dissertação de mestrado anÁlise de estabilidade de um

136
Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM TALUDE DA CAVA DE ALEGRIA UTILIZANDO ABORDAGEM PROBABILÍSTICA CLÍSCIA CERCEAU DA SILVA ORIENTADOR: ANDRÉ PACHECO DE ASSIS, PhD PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOTECNIA DA UFOP OURO PRETO- DEZEMBRO DE 2015

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Page 1: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

Dissertação de Mestrado

ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

TALUDE DA CAVA DE ALEGRIA

UTILIZANDO ABORDAGEM

PROBABILÍSTICA

CLÍSCIA CERCEAU DA SILVA

ORIENTADOR: ANDRÉ PACHECO DE ASSIS, PhD

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOTECNIA

DA UFOP

OURO PRETO- DEZEMBRO DE 2015

Page 2: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM
Page 3: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

iii

S586a Silva, Clíscia Cerceau da.

Análise de estabilidade de um talude da cava de Alegria utilizando abordagem probabilística [manuscrito] / Clíscia Cerceau da Silva. - 2015.

134f.: il.: color; grafs; tabs; mapas.

Orientador: Prof. Dr. André Pacheco de Assis.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Escola

de Minas. Núcleo de Geotecnia - NUGEO. Área de Concentração: Geotecnia Aplicada à Mineração.

1. Taludes em rocha. 2. Probabilidades. 3. Estabilidade. I. Assis,

André Pacheco de. II. Universidade Federal de Ouro Preto. III. Titulo.

CDU: 624.136

Catalogação: www.sisbin.ufop.br

Page 4: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

iv

Dedico este trabalho

a meus bens mais preciosos,

meu filho Heitor!

E a minha mãe e meu pai, sempre...

Page 5: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

v

AGRADECIMENTOS

A Deus, por eu ter chegado até aqui... Por eu ter tido forças diante dos obstáculos, para

continuar e finalizar mais esta etapa!

Aos meus queridos pais, José do Carmo e Cláudia, e meu irmão Cleisom, que sempre

estiveram do meu lado em todos os momentos, e que neste trabalho não foi diferente.

Ao Alex, pela compreensão e apoio durante os momentos de dedicação ao mestrado, e

incentivo para seguir em frente.

Agradeço a Vale pelo apoio financeiro, por estar sempre contribuindo para o

aprimoramento do conhecimento técnico de seus profissionais. Em especial ao meu ex-

gestor Ricardo Leão, pela disponibilidade de tempo e pela confiança em que me foi

dada para a realização deste curso.

Ao professor André Pacheco de Assis, por aceitar me orientar neste trabalho, por ser

sempre solícito em minhas dúvidas e questionamentos, pela sua educação admirável.

Continue disseminando conhecimentos. Grande profissional!

Aos professores do curso de Mestrado Profissional da Ufop, em especial ao

coordenador Romero César Gomes, meu muito obrigada pelos ensinamentos, discussões

e por compartilharem experiências.

A toda equipe do Subgrupo de taludes e do Subgrupo GRG da Vale, pelas discussões e

treinamentos a respeito deste assunto.

Aos colegas de curso, pela troca de experiências, estudos, força de vontade... Valeu!

Enfim, aos meus colegas de trabalho, que durante os dias de minha ausência, sempre se

disponibilizaram em ajudar e contribuir no que fosse necessário.

Page 6: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

vi

RESUMO

Este estudo apresenta os resultados da análise de estabilidade de um talude da Mina de

Alegria utilizando a abordagem probabilística. O mesmo visa mostrar as vantagens da

abordagem probabilística em complementação às análises tradicionais determinísticas,

através dos principais métodos probabilísticos. Dentre elas, pode-se citar a possibilidade

de se trabalhar com a variabilidade dos parâmetros de entrada, ao invés da utilização

somente das médias destes parâmetros. Além disso, permite calcular a probabilidade de

falha (PF) de uma região e analisar o risco associado a um projeto, permitindo o

gerenciamento deste. O estudo também apresenta as especificidades do programa Slide

(pertencente à Rocscience) para este tipo de análise. O talude foi avaliado por três

métodos probabilísticos: Método de Monte Carlo, Método FOSM e Método das

Estimativas Pontuais. Para cada um dos métodos, a PF foi calculada. Observou-se que

para os três métodos, não houve diferenças muito relevantes nos valores da PF, porém o

Método de Monte Carlo permite um número muito maior de simulações e a avaliação

de outras superfícies de ruptura além da superfície crítica determinística através do

programa Slide. A seção analisada apresentou fator de segurança (FS) considerado

satisfatório (FS ≥ 1.30) na análise determinística e baixa PF pelos métodos

probabilísticos utilizados. Pode-se dizer que as consequências de uma possível ruptura

do talude se resumem em danos no interior da cava, pois não há interferências externas

próximas. Logo, consequências relativamente pequenas aliadas a uma PF baixa,

conclui-se que o risco é baixo, visto que a definição do mesmo é PF versus a

consequência. Dessa forma, é possível dizer que a geometria proposta garante a

estabilidade da cava final da região estudada que será executada daqui a alguns anos,

sem necessidade de adequações/intervenções no projeto.

Palavras-chave: Estabilidade de taludes, abordagem probabilística, probabilidade de

falha.

Page 7: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

vii

ABSTRACT

This study presents the results of stability analysis of a slope of Alegria Mine using the

probabilistic approach. It aims to show the advantages of stability analysis using the

probabilistic approach complementing the traditional deterministic analysis, through the

main probabilistic methods. Among the advantages, there is the possibility of working

with the variability of input parameters, instead of using only the averages of these

parameters. It also allows to calculate the probability of failure (PF) of a region and

analyze the risk associated with a project, allowing risk management. The study also

presents the specifics of Slide software (by Rocscience) for this type of analysis. The

slope was evaluated by three probabilistic methods: Monte Carlo Method, FOSM

Method and Method of punctual estimates. For each method, the probability of failure

was calculated. It was observed that for all three methods, there weren’t very significant

differences in the values of PF, but the Monte Carlo method enables a much larger

number of simulations, and evaluation of other rupture surface beyond the deterministic

critical surface through Slide software. The analyzed section presented FS considered

satisfactory (FS ≥ 1.30) in the deterministic analysis and low PF by probabilistic

methods. It can be said that the consequences of a possible break of the slope are

summarized in damage inside the pit because there’s no nearby outside interference.

Hence, small relatively consequences combined with a low PF, it’s concluded that the

risk is low, since it’s the PF versus consequences. Thus, it’s possible to say that the

geometry proposal ensures the stability of the final pit of the study area that will be

executed in a few years without the need for adjustments / interventions in the project.

Keywords: Slope stability, probabilistic approach, probability of failure

Page 8: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

viii

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1: Efeito escala entre tamanho da obra e intensidade de fraturamento do

maciço rochoso e consequente propriedade relevante da rocha (modificado - Hoek &

Brown, 1997). ................................................................................................................... 6

Figura 3.1: Processo de um projeto de taludes de mina a céu aberto (modificado Stacey

e Read, 2009). ................................................................................................................. 12

Figura 3.2: Processo de divisão da massa rompida em fatias (modificado Abramson et

al., 2001). ........................................................................................................................ 13

Figura 3.3: Principais tipos de ruptura com os respectivos estereogramas

representativos (modificado Hoek and Bray, 1981). ...................................................... 20

Figura 4.1: Esquema típico de análises determinísticas com extensões probabilísticas

(adaptado Griffths, 2007). ............................................................................................... 23

Figura 4.2: Função de probabilidade normal. ................................................................ 30

Figura 4.3: Função de probabilidade log-normal com diferentes parâmetros µ e σ². .... 31

Figura 4.4: Procedimento para obtenção de números aleatórios através de distribuição

normal. ............................................................................................................................ 35

Figura 4.5: Probabilidade de ruptura versus Índice de Confiabilidade para várias

distribuições (Baecher, 2003). ........................................................................................ 40

Figura 4.6: Distribuição de probabilidade do Fator de Segurança para FS iguais

(adaptado de Phoon, 2008). ............................................................................................ 41

Figura 4.7: Distribuição de probabilidade do Fator de Segurança para FS diferentes

(Assis, A.P., et al. 2012-Apostila do curso de Pós-Graduação em Geotecnia, UNB). ... 41

Figura 4.8- Valores usuais de probabilidade e consequências de ruptura em projetos de

engenharia (modificado - Whitman, 1984). .................................................................... 43

Figura 5.1: Análise de riscos qualitativa 2D (PROGEO, 2007) .................................... 51

Figura 5.2: Análise de riscos qualitativa 3D (PROGEO, 2007). ................................... 52

Figura 5.3: Comparação do critério de aceitação ao risco com estatísticas (modificado

de SRK Consulting apud Stacey e Read, 2009). ............................................................. 53

Page 9: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

ix

Figura 6.1: Fotografia aérea da Mina de Alegria (Arquivo Vale) ................................. 56

Figura 6.2: Coluna estratigráfica do Quadrilátero Ferrífero (adaptada de Marshak &

Alkmin, 1998). ................................................................................................................ 57

Figura 6.3: Mapa geológico esquemático dos arredores da Mina de Alegria (Alkmim,

2003). .............................................................................................................................. 58

Figura 6.4: Mapa geológico da Mina de Alegria disponibilizado pelo planejamento de

curto prazo (abril de 2015). ............................................................................................. 59

Figura 6.5: Localização das seções geomecânicas na geometria de cava final da mina

de Alegria ........................................................................................................................ 63

Figura 6.6: Mapa geomecânico em cava final da Mina de Alegria ............................... 65

Figura 7.1: Seção geomecânica de análise da estabilidade ............................................ 70

Figura 7.2: Investigação do círculo de ruptura crítico da seção de análise pela

abordagem determinística ............................................................................................... 71

Figura 7.3: Relevância das variáveis aleatórias em estudo na seção de análise,

calculadas pelo método FOSM ....................................................................................... 78

Figura 7.4: Análise probabilística para o talude geral ................................................... 85

Figura 7.5: Análise probabilística para o talude geral, mostrando a superfície

probabilística crítica para uma distribuição normal do F.S. ........................................... 85

Figura 7.6: Análise probabilística para o talude geral, mostrando a superfície

probabilística crítica para uma distribuição lognormal do F.S. ...................................... 86

Figura 7.7: Histograma FS x frequência relativa para a análise com abordagem

probabilística para 281000 interações. ............................................................................ 88

Figura 7.8: Histograma do resultado da análise com abordagem probabilística

considerando F.S<1.3 em vermelho. .............................................................................. 89

Figura 7.9: Distribuição de probabilidade da coesão, enfatizando valores que geraram

FS < 1 em vermelho, para o IGO-HGO classe VI .......................................................... 89

Figura 7.10: Distribuição de probabilidade do ângulo de atrito, enfatizando valores que

geraram FS < 1 em vermelho, para o IGO-HGO classe VI ............................................ 90

Page 10: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

x

Figura 7.11: Distribuição de probabilidade da coesão, enfatizando valores que geraram

FS < 1 em vermelho, para o IGO-HGO classe V ........................................................... 90

Figura 7.12: Distribuição de probabilidade do ângulo de atrito, enfatizando valores que

geraram FS < 1 em vermelho, para o IGO-HGO classe V ............................................. 91

Figura 7.13: Gráfico de correlação de valores de ângulo de atrito e de coesão que

geraram F.S.<1 em vermelho, para o IGO-HGO classe V ............................................. 91

Figura 7.14: Gráfico de correlação de valores de ângulo de atrito e de coesão que

geraram F.S.<1 em vermelho, para o IGO-HGO classe VI ............................................ 92

Page 11: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

xi

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1: Sistema de classificação geomecânica RMR (modificado - Bieniawski

1989) ................................................................................................................................. 9

Tabela 2.2: Correções e guias auxiliares para o sistema de classificação RMR

(modificado - Bieniawski, 1989) .................................................................................... 10

Tabela 3.1: Diferenças entre abordagem determinística e abordagem probabilística ... 17

Tabela 4.1: Vantagens da análise probabilística para estabilidade de taludes ............... 24

Tabela 4.2: Valores típicos do coeficiente de variação dos principais parâmetros

geotécnicos (Assis et. al, 2012) ...................................................................................... 33

Tabela 4.3- Coeficientes de Confiança para a distribuição normal (modificado de Harr,

1987). .............................................................................................................................. 36

Tabela 5.1: Valores típicos de critério de aceitação de FS e PF (Stacey e Read, 2009)..

........................................................................................................................................ 48

Tabela 5.2: Orientações de Fator de Segurança e Probabilidade de Falha (Priest e

Brown, 1983). ................................................................................................................. 48

Tabela 5.3: Interpretação de Priest e Brown (1983) para as orientações de FS e PF. ... 49

Tabela 7.1: Parâmetros geotécnicos considerados nas análises de estabilidade

(VOGBR, 2013). ........................................................................................................... 688

Tabela 7.2: Covariância padrão para os principais parâmetros geotécnicos.................. 73

Tabela 7.3: Cálculo do desvio padrão dos parâmetros analisados na seção a partir da

covariância padrão .......................................................................................................... 73

Tabela 7.4: Cálculo da variação da média das variáveis aleatórias em estudo .............. 75

Tabela 7.5: Simulações considerando a variação da média das variáveis em estudo com

seus respectivos fatores de segurança calculados ........................................................... 76

Tabela 7.6: Cálculo da variância do Fator de Segurança pelo método FOSM .............. 77

Page 12: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

xii

Tabela 7.7: Dados estatísticos utilizados na análise probabilística pelo Método Monte

Carlo ................................................................................................................................ 80

Tabela 7.8: Resultados da análise probabilística ........................................................... 86

Tabela 7.9: Valores das variáveis utilizados nas análises .............................................. 93

Tabela 7.10: Combinações dos valores das variáveis utilizados em cada análise de

estabilidade ..................................................................................................................... 94

Tabela 7.11: Resultados dos métodos com abordagem probabilística .......................... 95

Page 13: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

xiii

LISTA DE SÍMBOLOS, NOMENCLATURA E ABREVIAÇÕES

FS

Fator de Segurança

PF

Probabilidade de Falha

P[R]

Probabilidade de Ruptura

RMR

Classificação geomecânica de Bieniawski (Rock Mass Rating).

Q

Classificação geomecânica de Barton (Tunnelling Quality Index).

RQD Rock Quality Designation

GLE Método do Equilíbrio-limite geral (Generalized Limit Equilibrium)

fo

Fator empírico

F

Força

M

Momento

Resistência ao cisalhamento

Média aritmética da variável x

n Número de observações de uma variável x

s2 Variância amostral

s Desvio padrão

CV Coeficiente de variação

P(A)

Probabilidade de ocorrência do evento A

n(A)

Número de elementos do evento A

n(S)

Número de elementos do espaço amostral

Desvio padrão

x Variável aleatória associada ( )

Média da distribuição de probabilidade

β Índice de Confiabilidade

FOSM First-Order, Second Moment

x

Page 14: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

xiv

m

Número de variáveis aleatórias

N Número de repetições do processo de geração de valores aleatórios das

variáveis independentes no Método de Monte Carlo

R Probabilidade de sucesso na geração dos valores aleatórios das variáveis

independentes no Método de Monte Carlo

(1-R)

Probabilidade de insucesso na geração dos valores aleatórios das

variáveis variáveis independentes no Método de Monte Carlo

x

Número de sucesso das N tentativas

O símbolo representa o número das N tentativas

É o máximo erro permitido na estimativa de R

F(x)

Função de variáveis aleatórias

F(x, y)

Função de duas variáveis aleatórias

E[F]

Valor médio esperado para F

V[F]

Variância de F, igual ao desvio padrão ao quadrado

δFi Variância de F quando varia δxi para cada um dos n parâmetros xi

δxi Taxa de variação das variáveis envolvidas

V[xi]

Variância de cada um dos parâmetros xi

δFSi Variância do FS (Diferença entre o FS determinístico e o FS das

simulações)

V[FS] Variância total do Fator de Segurança (Calculada pela razão entre a

variância de cada variável sobre a variância total do FS)

E[FS] Valor do fator de segurança determinístico calculado com os parâmetros

médios

[FS] Desvio-padrão do coeficiente de segurança

Xi

Variável independente do Método de Rosenblueth

Page 15: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

xv

Y

Variável dependente do Método de Rosenblueth

Pi

Pontos de estimativa no Método de Rosenblueth

x

Desvio padrão da variável x

x

Coeficiente de assimetria da variável x

n

Número de variáveis independentes no Método de Rosenblueth

N

Número de valores estimados para cada combinação dos pontos j+ e j-

j

Valor médio da distribuição da variável j

j

Desvio padrão da distribuição da variável j

n

Número de variáveis aleatórias no Método FOSM

DIST.NOR

MMM.

