discursos indiretos livres na literatura, pesquisa f.chiavassa.docx

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1 DISCURSO INDIRETO LIVRE NA LITERATURA (Pesquisa: Fernando Chiavassa) Legenda: Narrador; Narrador livre; Direto livre; Indireto; Indireto livre (João Miguel, Cap.3, pags. 17/18, Rachel de Queiroz) João Miguel teve vontade de chamá-lo. E já ia iniciando um "psiu", quando um singular pudor o deteve. Pra que chamar? Era até capaz do homem se pegar com a prosa besta, ou até ir botar nome nele. Pela primeira vez, na frente de um estranho, teve a intuição de sua situação especial de criminoso. Sentia obscuramente que de hoje em diante - só por causa daquele gesto que não durou nem um minuto (se o homem não tem morrido!) - estava reduzido a ouvir coisas novas, insultantes, a que a vergonha não se habituara. Mas tentou reagir. E aquele homem, acolá, no fundo do corredor, tão quieto, não era também um criminoso? Naturalmente um assassino? Sim, igual a ele, um assassino! E animou-se: Psiu! Mas parou dominado novamente pela estranha confusão que não pudera abafar de todo. Sim, talvez um assassino... Mas sabia lá? Podia ser também que não fosse... Pode-se estar na cadeia por tanta coisa! Por roubo, por ferimento, por moça raptada... até por causa de eleição... Quem sabe se aquele não estava ali por causa mesmo de alguma eleição? E olhou fixamente a cara atenta do preso. Era... não tinha cara de assassino... Parecia até uma boa pessoa, trabalhando, tão apurado, no seu pedaço de pau... Mas parou aqueles pensamentos, bruscamente. Legenda: Narrador; Narrador livre; Direto livre; Indireto; Indireto livre (João Miguel, Cap.3, pags. 17/18, Rachel de Queiroz) João Miguel teve vontade de chamá-lo. E já ia iniciando um "psiu", quando um singular pudor o deteve. Pra que chamar? Era até capaz do homem se pegar com a prosa besta, ou até ir botar nome nele. Pela primeira vez, na frente de um estranho, teve a intuição de sua situação especial de criminoso. Sentia obscuramente que de hoje em diante - só por causa daquele gesto que não durou nem um minuto (se o homem não tem morrido!) - estava reduzido a ouvir coisas novas, insultantes, a que a vergonha não se habituara. Mas tentou reagir. E aquele homem, acolá, no fundo do corredor, tão quieto, não era também um criminoso? Naturalmente um assassino? Sim, igual a ele, um assassino! E animou-se: Psiu! Mas parou dominado novamente pela estranha confusão que não pudera abafar de todo. Sim, talvez um assassino... Mas sabia lá? Podia ser também que não fosse... Pode-se estar na cadeia por tanta coisa! Por roubo, por ferimento, por moça raptada... até por causa de eleição... Quem sabe se aquele não estava ali por causa mesmo de alguma eleição? E olhou fixamente a cara atenta do preso. Era... não tinha cara de assassino... Parecia até uma boa pessoa, trabalhando, tão apurado, no seu pedaço de pau... Mas parou aqueles pensamentos, bruscamente.

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Trechos de obras da literatura nacional, onde são apontados os discursos diretos, os indiretos e os indiretos livres, transcritos de obras de estudiosos do tema.

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DISCURSO INDIRETO LIVRE NA LITERATURA

(Pesquisa: Fernando Chiavassa) Legenda:

Narrador; Narrador livre; Direto livre; Indireto; Indireto livre (João Miguel, Cap.3, pags. 17/18, Rachel de Queiroz) João Miguel teve vontade de chamá-lo. E já ia iniciando um "psiu", quando um singular pudor o deteve. Pra que chamar? Era até capaz do homem se pegar com a prosa besta, ou até ir botar nome nele. Pela primeira vez, na frente de um estranho, teve a intuição de sua situação especial de criminoso. Sentia obscuramente que de hoje em diante - só por causa daquele gesto que não durou nem um minuto (se o homem não tem morrido!) - estava reduzido a ouvir coisas novas, insultantes, a que a vergonha não se habituara. Mas tentou reagir. E aquele homem, acolá, no fundo do corredor, tão quieto, não era também um criminoso? Naturalmente um assassino? Sim, igual a ele, um assassino! E animou-se: Psiu! Mas parou dominado novamente pela estranha confusão que não pudera abafar de todo. Sim, talvez um assassino... Mas sabia lá? Podia ser também que não fosse... Pode-se estar na cadeia por tanta coisa! Por roubo, por ferimento, por moça raptada... até por causa de eleição... Quem sabe se aquele não estava ali por causa mesmo de alguma eleição? E olhou fixamente a cara atenta do preso. Era... não tinha cara de assassino... Parecia até uma boa pessoa, trabalhando, tão apurado, no seu pedaço de pau... Mas parou aqueles pensamentos, bruscamente.

