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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO PRÓ-REITORIA ADJUNTA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO AVALIAÇÃO DA ACURÁCIA DA INCLINAÇÃO DOS TUBOS DE PRIMEIROS MOLARES INFERIORES DA PRESCRIÇÃO MBT LEONARDO MEDEIROS ALLAN São Paulo 2012

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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

PRÓ-REITORIA ADJUNTA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

AVALIAÇÃO DA ACURÁCIA DA INCLINAÇÃO DOS TUBOS DE

PRIMEIROS MOLARES INFERIORES DA PRESCRIÇÃO MBT

LEONARDO MEDEIROS ALLAN

São Paulo

2012

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

PRÓ-REITORIA ADJUNTA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

AVALIAÇÃO DA ACURÁCIA DA INCLINAÇÃO DOS TUBOS DE

PRIMEIROS MOLARES INFERIORES DA PRESCRIÇÃO MBT

LEONARDO MEDEIROS ALLAN

Dissertação apresentada à Universidade

Cidade de São Paulo, como parte dos

requisitos para obter o título de

Mestre em Ortodontia.

Orientador:

Prof. Dr. Flávio Augusto Cotrim-Ferreira

São Paulo

2012

Ficha Elaborada pela Biblioteca Prof. Lúcio de Souza. UNICID

A417a

Allan, Leonardo Medeiros. Avaliação da acurácia da inclinação dos tubos de primeiros molares inferiores da prescrição MBT. / Leonardo Medeiros Allan. --- São Paulo, 2012. 63 p., anexos. Bibliografia Dissertação (Mestrado) – Universidade Cidade de São Paulo - Orientador: Prof. Dr. Flávio Augusto Cotrim-Ferreira. 1. Braquetes ortodônticos. 2. Torque. 3. Ortodontia. I. Cotrim-Ferreira, Flávio Augusto. II. Título.

BLACK D41

Dedico este trabalho

Aos meus pais Sr. Carlos Henrique e Sra.Vera Lucia,

Que consagraram suas vidas a minha formação moral e

profissional, encorajando-me e impulsionando minhas

conquistas. Pelo carinho e estímulo, imprescindíveis

para vencer cada etapa da minha vida e

sem os quais a realização deste trabalho não seria

possível.

AGRADECIMENTOS

Ao Orientador

Prof. Dr. Flávio Augusto Cotrim Ferreira, pela compreensão e

pelo compartilhamento de seus conhecimentos técnico-científicos a fim de me

tornar um profissional atuante no universo da ortodontia.

Ao professor Dr. Acácio Fuziy minha gratidão pela amizade e pelo

afinco com que se dedicou ao ensino e orientações durante estes anos.

ResumoResumoResumoResumo

RESUMO

Esta pesquisa avaliou a precisão da inclinação vestibulolingual de tubos de

primeiros molares inferiores, com prescrição MBT, para verificar se os valores

encontrados em diferentes marcas comerciais obedecem aos recomendados

pela técnica. Para tanto, foram selecionados 20 tubos de cada uma das

seguintes marcas comerciais: Abzil, TP Orthodontics, Morelli, Rocky Mountain,

American Orthodontics e Unitek 3M; totalizando 120 tubos. Imagens ampliadas

do perfil dos tubos foram obtidas com a utilização de um Microscópio Eletrônico

de Varredura. O ângulo de inclinação vestibulolingual da luz do tubo foi

estabelecido por pontos e linhas de referências, avaliando-se os ângulos das

paredes oclusal (APO) e cervical (APC), medidos em relação a linha da base do

acessório. Os valores foram mensurados pelo software AutoCAD 2008 (32Bit) e

analisados estatisticamente em relação aos indicados na prescrição MBT,

revelando que houve diferença significativa entre as marcas para as médias do

ângulo APC e não houve significância estatística para as médias do ângulo APO.

A marca Adtek foi a que apresentou maior amplitude de resultados para APO e

APC. A marca Unitek 3M apresentou menor amplitude de seus ângulos para APC

e a marca TP Ortho apresentou menor amplitude de seus ângulos para APO.

Concluiu-se que existem variações na precisão das inclinações dos tubos

avaliados, podendo comprometer a posição vestibulolingual final dos dentes.

Palavras-chave: Torque; Braquetes; Ortodontia.

AbstractAbstractAbstractAbstract

ABSTRACT

This research evaluated the precision of the vestibular lingual inclination of tubes

prescribed for first lower molars in the MBT technique, to verify if the values found for

different commercial marks were in accordance with the values prescribed for the

author of the technique. It was used 20 tubes of six available commercial brands in

the market: Abzil, TP Orthodontics, Morelli, Rocky mountain, American Orthodontics

and Unitek 3M. With a total of 120 tubes. The extended images of the tubes profile

were obtained with the use of a Sweeping Electronic microscope. The vestibular

lingual inclination angle were established by points and lines of reference, where the

average between the angles of the oclusal (APO) and the cervical (APC) walls were

used, measured from the intersection with the tube base line. The values were

measured by AutoCAD 2008 (32Bit) software and were estatisticaly evaluated with

the values recommended for the MBT prescription, revealing significant statistical

differences comparing the average of APC and no statistical differences comparing

the average of APO the six brands. The brand Adtek presented the biggest variation

for APO and APC. The brand Unitek 3M presented the lowest variantion for APC and

the brand TP Ortho presented the lowest variation for APO. It was concluded

that variations exist in the precision of the torques of the tubes, committing the

position lip-lingual end of the teeth.

Key words: Torque; Brackets; Orthodontics.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Relação das marcas comerciais e da origem dos tubos que compõe a amostra.......................................................................................................21 Figura 2: Base de alumínio....................................................................................23 Figura 3: Corpo de prova com tubos na posição de captação da imagem – Modelo Piloto............................................................................................................24 Figura 4: Estrutura de madeira com papel milimetrado colado em sua superfície e bases de prova posicionadas na perfuração central para colagem.......................................................................................................25 Figura 5: Estrutura de madeira com os segmentos de fio guia para colagem......26 Figura 6: Posicionamento dos tubos sobre o corpo de prova, padronizado pela

estrutura de madeira – Modelo Piloto.........................................................27

Figura 7: Corpos de prova representativos dos 6 grupos avaliados......................28

Figura 8: Microscópio Eletrônico de Varredura – MEV, modelo Philips XL- 30, com

sistema EDS (EDAX)..................................................................................29

Figura 9: Exemplos de Imagens que foram obtidas pelo MEV .............................30

Figura 10: Linha de referência...............................................................................30

Figura 11: Pontos C1 e O1.....................................................................................31

Figura 12: Pontos C2 e 02......................................................................................32

Figura 13: Pontos B1 e B2......................................................................................32

Figura 14A: Figura com os pontos de referência empregados...............................33

Figura 14B: Exemplo com todos os pontos de referência em imagem obtida pelo

MEV.........................................................................................................................33

Figura 15: Linhas cervical e oclusal, ângulos cervical e oclusal..............................34 Figura 5.1 – Ilustração dos intervalos de confiança de 95% dos valores do ângulo

APC, para as marcas comerciais , plotados contra a linha de referência de -20°.....41

Figura 5.2 – Ilustração dos intervalos de confiança de 95% dos valores do ângulo

APO, para as marcas comerciais, plotados contra a linha de referência de -20°......42

Figura 5.3 – Gráfico ilustrativo dos intervalos de confiança de 95% entre as marcas

comerciais para a variável APC. Linha Pontilhada = Média geral..............................47

Figura 5.4 – Gráfico ilustrativo dos intervalos de confiança de 95% entre as mar5cas

comerciais para a variável APO. Linha Pontilhada = Média geral.............................48

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Parâmetros estatísticos e teste T pareado entre a Primeira e a Segunda

Medições..................................................................................................................38

Tabela 2 – Testes de normalidade de Shapiro Wilk (SW), para os ângulos APC e

APO, para todas as marcas comerciais...................................................................39

Tabela 3 - Testes ‘”t” para uma amostra, para cada marca comercial, contra o valor

de referência de -20°................................................................................................40

Tabela 4 - A análise descritiva e parâmetros estatísticos dos valores de APC e APO ,

dos dados experimentais. Unidade = (°)...................................................................43

Tabela 5 – Teste de normalidade de Shapiro-Wilk (SW), para a variáveis (APC e

APO)...........................................................................................................................44

Tabela 6 – Teste de homogeneidade de Levene, para as variáveis (APC e APO)...........................................................................................................................44 Tabela 7 – Análise de variância de fator único, para as variáveis APC e APO, para

as Marcas Comerciais testadas.................................................................................45

Tabela 8 – Teste de múltipla comparação de Tukey HSD para os valores de APC,

entre as diferentes Marcas Comerciais.....................................................................46

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

IVL

MEV

Inclinação Vestíbulo lingual

Microscópio eletrônico de varredura

APO Ângulo da parede oclusal

APC Ângulo da parede cervical

T Grandeza calculada pela aplicação do teste t Student

Dp

Ep

Desvio padrão

Erro padrão

et al. E colaboradores

% Porcentagem

” Polegada

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..........................................................................................2 2 REVISÃO DA LITERATURA ...................................................................5 3 PROPOSIÇÃO .........................................................................................18 4 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................21 4.1 MATERIAL...................................................................................................... 21 4.1.1 Amostra........................................................................................... 21 4.1.2 Material da pesquisa ......................................................................22 4.2 MÉTODOS..................................................................................................... 22 4.2.1 Confecção dos corpos de prova..................................................... 23 4.2.2 Posicionamento dos tubos .............................................................24 4.2.3 Obtenção das imagens dos tubos...................................................28

4.2.4 Demarcação dos pontos de referência............................................30 4.2.5 Traçado das linhas de referência e obtenção dos ângulos.............34

4.2.6 Mensuração da inclinação vestíbulo-lingual....................................35

4.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA.................................................................................35 4.4 ESTIMATIVA DE ERRO DO MÉTODO...........................................................36 5. RESULTADOS ........................................................................................38 5.1. ANÁLISE DO ERRO DE DALHBERGH....................................................38 5.2. AVALIAÇÃO DA CONFORMIDADE COM A INCLINAÇÃO VESTÍBULO-LINGUAL PRESCRITA PARA A TÉCNICA MBT................................................................................39 5.3. MODELO EXPERIMENTAL PARA COMPARAÇÃO ENTRE AS MARCAS COMERCIAIS.....................................................................................................................42

6. DISCUSSÃO ...........................................................................................50 7. CONCLUSÕES........................................................................................61 REFERÊNCIAS............................................................................................63 ANEXO – formulário de aprovação do CEP

1. INTRODUÇÃO1. INTRODUÇÃO1. INTRODUÇÃO1. INTRODUÇÃO

2

1. INTRODUÇÃO

Em Ortodontia corretiva empregando-se braquetes Edgewise, a força

decorrente da torção do fio ortodôntico retangular em torno do seu longo eixo é

comumente conhecida como torque. Nesta inclinação vestibulo lingual, o ponto de

apoio ou centro de rotação situa-se no braquete. (OLIVEIRA, 2000).

