disponibilidade e uso de espÉcies florestais nativas de...

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(83) 3322.3222 [email protected] www.conidis.com.br DISPONIBILIDADE E USO DE ESPÉCIES FLORESTAIS NATIVAS DE IMPORTÂNCIA SÓCIOECONÔMICA EM COMUNIDADES RURAIS DO AGRESTE PERNAMBUCANO José Paulo Feitosa de Oliveira Gonzaga (1); Christianne Torres de Paiva (2) (Instituto de Tecnologia de Pernambuco/Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, [email protected] (1); [email protected] (2)) Resumo: Dentre as espécies florestais de importância socioeconômica para comunidades rurais inseridas no bioma Caatinga, destaca-se a aroeira (Myracrodruon urundeuva Allemão). O presente estudo foi realizado nas comunidades de Mocós e Várzea da Passira, localizadas no município de Feira Nova, mesorregião do Agreste pernambucano, foi realizado um Diagnóstico Rápido Participativo (DRP) nas propriedades locais, objetivando descrever o perfil socioeconômico e ambiental, além do inventário etnobotânico. O levantamento da vegetação foi realizado com a técnica da Turnê Guiada. Nas propriedades visitadas foram identificados, georeferenciados e avaliados quanto a estrutura, localização e sinais de exploração (corte ou retirada de casca), indivíduos de aroeira com CAP≥ 5cm. Os resultados evidenciaram que as plantas estão presentes em 70% das propriedades visitadas, com baixa densidade populacional, distribuídas em diferentes locais. Verificou-se que 84% das plantas de aroeira encontradas apresentavam sinais de exploração. Com relação ao conhecimento popular local acerca da aroeira, verificou-se que 65% dos entrevistados já utilizou a aroeira, sendo que 83% sabem identifica-la. O principal uso observado é medicinal. De acordo com os entrevistados, a entrecasca é a parte das plantas utilizadas para fins fitoterápicos no caso eventual de pancadas, feridas, inflamações diversas, inflamação do aparelho genital feminino, gastrite e inflamações bucais. Obteve-se Valor de Uso (VU) de 1,22. O conhecimento acerca do uso da aroeira circula na comunidade por vias informais. Por isso é necessário o desenvolvimento de estratégias de conservação do conhecimento, bem como da espécie estudada, face ao risco de desaparecimento na localidade. Palavras-Chave: Uso de espécies florestais da Caatinga; etnobotânica; fitoterápicos. Introdução Em virtude das características intrínsecas das florestas, a gestão sustentável constitui um desafio. A exploração comercial dos produtos florestais, se feita de maneira controlada e sustentável, poderia contribuir para o crescimento econômico. Contudo, as externalidades positivas das florestas são incertas, difusas e de difícil avaliação. Ao ser ignorado pelas autoridades, a magnitude dos benefícios líquidos privados obtidos com o desmatamento pode, aparentemente, pesar mais do que os benefícios públicos da conservação ou da gestão sustentável. Em consequência, o desmatamento e a degradação prosseguem, mas sem gerar ganhos compensatórios em termos de desenvolvimento econômico ou redução da pobreza (BANCO MUNDIAL, 2012). O Bioma Caatinga, corresponde a cerca de 80% do território pernambucano (PAREYN, 2010), estando presente nas regiões Agreste e Sertão (PRADO, 2005). Apresenta intensa exploração, observando-se que apenas 2% de sua área total apresenta-se como área protegida (LEAL et al.,2005). Segundo Lima (2007),

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DISPONIBILIDADE E USO DE ESPÉCIES FLORESTAIS NATIVAS DE

IMPORTÂNCIA SÓCIOECONÔMICA EM COMUNIDADES RURAIS

DO AGRESTE PERNAMBUCANO

José Paulo Feitosa de Oliveira Gonzaga (1); Christianne Torres de Paiva (2)

(Instituto de Tecnologia de Pernambuco/Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco,

[email protected] (1); [email protected] (2))