Legenda: Narrador; Narrador livre; Direto livre; Indireto; Indireto livre

(João Miguel, Cap.3, pags. 17/18, Rachel de Queiroz) João Miguel teve vontade de chamá-lo. E já ia iniciando um "psiu", quando um singular pudor o deteve. Pra que chamar? Era até capaz do homem se pegar com a prosa besta, ou até ir botar nome nele. Pela primeira vez, na frente de um estranho, teve a intuição de sua situação especial de criminoso. Sentia obscuramente que de hoje em diante - só por causa daquele gesto que não durou nem um minuto (se o homem não tem morrido!) - estava reduzido a ouvir coisas novas, insultantes, a que a vergonha não se habituara. Mas tentou reagir. E aquele homem, acolá, no fundo do corredor, tão quieto, não era também um criminoso? Naturalmente um assassino? Sim, igual a ele, um assassino! E animou-se: Psiu! Mas parou dominado novamente pela estranha confusão que não pudera abafar de todo. Sim, talvez um assassino... Mas sabia lá? Podia ser também que não fosse... Pode-se estar na cadeia por tanta coisa! Por roubo, por ferimento, por moça raptada... até por causa de eleição... Quem sabe se aquele não estava ali por causa mesmo de alguma eleição? E olhou fixamente a cara atenta do preso. Era... não tinha cara de assassino... Parecia até uma boa pessoa, trabalhando, tão apurado, no seu pedaço de pau... Mas parou aqueles pensamentos, bruscamente.

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(Sarapalha, pag. 128 (A) 136 (B), João Guimarães Rosa) (A) Primo Ribeiro se deixa cair no lajedo, todo encolhido e sacudido de tremor. Primo Argemiro Argemiro fica bem quieto. Não adianta fazer nada. E ele tem muita coisa sua para imaginar. Depressa, enquanto Primo Ribeiro entrega o corpo ao acesso e parece ter partido para muito longe d'ali, não podendo adivinhar o que a gente está pensando. E primo Argemiro sabe aproveitar, sabe correr ligeiro pelos bons caminhos da lembrança. Como era mesmo que ela era?... Morena, os olhos muito pretos... Tão bonita!... Os cabelos muito pretos... Mas não paga a pena querer pensar onde é que ela pode estar a uma hora destas... Quando fugiu, que baque! Que tristeza... Não esperava aquilo, não esperava... Parecia combinar bem com o marido... Primo Ribeiro naquele tempo era alegre... E ele sentira até ciúmes de Primo Ribeiro, ciúme bobo, porque Primo Ribeiro era quem tinha direito a ela e ao seu amor... (B) A erva-mãe-boa derrama cachos floridos, no meio das folhas em corações. Muitas flores. Azuis... Foi num vestido azul que ele a viu pela segunda vez, no terço de São Sebastião. Tantos anos!... Quando a verá ainda?... No Céu, talvez... Mas mesmo no Céu, ela terá que gostar do boiadeiro da Iporanga. E ele, Argemiro, terá de respeitar Primo Ribeiro, que é o marido em nome de Deus... Nunca mais? Nunca mais... Ai meu deus! por mim era muito melhor não ter céu nenhum...

