disserta o clarissa bastos - 212

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A PARTICIPAÇÃO DO USUÁRIO NO PROCESSO DE PROJETO DEHABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL EM SISTEMASAUTOGESTIONÁRIOS

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  • CLARISSA MARIA VALGAS E BASTOS

    A PARTICIPAO DO USURIO NO PROCESSO DE PROJETO DE

    HABITAO DE INTERESSE SOCIAL EM SISTEMAS

    AUTOGESTIONRIOS

    BELO HORIZONTE

    ESCOLA DE ARQUITETURA DA UFMG

    2007

  • CLARISSA MARIA VALGAS E BASTOS

    A participao do usurio no processo de projeto de habitao de interesse

    social em sistemas autogestionrios

    Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para a obteno de ttulo de Mestre em Arquitetura.

    rea de concentrao: Teoria e prtica do projeto arquitetnico.

    Orientadora: Professora Doutora Silke Kapp

    Belo Horizonte Escola de Arquitetura da UFMG

    2007

  • Dissertao defendida junto ao Programa de Ps-graduao em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais e __________________ em 24 de outubro de 2007, pela banca examinadora constituda pelos seguintes professores: ____________________________________________________________________ Professora Dr. Silke Kapp EA/UFMG ____________________________________________________________________ Professora Dr. Denise Morado Nascimento EA/UFMG ____________________________________________________________________ Professora Dr. Akemi Ino USP/SC

  • para meus pais, Walter e Ione, e minha av Senhorinha, pelo exemplo de dedicao, pelo apoio cuidadoso e pelo afeto fundamental;

    para Gustavo,

    pela cumplicidade constante, pelo amor que alegra e incentiva, e pela presena terna.

  • AGRADECIMENTOS Agradeo primeiramente a Deus, que me capacitou para essa realizao. A todos que partilharam comigo a vivncia desse trabalho, colaborando de alguma forma para a sua concluso. Silke Kapp, pela orientao primorosa, por suas valiosas contribuies e pela grande disponibilidade nas discusses em todo o trabalho. A todos os professores do Ncleo de Ps Graduao em Arquitetura e Urbanismo, pelos conhecimentos transmitidos, pelos importantes esclarecimentos e questionamentos. Aos funcionrios do Ncleo de Ps Graduao em Arquitetura e Urbanismo, especialmente Renata Albuquerque, que auxiliou atenciosamente em todas as consultas. Aos funcionrios da biblioteca, especialmente Mrcia Meireles, pelo apoio prestado. A todos os entrevistados, arquitetos, socilogos e aos funcionrios da UEMP, que se dispuseram prontamente a contribuir para esta pesquisa, por me atenderem nas diversas informaes solicitadas e nos materiais necessrios. Aos que me receberam em suas casas, agradeo pela generosa acolhida e pela confiana. Ao secretrio municipal de habitao, Carlos Medeiros, e gerente de planejamento da SMAHAB, Maria Luisa Chaves, pelo apoio constante, pelo interesse nas discusses e pela confiana em meu trabalho. A Karla Resende, Neide Peixoto e Cludia Bastos, pelas cuidadosas e importantes contribuies, e ao Marcelo Candiotto, pelo entusiasmo e pela ateno dedicada s minhas solicitaes. Aos demais colegas da SMAHAB, pelo incentivo e pelo apoio prestado. Zlia Kilimnik, pelas importantes contribuies no incio deste trabalho. Aos colegas do mestrado, pela soma de experincias, de amizades e pelos agradveis cafs. Aos meus amigos, pelas presenas ao longo do percurso, me animando em momentos desafiadores e se alegrando com as etapas cumpridas. Ao grupo catlico Fanuel, por contribuir com a fora de suas oraes e amizades. Aos meus queridos familiares, pela importncia de suas presenas. tia Herzila, por dividir comigo a sua experincia, me aconselhando com carinho e zelo, e ao Antnio, por sua gentileza constante. s minhas irms Cassiana e Camila e aos meus cunhados Frederico e Homero, pela amizade, por me apoiarem sempre e incondicionalmente, e pela compreenso nas ausncias, e ao meu querido sobrinho Pedro, pelos sorrisos e por sua doce presena. Aos queridos Sr. Flvio, D. Leda, Flvia, Alessandro, Guilherme, Larissa e Joo, por me acompanharem neste trabalho com tanto carinho e incentivo e pelas pessoas preciosas que hoje so em minha vida.

  • RESUMO

    Esta dissertao estuda a participao do usurio no processo de projeto de habitao social

    em sistemas autogestionrios na cidade de Belo Horizonte. So analisados empreendimentos

    em andamento, gerados pelos recursos do Programa Crdito Solidrio (2004) em parceria com

    a Prefeitura Municipal. O sistema autogestionrio relativamente novo no municpio e pode-

    se dizer que os trs agentes nele envolvidos - poder pblico, assessorias tcnicas e associaes

    de beneficirios - passam atualmente por uma fase de aprendizado. Parte-se do princpio de

    que um registro sistematizado dessas experincias pode contribuir para que o processo seja

    paulatinamente aperfeioado. Para a fundamentao da pesquisa, investiga-se o processo

    participativo em arquitetura, considerando o projeto arquitetnico como produto cultural e

    analisando-o no cenrio de especializao predominante a partir do Movimento Moderno.

    Tambm so revisadas algumas discusses sobre o projeto arquitetnico participativo,

    incluindo-se questes relativas ao projeto de habitao social. Alm disso, faz-se uma

    apresentao dos sistemas de gesto da produo habitacional da Prefeitura Municipal de

    Belo Horizonte, detalhando o processo de autogesto. A pesquisa se desenvolve por meio de

    estudos de caso de quatro empreendimentos selecionados com a diretriz de serem

    assessorados por diferentes equipes tcnicas, buscando conhecer diversas metodologias

    adotadas para o processo participativo e seus resultados em projeto. Trs deles so

    assessorados por escritrios particulares de arquitetura, que trabalharam no processo em

    condies usuais de mercado. Nesses casos est o foco deste trabalho. O quarto conjunto

    selecionado assessorado por um escritrio particular vinculado a uma instituio de ensino,

    configurando um contraponto. Foram feitas pesquisas documentais e entrevistas semi-

    estruturadas para a coleta de dados. Aps a reunio desses, so analisados os xitos e

    dificuldades dos processos participativos e tambm do Programa Crdito Solidrio. Conclui-

    se que a participao do usurio no projeto arquitetnico encontra diversos entraves, tanto na

    estrutura do programa, quanto na forma de realizao dos processos. Mas, apesar das barreiras

    identificadas, observa-se que o Programa Crdito Solidrio representa um avano no

    panorama de produo de habitao social e que a participao, somada a condies

    estruturais satisfatrias e reflexes questionadoras da prtica tradicional, pode trazer

    transformaes para o projeto de habitao de interesse social, direcionadas concepo de

    espaos mais condizentes com as reais necessidades dos usurios.

    Palavras-chave: autogesto, habitao de interesse social, projeto arquitetnico participativo.

  • ABSTRACT

    This research studies the users participation in the process of development of a project of

    social housing in self-management systems in the city of Belo Horizonte. On-going

    enterprises were analyzed. They were generated by the resources of the Programa Crdito

    Solidrio a low-income housing credit program created by the Brazilian federal government

    in 2004 - in partnership with the City Hall. The self-management system is relatively new in

    the city and we can say that the three agents involved in it the government, the technical

    support and the beneficiaries associations - are currently on a learning phase. One of the

    justifications for this research is based on the assumption that a systematized register of these

    experiences can contribute to the gradual improvement of the process. The participative

    process in architecture is investigated, considering the architectural project as a cultural

    product and analyzing it in the predominant specialization scene since the Modern Movement.

    Also some discussions on the participative architectural project are revised, including

    questions about the social housing project. Moreover, the management systems of the housing

    production of the City Hall of Belo Horizonte are presented, detailing the self-management

    process. The research is developed by case studies of four enterprises assisted by different

    technical teams to make it possible to learn some of the methodologies used in the

    participative process and their results. Three of these settings are assisted by private

    architecture offices, which work under regular market conditions. They are the focus of this

    work. The fourth setting is assisted by a private office which is linked to an educational

    institution, thus presenting a counterpoint. Documentary researches and half-structured

    interviews for the collection of data were made. After these collections we analyzed some

    successes and difficulties of the Programa Crdito Solidrio as well as those of the

    participative processes. We conclude that the users participation in the architectural project

    finds some impediments in the structure of the program and also on the processes of its

    development. In spite of the identified difficulties, however, we observe that the Programa

    Crdito Solidrio represents an advance in the panorama of production of social housing and

    that the participation, if added to satisfactory structural conditions and reflections as well as

    questioning of traditional practice, can bring transformations to the social housing project

    towards the conception of spaces which includes the users real necessities.