Cálculo da probabilidade de falha de distribuição normal pelo excel

DESVPAD Desvio Padrão calculado pelo excel

N Número de variáveis estatísticas do problema

RI Reliability Index

µFS Média do fator de segurança

FS Desvio padrão do fator de segurança

R Risco

CU Ensaio de compressão triaxial rápido pré-adensado, com medidas de

poropressão

IC Itabirito compacto

IGO/HGO Itabirito goetítico/hematita goetítica

CG Canga

c’ Coesão efetiva

’ Ângulo de atrito efetivo

Page 16: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

xvi

LISTA DE ANEXOS

ANEXO I

RESULTADO DAS ANÁLISES DE ESTABILIDADE PELO MÉTODO FOSM ............................ I. 1

ANEXO II

RESULTADO DAS ANÁLISES DE ESTABILIDADE PELO MÉTODO DAS ESTIMATIVAS

PONTUAIS .................................................................................................................... II.1

Page 17: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

xvii

ÍNDICE

CAPÍTULO 1-INTRODUÇÃO

1.1- CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................. 1

1.2- OBJETIVOS .............................................................................................................. 2

1.3- ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO ...................................................................... 3

CAPÍTULO 2- CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO GEOMECÂNICA

DE MACIÇOS ROCHOSOS (INTEMPERIZADOS)

2.1- INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 5

2.2- ROCHA INTACTA, DESCONTINUIDADES E MACIÇO ROCHOSO ................ 5

2.3- CLASSIFICAÇÃO GEOMECÂNICA ..................................................................... 6

2.3.1- SISTEMA RMR- SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO GEOMECÂNICA DE BIENIAWSKI

(1989) ............................................................................................................................ 7

CAPÍTULO 3- ESTABILIDADE DE TALUDES

3.1- INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11

3.2- ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES .................................................. 15

3.2.1- ABORDAGEM DETERMINÍSTICA X ABORDAGEM PROBABILÍSTICA ....................... 15

3.3- MODOS DE RUPTURA DE TALUDES ............................................................... 17

3.3.2- RUPTURA PLANO-CIRCULAR ............................................................................... 18

3.3.3- RUPTURA CIRCULAR .......................................................................................... 19

3.3.4- RUPTURA EM CUNHA .......................................................................................... 19

3.3.5- TOMBAMENTO ................................................................................................... 19

CAPÍTULO 4- ANÁLISE PROBABILÍSTICA DE TALUDES

4.1- INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 21

4.2- CONCEITOS BÁSICOS ESTATÍSTICA E PROBABILIDADE .......................... 24

4.2.1- ESTATÍSTICA DESCRITIVA .................................................................................. 25

4.2.2- MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL ................................................................... 25

4.2.2.1- Média aritmética ......................................................................................... 26

4.2.2.2- Mediana ...................................................................................................... 26

4.2.2.3- Moda .......................................................................................................... 26

4.2.2.4- Medidas de Variação .................................................................................. 27

Page 18: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

xviii

4.2.2.5- Variância .................................................................................................... 27

4.2.2.6- Desvio Padrão ............................................................................................ 27

4.2.2.7- Coeficiente de Variação ............................................................................. 27

4.2.3- PROBABILIDADE ................................................................................................. 28

4.2.3.1- Cálculo da Probabilidade ........................................................................... 28

4.2.3.2- Variáveis Aleatórias ................................................................................... 29

4.2.4- DISTRIBUIÇÃO DE PROBABILIDADE .................................................................... 29

4.2.4.1- Distribuições de Probabilidade Contínuas ................................................. 29

4.2.4.1.1- Distribuição Normal ............................................................................ 29

4.2.4.1.2- Distribuição Log-Normal .................................................................... 30

4.3- TIPOS DE INCERTEZA ........................................................................................ 32

4.4- MÉTODOS PROBABILÍSTICOS .......................................................................... 33

4.4.1- MÉTODO DE MONTE CARLO .............................................................................. 33

4.4.2- MÉTODO FOSM, SÉRIE DE TAYLOR OU ÍNDICE DE CONFIABILIDADE ................ 37

4.4.3- MÉTODO ROSENBLUETH OU ESTIMATIVAS PONTUAIS ....................................... 43

CAPÍTULO 5- CRITÉRIOS DE ACEITAÇÃO DO PROJETO E ANÁLISE DE

RISCO

5.1- CRITÉRIOS DE ACEITAÇÃO DE PROJETO PARA FATOR DE SEGURANÇA

E PROBABILIDADE DE FALHA ................................................................................ 47

5.2- ANÁLISE DE RISCO ............................................................................................. 49

5.2.1- CLASSIFICAÇÃO DOS RISCOS .............................................................................. 51

CAPÍTULO 6- MINA DE ALEGRIA: GEOLOGIA E MODELO

GEOMECÂNICO

6.1- APRESENTAÇÃO DA MINA ............................................................................... 55

6.2- GEOLOGIA DA MINA .......................................................................................... 56

6.2.1- ARCABOUÇO ESTRUTURAL ................................................................................ 57

6.2.2- ESTRATIGRAFIA E GEOLOGIA LOCAL .................................................................. 59

6.3- MODELO GEOMECÂNICO DA MINA DE ALEGRIA ...................................... 61

6.3.1- CARACTERIZAÇÃO GEOMECÂNICA .................................................................... 61

6.3.2- CLASSIFICAÇÃO GEOMECÂNICA DO MACIÇO ...................................................... 61

Page 19: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

xix

CAPÍTULO 7- ESTUDO DE CASO: ANÁLISE PROBABILÍSTICA DE UMA

SEÇÃO DA CAVA FINAL DA MINA DE ALEGRIA UTILIZANDO O

PROGRAMA SLIDE

7.1- INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 66

7.1.1- PARÂMETROS DE PROJETO ................................................................................. 67

7.1.2- ANÁLISE DETERMINÍSTICA DA SEÇÃO DE ANÁLISE ............................................. 69

7.1.3- DADOS ESTATÍSTICOS DOS PARÂMETROS GEOTÉCNICOS DE PROJETO

CONSIDERADOS VARIÁVEIS ALEATÓRIAS ...................................................................... 72

7.2-APLICAÇÃO DO MÉTODO FOSM (FIRST ORDER SECOND MOMENT) ........ 74

7.2.1- NÚMERO DE INTERAÇÕES ................................................................................... 75

7.2.2- CÁLCULO DA VARIÂNCIA DO FATOR DE SEGURANÇA ......................................... 76

7.2.3- CÁLCULO DA PROBABILIDADE DE FALHA .......................................................... 79

7.3-APLICAÇÃO DO MÉTODO DE MONTE CARLO .............................................. 79

7.3.1- NÚMERO DE INTERAÇÕES ................................................................................... 80

7.3.2- CRITÉRIOS E ESPECIFICIDADES DO MÉTODO NO PROGRAMA SLIDE ..................... 81

7.3.2.1- Probabilidade de Falha ............................................................................... 83

7.3.2.2- Índice de Confiabilidade (Reliability Index = RI) ..................................... 83

7.3.3- APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS ...................................... 84

7.4- APLICAÇÃO DO MÉTODO DAS ESTIMATIVAS PONTUAIS ........................ 92

7.5- COMPARATIVO ENTRE OS MÉTODOS ........................................................... 94

7.6- ANÁLISE DE RISCO E CONFIABILIDADE ....................................................... 95

CAPÍTULO 8

CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ......................... 96

8.1- CONCLUSÕES ..................................................................................................... 956

8.2- SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ................................................... 100

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 101

Page 20: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

1

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

1.1- CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Os projetos de escavação a céu aberto estão, atualmente, cada vez maiores em extensão

e em profundidade. Isto se explica pelo fato do avanço tecnológico da pesquisa mineral

e também novas tecnologias e investimentos no beneficiamento do minério, que, aliados

à questão econômica, vêm aumentando as reservas destas cavas como também

permitindo o aproveitamento do minério mais pobre. Diante disso, as cavas de

exploração de minério de ferro, no Quadrilátero Ferrífero, por exemplo, estão

finalizando os seus projetos de escavação nas rochas encaixantes do minério, que por

sua vez, possuem um comportamento geomecânico pior, apresentando parâmetros de

resistência menores, e, ao mesmo tempo, estão exigindo projetos geotécnicos de taludes

de cavas cada vez mais íngremes e mais altos, a serem explorados nas condições

econômicas mais favoráveis, desde que os mesmos satisfaçam as condições de

segurança aceitáveis. Portanto, a estabilidade de taludes é um dos fatores

preponderantes e determinantes das geometrias de cavas operacionais e finais de

projeto. Logo, é fundamental que estes projetos sejam baseados em modelos geológico-

geomecânicos muito bem elaborados, para que os mesmos possam subsidiar as análises

de estabilidade tanto para garantir a estabilidade de cavas finais quanto à estabilidade

das cavas operacionais, garantindo a segurança de operação das mesmas.

As análises de estabilidade de um dado talude são realizadas a partir dos métodos de

equilíbrio limite, por meio de duas abordagens: métodos probabilísticos que se resumem

em uma análise quantitativa expressa sob a forma de uma probabilidade ou risco de

ruptura e métodos determinísticos que são expressos sob a forma de um fator de

segurança (FS). As análises de estabilidade tradicionais são realizadas pelos métodos

determinísticos, que por sua vez, utilizam uma média dos parâmetros de entrada,

Page 21: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

2

podendo apresentar incertezas nestes parâmetros utilizados devido à variabilidade

existente nos mesmos. Nesta abordagem, o fator de segurança estimado não pode

quantificar a probabilidade de ruptura ou o nível de risco associado a um projeto. Já os

métodos probabilísticos quantificam estas incertezas das variáveis de entrada

(parâmetros de resistência, principalmente ângulo de atrito e coesão) das análises

determinísticas, além de verificar qual a variável afeta mais o resultado, finalizando

com a probabilidade de ruptura e a possibilidade de cálculo do risco do projeto. Estes

métodos não são novos, mas ainda são pouco usuais, porém podem aperfeiçoar o

processo de tomada de decisão da empresa, pois a experiência dos geotécnicos, aliada a

estas informações estatísticas e a um critério de risco admissível, podem contribuir para

a verificação da necessidade de adaptação de um projeto muito antes da sua

implantação, atribuindo maior segurança e diminuição de custos para a empresa.

Neste contexto, será utilizado como estudo de caso um talude da cava de Alegria,

pertencente ao Complexo Minerador de Mariana, no município de Mariana, MG, de

propriedade da empresa Vale, para apresentar a metodologia de análise de estabilidade

através da abordagem probabilística, que leva em consideração a variabilidade dos

dados existentes.

1.2- OBJETIVOS

Este estudo visa apresentar e verificar a aplicabilidade sistemática dos métodos

probabilísticos em análises de estabilidade de taludes de cava. A área estudada será um

talude de cava final da Mina de Alegria, onde terão taludes finais de 150 m ou mais de

altura. Serão abordados três métodos probabilísticos, utilizando-se o programa Slide,

versão 5.0, do pacote Rocscience, e o programa Excel para a complementação dos

cálculos da probabilidade de falha para dois destes métodos.

O resultado da análise de estabilidade em termos de probabilidade de ruptura ou índice

de confiabilidade será neste estudo, de grande valia, pois consideram a variabilidade dos

dados existentes, podendo quantificar as incertezas no modelo, caso existam. Estas

Page 22: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

3

análises podem vir a ser realizadas nas geometrias de cavas finais das minas, ou em

taludes que, diante da análise do geotécnico responsável, sempre necessitarem de uma

reavaliação mais detalhada.

Resumindo, este trabalho visa apresentar um estudo de complementação das análises de

estabilidade determinísticas com as análises probabilísticas em taludes de cavas, tendo

como estudo de caso, um talude de cava da Mina Alegria, considerando os modos de

ruptura existentes em tal talude.

1.3- ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO

O estudo foi dividido em oito capítulos e abaixo será apresentado sucintamente o conteúdo

de cada um deles:

O segundo capítulo deu ênfase à caracterização e classificação geomecânica dos

maciços rochosos, apresentando o sistema de classificação RMR (Bieniawski 1989),

que é o sistema de classificação utilizado nas minas da Vale com algumas adequações.

O terceiro capítulo apresenta os estudos de estabilidade de taludes em rocha existentes

na literatura, exemplificando e apresentando as principais diferenças entre os métodos

determinísticos e probabilísticos, e apresentando os modos de ruptura de taludes

existentes, incluindo o modo de ruptura da seção de estudo.

O quarto capítulo enfatiza as análises de estabilidade probabilísticas de taludes,

apresentando os conceitos básicos de estatística e probabilidade, os tipos de incerteza, e

os três métodos probabilísticos utilizados no estudo: Método de Monte Carlo, Método

FOSM e Método Rosenblueth.

O quinto capítulo apresenta os principais critérios de aceitação de projeto existentes na

literatura bem como os cálculos para uma análise de risco de um projeto e as principais

classificações de risco existentes.

Page 23: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

4

O sexto capítulo fala sobre a Mina de Alegria, alvo do estudo de caso, enfatizando a

geologia regional e local, e apresentando o modelo geomecânico da cava, bem como a

metodologia de trabalho utilizada para a geração deste modelo, além de mapas e seções

típicas.

O sétimo capítulo apresenta as análises realizadas neste estudo, utilizando os três

métodos probabilísticos que foram apresentados no quarto capítulo, bem como os

parâmetros de projeto utilizados, e os resultados obtidos, através de uma probabilidade

de falha\ruptura e consequente análise do risco.

O oitavo capítulo finaliza a dissertação com as conclusões e recomendações a partir da

interpretação dos resultados e análise das situações envolvidas.

Page 24: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

5

CAPÍTULO 2

CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO GEOMECÂNICA DE

MACIÇOS ROCHOSOS (INTEMPERIZADOS)

2.1- INTRODUÇÃO

De acordo com Brady & Brown (1999), a Mecânica das Rochas é a ciência teórica e

aplicada do comportamento mecânico das rochas e maciços rochosos; é o ramo da

mecânica que estuda a resposta das rochas e maciços rochosos perante os campos de

forças a que estão sujeitos no seu ambiente físico.

A mecânica das rochas possui uma interface muito grande com a engenharia civil,

engenharia de minas e a geologia. Quando aplicada na prática da mineração, por

exemplo, a mesma, juntamente com a engenharia de minas e engenharia geológica,

define o desenho das estruturas em rochas geradas por esta atividade, como em minas a

céu aberto. Para isso, é necessário um conhecimento das propriedades do maciço

rochoso e de suas descontinuidades e propriedades hidrogeológicas através de um

esquema de classificação, denominado de classificação geomecânica.

2.2- ROCHA INTACTA, DESCONTINUIDADES E MACIÇO

ROCHOSO

Rocha Intacta é a parte do material livre de descontinuidades predominantes. As

descontinuidades podem ser consideradas como planos de fraqueza (falhas, foliação,

bandamento, fraturas, dentre outros) que poderão controlar o comportamento do maciço

rochoso. O maciço rochoso é uma massa de rocha que pode ou não conter

descontuidades.

Para estudar as propriedades do maciço rochoso, é necessário primeiro definir a escala

da obra em relação às descontinuidades existentes, pois dependendo da mesma, esta terá

Page 25: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

6

interferência somente da rocha intacta, ou de uma a duas descontinuidades ou de várias,

conforme a Figura 2.1.

Figura 2.1: Efeito escala entre tamanho da obra e intensidade de fraturamento do maciço rochoso e

consequente propriedade relevante da rocha (modificado - Hoek & Brown, 1997).

2.3- CLASSIFICAÇÃO GEOMECÂNICA

Os Sistemas de Classificação de Maciço Rochoso existem há mais de cem anos, desde

quando se tentou formalizar uma abordagem empírica para determinação de requisitos

de suporte para projetos de túneis.

Para Hoek (2007), a utilização de mais de um sistema de classificação do maciço

rochoso é válida, pelo fato de que cada sistema dá ênfase a uma característica do

mesmo, logo utilizar mais de uma classificação é o ideal para caracterizá-lo da melhor

forma possível e fornecer as propriedades da resistência e deformação do maciço

rochoso que serão primordiais no projeto. O sistema de classificação de um maciço

rochoso não deve substituir outros procedimentos de projeto mais elaborados, e sim,

devem trabalhar em conjunto.

Page 26: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

7

Os dois sistemas de classificação de maciços rochosos mais utilizados são o Sistema

RMR (Bieniawski 1989) e Q (Barton et al.., 1974). Pode-se dizer que estes sistemas são

bem similares, pois os parâmetros utilizados para o cálculo da qualidade do maciço são

muito parecidos, diferenciando apenas os pesos atribuídos a estes, e também o uso de

parâmetros para avaliar uma mesma característica. A maior diferença entre os sistemas

é que o sistema RMR não possui um parâmetro de tensões e o sistema Q não leva em

consideração a orientação das descontinuidades. O sistema de classificação de maciços

rochosos mais utilizado para taludes de cava é o Sistema RMR, que foi o sistema

utilizado para a cava da Mina de Alegria, sendo apresentado resumidamente a seguir.

2.3.1- SISTEMA RMR- SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO GEOMECÂNICA DE

BIENIAWSKI (1989)

Bieniawski publicou em 1976 uma metodologia para realização de uma classificação de

um maciço rochoso denominado de Sistema RMR- Classificação Geomecânica ou

Avaliação do Maciço Rochoso. Este sistema foi sendo aperfeiçoado ao longo dos anos

com novos registros de casos e em 1989, ele publicou uma nova versão com essas

adaptações, que será apresentada abaixo.

O sistema RMR utiliza seis parâmetros para classificar o maciço rochoso (Tabelas 2.1 e

2.2):

1- Resistência à compressão uniaxial do material rochoso

2- RQD- Designação da qualidade da rocha

3- Espaçamento das descontinuidades

4- Condição das descontinuidades

5- Condições da água subterrânea

6- Orientação das descontinuidades

Para aplicar este sistema de classificação, é necessário dividir o maciço rochoso em

intervalos que geralmente coincidem com uma característica importante da rocha ou

mudança do tipo da mesma. Cada intervalo é classificado separadamente onde cada um

Page 27: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

8

dos seis parâmetros recebe um valor de acordo com a classificação. Estes valores são

somados para darem um valor ao RMR.

O Sistema RMR foi baseado em registros de casos da engenharia civil, e foi criado,

mais especificamente, para a aplicação de construção de túneis. Portanto, a indústria da

mineração vem propondo várias modificações, com o objetivo de tornar a classificação

menos conservadora e mais relevante para a aplicação na mineração. Bieniawski (1989),

por exemplo, sugere uma adaptação à Classificação do Maciço Rochoso em que um

ajuste é feito no valor RMR levando em consideração as tensões in situ e induzidas, os

efeitos da detonação e o intemperismo.

Na prática, principalmente em minas a céu aberto do Quadrilátero Ferrífero, para os

maciços rochosos muito intemperizados, mas que ainda preservam estruturas da rocha

matriz, o Sistema de Classificação RMR não é mais aplicável. Para estes materiais,

adotou-se a nomenclatura de Classe VI, em que geralmente detecta-se somente o grau

de resistência e o grau de alteração/intemperismo da rocha. Estes maciços rochosos são

alterados para saprolito ou solo residual estruturado, em que em muitos casos ainda é

possível caracterizar a anisotropia de resistência destes materiais em função da estrutura

herdada da rocha sã.

O sistema de classificação RMR, que variam de classe I a V, conforme já visto

anteriormente, aplicam-se a rochas não alteradas ou rochas alteradas que ainda possuem

comportamento de maciço rochoso, ou seja, onde ainda é possível definir o grau de

fraturamento e condições das descontinuidades presentes.

Diante disso, os maciços classes I a V deverão ser estudados segundo os conceitos de

Mecânica de Rochas e os solos estruturados anisotrópicos, classificados como classe VI,

deverão ser estudados segundo os conceitos da Mecânica dos Solos. No capítulo sobre a

Mina Alegria, será descrito mais sucintamente sobre esta questão dos maciços muito

intemperizados presentes nas minas e como hoje são realizadas as classificações.

Page 28: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

9

Tabela 2.1: Sistema de classificação geomecânica RMR (modificado - Bieniawski 1989)

A PARÂMETROS DE CLASSIFICAÇÃO COM SEUS PESOS

Parâmetro Faixa de valores

1

Resistência da

rocha intacta

(MPa)

Índice de carga

puntiforme

>10 4-10 2-4 1-2 Para menores valores,

recomenda-se ensaio (αc)

Resistência a

compressão

uniaxial

>250 100-250 50-100 25-50 5-25 1-

5

<1

Peso 15 12 7 4 2 1 0

2 RQD (%) 90-100 75-90 50-75 25-50 <25

Peso 20 17 13 8 3

3 Espaçamento das descontinuidades >2 m 0,6-2 m 200-600 mm 60-200 mm <60 mm

Peso 20 15 10 8 5

4

Padrão das descontinuidades

(ver tabela E)

Superfície muito

rugosa, e sem

alteração, fechadas

e sem persistência

Superfície pouco

rugosa e levemente

alteradas, abertura

<1 mm

Superfície pouco

rugosa e muito

alteradas, abertura <1

mm

Superfície estriada ou

espessura de

preenchimento <5 mm ou

abertura persistente de 1-

5 mm

Espessura de

preenchimento com

material argiloso >5 mm

ou abertura persistente >5

mm.