Resumo: Dentre as espécies florestais de importância socioeconômica para comunidades rurais

inseridas no bioma Caatinga, destaca-se a aroeira (Myracrodruon urundeuva Allemão). O presente

estudo foi realizado nas comunidades de Mocós e Várzea da Passira, localizadas no município de

Feira Nova, mesorregião do Agreste pernambucano, foi realizado um Diagnóstico Rápido

Participativo (DRP) nas propriedades locais, objetivando descrever o perfil socioeconômico e

ambiental, além do inventário etnobotânico. O levantamento da vegetação foi realizado com a técnica

da Turnê Guiada. Nas propriedades visitadas foram identificados, georeferenciados e avaliados quanto

a estrutura, localização e sinais de exploração (corte ou retirada de casca), indivíduos de aroeira com

CAP≥ 5cm. Os resultados evidenciaram que as plantas estão presentes em 70% das propriedades

visitadas, com baixa densidade populacional, distribuídas em diferentes locais. Verificou-se que 84%

das plantas de aroeira encontradas apresentavam sinais de exploração. Com relação ao conhecimento

popular local acerca da aroeira, verificou-se que 65% dos entrevistados já utilizou a aroeira, sendo

que 83% sabem identifica-la. O principal uso observado é medicinal. De acordo com os entrevistados,

a entrecasca é a parte das plantas utilizadas para fins fitoterápicos no caso eventual de pancadas,

feridas, inflamações diversas, inflamação do aparelho genital feminino, gastrite e inflamações bucais.

Obteve-se Valor de Uso (VU) de 1,22. O conhecimento acerca do uso da aroeira circula na

comunidade por vias informais. Por isso é necessário o desenvolvimento de estratégias de conservação

do conhecimento, bem como da espécie estudada, face ao risco de desaparecimento na localidade.

Palavras-Chave: Uso de espécies florestais da Caatinga; etnobotânica; fitoterápicos.

Introdução

Em virtude das características intrínsecas das florestas, a gestão sustentável constitui

um desafio. A exploração comercial dos produtos florestais, se feita de maneira controlada e

sustentável, poderia contribuir para o crescimento econômico. Contudo, as externalidades

positivas das florestas são incertas, difusas e de difícil avaliação. Ao ser ignorado pelas

autoridades, a magnitude dos benefícios líquidos privados obtidos com o desmatamento pode,

aparentemente, pesar mais do que os benefícios públicos da conservação ou da gestão

sustentável. Em consequência, o desmatamento e a degradação prosseguem, mas sem gerar

ganhos compensatórios em termos de desenvolvimento econômico ou redução da pobreza

(BANCO MUNDIAL, 2012).

O Bioma Caatinga, corresponde a cerca de 80% do território pernambucano

(PAREYN, 2010), estando presente nas regiões Agreste e Sertão (PRADO, 2005). Apresenta

intensa exploração, observando-se que apenas 2% de sua área total apresenta-se como área

protegida (LEAL et al.,2005). Segundo Lima (2007),

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o Agreste é uma subdivisão da caatinga, pois sua vegetação caracteriza-se como tal, registra

presença de espécies decíduas em grande número armadas de espinhos, Cactáceas e

Bromeliáceas. A região permaneceu à margem de estudos etnobotânicos, durante algum

tempo, em virtude de suas características climáticas, já que ocorrem grandes períodos de seca

(ALMEIDA; ALBUQUERQUE, 2002).

Segundo Araújo; Castro; Albuquerque (2007) diversos grupos sociais estão inseridos

no Bioma Caatinga, incluindo indígenas e quilombolas, essas populações tradicionais

apresentam grande demanda pelos recursos naturais, o grau de exploração destes agentes

sociais depende principalmente de sua condição socioeconômica. Os autores destacam a

necessidade da realização de estudos relacionados a gestão, o uso e os processos ecológicos

da Caatinga.

