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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE MEDICINA CLÍNICA PROGRAMA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM CIÊNCIAS MÉDICAS ANA CAROLINA DE MELLO NÓBREGA SINTOMAS DISPÉPTICOS E RETARDO DO ESVAZIAMENTO GÁSTRICO DE SÓLIDOS EM PACIENTES COM DOENÇA DE CROHN EM REMISSÃO. FORTALEZA 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE MEDICINA

DEPARTAMENTO DE MEDICINA CLÍNICA

PROGRAMA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO EM CIÊNCIAS MÉDICAS

ANA CAROLINA DE MELLO NÓBREGA

SINTOMAS DISPÉPTICOS E RETARDO DO ESVAZIAMENTO GÁSTRICO DE

SÓLIDOS EM PACIENTES COM DOENÇA DE CROHN EM REMISSÃO.

FORTALEZA

2011

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ANA CAROLINA DE MELLO NÓBREGA

SINTOMAS DISPÉPTICOS E RETARDO DO ESVAZIAMENTO GÁSTRICO DE

SÓLIDOS EM PACIENTES COM DOENÇA DE CROHN EM REMISSÃO.

Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da Universidade Federal do Ceará como requisito para o título de mestre em Ciências Médicas Orientador: Prof. Dr. Marcellus Henrique Loiola Ponte Souza.

FORTALEZA

2011

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ANA CAROLINA DE MELLO NÓBREGA

SINTOMAS DISPÉPTICOS E RETARDO DO ESVAZIAMENTO GÁSTRICO DE

SÓLIDOS EM PACIENTES COM DOENÇA DE CROHN EM REMISSÃO.

Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Ciências Médicas, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Ciências Médicas. Aprovada em ___/___/______

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Marcellus Henrique Loiola Ponte de Souza (Orientador) Universidade Federal do Ceará

______________________________________________ Prof. Dr. Armênio Aguiar dos Santos

Universidade Federal do Ceará

______________________________________________ Profa. Dra. Profa. Dra. Profa. Dra. Profa. Dra. Marília Lage Alencar

Universidade Universidade Universidade Universidade de Fortalezade Fortalezade Fortalezade Fortaleza

4

Ao André, pelo amor cotidiano, paciência, carinho e cumplicidade

Aos meus filhos Mariana e Gustavo, por fazerem com que eu queira ser sempre uma pessoa melhor

Aos meus pais Marcus e Mary (in memorian), pelo amor que sempre me dedicaram,

e por me mostrarem que o estudo é a maior herança que se pode deixar

Às minhas irmãs Jimena e Lígia, por sempre terem me apoiado e acreditado na realização desse projeto

5

6

AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo dom da vida, por tudo que tem me proporcionado, pela força de continuar seguindo, pelo amor que preenche as lacunas e pela oportunidade de, através da minha profissão, tentar melhorar a vida daqueles que me procuram Ao meu orientador Prof. Dr. Marcellus Henrique Loiola Ponte de Souza, pela confiança em mim depositada, carinho, incentivo e paciência. E por me ensinar que é possível fazer parte do mundo da pesquisa sem deixar de lado a assistência médica de qualidade aos pacientes À Dra. Lúcia Libanez, por ser um exemplo de médica, pelo carinho e atenção que dedica aos pacientes e por ter me apresentado ao universo das doenças inflamatórias intestinais À Profa. Geanne Matos de Andrade Cunha, coordenadora do Programa de Pós-graduação em Ciências Médicas da UFC, pelo apoio e dedicação Aos acadêmicos Graciela Josué e Bruno Ferreira, pela ajuda, disponibilidade e compromisso durante este trabalho Às funcionárias Caroline Lima Soares e Tiara Sena, pela ajuda técnica inestimável, dedicação e carinho ao longo deste estudo A todos os amigos do Serviço de Gastroenterologia e Hepatologia e do Serviço de Endoscopia Digestiva do HUWC, obrigada pelo carinho e companheirismo À Profa. Dra. Ana Vládia Cabral Sobral, minha cunhada e amiga, pelo entusiasmo e incentivo desde o início desse projeto Aos funcionários, bolsistas e pós-graduandos do LAFICA-UFC, pela atenção, acolhimento, incentivo e companheirismo Aos colegas da pós-graduação, pelo carinho e companheirismo Às secretárias Ivone e Rita, por sempre se mostrarem solícitas e atenciosas Aos pacientes e voluntários que aceitaram participar desta pesquisa, muito obrigada pela confiança em mim depositada

7

“Ouve os conselhos, aceita a instrução: tu serás sábio para o futuro.” (Provérbios 19; v.20.)

8

RESUMO

SINTOMAS DISPÉPTICOS E RETARDO DO ESVAZIAMENTO GÁSTRICO DE

SÓLIDOS EM PACIENTES COM DOENÇA DE CROHN EM REMISSÃO.

Estudos demonstraram que pacientes com doença de Crohn apresentam sintomas

dispépticos com mais freqüência do que a população geral. Alguns desses sintomas

podem estar relacionados a algum grau de distúrbio de motilidade. Nossos objetivos

foram investigar se há retardo no esvaziamento gástrico de sólidos em pacientes com

doença de Crohn em remissão e determinar se há correlações entre esvaziamento

gástrico e sintomas dispépticos nesta patologia. Vinte e seis pacientes com doença de

Crohn em remissão, ou seja, com índice de atividade de doença de Crohn (Crohn’s

Disease Activity Index – CDAI)<150 foram submetidos a um teste de esvaziamento

gástrico por teste respiratório usando o 13C-ácido octanóico ligado a uma refeição sólida

e responderam a um questionário (Questionário Porto Alegre de Sintomas Dispépticos)

que avalia quantitativamente os sintomas dispépticos. A partir daí os pacientes foram

divididos em dois grupos: sem dispepsia (total de escores < 6) e com dispepsia (total de

escores ≥ 6). O grupo controle foi composto por 14 voluntários saudáveis, que também

realizaram teste de esvaziamento. Pacientes com doença de Crohn apresentaram t 1/2 e t

lag significativamente mais prolongados (p<0,05) do que os controles. Além disso,

pacientes com doença de Crohn e dispepsia tiveram significativo retardo esvaziamento

gástrico (p<0,05), quando comparados aos pacientes sem sintomas dispépticos. Quando

o padrão de sintomas individuais foi analisado, somente o sintoma vômito foi

significativamente associado com o retardo no esvaziamento gástrico (p<0,05). Quanto

à presença de retardo no esvaziamento gástrico de sólidos, não houve diferença entre os

subgrupos de pacientes em relação ao gênero, ao escore CDAI, localização da doença,

comportamento da doença (obstrutivo/não-obstrutivo) ou cirurgia gastrointestinal

anterior. Porém, foi observado que os pacientes do grupo sem dispepsia fizeram uso de

imunossupressores numa proporção significativamente maior (p <0,05) que os pacientes

do grupo com dispepsia. Em conclusão, a presença de retardo no esvaziamento gástrico

de sólidos em pacientes com doença de Crohn em remissão parece estar associada com

sintomas dispépticos, particularmente com o sintoma vômito, mesmo sem evidência de

obstrução gastrointestinal.

Palavras-chave: esvaziamento gástrico, dispepsia, doença de Crohn

9

ABSTRACT

DISPEPTIC SYMPTOMS AND DELAYED SOLID GASTRIC EMPTYING IN

PATIENTS WITH INACTIVE CROHN’S DISEASE

Patients with Crohn’s disease have been shown to present dyspeptic symptoms more

frequently than the general population. Some of these symptoms could be related to

some degree of motility disorders. Our objectives were to investigate whether gastric

emptying of solids in patients with inactive Crohn’s disease is delayed and to determine

the relationships between gastric emptying and dyspeptic symptoms in inactive Crohn’s

disease. Twenty-six patients with inactive Crohn’s disease, as defined by a Crohn’s

Disease Activity Index (CDAI) < 150, underwent a gastric emptying test by breath test

using 13C octanoic acid coupled to a solid meal and answered a validated questionnaire

(The Porto Alegre Dyspeptic Symptoms Questionnaire) to assess dyspeptic symptoms.

Patients were divided in two groups: without dyspepsia (total score < 6) and with

dyspepsia (total score ≥ 6). The control group was composed by 14 healthy volunteers

age and sex matched. Patients with Crohn’s disease had a significantly longer t 1/2 and t

lag (p<0.05) than the controls. Crohn’s disease patients with dyspepsia had

significantly (p<0.05) delayed gastric emptying when compared to patients without

dyspeptic symptoms. When the individual symptom patterns were analyzed, only

vomiting was significantly associated with delayed gastric emptying (p<0.05). There

was no difference between the subgroups of patients with respect to gender, CDAI

scores, disease location, clinical behavior (obstructive/obstructive) or previous

gastrointestinal surgery. However, it was observed that patients in the group without

dyspepsia were treated with immunosuppressants (azatioprina/6-MP) in a proportion

significantly higher (p <0.05) than patients in the group with dyspepsia. In conclusion,

delayed gastric emptying in inactive Crohn’s disease patients seems to be associated

with dyspeptic symptoms, particularly vomiting, even without any evidence of

gastrointestinal obstruction.

Keywords: gastric emptying, dyspepsia, Crohn’s disease

10

LISTA DE ABREVIATURAS

AINES anti-inflamatórios não esteroidais

5-ASA 5-acid salicylic acid

Anti-ASCA anticorpo anti-Saccharomyces cerevisiae

CARD15 caspase recruitment domain family member 15

CCK colecistocinina

CDAI Crohn’s Disease Activity Index

DII doença inflamatória intestinal

EDA endoscopia digestiva alta

FID fossa ilíaca direita

HUWC Hospital Universitário Walter Cantídio

IBD inflammatory bowel disease

IL interleucina

INF-γ Interferon gama

NOD2 nucleotide-binding oligomerization domain containing 2

PCR proteína C reativa

RCUI retocolite ulcerative idiopática

SUS Sistema Único de Saúde

TNF fator de necrose tumoral

TGF-β transforming growth factor beta

TGI trato gastrointestinal

UFC Universidade Federal do Ceará

VHS velocidade de hemossedimentação

11

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Ilustração esquemática demonstrando a metodologia do teste respiratório com alimento sólido marcado com 13C-ácido octanóico......

46

Figura 2 Equipamento utilizado no teste respiratório para análise das curvas de

excreção de 13CO2 (IRIS II - 13C Breath-Test System)............................ 47

Figura 3 Fluxograma do estudo.............................................................................. 49

Figura 4

Distribuição dos valores individuais para t lag (painel A) e t 1/2 (painel B) no grupo controle e nos pacientes portadores de doença de Crohn........................................................................................................

53

Figura 5 Uso de imunossupressor entre pacientes com doença de Crohn com e sem sintomas dispépticos.........................................................................

59

Figura 6 Distribuição percentual dos pacientes com doença de Crohn sem e com sintomas dispépticos de acordo com a classificação de Montreal...........

60

Figura 7 Esvaziamento gástrico de sólidos em pacientes com doença de Crohn sem e com dispepsia.................................................................................

62

Figura 8 Curvas de esvaziamento gástrico de sólidos em portadores de Doença de Crohn...................................................................................................

63

Figura 9 Relação entre a gravidade dos sintomas e o esvaziamento gástrico de sólidos em pacientes portadores de doença de Crohn com sintomas dispépticos................................................................................................

65

12

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Modelo utilizado para cálculo do CDAI............................................... 41

Quadro 2 Classificações de Vienna e Montreal para doença de Crohn................ 42

13

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Dados demográficos do grupo controle e do grupo formado por todos os pacientes com doença de Crohn..........................................................

52

Tabela 2 Dados demográficos dos dois subgrupos de pacientes com doença de Crohn........................................................................................................

55

Tabela 3 Características clínicas dos pacientes com doença de Crohn................... 58

14

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO............................................................................................... 14

1.1 Doença de Crohn.............................................................. 15 1.2 Doença de Crohn e distúrbios funcionais do trato

digestivo............................................................................ 25

1.3 Dispepsia orgânica versus dispepsia funcional................. 27 1.4 Doença de Crohn e motilidade gástrica............................ 32

2. OBJETIVOS.................................................................................................... 34

3. CASUÍSTICA E MÉTODOS......................................................................... 36

3.1 Natureza do estudo............................................................ 37 3.2 Locais do estudo............................................................... 37 3.3 Caracterização do serviço................................................. 37 3.4 População do estudo......................................................... 38 3.5 Instrumentos...................................................................... 44 3.6 Aspectos éticos................................................................. 47 3.7 Análise dos dados............................................................. 48 3.8 Análise estatística............................................................. 48 3.9 Fluxograma do estudo....................................................... 49

4. RESULTADOS................................................................................................ 50 4.1 Características demográficas entre o grupo controle e

portadores de doença de Crohn.........................................

51 4.2 Resultados do teste de esvaziamento gástrico: grupo

controle versus portadores de doença de Crohn...............

53 4.3 Características demográficas dos portadores de doença

de Crohn sem e com dispepsia..........................................

54 4.4 Características clínicas dos portadores de doença de

Crohn sem e com dispepsia..............................................

56 4.5 Resultados dos testes de esvaziamento gástrico:

portadores de doença de Crohn sem dispepsia versus com dispepsia....................................................................

61 4.6

Relações entre os sintomas dispépticos e os parâmetros de esvaziamento gástrico..................................................

64

5. DISCUSSÃO.................................................................................................... 66

6. CONCLUSÃO................................................................................................. 75

7. BIBLIOGRAFIA............................................................................................. 77

8. ANEXOS.......................................................................................................... 84

15

1. INTRODUÇÃO

16

1.1 Doença de Crohn

1.1.1 Histórico

Relatos sobre a doença de Crohn são encontrados desde a Grécia antiga,

quando provavelmente era diagnosticada e tratada como se fosse uma enterocolite

de origem infecto-parasitária. Nos séculos XVI e XVII alguns casos foram

publicados nos quais pacientes apresentavam obstrução intestinal por estenose

associados a intenso processo inflamatório, levantando a hipótese de que poderia se

tratar de uma patologia diferenciada (QUILICI, 1994).

O fato que finalmente fez com que a doença de Crohn ficasse conhecida

mundialmente como uma afecção diferenciada foi a publicação em 1932 do trabalho

intitulado Regional ileitis: a pathologic and clinical entity, dos autores Gordon

Oppenheimer, Burril Crohn e Leon Ginzburg. No Brasil, Berardinelli publicou em

1943 o primeiro caso de ileíte regional (QUILICI, 2010).

Desde então, novos conhecimento foram sendo adquiridos, com a publicação

em 1951 por Rappaport de 100 casos de pacientes com ileíte regional nos quais mais

da metade apresentavam lesões semelhantes no cólon, e em 1952 com a

demonstração de lesões granulomatosas no cólon que foram de fato reconhecidas

como doença de Crohn do cólon. A partir daí, o nome ileíte regional foi

definitivamente substituído pelo epônimo doença de Crohn (QUILICI, 2010).

1.1.2 Definição

A doença de Crohn está classificada dentro do grupo das doenças

inflamatórias intestinais de etiologia pouco conhecida, juntamente com a retocolite

ulcerativa (RCUI) e as colites microscópicas (colite linfocítica, colite colagenosa ou

17

eosinofílica) e a doença de Behçet. Essas patologias possuem em comum a

tendência de apresentar inflamação e ativação imunológica crônica ou recidivante

no trato gastrointestinal (SOUZA, LIMA e BRAGA, 2010).

Doença de Crohn é uma condição inflamatória crônica que tem o potencial

de acometer qualquer localização do trato gastrointestinal, porém com maior

tendência de afetar o íleo distal e o cólon proximal. O padrão da inflamação na

doença de Crohn é caracteristicamente descontínuo ao longo do trato gastrointestinal

e tem a capacidade de acometer todas as camadas dos órgãos, desde a mucosa até a

serosa. (SANDS, 2006)

1.1.3 Importância

As doenças inflamatórias intestinais ocorrem mundialmente, com maior

incidência nos países da Europa e América do Norte (SANDS, 2006). Apesar da

incidência e prevalência dessas doenças variarem de acordo com a localização

geográfica, podem ser consideradas um problema de saúde pública, uma vez que

acometem principalmente indivíduos jovens e economicamente ativos, com

possibilidades de recidivas frequentes e diminuição da qualidade de vida.