Introdução à Estilística, Nilce Sant'Anna Martins - Edusp-4ª. edição, 2ª. reimpressão - 2012

(Sarapalha, pag. 128 (A) 136 (B), João Guimarães Rosa) (A) Primo Ribeiro se deixa cair no lajedo, todo encolhido e sacudido de tremor. Primo Argemiro fica bem quieto. Não adianta fazer nada. E ele tem muita coisa sua para imaginar. Depressa, enquanto Primo Ribeiro entrega o corpo ao acesso e parece ter partido para muito longe d'ali, não podendo adivinhar o que a gente está pensando. E primo Argemiro sabe aproveitar, sabe correr ligeiro pelos bons caminhos da lembrança. Como era mesmo que ela era?... Morena, os olhos muito pretos... Tão bonita!... Os cabelos muito pretos... Mas não paga a pena querer pensar onde é que ela pode estar a uma hora destas... Quando fugiu, que baque! Que tristeza... Não esperava aquilo, não esperava... Parecia combinar bem com o marido... Primo Ribeiro naquele tempo era alegre... E ele sentira até ciúmes de Primo Ribeiro, ciúme bobo, porque Primo Ribeiro era quem tinha direito a ela e ao seu amor... (B) A erva-mãe-boa derrama cachos floridos, no meio das folhas em corações. Muitas flores. Azuis... Foi num vestido azul que ele a viu pela segunda vez, no terço de São Sebastião. Tantos anos!... Quando a verá ainda?... No Céu, talvez... Mas mesmo no Céu, ela terá que gostar do boiadeiro da Iporanga. E ele, Argemiro, terá de respeitar Primo Ribeiro, que é o marido em nome de Deus... Nunca mais? Nunca mais... Ai meu deus! por mim era muito melhor não ter céu nenhum...

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“José Dias recusou dizendo: – É justo levar a saúde à casa de sapê do pobre.”. “José Dias recusou dizendo que era justo levar a saúde à casa de sapê do pobre”

(D.Casmurro, cap.V, M.Assis) “José Dias recusou. Era justo levar a saúde à casa de sapê do pobre”. Em que estariam pensando?, zumbiu sinha Vitória. Fabiano estranhou a pergunta e rosnou uma objeção. Menino é bicho miúdo, não pensa. Mas sinha Vitória renovou a pergunta – e a certeza do marido abalou-se. Ela devia ter razão. Tinha sempre razão. Agora desejava saber que iriam fazer os filhos quando crescessem. – Vaquejar, opinou Fabiano.

(V.Secas, cap.“Fuga”, G.Ramos) Estirou as pernas, encostou as carnes doídas ao muro. Se lhe tivessem dado tempo, ele teria explicado tudo direito. Mas pegado de surpresa, embatucara. Quem não ficaria azuretado com semelhante despropósito?

(V.Secas, cap.“Cadeia”, G.Ramos) Lembrou-se da casa velha onde morava, da cozinha, da panela que chiava na trempe de pedra. Sinha Vitória punha sal na comida. Abriu os alforjes novamente: a trouxa de sal não se tinha perdido. Bem. Sinha Vitória provava o caldo na quenga de coco. E Fabiano se aperreava por causa dela, dos filhos e da cachorra Baleia, que era como uma pessoa da família, sabida como gente.

(V.Secas, cap.“Cadeia”, G.Ramos)

“José Dias recusou dizendo: – É justo levar a saúde à casa de sapê do pobre.”. “José Dias recusou dizendo que era justo levar a saúde à casa de sapê do pobre”

(D.Casmurro, cap.V, M.Assis) “José Dias recusou. Era justo levar a saúde à casa de sapê do pobre”. Em que estariam pensando?, zumbiu sinha Vitória. Fabiano estranhou a pergunta e rosnou uma objeção. Menino é bicho miúdo, não pensa. Mas sinha Vitória renovou a pergunta – e a certeza do marido abalou-se. Ela devia ter razão. Tinha sempre razão. Agora desejava saber que iriam fazer os filhos quando crescessem. – Vaquejar, opinou Fabiano.

(V.Secas, cap.“Fuga”, G.Ramos) Estirou as pernas, encostou as carnes doídas ao muro. Se lhe tivessem dado tempo, ele teria explicado tudo direito. Mas pegado de surpresa, embatucara. Quem não ficaria azuretado com semelhante despropósito?

(V.Secas, cap.“Cadeia”, G.Ramos) Lembrou-se da casa velha onde morava, da cozinha, da panela que chiava na trempe de pedra. Sinha Vitória punha sal na comida. Abriu os alforjes novamente: a trouxa de sal não se tinha perdido. Bem. Sinha Vitória provava o caldo na quenga de coco. E Fabiano se aperreava por causa dela, dos filhos e da cachorra Baleia, que era como uma pessoa da família, sabida como gente.