A presença de diferentes grupos sociais na região da Caatinga, incluindo indígenas e

quilombolas, gerou uma grande demanda pelos recursos naturais, como é comum às

populações tradicionais. (ARAÚJO; CASTRO; ALBUQUERQUE, 2007) Os mesmos autores

destacam ainda a necessidade de desenvolvimento de estudos que enfoquem a gestão, o uso e

os processos ecológicos do Bioma Caatinga.

Uma das espécies que mais se destacam nesse cenário é a aroeira (Myracrodruon

urundeuva Allemão), espécie abundantes na caatinga, mas que chegou a figurar a lista de

espécies ameaçadas de extinção, classificada como vulnerável. Atualmente é classificada

como “pouco preocupante”, no entanto estudos alertam ao risco de extinção em determinadas

localidades. (ALMEIDA; ALBUQUERQUE, 2002; ALBUQUERQUE; OLIVEIRA, 2007).

Atribui-se essa situação ao modelo de exploração, considerando ainda que as características

dessas espécies atraem grande interesse da população local (PEDROSA, 2012).

A aroeira (Myracrodruon urundeuva Allemão) ou aroeira do sertão é uma espécie

pertencente à Família Anacardiaceae, que ocorre em diversas regiões do Brasil, na Argentina,

Paraguai e Bolívia. No estado de Pernambuco a espécie está amplamente distribuída, sendo a

caatinga o local de maior ocorrência. É uma espécie clímax, sendo decídua e heliófita, que se

adapta bem a terrenos secos e rochosos. A altura da planta pode variar de 5 a 30 metros.

Destaca-se na paisagem pelo seu porte e exuberância (PEREIRA et al, 2005).

A planta apresenta madeira de excelente qualidade, resistência e durabilidade e

diversos estudos comprovam suas propriedades medicinais, destacando-se o uso como

cicatrizantes e antiflamatórios. De acordo com Souza et al. (2012) é comum encontrar em

feiras livres partes da planta utilizadas para o uso

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medicinal (cascas, folhas e raízes), portanto, as formas e o volume de exploração são fatores

que ameaçam a espécie.

A parte mais utilizada das plantas da Caatinga para preparos de uso medicinal é a

casca. Segundo Albuquerque; Andrade (2002), esse fato pode ser explicado pela ecologia das

plantas, enquanto as folhas, flores e frutos só estão disponíveis em períodos chuvosos, que são

muito curtos, a casca está disponível o ano inteiro. Ocorre que a retirada da casca impõe risco

à planta, podendo causar desde um estresse fisiológico, até a morte dos indivíduos.

A M. unrundeuva é uma das espécies da Caatinga mais ricas em tanino e compostos

fenólicos, estando entre as espécies mais citadas para uso medicinal (ARAÚJO; CASTRO;

ALBUQUERQUE, 2007).

Neste contexto, o presente trabalho se propõe a analisar o uso e disponibilidade dos

recursos florestais nativos nas comunidades rurais de Mocós e Várzea da Passira, localizadas

no município de Feira Nova (PE). Esta análise enfocará, especialmente, o uso da espécie

florestal Aroeira (Myracrodruon urundeuva Allemão) em virtude da importância ecológica e

econômica da espécie.

Metodologia

O presente estudo foi desenvolvido no município de Feira Nova, o qual possui uma

área de 118,8 km2, e está localizado na mesorregião do Agreste Pernambucano, nas

coordenadas geográficas 7º 57’ 03” de latitude Sul e 35º 23’ 21” de longitude Oeste. Estando

assim inserido em área de transição entre Zona da Mata e o Agreste. As comunidades

estudadas, Mocós e Várzea da Passira, possuem 46 famílias residentes (Programa Saúde da

Família, 2016), distribuídas em 23 estabelecimentos rurais, com predominância de solos

Podzólico amarelo, Bruno não cálcico e Planossolos (EMBRAPA, 2016). O clima é do tipo

Aw, segundo a classificação climática de Köppen, com chuvas iniciando no período de

janeiro – março, podendo se prolongar até outubro (CPRM, 2005). A base de sustentação da

população local é a agricultura familiar de subsistência.