O advento dos braquetes pré ajustados foi sem dúvida uma das grandes

evoluções da Ortodontia, que ocorreu a partir dos estudos de Andrews ao

introduzir este aparelho como parte de um conceito para tratamento ortodôntico

denominado Straight-wire (aparelho pré-ajustado). O artigo por ele publicado em

1972, intitulado “As seis chaves da oclusão normal”, foi o primeiro passo para o

desenvolvimento do aparelho pré-ajustado e tornou-se um clássico, definindo a

partir do exame da coroa clínica dos dentes de indivíduos portadores de oclusão

normal, os objetivos que deveriam ser buscados para obtenção de uma oclusão

ótima.

O aparelho Straight-wire foi desenhado com a incorporação de inclinações,

angulações e desenho apropriado, permitindo aos dentes assumirem as posições

ideais no final do tratamento por meio do uso de arcos contínuos, sem

necessidade de dobras.

Daí em diante, surgiram varias outras prescrições ortodônticas de

braquetes pré-ajustados, tais como a de Roth, Alexander e MBT, nas quais o

conceito é o mesmo proposto por Andrews, variando-se as angulações e os

torques de alguns dentes.

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O aparelho MBT foi idealizado em 1997 por McLaughlin, Bennett e

Trevisi que introduziram diversas alterações na angulação, torque, rotação e

desenho dos braquetes. Inserindo algumas características de versatilidade que

diferenciaria este sistema dos demais, caracterizando-o como a terceira geração

de aparelhos pré-ajustados.

Segundo os autores da prescrição MBT a correta inclinação vestíbulo

lingual dos primeiros molares inferiores é de -20 graus, diferente dos -30 graus

preconizados pelo aparelho Straight wire original.

O estudo da precisão dos tubos torna-se necessário devido à importância

da mesma na finalização dos casos ortodônticos e consequentemente na

obtenção da correta oclusão. Este aspecto justifica a condução da pesquisa para

avaliar a precisão da inclinação vestíbulo lingual dos tubos de empresas que

atuam no mercado brasileiro, servindo de parâmetro para profissionais

selecionarem os tubos de maior fidelidade em relação à prescrição MBT.

2. REVISÃO DE LITERATURA2. REVISÃO DE LITERATURA2. REVISÃO DE LITERATURA2. REVISÃO DE LITERATURA

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2. REVISÃO DE LITERATURA

Angle, em 1925, foi o primeiro a organizar sistematicamente ações que

possibilitassem o tratamento ortodôntico com respostas adequadas. Seus estudos

originaram a Técnica Edgewise (arco de canto), recebendo essa denominação

devido à utilização de fios retangulares inseridos nas ranhuras dos braquetes. O

torque, nesta técnica, é obtido por meio da adaptação de um arco retangular ativado

na canaleta do braquete (ANDREWS, 1972)

Andrews (1972) desenvolveu a técnica Straight-wire partindo da compreensão

da oclusão dentária ideal, pois em seus estudos observou as características mais

freqüentes e estabeleceu as seis chaves da oclusão normal. Segundo o autor a

terceira chave descreve a inclinação axial dos dentes e a inclinação da coroa com o

ângulo formado entre a linha perpendicular ao plano oclusal e a tangente ao centro

da coroa clinica, variando em graus positivos ou negativos de acordo com cada

grupo de dentes avaliados. Com o intuito de alcançar a inclinação vestíbulo lingual

desejada, o autor utilizou arcos retangulares em braquetes pré ajustados,

provocando o movimento do torque, e revolucionando assim as técnicas de

movimentação ortodôntica.

Andreasson (1972) analisou a influência das diferentes secções de fios nas

canaletas de braquetes Edgewise na realização de movimentos de primeira,

segunda e terceira ordem. O autor concluiu que as canaletas .019” x .025” foram

mais eficazes.

Já Ricketts (1976), em seus estudos realizados com pacientes e em crânios

com oclusão normal, associados à experiência clinica, desenvloveu a prescrição da

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Terapia Bioprogressiva, como uma evolução da Técnica de Edgewise, porém sendo

mais dinâmica e versátil. Segundo o autor, nesta técnica recomenda-se que no

segmento posterior inferior o torque seja progressivo, de forma que o primeiro molar

seja posicionado verticalizado em relação ao plano oclusal e, a partir do segundo

molar a inclinação vestíbulo lingual encontre-se mais acentuada para lingual.

Andrews (1976) recomendou que os braquetes fossem posicionados no

centro da coroa clínica, e a inclinação vestíbulo lingual foi aplicada de acordo com

cada tipo de dente. Portanto, conforme afirmou o autor, todas estas variações foram

planejadas para diminuir o número de dobras nos fios e conseqüentemente melhorar

os resultados dos tratamentos.

Roth (1976), após utilizar durante cinco anos os braquetes da prescrição de

Andrews, afirmou que se a mandíbula estivesse em posição de estabilidade (relação

cêntrica) haveria um melhor resultado no final do tratamento. Visando um melhor

detalhamento no posicionamento dos dentes para uma maior estabilidade dos

casos, obedecendo às seis chaves de oclusão de Andrews, envolveu-se em estudos

sobre oclusão. O autor concluiu que por apresentar resultados consistentes, existem

muitas vantagens no uso da técnica Straight-Wire, o que possibilita a diminuição,

tanto no tempo das consultas, como no tempo do tratamento. O autor afirmou

também que, quando os braquetes são bem posicionados, é possível controlar a

movimentação ortodôntica de forma mais eficiente, quando comparada com a

utilização de dobras nos fios. Entretanto, segundo acreditava o autor, o processo de

fabricação dos braquetes poderia levar a uma quantidade mínima de erro, o que

conduziria os ortodontistas a terem que realizar algumas dobras de compensação, o

que seria desprezível, diante do resultado final clínico proporcionado pelo uso dos

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braquetes Straight-Wire. Para Roth, a vantagens do uso deste aparelho seriam:

melhor controle das posições dentárias, maior precisão no posicionamento dos

braquetes, facilidade de ligação braquete-fio, fácil identificação dos braquetes,

portanto, facilidade de construção e maior conforto ao paciente. Diante destas

considerações o autor afirmou ainda que, na finalização dos casos ortodônticos,

deveria haver uma determinada angulação dos incisivos e caninos superiores, bem

como, um determinado torque dos incisivos centrais e laterais superiores, para que

fosse obtido um trespasse horizontal adequado, de forma que estes dentes

ocupassem um espaço suficiente para conter o arco inferior no fechamento da

oclusão.

O estudo de Meyer e Nelson (1978) teve como objetivo avaliar a aplicação

dos princípios biomecânicos estabelecendo uma relação entre teoria e prática com a

utilização do aparelho pré-ajustado. Os autores relataram que para se obter um

encaixe perfeito dos dentes superiores com os inferiores, ao finalizar um tratamento

ortodôntico, era fundamental que se considerasse que o torque é uma força

rotacional do dente em sentido vestíbulo lingual. Assim como, para causar a rotação

dos braquetes, era preciso que o ortodontista entendesse que essa força de torque

era obtida somente pela interação do fio retangular nas canaletas retangulares dos

braquetes, produzindo um binário, que são forças paralelas (não coincidentes), de

igual magnitude e sentido oposto. Portanto, segundo os autores, o posicionamento

final do dente dependeria da máxima expressão do braquete pré-ajustado em

interação com um fio retangular. Os autores afirmaram ainda que no final do

tratamento, para que se obtivesse o torque desejado, era necessário o uso de fios

espessos que preenchessem a canaleta, possibilitando o controle do torque. Os

autores complementaram que a magnitude de variação do torque causada pelo

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posicionamento inadequado do braquete no dente, no sentido vertical, torna-se-ia

semelhante à variação do torque produzida pela folga existente entre a canaleta e o

fio retangular no momento do encaixe. Por estas razões, segundo os autores, era de

grande importância a interação dos braquetes pré-torqueados com o fio retangular,

pois este conjunto possibilitaria a obtenção do torque adequado ao final do

tratamento.

Magness (1978) relatou que uma vez que os dentes apresentam

características, como a anatomia e o contorno da superfície vestibular, que não são

uniformes, cada dente deveria ser minuciosamente avaliado pelo ortodontista, pois

estes fatores fazem com que não seja pertinente padronizar os braquetes. Portanto,

mesmo com o uso de aparelhos pré-ajustados, tornava-se necessária a confecção

de dobras nos fios, pois a variação das características de cada dente influencia no

resultado final do tratamento. Magness (1978) conclui seus estudos afirmando que a

total incorporação de in-out, torque e angulação no braquete foi feita por Andrews,

quando este desenvolveu o aparelho Straight-Wire para satisfazer as seis chaves de

oclusão por ele estabelecidas.

Creeckmore (1979), entendendo que a redução no tempo de tratamento era

uma vantagem economicamente importante, constatou que o aparelho pré-ajustado

era uma tendência da modernidade, mas que por ser sofisticado, exigiria do

ortodontista cuidados maiores, uma vez que se houvesse posicionamento incorreto

dos braquetes, todos os efeitos benéficos seriam perdidos. O autor relatou que a

influência direta no controle de torque sofre influência pela folga existente entre o fio

e a canaleta do braquete, e isso leva a necessidade de compensações (dobras de

terceira ordem) no fio retangular ao final do tratamento. O autor afirmou que quando

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inserido um fio retangular .018”x .025” em uma canaleta de braquete .018”, ocorre

uma pequena folga de 2 graus (tolerância industrial) e quando inserido um fio

retangular .018” x .025” em uma canaleta de braquete .022”, a folga aumenta para

15 graus. O autor relatou que, caso fosse usada a prescrição 7 graus para incisivos

centrais superiores e 3 graus para incisivos laterais superiores, por ser a folga maior

que o torque embutido nos braquetes, não ocorreria nenhum movimento de torque.

Portanto, segundo Creekmore (1979), para o devido sucesso do tratamento, o

mesmo deveria ser realizado com um fio que preenchesse totalmente a canaleta.

Lang, Sandrik e Kappler (1982) analisaram tubos de cinco fabricantes com o

intuito de estudar a quantidade de rotação do arco retangular em molares. A

quantidade de força de torque dissipada pela interação tubo-arco foi refletida na

rotação. Os estudos mostraram variações entre a dimensão da luz do tubo

observadas no trabalho e as descritas pelos fabricantes, pois dependendo do arco

utilizado e do fabricante, o fio retangular apresentou liberdade de rotação no tubo

com diferentes graus. Este fato segundo os autores significa que torques ou

angulações adicionais poderiam ser necessários.

