dislexia: um desafio à intervenção...
TRANSCRIPT
Dislexia: Um desafio à intervenção psicopedagógica
Mireila Menezes1 Ana Carolina Martins Chiavaro2
Claudia C. Costa dos santos3 Clarissa Cherutti4
Dinamara de Brito Selbach5 Paulo Campos6
Raquel Zaro7
Em um contexto educacional permeado por desafios de intervenção junto a
educandos, o fato de mergulhar no universo das dificuldades de aprendizagem
específicas vem sendo um convite à reflexão psicopedagógica. Nesse contexto, à
luz de construtos teóricos atuais, os estudos sobre o processo de construção do
conhecimento no sujeito disléxico têm evidenciado a necessidade de um
pensamento transdisciplinar. A dislexia, palavra de origem grega, é definida como
“dificuldade relacionada à aquisição e ao desenvolvimento da leitura”. Teoricamente,
o sentido é mais amplo, pois é considerada uma dificuldade relacionada, também, à
escrita. Trata-se de uma dificuldade específica, apresentada pela disfuncionalidade
na percepção e decodificação das palavras. Tem sua origem em fatores
constitucionais (neurológico, congênito e hereditário), comprometendo o
aprendizado da leitura, da escrita e do ato de soletrar. Simplificando, podem-se
definir três tipos de dificuldades que demarcam a classificação das modalidades de
dislexia: a) Falha no estabelecimento da relação som – símbolo gráfico, onde há
uma provável disfunção da discriminação auditiva; b) Falha na discriminação visual,
que acarretará as inversões, rotações e confusões das letras com grafia semelhante;
c) Associação das duas anteriores (dislexia mista). A avaliação da dislexia presume
a ação de uma equipe de profissionais, devendo-se verificar todas as possibilidades
antes da confirmação do diagnóstico. É a chamada “avaliação multidisciplinar e de
exclusão”. Múltiplos fatores deverão ser descartados, considerando, especialmente,
1 Profª do Curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia Institucional na FACOS.
2 Psicóloga (ULBRA), Especializanda em Psicopedagogia Clínica e Institucional (FACOS).
3 Pedagoga, Especializanda em Psicopedagogia Clínica e Institucional (FACOS).
4 Fonoaudilóga (ULBRA), Especializanda em Psicopedagogia Clínica e Institucional (FACOS).
5 Psicóloga (UNISNOS), Especializanda em Psicopedagogia Clínica e Institucional (FACOS).
6 Pedagogo-Orientador Educacional (FAFIMC), Especialista em Administração (ULBRA) e em
Cooperativismo (UNISINOS), Mestre em Psicanálise (FATES), Mestre em Educação (UNILASALLE) e Especializando em Psicopedagogia Clínica e Institucional (FACOS). 7 Orientadora Educacional, Especializada em Psicopedagogia Clínica e Institucional (FACOS).
déficit intelectual, disfunções ou deficiências auditivas e visuais, lesões cerebrais
(congênitas e adquiridas) e, ainda, desordens afetivas anteriores à constatação do
fracasso escolar. Neste processo – do fracasso - é fundamental o parecer da escola
e dos pais, paralelos ao levantamento do histórico familiar e de evolução do
paciente. Contrário ao senso-comum, o disléxico pode contornar suas dificuldades
específicas, respondendo a demandas de aprendizagem requeridas pelo ambiente.
Responde com êxito a situações associadas a vivências concretas e aos múltiplos
sentidos. Opera com lógica própria, sendo-lhe favorável o entrosamento e sinergia
entre psicopedagogo, família, escola, entre si e com ele. Desfavorecem-no, porém, a
superproteção ou imposição de estigmas. Serve-lhe positivamente as contribuições
práticas docentes: que diminuam seus níveis de ansiedade; reforcem sua percepção
da própria imagem, pela escolha de prioridades de aprendizagem (curto prazo), pelo
elogio às tarefas executadas e pela reavaliação contínua e permanente, com análise
parametrizada sobre si; respeitem o seu tempo de aprendizagem; convoquem o
“erro” como oportunidade de construção do conhecimento, pela clareza e
objetividade nas ordens orais; mantenham contato com o psicopedagogo que atende
a criança; priorizem a qualidade e não a quantidade na análise das tarefas; atentem
às peculiaridades das disciplinas que envolvem memorização; priorizem o uso de:
cartazes, dramatizações, filmes, literatura especializada, orientação e metodologia
adequadas. Por fim, cabe reconhecimento, por parte de todos, o fato de que, antes
de qualquer definição, a dislexia é um jeito de ser e de aprender, reflete a expressão
individual de uma mente, não raras vezes arguta, que aprende de maneira
específica.