Peso 30 25 20 10 0

5

Ação da água

subterrânea

Vazão de

infiltração por 10

m de túnel (l/m)

nulo <10 10-25 25-125 >125

(pressão de água

na junta)/α1 0 <0,1 0,1-0,2 0,2-0,5 >0,5

Condições gerais

no maciço Completamente

seco úmido molhado gotejamento fluxo abundante

Peso 15 10 7 4 0

Page 29: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

10

Tabela 2.2: Correções e guias auxiliares para o sistema de classificação RMR (modificado - Bieniawski, 1989) B CORREÇÃO POR DIREÇÃO E ORIENTAÇÃO DAS DESCONTINUIDADES (ver Tabela F)

Direção e orientação do mergulho Muito Favorável Favorável Moderado Desfavorável Muito Desfavorável

Pesos

Túneis e minas 0 -2 -5 -10 -12

Fundações 0 -2 -7 -15 -25

Taludes 0 -5 -25 -50 -60

C DETERMINAÇÃO DAS CLASSES DO MACIÇO ROCHOSO EM FUNÇÃO DO PESO TOTAL

Peso 100 81 80 61 60 41 40 21 <21

Número da classe I II III IV V

Descrição Excelente Bom Regular Ruim Péssimo

D COMPORTAMENTO DO MACIÇO ROCHOSO POR CLASSE

Número da classe I II III IV V

Tempo médio de auto-sustentação / tamanho do vão 20 anos / 15 m 1 ano / 10 m 1 semana /5 m 10 h / 2,5 m 30 min /1 m

Coesão do maciço rochoso (kPa) >400 300-400 200-300 100-200 <100

Ângulo de atrito do maciço rochoso (o) >45 35-45 25-35 15-25 <15

E GUIA PARA A CLASSIFICAÇÃO DAS DESCONTINUIDADES

Persistência / Comprimento (m)

Peso

<1

6

1-3

4

3-10

2

10-20

1

>20

0

Abertura / Espessura (mm)

Peso

Nula

6

<0,1

5

0,1-1,0

4

1-5

1

>5

0

Rugosidade

Peso

Muito rugosa

6

Rugosa

5

Pouco rugosa

3

Lisa

1

Superfície estriada

0

Preenchimento (característica) / Espessura (mm)

Peso

Nulo

6

duro / <5

4

duro / >5

2

mole / <5

2

mole / >5

0

Grau de Alteração (Intemperismo)

Peso

Inalterada

6

Levemente alterada

5

Moderada. alterada

3

Fortemente alterada

1

Decomposta

0

F EFEITOS DA DIREÇÃO E ORIENTAÇÃO DAS DESCONTINUIDADES, EM TÚNEIS*

Direção Perpendicular ao eixo do Túnel Direção Paralela ao eixo do Túnel

Ângulo de mergulho 45-90o Ângulo de mergulho 20-45

o Mergulho 45-90

o Mergulho 20-45

o

Muito Favorável Favorável Muito Favorável Desfavorável

Ângulo de mergulho contrário 45-90o Ângulo de mergulho contrário 20-45

o Mergulho de 0-20

o sem relação a direção

Desfavorável Muito Desfavorável Desfavorável

Page 30: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

11

CAPÍTULO 3

ESTABILIDADE DE TALUDES EM ROCHA

3.1- INTRODUÇÃO

A estimativa do grau de estabilidade de um talude é necessária quando se envolve obras

como estradas, fundações, túneis, escavações em uma mineração, dentre outros. Para a

maior segurança das escavações realizadas durante as operações de lavra de uma

mineração, é necessário saber se um determinado talude está estável ou se permanecerá

estável após a execução de uma determinada geometria planejada para a escavação, para

que se possa evitar uma possível ruptura. Neste caso, é necessário ter em mãos um

modelo geotécnico embasado nas propriedades geológicas, geomecânicas (as quais

foram citadas no Capítulo 2), e hidrogeológicas da região.

Para Stacey e Read (2009) um projeto de escavação de taludes ideal de uma mina a céu

aberto deve seguir o fluxograma conforme a Figura 3.1.

A necessidade de obter uma grandeza ou um índice onde fosse possível determinar a

estabilidade de um talude fez surgir vários métodos de análise de estabilidade.

De acordo com Augusto Filho e Virgili (1998), os métodos de análise de estabilidade

são divididos da seguinte forma:

Métodos analíticos: São baseados na teoria do equilíbrio-limite, que expressam a

estabilidade de um talude por um Fator de Segurança (FS) ou Probabilidade de Ruptura

(PF, Probability of Failure) e nos modelos numéricos de tensão-deformação

fundamentados nas relações existentes entre as tensões atuantes e as deformações

sofridas pelos materiais que compõem o talude.

Métodos experimentais: empregam modelos físicos em diferentes escalas.

Page 31: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

12

Métodos observacionais: baseiam-se na experiência de análises de rupturas

anteriores através de retroanálises, ábacos de projetos, etc.

As análises de estabilidade de taludes são feitas comumente por métodos de equilíbrio

limite, que são os métodos ditos convencionais. O equilíbrio limite é a condição em que

as forças ou momentos que tendem a resistir ao deslizamento são exatamente

balanceadas por aquelas que tendem a produzir o deslizamento. Neste caso, o FS, que é

a razão entre estas forças ou momentos, será igual a 1 em situação de equilíbrio limite, e

caso este resultado for maior que 1, pode-se dizer que o talude está estável.

Figura 3.1: Processo de um projeto de taludes de mina a céu aberto (modificado Stacey e Read,

2009).

Page 32: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

13

De acordo com Abramson et al. (2001), para as superfícies de ruptura composta, os

métodos de equilíbrio limite para análise de estabilidade de taludes dividem a potencial

superfície de ruptura em pequenas fatias, como pode ser observado na Figura 3.2. Cada

fatia é afetada por um sistema de forças.

Figura 3.2: Processo de divisão da massa rompida em fatias (modificado Abramson et al., 2001).

Os métodos de equilíbrio limite aplicados à estabilidade de taludes se resumem na

avaliação quantitativa da estabilidade global de um dado talude, em função dos seus

fatores predisponentes e à ação dos agentes externos e internos de estabilização.

Existem vários métodos para solução de uma análise de estabilidade a partir do

equilíbrio limite. Abramson et al. (2001) citam os principais métodos com o respectivo

resumo das hipóteses adotadas, conforme abaixo:

Método de Fellenius - considera uma superfície de ruptura circular, divide a

massa deslizante em lamelas e não considera forças interlamelares.

Método de Bishop Simplificado - considera uma superfície de ruptura circular,

divide a massa deslizante em lamelas, considera a resultante das forças interlamelares

horizontal e as forças cisalhantes entre lamelas como nulas.

Page 33: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

14

Método de Janbu Simplificado - considera uma superfície de ruptura qualquer, a

resultante das forças interlamelares é horizontal e um fator empírico (fo) é utilizado para

considerar as forças cisalhantes interlamelares.

Método de Janbu Generalizado - considera uma superfície de ruptura qualquer e

a resultante das forças interlamelares é determinada por uma linha de empuxo assumida.

Método de Spencer - considera uma superfície de ruptura circular, sendo

introduzida em 1973 a ruptura por uma superfície qualquer e a resultante das forças

interlamelares tem inclinação constante através da massa deslizante.

Método de Morgenstern-Price - considera uma superfície de ruptura qualquer, a

direção da resultante das forças interlamelares é determinada pelo uso de uma função

arbitrada, onde é um fator da função que deve satisfazer o equilíbrio de forças e

momentos e as lamelas de espessura finita.

Método GLE - considera uma superfície de ruptura qualquer, a direção da

resultante das forças entre lamelas é definida com uma função arbitrada, onde é um

fator da função que deve satisfazer o equilíbrio de forças e momentos, e as lamelas de

espessura infinitesimal.

Método de Sarma - considera a massa deslizante dividida em lamelas e que a

resistência interna entre lamela é mobilizada.

O método a ser escolhido vai depender das características do maciço que compõem o

talude, do tipo de superfície de ruptura e de eventuais esforços aplicados.

Page 34: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

15

3.2- ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES

3.2.1- ABORDAGEM DETERMINÍSTICA X ABORDAGEM PROBABILÍSTICA

A análise de estabilidade de um talude pela abordagem determinística pode ser descrita

como uma análise quantitativa expressa sob a forma de um coeficiente ou Fator de

Segurança (FS), que poderá ser estabelecido com base em:

-Equilíbrio de Forças:

(3.1)

- Equilíbrio de momentos:

(3.2)

- Resistência ao cisalhamento:

(3.3)

Onde: = resistência ao cisalhamento

Para o cálculo dos esforços, é necessária a utilização dos parâmetros de resistência de

um dado solo ou rocha. Uma forma de obtenção destes valores é a partir de ensaios

realizados em campo e/ou laboratório e utiliza-se uma média dos resultados obtidos,

considerando estes valores como constantes, sem considerar a variabilidade espacial das

características do material.

Page 35: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

16

Na abordagem determinística para análise de estabilidade utiliza-se uma estimativa para

cada parâmetro de entrada. Esta abordagem teve ampla aceitação nas últimas décadas,

porém sabe-se que na natureza, as propriedades dos materiais tendem a ser muito

variáveis, contradizendo a teoria de que o erro estimado tende a ser igual a zero. Logo,

não é raro casos de taludes considerados seguros, romperem.

Levando-se em consideração a variabilidade de alguns parâmetros, pode-se realizar uma

análise de sensibilidade, também chamada de análise paramétrica, variando alguns

parâmetros dentro da sua faixa de valores, e observa-se qual a sua influência no

resultado do Fator de Segurança. Porém, este tipo de análise não considera a frequência

de ocorrência dos dados levantados.

Neste sentido, tem-se a abordagem probabilística, que também é executada normalmente

com o uso dos métodos de equilíbrio limite, não diferindo neste caso das análises

determinísticas, porém considera a variação dos parâmetros de projeto com a vantagem de

serem capazes de quantificar as diversas origens de incerteza. A modelagem probabilística

reconhece as incertezas nos parâmetros de entrada e nos modelos de previsão. Os parâmetros de

entrada são tratados como variáveis aleatórias. Logo, o estudo estatístico se torna fundamental

para a análise destes dados.

De acordo com Ang & Tang (1975), sabe-se há bastante tempo que as propriedades

geotécnicas dos materiais do solo e da rocha são variáveis, pois os depósitos naturais

são formados por camadas irregulares de vários tipos de materiais, de diferentes

combinações mineralógicas, e com presença de descontinuidades (no caso de maciços

rochosos), resultantes dos processos deformacionais e do intemperismo químico e físico

que os mesmos sofrem. Consequentemente apresentam diferentes propriedades de

resistência, deformabilidade e permeabilidade do depósito.

Em decorrência desta variabilidade, os valores adotados para os carregamentos e os

parâmetros geotécnicos podem sofrer variações. Uma forma de lidar com o risco da

obra geotécnica seria através destes métodos estatísticos e probabilísticos, que, diferente

da abordagem determinística, conseguem incorporar a variabilidade dos parâmetros e

Page 36: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

17

carregamentos no projeto, através de distribuições estatísticas, levando em consideração

a frequência de ocorrência dos dados, possibilitando calcular o risco de falha ou a

confiabilidade das estruturas. Pode-se dizer que a análise probabilística é uma

complementação da análise determinística, onde é possível obter uma distribuição

probabilística dos valores, fornecendo, por exemplo, a probabilidade de ruptura de

taludes com Fator de Segurança menores ou maiores que 1.

A Tabela 3.1 apresenta as principais diferenças entre a abordagem determinística e a

abordagem probabilística de análises de estabilidade.

Tabela 3.1: Diferenças entre abordagem determinística e abordagem probabilística

Abordagem

Determinística Abordagem Probabilística

Parâmetros de projeto são

assumidos como

constantes

Parâmetros de projeto são

variáveis

Resultado calculado é

único

Resultado calculado é uma

distribuição de probabilidade

3.3- MODOS DE RUPTURA DE TALUDES

As rupturas de taludes em rocha ocorrem comumente a partir das descontinuidades

existentes no maciço rochoso, com exceção de taludes muito intemperizados ou

maciços muito fraturados, que ocorrem rupturas do tipo circular, que não são

condicionadas por uma ou outra descontinuidade. As rupturas mais comuns podem ser

visualizadas na Figura 3.3.

Page 37: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

18

3.3.1- RUPTURA DO TIPO PLANAR

O escorregamento planar envolve deslocamentos de massa ao longo da direção de

planos de deslizamento que ocorrem praticamente paralelos à direção da face do talude

(com uma diferença máxima de 20º) em superfícies favoráveis tais como planos da

foliação, falhas, dentre outros (Figura 3.3.b).

Para que este deslizamento ocorra, as estruturas devem ser aflorantes e inclinadas na

direção da face livre do talude a um ângulo superior ao ângulo de atrito interno e a um

ângulo menor que o da inclinação da superfície livre do talude. Além disso, devem

existir outros planos de descontinuidades perpendiculares à face do talude com

resistência desprezível, formando junto com a descontinuidade principal, um bloco

distinto, permitindo assim seu livre escorregamento.

Hoek & Bray (1981) assumem que, para a análise deste método, as forças geradas pelo

peso do bloco deslizante, pela distribuição de pressão hidráulica na fenda de tração e

pela sub-pressão de água na superfície de escorregamento atuam diretamente no

centróide do bloco de rocha deslizante, não mobilizando momentos. Embora isto

acarrete erros quando da análise de taludes reais, estes podem ser ignorados em termos

práticos.

3.3.2- RUPTURA PLANO-CIRCULAR

As rupturas do tipo plano-circular são mais comuns nas minas de minério de ferro do

Quadrilátero Ferrífero. As mesmas seguem o mesmo mecanismo da ruptura planar,

porém só o início da mesma é mobilizada pela foliação da rocha. A saída da ruptura

ocorre na face ou no pé do talude cortando obliquamente a estruturação geral do maciço

imposta pela foliação.

No início da superfície da ruptura, na parte plana, ocorre a mobilização da resistência

dos litotipos ao longo da foliação, e no trecho circular, a mobilização da resistência

ocorre na condição oblíqua à foliação.

Page 38: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

19

3.3.3- RUPTURA CIRCULAR

A ruptura circular ocorre quando o maciço rochoso é muito fraturado e não apresenta

um padrão estrutural regular (Figura 3.3.a). Neste caso, a ruptura é definida por várias

superfícies de diversas descontinuidades, que tende a ter uma forma circular. Da mesma

forma, quando o maciço é homogêneo e isotrópico, a superfície de ruptura aproxima-se

deste modo de ruptura, que pode ocorrer também em rochas brandas, quando a

anisotropia gerada pelas descontinuidades não mais influencia na superfície de ruptura,

devido ao elevado estado de intemperismo.

3.3.4- RUPTURA EM CUNHA

A ruptura por cunha é caracterizada pela intersecção de duas descontinuidades,

conforme Figura 3.3.c. São superfícies de rupturas bi-planares, sendo a inclinação das

superfícies de deslizamento definida pela geometria da cunha.

3.3.5- TOMBAMENTO

O tombamento de blocos é um tipo de ruptura que ocorre quando as direções da

descontinuidade e da face do talude são paralelas (+/- 20 graus) e o mergulho da

descontinuidade é contrário ao mergulho da face do talude. (Figura 3.3.d).

Page 39: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

20

Figura 3.3: Principais tipos de ruptura com os respectivos estereogramas

representativos (modificado Hoek and Bray, 1981).

Page 40: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

21

CAPÍTULO 4

ANÁLISE PROBABILÍSTICA DE TALUDES

4.1- INTRODUÇÃO

A abordagem probabilística é hoje uma forma de lidar com as incertezas existentes

dentro do âmbito geotécnico. Usualmente, calcula-se um Fator de Segurança (FS) para

as análises de estabilidade de uma estrutura, de acordo com as incertezas, parâmetros da

rocha e ou solo, estratigrafia do local, dentre outros. De acordo com dados históricos,

um FS mais alto, entre 1.3 e 1.5, é considerado o ideal para as estruturas analisadas, pois

não se sabe ao certo o grau de incerteza das variáveis. À medida que se conhece estas

incertezas, através de uma melhor caracterização geotécnica do local, por exemplo, é

possível trabalhar com FS mais adequados. Neste sentido, taludes com o mesmo FS,

podem ter diferenciados níveis de incerteza, dependendo de sua investigação

geotécnica.

De acordo com Farrokh Nadim in Griffiths, 2007, uma vez que a incerteza dos

parâmetros são quantificados, para resolver um problema particular, o engenheiro tem

uma variedade de ferramentas à sua disposição para avaliar esta incerteza no resultado.

A maioria dos parâmetros utilizados nas análises geotécnicas é incerta. Trabalhar com a

incerteza é algo comum na engenharia geotécnica, porém o engenheiro tenta lidar com

estas incertezas, escolhendo parâmetros razoavelmente conservadores para a avaliação

da estabilidade determinística, que muitas vezes, não resolve o problema de forma

adequada. Os métodos probabilísticos conseguem aperfeiçoar estas análises, sendo uma

complementação das análises determinísticas, contabilizando o grau de incerteza destas

variáveis, tendo como resultado final uma probabilidade de falha. A partir destes

métodos, é possível avaliar a distribuição probabilística de uma variável dependente

através do conhecimento da distribuição de probabilidade das variáveis independentes

que geram esta variável dependente.

Page 41: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

22

Um baixo fator de segurança não corresponde necessariamente a uma alta probabilidade

de ruptura e vice versa. A relação entre o fator de segurança e probabilidade de falha/

ruptura depende do grau de incerteza.

A caracterização e a redução das incertezas ainda é uma área pouco abordada e pouco

estudada pelos pesquisadores. Os engenheiros de fundações, barragens e estabilidade de

taludes estão confortáveis com os métodos tradicionais, pois em geral, foram bem

sucedidos na resolução destes problemas com estes métodos. Já os profissionais de

geotecnia ambiental, profissionais que tratam de terremotos, por exemplo, requerem

uma avaliação mais detalhada e dados de confiabilidade mais rigorosos, adotando cada

vez mais a teoria da probabilidade para atuarem com estas questões. O fato também de

se ter poucos estudos de casos aplicados aos problemas geotécnicos tradicionais pode

ser um fator inibidor do uso dos métodos estatísticos.

O uso dos métodos probabilísticos também é inibido pelo fato de que a maioria dos

engenheiros geotécnicos não foram instruídos e não têm conhecimento na utilização

destes métodos. Para NRC (1995), muitos engenheiros geotécnicos têm a percepção

errada com relação à quantidade de dados necessária para a aplicação de métodos

probabilísticos. A teoria da probabilidade pode ser usada para avaliar as incertezas

envolvidas no trabalho mesmo com informações escassas. Além disso, o método pode

ajudar a identificar o tipo ideal de informação para a redução das incertezas, e não deve

de forma alguma substituir os métodos determinísticos, e sim, complementá-los na

resolução de problemas geotécnicos.

Griffths (2007) sugere um esquema típico que deve ser seguido para realização de

análises determinísticas com a complementação por métodos probabilísticos, conforme

Figura 4.1.

Page 42: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

23

Figura 4.1: Esquema típico de análises determinísticas com extensões probabilísticas (adaptado

Griffths, 2007).

Devido à falta de conhecimento de conceitos estatísticos e probabilísticos, a abordagem

probabilística ainda é muito pouco utilizada na prática da engenharia, e até mesmo pelo

fato da dificuldade de incorporar estes conceitos probabilísticos nas normas e práticas

de engenharia. Para o entendimento completo da metodologia probabilística, sugere-se

o estudo da estatística, incorporando probabilidade, distribuição de probabilidade e

estimação.

Duncan (2001) aponta as principais vantagens das análises probabilísticas, de acordo

com várias fontes, como descrito na Tabela 4.1.

Page 43: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

24

Tabela 4.1: Vantagens da análise probabilística para estabilidade de taludes

Autor Benefícios da Análise de Probabilidade,

Confiabilidade

Christian e Baecher

Fornece uma estrutura para estabelecer

apropriados fatores de segurança e dirige

melhor a um entendimento da relativa

importância das incertezas.

Ladd e Da Re

Fornece um método sistemático para avaliar

combinadas influências de incertezas dos

parâmetros que afetam o fator de segurança.