Andrews (1983) afirmou que os aparelhos pré-ajustados melhoram a

finalização dos tratamentos, pois estes aparelhos, por terem inserido em seu

processo de construção os torque e angulações, proporcionam um menor tempo de

correção e consulta, e facilitam o trabalho do ortodontista no que diz respeito à

confecção de dobras nos arcos. Quando descreveu a técnica dos braquetes pré-

ajustados, enfatizou que desde que a ranhura seja colocada no centro da coroa

clínica e as bases dos braquetes apresentem inclinações, será proporcionado um

torque adequado ao dente.

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McLaughlin e Benett (1989) também desenvolveram estudos a partir do

aparelho Straight-Wire desenvolvido por Andrews e introduziram diversas alterações

na angulação, torque, rotação e desenho dos braquetes. Os autores desenvolveram

uma prescrição ortodôntica com algumas características de versatilidade que a

destacasse das demais, o que gerou a terceira geração de aparelhos pré-ajustados.

Segundo os idealizadores da técnica, desenvolvida com base em experiências

clinicas, foram feitas modificações neste novo aparelho para facilitar a mecânica

ortodôntica, diminuindo a necessidade de dobras no fio e proporcionando boa

oclusão funcional na finalização. Segundo os autores, a correta inclinação vestíbulo

lingual dos primeiros molares inferiores era de -20 graus, diferente dos -30 graus

preconizados pelo aparelho Straight wire original. Esses torques linguais foram

reduzidos em molares inferiores com a função de eliminar o contato em balanceio, já

que a face oclusal do molar sera posicionada mais paralela ao plano oclusal.

Andrews, em 1989, afirmou que a evolução caminhava para a

individualização dos braquetes de acordo com a especificação de cada paciente e

que já havia a intenção de reduzir as dobras dos fios desde 1970. Entretanto, para

finalização e caracterização da oclusão dos pacientes cujos dentes fossem

diferentes, da forma e posição programada dos braquetes, haveria ainda a

necessidade de dobras nos fios. Portanto, não seria mais necessário fabricar

braquetes para cada paciente, o que tornaria o tratamento muito dispendioso. Diante

destas considerações, o autor enfatizou que o posicionamento dos braquetes era um

fator decisivo para o tratamento. Assim, concluiu seus estudos afirmando que o

aparelho por ele desenvolvido considerava a morfologia dos dentes e a posição dos

mesmos em uma oclusão normal, usando fios sem dobras, mas era necessário

organizar um aparelho totalmente programado, ou seja, um braquete para cada

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dente. O autor enfatizou ainda, a necessidade que os caninos tivessem braquetes

específicos para casos com e sem extrações, alterando a angulação e

acrescentando a anti-rotação, porém com o mesmo torque.

Owen (1991) comparou a eficácia entre dois aparelhos pré-torqueados, o

Straight-Wire e o Vari-Simplex, um dos quais apresenta torque na base e outro com

torque na canaleta. O autor realizou seus estudos ao longo de cinco anos e

observou que em 20% dos seus casos tinha que acentuar o torque nos incisivos

superiores. Sendo assim, para eliminar quase totalmente o torque adicional aplicado

ao arco, teria que acrescentar torque neste setor. No desenvolvimento dos seus

trabalhos, sempre comparando os dois aparelhos, o autor avaliou vários fatores,

como número de fios utilizados e de braquetes perdidos, oclusão final e tempo de

tratamento. Mesmo não tendo encontrado diferenças notáveis entre ambos, o autor

concluiu seus estudos afirmando que desde que os braquetes fossem colocados

corretamente, o uso clinico do torque na base dos braquetes seria uma condição

prévia para que o aparelho pré-ajustado produzisse resultados aceitáveis sem

dobras no arco.

Em 1992, Balut et al. pesquisaram as variações no posicionamento de

braquetes pré-ajustados por meio de colagem direta. Os autores partiram do

conceito que o aparelho pré-torqueado não eliminaria totalmente a necessidade de

dobras nos fios pelas variações na morfologia dentária. Para o desenvolvimento dos

estudos utilizaram cinco modelos pré-tratamento de cinco pacientes com más

oclusões diferentes. Os segundos premolares superiores, por possuírem uma coroa

clínica curta, foram os que levaram os braquetes a apresentarem maiores diferenças

verticais, sendo os braquetes dos dentes anteriores inferiores os que ficaram mais

12

bem posicionados. A diferença encontrada nos braquetes dos segundos premolares

superiores apresentou discrepância vertical com uma média em altura de 0,34mm e

com 5,54º de angulação entre braquetes adjacentes. Os autores terminaram seus

estudos concluindo que as variações anatômicas dos dentes e as irregularidades de

sua superfície, são fatores que dificultam o posicionamento adequado dos braquetes

no momento da colagem.

Com o objetivo de verificar as medidas da inclinação vestíbulo-lingual das

coroas dentárias sobre modelos de gesso de oclusões normais e modelos

ortodônticos pós-tratamento de casos tratados, Ugur e Yukay (1997) examinaram

grupos tratados com aparelhos Edgewise padrão e com os braquetes da técnica de

Roth. Cada grupo foi composto por 10 indivíduos, que passaram por alterações em

valores do torque. A partir do plano oclusal funcional, foram medidas em modelos de

estudo, as inclinações das coroas dos incisivos centrais aos segundos molares para

os arcos dentários superior e inferior e foram calculadas as medias para as

inclinações dentárias. Nos grupos tratados, quando comparados com o grupo com

oclusão normal, foi constatado que os incisivos centrais e laterais superiores

apresentaram inclinação vestibular da coroa e os molares inferiores apresentaram

maior inclinação lingual. Segundo os autores, os estudos apresentaram uma

variação significante entre os valores médios de torque nos grupos tratados com

braquetes padrões Edgewise e com a técnica de Roth.

Kapur, Sinha e Nanda (1999) mediram a carga transmitida e a integridade

estrutural dos braquetes de aço inoxidável e de titânio na aplicação de forças de

inclinação vestíbulo lingual. Para o desenvolvimento dos trabalhos os autores

utilizaram um dispositivo especialmente planejado que fazia aplicação de uma

13

inclinação vestíbulo lingual de 45º, fazendo uso de braquetes Edgewise com

canaletas .018” e .022”. Para medirem a carga gerada, utilizaram uma máquina de

teste Universal Instron em intervalos de 15º, 30º e 45º de aplicação de torque.

Fizeram uso também de um estereoscópio móvel para poderem avaliar a

estabilidade estrutural dos braquetes, medindo a largura do encaixe do braquete

antes e depois de serem submetidos as forças de torção. A carga média gerada na

aplicação de 45º de torque, foi analisado pelo teste “t” de Student em uma amostra

independente para que pudessem realizar a comparação. Quando comparados aos

braquetes de aço inoxidável, os braquetes de titânio transmitiram forças mais altas

nos torques de 15º e 30º, e mais baixas no torque de 45º. Os autores concluíram

seus estudos, afirmando que os braquetes de titânio apresentam maior estabilidade

com dimensões maiores, quando comparados aos braquetes de aço inoxidável.

Cornejo (2005) avaliou em seu estudo a precisão do torque existente em

braquetes de premolares na técnica MBT, de seis marcas comerciais. Constatou que

a marca Morelli apresentou valores médios de torque mais distantes dos valores

prescritos pelos autores da técnica. Entretanto, a análise estatística dos resultados,

demonstrou que as marcas American Orthodontics e TP Orthodontics também

apresentaram alguma discordância em relação à prescrição da técnica.

Streva (2005) avaliou a inclinação vestíbulo lingual dos braquetes de caninos

em seis marcas comerciais, verificando se as mesmas estavam de acordo com a

prescrição da Técnica MBT. Alcançou os mesmos resultados de Cornejo (2005) em

relação aos braquetes produzidos pela Morelli, que estavam em maior desacordo

com o prescrito pela técnica. A análise estatística dos resultados demonstrou que as

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marcas American Orthodontics e Ortho Organizers também apresentaram alguma

discordância em relação aos valores de torque prescritos.

Participando da mesma linha de pesquisa, Bóbbo (2006) observou a precisão

dos braquetes de incisivos fabricados para a técnica MBT, oriundos de seis marcas

comerciais disponíveis no mercado brasileiro. Realizou seu estudo com auxílio de

microscopia ótica e as imagens foram medidas pelo software Global LAB, com

aumento de 3,5 vezes. A precisão do torque foi verificada por meio de um ângulo

formado entre uma linha representando a base do braquete e outra relativa ao

assoalho da canaleta do braquete. A autora também encontrou maior dissidência

dos valores da marca Morelli em relação aos valores prescritos pela técnica. Do

ponto de vista estatístico as marcas American Orthodontics, Ortho Organizers, TP

Orthodontics e 3M Unitek também apresentaram alguma discordância em relação

aos valores de referência. Houve maior discordância de valores para os braquetes

dos incisivos laterais superiores e para os braquetes de incisivos inferiores.

Gomes Filho (2007) avaliou em seu estudo a precisão do torque de braquetes

pré-ajustados dos incisivos superiores e inferiores, prescritos pela Terapia

Bioprogressiva de Ricketts, fazendo uma análise comparativa entre seis marcas

comerciais presentes no mercado brasileiro, a Abzil e Morelli, nacionais, e

Dentaurum, Forestadent, GAC e Rocky Mountain Orthodontics (RMO), importadas.

O autor mensurou a precisão do torque dos braquetes por meio dos ângulos da

parede incisal (API) e da parede cervical (APC), medidos na intersecção da linha

base do braquete com as linhas laterais internas, incisal e cervical, respectivamente,

das canaletas. Para tanto fez uso de um microscópio eletrônico de varredura (MEV)

da marca Zeiss. Para as análises das imagens utilizou o software AutoCAD 2000.

15

Este estudo levou o autor à conclusão de que existiu notável divergência no torque

fabricado pelas diversas marcas em relação ao prescrito pela Terapia

Bioprogressiva. Estas diferenças foram menores para os braquetes da marca RMO,

onde apenas o ângulo APC dos incisivos centrais superiores e inferiores estiveram

em desacordo com a prescrição. Já as marcas Abzil e GAC mostraram-se

divergentes da prescrição de torque em todos os ângulos avaliados.