1.1.4 Epidemiologia

Estima-se que, de uma forma geral, a doença de Crohn apresente uma

prevalência de 10 a 100 casos por cada 100.000 habitantes e uma incidência de 0,08

a 7 casos novos por ano por 100.000 habitantes. Considera-se que a doença de

Crohn seja de ocorrência relativamente rara nos países da América do Sul e África

(SANDS, 2006), porém alguns trabalhos têm mostrado uma tendência ao aumento

na incidência mundial das doenças inflamatórias intestinais (IRVINE,

18

FARROKHYAR e SWARBRICK, 2001), inclusive em áreas antes consideradas de

baixa prevalência. No Brasil não há dados epidemiológicos bem estabelecidos,

porém parece haver maior número de casos no Sul e Sudeste. Um estudo realizado

na região Sudeste mostrou que nas últimas décadas houve um real aumento da

incidência de doença de Crohn em relação à RCUI, com incremento do diagnóstico

de casos considerados graves (SOUZA et al., 2002). As dificuldades em se fazer o

diagnóstico, seja pela variabilidade de apresentação clínica, pela confusão com

outras patologias (especialmente com a RCUI), ou pelo difícil acesso aos exames,

que por sua vez são muitas vezes invasivos e de alto custo, provavelmente subestima

o número de casos.

Com relação à idade de apresentação da doença, a maioria dos casos é

diagnosticada entre 15 e 30 anos de idade, embora um segundo pico de incidência

ocorra após os 60 anos. A maior parte dos estudos mostram um discreto predomínio

de casos no sexo feminino, com uma relação mulher:homem de cerca de 1,2:1

(SANDS, 2006).

Determinados agentes ambientais têm sido implicados como fatores de risco

para a doença de Crohn. Dentre eles destaca-se o contato com agentes infecciosos

como Chlamydia, Listeria monocytogenes, vírus do sarampo e principalmente o

Mycobacterium paratuberculosis. Fumantes têm maior risco de desenvolver doença

de Crohn e ainda de apresentar formas mais graves e recidivantes da doença. O uso

de anti-inflamatórios não hormonais e contraceptivos orais também foi relacionado

ao aparecimento da doença de Crohn, enquanto a amamentação e uma dieta rica em

frutas e vegetais parecem ter um efeito protetor contra o desenvolvimento dessa

patologia (SANDS, 2006).

19

1.1.5 Etiopatogenia

Embora até o presente momento não seja conhecida a etiologia exata da

doença de Crohn, todo o conhecimento existente leva a crer que ela represente um

estado de resposta imune sustentada. O surgimento da doença de Crohn decorre, em

última análise, de uma complexa interação entre susceptibilidade genética e resposta

a estímulos ambientais, culminando com o aparecimento de uma série de eventos

inflamatórios que darão origem ao processo inflamatório e aos mais variados

quadros clínicos. Poderíamos citar os seguintes eventos:

a) Disfunção da barreira intestinal: ocorre uma facilitação à penetração de

antígenos através da mucosa intestinal, ou seja, uma maior permeabilidade, que

aparentemente pode ser geneticamente determinada (SANDS, 2006; QUILICI,

2010).

b) Distúrbios na imunidade inata: a resposta imune celular e humoral é

deficiente frente a esses antígenos que penetram na mucosa. Os receptores toll-like

são proteínas responsáveis pela interação entre antígenos e células de defesa

(macrófagos, neutrófilos, células de Paneth etc.). Nessas células, quando

geneticamente deficientes, essa interação ocorre de forma deficitária, levando a um

menor estímulo de citocinas inflamatórias e, portanto, menor clareamento bacteriano

(SANDS, 2006; QUILICI, 2010).

c) Ativação da imunidade adquirida: os antígenos que adentraram a mucosa

ativam o sistema imune adquirido. Na doença de Crohn ocorre uma perda da

chamada imunotolerância. A imunotolerância é mediada em parte por células T que

secretam citocinas anti-inflamatórias, como TGF-β (transforming growth factor) e

IL (interleucina)-10. Na doença de Crohn esse processo é deficiente e isso significa

que uma vez desencadeado o processo de ativação imunológica, ele tem uma

20

tendência a auto-perpetuação e resposta exacerbada aos estímulos, numa resposta do

tipo Th1, com elaboração principalmente das citocinas pró-inflamatórias IL-2 e

INF(interferon)-γ. Esse tipo de resposta Th1 suporta a imunidade celular e uma

resposta do tipo hipersensibilidade tardia (SANDS, 2006; QUILICI, 2010).

d) Fatores luminais: a flora bacteriana intestinal está alterada em quantidade

e qualidade nos pacientes com doença de Crohn, com aumento das concentrações de

bactérias anaeróbias gram-positivas e gram-negativas, bem como capacidade

reduzida de neutralização das mesmas, como descrito acima (SANDS, 2006;

QUILICI, 2010).

e) Fatores genéticos: história familiar de doença de Crohn em parentes de

primeiro grau aumenta em até 15 vezes o risco relativo de desenvolver a doença. A

presença de anticorpos anti- Saccharomyces cerevisiae (anti-ASCA), um marcador

subclínico da doença de Crohn, foi mais frequente em parentes saudáveis de

indivíduos portadores de doença de Crohn que na população normal. Mais

recentemente foi identificado um lócus no cromossomo 16, conhecido como IBD1

(lócus 1 para inflammatory bowel disease), associado a maior susceptibilidade a

doença de Crohn. Posteriormente esse lócus foi chamado de gene NOD2 ou

CARD15. A mutação em ambos os alelos desse gene aumenta o risco de

desenvolver doença de Crohn em 40 vezes. Essa mutação, por sua vez, está presente

em apenas 10-20% dos portadores de doença de Crohn, sugerindo que outros

fatores, além da predisposição genética, têm um papel importante na gênese dessa

patologia (SANDS, 2006; SOUZA, LIMA e BRAGA, 2010).

1.1.6 Quadro clínico

21

Tendo em vista que a doença de Crohn pode acometer qualquer porção do

trato digestivo, da boca ao ânus, a mesma pode causar uma variedade de quadros

clínicos a depender da localização e intensidade do processo inflamatório. Cerca de

metade dos pacientes têm doença afetando o íleo e o cólon ao mesmo tempo. Um

terço dos casos tem doença restrita ao íleo, especialmente em sua porção terminal. O

acometimento do trato gastrointestinal (TGI) superior, ou seja, esôfago, estômago e

duodeno, é raro e geralmente vem acompanhado de doença no íleo distal e/ou cólon.

A doença de Crohn confinada ao cólon ocorre em cerca de 20-25% dos casos, com

comprometimento perianal em 30% de todos os casos (SANDS, 2006).

De uma forma geral, os sintomas mais frequentes são dor abdominal tipo

cólica, em geral intermitente, febre, perda de peso, anorexia e desnutrição. Na

presença de colite podem ocorrer diarréia e sangramento evidente ou oculto. O reto

em geral tende a ser poupado, por outro lado, doença perianal é comum e pode

inclusive preceder as demais manifestações da doença. Podem ocorrer lesões de

pele, úlceras, abscessos, fissuras e fístulas. O acometimento transmural,

característico da doença de Crohn, pode ocasionar estenoses, obstrução intestinal e

aparecimento de massa palpável em FID durante o exame físico, além de fístulas e

perfurações (SOUZA, LIMA e BRAGA, 2010).

A doença de Crohn gastroduodenal é pouco comum e tende a ocorrer em

pacientes mais jovens e naqueles que possuem doença ileal associada. Na imensa

maioria dos casos é assintomática, eventualmente podendo cursar com disfagia,

pirose, náusea e dor epigástrica. Histologicamente a forma mais comum de

apresentação é a gastrite focal Helicobacter pylori negativa (MOTTET et al., 2007).

22

Além dos sintomas já citados, a doença de Crohn pode acometer outros

órgãos fora do TGI, um achado que é mais frequentemente observado quando há

envolvimento do cólon. Tais manifestações extra-intestinais incluem:

a) Manifestações articulares e músculo-esqueléticas: artrites, artralgias,

sacro-ileítes, osteopenia/osteoporose

b) Manifestações dermatológicas: eritema nodoso, pioderma gangrenoso,

úlceras aftóides orais, doença de Crohn metastática na pele

c) Manifestações oculares: episclerite e uveíte

d) Manifestações hepato-biliares: colelitíase, alterações inespecíficas nas

enzimas hepáticas, colangite esclerosante

e) Manifestações renais e urinárias: litíase por cálculos de ácido úrico e

oxalato, nefropatia membranosa, glomerulonefrite e amiloidose

f) Manifestações hematológicas: trombofilias (trombocitose, deficiência de

proteína S e de antitrombina III, aumento de fibrinogênio), anemia hemolítica

(SANDS, 2006; SOUZA, LIMA e BRAGA, 2010).

Tendo em vista a heterogeneidade da apresentação clínica da doença de

Crohn, surgiu a necessidade de classificar os pacientes, com o intuito de se tentar

identificar e definir determinados grupos de pacientes com características clínicas

semelhantes. Tal classificação traria os benefícios potenciais de facilitar o

aconselhamento aos pacientes, definir melhor o prognóstico e escolher a melhor

modalidade terapêutica em cada grupo. As classificações mais utilizadas são as de

Vienna (OOSTENBRUG et al., 2006) e a de Montreal (SATSANGI et al., 2009).

23

Existem vários índices para avaliação da atividade da doença de Crohn,

embora até o momento nenhum tenha se mostrado ideal. Tais índices baseiam-se em

dados clínicos, laboratoriais e algumas vezes endoscópicos e histopatológicos. O

mais utilizado é o CDAI (Crohn’s Disease Activity Index) (BEST et al., 1976). Na

prática, tem aplicação restrita por ser relativamente complexo para calcular e ter

valor limitado para pacientes com fístulas, estenoses e cirurgias prévias. Entretanto,

alguns autores sugerem que a remissão no CDAI está associada a menores índices

de hospitalizações e cirurgias, melhora na taxa de emprego e na qualidade de vida

nos pacientes com doença de Crohn, devendo ser, portanto, o alvo da terapia de

manutenção na doença de Crohn (LICHTENSTEIN et al., 2004).

1.1.7 Diagnóstico

O diagnóstico da doença de Crohn é feito através da combinação de achados

clínicos, laboratoriais, radiológicos, endoscópicos e patológicos. Não existe um teste

considerado padrão ouro. A avaliação deve ser sempre iniciada por uma anamnese

completa, voltada para os principais sintomas e sinais sugestivos da doença, seguida

pelo exame físico, que deve incluir o exame da região perianal e genital.

a) Avaliação laboratorial: hemograma (anemia); dosagem sérica de

albumina, vitamina B12, ácido fólico (podem estar reduzidas na doença ileal);

proteína C reativa, velocidade de hemossedimentação (podem estar elevadas);

coprocultura e parasitológico de fezes (se houver diarréia).

b) Avaliação radiológica: trânsito intestinal deve ser o primeiro exame

radiológico na suspeita de acometimento ileal, sendo útil na avaliação de

complicações transmurais. Os principais achados são a presença de úlceras aftóides,

espessamento parietal (achados precoces), aspecto de mucosa em paralelepípedo,

24

fístulas e estenoses (achados tardios). O raio x simples de abdome deve ser

solicitado na suspeita de obstrução intestinal. O ultrassom abdominal pode

identificar áreas de espessamento parietal e pode ajudar na diferenciação entre

fibrose e edema. A tomografia de abdome é útil na identificação de abscessos e

perfurações e a ressonância magnética tem sua maior utilidade na avaliação de

fístulas perianais complexas, além de ambos os métodos serem cada vez mais

utilizados na avaliação do intestino delgado em substituição ao trânsito.

c) Avaliação endoscópica: a colonoscopia é o exame de escolha, por permitir

a avaliação da mucosa dos cólons e do íleo terminal, com possibilidade de coleta de

material para histopatológico. O achado de acometimento segmentar descontínuo

favorece o diagnóstico. A cápsula endoscópica e a enteroscopia com duplo balão são

úteis na avaliação do intestino delgado quando os demais exames forem

inconclusivos. A endoscopia digestiva alta deve ser realizada quando houver

suspeita de doença no trato digestivo superior ou se houver queixas dispépticas

(SANDS, 2006; QUILICI e MISZPUTEN, 2010; SOUZA, LIMA e BRAGA, 2010).

d) Avaliação sorológica: a positividade para o anti-ASCA (anticorpo Anti-

Saccharomyces cerevisiae) IgG ou IgA ocorre em 60% dos pacientes com doença de

Crohn e os títulos se correlacionam com risco de complicações ( FORCIONE et al.,

2004).

1.1.8 Tratamento

O tratamento da doença de Crohn depende de fatores como localização,

extensão, grau de atividade, comportamento (inflamatório, fistulizante ou

estenosante) e de como a doença evolui ao longo do tempo. As seguintes

recomendações são feitas (TRAVIS et al., 2006):

25

a) Doença ativa, leve, íleo-cecal: budesonida é escolha, pode ser substituída

pela prednisona. Em casos assintomáticos pode-se optar por não tratar.

b) Doença ativa, moderada, íleo-cecal: semelhante ao descrito acima.

Antibióticos (ciprofloxacina, metronidazol) são usados na suspeita de infecção.

c) Doença ativa, grave, de localização íleo-cecal: corticóides sistêmicos são

escolha. Na recidiva, deve-se acrescentar imunossupressores (azatioprina ou 6-

mercaptopurina ou metotrexato). Agentes anti-TNF (infliximabe, adalimumabe ou

certolizumabe) devem ser considerados se houver intolerância ou doença refratária a

corticóides e imunossupressores. Cirurgia é uma opção na falha ao tratamento

clínico.

d) Doença colônica: sulfassalazina isoladamente se doença leve, associada a

corticóides sistêmicos se doença moderada. Nos casos de recidiva, semelhante ao

item c. Nas doenças distais o tratamento tópico (supositório, enemas) é uma opção.

e) Doença extensa do intestino delgado: semelhante ao item c, porém deve

ser acrescentado suporte nutricional.

f) Doença do esôfago ou gastroduodenal: inibidor de bomba de prótons e se

necessário, corticóides sistêmicos e imunossupressores. Agentes anti-TNF são opção

na doença refratária. Dilatação ou cirurgia são úteis se houver obstrução.

g) Recidiva precoce: recidiva ocorrendo em menos de 3 meses após a

retirada dos corticóides indica o início de imunossupressores.

h) Dependência de corticóides: quando não é possível a retirada dos

corticóides, imunossupressores devem ser iniciados. Na falha desses agentes,

agentes anti-TNF são opção. Cirurgia é uma opção na falha ao tratamento clínico.

i) Refratariedade aos corticóides: na ausência de resposta após uso de dose

plena de corticóides por 4 a 8 semanas estão indicados imunossupressores. Se não

26

houver infecção, acrescentam-se agentes anti-TNF. Cirurgia é uma opção na falha

ao tratamento clínico (TRAVIS et al., 2006).

O objetivo do tratamento deve ser induzir a remissão. No primeiro ano cerca

de 30-60% dos pacientes apresenta recidiva e no segundo ano esse número pode

chegar a 70% dos casos. Idade menor que 25 anos, envolvimento colônico e

tabagismo são fatores preditivos de recidiva. Assim, após a remissão, a maior parte

dos pacientes devem continuar com tratamento de manutenção. Dentre as opções

terapêuticas, seguem as principais considerações:

- Derivados 5-ASA: em geral não se mostraram efetivos na manutenção da

remissão. Para pacientes que atingiram a remissão em uso dessas drogas, as mesmas

devem ser mantidas por 2 anos após a remissão completa.

- Corticóides: não são efetivos na manutenção da remissão.

- Azatioprina/6-MP: efetivas na manutenção da remissão. Considerar

suspensão do tratamento após 4 anos de remissão completa.

- Infliximabe: efetivo em manter a remissão atingida por essa droga na

doença não-fistulizante.

Não há consenso sobre duração do tratamento com MTX ou infliximabe

além de 1 ano (TRAVIS et al., 2006).

1.2 Doença de Crohn e distúrbios funcionais do trato digestivo

1.2.1 Incidência

Vários estudos relatam que pacientes com doença de Crohn apresentam sintomas

funcionais do trato digestivo com maior frequência que a população geral, mesmo

quando não há evidências de atividade inflamatória. SIMRÉN et al. (2002) descreveram

27

uma prevalência duas a três vezes maior de sintomas semelhantes aos da síndrome do

cólon irritável nos pacientes com doença de Crohn em remissão, quando comparado

com a população saudável. Outros autores (MINDERHOUD et al., 2004;

FARROKHYAR et al., 2006) estudaram a relação entre a presença de sintomas

funcionais do trato digestivo e alterações de humor e qualidade de vida e descreveram

porcentagens de 42% e 26%, respectivamente, de pacientes com doença de Crohn em

remissão que apresentavam sintomas gastrintestinais funcionais, principalmente dor

abdominal, de acordo com os critérios de Roma II.