Os métodos de coleta de dados foram baseados numa integração de métodos

qualitativos e quantitativos em Etnobotânica. Para descrever os sistemas de produção agrícola

das comunidades de Mocós e Várzea da Passira (Feira Nova – PE), verificar os fatores mais

importantes para a conservação e uso da espécie florestal Myracrodruon urundeuva Allemão

nas propriedades, utilizou-se a metodologia do

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Diagnóstico Rápido e Participativo - DRP ( FARIA; NETO, 2006; VERDEJO, 2006).

Foram utilizadas entrevistas semiestruturadas (FLORENTINO; ARAÚJO;

ALBUQUERQUE, 2007) com questionamentos a respeito do uso de parcelas dos

estabelecimentos agropecuários para cultivos de culturas anuais, perenes e pastagens,

produção animal, práticas agrícolas utilizadas, disponibilidade de recursos hídricos e

fragmentos florestais nativos, conhecimento e uso de recursos florestais, especialmente da

aroeira. Em visita preliminar registrou-se 29 estabelecimentos rurais. O questionário foi

aplicado em 79% destes, totalizando uma área de 236,3 ha. Seis estabelecimentos ficaram de

fora da pesquisa, em razão de não serem habitados e da não localização dos proprietários ou

responsáveis após várias tentativas. Entrevistou-se apenas uma família em cada propriedade,

após explicação acerca da importância e forma de condução da pesquisa, os responsáveis

presentes no momento da visita foram convidados assinar o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido, que é solicitado pelo Conselho Nacional de Saúde por meio do Comitê de Ética

em Pesquisa (Resolução 196/96).

O Levantamento da vegetação foi realizado a partir da técnica da turnê guiada

(ALBURQUERQUE et al, 2010), (PEDROSA et al., 2012), (GOMES et al 2016). Foram

registrados os indivíduos da espécie Aroeira (Myracrodruon urundeuva Allemão), com

circunferência à altura do peito a 1,3 m (CAP) maior ou igual a 5 cm, com o auxílio de fita

métrica, realizou-se a medição do CAP de cada indivíduo identificado, sendo posteriormente

caracterizados em relação à localização e marcas de uso (corte ou retirada da casca).

Realizou-se ainda o georreferenciamento, conforme Leite (1999), O estudo foi realizado no

período de dezembro de 2016 a maio de 2017, com realização de 16 horas de caminhadas, em

roçados, pastagens, quintais, capoeiras, áreas com cobertura vegetal, margens de riachos e

estradas locais.

Os resultados obtidos foram devidamente tabulados e analisados considerando os

parâmetros fitossociológicos de Frequência Absoluta (FA), Densidadade Absoluta (DA) e

Valor de Uso (VU). Para cálculo da frequência considerou-se as propriedades visitadas como

unidades básicas, para a DA, considerou-se a área total (236,3 ha). Sendo o VU calculado,

conforme Rossato; Leitão-Filho; Begossi (1999). Utilizou o software Microsoft Excel® para

análise e tabulação dos dados.

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Resultados e discussão

A Myracrodruon urundeuva Allemão é reconhecida por 83% dos entrevistados e 65%

destes, afirmaram já ter utilizado a planta. O uso para fins medicinais destaca-se com 18

citações. Foram citados ainda o uso para fins madeireiros (4), combustível (1) e tecnologia, no

caso, para a confecção de cabos de ferramentas agrícolas e domésticas (2). Convém destacar

ainda que 17% dos entrevistados afirmaram não conhecer nenhum uso para a espécie.

Considerando o uso medicinal, o uso para tratamento de inflamações diversas recebeu 9

citações, seguido pelo uso para tratamento de feridas cutâneas (9 citações). Destaca-se ainda o

uso para tratamento de inflamações no aparelho genital feminino (4 citações). O tratamento de

inflamações bucal e gastrite receberam uma citação cada.

