dislexia pesquisa leda corrigido

23
DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM. DISLEXIA.UMA QUESTÃO,VÁRIOS QUESTIONAMENTOS. Lednalva Oliveira CordeiroBatista [email protected] RESUMO: O objetivo deste trabalho é favorecer a reflexão e a concepção do profissional da área de Psicopedagogia sobre o diagnóstico de dislexia tendo em vista os altos índices discriminatórios de crianças e adolescentes diagnosticados como Disléxicos e TDAH, e que, tornou-se um mito que tem se mantido ao longo de anos, mudando apenas a nomeclatura, e que tem sido motivo de questionamentos quanto à contribuição que a Medicina pode oferecer área Educacional e vice-versa. Cabe ao Psicopedagogo, particularmente o clínico, a compreensão do que de fato é real, que são as dificuldades de aprendizagem, e a partir daí, fazer o levantamento diagnóstico psicopedagógico e desenvolver métodos e instrumentos para intervenções verdadeiramente eficazes para a compreensão de como o indivíduo opera; suspeitar e questionar diagnósticos médicos de dislexia, e, particularmente, quando os exames de imagem ou outros, não

Upload: lednalva-oliveira-cordeiro-batista

Post on 05-Aug-2015

36 views

Category:

Documents


4 download

TRANSCRIPT

Page 1: Dislexia Pesquisa Leda Corrigido

DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM. DISLEXIA.UMA

QUESTÃO,VÁRIOS QUESTIONAMENTOS.

Lednalva Oliveira CordeiroBatista

[email protected]

RESUMO:

O objetivo deste trabalho é favorecer a reflexão e a concepção do profissional da

área de Psicopedagogia sobre o diagnóstico de dislexia tendo em vista os altos índices

discriminatórios de crianças e adolescentes diagnosticados como Disléxicos e TDAH, e

que, tornou-se um mito que tem se mantido ao longo de anos, mudando apenas a

nomeclatura, e que tem sido motivo de questionamentos quanto à contribuição que a

Medicina pode oferecer área Educacional e vice-versa. Cabe ao Psicopedagogo,

particularmente o clínico, a compreensão do que de fato é real, que são as dificuldades

de aprendizagem, e a partir daí, fazer o levantamento diagnóstico psicopedagógico e

desenvolver métodos e instrumentos para intervenções verdadeiramente eficazes para a

compreensão de como o indivíduo opera; suspeitar e questionar diagnósticos médicos

de dislexia, e, particularmente, quando os exames de imagem ou outros, não apresentam

alterações, e não obstante, é prescrito medicação para uma dificuldade de aprendizagem,

que ao mesmo tempo, chama-se de distúrbio, transtorno e que não é doença. As

pesquisas feitas até o momento tramitam no terreno das hipóteses, conforme a literatura

nos informa que, há opiniões de pesquisadores convergentes e divergentes, quanto ao

tema, onde apenas fornece ao psicopedagogo, elementos que justificam a necessidade

de estudos de aprofundamento tanto no campo da Educação quanto na Saúde,

valorizando a intervenção fonoaudiológica, e, tendo como premissa a diversidade do ser

humano, e suas formas de aprender. Utilizou-se como fundamentação metodológica a

abordagem de pesquisa qualitativa a revisão bibliográfica e a pesquisa de campo. Para

compor a pesquisa de campo, foram coletados dados concretos, utilizando a entrevista

informal e um questionário com seis profissionais da área de psicopedagogia que atuam

nos municípios de Salvador, Feira de Santana e Serrinha no estado da Bahia.  

