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Rafael Silva Diniz MECENATO ESPORTIVO: O trajeto da Lei Federal de Incentivo ao Esporte em Belo Horizonte Belo Horizonte Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG 2016

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Page 1: Disciplina: Introdução à recreação e estudos sobre o lazer€¦ · Rafael Silva Diniz MECENATO ESPORTIVO: O trajeto da Lei Federal de Incentivo ao Esporte em Belo Horizonte Dissertação

Rafael Silva Diniz

MECENATO ESPORTIVO

O trajeto da Lei Federal de Incentivo ao Esporte em Belo Horizonte

Belo Horizonte

Escola de Educaccedilatildeo Fiacutesica Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG

2016

Rafael Silva Diniz

MECENATO ESPORTIVO

O trajeto da Lei Federal de Incentivo ao Esporte em Belo Horizonte

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos do Lazer da Escola de Educaccedilatildeo Fiacutesica Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Estudos do Lazer Linha de Pesquisa Formaccedilatildeo atuaccedilatildeo e poliacuteticas de Lazer Orientador Prof Dr Luciano Pereira da Silva

Belo Horizonte

Escola de Educaccedilatildeo Fiacutesica Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG

2016

Universidade Federal de Minas Gerais

Escola de Educaccedilatildeo Fiacutesica Fisioterapia e Terapia Ocupacional

Dissertaccedilatildeo intitulada ldquoMecenato Esportivo O trajeto da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte em Belo Horizonterdquo de autoria de Rafael Silva Diniz aprovada pela banca

examinadora constituiacuteda pelos seguintes professores

______________________________________________________

Prof Dr Luciano Pereira da Silva ndash Orientador

Depto de Ed FiacutesicaEscola de Ed Fiacutesica Fisioterapia e Terapia OcupacionalUFMG

______________________________________________________

Profordf Dra Ana Claacuteudia Porfiacuterio Couto

Depto de EsportesEscola de Ed Fiacutesica Fisioterapia e Terapia OcupacionalUFMG

______________________________________________________

Prof Dr Pedro Fernando Avalone de Atayde

Universidade de Brasiacutelia

______________________________________________________

Prof Dr Cleber Augusto Gonccedilalves Dias

Coordenador do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos do Lazer

Escola de Educaccedilatildeo Fiacutesica Fisioterapia e Terapia OcupacionalUFMG

Belo Horizonte 15 de julho de 2016

AGRADECIMENTOS

Em 2014 quase sete anos apoacutes a graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo fiacutesica o

destino me trouxe novamente a EEFFTO-UFMG Na ocasiatildeo buscava mais

informaccedilotildees sobre o mestrado (o que eacute onde como por que) e a primeira pessoa

que encontrei foi uma ex-colega de sala Priscila Campos na eacutepoca doutoranda da

UNICAMP Depois de colocar o ldquopapordquo em dia e tirar as duacutevidas ela comentou sobre

um professor receacutem-chegado na unidade que estudava e gostava de poliacutetica na aacuterea

do esporte e lazer Logo ela saiu pelos corredores da unidade a procuraacute-lo e me

apresentou o prof Dr Luciano Pereira da Silva

Na nossa primeira conversa o prof Luciano me convidou a assistir como

ouvinte a sua disciplina de ldquoPoliacuteticas Puacuteblicas de Esporte e Lazerrdquo para a graduaccedilatildeo

em Educaccedilatildeo Fiacutesica Natildeo me hesitei e comecei a frequentar a disciplina Passei a

conhecer o prof Luciano melhor e admirar sua capacidade argumentativa aliada a

sua simplicidade e humildade o que nem sempre satildeo atributos que andam juntos na

aacuterea acadecircmica Estava decido caso conseguisse entrar no mestrado queria que o

prof Luciano fosse meu orientador Poreacutem faltava a segunda parte passar no

processo seletivo e ele querer me orientar

Foi neste momento que outro ex-colega de sala o Luiz Nicaacutecio entrou na

histoacuteria Marcamos uma ldquoresenhardquo para ele me ajudar com o projeto de pesquisa

pois ele jaacute tinha um percurso de sucesso na aacuterea acadecircmica ndash como mestre Nicaacutecio

E realmente diante de todas as duacutevidas e anseios profissionais que eu o contei ele

teve a sensibilidade de captar a ideia do que eu desejava pesquisar (porque eu

mesmo natildeo sabia) Ele criou o objetivo do projeto de pesquisa e me deu a diretriz

dos temas que precisava desenvolver Passado uma semana estava criado o projeto

de pesquisa O Luiz ainda me preparou para a prova escrita e para a arguiccedilatildeo ndash

nesta uacuteltima demos boas risadas porque natildeo conseguia responder as perguntas

dele (ainda tenho duacutevidas sobre vaacuterias)

Nesta curta passagem que relembra o iniacutecio da minha trajetoacuteria no

mestrado marca como pessoas satildeo decisivas para o resultado do que somos

Entatildeo natildeo poderia deixar de agradecer aos ex-colegas de sala mas amigos de

vida Priscila Campos e Luiz Nicaacutecio Ao prof Luciano pela paciecircncia confianccedila e

amizade neste periacuteodo que natildeo foi faacutecil para mim uma vez que ldquoabracei o mundordquo

5

com outra graduaccedilatildeo (Processos Gerenciais) criando uma instituiccedilatildeo (Associaccedilatildeo

Movimenta Brasil) montando um lar em Tiradentes e ainda fazendo pesquisa

(Mestrado em Estudos do Lazer)

Entretanto a conquista do mestrado somente foi possiacutevel pelo apoio

incondicional da minha companheira de vida Luciana Bonuti (Linda) tanto nos

momentos bons quanto nos ruins Linda obrigado por me fazer uma pessoa melhor

(ainda longe da pessoa que vocecirc merece) e por aceitar compartilhar sua vida

comigo

ldquoEacute no conhecimento que existe a chance de libertaccedilatildeo Uma pessoa que decide natildeo conhecer aceita sua condiccedilatildeo de escravo aceita sua condiccedilatildeo de submissatildeo Conhecer eacute a condiccedilatildeo para eu libertar de mim mesmo e das amarras sociaisrdquo

Leandro Karnal 2016

RESUMO

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 marcou a inclusatildeo do esporte no rol de direitos sociais que formam a cidadania brasileira Os anos que se seguiram apoacutes a promulgaccedilatildeo do Art 217 foi de discussatildeo para elaboraccedilatildeo de uma norma geral para o esporte e reestruturaccedilatildeo estatal do elemento social Somente com aprovaccedilatildeo da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) e criaccedilatildeo do Ministeacuterio do Esporte (2003) o setor se organizou para a gecircnese de uma poliacutetica de financiamento puacuteblico a todas as manifestaccedilotildees do esporte O exemplo da Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) e da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) que buscou aproximar as entidades culturais do setor privado estimulando a figura do mecenas cultural por meio do incentivo fiscal tambeacutem foi considerado como oportuno para o setor esportivo Assim no final de 2006 foi aprovado no Congresso Nacional a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) Mas a experiecircncia na cultura jaacute anunciava possiacuteveis problemas que o mecanismo de mecenato esportivo poderia enfrentar na sua efetivaccedilatildeo fruto da realidade de desigualdades econocircmicas e de conhecimento no paiacutes Passados quase dez anos da promulgaccedilatildeo da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) ainda satildeo poucos os trabalhos acadecircmicos que buscam compreender o funcionamento e o impacto na distribuiccedilatildeo do recurso Por isso foi necessaacuterio traccedilar um panorama geral mas de abrangecircncia nacional do financiamento do mecenato esportivo no periacuteodo de 2007 a 2015 para em um segundo momento aprofundar no trajeto deste recurso pleiteado pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte Para a investigaccedilatildeo municipal foi utilizado como recorte temporal os 83 projetos apresentados e os 32 aprovados em 2013 sendo as informaccedilotildees consolidadas em categorias de anaacutelise Vaacuterios problemas de concentraccedilatildeo de recurso em regiatildeo geograacutefica e manifestaccedilatildeo esportiva influenciadas diretamente pela concentraccedilatildeo em um pequeno grupo de proponente observados em niacutevel nacional tambeacutem se reproduziram no territoacuterio de Belo Horizonte Palavras-chave Lei de Incentivo ao Esporte Financiamento ao esporte Poliacutetica puacuteblica de esporte e lazer

ABSTRACT

The Federal Constitution of 1988 stood out the inclusion of sport in the list of social rights which form the Brazilian citizenship The years that followed after the promulgation of Art 217 was discussion in order to elaborate a general rule for sport and state restructuring the social element Only with the approval of Lei Peleacute (Law Nordm 96151998) and creation of the Ministry of Sport (2003) the sector was organized for the genesis of a public financing policy to all manifestations of the sport The example of Lei Sarney (Law Nordm 75051986) and Lei Rouanet (Law Nordm 83131991) which sought to bring the cultural institution of the private sector stimulating the figure of the cultural mecenas through the tax incentive it was also considered appropriate for the sports sector Thus at the end of 2006 it was approved in the National Congress the Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Law Nordm 114382006) The experience in the culture already announced possible problems that sports patronage (mecenato) mechanism could face in its execution due to the reality of economic inequalities and knowledge in the country After almost ten years of the promulgation of the Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Law Nordm 114382006) there are few academic studies which seek understanding operation and the impact on resource distribution For that it was necessary to draw a general picture but nationwide from the sports patronage (mecenato) from 2007 to 2015 for in a second moment deepening the path of this resource claimed by the sports institution based in Belo Horizonte For municipal research was used as snip time the 83 projects presented and 32 approved in 2013 being consolidated as information in analysis categorie Several concentration problems of resource in geographic region and sports manifestation influenced directly for the concentration in a little group of proponent observed at a national level also reproduced in Belo Horizonte territory Keywords Incentive law of sport Financing sport Puplic policy of sport and leisure

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

FIGURA 1

Organograma do Ministeacuterio do Esporte (2003)

38

FIGURA 2 Diagrama atualizado das manifestaccedilotildees esportivas no acircmbito federal 85

85

FIGURA 3 Diagrama da cadeia produtiva do esporte profissional 87

FIGURA 4 Formulaacuterio digital de cadastro da proponente para acesso ao sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

92

FIGURA 5 Diagrama de fluxo da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

94

FIGURA 6 Elementos necessaacuterios para a apresentaccedilatildeo de projeto esportivo agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporte conforme Art 9ordm do Decreto Nordm 61802007 e respectiva fase de anaacutelise

95 FIGURA 7

Formulaacuterio digital de identificaccedilatildeo do projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

99

FIGURA 8

Formulaacuterio digital de descriccedilatildeo do ObjetoMetodologia do projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

100 FIGURA 9

Inclusatildeo de anexo ao projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

101

FIGURA 10

Formulaacuterio digital de Receita Prevista dos projetos esportivos no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

106 FIGURA 11

Formulaacuterio de identificaccedilatildeo do puacuteblico beneficiaacuterio do projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

110 FIGURA 12

Organograma institucional do Ministeacuterio do Esporte a partir da reformulaccedilatildeo do Decreto Nordm 75292011

112

FIGURA 13

Diagrama de paracircmetro para a escolha e aprovaccedilatildeo dos projetos esportivos na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

115 FIGURA 14

Quadro comparativo entre valor autorizado e captado dos projetos esportivos de 2013 das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

150 FIGURA 15

Mapa com as regionais administrativas de Belo Horizonte

167

LISTA DE TABELAS

TABELA 1

Distribuiccedilatildeo do incentivo de isenccedilatildeo fiscal no acircmbito federal

81

TABELA 2 Distribuiccedilatildeo de projetos esportivos apresentados em 2013 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por entidades sediadas em Belo Horizonte

140

TABELA 3 Comparativo entre o valor autorizado e captado na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em todo o Brasil e no ano de 2013 pelas entidades sediadas em Belo Horizonte ( em Reais)

150

TABELA 4 Comparativo entre o Grupo 1 e Grupo 2 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013

151

TABELA 5 Comparativo entre o Grupo 1 e Grupo 2 pelo tipo de manifestaccedilatildeo esportiva nos projetos na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013

153

TABELA 6 Distribuiccedilatildeo dos depoacutesitos feitos por pessoa fiacutesica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

154

TABELA 7 Distribuiccedilatildeo dos depoacutesitos feitos por pessoa juriacutedica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

156

TABELA 8 Distribuiccedilatildeo das modalidades esportivas por projeto apresentado por entidade esportiva sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

159

TABELA 9 Distribuiccedilatildeo dos recursos humanos pelo tipo de accedilatildeo esportiva desenvolvida no projeto aprovado por entidade sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

160

TABELA 10 Distribuiccedilatildeo dos beneficiaacuterios valor total e per capita recurso humano pela manifestaccedilatildeo esportiva nos projetos aprovados por entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

162

TABELA 11 Descriccedilatildeo dos projetos aprovados pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte nos quesitos quantidade de beneficiaacuterios duraccedilatildeo do projeto valor per capita aprovado e captado

164

TABELA 12 Distribuiccedilatildeo dos locais de atuaccedilatildeo dos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

168

TABELA 13 Distribuiccedilatildeo do puacuteblico-alvo dos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

170

LISTA DE GRAacuteFICOS

GRAacuteFICO 1 Desempenho da Lei Rouanet no periacuteodo de 1993 a 1998 62

GRAacuteFICO 2

Comparativo entre a quantidade de empresas declarantes do imposto sobre a renda (IRPJ) e a arrecadaccedilatildeo tributaacutevel apurada no ano fiscal de 2013

79

GRAacuteFICO 3 Comparativo entre a quantidade de pessoas fiacutesica declarantes do imposto sobre a renda (IRPF) e o imposto devido no momento da entrega da declaraccedilatildeo de rendimento no ano-calendaacuterio de 2013

80

GRAacuteFICO 4 Distribuiccedilatildeo da captaccedilatildeo de recurso financeiro pela tipologia de proponente na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2014

89

GRAacuteFICO 5 Situaccedilatildeo dos projetos esportivos apresentados agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporte durante o periacuteodo de 2007 a 2014

96

GRAacuteFICO 6 Comparativo entre a distribuiccedilatildeo do PIB brasileiro e o acumulado da Captaccedilatildeo de Recurso na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por regiatildeo administrativa do paiacutes

116

GRAacuteFICO 7 Comparativo entre a distribuiccedilatildeo populacional e o acumulado da Captaccedilatildeo de Recurso na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por regiatildeo administrativa do paiacutes

116

GRAacuteFICO 8 Comparativo entre a distribuiccedilatildeo do acumulado de 2007 a 2014 do recurso autorizado e captado pela Lei Federal de Incentivo por regiatildeo administrativa do paiacutes

117

GRAacuteFICO 9 Distribuiccedilatildeo do recurso autorizado e captado pelos projetos esportivos da Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

120

GRAacuteFICO 10 Distribuiccedilatildeo da quantidade dos projetos esportivos apresentados na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

120

GRAacuteFICO 11 Distribuiccedilatildeo financeira acumulada (2007 a 2014) das 24 proponentes com maior sucesso na captaccedilatildeo na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

124

GRAacuteFICO 12 Distribuiccedilatildeo financeira da captaccedilatildeo de recurso de 2014 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por modalidade esportiva

125

GRAacuteFICO 13 Comparativo entre o valor autorizado e captado no periacuteodo de 2007 a 2014 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

129

GRAacuteFICO 14 Comparativo entre o setor econocircmico de atuaccedilatildeo e tipo de empresa do grupo dos 18 maiores apoiadores da Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2014

130

GRAacuteFICO 15 Distribuiccedilatildeo dos status dos projetos esportivos enviados em 2013 para a Lei Federal de Incentivo ao Esporte por entidades sediadas em Belo Horizonte

138

GRAacuteFICO 16 Distribuiccedilatildeo das proponentes pela quantidade de projetos esportivos apresentados e taxa de sucesso em 2013 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

141

GRAacuteFICO 17 Distribuiccedilatildeo das proponentes sediadas em Belo Horizonte quanto agrave personalidade juriacutedica e natureza de funcionamento 143

GRAacuteFICO 18 Graacutefico da distribuiccedilatildeo das proponentes sediadas em Belo Horizonte quanto agrave natureza de funcionamento e taxa de sucesso

144

GRAacuteFICO 19 Distribuiccedilatildeo dos projetos apresentadas pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

147

GRAacuteFICO 20 Comparativo da distribuiccedilatildeo dos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte pela manifestaccedilatildeo esportiva

148

GRAacuteFICO 21 Distribuiccedilatildeo dos projetos apresentadas pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

152

GRAacuteFICO 22 Comparativo da distribuiccedilatildeo da quantidade e valores dos depoacutesitos feitos por pessoa fiacutesica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

155

GRAacuteFICO 23 Comparativo da distribuiccedilatildeo da quantidade e valores dos depoacutesitos feitos por pessoa fiacutesica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

156

GRAacuteFICO 24 Graacutefico 22 ndash Distribuiccedilatildeo das modalidades esportivas apresentadas e captadas pelos projetos das entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013

158

GRAacuteFICO 25 Comparativo entre a distribuiccedilatildeo dos profissionais e dos projetos pelo tipo de accedilatildeo esportivas apresentada na proposta das entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 201

161

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14 2 O PERCURSO DA CIDADANIA SOCIAL DO DESEMPENHO ESPORTIVO A ELEMENTO DE CIDADANIA 18

21 O direito social e status conquistado pelo esporte 18 22 A institucionalizaccedilatildeo estatal do esporte poacutes-constituiccedilatildeo 29

3 MECANISMO DE MECENATO DA CULTURA AO ESPORTE 45

31 Poliacutetica estatal de cultura e o desenvolvimento do mecenato 45 32 A criaccedilatildeo do mecenato esportivo 64

4 LEI FEDERAL DE INCENTIVO AO ESPORTE DA TEORIA DA NORMA AOS NUacuteMEROS DA PRAacuteTICA 77

41 Os passos iniciais 77

42 Elaboraccedilatildeo da proposta esportiva 91 43 O tracircmite do projeto esportivo no Ministeacuterio do Esporte 110 44 Aprovaccedilatildeo de projeto e Captaccedilatildeo de Recurso 127

5 O MECENATO ESPORTIVO EM BELO HORIZONTE DISSECANDO OS PROJETOS E CONHECENDO A POLIacuteTICA NO TERRITOacuteRIO 135

51 Dados consolidados dos projetos em Belo Horizonte 135

52 Anaacutelise financeira dos projetos 149 53 Local e puacuteblico de atuaccedilatildeo dos projetos 166

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS UM ENSAIO PARA PENSAR A POLIacuteTICA DE FINANCIAMENTO AO ESPORTE 173

REFEREcircNCIAS 179

ANEXOS Erro Indicador natildeo definido

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

Nas favelas no senado Sujeira pra todo lado

Ningueacutem respeita a constituiccedilatildeo Mas todos acreditam no futuro da naccedilatildeo

Que paiacutes eacute esse Que paiacutes eacute esse Que paiacutes eacute esse

(Renato Russo 1987)

A muacutesica ldquoQue paiacutes eacute esserdquo de Renato Russo retrata um pouco dos

anseios vividos pela sociedade brasileira durante o processo de redemocratizaccedilatildeo

do paiacutes Todo esse fervor democraacutetico influenciou a elaboraccedilatildeo do novo texto

originaacuterio da naccedilatildeo o qual pela primeira vez em nossa histoacuteria contou com

mecanismos de participaccedilatildeo popular (SANTOS 2011 p52) Natildeo por acaso a

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 tambeacutem ficou conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde

A nova constituiccedilatildeo marcou a entrada definitiva dos direitos sociais no rol

de garantias da populaccedilatildeo e obrigaccedilotildees do Estado uma tentativa mesmo que

tardia de construccedilatildeo de um modelo de Estado de bem-estar social tupiniquim Aleacutem

da formalizaccedilatildeo de direitos ela trouxe um alargamento da quantidade de elementos

sociais e um novo entendimento dos direitos sociais ao propor a desmercantilizaccedilatildeo

de uma seacuterie de objetos relacionados agrave nossa heranccedila de cidadania social

(MENICUCCI 2006 ESPING-ANDERSEN1 apud HASSENTEUFEL1996)

Neste contexto o lazer e o esporte conquistaram o status de direitos

sociais constitucionais indicados nos artigos 6ordm e 217ordm respectivamente (BRASIL

1988) Por isso o objetivo central desta pesquisa consiste em investigar o processo

de fomento e promoccedilatildeo do direito social ao esporte e lazer por meio da Lei Federal

de Incentivo ao Esporte (Lei nordm 114382006)

Entretanto antes de reconstruir a trajetoacuteria do esporte no paiacutes e buscar

vestiacutegios que norteiem nosso entendimento sobre a sua conquista ao patamar de

direito eacute importante compreender o significado do termo ldquodireito socialrdquo e o seu peso

para o conceito moderno de cidadania Esta mesma cidadania que segundo

Carvalho (2002) foi aclamada nas ruas e personificada durante o processo de

redemocratizaccedilatildeo do paiacutes

Assim no segundo capiacutetulo retomamos a claacutessica obra do socioacutelogo

inglecircs Thomas Humphrey Marshall (1967) que desmembra a cidadania em direito

civil poliacutetico e social Um contraponto em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo da cidadania

brasileira baseia-se na obra ldquoCidadania no Brasil o longo caminhordquo do cientista

poliacutetico e historiador Joseacute Murilo de Carvalho (2002) Em seguida buscamos

compreender a relaccedilatildeo do esporte com o Estado e a sociedade brasileira e como

este objeto foi se organizando durante o processo de redemocratizaccedilatildeo Aleacutem disso

a integraccedilatildeo do esporte agrave concepccedilatildeo brasileira de cidadania nos estimulou a

resgatar vestiacutegios na literatura cientiacutefica sobre a possibilidade de sua construccedilatildeo

ativa e reivindicatoacuteria ou se mais uma vez refletiu o que Carvalho (2002) optou de

chama de ldquoestadaniardquo ndash um tipo de cidadania passiva e tutelada pelo Estado

No terceiro capiacutetulo passamos a explorar o histoacuterico do mecanismo de

financiamento puacuteblico baseado no sistema de mecenato o qual tem se popularizado

bastante no paiacutes no periacuteodo poacutes-constituiccedilatildeo de 1988 A cultura foi precursora desta

poliacutetica puacuteblica com a publicaccedilatildeo da Lei Sarney (Lei Nordm 75151986) e seguida pela

Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) Inicialmente o intuito do mecenato foi atrair

recurso privado para aacuterea cultural por meio da isenccedilatildeo fiscal ao contribuinte do

Imposto sobre a Renda (IR) Com o passar dos anos vaacuterias reformas foram feitas na

legislaccedilatildeo que deram mais vigor agrave participaccedilatildeo do setor privado muito embora

grande parte do recurso circulante fosse de origem puacuteblica

Concomitantemente o foco em atrair recurso privado foi sendo transferido

para a criaccedilatildeo de um robusto mercado cultural firmado no marketing e no

fortalecimento de marcas institucionais Por outro lado expressotildees culturais de

pouco apelo comercial foram negligenciadas uma vez que o forte vieacutes

mercadoloacutegico criado pelo mecenato cultural praticamente tornou-se sinocircnimo de

poliacutetica cultural

Independente das disfunccedilotildees operacionais do mecanismo de mecenato

cultural a maior oferta financeira ao setor e a agilidade com que este chegava agrave

accedilatildeo finaliacutestica fez com que o Estado brasileiro optasse pela expansatildeo do modelo

para outras aacutereas da cidadania social Assim o esporte passou a estruturar uma

poliacutetica similar de financiamento e em 29 de dezembro de 2006 foi aprovada no

Congresso Nacional a Lei Nordm 114382006 que ficou popularmente conhecida como

1 ESPING-ANDERSEN Goslashsta The Three Worlds of Welfare Capitalism Cambridge Polity Press

1990

Lei Federal de Incentivo ao Esporte Apesar da inspiraccedilatildeo no modelo da cultura a

aacuterea esportiva se apropriou pouco das discussotildees e problemas que envolviam o

mecanismo de mecenato

No quarto capiacutetulo natildeo soacute apresentamos a legislaccedilatildeo e operacionalidade

do mecanismo de mecenato esportivo como tambeacutem problematizamos algumas das

escolhas normativas feitas Para isso nos baseamos na experiecircncia e inovaccedilatildeo de

outras propostas de leis de incentivo fiscal como a Rouanet a Minas Esportiva

Incentivo ao Esporte de Minas Gerais e a Lei Estadual de Incentivo ao Esporte do

estado de Satildeo Paulo para refletir sobre a capacidade de democratizaccedilatildeo da poliacutetica

de financiamento ao esporte e o fortalecimento do interesse puacuteblico na seleccedilatildeo das

accedilotildees

Jaacute por meio do ldquoRelatoacuterio de Gestatildeo da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte de 2014rdquo trabalhamos algumas informaccedilotildees quantitativas da poliacutetica para

termos uma noccedilatildeo geral do seu desenvolvimento no acircmbito nacional no periacuteodo de

2007 a 2014 Assim notamos uma concentraccedilatildeo de recurso na manifestaccedilatildeo

rendimento (498 do valor captado de 2007-2014) e um maciccedilo investimento na

regiatildeo Sudeste (73 do valor captado de 2007-2014) Este cenaacuterio de distribuiccedilatildeo

desigual ainda estava sendo influenciado pelo acuacutemulo de recurso em um restrito

grupo de entidades esportivas (24 proponentes responsaacuteveis por 49 do valor

captado de 2007-2014) das quais algumas jaacute satildeo beneficiaacuterias de outra fonte de

recurso puacuteblico (Lei AgneloPiva ndash Lei Nordm 102642001)

Cabe mencionar que esta etapa foi necessaacuteria devido agrave falta de

referencial teoacuterico sobre o tema tendo em vista a incipiente pesquisa acadecircmica

acerca da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) Dentre as

iniciativas realizadas vale destacar Matias et al (2015) Seixas (2015) Bernardo et

al (2011) Cavazzani et al (2010) Cabral (2010) Franccedila Juacutenior e Frasson (2010) e

Monteiro (2010)

No quinto capiacutetulo passamos a analisar os projetos apresentados e

aprovados pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte para verificar a

distribuiccedilatildeo do recurso puacuteblico ao esporte no acircmbito municipal Tendo em vista o

prazo do Ministeacuterio do Esporte para consolidaccedilatildeo das informaccedilotildees referentes ao

mecanismo de mecenato esportivo no ano de 2014 receacutem-encerado e

concomitantemente ao moroso processo burocraacutetico estatal ateacute o esgotamento do

ciclo de vida dos projetos optou-se pela anaacutelise das propostas esportivas

apresentadas em 2013 delimitando o recorte temporal desta pesquisa

No segundo momento deste capiacutetulo o foco principal se direciona apenas

aos 32 projetos aprovados no periacuteodo analisados a fim de avaliar o potencial de

democratizaccedilatildeo do direito social no esporte

A delimitaccedilatildeo do grupo de anaacutelise nos permite aprofundar

qualitativamente no conteuacutedo descritivo dos projetos e para essa verificaccedilatildeo foram

utilizados dois princiacutepios constitucionais que se aplicam aos direitos sociais o

princiacutepio da universalidade (acessibilidade a toda a comunidade ou faixas-etaacuterias

populacionais) e o da descentralizaccedilatildeo (regionalizar a disponibilidade dos serviccedilos

de garantia de direitos)

No sexto e uacuteltimo capiacutetulo apresentamos as consideraccedilotildees finais sobre o

mecanismo de mecenato esportivo tentando estimular novas discussotildees

18

2 O PERCURSO DA CIDADANIA SOCIAL DO DESEMPENHO ESPORTIVO A ELEMENTO DE CIDADANIA

21 O direito social e status conquistado pelo esporte

A configuraccedilatildeo do Estado Moderno ou Estado-naccedilatildeo defronta com

termos e conceitos distintos e ateacute mesmo contraditoacuterios mas que se permitem

conviver juntos por serem parte de um longo e conflituoso processo de construccedilatildeo

histoacuterica Neste contexto terminoloacutegico a cidadania eacute um tiacutepico exemplo de palavra

que eacute cotidianamente utilizada mas que possui atributos dinacircmicos ligados agrave

formaccedilatildeo do Estado e da sociedade

De acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2016 p1) cidadania eacute a qualidade

de cidadatildeo ou seja a capacidade do indiviacuteduo ser parte integrante e ativa de uma

determinada sociedade que por sua vez eacute regida pelas normas de conviacutevio e

proteccedilatildeo de um Estado Para notar a diferenccedila temporal da palavra na Roma

Antiga por exemplo somente os membros homens e detentores de posse eram

considerados cidadatildeos e por isso tinham direito de participar das decisotildees do

Estado ndash exercer sua cidadania

Na atualidade com o aumento da complexidade das relaccedilotildees sociais natildeo

eacute possiacutevel resumir a cidadania a esses dois uacutenicos criteacuterios romanos seja o da

quantidade de terra (riqueza) seja o de gecircnero (homem e mulher) Desse modo

para pensar sobre os atributos que fazem parte do conceito moderno de cidadania

torna-se interessante a leitura da claacutessica obra ldquoCidadania Classe Social e Statusrdquo

de 1967 do socioacutelogo inglecircs Thomas Humphrey Marshall2

Para o autor a cidadania poderia ser dividida em trecircs elementos os quais

mais tarde se especializariam em categorias de direitos O primeiro elemento seria o

civil composto dos direitos necessaacuterios agrave liberdade individual ndash liberdade de ir e vir

de expressatildeo e de propriedade A instituiccedilatildeo responsaacutevel por garantir este direito

seria o tribunal de justiccedila Segundo o filoacutesofo italiano Noberto Bobbio (2004 p 20)

os direitos civis satildeo os ldquodireitos de liberdade isto eacute todos aqueles direitos que

2 No Capiacutetulo 3 do livro Cidadania Classe Social e Status Thomas H Marshall apresenta um ensaio

socioloacutegico que foi discursado na conferecircncia dedicada ao economista Alfred Marshall em 1949 na Universidade de Cambridge Nessa passagem estaacute a base do desenvolvimento do seu conceito de cidadania moderna fragmentado nos direitos civil poliacutetico e social

19

tendem a limitar o poder do Estado e a reservar para o indiviacuteduo ou para os grupos

particulares uma esfera de liberdade em relaccedilatildeo ao Estadordquo

O segundo elemento denominado de poliacutetico seria evidenciado pela

possibilidade de o indiviacuteduo atuar em qualquer instacircncia de representaccedilatildeo coletiva

que pensasse debatesse e decidisse o destino de sua sociedade As instituiccedilotildees de

exerciacutecio da cidadania poliacutetica seriam os cargos representativos nos conselhos

deliberativos e a participaccedilatildeo direta no proacuteprio Estado Para Bobbio (2004) o

elemento poliacutetico era uma complementaccedilatildeo do direito agrave liberdade individual uma vez

que concedia autonomia de participaccedilatildeo dos cidadatildeos no poder do Estado

Jaacute o elemento social da cidadania tinha como caracteriacutestica o acesso do

indiviacuteduo aos bens e serviccedilos comuns agrave sociedade ou seja a possibilidade dele

usufruir de uma vida em niacutevel civilizado tendo como base a heranccedila social e os

padrotildees determinados pela sociedade As principais instituiccedilotildees responsaacuteveis por

garantir este elemento seriam o sistema educacional transferindo conhecimento

acumulado pela sociedade aos indiviacuteduos membros e os serviccedilos assistenciais que

acolheriam os necessitados para preservaccedilatildeo do miacutenimo de civilidade dos

indiviacuteduos

Diferentemente dos dois elementos anteriores que tinham como suporte

o princiacutepio filosoacutefico da liberdade principalmente na expressatildeo da independecircncia e

autonomia do indiviacuteduo na relaccedilatildeo com o Estado o elemento social se sustentava

pelo princiacutepio da igualdade entre seus membros isto eacute a capacidade do coletivo

manter as desigualdades individuais em um niacutevel aceitaacutevel de civilidade Em outras

palavras o elemento social seria um suposto pacto da sociedade que garantiria que

o cidadatildeo na fruiccedilatildeo da sua liberdade natildeo criasse um exacerbado niacutevel de

desigualdade que levasse agrave dificuldade ou agrave exclusatildeo dos seus semelhantes da

participaccedilatildeo do legado social Bobbio (2004) complementa argumentando que o

direito social reflete o amadurecimento da sociedade por novas exigecircncias e valores

coletivos para aleacutem das necessidades individuais

Contudo Marshall (1967) indicava como regra geral uma sequecircncia

desenvolvimentista da cidadania moderna a qual se iniciava pelo elemento civil

passava pelo poliacutetico e se consolidava com a conquista do elemento social Mas sua

construccedilatildeo terminoloacutegica tinha como pilar a experiecircncia local vivida pela sociedade

inglesa o que natildeo necessariamente representaria a loacutegica de outras sociedades

20

Para mostrar as particularidades e diferenccedilas existentes na gecircnese deste

termo no Brasil o cientista poliacutetico e historiador Joseacute Murilo de Carvalho produziu

no ano de 20013 uma obra que reconta o trajeto da nossa cidadania Inicialmente

ao defrontar a experiecircncia inglesa com a brasileira foi notada uma inversatildeo na

ordem de consolidaccedilatildeo dos elementos da cidadania pois no Brasil a base de

formaccedilatildeo se deu pelo direito social para em seguida se ter o direito poliacutetico e

finalmente o direito civil (CARVALHO 2002)

Aleacutem disso o direito social teve a caracteriacutestica de ser cedido pelo Estado

brasileiro como uma contrapartida da restriccedilatildeo aos direitos poliacuteticos e civis durante

os governos autoritaacuterios (ditadura civil e militar) o que de certa forma minimizava a

ideia de pacto coletivo evidenciada pelo princiacutepio da igualdade Assim Carvalho

(2002) de forma irocircnica sugere a substituiccedilatildeo do termo cidadania por ldquoestadaniardquo

demonstrando a qualidade de cidadatildeos brasileiros tutelada pelo Estado

Para Carvalho (2002) o retrocesso e desvio no desenvolvimento dos

direitos tambeacutem foi outra possibilidade natildeo prevista na teoria de Marshall (1967)

mas bastante presente na formaccedilatildeo da cidadania brasileira O periacuteodo de 1945 a

1964 exemplifica bem essa afirmaccedilatildeo do autor pois tratou-se de um momento de

grande entusiasmo democraacutetico quando o paiacutes vivenciava boa praacutetica dos direitos

civis e poliacuteticos Poreacutem o desenvolvimento destes direitos natildeo impediu que o

seguinte golpe militar gerasse forte restriccedilatildeo ou ateacute recuo do exerciacutecio civil e

poliacutetico enquanto simultaneamente se ampliavam os direitos sociais

O conjunto de alteraccedilatildeo da piracircmide de elementos constituintes da

cidadania e o descontiacutenuo percurso de sua formaccedilatildeo remetem para um trajeto de

cidadania brasileira diferente da idealizada por Marshall (1967) Natildeo obstante

Carvalho (2002) ainda chama a atenccedilatildeo para o niacutevel de variabilidade da

identificaccedilatildeo do cidadatildeo com o Estado como outro fator de influecircncia em um

diferente exerciacutecio da cidadania Em outras palavras alguns momentos de forte crise

interna do Estado ou de comoccedilatildeo nacional poderiam ser poderosos meios de

reorganizaccedilatildeo da relaccedilatildeo da sociedade com os elementosdireitos civis poliacuteticos e

3 A obra Cidadania no Brasil o longo caminho de Joseacute Murilo de Carvalho teve como motivaccedilatildeo a

reflexatildeo sobre a comemoraccedilatildeo dos 500 anos de descoberta do Brasil completados em 2000 Em meio agraves festividades da data o autor considerou interessante resgatar a construccedilatildeo da cidadania brasileira tendo em vista o destaque que o termo teve durante o processo de redemocratizaccedilatildeo do paiacutes a partir de 1985 e sua representaccedilatildeo simboacutelica para a sociedade brasileira

21

sociais trazendo agrave tona uma nova forma de expressatildeo e gozo da cidadania distinta

da teorizada por Marshall (1967)

Nesta perspectiva podemos observar que na deacutecada de 1980 durante o

novo processo de redemocratizaccedilatildeo do paiacutes um forte sentimento nacionalista

emergiu das ruas e fez a palavra cidadania reaparecer no cotidiano das pessoas

como um quase sinocircnimo da vontade do povo ou sua proacutepria personificaccedilatildeo como

bem sugeriu Carvalho (2002 p7) ldquoa cidadania virou genterdquo ao denotar os anseios e

sentimentos da populaccedilatildeo Desta forma a lembranccedila popular da palavra cidadania

simbolizava o desejo da sociedade por um rearranjo na sua fruiccedilatildeo independente do

niacutevel evolutivo em que seus elementos se encontravam

O desenrolar dos fatos levou a um reestabelecimento do exerciacutecio do

direito civil e poliacutetico no paiacutes e tambeacutem marcou um alargamento dos direitos sociais

O novo pacto social com o Estado formalizado por meio da Constituiccedilatildeo Federal de

1988 natildeo soacute trazia garantias institucionais para a defesa da cidadania civil e poliacutetica

como tambeacutem apresentava pela primeira vez no texto constitucional um capiacutetulo

exclusivo sobre os direitos sociais ndash ldquoCapiacutetulo II - Dos Direitos Sociaisrdquo (BRASIL

1988a p1)

Art 6ordm Satildeo direitos sociais a educaccedilatildeo a sauacutede a alimentaccedilatildeo o trabalho a moradia o lazer a seguranccedila a previdecircncia social a proteccedilatildeo agrave maternidade e agrave infacircncia a assistecircncia aos desamparados na forma desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 1988a p1)

Todavia Carvalho (2002) alerta para o caraacuteter ideal de cidadania

positivado no texto constitucional pois a complexidade da sociedade

contemporacircnea possibilita imprimir uma variedade de facetas aos elementos civis

poliacuteticos e sociais o que torna aacuterduo o trabalho de seu atendimento pleno Talvez

por isso a cidadania plena seja objeto inalcanccedilaacutevel na sociedade contemporacircnea

Por outro lado a existecircncia de um modelo ideal serve como paracircmetro para avaliar a

qualidade no seu desenvolvimento

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 inovou ao apresentar um capiacutetulo

reservado aos direitos sociais no entanto outras facetas do elemento social podiam

ser encontradas em partes diversas do texto constitucional assim como jaacute acontecia

22

nas constituiccedilotildees anteriores4 Ressalta-se que desde a Carta Magna de 1934 o

constituinte vinha tendo o cuidado de designar um tiacutetulo sobre a ldquoOrdem Econocircmica

e Socialrdquo ou da ldquoOrdem Socialrdquo onde estabelecia regras de regulaccedilatildeo e intervenccedilatildeo

ativa do Estado em objetos sociais de interesse puacuteblico tendo como finalidade a

busca da justiccedila social Ou seja neste tiacutetulo era possiacutevel identificar alguns dos

direitos sociais tutelados pelo o Estado corroborando a afirmaccedilatildeo de Carvalho

(2002) sobre a supremacia do elemento social na formaccedilatildeo da cidadania brasileira

Assim tanto os elementos citados no Art 6ordm quanto os contidos no ldquoTiacutetulo

VIII ndash Da Ordem Socialrdquo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 podem ser considerados

direitos sociais necessaacuterios ao exerciacutecio pleno da cidadania social Desta forma pela

primeira vez a nova pactuaccedilatildeo da sociedade brasileira com o Estado acrescentou a

presenccedila do esporte (Tiacutetulo VIII ndash Da Ordem Social Capiacutetulo III ndash Da Educaccedilatildeo da

Cultural e do Desporto Seccedilatildeo III ndash Do Desporto) como elemento social para a

fruiccedilatildeo da cidadania moderna (BRASIL 1988a)

Logo compreender o processo de elevaccedilatildeo de status do esporte a direito

social e posterior estruturaccedilatildeo no aparato estatal nos dispotildee de subsiacutedio para refletir

sobre sua efetivaccedilatildeo como uma das facetas da cidadania Junto a isso tambeacutem nos

permite ampliar o ldquoolharrdquo sobre o financiamento de mecenato esportivo ndash Lei Federal

de Incentivo ao Esporte e os vestiacutegios dos atores sociais envolvidos e que podem

se beneficiar diretamente da escolha do modelo da poliacutetica puacuteblica

Cabe ressaltar que antes do novo pacto social a temaacutetica do esporte

estava sob a tutela disciplinar do Estado desde a publicaccedilatildeo do Decreto-Lei Nordm

3199 de 14 de abril de 1941 e posteriormente pela Lei Nordm 6251 de 8 de Outubro

de 1975 (BRASIL 1941 BRASIL 1975) Somente apoacutes a posse do primeiro

Presidente Civil Joseacute Sarney (PMDBMA) depois de um longo periacuteodo sob as

ldquoreacutedeasrdquo dos militares foi sancionado o Decreto Nordm 91452 em 19 de Julho de 1985

que instituiu a ldquocomissatildeo para realizar estudos sobre o desporto nacionalrdquo e permitiu

repensar novos rumos para o esporte (BRASIL 1985 p1) A comissatildeo teve os

4 Relaccedilatildeo de constituiccedilotildees que o paiacutes teve em sua histoacuteria sendo que somente a partir da sua 3ordf

ediccedilatildeo passou a contar com o tiacutetulo sobre a ldquoOrdem Econocircmica e Socialrdquo ou ldquoOrdem Socialrdquo a qual trata indiretamente sobre os direitos sociais (1ordf) Constituiccedilatildeo do Impeacuterio do Brasil de 1824 (2ordf) Constituiccedilatildeo dos Estados Unidos do Brasil de 1891 (3ordf) Constituiccedilatildeo dos Estados Unidos do Brasil de 1934 (4ordf) Constituiccedilatildeo dos Estados Unidos do Brasil de 1937 (5ordf) Constituiccedilatildeo dos Estados Unidos do Brasil de 1946 (6ordf) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1967 (7ordf) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1969 (8ordf) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988

23

trabalhos presididos pelo Professor Manoel Tubino que agrave eacutepoca era

simultaneamente membro da Secretaria de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desporto do

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Presidente do Conselho Nacional de Desportos

Em dezembro do mesmo ano a Comissatildeo de Reformulaccedilatildeo do Esporte

Nacional apresentou um relatoacuterio conclusivo composto por 80 indicaccedilotildees

organizadas em seis grupos temaacuteticos especiacuteficos 1) conceituaccedilatildeo do esporte e sua

natureza 2) redefiniccedilatildeo do papel dos diversos segmentos e setores da sociedade e

do Estado em relaccedilatildeo ao esporte 3) mudanccedilas juriacutedico-institucionais 4) carecircncia de

recursos humanos fiacutesicos e financeiros comprometidos com o desenvolvimento das

atividades esportivas 5) insuficiecircncia de conhecimentos cientiacuteficos aplicados ao

esporte 6) imprescindibilidade da modernizaccedilatildeo de meios e praacuteticas do esporte

(CARVALHO ATHAYDE 2015)

De acordo com o proacuteprio Tubino (2010) o relatoacuterio levou em consideraccedilatildeo

a realidade brasileira mas tambeacutem sofreu influecircncia da conjuntura internacional

Havia um movimento de questionamento sobre a exacerbaccedilatildeo do esporte de alto

rendimento principalmente pelo uso poliacutetico da sua praacutetica adotada pelo bloco

capitalista e socialista durante os jogos oliacutempicos Por outro lado uma segunda

corrente de pensamento propunha a ampliaccedilatildeo do esporte como direito dos povos e

natildeo mais apenas como prerrogativa de talento atleacutetico o qual foi formalizado por

meio do Manifesto do Esporte (1968) da Carta Europeia de Esporte para Todos

(SD) e da Carta Internacional de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Esporte da UNESCO5 (1978)

Art 1ordm - A praacutetica da educaccedilatildeo fiacutesica e do esporte eacute um direito fundamental de todos 11 Todo ser humano tem o direito fundamental de acesso agrave educaccedilatildeo fiacutesica e ao esporte que satildeo essenciais para o pleno desenvolvimento da sua personalidade A liberdade de desenvolver aptidotildees fiacutesicas intelectuais e morais por meio da educaccedilatildeo fiacutesica e do esporte deve ser garantido dentro do sistema educacional assim como em outros aspectos da vida social (UNESCO 1978 p 3)

Desta forma o relatoacuterio conclusivo apresentava sugestotildees de

estruturaccedilatildeo do esporte nacional como tambeacutem apontava indiacutecios sobre uma

possiacutevel elevaccedilatildeo do esporte ao status de direito social por primar agrave universalizaccedilatildeo

e democratizaccedilatildeo da sua praacutetica conforme orienta Menicucci (2006) Aleacutem do mais

5 Este documento foi elaborado a partir das discussotildees realizadas na I Reuniatildeo de Ministros de

Esporte organizada pela UNESCO em Paris no ano de 1976

24

o relatoacuterio sinalizava para possiacuteveis poliacuteticas sociais a fim de que o indiviacuteduo tivesse

acesso ampliado ao esporte sem tanta dependecircncia do mercado

Uma nova discussatildeo institucional sobre o esporte nacional iria comeccedilar a

partir 1ordm de fevereiro de 1987 quando foi convocada a formaccedilatildeo da Assembleia

Nacional Constituinte para elaboraccedilatildeo do novo texto constitucional do paiacutes No dia

10 de marccedilo do mesmo ano o regimento interno6 foi aprovado e estabeleceu oito

comissotildees temaacuteticas as quais por sua vez foram subdividas em subcomissotildees No

caso especifico do esporte a temaacutetica ficou incumbida agrave ldquoVIII ndash Comissatildeo da

Famiacutelia da Educaccedilatildeo Cultura e Esporte da Ciecircncia e Tecnologia e da

Comunicaccedilatildeordquo e agrave ldquoSubcomissatildeo da Educaccedilatildeo Cultura e Esporterdquo (BRASIL 1987a

p874-875 SANTOS 2011 p41-45)

Art 15 - As Comissotildees e Subcomissotildees satildeo as seguintes [] VIII ndash Comissatildeo da Famiacutelia da Educaccedilatildeo Cultura e Esportes da Ciecircncia e Tecnologia e da Comunicaccedilatildeo a) Subcomissatildeo da Educaccedilatildeo Cultura e Esportes b) Subcomissatildeo da Ciecircncia e Tecnologia e da Comunicaccedilatildeo c) Subcomissatildeo da Famiacutelia do menor e do idoso (BRASIL 1987a p874-875)

No dia 7 de abril de 1987 iniciou efetivamente o trabalho da subcomissatildeo

que contou com outras oito sessotildees de audiecircncia puacuteblica para discussatildeo dos

objetos educaccedilatildeo cultura e esporte Nestas sessotildees estiveram presentes

profissionais de destaque e organizaccedilotildees representativas visando refinar o debate

Outra possibilidade de participaccedilatildeo popular7 na elaboraccedilatildeo da proposta de texto

constitucional se deu por meio das sugestotildees populares enviadas por correio sendo

que o Relatoacuterio do Anteprojeto da Subcomissatildeo apurou o recebimento de 25

sugestotildees para o tema esporte Uma delas propunha a criaccedilatildeo do Ministeacuterio do

Esporte uma a aboliccedilatildeo do futebol profissional e as outras 23 sugestotildees

6 O Regimento Interno da Assembleia Nacional Constituinte estaacute disponiacutevel em

lthttpwww2camaralegbratividade-legislativalegislacaoConstituicoes_Brasileirasconstituicao-cidadapublicacoesregimento-interno-da-assembleia-nacionalresolucao-2-1987gt 7 De acordo com Santos (2011) a Assembleia Nacional Constituinte previa trecircs mecanismos de

participaccedilatildeo popular 1ordm) O envio de sugestotildees por entidades representativas de segmentos da sociedade 2ordm) Emenda ao projeto constitucional organizado por no miacutenimo trecircs entidades associativas legalmente constituiacutedas e subscritas por 30000 (trinta mil) ou mais eleitores brasileiro 3ordm) Apresentaccedilatildeo de conteuacutedo pelas Subcomissotildees Temaacuteticas em audiecircncia puacuteblica a entidades representativas de segmentos da sociedade

25

recomendavam o apoio agraves praacuteticas esportivas e sua democratizaccedilatildeo (BRASIL

1987b)

O Relatoacuterio do Anteprojeto da Subcomissatildeo tambeacutem apresentou a

sugestatildeo de cinco constituintes sobre o esporte sendo que apenas um deles

manifestou opiniatildeo divergente Para Aeacutecio de Borba Joseacute Queiroz Maacutercia

Kubitschek e Maacutercio Braga era necessaacuterio respeitar a autonomia das entidades

esportivas e ampliar a destinaccedilatildeo de recurso puacuteblico e benefiacutecios fiscais para o

esporte como um todo (educacional e alto rendimento) Jaacute para Florestan

Fernandes o esporte amador de dimensatildeo educacional era a uacutenica manifestaccedilatildeo

que se constituiacutea como serviccedilo social de responsabilidade direta do Estado (BRASIL

1987b)

Em meio agraves vaacuterias etapas de discussatildeo que envolveram a construccedilatildeo da

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e as seguidas alteraccedilotildees no texto original contido no

Relatoacuterio do Anteprojeto da Comissatildeo o esporte conseguiu se elevar ao status de

direito social com sua positivaccedilatildeo atraveacutes do Art 217 da Seccedilatildeo III ndash Do Desporto

do Capiacutetulo III ndash Da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto do Tiacutetulo VIII ndash Da Ordem

Social

SECcedilAtildeO III - DO DESPORTO Art 217 Eacute dever do Estado fomentar praacuteticas desportivas formais e natildeo-formais como direito de cada um observados I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associaccedilotildees quanto a sua organizaccedilatildeo e funcionamento II - a destinaccedilatildeo de recursos puacuteblicos para a promoccedilatildeo prioritaacuteria do desporto educacional e em casos especiacuteficos para a do desporto de alto rendimento III - o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o natildeo- profissional IV - a proteccedilatildeo e o incentivo agraves manifestaccedilotildees desportivas de criaccedilatildeo nacional sect 1ordm O Poder Judiciaacuterio soacute admitiraacute accedilotildees relativas agrave disciplina e agraves competiccedilotildees desportivas apoacutes esgotarem-se as instacircncias da justiccedila desportiva regulada em lei sect 2ordm A justiccedila desportiva teraacute o prazo maacuteximo de sessenta dias contados da instauraccedilatildeo do processo para proferir decisatildeo final sect 3ordm O Poder Puacuteblico incentivaraacute o lazer como forma de promoccedilatildeo social (BRASIL 1988a p1)

Para Marcellino (2010 p62) e demais estudiosos do lazer o esporte jaacute

poderia estar contemplado no direito social ao lazer considerando que se trata de

uma das suas manifestaccedilotildees como praacutetica recreativa usualmente utilizada nos

momentos de ldquoespaccedilo e tempo disponiacutevelrdquo Por outro lado ele tambeacutem poderia ser

entendido como uma expressatildeo da educaccedilatildeo como conteuacutedo de formaccedilatildeo cidadatilde

26

no acircmbito da educaccedilatildeo formal ou informal ou ainda da sauacutede como meio para

promoccedilatildeo do bem estar fiacutesico social e psicoloacutegico ambos objetos sociais

mencionados no Art 6ordm da Constituiccedilatildeo Federal de 1988

No entanto para os constituintes o esporte foi considerado ldquomateacuteria de

alto interesse soacutecio-econocircmico-culturalrdquo de forma a ser elevado a um objeto por si

soacute digno de ser desmercantilizado a todos os cidadatildeos pois ldquoenquanto atividade da

sociedade o esporte eacute a proacutepria sociedaderdquo Isto eacute o esporte deixa de ser meio para

uma determinada finalidade e passa a ser fim nele mesmo (BRASIL 1987b p22)

Diante disso para compreender o conceito de esporte presente no texto

originaacuterio da nova naccedilatildeo brasileira eacute necessaacuterio buscar vestiacutegios nas discussotildees

dos constituintes e identificar os atores sociais que participaram desta arena de

debate O Relatoacuterio do Anteprojeto da Subcomissatildeo da Educaccedilatildeo Cultura e

Esportes nos daacute alguns indiacutecios sobre a mudanccedila de paradigma que evolve o

esporte

No capiacutetulo terceiro do Relatoacuterio que trata especificamente sobre ldquoo

desportordquo o relator Joatildeo Camon menciona exemplos de elementos exoacuteticos e ateacute

mesmo supeacuterfluos agrave primeira vista na Constituiccedilatildeo da Suiacuteccedila China Estados

Unidos Meacutexico Iugoslaacutevia e Espanha mas relevantes e particulares agrave formaccedilatildeo

cultural de suas respectivas sociedades e por isso contemplados como direito

social

Eacute sabido que nas Constituiccedilotildees de inuacutemeros paiacuteses constam dispositivos que poderiam ser considerados supeacuterfluos mas que dizem de perto da histoacuteria costumes e relevacircncia na vida de cada um A Constituiccedilatildeo Suiacuteccedila por exemplo conteacutem disposiccedilotildees concernentes ao abate do gado a Chinesa assegura no art 45 o direito de o Cidadatildeo escrever nos dazibao (Jornais de parede) a Americana no art II reconhece o direito dos cidadatildeos ao uso e porte de armas a Constituiccedilatildeo Mexicana (art 123 XXX) alude agrave Construccedilatildeo de casas baratas e higiecircnicas a Constituiccedilatildeo Iugoslava (art183) restringe a liberdade de deslocamento aos cidadatildeos para impedir a propagaccedilatildeo de doenccedilas infecciosas a Constituiccedilatildeo Espanhola no art 148 sectsect 11 e 14 outorga explicitamente competecircncia legislativa agraves comunidades autocircnomas com referecircncia agrave pesca de mariscos e middotartesanato (BRASIL 1987b p22)

Em seguida o relator justifica o esporte como um elemento contido na

ldquoraiz da realidade social brasileirardquo e por isso se faz necessaacuterio criar a ldquopedra

fundamental do edifiacutecio juriacutedico-esportivo nacionalrdquo O esporte tambeacutem eacute tido como

uma maneira de expressatildeo tiacutepica da proacutepria sociedade que ldquoimpregna a cultura

27

moderna e a vida quotidiana como um dos pontos de referecircncia e convergecircncia na

vida dos brasileirosrdquo e desta forma natildeo poderia ser menosprezado pela normativa

constitucional do paiacutes Ou seja o esporte eacute ldquouma forccedila vivardquo que em alguns

momentos eacute responsaacutevel por uma quase ldquouniatildeo nacionalrdquo e nesse sentido deve ser

protegido e promovido como parte da heranccedila social construiacuteda historicamente em

nossa sociedade (BRASIL 1987b p22)

O relator ainda cita 12 entidades ligadas ao esporte que estiveram

presentes nas sessotildees de audiecircncia puacuteblica e contribuiacuteram para a elaboraccedilatildeo do

Art 217 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988

() a Confederaccedilatildeo Brasileira do Atletismo a Confederaccedilatildeo Brasileira de Basketball a Federaccedilatildeo Internacional de Futebol de Salatildeo o Comitecirc Oliacutempico Brasileiro a Confederaccedilatildeo Brasileira de Futebol de Salatildeo o Conselho Nacional de Desportos a Confederaccedilatildeo Brasileira de Futebol a Associaccedilatildeo Brasileira de Clubes de Futebol o Conselho Administrativo do Fundo de Assistecircncia ao Atleta a Associaccedilatildeo Brasileira de Cronistas Esportivos ndash ABRACE ndash o Superior Tribunal de Justiccedila Desportiva a Confederaccedilatildeo Brasileira de Futebol e a Secretaria de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desportos do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (BRASIL 1987b p22 ndash a marcaccedilatildeo taxada estaacute destacando a duplicidade de registro)

O jurista Aacutelvaro Melo Filho agrave eacutepoca membro do Conselho Nacional de

Desporto Presidente da Confederaccedilatildeo Brasileira de Futebol de Salatildeo e assessor

juriacutedico da Federaccedilatildeo Internacional de Futebol de Salatildeo afirma ter enviado trecircs

propostas bastante parecidas uma para cada entidade a fim de pressionar a

inserccedilatildeo do esporte na constituiccedilatildeo Tambeacutem relembra que coube a ele e o

Professor Manoel Tubino no dia 06 de junho de 1987 realizar o pronunciamento e a

defesa do esporte na sessatildeo de audiecircncia puacuteblica (BRASIL 1987b MELO FILHO

1990 2015)

Verificando a lista das entidades presentes na discussatildeo e analisando o

conteuacutedo do Relatoacuterio do Anteprojeto da Subcomissatildeo assim como os textos de

Melo Filho (1990 2015) e demais juristas relacionados ao trabalho da constituinte

notamos que coube agraves tradicionais entidades representativas do esporte de

rendimento o protagonismo na inclusatildeo do esporte no texto constitucional Talvez

por isso estas entidades tambeacutem sejam as primeiras a se beneficiarem do apoio

estatal principalmente do financiamento puacuteblico no periacuteodo poacutes-constituiccedilatildeo Para

Starepravo (2011) com o novo texto constitucional o setor esportivo consegue a

28

liberalizaccedilatildeo esperada mas sem romper com a tutela do financiamento puacuteblico

estatal

Todavia eacute inegaacutevel que o Art 217 se materializa simultaneamente como

ldquocarta de alforriardquo para as entidades representativas do esporte por prever sua

autonomia e liberdade de funcionamento mas tambeacutem como ldquopedra fundamentalrdquo

do direito social ao esporte por apresentar diretrizes de priorizaccedilatildeo do esporte

educacional e de lazer para o desenvolvimento da sociedade

Cabe ressaltar que a inclusatildeo do esporte como artigo constitucional natildeo

foi uma inovaccedilatildeo brasileira muito pelo contraacuterio sua presenccedila em constituiccedilotildees de

outros paiacuteses foi um argumento de legitimaccedilatildeo da sua inclusatildeo no texto nacional

(DERBLY 2002)

Na Constituiccedilatildeo Espanhola de 29 de dezembro de 1978 o esporte

aparece do seguinte modo

CAPIacuteTULO III - Dos princiacutepios orientadores da poliacutetica social e econocircmica Art 43 ndash Proteccedilatildeo a Sauacutede e Fomento ao Desporto [] 3 - Os Poderes Puacuteblicos fomentaratildeo a educaccedilatildeo sanitaacuteria a educaccedilatildeo fiacutesica e o desporto Tambeacutem facilitaratildeo a utilizaccedilatildeo adequada do lazer (ESPANHA 1978 p11 traduccedilatildeo

8 e grifo nossos)

E na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa de 2 de abril de 1976

CAPIacuteTULO III - Direitos e deveres sociais [] Art70 - Juventude 1 - Os jovens sobretudo os jovens trabalhadores gozam de protecccedilatildeo especial para efectivaccedilatildeo dos seus direitos econoacutemicos sociais e culturais nomeadamente [] c) Educaccedilatildeo fiacutesica desporto e aproveitamento dos tempos livres [] Art79 - Cultura Fiacutesica e desportiva O Estado reconhece o direito dos cidadatildeos agrave cultura fiacutesica e ao desporto como meios de valorizaccedilatildeo humana incumbindo-lhe promover estimular e orientar a sua praacutetica e difusatildeo (PORTUGAL 1976 p17-18 grifo nosso)

O novo status do esporte tambeacutem aplica ao Estado a obrigaccedilatildeo de atuar

de forma ativa na proposiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas capazes de oportunizar o acesso

e fruiccedilatildeo deste objeto social a todos os cidadatildeos em um processo que Menicucci

8 Texto original CAPIacuteTULO III De los principios rectores de la poliacutetica social y econocircmica Art 43 ndash

Proteccioacuten a la salud y fomento del deporte [] 3 - Los poderes puacuteblicos fomentaraacuten la educacioacuten sanitaria la educacioacuten fiacutesica y el deporte Asimismo facilitaraacuten la adecuada utilizacioacuten del ocio

29

(2006) e Esping-Andersen citado por Hassenteufel (1996) denominam de

desmercantilizaccedilatildeo Isto eacute a possibilidade dada ao indiviacuteduo de usufruir de um

direito social que o faz pertencente a uma determinada sociedade independente da

sua posiccedilatildeo no mercado ou do seu poder de compra ou melhor dizendo ldquoo grau

suportado pelo Estado [] do indiviacuteduo como cidadatildeo e natildeo como trabalhadorrdquo

(ESPING-ANDERSEN apud HASSENTEUFEL 1996 p143)

22 A institucionalizaccedilatildeo estatal do esporte poacutes-constituiccedilatildeo

Pensando na idealizaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas esportivas torna-se

importante refletir sobre as possibilidades de expressatildeo deste fenocircmeno A

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 natildeo deixa claro tais manifestaccedilotildees apesar de indicar

trecircs possiacuteveis alternativas o esporte educacional de alto rendimento (Art 217

inciso II) e o esporte como promoccedilatildeo do lazer (Art 217 inciso IV sect 3ordm) (BRASIL

1988a) De acordo com Tubino (2005 2010) estas possiacuteveis manifestaccedilotildees

impliacutecitas no texto constitucional satildeo na verdade uma consolidaccedilatildeo das discussotildees

realizadas pela Comissatildeo de Reformulaccedilatildeo do Desporto Nacional onde as

expressotildees Esporte-Educaccedilatildeo Esporte-Lazer e Esporte-Rendimento emergiram

Poreacutem o autor natildeo conceitua ou define as manifestaccedilotildees

Em outro texto Tubino (2002) ainda sugere uma quarta manifestaccedilatildeo

esportiva a partir do desmembramento do esporte educacional Talvez natildeo por

acaso o recente decreto presidencial que alterou a regulamentaccedilatildeo da legislaccedilatildeo do

esporte no acircmbito federal Decreto Nordm 7984 de 8 de abril de 2013 seguiu uma

loacutegica parecida a apresentada por Tubino Poreacutem ao inveacutes de criar mais uma

manifestaccedilatildeo esportiva apenas subdividiu o esporte educacional em duas outras

manifestaccedilotildees 1) esporte educacional ou de formaccedilatildeo e 2) esporte escolar

(BRASIL 2013a)

Independente desta subdivisatildeo eacute perceptiacutevel que as novas

manifestaccedilotildees esportivas satildeo dinacircmicas e passam por um processo de

amadurecimento desde sua elaboraccedilatildeo em 1985 ateacute os dias atuais E continuam

sendo uma tentativa de superaccedilatildeo das expressotildees esportivas segmentadas e

30

utilitaristas idealizadas pela Lei Nordm 62511975 durante o periacuteodo do Regime Militar9

- Esporte Comunitaacuterio Esporte Estudantil Esporte Militar e Esporte Classista

(BRASIL 1975)

Poreacutem entre a promulgaccedilatildeo da Nova Carta Magna em 05 de outubro de

1988 ateacute o iniacutecio da deacutecada de 1990 as novas manifestaccedilotildees esportivas natildeo

passavam de discussatildeo teoacuterica pois a Lei Nordm 62511975 mantinha-se em vigor

regulamentando o esporte e a estrutura estatal do esporte vinculada agrave Secretaria de

Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desporto do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Somente em 15 de marccedilo

de 1990 por meio da Medida Provisoacuteria Nordm 150 foi criada com status ministerial a

Secretaria de Desportos da Presidecircncia da Repuacuteblica para reinserir o esporte agrave

pauta da agenda puacuteblica (BRASIL 1990a) Para a direccedilatildeo da Secretaria foi

nomeado o ex-atleta de futebol Arthur Antunes Coimbra o Zico o que reafirma o

peso do esporte de rendimento durante a elaboraccedilatildeo do Art 217 da Constituiccedilatildeo

Federal de 1988

Paralelamente agrave reestruturaccedilatildeo estatal do esporte no mesmo ano o

Conselho Nacional de Desporto passou a rever suas deliberaccedilotildees e resoluccedilotildees

pois ateacute aquele momento o oacutergatildeo exercia funccedilatildeo legislativa executiva e judiciaacuteria

sobre o esporte nacional Segundo Melo Filho (2015 p9) agrave eacutepoca vice-presidente

do Conselho Nacional de Desporto das 431 normas vigentes 400 foram revogadas

de uma soacute vez por contrariar a ldquoautonomia das entidades dirigentes e associaccedilotildees

esportivasrdquo preconizada pelo inciso I do Art 217

Em 1991 a Secretaria de Desportos da Presidecircncia da Repuacuteblica enviou

ao Congresso Nacional o Projeto de Lei Nordm 965 o qual apoacutes vaacuterias discussotildees deu

origem a Lei Nordm 8672 em 6 de julho de 1993 ficando popularmente conhecida

9 O esporte comunitaacuterio era formado pelas entidades esportivas que participam das competiccedilotildees

oficiais das modalidades assim como suas federaccedilotildees e confederaccedilatildeo sendo que todas se mantinham subordinadas a CND Jaacute o esporte estudantil aquele praticado por estudantes tanto do ensino baacutesico quanto o superior Nesta tipologia foi feito a distinccedilatildeo entre o oacutergatildeo regulador sendo que o acircmbito universitaacuterio as entidades esportivas estariam submetidas agrave aacuterea de abrangecircncia da CND enquanto no ensino baacutesico o controle ficaria por conta do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura O esporte militar natildeo apresenta grandes distinccedilotildees sobre as demais praacuteticas a natildeo ser por ser realizadas por membros das forccedilas armadas e ter sua regulaccedilatildeo realizada pelo Ministeacuterio Militar (Exeacutercito Marinha Aeronaacuteutica) O Art 31ordm da legislaccedilatildeo acrescenta que o esporte militar tem como finalidade a ldquodivulgaccedilatildeo das praacuteticas desportivas em todo o territoacuterio nacional e constituir as representaccedilotildees nacionais competiccedilotildees desportivas militares internacionaisrdquo E por fim o esporte classista o qual relacionava com a formaccedilatildeo de associaccedilotildees esportivas pelos dirigentes ou empregados de uma empresa A funcionalidade desta tipologia era tatildeo abstrata que o proacuteprio oacutergatildeo regulador natildeo foi definido na legislaccedilatildeo ficando a caraacuteter do ldquoMinistro da Educaccedilatildeo e Cultura ouvido o Conselho Nacional de Desportosrdquo definir posteriormente (BRASIL 1975 p1)

31

como Lei Zico muito embora esta personagem natildeo estivesse mais agrave frente da

Secretaria (BRASIL 1993a)

A nova legislaccedilatildeo sobre o esporte no paiacutes trouxe no Capiacutetulo II diversos

princiacutepios fundamentais dentre os quais destacamos o inciso V que trata sobre o

direito social Para o legislador o direito social consistia no dever do Estado em

fomentar as praacuteticas esportivas o que de certa maneira estaacute em consonacircncia com o

processo de desmercantilizaccedilatildeo mencionado por Menicucci (2006) e Esping

Andersen citado por Hassenteufel (1996) Contudo este princiacutepio natildeo levou em

consideraccedilatildeo a concepccedilatildeo de significaccedilatildeo histoacuterica proposta por Marshall (1967)

isto eacute que o objeto pauta da legislaccedilatildeo seria fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica e

coletiva que cria sentimento de pertencimento entre os membros da sociedade e

por isso deveria ser foco de fomento pelo Estado Logo a carecircncia deste segundo

atributo resumiu o princiacutepio da lei a uma atribuiccedilatildeo de responsabilidade alienante do

Estado ndash dever por mero dever

Art 2ordm O desporto como direito individual tem como base os seguintes princiacutepios I - soberania caracterizado pela supremacia nacional na organizaccedilatildeo da praacutetica desportiva II - autonomia definido pela faculdade de pessoas fiacutesicas e juriacutedicas organizarem-se para a praacutetica desportiva como sujeitos nas decisotildees que as afetam III - democratizaccedilatildeo garantido em condiccedilotildees de acesso agraves atividades desportivas sem distinccedilotildees e quaisquer formas de discriminaccedilatildeo IV - liberdade expresso pela livre praacutetica do desporto de acordo com a capacidade e interesse de cada um associando-se ou natildeo a entidades do setor V - direito social caracterizado pelo dever do Estado de fomentar as praacuteticas desportivas formais e natildeo-formais VI - diferenciaccedilatildeo consubstanciado no tratamento especiacutefico dado ao desporto profissional e natildeo-profissional VII - identidade nacional refletido na proteccedilatildeo e incentivo agraves manifestaccedilotildees desportivas de criaccedilatildeo nacional VIII - educaccedilatildeo voltado para o desenvolvimento integral do homem como ser autocircnomo e participante e fomentado atraveacutes da prioridade dos recursos puacuteblicos ao desporto educacional IX - qualidade assegurado pela valorizaccedilatildeo dos resultados desportivos educativos e dos relacionados agrave cidadania e ao desenvolvimento fiacutesico e moral X - descentralizaccedilatildeo consubstanciado na organizaccedilatildeo e funcionamento harmocircnicos de sistemas desportivos diferenciados e autocircnomos para os niacuteveis federal estadual e municipal XI - seguranccedila propiciado ao praticante de qualquer modalidade desportiva quanto a sua integridade fiacutesica mental ou sensorial XII - eficiecircncia obtido atraveacutes do estiacutemulo agrave competecircncia desportiva e administrativa (BRASIL 1993a p1 grifo nosso)

32

A Lei Zico (Lei Nordm 86721993) tambeacutem abrigou em seu texto as trecircs

manifestaccedilotildees esportivas que emergiram das discussotildees da Comissatildeo de

Reformulaccedilatildeo do Desporto Nacional tambeacutem mencionadas por Tubino (2005 2010)

inclusive sendo o primeiro documento a tentar defini-las (BRASIL 1993a)

De acordo com Zotovici et al (2013) a Lei Zico foi bastante criticada por

regular quase que exclusivamente o futebol deixando as demais modalidades em

segundo plano Apesar disso a legislaccedilatildeo tinha um caraacuteter consultivo e natildeo sanava

muitos problemas estruturais do esporte nacional principalmente na aacuterea do futebol

No entanto Proni (1998) afirma que diante da eminente aprovaccedilatildeo da

nova legislaccedilatildeo a qual tinha como princiacutepio a profissionalizaccedilatildeo da gestatildeo do

esporte de alto rendimento a alternativa encontrada pelos principais dirigentes do

futebol foi utilizar o seu prestigio para pressionar o Congresso Nacional Nesse

sentido o projeto inicial enviado pelo poder executivo recebeu diversas emendas e

foi completamente transfigurado Assim a Lei Zico (Lei Nordm 86721993) conseguiu

manter parte dos conteuacutedos e princiacutepios modernizantes discutidos na eacutepoca da

constituinte poreacutem foi incapaz de alterar radicalmente a estrutura administrativa do

futebol brasileiro Por isso a profissionalizaccedilatildeo acabou tendo um caraacuteter consultivo e

natildeo impositivo

Apesar das criacuteticas a partir de 1993 esta legislaccedilatildeo passou a vigorar

como norma geral do esporte no paiacutes Cabe ressaltar que a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 diferentemente dos textos constitucionais anteriores tambeacutem trouxe como

novidade a possibilidade dos Estados Subnacionais e Municiacutepios10 legislarem sobre

o assunto no que couber complementaccedilatildeo ou suplementaccedilatildeo agrave norma geral fixada

pela Uniatildeo

Art 24 Compete agrave Uniatildeo aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre [] IX - educaccedilatildeo cultura ensino desporto ciecircncia tecnologia pesquisa desenvolvimento e inovaccedilatildeo (BRASIL 1988a p1 grifo nosso)

10

Embora natildeo se apresente expressamente a capacidade dos municiacutepios sobre a temaacutetica a partir da leitura do Art 24 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 existe um entendimento no meio juriacutedico de que como os municiacutepios gozam de autonomia para legislar sobre assuntos de interesse local eles teriam jurisprudecircncia para suprir ou complementar a legislaccedilatildeo federal e estadual naquilo que for interesse esportivo em seu territoacuterio (DERBLY 2002)

33

Todavia eacute bastante comum estes entes federativos criarem leis e demais

normas que em nada refletem os princiacutepios e regras gerais da legislaccedilatildeo federal Um

tiacutepico exemplo disso satildeo as manifestaccedilotildees esportivas adotadas pelo Estado de

Minas Gerais que em 2006 criou outras trecircs manifestaccedilotildees (desporto de formaccedilatildeo

desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico do setor desportivo e desporto social) para

aleacutem das jaacute existentes (MINAS GERAIS 2006) Mas estas manifestaccedilotildees sugeridas

pelo legislativo mineiro se misturam terminologicamente agraves definiccedilotildees do acircmbito

federal e mais confundem do que contribuem para a ampliaccedilatildeo do debate sobre as

expressotildees esportivas Tal fato enfraquece um possiacutevel debate nacional sobre o

esporte e o seu desenvolvimento como elemento de exerciacutecio da cidadania social

Art 3ordm - Poderatildeo ser beneficiados por esta Lei projetos de promoccedilatildeo do desporto nas seguintes aacutereas I - desporto educacional voltado para a praacutetica desportiva como disciplina ou atividade extracurricular no acircmbito do sistema puacuteblico de educaccedilatildeo infantil e baacutesica com a finalidade de complementar as atividades de segundo turno escolar e promover o desenvolvimento integral do indiviacuteduo evitando-se a seletividade e a hipercompetitividade de seus participantes II - desporto de lazer voltado para o atendimento agrave populaccedilatildeo na praacutetica voluntaacuteria de qualquer modalidade esportiva de recreaccedilatildeo ou lazer visando agrave ocupaccedilatildeo do tempo livre e agrave melhoria da qualidade de vida da sauacutede e da educaccedilatildeo do cidadatildeo III - desporto de formaccedilatildeo voltado para o desenvolvimento da motricidade baacutesica geral e para a iniciaccedilatildeo esportiva de crianccedilas e adolescentes por meio de atividades desportivas direcionadas praticadas com orientaccedilatildeo teacutecnico-pedagoacutegica IV - desporto de rendimento voltado para a formaccedilatildeo e o rendimento esportivo com orientaccedilatildeo teacutecnico-pedagoacutegica para atendimento a equipes ou atletas de qualquer idade filiados a entidades associativas de modalidades esportivas visando ao aprimoramento teacutecnico e agrave praacutetica esportiva de alto niacutevel V - desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico do setor desportivo voltado para o desenvolvimento ou aperfeiccediloamento de tecnologia aplicada agrave praacutetica desportiva para a formaccedilatildeo e treinamento de recursos humanos para o desporto e para o financiamento de publicaccedilotildees literaacuterias e cientiacuteficas sobre esporte VI - desporto social voltado para o atendimento social por meio do esporte com recursos especiacuteficos para esse fim e realizado em comunidades de baixa renda visando a promover a inclusatildeo social (MINAS GERAIS 2006 p1)

As diversas alteraccedilotildees e complementaccedilotildees11 realizadas na Lei Zico (Lei

Nordm 86721993) demonstraram sua incapacidade em suprir a regulaccedilatildeo do setor

11

Alteraccedilotildees realizadas na Lei Zico Medida Provisoacuteria nordm 386 de 8 de Dezembro de 1993 Medida Provisoacuteria nordm 411 de 7 de Janeiro de 1994 Medida Provisoacuteria nordm 426 de 9 de Fevereiro de 1994 Medida Provisoacuteria nordm 448 de 11 de Marccedilo de 1994 Medida Provisoacuteria nordm 471 de 12 de Abril de 1994 Lei Ordinaacuteria nordm 8879 de 20 de Maio de 1994 Complementaccedilotildees realizadas na Lei Zico Lei Ordinaacuteria nordm 8879 de 20 de Maio de 1994 Lei Ordinaacuteria nordm 8946 de 5 de Dezembro de 1994 Revogaccedilatildeo Parcial

34

esportivo No entanto somente com a conquista da estabilidade econocircmica trazida

pelo plano real e a posse do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDBSP)

que a estrutura estatal esportiva eacute alterada e cria-se novamente cenaacuterio

institucional oportuno para discussatildeo do tema

A Medida Provisoacuteria Nordm 813 de 1ordm de janeiro de 1995 reestrutura a

organizaccedilatildeo administrativa do poder executivo e manteacutem o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e

do Desporto criado no final de 1992 tambeacutem por Medida Provisoacuteria a de Ndeg 309

(BRASIL 1995a BRASIL 1992a) Esta manutenccedilatildeo do esporte como nome de um

Ministeacuterio de Estado mesmo que compartilhado com outra pasta mostra a

conquista poliacutetica que o tema teve a partir da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Todavia

este novo ato normativo tambeacutem cria o cargo de Ministro de Estado Extraordinaacuterio

dos Esportes ou seja embora o ministeacuterio estivesse dividido entre educaccedilatildeo e

esporte a presenccedila de um ministro exclusivo lhe dava autonomia de funcionamento

e um quase status de Ministeacuterio Extraordinaacuterio do Esporte

Para chefiar este cargo novamente um ex-atleta de futebol foi convidado

desta vez Edson Arantes do Nascimento o Peleacute A presenccedila de um membro do

esporte de rendimento na reorganizaccedilatildeo da cadeia produtiva do esporte no Brasil

demonstra mais uma vez a forccedila deste setor tradicional no cenaacuterio poliacutetico e

econocircmico nacional

Logo de iniacutecio o Ministro Peleacute teve como missatildeo buscar nova

reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo esportiva na tentativa de enfrentar o tortuoso processo

de modernizaccedilatildeo do esporte de rendimento principalmente do oligaacuterquico futebol o

qual natildeo foi alcanccedilado pela Lei Zico (Lei Nordm 86721993) Para isto o ministro se

apoiou no Projeto de Lei Nordm 1159 de 31 de outubro de 1995 do Deputado Federal

Arlindo Chinaglia (PTSP) e depois de um tramite em regime de urgecircncia e vaacuterias

discussotildees envolvendo quase que exclusivamente o esporte de rendimento o

projeto foi aprovado no Congresso Nacional em 24 de marccedilo de 1998 dando

origem agrave Lei Nordm 9615 que ficou popularmente conhecida como Lei Peleacute (BRASIL

1998a)

A nova norma geral do esporte nacional natildeo se diferencia muito da Lei

Zico (Lei Nordm 86721993) uma vez que tambeacutem tinha um foco excessivo sobre o

da Lei Zico Medida Provisoacuteria nordm 1602 de 14 de Novembro de 1997 Lei Ordinaacuteria nordm 9532 de 10 de Dezembro de 1997

35

esporte de rendimento e sobre o futebol O capiacutetulo II da nova Lei tambeacutem apresenta

os princiacutepios balizadores da legislaccedilatildeo sendo o esporte lembrado como direito

social apenas pelo atributo de dever do Estado deixando no esquecimento mais

uma vez o aspecto de significaccedilatildeo histoacuterica do objeto social conforme propunha

Marshall (1967)

No processo de redemocratizaccedilatildeo do paiacutes as trecircs manifestaccedilotildees

esportivas que emergiram satildeo registradas no texto da legislaccedilatildeo demonstrando a

consolidaccedilatildeo destas alternativas de expressatildeo do esporte Inclusive nesta

oportunidade a definiccedilatildeo das manifestaccedilotildees foi mais bem caracterizada Todavia

em 4 de agosto de 2015 a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte (Lei Nordm

13155) acrescentou uma quarta manifestaccedilatildeo esportiva ao rol de possibilidades

tendo como foco a produccedilatildeo de conhecimento na aacuterea esportiva (BRASIL 2015a)

Art 3- [] I - desporto educacional praticado nos sistemas de ensino e em formas assistemaacuteticas de educaccedilatildeo evitando-se a seletividade a hipercompetitividade de seus praticantes com a finalidade de alcanccedilar o desenvolvimento integral do indiviacuteduo e a sua formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania e a praacutetica do lazer II - desporto de participaccedilatildeo de modo voluntaacuterio compreendendo as modalidades desportivas praticadas com a finalidade de contribuir para a integraccedilatildeo dos praticantes na plenitude da vida social na promoccedilatildeo da sauacutede e educaccedilatildeo e na preservaccedilatildeo do meio ambiente III - desporto de rendimento praticado segundo normas gerais desta Lei e regras de praacutetica desportiva nacionais e internacionais com a finalidade de obter resultados e integrar pessoas e comunidades do Paiacutes e estas com as de outras naccedilotildees IV - desporto de formaccedilatildeo caracterizado pelo fomento e aquisiccedilatildeo inicial dos conhecimentos desportivos que garantam competecircncia teacutecnica na intervenccedilatildeo desportiva com o objetivo de promover o aperfeiccediloamento qualitativo e quantitativo da praacutetica desportiva em termos recreativos competitivos ou de alta competiccedilatildeo (BRASIL 1998a p1 BRASIL 2015a p1 ndash grifo nosso para destacar a manifestaccedilatildeo esportiva acrescentada)

A Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) entrou efetivamente em vigor com a

publicaccedilatildeo do Decreto Nordm 2574 de 29 de abril de 1998 Nesta mesma data

encerrou-se o trabalho do Ministro Peleacute e o cargo que tinha caraacuteter extraordinaacuterio

foi extinto Assim o objeto esporte passou a funcionar sob o comando do ministro

Paulo Renato Souza responsaacutevel pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Desporto No dia 1ordm

de janeiro de 1999 por meio da Medida Provisoacuteria Nordm 1795 uma nova

reestruturaccedilatildeo ministerial foi realizada no poder executivo e criou-se o Ministeacuterio do

Esporte e Turismo (BRASIL 1999a) Desta vez o comando da pasta natildeo foi

36

delegado a um esportista mas a um poliacutetico o Deputado Federal Rafael Greca

(PFLPR)

A nova legislaccedilatildeo esportiva teve um caraacuteter mais impositivo de

estruturaccedilatildeo da cadeia produtiva do esporte de rendimento do que a sua

antecessora poreacutem tambeacutem sofreu com vaacuterias alteraccedilotildees No site da Cacircmara dos

Deputados12 em consulta realizada no dia 26 de abril de 2016 foram verificadas 69

alteraccedilotildees realizadas na versatildeo original da lei Entretanto apesar de criar

paracircmetros e diretrizes agraves outras manifestaccedilotildees esportivas pouca coisa de concreto

contribuiu para a consolidaccedilatildeo do direito social ao esporte ao cidadatildeo comum (natildeo

atleta)

Os primeiros anos de funcionamento da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) e do

Ministeacuterio do Esporte e Turismo satildeo marcados por problemas com o Jogo do Bingo

e a relaccedilatildeo comercial entre a Confederaccedilatildeo Brasileira de Futebol (CBF) e suas

patrocinadoras o que deu origem agrave investigaccedilatildeo no legislativo com a formaccedilatildeo da

Comissatildeo Parlamentar de Inqueacuterito (CPI) conhecida na miacutedia como a CPI do

Futebol (BUENO 2008)

Com relaccedilatildeo ao financiamento no esporte a Lei Peleacute apresentou nos

Arts 56 e 57 as possiacuteveis origens de recurso estatal para o desenvolvimento de

poliacutetica puacuteblica para o gozo deste elemento de cidadania social no paiacutes Entretanto

somente com a alteraccedilatildeo da legislaccedilatildeo por meio da Lei Nordm 10264 de 16 de julho de

2001 conhecida como Lei AgneloPiva o recurso de parte do precircmio das loterias

federais passou a ser repassado ao Comitecirc Oliacutempico Brasileiro (COB) e ao Comitecirc

Paraoliacutempico Brasileiro (CPB) (BRASIL 1998A BRASIL 2001a) Assim o benefiacutecio

financeiro puacuteblico chegou primeiro ao esporte de rendimento que agraves outras

manifestaccedilotildees esportivas (BUENO 2008 ZOTOVICI et al 2013)

No entanto priorizar o financiamento puacuteblico ao esporte de rendimento foi

uma afronta ao inciso II do Art 217 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o qual define

expressamente a prevalecircncia do esporte educacional em relaccedilatildeo ao de rendimento

(BRASIL 1988a) Por outro lado a Lei AgneloPiva (Lei Nordm 102642001) marcou o

formato de financiamento escolhido pelo Estado brasileiro para fomentar um

elemento social constitucional isto eacute a destinaccedilatildeo de grande parte do recurso

12

Site oficial da Cacircmara dos Deputados Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfedlei1998lei-9615-24-marco-1998-351240-norma-plhtmlgt Acesso em 26 de Abril de 2016

37

puacuteblico para o esporte por meio de uma via extraorccedilamentaacuteria ndash repasse direto do

lucro de uma entidade puacuteblica (BRASIL 2001a) Inclusive o percurso fora do

orccedilamento puacuteblico seria novamente adotado anos mais tarde com a promulgaccedilatildeo

da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

O trajeto do financiamento nos faz refletir sobre os dilemas do direito

social ao esporte pois uma vez que o esporte alcanccedila o status de direitos social

passa ser problema de Estado e natildeo mais apenas do indiviacuteduo qual eacute o papel

estatal na garantia deste direito Aparentemente a decisatildeo do Estado brasileiro tem

sido a de repassar recurso puacuteblico para o setor privado de esporte para este

desenvolver uma das facetas deste direito (esporte de rendimento) Poreacutem a

escolha por um caminho extraorccedilamentaacuterio pode expressar a retirada deste

elemento social de cidadania da pauta de discussotildees legislativas (arena de debate e

conflitos) e ainda fragilizar o controle que administraccedilatildeo puacuteblica tem sobre o gasto

deste recurso

Apesar do dilema sobre a forma e a prioridade do financiamento do

esporte de rendimento em prol das demais foi inegaacutevel que a Lei AgneloPiva (Lei

Nordm 102642001) proporcionou a promoccedilatildeo e desenvolvimento do esporte

competitivo no paiacutes muito embora ainda exista criacutetica sobre a discricionariedade na

partilha do recurso entre as entidades representativas do esporte (BUENO 2008)

Durante o periacuteodo de vigecircncia do Ministeacuterio do Esporte e Turismo apoacutes

Rafael Greca outro poliacutetico de carreira assumiu o cargo o Deputado Federal Carlos

Carmo Melles (PFLMG) sucedido pelo especialista em turismo Caio Cibella de

Carvalho Uma nova estruturaccedilatildeo ministerial relevante ao esporte somente viria a

acontecer com a posse do Presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio Lula da Silva

(PTSP)

Apoacutes a posse do presidente Lula a Medida Provisoacuteria Nordm 103 de 01 de

janeiro de 2003 desmembrou o turismo do esporte e criou o Ministeacuterio do Esporte

(BRASIL 2003a) Agrave frente desta pasta exclusiva para tratar da temaacutetica do esporte

foi indicado o Deputado Federal Agnelo Queiroz (PCdoBDF) o mesmo que

participou ativamente na aprovaccedilatildeo da lei de financiamento agraves entidades

representativas do esporte ndash Lei AgneloPiva (Lei Nordm 10264200)

Aleacutem de ter sido a primeira experiecircncia do esporte em um ministeacuterio

exclusivo a organizaccedilatildeo das suas secretarias permitiu efetivamente incluir as

manifestaccedilotildees educacionais e de participaccedilatildeo na agenda puacuteblica Assim foram

38

criadas a Secretaria Nacional de Esporte Educacional (SNEE) a Secretaria Nacional

de Esporte e Lazer (SNEL) e a Secretaria Nacional de Esporte de Rendimento

(SNER) cada uma responsaacutevel por desenvolver uma das manifestaccedilotildees esportivas

consolidadas na legislaccedilatildeo federal

Fonte Starepravo et al (2015 p222)

Apesar da nova estrutura de funcionamento estatal do esporte

Starepravo et al (2015) chamam a atenccedilatildeo para o conflito de interesse poliacutetico-

partidaacuterio entre PT e PCdoB durante a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio do Esporte e suas

respectivas secretaacuterias nacionais Para o autor existiu um tensionamento entre o

capital poliacutetico e o capital cultural teacutecnico e especiacutefico do esporte sendo que o

primeiro teve uma preponderacircncia sobre o segundo Desta forma aspectos como

visibilidade das accedilotildees estatais e influecircncia poliacutetica foram norteadoras na indicaccedilatildeo

dos nomes que compuseram os cargos comissionados do 2ordm e 3ordm escalatildeo do

Ministeacuterio do Esporte Em contrapartida nomes de notoacuterio conhecimento teacutecnico e

envolvidos politicamente na discussatildeo do esporte foram esquecidos ou ficaram em

segundo plano para a ocupaccedilatildeo de cargos diretivos no ministeacuterio

Independente da motivaccedilatildeo que levou agrave organizaccedilatildeo e indicaccedilatildeo de

nomes ao Ministeacuterio do Esporte este periacuteodo foi marcado pela criaccedilatildeo do Programa

Figura 1 ndash Organograma do Ministeacuterio do Esporte (2003)

39

Segundo Tempo (PST) e Programa Esporte e Lazer da Cidade (PELC) ou seja as

primeiras iniciativas do Estado brasileiro de democratizar o esporte educacional e de

participaccedilatildeo respectivamente Estes programas colocaram o Estado brasileiro no

papel de executor de poliacuteticas puacuteblicas de esporte dialogando com a localidade por

meio de um processo de municipalizaccedilatildeo das suas atividades Com isso a

diversificaccedilatildeo do esporte para aleacutem dos tradicionais programas competitivos e a

proximidade da poliacutetica puacuteblica com o seu beneficiaacuterio direito trouxe novos atores

sociais13 para o campo de discussatildeo esportiva

Essa perspectiva tambeacutem foi levada em consideraccedilatildeo ante a criaccedilatildeo do

novo foacuterum nacional de discussatildeo sobre o esporte a Conferecircncia Nacional do

Esporte14 instituiacuteda pelo Decreto Presidencial SN de 21 de janeiro de 2004 e

regulamentada pelas Portarias do Ministeacuterio do Esporte Nordm 13 de 03 de fevereiro de

2004 e Nordm 23 de 11 de marccedilo de 2004 (BRASIL 2004a BRASIL 2004b BRASIL

2004c) O evento foi composto de etapa municipal e estadual15 precedentes agrave etapa

nacional com o intuito de filtrar proposiccedilotildees e auxiliar no diagnoacutestico do esporte no

paiacutes A etapa nacional aconteceu em Brasiacutelia no dia 17 de junho do mesmo ano e

gerou vaacuterias propostas de accedilotildees divididas em oito eixos temaacuteticos contidos no

ldquoCaderno de Propostasrdquo Aleacutem disso da 1ordf Conferecircncia Nacional de Esporte

emergiram quatro princiacutepios seis diretrizes e seis objetivos norteadores para a

Poliacutetica Nacional de Esporte e Lazer (BRASIL 2004d BRASIL 2004e)

Esta ampla discussatildeo que desta vez natildeo levou em consideraccedilatildeo apenas

a ala dos representantes do esporte de rendimento permitiu aprofundar

efetivamente o entendimento do esporte como direito social aproximando a temaacutetica

da concepccedilatildeo de heranccedila social e pertencimento na sociedade idealizada por

Marshall (1967) A associaccedilatildeo de dever estatal e inclusatildeo dos cidadatildeos no

13

A partir do Programa Segundo Tempo (PST) e Programa Esporte e Lazer da Cidade (PELC) as comunidades e populaccedilatildeo em geral atendidas pelos os programas passaram a discutir o esporte seja como forma reflexiva ou como fruiccedilatildeo da praacutetica A aacuterea acadecircmica tambeacutem participou da elaboraccedilatildeo das propostas e agregou uma nova perspectiva sobre o objeto esportivo Por fim como estes programas tinham como meta o processo de municipalizaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas tambeacutem temos a participaccedilatildeo do poder puacuteblico municipal no debate do esporte local 14

Documentaccedilatildeo sobre as Conferecircncias Nacionais de Esporte estatildeo disponiacuteveis em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoconferencias-2571-i-conferencia-nacional-de-esportegt 15

De acordo com o ldquoCaderno de Propostasrdquo e ldquoRelatoacuterio da Conferecircncia Nacional do Esporterdquo ambos formulados pelo Ministeacuterio do Esporte apoacutes a 1ordf Conferecircncia Nacional de Esporte foram organizadas 60 Conferecircncias Municipais e 116 Regionais e 26 conferecircncias estaduais e uma no Distrito Federal precedentes a etapa nacional com participaccedilatildeo de aproximadamente 83 mil pessoas (BRASIL 2004d p 3 BRASIL 2004e p1)

40

patrimocircnio esportivo colocam o Estado brasileiro na posiccedilatildeo de formulador de

poliacutetica puacuteblica para o exerciacutecio pleno da cidadania social

Quase um ano apoacutes a 1ordf Conferecircncia Nacional do Esporte foi lanccedilada

pelo Conselho Nacional do Esporte oacutergatildeo colegiado de assessoria ao Ministro do

Esporte a Resoluccedilatildeo Nordm 05 em 14 de junho de 2005 denominada Poliacutetica Nacional

do Esporte (BRASIL 2005a) O conteuacutedo desta resoluccedilatildeo16 foi um desdobramento

do ldquoCaderno de Propostasrdquo da 1ordf Conferecircncia Nacional do Esporte apresentando

cinco objetivos quatro princiacutepios oito diretrizes e 18 accedilotildees estrateacutegicas para o

desenvolvimento do esporte no paiacutes (BRASIL 2004e)

Interessante mencionar que tanto o ldquoCaderno de Propostasrdquo da

conferecircncia quanto a Poliacutetica Nacional do Esporte apresentam no seu referencial a

consolidaccedilatildeo do direito social ao esporte como uma missatildeo do Ministeacuterio

demonstrando o amadurecimento institucional e do objeto esporte no periacuteodo

posterior agrave criaccedilatildeo do Ministeacuterio do Esporte

Eacute missatildeo do Ministeacuterio do Esporte ldquoformular e implementar poliacuteticas

puacuteblicas inclusivas e de afirmaccedilatildeo do esporte e do lazer como direitos sociais dos

cidadatildeos colaborando para o desenvolvimento nacional e humano (BRASIL 2004e

p7 BRASIL 2005a p14)

Apesar do Ministro Agnelo Queiroz (PCdoBDF) realizar a publicaccedilatildeo da

Poliacutetica Nacional do Esporte a escolha por uma resoluccedilatildeo ao inveacutes de outro ato

normativo de maior poder hieraacuterquico demonstrou a vulnerabilidade deste

documento o que a acabou deixando em segundo plano na suplementaccedilatildeo das

poliacuteticas estatais Ou seja a resoluccedilatildeo por natildeo ter um caraacuteter impositivo como

acontece com a lei decreto eou portaria deixou de ser adotada como uma norma

geral para o avanccedilo das poliacuteticas puacuteblicas de esporte como deveria ser A resoluccedilatildeo

acabou assumindo um caraacuteter sugestivo agrave aplicaccedilatildeo da Lei Peleacute (Lei Nordm

96151998)

O regimento da Conferecircncia Nacional do Esporte Portaria do Ministeacuterio

do Esporte Nordm 132004 previa em seu Art 1ordm a realizaccedilatildeo ordinaacuteria do evento a

cada dois anos (BRASIL 2004b) Assim no dia 20 de outubro de 2005 a Portaria do

Ministeacuterio do Esporte Nordm 133 criou as normas para a realizaccedilatildeo da segunda ediccedilatildeo

16

As resoluccedilotildees do Conselho Nacional de Esporte estatildeo disponiacuteveis em lthttpwwwesportegovbrindexphpinstitucionalo-ministerioconselho-nacional-do-esporteresolucoesgt

41

da conferecircncia (BRASIL 2005b) Novamente o evento foi dividido em etapa

municipalregional e estadual e de 04 a 07 de maio de 2006 aconteceu a etapa

nacional em Brasiacutelia O tema desta ediccedilatildeo foi ldquoConstruindo o Sistema Nacional de

Esporte e Lazerrdquo (BRASIL 2006a)

Cabe salientar que embora os registros do Ministeacuterio do Esporte

comentem como resultado da primeira ediccedilatildeo da conferecircncia a aprovaccedilatildeo da

resoluccedilatildeo de criaccedilatildeo do Sistema Nacional de Esporte e Lazer aparentemente o

respectivo documento trata-se de uma deliberaccedilatildeo final da conferecircncia firmando o

compromisso das autoridades presentes No entanto mais uma vez foi gerado um

documento institucionalmente fraacutegil tanto que natildeo deu origem a nenhuma norma

oficial de Estado e por isso a comunidade esportiva continua aguardando por sua

implementaccedilatildeo (BRASIL 2007a)

Ao final da 2ordf Conferecircncia Nacional do Esporte foi feita uma nova

tentativa de sugestatildeo de resoluccedilatildeo para a estruturaccedilatildeo do Sistema Nacional do

Esporte As proposiccedilotildees foram organizadas em quatro eixos 1) Estrutura

organizaccedilatildeo agentes e competecircncias 2) Recursos humanos e formaccedilatildeo 3) Gestatildeo

e controle social e 4) Financiamento (BRASIL 2007a) No entanto sua formalizaccedilatildeo

continua aguardando a publicaccedilatildeo de uma norma estatal o que demonstra a

dificuldade do Ministeacuterio do Esporte em organizar a cadeia produtiva do esporte

nacional

No eixo de financiamento do Sistema Nacional do Esporte foi sugerida a

elaboraccedilatildeo de ldquoEmenda Constitucional que institua a vinculaccedilatildeo e destinaccedilatildeo de um

percentual miacutenimo [1] da receita tributaacuteriardquo agraves poliacuteticas puacuteblicas de esporte aos

trecircs entes federativos ndash Uniatildeo Estados Subnacionais Municiacutepios e Distrito Federal

(BRASIL 2007a p18-19) De acordo com o jurista Melo Filho (2015) desde a

promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Art 217 jaacute foi foco de oito Projetos

de Emenda Constitucional (PEC) sendo trecircs destes para a definiccedilatildeo de limite de

recurso financeiro para o esporte (PEC Nordm 1752007 PEC Nordm 1912007 PEC Nordm

4172009)

Neste eixo temaacutetico ainda foi proposta agrave criaccedilatildeo de leis de incentivo fiscal

nos trecircs niacuteveis de governo de forma equitativa para atender agrave demanda de fomento

das diferentes dimensotildees de esporte e lazer Na proacutepria proposta foram sugeridos

impostos que poderiam ser alvo deste mecanismo de financiamento

extraorccedilamentaacuterio percentual de Imposto de Renda (IR) de Imposto de Renda

42

Retido na Fonte (IRPF) e de Imposto de Renda Pessoa Juriacutedica (IRPJ) Imposto

sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) Imposto sobre Serviccedilo de

Qualquer Natureza (ISSQN) Contribuiccedilatildeo de Intervenccedilatildeo no Domiacutenio Econocircmico

(CIDE) Imposto de Telefonia Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) Imposto

sobre a Propriedade Territorial Urbana (IPTU) Contribuiccedilatildeo Provisoacuteria sobre

Movimentaccedilatildeo ou Transmissatildeo de Valores e de Creacuteditos e Direitos de Natureza

Financeira (CPMF) Seguro obrigatoacuterio de veiacuteculos e Produto Interno Bruto (PIB)

(BRASIL 2007a)

Como modelo de mecanismo de fomento aos demais entes federativos e

tambeacutem como resposta antecipada agrave comunidade esportiva na 2ordf Conferecircncia

Nacional do Esporte o Ministeacuterio do Esporte encaminhou ao Congresso Nacional

no dia 08 de maio de 2006 o Projeto de Lei Nordm 6999 que tratava sobre benefiacutecios

fiscais para a aacuterea do esporte O projeto foi agregado ao Projeto de Lei Nordm 1367 de

01 de julho de 2003 do Deputado Federal Bismarck Maia (PSDBCE) que jaacute

tramitava havia um tempo na casa A iniciativa do executivo tramitou com pedido de

urgecircncia e no dia 29 de dezembro de 2006 foi aprovado dando origem agrave Lei Nordm

11438 popularmente conhecida como Lei Federal de Incentivo ao Esporte

(BRASIL 2006b)

A legislaccedilatildeo criou mais uma alternativa de financiamento agraves tradicionais

entidades representativas do esporte mas desta vez tambeacutem permitiu a participaccedilatildeo

dos novos atores sociais do esporte educacional e de participaccedilatildeo (lazer) O

mecanismo de fomento foi inspirado na experiecircncia de mecenato cultural instituiacuteda

pela Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) A gecircnese do mecenato cultural tinha como

ideia trazer mais recurso financeiro agrave aacuterea cultural por meio da participaccedilatildeo direta

do setor privado mas parte desta discussatildeo foi deixada de lado durante a criaccedilatildeo do

mecenato esportivo Este por sua vez foi aprovado em 2006 e colocado em praacutetica

em 2007 pelo Decreto Nordm 6180 Sua criaccedilatildeo foi bastante comemorada pela

comunidade esportiva pois ampliava a oferta de recurso financeiro para a aacuterea do

esporte mesmo que 100 deste valor fosse de origem puacuteblica (extraorccedilamentaacuterio)

mas precisasse ser captado no setor privado pela isenccedilatildeo fiscal do Imposto sobre a

Renda (IR)

O mecanismo tambeacutem marcou uma nova ruptura da poliacutetica puacuteblica de

esporte pois o Estado brasileiro ao inveacutes de continuar no papel de executor de

poliacutetica puacuteblica principalmente da manifestaccedilatildeo educacional e participaccedilatildeo passou

43

a financiar as propostas de iniciativa das entidades esportivas Poreacutem a decisatildeo

sobre a efetivaccedilatildeo das propostas esportivas ficou nas ldquomatildeosrdquo do mercado sem

necessariamente precisar investir nenhum capital privado Neste contexto seraacute que

o mercado e as entidades esportivas (sociedade civil organizada) teratildeo capacidade

de garantir o direito social Ou o Estado brasileiro estaacute enfraquecendo as

discussotildees e debates em seu ldquoseiordquo sobre o esporte como um elemento de

exerciacutecio da cidadania social

Paralelamente agrave operacionalizaccedilatildeo do mecenato esportivo e possiacuteveis

dilemas que envolveriam o modelo de financiamento o Ministeacuterio do Esporte passou

a trabalhar na candidatura do paiacutes para sede da Copa do Mundo de Futebol de 2014

e para sede dos Jogos Oliacutempicos de 2016 Apoacutes uma articulaccedilatildeo que extrapolou a

proacutepria pasta do esporte veio a confirmaccedilatildeo de ecircxito nas candidaturas no dia 30 de

outubro de 2007 e 2 de outubro de 2009 respectivamente

O novo foco de convencimento das entidades internacionais a Federaccedilatildeo

Internacional de Futebol (FIFA) e o Comitecirc Oliacutempico Internacional (COI) sobre a

capacidade do Estado brasileiro de organizar os eventos talvez tenha deixado a

organizaccedilatildeo da 3ordf Conferecircncia Nacional do Esporte em segundo plano Assim a

conferecircncia que estava prevista para acontecer em 2008 foi realizada somente em

junho de 2010 quatro anos apoacutes a sua uacuteltima ediccedilatildeo em desacordo com o prazo

estipulado pelo Art 1ordm da Portaria do Ministeacuterio do Esporte Nordm 132004 (BRASIL

2004b)

Nas duas conferecircncias anteriores o tema de elaboraccedilatildeo do Sistema

Nacional do Esporte e Lazer vinha tendo uma relevacircncia na discussatildeo haja vista a

importacircncia de organizar a cadeia esportiva nacional Poreacutem a terceira ediccedilatildeo da

conferecircncia teve como tema o desenvolvimento do ldquoPlano Decenal de Esporte e

Lazerrdquo cujo slogan fazia alusatildeo ao desempenho atleacutetico nos megaeventos

esportivos ldquo10 pontos em 10 anos para projetar o Brasil entre os 10 maisrdquo Uma fala

do proacuteprio Ministro do Esporte Orlando Silva (PCdoBSP) inscrita no caderno de

orientaccedilotildees reforccedila a mudanccedila na diretriz do esporte nacional ldquocolocar o paiacutes entre

as dez maiores potecircncias esportivas do mundordquo (BRASIL 2010a p5)

Percebemos que a negociaccedilatildeo do Estado brasileiro para a realizaccedilatildeo dos

megaeventos esportivos marcou um ponto de novo desequiliacutebrio entre as

manifestaccedilotildees esportivas delineado pela maior ecircnfase ao esporte de rendimento na

3ordf Conferecircncia Nacional do Esporte Contudo desde a elevaccedilatildeo do esporte ao

44

status de direito social notamos a forte presenccedila dos atores sociais do esporte de

rendimento

O periacuteodo de formulaccedilatildeo dos Programas Segundo Tempo (PST) e

Esporte e Lazer da Cidade (PELC) foi importante para a materializaccedilatildeo das

manifestaccedilotildees educacional e participaccedilatildeo respectivamente e trazer novos atores

para a arena de debate do esporte Um novo equiliacutebrio sobre as trecircs expressotildees do

esporte foi possiacutevel conduzindo a discussatildeo para o acircmbito do desenvolvimento do

esporte como elemento da cidadania social para aleacutem da exigecircncia de desempenho

atleacutetico Mas a escolha estatal por criar um mecanismo de financiamento com forte

apelo mercadoloacutegico para tratar de um direito social que tem como ideal o processo

de desmercantilizaccedilatildeo pode gerar impacto no tensionamento de forccedilas entre as

manifestaccedilotildees esportivas Por isso nos capiacutetulos seguintes passaremos a explorar o

funcionamento do mecanismo de mecenato esportivo inaugurado pela Lei Federal

de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

A princiacutepio buscaremos o histoacuterico do mecanismo de mecenato cultural

por ser precursor da poliacutetica de financiamento adotada pelo o esporte Na

construccedilatildeo do referencial histoacuterico adentraremos na discussatildeo que envolveu a

escolha e aprovaccedilatildeo do mecenato esportivo Suprida a etapa de conhecimento do

mecanismo passaremos agrave anaacutelise das 32 propostas aprovadas na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte por entidades esportivas sediadas na cidade de Belo

Horizonte A partir da investigaccedilatildeo local verificaremos a possibilidade de garantia agrave

populaccedilatildeo em geral no acesso ao esporte e no exerciacutecio pleno na cidadania social

45

3 MECANISMO DE MECENATO DA CULTURA AO ESPORTE

31 Poliacutetica estatal de cultura e o desenvolvimento do mecenato

A Lei Federal de Incentivo ao Esporte Lei Nordm 114382006 teve como

inspiraccedilatildeo o mecanismo de mecenato cultural inaugurado pela Lei Sarney (Lei Nordm

75051986) e posteriormente consolidada pela Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) E

para compreender melhor como o mecanismo de financiamento agrave cultura

transformou-se em base para outras poliacuteticas de financiamento puacuteblico na aacuterea

social (esporte sauacutede direito do idoso direito da crianccedila e adolescente pesquisa

etc) torna-se importante resgatar a sua trajetoacuteria na histoacuteria

Antes de ser um modelo de poliacutetica de financiamento o termo mecenato

jaacute era bastante corriqueiro na aacuterea cultural usado para qualificar a pessoa de grande

apreccedilo e apoio agraves artes De acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2016 p1) a palavra eacute

sinocircnimo de ldquopatrocinador generoso protetor das Letras Ciecircncias e Artes dos

artistas e saacutebiosrdquo

A origem do termo faz referecircncia a Caius Cilnius Mecenas ministro do

imperador romano Caio Julio Augusto entre 74 aC e 8 dC Esta personagem se

destacou por construir uma poliacutetica de relacionamento entre governo e sociedade

tendo as artes como instrumentos de disseminaccedilatildeo das conquistas e da filosofia do

regime autoritaacuterio do imperador O sucesso deste sutil sistema de legitimaccedilatildeo pela

fusatildeo de poder e cultura fez o nome Mecenas ficar marcado na histoacuteria como

patrono das artes (ALMEIDA 1994)

Experiecircncias posteriores de uso do mecenato cultural com fins de

propaganda do pensamento oficial de uma classe dominante podem ser facilmente

encontradas na histoacuteria da humanidade Na Renascenccedila por exemplo periacuteodo de

grande efervescecircncia artiacutestica na Europa vaacuterias famiacutelias da aristocracia e membros

do clero incentivaram por meio de doaccedilotildees e apadrinhamento de artistas

(mecenato) a produccedilatildeo de quadros esculturas e peccedilas teatrais como forma de

expressatildeo do seu status social Por outro lado a emergente burguesia tambeacutem

buscou na praacutetica do mecenato demonstrar seu poder econocircmico e ao mesmo

tempo ostentar seu apreccedilo pela cultura erudita possibilitando sua inserccedilatildeo na

restrita elite da eacutepoca

46

Para o cientista poliacutetico e estudioso da aacuterea cultural Joseacute Aacutelvaro Moiseacutes

(1998) a versatildeo contemporacircnea do mecenato teve iniacutecio nos Estados Unidos entre

o final do seacuteculo XIX e comeccedilo do seacuteculo XX O contexto de um significativo

crescimento econocircmico decorrente do capital emigrado da Inglaterra para os

emergentes negoacutecios no novo continente propiciou que algumas pessoas de origem

simples acumulassem grandes fortunas Mas apesar de todo o dinheiro

conquistado estas pessoas natildeo possuiacuteam a inserccedilatildeo social desejada Logo o

financiamento agraves artes foi a forma encontrada para a tentativa de inclusatildeo e

legitimaccedilatildeo destas pessoas agrave seleta classe dominante estadunidense

No entanto Moiseacutes (1998) chama a atenccedilatildeo para a existecircncia de uma

legislaccedilatildeo especiacutefica a Deduction Tax nos Estados Unidos introduzida em 1917

que incentivou o contribuinte a apoiar accedilotildees de artistas ou instituiccedilotildees culturais O

mecanismo estatal de mecenato norte-americano estimulou a criaccedilatildeo de um forte

mercado cultural por meio da participaccedilatildeo direta da pessoa fiacutesica e mais tarde da

pessoa juriacutedica

Sobrenomes como Guggenheim Whitney Rockfeller e Ford se

destacaram como grandes mecenas inclusive com a criaccedilatildeo de instituiccedilotildees culturais

e filantroacutepicas tais como a Fundaccedilatildeo Rockfeller a Universidade de Chicago a

Guggenheim Memorial Foudation o Instituto Rockfeller de Pesquisa Meacutedica o

Museu Guggenheim dentre outras Mas cabe ressaltar que ateacute 1986 o valor

apoiado era integralmente deduzido no Imposto sobre a Renda o que representava

um forte subsiacutedio puacuteblico ao setor (MOISEacuteS 1998)

Nos Estados Unidos a deacutecada de 1980 marcou vaacuterias reformas na

deduction tax principalmente por alteraccedilatildeo nos percentuais e no valor do teto

individual de deduccedilatildeo fiscal Ainda hoje a legislaccedilatildeo tem sido foco de discussatildeo no

parlamento tanto que o Escritoacuterio de Orccedilamento do Congresso (Congressional

Budget Office - CBO) tem feito simulaccedilotildees sobre o impacto financeiro de novas

mudanccedilas na deduccedilatildeo fiscal Poreacutem um fato eacute certo para o governo estadunidense

a atual diretriz da lei eacute atrair capital privado ao montante de recurso puacuteblico investido

na aacuterea filantroacutepica ou seja natildeo existe mais deduccedilatildeo integral do apoio do

contribuinte (CBO 2011)

Jaacute a experiecircncia de mecenato brasileiro tem contornos diferentes

marcada pela forma de desenvolvimento da poliacutetica cultural no paiacutes De acordo com

Rubim (2011) a aacuterea cultural no paiacutes tem como caracteriacutestica a instabilidade

47

transitando entre momentos de ausecircncia de uma poliacutetica (1822 a 1930 1945 a

1964) e de desenvolvimento embora associados ao autoritarismo (1930 a 1945

1964 a 1985)

A poliacutetica cultural nacional foi inaugurada com a indicaccedilatildeo de Maacuterio de

Andrade para o Departamento de Cultura da Prefeitura de Satildeo Paulo (1935-1938) e

Gustavo Capanema para o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Sauacutede (1934 ateacute 1945)

personagens que estimularam o apoio estatal agrave aacuterea das artes patrimocircnio (material

e imaterial) e manifestaccedilotildees populares (RUBIM 2011)

O cenaacuterio de estiacutemulo ao desenvolvimento cultural juntamente ao

processo de industrializaccedilatildeo no paiacutes principalmente em Satildeo Paulo proporcionou a

emersatildeo de uma nova classe social (burguesia industrial) com alto poder econocircmico

disposta a se mostrar como siacutembolo da modernidade Este traccedilo de contraponto agraves

antigas e conservadoras oligarquias rurais foi terreno feacutertil para o investimento na

aacuterea cultural e o surgimento dos primeiros mecenas brasileiros

Nomes como Francisco Matarazzo Franco Zampari e Assis

Chateaubriand se destacam como nobres apoiadores das artes em Satildeo Paulo

responsaacuteveis pela criaccedilatildeo do Museu de Arte Moderna Teatro Brasileiro de Comeacutedia

Cinemateca Brasileira Museu de Arte Contemporacircnea e a Fundaccedilatildeo Bienal de Satildeo

Paulo O Rio de Janeiro antiga capital brasileira tambeacutem natildeo ficou atraacutes Nomes

como Paulo Bittencourt e Niomar Moniz Sondreacute foram responsaacuteveis pela criaccedilatildeo do

Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 1947 (MOISEacuteS 1998)

Com o teacutermino da ditadura civil (Estado Novo) e redemocratizaccedilatildeo do

paiacutes a aacuterea cultural consegue se elevar a niacutevel ministerial com a criaccedilatildeo do

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura em 1953 Poreacutem efetivamente pouca coisa foi

feita para o fomento ou contiacutenuo desenvolvimento do setor A ineacutercia cultural do

periacuteodo natildeo proporcionou o surgimento e destaque de novos nomes de mecenas

(RUBIM 2011)