Fornece um sistemático método de

determinação do grau de segurança, ao

menos em termos relativos.

Moriwaki e

Barneich

Quantifica a contribuição de todas as

incertezas da cada parâmetro.

Koutsoftas

Fornece uma ferramenta útil para avaliar o

risco associado com recomendações de

projeto.

4.2- CONCEITOS BÁSICOS DE ESTATÍSTICA E

PROBABILIDADE

Para que se possa entender e utilizar corretamente a metodologia proposta pelos

métodos probabilísticos é necessário ter um conhecimento estatístico e no mínimo

conhecer alguns conceitos, que serão descritos abaixo.

Page 44: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

25

4.2.1- ESTATÍSTICA DESCRITIVA

A estatística descritiva envolve a coleta, a caracterização e a apresentação de um

conjunto de dados. Apesar de sua importância, foram os métodos estatísticos de

inferência que levaram a uma ampla aplicação da estatística atualmente, devido à

possibilidade de estimar uma característica estatística de uma população ou de tomar

decisões referentes à população a partir de dados amostrais.

População ou Universo se refere à totalidade de objetos ou valores considerados, já a

amostra é a parte representativa da população de interesse. Para obter informações sobre

a população, é necessária a coleta de dados, que pode ser realizada através da

amostragem. Em qualquer estudo que se esteja realizando, é bem improvável que se

consiga examinar todos os elementos da população de interesse, e isto também não

significa maior precisão dos dados, pois os erros durante a coleta e manuseio de

inúmeras amostras são maiores do que generalizar o resultado de uma amostra bem

selecionada.

A forma mais simples de apresentação dos dados coletados é através de um histograma

de frequência relativa. Uma distribuição de frequência é uma tabela resumida na qual os

dados são organizados em grupos de classe ou categorias convenientemente

estabelecidas e numericamente ordenados.

4.2.2- MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL

A partir do momento que os dados já foram coletados e apresentados, as medidas de

tendência central auxiliam no momento da interpretação, pois as mesmas resumem as

principais características do conjunto de dados.

Page 45: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

26

4.2.2.1- Média aritmética

A média aritmética é o tipo de tendência central mais utilizado. É obtida dividindo-se a

soma de todas as observações pelo número delas. Se uma série de n valores de uma

variável x, a média aritmética simples será determinada pela expressão:

(4.1)

ou

(4.2)

4.2.2.2- Mediana

A mediana é o valor do meio de uma sequência ordenada de dados. Se não existirem

valores repetidos, metade das observações será menor e metade será maior do que a

mediana. A mediana não é afetada por qualquer observação extrema em um conjunto de

dados. Dessa forma, é indicado utilizar a mediana no lugar da média aritmética para

descrever a tendência do conjunto de dados, quando existirem valores extremos.

4.2.2.3- Moda

A moda é o valor que aparece com mais frequência em um conjunto de dados. Da

mesma forma que a mediana, a moda também não é afetada por valores extremos,

porém é utilizada somente para fins descritivos por ser mais variável.

1 2 3 nX X X . XX

n

.

Page 46: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

27

4.2.2.4- Medidas de Variação

Medida de variação é a quantidade de dispersão ou espalhamento dos dados. As

principais medidas de variação (variância e desvio padrão) medem a dispersão média

em relação à média amostral.

4.2.2.5- Variância

Pode-se dizer que a variância amostral é a média das diferenças ao quadrado entre cada

uma das observações de um conjunto de dados e a média aritmética do conjunto. Para

uma amostra contendo n observações , a variância pode ser calculada

de acordo com a equação abaixo:

(4.3)

Onde s2 é a variância, é a média amostral e n é o número de elementos da amostra.

4.2.2.6- Desvio Padrão

O desvio padrão amostral s é a raiz quadrada da variância amostral, definido por:

(4.4)

4.2.2.7- Coeficiente de Variação

O coeficiente de variação mede a dispersão dos dados em relação à média aritmética.

1 2 3 n. . .X , X , X , .. ,.. X

n2

i2 i 1

(X X)

sn 1

X

n2

i

i 1

(X X)

sn 1

Page 47: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

28

Ele é expresso como uma percentagem em vez de utilizar termos de unidades dos dados

específicos, conforme expressão abaixo:

(4.5)

Onde CV é o coeficiente de variação, s é o desvio padrão amostral e é a média

aritmética.

4.2.3- PROBABILIDADE

Probabilidade é um termo utilizado para quando existe mais de uma possibilidade de um

evento acontecer dentre de certos eventos alternativos (Ang & Tang, 1975).

4.2.3.1- Cálculo da Probabilidade

Para se calcular a probabilidade, é necessário conhecer o espaço amostral (S) envolvido.

Dessa forma, pode-se dizer que a probabilidade P(A) de certo evento A ocorrer é:

(4.6)

onde:

P(A) – Probabilidade de ocorrência do evento A;

n(A) – Número de elementos do evento A;

n(S) – Número de elementos do espaço amostral.

sCV 100%

X

X

n(A)P(A)

n(S)

Page 48: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

29

4.2.3.2- Variáveis Aleatórias

Uma variável aleatória pode ser entendida como uma variável quantitativa, cujo

resultado (valor) depende de fatores aleatórios. Matematicamente, variável aleatória é

uma função que associa elementos do espaço amostral a valores numéricos.

4.2.4- DISTRIBUIÇÃO DE PROBABILIDADE

A distribuição de probabilidade representa a probabilidade que cada valor de uma

variável aleatória possa assumir. Uma variável aleatória só poderá assumir um valor

numérico com uma probabilidade associada ou uma probabilidade assumida.

As distribuições podem ser discretas ou contínuas. As distribuições discretas são

situações em que o espaço amostral contém um número finito ou infinito de pontos,

porém contáveis. Neste caso, uma variável x é denominada de variável aleatória

discreta. Já quando o espaço amostral possui um número infinito de pontos, o mesmo

será representado por distribuições contínuas de probabilidade. São estas as

distribuições mais aplicáveis aos problemas geotécnicos, em que podem ser citadas as

distribuições normal, log-normal, exponencial, beta e triangular. Nos problemas

geotécnicos, as distribuições mais utilizadas são a normal e a log-normal, as quais serão

citadas abaixo.

4.2.4.1- Distribuições de Probabilidade Contínuas

4.2.4.1.1- Distribuição Normal

A distribuição normal é também conhecida como distribuição de Gauss e é a mais

conhecida e a mais utilizada. Sua função é dada pela Equação 4.7:

Page 49: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

30

(4.7)

Onde:

Desvio padrão;

x- Variável aleatória associada: ;

Média da distribuição.

Na Figura 4.2, pode-se observar as principais propriedades desta função. As medidas de

tendência central (média, mediana e moda) são idênticas. A função apresenta-se

simétrica e tem a forma de um sino. A dispersão média é igual a 1,33 desvio padrão.

Figura 4.2: Função de probabilidade normal.

4.2.4.1.2- Distribuição Log-Normal

A distribuição log-normal é uma função cujo logaritmo tem a distribuição normal com

parâmetros e . Assim, a função de distribuição de probabilidade para é dada

por:

21 x

21f x e

2

x

0,00

0,10

0,20

0,30

0 2 4 6 8 10 12

x

f(x)

y ln x

Page 50: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

31

(4.8)

onde:

- Desvio padrão, restrito a ;

x - Variável aleatória, restrita a ;

- Média.

Esta distribuição é utilizada em situações onde a variável de interesse apresenta

assimetria à esquerda ou para variáveis que fisicamente não possuem valores inferiores

a zero. Assis (2003) cita o exemplo da distribuição de probabilidade dos fatores de

segurança (FS) em um projeto de estabilidade de talude em solo, em que é possível a

obtenção de fatores de segurança muito próximos de zero, devido à grande variabilidade

dos principais parâmetros do solo (c e ), porém jamais abaixo deste (valores

negativos).

Alguns parâmetros do solo tendem a ter distribuições normais, outros log-normais,

porém alguns têm distribuições que se aproximam tanto da normal como da log-normal.

Dentre estes, podem ser citados o ângulo de atrito, a densidade (seca e úmida), índices

de vazios, teor de umidade, grau de saturação, dentre outros. A Figura 4.3 apresenta as

principais propriedades desta função.

Figura 4.3: Função de probabilidade log-normal com diferentes parâmetros e

2

2

1ln x

21

f x ex 2

0

x 0

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

0 1 2 3 4 5

x

f(x)

A

B

C

Page 51: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

32

4.3- TIPOS DE INCERTEZA

Conforme Farrokh Nadim apud Griffiths, 2007, as incertezas existentes podem ser

divididas em incertezas aleatórias e incertezas sistêmicas, sem levar em consideração os

erros humanos, que seria uma terceira categoria.

A incerteza aleatória pode ser exemplificada pela variação espacial de um parâmetro de

um solo dentro de uma mesma camada geológica, ou seja, devido à heterogeneidade

natural das camadas. Esta incerteza não pode ser reduzida e nem eliminada.

A incerteza sistêmica representa a falta de conhecimento de uma variável, que é

decorrente de duas outras incertezas:

- Incerteza de medição, devido a, por exemplo, imperfeições de um instrumento, e falta

de qualificação da equipe;

- Incerteza estatística, devido a um número insuficiente de ensaios ou medições;

As incertezas sistêmicas podem ser reduzidas e até eliminadas, através de um maior

número de informações, melhores técnicas de medição, bem como qualificação das

equipes, melhor aferição dos equipamentos, dentre outros.

O tratamento estatístico de um conjunto de medidas realizadas para a determinação de

um parâmetro pode quantificar suas incertezas e chegar a valores de intervalos de

confiança. Estas propriedades incertas de um solo são definidas como as variáveis

aleatórias representadas estatisticamente por sua média, desvio padrão ou coeficiente de

variação e distribuição de probabilidade da função, conforme vistos anteriormente.

Quando não se dispõe de um número suficiente de ensaios pode-se, a princípio, utilizar

coeficientes de variação estimados (desvio-padrão sobre a média), a partir de valores

típicos (Usace, 1999). A Tabela 4.2 apresenta as faixas de coeficientes de variação dos

parâmetros geotécnicos de interesse que geralmente são utilizados para análises de

estabilidade de taludes.

Page 52: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

33

Tabela 4.2: Valores típicos do coeficiente de variação dos principais parâmetros geotécnicos (Assis

et al., 2012)

4.4- MÉTODOS PROBABILÍSTICOS

A análise probabilística é um complemento do fator de segurança determinístico

quantificando algumas incertezas inerentes a este fator, através do índice de

confiabilidade (β), que exprime o quanto este fator é confiável, e da probabilidade de

falha ou ruptura (PF). Para isto, foram desenvolvidos alguns métodos probabilísticos,

onde se determinam estes valores de β e PF, dentre os quais podem ser citados o

Método de Monte Carlo, Método FOSM e Método Rosenblueth ou Estimativas

Pontuais, considerados os mais usuais e que serão apresentados a seguir. Estes métodos

também revelam quais os parâmetros que mais contribuem para a incerteza.

4.4.1- MÉTODO DE MONTE CARLO

A simulação de Monte Carlo se caracteriza pela geração de uma sequência de números

aleatórios uniformes de acordo com a função de densidade de probabilidade da variável.

O objetivo da técnica é a aproximação da função de probabilidade para uma ou mais

variáveis aleatórias.

Para Farrokh Nadim apud Griffiths, 2007, é uma técnica poderosa que é aplicável tanto

para problemas lineares quanto para não lineares, porém exige um grande número de

simulações para proporcionar uma distribuição confiável. Quando a probabilidade de

Parâmetro Coeficiente de Variação

Peso específico 03 (02 a 08)

Coesão 40 (20 a 80)

Ângulo efetivo de resistência 10 (04 a 20)

Coesão não-drenada 30 (20 a 50)

Valores típicos do coeficiente de variação.

Page 53: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

34

falha é muito pequena, o número de simulações para obtenção de um resultado preciso é

muito grande, tornando a aplicação impraticável.

De acordo com Usace (1999), as vantagens do uso do método de Monte Carlo são:

- A estimativa da função de distribuição, permitindo uma estimativa dos valores de

probabilidade mais precisa;

- É possível programar a simulação do software com o Excel para o cálculo do Risco.

No entanto, este mesmo autor cita as desvantagens:

- É necessário conhecer a distribuição de probabilidade das variáveis aleatórias;

- A precisão dos valores estimados é proporcional à raiz quadrada do número de

iterações, logo se a precisão for dobrada, o número de iterações será o quádruplo.

Porém, devido às inovações tecnológicas, e com isso, aumento da capacidade

computacional, este método tende a ser cada vez mais utilizado.

Com o método de Monte Carlo, a partir das distribuições estatísticas das variáveis

independentes, valores dessas variáveis são obtidos através de um gerador de números

aleatórios, e os valores da variável dependente podem ser calculados. A partir de N

repetições deste processo, a distribuição de probabilidade da variável dependente é

obtida (Figura 4.4). Caso esta distribuição se estabilize, o método de Monte Carlo é

considerado um método exato.

Cada tentativa é o resultado de um experimento com a probabilidade de sucesso R e a

probabilidade de insucesso 1 - R, sendo todas as tentativas independentes. Para N

tentativas, onde N é amplo, pode ser usada a aproximação normal para a distribuição

binomial com valor esperado de NR e desvio padrão de .

NR R( )1

Page 54: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

35

Figura 4.4: Procedimento para obtenção de números aleatórios através de distribuição normal.

O número x é definido como o número de sucesso das N tentativas (se a simulação de

Monte Carlo for correta), tendo uma distribuição normal. O símbolo representa o

número das N tentativas, de forma que a probabilidade de ter valores menores não serão

maiores do que . Consequentemente tem-se que:

(4.9)

Após alguns algebrismos tem-se:

(4.10)

Onde:

– Os valores estão apresentados na Tabela 4.3.

/ N)

0 x

f(x)

0

1,0

x

F(r

) =

P[x

0,2

0,4

0.6

0,8

12

3

x = r

(a) (b)

x~ / 2

~ / 2

N R R h

( ) ~ / 1 2

2

2

Page 55: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

36

Nesta expressão, é o máximo erro permitido na estimativa de R. O que se tem é que

R(1 – R) é máximo quando R = 1/2. Desde já, de forma conservadora, tem-se com R(1

– R) = 1/4:

(4.11)

Tabela 4.3- Coeficientes de Confiança para a distribuição normal (modificado de Harr, 1987).

Para cada simulação de Monte Carlo e para cada variável se tem N tentativas.

Consequentemente para duas variáveis com constante:

(4.12)

O mesmo para m variáveis fornece:

(4.13)

Nível de Confiança (%)

85 1,44

90 1,64

95 1,96

95,45 2,00

98 2,33

99 2,58

99,5 2,81

99,73 3,00

99,9 3,29

99,99 3,89

99,994 4,00

)

~

N h

m

~ /

2 2

2 4

N h

2

~ /

2 2

2 4

N h

~ /

2 2

2 4

Page 56: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

37

4.4.2- MÉTODO FOSM, SÉRIE DE TAYLOR OU ÍNDICE DE

CONFIABILIDADE

O método FOSM (First-Order, Second Moment), se baseia no truncamento da função

de expansão da Série de Taylor.

Segundo Griffith 2007, este método fornece aproximações analíticas para a média e o

desvio padrão de um parâmetro de interesse, como uma função da média e desvio

padrão dos vários fatores de entrada, e suas correlações.

O fato de não ser necessário o conhecimento da função de distribuição de probabilidade

das variáveis aleatórias é uma vantagem deste método em relação a outros métodos

probabilísticos, além de exibir cálculos matemáticos simplificados. É necessário apenas

o conhecimento dos valores dos momentos das distribuições estatísticas das variáveis

que formam a função. Porém, os requisitos matemáticos necessários às derivações

(embora mais simples que de outros métodos exatos), que geralmente não são

elementares, são apresentados como a desvantagem do método.

Considere F(x) uma função de variáveis aleatórias x1, x2,..., xN. Obviamente, para

avaliar a média e o desvio padrão das variáveis aleatórias, a função densidade de

probabilidade conjunta de x1, x2,..., xN é necessária. No entanto, em muitas aplicações

práticas, a informação disponível sobre as variáveis aleatórias sobre a sua média e

variância é limitada. A média aproximada e a variância da função F(x) podem ser

estimadas por uma expansão da função da série de Taylor sobre os valores médios das

variáveis aleatórias.

Segundo Harr (1987), a fórmula de Taylor para a expansão da função F(x) sobre o

ponto x = , é:

Page 57: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

38

(4.14)

Onde:

- É o n-ésimo derivado avaliado para x = .

- É o resto, o qual pode ou não ser zero.

A expansão da Série de Taylor de uma função de duas variáveis F(x,y) nos pontos ,

conservando somente termos de 1a ordem (lineares), produz a Equação 4.15:

(4.15)

Onde todas as derivadas são estimadas para x = e y = .

Tomando e para serem os respectivos valores esperados das variáveis e aplicando o

formulário para distribuições bivariadas, tem-se as aproximações:

(4.16)

(4.17)

Onde novamente todas as derivadas são estimadas para os valores esperados das

variáveis.

Para N variáveis aleatórias não correlacionadas, F(x1, x2, ....., xN), conservando somente

os termos lineares na Série de Taylor, tem-se as seguintes equações:

Page 58: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

39

) (4.18)

(4.19)

Onde:

E[F]- Valor médio esperado para F

V[F]- Variância de F, igual ao desvio padrão ao quadrado

δFi- Variância de F que ocorre quando se varia δxi para cada um dos N parâmetros xi

δxi- Taxa de variação das variáveis envolvidas

V[xi]- Variância de cada um dos parâmetros xi.

A aproximação realizada pelo método FOSM só fornece estimativas da média e desvio

padrão, o que não é suficiente para a avaliação da probabilidade de falha. Logo, para

estimá-la deve-se assumir a função de distribuição para o fator de segurança de

antemão.

O Índice de Confiabilidade do Fator de Segurança () é uma aplicação direta do método

FOSM, e vem sendo muito utilizado na avaliação estatística do fator de segurança de

taludes. Ele é calculado da seguinte forma:

(4.20)

Onde:

E[FS] é o valor do fator de segurança determinístico calculado com os parâmetros

médios;

Page 59: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

40

[FS] é o desvio-padrão do coeficiente de segurança.

O método FOSM também correlaciona o Índice de Confiabilidade () com a

probabilidade de ruptura, desde que se conheça a forma de distribuição do FS, conforme

apresentado na figura 4.5. A probabilidade de ruptura é expressa por seu inverso,

1/P[R]. Logo, se a P[R] for igual a 1:30, a probabilidade é de 0,033 (ou 1/30). Ela

também pode ser expressa em porcentagem, multiplicando o seu valor por 100, ou seja,

a probabilidade 0,033 seria expressa por 3%.

Figura 4.5: Probabilidade de ruptura versus Índice de Confiabilidade para várias distribuições

(Baecher, 2003).

A figura 4.6 mostra a função densidade de probabilidade do coeficiente de segurança

para uma distribuição normal. A probabilidade de ruptura se refere à área em que a

curva de densidade de probabilidade do FS corresponde a valores inferiores a 1,0.