Page 2: Dislexia Pesquisa Leda Corrigido

Palavras-Chave:Psicopedagogia,dislexia,saúde,educação,Dificuldades de

Aprendizagem

SUMMARY:

The objective is to encourage reflection and design professional in the field of

Educational Psychology on the diagnosis of dyslexia in view of the high levels of

discriminatory children and adolescents diagnosed with ADHD and Dyslexic, and that

became a myth that has remained over the years, changing only the naming, which has

been the subject of questions about the contribution the area can offer Medical

Education and vice versa. It is for psychologists, particularly the clinical understanding

of what actually is real, what are the difficulties of learning, and from there to survey

and develop psycho diagnostic methods and tools for truly effective interventions for

understanding how the individual operates ; suspect and question medical diagnoses of

dyslexia, and particularly when other imaging tests or show no change, and yet it is

prescribed medication for a learning difficulty, which at the same time, it is called a

disorder, disorder and that is not a disease. The research done so far on the ground of

bills passing situations, as the literature tells us that there are different opinions of

researchers convergent and divergent on the issue, which only provides the

psychopedagogists, evidence justifying the need for further studies both in the field of

Education and in Health, valuing the speech therapy, and, taking as its premise the

diversity of human beings and their ways of learning. Was used as a methodological

foundation's approach to qualitative research literature review and field research. To

compose the field survey, data were collected concrete, using a questionnaire and

informal interviews with six professionals in psychology who work in the cities of

Salvador and Feira de Santana in Bahia Serrinha.

Keywords: Educational Psychology, dyslexia, health, education, learning disabilities

Page 3: Dislexia Pesquisa Leda Corrigido

INTRODUÇÃO:

A Psicopedagogia como campo de conhecimento e atuação em Saúde e

Educação, enquanto prática clínica tem-se transformado em campo de estudos para

investigadores interessados no processo de construção do conhecimento e nas

dificuldades que se apresentam nessa construção. É intrigante pensar em certas doenças

que só se manifestam quando o quesito é aprendizagem específica, na hora de aprender

a ler e a escrever e no campo lógico matemático e seus símbolos. Observa-se que na

falta de elementos para um diagnóstico médico embasado e confirmado através de

exames de qualquer natureza científica que possa apontar causas médicas reais para

justificar tais dificuldades de aprendizagem. O que se observa, é uma necessidade que

permeia uma via de mão dupla, onde o que pode ocorrer é a individualização das

causas, elegendo o aluno como único responsável pelas suas dificuldades escolar,

rotulando-o nas nosologias denominadas "distúrbios", “transtornos” “disfunções" etc.,

integradora do fenômeno da aprendizagem humana. Não podendo deixar de observar o

indivíduo em todos os sistemas no qual está inserido, ou seja, falar das relações entre o

processo ensino/aprendizagem, saúde/doença e suas implicações, Existe, na verdade,

um mito que se dissemina em várias direções: a crença de que questões de saúde são

responsáveis pelo menos em parte, pela dificuldade de aprendizagem escolar, porém,

esta provocativa questão deverá ser motivo de inquietação e objeto de pesquisas por

parte dos profissionais da Psicopedagogia, da Educação, antes mesmo que da Medicina.

São inúmeras as obras que fazem relações ao assunto, tornando-se praticamente

impossível elencar todas as possíveis definições e abordagens sobre esses conceitos.

Portanto, pretendemos analisar os conceitos mais comumente utilizados na literatura

especializada e algumas das muitas perspectivas de análise sobre as dificuldades de

aprendizagem, procurando delinear um panorama sobre essa dificuldade de

aprendizagem de origem tão complexa, e de tratamento algumas vezes ineficazes.

Sendo o psicopedagogo um dos profissionais que faz parte da equipe multidisciplinar de

avaliação e intervenção da dislexia, é necessário focar o estudo na concepção

psicopedagógica, pela sua importância na instituição escolar, na clínica, e na família,

bem como na avaliação diagnóstica e no tratamento de alunos disléxicos contribuindo

na recuperação e desenvolvimento das habilidades necessárias ao seu desenvolvimento

nos aspectos: cognitivos, emocionais, sociais, visando o sucesso nos diversos contextos

em que atua, convocando para tal a colaboração, digo que imprescindível, do

Page 4: Dislexia Pesquisa Leda Corrigido

profissional da fonoadiologia, que trabalha as dificuldades e estuda o processo de

aprendizagem da leitura escrita e suas dificuldades, compreendendo que as dificuldades

de leitura/escrita são muito diversas. Nem toda dificuldade de leitura é uma dislexia e o

diagnóstico deve ser feito por uma equipe multiprofissional experiente. Considerando

que no início da alfabetização, o processador ortográfico ainda não está formado,

devendo então se estruturar, havendo problemas anteriores de linguagem, afetando os

níveis fonológico e/ou semântico e contextual, estas articulações estarão prejudicadas.

