam

qualitativamente um sintagma subordinado e não transmitem a uma oração um

valor substantivo, adjetivo ou adverbial. Logo, não inserem uma oração em

outra e não sintetizam uma oração a termo de outra.

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Bally (1965), citado por Carone (2000, p. 58), defende que a

coordenação existe quando a segunda oração retoma a primeira, de modo

explícito ou sob o modelo de um anafórico, integrando-a a sua estrutura.

Um termo C¹ está predestinado a tornar-se conjunção coordenativa quando ele contém um representante de C² inteira, seja explicitamente (exemplo: “Faz frio; não sairemos por causa disso”), seja cumulativamente ou zero (exemplo: “Eu me levantei; em seguida, saí” – quer dizer, “depois disso”) (BALLY, 1965, apud CARONE, 2000, p. 58).9

Para o autor, a cristalização de C¹ incorporado a C² somente finaliza

quando não há a possibilidade de C¹ exercer a função de adjunto adverbial do

verbo de C². Com isso, consolida-se como conjunção, uma vez que não possui

mais o valor circunstancial que o definia.

A partir disso, Carone (2000) evidencia que os termos contudo, no

entanto e entretanto são produtos desse mesmo processo, ou seja,

“expressões que deslizaram de adjunto adverbial a conjunção coordenativa”

(p.59). Para ela, o valor adverbial desse termo explicita-se justamente na

mobilidade, aqui já mencionada, que esses termos apresentam, diferentemente

das conjunções prototípicas e, ou e mas.

(4) Chamavam por mim – no entanto, eu nada ouvia. – eu, no entanto, nada ouvia. – eu nada ouvia, no entanto. (CARONE, 2000, p. 59)

A autora enfatiza essa ideia retomando que, como a conjunção

coordenativa surge de uma anáfora, há um movimento retrojetivo, o que leva à

necessidade de uma sequência rígida das sentenças, não presente na

subordinação. Além disso, fica claro que o sentido transmitido pelas duas

orações conectadas é diferente do sentido emitido por elas separadamente.

Toda essa análise é sintetizada por meio das seguintes características do

período coordenado:

a) um termo de valor adverbial, pertencente à estrutura de C², reitera C¹ como um todo;

9“(…) a letra C simboliza ‘oração coordenada’” (CARONE, 2000, p. 55).

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b) esse termo é, portanto, um representante de C¹ dentro de C²; c) esse circunstante C¹ entra em processo de cristalização, no decorrer do qual se desvanece paulatinamente a noção de que ele é uma anáfora de; d) ao mesmo tempo, ganha força sua função “relacionadora”: é um laço que C² estende para agarrar-se a C¹; e) completando-se o processo, está criada mais uma conjunção coordenativa, morfema que faz parte de C². (CARONE, 2000, p. 60)

Castilho (2012) concorda com a autora, asseverando que não há como

considerar as conjunções coordenativas “fora das sentenças”, visto que, se

elas derivam de advérbios e até de outras classes, dispõem de conteúdo

semântico que claramente apresentarão diferentes sentidos no contexto em

questão.

Nesse mesmo viés, Neves (2011) define os termos em discussão como

advérbios juntivos, os quais ocorrem em uma oração ou em um sintagma,

remetendo a alguma porção da oração ou do sintagma anterior. Logo, esses

termos possuem valor anafórico. A autora também retoma a ideia de

mobilidade desses juntivos, dependendo do estágio em que se encontram no

processo de gramaticalização para o estatuto da conjunção, mas enfatiza que

eles podem pertencer ao mesmo tempo a duas categorias gramaticais

diferentes.

Pode-se indicar que os elementos adverbiais são fontes de conjunções coordenativas, e que são fluidos os limites entre um papel semântico-discursivo e um papel basicamente relacional de tais elementos. Entretanto, pode-se verificar que, entre esses elementos, há os que estão mais próximos do comportamento de uma conjunção coordenativa como o porém e os que ainda se comportam mais caracteristicamente como um advérbio, embora com função juntiva. (NEVES, 2011, p.273, grifos da autora)

Desse modo, a autora propõe uma escala para os termos coordenados,

especificamente aqueles determinados como adversativos, que seguem o item

menos gramatical para o mais gramatical:

entretanto, contudo, todavia, etc ! porém ! mas ! e, ou

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Assim, ela evidencia que pode ser possível entender que, em certas

situações, o termo porém comportar-se-á como mas, que está à direita na

escala, e também poderá aparecer como entretanto, posicionado à esquerda.

Ademais, é preciso considerar a presença da pausa nas sentenças

coordenadas. Constata-se que, com os elementos contudo, entretanto e no

entanto, há a possibilidade da pausa em dois momentos, antes e, às vezes,

depois, diferenciando-se do prototípico mas, com o qual a pausa ocorre

somente em posição anterior. Isso porque o uso da pausa posposta aos

elementos mencionados transforma a pausa anteposta mais intensa, sendo

evidenciada na escrita, na maioria das vezes, com ponto final ou ponto-e-

vírgula. De acordo com Carone (2000), “essa pausa mais profunda é reforçada

por uma entoação descendente no primeiro segmento, e ascendente no início

do segundo” (p.57).

As relações coordenadas adversativas apresentam uma ideia

contrastiva, na qual há a quebra de expectativa por parte do interlocutor, uma

vez que a sentença apresentará uma informação que não era a esperada pelo

receptor. Com isso, há diferentes características dessa quebra de expectativa.

Dijk (1992b) promove uma análise dos termos adversativos do inglês

but, though, although, yet, nevertheless, whereas, in spite of, notwithstanding,

anyway, expondo, inicialmente, que eles indicam uma exceção ao curso natural

das coisas, ou seja, o interlocutor não recebe como resposta aquilo que espera

e que faz parte do conhecimento partilhado de mundo. Somado a isso, para o

autor, esses termos também indicam estados ou cursos inesperados ou, ainda,

indesejados, além de expressarem a não satisfação de condições possíveis,

prováveis ou necessárias.

Portanto, muda-se a informação pragmática que o interlocutor possuía,

visto que o locutor anula aquilo que seria pressuposto por ele. Essa alteração,

conforme Van Dijk (1992b), torna o receptor consciente de alguma informação

que já detinha, podendo adicionar, permutar ou eliminar peças de informação

prévia.

As informações aqui expressas são pertinentes para compreender

melhor como a visão funcionalista lida com os aspectos das conjunções

adversativas e a relação que elas estabelecem entre cláusulas. Para melhor

estudá-las, é fundamental depreender o processo de alteração semântica pelo

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qual passaram as conjunções, com intuito de se analisar os valores semânticos

dessas estruturas em uso, além de se estudar as micro e macroestruturas

textuais, uma vez que essas construções relacionam muitos mais que simples

sentenças.

2.2.1 A mudança semântica nas conjunções

Dois importantes autores do funcionalismo americano apresentam

questionamentos pertinentes ao presente trabalho a respeito da alteração

semântica pela qual podem passar as conjunções, objeto deste estudo.

Sweetser (1988) defende que um termo não apresenta perda total das

suas marcas de origem, apesar de o falante não perceber necessariamente

esses traços, já que alguns deles permanecem de modo opaco. Por isso, ela

questiona a afirmação de autores que defendem a ocorrência da perda ou do

enfraquecimento semântico e também a ideia de esse processo se dar de

modo regular.

A metáfora, de acordo com Sweetser (1990), seria a força estruturante

na mudança semântica, uma vez que há diversos estágios de polissemia na

trajetória de uma atribuição a outra. Isso porque, para ela, é justamente a

metáfora que opera entre domínios e, sendo assim, as pesquisas de conexões

metafóricas sistemáticas entre os domínios são indispensáveis, além de

estudos locais de contrastes semânticos relevantes, a fim de auxiliar na

compreensão do que seria uma probabilidade entre dois sentidos.

Desse modo, o percurso unidirecional desses deslocamentos entre

domínios justifica-se pela unidirecionalidade existente de maneira intrínseca a

uma ligação de metáfora. Significa, para a autora, que ver X como Y não é o

mesmo e não implica ver Y como X. Além disso, ela ressalta que dois sistemas

podem se sobrepor, distintivamente do que ocorre com as metáforas e, devido

a isso, depreende que a mudança semântica é estruturada pela cognição.

Com base nessas informações, Sweetser (1990) elabora um modelo de

projeção metafórica que concebe os elementos linguísticos em três domínios:

sócio-físico, epistêmico e conversacional. Tais domínios são concebidos de

maneira unidirecional, seguindo o seguinte percurso: conteúdo (sócio-físico) >

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epistêmico (raciocínio lógico) > conversacional (ato de fala). Com isso, como

haveria um momento em que um termo, nesse processo de alteração

semântica, possuiria dois sentidos simultaneamente, essas metáforas seriam

resultados das experiências no mundo físico dos indivíduos que se estruturam

com o intuito de produzir ideias abstratas.

Outra autora que trabalha com a mudança semântica é Traugott (1982).

Com o intuito de compreender sua análise, é preciso remontar os componentes

funcionais da linguagem. Esse modelo de funcionalismo semântico-funcional

discute três componentes. O primeiro, definido como proposicional pela autora

(ideacional para MATTHIESSEN e HALLIDAY, 1997), engloba os recursos

gramaticais para interpretar a experiência do mundo do sujeito ao redor de si e

de seu mundo, tendo como exemplo um dos seus principais sistemas

gramaticais que é a transitividade. O segundo é denominado de textual, o qual

diz respeito aos recursos disponíveis para a elaboração de um texto coeso, tais

como conectivos, elementos anafóricos e catafóricos, topicalizadores e

complementizadores. Por fim, tem-se o componente expressivo (interpessoal

para Matthiessen e Halliday, 1997) que trata dos elementos da língua que se

encontram à disposição do falante para expor suas atitudes e juízos de valor

sobre os elementos da interação verbal, como interlocutor, mensagem e

contexto da situação comunicativa. Por isso, expressa-se por meio de

modalizadores, de operadores argumentativos, de marcadores de

pressuposição e de índices de polifonia.

Fundamentado nesses componentes, Traugott (1982) entende que a

alteração semântica realizar-se-á de um componente para o outro. Para a

autora, haverá, portanto, duas hipóteses que justificam esse percurso. A

primeira seria a maior possibilidade de a mudança ocorrer do menos pessoal

para o mais pessoal. A segunda, por sua vez, visualizará a alteração de um

componente semântico-funcional para outro, logo será mais provável que

aconteça por meio do nível textual, indo do proposicional para o expressivo, e

não o inverso. Sendo assim, a alteração de significado ocorre pela seguinte

trajetória nos processos de gramaticalização: proposicional > (textual) >

expressivo.

Esse processo de gramaticalização, no que tange às mudanças

semânticas, apresenta, segundo Traugott e König (1991, p. 208), três

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tendências: a) significados baseados em descrições de situações exteriores >

significados baseados em situações internas (avaliativas, perceptivas,

cognitivas); b) significados baseados em situações externas ou internas >

significados baseados em situações textuais (coesivas); e c) significados que

tendem a ser fundados nas crenças subjetivas ou atitudes dos falantes a

respeito da situação.