(V.Secas, cap.“Cadeia”, G.Ramos)

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Afinal para que serviam os soldados amarelos? Deu um pontapé na parede, gritou enfurecido. Para que serviam os soldados amarelos? Os outros presos remexeram-se, o carcereiro chegou à grade, e Fabiano acalmou-se: – Bem, bem. Não há nada não. (V.Secas, cap.“Cadeia”, G.Ramos) – Bem, bem. Passou as mãos nas costas e no peito, sentiu-se moído, os olhos azulados brilharam como olhos de gato. Tinham-no realmente surrado e prendido. Mas era um caso tão esquisito que instantes depois balançava a cabeça, duvidando, apesar das machucaduras. Ora, o soldado amarelo... Sim, havia um amarelo, criatura desgraçada que ele, Fabiano, desmancharia com um tabefe. Não tinha desmanchado por causa dos homens que mandavam. Cuspiu, com desprezo: – Safado, mofino, escarro de gente.

(V.Secas, cap.“Cadeia”G.Ramos) Freitas interveio, dizendo que agora, sim, senhor, estava explicado[.]

(Q.Borba, cap.XXXII, M.Assis) Minha mãe foi achá-lo à beira do poço, e intimou-lhe que vivesse. Que maluquice era aquela de parecer que ia ficar desgraçado, por causa de uma gratificação menos, e perder um emprego interino? Não, senhor, devia ser homem, pai de família, imitar a mulher e a filha...

(D.Casmurro, cap.XVI, M.Assis)

Afinal para que serviam os soldados amarelos? Deu um pontapé na parede, gritou enfurecido. Para que serviam os soldados amarelos? Os outros presos remexeram-se, o carcereiro chegou à grade, e Fabiano acalmou-se: – Bem, bem. Não há nada não. (V.Secas, cap.“Cadeia”, G.Ramos) – Bem, bem. Passou as mãos nas costas e no peito, sentiu-se moído, os olhos azulados brilharam como olhos de gato. Tinham-no realmente surrado e prendido. Mas era um caso tão esquisito que instantes depois balançava a cabeça, duvidando, apesar das machucaduras. Ora, o soldado amarelo... Sim, havia um amarelo, criatura desgraçada que ele, Fabiano, desmancharia com um tabefe. Não tinha desmanchado por causa dos homens que mandavam. Cuspiu, com desprezo: – Safado, mofino, escarro de gente.

(V.Secas, cap.“Cadeia”G.Ramos) Freitas interveio, dizendo que agora, sim, senhor, estava explicado[.]

(Q.Borba, cap.XXXII, M.Assis) Minha mãe foi achá-lo à beira do poço, e intimou-lhe que vivesse. Que maluquice era aquela de parecer que ia ficar desgraçado, por causa de uma gratificação menos, e perder um emprego interino? Não, senhor, devia ser homem, pai de família, imitar a mulher e a filha...

(D.Casmurro, cap.XVI, M.Assis)

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Um dia, o nosso Rubião, acompanhando o médico até à porta da rua, perguntou-lhe qual era o verdadeiro estado do amigo. Ouviu que estava perdido, completamente perdido; mas que o fosse animando. Para que tornar-lhe a morte mais aflitiva pela certeza...? – Lá isso, não, atalhou Rubião; para ele, morrer é negócio fácil. Nunca leu um livro que ele escreveu, há anos, não sei que negócio de filosofia... – Não; mas filosofia é uma coisa, e morrer de verdade é outra; adeus.

(Q.Borba, cap.IV, M.Assis) Exigia do dito Rubião que o tratasse [o cachorro] como se fosse a ele próprio testador, nada poupando em seu benefício, resguardando-o de moléstias, de fugas, de roubo ou de morte, que lhe quisessem dar por maldade; cuidar finalmente como se cão não fosse, mas pessoa humana. Item, impunha-lhe a condição, quando morresse o cachorro, de lhe dar sepultura decente em terreno próprio, que cobriria de flores e plantas cheirosas; e mais, desenterraria os ossos do dito cachorro, quando fosse tempo idôneo, e os recolheria a uma urna de madeira preciosa para depositá-los no lugar mais honrado da casa.