    Keywords: self-management, social housing, participative architectural project.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    FIGURA 1 - Localizao dos empreendimentos estudados na cidade de Belo Horizonte

    .................................................................................................................................... 45

    FIGURA 2 - Conjunto Diamante II: implantao .............................................................. 50

    FIGURA 3 - Conjunto Diamante II: planta do 1 pavimento dos blocos 2 a 5 .................. 50

    FIGURA 4 - Conjunto Diamante II: planta do pavimento tipo (2 ao 4 andares) dos blocos

    2 a 5 ........................................................................................................................... 50

    FIGURA 5 - Conjunto Diamante II: planta do 1 pavimento do bloco 1 ........................... 50

    FIGURA 6 - Conjunto Diamante II: planta do pavimento tipo (2 ao 4 andares) do bloco 1

    .................................................................................................................................... 50

    FIGURA 7 - Conjunto Diamante II: corte AA dos blocos 2 a 5 ........................................ 51

    FIGURA 8 - Conjunto Diamante II: corte BB dos blocos 2 a 5 ......................................... 51

    FIGURA 9 - Conjunto Diamante II: elevao frontal dos blocos 2 a 5 ............................. 51

    FIGURA 10 - Conjunto Diamante II: elevao lateral dos blocos 2 a 5 ............................ 51

    FIGURA 11 - Conjunto Diamante II: corte AA do bloco 1 ............................................... 51

    FIGURA 12 - Conjunto Diamante II: corte BB do bloco 1 ............................................... 51

    FIGURA 13 - Conjunto Diamante II: elevao frontal do bloco 1 .................................... 52

    FIGURA 14 - Conjunto Diamante II: elevao lateral do bloco 1 ..................................... 52

    FIGURA 15 - Conjunto Diamante II: elevao dos fundos do conjunto ........................... 52

    FIGURA 16 - Conjunto Diamante II: planta, cortes e elevaes do espao multiuso ....... 52

    FIGURA 17 - Conjunto Diamante II: elevao frontal do conjunto .................................. 53

    FIGURA 18 - Conjunto Diamante II: elevao da lateral esquerda do conjunto ............... 53

    FIGURA 19a - Conjunto Diamante II: planta dos apartamentos de trs quartos ............... 54

    FIGURA 19b - Conjunto Diamante II: planta dos apartamentos de dois quartos .............. 54

    FIGURA 19c - Conjunto Diamante II: maquete do empreendimento: foto ....................... 54

    FIGURA 20 - Assemblia de partida: foto ......................................................................... 54

    FIGURA 21 - Beneficirios realizando a dinmica para auxiliar no dimensionamento de

    ambientes dos apartamentos: foto ............................................................................. 54

    FIGURA 22 - Esquema do material distribudo aos beneficirios na dinmica espacial

    .................................................................................................................................... 54

    FIGURA 23 - Grupo focal realizado com os coordenadores em 02/03/05: foto ................ 55

    FIGURA 24 - Visita da comunidade e a assessoria tcnica ao terreno: foto ..................... 55

  • FIGURA 25 - Credenciamento dos beneficirios no incio da visita ao terreno: foto ....... 55

    FIGURA 26 - Demonstrativo do resultado preliminar da dinmica espacial apresentado pela

    assessoria tcnica: foto .............................................................................................. 55

    FIGURA 27 - Apresentao da planta dos apartamentos de dois e de trs quartos: foto

    .................................................................................................................................... 55

    FIGURA 28 - Apresentao da maquete volumtrica do empreendimento: foto .............. 55

    FIGURA 29 - Demarcao da planta do apartamento no terreno: foto .............................. 55

    FIGURA 30 - Ortofoto da regio do terreno com os resultados da dinmica da vizinhana

    .................................................................................................................................... 56

    FIGURA 31 - Assemblia de aceite do projeto arquitetnico e da conveno de condomnio:

    foto ............................................................................................................................. 56

    FIGURA 32 - Tcnicos da assessoria esclarecendo dvidas a respeito do empreendimento:

    foto ............................................................................................................................. 56

    FIGURA 33a - Visita obra do conjunto Jaqueline - esclarecimento de dvidas a respeito da

    construo: foto ........................................................................................................ 56

    FIGURA 33b Visita obra do conjunto Jaqueline - imagem do empreendimento: foto. 56

    FIGURA 33c Visita obra do conjunto Jaqueline - horta comunitria: foto .................. 56

    FIGURA 33d - Visita obra do conjunto Jaqueline - questes levantadas pelos beneficirios

    aps a visita: foto ....................................................................................................... 56

    FIGURA 34a - Assemblia de esclarecimento sobre alvenaria estrutural - apresentao de

    fotos: foto ................................................................................................................... 57

    FIGURA 34b - Assemblia de esclarecimento sobre alvenaria estrutural - explicao do

    engenheiro: foto ......................................................................................................... 57

    FIGURA 35 - Reunio para prestao de contas: foto ....................................................... 57

    FIGURA 36 - Conjunto Itaipu: implantao ...................................................................... 74

    FIGURA 37 - Conjunto Itaipu: layout do apartamento ...................................................... 74

    FIGURA 38 Conjunto Itaipu: planta do 1 ao 4 andares (pavimento tipo) dos blocos 2 e 4 e

    2 ao 4 andares (pavimento tipo) dos blocos 1 e 3 .................................................. 74

    FIGURA 39 - Conjunto Itaipu: corte BB ........................................................................... 74

    FIGURA 40 - Conjunto Itaipu: planta do 1pavimento do bloco 1 ................................... 74

    FIGURA 41 - Conjunto Itaipu: planta do 1pavimento do bloco 3 ................................... 74

    FIGURA 42 - Conjunto Itaipu: corte AA ........................................................................... 75

    FIGURA 43 - Conjunto Itaipu: elevao do conjunto ........................................................ 75

    FIGURA 44 - Conjunto Itaipu: elevao do conjunto a partir da praa ............................. 75

  • FIGURA 45a - Reunio onde os futuros beneficirios estudavam o projeto atravs de

    pranchas tcnicas e da maquete fsica do terreno: foto ............................................. 76

    FIGURA 45b - Reunio onde os futuros beneficirios estudavam o projeto atravs de

    pranchas tcnicas e da maquete fsica do terreno: foto ............................................. 76

    FIGURA 46a - Maquete fsica do empreendimento: foto .................................................. 76

    FIGURA 46b - Maquete fsica do empreendimento: foto .................................................. 76

    FIGURA 47 - Maquete fsica e da prancha tcnica do apartamento: foto ......................... 76

    FIGURA 48 Conjunto Juliana I: implantao ................................................................. 101

    FIGURA 49 Conjunto Juliana I: corte AA ...................................................................... 101

    FIGURA 50 Conjunto Juliana I: corte BB ...................................................................... 101

    FIGURA 51 Conjunto Juliana I: planta do apartamento tipo dos blocos 1 e 3 ............... 102

    FIGURA 52 Conjunto Juliana I: planta do 5 pavimento dos blocos 1 e 3 ..................... 102

    FIGURA 53 Conjunto Juliana I: planta do apartamento tipo do bloco 2 ........................ 102

    FIGURA 54 Conjunto Juliana I: planta do 5 pavimento do bloco 2 .............................. 102

    FIGURA 55 - Conjunto Juliana I: planta do apartamento tipo dos blocos 4 e 5 ............... 103

    FIGURA 56 - Conjunto Juliana I: planta do 5 pavimento dos blocos 4 e 5 ...................... 103

    FIGURA 57 - Conjunto Juliana I: corte CC ....................................................................... 103

    FIGURA 58 - Conjunto Juliana I: corte DD ...................................................................... 103

    FIGURA 59 - Conjunto Juliana I: elevao 1 dos blocos 1 e 3 ......................................... 104

    FIGURA 60 - Conjunto Juliana I: elevao 3 dos blocos 1 e 3 ......................................... 104

    FIGURA 61 Conjunto Juliana I: elevao 2 dos blocos 1 e 3 ......................................... 104

    FIGURA 62 Conjunto Juliana I: elevao 4 dos blocos 4 e 5 ......................................... 104

    FIGURA 63 Conjunto Juliana I: elevao rua Armando Greco blocos 1 a 3 .............. 105

    FIGURA 64 Conjunto Juliana I: elevao fundo blocos 4 a 5 ..................................... 105

    FIGURA 65 Imagens do empreendimento Juliana I ....................................................... 106

    FIGURA 66 Assemblia de partida: fotos ....................................................................... 106

    FIGURA 67a Assemblia: foto ....................................................................................... 106

    FIGURA 67b Assemblia: foto ....................................................................................... 106

    FIGURA 68a - Dinmica de colocao das unidades habitacionais no terreno: foto ........ 107

    FIGURA 68b - Dinmica de colocao das unidades habitacionais no terreno: foto ........ 107

    FIGURA 68c - Dinmica de colocao das unidades habitacionais no terreno: foto ........ 107

    FIGURA 69a Layout do apartamento realizado pelas famlias: foto .............................. 107

    FIGURA 69b Layout do apartamento realizado pelas famlias: foto .............................. 107

    FIGURA 70a - Dinmica de montagem das torres: foto .................................................... 107

  • FIGURA 70b - Dinmica de montagem das torres: foto .................................................... 107

    FIGURA 70c - Dinmica de montagem das torres: foto .................................................... 107

    FIGURA 70d - Dinmica de montagem das torres: foto .................................................... 107

    FIGURA 70e - Dinmica de montagem das torres: foto .................................................... 107

    FIGURA 70f - Dinmica de montagem das torres: foto .................................................... 107

    FIGURA 70g - Dinmica de montagem das torres: foto .................................................... 107

    FIGURA 71a - Entorno do empreendimento: foto ............................................................. 108

    FIGURA 71b - Entorno do empreendimento: foto ............................................................. 108

    FIGURA 71c - Entorno do empreendimento: foto ............................................................. 108

    FIGURA 71d - Entorno do empreendimento: foto ............................................................. 108

    FIGURA 72 - Conjunto Santa Rosa II: implantao .......................................................... 130

    FIGURA 73 - Conjunto Santa Rosa II: blocos 01 a 04 planta 1 pavimento .................. 130

    FIGURA 74 - Conjunto Santa Rosa II: blocos 01 a 04 planta 2 e 3 pavimentos .......... 130

    FIGURA 75 - Conjunto Santa Rosa II: blocos 01 a 04 planta 4 pavimento .................. 130

    FIGURA 76 Conjunto Santa Rosa II: blocos 01 a 04 planta terrao ............................ 131

    FIGURA 77 - Conjunto Santa Rosa II: blocos 01 a 04 corte BB .................................... 131

    FIGURA 78 - Conjunto Santa Rosa II: blocos 05 e 06 planta 1 pavimento .................. 131

    FIGURA 79 - Conjunto Santa Rosa II: blocos 05 e 06 planta 2 e 3 pavimentos .......... 131