Essas tendências exprimem importantes conceitos para este trabalho,

visto que expõem características que os termos em análise apresentam. A

primeira evidencia a alteração de uma situação física (concreta) para uma

situação perceptual (cognitiva), que seria o que ocorre com termos espaciais

modificando-se para advérbios ou preposições, podendo se tornar conjunções.

A segunda, por sua vez, traz a possibilidade de um conectivo exercer a função

de marcador textual, estabelecendo relações coesivas. A terceira, e última,

mostrará as intenções do falante no ato comunicativo, pois valoriza as atitudes

subjetivas dele em relação ao que está sendo dito.

Com base nas ideias supracitadas, Traugott e König (1991) depreendem

que os produtores do texto, visando a uma maior clareza em seu discurso,

selecionam os itens gramaticais que, para eles, apresentariam maior

informatividade ou importância. Ademais, esse processo de mudança

semântica, embora apresente uma concreta perda de sentido, possui, por outro

lado, um importante ganho para o discurso do falante e, consequentemente,

para os aspectos linguísticos e seus usos.

2.2.2 Micro e macroestrutura do texto

A fim de se compreender melhor as relações semânticas estabelecidas

pelas conjunções em estudo, constata-se como fundamental o entendimento

sobre a micro e a macroestrutura textual. Para tanto, é preciso lembrar que o

falante, ao selecionar o que deseja informar, utiliza conexões lineares, entre

sentenças ou entre proposições que possuirão propriedades semânticas, isto é,

relações no nível microestrutural. Essas relações semânticas ocorrem,

também, no nível macroestrutural, expressando o significado de fragmentos

maiores do discurso, como parágrafos. Logo, os sentidos do texto todo não

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podem se limitar a aspectos linguísticos pertencentes somente à

microestrutura; deve-se observar também o texto e a relação entre os seus

conjuntos de informações, como assevera Citelli.

É difícil imaginar a progressão das idéias, a exposição de pontos de vista, sem que haja o correspondente encadeamento sintático, semântico, em que palavras estão relacionadas a palavras, frases a frases, parágrafos a parágrafos. Noutros termos, é necessário pensar o texto enquanto produto da fusão entre os níveis da macro (coerência) e da microestrutura (coesão). (1994, p.34).

Para a Linguística Textual, a microestrutura textual é considerada a

coesão textual que pode ser promovida por meio de mecanismos articuladores,

como conjunções, preposições, diversos tipos de conectivos, operadores

argumentativos, os quais merecem destaque uma vez que são responsáveis

pela textualidade. Esta se dá pela relação coerente entre as ideias,

determinando o conjunto de sentenças que estabelecem a coesão.

Essa textualidade ocorre se houver compreensão. Sendo assim,

conecta-se um elemento a outro, com a finalidade de que as relações de

sentido sejam corretamente interpretadas. Vale lembrar que há a possibilidade

de o significado ser compreendido sem a necessidade de um elemento que

determine uma conexão. Do mesmo modo, também é possível encontrar

sequências coesivas que não façam sentido algum. Isso significa dizer que

uma língua possui mecanismos que auxiliam no estabelecimento das relações

de sentido entre os elementos linguísticos de um texto.

São inúmeras as possibilidades para se estabelecer a coesão textual:

referenciação, substituição, elipse, conjunção e coesão lexical. Essas

estruturas também são utilizadas como recursos coesivos.

Para evitar-se a repetição de um termo já mencionado no texto, recorre-

se ao primeiro mecanismo, a referenciação. De acordo com Citelli (1994, p.41),

“a coesão por referência pode ser obtida pelo uso de pronomes pessoais,

possessivos e demonstrativos, advérbios de lugar, artigos definidos.” Para

Koch e Travaglia (2004), quando se tem uma retomada a um elemento da

situação comunicativa, a referência será denominada exofórica, pois o

referente está localizado fora do texto. Por outro lado, será chamada de

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endofórica quando o referente está expresso no próprio texto. Nesse caso,

consoante a própria autora, caso o referente antecipe o item coesivo, tem-se a

anáfora; se vier depois dele, ter-se-á a catáfora.

Esses elementos conferem progressão ao texto, compondo a estrutura

global daquilo que se deseja informar. Fica evidente, assim, que o uso

adequado de elementos coesivos interfere na sequência de enunciados e na

relação entre parágrafos e orações.

No que diz respeito à macroestrutura, isto é, à coerência textual, esta

está voltada e direcionada ao sentido do texto como um todo. A constituição da

coerência não ocorre necessariamente com o auxílio de recursos da linguística;

basta que faça sentido para o interlocutor. Com isso, observa-se que ela irá se

estabelecer pela organização das informações no texto, considerando-se a

progressão temática, o grau de informatividade, a contextualidade e a lógica

argumentativa.

Depreende-se, assim, que é preciso que os elementos possuam uma

relação de fatos e argumentos, além de essa conexão semântica se dar por

meio dos elementos coesivos. Sobre isso, Koch e Travaglia defendem ainda

que a coerência

é o que faz com que o texto faça sentido para os usuários, devendo, portanto, ser entendida como um princípio de interpretabilidade, ligada à inteligibilidade do texto numa situação de comunicação e à capacidade que o receptor tem para calcular o sentido deste texto. Este sentido, evidentemente, deve ser todo, pois a coerência é global. (2003, p.21)

Por isso, constata-se que a coesão determina o acontecimento da

coerência, já que existe uma intencionalidade no ato comunicativo estipulada

pela coesão, o que demonstra que as relações no texto são previamente

planejadas. Por isso, analisa-se tanto a intenção do produtor quanto as

estruturas estabelecidas por ele. Conforme Guimarães (1993), “o texto é

coerente não porque as frases que o tecem guardam entre si determinadas

relações, existem precisamente por força da coerência do texto. Desse fato,

pode-se concluir a coesão ser efeito da coerência” (p.41).

Logo, se não há a coerência global, não há também a possibilidade de

se ter um domínio completo sobre as conexões no âmbito da microestrutura e

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também sobre a linearidade do texto. Devido a isso, a coerência constrói-se

através da estrutura semântica global, vinculada à microestrutura do texto por

meio dos articuladores ou sequencializadores.

Os significados possíveis de um texto trazem diferenças para a

construção textual. Citelli (1994) afirma que, na ordem de sentidos do texto,

tem-se os planos do falar, do dizer e do mostrar. O primeiro refere-se ao nível

de constituição das palavras e frases organizadas segundo as leis que formam

a língua. O segundo, por sua vez, indica as relações entre as palavras e os

sentidos que elas promovem. O último, por fim, mostra-se como condutor dos

enunciados para uma ou outra direção.

Fica claro que o autor expõe de modo objetivo a elaboração do sentido

de um texto, aquilo que é necessário, de acordo com a língua, para organizar a

sequência de ideias e também a intencionalidade do produtor para o que é

escrito. O plano do falar promove a constituição da estrutura linguística; o plano

do dizer atribui sentido às frases ao estabelecer uma articulação entre elas; e o

plano do mostrar estipula a direção do que se está pronunciando. A relação

intrínseca entre esses três planos determina o sentido para uma certa

argumentação.

Sendo assim, a relação entre micro e macroestrutura é de suma

importância para se observar os sentidos pretendidos pelo produtor do texto,

buscando-se depreender quais relações semânticas entre sentenças e entre

parágrafos ele objetivou estabelecer. Isso trará implicações para as possíveis

mudanças no processo de gramaticalização, uma vez que um elemento

coesivo selecionado pelo falante e que desempenha, segundo a gramática

normativa, certa função, poderá passar a exercer outra função, promovendo

outras implicações para o contexto.

2.2.3 A coesão textual: remissão e sequenciação

Intrinsicamente relacionado à compreensão da coerência textual nos

níveis de macro e microestrutura, tem-se a coesão textual, que objetiva estudar

a sequenciação superficial do texto. Logo, observam-se os elementos

linguísticos presentes em um texto com o intuito de depreender as relações de

sentido que os mecanismos formais podem estabelecer.

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Segundo Koch (1994), são duas as modalidades de coesão textual: a

remissão e a sequenciação. A remissão diz respeito à função de (re)ativação

de referentes e/ou de “sinalização” textual. Quando o elemento remete a algo já

mencionado, tem-se a coesão referencial anafórica, tipicamente estabelecida

por pronomes e por advérbios pronominais, como os que estão presentes na

formação etimológica dos itens em estudo, que será contemplada em 3.3. É

por esse motivo que, na fase arcaica, os termos contudo, entretanto e no

entanto promoviam relações anafóricas no texto. Outra possibilidade de coesão

referencial é um elemento remeter a algo que ainda será mencionado no texto,

relacionando-se por meio da coesão referencial catafórica.

Por sua vez, a sequenciação refere-se, segundo Koch, aos

“procedimentos linguísticos por meio dos quais se estabelecem, entre os

segmentos do texto (enunciados, partes de enunciados, parágrafos e mesmo

seqüências textuais), diversos tipos de relações semânticas e/ou pragmáticas”

(1994, 49). Esse mecanismo de coesão, de acordo com a autora, pode ser

classificada como parafrástica ou frástica, tendo o encadeamento como um de

seus mecanismos, já que este estabelece “relações semânticas e/ou

discursivas entre orações, enunciados ou seqüências maiores do texto. Pode

ser obtido por justaposição ou por conexão” (KOCH, 1994, p. 60).

Sendo assim, os conectores, denominados conjunções pela gramática

normativa, são os responsáveis por, na superfície do texto, apresentarem as

relações lógicas de conexão ou junção. É por esse motivo que os termos

contudo, entretanto e no entanto, itens contrajuntivos, podem ser chamados de

conjunções.

Portanto, a função coesiva dos elementos em estudo, mesmo sendo por

meio de modalidades distintas, está presente tanto na fase arcaica quanto na

atualidade. O uso desses termos com a função coesiva por remissão anafórica

sobressai no início da gramaticalização, enquanto hoje é a coesão sequencial

que prevalece. No entanto, o falante tem promovido usos cada vez mais

diversificados, os quais dão conta das suas intenções comunicativas em certo

contexto, evidenciando uma retomada do papel anafórico exercido pelas

conjunções coordenativas adversativas em estudo nesta pesquisa.

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CAPÍTULO III – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1. Composição dos corpora Apesar de compreender a importância dos estudos diacrônicos para o

entendimento da evolução histórica da língua, neste trabalho analisar-se-á o

que o funcionalismo denomina como a língua em uso na atualidade. Não

significa que não se deve estudar a evolução do termo, visto que esse

processo será apresentado neste capítulo. Significa deixar claro que se

objetiva, aqui, depreender o que os falantes estão produzindo de novo e

procurar determinar possíveis motivações para isso.