1.2.2 Importância

Como citado acima, os sintomas funcionais do trato digestivo, entre eles os

sintomas dispépticos, acometem uma parcela significativa dos pacientes portadores

de doença de Crohn. Tais sintomas são responsáveis por piores índices de qualidade

de vida, busca aumentada pelos serviços de saúde, realização de exames

complementares muitas vezes desnecessários e elevado índice de absenteísmo ao

trabalho, tendo em vista que a doença acomete principalmente indivíduos

economicamente ativos (SIMRÉM et al., 2002; MINDERHOUD et al., 2004).

Alguns dos sintomas dispépticos apresentados pelos pacientes com doença

de Crohn podem ser graves e incapacitantes, como foi demonstrado por

KRISTINSSON et al. (2007), que descreveu uma série de casos de pacientes com

doença de Crohn sem evidência de atividade inflamatória que apresentavam

sintomas dispépticos, principalmente do tipo gastroparesia, graves e de difícil

manejo clínico.

Nesse aspecto, a problemática que se impõe é justamente a dificuldade que

se observa na prática clínica de saber se os sintomas gastrintestinais apresentados

28

pelos pacientes com doença de Crohn em remissão são de fato funcionais ou

representam um estado de inflamação oculta, subclínica (LONG e DROSSMAN,

2010).

1.3 Dispepsia orgânica versus dispepsia funcional

1.3.1 Dispepsia orgânica

Dispepsia é definida como dor ou desconforto no andar superior do abdome,

sem relação com esforço físico, com apresentação intermitente ou contínua. Outros

sintomas estão frequentemente associados: náusea, vômitos, saciedade precoce,

empachamento, distensão e flatulência (LIMA, MOTTA e RÔLA, 2010). Diante de

um paciente com dispepsia, deve-se sempre tentar distinguir o distúrbio orgânico do

funcional.

Várias causas são apontadas na gênese da dispepsia orgânica. As principais

são aqui lembradas:

- doença ulcerosa péptica, gastrite ou duodenite, com ou sem infecção pelo

Helicobacter pylori (H. pylori)

- doença do refluxo gastro-esofágico

- parasitoses intestinais

- doenças hepato-bilio pancreáticas

- neoplasias gástricas

- deficiência de lactase

- patologias isquêmicas e motoras do TGI

- síndromes disabsortivas

- neoplasias malignas intra-abdominais

29

- doenças sistêmicas: diabetes melito, insuficiência renal

- medicamentos: AINES, teofilina, sais de ferro, cálcio, antibióticos,

metformina, contraceptivos orais etc.

O diagnóstico é feito principalmente através da anamnese e exame físico, no

intuito de guiar a solicitação de exames complementares da forma mais racional

possível. Durante a avaliação clínica inicial, é importante que se questione sobre os

chamados sinais de alerta, como perda de peso, anorexia, disfagia, sangramento,

febre e palidez. Tais sinais levantam a hipótese de doença orgânica, especialmente

malignidades.

O exame considerado padrão ouro é a endoscopia digestiva alta, seguida pelo

ultrassom de abdome. O tratamento da dispepsia orgânica deverá ser voltado para a

causa de base, quando possível.

1.3.2 Dispepsia funcional

Dispepsia funcional é uma síndrome caracterizada por dor ou desconforto

abdominal crônico ou recorrente na ausência de doença orgânica subjacente que

possa explicar os sintomas. Em geral, trata-se de um complexo de sintomas, na

maioria das vezes relacionados ao estado pós-prandial, que incluem dor epigástrica,

empachamento, saciedade precoce, distensão, eructações, náuseas, vômitos e

queimação epigástrica (KARAMANOLIS et al., 2006). Trata-se de uma condição

heterogênea, na qual os sintomas predominantes variam de paciente para paciente.

Dentre todos os pacientes que se apresentam com sintomas dispépticos, a

maioria tem, após investigação apropriada, dispepsia funcional (DROSSMAN,

2006).

30

A classificação de Roma III inclui os critérios para o diagnóstico das doenças

funcionais do trato digestivo, divididas em seis categorias, nas quais a dispepsia

funcional está inserida (categoria B1). De acordo com a classificação de Roma III, a

dispepsia funcional pode ser subdividida em dois tipos, de acordo com os sintomas

predominantes: síndrome do desconforto pós-prandial (principalmente sintomas de

saciedade precoce e empachamento pós-prandial) e síndrome de dor epigástrica

(principalmente dor e queimação epigástrica). O principal papel da classificação de

Roma III é tentar definir padrões de sintomas a fim de facilitar o diagnóstico e o

tratamento, além de tentar estabelecer, para cada categoria, os mecanismos

fisiopatológicos envolvidos na gênese dos sintomas (DROSSMAN, 2006).

1.3.3 Fisiopatologia da dispepsia

A fisiopatologia da dispepsia orgânica irá variar de acordo com a causa

subjacente. No caso da dispepsia funcional, a fisiopatologia ainda não é totalmente

esclarecida. Vários estudos já tentaram estabelecer associações entre possíveis

mecanismos fisiopatológicos, como alterações no esvaziamento gástrico,

hipersensibilidade visceral, déficit de acomodação, distúrbios da contratilidade gástrica,

infecção pelo H. pylori, e os sintomas que compõem a dispepsia funcional.

Uma revisão recente mostrou que em média cerca de 30% dos pacientes com

dispepsia funcional atendidos em centros terciários apresentavam retardo no

esvaziamento gástrico (CAMILLERI e TACK, 2010). No estudo de SARNELLI et al.

uma porcentagem de 23% dos pacientes dispépticos apresentou retardo de esvaziamento

para sólidos e de 35,4% para líquidos, e esses achados estiveram associados a presença

dos sintomas empachamento pós prandial e vômitos (teste com sólidos) e de

empachamento pós prandial e saciedade precoce (teste com líquidos) (SARNELLI et

31

al., 2003). Outro estudo mais abrangente (KARAMANOLIS et al., 2006) mostrou que o

grupo de pacientes que apresentavam dor como sintoma predominante apresentou mais

hipersensibilidade visceral (44% versus 25%) que o grupo com predomínio de

desconforto. Esse grupo, por sua vez, apresentou maior prevalência de retardo no

esvaziamento gástrico de sólidos. No mesmo estudo, a avaliação de sintomas

individuais evidenciou que 79% dos pacientes que apresentavam saciedade precoce

como sintoma predominante tinham distúrbio de acomodação. Da mesma forma, 38%

dos pacientes com empachamento pós prandial predominante apresentavam retardo no

esvaziamento gástrico e naqueles onde predominava o sintoma dor a prevalência de

hipersensibilidade foi de 44%. Entretanto, apenas a associação entre saciedade precoce

e déficit de acomodação foi estatisticamente significativa. No mesmo ano um estudo

mostrou que em pacientes dispépticos funcionais ocorria alterações na acomodação

gástrica e na contratilidade antral e que um aumento de contratilidade antral poderia

estar associado ao aparecimento de náusea pós prandial (TRONCON et al., 2006).

Além dos mecanismos propostos acima, uma possível explicação para o

surgimento de sintomas dispépticos em indivíduos previamente saudáveis seria a

ocorrência de alterações decorrentes de infecções. Sobre esse aspecto, uma publicação

mostrou que em pacientes com dispepsia funcional de causa presumivelmente pós-

infecciosa, houve uma prevalência significativamente elevada de distúrbios de

acomodação que poderiam ser atribuídos a alterações em nível de neurônios gástricos

nitrérgicos (TACK et al, 2002).

No que diz respeito à participação da infecção pelo H. pylori na gênese dos

sintomas dispépticos, existe uma discussão sobre a possível influência da infecção pelo

H. pylori na fisiopatologia da dispepsia funcional, bem como na gênese de distúrbios

motores do trato digestivo superior. Entretanto, vários estudos não foram capazes de

32

demonstrar essa associação. Uma revisão sistemática realizada por DANESH et al.

(2000) não demonstrou associação estatisticamente significativa entre a infecção

crônica pelo H. pylori e dispepsia. LEONTIADIS et al. (2004) mostraram que nos

pacientes com dispepsia funcional e retardo de esvaziamento gástrico, esse achado não

foi associado com a infecção pelo H. pylori nem modificado após erradicação da

infecção. Outros estudos sobre dispepsia funcional citados acima (TACK et al., 2002;

SARNELLI et al., 2003; KARAMANOLIS et al., 2006) também falharam em

demonstrar qualquer relação entre a infecção atual pelo H. pylori e a ocorrência de

sintomas dispépticos e seus prováveis mecanismos fisiopatológicos. Por outro lado,

diversos autores orientam a erradicação do H.pylori na vigência de dispepsia funcional,

tendo que em vista que uma parcela dos pacientes apresenta resposta com melhora

sintomática após o tratamento.

Ainda em relação aos possíveis mecanismos que precipitam os sintomas

dispépticos, deve-se levar em consideração a possível influência dos fatores

psicológicos. Tais associações já foram feitas na dispepsia funcional, bem como em

outros distúrbios funcionais do trato digestivo. Alguns estudos mostram que existem

evidências de uma possível associação entre fatores emocionais e distúrbios da

motilidade gástrica na dispepsia funcional, e que alterações no estímulo aferente vagal

gástrico poderiam ser, pelo menos em parte, responsáveis por essa associação (SIMRÉN

e TACK, 2003 apud HAUG et al., 1994). Existem evidências de que a presença de

ansiedade foi significativamente relacionada à diminuição no limiar para desconforto,

limiar de dor e complacência gástrica em pacientes com dispepsia funcional (VAN

OUDENHOVE et al., 2007). De acordo com estudo mais recente do mesmo grupo,

fatores como depressão, história de abuso e somatização seriam determinantes na

intensidade dos sintomas (principalmente naqueles com hipersensibilidade gástrica) e

33

inclusive na perda de peso em pacientes com dispepsia funcional (VAN OUDENHOVE

et al., 2008). Em última análise, embora não se saiba até o momento se os fatores

psicossociais têm um papel fisiopatológico na dispepsia funcional, eles podem ser

considerados moduladores da experiência e do comportamento dos pacientes e, portanto

ser relevantes no quadro clínico.

Apesar de todas as pesquisas, ainda existe controvérsia acerca da associação

entre possíveis mecanismos fisiopatológicos e o aparecimento de sintomas dispépticos,

tendo em vista que grande parte dos pacientes sintomáticos não apresenta qualquer

alteração nos exames utilizados.

1.4 Doença de Crohn e motilidade gástrica

Embora a doença de Crohn não seja primariamente um distúrbio de motilidade, a

ocorrência de sintomas dispépticos nessa patologia poderia ser explicada pela presença

de alterações inflamatórias da mucosa, edema tecidual e ocasional obstrução, que

poderiam ter efeitos importantes sobre a motilidade gastrointestinal (RAO e READ,

1990).

A associação entre dismotilidade gástrica e a presença de sintomas dispépticos

nos pacientes portadores de doença de Crohn é um assunto ainda pouco explorado e

com poucos estudos disponíveis, entretanto alguns autores já tentaram estabelecer

algumas associações. ANNESE et al. observaram que, em pacientes com doença de

Crohn de comportamento não obstrutivo e com sintomas dispépticos, houve retardo do

esvaziamento gástrico medido por cintilografia (ANNESE et al., 1995). O mesmo grupo

publicou posteriormente (ANNESE et al., 1997) que pacientes com doença de Crohn

em remissão apresentavam hipomotilidade antral pós prandial associada a retardo de

34

esvaziamento gástrico. Dado semelhante foi encontrado por KOHNO et al. (2006) em

estudo de motilidade realizado através de eletrogastrografia e ultrassonografia, no qual

pacientes com doença de Crohn apresentaram retardo do esvaziamento gástrico quando

comparados a indivíduos saudáveis.

Acerca dos prováveis mecanismos implicados no aparecimento de sintomas

dispépticos em pacientes com doença de Crohn, KELLER et al. demonstraram que

houve atraso no esvaziamento gástrico medido por teste respiratório com 13C-ácido

octanóico em pacientes com doença de Crohn e que esse transtorno poderia ser

explicado em parte por uma secreção aumentada de colecistocinina (CCK) (KELLER et

al., 2009). Um estudo em modelos experimentais de colite aguda publicado por DE

SCHEPPER et al., no qual foi evidenciado retardo no esvaziamento gástrico, aponta

uma possível explicação para a presença de distúrbios de motilidade gástrica ocorrendo

longe do sítio inflamatório (DE SCHEPPER et al., 2007).

Diante do exposto e apesar dos poucos estudos citados acima, observa-se que

embora a presença de retardo do esvaziamento gástrico em pacientes com doença de

Crohn já seja um dado conhecido, até este momento não temos conhecimento acerca da

existência de publicações avaliando a associação entre o retardo do esvaziamento

gástrico e a presença de sintomas dispépticos nesses pacientes, principalmente quando

se trata de pacientes em remissão. Da mesma forma, não há dados na literatura

avaliando se há um ou mais sintomas dispépticos predominantes nessa população de

pacientes.

35

2. OBJETIVOS

36

2.1 Objetivo geral

Estudar a relação entre sintomas dispépticos e a presença de retardo no

esvaziamento gástrico de alimentos sólidos em pacientes portadores de doença de Crohn

em remissão.

2.2 Objetivos específicos

a) Avaliar a presença de retardo de esvaziamento gástrico em pacientes com

doença de Crohn em inatividade quando comparado com indivíduos saudáveis

b) Analisar se a presença de sintomas dispépticos nesses pacientes tem relação

com diferentes características clínico-demográficas e/ou a presença de retardo de

esvaziamento de alimentos sólidos.

c) Definir se existe relação entre sintomas dispépticos específicos e retardo no

esvaziamento gástrico de sólidos em portadores de doença de Crohn em remissão.

37

3. CASUÍSTICA E MÉTODOS

38

3.1 Natureza do estudo

Trata-se de estudo transversal, analítico e quantitativo. Fundamenta-se na

utilização de métodos diretos, para avaliação de esvaziamento gástrico de sólidos e

indiretos, para avaliação sintomática, realizado em pacientes com doença de Crohn em

remissão.

3.2 Locais do estudo

Esta pesquisa foi realizada no Ambulatório de Doenças Inflamatórias Intestinais

do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) da Universidade Federal do Ceará

(UFC), onde os pacientes foram avaliados e entrevistados. O teste de esvaziamento

gástrico foi realizado utilizando os equipamentos e espaço físico do Laboratório de

Farmacologia Gastrointestinal, do Centro de Biomedicina da Faculdade de Medicina da

Universidade Federal do Ceará.

3.3 Caracterização do serviço

A pesquisa foi realizada no HUWC-UFC, um hospital de nível terciário

localizado em Fortaleza, capital do estado do Ceará. Trata-se de um hospital de

referência integrado ao Sistema Único de Saúde (SUS) e que atende à população de

todo o estado.

O ambulatório de Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) funciona uma vez por

semana e atende aos portadores dessas patologias, principalmente doença de Crohn e

retocolite ulcerativa, provenientes da capital e do interior.

39

Os portadores de doença de Crohn têm direito ao fornecimento gratuito das

medicações previstas no protocolo clínico e diretrizes terapêuticas regulamentadas pela

Portaria 858 de 12 de novembro de 2002 (BRASIL, 2002A), incluindo as seguintes

drogas: sulfassalazina, mesalazina, azatioprina, 6-mercaptopurina, metotrexate,

infliximabe, talidomida, ciclosporina, metronidazol, prednisona e hidrocortisona.

3.4 População do estudo

Os pacientes e voluntários participantes do estudo foram recrutados no período

de outubro de 2007 a abril de 2010.

A população de estudo consistiu em vinte e seis pacientes adultos (12 homens e

14 mulheres, idade média 43 anos, variando de 26 a 67 anos) com diagnóstico de

doença de Crohn estabelecido com base em critérios radiológicos, endoscópicos e

histológicos aceitos (SANDS, 2006) e que eram acompanhados regularmente nos

ambulatórios do Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do

Ceará, Fortaleza, Brasil.

3.4.1 Critérios de inclusão dos pacientes:

Os seguintes critérios foram observados para que o paciente pudesse participar

do estudo:

a) Homens ou mulheres não-grávidas, com idade maior que 18 anos;

b) Diagnóstico estabelecido de doença de Crohn;

c) Ausência de evidência clínica, radiológica, endoscópica e laboratorial de

atividade inflamatória relacionada à doença de Crohn.