O periacuteodo subsequente de ditadura-militar (1964 a 1985) foi marcado por

contradiccedilotildees Ao mesmo tempo em que o governo autoritaacuterio censura e reprime

artistas e intelectuais existe significativo investimento do Estado brasileiro no setor

cultural Foi instituiacutedo o Conselho Federal de Cultural em 1966 e criada a

infraestrutura de telecomunicaccedilotildees para a propagaccedilatildeo da ideologia nacionalista A

Poliacutetica Nacional de Cultura foi elaborada em 1975 e inuacutemeras instituiccedilotildees puacuteblicas

de cultura foram criadas como a Fundaccedilatildeo Nacional das Artes (1975) o Centro

48

Nacional de Referecircncia Cultural (1975) o Conselho Nacional de Cinema (1976) a

RADIOBRAacuteS (1976) e a Fundaccedilatildeo Proacute-Memoacuteria (1979) (RUBIM 2011)

O protagonismo do Estado no desenvolvimento da cultura minimizou o

contexto para o surgimento de novos mecenas ou ao menos obscureceu os seus

feitos individuais Assim a falta de nomes relevantes corrobora com a afirmativa de

Moiseacutes (1998) sobre a escassez de exemplos de mecenas culturais na histoacuteria do

paiacutes diferentemente do que aconteceu nos Estados Unidos

Durante o periacuteodo ditatorial o ainda Senador Joseacute Sarney (ARENAMA)

apresentou o Projeto de Lei Nordm 54 de 26 de outubro de 197217 propondo a

deduccedilatildeo do Imposto sobre a Renda (IR) de pessoa juriacutedica e pessoa fiacutesica para fins

culturais Segundo Sarkovas (2011) o projeto recebeu indicaccedilatildeo negativa da aacuterea

econocircmica do governo militar mas mesmo natildeo sendo aprovado foi o embrionaacuterio da

primeira lei de incentivo fiscal no paiacutes No dia 08 de marccedilo de 1976 o projeto de lei

foi arquivado no Senado

Em 15 de marccedilo de 1985 durante o novo processo de redemocratizaccedilatildeo

do Brasil Joseacute Sarney (PMDBMA) na posiccedilatildeo de vice-presidente assumiu o cargo

interino da Presidecircncia da Repuacuteblica devido agrave doenccedila do presidente eleito

indiretamente Tancredo Neves (PMDBMG) No dia 21 de abril com a morte do

presidente acabou empossado de forma definitiva A primeira medida do governo

civil foi a reestruturaccedilatildeo poliacutetico-administrativa do poder executivo a qual elevou a

cultura ao status de pasta exclusiva com a criaccedilatildeo do Ministeacuterio da Cultura a partir

da desvinculaccedilatildeo do antigo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura

Uma das tarefas do novo Ministeacuterio da Cultura foi tratar do financiamento

do setor produtivo cultural Para isso em 9 de junho de 1986 o ministeacuterio enviou ao

Congresso Nacional o Projeto de Lei Nordm 779318 que visava conceder benefiacutecio

fiscal agraves entidades culturais Na praacutetica a medida era uma quase reapresentaccedilatildeo do

Projeto de Lei Nordm 54 de 1972 poreacutem agora com Joseacute Sarney (PMDBMA) tendo

autonomia sobre as decisotildees do setor econocircmico do governo federal

O projeto tramitou com pedido de urgecircncia e em menos de um mecircs foi

aprovado no Congresso Nacional dando origem a Lei Nordm 7505 em 2 de julho de

17

Tracircmite do projeto de lei disponiacutevel em lthttpwww25senadolegbrwebatividadematerias-materia25985gt 18

Tracircmite do projeto de lei disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=232355gt

49

1986 Devido o protagonismo do entatildeo presidente ldquosobre benefiacutecios fiscais na aacuterea

do imposto de renda concedidos a operaccedilotildees de caraacuteter cultural ou artiacutesticordquo a lei

ficou popularmente conhecida como Lei Sarney

Para Rubim (2011) a Lei Sarney vai na contramatildeo das demais accedilotildees

realizadas pelo Estado brasileiro pois aleacutem da gecircnese do Ministeacuterio da Cultura o

governo federal vinha criando toda uma rede de estrutura de gestatildeo da cultura

como as Secretarias de Apoio agrave Produccedilatildeo Cultural (1986) a Fundaccedilatildeo Nacional de

Artes Cecircnicas (1987) a Fundaccedilatildeo do Cinema Brasileiro (1987) a Fundaccedilatildeo

Nacional Proacute-Leitura reunindo a Biblioteca Nacional e o Instituto Nacional do Livro

(1987) e a Fundaccedilatildeo Palmares (1988)

No entanto a crise financeira que na eacutepoca alarmava o paiacutes foi o

principal argumento para diminuir o recurso de origem orccedilamentaacuteria para a aacuterea da

cultura ao mesmo tempo em que criava um mecanismo de financiamento que

dialogasse com o mercado Em tese a ideia era estimular a figura do mecenas

cultural (apoiador privado) e agregar recurso privado agraves accedilotildees do setor

Para operacionalizar seu funcionamento a Lei Sarney (Lei Nordm

75051986) criou trecircs modalidades de apoio a doaccedilatildeo o patrociacutenio e o

investimento A primeira tratava da transferecircncia definitiva de bens ou dinheiro agrave

entidade cultural mas sem retorno financeiro ou publicitaacuterio para o apoiador assim

permitindo a deduccedilatildeo de ateacute 100 da doaccedilatildeo O patrociacutenio se caracterizava pela

promoccedilatildeo do apoiador por meio da atividade cultural mas sem proveito financeiro ou

patrimonial direto Nesta modalidade era permitida a deduccedilatildeo de ateacute 80 do valor

patrocinado A uacuteltima modalidade o investimento permitia que o apoiador tivesse

retorno financeiro ou patrimonial sobre a accedilatildeo cultural Por isso era autorizada a

deduccedilatildeo maacutexima de 50 da quantia investida (BRASIL 1986)

De acordo com Sarkovas (2011) o modelo de mecenato criado pela Lei

Sarney (Lei Nordm 75051986) era uacutenico quando comparado a outros paiacuteses Porque

no caso da doaccedilatildeo e patrociacutenio realizado por pessoa juriacutedica aleacutem da permissatildeo de

inclusatildeo do depoacutesito de apoio como despesa operacional diminuindo o valor do

lucro operacional (lucro liacutequido) ainda havia autorizaccedilatildeo para deduzir uma segunda

parte no valor do imposto devido sobre a renda Ou seja o governo federal isentava

o contribuinte duas vezes pelo mesmo depoacutesito de apoio

Assim embora o recurso para as entidades culturais natildeo viesse

diretamente do orccedilamento da Uniatildeo grande parte da sua origem era totalmente

50

puacuteblica mas tomando um trajeto extraorccedilamentaacuterio Aleacutem do mais a suposta

participaccedilatildeo do recurso privado na aacuterea da cultura pela natildeo deduccedilatildeo integral das

modalidades patrociacutenio (80) e investimento (50) foi minimizada pela duplicidade

de incidecircncia da isenccedilatildeo fiscal ndash como despesa operacional e deduccedilatildeo do imposto

devido sobre a renda

Contudo a maior criacutetica enfrentada pela Lei Sarney (Lei Nordm 75051986)

foi quanto agrave falta de controle na aplicaccedilatildeo do recurso destinado agraves entidades

culturais Para ser beneficiaacuteria do mecanismo de mecenato a pessoa juriacutedica de

natureza cultural com ou sem fins lucrativos realizava um cadastro no Ministeacuterio da

Cultura Apoacutes a aprovaccedilatildeo do cadastro e emissatildeo do certificado de qualificaccedilatildeo a

entidade estava apta a receber recurso independentemente de projeto ou plano de

trabalho Nesse sentido a entidade cultural tinha liberdade para gastar o recurso

como bem entendesse (GRUMAN 2011 SESI 2007 DURAD et al 1997)

Nos quase quatro anos que esteve em vigor19 (1986-1990) estima-se que

cerca de 7200 entidades culturais se habilitaram mas os nuacutemeros financeiros ainda

natildeo satildeo conhecidos Segundo Gruman (2011) os recursos captados estariam em

torno de R$ 100 milhotildees enquanto para Durad et al (1997) teria chegado a

aproximadamente US$ 450 milhotildees mas deste uacuteltimo montante para o SESI

(2007) apenas US$ 112 milhotildees seriam realmente de origem puacuteblica Vale destacar

que a Secretaria da Receita Federal foi o oacutergatildeo responsaacutevel pelo controle financeiro

enquanto o Conselho Federal de Cultura pela supervisatildeo e acompanhamento da

execuccedilatildeo das accedilotildees culturais

O contexto de incerteza financeira associado agrave fraude fiscal por conta da

emissatildeo de notas fiscais culturais sem o devido pagamento do contribuinte levou agrave

debilidade operacional do mecanismo Ainda somou-se ao problema de controle a

carecircncia de criteacuterios na utilizaccedilatildeo do recurso puacuteblico isto eacute a falta de distinccedilatildeo entre

as accedilotildees culturais que precisavam de apoio puacuteblico das que tinham potencial

comercial ou ateacute mesmo daquelas com niacutetido interesse puacuteblico

No dia 15 de marccedilo de 1990 foi empossado o novo Presidente da

Repuacuteblica Fernando Collor (PRNAL) e por meio da Medida Provisoacuteria Nordm 150 foi

19

Com a promulgaccedilatildeo do Decreto Nordm 93335 de 3 de outubro de 1986 a Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) passou a vigorar poreacutem os depoacutesitos de apoio realizados no ano calendaacuterio (1986 1987 1988 1989 1990) eram deduzidos no ano fiscal subsequente (1987 1988 1989 1990 1991) A suspensatildeo da legislaccedilatildeo no ano de 1990 impediu que novas destinaccedilotildees fossem feitas as entidades culturais e por sua vez comprometesse a arrecadaccedilatildeo da Uniatildeo de 1991

51

feita nova reestruturaccedilatildeo da administraccedilatildeo puacuteblica O Ministeacuterio da Cultura perdeu o

status ministerial e passou a funcionar como Secretaria da Cultura da Presidecircncia da

Repuacuteblica Vaacuterias entidades puacuteblicas ligadas agrave cultura tambeacutem foram extintas como

a Fundaccedilatildeo Nacional de Artes (Funarte) a Fundaccedilatildeo Nacional de Artes Cecircnicas

(Fundacen) a Fundaccedilatildeo do Cinema Brasileiro (FCB) a Fundaccedilatildeo Cultural Palmares

(FCP) a Fundaccedilatildeo Nacional Proacute-Memoacuteria (Proacute-Memoacuteria) e a Fundaccedilatildeo Nacional

Proacute-Leitura (Proacute-Leitura) (BRASIL 1990a)

No mesmo dia da posse outras 22 medidas provisoacuterias20 foram assinadas

pelo novo presidente nuacutemero excessivo comparado ao exerciacutecio dos demais chefes

do poder executivo no periacuteodo democraacutetico A Medida Provisoacuteria Nordm 161 alterou a

legislaccedilatildeo do Imposto sobre a Renda e suspendeu por tempo indeterminado todos

os incentivos fiscais (BRASIL 1990b) Assim aleacutem do desmonte da estrutura estatal

para a cultura o setor tambeacutem teve paralisado a sua poliacutetica de financiamento a Lei

Sarney (Lei Nordm 75051986) Ressalta-se que a grande maioria destas medidas

provisoacuterias foi posteriormente acatada pelo Congresso Nacional e convertida em lei

demonstrando o consenso do poder legislativo com a poliacutetica em curso

O decorrer do ano de 1990 foi marcado por um vaacutecuo na poliacutetica nacional

de cultura de forma que os Estados e Municiacutepios passaram a sofrer pressatildeo para a

criaccedilatildeo de legislaccedilatildeo proacutepria de apoio cultural A cidade de Satildeo Paulo saiu agrave frente

com a Lei Municipal Nordm 10923 de 30 de dezembro de 1990 conhecida como Lei

Mendonccedila (SESI 2007)

Esta legislaccedilatildeo se inspirou na Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) buscando

criar a figura do mecenas cultural mas tentou corrigir alguns dos erros de controle

financeiro observados no acircmbito federal Novamente foi estimulado o apoio do setor

privado agrave aacuterea cultural por meio de isenccedilatildeo fiscal poreacutem o recurso deveria estar

vinculado a um projeto previamente aprovado pela Secretaria Municipal de Cultural

de Satildeo Paulo A deduccedilatildeo fiscal tambeacutem natildeo seria integral ficando limitada ao valor

de 70 do montante apoiado o qual seria descontado da quantia a ser paga pelo

contribuinte no ISSQN eou no IPTU (SAtildeO PAULO 1990)

Todavia as experiecircncias locais natildeo supriram a carecircncia de uma poliacutetica

nacional tanto que no dia 10 de marccedilo de 1991 o Secretaacuterio da Cultura da

20

As medidas provisoacuterias do governo do Presidente Fernando Collor (PRNAL) assim como demais atos puacuteblicos do poder executivo como um todo podem ser acompanhados no site da Casa Civil da Presidecircncia da Repuacuteblica Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03gt

52

Presidecircncia da Repuacuteblica Ipojuca Pontes foi substituiacutedo pelo socioacutelogo Seacutergio

Paulo Rouanet Sob nova direccedilatildeo a secretaacuteria apresentou ao Congresso Nacional o

Projeto de Lei Nordm 144821 de 22 de agosto de 1991 visando reformar a suspensa

Lei Sarney (Lei Nordm 75051986)

O projeto tramitou com pedido de urgecircncia e no dia 23 de dezembro

daquele ano deu origem agrave Lei Nordm 8313 que restabelecia os princiacutepios da Lei

Sarney (Lei Nordm 75051986) e criava o Programa Nacional de Apoio agrave Cultura

(PRONAC) A nova legislaccedilatildeo ficou popularmente conhecida como Lei Rouanet (Lei

Nordm 83131991) por ter sido promulgada no mandado do respectivo secretaacuterio

De acordo com Sarkovas (2011 p51) o Secretaacuterio Seacutergio Rouanet tinha

consciecircncia de que o ldquofinanciamento puacuteblico agrave cultura natildeo poderia ser regulado

exclusivamente pelos interesses mercadoloacutegicos eou pessoais inerentes ao

patrociacuteniordquo por isso aleacutem do mecanismo de mecenato cultural incluiu agrave proposta de

lei a criaccedilatildeo de outros mecanismos para incentivar projetos

Art 2deg O PRONAC seraacute implementado atraveacutes dos seguintes mecanismos I - Fundo Nacional da Cultura (FNC) II - Fundos de Investimento Cultural e Artiacutestico (FICART) III - Incentivo a projetos culturais [mecenato cultural] (BRASIL 1991 p1)

O antigo Fundo de Promoccedilatildeo Cultural (FPC) criado pela Lei Sarney (Lei

Nordm 75051986) e que pouco funcionou por ser uma opccedilatildeo concorrente ao

mecanismo de mecenato cultural foi transformado em Fundo Nacional de Cultura

(FNC) Agora aleacutem do recurso de isenccedilatildeo fiscal depositado pelo contribuinte o

fundo tambeacutem contava com recurso direto do Tesouro Nacional percentual das

loterias federais saldo remanescente de projetos do mecenato cultural dentre

outras formas (BRASIL 1991a)

O fundo seria administrado pela Secretaria da Cultura da Presidecircncia da

Repuacuteblica e tinha como diretriz o apoio a projetos culturais com importante caraacuteter

de identidade e diversidade nacional mas que ao mesmo tempo tambeacutem

possuiacutessem baixo atrativo comercial Os projetos selecionados natildeo seriam

financiados integralmente com o recurso puacuteblico pois estava previsto o apoio de ateacute

80 do recurso oriundo do fundo e o percentual restante como contrapartida da

21

Tracircmite do projeto de lei disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=192259gt

53

entidade cultural Cabe salientar que a contrapartida poderia ser mensurada

monetariamente por meio de bens ou serviccedilos oferecidos pela entidade cultural

(BRASIL 1991a)

A versatildeo de Fundo Nacional de Cultura (FNC) trazida pela Lei Rouanet

(Lei Nordm 83131991) conseguiu se operacionalizar por possuir fonte de arrecadaccedilatildeo

independente da destinaccedilatildeo direta do contribuinte Poreacutem o montante financeiro

originaacuterio do Tesouro Nacional e das demais fontes de fomento ainda era escasso

diante da diversidade de demandas culturais

Para Sarkovas (2011) outro problema enfrentado pelo Fundo foi a

carecircncia de princiacutepio puacuteblico na gestatildeo do recurso como a falta de transparecircncia

nos criteacuterios de seleccedilatildeo de projetos e o discutiacutevel meacuterito cultural das propostas

escolhidas Aleacutem disso em muitas vezes o poder executivo era o maior beneficiaacuterio

do proacuteprio Fundo ao destinar recurso para as suas entidades subsidiaacuterias ao inveacutes

de apoiar a produccedilatildeo cultural de iniciativa da sociedade civil

A outra modalidade de fomento criada pela Lei Rouanet (Lei Nordm

83131991) o Fundo de Investimento Cultural e Artiacutestico (FICART) visava

transformar alguns projetos culturais em objetos lucrativos no mercado financeiro de

accedilotildees Para isso o projeto aprovado seria convertido em um fundo monetaacuterio

(condomiacutenio) sem personalidade juriacutedica e em seguida dividido em vaacuterias quotas

As quotas seriam ofertadas a investidores no mercado financeiro de accedilotildees que

mediante o sucesso na execuccedilatildeo do projeto poderia receber os dividendos

(distribuiccedilatildeo do lucro) com isenccedilatildeo do Imposto sobre Operaccedilotildees de Creacutedito Cacircmbio

e Seguro ou relativas aos Tiacutetulos ou Valores Mobiliaacuterios (IOF) A administraccedilatildeo das

quotas seria feita por instituiccedilatildeo financeira cadastrada e fiscalizada pela Comissatildeo

de Valores Mobiliaacuterios (CVM) (BRASIL 1991a)

Este mecanismo tem tido pouca operaccedilatildeo inclusive havendo duacutevida

quanto agrave sua viabilidade A princiacutepio porque os projetos culturais satildeo de curto prazo

de execuccedilatildeo (maacuteximo de 24 meses) mas negociados em um mercado que visa o

retorno do investimento a meacutedio e longo prazos (acima de 24 meses) O mercado de

accedilotildees tambeacutem vive da especulaccedilatildeo no curto prazo poreacutem esta natildeo seria uma

caracteriacutestica aplicaacutevel ao negoacutecio cultural Por outro lado ainda existe a falta de

conhecimento e popularidade do mercado financeiro de accedilotildees para a grande maioria

das entidades culturais e dos apoiadores o que poderia afastar o aporte de recurso

54

A terceira modalidade de incentivo prevista tratava da reformulaccedilatildeo da

antiga modalidade de mecenato cultural criada pela Lei Sarney (Lei Nordm 75051986)

poreacutem inspirada nas alteraccedilotildees operacionais feitas pela Lei de Incentivo agrave Cultura da

Cidade de Satildeo Paulo - Lei Mendonccedila (Lei Municipal Nordm 109231990) O apoio do

contribuinte passava a ser vinculado a um projeto cultural previamente aprovado

pela Comissatildeo Nacional de Incentivo agrave Cultura oacutergatildeo colegiado ligado agrave Secretaria

da Cultura da Presidecircncia da Repuacuteblica

Apenas os apoios fiscais doaccedilatildeo e patrociacutenio satildeo mantidos na nova

legislaccedilatildeo de mecenato cultural poreacutem sem a existecircncia de deduccedilatildeo integral dos

valores No caso de apoiador pessoa fiacutesica era permitida a deduccedilatildeo no Imposto

sobre a Renda (IR) de 80 do valor das doaccedilotildees e 60 do valor dos patrociacutenios

observando o limite percentual de 3 do imposto ainda devido agrave Secretaria da

Receita Federal Jaacute a pessoa juriacutedica tributada na modalidade lucro real poderia

deduzir 40 do valor das doaccedilotildees e 30 do valor dos patrociacutenios observando

inicialmente o limite de 1 do imposto devido Para este uacuteltimo contribuinte tambeacutem

era permitido lanccedilar o valor do apoio (doaccedilatildeo ou patrociacutenio) como despesa

operacional havendo novamente a dupla incidecircncia de isenccedilatildeo fiscal (BRASIL

1991a)

Apesar da raacutepida aprovaccedilatildeo da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) no

Congresso Nacional o decreto que deveria regulamentar a lei teve prazo mais

longo A difiacutecil negociaccedilatildeo do decreto no poder executivo com concomitante

escacircndalo de corrupccedilatildeo envolvendo o Presidente da Repuacuteblica que mais tarde deu

iniacutecio ao processo de impeachment de Fernando Collor (PRNAL) deixou a temaacutetica

da cultura em segundo plano Somente no dia 26 de fevereiro de 1992 foi publicado

o Decreto Nordm 455 que estabelecia as regras de funcionamento da poliacutetica de

financiamento da cultura

No dia 29 de setembro de 1992 a Cacircmara dos Deputados acatou o

pedido de impeachment de Fernando Collor (PRNAL) afastando-o temporariamente

da presidecircncia No dia 2 de outubro o vice-presidente Itamar Franco (PMDBMG)

assumiu interinamente o cargo de chefe do poder executivo federal e fez a troca do

secretaacuterio Seacutergio Rouanet pelo intelectual literaacuterio Antocircnio Houaiss

A Medida Provisoacuteria Nordm 309 de 16 de outubro de 1992 fez a nova

reestruturaccedilatildeo administrativa do governo federal e a Cultura novamente volta a ser

tema ministerial com a recriaccedilatildeo do Ministeacuterio da Cultura (BRASIL 1992a) O agora

55

ministro de cultura Antocircnio Houaiss tinha como missatildeo reorganizar a poliacutetica de

Estado para a aacuterea cultural

Contudo a nova conjuntura governamental privilegiou um segmento da

aacuterea cultural No dia 11 de junho de 1993 foi enviado ao Congresso Nacional o

Projeto de Lei Nordm 390822 que buscava criar um mecanismo de fomento reservado

ao audiovisual Para Sarkovas (2011) os diretores e atores do setor cinematograacutefico

brasileiro por uma maior proximidade com o presidente em exerciacutecio conseguiram

espaccedilo para discutir um mecanismo de financiamento exclusivo que viesse suprir o

vaacutecuo estatal deixado pela extinta Empresa Brasileira de Filmes (EMBRAFILME)

Ao verificar a disposiccedilatildeo administrativa do recriado Ministeacuterio da Cultura

notamos a presenccedila de uma secretaria restrita ao segmento ndash Secretaria para o

Desenvolvimento Audiovisual diferindo das outras trecircs que eram de temaacuteticas gerais

ndash Secretaria de Informaccedilotildees Estudos e Planejamento Secretaria de Intercacircmbio e

Projetos Especiais e Secretaria de Apoio agrave Cultura Ainda em relaccedilatildeo aos oacutergatildeos

estatais ligados ao ministeacuterio foi criada a Comissatildeo Nacional de Incentivo agrave Cultura

para discutir a poliacutetica de financiamento do setor cultural mas paralelamente a ela

funcionava tambeacutem a Comissatildeo de Cinema a fim de debater unicamente sobre o

audiovisual Aparentemente a organizaccedilatildeo estatal privilegiava o setor audiovisual

(BRASIL 1992)

Independente das motivaccedilotildees o Projeto de Lei Nordm 39081993 tramitou

em regime de urgecircncia no Congresso Nacional e foi aprovado no dia 20 de julho de

1993 dando origem agrave Lei Nordm 8685 popularmente conhecida como Lei do

Audiovisual O modelo de fomento idealizado pela legislaccedilatildeo visava agrave criaccedilatildeo da

figura do mecenas por meio de duas modalidades de isenccedilatildeo fiscal ao contribuinte

do Imposto sobre a Renda (IR)

Na primeira modalidade contida no Art 1ordm da Lei do Audiovisual (Lei Nordm

86851993) o projeto de produtora independente23 previamente aprovado pelo

Ministeacuterio da Cultura estaria apto a receber recurso de pessoa fiacutesica ou juriacutedica O

valor do apoio poderia ser deduzido integralmente ateacute o limite de 3 do imposto

22

Tracircmite do projeto de lei disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=217037gt 23

As produtoras independentes satildeo agecircncias de audiovisual que possuem autonomia no desenvolvimento no seu conteuacutedo devido agrave falta de viacutenculo com empresas programadoras distribuidoras eou emissoras de televisatildeo Aleacutem disso natildeo possuem contrato de veto ou exclusividade comercial que impeccedila comercializaccedilatildeo de suas obras para terceiros

56

devido sobre a renda de pessoa fiacutesica e o limite de 1 para pessoa juriacutedica O

mesmo valor autorizado de deduccedilatildeo tambeacutem poderia ser lanccedilado como despesa

operacional diminuindo a quantia do IR a ser pago pelo contribuinte (BRASIL

1993b)

Na praacutetica o mecanismo gerava um benefiacutecio fiscal ao contribuinte

apoiador pois a dupla incidecircncia de deduccedilatildeo gerava um abatimento de 125 do

valor apoiado Aleacutem do mais o apoiador pode se tornar proprietaacuterio do direito de

comercializaccedilatildeo sobre a obra cinematograacutefica tendo participaccedilatildeo no lucro auferido

desde que a operaccedilatildeo de apoio tenha sido feita em corretora no mercado financeiro

de accedilotildees

Esta modalidade de mecenato cultural repetia a foacutermula de financiamento

da Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) com dupla incidecircncia de isenccedilatildeo fiscal no valor

apoiado mas ldquoinovavardquo ume vez que permitia ao contribuinte ser remunerado pelo

sucesso do projeto Aleacutem de natildeo existir recurso privado aplicado no setor

audiovisual o Estado brasileiro ainda permitia ao apoiador receber recurso com o

investimento puacuteblico

A segunda modalidade criada pelo Art 3ordm da lei teve como objetivo

incentivar o produtor estrangeiro agrave coproduccedilatildeo de obras nacionais cinematograacuteficas

(longa meacutedia e curta-metragem) telefilmes minisseacuteries ou a investir no

desenvolvimento de projetos cinematograacuteficos brasileiros de longa-metragem Para

isso o produtor estrangeiro que paga o Imposto sobre a Renda (IR) por conta da

exploraccedilatildeo comercial da sua obra audiovisual em territoacuterio nacional poderia apoiar

projetos de produtoras independentes aprovados pelo Ministeacuterio da Cultura O valor

do apoio poderia ser integralmente deduzido observando o limite de 70 do

imposto devido (BRASIL 1993b)

Esta segunda modalidade de mecenato do audiovisual tinha uma loacutegica

mais coerente com o interesse puacuteblico pois pensava em atrair o produtor

internacional para o cenaacuterio brasileiro incentivando a troca de experiecircncia A

possibilidade de construccedilatildeo de conhecimento e tecnologia cinematograacutefica nacional

poderia dar autonomia futura ao setor do audiovisual

Com a aprovaccedilatildeo da Lei do Audiovisual (Lei Nordm 86851993) faltava a

publicaccedilatildeo do decreto do poder executivo para a poliacutetica passar a funcionar

Paradoxalmente a questatildeo financeira tambeacutem era um problema vivenciado na

gestatildeo do Ministeacuterio da Cultura tanto que a insatisfaccedilatildeo com o baixo orccedilamento

57

somada aos problemas de sauacutede fizeram Antocircnio Houaiss deixar o cargo de

ministro em 1ordm de setembro de 1993 Ficou por conta do ministro Jerocircnimo

Moscardo aprovar o Decreto Nordm 974 em 8 de novembro de 1993 que habilitava o

pleno funcionamento da legislaccedilatildeo do mecenato do audiovisual

De acordo com Sarkovas (2011) o mecanismo de mecenato do

audiovisual natildeo trouxe recurso imediato para o setor pois o teto autorizado de 1

do imposto devido sobre a renda da pessoa juriacutedica era baixo para o apoio exclusivo

de projetos ndash apoiador exclusivo Tambeacutem faltava divulgaccedilatildeo do mecanismo o qual

natildeo era conhecido de grande parte dos produtores e apoiadores

Dificuldade similar na mobilizaccedilatildeo de recurso tambeacutem foi percebida na Lei

Rouanet (Lei Nordm 83131991) (SESI 2007) Tal constataccedilatildeo pode ser observada nos

nuacutemeros disponiacuteveis no sistema do Ministeacuterio da Cultura24 quando apenas dois

apoiadores participaram (R$ 2121278) em 1993 e sete apoiadores (R$

53375157) em 1994

A passagem de Jerocircnimo Moscardo pelo Ministeacuterio da Cultura foi raacutepida

e em 15 de dezembro de 1993 ele foi sucedido pelo advogado Luiz Roberto

Nascimento Silva que havia colaborado com a implantaccedilatildeo da legislaccedilatildeo de apoio

ao audiovisual A nomeaccedilatildeo do novo ministro de cultura aleacutem de mostrar a forccedila do

setor do audiovisual no governo do presidente Itamar Franco (PMDBMG) tambeacutem

vai ao encontro da afirmaccedilatildeo de Rubim (2011) sobre a instabilidade da poliacutetica

estatal de cultura entre os anos de 1985 a 1993 nomeou dez chefes diferentes para

a pasta

A posse do novo Presidente da Repuacuteblica Fernando Henrique Cardoso

(PSDBSP) em janeiro de 1995 natildeo alterou a estrutura ministerial no governo

federal poreacutem novos nomes passaram a ocupar os cargos dos primeiros escalotildees

O cientista poliacutetico Francisco Weffort passou a exercer o cargo de Ministro da

Cultura com a tarefa de dinamizar a poliacutetica de financiamento da aacuterea e encorajar a

parceria entre entidade cultural e iniciativa privada (SESI 2007)

Em 17 de maio deste ano foi publicado o Decreto Nordm 1494 que trazia

nova regulamentaccedilatildeo da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) mas sem grandes

alteraccedilotildees Foi uma atualizaccedilatildeo de nomenclaturas devido agrave alteraccedilatildeo de nome das

24

Sistema da Lei Federal de Incentivo agrave Cultura Disponiacutevel em lthttpsistemasculturagovbrsalicnetgt

58

entidades supervisionadas pelo Ministeacuterio da Cultura e da proacutepria pasta que agrave

eacutepoca do antigo decreto era Secretaria da Cultura da Presidecircncia da Repuacuteblica

(BRASIL 1995b)

A primeira alteraccedilatildeo relevante veio dois dias depois da promulgaccedilatildeo do

decreto com a publicaccedilatildeo da Medida Provisoacuteria Nordm 1003 ampliando o teto da

isenccedilatildeo fiscal cultural de 2 do imposto devido da pessoa juriacutedica 1 na Lei

Rouanet (Lei Nordm 83131991) e 1 na Lei do Audiovisual (Lei Nordm 86851993) para

o somatoacuterio de 5 (BRASIL 1995c) Em de 20 de junho de 1995 a medida

provisoacuteria foi acatada pelo Congresso Nacional e convertida na Lei Nordm 9064

No dia 22 de novembro daquele ano o Decreto Nordm 1711 regulamentou o

Art 34 da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) criando a Ordem do Meacuterito Cultural

Esta foi uma condecoraccedilatildeo nacional agraves pessoas de notoacuteria contribuiccedilatildeo agrave cultura do

paiacutes tendo na figura do Presidente da Repuacuteblica o Gratildeo-Mestre e o Ministro de

Estado da Cultura o Chanceler da ordem Embora natildeo tivesse impacto direto no

funcionamento do mecanismo de financiamento foi uma medida estatal para

reforccedilar a figura pessoal do mecenas cultural (BRASIL 1995d)

A Medida Provisoacuteria Nordm 1515 de 7 de novembro de 1996 fez nova

alteraccedilatildeo no limite percentual da isenccedilatildeo fiscal de pessoa juriacutedica mas agora para o

mecanismo de mecenato do audiovisual O valor que anteriormente era de 1

passou para 3 sem concorrer diretamente com o percentual da Lei Rouanet (Lei

Nordm 83131991) A pessoa juriacutedica tributada na modalidade lucro real estava

autorizada a destinar ateacute 8 do valor do imposto devido sobre a renda para a aacuterea

cultural (BRASIL 1996a)

O limite ampliado do audiovisual teve vida curta porque o Congresso

Nacional na conversatildeo da medida provisoacuteria na Lei Nordm 9323 de 5 de dezembro de

1996 vetou o aumento (BRASIL 1996b) A motivaccedilatildeo foi o conflito de normas uma

vez que o somatoacuterio de 8 ultrapassava a autorizaccedilatildeo existente de 5 na

legislaccedilatildeo do Imposto sobre a Renda (IR) Logo voltou a vigorar o percentual de 4

para a Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) e mais 1 na Lei do Audiovisual (Lei Nordm

86851993)

Outra alteraccedilatildeo pra movimentar financeiramente o setor cultural foi a

efetivaccedilatildeo da transferecircncia do recurso das loterias federais para o Fundo Nacional

de Cultura (FNC) regulamentada pelo Decreto Nordm 2290 de 4 de agosto de 1997

(BRASIL 1997a) Esta foi uma opccedilatildeo estrateacutegica de receita perioacutedica e contiacutenua ao

59

fundo tendo em vista o deacutebil repasse direto do Tesouro Nacional No entanto a

escolha por uma fonte de receita extraorccedilamentaacuteria (lucro das loterias federais)

reflete um enfraquecimento no debate do elemento social no seio do orccedilamento

puacuteblico local onde satildeo definidas as prioridades das poliacuteticas do Estado brasileiro

O Ministeacuterio da Cultura continuava a estudar alteraccedilotildees na poliacutetica de

financiamento cultural para dar mais vigor ao mecanismo de mecenato cultural

Assim em 24 de setembro de 1997 foi publicada a Medida Provisoacuteria Nordm 1589 com

o intuito de modernizar e simplificar os tracircmites dos projetos (BRASIL 1997b) A

medida provisoacuteria foi encaminhada ao Congresso Nacional junto com o ofiacutecio de

justificativa25

[] busca-se os procedimentos simplificar os procedimentos administrados de tramitaccedilatildeo dos processos eliminando-se a submissatildeo e a aprovaccedilatildeo dos projetos culturais a oacutergatildeos colegiados como o Comitecirc Assessor e a Comissatildeo Nacional de Incentivo agrave Cultura [] (BRASIL 1997c p15659)

A extinccedilatildeo do Comitecirc Assessor oacutergatildeo formado exclusivamente por

servidores puacuteblicos e responsaacutevel por representar o interesse estatal na poliacutetica

simbolizou a reduccedilatildeo da intervenccedilatildeo do Estado brasileiro na decisatildeo dos rumos da

poliacutetica de financiamento cultural Poreacutem a supressatildeo do oacutergatildeo natildeo foi

acompanhada pela criaccedilatildeo de uma diretriz puacuteblica para o mecenato cultural o que

acabou elevando o peso das escolhas do setor privado na alocaccedilatildeo e

direcionamento do recurso puacuteblico

O segundo eixo de alteraccedilotildees proposto pela Medida Provisoacuteria Nordm

15891997 teve como ecircnfase criar maior atrativo ao setor privado aumentando o

percentual de deduccedilatildeo fiscal do apoio e privilegiando as manifestaccedilotildees culturais que

o Ministeacuterio da Cultura julgou mais fraacutegeis naquele momento (BRASIL 1997b)

As mudanccedilas promoveram o funcionamento de dois mecanismos de

mecenato cultural dentro da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) O primeiro regido

pelo Art 18 permitia que os projetos de a) artes cecircnicas b) livros de valor artiacutestico

literaacuterio ou humaniacutestico c) muacutesica erudita ou instrumental d) circulaccedilatildeo de

exposiccedilotildees de artes plaacutesticas e) doaccedilotildees de acervos para bibliotecas puacuteblicas e

25

O oficio ldquoEM Interministerial Nordm 01897rdquo acompanhou a proposta de alteraccedilatildeo da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) encaminhada pelo Ministeacuterio da Cultura ao Presidente da Repuacuteblica que por sua vez tambeacutem o despachou ao Congresso Nacional como carta de motivaccedilatildeo do poder executivo Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfedmedpro1997medidaprovisoria-1589-24-setembro-1997-376673-exposicaodemotivos-146331-pehtmlgt

60

para museus tivessem 100 de deduccedilatildeo fiscal Jaacute os projetos das demais

categorias culturais seriam guiados pelo Art 26 que previa a deduccedilatildeo fiscal de 80

nas doaccedilotildees e 70 nos patrociacutenios de pessoa fiacutesica e 40 nas doaccedilotildees e 30

nos patrociacutenios de pessoa juriacutedica Mas para esta uacuteltima contribuinte tambeacutem era

permitido o lanccedilamento do apoio como despesa operacional (BRASIL 1997)

Segundo Sarkovas (2011) a escolha das manifestaccedilotildees culturais do Art

18 foi feita de forma arbitraacuteria e levou em consideraccedilatildeo apenas o relacionamento

que alguns segmentos culturais tinham com o atual governo Por sua vez Brant

(2004) argumenta que a deduccedilatildeo integral das aacutereas indicadas pelo Art 18 foi uma

forma de privilegiar a cultura tradicionalmente institucionalizada e tida como

sinocircnimo de culta em detrimento das manifestaccedilotildees culturais populares

negligenciadas durante toda a gestatildeo do ministro Francisco Weffort

A Medida Provisoacuteria Nordm 15891997 ainda autorizou a inclusatildeo do

pagamento de serviccedilo especializado para a elaboraccedilatildeo de proposta e captaccedilatildeo de

recurso por meio do acreacutescimo do paraacutegrafo uacutenico no Art 28 Este serviccedilo deixava

de ser interpretado como intermediaccedilatildeo do objeto da proposta como acontecia

anteriormente e passava a ser considerado um lobby autorizado para aproximar a

entidade cultural das empresas privadas O serviccedilo foi autorizado a ser incluiacutedo

como despesa do projeto cultural e custeado em grande parte com recurso puacuteblico

(BRASIL 1997b)

De acordo com o SESI (2007) o profissional prestador deste serviccedilo era

detentor do conhecimento das aacutereas tributaacuteria de financcedila e de marketing ainda natildeo

dominadas pela maioria das entidades culturais Por isso este profissional permitiu

uma maior interlocuccedilatildeo do setor cultural com as empresas contribuindo para criar

um mercado de negoacutecios culturais (marketing cultural) e de fortalecimento de

imagem institucional

A consolidaccedilatildeo normativa de todas as mudanccedilas da Medida Provisoacuteria

Nordm 15891997 natildeo foi tema faacutecil para o proacuteprio poder executivo Tanto que a ela foi

reeditada duas vezes (Nordm 1589-1 de 23101997 e Nordm 1589-2 de 20111997) e

antes do teacutermino legal para sua votaccedilatildeo no Congresso Nacional foi alterada pelas

Medidas Provisoacuterias Nordm 1611 (reeditada 12 vezes) Nordm 1739 (reeditada 6 vezes) e

Nordm 1871 (reeditada 4 vezes) ateacute dar origem agrave Lei Nordm 9847 de 23 de novembro de

1999

61

As alteraccedilotildees iniciadas em 1997 fizeram circular mais recurso financeiro

no mecanismo de mecenato cultural Todavia o receio do governo federal em

ultrapassar a meta da renuacutencia fiscal prevista para o ano (1997) o levou agrave publicaccedilatildeo

da Medida Provisoacuteria Nordm 1602 de 14 de novembro de 1997 alterando mais uma

vez o percentual de limite da isenccedilatildeo fiscal dos contribuintes O valor de apoio da

pessoa juriacutedica foi ajustado em 4 do imposto devido sobre a renda para a Lei

Rouanet (Lei Nordm 83131991) mas com 1 autorizado pela Lei do Audiovisual (Lei

Nordm 86851993) concorrente Mais tarde a medida provisoacuteria foi convertida na Lei Nordm

9532 em 10 de dezembro de 1997 (BRASIL 1995d)

Segundo Brant (2004) para aleacutem do pressuposto de modernizaccedilatildeo e

celeridade do mecanismo de mecenato cultural as mudanccedilas na legislaccedilatildeo foram

uma resposta do governo federal para o mercado que estava bastante tendencioso

a apoiar apenas os projetos de audiovisual devido o maior benefiacutecio fiscal

O conjunto de mudanccedilas no mecanismo de mecenato surtiu efeito pois

foi crescente o nuacutemero de projetos aprovados e efetivamente captados aleacutem do

aumento na quantidade de apoiadores conforme pode ser observado nos nuacutemeros

disponiacuteveis no sistema do Ministeacuterio da Cultura Para Moiseacutes (1998) o governo

federal tambeacutem contribuiu com o crescimento do mecenato cultural participando

ativamente com as empresas puacuteblicas

Apesar de o graacutefico demonstrar a evoluccedilatildeo no mecanismo de mecenato

cultural devemos lembrar que grande parte do recurso circulante eacute de origem

puacuteblica oriunda da isenccedilatildeo fiscal Desta forma potencialmente o recurso financeiro

existiria por meio do recolhimento do Imposto sobre a Renda (IR) poreacutem natildeo teria

garantia de aplicaccedilatildeo integral na aacuterea da cultura uma vez que a alocaccedilatildeo

dependeria do debate que envolve a construccedilatildeo do orccedilamento puacuteblico

62

Fonte Elaborado pelo autor a partir dos dados do Ministeacuterio da Cultura atualizado em 29 de maio de 2016

Por isso a escolha por uma via extraorccedilamentaria deve ser regularmente

avaliada pelo Ministeacuterio da Cultura pelo Congresso Nacional pelo Conselho

Nacional de Cultura e demais oacutergatildeos de participaccedilatildeo mista (sociedade civil e poder

puacuteblico) pois se trata de um recurso puacuteblico que natildeo possui as tradicionais amarras

do Estado

Gruman (2011) chama a atenccedilatildeo para natildeo se perder de vista a finalidade

da legislaccedilatildeo em atrair capital privado para a aacuterea poreacutem alerta para a excessiva

mercantilizaccedilatildeo da cultura durante o governo do presidente Fernando Henrique

Cardoso (PSDBSP) Para o autor a cultura perde a identidade de elemento social

da cidadania e passa a ser tratado como mercadoria a ser enquadrada agraves ldquoleis de

mercadordquo

A reeleiccedilatildeo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDBSP) e a

manutenccedilatildeo do Ministeacuterio da Cultura na reestruturaccedilatildeo administrativa feita pela

Medida Provisoacuteria Nordm 1651-43 de 5 de maio de 1998 marcam um periacuteodo de

estabilidade na aacuterea estatal da cultura (BRASIL 1998b) Para Rubim (2011) um dos

grandes problemas no periacuteodo foi que o mecenato cultural virou um quase sinocircnimo

Graacutefico 1 ndash Desempenho da Lei Rouanet no periacuteodo de 1993 a 1998

63

da poliacutetica cultural muito embora esta segunda fosse mais ampla e necessaacuteria para

direcionar o financiamento do setor

Em 6 de setembro de 2001 a Medida Provisoacuterio Nordm 2228 criou a Poliacutetica

Nacional do Cinema e a Agecircncia Nacional do Cinema (ANCINE) aleacutem de outros

oacutergatildeos do setor para dar direcionamento agrave poliacutetica de financiamento cinematograacutefico

brasileiro (BRASIL 2001b) A medida provisoacuteria poderia sinalizar para uma alteraccedilatildeo

na gestatildeo da cultura com maior regulaccedilatildeo do Estado brasileiro poreacutem na verdade

foi uma resposta pontual ao ldquoDiagnoacutestico da cadeia produtiva do audiovisualrdquo que

apontava para o fracasso do mecanismo para criar a sustentabilidade do setor

(SARKOVAS 2011 p53) A medida provisoacuteria tambeacutem prorrogou a vigecircncia da Lei

do Audiovisual (Lei N 86851993) que estava prevista para durar 10 anos ou seja

ateacute 2003

O decorrer da gestatildeo do ministro Francisco Weffort natildeo trouxe outras

novidades para a aacuterea cultural a natildeo ser o contiacutenuo esvaziamento da importacircncia

do Ministeacuterio da Cultura o qual segundo Rubim (2011) fechou o ano de 2002 com

o percentual de 014 de participaccedilatildeo no orccedilamento puacuteblico da Uniatildeo Enquanto

isso o mecanismo de mecenato cultural seguia funcionando sem contingenciamento

de despesas e com valor de renuacutencia fiscal quase igualado agrave dotaccedilatildeo orccedilamentaacuteria

do ministeacuterio (SESI 2007)

A eleiccedilatildeo e posse do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (PTSP) em

2002 manteve o status ministerial para a cultura poreacutem teve o compositor e cantor

Gilberto Gil como o primeiro Ministro de Estado de Cultura desta gestatildeo Para Rubim

(2011) o novo ministro buscou resgatar o protagonismo do Estado no

desenvolvimento de uma poliacutetica nacional de cultura e ampliar a concepccedilatildeo da aacuterea

para aleacutem do tradicional erudito e claacutessico

Em relaccedilatildeo agrave reforma e aprimoramento da Lei Rouanet (Lei Nordm

83131991) Sarkovas (2011) comenta que o processo de visita e consulta

democraacutetica a vaacuterios municiacutepios do paiacutes movimento denominado Cultura para

Todos iniciado pelo ministro Gilberto Gil foi bastante longo e pouco efetivo devido agrave

falta de um plano estrateacutegico

Todavia no dia 27 de abril de 2006 foi publicado o Decreto Nordm 576

trazendo nova regulamentaccedilatildeo agrave Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) No Art 2ordm satildeo

listadas 13 finalidades para o apoio da poliacutetica de financiamento o que caracteriza

uma iniciativa do poder executivo em traccedilar uma diretriz puacuteblica ao mecanismo Foi

64

criada para o Fundo Nacional de Cultura uma comissatildeo exclusiva formada por

servidores puacuteblicos para avaliar os projetos e definir criteacuterios para a liberaccedilatildeo do

recurso atendendo a uma antiga reivindicaccedilatildeo do setor cultural por mais

transparecircncia na gestatildeo (BRASIL 1997e)

Por sua vez no dia 12 de dezembro de 2007 foi publicado o Decreto Nordm

6304 trazendo novo regramento ao funcionamento da Lei do Audiovisual (Lei Nordm

86851993) O decreto natildeo alterou a forma de operaccedilatildeo do mecanismo de

mecenato do audiovisual poreacutem trouxe maior institucionalidade ao apresentar regras

que estavam expressas apenas em portarias ou instruccedilotildees normativas

O ministro Gilberto Gil continuou no cargo ateacute o dia 30 de julho de 2008

quando acabou se afastando por motivos pessoais Foi substituiacutedo pelo Secretaacuterio

Executivo Juca Ferreira que ficou ateacute o final do mandato do Presidente da

Repuacuteblica Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (PTSP) O ministro Juca Ferreira tambeacutem teve

passagem no governo da Presidente da Repuacuteblica Dilma Rousseff (PTDF) no

periacuteodo de 1ordm de janeiro de 2015 a 12 de maio de 2016 e tem como marca o

discurso sobre o resgate da contrapartida de capital privado na Lei Rouanet (Lei Nordm

83131991) Este debate passa pelo enfretamento do tema no poder legislativo mas

encontra restriccedilatildeo no proacuteprio setor cultural por receio de queda de recurso para a

aacuterea

Enfim apesar da posse de um governo de matriz mais igualitaacuteria e de

intervenccedilatildeo do Estado nas aacutereas sociais a poliacutetica de financiamento ao setor cultural

continuou tendo grande viacutenculo com o modelo de mecenato Buscou-se

democratizar o acesso ao mecanismo para novos segmentos culturais poreacutem a

foacutermula de investimento quase integral de recurso puacuteblico pela via extraorccedilamentaacuteria

continuou intacta

32 A criaccedilatildeo do mecenato esportivo

Podemos notar que o percurso de elaboraccedilatildeo da poliacutetica de

financiamento da cultura natildeo foi linear nem tampouco seguiu uma diretriz de

desenvolvimento Foi construiacuteda por uma confluecircncia de atores e pressotildees setoriais

que variaram durante os governos Mas ao longo de todo o periacuteodo uma

65

caracteriacutestica se manteve comum a todos os governantes a busca de promoccedilatildeo das

entidades culturais atraveacutes da aproximaccedilatildeo com o setor privado

A princiacutepio a promoccedilatildeo se daria pelo incentivo agrave criaccedilatildeo da figura do

mecenas cultural tendo como plano de fundo a dificuldade econocircmica vivida pelo

Estado brasileiro Poreacutem a instabilidade estatal na aacuterea da cultura marcada pela

sucessiva troca de ministros e pela criaccedilatildeoextinccedilatildeo de entidades responsaacuteveis pela

regulaccedilatildeo dos setores culturais esmaeceu o objetivo primordial do mecanismo de

fundir recurso privado ao capital puacuteblico investido

Vaacuterias reformas foram realizadas no mecenato cultural e aos poucos o

Estado brasileiro foi se afastando da posiccedilatildeo de orientador do financiamento cultural

Ao mesmo tempo em que os recursos puacuteblicos se distanciavam mais mais era

injetado de forma indireta no setor por meio da ampliaccedilatildeo nos atrativos fiscais para

o setor privado A missatildeo do mecanismo migrava do foco de atrair capital privado

para estimular um forte mercado cultural baseado no marketing e no fortalecimento

de marcas institucionais

A maior oferta de recurso expandiu a produccedilatildeo cultural no paiacutes mas

tambeacutem reforccedilou desigualdades geograacuteficas e de manifestaccedilotildees Problemas de

concentraccedilatildeo de recurso em regiotildees onde tradicionalmente jaacute tinham boa estrutura

institucional e a carecircncia de apoio financeiro agraves expressotildees populares satildeo dilemas

a serem superados pela sociedade e pelo Estado por conta dos arranjos da poliacutetica

de financiamento (GRUMAN 2011)

Contudo independente das imperfeiccedilotildees de funcionamento o mecanismo

de mecenato tem sido um modelo aacutegil para levar o recurso agraves iniciativas oriundas da

sociedade civil organizada Tanto que tem sido foco de expansatildeo para outras aacutereas

de poliacutetica social como esporte sauacutede idoso crianccedila e adolescente pesquisa etc

Mas a proliferaccedilatildeo do mecanismo de mecenato natildeo pode eliminar o enfretamento

que a sociedade e o poder legislativo loacutecus do debate puacuteblico tecircm que fazer para

garantir os rumos de desenvolvimento da cidadania social

O esporte foi o segundo elemento social a buscar um mecanismo de

financiamento pela via da isenccedilatildeo fiscal e aproximaccedilatildeo com o setor privado nos

moldes da Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) Ainda durante as discussotildees de

elaboraccedilatildeo do novo texto constitucional o Deputado Federal Antocircnio Carlos Mendes

66

Thame (PSDBSP) apresentou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei Nordm 41826 de

2 de marccedilo de 1988 tratando sobre benefiacutecios fiscais para o esporte amador

Como justificativa o autor da proposta mencionou o apreccedilo da populaccedilatildeo

pela praacutetica esportiva reforccedilando a perspectiva do objeto como elemento social da

cidadania conforme estava sendo trabalhado na Assembleia Nacional Constituinte

Por outro lado o deputado exibiu o setor privado como importante provedor deste

direito haja vista que a ldquoassistecircncia governamental faz-se de modo desorganizado e

middotquase insignificanterdquo (BRASIL 1988b p438) Por isso a necessidade de ampliar o

financiamento agraves entidades esportivas como meio de expandir o acesso da

populaccedilatildeo ao esporte

O projeto teve tracircmite raacutepido nas Comissotildees de Constituiccedilatildeo e Justiccedila de

Esporte e Turismo e de Financcedilas na Cacircmara dos Deputados imprimindo apenas

uma emenda ao texto original No dia 14 de setembro de 1988 o relator Deputado

Federal Maacutercio Braga (PMDBRJ) apresentou na plenaacuteria da casa a aprovaccedilatildeo do

meacuterito da proposta Poreacutem ao pronunciar sobre o tema argumentou acerca do

deferimento fazendo uma relaccedilatildeo direita entre o baixo investimento no esporte

amador e a falta de profissionalismo do setor Ou seja o deputado estava

defendendo o esporte amador como uma sequecircncia evolutiva para o esporte

profissional e natildeo como duas possiacuteveis expressotildees do fenocircmeno esportivo

Na sua justificaccedilatildeo o ilustre representante revela o seu intuito de proteger o esporte amador praacutetica extremamente apreciada pelo povo e que tem suprido geralmente a ausecircncia de recursos para o profissionalismo Somente as entidades particulares contribuem para essa atividade esportiva sem qualquer assistecircncia do Estado Natildeo pode o Poder Puacuteblico ignorar o amadorismo desportivo no Paiacutes motivo dos nossos modestos desempenhos nos jogos oliacutempicos Natildeo temos como e nem por que discordar da justificaccedilatildeo muito menos dos termos do Projeto que prevecirc detalhadamente sua pr6pria execuccedilatildeo natildeo faltando a penalogia para os infratores Far-se-ia com o desporto amador o mesmo que o Presidente Sarney tem buscado fazer pela cultura (BRASIL 1988c p2465)

Apesar da contradiccedilatildeo terminoloacutegica do relator o projeto foi aprovado na

sessatildeo e encaminhado para apreciaccedilatildeo do Senado Federal No dia 25 de novembro

de 1988 o projeto retornou agrave Cacircmara dos Deputados com nove emendas ao texto

original Poucos dias depois foi reapresentado na sessatildeo plenaacuteria da casa e

26

Projeto de Lei Nordm 418 Disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=176602gt

67

aprovado com todas as indicaccedilotildees do Senado Federal O projeto seguiu para a

promulgaccedilatildeo do Presidente Joseacute Sarney (PMDBMA) mas no dia 21 de dezembro

foi vetado sob a justificativa de incompatibilidade teacutecnica da legislaccedilatildeo tendo em

vista a recente reforma da lei do Imposto sobre a Renda (IR)

O projeto que visava criar a figura do mecenas para o esporte pelo

estiacutemulo fiscal mas tambeacutem tinha isenccedilatildeo do Imposto sobre Produto Industrializado

(IPI) e Imposto sobre Importaccedilatildeo (II) para a aquisiccedilatildeo de equipamentos esportivos e

autorizaccedilatildeo de envio de recurso financeiro livre de imposto para atleta ou entidade

esportiva que estivesse fora do paiacutes participando de competiccedilatildeo internacional foi

avaliado como excessivo O conjunto de desoneraccedilatildeo tributaacuteria e a dificuldade de

controle fiscal reforccedilaram a justificativa de veto do presidente (BRASIL 1988d)

No retorno do projeto agrave Cacircmara dos Deputados foi instituiacuteda Comissatildeo

Parlamentar Mista para avaliar o veto presidencial No dia 22 de marccedilo de 1989 o

Deputado Federal Denisar Arneiro (PMDBRJ) fez um discurso na sessatildeo plenaacuteria

defendendo os benefiacutecios do Projeto de Lei Nordm 4181988 No entanto mais uma

vez a defesa do incentivo fiscal natildeo estava na garantia do direito social ao esporte

agora jaacute consagrado no Art 217 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 mas na

necessidade de massificar a praacutetica esportiva visando aumentar a base do esporte

de alto rendimento

Sr Presidente Srordf e Srs Deputados o que eacute necessaacuterio para a Fabricaccedilatildeo de um atleta Por que defendemos que o Brasil precisa urgentemente igualar-se agraves Grandes naccedilotildees esportivas do mundo Por considerarmos que estaacute em nossas matildeos a soluccedilatildeo que julgamos simples de contarmos com a boa vontade hoje do Congresso Nacional rejeitando o veto do Sr Presidente da Repuacuteblica ao Projeto de Lei Nordm 418-D88 Poderiacuteamos nos estender mais dando alguns paracircmetros para a formaccedilatildeo de um atleta que natildeo eacute tatildeo simples como parece mas que depende de uma massificaccedilatildeo esportiva a fim de revelar novos valores Teriacuteamos depois a avaliaccedilatildeo dos atletas com um periacuteodo de adestramento que depende de a) tratamento meacutedico b) alimentaccedilatildeo adequada c) escolaridade necessaacuteria de assimilaccedilatildeo mental d) desenvolvimento teacutecnico e taacutetico e) manutenccedilatildeo do indiviacuteduo para poder competir f) famiacutelia com suporte emocional do atleta (BRASIL 1989a p1400)

Em 5 de abril de 1989 a Cacircmara dos Deputados rejeitou o veto

presidencial e manteve a aprovaccedilatildeo do texto com as vaacuterias isenccedilotildees fiscais O

projeto foi reencaminhado ao presidente Joseacute Sarney (PMDBMA) que natildeo se

pronunciou sobre o tema e tatildeo pouco promulgou a lei Por esgotamento do prazo

legal para manifestaccedilatildeo do poder executivo o projeto foi convertido na Lei Nordm 7752

68

de 14 de abril de 1989 pelo presidente do Senado Federal Nelson Carneiro

(PMDBRJ)

Desta forma em aparente desacordo entre poder executivo e legislativo

foi aprovada a primeira lei de incentivo fiscal ao esporte no paiacutes a Lei Mendes

Thame (Lei Nordm 77521989) A nova legislaccedilatildeo autorizava trecircs modalidades de apoio

ao esporte doaccedilatildeo patrociacutenio e investimento A primeira tratava da transferecircncia

definitiva de bens ou dinheiro agrave entidade esportiva mas sem retorno financeiro ou

publicitaacuterio para o apoiador O suporte financeiro agrave categoria de base esportiva ateacute o

niacutevel Junior tambeacutem tinha status de doaccedilatildeo logo sendo permitida a deduccedilatildeo integral

do valor apoiado O patrociacutenio caracterizava pela promoccedilatildeo do apoiador por meio

da atividade esportiva mas sem proveito financeiro ou patrimonial direto Nesta

modalidade era permitida a deduccedilatildeo de ateacute 80 do valor patrocinado Jaacute o

investimento permitia que o apoiador tivesse retorno financeiro ou patrimonial sobre

a accedilatildeo esportiva Por isso era autorizada a deduccedilatildeo maacutexima de 50 da quantia

investida (BRASIL 1989b)

Nas modalidades patrociacutenio e investimento a pessoa juriacutedica ainda tinha o

incentivo de acumular anualmente mais 5 de deduccedilatildeo fiscal ateacute alcanccedilar o

percentual similar agrave doaccedilatildeo (100) para cada ano de apoio ininterrupto a projeto

esportivo Desta maneira o apoio posterior a dez anos na modalidade investimento

ou 4 anos na patrociacutenio geraria a deduccedilatildeo integral e apesar da criaccedilatildeo do viacutenculo

da entidade esportiva com o setor privado o financiamento passaria a ser todo de

origem puacuteblica pela via da isenccedilatildeo fiscal

A pessoa fiacutesica estava autorizada a apoiar ateacute o limite de 10 da sua

renda bruta enquanto a pessoa juriacutedica o valor de apoio era de 4 do imposto

devido sobre a renda A legislaccedilatildeo aleacutem de criar o mecanismo de mecenato

esportivo de forma bastante parecida com a idealizada pela Lei Sarney (Lei Nordm

75051986) tambeacutem criava benefiacutecios tributaacuterios agrave cadeia do esporte de

rendimento O atleta em competiccedilatildeo oficial fora do paiacutes e com devida autorizaccedilatildeo do

Conselho Nacional de Desportos (CND) ficava dispensado do pagamento de

qualquer imposto sobre empreacutestimo financeiro operaccedilatildeo de cambio e compra de

passagem internacional Por sua vez a entidade esportiva teria isenccedilatildeo integral do

Imposto sobre Importaccedilatildeo (II) para a aquisiccedilatildeo de equipamento esportivo de

fabricaccedilatildeo estrangeira que natildeo tivesse similar nacional Mais tarde a Lei Nordm 7988

69

de 28 de dezembro de 1989 alterou a isenccedilatildeo de 100 do Imposto sobre

Importaccedilatildeo (II) para 50

A Lei Mendes Thame (Lei Nordm 77521989) exibiu no Art 2ordm as aacutereas de

intervenccedilatildeo onde podemos notar accedilotildees tanto de estiacutemulo ao esporte amador

quanto ao de rendimento muito embora a legislaccedilatildeo se anunciasse como exclusiva

para o esporte amador

Art 2ordm Para os objetivos da presente Lei consideram-se atividades desportivas I - a firmaccedilatildeo desportiva escolar e universitaacuteria II - o desenvolvimento de programas desportivos para o menor carente o idoso e o deficiente fiacutesico III - o desenvolvimento de programas desportivos nas proacuteprias empresas em benefiacutecio de seus empregados e respectivos familiares IV - conceder precircmios a atletas nacionais em torneios e competiccedilotildees realizados no Brasil V - doar bens moacuteveis ou imoacuteveis a pessoa juriacutedica de natureza desportiva cadastrada no Ministeacuterio da Educaccedilatildeo VI - o patrociacutenio de torneios campeonatos e competiccedilotildees desportivas amadoras VII - erigir ginaacutesios estaacutedios e locais para praacutetica de desporto VIII - doaccedilatildeo de material desportivo para entidade de natureza desportiva IX - praacutetica de jogo de xadrez X - doaccedilatildeo de passagens aeacutereas para que atletas brasileiros possam competir no exterior XI - outras atividades assim consideradas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (BRASIL 1989b p1 grifo nosso para destacar o incentivo ao esporte de

rendimento)

O controle no cadastro das entidades esportivas e na operacionalizaccedilatildeo

da Lei Mendes Thame (Lei Nordm 77521989) ficou sob a responsabilidade do

Conselho Nacional de Desportos (CND) na eacutepoca oacutergatildeo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

A discussatildeo no poder executivo perdurou durante o ano de 1989 e somente no dia

18 de dezembro foi publicado o Decreto Nordm 98595 regulamentando o

funcionamento do mecanismo de mecenato esportivo Cabe ressaltar que o decreto

ao inveacutes de utilizar o termo esporte amador usou a expressatildeo esporte natildeo

profissional como maneira de delimitar a natildeo utilizaccedilatildeo do recurso para o esporte

profissional e de alto rendimento

Em 13 de marccedilo de 1990 a Instruccedilatildeo Normativa Nordm 31 da Secretaria da

Receita Federal normatizou a forma dos depoacutesitos de apoio ao mecenato esportivo

autorizando o pleno funcionamento do mecanismo (BRASIL 1990c) Todavia dois

dias depois com a posse do novo Presidente da Repuacuteblica Fernando Collor

(PRNAL) foi publicada a Medida Provisoacuteria Nordm 161 alterando a legislaccedilatildeo do

70

Imposto sobre a Renda (IR) e suspendendo por tempo indeterminado todos os

incentivos fiscais (BRASIL 1990b)

Algumas isenccedilotildees fiscais voltaram a vigorar no paiacutes como o caso do

mecenato cultural mas a poliacutetica de financiamento para o esporte criada pela Lei

Mendes Thame (Lei Nordm 77521989) natildeo foi mais debatida Parte do esquecimento

desta legislaccedilatildeo tem haver com a divergecircncia de conceitos em relaccedilatildeo ao debate

conduzido na Assembleia Nacional Constituinte Isto eacute a Lei Mendes Thame (Lei Nordm

77521989) tinha grande fundamentaccedilatildeo na Lei Nordm 62511975 a qual era entendida

como ultrapassada para a nova concepccedilatildeo do fenocircmeno esportivo Desta forma era

necessaacuterio discutir a legislaccedilatildeo esportiva antes de pensar em uma poliacutetica de

financiamento para o setor

A nova organizaccedilatildeo estatal dada pela Medida Provisoacuteria Nordm 150 de 15 de

marccedilo de 1990 criou uma estrutura que apoiava o desenvolvimento do esporte

nacional Cabe mencionar que enquanto o setor cultural amargava o rebaixamento

do Ministeacuterio da Cultura ao status de Secretaria da Cultura da Presidecircncia da

Repuacuteblica o setor esportivo comemorava a criaccedilatildeo da Secretaria do Desporto da

Presidecircncia da Repuacuteblica27 (BRASIL 1990a)

Somente apoacutes a superaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo de uma norma geral (Lei Zico -

Lei Nordm 86721993 e depois Lei Peleacute - Lei Nordm 9615) a elevaccedilatildeo do tema a niacutevel

ministerial (Ministeacuterio do Esporte e Turismo 1999 a 2002 Ministeacuterio do Esporte a

partir de 2003) a formalizaccedilatildeo de uma poliacutetica de fomento ao esporte de alto

rendimento (Lei AgneloPiva - Lei Nordm 102642001) e a organizaccedilatildeo de dois foacuteruns

nacionais de debate (a 1ordf Conferecircncia Nacional de Esporte em 2004 e a 2ordf

Conferecircncia Nacional de Esporte em 2006) a aacuterea do esporte se mostrou madura

para reivindicar mais recurso por meio da ampliaccedilatildeo da poliacutetica de financiamento

Os primoacuterdios do corrente modelo de mecenato esportivo surgiram do

Projeto de Lei Nordm 136728 de 01 de julho de 2003 do Deputado Federal Bismarck

Maia (PSDBCE) O projeto teve tracircmite demorado pois vaacuterias outras propostas29 de

27

Antes da criaccedilatildeo da Secretaria do Desporto da Presidecircncia da Repuacuteblica a temaacutetica do esporte era atribuiacuteda agrave Secretaria de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desporto oacutergatildeo vinculado ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo 28

Tracircmite do projeto de lei disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=122383gt 29

Os demais projetos de lei que foram apresentados na Cacircmara dos Deputados e apreciados para compor o texto final do Projeto de Lei Nordm 13672003 foi PL Nordm 1663 (12082003) - Deputado Federal Antocircnio Carlos Mendes Thame (PSDBSP) PL Nordm 2331 (21102003) - Deputado Federal Ronaldo Vasconcellos (PTBMG) PL Nordm 4207 (06102004) - Deputado Federal Takayama

71

conteuacutedo similar foram apresentadas e incorporadas ao texto original durante sua

anaacutelise na Comissatildeo do Turismo e Desporto da Cacircmara dos Deputados

Em setembro de 2003 o Deputado Federal Bismarck Maia (PSDBCE)

solicitou agrave presidecircncia da Cacircmara dos Deputados a realizaccedilatildeo de uma audiecircncia

puacuteblica com os representantes do Comitecirc Oliacutempico Brasileiro (COB) da Comissatildeo

Nacional de Atletas (CNA) e da Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento

para auxiliarem no parecer da comissatildeo O que demonstra que mesmo apoacutes o

esporte de rendimento jaacute ter conquistado uma fonte exclusiva de financiamento pela

Lei AgneloPiva (Lei Nordm 102642001) seus atores continuavam a ser peccedila

fundamental para a formulaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo do mecanismo de mecenato esportivo

Do periacuteodo de 19 de agosto de 2003 a 22 de junho de 2005 o projeto

esteve em discussatildeo na Comissatildeo do Turismo e Desporto verificando o meacuterito da

proposta Nos dois pareceres emitidos pela respectiva comissatildeo foi citada a Lei

AgneloPiva (Lei Nordm 102642001) como um mecanismo de financiamento beneacutefico

ao setor do esporte de rendimento poreacutem insuficiente para suprir agrave demanda da

diversidade e da abrangecircncia territorial do paiacutes Aleacutem disso a legislaccedilatildeo vigente

negligenciava as modalidades natildeo oliacutempicas inclusive as genuinamente nacionais

previstas no inciso IV do Art 217 e as manifestaccedilotildees esportivas educacionais e de

participaccedilatildeo Nesse sentido a Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) e a Lei Rouanet (Lei

Nordm 83131991) eram lembradas como alternativa de poliacutetica de financiamento para

suprir a deficiecircncia de recurso para as lacunas deixadas pela Lei AgneloPiva (Lei

Nordm 102642001)

Cabe ressaltar que o Projeto de Lei Nordm 13672003 previa duas

modalidades de apoio por meio de isenccedilatildeo no imposto devido sobre a renda a

doaccedilatildeo sem vantagem financeira ou patrimonial para o apoiador permitindo 100

de deduccedilatildeo fiscal e o patrociacutenio com vantagem promocional ao apoiador com

autorizaccedilatildeo de 75 de deduccedilatildeo

O projeto de mecenato esportivo somente tomou corpo com o envio ao

Congresso Nacional do Projeto de Lei Nordm 6999 de 08 de maio de 2006

acompanhado de pedido de urgecircncia Esta era uma medida do Ministeacuterio do Esporte

(PMDBPR) PL Nordm 4306 (21102004) - Deputado Federal Joaquim Francisco (PTBPE) e por fim PL Nordm 6999 (08102006) de iniciativa do poder executivo Disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=122383gt

72

para ser apresentada na 2ordf Conferecircncia Nacional do Esporte como possibilidade de

mecanismo de fomento para a aacuterea

A proposta de iniciativa do poder executivo foi agregada ao Projeto de Lei

Nordm 13672003 e depois de uma raacutepida passagem pela Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e

Justiccedila e de Cidadania para apreciaccedilatildeo da constitucionalidade foi encaminhada agrave

Comissatildeo de Financcedilas e Tributaccedilatildeo para anaacutelise de viabilidade operacional

Do dia 14 de junho a 2 de agosto de 2006 o projeto esteve na pauta de

discussotildees da Comissatildeo de Financcedilas e Tributaccedilatildeo tendo como relator o Deputado

Federal Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) Aleacutem das reuniotildees da comissatildeo o projeto de

lei foi debatido por seis vezes na plenaacuteria da Cacircmara dos Deputados O parecer30 do

relator da comissatildeo se mostrou favoraacutevel agrave proposta apesar alertar sobre as criacuteticas

que o sistema de mecenato havia recebendo

Os incentivos fiscais de outra parte tecircm sido vistos com certa desconfianccedila pelos doutrinadores que se dedicam ao estudo das financcedilas puacuteblicas porque trazem distorccedilotildees na aplicaccedilatildeo dos recursos do Estado em prejuiacutezo na sua visatildeo de aspectos como a isonomia a transparecircncia e a seguranccedila quanto agrave correta realizaccedilatildeo das despesas Natildeo se pode negar no entanto que tais incentivos tecircm representado impulso importantiacutessimo em vaacuterias aacutereas como no Desenvolvimento Regional por exemplo ou na Pesquisa Tecnoloacutegica ou no jaacute mencionado campo da Cultura demonstrando que a despeito dos questionamentos teoacutericos configuram soluccedilatildeo eficaz para os setores beneficiados Assim uma vez providenciados mecanismos que garantam a regularidade da realizaccedilatildeo da despesa e a transparecircncia dos criteacuterios de concessatildeo dos benefiacutecios parece claro que os incentivos em questatildeo podem contribuir para o desenvolvimento do desporto e do para desporto em nosso Paiacutes (BRASIL 2006c p6)

Contudo o maior problema natildeo estava no modelo de financiamento

escolhido mas na falta de um estudo preacutevio que demonstrasse o impacto na

arrecadaccedilatildeo da Uniatildeo que um mecanismo de isenccedilatildeo fiscal ao esporte poderia

trazer de imediato Aleacutem disso a incerteza financeira da medida contrariava o Art 99

da Lei de Diretrizes Orccedilamentaacuterias de 2006 (LDO Nordm 111782015) e o Art 14 da Lei

de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar Nordm 1012000) que exigiam

estimativa de renuacutencia de receita para o ano de iniacutecio da vigecircncia e nos dois

30

Parecer da Comissatildeo de Financcedilas e Tributaccedilatildeo da Cacircmara dos Deputados emitido pelo Deputado Federal Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) sobre o Projeto de Lei Nordm Nordm 13672003 que trata do mecanismo de financiamento ao esporte (Lei Federal de Incentivo ao Esporte) Disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebprop_mostrarintegracodteor=403294ampfilename=Tramitacao-PL+13672003gt

73

subsequentes como garantia de natildeo haver prejuiacutezo agraves metas fiscais do governo

federal (BRASIL 2006c)

Nesse sentido o relator propocircs trecircs soluccedilotildees para o impasse A primeira

seria prever a queda de receita na Lei Orccedilamentaacuteria Anual de 2007 sem impacto na

meta fiscal Todavia natildeo foi uma soluccedilatildeo possiacutevel devido agrave falta de previsibilidade

financeira do novo mecanismo A segunda alternativa consistia em diminuir

despesas de outras aacutereas que compensasse o financiamento no esporte Poreacutem

mais uma vez a soluccedilatildeo esbarrava na inexistecircncia de previsatildeo financeira para poder

realizar cortes aleacutem da tradicional falta de prestiacutegio do esporte na pauta

orccedilamentaacuteria A terceira e selecionada soluccedilatildeo foi a de incluir o novo mecanismo de

financiamento junto agrave previsatildeo de renuacutencia orccedilamentaacuteria jaacute existente para outras

poliacuteticas de isenccedilatildeo fiscal

A primeira dessas condiccedilotildees eacute a comprovaccedilatildeo de que a renuacutencia foi considerada na estimativa de receita da lei orccedilamentaacuteria e que natildeo afetaraacute as metas de resultados fiscais previstos no anexo proacuteprio da lei de diretrizes orccedilamentaacuterias A outra que a proposiccedilatildeo contemple medidas de compensaccedilatildeo no periacuteodo mencionado por meio da reduccedilatildeo de outras despesas ou do aumento de receita proveniente da elevaccedilatildeo de aliacutequotas ampliaccedilatildeo de base de caacutelculo majoraccedilatildeo ou criaccedilatildeo de tributo ficando a entrada em vigor do benefiacutecio condicionada agrave implementaccedilatildeo dessas medidas Os projetos ora sob anaacutelise assim como as emendas apresentadas em Plenaacuterio deixaram de oferecer medidas compensatoacuterias para a renuacutencia de receita decorrente dos benefiacutecios fiscais propostos de modo que apenas se podem reputar adequadas as proposiccedilotildees que evidenciem ainda que implicitamente terem sido consideradas na estimativa da receita orccedilamentaacuteria Tal condiccedilatildeo atende apenas as que limitam as reduccedilotildees do tributo devido por doaccedilotildees patrociacutenios ou investimentos realizados com finalidade desportiva ao teto jaacute estabelecido em lei para outras doaccedilotildees patrociacutenios e investimentos uma vez que nesses casos o valor maacuteximo da renuacutencia fiscal natildeo se altera permanecendo vaacutelidas as previsotildees de arrecadaccedilatildeo consignadas na Lei Orccedilamentaacuteria (BRASIL 2006c p5)

Inicialmente os parlamentares escolheram colocar o mecanismo de

mecenato esportivo junto agrave renuacutencia orccedilamentaacuteria prevista para a Lei Rouanet (Lei

Nordm 83131991) Entretanto o compartilhamento despertou o descontentamento da

ala cultural do paiacutes receosa com a perda de recurso Tambeacutem existia o temor da

migraccedilatildeo do apoio cultural para o esporte principalmente pela sua capacidade em

gerar miacutedia espontacircnea o que poderia ser um atrativo a mais ao benefiacutecio fiscal

No dia 28 de novembro de 2006 o projeto foi apresentado na plenaacuteria da

Cacircmara dos Deputados onde recebeu emendas ao texto legal e acabou retornando

agraves comissotildees para correccedilatildeo Com o texto atualizado o projeto foi encaminhado ao

74

Senado Federal para apreciaccedilatildeo no dia 06 de dezembro daquele ano O Senado

Federal sugeriu duas emendas ao texto do projeto de lei sendo que uma delas

visava minimizar a repercussatildeo negativa da legislaccedilatildeo com o setor cultural

Foi sugerido alterar a origem da renuacutencia orccedilamentaacuteria da previsatildeo da Lei

Rouanet (Lei Nordm 83131991) para a do Programa de Alimentaccedilatildeo do Trabalhador

(PAT)31 O tema foi levado agrave discussatildeo na sessatildeo extraordinaacuteria da Cacircmara dos

Deputados em 20 de dezembro de 2006 Esta era a uacuteltima sessatildeo do ano antes do

recesso do legislativo e caso o projeto de lei natildeo fosse aprovado natildeo teria como

entrar em vigor no ano fiscal de 2007

Apoacutes uma calorosa discussatildeo entre os parlamentares e o impasse sobre

a origem da renuacutencia fiscal o Deputado Federal Agnelo Queiroz (PCdoBDF)

esclareceu a todos sobre as opccedilotildees de voto para a resoluccedilatildeo da aprovaccedilatildeo da lei de

financiamento ao esporte

Sr Presidente [Aldo Rabelo] eacute preciso que a Casa [Cacircmara dos Deputados] seja esclarecida definitivamente A emenda do Senado coloca a isenccedilatildeo do esporte com o Programa de Alimentaccedilatildeo do Trabalhador que com 30 anos de existecircncia teve ano passado [2005] desconto de 207 milhotildees ou seja 03 do total a que tem direito - 4 Portanto o projeto natildeo retira dinheiro do PAT coisa nenhuma porque esse programa jaacute estaacute consolidado haacute 30 anos Temos de tomar providecircncias para ampliaacute-lo Eacute esse o compromisso que todos temos de ter presente Colocar a isenccedilatildeo do esporte com o PAT natildeo retira dinheiro de recurso do trabalhador Agora o projeto da Cacircmara representa uma outra opccedilatildeo isto eacute ficar com a cultura A cultura teve isenccedilatildeo de 600 milhotildees no ano passado [2005] montante muito superior aos 200 milhotildees do PAT Esclarecidos os nuacutemeros vamos optar a favor do acordo feito no Senado que eacute junto com o PAT e natildeo tira dinheiro dele ou optar pelo texto da Cacircmara que eacute junto com a cultura e tambeacutem natildeo tira dinheiro da cultura (BRASIL 2006d p 56726)

Assim a Cacircmara dos Deputados votou pela rejeiccedilatildeo das emendas do

Senado Federal e o projeto de lei foi aprovado tendo como renuacutencia orccedilamentaacuteria o

compartilhamento da previsatildeo de R$ 600 milhotildees para o esporte e cultura Depois

de alguns dias de tracircmite administrativo interno e recesso de Natal o Projeto de Lei

31

O Programa de Alimentaccedilatildeo do Trabalhador (PAT) estimula a empresa por meio de isenccedilatildeo fiscal a manter serviccedilo proacuteprio de refeiccedilatildeo ou distribuir alimentos (cesta baacutesica ticket alimentaccedilatildeo etc) para atendimento aos trabalhadores de baixa renda (que recebam ateacute cinco salaacuterios miacutenimos mensais) Para isso a Lei Nordm 6321 de 14 de abril de 1976 que foi posteriormente regulamentada pelo Decreto Nordm 5 de 14 de janeiro de 1991 permite que a empresa tributada na modalidade lucro real destine ateacute 4 do seu imposto devido sobre a renda para o programa

75

Nordm 13672003 foi convertido na Lei Nordm 11438 em 29 de dezembro de 2006 que

ficou popularmente conhecida como Lei Federal de Incentivo ao Esporte

Poreacutem no mesmo dia da publicaccedilatildeo de criaccedilatildeo do mecenato esportivo o

poder executivo encaminhou a Medida Provisoacuteria Nordm 342 alterando o teto do

percentual de contribuiccedilatildeo do imposto devido sobre a renda da pessoa juriacutedica

passando de 4 para 1 Tambeacutem vinculou o valor da renuacutencia de receita do

orccedilamento da Uniatildeo a ato puacuteblico do poder executivo resolvendo o problema do

compartilhamento de recurso entre cultura e esporte para o ano de 2007 (BRASIL

2006e)

Esta medida provisoacuteria foi convertida na Lei Nordm 11472 de 2 de maio de

2007 alterando o texto legal da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) Durante o tracircmite de conversatildeo ainda foi acrescentado o Art 13-C o

qual exigia do Ministeacuterio do Esporte a apresentaccedilatildeo de relatoacuterio detalhado sobre a

aplicaccedilatildeo do recurso de isenccedilatildeo fiscal ao Congresso Nacional Esta foi uma maneira

encontrada para gerar controle legislativo ao recurso do esporte que fazia uma clara

opccedilatildeo pelo financiamento puacuteblico mas por uma via fora do orccedilamento direto da

Uniatildeo No dia 3 de agosto de 2007 o poder executivo publicou o Decreto Nordm 6180

regulamentando o funcionamento do mecenato esportivo que no mesmo ano jaacute teve

os primeiros projetos apoiados

Percebemos que depois do surgimento de interesse do poder executivo

em criar o mecenato esportivo como atendimento agrave expectativa do setor para a 2ordf

Conferecircncia Nacional de Esporte o tracircmite ateacute sua efetivaccedilatildeo foi relativamente

raacutepido Entretanto a experiecircncia dos anos de operacionalizaccedilatildeo do mecenato

cultural com a Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) e Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991)

associada agraves discussotildees da Lei Mendes Thame (Lei Nordm 77521989) quase natildeo foi

incorporada agrave elaboraccedilatildeo da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) Desta forma problemas de concentraccedilatildeo de recurso jaacute anunciados na

poliacutetica cultural tendem a se reproduzir na aacuterea do esporte

Por outro lado grande parte do debate no poder legislativo se concentrou

em aspectos teacutecnicos de viabilizaccedilatildeo do mecanismo enquanto o conteuacutedo sobre a

missatildeo e objetivo da legislaccedilatildeo acabou perdendo relevacircncia Este cenaacuterio vai

impactar na ausecircncia de diretriz para o financiamento puacuteblico do esporte de maneira

similar ao que aconteceu com a poliacutetica cultural quando foi extinto o Comitecirc

Assessor

76

Por isso nos capiacutetulos seguintes passaremos a explorar a legislaccedilatildeo do

mecenato esportivo e o seu resultado atentando para a atribuiccedilatildeo do esporte como

elemento social da cidadania brasileira

77

4 LEI FEDERAL DE INCENTIVO AO ESPORTE DA TEORIA DA NORMA AOS NUacuteMEROS DA PRAacuteTICA

41 Os passos iniciais

No segundo capiacutetulo resgatamos o trajeto que conduziu a elevaccedilatildeo do

esporte ao status de direito social constitucional e sua posterior estruturaccedilatildeo estatal

para elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica de esporte No terceiro capiacutetulo o foco foi

buscar o contexto de formaccedilatildeo e desenvolvimento da poliacutetica de financiamento da

cultura a qual foi precursora do modelo de mecenato no paiacutes A partir da

compreensatildeo dos significados que envolveram a escolha do mecenato cultural

passamos a verificar a arena de debate que levou a criaccedilatildeo da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

Neste capiacutetulo o objetivo foi investigar a operacionalidade da legislaccedilatildeo

do mecenato esportivo e o seu desdobramento praacutetico no periacuteodo de 2007 a 2014 A

partir de uma visatildeo geral da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) por meio da anaacutelise da lei decreto portaria e Relatoacuterio de Gestatildeo

Interna do Ministeacuterio do Esporte pretendemos ter maior subsiacutedio para no capiacutetulo

seguinte aprofundar na investigaccedilatildeo do mecanismo na localidade de Belo

Horizonte

Cabe ressaltar que o esforccedilo de observaccedilatildeo ampliada do mecenato

esportivo foi necessaacuterio devido agrave incipiente pesquisa acadecircmica sobre o tema

valendo destacar a iniciativa de Matias et al (2015) Seixas (2015) Bernardo et al

(2011) Cavazzani et al (2010) Cabral (2010) Franccedila Juacutenior e Frasson (2010) e

Monteiro (2010)

O Art 1ordm da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

estipula o prazo de vigecircncia da legislaccedilatildeo inicialmente previsto de 2007 a 2015 No

entanto o Ministeacuterio do Esporte entendendo que a legislaccedilatildeo de mecenato

esportivo natildeo havia atingido seu objetivo pleno de promoccedilatildeo do esporte e que a

revogaccedilatildeo traria nova lacuna no seu financiamento enviou ao Congresso Nacional a

Medida Provisoacuteria Nordm 67132 de 19 de marccedilo de 2015 sugerindo alteraccedilatildeo do prazo

32

A Medida Provisoacuteria Nordm 671 de 19 de marccedilo de 2015 foi convertida na Lei Nordm 13155 de 4 de agosto de 2015 tambeacutem conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte Pois aleacutem de prorrogar a vigecircncia da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) tambeacutem

78

A medida provisoacuteria foi acatada e transformada na Lei Nordm 13155 de 4 de agosto de

2015 que estendeu o mecanismo ateacute ano de 2022 (BRASIL 2015b)

Embora exista a percepccedilatildeo do mecenato esportivo natildeo ter alcanccedilado a

plenitude de seu objetivo ndash argumento inclusive reproduzido por um membro do

Ministeacuterio do Esporte durante minha visita agrave Brasiacutelia para a coleta de dados natildeo

localizei documento oficial que expresse formalmente a finalidade da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) Nesse sentido este eacute um dos primeiros

pontos a serem questionados sobre o mecanismo de mecenato esportivo Pois

aparentemente ele tem se apresentado como uma mera alternativa de

financiamento esportivo tomando a via extraorccedilamentaacuteria o que eacute extremamente

limitado para uma poliacutetica puacuteblica de Estado

O Art 1ordm ainda menciona quem satildeo os mecenas ou melhor os potenciais

apoiadores do esporte brasileiro A legislaccedilatildeo escolheu os contribuintes do Imposto

sobre a Renda (IR) sendo autorizado que a pessoa fiacutesica declarante da modalidade

completa possa destinar ateacute 6 do seu imposto devido enquanto a pessoa juriacutedica

optante da modalidade lucro real possa destinar o limite de 1

As demais modalidades de tributaccedilatildeo do Imposto sobre a Renda (IR) natildeo

tiveram permissatildeo de usufruir da isenccedilatildeo fiscal pois a Secretaria da Receita Federal

entende que jaacute aplica uma aliacutequota de desconto sobre o valor do imposto devido

pelo contribuinte Entretanto a alegaccedilatildeo eacute questionaacutevel uma vez que o valor da

isenccedilatildeo fiscal natildeo visa beneficiar o contribuinte mas o elemento da cidadania social

para o qual o recurso eacute destinado Isto eacute o mecenato esportivo gera alternativa de

alocaccedilatildeo do recurso puacuteblico seja por meio do recolhimento do imposto ao Tesouro

Nacional ou pela escolha de um projeto esportivo chancelado pelo Ministeacuterio do

Esporte

Por outro lado a motivaccedilatildeo para a escolha exclusiva da modalidade de

tributaccedilatildeo lucro real pode ser encontrada na tabela de dados da Declaraccedilatildeo do

Imposto sobre a Renda das Pessoas Juriacutedicas disponibilizada pela Secretaria da

Receita Federal Os nuacutemeros mostram que apesar das empresas desta modalidade

representarem apenas 3 do universo empresarial do paiacutes satildeo responsaacuteveis por

estabeleceu princiacutepios de responsabilidade fiscal e gestatildeo transparente nas entidades esportivas de futebol profissional (BRASIL 2015 p1)

79

aproximadamente 78 da arrecadaccedilatildeo do Imposto sobre a Renda (IR) de pessoa

juriacutedica33

Fonte Secretaria da Receita Federal Acesso aos dados no dia 30 de abril de 2016 referente ao ano fiscal de 2013 - elaboraccedilatildeo proacutepria

Situaccedilatildeo similar tambeacutem pode ser observada na Declaraccedilatildeo do Imposto

sobre a Renda de Pessoa Fiacutesica34 quando 42 das pessoas optam pela

modalidade completa embora o percentual represente 67 do imposto devido Vale

fazer a distinccedilatildeo entre o imposto devido e o recolhido na fonte No caso do

mecanismo de mecenato esportivo o contribuinte somente pode apoiar os projetos

com um percentual do valor do imposto ainda devido ao Estado brasileiro pois a

quantia jaacute recolhida natildeo entra no caacutelculo da permissatildeo da isenccedilatildeo fiscal

33

Relatoacuterio de dados setoriais de 2009 a 2013 da Declaraccedilatildeo de Imposto sobre a Renda das Pessoas Juriacutedicas Disponiacutevel em lthttpidgreceitafazendagovbrdadosreceitadataestudos-e-tributarios-e-aduaneirosestudos-e-estatisticasestudos-diversosdados-setoriais-2009-2013pdfgt Acesso em 2 de maio de 2016 34

Os dados para elaboraccedilatildeo do graacutefico foram retirados da ldquoTabela 1 - Resumo das Declaraccedilotildees Por Tipo de Formulaacuteriordquo do banco de dados ldquoGrandes Nuacutemeros DIRPF 2014 ndash Ano-calendaacuterio 2013rdquo Disponiacutevel em lthttpidgreceitafazendagovbrdadosreceitadataestudos-e-tributarios-e-aduaneirosestudos-e-estatisticas11-08-2014-grandes-numeros-dirpfgrandes-numeros-dirpf-capagt Acesso em 2 de maio de 2016

Graacutefico 2 ndash Comparativo entre a quantidade de empresas declarantes do imposto sobre a renda

(IRPJ) e a arrecadaccedilatildeo tributaacutevel apurada no ano fiscal de 2013

80

Fonte Secretaria da Receita Federal Acesso aos dados no dia 30 de abril de 2016 referente ao ano fiscal de 2013 - elaboraccedilatildeo proacutepria

Apesar dos nuacutemeros mostrarem supremacia de arrecadaccedilatildeo do imposto

devido para estas duas modalidades existe um movimento encampado pelas

entidades culturais para a ampliaccedilatildeo dos apoiadores a outras modalidades de

tributaccedilatildeo do Imposto sobre a Renda (IR) A justificativa seria a compreensatildeo de que

o mecanismo de mecenato eacute tambeacutem um instrumento de empoderamento e

participaccedilatildeo social e por isso natildeo poderia haver segregaccedilatildeo dos apoiadores

Diferentemente do mecenato cultural (manifestaccedilotildees do Art 26) o Art 1ordm

da lei apresenta como vedaccedilatildeo o lanccedilamento do apoio como despesa operacional

evitando uma dupla incidecircncia da isenccedilatildeo fiscal e reduccedilatildeo na base de caacutelculo do

imposto devido Aleacutem disso a legislaccedilatildeo natildeo permite apoio de projeto proacuteprio da

empresa ou que seus gestores estejam vinculados direta ou indiretamente

Art 1ordm [] sect 5ordm Consideram-se vinculados ao patrocinador ou ao doador I - a pessoa juriacutedica da qual o patrocinador ou o doador seja titular administrador gerente acionista ou soacutecio na data da operaccedilatildeo ou nos 12 (doze) meses anteriores II - o cocircnjuge os parentes ateacute o terceiro grau inclusive os afins e os dependentes do patrocinador do doador ou dos titulares administradores acionistas ou soacutecios de pessoa juriacutedica vinculada ao patrocinador ou ao doador nos termos do inciso I deste paraacutegrafo III - a pessoa juriacutedica coligada controladora ou controlada ou que tenha como titulares administradores acionistas ou soacutecios alguma das pessoas a que se refere o inciso II deste paraacutegrafo (BRASIL 2006b p1)

Graacutefico 3 ndash Comparativo entre a quantidade de pessoas fiacutesica declarantes do imposto sobre a renda (IRPF) e o imposto devido no momento da entrega da declaraccedilatildeo de rendimento no ano-

calendaacuterio de 2013

81

Mas este tipo de vedaccedilatildeo eacute de difiacutecil controle pois o confronto de

informaccedilatildeo eacute feito pelo nome dos dirigentes da entidade proponente contidos na ata

de posse da diretoria que deve acompanhar o projeto esportivo e o nome do

responsaacutevel da empresa disponiacutevel no Cadastro Nacional de Pessoa Juriacutedica

(CNPJ) da Secretaacuteria da Receita Federal Assim outros dirigentes com poder de

decisatildeo na empresa podem assumir algum viacutenculo com a entidade proponente e

haver benefiacutecio direto na indicaccedilatildeo de projeto

O Art 1ordm ainda destaca que a isenccedilatildeo fiscal proporcionada pela Lei

Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) natildeo exclui ou reduz outros

benefiacutecios fiscais em vigor Desta forma a pessoa fiacutesica estaacute autorizada pelo

Congresso Nacional a utilizar ateacute 8 do seu imposto devido sobre a renda em

mecanismos fiscais de cidadania social podendo mesclar 6 em cultura esporte

direito do idoso eou direto da crianccedila e adolescente mais 1 exclusivo para a aacuterea

da pessoa com deficiecircncia (PRONASPCD35) e outro 1 para a aacuterea da oncologia

(PRONON) Por sua vez a pessoa juriacutedica pode utilizar o somatoacuterio de ateacute 9 do

seu imposto devido observando o limite de cada lei

Tabela 1 ndash Distribuiccedilatildeo do incentivo de isenccedilatildeo fiscal no acircmbito federal

Fundo da Infacircncia e

Adolescecircncia

Fundo do Idoso

Lei Rouanet

Lei do Aacuteudio- Visual

Lei de Incentivo Esporte

PRONON PRONAS

Pessoa Fiacutesica

6 1 1

Pessoa Juriacutedica

1 1 4 1 1 1

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

No Art 2ordm da lei as trecircs manifestaccedilotildees esportivas surgidas na discussatildeo

da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e consolidadas com a Lei Zico (Lei Nordm 86721993)

e Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) satildeo citadas como foco do incentivo fiscal Nesse

sentido mostra que a legislaccedilatildeo tinha um caraacuteter amplo de financiamento ao

esporte situaccedilatildeo oposta a Lei AgneloPiva (Lei Nordm 102642001) que teve como

35

O Programa Nacional de Apoio agrave Atenccedilatildeo Oncoloacutegica (PRONON) e o Programa Nacional de Apoio agrave Atenccedilatildeo da Sauacutede da Pessoa com Deficiecircncia (PRONASPCD) foram instituiacutedos pela Lei Nordm 127152012 e trazem o mecanismo de mecenato para a aacuterea da sauacutede tendo o Ministeacuterio da Sauacutede como oacutergatildeo regulador

82

marca ser uma poliacutetica focal ao esporte de rendimento O Decreto Nordm 61802007

que regulamenta o mecenato esportivo apresenta descritivo das manifestaccedilotildees

suplementando o texto legal da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998)

Art 2ordm [] I - desporto educacional cujo puacuteblico beneficiaacuterio deveraacute ser de alunos regularmente matriculados em instituiccedilatildeo de ensino de qualquer sistema nos termos dos arts 16 a 20 da Lei nordm 9394 de 20 de dezembro de 1996 evitando-se a seletividade e a hipercompetitividade de seus praticantes com a finalidade de alcanccedilar o desenvolvimento integral do indiviacuteduo e a sua formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania e a praacutetica do lazer II - desporto de participaccedilatildeo caracterizado pela praacutetica voluntaacuteria compreendendo as modalidades desportivas com finalidade de contribuir para a integraccedilatildeo dos praticantes na plenitude da vida social na promoccedilatildeo da sauacutede e educaccedilatildeo e na preservaccedilatildeo do meio ambiente e III - desporto de rendimento praticado segundo regras nacionais e internacionais com a finalidade de obter resultados integrar pessoas e comunidades do Paiacutes e estas com as de outras naccedilotildees (BRASIL 2007a p1)

Neste ponto sobre as manifestaccedilotildees esportivas eacute interessante chamar a

atenccedilatildeo para a recente alteraccedilatildeo no decreto que regulamenta a Lei Peleacute (Lei Nordm

96151998) o Decreto Nordm 7984 de 8 de abril de 2013 que trouxe como novidade

uma subdivisatildeo da manifestaccedilatildeo esporte educacional conforme previa Tubino

(2001)

sect 1ordm O desporto educacional pode constituir-se em I - esporte educacional ou esporte formaccedilatildeo com atividades em estabelecimentos escolares e natildeo escolares referenciado em princiacutepios socioeducativos como inclusatildeo participaccedilatildeo cooperaccedilatildeo promoccedilatildeo agrave sauacutede co-educaccedilatildeo e responsabilidade e II - esporte escolar praticado pelos estudantes com talento esportivo no ambiente escolar visando agrave formaccedilatildeo cidadatilde referenciado nos princiacutepios do desenvolvimento esportivo e do desenvolvimento do espiacuterito esportivo podendo contribuir para ampliar as potencialidades para a praacutetica do esporte de rendimento e promoccedilatildeo da sauacutede (BRASIL 2013a p1 ndash grifo nosso)

A subdivisatildeo permitiu a inclusatildeo de princiacutepios competitivos e de alto

rendimento para dentro do ambiente escolar sugerindo uma expansatildeo da

manifestaccedilatildeo rendimento e um retorno ao padratildeo atleacutetico de praacutetica esportiva A

aplicaccedilatildeo desta subdivisatildeo na Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) pode mascarar accedilotildees de esporte de rendimento pela via escolar

dentro da manifestaccedilatildeo educacional gerando imprecisatildeo na anaacutelise da distribuiccedilatildeo

do recurso para a aacuterea estritamente educacional

83

Meses depois da publicaccedilatildeo do decreto foi aprovada no Congresso

Nacional a Lei Nordm 12868 de 15 de outubro de 2013 que aumentou o regramento

ao financiamento puacuteblico para projetos da manifestaccedilatildeo rendimento com a inclusatildeo

do Art 18 - A na Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) (BRASIL 2013b) Este aumento na

dificuldade para o acesso ao recurso de projetos de esporte de rendimento pode

corroborar para a migraccedilatildeo de accedilotildees para a subdivisatildeo de esporte escolar

principalmente na praacutetica esportiva de categoria de base agravando o problema da

distinccedilatildeo na distribuiccedilatildeo do recurso entre manifestaccedilotildees

Contudo a nova legislaccedilatildeo foi uma tentativa do Estado brasileiro de

aumentar o controle e fiscalizaccedilatildeo sobre o recurso puacuteblico repassado de forma

extraorccedilamentaacuteria agraves entidades representativas do esporte Cabe ressaltar que a

norma natildeo feria a autonomia de funcionamento das entidades esportivas

conquistada na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 pois estava atrelada ao repasse de

recurso puacuteblico Isto eacute a entidade esportiva que natildeo tivesse receita puacuteblica natildeo tinha

a obrigatoriedade de realizar adequaccedilatildeo estatutaacuteria

Art 18-A [] I - seu presidente ou dirigente maacuteximo tenham o mandato de ateacute 4 (quatro) anos permitida 1 (uma) uacutenica reconduccedilatildeo [] VII - estabeleccedilam em seus estatutos a) princiacutepios definidores de gestatildeo democraacutetica b) instrumentos de controle social c) transparecircncia da gestatildeo da movimentaccedilatildeo de recursos d) fiscalizaccedilatildeo interna e) alternacircncia no exerciacutecio dos cargos de direccedilatildeo f) aprovaccedilatildeo das prestaccedilotildees de contas anuais por conselho de direccedilatildeo precedida por parecer do conselho fiscal g) participaccedilatildeo de atletas nos colegiados de direccedilatildeo e na eleiccedilatildeo para os cargos da entidade e VIII - garantam a todos os associados e filiados acesso irrestrito aos documentos e informaccedilotildees relativos agrave prestaccedilatildeo de contas bem como agravequeles relacionados agrave gestatildeo da respectiva entidade de administraccedilatildeo do desporto os quais deveratildeo ser publicados na iacutentegra no siacutetio eletrocircnico desta (BRASIL 2013b p1)

A mudanccedila teve impacto direto nos projetos de rendimento apresentados

na Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) No dia 15 de abril de

2014 apoacutes a anaacutelise e emissatildeo do parecer Nordm 1042014 da Consultoria Juriacutedica do

Ministeacuterio do Esporte (CONJURME) os projetos em anaacutelise no mecenato esportivo

foram paralisados para o envio de diligecircncia para adequaccedilatildeo documental (BRASIL

2014a) Mas somente no dia 18 de setembro a Portaria Ministerial Nordm 224

84

estabeleceu procedimentos para verificaccedilatildeo do cumprimento das exigecircncias do Art

18-A da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) e a anaacutelise dos projetos de rendimento foi

normalizada (BRASIL 2014b)

Art 3ordm [] III - prever em seu estatuto social a) instrumentos de controle social b) transparecircncia na gestatildeo da movimentaccedilatildeo de recursos e de fiscalizaccedilatildeo interna c) a garantia de existecircncia e autonomia de seu conselho fiscal d) a aprovaccedilatildeo das prestaccedilotildees de contas anuais por conselho de direccedilatildeo precedida por parecer do conselho fiscal e) a garantia de acesso irrestrito a todos os associados e filiados aos documentos e informaccedilotildees relativos agrave prestaccedilatildeo de contas bem como agravequeles relacionados agrave gestatildeo da respectiva entidade de administraccedilatildeo do desporto os quais deveratildeo ser publicados na iacutentegra no siacutetio eletrocircnico desta f) a garantia de representaccedilatildeo da categoria de atletas 1) no acircmbito dos oacutergatildeos e conselhos teacutecnicos incumbidos da aprovaccedilatildeo de regulamentos das competiccedilotildees por elas eventualmente organizadas 2) nos colegiados de direccedilatildeo e na eleiccedilatildeo para os cargos da entidade g) a alternacircncia no exerciacutecio dos cargos de direccedilatildeo sem prejuiacutezo da limitaccedilatildeo da duraccedilatildeo do mandato de seu presidente ou dirigente maacuteximo a 4 (quatro) anos permitida 1 (uma) uacutenica reconduccedilatildeo h) a vedaccedilatildeo agrave eleiccedilatildeo do cocircnjuge e parentes consanguiacuteneos ou afins ateacute o 2ordm (segundo) grau ou por afinidade do presidente ou dirigente maacuteximo da entidade e i) a determinaccedilatildeo para aplicaccedilatildeo integral de seus recursos na manutenccedilatildeo e desenvolvimento dos seus objetivos sociais (BRASIL 2014b p89)

Aleacutem da conduta expressa no estatuto social a Portaria Ministerial Nordm

2242014 tambeacutem solicitou vaacuterias declaraccedilotildees por parte do representante legal da

entidade esportiva com a finalidade de garantir a idoneidade institucional Cabe

mencionar que a declaraccedilatildeo de informaccedilotildees falsas poderia acarretar em crime penal

ao representante legal o que natildeo deixaria de ser uma maneira de controle e puniccedilatildeo

ao mau uso do patrimocircnio puacuteblico

Outra recente mudanccedila nas manifestaccedilotildees esportivas foi gerada pela

aprovaccedilatildeo da Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte (Lei nordm 131552015) a

mesma que alterou o prazo de vigecircncia do mecenato esportivo A legislaccedilatildeo

acrescentou uma quarta manifestaccedilatildeo na Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) exclusiva

para a qualificaccedilatildeo profissional e produccedilatildeo de conhecimento na aacuterea do esporte

(BRASIL 2015b) Esta alteraccedilatildeo ainda natildeo foi absorvida na legislaccedilatildeo da Lei

Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) muito embora pudesse ser

contemplada em uma visatildeo ampliada de atividade do esporte educacional

85

Art 3ordm []

IV - desporto de formaccedilatildeo caracterizado pelo fomento e aquisiccedilatildeo inicial dos conhecimentos desportivos que garantam competecircncia teacutecnica na intervenccedilatildeo desportiva com o objetivo de promover o aperfeiccediloamento qualitativo e quantitativo da praacutetica desportiva em termos recreativos competitivos ou de alta competiccedilatildeo (BRASIL 2015b p1 ndash grifo nosso)

Fonte Inspirado em BRASIL (1998a p1) BRASIL (2013a p1) BRASIL (2015b p1) ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Retornando a discussatildeo especiacutefica do texto legal da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) o Art 2ordm trata da vedaccedilatildeo de

remuneraccedilatildeo a atletas profissionais O Decreto Nordm 61802007 complementa o artigo

trazendo a interpretaccedilatildeo de remuneraccedilatildeo dos Arts 457 e 458 da Consolidaccedilatildeo das

Leis Trabalhistas ndash CLT (Decreto-Lei Nordm 54521943) os quais englobam

remuneraccedilatildeo como o salaacuterio em dinheiro o abono de feacuterias o deacutecimo terceiro

salaacuterio as gratificaccedilotildees os precircmios e mais qualquer tipo de benefiacutecio que integre

por forccedila de contrato ou de costume a relaccedilatildeo da entidade esportiva com o atleta

profissional (BRASIL 2007b BRASIL 1943)

Um ponto de extrema confusatildeo no paiacutes eacute quanto a caracterizaccedilatildeo do que

seria esporte profissional A Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) indica como esporte de

rendimento organizado ou praticado de modo profissional aquele ldquocaracterizado pela

remuneraccedilatildeo pactuada em contrato formal de trabalho entre o atleta e a entidade de

praacutetica desportivardquo Enquanto o esporte natildeo profissional eacute ldquoidentificado pela

Esporte Educacional ou

Formaccedilatildeo

Esporte Escolar

Manifestaccedilotildees Esportivas

Esporte Educacional

Esporte de Participaccedilatildeo

Esporte de Rendimento

Esporte de Formaccedilatildeo

Figura 2 ndash Diagrama atualizado das manifestaccedilotildees esportivas no acircmbito federal

86

liberdade de praacutetica e pela inexistecircncia de contrato de trabalho sendo permitido o

recebimento de incentivos materiais e de patrociacuteniordquo (BRASIL 1998a p1)

Nesse sentido o pagamento financeiro ao atleta natildeo profissional nos

projetos de esporte de rendimento na Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) aconteceria pela formalizaccedilatildeo de contrato devido Agrave necessidade

documental para a prestaccedilatildeo de contas O contrato poderia evidenciar um possiacutevel

viacutenculo de atleta e se converter na vedaccedilatildeo trazida pela legislaccedilatildeo Por isso o

Ministeacuterio do Esporte passou a adotar a nomenclatura ldquobolsardquo com caraacuteter

indenizatoacuterio (ressarcimento de despesas) e natildeo mais remuneratoacuterio para o

pagamento de atleta natildeo profissional Esta tipologia de subsiacutedio ao atleta natildeo

profissional foi inclusive legitimada pelo paraacutegrafo uacutenico inciso III Art 4ordm do

Decreto Nordm 79842013

Art 4ordm [] Paraacutegrafo uacutenico Consideram-se incentivos materiais na forma disposta no inciso II do caput entre outros I - benefiacutecios ou auxiacutelios financeiros concedidos a atletas na forma de bolsa de aprendizagem prevista no sect 4ordm do art 29 da Lei nordm 9615 de 1998 II - Bolsa-Atleta prevista na Lei nordm 10891 de 9 de julho de 2004 III - bolsa paga a atleta por meio de recursos dos incentivos previstos na Lei nordm 11438 de 29 de dezembro de 2006 ressalvado o disposto em seu art 2ordm sect 2ordm e IV - benefiacutecios ou auxiacutelios financeiros similares previstos em normas editadas pelos demais entes federativos (BRASIL 2013a p1 ndash grifo nosso)

No entanto o Decreto Nordm 61802007 natildeo parou na normatizaccedilatildeo da

proibiccedilatildeo de remuneraccedilatildeo ao atleta profissional e estendeu o veto agrave equipe e

competiccedilatildeo profissional

Art 5ordm []

sect 2ordm Eacute vedada ainda a utilizaccedilatildeo dos recursos de que trata o caput para o pagamento de quaisquer despesas relativas agrave manutenccedilatildeo e organizaccedilatildeo de equipes desportivas ou paradesportivas profissionais de alto rendimento nos termos do inciso I do paraacutegrafo uacutenico do art 3ordm da Lei Nordm 9615 de 1998 ou de competiccedilotildees profissionais nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 26 daquela Lei (BRASIL 2007b p3 ndash grifo nosso)

A Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) define no Art 26 a competiccedilatildeo

profissional como ldquoaquela promovida para obter renda e disputada por atletas

profissionais cuja remuneraccedilatildeo decorra de contrato de trabalho desportivordquo (BRASIL

1998a p1) Se a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) restringe

87

apenas a remuneraccedilatildeo logo estariam autorizados projetos de competiccedilatildeo desde

que o pagamento dos atletas profissionais fosse oriundo de outra fonte

O caso de equipe profissional carece de uma definiccedilatildeo legal poreacutem

poderiacuteamos recorrer a processo anaacutelogo ou seja o mecenato esportivo permitiria o

pagamento da comissatildeo teacutecnica (teacutecnico preparador fiacutesico fisioterapeuta etc)

desde que a remuneraccedilatildeo do atleta profissional natildeo estivesse vinculada ao projeto

Os dois casos podem sugerir ato de ilegalidade uma vez que o decreto

estaacute extrapolando o texto da lei Por outro lado aparentemente marca um

posicionamento do Ministeacuterio do Esporte em privilegiar accedilotildees da manifestaccedilatildeo

educacional e de participaccedilatildeo haja vista que a manifestaccedilatildeo rendimento possui a

Lei AgneloPiva (Lei Nordm 102642001) para financiamento exclusivo

Fonte inspirado em BRASIL (1998a p1) ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

O Art 3ordm da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

apresenta a distinccedilatildeo entre os termos patrociacutenio e doaccedilatildeo O primeiro envolve a

aplicaccedilatildeo financeira com finalidade promocional e de publicidade do apoiador

enquanto o segundo tem um caraacuteter filantroacutepico e isento de intencionalidade O

decreto que regulamenta a legislaccedilatildeo em nada acrescenta sobre as definiccedilotildees

Apesar da distinccedilatildeo as duas modalidades permitem 100 de deduccedilatildeo

fiscal Os termos satildeo vestiacutegios da discussatildeo da legislaccedilatildeo no Congresso Nacional

quando inicialmente o patrociacutenio permitiria deduzir apenas 75 do valor apoiado e

Atleta profissional

Competiccedilatildeo Profissional

Conceito possui contrato formal de trabalho com a entidade de praacutetica esportiva

Equipe Profissional

Legislaccedilatildeo Art 3ordm sect1ordm inciso I da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998)

Conceito formada por atletas profissionais

Legislaccedilatildeo natildeo possui definiccedilatildeo legal

Conceito disputada por atleta profissional eou com o objetivo de obter renda renda Legislaccedilatildeo Art 26 paraacutegrafo uacutenico Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998)

Figura 3 ndash Diagrama da cadeia produtiva do esporte profissional

88

os 25 restantes seriam de capital privado atraiacutedo para a aacuterea do esporte (BRASIL

2006c)

Independente da similaridade funcional uma segunda vertente questiona

a viabilidade dos termos pela transposiccedilatildeo da semacircntica de caraacuteter privado para o

espaccedilo puacuteblico O patrociacutenio seria o ato de colocar recurso particular em um objeto

que possa dar retorno em publicidade ou agregar valor simboacutelico a uma marca

enquanto a doaccedilatildeo seria a transferecircncia de recurso particular a outra pessoa sem

nenhuma vantagem direta ou indireta Mas como o valor do apoio (patrociacutenio ou

doaccedilatildeo) pode ser integralmente deduzido estamos lidando com aplicaccedilatildeo de

recurso puacuteblico indireto e natildeo particular Neste contexto o termo mais indicado seria

destinaccedilatildeo de recurso pois cabe ao apoiador escolher a alocaccedilatildeo do imposto entre

projeto esportivo chancelado pelo Ministeacuterio do Esporte ou Tesouro Nacional

A ausecircncia de recurso privado no mecanismo coloca em suspeita as

chances de criaccedilatildeo da figura do mecenas esportivo No entanto a manutenccedilatildeo do

termo mecenato esportivo para o formato de poliacutetica de financiamento se torna

importante para natildeo perder de vista que a finalidade inicial do diaacutelogo com o setor

privado era agregar mais recurso ao setor esportivo e natildeo apenas transferir a

tomada de decisatildeo de alocaccedilatildeo puacuteblica para o particular

O Art 3ordm da lei ainda demarca que a ldquopessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou

de direito privado com fins natildeo econocircmicos [sem fins lucrativos] de natureza

esportivardquo pode ser proponente de accedilotildees na Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei

Nordm 114382006) (BRASIL 2006b p1) Entidades esportivas e secretarias

municipais e estaduais de esporte disputariam o mesmo recurso Poreacutem em tese

um oacutergatildeo puacuteblico teria maior poder de ldquobarganhardquo visto que tem acesso a

informaccedilotildees fiscais privilegiadas do setor privado em sua aacuterea de abrangecircncia

A princiacutepio poderia parecer uma competiccedilatildeo desleal principalmente pela

incipiente profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas Mas ao verificar os dados do

Relatoacuterio de Gestatildeo Interna da Lei Federal de Incentivo ao Esporte de 201436

notamos que o sucesso na captaccedilatildeo de recurso das organizaccedilotildees de direito puacuteblico

eacute baixa apenas 1 do montante total captado em 2014

36

Para apuraccedilatildeo da tipologia da proponente o Ministeacuterio do Esporte adota a classificaccedilatildeo do nome fantasia ou razatildeo social da entidade esportiva Todavia esta classificaccedilatildeo pode gerar erros aos distinguir ONG associaccedilatildeo e demais tipologias sendo que todas possuem a personalidade juriacutedica de associaccedilatildeo Neste sentido foi reorganizado levando em consideraccedilatildeo a natureza juriacutedica e a similaridade de funccedilatildeo social

89

Outra questatildeo quanto agrave natureza da proponente estaacute na impossibilidade

do proacuteprio atleta apresentar um projeto Para se ter ideia na proporccedilatildeo do atleta

individual na cadeia esportiva das 42 modalidades previstas para acontecer nos

Jogos Oliacutempicos do Rio de Janeiro37 31 delas satildeo disputas individuais Aleacutem disso

se a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) foi baseada na

experiecircncia do mecenato cultural que permite a participaccedilatildeo do artista individual e

produtor cultural por que natildeo permitir a participaccedilatildeo do atleta individual Parte da

resposta estaacute na dificuldade do Estado brasileiro em penalizar a pessoa fiacutesica por

mau uso do recurso puacuteblico

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizados em 27 de marccedilo de 2015 ndash adaptado

O Art 4ordm da lei menciona a criaccedilatildeo da Comissatildeo Teacutecnica oacutergatildeo colegiado

ligado ao Ministeacuterio do Esporte e responsaacutevel pela aprovaccedilatildeo dos projetos

esportivos A comissatildeo eacute formada por membros governamentais designados pelo

proacuteprio ministro e representantes do setor esportivo indicados pelo Conselho