    FIGURA 80 - Conjunto Santa Rosa II: blocos 05 e 06 planta 4 pavimento ................. 132

    FIGURA 81 - Conjunto Santa Rosa II: blocos 05 e 06 planta 5 pavimento e terrao ... 132

    FIGURA 82a - Conjunto Santa Rosa II: blocos 5 e 6 - corte BB ....................................... 132

    FIGURA 82b - Conjunto Santa Rosa II: blocos 5 e 6 - corte EE ....................................... 132

    FIGURA 83a - Conjunto Santa Rosa II: perspectivas ........................................................ 132

    FIGURA 83b - Conjunto Santa Rosa II: perspectivas ........................................................ 132

    FIGURA 84a - Dinmica de formas de ocupao do terreno: foto .................................... 133

    FIGURA 84b - Dinmica de formas de ocupao do terreno: foto .................................... 133

    FIGURA 84c - Dinmica de formas de ocupao do terreno: foto .................................... 133

    FIGURA 84d - Dinmica de formas de ocupao do terreno: foto .................................... 133

    FIGURA 85a - Efeitos da iluminao solar nas maquetes fsica e eletrnica .................... 133

    FIGURA 85b - Efeitos da iluminao solar nas maquetes fsica e eletrnica .................... 133

    FIGURA 85c - Efeitos da iluminao solar nas maquetes fsica e eletrnica .................... 133

    FIGURA 85d - Efeitos da iluminao solar nas maquetes fsica e eletrnica .................... 133

    FIGURA 85e - Efeitos da iluminao solar nas maquetes fsica e eletrnica .................... 133

  • FIGURA 86a - Dinmica de colagem de papis representando os ambientes e os mveis do

    apartamento: foto ....................................................................................................... 133

    FIGURA 86b - Dinmica de colagem de papis representando os ambientes e os mveis do

    apartamento: foto ....................................................................................................... 133

    FIGURA 87a Dinmica de montagem das torres: foto ................................................... 133

    FIGURA 87b Dinmica de montagem das torres: foto ................................................... 133

    FIGURA 87c Dinmica de montagem das torres: foto ................................................... 133

    FIGURA 87d Dinmica de montagem das torres: foto ................................................... 133

    FIGURA 88a Assemblia de aprovao do anteprojeto: foto ......................................... 133

    FIGURA 88b Assemblia de aprovao do anteprojeto: foto ......................................... 133

    FIGURA 89a - Dinmica de marcao da planta do apartamento no piso: foto ................ 134

    FIGURA 89b - Dinmica de marcao da planta do apartamento no piso: foto ................ 134

    FIGURA 89c - Dinmica de marcao da planta do apartamento no piso: foto ................ 134

    FIGURA 89d - Dinmica de marcao da planta do apartamento no piso: foto ................ 134

    FIGURA 90a - Visita dos futuros beneficirios e da equipe tcnica obra do conjunto Jardim

    Leblon: foto ............................................................................................................... 134

    FIGURA 90b - Visita dos futuros beneficirios e da equipe tcnica obra do conjunto Jardim

    Leblon: foto ............................................................................................................... 134

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    CEF Caixa Econmica Federal

    CIAM Congresso Internacional de Arquitetura Moderna

    cm Centmetros

    CMH Conselho Municipal de Habitao

    FAMEMG Federao das Associaes de Moradores do Estado de Minas Gerais

    FDS Fundo de Desenvolvimento Social

    FIG Figura

    FMHP Fundo Municipal de Habitao Popular

    HIS Habitao de interesse social

    ONG Organizao no governamental

    OPH Oramento Participativo da Habitao

    PBH Prefeitura Municipal de Belo Horizonte

    PCS Programa Crdito Solidrio

    PSH Programa de Subsdio Habitao

    PTTS Plano de trabalho tcnico social

    PUC-MG Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais

    SMAHAB Secretaria Municipal Adjunta de Habitao

    UEMP Unio Estadual por Moradia Popular

    UH Unidade habitacional

    URBEL Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ..................................................................................................... 15

    1.1 Problema e objetivos da pesquisa ........................................................................... 16

    1.2 Metodologia de pesquisa ........................................................................................ 18

    1.3 Estrutura da exposio ............................................................................................ 20

    2 O PROCESSO PARTICIPATIVO EM ARQUITETURA ............................... 21

    2.1 Projeto arquitetnico no Movimento Moderno: comunicao interrompida ......... 22

    2.2 A Participao na Arquitetura: Aproximando Agentes .......................................... 26

    2.3 Uma Proposta para Projetos Participativos ............................................................. 28

    2.4 Nveis de Participao ............................................................................................ 30

    2.5 O aperfeioamento do projeto arquitetnico pela participao .............................. 32

    3 O SISTEMA DE AUTOGESTO NA PBH ...................................................... 33

    3.1 Poltica Municipal e formas de gesto da habitao de interesse social na PBH ... 34

    3.2 O Programa Crdito Solidrio ................................................................................ 36 3.3 Agentes e etapas da autogesto ............................................................................... 38

    3.4 Panorama de realizao dos empreendimentos autogestionrios da PBH .............. 42

    4 ESTUDOS DE CASO ........................................................................................... 44

    4.1 Conjunto Diamante II ............................................................................................. 49

    4.1.1 Descrio do processo por meio da consulta ao relatrio de atividades realizadas na

    fase de elaborao de projetos ............................................................................................ 58

    4.1.2 O processo relatado pelos entrevistados: assessoria tcnica social, assessoria tcnica

    arquitetnica e beneficiria do empreendimento ................................................................ 62

    4.2 Conjunto Itaipu ....................................................................................................... 73

    4.2.1 Descrio do processo por meio da consulta s atas das reunies da fase de elaborao

    de projetos .......................................................................................................................... 77

    4.2.2 O processo relatado pelos entrevistados: assessoria tcnica social, assessoria tcnica

    arquitetnica e beneficiria do empreendimento ................................................................ 85

    4.3 Conjunto Juliana I ................................................................................................... 100

  • 4.3.1 Descrio do processo por meio da consulta s atas das reunies da fase de elaborao

    de projetos .......................................................................................................................... 104

    4.3.2 O processo relatado pelos entrevistados: assessoria tcnica arquitetnica e beneficiria

    do empreendimento ............................................................................................................ 112

    4.4 Conjunto Santa Rosa II ........................................................................................... 124

    4.4.1 Descrio do processo por meio da consulta s atas das reunies da fase de elaborao

    de projetos e ao material da assessoria tcnica arquitetnica utilizado para a realizao das

    assemblias ......................................................................................................................... 135

    4.4.2 O processo relatado pelos entrevistados: assessoria tcnica arquitetnica e

    beneficirios do empreendimento ....................................................................................... 141

    5 ANLISE E DISCUSSO ................................................................................... 152

    5.1 Principais caractersticas dos processos participativos estudados .......................... 153

    5.2 Reviso das hipteses iniciais ................................................................................. 157

    5.3 Discusso ................................................................................................................ 160

    5.3.1 Sobre a participao dos beneficirios nas assemblias e a concepo do projeto

    arquitetnico ....................................................................................................................... 160

    5.3.2 Sobre a participao dos beneficirios na obra ....................................................... 163

    5.3.3 Sobre as questes estruturais da autogesto e do Programa Crdito Solidrio ...... 164

    6 CONCLUSO ....................................................................................................... 169

    REFERNCIAS ............................................................................................................... 172

    APNDICE A ................................................................................................................... 176

    APNDICE B .................................................................................................................... 179

    APNDICE C ................................................................................................................... 182

    ANEXO A .......................................................................................................................... 184

  • 1 INTRODUO

  • Introduo 16

    1.1 PROBLEMA E OBJETIVOS DA PESQUISA

    Esta dissertao tem por tema a participao dos futuros beneficirios em processos de

    projeto em sistema autogestionrio de produo de habitao de interesse social em Belo

    Horizonte. So analisados e discutidos empreendimentos em andamento, gerados pelos

    recursos do Programa Crdito Solidrio em parceria com a Prefeitura Municipal de Belo

    Horizonte.

    As atuais discusses do problema da habitao de interesse social no Brasil enfocam a

    participao popular e a descentralizao administrativa, e parecem se desenvolver em

    direo a uma prtica mais refletida do que a predominantemente adotada por nossas

    instituies pblicas e privadas desde meados do sculo XX. Mas, nem sempre os

    empreendimentos que carregam essa bandeira conseguem efetiv-la de fato, diante das

    limitaes de recursos financeiros, reas, prazos, disponibilidades, etc. Sendo assim, a

    proposta deste estudo nasceu da necessidade de se conhecer e refletir a respeito da realidade

    da participao das famlias no processo de projeto arquitetnico de empreendimentos

    autogestionrios.

    Como funcionria da Secretaria Municipal Adjunta de Habitao da PBH, tenho especial

    interesse em conhecer tais processos de projeto, para eventualmente ser capaz de colaborar

    numa melhoria do apoio autogesto por parte desse rgo pblico. No entanto, para alm

    desse interesse pessoal, importante notar que a difuso da autogesto bastante recente. Em

    Belo Horizonte existem, hoje, 13 empreendimentos em andamento, resultantes de recursos

    disponibilizados pelo Programa de Crdito Solidrio do Ministrio das Cidades, ao passo que

    h apenas 11 empreendimentos autogestionrios j concludos. Pode-se dizer ento que o

    processo ainda relativamente novo, e que todos os agentes nele envolvidos comunidades,

    assessorias tcnicas e poder pblico passam atualmente por uma fase de aprendizado. Um

    registro sistematizado dessas experincias em andamento poder contribuir para que o

    processo seja paulatinamente aperfeioado.