Nesta figura pode-se observar que as duas curvas apresentam o mesmo Fator de

Segurança, porém a curva 1 apresenta um Índice de Confiabilidade () maior que a

curva 2, por apresentar um desvio padrão menor. Logo, a probabilidade de ruptura PR

é muito maior na curva 2 que na curva 1, devido à maior incerteza dos parâmetros. Da

mesma forma, pode ocorrer de curvas com fatores de segurança diferentes, em que a

curva que apresenta maior FS possui um desvio padrão maior, apresentando

Page 60: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

41

consequentemente uma maior probabilidade de ruptura em comparação à curva que

apresenta um menor FS (Figura 4.7).

Figura 4.6: Distribuição de probabilidade do Fator de Segurança para FS iguais (adaptado de

Phoon, 2008).

Figura 4.7: Distribuição de probabilidade do Fator de Segurança para FS diferentes (Assis, A.P., et

al. 2012-Apostila do curso de Pós-Graduação em Geotecnia, UNB).

NOTA

A ÁREA SOB AS CURVAS

É UNITÁRIA

FR

EQ

NC

IA R

EL

AT

IVA

COEFICIENTE DE SEGURANÇA

DISTRIBUIÇÃO "A"

E[FS] = 1,20

2 P[R]=1;50

=[FS]=0,1

DISTRIBUIÇÃO "B"

E[FS] = 1,50

P[R]=1;7

FS

P[R]

PROBABILIDADE DE FS

IGUAL A ESTA ÁREA

0 0,5 1,5 2 2,5 3

1

1

2

3

4

Page 61: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

42

Os procedimentos computacionais utilizados para avaliar o índice de confiabilidade

revelam também quais os parâmetros que mais contribuem para a incerteza no FS,

através do cálculo da variância do coeficiente de segurança, V[FS], onde se obtém as

parcelas de variância do FS causadas por cada um dos parâmetros (, c, , piezometria,

etc.) envolvidos no cálculo do mesmo. Dessa forma, os parâmetros que mais contribuem

para a incerteza e os que mais influenciam no cálculo do FS são identificados.

A probabilidade de ruptura obtida por meio da avaliação de FS não indica a

probabilidade real ou global de ruptura, mesmo se todos os parâmetros geotécnicos e

geométricos variáveis forem considerados, pois muitos outros fatores de risco

influenciam na probabilidade real de ruptura. Logo, é necessário estabelecer o valor

aceitável do índice ou da probabilidade de ruptura a ele associada, a depender do tipo

de obra, e principalmente das consequências. Neste caso, a experiência juntamente com

as retroanálises de projetos existentes ajudará a determinar o valor de aceitável.

No gráfico (Figura 4.8) de Whitman (1984) pode-se observar a probabilidade de ruptura

e as suas consequências para uma mina de grande porte bem desenvolvida e com poucas

rupturas observadas, permitindo estabelecer um critério específico. As retroanálises das

rupturas indicam valores de menores ou pouco maiores do que 1,0 (probabilidade de

ruptura na faixa de 1:4 a 1:20). As análises de diversos taludes estáveis produziram

valores de entre 1,8 e 3,0, indicando uma probabilidade de ruptura entre 1:30 e

1:1000. Assim decidiu-se por um valor de = 2,0, ou seja, probabilidade de ruptura

menor que 1:50.

Vale ressaltar que os taludes da mina estudada por Whitman (1984), são taludes de cava

simples, sem infraestrutura a seu redor, por isso uma probabilidade de ruptura de 1:50 é

aceitável, pois sabe-se que as consequências são pequenas, somente no interior da cava.

Já para cavas que possuem ferrovias, pátios de carregamento, plantas industriais nas

vizinhanças, as consequências são enormes caso a ruptura ocorra, logo, a probabilidade

de falha para estas cavas deve ser menor que esta. Portanto, quanto maiores as

consequências, menores serão as probabilidades de rupturas aceitas.

Page 62: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

43

Figura 4.8 - Valores usuais de probabilidade e consequências de ruptura em projetos de engenharia

(modificado - Whitman, 1984).

4.4.3- MÉTODO ROSENBLUETH OU ESTIMATIVAS PONTUAIS

O método de Estimativas Pontuais é um método probabilístico alternativo para o

método da Série de Taylor ou FOSM, desenvolvido por Rosenblueth (1975). O método

é simplificado e somente comprometerá a eficácia se as dispersões das variáveis forem

muito grandes.

O método se resume em estimar os momentos (média, desvio padrão etc.) da variável

dependente em função das variáveis aleatórias independentes, desde que se conheçam

ao menos dois momentos, a média e o desvio-padrão, ou as suas estimativas. Este

método, assim como o método FOSM, tem a vantagem de não ser necessário conhecer

as distribuições de probabilidade completas das variáveis independentes ou da

dependente.

Page 63: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

44

Dada uma função bem definida que una a variável dependente às independentes, pode-

se trabalhar com a variabilidade na análise determinística, sem muitas complexidades

nos cálculos envolvidos. Pondera-se a participação de cada variável, calculando dois

valores da função densidade de probabilidade arbitrariamente escolhida para cada

variável independente (Xi), o que resultará em concentrações Pi onde se terão pontos de

estimativa da variável dependente (Y), que servirão para o cálculo dos momentos de Y.

Neste contexto, Rosenblueth mostra como estimar a média, o desvio padrão e o

coeficiente de assimetria, para o caso univariado, onde Y é uma função de apenas uma

variável aleatória X, e X tem média , desvio padrão x e o coeficiente de assimetria x,

como pode ser observado nas expressões abaixo:

(4.21)

(4.22)

(4.23)

(4.24)

(4.25)

Para a variável X que apresenta uma distribuição simétrica, ou seja, x = 0, tem-se que

p+ = p- = ½ e consequentemente:

Page 64: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

45

(4.26)

(4.27)

Quando Y é função de duas variáveis aleatórias simétricas, considera-se neste caso que

as coordenadas e grandezas das concentrações são independentes da função f. A relação

entre as concentrações pode ser generalizada, sendo proporcional a 2n, onde n é o

número de variáveis independentes.

No caso de Y ser função de X1 , X2 , X3 obtém-se as seguintes concentrações:

(4.28)

(4.29)

(4.30)

(4.31)

De acordo com Rosenblueth (1975), estas condições podem ser generalizadas para o

caso multivariado, onde Y depende de n variáveis aleatórias. Para o caso das n variáveis

poderem ser consideradas não correlacionadas entre si, pode-se obter as estimativas da

média e do desvio padrão de Y pelas fórmulas seguintes:

Page 65: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

46

(4.32)

(4.33)

Os valores de yi são obtidos com a aplicação da função que define a dependência entre

Y e as variáveis independentes, substituindo alternadamente os valores dessas variáveis

por j j, j = 1, 2, ..., n, obtendo-se dessa maneira os 2n valores de yi.

Page 66: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

47

CAPÍTULO 5

CRITÉRIOS DE ACEITAÇÃO DO PROJETO E ANÁLISE DO

RISCO

5.1- CRITÉRIOS DE ACEITAÇÃO DE PROJETO PARA FATOR

DE SEGURANÇA E PROBABILIDADE DE FALHA

Em uma mina a céu aberto, o objetivo é fornecer uma configuração de escavação ideal

levando em consideração a segurança, recuperação do minério e retorno financeiro.

Neste sentido, todas as instabilidades devem ser gerenciáveis, desde a escala de talude

de bancada a taludes globais. Conforme já apresentado, os taludes de mina são

tradicionalmente avaliados pelo fator de segurança (FS), onde o equilíbrio limite ocorre

quando o FS é igual a 1. Na prática, as incertezas do projeto não permitem uma

avaliação concreta do provável desempenho do sistema durante um período de tempo

especificado, resultando na maioria das vezes na fixação de um valor mínimo para o

fator de segurança de um projeto, adquirido com a experiência. De acordo com esta

experiência inclui o método analítico utilizado nos cálculos de projeto, o grau de

confiança nos parâmetros de entrada, e as conseqüências das falhas. A maioria dos

projetos para taludes de mina a céu aberto de minério de ferro utiliza como ideal um

valor de FS ≥1.3.

A probabilidade de falha (PF) tem sido cada vez mais utilizada como critério de

aceitação de projeto, principalmente nos últimos 25 anos. Stacey e Read (2009)

sugerem um critério de aceitação de projeto levando em consideração o FS, a PF, bem

como as consequências caso a ruptura ocorra e a escala do talude (Tabela 5.1). Existem

outras recomendações na literatura para valores toleráveis de PF, correlacionados com o

FS, como as Tabelas 5.2 e 5.3 (Priest e Brown, 1983 apud Stacey e Read, 2009). Outros

critérios de projeto para PF também podem ser consultados em (Kirsten, 1983), (SRK

consulting, 2006) e (Swan e Sepulveda, 2001) apud Stacey e Read, 2009.

Page 67: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

48

Tabela 5.1: Valores típicos de critério de aceitação de FS e PF (Stacey e Read, 2009).

Tabela 5.2: Orientações de Fator de Segurança e Probabilidade de Falha (Priest e Brown, 1983).

Page 68: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

49

Tabela 5.3: Interpretação de Priest e Brown (1983) para as orientações de FS e PF.

Neste sentido, é importante salientar que somente o valor da PF não deve ser utilizado

como subsídio para decisão de projeto, visto que este gerenciamento deve ser feito após

o cálculo das consequências das falhas envolvidas, a partir das estimativas das análises

de risco.

5.2- ANÁLISE DE RISCO

Em um projeto de talude, a análise probabilística é utilizada para calcular a PF existente

naquele projeto, considerando as incertezas associadas às variáveis aleatórias existentes.

Diante do valor da PF, é possível quantificar os riscos do projeto e gerenciá-los, visto

que uma definição aceita para o risco é a probabilidade de falha (que é a probabilidade

do evento de falha ocorrer) versus os custos de todas as possíveis consequências do

evento de falha, caso ele ocorra, conforme a Equação 5.1:

Page 69: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

50

R = PF x Consequências (5.1)

As consequências podem ser diretas ou indiretas. A primeira está relacionada

diretamente ao evento de falha e sempre ocorre. As demais consequências, relacionadas

a terceiros ou ao ambiente exterior, são condicionais, ou seja, podem ou não ocorrer. De

acordo com Stacey e Read (2009) as consequências são classificadas de seis formas:

1- Mortes ou lesões de pessoas, incluindo os custos da ação industrial e legal.

2- Danos aos equipamentos e infra-estrutura.

3- Impactos econômicos sobre a produção, incluindo os custos de:

- Remoção do material rochoso;

- Remediação do talude: Pode ser necessário um retaludamento/ recorrência nos bancos

envolvidos e superiores para se evitar novas falhas;

- Reparação de estradas e rampas de acesso.

- Custos dos equipamentos envolvidos direta e indiretamente;

- Volumes de minério irrecuperáveis devido à perda de uma rampa, por exemplo.

4- Um impacto econômico maior, no caso, por exemplo, de rupturas de taludes

globais que possam interferir na remoção do minério a longo prazo de tal forma que os

contratos não possam ser cumpridos.

5- Perda de confiança dos trabalhadores.

6- Relações públicas, tais como a resistência das partes interessadas, devido a

opiniões sociais e / ou impactos ambientais decorrentes da falha.

Page 70: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

51

5.2.1- CLASSIFICAÇÃO DOS RISCOS

Na literatura, já existem diversos critérios de aceitação dos riscos, em forma de tabelas,

figuras ou gráficos, que variam em função do tipo de projeto, custos, tempo,

consequências etc. As Figuras 5.1 a 5.3 apresentam uma forma de analisar os riscos

qualitativamente, podendo ser considerados ou não os impactos ao longo do tempo. A

Figura 5.1 combina os prejuízos com as vulnerabilidades (que são as probabilidades de

falha) e com as gravidades (custos probabilizados). Todos os riscos na zona vermelha

devem ser mitigados na direção das zonas amarelas ou verdes, ou devem ser

estrategicamente evitados.

Figura 5.1: Análise de riscos qualitativa 2D (PROGEO, 2007)

A Figura 5.2 apresenta a grade de riscos em três dimensões, acrescentando o momento

em que o risco pode ocorrer e possibilitando priorizar as ações no tempo. Os riscos

imediatos são mais fáceis de serem detectados, logo, a grade, em geral, tende a ficar

Page 71: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

52

mais sobrecarregada nos primeiros meses, apesar de não ser o caso do exemplo abaixo.

Os riscos não identificados de imediato precisam de informações complementares no

seu devido prazo, com um nível de confiabilidade maior.

Figura 5.2: Análise de riscos qualitativa 3D (PROGEO, 2007).

SRK Consulting apud Stacey e Read, 2009 apresenta um histórico de vários países,

incluindo os Estados Unidos (Figura 5.3), que compara os critérios de aceitação ao risco

com estatísticas de fatalidades (as fatalidades são consideradas geralmente pelas

empresas como a principal consequência), classificadas como voluntárias ou

involuntárias.

As atividades consideradas como involuntárias são atividades do dia-a-dia e ou doenças.

Valores de risco entre 1 e 1:10 são intoleráveis, entre 1:10 e 1:100 pode ser justificável,

Page 72: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

53

e abaixo de 1:10.000 são desprezíveis. Na Figura 5.3, é apresentada também a estatística

para fatalidades em taludes de mina considerando a probabilidade de falha anual.

Figura 5.3: Comparação do critério de aceitação ao risco com estatísticas (modificado de SRK

Consulting apud Stacey e Read, 2009).

Page 73: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

54

Os riscos apresentados para taludes de mina e barragens do histórico são os mesmos,

estando entre 1:100 e 1:1000, pois as consequências nos dois casos são inversamente

proporcionais às PFs. A PF anual para taludes de mina é cerca de mil vezes maior que a

PF das barragens, enquanto que o índice de mortes esperadas é cerca de mil vezes

menor.

Stacey e Read (2009) sugerem que minas a céu aberto sejam projetadas para um nível

de risco de fatalidade entre 1: 1000 a 1: 10000.

Page 74: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

55

CAPÍTULO 6

MINA DE ALEGRIA: GEOLOGIA E MODELO GEOMECÂNICO

6.1- APRESENTAÇÃO DA MINA

Conforme apresentado na Introdução do Capítulo 1, a Mina de Alegria (Figura 6.1) foi

utilizada como estudo de caso para a realização das análises probabilísticas. Para o

desenvolvimento das análises, foi necessária a escolha de uma seção geomecânica da

cava. Dessa forma, será apresentado neste capítulo o modelo geomecânico da mina,

bem como os parâmetros de projeto utilizados. Informações adicionais e a geologia

regional e local da mina em questão também serão apresentadas a seguir.

A mina de Alegria pertencente à empresa Vale S.A. e está localizada no município de

Mariana/MG, a 145 km de Belo Horizonte. O acesso pode ser feito, a partir da cidade de

Mariana, pela MG-129 em um percurso de aproximadamente 34 km. Juntamente com as

minas de Fábrica Nova, Fazendão e Timbopeba, integram o Complexo Minerador de

Mariana.

A produção anual de minério de ferro da mina de Alegria está em torno de 14 milhões

de toneladas atualmente.

Page 75: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

56

Figura 6.1: Fotografia aérea da Mina de Alegria (Arquivo Vale)

6.2- GEOLOGIA DA MINA

A área da Mina de Alegria está inserida na porção leste do Quadrilátero Ferrífero.

Estratigraficamente localiza-se sobre as rochas metassedimentares das unidades do

Supergrupo Minas. Nas adjacências da mina, afloram quase todas as unidades deste

Supergrupo, representando as supracrustais mais jovens do Quadrilátero Ferrífero (Dorr,

1969). Estão presentes o Grupo Tamanduá, as formações Moeda, Batatal, Cauê e os

grupos Piracicaba, Sabará e Itacolomi. Interceptando estas unidades e com idades mais

jovens, ocorrem rochas intrusivas máficas e ultramáficas, conforme coluna estratigráfica

apresentada na Figura 6.2.

Os minérios de ferro são representados por itabiritos (entre 30 e 60% Fe) e hematitas

(> 60% Fe) pertencentes à Formação Cauê, porção intermediária do Grupo Itabira.

Page 76: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

57

6.2.1- ARCABOUÇO ESTRUTURAL

Estruturalmente, em quase toda a área da cava, a foliação exibe direção geral E-W com

mergulhos moderados a íngremes para Sul.

A área da cava apresenta a foliação com mergulho predominante de 179°/60°, não

sendo evidenciada uma compartimentação estrutural. Segundo os estudos da

Geoestrutural (2005), as juntas estão presentes em toda área, apresentando pouca

Figura 6.2: Coluna estratigráfica do Quadrilátero Ferrífero (adaptada de

Marshak & Alkmin, 1998).

Page 77: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

58

persistência, não comprometendo os taludes em termos globais. As falhas ocorrem ao

longo do contato dos diques máficos com a formação ferrífera.

Segundo Dorr (1969), a formação ferrífera encontra-se intensamente deformada e

dentro da zona de charneira de uma das estruturas dominantes da região, o Sinclinal de

Alegria. Este sinclinal desenvolveu-se sobre o flanco oeste de uma estrutura pré-

existente e de maior envergadura que é o chamado Sinclinal de Santa Rita, promovendo,

desta forma, o seu redobramento (Figura 6.3).

Figura 6.3: Mapa geológico esquemático dos arredores da Mina de Alegria (Alkmim, 2003).

Page 78: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

59

6.2.2- ESTRATIGRAFIA E GEOLOGIA LOCAL

Será abordada aqui a estratigrafia de maior influência na área da cava. Conforme o

relatório “Mina Alegria – Análises de Estabilidade – Dimensionamento de Taludes” Nº

SM – 6187/2.003, de autoria da Geoestrutural Consultoria e Projetos (2005), e do

relatório interno de auditoria de recursos e reservas da empresa Vale (2013), a geologia

local apresenta as características descritas abaixo (Figura 6.4).

Figura 6.4: Mapa geológico da Mina de Alegria disponibilizado pelo planejamento de curto prazo

(abril de 2015).

Page 79: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

60

A Formação Moeda ocorre nas encostas da Serra do Caraça vizinhas à mina, sendo

representada por uma grande massa de quartzito micáceo a puro. A camada quartzítica

formadora da serra possui uma grande espessura, da ordem de várias centenas de metros

(talvez uma das maiores do Quadrilátero Ferrífero) e encontra-se em contato brusco

com a Formação Batatal. Os contatos mostram um forte caráter tectônico, exibindo uma

intensa milonitização.

A Formação Batatal está representada por uma camada de filito profundamente

alterado, de coloração bege a castanha clara. Os filitos sericíticos, frequentemente

grafitosos da Formação Batatal ocorrem também no vale entre a Serra do Caraça e a

mina, por onde drena basicamente o Córrego das Almas.

A Formação Cauê apresenta três horizontes distintos e contínuos, que são mapeáveis em

quase toda área de lavra. Da base para o topo, tem-se: uma camada de formação

ferrífera ocre; uma camada de itabirito; e um horizonte de itabiritos anfibolíticos. É

representada principalmente pelo minério constituído por itabiritos de fácies óxido,

laminados e metamorfizados, em que a banda original de chert ou jaspe foi

recristalizada em quartzo granular e os minerais de ferro foram transformados em

hematita, especularita, magnetita ou martita.

Os diques de rochas básicas cortam os Filitos Batatal e a Formação Ferrífera Cauê na

área da mina, com espessuras que variam entre 20 a 30m, alterados em grandes

profundidades. Estão deformados em variados graus, exibindo a foliação das

encaixantes.