Nacional de Esporte (CNE) O Decreto Nordm 61802007 suplementa sobre distribuiccedilatildeo

das vagas da comissatildeo

37

Disponiacutevel em ltwwwrio2016comgt

Graacutefico 4 ndash Distribuiccedilatildeo da captaccedilatildeo de recurso financeiro pela tipologia de proponente na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2014

90

Art 7ordm - A Comissatildeo Teacutecnica seraacute composta por seis membros da seguinte forma I - trecircs representantes governamentais indicados pelo Ministro de Estado do Esporte e II - trecircs representantes dos setores desportivo e paradesportivo indicados pelo Conselho Nacional do Esporte (BRASIL 2007b p3)

De acordo com o decreto o presidente da comissatildeo seraacute um dos trecircs

representantes do poder puacuteblico e teraacute como responsabilidade dirigir as reuniotildees

ordinaacuterias que tecircm acontecido mensalmente em Brasiacutelia e por convocar a reuniatildeo

extraordinaacuteria quando julgar necessaacuterio O cargo de presidente daacute direito ao voto de

qualidade no caso de empate das votaccedilotildees Tradicionalmente o diretor do

Departamento de Incentivo e Fomento ao Esporte (DIFE) oacutergatildeo ligado a Secretaria-

Executiva do Ministeacuterio do Esporte tem sido indicado como presidente da Comissatildeo

Teacutecnica embora natildeo exista regra expliacutecita sobre a situaccedilatildeo (BRASIL 2007b)

No caso da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) o Ministeacuterio da Cultura tem

optado por realizar uma reuniatildeo ordinaacuteria da comissatildeo de aprovaccedilatildeo de projetos em

Brasiacutelia e uma subsequente em alguma capital do paiacutes Esta foi uma estrateacutegia

adotada pela pasta da cultura para a divulgaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo do mecanismo de

mecenato cultural Medida itinerante similar poderia ser adotada pelo Ministeacuterio do

Esporte para dar maior visibilidade ao mecenato esportivo principalmente pelo

problema de concentraccedilatildeo de projetos e recurso na regiatildeo Sudeste do paiacutes

Outra medida bastante interessante e de baixo custo de democratizaccedilatildeo

tem sido adotada pela Secretaria do Esporte Lazer e Juventude do Estado de Satildeo

Paulo O oacutergatildeo tem gravado as reuniotildees da ldquoComissatildeo de Analises e Aprovaccedilatildeo de

Projetosrdquo da Lei Paulista de Incentivo ao Esporte e disponibilizado no seu canal

institucional no YouTube38 Aleacutem de dar mais transparecircncia ao processo de

discussatildeo e aprovaccedilatildeo de projetos a utilizaccedilatildeo da ferramenta digital permite que

mais pessoas tenham acesso agrave reuniatildeo jaacute que atualmente as vagas satildeo limitadas

agrave capacidade fiacutesica da sala de reuniatildeo Este tipo de recurso tecnoloacutegico tambeacutem

permite que as proponentes se manifestem mesmo que a posteriori sobre as

discussotildees realizadas pela comissatildeo haja vista que na reuniatildeo presencial natildeo eacute

permitida a participaccedilatildeo ativa

38

Canal do YouTube da Secretaria do Esporte Lazer e Juventude do Estado de Satildeo Paulo onde eacute possiacutevel assistir as gravaccedilotildees das reuniotildees da ldquoComissatildeo de Analises e Aprovaccedilatildeo de Projetosrdquo da Lei Paulista de Incentivo ao Esporte Disponiacutevel em lthttpswwwyoutubecomplaylistlist=PLNqAR3y4NKpDAdQoQfdRvpv4YSmaUSvslgt

91

42 Elaboraccedilatildeo da proposta esportiva

A partir do Art 5ordm da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) abordaremos o processo de cadastro e apresentaccedilatildeo de projetos

Grande parte do procedimento estaacute contida no Decreto Nordm 61802007 e Portaria

Ministerial Nordm 1202009

O primeiro passo trazido pelo decreto se refere ao cadastro das entidades

esportivas junto ao Ministeacuterio do Esporte para acesso ao sistema da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte Este procedimento eacute feito no proacuteprio site do Ministeacuterio do

Esporte com o preenchimento do formulaacuterio on-line39 com dados da entidade

esportiva e de seu representante legal Ao final do cadastro eacute gerado um nuacutemero de

usuaacuterio e senha para acesso ao sistema

Embora a etapa seja bastante simples ela tem sido foco de vaacuterias

criacuteticas porque natildeo eacute necessaacuterio envio de nenhuma documentaccedilatildeo comprobatoacuteria

Todavia todo projeto precisa ter anexado em sua parte documental ldquocoacutepias

autenticadas do CNPJ do estatuto e das respectivas alteraccedilotildees da ata da

assembleia que empossou a atual diretoria do Cadastro de Pessoa Fiacutesica - CPF e

do documento Registro Geral - RG dos diretores ou responsaacuteveis legaisrdquo conforme

consta no inciso II Art 9ordm do Decreto Nordm 61802007 (BRASIL 2007b p4-5)

Cada entidade esportiva pode apresentar ateacute seis projetos por ano40

Como cada proposta tem que ser acompanhada de documentos institucionais

autenticados gera-se um gasto excessivo com cartoacuterio de nota e ofiacutecio e uma

duplicidade de documentos institucionais da proponente Aleacutem disso o tracircmite

interno do Ministeacuterio do Esporte ateacute a anaacutelise dos projetos pela equipe teacutecnica tem

sido bastante demorado Esta morosidade ocasiona o vencimento de alguns

documentos e por meio de diligecircncia documental precisam ser reenviados

autenticados para habilitar a anaacutelise de meacuterito da proposta

39

Link para cadastro no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm114382006) disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrindexphpinstitucionalsecretaria-executivalei-de-incentivo-ao-esportecadastro-de-proponentegt 40

O limite de apresentaccedilatildeo de projetos por ano consta no Art 22ordm do Decreto Nordm 61802007 e no Art 8ordm da Portaria Nordm 1202009

92

Fonte Ministeacuterio do Esporte 2016

Figura 4 ndash Formulaacuterio digital de cadastro da proponente para acesso ao sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

93

Uma alternativa processual mais eficiente seria solicitar essa

documentaccedilatildeo durante o cadastro da proponente para acesso ao sistema de

mecenato esportivo A documentaccedilatildeo recebida pelo Ministeacuterio do Esporte

organizaria um grande banco de dados sobre as entidades esportivas auxiliando

inclusive na elaboraccedilatildeo futura de um diagnoacutestico sobre o perfil das entidades

esportivas participantes da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006)

A atualizaccedilatildeo dos dados ficaria a cargo do representante legal da

proponente e com isso a documentaccedilatildeo institucional seria enviada uma uacutenica vez

Em outras palavras a documentaccedilatildeo estaria vinculada ao cadastro da entidade

esportiva e natildeo mais diretamente ao projeto Procedimento similar foi adotado pela

Secretaria de Estado de Esporte de Minas Gerais para a gestatildeo da sua lei de

incentivo fiscal41

A fim de facilitar a compreensatildeo sobre os procedimentos que cercam o

tracircmite da Lei Federal de Incentivo ao Esporte foi elaborado o diagrama a seguir

41

Na lei de incentivo ao esporte de Minas Gerais (Minas Esportiva Incentivo ao Esporte) a Secretaria de Estado de Esporte (SEESP) adotou o Cadastro Geral de Convenentes (CAGEC) como a plataforma ativa de conferecircncia das informaccedilotildees das entidades esportivas Assim as entidades proponentes manteacutem suas informaccedilotildees documentais e fiscais ativas nesta plataforma uacutenica do Estado de Minas Gerais

94

Figura 5 ndash Diagrama de fluxo da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

Fonte Inspirado em BRASIL (2006b p1) BRASIL (2007b p1) BRASIL (2009a p1) ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Cadastro da proponente no

sistema

Cadastro do projeto no sistema

Protocolo do projeto no Ministeacuterio do

Esporte

Preacute-anaacutelise

Anaacutelise Teacutecnica

Comissatildeo Teacutecnica

Libera o acesso da proponente ao sistema da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte

Cadastro do projeto esportivo no formulaacuterio digital da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte

Finalizado o cadastro digital deve-se imprimir uma versatildeo do projeto e enviar ao Ministeacuterio do Esporte

A aacuterea teacutecnica do Ministeacuterio do Esporte analisa a parte

documental da proponente

A aacuterea teacutecnica ou perito parecerista analisa o meacuterito da

proposta emitindo parecer

Baseado no parecer o relator aprova ou rejeita a proposta

Captaccedilatildeo de Recurso

O projeto aprovado eacute publicado no DOU e autorizado a buscar

recurso no mercado

Execuccedilatildeo do Projeto

A proponente assina o Termo de Compromisso para iniciar a

execuccedilatildeo do projeto

Prestaccedilatildeo de Contas

A proponente envia os documentos comprobatoacuterios da

execuccedilatildeo do projeto

O descumprimento documental gera rejeiccedilatildeo

automaacutetica do projeto

Pode ser enviada diligecircncia solicitando complementaccedilatildeo

de informaccedilatildeo

O relator pode pedir mais informaccedilotildees ou na rejeiccedilatildeo a proponente entrar recurso

A proponente pode solicitar prorrogaccedilatildeo de prazo por

uma uacutenica vez

Captou no miacutenimo 20 do valor - readequa a proposta

para comeccedilar a executar

A proponente natildeo presta conta passa pela Tomada

de Contas Especial do TCU

Caso Positivo do Projeto Caso Negativo do Projeto Descriccedilatildeo da Etapa

1

2

3

4

5

6

7

8

9

95

Apoacutes o cadastro no sistema o passo seguinte indicado no Decreto Nordm

61802007 refere-se agraves informaccedilotildees necessaacuterias para a apresentaccedilatildeo de um

projeto esportivo Todos os itens exigidos constam no Art 9ordm e iremos dividi-los em

elemento Documental Orccedilamentaacuterio e Teacutecnico-operativo levando em consideraccedilatildeo

a tipologia do conteuacutedo e a forma de organizaccedilatildeo dos processos pelo Ministeacuterio do

Esporte (BRASIL 2007b p4-5)

Fonte inspirado em BRASIL (2007b p4-5) ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

A parte documental satildeo os documentos da instituiccedilatildeo e do seu

responsaacutevel legal - os mesmos que haacute pouco argumentaacutevamos que natildeo deveriam

acompanhar o projeto mas um cadastro uacutenico das entidades esportivas Ressalta-se

que assim que os projetos esportivos chegam ao Ministeacuterio do Esporte passam por

uma triagem para verificaccedilatildeo desta documentaccedilatildeo etapa chamada de preacute-anaacutelise A

falta de algum documento ou de sua autenticaccedilatildeo em cartoacuterio impede a avaliaccedilatildeo do

projeto levando a rejeiccedilatildeo por natildeo cumprimento do Art 9ordm do Decreto Nordm

61802007

O graacutefico a seguir elaborado a partir dos dados do Relatoacuterio de Gestatildeo

Interna da Lei Federal de Incentivo ao Esporte de 2014 e extrato da Nota

Presidencial de 2016 mostra como eacute restritiva a etapa documental para o processo

de funcionamento do mecanismo

Figura 6 ndash Elementos necessaacuterios para a apresentaccedilatildeo de projeto esportivo agrave Lei Federal de

Incentivo ao Esporte conforme Art 9ordm do Decreto Nordm 61802007 e respectiva fase de anaacutelise

96

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizados em 11 de marccedilo de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Notamos que 340 (3374) dos projetos satildeo rejeitados sem a anaacutelise do

meacuterito da proposta Ou seja os nuacutemeros reforccedilam a proposiccedilatildeo de alteraccedilatildeo do

procedimento documental para o momento do cadastro da proponente pois

atualmente tem gerado um trabalho adicional ao Ministeacuterio do Esporte (anaacutelise e

rejeiccedilatildeo documental na etapa de preacute-anaacutelise) o que podemos considerar como uma

forma ampliada de desperdiacutecio de recurso puacuteblico Por outro lado tambeacutem natildeo

podemos descartar a necessidade do Ministeacuterio do Esporte promover capacitaccedilotildees

agraves entidades esportivas para minimizar a incidecircncia das rejeiccedilotildees

Jaacute o elemento orccedilamentaacuterio estaacute relacionado ao balizamento dos preccedilos

dos itens solicitados para a execuccedilatildeo do projeto

Art 9ordm []

IV - orccedilamento analiacutetico e comprovaccedilatildeo de que os preccedilos orccedilados satildeo compatiacuteveis com os praticados no mercado ou enquadrados nos paracircmetros estabelecidos pelo Ministeacuterio do Esporte (BRASIL 2007b p5)

O paraacutegrafo uacutenico do Art 5ordm da Portaria Ministerial Nordm 1202009

estabelece que o limite de preccedilo de cada despesa natildeo pode ser superior agrave meacutedia

aritmeacutetica do valor apresentado nos trecircs orccedilamentos (BRASIL 2009a) Por isso na

Graacutefico 5 ndash Situaccedilatildeo dos projetos esportivos apresentados agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporte durante o

periacuteodo de 2007 a 2014

97

etapa de preacute-anaacutelise eacute feito um relatoacuterio42 com todas as despesas suas respectivas

cotaccedilotildees de preccedilo e valor da meacutedia aritmeacutetica para auxiliar na anaacutelise teacutecnica e

emissatildeo do parecer conclusivo

A falta de algum item orccedilamentaacuterio natildeo gera a rejeiccedilatildeo imediata do

projeto Nesta situaccedilatildeo a entidade esportiva seraacute notificada por meio de diligecircncia

teacutecnica sobre a necessidade de apresentaccedilatildeo de orccedilamento ou explicar o motivo da

ausecircncia dos trecircs orccedilamentos Uma das possibilidades de natildeo apresentaccedilatildeo de

todos os orccedilamentos eacute o caso de fornecedor uacutenico (ex taxas de federaccedilotildees

encargos sociais e trabalhistas etc) assim sendo autorizado o envio de orccedilamento

exclusivo com a devida justificativa

Cabe salientar que a anaacutelise orccedilamentaacuteria foi um dos pontos destacados

como fraacutegeis no ldquoRelatoacuterio de Auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeordquo agrave Lei

Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

Em todos os projetos da amostra verificou-se a realizaccedilatildeo de anaacutelise de custos baseada unicamente nos orccedilamentos enviados pelos proponentes natildeo havendo afericcedilatildeo por parte do Ministeacuterio da adequaccedilatildeo dos preccedilos a partir de outras fontes bem como da possibilidade de aquisiccedilatildeo de itens semelhantes de custo mais baixo (BRASIL 2013c p9-10)

A escolha da amostra de orccedilamento pode influenciar no distanciamento

entre o valor solicitado e o preccedilo real praticado pelo mercado principalmente porque

o Ministeacuterio do Esporte natildeo possui um sistema de conferecircncia da compatibilidade

dos preccedilos No entanto a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

funciona em uma plataforma digital onde todas as proponentes tecircm que cadastrar

as propostas e o valor de compra dos materiais Bastaria um ajuste operacional para

transformar a plataforma em um enorme banco de dados de preccedilo

Sabendo que alteraccedilotildees na plataforma digital demandam tempo e

dispecircndio financeiro no curto prazo seria interessante que o Ministeacuterio do Esporte

selecionasse sites confiaacuteveis de pesquisa de preccedilo para o balizamento dos produtos

esportivos Cabe ressaltar que praacutetica similar jaacute tem sido adotada pela aacuterea teacutecnica

para consultar o salaacuterio dos profissionais contratados nos projetos

42

Na parte de anexos desta pesquisa encontra-se acostado um modelo do ldquoRelatoacuterio de Preacute-anaacuteliserdquo o qual eacute utilizado como lista de checagem documental e relatoacuterio consolidado de preccedilos dos materiais solicitados

98

Independente da estrateacutegia adotada pelo Ministeacuterio do Esporte eacute de

suma importacircncia dar maior celeridade ao processo de anaacutelise dos projetos

Atualmente um projeto pode tramitar anos no Ministeacuterio do Esporte ateacute a emissatildeo

do parecer final Desta forma o preccedilo apresentado pode natildeo corresponder agrave

realidade do mercado indiferentemente de ter sido compatibilizado ou natildeo

Inclusive esta pode ser uma explicaccedilatildeo para as proponentes apresentarem

orccedilamento acima do valor de mercado como foi destacado no mesmo relatoacuterio de

auditoria (BRASIL 2013c)

O uacuteltimo elemento do projeto eacute sua fundamentaccedilatildeo na accedilatildeo esportiva

propriamente dita aleacutem dos documentos que comprovem a viabilidade teacutecnica e

operacional da proponente

Art 9ordm [] III - descriccedilatildeo do projeto contendo justificativa objetivos cronograma de execuccedilatildeo fiacutesica e financeira estrateacutegias de accedilatildeo metas qualitativas e quantitativas e plano de aplicaccedilatildeo dos recursos [] V - comprovaccedilatildeo da capacidade teacutecnico-operativa do proponente [] VII - nos casos de construccedilatildeo ou reforma de imoacutevel comprovaccedilatildeo de pleno exerciacutecio dos poderes inerentes agrave propriedade do respectivo imoacutevel ou da posse conforme dispuser o Ministeacuterio do Esporte (BRASIL 2007b p4-5)

A descriccedilatildeo do projeto conforme preconiza o inciso III Art 9ordm do Decreto

Nordm 61802007 eacute preenchida em formulaacuterio digital no sistema da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte Neste formulaacuterio temos

1 Identificaccedilatildeo Titulo do projeto Objeto Locais de Execuccedilatildeo Manifestaccedilatildeo esportiva Beneficiaacuterios (quantitativo e faixa-etaacuteria) dentre outros

2 Descriccedilatildeo dos Objetivos Objetivo (Geral e Especifico) e Metodologia

3 Justificativa

4 Metas Metas Qualitativas e Quantitativas

5 Orccedilamento Atividade fim e Atividade meio

6 Accedilotildees Atividade fim e Atividade meio

7 ANEXOS Fases de Execuccedilatildeo com Cronograma de atividades Quadro de horaacuterio das aulas e dos profissionais Calendaacuterio de eventos eou competiccedilotildees Comprovaccedilatildeo de Capacidade Teacutecnica e Termo de Cessatildeo de Uso do Espaccedilo Esportivo ou Registro de Posse do Imoacutevel

99

Fonte Ministeacuterio do Esporte 2016

Cada um dos campos de fundamentaccedilatildeo do projeto possui um cabeccedilalho

explicativo e em seguida o espaccedilo para a proponente descrever a informaccedilatildeo

Entretanto as questotildees norteadoras satildeo bastante amplas e natildeo contribuem para a

proponente inexperiente formatar um texto de qualidade Assim seria interessante a

subdivisatildeo destes campos e a inclusatildeo de mais perguntas norteadoras No campo

Metodologia por exemplo caberiam questotildees como Descriccedilatildeo de Puacuteblico-alvo

Criteacuterio de seleccedilatildeo dos beneficiaacuterios Descriccedilatildeo das condiccedilotildees de acessibilidade

Organizaccedilatildeo das atividadesaulastreinamentos dentre vaacuterias outras

Por outro lado a carecircncia argumentativa e de conteuacutedo observada nos

projetos analisados nesta pesquisa tambeacutem refletem uma incipiente

profissionalizaccedilatildeo do setor esportivo Desta forma o mecanismo de mecenato

Figura 7 ndash Formulaacuterio digital de identificaccedilatildeo do projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

100

esportivo pode contribuir para a profissionalizaccedilatildeo da aacuterea por meio da exigecircncia de

um planejamento formal da accedilatildeo esportiva O acircmbito profissionalizante deveria ser

encarado como uma das possiacuteveis missotildees da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

(Lei Nordm 1143811) poreacutem existe uma tendecircncia por consideraacute-la como uma simples

poliacutetica de financiamento ao esporte - distribuiccedilatildeo de recurso puacuteblico

Figura 8 ndash Formulaacuterio digital de descriccedilatildeo do ObjetoMetodologia do projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Continua)

101

Fonte Ministeacuterio do Esporte 2016

O sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte tambeacutem exige que a

proponente inclua no miacutenimo trecircs anexos na etapa de elaboraccedilatildeo da proposta para

habilitar a opccedilatildeo ldquosalvarrdquo Mas natildeo existe disponiacutevel no site do Ministeacuterio do Esporte

modelo ou padratildeo destes documentos (Fase de execuccedilatildeo Grade Horaacuteria Quadro

Horaacuterio dos profissionais Calendaacuterio de Evento Criteacuterio de Seleccedilatildeo de Beneficiaacuterio

Atividade Complementar) Fica a cargo de cada proponente criar seu formulaacuterio

anexo e mais uma vez a qualidade das informaccedilotildees pode ficar comprometida ou

dificultar a anaacutelise teacutecnica

Fonte Ministeacuterio do Esporte 2016

Figura 9 ndash Inclusatildeo de anexo ao projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

102

Vale destacar que no site do Ministeacuterio do Esporte existe uma seacuterie de

manuais instruccedilotildees declaraccedilotildees e modelos de formulaacuterios43 As uacutenicas exceccedilotildees

satildeo os documentos necessaacuterios como anexo na etapa de elaboraccedilatildeo da proposta

esportiva Ou seja ocorreu uma preocupaccedilatildeo elevada do Ministeacuterio do Esporte nas

demais fases do mecenato esportivo mas a etapa de planejamento da accedilatildeo sendo

parcialmente negligenciada

Com relaccedilatildeo agrave capacidade teacutecnica da proponente a Portaria Ministerial

Nordm 1202009 acrescenta dois paraacutegrafos admitindo a comprovaccedilatildeo por meio de

portfoacutelio e fotos das atividades jaacute desenvolvidas pela entidade esportiva ou pelo

curriacuteculo dos profissionais que estaratildeo diretamente envolvidos no projeto esportivo

(BRASIL 2009a)

Art 6ordm [] sect 1ordm A capacidade teacutecnico-operativa de que trata o caput poderaacute ser comprovada por meio de informaccedilotildees anexas ao projeto apresentado que esclareccedilam as caracteriacutesticas propriedades e habilidades do proponente dos membros ou de terceiros associados envolvidos diretamente na execuccedilatildeo do projeto apresentado sect 2ordm A comprovaccedilatildeo da capacidade teacutecnico-operativa de que trata o caput poderaacute ser validamente aceita desde que o objeto a ser executado no projeto desportivo ou paradesportivo apresentado seja proacuteprio das atividades regulares e habituais desenvolvidas pelo proponente (BRASIL 2009a p2)

A cobranccedila para a proponente apresentar relatoacuterio curriacuteculo de

profissionais e documentos das atividades realizadas visa minimizar o risco do poder

puacuteblico na aplicaccedilatildeo do recurso financeiro Entretanto como a proacutepria proponente eacute

responsaacutevel pela organizaccedilatildeo destas informaccedilotildees existe possibilidade de

sobrestimar a sua capacidade operacional Logo esta eacute uma exigecircncia fraacutegil para a

comprovaccedilatildeo operativa da entidade esportiva

Se assumirmos que uma das possibilidades (ou objetivos) do mecenato

esportivo eacute a qualificaccedilatildeo da cadeia produtiva do esporte e natildeo apenas fomento as

suas praacuteticas o estimulo do Art 6ordm da Portaria Ministerial Nordm 1202009 para a

proponente organizar seus feitos e realizaccedilotildees eacute extremamente beneacutefico O

documento deixa de ter um caraacuteter uacutenico e exigiacutevel de comprovaccedilatildeo de capacidade

para ser uma atividade inicial no processo de profissionalizaccedilatildeo da entidade

43

Na margem esquerda do site do Ministeacuterio do Esporte que trata sobre a Lei Federal de Incentivo ao Esporte possui o link para vaacuterios documentos modelos do mecenato esportivo Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrindexphpinstitucionalsecretaria-executivalei-de-incentivo-ao-esportegt

103

esportiva Isto eacute um miacutenimo necessaacuterio para a proponente mostrar sua capacidade

de administrar o recurso puacuteblico na execuccedilatildeo da sua atividade finaliacutestica

Nas duas interpretaccedilotildees levantadas para o artigo de comprovaccedilatildeo de

capacidade teacutecnico-operativa eacute de extrema relevacircncia que o Ministeacuterio do Esporte

realize a fiscalizaccedilatildeo in loco para resguardar o interesse puacuteblico no recurso

investido No caso de foco da poliacutetica como mero instrumento de financiamento a

fiscalizaccedilatildeo objetiva controlar os desvios de funccedilatildeo e a apropriaccedilatildeo privada do

recurso Por sua vez o foco na profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas visa

garantir que o recurso siga o cronograma de accedilatildeo e crie materialidade da sua

execuccedilatildeo

No entanto a fiscalizaccedilatildeo in loco eacute um dos ldquogargalosrdquo do controle da Lei

Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) O ldquoRelatoacuterio de Auditoria do

Tribunal de Contas da Uniatildeordquo mostrou que no final de 2009 o Ministeacuterio do Esporte

nunca havia feito fiscalizaccedilatildeo presencial aos projetos em execuccedilatildeo Passados cinco

anos da auditoria o extrato da Nota Presidencial de 201644 informou que em 2015

foram iniciados 499 novos projetos poreacutem feito visita a apenas 36 (72) ou seja

um nuacutemero ainda pequeno de fiscalizaccedilatildeo (BRASIL 2013c)

O Decreto Nordm 61802007 autoriza que 15 do recurso dos projetos

possa ser utilizado na atividade meio ou seja accedilotildees administrativas ou

complementares necessaacuterias para o desenvolvimento do projeto mas que natildeo

possuam viacutenculo direto com o objeto esportivo45 Tambeacutem existe permissatildeo para a

inclusatildeo das despesas de encargos sociais e trabalhistas dos funcionaacuterios ligados

diretamente ao projeto (BRASIL 2007a)

Para esta uacuteltima permissatildeo a proponente tem que deixar expresso no

projeto a escolha pela modalidade de trabalho (empregado ou autocircnomo) e ainda

descriminar os tributos que seratildeo recolhidos O tema trabalhista eacute recorrente fonte

de problema nas propostas tanto que satildeo comuns as diligecircncias teacutecnicas solicitando

esclarecimento sobre a forma de contrataccedilatildeo ndash empregado seguindo as normas da

44

Devido a natildeo divulgaccedilatildeo do desempenho da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) em 2015 ateacute o fechamento da pesquisa parte das informaccedilotildees foram extraiacutedas da Nota enviada pelo Ministeacuterio do Esporte agrave Presidente da Repuacuteblica 45

Geralmente a atividade meio eacute composta por serviccedilos de terceiros tais como assessoria contaacutebil juriacutedica administrativa consultoria de lei de incentivo fiscal ou profissionais contratados via projeto para executar estas mesmas funccedilotildees Tambeacutem pode compor a atividade meio serviccedilos de limpeza manutenccedilatildeo e outros que mesmo tendo maior proximidade com a atividade fim natildeo satildeo consideradas essenciais para a execuccedilatildeo do objeto esportivo

104

Consolidaccedilatildeo da Legislaccedilatildeo Trabalhista (CLT) e incidindo os encargos sociais e

trabalhistas (FGTS INSS PIS 13ordm salaacuterio feacuterias abono feacuterias rescisatildeo de trabalho

etc) ou como autocircnomo seguindo contrato de prestaccedilatildeo de serviccedilo e os encargos

sociais (INSS)

Vale lembrar que qualquer trabalho desempenhado por pessoa fiacutesica em

que haja pessoalidade subordinaccedilatildeo juriacutedica onerosidade natildeo eventualidade

(habitualidade) eou exclusividade de fonte pagadora configura relaccedilatildeo de

emprego46 regida pela CLT Por sua vez o trabalho de profissional autocircnomo eacute

caracterizado pela liberdade da pessoa fiacutesica no desenvolvimento do serviccedilo para o

qual foi contratado de forma eventual (BRASIL 1943)

O consentimento no pagamento dos encargos sociais e trabalhistas com

recurso da isenccedilatildeo fiscal e a orientaccedilatildeo do Ministeacuterio do Esporte via diligecircncia

teacutecnica pode ser avaliado como uma iniciativa para a profissionalizaccedilatildeo e

formalizaccedilatildeo do setor esportivo Esta eacute uma accedilatildeo importante visto que o mercado de

trabalho no esporte eacute marcado pela informalidade (SEBRAE 2013) Por outro lado

este quadro reforccedila o potencial profissionalizante do mecanismo de mecenato

esportivo o qual deve ser mais bem explorado

O decreto estabelece como vedaccedilatildeo a contrataccedilatildeo de um terceiro para

executar o projeto o que caracterizaria a intermediaccedilatildeo de atividade Este ato eacute

tipificado pela transferecircncia da responsabilidade do objeto de pactuaccedilatildeo com o

Ministeacuterio do Esporte para uma pessoa fiacutesica ou juriacutedica diferente da proponente

Mas da mesma maneira como acontece no mecenato cultural a contrataccedilatildeo de

pessoa fiacutesica ou juriacutedica responsaacutevel por auxiliar na elaboraccedilatildeo do projeto e realizar

a captaccedilatildeo de recurso financeiro natildeo eacute designada como intermediaccedilatildeo Desta forma

existe um mercado paralelo de serviccedilo especializado nos mecanismos de leis de

incentivo fiscal atuando em todas as etapas do processo ndash elaboraccedilatildeo de proposta

captaccedilatildeo de recurso e prestaccedilatildeo de contas (BRASIL 2007b)

46

O Art 3ordm do Decreto-Lei Nordm 5452 de 1ordm de maio de 1943 denominado Consolidaccedilatildeo das Leis Trabalhistas (CLT) define os elementos da formalizaccedilatildeo do vinculo empregatiacutecio Satildeo 1) Pessoalidade - o trabalhador deve ser pessoa fiacutesica que assume em caraacuteter intransferiacutevel a prestaccedilatildeo continuada do serviccedilo 2) Subordinaccedilatildeo ndash o trabalhador estaacute subordinado hierarquicamente agraves ordens do empregador como determinaccedilatildeo do lugar da forma do modo e do tempo (dia e hora) da execuccedilatildeo do trabalho 3) Onerosidade - eacute a contraprestaccedilatildeo (remuneraccedilatildeo) devida ao trabalhador pelos serviccedilos prestados 4) Habitualidade - a continuidade na prestaccedilatildeo de serviccedilo independente da periodicidade ou seja um trabalho natildeo eventual 5) Exclusividade - o trabalhador possui como uacutenica fonte de renda o serviccedilo prestado a um empregador exclusivo mantendo uma relaccedilatildeo de dependecircncia

105

O pagamento deste tipo de serviccedilo pode ser incluiacutedo como uma despesa

da proposta esportiva O seu custo eacute calculado como um percentual do valor total do

projeto com aliacutequota maacutexima vinculada a manifestaccedilatildeo esportiva (5 para esporte

de rendimento 7 para esporte de participaccedilatildeo e 10 para esporte educacional) ou

ateacute o teto bruto de R$ 10000000 por proposta (BRASIL 2009a) Ressalta-se que a

proacutepria proponente natildeo pode se remunerar por este tipo de serviccedilo pois

obrigatoriamente tem que ser uma pessoa externa

Este lobby autorizado pelo Estado brasileiro apesar de ampliar as

chances de efetivaccedilatildeo dos projetos devido ao relacionamento das entidades

especializadas com os grandes apoiadores tende a fortalecer o viacutenculo mercantilista

da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) Neste escopo as

accedilotildees esportivas tomam forma de produto a ser comercializado no mercado de

responsabilidade social e fortalecimento de marca O interesse comercial dos

potenciais apoiadores passa a influenciar diretamente o conteuacutedo e sucesso das

propostas esportivas deixando a necessidade e demanda das entidades esportivas

em segundo plano

Outra vedaccedilatildeo apresentada pelo decreto eacute quanto agrave aquisiccedilatildeo de espaccedilo

publicitaacuterio em qualquer meio de comunicaccedilatildeo com o recurso da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) A cobranccedila de valor pecuniaacuterio (dinheiro)

dos beneficiaacuterios de projetos de praacutetica esportiva continuada como as ldquoescolinhas

esportivasrdquo por exemplo tambeacutem apresentam restriccedilatildeo normativa No entanto o

Ministeacuterio do Esporte tem aceitado a cobranccedila de taxa de inscriccedilatildeo mensalidade

eou ingresso no caso de eventos esportivos por natildeo ter o caraacuteter de accedilatildeo

permanente Mas tem estipulando valores acessiacuteveis uma vez que a finalidade do

recurso incentivado eacute democratizar o acesso ao esporte (BRASIL 2007b)

O recurso arrecadado pela proponente com a execuccedilatildeo do projeto

esportivo deve ser utilizado em accedilotildees da proacutepria proposta inclusive a estimativa de

receita deve ser indicada no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

106

Fonte Ministeacuterio do Esporte 2016

A arrecadaccedilatildeo dos projetos de isenccedilatildeo fiscal eacute tema polecircmico Um

primeiro ponto trata da dificuldade em apurar a quantidade real de beneficiaacuterios em

eventos de esporte principalmente da manifestaccedilatildeo participaccedilatildeo o que pode gerar

uma subestimaccedilatildeo entre a arrecadaccedilatildeo declarada e a realizada (receita real) A

variabilidade na quantidade de beneficiaacuterios durante o planejamento somada a falta

de uma fiscalizaccedilatildeo in loco possibilita a apropriaccedilatildeo indevida da receita gerada pelo

projeto por parte da proponente

Como alternativa ao distanciamento do poder puacuteblico na execuccedilatildeo dos

projetos o Ministeacuterio da Sauacutede por exemplo exigiu como requisito obrigatoacuterio no

seu mecanismo de isenccedilatildeo fiscal (PRONON e PRONASPCD) a existecircncia de uma

auditoria independente inserida como despesa do proacuteprio projeto Estrateacutegia similar

poderia ser adotada pelo Ministeacuterio do Esporte para aumentar o controle da receita e

despesa realizada pelos projetos esportivos Aleacutem disso seria uma maneira de

minimizar erros operacionais da proponente e ser um tipo de primeiro filtro para a

Figura 10 ndash Formulaacuterio digital de Receita Prevista dos projetos esportivos no sistema da Lei

Federal de Incentivo ao Esporte

107

prestaccedilatildeo de contas diminuindo (ou facilitando) o trabalho do setor responsaacutevel pela

anaacutelise das contas no Ministeacuterio do Esporte

O segundo ponto de controversa tem a ver com o potencial comercial de

alguns eventos esportivos incentivados pelo mecenato esportivo Grandes circuitos

de corrida de rua por exemplo tidos como autossustentaacuteveis eou que jaacute tinham

realizado outras ediccedilotildees passaram a se beneficiar do recurso da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) com a motivaccedilatildeo de democratizaccedilatildeo do

acesso A questatildeo foi discutida pelo Tribunal de Contas da Uniatildeo com

argumentaccedilatildeo de vedaccedilatildeo sustentada pelo inciso II do Art 24 do Decreto

61802007 (BRASIL 2013c)

Art 24 Eacute vedada a concessatildeo de incentivo a projeto desportivo [] II - em que haja comprovada capacidade de atrair investimentos independente dos incentivos de que trata este Decreto (BRASIL 2007b p7)

Para os membros do Ministeacuterio do Esporte questionados no ldquoRelatoacuterio de

Auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeordquo existe dificuldade de rejeiccedilatildeo das

propostas esportivas porque a comprovada capacidade de atrair investimento seria

materializada com o patrociacutenio formalizado em conta bancaacuteria ou em outros fatos e

documentos concretos Caso contraacuterio seria meramente especulativa a capacidade

do projeto ou proponente de atrair patrociacutenio (BRASIL 2013c)

O Tribunal de Contas da Uniatildeo concordou com a falta de criteacuterios

objetivos para definir a ldquocapacidade de atrair investimentosrdquo poreacutem sugeriu ao

Ministeacuterio do Esporte que levasse em consideraccedilatildeo o contexto e cenaacuterio das

propostas Assim paracircmetros como o apelo comercial da proposta o puacuteblico que

visa atingir e se jaacute teve versatildeo anterior custeado com recurso natildeo incentivado

deveriam ser observados Aleacutem disso orientou

[] a Comissatildeo Teacutecnica natildeo deve esperar que a comprovaccedilatildeo da capacidade de atrair investimento dependa unicamente da declaraccedilatildeo dada pelo proponente sobre a existecircncia de outros patrocinadores em formulaacuterio exigido na inscriccedilatildeo Aliaacutes a anaacutelise do projeto como um todo natildeo deve se apoiar apenas nas informaccedilotildees trazidas pelo proponente mesmo que a Lei em seus arts 10 e 11 disponha sobre sua penalizaccedilatildeo em caso de agir com dolo fraude ou simulaccedilatildeo (BRASIL 2013c p33)

108

A discussatildeo mostra a deficiecircncia nos objetivos do mecanismo de

mecenato esportivo o qual se apresentando como mera poliacutetica de financiamento

permite que qualquer proposta que atenda ao vago preceito normativo seja alvo de

incentivo puacuteblico Desta forma a democratizaccedilatildeo do acesso ao direito social ao

esporte e a promoccedilatildeo das manifestaccedilotildees educacional e de participaccedilatildeo prioridades

constitucionais satildeo fragilizadas diante da falta de diretriz

Nesta situaccedilatildeo tambeacutem observamos uma tendecircncia de transferecircncia do

custeio de accedilotildees esportivas jaacute existentes para o poder puacuteblico Tanto que o relatoacuterio

de auditoria apresenta o incocircmodo do Tribunal de Contas da Uniatildeo sobre a

capacidade do mecanismo de mecenato esportivo de iniciar uma relaccedilatildeo comercial

entre entidade esportiva e setor privado uma vez que ldquoapoacutes a entrada em vigecircncia

da Lei 114382006 muitas empresas optaram pelo financiamento de projetos

esportivos somente mediante o incentivo fiscalrdquo (BRASIL 2013c p37)

Entatildeo fica a duacutevida sobre a existecircncia de um ldquorecurso novordquo de caraacuteter

privado incentivando o objeto esportivo ou se eacute apenas um aumento no montante

puacuteblico para a aacuterea Esta eacute uma indagaccedilatildeo fundamental para mensurar o resultado

da poliacutetica puacuteblica que optou pela escolha de financiamento extraorccedilamentaacuterio ndash

isenccedilatildeo fiscal ndash com o intuito de criar um viacutenculo comercial entre entidade esportiva

e setor privado ou seja a figura do mecenas esportivo

Ainda na temaacutetica do conteuacutedo teacutecnico-operativo da proposta esportiva o

Decreto Nordm 61802007 determina que 50 dos beneficiaacuterios de projetos da

manifestaccedilatildeo educacional devem estar ldquoregularmente matriculados no sistema

puacuteblico de ensinordquo Por sua vez todos os projetos incentivados com recurso de

isenccedilatildeo fiscal independente de manifestaccedilatildeo esportiva devem ldquoproporcionar

condiccedilotildees de acessibilidade a pessoas idosas e com deficiecircnciardquo (BRASIL 2007b

p7)

A Portaria Ministerial Nordm 1202009 natildeo agregou nenhuma normativa a

temaacutetica da acessibilidade por isso as propostas esportivas tem se limitado a citar

que o espaccedilo fiacutesico atende a prerrogativa do Art 16 do Decreto Nordm 61802007

Art 16 - Nos projetos desportivos e paradesportivos desenvolvidos com recursos oriundos dos incentivos previstos no art 1ordm deveratildeo constar accedilotildees com vistas a proporcionar condiccedilotildees de acessibilidade a pessoas idosas e portadoras de deficiecircncia (BRASIL 2007b p7 ndash grifo nosso)

109

Mais uma vez o Ministeacuterio do Esporte se baseia apenas na informaccedilatildeo

fornecida pela proponente sem um relatoacuterio fotograacutefico descritivo detalhado ou

parecer de profissional especializado (engenheiro ou arquiteto) para atestar que o

local do projeto possui infraestrutura com condiccedilotildees de acessibilidade Aleacutem disso a

norma de acessibilidade eacute ampla (deficiecircncia visual auditiva locomoccedilatildeo etc) e natildeo

ficam claras as medidas estruturais que foram tomadas pelas proponentes para o

cumprimento da exigecircncia do Art 16

O ldquoRelatoacuterio de Auditoria Operacional do Tribunal de Contas da Uniatildeo

Acessibilidade nos oacutergatildeos puacuteblicos federais47rdquo demonstra que mesmo existindo

dotaccedilatildeo orccedilamentaacuteria e orientaccedilatildeo para adaptaccedilatildeo agrave acessibilidade em obras de

reforma ampliaccedilatildeo ou construccedilatildeo na administraccedilatildeo puacuteblica federal direta e indireta

ainda haacute um grande deacuteficit no atendimento da universalizaccedilatildeo da acessibilidade

(BRASIL 2012) No entanto realidade diferente parece ser encontrada na aacuterea do

esporte pois a maioria das proponentes declara atender mesmo que

genericamente as condiccedilotildees estruturais de acessibilidade

Por outro lado tambeacutem chama atenccedilatildeo a restriccedilatildeo do termo

acessibilidade a adaptaccedilotildees exclusivamente estruturais e arquitetocircnicas por parte

das proponentes pois o Art 16 do Decreto Nordm 61802007 menciona ldquoaccedilotildeesrdquo com

vista agrave acessibilidade (BRASIL 2007b) Ou seja o desenvolvimento de uma turma

exclusiva para pessoa com deficiecircncia ou idosa reserva de ingressos em evento

esportivo dentre uma variedade de outras accedilotildees pode gerar uma condiccedilatildeo de

acessibilidade mais efetiva a este grupo de necessidades especiais

Para induzir a efetividade desta poliacutetica inclusiva nas propostas esportivas

da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) o Ministeacuterio do Esporte

poderia acrescentar no formulaacuterio digital um campo de descriccedilatildeo das accedilotildees a serem

desenvolvidas pela proponente Como exemplo temos a medida adotada na Lei

Municipal de Incentivo agrave Cultura de Belo Horizonte48 Na oportunidade a Fundaccedilatildeo

Municipal de Cultura incluiu no edital de seleccedilatildeo de projetos o criteacuterio acessibilidade

o qual passou a pontuar de 0 a 5 e o resultado integrar o somatoacuterio da nota final da

47

O ldquoRelatoacuterio de Auditoria Operacional do Tribunal de Contas da Uniatildeo Acessibilidade nos oacutergatildeos puacuteblicos federaisrdquo eacute um documento conclusivo sobre o trabalho de apuraccedilatildeo de questionaacuterio eletrocircnico a seis oacutergatildeos e entidades federais (Caixa Correios INSS Ministeacuterio do Trabalho e Emprego Receita Federal e Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo) de atendimento ao cidadatildeo Disponiacutevel em lthttpportaltcugovbrlumisportalfilefileDownloadjspfileId=8A8182A24F0A728E014F0B24E1417E4Bgt 48

Disponiacutevel em lthttpbhfazculturapbhgovbrgt

110

proposta (nota maacutexima de 100 pontos) O formulaacuterio de projeto passou a ter o

campo ldquoproposta de acessibilidaderdquo e o conteuacutedo avaliado pela comissatildeo julgadora

Para encerrar a temaacutetica sobre o grupo de necessidades especiais

destacamos o caraacuteter discriminatoacuterio do formulaacuterio digital da Lei Federal de Incentivo

ao Esporte agrave pessoa com deficiecircncia Na parte de ldquoBreve Descriccedilatildeo do Puacuteblico

Beneficiaacuteriordquo o Ministeacuterio do Esporte adota o criteacuterio faixa-etaacuteria para quantificar o

nuacutemero de atendidos No caso da pessoa com deficiecircncia a faixa etaacuteria eacute ignorada

e tratada como uma categoria a parte Poreacutem accedilotildees esportivas desenvolvidas para

o puacuteblico com deficiecircncia tambeacutem devem variar em relaccedilatildeo agrave faixa-etaacuteria logo

suprimir esta informaccedilatildeo demonstra no miacutenimo desconsideraccedilatildeo com este

segmento populacional

Fonte Ministeacuterio do Esporte 2016

Cabe ressaltar que apesar do formulaacuterio digital exibir as faixas-etaacuterias

como categorias 1) Crianccedilas 2) Adolescentes 3) Adulto e 4) Idosos na versatildeo

impressa do projeto que deve ser enviada ao Ministeacuterio do Esporte estas tambeacutem

apresentam a delimitaccedilatildeo das idades 1) Crianccedilas (0 a 12 anos) 2) Adolescentes

(10 a 18 anos) 3) Adultos (18 a 59 anos) 4) Idosos (a partir de 60 anos) Mas a

correta faixa-etaacuteria da categoria adolescente seria 13 a 17 anos conforme consta no

Art 2ordm do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Nordm 80691990)

43 O tracircmite do projeto esportivo no Ministeacuterio do Esporte

Encerradas as exigecircncias teacutecnico-operativas para a etapa de elaboraccedilatildeo

e lanccedilamento da proposta esportiva no sistema a proponente deve protocolar o

Figura 11 ndash Formulaacuterio de identificaccedilatildeo do puacuteblico beneficiaacuterio do projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

111

projeto junto ao Ministeacuterio do Esporte Isto eacute mesmo com o projeto lanccedilado no

sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte a entidade esportiva ainda precisa

gerar uma coacutepia impressa anexando corretamente todos os documentos e

orccedilamentos e enviar ao Ministeacuterio do Esporte via correspondecircncia com aviso de

recebimento (AR) ou pessoalmente no setor de protocolo

A etapa seguinte descrita pelo Decreto Nordm 61802007 como ldquoAnaacutelise e

Aprovaccedilatildeo dos Projetosrdquo comeccedila com o recebimento do projeto pelo setor de

protocolo do Ministeacuterio do Esporte O setor tem dois dias uacuteteis para registrar um

nuacutemero de processo interno e encaminhar o projeto para a preacute-anaacutelise setor

responsaacutevel pela conferecircncia documental (BRASIL 2007b BRASIL 2009a) Caso a

documentaccedilatildeo esteja de acordo com o Art 9ordm do decreto o projeto segue para a

aacuterea teacutecnica para anaacutelise do meacuterito esportivo Natildeo existe um prazo determinado

entre a preacute-anaacutelise e a anaacutelise teacutecnica sendo que a segunda eacute hoje o maior

ldquogargalordquo do processo pois o Ministeacuterio do Esporte natildeo conta com um nuacutemero

satisfatoacuterio de analistas

Em 2009 o ldquoRelatoacuterio de Auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeordquo

registrou a carecircncia de equipe teacutecnica especializada para anaacutelise dos projetos de

mecenato esportivo (BRASIL 2013c) Naquela eacutepoca os projetos eram avaliados

pela Secretaria Nacional de Esporte Educacional (SNEE) Secretaria Nacional de

Esporte e Lazer (SNEL) e Secretaria Nacional de Esporte de Rendimento (SNER)

dependendo do tipo de manifestaccedilatildeo esportiva apresentada pelo projeto

A partir de 21 de julho de 2011 o Decreto Nordm 7529 reestruturou a parte

administrativa do Ministeacuterio do Esporte e criou o Departamento de Incentivo e

Fomento ao Esporte (BRASIL 2011) O oacutergatildeo ligado agrave Secretaria-executiva do

ministeacuterio passou a contar com equipe proacutepria para o funcionamento da Lei Federal

de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) e dar apoio operacional a Comissatildeo

Teacutecnica conforme previa o sect4ordm inciso III do Art 7ordm do Decreto Nordm 61802007

Apesar da criaccedilatildeo de uma estrutura especiacutefica para a gestatildeo da Lei

Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) a auditoria realizada pela

Controladoria-Geral da Uniatildeo no Ministeacuterio do Esporte em 2013 indicou que o

oacutergatildeo precisaria de um nuacutemero superior de servidores para atender a demanda O

relatoacuterio da auditoria ainda apresentou que 51 do grupo de funcionaacuterios lotados no

oacutergatildeo eram do tipo terceirizado e outros 15 estagiaacuterios demonstrando a

fragilidade institucional para a execuccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica (BRASIL 2014c)

112

Fonte BRASIL (2012 p1) apud por Starepravo et al (2015 p224)

Para tentar agilizar o tracircmite das propostas esportivas e minimizar o

passivo de projetos aguardando anaacutelise de meacuterito em 2 de dezembro de 2013 a

Portaria Ministerial Nordm 295 divulgou 63 nomes de profissionais autocircnomos

habilitados para atuar como perito parecerista no mecenato esportivo (BRASIL

2013d) Estrateacutegia similar jaacute vinha sendo utilizada pelo Ministeacuterio da Cultura para dar

maior celeridade agrave anaacutelise de projetos na Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991)

Em 29 de fevereiro de 2016 a Portaria Ministerial Nordm 50 reafirmou o

modelo de ampliaccedilatildeo do corpo teacutecnico do Ministeacuterio do Esporte com a

habilitaccedilatildeorenovaccedilatildeo de 59 peritos pareceristas (BRASIL 2016b) Todavia o

aumento no apoio operacional do Ministeacuterio do Esporte aconteceu mais uma vez

sem ampliaccedilatildeo na quantidade de servidor puacuteblico o que natildeo sana a debilidade

institucional

Figura 12 ndash Organograma institucional do Ministeacuterio do Esporte a partir da reformulaccedilatildeo do

Decreto Nordm 75292011

113

Cabe frisar que fui habilitado nos dois editais de seleccedilatildeo de perito

parecerista do Ministeacuterio do Esporte (Portaria Ministerial Nordm 2952013 e Nordm 502016)

e por conta disso pude vivenciar parcialmente o tracircmite interno dos projetos na Lei

Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

A fase da anaacutelise teacutecnica do meacuterito da proposta esportiva pode ser feita

pela equipe teacutecnica do Departamento de Incentivo e Fomento do Ministeacuterio do

Esporte (DIFE) ou por perito parecerista mas este uacuteltimo supervisionado por um

servidor puacuteblico que assina junto o parecer conclusivo

A carecircncia de perguntas norteadoras no formulaacuterio digital da Lei Federal

de Incentivo ao Esporte e a incipiente profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas

dificultam a emissatildeo de um parecer conclusivo na primeira anaacutelise da grande maioria

dos projetos Entatildeo eacute comum o envio de diligecircncia teacutecnica a proponente solicitando

esclarecimento e mais informaccedilotildees sobre a proposta Nesta etapa tambeacutem pode ser

solicitado orccedilamentos extras ou explicaccedilotildees sobre a memoacuteria de caacutelculo dos

materiais e serviccedilos contratados ou seja anaacutelise do elemento orccedilamentaacuterio do

projeto

Para exemplificar o desalinhamento entre Ministeacuterio do Esporte e

proponente durante a fase de elaboraccedilatildeo o qual acaba refletindo em solicitaccedilatildeo de

esclarecimentos na etapa subsequente de anaacutelise de meacuterito recorremos a alguns

itens costumeiros nas diligecircncias teacutecnicas Por parte do Ministeacuterio do Esporte existe

uma seacuterie de exigecircncias normativas que a proponente deve atender tais como

informar que usaraacute o selo da Lei Federal de Incentivo ao Esporte e demais

logomarcas oficiais informar as condiccedilotildees de acessibilidade a pessoas idosas e com

deficiecircncia informar se haveraacute alguma fonte de recurso advinda da realizaccedilatildeo do

projeto Se estas questotildees estivessem expliacutecitas no formulaacuterio digital poderia evitar

o trabalho adicional de diligenciar as entidades esportivas Lembrando que o

trabalho adicional realizado por servidor puacuteblico devido agrave falha de processo pode ser

considerado uma forma ampliada de desperdiacutecio de recurso puacuteblico

Por parte das proponentes agraves vezes falta coerecircncia entre objetivos e

metas sendo que algumas metas podem extrapolar a capacidade de intervenccedilatildeo do

projeto Um exemplo eacute ldquodiminuir a evasatildeo escolarrdquo49 Ora os projetos de esporte

49

Todos os trechos entre aspas deste paraacutegrafo foram extraiacutedos de projetos em que realizei anaacutelise como perito parecerista da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) no periacuteodo de 2014 a 2015

114

educacional podem influenciar na retenccedilatildeo dos seus beneficiaacuterios mas o problema

da evasatildeo escolar envolve toda a comunidade escolar e natildeo apenas os atendidos

pela accedilatildeo esportiva Assim eacute necessaacuterio cautela nos objetivos e metas para natildeo

reproduzir de forma simplista o discurso salvacionista enraizado no esporte Outra

meta recorrente foi a ldquomelhora na qualidade de vidardquo Neste caso o termo qualidade

de vida eacute bastante amplo e de cunho subjetivo e individual gerando uma dificuldade

teacutecnica para mensurar o cumprimento desta meta Um terceiro exemplo seria

ldquoImpulsionar o desenvolvimento da induacutestria nacionalrdquo Por mais que a compra de

materiais seja relevante para alguns projetos esportivos uma uacutenica accedilatildeo gerar um

impacto na cadeia produtiva do esporte nacional parece exagero Enfim cabe uma

reflexatildeo sobre a adequaccedilatildeo entre os objetivos e metas e a real viabilidade do

resultado a ser mensurado

Neste contexto os projetos usualmente satildeo insuficientes de informaccedilatildeo

sobre a accedilatildeo esportiva pleiteada ou apresentam problemas teacutecnicos Apoacutes

notificaccedilatildeo da entrega da diligecircncia teacutecnica a proponente passa a ter 15 dias uacuteteis

para manifestar resposta podendo o prazo ser estendido pelo mesmo periacuteodo uma

uacutenica vez (BRASIL 2009a) A falta de resposta agrave diligecircncia dentro do prazo leva a

rejeiccedilatildeo do projeto esportivo conforme consta no Art 26ordm do Decreto Nordm

61802007

Art 26 Nos casos de natildeo-atendimento tempestivo de diligecircncia requerida ao proponente indeferimento do projeto ou do pedido de reconsideraccedilatildeo o projeto seraacute rejeitado e devolvido ao interessado (BRASIL 2007b p7)

Somente apoacutes sanar todas as duacutevidas e problemas eacute possiacutevel a emissatildeo

de um parecer conclusivo O parecer consta de 1) histoacuterico da entidade esportiva

junto ao mecanismo de Lei Federal de Incentivo ao Esporte 2) anaacutelise da viabilidade

teacutecnica do projeto a partir das informaccedilotildees descritivas apresentadas no formulaacuterio e

resposta de diligecircncia teacutecnica 3) anaacutelise orccedilamentaacuteria onde se verifica o

quantitativo e o balizamento de preccedilo dos itens solicitados para operacionalizaccedilatildeo

do projeto 4) comprovaccedilatildeo da capacidade teacutecnico-operativa da proponente e por

fim 5) conclusatildeo final argumentando pela aprovaccedilatildeo aprovaccedilatildeo parcial (exclusatildeo

de alguns itens) ou rejeiccedilatildeo do projeto

Vale ressaltar que o parecer conclusivo tem caraacuteter sugestivo pois a

decisatildeo final eacute realizada pela Comissatildeo Teacutecnica atraveacutes da votaccedilatildeo aberta dos seus

115

seis membros Para nortear o voto dos membros o inciso I do Art 21 do Decreto

Nordm 61802007 sinaliza para um possiacutevel principio democraacutetico (natildeo concentraccedilatildeo)

de escolha de maneira a natildeo levar em consideraccedilatildeo apenas o meacuterito das

propostas

Art 21 Quando da anaacutelise dos projetos apresentados a Comissatildeo Teacutecnica observaraacute os seguintes paracircmetros I - natildeo-concentraccedilatildeo por proponente por modalidade desportiva ou paradesportiva por manifestaccedilatildeo desportiva ou paradesportiva ou por regiotildees geograacuteficas nacionais II - capacidade teacutecnico-operativa do proponente III - atendimento prioritaacuterio a comunidades em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social IV - inexistecircncia de outro patrociacutenio doaccedilatildeo ou benefiacutecio especiacutefico para as accedilotildees inseridas no projeto (BRASIL 2007b p7 ndash grifo nosso)

Fonte Inspirado em BRASIL (2007b p7) ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Contudo os graacuteficos a seguir elaborados a partir do ldquoRelatoacuterio de Gestatildeo

da Lei Federal de Incentivo ao Esporte de 2014rdquo e das ldquoContas Regionais do Brasil

2010-2013rdquo do IBGE50 mostram que existe uma alta concentraccedilatildeo de incentivo fiscal

para o esporte na regiatildeo Sudeste do paiacutes superior inclusive agrave distribuiccedilatildeo

percentual do Produto Interno Bruto (PIB) Ou seja apesar da orientaccedilatildeo pela natildeo

concentraccedilatildeo em regiatildeo geograacutefica nota-se que o mecanismo de mecenato

esportivo tem reproduzido e ateacute mesmo reforccedilado o mapa da desigualdade

econocircmica do paiacutes

50

Disponiacutevel em lthttpbibliotecaibgegovbrvisualizacaolivrosliv94952pdfgt

Paracircmetro Natildeo concentraccedilatildeo

Por proponente

Por modalidade esportiva

Por manifestaccedilatildeo

esportiva

Por regiotildees geograacuteficas

Figura 13 ndash Diagrama de paracircmetro para a escolha e aprovaccedilatildeo dos projetos esportivos na

Lei Federal de Incentivo ao Esporte

116

Fonte IBGE (2013 p12) Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Haacute espaccedilo para contra argumentar que a maior distribuiccedilatildeo do recurso na

regiatildeo Sudeste teria relaccedilatildeo com a concentraccedilatildeo da populaccedilatildeo Poreacutem ao se

verificar a distribuiccedilatildeo territorial da populaccedilatildeo nas regiotildees administrativas do paiacutes

referenciada pelo Censo do IBGE de 201051 natildeo percebemos similaridade entre os

percentuais Logo a orientaccedilatildeo de natildeo concentraccedilatildeo do mecenato esportivo por

regiatildeo geograacutefica natildeo tem sido cumprida pela Comissatildeo Teacutecnica

Fonte IBGE acesso ao SIDRA no dia 4 de marccedilo de 2016 referente a dados de 2013

Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

51

Disponiacutevel em lthttpwwwsidraibgegovbrgt

Graacutefico 6 ndash Comparativo entre a distribuiccedilatildeo do PIB brasileiro e o acumulado da Captaccedilatildeo de

Recurso na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por regiatildeo administrativa do paiacutes

Graacutefico 7 ndash Comparativo entre a distribuiccedilatildeo populacional e o acumulado da Captaccedilatildeo de

Recurso na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por regiatildeo administrativa do paiacutes

117

O ldquoRelatoacuterio de Auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeordquo em 2009 jaacute

alertava o Ministeacuterio do Esporte sobre a concentraccedilatildeo de recurso e projetos na

regiatildeo Sudeste Na eacutepoca o Ministeacuterio do Esporte se retratou justificando a

dificuldade em favorecer as demais regiotildees administrativas do paiacutes uma vez que as

diferenccedilas culturais e econocircmicas historicamente presentes no paiacutes favoreciam uma

maior apresentaccedilatildeo de projetos da regiatildeo Sudeste (BRASIL 2013c)

Ao observar o valor aprovado pelo mecenato esportivo por regiatildeo

administrativa do paiacutes no periacuteodo acumulado de 2007 a 2014 notamos que o

montante autorizado diminuiu para 731 (R$ 309262349300) na regiatildeo Sudeste

quando comparado ao percentual de 789 (R$ 38684513622) calculado em 2009

(BRASIL 2013c p26) Poreacutem a quantia que foi realmente captada e efetivada em

accedilatildeo esportiva mostrou um aumento nocivo na desproporcionalidade regional sendo

823 (R$ 112193248500) destinado agrave regiatildeo Sudeste Ou seja o somatoacuterio do

recurso financeiro captado por todas as demais regiotildees (R$ 24126717300) durante

o acumulado no periacuteodo de 2007 a 2014 foi inferior ao que se aplica no Sudeste

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Desta forma embora o mecanismo de mecenato esportivo tenha levado

um ldquorecurso novordquo para a aacuterea do esporte ele tem sido incapaz de minimizar

desigualdades regionais e levar o direito social ao esporte para locais onde

tradicionalmente o Estado brasileiro tem pequena presenccedila como Norte e Nordeste

(MATIAS et al 2015) Portanto como uma poliacutetica puacuteblica nacional torna-se

Graacutefico 8 ndash Comparativo entre a distribuiccedilatildeo do acumulado de 2007 a 2014 do recurso

autorizado e captado pela Lei Federal de Incentivo por regiatildeo administrativa do paiacutes

118

importante que o Ministeacuterio do Esporte reflita sobre estrateacutegias para pulverizar o

recurso e dar oportunidade agraves entidades esportivas sediadas nas demais regiotildees do

paiacutes

O mecanismo de mecenato cultural da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991)

apresenta limitaccedilatildeo geograacutefica similar poreacutem a legislaccedilatildeo tambeacutem conta com o

Fundo Nacional de Cultura (FNC) que recebe resiacuteduo financeiro de projetos recurso

direto do orccedilamento da Uniatildeo dentre outras fontes52 O Fundo Nacional de Cultura

(FNC) possibilita a abertura de editais direcionados e o investimento em localidades

em que o incentivo fiscal natildeo consegue chegar seja por falta de apoiadores

(empresas tributadas pela modalidade lucro real ou pessoas com declaraccedilatildeo

completa do Imposto sobre a Renda) ou de pouca visibilidade comercial (BRASIL

1991a)

No caso do esporte o inciso I do Art 56 da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998)

prevecirc a criaccedilatildeo do Fundo Desportivo poreacutem ateacute o momento natildeo regulamentado

(BRASIL 1998a) O Fundo Desportivo poderia ser viabilizado inicialmente com os

resiacuteduos financeiros da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

como por exemplo o recurso captado por projetos que natildeo atingiram o patamar

miacutenimo de executabilidade (20 do valor total) ou o rendimento da aplicaccedilatildeo

financeira dos projetos executados Atualmente os resiacuteduos do mecenato esportivo

satildeo recolhidos ao Tesouro Nacional por meio da Guia de Recolhimento da Uniatildeo

(GRU) Neste trabalho natildeo foi possiacutevel mensurar o montante financeiro alusivo a

este resiacuteduo mas trata-se de uma alternativa de direcionamento puacuteblico agrave poliacutetica de

financiamento ao esporte

O mecanismo de incentivo ao esporte de Minas Gerais adotou artifiacutecio

similar para minimizar o impacto da concentraccedilatildeo de recurso e projeto na regiatildeo

metropolitana de Belo Horizonte centro poliacutetico e administrativo do estado A

52

O Art 5ordm da Lei Rouanet define a origem do recurso constituinte do Fundo Nacional de Cultura como sendo 1) Tesouro Nacional 2) doaccedilotildees 3) legados 4) subvenccedilotildees e auxiacutelios de entidades de qualquer natureza inclusive de organismos internacionais 5) saldos natildeo utilizados na execuccedilatildeo dos projetos 6) devoluccedilatildeo de recursos de projetos natildeo iniciados ou interrompidos com ou sem justa causa 7) 1 da arrecadaccedilatildeo dos Fundos de Investimentos Regionais a que se refere a Lei ndeg 8167 de 16 de janeiro de 1991 obedecida na aplicaccedilatildeo a respectiva origem geograacutefica regional 8) 3 da arrecadaccedilatildeo bruta dos concursos de prognoacutesticos e loterias federais deduzindo-se este valor do montante destinados aos precircmios 9) reembolso das operaccedilotildees de empreacutestimo realizadas atraveacutes do fundo a tiacutetulo de financiamento reembolsaacutevel observados criteacuterios de remuneraccedilatildeo que no miacutenimo lhes preserve o valor real 10) resultado das aplicaccedilotildees em tiacutetulos puacuteblicos federais 11) conversatildeo da diacutevida externa com entidades e oacutergatildeos estrangeiros unicamente mediante doaccedilotildees 12) saldos de exerciacutecios anteriores 13) recursos de outras fontes

119

legislaccedilatildeo do Minas Esportiva Incentivo ao Esporte (Lei Estadual Nordm 202842013)

criou uma fonte de arrecadaccedilatildeo para a Secretaria de Estado de Esporte depositada

em um fundo especifico para o esporte estadual Assim 10 do valor total captado

por todos os projetos satildeo recolhidos neste fundo e disponibilizado em editais

especiacuteficos dando oportunidade de financiamento agravequeles projetos com maior

dificuldade de captaccedilatildeo e entidades esportivas sediadas em municiacutepios com menor

Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDHm) (MINAS GERAIS 2013)

Para fins de suposiccedilatildeo se a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) tivesse acolhido estrateacutegia de criaccedilatildeo de fundo esportivo idecircntica a de

Minas Gerais o recolhimento do percentual de 10 do valor captado na regiatildeo

Sudeste (R$ 11219324900) daria um montante superior ao somatoacuterio da quantia

conseguida pelas regiotildees Norte Nordeste e Centro-Oeste (R$ 8875997600) no

acumulado de 2007 a 2014

Todavia a formaccedilatildeo de fundo esportivo com recurso de origem da proacutepria

captaccedilatildeo pode ser beneacutefica para a distribuiccedilatildeo regional mas impacta negativamente

no aumento no valor total do projeto Projetos mais caros podem dificultar ainda mais

a captaccedilatildeo de recursos das pequenas entidades esportivas e daquelas propostas

com baixo potencial comercial Ademais as entidades esportivas passam a ser

captadoras de recurso para a pasta do esporte (fundo puacuteblico do esporte)

recolhendo tributo pela via extraorccedilamentaacuteria quando na verdade o debate do

fomento e alocaccedilatildeo do recurso puacuteblico deveria estar abrigado no debate de

formaccedilatildeo do orccedilamento puacuteblico

Uma segunda orientaccedilatildeo do Decreto Nordm 61802007 para a aprovaccedilatildeo

de projetos pela Comissatildeo Teacutecnica eacute a natildeo concentraccedilatildeo por manifestaccedilatildeo esportiva

(BRASIL 2007b) No entanto mais uma vez os dados do ldquoRelatoacuterio Gerencial da

Lei federal de Incentivo ao Esporte de 2014rdquo Nota Presidencial de 2016 e do

ldquoRelatoacuterio de Auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeordquo demonstram uma disfunccedilatildeo

no funcionamento do mecanismo de mecenato esportivo (BRASIL 2015c BRASIL

2013c)

120

Graacutefico 9 ndash Distribuiccedilatildeo do recurso autorizado e captado pelos projetos esportivos da Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizados em 27 de marccedilo de 2013

Apesar de uma suposta priorizaccedilatildeo do mecanismo de isenccedilatildeo fiscal ao

esporte educacional e de participaccedilatildeo por conta da vedaccedilatildeo do Art 5ordm do Decreto

Nordm 61802007 ao pagamento de remuneraccedilatildeo a atleta profissional o impedimento

foi incapaz de restringir a supremacia na apresentaccedilatildeo dos projetos de esporte de

rendimento

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 11 de marccedilo de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Graacutefico 10 ndash Distribuiccedilatildeo da quantidade dos projetos esportivos apresentados na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

121

Nota-se que o ano de 2007 foi o de menor participaccedilatildeo percentual dos

projetos na manifestaccedilatildeo rendimento com 410 do total apresentado Enquanto o

ano de 2009 exibiu a maior proporccedilatildeo com 528 do montante de projetos A meacutedia

geral da proporccedilatildeo de projetos apresentados na manifestaccedilatildeo rendimento foi de

498 calculada pelo acumulado de 2007 a 2015 das propostas apresentadas por

esta manifestaccedilatildeo (5702) e o total geral de projetos do mecanismo (11459)

A concentraccedilatildeo de projetos e recurso financeiro na manifestaccedilatildeo

rendimento eacute justificada pelo Ministeacuterio do Esporte como fruto do histoacuterico cultural do

paiacutes que tem no atleta e no esporte competitivo oportuno meio de transmissatildeo de

valores morais para a construccedilatildeo da sociedade (BRASIL 2013c)

Aliado agrave questatildeo cultural ainda devemos considerar que a

obrigatoriedade de profissionalizaccedilatildeo esportiva existe apenas para o futebol e para o

peatildeo de rodeio segundo consta no Art 94 da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) e Lei Nordm

102202001 respectivamente (BRASIL 1998a BRASIL 2001c) Nas demais

modalidades do esporte a profissionalizaccedilatildeo tem um caraacuteter facultativo e por conta

disso pode permitir o acesso das tradicionais entidades de rendimento ao recurso

da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) Tal constataccedilatildeo exibe

a necessidade de ter precisatildeo no objetivo e missatildeo do mecenato esportivo pois as

manifestaccedilotildees educacional e de participaccedilatildeo formulaccedilotildees mais recentes e ainda

fraacutegeis de materialidade estatildeo disputando espaccedilo em par de igualdade com o jaacute

consolidado esporte de rendimento

Como medida preventiva para minimizar o impacto na concentraccedilatildeo de

recurso no esporte de rendimento o Ministeacuterio do Esporte acordou com a Secretaria

da Receita Federal um ato normativo (Decreto Nordm 63382007 e Decreto Nordm

6684200853) para fixar limite de isenccedilatildeo fiscal entre as manifestaccedilotildees (BRASIL

2007c BRASIL 2008) A designaccedilatildeo do valor de isenccedilatildeo fiscal tambeacutem visava

53

De acordo com a consulta realizada ao Ministeacuterio do Esporte em 12 de abril de 2016 atraveacutes da Lei de Acesso a Informaccedilatildeo (Lei Nordm 125272011) me foi informado que o Decreto Nordm 66842008 continua em vigecircncia estipulando o valor do teto da renuacutencia fiscal ao esporte No entanto o decreto trata expressamente do ano-fiscal de 2008 e natildeo possui registro de alteraccedilatildeo do seu texto Desta forma este ato expirou a validade e natildeo possui legalidade para fixar o teto do mecanismo de mecenato esportivo apesar de ser sido informado pelo ministeacuterio O que existe atualmente eacute uma tabela da Secretaria da Receita Federal que acompanha o projeto de Lei Orccedilamentaacuteria Anual (LOA) onde existe uma estimativa da renuacutencia fiscal do ano vigente baseada no recurso captado no ano antecedente Contudo a falta de um ato do Poder Executivo fixando expressamente o valor anual da renuncia descumpre a exigecircncia do Art 13-A da Lei Federal de Incentivo ao Esporte Disponiacutevel em lthttpidgreceitafazendagovbrdadosreceitadatarenuncia-fiscalprevisoes-ploaarquivos-e-imagensdemonstrativos-dos-gastos-tributarios-dgtgt

122

atender as exigecircncias do Art 13-A da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006)

Art 1ordm - O valor maacuteximo das deduccedilotildees do imposto sobre a renda devido a tiacutetulo de patrociacutenios ou doaccedilotildees no apoio direto a projetos desportivos e paradesportivos de que trata o art 1ordm da Lei nordm 11438 de 29 de dezembro de 2006 eacute fixado para o ano-calendaacuterio de 2008 em R$ 40000000000 (quatrocentos milhotildees de reais) sendo que desse valor I - R$ 20000000000 (duzentos milhotildees de reais) correspondem [] projetos desportivos e paradesportivos na aacuterea do desporto educacional II - R$ 5332000000 (cinquenta e trecircs milhotildees trezentos e vinte mil reais) correspondem [] projetos desportivos e paradesportivos na aacuterea do desporto de participaccedilatildeo e III - R$ 14668000000 (cento e quarenta e seis milhotildees seiscentos e oitenta mil reais) correspondem [] projetos desportivos e paradesportivos na aacuterea do desporto de rendimento (BRASIL 2008 p1)

No entanto o mecanismo de mecenato esportivo ainda se encontra

distante do teto fiscal de R$ 400 milhotildees assim o ato teve pouco impacto como

medida disciplinadora Natildeo obstante eacute importante o Ministeacuterio do Esporte ponderar

outras estrateacutegias para minimizar a concentraccedilatildeo na modalidade rendimento pois

aleacutem de contrariar o paracircmetro de natildeo concentraccedilatildeo do Decreto Nordm 61802007

ainda tem como agravante divergir do Art 217 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o

qual recomenda prioridade de investimento no esporte educacional e de

participaccedilatildeo

Uma alternativa tendo em vista a embrionaacuteria profissionalizaccedilatildeo das

entidades esportivas seria a elaboraccedilatildeo de cartilha educativa oferta de curso e

seminaacuterio sobre a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

focando na distinccedilatildeo das manifestaccedilotildees esportivas Outra possibilidade seria a

aproximaccedilatildeo do Departamento de Incentivo e Fomento ao Esporte com a secretaria

gestora dos programas Segundo Tempo (PST) e Esporte e Lazer da Cidade (PELC)

seguida pela disponibilizaccedilatildeo de um projeto modelo destes programas para auxiliar

a elaboraccedilatildeo das proponentes inexperientes

O terceiro paracircmetro indicado pelo Decreto Nordm 61802007 trata da natildeo

concentraccedilatildeo por proponente (BRASIL 2007b) Mas os dados do ldquoRelatoacuterio

Gerencial da Lei Federal de Incentivo ao Esporte de 2014rdquo mostram que no periacuteodo

de 2007 a 2014 apenas 24 proponentes concentraram 466 (aproximadamente R$

61777700000) de todo o montante captado pelo mecanismo de mecenato

esportivo (R$ 132711914300) (BRASIL 2015c)

123

Quando analisamos este grupo de sucesso notamos que 10 entidades

esportivas estatildeo no estado de Satildeo Paulo e satildeo responsaacuteveis por 490

(aproximadamente R$ 30283700000) do recurso Ou seja as 10 proponentes

paulistas concentram quase frac14 de todo o recurso acumulado no periacuteodo de 2007 a

2014 O grupo eacute formado por outras 10 proponentes do Rio de Janeiro que

acumulam 364 (aproximadamente R$ 22491600000) e mais trecircs proponentes

de Minas Gerais que somaram 123 (aproximadamente R$ 7592000000) do

montante Fechando o grupo das 24 proponentes temos uma uacutenica integrante que

estaacute no Paranaacute responsaacutevel pelo percentual de 23 (aproximadamente R$

1410400000) do recurso

Percebemos que este seleto grupo de 24 proponentes estaacute

predominantemente sediado na regiatildeo Sudeste o que contribuiu para reforccedilar a

concentraccedilatildeo regional que verificamos anteriormente Contudo chama a atenccedilatildeo

quando verificamos a tipologia destas proponentes O percentual de 229

(aproximadamente R$ 14124100000) do recurso estaacute distribuiacutedo para seis

confederaccedilotildees ou entidades representativas do esporte nacional No entanto estas

satildeo entidades que jaacute recebem recurso puacuteblico da Lei AgneloPiva (Lei Ndeg

102642001) para promoccedilatildeo do esporte de rendimento

No dia 11 de marccedilo de 2016 por meio do site do Ministeacuterio do Esporte

consultamos sobre a manifestaccedilatildeo esportiva das propostas recentemente aprovadas

por estas seis entidades (periacuteodo de 01082013 a 31122015) Apesar da baixa

confiabilidade54 do site verificamos a quantia de 20 propostas sendo 19 de

rendimento e uma de esporte educacional Desta forma estimamos que estas

entidades representativas do esporte estejam contribuindo para a concentraccedilatildeo de

recurso na manifestaccedilatildeo rendimento tendo em vista o histoacuterico das uacuteltimas

propostas aprovadas e o sucesso acumulado na captaccedilatildeo de recurso

54

Durante a pesquisa foi identificada inconformidade entre as informaccedilotildees fornecidas pelo relatoacuterio interno do sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte e o disponibilizado no site do Ministeacuterio do Esporte O problema de confiabilidade do sistema tambeacutem foi observado no ldquoRelatoacuterio de Auditoria Anual de Contas da Controladoria-Geral da Uniatildeordquo em 2013 o qual ainda comenta sobre a utilizaccedilatildeo excessiva de planilhas eletrocircnicas pelos servidores para o controle do programa (BRASIL 2013)

124

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Tambeacutem temos dois clubes recreativosesportivos concentrando 194

(aproximadamente R$ 11993400000) de todo o recurso captado pelo grupo Trata-

se de um clube de Satildeo Paulo e outro de Minas Gerais O massivo financiamento em

apenas um clube regional pode criar uma discrepacircncia de desempenho tatildeo grande

com relaccedilatildeo aos seus pares que os torneios perdem em competitividade e gera-se

um quase monopoacutelio esportivo e consequente disfunccedilatildeo na cadeia produtiva do

esporte de rendimento

O grupo das proponentes de sucesso ainda eacute formado por mais dois

clubes de futebol com 65 (aproximadamente R$ 3992700000) do recurso

seguido por uma cooperativa com 44 (aproximadamente R$ 2731600000) Cabe

ressaltar que esta uacuteltima apesar da monta natildeo foi localizado site para verificar a

experiecircncia com projetos esportivos Por fim 13 entidades esportivas tinham a

personalidade juriacutedica de associaccedilatildeo e foram responsaacuteveis por 468

(aproximadamente R$ 28932900000) de todo o recurso do grupo

A anaacutelise na concentraccedilatildeo de recurso por proponente permitiu verificar

impacto direto e negativo na concentraccedilatildeo por regiatildeo e de manifestaccedilatildeo esportiva

Nesse sentido seria interessante o Ministeacuterio do Esporte estabelecer um teto de

participaccedilatildeo deste grupo na captaccedilatildeo de recurso para limitar o aumento das

desigualdades Por outro lado seria interessante aprofundar na compreensatildeo deste

grupo verificando suas estrateacutegias de sucesso e avaliando o resultado dos projetos

na promoccedilatildeo (ou natildeo) do direito social ao esporte

Graacutefico 11 ndash Distribuiccedilatildeo financeira acumulada (2007 a 2014) das 24 proponentes com maior

sucesso na captaccedilatildeo na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

125

O quarto e uacuteltimo paracircmetro trata da natildeo concentraccedilatildeo por modalidade

esportiva No formulaacuterio digital da Lei Federal de Incentivo ao Esporte foi possiacutevel

identificar 183 modalidades de esporte Entretanto alguns itens satildeo apenas

categorias ou derivaccedilotildees da ldquomodalidade raizrdquo como o motociclismo que desponta

com 7 distinccedilotildees 1) Enduro 2) Enduro de Regularidade 3) Rally 4) Trial 5)

Motocross 6) Moto Jump 7) Motovelocidade Desta maneira para facilitar a

compreensatildeo do fenocircmeno as categorias foram agrupadas em torno da modalidade

raiz

De acordo com o ldquoRelatoacuterio de Gestatildeo da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte de 2014rdquo oito modalidades captaram 560 (R$ 14271871900) de todo o

montante arrecadado para o ano de 2014 (R$ 25475370500) Para este caacutelculo as

modalidades voleibol (R$ 1168037000) e vocirclei de praia (R$ 869791000) foram

agrupadas assim como ciclismo (R$ 775546500) e bike (R$ 531661400)

(BRASIL 2015c)

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Graacutefico 12 ndash Distribuiccedilatildeo financeira da captaccedilatildeo de recurso de 2014 na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte por modalidade esportiva

126

A corrida de rua natildeo foi integrada ao atletismo apesar de ser considerada

uma derivaccedilatildeo desta pois gostariacuteamos de chamar atenccedilatildeo para esta categoria Em

2013 a corrida de rua aparecia na 5ordf colocaccedilatildeo entre as modalidades mais

incentivadas com o valor de R$ 1225904800 Mas em 2014 a corrida de rua

superou o futebol tradicionalmente o 1ordm colocado com a monta de R$

2187101600 (BRASIL 2014d BRASIL 2015c)

A preocupaccedilatildeo com a sauacutede e a facilidade da praacutetica esportiva que natildeo

requer muitos equipamentos foram fatores cruciais para a popularizaccedilatildeo da corrida

de rua No entanto o que pode ser duvidoso neste processo eacute a quantidade de

eventos de corrida de rua incentivados com recurso puacuteblico Vaacuterios desses eventos

eram tidos como autossustentaacuteveis e geradores de renda para seus organizadores

No entanto mesmo assim passaram a solicitar apoio do mecanismo de mecenato

esportivo e a cobrar taxa ou inscriccedilatildeo de participaccedilatildeo dos seus beneficiaacuterios Mesmo

sendo do conhecimento de todos que a receita gerada deve ser aplicada na proacutepria

accedilatildeo esportiva notou-se uma proliferaccedilatildeo destes eventos na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) Nesse sentido seria interessante o

Ministeacuterio do Esporte manter-se atento a fiscalizaccedilatildeo de processo e de resultado

destes projetos

Por outro lado o Ministeacuterio do Esporte tambeacutem deve se indagar sobre o

limite de recurso puacuteblico a ser investido em uma modalidade ou em uma categoria

desta modalidade Somente para exemplificar a Lagoa da Pampulha tradicional

espaccedilo de lazer em Belo Horizonte chegou a ter seu calendaacuterio de 2014 saturado55

por eventos de corrida de rua Para comportar excessiva demanda os

organizadores passaram a realizar corridas tanto pela manhatilde quanto pela noite

Diante deste surto de eventos de corrida de rua fica a duacutevida sobre a necessidade

de aplicaccedilatildeo de recurso da isenccedilatildeo fiscal para ampliar a oferta desta categoria do

atletismo

A partir da anaacutelise dos quatro paracircmetros orientadores da decisatildeo da

Comissatildeo Teacutecnica observamos problemas de harmonia na distribuiccedilatildeo do recurso

puacuteblico no mecanismo de mecenato esportivo Logo cabe ao Ministeacuterio do Esporte

suprir os seis membros da Comissatildeo Teacutecnica de subsiacutedios da realidade operacional

55

O exemplo utilizado natildeo remete necessariamente a projetos de corrida incentivados pelo mecanismo de mecenato esportivo Foi uma situaccedilatildeo para refletir sobre o limite de recurso e eventos na aacuterea da corrida de rua e para a promoccedilatildeo do direito social ao esporte

127

do mecanismo para que tomem as decisotildees mais assertivas uma vez que a palavra

final sobre a aprovaccedilatildeo aprovaccedilatildeo parcial ou rejeiccedilatildeo eacute deliberada por este comitecirc

44 Aprovaccedilatildeo de projeto e Captaccedilatildeo de Recurso

O presidente da Comissatildeo Teacutecnica eacute responsaacutevel por montar a pauta da

reuniatildeo deliberativa e realizar o sorteio de distribuiccedilatildeo dos projetos aos membros

Cada integrante da Comissatildeo Teacutecnica torna-se relator de um projeto e utiliza o

parecer conclusivo da aacuterea teacutecnica ou do perito parecerista para basear seu voto

Antes de votar o membro relator apresenta um resumo da proposta esportiva aos

demais membros para que todos tenham subsiacutedio para o voto

Caso o membro relator natildeo esteja convicto das informaccedilotildees ou durante o

debate surjam novas duacutevidas sobre a accedilatildeo esportiva o projeto pode retornar agrave aacuterea

teacutecnica do Ministeacuterio do Esporte para envio de diligecircncia teacutecnica adicional agrave

proponente Os demais membros tambeacutem podem ldquopedir vistardquo do projeto o que

representa fazer uma anaacutelise mais apurada por meio de leitura integral do parecer

conclusivo e do projeto como um todo Assim a proposta esportiva eacute encaminhada

ao membro solicitante e retorna para deliberaccedilatildeo na proacutexima sessatildeo da Comissatildeo

Teacutecnica

Sanada a questatildeo de conteuacutedo e exposiccedilatildeo do meacuterito da accedilatildeo esportiva

pelo membro relator o presidente da Comissatildeo Teacutecnica abre para votaccedilatildeo da

aprovaccedilatildeo do projeto O primeiro voto eacute do membro relator seguido pelos demais

O projeto eacute aprovado com maioria simples dos votos e no caso de empate uma vez

que satildeo seis membros cabe ao presidente o voto de qualidade

No caso de rejeiccedilatildeo da proposta esportiva o Art 25 do Decreto Nordm

61802007 prevecirc que a proponente tem cinco dias uacuteteis apoacutes notificaccedilatildeo para

interpor um recurso com contra argumentaccedilatildeo (BRASIL 2007b) Este recurso seraacute

analisado pela aacuterea teacutecnica e incluiacutedo aos autos do processo do projeto no Ministeacuterio

do Esporte Em seguida o processo eacute encaminhado ao presidente para incluir na

pauta da proacutexima sessatildeo deliberativa onde os membros da Comissatildeo Teacutecnica

votaratildeo pela rejeiccedilatildeo definitiva ou acolhimento da argumentaccedilatildeo com aprovaccedilatildeo

integral ou parcial

128

A aprovaccedilatildeo parcial independente de recurso ou em projeto de primeira

votaccedilatildeo consiste na proposta que tem seu meacuterito esportivo referendado pela

Comissatildeo Teacutecnica mas tem a exclusatildeo (glosa) ou reduccedilatildeo de valores de algum

item Mais uma vez eacute possiacutevel a proponente entrar com recurso para contra

argumentar

Jaacute a aprovaccedilatildeo simples reside no acolhimento integral da proposta

apresentada pela proponente Cabe salientar que durante as diligecircncias teacutecnicas a

proponente vai adequando o projeto agraves exigecircncias do Ministeacuterio do Esporte de

forma que a versatildeo final encaminhada agrave Comissatildeo Teacutecnica pode ser diferente da

primeira versatildeo protocolada no oacutergatildeo Todas as alteraccedilotildees ficam registradas no

processo do projeto

Apoacutes o projeto esportivo passar pela arena de debate da poliacutetica puacuteblica

(sessatildeo da Comissatildeo Teacutecnica) retorna para a aacuterea teacutecnica que iraacute solicitar e

conferir a comprovaccedilatildeo da regularidade fiscal e tributaacuteria da proponente nos acircmbitos

federal estadual e municipal conforme orienta o Art 27 do Decreto Nordm 61802007

Confirmada a regularidade o projeto aprovado tem sua publicaccedilatildeo no Diaacuterio Oficial

da Uniatildeo (DOU) chancelando a proponente a buscar recurso puacuteblico no setor

privado

Art 27 Publicar-se-aacute no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo extrato do projeto aprovado contendo I - tiacutetulo do projeto II - nuacutemero de registro no Ministeacuterio do Esporte III - instituiccedilatildeo proponente e respectivo CNPJ IV - manifestaccedilatildeo desportiva beneficiada V - valor autorizado para captaccedilatildeo especificando-se se patrociacutenio ou doaccedilatildeo VI - prazo de validade da autorizaccedilatildeo para captaccedilatildeo (BRASIL 2007b p7)

Com o extrato do projeto publicado a proponente passa para a etapa de

captaccedilatildeo de recurso Os dados do ldquoRelatoacuterio de Gestatildeo da Lei Federal de Incentivo

ao Esporte de 2014rdquo e a Nota Presidencial de 2016 exibem que a captaccedilatildeo de

recurso eacute um dos grandes ldquogargalosrdquo do mecenato esportivo pois se aprova um

valor em projetos muito superior ao montante que eacute efetivamente captado (BRASIL

2015c)

No entanto observamos que o valor efetivo de captaccedilatildeo de recurso vem

aumentando ano apoacutes ano com exceccedilatildeo dos anos de 2012 e 2015 que registraram

129

queda Mas o valor captado ainda estaacute distante da autorizaccedilatildeo de R$ 400 milhotildees

registrada nos Decretos Nordm 63382007 e Nordm 66842008

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

O Ministeacuterio do Esporte tem adotado a estrateacutegia de aprovar mais projetos

que o teto da renuacutencia fiscal como maneira de ampliar a oferta de accedilotildees esportivas

ao setor privado Todavia o ano de 2007 foi o que registrou a maior taxa de sucesso

entre a relaccedilatildeo aprovaccedilatildeo e captaccedilatildeo 793 seguido por 2014 com o patamar de

442 A meacutedia geral de sucesso na captaccedilatildeo de recurso estaacute em 323 calculada

pelo somatoacuterio autorizado no periacuteodo de 2007 a 2014 (aproximadamente R$

421840700000) e o total geral captado (aproximadamente R$ 136319300000)

No ano de 2014 o mecenato esportivo contou com a participaccedilatildeo de

2586 empresas e 2664 pessoas fiacutesicas destinando recurso aos projetos esportivos

Inclusive este foi o primeiro ano que o nuacutemero de pessoas fiacutesicas superou o de

empresas muito embora a quantia financeira acumulada por esta uacuteltima ainda seja

maior56

56

Nesta pesquisa natildeo foi possiacutevel apurar o valor financeiro da captaccedilatildeo de recurso da pessoa juriacutedica e da pessoa fiacutesica para o mecenato esportivo No entanto o ldquoRelatoacuterio de dados setoriais de 2009 a 2013 da Declaraccedilatildeo de Imposto sobre a Renda das Pessoas Juriacutedicasrdquo e ldquoTabela 1 - Resumo das Declaraccedilotildees Por Tipo de Formulaacuteriordquo permitem verificar que o montante de imposto de renda devido ou arrecadado na fonte eacute extremamente superior na pessoa juriacutedica do que na pessoa fiacutesica

Graacutefico 13 ndash Comparativo entre o valor autorizado e captado no periacuteodo de 2007 a 2014

na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

130

Ao verificar o grupo dos maiores apoiadores identificamos que os 25

primeiros foram responsaacuteveis por destinar 385 (aproximadamente R$

9798987100) do total captado no ano de 2014 (R$ 25475370500) Ao analisar

este seleto grupo optamos por reduzi-lo para 18 empresas pois algumas pessoas

juriacutedicas faziam parte do mesmo grupo econocircmico logo com objetivos e metas

comerciais compartilhadas

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Desta forma examinamos que oito empresas do setor financeiro

destinaram 773 (R$ 7574209300) do recurso deste grupo Seguido por duas

empresas do setor de energia eleacutetrica com representaccedilatildeo de 71 (R$

699510300) duas do setor de telecomunicaccedilatildeo com 42 (R$ 408569500) duas

do setor petroquiacutemico com 40 (R$ 395837900) duas do setor de mineraccedilatildeo e

metalurgia com 38 (R$ 376860100) uma do setor de informaacutetica e eletrocircnico

com 19 (R$ 184000000) e por fim uma do setor de saneamento com 16 (R$

160000000) Cabe destacar que em 2013 uma destas empresas do setor

petroquiacutemico estava entre as maiores apoiadoras do mecenato esportivo mas

devido agrave crise financeira diminuiu sua destinaccedilatildeo de recurso

Poreacutem o fato que chama atenccedilatildeo surge quando verificamos a origem do

capital das empresas Quase frac14 do recurso destinado por este grupo mais

Graacutefico 14 ndash Comparativo entre o setor econocircmico de atuaccedilatildeo e tipo de empresa do grupo dos

18 maiores apoiadores da Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2014

131

especificadamente 242 (R$ 2371918300) tem origem de duas empresas

puacuteblicas Percentual parecido 215 (R$ 2102762600) eacute destinado por cinco

empresas de capital misto isto eacute aquelas que tecircm o poder puacuteblico como maior

acionista e detentor da tomada de decisatildeo muito embora tambeacutem trabalhe com

acionista de capital privado Completando a amostra temos um conglomerado de 11

empresas privadas que destinam 543 (R$ 5324306200) do recurso do grupo

Assim aleacutem da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

funcionar exclusivamente com a destinaccedilatildeo de recurso puacuteblico e ter no proacuteprio

Estado brasileiro a figura do mecenas ela ainda apresenta no rol dos maiores

apoiadores as proacuteprias empresas puacuteblicas Nesse sentido o Estado eacute

simultaneamente donataacuterio e beneficiaacuterio da poliacutetica de financiamento do esporte

O resultado simboacutelico desta trama eacute o Estado brasileiro assumindo o

dever constitucional de fomento do direito social ao esporte poreacutem retirando este

elemento social da cidadania da arena de debate do legislativo e do orccedilamento

puacuteblico por optar pelo caminho da isenccedilatildeo fiscal Ao mesmo tempo o Estado deixa

a execuccedilatildeo das accedilotildees esportivas para o setor privado sem fins lucrativos e a

tomada de decisatildeo do que deve ser promovido nas ldquomatildeosrdquo do mercado

No entanto apenas fazendo um contraponto na participaccedilatildeo das

empresas puacuteblicas no mecenato esportivo esta pode ser uma accedilatildeo estrateacutegica e

pedagoacutegica do poder executivo para dar funcionalidade ao mecanismo e demonstrar

para o mercado o benefiacutecio de unir sua a marca ao esporte

Ainda em relaccedilatildeo agrave etapa de captaccedilatildeo de recurso a Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) natildeo determina prazo legal ao projeto

assim ficando a criteacuterio da Comissatildeo Teacutecnica o periacuteodo de chancelada do Estado

Geralmente os projetos recebem autorizaccedilatildeo de um ano para buscar recurso no

mercado sendo permitido prorrogaacute-lo por duas vezes apoacutes solicitaccedilatildeo formal

conforme orienta o Art 64 da Portaria Ministerial Nordm 1202009 (BRASIL 2009a)

A proponente tem doze meses para buscar a captaccedilatildeo de recurso poreacutem

grande parte dos depoacutesitos bancaacuterios de apoio acontece nos uacuteltimos meses do ano

pois eacute quando as empresas tributadas na modalidade lucro real estatildeo fechando o

balanccedilo patrimonial e apurando lucro ou prejuiacutezo do exerciacutecio fiscal Tambeacutem existe

uma pequena parcela de empresas que satildeo tributadas na modalidade lucro real

trimestral isto eacute faz fechamento de balanccedilo patrimonial e demonstrativo de

resultado a cada trecircs meses Estas uacuteltimas teriam uma chance maior de pulverizar

132

seu apoio ao longo do ano todavia trata-se de uma quantidade menor de empresas

neste universo tributaacuterio

A pessoa fiacutesica tambeacutem pode destinar seu apoio durante todo o ano

poreacutem a maior dificuldade eacute a cultura de apurar o imposto devido dentro do proacuteprio

ano fiscal Normalmente o brasileiro preocupa-se com o Imposto sobre a Renda (IR)

na proximidade do envio da Declaraccedilatildeo de Informes de Rendimento de Pessoa

Fiacutesica que finaliza ateacute o dia 30 de abril de todos os anos Poreacutem neste informe agrave

Secretaria da Receita Federal a pessoa fiacutesica estaacute declarando sua movimentaccedilatildeo

financeira do ano anterior Desta forma o depoacutesito de apoio ao projeto esportivo jaacute

deveria ter acontecido Entatildeo o desafio de fazer a pessoa fiacutesica participar do

mecanismo de mecenato esportivo eacute criar esta cultura de ter uma estimativa do

imposto a pagar ou a apuraccedilatildeo das suas despesas ainda no ano fiscal

Cada projeto aprovado possui uma conta bancaacuteria exclusiva denominada

conta captaccedilatildeo para receber os depoacutesitos dos apoiadores Esta conta bancaacuteria eacute

aberta pelo proacuteprio Ministeacuterio do Esporte e a proponente natildeo tem acesso a sua

movimentaccedilatildeo Apesar desta medida gerar controle financeiro dos projetos pois

vincula cada proposta a uma conta bancaacuteria ela contraria o princiacutepio da unidade do

orccedilamento puacuteblico que determina que o orccedilamento deve ser uacutenico para cada

exerciacutecio fiscal Assim passa a coexistir com o orccedilamento puacuteblico aprovado pelo

legislativo vaacuterios mini-orccedilamentos de esporte controlados e fiscalizados pelo

Ministeacuterio do Esporte

A proponente que tem ecircxito e consegue captar o recurso financeiro

integral da sua proposta precisa apenas enviar um ofiacutecio avisando o Ministeacuterio do

Esporte e aguardar a elaboraccedilatildeo e assinatura do Termo de Compromisso o qual

consta no miacutenimo de

Art 27 [] I ndash preacircmbulo com os dados cadastrais do Ministeacuterio do Esporte do proponente e dos respectivos representantes legais II - claacuteusulas que disponham sobre o objeto as obrigaccedilotildees das partes os valores aprovados prestaccedilatildeo de contas eficaacutecia vigecircncia e foro e III - assinatura dos representantes legais das partes e duas testemunhas sect1ordm - No ato da assinatura do Termo de Compromisso o proponente deveraacute apresentar cronograma fiacutesico-financeiro do projeto a ser executado sect2ordm- No caso de renovaccedilatildeo de projeto a assinatura do Termo de Compromisso fica condicionada agrave apresentaccedilatildeo de laudo teacutecnico favoraacutevel relativo ao projeto jaacute executado (BRASIL 2009a p8)

133

De acordo com o Art 37 da Portaria Ministerial Nordm 1202009 a

proponente que conseguir captar a quantia miacutenima de 20 do valor total do projeto

pode solicitar uma readequaccedilatildeo da proposta para a sua nova realidade financeira

(BRASIL 2009a) Eacute permitido alterar apenas valores e quantidades de

serviccedilosprodutos da proposta original sem inclusatildeo de novos itens para evitar a

alteraccedilatildeo do objeto inicialmente aprovado Com a readequaccedilatildeo avaliada pela aacuterea

teacutecnica do Ministeacuterio do Esporte e aprovada pela Comissatildeo Teacutecnica esta

proponente tambeacutem passa a aguardar a elaboraccedilatildeo e assinatura do Termo de

Compromisso

Com o Termo de Compromisso assinado entre Ministeacuterio do Esporte e

proponente nova conta bancaacuteria eacute aberta com o nome de conta de livre

movimentaccedilatildeo Parte do recurso da conta bloqueada do projeto eacute transferida para

esta nova conta onde a proponente iraacute realizar os pagamentos de despesas da

accedilatildeo esportiva O repasse do restante do recurso da conta bloqueada estaacute

condicionado agrave apresentaccedilatildeo da prestaccedilatildeo de contas parcial por parte da

proponente ainda durante a execuccedilatildeo do projeto (BRASIL 2009a)

A partir da assinatura do Termo de Compromisso e abertura da conta de

livre movimentaccedilatildeo inicia-se a etapa de execuccedilatildeo do projeto seguida da prestaccedilatildeo

de contas (parcial e final) (BRASIL 2009a) Poreacutem como estas etapas natildeo satildeo foco

da anaacutelise do objeto desta pesquisa vamos nos ater ateacute as etapas descritas no

momento

Contudo o processo de anaacutelise parcial dos dados gerais da Lei Federal

de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) foi necessaacuterio para se ter uma melhor

compreensatildeo do desenvolvimento da poliacutetica de financiamento no acircmbito nacional

Esta etapa foi importante para dar subsiacutedio agrave anaacutelise em recorte municipal (Belo

Horizonte) principalmente pela escassez de trabalhos acadecircmicos sobre o tema

Neste contexto observamos que existem procedimentos que podem ser

aperfeiccediloados para dar maior celeridade seguranccedila e transparecircncia ao mecanismo

de mecenato esportivo A agilidade e simplicidade processual satildeo preacute-requisitos

para a democratizaccedilatildeo da poliacutetica de financiamento ao esporte haja vista a

diversidade socioeconocircmica das entidades no paiacutes que atuam com este elemento

social da cidadania As alternativas abordadas neste capiacutetulo jaacute foram colocadas em

praacutetica seja em outras leis de incentivo fiscal no governo federal ou por outros entes

134

federativos (Estados Subnacionais e Municiacutepios) por isso possuem materialidade

para avaliaccedilatildeo de resultado e referecircncia para serem replicadas

Por outro lado o contiacutenuo desenvolvimento do mecenato esportivo

tambeacutem depende da reflexatildeo sobre a missatildeo da sua existecircncia porque atualmente

tem se configurado como uma corriqueira poliacutetica de distribuiccedilatildeo de recurso puacuteblico

ao esporte Mas esta visatildeo eacute extremamente limitada para uma poliacutetica estatal

principalmente tratando da promoccedilatildeo de um elemento da cidadania social

Nesse sentido eacute essencial questionar os objetivos do mecenato esportivo

mas tambeacutem traccedilar diretrizes do que se quer incentivar no esporte e o puacuteblico que

se quer atingir pois no formato vigente tem se percebido um reforccedilo das

desigualdades jaacute existentes no paiacutes Isto eacute tem acontecido uma concentraccedilatildeo de

recurso na manifestaccedilatildeo rendimento (498 do valor captado de 2007-2014) e um

maciccedilo investimento na regiatildeo Sudeste (73 do valor captado de 2007-2014) Este

cenaacuterio de distribuiccedilatildeo desigual ainda eacute influenciado diretamente pelo acumulo de

recurso em um restrito grupo de entidades esportivas (24 proponentes responsaacuteveis

por 490 do valor captado de 2007-2014) das quais algumas satildeo beneficiaacuterias de

outra fonte de recurso puacuteblico (Lei AgneloPiva ndash Lei Nordm 102642001)

135

5 O MECENATO ESPORTIVO EM BELO HORIZONTE DISSECANDO OS PROJETOS E CONHECENDO A POLIacuteTICA NO TERRITOacuteRIO

51 Dados consolidados dos projetos em Belo Horizonte

Neste capiacutetulo vamos nos debruccedilar nos projetos apresentados e

aprovados pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte para verificar a

distribuiccedilatildeo do recurso puacuteblico ao esporte no acircmbito municipal (anaacutelise

microespacial) A partir dos elementos de estudo levantados no capiacutetulo anterior

onde foi observada uma concentraccedilatildeo de recurso em regiatildeo geograacutefica por

manifestaccedilatildeo e modalidade esportiva todas fortemente influenciadas pelo acuacutemulo

de recurso em algumas poucas proponentes verificaremos se fenocircmeno similar

acontece na capital mineira Por uacuteltimo analisaremos o conteuacutedo das propostas

aprovadas na Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) para avaliar

o seu potencial de democratizaccedilatildeo do direito social ao esporte

Para a formalizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte (Lei Nordm 114382006) no territoacuterio de Belo Horizonte foi enviado no dia 30

de outubro de 2014 um ofiacutecio do Colegiado de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos do Lazer

da Escola de Educaccedilatildeo Fiacutesica Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG ao Sr

Paulo Vieira na eacutepoca diretor do Departamento de Incentivo e Fomento ao Esporte

(DIFE) oacutergatildeo do Ministeacuterio do Esporte responsaacutevel pela gestatildeo do mecenato

esportivo Natildeo obtivemos resposta escrita mas tacitamente foi comunicado por

telefone que estava autorizado o acesso agraves informaccedilotildees do banco de dados do

Ministeacuterio do Esporte

Desta forma no dia 13 de janeiro de 2015 fui recebido presencialmente

pela coordenaccedilatildeo do departamento para a primeira coleta dos dados Tendo em

vista o prazo do Ministeacuterio do Esporte para consolidaccedilatildeo das informaccedilotildees referentes

ao mecanismo de mecenato esportivo no ano de 2014 receacutem-encerrado e

concomitantemente ao moroso processo burocraacutetico estatal ateacute o esgotamento do

ciclo de vida dos projetos optou-se para esta pesquisa como recorte temporal a

anaacutelise das propostas esportivas apresentadas em 2013 Assim nesta primeira

visita foram coletados 23 projetos aprovados por entidades esportivas sediadas em

Belo Horizonte aleacutem de seus respectivos anexos cadastrados no sistema da Lei

136

Federal de Incentivo ao Esporte e o relatoacuterio de captaccedilatildeo de recurso financeiro de

cada proposta

Contudo a conjuntura poliacutetica do paiacutes que se seguiu a posteriori dificultou

a obtenccedilatildeo de novas informaccedilotildees oficiais do sistema da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte O Ministeacuterio do Esporte passou por mudanccedila de trecircs ministros de estado57

e o Departamento de Incentivo e Fomento ao Esporte (DIFE) acumulou trecircs trocas

de diretores aleacutem dos sucessivos diretores interinos O departamento ainda contou

com mudanccedila de endereccedilo fiacutesico que levou a sua paralisaccedilatildeo parcial de atividades

no final de 2015 e iniacutecio de 2016

Durante este conturbado periacuteodo realizei outras trecircs visitas presenciais

(03112015 28012016 e 15042016) para atualizaccedilatildeo dos dados poreacutem sem

sucesso A revisatildeo das informaccedilotildees e inclusatildeo de nove novos projetos agrave amostra

que foram aprovados durante o desenvolvimento da pesquisa somente foi possiacutevel

por meio da Lei de Acesso a Informaccedilatildeo (Lei Nordm 125272011) No entanto apesar

do respaldo da lei a maioria das informaccedilotildees natildeo foi obtida em solicitaccedilatildeo de 1ordf

instacircncia sendo portanto necessaacuterio contra argumentar agrave instacircncia superior58 A

dificuldade imposta pelos servidores do departamento ao acesso agrave informaccedilatildeo

puacuteblica foi registrada em reclamaccedilatildeo na ouvidoria do Ministeacuterio do Esporte na

tentativa de aumentar a transparecircncia aos dados da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte (Lei Nordm 114382006)

Neste contexto a amostra de projetos coletados para a pesquisa consiste

em 32 propostas aprovadas ateacute o dia 15 de fevereiro de 2016 do total de 83

enviadas por entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte no ano de 2013

Para a anaacutelise dos projetos foi montado uma ficha de padronizaccedilatildeo de conteuacutedo

tendo 1) Manifestaccedilatildeo esportiva 2) Modalidade esportiva 3) Local de execuccedilatildeo 4)

57

Durante o iniacutecio desta pesquisa o Ministeacuterio do Esporte foi gerido pelo Deputado Federal Aldo Rebelo (PCdoBSP) Jaacute durante a coleta de dados o ministro foi o Deputado Federal George Hilton (PRBMG) seguido pela passagem raacutepida do administrador puacuteblico Ricardo Leyser e por fim o tambeacutem Deputado Federal Leonardo Picciani (PMDBRJ) Por sua vez o Departamento de Incentivo e Fomento ao Esporte ao iniacutecio da pesquisa teve como diretor o Sr Paulo Prado sucedido por Marcos Ceacutesar Garcia e atualmente de forma interina o Sr Newton Koji Uchida 58

Nem todas as informaccedilotildees solicitadas via Lei de Acesso a Informaccedilatildeo (Lei Nordm 125272011) foram atendidas na 1ordf instacircncia sendo necessaacuterio entrar com recurso para o niacutevel hieraacuterquico superior A justificativa utilizada pela 1ordf instacircncia argumentava possiacutevel conflito de interesse entre a minha habilitaccedilatildeo como perito parecerista e o trabalho de pesquisador muito embora natildeo existisse vedaccedilatildeo legal e de fato para tal afirmaccedilatildeo Cabe ressaltar que a qualidade das informaccedilotildees fornecidas pelo Ministeacuterio do Esporte foi descritivamente inferior agraves obtidas do Ministeacuterio da Cultura e Secretaria da Receita Federal tendo em vista o mesmo sistema de solicitaccedilatildeo (e SIC ndash Sistema Eletrocircnico do Serviccedilo de Informaccedilatildeo ao Cidadatildeo disponiacutevel em lthttpwwwacessoainformacaogovbrgt

137

Tempo de execuccedilatildeo do projeto 5) Quantidade de beneficiaacuterios 6) Valor aprovado

7) Valor captado 8) Valor do serviccedilo de captaccedilatildeo de recurso 9) Iniacutecio do prazo de

captaccedilatildeo de recurso 10) Final do prazo de captaccedilatildeo de recurso 11) Objetivo do

projeto 12) Puacuteblico-alvo 13) Metodologia 14) Justificativa 15) Metas Qualitativas

16) Metas Quantitativas 17) Tipos de anexos Todos estes campos contam com um

espaccedilo adicional para comentaacuterio e registro de observaccedilotildees

As categorias de anaacutelise foram consolidadas para se ter uma noccedilatildeo geral

do trajeto de desenvolvimento do mecenato esportivo em Belo Horizonte Tambeacutem

sempre que possiacutevel foi feita uma anaacutelise comparativa entre os resultados no

territoacuterio da capital mineira com os mensurados nacionalmente tendo como base o

capiacutetulo anterior desta pesquisa e o ldquoRelatoacuterio de Gestaccedilatildeo da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte de 2013 e 2014rdquo Para verificar a fase em que o projeto se

encontrava dentro do ciclo de vida da poliacutetica puacuteblica foi examinado o ldquoRelatoacuterio

interno de status dos projetos59rdquo o qual foi gerado por servidor com senha de

administrador do sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

Partindo para a anaacutelise dos dados observamos que no ano de 2013 a Lei

Federal de Incentivo ao Esporte recebeu 1614 propostas de todo o paiacutes Destas 511

(317) foram rejeitadas por ter algum tipo de problema documental previsto no Art

9ordm do Decreto Nordm 61802007 Este patamar de rejeiccedilatildeo encontra-se proacuteximo da

meacutedia nacional de 340 mensurada a partir dos valores acumulados no periacuteodo de

2007 a 2014

Da monta de projetos de 2013 83 (524) foram enviados por entidades

esportivas sediadas em Belo Horizonte sendo que 18 (216) delas foram

rejeitadas por situaccedilatildeo semelhante de problema documental ateacute o dia 15 de

fevereiro de 2016

Aparentemente os nuacutemeros belorizontinos podem sugerir uma maior

capacidade teacutecnica das entidades esportivas uma vez que o percentual de rejeiccedilatildeo

documental estaacute 635 abaixo da meacutedia nacional Entretanto ao se verificar as

demais possibilidades de status dos projetos no Graacutefico 15 notamos que 15

(181) propostas tiveram seu meacuterito esportivo rejeitado pela Comissatildeo Teacutecnica O

59

O ldquo1ordm Relatoacuterio interno de status dos projetosrdquo foi gerado no dia 13 de janeiro de 2015 e indicou 23 projetos aprovados enquanto a sua segunda versatildeo emitida em 15 de fevereiro de 2016 apontou 32 propostas aprovadas para as entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte Aleacutem de sinalizar para os projetos aprovados tambeacutem era possiacutevel verificar o status das outras 51 propostas do total de 83 apresentadas no ano de 2013

138

grupo de insucesso incluiacutedo por outros dois (24) projetos em que a proponente

desistiu do pleito e solicitou o seu arquivamento alcanccedila o patamar de 35 (422)

propostas (marcaccedilatildeo graacutefica em vermelho)

Ou seja por mais que as entidades sediadas em Belo Horizonte tenham

tido um percentual menor de rejeiccedilatildeo documental em 2013 a quantidade de

projetos que satildeo reprovados (rejeiccedilatildeo documental de meacuterito ou desistecircncia) ao

longo do processo eacute extremamente relevante e ateacute mesmo superior ao nuacutemero de

aprovaccedilotildees - 32 (386) projetos com sucesso na aprovaccedilatildeo (marcaccedilatildeo graacutefica em

verde) Entatildeo a suposta supremacia teacutecnica das entidades de Belo Horizonte eacute

refutada com a sequecircncia dos dados

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Os demais grupos de categorias satildeo representados por ldquoproposta de

status indefinidardquo (marcaccedilatildeo graacutefica em azul) trazendo trecircs (36) projetos sem

informaccedilatildeo ou identificado como protocolado e ldquopropostas em tracircmiterdquo (marcaccedilatildeo

graacutefica em amarelo) com 13 (156) projetos ainda em anaacutelise documental (Preacute-

Graacutefico 15 ndash Distribuiccedilatildeo dos status dos projetos esportivos enviados em 2013 para a Lei Federal de Incentivo ao Esporte por entidades sediadas em Belo Horizonte

139

anaacutelise) ou de meacuterito (Anaacutelise Teacutecnica Em diligecircncia ndash Comissatildeo Teacutecnica Preacute-

pauta60)

A maior representatividade dos projetos reprovados em relaccedilatildeo aos

demais grupos de categorias reforccedila a constataccedilatildeo dos dados nacionais que

sugerem que o Ministeacuterio do Esporte amplie a interlocuccedilatildeo com as proponentes a

fim de aumentar a familiaridade com as exigecircncias legais e diminuir a quantidade de

rejeiccedilotildees Poreacutem esta mudanccedila no tratamento com as proponentes passa pela

alteraccedilatildeo no entendimento da poliacutetica puacuteblica por parte do Ministeacuterio do Esporte Isto

eacute natildeo tratar o mecenato esportivo apenas como uma poliacutetica de distribuiccedilatildeo de

recurso financeiro mas tambeacutem como um potencial instrumento de

profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas espalhadas por todo o paiacutes

Por outro lado tambeacutem eacute preciso refletir sobre o processo burocraacutetico

estatal pois passados dois anos fiscais completos (2014 e 2015) ainda existem

projetos belorizontinos sem a emissatildeo de um parecer conclusivo por perito

parecerista ou pela aacuterea teacutecnica do Ministeacuterio do Esporte Nesse sentido a

expectativa de investigar os projetos do ano de 2013 pelo esgotamento do seu ciclo

de vida natildeo foi observado e por isso a pesquisa acabou adotando a data da uacuteltima

coleta de dados como linha de corte temporal para a anaacutelise

Cabe ressaltar que o longo prazo de tramitaccedilatildeo dos projetos pode defasar

aspectos documentais e orccedilamentaacuterios das propostas iniciais e mesmo que sejam

posteriormente aprovados inviabilizar financeiramente a execuccedilatildeo Somente para se

ter uma ideia sobre a variaccedilatildeo de preccedilos nos dois anos o Iacutendice de Preccedilos ao

Consumidor Amplo (IPCA)61 calculado pelo IBGE para o acumulado do periacuteodo

destes 24 meses (2014 e 2015) estaacute em 1684 Ou seja em meacutedia o conjunto

dos produtos e materiais orccedilados pelas proponentes em 2013 jaacute sofreu um reajuste

de preccedilo de quase 16 do seu valor original

A morosidade na anaacutelise associada ao incerto prazo de efetivaccedilatildeo da

captaccedilatildeo de recurso talvez corrobore para apresentaccedilatildeo de orccedilamentos de

fornecedores acima do preccedilo de mercado conforme foi identificado no ldquoRelatoacuterio de