Com o intuito de estudar essas motivações, selecionou-se como objeto

de investigação o uso dos termos contudo, entretanto e no entanto em textos

de língua escrita. Verificou-se a presença desses termos em seis jornais que

apresentam a publicação tanto impressa quanto digital e que fazem parte de

diferentes regiões do Brasil, como Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo,

Minas Gerais e Brasília.

Publicado na região do Rio Grande do Sul, o jornal “Diário Gaúcho” é

editado em Porto Alegre e pertence ao mesmo grupo do jornal “Zero Hora”.

Sua estrutura segue o estilo tablóide britânico com títulos grandes e cores

chamativas. É considerado um jornal popular, direcionado às classes C, D e E

da cidade de Porto Alegre.

O jornal “Gazeta do Povo” tem sua sede na cidade de Curitiba, Paraná,

mas possui circulação diária em todo território nacional e é considerado o maior

e mais antigo jornal do Paraná. Pertence à editora Gazeta do Povo S.A., do

Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCOM).

O jornal “Folha de Londrina”, de impressão diária, foi fundado na cidade

de Londrina, Paraná, e possui uma cobertura profissionalizada com temas de

um jornal tradicional, os quais vão do cotidiano até política internacional.

Prevalece nas classes A e B da sociedade londrinense.

Editado na cidade de São Paulo e considerado o segundo maior jornal

de circulação do Brasil, de acordo com dados do Instituto Verificador de

Circulação (IVC), tem-se a “Folha de São Paulo”, um dos jornais mais

influentes do País.

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O outro jornal selecionado para o trabalho é o “Diário do Nordeste”

publicado no Ceará, com sede em Fortaleza e algumas sucursais em cidades

como Recife e Brasília, pertencendo ao Sistema Verdes Mares, aglomerado de

empresas de comunicação.

Por fim, o jornal “Correio Braziliense”, com sede em Brasília, Distrito

Federal, pertence ao Grupo Diários Associados. Ao lado da “Folha de S.

Paulo”, do “Estado de Minas”, d’“O Globo” e d’“O Estado de S. Paulo”, forma o

grupo dos principais jornais do Brasil.

Os dados para análise se constituem de 90 ocorrências das expressões

“no entanto”, “entretanto” e “contudo”, dividindo-se em 15 exemplos por jornal

e, desse número, 5 de cada uma das expressões. Procedeu-se à coleta de

mais alguns exemplos extras no decorrer da análise para corroborar os

resultados obtidos.

3.2 Metodologia

Dentre os vários estudos a respeito da gramaticalização, os mais

recentes conferem destaque à importância do aumento da frequência de uso

dos termos em processo de gramaticalização. Trata-se de um critério validado

por Bybee et al. (1994) e Bybee (2003), os quais afirmam que essa frequência

de uso não é produto da gramaticalização, mas o fator primário contribuinte

para tal processo.

Isso se deve ao fato de que, para Bybee (2003), a frequência textual

extremamente alta, se assemelhada à frequência mais prototípica dos itens

lexicais, é um dos traços notáveis dos itens gramaticais nas estruturas em que

eles ocorrem. É justamente esse aumento na frequência de uso que gera um

aumento também nos diferentes números e tipos de contexto em que é

utilizada.

A autora considera em seu trabalho a importância do papel da repetição

no percurso do processo de gramaticalização, qualificando-o como o processo

no qual uma sequência de palavras ou morfemas altamente frequentes se

torna automatizada como uma unidade de processamento singular. Logo,

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segundo Bybee (2003), a frequente repetição de um termo desempenha

importante função nas possíveis mudanças:

i. a frequência de uso leva ao enfraquecimento de forças semânticas pela

habitualidade, processo pelo qual um organismo deixa de responder no

mesmo nível ao estímulo repetido;

ii. mudanças fonológicas de redução e fusão de construções gramaticalizadas

são condicionadas por sua alta frequência e por seu uso em porções do

enunciado que contêm informação velha ou de fundo;

iii. o aumento da frequência confere maior autonomia à construção, o que

significa que componentes individuais da construção enfraquecem ou

perdem sua associação com outras ocorrências do mesmo item;

iv. a perda de transparência semântica que acompanha a separação entre os

componentes da construção gramaticalizada e seus congêneres lexicais

permite o uso da forma em novos contextos com novas associações

pragmáticas, levando à mudança semântica;

v. a perda de autonomia da forma frequente a torna mais enraizada na língua e

frequentemente condiciona à preservação de algumas das características

morfossintáticas obsoletas.

Nesse sentido, para Bybee et al. (1994) e Bybee (2003), são dois os

métodos para estudar a frequência: a frequência token e a frequência type. A

primeira, também denominada de textual, diz respeito à contagem de todas as

ocorrências de determinado termo ou construção, não importando a função ou

significado que exprimem. A segunda, por seu turno, refere-se à frequência de

um padrão específico e são observadas as diferentes funções exercidas pelo

termo ou construção.

De acordo com os autores referenciados, caso ocorra o aumento da

frequência token, é notável que se trata de um item passível de sofrer

gramaticalização; por sua vez, aumentado-se a frequência type, decorrência do

primeiro, há indício da expansão dos contextos em que o item ocorre. Apesar

de o aumento dos dois tipos de frequência ser importante para o processo em

estudo, será a alta ocorrência token que resultará em diversas mudanças tanto

na forma quanto na função das construções gramaticalizadas.

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Bybee (2003) ressalta que, embora seja de suma importância o fator

repetição para a gramaticalização, uma vez que são as consequências dessa

repetição que desencadearão fatores para a criação da gramática, ela sozinha

não basta para compreender todas as fronteiras da gramaticalização. Isso

significa que é a frequência de tipo que produz maior produtividade, e não a

frequência de ocorrência.

Para a autora, os vocábulos organizam-se de modo ordenado e

agrupam-se segundo a identidade ou a similaridade fonológica ou semântica,

propondo, desse modo, um modelo de léxico mental. Logo, esses termos

interconectam-se por meio de traços compartilhados. O item será menos

produtivo, caso as características do termo sejam muito específicas, pois será

aplicado a uma quantidade menor de estruturas. Por outro lado, ele será mais

produtivo se possuir um esquema mais aberto, compreendendo mais itens. E

isso leva a maiores possibilidades de esse item se aplicar a novos itens. Ou

seja, é a frequência de ocorrência que evidencia se o item é mais ou menos

prototípico. Fica evidente que a proposta da autora nada mais é que um conceito de

léxico fundamentado no uso da língua, visto que são as amostras de uso

concreto da língua que permitem que a frequência e a produtividade sejam

analisadas.

Partindo-se desses métodos, procurou-se, por meio da frequência type –

uma vez que a frequência token está pré-determinada pelos autores deste

texto –, trabalhar com o levantamento de construções adversativas com

diferentes funções exercidas pelo mesmo termo, buscando qual é mais

frequente e o que isso sugere.

3.3. Etimologia e definições das conjunções adversativas

A fim de compreender os atuais usos das conjunções adversativas em

estudo, torna-se fundamental depreender a origem desses termos no processo

histórico da Língua Portuguesa como parte dos procedimentos metodológicos,

visto que nem todas as expressões classificadas como conjunções surgiram

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com essa função, como já foi referenciado no capítulo anterior, sendo esse

aspecto de fundamental importância para a metodologia a ser utilizada.

Essa retomada ao passado é importante, pois, segundo Cardeira (2009),

somente estudos sincrônicos não são suficientes para a análise temporal da

língua, uma vez que as variações linguísticas ocorrem não só em um período,

mas ao longo dos tempos. Por esse motivo, não se pode desvincular a

sincronia da diacronia.

A autora também afirma que o processo de evolução da língua não é

descontínuo; logo, por mais que os estudos históricos da língua tentem

comparar as diferentes gramáticas ao longo do tempo com diferentes

documentos escritos, acreditando que isso projetará por vezes a língua falada

da época, essas análises acabam por criar um estado artificial da língua, que

não dará conta da realidade descrita.

Os itens selecionados contudo, entretanto e no entanto fazem parte do

mesmo conjunto dos itens mas, porém, todavia e, por isso, possuem origens

etimológicas semelhantes. Esses termos não estavam presentes entre as

conjunções coordenativas latinas, pois, de acordo com Mattos e Silva (2001, p.

120), somente conjunções e, ou e nem já eram assim classificadas; as outras

conjunções originaram-se no português arcaico.

Compreende-se como português arcaico a fase que vai do século XII ao

XV, também denominado, conforme Mattos e Silva (1996, p. 15), como período

ou fase medieval, e a língua da época, conceituada como português arcaico ou

medieval. Vale destacar que essa delimitação cronológica não é igual para

todos os autores, uma vez que cada investigador determina os pontos de

referência históricos essenciais, dependentes dos critérios selecionados como

objeto de estudo.

Para Mattos e Silva (1989), a história das línguas não acompanha a par e passo a história sócio-política das sociedades que usam essas línguas. Seus ritmos são distintos. Se um evento histórico significativo pode ser tomado como um marco delimitador de um período histórico para a história de uma sociedade, a língua dessa sociedade continuará o seu ritmo constitutivo e pode disso sofrer o efeito com o passar do tempo. Decorre desse desemparelhamento entre a história da sociedade e a história da língua dessa sociedade o fato de não encontrarmos consenso, nos estudos pertinentes, na delimitação dos finais

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do período arcaico e dos inícios do período moderno da língua portuguesa.

Segundo Meillet (1912), o processo de formação das conjunções

evidencia como esses termos são frequentemente passíveis de renovação,

levando ao desaparecimento de outras que já existiam. Suas ponderações são

válidas para as línguas em geral, incluindo a diacronia latino-portuguesa, como

ele mesmo afirma.

A fase arcaica do português, aqui em estudo, precede a consolidação

das línguas românicas como línguas nacionais. Devido a questões ligadas às

mudanças histórico-sociais pelas quais Portugal passava na época, que aqui

não serão trabalhadas, o português passou, no período medieval, por

transformações que modificaram o quadro das conjunções.

Em decorrência dessas questões histórico-socias, havia duas formas de

latim no território equivalente ao Império Romano, como afirma Maurer (1962).

A primeira, denominada de clássica (ou literária), que se originou de uma

modalidade clássica falada, e a segunda, conhecida como a vulgar, que

praticamente não era escrita, resultante do contato com variedades cultas e

vulgares.

O autor, com base nas poucas fontes escritas do latim vulgar e também

na fala de personagens de obras literárias, chega à conclusão de que nessa

modalidade haveria uma certa preferência pelas formas expressivas e, por

isso, ocorreu uma renovação intensa na língua.

Nesse viés, uma dessas preferências marcantes do latim vulgar é a

opção por formas analíticas em oposição ao sintetismo típico do latim clássico,

como a predileção pela estruturação paratática do período. E é nesse contexto

linguístico que foram formadas as conjunções portuguesas, inclusive as

adversativas em estudo.