Como conseqüência, o processador ortográfico vai se desenvolver de forma ineficiente e

a correlação fonema-grafema não garantem a estabilidade necessária ao bom

desenvolvimento de leitura/escrita. Isto é basicamente o que acontece com o disléxico.

Com o sistema fonológico deficiente, a correlação letra-som não consegue ser fixada e

armazenada de forma eficiente. Decorre daí uma série de sintomas típicos da dislexia:

leitura lenta, silabada, fazendo confusão entre palavras similares, aparentando adivinhar

palavras ao invés de ler, entonação irregular e desrespeito à pontuação.  O resultado é o

prejuízo na leitura de enunciados, compreensão do conteúdo,e interpretação de texto,

Segundo (Capovilla & Capovilla, 2000; Morais, 1996). A consciência

fonológica pode ser definida como a capacidade de se perceber que a fala pode ser

decomposta em unidades menores (frases, palavras, sílabas e letras) e que estas

unidades podem ser manipuladas para se formarem novas palavras e para se criarem

novos sentidos. Esta noção é fundamental para o domínio da enunciação das palavras,

bem como para estabelecer o sentido desta enunciação.

Uma hipótese aceite pela grande maioria dos investigadores é a tese do Déficit

Fonológico.

“De acordo com esta hipótese, a dislexia é causada por um déficit no sistema de

processamento fonológico motivado por a uma  disrupção” no sistema neurológico

cerebral, ao nível do processamento fonológico. Este Déficit Fonológico dificulta a

discriminação e processamento dos sons da linguagem, a consciência de que a

linguagem é formada por palavras, as palavras por sílabas, as sílabas por fonemas e o

conhecimento de que os caracteres do alfabeto são a representação gráfica desses

fonemas. A leitura integra dois processos cognitivos distintos e indissociáveis: a

descodificação (a correspondência grafofonêmica) e a compreensão da mensagem

escrita. Para que um texto escrito seja compreendido tem que ser lido primeiro, isto

Page 5: Dislexia Pesquisa Leda Corrigido

é,descodificado.O déficit fonológico dificulta apenas a descodificação. Todas as

competências cognitivas superiores, necessárias à compreensão estão intactas: a

inteligência geral, o vocabulário, a sintaxe, o discurso, o raciocínio e a formação de

conceitos.

Já a dificuldade na escrita, chamadas de disortografia, que caracteriza-se pela

dificuldade em fixar as formas ortográficas das palavras, tendo como sintomas mais

típicos a substituição/omissão /inversão de grafemas, aglutinações ou separações

indevidas de palavras (denovo, de eles), incidência de um padrão inicial de escrita,

ancorado na fala (gatu,patu, priguiça), dificuldade em fixar regras (gilometro, tera,

canpo, buro) e padrões ortográficos irregulares ( essessão,dice, ). A escrita geralmente

traz mais dificuldades do que a leitura, pois enquanto esta implica recepção, ou seja, o

modelo gráfico já está pronto e é oferecido externamente, aquela implica produção, ou

seja, o modelo gráfico tem que estar construído internamente, no processador

ortográfico, para ser resgatado pela memória e reproduzido. Para Morais (1996), esta é

uma das justificativas para o fato de que pessoas com dificuldade da aprendizagem de

leitura e escrita, nas séries iniciais tem muita dificuldade na leitura, mas, em séries mais

avançadas, esta dificuldade fica mais visível na escrita. “O aprendizado adequadamente

organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos

de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer.”

(VYGOTSKY, 1987 p. 101).

Paulesu e cols. (1996) .Resumindo, a descoberta mais consistente, tanto na

pesquisa psicológica como na neurociência, é que o principal problema de leitura dos

disléxicos é um vagaroso e impreciso reconhecimento de palavras, e nessa área a

dificuldade reside no processo de decodificação fonológica: a transformação de letras e

padrões de letras em um código fonológico. Esse código é que permite o acesso à

pronúncia da palavra e também ao seu significado.