60

De acordo com conversa telefocircnica mantida com membro do Ministeacuterio do Esporte todas as categorias citadas no ldquoRelatoacuterio interno de status de projetosrdquo satildeo atualizadas manualmente podendo haver erro entre o lanccedilamento e a fase real do projeto O sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte tambeacutem natildeo possui categorias preacute-definidas tendo o servidor puacuteblico a liberdade na escrita da fase do projeto 61

Disponiacutevel em lthttpwwwibgegovbrhomeestatisticaindicadoresprecosinpc_ipcaipca-inpc_201602_1shtmgt

140

Auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeo agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporterdquo

(BRASIL 2013c) A maior celeridade na anaacutelise das propostas esportivas poderia

contribuir para uma maior confluecircncia entre preccedilo orccedilado e o necessaacuterio para a

execuccedilatildeo do projeto

Conjuntamente o Ministeacuterio do Esporte deveria focar na criaccedilatildeo de um

sistema de referecircncia de preccedilos62 pois aleacutem de ser uma das exigecircncias

documentais mais trabalhosas para a proponente tambeacutem amplia o controle do

gasto puacuteblico Cabe ressaltar que atualmente o balizamento de preccedilo fica a mercecirc

da seleccedilatildeo da amostra de orccedilamento feita pela proponente uma estrateacutegia

extremamente precaacuteria para o controle do dispecircndio de recurso puacuteblico

Ao adentrar no universo dos projetos apresentados em 2013 pelas

entidades sediadas em Belo Horizonte foi averiguada a participaccedilatildeo de 46

proponentes distintas Estas entidades foram agrupadas tendo em vista os projetos

aprovados rejeitados e em tracircmite Como cada proponente poderia enviar ateacute seis

projetos por ano eacute possiacutevel que uma mesma entidade faccedila parte dos trecircs grupos

fazendo com que o somatoacuterio de participantes seja superior ao registro de 46

proponentes

Tabela 2 ndash Distribuiccedilatildeo de projetos esportivos apresentados em 2013 na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte por entidades sediadas em Belo Horizonte

Quantidade proponente

Proponente c projeto aprovado

Proponente c projeto rejeitado

Proponente c projeto em tracircmite

46 (83) 20 (32) 25 (35) 9 (13) ( ) quantidade de projetos na categoria 1 proponente natildeo possui informaccedilatildeo de status sobre o seu uacutenico projeto 2 projetos identificados como protocolados natildeo puderam ser categorizados por inconsistente no status

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo

proacutepria

62

Como foi mencionado no capiacutetulo anterior o proacuteprio sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte poderia ser utilizado como banco de referecircncia de preccedilo uma vez que todas as informaccedilotildees orccedilamentaacuterias satildeo digitadas pelas proponentes Procedimento similar foi adotado pelo governo federal no acircmbito da sauacutede com a criaccedilatildeo do SIGEM (Sistema de Informaccedilatildeo e Gerenciamento de Equipamentos e Materiais) Disponiacutevel em lthttpwwwfnssaudegovbrvisaopesqui-sarEquipamentosjsfgt

141

Notamos que 20 proponentes tiveram ecircxito na aprovaccedilatildeo de seus

projetos o que representa um montante de 32 propostas das 83 apresentadas no

ano de 2013 Neste grupo ainda temos uma proponente que tem simultaneamente

ao seu projeto aprovado um projeto em tracircmite e outro rejeitado trecircs proponentes

com quatro projetos rejeitados e duas proponentes com cinco projetos ainda em

tracircmite Por sua vez o grupo de projetos rejeitados eacute formado por 25 proponentes

que somam propostas esportivas seguido pelo grupo de projetos em tracircmite com

nove proponentes e 13 projetos

Para verificar se o ecircxito na aprovaccedilatildeo de projetos teve alguma relaccedilatildeo

com a quantidade de propostas apresentadas por cada proponente foi criado o

indicador ldquotaxa de sucessordquo Esta medida eacute a relaccedilatildeo entre a quantidade de

proponente com projeto aprovado na categoria e sua respectiva populaccedilatildeo sendo o

resultado apresentado em uma escala percentual de 0 a 100 Mais uma vez as

categorias superiores a 1 projeto poderiam ter proponente registrando-se

simultaneamente nas trecircs possibilidades das propostas ndash aprovada rejeitada

tramite

Obs 1 proponente natildeo possui informaccedilatildeo de status sobre o seu uacutenico projeto 2 projetos identificados como protocolados natildeo puderam ser categorizados por inconsistente no status

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016

Graacutefico 16 ndash Distribuiccedilatildeo das proponentes pela quantidade de projetos esportivos

apresentados e taxa de sucesso em 2013 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

142

Observamos que a medida modal das entidades esportivas de Belo

Horizonte foi a apresentaccedilatildeo de um projeto na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

(Lei Nordm 114382006) Apesar de mais da metade das entidades esportivas

apresentarem uma uacutenica proposta apenas sete delas tiveram seus projetos

aprovados enquanto outras 15 (272) obtiveram indeferimento das propostas Este

resultado mostra que a taxa de sucesso para um uacutenico projeto foi a menor registrada

entre as categorias com apenas 259 de ecircxito Contudo as informaccedilotildees coletadas

nesta pesquisa natildeo permitiram verificar se o projeto enviado pelas 27 entidades

esportivas da categoria tratava-se da primeira participaccedilatildeo na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte Ou seja apurar o niacutevel familiaridade da proponente com o

mecanismo de mecenato esportivo

As categorias 5 e 6 projetos que apresentaram a maior taxa de sucesso

(1000) e estatildeo representadas cada uma por uma uacutenica proponente apesar de

terem ecircxito na aprovaccedilatildeo de projetos esportivos natildeo tiveram todas as suas

propostas contempladas Do somatoacuterio de 11 propostas apresentadas por estas

categorias cinco foram aprovadas quatro estavam em tracircmite e duas rejeitadas

(uma por problema documental e outra por meacuterito) Assim a suposta expertise que

as entidades esportivas que almejaram uma quantidade maior de projetos natildeo

representou necessariamente em ecircxito total na aprovaccedilatildeo das suas propostas

Valendo destacar mais uma vez uma rejeiccedilatildeo de projeto por problema documental

Na tentativa de traccedilar um perfil institucional das entidades que estatildeo

propondo accedilotildees esportivas63 a presente pesquisa adotou a classificaccedilatildeo pelo tipo

de personalidade juriacutedica 1) Entidade puacuteblicaautarquia para tratar de qualquer

personalidade juriacutedica de direito puacuteblico 2) Associaccedilotildees e 3) Fundaccedilotildees para tratar

da personalidade juriacutedica de direito privado mas sem fins lucrativos Embora as

classificaccedilotildees seguintes pudessem estar inclusas na categoria 2) ou 3) iremos

diferenciaacute-las devido a algumas particularidades de natureza de funcionamento

Assim teremos 4) ConfederaccedilatildeoFederaccedilatildeo por ser uma associaccedilatildeo de caraacuteter

representativo da modalidade esportiva 5) Clube esportivorecreativo por ser uma

63

O Ministeacuterio do Esporte adota as seguintes categorias no seu relatoacuterio gerencial da Lei Federal de Incentivo ao Esporte 1) ONGrsquos 2) Associaccedilotildees 3) Fundaccedilotildees 4) Institutos 5) Clube esportivorecreativo 6) Cooperativa 7) Clube de Futebol 8) Liga Esportiva 9) Federaccedilatildeo 10) Confederaccedilatildeo 11) Prefeiturasuniversidades O criteacuterio adotado para a organizaccedilatildeo desta informaccedilatildeo eacute o nome fantasia ou denominaccedilatildeo da proacutepria entidade No entanto formatos como ONGrsquos institutos e associaccedilotildees satildeo classificados de forma distinta embora todos tenham a personalidade juriacutedica de associaccedilatildeo privada conforme consta no Coacutedigo Civil brasileiro (Lei Nordm 104062002)

143

associaccedilatildeo de desenvolvimento do esporte de base e de lazer 6) Clube de Futebol

por ser uma associaccedilatildeo com grande representativa na cultura brasileira 7) Outros

para personalidades juriacutedicas atiacutepicas (originaacuterias por lei)

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Analisando as 46 entidades temos que 26 (565) delas satildeo associaccedilotildees

que possuem o desenvolvimento do esporte como objeto em seu estatuto social ou

pelo menos deveriam ter como apontou a possibilidade de falha documental por

parte do Ministeacuterio do Esporte no ldquoRelatoacuterio de Auditoria do Tribunal de Contas da

Uniatildeo agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporterdquo (BRASIL 2013c)

Em seguida temos sete (152) federaccedilotildees esportivas estaduais e seis

(130) tradicionais clubes esportivosrecreativos de Belo Horizonte A quantidade

de federaccedilotildees participando do mecanismo de mecenato esportivo foi aparentemente

baixa tendo em vista que grande parte destas entidades representativas do esporte

de Minas Gerais encontra-se sediada na capital mineira64 Aleacutem disso contraria a

64

No site da Secretaria de Estado de Esporte de Minas Gerais (SEESP) constam 38 federaccedilotildees esportivas listadas das quais 35 estatildeo sediadas em Belo Horizonte 1 em Contagem 1 em Betim e 1

Graacutefico 17 ndash Distribuiccedilatildeo das proponentes sediadas em Belo Horizonte quanto agrave

personalidade juriacutedica e natureza de funcionamento

144

tendecircncia nacional tendo em vista que a categoria das Confederaccedilotildees e Federaccedilatildeo

foi a segunda em participaccedilatildeo na captaccedilatildeo de recurso em 2014 com

aproximadamente 21 de todo o montante da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

Novamente optamos por utilizar o indicador ldquotaxa de sucessordquo para

verificar a possiacutevel relaccedilatildeo entre o ecircxito na aprovaccedilatildeo de projetos e a personalidade

juriacutedica da proponente O resultado varia em escala percentual de 0 a 100 sendo o

menor valor o insucesso da categoria na aprovaccedilatildeo e o escore maior o sucesso

Obs 1 proponente natildeo possui informaccedilatildeo de status sobre o seu uacutenico projeto 2 projetos identificados como protocolados natildeo puderam ser categorizados por inconsistente no status

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Apesar das associaccedilotildees serem maioria tanto na tipologia de

personalidade juriacutedica (26 proponentes) quanto na concentraccedilatildeo de propostas (50

projetos) natildeo apresentaram a maior taxa de sucesso (462) Ao verificar as 12

em Uberlacircndia Disponiacutevel em lthttpwwwesportesmggovbr2015-10-27-20-44-50federacoes-e-associacoesgt

Graacutefico 18 ndash Distribuiccedilatildeo das proponentes sediadas em Belo Horizonte quanto agrave natureza de funcionamento e taxa de sucesso

145

proponentes com projetos aprovados nesta categoria observamos que quatro delas

tiveram cinco propostas rejeitadas enquanto outras duas ainda aguardavam o

tracircmite de cinco propostas Outras 14 proponentes e mais 20 projetos se juntam ao

grupo de propostas rejeitas que ajudam a diminuir a eficiecircncia desta categoria

Contudo a categoria associaccedilatildeo trata de um universo de entidades de

porte e estrutura bastante variada Somente para termos ideia da diferenccedila uma das

associaccedilotildees deste grupo estaacute na 18ordf colocaccedilatildeo das entidades que mais captaram

recurso no acumulado de 2007 a 2014 com o valor aproximado de R$

1502000000 segundo o ldquoRelatoacuterio de Gestatildeo da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte de 2014rdquo

Os clubes esportivosrecreativos foram os que tiveram a maior taxa de

sucesso (833) mesmo apresentando uma populaccedilatildeo de apenas seis

proponentes O maior ecircxito desta categoria tambeacutem eacute observado quando calculamos

a taxa de sucesso em relaccedilatildeo ao quantitativo de projetos aprovados (750) Assim

quase frac34 dos projetos apresentados pelos clubes esportivosrecreativos foram

aprovados no mecanismo de mecenato esportivo

Foi verificado que das nove propostas aprovadas pelos clubes

esportivosrecreativos apenas trecircs natildeo tinham provisionado o percentual autorizado

para pagamento de serviccedilo de terceiros ndash auxiacutelio na elaboraccedilatildeo do projeto e

captaccedilatildeo de recurso Destas trecircs propostas duas eram de uma tradicional entidade

esportiva de Belo Horizonte a qual possui um departamento especializado na

elaboraccedilatildeo e acompanhamento das suas propostas A expertise deste clube

esportivorecreativo tambeacutem pode ser observada pelo 3ordm lugar ocupado no rank

nacional acumulado (2007 a 2014) de captaccedilatildeo de recurso com o valor de

aproximadamente R$ 4710200000 Mas mesmo jaacute possuindo estrutura

especializada identificamos que na sua terceira proposta apresentada e aprovada

em 2013 havia a solicitaccedilatildeo do teto legal da captaccedilatildeo de recurso (R$ 10000000)

Cabe ressaltar que existe vedaccedilatildeo legal para se autorremunerar por este tipo de

serviccedilo

Outras cinco propostas aprovadas tinham o percentual para a captaccedilatildeo

de recurso sendo que quatro delas referentes a duas proponentes tinham

caracteriacutesticas de escrita e organizaccedilatildeo do conteuacutedo bastante similar sugerindo ter

sido auxiliada por mesma pessoa ou empresa especializada

146

Neste contexto podemos inferir que a utilizaccedilatildeo do percentual de auxilio

na elaboraccedilatildeo e captaccedilatildeo de recurso por parte dos clubes esportivosrecreativos

pode ter influenciado na maior taxa de sucesso da categoria Contudo fica a duacutevida

se a contrataccedilatildeo deste tipo de serviccedilo tem contribuiacutedo para a transferecircncia de

conhecimento e profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas ou se estaacute acontecendo

apenas uma delegaccedilatildeo de responsabilidade sobre o projeto a ser apresentado

Ainda sobre o quesito personalidade juriacutedica chamou a atenccedilatildeo a falta de

ecircxito (00) da entidade puacuteblicaautarquia na aprovaccedilatildeo das suas propostas

esportivas uma vez que se esperava maior familiaridade da pessoa juriacutedica de

direito puacuteblico com o tracircmite burocraacutetico estatal As duas proponentes participantes

desta categoria satildeo oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica diretamente responsaacuteveis pela

gestatildeo esportiva nas suas aacuterea de abrangecircncia Dos cinco projetos apresentados

por esta categoria quatro deles foram rejeitados por problemas documentais e um

uacuteltimo continuava em tracircmite

Estes dados colaboram para a tese de revisatildeo das exigecircncias

documentais no processo do mecenato esportivo pois o proacuteprio poder puacuteblico em

instacircncias subnacionais estaacute tendo dificuldade na aprovaccedilatildeo das suas propostas

Por outro lado pode-se levantar a hipoacutetese de incipiente profissionalizaccedilatildeo da aacuterea

esportiva estatal assim como eacute percebido no setor privado sem fins lucrativos o

que por sua vez influenciaria o elevado iacutendice de rejeiccedilatildeo de projetos Poreacutem

mesmo que esta uacuteltima situaccedilatildeo seja verdadeira natildeo isenta o Ministeacuterio do Esporte

da sua responsabilidade de oacutergatildeo indutor do comportamento social e de buscar na

Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) o seu potencial

profissionalizante e natildeo a restrita funccedilatildeo distributiva de recurso

A anaacutelise seguinte agrupou os 83 projetos pelo tipo de manifestaccedilatildeo

esportiva Mais uma vez adotou-se o indicador ldquotaxa de sucessordquo para mensurar a

relaccedilatildeo de ecircxito na aprovaccedilatildeo de projeto e a manifestaccedilatildeo esportiva O resultado

calculado varia em escala percentual de 0 a 100 sendo que quanto mais proacuteximo da

nota maacutexima (100) maior a chance de sucesso na aprovaccedilatildeo da proposta

147

Obs 2 projetos foram descartados por natildeo apresentarem status vaacutelido para mensurar a situaccedilatildeo (sem informaccedilatildeo e protocolado) 1 projeto foi descartado por natildeo apresentar status vaacutelido para mensurar a situaccedilatildeo (protocolado)

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

A maioria das propostas apresentadas (602) pelas entidades sediadas

em Belo Horizonte eacute da manifestaccedilatildeo esportiva de rendimento Este quadro

reproduz a realidade nacional da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) e se verifica que aproximadamente metade dos projetos apresentados

(498) no periacuteodo acumulado de 2007 a 2015 foi de accedilotildees de rendimento No

entanto ao se investigar a taxa de sucesso desta manifestaccedilatildeo em Belo Horizonte

observamos que foi a que apresentou o menor ecircxito em aprovaccedilatildeo (340) seguido

pelo esporte de participaccedilatildeo (400) e esporte educacional (500)

Esperaacutevamos que o esporte de rendimento tivesse uma taxa de sucesso

maior pois se trata de um tipo de manifestaccedilatildeo esportiva mais tradicional e

consolidada na sociedade brasileira Ao examinar os projetos rejeitados da

Graacutefico 19 ndash Distribuiccedilatildeo dos projetos apresentadas pelas entidades esportivas sediadas

em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

148

manifestaccedilatildeo rendimento notamos que 11 propostas (nove proponentes) tiveram

rejeiccedilatildeo do meacuterito esportivo nove projetos (oito proponentes) por problemas

documentais e dois projetos (um proponente) a entidade esportiva desistiu da

solicitaccedilatildeo de pleito

A maior taxa de sucesso dos projetos educacionais e de participaccedilatildeo foi

beneacutefica para diminuir a representatividade das propostas da manifestaccedilatildeo

rendimento No entanto o somatoacuterio das duas primeiras ainda natildeo alcanccedila a

participaccedilatildeo dos projetos de rendimento seja em nuacutemeros relativos ou absolutos

Tal fato mostra o longo caminho a ser percorrido ateacute a harmonizaccedilatildeo e equiliacutebrio das

manifestaccedilotildees esportivas na sociedade

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

A supremacia da manifestaccedilatildeo rendimento tambeacutem expotildee a fragilidade do

poder puacuteblico diante desta poliacutetica puacuteblica para atender os preceitos constitucionais

do Art 217 ou seja de priorizar o esporte educacional e de participaccedilatildeo (BRASIL

1988a) Pois a demanda da poliacutetica puacuteblica eacute feita pela necessidade segmentada da

entidade esportiva e interesse comercial do setor privado com fins lucrativos sem

muito instrumento de regulaccedilatildeo por parte do Ministeacuterio do Esporte

Desta forma acaba acontecendo o que Marshall (1967) descreve como

uma categorizaccedilatildeo do direito civil Isto eacute aqueles grupos com maior poder de

negociaccedilatildeo pressionam o Estado pela ampliaccedilatildeo dos seus benefiacutecios sem

Graacutefico 20 ndash Comparativo da distribuiccedilatildeo dos projetos esportivos das entidades sediadas

em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte pela manifestaccedilatildeo esportiva

149

realmente haver uma discussatildeo do direito social porque este uacuteltimo precisa do

consenso coletivo e pacto da sociedade como um todo

52 Anaacutelise financeira dos projetos

Na etapa subsequente foi feita anaacutelise das 32 propostas aprovadas para

mensurar o possiacutevel impacto da poliacutetica puacuteblica no territoacuterio de Belo Horizonte Este

grupo de projetos foi aprovado por 20 entidades esportivas e somou o montante

financeiro de R$ 2781428728 o que representa 38 de todo o recurso autorizado

(aproximadamente R$ 72837000000) na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no

ano de 2013

O valor autorizado para as entidades esportivas sediadas em Belo

Horizonte estava distribuiacutedo em 898 (R$ 2497434621) para atividade fim que

envolve o desenvolvimento da accedilatildeo esportiva propriamente dita e 60 (R$

168278579) para a atividade meio que satildeo accedilotildees complementares e

administrativas necessaacuterias para a execuccedilatildeo do projeto esportivo Ainda temos

42 (R$ 115715528) destinados ao pagamento do serviccedilo de terceiros ndash auxilio

na elaboraccedilatildeo e captaccedilatildeo de recurso

Cabe ressaltar que trecircs projetos aprovados previam agregar recurso de

origem distinta da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) em um

total de R$ 808721662 Um quarto projeto possuiacutea previsatildeo de receita de R$

25499969 pela cobranccedila de inscriccedilatildeo a qual no entanto deveria ser reinvestida

na proacutepria accedilatildeo esportiva aprovada Todos estes valores natildeo foram contabilizados

para a anaacutelise desta pesquisa pois o foco da averiguaccedilatildeo foi o recurso autorizado

diretamente pelo mecanismo de mecenato esportivo isto eacute o recurso puacuteblico

potencialmente aplicado aos projetos

Do valor autorizado para os 32 projetos temos que R$ R$ 1068892843

foram efetivamente captados pelas proponentes ateacute a data de 15 de fevereiro de

2016 Este valor estaacute distribuiacutedo em 20 propostas distintas das quais duas (total de

R$ 21300000) natildeo atingiram o percentual miacutenimo de 20 do recurso para solicitar

readequaccedilatildeo do projeto Dos outros 18 projetos quatro jaacute haviam sido executados e

apresentado prestaccedilatildeo de contas final 11 estavam em execuccedilatildeo e trecircs mantinham-

150

se ativos na busca de recurso financeiro embora jaacute tivessem atingido o percentual

miacutenimo de 20

Figura 14 ndash Quadro comparativo entre valor autorizado e captado dos projetos esportivos de 2013 das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

Total Autorizado R$ 2781428728

Atividade Fim R$ 2497434621 (898) Atividade Meio R$ 168278579 ( 60) Serviccedilo de Captaccedilatildeo R$ 115715528 (42)

Total de projetos 32

Total de proponentes 20

Total Captado R$ 1068892843

02 projetos abaixo de 20 R$ 21300000 (20) 04 em prestaccedilatildeo de contas R$ 448069073 (419) 11 projetos em execuccedilatildeo R$ 527132599 (493) 03 acima 20 em captaccedilatildeo R$ 72391171 ( 68)

Total de projetos 20

Total de proponentes 12

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizados em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Aplicando o indicador ldquotaxa de sucessordquo para mensurar a relaccedilatildeo entre o

valor autorizado e o captado dos projetos das entidades sediadas em Belo

Horizonte temos o valor de 384 de ecircxito na escala que vai de 0 a 100 Este

percentual estaacute acima dos 323 calculados como meacutedia nacional acumulada (2007

a 2014) mas abaixo do valor nacional para os anos de 2007 (793) 2012 (431)

e 2014 (442)

Tabela 3 ndash Comparativo entre o valor autorizado e captado na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em todo o Brasil e no ano de 2013 pelas entidades sediadas em Belo Horizonte

( em Reais)

Ano fiscal

Valor autorizado (mil reais)

Valor captado (mil reais)

Taxa de Sucesso ()

2007 R$ 6418600 R$ 5092100 793 2008 R$ 24175800 R$ 8221400 340 2009 R$ 39428600 R$ 11082800 281 2010 R$ 83904200 R$ 19322000 230 2011 R$ 88315200 R$ 22104100 250 2012 R$ 49137300 R$ 21192000 431 2013 R$ 72837000 R$ 23829500 327 2014 R$ 57624000 R$ 25475400 442

Total R$ 421840700 R$ 136319300 323

2013 (BH)

R$ 2781428728 R$ 1068892843 384

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

151

No entanto devemos destacar que o suposto maior ecircxito das entidades

esportivas de Belo Horizonte pode ter sido influenciado pela presenccedila das duas

proponentes que compotildeem o rank da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) como maiores captadores de recurso no acumulado de 2007 a 2014

Ao descartar da amostra os sete projetos aprovados por estas duas proponentes

temos uma queda da taxa de sucesso para 265 com valor autorizado de R$

1498603920 e captado de R$ 396586555

Por sua vez a amostra formada apenas por estas duas proponentes tem

uma taxa de sucesso de 524 com valor autorizado de R$ 1282824808 e

captado de R$ 672306288 Ou seja duas proponentes (uma associaccedilatildeo e um

clube esportivorecreativo) tem tido papel de relevacircncia no direcionamento da

poliacutetica do mecenato esportivo em Belo Horizonte

Tabela 4 ndash Comparativo entre o Grupo 1 e Grupo 2 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013

Grupo Quantidade Proponente

Quantidade Projetos

Valor autorizado (Reais)

Valor captado (Reais)

Taxa de Sucesso

()

1 2 7 R$ 1282824808 R$ 672306288 524 2 18 25 R$ 1498603920 R$ 396586555 265

Total 20 32 R$ 2781428728 R$ 1068892843 384 Grupo 1 ndash entidades esportivas participantes do rank de maiores captadores de recurso no periacuteodo de 2007-2014 Grupo 2 ndash demais entidades sediadas em Belo Horizonte com projeto aprovado

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Estes dados estatildeo em consonacircncia com os resultados nacionais quando

foi identificado que 24 proponentes concentravam quase metade (466) do recurso

captado no acumulado de 2007 a 2014 e influenciavam para a preponderacircncia do

mecenato esportivo na regiatildeo Sudeste e na manifestaccedilatildeo rendimento

Nesse sentido eacute importante que o Ministeacuterio do Esporte reflita sobre a

diretriz e objetivo da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) uma

vez que a proposiccedilatildeo dos projetos fica a cargo das entidades esportivas e

atualmente um pequeno grupo tem sido responsaacutevel por efetivar a poliacutetica puacuteblica

Verificando a distribuiccedilatildeo do recurso em relaccedilatildeo agrave manifestaccedilatildeo esportiva

temos mais uma vez uma preponderacircncia financeira para o esporte de rendimento

registrando R$ 1570074334 (17 projetos) autorizados e R$ 617815265 (11

152

projetos) captados Jaacute o esporte educacional ficou em segundo lugar com R$

793488314 (nove projetos) aprovados e R$ 381453215 (cinco projetos)

captados seguido pela manifestaccedilatildeo de participaccedilatildeo com R$ 417866080 (seis

projetos) e R$ 69624363 (quatro projetos) respectivamente

Ao aplicar o indicador ldquotaxa de sucessordquo para mensurar a relaccedilatildeo entre os

valores autorizados e captados observamos que o esporte rendimento teve um

percentual de 393 de ecircxito Este valor foi inferior aos 481 calculados para a

manifestaccedilatildeo educacional o que contribuiu para uma melhor harmonizaccedilatildeo entre as

manifestaccedilotildees Contudo a quantia captada pelo esporte de rendimento (R$

617815265) continua sendo superior ao somatoacuterio dos valores efetivados pelos

projetos de esporte educacional e participaccedilatildeo (R$ 451077578) muito embora o

quantitativo de projetos seja muito parecido - 11 projetos captados na manifestaccedilatildeo

rendimento contra nove captados no somatoacuterio de educacional e participaccedilatildeo

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Graacutefico 21 ndash Distribuiccedilatildeo dos projetos apresentadas pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

153

Novamente ao descartar as duas proponentes que compotildeem o rank de

maiores captadores de recurso da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) no periacuteodo de 2007 a 2014 temos alteraccedilatildeo nos resultados Foi

registrada uma brusca queda na taxa de sucesso do esporte educacional que

passou de 481 para 137 de ecircxito na captaccedilatildeo Tal constataccedilatildeo aconteceu

porque uma das proponentes do grupo de sucesso foi responsaacutevel pela aprovaccedilatildeo

de quatro propostas dessa manifestaccedilatildeo (R$ 465149770) e captaccedilatildeo total ou

parcial de todas (R$ 336345215) Ao que tudo indica esta proponente se

especializou no desenvolvimento de projetos de esporte educacional e por isso

alcanccedilou uma taxa de sucesso de 723 Cabe ressaltar que apesar da expertise

da proponente foi identificada a rejeiccedilatildeo de outras duas propostas apresentadas no

ano de 2013 uma por problema documental (projeto educacional) e outra por meacuterito

(projeto de participaccedilatildeo)

Jaacute a segunda proponente participante do rank tambeacutem impactou no

desempenho do esporte de rendimento fazendo a taxa de sucesso cair de 393

para 357 Mas a maior diferenccedila foi percebida na distribuiccedilatildeo financeira pois

enquanto os dois projetos de rendimento aprovados por esta proponente alcanccedilaram

o montante efetivado de R$ 335961073 outras sete (nove projetos) conseguiram

apenas o somatoacuterio de R$ 281854192

Tabela 5 ndash Comparativo entre o Grupo 1 e Grupo 2 pelo tipo de manifestaccedilatildeo esportiva nos projetos na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013

Grupo Quantidade Proponente

Quantidade de Projetos

Manifestaccedilatildeo Esportiva

Valor autorizado (Reais)

Valor captado (Reais)

Taxa de Sucesso

()

1 2

2 Rendimento R$ 780919163 R$ 335961073 430

4 Educacional R$ 465149770 R$ 336345215 723

1 Participaccedilatildeo R$ 36755875 - 00

Total 2 7 R$ 1282824808 R$ 672306288 524

2 18

15 Rendimento R$ 789155171 R$ 281854192 357

5 Educacional R$ 328338544 R$ 45108000 137

5 Participaccedilatildeo R$ 381110205 R$ 69624363 183

Total 28 25 R$ 1498603920 R$ 396586555 265

Geral 20 32 R$ 2781428728 R$ 1068892843 384

Grupo 1 ndash entidades esportivas participantes do rank de maiores captadores de recurso no periacuteodo de 2007-2014 Grupo 2 ndash demais entidades sediadas em Belo Horizonte com projeto aprovado

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

154

Nesse sentido mais uma vez os nuacutemeros mostram como estas duas

proponentes tecircm influenciado no direcionamento do mecenato esportivo em Belo

Horizonte Como uma delas atuou no desenvolvimento do esporte educacional

acabou interferindo na melhora dos dados da manifestaccedilatildeo No entanto este

resultado proveniente da participaccedilatildeo exclusiva de uma proponente deve ser

avaliado com cuidado pois pode ocultar a fragilidade das demais entidades do

segmento Exemplo disso eacute que as outras quatro proponentes (cinco projetos) que

tambeacutem tiveram projetos de esporte educacional aprovado (R$ 328338544)

conseguiram captar somente R$ 45108000 registrando uma das piores taxa de

sucesso com o valor de 137

Investigando a origem do recurso captado pelos 20 projetos (12

proponentes) que conseguiram algum montante financeiro observou-se o registro de

406 depoacutesitos bancaacuterios sendo 283 (697) realizados por pessoa fiacutesica e 123

(303) por pessoa juriacutedica

Do grupo das pessoas fiacutesicas 280 depoacutesitos apoiavam um mesmo projeto

esportivo somando a quantia de R$ 16279151 Este projeto tinha como proponente

um tradicional clube esportivorecreativo de Belo Horizonte o qual provavelmente

realizou campanha entre seus associados As outras trecircs pessoas fiacutesicas que

completam este grupo somaram um montante de R$ 404307 disperso em trecircs

propostas esportivas distintas

Tabela 6 ndash Distribuiccedilatildeo dos depoacutesitos feitos por pessoa fiacutesica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

Categoria Quantidade depoacutesitos

Distribuiccedilatildeo ()

Total (R$)

Distribuiccedilatildeo ()

Distribuiccedilatildeo Acumulada

()

R$ 100 - R$ 50000 193 682 2128392 128 128

R$ 50100 - R$ 100000 46 163 3824866 229 357

R$ 100100 - R$ 200000 27 95 4343000 260 617

R$ 200100 - R$ 300000 10 35 2707200 162 779

R$ 300100 - R$ 400000 5 18 1860000 111 891

R$ 400100 - R$ 500000 1 04 420000 25 916

acima de R$ 500100 1 04 1400000 84 1000

Total Geral 283 1000 16683458 1000

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

155

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

O maior valor aportado por pessoa fiacutesica foi de R$ 1400000 enquanto o

menor foi de R$ 500 A meacutedia dos valores de depoacutesito foi calculada em R$ 58952 e

a moda encontrada foi de R$ 2500 com 34 depoacutesitos Foram 58 categorias de

valores de depoacutesito apuradas no caacutelculo da moda

Os dados mostram que a partir do agrupamento de pessoa fiacutesica eacute

possiacutevel gerar um montante significativo para o investimento em projetos do

mecenato esportivo No entanto o potencial de Imposto sobre a Renda (IR) devido

de pessoa fiacutesica eacute bastante inferior ao da pessoa juriacutedica o que restringe a

capacidade de efetivar uma quantidade suficiente de propostas esportivas e ateacute

mesmo levanta duacutevida sobre a eficaacutecia deste apoiador como fonte de financiamento

da poliacutetica puacuteblica Em contrapartida a inserccedilatildeo da pessoa fiacutesica como estrateacutegia de

participaccedilatildeo na ldquocoisa puacuteblicardquo eacute extremamente educativa e vaacutelida

Jaacute o grupo das pessoas juriacutedicas representa aproximadamente 13 dos

apoiadores de Belo Horizonte poreacutem em valores monetaacuterios concentra 984 (R$

1052209385) de todo o recurso aplicado nos projetos Deste montante R$

662133022 (629) foi destinado por 72 empresas privadas e R$ 390076363

(371) por seis empresas de capital misto (puacuteblico e privado) Cabe destacar que

Graacutefico 22 ndash Comparativo da distribuiccedilatildeo da quantidade e valores dos depoacutesitos feitos por pessoa fiacutesica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei

Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

156

uma uacutenica empresa de capital misto foi responsaacutevel pelo investimento de R$

238601363 isto eacute 223 de todo o investimento nos projetos esportivos

Tabela 7 ndash Distribuiccedilatildeo dos depoacutesitos feitos por pessoa juriacutedica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

Categoria Quantidade

depoacutesitos Distribuiccedilatildeo

() Total (R$)

Distribuiccedilatildeo ()

Distribuiccedilatildeo Acumulada

()

R$ 100 - R$ 100000 27 220 12710229 12 12

R$ 1000100 - R$ 2500000 16 130 28953887 28 40

R$ 2500100 - R$ 5000000 27 220 102290390 97 137

R$ 5000100 - R$ 7500000 12 98 74531670 71 208

R$ 7500100 - R$ 10000000 10 81 93303546 89 296

R$ 10000100 - R$ 20000000 18 146 277101363 263 560

R$ 20000100 - R$ 30000000 8 65 223368300 212 772

R$ 30000100 - R$ 40000000 2 16 67450000 64 836

acima de R$ 40000100 3 24 172500000 164 1000

Total Geral 123 1000 1052209385 1000

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Graacutefico 23 ndash Comparativo da distribuiccedilatildeo da quantidade e valores dos depoacutesitos feitos por pessoa fiacutesica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na

Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

157

Da mesma forma que acontece no acircmbito nacional as empresas

administradas pelo poder puacuteblico satildeo destaque no apoio aos projetos do mecenato

esportivo em Belo Horizonte Todavia se um dos princiacutepios da lei eacute (ou deveria ser)

aproximar as entidades esportivas do mercado para que mais capital privado venha

a se juntar ao recurso puacuteblico aportado na causa do esporte natildeo faz sentido que a

poliacutetica tenha no poder puacuteblico beneficiaacuterio e donataacuterio ao mesmo tempo Inclusive

caberia uma investigaccedilatildeo para avaliar a forma de seleccedilatildeo dos projetos apoiados

pela empresa puacuteblica de maneira que o mecenato esportivo natildeo se transforme em

um instrumento de apadrinhamento poliacutetico-partidaacuterio

Como alternativa para dar transparecircncia agrave participaccedilatildeo das empresas

puacuteblicas Costa (2011) sugere o estiacutemulo a editais de seleccedilatildeo puacuteblica de projetos

Inclusive esta deveria ser uma praacutetica adotada tanto para empresa de capital

puacuteblico como privado haja vista que grande parte do financiamento do mecanismo

de mecenato eacute de origem puacuteblica ndash fruto da isenccedilatildeo fiscal

Ainda em relaccedilatildeo aos depoacutesitos de pessoa juriacutedica observamos que o

maior valor aportado foi de R$ 70000000 enquanto o menor foi de R$ 120000 A

meacutedia dos valores de depoacutesito foi calculada em R$ 8554548 e a moda encontrada

foi de R$ 3000000 com sete depoacutesitos realizados Foram 84 categorias de valores

de depoacutesito apurado no caacutelculo da moda

A anaacutelise seguinte considerou a amostra das 32 propostas aprovadas e

investigou as modalidades esportivas pleiteadas Foram contabilizadas 28

modalidades esportivas distintas sendo que apenas o basquetebol e tecircnis

solicitaram tambeacutem a sua versatildeo paraoliacutempica Tivemos um total de 75 citaccedilotildees de

modalidade sendo a mais lembrada o Voleibol (10) seguido do Futsal (8) Nataccedilatildeo

(7) Basquetebol (6) e Tecircnis (6) Quando comparamos este panorama esportivo com

as propostas que tiveram ecircxito na captaccedilatildeo de recurso temos uma reduccedilatildeo para 43

citaccedilotildees distribuiacutedas em 19 modalidades esportivas conforme pode ser observada

no graacutefico a seguir

158

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Cada projeto poderia trabalhar mais de uma modalidade esportiva poreacutem

a apuraccedilatildeo da moda registrou que 23 propostas optaram por ser accedilatildeo exclusiva de

uma modalidade esportiva Deste grupo 16 projetos eram da manifestaccedilatildeo

rendimento cinco de esporte de participaccedilatildeo e dois de esporte educacional O

caraacuteter de especializaccedilatildeo do esporte de rendimento contribuiu para a

preponderacircncia desta manifestaccedilatildeo no grupo de uacutenica modalidade esportiva

Por sua vez das nove propostas que visam desenvolver mais de uma

modalidade esportiva sete satildeo da manifestaccedilatildeo educacional uma de participaccedilatildeo e

uma de rendimento Cabe ressaltar que um projeto educacional pretendia

desenvolver 13 modalidades esportivas

Graacutefico 24 ndash Distribuiccedilatildeo das modalidades esportivas apresentadas e captadas pelos projetos das entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo

ao Esporte em 2013

159

Tabela 8 ndash Distribuiccedilatildeo das modalidades esportivas por projeto apresentado por entidade esportiva sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

Categoria Quantidade

projetos Manifestaccedilatildeo Educacional

Manifestaccedilatildeo Participaccedilatildeo

Manifestaccedilatildeo Rendimento

1 modalidade esportiva 23 2 5 16

2 modalidades esportivas 1 1 - -

3 modalidades esportivas 2 2 - -

4 modalidades esportivas 2 1 1 -

6 modalidades esportivas 2 1 - 1

10 modalidades esportivas 1 1 - -

13 modalidades esportivas 1 1 - -

Total Geral 32 9 6 17

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

A maior representatividade do esporte educacional nas propostas que

visam desenvolver mais de uma modalidade esportiva sugere um cuidado das

proponentes deste segmento em diversificar a cultura esportiva dos beneficiaacuterios

Esta pluralidade e ampliaccedilatildeo na oferta das modalidades esportivas satildeo

caracteriacutesticas importantes para garantia do direito social ao esporte por isso reforccedila

a relevacircncia no pleito da manifestaccedilatildeo educacional no mecanismo de mecenato

esportivo

Vale destacar que a uacutenica proponente que apresenta o desenvolvimento

de mais de uma modalidade esportiva na manifestaccedilatildeo rendimento eacute um tradicional

clube esportivorecreativo de Belo Horizonte Ao investigar a sua proposta natildeo fica

claro se o projeto estaacute ampliando as accedilotildees jaacute realizadas ou estaacute havendo uma

transferecircncia no custeio das suas accedilotildees esportivas para a Lei Federal de Incentivo

ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

O projeto em questatildeo tambeacutem apresenta uma contrapartida da

proponente no valor de R$ 525686599 poreacutem natildeo existe informaccedilatildeo sobre a

origem do recurso Como a proponente possui outras formas de repasse de recurso

puacuteblico (convecircnio termo de parceria etc) existe a possibilidade da contrapartida

natildeo ter origem privada A ausecircncia deste lastro da contrapartida financeira pode

sinalizar para a sobreposiccedilatildeo de atividades e financiamento ou seja a proponente

receber recurso puacuteblico de entes federativos distintos (Uniatildeo Estados e Municiacutepios)

para desenvolver a mesma accedilatildeo esportiva

160

Para a proacutexima anaacutelise os 32 projetos foram agrupados pelo tipo de accedilatildeo

esportiva sendo que a pesquisa levantou as seguintes categorias 1) Escola de

esporte - visa o ensino e aprendizagem de uma modalidade esportiva sem foco no

alto rendimento ou participaccedilatildeo de competiccedilatildeo oficial 2) Evento eou Competiccedilatildeo -

propotildee a realizaccedilatildeo de um evento de promoccedilatildeo de uma praacutetica esportiva ou a

organizaccedilatildeo de uma competiccedilatildeo esportiva 3) Treinamento de equipe - objetiva a

repeticcedilatildeo continua e sistematizada do conteuacutedo esportivo na busca da melhoria do

desempenho competitivo e 4) Viagem para competiccedilotildees - viabilizar a participaccedilatildeo

de equipes esportivas em competiccedilotildees oficiais

Aleacutem disso foi contabilizada a quantidade de recurso humano solicitado

pela proponente para a execuccedilatildeo da accedilatildeo esportiva Para efeito deste caacutelculo foram

descartados os serviccedilos terceirizados da atividade meio prestado por pessoa

juriacutedica tais como assessoria contaacutebil juriacutedica administrativa ou similar poreacutem

consideramos as pessoas fiacutesicas vinculadas diretamente ao projeto

Tabela 9 ndash Distribuiccedilatildeo dos recursos humanos pelo tipo de accedilatildeo esportiva desenvolvida no projeto aprovado por entidade sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao

Esporte no ano de 2013

Categoria Total de

profissionais

Qtde profis Manifestaccedilatildeo Educacional

Qtde profis Manifestaccedilatildeo Participaccedilatildeo

Qtde profis Manifestaccedilatildeo Rendimento

Escola de Esporte 160 (12) 133 (9) 27 (3) -

Evento eou competiccedilatildeo 172 (5) - 137 (3) 35 (2)

Treinamento de equipe 159 (13) - - 159 (13)

Viagem para competiccedilatildeo - (2) - - - (2)

Total Geral 491 (32) 133 (9) 164 (6) 194 (17)

Meacutedia Profissional Contratado 153 148 273 114

( ) quantidade de projetos na categoria

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Desta forma 30 projetos encaminharam a contrataccedilatildeo de recurso

humano totalizando um montante de 491 profissionais contratados no sistema de

CLT eou como autocircnomos (RPA) As duas propostas que natildeo solicitaram

contrataccedilatildeo de profissionais pleiteavam custeio de viagem de equipe para participar

de competiccedilatildeo oficial A primeira viagem era para a categoria de base de um dos

grandes clubes de futebol de Belo Horizonte enquanto a segunda era para a

161

categoria maacutester de um clube esportivorecreativo participar de um torneio

internacional de voleibol

A viagem internacional de equipe maacutester de voleibol se adequa ao

conceito de esporte de rendimento do Inciso III do Art 3ordm da Lei Peleacute (Lei Nordm

96151998) quando trata da ldquofinalidade de obter resultados e integrar pessoas e

comunidades do Paiacutes e estas com as de outras naccedilotildeesrdquo Poreacutem eacute necessaacuterio

avaliar o impacto real da participaccedilatildeo desta equipe para a imagem do paiacutes ou a

integraccedilatildeo das naccedilotildees

Aleacutem disso o grupo participante aparenta ter poder aquisitivo alto por

fazer parte de um importante segmento econocircmico do paiacutes o que levanta a duacutevida

sobre a real necessidade do recurso puacuteblico para esta viagem Ademais o projeto

natildeo apresenta criteacuterio de seleccedilatildeo dos atletas logo natildeo fica claro se seratildeo atendidos

apenas os usuaacuterios do clube esportivorecreativo ou seraacute feito uma convocaccedilatildeo para

representar o paiacutes neste evento

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo

proacutepria

O valor modal encontrado foi a contrataccedilatildeo de cinco profissionais por

projeto presente em cinco propostas seguido de 11 profissionais (quatro

propostas) quatro profissionais (trecircs propostas) e trecircs profissionais (trecircs propostas)

Nesta anaacutelise foram contabilizadas 17 categorias sendo 127 profissionais a maior

Graacutefico 25 ndash Comparativo entre a distribuiccedilatildeo dos profissionais e dos projetos pelo tipo de accedilatildeo esportivas apresentada na proposta das entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na

Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013

162

quantidade de contratados em um projeto Trata-se de um competiccedilatildeo de motocross

dividida em quatro etapas e que a proponente contrata vaacuterios staffs para auxiliar na

logiacutestica de execuccedilatildeo

Ao observar a distribuiccedilatildeo do recurso humano nos projetos de

rendimento verificamos um valor absoluto maior (194) mas no caacutelculo da meacutedia

apresentou o menor escore (114 profissionais) entre as manifestaccedilotildees Este valor

meacutedio contraria a expectativa do projeto de rendimento possuir uma quantidade

maior de profissionais devido agrave especializaccedilatildeo da comissatildeo teacutecnica (fisioterapeuta

teacutecnico preparador fiacutesico psicoacutelogo etc)

Contudo ao apurar a quantidade de profissionais nos 20 projetos que

tiveram ecircxito na captaccedilatildeo de recurso65 notamos uma elevaccedilatildeo na meacutedia de

profissionais envolvidos nos projetos de rendimento (134 profissionais) poreacutem o

valor continua abaixo da meacutedia de profissionais dos projetos educacionais (aprovado

148 profissionais e captado 150 profissionais)

Tabela 10 ndashDistribuiccedilatildeo dos beneficiaacuterios valor total e per capita recurso humano pela manifestaccedilatildeo esportiva nos projetos aprovados por entidades esportivas sediadas em Belo

Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

Descriccedilatildeo Total Manifestaccedilatildeo Educacional

Manifestaccedilatildeo Participaccedilatildeo

Manifestaccedilatildeo Rendimento

Beneficiaacuterios Diretos 35066 (32) 11136 (9) 16116 (6) 7814 (17)

Valor Aprovado (R$) 2781428728 793488314 417866080 1570074334

Valor per capita Aprovado (R$) 79320 71254 25929 200931

Quantidade de Profissionais 491 133 164 194

Meacutedia Profissional Contratado 153 148 273 114

Responsabilidade profissional 714 837 983 403

Beneficiaacuterios Diretos 23184 (20) 6058 (5) 15396 (4) 1730 (11)

Valor Captado (R$) 1068892843 381453215 69624363 617815265

Valor per capita Capitado (R$) 46105 62967 4522 357119

Quantidade de Profissionais 248 75 26 147

Meacutedia Profissional Contratado 124 150 65 134

Responsabilidade profissional 935 808 5922 118

( ) quantidade de projetos na categoria

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

65

Este caacutelculo eacute uma estimativa pois a anaacutelise estaacute levando em consideraccedilatildeo os projetos originalmente aprovados No entanto aquelas propostas que natildeo captaram 100 do recurso autorizado podem solicitar readequaccedilatildeo do projeto e logo alteraccedilatildeo na quantidade de profissionais e beneficiaacuterios De acordo com informaccedilatildeo de um membro do Ministeacuterio do Esporte o sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte natildeo armazena a versatildeo readequada do projeto

163

Uma vez que a meacutedia de profissionais contratados natildeo mostrou

diferenccedilas entre as manifestaccedilotildees esportivas e na comparaccedilatildeo de valor autorizado e

captado foi feita nova anaacutelise mas agora levando em consideraccedilatildeo a quantidade de

beneficiaacuterios O indicador criado foi o de ldquoresponsabilidade profissionalrdquo que

representa a quantidade de beneficiaacuterios que fica sobre a supervisatildeo e

responsabilidade de um profissional contratado O caacutelculo foi realizado pela divisatildeo

aritmeacutetica da quantidade de beneficiaacuterios pela quantidade de profissionais

Notamos que nos projetos de esporte de rendimento cada profissional

orienta em meacutedia 403 (projeto aprovado) e 118 (projeto captado) beneficiaacuterios

enquanto no esporte educacional a meacutedia estaacute em torno de 80 beneficiaacuterios (837 no

projeto aprovado e 808 no projeto captado) Jaacute para a manifestaccedilatildeo de participaccedilatildeo

o valor variou bastante ficando entre 983 (aprovado) e 5922 (captado)

beneficiaacuterios para cada profissional

Nesse sentido a diferenccedila entre as manifestaccedilotildees esportivas dos projetos

apresentados pelas entidades esportivas de Belo Horizonte natildeo estaacute na quantidade

de profissionais pleiteados mas no nuacutemero de beneficiaacuterios atendidos por cada um

destes profissionais Assim o niacutevel de atenccedilatildeo e tempo despendido para cada

beneficiaacuterio no esporte de rendimento tende a ser maior que o das demais

manifestaccedilotildees em contrapartida haacute um menor potencial de atendimento Poreacutem a

democratizaccedilatildeo do direito social ao esporte estaacute no acesso a sua fruiccedilatildeo logo

diminuir a capacidade de atendimento pode ter impacto negativo

Outro indicador que mostrou grande diferenccedila entre as manifestaccedilotildees

esportivas foi o ldquovalor per capitardquo dos projetos isto eacute o valor investido pelo projeto

em cada beneficiaacuterio Para o caacutelculo meacutedio deste indicador dividiu-se o montante

financeiro dos projetos pela quantidade de beneficiaacuterios correspondente O resultado

encontrado eacute o valor financeiro meacutedio investido em cada beneficiaacuterio por projeto

Observa-se que o investimento meacutedio nos beneficiaacuterios do esporte de rendimento

(projeto aprovado R$ 200931 e projeto captado R$ 357119) foi muito superior ao

do esporte educacional (projeto aprovado R$ 71254 e projeto captado R$ 62967) e

do esporte de participaccedilatildeo (projeto aprovado R$ 25929 e projeto captado R$ 4522)

164

Tabela 11 ndash Descriccedilatildeo dos projetos aprovados pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte nos quesitos quantidade de beneficiaacuterios

duraccedilatildeo do projeto valor per capita aprovado e captado

Identificaccedilatildeo do Projeto

Manifestaccedilatildeo Esportiva

Quantidade de

beneficiaacuterios

Duraccedilatildeo projeto

Valor Per capita aprovado

(R$)

Valor Per capita captado

(R$)

10 Educacional 4050 12 1339 -

15 Educacional 600 12 5946 5946

7 Educacional 3436 12 6293 4073

14 Educacional 1117 12 7867 5804

18 Educacional 605 12 7908 6581

29 Educacional 150 12 9535 -

30 Educacional 400 12 10612 -

20 Educacional 478 12 11722 -

8 Educacional 300 12 35532 12530

Maacuteximo 4050 12 35532 12530

Miacutenimo 150 12 1339 5804

Meacutedia 12373 120 10750 6987

25 Participaccedilatildeo 12000 12 412 100

0 Participaccedilatildeo 3000 2 3252 3252

28 Participaccedilatildeo 200 12 5923 5923

17 Participaccedilatildeo 520 11 6426 -

19 Participaccedilatildeo 196 12 32095 9141

31 Participaccedilatildeo 200 12 88576 -

Maacuteximo 12000 12 88576 9141

Miacutenimo 200 2 412 100

Meacutedia 26860 101 22781 4604

12 Rendimento 5000 6 3132 -

24 Rendimento 1000 6 3609 -

2 Rendimento 210 12 10824 10824

5 Rendimento 150 12 42430 37222

9 Rendimento 96 13 43827 24760

1 Rendimento 210 12 48621 27778

13 Rendimento 50 13 52311 52311

26 Rendimento 64 12 53663 716

27 Rendimento 40 12 69269 -

4 Rendimento 150 12 77473 11528

11 Rendimento 710 10 86521 34783

3 Rendimento 40 12 91780 45417

6 Rendimento 10 12 113234 79792

22 Rendimento 32 5 193360 -

21 Rendimento 10 12 304061 -

16 Rendimento 40 9 462832 247222

23 Rendimento 2 12 820481 -

Maacuteximo 5000 13 820481 247222

Miacutenimo 2 5 3132 716

Meacutedia 4596 107 145731 52032

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

165

No entanto independente da manifestaccedilatildeo esportiva os projetos satildeo

bastante distintos entre eles e o ldquovalor per capitardquo meacutedio torna-se apenas uma

referecircncia para comparaccedilotildees de projetos sem levar em consideraccedilatildeo o conteuacutedo ou

meacuterito esportivo Por isso a tabela anterior apresentou um panorama geral dos 32

projetos aprovados ateacute a data de 15 de fevereiro de 2016

Cabe ressaltar que na tabela o calculo do ldquovalor per capitardquo levou em

conta a quantia autorizada ou captada pelo projeto e sua relaccedilatildeo com o montante de

beneficiaacuterios a ser atendido mas tambeacutem o tempo de execuccedilatildeo da proposta Desta

maneira foi parametrizado o investimento mensal do projeto para o atendimento de

cada beneficiaacuterio Notamos que os valores calculados satildeo bastante diferentes entre

eles poreacutem os de rendimento satildeo os que possuem os maiores registros tanto que

cinco projetos implicam em investimento mensal superior a R$ 100000 em cada

atendido

Natildeo existe normativa sobre o investimento per capita em projetos

contudo levando em consideraccedilatildeo que um dos princiacutepios para a existecircncia da

poliacutetica de financiamento puacuteblico ao esporte eacute gerar a democratizaccedilatildeo do acesso a

este elemento da cidadania social devemos observar se o valor empregado no

projeto natildeo eacute superior ao serviccedilo similar ofertado pelo mercado Isto eacute um projeto de

ldquoescolinha de esporterdquo na manifestaccedilatildeo educacional que tem um investimento

mensal previsto em R$ 35532 como o de identificaccedilatildeo nuacutemero 8 na tabela natildeo

estaacute ofertando uma atividade esportiva igual agrave contratada no mercado mas com

valor superior

Nesse sentido o valor per capita pode ser utilizado como um quesito para

comparaccedilatildeo dos valores utilizados nos projetos com os praticados pelo mercado

funcionando como um balizador de preccedilo No entanto torna-se necessaacuterio ter

clareza no objetivo do mecanismo de mecenato esportivo pois tanto autorizar

projetos com chancela estatal a captar recurso de isenccedilatildeo fiscal quanto contratar um

serviccedilo privado com recurso puacuteblico (direto ou indireto) podem gerar o mesmo

resultado de acesso ao esporte Poreacutem o impacto na profissionalizaccedilatildeo e na cadeia

produtiva esportiva podem ser diferentes

166

53 Local e puacuteblico de atuaccedilatildeo dos projetos

Uma das novas diretrizes trazidas pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 foi a

descentralizaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas de maneira a proporcionar uma maior

proximidade entre o poder estatal e os beneficiaacuterios da accedilatildeo puacuteblica Nesse sentido

busca-se uma maior cooperaccedilatildeo entre os entes federativos (Uniatildeo Estados

Subnacionais e Municiacutepios) mas o Estado brasileiro tambeacutem passou a contar com o

apoio da sociedade civil organizada (associaccedilatildeo e fundaccedilotildees) para o

desenvolvimento e execuccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas

A participaccedilatildeo das entidades civis tem sido avaliada pelos gestores

puacuteblicos federais como beneacutefica devido agrave capacidade de fortalecimento da rede de

solidariedade jaacute existente aleacutem de possibilitar a ampliaccedilatildeo na abrangecircncia territorial

de atendimento das poliacuteticas puacuteblicas Ademais as entidades civis por estarem

envolvidas com a execuccedilatildeo de accedilotildees sociais satildeo detentoras de uma expertise

operacional que contribui no aprimoramento das poliacuteticas estatais (LOPEZ e

ABREU 2014)

Neste contexto a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) pode ser considerada uma ferramenta de descentralizaccedilatildeo da poliacutetica

esportiva pois permite que tanto a pessoa juriacutedica de direito puacuteblico quanto de

direito privado participe do chancelamento de projetos esportivos sem restriccedilatildeo de

lugar ou espaccedilo para a praacutetica

Para verificar a distribuiccedilatildeo territorial dos 32 projetos aprovados por

entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte foi feito o levantamento das

citaccedilotildees de locais de atividade Como cada proposta poderia sugerir mais de um

lugar de intervenccedilatildeo esportiva o nuacutemero consolidado foi superior a 32 indicaccedilotildees

Para a anaacutelise em Belo Horizonte levamos em consideraccedilatildeo a organizaccedilatildeo do

municiacutepio em nove regionais administrativas sendo 1) Barreiro 2) Centro-Sul 3)

Leste 4) Nordeste 5) Noroeste 6) Norte 7) Oeste 8) Pampulha 9) Venda Nova

(BELO HORIZONTE 2008)

167

Fonte Belo Horizonte (2008 p14) ndash Adaptado

Registramos 34 locais de intervenccedilatildeo esportiva na cidade sendo que a

Regional Centro-Sul foi a mais lembrada com 12 citaccedilotildees seguida pelas Regionais

Oeste (7) e Pampulha (5) Por sua vez as Regionais Venda Nova Norte e Noroeste

natildeo receberam nenhuma citaccedilatildeo muito embora os dados do Censo do IBGE de

2010 mostrem que estatildeo entre as quatro menores rendas domiciliares per capita66

da cidade Ou seja as regionais administrativas que natildeo estatildeo sendo atendidas pela

Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) satildeo as que abrigam

pessoas com maior dificuldade financeira para acessar o direito social ao esporte

pela via do mercado Logo a capacidade de capilarizaccedilatildeo da poliacutetica esportiva para

territoacuterios de vaacutecuo estatal natildeo foi observado no cenaacuterio belorizontino

66

Dados do Censo do IBGE de 2010 mas acessadas no site da Prefeitura de Belo Horizonte Disponiacutevel em lthttpportalpbhpbhgovbrpbhecpfilesdoevento=downloadampurlArqPlc=des-t072xlsgt

Figura 15 ndash Mapa com as regionais administrativas de Belo Horizonte

77

55

1122

22

22

44

168

Tabela 12 ndash Distribuiccedilatildeo dos locais de atuaccedilatildeo dos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

Belo Horizonte Renda

Domiciliar per capita

Citaccedilotildees Distribuiccedilatildeo

() Interior de

Minas Gerais Citaccedilotildees

Distribuiccedilatildeo ()

Barreiro R$ 67537 2 50 Araguari 1 13

Centro-Sul R$ 333743 12 150 Barroso 1 13

Leste R$ 108878 4 50 Betim 2 25

Nordeste R$ 108337 2 25 Brumadinho 3 38

Noroeste R$ 104817 - - Contagem 2 25

Norte R$ 75926 - - Ibiriteacute 2 25

Oeste R$ 134840 7 88 Ipatinga 4 50

Pampulha R$ 163359 5 63 Itabirito 2 25

Venda Nova R$ 70456 - - Naque 1 13

Nova Lima 1 13

Paracatu 1 13

Patos de Minas 1 13

Piriquito 2 25

Poccedilos de

Caldas 1 13

Santa Luzia 2 25

Satildeo Gonccedilalo

do Rio Abaixo 1 13

Sarzedo 1 13

Timoacuteteo 1 13

Trecircs Coraccedilotildees 1 13

Trecircs Pontas 1 13

Tupaciguara 1 13

Uberlacircndia 1 13

Varginha 1 13

Vespasiano 1 13

Outros

Estados 11 138

MeacutediaTotal R$ 129766 34 425 Total Geral 46 575

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

A falta de accedilotildees esportivas nas regionais Venda Nova Norte e Noroeste

pode sugerir uma carecircncia de qualificaccedilatildeo das entidades sediadas nestas

localidades haja vista que Belo Horizonte possui 518 entidades privadas sem fins

lucrativos de natureza recreativa segundo dados do IBGE67 Deste universo de

entidades apenas 46 apresentaram projetos no mecenato esportivo em 2013 sendo

67

Disponiacutevel em lthttpwwwcidadesibgegovbrcartogramamapaphplang=ampcoduf=31ampcodmun=310620ampidtema=101ampcodv=v11ampsearch=minas-gerais|belo-horizonte|sintese-das-informacoes-gt

169

que 20 tiveram ecircxito na aprovaccedilatildeo mas somente 12 conseguiram efetivar as suas

accedilotildees Trata-se de um nuacutemero muito restrito de participaccedilatildeo na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) principalmente para o contexto de uma

das maiores capitais do paiacutes Por isso aleacutem de melhorar a divulgaccedilatildeo do

mecanismo tambeacutem se torna preciso capacitar as entidades esportivas de forma

que aquelas localizadas em regiotildees menos favorecidas tenham chances de competir

em niacutevel de igualdade

Outro nuacutemero que chamou a atenccedilatildeo na distribuiccedilatildeo geograacutefica dos

projetos foi haacute alta incidecircncia de accedilotildees fora da capital Foram contabilizadas 35

citaccedilotildees de atividade esportiva a serem realizadas em 24 cidades do interior de

Minas Gerais apesar de todas as entidades estarem sediadas na capital mineira

Este dado mostra a possibilidade de transferecircncia de conhecimento e tecnologia

esportiva para regiotildees interioranas por meio da execuccedilatildeo de accedilotildees para aleacutem da

cidade sede da proponente

Contudo este tipo de accedilatildeo deve ser avaliado com certo cuidado pois a

falta de articulaccedilatildeo com a rede de serviccedilos do interior pode causar desestiacutemulo para

as entidades esportivas atuantes localmente Assim ao inveacutes das accedilotildees do

mecenato esportivo fortalecerem o que jaacute existe podem esta substituindo

temporariamente o atendimento sem haver troca de experiecircncia e no futuro

criando um novo vazio esportivo

Ainda catalogamos accedilotildees esportivas em 10 cidades localizadas na Bahia

e uma no Paraacute Ao verificar os trecircs projetos que pleiteavam atividades fora de Minas

Gerais observamos que todos eram de uma uacutenica proponente a mesma que

compunha o rank das maiores captadoras de recurso da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte (Lei Nordm 114382006)

Por conta da distacircncia entre Belo Horizonte e as cidades destes outros

estados torna-se importante refletir sobre o impacto de uma entidade esportiva

assumir uma responsabilidade de abrangecircncia territorial tatildeo grande Cabe lembrar

que uma das motivaccedilotildees para o Estado brasileiro utilizar das entidades civis para a

execuccedilatildeo de poliacutetica puacuteblica eacute sua maior proximidade com a populaccedilatildeo beneficiaacuteria

Neste caso a relaccedilatildeo de afinidade pode ficar abalada ou no miacutenimo prejudicada

A escolha do puacuteblico-alvo do projeto eacute outra fonte de informaccedilatildeo

interessante para verificar o potencial de democratizaccedilatildeo do direito social ao

esporte Assim o quantitativo de beneficiaacuterios dos 32 projetos aprovados foi

170

consolidado levando em consideraccedilatildeo a faixa-etaacuteria e a manifestaccedilatildeo esportiva

Como cada projeto poderia atender mais de uma categoria de faixa-etaacuteria o

somatoacuterio de incidecircncia nas propostas pode ser um valor superior as 32 aprovaccedilotildees

Tabela 13 ndash Distribuiccedilatildeo do puacuteblico-alvo dos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

Faixa-etaacuteria Quantidade

Beneficiaacuterios Distribuiccedilatildeo

() Educacional Rendimento Participaccedilatildeo

Crianccedila (0 a 12 anos) 7739 221 7077 (9) 324 (9) 338 (1)

Adolescente (10 a 18 anos) 7511 214 3878 (9) 2951 (13) 682 (3)

Adulto (18 a 59 anos) 16812 479 163 (5) 3249 (7) 13400 (5)

Idoso (a partir de 60 anos) 2250 64 - 750 (1) 1500 (2)

Pessoa com deficiecircncia 754 22 18 (1) 540 (2) 196 (2)

Total Geral 35066 1000 11136 (24) 7814 (32) 16116 (13)

idades delimitadas pelo sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte ( ) quantidade de projetos

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Notamos que 435 (15250) dos projetos visa atender o segmento jovem

sendo que 718 (10955) deste montante estaacute vinculado a manifestaccedilatildeo de esporte

educacional Os nuacutemeros mostram a abrangecircncia dos projetos educacionais para

garantir o acesso do puacuteblico jovem a este elemento social da cidadania

Ao buscar nas nove propostas educacionais mais informaccedilotildees descritivas

sobre a caracteriacutestica do puacuteblico jovem notamos que nenhuma trazia dado adicional

agrave delimitaccedilatildeo de idade Desta forma procuramos extrair os atributos dos

beneficiaacuterios dos possiacuteveis criteacuterios de seleccedilatildeo para a participaccedilatildeo na accedilatildeo Foi

recorrente mencionar que o projeto atenderia jovens em situaccedilatildeo de vulnerabilidade

social (2) ou risco social (3) aleacutem da repeticcedilatildeo da exigecircncia legal de 50 de

beneficiaacuterios matriculados em escola puacuteblica Mas apenas uma proposta indicou

articulaccedilatildeo com o Centro de Referecircncia em Assistecircncia Social (CRAS) da regiatildeo

para captar o puacuteblico-alvo e demonstrar o cumprimento do atributo Aparentemente

os demais projetos utilizaram os termos (vulnerabilidade e risco social) como

maneira de dar relevacircncia social a accedilatildeo esportiva a ser realizada pois natildeo havia

evidecircncias de comprovaccedilatildeo do contexto de fragilidade Outras quatro propostas natildeo

acrescentaram nenhuma informaccedilatildeo ao puacuteblico-alvo do projeto

171

Ter bom comportamento em sala ter presenccedila na escola e estarem dento do perfil do projeto que eacute assistir crianccedilas e adolescente de baixa renda e que moram em comunidades em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social (PROJETO 15 p5) [] eacute um projeto soacutecio-educativo de cunho esportivo para crianccedilas e adolescentes de 06 a 17 anos em situaccedilatildeo de risco social em quadra de tecircnis proacutexima agrave escola dos participantes (PROJETO 20 p4)

Esta debilidade argumentativa nas propostas aprovadas coloca em duacutevida

quem satildeo os possiacuteveis beneficiaacuterios dos projetos Mas natildeo foi um problema

exclusivo dos projetos educacionais pois esteve presente na grande maioria das

propostas No caso dos 13 projetos da manifestaccedilatildeo esporte de rendimento que

atenderiam o puacuteblico jovem ainda havia o agravante de um possiacutevel criteacuterio de

desempenho preacutevio (7) ou jaacute participar da entidade esportiva (4) Outras duas

propostas nada acrescentaram sobre o puacuteblico ou criteacuterio de seleccedilatildeo

40 atletas jovens e adultos [da proponente] das categorias juvenil a secircnior com qualidades fiacutesicas e habilidades teacutecnicas apropriadas para o desenvolvimento do esporte de alto rendimento na modalidade de nataccedilatildeo (PROJETO 16 p3 ndash entre colchetes substituiu o nome da proponente) Atletas praticantes da modalidade futsal com comprovado domiacutenio da praacutetica deste esporte 50 provenientes de escolas puacuteblicas de belo horizonte e regiatildeo Adolescentes do sexo masculino em sua parte estudantes de escolas puacuteblicas com capacidade teacutecnica comprovada para o desenvolvimento da modalidade direcionado ao desporto de rendimento Importante salientar que por se tratar de grande parte de pessoas carentes eacute de suma importacircncia o auxiacutelio transporte (PROJETO 26 p4)

Nesse sentido os jovens participantes dos projetos de rendimento jaacute

teriam que ter tido contato preacutevio com a modalidade logo o direito social ao esporte

deveria ter sido garantido por outra via que natildeo fosse o mecenato esportivo

Contudo a maior vedaccedilatildeo estaacute na seleccedilatildeo feita entre o puacuteblico da proacutepria

proponente ou seja apesar do recurso ter caraacuteter puacuteblico existe uma condicionante

de acesso agrave populaccedilatildeo em geral como por exemplo o pagamento da mensalidade

para ser associado do clube esportivorecreativo

Por outro lado os projetos de rendimento tambeacutem natildeo deixam claro se o

puacuteblico a ser atendido eacute fruto de uma ampliaccedilatildeo da accedilatildeo desenvolvida pela

proponente ou se estaacute havendo apenas uma transferecircncia do custeio de atividade jaacute

realizada Neste segundo caso o mecanismo de mecenato esportivo natildeo traria

nenhum beneficio adicional agrave sociedade haja vista que natildeo proporcionaria

ampliaccedilatildeo de acesso ao esporte e tatildeo pouco inovaccedilatildeo para a aacuterea

172

Enfim a forma de distribuiccedilatildeo do recurso no territoacuterio associado agrave

deficiecircncia argumentativa na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo dos projetos aprovados exibe

uma fragilidade no desenvolvimento do mecenato esportivo na capital mineira

Grande parte da conjuntura poderia ser justificada pela incipiente profissionalizaccedilatildeo

do setor esportivo Entretanto duas proponentes de destaque nacional na Lei

Federal de Incentivo ao Esporte estatildeo sediadas em Belo Horizonte e apresentaram

problemas similares em suas propostas embora tenham aprovado e captado Logo

a questatildeo natildeo estaacute apenas na profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas mas

tambeacutem na relaccedilatildeo que o Ministeacuterio do Esporte manteacutem com o mecanismo de

mecenato esportivo Isto eacute tratar a poliacutetica como meramente financeira quando na

verdade ela tem uma responsabilidade de desenvolvimento do esporte e

democratizaccedilatildeo do acesso a um elemento social da cidadania Mas para efetivar

este segundo eixo torna-se necessaacuterio discutir e propor uma diretriz para a poliacutetica

puacuteblica

173

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS UM ENSAIO PARA PENSAR A POLIacuteTICA DE FINANCIAMENTO AO ESPORTE

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 foi um marco para a sociedade brasileira

mas tambeacutem para o setor esportivo brasileiro ao incluir pela primeira vez na histoacuteria

do paiacutes o esporte como direito social O novo status do esporte acarretou a

obrigaccedilatildeo do Estado de atuar de forma ativa na proposiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de oportunizar o acesso e fruiccedilatildeo deste objeto social a todos os cidadatildeos

Ao investigar os documentos da Assembleia Nacional Constituinte

notamos que coube agraves tradicionais entidades representativas do esporte de

rendimento o protagonismo na inclusatildeo do tema no texto constitucional Assim o Art

217 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representou a ldquocarta de alforriardquo destas

entidades por prever autonomia e liberdade de funcionamento ao mesmo tempo

em que manteve a tradicional tutela do financiamento puacuteblico estatal Esta relaccedilatildeo

poderia ser considerada contraditoacuteria natildeo fosse o status de direito social Isto eacute o

entendimento do esporte como elemento da heranccedila social que agrega e gera

pertencimento dos indiviacuteduos agrave sociedade brasileira Por isso estabelece-se motivo

para o financiamento do Estado agraves entidades colaboradoras

No processo de reformulaccedilatildeo do esporte tambeacutem emergiu novas

expressotildees a manifestaccedilatildeo educacional (Art 217 inciso II) e esporte como

promoccedilatildeo do lazer (Art 217 inciso IV sect 3ordm) aleacutem do jaacute tradicional esporte de

rendimento (Art 217 inciso II) (BRASIL 1988a) Para Tubino (2005 2010) estas

possiacuteveis manifestaccedilotildees impliacutecitas no texto constitucional satildeo na verdade uma

consolidaccedilatildeo das discussotildees realizadas pela Comissatildeo de Reformulaccedilatildeo do

Desporto Nacional quando os termos Esporte-Educaccedilatildeo Esporte-Lazer e Esporte-

Rendimento apareceram As novas manifestaccedilotildees satildeo uma tentativa de expandir o

conceito esportivo para aleacutem da conversadora expressatildeo atleacutetica de desempenho

competitivo

Contudo ateacute a criaccedilatildeo da Secretaria de Desportos da Presidecircncia da

Repuacuteblica as novas manifestaccedilotildees esportivas natildeo passavam de discussotildees no

campo teoacuterico A nova estrutura estatal trouxe o esporte mais uma vez para a

agenda puacuteblica e no dia 6 de julho de 1993 foi aprovada a Lei Zico (Lei Nordm

86721993) A legislaccedilatildeo que se apresentava como norma geral do esporte

consolidou as trecircs manifestaccedilotildees Aleacutem disso mostrou a forccedila do setor do alto

174

rendimento ao conseguir flexibilizar no Congresso Nacional a eminente reforma

administrativa das entidades do esporte profissional principalmente no segmento do

futebol

A incapacidade da Lei Zico (Lei Nordm 86721993) de superar os problemas

estruturais da cadeia esportiva nacional estimulou nova rodada de debate para

reformulaccedilatildeo da norma geral para a aacuterea Depois de quase trecircs anos de tracircmite no

Congresso Nacional foi aprovada a Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) que reafirmou as

trecircs manifestaccedilotildees esportivas esporte de rendimento esporte educacional e esporte

de participaccedilatildeo aleacutem de trazer novas mas limitadas modernizaccedilotildees ao esporte

Em 16 de julho de 2001 foi aprovada a Lei AgneloPiva (Lei Nordm

102642001) que alterou o Art 56 da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) e possibilitou o

repasse de parte da receita das loterias federais para o esporte As beneficiaacuterias do

financiamento puacuteblico foram as entidades representativas do esporte sendo que um

percentual maior do recurso ficou vinculado agrave manifestaccedilatildeo rendimento Assim

mesmo sendo o esporte educacional e de participaccedilatildeo prioridades constitucionais

(inciso II do Art 217) o esporte de rendimento foi o primeiro a conquistar uma fonte

de financiamento puacuteblica Este fato mostra a forccedila e prestigio deste setor para

influenciar os formuladores de poliacutetica puacuteblica

Somente com a posse do Presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio Lula da

Silva (PTSP) e criaccedilatildeo do Ministeacuterio do Esporte com a Secretaria Nacional de

Esporte Educacional (SNEE) a Secretaria Nacional de Esporte e Lazer (SNEL) e

Secretaria Nacional de Esporte de Rendimento (SNER) foi possiacutevel uma estrutura

para o desenvolvimento de todas as manifestaccedilotildees esportivas O Programa

Segundo tempo (PST) e Programa Esporte e Lazer da Cidade (PELC) foram as

primeiras iniciativas para democratizar o esporte educacional e de participaccedilatildeo

respectivamente Estes programas tambeacutem colocaram o Estado brasileiro no papel

de executor de poliacuteticas puacuteblicas de esporte

Talvez este seja o momento de maior materializaccedilatildeo do direito social ao

esporte na sociedade brasileira contemporacircnea pois os novos programas

permitiram a fruiccedilatildeo do elemento social sem objetivo de formaccedilatildeo do atleta mas

como uma possibilidade de acesso a heranccedila social Novos atores sociais surgem

no campo do debate esportivo e passa a existir um diaacutelogo com a localidade por

meio de um processo de municipalizaccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica

175

As duas Conferecircncias Nacionais do Esporte (2004 2006) que se seguem

foram importantes para o amadurecimento do setor esportivo e acuacutemulo de capital

de conhecimento Especificadamente na segunda ediccedilatildeo da conferecircncia

argumentou-se sobre alternativas de financiamento puacuteblico para as entidades que

contribuem para a promoccedilatildeo do esporte havendo a sugestatildeo de leis de incentivo

fiscal nos trecircs entes federativos (Uniatildeo Estados Subnacionais e Municiacutepios) Como

estrateacutegia modelo o Ministeacuterio do Esporte havia encaminhado ao Congresso

Nacional o Projeto de Lei Nordm 69992006 que tratava sobre incentivo fiscal para a

aacuterea do esporte O projeto natildeo foi aprovado ateacute a data da conferecircncia mas serviu de

exemplo do governo federal para os demais governos subnacionais

Apesar do envio do projeto pelo Ministeacuterio do Esporte desde 2003 jaacute

tramitava no poder legislativo um projeto de lei similar de incentivo ao esporte do

Deputado Federal Bismarck Maia (PSDBCE) O pedido de urgecircncia do poder

executivo agilizou o processo e no dia 29 de dezembro de 2006 foi aprovada a Lei

Nordm 11438 popularmente conhecida como Lei Federal de Incentivo ao Esporte

Durante a passagem do projeto no Congresso Nacional foi recorrente a

lembranccedila da Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) e Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991)

como modelos de financiamento beneacuteficos para o crescimento do setor cultural No

entanto o mecanismo de mecenato cultural jaacute apresentava problemas na maneira

de distribuiccedilatildeo do recurso Grande parte dos impasses poderia ser minimizada com

a elaboraccedilatildeo de uma diretriz puacuteblica para o financiamento Mas independente da

realidade posta na aacuterea cultural o debate de criaccedilatildeo do mecanismo de mecenato

esportivo se restringiu quase exclusivamente agrave questatildeo teacutecnica orccedilamentaacuteria

Somente no comeccedilo das discussotildees legislativas sobre a Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) foi exibida a intenccedilatildeo do mecanismo em

beneficiar apenas as manifestaccedilotildees de esporte educacional e de participaccedilatildeo aleacutem

das modalidades natildeo oliacutempicas do esporte de rendimento Isso porque a Lei

AgneloPiva (Lei Nordm 102642001) jaacute canalizava recurso para o esporte oliacutempico

Contudo este argumento logo perdeu forccedila ateacute transformar o mecenato esportivo

em uma poliacutetica de financiamento ao esporte no geral Outro argumento presente

apenas no princiacutepio tratava da necessidade de contrapartida financeira do apoiador

como maneira de ampliar o montante disponiacutevel para o setor esportivo Esta opccedilatildeo

perdeu espaccedilo para a deduccedilatildeo integral do recurso apoiado tanto que no texto final

da legislaccedilatildeo ficou sem sentido a distinccedilatildeo entre patrociacutenio e doaccedilatildeo

176

Cabe ressaltar que a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) natildeo foi o primeiro mecanismo de mecenato esportivo aprovado na

aacuterea muito embora seja o primeiro a ser efetivado No final da deacutecada de 1980 e

iniacutecio de 1990 o poder legislativo em desacordo com o poder executivo aprovou a

Lei Mendes Thame (Lei Nordm 77521989) que criou trecircs modalidades de apoio via

mecanismo de mecenato esportivo Mas a legislaccedilatildeo vigorou apenas um dia por

contada suspensatildeo de todos os incentivos fiscais pelo receacutem-empossado Presidente

da Repuacuteblica Fernando Collor (PRNAL) Entretanto a discussatildeo deste mecanismo

de financiamento sequer foi lembrada durante a discussatildeo da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

Neste contexto notamos que o debate para aprovaccedilatildeo da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) se apropriou pouco do arcabouccedilo teoacuterico

e praacutetico existente sobre o funcionamento do mecanismo de mecenato O resultado

disso foi a reproduccedilatildeo de problemas experimentados na aacuterea cultural para o setor

esportivo tais como a concentraccedilatildeo de recurso na manifestaccedilatildeo rendimento (498

do valor captado de 2007-2014) e um maciccedilo investimento na regiatildeo Sudeste (73

do valor captado de 2007-2014) Este cenaacuterio de distribuiccedilatildeo desigual ainda foi

diretamente influenciado pelo acuacutemulo de recurso em um restrito grupo de 24

entidades esportivas (responsaacuteveis por 490 do valor captado de 2007-2014) das

quais seis satildeo tambeacutem beneficiarias da Lei AgneloPiva (Lei Nordm 102642001)

Ao analisar a conjuntura da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) no ano de 2013 para as entidades esportivas sediadas em Belo

Horizonte percebemos que dos 83 projetos apresentados 35 (422) foram

rejeitados 32 (386) aprovadas 13 (156) estavam em tracircmite e trecircs (36) natildeo

tinham informaccedilatildeo ou estavam identificados como protocolados Estes dados

mostram como eacute relevante o nuacutemero de rejeiccedilatildeo de projetos no funcionamento do

mecanismo

Seja por meacuterito ou por problemas documentais eacute importante que o

Ministeacuterio do Esporte amplie a interlocuccedilatildeo com as proponentes para minimizar as

restriccedilotildees de acesso Isso porque um dos objetivos da poliacutetica eacute (ou deveria ser)

aproximar o setor privado das entidades esportivas para que em um futuro proacuteximo

o montante disponiacutevel no setor seja maior que o recurso puacuteblico investido Nesse

sentido o mecenato esportivo natildeo pode ser entendido apenas como uma poliacutetica de

177

distribuiccedilatildeo de recurso mas tambeacutem como um potencial instrumento de

profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas

Verificando a distribuiccedilatildeo financeira dos 32 projetos aprovados (20

proponentes) notamos que dois proponentes que compotildeem o rank nacional dos

maiores captadores de recurso da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) no periacuteodo de 2007 a 2014 influenciaram diretamente no resultado

Estas proponentes foram responsaacuteveis pela aprovaccedilatildeo de sete projetos e a

autorizaccedilatildeo do montante de R$ 1282824808 dos quais R$ 672306288 foram

efetivamente captados Estes nuacutemeros representaram um taxa de sucesso de 524

da relaccedilatildeo entre valor autorizado e captado Por sua vez as demais 18 proponentes

que tiveram projetos aprovados responsaacuteveis por outros 25 projetos (R$

1498603920) conseguiram captar apenas R$ 396586555 Este montante

representa uma taxa de sucesso de 265

Os nuacutemeros mostram como a poliacutetica puacuteblica tem sido direcionada por um

grupo restrito de entidades esportivas A escolha de alocaccedilatildeo de recurso destas

proponentes acaba reforccedilando a concentraccedilatildeo de recurso existente na regiatildeo

Sudeste do paiacutes e na manifestaccedilatildeo esporte de rendimento No caso de Belo

Horizonte uma das proponentes de destaque optou pelos projetos de esporte

educacional o que acabou sendo beneacutefico para a manifestaccedilatildeo Todavia a decisatildeo

de alocaccedilatildeo do recurso educacional ficou quase que exclusivamente ldquonas matildeosrdquo

desta proponente Desta forma notamos o caraacuteter privado e particular que envolve a

aplicaccedilatildeo do recurso puacuteblico

Ao analisar como as accedilotildees esportivas das 32 propostas aprovadas

estavam espalhadas no territoacuterio de Belo Horizonte identificamos 34 locais de

intervenccedilatildeo dos quais a regional Centro-Sul foi a mais lembrada com 12 citaccedilotildees

Todavia esta eacute a regional com a maior meacutedia de renda domiciliar per capita do

municiacutepio ou seja onde as pessoas teriam as melhores condiccedilotildees de ter acesso ao

direito social do esporte pela via do mercado Em contrapartida as regionais Venda

Nova Norte e Noroeste que estatildeo entre as quatro piores meacutedias de renda domiciliar

per capita natildeo foram sequer lembradas

Estes dados ilustram a dificuldade do recurso chegar aos locais onde

tradicionalmente a poliacutetica puacuteblica jaacute tem dificuldade de estar A mudanccedila da

realidade depende de qualificaccedilatildeo das entidades esportivas locais eou do

direcionamento do financiamento por uma diretriz puacuteblica Esta perspectiva reforccedila o

178

argumento do potencial profissionalizante da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

(Lei Nordm 114382006) mas por outro lado mostra o problema de deixar a decisatildeo

da alocaccedilatildeo de recurso exclusivamente no setor privado

Enfim da mesma forma como aconteceu no setor cultural a maior

disponibilidade de recurso financeiro para a aacuterea esportiva estimulou a promoccedilatildeo

deste elemento social da cidadania Poreacutem a escolha pelo caminho

extraorccedilamentaacuterio retira o esporte da arena de debate do poder puacuteblico e transfere a

tomada de decisatildeo para o setor privado o que pode gerar distorccedilotildees na destinaccedilatildeo

do recurso Por isso tratar a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) como mero mecanismo de financiamento eacute limitado Assim eacute

necessaacuterio resgatar o seu principio de agregador de recurso privado ao montante

puacuteblico mas tambeacutem compreender o mecanismo como um poderoso instrumento de

profissionalizaccedilatildeo do ainda incipiente setor esportivo

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SEIXAS Diogo de Mesquita Sigmaringa Anaacutelise da Lei de Incentivo ao Esporte 2015 Relatoacuterio Final da disciplina de Residecircncia em Poliacuteticas Puacuteblicas (Gestor em Poliacuteticas Puacuteblicas) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Fiacutesica Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2014 Disponiacutevel em lthttpbdmunbbrbitstream104831269112015_DiogodeMesquitaSigmaringaSeixaspdfgt Acesso em 08 de maio de 2015

SESI Serviccedilo Social da Induacutestria Estudos das leis de incentivo agrave cultura Parte 1 - Leis estaduais e de municiacutepios de capitais uma pesquisa comparativa Brasiacutelia vol 4 2007 Disponiacutevel em lthttpwww3sesiorgbrProgramassrc_culturaVol_04_P1pdfgt Acesso em 14 de maio de 2016 STAREPRAVO Fernando Augusto Poliacuteticas puacuteblicas de esporte e lazer no Brasil aproximaccedilotildees intersecccedilotildees rupturas e distanciamentos entre os subcampos poliacuteticoburocraacutetico e cientiacuteficoacadecircmico 2011 422 f Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo Fiacutesica) - Departamento de Educaccedilatildeo Fiacutesica Setor de Ciecircncias Bioloacutegicas Universidade Federal do Paranaacute Curitiba 2011 Disponiacutevel em lthttpwwwpgedfufprbrdownloadsTESES2011Tese20Fernando20Augusto20Starepravopdfgt Acesso em 14 de maio de 2016 STAREPRAVO Fernando Augusto MEZZADRI Fernando Marinho MARCHI JUNIOR Wanderley Criaccedilatildeo e mudanccedilas na estrutura do Ministeacuterio do Esporte do Brasil tensotildees nas definiccedilotildees de espaccedilos Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Esporte Satildeo Paulo vol 29 Nordm 2 p 217-228 abr-jun 2015 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1807-55092015000200217gt Acesso em 14 de maio de 2016 TUBINO Manoel Gomes O direito a Educaccedilatildeo Fiacutesica e ao Esporte Corpus et Scientia Rio de Janeiro v1 nordm 1 2005 Disponiacutevel em lthttpaplunisuamedubrrevistasindexphpcorpusetscientiaarticleview178gt Acesso em 04 de marccedilo de 2014 ___________________ Poliacutetica Nacional do Esporte Brasiacutelia Conselho Nacional de Esporte 2002 Disponiacutevel em lthttpportalesportegovbrarquivosconselhoEsportepolNacEsppdfgt Acesso em 04 de marccedilo de 2014 ___________________ Estudos Brasileiros sobre o Esporte ecircnfase no esporte-educaccedilatildeo 1ordf ed Maringaacute Eduem 2010 ISBN 978-85-7628-177-1 Disponiacutevel em lthttpwwwlistasconfeforgbrarquivosLivro_Esportepdfgt Acesso em 04 de marccedilo de 2014

ZOTOVICI Sandra Aparecida LOPES Beatriz Ruffo Lopes RANGEL Renato STAREPRAVO Fernando Augusto LARA Michelle Lara Politicas Puacuteblicas de Esporte e Lazer e possibilidades de interstorialidade Licere Belo Horizonte v16 n3 set 2013 Disponiacutevel em lthttpsseerufmgbrindexphplicerearticleview389gt Acesso em 04 de marccedilo de 2014

UNESCO Carta Internacional da Educaccedilatildeo Fiacutesica e do Esporte da UNESCO Paris Conferecircncia Geral da UNESCO 21 de novembro de 1978 Disponiacutevel em lthttpunesdocunescoorgimages0021002164216489porpdfgt Acesso em 14 de maio de 2016 LEGISLACcedilAtildeO E DOCUMENTOS

BELO HORIZONTE Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Belo Horizonte Secretaria Municipal de Sauacutede 2008 Disponiacutevel em lthttpwwwpbhgovbrsmsabibliografiacapitulo_1_Introducaopdfgt Acesso em 12 de maio de 2014

BRASIL Decreto-Lei Nordm 3199 de 14 de abril de 1941 Estabelece as bases de organizaccedilatildeo dos desportos em todo o paiacutes Rio de Janeiro Presidecircncia da Repuacuteblica 1941 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-lei1937-1946Del3199htmgt Acesso em 12 de maio de 2014

_______ Decreto-Lei Nordm 5452 de 1ordm de maio de 1943 Aprova a Consolidaccedilatildeo das Leis do Trabalho Rio de Janeiro Presidecircncia da Repuacuteblica 1943 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leiDel5452htmgt Acesso em 16 de maio de 2016 _______ Lei Nordm 6251 de 8 de outubro de 1975 Institui normas gerais sobre desportos e da outras providecircncias Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1975 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03leis1970-1979L6251htmgt Acesso em 19 de marccedilo de 2014 _______ Decreto Nordm 91452 de 19 de julho de 1985 Institui Comissatildeo para realizar estudos sobre o desporto nacional Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1985 Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfeddecret1980-1987decreto-91452-19-julho-1985-441587-publicacaooriginal-1-pehtmlgt Acesso em 18 de maio de 2016

________ Lei Nordm 7505 2 de julho de 1986 Dispotildee sobre benefiacutecios fiscais na aacuterea do imposto de renda concedidos a operaccedilotildees de caraacuteter cultural ou artiacutestico Brasiacutelia Congresso Nacional 1986 Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfedlei1980-1987lei-7505-2-julho-1986-368037-norma-plhtmlgt Acesso em 07 de fevereiro de 2015

________ Resoluccedilatildeo Nordm 2 de 25 de marccedilo de 1987 Dispotildee sobre o Regimento Interno da Assembleia Nacional Constituinte Brasiacutelia Congresso Nacional 1987a Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbratividade-legislativalegislacaoConstituicoes_Brasileirasconstituicao-cidadapublicacoesregimento-interno-da-assembleia-nacionalresolucao-2-1987gt Acesso em 18 de maio de 2016 ________ Anteprojeto 1987 Anteprojeto do Relator da Subcomissatildeo da Educaccedilatildeo Cultura e Esportes Brasiacutelia Congresso Nacional 1987b Disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrinternetconstituicao20anosDocumentosAvulsosvol-207pdfgt Acesso em 18 de maio de 2016 ________ Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Congresso Nacional 1988a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicaoconstituicaocompiladohtmgt Acesso em 10 de marccedilo de 2014 ________ Projeto de Lei Nordm 418 2 de outubro de 1988 Dispotildee sobre benefiacutecios fiscais na aacuterea do Imposto de Renda e outros tributos concedidos ao desporto amador Brasiacutelia Congresso Nacional 1988b Disponiacutevel em lthttpimagemcamaragovbrImagemdpdfDCD08MAR1988pdfpage=9gt Acesso em 08 de junho de 2016 ________ Ata da Sessatildeo Plenaacuteria da Cacircmara dos Deputados 23 de junho de 1988 Discussatildeo sobre o Projeto de Lei Nordm 4181988 Brasiacutelia Congresso Nacional 1988c p2465 Disponiacutevel em lthttpimagemcamaragovbrImagemdpdfDCD23JUN1988pdfpage=39gt Acesso em 08 de junho de 2016 ________ Mensagem de veto Nordm 567 de 21 de dezembro de 1988 Veto presidencial ao Projeto de Lei Nordm 4181988 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1988d Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfedlei1989lei-7752-14-abril-1989-365530-veto-27099-plhtmlgt Acesso em 08 de junho de 2016 ________ Ata da Sessatildeo Plenaacuteria da Cacircmara dos Deputados 23 de marccedilo de 1989 Discussatildeo sobre o veto presidencial do Projeto de Lei Nordm 4181988 Brasiacutelia Congresso Nacional 1989a p1399-1400 Disponiacutevel em lthttpimagemcamaragovbrImagemdpdfDCD23MAR1989pdfpage=7gt Acesso em 08 de junho de 2016

________ Lei Nordm 7752 14 de abril de 1989 Dispotildee sobre benefiacutecios fiscais na aacuterea do imposto sobre a renda e outros tributos concedidos ao desporto amador Brasiacutelia Congresso Nacional 1989b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03LEISL7752htmgt Acesso em 08 de junho de 2016

________ Decreto Nordm 98595 de 18 de dezembro de 1989 Regulamenta a Lei ndeg 7752 de 14 de abril de 1989 que dispotildee sobre benefiacutecios fiscais na aacuterea do imposto de renda concedidos ao desporto natildeo profissional e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1989c Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1980-1989D98595htmgt Acesso em 08 de junho de 2016 ________ Medida Provisoacuteria Nordm 150 de 15 de marccedilo de 1990 Dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Presidecircncia da Repuacuteblica e dos Ministeacuterios e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 8028 de 12 de abril de 1990 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1990a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpv1990-1995150htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Medida Provisoacuteria Nordm 161 de 15 de marccedilo de 1990 Altera a legislaccedilatildeo do Imposto de Renda das pessoas juriacutedicas e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 8034 de 12 de abril de 1990 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1990b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03MPV1990-1995161htmart2gt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Instruccedilatildeo Normativa Nordm 31 de 13 de marccedilo de 1990 Dispotildee sobre procedimentos a serem adotados para o gozo dos benefiacutecios fiscais ao desporto natildeo profissional instituiacutedos pela Lei Nordm 775289 Brasiacutelia Secretaria da Receita Federal 1990c Disponiacutevel em lthttppesquisaingovbrimprensajspvisualizaindexjspdata=14031990ampjornal=1amppagina=43amptotalArquivos=248gt Acesso em 8 de junho de 2016 _________ Lei Nordm 8313 23 de dezembro de 1991 Restabelece princiacutepios da Lei Ndeg 7505 de 2 de julho de 1986 institui o Programa Nacional de Apoio agrave Cultura (Pronac) e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Congresso Nacional 1991a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl8313conshtmgt Acesso em 07 de fevereiro de 2015 _________ Medida Provisoacuteria Nordm 309 de 16 de outubro de 1992 Dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Presidecircncia da Repuacuteblica e dos Ministeacuterios e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 8490 de 19 de novembro de 1992 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1992a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03MPV1990-1995309htmgt Acesso em 14 de maio de 2016

_________ Lei Nordm 8672 de 6 de julho de 1993 Institui normas gerais sobre desportos e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Congresso Nacional 1993a Acesso em 18 de marccedilo de 2014 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL8672htmgt Acesso em 18 de marccedilo de 2014 _________ Lei Nordm 8685 de 20 de julho de 1993 Cria mecanismos de fomento agrave atividade audiovisual e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Congresso Nacional 1993b Disponiacutevel em lthttpswwwplanaltogovbrccivil_03leisl8685htmgt Acesso em 16 de maio de 2016 _________ Medida Provisoacuteria Nordm 813 de 1ordm de janeiro de 1995 Dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Presidecircncia da Repuacuteblica e dos Ministeacuterios e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 9649 de 27 de maio de 1998 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1995a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpvAntigas813htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Decreto Nordm 1494 de 17 de maio de 1995 Regulamenta a Lei nordm 8313 de 23 de dezembro de 1991 estabelece a sistemaacutetica de execuccedilatildeo do Programa Nacional de Apoio agrave Cultura (PRONAC) e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1995b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03decretoD1494htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Medida Provisoacuteria Nordm 1003 de 19 de maio de 1995 Daacute nova redaccedilatildeo a dispositivos das Leis Nordm 8849 de 28 de janeiro de 1994 e 8541 de 23 de dezembro de 1992 que alteram a legislaccedilatildeo do imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 9064 de 20 de junho de 1995 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1995c Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpvAntigas1003htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Decreto Nordm 1711 de 22 de novembro de 1995 Aprova o Regulamento da Ordem do Meacuterito Cultural instituiacuteda pelo art 34 da Lei ndeg 8313 de 23 de dezembro de 1991 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1995d Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfeddecret1995decreto-1711-22-novembro-1995-431722-publicacaooriginal-1-pehtmlgt Acesso em 14 de maio de 2016

_________ Medida Provisoacuteria Nordm 1515 de 15 de agosto de 1996 Altera o limite de deduccedilatildeo de que trata o sect 2ordm do art 1ordm da Lei nordm 8685 de 20 de julho de 1993 que cria mecanismos de fomento agrave atividade audiovisual e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 9323 de 5 de dezembro de 1996 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1996a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpv1996-20001515htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Lei Nordm 9323 de 5 de dezembro de 1996 Altera o limite de deduccedilatildeo de que trata o sect 2o do art 1o da Lei no 8685 de 20 de julho de 1993 que cria mecanismos de fomento agrave atividade audiovisual e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Congresso Nacional 1996b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisL9323htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Decreto Nordm 2290 de 4 de agosto de 1997 Regulamenta o disposto no art 5ordm inciso VIII da Lei nordm 8313 de 23 de dezembro de 1991 e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1997a Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfeddecret1997decreto-2290-4-agosto-1997-437200-publicacaooriginal-1-pehtmlgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Medida Provisoacuteria Nordm 1589 de 24 de setembro de 1997 Altera dispositivos da Lei nordm 8313 de 23 de dezembro de 1991 e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 9847 de 23 de novembro de 1999 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1997b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpvAntigas1589htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ EM Interministerial Nordm 01897 de 24 de setembro de 1997 Exposiccedilatildeo de Motivos da Medida Provisoacuteria Nordm 1589 de 24 de setembro de 1997 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1997c Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfedmedpro1997medidaprovisoria-1589-24-setembro-1997-376673-exposicaodemotivos-146331-pehtmlgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Medida Provisoacuteria Nordm 1602 de 14 de novembro de 1997 Altera a legislaccedilatildeo tributaacuteria federal e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 9532 de 10 de dezembro de 1997 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1997d Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03LEISL9532htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Lei Nordm 9615 de 24 de marccedilo de 1998 Institui normas gerais sobre desporto e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Congresso Nacional 1998a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl9615consolhtmgt Acesso em 20 de marccedilo de 2014

_________ Medida Provisoacuteria Nordm 1651-43 de 5 de maio de 1998 Dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Presidecircncia da Repuacuteblica e dos Ministeacuterios e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 9649 de 27 de maio de 1998 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1998b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpvAntigas1651-43htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 ________ Medida Provisoacuteria Nordm 1795 de 1ordm de janeiro de 1999 Altera dispositivos da Lei Nordm 9649 de 27 de maio de 1998 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Presidecircncia da Repuacuteblica e dos Ministeacuterios e daacute outras providecircncias ndash Continua em tramite para conversatildeo em lei Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1999a Disponiacutevel em lthttpswwwplanaltogovbrccivil_03mpvantigas1795htmgt Acesso em 14 de maio de 2016

________ Lei Nordm 10264 de 16 de julho de 2001 Acrescenta inciso e paraacutegrafos ao art 56 da Lei no 9615 de 24 de marccedilo de 1998 que institui normas gerais sobre desporto Brasiacutelia Congresso Nacional 2001a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03leisLEIS_2001L10264htmgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Medida Provisoacuteria Nordm 2228-1 de 6 de setembro de 2001 Estabelece princiacutepios gerais da Poliacutetica Nacional do Cinema cria o Conselho Superior do Cinema e a Agecircncia Nacional do Cinema - ANCINE institui o Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Cinema Nacional - PRODECINE autoriza a criaccedilatildeo de Fundos de Financiamento da Induacutestria Cinematograacutefica Nacional - FUNCINES altera a legislaccedilatildeo sobre a Contribuiccedilatildeo para o Desenvolvimento da Induacutestria Cinematograacutefica Nacional e daacute outras providecircncias ndash Ainda natildeo foi convertida em lei Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2001b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpv2228-1htmgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Lei Nordm 10220 de 11 de abril de 2001 Institui normas gerais relativas agrave atividade de peatildeo de rodeio equiparando-o a atleta profissional Brasiacutelia Congresso Nacional 2001c Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03leisLEIS_2001L10220htmgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Medida Provisoacuteria Nordm 103 de 1ordm de janeiro 2003 Dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Presidecircncia da Repuacuteblica e dos Ministeacuterios e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 10683 de 28 de maio de 2003 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2003a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpvantigas_2003103htmgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Decreto de 21 de janeiro de 2004 Institui a Conferecircncia Nacional do Esporte e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2004a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-20062004DnnDnn10107htmgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Portaria Nordm 13 de 03 de fevereiro de 2004 Aprovar o anexo Regulamento Geral da Conferecircncia Nacional do Esporte e as normas baacutesicas de sua primeira reuniatildeo Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2004Bb Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoconferencias-2571-i-conferencia-nacional-de-esportegt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Portaria Nordm 23 de 11 de marccedilo de 2004 Institui a Comissatildeo Organizadora Nacional da primeira reuniatildeo da Conferecircncia Nacional do Esporte Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2004c Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoimagespdfsconferenciasEsporteregimento_1_conferencia_esportedocgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Documento Final - Deliberaccedilotildees para a Conferecircncia Nacional do Esporte Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2004d Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoimagespdfsconferenciasEsportedeliberacoes_1_conferencia_esportepdfgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Caderno de propostas - Conferecircncia Nacional do Esporte Esporte lazer e desenvolvimento humano Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2004e Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoimagespdfsconferenciasEsportedeliberacoes_1_conferencia_esportepdfgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Resoluccedilatildeo Nordm 5 de 14 de junho de 2005 Aprova a Poliacutetica Nacional do Esporte Brasiacutelia Conselho Nacional de Esporte 2005a Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosconselhoEsporteresolucoesresolucaoN5pdfgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Portaria Nordm 133 de 20 de outubro de 2005 Aprovar o anexo Regulamento Geral da II Conferecircncia Nacional do Esporte e Normas Baacutesicas Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2005b Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoimagespdfsconferenciasEsporte_IIregimento_2_conferencia_esportepdfgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Manual da II Conferecircncia Nacional de Esporte 2006 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2006a Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoimagespdfsconferenciasEsporte_IItexto_base_2_conferencia_esportepdfgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Lei Nordm 11438 de 29 de dezembro de 2006 - Dispotildee sobre incentivos e benefiacutecios para fomentar as atividades de caraacuteter desportivo e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Congresso Nacional 2006b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato200420062006LeiL11438compiladohtmgt Acesso em 15 de marccedilo de 2014

________ Parecer da Comissatildeo de Financcedilas e Tributaccedilatildeo sobre o Projeto de Lei Nordm 13672003 de 14 de junho de 2006 Parecer do Relator Deputado Federal Luiz Carlos Hauly sobre o Projeto de Lei Nordm 13672003 do Deputado Federal Bismarck Maia Brasiacutelia Cacircmara dos Deputados 2006c Disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebprop_mostrarintegracodteor=403294ampfilename=Tramitacao-PL+13672003gt Acesso em 15 de marccedilo de 2014

________ Transcriccedilatildeo da Plenaacuteria da Cacircmara dos Deputados sobre o Projeto de Lei Nordm 13672003 de 20 de dezembro de 2006 Transcriccedilatildeo do debate da Sessatildeo Plenaacuteria da Cacircmara dos Deputados sobre o Projeto de Lei Nordm 13672003 Brasiacutelia Cacircmara dos Deputados p56721-56732 2006d Disponiacutevel em lthttpimagemcamaragovbrImagemdpdfDCD21DEZ2006pdfpage=309gt Acesso em 15 de marccedilo de 2014 ________ Medida Provisoacuteria Nordm 342 de 29 de dezembro de 2006 Altera e acresce dispositivos agrave Lei no 11438 de 29 de dezembro de 2006 que dispotildee sobre incentivos e benefiacutecios para fomentar as atividades de caraacuteter desportivo ndash Convertida na Lei Nordm 11472 de 2 de maio de 2007 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2006e Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_ato2004-20062006Mpv342htmgt Acesso em 15 de marccedilo de 2014

________ Resoluccedilotildees da II Conferecircncia Nacional do Esporte 30 de janeiro de 2007 Propostas aprovadas na plenaacuteria final da II Conferecircncia Nacional do Esporte Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2007a Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoconferencias-2571-i-conferencia-nacional-de-esportegt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Decreto Nordm 6180 3 de agosto de 2007 Regulamenta a Lei nordm 11438 de 29 de dezembro de 2006 que trata dos incentivos e benefiacutecios para fomentar as atividades de caraacuteter desportivo Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2007b Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosleiIncentivoEsportedecretoN618003082007pdfgt Acesso em 18 de marccedilo de 2014

________ Decreto Nordm 6338 de 31 de dezembro de 2007 Fixa o valor absoluto do limite global das deduccedilotildees do imposto sobre a renda devido a tiacutetulo de doaccedilotildees e patrociacutenios no apoio direto a projetos desportivos e paradesportivos Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2007c Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102007DecretoD6338htmgt Acesso em 18 de marccedilo de 2014 ________ Decreto Nordm 6684 9 de Dezembro de 2008 Fixa para o ano-calendaacuterio de 2008 o valor maacuteximo das deduccedilotildees do imposto sobre a renda devido a tiacutetulo de patrociacutenio ou doaccedilatildeo no apoio direto a projetos desportivos e paradesportivos Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2008 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008DecretoD6684htmgt Acesso em 20 de marccedilo de 2014 ________ Portaria Nordm 120 3 de julho de 2009 Dispotildee sobre a tramitaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo e a aprovaccedilatildeo do enquadramento dos projetos desportivos ou paradesportivos bem como a captaccedilatildeo o acompanhamento e monitoramento da execuccedilatildeo e da prestaccedilatildeo de contas os projetos devidamente aprovados de que tratam a Lei nordm 11438 de 2 9 de dezembro de 2006 e o Decreto nordm 6180 de 3 de agosto de 2007 no acircmbito do Ministeacuterio do Esporte e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosleiIncentivoEsporteportariaN12003072009pdfgt Acesso em 28 de fevereiro de 2015

________ Texto Baacutesico da III Conferecircncia Nacional do Esporte 2010 Ministeacuterio do Esporte 2010a Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoimagespdfsconferenciasEsportes_IIItexto_base_3_conferencia_esportespdfgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Decreto Nordm 7529 de 21 de julho de 2011 Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissatildeo e das Funccedilotildees Gratificadas do Ministeacuterio do Esporte Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2011 Acesso em 16 de maio de 2016 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_ato2011-20142011decretod7529htmgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Relatoacuterio de Auditoria Operacional do Tribunal de Contas da Uniatildeo Acessibilidade nos oacutergatildeos puacuteblicos federais 2012 Brasiacutelia Tribunal de Contas da Uniatildeo 2012 Disponiacutevel em lthttpportaltcugovbrlumisportalfilefileDownloadjspfileId=8A8182A24F0A728E014F0B24E1417E4Bgt Acesso em 16 de maio de 2016

_________ Decreto Nordm 7984 de 8 de abril de 2013 Regulamenta a Lei Nordm 9615 de 24 de marccedilo de 1998 que institui normas gerais sobre desporto Brasiacutelia Presidecircncia da Republica 2013a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-20142013DecretoD7984htmgt Acesso em 08 de fevereiro de 2015 ________ Lei Nordm 12868 15 de Outubro de 2013 Altera a Lei no 12793 de 2 de abril de 2013 para dispor sobre o financiamento de bens de consumo duraacuteveis a beneficiaacuterios do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) constitui fonte adicional de recursos para a Caixa Econocircmica Federal altera a Lei no 12741 de 8 de dezembro de 2012 que dispotildee sobre as medidas de esclarecimento ao consumidor para prever prazo de aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas na Lei no 8078 de 11 de setembro de 1990 altera as Leis no 12761 de 27 de dezembro de 2012 no 12101 de 27 de novembro de 2009 no 9532 de 10 de dezembro de 1997 e no 9615 de 24 de marccedilo de 1998 e daacute outras providecircncia Brasiacutelia Congresso Nacional 15 de outubro de 2013b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-20142013LeiL12868htmart19gt Acesso em 08 de fevereiro de 2015 ________ Relatoacuterio de Auditoria agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporte 2013 Relatoacuterio de Auditoacuteria agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporte realizado em 2009 Brasiacutelia Tribunal de Contas 2013c Disponiacutevel em ltwwwtcugovbrconsultasjurisdocsjudocacord20130205ac_0092_03_13_pdocgt Acesso em 28 de fevereiro de 2015 ________ Portaria do Ministeacuterio do Esporte Nordm 294 de 2 de dezembro de 2013 Dispotildee sobre o credenciamento dos peritos pareceristas para anaacutelise de projetos esportivos conforme regras estabelecidas pela Portaria do Ministeacuterio do Esporte Nordm 189 de 7 de agosto de 2013 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2013c Disponiacutevel em lthttppesquisaingovbrimprensajspvisualizaindexjspjornal=2amppagina=45ampdata=03122013gt Acesso em 28 de fevereiro de 2015 ________ Parecer da Consultoria Juriacutedica do Ministeacuterio do Esporte de 15 de abril de 2014 Vigecircncia do Art 18-A da Lei Nordm 96151998 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2014a Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosleiIncentivoEsporteParecer20CONJURME20n20104-2014pdfgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Portaria do Ministeacuterio do Esporte de 18 de setembro de 2014 Dispotildee sobre o procedimento para verificaccedilatildeo pelos oacutergatildeos do Ministeacuterio do Esporte acerca do cumprimento das exigecircncias previstas nos artigos 18 e 18-A da Lei nordm 9615 de 24 de marccedilo de 1998 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2014b Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosleiIncentivoEsportePortaria20n2022420Exigncia20Art201820e201820A2018092014pdfgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Relatoacuterio de Auditoria Anual de Contas de janeiro de 2014 Relatoacuterio Anual de Auditoria realizada no Ministeacuterio do Esporte em 2013 Brasiacutelia Controladoria-geral da Uniatildeo 2014c Disponiacutevel em lthttpsistemas2cgugovbrrelatsuploadsRA201305660pdfgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Relatoacuterio de Gestatildeo 2013 de 07 de julho de 2014 Relatoacuterio gerencial da Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2014d Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosleiIncentivoEsporterelatorioGestao2013pdfgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Lei Nordm 13155 de 4 de agosto de 2015 Estabelece princiacutepios e praacuteticas de responsabilidade fiscal e financeira e de gestatildeo transparente e democraacutetica para entidades desportivas profissionais de futebol institui parcelamentos especiais para recuperaccedilatildeo de diacutevidas pela Uniatildeo cria a Autoridade Puacuteblica de Governanccedila do Futebol - APFUT dispotildee sobre a gestatildeo temeraacuteria no acircmbito das entidades desportivas profissionais cria a Loteria Exclusiva - LOTEX altera as Leis nos 9615 de 24 de marccedilo de 1998 8212 de 24 de julho de 1991 10671 de 15 de maio de 2003 10891 de 9 de julho de 2004 11345 de 14 de setembro de 2006 e 11438 de 29 de dezembro de 2006 e os Decretos-Leis nos 3688 de 3 de outubro de 1941 e 204 de 27 de fevereiro de 1967 revoga a Medida Provisoacuteria no 669 de 26 de fevereiro de 2015 cria programa de iniciaccedilatildeo esportiva escolar e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Congresso Nacional 2015a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2015-20182015LeiL13155htmgt Acesso em 08 de fevereiro de 2015 _________ Medida Provisoacuteria Nordm 671 de 19 de marccedilo de 2015 Institui o Programa de Modernizaccedilatildeo da Gestatildeo e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro dispotildee sobre a gestatildeo temeraacuteria no acircmbito das entidades desportivas profissionais e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 13155 de 4 de agosto de 2015 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2015b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2015-20182015Mpvmpv671htmgt Acesso em 16 de maio de 2016 _________ Relatoacuterio de Gestatildeo 2014 de 25 de junho de 2015 Relatoacuterio gerencial da Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2014 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2015c Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosleiIncentivoEsporterelatorioGestao2014V2pdfgt Acesso em 16 de maio de 2016

_________ Portaria do Ministeacuterio do Esporte Nordm 50 de 29 de fevereiro de 2016 Dispotildee sobre o credenciamento dos peritos pareceristas para anaacutelise de projetos esportivos conforme regras estabelecidas pelo Edital de Credenciamento Nordm 12015 de 16 de dezembro de 2015 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2013c Disponiacutevel em lthttppesquisaingovbrimprensajspvisualizaindexjspdata=18122015ampjornal=3amppagina=169amptotalArquivos=304gt Acesso em 28 de fevereiro de 2015 ESPANHA Constitucioacuten Espantildeola de 29 de dezembro de 1978 La Constitucioacuten Espantildeola de 1978 Madri Congresso 1978 Disponiacutevel em lthttpwwwlamoncloagobesdocumentsconstitucion_es1pdfgt Acesso em 14 de maio de 2016 MINAS GERAIS Lei Estadual Nordm 16318 de 11 de agosto de 2006 Dispotildee sobre a concessatildeo de desconto para pagamento de creacutedito tributaacuterio inscrito em diacutevida ativa com o objetivo de estimular a realizaccedilatildeo de projetos desportivos no Estado Belo Horizonte Assembleia Legislativa 2006 Disponiacutevel em lthttpwwwalmggovbrconsultelegislacaocompletacompletahtmltipo=LEIampnum=16318ampcomp=ampano=2006ampaba=js_textoAtualizadogt Acesso em 28 de marccedilo de 2016 _____________ Lei Estadual Nordm 20824 de 31 de julho de 2013 Altera as Leis nordms 6763 de 26 de dezembro de 1975 14937 de 23 de dezembro de 2003 e 14941 de 29 de dezembro de 2003 revoga dispositivo da Lei nordm 15424 de 30 de dezembro de 2004 concede incentivo a projetos esportivos e daacute outras providecircncias Belo Horizonte Assembleia Legislativa 2013 Disponiacutevel em lthttp2001984935incentivowp-contentuploads201310LEI-NC2BA-20824-DE-31-07-2013-Minas-Olimpica-Incentivo-ao-Esportepdfgt Acesso em 16 de maio de 2016 PORTUGAL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa de 25 de Abril de 1976 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa Lisboa Congresso Nacional 1976 Disponiacutevel em lthttpwwwparlamentoptparlamentodocumentscrp1976pdfgt Acesso em 14 de maio de 2016 SAtildeO PAULO Lei Municipal Nordm 10923 de 30 de dezembro de 1990 Dispotildee sobre incentivo fiscal para a realizaccedilatildeo de projetos culturais no acircmbito do Municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Cacircmara Municipal de Satildeo Paulo 1990 Disponiacutevel em lthttpwwwprefeituraspgovbrcidadesecretariasculturalei_de_incentivoindexphpp=6gt Acesso em 14 de maio de 2016