(Q.Borba, cap.XIV, M.Assis)

Estava ainda com a carta aberta nas mãos, quando viu aparecer o doutor, que vinha por notícias do enfermo; o agente do correio dissera-lhe haver chegado uma carta. Era aquela?

(Q.Borba, cap.X, M.Assis)

D. Tonica confessava-lhe que tinha muita vontade de ver Minas, principalmente Barbacena. Que tais eram os ares?

(Q.Borba, cap.XXXVII, M.Assis)

Um dia, o nosso Rubião, acompanhando o médico até à porta da rua, perguntou-lhe qual era o verdadeiro estado do amigo. Ouviu que estava perdido, completamente perdido; mas que o fosse animando. Para que tornar-lhe a morte mais aflitiva pela certeza...? – Lá isso, não, atalhou Rubião; para ele, morrer é negócio fácil. Nunca leu um livro que ele escreveu, há anos, não sei que negócio de filosofia... – Não; mas filosofia é uma coisa, e morrer de verdade é outra; adeus.

(Q.Borba, cap.IV, M.Assis) Exigia do dito Rubião que o tratasse [o cachorro] como se fosse a ele próprio testador, nada poupando em seu benefício, resguardando-o de moléstias, de fugas, de roubo ou de morte, que lhe quisessem dar por maldade; cuidar finalmente como se cão não fosse, mas pessoa humana. Item, impunha-lhe a condição, quando morresse o cachorro, de lhe dar sepultura decente em terreno próprio, que cobriria de flores e plantas cheirosas; e mais, desenterraria os ossos do dito cachorro, quando fosse tempo idôneo, e os recolheria a uma urna de madeira preciosa para depositá-los no lugar mais honrado da casa.

(Q.Borba, cap.XIV, M.Assis)

Estava ainda com a carta aberta nas mãos, quando viu aparecer o doutor, que vinha por notícias do enfermo; o agente do correio dissera-lhe haver chegado uma carta. Era aquela?

(Q.Borba, cap.X, M.Assis)

D. Tonica confessava-lhe que tinha muita vontade de ver Minas, principalmente Barbacena. Que tais eram os ares?

(Q.Borba, cap.XXXVII, M.Assis)

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O médico tirou o largo chapéu de palha para concertar a fita; depois sorriu. Gente? Com que então parecia gente?

(Q.Borba, cap.X, M.Assis) Palha fez-lhe igual pergunta. Para que iria a Minas, salvo se era negócio de pouco tempo. Ou já estava aborrecido da Corte?

(Q.Borba, cap.LIX, M.Assis)

Quis tirar o braço; mas o dele reteve-lho com força. Não; ir para quê? Estavam ali bem, muito bem... Que melhor? Ou seria que ele a estivesse aborrecendo? Sofia acudiu que não, ao contrário; mas precisava ir fazer sala às visitas... Há quanto tempo estavam ali!

(Q.Borba, cap.XLI, M.Assis)

Parece que X furtou um lenço. Um lenço de seda? Provavelmente; não valeria a pena furtar um lenço de algodão.

(A Semana, 23/04/1893, M.Assis)

http://www.filologia.org.br/abf/volume3/numero1/05.htm - O Discurso Indireto Livre em Vidas Secsa, Graciliano Ramos, Castelar de Carvalho (UFRJ, ABF) http://machadodeassis.net/download/numero06/num06artigo01.pdf - O Discurso Indireto Livre em Machado de Assis - Machado de Assis em linha ano 3, número 6, dezembro 2010 - Fundação Casa de Rui Barbosa – R. São Clemente, 134, Botafogo – 22260-000 – Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

O médico tirou o largo chapéu de palha para concertar a fita; depois sorriu. Gente? Com que então parecia gente?

(Q.Borba, cap.X, M.Assis) Palha fez-lhe igual pergunta. Para que iria a Minas, salvo se era negócio de pouco tempo. Ou já estava aborrecido da Corte?

(Q.Borba, cap.LIX, M.Assis)

Quis tirar o braço; mas o dele reteve-lho com força. Não; ir para quê? Estavam ali bem, muito bem... Que melhor? Ou seria que ele a estivesse aborrecendo? Sofia acudiu que não, ao contrário; mas precisava ir fazer sala às visitas... Há quanto tempo estavam ali!