3.3.1. O termo contudo

A expressão “contudo” surge no século XIV, segundo o dicionário

Houaiss (2009), sob a forma contodo. De acordo com Barreto (1999), a junção

da preposição “com” ao pronome “tudo”, do latim “totu”, indica “a totalidade de

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pessoas, animais ou coisas”, ou seja, “com todas essas coisas”, fato que

evidencia a função coesiva anafórica que o termo apresentava:

Dicionário AURÉLIO [De com + tudo.] Conj. Todavia; no entanto; não obstante, nada obstante: “As

vozes não subiam do tom médio e, contudo, ouviam-se bem” (Machado de

Assisi, Várias Histórias, p. 26)

Dicionário HOUAISS da língua portuguesa Conj. (sXIV) conj. Advrs. designativo de adversão, oposição, restrição; mas,

porém, entretanto, no entanto, todavia (alcançou grande êxito, c. apequena-se

perante alguns) GRAM conjunção coordenativa adversativa que indica

constraste ou restrição na ligação de dois termos ou duas orações de igual

função ETIM prep. com + pron. tudo

Dicionário AULETE DIGITAL (con.tu.do) conj. 1. Expressa contraposição entre termos de uma mesma frase, ou de frases diferentes, com nuanças de ressalva, concessão etc.; ENTRETANTO; PORÉM; TODAVIA: O filme agradou no exterior, contudo não fez sucesso no Brasil. [F.: com + tudo.]

3.3.2. O termo entretanto

Segundo Houaiss (2009), o termo “entretanto” é datado do século XIII,

mas, no corpus investigado por Barreto (1999), ele surge somente no século

XVI. Esse item é formado da junção da preposição “entre” com o pronome

“tanto” e, segundo Barreto (1999), tem o sentido originário de “entre tantas

coisas”, ou seja, entre informações que já foram ditas, funcionando como

elemento anafórico no contexto em que ocorriam. No português moderno, mais

especificamente no século XVII, a pesquisadora afirma que se encontra ainda

um uso de “entretanto” como advérbio temporal, com o sentido de “enquanto

isso sucede”. Além da grafia corrente, Barreto (1999) também esclarece que,

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nos textos que investigou, encontrou as formas entre tanto e no entretanto e

que a forma aglutinada ocorre já nos textos do século XVI.

Dicionário AURÉLIO [De entre + Tanto.] Adv. 1. Neste ou naqueles intervalo de tempo;

entrementes, no entanto: “Ajoelhou no primeiro degrau da escada, e

confessou-se por espaço de 50 minutos. Entretanto, martelava-se no

cadafalso.” (Camilo castelo Branco, Perfil do Marquês de Pombal, p. 16) Conj. 2. Todavia, contudo; no entanto: “Porque o amor, tal como eu o estou amando,

/ É espírito, é éter, é substância fluida, / É assim como o ar que a gente paga e

cuida, / Cuida, entretanto, não estar pegando!” (Augusto dos Anjos, Eu, p. 87.)

S.m. 3 Intervalo de tempo. Entretanto que. Durante o tempo em que;

entrementes que; enquanto: “Entretanto que pregava, irmãos leigos faziam

correr a bandeja pela assistência” (Aquilino Ribeiro, Caminhos Errados, p. 147).

Neste entretanto. Neste ínterim; neste entremeio; entretanto: “sentei-me no

lajedo, / Quis voltar a chorar e já não pude. / Neste entretanto a Lua alvorecia a

medo” (José Régio, As encruzilhadas de Deus, p. 100). No entretanto. V. No

entanto (1): “No entretanto, o professor, concluída a reforma do Capelino,

andava por portas dos sócios da Academia Real das Ciências” (Camilo Castelo

Branco, Noites de Lamego, p. 30)

Dicionário HOUAISS da língua portuguesa adv. (sXIII) 1 entrementes, nesse ínterim, nesse meio-tempo <e., resolvemos

caminhar um pouco pelo jardim> conj. 2 conj. advrs. designativo de adversão,

oposição, restrição; todavia, contudo, mas, porém, no entanto <tinha intenção

de lhe falar, e. ficou mudo> <ela era bela, ele, e., chamava a atenção pela

deselegância> s.m. 3 intervalo de tempo; período intermediário ! ver USO a

seguir e. que no momento em que, durante o tempo em que; entrementes que;

enquanto nesse, neste ou naquele e. naquele, nesse ou neste ínterim, nesse

meio-tempo, entretanto no e. todavia, no entanto USO como subst., empr.

apenas na loc. do tipo no entretanto, nesse entretanto, neste entretanto etc;

apenas no Brasil registra-se o uso do vocábulo como conjunção ETIM comp.

da prep. entre + tanto (<adv. lat. tantum ‘tanto, de tal modo’)

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Dicionário AULETE DIGITAL (en.tre.tan.to) conj.advers. 1. Mas, porém, no entanto: Bonita aeronave; entretanto, obsoleta. adv. 2. Nesse ínterim; ENTREMENTES [Us. como subst. nas locs. no entretanto, neste ou nesse entretanto.] [F.: entre + tanto.]

3.3.3. O termo no entanto

O advérbio juntivo “no entanto” (entanto) data do século XIII, segundo

Houaiss (2001). De acordo com Barreto (1999), o termo se formou da

justaposição da preposição latina in ao pronome indefinido tantum, tornando-se

um advérbio com valor de “por isso”, o que evidencia o papel coesivo exercido

no passado pelo termo. No corpus investigado pela autora, também há

registros, no século XIV, de “entanto” com valor temporal, significando “neste

meio tempo, neste interím”. Barreto (1999) supõe que esse valor temporal

tenha sido adquirido por analogia com o valor das conjunções “enquanto” e

“tanto que”, as quais apresentavam uma alta frequência de uso no português

arcaico.

Dicionário AURÉLIO [De em + tanto.] Adv. 1. neste meio tempo, neste ínterim; entretanto,

entrementes, no entanto: Fiquei à espera; entanto conheci várias pessoas.

Conj. 2. Todavia, contudo, entretanto, no entanto: “Gosto das coisas ásperas, e

entanto / vivo deitado à sombra dos teus olhos.”(Odilo Costa Filho, Boca da

Noite, p. 83); “O céu que ofendes e de que maldizes, / basta-me entanto: amo-

o com seus fulgores” (Alberto de Oliveira, Poesias, 4ª série, p. 42). No entanto. Loc. Adv. 1. Neste meio tempo; no entretanto; entretanto, entanto: “Nas curvas

lanchas dormem barqueiros. / O poeta, no entanto, o eterno pária, / Escuta a

voz de Inês entre os salgueiros.” (Gonçalves Crespo, Obras Completas, p.

164.) Loc. Conj. 2. Todavia, contudo, entretanto; ainda assim: “Há quem diga

que não estamos mais em época de acreditar em bruxas. No entanto, elas

ainda existem.” (Dias Gomes, em Samira Campadelli, Dias Gomes, p. 25); “Era

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já [Goethe] um homem importante. Casou no entanto com uma antiga operária

florista” (Eduardo Frieiro, O Alegre Arcipreste, p. 44).

Dicionário HOUAISS da língua portuguesa adv. (sXIII) 1 nesse meio-tempo, nesse ínterim <viajou para a Europa; e.

nasceu sua neta> conj. 2 conj. advrs. designativo de adversão, oposição,

restrição; mas, porém, contudo, entretanto, todavia <quis gritar, e. a voz não

saía> s.m. 3 período de tempo ! ver USO, a seguir . no e. 1 no entretanto,

nesse meio-tempo <o filho dorme, no e. a mãe vela> 2 entretanto, contudo,

todavia <quis responder-lhe, no e. faltou coragem> USO como subst., empr.

apenas na loc. no entanto; apenas no Brasil registra-se o uso do vocábulo

como conj. ETIM lat. intantum adv., comp. da prep. lat. in ‘em’ + adv. lat. tantum

‘tanto’

Dicionário AULETE DIGITAL (en.tan.to) sm. 1. Us. na loc. no ~ Entretanto; apesar disso: O filme é ótimo, no entanto, não fez sucesso. adv. 2. Enquanto isso, nesse meio tempo, entretanto. [F.: em + tanto.] A pesquisa realizada por Barreto (1999) explicita que no português

arcaico os termos “contudo”, “entretanto” e “no entanto” apresentavam uma

função de retomada de informação no texto, como um conectivo fórico. Os

dicionários Aurélio, Houaiss e Aulete, por sua vez, não mencionam em

momento algum a possibilidade de os termos em estudo estabelecerem uma

retomada de conteúdo; apenas informam a já tradicional visão como

conjunções adversativas e, no caso do “entretanto” e “no entanto”, trazem a

função de advérbios temporais. Pensando nisso, observar-se-á, no próximo

capítulo, como o falante faz uso desses conectivos no que diz respeito à

estrutura, à classificação e à função discursivo-textual desses recursos

linguísticos.

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CAPÍTULO IV – ANÁLISE DOS DADOS

4.1 Construções analisadas e o posicionamento Os textos selecionados para a pesquisa foram retirados de 6 jornais de

diferentes regiões e de distintos autores, justamente para poder analisar os

usos amplos e restritos do termo de modo geral, e não usos que, por vezes,

são características da escrita de determinado autor. Além disso, os elementos

estudados foram coletados dos diversos gêneros textuais que permeiam o

âmbito jornalístico e foram mais comumente encontrados em notícias e em

artigos de opinião, como será comprovado pelos exemplos.

Primeiramente, procedeu-se à coleta de dados e ao posicionamento dos

itens em estudo: contudo, entretanto e no entanto. Isto é, buscou-se, dentre as

90 estruturas analisadas, qual o posicionamento mais frequente de cada um

deles nos textos: inicial, intercalada (medial) ou final.

Posição Termo

Incial Intercalada Final

Contudo

13

16

1

Entretanto

11

18

1

No entanto

13

16

1

Tabela 1: Quantificação de posicionamento das ocorrências.

Os dados evidenciam que, independentemente do enfoque objetivado

pelos meios de comunicação ou ainda das características dos gêneros textuais

analisados – visto que as ocorrências foram retiradas de jornais com diferentes

públicos e de gêneros variados –, a opção pelo uso da conjunção em posição

intercalada é a mais escolhida pelo falante, como se observa no exemplo a

seguir.

(1) Presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de

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Educação (Undime), Cleuza Repulho, afirma não ter tido conhecimento de municípios que tenham adotado estratégia semelhante à de Curitiba. Ela pondera, entretanto, que a convivência entre diferentes faixas etárias pode ser benéfica. “Se houver adaptação, não há problema. Além disso, o convívio pode ser saudável no sentido dos maiores cuidarem dos menores”, argumenta. http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/curitiba-vai-adaptar-escolas-para-ampliar-vagas-na-educacao-infantil-efop3o3b61wok45vn9ynl9bgu Acesso em 22 nov. 2015.

Com isso, é possível explicitar como o falante toma partido da sua

informação com o intuito de convencer o outro daquilo que escreve, além de

tentar levá-lo a compartilhar o seu conteúdo, uma vez que a frequência

intercalada, e até mesmo inicial, antecipa aquilo que o falante quer contrastar

em relação ao conteúdo expresso. São “pistas” que evidenciam o caráter

epistêmico da linguagem, pois o posicionamento revela antecipadamente ou

não aquilo em que o produtor do texto acredita, fato que não ocorre em posição

final.