Já Galaburda,(1979), autor famoso, reconhecido por todos os autores quando

falam de dislexia e TDAH, sendo um dos que mais têm trabalhos em alterações

anatômicas na dislexia, publicou uma série de trabalhos nas décadas de 1970 e 1980, e

que são repetidamente citados por praticamente todos os outros autores, em que, 

presumidamente, teria comprovado que o problema da dislexia seria a assimetria de

neurônios no plano temporal e ectopital neuronais em córtex, tálamo e cerebelo.

Page 6: Dislexia Pesquisa Leda Corrigido

Galaburda (1979), situa o problema em um estágio mais central do processamento

fonológico, apoiando-se em evidências de que áreas cerebrais no lóbulo frontal

esquerdo, áreas subservientes ao processamento fonológico são afetadas

comprometendo assim praticamente todas as estruturas cerebrais.

O desenvolvimento de uma pesquisa sobre dificuldades de aprendizagem e

dislexia e a intervenção psicopedagógica pretende despertar o interesse dos profissionais

envolvidos, em aprofundar estudos na área, a fim de evitar ou minimizar os danos que

por ventura venham a surgir como conseqüências de diagnósticos questionáveis

motivaram a realização deste estudo.

Segundo Tallal et al. (1997, in Capovilla, 2002), a dislexia caracteriza-se por um

distúrbio na linguagem expressiva/receptiva que não pode ser atribuído a atraso geral do

desenvolvimento, distúrbios auditivos, lesões neurológicas importantes (como paralisia

cerebral e epilepsia) ou distúrbios emocionais. Para Frith (1997), a dislexia pode ser

compreendida como sendo resultante de uma interação entre aspectos biológicos,

cognitivos e ambientais que não podem ser separados uns dos outros.

Conforme diretrizes da British Dyslexia Association, a avaliação qualitativa do

sujeito com suspeita de dislexia deve incluir a observação dos sinais constituintes do

quadro de risco, conforme (Capovilla, 2002). É importante lembrar que tais sinais não

necessariamente implicam na presença da dislexia, mas, quando ocorrem de forma

freqüente, devem ser encarados como um indicativo que incentive o encaminhamento

do sujeito para uma avaliação multidisciplinar mais pormenorizada.

Concluindo, as pesquisas relatadas revelam a existência de tipos de dislexia

qualitativamente distintos que devem ser associados com causas também distintas.

Seymour e seus colaboradores têm descoberto uma contínua variação entre

disléxicos, com casos que diferem tanto na severidade da deficiência como na

direção da discrepância entre palavras reais e não-palavras, denotando ora

características predominantes do padrão morfêmico ora do padrão fonológico tanto

para a leitura como para a escrita. A distribuição desses casos em um espaço

multidimensional sugere mais uma continuidade de condições ao invés de rígidas

Page 7: Dislexia Pesquisa Leda Corrigido

distinções de sub-tipos, o que é, pois, incompatível com as teorias segundo as quais a

leitura/escrita competente se dá através de um sistema ortográfico único. Os dados são

compatíveis com o modelo de desenvolvimento de Morton (1989) que prevê sistemas

lexicais e fonológicos distintos (mas interativos) para a leitura e a escrita|

�������������������������������

��������

Galaburda estudou cinco pessoas com idades variando de 12 a 30 anos e as

classificou como sendo dislexicas. Como foi feito o diagnóstico de dislexia? Não

encontrei ainda informação científica sobre isso, o que me parece ser questão,

fundamental em pesquisa científica. Tais resultados vêm sendo ao longo dos anos ponto

de convergência e de divergência entre vários estudiosos a exemplo de KIGUEL (1983),

ressalta que a Psicopedagogia encontra-se em fase de organização de um corpo teórico

específico, visando à integração das ciências pedagógicas, psicológica, fonoaudiológica,

neuropsicológica e psicolingüística para uma compreensão mais apurada, despertou o

interesse de outros estudiosos a exemplo de. Ellis, que em 1984, escreveu: “Não

podemos de forma alguma simplesmente dividir a população entre aqueles que são

disléxicos e aqueles que não o são. Assim, parece pouco provável que exista qualquer

sintoma ou sinal que irá distinguir quantitativamente disléxicos de não-disléxicos”.