40

3.4.2 Critérios de exclusão do paciente:

Qualquer um dos seguintes critérios, obtidos a partir da avaliação clínica,

exame físico ou exames laboratoriais, excluiu o paciente do estudo:

a) Idade menor que 18 anos;

b) Uso de medicações que sabidamente possuem capacidade de interferir na

motilidade gástrica (exemplo: bromoprida, metoclopramida, domperidona,

inibidores de bomba de prótons) na semana que antecedeu ao teste de

esvaziamento gástrico

c) Uso de dieta naturalmente rica em 13C-ácido octanóico, por exemplo, alimentos

derivados do milho e abacaxi, na semana que antecedeu ao teste de

esvaziamento gástrico (HATCH, 1966)

d) Diabetes mellitus

e) Distúrbios da tireóide

f) Doenças auto-imunes

g) Insuficiência renal

h) Doença pulmonar obstrutiva crônica

i) Alergia à proteína do ovo

j) Úlcera gástrica

k) Adenocarcinoma gástrico

3.4.3 Seleção dos pacientes

Os pacientes foram selecionados à medida que compareciam às consultas de

rotina previamente agendadas. Durante o atendimento, eram avaliados quanto à

presença de evidências de atividade inflamatória da doença tomando como parâmetros

as queixas clínicas, exame físico e exames laboratoriais. Caso não apresentassem tais

evidências, eram questionados sobre a disponibilidade de participar do estudo.

41

Os exames laboratoriais eram realizados no laboratório de análises clínicas do

HUWC e avaliados durante o atendimento. Os seguintes exames eram avaliados e os

parâmetros de normalidade aceitos foram aqueles utilizados pelo referido laboratório:

a) Dosagem de hemoglobina sérica. Homens: 13,5 – 18,0 g/dL

Mulheres: 11,5 – 15,5 g/dL

b) Dosagem de albumina sérica. Normal: 3,5 – 5,2 g/dL

c) Velocidade de hemossedimentação (VHS). Normal: na 1ª hora 3-4 mm

d) Proteína C reativa (PCR) quantitativa. Normal: menor que 0,1 mg/dL

e) Dosagem de vitamina B12 sérica. Normal: 174 – 878 pg/mL

Além do atendimento de rotina já mencionado, o paciente era avaliado e

pontuado quanto ao índice de atividade de doença de Crohn (Crohn’s Disease Activity

Index - CDAI) (BEST et al., 1976). O CDAI é uma ferramenta de pesquisa muito

utilizada e útil para tentar quantificar os sintomas de pacientes com doença de Crohn.

De acordo com os escores obtidos no cálculo deste índice, o paciente pode ser

classificado em:

Total de escores < 150: remissão clínica

Total de escores 150-300: atividade leve

Total de escores 300-450: atividade moderada

Total de escores > 450: atividade grave

Os vinte e seis pacientes que foram selecionados não apresentavam nenhuma

evidência de atividade inflamatória e apresentaram CDAI com valor menor que 150

(média de 47; variando entre 6 e 104) no momento do estudo.

42

CDAI – Crohn Disease Activity Index

1. Número de fezes líquidas ou muito amolecidas em uma semana: Soma x 2

2. Soma do grau de dor abdominal em sete dias: Soma x 5

(0=sem dor, 1=leve, 2=moderada, 3=grave)

3. Soma do nível de bem estar geral em sete dias: Soma x 7

(0=bem, 1=pouco abaixo do normal, 2=ruim, 3=muito ruim, 4=terrível)

4. Sintomas ou achados presumivelmente relacionados a doença de Crohn's cada x 1

Selecione cada item correspondente aos sintomas do paciente:

� artrite ou artralgia

� irite ou uveíte

� eritema nodoso, pioderma gangrenoso, estomatite aftosa

� fissura anal, fístula ou abscesso perirretal

� outras fístulas intestinais

� episódio febril (febre) acima de 38 graus Celcius na última semana

5. Tomando opiáceos para diarréia

Se sim x 30

6. Massa abdominal palpável Valor x 10

0=ausente; 2=questionável; 5=presente

7. Hematócrito [(Normal - Atual) x 6 ]

Valor normal: Para homens= 47 Para mulheres= 42

8. 100 x [(peso corporal padrão – peso corporal real) / peso corporal padrão]

TOTAL:

Quadro1: Modelo utilizado para o cálculo do CDAI:

Clinicamente, os pacientes com doença de Crohn podem ser classificados em

subgrupos que foram estabelecidos pelos critérios de Vienna (GASCHE et al., 2000;

OOSTENBRUG et al., 2006) e, mais recentemente, modificados pela classificação de

Montreal (SATSANGI et al., 2006).

43

Classificações de Vienna e Montreal para doença de Crohn Vienna Montreal

Idade ao diagnóstico A1 < 40 anos A1 < 16 anos

A2 > 40 anos A2 entre 17 e 40 anos

A3 > 40 anos

Localização da doença L1 ileal L1 ileal

L2 colônica L2 colônica

L3 íleo-colônica L3 íleo-colônica

L4 trato digestivo superior L4 trato digestivo superior isoladamente

Comportamento B1 não-estenosante, não penetrante

B1 não-estenosante, não penetrante

B2 estenosante B2 estenosante

B3 penetrante B3 penetrante

p modificador de doença perianal

OBS 1: L4 é um modificador que pode ser adicionado a L1-L3 se houver doença concomitante no trato digestivo superior

OBS 2: p é adicionado a B1-B3 quando houver doença perianal concomitante

Quadro 2: Classificações de Vienna e Montreal para doença de Crohn

Nesse estudo utilizamos a classificação de Montreal para doença de Crohn, de

acordo com a qual os seguintes critérios foram avaliados após a seleção dos pacientes:

a) Idade de apresentação da doença de Crohn: A1, A2 ou A3

b) Localização da doença: L1, L2, L3 ou L4

c) Comportamento da doença: obstrutivo (B2) ou não-obstrutivo (B1 ou B3)

Foram também estudadas as seguintes variáveis demográficas:

a) Peso (em Kg)

b) Idade (em anos)

c) Sexo (masculino/feminino)

d) Estatura (em m)

e) Presença de infecção atual pelo Helicobacter pylori

44

f) Tratamento atual realizado: esteróides, derivados do 5-ácido aminossalicílico

(5-ASA), imunossupressores como a azatioprina e a 6-mercaptopurina (6-

MP), agentes anti-Fator de Necrose Tumoral (TNF), como o infliximabe.

g) Antecedente de cirurgia abdominal

3.4.4 Pesquisa de infecção atual pelo Helicobacter pylori (H. pylori)

A presença de infecção atual pelo H. pylori foi pesquisada em todos os

pacientes, exceto um, que não pôde comparecer às várias tentativas de realizar o exame,

alegando motivos pessoais.

A pesquisa foi realizada por métodos diferentes a depender se o paciente havia

sido classificado como tendo ou não dispepsia, após análise de um questionário de

sintomas dispépticos que será mais bem descrito a seguir. Os pacientes considerados

sem dispepsia foram submetidos ao teste respiratório da urease utilizando o 13C, tendo

em vista que se trata de exame pouco invasivo, prático, com boa acurácia e levando-se

em conta o fato de não haver necessidade do exame endoscópico nesses casos

(MALFERTHEINER et al., 2007). Os pacientes considerados com dispepsia foram

submetidos a uma endoscopia digestiva alta. Nesse caso, dois métodos foram utilizados

para a pesquisa do H. pylori, o exame histopatológico e o teste rápido da urease. Para o

exame histopatológico, cuja sensibilidade e especificidade são maiores que 95%, foram

coletadas amostras da incisura angularis (1 fragmento), da grande curvatura do corpo (1

fragmento) e da grande curvatura do antro (1 fragmento). Para o teste rápido da urease,

que possui sensibilidade maior que 90% e especificidade maior que 95%, as biópsias

realizadas foram na incisura angularis (1 fragmento), e na grande curvatura do antro (1

fragmento) (CHEY, 2007).

45

3.4.5 Grupo controle

Quatorze voluntários saudáveis (5 homens, 9 mulheres, com idade média de 44

anos, variando de 19 a 73 anos) realizaram estudos de esvaziamento gástrico como

controle nos mesmos padrões daquele realizado pelos pacientes.

A descrição mais detalhada a respeito do grupo controle pode ser vista na seção

de resultados (Tabela 1) e no Anexo H.

3.5 Instrumentos

Os instrumentos utilizados nesse estudo foram, além da avaliação clínica acima

mencionada, um questionário quantitativo de sintomas dispépticos (Anexo A) e um

teste respiratório para mensurar o tempo de esvaziamento gástrico de alimentos sólidos.

3.5.1 Questionário de sintomas

Alguns minutos antes do teste de esvaziamento gástrico, pacientes e voluntários

saudáveis preencheram um questionário previamente publicado e validado chamado

Questionário Porto Alegre de Sintomas Dispépticos (PADYQ) (SANDER et al., 2004),

que vem a ser um instrumento de análise quantitativa dos sintomas dispépticos.

Através deste questionário, pacientes e voluntários foram questionados sobre a

presença, freqüência, duração e intensidade de cinco sintomas dispépticos (dor no andar

superior do abdome, náuseas, vômitos, distensão em abdome superior e saciedade

precoce) nos últimos 30 dias. Para cada resposta foi atribuída uma pontuação, com

46

possibilidade de no máximo 44 pontos. Indivíduos com pontuação total de 6 ou mais

foram considerados como portadores de dispepsia. Pontuação total menor que 6 alocava

o paciente no grupo sem dispepsia. Em relação ao grupo controle, alguns voluntários

que fizeram parte do estudo apresentaram mínimos sintomas dispépticos, entretanto sem

configurar dispepsia de acordo com o instrumento utilizado (PADYQ).

3.5.2 Teste respiratório de esvaziamento gástrico

O estudo realizado para medir o esvaziamento gástrico para sólidos foi o teste

respiratório previamente validado que utiliza como substrato o 13C-ácido octanóico

(GHOOS et al., 1993; DELBENDE et al., 2000; JACKSON e BLUCK, 2005). Após um

jejum noturno de 8 horas, cada paciente recebeu uma refeição contendo cerca de 250

Kcal constituída de 60 g de pão branco (duas fatias de pão de forma), 5 g de margarina,

um ovo levemente frito cuja gema foi marcada com 100mg de 13C-ácido octanóico e

cloreto de sódio (sal de cozinha). A refeição completa foi ingerida durante o tempo

máximo de 10 minutos e foi imediatamente seguida pela ingestão de 150 mL de água.

Amostras de ar expirado foram obtidas em sacos plásticos fechados aluminizados no

início do teste, ou seja, antes da administração da refeição e, em seguida, em intervalos

de 15 minutos por 4 horas. Durante o teste os pacientes foram aconselhados a

permanecer sentados e se abster de qualquer atividade física.

O ácido octanóico é dissolvido na gema do ovo, que é lipofílica por natureza. No

duodeno, o ácido octanóico é rapidamente absorvido e transportado ao fígado para ser

metabolizado em CO2 (gás carbônico) marcado (GHOOS et al., 1993). O principal

47

parâmetro avaliado no teste, o aparecimento do CO2 marcado na respiração,

corresponde à taxa de liberação do alimento do estômago para o duodeno.

Fonte: http://ncp.sagepub.com/content/25/1/16.abstract (adaptado)

Figura 1. Ilustração esquemática demonstrando a metodologia do teste respiratório com alimento sólido marcado com 13C-ácido octanóico.

No método utilizado, validado por GHOOS et al. (1993), assumiu-se que a

produção de CO2 seja de 300 mmol por metro quadrado de área de superfície corporal

por hora. A superfície de área corporal é calculada utilizando-se peso e altura através da

fórmula de Haycock et al. (GOETZE et al., 2006 apud HAYCOCK, 1978). Os

resultados foram expressos como porcentagem de 13C recuperado por hora e como

valores cumulativos ao longo das 4 horas do estudo. A razão 13C/12C das amostras foi

analisada por espectrometria infravermelha isótopo-seletiva não-dispersiva através de

um espectrômetro de massa. Ambos o equipamento (IRIS II - 13C Breath-Test System) e

PULMÃO

ESTÔMAGO

FÍGADO

13CO2 13CO2

13CO2

INTESTINO DELGADO

13C-OCTANOATO

48

substrato (13C - ácido octanóico) utilizados foram fornecidos por Wagner Analysen

Technik GmbH, Bremen, Alemanha. O t lag (minutos) foi definido como o tempo em

que ocorreu a máxima velocidade de esvaziamento gástrico após a ingestão da refeição,

e o t 1/2 (minutos) foi definido como o tempo em que a primeira metade da dose do

substrato (13C) administrada na refeição foi metabolizada. A presença de retardo do

esvaziamento gástrico foi definida como sendo um t 1/2 acima de 200 minutos,

tomando-se como referência o manual do fabricante (http://www.wagner-bremen.de),

bem como dados de estudos prévios (GHOOS et al., 1993).

Fonte: http://www.diagnova.in/msg.html

Figura 2. Equipamento utilizado no teste respiratório para análise das curvas de excreção de 13CO2 (IRIS II - 13C Breath-Test System)

3.6 Aspectos éticos

Todos os pacientes e indivíduos do grupo controle assinaram Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido para participar do estudo, que foi previamente

aprovado pelo Comitê de Ética do HUWC (número de protocolo: 049.07.08).

49

3.7 Análise dos dados

A fim de analisar a relação entre esvaziamento gástrico e sintomas dispépticos

em pacientes com doença de Crohn, subdividimos os pacientes de acordo com sua

pontuação total no PADYQ em dois grupos: com dispepsia (total de escores maior ou

igual a 6) e sem dispepsia (total de escores menor que 6) .

3.8 Análise estatística

As características clínicas dos pacientes (gênero, presença de colite, infecção por

H. pylori, etc) foram comparadas pelo teste exato de Fisher. A análise estatística do

esvaziamento gástrico em pacientes controles e portadores de doença de Crohn com ou

sem dispepsia foi realizada por meio do teste t de Student.

Nos pacientes com doença de Crohn e dispepsia, as pontuações individuais de

sintomas dispépticos (PADYQ) foram correlacionados com a presença de retardo no

esvaziamento gástrico (t 1/2 > 200 minutos) por meio do teste exato de Fisher.

Coeficientes de correlação de Spearman foram usados para comparar dados de

motilidade e pontuações no PADYQ.

Em todas as análises realizadas, p<0,05 foi considerado estatisticamente

significativo. A análise estatística foi feita com a ajuda de um programa de computador

comercializado (GraphPad Prism versão 3.0, San Diego, CA, EUA).

50

3.9 Fluxograma do estudo

A metodologia do presente estudo pode ser resumida através do diagrama abaixo:

Doença de Crohn

Atividade

CDAI ≥150

Sem Atividade

CDAI <150

EXCLUSÃO Fator de exclusão

(idade<18 anos, DM,

tireoidopatia, IRC,

DPOC, dça. ulcerosa

péptica, câncer

gástrico, alergia à

proteína do ovo

sim

Convite para

estudoNão aceita

não

Aceita

Orientar

suspender

medicações que

alteram

esvaziamento

Assinar Termo

de

Consentimento

Livre e

Esclarecido

Marcar data

do teste de

esvaziamento

Questionário de

Porto Alegre para

Doenças

Dispépticas

Teste de

esvaziamento

EDA com

pesquisa

de H.

pylori

Dispepsia

Sem dispepsia

Teste

respiratório

para pesquisa

de H. pylori

Figura 3. Fluxograma do estudo

51

4. RESULTADOS

52

4.1 Características demográficas entre o grupo controle e portadores de doença de

Crohn.

Na tabela 1 observa-se que as características demográficas avaliadas entre os

pacientes portadores de doença de Crohn e os voluntários saudáveis (grupo controle)

não apresentaram diferenças estatísticas. O grupo portador de doença de Crohn

apresentou idade média de 43 anos (variando de 26 a 67 anos) e o grupo controle

apresentou idade média de 44 anos (variando de 19 a 73 anos), sem diferença

significativa (p=0,69). Também não houve diferenças entre estes dois grupos em relação

ao peso (média dos pacientes = 63 kg; média dos controles = 65 kg, p = 0,80), estatura

(média 1,61 nos dois grupos). Nos dois grupos de estudo houve predomínio do gênero

feminino com 53,8% (14/26) no grupo dos pacientes portadores de doença de Crohn e

64,3% (9/14) no grupo controle, com um valor de p=0,73.

53

Tabela 1. Dados demográficos do grupo controle e do grupo formado por todos os

pacientes com doença de Crohn.

Controle

n=14

Crohn

n=26 p

Idade

(média em anos) 44,07 ± 5,70 43,08 ± 2,29 0,69

Peso

(média em Kg) 65,01 ± 3,83 63,27 ± 2,42 0,8

Estatura

(média em m) 1,61 ± 0,02 1,61 ± 0,01 0,43

Mulheres 9 (64,3%) 14 (53,8%) 0,73

Dados apresentados em média ± o erro padrão da média. n: número de pacientes em cada grupo.