Nos três exemplos a seguir, os produtores constrõem o texto deixando a

quebra da expectativa para o final, fazendo o leitor acreditar que não haverá

problema algum com a informação veiculada, ou seja, que ela é um fato real.

(2) Uma situação incomum marca o Gre-Nal 379, às 19h30min deste domingo, em Erechim, pelo Gauchão. O Colosso da Lagoa será palco para dois treinadores debutarem no maior clássico do futebol gaúcho – Jorge Fossati, no Inter, e Paulo Silas, no Grêmio. A última vez que isto ocorreu foi há seis anos, no duelo 360, que ficou conhecido por ter sido o do gol mil, do surgimento de Fernandão. Naquele Inter 2 a 0, em 10 de julho de 2004, deu Joel Santana contra José Luiz Plein. A vida do vencedor, contudo, não foi longa em Porto Alegre. Durou uma semana a mais do que a do perdedor. Bailaram por incompetência dois meses depois. Nem Silas nem Fossati cogitam sina parecida. Ambos concordam, contudo, que um tombo no debute deixa a carreira mais penosa. Foi Jorge Fossati quem primeiro sentiu como é complicado não medir palavras em semana de Gre-Nal. Domingo passado, o uruguaio afirmou que respeitava o Grêmio, mas que, em importância para os colorados, o rival estava um degrau abaixo do Inter. Bastou para a polêmica.

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(...) Quem falou, fugiu do assunto. Deu pistas, contudo. Apesar de os gremistas tentarem envolver em mistério a escalação de domingo, é possível projetar time e esquema. http://diariogaucho.clicrbs.com.br/rs/noticia/2010/01/treinadores-da-dupla-gre-nal-debutam-no-classico-2794280.html Acesso em 24 nov. 2015.

No exemplo (2), não se sabe como será o esquema tático do time, pois

todos que falaram na coletiva de imprensa “fugiram do assunto”. Na sequência,

o autor menciona que houve dicas do que aconteceria e, posteriormente,

emprega a conjunção que contrasta as duas ideias, quebrando a expectativa

inicial. Nesse caso, fica evidente a dupla função coesiva do termo contudo,

pois, ao contrastar as ideias, dá sequência as informações do texto, mas, para

que o contraste ocorra, é preciso que retome tudo que foi mencionado nos

parágrafos anteriores sobre técnicos que iniciaram suas carreiras com um jogo

entre grandes times rivais (clássico na linguagem esportiva).

Essa relação também é expressa no exemplo (3), no qual se cria

inclusive uma expectativa maior com o encadeamento de inúmeras ideias que

pareciam trazer as respostas esperadas pela sociedade, mas, em vez de já

iniciar com no entanto para desconstruir a informação dada, o elemento é

deixado para o final.

(3) Houve como quando, em 2000, o presidente dos EUA, Bill Clinton, e o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, anunciaram com cientistas os primeiros resultados do mapeamento do genoma humano. Só quinze anos depois as promessas do genoma começam a ficar palpáveis. (...) De modo mais geral, os pesquisadores estão descobrindo que, para localizar alterações genéticas, o genoma não precisa ser lido “por inteiro”. Basta se ater aos pedaços mais informativos. A expectativa inicial era muito grande, especialmente entre os não cientistas: o mapeamento total do genoma permitiria criar uma relação direta entre genes e doenças. Não foi bem assim que a coisa se mostrou, no entanto.

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http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2015/09/1684064-apos-15-anos-promessas-do-genoma-humano-se-tornam-palpaveis.shtml Acesso em 24 nov. 2015.

Nesse exemplo, fica clara a intencionalidade do autor do texto com

relação ao gênero, já que se trata de um artigo de opinião, texto que objetiva

opinar de maneira contundente sobre o assunto e convencer o leitor da sua

opinião; no caso do exemplo, convencer de que o mapeamento do genoma

humano parace realmente não “dar em nada”, direcionando o leitor a também

crer nisso. Também se pode notar, juntamente com o valor adversativo do

conectivo, uma relação anafórica indicando uma circunstância temporal, ou

seja, a pesquisa não foi realmente o que se esperava nesses quinze anos,

“nesse meio tempo”.

Para o exemplo (4), uma análise além daquilo que este tópico visa pode

ser elaborada. Isso porque, nesse caso, observando-se a ideia de discurso na

perspectiva funcionalista (relações sintático/ semântico/ pragmáticas), fica

evidente que no contexto o termo em estudo funciona como conectivo fórico, já

que não há relação de oposição entre as informações por ele apresentadas. O

autor afirma não gostar de escrever quando seu time perde, pois seu texto

torna-se amargo, rancoroso. Logo, espera-se que o termo entretanto traga a

ideia de que ele fará um texto com essas características, o que não ocorre com

a afirmação: “Não farei nada disso, entretanto”, que envolve o domínio de

mundo sobre o esporte futebol, no qual não é digno de torcer para um time

aquele que rebaixa o próprio time antes de exaltá-lo, ou seja, diz respeito

àquilo em que o escritor acredita.

(4) Não há texto que me desgoste mais escrever do que após uma derrota do Grêmio. Não gosto de destilar amargor, tristeza, rancor, melancolia, frustração nem raiva. Não farei nada disso, entretanto. Prefiro louvar a bravura de nosso time, que caiu na Vila Belmiro, mas caiu como uma equipe de bravos. Não se deixou intimidar pela ruidosa torcida nem pela incensada meninada do Santos Futebol Clube. http://diariogaucho.clicrbs.com.br/rs/noticia/2010/05/cacalo-caimos-como-bravos-2909875.html Acesso em 24 nov. 2015.

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É válido observar que nos três casos, além dos conectivos em final de

fragmento, ocorre o emprego também da pausa, marcada pela vírgula, o que

confere relevância aos termos, mesmo estando em posição final.

4.2 A classificação e a estrutura entre período simples e composto e o uso do falante

Sabe-se que, no que tange à classificação sintática normativa dos

estudos das orações da Língua Portuguesa, essas estruturas se dividem

basicamente em duas: o estudo do período simples e composto. Como já

exposto, essas definições nem sempre dão conta daquilo que é elaborado

pelos usuários da língua e, por isso, elaboram-se análises funcionalistas com

enfoque no pragmatismo que procurem compreender esses novos usos.

Sendo assim, em relação a essa separação, a qual define que o período

simples é um enunciado constituído somente de um verbo, enquanto o período

composto apresenta dois ou mais, nos corpora analisados apenas 4

ocorrências seguiram esse padrão. Ou seja, nesses casos, os termos “contudo”

e “entretanto” conectam duas microestruturas, conforme as gramáticas

normativas.

(5) A maioria das prefeituras aluga hoje veículos para prestar o serviço, contudo, o total pago termina por sair mais caro. http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/opiniao/vitimas-da-negligencia-1.1439162 Acesso em 24 nov. 2015.

No exemplo (5), tem-se uma primeira oração, como denominada pela

gramática normativa, “A maioria das prefeituras aluga hoje veículos” e há ainda

uma subordinada a ela “para prestar o serviço”, que não vem ao caso neste

estudo. Observa-se que, opondo-se a essa primeira cláusula, vem a ideia “o

total pago termina por sair mais caro”, ou seja, ocorre o aluguel de veículos por

parte da prefeitura e esperava-se que essa ação diminuísse as despesas, mas,

na realidade, sai mais caro. Aqui o produtor do texto direciona seu leitor a ativar

seu conhecimento de mundo sobre política e corrupção, com o intuito de que

se depreenda que há um superfaturamento do valor do aluguel.

A quebra de expectativa evidenciada no exemplo (5) também fica

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explícita na ocorrência (6): como o jogador não fez sucesso em campo, espera-

se que ele não fará sucesso em nenhuma outra situação, já que se trata da

profissão dele. Ocorre, porém, que ele “chama a atenção”, isto é, faz sucesso

por outro motivo com um companheiro de profissão, mas fora dos gramados, o

que induz o leitor a querer ver a fotografia para saber qual a razão desse

sucesso repentino.

(6) O jogador sueco não fez muito sucesso dentro de campo, entretanto, chamou a atenção com uma fotografia, no mínimo peculiar, ao lado de seu ex-companheiro de clube Piqué. http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/jogada/online/apos-cinco-anos-pique-explica-em-entrevista-foto-polemica-com-ibrahimovic-1.1440145 Acesso em 24 nov. 2015.

Em (7), a ideia é que os pacientes serão atendidos para realização do

procedimento por ordem de chegada, por isso se espera que todos aguardem

na fila a sua vez para ser atendido. Ocorre que, contrariando o que se tinha

dito, os que possuem mais de 60 anos ou os que já haviam agendado não

precisarão ficar esperando.

(7) Vale ressaltar que esse procedimento é feito por ordem de chegada, entretanto, idosos maiores de 60 anos e quem estiver agendado pelo Sistema de Regulação da Secretaria de Saúde têm prioridade. http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2014/08/28/interna_cidadesdf,444588/carreta-da-visao-estende-atendimento-a-pacientes-em-taguatinga.shtml Acesso em 24 nov. 2015.

Fica explícito em (8) que houve discussões sobre a possibilidade de um

aplicativo novo autorizar o print da tela ou não, o que gerou especulação entre

os internautas. Contrariando as expectativas, porém, não ocorreu um

pronunciamento oficial da empresa do aplicativo, o que rompe com a ideia de

que, quando há cogitações sobre algo no mundo virtual, é natural que alguém

ou a empresa se manifeste para pôr fim a essas possíveis “fofocas”.

(8) Internautas discutiram esta madrugada, no Twitter, se o aplicativo vai ou não emitir notificações quando alguém 'printar' a tela, entretanto não há informações oficiais que confirmem a atualização. http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/tecnologia/2015/10/27/interna_tecnologia,504146/atualizacao-do-whatsapp-que-avisara-

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sobre-capturas-de-tela-e-falsa.shtml Acesso em 24 nov. 2015.

Tem-se, nos exemplos (5), (6), (7) e (8), o período composto conforme a

classificação normativa, uma vez que possuem até mesmo mais de duas

cláusulas, como em (5), (7) e (8); nesses três casos, apresentam-se relações

tanto coordenadas, pelos elementos em estudo, quanto subordinadas por

outros termosy. Pode-se asseverar ainda que as estruturas estudadas nesses

exemplos são passíveis de substituição com a conjunção, de fato adversativa,

mas.

Todas as outras 86 ocorrências analisadas fogem à estrutura

“considerada” padrão, expondo de que modo os usuários da língua a utilizam,

sem, muitas vezes, atentarem para as regras, mas cumprindo o objetivo inicial

e principal: comunicar-se de modo efetivo. Isso evidencia que as gramáticas

tratam esses itens de uma forma e, muitas vezes, os usuários os empregam de

outra, sem, entretanto, deixar de se relacionar de maneira eficaz.