Posteriormente,(1992), o mesmo da definição oficialmente aceita de dislexia,

diz: “Nossos resultados indicam que a dislexia não é fenômeno ‘tudo ou nada’, mas

ocorre em diferentes graus de severidade. Embora as limitações de dados tornem

necessários pontos de cortes, os médicos devem reconhecer que eles podem não ter

validade biológica”. texto editado em 1992, na revista New England Journal of

Medicine. Colocando assim como admitir uma doença neurológica em que os pontos de

corte podem não ter validade biológica? Esse é mais um ponto a ser refletido.

Siegel (2006) diz: “Um dos grandes problemas é que não existe nenhum exame

de sangue específico ou resultado de imagens do cérebro que possa fornecer um

diagnóstico. Fundamentalmente, o problema é que a leitura é medida em um

‘continuum’, e não há nota de corte em um teste de leitura que claramente distinga

indivíduos disléxicos e não disléxicos. A distinção entre dislexia e leitura normal é

arbitrária; o ponto de corte varia de estudo para estudo. Exatamente onde está a linha

Page 8: Dislexia Pesquisa Leda Corrigido

entre disléxicos e não disléxicos é subjetivo e controverso.,” considerando ainda a

hipótese de que, por trás do tratamento da dislexia e do TDAH, tem escondida a

indústria farmacêutica.

Na visão de Sara Paín, 1980, (In Alicia apud Fernandez, 2001, p. 144), “o

transtorno de aprendizagem é uma falha no processo de aquisição de certos

conhecimentos e não dos conhecimentos em geral”, sendo assim é possível afirmar que

o sintoma problema de aprendizagem toma a inteligência como terreno onde o aprender

e o pensar estão comprometidos e o sintoma torna-se “o grito de denuncia” do

transtorno. Por outro lado surge a inquietação: Mas o que é dislexia? Como se

manifesta? Quais são os sintomas? Como intervir? Talvez esteja nesse ponto um dos

maiores impasses para se compreender os problemas de aprendizagem, em parte pela

complexidade e também pelo desconhecimento do significado do “não-aprender”

Segundo Davis (2004, p. 36), a dislexia não resulta de lesões cerebrais ou

nervosas, nem também é originada por uma má-formação do cérebro, do ouvido interno

ou do globo ocular, como era imagina por pesquisadores de outrora. “A dislexia é

produto do pensamento e uma forma especial de reagir ao sentimento de confusão.”

Esse sentimento de confusão é denominado pelo autor também de desorientação, que

em sua óptica significa que a percepção dos símbolos se altera e se distorce de forma

que ler ou escrever se torna bastante difícil ou quase impossível. Segundo ele,

ironicamente, essa alteração da percepção é precisamente o mecanismo que os

disléxicos consideram útil para reconhecer objetos e situações da vida real em seu

ambiente antes que iniciassem a aprender a ler.

Vale lembrar que para Piaget, e Vygotsky o que os interessa diretamente não são

os assuntos lingüísticos ou patológicos da aquisição da linguagem, e sim, a preocupação

com a epistemologia da linguagem. Considerando o disléxico como alguém que é capaz

de construir estruturas (conhecimento) com base na experiência com o mundo físico, ao

interagir e ao reagir biologicamente a ele, no momento da interação com relação ao

objeto apresentado.

Ainda Davis,(2004, p. 134), afirma que “a dislexia não deveria ser chamada de

transtorno de aprendizagem. Deveria ser chamada com maior exatidão de risco de

condicionamento”, pois quando a aprendizagem é apresentada através de experiências

Page 9: Dislexia Pesquisa Leda Corrigido

práticas, interativas, dinâmicas, “os disléxicos conseguem dominar muitas coisas mais

rapidamente do que a pessoa comum levaria para compreendê-las.” Essa pessoa comum

seria um individuo não-disléxico. Embasada nessa afirmação é imprescindível afirmar

que, o maior problema dos disléxicos no que diz respeito à dificuldade de aprendizagem

em sala de aula, são as metodologias utilizadas pelos professores e as didáticas

desenvolvidas pelos mesmos. Se adequadas aguçarão a inteligência, as habilidades e

competências do disléxico. Se inadequadas, configurarão no seu fracasso escolar, que

poderá até trazer como conseqüência maior, a repetência e a evasão escolar,

proporcionando ao mesmo, uma frustração muitas vezes incorrigível na sua vida adulta.