54

4.2 Resultados do teste de esvaziamento gástrico: grupo controle versus portadores

de doença de Crohn.

A figura 4 demonstra que os pacientes com doença de Crohn apresentaram

retardo no esvaziamento gástrico, através de médias de t 1/2 (192,0 ± 7,7 minutos) e t

lag (127,7 ± 4,5 minutos) significativamente maiores (p<0,05) do que os voluntários

saudáveis (t 1/2: 169,4 ± 8,8 minutos; t lag: 110,6 ± 6,9 minutos).

t lag

0

100

200

300

Controle Crohn

*

A-

MIN

UTO

S

0

100

200

300 *t 1/2

B-

Controle Crohn

MIN

UTO

S

Figura 4. Distribuição dos valores individuais para t lag (painel A) e t 1/2 (painel B) no grupo controle e nos pacientes portadores de doença de Crohn. As barras horizontais representam a média dos valores encontrados. (*) P<0.05 (teste t de Student).

55

4.3 Características demográficas dos portadores de doença de Crohn sem e

com dispepsia

Ainda em relação às características demográficas, a tabela 2 mostra que as

características demográficas avaliadas entre os pacientes portadores de doença de Crohn

sem ou com dispepsia (escore total maior ou igual a 6 no PADYQ) não apresentaram

diferenças estatísticas.

No grupo sem dispepsia houve predomínio do sexo masculino, com 54,6%

(6/11) de homens, enquanto no grupo com dispepsia predominaram as mulheres, que

corresponderam a 60% do total (9/15). Entretanto, essa diferença não foi

estatisticamente significante (p=0,36). O grupo sem dispepsia apresentou média de

idade de 41,73 anos (variando de 26 a 47 anos) e o grupo com dispepsia apresentou

idade média de 44,07 anos (variando de 26 a 67 anos), sem diferença significativa

(p=0,6). Em relação ao peso, não observamos diferença estatística entre os dois

subgrupos de pacientes portadores de doença de Crohn (média dos pacientes sem

dispepsia = 67 kg; média dos pacientes com dispepsia = 60,53 kg, p=0,27), bem como

não se demonstrou diferença estatisticamente relevante no que diz respeito a estatura

dos dois subgrupos. Os pacientes sem dispepsia tiveram estatura média de 1,63 m,

enquanto os pacientes com dispepsia apresentaram estatura média de 1,59 m, com

p=0,32.

56

Tabela 2. Dados demográficos dos dois subgrupos de pacientes com doença de

Crohn

Crohn sem dispepsia

n=11

Crohn com dispepsia

n=15 P

Gênero

Masculino

Feminino

6 (54,6%)

5 (45,4%)

6 (40%)

9 (60%)

0,36

Idade

(média em anos) 41,73 ± 3,47 44,07 ± 3,12 0,6

Peso

(média em Kg) 67,00 ± 4,18 60,53 ± 2,80 0,27

Estatura

(média em m) 1,63 ± 0,02 1,59 ± 0,02 0,32

Em relação ao gênero os valores são descritos em número absoluto e porcentagem em relação ao grupo. Demais dados descritos em média ± erro padrão da média.

57

4.4 Características clínicas dos portadores de doença de Crohn sem e com

dispepsia

Os dados clínicos referentes aos subgrupos de pacientes com doença de Crohn

são descritos na tabela 3. As variáveis referentes à idade de apresentação,

comportamento e localização da doença em cada paciente foram descritas baseadas na

classificação de Montreal (vide quadro 2). Demonstrou-se que no grupo de pacientes

com doença de Crohn sem sintomas dispépticos a porcentagem que usou drogas

imunossupressoras (azatioprina/6-MP) foi maior que no grupo de pacientes com

dispepsia, com uma diferença estatisticamente significativa (p=0,04). Observa-se

também uma tendência aos pacientes portadores de doença de Crohn com sintomas

dispépticos terem uma idade de apresentação acima dos 40 anos de idade, numa

freqüência maior que o grupo de pacientes sem sintomas dispépticos, entretanto este

dado não apresentou uma significância estatística (p=0,09). Da mesma forma, não

houve diferenças estatísticas em relação à localização da doença, padrão de

comportamento (obstrutivo / não obstrutivo), antecedentes de cirurgia abdominal,

infecção atual por H. pylori, uso atual de derivados 5-ASA e média do total de escores

no CDAI atual.

A figura 5 representa o uso de imunossupressores (azatioprina/6-

mercaptopurina) no grupo de pacientes portadores de doença de Crohn. Destaca-se a

porcentagem de pacientes sem dispepsia que utilizava esse tipo de tratamento que

mostrou ser significativamente maior que no grupo com dispepsia.

Ainda em relação às características clínicas dos pacientes, a figura 6 traz a

representação das diferenças entre os dois subgrupos de pacientes portadores de doença

de Crohn no que diz respeito à idade de apresentação (painel A), comportamento (painel

58

B) e localização (painel C) da doença, baseados na classificação de Montreal (vide

quadro 2). No painel A, nota-se que o percentual de pacientes do grupo sem dispepsia

que apresentou a doença com idade inferior a 40 anos (classificação A1/A2) foi maior

que o apresentado pelo grupo com dispepsia e, embora o gráfico possa sugerir

significância estatística, tal fato não foi observado (p=0,09). O painel B representa a

diferença percentual entre os dois grupos de pacientes com doença de Crohn em relação

ao comportamento da doença. Não houve diferença estatisticamente significativa

(p=0,17) entre os grupos quanto à proporção de pacientes com padrão obstrutivo e não

obstrutivo. No painel C observa-se a distribuição percentual dos grupos de pacientes

entre as possíveis localizações da doença de Crohn encontradas e de modo análogo à

idade de apresentação e comportamento, não houve diferença estatística entre os

percentuais apresentados pelos dois grupos de pacientes em relação a nenhuma

localização.

No que diz respeito ao tratamento atual realizado pelos pacientes, detalhamos os

dados dos imunossupressores e derivados 5-ASA por serem os de uso mais freqüente na

amostra estudada. Sobre outros tratamentos, um paciente do grupo com dispepsia estava

em uso de prednisona prescrita por causa de uma reação alérgica de pele, ou seja, causa

não relacionada à doença de Crohn. Dois pacientes, sendo um de cada grupo, estavam

em uso de infliximabe na época em que foram submetidos ao teste de esvaziamento

gástrico.

59

Tabela 3. Características clínicas dos pacientes com doença de Crohn

Crohn sem dispepsia

n=11

Crohn com dispepsia

n=15 p

Idade de apresentação

≥ 40 anos (A3)

< 40 anos (A1/A2)

1 (9%)

10 (91%)

6 (40%)

9 (60%) 0,09

Comportamento

Não obstrutivo (B1/B3)

Obstrutivo (B2)

3 (27%)

8 (73%)

8 (53,4%)

7 (46,6%) 0,17

Localização

Colite (L1)

Ileíte (L2)

Ileocolite (L3)

3 (27%)

4 (36,5%)

4 (36,5%)

6 (40%)

3 (20%)

6 (40%) 0,4

Imunossupressor 9 (81.8%) 6 (40.0%) 0.04*

Cirurgia intestinal

prévia 5 (45,5%) 5 (33.4%) 0.41

Derivados 5 - ASA 5 (45.5%) 11 (73.4%) 0.15

Infecção pelo H. pylori 5 (45,5%) 10 (66,7%) 0,18

Escores CDAI 36.6 ± 6.1 54.5 ± 9.7 0.25

Valores dados em número absoluto e porcentagem em relação ao grupo. CDAI descrito como média ± erro padrão da média. (*) P<0,05 (teste exato de Fisher).

60

0

25

50

75

100 Com imunossupresor

Sem imunossupresor

Crohn

sem dispepsia com dispepsia

Pac

ien

tes

(%)

*

Figura 5. Uso de imunossupressor entre pacientes com doença de Crohn sem e com sintomas dispépticos. Onde cada grupo (sem dispepsia e com dispepsia) corresponde a 100%. As barras representam a porcentagem dos pacientes sem ou com sintomas dispépticos que utilizaram imunossupressores (azatioprina/6-mercaptopurina). (*) P<0,05 (teste exato de Fisher).

61

0

25

50

75

100Sem dispepsiaCom dispepsia

Pac

ien

tes

(%)

A1/A2 A3

A-

0

25

50

75

100 Sem dispepsiaCom dispepsia

B1/B3 B2

Pac

ien

tes

(%)

B-

0

10

20

30

40

50Sem dispepsiaCom dispepsia

L1 L2 L3

Pac

ien

tes

(%)

C-

Figura 6. Distribuição percentual dos pacientes com doença de Crohn sem e com sintomas dispépticos de acordo com a classificação de Montreal. Onde cada grupo (sem dispepsia e com dispepsia) corresponde a 100%. No painel A, observa-se divisão por idade de apresentação, no painel B por comportamento e no painel C por localização.

62

4.5 Resultados dos testes de esvaziamento gástrico: portadores de doença de Crohn

sem dispepsia versus com dispepsia

Os dados referentes ao teste de esvaziamento gástrico dos pacientes com doença

de Crohn estão representados na figura 7. De acordo com o que mostram os gráficos

abaixo, observa-se que em relação ao t 1/2 (ver painel B) os pacientes com dispepsia

(PADYQ ≥ 6) apresentaram um significativo (p=0,04) retardo do esvaziamento gástrico

(t 1/2: 203,2 ± 9,9 minutos) quando comparados com pacientes sem dispepsia (t 1/2:

176,6 ± 11,1 minutos). Por outro lado, a análise do painel A não demonstrou diferença

estatística (p=0,30) no t lag na comparação entre o grupo com dispepsia (t lag: 132,8 ±

5,4 minutos) e o grupo sem dispepsia (t lag: 120,8 ± 7,3 minutos).

A figura 8 ilustra dois exemplos de curvas de esvaziamento gástrico de sólidos

em pacientes com doença de Crohn obtidas a partir do teste respiratório utilizando o

13C-ácido octanóico. As curvas avaliam a dose acumulada de 13C-ácido octanóico

expirada em relação ao tempo de teste. O painel A mostra um exemplo de curva de

esvaziamento gástrico de sólidos que se processou em um tempo normal, apresentada

por paciente sem dispepsia. O painel B ilustra um exemplo de curva de esvaziamento

que se processou com retardo, apresentada por um paciente com dispepsia. Observa-se

que, para um determinado tempo de teste, a dose acumulada de 13C-ácido octanóico foi

maior na curva superior que na curva inferior. Ou seja, o tempo necessário para que

uma maior parte do substrato fosse esvaziado, metabolizado e expirado foi maior na

curva inferior que na curva superior. Pode-se inclusive observar que o formato da curva

obtida nos dois exemplos mostrados é diferente, com a curva inferior representando

aproximadamente o início da curva superior.

63

t lag

0

100

200

300

sem dispepsia com dispepsia

Crohn

A-

MIN

UTO

St 1/2

0

100

200

300 *

sem dispepsia com dispepsia

Crohn

B-

MIN

UTO

S Figura 7. Esvaziamento gástrico de sólidos em pacientes com doença de Crohn sem e com dispepsia. Painel A: avaliação do t lag. Painel B: avaliação do t 1/2. As barras horizontais representam a média dos valores encontrados. (*) P<0.05 (teste t de Student).

64

A-

B-

Figura 8. Curvas de esvaziamento gástrico de sólidos em portadores de Doença de Crohn. Painel A: paciente H.G.G., grupo sem dispepsia. Painel B: paciente M.P.B., grupo com dispepsia.

65

4.6 Relações entre os sintomas dispépticos e os parâmetros de esvaziamento gástrico

Os escores obtidos para cada sintoma avaliado no Questionário de Porto Alegre

para Sintomas Dispépticos (PADYQ) foram analisados juntamente com os parâmetros

de esvaziamento gástrico (t1/2 e t lag) na intenção de tentar definir relações entre a

presença e intensidade de determinado sintoma dispéptico com a presença de retardo de

esvaziamento gástrico.

A figura 9 mostra que, dentre os sintomas avaliados, apenas o sintoma vômito

apresentou associação estatisticamente significativa (p=0,03) entre os escores obtidos

no PADYQ e a presença de retardo no esvaziamento gástrico, representado por um

valor de t 1/2 maior que 200 minutos. Por outro lado, não se demonstrou associação

entre os demais sintomas (dor em andar superior do abdome, náusea, distensão

abdominal e saciedade precoce) e a presença ou não de retardo no esvaziamento

gástrico para sólidos.

Além disso, dentre todos os sintomas estudados, uma correlação linear positiva e

significativa foi encontrada apenas entre os valores obtidos para o esvaziamento

gástrico e as pontuações no PADYQ para o sintoma vômito (p=0,04).

66

0

2

4

6

8

10 T1/2 <200 minT1/2 >200 min

*

Dor Náusea Vômitos Distensão Saciedade

PA

DY

Q (

ES

CO

RE

S)

Figura 9. Relação entre a gravidade dos sintomas e o esvaziamento gástrico de sólidos em pacientes portadores de doença de Crohn com sintomas dispépticos. A figura mostra os escores no PADYQ nos subgrupos de pacientes com esvaziamento gástrico normal (t 1/2 < 200 min) e naqueles com retardo de esvaziamento gástrico (t 1/2 > 200 min). (*) P<0.05 (teste t de Student).

67

5. DISCUSSÃO

68

O presente estudo, sobre a relação entre sintomas dispépticos e alterações de

esvaziamento gástrico em pacientes com doença de Crohn em remissão, evidenciou que

ocorre retardo no esvaziamento gástrico de alimentos sólidos nesses pacientes quando

comparados com indivíduos sadios. De acordo com nossos resultados, esse distúrbio de

motilidade parece estar associado com a presença de sintomas dispépticos, o que pôde

ser demonstrado através da associação positiva entre a presença de retardo no

esvaziamento gástrico e a presença do sintoma vômito, mesmo na ausência de qualquer

evidência de obstrução gastrointestinal.

Foi descrito em estudos anteriores (SIMRÉN et al., 2002; MINDERHOUD et

al., 2004; FARROKHYAR et al., 2006; KRISTINSSON et al., 2007) que os pacientes

com doença de Crohn apresentam sintomas dispépticos com maior freqüência que a

população geral, mesmo quando não há indícios de atividade inflamatória. SIMRÉN et

al. (2002) descreveram uma prevalência duas a três vezes maior desses sintomas nos

pacientes com doença de Crohn em longos períodos de remissão, quando comparado

com a população saudável. MINDERHOUD et al. (2004) e FARROKHYAR et al.

(2006) encontraram uma porcentagem de 42% e 26%, respectivamente, de pacientes

com doença de Crohn em remissão que apresentavam sintomas gastrintestinais

funcionais, principalmente dor abdominal, de acordo com os critérios de Roma II. A

série de casos apresentada por KRISTINSSON et al. (2007) mostra que pacientes com

doença de Crohn sem evidência de atividade inflamatória podem apresentar sintomas

dispépticos intensos e de difícil manejo clínico.

Distúrbios na motilidade gastrointestinal têm sido observados em pacientes e

em modelos experimentais de doenças de Crohn (ANNESE et al., 1995 e 1997;

69

KOHNO et al., 2006; DE SCHEPPER et al., 2007; FAURE e GIGUÈRE, 2008;

KELLER et al., 2009). No entanto, a associação entre dismotilidade gástrica e a

presença de sintomas dispépticos nos pacientes portadores dessa patologia ainda não foi

totalmente definida. Nossos resultados mostram que pacientes com doença de Crohn em

remissão apresentaram retardo no esvaziamento gástrico, com t 1/2 e t lag medidos

através do teste respiratório com 13C-ácido octanóico, significativamente prolongados

quando comparados com controles saudáveis, o que está em conformidade com os

dados da literatura. O estudo de ANNESE et al. concluiu que o esvaziamento gástrico

medido pelo estudo cintilográfico foi lentificado em pacientes com doença de Crohn

não obstrutiva que apresentavam sintomas dispépticos (ANNESE et al., 1995). Os

mesmos autores demonstraram em estudo posterior (ANNESE et al., 1997) que o

esvaziamento gástrico retardado na doença de Crohn em remissão pode ocorrer devido a

uma diminuição da taxa de contração antro-duodenal. Seus resultados mostraram que no

estado pós-prandial os pacientes com doença de Crohn em remissão apresentavam

hipomotilidade antral caracterizada por uma diminuição no número de contrações. Dado

semelhante foi encontrado por KOHNO et al. (2006) em estudo de motilidade realizado

através de eletrogastrografia e ultrassonografia, no qual pacientes com doença de Crohn

apresentaram retardo do esvaziamento gástrico quando comparados a indivíduos

saudáveis. Além disso, KELLER et al. demonstraram que pacientes com doença de

Crohn tinham atraso no esvaziamento gástrico medido pelo mesmo teste respiratório

com 13C-ácido octanóico utilizado por nós e que esse transtorno poderia ser explicado

em parte por uma secreção aumentada de colecistocinina (CCK) (KELLER et al., 2009).