O Valor de Uso (VU) foi calculado segundo Rossato; Leitão-Filho; Begossi (1999),

considerando o número de citações de uso mencionado por cada informante, vale ressaltar que

o uso medicinal é contado apenas uma vez, ainda que sejam citadas várias enfermidades

tratadas. Assim obteve-se VU= 1,22 para a Myracrodruon urundeuva Allemão.

Onde VU= ƩUi/n (1)

Ui= Número de citações de uso mencionado por cada informante.

n= Número total de informantes, n= 23.

A transmissão do conhecimento popular ocorre geralmente de maneira vertical, assim

59% afirmaram ter aprendido o uso da Aroeira, com membros da família e 27% com

membros da comunidade.

A aroeira aparece em 74% dos estabelecimentos rurais pesquisados. Localizou-se 57

indivíduos, com CAP variando entre 5 a 125 cm, dos quais 49 apresentaram sinais antigos de

corte, ocorrendo o rebrotamento. 16% apresentaram marcas recentes de retirada de casca e 9%

apresentaram cortes recentes, assim, 74% das plantas pesquisadas apresentaram sinais de

exploração. A maior parte está localizada em áreas com cobertura vegetal nativa, 89%,

também foram catalogados em pastagens e cercas, com 9 e 3%, respectivamente.

O cálculo da Densidade Absoluta (DA) e Frequência Absoluta (FA), foram realizados

conforme Vedruscolo et al. (2017), considerando propriedade como Unidade amostral:

I - Densidade Absoluta por área proporcional (DA): representa o

Número médio de árvores de uma determinada espécie, por unidade de área ( ha).

DAi = Ni / A (2)

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Onde:

Ni = número de unidades da espécie i;

A = área total amostrada (ha).

II- Freqüência Absoluta (FA): é a porcentagem de unidades de amostra com a ocorrência da

espécie, em relação ao número total de Unidades de amostra.

FAi = (Pi x 100) / P (3)

Onde:

Pi = número de propriedades nas quais a espécie ocorreu;

P = número total de propriedades.

Tabela 1: Densidade Absoluta por área proporcional (DA)e Freqüência Absoluta (FA) da M. urundeuva e S.

obtusifolium nas comunidades de Mocós e Várzea da Passira, Feira Nova-PE

Espécie Indivíduos registrados DA FA

M. urundeuva 57 0,241 76

O conhecimento etnobotânico acerca da espécie Myracroduon urundeuva Allemão,

apresentou semelhança com estudos desenvolvidos por Pedrosa (2012), Sousa et al (2012),

Marreiros et al (2015), Albuquerque; Andrade (2002), Almeida; Albuquerque, (2002). O uso

medicinal aparece com destaques nas citações (figura 1). O uso madeireiro e como

combustível (lenha) não apresentou muito destaque, esse fato pode ser justificado pela baixa

disponibilidade das plantas e pelas características das remanescentes, que em sua maioria são

plantas jovens. Durante a realização de Turnês guiadas observou-se muitos corte antigos e

plantas em fase de regeneração, através do brotamento a partir destes. Constatou-se ainda que

a inclusão da espécie na “lista vermelha” inibiu a exploração de madeira e lenha, mesmo que

atualmente tenham sido retiradas da lista de ameaça de extinção.

Figura 1: Citações de uso da Aroeira (M. urundeuva) nas comunidades rurais

Fonte: Gonzaga, 2017.

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O uso medicinal da aroeira nas comuniades de Mocós e Várzea da Passira, apresenta

resultados semelhantes aos estudos realizados por Lucena et al (2011), destacando-se a

propriedade antiflamatória, em diversos sistemas corporais, conforme figura 2, a partir da

ingestão de ingestão de chás ou infussões, bem como a utilização em uso tópico.

Figura 2: Indicações de usos medicinais para M. urundeuva nas comunidades de Mocós e

Várzea da Passira, Feira Nova – PE, conforme citações.