Em 2008, Vellini-Ferreira relatou que conhecimentos referentes à oclusão e

equilíbrio dos dentes, são essenciais ao sucesso do tratamento ortodôntico que visa

uma oclusão individual. O autor observou que os dentes permanentes não se

implantam nos processos alveolares perpendiculares e sim à direção dos raios de

uma esfera, cujo centro situa-se a três milímetros para trás do ponto antropométrico

Násio. Portanto, a inclinação axial dos dentes está intimamente relacionada ao

torque. Sendo assim, destacou que no arco inferior a raiz dos incisivos centrais e

laterais, tem inclinação lingual, sendo que esta diminuía acentuadamente ao nível

dos caninos. E que no arco superior, no sentido vestíbulo-lingual, as raízes dos

incisivos centrais inclinam-se fortemente para palatino, atingindo valores próximos

de zero nos premolares e molares. O que faz aumentar a medida de distalização do

arco era o fato de que o primeiro premolar se implantara verticalmente e a partir do

segundo premolar o longo eixo radicular inclina-se em direção vestibular. O perfeito

equilíbrio das partes era alcançado pelo fato de que a inclinação vestíbulo-lingual

dos dentes obedecia a um plano geral de resistência aos esforços funcionais que se

manifestariam sobre o aparelho mastigador. Isto ocorreria mesmo os indivíduos

apresentando pequenas variações no grau de angulação e inclinação dos dentes

maxilares. O autor concluiu seus estudos afirmando que a base conceitual do torque

clínico era constituída pela disposição arquitetônica do longo eixo do dente e que os

16

conceitos de inclinação da coroa e do longo do eixo dental se completariam para a

compreensão do torque. Portanto, por apresentar diferentes inclinações era

necessário o conhecimento preciso da morfologia coronária pelo ortodontista, para

que o tratamento tivesse sucesso.

Com o objetivo de comparar as angulações e torques de braquetes de marcas

comerciais distintas em relação à prescrição de Roth e também em relação aos

valores preconizados pelo fabricante, Zanesco (2008) avaliou 150 braquetes

metálicos de aço inoxidável, de incisivos centrais, incisivos laterais e caninos

superiores, direitos e esquerdos. O autor avaliou cinco marcas comerciais: Morelli,

Abzil, Unitek, GAC e Dentaurun. Para a mensuração do torque e angulação foi

utilizado um equipamento denominado Perfilômetro ou Projetor de perfil, de marca

Starrett-Sigma modelo VB 300 acoplado a um equipamento para mensuração digital

denominado Quadra Check 200, do Laboratório de Metrologia da Empresa Morelli.

Este equipamento permite a projeção em sua tela de vidro da imagem ampliada da

peça. Com a utilização deste recurso foi possível concluir que as diferenças tanto de

torque quanto de angulação, na comparação dos valores encontrados com relação à

prescrição dos fabricantes, são diferenças que se enquadram dentro do grau de

tolerância preconizada por um órgão regulador de peças ortodônticas alemãs.

Sendo que no comparativo dos valores de torque obtidos com os valores dos

fabricantes, a Unitek demonstrou uma maior fidedignidade ao torque comparada às

demais marcas. No entanto, no que se refere à angulação a Unitek deixa a desejar

quando comparada às demais marcas.

Sendo assim, considerando a importância da inclinação vestibulo lingual em

Ortodontia e a inovação trazida pela técnica MBT, além de sua ampla utilização pela

17

comunidade ortodôntica, as pesquisas sobre estas características dos tubos têm o

intuito de informar melhor os ortodontistas e também favorece as indústrias de

materiais o seu aprimoramento, para que assim possam em conjunto oferecer um

melhor resultado no tratamento dos pacientes.

3. PROPOSIÇÃO3. PROPOSIÇÃO3. PROPOSIÇÃO3. PROPOSIÇÃO

19

3. PROPOSIÇÃO

O presente estudo tem o objetivo de avaliar a precisão da inclinação

vestíbulo-lingual dos tubos de primeiros molares inferiores da prescrição MBT, com

ranhura de .022” X .028”, de seis diferentes marcas comerciais (Unitek 3M, Abzil,

American Orthodontics, Morelli, Rocky Mountain e TP Ortho), com os seguintes

propósitos:

1. Analisar se os valores aferidos encontram-se em conformidade com a

inclinação vestíbulo-lingual prescrita para a técnica MBT, sendo, portanto

testadas

• H0, ou hipótese de nulidade: as marcas comerciais encontram-se em

conformidade com a técnica MBT, ou seja não há diferença

estatísticamante significante entre os valores observados e o prescrito

e

• H1, ou hipótese alternativa: as marcas comerciais encontram-se em

não conformidade com a técnica MBT, ou seja há diferença estatística

significante entre os valores observados e a prescrição;

2. Avaliar a amplitude de variação encontrada para o ângulo da parede cervical

(APC) e o ângulo da parede oclusal (APO) em cada marca comercial e

3. Comparar os valores médios e os desvios-padrão das inclinações vestíbulo-

linguais dos tubos molares inferiores, baseando-se nos ângulos APC e APO,

sendo, portanto testadas

20

• H0, ou hipótese de nulidade: Não existe diferença estatística entre

as marcas comerciais, no que diz respeito aos valores observados das

inclinações vestíbulo-linguais.

• H1, ou hipótese alternativa: Existe pelo menos uma diferença

estatística significante entre as marcas comerciais, no que diz respeito

aos valores observados das inclinações vestíbulo-linguais.

4. MATERIAL E MÉTODOS4. MATERIAL E MÉTODOS4. MATERIAL E MÉTODOS4. MATERIAL E MÉTODOS

22

4. MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo laboratorial foi desenvolvido em conformidade com

os preceitos e normas preconizadas pela Comissão de Ética em Pesquisa da

Universidade Cidade de São Paulo, sendo aprovado sob o protocolo Nº13485133

(Anexo).

4.1 MATERIAL

4.1.1 A Amostra

A amostra deste experimento foi composta por 120 tubos de primeiro molar

inferior direito, prescrição MBT, com dimensões .022” x .028”, distribuídos em 6

grupos. Cada grupo possuía 20 tubos de uma determinada marca comercial,

conforme o quadro abaixo.

Grupo MARCA COMERCIAL

MODELO CIDADE ESTADO ORIGEM

Grupo 1

Unitek 3M Victory Monrovia California USA

Grupo 2

Abzil MBT simples

São José do Rio Preto

SP Brasil

Grupo 3

American Orthodontics

MBT simples

Sheboygan Wisconsin USA

Grupo 4

Morelli MBT Sorocaba SP Brasil

Grupo 5

Aditek MBT simples

Cravinhos SP Brasil

Grupo 6

TP Ortho MBT La Porte Indiana USA

23

Figura 1 – Relação das marcas comerciais e da origem dos tubos que compõe a amostra.

Do total de 6 marcas comerciais, apenas a Abzil, Morelli e Aditek são

fabricadas no Brasil, sendo as demais importadas.

4.1.2 Material de Pesquisa

Para desenvolver a pesquisa, foram utilizados os seguintes materiais:

• 24 barras de alumínio retangular, com ângulos retos precisos, na dimensão

de 30mm x 5mm x 15mm;

• Cola adesiva a base de éster de cianocrilato, da marca Super Bonder (Loctite,

SP, Brasil)

• Base de madeira na dimensão de 11,5cm x 7cm com uma perfuração de

150mm x 5mm;

• Folha de papel milimetrado;

• Fio de aço inoxidável, de secção redonda, de dimensão .020” da marca

Morelli (Morelli Ortodontia, Sorocaba, SP, Brasil);

• Software autoCAD 2008 (32Bit), Apache Software Foundation-USA;

• Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) modelo Philips XL- 30;

4.2 MÉTODOS

As imagens para aplicação dos testes de precisão dos tubos (inclinação

vestibulo lingual) foram obtidas no Laboratório de Microscopia Eletrônica e de Força

Atômica, pertencente à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – USP.

Sobre estas imagens foi utilizada a abordagem quantitativa por meio da técnica de

pesquisa laboratorial.

24

A separação e a identificação dos grupos de tubos foram feitas por uma

terceira pessoa, que não participou da pesquisa, a qual acomodou os braquetes em

compartimentos com códigos distintos e não identificáveis pelo operador. Estes

códigos somente foram revelados ao pesquisador após serem montadas as tabelas

com os ângulos. Assim o pesquisador não teve condições de identificá-los durante o

processo de colagem, nem mesmo durante a captação e mensuração das imagens

dos tubos. Desta forma foram garantidas as exigências do teste de duplo cego,

proporcionando validade ao experimento.

4.2.1 Confecção dos corpos de prova

Inicialmente foram confeccionados 24 corpos de prova a partir de barras de

alumínio de 5mm de largura, 15mm altura e que foram cortadas no comprimento de

30mm (Figura 2). Estes segmentos de barra visam servir de apoio para os tubos,

padronizando a obtenção das imagens em microscopia eletrônica.

Em cada barra de alumínio foram colados 5 tubos de primeiro molar inferior

direito na superfície lateral (5mm x 30mm), de forma que, quando este segmento de

barra estivesse deitado, os tubos apresentassem suas faces mesiais voltadas para

cima (Figura 3).

25

Figura 2: Base de alumínio.

Figura 3: Corpo de prova com tubos na posição de captação da imagem – Modelo

Piloto.

4.2.2 Posicionamento dos tubos

Visando a uniformização nas colagens dos tubos, as canaletas dos tubos

foram posicionadas perpendicularmente ao longo eixo dos corpos de prova, de tal

forma que permanecessem em perfeito paralelismo com o feixe de obtenção da

imagem do microscópio, propiciando a precisão na captura das imagens. Com este

objetivo foi utilizada uma estrutura de madeira com uma canaleta perfurada na

largura de 5mm, na qual os corpos de prova foram adaptados com justeza durante o

processo de colagem (Figura 4). Sobre a superfície desta estrutura de madeira foi

26

colada uma folha de papel milimetrado com linhas perpendiculares e paralelas à

canaleta, o que serviu como guia para o posicionamento correto e perpendicular das

canaletas dos tubos na colagem destes sobre a superfície lateral da base de prova

(Figura 5).

Figura 4: Estrutura de madeira com papel milimetrado colado em sua superfície e bases de prova posicionados na perfuração central para colagem.

Para o posicionamento dos tubos nas colagens, foram utilizados segmentos

de fio de aço inoxidável, de secção redonda .020”, marca Morelli (Figura 5). Assim

foram colados cinco pedaços deste fio, de um lado da canaleta perfurada, sobre o

papel milimetrado em posições determinadas para servir de apoio. Também foram

colados outros seis segmentos de fios no lado oposto em posições pré-

estabelecidas, os quais atravessavam sobre a canaleta para servirem de guia aos

tubos no momento da colagem, deixando sempre uma extremidade livre (Figura 6).

Desta forma, pretendeu-se manter um padrão de posicionamento dos braquetes e

27

facilitar a remoção dos corpos de prova ao final da colagem, sem danificar a

estrutura de madeira padronizadora.

Figura 5: Estrutura de madeira com os segmentos de fio guia para colagem.

28

Figura 6: Posicionamento dos tubos sobre o corpo de prova, padronizado pela

estrutura de madeira – Modelo Piloto.

Para a colagem dos tubos na barra de alumínio foi utilizada uma cola adesiva

composta de éster de cianocrilato do tipo gel, da marca Super Bonder, em

decorrência da sua característica de manter a superfície seca para não interferir no

processo de obtenção de imagem no MEV (MALISKA, 2006).