(Q.Borba, cap.XLI, M.Assis)

Parece que X furtou um lenço. Um lenço de seda? Provavelmente; não valeria a pena furtar um lenço de algodão.

(A Semana, 23/04/1893, M.Assis)

http://www.filologia.org.br/abf/volume3/numero1/05.htm - O Discurso Indireto Livre em Vidas Secsa, Graciliano Ramos, Castelar de Carvalho (UFRJ, ABF) http://machadodeassis.net/download/numero06/num06artigo01.pdf - O Discurso Indireto Livre em Machado de Assis - Machado de Assis em linha ano 3, número 6, dezembro 2010 - Fundação Casa de Rui Barbosa – R. São Clemente, 134, Botafogo – 22260-000 – Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

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Emma, Jane Austen Os cabelos foram frisados, a criada foi dispensada, e Emma sentou-se para refletir e se compadecer. — Era mesmo uma desgraça! — Tudo aquilo que ansiara fora pelos ares! — Tudo aquilo que jamais teria desejado acontecera! — E que golpe para Harriet! — Aquilo era o pior de tudo (cap. XVI). Madame Bovary, Gustave Flaubert Ao se ver no espelho, admirou-se de seu aspecto. Nunca tivera os olhos tão grandes, tão negros e tão profundos. Um quê de sutil, difuso por toda a sua pessoa, transformava-a. Repetia a si mesma-. Tenho um amante! Um amante!, deleitando-se com a ideia como se uma nova puberdade lhe sobreviesse. Agora, finalmente, teria as alegrias do amor, a febre de felicidade de que perdera a esperança. Estava penetrando em algo de maravilhoso em que tudo era paixão, êxtase, delírio, uma imensidão azulada a circundava, os píncaros do sentimento cintilavam sob o seu pensamento, e a vida cotidiana mostrava-se ao longe, mais embaixo, na sombra, nos intervalos daquelas alturas (parte II, cap. IX). http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Discurso-Indireto-Livre/64378603.html - Profª. Luciene Azevedo Lygia Fagundes Telles, As Meninas. "Aperto o copo na mão. Quando Lorena sacode a bola de vidro a neve sobe tão leve. Rodopia flutuante e depois vai caindo no telhado, na cerca e na menininha de capuz vermelho. Então ela sacode de novo. 'Assim tenho neve o ano inteiro'. Mas por que neve o ano inteiro? Onde é que tem neve aqui?

Emma, Jane Austen Os cabelos foram frisados, a criada foi dispensada, e Emma sentou-se para refletir e se compadecer. — Era mesmo uma desgraça! — Tudo aquilo que ansiara fora pelos ares! — Tudo aquilo que jamais teria desejado acontecera! — E que golpe para Harriet! — Aquilo era o pior de tudo (cap. XVI). Madame Bovary, Gustave Flaubert Ao se ver no espelho, admirou-se de seu aspecto. Nunca tivera os olhos tão grandes, tão negros e tão profundos. Um quê de sutil, difuso por toda a sua pessoa, transformava-a. Repetia a si mesma-. Tenho um amante! Um amante!, deleitando-se com a ideia como se uma nova puberdade lhe sobreviesse. Agora, finalmente, teria as alegrias do amor, a febre de felicidade de que perdera a esperança. Estava penetrando em algo de maravilhoso em que tudo era paixão, êxtase, delírio, uma imensidão azulada a circundava, os píncaros do sentimento cintilavam sob o seu pensamento, e a vida cotidiana mostrava-se ao longe, mais embaixo, na sombra, nos intervalos daquelas alturas (parte II, cap. IX). http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Discurso-Indireto-Livre/64378603.html - Profª. Luciene Azevedo Lygia Fagundes Telles, As Meninas.

"Aperto o copo na mão. Quando Lorena sacode a bola de vidro a neve sobe tão leve. Rodopia flutuante e depois vai caindo no telhado, na cerca e na menininha de capuz vermelho. Então ela sacode de novo. 'Assim tenho neve o ano inteiro'. Mas por que neve o ano inteiro? Onde é que tem neve aqui?

