dissertaÇÃo nÃo É psicografia. É preciso planejar

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DISSERTAÇÃO NÃO É PSICOGRAFIA. É PRECISO PLANEJAR. Hélia Coelho Mello Cunha Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense ([email protected]) INTRODUÇÃO Considerando a necessidade atual de fazer uso da palavra escrita como forma de persuasão (em dissertações, cartas argumentativas, trabalhos acadêmicos), cremos que a escola deveria responsabilizar-se pelo desenvolvimento da capacidade de argumentação de seus alunos. No ensino de produção de textos dissertativos argumentativos, nas escolas brasileiras, atualmente, percebe-se que não é dada a devida importância ao planejamento e há pouca preocupação com a estrutura: aos alunos é dito, apenas, que o texto deve ter introdução, desenvolvimento, conclusão. Isso pode ser observado em livros didáticos e na prática docente. Os alunos são “treinados” a produzirem textos que apresentam tese e estruturas semelhantes e não são convidados a pensar no que vão escrever antes da produção do rascunho e não são bem orientados sobre o conteúdo das partes do texto. Muitos escrevem os textos como se estivessem “psicografando - os” e, depois de prontos, fazem uma revisão rápida para corrigirem problemas linguísticos. A preocupação com uma tese inovadora, com bons argumentos não há na maioria das vezes. OBJETIVOS Nosso objetivo é propor, como primeiro passo no ensino deste tipo textual, a elaboração de um roteiro, de um planejamento. O aluno deveria, antes de escrever, pensar no tema, delimitar muito bem o tema, levantar questionamentos (problemas), respondê-los (hipóteses), definir a sua tese e escolher os argumentos que servirão para a sua defesa. METODOLOGIA GARCIA (2010: 291) afirma que “aprender a escrever é aprender a pensar”. Cremos que antes de nos posicionarmos sobre um tema, precisamos pensar muito. Por isso, nas aulas de Produção Textual, apresentamos aos nossos alunos um modelo de planejamento de texto dissertativo argumentativo que é exercitado antes da produção do rascunho do texto. Utilizamos a seguinte proposta: TEMA: assunto. DELIMITAÇÕES DO TEMA: possíveis caminhos a serem percorridos (exercício do pensamento). TEMA DELIMITADO: delimitação escolhida para ser desenvolvida no texto. PROBLEMA: pergunta feita sobre o tema delimitado para que sejam buscadas opiniões sobre o assunto a ser abordado no texto HIPÓTESES: As hipóteses são as possíveis respostas que podemos dar como solução de um dado problema.

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Page 1: DISSERTAÇÃO NÃO É PSICOGRAFIA. É PRECISO PLANEJAR

DISSERTAÇÃO NÃO É PSICOGRAFIA. É PRECISO PLANEJAR.

Hélia Coelho Mello Cunha Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense

([email protected])

INTRODUÇÃO

Considerando a necessidade atual de fazer uso da palavra escrita como forma de

persuasão (em dissertações, cartas argumentativas, trabalhos acadêmicos), cremos que a

escola deveria responsabilizar-se pelo desenvolvimento da capacidade de argumentação

de seus alunos. No ensino de produção de textos dissertativos argumentativos, nas

escolas brasileiras, atualmente, percebe-se que não é dada a devida importância ao

planejamento e há pouca preocupação com a estrutura: aos alunos é dito, apenas, que o

texto deve ter introdução, desenvolvimento, conclusão. Isso pode ser observado em

livros didáticos e na prática docente. Os alunos são “treinados” a produzirem textos que

apresentam tese e estruturas semelhantes e não são convidados a pensar no que vão

escrever antes da produção do rascunho e não são bem orientados sobre o conteúdo das

partes do texto. Muitos escrevem os textos como se estivessem “psicografando-os” e,

depois de prontos, fazem uma revisão rápida para corrigirem problemas linguísticos. A

preocupação com uma tese inovadora, com bons argumentos não há na maioria das

vezes.

OBJETIVOS

Nosso objetivo é propor, como primeiro passo no ensino deste tipo textual, a elaboração

de um roteiro, de um planejamento. O aluno deveria, antes de escrever, pensar no tema,

delimitar muito bem o tema, levantar questionamentos (problemas), respondê-los

(hipóteses), definir a sua tese e escolher os argumentos que servirão para a sua defesa.

METODOLOGIA

GARCIA (2010: 291) afirma que “aprender a escrever é aprender a pensar”. Cremos

que antes de nos posicionarmos sobre um tema, precisamos pensar muito. Por isso, nas

aulas de Produção Textual, apresentamos aos nossos alunos um modelo de

planejamento de texto dissertativo argumentativo que é exercitado antes da

produção do rascunho do texto. Utilizamos a seguinte proposta:

TEMA: assunto. DELIMITAÇÕES DO TEMA: possíveis caminhos a serem percorridos (exercício do

pensamento). TEMA DELIMITADO: delimitação escolhida para ser desenvolvida no texto. PROBLEMA: pergunta feita sobre o tema delimitado para que sejam buscadas

opiniões sobre o assunto a ser abordado no texto HIPÓTESES: As hipóteses são as possíveis respostas que podemos dar como solução

de um dado problema.

Page 2: DISSERTAÇÃO NÃO É PSICOGRAFIA. É PRECISO PLANEJAR

TESE: a “melhor hipótese”, opinião, posicionamento que será defendido pelo autor do

texto. ARGUMENTOS: duas ou três justificativas apresentadas para a defesa da tese a fim de

persuadir o leitor.

RESULTADOS

Percebemos uma resistência inicial por parte dos alunos em sua elaboração que se desfaz com a prática, pois percebem que poderiam cair nas armadilhas do texto (fuga do

tema, falta de uma tese ou desenvolvimento de tese “gasta”) se não o fizessem. Também há uma melhora significativa nos textos dissertativos argumentativos produzidos a partir

deste planejamento nas aulas de Produção Textual. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Espera-se que esta prática possa ser mais adotada nas escolas a fim de que o exercício de pensar anteceda o de produzir e para que os alunos não “psicografem” textos e sejam

os seus verdadeiros autores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ARISTÓTELES Retórica. INCM - Imprensa Nacional Casa da Moeda | Março de 2005 BERNARDO, Gustavo com a colaboração de Gisele de Carvalho. Educação pelo

Argumento. Rio de Janeiro: Editora Rocco Ltda, 2000. GARCIA, Othon Moacir. Comunicação em Prosa Moderna 27ª. ed. Rio de Janeiro:

Editora Fundação Getúlio Vargas, 2010. PERELMAN, Chaïm. & OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Tratado da Argumentação - A Nova Retórica. São Paulo: Martins Fontes, 2ª ed, 2005.

REBOUL, Olivier. Introdução à Retórica. São Paulo: Martins Fontes, 2004.