Outra possibilidade poderia ser um aumento da complacência gástrica nestes pacientes.

No entanto, atualmente, até onde se tem conhecimento, não há estudos disponíveis

sobre complacência gástrica em pacientes com doença de Crohn. O papel do processo

70

inflamatório intestinal na gênese de distúrbios na motilidade do trato digestivo superior

foi avaliada por DE SCHEPPER et al., que mostraram um esvaziamento gástrico

retardado em modelos experimentais de colite aguda (DE SCHEPPER et al., 2007). Tal

estudo aponta uma possível explicação para a presença de distúrbios de motilidade

gástrica ocorrendo longe do sítio inflamatório. No caso do nosso estudo, apesar do fato

de os pacientes participantes não terem apresentado nenhuma evidência clínica de

atividade inflamatória intestinal, não podemos descartar a possibilidade de graus leves

de inflamação subclínica como uma possível causa de seus sintomas dispépticos.

A fim de analisar a relação entre esvaziamento gástrico e sintomas dispépticos

em pacientes com doença de Crohn em remissão, subdividimos os pacientes estudados

de acordo com sua pontuação total no Questionário de Porto Alegre para Sintomas

Dispépticos (PADYQ) em dispépticos (escore ≥ 6) e não-dispépticos (escore<6)

(SANDER et al, 2004). Nossos resultados mostraram que os pacientes portadores de

doenças de Crohn com sintomas dispépticos apresentaram um t 1/2 significativamente

maior, ou seja, um retardo significativo no tempo de esvaziamento gástrico, quando

comparados a pacientes sem sintomas dispépticos. No entanto, não houve diferença

estatística no t lag entre os dois subgrupos. Uma possível explicação para esse achado é

que esses pacientes podem apresentar mais distúrbios de contratilidade antral do que

distúrbios de acomodação. Entretanto, nosso estudo não foi capaz de avaliar esta

hipótese.

Como ocorre na dispepsia funcional, alguns autores tentaram encontrar

associações entre sintomas dispépticos e retardo no esvaziamento gástrico que, por sua

vez, foi observado em apenas 23-26% dos pacientes com dispepsia funcional

71

(SARNELLI et al., 2003; KARAMANOLIS et al., 2006; TRONCON et al., 2006). Em

pacientes com doença de Crohn e sintomas dispépticos, observou-se que 40% deles

demonstravam retardo do esvaziamento gástrico. Da mesma forma como foi descrito

para dispepsia funcional, pode haver outros mecanismos fisiopatológicos envolvidos na

gênese dos sintomas dispépticos na doença de Crohn, como hipersensibilidade visceral,

déficit de acomodação e distúrbios na contratilidade antro-duodenal (TRONCON et al.,

2006). Seguindo esse raciocínio, foi demonstrado (FAURE e GIGUÈRE, 2008) que em

crianças com doença de Crohn em remissão que sofrem de dor abdominal crônica

funcional, o limiar sensorial para a dor retal medido por barostato foi significativamente

menor em comparação com indivíduos saudáveis. Partindo desse achado em pacientes

com sintomas retais, poderíamos inferir que hipersensibilidade visceral poderia ser uma

possível explicação para a presença de sintomas dispépticos neste tipo de pacientes,

sobretudo a dor.

Um dos achados mais relevantes no presente estudo foi que os pacientes com

doença de Crohn sem dispepsia, proporcionalmente fizeram mais uso de drogas

imunossupressoras (azatioprina-6MP) do que os pacientes com dispepsia (vide figura

5), com significância estatística (p=0,04). Vale ressaltar que todos aqueles que estavam

em remissão com uso de imunossupressores faziam uso dessas medicações há mais de

três meses. Esta constatação traz à discussão uma possível importância da cicatrização

da mucosa neste grupo de pacientes, uma vez que do ponto de vista de atividade clínica

da doença, medida pelo CDAI, não houve diferenças entre os dois subgrupos de

pacientes. A relevância clínica da cicatrização da mucosa foi recentemente considerada

por diversos autores (ETCHEVERS et al., 2008; COLOMBEL et al., 2010; HA e

KORNBLUTH, 2010) que defendem que, ao contrário do que ocorre com os esteróides,

72

imunossupressores e agentes biológicos estão associados com uma alta taxa de

cicatrização da mucosa. Se entendermos que a cura da mucosa é de fato um resultado

clínico relevante, podemos inferir que os pacientes sem dispepsia, que por sua vez

usavam imunossupressores em maior porcentagem que aqueles com dispepsia,

poderiam ter um melhor controle da doença e que isso se refletiria nos menores índices

de sintomas dispépticos.

No que diz respeito à associação de sintomas dispépticos e alterações na

motilidade dos pacientes estudados, observamos que o sintoma vômito foi o único

consistentemente associado com a presença de retardo no esvaziamento gástrico de

sólidos (Figura 3). Uma vez que estamos considerando a presença de sintomas

dispépticos, é importante relatar que nossos resultados estão em conformidade com as

observações de SARNELLI et al., que mostrou uma associação de taxa de esvaziamento

retardado de uma refeição sólida com vômitos em pacientes com dispepsia funcional

(SARNELLI et al., 2003). Apesar das grandes diferenças entre ambos os estudos, a

presença de associações semelhantes entre o sintoma vômito e retardo no esvaziamento

gástrico confirma a força da possível ligação entre esse mecanismo fisiopatológico e a

presença do sintoma. No caso de pacientes portadores de doença de Crohn, a ocorrência

de obstrução duodenal poderia ser uma possível explicação para o sintoma vômito.

Entretanto, além de ser uma condição rara mesmo nos pacientes em plena atividade da

doença (MOTTET et al., 2007 apud FIELDING et al., 1970; WAGTMANS et al.,

1997), nenhum dos nossos pacientes tinham evidências clínicas, endoscópicas ou

radiológicas que sugerissem a presença de obstrução. Nesse sentido, é importante referir

que a ocorrência de retardo no esvaziamento gástrico foi previamente demonstrada em

pacientes com doença de Crohn não obstrutiva (ANNESE et al., 1995). Além disso, a

73

análise dos dois subgrupos no nosso estudo não evidenciou diferenças com relação à

presença de obstrução intestinal ou em relação à história prévia de cirurgia abdominal.

O exame de endoscopia digestiva alta que foi realizado nos pacientes com

doença de Crohn considerados dispépticos mostrou-se normal ou com mínimos achados

endoscópicos, sendo o achado mais freqüente a presença de gastrite enantematosa pela

classificação de Sydney (TYTGAT, 1991). Como já mencionado acima, pesquisamos a

presença de infecção atual pelo H. pylori em todos os pacientes com doença de Crohn

estudados, não tendo sido observadas diferenças estatísticas entre os grupos de

pacientes com ou sem sintomas dispépticos. Acerca desse tópico, existe uma discussão

sobre a possível influência da infecção pelo H. pylori na fisiopatologia da dispepsia

funcional, bem como na gênese de distúrbios motores do trato digestivo superior.

Entretanto, vários estudos não foram capazes de demonstrar essa associação. Uma

revisão sistemática realizada por DANESH et al. (2000) não demonstrou associação

estatisticamente significativa entre a infecção crônica pelo H. pylori e dispepsia.

CHANG et al. (1996) realizaram teste de esvaziamento gástrico de sólidos digeríveis e

não digeríveis em pacientes com dispepsia funcional utilizando tanto teste respiratório

(usando como substrato o 14C) quanto cintilografia e evidenciaram que não houve

diferenças entre pacientes com e sem infecção pelo H. pylori. LEONTIADIS et al.

(2004) mostraram que nos pacientes com dispepsia funcional e retardo de esvaziamento

gástrico, esse achado não foi associado com a infecção pelo H. pylori nem modificado

após erradicação da infecção. Por outro lado, existem consensos de conduta na dispepsia

funcional que orientam a erradicação do H. pylori (MALFERTHEINER et al., 2007).

74

Os mecanismos exatos da gênese dos sintomas dispépticos em pacientes com

doença de Crohn em remissão ainda são desconhecidas, mas os nossos resultados

sugerem que o esvaziamento gástrico, clinicamente traduzido como gastroparesia,

poderia explicar pelo menos parte desses sintomas. Além de tudo que já foi discutido

alguns autores já demonstraram a forte influência que fatores psicológicos podem

exercer sobre a gênese das queixas crônicas nesses pacientes (SIMRÉN et al., 2002;

MINDERHOUD et al. e LICHTENSTEIN et al., 2004; FARROKHYAR et al., 2006;

MORENO-JIMÉNEZ et al., 2007), tornando o padrão e a intensidade desses sintomas

mais variável e mais difícil para gerir ao longo do tempo. Da mesma forma, apesar de

não ter sido objeto de avaliação no nosso estudo, distúrbios psicossociais têm sido

freqüentemente associados à dispepsia funcional. Alguns estudos mostram que existem

evidências de uma possível associação entre fatores emocionais e dismotilidade gástrica

na dispepsia funcional, e que alterações no estímulo aferente vagal gástrico poderiam

ser, pelo menos em parte, responsáveis por essa associação (SIMRÉN e TACK, 2006

apud HAUG et al., 1994). Em outro estudo foi demonstrado que em pacientes com

dispepsia funcional e hipersensibilidade gástrica avaliada pelo teste do barostato, a

presença de ansiedade foi significativa e negativamente associada com limiar para

desconforto, limiar de dor e complacência gástrica (VAN OUDENHOVE et al., 2007).

De acordo com estudo mais recente do mesmo grupo, a intensidade dos sintomas e

inclusive a perda de peso em pacientes em dispepsia funcional, principalmente naqueles

com hipersensibilidade gástrica, seriam determinados mais pela influência de fatores

como depressão, história de abuso e somatização que pela presença de distúrbios

motores e sensoriais gástricos (VAN OUDENHOVE et al., 2008). Ainda não está claro

se essas anormalidades psicossociais têm um papel fisiopatológico relevante ou apenas

75

refletem um padrão comportamental de maior percepção sintomatológica e de busca por

atenção médica.

Dentre os possíveis problemas apontados por nós no presente estudo está o

pequeno número da amostra. Isso se deve principalmente ao fato de a doença de Crohn

ser uma patologia ainda pouco prevalente na nossa população, embora cada vez mais

casos sejam diagnosticados, seja pelo melhor acesso da população ao serviço

especializado, seja por mudanças no perfil imunológico e social dessa mesma população

(SOUZA et al., 2002). Além disso, no nosso estado existem apenas dois serviços

públicos de referência que realizam atendimento a pacientes portadores de doença de

Crohn, e a população do nosso estudo foi selecionada em apenas um desses centros.

Um outro ponto a ser considerado é o fato de termos utilizado um questionário

como instrumento para avaliação sintomática dos pacientes. Embora o referido

questionário tenha sido validado para este fim, trata-se de um método indireto e,

portanto, sujeito a subjetividade. Ainda sobre a metodologia, o teste respiratório

utilizando o 13C-ácido octanóico para medir o esvaziamento gástrico é um método,

indireto e, que, apesar de não constituir o padrão ouro nesse tipo de avaliação, mostrou

ser confiável e reprodutível para este fim (PARKMAN, 2009; DICKMAN et al., 2011).

Em relação aos resultados obtidos, podemos observar que, por se tratar de um

estudo transversal, não há como ter certezas em relação ao tempo de sintomas de um

dado paciente. Ou seja, se a dispepsia apresentada por ele já existia antes da doença de

Crohn ou não. Neste estudo não podemos definir se estas duas patologias distintas

(dispepsia e doença de Crohn) estão presentes simultaneamente ou se existe uma relação

causal entre elas.

76

6. CONCLUSÃO

77

Nosso estudo mostrou mais uma vez que pacientes com doença de Crohn,

mesmo quando em remissão da doença, apresentam esvaziamento gástrico lentificado

quando comparados a indivíduos saudáveis de mesmo sexo e idade. Nossos resultados

indicam também que existe associação entre a presença de retardo no esvaziamento

gástrico e a presença de sintomas dispépticos nesses pacientes. Dentre os sintomas

avaliados, a associação que mostrou ser significativa foi entre a presença do sintoma

vômito e o retardo no esvaziamento gástrico, ainda que na ausência de qualquer

evidência de obstrução gastrointestinal.

Além disso, observamos que a porcentagem de pacientes portadores de doença

de Crohn considerados sem dispepsia que faziam uso de imunossupressores foi maior

que a porcentagem apresentada por aqueles considerados com dispepsia. Este dado pode

ter relevância clínica, uma vez que pacientes sintomáticos, mesmo sem evidências de

atividade inflamatória, poderiam apresentar algum benefício com o uso precoce dos

imunossupressores.

78

7. BIBLIOGRAFIA

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85

8. ANEXOS

86

ANEXO A - QUESTIONÁRIO DE PORTO ALEGRE PARA SINTOMAS DISPÉPTICOS (PADYQ)

QUESTIONÁRIO DE PORTO ALEGRE PARA SINTOMAS DISPÉPTICOS Paciente: _______________________________________ Prontuário: ____________ Idade: ______ Nome da mãe: ___________________________________________ Fone: ______________ Endereço: _________________________________________ Referência: ____________________________________________________________ Em relação aos últimos 30 dias:

DOR I. Como você descreve a intensidade da dor no andar superior do abdome na

maioria dos dias nesse período? 0. Ausente 1. Muito leve 2. Leve 3. Moderada 4. Intensa 5. Muito intensa

II. Qual a duração da dor na maioria dos dias nesse período?

0. Não se aplica 1. Poucos minutos (menos de 30 minutos) 2. Menos de 2 horas 3. Mais de 2 horas

III. Com que freqüência você sentiu dor no andar superior do abdome nos últimos

30 dias? 0. Não se aplica 1. Raramente 2. 1 a 2 dias na semana 3. Quase diariamente 4. Diariamente

Escore total para dor em andar superior do abdome: _____ (máximo 12 pontos)

NÁUSEA I. Qual a intensidade da sua náusea na maioria dos dias nesse período?

0. Ausente 1. Muito leve 2. Leve

87

3. Moderada 4. Intensa 5. Muito intensa

II. Qual a duração dos episódios de náusea?

0. Não se aplica 1. Poucos minutos (menos de 30 minutos) 2. Menos de 2 horas 3. Mais de 2 horas

III. Com que freqüência sentiu náusea nos últimos 30 dias?

0. Não se aplica 1. Raramente 2. 1 a 2 vezes por semana 3. Quase diariamente 4. Diariamente

VÔMITOS I. Com que freqüência vomitou nos últimos 30 dias?