    Para esse aperfeioamento, seria necessrio, por um lado, conhecer os diferentes processos de

    projeto e, por outro, conhecer seus diferentes resultados. Ora, o melhor momento para colher

    informaes sobre tais processos o atual, j que seria muito difcil resgatar as informaes

    daqui a alguns anos. Em contrapartida, apenas depois desse prazo, com os empreendimentos

    concludos e passada uma fase de adaptao dos moradores e consolidao das relaes

  • Introduo 17

    espaciais, ser possvel avaliar seus resultados. Sendo assim, a pesquisa aqui proposta

    estruturada tambm com o intuito de fornecer material para investigaes e avaliaes futuras,

    sejam elas realizadas pela autora ou por outros pesquisadores.

    O objetivo geral deste trabalho , portanto, conhecer o processo de projeto na habitao de

    interesse social empreendida pelo sistema autogestionrio, com suas diferentes formas de

    participao e as premissas e metodologias adotadas por diferentes equipes de assessoria

    tcnica. No cenrio da autogesto, onde se busca uma comunicao participativa (o receptor

    torna-se emissor, e vice-versa), procura-se esclarecer como tem se dado a interao entre

    futuros moradores e assessorias tcnicas na transmisso das mensagens no processo de

    projeto. Cabe enfatizar que o foco da pesquisa est nas assessorias tcnicas profissionais, isto

    , escritrios particulares de arquitetura no apoiados diretamente por nenhuma instituio de

    pesquisa ou universidade e que, por isso mesmo, trabalham em condies comuns de

    mercado, sem infra-estrutura especial ou subsdios especificamente destinados a viabilizar o

    processo participativo.

    Alm desse objetivo geral, temos como objetivos especficos:

    Identificar os instrumentos utilizados pelas assessorias tcnicas para aproximao e comunicao com os futuros beneficirios (doravante designados tambm simplesmente

    pelos termos beneficirios, usurios, associados, famlias ou moradores).

    Identificar possveis deficincias nessa comunicao entre assessorias tcnicas e usurios. Identificar o grau de interesse, envolvimento e compreenso dos usurios no projeto

    participativo.

    Analisar quais so as definies e alteraes de projeto arquitetnico feitas com base na demanda e na participao dos usurios.

    Ordenar e sistematizar as informaes em termos das estratgias utilizadas e dos resultados em projeto.

    A hiptese central do estudo que as diferentes estratgias adotadas pelas assessorias tcnicas

    no processo participativo devem gerar diferentes respostas em projeto arquitetnico e,

    futuramente, diferentes resultados de ps-ocupao das moradias.

  • Introduo 18

    1.2 METODOLOGIA DE PESQUISA

    Alm do estudo da bibliografia pertinente, a pesquisa foi desenvolvida mediante quatro

    estudos de caso de empreendimentos autogestionrios em andamento na Secretaria Municipal

    Adjunta de Habitao da PBH. Optou-se pela metodologia de estudo de caso, em lugar de

    uma pesquisa quantitativa, como o survey e outras, por tratar-se de processos ainda recentes,

    cujos principais problemas e dificuldades no so suficientemente conhecidos para estruturar

    pesquisas quantitativas que sejam de fato teis. Um fenmeno constatado pode ser pouco

    expressivo em termos quantitativos e, ainda assim, ter grande relevncia como indcio de

    determinado conflito ou obstculo.

    Para a escolha dos casos estudados foi feita inicialmente uma anlise geral de todos os 13

    empreendimentos autogestionrios que estavam em andamento na PBH em julho de 2006 (ver

    quadro 3.2 p.38). Desses, seis projetos so assessorados por escritrios particulares, focos do

    presente trabalho. Optou-se por estudar trs deles, porque trs o primeiro nmero mpar

    maior que um, permitindo o "desempate" de determinadas questes e, ao mesmo tempo, a

    operacionalizao da pesquisa nos prazos previstos. Uma vez que se tratava de conhecer

    diferentes processos de projeto participativo, o critrio para a seleo foi a diversidade das

    assessorias tcnicas. Trata-se, portanto, de trs empreendimentos assessorados por diferentes

    equipes.

    Ao mesmo tempo, para que o desenvolvimento do projeto arquitetnico participativo no

    contexto do escritrio particular de arquitetura pudesse ser caracterizado, era necessrio um

    parmetro comparativo. Por isso, estudou-se tambm um empreendimento assessorado por

    um escritrio diretamente apoiado pelo trabalho de pesquisa de uma universidade, a Pontifcia

    Universidade Catlica de Minas Gerais (PUC-MG). Esse escritrio trabalhou com condies

    estruturais diferentes dos escritrios particulares, pois o trabalho dos coordenadores de projeto

    foi financiado por recursos de pesquisa e a remunerao dos tcnicos foi realizada

    mensalmente, pela universidade, que recebia os recursos da PBH aps cada etapa cumprida do

    processo.

    Nos estudos de caso, os dados foram coletados por meio de anlise documental e entrevistas

    semi-estruturadas. A anlise documental incluiu: atas das reunies de todo o processo;

    relatrios tcnicos elaborados pelos diferentes agentes; materiais fornecidos pelas assessorias

    tcnicas, como fotos e vdeos; desenhos arquitetnicos de estudos preliminares, anteprojetos e

  • Introduo 19

    projetos executivos1. A descrio proveniente da anlise das atas e dos relatrios tcnicos

    uma sntese feita pela prpria autora a partir do estudo dos registros fornecidos. As fotos

    anexadas foram fornecidas pelos agentes. Os anteprojetos arquitetnicos utilizados receberam

    tratamento em sua forma de apresentao para destacar adequadamente as informaes

    pertinentes pesquisa.

    As entrevistas semi-estruturadas foram realizadas com os seguintes agentes de cada

    empreendimento: um arquiteto da equipe de assessoria tcnica e um futuro beneficirio2. Para

    a escolha desse, utilizou-se o critrio de se entrevistar aquele que participou de toda a etapa de

    anteprojeto arquitetnico, j que o grupo de famlias participantes se forma paulatinamente

    durante o processo3. Empregou-se a mesma matriz de entrevista para todos os agentes. As

    questes foram divididas em quatro blocos, relativos s seguintes etapas do processo

    participativo de projeto:

    Bloco A: Sobre a integrao (dos futuros beneficirios entre si e com a assessoria tcnica);

    Bloco B: Discusses preliminares de projeto (conceitos e instrumentos, expresso e representao);

    Bloco C: Discusses de anteprojeto e projeto executivo (condicionantes financeiros e materiais, fsico-ambientais e legais);

    Bloco D: Resultados (avaliao). Esses quatro tpicos de investigao se desdobraram em questes mais detalhadas (ver

    Apndice B). Foram sugeridos aos participantes alguns parmetros de anlise de cada etapa:

    1) proposta inicial, 2) descrio do que foi efetivamente feito, 3) onde, quando e por quanto

    tempo as atividades foram desenvolvidas, 4) problemas ou desvantagens notados, 5) xitos ou

    vantagens observadas.

    Para a compilao dos dados das entrevistas e seu cruzamento com os dados da anlise

    documental foi feito um estudo comparativo dos conjuntos selecionados por meio dos

    documentos e dos vrios discursos dos agentes envolvidos, procurando destacar as

    1 Parte dessa documentao foi fotocopiada ou digitalizada, constituindo um acervo disposio de outros pesquisadores. 2 As entrevistas foram gravadas e transcritas e, assim como a documentao, esto disposio de outros pesquisadores, condicionada ao compromisso de sigilo da identidade dos entrevistados. 3 No Apndice C h um quadro comparativo dos dados dos beneficirios entrevistados.

  • Introduo 20

    especificidades de cada caso. Aps a coleta e sistematizao, os dados foram analisados

    buscando confrontar ou confirmar as hipteses propostas na pesquisa.

    1.3 ESTRUTURA DA EXPOSIO

    A partir do trabalho de pesquisa delineado no item anterior, a presente dissertao segue a

    estrutura de exposio descrita abaixo.

    O Captulo 02 apresenta a fundamentao terica da pesquisa, isto , um estudo do processo

    participativo em arquitetura, considerando-se o projeto arquitetnico como produto cultural e

    analisando-o no cenrio de especializao predominante desde o Movimento Moderno. Alm

    disso, so revisadas discusses sobre o projeto arquitetnico participativo, apoiadas nos

    autores Blundell-Jones, Till e Petrescu, Carlo, Kapp, Turner e Souza, incluindo-se questes

    relativas ao projeto para a populao de baixa renda.

    O Captulo 03 relaciona os diferentes sistemas de gesto da produo habitacional da PBH e

    descreve detalhadamente o sistema de autogesto com seus trs agentes e suas

    responsabilidades: poder pblico (PBH /SMAHAB), assessorias tcnicas e associaes de

    futuros beneficirios. apresentado tambm um panorama das realizaes da PBH nesse

    sistema (conjuntos executados e em andamento) e o Programa Crdito Solidrio, no qual

    esto inseridos os casos estudados.

    No Captulo 04, apresentam-se as caractersticas dos empreendimentos elencados para os

    estudos de caso, as informaes colhidas das atas e os resultados das entrevistas (nesses

    ltimos, dados selecionados).

    O Captulo 05 pretende analisar os dados obtidos e discuti-los luz dos conceitos da

    fundamentao terica, resultando numa reflexo a respeito da participao dos usurios nos

    projetos arquitetnicos de habitaes de interesse social em desenvolvimento atravs do

    sistema de autogesto em Belo Horizonte.

