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DISPOSITIVOS ALTERNATIVOS PARA MELHORIA DAS CONDIÇÕES DEOPERAÇÃO DE SERRAS EM INDÚSTRIAS MADEIREIRAS

Rômulo Maziero1,Vinicius Peixoto Tinti2, Wendel Pianca Demuner 3, Clovis EHegedus4

Universidade Federal do Espírito Santo - UFES/Departamento de Engenh aria Florestal, Av. GovernadorLindemberg, 316, Jerônimo Monteiro, ES, CEP.: 29.550.000

1 [email protected] – UFES/Acadêmico de Engenharia Industrial Madeireira2 [email protected] – UFES/Acadêmico de Engenharia Industrial Madeireira

[email protected] – UFES/Acadêmico de Engenharia Industrial [email protected] – UFES/Professor adjunto Departamento de Engenharia Florestal

Resumo- Os cuidados necessários para o manuseio de serra circular e serra destopadeira sãoindispensáveis para a redução de acidentes e maior ganho em produtividade. Pensando nesta questão, otrabalho desenvolvido propôs pesquisar, testar e comparar formas rápidas e baratas que permitam adaptardispositivos que evitem acidentes, sem reduzir a produtividade, requisito básico para o aumento do bemestar do indivíduo e aumento da competitividade da empresa. O estudo tomou como base empresas nosegmento industrial madeireiro, localizadas na região do entorno de Jerônimo Monteiro -ES. Inicialmenterealizou-se um estudo preliminar do processo produtivo das empresas visitadas, com isso, foi possívelverificar a viabilidade de novos dispositivos que aumentando a segurança, não reduzam a produtividade.Desta maneira, foi sugerido para instalação nas serras de dispositivos com capacidade de cobrir toda a áre ade risco envolvendo as mãos do operador. Os resultados obtidos foram analisados e tabulados, onde foipossível observar os impactos no processo operacional dos equipamentos e denotar que a funcionalidadedo mesmo atendeu as expectativas quanto à seguranç a do operador, sem afetar o rendimento.

Palavras-chave: Indústria madeireira, Serra circular, Serra destopade ira, Dispositivos de segurança,Acidentes de trabalho

Área do Conhecimento: Engenharia Florestal

Introdução

A área definida pela Classificação Nacional deAtividades Econômicas – CNAE (CONCLA, 2009)para a atividade de 16.10-2 – Desdobramento daMadeira, 16.22 – Fabricação de Estruturas deMadeira, 16.23 – Embalagens de Madeira, 16.29 –Fabricação de artefatos de madeira e 31.01 -2 –Fabricação de móveis com predominância damadeira apresenta no relatório 2006/2007 um altoíndice de acidentes nesta área, inclusive comacréscimo de aproximadamente 20% de um anopara outro (MTE, 2008). É sabido que uma dasprincipais áreas de acidentes, com lesõespermanentes com perdas de dedos e mãos sãoduas das mais comuns máquinas utilizadas noprocesso de desdobro e processamento damadeira, a serra circular e a serra destopadeira.Estudo feito entre 1998 e 2001 pela Secretaria daSaúde do Estado do Paraná mos tra que aindústria da madeira é que alcançou o maiornúmero de acidentes com amputações no período,conforme se vê na figura 1 adiante, e na figura 2 éapresentada qual a principal máquina causadoradas amputações, destacando-se a serra circular,responsável por 15% de todas as amputaçõesregistradas. (ARAUJO, C. R.; SALGADO, J. C.;

2002). FIEDLER e outros (2001) corroboram aleitura feita, em relação a marcenarias no DistritoFederal.

Figura 1 - Amputações por ramo de atividade noperíodo 1998 a 2001.Fonte: ARAUJO, C. R.; SALGADO, J. C.; 2002.

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Figura 2 - Amputações por grupo de causas noperíodo 1998 a 2001.Fonte: ARAUJO, C. R.; SALGADO, J. C.; 2002.

A percepção mostrada pelas estatísticas epelos poucos trabalhos existentes sobre o temalevanta a preocupação na condução de um estudomais aprofundado sobre a proposição dedispositivos simples, que evitem ou reduzam demaneira significativa as causas dos acidentes detrabalho ocorridos nas pequenas e médiasempresas do setor de processamento d a madeirano entorno de Jerônimo Monteiro -ES. Atualmenteexistem alguns dispositivos que atendem taisrequisitos, entretanto seu elevado preço nãoatraem as pequenas e médias empresas, que sesentem impossibilitadas de os adquirirem. Osacidentes com serras circulares e serrasdestopadeiras ocorrem devido a seguintes causas:a) Contato direto com os dentes do disco; b)Retrocesso da peça a cortar; c) Projeção do discoou parte dele.