0. Não se aplica 1. Raramente 2. 1 a 2 vezes por semana 3. Quase diariamente 4. Diariamente

Escore total para náusea/vômitos: _____ (máximo 16 pontos) DISTENSÃO EM ABDOME SUPERIOR I. Qual a intensidade da sensação de distensão em abdome superior (sensação de

estar cheio, com o abdome aumentado) nos últimos 30 dias? 0. Ausente 1. Muito leve 2. Leve 3. Moderada 4. Intensa 5. Muito intensa

II. Qual a duração dos episódios durante esse período?

0. Não se aplica 1. Poucos minutos (menos de 30 minutos) 2. Menos de 2 horas 3. Mais de 2 horas

88

III. Com que freqüência você sentiu distensão/enchimento no andar superior do

abdome nos últimos 30 dias? 0. Não se aplica 1. Raramente 2. 1 a 2 vezes por semana 3. Quase diariamente 4. Diariamente

SACIEDADE PRECOCE I. Nos últimos 30 dias, com que freqüência você sentiu que o seu estômago estava

cheio logo após iniciar uma refeição? 0. Não se aplica 1. Raramente 2. 1 a 2 vezes por semana 3. Quase diariamente 4. Diariamente

Escore total para distensão andar superior do abdome/saciedade precoce: _____ (máximo 16 pontos) ESCORE TOTAL PARA SINTOMAS DISPÉPTICOS: _____ (máximo 44 pontos)

89

ANEXO B - FICHA DE COLETA DE DADOS DOS PACIENTES

DATA: ___/___/___ NOME: _______________________________________________________ PRONT: ________________ SEXO: � 1= Masc.; 2= Femin FONE: ____________________________ PROCED:______________________ OCUPAÇÃO: �� (Descrição 1) DN: ____/____/____ ESTADO CIVIL: � 1=Solteiro; 2= Casado; 3=Viúvo; 4= Desquitado; 5= Divorciado; 6= Relação estável não casado; 9= Não referido ANTECEDENTES Doenças crônicas associadas �1= Sim; 2= Não. Qual? ___________________________�� HIV �1= Sim; 2= Não; 9= Não pesquisado Tabagismo atual � 1= Sim; 2= Não; 9= Não referido Tabagismo pregresso � 1= Sim; 2= Não; 9= Não referido APRESENTAÇÃO CLÍNICA Duração quadro clínico (até admissão) �1= < 1 a; 2= 1-2 a; 3= 2- 5 a; 4= > 5 a; 9= Não referido Ano início dos sintomas: _________ Ano do diagnóstico: __________ MONTREAL: A ____ LOCALIZAÇÃO DA DOENÇA: Íleo � 1= Sim; 2= Não; 9= Não referida Cólon � 1= Sim; 2= Não; 9= Não referida Íleo-cólon � 1= Sim; 2= Não; 9= Não referida Trato digestivo alto isoladamente � 1= Sim; 2= Não; 9= Não referida MONTREAL: L ____ COMPORTAMENTO (SINTOMAS): Diarréia (> 3x/dia) � 1= Sim; 2= Não; 9= Não referida. Dor abdominal � 1= Sim; 2= Não; 9= Não referida. Sangramento � 1= Sim; 2= Não; 9= Não referido. Tenesmo � 1= Sim; 2= Não; 9= Não referido. Doença perianal � 1= Sim; 2= Não; 9= Não referida. Fístula � 1= Sim; 2= Não; 9= Não referida Abscesso � 1= Sim; 2= Não; 9= Não referida Perfuração � 1= Sim; 2= Não; 9= Não referida Estenose � 1= Sim; 2= Não; 9= Não referida Manifestações extra- intestinais � 1= Hepatobiliares: colangite, litíase e alterações nos testes de função hepática (descartada outras etiologias); 2= Articulares: Poliartrite, artralgias, espondilite anquilosante e sacroileite; 3= Oftalmológicas: Uveíte; 4= Cutâneas: Eritema nodoso, pioderma gangrenoso; 5= Mais de uma: Quais? ___________________________________________________��; 9= Ausente. (Descrição 5) Febre � 1= Sim; 2= Não; 9= Não referida. Perda de peso � 1= Sim; 2= Não; 9= Não referida. Anorexia � 1= Sim; 2= Não; 9= Não referida. Fraqueza � 1= Sim; 2= Não; 9= Não referida.

90

Anemia � 1= Sim; 2= Não, 9= Não referida. Manifestações tromboembólica � 1= Sim Local? ______________________��; 2= Não. MONTREAL: B _____ SINTOMAS DISPÉPTICOS: Dor abdome superior � 1= Sim; 2= Não, 9= Não referida Náuseas � 1= Sim; 2= Não, 9= Não referida Vômitos � 1= Sim; 2= Não, 9= Não referida Saciedade precoce � 1= Sim; 2= Não, 9= Não referida Distensão abdome superior � 1= Sim; 2= Não, 9= Não referida Empachamento pós-prandial � 1= Sim; 2= Não, 9= Não referida CIRURGIAS REALIZADAS: DATA:___________CIRURGIA:__________________________________________________________ DATA:___________CIRURGIA:__________________________________________________________ DATA:___________CIRURGIA:__________________________________________________________ COLONOSCOPIAS: 1. DATA:__________ � 1= Retossigmoide 2= Cólon E; 3= Cólon D; 4= Pancolite; 5= Lesão salteada mais de 1 lugar; 6= Ileo- Cecal; 7= Normal; 9=Não realizado BIÓPSIA:______________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 2. DATA:__________ � 1= Retossigmoide 2= Cólon E; 3= Cólon D; 4= Pancolite; 5= Lesão salteada mais de 1 lugar; 6= Ileo- Cecal; 7= Normal; 9=Não realizado BIÓPSIA: ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ RETOSSIGMOIDOSCOPIAS: 1. DATA:__________ �1= Reto; 2= Sigmoide; 3= Retossigmoide; 4= Normal; 9= Não realizado. BIÓPSIA:______________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 2. DATA:__________ �1= Reto; 2= Sigmoide; 3= Retossigmoide; 4= Normal; 9= Não realizado. BIÓPSIA:______________________________________________________________ ______________________________________________________________________ TRÂNSITO INTESTINAL: DATA:__________ �1= Duodeno; 2= Jejuno; 3= Íleo; 4= Íleo- Cecal; 5= Lesão salteada mais de 1 local; 6= Normal; 9= Não realizado. ENEMA OPACO: DATA:__________ � 1= Retossigmoide 2= Cólon E; 3= Cólon D; 4= Pancolite; 5= Lesão salteada mais de 1 lugar; 6= Normal; 9=Não realizado ULTRASSOM ABDOME: DATA:_________LAUDO:______________________________________________________________________________________________________________________ TOMOGRAFIA ABDOME: DATA:________LAUDO:_______________________________________________________________

91

RESSONÂNCIA ABDOME E/OU PELVE: DATA:________LAUDO:_______________________________________________________________ ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA: DATA:___________LAUDO:____________________________________________________________ VITAMINA B12: 1. DATA:__________ DOSAGEM: ____________ (valor normal: _________________) 2. DATA:__________ DOSAGEM: ____________ (valor normal: _________________) OUTROS EXAMES: TIPO:__________DATA:__________RESULTADO:__________________________________________ TIPO:__________DATA:__________RESULTADO:_________________________________________________________________________________________________ TRATAMENTO DERIVADOS DO 5-ASA: � 1= Sim; 2= Não TIPO:___________________INÍCIO:__________SUSPENSÃO:__________ REAÇÕES ADVERSAS:_________________________________________________________________________________________________________________________________ IMUNOSSUPRESSORES: � 1= Sim; 2= Não TIPO:___________________INÍCIO:__________SUSPENSÃO:___________ REAÇÕES ADVERSAS:_________________________________________________________________________________________________________________________________ TERAPIA BIOLÓGICA: � 1= Sim; 2= Não TIPO:_____________________INÍCIO:___________SUSPENSÃO:__________ REAÇÕES ADVERSAS:_________________________________________________________________________________________________________________________________ REMISSÃO (primeiros 12 meses) � 1= Sim- medicação todo período; 2= Sim- medicação período parcial; 3= Sim s/ medicação; 0= Não. Tempo de remissão � 1= <3m; 2= 3- 6m; 3= 6- 12m; 4= >12m; 9= Não referido; 0= Sem remissão. ÓBITO � 1= Sim; 2= Não Óbito relacionado à doença � 1= Perfuração; 2= Toxemia/ sepse; 3= Desnutrição; 4= Síndrome do intestino curto; 5= Carcinomas coloretais, carcinomatose peritoneal com foco primário desconhecido, neoplasia de ductos biliares; 9= Não referido; 0= Não. Data da última consulta: ___/___/___ ANEXO C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

92

Sintomas dispépticos em pacientes com doença de Crohn em remissão - avaliação de distúrbios no esvaziamento gástrico

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Responsáveis: Dr. Marcellus Henrique Loiola Ponte de Souza (orientador)

Dra. Ana Carolina de Mello Nóbrega (pós-graduanda)

Você está sendo convidado a participar de um projeto de pesquisa. Sua participação é importante, porém não deve participar contra a sua vontade. Depois de ler as informações abaixo, ouça com atenção às explicações que lhe serão dadas e faça qualquer pergunta que desejar para que todos os procedimentos desta pesquisa sejam devidamente esclarecidos.

O abaixo assinado _____________________________________________________________, _____ anos, RG __________________ SSP-CE, prontuário ___________________, declara que é de livre e espontânea vontade que está participando como voluntário do projeto citado acima e está ciente que:

1-O objetivo da pesquisa é identificar a presença de sintomas dispépticos (exemplo: dor abdominal, náuseas, empachamento, sensação de estar cheio de gases etc) em pacientes com doença de Crohn em inatividade e correlacionar esses sintomas a possíveis alterações no processo de esvaziamento do estômago para alimentos sólidos nesses pacientes. Dizemos que o paciente tem doença de Crohn inativa levando em considerações critérios clínicos (exemplo: ausência de diarréia, febre, dor abdominal forte, complicações articulares etc) e laboratoriais (exemplo: ausência de anemia).

2-Deve responder a um questionário (Questionário Porto Alegre para Sintomas Dispépticos) antes do teste de esvaziamento do estômago, a fim de que possamos saber se apresenta algum sintoma dispéptico (ver exemplos no tópico acima), com que freqüência e gravidade.

3- Na pesquisa será feita uma comparação entre dois grupos: grupo de estudo e grupo controle. O grupo de estudo é formado por pacientes portadores de doença de Crohn acompanhados no Ambulatório de Doença Inflamatória Intestinal do Hospital Universitário Walter Cantídio, com critérios de inatividade (ver tópico 1), que serão convidados a participar durante sua consulta regular no serviço. O grupo controle é composto por pessoas saudáveis, ou seja, sem doença de Crohn e sem sintomas dispépticos, que serão recrutadas voluntariamente e que também serão submetidas ao teste de esvaziamento gástrico.

93

4-O teste de esvaziamento gástrico (do estômago) é realizado após no mínimo 6 horas de jejum. Nesta pesquisa é feito através da ingestão de um alimento sólido (no caso um ovo cozido) contendo ácido octanóico, uma substância que será dosada na respiração através de um equipamento específico a cada 15 minutos durante 4 horas, que é o tempo total do teste. Durante esse período o participante deve permanecer sentado em repouso. Tal substância é totalmente inofensiva ao organismo, podendo ser ingerida por qualquer pessoa, inclusive crianças e mulheres grávidas.

5-Durante a semana que antecede o teste o participante não pode fazer uso das seguintes medicações: omeprazol, bromoprida, metoclopramida, domperidona e evitar a ingestão de farinha de milho e abacaxi.

6- Todas as informações prestadas pelo paciente e adquiridas durante essa pesquisa são sigilosas e confidenciais, apenas acessíveis ao próprio paciente e aos pesquisadores responsáveis.

7-Obteve todas as informações necessárias para decidir conscientemente sobre sua participação na pesquisa.

8-Tem a liberdade de desistir ou interromper a participação neste estudo no momento que desejar, sem necessidade de qualquer explicação e sem que isso venha a interferir no seu atendimento nesta instituição.

9-Tem permissão para procurar os médicos responsáveis a qualquer dia e hora pelos telefones que lhe serão fornecidos (Dr.Marcellus : 9921-0970 / Dra. Ana Carolina 9982-7373) ou no Ambulatório de Doença Inflamatória Intestinal (quinta-feira, manhã salas 7-12) no Setor de Ambulatórios do Hospital Universitário Walter Cantídio-UFC.

10-Poderá contatar a Secretaria da Comissão de Ética (fone: 85.3288.8338) para apresentar recursos ou reclamações em relação ao estudo.

11-Os médicos responsáveis o manterão informado e prestarão qualquer tipo de esclarecimento quanto ao progresso da pesquisa, conforme solicitação do paciente.

Fortaleza/CE, / /

____________________________________________ Assinatura do paciente

94

ANEXO D – APROVAÇÃO DO ESTUDO PELO COMITÊ DE ÉTICA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO WALTER CANTÍDIO (HUWC)

95

ANEXO E – ARTIGO SUBMETIDO PARA PUBLICAÇÃO NO PERIÓDICO DIGESTIVE DISEASES AND SCIENCES

DYSPEPTIC SYMPTOMS AND DELAYED GASTRIC EMPTYING OF SOLIDS

IN PATIENTS WITH INACTIVE CROHN’S DISEASE.

Ana Carolina de Mello Nóbregaa, Bruno Roberto da Silva Ferreiraa,b, Graciela Josué de

Oliveira a,b, Armênio Aguiar dos Santosb, Miguel Ângelo Nobre e Souzaa, Lúcia Libanês

Bessa Campelo Bragaa, Luiz Ernesto de Almeida Tronconc and Marcellus Henrique

Loiola Ponte de Souzaa, b.

a- Institute of Biomedicine of Brazilian Semi-Arid (INCT-IBISAB), Department of

Medicine, School of Medicine, Federal University of Ceará, Rua Cel. Nunes de Melo,

1315, CEP: 60430-270, Fortaleza- CE, Brazil.

b- Institute of Biomedicine of Brazilian Semi-Arid (INCT-IBISAB), Department of

Physiology and Pharmacology, School of Medicine, Federal University of Ceará, Rua

Cel. Nunes de Melo, 1315, CEP: 60430-270, Fortaleza- CE, Brazil.

c- Department of Medicine, Ribeirão Preto Faculty of Medicine, University of São

Paulo, Ribeirão Preto, 14049-900 São Paulo, Brazil.

Short title: DYSPEPTIC SYMPTOMS AND GASTRIC EMPTYING IN CROHN.

Word count: 4042 words.

Correspondence:

Marcellus Henrique Loiola Ponte de Souza, MD, PhD

Centro de Biomedicina, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Ceará.

Address for reprint requests: Rua Cel. Nunes de Melo, 1315, Rodolfo Teófilo,

Fortaleza-CE, Brazil, CEP: 60.430-270, Phone/Fax: +55-85-33668588.

E-mail: [email protected]

96

ABSTRACT

Introduction: Patients with Crohn’s disease (CD) have been shown to present dyspeptic

symptoms more frequently than the general population. Some of these symptoms could

be related to motility disorders to some degree. Our objectives were to investigate

whether gastric emptying of solids in patients with inactive CD is delayed and to

determine the relationships between gastric emptying and dyspeptic symptoms in

inactive CD. Methods: Twenty-six patients with inactive Crohn’s disease, as defined by

a Crohn’s Disease Activity Index (CDAI) < 150, underwent a gastric emptying test by

breath test using 13C octanoic acid coupled to a solid meal and answered a validated

questionnaire (The Porto Alegre Dyspeptic Symptoms Questionnaire) to assess

dyspeptic symptoms. Patients with scores ≥ 6 were considered to have dyspepsia. The

control group was composed by 14 age- and sex-matched healthy volunteers. Results:

Patients with CD had a significantly longer t 1/2 and t lag (p<0.05) than the controls.

CD patients with dyspepsia had significantly (p<0.05) delayed gastric emptying when

compared to patients without dyspeptic symptoms. When the individual symptom

patterns were analyzed, only vomiting was significantly associated with delayed gastric

emptying (p<0.05). There was no difference between the subgroups of patients with

respect to gender, CDAI scores, disease location, clinical behavior

(obstructive/obstructive) or previous gastrointestinal surgery. Discussion: Delayed

gastric emptying in inactive Crohn’s disease patients seems to be associated with

dyspeptic symptoms, particularly vomiting, even without any evidence of

gastrointestinal obstruction.

97

INTRODUCTION

Crohn’s disease is a chronic condition of unknown etiology in which

inflammatory process may involve any location of gastrointestinal tract (1). Patients

with Crohn’s disease have been shown to present dyspeptic symptoms more frequently

than the general population (2). Although not primarily a motility disorder, some of the

symptoms of Crohn’s disease could be explained by the presence of inflammatory

mucosal changes, tissue swelling and occasional obstruction, which may have important

effects on gastrointestinal motility (3). Disordered motility patterns, including delayed

gastric emptying, visceral hypersensitivity and upper intestinal hypomotility, have been

observed in patients and animals with inflammatory bowel diseases (4-8).

Recently, Kristinsson et al. described a series of four patients with Crohn’s disease

who presented severe symptoms and signs of gastroparesis. They suggest that clinicians

should consider impaired gastric emptying when evaluating patients with Crohn’s

disease who present with symptoms of upper gut dysmotility (9). However, the

association between gastric emptying delay and the presence of mild dyspeptic

symptoms in Crohn’s disease patients remains unclear.

Therefore, we decided to investigate whether gastric emptying of solids in patients

with inactive Crohn’s disease is delayed and to determine the relationships between

gastric emptying and dyspeptic symptoms in this condition.