METODOLOGIA

Este estudo desenvolveu-se fundamentado na pesquisa qualitativa que se

apresentou adequada, considerando-se que a abordagem elencou os valores, as crenças,

as representações, as opiniões e as atitudes dos profissionais, pela pré disposição da

compreensão de significados e características do objeto de estudo, Utilizou-se a revisão

bibliográfica e a pesquisa de campo. Para compor a pesquisa de campo, foram

resgatados dados concretos, utilizando a entrevista informal e a aplicação questionário

com seis profissionais da área de psicopedagogia que atuam no município de Serrinha,

Feira de Santana e Salvador no Estado da Bahiaa. Os instrumentos possibilitaram a

compreensão e análise das concepções das profissionais sobre dislexia bem como seus

métodos de trabalho com pacientes disléxicos.

DISCUSSÃO:

A história da Psicopedagogia, embora recente, contribui muito com pesquisas

que envolvem teoria e prática, comprometida com diversas áreas do conhecimento e do

ser humano, especialmente nas dificuldades vivenciadas no processo de ensino-

aprendizagem através de estudo do processo do conhecimento humano, do aprender e

do não aprender, centrado no indivíduo como ser único, com características e

necessidades particulares para a intervenção psicopedagógica.

Analisando a concepção de dislexia do psicopedagogo e como se dá seu

levantamento diagnóstico e métodos de intervenção, seja na escola, clínica ou junto a

Page 10: Dislexia Pesquisa Leda Corrigido

família sabemos que a atuação desses profissionais exige muita responsabilidade e

competência, que só podem se adquiridas através da prática, dedicação e muito estudo,

e questionamento quanto aos rótulos e estigmas que assombram as dificuldades de

aprendizagem.

Um dado relevante que a pesquisa revelou foi que a maioria dos profissionais de

psicopedagogia entrevistados, terminaram seus cursos de pós graduação, e com eles a

sua prática de pesquisas. A maioria das entrevistadas se mostraram pouco afinadas com

as teorias atuais sobre a dislexia, repetindo e aceitando modelos e teorias sem muita

preocupação em definir correntes teóricas, justificadas como fundamentação para sua

práxis psicopedagógicas e a aceitação como definitiva de diagnósticos médicos

referindo dislexia .

As diferentes estratégias utilizadas pelas psicopedagogas entrevistadas nos seus

levantamentos diagnósticos com clientes disléxicos denunciaram que em sua essência o

que os pesquisadores vêm discutindo no campo da dislexia, está um tanto distante do

objeto de suas preocupações. Chegaram a um consenso sobre a importância de se

proporcionar suporte ao disléxico para melhorar o seu desempenho escolar, com

atividades focadas em leitura, escritas e fonéticas, desenvolvendo habilidades em uma

reeducação multissensorial e trabalhando a sua a auto-estima, a sua autoconfiança,

valorizando suas potencialidades. Destaca-se ainda que nos consultórios

psicopedagógicos é muito comum o disléxico chegar com baixa auto-estima devido à

vivência de múltiplos insucessos, tanto no âmbito escolar quanto familiar e social.

RESULTADOS:

Na pesquisa de campo foram entrevistas seis psicopedagogas que atuam em

clínicas em Serrinha, Feira de Santana e Salvador-Bahia. Quando perguntadas sobre o

que é dislexia, cada uma respondeu de acordo com a sua concepção.

A Psicopedagoga “nº1” respondeu de forma pouco objetiva à pergunta,

definindo como sendo um distúrbio no processamento da linguagem. A entrevistada

“nº2” faz uma referência ao autor Ajuriaguerra associando à idade cronológica da

criança com a predisposição para dislexia. Ela deixa claro que depende do meio em que

Page 11: Dislexia Pesquisa Leda Corrigido

vive do estímulo que recebe e do tempo de trabalho sistemático desenvolvido em leitura

e escrita.