Os exemplos elencados também seguem a estrutura prototípica do

período composto coordenado, em que se tem uma cláusula completa, seguida

da conjunção adversativa, e, na sequência, outra cláusula completa. É preciso

observar essas relações, visto que em outras ocorrências as cláusulas foram

utilizadas pelo falante em enunciados diferentes, marcados pelo ponto final, o

que, pelo padrão normativo, seriam definidos como período simples:

(9) Segundo ela, nos últimos três meses, pelo menos três vizinhas foram assaltadas ao descerem do ônibus. Seu filho, o autônomo Emerson dos Santos, 28 anos, também está preocupado com a insegurança no local. Cleusa lembra ainda que os moradores já pediram providências à prefeitura e, inclusive, enviaram um abaixo-assinado. Contudo, não obtiveram resposta. http://diariogaucho.clicrbs.com.br/rs/noticia/2010/06/moradores-de-alvorada-enfrentam-escuridao-na-volta-a-casa-2938764.html Acesso em 24 nov. 2015. (10) O secretário-executivo de Coordenação de Governo da Prefeitura do Rio de Janeiro, Pedro Paulo Teixeira, disse que o prédio em São Conrado, na zona sul, onde ocorreu uma explosão na manhã de ontem, estava com autovistoria em dia, feita há seis

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meses. "Tudo indica que foi uma explosão causada por algum vazamento de gás, pela ausência de incêndio e pelas características da explosão", afirmou Teixeira. Entretanto, peritos da Polícia Civil ainda vão determinar, em laudo, as causas do incidente.http://www.folhaweb.com.br/?id_folha=2-1--1963-20150519 Acesso em 24 nov. 2015. (11) Os refugiados sírios e outros migrantes que chegaram em grande número à Europa nas últimas semanas estão sendo bem acolhidos em grande parte do continente, especialmente na Alemanha e na Áustria. No entanto, esse movimento também motivou novas preocupações a respeito da crescente influência do islamismo -e dos radicais islâmicos- na Europa. http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2015/09/1682873-pretensa-universalidade-de-valores-ocidentais-entra-em-xeque.shtml Acesso em 24 nov. 2015.

Em (9), (10) e (11), as cláusulas iniciadas por “contudo”, “no entanto” e

“entretanto” vêm após ponto final, quando, sintaticamente, espera-se que

estejam ligadas à oração anterior por meio de uma vírgula, caracterizando o

período composto por coordenação. A alta frequência desse possível

“desgarramento”, termo conceituado por Decat (2011), expõe um uso que pode

ser considerado comum pelo falante que já o considera uma regra, e não a

exceção. A autora ressalta que tais orações mantêm com o discurso

precedente uma relação adverbial, constituindo-se uma estratégia de

focalização, com a qual o produtor do texto dá destaque especial, ou seja, foco,

àquilo que ele intenciona que seu leitor veja como argumento mais importante.

4.3 Relações semântico-discursivas estabelecidas pelos itens contudo, entretanto, no entanto

Intrinsecamente relacionado à forma como se dão as ocorrências em

análise, o processo estabelecido pelos itens contudo, entretanto e no entanto

evidenciam outras relações semântico-discursivas possíveis, além da

adversativa já pré-determinada pela gramática normativa, o que fica explícito

na tabela abaixo. Isso se deve ao fato de esses exemplos serem analisados e

discutidos refletindo-se sobre as informações veiculadas e o contexto em que a

publicação foi elaborada, e não apenas sobre convenções já estipuladas.

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Termo Relação

Contudo Entretanto No entanto Total

Adversativo 10 12 11 33

Adversativo/Discursivo 18 15 17 50

Conclusivo 1 1 1 3

Termo enfático/Operador Argumentativo de ênfase

1 2 1 4

Tabela 2: Quantificação das relações semântico-discursivas

Nota-se, pelos dados coletados, que a preferência do falante, em um

total de 50 casos, é por usos que constrastem não somente a ideia

apresentada na cláusula anterior à estrutura adversativa, mas também a todo

contexto exposto para que o leitor compreenda aquilo que está sendo

reportado, conforme demonstram os exemplos que seguem:

(12) O Ministério Público do Rio denunciou nesta terça-feira (18) dez pessoas por envolvimento na morte de Jandira Magdalena dos Santos, de 27 anos. A promotoria, contudo, não incluiu na acusação o ex-marido da vítima, Leandro Brito Reis, e uma amiga dela, Kellyane Fernandes, que haviam sido indiciados pela Polícia Civil. http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/ministerio-publico-denuncia-dez-por-morte-em-tentativa-de-aborto-egcxodqkfy3v1pt3kw1t1564u Acesso em 24 nov. 2015.

No exemplo (12), tem-se visivelmente que a ideia de a promotoria não

ter inserido as duas pessoas mencionadas, marido e amiga, na denúncia, não

se opõe à delação feita pelo Ministério Público. Somente ao se analisar o

contexto e aquilo que o produtor do texto acredita ser verdade, ou seja, o nível

epistêmico da informação, observa-se a relação adversativa/discursiva

estabelecida pelo termo contudo, uma vez que o marido e a amiga foram vistos

conduzindo a vítima à clínica clandestina, conforme é informado somente na

sequência do texto. Logo, constata-se o contraste no discurso, que relaciona as

funções sintática/semântica/pragmáticas no texto.

(13) Londrina está completando 80 anos e o seu destino ainda paira

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na fragilidade de seus administradores, que se deixam influenciar por interesses particulares. A justificativa é sempre a mesma: tornar ágil as ações da máquina pública. Para isso, a Prefeitura de Londrina realiza audiências públicas, propondo a flexibilização das leis que regem o uso e a ocupação do solo urbano da nossa cidade. Entretanto, em qualquer processo evolutivo esse procedimento deveria ser invertido, ou seja, se desejamos uma cidade planejada e organizada, essas leis deveriam ser cada vez mais rígidas e as mudanças deveriam se restringir apenas ao comportamento de seus dirigentes. http://www.folhaweb.com.br/?id_folha=2-1--303-20140803 Acesso em 24 nov. 2015.

Em (13), a contradição fica a cargo dos três períodos apresentados

antes do termo entretanto. A oposição vem por meio de uma crítica feita aos

administradores da cidade, pois o entendimento de se celebrar um aniversário

está ligado ao conhecimento de mundo, segundo o qual quanto mais velho se

fica, mais experiências se teve e, consequentemente, mais maturidade para

julgar as escolhas certas e erradas. No caso da cidade, seria a rígida e eficaz

celeridade das leis e projetos, que é deixada de lado devido ao burocrático

sistema público administrativo e às atitudes dos que o regem. Novamente, a

relação contrajuntiva apenas é verificada com toda informação trazida e aquilo

que se conhece sobre governância.

Toda essa relação de oposição discursiva também está explicitada no

exemplo (14). Nesse caso, o contraste promovido pelo elemento no entanto é

auxiliado pela expressão “essa relação” ao final do parágrafo, visto que as

informações dadas sobre a doença e possibilidades de interpretação dela são

novas e importantes, mas a contradição está em justamente não se saber

como esses fatores juntos podem ter proximidade com aquilo que causa a

doença em questão.

(14) A causa da doença ainda é desconhecida, mas especialistas afirmam que o surgimento da esclerose múltipla pode estar relacionado a fatores genéticos e ambientais como vírus, bactérias, clima, alimentação e radiação solar — responsável pela produção de vitamina D. Segundo Elizabeth, pessoas que vivem em regiões mais frias, onde há pouca radiação do sol, são aquelas que mais desenvolvem a doença. No entanto, a especialista afirma que ainda não se descobriu o gatilho responsável por essa relação. http://diariogaucho.clicrbs.com.br/rs/noticia/2015/08/campanha-de-

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conscientizacao-sobre-esclerose-multipla-busca-alertar-sobre-os-sintomas-da-doenca-4835452.html Acesso em 24 nov. 2015.

É válido destacar que essas relações adversativo-discursivas tornam-se

mais perceptíveis ainda quando o falante opta pelo uso desses conectivos em

outro parágrafo, em posição inicial ou intercalada, funcionando como um

conectivo anafórico discursivo, porque, além da evidente oposição entre as

ideias expressas, ele retoma toda a informação a ser compreendida como

oposta.

(15) Autoridades da Indonésia fizeram nova avaliação médica no brasileiro Rodrigo Muxfeldt Gularte, que pode ser incluído na lista de prisioneiros condenados a serem mortos por tráfico de drogas. O resultado dos exames, contudo, não foi divulgado, segundo a BBC – a família tenta impedir a execução e quer a transferência de Gularte para um hospital psiquiátrico. A defesa afirma que a lei indonésia proíbe a morte de um prisioneiro que não esteja em plenas condições mentais. A preparação do local das execuções, contudo, foi concluída e quatro prisioneiros estrangeiros serão transferidos ainda nesta semana para a prisão de Nusakambangan, segundo o procurador-geral indonésio, Muhammad Prasetyo, informou a jornalistas em Jacarta. Mesmo sem data marcada, os fuzilamentos são considerados "iminentes" por conta da transferência dos presos. http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2015/03/03/interna_mundo,473837/indonesia-faz-noxa-avaiacao-em-brasileiro-condenado-a-pena-de-morte.shtml Acesso em 24 nov. 2015.

O exemplo (15) é interessante pois há, inicialmente, o uso do termo

contudo com função adversativa na relação em que foram feitos exames e

esperavam-se os resultados, que não foram divulgados. O termo em análise

desse exemplo está no parágrafo seguinte e, em momento algum, tem-se a

presença de uma informação necessariamente oposta ao que havia no último

período do parágrafo anterior. Observando-se, porém, o fragmento “A

preparação do local das execuções, contudo, foi concluída”, é notória a crença

do produtor do texto de que, mesmo não se sabendo o resultado dos exames,

é provável a execução do brasileiro na Indonésia, uma vez que o local onde ela

será realizada já está pronto.

A ocorrência (16) segue no mesmo viés da anterior, visto que, para se

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compreender a informação dada ao fim, “Ambos concordam, contudo, que um

tombo no debute deixa a carreira mais penosa”, é fundamental se voltar a

leitura para todo parágrafo anterior, no qual o produtor do texto conta o que já

ocorreu com os técnicos em certo jogo de times rivais e que os técnicos atuais

não querem de modo algum que aconteça a mesma situação, mas que iniciar

não vencendo o jogo pode tornar mais difícil a carreira.

(16) A última vez que isto ocorreu foi há seis anos, no duelo 360, que ficou conhecido por ter sido o do gol mil, do surgimento de Fernandão. Naquele Inter 2 a 0, em 10 de julho de 2004, deu Joel Santana contra José Luiz Plein. A vida do vencedor, contudo, não foi longa em Porto Alegre. Durou uma semana a mais do que a do perdedor. Bailaram por incompetência dois meses depois. Nem Silas nem Fossati cogitam sina parecida. Ambos concordam, contudo, que um tombo no debute deixa a carreira mais penosa. http://diariogaucho.clicrbs.com.br/rs/noticia/2010/01/treinadores-da-dupla-gre-nal-debutam-no-classico-2794280.html Acesso em 24 nov. 2015.