O projeto acompanhou os métodos utilizadosna operação desses dois tipos de serras,procurando propor e testar formas simples desolução quanto a segurança da operação, semperda de produtividade.

Entende-se que melhorias em termos deoperação e segurança são desafios constantes daengenharia, e estimular a solução dos mesmos,por meio de compreensão das diversasoperações, contribui significativamente para amelhoria da qualidade de vida e aumento dacompetitividade das empresas do segmentomadeireiro. O alto custo decorrente da perda deforça de trabalho, os custos de manutenção doacidentado pelo sistema nacional deaposentadorias, a perda de produtividade porparte das empresas, muitas vezes ocasionadospela impossibilidade de resolver problemassimples de segurança, causam graves prejuízosao País, fatores estes que amplament e justificampesquisas nessa área, possibilitando dessa

maneira uma melhor competitividade da indústriamadeireira.

Metodologia

O experimento foi conduzido no Laboratório deCiência da Madeira do Núcleo de Estudos e deDifusão de Tecnologia em Floresta, RecursosHídricos e Agricultura Sustentável (NEDTEC), doCentro de Ciências Agrárias da UniversidadeFederal do Espírito Santo (CCA-UFES), localizadono município de Jerônimo Monteiro, sul do EspíritoSanto no período de janeiro a junho de 2010.

As máquinas envolvidas no estudo foramserras circulares e serras destopadeiras, e todo oprocesso de implementação do dispositivo constoucom as seguintes etapas:

- Escolha da espécie de madeira e suasdimensões, conforme tabela 1, deste modo, foipossível padronizar a linha de produção e calcularo tempo em função do número de passos (pontode entrada até a saída da peça de madeira dodisco) de acordo com a espécie escolhida,servindo de base para a análise e compilação dosdados.

Tabela 1 - Espécie de madeira utilizada no cortepara o teste do dispositivo de segurança.

Espécie Largura(cm)

Altura(cm)

Área(cm²)

Eucalyptusgrandis 15,00 90,00 1350,00

Fonte: Dados do experimento.

- Escolha do tipo de serra circular e serradestopadeira, para instalação do dispositivo desegurança a ser testado e analisado.

Para a fabricação dos dispositivos foramutilizadas madeiras de demolição, sobras estasgeradas pela construção civil, marcenarias,serrarias, carpintarias, etc., adotando dimensõesdas peças de madeira conforme dimensões demesa da máquina em estudo.

As etapas abaixo seguem a risca a fabricaçãoe montagem dos dispositivos nas serras circularese serras destopadeiras:

- SERRA CIRCULAR (modelo: SCI -25);

1º Preparar as peças de madeira, conforme asdimensões de mesa da máquina: 4 peças com 55x 550mm e 4 peças com 55 x 600mm;

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2º Encaixar as peças, formando dois esquadrosretangulares que ficarão sobre a mesa damáquina;

3º Preparar 4 peças com 55 x 300mm;4º Fazer um rasgo com broca de 5/16” nas

peças com dimensões 55 x 300mm;5º Utilizar de pregos e / ou parafusos de 1/4”

para fixação das peças menores nos esquadrosretangulares;

6º Utilizar de tela metálica para cobrir todo odispositivo, evitando que a projeção de pedaçosde madeira ou dentes do disco atinjam o operador;

7º Acrescentar na parte inferior do esquadroretangular, uma pequena fita de borracha(aproveitar pneus velhos), evitando deste modo oretrocesso da peça a cortar e o contato direto dasmãos com os dentes do disco;

Figura 1 – Serra circular.

- SERRA DESTOPADEIRA (modelo: DT -600);

1º Preparar as peças de madeira, conforme asdimensões de mesa da máquina: 2 peças com 55x 935mm e 2 peças com 55 x 1090mm;

2º Encaixar as peças, formando dois esquadrosque ficarão sobre a mesa da máquina;

3º Preparar 3 peças com 55 x 300mm;4º Fazer um rasgo com broca de 5/16” nas

peças com dimensões 55 x 300mm;5º Utilizar de pregos e / ou parafusos de 1/4”

para fixação das peças menores nos esquadros;6º Utilizar de tela metálica para cobrir todo o

dispositivo, evitando que a projeção de pedaçosde madeira ou dentes do disco atinjam o operador;

7º Acrescentar na parte inferior do esquadro,uma pequena fita de borracha (aproveitar pneusvelhos), evitando deste modo o retrocesso dapeça a cortar e o contato direto das mãos com osdentes do disco;

Figura 2 – Serra Destopadeira.

Resultados

Analisando os dados obtidos na operação seme com dispositivo de segurança instalados nosdois tipos de serras, é comprovado afuncionalidade do mesmo, sem prejudi car demodo algum o rendimento da produção.Submetendo aos testes de tempo versus númerode passos dos dispositivos, é possível analisar odesempenho de cada operação.