  • 2 O PROCESSO PARTICIPATIVO EM ARQUITETURA

  • O Processo Participativo em Arquitetura 22

    2.1 PROJETO ARQUITETNICO NO MOVIMENTO MODERNO: COMUNICAO INTERROMPIDA

    Segundo Andrio (2004), a arquitetura um objeto relacional, com elementos definidos pelo

    contexto cultural. Quando a linguagem arquitetnica compartilhada pelos membros de

    determinada sociedade, as regras que a orientam so baseadas na tradio e funcionam como

    consenso coletivo aceito, e no imposto. Com a diviso do trabalho, foi institudo o projetista

    trazendo consigo a especializao e a codificao dessa linguagem, criando culturas e

    subculturas diferentes. Isso leva a uma maior possibilidade de escolhas, mas tambm faz com

    que tanto essas escolhas, quanto a comunicao entre os agentes envolvidos, se tornem tarefas

    de grande complexidade. A linguagem arquitetnica no mais compartilhada, mas

    especializada e pessoal.

    Esse mesmo desenvolvimento histrico vale tambm para a produo de moradias. Ela esteve

    at o perodo pr-industrial vinculada ao carter autnomo do usurio, concebida a partir de

    uma linguagem compartilhada. Os repertrios eram criados na experincia com base na

    tradio. Segundo Kapp (2005), mesmo depois do Renascimento, quando as construes

    excepcionais passaram a ser precedidas de projetos tcnicos desenhados por arquitetos, a

    maior parte do espao humano residencial (espaos comuns) continuou sendo produzida sem

    esse conhecimento especializado. Com a industrializao, a expanso do capitalismo e a

    diviso do trabalho, essa prtica foi paulatinamente marginalizada e parte da produo do

    espao da moradia se tornou objeto de projeto elaborado pelo profissional, sendo assim

    predeterminada pelo arquiteto, a partir das referncias da especializao.

    O Movimento Moderno, protagonista do campo arquitetnico desse perodo, difundiu um

    ideal de racionalizao da produo da arquitetura, com a pretenso de melhorar as condies

    espaciais e, por meio delas, a prpria sociedade. Contudo, o ideal de racionalizao implicou

    tambm uma noo abstrata de usurios e comunidades, que tende a tolher quaisquer

    apropriaes espaciais espontneas e em consonncia com os desejos concretos das pessoas.

    Como afirmam Blundell-Jones, Till e Petrescu (2005), esse tratamento dado ao usurio

    termina por refletir os interesses, valores e cdigos da estrutura de poder. Na prtica, ele

    significou a retirada das pessoas dos processos de deciso; introduziu-se o especialista entre o

    usurio e o edifcio. Esse especialista trouxe consigo seu prprio sistema de valores,

    freqentemente em conflito com o dos usurios. Nas palavras de De Carlo (2005), uma vala

    foi aberta entre o mundo construdo e o mundo necessrio e desejado.

  • O Processo Participativo em Arquitetura 23

    Cabe ressaltar alguns aspectos do processo de projeto arquitetnico nesse perodo. Kapp

    (2005) argumenta que o Movimento Moderno herdou concepes da tradio renascentista de

    projetos excepcionais e as aplicou aos projetos comuns e domsticos (como j citado, na

    tradio renascentista, as edificaes excepcionais eram objeto de projeto desenvolvido por

    profissional, enquanto as edificaes comuns espaos residenciais, comerciais, e outros

    no o eram). Kapp destaca trs concepes herdadas da tradio renascentista pelo

    Movimento Moderno, das quais a primeira a noo de obra ou obra de arquitetura. Entende-

    se por obra o objeto fechado, cuja integridade ferida por qualquer subtrao, acrscimo ou

    alterao. No caso das moradias, essa noo impede que a construo seja aberta

    interveno do usurio conforme suas necessidades. A segunda concepo renascentista que

    paradoxalmente se manteve nas construes de espaos domsticos a autoria. Por autor

    entende-se aquele que cria o objeto com originalidade e sabe, melhor do que ningum, o que

    convm sua criao. Isso oposto ao trabalho coletivo autnomo e ao trabalho artesanal,

    que replica formas sem propsitos inovadores. Se a autoria pode levar a melhores resultados

    de composies formais, isso no garante que ela produza espaos mais adequados. A terceira

    concepo herdada pelo Movimento Moderno a forma de insero do usurio. Esse visto

    como um ser passivo, um personagem na mo do autor. O arquiteto representa a vida dos

    moradores em seu projeto; o que faz pouco sentido quando aplicado a espaos comuns e

    domsticos. Nas circunstncias da produo de massa, o usurio em foco numa

    construo unitria passa a ser um modelo genrico, cujo perfil definido pela renda e cujos

    hbitos so apenas supostos pelo arquiteto.

    Dada a escassez de recursos, a afinao entre esse usurio imaginrio e o espao projetado deixa de ter o carter artstico dos projetos para a alta burguesia oitocentista e adquire o carter obsessivo da perfeio taylorista; em prol da cincia, da produtividade e da reduo de rea, determina-se meticulosamente cada movimento do futuro morador (uma tendncia que, alis, vem recuperando prestgio com a transposio da ergonomia do trabalho para os projetos habitacionais). (KAPP, 2005)

    Quanto s otimizaes em termos de reas e recursos em ressonncia com esse aspecto

    obsessivo da perfeio taylorista citado por Kapp De Carlo (2005) faz uma crtica ao CIAM

    de Frankfurt ocorrido em 1929, dedicado Habitao Mnima. Ali, os arquitetos se

    debruaram sobre o problema da grande demanda por moradias que explodiu aps a Primeira

    Guerra Mundial. O autor afirma que esses arquitetos estavam certos em se ocupar do

    problema, mas equivocados em pensar que haviam descoberto as premissas de sua "soluo";

    essas premissas j estavam dadas pelo capitalismo. Os arquitetos deram idias brilhantes para

  • O Processo Participativo em Arquitetura 24

    reduzir ao mximo no somente os metros quadrados e cbicos, como tambm tudo o que no

    fosse essencial para um clculo abstrato do comportamento humano. Ao concentrar os

    esforos em como resolver o problema, no questionaram seu porqu e nem tampouco a

    estrutura de poder relacionada a esse cenrio. Hoje, essas propostas se perpetuam e

    representam libis culturais para a especulao econmica e a ineficincia poltica.

    H de se perguntar por que as moradias devem ser as mais baratas possveis. Por que, em vez

    de reduzirmos tudo ao mnimo, no fazemos espaos residenciais seguros, ventilados,

    ensolarados, ricos em oportunidades de privacidade, comunicao e expresso pessoal? Num

    mundo onde se investe tanto em guerras, estruturas de vigilncia e suprfluos de todo tipo,

    no basta o argumento da escassez de recursos para explicar essa questo. As prioridades

    econmicas parecem fazer sentido apenas para a manuteno e continuidade das estruturas de

    poder estabelecidas. Trabalhar no como em vez de se perguntar o porqu exclui a

    realidade do processo de planejamento.

    As concepes de obra ntegra, autoria individual e usurio passivo continuam fazendo parte

    do trabalho dos arquitetos. De um modo geral, pouco se evoluiu em consideraes opostas a

    esses conceitos, ainda que haja exemplos de arquitetos que se engajaram em processos mais

    abertos, como Lucien Kroll, Ralph Erskine, Christopher Alexander, Walter Segal, N. John

    Habraken, John Turner, Yona Friedman, os membros do Archigram e Cedric Price, para citar

    alguns. Esses arquitetos se empenharam, nos anos 60, no combate viso do usurio passivo,

    levantando, para isso, a discusso acerca da produo tradicional da arquitetura4. Eles se

    opuseram criao de produtos acabados e buscaram a idia do projeto como processo aberto.

    Nessa perspectiva, criticaram a produo em massa, o processo de projeto tradicional (que

    reproduz a separao entre projeto, construo e uso) e os procedimentos construtivos que

    reforam a diviso do trabalho. Isso ocorreu principalmente na Europa, logo aps o perodo

    de produo intensa da indstria da construo, devido s reconstrues do ps-guerra. Esses

    arquitetos tentaram projetar e construir usando alguma forma de participao do usurio.

    Kroll, Erskine, Alexander, Habraken e Friedman fizeram uma crtica produo em massa

    sem a individualizao das moradias, preocupando-se com a satisfao dos usurios, sem, no

    entanto, questionar os fundamentos do processo tradicional de produo arquitetnica. J

    Segal, fez uma crtica da base desse processo de projeto, tomando o usurio como produtor do

    seu espao por meio da autoconstruo, incluindo a pesquisa de materiais que facilitassem

    4 Informaes disponveis em: . Acessado em: 28 ago. 2007.

  • O Processo Participativo em Arquitetura 25

    essa participao e a flexibilidade dos espaos. Mas, em suas propostas, as fases de concepo

    e construo ainda estariam separadas. A flexibilidade nos espaos proposta por Habraken e

    Segal aponta para uma maior adaptabilidade e uma maior participao do usurio ao longo do

    tempo. Friedman, os integrantes do Archigram e Cedric Price contriburam com propostas de

    espaos mutantes, que dependeriam da atuao dos usurios para se conformarem, ainda que

    temporariamente. Price props determinar os instrumentos e as interfaces para a construo

    do espao, e no o produto final, com seu significado definido antes do uso. Essas ltimas

    idias, mesmo sem serem construdas, aqueceram, aps os anos 60, o debate da arquitetura

    como processo aberto e contnuo, tomando o usurio como produtor do seu espao, e no

    somente como sujeito passivo.

    Ento, necessrio imaginarmos outros procedimentos, essencialmente diferentes dos convencionais, para que o conhecimento especializado de arquitetura se torne til a uma gama ampla da populao, sem desembocar na tradicional tutela. Tais procedimentos excluem as concepes de obra ntegra, autoria individual e usurio passivo. Talvez excluam at mesmo o projeto tcnico na sua forma convencional, pois, por enquanto, difcil provar que ele seja um mediador necessrio e til entre arquitetura e uso, sobretudo se reservado aos especialistas. (KAPP, 2005)

    Assim, vemos que a atividade do arquiteto no processo de projeto tradicional, desde a

    expanso do capitalismo industrial, com exceo de algumas iniciativas opostas, se volta

    freqentemente para a resoluo de questes imediatas. Essas questes se baseiam em

    conceitos que excluem a reflexo participativa, tomando a obra e at mesmo o usurio como

    domnios de sua criao autoral, criando produtos acabados e, assim, limitados em suas

    possibilidades de uso. Dessa forma, contribui-se para a ruptura da linguagem arquitetnica

    compartilhada pela cultura e para a construo de um mundo distante do desejado.