Já a entrevistada “nº3” foi mais abrangente em sua resposta, levando em

consideração a hereditariedade pelo fato de ser uma síndrome de origem genética (...).

Ela também destaca a importância do diagnóstico precoce, principalmente se houver

caso na família e finaliza citando as possíveis comorbidades associadas à dislexia,

porém não emitiu seu parecer à respeito de sua conduta diante dos diagnósticos que lhe

chega as mãos, oriundos do neurologista ou da escola.

As entrevistadas nº4 e 5, não demonstraram preocupação quanto a dificuldade

específica, dislexia, informando que nas suas práticas, avaliam as dificuldades no

campo da leitura,escrita, campo lógico matemático e buscam o desenvolvimento da

plasticidade cerebral, motricidade, etc.de forma um tanto genérica.

A entrevistada nº6, foi a única que se posicionou em concordância com a

necessidade particular em aprofundar os estudos, a colaboração indiscutível do

fonoaudiólogo, do neurologista, oftalmologista, otorrinolaringologista com vistas a

descartar comprometimento de bases neurológicas e outras, e a necessidade da

orientação a família, através de planos de desenvolvimento de atendimento e

intervenção psicopedagógica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O propósito desse estudo foi refletir o papel da Psicopedagogia na atualidade, e o

diagnóstico de dificuldades de aprendizagem específica, como é o caso da leitura e

escrita, a Dislexia, olhada por ótica diferente. Muitos que antes acreditavam que fosse

uma doença, hoje Já percebem que é, na verdade, se trata de uma dificuldade de

aprendizagem que pode ser contornada através de tratamentos multiprofissionais. No

entanto, a difusão entre os leigos, e muitos profissionais da educação e saúde ainda é

muito restrita, de forma que ainda pode-se conferir um comportamento preconceituoso

em relação aos disléxicos.

É dever dos profissionais, principalmente o psicopedagogo clínico,e buscar

aperfeiçoar-se para trabalhar com todos os tipos de dificuldades de aprendizagem, que

Page 12: Dislexia Pesquisa Leda Corrigido

segundo Mantovanini (2001), fala da necessidade de conscientizar os pedagogogos,

psicopedagogos,bem como todos os envolvidos no processo ensino-aprendizagem que

nesse processo estão presentes três elementos, todos com a mesma importância para o

sucesso da aprendizagem: o professor, o conteúdo e o sujeito que aprende. Se o aluno

não aprende, os outros dois também falharam neste processo. Todos os casos de

aprendizagem são viáveis. Cada um em seu tempo e de seu modo, ainda que buscando

áreas de apóio, que tem como objeto de estudo a aprendizagem humana, como é o caso

Psicopedagogia.

Collares e Moysés (1996), quando afirmam que o fracasso escolar se constitui

em um problema social e politicamente produzido. Para as autoras, essa questão deve

ser resgatada em uma dimensão coletiva e não como um problema individual, nem

mesmo somatória de problemas individuais, mas problemas coletivos. Segundo dados

obtidos em suas pesquisas, observaram que muitos profissionais indagados sobre as

causas do fracasso escolar, se manifestavam de diferentes maneiras. Uns acusavam a

família pela falta de interesse em ajudar os alunos em casa, para outros, os responsáveis

seriam os professores, ou ainda, a diretora. A falta de interesse dos alunos também foi

abordada. Elas afirmam que: Centrar as causas do fracasso escolar em qualquer

segmento que, na verdade, a vítima, seja a criança, a família, ou o professor, nada

constrói, nada muda. Imobilizante, constitui um empecilho ao avanço das discussões, da

busca de propostas possíveis, imediatas e, a longo prazo, de transformações da

instituição escolar e do fazer pedagógico,psicopedagógico. Vale ressaltar que foram as

autoras acima, a fonte de inspiração, pesquisa e informação para a efetivação desse

trabalho cuja pretensão não passa de um convite ao estudo e pesquisa para uma prática

profissional e psicopedagógica de qualidade.