A obediência a este conjunto de procedimentos possibilitou a colagem dos

tubos lateralmente ao corpo de prova e perpendicular a sua superfície lateral, de

forma que, quando se deitou o gabarito na superfície de leitura do microscópio, a

lateral dos tubos ficou de perfil e com as canaletas alinhadas paralelas ao eixo de

imagem. Assim, os tubos foram fixados corretamente permitindo uma melhor captura

da imagem para mensuração do ângulo de inclinação vestibulo lingual. Todos os

29

cuidados de padronização e sequência da técnica foram seguidos para a obtenção

dos 24 corpos de prova com os 120 tubos (Figura 7).

Figura 7: Corpos de prova representativos dos 6 grupos avaliados

4.2.3 Obtenção das imagens dos tubos

Os 24 corpos de prova, cada um contendo 5 tubos posicionados, foram

colocados na mesa do Microscópio Eletrônico de Varredura – MEV (Figura 8), onde

seu foco foi ajustado em cada tubo para que o perfil do mesmo fosse apresentado o

mais nítido possível, com o aumento de 35 vezes em toda a sua extensão. Depois

de obtidas as imagens, as mesmas foram armazenadas no computador do

microscópio e, posteriormente, transferidas para um computador portátil, onde foram

analisadas pelo Software AutoCAD 2008, processadas e mensuradas.

30

Para os procedimentos realizados com o microscópio foi necessário contar

com um operador com experiência no uso do equipamento, sendo este orientado e

acompanhado pelo ortodontista responsável pela pesquisa, durante todo o período

de coleta dos dados.

Figura 8: Microscópio Eletrônico de Varredura – MEV, modelo Philips XL- 30, com

sistema EDS (EDAX).

Desta forma foram obtidas todas as imagens dos 120 tubos (Figura 9).

31

3M

Abzil

Figura 9: Exemplos de Imagens que foram obtidas pelo MEV

4.2.4 Demarcação dos pontos de referência

Pontos de referência foram demarcados sobre a imagem capturada para a

determinação dos ângulos que representam a inclinação vestíbulo-lingual dos tubos.

Inicialmente foi determinada uma linha de referência coincidente com a base da

canaleta do tubo (Figura 10). Na sequência foram demarcados os seguintes pontos

de referência:

Figura 10: Linha de referência

32

Ponto C1 e O1 – Foi traçada uma linha paralela à linha de referência, projetada 0,15

mm para o interior da canaleta. Os pontos de interseção desta paralela com as

paredes da canaleta foram nomeados ponto C1 (na face cervical da canaleta) e

ponto O1 (na face oclusal da canaleta). (Figura 11)

Figura 11: Pontos C1 e O1

Ponto C2 e O2 – Foi traçada uma linha paralela à linha de referência, projetada 0,60

mm para o interior da canaleta. Os pontos de interseção desta paralela com as

paredes da canaleta foram nomeados ponto C2 (na face cervical da canaleta) e

ponto O2 (na face oclusal da canaleta). (Figura 12)

33

Figura 12: Pontos C2 e 02

Determinação dos pontos B1 e B2: Estes pontos foram demarcados na aresta do

corpo de prova, junto à extremidade oclusal do tubo (B1) e cervical do tubo (B2),

sendo que o corpo de prova corresponde à superfície do dente (Figura 13).

34

Figura 13: Pontos B1 e B2

Deste modo, foram demarcados todos os pontos de referências na imagem,

permitindo o traçado das linhas que determinaram os ângulos avaliados. (Figuras

14A e 14B)

Figura 14A: Figura com os pontos de referência empregados

35

Figura 14B: Exemplo com todos os pontos de referência em imagem obtida

pelo MEV.

4.2.5 Traçado das linhas de referência e obtenção dos ângulos

Após a demarcação de todos os pontos de referência, utilizando-se o software

AutoCAD 2008 foram traçadas as seguintes linhas necessárias para obtenção dos

ângulos.

Linha B – representa a base do tubo, formada pela união dos pontos B1 e

B2.

Linha C – esta linha define a parede cervical da canaleta do tubo, a qual é

formada pela união dos pontos C1 e C2.

Linha O – definida como a parede oclusal da canaleta do tubo, formada pela

união dos pontos O1 e O2.

As duas paredes formadas pelas linhas C e O representam a canaleta que

recebe o fio ortodôntico e, portanto, quando avaliadas em relação à linha B, firmam o

ângulo da parede cervical (APC) e o ângulo da parede oclusal (APO), definindo

assim a inclinação vestíbulo-lingual embutida no acessório (Figura 15).

36

Figura 15: Linhas cervical e oclusal, ângulos cervical e oclusal

4.2.6 Mensuração da inclinação vestibulo lingual

Foi utilizado o software Auto CAD 2008 para fazer a mensuração dos ângulos

que representam a inclinação, sendo utilizada uma casa decimal. Dos valores

obtidos para o ângulo APC e para o ângulo APO de cada tubo, foram obtidas as

médias aritméticas e, então, os valores foram comparados com os parâmetros de

inclinação vestibulo lingual prescritos pela Filosofia MBT, que é de – 20 graus. Estes

resultados e suas interpretações proporcionaram uma visão mais nítida sobre a

precisão da inclinação dos tubos disponíveis no mercado brasileiro.

4.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA

37

Executou-se uma análise estatística descritiva para cada marca e grupo de

braquete, que constou em cálculo da média, do desvio-padrão, além do relato dos

valores mínimos, máximos e amplitude entre esses valores. O modelo de pesquisa

exigiu:

1. Análise do erro de Dalhberg

2. A avaliação de normalidade pelo teste de Shapiro Wilk.

3. Uma vez observada a distribuição normal nos dados foi realizado o

teste “t” paramétrico.

4. Análise de variância (ANOVA) para detectar a existência de diferenças

entre as médias

5. Teste de Tukey com intervalo de confiança de 95% para apresentar a

existência de diferença estatística entre as marcas

4.4 ESTIMATIVA DE ERRO DO MÉTODO

Para avaliar a repetibilidade dos resultados desta pesquisa, foi realizada uma

nova medição de 5 tubos de cada marca. Estas novas medições também foram

mensuradas quanto à inclinação vestíbulo lingual, seguindo-se exatamente o mesmo

protocolo realizado no experimento original. Este procedimento transcorreu 20 dias

após a coleta inicial dos dados obtidos na pesquisa, e foram, então, comparados

com os dados pertinentes ao experimento original. Foi utilizado um teste pareado

para testar a diferença entre os dois tempos de medida. Após a confirmação que

não houve diferença estatística entre as duas medidas foi aplicada a análise de erro

de.Dalhbergh.

38

5. RESULTADOS5. RESULTADOS5. RESULTADOS5. RESULTADOS

39

5. RESULTADOS

Considerando-se as hipóteses descritas, dividiu-se a análise estatística em:

5.1 – Análise do Erro de Dalhbergh

Para a análise da repetibilidade estimar a precisão das medidas, segunda a

técnica experimental de medição utilizada, cinco braquetes foram aleatoriamente

escolhidos de cada grupo experimental e medidos em dois tempos diferentes, com

intervalo de no mínimo 20 dias um do outro, e foram efetuados pelo mesmo

operador.

Antes porém, um teste pareado (Teste de T pareado – tabela 1) foi utilizado

para testar se a diferença entre os dois tempos de medida era “diferente de zero”,

pois deve-se esperar que quaisquer par de medidas repetidas, obtidas nas mesmas

condições, não devam ser diferente de zero.

Tabela 1 - Parâmetros estatísticos e teste T pareado entre a Primeira e a Segunda Medições

Ângulo Medições (APC) N Média D.P. E.P. Lim.Sup.(95%)† Lim.Inf.(95%)† valor t valor p

APC Primeira (1ª) 30 -20,27 1,62 0,3 -0,814 0,814 0 1,00

Segunda (2ª) 30 -20,27 1,53 0,28

(1ª) – (2ª)† 30 0 0,371 0,0678

APO Primeira (1ª) 30 -19,73 1,143 0,209 -0,559 0,559 0 1,00

Segunda (2ª) 30 -19,73 1,015 0,185

(1ª) – (2ª)† 30 0 0,371391 0,0678

†Parâmetros da diferença entre medidas; Lim.Sup.(95%) = Limite superior do intervalo de confiança de 95% da diferença entre as medidas; Lim.Inf. (95%) = Limite inferior do intervalo de confiança de 95% da diferença entre as medidas; Valor t = valor t obtido da diferença entre as medidas

O resultado do teste “t” pareado (tabela 1) mostra que t=0,00; p=1,00, sendo

que não houve diferença estatística entre as duas medidas, para os dois ângulos

(APC e APO) a um nível de 5%.

O teste de Dalhbergh revelou que para ambos os ângulos, APC e APO, o erro

estimado foi de 0,258, sendo menor que 1°.

40

5.2 Avaliação da conformidade com a inclinação vestíbulo-lingual prescrita para a técnica MBT.

Para todos os tipos de tubos, os valores da inclinação vestíbulo-lingual (IVL),

avaliados pelos ângulos APC (Ângulo da Parede Cervical) e APO (Ângulo da Parede

Oclusal) foram comparados estatísticamente, com o valores de referência de -20°,

da técnica de MBT.

As comparações foram feitas graficamente pela plotagem dos intervalos de

confiança de 95% para cada marca comercial, contra os valores de referência e

confirmados, pela aplicação de testes “t” para uma amostra contra um valor fixo da

própria referência.

Antes da aplicação dos testes, as premissas de normalidade dos resíduos, para

cada marca de cada tipo de braquete, foi testada, pelo método de Shapiro-Wilk

(tabela 2).

5.2.1 Testes de normalidade dos resíduos de Shapiro Wilk

Tabela 2 – Testes de normalidade de Shapiro Wilk (SW), para os ângulos APC e APO, para todas as marcas

comerciais.

Ângulo Marcas Estatística Gl Sig(p).

APC_REF Unitek 3M 0,812 20 0,001*

Abzil 0,855 20 0,007*

American Ortho 0,902 20 0,045*

Morelli 0,948 20 0,340

Aditek 0,929 20 0,148

Tp Ortho 0,899 20 0,039*

APO_REF Unitek 3M 0,757 20 0,000*

Abzil 0,971 20 0,772

American Ortho 0,873 20 0,013*

Morelli 0,934 20 0,183

Aditek 0,917 20 0,089

Tp Ortho 0,867 20 0,010*

*significante a 0,05 gl = Graus de liberdade

Alfa = 0,05

O teste de Shapiro Wilk, revelou que os resíduos dos grupos testados

apresentam-se normalmente distribuídos para as marcas Morelli (p=0,340) e Aditek

41

(p=0,148) e não normais para as marcas Unitek 3M (p=0,001), Abzil (p=0,007),

American Ortho (p=0,045) e Tp Ortho (p=0,039), no que diz respeito ao ângulo APC.