O exemplo (17) evidencia com o termo entretanto essa retomada de

conteúdo, e não somente oposição entre cláusulas. Isso se constata porque é

preciso ler a informação no parágrafo anterior para se compreender o que vem

na sequência. Também são necessárias informações do nível epistêmico, ou

seja, em que o produtor do texto acredita e o que ele sabe que é verdade: a

rivalidade entre dois grandes partidos no cenário político brasileiro e o

panorama internacional em que cada um desses partidos liderou o país.

(17) Quando chegou ao poder, FHC entendeu que o Brasil era fraco demais para resistir ao que chamava de "ventos do mundo". O sistema internacional não lhe oferecia espaço de manobra. Para os petistas, entretanto, a globalização não é um fato inescapável da realidade, mas um projeto político talhado pelas grandes potências do Atlântico Norte. Assim, a globalização pode (e deve) ser resistida e negociada. Ninguém pode fazer isso melhor que grandes países em desenvolvimento, que têm capacidade de arrancar concessões dos mais poderosos em troca de sua adesão. http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2015/10/1697612-a-politica-externa-de-tucanos-e-petistas.shtml Acesso em 24 nov. 2015. (18) “Se não começarmos a ver formas de prevenir essa doença,

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nos próximos anos vamos ter um aumento muito grande de casos. Temos que trabalhar para essa estratégia, para evitar que a demência ocorra”, defende. Noberto explica que o principal fator de risco para o desenvolvimento do Alzheimer e de outras patologias que comprometem a cognição é a idade. Distúbios Entretanto, observa o médico, outros aspectos também influenciam no aparecimento do distúrbio, como o descontrole das funções cardiovasculares, assim como a predisposição genética. http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/cidade/encontro-debate-formas-de-tratar-mal-de-alzheimer-1.1434081 Acesso em 24 nov. 2015.

Em (18), destaca-se que o termo entretanto inicia o parágrafo que

introduz um novo tópico ao assunto em questão e contrasta não só um período

ou um parágrafo, mas todo um tópico anteriormente expresso sobre a principal

causa para a doença Alzheimer ser o fator idade. Ou seja, o elemento retoma

as informações dadas e exibe a oposição àquilo na sequência, função de

remissão e de sequenciação do termo.

Isso também ocorre com o exemplo (19), visto que só se compreende a

questão da indústria do mate inserida pelo conectivo caso se tenha lido o texto

por completo e ativado o conhecimento de mundo sobre o assunto; não basta,

portanto, retomar apenas as informações do período anterior.

(19) “Toda a cadeia produtiva passou a ser necessária. Junto com esse processo, veio a necessidade de se produzir mais alimentos, pois a população estava aumentando, o que fez surgir também as indústrias alimentícias”, ensina Carneiro. Foi exatamente nesse caminho que grande parte dos imigrantes europeus no Paraná apostou. No entanto, durante a I Guerra Mundial (1914-1917), a indústria do mate entrou em recessão e começou a ser substituída. Já nos anos 1920, a madeira e o café passaram a ser os carros-chefes da economia paranaense. “Mas a semente da industrialização paranaense já estava plantada com a erva-mate”, atesta Carneiro. http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/os-passos-da-industria-no-parana-am1iy7s48aacf2wkrfbzcpfo4 Acesso em 24 nov. 2015.

O exemplo (20) encerra o grupo de ocorrências que não somente opõem

as ideias do texto, mas também retomam por meio da anáfora o conteúdo

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expresso anteriormente. Só se compreende que haverá uma atenção com a

segurança durante o jogo de futebol - informação introduzida pelo elemento no

entanto -, porque foi dito antes que é natural em um jogo de dois grandes times

que todos deem atenção para as estrelas do futebol. Isto é, além de se retomar

o texto, faz-se necessário o domínio de mundo sobre o horror que os atentados

causaram e como essa “atenção” deixa de ser meramente o espetáculo que

poderão fazer os jogadores, para se tornar uma “atenção” preocupante, que

possui medo, receio.

(20) A Europa terá um fim de semana repleto de clássicos nos diferentes campeonatos nacionais, mas todas as atenções estarão centradas no estádio Santiago Bernabéu, onde o real Madrid de Cristiano Ronaldo recebe o Barcelona de Neymar, Luis Suárez e do recuperado Lionel Messi. No entanto, a preocupação com a segurança ao redor do estádio Santiago Bernabéu, consequência direta dos atentados terroristas que mataram 129 em Paris no último dia 13, deve ocupar a maior parte do noticiário referente aos preparativos para o Superclássico. http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/jogada/despertar-da-forca-1.1438813 Acesso em 24 nov. 2015.

A opção de se expor mais de um exemplo para a possível relação

anafórica, neste trabalho defendida, justifica-se não somente por comprovar o

uso, mas também por evidenciar a sua alta frequência como opção dos

diferentes produtores de texto nos mais variados gêneros textuais. Nota-se que

os conectivos relacionam macroestruturas. Isso torna cada vez mais possível

afirmar que os elementos em estudo – contudo, entretanto e no entanto – ainda

estão em processo de gramaticalização e, nesse caso, por meio de

transferência metafórica, passam a apresentar associações além da

meramente adversativa, a qual se depreende nos três exemplos subsequentes.

Nas ocorrências (21), (22) e (23), nota-se que os conectivos, mesmo

quando em outro parágrafo como em (22), opõe-se às informações presentes

nas cláusulas anteriores a eles.

(21) Às vezes, o molho de chaves parece criar vida própria. O mesmo acontece com os óculos, que insistem em sumir quando mais se precisa deles. Não se lembrar, eventualmente, de onde

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foram colocados objetos usados no dia a dia, nomes ou datas importantes acontece com todo mundo. Algumas pessoas, contudo, têm lapsos mais frequentemente que outras, um problema que pode ser genético. Pesquisadores da Universidade de Bona, na Alemanha, descobriram que a variante de uma proteína, a DRD2, está associada à desagradável sensação de estar sempre se esquecendo de alguma coisa. http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/eu-estudante/me_gerais/2014/04/14/me_gerais_interna,422997/o-lado-genetico-do-esquecimento.shtml Acesso em 24 nov. 2015.

Em (21), ao se afirmar que todas as pessoas podem ter pequenos

esquecimentos, espera-se que não exista problema nisso, mas quando ocorre

frequentemente pode ser algo relacionado à genética, isto é, não se esperava

que esse esquecimento pudesse preocupar aqueles que possuem a doença.

(22) Quatorze máquinas caça-níqueis foram apreendidas pela Polícia Militar (PM) em uma casa abandonada do jardim Andrade, na região oeste de Londrina, durante a noite de terça-feira (27). Segundo a PM, os policiais foram até o local após receberem a denúncia de que o imóvel estaria sendo alvo de um roubo, com uma vítima trancada no banheiro. No local, entretanto, a polícia não encontrou ninguém, apenas as máquinas caça-níqueis. Os aparelhos foram apreendidos e encaminhados para a 10ª Subdivisão Policial (SDP). http://www.folhaweb.com.br/?id_folha=2-1--2809-20151028 Acesso em 24 nov. 2015.

Em (22), é natural, pelas informações dadas, que os policiais

chegassem ao local e encontrassem o que foi dito por meio da denúncia, ou

seja, é aquilo que o leitor presume acontecer. E isso é descontruído na

sequência, pois eles não encontraram nem os ladrões, nem a vítima.

No caso (23), foi mencionado que a instituição universitária receberia o

dinheiro, o leitor espera que isso aconteça, e não o contrário como é

introduzido pelo termo no entanto.

(23) Pelo orçamento aprovado no final do ano passado, a UEL deveria receber cerca de R$ 30 milhões neste ano. Até agora, no entanto, a universidade teria recebido menos que a metade desse valor. "O montante definido passou por tantas alterações que eu não sei dizer o que ainda falta para gente receber", admitiu a reitora. http://www.folhaweb.com.br/?id_folha=2-1--1671-20151118 Acesso

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em 24 nov. 2015.

Outra relação semântico-discursiva constatada nos exemplos foi a

possibilidade de se depreender que, além de não transmitir uma oposição entre

as ideias apresentadas, o produtor do texto acaba por expor, com os elementos

em estudo, uma conclusão sobre as informações apresentadas. Constata-se

isso em todas as ocorrências abaixo, em que se vislumbra a possibilidade do

uso do termo portanto no lugar dos elementos utilizados.

(24) A lei considera infração à legislação sanitária “instalar ou manter em funcionamento institutos de estética, ginástica ou fisioterapia sem licença do órgão sanitário competente. Com isso, Juazeiro, como qualquer outra cidade, não está imune. Contudo, o que conta é a consciência pela boa forma, num equipamento que seja credenciado. http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/suplementos/cariri-regional/diversificacao-marca-academias-1.1438611 Acesso em 24 nov. 2015.

A ocorrência (24) expõe que, para se instalar um ambiente de atividade

física, é indispensável que se tenha a autorização da entidade responsável

pela fiscalização dessa profissão. Em seguida, o produtor do texto afirma que

isso é válido para qualquer cidade do País e, consequentemente, a cidade da

qual ele está falando também deve cumprir essa lei. Essas informações levam

o leitor a compreender, portanto, que, a fim de se ter uma boa saúde, é

necessário que ela venha com consciência, pois precisa buscar por espaços de

atividade física que estejam funcionando de acordo com a lei. Fica evidente

que a informação final a respeito da saúde consciente é uma conclusão que se

tem sobre as informações dadas anteriormente, ou seja, pode-se pensar na

origem do termo afirmando que “com tudo” isso que se disse, tem-se o

entendimento que está na sequência. E nesse caso também se pode

evidenciar uma relação anafórica, pois toma-se tudo que está antes para

estabelecer a conclusão.

(25) Conforme o deputado, a presidente Dilma Rousseff destinou para o Ceará cerca de R$70 milhões, visando à construção de adutoras no Estado. Entretanto, é preciso que o Governo do Estado analise a possibilidade de alternativas para as adutoras, uma vez

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que, sem previsão de chuvas para o Ceará nos próximos meses, há a possibilidade de que os equipamentos venham a secar. http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/politica/deputados-estao-receosos-sobre-repasses-para-a-seca-1.1438838 Acesso em 24 nov. 2015.

No exemplo (25), essa relação conclusiva é totalmente explícita, uma

vez que, como o governo destinou uma alta quantia como a mencionada para a

construção das tais adutoras, logo é necessário que se investigue a

possibilidade de eficácia dessas estruturas, pois os equipamentos podem não

funcionar se não houver chuva. Isto é, pensando-se sobre a informação

anterior, depreende-se a atitude que será necessária, a conclusão daquilo que

foi mencionado. Novamente, pode-se remontar a origem do termo “entre tanto”,

pois, entre tanta informação e fatos, conclui-se o que será necessário fazer.