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Acha lindo a neve. Uma enjoada. Trinco a pedra de gelo nos dentes."

http://www.todamateria.com.br/discurso-direto-indireto-e-indireto-livre/ Mar Morto, Jorge Amado “Estrela matutina. No cais o velho Francisco balança a cabeça. Uma vez, quando fez o que nenhum mestre de saveiro faria, ele viu Iemanjá, a dona do mar. E não é ela quem vai agora de pé no Paquete voador? Não é ela? É ela, sim. É Iemanjá quem vai ali. E o velho Francisco grita para os outros do cais: — Vejam! Vejam! É Janaína”. (Sagarana, Guimarães Rosa) Enlameado até a cintura, Tiãozinho cresce de ódio. Se pudesse matar o carreiro... Deixa eu crescer!... Deixa eu ficar grande!... Hei de dar conta deste danisco... Se uma cobra picasse seu Soronho... Tem tanta cascavel nos pastos... Tanta urutu, perto de casa... se uma onça comesse o carreiro, de noite... Um onção grande, da pintada... Que raiva!... Mas os bois estão caminhando diferente. Começaram a prestar atenção, escutando a conversa de boi Brilhante. http://www.brasilescola.com/redacao/tipos-discurso-narrativa.htm

Acha lindo a neve. Uma enjoada. Trinco a pedra de gelo nos dentes."

http://www.todamateria.com.br/discurso-direto-indireto-e-indireto-livre/ Mar Morto, Jorge Amado “Estrela matutina. No cais o velho Francisco balança a cabeça. Uma vez, quando fez o que nenhum mestre de saveiro faria, ele viu Iemanjá, a dona do mar. E não é ela quem vai agora de pé no Paquete voador? Não é ela? É ela, sim. É Iemanjá quem vai ali. E o velho Francisco grita para os outros do cais: — Vejam! Vejam! É Janaína”. (Sagarana, Guimarães Rosa) Enlameado até a cintura, Tiãozinho cresce de ódio. Se pudesse matar o carreiro... Deixa eu crescer!... Deixa eu ficar grande!... Hei de dar conta deste danisco... Se uma cobra picasse seu Soronho... Tem tanta cascavel nos pastos... Tanta urutu, perto de casa... se uma onça comesse o carreiro, de noite... Um onção grande, da pintada... Que raiva!... Mas os bois estão caminhando diferente. Começaram a prestar atenção, escutando a conversa de boi Brilhante. http://www.brasilescola.com/redacao/tipos-discurso-narrativa.htm

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(Graciliano Ramos, Vidas Secas) Sinhá Vitória desejava possuir uma cama igual à de seu Tomás da bolandeira. Doidice. Não dizia nada para não contrariá-la, mas sabia que era doidice. Cambembes podiam ter luxo? E estavam ali de passagem. Qualquer dia o patrão os botaria fora, e eles ganhariam o mundo, sem rumo, nem teriam meio de conduzir os cacarecos. http://www.ileel.ufu.br/anaisdosielp/wp-content/uploads/2014/06/volume_2_artigo_098.pdf Terra Fria, Ferreira de Castro Novamente se enterneceu com o desejo de proporcionar à mulher a alegria de que ela falava, tornando-a feliz. Se ela pudesse, ela logo veria! Não seria só um filho; seria tudo quanto ela quisesse. Uma grande casa, uma quinta como ao "americano" - tudo! Não lhe faltaria coisa alguma! A Criação Literária, Massaud Moisés, Editora Cultrix - 21ª. edição, 2006

(Graciliano Ramos, Vidas Secas) Sinhá Vitória desejava possuir uma cama igual à de seu Tomás da bolandeira. Doidice. Não dizia nada para não contrariá-la, mas sabia que era doidice. Cambembes podiam ter luxo? E estavam ali de passagem. Qualquer dia o patrão os botaria fora, e eles ganhariam o mundo, sem rumo, nem teriam meio de conduzir os cacarecos. http://www.ileel.ufu.br/anaisdosielp/wp-content/uploads/2014/06/volume_2_artigo_098.pdf Terra Fria, Ferreira de Castro Novamente se enterneceu com o desejo de proporcionar à mulher a alegria de que ela falava, tornando-a feliz. Se ela pudesse, ela logo veria! Não seria só um filho; seria tudo quanto ela quisesse. Uma grande casa, uma quinta como ao "americano" - tudo! Não lhe faltaria coisa alguma! A Criação Literária, Massaud Moisés, Editora Cultrix - 21ª. edição, 2006

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