A Formação Cercadinho não ocorre na zona de influência da cava. Aflora normalmente

na margem direita do Rio Piracicaba, diretamente sobre a Formação Cauê. A mesma é

constituída principalmente por quartzitos ferruginosos micáceos ou puros, quartzo-

sericita-filitos e filitos sericíticos grafitosos.

Coberturas cenozóicas, representadas por cangas estruturais, cangas em crostas e

depósitos de talus, consolidados ou não, cobrem as unidades anteriormente descritas.

Page 80: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

61

6.3- MODELO GEOMECÂNICO DA MINA DE ALEGRIA

6.3.1- CARACTERIZAÇÃO GEOMECÂNICA

Neste item, será apresentado o modelo geomecânico da Mina de Alegria. Em 2013, foi

realizada uma atualização deste modelo, tendo como base os modelos geomecânicos

anteriores, modelo geológico atual da mina, informações de sondagens geológico-

geotécnicas e novas informações do modelo hidrogeológico. O objetivo foi

redimensionar os taludes de cava final para a mina em questão considerando as novas

informações obtidas e obtenção de um modelo geomecânico atualizado para

atendimento às demandas da rotina.

6.3.2- CLASSIFICAÇÃO GEOMECÂNICA DO MACIÇO

A classificação geomecânica do maciço da área em estudo foi elaborada com base nos

dados das descrições geomecânicas dos testemunhos de sondagem e com base no

modelo geomecânico elaborado pela Geoestrutural em janeiro de 2005, além de

considerar informações das descrições geológicas realizadas pela Vale, que incluem

compacidade do maciço, litologia, entre outras informações, que foram úteis no

momento da classificação do maciço rochoso.

Foram aplicados os critérios de Classificação RMR (Bieniawski, 1989) aos maciços

rochosos, sendo incluídos tanto os maciços constituídos por rochas não alteradas como

os constituídos por rochas alteradas que ainda tenham comportamento de maciço

rochoso, isto é, onde as descontinuidades são identificáveis e interagem na resistência

do maciço.

No Quadrilátero Ferrífero, é muito comum um manto de intemperismo bem profundo,

em que as rochas apresentam um grau de alteração muito elevada em grandes

profundidades, preservando às vezes somente uma estrutura reliquiar da rocha, o que a

diferencia de um solo propriamente dito. Logo, para estes maciços rochosos alterados

que não mais possuem comportamento de maciço rochoso (maciços de rochas

Page 81: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

62

completamente intemperizadas na condição de solo residual rijo e saprólitos), não se

aplicou o Sistema RMR, e os mesmos foram classificados como CLASSE VI (o sistema

RMR não é aplicado). Poderia neste caso, utilizar qualquer outra nomenclatura para

designar estes materiais, porém hoje, CLASSE VI é o nome usualmente utilizado pela

Vale. Para estes maciços, foi dada uma atenção especial para a caracterização da

anisotropia de resistência dos materiais em função da estrutura herdada da rocha sã.

Entende-se como “comportamento de maciço rochoso” aqueles maciços que ainda

tenham características de matriz de rocha intacta (rochas alteradas, porém ainda não se

apresentam como solos estruturados) separadas por descontinuidades e aqueles maciços

onde ainda seja possível caracterizar grau de fraturamento e condições das

descontinuidades.

O Sistema RMR também não foi aplicado aos colúvios e sedimentos (depósitos

Quaternários e Terciários).

O Itabirito Compacto apresenta-se como classe geomecânica V em algumas seções

geomecânicas, devido apresentar parâmetros geomecânicos que permitiram tal

classificação, tais como termos médios e compactos extremamente fraturados.

Para a composição do modelo geomecânico foram elaboradas quatorze seções

geomecânicas a partir de interpretações geológico-geomecânicas das informações de

sondagem, e de mapeamento geomecânico de superfície existente. A localização das

seções geomecânicas é dada na Figura 6.5.

Page 82: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

63

Figura 6.5: Localização das seções geomecânicas na geometria de cava final da mina de Alegria

Na área da cava, o maciço é constituído por quatro classes, conforme descritas abaixo:

Classe de maciço VI – Maciço superficial recobrindo a maior parte da área,

tratando-se de maciços compostos por solos residuais maduros, solos transportados e

litotipos friáveis com baixa coesão. A classe VI aflora predominantemente nas porção

norte e nordeste da cava com espessura média variando entre 60 m e 150 m. Esta classe

ocorre em todos litotipos, com exceção ao itabirito compacto (IC) e rocha intrusiva

(IN).

Page 83: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

64

Classe de maciço V – Maciço muito pobre com baixa resistência,

completamente alterado e fraturado. Ocorre ao longo de toda cava, com variações de

profundidades e espessuras, predominantemente nas porções centrais, centro-sul e

sudeste da cava. Sua espessura varia entre 50 m e 200 m. Observa-se uma cunha de

grandes proporções de classe V composta de itabirito argiloso (IAG) e filito (FL) na

porção centro sul da cava final. Ocorre em todos litotipos presentes.

Classe de maciço IV – Maciço pobre, constituído de rocha muito alterada e

fraturada. Está recoberto pelo maciço Classe V. Ocorre homogeneamente ao longo de

toda a cava, e sua espessura varia de 10m até em torno de 200 m. Geralmente essa

classe representa a zona de transição solo-rocha. Os litotipos que compõem essa classe

são: itabirito goetítico (IGO), itabirito compacto (IC), rocha intrusiva (IN), quartzito

(QT) e Formação Gandarela (GAD).

Classe de maciço III – Maciço rochoso fraturado medianamente alterado. As

rochas apresentam resistência de moderada a alta e alteração baixa a média. Na porção

sudeste da cava essa classe se encontra abaixo da cota 900 m, já na porção NW ocorre

próximo à cota 1000 m. Os litotipos presentes são itabirito goetítico (IGO), itabirito

compacto (IC), rocha intrusiva (IN), quartzito (QT) e Formação Gandarela (GAD).

Nos taludes da cava final estudada foram observadas todas as classes mencionadas

acima (Figura 6.6). De acordo com o relatório VogBr (2013), espera-se que na cava

final, as Classes V e VI ocorram com até 150 m de espessura cada uma, nos litotipos

itabirito goetítico (classes VI e V) e itabirito compacto (classe V). A classe IV apresenta

espessura de até 200 m em cava final, ocorrendo principalmente nos litotipos itabirito

goetítico (IGO) e itabirito compacto (IC). A classe III ocorre nas bancadas próximas ao

pé do talude e no fundo da cava em itabirito compacto.

Na cava atual, é possível observar no mapa que as classes geomecânicas predominantes

são as V e VI. Já em cava final predomina a classe V, também ocorrendo porções de VI,

IV e pontualmente a classe III. No modelo geomecânico elaborado não foi encontrado a

classe I-II.

Page 84: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

65

Figura 6.6: Mapa geomecânico em cava final da Mina de Alegria

Page 85: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

66

CAPÍTULO 7

ESTUDO DE CASO: ANÁLISE PROBABILÍSTICA DE UMA

SEÇÃO DA CAVA FINAL DA MINA DE ALEGRIA UTILIZANDO

O PROGRAMA SLIDE

7.1- INTRODUÇÃO

O objetivo principal deste estudo, conforme já apresentado detalhadamente no Item 1.2,

é apresentar de uma maneira sucinta, algumas formas possíveis da abordagem

probabilística para a análise de estabilidade dos taludes de cavas de mineração. Neste

estudo, serão realizadas análises probabilísticas de estabilidade de um talude da mina de

Alegria, considerando uma geometria de cava final, e posteriormente, apresentar os

cálculos necessários para uma análise de risco deste talude. A abordagem probabilística,

entre outras atribuições, possibilita calcular a probabilidade de falha, o Índice de

Confiabilidade, e consequentemente, avaliar o risco de um talude, para posteriormente,

gerenciá-lo. Estes estudos são uma complementação das análises determinísticas, que

aliados a um modelo geomecânico confiável, darão um subsídio maior para decisões

gerenciais, diante de projetos de taludes, cada dia, mais desafiadores.

O software utilizado para o estudo foi o Slide, versão 5.0 (Rocscience, 2004) que se

baseia na teoria do Equilíbrio Limite. Este software é muito utilizado para analisar

rupturas do tipo circular e também plano-circulares, que são os modos de ruptura mais

comumente associados às características dos maciços rochosos intemperizados, que por

ora preservam as estruturas reliquiares da rocha sã, predominantes na Mina Alegria em

até grandes profundidades, onde as classes de maciço V e VI, predominam até mesmo

em cava final, conforme descrito no Capítulo 6. Em casos de maciços rochosos menos

intemperizados, como maciços de classe I, II, III e IV (conforme classificação

Bieniawski, 1989), também descritos no Capítulo 6, sugere-se que as análises

Page 86: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

67

probabilísticas sejam realizadas para possíveis outros modos de falha, com a ajuda de

outros softwares de análise de estabilidade de taludes.

Para que uma análise probabilística possa ser realizada, é necessário conhecer os dados

estatísticos dos parâmetros de projeto das litologias envolvidas na análise e dos

eventuais carregamentos. Os parâmetros de projeto são apresentados a seguir.

7.1.1- PARÂMETROS DE PROJETO

Os parâmetros de resistência ao cisalhamento, coesão e ângulo de atrito, bem como o

peso específico dos materiais utilizados nas análises, são os parâmetros de projeto

definidos pela empresa VOGBR, em um trabalho de dimensionamento de taludes para a

Mina de Alegria realizado em 2013. Os mesmos estão listados por litologia e classes de

maciço (Tabela 7.1). Estes parâmetros são o resultado da compilação de investigações

realizadas em diferentes litologias ocorrentes na Mina de Alegria e também de

investigações de litologias não amostradas em Alegria, porém, amostradas em outras

minas de propriedade da Vale e adotados em análises de estabilidades de taludes de

escavação das mesmas.

Os ensaios mais antigos na Mina de Alegria foram realizados no ano de 2003, pela

empresa Geolabor, atualmente nomeada como Chammas Engenharia. Os resultados

destes ensaios podem ser verificados no relatório Geolabor TLF – 2708/03 de Setembro

de 2003. Além destes, foram consultados também os ensaios realizados na Mina de

Fazendão, realizados pela mesma empresa (relatório de ensaios geolabor TLF 2922/

03), bem como os ensaios executados na Mina de Timbopeba (realizados pela empresa

Furnas Centrais Elétricas S.A em 2001) em litologias homônimas, pertencentes à

mesma formação geológica.

Page 87: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

68

Tabela 7.1: Parâmetros geotécnicos considerados nas análises de estabilidade (VOGBR, 2013).

A Geolabor ensaiou na Mina de Alegria, amostras de rocha completamente alterada

branda (W5, R0) a solo residual rijo (W6, R0), interpretadas como maciço Classe VI, e

outras classes (V e IV). Para estas amostras, foram executados ensaios de caracterização

completa (granulometria, peso específico dos sólidos, limites) e ensaios para

determinação dos parâmetros de resistência por meio de cisalhamento direto lento pré-

adensado e inundado e/ou compressão triaxial rápido pré-adensado, com medidas de

poropressão (CU).

As amostras das litologias que apresentaram dificuldades na obtenção de corpos de

prova para execução de ensaios de compressão triaxial foram submetidas a ensaios de

Peso

Específico

(kN/m3) c' Ф' c' Ф'

(kpa) (Graus) (kpa) (Graus)

IF VI 28 10 32 40 34

(Itabiritos silicosos) V 28 30 32 60 35

IC V 30 60 36 100 38

(Itabirito compacto IV 32 80 36 200 40

e semi-compacto) III 35 120 38 1000 44

IAG - IAR V 25 30 30 60 32

(Itabiritos argilosos) IV 28 50 32 120 38

VI 30 20 30 40 32

IGO - HGO V 30 30 30 60 34

Itabirito goetítico IV 32 40 32 120 38

III 35 80 36 600 42

IN V 20 - - 50 28

(Intrusiva básica) IV 24 - - 120 34

III 26 - - 400 38

FIL VI 18 10 18 25 25

(Filito) V 18 20 22 30 28

Canga VI 28 - - 80 34

LitotipoClasse

Maciço

Envoltória de Resistência Efetiva

Paralelo à Foliação Oblíquo à FoliaçãoCor

Page 88: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

69

cisalhamento direto conforme especificação acima. Cada ensaio foi constituído por uma

série de quatro corpos de prova, com tensões confinantes de 50, 150, 300 e 600 kPa.

Levando em consideração o talude estudado (um talude de cava final com 160 m de

altura), estas tensões aplicadas são muito baixas, não sendo representativas para as

dimensões do talude.

Para os ensaios em amostras de rocha pouco alterada extremamente resistente (W2, R6)

a medianamente alterada muito resistente (W3, R5), interpretadas como Classe III, a

Geolabor subcontratou o Laboratório de Tecnologia de Rochas do Departamento de

Engenharia de Minas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Nestas rochas,

foram realizados ensaios de compressão simples, axial e diametral.

Atualmente está em andamento na Vale uma campanha de investigações geotécnicas,

incluindo ensaios de laboratório para determinação dos parâmetros de resistência, cujos

resultados serão incorporados nos próximos estudos e servirão para validação e/ou

atualização dos atuais.

7.1.2- ANÁLISE DE ESTABILIDADE DETERMINÍSTICA DA SEÇÃO

A análise de estabilidade com abordagem determinística é o primeiro passo a ser

realizado antes da aplicação da abordagem probabilística de um talude. A Figura 7.1

apresenta a seção geomecânica escolhida para a realização das análises. A seção

representa uma geometria de cava final ao sul da mina, apresentando 160 m de altura.

Na análise da estabilidade do talude, foram utilizados os parâmetros de resistência

oblíquos à foliação da rocha, pois esta descontinuidade na seção estudada está favorável

à estabilidade, ou seja, a foliação mergulha para o maciço, logo a superfície potencial de

ruptura corta obliquamente essa feição. Neste caso, o modo de ruptura adotado no

estudo foi o modo de ruptura circular. Conforme descrito no Item 3.3, a ruptura circular

pode ocorrer também em rochas brandas, quando a anisotropia gerada pelas

Page 89: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

70

descontinuidades não influencia na superfície de ruptura, neste exemplo, devido à

direção do mergulho da rocha ser perpendicular ao corte do talude.

O nível do lençol freático considerado neste trabalho foi determinado com base nas

informações do modelo hidrogeológico existente. A análise da estabilidade com

abordagem probabilística realizada é válida para esta condição de nível d’água. Caso

haja alteração nas informações hidrogeológicas na região da seção analisada, é

necessário reavaliar a seção.

Figura 7.1: Seção geomecânica de análise da estabilidade

Os litotipos presentes na seção são:

IC- Itabirito compacto

IGO-HGO- Itabirito goetítico/Hematita goetítica

CG- Canga

Abaixo, são listados o programa e critérios utilizados na análise determinística:

Programa: Slide 5.0 (Rocscience, 2004);

Método de análise: Método de Bishop Simplificado;

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IGO-HGO classe IV IC classe IV

IC classe V

CG classe VI

Page 90: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

71

Critério de ruptura: Mohr-Coulomb;

Modo de ruptura: Ruptura Circular;

Número de superfícies de ruptura: 1000.

Após rodar o programa com os critérios acima definidos, a superfície de ruptura crítica

da seção de análise foi então identificada, conforme Figura 7.2.

Figura 7.2: Investigação do círculo de ruptura crítico da seção de análise pela abordagem

determinística

A superfície de ruptura crítica para esta seção, utilizando uma abordagem

determinística, apresenta FS=1,35. É possível observar também que o círculo de ruptura

crítico envolve os seguintes litotipos: IGO/HGO (classe VI) e IGO/HGO (classe V). Os

dados estatísticos dos litotipos citados anteriormente, que são os predominantes na

seção de análise, serão os considerados para a realização das análises com abordagem

probabilística. Os círculos críticos podem se alterar de acordo com os parâmetros de

resistência adotados nas abordagens determinísticas e probabilísticas, portanto apesar de

se usar esta simplificação de materiais na abordagem probabilística, a avaliação dos

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IGO-HGO classe IV IC classe IV

IC classe V

CG classe VI

Page 91: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

72

litotipos envolvidos nos círculos críticos de ruptura nas duas abordagens sempre deverá

ser feita para que todos os materiais que realmente influenciam na estabilidade do talude

sejam incorporados na avaliação probabilística.

7.1.3- DADOS ESTATÍSTICOS DOS PARÂMETROS GEOTÉCNICOS DE

PROJETO CONSIDERADOS VARIÁVEIS ALEATÓRIAS

Para a análise de estabilidade de taludes utilizando a abordagem probabilística é

necessário conhecer a distribuição estatística ou pelo menos a média e o desvio padrão

dos parâmetros geotécnicos das litologias analisadas na seção, para que se possa, pelo

menos, estimar a distribuição estatística destas variáveis, utilizadas no cálculo da

probabilidade de falha.

Neste estudo de caso, foram considerados os parâmetros que apresentam uma maior

variabilidade dos dados, que são os parâmetros de resistência (coesão e ângulo de atrito)

em maior grau, e o peso específico, em menor grau. O nível d’água não será

considerado como variável aleatória, pois a superfície de ruptura crítica não passa pela

linha. Quando se tem mais de um ensaio laboratorial para determinação destes

parâmetros para cada litologia e classe de maciço, é possível calcular diretamente a

média e desvio padrão destes parâmetros. O ideal seria um número suficiente de

amostras por litotipo e classe de maciço que representasse a variabilidade dos

parâmetros. Porém, sabe-se que esta variabilidade é muito grande, não sendo viável, até

mesmo economicamente, a realização de muitos ensaios laboratoriais, além do

dinamismo do processo da lavra, que acaba inviabilizando um número maior de ensaios.

Diante disso, neste estudo, os dados existentes das variáveis (coesão, ângulo de atrito e

peso específico) são assumidos como a média, e a partir destes valores, que no caso, são

os parâmetros de projeto, faz-se o uso da variância padrão universal para estimar os

valores do desvio padrão dos parâmetros geotécnicos em questão. A partir destes dados,

é possível definir uma distribuição de probabilidade das variáveis em estudo, que serão

utilizadas para estimar a distribuição de probabilidade do fator de segurança. A

Page 92: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

73

probabilidade de falha corresponde à probabilidade do fator de segurança ser menor que

1 (FS crítico que indica ruptura).

A variância padrão universal definida para os principais parâmetros geotécnicos vem

sendo observada por diversos pesquisadores desde a década de 1970 (Harr, 1984;

Hidalgo, 2013; Assis et al., 2012), a partir de um banco de dados de diversos locais do

mundo, representando a variabilidade dos mesmos, e definindo dessa forma o

coeficiente de variação padrão para estas variáveis, bem como a faixa de variação das

mesmas (Tabela 7.2). Esta metodologia vem sendo bastante utilizada para a estimativa

do desvio padrão dos parâmetros de resistência (c e ϕ), resistência uniaxial e peso

específico da rocha, quando não se tem ensaios, ou quando não é possível realizar um

grande número destes, ou até mesmo quando os ensaios não representam a variabilidade

do parâmetro. A Tabela 7.3 apresenta os valores da média das variáveis em estudo, que

correspondem aos valores de projeto, e o desvio padrão, que foi calculado a partir do

coeficiente de variação padrão das variáveis em questão.