MATERIALS AND METHODS

Study subjects

The study population consisted of 26 patients (12 men and 14 women, mean age

of 43 years old, ranging 26-67 years old) diagnosed with Crohn’s disease based on

accepted radiological, endoscopic and histological criteria (1) that were followed up in

the outpatient clinics of the Walter Cantídio University Hospital, Fortaleza, State of

98

Ceará, Brazil. Ten patients had ileocolitis, 9 patients had ileitis and in 7 patients, the

disease was limited to the colon. In addition to the disease location, patients were also

evaluated with respect to age, gender, weigh, height, disease behavior (obstructive or

nonobstructive), age at presentation of Crohn’s disease (10,11), status of Helicobacter

pylori infection, current treatment (steroids, 5-ASA derivatives, azathioprine/6-MP and

anti-TNF agents) and previous abdominal surgery. All patients had no evidence of

inflammatory activity, with Crohn’s Disease Activity Index (12) < 150 (mean: 47;

range: 6-104) at the time of the study. Fourteen healthy volunteers (5 men and 9

women; mean age 44 years old; range 19-73 years old) comprised a control group. All

subjects signed consent forms to take part in the study, which was approved by the local

Ethical Committee (protocol number: 049.07.08; date: 10/14/2008).

Subjects were instructed to avoid using any medications known to affect digestive

motility or a diet with 13C enrichment (e.g., corn flour and pineapples) (13) in the week

before the study. Subjects aged < 18 years old, or presenting with diabetes mellitus,

thyroid disorders, autoimmune disorders, renal failure, chronic obstructive lung disease,

egg protein allergy, gastric ulcer and gastric adenocarcinoma were excluded from the

study after the appropriate investigations.

Symptom questionnaire

Before the gastric emptying test, patients and healthy subjects were requested to

complete a previously reported and validated questionnaire named The Porto Alegre

Dyspeptic Symptoms Questionnaire (PADYQ) (14), which is an instrument of

quantitative analysis of dyspeptic symptoms. Patients and healthy volunteers were asked

about the presence, frequency, duration and intensity of five dyspeptic symptoms (pain

in upper abdomen, nausea, vomiting, upper abdominal bloating and early satiety) over

99

the 30-day period prior to the study. Each answer was given a score, with maximum of

44. Patients with a total score of 6 or higher were considered to have dyspepsia (14).

Gastric emptying studies

A gastric emptying test for solids was performed using a previously validated 13C

octanoic acid breath test (13C-OABT) (15-17). After an overnight fast, each patient

received a 250 Kcal meal consisting of 60 g of white bread, 5 g of margarine and 1 egg

(the yolk of which was labeled with 100 mg of 13C octanoic acid and sodium salt). The

meal was ingested in 10 minutes and was followed immediately by 150 mL of water..

Breath samples were obtained from the subjects exhaling into closed aluminized plastic

bags before the meal administration (baseline measurement) and then at 15-minute

intervals for 4 hours. During the test, patients were advised to remain seated and refrain

from physical activity. Both the equipment (IRIS II - 13C-Breath Test System) and

substrate (13C octanoic acid) used were provided by Wagner Analysen Technik GmbH,

Bremen, Germany. The t lag (minutes) was defined the time with maximum speed of

gastric emptying after ingestion of the test meal, and the t 1/2 (minutes) was defined the

time when first half of the 13C-labelled substrate dose of the test meal has been

metabolized. Delayed gastric emptying was defined as a t 1/2 above 200 minutes, taking

into account the manufacture’s reference (http://www.wagner-bremen.de), as well as

data from previous studies (15).

Helicobacter pylori assessment

Each patient was assessed for the presence of H. pylori infection. Patients without

dyspeptic symptoms were submitted to a standard 13C urea breath test. Patients with

dyspeptic symptoms underwent an upper gastrointestinal endoscopy with biopsy

specimens collected from the gastric antrum and corpus for a rapid urea test and

histological analysis.

100

Data analysis

To analyze the relationship between gastric emptying and dyspeptic symptoms in

Crohn’s disease patients, we subdivided the patients according to their total score in the

PADYQ into two subgroups: dyspeptic (score ≥ 6) and non-dyspeptic (score < 6).

Statistical analysis

The clinical characteristics of the patients (e.g., gender, presence of colitis and H.

pylori infection) were compared by Fisher’s exact test. Statistical analysis of clinical

and gastric emptying data was conducted by means of nonparametric and parametric

tests using the Mann-Whitney U test and Student’s t-test, respectively, as needed. In

Crohn’s disease dyspeptic patients, the individual scores of dyspeptic symptoms

(PADYQ) were correlated with the presence of a delay in gastric emptying (t 1/2 > 200

minutes) by using Fisher’s exact test. Pearson rank correlation coefficients were used to

assess the relationship between motility data and PADYQ scores. For all analysis, P <

0.05 was considered to be statistically significant. Statistical analysis was performed

using a commercial software program (GraphPad Prism version 3.0; San Diego, CA,

USA).

RESULTS

Clinical characteristics of the study population

In general, the characteristics of the Crohn’s disease patients and healthy

individuals were similar. The patient group had a mean age 43 years old (range 26-67

years old) and the control group had a mean age of 44 years old (range 19-73 years old),

with no significant difference (p=0.69). Also, there were no differences between these

two groups with respect to weight (patients = 63 Kg and controls = 65 Kg; p=0.80) and

gender: among the patients, 14/26 (53.8%) were women, which was not significantly

different (p=0.73) from the proportion found in the control group, 9/14 (64.3%).

101

Table 1 shows the differences between the two subgroups of patients with Crohn’s

disease. Patients without dyspeptic symptoms used more immunosuppressant drugs

(azathioprine/6-MP) than the group of non-dyspeptic patients (p=0.04). However, there

were not statistical differences between the two subgroups regarding age, weight,

gender, age at presentation of disease, presence of colitis, disease behavior

(obstructive/non obstructive), previous abdominal surgery, H. pylori infection, use of 5-

ASA derivatives or CDAI scores.

Gastric emptying test results

Figure 1 presents the gastric emptying data of patients and healthy subjects and

shows that Crohn’s disease patients had both t 1/2 (192.0 ± 7.7 minutes) and t lag (127.7

± 4.5 minutes) values significantly longer (p<0.05) than those found in healthy controls

(t 1/2 = 169.4 ± 8.8 minutes; t lag = 110.6 ± 6.9 minutes).

When only the data from the Crohn’s disease patients were analyzed (Figure 2),

we found (see panel B) that the symptomatic patients (PADYQ ≥ 6) had a significantly

(p<0.05) delayed gastric emptying (t 1/2 = 203.2 ± 9.9 minutes) when compared with

patients without symptoms (t 1/2 = 176.6 ± 11.1 minutes). However, there was no

statistical difference in the t lag (panel A) between the two subgroups with (132.8 ± 5.4

minutes) or without dyspeptic symptoms (120.8 ± 7.3 minutes).

Relationships between dyspeptic symptoms and gastric emptying parameters

When the scores of dyspeptic symptoms (PADYQ) were analyzed in relation to

the presence of delayed gastric emptying (t 1/2 > 200 minutes) in dyspeptic Crohn’s

disease patients, we found that vomiting had a significant association with the presence

of retarded gastric emptying. Moreover, a significant positive linear correlation was

found only between the values for gastric emptying and the PADYQ scores for

vomiting (p=0.048). However, there were no significant differences in the pain, nausea,

102

bloating and early satiety scores between the subgroups of patients with and without

delayed gastric emptying (Figure 3).

DISCUSSION

Patients with Crohn’s disease have more dyspeptic symptoms than the general

population, even when there is no evidence of inflammatory activity (2, 9, 18, 19).

Disorders in gastrointestinal motility have been observed in patients and in experimental

models of Crohn’s diseases (4-8). However, the association between gastric dysmotility

and the presence of dyspeptic symptoms in these patients had not been previously

investigated Our study demonstrated that there was a delay in gastric emptying in

inactive Crohn’s disease patients when compared with healthy individuals, and this

gastric motility disorder seems to be associated with the presence of dyspeptic

symptoms. In addition, we found a significant association between delayed gastric

emptying and vomiting, even without any evidence of gastrointestinal obstruction.

Our results show that patients with inactive Crohn’s disease had significantly

prolonged gastric emptying half time and lag time measured by 13C-OABT compared

with healthy controls, which is in accordance with results published elsewhere (6, 8).

Annese et al. demonstrated that gastric emptying, measured by a scintigraphic study,

was slowed in patients with nonobstructive Crohn’s disease (6). In addition, Keller et al.

demonstrated that patients with Crohn’s disease had delayed gastric emptying,

measured by a standardized 13C-octanoic acid breath test, and suggested that this

disorder might partly be caused by excessive cholecystokinin (CCK) release (8). The

delayed gastric emptying in inactive Crohn’s disease could be due to a decrease in the

antroduodenal contraction rate, as described by Annese et al. in 1997, which showed

that in the fed state, the inactive Crohn’s disease patients had antrum hypomotility

characterized by a decrease in the number of contractions (4). Another possible

103

explanation for these findings could be an increase in gastric compliance in these

patients. However, at present and to the best of our knowledge, there are no studies

available concerning gastric compliance in patients with Crohn’s disease. The role of

the intestinal inflammatory process in upper motility was evaluated by Schepper et al.

who showed delayed gastric emptying in experimental models of acute colitis (7),

which could be another explanation for the presence of gastric motility disorders away

from the inflammatory site. However, despite the fact that our patients had no clinical

evidence of intestinal inflammatory activity, as shown by very low CDAI scores, we

cannot rule out the possibility of the presence of a mild level of inflammation in these

patients.

To analyze the relationship between gastric emptying and dyspeptic symptoms in

Crohn’s disease patients, we subdivided the patients according to their total score into

dyspeptic (score ≥ 6) and non-dyspeptic (score < 6).

Our results showed that Crohn´s diseases patients with dyspeptic symptoms had

significantly delay in t 1/2 when compared to patients without dyspeptic symptoms.

However, there was no statistical difference in the t lag between the two subgroups.

Then, we can infer that Crohn´s disease patients do not have major disturbances in

gastric accommodation. The association between dyspeptic symptoms and delayed

gastric emptying has been studied in other conditions, such as functional dyspepsia, and

it has been found that only 23-26% of functional dyspeptic patients had delayed gastric

emptying (20, 21). We herein observed delayed gastric emptying in 40% of the patients

with Crohn’s disease and dyspeptic symptoms. As described for functional dyspepsia,

there may be other pathophysiological mechanisms involved in the genesis of dyspeptic

symptoms in Crohn’s disease such as visceral hypersensitivity, impaired

accommodation and disturbed antral-duodenum contractility (22). In accordance, Faure

104

and Giguère already showed that in children with Crohn’s disease in remission suffering

from chronic functional abdominal pain, the rectal sensory threshold for pain, measured

by barostat, was significantly lower compared to normal subjects (5); if this is true for

visceral hypersensitivity, this might be a possible explanation for the presence of

dyspeptic symptoms in our patients.

We found that Crohn’s disease patients without dyspepsia used more often

immunosuppressant drugs (azathioprine-6MP) than patients with dyspepsia (p=0.04).

This finding could indicate a more complete mucosal healing in these patients, which

could not be expressed by a difference in CDAI scores between these two subgroups.

The clinical relevance of mucosal healing has been recently established by different

authors (23-25) who suggest that, in contrast to steroids, immunosuppressants and

biological agents are associated with a high rate of mucosal healing. If mucosal healing

is indeed a relevant clinical outcome, we can infer that patients without dyspepsia, who

use more immunosuppressants, may have better disease control.

We observed that the particular symptom of vomiting was significantly associated

with delayed solid emptying (Figure 3). In regards to dyspeptic symptoms, is important

to note that our findings are in accordance with the observations by Sarnelli et al. who

showed an association of delayed solid meal emptying rate with vomiting in patients

with functional dyspepsia (20). Despite the major differences between the studies, the

presence of similar associations between the vomiting symptom and delayed gastric

emptying confirms the strength of the possible link between pathophysiological

mechanism and symptom complex; in the case of Crohn’s disease patients, duodenal

obstruction could be a possible explanation for this association. Duodenal obstruction is

not a rare condition, yet none of our patients displayed radiological or endoscopic

evidence of it. Also, delayed gastric emptying has been previously demonstrated in

105

patients with nonobstructive Crohn’s disease (6). Besides, there were no differences

between the two subgroups of patients with respect to the presence of obstruction or

previous abdominal surgery.

Upper endoscopy performed in dyspeptic Crohn’s disease patients presented

normal or minor endoscopic findings such as enanthematous gastritis. No significant

differences in H. pylori infection were detected in Crohn’s disease patients with or

without dyspeptic symptoms. It is therefore unlike that these kind of abnormalities

could explain both the presence of dyspeptic symptoms and delayed gastric emptying.

The precise mechanisms of dyspeptic symptoms in patients with inactive Crohn’s

disease are still unknown, but our findings suggest that impaired gastric emptying,

clinically traduced as gastroparesis, could explain at least part of these symptoms.

Although not evaluated in our study, some authors have demonstrated the strong

influence that psychological factors exert on the genesis of chronic complaints in

patients with inactive Crohn’s disease (2, 18, 19), making the pattern and intensity of

these symptoms more variable and more difficult to manage through time.

Although small or large bowel endoscopy was not performed in all Crohn’s

disease patients to confirm remission, we are confident that the use of inflammation

parameters, judgment by physicians and clinical activity scores effectively excluded

patients with active disease.

In summary, our results indicate that delayed gastric emptying in inactive Crohn’s

disease patients seems to be associated with dyspeptic symptoms. The closest

association was found between delayed gastric emptying and vomiting, even without

any evidence of gastrointestinal obstruction. This finding may be of clinical relevance to

symptomatic patients, even those without evidence of inflammatory activity, who could

possibly provide benefit with the earlier use of immunosuppressant.

106

Acknowledgments:

The authors gratefully acknowledge the technical assistance of Ana Caroline Lima

Soares. Grants from the Brazilian National Research Council (CNPq) supported this

work. Dr. Santos, Dr. Nobre e Souza, Dr Troncon and Dr. Souza are recipients of

CNPq fellowships.

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110

Table 1 - Demographic and clinical characteristics of Crohn’s disease patients with and

without dyspepsia.

Crohn’s without

dyspepsia (n=11)

Crohn’s with dyspepsia

(n=15) P

Age (mean ± s.e.m) in years) 41.7 ± 3.5 44.1 ± 3.1 0.6

Weigh (mean ± s.e.m) in Kg) 67.0 ± 4.2 60.5 ± 2.8 0.27

Gender 5 women (45.5%) 9 women (60.0%) 0.36

Age at presentation < 40 years 10 (91%) 9 (60.0%) 0.09

Colitis 8 (72.7%) 9 (60.0%) 0.4

Obstructive behavior 8 (72.7%) 7 (46.7%) 0.17

Previous abdominal surgery 5 (45,5%) 5 (33.4%) 0.41

Helicobacter pylori 6 (54.5%) 5 (33.4%) 0.22

5-ASA 5 (45.5%) 11 (73.4%) 0.15

Azathioprine / 6-MP 9 (81.8%) 6 (40.0%) 0.04*

CDAI scores (mean ± s.e.m) 36.6 ± 6.1 54.5 ± 9.7 0.25

Figure 1

t lag

0

100

200

300

Healthy Subjects Crohn

*

A-

MIN

UT

ES

0

100

200

300 *t 1/2

B-

Healthy Subjects Crohn

MIN

UT

ES

111

Figure 2

t lag

0

100

200

300

without dyspepsia with dyspepsia

Crohn

A-

MIN

UT

ES

t 1/2

0

100

200

300 *

without dyspepsia with dyspepsia

Crohn

B-

Min

utes

Figure 3

0

2

4

6

8

10 T1/2 <200 minT1/2 >200 min

*

Pain Nausea Vomiting Bloating Early satiety

PA

DY

Q S

CO

RE

S

112

Figure Legends

Figure 1. Distribution of individual values for the t lag (panel A) and t 1/2 (panel B) in

healthy subjects and patients with Crohn’s disease. The horizontal bars represent mean

values. (*) P<0.05 (Student’s t-test).

Figure 2. Distribution of individual values for the t lag (panel A) and t 1/2 (panel B) in

Crohn’s disease patients with or without dyspepsia. The horizontal bars represent mean

values. (*) P<0.05 (Student’s t-test).

Figure 3. Relationship between symptom severity and gastric emptying in patients with

Crohn’s disease and dyspeptic symptoms. The figure shows the PADYQ scores in the

subgroups of patients with normal (t 1/2 < 200 min) or delayed gastric emptying (t 1/2 >

200 min). (*) P<0.05 (Student’s t-test).

113

114

ANEXO F. TABELA DOS PACIENTES COM DOENÇA DE CROHN SEM DISPEPSIA

115

ANEXO G. TABELA DOS PACIENTES COM DOENÇA DE CROHN COM DISPEPSIA

116

ANEXO H. TABELA DOS VOLUNTÁRIOS DO GRUPO CONTROLE

117

118