  • O Processo Participativo em Arquitetura 26

    2.2 A PARTICIPAO NA ARQUITETURA: APROXIMANDO AGENTES

    Se os profissionais no souberem trabalhar com as pessoas das quais dependem para ter um conhecimento do local e para conseguir o xito do projeto, estaro sem dvida exercendo as convenes dos praticantes da especializao, (...) para distingui-los dos praticantes reflexivos, que no tm de defender um status artificial. (TURNER, 1990, p.105)

    Para voltarmos a ter uma arquitetura que seja um produto no autoritrio, o primeiro passo

    seria a reaproximao entre arquitetos e usurios, ou entre arquitetura e uso, em torno da

    discusso das formas de elaborao e apropriao do fenmeno arquitetnico. Se essas

    barreiras forem superadas, projeto, construo e uso podem se tornar partes de um mesmo

    processo.

    Contudo, h autores que questionam at mesmo a pertinncia do arquiteto e do projeto

    arquitetnico formal na produo habitacional. O mais conhecido deles John Turner (1990),

    que defende a sustentabilidade da construo de moradias sem arquiteto, mediante o

    fornecimento, por parte do poder pblico, de terreno e infra-estrutura bsica. Ele denomina

    essa alternativa de programas de servios em vez dos tradicionais programa de projeto

    de entrega das chaves e atesta que ela pode ser a mais eficaz em pases onde a maioria da

    populao de baixa renda. A proposta resgata a proximidade do usurio com o produto

    arquitetnico e, com todas as deficincias, pode dar origem a comunidades mais coesas e at

    favorecer atividades de gerao de renda.

    No entanto, propostas como a de Turner dependem diretamente de polticas pblicas que

    reservem grandes pores de terras para fins habitacionais e que promovam a autonomia de

    indivduos e pequenos grupos. Como no nosso caso essas condies inexistem, predominam

    ocupaes de alta densidade e tipologias verticalizadas (todos os empreendimentos

    autogestionrios em andamento na SMAHAB hoje so verticalizados). Enquanto na

    arquitetura unifamiliar a construo sem o arquiteto relativamente simples, a verticalizao,

    com suas mediaes de espao privado e coletivo, parece tornar imprescindvel a presena de

    um profissional que equilibre e distribua esses espaos. Mas, mesmo que admitamos a

    necessidade desse profissional, sua atuao deveria se pautar em organizar a estrutura comum

    e gerar uma distribuio equilibrada, e no em tutelar o usurio e o uso. necessrio estudar

    como contribuir para essa organizao sem definir as necessidades dos usurios de antemo e

    sem congelar o uso do espao.

  • O Processo Participativo em Arquitetura 27

    Blundell-Jones, Till e Petrescu (2005) definem a participao em arquitetura como o

    envolvimento do usurio em algum estgio no processo de projeto. Eles alertam que a

    participao no garantia de sustentabilidade, mas uma aproximao que assume riscos e

    incertezas. Alm da estrutura tcnica e econmica da arquitetura, a participao tambm

    pressupe um engajamento poltico, um termo freqentemente negado pelos arquitetos no seu

    trabalho. A funcionalidade e a esttica no devem ser termos neutros, mas tambm

    politizados.

    Vrios obstculos estruturais se opem a uma participao efetiva. O primeiro deles a

    divergncia entre os interesses do chamado "cliente" (financiador do empreendimento, seja

    ele pblico ou privado) e a real necessidade dos usurios. Segundo Blundell-Jones, Till e

    Petrescu (2005), a participao tem a funo de diferenciar a demanda dos clientes do desejo

    dos usurios, pois os arquitetos muitas vezes atendem a essa primeira demanda e se esquecem

    dos reais usurios do espao. Esse problema especialmente evidente na produo

    habitacional por gesto pblica. Nela assistimos reproduo de modelos padronizados que

    pouco ou nada se relacionam com o grupo e com o local aos quais de destinam. No caso da

    habitao social produzida por processo autogestionrio, o problema poderia ser amenizado

    por gerar condies favorveis participao.

    Outro obstculo abordado por Blundell-Jones, Till e Petrescu a influncia dos meios de

    comunicao de massa na compreenso do produto arquitetnico. Segundo os autores, tais

    meios enfatizam a superfcie e a imagem, ajudando a criar usurios passivos. O pblico perde

    a viso do potencial transformador do edifcio e de como poderia participar dessa

    transformao. como se a arquitetura no inclusse materiais reais, e no fosse habitada por

    pessoas em permanente mudana. A arquitetura precisa, ento, ser novamente entendida em

    sua estrutura mais profunda, e deve estar engajada no contexto em todos os sentidos, atravs

    do tempo e da experincia do uso.

    Entendemos, ento, que uma aproximao do arquiteto com os usurios e dos usurios com a

    prpria arquitetura fundamental para o restabelecimento de uma arquitetura que seja um

    produto cultural. Para isso, faz-se necessria uma busca por conceitos e estratgias que

    priorizem essa comunicao participativa, objetivando a real adequao e qualidade dos

    espaos.

  • O Processo Participativo em Arquitetura 28

    2.3 UMA PROPOSTA PARA PROJETOS PARTICIPATIVOS

    De Carlo (2005) prope algumas diretrizes para projetos participativos. Ele parte do princpio

    de que a participao coletiva introduz uma serie de aes que no podem ser previstas.

    Assim, em vez de se basear na vaga inspirao e gosto dependentes do poder do cliente,

    prope o rigor do mtodo cientfico para a evoluo do processo.

    A participao efetiva significa no projetar para os clientes, e sim projetar com os usurios.

    Quando projetamos para um cliente, os consensos tendem a se tornar fatos congelados

    forma autoritria e repressiva de projeto e os usurios no tm motivos para defender o

    empreendimento, pois no fizeram parte do processo. Por outro lado, quando projetamos com

    os usurios, o consenso pode permanecer sempre aberto forma liberal e democrtica de

    projeto favorecendo uma participao contnua. Isso implica variveis complexas, que

    nunca poderiam ser equilibradas a no ser por um contnuo processo de alternncia de

    observaes, proposies e avaliaes, isto , pelo uso do mtodo cientfico. A participao

    deve transformar o planejamento arquitetnico de sua forma autoritria atual em um processo.

    Esse processo comea, segundo De Carlo, com a descoberta das necessidades autnticas dos

    usurios, passando pela formulao de hipteses, e entrando posteriormente na fase de

    administrao e uso. Nesta ltima, em vez de chegar ao final, o processo reaberto numa

    continuidade de reformulaes. Assim, as fases tm, alm da relao seqencial, uma relao

    cclica.

    Para a descoberta das necessidades autnticas dos usurios, segundo o autor, podemos

    lidar com o usurio genrico, conformando uma operao tcnica, ou optar por uma concreta

    condio da sociedade, identificando um tipo particular de usurio, gerando uma operao

    poltica. A primeira opo nos faz voltar ao problema, comum no Movimento Moderno, da

    suposio de um usurio inexistente, com necessidades genricas estimadas. A ltima opo

    gera uma pesquisa mais complexa: a definio das necessidades requer a presena concreta

    daqueles que a demandam. Esse procedimento deve primar pela reunio de informaes e

    crticas que exponham o sistema de valores imposto, dissipando a centenria alienao com

    que foi produzido, para evitar refletir os valores da estrutura de poder. Deve-se expor aos

    usurios seu direito a ter e a se expressar, com todos os riscos de confronto que isso possa

    incluir. Deve-se questionar os valores tradicionais, j que eles foram construdos em

    processos no-participativos.

  • O Processo Participativo em Arquitetura 29

    J a fase chamada por De Carlo de formulao das hipteses corresponde ao dito projeto nos

    planejamentos tradicionais. No processo participativo, os objetivos so definidos no prprio

    processo: na contnua interao das necessidades autnticas com as imagens de configuraes

    espaciais. As necessidades vo sendo refinadas e a configurao do espao, aperfeioada. Os

    produtos no so fechados, mas livres, como a prpria mobilidade do processo. A seqncia

    suspensa quando um ponto de equilbrio atingido, permitindo a materializao no espao da

    ltima hiptese satisfatria. Posteriormente, o processo continuar na fase de uso.

    O trabalho do arquiteto nessa etapa consiste em expandir a seqncia de hipteses, ampliando

    a imagem alm de fronteiras impostas; mostrar o que poderia ser alcanado, em vez de

    obedecer a uma ordem predefinida; permitir o confronto do objetivo com as reais

    possibilidades. No caso especfico do trabalho com as populaes de baixa renda, o arquiteto

    deve primeiro restabelecer os termos da sua liberdade e, na seqncia, mostrar a brutalidade

    do modelo autoritrio. Para isso, deve-se utilizar uma comparao deste ltimo com modelos

    que os moradores deveriam ter o direito de obter se os recursos econmicos, cientficos e

    tecnolgicos viveis hoje fossem realmente utilizados para satisfazer suas necessidades. Feito

    isso, sucessivas hipteses devem comear a envolver o usurio diretamente como protagonista

    numa ao progressiva de seleo e definio.

