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1 Considerando a decisão proferida no RE nº. 466/343. Discorra sobre a posição assumida pelos tratados internacionais no ordenamento jurídico brasileiro, levando em consideração a EC nº 45 e a situação do Pacto de San José da Costa Rica. Sob o olhar do Direito Internacional Moderno, implementado logo após a Primeira Guerra Mundial, as relações que envolviam dois ou mais Estados Soberanos que pautadas pelo consensualismo e pela autonomia da vontade tem os tratados como Instrumento Formal no qual são materializados estes acordos de vontades. Os tratados são conceituados pela Convenção de Viena de 1969, em seu art. 2º, inciso I , onde menciona o tratado como "um acordo internacional celebrado por escrito entre Estados regidos pelo Direito Internacional, quer inserido num único instrumento, quer em dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja a sua denominação específica". É imperioso ressaltar que, antes da vigência da Emenda Constitucional nº 45/2004, os tratados internacionais, ao serem incorporados pelo ordenamento jurídico brasileiro recebiam status de lei ordinária. Desta forma, além de serem submetidos ao controle de constitucionalidade, possuíam o mesmo patamar hierárquico das demais legislações infraconstitucionais e em decorrência desta característica, poderiam, inclusive, levando em consideração o critério cronológico - lex posteriori derogat priorem -, revogá-los total ou parcialmente. Entretanto, após a promulgação e vigência da EC nº 45/2004 que trouxe mudanças significativas para o sistema jurídico brasileiro, inserindo o §3º ao art. 5º da Constituição Federal, estabelecendo que "Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados , em cada casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais". Logo, quando sujeito ao controle de Constitucionalidade não possui o mesmo patamar das legislações infraconstitucionais que agora precisam estar em consonância com eles.

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Page 1: DISSERTAÇÃO ACERCA DA POSIÇÃO HIERÁRQUICA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO

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Considerando a decisão proferida no RE nº. 466/343. Discorra sobre a posição assumida pelos tratados internacionais no ordenamento jurídico brasileiro, levando em consideração a EC nº 45 e a situação do Pacto de San José da Costa Rica.

Sob o olhar do Direito Internacional Moderno, implementado logo após a Primeira Guerra Mundial, as relações que envolviam dois ou mais Estados Soberanos que pautadas pelo consensualismo e pela autonomia da vontade tem os tratados como Instrumento Formal no qual são materializados estes acordos de vontades.

Os tratados são conceituados pela Convenção de Viena de 1969, em seu art. 2º, inciso I , onde menciona o tratado como "um acordo internacional celebrado por escrito entre Estados regidos pelo Direito Internacional, quer inserido num único instrumento, quer em dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja a sua denominação específica".

É imperioso ressaltar que, antes da vigência da Emenda Constitucional nº 45/2004, os tratados internacionais, ao serem incorporados pelo ordenamento jurídico brasileiro recebiam status de lei ordinária. Desta forma, além de serem submetidos ao controle de constitucionalidade, possuíam o mesmo patamar hierárquico das demais legislações infraconstitucionais e em decorrência desta característica, poderiam, inclusive, levando em consideração o critério cronológico - lex posteriori derogat priorem -, revogá-los total ou parcialmente.

Entretanto, após a promulgação e vigência da EC nº 45/2004 que trouxe mudanças significativas para o sistema jurídico brasileiro, inserindo o §3º ao art. 5º da Constituição Federal, estabelecendo que "Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados , em cada casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais". Logo, quando sujeito ao controle de Constitucionalidade não possui o mesmo patamar das legislações infraconstitucionais que agora precisam estar em consonância com eles.

Sendo assim, conforme já mencionado, depois da promulgação da EC 45/2004, há duas hipóteses. Na primeira hipótese quando ele não preencher os requisitos trazidos pelo art. 5º, §3º da CF/88, seja tratando de direitos humanos ou não, este tratado será incorporado com status de lei ordinária. Já na segunda hipótese, oposta a primeira, nesta o tratado se amolda ao procedimento estabelecido pelo §3º do art. 5º da CF, receberá o status de emenda à constituição.

Em observância ao julgamento do Recurso Extraordinário nº 466.343, no qual Gilmar Mendes expõe a teoria da Supralegalidade dos Tratados Internacionais que tratem de direitos humanos. O fez pelos seguintes termos: "(...) parece mais consistente a interpretação que atribui a característica de supralegalidade aos tratados e convenções de direitos humanos. Essa tese pugna pelo argumento de que os tratados sobre direitos humanos seriam infraconstitucionais, porém, diante de seu caráter especial em relação aos demais atos normativos internacionais, também seriam dotados de um atributo de supralegalidade. Em outros termos, os tratados sobre direitos humanos não poderiam afrontar a supremacia da Constituição, mas teriam lugar especial reservado no ordenamento jurídico. Equipará-los à legislação ordinária seria subestimar o seu valor especial no contexto do sistema de proteção dos direitos da pessoa humana".

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Visando este entendimento combinado com o estabelecido pelo art. 5º, §3º, da Constituição chegamos a concepção de que mesmo aquele tratado internacional sobre direitos humanos que não seja recebido no ordenamento jurídico brasileiro pelo procedimento mais complexo previsto pelo §3º, ele, encontra-se em nível de submissão à Carta Magna, uma vez que encontrar-se-á em um nível hierárquico superior às legislações infraconstitucionais. E sendo assim, este tratado não terá a possibilidade de revogar as legislações infraconstitucionais que com ele conflitem, mas, de certa forma, essas legislações terão sua eficácia suspensa porquanto o tratado estiver em vigor.

Em contrapartida, no que trata a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, O Pacto de San José da Costa Rica, a qual o Brasil é signatário, mas que não segue procedimento complexo disposto no §3º do art. 5º, logo, seria supralegal e paralisaria a eficácia das normas infraconstitucionais com ela conflitantes. Portanto, haveria a extinção da prisão civil do depositário infiel. Haja vista que tal pacto, prevê em seu art. 7, item 7 que "apenas admite a prisão civil pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia".

Para maior entendimento, podemos verificar tudo o que já foi exposto, na ilustração abaixo:

Considerando as ultimas decisões do STF, verifica-se uma nova configuração na pirâmide jurídica idealizada por Kelsen.

No topo da pirâmide que hierarquiza o ordenamento jurídico brasileiro está a Constituição Federal (CF), as Emendas Constitucionais (EC) e os Tratados Internacionais que tratam de Direitos Humanos (TIDH) que passaram pelo procedimento das emendas constitucionais.

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No segundo patamar estão os Tratados Internacionais de Direito Humanos (TIDH) que não passaram pelo procedimento de Emenda Constitucional, pois, segundo o Supremo Tribunal Federal, atualmente, os mesmos tem o status de norma supralegal (estão acima das Leis e abaixo da Constituição).

No terceiro patamar estão as Leis Ordinárias, Leis Complementares, Leis Delegadas, Resoluções, Decretos Legislativos, Tratados Internacionais q não tratem de direitos humanos, Medidas Provisórias. Na base da pirâmide estão os Decretos, Portarias e demais atos infralegais.

Em suma, atualmente, a prisão civil do depositário infiel em nosso ordenamento jurídico é vedada. Embora a Constituição admita a possibilidade, o Pacto de San José da Costa Rica, que possui status de supralegalidade, portanto, submisso à Carta Magna, paralisa a eficácia das legislações infraconstitucionais que disciplinam este tipo de prisão.