Para o Ângulo APO as marcas Abzil (p=0,772), Morelli (p=0,183) e Aditek

(p=0,089) apresentaram resíduos normalmente distribuídos e as marcas Unitek 3M

(p=0,000); American Ortho (p=0,013) e TP Ortho (p=0,010) desvios da condição de

normalidade.

Apesar dos dois ângulos APC e APO apresentarem dados não normais, o

teste “t” é robusto a falta de normalidade (Chilton, 1963).

5.2.2 – Testes “t” para uma amostra.

Os resultados dos Testes “t” para uma amostra, para cada condição

experimental estudada, contra um valor fixo da referência da técnica MBT, estão

dispostos na tabela abaixo (Tabela 3).

Tabela 3 – Testes ‘”t” para uma amostra, para cada marca comercial, contra o valor de referência de -20°.

Ângulo Marcas Comerciais N Média D.P. E.P. Lim.Inf. (95%) Lim.Sup. (95%) T Sig.(p)

APC Unitek 3M 20 -20,80 0,951 0,213 -21,245 -20,355 -3,76 0,001*

Abzil 20 -22,00 1,214 0,271 -22,568 -21,432 -7,37 5,543E-07*

American Ortho 20 -19,20 1,281 0,287 -19,800 -18,600 2,79 0,012*

Morelli 20 -19,75 1,333 0,298 -20,374 -19,126 0,84 0,411†

Aditek 20 -20,10 2,125 0,475 -21,095 -19,105 -0,21 0,836†

Tp Ortho 20 -19,95 1,191 0,266 -20,507 -19,393 0,19 0,851†

APO Unitek 3M 20 -20,25 1,118 0,250 -20,773 -19,727 -1,00 0,330†

Abzil 20 -19,25 1,997 0,446 -20,184 -18,316 1,68 0,109†

American Ortho 20 -20,55 1,234 0,276 -21,128 -19,972 -1,99 0,061†

Morelli 20 -19,65 1,387 0,310 -20,299 -19,001 1,13 0,273†

Aditek 20 -20,05 2,328 0,521 -21,139 -18,961 -0,10 0,921†

Tp Ortho 20 -19,65 0,933 0,209 -20,087 -19,213 1,68 0,109†

D.P – Desvio-Padrão; E.P. – Erro Padrão; Lim.Sup(95%) – Limite superior do intervalo de confiança de 95%;

Lim.Inf.(95%) – Limite inferior do intervalo de confiança de 95%.

T = valor “t” calculado para 19 gl

|t crítico (19gl, 5%)| =|2,09|

* = P < 0,05

† = grupo dentro da faixa de referência

Na tabela 3, pode-se observar que os únicos grupos, que incluem o valor de

referência-20°, e por isso falham em recusar H0, foram as marcas comercias Morelli

42

(p=0,411), Aditek (p=0,836) e TP Ortho (p=0,851) para o ângulo APC. As demais

marcas, Unitek 3M (p=0,001), Abzil (p=5,543E-07) e American Ortho (p=0,012),

rejeitaram H0 e aceitam H1, e não incluíram o valor de -20°, ficando da referência.

Na figura 5.1, pode-se confirmar este resultado para APC. Nota-se que os

intervalos de confiança para as marcas Morelli, Aditek e TP Ortho cruzam (incluem)

a linha pontilhada que representa o valor de referência, ao passo que as marcas

Unitek 3M, Abzil e American Ortho não cruzam esta linha, localizando-se as duas

primeiras marcas abaixo e a última estatísticamente acima da referência de -20°.

Figura 5.1 – Ilustração dos intervalos de confiança de 95% dos valores do ângulo APC, para as marcas

comerciais , plotados contra a linha de referência de -20°.

No que diz respeito ao ângulo APO, na tabela 3 e na figura 5.2, verificou-se

que todas as marcas comerciais incluíram o valor de referência de -20°, falhando na

recusa de H0, e ficando toda as marcas dentro da norma MBT.

43

Na figura 5.2, pode-se confirmar este resultado para APO. Os intervalos de

confiança de 95% de todas as marcas comerciais cruzam a linha pontilhada, que

representa a referência de -20°.

Figura 5.2 – Ilustração dos intervalos de confiança de 95% dos valores do ângulo APO, para as marcas

comerciais, plotados contra a linha de referência de -20°.

5.3 - Modelo experimental para comparação entre as marcas comerciais

Para a avaliação das Inclinações Vestíbulo-Linguais (IVL), este trabalho

experimental possui duas variáveis dependentes, APC (Ângulo da Parede Cervical)

e APO (Ângulo da Parede Oclusal), cuja unidade é em graus (°). O fator de variação

é único para ambas as variáveis: Marcas Comerciais. A tabela 4 traz a estatística

descritiva e os parâmetros estatísticos dos dados.

44

Tabela 4 - A análise descritiva e parâmetros estatísticos dos valores de APC e APO , dos dados

experimentais. Unidade = (°)

Ângulo Marcas N Média D.P. E.P. Lim.Inf.(95%) Lim.Sup.(95%) Mínimo Máximo

APC Unitek 3M 20 -20,8 0,95 0,21 -21,25 -20,35 -22 -19 Abzil 20 -22 1,21 0,27 -22,57 -21,43 -24 -20 American Ortho 20 -19,2 1,28 0,29 -19,80 -18,60 -21 -17 Morelli 20 -19,75 1,33 0,30 -20,37 -19,13 -22 -17 Adtek 20 -20,1 2,13 0,48 -21,09 -19,11 -25 -17 Tp Ortho 20 -19,95 1,19 0,27 -20,51 -19,39 -22 -18 Total 120 -20,3 1,64 0,15 -20,60 -20,00 -25 -17

APO Unitek 3M 20 -20,25 1,12 0,25 -20,77 -19,73 -24 -19 Abzil 20 -19,25 2,00 0,45 -20,18 -18,32 -23 -15 American Ortho 20 -20,55 1,23 0,28 -21,13 -19,97 -23 -19 Morelli 20 -19,65 1,39 0,31 -20,30 -19,00 -23 -17 Adtek 20 -20,05 2,33 0,52 -21,14 -18,96 -25 -16 Tp Ortho 20 -19,65 0,93 0,21 -20,09 -19,21 -22 -18 Total 120 -19,9 1,61 0,15 -20,19 -19,61 -25 -15

D.P. – Desvio Padrão; E.P – Erro Padrão; 95% Lim.Inf. – Limite Inferior do Intervalo de Confiança de 95%; 95% Lim.Sup. – Limite Superior do Intervalo de Confiança de 95%; Min. – Valor Mínimo; Max. – Valor Máximo. Unidade =graus (°)

5.3.1 Modelo experimental para comparação entre as marcas comerciais

O modelo estatístico escolhido para a análise dos dados deste estudo

experimental foi o teste paramétrico de Análise de Variância (ANOVA), de fator

único, para ambas as variáveis dependentes APC e APO, sendo a unidade graus (°)

e o fator de variação único, Marcas Comerciais, em 6 níveis:

• Unitek 3M

• Abzil

• American Orthodontics

• Morelli

• Aditek

• TP Ortho

Para que o teste proposto fosse passível de aplicação, as premissas de

normalidade dos resíduos e homogeneidade das variâncias da variável dependente

foram testadas.

45

5.3.2. Teste de normalidade

O teste de normalidade dos resíduos de Shapiro Wilk (SW) está disposto na

tabela abaixo (tabela 5).

Tabela 5 – Teste de normalidade de Shapiro-Wilk (SW), para a variáveis (APC e APO).

Ângulo Shapiro-Wilk Gl Sig (p).

APC 0,96 120 0,002

APO 0,94 120 2,27E-05

gl = graus de liberdade;

Alfa=0,05

O resultado do teste de Shapiro Wilk (SW) (tabela 5) mostrou que ambas as

variáveis APC (p=0,002) e APO (p=2,27E-05) apresentaram desvio da condição de

normalidade. Apesar da não normalidade dos resíduos, o teste “F” da ANOVA é

conhecidamente robusto a falta desta premissa (Day,Quinn; 1995).

5.3.3. Teste de Homogeneidade de Variâncias

O teste de homogeneidade das variâncias de Levene está disposto no tabela

abaixo (tabela 6).

Tabela 6 – Teste de homogeneidade de Levene, para as variáveis (APC e APO)

Ângulo Levene Statistic gl1 gl2 Sig (p).

APC 2,06 5 114 0,076

APO 2,53 5 114 0,032

gl1 = graus de liberdade do numerador

gl2 = graus de liberdade do denominador

alfa = 0,05.

O teste de homogeneidade de Levene, apontou que a variável APC apresenta

variâncias homogênias com valor P > 0,05 (p=0,076) ao passo que a variável APO

apresentou variâncias não homogenias com valor P < 0,05 (p=0,032).

46

5.3.4 Análise de Variância (ANOVA)

Tabela 7 – Análise de variância de fator único, para as variáveis APC e APO, para as Marcas

Comerciais testadas.

Ângulos Fonte de Variação S.Q. Gl Q.M. F Sig (p). Fcrit

APC Entre Grupos 96,30 5 19,26 9,85 7,59E-08 2,29

Resíduo (Dentro) 222,90 114 1,96

Total 319,20 119

APO Entre Grupos 22,30 5 4,46 1,79 0,12 2,29

Resíduo (Dentro) 284,50 114 2,50

Total 306,80 119

S.Q.–Soma dos Quadrados; gl–Graus de Liberdade; Q.M.-Quadrado Médio; F–Valor obtido do teste F; Fcrit-

Valor tabelado do teste F.

Alfa = 0,05.

Para a variável APC, o valor da ANOVA, F(5;114)=9,85; p=7,59E-08, foi

significante indicando haver evidências para se afirmar que houve diferença nos

valores de APC, entre as marcas comerciais. Para esta variável, este resultado

recusou H0 e aceitou-se H1 de forma que houve influência significante das

diferentes marcas comerciais nos valores de APC.

Para a variável APO, o valor da ANOVA, F(5;114)=1,79; p=0,12, foi não

significante, indicando não haver evidências para se afirmar que houve diferenças

nos valores de APO, entre as marcas comerciais. Para esta variável, este resultado

falhou em recusar H0, de forma que não houve influência significante das diferentes

marcas comerciais nos valores de APO.

Para localizar, entre quais marcas comerciais foram observadas as possíveis

diferenças estatísticas significantes para APC, o teste de múltipla comparação de

Tukey HSD foi aplicado. Para a variável APO, o resultado da ANOVA, já gerou

evidência suficientes da não diferença estatística entre as marcas comerciais, não

sendo necessária a múltipla comparação.

47

A tabela 8 traz as múltiplas comparações do teste de Tukey HSD para a variável

APC.