Tabela 7.2: Covariância padrão para os principais parâmetros geotécnicos

Parâmetro Covariância

Padrão (%)

Faixa

Covariância (%)

Ângulo de atrito efetivo 10 04 a 20

Coesão 40 20 a 80

Peso específico 03 02 a 08

Resistência à Compressão Uniaxial 40 6 a 100

Tabela 7.3: Cálculo do desvio padrão dos parâmetros analisados na seção a partir da covariância

padrão

Material Parâmetro Média

( )

Desvio

Padrão (s)

IGO_VI

Coesão (kpa) 40 16

Ângulo de atrito efetivo 32 3,2

Peso específico (kN/m3) 30 0,9

IGO_V

Coesão (kpa) 60 24

Ângulo de atrito efetivo 34 3,4

Peso específico (kN/m3) 30 0,9

X

Page 93: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

74

O desvio padrão foi calculado considerando a fórmula do coeficiente de variação, dada

por:

(7.1)

onde CV é o coeficiente de variação em percentual, s é o desvio padrão amostral e é

a média aritmética.

7.2-APLICAÇÃO DO MÉTODO FOSM (First Order Second

Moment)

O método FOSM é um dos métodos probabilísticos, já apresentado no Capítulo 4, que

permite calcular a probabilidade de falha, além de possibilitar calcular quais parâmetros

geotécnicos das litologias, considerados como variáveis aleatórias, mais contribuem

para a variância do fator de segurança, permitindo descartar as variáveis de menor

relevância no momento do cálculo da probabilidade de falha pelos demais métodos

(Método das Estimativas Pontuais e Método de Monte Carlo), a serem usados.

A metodologia do método consiste em calcular a variância do fator de segurança em

função da variação da média das variáveis aleatórias independentes. A partir destes

dados, juntamente com a variância destas variáveis, é possível calcular a variância total

e por fim a porcentagem de contribuição de cada variável nesta variância total.

Segundo Farias e Assis (1998), a simulação da variação da média destas variáveis deve

ficar entre 5% a 10% do valor real. Neste estudo foi adotada a variação de 10%. Os

valores resultantes e usados nas simulações podem ser verificados na Tabela 7.4.

sCV 100%

X

X

Page 94: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

75

Tabela 7.4: Cálculo da variação da média das variáveis aleatórias em estudo

Variável Média

( ) Desvio Padrão (s) Média + variação 10%

IGO_VI_coesão (kpa) 40 16 44

IGO_VI_atrito 32 3,2 35,2

IGO_VI_peso específico (kN/m3) 30 0,9 33

IGO_V_coesão (kpa) 60 24 66

IGO_V_atrito 34 3,4 37,4

IGO_V_peso específico (kN/m3) 30 0,9 33

7.2.1- NÚMERO DE INTERAÇÕES

O número de interações do Método FOSM é igual a n + 1, onde n é o número de

variáveis aleatórias. As simulações da variação do fator de segurança no método FOSM

são realizadas a partir de uma análise determinística; logo, como são seis variáveis

aleatórias, são necessárias sete análises, sendo que destas uma já foi realizada e

apresentada no Item 7.1.3, que é a análise determinística da seção utilizando os valores

médios dos parâmetros geotécnicos. Para as demais seis simulações, enquanto uma

variável apresenta o valor da média mais a variação de 10% (Tabela 7.4), as demais

variáveis permanecem fixas em seus valores médios.

A Tabela 7.5 mostra o valor do Fator de Segurança calculado para cada simulação

realizada. As análises realizadas estão apresentadas no Anexo I desta dissertação.

X

Page 95: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

76

Tabela 7.5: Simulações considerando a variação da média das variáveis em estudo com seus

respectivos fatores de segurança calculados

Simulação

Material Análise

Determinística 1 2 3 4 5 6

IGO_VI_coesão

(kpa) 40 44 40 40 40 40 40

IGO_VI_atrito 32 32 35,2 32 32 32 32

IGO_VI_peso

específico

(kN/m3)

30 30 30 33 30 30 30

IGO_V_coesão

(kpa) 60 60 60 60 66 60 60

IGO_V_atrito 34 34 34 34 34 37,4 34

IGO_V_peso

específico

(kN/m3)

30 30 30 30 30 30 33

FS 1,353 1,364 1,406 1,329 1,362 1,404 1,358

7.2.2- CÁLCULO DA VARIÂNCIA DO FATOR DE SEGURANÇA

Diante dos resultados apresentados no Item 7.2.1, e considerando os dados estatísticos

já calculados, foram feitos os demais cálculos do método FOSM (First Order Second

Moment), conforme a Equação

, os quais estão apresentados na

Tabela 7.6.

Page 96: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

77

Tabela 7.6: Cálculo da variância do Fator de Segurança pelo método FOSM

Xi Xi FSi

V[Xi]

IGO_VI_coesão 4,0 -0,01100 -0,00275 256 0,002 22,3%

IGO_VI_atrito 3,2 -0,05300 -0,01656 10,24 0,003 32,3%

IGO_VI_peso

específico 3,0 0,02400 0,008 0,81 0,000 0,6%

IGO_V_coesão 6,0 -0,00900 -0,0015 576 0,001 14,9%

IGO_V_atrito 3,4 -0,05100 -0,015 11,56 0,003 29,9%

IGO_V_peso

específico 3,0 -0,00500 -0,00167 0,81 2,25E-06 0,0%

Onde:

Xi = Variação da média das variáveis em estudo (que neste caso representa 10% do

valor da média)

FSi = Variação do FS (Diferença entre o FS determinístico e o FS das simulações)

V[Xi] = Variância da média das variáveis (desvio padrão ao quadrado)

V[FS] = Variância total do Fator de Segurança. (Calculada pela razão entre a variância

de cada variável sobre a variância total do FS).

Como base nos resultados acima, a variância total do Fator de Segurança é a soma das

variâncias para cada variável aleatória, que corresponde a V[FS] = 0,009. Logo, neste

caso, seu desvio padrão será 0,095.

A última coluna da Tabela 7.6 apresenta a contribuição, em porcentagem, das variáveis

aleatórias na variância do fator de segurança, resultado do método FOSM. Esta

contribuição é calculada pela razão entre a contribuição de cada variável sobre a

variância total do FS. A mesma está representada na Figura 7.3, onde é possível

Page 97: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

78

verificar que as variáveis que mais influenciam na variação do FS são os ângulos de

atrito e, em menor relevância, a coesão.

O peso específico praticamente não tem influência na variância, logo não será

considerado como variável aleatória nos Métodos de Monte Carlo e Estimativa Pontual.

Figura 7.3: Relevância das variáveis aleatórias em estudo na seção de análise, calculadas pelo

método FOSM

Isto é interessante porque a utilização de um número de variáveis aleatórias muito

grande nos métodos de Monte Carlo e Estimativas Pontuais deixaria o processo

extremamente demorado e trabalhoso, pois o número de análises seria grande,

principalmente na simulação de Monte Carlo.

Para a simulação da abordagem probabilística com estes métodos, serão consideradas

apenas as quatro variáveis aleatórias de maior relevância, que são a coesão e o ângulo

de atrito do litotipo IGO, classe VI e classe V.

Page 98: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

79

7.2.3- CÁLCULO DA PROBABILIDADE DE FALHA

Finalmente, para o cálculo da probabilidade de falha pelo método FOSM, assumiu-se

uma distribuição normal probabilística para a variável dependente Fator de Segurança, e

a mesma foi calculada pelo comando abaixo utilizando o Excel:

PF= DIST.NORM.N(1; FS médio; desviopadrão; VERDADEIRO) (7.2)

PF= DIST.NORM.N(1; 1,353; 0,095; VERDADEIRO)= 0,000101

PF= 0,01%

A probabilidade de falha foi pequena, mas sua análise não pode ser feita pelo seu valor

em si, e sim, dentro do contexto de risco que considera as eventuais consequências, caso

esta ruptura ocorresse.

7.3-APLICAÇÃO DO MÉTODO DE MONTE CARLO

No Método de Monte Carlo, a distribuição probabilística da variável dependente, neste

caso o Fator de Segurança, pode ser obtida pelas distribuições estatísticas das variáveis

aleatórias independentes (coesão e ângulo de atrito), permitindo calcular a probabilidade

de falha.

A análise probabilística pelo Método de Monte Carlo foi feita via programa Slide

utilizando a aba estatística. Como apresentado anteriormente, foram consideradas as

quatro variáveis aleatórias que mais contribuíram na variância do fator de segurança.

Para estas variáveis adotou-se a distribuição normal, pois estes parâmetros tendem a ter

uma distribuição estatística normal ou lognormal na natureza. Os dados estatísticos

necessários para a realização da análise são a média, desvio padrão, e os valores

mínimos e máximos para cada variável, para que se possa definir a distribuição

Page 99: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

80

estatística de cada variável aleatória (Tabela 7.7). Estes valores mínimo e máximo são

especificados como valores relativos, ou seja, são as distâncias dos valores médios e

dependem de quantos desvios padrão são considerados.

Em uma distribuição normal, três desvios-padrão da média cobrem 99,7% de todas as

amostras, garantindo uma distribuição normal bem definida. Porém, nesta análise, caso

fosse usar três desvios, o valor mínimo da variável coesão ficaria menor que zero, o que

é inaceitável, logo, considerou-se os valores relativo mínimo e máximo como dois

desvios-padrão, que representa cerca de 95% das amostras.

Tabela 7.7: Dados estatísticos utilizados na análise probabilística pelo Método Monte Carlo

Variável Distribuição

Estatística Média

Desvio

Padrão

Relativo

Mínimo

Relativo

Máximo

IGO_VI_coesão

(kpa)

Normal

40 16 32 32

IGO_VI_atrito 32 3,2 6,4 6,4

IGO_V_coesão

(kpa) 60 24 48 48

IGO_V_atrito 34 3,4 6,8 6,8

7.3.1- NÚMERO DE INTERAÇÕES

O número de interações é o número suficiente de vezes necessário para que a

distribuição de probabilidade da variável dependente esteja estabilizada. Isto pode ser

feito fazendo alguns testes já iniciando com um valor mais alto, ou, segundo Harr

(1987), utilizando uma estimativa deste número através da Equação 4.13 apresentada no

Capítulo 4. Segundo este autor, o número de simulações requerido pelo Método de

Monte Carlo depende do nível de confiança (1- ) admitido para o estudo em questão, e

é dado por:

(7.3) N h

m

~ /

2 2

2 4

Page 100: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

81

Para um nível de confiança de 85%:

1,44 (Conforme a Tabela 4.3)

ε = 0,15

m = 4 (Nesta análise, há quatro variáveis aleatórias em estudo).

Realizando os cálculos a partir da Equação 7.3, tem-se N ≈ 281000. Logo, foram

realizadas 281000 simulações no Método de Monte Carlo.

7.3.2- CRITÉRIOS E ESPECIFICIDADES DO MÉTODO NO PROGRAMA

SLIDE

Os critérios utilizados na análise probabilística pelo método de Monte Carlo no Slide

foram os mesmos utilizados na análise determinística e apresentados no Item 7.1.2. O

método de Monte Carlo pelo Slide permite avaliar uma única superfície de ruptura (dita

como superfície mínima global e correspondente à superfície crítica determinística), ou

todas as superfícies probabilísticas de ruptura possíveis.

Na escolha do Global Minimum, a análise probabilística é realizada apenas na superfície

mínima global determinística. Já na opção Overall Slope, a pesquisa para a superfície

mínima global probabilística repete-se N vezes, onde N é o número de amostras

definidas na análise, sendo que para cada iteração de busca realizada, é utilizado um

conjunto de dados diferentes das variáveis aleatórias, em busca de uma nova superfície

probabilística global mínima, gerando assim, várias superfícies globais probabilísticas.

Na análise em questão, optou-se por avaliar a probabilidade de falha para todas as

superfícies probabilísticas possíveis, pois é uma análise que, apesar de ser mais

demorada, é mais robusta e acredita-se ser mais conveniente para projetos de cavas

finais, que é o caso. Além disso, nem sempre a superfície de ruptura mínima global

avaliada pelo método determinístico é a que apresenta a maior probabilidade de falha no

método probabilístico. Logo, a superfície crítica probabilística não é necessariamente a

mesma que a superfície crítica determinística. Outra vantagem é que, na análise da

Page 101: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

82

probabilidade de falha para todas as superfícies probabilísticas geradas, obtém-se a

superfície probabilística crítica e a confiabilidade geral do talude. A superfície crítica

probabilística apresenta a superfície que tem o menor índice de confiabilidade e a maior

probabilidade de falha. Já o índice de confiabilidade geral do talude define a

probabilidade de falha geral do talude, baseada na distribuição do fator de segurança de

todas as demais superfícies de ruptura analisadas. Dessa forma, a confiabilidade do

talude não está somente associada a uma superfície de ruptura, e sim, a todas as

superfícies probabilísticas geradas.

A análise probabilística do talude geral mostra ser interessante quando não se tem uma

superfície de ruptura definida. Quando este não for o caso, ou seja, quando já se

conhece a superfície de ruptura e a mesma já esteja bem definida (por avaliações em

campo, como trincas, e/ou através de monitoramento), e deseja conhecer a

probabilidade de falha dela, deve-se definir a superfície na análise determinística e optar

pela opção Global Minimum, no método de Monte Carlo.

Como resultado da análise, obtém-se o fator de segurança médio (resultado da média de

todos os fatores de segurança calculados na superfície crítica e para todas as

superfícies), a probabilidade de falha (PF) e o índice de confiabilidade (RI normal e log-

normal), tanto para a superfície crítica probabilística, quanto para o talude em geral,

considerando todas as superfícies probabilísticas geradas.

O programa nesta opção Overall Slope também mantém os resultados da PF e o RI para

a superfície crítica determinística (superfície com menor FS, onde todos os parâmetros

de entrada são os valores médios). Os valores são os mesmos que seriam calculados

para o método de análise probabilística mínima global.

Page 102: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

83

7.3.2.1- Probabilidade de Falha

A probabilidade de falha no programa é calculada pelo número de análises que resultam

em fator de segurança menor que 1, dividido pelo número total de análises, conforme a

equação abaixo:

(7.4)

7.3.2.2- Índice de Confiabilidade (Reliability Index = RI)

O índice de confiabilidade é uma indicação do número de desvios padrão que separam o

fator de segurança médio do fator de segurança crítico (FS=1). O índice de

confiabilidade é calculado assumindo que os valores do fator de segurança possuem

uma distribuição normal ou uma distribuição lognormal. Para a distribuição normal, é

utilizada a seguinte equação:

(7.5)

Onde:

= Índice de Confiabilidade

FS = Média do fator de segurança

FS = Desvio padrão do fator de segurança

Page 103: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

84

Para a distribuição lognormal, a equação é a seguinte:

(7.6)

Onde:

= Índice de Confiabilidade

FS = Média do fator de segurança

V(FS) = Coeficiente de variação do fator de segurança

Na escolha de uma avaliação probabilística do talude global (Overall Slope), a

probabilidade de falha e o índice de confiabilidade não estão associados a uma única

superfície de ruptura (superfície crítica), como ocorre na abordagem determinística, mas

incluem os fatores de segurança de todas as superfícies globais mínimas da análise

probabilística do talude geral.

7.3.3- APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

A Figura 7.4 apresenta os resultados da análise probabilística para o talude global

(Overall Slope), onde se pode verificar de imediato, os resultados probabilísticos para a

superfície crítica determinística, e os resultados probabilísticos para o talude geral, no

canto inferior esquerdo. Além disso, o programa permite também verificar a superfície

crítica probabilística (Figura 7.5 e Figura 7.6).

Page 104: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

85

Figura 7.4: Análise probabilística para o talude geral

Figura 7.5: Análise probabilística para o talude geral, mostrando a superfície probabilística crítica

para uma distribuição normal do F.S.

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IGO-HGO classe IV IC classe IV

IC classe V

CG classe VI

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IGO-HGO classe IV IC classe IV

IC classe V

CG classe VI

Page 105: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

86

Figura 7.6: Análise probabilística para o talude geral, mostrando a superfície probabilística crítica

para uma distribuição lognormal do F.S.

A Tabela 7.8 compila os resultados em questão.

Tabela 7.8: Resultados da análise probabilística

PF

(%)

RI

(normal)

RI

(lognormal)

FS

(média)

Talude Global 2,91 2,38 2,66 1,30

Superfície

probabilística crítica

(normal)

1,94 1,97 1,84

Superfície

probabilística crítica

(lognormal)

1,24 2,51 1,49

Superfície

determinística crítica 0,002 3,34 3,85 1,35

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IGO-HGO classe IV IC classe IV

IC classe V

CG classe VI

Page 106: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

87

A análise para o talude global apresentou a maior PF, um menor RI e um menor FS em

comparação às superfícies críticas. Já a superfície crítica determinística apresentou

PF=0,002% e RI maior que 3. Este resultado ilustra como a análise do círculo crítico

fixo (através da opção Global minimum) pode ser perigosa na análise de PF, devendo

ser utilizada com cautela.

Geralmente, os resultados do talude global são os mais realistas, pois consideram os

fatores de segurança de todas as superfícies mínimas globais probabilísticas calculadas,

que são representadas pelos pontos que aparecem na Figura 7.5, podendo a falha ocorrer

ao longo de toda a superfície da encosta.

Diante de todos os resultados, o que deve ser levado em consideração é a superfície que

possui maior representatividade na análise. Quando uma superfície global mínima

possui um número de superfícies correspondentes consideráveis, esta superfície deverá

ser levada em consideração no projeto de talude. Por outro lado, superfícies globais

mínimas que possuem poucas superfícies correspondentes, a probabilidade de ocorrer

uma potencial ruptura nesta superfície é muito pequena, logo a mesma não deve ser

levada em consideração, mesmo possuindo uma PF maior que as demais superfícies.

Portanto, apesar das superfícies probabilísticas críticas apresentarem uma PF maior que

a superfície determinística, elas têm uma menor representatividade nas análises, pois

dentre as combinações aleatórias que geraram possíveis superfícies de ruptura, o

número de superfícies geradas correspondentes à superfície crítica determinística é

maior que o número de superfícies geradas correspondentes às superfícies

probabilísticas críticas. Além disso, a superfície determinística crítica representa uma

possível ruptura inter-rampa, enquanto as superfícies probabilísticas críticas

representam rupturas menores, de menor volume de massa, consequentemente, menores

impactos.

Dessa maneira, para esta análise, a superfície determinística crítica é a que deve ser

levada em consideração, sendo, dessa forma, uma superfície com maior potencial de

Page 107: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

88

ruptura e que deverá ser considerada no momento de avaliar o projeto de taludes. Para

este exemplo, a PF é de 0,002%, considerada pequena.

O programa permite visualizar as distribuições de probabilidade das variáveis

independentes e da variável dependente (FS) para a superfície determinística crítica, e

diversas correlações, permitindo a interpretação dos dados através de histogramas e

gráficos. Alguns deles são apresentados abaixo.

A Figura 7.7 apresenta o histograma “fator de segurança x frequência, mostrando a

distribuição de probabilidade do FS para a superfície crítica determinística,

apresentando quais interações apresentaram FS < 1. Dentre as 281000 simulações de

valores aleatórios das variáveis, somente 5 delas apresentaram FS < 1, obtendo desta

forma uma PF de 0,002 %. Por este motivo, a área em vermelho no histograma, que

representa o número de simulações com FS < 1, fica imperceptível.

Figura 7.7: Histograma FS x frequência relativa para a análise com abordagem probabilística para

281000 interações.

Porém, quando se considera o fator de segurança aceitável como limite (FS =1.3), pode-

se verificar na Figura 7.8 que 31% das interações apresentaram FS<1.3, representadas

pela parte em vermelho no histograma.