Na figura 3, é apresentado o comportamentode uma operação em serra circular sem (linhavermelha) e com dispositivo de segurança (linhaazul). É possível observar que uma máquina comdispositivo não altera na produção, tanto que, otempo de entrada e saída da madeira na serracircular possui um desvio padrão de 0,023 comdispositivo e sem dispositivo de 0,021 para umnúmero de 30 passadas, sendo observadas natabela 2.

A leitura que se faz do gráfico é que a perda notempo de entrada e saída da madeira na serracircular com dispositivo é muito pequena, portanto,com estes dados em mãos é poss ível comprovar afuncionalidade do dispositivo. É possível assumirque as diferenças das médias de tempo devem -sea influência das curvas de aprendizado na tarefa,consolidadas na operação tradicional e ainda emconstrução na tarefa com os dispositivos.

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nº de passos

tempo

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Sem dispositivo [min] Com dispositivo [min]

Figura 3 - Tempo x Nº de passos.Fonte: Dados do experimento.

Tabela 2 - Média e Desvio Padrão.

Dispositivo Média Desvio PadrãoSem 0,168 0,021Com 0,184 0,023

Fonte: Dados do experimento.

Na figura 4, é apresentado o comportamentode uma operação em serra destopadeira sem(linha vermelha) e com dispositivo de segurança(linha azul). É possível observar que uma máquinacom dispositivo não altera a produção, tanto que,o tempo de entrada e saída da madeira na serradestopadeira possui um desvio padrão de 0,040com dispositivo e sem dispositivo de 0,034 paraum número de 30 passadas, sendo observadas natabela 3.

A leitura que se faz do gráfico é que a perda notempo de entrada e saída da madeira na serradestopadeira com dispositivo é muito pequena,portanto, com estes dados em mãos é possívelcomprovar a funcionalidade do dispositivo.

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nº de passos

tempo

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Sem dispositivo [min] Com dispositivo [min]

Figura 4 - Tempo x Nº de passos.Fonte: Dados do experimento.

Tabela 3 - Média e Desvio Padrão.

Dispositivo Média Desvio PadrãoSem 0,034 0,010Com 0,040 0,011

Fonte: Dados do experimento.

Figura 5 – Serra circular com dispositivo desegurança instalado.

Discussão

É amplamente aceito que é de fundamentalimportância o emprego de dispositivos alternativospara assegurar a saúde e o bem estar dooperador, entretanto as pressões econômicas decompetitividade do mundo moderno pressionamas empresas a uma constante procura deprodutividade. Claro está que entre aprodutividade e segurança, é indiscutível aimportância da segunda, pois o dano decorrentede um acidente, qualquer que seja sua extensão éincalculável e inegociável. Nesse sentido o estudo

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mostra que ações simples, de baixo custo,permitem a compatibilização de dois pontosaparentemente conflitantes.

O estudo deparou-se com o fato de que asserras devem dispor de vários tipos demecanismos de proteção, pois não existe nenhummecanismo que possa servir para todas asfunções que as serras podem desempenhar.Entretanto, é importante ressaltar que taismecanismos podem facilmente estar disponíveisna empresa, decorrência de seu baixo custo deelaboração.

Conclusão

A implantação de gaiolas nas áreas de riscodas serras circulares e serras destopadeiras sãovistas como uma forma de minimizar os gargalos,decorrentes da insegurança que estas máquinasoferecem ao operador.

Com dados mostrados ao longo do trabalho épossível comprovar a funcionalidade dosdispositivos e viabilizar sua instalação numprocesso de produção, afim de, criar umaconcepção que favoreça sua utilização nasempresas que processam a madeira,principalmente em pequenas empresas como asencontradas no entorno de Jerônimo Monteiro -ES.

Referências

- ARAUJO, C. R.; SALGADO, J. C.. Perfil dostrabalhadores que sofreram amputações notrabalho. Boletim Epidemiológico : Secretaria daSaúde do Estado do Paraná, ano V, n. 16, inverno,2002.

- COMISSÃO NACIONAL DE CLASSIFICAÇÃO –CONCLA. Tabela CNAE 2.0 para consulta .Brasília: Secretaria da Fazenda, 2009. Disponívelem:http://www.receita.fazenda.gov.br/PessoaJuridica/CNAEfiscal/cnaef.htm. Acesso em: 23 maio 2009.

- FIEDLER, Nilton et al.. Diagnóstico de fatoreshumanos e condições de trabalho em marcenariasno Distrito Federal. Revista Floresta, v. 31, 2001.

- MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO –MTE. Anuário estatístico de acidentes dotrabalho: AEAT 2007. Brasília: MTE, 2008.Disponível em:http://www.previdenciasocial.gov.br/conteudodinamico.php. Acesso em: 22 maio 2009.