Page 2: Disciplina: Introdução à recreação e estudos sobre o lazer€¦ · Rafael Silva Diniz MECENATO ESPORTIVO: O trajeto da Lei Federal de Incentivo ao Esporte em Belo Horizonte Dissertação

Rafael Silva Diniz

MECENATO ESPORTIVO

O trajeto da Lei Federal de Incentivo ao Esporte em Belo Horizonte

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos do Lazer da Escola de Educaccedilatildeo Fiacutesica Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre em Estudos do Lazer Linha de Pesquisa Formaccedilatildeo atuaccedilatildeo e poliacuteticas de Lazer Orientador Prof Dr Luciano Pereira da Silva

Belo Horizonte

Escola de Educaccedilatildeo Fiacutesica Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG

2016

Universidade Federal de Minas Gerais

Escola de Educaccedilatildeo Fiacutesica Fisioterapia e Terapia Ocupacional

Dissertaccedilatildeo intitulada ldquoMecenato Esportivo O trajeto da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte em Belo Horizonterdquo de autoria de Rafael Silva Diniz aprovada pela banca

examinadora constituiacuteda pelos seguintes professores

______________________________________________________

Prof Dr Luciano Pereira da Silva ndash Orientador

Depto de Ed FiacutesicaEscola de Ed Fiacutesica Fisioterapia e Terapia OcupacionalUFMG

______________________________________________________

Profordf Dra Ana Claacuteudia Porfiacuterio Couto

Depto de EsportesEscola de Ed Fiacutesica Fisioterapia e Terapia OcupacionalUFMG

______________________________________________________

Prof Dr Pedro Fernando Avalone de Atayde

Universidade de Brasiacutelia

______________________________________________________

Prof Dr Cleber Augusto Gonccedilalves Dias

Coordenador do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos do Lazer

Escola de Educaccedilatildeo Fiacutesica Fisioterapia e Terapia OcupacionalUFMG

Belo Horizonte 15 de julho de 2016

AGRADECIMENTOS

Em 2014 quase sete anos apoacutes a graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo fiacutesica o

destino me trouxe novamente a EEFFTO-UFMG Na ocasiatildeo buscava mais

informaccedilotildees sobre o mestrado (o que eacute onde como por que) e a primeira pessoa

que encontrei foi uma ex-colega de sala Priscila Campos na eacutepoca doutoranda da

UNICAMP Depois de colocar o ldquopapordquo em dia e tirar as duacutevidas ela comentou sobre

um professor receacutem-chegado na unidade que estudava e gostava de poliacutetica na aacuterea

do esporte e lazer Logo ela saiu pelos corredores da unidade a procuraacute-lo e me

apresentou o prof Dr Luciano Pereira da Silva

Na nossa primeira conversa o prof Luciano me convidou a assistir como

ouvinte a sua disciplina de ldquoPoliacuteticas Puacuteblicas de Esporte e Lazerrdquo para a graduaccedilatildeo

em Educaccedilatildeo Fiacutesica Natildeo me hesitei e comecei a frequentar a disciplina Passei a

conhecer o prof Luciano melhor e admirar sua capacidade argumentativa aliada a

sua simplicidade e humildade o que nem sempre satildeo atributos que andam juntos na

aacuterea acadecircmica Estava decido caso conseguisse entrar no mestrado queria que o

prof Luciano fosse meu orientador Poreacutem faltava a segunda parte passar no

processo seletivo e ele querer me orientar

Foi neste momento que outro ex-colega de sala o Luiz Nicaacutecio entrou na

histoacuteria Marcamos uma ldquoresenhardquo para ele me ajudar com o projeto de pesquisa

pois ele jaacute tinha um percurso de sucesso na aacuterea acadecircmica ndash como mestre Nicaacutecio

E realmente diante de todas as duacutevidas e anseios profissionais que eu o contei ele

teve a sensibilidade de captar a ideia do que eu desejava pesquisar (porque eu

mesmo natildeo sabia) Ele criou o objetivo do projeto de pesquisa e me deu a diretriz

dos temas que precisava desenvolver Passado uma semana estava criado o projeto

de pesquisa O Luiz ainda me preparou para a prova escrita e para a arguiccedilatildeo ndash

nesta uacuteltima demos boas risadas porque natildeo conseguia responder as perguntas

dele (ainda tenho duacutevidas sobre vaacuterias)

Nesta curta passagem que relembra o iniacutecio da minha trajetoacuteria no

mestrado marca como pessoas satildeo decisivas para o resultado do que somos

Entatildeo natildeo poderia deixar de agradecer aos ex-colegas de sala mas amigos de

vida Priscila Campos e Luiz Nicaacutecio Ao prof Luciano pela paciecircncia confianccedila e

amizade neste periacuteodo que natildeo foi faacutecil para mim uma vez que ldquoabracei o mundordquo

5

com outra graduaccedilatildeo (Processos Gerenciais) criando uma instituiccedilatildeo (Associaccedilatildeo

Movimenta Brasil) montando um lar em Tiradentes e ainda fazendo pesquisa

(Mestrado em Estudos do Lazer)

Entretanto a conquista do mestrado somente foi possiacutevel pelo apoio

incondicional da minha companheira de vida Luciana Bonuti (Linda) tanto nos

momentos bons quanto nos ruins Linda obrigado por me fazer uma pessoa melhor

(ainda longe da pessoa que vocecirc merece) e por aceitar compartilhar sua vida

comigo

ldquoEacute no conhecimento que existe a chance de libertaccedilatildeo Uma pessoa que decide natildeo conhecer aceita sua condiccedilatildeo de escravo aceita sua condiccedilatildeo de submissatildeo Conhecer eacute a condiccedilatildeo para eu libertar de mim mesmo e das amarras sociaisrdquo

Leandro Karnal 2016

RESUMO

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 marcou a inclusatildeo do esporte no rol de direitos sociais que formam a cidadania brasileira Os anos que se seguiram apoacutes a promulgaccedilatildeo do Art 217 foi de discussatildeo para elaboraccedilatildeo de uma norma geral para o esporte e reestruturaccedilatildeo estatal do elemento social Somente com aprovaccedilatildeo da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) e criaccedilatildeo do Ministeacuterio do Esporte (2003) o setor se organizou para a gecircnese de uma poliacutetica de financiamento puacuteblico a todas as manifestaccedilotildees do esporte O exemplo da Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) e da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) que buscou aproximar as entidades culturais do setor privado estimulando a figura do mecenas cultural por meio do incentivo fiscal tambeacutem foi considerado como oportuno para o setor esportivo Assim no final de 2006 foi aprovado no Congresso Nacional a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) Mas a experiecircncia na cultura jaacute anunciava possiacuteveis problemas que o mecanismo de mecenato esportivo poderia enfrentar na sua efetivaccedilatildeo fruto da realidade de desigualdades econocircmicas e de conhecimento no paiacutes Passados quase dez anos da promulgaccedilatildeo da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) ainda satildeo poucos os trabalhos acadecircmicos que buscam compreender o funcionamento e o impacto na distribuiccedilatildeo do recurso Por isso foi necessaacuterio traccedilar um panorama geral mas de abrangecircncia nacional do financiamento do mecenato esportivo no periacuteodo de 2007 a 2015 para em um segundo momento aprofundar no trajeto deste recurso pleiteado pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte Para a investigaccedilatildeo municipal foi utilizado como recorte temporal os 83 projetos apresentados e os 32 aprovados em 2013 sendo as informaccedilotildees consolidadas em categorias de anaacutelise Vaacuterios problemas de concentraccedilatildeo de recurso em regiatildeo geograacutefica e manifestaccedilatildeo esportiva influenciadas diretamente pela concentraccedilatildeo em um pequeno grupo de proponente observados em niacutevel nacional tambeacutem se reproduziram no territoacuterio de Belo Horizonte Palavras-chave Lei de Incentivo ao Esporte Financiamento ao esporte Poliacutetica puacuteblica de esporte e lazer

ABSTRACT

The Federal Constitution of 1988 stood out the inclusion of sport in the list of social rights which form the Brazilian citizenship The years that followed after the promulgation of Art 217 was discussion in order to elaborate a general rule for sport and state restructuring the social element Only with the approval of Lei Peleacute (Law Nordm 96151998) and creation of the Ministry of Sport (2003) the sector was organized for the genesis of a public financing policy to all manifestations of the sport The example of Lei Sarney (Law Nordm 75051986) and Lei Rouanet (Law Nordm 83131991) which sought to bring the cultural institution of the private sector stimulating the figure of the cultural mecenas through the tax incentive it was also considered appropriate for the sports sector Thus at the end of 2006 it was approved in the National Congress the Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Law Nordm 114382006) The experience in the culture already announced possible problems that sports patronage (mecenato) mechanism could face in its execution due to the reality of economic inequalities and knowledge in the country After almost ten years of the promulgation of the Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Law Nordm 114382006) there are few academic studies which seek understanding operation and the impact on resource distribution For that it was necessary to draw a general picture but nationwide from the sports patronage (mecenato) from 2007 to 2015 for in a second moment deepening the path of this resource claimed by the sports institution based in Belo Horizonte For municipal research was used as snip time the 83 projects presented and 32 approved in 2013 being consolidated as information in analysis categorie Several concentration problems of resource in geographic region and sports manifestation influenced directly for the concentration in a little group of proponent observed at a national level also reproduced in Belo Horizonte territory Keywords Incentive law of sport Financing sport Puplic policy of sport and leisure

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

FIGURA 1

Organograma do Ministeacuterio do Esporte (2003)

38

FIGURA 2 Diagrama atualizado das manifestaccedilotildees esportivas no acircmbito federal 85

85

FIGURA 3 Diagrama da cadeia produtiva do esporte profissional 87

FIGURA 4 Formulaacuterio digital de cadastro da proponente para acesso ao sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

92

FIGURA 5 Diagrama de fluxo da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

94

FIGURA 6 Elementos necessaacuterios para a apresentaccedilatildeo de projeto esportivo agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporte conforme Art 9ordm do Decreto Nordm 61802007 e respectiva fase de anaacutelise

95 FIGURA 7

Formulaacuterio digital de identificaccedilatildeo do projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

99

FIGURA 8

Formulaacuterio digital de descriccedilatildeo do ObjetoMetodologia do projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

100 FIGURA 9

Inclusatildeo de anexo ao projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

101

FIGURA 10

Formulaacuterio digital de Receita Prevista dos projetos esportivos no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

106 FIGURA 11

Formulaacuterio de identificaccedilatildeo do puacuteblico beneficiaacuterio do projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

110 FIGURA 12

Organograma institucional do Ministeacuterio do Esporte a partir da reformulaccedilatildeo do Decreto Nordm 75292011

112

FIGURA 13

Diagrama de paracircmetro para a escolha e aprovaccedilatildeo dos projetos esportivos na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

115 FIGURA 14

Quadro comparativo entre valor autorizado e captado dos projetos esportivos de 2013 das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

150 FIGURA 15

Mapa com as regionais administrativas de Belo Horizonte

167

LISTA DE TABELAS

TABELA 1

Distribuiccedilatildeo do incentivo de isenccedilatildeo fiscal no acircmbito federal

81

TABELA 2 Distribuiccedilatildeo de projetos esportivos apresentados em 2013 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por entidades sediadas em Belo Horizonte

140

TABELA 3 Comparativo entre o valor autorizado e captado na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em todo o Brasil e no ano de 2013 pelas entidades sediadas em Belo Horizonte ( em Reais)

150

TABELA 4 Comparativo entre o Grupo 1 e Grupo 2 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013

151

TABELA 5 Comparativo entre o Grupo 1 e Grupo 2 pelo tipo de manifestaccedilatildeo esportiva nos projetos na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013

153

TABELA 6 Distribuiccedilatildeo dos depoacutesitos feitos por pessoa fiacutesica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

154

TABELA 7 Distribuiccedilatildeo dos depoacutesitos feitos por pessoa juriacutedica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

156

TABELA 8 Distribuiccedilatildeo das modalidades esportivas por projeto apresentado por entidade esportiva sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

159

TABELA 9 Distribuiccedilatildeo dos recursos humanos pelo tipo de accedilatildeo esportiva desenvolvida no projeto aprovado por entidade sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

160

TABELA 10 Distribuiccedilatildeo dos beneficiaacuterios valor total e per capita recurso humano pela manifestaccedilatildeo esportiva nos projetos aprovados por entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

162

TABELA 11 Descriccedilatildeo dos projetos aprovados pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte nos quesitos quantidade de beneficiaacuterios duraccedilatildeo do projeto valor per capita aprovado e captado

164

TABELA 12 Distribuiccedilatildeo dos locais de atuaccedilatildeo dos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

168

TABELA 13 Distribuiccedilatildeo do puacuteblico-alvo dos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

170

LISTA DE GRAacuteFICOS

GRAacuteFICO 1 Desempenho da Lei Rouanet no periacuteodo de 1993 a 1998 62

GRAacuteFICO 2

Comparativo entre a quantidade de empresas declarantes do imposto sobre a renda (IRPJ) e a arrecadaccedilatildeo tributaacutevel apurada no ano fiscal de 2013

79

GRAacuteFICO 3 Comparativo entre a quantidade de pessoas fiacutesica declarantes do imposto sobre a renda (IRPF) e o imposto devido no momento da entrega da declaraccedilatildeo de rendimento no ano-calendaacuterio de 2013

80

GRAacuteFICO 4 Distribuiccedilatildeo da captaccedilatildeo de recurso financeiro pela tipologia de proponente na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2014

89

GRAacuteFICO 5 Situaccedilatildeo dos projetos esportivos apresentados agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporte durante o periacuteodo de 2007 a 2014

96

GRAacuteFICO 6 Comparativo entre a distribuiccedilatildeo do PIB brasileiro e o acumulado da Captaccedilatildeo de Recurso na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por regiatildeo administrativa do paiacutes

116

GRAacuteFICO 7 Comparativo entre a distribuiccedilatildeo populacional e o acumulado da Captaccedilatildeo de Recurso na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por regiatildeo administrativa do paiacutes

116

GRAacuteFICO 8 Comparativo entre a distribuiccedilatildeo do acumulado de 2007 a 2014 do recurso autorizado e captado pela Lei Federal de Incentivo por regiatildeo administrativa do paiacutes

117

GRAacuteFICO 9 Distribuiccedilatildeo do recurso autorizado e captado pelos projetos esportivos da Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

120

GRAacuteFICO 10 Distribuiccedilatildeo da quantidade dos projetos esportivos apresentados na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

120

GRAacuteFICO 11 Distribuiccedilatildeo financeira acumulada (2007 a 2014) das 24 proponentes com maior sucesso na captaccedilatildeo na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

124

GRAacuteFICO 12 Distribuiccedilatildeo financeira da captaccedilatildeo de recurso de 2014 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por modalidade esportiva

125

GRAacuteFICO 13 Comparativo entre o valor autorizado e captado no periacuteodo de 2007 a 2014 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

129

GRAacuteFICO 14 Comparativo entre o setor econocircmico de atuaccedilatildeo e tipo de empresa do grupo dos 18 maiores apoiadores da Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2014

130

GRAacuteFICO 15 Distribuiccedilatildeo dos status dos projetos esportivos enviados em 2013 para a Lei Federal de Incentivo ao Esporte por entidades sediadas em Belo Horizonte

138

GRAacuteFICO 16 Distribuiccedilatildeo das proponentes pela quantidade de projetos esportivos apresentados e taxa de sucesso em 2013 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

141

GRAacuteFICO 17 Distribuiccedilatildeo das proponentes sediadas em Belo Horizonte quanto agrave personalidade juriacutedica e natureza de funcionamento 143

GRAacuteFICO 18 Graacutefico da distribuiccedilatildeo das proponentes sediadas em Belo Horizonte quanto agrave natureza de funcionamento e taxa de sucesso

144

GRAacuteFICO 19 Distribuiccedilatildeo dos projetos apresentadas pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

147

GRAacuteFICO 20 Comparativo da distribuiccedilatildeo dos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte pela manifestaccedilatildeo esportiva

148

GRAacuteFICO 21 Distribuiccedilatildeo dos projetos apresentadas pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

152

GRAacuteFICO 22 Comparativo da distribuiccedilatildeo da quantidade e valores dos depoacutesitos feitos por pessoa fiacutesica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

155

GRAacuteFICO 23 Comparativo da distribuiccedilatildeo da quantidade e valores dos depoacutesitos feitos por pessoa fiacutesica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

156

GRAacuteFICO 24 Graacutefico 22 ndash Distribuiccedilatildeo das modalidades esportivas apresentadas e captadas pelos projetos das entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013

158

GRAacuteFICO 25 Comparativo entre a distribuiccedilatildeo dos profissionais e dos projetos pelo tipo de accedilatildeo esportivas apresentada na proposta das entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 201

161

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14 2 O PERCURSO DA CIDADANIA SOCIAL DO DESEMPENHO ESPORTIVO A ELEMENTO DE CIDADANIA 18

21 O direito social e status conquistado pelo esporte 18 22 A institucionalizaccedilatildeo estatal do esporte poacutes-constituiccedilatildeo 29

3 MECANISMO DE MECENATO DA CULTURA AO ESPORTE 45

31 Poliacutetica estatal de cultura e o desenvolvimento do mecenato 45 32 A criaccedilatildeo do mecenato esportivo 64

4 LEI FEDERAL DE INCENTIVO AO ESPORTE DA TEORIA DA NORMA AOS NUacuteMEROS DA PRAacuteTICA 77

41 Os passos iniciais 77

42 Elaboraccedilatildeo da proposta esportiva 91 43 O tracircmite do projeto esportivo no Ministeacuterio do Esporte 110 44 Aprovaccedilatildeo de projeto e Captaccedilatildeo de Recurso 127

5 O MECENATO ESPORTIVO EM BELO HORIZONTE DISSECANDO OS PROJETOS E CONHECENDO A POLIacuteTICA NO TERRITOacuteRIO 135

51 Dados consolidados dos projetos em Belo Horizonte 135

52 Anaacutelise financeira dos projetos 149 53 Local e puacuteblico de atuaccedilatildeo dos projetos 166

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS UM ENSAIO PARA PENSAR A POLIacuteTICA DE FINANCIAMENTO AO ESPORTE 173

REFEREcircNCIAS 179

ANEXOS Erro Indicador natildeo definido

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

Nas favelas no senado Sujeira pra todo lado

Ningueacutem respeita a constituiccedilatildeo Mas todos acreditam no futuro da naccedilatildeo

Que paiacutes eacute esse Que paiacutes eacute esse Que paiacutes eacute esse

(Renato Russo 1987)

A muacutesica ldquoQue paiacutes eacute esserdquo de Renato Russo retrata um pouco dos

anseios vividos pela sociedade brasileira durante o processo de redemocratizaccedilatildeo

do paiacutes Todo esse fervor democraacutetico influenciou a elaboraccedilatildeo do novo texto

originaacuterio da naccedilatildeo o qual pela primeira vez em nossa histoacuteria contou com

mecanismos de participaccedilatildeo popular (SANTOS 2011 p52) Natildeo por acaso a

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 tambeacutem ficou conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde

A nova constituiccedilatildeo marcou a entrada definitiva dos direitos sociais no rol

de garantias da populaccedilatildeo e obrigaccedilotildees do Estado uma tentativa mesmo que

tardia de construccedilatildeo de um modelo de Estado de bem-estar social tupiniquim Aleacutem

da formalizaccedilatildeo de direitos ela trouxe um alargamento da quantidade de elementos

sociais e um novo entendimento dos direitos sociais ao propor a desmercantilizaccedilatildeo

de uma seacuterie de objetos relacionados agrave nossa heranccedila de cidadania social

(MENICUCCI 2006 ESPING-ANDERSEN1 apud HASSENTEUFEL1996)

Neste contexto o lazer e o esporte conquistaram o status de direitos

sociais constitucionais indicados nos artigos 6ordm e 217ordm respectivamente (BRASIL

1988) Por isso o objetivo central desta pesquisa consiste em investigar o processo

de fomento e promoccedilatildeo do direito social ao esporte e lazer por meio da Lei Federal

de Incentivo ao Esporte (Lei nordm 114382006)

Entretanto antes de reconstruir a trajetoacuteria do esporte no paiacutes e buscar

vestiacutegios que norteiem nosso entendimento sobre a sua conquista ao patamar de

direito eacute importante compreender o significado do termo ldquodireito socialrdquo e o seu peso

para o conceito moderno de cidadania Esta mesma cidadania que segundo

Carvalho (2002) foi aclamada nas ruas e personificada durante o processo de

redemocratizaccedilatildeo do paiacutes

Assim no segundo capiacutetulo retomamos a claacutessica obra do socioacutelogo

inglecircs Thomas Humphrey Marshall (1967) que desmembra a cidadania em direito

civil poliacutetico e social Um contraponto em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo da cidadania

brasileira baseia-se na obra ldquoCidadania no Brasil o longo caminhordquo do cientista

poliacutetico e historiador Joseacute Murilo de Carvalho (2002) Em seguida buscamos

compreender a relaccedilatildeo do esporte com o Estado e a sociedade brasileira e como

este objeto foi se organizando durante o processo de redemocratizaccedilatildeo Aleacutem disso

a integraccedilatildeo do esporte agrave concepccedilatildeo brasileira de cidadania nos estimulou a

resgatar vestiacutegios na literatura cientiacutefica sobre a possibilidade de sua construccedilatildeo

ativa e reivindicatoacuteria ou se mais uma vez refletiu o que Carvalho (2002) optou de

chama de ldquoestadaniardquo ndash um tipo de cidadania passiva e tutelada pelo Estado

No terceiro capiacutetulo passamos a explorar o histoacuterico do mecanismo de

financiamento puacuteblico baseado no sistema de mecenato o qual tem se popularizado

bastante no paiacutes no periacuteodo poacutes-constituiccedilatildeo de 1988 A cultura foi precursora desta

poliacutetica puacuteblica com a publicaccedilatildeo da Lei Sarney (Lei Nordm 75151986) e seguida pela

Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) Inicialmente o intuito do mecenato foi atrair

recurso privado para aacuterea cultural por meio da isenccedilatildeo fiscal ao contribuinte do

Imposto sobre a Renda (IR) Com o passar dos anos vaacuterias reformas foram feitas na

legislaccedilatildeo que deram mais vigor agrave participaccedilatildeo do setor privado muito embora

grande parte do recurso circulante fosse de origem puacuteblica

Concomitantemente o foco em atrair recurso privado foi sendo transferido

para a criaccedilatildeo de um robusto mercado cultural firmado no marketing e no

fortalecimento de marcas institucionais Por outro lado expressotildees culturais de

pouco apelo comercial foram negligenciadas uma vez que o forte vieacutes

mercadoloacutegico criado pelo mecenato cultural praticamente tornou-se sinocircnimo de

poliacutetica cultural

Independente das disfunccedilotildees operacionais do mecanismo de mecenato

cultural a maior oferta financeira ao setor e a agilidade com que este chegava agrave

accedilatildeo finaliacutestica fez com que o Estado brasileiro optasse pela expansatildeo do modelo

para outras aacutereas da cidadania social Assim o esporte passou a estruturar uma

poliacutetica similar de financiamento e em 29 de dezembro de 2006 foi aprovada no

Congresso Nacional a Lei Nordm 114382006 que ficou popularmente conhecida como

1 ESPING-ANDERSEN Goslashsta The Three Worlds of Welfare Capitalism Cambridge Polity Press

1990

Lei Federal de Incentivo ao Esporte Apesar da inspiraccedilatildeo no modelo da cultura a

aacuterea esportiva se apropriou pouco das discussotildees e problemas que envolviam o

mecanismo de mecenato

No quarto capiacutetulo natildeo soacute apresentamos a legislaccedilatildeo e operacionalidade

do mecanismo de mecenato esportivo como tambeacutem problematizamos algumas das

escolhas normativas feitas Para isso nos baseamos na experiecircncia e inovaccedilatildeo de

outras propostas de leis de incentivo fiscal como a Rouanet a Minas Esportiva

Incentivo ao Esporte de Minas Gerais e a Lei Estadual de Incentivo ao Esporte do

estado de Satildeo Paulo para refletir sobre a capacidade de democratizaccedilatildeo da poliacutetica

de financiamento ao esporte e o fortalecimento do interesse puacuteblico na seleccedilatildeo das

accedilotildees

Jaacute por meio do ldquoRelatoacuterio de Gestatildeo da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte de 2014rdquo trabalhamos algumas informaccedilotildees quantitativas da poliacutetica para

termos uma noccedilatildeo geral do seu desenvolvimento no acircmbito nacional no periacuteodo de

2007 a 2014 Assim notamos uma concentraccedilatildeo de recurso na manifestaccedilatildeo

rendimento (498 do valor captado de 2007-2014) e um maciccedilo investimento na

regiatildeo Sudeste (73 do valor captado de 2007-2014) Este cenaacuterio de distribuiccedilatildeo

desigual ainda estava sendo influenciado pelo acuacutemulo de recurso em um restrito

grupo de entidades esportivas (24 proponentes responsaacuteveis por 49 do valor

captado de 2007-2014) das quais algumas jaacute satildeo beneficiaacuterias de outra fonte de

recurso puacuteblico (Lei AgneloPiva ndash Lei Nordm 102642001)

Cabe mencionar que esta etapa foi necessaacuteria devido agrave falta de

referencial teoacuterico sobre o tema tendo em vista a incipiente pesquisa acadecircmica

acerca da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) Dentre as

iniciativas realizadas vale destacar Matias et al (2015) Seixas (2015) Bernardo et

al (2011) Cavazzani et al (2010) Cabral (2010) Franccedila Juacutenior e Frasson (2010) e

Monteiro (2010)

No quinto capiacutetulo passamos a analisar os projetos apresentados e

aprovados pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte para verificar a

distribuiccedilatildeo do recurso puacuteblico ao esporte no acircmbito municipal Tendo em vista o

prazo do Ministeacuterio do Esporte para consolidaccedilatildeo das informaccedilotildees referentes ao

mecanismo de mecenato esportivo no ano de 2014 receacutem-encerado e

concomitantemente ao moroso processo burocraacutetico estatal ateacute o esgotamento do

ciclo de vida dos projetos optou-se pela anaacutelise das propostas esportivas

apresentadas em 2013 delimitando o recorte temporal desta pesquisa

No segundo momento deste capiacutetulo o foco principal se direciona apenas

aos 32 projetos aprovados no periacuteodo analisados a fim de avaliar o potencial de

democratizaccedilatildeo do direito social no esporte

A delimitaccedilatildeo do grupo de anaacutelise nos permite aprofundar

qualitativamente no conteuacutedo descritivo dos projetos e para essa verificaccedilatildeo foram

utilizados dois princiacutepios constitucionais que se aplicam aos direitos sociais o

princiacutepio da universalidade (acessibilidade a toda a comunidade ou faixas-etaacuterias

populacionais) e o da descentralizaccedilatildeo (regionalizar a disponibilidade dos serviccedilos

de garantia de direitos)

No sexto e uacuteltimo capiacutetulo apresentamos as consideraccedilotildees finais sobre o

mecanismo de mecenato esportivo tentando estimular novas discussotildees

18

2 O PERCURSO DA CIDADANIA SOCIAL DO DESEMPENHO ESPORTIVO A ELEMENTO DE CIDADANIA

21 O direito social e status conquistado pelo esporte

A configuraccedilatildeo do Estado Moderno ou Estado-naccedilatildeo defronta com

termos e conceitos distintos e ateacute mesmo contraditoacuterios mas que se permitem

conviver juntos por serem parte de um longo e conflituoso processo de construccedilatildeo

histoacuterica Neste contexto terminoloacutegico a cidadania eacute um tiacutepico exemplo de palavra

que eacute cotidianamente utilizada mas que possui atributos dinacircmicos ligados agrave

formaccedilatildeo do Estado e da sociedade

De acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2016 p1) cidadania eacute a qualidade

de cidadatildeo ou seja a capacidade do indiviacuteduo ser parte integrante e ativa de uma

determinada sociedade que por sua vez eacute regida pelas normas de conviacutevio e

proteccedilatildeo de um Estado Para notar a diferenccedila temporal da palavra na Roma

Antiga por exemplo somente os membros homens e detentores de posse eram

considerados cidadatildeos e por isso tinham direito de participar das decisotildees do

Estado ndash exercer sua cidadania

Na atualidade com o aumento da complexidade das relaccedilotildees sociais natildeo

eacute possiacutevel resumir a cidadania a esses dois uacutenicos criteacuterios romanos seja o da

quantidade de terra (riqueza) seja o de gecircnero (homem e mulher) Desse modo

para pensar sobre os atributos que fazem parte do conceito moderno de cidadania

torna-se interessante a leitura da claacutessica obra ldquoCidadania Classe Social e Statusrdquo

de 1967 do socioacutelogo inglecircs Thomas Humphrey Marshall2

Para o autor a cidadania poderia ser dividida em trecircs elementos os quais

mais tarde se especializariam em categorias de direitos O primeiro elemento seria o

civil composto dos direitos necessaacuterios agrave liberdade individual ndash liberdade de ir e vir

de expressatildeo e de propriedade A instituiccedilatildeo responsaacutevel por garantir este direito

seria o tribunal de justiccedila Segundo o filoacutesofo italiano Noberto Bobbio (2004 p 20)

os direitos civis satildeo os ldquodireitos de liberdade isto eacute todos aqueles direitos que

2 No Capiacutetulo 3 do livro Cidadania Classe Social e Status Thomas H Marshall apresenta um ensaio

socioloacutegico que foi discursado na conferecircncia dedicada ao economista Alfred Marshall em 1949 na Universidade de Cambridge Nessa passagem estaacute a base do desenvolvimento do seu conceito de cidadania moderna fragmentado nos direitos civil poliacutetico e social

19

tendem a limitar o poder do Estado e a reservar para o indiviacuteduo ou para os grupos

particulares uma esfera de liberdade em relaccedilatildeo ao Estadordquo

O segundo elemento denominado de poliacutetico seria evidenciado pela

possibilidade de o indiviacuteduo atuar em qualquer instacircncia de representaccedilatildeo coletiva

que pensasse debatesse e decidisse o destino de sua sociedade As instituiccedilotildees de

exerciacutecio da cidadania poliacutetica seriam os cargos representativos nos conselhos

deliberativos e a participaccedilatildeo direta no proacuteprio Estado Para Bobbio (2004) o

elemento poliacutetico era uma complementaccedilatildeo do direito agrave liberdade individual uma vez

que concedia autonomia de participaccedilatildeo dos cidadatildeos no poder do Estado

Jaacute o elemento social da cidadania tinha como caracteriacutestica o acesso do

indiviacuteduo aos bens e serviccedilos comuns agrave sociedade ou seja a possibilidade dele

usufruir de uma vida em niacutevel civilizado tendo como base a heranccedila social e os

padrotildees determinados pela sociedade As principais instituiccedilotildees responsaacuteveis por

garantir este elemento seriam o sistema educacional transferindo conhecimento

acumulado pela sociedade aos indiviacuteduos membros e os serviccedilos assistenciais que

acolheriam os necessitados para preservaccedilatildeo do miacutenimo de civilidade dos

indiviacuteduos

Diferentemente dos dois elementos anteriores que tinham como suporte

o princiacutepio filosoacutefico da liberdade principalmente na expressatildeo da independecircncia e

autonomia do indiviacuteduo na relaccedilatildeo com o Estado o elemento social se sustentava

pelo princiacutepio da igualdade entre seus membros isto eacute a capacidade do coletivo

manter as desigualdades individuais em um niacutevel aceitaacutevel de civilidade Em outras

palavras o elemento social seria um suposto pacto da sociedade que garantiria que

o cidadatildeo na fruiccedilatildeo da sua liberdade natildeo criasse um exacerbado niacutevel de

desigualdade que levasse agrave dificuldade ou agrave exclusatildeo dos seus semelhantes da

participaccedilatildeo do legado social Bobbio (2004) complementa argumentando que o

direito social reflete o amadurecimento da sociedade por novas exigecircncias e valores

coletivos para aleacutem das necessidades individuais

Contudo Marshall (1967) indicava como regra geral uma sequecircncia

desenvolvimentista da cidadania moderna a qual se iniciava pelo elemento civil

passava pelo poliacutetico e se consolidava com a conquista do elemento social Mas sua

construccedilatildeo terminoloacutegica tinha como pilar a experiecircncia local vivida pela sociedade

inglesa o que natildeo necessariamente representaria a loacutegica de outras sociedades

20

Para mostrar as particularidades e diferenccedilas existentes na gecircnese deste

termo no Brasil o cientista poliacutetico e historiador Joseacute Murilo de Carvalho produziu

no ano de 20013 uma obra que reconta o trajeto da nossa cidadania Inicialmente

ao defrontar a experiecircncia inglesa com a brasileira foi notada uma inversatildeo na

ordem de consolidaccedilatildeo dos elementos da cidadania pois no Brasil a base de

formaccedilatildeo se deu pelo direito social para em seguida se ter o direito poliacutetico e

finalmente o direito civil (CARVALHO 2002)

Aleacutem disso o direito social teve a caracteriacutestica de ser cedido pelo Estado

brasileiro como uma contrapartida da restriccedilatildeo aos direitos poliacuteticos e civis durante

os governos autoritaacuterios (ditadura civil e militar) o que de certa forma minimizava a

ideia de pacto coletivo evidenciada pelo princiacutepio da igualdade Assim Carvalho

(2002) de forma irocircnica sugere a substituiccedilatildeo do termo cidadania por ldquoestadaniardquo

demonstrando a qualidade de cidadatildeos brasileiros tutelada pelo Estado

Para Carvalho (2002) o retrocesso e desvio no desenvolvimento dos

direitos tambeacutem foi outra possibilidade natildeo prevista na teoria de Marshall (1967)

mas bastante presente na formaccedilatildeo da cidadania brasileira O periacuteodo de 1945 a

1964 exemplifica bem essa afirmaccedilatildeo do autor pois tratou-se de um momento de

grande entusiasmo democraacutetico quando o paiacutes vivenciava boa praacutetica dos direitos

civis e poliacuteticos Poreacutem o desenvolvimento destes direitos natildeo impediu que o

seguinte golpe militar gerasse forte restriccedilatildeo ou ateacute recuo do exerciacutecio civil e

poliacutetico enquanto simultaneamente se ampliavam os direitos sociais

O conjunto de alteraccedilatildeo da piracircmide de elementos constituintes da

cidadania e o descontiacutenuo percurso de sua formaccedilatildeo remetem para um trajeto de

cidadania brasileira diferente da idealizada por Marshall (1967) Natildeo obstante

Carvalho (2002) ainda chama a atenccedilatildeo para o niacutevel de variabilidade da

identificaccedilatildeo do cidadatildeo com o Estado como outro fator de influecircncia em um

diferente exerciacutecio da cidadania Em outras palavras alguns momentos de forte crise

interna do Estado ou de comoccedilatildeo nacional poderiam ser poderosos meios de

reorganizaccedilatildeo da relaccedilatildeo da sociedade com os elementosdireitos civis poliacuteticos e

3 A obra Cidadania no Brasil o longo caminho de Joseacute Murilo de Carvalho teve como motivaccedilatildeo a

reflexatildeo sobre a comemoraccedilatildeo dos 500 anos de descoberta do Brasil completados em 2000 Em meio agraves festividades da data o autor considerou interessante resgatar a construccedilatildeo da cidadania brasileira tendo em vista o destaque que o termo teve durante o processo de redemocratizaccedilatildeo do paiacutes a partir de 1985 e sua representaccedilatildeo simboacutelica para a sociedade brasileira

21

sociais trazendo agrave tona uma nova forma de expressatildeo e gozo da cidadania distinta

da teorizada por Marshall (1967)

Nesta perspectiva podemos observar que na deacutecada de 1980 durante o

novo processo de redemocratizaccedilatildeo do paiacutes um forte sentimento nacionalista

emergiu das ruas e fez a palavra cidadania reaparecer no cotidiano das pessoas

como um quase sinocircnimo da vontade do povo ou sua proacutepria personificaccedilatildeo como

bem sugeriu Carvalho (2002 p7) ldquoa cidadania virou genterdquo ao denotar os anseios e

sentimentos da populaccedilatildeo Desta forma a lembranccedila popular da palavra cidadania

simbolizava o desejo da sociedade por um rearranjo na sua fruiccedilatildeo independente do

niacutevel evolutivo em que seus elementos se encontravam

O desenrolar dos fatos levou a um reestabelecimento do exerciacutecio do

direito civil e poliacutetico no paiacutes e tambeacutem marcou um alargamento dos direitos sociais

O novo pacto social com o Estado formalizado por meio da Constituiccedilatildeo Federal de

1988 natildeo soacute trazia garantias institucionais para a defesa da cidadania civil e poliacutetica

como tambeacutem apresentava pela primeira vez no texto constitucional um capiacutetulo

exclusivo sobre os direitos sociais ndash ldquoCapiacutetulo II - Dos Direitos Sociaisrdquo (BRASIL

1988a p1)

Art 6ordm Satildeo direitos sociais a educaccedilatildeo a sauacutede a alimentaccedilatildeo o trabalho a moradia o lazer a seguranccedila a previdecircncia social a proteccedilatildeo agrave maternidade e agrave infacircncia a assistecircncia aos desamparados na forma desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 1988a p1)

Todavia Carvalho (2002) alerta para o caraacuteter ideal de cidadania

positivado no texto constitucional pois a complexidade da sociedade

contemporacircnea possibilita imprimir uma variedade de facetas aos elementos civis

poliacuteticos e sociais o que torna aacuterduo o trabalho de seu atendimento pleno Talvez

por isso a cidadania plena seja objeto inalcanccedilaacutevel na sociedade contemporacircnea

Por outro lado a existecircncia de um modelo ideal serve como paracircmetro para avaliar a

qualidade no seu desenvolvimento

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 inovou ao apresentar um capiacutetulo

reservado aos direitos sociais no entanto outras facetas do elemento social podiam

ser encontradas em partes diversas do texto constitucional assim como jaacute acontecia

22

nas constituiccedilotildees anteriores4 Ressalta-se que desde a Carta Magna de 1934 o

constituinte vinha tendo o cuidado de designar um tiacutetulo sobre a ldquoOrdem Econocircmica

e Socialrdquo ou da ldquoOrdem Socialrdquo onde estabelecia regras de regulaccedilatildeo e intervenccedilatildeo

ativa do Estado em objetos sociais de interesse puacuteblico tendo como finalidade a

busca da justiccedila social Ou seja neste tiacutetulo era possiacutevel identificar alguns dos

direitos sociais tutelados pelo o Estado corroborando a afirmaccedilatildeo de Carvalho

(2002) sobre a supremacia do elemento social na formaccedilatildeo da cidadania brasileira

Assim tanto os elementos citados no Art 6ordm quanto os contidos no ldquoTiacutetulo

VIII ndash Da Ordem Socialrdquo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 podem ser considerados

direitos sociais necessaacuterios ao exerciacutecio pleno da cidadania social Desta forma pela

primeira vez a nova pactuaccedilatildeo da sociedade brasileira com o Estado acrescentou a

presenccedila do esporte (Tiacutetulo VIII ndash Da Ordem Social Capiacutetulo III ndash Da Educaccedilatildeo da

Cultural e do Desporto Seccedilatildeo III ndash Do Desporto) como elemento social para a

fruiccedilatildeo da cidadania moderna (BRASIL 1988a)

Logo compreender o processo de elevaccedilatildeo de status do esporte a direito

social e posterior estruturaccedilatildeo no aparato estatal nos dispotildee de subsiacutedio para refletir

sobre sua efetivaccedilatildeo como uma das facetas da cidadania Junto a isso tambeacutem nos

permite ampliar o ldquoolharrdquo sobre o financiamento de mecenato esportivo ndash Lei Federal

de Incentivo ao Esporte e os vestiacutegios dos atores sociais envolvidos e que podem

se beneficiar diretamente da escolha do modelo da poliacutetica puacuteblica

Cabe ressaltar que antes do novo pacto social a temaacutetica do esporte

estava sob a tutela disciplinar do Estado desde a publicaccedilatildeo do Decreto-Lei Nordm

3199 de 14 de abril de 1941 e posteriormente pela Lei Nordm 6251 de 8 de Outubro

de 1975 (BRASIL 1941 BRASIL 1975) Somente apoacutes a posse do primeiro

Presidente Civil Joseacute Sarney (PMDBMA) depois de um longo periacuteodo sob as

ldquoreacutedeasrdquo dos militares foi sancionado o Decreto Nordm 91452 em 19 de Julho de 1985

que instituiu a ldquocomissatildeo para realizar estudos sobre o desporto nacionalrdquo e permitiu

repensar novos rumos para o esporte (BRASIL 1985 p1) A comissatildeo teve os

4 Relaccedilatildeo de constituiccedilotildees que o paiacutes teve em sua histoacuteria sendo que somente a partir da sua 3ordf

ediccedilatildeo passou a contar com o tiacutetulo sobre a ldquoOrdem Econocircmica e Socialrdquo ou ldquoOrdem Socialrdquo a qual trata indiretamente sobre os direitos sociais (1ordf) Constituiccedilatildeo do Impeacuterio do Brasil de 1824 (2ordf) Constituiccedilatildeo dos Estados Unidos do Brasil de 1891 (3ordf) Constituiccedilatildeo dos Estados Unidos do Brasil de 1934 (4ordf) Constituiccedilatildeo dos Estados Unidos do Brasil de 1937 (5ordf) Constituiccedilatildeo dos Estados Unidos do Brasil de 1946 (6ordf) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1967 (7ordf) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1969 (8ordf) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988

23

trabalhos presididos pelo Professor Manoel Tubino que agrave eacutepoca era

simultaneamente membro da Secretaria de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desporto do

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Presidente do Conselho Nacional de Desportos

Em dezembro do mesmo ano a Comissatildeo de Reformulaccedilatildeo do Esporte

Nacional apresentou um relatoacuterio conclusivo composto por 80 indicaccedilotildees

organizadas em seis grupos temaacuteticos especiacuteficos 1) conceituaccedilatildeo do esporte e sua

natureza 2) redefiniccedilatildeo do papel dos diversos segmentos e setores da sociedade e

do Estado em relaccedilatildeo ao esporte 3) mudanccedilas juriacutedico-institucionais 4) carecircncia de

recursos humanos fiacutesicos e financeiros comprometidos com o desenvolvimento das

atividades esportivas 5) insuficiecircncia de conhecimentos cientiacuteficos aplicados ao

esporte 6) imprescindibilidade da modernizaccedilatildeo de meios e praacuteticas do esporte

(CARVALHO ATHAYDE 2015)

De acordo com o proacuteprio Tubino (2010) o relatoacuterio levou em consideraccedilatildeo

a realidade brasileira mas tambeacutem sofreu influecircncia da conjuntura internacional

Havia um movimento de questionamento sobre a exacerbaccedilatildeo do esporte de alto

rendimento principalmente pelo uso poliacutetico da sua praacutetica adotada pelo bloco

capitalista e socialista durante os jogos oliacutempicos Por outro lado uma segunda

corrente de pensamento propunha a ampliaccedilatildeo do esporte como direito dos povos e

natildeo mais apenas como prerrogativa de talento atleacutetico o qual foi formalizado por

meio do Manifesto do Esporte (1968) da Carta Europeia de Esporte para Todos

(SD) e da Carta Internacional de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Esporte da UNESCO5 (1978)

Art 1ordm - A praacutetica da educaccedilatildeo fiacutesica e do esporte eacute um direito fundamental de todos 11 Todo ser humano tem o direito fundamental de acesso agrave educaccedilatildeo fiacutesica e ao esporte que satildeo essenciais para o pleno desenvolvimento da sua personalidade A liberdade de desenvolver aptidotildees fiacutesicas intelectuais e morais por meio da educaccedilatildeo fiacutesica e do esporte deve ser garantido dentro do sistema educacional assim como em outros aspectos da vida social (UNESCO 1978 p 3)

Desta forma o relatoacuterio conclusivo apresentava sugestotildees de

estruturaccedilatildeo do esporte nacional como tambeacutem apontava indiacutecios sobre uma

possiacutevel elevaccedilatildeo do esporte ao status de direito social por primar agrave universalizaccedilatildeo

e democratizaccedilatildeo da sua praacutetica conforme orienta Menicucci (2006) Aleacutem do mais

5 Este documento foi elaborado a partir das discussotildees realizadas na I Reuniatildeo de Ministros de

Esporte organizada pela UNESCO em Paris no ano de 1976

24

o relatoacuterio sinalizava para possiacuteveis poliacuteticas sociais a fim de que o indiviacuteduo tivesse

acesso ampliado ao esporte sem tanta dependecircncia do mercado

Uma nova discussatildeo institucional sobre o esporte nacional iria comeccedilar a

partir 1ordm de fevereiro de 1987 quando foi convocada a formaccedilatildeo da Assembleia

Nacional Constituinte para elaboraccedilatildeo do novo texto constitucional do paiacutes No dia

10 de marccedilo do mesmo ano o regimento interno6 foi aprovado e estabeleceu oito

comissotildees temaacuteticas as quais por sua vez foram subdividas em subcomissotildees No

caso especifico do esporte a temaacutetica ficou incumbida agrave ldquoVIII ndash Comissatildeo da

Famiacutelia da Educaccedilatildeo Cultura e Esporte da Ciecircncia e Tecnologia e da

Comunicaccedilatildeordquo e agrave ldquoSubcomissatildeo da Educaccedilatildeo Cultura e Esporterdquo (BRASIL 1987a

p874-875 SANTOS 2011 p41-45)

Art 15 - As Comissotildees e Subcomissotildees satildeo as seguintes [] VIII ndash Comissatildeo da Famiacutelia da Educaccedilatildeo Cultura e Esportes da Ciecircncia e Tecnologia e da Comunicaccedilatildeo a) Subcomissatildeo da Educaccedilatildeo Cultura e Esportes b) Subcomissatildeo da Ciecircncia e Tecnologia e da Comunicaccedilatildeo c) Subcomissatildeo da Famiacutelia do menor e do idoso (BRASIL 1987a p874-875)

No dia 7 de abril de 1987 iniciou efetivamente o trabalho da subcomissatildeo

que contou com outras oito sessotildees de audiecircncia puacuteblica para discussatildeo dos

objetos educaccedilatildeo cultura e esporte Nestas sessotildees estiveram presentes

profissionais de destaque e organizaccedilotildees representativas visando refinar o debate

Outra possibilidade de participaccedilatildeo popular7 na elaboraccedilatildeo da proposta de texto

constitucional se deu por meio das sugestotildees populares enviadas por correio sendo

que o Relatoacuterio do Anteprojeto da Subcomissatildeo apurou o recebimento de 25

sugestotildees para o tema esporte Uma delas propunha a criaccedilatildeo do Ministeacuterio do

Esporte uma a aboliccedilatildeo do futebol profissional e as outras 23 sugestotildees

6 O Regimento Interno da Assembleia Nacional Constituinte estaacute disponiacutevel em

lthttpwww2camaralegbratividade-legislativalegislacaoConstituicoes_Brasileirasconstituicao-cidadapublicacoesregimento-interno-da-assembleia-nacionalresolucao-2-1987gt 7 De acordo com Santos (2011) a Assembleia Nacional Constituinte previa trecircs mecanismos de

participaccedilatildeo popular 1ordm) O envio de sugestotildees por entidades representativas de segmentos da sociedade 2ordm) Emenda ao projeto constitucional organizado por no miacutenimo trecircs entidades associativas legalmente constituiacutedas e subscritas por 30000 (trinta mil) ou mais eleitores brasileiro 3ordm) Apresentaccedilatildeo de conteuacutedo pelas Subcomissotildees Temaacuteticas em audiecircncia puacuteblica a entidades representativas de segmentos da sociedade

25

recomendavam o apoio agraves praacuteticas esportivas e sua democratizaccedilatildeo (BRASIL

1987b)

O Relatoacuterio do Anteprojeto da Subcomissatildeo tambeacutem apresentou a

sugestatildeo de cinco constituintes sobre o esporte sendo que apenas um deles

manifestou opiniatildeo divergente Para Aeacutecio de Borba Joseacute Queiroz Maacutercia

Kubitschek e Maacutercio Braga era necessaacuterio respeitar a autonomia das entidades

esportivas e ampliar a destinaccedilatildeo de recurso puacuteblico e benefiacutecios fiscais para o

esporte como um todo (educacional e alto rendimento) Jaacute para Florestan

Fernandes o esporte amador de dimensatildeo educacional era a uacutenica manifestaccedilatildeo

que se constituiacutea como serviccedilo social de responsabilidade direta do Estado (BRASIL

1987b)

Em meio agraves vaacuterias etapas de discussatildeo que envolveram a construccedilatildeo da

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e as seguidas alteraccedilotildees no texto original contido no

Relatoacuterio do Anteprojeto da Comissatildeo o esporte conseguiu se elevar ao status de

direito social com sua positivaccedilatildeo atraveacutes do Art 217 da Seccedilatildeo III ndash Do Desporto

do Capiacutetulo III ndash Da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto do Tiacutetulo VIII ndash Da Ordem

Social

SECcedilAtildeO III - DO DESPORTO Art 217 Eacute dever do Estado fomentar praacuteticas desportivas formais e natildeo-formais como direito de cada um observados I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associaccedilotildees quanto a sua organizaccedilatildeo e funcionamento II - a destinaccedilatildeo de recursos puacuteblicos para a promoccedilatildeo prioritaacuteria do desporto educacional e em casos especiacuteficos para a do desporto de alto rendimento III - o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o natildeo- profissional IV - a proteccedilatildeo e o incentivo agraves manifestaccedilotildees desportivas de criaccedilatildeo nacional sect 1ordm O Poder Judiciaacuterio soacute admitiraacute accedilotildees relativas agrave disciplina e agraves competiccedilotildees desportivas apoacutes esgotarem-se as instacircncias da justiccedila desportiva regulada em lei sect 2ordm A justiccedila desportiva teraacute o prazo maacuteximo de sessenta dias contados da instauraccedilatildeo do processo para proferir decisatildeo final sect 3ordm O Poder Puacuteblico incentivaraacute o lazer como forma de promoccedilatildeo social (BRASIL 1988a p1)

Para Marcellino (2010 p62) e demais estudiosos do lazer o esporte jaacute

poderia estar contemplado no direito social ao lazer considerando que se trata de

uma das suas manifestaccedilotildees como praacutetica recreativa usualmente utilizada nos

momentos de ldquoespaccedilo e tempo disponiacutevelrdquo Por outro lado ele tambeacutem poderia ser

entendido como uma expressatildeo da educaccedilatildeo como conteuacutedo de formaccedilatildeo cidadatilde

26

no acircmbito da educaccedilatildeo formal ou informal ou ainda da sauacutede como meio para

promoccedilatildeo do bem estar fiacutesico social e psicoloacutegico ambos objetos sociais

mencionados no Art 6ordm da Constituiccedilatildeo Federal de 1988

No entanto para os constituintes o esporte foi considerado ldquomateacuteria de

alto interesse soacutecio-econocircmico-culturalrdquo de forma a ser elevado a um objeto por si

soacute digno de ser desmercantilizado a todos os cidadatildeos pois ldquoenquanto atividade da

sociedade o esporte eacute a proacutepria sociedaderdquo Isto eacute o esporte deixa de ser meio para

uma determinada finalidade e passa a ser fim nele mesmo (BRASIL 1987b p22)

Diante disso para compreender o conceito de esporte presente no texto

originaacuterio da nova naccedilatildeo brasileira eacute necessaacuterio buscar vestiacutegios nas discussotildees

dos constituintes e identificar os atores sociais que participaram desta arena de

debate O Relatoacuterio do Anteprojeto da Subcomissatildeo da Educaccedilatildeo Cultura e

Esportes nos daacute alguns indiacutecios sobre a mudanccedila de paradigma que evolve o

esporte

No capiacutetulo terceiro do Relatoacuterio que trata especificamente sobre ldquoo

desportordquo o relator Joatildeo Camon menciona exemplos de elementos exoacuteticos e ateacute

mesmo supeacuterfluos agrave primeira vista na Constituiccedilatildeo da Suiacuteccedila China Estados

Unidos Meacutexico Iugoslaacutevia e Espanha mas relevantes e particulares agrave formaccedilatildeo

cultural de suas respectivas sociedades e por isso contemplados como direito

social

Eacute sabido que nas Constituiccedilotildees de inuacutemeros paiacuteses constam dispositivos que poderiam ser considerados supeacuterfluos mas que dizem de perto da histoacuteria costumes e relevacircncia na vida de cada um A Constituiccedilatildeo Suiacuteccedila por exemplo conteacutem disposiccedilotildees concernentes ao abate do gado a Chinesa assegura no art 45 o direito de o Cidadatildeo escrever nos dazibao (Jornais de parede) a Americana no art II reconhece o direito dos cidadatildeos ao uso e porte de armas a Constituiccedilatildeo Mexicana (art 123 XXX) alude agrave Construccedilatildeo de casas baratas e higiecircnicas a Constituiccedilatildeo Iugoslava (art183) restringe a liberdade de deslocamento aos cidadatildeos para impedir a propagaccedilatildeo de doenccedilas infecciosas a Constituiccedilatildeo Espanhola no art 148 sectsect 11 e 14 outorga explicitamente competecircncia legislativa agraves comunidades autocircnomas com referecircncia agrave pesca de mariscos e middotartesanato (BRASIL 1987b p22)

Em seguida o relator justifica o esporte como um elemento contido na

ldquoraiz da realidade social brasileirardquo e por isso se faz necessaacuterio criar a ldquopedra

fundamental do edifiacutecio juriacutedico-esportivo nacionalrdquo O esporte tambeacutem eacute tido como

uma maneira de expressatildeo tiacutepica da proacutepria sociedade que ldquoimpregna a cultura

27

moderna e a vida quotidiana como um dos pontos de referecircncia e convergecircncia na

vida dos brasileirosrdquo e desta forma natildeo poderia ser menosprezado pela normativa

constitucional do paiacutes Ou seja o esporte eacute ldquouma forccedila vivardquo que em alguns

momentos eacute responsaacutevel por uma quase ldquouniatildeo nacionalrdquo e nesse sentido deve ser

protegido e promovido como parte da heranccedila social construiacuteda historicamente em

nossa sociedade (BRASIL 1987b p22)

O relator ainda cita 12 entidades ligadas ao esporte que estiveram

presentes nas sessotildees de audiecircncia puacuteblica e contribuiacuteram para a elaboraccedilatildeo do

Art 217 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988

() a Confederaccedilatildeo Brasileira do Atletismo a Confederaccedilatildeo Brasileira de Basketball a Federaccedilatildeo Internacional de Futebol de Salatildeo o Comitecirc Oliacutempico Brasileiro a Confederaccedilatildeo Brasileira de Futebol de Salatildeo o Conselho Nacional de Desportos a Confederaccedilatildeo Brasileira de Futebol a Associaccedilatildeo Brasileira de Clubes de Futebol o Conselho Administrativo do Fundo de Assistecircncia ao Atleta a Associaccedilatildeo Brasileira de Cronistas Esportivos ndash ABRACE ndash o Superior Tribunal de Justiccedila Desportiva a Confederaccedilatildeo Brasileira de Futebol e a Secretaria de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desportos do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (BRASIL 1987b p22 ndash a marcaccedilatildeo taxada estaacute destacando a duplicidade de registro)

O jurista Aacutelvaro Melo Filho agrave eacutepoca membro do Conselho Nacional de

Desporto Presidente da Confederaccedilatildeo Brasileira de Futebol de Salatildeo e assessor

juriacutedico da Federaccedilatildeo Internacional de Futebol de Salatildeo afirma ter enviado trecircs

propostas bastante parecidas uma para cada entidade a fim de pressionar a

inserccedilatildeo do esporte na constituiccedilatildeo Tambeacutem relembra que coube a ele e o

Professor Manoel Tubino no dia 06 de junho de 1987 realizar o pronunciamento e a

defesa do esporte na sessatildeo de audiecircncia puacuteblica (BRASIL 1987b MELO FILHO

1990 2015)

Verificando a lista das entidades presentes na discussatildeo e analisando o

conteuacutedo do Relatoacuterio do Anteprojeto da Subcomissatildeo assim como os textos de

Melo Filho (1990 2015) e demais juristas relacionados ao trabalho da constituinte

notamos que coube agraves tradicionais entidades representativas do esporte de

rendimento o protagonismo na inclusatildeo do esporte no texto constitucional Talvez

por isso estas entidades tambeacutem sejam as primeiras a se beneficiarem do apoio

estatal principalmente do financiamento puacuteblico no periacuteodo poacutes-constituiccedilatildeo Para

Starepravo (2011) com o novo texto constitucional o setor esportivo consegue a

28

liberalizaccedilatildeo esperada mas sem romper com a tutela do financiamento puacuteblico

estatal

Todavia eacute inegaacutevel que o Art 217 se materializa simultaneamente como

ldquocarta de alforriardquo para as entidades representativas do esporte por prever sua

autonomia e liberdade de funcionamento mas tambeacutem como ldquopedra fundamentalrdquo

do direito social ao esporte por apresentar diretrizes de priorizaccedilatildeo do esporte

educacional e de lazer para o desenvolvimento da sociedade

Cabe ressaltar que a inclusatildeo do esporte como artigo constitucional natildeo

foi uma inovaccedilatildeo brasileira muito pelo contraacuterio sua presenccedila em constituiccedilotildees de

outros paiacuteses foi um argumento de legitimaccedilatildeo da sua inclusatildeo no texto nacional

(DERBLY 2002)

Na Constituiccedilatildeo Espanhola de 29 de dezembro de 1978 o esporte

aparece do seguinte modo

CAPIacuteTULO III - Dos princiacutepios orientadores da poliacutetica social e econocircmica Art 43 ndash Proteccedilatildeo a Sauacutede e Fomento ao Desporto [] 3 - Os Poderes Puacuteblicos fomentaratildeo a educaccedilatildeo sanitaacuteria a educaccedilatildeo fiacutesica e o desporto Tambeacutem facilitaratildeo a utilizaccedilatildeo adequada do lazer (ESPANHA 1978 p11 traduccedilatildeo

8 e grifo nossos)

E na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa de 2 de abril de 1976

CAPIacuteTULO III - Direitos e deveres sociais [] Art70 - Juventude 1 - Os jovens sobretudo os jovens trabalhadores gozam de protecccedilatildeo especial para efectivaccedilatildeo dos seus direitos econoacutemicos sociais e culturais nomeadamente [] c) Educaccedilatildeo fiacutesica desporto e aproveitamento dos tempos livres [] Art79 - Cultura Fiacutesica e desportiva O Estado reconhece o direito dos cidadatildeos agrave cultura fiacutesica e ao desporto como meios de valorizaccedilatildeo humana incumbindo-lhe promover estimular e orientar a sua praacutetica e difusatildeo (PORTUGAL 1976 p17-18 grifo nosso)

O novo status do esporte tambeacutem aplica ao Estado a obrigaccedilatildeo de atuar

de forma ativa na proposiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas capazes de oportunizar o acesso

e fruiccedilatildeo deste objeto social a todos os cidadatildeos em um processo que Menicucci

8 Texto original CAPIacuteTULO III De los principios rectores de la poliacutetica social y econocircmica Art 43 ndash

Proteccioacuten a la salud y fomento del deporte [] 3 - Los poderes puacuteblicos fomentaraacuten la educacioacuten sanitaria la educacioacuten fiacutesica y el deporte Asimismo facilitaraacuten la adecuada utilizacioacuten del ocio

29

(2006) e Esping-Andersen citado por Hassenteufel (1996) denominam de

desmercantilizaccedilatildeo Isto eacute a possibilidade dada ao indiviacuteduo de usufruir de um

direito social que o faz pertencente a uma determinada sociedade independente da

sua posiccedilatildeo no mercado ou do seu poder de compra ou melhor dizendo ldquoo grau

suportado pelo Estado [] do indiviacuteduo como cidadatildeo e natildeo como trabalhadorrdquo

(ESPING-ANDERSEN apud HASSENTEUFEL 1996 p143)

22 A institucionalizaccedilatildeo estatal do esporte poacutes-constituiccedilatildeo

Pensando na idealizaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas esportivas torna-se

importante refletir sobre as possibilidades de expressatildeo deste fenocircmeno A

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 natildeo deixa claro tais manifestaccedilotildees apesar de indicar

trecircs possiacuteveis alternativas o esporte educacional de alto rendimento (Art 217

inciso II) e o esporte como promoccedilatildeo do lazer (Art 217 inciso IV sect 3ordm) (BRASIL

1988a) De acordo com Tubino (2005 2010) estas possiacuteveis manifestaccedilotildees

impliacutecitas no texto constitucional satildeo na verdade uma consolidaccedilatildeo das discussotildees

realizadas pela Comissatildeo de Reformulaccedilatildeo do Desporto Nacional onde as

expressotildees Esporte-Educaccedilatildeo Esporte-Lazer e Esporte-Rendimento emergiram

Poreacutem o autor natildeo conceitua ou define as manifestaccedilotildees

Em outro texto Tubino (2002) ainda sugere uma quarta manifestaccedilatildeo

esportiva a partir do desmembramento do esporte educacional Talvez natildeo por

acaso o recente decreto presidencial que alterou a regulamentaccedilatildeo da legislaccedilatildeo do

esporte no acircmbito federal Decreto Nordm 7984 de 8 de abril de 2013 seguiu uma

loacutegica parecida a apresentada por Tubino Poreacutem ao inveacutes de criar mais uma

manifestaccedilatildeo esportiva apenas subdividiu o esporte educacional em duas outras

manifestaccedilotildees 1) esporte educacional ou de formaccedilatildeo e 2) esporte escolar

(BRASIL 2013a)

Independente desta subdivisatildeo eacute perceptiacutevel que as novas

manifestaccedilotildees esportivas satildeo dinacircmicas e passam por um processo de

amadurecimento desde sua elaboraccedilatildeo em 1985 ateacute os dias atuais E continuam

sendo uma tentativa de superaccedilatildeo das expressotildees esportivas segmentadas e

30

utilitaristas idealizadas pela Lei Nordm 62511975 durante o periacuteodo do Regime Militar9

- Esporte Comunitaacuterio Esporte Estudantil Esporte Militar e Esporte Classista

(BRASIL 1975)

Poreacutem entre a promulgaccedilatildeo da Nova Carta Magna em 05 de outubro de

1988 ateacute o iniacutecio da deacutecada de 1990 as novas manifestaccedilotildees esportivas natildeo

passavam de discussatildeo teoacuterica pois a Lei Nordm 62511975 mantinha-se em vigor

regulamentando o esporte e a estrutura estatal do esporte vinculada agrave Secretaria de

Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desporto do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Somente em 15 de marccedilo

de 1990 por meio da Medida Provisoacuteria Nordm 150 foi criada com status ministerial a

Secretaria de Desportos da Presidecircncia da Repuacuteblica para reinserir o esporte agrave

pauta da agenda puacuteblica (BRASIL 1990a) Para a direccedilatildeo da Secretaria foi

nomeado o ex-atleta de futebol Arthur Antunes Coimbra o Zico o que reafirma o

peso do esporte de rendimento durante a elaboraccedilatildeo do Art 217 da Constituiccedilatildeo

Federal de 1988

Paralelamente agrave reestruturaccedilatildeo estatal do esporte no mesmo ano o

Conselho Nacional de Desporto passou a rever suas deliberaccedilotildees e resoluccedilotildees

pois ateacute aquele momento o oacutergatildeo exercia funccedilatildeo legislativa executiva e judiciaacuteria

sobre o esporte nacional Segundo Melo Filho (2015 p9) agrave eacutepoca vice-presidente

do Conselho Nacional de Desporto das 431 normas vigentes 400 foram revogadas

de uma soacute vez por contrariar a ldquoautonomia das entidades dirigentes e associaccedilotildees

esportivasrdquo preconizada pelo inciso I do Art 217

Em 1991 a Secretaria de Desportos da Presidecircncia da Repuacuteblica enviou

ao Congresso Nacional o Projeto de Lei Nordm 965 o qual apoacutes vaacuterias discussotildees deu

origem a Lei Nordm 8672 em 6 de julho de 1993 ficando popularmente conhecida

9 O esporte comunitaacuterio era formado pelas entidades esportivas que participam das competiccedilotildees

oficiais das modalidades assim como suas federaccedilotildees e confederaccedilatildeo sendo que todas se mantinham subordinadas a CND Jaacute o esporte estudantil aquele praticado por estudantes tanto do ensino baacutesico quanto o superior Nesta tipologia foi feito a distinccedilatildeo entre o oacutergatildeo regulador sendo que o acircmbito universitaacuterio as entidades esportivas estariam submetidas agrave aacuterea de abrangecircncia da CND enquanto no ensino baacutesico o controle ficaria por conta do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura O esporte militar natildeo apresenta grandes distinccedilotildees sobre as demais praacuteticas a natildeo ser por ser realizadas por membros das forccedilas armadas e ter sua regulaccedilatildeo realizada pelo Ministeacuterio Militar (Exeacutercito Marinha Aeronaacuteutica) O Art 31ordm da legislaccedilatildeo acrescenta que o esporte militar tem como finalidade a ldquodivulgaccedilatildeo das praacuteticas desportivas em todo o territoacuterio nacional e constituir as representaccedilotildees nacionais competiccedilotildees desportivas militares internacionaisrdquo E por fim o esporte classista o qual relacionava com a formaccedilatildeo de associaccedilotildees esportivas pelos dirigentes ou empregados de uma empresa A funcionalidade desta tipologia era tatildeo abstrata que o proacuteprio oacutergatildeo regulador natildeo foi definido na legislaccedilatildeo ficando a caraacuteter do ldquoMinistro da Educaccedilatildeo e Cultura ouvido o Conselho Nacional de Desportosrdquo definir posteriormente (BRASIL 1975 p1)

31

como Lei Zico muito embora esta personagem natildeo estivesse mais agrave frente da

Secretaria (BRASIL 1993a)

A nova legislaccedilatildeo sobre o esporte no paiacutes trouxe no Capiacutetulo II diversos

princiacutepios fundamentais dentre os quais destacamos o inciso V que trata sobre o

direito social Para o legislador o direito social consistia no dever do Estado em

fomentar as praacuteticas esportivas o que de certa maneira estaacute em consonacircncia com o

processo de desmercantilizaccedilatildeo mencionado por Menicucci (2006) e Esping

Andersen citado por Hassenteufel (1996) Contudo este princiacutepio natildeo levou em

consideraccedilatildeo a concepccedilatildeo de significaccedilatildeo histoacuterica proposta por Marshall (1967)

isto eacute que o objeto pauta da legislaccedilatildeo seria fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica e

coletiva que cria sentimento de pertencimento entre os membros da sociedade e

por isso deveria ser foco de fomento pelo Estado Logo a carecircncia deste segundo

atributo resumiu o princiacutepio da lei a uma atribuiccedilatildeo de responsabilidade alienante do

Estado ndash dever por mero dever

Art 2ordm O desporto como direito individual tem como base os seguintes princiacutepios I - soberania caracterizado pela supremacia nacional na organizaccedilatildeo da praacutetica desportiva II - autonomia definido pela faculdade de pessoas fiacutesicas e juriacutedicas organizarem-se para a praacutetica desportiva como sujeitos nas decisotildees que as afetam III - democratizaccedilatildeo garantido em condiccedilotildees de acesso agraves atividades desportivas sem distinccedilotildees e quaisquer formas de discriminaccedilatildeo IV - liberdade expresso pela livre praacutetica do desporto de acordo com a capacidade e interesse de cada um associando-se ou natildeo a entidades do setor V - direito social caracterizado pelo dever do Estado de fomentar as praacuteticas desportivas formais e natildeo-formais VI - diferenciaccedilatildeo consubstanciado no tratamento especiacutefico dado ao desporto profissional e natildeo-profissional VII - identidade nacional refletido na proteccedilatildeo e incentivo agraves manifestaccedilotildees desportivas de criaccedilatildeo nacional VIII - educaccedilatildeo voltado para o desenvolvimento integral do homem como ser autocircnomo e participante e fomentado atraveacutes da prioridade dos recursos puacuteblicos ao desporto educacional IX - qualidade assegurado pela valorizaccedilatildeo dos resultados desportivos educativos e dos relacionados agrave cidadania e ao desenvolvimento fiacutesico e moral X - descentralizaccedilatildeo consubstanciado na organizaccedilatildeo e funcionamento harmocircnicos de sistemas desportivos diferenciados e autocircnomos para os niacuteveis federal estadual e municipal XI - seguranccedila propiciado ao praticante de qualquer modalidade desportiva quanto a sua integridade fiacutesica mental ou sensorial XII - eficiecircncia obtido atraveacutes do estiacutemulo agrave competecircncia desportiva e administrativa (BRASIL 1993a p1 grifo nosso)

32

A Lei Zico (Lei Nordm 86721993) tambeacutem abrigou em seu texto as trecircs

manifestaccedilotildees esportivas que emergiram das discussotildees da Comissatildeo de

Reformulaccedilatildeo do Desporto Nacional tambeacutem mencionadas por Tubino (2005 2010)

inclusive sendo o primeiro documento a tentar defini-las (BRASIL 1993a)

De acordo com Zotovici et al (2013) a Lei Zico foi bastante criticada por

regular quase que exclusivamente o futebol deixando as demais modalidades em

segundo plano Apesar disso a legislaccedilatildeo tinha um caraacuteter consultivo e natildeo sanava

muitos problemas estruturais do esporte nacional principalmente na aacuterea do futebol

No entanto Proni (1998) afirma que diante da eminente aprovaccedilatildeo da

nova legislaccedilatildeo a qual tinha como princiacutepio a profissionalizaccedilatildeo da gestatildeo do

esporte de alto rendimento a alternativa encontrada pelos principais dirigentes do

futebol foi utilizar o seu prestigio para pressionar o Congresso Nacional Nesse

sentido o projeto inicial enviado pelo poder executivo recebeu diversas emendas e

foi completamente transfigurado Assim a Lei Zico (Lei Nordm 86721993) conseguiu

manter parte dos conteuacutedos e princiacutepios modernizantes discutidos na eacutepoca da

constituinte poreacutem foi incapaz de alterar radicalmente a estrutura administrativa do

futebol brasileiro Por isso a profissionalizaccedilatildeo acabou tendo um caraacuteter consultivo e

natildeo impositivo

Apesar das criacuteticas a partir de 1993 esta legislaccedilatildeo passou a vigorar

como norma geral do esporte no paiacutes Cabe ressaltar que a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 diferentemente dos textos constitucionais anteriores tambeacutem trouxe como

novidade a possibilidade dos Estados Subnacionais e Municiacutepios10 legislarem sobre

o assunto no que couber complementaccedilatildeo ou suplementaccedilatildeo agrave norma geral fixada

pela Uniatildeo

Art 24 Compete agrave Uniatildeo aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre [] IX - educaccedilatildeo cultura ensino desporto ciecircncia tecnologia pesquisa desenvolvimento e inovaccedilatildeo (BRASIL 1988a p1 grifo nosso)

10

Embora natildeo se apresente expressamente a capacidade dos municiacutepios sobre a temaacutetica a partir da leitura do Art 24 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 existe um entendimento no meio juriacutedico de que como os municiacutepios gozam de autonomia para legislar sobre assuntos de interesse local eles teriam jurisprudecircncia para suprir ou complementar a legislaccedilatildeo federal e estadual naquilo que for interesse esportivo em seu territoacuterio (DERBLY 2002)

33

Todavia eacute bastante comum estes entes federativos criarem leis e demais

normas que em nada refletem os princiacutepios e regras gerais da legislaccedilatildeo federal Um

tiacutepico exemplo disso satildeo as manifestaccedilotildees esportivas adotadas pelo Estado de

Minas Gerais que em 2006 criou outras trecircs manifestaccedilotildees (desporto de formaccedilatildeo

desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico do setor desportivo e desporto social) para

aleacutem das jaacute existentes (MINAS GERAIS 2006) Mas estas manifestaccedilotildees sugeridas

pelo legislativo mineiro se misturam terminologicamente agraves definiccedilotildees do acircmbito

federal e mais confundem do que contribuem para a ampliaccedilatildeo do debate sobre as

expressotildees esportivas Tal fato enfraquece um possiacutevel debate nacional sobre o

esporte e o seu desenvolvimento como elemento de exerciacutecio da cidadania social

Art 3ordm - Poderatildeo ser beneficiados por esta Lei projetos de promoccedilatildeo do desporto nas seguintes aacutereas I - desporto educacional voltado para a praacutetica desportiva como disciplina ou atividade extracurricular no acircmbito do sistema puacuteblico de educaccedilatildeo infantil e baacutesica com a finalidade de complementar as atividades de segundo turno escolar e promover o desenvolvimento integral do indiviacuteduo evitando-se a seletividade e a hipercompetitividade de seus participantes II - desporto de lazer voltado para o atendimento agrave populaccedilatildeo na praacutetica voluntaacuteria de qualquer modalidade esportiva de recreaccedilatildeo ou lazer visando agrave ocupaccedilatildeo do tempo livre e agrave melhoria da qualidade de vida da sauacutede e da educaccedilatildeo do cidadatildeo III - desporto de formaccedilatildeo voltado para o desenvolvimento da motricidade baacutesica geral e para a iniciaccedilatildeo esportiva de crianccedilas e adolescentes por meio de atividades desportivas direcionadas praticadas com orientaccedilatildeo teacutecnico-pedagoacutegica IV - desporto de rendimento voltado para a formaccedilatildeo e o rendimento esportivo com orientaccedilatildeo teacutecnico-pedagoacutegica para atendimento a equipes ou atletas de qualquer idade filiados a entidades associativas de modalidades esportivas visando ao aprimoramento teacutecnico e agrave praacutetica esportiva de alto niacutevel V - desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico do setor desportivo voltado para o desenvolvimento ou aperfeiccediloamento de tecnologia aplicada agrave praacutetica desportiva para a formaccedilatildeo e treinamento de recursos humanos para o desporto e para o financiamento de publicaccedilotildees literaacuterias e cientiacuteficas sobre esporte VI - desporto social voltado para o atendimento social por meio do esporte com recursos especiacuteficos para esse fim e realizado em comunidades de baixa renda visando a promover a inclusatildeo social (MINAS GERAIS 2006 p1)

As diversas alteraccedilotildees e complementaccedilotildees11 realizadas na Lei Zico (Lei

Nordm 86721993) demonstraram sua incapacidade em suprir a regulaccedilatildeo do setor

11

Alteraccedilotildees realizadas na Lei Zico Medida Provisoacuteria nordm 386 de 8 de Dezembro de 1993 Medida Provisoacuteria nordm 411 de 7 de Janeiro de 1994 Medida Provisoacuteria nordm 426 de 9 de Fevereiro de 1994 Medida Provisoacuteria nordm 448 de 11 de Marccedilo de 1994 Medida Provisoacuteria nordm 471 de 12 de Abril de 1994 Lei Ordinaacuteria nordm 8879 de 20 de Maio de 1994 Complementaccedilotildees realizadas na Lei Zico Lei Ordinaacuteria nordm 8879 de 20 de Maio de 1994 Lei Ordinaacuteria nordm 8946 de 5 de Dezembro de 1994 Revogaccedilatildeo Parcial

34

esportivo No entanto somente com a conquista da estabilidade econocircmica trazida

pelo plano real e a posse do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDBSP)

que a estrutura estatal esportiva eacute alterada e cria-se novamente cenaacuterio

institucional oportuno para discussatildeo do tema

A Medida Provisoacuteria Nordm 813 de 1ordm de janeiro de 1995 reestrutura a

organizaccedilatildeo administrativa do poder executivo e manteacutem o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e

do Desporto criado no final de 1992 tambeacutem por Medida Provisoacuteria a de Ndeg 309

(BRASIL 1995a BRASIL 1992a) Esta manutenccedilatildeo do esporte como nome de um

Ministeacuterio de Estado mesmo que compartilhado com outra pasta mostra a

conquista poliacutetica que o tema teve a partir da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Todavia

este novo ato normativo tambeacutem cria o cargo de Ministro de Estado Extraordinaacuterio

dos Esportes ou seja embora o ministeacuterio estivesse dividido entre educaccedilatildeo e

esporte a presenccedila de um ministro exclusivo lhe dava autonomia de funcionamento

e um quase status de Ministeacuterio Extraordinaacuterio do Esporte

Para chefiar este cargo novamente um ex-atleta de futebol foi convidado

desta vez Edson Arantes do Nascimento o Peleacute A presenccedila de um membro do

esporte de rendimento na reorganizaccedilatildeo da cadeia produtiva do esporte no Brasil

demonstra mais uma vez a forccedila deste setor tradicional no cenaacuterio poliacutetico e

econocircmico nacional

Logo de iniacutecio o Ministro Peleacute teve como missatildeo buscar nova

reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo esportiva na tentativa de enfrentar o tortuoso processo

de modernizaccedilatildeo do esporte de rendimento principalmente do oligaacuterquico futebol o

qual natildeo foi alcanccedilado pela Lei Zico (Lei Nordm 86721993) Para isto o ministro se

apoiou no Projeto de Lei Nordm 1159 de 31 de outubro de 1995 do Deputado Federal

Arlindo Chinaglia (PTSP) e depois de um tramite em regime de urgecircncia e vaacuterias

discussotildees envolvendo quase que exclusivamente o esporte de rendimento o

projeto foi aprovado no Congresso Nacional em 24 de marccedilo de 1998 dando

origem agrave Lei Nordm 9615 que ficou popularmente conhecida como Lei Peleacute (BRASIL

1998a)

A nova norma geral do esporte nacional natildeo se diferencia muito da Lei

Zico (Lei Nordm 86721993) uma vez que tambeacutem tinha um foco excessivo sobre o

da Lei Zico Medida Provisoacuteria nordm 1602 de 14 de Novembro de 1997 Lei Ordinaacuteria nordm 9532 de 10 de Dezembro de 1997

35

esporte de rendimento e sobre o futebol O capiacutetulo II da nova Lei tambeacutem apresenta

os princiacutepios balizadores da legislaccedilatildeo sendo o esporte lembrado como direito

social apenas pelo atributo de dever do Estado deixando no esquecimento mais

uma vez o aspecto de significaccedilatildeo histoacuterica do objeto social conforme propunha

Marshall (1967)

No processo de redemocratizaccedilatildeo do paiacutes as trecircs manifestaccedilotildees

esportivas que emergiram satildeo registradas no texto da legislaccedilatildeo demonstrando a

consolidaccedilatildeo destas alternativas de expressatildeo do esporte Inclusive nesta

oportunidade a definiccedilatildeo das manifestaccedilotildees foi mais bem caracterizada Todavia

em 4 de agosto de 2015 a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte (Lei Nordm

13155) acrescentou uma quarta manifestaccedilatildeo esportiva ao rol de possibilidades

tendo como foco a produccedilatildeo de conhecimento na aacuterea esportiva (BRASIL 2015a)

Art 3- [] I - desporto educacional praticado nos sistemas de ensino e em formas assistemaacuteticas de educaccedilatildeo evitando-se a seletividade a hipercompetitividade de seus praticantes com a finalidade de alcanccedilar o desenvolvimento integral do indiviacuteduo e a sua formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania e a praacutetica do lazer II - desporto de participaccedilatildeo de modo voluntaacuterio compreendendo as modalidades desportivas praticadas com a finalidade de contribuir para a integraccedilatildeo dos praticantes na plenitude da vida social na promoccedilatildeo da sauacutede e educaccedilatildeo e na preservaccedilatildeo do meio ambiente III - desporto de rendimento praticado segundo normas gerais desta Lei e regras de praacutetica desportiva nacionais e internacionais com a finalidade de obter resultados e integrar pessoas e comunidades do Paiacutes e estas com as de outras naccedilotildees IV - desporto de formaccedilatildeo caracterizado pelo fomento e aquisiccedilatildeo inicial dos conhecimentos desportivos que garantam competecircncia teacutecnica na intervenccedilatildeo desportiva com o objetivo de promover o aperfeiccediloamento qualitativo e quantitativo da praacutetica desportiva em termos recreativos competitivos ou de alta competiccedilatildeo (BRASIL 1998a p1 BRASIL 2015a p1 ndash grifo nosso para destacar a manifestaccedilatildeo esportiva acrescentada)

A Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) entrou efetivamente em vigor com a

publicaccedilatildeo do Decreto Nordm 2574 de 29 de abril de 1998 Nesta mesma data

encerrou-se o trabalho do Ministro Peleacute e o cargo que tinha caraacuteter extraordinaacuterio

foi extinto Assim o objeto esporte passou a funcionar sob o comando do ministro

Paulo Renato Souza responsaacutevel pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Desporto No dia 1ordm

de janeiro de 1999 por meio da Medida Provisoacuteria Nordm 1795 uma nova

reestruturaccedilatildeo ministerial foi realizada no poder executivo e criou-se o Ministeacuterio do

Esporte e Turismo (BRASIL 1999a) Desta vez o comando da pasta natildeo foi

36

delegado a um esportista mas a um poliacutetico o Deputado Federal Rafael Greca

(PFLPR)

A nova legislaccedilatildeo esportiva teve um caraacuteter mais impositivo de

estruturaccedilatildeo da cadeia produtiva do esporte de rendimento do que a sua

antecessora poreacutem tambeacutem sofreu com vaacuterias alteraccedilotildees No site da Cacircmara dos

Deputados12 em consulta realizada no dia 26 de abril de 2016 foram verificadas 69

alteraccedilotildees realizadas na versatildeo original da lei Entretanto apesar de criar

paracircmetros e diretrizes agraves outras manifestaccedilotildees esportivas pouca coisa de concreto

contribuiu para a consolidaccedilatildeo do direito social ao esporte ao cidadatildeo comum (natildeo

atleta)

Os primeiros anos de funcionamento da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) e do

Ministeacuterio do Esporte e Turismo satildeo marcados por problemas com o Jogo do Bingo

e a relaccedilatildeo comercial entre a Confederaccedilatildeo Brasileira de Futebol (CBF) e suas

patrocinadoras o que deu origem agrave investigaccedilatildeo no legislativo com a formaccedilatildeo da

Comissatildeo Parlamentar de Inqueacuterito (CPI) conhecida na miacutedia como a CPI do

Futebol (BUENO 2008)

Com relaccedilatildeo ao financiamento no esporte a Lei Peleacute apresentou nos

Arts 56 e 57 as possiacuteveis origens de recurso estatal para o desenvolvimento de

poliacutetica puacuteblica para o gozo deste elemento de cidadania social no paiacutes Entretanto

somente com a alteraccedilatildeo da legislaccedilatildeo por meio da Lei Nordm 10264 de 16 de julho de

2001 conhecida como Lei AgneloPiva o recurso de parte do precircmio das loterias

federais passou a ser repassado ao Comitecirc Oliacutempico Brasileiro (COB) e ao Comitecirc

Paraoliacutempico Brasileiro (CPB) (BRASIL 1998A BRASIL 2001a) Assim o benefiacutecio

financeiro puacuteblico chegou primeiro ao esporte de rendimento que agraves outras

manifestaccedilotildees esportivas (BUENO 2008 ZOTOVICI et al 2013)

No entanto priorizar o financiamento puacuteblico ao esporte de rendimento foi

uma afronta ao inciso II do Art 217 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o qual define

expressamente a prevalecircncia do esporte educacional em relaccedilatildeo ao de rendimento

(BRASIL 1988a) Por outro lado a Lei AgneloPiva (Lei Nordm 102642001) marcou o

formato de financiamento escolhido pelo Estado brasileiro para fomentar um

elemento social constitucional isto eacute a destinaccedilatildeo de grande parte do recurso

12

Site oficial da Cacircmara dos Deputados Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfedlei1998lei-9615-24-marco-1998-351240-norma-plhtmlgt Acesso em 26 de Abril de 2016

37

puacuteblico para o esporte por meio de uma via extraorccedilamentaacuteria ndash repasse direto do

lucro de uma entidade puacuteblica (BRASIL 2001a) Inclusive o percurso fora do

orccedilamento puacuteblico seria novamente adotado anos mais tarde com a promulgaccedilatildeo

da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

O trajeto do financiamento nos faz refletir sobre os dilemas do direito

social ao esporte pois uma vez que o esporte alcanccedila o status de direitos social

passa ser problema de Estado e natildeo mais apenas do indiviacuteduo qual eacute o papel

estatal na garantia deste direito Aparentemente a decisatildeo do Estado brasileiro tem

sido a de repassar recurso puacuteblico para o setor privado de esporte para este

desenvolver uma das facetas deste direito (esporte de rendimento) Poreacutem a

escolha por um caminho extraorccedilamentaacuterio pode expressar a retirada deste

elemento social de cidadania da pauta de discussotildees legislativas (arena de debate e

conflitos) e ainda fragilizar o controle que administraccedilatildeo puacuteblica tem sobre o gasto

deste recurso

Apesar do dilema sobre a forma e a prioridade do financiamento do

esporte de rendimento em prol das demais foi inegaacutevel que a Lei AgneloPiva (Lei

Nordm 102642001) proporcionou a promoccedilatildeo e desenvolvimento do esporte

competitivo no paiacutes muito embora ainda exista criacutetica sobre a discricionariedade na

partilha do recurso entre as entidades representativas do esporte (BUENO 2008)

Durante o periacuteodo de vigecircncia do Ministeacuterio do Esporte e Turismo apoacutes

Rafael Greca outro poliacutetico de carreira assumiu o cargo o Deputado Federal Carlos

Carmo Melles (PFLMG) sucedido pelo especialista em turismo Caio Cibella de

Carvalho Uma nova estruturaccedilatildeo ministerial relevante ao esporte somente viria a

acontecer com a posse do Presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio Lula da Silva

(PTSP)

Apoacutes a posse do presidente Lula a Medida Provisoacuteria Nordm 103 de 01 de

janeiro de 2003 desmembrou o turismo do esporte e criou o Ministeacuterio do Esporte

(BRASIL 2003a) Agrave frente desta pasta exclusiva para tratar da temaacutetica do esporte

foi indicado o Deputado Federal Agnelo Queiroz (PCdoBDF) o mesmo que

participou ativamente na aprovaccedilatildeo da lei de financiamento agraves entidades

representativas do esporte ndash Lei AgneloPiva (Lei Nordm 10264200)

Aleacutem de ter sido a primeira experiecircncia do esporte em um ministeacuterio

exclusivo a organizaccedilatildeo das suas secretarias permitiu efetivamente incluir as

manifestaccedilotildees educacionais e de participaccedilatildeo na agenda puacuteblica Assim foram

38

criadas a Secretaria Nacional de Esporte Educacional (SNEE) a Secretaria Nacional

de Esporte e Lazer (SNEL) e a Secretaria Nacional de Esporte de Rendimento

(SNER) cada uma responsaacutevel por desenvolver uma das manifestaccedilotildees esportivas

consolidadas na legislaccedilatildeo federal

Fonte Starepravo et al (2015 p222)

Apesar da nova estrutura de funcionamento estatal do esporte

Starepravo et al (2015) chamam a atenccedilatildeo para o conflito de interesse poliacutetico-

partidaacuterio entre PT e PCdoB durante a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio do Esporte e suas

respectivas secretaacuterias nacionais Para o autor existiu um tensionamento entre o

capital poliacutetico e o capital cultural teacutecnico e especiacutefico do esporte sendo que o

primeiro teve uma preponderacircncia sobre o segundo Desta forma aspectos como

visibilidade das accedilotildees estatais e influecircncia poliacutetica foram norteadoras na indicaccedilatildeo

dos nomes que compuseram os cargos comissionados do 2ordm e 3ordm escalatildeo do

Ministeacuterio do Esporte Em contrapartida nomes de notoacuterio conhecimento teacutecnico e

envolvidos politicamente na discussatildeo do esporte foram esquecidos ou ficaram em

segundo plano para a ocupaccedilatildeo de cargos diretivos no ministeacuterio

Independente da motivaccedilatildeo que levou agrave organizaccedilatildeo e indicaccedilatildeo de

nomes ao Ministeacuterio do Esporte este periacuteodo foi marcado pela criaccedilatildeo do Programa

Figura 1 ndash Organograma do Ministeacuterio do Esporte (2003)

39

Segundo Tempo (PST) e Programa Esporte e Lazer da Cidade (PELC) ou seja as

primeiras iniciativas do Estado brasileiro de democratizar o esporte educacional e de

participaccedilatildeo respectivamente Estes programas colocaram o Estado brasileiro no

papel de executor de poliacuteticas puacuteblicas de esporte dialogando com a localidade por

meio de um processo de municipalizaccedilatildeo das suas atividades Com isso a

diversificaccedilatildeo do esporte para aleacutem dos tradicionais programas competitivos e a

proximidade da poliacutetica puacuteblica com o seu beneficiaacuterio direito trouxe novos atores

sociais13 para o campo de discussatildeo esportiva

Essa perspectiva tambeacutem foi levada em consideraccedilatildeo ante a criaccedilatildeo do

novo foacuterum nacional de discussatildeo sobre o esporte a Conferecircncia Nacional do

Esporte14 instituiacuteda pelo Decreto Presidencial SN de 21 de janeiro de 2004 e

regulamentada pelas Portarias do Ministeacuterio do Esporte Nordm 13 de 03 de fevereiro de

2004 e Nordm 23 de 11 de marccedilo de 2004 (BRASIL 2004a BRASIL 2004b BRASIL

2004c) O evento foi composto de etapa municipal e estadual15 precedentes agrave etapa

nacional com o intuito de filtrar proposiccedilotildees e auxiliar no diagnoacutestico do esporte no

paiacutes A etapa nacional aconteceu em Brasiacutelia no dia 17 de junho do mesmo ano e

gerou vaacuterias propostas de accedilotildees divididas em oito eixos temaacuteticos contidos no

ldquoCaderno de Propostasrdquo Aleacutem disso da 1ordf Conferecircncia Nacional de Esporte

emergiram quatro princiacutepios seis diretrizes e seis objetivos norteadores para a

Poliacutetica Nacional de Esporte e Lazer (BRASIL 2004d BRASIL 2004e)

Esta ampla discussatildeo que desta vez natildeo levou em consideraccedilatildeo apenas

a ala dos representantes do esporte de rendimento permitiu aprofundar

efetivamente o entendimento do esporte como direito social aproximando a temaacutetica

da concepccedilatildeo de heranccedila social e pertencimento na sociedade idealizada por

Marshall (1967) A associaccedilatildeo de dever estatal e inclusatildeo dos cidadatildeos no

13

A partir do Programa Segundo Tempo (PST) e Programa Esporte e Lazer da Cidade (PELC) as comunidades e populaccedilatildeo em geral atendidas pelos os programas passaram a discutir o esporte seja como forma reflexiva ou como fruiccedilatildeo da praacutetica A aacuterea acadecircmica tambeacutem participou da elaboraccedilatildeo das propostas e agregou uma nova perspectiva sobre o objeto esportivo Por fim como estes programas tinham como meta o processo de municipalizaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas tambeacutem temos a participaccedilatildeo do poder puacuteblico municipal no debate do esporte local 14

Documentaccedilatildeo sobre as Conferecircncias Nacionais de Esporte estatildeo disponiacuteveis em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoconferencias-2571-i-conferencia-nacional-de-esportegt 15

De acordo com o ldquoCaderno de Propostasrdquo e ldquoRelatoacuterio da Conferecircncia Nacional do Esporterdquo ambos formulados pelo Ministeacuterio do Esporte apoacutes a 1ordf Conferecircncia Nacional de Esporte foram organizadas 60 Conferecircncias Municipais e 116 Regionais e 26 conferecircncias estaduais e uma no Distrito Federal precedentes a etapa nacional com participaccedilatildeo de aproximadamente 83 mil pessoas (BRASIL 2004d p 3 BRASIL 2004e p1)

40

patrimocircnio esportivo colocam o Estado brasileiro na posiccedilatildeo de formulador de

poliacutetica puacuteblica para o exerciacutecio pleno da cidadania social

Quase um ano apoacutes a 1ordf Conferecircncia Nacional do Esporte foi lanccedilada

pelo Conselho Nacional do Esporte oacutergatildeo colegiado de assessoria ao Ministro do

Esporte a Resoluccedilatildeo Nordm 05 em 14 de junho de 2005 denominada Poliacutetica Nacional

do Esporte (BRASIL 2005a) O conteuacutedo desta resoluccedilatildeo16 foi um desdobramento

do ldquoCaderno de Propostasrdquo da 1ordf Conferecircncia Nacional do Esporte apresentando

cinco objetivos quatro princiacutepios oito diretrizes e 18 accedilotildees estrateacutegicas para o

desenvolvimento do esporte no paiacutes (BRASIL 2004e)

Interessante mencionar que tanto o ldquoCaderno de Propostasrdquo da

conferecircncia quanto a Poliacutetica Nacional do Esporte apresentam no seu referencial a

consolidaccedilatildeo do direito social ao esporte como uma missatildeo do Ministeacuterio

demonstrando o amadurecimento institucional e do objeto esporte no periacuteodo

posterior agrave criaccedilatildeo do Ministeacuterio do Esporte

Eacute missatildeo do Ministeacuterio do Esporte ldquoformular e implementar poliacuteticas

puacuteblicas inclusivas e de afirmaccedilatildeo do esporte e do lazer como direitos sociais dos

cidadatildeos colaborando para o desenvolvimento nacional e humano (BRASIL 2004e

p7 BRASIL 2005a p14)

Apesar do Ministro Agnelo Queiroz (PCdoBDF) realizar a publicaccedilatildeo da

Poliacutetica Nacional do Esporte a escolha por uma resoluccedilatildeo ao inveacutes de outro ato

normativo de maior poder hieraacuterquico demonstrou a vulnerabilidade deste

documento o que a acabou deixando em segundo plano na suplementaccedilatildeo das

poliacuteticas estatais Ou seja a resoluccedilatildeo por natildeo ter um caraacuteter impositivo como

acontece com a lei decreto eou portaria deixou de ser adotada como uma norma

geral para o avanccedilo das poliacuteticas puacuteblicas de esporte como deveria ser A resoluccedilatildeo

acabou assumindo um caraacuteter sugestivo agrave aplicaccedilatildeo da Lei Peleacute (Lei Nordm

96151998)

O regimento da Conferecircncia Nacional do Esporte Portaria do Ministeacuterio

do Esporte Nordm 132004 previa em seu Art 1ordm a realizaccedilatildeo ordinaacuteria do evento a

cada dois anos (BRASIL 2004b) Assim no dia 20 de outubro de 2005 a Portaria do

Ministeacuterio do Esporte Nordm 133 criou as normas para a realizaccedilatildeo da segunda ediccedilatildeo

16

As resoluccedilotildees do Conselho Nacional de Esporte estatildeo disponiacuteveis em lthttpwwwesportegovbrindexphpinstitucionalo-ministerioconselho-nacional-do-esporteresolucoesgt

41

da conferecircncia (BRASIL 2005b) Novamente o evento foi dividido em etapa

municipalregional e estadual e de 04 a 07 de maio de 2006 aconteceu a etapa

nacional em Brasiacutelia O tema desta ediccedilatildeo foi ldquoConstruindo o Sistema Nacional de

Esporte e Lazerrdquo (BRASIL 2006a)

Cabe salientar que embora os registros do Ministeacuterio do Esporte

comentem como resultado da primeira ediccedilatildeo da conferecircncia a aprovaccedilatildeo da

resoluccedilatildeo de criaccedilatildeo do Sistema Nacional de Esporte e Lazer aparentemente o

respectivo documento trata-se de uma deliberaccedilatildeo final da conferecircncia firmando o

compromisso das autoridades presentes No entanto mais uma vez foi gerado um

documento institucionalmente fraacutegil tanto que natildeo deu origem a nenhuma norma

oficial de Estado e por isso a comunidade esportiva continua aguardando por sua

implementaccedilatildeo (BRASIL 2007a)

Ao final da 2ordf Conferecircncia Nacional do Esporte foi feita uma nova

tentativa de sugestatildeo de resoluccedilatildeo para a estruturaccedilatildeo do Sistema Nacional do

Esporte As proposiccedilotildees foram organizadas em quatro eixos 1) Estrutura

organizaccedilatildeo agentes e competecircncias 2) Recursos humanos e formaccedilatildeo 3) Gestatildeo

e controle social e 4) Financiamento (BRASIL 2007a) No entanto sua formalizaccedilatildeo

continua aguardando a publicaccedilatildeo de uma norma estatal o que demonstra a

dificuldade do Ministeacuterio do Esporte em organizar a cadeia produtiva do esporte

nacional

No eixo de financiamento do Sistema Nacional do Esporte foi sugerida a

elaboraccedilatildeo de ldquoEmenda Constitucional que institua a vinculaccedilatildeo e destinaccedilatildeo de um

percentual miacutenimo [1] da receita tributaacuteriardquo agraves poliacuteticas puacuteblicas de esporte aos

trecircs entes federativos ndash Uniatildeo Estados Subnacionais Municiacutepios e Distrito Federal

(BRASIL 2007a p18-19) De acordo com o jurista Melo Filho (2015) desde a

promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Art 217 jaacute foi foco de oito Projetos

de Emenda Constitucional (PEC) sendo trecircs destes para a definiccedilatildeo de limite de

recurso financeiro para o esporte (PEC Nordm 1752007 PEC Nordm 1912007 PEC Nordm

4172009)

Neste eixo temaacutetico ainda foi proposta agrave criaccedilatildeo de leis de incentivo fiscal

nos trecircs niacuteveis de governo de forma equitativa para atender agrave demanda de fomento

das diferentes dimensotildees de esporte e lazer Na proacutepria proposta foram sugeridos

impostos que poderiam ser alvo deste mecanismo de financiamento

extraorccedilamentaacuterio percentual de Imposto de Renda (IR) de Imposto de Renda

42

Retido na Fonte (IRPF) e de Imposto de Renda Pessoa Juriacutedica (IRPJ) Imposto

sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) Imposto sobre Serviccedilo de

Qualquer Natureza (ISSQN) Contribuiccedilatildeo de Intervenccedilatildeo no Domiacutenio Econocircmico

(CIDE) Imposto de Telefonia Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) Imposto

sobre a Propriedade Territorial Urbana (IPTU) Contribuiccedilatildeo Provisoacuteria sobre

Movimentaccedilatildeo ou Transmissatildeo de Valores e de Creacuteditos e Direitos de Natureza

Financeira (CPMF) Seguro obrigatoacuterio de veiacuteculos e Produto Interno Bruto (PIB)

(BRASIL 2007a)

Como modelo de mecanismo de fomento aos demais entes federativos e

tambeacutem como resposta antecipada agrave comunidade esportiva na 2ordf Conferecircncia

Nacional do Esporte o Ministeacuterio do Esporte encaminhou ao Congresso Nacional

no dia 08 de maio de 2006 o Projeto de Lei Nordm 6999 que tratava sobre benefiacutecios

fiscais para a aacuterea do esporte O projeto foi agregado ao Projeto de Lei Nordm 1367 de

01 de julho de 2003 do Deputado Federal Bismarck Maia (PSDBCE) que jaacute

tramitava havia um tempo na casa A iniciativa do executivo tramitou com pedido de

urgecircncia e no dia 29 de dezembro de 2006 foi aprovado dando origem agrave Lei Nordm

11438 popularmente conhecida como Lei Federal de Incentivo ao Esporte

(BRASIL 2006b)

A legislaccedilatildeo criou mais uma alternativa de financiamento agraves tradicionais

entidades representativas do esporte mas desta vez tambeacutem permitiu a participaccedilatildeo

dos novos atores sociais do esporte educacional e de participaccedilatildeo (lazer) O

mecanismo de fomento foi inspirado na experiecircncia de mecenato cultural instituiacuteda

pela Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) A gecircnese do mecenato cultural tinha como

ideia trazer mais recurso financeiro agrave aacuterea cultural por meio da participaccedilatildeo direta

do setor privado mas parte desta discussatildeo foi deixada de lado durante a criaccedilatildeo do

mecenato esportivo Este por sua vez foi aprovado em 2006 e colocado em praacutetica

em 2007 pelo Decreto Nordm 6180 Sua criaccedilatildeo foi bastante comemorada pela

comunidade esportiva pois ampliava a oferta de recurso financeiro para a aacuterea do

esporte mesmo que 100 deste valor fosse de origem puacuteblica (extraorccedilamentaacuterio)

mas precisasse ser captado no setor privado pela isenccedilatildeo fiscal do Imposto sobre a

Renda (IR)

O mecanismo tambeacutem marcou uma nova ruptura da poliacutetica puacuteblica de

esporte pois o Estado brasileiro ao inveacutes de continuar no papel de executor de

poliacutetica puacuteblica principalmente da manifestaccedilatildeo educacional e participaccedilatildeo passou

43

a financiar as propostas de iniciativa das entidades esportivas Poreacutem a decisatildeo

sobre a efetivaccedilatildeo das propostas esportivas ficou nas ldquomatildeosrdquo do mercado sem

necessariamente precisar investir nenhum capital privado Neste contexto seraacute que

o mercado e as entidades esportivas (sociedade civil organizada) teratildeo capacidade

de garantir o direito social Ou o Estado brasileiro estaacute enfraquecendo as

discussotildees e debates em seu ldquoseiordquo sobre o esporte como um elemento de

exerciacutecio da cidadania social

Paralelamente agrave operacionalizaccedilatildeo do mecenato esportivo e possiacuteveis

dilemas que envolveriam o modelo de financiamento o Ministeacuterio do Esporte passou

a trabalhar na candidatura do paiacutes para sede da Copa do Mundo de Futebol de 2014

e para sede dos Jogos Oliacutempicos de 2016 Apoacutes uma articulaccedilatildeo que extrapolou a

proacutepria pasta do esporte veio a confirmaccedilatildeo de ecircxito nas candidaturas no dia 30 de

outubro de 2007 e 2 de outubro de 2009 respectivamente

O novo foco de convencimento das entidades internacionais a Federaccedilatildeo

Internacional de Futebol (FIFA) e o Comitecirc Oliacutempico Internacional (COI) sobre a

capacidade do Estado brasileiro de organizar os eventos talvez tenha deixado a

organizaccedilatildeo da 3ordf Conferecircncia Nacional do Esporte em segundo plano Assim a

conferecircncia que estava prevista para acontecer em 2008 foi realizada somente em

junho de 2010 quatro anos apoacutes a sua uacuteltima ediccedilatildeo em desacordo com o prazo

estipulado pelo Art 1ordm da Portaria do Ministeacuterio do Esporte Nordm 132004 (BRASIL

2004b)

Nas duas conferecircncias anteriores o tema de elaboraccedilatildeo do Sistema

Nacional do Esporte e Lazer vinha tendo uma relevacircncia na discussatildeo haja vista a

importacircncia de organizar a cadeia esportiva nacional Poreacutem a terceira ediccedilatildeo da

conferecircncia teve como tema o desenvolvimento do ldquoPlano Decenal de Esporte e

Lazerrdquo cujo slogan fazia alusatildeo ao desempenho atleacutetico nos megaeventos

esportivos ldquo10 pontos em 10 anos para projetar o Brasil entre os 10 maisrdquo Uma fala

do proacuteprio Ministro do Esporte Orlando Silva (PCdoBSP) inscrita no caderno de

orientaccedilotildees reforccedila a mudanccedila na diretriz do esporte nacional ldquocolocar o paiacutes entre

as dez maiores potecircncias esportivas do mundordquo (BRASIL 2010a p5)

Percebemos que a negociaccedilatildeo do Estado brasileiro para a realizaccedilatildeo dos

megaeventos esportivos marcou um ponto de novo desequiliacutebrio entre as

manifestaccedilotildees esportivas delineado pela maior ecircnfase ao esporte de rendimento na

3ordf Conferecircncia Nacional do Esporte Contudo desde a elevaccedilatildeo do esporte ao

44

status de direito social notamos a forte presenccedila dos atores sociais do esporte de

rendimento

O periacuteodo de formulaccedilatildeo dos Programas Segundo Tempo (PST) e

Esporte e Lazer da Cidade (PELC) foi importante para a materializaccedilatildeo das

manifestaccedilotildees educacional e participaccedilatildeo respectivamente e trazer novos atores

para a arena de debate do esporte Um novo equiliacutebrio sobre as trecircs expressotildees do

esporte foi possiacutevel conduzindo a discussatildeo para o acircmbito do desenvolvimento do

esporte como elemento da cidadania social para aleacutem da exigecircncia de desempenho

atleacutetico Mas a escolha estatal por criar um mecanismo de financiamento com forte

apelo mercadoloacutegico para tratar de um direito social que tem como ideal o processo

de desmercantilizaccedilatildeo pode gerar impacto no tensionamento de forccedilas entre as

manifestaccedilotildees esportivas Por isso nos capiacutetulos seguintes passaremos a explorar o

funcionamento do mecanismo de mecenato esportivo inaugurado pela Lei Federal

de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

A princiacutepio buscaremos o histoacuterico do mecanismo de mecenato cultural

por ser precursor da poliacutetica de financiamento adotada pelo o esporte Na

construccedilatildeo do referencial histoacuterico adentraremos na discussatildeo que envolveu a

escolha e aprovaccedilatildeo do mecenato esportivo Suprida a etapa de conhecimento do

mecanismo passaremos agrave anaacutelise das 32 propostas aprovadas na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte por entidades esportivas sediadas na cidade de Belo

Horizonte A partir da investigaccedilatildeo local verificaremos a possibilidade de garantia agrave

populaccedilatildeo em geral no acesso ao esporte e no exerciacutecio pleno na cidadania social

45

3 MECANISMO DE MECENATO DA CULTURA AO ESPORTE

31 Poliacutetica estatal de cultura e o desenvolvimento do mecenato

A Lei Federal de Incentivo ao Esporte Lei Nordm 114382006 teve como

inspiraccedilatildeo o mecanismo de mecenato cultural inaugurado pela Lei Sarney (Lei Nordm

75051986) e posteriormente consolidada pela Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) E

para compreender melhor como o mecanismo de financiamento agrave cultura

transformou-se em base para outras poliacuteticas de financiamento puacuteblico na aacuterea

social (esporte sauacutede direito do idoso direito da crianccedila e adolescente pesquisa

etc) torna-se importante resgatar a sua trajetoacuteria na histoacuteria

Antes de ser um modelo de poliacutetica de financiamento o termo mecenato

jaacute era bastante corriqueiro na aacuterea cultural usado para qualificar a pessoa de grande

apreccedilo e apoio agraves artes De acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2016 p1) a palavra eacute

sinocircnimo de ldquopatrocinador generoso protetor das Letras Ciecircncias e Artes dos

artistas e saacutebiosrdquo

A origem do termo faz referecircncia a Caius Cilnius Mecenas ministro do

imperador romano Caio Julio Augusto entre 74 aC e 8 dC Esta personagem se

destacou por construir uma poliacutetica de relacionamento entre governo e sociedade

tendo as artes como instrumentos de disseminaccedilatildeo das conquistas e da filosofia do

regime autoritaacuterio do imperador O sucesso deste sutil sistema de legitimaccedilatildeo pela

fusatildeo de poder e cultura fez o nome Mecenas ficar marcado na histoacuteria como

patrono das artes (ALMEIDA 1994)

Experiecircncias posteriores de uso do mecenato cultural com fins de

propaganda do pensamento oficial de uma classe dominante podem ser facilmente

encontradas na histoacuteria da humanidade Na Renascenccedila por exemplo periacuteodo de

grande efervescecircncia artiacutestica na Europa vaacuterias famiacutelias da aristocracia e membros

do clero incentivaram por meio de doaccedilotildees e apadrinhamento de artistas

(mecenato) a produccedilatildeo de quadros esculturas e peccedilas teatrais como forma de

expressatildeo do seu status social Por outro lado a emergente burguesia tambeacutem

buscou na praacutetica do mecenato demonstrar seu poder econocircmico e ao mesmo

tempo ostentar seu apreccedilo pela cultura erudita possibilitando sua inserccedilatildeo na

restrita elite da eacutepoca

46

Para o cientista poliacutetico e estudioso da aacuterea cultural Joseacute Aacutelvaro Moiseacutes

(1998) a versatildeo contemporacircnea do mecenato teve iniacutecio nos Estados Unidos entre

o final do seacuteculo XIX e comeccedilo do seacuteculo XX O contexto de um significativo

crescimento econocircmico decorrente do capital emigrado da Inglaterra para os

emergentes negoacutecios no novo continente propiciou que algumas pessoas de origem

simples acumulassem grandes fortunas Mas apesar de todo o dinheiro

conquistado estas pessoas natildeo possuiacuteam a inserccedilatildeo social desejada Logo o

financiamento agraves artes foi a forma encontrada para a tentativa de inclusatildeo e

legitimaccedilatildeo destas pessoas agrave seleta classe dominante estadunidense

No entanto Moiseacutes (1998) chama a atenccedilatildeo para a existecircncia de uma

legislaccedilatildeo especiacutefica a Deduction Tax nos Estados Unidos introduzida em 1917

que incentivou o contribuinte a apoiar accedilotildees de artistas ou instituiccedilotildees culturais O

mecanismo estatal de mecenato norte-americano estimulou a criaccedilatildeo de um forte

mercado cultural por meio da participaccedilatildeo direta da pessoa fiacutesica e mais tarde da

pessoa juriacutedica

Sobrenomes como Guggenheim Whitney Rockfeller e Ford se

destacaram como grandes mecenas inclusive com a criaccedilatildeo de instituiccedilotildees culturais

e filantroacutepicas tais como a Fundaccedilatildeo Rockfeller a Universidade de Chicago a

Guggenheim Memorial Foudation o Instituto Rockfeller de Pesquisa Meacutedica o

Museu Guggenheim dentre outras Mas cabe ressaltar que ateacute 1986 o valor

apoiado era integralmente deduzido no Imposto sobre a Renda o que representava

um forte subsiacutedio puacuteblico ao setor (MOISEacuteS 1998)

Nos Estados Unidos a deacutecada de 1980 marcou vaacuterias reformas na

deduction tax principalmente por alteraccedilatildeo nos percentuais e no valor do teto

individual de deduccedilatildeo fiscal Ainda hoje a legislaccedilatildeo tem sido foco de discussatildeo no

parlamento tanto que o Escritoacuterio de Orccedilamento do Congresso (Congressional

Budget Office - CBO) tem feito simulaccedilotildees sobre o impacto financeiro de novas

mudanccedilas na deduccedilatildeo fiscal Poreacutem um fato eacute certo para o governo estadunidense

a atual diretriz da lei eacute atrair capital privado ao montante de recurso puacuteblico investido

na aacuterea filantroacutepica ou seja natildeo existe mais deduccedilatildeo integral do apoio do

contribuinte (CBO 2011)

Jaacute a experiecircncia de mecenato brasileiro tem contornos diferentes

marcada pela forma de desenvolvimento da poliacutetica cultural no paiacutes De acordo com

Rubim (2011) a aacuterea cultural no paiacutes tem como caracteriacutestica a instabilidade

47

transitando entre momentos de ausecircncia de uma poliacutetica (1822 a 1930 1945 a

1964) e de desenvolvimento embora associados ao autoritarismo (1930 a 1945

1964 a 1985)

A poliacutetica cultural nacional foi inaugurada com a indicaccedilatildeo de Maacuterio de

Andrade para o Departamento de Cultura da Prefeitura de Satildeo Paulo (1935-1938) e

Gustavo Capanema para o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Sauacutede (1934 ateacute 1945)

personagens que estimularam o apoio estatal agrave aacuterea das artes patrimocircnio (material

e imaterial) e manifestaccedilotildees populares (RUBIM 2011)

O cenaacuterio de estiacutemulo ao desenvolvimento cultural juntamente ao

processo de industrializaccedilatildeo no paiacutes principalmente em Satildeo Paulo proporcionou a

emersatildeo de uma nova classe social (burguesia industrial) com alto poder econocircmico

disposta a se mostrar como siacutembolo da modernidade Este traccedilo de contraponto agraves

antigas e conservadoras oligarquias rurais foi terreno feacutertil para o investimento na

aacuterea cultural e o surgimento dos primeiros mecenas brasileiros

Nomes como Francisco Matarazzo Franco Zampari e Assis

Chateaubriand se destacam como nobres apoiadores das artes em Satildeo Paulo

responsaacuteveis pela criaccedilatildeo do Museu de Arte Moderna Teatro Brasileiro de Comeacutedia

Cinemateca Brasileira Museu de Arte Contemporacircnea e a Fundaccedilatildeo Bienal de Satildeo

Paulo O Rio de Janeiro antiga capital brasileira tambeacutem natildeo ficou atraacutes Nomes

como Paulo Bittencourt e Niomar Moniz Sondreacute foram responsaacuteveis pela criaccedilatildeo do

Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 1947 (MOISEacuteS 1998)

Com o teacutermino da ditadura civil (Estado Novo) e redemocratizaccedilatildeo do

paiacutes a aacuterea cultural consegue se elevar a niacutevel ministerial com a criaccedilatildeo do

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura em 1953 Poreacutem efetivamente pouca coisa foi

feita para o fomento ou contiacutenuo desenvolvimento do setor A ineacutercia cultural do

periacuteodo natildeo proporcionou o surgimento e destaque de novos nomes de mecenas

(RUBIM 2011)

O periacuteodo subsequente de ditadura-militar (1964 a 1985) foi marcado por

contradiccedilotildees Ao mesmo tempo em que o governo autoritaacuterio censura e reprime

artistas e intelectuais existe significativo investimento do Estado brasileiro no setor

cultural Foi instituiacutedo o Conselho Federal de Cultural em 1966 e criada a

infraestrutura de telecomunicaccedilotildees para a propagaccedilatildeo da ideologia nacionalista A