Tabela 8 – Teste de múltipla comparação de Tukey HSD para os valores de APC, entre as diferentes

Marcas Comerciais.

Tukey HSD Agrupamentos

Marcas Comerciais A B C Abzil 20 -22,00±1,21 Unitek 3M 20 -20,80±0,96 -20,80±0,96 Adtek 20 -20,10±2,13 -20,10±2,13 Tp Ortho 20 -19,95±1,19 -19,95±1,19 Morelli 20 -19,75±1,33 -19,75±1,33 American Ortho 20 -19,20±1,28 Sig. 0,08 0,174 0,329

Índices diferentes indicam diferença estatisticamente significante Os dados estão dispostos em média±desvio-padrão. Erro = Quadrado Médio do Resíduo =1,96 Q(5;114)5% = 3,91 Valor crítico = 1,22 N=20, alfa =0,05

O teste de Tukey HSD (Tabela 8), revelou que os menores valores de APC

foram apresentados pela marca Abzil(-22,00±1,21)A e os maiores pela marca

American Ortho(-19,20±1,28)C.

A marca Unitek 3m(-20,80±0,96)A,B, apresentou valores semelhantes a marca

ABZILA, e as marcas Adtek(-20,10±2,13)B,C; Tp Ortho(-19,95±1,19)B,C e Morelli(-

19,75±1,33)B,C, e, valores estatisticamente inferiores a marca American Ortho(-

19,20±1,28)C.

As marcas Adtek(-20,10±2,13)B,C; Tp Ortho(-19,95±1,19)B,C e Morelli(-

19,75±1,33)B,C apresentaram valores semelhantes entre si e as marcas Unitek 3ma,B

e American Ortho(-19,20±1,28)C.

O gráfico abaixo (Figura 5.3) ilustra este comportamento:

48

Figura 5.3 – Gráfico ilustrativo dos intervalos de confiança de 95% entre as marcas comerciais para a variável APC. Linha Pontilhada = Média geral.

No gráfico acima pode-se observar, que a marca Abzil apresenta o intervalo

mais baixo e a marca American Ortho o mais alto. Pode-se observar também que os

intervalos das marcas Morelli, Aditek e Tp Ortho estão todos num mesmo nível,

sendo semelhantes entre si e as marcas Unitek 3m e American Ortho.

Para a variável APO houve semelhança estatística entre todas as marcas

comerciais, como já demonstrado anteriormente pela ANOVA (Tabela 7). Este

resultado está ilustrado na figura 5.4.

49

Figura 5.4 – Gráfico ilustrativo dos intervalos de confiança de 95% entre as marcas comerciais para a

variável APO. Linha Pontilhada = Média geral.

No gráfico acima pode-se observar, que todos os intervalos de confiança de

todas as marcas comerciais são intercalantes entre si e por isso semelhantes uns

aos outros.

50

6.D6.D6.D6.Discussãoiscussãoiscussãoiscussão

51

6. DISCUSSÃO

Os fatores mais importantes em um tratamento ortodôntico são, sem dúvida,

um correto diagnóstico e um eficiente plano de ações clínicas. Dentro deste

planejamento escolhido pelo ortodontista a eleição de uma mecânica adequada para

a movimentação dental merece destaque. Também é primordial que o profissional

conheça profundamente todos os recursos e limitações da mecanoterapia escolhida,

assim como tenha domínio sobre os conceitos físicos e biológicos aplicados a ela.

Em Ortodontia, a efetividade dos movimentos dentários está na dependência

de um conjunto de fatores, que podem interferir no planejamento ortodôntico e

consequentemente nos resultados desejados para este tratamento. A anatomia

facial e o aspecto cefalométrico do paciente avaliado determinarão seu tipo facial,

assim como suas necessidades de mudanças estéticas e funcionais, determinando

variações no planejamento do tratamento, assim como na angulação e na inclinação

desejadas dos dentes do caso planejado (MCLAUGHLIN R, BENNETT J, TREVISI H

2004).

O surgimento do aparelho Straight-Wire (1ª geração de braquetes

preajustados) foi um marco na especialidade. Andrews projetou um novo sistema

com angulação e inclinação inseridas nos braquetes. A partir deste, surgiram às

outras gerações de braquetes. Utilizando a técnica Straight-Wire os resultados são

mais consistentes, com consequente diminuição no tempo das consultas e

tratamentos mais rápidos, pois não são necessárias as dobras nos fios (ANDREWS,

1983). Os braquetes totalmente ajustados da técnica Straight-Wire de Andrews

apresentam canaletas anguladas e bases com espessura e inclinação variável de

acordo com cada dente. As bases inclinadas permitem alcançar o posicionamento

vestíbulo-lingual apropriado, desde que o braquete esteja corretamente posicionado.

52

As bases também foram contornadas vertical e horizontalmente para permitir o

ajuste dos braquetes às superfícies vestibulares dos dentes (ANDREWS, 1976;

MEYER e NELSON, 1978).

Toda a mecânica da técnica Straight-Wire, parte do princípio fundamental do

correto posicionamento dos acessórios ortodônticos em cada dente, pois segundo

Andrews (1989), quando os braquetes estivessem corretamente posicionados nas

coroas, suas canaletas estariam tão mal posicionadas quanto os dentes. Ao se

utilizar, gradativamente, fios sem dobras, de calibre progressivamente maior, os

dentes ficariam alinhados.

Além do correto posicionamento dos braquetes torna-se necessária a

avaliação da coroa clínica com relação à anatomia e ao contorno da superfície

vestibular, uma vez que estas características não são uniformes o suficiente para se

padronizar os braquetes como presumia o conceito da técnica Straight-Wire original.

Caso haja uma variação anatômica, o posicionamento do braquete pode ser

indevidamente alterado no sentido vertical e isso refletiria em diferentes fatores de

posicionamento (MAGNESS, 1978; ANDREWS, 1990; McLAUGHLIN e BENNETT,

1995).

A partir da prescrição de Andrews dos aparelhos preajustados (Straight-Wire),

os valores de torque foram sendo alterados segundo as justificativas de cada autor

(ANDREWS, 1976; RICKETTS, 1976; ROTH, 1976; ALEXANDER, 1983; VIAZIS,

1995; McLAUGHLIN, BENNETT e TREVISI, 1989-2004). Mais recentemente os

ortodontistas McLaughlin, Bennett e Trevisi (1998) introduziram diversas alterações

na angulação, inclinação, rotação e design dos braquetes e tubos, denominando

estas alterações como “Filosofia de tratamento MBT”, procuraram expressar nesta

nova prescrição, as modificações que consideravam necessárias para facilitar a

53

mecânica ortodôntica, diminuindo a necessidade de dobras no fio e proporcionando

boa oclusão funcional na finalização dos tratamentos.

A aparição dos aparelhos preajustados revolucionou a Ortodontia,

diminuindo a necessidade de dobras no fio para a finalização dos casos

ortodônticos. Sendo o torque um dos principais fatores para uma boa finalização, foi

necessário estudar o que pode influenciá-lo.

Entretanto, é importante ressaltar o desconhecimento da maioria dos

praticantes da ortodontia, acerca dos princípios mecânicos que regem a

movimentação dental. Um erro recorrente na linguagem ortodôntica padrão é se

confundir inclinação vestibulolingual dos dentes com o termo torque. Segundo

Meyer e Nelson (1978) o torque, em Ortodontia, é uma força rotacional do dente em

sentido vestibular ou lingual para se obter um encaixe perfeito dos dentes

superiores com os inferiores no final do tratamento. Segundo Hewitt (2002), uma força

atuando sobre um corpo que tenha a possibilidade de girar em torno de um ponto

fixo, pode produzir rotação. A medida da eficiência de uma força no que se refere à

tendência de fazer um corpo girar em relação a um ponto fixo chama-se torque, cuja

medida se expressa em Nm ou Newton vezes metro, também conhecido como

momento de força. A inclinação axial dos dentes, então, seria o resultado da torção

obtida a partir da expressão do torque, esta sim medida em graus.

Andrews (1972) conceituou a inclinação axial dos dentes e a inclinação da

coroa como ângulos formados entre a linha perpendicular ao plano oclusal e a

tangente ao centro da coroa clínica.

As inclinações e as angulações executadas durante um tratamento são de

fundamental importância no posicionamento dos dentes de acordo com as

necessidades do caso planejado. As inclinações e as angulações incluídas em cada

54

braquete são específicos ao que determina a técnica ortodôntica para seus objetivos

(MELING,ODEGAARD e MELING, 1997).

Os braquetes preajustados têm em sua precisão um dos elementos

fundamentais na determinação do posicionamento dos dentes. Pois os principais

objetivos dos braquetes preajustados são facilitar o tratamento clínico, diminuindo o

tempo de tratamento e a necessidade de ajuste (compensações) nos arcos de

finalização do tratamento (KANG et al., 2003).

O presente estudo se propôs a avaliar tubos de primeiro molar inferior do lado

direito, com dimensões de .022” x .028”, da prescrição MBT, por meio de

microscopia eletrônica de varredura, com os objetivos de definir os valores da

inclinação vestibulolingual dos tubos das marcas comerciais UNITEK 3M, ABZIL,

AMERICAN ORTHODONTICS, MORELLI, ADTEK E TP ORTHO. Este trabalho teve

como objetivo analisar se os valores aferidos encontram-se em consonância com a

inclinação vestibulolingual prescrita para a técnica MBT e comparar estatisticamente

os valores médios e os desvios padrão das inclinações de APC e APO entre as seis

marcas comerciais avaliadas.

Cornejo (2005), Streva (2005), Bóbbo (2006), realizaram pesquisas

semelhantes, utilizando microscopia óptica para avaliar a precisão com que eram

fabricados os braquetes da Filosofia MBT de várias marcas disponíveis no mercado

brasileiro. Concluíram que alguns fabricantes possuíam grandes variações entre a

inclinação vestibulolingual das canaletas dos braquetes e a prescrição da técnica.

Este achado é de fundamental valor para o ortodontista que utiliza a mecânica

Straight-wire e que ao escolher um determinado produto, deve confiar na precisão

de sua fabricação.

55

Segundo Zanesco (2008), a norma DIN é uma norma elaboradora de

parâmetros mínimos de produtos, sendo determinada pela comissão de

Padronização Ortodôntica Alemã, que a dividiu em duas normas em “produtos para

ortopedia maxilar” que integram a série DIN 13971(Apêndice 2):

DIN 13971-1 Odontologia – Fios para ortopedia maxilar – Parte 1

DI 13971-2 Odontologia – Produtos para ortopedia maxilar – Parte 2

A norma DIN 13971-2 é válida para elementos de fixação para a sustentação

de arcos que são utilizados no tratamento ortodôntico por intermédio de aparelhos

fixos. Ela define medidas, ensaios, materiais e identificação dos elementos de

fixação (braquetes e tubos), bem como os graus de tolerância e os métodos de

mensuração. Os parâmetros determinados pela norma DIN 13971 consideram como

aceitável para a inclinação das canaletas dos acessórios ortodônticos, uma variação de

um grau para mais ou para menos.