Fonte: Gonzaga, 2017

Em se tratando da origem do conhecimento sobre o uso das espécies, observou-se que

a dinâmica de transmissão do conhecimento popular segue o padrão de “transmissão vertical”,

sendo repassada de uma geração para outra, seja entre membros da mesma família ou por

pessoas da comunidade identificadas como especialistas (ROQUE; ROCHA; LOIOLA, 2010,

SILVA et al, 2012). Com realização de estudos científicos para comprovação das

propriedades medicinais, observou-se no presente estudo a indicação, ainda que informal, por

parte de médicos atuantes no Programa Saúde da Família. (figura 3).

Figura 3: Origem do conhecimento acerca do uso da Aroeira e Quixabeira nas comunidades de Mocós e

Várzea da Passira, Feira Nova – PE.

Fonte: Gonzaga, 2017.

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O levantamento da vegetação realizou-se com a técnica da Turnê Guiada, 12 dos

entrevistados acompanharam a visita, os demais apontaram o local de ocorrência das plantas

para registro, alguns por falta de condições físicas e outros por estarem realizando tarefas.

Foram catalogadas 57 aroeiras, durante 16 horas de caminhada. A maior parte dos

exemplares estava presente em áreas cobertas com vegetação nativa. Diversos autores

realizam além da caminhada, o levantamento por parcelas, no caso da área pesquisada o

levantamento por parcelas poderia expressar resultados pouco fidedignos, dado ao estado de

antropização dos remanescentes florestais.

A aroeira teve registro de ocorrência em 70% das propriedades, observando-se plantas

em vários estágios de desenvolvimento, considerando a medida da CAP, variando de 5 a 125

cm. É importante registrar que 49 apresentava-se como plantas em regeneração, registrou-se

evidências de cortes antigos e o posterior brotamento. Outras apresentaram sinais de cortes

recentes ou retirada de casca (figura 4 e 5).

Figura 4: Situação da M. urundeuva nas comunidades de Mocós e

Várzea da Passira, Feira Nova – PE.

Fonte: Gonzaga, 2017.

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Figura 5: Registro de corte e retirada recente de casca da M.urundeuva nas comunidades

De Mocós e Várzea da Passira, Feira Nova – PE.

Fonte: Gonzaga, 2017.

Conclusões

A promoção do Desenvolvimento Sustentável possui um estreita relação com a gestão

dos recursos florestais nativos. Em biomas como a Caatinga a ameaça da degradação é ainda

mais preocupante, quando se leva em consideração os fatores climáticos associados, que

atuam diretamente contra a regeneração da vegetação nativa.

A vegetação encontrada nas comunidades de Mócos e Várzea da Passira apresenta-se

bastante antropizada, sendo fruto da regeneração de áreas desmatadas, parcial ou totalmente,

que foram abandonadas, seja pela diminuição da produtividade ou mudança de propriedade.

Ainda assim observa-se a recomposição da vegetação, constituindo- se espaços de grande

valor para o ecossistema, incluindo a população humana local.

Os remanescentes florestais são explorados como fonte de medicamentos naturais,

madeira e lenha, para uso na propriedade e comercilização, excetuando-se a atividade

madeireira, que é apenas para uso local.

A espécie M. urundeuva ocupa papel de destaque. Considerando o uso e importância

para as comunidades locais, no entanto observa-se uma população reduzida e uma demanda

acentuada, indicando que a espécie está sob pressão, assim deve-se considerar o risco de

desaparecimento da espécie a nível local. Por outro lado, observa-se esse cenário como uma

oportunidade para o poder público desenvolver políticas voltadas a preservação das espécies,

pois trata-se espécie chave para a promoção de estratégias de gestão e conservação dos

recursos florestais, dada sua importância e potencial

de uso.

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Da mesma maneira espera-se a adoção de estratégias que visem a preservação do saber

popular existente. Estes saberes circulam nas comunidades através do Conhecimento

Tradicional Associado, passando de geração em geração, muitas vezes, apenas por via oral.

Este fato evidencia a necessidade da realização de ações educativas (ensino formal e não

formal) a fim de evitar que o conhecimento local desapareça

Referências

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