    Nos processos participativos, o planejamento no termina com a construo do

    empreendimento: a administrao e o uso fazem parte desses processos. Durante a

    ocupao, ainda segundo De Carlo, o arquiteto sai de cena e os conflitos passam a existir

    entre o espao criado e o usurio. A arquitetura deve ser capaz de se adaptar a transformaes

    postas pelo usurio e o usurio deve tambm ser transformado pelo estmulo que a qualidade

    do espao lhe transmite. O planejamento arquitetnico no deve condicionar o usurio, como

    nos modelos que contm espaos rigidamente e autoritariamente definidos. Nesses modelos,

    so usados cdigos exclusivos e privados, dificultando um compartilhamento em termos de

    comunicao e uma compreenso do espao por parte do usurio. Mas, o modo como um

    objeto de arquitetura pode ser utilizado um fator de medida da sua qualidade. E a

    flexibilidade dada pelo espao ao usurio depende dessa qualidade.

  • O Processo Participativo em Arquitetura 30

    2.4 NVEIS DE PARTICIPAO

    Num processo participativo, torna-se importante identificar os nveis de participao

    pretendidos e os efetivamente atingidos, pois muitas vezes a participao no alcana o

    significado proposto. O processo pode compreender aes, muitas vezes implcitas, que

    limitam a liberdade do participante, comprometendo a validade dos resultados.

    Souza (2002) prope uma escala de classificao para o grau de abertura da participao

    popular no planejamento e gesto do Estado, organizada da seguinte forma:

    1. Situaes de no-participao: envolvendo os tipos denominados coero e

    manipulao.

    2. Situaes de pseudoparticipao: envolvendo os tipos denominados informao,

    consulta e cooptao.

    3. Situaes de participao autntica: envolvendo os tipos denominados parceria,

    delegao de poder e autogesto.

    Dentre as situaes de no-participao, a de coero representa aquela em que nem sequer as

    aparncias de participao so salvas. J a manipulao corresponde a situaes nas quais a

    populao envolvida induzida a aceitar uma interveno mediante o uso de mecanismos

    como, por exemplo, o da propaganda.

    Quanto s situaes de pseudoparticipao, o tipo caracterizado por Souza como informao,

    aquele em que o Estado disponibiliza informaes sobre as intervenes planejadas, sendo

    elas mais ou menos completas dependendo da cultura, da poltica e do grau de transparncia.

    Na consulta, o Estado no se limita a permitir o acesso a informaes relevantes, sendo a

    prpria populao consultada. O processo de consulta pode ser bem organizado e til para a

    atividade de planejamento, mas no h garantia de incorporao das opinies nele colhidas.

    Na prtica, argumentos tcnicos so muitas vezes invocados de maneira exagerada e

    tendenciosa para justificar a no incorporao das sugestes da populao. A cooptao, por

    sua vez, pode se dar de vrias formas. Aqui, faz-se referncia cooptao de indivduos

    (lderes populares, pessoas chaves) ou de segmentos mais ativos, convidados a integrarem

    postos na administrao ou a aderirem a um determinado canal participativo. A populao

    ouvida por meio dos lderes. A diferena em relao consulta que instncias permanentes

    so criadas, no se limitando o Estado a promover pesquisas de opinio. Mas, como no caso

  • O Processo Participativo em Arquitetura 31

    da consulta, a participao no , a rigor, deliberativa. Assim, se a instncia participativa no

    possuir real poder decisrio, h o risco de domesticao e desmobilizao ainda maior da

    sociedade civil. A cooptao pode ser vantajosa para grupos, mas para a coletividade, a longo

    prazo, pode ser um problema, no passando, assim, de uma pseudoparticipao.

    A parceria, segundo Souza, corresponde ao primeiro grau de participao autntica. O Estado

    e a sociedade civil organizada colaboram para a implementao de uma poltica pblica ou

    viabilizao de uma interveno, em um ambiente de dilogo e de razovel transparncia. J a

    delegao de poder vai alm da parceria: o Estado abdica de atribuies antes vistas como sua

    prerrogativa, em favor da sociedade civil. A parceria e a delegao de poder constituem

    situaes de co-gesto entre o Estado e a sociedade civil. A autogesto, ainda segundo Souza,

    no seria plenamente alcanvel nos marcos do binmio capitalismo e democracia

    representativa. Nesse binmio, a delegao de poder o nvel de participao mais elevado

    que se pode alcanar.

    Ir alm disso - ou seja, implementar polticas e intervenes de modo autogestionrio, sem a presena de uma instncia de poder pairando acima da sociedade (Estado), a qual decide quanto, quando e como o poder poder ser transferido pressupe, a rigor, um macrocontexto social diferente: pressupe uma sociedade basicamente autnoma (SOUZA, 2002, p.205).

    Segundo o autor, isso no elimina a possibilidade de se ter experincias autogestionrias

    marginais, menos ou mais efmeras e com menor ou maior impacto poltico-pedaggico nas

    bordas do sistema heternomo.

    Somente as categorias de participao autntica correspondem a marcos poltico-institucionais

    em que se pode, efetivamente, ter a esperana de que as solues de planejamento e gesto

    sejam encontradas de modo democrtico e sobre os alicerces do agir comunicativo. As

    situaes de no participao representam a arrogncia do discurso competente e as

    situaes de pseudoparticipao ainda so manifestaes evidentes de uma sociedade

    heternoma. Segundo Souza, preciso admitir que, para se atingir a autogesto, preciso

    muito mais que uma transformao poltica local, faz-se necessrio uma transformao social

    profunda, impossvel de ser alcanada apenas dentro do raio de ao de uma cidade. Porm,

    isso no exclui a possibilidade de serem alcanados importantes ganhos de autonomia, mesmo

    no interior de uma sociedade capitalista, desde que elementos da democracia direta sejam

    combinados, de forma consistente, com os mecanismos convencionais da democracia

    representativa.

  • O Processo Participativo em Arquitetura 32

    2.5 O APERFEIOAMENTO DO PROJETO ARQUITETNICO PELA PARTICIPAO

    O projeto arquitetnico participativo pode aperfeioar a atividade do arquiteto, a compreenso

    do espao pelo usurio e o produto da arquitetura. Vimos neste captulo que essa prtica

    processual pode trazer os seguintes benefcios:

    Estabelecer uma comunicao necessria a uma melhor elaborao do projeto (mais condizente com a cultura dos usurios).

    Fornecer aos arquitetos e demais projetistas uma ferramenta que funciona com as bases cientficas da experimentao e anlise de resultados, a partir da qual se pode refazer

    continuamente as estratgias da atividade projetual.

    Criar possibilidades de os arquitetos conhecerem diversas circunstncias de projeto, desmistificando os parmetros genricos adotados com o Movimento Moderno.

    Fornecer dados que permitem tornar os espaos mais instigantes e flexveis para os usurios, contribuindo para uma arquitetura mais pertinente, que no se baseia em

    expectativas congeladas de uso, mas adaptvel criatividade e s necessidades dos

    usurios.

    Gerar o questionamento de ambos os agentes (arquitetos e usurios) a respeito de seus papis na concepo, na construo e no uso dos espaos, bem como a respeito das

    formas autoritrias de projeto, tentando super-las.

    Gerar o questionamento das formas mais comuns de produo do espao, nas quais as decises de onde e como as atividades humanas devem acontecer esto concentradas nas

    esferas econmica, poltica e tecnolgica, sem considerar os demais parmetros

    necessrios formao de espaos dignos.

  • 3 O SISTEMA DE AUTOGESTO NA PBH

  • O Sistema de Autogesto na PBH 34

    3.1 POLTICA MUNICIPAL E FORMAS DE GESTO DA HABITAO DE INTERESSE SOCIAL NA

    PBH

    A Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, em 1993, priorizou o enfrentamento da questo

    habitacional que se agravara pela ausncia de uma poltica nacional. Foi implantado, nessa

    ocasio, o Sistema Municipal de Habitao, constitudo pelo Conselho Municipal de

    Habitao (CMH) como instncia deliberativa, o Fundo Municipal de Habitao Popular

    (FMHP) e dois rgos executores: a Secretaria Municipal Adjunta de Habitao (SMAHAB)

    e a Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (URBEL).5

    Segundo a PBH, A Poltica Municipal de Habitao, aprovada em 1994, prev duas linhas de

    atuao, sendo uma de interveno em assentamentos existentes que busca a reduo do

    dficit habitacional qualitativo e outra de produo de novos assentamentos buscando

    reduzir o dficit quantitativo, atendendo s famlias organizadas nas associaes e

    movimentos dos sem casa e s famlias removidas de reas de risco, implantao de obras

    pblicas, desabrigadas por calamidades e sujeitas ao risco social. Esta poltica define como

    diretriz a destinao de recursos do oramento municipal e a captao de recursos externos

    para ampliar a oferta de moradias para famlias de baixa renda, minimizando o dficit

    habitacional e promovendo a incluso social na cidade.

    Em 1996, a partir de reivindicaes de grupos organizados e de demandas por moradia

    identificadas no processo do Oramento Participativo de Obras, foi implantado o Oramento

    Participativo da Habitao. O Programa visa discusso pblica, a cada dois anos, dos

    recursos oramentrios municipais para investimentos na linha de produo de moradias da

    Poltica Municipal de Habitao e beneficia famlias com renda de at cinco salrios mnimos.

    Essa participao busca a incluso da sociedade na orientao e fiscalizao dos recursos

    municipais e envolve a definio da distribuio de benefcios entre os ncleos de sem casa

    previamente cadastrados pela Secretaria Municipal Adjunta de Habitao.

    Os programas habitacionais desenvolvidos em Belo Horizonte, com recursos prprios da PBH

    somados aos recursos externos captados por meio de programas de financiamento do Governo

    Federal, tm sido referncia para outras prefeituras e rgos federais ligados questo

    habitacional, pela sua vinculao participao popular.

    5 Estas informaes foram fornecidas pela PBH.

  • O Sistema de Autogesto na PBH 35

    Na implementao dos programas habitacionais da PBH, segundo o artigo 12 da resoluo II

    do Conselho Municipal de Habitao6, de 01 de dezembro de 1994, podem ser utilizadas trs

    formas de gesto: gesto pblica, co-gesto e autogesto.