(26) Com 8 megapixels de resolução, a câmera traseira do Redmi 2 oferece qualidade condizente com a categoria. Longe de ser excepcional, permite fotos de qualidade aceitável tanto em situações de iluminação boa quanto em ambientes mais escuros. Não espere, no entanto, fotos incríveis e nem tente compará-lo a smartphones mais caros. Ela cumpre seu papel e só. http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/tecnologia/2015/09/11/interna_tecnologia,498196/analise-estreia-da-xiaomi-no-brasil-redmi-2-faz-muito-e-custa-pouco.shtml Acesso em 24 nov. 2015.

Em (26), o produtor do texto antecipa para seu leitor que a câmera do

aparelho em questão possui uma alta tecnologia. Sendo assim, antes de

concluir a ideia de não se esperar fotos excelentes, ele antecipa informações

que evidenciam que não se terá isso, como na expressão “longe de ser

excepcional” e com o adjetivo “aceitável” em tom irônico na expressão “permite

fotos de qualidade aceitável”. Portanto, justamente por isso, “não espere fotos

incríveis”, e a origem do termo “em tanto” explicitando que, no meio de tanta

evolução tecnológica do produto e com as fotos de qualidade aceitável, conclui-

se que não se pode esperar muito.

Em outras quatro ocorrências, constatou-se o uso dos termos contudo,

entretanto e no entanto apenas para fins de enfatizar as informações

apresentadas. Logo, esses conectivos podem ser retirados sem prejuízo para a

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compreensão do conteúdo transmitido pelo autor.

(27) A resposta é "não, porém...". A maioria dos muçulmanos rejeita o terrorismo, buscando um meio termo entre sua religião e a convivência na democracia. Mesmo assim o Alcorão propõe um ideal de sociedade diferente da democracia advinda do iluminismo: não a soberania do povo e a autodeterminação da nação, mas a soberania de Deus e Seu governo. Nisto, contudo, o islã pouco difere do cristianismo e do judaísmo. A solução para o dilema também será análoga: encontrar na sua teologia "jeitos" que permitam o casamento com a modernidade. A palavra de Deus não é mais lida literalmente, mas simbolicamente. Eventualmente tal solução acomodará também a maioria muçulmana. http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2015/11/1709035-isla-e-democracia.shtml Acesso em 24 nov. 2015.

No excerto (27), vê-se que se informa ao leitor que o Alcorão traz certas

características de sociedade em relação ao ideal de democracia, que é a

ideologia de soberania divina e governamental. Na sequência, tem-se que não

há muita diferença entre isso que já foi mencionado sobre o islamismo e outras

duas religiões, cristianismo e judaísmo. Nota-se que não há relação

adversativa alguma, e o termo contudo é empregado mais como um marcador

de ênfase para a continuação da ideia.

(28) A comida pode dizer muito sobre os hábitos e a personalidade de cada um. Entretanto, no Expresso Curitiba, hostel localizado no Alto da XV, próximo à reitoria da UFPR, ela chega a calcular até o grau de “curitibanice” da pessoa. No cardápio crepes, cafés e doces levam os nomes de lugares e personalidades da capital paranaense. http://www.gazetadopovo.com.br/bomgourmet/cardapio-de-cafeteria-expresso-curitiba-mostra-grau-de-curitibanice/ Acesso em 24 nov. 2015.

Do mesmo modo, em (28) o autor já disse para o leitor a importância da

alimentação para determinar aspectos da personalidade. Em seguida, mostra

que isso ocorre claramente em um restaurante da cidade de Curitiba, e o

elemento em estudo não apresenta função alguma, a não ser dar maior

relevância ao assunto.

Essa relação também está explícita no exemplo (29), no qual se tem

informações sobre separação entre cônjuges e a situação da

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criança/adolescente com o provável distanciamento da figura paterna. O autor

afirma que a relação pai e filho é direito deste, mesmo tendo ciência de que

não se pode obrigar ninguém a amar outra pessoa. O termo entretanto é

meramente enfático.

(29) No meu caso, busco superar com a ajuda de familiares e amigos. Se eu fosse pai, porém, faria questão de ser muito presente na vida do filho", compara. Ciente de que não é possível impor que alguém ame outra pessoa, ele considera, entretanto, que o convívio paterno é um direito da criança e do adolescente. http://www.folhaweb.com.br/?id_folha=2-1--51-20151101 Acesso em 24 nov. 2015.

A ocorrência (30) expõe a divisão do conteúdo nacional no ensino,

instituído pelo Ministério da Educação, com o conteúdo estipulado pelas redes

estaduais e municipais. Observa-se que, para o ministro Janine, isso é o

melhor a se fazer e que o mais importante é que haja uma separação

proporcionalmente igualitária entre os Estados e munícipios. Ou seja, não há

em momento algum do excerto uma oposição estabelecida pelo termo em

destaque, muito menos uma necessidade do seu emprego. É apenas um

realce conferido à informação apresentada, que pode ter sido intencionalmente

pensado pelo escritor, indicando a direção argumentativa que ele quer que o

leitor siga.

(30) A discussão sobre um currículo nacional, no entanto, tem sido alvo de divergências entre diferentes atores da educação. Encarregado da tarefa, o Ministério da Educação instituiu neste mês 29 comissões responsáveis por elaborar um primeiro esboço do currículo. A intenção é definir um percentual de conteúdo nacional e deixar o restante a critério das redes de diferentes regiões do País. O modelo é pensado pelo MEC a partir de disciplinas tradicionais como história, matemática e geografia. Para Janine, é importante que essa proporção, no entanto, permita a autonomia dos Estados e municípios. http://www.folhaweb.com.br/?id_folha=2-1--966-20150709 Acesso em 24 nov. 2015.

Em todas essas situações, parece estar incutida, no imaginário dos

produtores desses textos, a ideologia de que é preciso usar conjunções para

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que o texto se torne mais coeso; mas o que ocorre é que nem sempre há

obrigatoriamente essa necessidade, além de que, por vezes, o falante não

domina as noções semânticas que cada um desses termos possui, e passa a

utilizá-los somente por acreditar que aquilo precisa estar no texto ou,

literalmente, “por ser bonito”.

Desse modo, é possível inferir que a escolha do falante ocorre por

motivos que extrapolam as relações simplesmente gramaticais, visto que o

emprego dos termos contudo, entretanto e no entanto não se restringe apenas

aos limites “impostos” pela gramática normativa. O usuário acaba por atribuir-

lhes outras posições, classificações e relações, as quais originam novas formas

que vão começando a consolidar-se aos poucos e, quem sabe, tornando-se

cada vez mais frequentes e usuais.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho buscou apresentar estruturas de elaboração do

texto que são ensinadas e apregoadas pela abordagem tradicionalista da

Língua Portuguesa como formas fechadas e não mutáveis, mas que não dão

conta daquilo que é elaborado pelo falante em seus diferentes discursos. Esses

diferentes usos, neste caso das sentenças coordenadas, são estudados pelo

funcionalismo, que procura compreender como se dão esses processos.

Os dados apresentados mostraram que, contrariando aquilo que se

ensina nas escolas, as cláusulas coordenadas adversativas não se restringem

somente ao valor semântico e discursivo de oposição/contraste apresentado

pelas gramáticas normativas, com exemplos clássicos como “João estudou

muito, contudo tirou nota baixa na prova”. Isso porque não basta, para uma

adequada análise, apenas a classificação dessas sentenças; é fundamental

considerar outros aspectos relevantes que podem explicar tais usos e que são

discutidos pela corrente funcionalista, como o contexto em que estão inseridas,

ou seja, o aspecto pragmático, além da intencionalidade do produtor do texto e

seu domínio sobre os fatos e aquilo que ele acredita como verdade.

Com base nisso, buscou-se expor como os termos “contudo”,

“entretanto” e “no entanto”, denominados comumente como conjunções

adversativas e que possuem base adverbial, ainda exprimem no uso dos

falantes o aspecto adverbial que possuíam, evidenciando, assim, que o

processo de gramaticalização desses termos não se consolidou por completo

como o “mas”, conjunção prototipicamente adversativa.

Os dados coletados evidenciaram que, apesar de o falante utilizar tais

conectivos com valor de adversidade, é muito mais recorrente o uso dos

termos “contudo”, “entretanto” e “no entanto” opondo toda uma ideia

apresentada, e não apenas uma oração. E, para isso, é preciso recorrer ao

aspecto de remissão anafórica, isto é, a retomada de todo um parágrafo ou até

mesmo todo o texto a fim de que se constate a relação adversativa do

contexto.

Outras duas relações foram também explicitadas nas ocorrências

estudadas. A primeira é de que os termos em análise podem estabelecer uma

relação conclusiva entre as informações que conectam, uma vez que não há

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evidência alguma de adversidade entre o que foi produzido pelo autor, mas sim

um fechamento do conteúdo antes apresentado. A segunda é de se tratar de

um termo meramente enfático, que visa dar destaque, realce, à informação

trazida pelo falante, ou seja, um operador argumentativo, pois são cláusulas

nas quais a retirada dos conectivos não interfere na compreensão do conteúdo.

Tudo isso justifica a escolha por uma abordagem funcionalista nesta pesquisa,

visto que é sempre relevante articular as dimensões sintático-semântico-

pragmáticas para uma análise mais pertinente.

Convém observar que, no que se refere à teoria da linguística textual

sobre a função coesiva de determinadas palavras, os conectores contudo,

entretanto, no entanto são classificados como elementos de coesão

sequencial, pois estabelecem conexões ou junções semânticas entre as ideias

lógicas do texto. No entanto, a etimologia de tais termos apresenta pronomes e

advérbios pronominais que são considerados termos coesivos de remissão

anafórica. Logo, com os exemplos coletados, constata-se que a teoria não

consegue dar conta dos novos usos, uma vez que se observou um grande

número de ocorrências em que os elementos em estudo promovem, ao mesmo

tempo, a remissão e a sequenciação, isto é, remetem a algo que está antes e

dão continuidade ao texto.

Sendo assim, o objetivo com as análises não é considerá-las verdades

absolutas e inquestionáveis, uma vez que são uma mera amostragem do que

poderia ser feito com o texto em uso. Espera-se que elas levem seus leitores a

discussões sobre o uso dos conectivos, tanto no mérito acadêmico, visando

aumentar o escopo de pesquisas, quanto, e principalmente, no ensino de

Língua Portuguesa em sala de aula, evidenciando a possibilidade de se

trabalhar textos de uso efetivo do falante/aluno e fazê-lo compreender essa

diversidade não como erro, mas como possíveis opções para seu discurso.

Isso porque ficou evidente que o uso pode “formar/reformular” teorias, e não

somente a teoria levar ao uso.

Por fim, conclui-se que outros estudos que visem a um levantamento

quantitativo maior poderão determinar qualitativamente outras funções

pragmáticas que os elementos aqui estudados estão promovendo nos

discursos dos falantes, procurando entender e estender as seleções

linguísticas que os interlocutores fazem para atingir seus falantes.

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