Poliacutetica Nacional de Cultura foi elaborada em 1975 e inuacutemeras instituiccedilotildees puacuteblicas

de cultura foram criadas como a Fundaccedilatildeo Nacional das Artes (1975) o Centro

48

Nacional de Referecircncia Cultural (1975) o Conselho Nacional de Cinema (1976) a

RADIOBRAacuteS (1976) e a Fundaccedilatildeo Proacute-Memoacuteria (1979) (RUBIM 2011)

O protagonismo do Estado no desenvolvimento da cultura minimizou o

contexto para o surgimento de novos mecenas ou ao menos obscureceu os seus

feitos individuais Assim a falta de nomes relevantes corrobora com a afirmativa de

Moiseacutes (1998) sobre a escassez de exemplos de mecenas culturais na histoacuteria do

paiacutes diferentemente do que aconteceu nos Estados Unidos

Durante o periacuteodo ditatorial o ainda Senador Joseacute Sarney (ARENAMA)

apresentou o Projeto de Lei Nordm 54 de 26 de outubro de 197217 propondo a

deduccedilatildeo do Imposto sobre a Renda (IR) de pessoa juriacutedica e pessoa fiacutesica para fins

culturais Segundo Sarkovas (2011) o projeto recebeu indicaccedilatildeo negativa da aacuterea

econocircmica do governo militar mas mesmo natildeo sendo aprovado foi o embrionaacuterio da

primeira lei de incentivo fiscal no paiacutes No dia 08 de marccedilo de 1976 o projeto de lei

foi arquivado no Senado

Em 15 de marccedilo de 1985 durante o novo processo de redemocratizaccedilatildeo

do Brasil Joseacute Sarney (PMDBMA) na posiccedilatildeo de vice-presidente assumiu o cargo

interino da Presidecircncia da Repuacuteblica devido agrave doenccedila do presidente eleito

indiretamente Tancredo Neves (PMDBMG) No dia 21 de abril com a morte do

presidente acabou empossado de forma definitiva A primeira medida do governo

civil foi a reestruturaccedilatildeo poliacutetico-administrativa do poder executivo a qual elevou a

cultura ao status de pasta exclusiva com a criaccedilatildeo do Ministeacuterio da Cultura a partir

da desvinculaccedilatildeo do antigo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura

Uma das tarefas do novo Ministeacuterio da Cultura foi tratar do financiamento

do setor produtivo cultural Para isso em 9 de junho de 1986 o ministeacuterio enviou ao

Congresso Nacional o Projeto de Lei Nordm 779318 que visava conceder benefiacutecio

fiscal agraves entidades culturais Na praacutetica a medida era uma quase reapresentaccedilatildeo do

Projeto de Lei Nordm 54 de 1972 poreacutem agora com Joseacute Sarney (PMDBMA) tendo

autonomia sobre as decisotildees do setor econocircmico do governo federal

O projeto tramitou com pedido de urgecircncia e em menos de um mecircs foi

aprovado no Congresso Nacional dando origem a Lei Nordm 7505 em 2 de julho de

17

Tracircmite do projeto de lei disponiacutevel em lthttpwww25senadolegbrwebatividadematerias-materia25985gt 18

Tracircmite do projeto de lei disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=232355gt

49

1986 Devido o protagonismo do entatildeo presidente ldquosobre benefiacutecios fiscais na aacuterea

do imposto de renda concedidos a operaccedilotildees de caraacuteter cultural ou artiacutesticordquo a lei

ficou popularmente conhecida como Lei Sarney

Para Rubim (2011) a Lei Sarney vai na contramatildeo das demais accedilotildees

realizadas pelo Estado brasileiro pois aleacutem da gecircnese do Ministeacuterio da Cultura o

governo federal vinha criando toda uma rede de estrutura de gestatildeo da cultura

como as Secretarias de Apoio agrave Produccedilatildeo Cultural (1986) a Fundaccedilatildeo Nacional de

Artes Cecircnicas (1987) a Fundaccedilatildeo do Cinema Brasileiro (1987) a Fundaccedilatildeo

Nacional Proacute-Leitura reunindo a Biblioteca Nacional e o Instituto Nacional do Livro

(1987) e a Fundaccedilatildeo Palmares (1988)

No entanto a crise financeira que na eacutepoca alarmava o paiacutes foi o

principal argumento para diminuir o recurso de origem orccedilamentaacuteria para a aacuterea da

cultura ao mesmo tempo em que criava um mecanismo de financiamento que

dialogasse com o mercado Em tese a ideia era estimular a figura do mecenas

cultural (apoiador privado) e agregar recurso privado agraves accedilotildees do setor

Para operacionalizar seu funcionamento a Lei Sarney (Lei Nordm

75051986) criou trecircs modalidades de apoio a doaccedilatildeo o patrociacutenio e o

investimento A primeira tratava da transferecircncia definitiva de bens ou dinheiro agrave

entidade cultural mas sem retorno financeiro ou publicitaacuterio para o apoiador assim

permitindo a deduccedilatildeo de ateacute 100 da doaccedilatildeo O patrociacutenio se caracterizava pela

promoccedilatildeo do apoiador por meio da atividade cultural mas sem proveito financeiro ou

patrimonial direto Nesta modalidade era permitida a deduccedilatildeo de ateacute 80 do valor

patrocinado A uacuteltima modalidade o investimento permitia que o apoiador tivesse

retorno financeiro ou patrimonial sobre a accedilatildeo cultural Por isso era autorizada a

deduccedilatildeo maacutexima de 50 da quantia investida (BRASIL 1986)

De acordo com Sarkovas (2011) o modelo de mecenato criado pela Lei

Sarney (Lei Nordm 75051986) era uacutenico quando comparado a outros paiacuteses Porque

no caso da doaccedilatildeo e patrociacutenio realizado por pessoa juriacutedica aleacutem da permissatildeo de

inclusatildeo do depoacutesito de apoio como despesa operacional diminuindo o valor do

lucro operacional (lucro liacutequido) ainda havia autorizaccedilatildeo para deduzir uma segunda

parte no valor do imposto devido sobre a renda Ou seja o governo federal isentava

o contribuinte duas vezes pelo mesmo depoacutesito de apoio

Assim embora o recurso para as entidades culturais natildeo viesse

diretamente do orccedilamento da Uniatildeo grande parte da sua origem era totalmente

50

puacuteblica mas tomando um trajeto extraorccedilamentaacuterio Aleacutem do mais a suposta

participaccedilatildeo do recurso privado na aacuterea da cultura pela natildeo deduccedilatildeo integral das

modalidades patrociacutenio (80) e investimento (50) foi minimizada pela duplicidade

de incidecircncia da isenccedilatildeo fiscal ndash como despesa operacional e deduccedilatildeo do imposto

devido sobre a renda

Contudo a maior criacutetica enfrentada pela Lei Sarney (Lei Nordm 75051986)

foi quanto agrave falta de controle na aplicaccedilatildeo do recurso destinado agraves entidades

culturais Para ser beneficiaacuteria do mecanismo de mecenato a pessoa juriacutedica de

natureza cultural com ou sem fins lucrativos realizava um cadastro no Ministeacuterio da

Cultura Apoacutes a aprovaccedilatildeo do cadastro e emissatildeo do certificado de qualificaccedilatildeo a

entidade estava apta a receber recurso independentemente de projeto ou plano de

trabalho Nesse sentido a entidade cultural tinha liberdade para gastar o recurso

como bem entendesse (GRUMAN 2011 SESI 2007 DURAD et al 1997)

Nos quase quatro anos que esteve em vigor19 (1986-1990) estima-se que

cerca de 7200 entidades culturais se habilitaram mas os nuacutemeros financeiros ainda

natildeo satildeo conhecidos Segundo Gruman (2011) os recursos captados estariam em

torno de R$ 100 milhotildees enquanto para Durad et al (1997) teria chegado a

aproximadamente US$ 450 milhotildees mas deste uacuteltimo montante para o SESI

(2007) apenas US$ 112 milhotildees seriam realmente de origem puacuteblica Vale destacar

que a Secretaria da Receita Federal foi o oacutergatildeo responsaacutevel pelo controle financeiro

enquanto o Conselho Federal de Cultura pela supervisatildeo e acompanhamento da

execuccedilatildeo das accedilotildees culturais

O contexto de incerteza financeira associado agrave fraude fiscal por conta da

emissatildeo de notas fiscais culturais sem o devido pagamento do contribuinte levou agrave

debilidade operacional do mecanismo Ainda somou-se ao problema de controle a

carecircncia de criteacuterios na utilizaccedilatildeo do recurso puacuteblico isto eacute a falta de distinccedilatildeo entre

as accedilotildees culturais que precisavam de apoio puacuteblico das que tinham potencial

comercial ou ateacute mesmo daquelas com niacutetido interesse puacuteblico

No dia 15 de marccedilo de 1990 foi empossado o novo Presidente da

Repuacuteblica Fernando Collor (PRNAL) e por meio da Medida Provisoacuteria Nordm 150 foi

19

Com a promulgaccedilatildeo do Decreto Nordm 93335 de 3 de outubro de 1986 a Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) passou a vigorar poreacutem os depoacutesitos de apoio realizados no ano calendaacuterio (1986 1987 1988 1989 1990) eram deduzidos no ano fiscal subsequente (1987 1988 1989 1990 1991) A suspensatildeo da legislaccedilatildeo no ano de 1990 impediu que novas destinaccedilotildees fossem feitas as entidades culturais e por sua vez comprometesse a arrecadaccedilatildeo da Uniatildeo de 1991

51

feita nova reestruturaccedilatildeo da administraccedilatildeo puacuteblica O Ministeacuterio da Cultura perdeu o

status ministerial e passou a funcionar como Secretaria da Cultura da Presidecircncia da

Repuacuteblica Vaacuterias entidades puacuteblicas ligadas agrave cultura tambeacutem foram extintas como

a Fundaccedilatildeo Nacional de Artes (Funarte) a Fundaccedilatildeo Nacional de Artes Cecircnicas

(Fundacen) a Fundaccedilatildeo do Cinema Brasileiro (FCB) a Fundaccedilatildeo Cultural Palmares

(FCP) a Fundaccedilatildeo Nacional Proacute-Memoacuteria (Proacute-Memoacuteria) e a Fundaccedilatildeo Nacional

Proacute-Leitura (Proacute-Leitura) (BRASIL 1990a)

No mesmo dia da posse outras 22 medidas provisoacuterias20 foram assinadas

pelo novo presidente nuacutemero excessivo comparado ao exerciacutecio dos demais chefes

do poder executivo no periacuteodo democraacutetico A Medida Provisoacuteria Nordm 161 alterou a

legislaccedilatildeo do Imposto sobre a Renda e suspendeu por tempo indeterminado todos

os incentivos fiscais (BRASIL 1990b) Assim aleacutem do desmonte da estrutura estatal

para a cultura o setor tambeacutem teve paralisado a sua poliacutetica de financiamento a Lei

Sarney (Lei Nordm 75051986) Ressalta-se que a grande maioria destas medidas

provisoacuterias foi posteriormente acatada pelo Congresso Nacional e convertida em lei

demonstrando o consenso do poder legislativo com a poliacutetica em curso

O decorrer do ano de 1990 foi marcado por um vaacutecuo na poliacutetica nacional

de cultura de forma que os Estados e Municiacutepios passaram a sofrer pressatildeo para a

criaccedilatildeo de legislaccedilatildeo proacutepria de apoio cultural A cidade de Satildeo Paulo saiu agrave frente

com a Lei Municipal Nordm 10923 de 30 de dezembro de 1990 conhecida como Lei

Mendonccedila (SESI 2007)

Esta legislaccedilatildeo se inspirou na Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) buscando

criar a figura do mecenas cultural mas tentou corrigir alguns dos erros de controle

financeiro observados no acircmbito federal Novamente foi estimulado o apoio do setor

privado agrave aacuterea cultural por meio de isenccedilatildeo fiscal poreacutem o recurso deveria estar

vinculado a um projeto previamente aprovado pela Secretaria Municipal de Cultural

de Satildeo Paulo A deduccedilatildeo fiscal tambeacutem natildeo seria integral ficando limitada ao valor

de 70 do montante apoiado o qual seria descontado da quantia a ser paga pelo

contribuinte no ISSQN eou no IPTU (SAtildeO PAULO 1990)

Todavia as experiecircncias locais natildeo supriram a carecircncia de uma poliacutetica

nacional tanto que no dia 10 de marccedilo de 1991 o Secretaacuterio da Cultura da

20

As medidas provisoacuterias do governo do Presidente Fernando Collor (PRNAL) assim como demais atos puacuteblicos do poder executivo como um todo podem ser acompanhados no site da Casa Civil da Presidecircncia da Repuacuteblica Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03gt

52

Presidecircncia da Repuacuteblica Ipojuca Pontes foi substituiacutedo pelo socioacutelogo Seacutergio

Paulo Rouanet Sob nova direccedilatildeo a secretaacuteria apresentou ao Congresso Nacional o

Projeto de Lei Nordm 144821 de 22 de agosto de 1991 visando reformar a suspensa

Lei Sarney (Lei Nordm 75051986)

O projeto tramitou com pedido de urgecircncia e no dia 23 de dezembro

daquele ano deu origem agrave Lei Nordm 8313 que restabelecia os princiacutepios da Lei

Sarney (Lei Nordm 75051986) e criava o Programa Nacional de Apoio agrave Cultura

(PRONAC) A nova legislaccedilatildeo ficou popularmente conhecida como Lei Rouanet (Lei

Nordm 83131991) por ter sido promulgada no mandado do respectivo secretaacuterio

De acordo com Sarkovas (2011 p51) o Secretaacuterio Seacutergio Rouanet tinha

consciecircncia de que o ldquofinanciamento puacuteblico agrave cultura natildeo poderia ser regulado

exclusivamente pelos interesses mercadoloacutegicos eou pessoais inerentes ao

patrociacuteniordquo por isso aleacutem do mecanismo de mecenato cultural incluiu agrave proposta de

lei a criaccedilatildeo de outros mecanismos para incentivar projetos

Art 2deg O PRONAC seraacute implementado atraveacutes dos seguintes mecanismos I - Fundo Nacional da Cultura (FNC) II - Fundos de Investimento Cultural e Artiacutestico (FICART) III - Incentivo a projetos culturais [mecenato cultural] (BRASIL 1991 p1)

O antigo Fundo de Promoccedilatildeo Cultural (FPC) criado pela Lei Sarney (Lei

Nordm 75051986) e que pouco funcionou por ser uma opccedilatildeo concorrente ao

mecanismo de mecenato cultural foi transformado em Fundo Nacional de Cultura

(FNC) Agora aleacutem do recurso de isenccedilatildeo fiscal depositado pelo contribuinte o

fundo tambeacutem contava com recurso direto do Tesouro Nacional percentual das

loterias federais saldo remanescente de projetos do mecenato cultural dentre

outras formas (BRASIL 1991a)

O fundo seria administrado pela Secretaria da Cultura da Presidecircncia da

Repuacuteblica e tinha como diretriz o apoio a projetos culturais com importante caraacuteter

de identidade e diversidade nacional mas que ao mesmo tempo tambeacutem

possuiacutessem baixo atrativo comercial Os projetos selecionados natildeo seriam

financiados integralmente com o recurso puacuteblico pois estava previsto o apoio de ateacute

80 do recurso oriundo do fundo e o percentual restante como contrapartida da

21

Tracircmite do projeto de lei disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=192259gt

53

entidade cultural Cabe salientar que a contrapartida poderia ser mensurada

monetariamente por meio de bens ou serviccedilos oferecidos pela entidade cultural

(BRASIL 1991a)

A versatildeo de Fundo Nacional de Cultura (FNC) trazida pela Lei Rouanet

(Lei Nordm 83131991) conseguiu se operacionalizar por possuir fonte de arrecadaccedilatildeo

independente da destinaccedilatildeo direta do contribuinte Poreacutem o montante financeiro

originaacuterio do Tesouro Nacional e das demais fontes de fomento ainda era escasso

diante da diversidade de demandas culturais

Para Sarkovas (2011) outro problema enfrentado pelo Fundo foi a

carecircncia de princiacutepio puacuteblico na gestatildeo do recurso como a falta de transparecircncia

nos criteacuterios de seleccedilatildeo de projetos e o discutiacutevel meacuterito cultural das propostas

escolhidas Aleacutem disso em muitas vezes o poder executivo era o maior beneficiaacuterio

do proacuteprio Fundo ao destinar recurso para as suas entidades subsidiaacuterias ao inveacutes

de apoiar a produccedilatildeo cultural de iniciativa da sociedade civil

A outra modalidade de fomento criada pela Lei Rouanet (Lei Nordm

83131991) o Fundo de Investimento Cultural e Artiacutestico (FICART) visava

transformar alguns projetos culturais em objetos lucrativos no mercado financeiro de

accedilotildees Para isso o projeto aprovado seria convertido em um fundo monetaacuterio

(condomiacutenio) sem personalidade juriacutedica e em seguida dividido em vaacuterias quotas

As quotas seriam ofertadas a investidores no mercado financeiro de accedilotildees que

mediante o sucesso na execuccedilatildeo do projeto poderia receber os dividendos

(distribuiccedilatildeo do lucro) com isenccedilatildeo do Imposto sobre Operaccedilotildees de Creacutedito Cacircmbio

e Seguro ou relativas aos Tiacutetulos ou Valores Mobiliaacuterios (IOF) A administraccedilatildeo das

quotas seria feita por instituiccedilatildeo financeira cadastrada e fiscalizada pela Comissatildeo

de Valores Mobiliaacuterios (CVM) (BRASIL 1991a)

Este mecanismo tem tido pouca operaccedilatildeo inclusive havendo duacutevida

quanto agrave sua viabilidade A princiacutepio porque os projetos culturais satildeo de curto prazo

de execuccedilatildeo (maacuteximo de 24 meses) mas negociados em um mercado que visa o

retorno do investimento a meacutedio e longo prazos (acima de 24 meses) O mercado de

accedilotildees tambeacutem vive da especulaccedilatildeo no curto prazo poreacutem esta natildeo seria uma

caracteriacutestica aplicaacutevel ao negoacutecio cultural Por outro lado ainda existe a falta de

conhecimento e popularidade do mercado financeiro de accedilotildees para a grande maioria

das entidades culturais e dos apoiadores o que poderia afastar o aporte de recurso

54

A terceira modalidade de incentivo prevista tratava da reformulaccedilatildeo da

antiga modalidade de mecenato cultural criada pela Lei Sarney (Lei Nordm 75051986)

poreacutem inspirada nas alteraccedilotildees operacionais feitas pela Lei de Incentivo agrave Cultura da

Cidade de Satildeo Paulo - Lei Mendonccedila (Lei Municipal Nordm 109231990) O apoio do

contribuinte passava a ser vinculado a um projeto cultural previamente aprovado

pela Comissatildeo Nacional de Incentivo agrave Cultura oacutergatildeo colegiado ligado agrave Secretaria

da Cultura da Presidecircncia da Repuacuteblica

Apenas os apoios fiscais doaccedilatildeo e patrociacutenio satildeo mantidos na nova

legislaccedilatildeo de mecenato cultural poreacutem sem a existecircncia de deduccedilatildeo integral dos

valores No caso de apoiador pessoa fiacutesica era permitida a deduccedilatildeo no Imposto

sobre a Renda (IR) de 80 do valor das doaccedilotildees e 60 do valor dos patrociacutenios

observando o limite percentual de 3 do imposto ainda devido agrave Secretaria da

Receita Federal Jaacute a pessoa juriacutedica tributada na modalidade lucro real poderia

deduzir 40 do valor das doaccedilotildees e 30 do valor dos patrociacutenios observando

inicialmente o limite de 1 do imposto devido Para este uacuteltimo contribuinte tambeacutem

era permitido lanccedilar o valor do apoio (doaccedilatildeo ou patrociacutenio) como despesa

operacional havendo novamente a dupla incidecircncia de isenccedilatildeo fiscal (BRASIL

1991a)

Apesar da raacutepida aprovaccedilatildeo da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) no

Congresso Nacional o decreto que deveria regulamentar a lei teve prazo mais

longo A difiacutecil negociaccedilatildeo do decreto no poder executivo com concomitante

escacircndalo de corrupccedilatildeo envolvendo o Presidente da Repuacuteblica que mais tarde deu

iniacutecio ao processo de impeachment de Fernando Collor (PRNAL) deixou a temaacutetica

da cultura em segundo plano Somente no dia 26 de fevereiro de 1992 foi publicado

o Decreto Nordm 455 que estabelecia as regras de funcionamento da poliacutetica de

financiamento da cultura

No dia 29 de setembro de 1992 a Cacircmara dos Deputados acatou o

pedido de impeachment de Fernando Collor (PRNAL) afastando-o temporariamente

da presidecircncia No dia 2 de outubro o vice-presidente Itamar Franco (PMDBMG)

assumiu interinamente o cargo de chefe do poder executivo federal e fez a troca do

secretaacuterio Seacutergio Rouanet pelo intelectual literaacuterio Antocircnio Houaiss

A Medida Provisoacuteria Nordm 309 de 16 de outubro de 1992 fez a nova

reestruturaccedilatildeo administrativa do governo federal e a Cultura novamente volta a ser

tema ministerial com a recriaccedilatildeo do Ministeacuterio da Cultura (BRASIL 1992a) O agora

55

ministro de cultura Antocircnio Houaiss tinha como missatildeo reorganizar a poliacutetica de

Estado para a aacuterea cultural

Contudo a nova conjuntura governamental privilegiou um segmento da

aacuterea cultural No dia 11 de junho de 1993 foi enviado ao Congresso Nacional o

Projeto de Lei Nordm 390822 que buscava criar um mecanismo de fomento reservado

ao audiovisual Para Sarkovas (2011) os diretores e atores do setor cinematograacutefico

brasileiro por uma maior proximidade com o presidente em exerciacutecio conseguiram

espaccedilo para discutir um mecanismo de financiamento exclusivo que viesse suprir o

vaacutecuo estatal deixado pela extinta Empresa Brasileira de Filmes (EMBRAFILME)

Ao verificar a disposiccedilatildeo administrativa do recriado Ministeacuterio da Cultura

notamos a presenccedila de uma secretaria restrita ao segmento ndash Secretaria para o

Desenvolvimento Audiovisual diferindo das outras trecircs que eram de temaacuteticas gerais

ndash Secretaria de Informaccedilotildees Estudos e Planejamento Secretaria de Intercacircmbio e

Projetos Especiais e Secretaria de Apoio agrave Cultura Ainda em relaccedilatildeo aos oacutergatildeos

estatais ligados ao ministeacuterio foi criada a Comissatildeo Nacional de Incentivo agrave Cultura

para discutir a poliacutetica de financiamento do setor cultural mas paralelamente a ela

funcionava tambeacutem a Comissatildeo de Cinema a fim de debater unicamente sobre o

audiovisual Aparentemente a organizaccedilatildeo estatal privilegiava o setor audiovisual

(BRASIL 1992)

Independente das motivaccedilotildees o Projeto de Lei Nordm 39081993 tramitou

em regime de urgecircncia no Congresso Nacional e foi aprovado no dia 20 de julho de

1993 dando origem agrave Lei Nordm 8685 popularmente conhecida como Lei do

Audiovisual O modelo de fomento idealizado pela legislaccedilatildeo visava agrave criaccedilatildeo da

figura do mecenas por meio de duas modalidades de isenccedilatildeo fiscal ao contribuinte

do Imposto sobre a Renda (IR)

Na primeira modalidade contida no Art 1ordm da Lei do Audiovisual (Lei Nordm

86851993) o projeto de produtora independente23 previamente aprovado pelo

Ministeacuterio da Cultura estaria apto a receber recurso de pessoa fiacutesica ou juriacutedica O

valor do apoio poderia ser deduzido integralmente ateacute o limite de 3 do imposto

22

Tracircmite do projeto de lei disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=217037gt 23

As produtoras independentes satildeo agecircncias de audiovisual que possuem autonomia no desenvolvimento no seu conteuacutedo devido agrave falta de viacutenculo com empresas programadoras distribuidoras eou emissoras de televisatildeo Aleacutem disso natildeo possuem contrato de veto ou exclusividade comercial que impeccedila comercializaccedilatildeo de suas obras para terceiros

56

devido sobre a renda de pessoa fiacutesica e o limite de 1 para pessoa juriacutedica O

mesmo valor autorizado de deduccedilatildeo tambeacutem poderia ser lanccedilado como despesa

operacional diminuindo a quantia do IR a ser pago pelo contribuinte (BRASIL

1993b)

Na praacutetica o mecanismo gerava um benefiacutecio fiscal ao contribuinte

apoiador pois a dupla incidecircncia de deduccedilatildeo gerava um abatimento de 125 do

valor apoiado Aleacutem do mais o apoiador pode se tornar proprietaacuterio do direito de

comercializaccedilatildeo sobre a obra cinematograacutefica tendo participaccedilatildeo no lucro auferido

desde que a operaccedilatildeo de apoio tenha sido feita em corretora no mercado financeiro

de accedilotildees

Esta modalidade de mecenato cultural repetia a foacutermula de financiamento

da Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) com dupla incidecircncia de isenccedilatildeo fiscal no valor

apoiado mas ldquoinovavardquo ume vez que permitia ao contribuinte ser remunerado pelo

sucesso do projeto Aleacutem de natildeo existir recurso privado aplicado no setor

audiovisual o Estado brasileiro ainda permitia ao apoiador receber recurso com o

investimento puacuteblico

A segunda modalidade criada pelo Art 3ordm da lei teve como objetivo

incentivar o produtor estrangeiro agrave coproduccedilatildeo de obras nacionais cinematograacuteficas

(longa meacutedia e curta-metragem) telefilmes minisseacuteries ou a investir no

desenvolvimento de projetos cinematograacuteficos brasileiros de longa-metragem Para

isso o produtor estrangeiro que paga o Imposto sobre a Renda (IR) por conta da

exploraccedilatildeo comercial da sua obra audiovisual em territoacuterio nacional poderia apoiar

projetos de produtoras independentes aprovados pelo Ministeacuterio da Cultura O valor

do apoio poderia ser integralmente deduzido observando o limite de 70 do

imposto devido (BRASIL 1993b)

Esta segunda modalidade de mecenato do audiovisual tinha uma loacutegica

mais coerente com o interesse puacuteblico pois pensava em atrair o produtor

internacional para o cenaacuterio brasileiro incentivando a troca de experiecircncia A

possibilidade de construccedilatildeo de conhecimento e tecnologia cinematograacutefica nacional

poderia dar autonomia futura ao setor do audiovisual

Com a aprovaccedilatildeo da Lei do Audiovisual (Lei Nordm 86851993) faltava a

publicaccedilatildeo do decreto do poder executivo para a poliacutetica passar a funcionar

Paradoxalmente a questatildeo financeira tambeacutem era um problema vivenciado na

gestatildeo do Ministeacuterio da Cultura tanto que a insatisfaccedilatildeo com o baixo orccedilamento

57

somada aos problemas de sauacutede fizeram Antocircnio Houaiss deixar o cargo de

ministro em 1ordm de setembro de 1993 Ficou por conta do ministro Jerocircnimo

Moscardo aprovar o Decreto Nordm 974 em 8 de novembro de 1993 que habilitava o

pleno funcionamento da legislaccedilatildeo do mecenato do audiovisual

De acordo com Sarkovas (2011) o mecanismo de mecenato do

audiovisual natildeo trouxe recurso imediato para o setor pois o teto autorizado de 1

do imposto devido sobre a renda da pessoa juriacutedica era baixo para o apoio exclusivo

de projetos ndash apoiador exclusivo Tambeacutem faltava divulgaccedilatildeo do mecanismo o qual

natildeo era conhecido de grande parte dos produtores e apoiadores

Dificuldade similar na mobilizaccedilatildeo de recurso tambeacutem foi percebida na Lei

Rouanet (Lei Nordm 83131991) (SESI 2007) Tal constataccedilatildeo pode ser observada nos

nuacutemeros disponiacuteveis no sistema do Ministeacuterio da Cultura24 quando apenas dois

apoiadores participaram (R$ 2121278) em 1993 e sete apoiadores (R$

53375157) em 1994

A passagem de Jerocircnimo Moscardo pelo Ministeacuterio da Cultura foi raacutepida

e em 15 de dezembro de 1993 ele foi sucedido pelo advogado Luiz Roberto

Nascimento Silva que havia colaborado com a implantaccedilatildeo da legislaccedilatildeo de apoio

ao audiovisual A nomeaccedilatildeo do novo ministro de cultura aleacutem de mostrar a forccedila do

setor do audiovisual no governo do presidente Itamar Franco (PMDBMG) tambeacutem

vai ao encontro da afirmaccedilatildeo de Rubim (2011) sobre a instabilidade da poliacutetica

estatal de cultura entre os anos de 1985 a 1993 nomeou dez chefes diferentes para

a pasta

A posse do novo Presidente da Repuacuteblica Fernando Henrique Cardoso

(PSDBSP) em janeiro de 1995 natildeo alterou a estrutura ministerial no governo

federal poreacutem novos nomes passaram a ocupar os cargos dos primeiros escalotildees

O cientista poliacutetico Francisco Weffort passou a exercer o cargo de Ministro da

Cultura com a tarefa de dinamizar a poliacutetica de financiamento da aacuterea e encorajar a

parceria entre entidade cultural e iniciativa privada (SESI 2007)

Em 17 de maio deste ano foi publicado o Decreto Nordm 1494 que trazia

nova regulamentaccedilatildeo da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) mas sem grandes

alteraccedilotildees Foi uma atualizaccedilatildeo de nomenclaturas devido agrave alteraccedilatildeo de nome das

24

Sistema da Lei Federal de Incentivo agrave Cultura Disponiacutevel em lthttpsistemasculturagovbrsalicnetgt

58

entidades supervisionadas pelo Ministeacuterio da Cultura e da proacutepria pasta que agrave

eacutepoca do antigo decreto era Secretaria da Cultura da Presidecircncia da Repuacuteblica

(BRASIL 1995b)

A primeira alteraccedilatildeo relevante veio dois dias depois da promulgaccedilatildeo do

decreto com a publicaccedilatildeo da Medida Provisoacuteria Nordm 1003 ampliando o teto da

isenccedilatildeo fiscal cultural de 2 do imposto devido da pessoa juriacutedica 1 na Lei

Rouanet (Lei Nordm 83131991) e 1 na Lei do Audiovisual (Lei Nordm 86851993) para

o somatoacuterio de 5 (BRASIL 1995c) Em de 20 de junho de 1995 a medida

provisoacuteria foi acatada pelo Congresso Nacional e convertida na Lei Nordm 9064

No dia 22 de novembro daquele ano o Decreto Nordm 1711 regulamentou o

Art 34 da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) criando a Ordem do Meacuterito Cultural

Esta foi uma condecoraccedilatildeo nacional agraves pessoas de notoacuteria contribuiccedilatildeo agrave cultura do

paiacutes tendo na figura do Presidente da Repuacuteblica o Gratildeo-Mestre e o Ministro de

Estado da Cultura o Chanceler da ordem Embora natildeo tivesse impacto direto no

funcionamento do mecanismo de financiamento foi uma medida estatal para

reforccedilar a figura pessoal do mecenas cultural (BRASIL 1995d)

A Medida Provisoacuteria Nordm 1515 de 7 de novembro de 1996 fez nova

alteraccedilatildeo no limite percentual da isenccedilatildeo fiscal de pessoa juriacutedica mas agora para o

mecanismo de mecenato do audiovisual O valor que anteriormente era de 1

passou para 3 sem concorrer diretamente com o percentual da Lei Rouanet (Lei

Nordm 83131991) A pessoa juriacutedica tributada na modalidade lucro real estava

autorizada a destinar ateacute 8 do valor do imposto devido sobre a renda para a aacuterea

cultural (BRASIL 1996a)

O limite ampliado do audiovisual teve vida curta porque o Congresso

Nacional na conversatildeo da medida provisoacuteria na Lei Nordm 9323 de 5 de dezembro de

1996 vetou o aumento (BRASIL 1996b) A motivaccedilatildeo foi o conflito de normas uma

vez que o somatoacuterio de 8 ultrapassava a autorizaccedilatildeo existente de 5 na

legislaccedilatildeo do Imposto sobre a Renda (IR) Logo voltou a vigorar o percentual de 4

para a Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) e mais 1 na Lei do Audiovisual (Lei Nordm

86851993)

Outra alteraccedilatildeo pra movimentar financeiramente o setor cultural foi a

efetivaccedilatildeo da transferecircncia do recurso das loterias federais para o Fundo Nacional

de Cultura (FNC) regulamentada pelo Decreto Nordm 2290 de 4 de agosto de 1997

(BRASIL 1997a) Esta foi uma opccedilatildeo estrateacutegica de receita perioacutedica e contiacutenua ao

59

fundo tendo em vista o deacutebil repasse direto do Tesouro Nacional No entanto a

escolha por uma fonte de receita extraorccedilamentaacuteria (lucro das loterias federais)

reflete um enfraquecimento no debate do elemento social no seio do orccedilamento

puacuteblico local onde satildeo definidas as prioridades das poliacuteticas do Estado brasileiro

O Ministeacuterio da Cultura continuava a estudar alteraccedilotildees na poliacutetica de

financiamento cultural para dar mais vigor ao mecanismo de mecenato cultural

Assim em 24 de setembro de 1997 foi publicada a Medida Provisoacuteria Nordm 1589 com

o intuito de modernizar e simplificar os tracircmites dos projetos (BRASIL 1997b) A

medida provisoacuteria foi encaminhada ao Congresso Nacional junto com o ofiacutecio de

justificativa25

[] busca-se os procedimentos simplificar os procedimentos administrados de tramitaccedilatildeo dos processos eliminando-se a submissatildeo e a aprovaccedilatildeo dos projetos culturais a oacutergatildeos colegiados como o Comitecirc Assessor e a Comissatildeo Nacional de Incentivo agrave Cultura [] (BRASIL 1997c p15659)

A extinccedilatildeo do Comitecirc Assessor oacutergatildeo formado exclusivamente por

servidores puacuteblicos e responsaacutevel por representar o interesse estatal na poliacutetica

simbolizou a reduccedilatildeo da intervenccedilatildeo do Estado brasileiro na decisatildeo dos rumos da

poliacutetica de financiamento cultural Poreacutem a supressatildeo do oacutergatildeo natildeo foi

acompanhada pela criaccedilatildeo de uma diretriz puacuteblica para o mecenato cultural o que

acabou elevando o peso das escolhas do setor privado na alocaccedilatildeo e

direcionamento do recurso puacuteblico

O segundo eixo de alteraccedilotildees proposto pela Medida Provisoacuteria Nordm

15891997 teve como ecircnfase criar maior atrativo ao setor privado aumentando o

percentual de deduccedilatildeo fiscal do apoio e privilegiando as manifestaccedilotildees culturais que

o Ministeacuterio da Cultura julgou mais fraacutegeis naquele momento (BRASIL 1997b)

As mudanccedilas promoveram o funcionamento de dois mecanismos de

mecenato cultural dentro da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) O primeiro regido

pelo Art 18 permitia que os projetos de a) artes cecircnicas b) livros de valor artiacutestico

literaacuterio ou humaniacutestico c) muacutesica erudita ou instrumental d) circulaccedilatildeo de

exposiccedilotildees de artes plaacutesticas e) doaccedilotildees de acervos para bibliotecas puacuteblicas e

25

O oficio ldquoEM Interministerial Nordm 01897rdquo acompanhou a proposta de alteraccedilatildeo da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) encaminhada pelo Ministeacuterio da Cultura ao Presidente da Repuacuteblica que por sua vez tambeacutem o despachou ao Congresso Nacional como carta de motivaccedilatildeo do poder executivo Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfedmedpro1997medidaprovisoria-1589-24-setembro-1997-376673-exposicaodemotivos-146331-pehtmlgt

60

para museus tivessem 100 de deduccedilatildeo fiscal Jaacute os projetos das demais

categorias culturais seriam guiados pelo Art 26 que previa a deduccedilatildeo fiscal de 80

nas doaccedilotildees e 70 nos patrociacutenios de pessoa fiacutesica e 40 nas doaccedilotildees e 30

nos patrociacutenios de pessoa juriacutedica Mas para esta uacuteltima contribuinte tambeacutem era

permitido o lanccedilamento do apoio como despesa operacional (BRASIL 1997)

Segundo Sarkovas (2011) a escolha das manifestaccedilotildees culturais do Art

18 foi feita de forma arbitraacuteria e levou em consideraccedilatildeo apenas o relacionamento

que alguns segmentos culturais tinham com o atual governo Por sua vez Brant

(2004) argumenta que a deduccedilatildeo integral das aacutereas indicadas pelo Art 18 foi uma

forma de privilegiar a cultura tradicionalmente institucionalizada e tida como

sinocircnimo de culta em detrimento das manifestaccedilotildees culturais populares

negligenciadas durante toda a gestatildeo do ministro Francisco Weffort

A Medida Provisoacuteria Nordm 15891997 ainda autorizou a inclusatildeo do

pagamento de serviccedilo especializado para a elaboraccedilatildeo de proposta e captaccedilatildeo de

recurso por meio do acreacutescimo do paraacutegrafo uacutenico no Art 28 Este serviccedilo deixava

de ser interpretado como intermediaccedilatildeo do objeto da proposta como acontecia

anteriormente e passava a ser considerado um lobby autorizado para aproximar a

entidade cultural das empresas privadas O serviccedilo foi autorizado a ser incluiacutedo

como despesa do projeto cultural e custeado em grande parte com recurso puacuteblico

(BRASIL 1997b)

De acordo com o SESI (2007) o profissional prestador deste serviccedilo era

detentor do conhecimento das aacutereas tributaacuteria de financcedila e de marketing ainda natildeo

dominadas pela maioria das entidades culturais Por isso este profissional permitiu

uma maior interlocuccedilatildeo do setor cultural com as empresas contribuindo para criar

um mercado de negoacutecios culturais (marketing cultural) e de fortalecimento de

imagem institucional

A consolidaccedilatildeo normativa de todas as mudanccedilas da Medida Provisoacuteria

Nordm 15891997 natildeo foi tema faacutecil para o proacuteprio poder executivo Tanto que a ela foi

reeditada duas vezes (Nordm 1589-1 de 23101997 e Nordm 1589-2 de 20111997) e

antes do teacutermino legal para sua votaccedilatildeo no Congresso Nacional foi alterada pelas

Medidas Provisoacuterias Nordm 1611 (reeditada 12 vezes) Nordm 1739 (reeditada 6 vezes) e

Nordm 1871 (reeditada 4 vezes) ateacute dar origem agrave Lei Nordm 9847 de 23 de novembro de

1999

61

As alteraccedilotildees iniciadas em 1997 fizeram circular mais recurso financeiro

no mecanismo de mecenato cultural Todavia o receio do governo federal em

ultrapassar a meta da renuacutencia fiscal prevista para o ano (1997) o levou agrave publicaccedilatildeo

da Medida Provisoacuteria Nordm 1602 de 14 de novembro de 1997 alterando mais uma

vez o percentual de limite da isenccedilatildeo fiscal dos contribuintes O valor de apoio da

pessoa juriacutedica foi ajustado em 4 do imposto devido sobre a renda para a Lei

Rouanet (Lei Nordm 83131991) mas com 1 autorizado pela Lei do Audiovisual (Lei

Nordm 86851993) concorrente Mais tarde a medida provisoacuteria foi convertida na Lei Nordm

9532 em 10 de dezembro de 1997 (BRASIL 1995d)

Segundo Brant (2004) para aleacutem do pressuposto de modernizaccedilatildeo e

celeridade do mecanismo de mecenato cultural as mudanccedilas na legislaccedilatildeo foram

uma resposta do governo federal para o mercado que estava bastante tendencioso

a apoiar apenas os projetos de audiovisual devido o maior benefiacutecio fiscal

O conjunto de mudanccedilas no mecanismo de mecenato surtiu efeito pois

foi crescente o nuacutemero de projetos aprovados e efetivamente captados aleacutem do

aumento na quantidade de apoiadores conforme pode ser observado nos nuacutemeros

disponiacuteveis no sistema do Ministeacuterio da Cultura Para Moiseacutes (1998) o governo

federal tambeacutem contribuiu com o crescimento do mecenato cultural participando

ativamente com as empresas puacuteblicas

Apesar de o graacutefico demonstrar a evoluccedilatildeo no mecanismo de mecenato

cultural devemos lembrar que grande parte do recurso circulante eacute de origem

puacuteblica oriunda da isenccedilatildeo fiscal Desta forma potencialmente o recurso financeiro

existiria por meio do recolhimento do Imposto sobre a Renda (IR) poreacutem natildeo teria

garantia de aplicaccedilatildeo integral na aacuterea da cultura uma vez que a alocaccedilatildeo

dependeria do debate que envolve a construccedilatildeo do orccedilamento puacuteblico

62

Fonte Elaborado pelo autor a partir dos dados do Ministeacuterio da Cultura atualizado em 29 de maio de 2016

Por isso a escolha por uma via extraorccedilamentaria deve ser regularmente

avaliada pelo Ministeacuterio da Cultura pelo Congresso Nacional pelo Conselho

Nacional de Cultura e demais oacutergatildeos de participaccedilatildeo mista (sociedade civil e poder

puacuteblico) pois se trata de um recurso puacuteblico que natildeo possui as tradicionais amarras

do Estado

Gruman (2011) chama a atenccedilatildeo para natildeo se perder de vista a finalidade

da legislaccedilatildeo em atrair capital privado para a aacuterea poreacutem alerta para a excessiva

mercantilizaccedilatildeo da cultura durante o governo do presidente Fernando Henrique

Cardoso (PSDBSP) Para o autor a cultura perde a identidade de elemento social

da cidadania e passa a ser tratado como mercadoria a ser enquadrada agraves ldquoleis de

mercadordquo

A reeleiccedilatildeo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDBSP) e a

manutenccedilatildeo do Ministeacuterio da Cultura na reestruturaccedilatildeo administrativa feita pela

Medida Provisoacuteria Nordm 1651-43 de 5 de maio de 1998 marcam um periacuteodo de

estabilidade na aacuterea estatal da cultura (BRASIL 1998b) Para Rubim (2011) um dos

grandes problemas no periacuteodo foi que o mecenato cultural virou um quase sinocircnimo

Graacutefico 1 ndash Desempenho da Lei Rouanet no periacuteodo de 1993 a 1998

63

da poliacutetica cultural muito embora esta segunda fosse mais ampla e necessaacuteria para

direcionar o financiamento do setor

Em 6 de setembro de 2001 a Medida Provisoacuterio Nordm 2228 criou a Poliacutetica

Nacional do Cinema e a Agecircncia Nacional do Cinema (ANCINE) aleacutem de outros

oacutergatildeos do setor para dar direcionamento agrave poliacutetica de financiamento cinematograacutefico

brasileiro (BRASIL 2001b) A medida provisoacuteria poderia sinalizar para uma alteraccedilatildeo

na gestatildeo da cultura com maior regulaccedilatildeo do Estado brasileiro poreacutem na verdade

foi uma resposta pontual ao ldquoDiagnoacutestico da cadeia produtiva do audiovisualrdquo que

apontava para o fracasso do mecanismo para criar a sustentabilidade do setor

(SARKOVAS 2011 p53) A medida provisoacuteria tambeacutem prorrogou a vigecircncia da Lei

do Audiovisual (Lei N 86851993) que estava prevista para durar 10 anos ou seja

ateacute 2003

O decorrer da gestatildeo do ministro Francisco Weffort natildeo trouxe outras

novidades para a aacuterea cultural a natildeo ser o contiacutenuo esvaziamento da importacircncia

do Ministeacuterio da Cultura o qual segundo Rubim (2011) fechou o ano de 2002 com

o percentual de 014 de participaccedilatildeo no orccedilamento puacuteblico da Uniatildeo Enquanto

isso o mecanismo de mecenato cultural seguia funcionando sem contingenciamento

de despesas e com valor de renuacutencia fiscal quase igualado agrave dotaccedilatildeo orccedilamentaacuteria

do ministeacuterio (SESI 2007)

A eleiccedilatildeo e posse do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (PTSP) em

2002 manteve o status ministerial para a cultura poreacutem teve o compositor e cantor

Gilberto Gil como o primeiro Ministro de Estado de Cultura desta gestatildeo Para Rubim

(2011) o novo ministro buscou resgatar o protagonismo do Estado no

desenvolvimento de uma poliacutetica nacional de cultura e ampliar a concepccedilatildeo da aacuterea

para aleacutem do tradicional erudito e claacutessico

Em relaccedilatildeo agrave reforma e aprimoramento da Lei Rouanet (Lei Nordm

83131991) Sarkovas (2011) comenta que o processo de visita e consulta

democraacutetica a vaacuterios municiacutepios do paiacutes movimento denominado Cultura para

Todos iniciado pelo ministro Gilberto Gil foi bastante longo e pouco efetivo devido agrave

falta de um plano estrateacutegico

Todavia no dia 27 de abril de 2006 foi publicado o Decreto Nordm 576

trazendo nova regulamentaccedilatildeo agrave Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) No Art 2ordm satildeo

listadas 13 finalidades para o apoio da poliacutetica de financiamento o que caracteriza

uma iniciativa do poder executivo em traccedilar uma diretriz puacuteblica ao mecanismo Foi

64

criada para o Fundo Nacional de Cultura uma comissatildeo exclusiva formada por

servidores puacuteblicos para avaliar os projetos e definir criteacuterios para a liberaccedilatildeo do

recurso atendendo a uma antiga reivindicaccedilatildeo do setor cultural por mais

transparecircncia na gestatildeo (BRASIL 1997e)

Por sua vez no dia 12 de dezembro de 2007 foi publicado o Decreto Nordm

6304 trazendo novo regramento ao funcionamento da Lei do Audiovisual (Lei Nordm

86851993) O decreto natildeo alterou a forma de operaccedilatildeo do mecanismo de

mecenato do audiovisual poreacutem trouxe maior institucionalidade ao apresentar regras

que estavam expressas apenas em portarias ou instruccedilotildees normativas

O ministro Gilberto Gil continuou no cargo ateacute o dia 30 de julho de 2008

quando acabou se afastando por motivos pessoais Foi substituiacutedo pelo Secretaacuterio

Executivo Juca Ferreira que ficou ateacute o final do mandato do Presidente da

Repuacuteblica Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (PTSP) O ministro Juca Ferreira tambeacutem teve

passagem no governo da Presidente da Repuacuteblica Dilma Rousseff (PTDF) no

periacuteodo de 1ordm de janeiro de 2015 a 12 de maio de 2016 e tem como marca o

discurso sobre o resgate da contrapartida de capital privado na Lei Rouanet (Lei Nordm

83131991) Este debate passa pelo enfretamento do tema no poder legislativo mas

encontra restriccedilatildeo no proacuteprio setor cultural por receio de queda de recurso para a

aacuterea

Enfim apesar da posse de um governo de matriz mais igualitaacuteria e de

intervenccedilatildeo do Estado nas aacutereas sociais a poliacutetica de financiamento ao setor cultural

continuou tendo grande viacutenculo com o modelo de mecenato Buscou-se

democratizar o acesso ao mecanismo para novos segmentos culturais poreacutem a

foacutermula de investimento quase integral de recurso puacuteblico pela via extraorccedilamentaacuteria

continuou intacta

32 A criaccedilatildeo do mecenato esportivo

Podemos notar que o percurso de elaboraccedilatildeo da poliacutetica de

financiamento da cultura natildeo foi linear nem tampouco seguiu uma diretriz de

desenvolvimento Foi construiacuteda por uma confluecircncia de atores e pressotildees setoriais

que variaram durante os governos Mas ao longo de todo o periacuteodo uma

65

caracteriacutestica se manteve comum a todos os governantes a busca de promoccedilatildeo das

entidades culturais atraveacutes da aproximaccedilatildeo com o setor privado

A princiacutepio a promoccedilatildeo se daria pelo incentivo agrave criaccedilatildeo da figura do

mecenas cultural tendo como plano de fundo a dificuldade econocircmica vivida pelo

Estado brasileiro Poreacutem a instabilidade estatal na aacuterea da cultura marcada pela

sucessiva troca de ministros e pela criaccedilatildeoextinccedilatildeo de entidades responsaacuteveis pela

regulaccedilatildeo dos setores culturais esmaeceu o objetivo primordial do mecanismo de

fundir recurso privado ao capital puacuteblico investido

Vaacuterias reformas foram realizadas no mecenato cultural e aos poucos o

Estado brasileiro foi se afastando da posiccedilatildeo de orientador do financiamento cultural

Ao mesmo tempo em que os recursos puacuteblicos se distanciavam mais mais era

injetado de forma indireta no setor por meio da ampliaccedilatildeo nos atrativos fiscais para

o setor privado A missatildeo do mecanismo migrava do foco de atrair capital privado

para estimular um forte mercado cultural baseado no marketing e no fortalecimento

de marcas institucionais

A maior oferta de recurso expandiu a produccedilatildeo cultural no paiacutes mas

tambeacutem reforccedilou desigualdades geograacuteficas e de manifestaccedilotildees Problemas de

concentraccedilatildeo de recurso em regiotildees onde tradicionalmente jaacute tinham boa estrutura

institucional e a carecircncia de apoio financeiro agraves expressotildees populares satildeo dilemas

a serem superados pela sociedade e pelo Estado por conta dos arranjos da poliacutetica

de financiamento (GRUMAN 2011)

Contudo independente das imperfeiccedilotildees de funcionamento o mecanismo

de mecenato tem sido um modelo aacutegil para levar o recurso agraves iniciativas oriundas da

sociedade civil organizada Tanto que tem sido foco de expansatildeo para outras aacutereas

de poliacutetica social como esporte sauacutede idoso crianccedila e adolescente pesquisa etc

Mas a proliferaccedilatildeo do mecanismo de mecenato natildeo pode eliminar o enfretamento

que a sociedade e o poder legislativo loacutecus do debate puacuteblico tecircm que fazer para

garantir os rumos de desenvolvimento da cidadania social

O esporte foi o segundo elemento social a buscar um mecanismo de

financiamento pela via da isenccedilatildeo fiscal e aproximaccedilatildeo com o setor privado nos

moldes da Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) Ainda durante as discussotildees de

elaboraccedilatildeo do novo texto constitucional o Deputado Federal Antocircnio Carlos Mendes

66

Thame (PSDBSP) apresentou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei Nordm 41826 de

2 de marccedilo de 1988 tratando sobre benefiacutecios fiscais para o esporte amador

Como justificativa o autor da proposta mencionou o apreccedilo da populaccedilatildeo

pela praacutetica esportiva reforccedilando a perspectiva do objeto como elemento social da

cidadania conforme estava sendo trabalhado na Assembleia Nacional Constituinte

Por outro lado o deputado exibiu o setor privado como importante provedor deste

direito haja vista que a ldquoassistecircncia governamental faz-se de modo desorganizado e

middotquase insignificanterdquo (BRASIL 1988b p438) Por isso a necessidade de ampliar o

financiamento agraves entidades esportivas como meio de expandir o acesso da

populaccedilatildeo ao esporte

O projeto teve tracircmite raacutepido nas Comissotildees de Constituiccedilatildeo e Justiccedila de

Esporte e Turismo e de Financcedilas na Cacircmara dos Deputados imprimindo apenas

uma emenda ao texto original No dia 14 de setembro de 1988 o relator Deputado

Federal Maacutercio Braga (PMDBRJ) apresentou na plenaacuteria da casa a aprovaccedilatildeo do

meacuterito da proposta Poreacutem ao pronunciar sobre o tema argumentou acerca do

deferimento fazendo uma relaccedilatildeo direita entre o baixo investimento no esporte

amador e a falta de profissionalismo do setor Ou seja o deputado estava

defendendo o esporte amador como uma sequecircncia evolutiva para o esporte

profissional e natildeo como duas possiacuteveis expressotildees do fenocircmeno esportivo

Na sua justificaccedilatildeo o ilustre representante revela o seu intuito de proteger o esporte amador praacutetica extremamente apreciada pelo povo e que tem suprido geralmente a ausecircncia de recursos para o profissionalismo Somente as entidades particulares contribuem para essa atividade esportiva sem qualquer assistecircncia do Estado Natildeo pode o Poder Puacuteblico ignorar o amadorismo desportivo no Paiacutes motivo dos nossos modestos desempenhos nos jogos oliacutempicos Natildeo temos como e nem por que discordar da justificaccedilatildeo muito menos dos termos do Projeto que prevecirc detalhadamente sua pr6pria execuccedilatildeo natildeo faltando a penalogia para os infratores Far-se-ia com o desporto amador o mesmo que o Presidente Sarney tem buscado fazer pela cultura (BRASIL 1988c p2465)

Apesar da contradiccedilatildeo terminoloacutegica do relator o projeto foi aprovado na

sessatildeo e encaminhado para apreciaccedilatildeo do Senado Federal No dia 25 de novembro

de 1988 o projeto retornou agrave Cacircmara dos Deputados com nove emendas ao texto

original Poucos dias depois foi reapresentado na sessatildeo plenaacuteria da casa e

26

Projeto de Lei Nordm 418 Disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=176602gt

67

aprovado com todas as indicaccedilotildees do Senado Federal O projeto seguiu para a

promulgaccedilatildeo do Presidente Joseacute Sarney (PMDBMA) mas no dia 21 de dezembro

foi vetado sob a justificativa de incompatibilidade teacutecnica da legislaccedilatildeo tendo em

vista a recente reforma da lei do Imposto sobre a Renda (IR)

O projeto que visava criar a figura do mecenas para o esporte pelo

estiacutemulo fiscal mas tambeacutem tinha isenccedilatildeo do Imposto sobre Produto Industrializado

(IPI) e Imposto sobre Importaccedilatildeo (II) para a aquisiccedilatildeo de equipamentos esportivos e

autorizaccedilatildeo de envio de recurso financeiro livre de imposto para atleta ou entidade

esportiva que estivesse fora do paiacutes participando de competiccedilatildeo internacional foi

avaliado como excessivo O conjunto de desoneraccedilatildeo tributaacuteria e a dificuldade de

controle fiscal reforccedilaram a justificativa de veto do presidente (BRASIL 1988d)

No retorno do projeto agrave Cacircmara dos Deputados foi instituiacuteda Comissatildeo

Parlamentar Mista para avaliar o veto presidencial No dia 22 de marccedilo de 1989 o

Deputado Federal Denisar Arneiro (PMDBRJ) fez um discurso na sessatildeo plenaacuteria

defendendo os benefiacutecios do Projeto de Lei Nordm 4181988 No entanto mais uma

vez a defesa do incentivo fiscal natildeo estava na garantia do direito social ao esporte

agora jaacute consagrado no Art 217 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 mas na

necessidade de massificar a praacutetica esportiva visando aumentar a base do esporte

de alto rendimento

Sr Presidente Srordf e Srs Deputados o que eacute necessaacuterio para a Fabricaccedilatildeo de um atleta Por que defendemos que o Brasil precisa urgentemente igualar-se agraves Grandes naccedilotildees esportivas do mundo Por considerarmos que estaacute em nossas matildeos a soluccedilatildeo que julgamos simples de contarmos com a boa vontade hoje do Congresso Nacional rejeitando o veto do Sr Presidente da Repuacuteblica ao Projeto de Lei Nordm 418-D88 Poderiacuteamos nos estender mais dando alguns paracircmetros para a formaccedilatildeo de um atleta que natildeo eacute tatildeo simples como parece mas que depende de uma massificaccedilatildeo esportiva a fim de revelar novos valores Teriacuteamos depois a avaliaccedilatildeo dos atletas com um periacuteodo de adestramento que depende de a) tratamento meacutedico b) alimentaccedilatildeo adequada c) escolaridade necessaacuteria de assimilaccedilatildeo mental d) desenvolvimento teacutecnico e taacutetico e) manutenccedilatildeo do indiviacuteduo para poder competir f) famiacutelia com suporte emocional do atleta (BRASIL 1989a p1400)

Em 5 de abril de 1989 a Cacircmara dos Deputados rejeitou o veto

presidencial e manteve a aprovaccedilatildeo do texto com as vaacuterias isenccedilotildees fiscais O

projeto foi reencaminhado ao presidente Joseacute Sarney (PMDBMA) que natildeo se

pronunciou sobre o tema e tatildeo pouco promulgou a lei Por esgotamento do prazo

legal para manifestaccedilatildeo do poder executivo o projeto foi convertido na Lei Nordm 7752

68

de 14 de abril de 1989 pelo presidente do Senado Federal Nelson Carneiro

(PMDBRJ)

Desta forma em aparente desacordo entre poder executivo e legislativo

foi aprovada a primeira lei de incentivo fiscal ao esporte no paiacutes a Lei Mendes

Thame (Lei Nordm 77521989) A nova legislaccedilatildeo autorizava trecircs modalidades de apoio

ao esporte doaccedilatildeo patrociacutenio e investimento A primeira tratava da transferecircncia

definitiva de bens ou dinheiro agrave entidade esportiva mas sem retorno financeiro ou

publicitaacuterio para o apoiador O suporte financeiro agrave categoria de base esportiva ateacute o

niacutevel Junior tambeacutem tinha status de doaccedilatildeo logo sendo permitida a deduccedilatildeo integral

do valor apoiado O patrociacutenio caracterizava pela promoccedilatildeo do apoiador por meio

da atividade esportiva mas sem proveito financeiro ou patrimonial direto Nesta

modalidade era permitida a deduccedilatildeo de ateacute 80 do valor patrocinado Jaacute o

investimento permitia que o apoiador tivesse retorno financeiro ou patrimonial sobre

a accedilatildeo esportiva Por isso era autorizada a deduccedilatildeo maacutexima de 50 da quantia

investida (BRASIL 1989b)

Nas modalidades patrociacutenio e investimento a pessoa juriacutedica ainda tinha o

incentivo de acumular anualmente mais 5 de deduccedilatildeo fiscal ateacute alcanccedilar o

percentual similar agrave doaccedilatildeo (100) para cada ano de apoio ininterrupto a projeto

esportivo Desta maneira o apoio posterior a dez anos na modalidade investimento

ou 4 anos na patrociacutenio geraria a deduccedilatildeo integral e apesar da criaccedilatildeo do viacutenculo

da entidade esportiva com o setor privado o financiamento passaria a ser todo de

origem puacuteblica pela via da isenccedilatildeo fiscal

A pessoa fiacutesica estava autorizada a apoiar ateacute o limite de 10 da sua

renda bruta enquanto a pessoa juriacutedica o valor de apoio era de 4 do imposto

devido sobre a renda A legislaccedilatildeo aleacutem de criar o mecanismo de mecenato

esportivo de forma bastante parecida com a idealizada pela Lei Sarney (Lei Nordm

75051986) tambeacutem criava benefiacutecios tributaacuterios agrave cadeia do esporte de

rendimento O atleta em competiccedilatildeo oficial fora do paiacutes e com devida autorizaccedilatildeo do

Conselho Nacional de Desportos (CND) ficava dispensado do pagamento de

qualquer imposto sobre empreacutestimo financeiro operaccedilatildeo de cambio e compra de

passagem internacional Por sua vez a entidade esportiva teria isenccedilatildeo integral do

Imposto sobre Importaccedilatildeo (II) para a aquisiccedilatildeo de equipamento esportivo de

fabricaccedilatildeo estrangeira que natildeo tivesse similar nacional Mais tarde a Lei Nordm 7988

69

de 28 de dezembro de 1989 alterou a isenccedilatildeo de 100 do Imposto sobre

Importaccedilatildeo (II) para 50

A Lei Mendes Thame (Lei Nordm 77521989) exibiu no Art 2ordm as aacutereas de

intervenccedilatildeo onde podemos notar accedilotildees tanto de estiacutemulo ao esporte amador

quanto ao de rendimento muito embora a legislaccedilatildeo se anunciasse como exclusiva

para o esporte amador

Art 2ordm Para os objetivos da presente Lei consideram-se atividades desportivas I - a firmaccedilatildeo desportiva escolar e universitaacuteria II - o desenvolvimento de programas desportivos para o menor carente o idoso e o deficiente fiacutesico III - o desenvolvimento de programas desportivos nas proacuteprias empresas em benefiacutecio de seus empregados e respectivos familiares IV - conceder precircmios a atletas nacionais em torneios e competiccedilotildees realizados no Brasil V - doar bens moacuteveis ou imoacuteveis a pessoa juriacutedica de natureza desportiva cadastrada no Ministeacuterio da Educaccedilatildeo VI - o patrociacutenio de torneios campeonatos e competiccedilotildees desportivas amadoras VII - erigir ginaacutesios estaacutedios e locais para praacutetica de desporto VIII - doaccedilatildeo de material desportivo para entidade de natureza desportiva IX - praacutetica de jogo de xadrez X - doaccedilatildeo de passagens aeacutereas para que atletas brasileiros possam competir no exterior XI - outras atividades assim consideradas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (BRASIL 1989b p1 grifo nosso para destacar o incentivo ao esporte de

rendimento)

O controle no cadastro das entidades esportivas e na operacionalizaccedilatildeo

da Lei Mendes Thame (Lei Nordm 77521989) ficou sob a responsabilidade do

Conselho Nacional de Desportos (CND) na eacutepoca oacutergatildeo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

A discussatildeo no poder executivo perdurou durante o ano de 1989 e somente no dia

18 de dezembro foi publicado o Decreto Nordm 98595 regulamentando o

funcionamento do mecanismo de mecenato esportivo Cabe ressaltar que o decreto

ao inveacutes de utilizar o termo esporte amador usou a expressatildeo esporte natildeo

profissional como maneira de delimitar a natildeo utilizaccedilatildeo do recurso para o esporte

profissional e de alto rendimento

Em 13 de marccedilo de 1990 a Instruccedilatildeo Normativa Nordm 31 da Secretaria da

Receita Federal normatizou a forma dos depoacutesitos de apoio ao mecenato esportivo

autorizando o pleno funcionamento do mecanismo (BRASIL 1990c) Todavia dois

dias depois com a posse do novo Presidente da Repuacuteblica Fernando Collor

(PRNAL) foi publicada a Medida Provisoacuteria Nordm 161 alterando a legislaccedilatildeo do

70

Imposto sobre a Renda (IR) e suspendendo por tempo indeterminado todos os

incentivos fiscais (BRASIL 1990b)

Algumas isenccedilotildees fiscais voltaram a vigorar no paiacutes como o caso do

mecenato cultural mas a poliacutetica de financiamento para o esporte criada pela Lei

Mendes Thame (Lei Nordm 77521989) natildeo foi mais debatida Parte do esquecimento

desta legislaccedilatildeo tem haver com a divergecircncia de conceitos em relaccedilatildeo ao debate

conduzido na Assembleia Nacional Constituinte Isto eacute a Lei Mendes Thame (Lei Nordm

77521989) tinha grande fundamentaccedilatildeo na Lei Nordm 62511975 a qual era entendida

como ultrapassada para a nova concepccedilatildeo do fenocircmeno esportivo Desta forma era

necessaacuterio discutir a legislaccedilatildeo esportiva antes de pensar em uma poliacutetica de

financiamento para o setor

A nova organizaccedilatildeo estatal dada pela Medida Provisoacuteria Nordm 150 de 15 de

marccedilo de 1990 criou uma estrutura que apoiava o desenvolvimento do esporte

nacional Cabe mencionar que enquanto o setor cultural amargava o rebaixamento

do Ministeacuterio da Cultura ao status de Secretaria da Cultura da Presidecircncia da

Repuacuteblica o setor esportivo comemorava a criaccedilatildeo da Secretaria do Desporto da

Presidecircncia da Repuacuteblica27 (BRASIL 1990a)

Somente apoacutes a superaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo de uma norma geral (Lei Zico -

Lei Nordm 86721993 e depois Lei Peleacute - Lei Nordm 9615) a elevaccedilatildeo do tema a niacutevel

ministerial (Ministeacuterio do Esporte e Turismo 1999 a 2002 Ministeacuterio do Esporte a

partir de 2003) a formalizaccedilatildeo de uma poliacutetica de fomento ao esporte de alto

rendimento (Lei AgneloPiva - Lei Nordm 102642001) e a organizaccedilatildeo de dois foacuteruns

nacionais de debate (a 1ordf Conferecircncia Nacional de Esporte em 2004 e a 2ordf

Conferecircncia Nacional de Esporte em 2006) a aacuterea do esporte se mostrou madura

para reivindicar mais recurso por meio da ampliaccedilatildeo da poliacutetica de financiamento

Os primoacuterdios do corrente modelo de mecenato esportivo surgiram do

Projeto de Lei Nordm 136728 de 01 de julho de 2003 do Deputado Federal Bismarck

Maia (PSDBCE) O projeto teve tracircmite demorado pois vaacuterias outras propostas29 de

27

Antes da criaccedilatildeo da Secretaria do Desporto da Presidecircncia da Repuacuteblica a temaacutetica do esporte era atribuiacuteda agrave Secretaria de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desporto oacutergatildeo vinculado ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo 28

Tracircmite do projeto de lei disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=122383gt 29

Os demais projetos de lei que foram apresentados na Cacircmara dos Deputados e apreciados para compor o texto final do Projeto de Lei Nordm 13672003 foi PL Nordm 1663 (12082003) - Deputado Federal Antocircnio Carlos Mendes Thame (PSDBSP) PL Nordm 2331 (21102003) - Deputado Federal Ronaldo Vasconcellos (PTBMG) PL Nordm 4207 (06102004) - Deputado Federal Takayama

71

conteuacutedo similar foram apresentadas e incorporadas ao texto original durante sua

anaacutelise na Comissatildeo do Turismo e Desporto da Cacircmara dos Deputados

Em setembro de 2003 o Deputado Federal Bismarck Maia (PSDBCE)

solicitou agrave presidecircncia da Cacircmara dos Deputados a realizaccedilatildeo de uma audiecircncia

puacuteblica com os representantes do Comitecirc Oliacutempico Brasileiro (COB) da Comissatildeo

Nacional de Atletas (CNA) e da Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento

para auxiliarem no parecer da comissatildeo O que demonstra que mesmo apoacutes o

esporte de rendimento jaacute ter conquistado uma fonte exclusiva de financiamento pela

Lei AgneloPiva (Lei Nordm 102642001) seus atores continuavam a ser peccedila

fundamental para a formulaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo do mecanismo de mecenato esportivo

Do periacuteodo de 19 de agosto de 2003 a 22 de junho de 2005 o projeto

esteve em discussatildeo na Comissatildeo do Turismo e Desporto verificando o meacuterito da

proposta Nos dois pareceres emitidos pela respectiva comissatildeo foi citada a Lei

AgneloPiva (Lei Nordm 102642001) como um mecanismo de financiamento beneacutefico

ao setor do esporte de rendimento poreacutem insuficiente para suprir agrave demanda da

diversidade e da abrangecircncia territorial do paiacutes Aleacutem disso a legislaccedilatildeo vigente

negligenciava as modalidades natildeo oliacutempicas inclusive as genuinamente nacionais

previstas no inciso IV do Art 217 e as manifestaccedilotildees esportivas educacionais e de

participaccedilatildeo Nesse sentido a Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) e a Lei Rouanet (Lei

Nordm 83131991) eram lembradas como alternativa de poliacutetica de financiamento para

suprir a deficiecircncia de recurso para as lacunas deixadas pela Lei AgneloPiva (Lei

Nordm 102642001)

Cabe ressaltar que o Projeto de Lei Nordm 13672003 previa duas

modalidades de apoio por meio de isenccedilatildeo no imposto devido sobre a renda a

doaccedilatildeo sem vantagem financeira ou patrimonial para o apoiador permitindo 100

de deduccedilatildeo fiscal e o patrociacutenio com vantagem promocional ao apoiador com

autorizaccedilatildeo de 75 de deduccedilatildeo

O projeto de mecenato esportivo somente tomou corpo com o envio ao

Congresso Nacional do Projeto de Lei Nordm 6999 de 08 de maio de 2006

acompanhado de pedido de urgecircncia Esta era uma medida do Ministeacuterio do Esporte

(PMDBPR) PL Nordm 4306 (21102004) - Deputado Federal Joaquim Francisco (PTBPE) e por fim PL Nordm 6999 (08102006) de iniciativa do poder executivo Disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=122383gt

72

para ser apresentada na 2ordf Conferecircncia Nacional do Esporte como possibilidade de

mecanismo de fomento para a aacuterea

A proposta de iniciativa do poder executivo foi agregada ao Projeto de Lei

Nordm 13672003 e depois de uma raacutepida passagem pela Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e

Justiccedila e de Cidadania para apreciaccedilatildeo da constitucionalidade foi encaminhada agrave

Comissatildeo de Financcedilas e Tributaccedilatildeo para anaacutelise de viabilidade operacional

Do dia 14 de junho a 2 de agosto de 2006 o projeto esteve na pauta de

discussotildees da Comissatildeo de Financcedilas e Tributaccedilatildeo tendo como relator o Deputado

Federal Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) Aleacutem das reuniotildees da comissatildeo o projeto de

lei foi debatido por seis vezes na plenaacuteria da Cacircmara dos Deputados O parecer30 do

relator da comissatildeo se mostrou favoraacutevel agrave proposta apesar alertar sobre as criacuteticas

que o sistema de mecenato havia recebendo

Os incentivos fiscais de outra parte tecircm sido vistos com certa desconfianccedila pelos doutrinadores que se dedicam ao estudo das financcedilas puacuteblicas porque trazem distorccedilotildees na aplicaccedilatildeo dos recursos do Estado em prejuiacutezo na sua visatildeo de aspectos como a isonomia a transparecircncia e a seguranccedila quanto agrave correta realizaccedilatildeo das despesas Natildeo se pode negar no entanto que tais incentivos tecircm representado impulso importantiacutessimo em vaacuterias aacutereas como no Desenvolvimento Regional por exemplo ou na Pesquisa Tecnoloacutegica ou no jaacute mencionado campo da Cultura demonstrando que a despeito dos questionamentos teoacutericos configuram soluccedilatildeo eficaz para os setores beneficiados Assim uma vez providenciados mecanismos que garantam a regularidade da realizaccedilatildeo da despesa e a transparecircncia dos criteacuterios de concessatildeo dos benefiacutecios parece claro que os incentivos em questatildeo podem contribuir para o desenvolvimento do desporto e do para desporto em nosso Paiacutes (BRASIL 2006c p6)

Contudo o maior problema natildeo estava no modelo de financiamento

escolhido mas na falta de um estudo preacutevio que demonstrasse o impacto na

arrecadaccedilatildeo da Uniatildeo que um mecanismo de isenccedilatildeo fiscal ao esporte poderia

trazer de imediato Aleacutem disso a incerteza financeira da medida contrariava o Art 99

da Lei de Diretrizes Orccedilamentaacuterias de 2006 (LDO Nordm 111782015) e o Art 14 da Lei

de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar Nordm 1012000) que exigiam

estimativa de renuacutencia de receita para o ano de iniacutecio da vigecircncia e nos dois

30

Parecer da Comissatildeo de Financcedilas e Tributaccedilatildeo da Cacircmara dos Deputados emitido pelo Deputado Federal Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) sobre o Projeto de Lei Nordm Nordm 13672003 que trata do mecanismo de financiamento ao esporte (Lei Federal de Incentivo ao Esporte) Disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebprop_mostrarintegracodteor=403294ampfilename=Tramitacao-PL+13672003gt

73

subsequentes como garantia de natildeo haver prejuiacutezo agraves metas fiscais do governo

federal (BRASIL 2006c)

Nesse sentido o relator propocircs trecircs soluccedilotildees para o impasse A primeira

seria prever a queda de receita na Lei Orccedilamentaacuteria Anual de 2007 sem impacto na

meta fiscal Todavia natildeo foi uma soluccedilatildeo possiacutevel devido agrave falta de previsibilidade

financeira do novo mecanismo A segunda alternativa consistia em diminuir

despesas de outras aacutereas que compensasse o financiamento no esporte Poreacutem

mais uma vez a soluccedilatildeo esbarrava na inexistecircncia de previsatildeo financeira para poder

realizar cortes aleacutem da tradicional falta de prestiacutegio do esporte na pauta

orccedilamentaacuteria A terceira e selecionada soluccedilatildeo foi a de incluir o novo mecanismo de

financiamento junto agrave previsatildeo de renuacutencia orccedilamentaacuteria jaacute existente para outras

poliacuteticas de isenccedilatildeo fiscal

A primeira dessas condiccedilotildees eacute a comprovaccedilatildeo de que a renuacutencia foi considerada na estimativa de receita da lei orccedilamentaacuteria e que natildeo afetaraacute as metas de resultados fiscais previstos no anexo proacuteprio da lei de diretrizes orccedilamentaacuterias A outra que a proposiccedilatildeo contemple medidas de compensaccedilatildeo no periacuteodo mencionado por meio da reduccedilatildeo de outras despesas ou do aumento de receita proveniente da elevaccedilatildeo de aliacutequotas ampliaccedilatildeo de base de caacutelculo majoraccedilatildeo ou criaccedilatildeo de tributo ficando a entrada em vigor do benefiacutecio condicionada agrave implementaccedilatildeo dessas medidas Os projetos ora sob anaacutelise assim como as emendas apresentadas em Plenaacuterio deixaram de oferecer medidas compensatoacuterias para a renuacutencia de receita decorrente dos benefiacutecios fiscais propostos de modo que apenas se podem reputar adequadas as proposiccedilotildees que evidenciem ainda que implicitamente terem sido consideradas na estimativa da receita orccedilamentaacuteria Tal condiccedilatildeo atende apenas as que limitam as reduccedilotildees do tributo devido por doaccedilotildees patrociacutenios ou investimentos realizados com finalidade desportiva ao teto jaacute estabelecido em lei para outras doaccedilotildees patrociacutenios e investimentos uma vez que nesses casos o valor maacuteximo da renuacutencia fiscal natildeo se altera permanecendo vaacutelidas as previsotildees de arrecadaccedilatildeo consignadas na Lei Orccedilamentaacuteria (BRASIL 2006c p5)

Inicialmente os parlamentares escolheram colocar o mecanismo de

mecenato esportivo junto agrave renuacutencia orccedilamentaacuteria prevista para a Lei Rouanet (Lei

Nordm 83131991) Entretanto o compartilhamento despertou o descontentamento da

ala cultural do paiacutes receosa com a perda de recurso Tambeacutem existia o temor da

migraccedilatildeo do apoio cultural para o esporte principalmente pela sua capacidade em

gerar miacutedia espontacircnea o que poderia ser um atrativo a mais ao benefiacutecio fiscal

No dia 28 de novembro de 2006 o projeto foi apresentado na plenaacuteria da

Cacircmara dos Deputados onde recebeu emendas ao texto legal e acabou retornando

agraves comissotildees para correccedilatildeo Com o texto atualizado o projeto foi encaminhado ao

74

Senado Federal para apreciaccedilatildeo no dia 06 de dezembro daquele ano O Senado

Federal sugeriu duas emendas ao texto do projeto de lei sendo que uma delas

visava minimizar a repercussatildeo negativa da legislaccedilatildeo com o setor cultural

Foi sugerido alterar a origem da renuacutencia orccedilamentaacuteria da previsatildeo da Lei

Rouanet (Lei Nordm 83131991) para a do Programa de Alimentaccedilatildeo do Trabalhador

(PAT)31 O tema foi levado agrave discussatildeo na sessatildeo extraordinaacuteria da Cacircmara dos

Deputados em 20 de dezembro de 2006 Esta era a uacuteltima sessatildeo do ano antes do

recesso do legislativo e caso o projeto de lei natildeo fosse aprovado natildeo teria como

entrar em vigor no ano fiscal de 2007

Apoacutes uma calorosa discussatildeo entre os parlamentares e o impasse sobre

a origem da renuacutencia fiscal o Deputado Federal Agnelo Queiroz (PCdoBDF)

esclareceu a todos sobre as opccedilotildees de voto para a resoluccedilatildeo da aprovaccedilatildeo da lei de

financiamento ao esporte

Sr Presidente [Aldo Rabelo] eacute preciso que a Casa [Cacircmara dos Deputados] seja esclarecida definitivamente A emenda do Senado coloca a isenccedilatildeo do esporte com o Programa de Alimentaccedilatildeo do Trabalhador que com 30 anos de existecircncia teve ano passado [2005] desconto de 207 milhotildees ou seja 03 do total a que tem direito - 4 Portanto o projeto natildeo retira dinheiro do PAT coisa nenhuma porque esse programa jaacute estaacute consolidado haacute 30 anos Temos de tomar providecircncias para ampliaacute-lo Eacute esse o compromisso que todos temos de ter presente Colocar a isenccedilatildeo do esporte com o PAT natildeo retira dinheiro de recurso do trabalhador Agora o projeto da Cacircmara representa uma outra opccedilatildeo isto eacute ficar com a cultura A cultura teve isenccedilatildeo de 600 milhotildees no ano passado [2005] montante muito superior aos 200 milhotildees do PAT Esclarecidos os nuacutemeros vamos optar a favor do acordo feito no Senado que eacute junto com o PAT e natildeo tira dinheiro dele ou optar pelo texto da Cacircmara que eacute junto com a cultura e tambeacutem natildeo tira dinheiro da cultura (BRASIL 2006d p 56726)

Assim a Cacircmara dos Deputados votou pela rejeiccedilatildeo das emendas do

Senado Federal e o projeto de lei foi aprovado tendo como renuacutencia orccedilamentaacuteria o

compartilhamento da previsatildeo de R$ 600 milhotildees para o esporte e cultura Depois

de alguns dias de tracircmite administrativo interno e recesso de Natal o Projeto de Lei

31

O Programa de Alimentaccedilatildeo do Trabalhador (PAT) estimula a empresa por meio de isenccedilatildeo fiscal a manter serviccedilo proacuteprio de refeiccedilatildeo ou distribuir alimentos (cesta baacutesica ticket alimentaccedilatildeo etc) para atendimento aos trabalhadores de baixa renda (que recebam ateacute cinco salaacuterios miacutenimos mensais) Para isso a Lei Nordm 6321 de 14 de abril de 1976 que foi posteriormente regulamentada pelo Decreto Nordm 5 de 14 de janeiro de 1991 permite que a empresa tributada na modalidade lucro real destine ateacute 4 do seu imposto devido sobre a renda para o programa

75

Nordm 13672003 foi convertido na Lei Nordm 11438 em 29 de dezembro de 2006 que

ficou popularmente conhecida como Lei Federal de Incentivo ao Esporte

Poreacutem no mesmo dia da publicaccedilatildeo de criaccedilatildeo do mecenato esportivo o

poder executivo encaminhou a Medida Provisoacuteria Nordm 342 alterando o teto do

percentual de contribuiccedilatildeo do imposto devido sobre a renda da pessoa juriacutedica

passando de 4 para 1 Tambeacutem vinculou o valor da renuacutencia de receita do

orccedilamento da Uniatildeo a ato puacuteblico do poder executivo resolvendo o problema do

compartilhamento de recurso entre cultura e esporte para o ano de 2007 (BRASIL

2006e)

Esta medida provisoacuteria foi convertida na Lei Nordm 11472 de 2 de maio de

2007 alterando o texto legal da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) Durante o tracircmite de conversatildeo ainda foi acrescentado o Art 13-C o

qual exigia do Ministeacuterio do Esporte a apresentaccedilatildeo de relatoacuterio detalhado sobre a

aplicaccedilatildeo do recurso de isenccedilatildeo fiscal ao Congresso Nacional Esta foi uma maneira

encontrada para gerar controle legislativo ao recurso do esporte que fazia uma clara

opccedilatildeo pelo financiamento puacuteblico mas por uma via fora do orccedilamento direto da

Uniatildeo No dia 3 de agosto de 2007 o poder executivo publicou o Decreto Nordm 6180

regulamentando o funcionamento do mecenato esportivo que no mesmo ano jaacute teve

os primeiros projetos apoiados

Percebemos que depois do surgimento de interesse do poder executivo

em criar o mecenato esportivo como atendimento agrave expectativa do setor para a 2ordf

Conferecircncia Nacional de Esporte o tracircmite ateacute sua efetivaccedilatildeo foi relativamente

raacutepido Entretanto a experiecircncia dos anos de operacionalizaccedilatildeo do mecenato

cultural com a Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) e Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991)

associada agraves discussotildees da Lei Mendes Thame (Lei Nordm 77521989) quase natildeo foi

incorporada agrave elaboraccedilatildeo da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) Desta forma problemas de concentraccedilatildeo de recurso jaacute anunciados na

poliacutetica cultural tendem a se reproduzir na aacuterea do esporte

Por outro lado grande parte do debate no poder legislativo se concentrou

em aspectos teacutecnicos de viabilizaccedilatildeo do mecanismo enquanto o conteuacutedo sobre a

missatildeo e objetivo da legislaccedilatildeo acabou perdendo relevacircncia Este cenaacuterio vai

impactar na ausecircncia de diretriz para o financiamento puacuteblico do esporte de maneira

similar ao que aconteceu com a poliacutetica cultural quando foi extinto o Comitecirc

Assessor

76

Por isso nos capiacutetulos seguintes passaremos a explorar a legislaccedilatildeo do

mecenato esportivo e o seu resultado atentando para a atribuiccedilatildeo do esporte como

elemento social da cidadania brasileira

77

4 LEI FEDERAL DE INCENTIVO AO ESPORTE DA TEORIA DA NORMA AOS NUacuteMEROS DA PRAacuteTICA

41 Os passos iniciais

No segundo capiacutetulo resgatamos o trajeto que conduziu a elevaccedilatildeo do

esporte ao status de direito social constitucional e sua posterior estruturaccedilatildeo estatal

para elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica de esporte No terceiro capiacutetulo o foco foi

buscar o contexto de formaccedilatildeo e desenvolvimento da poliacutetica de financiamento da

cultura a qual foi precursora do modelo de mecenato no paiacutes A partir da

compreensatildeo dos significados que envolveram a escolha do mecenato cultural

passamos a verificar a arena de debate que levou a criaccedilatildeo da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

Neste capiacutetulo o objetivo foi investigar a operacionalidade da legislaccedilatildeo

do mecenato esportivo e o seu desdobramento praacutetico no periacuteodo de 2007 a 2014 A

partir de uma visatildeo geral da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) por meio da anaacutelise da lei decreto portaria e Relatoacuterio de Gestatildeo

Interna do Ministeacuterio do Esporte pretendemos ter maior subsiacutedio para no capiacutetulo

seguinte aprofundar na investigaccedilatildeo do mecanismo na localidade de Belo

Horizonte

Cabe ressaltar que o esforccedilo de observaccedilatildeo ampliada do mecenato

esportivo foi necessaacuterio devido agrave incipiente pesquisa acadecircmica sobre o tema

valendo destacar a iniciativa de Matias et al (2015) Seixas (2015) Bernardo et al

(2011) Cavazzani et al (2010) Cabral (2010) Franccedila Juacutenior e Frasson (2010) e

Monteiro (2010)

O Art 1ordm da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

estipula o prazo de vigecircncia da legislaccedilatildeo inicialmente previsto de 2007 a 2015 No

entanto o Ministeacuterio do Esporte entendendo que a legislaccedilatildeo de mecenato

esportivo natildeo havia atingido seu objetivo pleno de promoccedilatildeo do esporte e que a

revogaccedilatildeo traria nova lacuna no seu financiamento enviou ao Congresso Nacional a

Medida Provisoacuteria Nordm 67132 de 19 de marccedilo de 2015 sugerindo alteraccedilatildeo do prazo

32

A Medida Provisoacuteria Nordm 671 de 19 de marccedilo de 2015 foi convertida na Lei Nordm 13155 de 4 de agosto de 2015 tambeacutem conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte Pois aleacutem de prorrogar a vigecircncia da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) tambeacutem

78

A medida provisoacuteria foi acatada e transformada na Lei Nordm 13155 de 4 de agosto de

2015 que estendeu o mecanismo ateacute ano de 2022 (BRASIL 2015b)

Embora exista a percepccedilatildeo do mecenato esportivo natildeo ter alcanccedilado a

plenitude de seu objetivo ndash argumento inclusive reproduzido por um membro do

Ministeacuterio do Esporte durante minha visita agrave Brasiacutelia para a coleta de dados natildeo

localizei documento oficial que expresse formalmente a finalidade da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) Nesse sentido este eacute um dos primeiros

pontos a serem questionados sobre o mecanismo de mecenato esportivo Pois

aparentemente ele tem se apresentado como uma mera alternativa de

financiamento esportivo tomando a via extraorccedilamentaacuteria o que eacute extremamente

limitado para uma poliacutetica puacuteblica de Estado

O Art 1ordm ainda menciona quem satildeo os mecenas ou melhor os potenciais

apoiadores do esporte brasileiro A legislaccedilatildeo escolheu os contribuintes do Imposto

sobre a Renda (IR) sendo autorizado que a pessoa fiacutesica declarante da modalidade

completa possa destinar ateacute 6 do seu imposto devido enquanto a pessoa juriacutedica

optante da modalidade lucro real possa destinar o limite de 1

As demais modalidades de tributaccedilatildeo do Imposto sobre a Renda (IR) natildeo

tiveram permissatildeo de usufruir da isenccedilatildeo fiscal pois a Secretaria da Receita Federal

entende que jaacute aplica uma aliacutequota de desconto sobre o valor do imposto devido

pelo contribuinte Entretanto a alegaccedilatildeo eacute questionaacutevel uma vez que o valor da

isenccedilatildeo fiscal natildeo visa beneficiar o contribuinte mas o elemento da cidadania social

para o qual o recurso eacute destinado Isto eacute o mecenato esportivo gera alternativa de

alocaccedilatildeo do recurso puacuteblico seja por meio do recolhimento do imposto ao Tesouro

Nacional ou pela escolha de um projeto esportivo chancelado pelo Ministeacuterio do

Esporte

Por outro lado a motivaccedilatildeo para a escolha exclusiva da modalidade de

tributaccedilatildeo lucro real pode ser encontrada na tabela de dados da Declaraccedilatildeo do

Imposto sobre a Renda das Pessoas Juriacutedicas disponibilizada pela Secretaria da

Receita Federal Os nuacutemeros mostram que apesar das empresas desta modalidade

representarem apenas 3 do universo empresarial do paiacutes satildeo responsaacuteveis por

estabeleceu princiacutepios de responsabilidade fiscal e gestatildeo transparente nas entidades esportivas de futebol profissional (BRASIL 2015 p1)

79

aproximadamente 78 da arrecadaccedilatildeo do Imposto sobre a Renda (IR) de pessoa

juriacutedica33

Fonte Secretaria da Receita Federal Acesso aos dados no dia 30 de abril de 2016 referente ao ano fiscal de 2013 - elaboraccedilatildeo proacutepria

Situaccedilatildeo similar tambeacutem pode ser observada na Declaraccedilatildeo do Imposto

sobre a Renda de Pessoa Fiacutesica34 quando 42 das pessoas optam pela

modalidade completa embora o percentual represente 67 do imposto devido Vale

fazer a distinccedilatildeo entre o imposto devido e o recolhido na fonte No caso do

mecanismo de mecenato esportivo o contribuinte somente pode apoiar os projetos

com um percentual do valor do imposto ainda devido ao Estado brasileiro pois a

quantia jaacute recolhida natildeo entra no caacutelculo da permissatildeo da isenccedilatildeo fiscal

33

Relatoacuterio de dados setoriais de 2009 a 2013 da Declaraccedilatildeo de Imposto sobre a Renda das Pessoas Juriacutedicas Disponiacutevel em lthttpidgreceitafazendagovbrdadosreceitadataestudos-e-tributarios-e-aduaneirosestudos-e-estatisticasestudos-diversosdados-setoriais-2009-2013pdfgt Acesso em 2 de maio de 2016 34

Os dados para elaboraccedilatildeo do graacutefico foram retirados da ldquoTabela 1 - Resumo das Declaraccedilotildees Por Tipo de Formulaacuteriordquo do banco de dados ldquoGrandes Nuacutemeros DIRPF 2014 ndash Ano-calendaacuterio 2013rdquo Disponiacutevel em lthttpidgreceitafazendagovbrdadosreceitadataestudos-e-tributarios-e-aduaneirosestudos-e-estatisticas11-08-2014-grandes-numeros-dirpfgrandes-numeros-dirpf-capagt Acesso em 2 de maio de 2016

Graacutefico 2 ndash Comparativo entre a quantidade de empresas declarantes do imposto sobre a renda

(IRPJ) e a arrecadaccedilatildeo tributaacutevel apurada no ano fiscal de 2013

80

Fonte Secretaria da Receita Federal Acesso aos dados no dia 30 de abril de 2016 referente ao ano fiscal de 2013 - elaboraccedilatildeo proacutepria

Apesar dos nuacutemeros mostrarem supremacia de arrecadaccedilatildeo do imposto

devido para estas duas modalidades existe um movimento encampado pelas

entidades culturais para a ampliaccedilatildeo dos apoiadores a outras modalidades de

tributaccedilatildeo do Imposto sobre a Renda (IR) A justificativa seria a compreensatildeo de que

o mecanismo de mecenato eacute tambeacutem um instrumento de empoderamento e

participaccedilatildeo social e por isso natildeo poderia haver segregaccedilatildeo dos apoiadores

Diferentemente do mecenato cultural (manifestaccedilotildees do Art 26) o Art 1ordm

da lei apresenta como vedaccedilatildeo o lanccedilamento do apoio como despesa operacional

evitando uma dupla incidecircncia da isenccedilatildeo fiscal e reduccedilatildeo na base de caacutelculo do

imposto devido Aleacutem disso a legislaccedilatildeo natildeo permite apoio de projeto proacuteprio da

empresa ou que seus gestores estejam vinculados direta ou indiretamente

Art 1ordm [] sect 5ordm Consideram-se vinculados ao patrocinador ou ao doador I - a pessoa juriacutedica da qual o patrocinador ou o doador seja titular administrador gerente acionista ou soacutecio na data da operaccedilatildeo ou nos 12 (doze) meses anteriores II - o cocircnjuge os parentes ateacute o terceiro grau inclusive os afins e os dependentes do patrocinador do doador ou dos titulares administradores acionistas ou soacutecios de pessoa juriacutedica vinculada ao patrocinador ou ao doador nos termos do inciso I deste paraacutegrafo III - a pessoa juriacutedica coligada controladora ou controlada ou que tenha como titulares administradores acionistas ou soacutecios alguma das pessoas a que se refere o inciso II deste paraacutegrafo (BRASIL 2006b p1)

Graacutefico 3 ndash Comparativo entre a quantidade de pessoas fiacutesica declarantes do imposto sobre a renda (IRPF) e o imposto devido no momento da entrega da declaraccedilatildeo de rendimento no ano-

calendaacuterio de 2013

81

Mas este tipo de vedaccedilatildeo eacute de difiacutecil controle pois o confronto de

informaccedilatildeo eacute feito pelo nome dos dirigentes da entidade proponente contidos na ata

de posse da diretoria que deve acompanhar o projeto esportivo e o nome do

responsaacutevel da empresa disponiacutevel no Cadastro Nacional de Pessoa Juriacutedica

(CNPJ) da Secretaacuteria da Receita Federal Assim outros dirigentes com poder de

decisatildeo na empresa podem assumir algum viacutenculo com a entidade proponente e

haver benefiacutecio direto na indicaccedilatildeo de projeto

O Art 1ordm ainda destaca que a isenccedilatildeo fiscal proporcionada pela Lei

Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) natildeo exclui ou reduz outros

benefiacutecios fiscais em vigor Desta forma a pessoa fiacutesica estaacute autorizada pelo

Congresso Nacional a utilizar ateacute 8 do seu imposto devido sobre a renda em

mecanismos fiscais de cidadania social podendo mesclar 6 em cultura esporte

direito do idoso eou direto da crianccedila e adolescente mais 1 exclusivo para a aacuterea

da pessoa com deficiecircncia (PRONASPCD35) e outro 1 para a aacuterea da oncologia

(PRONON) Por sua vez a pessoa juriacutedica pode utilizar o somatoacuterio de ateacute 9 do

seu imposto devido observando o limite de cada lei

Tabela 1 ndash Distribuiccedilatildeo do incentivo de isenccedilatildeo fiscal no acircmbito federal

Fundo da Infacircncia e

Adolescecircncia

Fundo do Idoso

Lei Rouanet

Lei do Aacuteudio- Visual

Lei de Incentivo Esporte

PRONON PRONAS

Pessoa Fiacutesica

6 1 1

Pessoa Juriacutedica

1 1 4 1 1 1

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

No Art 2ordm da lei as trecircs manifestaccedilotildees esportivas surgidas na discussatildeo

da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e consolidadas com a Lei Zico (Lei Nordm 86721993)

e Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) satildeo citadas como foco do incentivo fiscal Nesse

sentido mostra que a legislaccedilatildeo tinha um caraacuteter amplo de financiamento ao

esporte situaccedilatildeo oposta a Lei AgneloPiva (Lei Nordm 102642001) que teve como

35

O Programa Nacional de Apoio agrave Atenccedilatildeo Oncoloacutegica (PRONON) e o Programa Nacional de Apoio agrave Atenccedilatildeo da Sauacutede da Pessoa com Deficiecircncia (PRONASPCD) foram instituiacutedos pela Lei Nordm 127152012 e trazem o mecanismo de mecenato para a aacuterea da sauacutede tendo o Ministeacuterio da Sauacutede como oacutergatildeo regulador

82

marca ser uma poliacutetica focal ao esporte de rendimento O Decreto Nordm 61802007

que regulamenta o mecenato esportivo apresenta descritivo das manifestaccedilotildees

suplementando o texto legal da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998)

Art 2ordm [] I - desporto educacional cujo puacuteblico beneficiaacuterio deveraacute ser de alunos regularmente matriculados em instituiccedilatildeo de ensino de qualquer sistema nos termos dos arts 16 a 20 da Lei nordm 9394 de 20 de dezembro de 1996 evitando-se a seletividade e a hipercompetitividade de seus praticantes com a finalidade de alcanccedilar o desenvolvimento integral do indiviacuteduo e a sua formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania e a praacutetica do lazer II - desporto de participaccedilatildeo caracterizado pela praacutetica voluntaacuteria compreendendo as modalidades desportivas com finalidade de contribuir para a integraccedilatildeo dos praticantes na plenitude da vida social na promoccedilatildeo da sauacutede e educaccedilatildeo e na preservaccedilatildeo do meio ambiente e III - desporto de rendimento praticado segundo regras nacionais e internacionais com a finalidade de obter resultados integrar pessoas e comunidades do Paiacutes e estas com as de outras naccedilotildees (BRASIL 2007a p1)

Neste ponto sobre as manifestaccedilotildees esportivas eacute interessante chamar a

atenccedilatildeo para a recente alteraccedilatildeo no decreto que regulamenta a Lei Peleacute (Lei Nordm

96151998) o Decreto Nordm 7984 de 8 de abril de 2013 que trouxe como novidade

uma subdivisatildeo da manifestaccedilatildeo esporte educacional conforme previa Tubino

(2001)

sect 1ordm O desporto educacional pode constituir-se em I - esporte educacional ou esporte formaccedilatildeo com atividades em estabelecimentos escolares e natildeo escolares referenciado em princiacutepios socioeducativos como inclusatildeo participaccedilatildeo cooperaccedilatildeo promoccedilatildeo agrave sauacutede co-educaccedilatildeo e responsabilidade e II - esporte escolar praticado pelos estudantes com talento esportivo no ambiente escolar visando agrave formaccedilatildeo cidadatilde referenciado nos princiacutepios do desenvolvimento esportivo e do desenvolvimento do espiacuterito esportivo podendo contribuir para ampliar as potencialidades para a praacutetica do esporte de rendimento e promoccedilatildeo da sauacutede (BRASIL 2013a p1 ndash grifo nosso)

A subdivisatildeo permitiu a inclusatildeo de princiacutepios competitivos e de alto

rendimento para dentro do ambiente escolar sugerindo uma expansatildeo da

manifestaccedilatildeo rendimento e um retorno ao padratildeo atleacutetico de praacutetica esportiva A

aplicaccedilatildeo desta subdivisatildeo na Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) pode mascarar accedilotildees de esporte de rendimento pela via escolar

dentro da manifestaccedilatildeo educacional gerando imprecisatildeo na anaacutelise da distribuiccedilatildeo

do recurso para a aacuterea estritamente educacional

83

Meses depois da publicaccedilatildeo do decreto foi aprovada no Congresso

Nacional a Lei Nordm 12868 de 15 de outubro de 2013 que aumentou o regramento

ao financiamento puacuteblico para projetos da manifestaccedilatildeo rendimento com a inclusatildeo

do Art 18 - A na Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) (BRASIL 2013b) Este aumento na

dificuldade para o acesso ao recurso de projetos de esporte de rendimento pode

corroborar para a migraccedilatildeo de accedilotildees para a subdivisatildeo de esporte escolar

principalmente na praacutetica esportiva de categoria de base agravando o problema da

distinccedilatildeo na distribuiccedilatildeo do recurso entre manifestaccedilotildees

Contudo a nova legislaccedilatildeo foi uma tentativa do Estado brasileiro de

aumentar o controle e fiscalizaccedilatildeo sobre o recurso puacuteblico repassado de forma

extraorccedilamentaacuteria agraves entidades representativas do esporte Cabe ressaltar que a

norma natildeo feria a autonomia de funcionamento das entidades esportivas

conquistada na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 pois estava atrelada ao repasse de

recurso puacuteblico Isto eacute a entidade esportiva que natildeo tivesse receita puacuteblica natildeo tinha

a obrigatoriedade de realizar adequaccedilatildeo estatutaacuteria

Art 18-A [] I - seu presidente ou dirigente maacuteximo tenham o mandato de ateacute 4 (quatro) anos permitida 1 (uma) uacutenica reconduccedilatildeo [] VII - estabeleccedilam em seus estatutos a) princiacutepios definidores de gestatildeo democraacutetica b) instrumentos de controle social c) transparecircncia da gestatildeo da movimentaccedilatildeo de recursos d) fiscalizaccedilatildeo interna e) alternacircncia no exerciacutecio dos cargos de direccedilatildeo f) aprovaccedilatildeo das prestaccedilotildees de contas anuais por conselho de direccedilatildeo precedida por parecer do conselho fiscal g) participaccedilatildeo de atletas nos colegiados de direccedilatildeo e na eleiccedilatildeo para os cargos da entidade e VIII - garantam a todos os associados e filiados acesso irrestrito aos documentos e informaccedilotildees relativos agrave prestaccedilatildeo de contas bem como agravequeles relacionados agrave gestatildeo da respectiva entidade de administraccedilatildeo do desporto os quais deveratildeo ser publicados na iacutentegra no siacutetio eletrocircnico desta (BRASIL 2013b p1)

A mudanccedila teve impacto direto nos projetos de rendimento apresentados

na Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) No dia 15 de abril de

2014 apoacutes a anaacutelise e emissatildeo do parecer Nordm 1042014 da Consultoria Juriacutedica do

Ministeacuterio do Esporte (CONJURME) os projetos em anaacutelise no mecenato esportivo

foram paralisados para o envio de diligecircncia para adequaccedilatildeo documental (BRASIL

2014a) Mas somente no dia 18 de setembro a Portaria Ministerial Nordm 224

84

estabeleceu procedimentos para verificaccedilatildeo do cumprimento das exigecircncias do Art

18-A da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) e a anaacutelise dos projetos de rendimento foi

normalizada (BRASIL 2014b)

Art 3ordm [] III - prever em seu estatuto social a) instrumentos de controle social b) transparecircncia na gestatildeo da movimentaccedilatildeo de recursos e de fiscalizaccedilatildeo interna c) a garantia de existecircncia e autonomia de seu conselho fiscal d) a aprovaccedilatildeo das prestaccedilotildees de contas anuais por conselho de direccedilatildeo precedida por parecer do conselho fiscal e) a garantia de acesso irrestrito a todos os associados e filiados aos documentos e informaccedilotildees relativos agrave prestaccedilatildeo de contas bem como agravequeles relacionados agrave gestatildeo da respectiva entidade de administraccedilatildeo do desporto os quais deveratildeo ser publicados na iacutentegra no siacutetio eletrocircnico desta f) a garantia de representaccedilatildeo da categoria de atletas 1) no acircmbito dos oacutergatildeos e conselhos teacutecnicos incumbidos da aprovaccedilatildeo de regulamentos das competiccedilotildees por elas eventualmente organizadas 2) nos colegiados de direccedilatildeo e na eleiccedilatildeo para os cargos da entidade g) a alternacircncia no exerciacutecio dos cargos de direccedilatildeo sem prejuiacutezo da limitaccedilatildeo da duraccedilatildeo do mandato de seu presidente ou dirigente maacuteximo a 4 (quatro) anos permitida 1 (uma) uacutenica reconduccedilatildeo h) a vedaccedilatildeo agrave eleiccedilatildeo do cocircnjuge e parentes consanguiacuteneos ou afins ateacute o 2ordm (segundo) grau ou por afinidade do presidente ou dirigente maacuteximo da entidade e i) a determinaccedilatildeo para aplicaccedilatildeo integral de seus recursos na manutenccedilatildeo e desenvolvimento dos seus objetivos sociais (BRASIL 2014b p89)

Aleacutem da conduta expressa no estatuto social a Portaria Ministerial Nordm

2242014 tambeacutem solicitou vaacuterias declaraccedilotildees por parte do representante legal da

entidade esportiva com a finalidade de garantir a idoneidade institucional Cabe

mencionar que a declaraccedilatildeo de informaccedilotildees falsas poderia acarretar em crime penal

ao representante legal o que natildeo deixaria de ser uma maneira de controle e puniccedilatildeo

ao mau uso do patrimocircnio puacuteblico

Outra recente mudanccedila nas manifestaccedilotildees esportivas foi gerada pela

aprovaccedilatildeo da Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte (Lei nordm 131552015) a

mesma que alterou o prazo de vigecircncia do mecenato esportivo A legislaccedilatildeo

acrescentou uma quarta manifestaccedilatildeo na Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) exclusiva

para a qualificaccedilatildeo profissional e produccedilatildeo de conhecimento na aacuterea do esporte

(BRASIL 2015b) Esta alteraccedilatildeo ainda natildeo foi absorvida na legislaccedilatildeo da Lei

Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) muito embora pudesse ser

contemplada em uma visatildeo ampliada de atividade do esporte educacional

85

Art 3ordm []

IV - desporto de formaccedilatildeo caracterizado pelo fomento e aquisiccedilatildeo inicial dos conhecimentos desportivos que garantam competecircncia teacutecnica na intervenccedilatildeo desportiva com o objetivo de promover o aperfeiccediloamento qualitativo e quantitativo da praacutetica desportiva em termos recreativos competitivos ou de alta competiccedilatildeo (BRASIL 2015b p1 ndash grifo nosso)

Fonte Inspirado em BRASIL (1998a p1) BRASIL (2013a p1) BRASIL (2015b p1) ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Retornando a discussatildeo especiacutefica do texto legal da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) o Art 2ordm trata da vedaccedilatildeo de

remuneraccedilatildeo a atletas profissionais O Decreto Nordm 61802007 complementa o artigo

trazendo a interpretaccedilatildeo de remuneraccedilatildeo dos Arts 457 e 458 da Consolidaccedilatildeo das

Leis Trabalhistas ndash CLT (Decreto-Lei Nordm 54521943) os quais englobam

remuneraccedilatildeo como o salaacuterio em dinheiro o abono de feacuterias o deacutecimo terceiro

salaacuterio as gratificaccedilotildees os precircmios e mais qualquer tipo de benefiacutecio que integre

por forccedila de contrato ou de costume a relaccedilatildeo da entidade esportiva com o atleta

profissional (BRASIL 2007b BRASIL 1943)

Um ponto de extrema confusatildeo no paiacutes eacute quanto a caracterizaccedilatildeo do que

seria esporte profissional A Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) indica como esporte de

rendimento organizado ou praticado de modo profissional aquele ldquocaracterizado pela

remuneraccedilatildeo pactuada em contrato formal de trabalho entre o atleta e a entidade de

praacutetica desportivardquo Enquanto o esporte natildeo profissional eacute ldquoidentificado pela

Esporte Educacional ou

Formaccedilatildeo

Esporte Escolar

Manifestaccedilotildees Esportivas

Esporte Educacional

Esporte de Participaccedilatildeo

Esporte de Rendimento

Esporte de Formaccedilatildeo

Figura 2 ndash Diagrama atualizado das manifestaccedilotildees esportivas no acircmbito federal

86

liberdade de praacutetica e pela inexistecircncia de contrato de trabalho sendo permitido o

recebimento de incentivos materiais e de patrociacuteniordquo (BRASIL 1998a p1)

Nesse sentido o pagamento financeiro ao atleta natildeo profissional nos

projetos de esporte de rendimento na Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) aconteceria pela formalizaccedilatildeo de contrato devido Agrave necessidade

documental para a prestaccedilatildeo de contas O contrato poderia evidenciar um possiacutevel

viacutenculo de atleta e se converter na vedaccedilatildeo trazida pela legislaccedilatildeo Por isso o

Ministeacuterio do Esporte passou a adotar a nomenclatura ldquobolsardquo com caraacuteter

indenizatoacuterio (ressarcimento de despesas) e natildeo mais remuneratoacuterio para o

pagamento de atleta natildeo profissional Esta tipologia de subsiacutedio ao atleta natildeo

profissional foi inclusive legitimada pelo paraacutegrafo uacutenico inciso III Art 4ordm do

Decreto Nordm 79842013

Art 4ordm [] Paraacutegrafo uacutenico Consideram-se incentivos materiais na forma disposta no inciso II do caput entre outros I - benefiacutecios ou auxiacutelios financeiros concedidos a atletas na forma de bolsa de aprendizagem prevista no sect 4ordm do art 29 da Lei nordm 9615 de 1998 II - Bolsa-Atleta prevista na Lei nordm 10891 de 9 de julho de 2004 III - bolsa paga a atleta por meio de recursos dos incentivos previstos na Lei nordm 11438 de 29 de dezembro de 2006 ressalvado o disposto em seu art 2ordm sect 2ordm e IV - benefiacutecios ou auxiacutelios financeiros similares previstos em normas editadas pelos demais entes federativos (BRASIL 2013a p1 ndash grifo nosso)

No entanto o Decreto Nordm 61802007 natildeo parou na normatizaccedilatildeo da

proibiccedilatildeo de remuneraccedilatildeo ao atleta profissional e estendeu o veto agrave equipe e

competiccedilatildeo profissional

Art 5ordm []

sect 2ordm Eacute vedada ainda a utilizaccedilatildeo dos recursos de que trata o caput para o pagamento de quaisquer despesas relativas agrave manutenccedilatildeo e organizaccedilatildeo de equipes desportivas ou paradesportivas profissionais de alto rendimento nos termos do inciso I do paraacutegrafo uacutenico do art 3ordm da Lei Nordm 9615 de 1998 ou de competiccedilotildees profissionais nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 26 daquela Lei (BRASIL 2007b p3 ndash grifo nosso)

A Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) define no Art 26 a competiccedilatildeo

profissional como ldquoaquela promovida para obter renda e disputada por atletas

profissionais cuja remuneraccedilatildeo decorra de contrato de trabalho desportivordquo (BRASIL

1998a p1) Se a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) restringe

87

apenas a remuneraccedilatildeo logo estariam autorizados projetos de competiccedilatildeo desde

que o pagamento dos atletas profissionais fosse oriundo de outra fonte

O caso de equipe profissional carece de uma definiccedilatildeo legal poreacutem

poderiacuteamos recorrer a processo anaacutelogo ou seja o mecenato esportivo permitiria o

pagamento da comissatildeo teacutecnica (teacutecnico preparador fiacutesico fisioterapeuta etc)

desde que a remuneraccedilatildeo do atleta profissional natildeo estivesse vinculada ao projeto

Os dois casos podem sugerir ato de ilegalidade uma vez que o decreto

estaacute extrapolando o texto da lei Por outro lado aparentemente marca um

posicionamento do Ministeacuterio do Esporte em privilegiar accedilotildees da manifestaccedilatildeo

educacional e de participaccedilatildeo haja vista que a manifestaccedilatildeo rendimento possui a

Lei AgneloPiva (Lei Nordm 102642001) para financiamento exclusivo

Fonte inspirado em BRASIL (1998a p1) ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

O Art 3ordm da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

apresenta a distinccedilatildeo entre os termos patrociacutenio e doaccedilatildeo O primeiro envolve a

aplicaccedilatildeo financeira com finalidade promocional e de publicidade do apoiador

enquanto o segundo tem um caraacuteter filantroacutepico e isento de intencionalidade O

decreto que regulamenta a legislaccedilatildeo em nada acrescenta sobre as definiccedilotildees

Apesar da distinccedilatildeo as duas modalidades permitem 100 de deduccedilatildeo

fiscal Os termos satildeo vestiacutegios da discussatildeo da legislaccedilatildeo no Congresso Nacional

quando inicialmente o patrociacutenio permitiria deduzir apenas 75 do valor apoiado e

Atleta profissional

Competiccedilatildeo Profissional

Conceito possui contrato formal de trabalho com a entidade de praacutetica esportiva

Equipe Profissional

Legislaccedilatildeo Art 3ordm sect1ordm inciso I da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998)

Conceito formada por atletas profissionais

Legislaccedilatildeo natildeo possui definiccedilatildeo legal

Conceito disputada por atleta profissional eou com o objetivo de obter renda renda Legislaccedilatildeo Art 26 paraacutegrafo uacutenico Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998)

Figura 3 ndash Diagrama da cadeia produtiva do esporte profissional

88

os 25 restantes seriam de capital privado atraiacutedo para a aacuterea do esporte (BRASIL

2006c)

Independente da similaridade funcional uma segunda vertente questiona

a viabilidade dos termos pela transposiccedilatildeo da semacircntica de caraacuteter privado para o

espaccedilo puacuteblico O patrociacutenio seria o ato de colocar recurso particular em um objeto

que possa dar retorno em publicidade ou agregar valor simboacutelico a uma marca

enquanto a doaccedilatildeo seria a transferecircncia de recurso particular a outra pessoa sem

nenhuma vantagem direta ou indireta Mas como o valor do apoio (patrociacutenio ou

doaccedilatildeo) pode ser integralmente deduzido estamos lidando com aplicaccedilatildeo de

recurso puacuteblico indireto e natildeo particular Neste contexto o termo mais indicado seria

destinaccedilatildeo de recurso pois cabe ao apoiador escolher a alocaccedilatildeo do imposto entre

projeto esportivo chancelado pelo Ministeacuterio do Esporte ou Tesouro Nacional

A ausecircncia de recurso privado no mecanismo coloca em suspeita as

chances de criaccedilatildeo da figura do mecenas esportivo No entanto a manutenccedilatildeo do

termo mecenato esportivo para o formato de poliacutetica de financiamento se torna

importante para natildeo perder de vista que a finalidade inicial do diaacutelogo com o setor

privado era agregar mais recurso ao setor esportivo e natildeo apenas transferir a

tomada de decisatildeo de alocaccedilatildeo puacuteblica para o particular

O Art 3ordm da lei ainda demarca que a ldquopessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou

de direito privado com fins natildeo econocircmicos [sem fins lucrativos] de natureza

esportivardquo pode ser proponente de accedilotildees na Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei

Nordm 114382006) (BRASIL 2006b p1) Entidades esportivas e secretarias

municipais e estaduais de esporte disputariam o mesmo recurso Poreacutem em tese

um oacutergatildeo puacuteblico teria maior poder de ldquobarganhardquo visto que tem acesso a

informaccedilotildees fiscais privilegiadas do setor privado em sua aacuterea de abrangecircncia

A princiacutepio poderia parecer uma competiccedilatildeo desleal principalmente pela

incipiente profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas Mas ao verificar os dados do

Relatoacuterio de Gestatildeo Interna da Lei Federal de Incentivo ao Esporte de 201436

notamos que o sucesso na captaccedilatildeo de recurso das organizaccedilotildees de direito puacuteblico

eacute baixa apenas 1 do montante total captado em 2014

36

Para apuraccedilatildeo da tipologia da proponente o Ministeacuterio do Esporte adota a classificaccedilatildeo do nome fantasia ou razatildeo social da entidade esportiva Todavia esta classificaccedilatildeo pode gerar erros aos distinguir ONG associaccedilatildeo e demais tipologias sendo que todas possuem a personalidade juriacutedica de associaccedilatildeo Neste sentido foi reorganizado levando em consideraccedilatildeo a natureza juriacutedica e a similaridade de funccedilatildeo social

89

Outra questatildeo quanto agrave natureza da proponente estaacute na impossibilidade

do proacuteprio atleta apresentar um projeto Para se ter ideia na proporccedilatildeo do atleta

individual na cadeia esportiva das 42 modalidades previstas para acontecer nos

Jogos Oliacutempicos do Rio de Janeiro37 31 delas satildeo disputas individuais Aleacutem disso

se a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) foi baseada na

experiecircncia do mecenato cultural que permite a participaccedilatildeo do artista individual e

produtor cultural por que natildeo permitir a participaccedilatildeo do atleta individual Parte da

resposta estaacute na dificuldade do Estado brasileiro em penalizar a pessoa fiacutesica por

mau uso do recurso puacuteblico

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizados em 27 de marccedilo de 2015 ndash adaptado

O Art 4ordm da lei menciona a criaccedilatildeo da Comissatildeo Teacutecnica oacutergatildeo colegiado

ligado ao Ministeacuterio do Esporte e responsaacutevel pela aprovaccedilatildeo dos projetos

esportivos A comissatildeo eacute formada por membros governamentais designados pelo

proacuteprio ministro e representantes do setor esportivo indicados pelo Conselho