    Na gesto pblica, o poder pblico gerencia o processo de produo habitacional, incluindo a

    compra da rea, a elaborao dos projetos, a execuo das obras e servios e o

    acompanhamento ps-ocupao. Os beneficirios recebem o produto final acabado (entrega

    das chaves). Entre os anos de 1996 e 2007, a PBH concluiu 29 empreendimentos pelo sistema

    de gesto pblica, nos programas OPH e para populaes provenientes de reas de risco.

    Na co-gesto o gerenciamento do processo de produo habitacional dividido entre o poder

    pblico e o movimento popular organizado. Entre os anos de 1992 e 1994, a PBH concluiu

    quatro empreendimentos pelo sistema de co-gesto, onde foram repassados aos beneficirios

    os materiais de construo.

    Na autogesto, ainda segundo a resoluo II do Conselho Municipal de Habitao, o

    movimento popular organizado gerencia os recursos financeiros e o processo de produo dos

    empreendimentos habitacionais e apoiado por rgos pblicos e assessorado por tcnicos

    que ele prprio contrata. So repassados aos beneficirios os recursos financeiros. Entre os

    anos de 1996 e 2007, a PBH concluiu 11 empreendimentos pelo sistema de autogesto e

    outros 13 esto em andamento pelo Programa Crdito Solidrio.

    Em Belo Horizonte, o sistema de autogesto foi previsto pela Prefeitura Municipal em 1994 e

    regulamentado e implantado em 19 de agosto de 1996 pela resoluo IV do Conselho

    Municipal de Habitao, que aprova procedimentos para a operacionalizao do processo de

    produo de moradias pelo Programa de Produo de Conjuntos Habitacionais e Lotes

    Urbanizados por Autogesto. No Brasil, a autogesto vem se difundindo mais amplamente a

    partir da criao do Programa Crdito Solidrio, em 2004. Atualmente, os empreendimentos

    autogestionrios da PBH esto inseridos nesse ltimo programa e, no passado, foram

    realizados com recursos do Oramento Participativo da Habitao e do Programa de Subsdio

    Habitao.

    6 A resoluo II do Conselho Municipal de Habitao aprova a Poltica Habitacional para o municpio de Belo Horizonte.

  • O Sistema de Autogesto na PBH 36

    3.2 O PROGRAMA CRDITO SOLIDRIO

    Como mencionado anteriormente, os recursos dos empreendimentos autogestionrios

    analisados nesta dissertao provm do Programa Crdito Solidrio.

    O Crdito Solidrio um programa do governo federal de financiamento habitacional com

    recursos do Fundo de Desenvolvimento Social (FDS), criado conforme a Resoluo 93/04 de

    28 de abril de 2004 e, no perodo de desenvolvimento dos projetos arquitetnicos dos estudos

    de caso, regulamentado pelo Ministrio das Cidades nas disposies da Instruo Normativa

    11/047. Sua implementao uma reivindicao e conquista do movimento popular, que

    buscou junto ao governo federal uma nova linha de crdito de financiamento direto s

    associaes dos sem casa. Em Belo Horizonte, o programa conta com a parceria entre a PBH,

    CEF, UEMP e FAMEMG. Segundo a resoluo 93/04, seu objetivo atender s necessidades

    habitacionais da populao de baixa renda, organizadas por cooperativas ou por associaes

    com fins habitacionais, visando produo de novas habitaes, concluso e reforma de

    moradias existentes, nas modalidades de aquisio de material de construo, aquisio de

    terreno e construo, construo em terreno prprio ou concluso, ampliao e reforma de

    imvel.

    Para participar do programa, as famlias devem estar organizadas em cooperativas ou

    associaes e ter renda bruta mensal de at trs salrios mnimos8. Admite-se tambm a

    participao de famlias com renda bruta mensal at cinco salrios mnimos limitadas 35%

    da composio do grupo associativo, no caso de propostas apresentadas por municpios

    integrantes de regies metropolitanas e capitais estaduais, e at 20% do grupo no caso dos

    demais municpios e reas rurais.

    Para a seleo das propostas de empreendimentos, cada associao preenche e apresenta

    Caixa Econmica Federal uma carta-consulta contendo as informaes do conjunto

    pretendido para serem analisadas e, posteriormente, encaminhadas por esse rgo ao

    7 Posteriormente, o Programa Crdito Solidrio passou a ser regulamentado nas disposies da instruo normativa 39, de 28 de dezembro de 2005, e suas posteriores alteraes. Informaes disponveis em: . Acesso em: 18 set. 2007. 8 Nas disposies da instruo normativa 39, de 28 de dezembro de 2005, a renda bruta mensal familiar passou a ser de at R$ 1.050,00, deixando de ser mensurada por salrios mnimos. Informaes disponveis em: . Acesso em: 18 set. 2007.

  • O Sistema de Autogesto na PBH 37

    Ministrio das Cidades (Secretaria Nacional de Habitao) para hierarquizao e seleo9.

    Posteriormente, a CEF convoca as respectivas entidades para adoo das providncias

    necessrias ao incio do processo. As propostas selecionadas no tm prazo pr-estabelecido

    para apresentao do projeto e da documentao para a CEF10.

    De acordo com informaes do Ministrio das Cidades11,

    o empreendimento deve estar inserido ou junto malha urbana, com infra-estrutura bsica de gua, luz, ruas, soluo de esgoto e coleta de lixo. O projeto dever obedecer s leis e posturas municipais, garantindo s unidades habitacionais os padres mnimos de salubridade, segurana e habitabilidade.

    Os recursos do FDS financiam, sem cobrana de juros e num prazo de 218 meses12, at 95%

    do valor do investimento, observados alguns critrios como porte do municpio, capacidade

    de pagamento dos beneficirios e modalidade do programa. O valor do investimento inclui

    todos os custos diretos e indiretos necessrios execuo dos servios. Cabe ao futuro

    beneficirio o investimento de 5% do valor gasto pelo FDS com financiamento, que em Belo

    Horizonte a PBH investe como contrapartida. Os 95% do valor do investimento retornam ao

    FDS para serem utilizados na concesso de novos financiamentos para o acesso de outras

    famlias ao programa.

    O financiamento concedido diretamente s famlias. De acordo com informaes do

    Ministrio das Cidades, depois da aprovao do empreendimento pela CEF, so

    providenciadas as pesquisas cadastrais e anlise de capacidade de pagamento dos

    beneficirios de acordo com a renda familiar. Aps a aprovao dos cadastros, os contratos de

    financiamento so assinados.

    Em virtude de se tratar de um processo relativamente novo, construdo e aperfeioado com

    base nas experincias realizadas at o momento, nas quais esto sendo buscadas novas formas

    de organizao e trabalho, o tempo decorrido entre a aprovao das cartas consultas e

    assinatura dos contratos com os beneficirios tem sido bastante longo. Isso gerou, em alguns

    casos, um segundo processo de enquadramento do programa, com a necessidade de

    apresentao de novas cartas consultas pelas entidades que, embora j tivessem suas

    9 O modelo de carta-consulta e outros formulrios utilizados para seleo e enquadramento dos empreendimentos no PCS encontram-se no Anexo A. 10 Na ocasio da elaborao dos projetos dos conjuntos estudados nesta pesquisa, a CEF estabelecia 60 dias de prazo para a entrega dessa documentao, prazo este que foi estendido durante o processo em alguns casos. 11 Informaes disponveis em . Acesso em: 18 set. 2007. 12 Dados do ano de 2006.

  • O Sistema de Autogesto na PBH 38

    propostas selecionadas, ainda no haviam assinado os contratos de financiamento no prazo

    comum.

    De acordo com a resoluo 93/04, as obras dos empreendimentos do Programa Crdito

    Solidrio devem sempre ser supervisionadas pela assessoria tcnica, e sua forma de execuo

    ser de livre escolha pelos usurios do crdito entre as alternativas de autoconstruo, sistema

    de auto-ajuda ou mutiro e administrao direta, com contratao de profissionais ou

    empresas para a realizao de servios especializados.

    3.3 AGENTES E ETAPAS DA AUTOGESTO

    Para a construo de moradias populares pelo processo de autogesto, de acordo com a

    resoluo IV do Conselho Municipal de Habitao, de 19 de agosto de 1996, so necessrios

    quatro agentes: o agente operador (em Belo Horizonte, a Secretaria Municipal Adjunta de

    Habitao SMAHAB), o agente executor (associaes e cooperativas habitacionais

    cadastradas na SMAHAB), o agente de assessoria tcnica (ONGs, empresas privadas e

    entidades de ensino cadastradas na SMAHAB) e o associado (muncipe beneficirio).

    O agente operador, o rgo responsvel pela fiscalizao do processo e pelo repasse dos

    recursos. Suas responsabilidades so: garantir recursos; elaborar normas e termos de

    referncia; analisar e aprovar a prestao de contas dos agentes executores; fiscalizar, efetuar

    medies e liberar, de acordo com cronograma fsico-financeiro, as parcelas de recurso para

    cada etapa do empreendimento, aps a comprovao do cumprimento da etapa anterior;

    cadastrar agentes executores e de assessoria tcnica; apoiar os agentes executores. O agente

    operador, nos casos estudados nesta pesquisa, a SMAHAB.

    O agente executor formado por associaes com fins habitacionais. A associao

    responsvel pela gesto dos recursos do empreendimento, atravs de decises conjuntas. Suas

    responsabilidades so: cadastrar-se na SMAHAB; representar as famlias beneficirias;

    garantir a participao das famlias; contratar, a seu critrio, assessoria tcnica devidamente

    cadastrada na SMAHAB; estabelecer critrios e organizar a distribuio das unidades entre as

    famlias beneficirias; administrar e prestar contas SMAHAB da aplicao dos recursos;

    apresentar os produtos executados para anlise da SMAHAB.

  • O Sistema de Autogesto na PBH