Gomes Filho (2007), trabalhando na mesma linha de pesquisa, comparou a

precisão das inclinações dos braquetes da técnica de Ricketts utilizando um

microscópio eletrônico de varredura (MEV) e concluiu que existe notável divergência

das inclinações fabricadas pelas diversas marcas em relação ao prescrito pela

técnica estudada.

A escolha do MEV como ferramenta de avaliação dos corpos de prova está

na facilidade de preparação das amostras. Entretanto, não são apenas estas

características que fazem do MEV uma ferramenta tão importante e tão usada na

análise dos materiais. A elevada profundidade de foco (imagem com aparência

tridimensional) e a possibilidade de combinar a análise microestrutural com a

microanálise química são fatores que em muito contribuem para o amplo uso desta

técnica (GOMES FILHO,2007).

56

De acordo com a literatura, a inclinação presente em um braquete ou tubo

pode ser avaliado de duas formas: mensurando-se os ângulos formados entre as

paredes laterais da canaleta e a base do braquete ou tubo (MEYER e

NELSON,1978; SEBANC et al,1984; Gomes Filho,2007), ou ainda pelo ângulo

formado entre o assoalho da canaleta e a base do braquete ou tubo (STREVA,

2005; BÓBBO, 2006). No entanto, após a revisão da literatura, também se observou

que a metodologia utilizada para avaliar a inclinação que apresentou resultados mais

confiáveis foi a que avaliou as paredes laterais da canaleta (SEBANC et al. 1984;

KAPUR-WADHWA, 2004; KUSY, 2004).

Os trabalhos que utilizaram o assoalho da canaleta apresentaram maior

limitação de sua precisão, pois mesmo que o fio exerça uma força nesta região, não

possibilita uma avaliação geométrica da ação do torque (KANG, et al, 2003).

Portanto, diante destas duas formas de avaliação, esta pesquisa foi realizada

buscando avaliar o ângulo formado entre as paredes laterais da canaleta e a base

do braquete, por ser considerada a forma mais apropriada, precisa e com maior

associação com os resultados clínicos.

Quando o fio retangular é encaixado na canaleta do braquete com uma força

de torque ativa, ele se desloca até encontrar dois pontos de apoio para efetivar sua

ação, que é chamado de ângulo crítico. Este fator ocorrerá mais efetivamente nas

paredes laterais, onde é possível fazer o cálculo geométrico da folga entre fio e

canaleta, e assim se obter o valor do torque que efetivamente atuará na

movimentação do dente (KANG et al. 2003; KUSY, 2004).

No presente estudo foram medidas as inclinações das canaletas com a base

denominadas de ângulos APO e APC. Foi convencionado o uso de uma casa decimal. O

57

valor ideal é de -20º, prometido pelo fabricante, como inclinação prescrita a ser transferida

ao primeiro molar inferior.

Para análise do erro do método foi refeita a mensuração de cinco braquetes de

cada marca após 20 dias, avaliando o erro intra-examinador e a repetibilidade das

medidas. Foi aplicado o teste “t” pareado e a fórmula de Dalhberg para mensuração do

erro aleatório. O resultado do teste “t” pareado (tabela 1) mostra que não houve

diferença estatística entre as duas medidas, para os dois ângulos (APC e APO) a um

nível de 5%. O teste de Dalhbergh revelou que para ambos os ângulos, APC e APO,

o erro estimado foi baixo (0,258, sendo menor que 1°). Estes valores validaram o

método do presente estudo.

Na primeira parte dos resultados foi realizada a avaliação da conformidade de

cada marca com a inclinação vestibulolingual prescrita para a técnica MBT (tabela 3).

Comparando-se o valor encontrado para APC e APO com a referência de -20°.

Ao se avaliar os resultados obtidos das médias do ângulo APC de cada marca

(figura 5.1) pode-se observar que os únicos grupos, que incluem o valor de

referência -20° foram as marcas MORELLI (p=0,411), ADITEK (p=0,836) e TP

ORTHO (p=0,851). As demais marcas, UNITEK 3M (p=0,001), Abzil (p=5,543E-07) e

AMERICAN ORTHO (p=0,012) não incluíram o valor de -20° para valores medios de

APC. A marca ADITEK foi a que apresentou o maior erro padrão (E.P.0,475) e maior

desvio padrão (D.P.2,125) devido a maior amplitude de seus ângulos para APC. A

marca UNITEK 3M foi a que apresentou o menor erro padrão (E.P.0,213) e menor

desvio padrão (D.P.0,951) devido à menor amplitude de seus ângulos para APC.

Em relação a média do ângulo APO, (tabela 3 e figura 5.2) verificou-se que

todas as marcas incluíram o valor de referência de -20°, ficando todas as marcas

dentro da norma MBT. A marca ADITEK foi a que apresentou o maior erro padrão

58

(E.P. 0,52) e maior desvio padrão (D.P. 2,33) devido a maior amplitude de seus

ângulos para APO. A marca TP foi a que apresentou o menor erro padrão

(E.P.0,209) e menor desvio padrão (D.P 0,933) devido a menor amplitude de seus

ângulos para APO.

Nos resultados de ANOVA (Tabela 7) observou-se que houve influência

significante das diferentes marcas comerciais nos valores de APC e não houve

influência significante das diferentes marcas comerciais nos valores de APO. Para

localizar entre quais marcas comerciais foram observadas as possíveis diferenças

estatísticas significantes para APC, o teste de múltipla comparação de Tukey HSD

(tabela 8) foi aplicado. O teste de Tukey HSD revelou que os menores valores de

APC foram apresentados pela marca ABZIL(-22,00±1,21)A e os maiores pela marca

AMERICAN ORTHO(-19,20±1,28)C.

No presente estudo foi dada mais ênfase aos resultados individuais de cada

tubo para os ângulos APC e APO e a amplitude de variância desses ângulos do que

para as médias de cada marca. Pois foi observado que marcas como a ADITEK

obtiveram médias para APC (-20,10) e para APO (-20,05) dentro dos padrões

prescritos, porém, nos valores individuais de cada tubo observou-se uma grande

variância de resultados para APC (-19,1 a – 21,1) e para APO (-18,9 a -21,1).

Levando-se em consideração os parâmetros determinados pela norma DIN

13971, que considera como aceitável para a inclinação das canaletas dos acessórios

ortodônticos, uma variação de um grau para mais ou para menos, as marcas UNITEK 3M

e TP ORTHO se enquadram neste padrão quando se avaliam os valores médios das

inclinações entre as duas canaletas e mais importante que isso, essas duas marcas

foram as que apresentaram a menor amplitude de variância de seus resultados, o que

clinicamente é muito relevante.

59

Cornejo (2005), Streva (2005) e Bóbbo (2006) avaliaram, através de

microscopia óptica, braquetes de diferentes marcas comerciais e diferentes técnicas,

encontrando uma grande imprecisão e variação entre os fabricantes. Gomes

Filho(2007) também avaliando bráquetes, por meio de microscopia eletrônica,

verificou a falta de padrão no processo de fabricação dos braquetes nas marcas por

ele avaliadas.

Portanto, os trabalhos citados acima, mesmo que utilizando acessórios

diferentes, de marcas e técnicas diferentes, obtiveram conclusões semelhantes,

acerca de uma falta de padrão e precisão na fabricação entre os diferentes

fabricantes, o que vem corroborar os resultados obtidos no presente estudo, que ao

analisar diferentes marcas de tubos através de microscopia eletrônica verificou o

grande grau de variabilidade de medidas, dentro de uma mesma marca e também

entre marcas diferentes.

É notável a diferença entre os valores encontrados para as diversas marcas, tanto

ao se avaliar separadamente os ângulos da cada canaleta, o que mostra que o

paralelismo desejado entre as mesmas não ocorre, quanto ao se avaliar a média entre

estes ângulos, o que mostra que os valores de algumas marcas muitas vezes não se

enquadram dentro da prescrição.

Estas variações trazem implicações diretas no cotidiano clínico do ortodontista que

opta pela mecânica preajustada, pois os resultados clínicos esperados nâo se efetivam

diante desta imprecisão nos acessórios, tendo como consequência o comprometimento

de todo o tratamento no que diz respeito a uma correta oclusão dos pacientes, a

estabilidade e a qualidade do tratamento.

60

O ortodontista deve, portanto, estar preparado para corrigir tais deficiências

incorporando dobras no fio, o que traz maior gasto de tempo clínico e menor

previsibilidade, prolonga o tempo de tratamento e ainda o torna mais caro ao paciente.

Diante de todo o contexto apresentado, fica evidente a importância deste estudo,

que serve como um alerta a todos os fabricantes para buscarem o aprimoramento dos

processos de fabricação dos acessórios ortodônticos. Serve também como um alerta a

todos os ortodontistas, que devem buscar sempre uma avaliação criteriosa dos

resultados obtidos no seu tratamento, utilizando braquetes preajustados, e também

aumentar suas fontes de informações no momento da escolha da marca a ser usada.

Finalmente, pode-se dizer que os ortodontistas devem buscar treinamento prático,

de modo a estarem aptos para realizar dobras e manobras mecânicas complementares,

buscando oferecer aos seus pacientes um tratamento correto e eficaz.

61

7.7.7.7. CCCConclusõesonclusõesonclusõesonclusões

62

7. CONCLUSÕES

De acordo com a metodologia empregada neste trabalho e considerando-se a

análise estatística dos resultados, conclui-se que:

7.1 – Os tubos avaliados apresentavam valores distintos daqueles prescritos pela

técnica MBT, sendo o menor valor verificado para o ângulo APC na marca

AMERICAN ORTHODONTICS (-18,6°) e o maior valor foi observado na marca

ABZIL (-22,6°). Na análise do valor do ângulo APO, a marca que apresentou o

menor valor foi a ABZIL (-18,3) e a marca que apresentou o maior valor foi a

ADITEK (-21,1).

7.2 - Observou-se que a ADITEK apresentou a maior amplitude de variação dos

ângulos APC e APO entre as marcas estudadas. A marca UNITEK 3M revelou

menor amplitude de variação de seus ângulos para APC e a marca TP ORTHO

apresentou menor amplitude dos valores angulares para APO.

7.3 - Para a média do ângulo APC foi encontrada diferença significativa entre as

marcas. As marcas ABZIL(-22,00±1,21) e UNITEK 3M(-20,80±0,96)

apresentaram valores médios estatisticamente inferiores à marca AMERICAN

ORTHO(-19,20±1,28). Para a media do ângulo APO, nenhuma das comparações

entre as marcas apresentou significância estatística.

63

REFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIASREFERÊNCIAS

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REFERÊNCIAS1

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