Nacional de Esporte (CNE) O Decreto Nordm 61802007 suplementa sobre distribuiccedilatildeo

das vagas da comissatildeo

37

Disponiacutevel em ltwwwrio2016comgt

Graacutefico 4 ndash Distribuiccedilatildeo da captaccedilatildeo de recurso financeiro pela tipologia de proponente na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2014

90

Art 7ordm - A Comissatildeo Teacutecnica seraacute composta por seis membros da seguinte forma I - trecircs representantes governamentais indicados pelo Ministro de Estado do Esporte e II - trecircs representantes dos setores desportivo e paradesportivo indicados pelo Conselho Nacional do Esporte (BRASIL 2007b p3)

De acordo com o decreto o presidente da comissatildeo seraacute um dos trecircs

representantes do poder puacuteblico e teraacute como responsabilidade dirigir as reuniotildees

ordinaacuterias que tecircm acontecido mensalmente em Brasiacutelia e por convocar a reuniatildeo

extraordinaacuteria quando julgar necessaacuterio O cargo de presidente daacute direito ao voto de

qualidade no caso de empate das votaccedilotildees Tradicionalmente o diretor do

Departamento de Incentivo e Fomento ao Esporte (DIFE) oacutergatildeo ligado a Secretaria-

Executiva do Ministeacuterio do Esporte tem sido indicado como presidente da Comissatildeo

Teacutecnica embora natildeo exista regra expliacutecita sobre a situaccedilatildeo (BRASIL 2007b)

No caso da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) o Ministeacuterio da Cultura tem

optado por realizar uma reuniatildeo ordinaacuteria da comissatildeo de aprovaccedilatildeo de projetos em

Brasiacutelia e uma subsequente em alguma capital do paiacutes Esta foi uma estrateacutegia

adotada pela pasta da cultura para a divulgaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo do mecanismo de

mecenato cultural Medida itinerante similar poderia ser adotada pelo Ministeacuterio do

Esporte para dar maior visibilidade ao mecenato esportivo principalmente pelo

problema de concentraccedilatildeo de projetos e recurso na regiatildeo Sudeste do paiacutes

Outra medida bastante interessante e de baixo custo de democratizaccedilatildeo

tem sido adotada pela Secretaria do Esporte Lazer e Juventude do Estado de Satildeo

Paulo O oacutergatildeo tem gravado as reuniotildees da ldquoComissatildeo de Analises e Aprovaccedilatildeo de

Projetosrdquo da Lei Paulista de Incentivo ao Esporte e disponibilizado no seu canal

institucional no YouTube38 Aleacutem de dar mais transparecircncia ao processo de

discussatildeo e aprovaccedilatildeo de projetos a utilizaccedilatildeo da ferramenta digital permite que

mais pessoas tenham acesso agrave reuniatildeo jaacute que atualmente as vagas satildeo limitadas

agrave capacidade fiacutesica da sala de reuniatildeo Este tipo de recurso tecnoloacutegico tambeacutem

permite que as proponentes se manifestem mesmo que a posteriori sobre as

discussotildees realizadas pela comissatildeo haja vista que na reuniatildeo presencial natildeo eacute

permitida a participaccedilatildeo ativa

38

Canal do YouTube da Secretaria do Esporte Lazer e Juventude do Estado de Satildeo Paulo onde eacute possiacutevel assistir as gravaccedilotildees das reuniotildees da ldquoComissatildeo de Analises e Aprovaccedilatildeo de Projetosrdquo da Lei Paulista de Incentivo ao Esporte Disponiacutevel em lthttpswwwyoutubecomplaylistlist=PLNqAR3y4NKpDAdQoQfdRvpv4YSmaUSvslgt

91

42 Elaboraccedilatildeo da proposta esportiva

A partir do Art 5ordm da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) abordaremos o processo de cadastro e apresentaccedilatildeo de projetos

Grande parte do procedimento estaacute contida no Decreto Nordm 61802007 e Portaria

Ministerial Nordm 1202009

O primeiro passo trazido pelo decreto se refere ao cadastro das entidades

esportivas junto ao Ministeacuterio do Esporte para acesso ao sistema da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte Este procedimento eacute feito no proacuteprio site do Ministeacuterio do

Esporte com o preenchimento do formulaacuterio on-line39 com dados da entidade

esportiva e de seu representante legal Ao final do cadastro eacute gerado um nuacutemero de

usuaacuterio e senha para acesso ao sistema

Embora a etapa seja bastante simples ela tem sido foco de vaacuterias

criacuteticas porque natildeo eacute necessaacuterio envio de nenhuma documentaccedilatildeo comprobatoacuteria

Todavia todo projeto precisa ter anexado em sua parte documental ldquocoacutepias

autenticadas do CNPJ do estatuto e das respectivas alteraccedilotildees da ata da

assembleia que empossou a atual diretoria do Cadastro de Pessoa Fiacutesica - CPF e

do documento Registro Geral - RG dos diretores ou responsaacuteveis legaisrdquo conforme

consta no inciso II Art 9ordm do Decreto Nordm 61802007 (BRASIL 2007b p4-5)

Cada entidade esportiva pode apresentar ateacute seis projetos por ano40

Como cada proposta tem que ser acompanhada de documentos institucionais

autenticados gera-se um gasto excessivo com cartoacuterio de nota e ofiacutecio e uma

duplicidade de documentos institucionais da proponente Aleacutem disso o tracircmite

interno do Ministeacuterio do Esporte ateacute a anaacutelise dos projetos pela equipe teacutecnica tem

sido bastante demorado Esta morosidade ocasiona o vencimento de alguns

documentos e por meio de diligecircncia documental precisam ser reenviados

autenticados para habilitar a anaacutelise de meacuterito da proposta

39

Link para cadastro no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm114382006) disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrindexphpinstitucionalsecretaria-executivalei-de-incentivo-ao-esportecadastro-de-proponentegt 40

O limite de apresentaccedilatildeo de projetos por ano consta no Art 22ordm do Decreto Nordm 61802007 e no Art 8ordm da Portaria Nordm 1202009

92

Fonte Ministeacuterio do Esporte 2016

Figura 4 ndash Formulaacuterio digital de cadastro da proponente para acesso ao sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

93

Uma alternativa processual mais eficiente seria solicitar essa

documentaccedilatildeo durante o cadastro da proponente para acesso ao sistema de

mecenato esportivo A documentaccedilatildeo recebida pelo Ministeacuterio do Esporte

organizaria um grande banco de dados sobre as entidades esportivas auxiliando

inclusive na elaboraccedilatildeo futura de um diagnoacutestico sobre o perfil das entidades

esportivas participantes da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006)

A atualizaccedilatildeo dos dados ficaria a cargo do representante legal da

proponente e com isso a documentaccedilatildeo institucional seria enviada uma uacutenica vez

Em outras palavras a documentaccedilatildeo estaria vinculada ao cadastro da entidade

esportiva e natildeo mais diretamente ao projeto Procedimento similar foi adotado pela

Secretaria de Estado de Esporte de Minas Gerais para a gestatildeo da sua lei de

incentivo fiscal41

A fim de facilitar a compreensatildeo sobre os procedimentos que cercam o

tracircmite da Lei Federal de Incentivo ao Esporte foi elaborado o diagrama a seguir

41

Na lei de incentivo ao esporte de Minas Gerais (Minas Esportiva Incentivo ao Esporte) a Secretaria de Estado de Esporte (SEESP) adotou o Cadastro Geral de Convenentes (CAGEC) como a plataforma ativa de conferecircncia das informaccedilotildees das entidades esportivas Assim as entidades proponentes manteacutem suas informaccedilotildees documentais e fiscais ativas nesta plataforma uacutenica do Estado de Minas Gerais

94

Figura 5 ndash Diagrama de fluxo da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

Fonte Inspirado em BRASIL (2006b p1) BRASIL (2007b p1) BRASIL (2009a p1) ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Cadastro da proponente no

sistema

Cadastro do projeto no sistema

Protocolo do projeto no Ministeacuterio do

Esporte

Preacute-anaacutelise

Anaacutelise Teacutecnica

Comissatildeo Teacutecnica

Libera o acesso da proponente ao sistema da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte

Cadastro do projeto esportivo no formulaacuterio digital da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte

Finalizado o cadastro digital deve-se imprimir uma versatildeo do projeto e enviar ao Ministeacuterio do Esporte

A aacuterea teacutecnica do Ministeacuterio do Esporte analisa a parte

documental da proponente

A aacuterea teacutecnica ou perito parecerista analisa o meacuterito da

proposta emitindo parecer

Baseado no parecer o relator aprova ou rejeita a proposta

Captaccedilatildeo de Recurso

O projeto aprovado eacute publicado no DOU e autorizado a buscar

recurso no mercado

Execuccedilatildeo do Projeto

A proponente assina o Termo de Compromisso para iniciar a

execuccedilatildeo do projeto

Prestaccedilatildeo de Contas

A proponente envia os documentos comprobatoacuterios da

execuccedilatildeo do projeto

O descumprimento documental gera rejeiccedilatildeo

automaacutetica do projeto

Pode ser enviada diligecircncia solicitando complementaccedilatildeo

de informaccedilatildeo

O relator pode pedir mais informaccedilotildees ou na rejeiccedilatildeo a proponente entrar recurso

A proponente pode solicitar prorrogaccedilatildeo de prazo por

uma uacutenica vez

Captou no miacutenimo 20 do valor - readequa a proposta

para comeccedilar a executar

A proponente natildeo presta conta passa pela Tomada

de Contas Especial do TCU

Caso Positivo do Projeto Caso Negativo do Projeto Descriccedilatildeo da Etapa

1

2

3

4

5

6

7

8

9

95

Apoacutes o cadastro no sistema o passo seguinte indicado no Decreto Nordm

61802007 refere-se agraves informaccedilotildees necessaacuterias para a apresentaccedilatildeo de um

projeto esportivo Todos os itens exigidos constam no Art 9ordm e iremos dividi-los em

elemento Documental Orccedilamentaacuterio e Teacutecnico-operativo levando em consideraccedilatildeo

a tipologia do conteuacutedo e a forma de organizaccedilatildeo dos processos pelo Ministeacuterio do

Esporte (BRASIL 2007b p4-5)

Fonte inspirado em BRASIL (2007b p4-5) ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

A parte documental satildeo os documentos da instituiccedilatildeo e do seu

responsaacutevel legal - os mesmos que haacute pouco argumentaacutevamos que natildeo deveriam

acompanhar o projeto mas um cadastro uacutenico das entidades esportivas Ressalta-se

que assim que os projetos esportivos chegam ao Ministeacuterio do Esporte passam por

uma triagem para verificaccedilatildeo desta documentaccedilatildeo etapa chamada de preacute-anaacutelise A

falta de algum documento ou de sua autenticaccedilatildeo em cartoacuterio impede a avaliaccedilatildeo do

projeto levando a rejeiccedilatildeo por natildeo cumprimento do Art 9ordm do Decreto Nordm

61802007

O graacutefico a seguir elaborado a partir dos dados do Relatoacuterio de Gestatildeo

Interna da Lei Federal de Incentivo ao Esporte de 2014 e extrato da Nota

Presidencial de 2016 mostra como eacute restritiva a etapa documental para o processo

de funcionamento do mecanismo

Figura 6 ndash Elementos necessaacuterios para a apresentaccedilatildeo de projeto esportivo agrave Lei Federal de

Incentivo ao Esporte conforme Art 9ordm do Decreto Nordm 61802007 e respectiva fase de anaacutelise

96

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizados em 11 de marccedilo de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Notamos que 340 (3374) dos projetos satildeo rejeitados sem a anaacutelise do

meacuterito da proposta Ou seja os nuacutemeros reforccedilam a proposiccedilatildeo de alteraccedilatildeo do

procedimento documental para o momento do cadastro da proponente pois

atualmente tem gerado um trabalho adicional ao Ministeacuterio do Esporte (anaacutelise e

rejeiccedilatildeo documental na etapa de preacute-anaacutelise) o que podemos considerar como uma

forma ampliada de desperdiacutecio de recurso puacuteblico Por outro lado tambeacutem natildeo

podemos descartar a necessidade do Ministeacuterio do Esporte promover capacitaccedilotildees

agraves entidades esportivas para minimizar a incidecircncia das rejeiccedilotildees

Jaacute o elemento orccedilamentaacuterio estaacute relacionado ao balizamento dos preccedilos

dos itens solicitados para a execuccedilatildeo do projeto

Art 9ordm []

IV - orccedilamento analiacutetico e comprovaccedilatildeo de que os preccedilos orccedilados satildeo compatiacuteveis com os praticados no mercado ou enquadrados nos paracircmetros estabelecidos pelo Ministeacuterio do Esporte (BRASIL 2007b p5)

O paraacutegrafo uacutenico do Art 5ordm da Portaria Ministerial Nordm 1202009

estabelece que o limite de preccedilo de cada despesa natildeo pode ser superior agrave meacutedia

aritmeacutetica do valor apresentado nos trecircs orccedilamentos (BRASIL 2009a) Por isso na

Graacutefico 5 ndash Situaccedilatildeo dos projetos esportivos apresentados agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporte durante o

periacuteodo de 2007 a 2014

97

etapa de preacute-anaacutelise eacute feito um relatoacuterio42 com todas as despesas suas respectivas

cotaccedilotildees de preccedilo e valor da meacutedia aritmeacutetica para auxiliar na anaacutelise teacutecnica e

emissatildeo do parecer conclusivo

A falta de algum item orccedilamentaacuterio natildeo gera a rejeiccedilatildeo imediata do

projeto Nesta situaccedilatildeo a entidade esportiva seraacute notificada por meio de diligecircncia

teacutecnica sobre a necessidade de apresentaccedilatildeo de orccedilamento ou explicar o motivo da

ausecircncia dos trecircs orccedilamentos Uma das possibilidades de natildeo apresentaccedilatildeo de

todos os orccedilamentos eacute o caso de fornecedor uacutenico (ex taxas de federaccedilotildees

encargos sociais e trabalhistas etc) assim sendo autorizado o envio de orccedilamento

exclusivo com a devida justificativa

Cabe salientar que a anaacutelise orccedilamentaacuteria foi um dos pontos destacados

como fraacutegeis no ldquoRelatoacuterio de Auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeordquo agrave Lei

Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

Em todos os projetos da amostra verificou-se a realizaccedilatildeo de anaacutelise de custos baseada unicamente nos orccedilamentos enviados pelos proponentes natildeo havendo afericcedilatildeo por parte do Ministeacuterio da adequaccedilatildeo dos preccedilos a partir de outras fontes bem como da possibilidade de aquisiccedilatildeo de itens semelhantes de custo mais baixo (BRASIL 2013c p9-10)

A escolha da amostra de orccedilamento pode influenciar no distanciamento

entre o valor solicitado e o preccedilo real praticado pelo mercado principalmente porque

o Ministeacuterio do Esporte natildeo possui um sistema de conferecircncia da compatibilidade

dos preccedilos No entanto a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

funciona em uma plataforma digital onde todas as proponentes tecircm que cadastrar

as propostas e o valor de compra dos materiais Bastaria um ajuste operacional para

transformar a plataforma em um enorme banco de dados de preccedilo

Sabendo que alteraccedilotildees na plataforma digital demandam tempo e

dispecircndio financeiro no curto prazo seria interessante que o Ministeacuterio do Esporte

selecionasse sites confiaacuteveis de pesquisa de preccedilo para o balizamento dos produtos

esportivos Cabe ressaltar que praacutetica similar jaacute tem sido adotada pela aacuterea teacutecnica

para consultar o salaacuterio dos profissionais contratados nos projetos

42

Na parte de anexos desta pesquisa encontra-se acostado um modelo do ldquoRelatoacuterio de Preacute-anaacuteliserdquo o qual eacute utilizado como lista de checagem documental e relatoacuterio consolidado de preccedilos dos materiais solicitados

98

Independente da estrateacutegia adotada pelo Ministeacuterio do Esporte eacute de

suma importacircncia dar maior celeridade ao processo de anaacutelise dos projetos

Atualmente um projeto pode tramitar anos no Ministeacuterio do Esporte ateacute a emissatildeo

do parecer final Desta forma o preccedilo apresentado pode natildeo corresponder agrave

realidade do mercado indiferentemente de ter sido compatibilizado ou natildeo

Inclusive esta pode ser uma explicaccedilatildeo para as proponentes apresentarem

orccedilamento acima do valor de mercado como foi destacado no mesmo relatoacuterio de

auditoria (BRASIL 2013c)

O uacuteltimo elemento do projeto eacute sua fundamentaccedilatildeo na accedilatildeo esportiva

propriamente dita aleacutem dos documentos que comprovem a viabilidade teacutecnica e

operacional da proponente

Art 9ordm [] III - descriccedilatildeo do projeto contendo justificativa objetivos cronograma de execuccedilatildeo fiacutesica e financeira estrateacutegias de accedilatildeo metas qualitativas e quantitativas e plano de aplicaccedilatildeo dos recursos [] V - comprovaccedilatildeo da capacidade teacutecnico-operativa do proponente [] VII - nos casos de construccedilatildeo ou reforma de imoacutevel comprovaccedilatildeo de pleno exerciacutecio dos poderes inerentes agrave propriedade do respectivo imoacutevel ou da posse conforme dispuser o Ministeacuterio do Esporte (BRASIL 2007b p4-5)

A descriccedilatildeo do projeto conforme preconiza o inciso III Art 9ordm do Decreto

Nordm 61802007 eacute preenchida em formulaacuterio digital no sistema da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte Neste formulaacuterio temos

1 Identificaccedilatildeo Titulo do projeto Objeto Locais de Execuccedilatildeo Manifestaccedilatildeo esportiva Beneficiaacuterios (quantitativo e faixa-etaacuteria) dentre outros

2 Descriccedilatildeo dos Objetivos Objetivo (Geral e Especifico) e Metodologia

3 Justificativa

4 Metas Metas Qualitativas e Quantitativas

5 Orccedilamento Atividade fim e Atividade meio

6 Accedilotildees Atividade fim e Atividade meio

7 ANEXOS Fases de Execuccedilatildeo com Cronograma de atividades Quadro de horaacuterio das aulas e dos profissionais Calendaacuterio de eventos eou competiccedilotildees Comprovaccedilatildeo de Capacidade Teacutecnica e Termo de Cessatildeo de Uso do Espaccedilo Esportivo ou Registro de Posse do Imoacutevel

99

Fonte Ministeacuterio do Esporte 2016

Cada um dos campos de fundamentaccedilatildeo do projeto possui um cabeccedilalho

explicativo e em seguida o espaccedilo para a proponente descrever a informaccedilatildeo

Entretanto as questotildees norteadoras satildeo bastante amplas e natildeo contribuem para a

proponente inexperiente formatar um texto de qualidade Assim seria interessante a

subdivisatildeo destes campos e a inclusatildeo de mais perguntas norteadoras No campo

Metodologia por exemplo caberiam questotildees como Descriccedilatildeo de Puacuteblico-alvo

Criteacuterio de seleccedilatildeo dos beneficiaacuterios Descriccedilatildeo das condiccedilotildees de acessibilidade

Organizaccedilatildeo das atividadesaulastreinamentos dentre vaacuterias outras

Por outro lado a carecircncia argumentativa e de conteuacutedo observada nos

projetos analisados nesta pesquisa tambeacutem refletem uma incipiente

profissionalizaccedilatildeo do setor esportivo Desta forma o mecanismo de mecenato

Figura 7 ndash Formulaacuterio digital de identificaccedilatildeo do projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

100

esportivo pode contribuir para a profissionalizaccedilatildeo da aacuterea por meio da exigecircncia de

um planejamento formal da accedilatildeo esportiva O acircmbito profissionalizante deveria ser

encarado como uma das possiacuteveis missotildees da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

(Lei Nordm 1143811) poreacutem existe uma tendecircncia por consideraacute-la como uma simples

poliacutetica de financiamento ao esporte - distribuiccedilatildeo de recurso puacuteblico

Figura 8 ndash Formulaacuterio digital de descriccedilatildeo do ObjetoMetodologia do projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Continua)

101

Fonte Ministeacuterio do Esporte 2016

O sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte tambeacutem exige que a

proponente inclua no miacutenimo trecircs anexos na etapa de elaboraccedilatildeo da proposta para

habilitar a opccedilatildeo ldquosalvarrdquo Mas natildeo existe disponiacutevel no site do Ministeacuterio do Esporte

modelo ou padratildeo destes documentos (Fase de execuccedilatildeo Grade Horaacuteria Quadro

Horaacuterio dos profissionais Calendaacuterio de Evento Criteacuterio de Seleccedilatildeo de Beneficiaacuterio

Atividade Complementar) Fica a cargo de cada proponente criar seu formulaacuterio

anexo e mais uma vez a qualidade das informaccedilotildees pode ficar comprometida ou

dificultar a anaacutelise teacutecnica

Fonte Ministeacuterio do Esporte 2016

Figura 9 ndash Inclusatildeo de anexo ao projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

102

Vale destacar que no site do Ministeacuterio do Esporte existe uma seacuterie de

manuais instruccedilotildees declaraccedilotildees e modelos de formulaacuterios43 As uacutenicas exceccedilotildees

satildeo os documentos necessaacuterios como anexo na etapa de elaboraccedilatildeo da proposta

esportiva Ou seja ocorreu uma preocupaccedilatildeo elevada do Ministeacuterio do Esporte nas

demais fases do mecenato esportivo mas a etapa de planejamento da accedilatildeo sendo

parcialmente negligenciada

Com relaccedilatildeo agrave capacidade teacutecnica da proponente a Portaria Ministerial

Nordm 1202009 acrescenta dois paraacutegrafos admitindo a comprovaccedilatildeo por meio de

portfoacutelio e fotos das atividades jaacute desenvolvidas pela entidade esportiva ou pelo

curriacuteculo dos profissionais que estaratildeo diretamente envolvidos no projeto esportivo

(BRASIL 2009a)

Art 6ordm [] sect 1ordm A capacidade teacutecnico-operativa de que trata o caput poderaacute ser comprovada por meio de informaccedilotildees anexas ao projeto apresentado que esclareccedilam as caracteriacutesticas propriedades e habilidades do proponente dos membros ou de terceiros associados envolvidos diretamente na execuccedilatildeo do projeto apresentado sect 2ordm A comprovaccedilatildeo da capacidade teacutecnico-operativa de que trata o caput poderaacute ser validamente aceita desde que o objeto a ser executado no projeto desportivo ou paradesportivo apresentado seja proacuteprio das atividades regulares e habituais desenvolvidas pelo proponente (BRASIL 2009a p2)

A cobranccedila para a proponente apresentar relatoacuterio curriacuteculo de

profissionais e documentos das atividades realizadas visa minimizar o risco do poder

puacuteblico na aplicaccedilatildeo do recurso financeiro Entretanto como a proacutepria proponente eacute

responsaacutevel pela organizaccedilatildeo destas informaccedilotildees existe possibilidade de

sobrestimar a sua capacidade operacional Logo esta eacute uma exigecircncia fraacutegil para a

comprovaccedilatildeo operativa da entidade esportiva

Se assumirmos que uma das possibilidades (ou objetivos) do mecenato

esportivo eacute a qualificaccedilatildeo da cadeia produtiva do esporte e natildeo apenas fomento as

suas praacuteticas o estimulo do Art 6ordm da Portaria Ministerial Nordm 1202009 para a

proponente organizar seus feitos e realizaccedilotildees eacute extremamente beneacutefico O

documento deixa de ter um caraacuteter uacutenico e exigiacutevel de comprovaccedilatildeo de capacidade

para ser uma atividade inicial no processo de profissionalizaccedilatildeo da entidade

43

Na margem esquerda do site do Ministeacuterio do Esporte que trata sobre a Lei Federal de Incentivo ao Esporte possui o link para vaacuterios documentos modelos do mecenato esportivo Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrindexphpinstitucionalsecretaria-executivalei-de-incentivo-ao-esportegt

103

esportiva Isto eacute um miacutenimo necessaacuterio para a proponente mostrar sua capacidade

de administrar o recurso puacuteblico na execuccedilatildeo da sua atividade finaliacutestica

Nas duas interpretaccedilotildees levantadas para o artigo de comprovaccedilatildeo de

capacidade teacutecnico-operativa eacute de extrema relevacircncia que o Ministeacuterio do Esporte

realize a fiscalizaccedilatildeo in loco para resguardar o interesse puacuteblico no recurso

investido No caso de foco da poliacutetica como mero instrumento de financiamento a

fiscalizaccedilatildeo objetiva controlar os desvios de funccedilatildeo e a apropriaccedilatildeo privada do

recurso Por sua vez o foco na profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas visa

garantir que o recurso siga o cronograma de accedilatildeo e crie materialidade da sua

execuccedilatildeo

No entanto a fiscalizaccedilatildeo in loco eacute um dos ldquogargalosrdquo do controle da Lei

Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) O ldquoRelatoacuterio de Auditoria do

Tribunal de Contas da Uniatildeordquo mostrou que no final de 2009 o Ministeacuterio do Esporte

nunca havia feito fiscalizaccedilatildeo presencial aos projetos em execuccedilatildeo Passados cinco

anos da auditoria o extrato da Nota Presidencial de 201644 informou que em 2015

foram iniciados 499 novos projetos poreacutem feito visita a apenas 36 (72) ou seja

um nuacutemero ainda pequeno de fiscalizaccedilatildeo (BRASIL 2013c)

O Decreto Nordm 61802007 autoriza que 15 do recurso dos projetos

possa ser utilizado na atividade meio ou seja accedilotildees administrativas ou

complementares necessaacuterias para o desenvolvimento do projeto mas que natildeo

possuam viacutenculo direto com o objeto esportivo45 Tambeacutem existe permissatildeo para a

inclusatildeo das despesas de encargos sociais e trabalhistas dos funcionaacuterios ligados

diretamente ao projeto (BRASIL 2007a)

Para esta uacuteltima permissatildeo a proponente tem que deixar expresso no

projeto a escolha pela modalidade de trabalho (empregado ou autocircnomo) e ainda

descriminar os tributos que seratildeo recolhidos O tema trabalhista eacute recorrente fonte

de problema nas propostas tanto que satildeo comuns as diligecircncias teacutecnicas solicitando

esclarecimento sobre a forma de contrataccedilatildeo ndash empregado seguindo as normas da

44

Devido a natildeo divulgaccedilatildeo do desempenho da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) em 2015 ateacute o fechamento da pesquisa parte das informaccedilotildees foram extraiacutedas da Nota enviada pelo Ministeacuterio do Esporte agrave Presidente da Repuacuteblica 45

Geralmente a atividade meio eacute composta por serviccedilos de terceiros tais como assessoria contaacutebil juriacutedica administrativa consultoria de lei de incentivo fiscal ou profissionais contratados via projeto para executar estas mesmas funccedilotildees Tambeacutem pode compor a atividade meio serviccedilos de limpeza manutenccedilatildeo e outros que mesmo tendo maior proximidade com a atividade fim natildeo satildeo consideradas essenciais para a execuccedilatildeo do objeto esportivo

104

Consolidaccedilatildeo da Legislaccedilatildeo Trabalhista (CLT) e incidindo os encargos sociais e

trabalhistas (FGTS INSS PIS 13ordm salaacuterio feacuterias abono feacuterias rescisatildeo de trabalho

etc) ou como autocircnomo seguindo contrato de prestaccedilatildeo de serviccedilo e os encargos

sociais (INSS)

Vale lembrar que qualquer trabalho desempenhado por pessoa fiacutesica em

que haja pessoalidade subordinaccedilatildeo juriacutedica onerosidade natildeo eventualidade

(habitualidade) eou exclusividade de fonte pagadora configura relaccedilatildeo de

emprego46 regida pela CLT Por sua vez o trabalho de profissional autocircnomo eacute

caracterizado pela liberdade da pessoa fiacutesica no desenvolvimento do serviccedilo para o

qual foi contratado de forma eventual (BRASIL 1943)

O consentimento no pagamento dos encargos sociais e trabalhistas com

recurso da isenccedilatildeo fiscal e a orientaccedilatildeo do Ministeacuterio do Esporte via diligecircncia

teacutecnica pode ser avaliado como uma iniciativa para a profissionalizaccedilatildeo e

formalizaccedilatildeo do setor esportivo Esta eacute uma accedilatildeo importante visto que o mercado de

trabalho no esporte eacute marcado pela informalidade (SEBRAE 2013) Por outro lado

este quadro reforccedila o potencial profissionalizante do mecanismo de mecenato

esportivo o qual deve ser mais bem explorado

O decreto estabelece como vedaccedilatildeo a contrataccedilatildeo de um terceiro para

executar o projeto o que caracterizaria a intermediaccedilatildeo de atividade Este ato eacute

tipificado pela transferecircncia da responsabilidade do objeto de pactuaccedilatildeo com o

Ministeacuterio do Esporte para uma pessoa fiacutesica ou juriacutedica diferente da proponente

Mas da mesma maneira como acontece no mecenato cultural a contrataccedilatildeo de

pessoa fiacutesica ou juriacutedica responsaacutevel por auxiliar na elaboraccedilatildeo do projeto e realizar

a captaccedilatildeo de recurso financeiro natildeo eacute designada como intermediaccedilatildeo Desta forma

existe um mercado paralelo de serviccedilo especializado nos mecanismos de leis de

incentivo fiscal atuando em todas as etapas do processo ndash elaboraccedilatildeo de proposta

captaccedilatildeo de recurso e prestaccedilatildeo de contas (BRASIL 2007b)

46

O Art 3ordm do Decreto-Lei Nordm 5452 de 1ordm de maio de 1943 denominado Consolidaccedilatildeo das Leis Trabalhistas (CLT) define os elementos da formalizaccedilatildeo do vinculo empregatiacutecio Satildeo 1) Pessoalidade - o trabalhador deve ser pessoa fiacutesica que assume em caraacuteter intransferiacutevel a prestaccedilatildeo continuada do serviccedilo 2) Subordinaccedilatildeo ndash o trabalhador estaacute subordinado hierarquicamente agraves ordens do empregador como determinaccedilatildeo do lugar da forma do modo e do tempo (dia e hora) da execuccedilatildeo do trabalho 3) Onerosidade - eacute a contraprestaccedilatildeo (remuneraccedilatildeo) devida ao trabalhador pelos serviccedilos prestados 4) Habitualidade - a continuidade na prestaccedilatildeo de serviccedilo independente da periodicidade ou seja um trabalho natildeo eventual 5) Exclusividade - o trabalhador possui como uacutenica fonte de renda o serviccedilo prestado a um empregador exclusivo mantendo uma relaccedilatildeo de dependecircncia

105

O pagamento deste tipo de serviccedilo pode ser incluiacutedo como uma despesa

da proposta esportiva O seu custo eacute calculado como um percentual do valor total do

projeto com aliacutequota maacutexima vinculada a manifestaccedilatildeo esportiva (5 para esporte

de rendimento 7 para esporte de participaccedilatildeo e 10 para esporte educacional) ou

ateacute o teto bruto de R$ 10000000 por proposta (BRASIL 2009a) Ressalta-se que a

proacutepria proponente natildeo pode se remunerar por este tipo de serviccedilo pois

obrigatoriamente tem que ser uma pessoa externa

Este lobby autorizado pelo Estado brasileiro apesar de ampliar as

chances de efetivaccedilatildeo dos projetos devido ao relacionamento das entidades

especializadas com os grandes apoiadores tende a fortalecer o viacutenculo mercantilista

da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) Neste escopo as

accedilotildees esportivas tomam forma de produto a ser comercializado no mercado de

responsabilidade social e fortalecimento de marca O interesse comercial dos

potenciais apoiadores passa a influenciar diretamente o conteuacutedo e sucesso das

propostas esportivas deixando a necessidade e demanda das entidades esportivas

em segundo plano

Outra vedaccedilatildeo apresentada pelo decreto eacute quanto agrave aquisiccedilatildeo de espaccedilo

publicitaacuterio em qualquer meio de comunicaccedilatildeo com o recurso da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) A cobranccedila de valor pecuniaacuterio (dinheiro)

dos beneficiaacuterios de projetos de praacutetica esportiva continuada como as ldquoescolinhas

esportivasrdquo por exemplo tambeacutem apresentam restriccedilatildeo normativa No entanto o

Ministeacuterio do Esporte tem aceitado a cobranccedila de taxa de inscriccedilatildeo mensalidade

eou ingresso no caso de eventos esportivos por natildeo ter o caraacuteter de accedilatildeo

permanente Mas tem estipulando valores acessiacuteveis uma vez que a finalidade do

recurso incentivado eacute democratizar o acesso ao esporte (BRASIL 2007b)

O recurso arrecadado pela proponente com a execuccedilatildeo do projeto

esportivo deve ser utilizado em accedilotildees da proacutepria proposta inclusive a estimativa de

receita deve ser indicada no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

106

Fonte Ministeacuterio do Esporte 2016

A arrecadaccedilatildeo dos projetos de isenccedilatildeo fiscal eacute tema polecircmico Um

primeiro ponto trata da dificuldade em apurar a quantidade real de beneficiaacuterios em

eventos de esporte principalmente da manifestaccedilatildeo participaccedilatildeo o que pode gerar

uma subestimaccedilatildeo entre a arrecadaccedilatildeo declarada e a realizada (receita real) A

variabilidade na quantidade de beneficiaacuterios durante o planejamento somada a falta

de uma fiscalizaccedilatildeo in loco possibilita a apropriaccedilatildeo indevida da receita gerada pelo

projeto por parte da proponente

Como alternativa ao distanciamento do poder puacuteblico na execuccedilatildeo dos

projetos o Ministeacuterio da Sauacutede por exemplo exigiu como requisito obrigatoacuterio no

seu mecanismo de isenccedilatildeo fiscal (PRONON e PRONASPCD) a existecircncia de uma

auditoria independente inserida como despesa do proacuteprio projeto Estrateacutegia similar

poderia ser adotada pelo Ministeacuterio do Esporte para aumentar o controle da receita e

despesa realizada pelos projetos esportivos Aleacutem disso seria uma maneira de

minimizar erros operacionais da proponente e ser um tipo de primeiro filtro para a

Figura 10 ndash Formulaacuterio digital de Receita Prevista dos projetos esportivos no sistema da Lei

Federal de Incentivo ao Esporte

107

prestaccedilatildeo de contas diminuindo (ou facilitando) o trabalho do setor responsaacutevel pela

anaacutelise das contas no Ministeacuterio do Esporte

O segundo ponto de controversa tem a ver com o potencial comercial de

alguns eventos esportivos incentivados pelo mecenato esportivo Grandes circuitos

de corrida de rua por exemplo tidos como autossustentaacuteveis eou que jaacute tinham

realizado outras ediccedilotildees passaram a se beneficiar do recurso da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) com a motivaccedilatildeo de democratizaccedilatildeo do

acesso A questatildeo foi discutida pelo Tribunal de Contas da Uniatildeo com

argumentaccedilatildeo de vedaccedilatildeo sustentada pelo inciso II do Art 24 do Decreto

61802007 (BRASIL 2013c)

Art 24 Eacute vedada a concessatildeo de incentivo a projeto desportivo [] II - em que haja comprovada capacidade de atrair investimentos independente dos incentivos de que trata este Decreto (BRASIL 2007b p7)

Para os membros do Ministeacuterio do Esporte questionados no ldquoRelatoacuterio de

Auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeordquo existe dificuldade de rejeiccedilatildeo das

propostas esportivas porque a comprovada capacidade de atrair investimento seria

materializada com o patrociacutenio formalizado em conta bancaacuteria ou em outros fatos e

documentos concretos Caso contraacuterio seria meramente especulativa a capacidade

do projeto ou proponente de atrair patrociacutenio (BRASIL 2013c)

O Tribunal de Contas da Uniatildeo concordou com a falta de criteacuterios

objetivos para definir a ldquocapacidade de atrair investimentosrdquo poreacutem sugeriu ao

Ministeacuterio do Esporte que levasse em consideraccedilatildeo o contexto e cenaacuterio das

propostas Assim paracircmetros como o apelo comercial da proposta o puacuteblico que

visa atingir e se jaacute teve versatildeo anterior custeado com recurso natildeo incentivado

deveriam ser observados Aleacutem disso orientou

[] a Comissatildeo Teacutecnica natildeo deve esperar que a comprovaccedilatildeo da capacidade de atrair investimento dependa unicamente da declaraccedilatildeo dada pelo proponente sobre a existecircncia de outros patrocinadores em formulaacuterio exigido na inscriccedilatildeo Aliaacutes a anaacutelise do projeto como um todo natildeo deve se apoiar apenas nas informaccedilotildees trazidas pelo proponente mesmo que a Lei em seus arts 10 e 11 disponha sobre sua penalizaccedilatildeo em caso de agir com dolo fraude ou simulaccedilatildeo (BRASIL 2013c p33)

108

A discussatildeo mostra a deficiecircncia nos objetivos do mecanismo de

mecenato esportivo o qual se apresentando como mera poliacutetica de financiamento

permite que qualquer proposta que atenda ao vago preceito normativo seja alvo de

incentivo puacuteblico Desta forma a democratizaccedilatildeo do acesso ao direito social ao

esporte e a promoccedilatildeo das manifestaccedilotildees educacional e de participaccedilatildeo prioridades

constitucionais satildeo fragilizadas diante da falta de diretriz

Nesta situaccedilatildeo tambeacutem observamos uma tendecircncia de transferecircncia do

custeio de accedilotildees esportivas jaacute existentes para o poder puacuteblico Tanto que o relatoacuterio

de auditoria apresenta o incocircmodo do Tribunal de Contas da Uniatildeo sobre a

capacidade do mecanismo de mecenato esportivo de iniciar uma relaccedilatildeo comercial

entre entidade esportiva e setor privado uma vez que ldquoapoacutes a entrada em vigecircncia

da Lei 114382006 muitas empresas optaram pelo financiamento de projetos

esportivos somente mediante o incentivo fiscalrdquo (BRASIL 2013c p37)

Entatildeo fica a duacutevida sobre a existecircncia de um ldquorecurso novordquo de caraacuteter

privado incentivando o objeto esportivo ou se eacute apenas um aumento no montante

puacuteblico para a aacuterea Esta eacute uma indagaccedilatildeo fundamental para mensurar o resultado

da poliacutetica puacuteblica que optou pela escolha de financiamento extraorccedilamentaacuterio ndash

isenccedilatildeo fiscal ndash com o intuito de criar um viacutenculo comercial entre entidade esportiva

e setor privado ou seja a figura do mecenas esportivo

Ainda na temaacutetica do conteuacutedo teacutecnico-operativo da proposta esportiva o

Decreto Nordm 61802007 determina que 50 dos beneficiaacuterios de projetos da

manifestaccedilatildeo educacional devem estar ldquoregularmente matriculados no sistema

puacuteblico de ensinordquo Por sua vez todos os projetos incentivados com recurso de

isenccedilatildeo fiscal independente de manifestaccedilatildeo esportiva devem ldquoproporcionar

condiccedilotildees de acessibilidade a pessoas idosas e com deficiecircnciardquo (BRASIL 2007b

p7)

A Portaria Ministerial Nordm 1202009 natildeo agregou nenhuma normativa a

temaacutetica da acessibilidade por isso as propostas esportivas tem se limitado a citar

que o espaccedilo fiacutesico atende a prerrogativa do Art 16 do Decreto Nordm 61802007

Art 16 - Nos projetos desportivos e paradesportivos desenvolvidos com recursos oriundos dos incentivos previstos no art 1ordm deveratildeo constar accedilotildees com vistas a proporcionar condiccedilotildees de acessibilidade a pessoas idosas e portadoras de deficiecircncia (BRASIL 2007b p7 ndash grifo nosso)

109

Mais uma vez o Ministeacuterio do Esporte se baseia apenas na informaccedilatildeo

fornecida pela proponente sem um relatoacuterio fotograacutefico descritivo detalhado ou

parecer de profissional especializado (engenheiro ou arquiteto) para atestar que o

local do projeto possui infraestrutura com condiccedilotildees de acessibilidade Aleacutem disso a

norma de acessibilidade eacute ampla (deficiecircncia visual auditiva locomoccedilatildeo etc) e natildeo

ficam claras as medidas estruturais que foram tomadas pelas proponentes para o

cumprimento da exigecircncia do Art 16

O ldquoRelatoacuterio de Auditoria Operacional do Tribunal de Contas da Uniatildeo

Acessibilidade nos oacutergatildeos puacuteblicos federais47rdquo demonstra que mesmo existindo

dotaccedilatildeo orccedilamentaacuteria e orientaccedilatildeo para adaptaccedilatildeo agrave acessibilidade em obras de

reforma ampliaccedilatildeo ou construccedilatildeo na administraccedilatildeo puacuteblica federal direta e indireta

ainda haacute um grande deacuteficit no atendimento da universalizaccedilatildeo da acessibilidade

(BRASIL 2012) No entanto realidade diferente parece ser encontrada na aacuterea do

esporte pois a maioria das proponentes declara atender mesmo que

genericamente as condiccedilotildees estruturais de acessibilidade

Por outro lado tambeacutem chama atenccedilatildeo a restriccedilatildeo do termo

acessibilidade a adaptaccedilotildees exclusivamente estruturais e arquitetocircnicas por parte

das proponentes pois o Art 16 do Decreto Nordm 61802007 menciona ldquoaccedilotildeesrdquo com

vista agrave acessibilidade (BRASIL 2007b) Ou seja o desenvolvimento de uma turma

exclusiva para pessoa com deficiecircncia ou idosa reserva de ingressos em evento

esportivo dentre uma variedade de outras accedilotildees pode gerar uma condiccedilatildeo de

acessibilidade mais efetiva a este grupo de necessidades especiais

Para induzir a efetividade desta poliacutetica inclusiva nas propostas esportivas

da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) o Ministeacuterio do Esporte

poderia acrescentar no formulaacuterio digital um campo de descriccedilatildeo das accedilotildees a serem

desenvolvidas pela proponente Como exemplo temos a medida adotada na Lei

Municipal de Incentivo agrave Cultura de Belo Horizonte48 Na oportunidade a Fundaccedilatildeo

Municipal de Cultura incluiu no edital de seleccedilatildeo de projetos o criteacuterio acessibilidade

o qual passou a pontuar de 0 a 5 e o resultado integrar o somatoacuterio da nota final da

47

O ldquoRelatoacuterio de Auditoria Operacional do Tribunal de Contas da Uniatildeo Acessibilidade nos oacutergatildeos puacuteblicos federaisrdquo eacute um documento conclusivo sobre o trabalho de apuraccedilatildeo de questionaacuterio eletrocircnico a seis oacutergatildeos e entidades federais (Caixa Correios INSS Ministeacuterio do Trabalho e Emprego Receita Federal e Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo) de atendimento ao cidadatildeo Disponiacutevel em lthttpportaltcugovbrlumisportalfilefileDownloadjspfileId=8A8182A24F0A728E014F0B24E1417E4Bgt 48

Disponiacutevel em lthttpbhfazculturapbhgovbrgt

110

proposta (nota maacutexima de 100 pontos) O formulaacuterio de projeto passou a ter o

campo ldquoproposta de acessibilidaderdquo e o conteuacutedo avaliado pela comissatildeo julgadora

Para encerrar a temaacutetica sobre o grupo de necessidades especiais

destacamos o caraacuteter discriminatoacuterio do formulaacuterio digital da Lei Federal de Incentivo

ao Esporte agrave pessoa com deficiecircncia Na parte de ldquoBreve Descriccedilatildeo do Puacuteblico

Beneficiaacuteriordquo o Ministeacuterio do Esporte adota o criteacuterio faixa-etaacuteria para quantificar o

nuacutemero de atendidos No caso da pessoa com deficiecircncia a faixa etaacuteria eacute ignorada

e tratada como uma categoria a parte Poreacutem accedilotildees esportivas desenvolvidas para

o puacuteblico com deficiecircncia tambeacutem devem variar em relaccedilatildeo agrave faixa-etaacuteria logo

suprimir esta informaccedilatildeo demonstra no miacutenimo desconsideraccedilatildeo com este

segmento populacional

Fonte Ministeacuterio do Esporte 2016

Cabe ressaltar que apesar do formulaacuterio digital exibir as faixas-etaacuterias

como categorias 1) Crianccedilas 2) Adolescentes 3) Adulto e 4) Idosos na versatildeo

impressa do projeto que deve ser enviada ao Ministeacuterio do Esporte estas tambeacutem

apresentam a delimitaccedilatildeo das idades 1) Crianccedilas (0 a 12 anos) 2) Adolescentes

(10 a 18 anos) 3) Adultos (18 a 59 anos) 4) Idosos (a partir de 60 anos) Mas a

correta faixa-etaacuteria da categoria adolescente seria 13 a 17 anos conforme consta no

Art 2ordm do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Nordm 80691990)

43 O tracircmite do projeto esportivo no Ministeacuterio do Esporte

Encerradas as exigecircncias teacutecnico-operativas para a etapa de elaboraccedilatildeo

e lanccedilamento da proposta esportiva no sistema a proponente deve protocolar o

Figura 11 ndash Formulaacuterio de identificaccedilatildeo do puacuteblico beneficiaacuterio do projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

111

projeto junto ao Ministeacuterio do Esporte Isto eacute mesmo com o projeto lanccedilado no

sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte a entidade esportiva ainda precisa

gerar uma coacutepia impressa anexando corretamente todos os documentos e

orccedilamentos e enviar ao Ministeacuterio do Esporte via correspondecircncia com aviso de

recebimento (AR) ou pessoalmente no setor de protocolo

A etapa seguinte descrita pelo Decreto Nordm 61802007 como ldquoAnaacutelise e

Aprovaccedilatildeo dos Projetosrdquo comeccedila com o recebimento do projeto pelo setor de

protocolo do Ministeacuterio do Esporte O setor tem dois dias uacuteteis para registrar um

nuacutemero de processo interno e encaminhar o projeto para a preacute-anaacutelise setor

responsaacutevel pela conferecircncia documental (BRASIL 2007b BRASIL 2009a) Caso a

documentaccedilatildeo esteja de acordo com o Art 9ordm do decreto o projeto segue para a

aacuterea teacutecnica para anaacutelise do meacuterito esportivo Natildeo existe um prazo determinado

entre a preacute-anaacutelise e a anaacutelise teacutecnica sendo que a segunda eacute hoje o maior

ldquogargalordquo do processo pois o Ministeacuterio do Esporte natildeo conta com um nuacutemero

satisfatoacuterio de analistas

Em 2009 o ldquoRelatoacuterio de Auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeordquo

registrou a carecircncia de equipe teacutecnica especializada para anaacutelise dos projetos de

mecenato esportivo (BRASIL 2013c) Naquela eacutepoca os projetos eram avaliados

pela Secretaria Nacional de Esporte Educacional (SNEE) Secretaria Nacional de

Esporte e Lazer (SNEL) e Secretaria Nacional de Esporte de Rendimento (SNER)

dependendo do tipo de manifestaccedilatildeo esportiva apresentada pelo projeto

A partir de 21 de julho de 2011 o Decreto Nordm 7529 reestruturou a parte

administrativa do Ministeacuterio do Esporte e criou o Departamento de Incentivo e

Fomento ao Esporte (BRASIL 2011) O oacutergatildeo ligado agrave Secretaria-executiva do

ministeacuterio passou a contar com equipe proacutepria para o funcionamento da Lei Federal

de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) e dar apoio operacional a Comissatildeo

Teacutecnica conforme previa o sect4ordm inciso III do Art 7ordm do Decreto Nordm 61802007

Apesar da criaccedilatildeo de uma estrutura especiacutefica para a gestatildeo da Lei

Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) a auditoria realizada pela

Controladoria-Geral da Uniatildeo no Ministeacuterio do Esporte em 2013 indicou que o

oacutergatildeo precisaria de um nuacutemero superior de servidores para atender a demanda O

relatoacuterio da auditoria ainda apresentou que 51 do grupo de funcionaacuterios lotados no

oacutergatildeo eram do tipo terceirizado e outros 15 estagiaacuterios demonstrando a

fragilidade institucional para a execuccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica (BRASIL 2014c)

112

Fonte BRASIL (2012 p1) apud por Starepravo et al (2015 p224)

Para tentar agilizar o tracircmite das propostas esportivas e minimizar o

passivo de projetos aguardando anaacutelise de meacuterito em 2 de dezembro de 2013 a

Portaria Ministerial Nordm 295 divulgou 63 nomes de profissionais autocircnomos

habilitados para atuar como perito parecerista no mecenato esportivo (BRASIL

2013d) Estrateacutegia similar jaacute vinha sendo utilizada pelo Ministeacuterio da Cultura para dar

maior celeridade agrave anaacutelise de projetos na Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991)

Em 29 de fevereiro de 2016 a Portaria Ministerial Nordm 50 reafirmou o

modelo de ampliaccedilatildeo do corpo teacutecnico do Ministeacuterio do Esporte com a

habilitaccedilatildeorenovaccedilatildeo de 59 peritos pareceristas (BRASIL 2016b) Todavia o

aumento no apoio operacional do Ministeacuterio do Esporte aconteceu mais uma vez

sem ampliaccedilatildeo na quantidade de servidor puacuteblico o que natildeo sana a debilidade

institucional

Figura 12 ndash Organograma institucional do Ministeacuterio do Esporte a partir da reformulaccedilatildeo do

Decreto Nordm 75292011

113

Cabe frisar que fui habilitado nos dois editais de seleccedilatildeo de perito

parecerista do Ministeacuterio do Esporte (Portaria Ministerial Nordm 2952013 e Nordm 502016)

e por conta disso pude vivenciar parcialmente o tracircmite interno dos projetos na Lei

Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

A fase da anaacutelise teacutecnica do meacuterito da proposta esportiva pode ser feita

pela equipe teacutecnica do Departamento de Incentivo e Fomento do Ministeacuterio do

Esporte (DIFE) ou por perito parecerista mas este uacuteltimo supervisionado por um

servidor puacuteblico que assina junto o parecer conclusivo

A carecircncia de perguntas norteadoras no formulaacuterio digital da Lei Federal

de Incentivo ao Esporte e a incipiente profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas

dificultam a emissatildeo de um parecer conclusivo na primeira anaacutelise da grande maioria

dos projetos Entatildeo eacute comum o envio de diligecircncia teacutecnica a proponente solicitando

esclarecimento e mais informaccedilotildees sobre a proposta Nesta etapa tambeacutem pode ser

solicitado orccedilamentos extras ou explicaccedilotildees sobre a memoacuteria de caacutelculo dos

materiais e serviccedilos contratados ou seja anaacutelise do elemento orccedilamentaacuterio do

projeto

Para exemplificar o desalinhamento entre Ministeacuterio do Esporte e

proponente durante a fase de elaboraccedilatildeo o qual acaba refletindo em solicitaccedilatildeo de

esclarecimentos na etapa subsequente de anaacutelise de meacuterito recorremos a alguns

itens costumeiros nas diligecircncias teacutecnicas Por parte do Ministeacuterio do Esporte existe

uma seacuterie de exigecircncias normativas que a proponente deve atender tais como

informar que usaraacute o selo da Lei Federal de Incentivo ao Esporte e demais

logomarcas oficiais informar as condiccedilotildees de acessibilidade a pessoas idosas e com

deficiecircncia informar se haveraacute alguma fonte de recurso advinda da realizaccedilatildeo do

projeto Se estas questotildees estivessem expliacutecitas no formulaacuterio digital poderia evitar

o trabalho adicional de diligenciar as entidades esportivas Lembrando que o

trabalho adicional realizado por servidor puacuteblico devido agrave falha de processo pode ser

considerado uma forma ampliada de desperdiacutecio de recurso puacuteblico

Por parte das proponentes agraves vezes falta coerecircncia entre objetivos e

metas sendo que algumas metas podem extrapolar a capacidade de intervenccedilatildeo do

projeto Um exemplo eacute ldquodiminuir a evasatildeo escolarrdquo49 Ora os projetos de esporte

49

Todos os trechos entre aspas deste paraacutegrafo foram extraiacutedos de projetos em que realizei anaacutelise como perito parecerista da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) no periacuteodo de 2014 a 2015

114

educacional podem influenciar na retenccedilatildeo dos seus beneficiaacuterios mas o problema

da evasatildeo escolar envolve toda a comunidade escolar e natildeo apenas os atendidos

pela accedilatildeo esportiva Assim eacute necessaacuterio cautela nos objetivos e metas para natildeo

reproduzir de forma simplista o discurso salvacionista enraizado no esporte Outra

meta recorrente foi a ldquomelhora na qualidade de vidardquo Neste caso o termo qualidade

de vida eacute bastante amplo e de cunho subjetivo e individual gerando uma dificuldade

teacutecnica para mensurar o cumprimento desta meta Um terceiro exemplo seria

ldquoImpulsionar o desenvolvimento da induacutestria nacionalrdquo Por mais que a compra de

materiais seja relevante para alguns projetos esportivos uma uacutenica accedilatildeo gerar um

impacto na cadeia produtiva do esporte nacional parece exagero Enfim cabe uma

reflexatildeo sobre a adequaccedilatildeo entre os objetivos e metas e a real viabilidade do

resultado a ser mensurado

Neste contexto os projetos usualmente satildeo insuficientes de informaccedilatildeo

sobre a accedilatildeo esportiva pleiteada ou apresentam problemas teacutecnicos Apoacutes

notificaccedilatildeo da entrega da diligecircncia teacutecnica a proponente passa a ter 15 dias uacuteteis

para manifestar resposta podendo o prazo ser estendido pelo mesmo periacuteodo uma

uacutenica vez (BRASIL 2009a) A falta de resposta agrave diligecircncia dentro do prazo leva a

rejeiccedilatildeo do projeto esportivo conforme consta no Art 26ordm do Decreto Nordm

61802007

Art 26 Nos casos de natildeo-atendimento tempestivo de diligecircncia requerida ao proponente indeferimento do projeto ou do pedido de reconsideraccedilatildeo o projeto seraacute rejeitado e devolvido ao interessado (BRASIL 2007b p7)

Somente apoacutes sanar todas as duacutevidas e problemas eacute possiacutevel a emissatildeo

de um parecer conclusivo O parecer consta de 1) histoacuterico da entidade esportiva

junto ao mecanismo de Lei Federal de Incentivo ao Esporte 2) anaacutelise da viabilidade

teacutecnica do projeto a partir das informaccedilotildees descritivas apresentadas no formulaacuterio e

resposta de diligecircncia teacutecnica 3) anaacutelise orccedilamentaacuteria onde se verifica o

quantitativo e o balizamento de preccedilo dos itens solicitados para operacionalizaccedilatildeo

do projeto 4) comprovaccedilatildeo da capacidade teacutecnico-operativa da proponente e por

fim 5) conclusatildeo final argumentando pela aprovaccedilatildeo aprovaccedilatildeo parcial (exclusatildeo

de alguns itens) ou rejeiccedilatildeo do projeto

Vale ressaltar que o parecer conclusivo tem caraacuteter sugestivo pois a

decisatildeo final eacute realizada pela Comissatildeo Teacutecnica atraveacutes da votaccedilatildeo aberta dos seus

115

seis membros Para nortear o voto dos membros o inciso I do Art 21 do Decreto

Nordm 61802007 sinaliza para um possiacutevel principio democraacutetico (natildeo concentraccedilatildeo)

de escolha de maneira a natildeo levar em consideraccedilatildeo apenas o meacuterito das

propostas

Art 21 Quando da anaacutelise dos projetos apresentados a Comissatildeo Teacutecnica observaraacute os seguintes paracircmetros I - natildeo-concentraccedilatildeo por proponente por modalidade desportiva ou paradesportiva por manifestaccedilatildeo desportiva ou paradesportiva ou por regiotildees geograacuteficas nacionais II - capacidade teacutecnico-operativa do proponente III - atendimento prioritaacuterio a comunidades em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social IV - inexistecircncia de outro patrociacutenio doaccedilatildeo ou benefiacutecio especiacutefico para as accedilotildees inseridas no projeto (BRASIL 2007b p7 ndash grifo nosso)

Fonte Inspirado em BRASIL (2007b p7) ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Contudo os graacuteficos a seguir elaborados a partir do ldquoRelatoacuterio de Gestatildeo

da Lei Federal de Incentivo ao Esporte de 2014rdquo e das ldquoContas Regionais do Brasil

2010-2013rdquo do IBGE50 mostram que existe uma alta concentraccedilatildeo de incentivo fiscal

para o esporte na regiatildeo Sudeste do paiacutes superior inclusive agrave distribuiccedilatildeo

percentual do Produto Interno Bruto (PIB) Ou seja apesar da orientaccedilatildeo pela natildeo

concentraccedilatildeo em regiatildeo geograacutefica nota-se que o mecanismo de mecenato

esportivo tem reproduzido e ateacute mesmo reforccedilado o mapa da desigualdade

econocircmica do paiacutes

50

Disponiacutevel em lthttpbibliotecaibgegovbrvisualizacaolivrosliv94952pdfgt

Paracircmetro Natildeo concentraccedilatildeo

Por proponente

Por modalidade esportiva

Por manifestaccedilatildeo

esportiva

Por regiotildees geograacuteficas

Figura 13 ndash Diagrama de paracircmetro para a escolha e aprovaccedilatildeo dos projetos esportivos na

Lei Federal de Incentivo ao Esporte

116

Fonte IBGE (2013 p12) Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Haacute espaccedilo para contra argumentar que a maior distribuiccedilatildeo do recurso na

regiatildeo Sudeste teria relaccedilatildeo com a concentraccedilatildeo da populaccedilatildeo Poreacutem ao se

verificar a distribuiccedilatildeo territorial da populaccedilatildeo nas regiotildees administrativas do paiacutes

referenciada pelo Censo do IBGE de 201051 natildeo percebemos similaridade entre os

percentuais Logo a orientaccedilatildeo de natildeo concentraccedilatildeo do mecenato esportivo por

regiatildeo geograacutefica natildeo tem sido cumprida pela Comissatildeo Teacutecnica

Fonte IBGE acesso ao SIDRA no dia 4 de marccedilo de 2016 referente a dados de 2013

Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

51

Disponiacutevel em lthttpwwwsidraibgegovbrgt

Graacutefico 6 ndash Comparativo entre a distribuiccedilatildeo do PIB brasileiro e o acumulado da Captaccedilatildeo de

Recurso na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por regiatildeo administrativa do paiacutes

Graacutefico 7 ndash Comparativo entre a distribuiccedilatildeo populacional e o acumulado da Captaccedilatildeo de

Recurso na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por regiatildeo administrativa do paiacutes

117

O ldquoRelatoacuterio de Auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeordquo em 2009 jaacute

alertava o Ministeacuterio do Esporte sobre a concentraccedilatildeo de recurso e projetos na

regiatildeo Sudeste Na eacutepoca o Ministeacuterio do Esporte se retratou justificando a

dificuldade em favorecer as demais regiotildees administrativas do paiacutes uma vez que as

diferenccedilas culturais e econocircmicas historicamente presentes no paiacutes favoreciam uma

maior apresentaccedilatildeo de projetos da regiatildeo Sudeste (BRASIL 2013c)

Ao observar o valor aprovado pelo mecenato esportivo por regiatildeo

administrativa do paiacutes no periacuteodo acumulado de 2007 a 2014 notamos que o

montante autorizado diminuiu para 731 (R$ 309262349300) na regiatildeo Sudeste

quando comparado ao percentual de 789 (R$ 38684513622) calculado em 2009

(BRASIL 2013c p26) Poreacutem a quantia que foi realmente captada e efetivada em

accedilatildeo esportiva mostrou um aumento nocivo na desproporcionalidade regional sendo

823 (R$ 112193248500) destinado agrave regiatildeo Sudeste Ou seja o somatoacuterio do

recurso financeiro captado por todas as demais regiotildees (R$ 24126717300) durante

o acumulado no periacuteodo de 2007 a 2014 foi inferior ao que se aplica no Sudeste

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Desta forma embora o mecanismo de mecenato esportivo tenha levado

um ldquorecurso novordquo para a aacuterea do esporte ele tem sido incapaz de minimizar

desigualdades regionais e levar o direito social ao esporte para locais onde

tradicionalmente o Estado brasileiro tem pequena presenccedila como Norte e Nordeste

(MATIAS et al 2015) Portanto como uma poliacutetica puacuteblica nacional torna-se

Graacutefico 8 ndash Comparativo entre a distribuiccedilatildeo do acumulado de 2007 a 2014 do recurso

autorizado e captado pela Lei Federal de Incentivo por regiatildeo administrativa do paiacutes

118

importante que o Ministeacuterio do Esporte reflita sobre estrateacutegias para pulverizar o

recurso e dar oportunidade agraves entidades esportivas sediadas nas demais regiotildees do

paiacutes

O mecanismo de mecenato cultural da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991)

apresenta limitaccedilatildeo geograacutefica similar poreacutem a legislaccedilatildeo tambeacutem conta com o

Fundo Nacional de Cultura (FNC) que recebe resiacuteduo financeiro de projetos recurso

direto do orccedilamento da Uniatildeo dentre outras fontes52 O Fundo Nacional de Cultura

(FNC) possibilita a abertura de editais direcionados e o investimento em localidades

em que o incentivo fiscal natildeo consegue chegar seja por falta de apoiadores

(empresas tributadas pela modalidade lucro real ou pessoas com declaraccedilatildeo

completa do Imposto sobre a Renda) ou de pouca visibilidade comercial (BRASIL

1991a)

No caso do esporte o inciso I do Art 56 da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998)

prevecirc a criaccedilatildeo do Fundo Desportivo poreacutem ateacute o momento natildeo regulamentado

(BRASIL 1998a) O Fundo Desportivo poderia ser viabilizado inicialmente com os

resiacuteduos financeiros da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

como por exemplo o recurso captado por projetos que natildeo atingiram o patamar

miacutenimo de executabilidade (20 do valor total) ou o rendimento da aplicaccedilatildeo

financeira dos projetos executados Atualmente os resiacuteduos do mecenato esportivo

satildeo recolhidos ao Tesouro Nacional por meio da Guia de Recolhimento da Uniatildeo

(GRU) Neste trabalho natildeo foi possiacutevel mensurar o montante financeiro alusivo a

este resiacuteduo mas trata-se de uma alternativa de direcionamento puacuteblico agrave poliacutetica de

financiamento ao esporte

O mecanismo de incentivo ao esporte de Minas Gerais adotou artifiacutecio

similar para minimizar o impacto da concentraccedilatildeo de recurso e projeto na regiatildeo

metropolitana de Belo Horizonte centro poliacutetico e administrativo do estado A

52

O Art 5ordm da Lei Rouanet define a origem do recurso constituinte do Fundo Nacional de Cultura como sendo 1) Tesouro Nacional 2) doaccedilotildees 3) legados 4) subvenccedilotildees e auxiacutelios de entidades de qualquer natureza inclusive de organismos internacionais 5) saldos natildeo utilizados na execuccedilatildeo dos projetos 6) devoluccedilatildeo de recursos de projetos natildeo iniciados ou interrompidos com ou sem justa causa 7) 1 da arrecadaccedilatildeo dos Fundos de Investimentos Regionais a que se refere a Lei ndeg 8167 de 16 de janeiro de 1991 obedecida na aplicaccedilatildeo a respectiva origem geograacutefica regional 8) 3 da arrecadaccedilatildeo bruta dos concursos de prognoacutesticos e loterias federais deduzindo-se este valor do montante destinados aos precircmios 9) reembolso das operaccedilotildees de empreacutestimo realizadas atraveacutes do fundo a tiacutetulo de financiamento reembolsaacutevel observados criteacuterios de remuneraccedilatildeo que no miacutenimo lhes preserve o valor real 10) resultado das aplicaccedilotildees em tiacutetulos puacuteblicos federais 11) conversatildeo da diacutevida externa com entidades e oacutergatildeos estrangeiros unicamente mediante doaccedilotildees 12) saldos de exerciacutecios anteriores 13) recursos de outras fontes

119

legislaccedilatildeo do Minas Esportiva Incentivo ao Esporte (Lei Estadual Nordm 202842013)

criou uma fonte de arrecadaccedilatildeo para a Secretaria de Estado de Esporte depositada

em um fundo especifico para o esporte estadual Assim 10 do valor total captado

por todos os projetos satildeo recolhidos neste fundo e disponibilizado em editais

especiacuteficos dando oportunidade de financiamento agravequeles projetos com maior

dificuldade de captaccedilatildeo e entidades esportivas sediadas em municiacutepios com menor

Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDHm) (MINAS GERAIS 2013)

Para fins de suposiccedilatildeo se a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) tivesse acolhido estrateacutegia de criaccedilatildeo de fundo esportivo idecircntica a de

Minas Gerais o recolhimento do percentual de 10 do valor captado na regiatildeo

Sudeste (R$ 11219324900) daria um montante superior ao somatoacuterio da quantia

conseguida pelas regiotildees Norte Nordeste e Centro-Oeste (R$ 8875997600) no

acumulado de 2007 a 2014

Todavia a formaccedilatildeo de fundo esportivo com recurso de origem da proacutepria

captaccedilatildeo pode ser beneacutefica para a distribuiccedilatildeo regional mas impacta negativamente

no aumento no valor total do projeto Projetos mais caros podem dificultar ainda mais

a captaccedilatildeo de recursos das pequenas entidades esportivas e daquelas propostas

com baixo potencial comercial Ademais as entidades esportivas passam a ser

captadoras de recurso para a pasta do esporte (fundo puacuteblico do esporte)

recolhendo tributo pela via extraorccedilamentaacuteria quando na verdade o debate do

fomento e alocaccedilatildeo do recurso puacuteblico deveria estar abrigado no debate de

formaccedilatildeo do orccedilamento puacuteblico

Uma segunda orientaccedilatildeo do Decreto Nordm 61802007 para a aprovaccedilatildeo

de projetos pela Comissatildeo Teacutecnica eacute a natildeo concentraccedilatildeo por manifestaccedilatildeo esportiva

(BRASIL 2007b) No entanto mais uma vez os dados do ldquoRelatoacuterio Gerencial da

Lei federal de Incentivo ao Esporte de 2014rdquo Nota Presidencial de 2016 e do

ldquoRelatoacuterio de Auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeordquo demonstram uma disfunccedilatildeo

no funcionamento do mecanismo de mecenato esportivo (BRASIL 2015c BRASIL

2013c)

120

Graacutefico 9 ndash Distribuiccedilatildeo do recurso autorizado e captado pelos projetos esportivos da Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizados em 27 de marccedilo de 2013

Apesar de uma suposta priorizaccedilatildeo do mecanismo de isenccedilatildeo fiscal ao

esporte educacional e de participaccedilatildeo por conta da vedaccedilatildeo do Art 5ordm do Decreto

Nordm 61802007 ao pagamento de remuneraccedilatildeo a atleta profissional o impedimento

foi incapaz de restringir a supremacia na apresentaccedilatildeo dos projetos de esporte de

rendimento

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 11 de marccedilo de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Graacutefico 10 ndash Distribuiccedilatildeo da quantidade dos projetos esportivos apresentados na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

121

Nota-se que o ano de 2007 foi o de menor participaccedilatildeo percentual dos

projetos na manifestaccedilatildeo rendimento com 410 do total apresentado Enquanto o

ano de 2009 exibiu a maior proporccedilatildeo com 528 do montante de projetos A meacutedia

geral da proporccedilatildeo de projetos apresentados na manifestaccedilatildeo rendimento foi de

498 calculada pelo acumulado de 2007 a 2015 das propostas apresentadas por

esta manifestaccedilatildeo (5702) e o total geral de projetos do mecanismo (11459)

A concentraccedilatildeo de projetos e recurso financeiro na manifestaccedilatildeo

rendimento eacute justificada pelo Ministeacuterio do Esporte como fruto do histoacuterico cultural do

paiacutes que tem no atleta e no esporte competitivo oportuno meio de transmissatildeo de

valores morais para a construccedilatildeo da sociedade (BRASIL 2013c)

Aliado agrave questatildeo cultural ainda devemos considerar que a

obrigatoriedade de profissionalizaccedilatildeo esportiva existe apenas para o futebol e para o

peatildeo de rodeio segundo consta no Art 94 da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) e Lei Nordm

102202001 respectivamente (BRASIL 1998a BRASIL 2001c) Nas demais

modalidades do esporte a profissionalizaccedilatildeo tem um caraacuteter facultativo e por conta

disso pode permitir o acesso das tradicionais entidades de rendimento ao recurso

da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) Tal constataccedilatildeo exibe

a necessidade de ter precisatildeo no objetivo e missatildeo do mecenato esportivo pois as

manifestaccedilotildees educacional e de participaccedilatildeo formulaccedilotildees mais recentes e ainda

fraacutegeis de materialidade estatildeo disputando espaccedilo em par de igualdade com o jaacute

consolidado esporte de rendimento

Como medida preventiva para minimizar o impacto na concentraccedilatildeo de

recurso no esporte de rendimento o Ministeacuterio do Esporte acordou com a Secretaria

da Receita Federal um ato normativo (Decreto Nordm 63382007 e Decreto Nordm

6684200853) para fixar limite de isenccedilatildeo fiscal entre as manifestaccedilotildees (BRASIL

2007c BRASIL 2008) A designaccedilatildeo do valor de isenccedilatildeo fiscal tambeacutem visava

53

De acordo com a consulta realizada ao Ministeacuterio do Esporte em 12 de abril de 2016 atraveacutes da Lei de Acesso a Informaccedilatildeo (Lei Nordm 125272011) me foi informado que o Decreto Nordm 66842008 continua em vigecircncia estipulando o valor do teto da renuacutencia fiscal ao esporte No entanto o decreto trata expressamente do ano-fiscal de 2008 e natildeo possui registro de alteraccedilatildeo do seu texto Desta forma este ato expirou a validade e natildeo possui legalidade para fixar o teto do mecanismo de mecenato esportivo apesar de ser sido informado pelo ministeacuterio O que existe atualmente eacute uma tabela da Secretaria da Receita Federal que acompanha o projeto de Lei Orccedilamentaacuteria Anual (LOA) onde existe uma estimativa da renuacutencia fiscal do ano vigente baseada no recurso captado no ano antecedente Contudo a falta de um ato do Poder Executivo fixando expressamente o valor anual da renuncia descumpre a exigecircncia do Art 13-A da Lei Federal de Incentivo ao Esporte Disponiacutevel em lthttpidgreceitafazendagovbrdadosreceitadatarenuncia-fiscalprevisoes-ploaarquivos-e-imagensdemonstrativos-dos-gastos-tributarios-dgtgt

122

atender as exigecircncias do Art 13-A da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006)

Art 1ordm - O valor maacuteximo das deduccedilotildees do imposto sobre a renda devido a tiacutetulo de patrociacutenios ou doaccedilotildees no apoio direto a projetos desportivos e paradesportivos de que trata o art 1ordm da Lei nordm 11438 de 29 de dezembro de 2006 eacute fixado para o ano-calendaacuterio de 2008 em R$ 40000000000 (quatrocentos milhotildees de reais) sendo que desse valor I - R$ 20000000000 (duzentos milhotildees de reais) correspondem [] projetos desportivos e paradesportivos na aacuterea do desporto educacional II - R$ 5332000000 (cinquenta e trecircs milhotildees trezentos e vinte mil reais) correspondem [] projetos desportivos e paradesportivos na aacuterea do desporto de participaccedilatildeo e III - R$ 14668000000 (cento e quarenta e seis milhotildees seiscentos e oitenta mil reais) correspondem [] projetos desportivos e paradesportivos na aacuterea do desporto de rendimento (BRASIL 2008 p1)

No entanto o mecanismo de mecenato esportivo ainda se encontra

distante do teto fiscal de R$ 400 milhotildees assim o ato teve pouco impacto como

medida disciplinadora Natildeo obstante eacute importante o Ministeacuterio do Esporte ponderar

outras estrateacutegias para minimizar a concentraccedilatildeo na modalidade rendimento pois

aleacutem de contrariar o paracircmetro de natildeo concentraccedilatildeo do Decreto Nordm 61802007

ainda tem como agravante divergir do Art 217 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o

qual recomenda prioridade de investimento no esporte educacional e de

participaccedilatildeo

Uma alternativa tendo em vista a embrionaacuteria profissionalizaccedilatildeo das

entidades esportivas seria a elaboraccedilatildeo de cartilha educativa oferta de curso e

seminaacuterio sobre a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

focando na distinccedilatildeo das manifestaccedilotildees esportivas Outra possibilidade seria a

aproximaccedilatildeo do Departamento de Incentivo e Fomento ao Esporte com a secretaria

gestora dos programas Segundo Tempo (PST) e Esporte e Lazer da Cidade (PELC)

seguida pela disponibilizaccedilatildeo de um projeto modelo destes programas para auxiliar

a elaboraccedilatildeo das proponentes inexperientes

O terceiro paracircmetro indicado pelo Decreto Nordm 61802007 trata da natildeo

concentraccedilatildeo por proponente (BRASIL 2007b) Mas os dados do ldquoRelatoacuterio

Gerencial da Lei Federal de Incentivo ao Esporte de 2014rdquo mostram que no periacuteodo

de 2007 a 2014 apenas 24 proponentes concentraram 466 (aproximadamente R$

61777700000) de todo o montante captado pelo mecanismo de mecenato

esportivo (R$ 132711914300) (BRASIL 2015c)

123

Quando analisamos este grupo de sucesso notamos que 10 entidades

esportivas estatildeo no estado de Satildeo Paulo e satildeo responsaacuteveis por 490

(aproximadamente R$ 30283700000) do recurso Ou seja as 10 proponentes

paulistas concentram quase frac14 de todo o recurso acumulado no periacuteodo de 2007 a

2014 O grupo eacute formado por outras 10 proponentes do Rio de Janeiro que

acumulam 364 (aproximadamente R$ 22491600000) e mais trecircs proponentes

de Minas Gerais que somaram 123 (aproximadamente R$ 7592000000) do

montante Fechando o grupo das 24 proponentes temos uma uacutenica integrante que

estaacute no Paranaacute responsaacutevel pelo percentual de 23 (aproximadamente R$

1410400000) do recurso

Percebemos que este seleto grupo de 24 proponentes estaacute

predominantemente sediado na regiatildeo Sudeste o que contribuiu para reforccedilar a

concentraccedilatildeo regional que verificamos anteriormente Contudo chama a atenccedilatildeo

quando verificamos a tipologia destas proponentes O percentual de 229

(aproximadamente R$ 14124100000) do recurso estaacute distribuiacutedo para seis

confederaccedilotildees ou entidades representativas do esporte nacional No entanto estas

satildeo entidades que jaacute recebem recurso puacuteblico da Lei AgneloPiva (Lei Ndeg

102642001) para promoccedilatildeo do esporte de rendimento

No dia 11 de marccedilo de 2016 por meio do site do Ministeacuterio do Esporte

consultamos sobre a manifestaccedilatildeo esportiva das propostas recentemente aprovadas

por estas seis entidades (periacuteodo de 01082013 a 31122015) Apesar da baixa

confiabilidade54 do site verificamos a quantia de 20 propostas sendo 19 de

rendimento e uma de esporte educacional Desta forma estimamos que estas

entidades representativas do esporte estejam contribuindo para a concentraccedilatildeo de

recurso na manifestaccedilatildeo rendimento tendo em vista o histoacuterico das uacuteltimas

propostas aprovadas e o sucesso acumulado na captaccedilatildeo de recurso

54

Durante a pesquisa foi identificada inconformidade entre as informaccedilotildees fornecidas pelo relatoacuterio interno do sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte e o disponibilizado no site do Ministeacuterio do Esporte O problema de confiabilidade do sistema tambeacutem foi observado no ldquoRelatoacuterio de Auditoria Anual de Contas da Controladoria-Geral da Uniatildeordquo em 2013 o qual ainda comenta sobre a utilizaccedilatildeo excessiva de planilhas eletrocircnicas pelos servidores para o controle do programa (BRASIL 2013)

124

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Tambeacutem temos dois clubes recreativosesportivos concentrando 194

(aproximadamente R$ 11993400000) de todo o recurso captado pelo grupo Trata-

se de um clube de Satildeo Paulo e outro de Minas Gerais O massivo financiamento em

apenas um clube regional pode criar uma discrepacircncia de desempenho tatildeo grande

com relaccedilatildeo aos seus pares que os torneios perdem em competitividade e gera-se

um quase monopoacutelio esportivo e consequente disfunccedilatildeo na cadeia produtiva do

esporte de rendimento

O grupo das proponentes de sucesso ainda eacute formado por mais dois

clubes de futebol com 65 (aproximadamente R$ 3992700000) do recurso

seguido por uma cooperativa com 44 (aproximadamente R$ 2731600000) Cabe

ressaltar que esta uacuteltima apesar da monta natildeo foi localizado site para verificar a

experiecircncia com projetos esportivos Por fim 13 entidades esportivas tinham a

personalidade juriacutedica de associaccedilatildeo e foram responsaacuteveis por 468

(aproximadamente R$ 28932900000) de todo o recurso do grupo

A anaacutelise na concentraccedilatildeo de recurso por proponente permitiu verificar

impacto direto e negativo na concentraccedilatildeo por regiatildeo e de manifestaccedilatildeo esportiva

Nesse sentido seria interessante o Ministeacuterio do Esporte estabelecer um teto de

participaccedilatildeo deste grupo na captaccedilatildeo de recurso para limitar o aumento das

desigualdades Por outro lado seria interessante aprofundar na compreensatildeo deste

grupo verificando suas estrateacutegias de sucesso e avaliando o resultado dos projetos

na promoccedilatildeo (ou natildeo) do direito social ao esporte

Graacutefico 11 ndash Distribuiccedilatildeo financeira acumulada (2007 a 2014) das 24 proponentes com maior

sucesso na captaccedilatildeo na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

125

O quarto e uacuteltimo paracircmetro trata da natildeo concentraccedilatildeo por modalidade

esportiva No formulaacuterio digital da Lei Federal de Incentivo ao Esporte foi possiacutevel

identificar 183 modalidades de esporte Entretanto alguns itens satildeo apenas

categorias ou derivaccedilotildees da ldquomodalidade raizrdquo como o motociclismo que desponta

com 7 distinccedilotildees 1) Enduro 2) Enduro de Regularidade 3) Rally 4) Trial 5)

Motocross 6) Moto Jump 7) Motovelocidade Desta maneira para facilitar a

compreensatildeo do fenocircmeno as categorias foram agrupadas em torno da modalidade

raiz

De acordo com o ldquoRelatoacuterio de Gestatildeo da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte de 2014rdquo oito modalidades captaram 560 (R$ 14271871900) de todo o

montante arrecadado para o ano de 2014 (R$ 25475370500) Para este caacutelculo as

modalidades voleibol (R$ 1168037000) e vocirclei de praia (R$ 869791000) foram

agrupadas assim como ciclismo (R$ 775546500) e bike (R$ 531661400)

(BRASIL 2015c)

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Graacutefico 12 ndash Distribuiccedilatildeo financeira da captaccedilatildeo de recurso de 2014 na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte por modalidade esportiva

126

A corrida de rua natildeo foi integrada ao atletismo apesar de ser considerada

uma derivaccedilatildeo desta pois gostariacuteamos de chamar atenccedilatildeo para esta categoria Em

2013 a corrida de rua aparecia na 5ordf colocaccedilatildeo entre as modalidades mais

incentivadas com o valor de R$ 1225904800 Mas em 2014 a corrida de rua

superou o futebol tradicionalmente o 1ordm colocado com a monta de R$

2187101600 (BRASIL 2014d BRASIL 2015c)

A preocupaccedilatildeo com a sauacutede e a facilidade da praacutetica esportiva que natildeo

requer muitos equipamentos foram fatores cruciais para a popularizaccedilatildeo da corrida

de rua No entanto o que pode ser duvidoso neste processo eacute a quantidade de

eventos de corrida de rua incentivados com recurso puacuteblico Vaacuterios desses eventos

eram tidos como autossustentaacuteveis e geradores de renda para seus organizadores

No entanto mesmo assim passaram a solicitar apoio do mecanismo de mecenato

esportivo e a cobrar taxa ou inscriccedilatildeo de participaccedilatildeo dos seus beneficiaacuterios Mesmo

sendo do conhecimento de todos que a receita gerada deve ser aplicada na proacutepria

accedilatildeo esportiva notou-se uma proliferaccedilatildeo destes eventos na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) Nesse sentido seria interessante o

Ministeacuterio do Esporte manter-se atento a fiscalizaccedilatildeo de processo e de resultado

destes projetos

Por outro lado o Ministeacuterio do Esporte tambeacutem deve se indagar sobre o

limite de recurso puacuteblico a ser investido em uma modalidade ou em uma categoria

desta modalidade Somente para exemplificar a Lagoa da Pampulha tradicional

espaccedilo de lazer em Belo Horizonte chegou a ter seu calendaacuterio de 2014 saturado55

por eventos de corrida de rua Para comportar excessiva demanda os

organizadores passaram a realizar corridas tanto pela manhatilde quanto pela noite

Diante deste surto de eventos de corrida de rua fica a duacutevida sobre a necessidade

de aplicaccedilatildeo de recurso da isenccedilatildeo fiscal para ampliar a oferta desta categoria do

atletismo

A partir da anaacutelise dos quatro paracircmetros orientadores da decisatildeo da

Comissatildeo Teacutecnica observamos problemas de harmonia na distribuiccedilatildeo do recurso

puacuteblico no mecanismo de mecenato esportivo Logo cabe ao Ministeacuterio do Esporte

suprir os seis membros da Comissatildeo Teacutecnica de subsiacutedios da realidade operacional

55

O exemplo utilizado natildeo remete necessariamente a projetos de corrida incentivados pelo mecanismo de mecenato esportivo Foi uma situaccedilatildeo para refletir sobre o limite de recurso e eventos na aacuterea da corrida de rua e para a promoccedilatildeo do direito social ao esporte

127

do mecanismo para que tomem as decisotildees mais assertivas uma vez que a palavra

final sobre a aprovaccedilatildeo aprovaccedilatildeo parcial ou rejeiccedilatildeo eacute deliberada por este comitecirc

44 Aprovaccedilatildeo de projeto e Captaccedilatildeo de Recurso

O presidente da Comissatildeo Teacutecnica eacute responsaacutevel por montar a pauta da

reuniatildeo deliberativa e realizar o sorteio de distribuiccedilatildeo dos projetos aos membros

Cada integrante da Comissatildeo Teacutecnica torna-se relator de um projeto e utiliza o

parecer conclusivo da aacuterea teacutecnica ou do perito parecerista para basear seu voto

Antes de votar o membro relator apresenta um resumo da proposta esportiva aos

demais membros para que todos tenham subsiacutedio para o voto

Caso o membro relator natildeo esteja convicto das informaccedilotildees ou durante o

debate surjam novas duacutevidas sobre a accedilatildeo esportiva o projeto pode retornar agrave aacuterea

teacutecnica do Ministeacuterio do Esporte para envio de diligecircncia teacutecnica adicional agrave

proponente Os demais membros tambeacutem podem ldquopedir vistardquo do projeto o que

representa fazer uma anaacutelise mais apurada por meio de leitura integral do parecer

conclusivo e do projeto como um todo Assim a proposta esportiva eacute encaminhada

ao membro solicitante e retorna para deliberaccedilatildeo na proacutexima sessatildeo da Comissatildeo

Teacutecnica

Sanada a questatildeo de conteuacutedo e exposiccedilatildeo do meacuterito da accedilatildeo esportiva

pelo membro relator o presidente da Comissatildeo Teacutecnica abre para votaccedilatildeo da

aprovaccedilatildeo do projeto O primeiro voto eacute do membro relator seguido pelos demais

O projeto eacute aprovado com maioria simples dos votos e no caso de empate uma vez

que satildeo seis membros cabe ao presidente o voto de qualidade

No caso de rejeiccedilatildeo da proposta esportiva o Art 25 do Decreto Nordm

61802007 prevecirc que a proponente tem cinco dias uacuteteis apoacutes notificaccedilatildeo para

interpor um recurso com contra argumentaccedilatildeo (BRASIL 2007b) Este recurso seraacute

analisado pela aacuterea teacutecnica e incluiacutedo aos autos do processo do projeto no Ministeacuterio

do Esporte Em seguida o processo eacute encaminhado ao presidente para incluir na

pauta da proacutexima sessatildeo deliberativa onde os membros da Comissatildeo Teacutecnica

votaratildeo pela rejeiccedilatildeo definitiva ou acolhimento da argumentaccedilatildeo com aprovaccedilatildeo

integral ou parcial

128

A aprovaccedilatildeo parcial independente de recurso ou em projeto de primeira

votaccedilatildeo consiste na proposta que tem seu meacuterito esportivo referendado pela

Comissatildeo Teacutecnica mas tem a exclusatildeo (glosa) ou reduccedilatildeo de valores de algum

item Mais uma vez eacute possiacutevel a proponente entrar com recurso para contra

argumentar

Jaacute a aprovaccedilatildeo simples reside no acolhimento integral da proposta

apresentada pela proponente Cabe salientar que durante as diligecircncias teacutecnicas a

proponente vai adequando o projeto agraves exigecircncias do Ministeacuterio do Esporte de

forma que a versatildeo final encaminhada agrave Comissatildeo Teacutecnica pode ser diferente da

primeira versatildeo protocolada no oacutergatildeo Todas as alteraccedilotildees ficam registradas no

processo do projeto

Apoacutes o projeto esportivo passar pela arena de debate da poliacutetica puacuteblica

(sessatildeo da Comissatildeo Teacutecnica) retorna para a aacuterea teacutecnica que iraacute solicitar e

conferir a comprovaccedilatildeo da regularidade fiscal e tributaacuteria da proponente nos acircmbitos

federal estadual e municipal conforme orienta o Art 27 do Decreto Nordm 61802007

Confirmada a regularidade o projeto aprovado tem sua publicaccedilatildeo no Diaacuterio Oficial

da Uniatildeo (DOU) chancelando a proponente a buscar recurso puacuteblico no setor

privado

Art 27 Publicar-se-aacute no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo extrato do projeto aprovado contendo I - tiacutetulo do projeto II - nuacutemero de registro no Ministeacuterio do Esporte III - instituiccedilatildeo proponente e respectivo CNPJ IV - manifestaccedilatildeo desportiva beneficiada V - valor autorizado para captaccedilatildeo especificando-se se patrociacutenio ou doaccedilatildeo VI - prazo de validade da autorizaccedilatildeo para captaccedilatildeo (BRASIL 2007b p7)

Com o extrato do projeto publicado a proponente passa para a etapa de

captaccedilatildeo de recurso Os dados do ldquoRelatoacuterio de Gestatildeo da Lei Federal de Incentivo

ao Esporte de 2014rdquo e a Nota Presidencial de 2016 exibem que a captaccedilatildeo de

recurso eacute um dos grandes ldquogargalosrdquo do mecenato esportivo pois se aprova um

valor em projetos muito superior ao montante que eacute efetivamente captado (BRASIL

2015c)

No entanto observamos que o valor efetivo de captaccedilatildeo de recurso vem

aumentando ano apoacutes ano com exceccedilatildeo dos anos de 2012 e 2015 que registraram

129

queda Mas o valor captado ainda estaacute distante da autorizaccedilatildeo de R$ 400 milhotildees

registrada nos Decretos Nordm 63382007 e Nordm 66842008

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

O Ministeacuterio do Esporte tem adotado a estrateacutegia de aprovar mais projetos

que o teto da renuacutencia fiscal como maneira de ampliar a oferta de accedilotildees esportivas

ao setor privado Todavia o ano de 2007 foi o que registrou a maior taxa de sucesso

entre a relaccedilatildeo aprovaccedilatildeo e captaccedilatildeo 793 seguido por 2014 com o patamar de

442 A meacutedia geral de sucesso na captaccedilatildeo de recurso estaacute em 323 calculada

pelo somatoacuterio autorizado no periacuteodo de 2007 a 2014 (aproximadamente R$

421840700000) e o total geral captado (aproximadamente R$ 136319300000)

No ano de 2014 o mecenato esportivo contou com a participaccedilatildeo de

2586 empresas e 2664 pessoas fiacutesicas destinando recurso aos projetos esportivos

Inclusive este foi o primeiro ano que o nuacutemero de pessoas fiacutesicas superou o de

empresas muito embora a quantia financeira acumulada por esta uacuteltima ainda seja

maior56

56

Nesta pesquisa natildeo foi possiacutevel apurar o valor financeiro da captaccedilatildeo de recurso da pessoa juriacutedica e da pessoa fiacutesica para o mecenato esportivo No entanto o ldquoRelatoacuterio de dados setoriais de 2009 a 2013 da Declaraccedilatildeo de Imposto sobre a Renda das Pessoas Juriacutedicasrdquo e ldquoTabela 1 - Resumo das Declaraccedilotildees Por Tipo de Formulaacuteriordquo permitem verificar que o montante de imposto de renda devido ou arrecadado na fonte eacute extremamente superior na pessoa juriacutedica do que na pessoa fiacutesica

Graacutefico 13 ndash Comparativo entre o valor autorizado e captado no periacuteodo de 2007 a 2014

na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

130

Ao verificar o grupo dos maiores apoiadores identificamos que os 25

primeiros foram responsaacuteveis por destinar 385 (aproximadamente R$

9798987100) do total captado no ano de 2014 (R$ 25475370500) Ao analisar

este seleto grupo optamos por reduzi-lo para 18 empresas pois algumas pessoas

juriacutedicas faziam parte do mesmo grupo econocircmico logo com objetivos e metas

comerciais compartilhadas

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Desta forma examinamos que oito empresas do setor financeiro

destinaram 773 (R$ 7574209300) do recurso deste grupo Seguido por duas

empresas do setor de energia eleacutetrica com representaccedilatildeo de 71 (R$

699510300) duas do setor de telecomunicaccedilatildeo com 42 (R$ 408569500) duas

do setor petroquiacutemico com 40 (R$ 395837900) duas do setor de mineraccedilatildeo e

metalurgia com 38 (R$ 376860100) uma do setor de informaacutetica e eletrocircnico

com 19 (R$ 184000000) e por fim uma do setor de saneamento com 16 (R$

160000000) Cabe destacar que em 2013 uma destas empresas do setor

petroquiacutemico estava entre as maiores apoiadoras do mecenato esportivo mas

devido agrave crise financeira diminuiu sua destinaccedilatildeo de recurso

Poreacutem o fato que chama atenccedilatildeo surge quando verificamos a origem do

capital das empresas Quase frac14 do recurso destinado por este grupo mais

Graacutefico 14 ndash Comparativo entre o setor econocircmico de atuaccedilatildeo e tipo de empresa do grupo dos

18 maiores apoiadores da Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2014

131

especificadamente 242 (R$ 2371918300) tem origem de duas empresas

puacuteblicas Percentual parecido 215 (R$ 2102762600) eacute destinado por cinco

empresas de capital misto isto eacute aquelas que tecircm o poder puacuteblico como maior

acionista e detentor da tomada de decisatildeo muito embora tambeacutem trabalhe com

acionista de capital privado Completando a amostra temos um conglomerado de 11

empresas privadas que destinam 543 (R$ 5324306200) do recurso do grupo

Assim aleacutem da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

funcionar exclusivamente com a destinaccedilatildeo de recurso puacuteblico e ter no proacuteprio

Estado brasileiro a figura do mecenas ela ainda apresenta no rol dos maiores

apoiadores as proacuteprias empresas puacuteblicas Nesse sentido o Estado eacute

simultaneamente donataacuterio e beneficiaacuterio da poliacutetica de financiamento do esporte

O resultado simboacutelico desta trama eacute o Estado brasileiro assumindo o

dever constitucional de fomento do direito social ao esporte poreacutem retirando este

elemento social da cidadania da arena de debate do legislativo e do orccedilamento

puacuteblico por optar pelo caminho da isenccedilatildeo fiscal Ao mesmo tempo o Estado deixa

a execuccedilatildeo das accedilotildees esportivas para o setor privado sem fins lucrativos e a

tomada de decisatildeo do que deve ser promovido nas ldquomatildeosrdquo do mercado

No entanto apenas fazendo um contraponto na participaccedilatildeo das

empresas puacuteblicas no mecenato esportivo esta pode ser uma accedilatildeo estrateacutegica e

pedagoacutegica do poder executivo para dar funcionalidade ao mecanismo e demonstrar

para o mercado o benefiacutecio de unir sua a marca ao esporte

Ainda em relaccedilatildeo agrave etapa de captaccedilatildeo de recurso a Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) natildeo determina prazo legal ao projeto

assim ficando a criteacuterio da Comissatildeo Teacutecnica o periacuteodo de chancelada do Estado

Geralmente os projetos recebem autorizaccedilatildeo de um ano para buscar recurso no

mercado sendo permitido prorrogaacute-lo por duas vezes apoacutes solicitaccedilatildeo formal

conforme orienta o Art 64 da Portaria Ministerial Nordm 1202009 (BRASIL 2009a)

A proponente tem doze meses para buscar a captaccedilatildeo de recurso poreacutem

grande parte dos depoacutesitos bancaacuterios de apoio acontece nos uacuteltimos meses do ano

pois eacute quando as empresas tributadas na modalidade lucro real estatildeo fechando o

balanccedilo patrimonial e apurando lucro ou prejuiacutezo do exerciacutecio fiscal Tambeacutem existe

uma pequena parcela de empresas que satildeo tributadas na modalidade lucro real

trimestral isto eacute faz fechamento de balanccedilo patrimonial e demonstrativo de

resultado a cada trecircs meses Estas uacuteltimas teriam uma chance maior de pulverizar

132

seu apoio ao longo do ano todavia trata-se de uma quantidade menor de empresas

neste universo tributaacuterio

A pessoa fiacutesica tambeacutem pode destinar seu apoio durante todo o ano

poreacutem a maior dificuldade eacute a cultura de apurar o imposto devido dentro do proacuteprio

ano fiscal Normalmente o brasileiro preocupa-se com o Imposto sobre a Renda (IR)

na proximidade do envio da Declaraccedilatildeo de Informes de Rendimento de Pessoa

Fiacutesica que finaliza ateacute o dia 30 de abril de todos os anos Poreacutem neste informe agrave

Secretaria da Receita Federal a pessoa fiacutesica estaacute declarando sua movimentaccedilatildeo

financeira do ano anterior Desta forma o depoacutesito de apoio ao projeto esportivo jaacute

deveria ter acontecido Entatildeo o desafio de fazer a pessoa fiacutesica participar do

mecanismo de mecenato esportivo eacute criar esta cultura de ter uma estimativa do

imposto a pagar ou a apuraccedilatildeo das suas despesas ainda no ano fiscal

Cada projeto aprovado possui uma conta bancaacuteria exclusiva denominada

conta captaccedilatildeo para receber os depoacutesitos dos apoiadores Esta conta bancaacuteria eacute

aberta pelo proacuteprio Ministeacuterio do Esporte e a proponente natildeo tem acesso a sua

movimentaccedilatildeo Apesar desta medida gerar controle financeiro dos projetos pois

vincula cada proposta a uma conta bancaacuteria ela contraria o princiacutepio da unidade do

orccedilamento puacuteblico que determina que o orccedilamento deve ser uacutenico para cada

exerciacutecio fiscal Assim passa a coexistir com o orccedilamento puacuteblico aprovado pelo

legislativo vaacuterios mini-orccedilamentos de esporte controlados e fiscalizados pelo

Ministeacuterio do Esporte

A proponente que tem ecircxito e consegue captar o recurso financeiro

integral da sua proposta precisa apenas enviar um ofiacutecio avisando o Ministeacuterio do

Esporte e aguardar a elaboraccedilatildeo e assinatura do Termo de Compromisso o qual

consta no miacutenimo de

Art 27 [] I ndash preacircmbulo com os dados cadastrais do Ministeacuterio do Esporte do proponente e dos respectivos representantes legais II - claacuteusulas que disponham sobre o objeto as obrigaccedilotildees das partes os valores aprovados prestaccedilatildeo de contas eficaacutecia vigecircncia e foro e III - assinatura dos representantes legais das partes e duas testemunhas sect1ordm - No ato da assinatura do Termo de Compromisso o proponente deveraacute apresentar cronograma fiacutesico-financeiro do projeto a ser executado sect2ordm- No caso de renovaccedilatildeo de projeto a assinatura do Termo de Compromisso fica condicionada agrave apresentaccedilatildeo de laudo teacutecnico favoraacutevel relativo ao projeto jaacute executado (BRASIL 2009a p8)

133

De acordo com o Art 37 da Portaria Ministerial Nordm 1202009 a

proponente que conseguir captar a quantia miacutenima de 20 do valor total do projeto

pode solicitar uma readequaccedilatildeo da proposta para a sua nova realidade financeira

(BRASIL 2009a) Eacute permitido alterar apenas valores e quantidades de

serviccedilosprodutos da proposta original sem inclusatildeo de novos itens para evitar a

alteraccedilatildeo do objeto inicialmente aprovado Com a readequaccedilatildeo avaliada pela aacuterea

teacutecnica do Ministeacuterio do Esporte e aprovada pela Comissatildeo Teacutecnica esta

proponente tambeacutem passa a aguardar a elaboraccedilatildeo e assinatura do Termo de

Compromisso

Com o Termo de Compromisso assinado entre Ministeacuterio do Esporte e

proponente nova conta bancaacuteria eacute aberta com o nome de conta de livre

movimentaccedilatildeo Parte do recurso da conta bloqueada do projeto eacute transferida para

esta nova conta onde a proponente iraacute realizar os pagamentos de despesas da

accedilatildeo esportiva O repasse do restante do recurso da conta bloqueada estaacute

condicionado agrave apresentaccedilatildeo da prestaccedilatildeo de contas parcial por parte da

proponente ainda durante a execuccedilatildeo do projeto (BRASIL 2009a)

A partir da assinatura do Termo de Compromisso e abertura da conta de

livre movimentaccedilatildeo inicia-se a etapa de execuccedilatildeo do projeto seguida da prestaccedilatildeo

de contas (parcial e final) (BRASIL 2009a) Poreacutem como estas etapas natildeo satildeo foco

da anaacutelise do objeto desta pesquisa vamos nos ater ateacute as etapas descritas no

momento

Contudo o processo de anaacutelise parcial dos dados gerais da Lei Federal

de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) foi necessaacuterio para se ter uma melhor

compreensatildeo do desenvolvimento da poliacutetica de financiamento no acircmbito nacional

Esta etapa foi importante para dar subsiacutedio agrave anaacutelise em recorte municipal (Belo

Horizonte) principalmente pela escassez de trabalhos acadecircmicos sobre o tema

Neste contexto observamos que existem procedimentos que podem ser

aperfeiccediloados para dar maior celeridade seguranccedila e transparecircncia ao mecanismo

de mecenato esportivo A agilidade e simplicidade processual satildeo preacute-requisitos

para a democratizaccedilatildeo da poliacutetica de financiamento ao esporte haja vista a

diversidade socioeconocircmica das entidades no paiacutes que atuam com este elemento

social da cidadania As alternativas abordadas neste capiacutetulo jaacute foram colocadas em

praacutetica seja em outras leis de incentivo fiscal no governo federal ou por outros entes

134

federativos (Estados Subnacionais e Municiacutepios) por isso possuem materialidade

para avaliaccedilatildeo de resultado e referecircncia para serem replicadas

Por outro lado o contiacutenuo desenvolvimento do mecenato esportivo

tambeacutem depende da reflexatildeo sobre a missatildeo da sua existecircncia porque atualmente

tem se configurado como uma corriqueira poliacutetica de distribuiccedilatildeo de recurso puacuteblico

ao esporte Mas esta visatildeo eacute extremamente limitada para uma poliacutetica estatal

principalmente tratando da promoccedilatildeo de um elemento da cidadania social

Nesse sentido eacute essencial questionar os objetivos do mecenato esportivo

mas tambeacutem traccedilar diretrizes do que se quer incentivar no esporte e o puacuteblico que

se quer atingir pois no formato vigente tem se percebido um reforccedilo das

desigualdades jaacute existentes no paiacutes Isto eacute tem acontecido uma concentraccedilatildeo de

recurso na manifestaccedilatildeo rendimento (498 do valor captado de 2007-2014) e um

maciccedilo investimento na regiatildeo Sudeste (73 do valor captado de 2007-2014) Este

cenaacuterio de distribuiccedilatildeo desigual ainda eacute influenciado diretamente pelo acumulo de

recurso em um restrito grupo de entidades esportivas (24 proponentes responsaacuteveis

por 490 do valor captado de 2007-2014) das quais algumas satildeo beneficiaacuterias de

outra fonte de recurso puacuteblico (Lei AgneloPiva ndash Lei Nordm 102642001)

135

5 O MECENATO ESPORTIVO EM BELO HORIZONTE DISSECANDO OS PROJETOS E CONHECENDO A POLIacuteTICA NO TERRITOacuteRIO

51 Dados consolidados dos projetos em Belo Horizonte

Neste capiacutetulo vamos nos debruccedilar nos projetos apresentados e

aprovados pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte para verificar a

distribuiccedilatildeo do recurso puacuteblico ao esporte no acircmbito municipal (anaacutelise

microespacial) A partir dos elementos de estudo levantados no capiacutetulo anterior

onde foi observada uma concentraccedilatildeo de recurso em regiatildeo geograacutefica por

manifestaccedilatildeo e modalidade esportiva todas fortemente influenciadas pelo acuacutemulo

de recurso em algumas poucas proponentes verificaremos se fenocircmeno similar

acontece na capital mineira Por uacuteltimo analisaremos o conteuacutedo das propostas

aprovadas na Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) para avaliar

o seu potencial de democratizaccedilatildeo do direito social ao esporte

Para a formalizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte (Lei Nordm 114382006) no territoacuterio de Belo Horizonte foi enviado no dia 30

de outubro de 2014 um ofiacutecio do Colegiado de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos do Lazer

da Escola de Educaccedilatildeo Fiacutesica Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG ao Sr

Paulo Vieira na eacutepoca diretor do Departamento de Incentivo e Fomento ao Esporte

(DIFE) oacutergatildeo do Ministeacuterio do Esporte responsaacutevel pela gestatildeo do mecenato

esportivo Natildeo obtivemos resposta escrita mas tacitamente foi comunicado por

telefone que estava autorizado o acesso agraves informaccedilotildees do banco de dados do

Ministeacuterio do Esporte

Desta forma no dia 13 de janeiro de 2015 fui recebido presencialmente

pela coordenaccedilatildeo do departamento para a primeira coleta dos dados Tendo em

vista o prazo do Ministeacuterio do Esporte para consolidaccedilatildeo das informaccedilotildees referentes

ao mecanismo de mecenato esportivo no ano de 2014 receacutem-encerrado e

concomitantemente ao moroso processo burocraacutetico estatal ateacute o esgotamento do

ciclo de vida dos projetos optou-se para esta pesquisa como recorte temporal a

anaacutelise das propostas esportivas apresentadas em 2013 Assim nesta primeira

visita foram coletados 23 projetos aprovados por entidades esportivas sediadas em

Belo Horizonte aleacutem de seus respectivos anexos cadastrados no sistema da Lei

136

Federal de Incentivo ao Esporte e o relatoacuterio de captaccedilatildeo de recurso financeiro de

cada proposta

Contudo a conjuntura poliacutetica do paiacutes que se seguiu a posteriori dificultou

a obtenccedilatildeo de novas informaccedilotildees oficiais do sistema da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte O Ministeacuterio do Esporte passou por mudanccedila de trecircs ministros de estado57

e o Departamento de Incentivo e Fomento ao Esporte (DIFE) acumulou trecircs trocas

de diretores aleacutem dos sucessivos diretores interinos O departamento ainda contou

com mudanccedila de endereccedilo fiacutesico que levou a sua paralisaccedilatildeo parcial de atividades

no final de 2015 e iniacutecio de 2016

Durante este conturbado periacuteodo realizei outras trecircs visitas presenciais

(03112015 28012016 e 15042016) para atualizaccedilatildeo dos dados poreacutem sem

sucesso A revisatildeo das informaccedilotildees e inclusatildeo de nove novos projetos agrave amostra

que foram aprovados durante o desenvolvimento da pesquisa somente foi possiacutevel

por meio da Lei de Acesso a Informaccedilatildeo (Lei Nordm 125272011) No entanto apesar

do respaldo da lei a maioria das informaccedilotildees natildeo foi obtida em solicitaccedilatildeo de 1ordf

instacircncia sendo portanto necessaacuterio contra argumentar agrave instacircncia superior58 A

dificuldade imposta pelos servidores do departamento ao acesso agrave informaccedilatildeo

puacuteblica foi registrada em reclamaccedilatildeo na ouvidoria do Ministeacuterio do Esporte na

tentativa de aumentar a transparecircncia aos dados da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte (Lei Nordm 114382006)

Neste contexto a amostra de projetos coletados para a pesquisa consiste

em 32 propostas aprovadas ateacute o dia 15 de fevereiro de 2016 do total de 83

enviadas por entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte no ano de 2013

Para a anaacutelise dos projetos foi montado uma ficha de padronizaccedilatildeo de conteuacutedo

tendo 1) Manifestaccedilatildeo esportiva 2) Modalidade esportiva 3) Local de execuccedilatildeo 4)

57

Durante o iniacutecio desta pesquisa o Ministeacuterio do Esporte foi gerido pelo Deputado Federal Aldo Rebelo (PCdoBSP) Jaacute durante a coleta de dados o ministro foi o Deputado Federal George Hilton (PRBMG) seguido pela passagem raacutepida do administrador puacuteblico Ricardo Leyser e por fim o tambeacutem Deputado Federal Leonardo Picciani (PMDBRJ) Por sua vez o Departamento de Incentivo e Fomento ao Esporte ao iniacutecio da pesquisa teve como diretor o Sr Paulo Prado sucedido por Marcos Ceacutesar Garcia e atualmente de forma interina o Sr Newton Koji Uchida 58

Nem todas as informaccedilotildees solicitadas via Lei de Acesso a Informaccedilatildeo (Lei Nordm 125272011) foram atendidas na 1ordf instacircncia sendo necessaacuterio entrar com recurso para o niacutevel hieraacuterquico superior A justificativa utilizada pela 1ordf instacircncia argumentava possiacutevel conflito de interesse entre a minha habilitaccedilatildeo como perito parecerista e o trabalho de pesquisador muito embora natildeo existisse vedaccedilatildeo legal e de fato para tal afirmaccedilatildeo Cabe ressaltar que a qualidade das informaccedilotildees fornecidas pelo Ministeacuterio do Esporte foi descritivamente inferior agraves obtidas do Ministeacuterio da Cultura e Secretaria da Receita Federal tendo em vista o mesmo sistema de solicitaccedilatildeo (e SIC ndash Sistema Eletrocircnico do Serviccedilo de Informaccedilatildeo ao Cidadatildeo disponiacutevel em lthttpwwwacessoainformacaogovbrgt

137

Tempo de execuccedilatildeo do projeto 5) Quantidade de beneficiaacuterios 6) Valor aprovado

7) Valor captado 8) Valor do serviccedilo de captaccedilatildeo de recurso 9) Iniacutecio do prazo de

captaccedilatildeo de recurso 10) Final do prazo de captaccedilatildeo de recurso 11) Objetivo do

projeto 12) Puacuteblico-alvo 13) Metodologia 14) Justificativa 15) Metas Qualitativas

16) Metas Quantitativas 17) Tipos de anexos Todos estes campos contam com um

espaccedilo adicional para comentaacuterio e registro de observaccedilotildees

As categorias de anaacutelise foram consolidadas para se ter uma noccedilatildeo geral

do trajeto de desenvolvimento do mecenato esportivo em Belo Horizonte Tambeacutem

sempre que possiacutevel foi feita uma anaacutelise comparativa entre os resultados no

territoacuterio da capital mineira com os mensurados nacionalmente tendo como base o

capiacutetulo anterior desta pesquisa e o ldquoRelatoacuterio de Gestaccedilatildeo da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte de 2013 e 2014rdquo Para verificar a fase em que o projeto se

encontrava dentro do ciclo de vida da poliacutetica puacuteblica foi examinado o ldquoRelatoacuterio

interno de status dos projetos59rdquo o qual foi gerado por servidor com senha de

administrador do sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

Partindo para a anaacutelise dos dados observamos que no ano de 2013 a Lei

Federal de Incentivo ao Esporte recebeu 1614 propostas de todo o paiacutes Destas 511

(317) foram rejeitadas por ter algum tipo de problema documental previsto no Art

9ordm do Decreto Nordm 61802007 Este patamar de rejeiccedilatildeo encontra-se proacuteximo da

meacutedia nacional de 340 mensurada a partir dos valores acumulados no periacuteodo de

2007 a 2014

Da monta de projetos de 2013 83 (524) foram enviados por entidades

esportivas sediadas em Belo Horizonte sendo que 18 (216) delas foram

rejeitadas por situaccedilatildeo semelhante de problema documental ateacute o dia 15 de

fevereiro de 2016

Aparentemente os nuacutemeros belorizontinos podem sugerir uma maior

capacidade teacutecnica das entidades esportivas uma vez que o percentual de rejeiccedilatildeo

documental estaacute 635 abaixo da meacutedia nacional Entretanto ao se verificar as

demais possibilidades de status dos projetos no Graacutefico 15 notamos que 15

(181) propostas tiveram seu meacuterito esportivo rejeitado pela Comissatildeo Teacutecnica O

59

O ldquo1ordm Relatoacuterio interno de status dos projetosrdquo foi gerado no dia 13 de janeiro de 2015 e indicou 23 projetos aprovados enquanto a sua segunda versatildeo emitida em 15 de fevereiro de 2016 apontou 32 propostas aprovadas para as entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte Aleacutem de sinalizar para os projetos aprovados tambeacutem era possiacutevel verificar o status das outras 51 propostas do total de 83 apresentadas no ano de 2013

138

grupo de insucesso incluiacutedo por outros dois (24) projetos em que a proponente

desistiu do pleito e solicitou o seu arquivamento alcanccedila o patamar de 35 (422)

propostas (marcaccedilatildeo graacutefica em vermelho)

Ou seja por mais que as entidades sediadas em Belo Horizonte tenham

tido um percentual menor de rejeiccedilatildeo documental em 2013 a quantidade de

projetos que satildeo reprovados (rejeiccedilatildeo documental de meacuterito ou desistecircncia) ao

longo do processo eacute extremamente relevante e ateacute mesmo superior ao nuacutemero de

aprovaccedilotildees - 32 (386) projetos com sucesso na aprovaccedilatildeo (marcaccedilatildeo graacutefica em

verde) Entatildeo a suposta supremacia teacutecnica das entidades de Belo Horizonte eacute

refutada com a sequecircncia dos dados

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Os demais grupos de categorias satildeo representados por ldquoproposta de

status indefinidardquo (marcaccedilatildeo graacutefica em azul) trazendo trecircs (36) projetos sem

informaccedilatildeo ou identificado como protocolado e ldquopropostas em tracircmiterdquo (marcaccedilatildeo

graacutefica em amarelo) com 13 (156) projetos ainda em anaacutelise documental (Preacute-

Graacutefico 15 ndash Distribuiccedilatildeo dos status dos projetos esportivos enviados em 2013 para a Lei Federal de Incentivo ao Esporte por entidades sediadas em Belo Horizonte

139

anaacutelise) ou de meacuterito (Anaacutelise Teacutecnica Em diligecircncia ndash Comissatildeo Teacutecnica Preacute-

pauta60)

A maior representatividade dos projetos reprovados em relaccedilatildeo aos

demais grupos de categorias reforccedila a constataccedilatildeo dos dados nacionais que

sugerem que o Ministeacuterio do Esporte amplie a interlocuccedilatildeo com as proponentes a

fim de aumentar a familiaridade com as exigecircncias legais e diminuir a quantidade de

rejeiccedilotildees Poreacutem esta mudanccedila no tratamento com as proponentes passa pela

alteraccedilatildeo no entendimento da poliacutetica puacuteblica por parte do Ministeacuterio do Esporte Isto

eacute natildeo tratar o mecenato esportivo apenas como uma poliacutetica de distribuiccedilatildeo de

recurso financeiro mas tambeacutem como um potencial instrumento de

profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas espalhadas por todo o paiacutes

Por outro lado tambeacutem eacute preciso refletir sobre o processo burocraacutetico

estatal pois passados dois anos fiscais completos (2014 e 2015) ainda existem

projetos belorizontinos sem a emissatildeo de um parecer conclusivo por perito

parecerista ou pela aacuterea teacutecnica do Ministeacuterio do Esporte Nesse sentido a

expectativa de investigar os projetos do ano de 2013 pelo esgotamento do seu ciclo

de vida natildeo foi observado e por isso a pesquisa acabou adotando a data da uacuteltima

coleta de dados como linha de corte temporal para a anaacutelise

Cabe ressaltar que o longo prazo de tramitaccedilatildeo dos projetos pode defasar

aspectos documentais e orccedilamentaacuterios das propostas iniciais e mesmo que sejam

posteriormente aprovados inviabilizar financeiramente a execuccedilatildeo Somente para se

ter uma ideia sobre a variaccedilatildeo de preccedilos nos dois anos o Iacutendice de Preccedilos ao

Consumidor Amplo (IPCA)61 calculado pelo IBGE para o acumulado do periacuteodo

destes 24 meses (2014 e 2015) estaacute em 1684 Ou seja em meacutedia o conjunto

dos produtos e materiais orccedilados pelas proponentes em 2013 jaacute sofreu um reajuste

de preccedilo de quase 16 do seu valor original

A morosidade na anaacutelise associada ao incerto prazo de efetivaccedilatildeo da

captaccedilatildeo de recurso talvez corrobore para apresentaccedilatildeo de orccedilamentos de

fornecedores acima do preccedilo de mercado conforme foi identificado no ldquoRelatoacuterio de