Page 108: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

89

Figura 7.8: Histograma do resultado da análise com abordagem probabilística considerando

F.S<1.3 em vermelho.

Nas Figuras 7.9 a 7.12 são apresentados os histogramas de frequência dos valores de

coesão e ângulo de atrito para os litotipos IGO-HGO classe VI e V. Dentre as 281000

combinações destas variáveis, 8173 combinações geraram superfícies com FS < 1,

considerando todas as 1000 superfícies estudadas. Por este motivo, a PF total da seção

analisada é de 2,9%. Verifica-se que tanto para os litotipos classe VI quanto para os de

classe V, as superfícies de ruptura com FS < 1 foram geradas predominantemente por

valores de coesão baixos, menores que 20. Já para o ângulo de atrito não se observa

uma predominância de valores para superfícies com FS < 1, pois são bem variáveis.

Figura 7.9: Distribuição de probabilidade da coesão, enfatizando valores que geraram FS < 1 em

vermelho, para o IGO-HGO classe VI

Page 109: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

90

Figura 7.10: Distribuição de probabilidade do ângulo de atrito, enfatizando valores que geraram

FS < 1 em vermelho, para o IGO-HGO classe VI

Figura 7.11: Distribuição de probabilidade da coesão, enfatizando valores que geraram FS < 1 em

vermelho, para o IGO-HGO classe V

Em geral, a coesão e o ângulo atrito dos materiais são correlacionados, de modo que os

materiais com baixa coesão muitas vezes têm altos valores de ângulo de atrito, e vice-

versa.

No programa utilizado em questão, o Slide, o usuário pode definir um coeficiente de

correlação para a coesão e o ângulo de atrito, de forma que quando as amostras são

geradas, a coesão e o ângulo de atrito serão correlacionados. Mas neste caso, preferiu-se

Page 110: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

91

optar pela aleatoriedade da geração das amostras e verificar se havia uma correlação

natural dos dados. Nas Figuras 7.13 e 7.14, verifica-se que existe uma correlação destas

variáveis quando a coesão é menor que 20 Kpa, que são os valores que predominam em

superfícies com FS < 1.

Figura 7.12: Distribuição de probabilidade do ângulo de atrito, enfatizando valores que geraram

FS < 1 em vermelho, para o IGO-HGO classe V

Figura 7.13: Gráfico de correlação de valores de ângulo de atrito e de coesão que geraram F.S.<1

em vermelho, para o IGO-HGO classe V

Page 111: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

92

Figura 7.14: Gráfico de correlação de valores de ângulo de atrito e de coesão que geraram F.S.<1

em vermelho, para o IGO-HGO classe VI

7.4- APLICAÇÃO DO MÉTODO DAS ESTIMATIVAS PONTUAIS

Por último, a probabilidade de falha (PF) para a seção de referência da mina de Alegria

será calculada pelo método das estimativas pontuais. Conforme já apresentado no

Capítulo 4, os pontos de estimativa de cada variável de entrada neste método podem ser

representados por:

j j, j = 1, 2, ..., n, (7.7)

onde:

j- Valor médio da distribuição da variável j

j- Desvio padrão da distribuição da variável j

O número total de cálculos é igual a N= 2n, onde n = número de variáveis aleatórias.

Page 112: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

93

Dessa forma, para quatro variáveis de entrada, tem-se N= 24, ou seja, dezesseis

combinações de cálculos entre a coesão e atrito do IGO-HGO classe VI e a coesão e o

atrito do IGO-HGO classe V a serem utilizados nas análises de estabilidade para

calcular o Fator de Segurança. Neste caso, as análises foram realizadas pelo programa

Slide, versão 5.0, por análises determinísticas.

Na Tabela 7.9, são apresentados os valores das variáveis que foram utilizados nas

análises e na Tabela 7.10, as respectivas combinações destes valores em cada análise de

estabilidade realizada, tendo como resultado a geração de um FS para cada análise. As

análises de estabilidade estão apresentadas no Anexo II desta dissertação.

Tabela 7.9: Valores das variáveis utilizados nas análises

Variável Média Desvio

Padrão

Média + Desvio

Padrão

Média - Desvio

Padrão

IGO_VI_coesão 40 16 56 24

IGO_VI_atrito 32 3.2 35.2 28.8

IGO_V_coesão 60 24 84 36

IGO_V_atrito 34 3.4 37.4 30.6

Da mesma maneira como foi realizado para o método FOSM, a probabilidade de falha

para o método das Estimativas Pontuais foi calculada por um comando do Excel,

assumindo uma distribuição normal probabilística para a variável dependente fator de

segurança. O fator de segurança médio e a variância do fator de segurança foram

calculados conforme as equações abaixo, já apresentadas no Capítulo 4.

Desvio padrão do FS =

Page 113: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

94

PF = DIST.NORM.N(1; FS médio; desviopadrão; VERDADEIRO) =

PF = DIST.NORM.N(1; 1.304; 0.117; VERDADEIRO)= 0.004= 0.4%

PF = 0.4%

Tabela 7.10: Combinações dos valores das variáveis utilizados em cada análise de estabilidade

Combinações

Variáveis Fator de

Segurança IGO_VI_

coesão IGO_VI_atrito IGO_V_coesão IGO_V_atrito

1 56 35.2 84 37.4 1.503

2 24 35.2 84 37.4 1.364

3 56 28.8 84 37.4 1.389

4 24 28.8 84 37.4 1.14

5 56 35.2 36 37.4 1.458

6 24 35.2 36 37.4 1.364

7 56 28.8 36 37.4 1.321

8 24 28.8 36 37.4 1.14

9 56 35.2 84 30.6 1.387

10 24 35.2 84 30.6 1.356

11 56 28.8 84 30.6 1.294

12 24 28.8 84 30.6 1.14

13 56 35.2 36 30.6 1.341

14 24 35.2 36 30.6 1.31

15 56 28.8 36 30.6 1.223

16 24 28.8 36 30.6 1.136

7.5- RESULTADOS DOS MÉTODOS PROBABILÍSTICOS

Neste estudo, a abordagem probabilística para análise de estabilidade de taludes foi

utilizada em três métodos, conforme apresentados anteriormente. Para todos os três, a

probabilidade de falha do projeto analisado em questão foi muito pequena, como pode

ser observado no resumo a seguir (Tabela 7.11).

Page 114: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

95

Tabela 7.11: Resultados dos métodos com abordagem probabilística

Método Probabilidade de Falha

PF (%)

Fator de Segurança médio

FS

FOSM 0.01 1.353

Monte Carlo 0.002 1.356

Pontos de Estimativa 0.4 1.304

Veja que, coincidentemente, os métodos que apresentaram FS mais altos, obtiveram

uma PF menor, porém esta correlação não ocorre necessariamente, conforme foi

apresentado no item 4.4.2, onde se mostra que pode exatamente ocorrer o contrário, não

havendo necessariamente esta correlação inversa entre FS e PF.

De um modo em geral, os resultados para os três métodos se aproximaram, obtendo

uma PF muito baixa, que, aliada a um FS satisfatório, remete certa tranquilidade com

relação à execução do projeto. Porém, caso se queira determinar o risco do mesmo, é

necessário verificar as consequências na hipótese desta ruptura vir a ocorrer.

Neste sentido, no Item seguinte, será mostrado como se realiza a Análise de Risco do

projeto, em que a probabilidade de falha é avaliada juntamente com as suas

consequências.

7.6- ANÁLISE DE RISCO E CONFIABILIDADE

O risco de um projeto, conforme apresentado no capítulo 5, pode ser calculado a partir

da fórmula abaixo:

R=PF x Consequências

Onde:

R= Risco

PF= Probabilidade de falha

Page 115: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

96

A probabilidade de falha já foi calculada por três métodos probabilísticos distintos

conforme apresentado nos itens 7.2, 7.3 e 7.4 deste capítulo.

As consequências de uma ruptura de talude de uma mina a céu aberto envolvem vários

fatores que devem ser levados em consideração, como por exemplo, a infraestrutura ao

redor do talude, que já é considerada na análise determinística. Uma baixa PF, não

significa um baixo risco, é preciso verificar as consequências para defini-lo. É viável

criar um critério de aceitação de projeto que deverá ser estudado para cada situação,

e/ou estrutura geotécnica, levando em consideração o FS, PF e as consequências,

conforme o exemplo das tabelas 5.1, 5.2 e 5.3, apresentadas no Capítulo 5.

O talude da mina de Alegria avaliado é um talude de cava em que não há nenhuma

infraestrutura ao seu redor, portanto sabe-se que as consequências são menores, no

interior da cava. Assim sendo, pode-se dizer que se tem um risco tolerável para o talude

estudado, visto que a probabilidade de falha é baixa e as consequências também não são

exorbitantes.

Diante do valor do risco em mãos, é possível gerenciá-lo dentro dos critérios de

aceitabilidade do projeto utilizados. Várias decisões podem ser tomadas para a

mitigação dos riscos, por exemplo, algumas modificações nos projetos, como a

adequação de uma geometria de uma cava, deslocamento de estruturas circunvizinhas,

dentre outros.

Page 116: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

97

CAPÍTULO 8

8.1- CONCLUSÕES

O objetivo deste estudo foi analisar a estabilidade de um talude da mina de Alegria

utilizando a abordagem probabilística e verificar qual a sua probabilidade de falha,

apresentando dessa forma as vantagens desta abordagem nas análises de estabilidade de

taludes bem como os métodos probabilísticos que permitem este cálculo. Como

conclusões e vantagens deste estudo, alguns pontos podem ser citados:

O talude da Mina de Alegria em estudo apresentou FS considerado satisfatório

(FS ≥ 1.30) na análise determinística e baixa PF pelos métodos probabilísticos

utilizados. As consequências de uma possível ruptura do talude estudado se resumem

em danos no interior da cava, pois não há interferências externas próximas, sendo dessa

forma menor quando comparadas às consequências de um talude com infraestrutura ao

seu redor. Logo, consequências relativamente menores aliadas a uma PF baixa, pode-se

dizer que o risco também o seja, visto que o risco é a PF versus a consequência. Dessa

forma, é possível dizer que esta geometria garante a estabilidade da cava final da região

estudada que será executada daqui a alguns anos, sem necessidade de

adequações/intervenções no projeto. Vale ressaltar que, conforme já explicitado pelas

figuras 4.6 e 4.7, deve-se ter em mente que um alto fator de segurança não corresponde

necessariamente a uma baixa probabilidade de falha e vice versa. A relação entre o fator

de segurança e probabilidade de falha/ ruptura depende do grau de incerteza.

A abordagem probabilística incorporada à análise de estabilidade do talude da

mina de Alegria permitiu considerar a variabilidade dos parâmetros dos materiais, o que

não ocorre em análises que consideram somente a abordagem determinística. O uso da

covariância padrão para os principais parâmetros de entrada (principalmente c e ϕ), que

vem sendo utilizada mundialmente, permitiu a aplicação da abordagem probabilística

neste estudo.

Page 117: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

98

Neste estudo, foram apresentados três métodos probabilísticos: FOSM, Monte

Carlo e Método das Estimativas Pontuais, que foram utilizados para o cálculo da

probabilidade de falha. Como resultado, obteve-se uma PF considerada pequena por

qualquer um dos métodos, o que implica um risco tolerável.

O método de Monte Carlo pelo programa Slide permite avaliar uma única

superfície de ruptura (dita como superfície mínima global e correspondente à superfície

crítica determinística), ou todas as superfícies probabilísticas de ruptura possíveis. No

talude em questão, as superfícies probabilísticas críticas apresentaram uma PF maior

que a superfície determinística, porém elas têm uma menor representatividade nas

análises, pois o número de superfícies geradas correspondentes à superfície crítica

determinística é maior que o número de superfícies geradas correspondentes às

superfícies probabilísticas críticas. Além disso, a superfície determinística crítica

representa uma possível ruptura inter-rampa, enquanto as superfícies probabilísticas

críticas representam rupturas menores, de menor impacto. Ademais, para fins de cálculo

de consequência, a superfície crítica assumida é aquela obtida com as variáveis médias,

pois é a mais provável, independentemente do método probabilístico. Portanto, a PF

pelo Método de Monte Carlo é a obtida pela superfície crítica determinística,

correspondente a 0,002%.

O programa Slide permite o cálculo da probabilidade de falha e também do

índice de confiabilidade, além de possibilitar a apresentação dos resultados do Método

de Monte Carlo através de histogramas e gráficos, como por exemplo, a visualização da

distribuição de probabilidade das variáveis, permitindo diversas correlações,

viabilizando assim uma interpretação mais apurada e detalhada dos resultados.

Os métodos probabilísticos conseguem aperfeiçoar as análises de estabilidade de

taludes, sendo uma complementação das análises determinísticas, contabilizando o grau

de incerteza das variáveis, tendo como resultado final uma probabilidade de falha,

imprescindível para uma análise de risco.

Page 118: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

99

A sequência de estudos, bem como os softwares utilizados para aplicação da

abordagem probabilística realizada neste trabalho, aplica-se para taludes de ruptura do

tipo circular. Para taludes que apresentem outros modos de ruptura, a abordagem

probabilística também deve ser aplicada, porém utilizando, quando necessário, outros

programas de análise de estabilidade de taludes.

O método FOSM, além de calcular a probabilidade de falha, permitiu verificar

que a coesão e o ângulo de atrito dos materiais possuem maior relevância na variância

do fator de segurança, desconsiderando o peso específico como variável aleatória na

aplicação dos métodos de Monte Carlo e Estimativas Pontuais. Este processo simplifica

a abordagem probabilística nos demais métodos. Diante disso, sugere-se que as análises

de estabilidade com abordagem probabilística iniciem pelo Método FOSM e sejam

complementadas pelo método Monte Carlo e/ou Estimativas Pontuais, conforme

realizado neste trabalho. A vantagem do Método de Monte Carlo é que ele permite um

número muito maior de simulações realizado em uma única análise, porém tem como

desvantagem o tempo de processamento maior, em torno de algumas horas.

O principal resultado da abordagem probabilística é a probabilidade de falha

(PF), que associada às consequências da mesma, permite calcular o risco envolvido no

projeto. Neste sentido, sugere-se que os estudos considerando a abordagem

probabilística sejam realizados em fases que antecedem a implantação da geometria,

como por exemplo, na avaliação geotécnica da geometria proposta para os planos de

lavra. Dessa forma, há a possibilidade da adequação da geometria sem necessidade

futura de mitigação dos riscos, onde geralmente envolve obras, acarretando no aumento

considerável do custo.

Concluindo, o FS deve ser analisado em conjunto com a PF e as possíveis

consequências, de forma a possibilitar uma avaliação do risco do projeto. O ideal é que

seja criado um critério de aceitação de projeto dentro dos limites de tolerância da

empresa e das normas técnicas, levando em consideração as especificidades de cada

estrutura, retro análises e experiência do geotécnico.

Page 119: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

100

8.2- SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

Conforme citado no Item 7.1.2, a análise de estabilidade da seção representativa da

mina de Alegria com a abordagem probabilística é válida para o nível do lençol freático

considerado no estudo. Neste sentido, sugere-se para estudos futuros, além de

considerar os parâmetros de resistência coesão e ângulo de atrito como variáveis

aleatórias, considerar também o nível d’água como uma variável e verificar qual a

influência desta variação na análise da estabilidade.

Outra sugestão seria criar um critério de aceitabilidade ao risco para a cava, levando em

consideração os exemplos citados nesta dissertação e outros existentes na literatura,

permitindo dessa forma gerenciar os riscos.

Page 120: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

101

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Page 124: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

I.1

ANEXO I

RESULTADOS DAS ANÁLISES DE ESTABILIDADE

PELO MÉTODO FOSM

Page 125: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

I.2

Resultado da 1ª simulação pelo Método FOSM

Resultado da 2ª simulação pelo Método FOSM

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IC classe V

CG classe VI

IGO-HGO classe IV IC classe IV

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IC classe V

CG classe VI

IGO-HGO classe IV IC classe IV

Page 126: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

I.3

Resultado da 3ª simulação pelo Método FOSM

Resultado da 4ª simulação pelo Método FOSM

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IC classe V

CG classe VI

IGO-HGO classe IV IC classe IV

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IC classe V

CG classe VI

IGO-HGO classe IV IC classe IV

Page 127: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

I.4

Resultado da 5ª simulação pelo Método FOSM

Resultado da 6ª simulação pelo Método FOSM

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IC classe V

CG classe VI

IGO-HGO classe IV IC classe IV

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IC classe V

CG classe VI

IGO-HGO classe IV IC classe IV

Page 128: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

II.1

ANEXO II

RESULTADOS DAS ANÁLISES DE ESTABILIDADE

PELO MÉTODO DAS ESTIMATIVAS PONTUAIS

Page 129: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

II.2

Resultado da 1ª simulação pelo Método das Estimativas Pontuais

Resultado da 2ª simulação pelo Método das Estimativas Pontuais

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IGO-HGO classe IV IC classe IV

IC classe V

CG classe VI

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IGO-HGO classe IV IC classe IV

IC classe V

CG classe VI

Page 130: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

II.3

Resultado da 3ª simulação pelo Método das Estimativas Pontuais

Resultado da 4ª simulação pelo Método das Estimativas Pontuais

IGO-HGO classe IV IC classe IV

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IC classe V

CG classe VI

IGO-HGO classe IV IC classe IV

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IC classe V

CG classe VI

Page 131: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

II.4

Resultado da 5ª simulação pelo Método das Estimativas Pontuais

Resultado da 6ª simulação pelo Método das Estimativas Pontuais

IGO-HGO classe IV IC classe IV

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IC classe V

CG classe VI

IGO-HGO classe IV IC classe IV

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IC classe V

CG classe VI

Page 132: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

II.5

Resultado da 7ª simulação pelo Método das Estimativas Pontuais

Resultado da 8ª simulação pelo Método das Estimativas Pontuais

IGO-HGO classe IV IC classe IV

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IC classe V

CG classe VI

IGO-HGO classe IV IC classe IV

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IC classe V

CG classe VI

Page 133: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

II.6

Resultado da 9ª simulação pelo Método das Estimativas Pontuais

Resultado da 10ª simulação pelo Método das Estimativas Pontuais

IGO-HGO classe IV IC classe IV

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IC classe V

CG classe VI

IGO-HGO classe IV IC classe IV

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IC classe V

CG classe VI

Page 134: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

II.7

Resultado da 11ª simulação pelo Método das Estimativas Pontuais

Resultado da 12ª simulação pelo Método das Estimativas Pontuais

IGO-HGO classe IV IC classe IV

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IC classe V

CG classe VI

IGO-HGO classe IV IC classe IV

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IC classe V

CG classe VI

Page 135: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

II.8

Resultado da 13ª simulação pelo Método das Estimativas Pontuais

Resultado da 14ª simulação pelo Método das Estimativas Pontuais

IGO-HGO classe IV IC classe IV

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IC classe V

CG classe VI

IGO-HGO classe IV IC classe IV

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IC classe V

CG classe VI

Page 136: Dissertação de Mestrado ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE UM

II.9

Resultado da 15ª simulação pelo Método das Estimativas Pontuais

Resultado da 16ª simulação pelo Método das Estimativas Pontuais

IGO-HGO classe IV IC classe IV

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IC classe V

CG classe VI

IGO-HGO classe IV IC classe IV

IGO-HGO classe VI

IGO-HGO classe V

IC classe V

CG classe VI