Referências bibliográficas

Capovilla & Capovilla, 2000; Morais, 1996

COLLARES, C. A. L. e MOYSÉS, M. A. A. A História não Contada dos Distúrbios

de Aprendizagem. Cadernos CEDES no 28, Campinas: Papirus, 1993, pp.31-48.

COLLARES, C. A. L.; MOYSÉS, M. A. A. Preconceitos no cotidiano escolar: ensino

e medicalização. São Paulo: Cortez. Campinas: Unicamp – Faculdade de Educação –

Page 13: Dislexia Pesquisa Leda Corrigido

Faculdades de Ciências Médicas, 1996.

DAVIS, Ronaldo Dell com BRAUN, Elder M. O dom da dislexia: por que algumas

das pessoas mais brilhantes não conseguem ler e como podem aprender. Tradução:

Ana Lima e Gracia Badaró Massad. Rio de Janeiro: Rocco, 2004. ELLIS, A.W.

Leitura, Escrita e Dislexia – uma análise cognitiva. Porto Alegre: Artes Médica, 2ª

edição, 2001.

FERNANDÉZ, Alicia. Os idiomas do aprendente: analise de modalidade ensinantes

em famílias, escolas e meios de comunicação. Tradução: Neusa Kern Hickel e Regina

Orgler Sordi. Porto Alegre: Artmed, 2001.

FERNÁNDEZ. A. A inteligência aprisionada: abordagem psicopedagógica clínica da

criança e da família. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.

GALABURDA, A. M. Neuroanatomic basis of developmental dyslexia.

Behavioral Neurology, 11: 161-173, 1993.

GALABURDA, A. M. et al. Models of temporal processing and language

development. Clin. Neurosc. Res. V.1, p. 230-237. 2001.

GALABURDA, A. M.; CESTNICK, L. Development dyslexia: four consecutive

patients with cortical anomalies. Rev. Neurol., v. 36, p.3-9, 2003.

GARCÍA, Jesus Nicasio. Manual de dificuldades de aprendizagens: linguagem,

leitura, escrita e matemática. Tradução: Jussara Haubert Rodrigues. Porto:Artes

Médica, 1991.

Moysés, M. (2008).A institucionalização invisível:crianças que não aprendem na

escola (2ªedição,revista e ampliada ed.). Artes Médicas, 1998.

MANTOVANINI, M. C. Professores e alunos problemas: um círculo vicioso. São

Paulo: Casa do Psicólogo, 2001. MOOJEN, S. & FRANÇA, M. Dislexia: visão

fonoaudiológica e psicopedagógica. In: Rotta et al. Transtornos da aprendizagem:

abordagem neurobiológica e multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2006.

MOOJEN, S. Dificuldades ou transtornos de aprendizagem? In: Rubinstein, E. (Org.).

Psicopedagogia: uma prática, diferentes estilos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.

ROMERO, J. F. Os atrasos maturativos e as dificuldades de aprendizagem. In: COLL.

Page 14: Dislexia Pesquisa Leda Corrigido

C., PALACIOS, J., MARCHESI, A. Desenvolvimento psicológico e educação:

necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes

Médicas, 1995, v. 3.

RUBISTEIN, E. A especificidade do diagnóstico psicopedagógico. In: SISTO, F. et

al. Atuação psicopedagógica e aprendizagem escolar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.

SCOZ, B. Psicopedagogia e realidade escolar, o problema escolar e de aprendizagem.

Petrópolis: Vozes, 1994.

SHAYWITZ, S. Entendendo a dislexia: um novo e completo programa para todos os

níveis de problemas de leitura. Porto Alegre: Artmed, 2006.

SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia e realidade escolar: o problema escolar e de

aprendizagem. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.

Fonte:http://www.webartigos.com/articles/55265/1/DISLEXIA-UM-TRANSTORNO-

DE-APRENDIZAGEM-DIGNO-DE-INTERVENCAO-E-PASSIVEL-DE-

SOLUCAO/pagina1.html#ixzz1FIC2CaKf