60

De acordo com conversa telefocircnica mantida com membro do Ministeacuterio do Esporte todas as categorias citadas no ldquoRelatoacuterio interno de status de projetosrdquo satildeo atualizadas manualmente podendo haver erro entre o lanccedilamento e a fase real do projeto O sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte tambeacutem natildeo possui categorias preacute-definidas tendo o servidor puacuteblico a liberdade na escrita da fase do projeto 61

Disponiacutevel em lthttpwwwibgegovbrhomeestatisticaindicadoresprecosinpc_ipcaipca-inpc_201602_1shtmgt

140

Auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeo agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporterdquo

(BRASIL 2013c) A maior celeridade na anaacutelise das propostas esportivas poderia

contribuir para uma maior confluecircncia entre preccedilo orccedilado e o necessaacuterio para a

execuccedilatildeo do projeto

Conjuntamente o Ministeacuterio do Esporte deveria focar na criaccedilatildeo de um

sistema de referecircncia de preccedilos62 pois aleacutem de ser uma das exigecircncias

documentais mais trabalhosas para a proponente tambeacutem amplia o controle do

gasto puacuteblico Cabe ressaltar que atualmente o balizamento de preccedilo fica a mercecirc

da seleccedilatildeo da amostra de orccedilamento feita pela proponente uma estrateacutegia

extremamente precaacuteria para o controle do dispecircndio de recurso puacuteblico

Ao adentrar no universo dos projetos apresentados em 2013 pelas

entidades sediadas em Belo Horizonte foi averiguada a participaccedilatildeo de 46

proponentes distintas Estas entidades foram agrupadas tendo em vista os projetos

aprovados rejeitados e em tracircmite Como cada proponente poderia enviar ateacute seis

projetos por ano eacute possiacutevel que uma mesma entidade faccedila parte dos trecircs grupos

fazendo com que o somatoacuterio de participantes seja superior ao registro de 46

proponentes

Tabela 2 ndash Distribuiccedilatildeo de projetos esportivos apresentados em 2013 na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte por entidades sediadas em Belo Horizonte

Quantidade proponente

Proponente c projeto aprovado

Proponente c projeto rejeitado

Proponente c projeto em tracircmite

46 (83) 20 (32) 25 (35) 9 (13) ( ) quantidade de projetos na categoria 1 proponente natildeo possui informaccedilatildeo de status sobre o seu uacutenico projeto 2 projetos identificados como protocolados natildeo puderam ser categorizados por inconsistente no status

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo

proacutepria

62

Como foi mencionado no capiacutetulo anterior o proacuteprio sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte poderia ser utilizado como banco de referecircncia de preccedilo uma vez que todas as informaccedilotildees orccedilamentaacuterias satildeo digitadas pelas proponentes Procedimento similar foi adotado pelo governo federal no acircmbito da sauacutede com a criaccedilatildeo do SIGEM (Sistema de Informaccedilatildeo e Gerenciamento de Equipamentos e Materiais) Disponiacutevel em lthttpwwwfnssaudegovbrvisaopesqui-sarEquipamentosjsfgt

141

Notamos que 20 proponentes tiveram ecircxito na aprovaccedilatildeo de seus

projetos o que representa um montante de 32 propostas das 83 apresentadas no

ano de 2013 Neste grupo ainda temos uma proponente que tem simultaneamente

ao seu projeto aprovado um projeto em tracircmite e outro rejeitado trecircs proponentes

com quatro projetos rejeitados e duas proponentes com cinco projetos ainda em

tracircmite Por sua vez o grupo de projetos rejeitados eacute formado por 25 proponentes

que somam propostas esportivas seguido pelo grupo de projetos em tracircmite com

nove proponentes e 13 projetos

Para verificar se o ecircxito na aprovaccedilatildeo de projetos teve alguma relaccedilatildeo

com a quantidade de propostas apresentadas por cada proponente foi criado o

indicador ldquotaxa de sucessordquo Esta medida eacute a relaccedilatildeo entre a quantidade de

proponente com projeto aprovado na categoria e sua respectiva populaccedilatildeo sendo o

resultado apresentado em uma escala percentual de 0 a 100 Mais uma vez as

categorias superiores a 1 projeto poderiam ter proponente registrando-se

simultaneamente nas trecircs possibilidades das propostas ndash aprovada rejeitada

tramite

Obs 1 proponente natildeo possui informaccedilatildeo de status sobre o seu uacutenico projeto 2 projetos identificados como protocolados natildeo puderam ser categorizados por inconsistente no status

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016

Graacutefico 16 ndash Distribuiccedilatildeo das proponentes pela quantidade de projetos esportivos

apresentados e taxa de sucesso em 2013 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

142

Observamos que a medida modal das entidades esportivas de Belo

Horizonte foi a apresentaccedilatildeo de um projeto na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

(Lei Nordm 114382006) Apesar de mais da metade das entidades esportivas

apresentarem uma uacutenica proposta apenas sete delas tiveram seus projetos

aprovados enquanto outras 15 (272) obtiveram indeferimento das propostas Este

resultado mostra que a taxa de sucesso para um uacutenico projeto foi a menor registrada

entre as categorias com apenas 259 de ecircxito Contudo as informaccedilotildees coletadas

nesta pesquisa natildeo permitiram verificar se o projeto enviado pelas 27 entidades

esportivas da categoria tratava-se da primeira participaccedilatildeo na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte Ou seja apurar o niacutevel familiaridade da proponente com o

mecanismo de mecenato esportivo

As categorias 5 e 6 projetos que apresentaram a maior taxa de sucesso

(1000) e estatildeo representadas cada uma por uma uacutenica proponente apesar de

terem ecircxito na aprovaccedilatildeo de projetos esportivos natildeo tiveram todas as suas

propostas contempladas Do somatoacuterio de 11 propostas apresentadas por estas

categorias cinco foram aprovadas quatro estavam em tracircmite e duas rejeitadas

(uma por problema documental e outra por meacuterito) Assim a suposta expertise que

as entidades esportivas que almejaram uma quantidade maior de projetos natildeo

representou necessariamente em ecircxito total na aprovaccedilatildeo das suas propostas

Valendo destacar mais uma vez uma rejeiccedilatildeo de projeto por problema documental

Na tentativa de traccedilar um perfil institucional das entidades que estatildeo

propondo accedilotildees esportivas63 a presente pesquisa adotou a classificaccedilatildeo pelo tipo

de personalidade juriacutedica 1) Entidade puacuteblicaautarquia para tratar de qualquer

personalidade juriacutedica de direito puacuteblico 2) Associaccedilotildees e 3) Fundaccedilotildees para tratar

da personalidade juriacutedica de direito privado mas sem fins lucrativos Embora as

classificaccedilotildees seguintes pudessem estar inclusas na categoria 2) ou 3) iremos

diferenciaacute-las devido a algumas particularidades de natureza de funcionamento

Assim teremos 4) ConfederaccedilatildeoFederaccedilatildeo por ser uma associaccedilatildeo de caraacuteter

representativo da modalidade esportiva 5) Clube esportivorecreativo por ser uma

63

O Ministeacuterio do Esporte adota as seguintes categorias no seu relatoacuterio gerencial da Lei Federal de Incentivo ao Esporte 1) ONGrsquos 2) Associaccedilotildees 3) Fundaccedilotildees 4) Institutos 5) Clube esportivorecreativo 6) Cooperativa 7) Clube de Futebol 8) Liga Esportiva 9) Federaccedilatildeo 10) Confederaccedilatildeo 11) Prefeiturasuniversidades O criteacuterio adotado para a organizaccedilatildeo desta informaccedilatildeo eacute o nome fantasia ou denominaccedilatildeo da proacutepria entidade No entanto formatos como ONGrsquos institutos e associaccedilotildees satildeo classificados de forma distinta embora todos tenham a personalidade juriacutedica de associaccedilatildeo privada conforme consta no Coacutedigo Civil brasileiro (Lei Nordm 104062002)

143

associaccedilatildeo de desenvolvimento do esporte de base e de lazer 6) Clube de Futebol

por ser uma associaccedilatildeo com grande representativa na cultura brasileira 7) Outros

para personalidades juriacutedicas atiacutepicas (originaacuterias por lei)

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Analisando as 46 entidades temos que 26 (565) delas satildeo associaccedilotildees

que possuem o desenvolvimento do esporte como objeto em seu estatuto social ou

pelo menos deveriam ter como apontou a possibilidade de falha documental por

parte do Ministeacuterio do Esporte no ldquoRelatoacuterio de Auditoria do Tribunal de Contas da

Uniatildeo agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporterdquo (BRASIL 2013c)

Em seguida temos sete (152) federaccedilotildees esportivas estaduais e seis

(130) tradicionais clubes esportivosrecreativos de Belo Horizonte A quantidade

de federaccedilotildees participando do mecanismo de mecenato esportivo foi aparentemente

baixa tendo em vista que grande parte destas entidades representativas do esporte

de Minas Gerais encontra-se sediada na capital mineira64 Aleacutem disso contraria a

64

No site da Secretaria de Estado de Esporte de Minas Gerais (SEESP) constam 38 federaccedilotildees esportivas listadas das quais 35 estatildeo sediadas em Belo Horizonte 1 em Contagem 1 em Betim e 1

Graacutefico 17 ndash Distribuiccedilatildeo das proponentes sediadas em Belo Horizonte quanto agrave

personalidade juriacutedica e natureza de funcionamento

144

tendecircncia nacional tendo em vista que a categoria das Confederaccedilotildees e Federaccedilatildeo

foi a segunda em participaccedilatildeo na captaccedilatildeo de recurso em 2014 com

aproximadamente 21 de todo o montante da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

Novamente optamos por utilizar o indicador ldquotaxa de sucessordquo para

verificar a possiacutevel relaccedilatildeo entre o ecircxito na aprovaccedilatildeo de projetos e a personalidade

juriacutedica da proponente O resultado varia em escala percentual de 0 a 100 sendo o

menor valor o insucesso da categoria na aprovaccedilatildeo e o escore maior o sucesso

Obs 1 proponente natildeo possui informaccedilatildeo de status sobre o seu uacutenico projeto 2 projetos identificados como protocolados natildeo puderam ser categorizados por inconsistente no status

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Apesar das associaccedilotildees serem maioria tanto na tipologia de

personalidade juriacutedica (26 proponentes) quanto na concentraccedilatildeo de propostas (50

projetos) natildeo apresentaram a maior taxa de sucesso (462) Ao verificar as 12

em Uberlacircndia Disponiacutevel em lthttpwwwesportesmggovbr2015-10-27-20-44-50federacoes-e-associacoesgt

Graacutefico 18 ndash Distribuiccedilatildeo das proponentes sediadas em Belo Horizonte quanto agrave natureza de funcionamento e taxa de sucesso

145

proponentes com projetos aprovados nesta categoria observamos que quatro delas

tiveram cinco propostas rejeitadas enquanto outras duas ainda aguardavam o

tracircmite de cinco propostas Outras 14 proponentes e mais 20 projetos se juntam ao

grupo de propostas rejeitas que ajudam a diminuir a eficiecircncia desta categoria

Contudo a categoria associaccedilatildeo trata de um universo de entidades de

porte e estrutura bastante variada Somente para termos ideia da diferenccedila uma das

associaccedilotildees deste grupo estaacute na 18ordf colocaccedilatildeo das entidades que mais captaram

recurso no acumulado de 2007 a 2014 com o valor aproximado de R$

1502000000 segundo o ldquoRelatoacuterio de Gestatildeo da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte de 2014rdquo

Os clubes esportivosrecreativos foram os que tiveram a maior taxa de

sucesso (833) mesmo apresentando uma populaccedilatildeo de apenas seis

proponentes O maior ecircxito desta categoria tambeacutem eacute observado quando calculamos

a taxa de sucesso em relaccedilatildeo ao quantitativo de projetos aprovados (750) Assim

quase frac34 dos projetos apresentados pelos clubes esportivosrecreativos foram

aprovados no mecanismo de mecenato esportivo

Foi verificado que das nove propostas aprovadas pelos clubes

esportivosrecreativos apenas trecircs natildeo tinham provisionado o percentual autorizado

para pagamento de serviccedilo de terceiros ndash auxiacutelio na elaboraccedilatildeo do projeto e

captaccedilatildeo de recurso Destas trecircs propostas duas eram de uma tradicional entidade

esportiva de Belo Horizonte a qual possui um departamento especializado na

elaboraccedilatildeo e acompanhamento das suas propostas A expertise deste clube

esportivorecreativo tambeacutem pode ser observada pelo 3ordm lugar ocupado no rank

nacional acumulado (2007 a 2014) de captaccedilatildeo de recurso com o valor de

aproximadamente R$ 4710200000 Mas mesmo jaacute possuindo estrutura

especializada identificamos que na sua terceira proposta apresentada e aprovada

em 2013 havia a solicitaccedilatildeo do teto legal da captaccedilatildeo de recurso (R$ 10000000)

Cabe ressaltar que existe vedaccedilatildeo legal para se autorremunerar por este tipo de

serviccedilo

Outras cinco propostas aprovadas tinham o percentual para a captaccedilatildeo

de recurso sendo que quatro delas referentes a duas proponentes tinham

caracteriacutesticas de escrita e organizaccedilatildeo do conteuacutedo bastante similar sugerindo ter

sido auxiliada por mesma pessoa ou empresa especializada

146

Neste contexto podemos inferir que a utilizaccedilatildeo do percentual de auxilio

na elaboraccedilatildeo e captaccedilatildeo de recurso por parte dos clubes esportivosrecreativos

pode ter influenciado na maior taxa de sucesso da categoria Contudo fica a duacutevida

se a contrataccedilatildeo deste tipo de serviccedilo tem contribuiacutedo para a transferecircncia de

conhecimento e profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas ou se estaacute acontecendo

apenas uma delegaccedilatildeo de responsabilidade sobre o projeto a ser apresentado

Ainda sobre o quesito personalidade juriacutedica chamou a atenccedilatildeo a falta de

ecircxito (00) da entidade puacuteblicaautarquia na aprovaccedilatildeo das suas propostas

esportivas uma vez que se esperava maior familiaridade da pessoa juriacutedica de

direito puacuteblico com o tracircmite burocraacutetico estatal As duas proponentes participantes

desta categoria satildeo oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica diretamente responsaacuteveis pela

gestatildeo esportiva nas suas aacuterea de abrangecircncia Dos cinco projetos apresentados

por esta categoria quatro deles foram rejeitados por problemas documentais e um

uacuteltimo continuava em tracircmite

Estes dados colaboram para a tese de revisatildeo das exigecircncias

documentais no processo do mecenato esportivo pois o proacuteprio poder puacuteblico em

instacircncias subnacionais estaacute tendo dificuldade na aprovaccedilatildeo das suas propostas

Por outro lado pode-se levantar a hipoacutetese de incipiente profissionalizaccedilatildeo da aacuterea

esportiva estatal assim como eacute percebido no setor privado sem fins lucrativos o

que por sua vez influenciaria o elevado iacutendice de rejeiccedilatildeo de projetos Poreacutem

mesmo que esta uacuteltima situaccedilatildeo seja verdadeira natildeo isenta o Ministeacuterio do Esporte

da sua responsabilidade de oacutergatildeo indutor do comportamento social e de buscar na

Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) o seu potencial

profissionalizante e natildeo a restrita funccedilatildeo distributiva de recurso

A anaacutelise seguinte agrupou os 83 projetos pelo tipo de manifestaccedilatildeo

esportiva Mais uma vez adotou-se o indicador ldquotaxa de sucessordquo para mensurar a

relaccedilatildeo de ecircxito na aprovaccedilatildeo de projeto e a manifestaccedilatildeo esportiva O resultado

calculado varia em escala percentual de 0 a 100 sendo que quanto mais proacuteximo da

nota maacutexima (100) maior a chance de sucesso na aprovaccedilatildeo da proposta

147

Obs 2 projetos foram descartados por natildeo apresentarem status vaacutelido para mensurar a situaccedilatildeo (sem informaccedilatildeo e protocolado) 1 projeto foi descartado por natildeo apresentar status vaacutelido para mensurar a situaccedilatildeo (protocolado)

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

A maioria das propostas apresentadas (602) pelas entidades sediadas

em Belo Horizonte eacute da manifestaccedilatildeo esportiva de rendimento Este quadro

reproduz a realidade nacional da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) e se verifica que aproximadamente metade dos projetos apresentados

(498) no periacuteodo acumulado de 2007 a 2015 foi de accedilotildees de rendimento No

entanto ao se investigar a taxa de sucesso desta manifestaccedilatildeo em Belo Horizonte

observamos que foi a que apresentou o menor ecircxito em aprovaccedilatildeo (340) seguido

pelo esporte de participaccedilatildeo (400) e esporte educacional (500)

Esperaacutevamos que o esporte de rendimento tivesse uma taxa de sucesso

maior pois se trata de um tipo de manifestaccedilatildeo esportiva mais tradicional e

consolidada na sociedade brasileira Ao examinar os projetos rejeitados da

Graacutefico 19 ndash Distribuiccedilatildeo dos projetos apresentadas pelas entidades esportivas sediadas

em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

148

manifestaccedilatildeo rendimento notamos que 11 propostas (nove proponentes) tiveram

rejeiccedilatildeo do meacuterito esportivo nove projetos (oito proponentes) por problemas

documentais e dois projetos (um proponente) a entidade esportiva desistiu da

solicitaccedilatildeo de pleito

A maior taxa de sucesso dos projetos educacionais e de participaccedilatildeo foi

beneacutefica para diminuir a representatividade das propostas da manifestaccedilatildeo

rendimento No entanto o somatoacuterio das duas primeiras ainda natildeo alcanccedila a

participaccedilatildeo dos projetos de rendimento seja em nuacutemeros relativos ou absolutos

Tal fato mostra o longo caminho a ser percorrido ateacute a harmonizaccedilatildeo e equiliacutebrio das

manifestaccedilotildees esportivas na sociedade

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

A supremacia da manifestaccedilatildeo rendimento tambeacutem expotildee a fragilidade do

poder puacuteblico diante desta poliacutetica puacuteblica para atender os preceitos constitucionais

do Art 217 ou seja de priorizar o esporte educacional e de participaccedilatildeo (BRASIL

1988a) Pois a demanda da poliacutetica puacuteblica eacute feita pela necessidade segmentada da

entidade esportiva e interesse comercial do setor privado com fins lucrativos sem

muito instrumento de regulaccedilatildeo por parte do Ministeacuterio do Esporte

Desta forma acaba acontecendo o que Marshall (1967) descreve como

uma categorizaccedilatildeo do direito civil Isto eacute aqueles grupos com maior poder de

negociaccedilatildeo pressionam o Estado pela ampliaccedilatildeo dos seus benefiacutecios sem

Graacutefico 20 ndash Comparativo da distribuiccedilatildeo dos projetos esportivos das entidades sediadas

em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte pela manifestaccedilatildeo esportiva

149

realmente haver uma discussatildeo do direito social porque este uacuteltimo precisa do

consenso coletivo e pacto da sociedade como um todo

52 Anaacutelise financeira dos projetos

Na etapa subsequente foi feita anaacutelise das 32 propostas aprovadas para

mensurar o possiacutevel impacto da poliacutetica puacuteblica no territoacuterio de Belo Horizonte Este

grupo de projetos foi aprovado por 20 entidades esportivas e somou o montante

financeiro de R$ 2781428728 o que representa 38 de todo o recurso autorizado

(aproximadamente R$ 72837000000) na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no

ano de 2013

O valor autorizado para as entidades esportivas sediadas em Belo

Horizonte estava distribuiacutedo em 898 (R$ 2497434621) para atividade fim que

envolve o desenvolvimento da accedilatildeo esportiva propriamente dita e 60 (R$

168278579) para a atividade meio que satildeo accedilotildees complementares e

administrativas necessaacuterias para a execuccedilatildeo do projeto esportivo Ainda temos

42 (R$ 115715528) destinados ao pagamento do serviccedilo de terceiros ndash auxilio

na elaboraccedilatildeo e captaccedilatildeo de recurso

Cabe ressaltar que trecircs projetos aprovados previam agregar recurso de

origem distinta da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) em um

total de R$ 808721662 Um quarto projeto possuiacutea previsatildeo de receita de R$

25499969 pela cobranccedila de inscriccedilatildeo a qual no entanto deveria ser reinvestida

na proacutepria accedilatildeo esportiva aprovada Todos estes valores natildeo foram contabilizados

para a anaacutelise desta pesquisa pois o foco da averiguaccedilatildeo foi o recurso autorizado

diretamente pelo mecanismo de mecenato esportivo isto eacute o recurso puacuteblico

potencialmente aplicado aos projetos

Do valor autorizado para os 32 projetos temos que R$ R$ 1068892843

foram efetivamente captados pelas proponentes ateacute a data de 15 de fevereiro de

2016 Este valor estaacute distribuiacutedo em 20 propostas distintas das quais duas (total de

R$ 21300000) natildeo atingiram o percentual miacutenimo de 20 do recurso para solicitar

readequaccedilatildeo do projeto Dos outros 18 projetos quatro jaacute haviam sido executados e

apresentado prestaccedilatildeo de contas final 11 estavam em execuccedilatildeo e trecircs mantinham-

150

se ativos na busca de recurso financeiro embora jaacute tivessem atingido o percentual

miacutenimo de 20

Figura 14 ndash Quadro comparativo entre valor autorizado e captado dos projetos esportivos de 2013 das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

Total Autorizado R$ 2781428728

Atividade Fim R$ 2497434621 (898) Atividade Meio R$ 168278579 ( 60) Serviccedilo de Captaccedilatildeo R$ 115715528 (42)

Total de projetos 32

Total de proponentes 20

Total Captado R$ 1068892843

02 projetos abaixo de 20 R$ 21300000 (20) 04 em prestaccedilatildeo de contas R$ 448069073 (419) 11 projetos em execuccedilatildeo R$ 527132599 (493) 03 acima 20 em captaccedilatildeo R$ 72391171 ( 68)

Total de projetos 20

Total de proponentes 12

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizados em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Aplicando o indicador ldquotaxa de sucessordquo para mensurar a relaccedilatildeo entre o

valor autorizado e o captado dos projetos das entidades sediadas em Belo

Horizonte temos o valor de 384 de ecircxito na escala que vai de 0 a 100 Este

percentual estaacute acima dos 323 calculados como meacutedia nacional acumulada (2007

a 2014) mas abaixo do valor nacional para os anos de 2007 (793) 2012 (431)

e 2014 (442)

Tabela 3 ndash Comparativo entre o valor autorizado e captado na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em todo o Brasil e no ano de 2013 pelas entidades sediadas em Belo Horizonte

( em Reais)

Ano fiscal

Valor autorizado (mil reais)

Valor captado (mil reais)

Taxa de Sucesso ()

2007 R$ 6418600 R$ 5092100 793 2008 R$ 24175800 R$ 8221400 340 2009 R$ 39428600 R$ 11082800 281 2010 R$ 83904200 R$ 19322000 230 2011 R$ 88315200 R$ 22104100 250 2012 R$ 49137300 R$ 21192000 431 2013 R$ 72837000 R$ 23829500 327 2014 R$ 57624000 R$ 25475400 442

Total R$ 421840700 R$ 136319300 323

2013 (BH)

R$ 2781428728 R$ 1068892843 384

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

151

No entanto devemos destacar que o suposto maior ecircxito das entidades

esportivas de Belo Horizonte pode ter sido influenciado pela presenccedila das duas

proponentes que compotildeem o rank da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) como maiores captadores de recurso no acumulado de 2007 a 2014

Ao descartar da amostra os sete projetos aprovados por estas duas proponentes

temos uma queda da taxa de sucesso para 265 com valor autorizado de R$

1498603920 e captado de R$ 396586555

Por sua vez a amostra formada apenas por estas duas proponentes tem

uma taxa de sucesso de 524 com valor autorizado de R$ 1282824808 e

captado de R$ 672306288 Ou seja duas proponentes (uma associaccedilatildeo e um

clube esportivorecreativo) tem tido papel de relevacircncia no direcionamento da

poliacutetica do mecenato esportivo em Belo Horizonte

Tabela 4 ndash Comparativo entre o Grupo 1 e Grupo 2 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013

Grupo Quantidade Proponente

Quantidade Projetos

Valor autorizado (Reais)

Valor captado (Reais)

Taxa de Sucesso

()

1 2 7 R$ 1282824808 R$ 672306288 524 2 18 25 R$ 1498603920 R$ 396586555 265

Total 20 32 R$ 2781428728 R$ 1068892843 384 Grupo 1 ndash entidades esportivas participantes do rank de maiores captadores de recurso no periacuteodo de 2007-2014 Grupo 2 ndash demais entidades sediadas em Belo Horizonte com projeto aprovado

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Estes dados estatildeo em consonacircncia com os resultados nacionais quando

foi identificado que 24 proponentes concentravam quase metade (466) do recurso

captado no acumulado de 2007 a 2014 e influenciavam para a preponderacircncia do

mecenato esportivo na regiatildeo Sudeste e na manifestaccedilatildeo rendimento

Nesse sentido eacute importante que o Ministeacuterio do Esporte reflita sobre a

diretriz e objetivo da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) uma

vez que a proposiccedilatildeo dos projetos fica a cargo das entidades esportivas e

atualmente um pequeno grupo tem sido responsaacutevel por efetivar a poliacutetica puacuteblica

Verificando a distribuiccedilatildeo do recurso em relaccedilatildeo agrave manifestaccedilatildeo esportiva

temos mais uma vez uma preponderacircncia financeira para o esporte de rendimento

registrando R$ 1570074334 (17 projetos) autorizados e R$ 617815265 (11

152

projetos) captados Jaacute o esporte educacional ficou em segundo lugar com R$

793488314 (nove projetos) aprovados e R$ 381453215 (cinco projetos)

captados seguido pela manifestaccedilatildeo de participaccedilatildeo com R$ 417866080 (seis

projetos) e R$ 69624363 (quatro projetos) respectivamente

Ao aplicar o indicador ldquotaxa de sucessordquo para mensurar a relaccedilatildeo entre os

valores autorizados e captados observamos que o esporte rendimento teve um

percentual de 393 de ecircxito Este valor foi inferior aos 481 calculados para a

manifestaccedilatildeo educacional o que contribuiu para uma melhor harmonizaccedilatildeo entre as

manifestaccedilotildees Contudo a quantia captada pelo esporte de rendimento (R$

617815265) continua sendo superior ao somatoacuterio dos valores efetivados pelos

projetos de esporte educacional e participaccedilatildeo (R$ 451077578) muito embora o

quantitativo de projetos seja muito parecido - 11 projetos captados na manifestaccedilatildeo

rendimento contra nove captados no somatoacuterio de educacional e participaccedilatildeo

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Graacutefico 21 ndash Distribuiccedilatildeo dos projetos apresentadas pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

153

Novamente ao descartar as duas proponentes que compotildeem o rank de

maiores captadores de recurso da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) no periacuteodo de 2007 a 2014 temos alteraccedilatildeo nos resultados Foi

registrada uma brusca queda na taxa de sucesso do esporte educacional que

passou de 481 para 137 de ecircxito na captaccedilatildeo Tal constataccedilatildeo aconteceu

porque uma das proponentes do grupo de sucesso foi responsaacutevel pela aprovaccedilatildeo

de quatro propostas dessa manifestaccedilatildeo (R$ 465149770) e captaccedilatildeo total ou

parcial de todas (R$ 336345215) Ao que tudo indica esta proponente se

especializou no desenvolvimento de projetos de esporte educacional e por isso

alcanccedilou uma taxa de sucesso de 723 Cabe ressaltar que apesar da expertise

da proponente foi identificada a rejeiccedilatildeo de outras duas propostas apresentadas no

ano de 2013 uma por problema documental (projeto educacional) e outra por meacuterito

(projeto de participaccedilatildeo)

Jaacute a segunda proponente participante do rank tambeacutem impactou no

desempenho do esporte de rendimento fazendo a taxa de sucesso cair de 393

para 357 Mas a maior diferenccedila foi percebida na distribuiccedilatildeo financeira pois

enquanto os dois projetos de rendimento aprovados por esta proponente alcanccedilaram

o montante efetivado de R$ 335961073 outras sete (nove projetos) conseguiram

apenas o somatoacuterio de R$ 281854192

Tabela 5 ndash Comparativo entre o Grupo 1 e Grupo 2 pelo tipo de manifestaccedilatildeo esportiva nos projetos na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013

Grupo Quantidade Proponente

Quantidade de Projetos

Manifestaccedilatildeo Esportiva

Valor autorizado (Reais)

Valor captado (Reais)

Taxa de Sucesso

()

1 2

2 Rendimento R$ 780919163 R$ 335961073 430

4 Educacional R$ 465149770 R$ 336345215 723

1 Participaccedilatildeo R$ 36755875 - 00

Total 2 7 R$ 1282824808 R$ 672306288 524

2 18

15 Rendimento R$ 789155171 R$ 281854192 357

5 Educacional R$ 328338544 R$ 45108000 137

5 Participaccedilatildeo R$ 381110205 R$ 69624363 183

Total 28 25 R$ 1498603920 R$ 396586555 265

Geral 20 32 R$ 2781428728 R$ 1068892843 384

Grupo 1 ndash entidades esportivas participantes do rank de maiores captadores de recurso no periacuteodo de 2007-2014 Grupo 2 ndash demais entidades sediadas em Belo Horizonte com projeto aprovado

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

154

Nesse sentido mais uma vez os nuacutemeros mostram como estas duas

proponentes tecircm influenciado no direcionamento do mecenato esportivo em Belo

Horizonte Como uma delas atuou no desenvolvimento do esporte educacional

acabou interferindo na melhora dos dados da manifestaccedilatildeo No entanto este

resultado proveniente da participaccedilatildeo exclusiva de uma proponente deve ser

avaliado com cuidado pois pode ocultar a fragilidade das demais entidades do

segmento Exemplo disso eacute que as outras quatro proponentes (cinco projetos) que

tambeacutem tiveram projetos de esporte educacional aprovado (R$ 328338544)

conseguiram captar somente R$ 45108000 registrando uma das piores taxa de

sucesso com o valor de 137

Investigando a origem do recurso captado pelos 20 projetos (12

proponentes) que conseguiram algum montante financeiro observou-se o registro de

406 depoacutesitos bancaacuterios sendo 283 (697) realizados por pessoa fiacutesica e 123

(303) por pessoa juriacutedica

Do grupo das pessoas fiacutesicas 280 depoacutesitos apoiavam um mesmo projeto

esportivo somando a quantia de R$ 16279151 Este projeto tinha como proponente

um tradicional clube esportivorecreativo de Belo Horizonte o qual provavelmente

realizou campanha entre seus associados As outras trecircs pessoas fiacutesicas que

completam este grupo somaram um montante de R$ 404307 disperso em trecircs

propostas esportivas distintas

Tabela 6 ndash Distribuiccedilatildeo dos depoacutesitos feitos por pessoa fiacutesica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

Categoria Quantidade depoacutesitos

Distribuiccedilatildeo ()

Total (R$)

Distribuiccedilatildeo ()

Distribuiccedilatildeo Acumulada

()

R$ 100 - R$ 50000 193 682 2128392 128 128

R$ 50100 - R$ 100000 46 163 3824866 229 357

R$ 100100 - R$ 200000 27 95 4343000 260 617

R$ 200100 - R$ 300000 10 35 2707200 162 779

R$ 300100 - R$ 400000 5 18 1860000 111 891

R$ 400100 - R$ 500000 1 04 420000 25 916

acima de R$ 500100 1 04 1400000 84 1000

Total Geral 283 1000 16683458 1000

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

155

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

O maior valor aportado por pessoa fiacutesica foi de R$ 1400000 enquanto o

menor foi de R$ 500 A meacutedia dos valores de depoacutesito foi calculada em R$ 58952 e

a moda encontrada foi de R$ 2500 com 34 depoacutesitos Foram 58 categorias de

valores de depoacutesito apuradas no caacutelculo da moda

Os dados mostram que a partir do agrupamento de pessoa fiacutesica eacute

possiacutevel gerar um montante significativo para o investimento em projetos do

mecenato esportivo No entanto o potencial de Imposto sobre a Renda (IR) devido

de pessoa fiacutesica eacute bastante inferior ao da pessoa juriacutedica o que restringe a

capacidade de efetivar uma quantidade suficiente de propostas esportivas e ateacute

mesmo levanta duacutevida sobre a eficaacutecia deste apoiador como fonte de financiamento

da poliacutetica puacuteblica Em contrapartida a inserccedilatildeo da pessoa fiacutesica como estrateacutegia de

participaccedilatildeo na ldquocoisa puacuteblicardquo eacute extremamente educativa e vaacutelida

Jaacute o grupo das pessoas juriacutedicas representa aproximadamente 13 dos

apoiadores de Belo Horizonte poreacutem em valores monetaacuterios concentra 984 (R$

1052209385) de todo o recurso aplicado nos projetos Deste montante R$

662133022 (629) foi destinado por 72 empresas privadas e R$ 390076363

(371) por seis empresas de capital misto (puacuteblico e privado) Cabe destacar que

Graacutefico 22 ndash Comparativo da distribuiccedilatildeo da quantidade e valores dos depoacutesitos feitos por pessoa fiacutesica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei

Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

156

uma uacutenica empresa de capital misto foi responsaacutevel pelo investimento de R$

238601363 isto eacute 223 de todo o investimento nos projetos esportivos

Tabela 7 ndash Distribuiccedilatildeo dos depoacutesitos feitos por pessoa juriacutedica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

Categoria Quantidade

depoacutesitos Distribuiccedilatildeo

() Total (R$)

Distribuiccedilatildeo ()

Distribuiccedilatildeo Acumulada

()

R$ 100 - R$ 100000 27 220 12710229 12 12

R$ 1000100 - R$ 2500000 16 130 28953887 28 40

R$ 2500100 - R$ 5000000 27 220 102290390 97 137

R$ 5000100 - R$ 7500000 12 98 74531670 71 208

R$ 7500100 - R$ 10000000 10 81 93303546 89 296

R$ 10000100 - R$ 20000000 18 146 277101363 263 560

R$ 20000100 - R$ 30000000 8 65 223368300 212 772

R$ 30000100 - R$ 40000000 2 16 67450000 64 836

acima de R$ 40000100 3 24 172500000 164 1000

Total Geral 123 1000 1052209385 1000

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Graacutefico 23 ndash Comparativo da distribuiccedilatildeo da quantidade e valores dos depoacutesitos feitos por pessoa fiacutesica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na

Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

157

Da mesma forma que acontece no acircmbito nacional as empresas

administradas pelo poder puacuteblico satildeo destaque no apoio aos projetos do mecenato

esportivo em Belo Horizonte Todavia se um dos princiacutepios da lei eacute (ou deveria ser)

aproximar as entidades esportivas do mercado para que mais capital privado venha

a se juntar ao recurso puacuteblico aportado na causa do esporte natildeo faz sentido que a

poliacutetica tenha no poder puacuteblico beneficiaacuterio e donataacuterio ao mesmo tempo Inclusive

caberia uma investigaccedilatildeo para avaliar a forma de seleccedilatildeo dos projetos apoiados

pela empresa puacuteblica de maneira que o mecenato esportivo natildeo se transforme em

um instrumento de apadrinhamento poliacutetico-partidaacuterio

Como alternativa para dar transparecircncia agrave participaccedilatildeo das empresas

puacuteblicas Costa (2011) sugere o estiacutemulo a editais de seleccedilatildeo puacuteblica de projetos

Inclusive esta deveria ser uma praacutetica adotada tanto para empresa de capital

puacuteblico como privado haja vista que grande parte do financiamento do mecanismo

de mecenato eacute de origem puacuteblica ndash fruto da isenccedilatildeo fiscal

Ainda em relaccedilatildeo aos depoacutesitos de pessoa juriacutedica observamos que o

maior valor aportado foi de R$ 70000000 enquanto o menor foi de R$ 120000 A

meacutedia dos valores de depoacutesito foi calculada em R$ 8554548 e a moda encontrada

foi de R$ 3000000 com sete depoacutesitos realizados Foram 84 categorias de valores

de depoacutesito apurado no caacutelculo da moda

A anaacutelise seguinte considerou a amostra das 32 propostas aprovadas e

investigou as modalidades esportivas pleiteadas Foram contabilizadas 28

modalidades esportivas distintas sendo que apenas o basquetebol e tecircnis

solicitaram tambeacutem a sua versatildeo paraoliacutempica Tivemos um total de 75 citaccedilotildees de

modalidade sendo a mais lembrada o Voleibol (10) seguido do Futsal (8) Nataccedilatildeo

(7) Basquetebol (6) e Tecircnis (6) Quando comparamos este panorama esportivo com

as propostas que tiveram ecircxito na captaccedilatildeo de recurso temos uma reduccedilatildeo para 43

citaccedilotildees distribuiacutedas em 19 modalidades esportivas conforme pode ser observada

no graacutefico a seguir

158

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Cada projeto poderia trabalhar mais de uma modalidade esportiva poreacutem

a apuraccedilatildeo da moda registrou que 23 propostas optaram por ser accedilatildeo exclusiva de

uma modalidade esportiva Deste grupo 16 projetos eram da manifestaccedilatildeo

rendimento cinco de esporte de participaccedilatildeo e dois de esporte educacional O

caraacuteter de especializaccedilatildeo do esporte de rendimento contribuiu para a

preponderacircncia desta manifestaccedilatildeo no grupo de uacutenica modalidade esportiva

Por sua vez das nove propostas que visam desenvolver mais de uma

modalidade esportiva sete satildeo da manifestaccedilatildeo educacional uma de participaccedilatildeo e

uma de rendimento Cabe ressaltar que um projeto educacional pretendia

desenvolver 13 modalidades esportivas

Graacutefico 24 ndash Distribuiccedilatildeo das modalidades esportivas apresentadas e captadas pelos projetos das entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo

ao Esporte em 2013

159

Tabela 8 ndash Distribuiccedilatildeo das modalidades esportivas por projeto apresentado por entidade esportiva sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

Categoria Quantidade

projetos Manifestaccedilatildeo Educacional

Manifestaccedilatildeo Participaccedilatildeo

Manifestaccedilatildeo Rendimento

1 modalidade esportiva 23 2 5 16

2 modalidades esportivas 1 1 - -

3 modalidades esportivas 2 2 - -

4 modalidades esportivas 2 1 1 -

6 modalidades esportivas 2 1 - 1

10 modalidades esportivas 1 1 - -

13 modalidades esportivas 1 1 - -

Total Geral 32 9 6 17

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

A maior representatividade do esporte educacional nas propostas que

visam desenvolver mais de uma modalidade esportiva sugere um cuidado das

proponentes deste segmento em diversificar a cultura esportiva dos beneficiaacuterios

Esta pluralidade e ampliaccedilatildeo na oferta das modalidades esportivas satildeo

caracteriacutesticas importantes para garantia do direito social ao esporte por isso reforccedila

a relevacircncia no pleito da manifestaccedilatildeo educacional no mecanismo de mecenato

esportivo

Vale destacar que a uacutenica proponente que apresenta o desenvolvimento

de mais de uma modalidade esportiva na manifestaccedilatildeo rendimento eacute um tradicional

clube esportivorecreativo de Belo Horizonte Ao investigar a sua proposta natildeo fica

claro se o projeto estaacute ampliando as accedilotildees jaacute realizadas ou estaacute havendo uma

transferecircncia no custeio das suas accedilotildees esportivas para a Lei Federal de Incentivo

ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

O projeto em questatildeo tambeacutem apresenta uma contrapartida da

proponente no valor de R$ 525686599 poreacutem natildeo existe informaccedilatildeo sobre a

origem do recurso Como a proponente possui outras formas de repasse de recurso

puacuteblico (convecircnio termo de parceria etc) existe a possibilidade da contrapartida

natildeo ter origem privada A ausecircncia deste lastro da contrapartida financeira pode

sinalizar para a sobreposiccedilatildeo de atividades e financiamento ou seja a proponente

receber recurso puacuteblico de entes federativos distintos (Uniatildeo Estados e Municiacutepios)

para desenvolver a mesma accedilatildeo esportiva

160

Para a proacutexima anaacutelise os 32 projetos foram agrupados pelo tipo de accedilatildeo

esportiva sendo que a pesquisa levantou as seguintes categorias 1) Escola de

esporte - visa o ensino e aprendizagem de uma modalidade esportiva sem foco no

alto rendimento ou participaccedilatildeo de competiccedilatildeo oficial 2) Evento eou Competiccedilatildeo -

propotildee a realizaccedilatildeo de um evento de promoccedilatildeo de uma praacutetica esportiva ou a

organizaccedilatildeo de uma competiccedilatildeo esportiva 3) Treinamento de equipe - objetiva a

repeticcedilatildeo continua e sistematizada do conteuacutedo esportivo na busca da melhoria do

desempenho competitivo e 4) Viagem para competiccedilotildees - viabilizar a participaccedilatildeo

de equipes esportivas em competiccedilotildees oficiais

Aleacutem disso foi contabilizada a quantidade de recurso humano solicitado

pela proponente para a execuccedilatildeo da accedilatildeo esportiva Para efeito deste caacutelculo foram

descartados os serviccedilos terceirizados da atividade meio prestado por pessoa

juriacutedica tais como assessoria contaacutebil juriacutedica administrativa ou similar poreacutem

consideramos as pessoas fiacutesicas vinculadas diretamente ao projeto

Tabela 9 ndash Distribuiccedilatildeo dos recursos humanos pelo tipo de accedilatildeo esportiva desenvolvida no projeto aprovado por entidade sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao

Esporte no ano de 2013

Categoria Total de

profissionais

Qtde profis Manifestaccedilatildeo Educacional

Qtde profis Manifestaccedilatildeo Participaccedilatildeo

Qtde profis Manifestaccedilatildeo Rendimento

Escola de Esporte 160 (12) 133 (9) 27 (3) -

Evento eou competiccedilatildeo 172 (5) - 137 (3) 35 (2)

Treinamento de equipe 159 (13) - - 159 (13)

Viagem para competiccedilatildeo - (2) - - - (2)

Total Geral 491 (32) 133 (9) 164 (6) 194 (17)

Meacutedia Profissional Contratado 153 148 273 114

( ) quantidade de projetos na categoria

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Desta forma 30 projetos encaminharam a contrataccedilatildeo de recurso

humano totalizando um montante de 491 profissionais contratados no sistema de

CLT eou como autocircnomos (RPA) As duas propostas que natildeo solicitaram

contrataccedilatildeo de profissionais pleiteavam custeio de viagem de equipe para participar

de competiccedilatildeo oficial A primeira viagem era para a categoria de base de um dos

grandes clubes de futebol de Belo Horizonte enquanto a segunda era para a

161

categoria maacutester de um clube esportivorecreativo participar de um torneio

internacional de voleibol

A viagem internacional de equipe maacutester de voleibol se adequa ao

conceito de esporte de rendimento do Inciso III do Art 3ordm da Lei Peleacute (Lei Nordm

96151998) quando trata da ldquofinalidade de obter resultados e integrar pessoas e

comunidades do Paiacutes e estas com as de outras naccedilotildeesrdquo Poreacutem eacute necessaacuterio

avaliar o impacto real da participaccedilatildeo desta equipe para a imagem do paiacutes ou a

integraccedilatildeo das naccedilotildees

Aleacutem disso o grupo participante aparenta ter poder aquisitivo alto por

fazer parte de um importante segmento econocircmico do paiacutes o que levanta a duacutevida

sobre a real necessidade do recurso puacuteblico para esta viagem Ademais o projeto

natildeo apresenta criteacuterio de seleccedilatildeo dos atletas logo natildeo fica claro se seratildeo atendidos

apenas os usuaacuterios do clube esportivorecreativo ou seraacute feito uma convocaccedilatildeo para

representar o paiacutes neste evento

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo

proacutepria

O valor modal encontrado foi a contrataccedilatildeo de cinco profissionais por

projeto presente em cinco propostas seguido de 11 profissionais (quatro

propostas) quatro profissionais (trecircs propostas) e trecircs profissionais (trecircs propostas)

Nesta anaacutelise foram contabilizadas 17 categorias sendo 127 profissionais a maior

Graacutefico 25 ndash Comparativo entre a distribuiccedilatildeo dos profissionais e dos projetos pelo tipo de accedilatildeo esportivas apresentada na proposta das entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na

Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013

162

quantidade de contratados em um projeto Trata-se de um competiccedilatildeo de motocross

dividida em quatro etapas e que a proponente contrata vaacuterios staffs para auxiliar na

logiacutestica de execuccedilatildeo

Ao observar a distribuiccedilatildeo do recurso humano nos projetos de

rendimento verificamos um valor absoluto maior (194) mas no caacutelculo da meacutedia

apresentou o menor escore (114 profissionais) entre as manifestaccedilotildees Este valor

meacutedio contraria a expectativa do projeto de rendimento possuir uma quantidade

maior de profissionais devido agrave especializaccedilatildeo da comissatildeo teacutecnica (fisioterapeuta

teacutecnico preparador fiacutesico psicoacutelogo etc)

Contudo ao apurar a quantidade de profissionais nos 20 projetos que

tiveram ecircxito na captaccedilatildeo de recurso65 notamos uma elevaccedilatildeo na meacutedia de

profissionais envolvidos nos projetos de rendimento (134 profissionais) poreacutem o

valor continua abaixo da meacutedia de profissionais dos projetos educacionais (aprovado

148 profissionais e captado 150 profissionais)

Tabela 10 ndashDistribuiccedilatildeo dos beneficiaacuterios valor total e per capita recurso humano pela manifestaccedilatildeo esportiva nos projetos aprovados por entidades esportivas sediadas em Belo

Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

Descriccedilatildeo Total Manifestaccedilatildeo Educacional

Manifestaccedilatildeo Participaccedilatildeo

Manifestaccedilatildeo Rendimento

Beneficiaacuterios Diretos 35066 (32) 11136 (9) 16116 (6) 7814 (17)

Valor Aprovado (R$) 2781428728 793488314 417866080 1570074334

Valor per capita Aprovado (R$) 79320 71254 25929 200931

Quantidade de Profissionais 491 133 164 194

Meacutedia Profissional Contratado 153 148 273 114

Responsabilidade profissional 714 837 983 403

Beneficiaacuterios Diretos 23184 (20) 6058 (5) 15396 (4) 1730 (11)

Valor Captado (R$) 1068892843 381453215 69624363 617815265

Valor per capita Capitado (R$) 46105 62967 4522 357119

Quantidade de Profissionais 248 75 26 147

Meacutedia Profissional Contratado 124 150 65 134

Responsabilidade profissional 935 808 5922 118

( ) quantidade de projetos na categoria

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

65

Este caacutelculo eacute uma estimativa pois a anaacutelise estaacute levando em consideraccedilatildeo os projetos originalmente aprovados No entanto aquelas propostas que natildeo captaram 100 do recurso autorizado podem solicitar readequaccedilatildeo do projeto e logo alteraccedilatildeo na quantidade de profissionais e beneficiaacuterios De acordo com informaccedilatildeo de um membro do Ministeacuterio do Esporte o sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte natildeo armazena a versatildeo readequada do projeto

163

Uma vez que a meacutedia de profissionais contratados natildeo mostrou

diferenccedilas entre as manifestaccedilotildees esportivas e na comparaccedilatildeo de valor autorizado e

captado foi feita nova anaacutelise mas agora levando em consideraccedilatildeo a quantidade de

beneficiaacuterios O indicador criado foi o de ldquoresponsabilidade profissionalrdquo que

representa a quantidade de beneficiaacuterios que fica sobre a supervisatildeo e

responsabilidade de um profissional contratado O caacutelculo foi realizado pela divisatildeo

aritmeacutetica da quantidade de beneficiaacuterios pela quantidade de profissionais

Notamos que nos projetos de esporte de rendimento cada profissional

orienta em meacutedia 403 (projeto aprovado) e 118 (projeto captado) beneficiaacuterios

enquanto no esporte educacional a meacutedia estaacute em torno de 80 beneficiaacuterios (837 no

projeto aprovado e 808 no projeto captado) Jaacute para a manifestaccedilatildeo de participaccedilatildeo

o valor variou bastante ficando entre 983 (aprovado) e 5922 (captado)

beneficiaacuterios para cada profissional

Nesse sentido a diferenccedila entre as manifestaccedilotildees esportivas dos projetos

apresentados pelas entidades esportivas de Belo Horizonte natildeo estaacute na quantidade

de profissionais pleiteados mas no nuacutemero de beneficiaacuterios atendidos por cada um

destes profissionais Assim o niacutevel de atenccedilatildeo e tempo despendido para cada

beneficiaacuterio no esporte de rendimento tende a ser maior que o das demais

manifestaccedilotildees em contrapartida haacute um menor potencial de atendimento Poreacutem a

democratizaccedilatildeo do direito social ao esporte estaacute no acesso a sua fruiccedilatildeo logo

diminuir a capacidade de atendimento pode ter impacto negativo

Outro indicador que mostrou grande diferenccedila entre as manifestaccedilotildees

esportivas foi o ldquovalor per capitardquo dos projetos isto eacute o valor investido pelo projeto

em cada beneficiaacuterio Para o caacutelculo meacutedio deste indicador dividiu-se o montante

financeiro dos projetos pela quantidade de beneficiaacuterios correspondente O resultado

encontrado eacute o valor financeiro meacutedio investido em cada beneficiaacuterio por projeto

Observa-se que o investimento meacutedio nos beneficiaacuterios do esporte de rendimento

(projeto aprovado R$ 200931 e projeto captado R$ 357119) foi muito superior ao

do esporte educacional (projeto aprovado R$ 71254 e projeto captado R$ 62967) e

do esporte de participaccedilatildeo (projeto aprovado R$ 25929 e projeto captado R$ 4522)

164

Tabela 11 ndash Descriccedilatildeo dos projetos aprovados pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte nos quesitos quantidade de beneficiaacuterios

duraccedilatildeo do projeto valor per capita aprovado e captado

Identificaccedilatildeo do Projeto

Manifestaccedilatildeo Esportiva

Quantidade de

beneficiaacuterios

Duraccedilatildeo projeto

Valor Per capita aprovado

(R$)

Valor Per capita captado

(R$)

10 Educacional 4050 12 1339 -

15 Educacional 600 12 5946 5946

7 Educacional 3436 12 6293 4073

14 Educacional 1117 12 7867 5804

18 Educacional 605 12 7908 6581

29 Educacional 150 12 9535 -

30 Educacional 400 12 10612 -

20 Educacional 478 12 11722 -

8 Educacional 300 12 35532 12530

Maacuteximo 4050 12 35532 12530

Miacutenimo 150 12 1339 5804

Meacutedia 12373 120 10750 6987

25 Participaccedilatildeo 12000 12 412 100

0 Participaccedilatildeo 3000 2 3252 3252

28 Participaccedilatildeo 200 12 5923 5923

17 Participaccedilatildeo 520 11 6426 -

19 Participaccedilatildeo 196 12 32095 9141

31 Participaccedilatildeo 200 12 88576 -

Maacuteximo 12000 12 88576 9141

Miacutenimo 200 2 412 100

Meacutedia 26860 101 22781 4604

12 Rendimento 5000 6 3132 -

24 Rendimento 1000 6 3609 -

2 Rendimento 210 12 10824 10824

5 Rendimento 150 12 42430 37222

9 Rendimento 96 13 43827 24760

1 Rendimento 210 12 48621 27778

13 Rendimento 50 13 52311 52311

26 Rendimento 64 12 53663 716

27 Rendimento 40 12 69269 -

4 Rendimento 150 12 77473 11528

11 Rendimento 710 10 86521 34783

3 Rendimento 40 12 91780 45417

6 Rendimento 10 12 113234 79792

22 Rendimento 32 5 193360 -

21 Rendimento 10 12 304061 -

16 Rendimento 40 9 462832 247222

23 Rendimento 2 12 820481 -

Maacuteximo 5000 13 820481 247222

Miacutenimo 2 5 3132 716

Meacutedia 4596 107 145731 52032

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

165

No entanto independente da manifestaccedilatildeo esportiva os projetos satildeo

bastante distintos entre eles e o ldquovalor per capitardquo meacutedio torna-se apenas uma

referecircncia para comparaccedilotildees de projetos sem levar em consideraccedilatildeo o conteuacutedo ou

meacuterito esportivo Por isso a tabela anterior apresentou um panorama geral dos 32

projetos aprovados ateacute a data de 15 de fevereiro de 2016

Cabe ressaltar que na tabela o calculo do ldquovalor per capitardquo levou em

conta a quantia autorizada ou captada pelo projeto e sua relaccedilatildeo com o montante de

beneficiaacuterios a ser atendido mas tambeacutem o tempo de execuccedilatildeo da proposta Desta

maneira foi parametrizado o investimento mensal do projeto para o atendimento de

cada beneficiaacuterio Notamos que os valores calculados satildeo bastante diferentes entre

eles poreacutem os de rendimento satildeo os que possuem os maiores registros tanto que

cinco projetos implicam em investimento mensal superior a R$ 100000 em cada

atendido

Natildeo existe normativa sobre o investimento per capita em projetos

contudo levando em consideraccedilatildeo que um dos princiacutepios para a existecircncia da

poliacutetica de financiamento puacuteblico ao esporte eacute gerar a democratizaccedilatildeo do acesso a

este elemento da cidadania social devemos observar se o valor empregado no

projeto natildeo eacute superior ao serviccedilo similar ofertado pelo mercado Isto eacute um projeto de

ldquoescolinha de esporterdquo na manifestaccedilatildeo educacional que tem um investimento

mensal previsto em R$ 35532 como o de identificaccedilatildeo nuacutemero 8 na tabela natildeo

estaacute ofertando uma atividade esportiva igual agrave contratada no mercado mas com

valor superior

Nesse sentido o valor per capita pode ser utilizado como um quesito para

comparaccedilatildeo dos valores utilizados nos projetos com os praticados pelo mercado

funcionando como um balizador de preccedilo No entanto torna-se necessaacuterio ter

clareza no objetivo do mecanismo de mecenato esportivo pois tanto autorizar

projetos com chancela estatal a captar recurso de isenccedilatildeo fiscal quanto contratar um

serviccedilo privado com recurso puacuteblico (direto ou indireto) podem gerar o mesmo

resultado de acesso ao esporte Poreacutem o impacto na profissionalizaccedilatildeo e na cadeia

produtiva esportiva podem ser diferentes

166

53 Local e puacuteblico de atuaccedilatildeo dos projetos

Uma das novas diretrizes trazidas pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 foi a

descentralizaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas de maneira a proporcionar uma maior

proximidade entre o poder estatal e os beneficiaacuterios da accedilatildeo puacuteblica Nesse sentido

busca-se uma maior cooperaccedilatildeo entre os entes federativos (Uniatildeo Estados

Subnacionais e Municiacutepios) mas o Estado brasileiro tambeacutem passou a contar com o

apoio da sociedade civil organizada (associaccedilatildeo e fundaccedilotildees) para o

desenvolvimento e execuccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas

A participaccedilatildeo das entidades civis tem sido avaliada pelos gestores

puacuteblicos federais como beneacutefica devido agrave capacidade de fortalecimento da rede de

solidariedade jaacute existente aleacutem de possibilitar a ampliaccedilatildeo na abrangecircncia territorial

de atendimento das poliacuteticas puacuteblicas Ademais as entidades civis por estarem

envolvidas com a execuccedilatildeo de accedilotildees sociais satildeo detentoras de uma expertise

operacional que contribui no aprimoramento das poliacuteticas estatais (LOPEZ e

ABREU 2014)

Neste contexto a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) pode ser considerada uma ferramenta de descentralizaccedilatildeo da poliacutetica

esportiva pois permite que tanto a pessoa juriacutedica de direito puacuteblico quanto de

direito privado participe do chancelamento de projetos esportivos sem restriccedilatildeo de

lugar ou espaccedilo para a praacutetica

Para verificar a distribuiccedilatildeo territorial dos 32 projetos aprovados por

entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte foi feito o levantamento das

citaccedilotildees de locais de atividade Como cada proposta poderia sugerir mais de um

lugar de intervenccedilatildeo esportiva o nuacutemero consolidado foi superior a 32 indicaccedilotildees

Para a anaacutelise em Belo Horizonte levamos em consideraccedilatildeo a organizaccedilatildeo do

municiacutepio em nove regionais administrativas sendo 1) Barreiro 2) Centro-Sul 3)

Leste 4) Nordeste 5) Noroeste 6) Norte 7) Oeste 8) Pampulha 9) Venda Nova

(BELO HORIZONTE 2008)

167

Fonte Belo Horizonte (2008 p14) ndash Adaptado

Registramos 34 locais de intervenccedilatildeo esportiva na cidade sendo que a

Regional Centro-Sul foi a mais lembrada com 12 citaccedilotildees seguida pelas Regionais

Oeste (7) e Pampulha (5) Por sua vez as Regionais Venda Nova Norte e Noroeste

natildeo receberam nenhuma citaccedilatildeo muito embora os dados do Censo do IBGE de

2010 mostrem que estatildeo entre as quatro menores rendas domiciliares per capita66

da cidade Ou seja as regionais administrativas que natildeo estatildeo sendo atendidas pela

Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) satildeo as que abrigam

pessoas com maior dificuldade financeira para acessar o direito social ao esporte

pela via do mercado Logo a capacidade de capilarizaccedilatildeo da poliacutetica esportiva para

territoacuterios de vaacutecuo estatal natildeo foi observado no cenaacuterio belorizontino

66

Dados do Censo do IBGE de 2010 mas acessadas no site da Prefeitura de Belo Horizonte Disponiacutevel em lthttpportalpbhpbhgovbrpbhecpfilesdoevento=downloadampurlArqPlc=des-t072xlsgt

Figura 15 ndash Mapa com as regionais administrativas de Belo Horizonte

77

55

1122

22

22

44

168

Tabela 12 ndash Distribuiccedilatildeo dos locais de atuaccedilatildeo dos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

Belo Horizonte Renda

Domiciliar per capita

Citaccedilotildees Distribuiccedilatildeo

() Interior de

Minas Gerais Citaccedilotildees

Distribuiccedilatildeo ()

Barreiro R$ 67537 2 50 Araguari 1 13

Centro-Sul R$ 333743 12 150 Barroso 1 13

Leste R$ 108878 4 50 Betim 2 25

Nordeste R$ 108337 2 25 Brumadinho 3 38

Noroeste R$ 104817 - - Contagem 2 25

Norte R$ 75926 - - Ibiriteacute 2 25

Oeste R$ 134840 7 88 Ipatinga 4 50

Pampulha R$ 163359 5 63 Itabirito 2 25

Venda Nova R$ 70456 - - Naque 1 13

Nova Lima 1 13

Paracatu 1 13

Patos de Minas 1 13

Piriquito 2 25

Poccedilos de

Caldas 1 13

Santa Luzia 2 25

Satildeo Gonccedilalo

do Rio Abaixo 1 13

Sarzedo 1 13

Timoacuteteo 1 13

Trecircs Coraccedilotildees 1 13

Trecircs Pontas 1 13

Tupaciguara 1 13

Uberlacircndia 1 13

Varginha 1 13

Vespasiano 1 13

Outros

Estados 11 138

MeacutediaTotal R$ 129766 34 425 Total Geral 46 575

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

A falta de accedilotildees esportivas nas regionais Venda Nova Norte e Noroeste

pode sugerir uma carecircncia de qualificaccedilatildeo das entidades sediadas nestas

localidades haja vista que Belo Horizonte possui 518 entidades privadas sem fins

lucrativos de natureza recreativa segundo dados do IBGE67 Deste universo de

entidades apenas 46 apresentaram projetos no mecenato esportivo em 2013 sendo

67

Disponiacutevel em lthttpwwwcidadesibgegovbrcartogramamapaphplang=ampcoduf=31ampcodmun=310620ampidtema=101ampcodv=v11ampsearch=minas-gerais|belo-horizonte|sintese-das-informacoes-gt

169

que 20 tiveram ecircxito na aprovaccedilatildeo mas somente 12 conseguiram efetivar as suas

accedilotildees Trata-se de um nuacutemero muito restrito de participaccedilatildeo na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) principalmente para o contexto de uma

das maiores capitais do paiacutes Por isso aleacutem de melhorar a divulgaccedilatildeo do

mecanismo tambeacutem se torna preciso capacitar as entidades esportivas de forma

que aquelas localizadas em regiotildees menos favorecidas tenham chances de competir

em niacutevel de igualdade

Outro nuacutemero que chamou a atenccedilatildeo na distribuiccedilatildeo geograacutefica dos

projetos foi haacute alta incidecircncia de accedilotildees fora da capital Foram contabilizadas 35

citaccedilotildees de atividade esportiva a serem realizadas em 24 cidades do interior de

Minas Gerais apesar de todas as entidades estarem sediadas na capital mineira

Este dado mostra a possibilidade de transferecircncia de conhecimento e tecnologia

esportiva para regiotildees interioranas por meio da execuccedilatildeo de accedilotildees para aleacutem da

cidade sede da proponente

Contudo este tipo de accedilatildeo deve ser avaliado com certo cuidado pois a

falta de articulaccedilatildeo com a rede de serviccedilos do interior pode causar desestiacutemulo para

as entidades esportivas atuantes localmente Assim ao inveacutes das accedilotildees do

mecenato esportivo fortalecerem o que jaacute existe podem esta substituindo

temporariamente o atendimento sem haver troca de experiecircncia e no futuro

criando um novo vazio esportivo

Ainda catalogamos accedilotildees esportivas em 10 cidades localizadas na Bahia

e uma no Paraacute Ao verificar os trecircs projetos que pleiteavam atividades fora de Minas

Gerais observamos que todos eram de uma uacutenica proponente a mesma que

compunha o rank das maiores captadoras de recurso da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte (Lei Nordm 114382006)

Por conta da distacircncia entre Belo Horizonte e as cidades destes outros

estados torna-se importante refletir sobre o impacto de uma entidade esportiva

assumir uma responsabilidade de abrangecircncia territorial tatildeo grande Cabe lembrar

que uma das motivaccedilotildees para o Estado brasileiro utilizar das entidades civis para a

execuccedilatildeo de poliacutetica puacuteblica eacute sua maior proximidade com a populaccedilatildeo beneficiaacuteria

Neste caso a relaccedilatildeo de afinidade pode ficar abalada ou no miacutenimo prejudicada

A escolha do puacuteblico-alvo do projeto eacute outra fonte de informaccedilatildeo

interessante para verificar o potencial de democratizaccedilatildeo do direito social ao

esporte Assim o quantitativo de beneficiaacuterios dos 32 projetos aprovados foi

170

consolidado levando em consideraccedilatildeo a faixa-etaacuteria e a manifestaccedilatildeo esportiva

Como cada projeto poderia atender mais de uma categoria de faixa-etaacuteria o

somatoacuterio de incidecircncia nas propostas pode ser um valor superior as 32 aprovaccedilotildees

Tabela 13 ndash Distribuiccedilatildeo do puacuteblico-alvo dos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

Faixa-etaacuteria Quantidade

Beneficiaacuterios Distribuiccedilatildeo

() Educacional Rendimento Participaccedilatildeo

Crianccedila (0 a 12 anos) 7739 221 7077 (9) 324 (9) 338 (1)

Adolescente (10 a 18 anos) 7511 214 3878 (9) 2951 (13) 682 (3)

Adulto (18 a 59 anos) 16812 479 163 (5) 3249 (7) 13400 (5)

Idoso (a partir de 60 anos) 2250 64 - 750 (1) 1500 (2)

Pessoa com deficiecircncia 754 22 18 (1) 540 (2) 196 (2)

Total Geral 35066 1000 11136 (24) 7814 (32) 16116 (13)

idades delimitadas pelo sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte ( ) quantidade de projetos

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Notamos que 435 (15250) dos projetos visa atender o segmento jovem

sendo que 718 (10955) deste montante estaacute vinculado a manifestaccedilatildeo de esporte

educacional Os nuacutemeros mostram a abrangecircncia dos projetos educacionais para

garantir o acesso do puacuteblico jovem a este elemento social da cidadania

Ao buscar nas nove propostas educacionais mais informaccedilotildees descritivas

sobre a caracteriacutestica do puacuteblico jovem notamos que nenhuma trazia dado adicional

agrave delimitaccedilatildeo de idade Desta forma procuramos extrair os atributos dos

beneficiaacuterios dos possiacuteveis criteacuterios de seleccedilatildeo para a participaccedilatildeo na accedilatildeo Foi

recorrente mencionar que o projeto atenderia jovens em situaccedilatildeo de vulnerabilidade

social (2) ou risco social (3) aleacutem da repeticcedilatildeo da exigecircncia legal de 50 de

beneficiaacuterios matriculados em escola puacuteblica Mas apenas uma proposta indicou

articulaccedilatildeo com o Centro de Referecircncia em Assistecircncia Social (CRAS) da regiatildeo

para captar o puacuteblico-alvo e demonstrar o cumprimento do atributo Aparentemente

os demais projetos utilizaram os termos (vulnerabilidade e risco social) como

maneira de dar relevacircncia social a accedilatildeo esportiva a ser realizada pois natildeo havia

evidecircncias de comprovaccedilatildeo do contexto de fragilidade Outras quatro propostas natildeo

acrescentaram nenhuma informaccedilatildeo ao puacuteblico-alvo do projeto

171

Ter bom comportamento em sala ter presenccedila na escola e estarem dento do perfil do projeto que eacute assistir crianccedilas e adolescente de baixa renda e que moram em comunidades em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social (PROJETO 15 p5) [] eacute um projeto soacutecio-educativo de cunho esportivo para crianccedilas e adolescentes de 06 a 17 anos em situaccedilatildeo de risco social em quadra de tecircnis proacutexima agrave escola dos participantes (PROJETO 20 p4)

Esta debilidade argumentativa nas propostas aprovadas coloca em duacutevida

quem satildeo os possiacuteveis beneficiaacuterios dos projetos Mas natildeo foi um problema

exclusivo dos projetos educacionais pois esteve presente na grande maioria das

propostas No caso dos 13 projetos da manifestaccedilatildeo esporte de rendimento que

atenderiam o puacuteblico jovem ainda havia o agravante de um possiacutevel criteacuterio de

desempenho preacutevio (7) ou jaacute participar da entidade esportiva (4) Outras duas

propostas nada acrescentaram sobre o puacuteblico ou criteacuterio de seleccedilatildeo

40 atletas jovens e adultos [da proponente] das categorias juvenil a secircnior com qualidades fiacutesicas e habilidades teacutecnicas apropriadas para o desenvolvimento do esporte de alto rendimento na modalidade de nataccedilatildeo (PROJETO 16 p3 ndash entre colchetes substituiu o nome da proponente) Atletas praticantes da modalidade futsal com comprovado domiacutenio da praacutetica deste esporte 50 provenientes de escolas puacuteblicas de belo horizonte e regiatildeo Adolescentes do sexo masculino em sua parte estudantes de escolas puacuteblicas com capacidade teacutecnica comprovada para o desenvolvimento da modalidade direcionado ao desporto de rendimento Importante salientar que por se tratar de grande parte de pessoas carentes eacute de suma importacircncia o auxiacutelio transporte (PROJETO 26 p4)

Nesse sentido os jovens participantes dos projetos de rendimento jaacute

teriam que ter tido contato preacutevio com a modalidade logo o direito social ao esporte

deveria ter sido garantido por outra via que natildeo fosse o mecenato esportivo

Contudo a maior vedaccedilatildeo estaacute na seleccedilatildeo feita entre o puacuteblico da proacutepria

proponente ou seja apesar do recurso ter caraacuteter puacuteblico existe uma condicionante

de acesso agrave populaccedilatildeo em geral como por exemplo o pagamento da mensalidade

para ser associado do clube esportivorecreativo

Por outro lado os projetos de rendimento tambeacutem natildeo deixam claro se o

puacuteblico a ser atendido eacute fruto de uma ampliaccedilatildeo da accedilatildeo desenvolvida pela

proponente ou se estaacute havendo apenas uma transferecircncia do custeio de atividade jaacute

realizada Neste segundo caso o mecanismo de mecenato esportivo natildeo traria

nenhum beneficio adicional agrave sociedade haja vista que natildeo proporcionaria

ampliaccedilatildeo de acesso ao esporte e tatildeo pouco inovaccedilatildeo para a aacuterea

172

Enfim a forma de distribuiccedilatildeo do recurso no territoacuterio associado agrave

deficiecircncia argumentativa na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo dos projetos aprovados exibe

uma fragilidade no desenvolvimento do mecenato esportivo na capital mineira

Grande parte da conjuntura poderia ser justificada pela incipiente profissionalizaccedilatildeo

do setor esportivo Entretanto duas proponentes de destaque nacional na Lei

Federal de Incentivo ao Esporte estatildeo sediadas em Belo Horizonte e apresentaram

problemas similares em suas propostas embora tenham aprovado e captado Logo

a questatildeo natildeo estaacute apenas na profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas mas

tambeacutem na relaccedilatildeo que o Ministeacuterio do Esporte manteacutem com o mecanismo de

mecenato esportivo Isto eacute tratar a poliacutetica como meramente financeira quando na

verdade ela tem uma responsabilidade de desenvolvimento do esporte e

democratizaccedilatildeo do acesso a um elemento social da cidadania Mas para efetivar

este segundo eixo torna-se necessaacuterio discutir e propor uma diretriz para a poliacutetica

puacuteblica

173

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS UM ENSAIO PARA PENSAR A POLIacuteTICA DE FINANCIAMENTO AO ESPORTE

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 foi um marco para a sociedade brasileira

mas tambeacutem para o setor esportivo brasileiro ao incluir pela primeira vez na histoacuteria

do paiacutes o esporte como direito social O novo status do esporte acarretou a

obrigaccedilatildeo do Estado de atuar de forma ativa na proposiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de oportunizar o acesso e fruiccedilatildeo deste objeto social a todos os cidadatildeos

Ao investigar os documentos da Assembleia Nacional Constituinte

notamos que coube agraves tradicionais entidades representativas do esporte de

rendimento o protagonismo na inclusatildeo do tema no texto constitucional Assim o Art

217 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representou a ldquocarta de alforriardquo destas

entidades por prever autonomia e liberdade de funcionamento ao mesmo tempo

em que manteve a tradicional tutela do financiamento puacuteblico estatal Esta relaccedilatildeo

poderia ser considerada contraditoacuteria natildeo fosse o status de direito social Isto eacute o

entendimento do esporte como elemento da heranccedila social que agrega e gera

pertencimento dos indiviacuteduos agrave sociedade brasileira Por isso estabelece-se motivo

para o financiamento do Estado agraves entidades colaboradoras

No processo de reformulaccedilatildeo do esporte tambeacutem emergiu novas

expressotildees a manifestaccedilatildeo educacional (Art 217 inciso II) e esporte como

promoccedilatildeo do lazer (Art 217 inciso IV sect 3ordm) aleacutem do jaacute tradicional esporte de

rendimento (Art 217 inciso II) (BRASIL 1988a) Para Tubino (2005 2010) estas

possiacuteveis manifestaccedilotildees impliacutecitas no texto constitucional satildeo na verdade uma

consolidaccedilatildeo das discussotildees realizadas pela Comissatildeo de Reformulaccedilatildeo do

Desporto Nacional quando os termos Esporte-Educaccedilatildeo Esporte-Lazer e Esporte-

Rendimento apareceram As novas manifestaccedilotildees satildeo uma tentativa de expandir o

conceito esportivo para aleacutem da conversadora expressatildeo atleacutetica de desempenho

competitivo

Contudo ateacute a criaccedilatildeo da Secretaria de Desportos da Presidecircncia da

Repuacuteblica as novas manifestaccedilotildees esportivas natildeo passavam de discussotildees no

campo teoacuterico A nova estrutura estatal trouxe o esporte mais uma vez para a

agenda puacuteblica e no dia 6 de julho de 1993 foi aprovada a Lei Zico (Lei Nordm

86721993) A legislaccedilatildeo que se apresentava como norma geral do esporte

consolidou as trecircs manifestaccedilotildees Aleacutem disso mostrou a forccedila do setor do alto

174

rendimento ao conseguir flexibilizar no Congresso Nacional a eminente reforma

administrativa das entidades do esporte profissional principalmente no segmento do

futebol

A incapacidade da Lei Zico (Lei Nordm 86721993) de superar os problemas

estruturais da cadeia esportiva nacional estimulou nova rodada de debate para

reformulaccedilatildeo da norma geral para a aacuterea Depois de quase trecircs anos de tracircmite no

Congresso Nacional foi aprovada a Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) que reafirmou as

trecircs manifestaccedilotildees esportivas esporte de rendimento esporte educacional e esporte

de participaccedilatildeo aleacutem de trazer novas mas limitadas modernizaccedilotildees ao esporte

Em 16 de julho de 2001 foi aprovada a Lei AgneloPiva (Lei Nordm

102642001) que alterou o Art 56 da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) e possibilitou o

repasse de parte da receita das loterias federais para o esporte As beneficiaacuterias do

financiamento puacuteblico foram as entidades representativas do esporte sendo que um

percentual maior do recurso ficou vinculado agrave manifestaccedilatildeo rendimento Assim

mesmo sendo o esporte educacional e de participaccedilatildeo prioridades constitucionais

(inciso II do Art 217) o esporte de rendimento foi o primeiro a conquistar uma fonte

de financiamento puacuteblica Este fato mostra a forccedila e prestigio deste setor para

influenciar os formuladores de poliacutetica puacuteblica

Somente com a posse do Presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio Lula da

Silva (PTSP) e criaccedilatildeo do Ministeacuterio do Esporte com a Secretaria Nacional de

Esporte Educacional (SNEE) a Secretaria Nacional de Esporte e Lazer (SNEL) e

Secretaria Nacional de Esporte de Rendimento (SNER) foi possiacutevel uma estrutura

para o desenvolvimento de todas as manifestaccedilotildees esportivas O Programa

Segundo tempo (PST) e Programa Esporte e Lazer da Cidade (PELC) foram as

primeiras iniciativas para democratizar o esporte educacional e de participaccedilatildeo

respectivamente Estes programas tambeacutem colocaram o Estado brasileiro no papel

de executor de poliacuteticas puacuteblicas de esporte

Talvez este seja o momento de maior materializaccedilatildeo do direito social ao

esporte na sociedade brasileira contemporacircnea pois os novos programas

permitiram a fruiccedilatildeo do elemento social sem objetivo de formaccedilatildeo do atleta mas

como uma possibilidade de acesso a heranccedila social Novos atores sociais surgem

no campo do debate esportivo e passa a existir um diaacutelogo com a localidade por

meio de um processo de municipalizaccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica

175

As duas Conferecircncias Nacionais do Esporte (2004 2006) que se seguem

foram importantes para o amadurecimento do setor esportivo e acuacutemulo de capital

de conhecimento Especificadamente na segunda ediccedilatildeo da conferecircncia

argumentou-se sobre alternativas de financiamento puacuteblico para as entidades que

contribuem para a promoccedilatildeo do esporte havendo a sugestatildeo de leis de incentivo

fiscal nos trecircs entes federativos (Uniatildeo Estados Subnacionais e Municiacutepios) Como

estrateacutegia modelo o Ministeacuterio do Esporte havia encaminhado ao Congresso

Nacional o Projeto de Lei Nordm 69992006 que tratava sobre incentivo fiscal para a

aacuterea do esporte O projeto natildeo foi aprovado ateacute a data da conferecircncia mas serviu de

exemplo do governo federal para os demais governos subnacionais

Apesar do envio do projeto pelo Ministeacuterio do Esporte desde 2003 jaacute

tramitava no poder legislativo um projeto de lei similar de incentivo ao esporte do

Deputado Federal Bismarck Maia (PSDBCE) O pedido de urgecircncia do poder

executivo agilizou o processo e no dia 29 de dezembro de 2006 foi aprovada a Lei

Nordm 11438 popularmente conhecida como Lei Federal de Incentivo ao Esporte

Durante a passagem do projeto no Congresso Nacional foi recorrente a

lembranccedila da Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) e Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991)

como modelos de financiamento beneacuteficos para o crescimento do setor cultural No

entanto o mecanismo de mecenato cultural jaacute apresentava problemas na maneira

de distribuiccedilatildeo do recurso Grande parte dos impasses poderia ser minimizada com

a elaboraccedilatildeo de uma diretriz puacuteblica para o financiamento Mas independente da

realidade posta na aacuterea cultural o debate de criaccedilatildeo do mecanismo de mecenato

esportivo se restringiu quase exclusivamente agrave questatildeo teacutecnica orccedilamentaacuteria

Somente no comeccedilo das discussotildees legislativas sobre a Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) foi exibida a intenccedilatildeo do mecanismo em

beneficiar apenas as manifestaccedilotildees de esporte educacional e de participaccedilatildeo aleacutem

das modalidades natildeo oliacutempicas do esporte de rendimento Isso porque a Lei

AgneloPiva (Lei Nordm 102642001) jaacute canalizava recurso para o esporte oliacutempico

Contudo este argumento logo perdeu forccedila ateacute transformar o mecenato esportivo

em uma poliacutetica de financiamento ao esporte no geral Outro argumento presente

apenas no princiacutepio tratava da necessidade de contrapartida financeira do apoiador

como maneira de ampliar o montante disponiacutevel para o setor esportivo Esta opccedilatildeo

perdeu espaccedilo para a deduccedilatildeo integral do recurso apoiado tanto que no texto final

da legislaccedilatildeo ficou sem sentido a distinccedilatildeo entre patrociacutenio e doaccedilatildeo

176

Cabe ressaltar que a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) natildeo foi o primeiro mecanismo de mecenato esportivo aprovado na

aacuterea muito embora seja o primeiro a ser efetivado No final da deacutecada de 1980 e

iniacutecio de 1990 o poder legislativo em desacordo com o poder executivo aprovou a

Lei Mendes Thame (Lei Nordm 77521989) que criou trecircs modalidades de apoio via

mecanismo de mecenato esportivo Mas a legislaccedilatildeo vigorou apenas um dia por

contada suspensatildeo de todos os incentivos fiscais pelo receacutem-empossado Presidente

da Repuacuteblica Fernando Collor (PRNAL) Entretanto a discussatildeo deste mecanismo

de financiamento sequer foi lembrada durante a discussatildeo da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

Neste contexto notamos que o debate para aprovaccedilatildeo da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) se apropriou pouco do arcabouccedilo teoacuterico

e praacutetico existente sobre o funcionamento do mecanismo de mecenato O resultado

disso foi a reproduccedilatildeo de problemas experimentados na aacuterea cultural para o setor

esportivo tais como a concentraccedilatildeo de recurso na manifestaccedilatildeo rendimento (498

do valor captado de 2007-2014) e um maciccedilo investimento na regiatildeo Sudeste (73

do valor captado de 2007-2014) Este cenaacuterio de distribuiccedilatildeo desigual ainda foi

diretamente influenciado pelo acuacutemulo de recurso em um restrito grupo de 24

entidades esportivas (responsaacuteveis por 490 do valor captado de 2007-2014) das

quais seis satildeo tambeacutem beneficiarias da Lei AgneloPiva (Lei Nordm 102642001)

Ao analisar a conjuntura da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) no ano de 2013 para as entidades esportivas sediadas em Belo

Horizonte percebemos que dos 83 projetos apresentados 35 (422) foram

rejeitados 32 (386) aprovadas 13 (156) estavam em tracircmite e trecircs (36) natildeo

tinham informaccedilatildeo ou estavam identificados como protocolados Estes dados

mostram como eacute relevante o nuacutemero de rejeiccedilatildeo de projetos no funcionamento do

mecanismo

Seja por meacuterito ou por problemas documentais eacute importante que o

Ministeacuterio do Esporte amplie a interlocuccedilatildeo com as proponentes para minimizar as

restriccedilotildees de acesso Isso porque um dos objetivos da poliacutetica eacute (ou deveria ser)

aproximar o setor privado das entidades esportivas para que em um futuro proacuteximo

o montante disponiacutevel no setor seja maior que o recurso puacuteblico investido Nesse

sentido o mecenato esportivo natildeo pode ser entendido apenas como uma poliacutetica de

177

distribuiccedilatildeo de recurso mas tambeacutem como um potencial instrumento de

profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas

Verificando a distribuiccedilatildeo financeira dos 32 projetos aprovados (20

proponentes) notamos que dois proponentes que compotildeem o rank nacional dos

maiores captadores de recurso da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) no periacuteodo de 2007 a 2014 influenciaram diretamente no resultado

Estas proponentes foram responsaacuteveis pela aprovaccedilatildeo de sete projetos e a

autorizaccedilatildeo do montante de R$ 1282824808 dos quais R$ 672306288 foram

efetivamente captados Estes nuacutemeros representaram um taxa de sucesso de 524

da relaccedilatildeo entre valor autorizado e captado Por sua vez as demais 18 proponentes

que tiveram projetos aprovados responsaacuteveis por outros 25 projetos (R$

1498603920) conseguiram captar apenas R$ 396586555 Este montante

representa uma taxa de sucesso de 265

Os nuacutemeros mostram como a poliacutetica puacuteblica tem sido direcionada por um

grupo restrito de entidades esportivas A escolha de alocaccedilatildeo de recurso destas

proponentes acaba reforccedilando a concentraccedilatildeo de recurso existente na regiatildeo

Sudeste do paiacutes e na manifestaccedilatildeo esporte de rendimento No caso de Belo

Horizonte uma das proponentes de destaque optou pelos projetos de esporte

educacional o que acabou sendo beneacutefico para a manifestaccedilatildeo Todavia a decisatildeo

de alocaccedilatildeo do recurso educacional ficou quase que exclusivamente ldquonas matildeosrdquo

desta proponente Desta forma notamos o caraacuteter privado e particular que envolve a

aplicaccedilatildeo do recurso puacuteblico

Ao analisar como as accedilotildees esportivas das 32 propostas aprovadas

estavam espalhadas no territoacuterio de Belo Horizonte identificamos 34 locais de

intervenccedilatildeo dos quais a regional Centro-Sul foi a mais lembrada com 12 citaccedilotildees

Todavia esta eacute a regional com a maior meacutedia de renda domiciliar per capita do

municiacutepio ou seja onde as pessoas teriam as melhores condiccedilotildees de ter acesso ao

direito social do esporte pela via do mercado Em contrapartida as regionais Venda

Nova Norte e Noroeste que estatildeo entre as quatro piores meacutedias de renda domiciliar

per capita natildeo foram sequer lembradas

Estes dados ilustram a dificuldade do recurso chegar aos locais onde

tradicionalmente a poliacutetica puacuteblica jaacute tem dificuldade de estar A mudanccedila da

realidade depende de qualificaccedilatildeo das entidades esportivas locais eou do

direcionamento do financiamento por uma diretriz puacuteblica Esta perspectiva reforccedila o

178

argumento do potencial profissionalizante da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

(Lei Nordm 114382006) mas por outro lado mostra o problema de deixar a decisatildeo

da alocaccedilatildeo de recurso exclusivamente no setor privado

Enfim da mesma forma como aconteceu no setor cultural a maior

disponibilidade de recurso financeiro para a aacuterea esportiva estimulou a promoccedilatildeo

deste elemento social da cidadania Poreacutem a escolha pelo caminho

extraorccedilamentaacuterio retira o esporte da arena de debate do poder puacuteblico e transfere a

tomada de decisatildeo para o setor privado o que pode gerar distorccedilotildees na destinaccedilatildeo

do recurso Por isso tratar a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) como mero mecanismo de financiamento eacute limitado Assim eacute

necessaacuterio resgatar o seu principio de agregador de recurso privado ao montante

puacuteblico mas tambeacutem compreender o mecanismo como um poderoso instrumento de

profissionalizaccedilatildeo do ainda incipiente setor esportivo

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________ Decreto Nordm 98595 de 18 de dezembro de 1989 Regulamenta a Lei ndeg 7752 de 14 de abril de 1989 que dispotildee sobre benefiacutecios fiscais na aacuterea do imposto de renda concedidos ao desporto natildeo profissional e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1989c Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1980-1989D98595htmgt Acesso em 08 de junho de 2016 ________ Medida Provisoacuteria Nordm 150 de 15 de marccedilo de 1990 Dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Presidecircncia da Repuacuteblica e dos Ministeacuterios e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 8028 de 12 de abril de 1990 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1990a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpv1990-1995150htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Medida Provisoacuteria Nordm 161 de 15 de marccedilo de 1990 Altera a legislaccedilatildeo do Imposto de Renda das pessoas juriacutedicas e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 8034 de 12 de abril de 1990 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1990b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03MPV1990-1995161htmart2gt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Instruccedilatildeo Normativa Nordm 31 de 13 de marccedilo de 1990 Dispotildee sobre procedimentos a serem adotados para o gozo dos benefiacutecios fiscais ao desporto natildeo profissional instituiacutedos pela Lei Nordm 775289 Brasiacutelia Secretaria da Receita Federal 1990c Disponiacutevel em lthttppesquisaingovbrimprensajspvisualizaindexjspdata=14031990ampjornal=1amppagina=43amptotalArquivos=248gt Acesso em 8 de junho de 2016 _________ Lei Nordm 8313 23 de dezembro de 1991 Restabelece princiacutepios da Lei Ndeg 7505 de 2 de julho de 1986 institui o Programa Nacional de Apoio agrave Cultura (Pronac) e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Congresso Nacional 1991a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl8313conshtmgt Acesso em 07 de fevereiro de 2015 _________ Medida Provisoacuteria Nordm 309 de 16 de outubro de 1992 Dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Presidecircncia da Repuacuteblica e dos Ministeacuterios e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 8490 de 19 de novembro de 1992 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1992a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03MPV1990-1995309htmgt Acesso em 14 de maio de 2016

_________ Lei Nordm 8672 de 6 de julho de 1993 Institui normas gerais sobre desportos e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Congresso Nacional 1993a Acesso em 18 de marccedilo de 2014 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL8672htmgt Acesso em 18 de marccedilo de 2014 _________ Lei Nordm 8685 de 20 de julho de 1993 Cria mecanismos de fomento agrave atividade audiovisual e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Congresso Nacional 1993b Disponiacutevel em lthttpswwwplanaltogovbrccivil_03leisl8685htmgt Acesso em 16 de maio de 2016 _________ Medida Provisoacuteria Nordm 813 de 1ordm de janeiro de 1995 Dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Presidecircncia da Repuacuteblica e dos Ministeacuterios e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 9649 de 27 de maio de 1998 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1995a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpvAntigas813htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Decreto Nordm 1494 de 17 de maio de 1995 Regulamenta a Lei nordm 8313 de 23 de dezembro de 1991 estabelece a sistemaacutetica de execuccedilatildeo do Programa Nacional de Apoio agrave Cultura (PRONAC) e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1995b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03decretoD1494htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Medida Provisoacuteria Nordm 1003 de 19 de maio de 1995 Daacute nova redaccedilatildeo a dispositivos das Leis Nordm 8849 de 28 de janeiro de 1994 e 8541 de 23 de dezembro de 1992 que alteram a legislaccedilatildeo do imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 9064 de 20 de junho de 1995 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1995c Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpvAntigas1003htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Decreto Nordm 1711 de 22 de novembro de 1995 Aprova o Regulamento da Ordem do Meacuterito Cultural instituiacuteda pelo art 34 da Lei ndeg 8313 de 23 de dezembro de 1991 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1995d Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfeddecret1995decreto-1711-22-novembro-1995-431722-publicacaooriginal-1-pehtmlgt Acesso em 14 de maio de 2016

_________ Medida Provisoacuteria Nordm 1515 de 15 de agosto de 1996 Altera o limite de deduccedilatildeo de que trata o sect 2ordm do art 1ordm da Lei nordm 8685 de 20 de julho de 1993 que cria mecanismos de fomento agrave atividade audiovisual e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 9323 de 5 de dezembro de 1996 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1996a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpv1996-20001515htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Lei Nordm 9323 de 5 de dezembro de 1996 Altera o limite de deduccedilatildeo de que trata o sect 2o do art 1o da Lei no 8685 de 20 de julho de 1993 que cria mecanismos de fomento agrave atividade audiovisual e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Congresso Nacional 1996b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisL9323htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Decreto Nordm 2290 de 4 de agosto de 1997 Regulamenta o disposto no art 5ordm inciso VIII da Lei nordm 8313 de 23 de dezembro de 1991 e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1997a Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfeddecret1997decreto-2290-4-agosto-1997-437200-publicacaooriginal-1-pehtmlgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Medida Provisoacuteria Nordm 1589 de 24 de setembro de 1997 Altera dispositivos da Lei nordm 8313 de 23 de dezembro de 1991 e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 9847 de 23 de novembro de 1999 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1997b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpvAntigas1589htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ EM Interministerial Nordm 01897 de 24 de setembro de 1997 Exposiccedilatildeo de Motivos da Medida Provisoacuteria Nordm 1589 de 24 de setembro de 1997 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1997c Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfedmedpro1997medidaprovisoria-1589-24-setembro-1997-376673-exposicaodemotivos-146331-pehtmlgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Medida Provisoacuteria Nordm 1602 de 14 de novembro de 1997 Altera a legislaccedilatildeo tributaacuteria federal e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 9532 de 10 de dezembro de 1997 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1997d Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03LEISL9532htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Lei Nordm 9615 de 24 de marccedilo de 1998 Institui normas gerais sobre desporto e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Congresso Nacional 1998a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl9615consolhtmgt Acesso em 20 de marccedilo de 2014

_________ Medida Provisoacuteria Nordm 1651-43 de 5 de maio de 1998 Dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Presidecircncia da Repuacuteblica e dos Ministeacuterios e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 9649 de 27 de maio de 1998 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1998b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpvAntigas1651-43htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 ________ Medida Provisoacuteria Nordm 1795 de 1ordm de janeiro de 1999 Altera dispositivos da Lei Nordm 9649 de 27 de maio de 1998 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Presidecircncia da Repuacuteblica e dos Ministeacuterios e daacute outras providecircncias ndash Continua em tramite para conversatildeo em lei Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1999a Disponiacutevel em lthttpswwwplanaltogovbrccivil_03mpvantigas1795htmgt Acesso em 14 de maio de 2016

________ Lei Nordm 10264 de 16 de julho de 2001 Acrescenta inciso e paraacutegrafos ao art 56 da Lei no 9615 de 24 de marccedilo de 1998 que institui normas gerais sobre desporto Brasiacutelia Congresso Nacional 2001a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03leisLEIS_2001L10264htmgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Medida Provisoacuteria Nordm 2228-1 de 6 de setembro de 2001 Estabelece princiacutepios gerais da Poliacutetica Nacional do Cinema cria o Conselho Superior do Cinema e a Agecircncia Nacional do Cinema - ANCINE institui o Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Cinema Nacional - PRODECINE autoriza a criaccedilatildeo de Fundos de Financiamento da Induacutestria Cinematograacutefica Nacional - FUNCINES altera a legislaccedilatildeo sobre a Contribuiccedilatildeo para o Desenvolvimento da Induacutestria Cinematograacutefica Nacional e daacute outras providecircncias ndash Ainda natildeo foi convertida em lei Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2001b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpv2228-1htmgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Lei Nordm 10220 de 11 de abril de 2001 Institui normas gerais relativas agrave atividade de peatildeo de rodeio equiparando-o a atleta profissional Brasiacutelia Congresso Nacional 2001c Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03leisLEIS_2001L10220htmgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Medida Provisoacuteria Nordm 103 de 1ordm de janeiro 2003 Dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Presidecircncia da Repuacuteblica e dos Ministeacuterios e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 10683 de 28 de maio de 2003 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2003a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpvantigas_2003103htmgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Decreto de 21 de janeiro de 2004 Institui a Conferecircncia Nacional do Esporte e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2004a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-20062004DnnDnn10107htmgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Portaria Nordm 13 de 03 de fevereiro de 2004 Aprovar o anexo Regulamento Geral da Conferecircncia Nacional do Esporte e as normas baacutesicas de sua primeira reuniatildeo Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2004Bb Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoconferencias-2571-i-conferencia-nacional-de-esportegt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Portaria Nordm 23 de 11 de marccedilo de 2004 Institui a Comissatildeo Organizadora Nacional da primeira reuniatildeo da Conferecircncia Nacional do Esporte Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2004c Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoimagespdfsconferenciasEsporteregimento_1_conferencia_esportedocgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Documento Final - Deliberaccedilotildees para a Conferecircncia Nacional do Esporte Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2004d Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoimagespdfsconferenciasEsportedeliberacoes_1_conferencia_esportepdfgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Caderno de propostas - Conferecircncia Nacional do Esporte Esporte lazer e desenvolvimento humano Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2004e Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoimagespdfsconferenciasEsportedeliberacoes_1_conferencia_esportepdfgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Resoluccedilatildeo Nordm 5 de 14 de junho de 2005 Aprova a Poliacutetica Nacional do Esporte Brasiacutelia Conselho Nacional de Esporte 2005a Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosconselhoEsporteresolucoesresolucaoN5pdfgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Portaria Nordm 133 de 20 de outubro de 2005 Aprovar o anexo Regulamento Geral da II Conferecircncia Nacional do Esporte e Normas Baacutesicas Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2005b Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoimagespdfsconferenciasEsporte_IIregimento_2_conferencia_esportepdfgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Manual da II Conferecircncia Nacional de Esporte 2006 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2006a Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoimagespdfsconferenciasEsporte_IItexto_base_2_conferencia_esportepdfgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Lei Nordm 11438 de 29 de dezembro de 2006 - Dispotildee sobre incentivos e benefiacutecios para fomentar as atividades de caraacuteter desportivo e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Congresso Nacional 2006b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato200420062006LeiL11438compiladohtmgt Acesso em 15 de marccedilo de 2014

________ Parecer da Comissatildeo de Financcedilas e Tributaccedilatildeo sobre o Projeto de Lei Nordm 13672003 de 14 de junho de 2006 Parecer do Relator Deputado Federal Luiz Carlos Hauly sobre o Projeto de Lei Nordm 13672003 do Deputado Federal Bismarck Maia Brasiacutelia Cacircmara dos Deputados 2006c Disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebprop_mostrarintegracodteor=403294ampfilename=Tramitacao-PL+13672003gt Acesso em 15 de marccedilo de 2014

________ Transcriccedilatildeo da Plenaacuteria da Cacircmara dos Deputados sobre o Projeto de Lei Nordm 13672003 de 20 de dezembro de 2006 Transcriccedilatildeo do debate da Sessatildeo Plenaacuteria da Cacircmara dos Deputados sobre o Projeto de Lei Nordm 13672003 Brasiacutelia Cacircmara dos Deputados p56721-56732 2006d Disponiacutevel em lthttpimagemcamaragovbrImagemdpdfDCD21DEZ2006pdfpage=309gt Acesso em 15 de marccedilo de 2014 ________ Medida Provisoacuteria Nordm 342 de 29 de dezembro de 2006 Altera e acresce dispositivos agrave Lei no 11438 de 29 de dezembro de 2006 que dispotildee sobre incentivos e benefiacutecios para fomentar as atividades de caraacuteter desportivo ndash Convertida na Lei Nordm 11472 de 2 de maio de 2007 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2006e Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_ato2004-20062006Mpv342htmgt Acesso em 15 de marccedilo de 2014

________ Resoluccedilotildees da II Conferecircncia Nacional do Esporte 30 de janeiro de 2007 Propostas aprovadas na plenaacuteria final da II Conferecircncia Nacional do Esporte Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2007a Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoconferencias-2571-i-conferencia-nacional-de-esportegt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Decreto Nordm 6180 3 de agosto de 2007 Regulamenta a Lei nordm 11438 de 29 de dezembro de 2006 que trata dos incentivos e benefiacutecios para fomentar as atividades de caraacuteter desportivo Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2007b Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosleiIncentivoEsportedecretoN618003082007pdfgt Acesso em 18 de marccedilo de 2014

________ Decreto Nordm 6338 de 31 de dezembro de 2007 Fixa o valor absoluto do limite global das deduccedilotildees do imposto sobre a renda devido a tiacutetulo de doaccedilotildees e patrociacutenios no apoio direto a projetos desportivos e paradesportivos Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2007c Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102007DecretoD6338htmgt Acesso em 18 de marccedilo de 2014 ________ Decreto Nordm 6684 9 de Dezembro de 2008 Fixa para o ano-calendaacuterio de 2008 o valor maacuteximo das deduccedilotildees do imposto sobre a renda devido a tiacutetulo de patrociacutenio ou doaccedilatildeo no apoio direto a projetos desportivos e paradesportivos Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2008 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008DecretoD6684htmgt Acesso em 20 de marccedilo de 2014 ________ Portaria Nordm 120 3 de julho de 2009 Dispotildee sobre a tramitaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo e a aprovaccedilatildeo do enquadramento dos projetos desportivos ou paradesportivos bem como a captaccedilatildeo o acompanhamento e monitoramento da execuccedilatildeo e da prestaccedilatildeo de contas os projetos devidamente aprovados de que tratam a Lei nordm 11438 de 2 9 de dezembro de 2006 e o Decreto nordm 6180 de 3 de agosto de 2007 no acircmbito do Ministeacuterio do Esporte e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosleiIncentivoEsporteportariaN12003072009pdfgt Acesso em 28 de fevereiro de 2015

________ Texto Baacutesico da III Conferecircncia Nacional do Esporte 2010 Ministeacuterio do Esporte 2010a Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoimagespdfsconferenciasEsportes_IIItexto_base_3_conferencia_esportespdfgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Decreto Nordm 7529 de 21 de julho de 2011 Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissatildeo e das Funccedilotildees Gratificadas do Ministeacuterio do Esporte Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2011 Acesso em 16 de maio de 2016 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_ato2011-20142011decretod7529htmgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Relatoacuterio de Auditoria Operacional do Tribunal de Contas da Uniatildeo Acessibilidade nos oacutergatildeos puacuteblicos federais 2012 Brasiacutelia Tribunal de Contas da Uniatildeo 2012 Disponiacutevel em lthttpportaltcugovbrlumisportalfilefileDownloadjspfileId=8A8182A24F0A728E014F0B24E1417E4Bgt Acesso em 16 de maio de 2016

_________ Decreto Nordm 7984 de 8 de abril de 2013 Regulamenta a Lei Nordm 9615 de 24 de marccedilo de 1998 que institui normas gerais sobre desporto Brasiacutelia Presidecircncia da Republica 2013a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-20142013DecretoD7984htmgt Acesso em 08 de fevereiro de 2015 ________ Lei Nordm 12868 15 de Outubro de 2013 Altera a Lei no 12793 de 2 de abril de 2013 para dispor sobre o financiamento de bens de consumo duraacuteveis a beneficiaacuterios do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) constitui fonte adicional de recursos para a Caixa Econocircmica Federal altera a Lei no 12741 de 8 de dezembro de 2012 que dispotildee sobre as medidas de esclarecimento ao consumidor para prever prazo de aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas na Lei no 8078 de 11 de setembro de 1990 altera as Leis no 12761 de 27 de dezembro de 2012 no 12101 de 27 de novembro de 2009 no 9532 de 10 de dezembro de 1997 e no 9615 de 24 de marccedilo de 1998 e daacute outras providecircncia Brasiacutelia Congresso Nacional 15 de outubro de 2013b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-20142013LeiL12868htmart19gt Acesso em 08 de fevereiro de 2015 ________ Relatoacuterio de Auditoria agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporte 2013 Relatoacuterio de Auditoacuteria agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporte realizado em 2009 Brasiacutelia Tribunal de Contas 2013c Disponiacutevel em ltwwwtcugovbrconsultasjurisdocsjudocacord20130205ac_0092_03_13_pdocgt Acesso em 28 de fevereiro de 2015 ________ Portaria do Ministeacuterio do Esporte Nordm 294 de 2 de dezembro de 2013 Dispotildee sobre o credenciamento dos peritos pareceristas para anaacutelise de projetos esportivos conforme regras estabelecidas pela Portaria do Ministeacuterio do Esporte Nordm 189 de 7 de agosto de 2013 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2013c Disponiacutevel em lthttppesquisaingovbrimprensajspvisualizaindexjspjornal=2amppagina=45ampdata=03122013gt Acesso em 28 de fevereiro de 2015 ________ Parecer da Consultoria Juriacutedica do Ministeacuterio do Esporte de 15 de abril de 2014 Vigecircncia do Art 18-A da Lei Nordm 96151998 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2014a Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosleiIncentivoEsporteParecer20CONJURME20n20104-2014pdfgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Portaria do Ministeacuterio do Esporte de 18 de setembro de 2014 Dispotildee sobre o procedimento para verificaccedilatildeo pelos oacutergatildeos do Ministeacuterio do Esporte acerca do cumprimento das exigecircncias previstas nos artigos 18 e 18-A da Lei nordm 9615 de 24 de marccedilo de 1998 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2014b Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosleiIncentivoEsportePortaria20n2022420Exigncia20Art201820e201820A2018092014pdfgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Relatoacuterio de Auditoria Anual de Contas de janeiro de 2014 Relatoacuterio Anual de Auditoria realizada no Ministeacuterio do Esporte em 2013 Brasiacutelia Controladoria-geral da Uniatildeo 2014c Disponiacutevel em lthttpsistemas2cgugovbrrelatsuploadsRA201305660pdfgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Relatoacuterio de Gestatildeo 2013 de 07 de julho de 2014 Relatoacuterio gerencial da Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2014d Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosleiIncentivoEsporterelatorioGestao2013pdfgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Lei Nordm 13155 de 4 de agosto de 2015 Estabelece princiacutepios e praacuteticas de responsabilidade fiscal e financeira e de gestatildeo transparente e democraacutetica para entidades desportivas profissionais de futebol institui parcelamentos especiais para recuperaccedilatildeo de diacutevidas pela Uniatildeo cria a Autoridade Puacuteblica de Governanccedila do Futebol - APFUT dispotildee sobre a gestatildeo temeraacuteria no acircmbito das entidades desportivas profissionais cria a Loteria Exclusiva - LOTEX altera as Leis nos 9615 de 24 de marccedilo de 1998 8212 de 24 de julho de 1991 10671 de 15 de maio de 2003 10891 de 9 de julho de 2004 11345 de 14 de setembro de 2006 e 11438 de 29 de dezembro de 2006 e os Decretos-Leis nos 3688 de 3 de outubro de 1941 e 204 de 27 de fevereiro de 1967 revoga a Medida Provisoacuteria no 669 de 26 de fevereiro de 2015 cria programa de iniciaccedilatildeo esportiva escolar e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Congresso Nacional 2015a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2015-20182015LeiL13155htmgt Acesso em 08 de fevereiro de 2015 _________ Medida Provisoacuteria Nordm 671 de 19 de marccedilo de 2015 Institui o Programa de Modernizaccedilatildeo da Gestatildeo e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro dispotildee sobre a gestatildeo temeraacuteria no acircmbito das entidades desportivas profissionais e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 13155 de 4 de agosto de 2015 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2015b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2015-20182015Mpvmpv671htmgt Acesso em 16 de maio de 2016 _________ Relatoacuterio de Gestatildeo 2014 de 25 de junho de 2015 Relatoacuterio gerencial da Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2014 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2015c Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosleiIncentivoEsporterelatorioGestao2014V2pdfgt Acesso em 16 de maio de 2016

_________ Portaria do Ministeacuterio do Esporte Nordm 50 de 29 de fevereiro de 2016 Dispotildee sobre o credenciamento dos peritos pareceristas para anaacutelise de projetos esportivos conforme regras estabelecidas pelo Edital de Credenciamento Nordm 12015 de 16 de dezembro de 2015 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2013c Disponiacutevel em lthttppesquisaingovbrimprensajspvisualizaindexjspdata=18122015ampjornal=3amppagina=169amptotalArquivos=304gt Acesso em 28 de fevereiro de 2015 ESPANHA Constitucioacuten Espantildeola de 29 de dezembro de 1978 La Constitucioacuten Espantildeola de 1978 Madri Congresso 1978 Disponiacutevel em lthttpwwwlamoncloagobesdocumentsconstitucion_es1pdfgt Acesso em 14 de maio de 2016 MINAS GERAIS Lei Estadual Nordm 16318 de 11 de agosto de 2006 Dispotildee sobre a concessatildeo de desconto para pagamento de creacutedito tributaacuterio inscrito em diacutevida ativa com o objetivo de estimular a realizaccedilatildeo de projetos desportivos no Estado Belo Horizonte Assembleia Legislativa 2006 Disponiacutevel em lthttpwwwalmggovbrconsultelegislacaocompletacompletahtmltipo=LEIampnum=16318ampcomp=ampano=2006ampaba=js_textoAtualizadogt Acesso em 28 de marccedilo de 2016 _____________ Lei Estadual Nordm 20824 de 31 de julho de 2013 Altera as Leis nordms 6763 de 26 de dezembro de 1975 14937 de 23 de dezembro de 2003 e 14941 de 29 de dezembro de 2003 revoga dispositivo da Lei nordm 15424 de 30 de dezembro de 2004 concede incentivo a projetos esportivos e daacute outras providecircncias Belo Horizonte Assembleia Legislativa 2013 Disponiacutevel em lthttp2001984935incentivowp-contentuploads201310LEI-NC2BA-20824-DE-31-07-2013-Minas-Olimpica-Incentivo-ao-Esportepdfgt Acesso em 16 de maio de 2016 PORTUGAL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa de 25 de Abril de 1976 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa Lisboa Congresso Nacional 1976 Disponiacutevel em lthttpwwwparlamentoptparlamentodocumentscrp1976pdfgt Acesso em 14 de maio de 2016 SAtildeO PAULO Lei Municipal Nordm 10923 de 30 de dezembro de 1990 Dispotildee sobre incentivo fiscal para a realizaccedilatildeo de projetos culturais no acircmbito do Municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Cacircmara Municipal de Satildeo Paulo 1990 Disponiacutevel em lthttpwwwprefeituraspgovbrcidadesecretariasculturalei_de_incentivoindexphpp=6gt Acesso em 14 de maio de 2016

Page 3: Disciplina: Introdução à recreação e estudos sobre o lazer€¦ · Rafael Silva Diniz MECENATO ESPORTIVO: O trajeto da Lei Federal de Incentivo ao Esporte em Belo Horizonte Dissertação

Universidade Federal de Minas Gerais

Escola de Educaccedilatildeo Fiacutesica Fisioterapia e Terapia Ocupacional

Dissertaccedilatildeo intitulada ldquoMecenato Esportivo O trajeto da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte em Belo Horizonterdquo de autoria de Rafael Silva Diniz aprovada pela banca

examinadora constituiacuteda pelos seguintes professores

______________________________________________________

Prof Dr Luciano Pereira da Silva ndash Orientador

Depto de Ed FiacutesicaEscola de Ed Fiacutesica Fisioterapia e Terapia OcupacionalUFMG

______________________________________________________

Profordf Dra Ana Claacuteudia Porfiacuterio Couto

Depto de EsportesEscola de Ed Fiacutesica Fisioterapia e Terapia OcupacionalUFMG

______________________________________________________

Prof Dr Pedro Fernando Avalone de Atayde

Universidade de Brasiacutelia

______________________________________________________

Prof Dr Cleber Augusto Gonccedilalves Dias

Coordenador do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos do Lazer

Escola de Educaccedilatildeo Fiacutesica Fisioterapia e Terapia OcupacionalUFMG

Belo Horizonte 15 de julho de 2016

AGRADECIMENTOS

Em 2014 quase sete anos apoacutes a graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo fiacutesica o

destino me trouxe novamente a EEFFTO-UFMG Na ocasiatildeo buscava mais

informaccedilotildees sobre o mestrado (o que eacute onde como por que) e a primeira pessoa

que encontrei foi uma ex-colega de sala Priscila Campos na eacutepoca doutoranda da

UNICAMP Depois de colocar o ldquopapordquo em dia e tirar as duacutevidas ela comentou sobre

um professor receacutem-chegado na unidade que estudava e gostava de poliacutetica na aacuterea

do esporte e lazer Logo ela saiu pelos corredores da unidade a procuraacute-lo e me

apresentou o prof Dr Luciano Pereira da Silva

Na nossa primeira conversa o prof Luciano me convidou a assistir como

ouvinte a sua disciplina de ldquoPoliacuteticas Puacuteblicas de Esporte e Lazerrdquo para a graduaccedilatildeo

em Educaccedilatildeo Fiacutesica Natildeo me hesitei e comecei a frequentar a disciplina Passei a

conhecer o prof Luciano melhor e admirar sua capacidade argumentativa aliada a

sua simplicidade e humildade o que nem sempre satildeo atributos que andam juntos na

aacuterea acadecircmica Estava decido caso conseguisse entrar no mestrado queria que o

prof Luciano fosse meu orientador Poreacutem faltava a segunda parte passar no

processo seletivo e ele querer me orientar

Foi neste momento que outro ex-colega de sala o Luiz Nicaacutecio entrou na

histoacuteria Marcamos uma ldquoresenhardquo para ele me ajudar com o projeto de pesquisa

pois ele jaacute tinha um percurso de sucesso na aacuterea acadecircmica ndash como mestre Nicaacutecio

E realmente diante de todas as duacutevidas e anseios profissionais que eu o contei ele

teve a sensibilidade de captar a ideia do que eu desejava pesquisar (porque eu

mesmo natildeo sabia) Ele criou o objetivo do projeto de pesquisa e me deu a diretriz

dos temas que precisava desenvolver Passado uma semana estava criado o projeto

de pesquisa O Luiz ainda me preparou para a prova escrita e para a arguiccedilatildeo ndash

nesta uacuteltima demos boas risadas porque natildeo conseguia responder as perguntas

dele (ainda tenho duacutevidas sobre vaacuterias)

Nesta curta passagem que relembra o iniacutecio da minha trajetoacuteria no

mestrado marca como pessoas satildeo decisivas para o resultado do que somos

Entatildeo natildeo poderia deixar de agradecer aos ex-colegas de sala mas amigos de

vida Priscila Campos e Luiz Nicaacutecio Ao prof Luciano pela paciecircncia confianccedila e

amizade neste periacuteodo que natildeo foi faacutecil para mim uma vez que ldquoabracei o mundordquo

5

com outra graduaccedilatildeo (Processos Gerenciais) criando uma instituiccedilatildeo (Associaccedilatildeo

Movimenta Brasil) montando um lar em Tiradentes e ainda fazendo pesquisa

(Mestrado em Estudos do Lazer)

Entretanto a conquista do mestrado somente foi possiacutevel pelo apoio

incondicional da minha companheira de vida Luciana Bonuti (Linda) tanto nos

momentos bons quanto nos ruins Linda obrigado por me fazer uma pessoa melhor

(ainda longe da pessoa que vocecirc merece) e por aceitar compartilhar sua vida

comigo

ldquoEacute no conhecimento que existe a chance de libertaccedilatildeo Uma pessoa que decide natildeo conhecer aceita sua condiccedilatildeo de escravo aceita sua condiccedilatildeo de submissatildeo Conhecer eacute a condiccedilatildeo para eu libertar de mim mesmo e das amarras sociaisrdquo

Leandro Karnal 2016

RESUMO

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 marcou a inclusatildeo do esporte no rol de direitos sociais que formam a cidadania brasileira Os anos que se seguiram apoacutes a promulgaccedilatildeo do Art 217 foi de discussatildeo para elaboraccedilatildeo de uma norma geral para o esporte e reestruturaccedilatildeo estatal do elemento social Somente com aprovaccedilatildeo da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) e criaccedilatildeo do Ministeacuterio do Esporte (2003) o setor se organizou para a gecircnese de uma poliacutetica de financiamento puacuteblico a todas as manifestaccedilotildees do esporte O exemplo da Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) e da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) que buscou aproximar as entidades culturais do setor privado estimulando a figura do mecenas cultural por meio do incentivo fiscal tambeacutem foi considerado como oportuno para o setor esportivo Assim no final de 2006 foi aprovado no Congresso Nacional a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) Mas a experiecircncia na cultura jaacute anunciava possiacuteveis problemas que o mecanismo de mecenato esportivo poderia enfrentar na sua efetivaccedilatildeo fruto da realidade de desigualdades econocircmicas e de conhecimento no paiacutes Passados quase dez anos da promulgaccedilatildeo da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) ainda satildeo poucos os trabalhos acadecircmicos que buscam compreender o funcionamento e o impacto na distribuiccedilatildeo do recurso Por isso foi necessaacuterio traccedilar um panorama geral mas de abrangecircncia nacional do financiamento do mecenato esportivo no periacuteodo de 2007 a 2015 para em um segundo momento aprofundar no trajeto deste recurso pleiteado pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte Para a investigaccedilatildeo municipal foi utilizado como recorte temporal os 83 projetos apresentados e os 32 aprovados em 2013 sendo as informaccedilotildees consolidadas em categorias de anaacutelise Vaacuterios problemas de concentraccedilatildeo de recurso em regiatildeo geograacutefica e manifestaccedilatildeo esportiva influenciadas diretamente pela concentraccedilatildeo em um pequeno grupo de proponente observados em niacutevel nacional tambeacutem se reproduziram no territoacuterio de Belo Horizonte Palavras-chave Lei de Incentivo ao Esporte Financiamento ao esporte Poliacutetica puacuteblica de esporte e lazer

ABSTRACT

The Federal Constitution of 1988 stood out the inclusion of sport in the list of social rights which form the Brazilian citizenship The years that followed after the promulgation of Art 217 was discussion in order to elaborate a general rule for sport and state restructuring the social element Only with the approval of Lei Peleacute (Law Nordm 96151998) and creation of the Ministry of Sport (2003) the sector was organized for the genesis of a public financing policy to all manifestations of the sport The example of Lei Sarney (Law Nordm 75051986) and Lei Rouanet (Law Nordm 83131991) which sought to bring the cultural institution of the private sector stimulating the figure of the cultural mecenas through the tax incentive it was also considered appropriate for the sports sector Thus at the end of 2006 it was approved in the National Congress the Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Law Nordm 114382006) The experience in the culture already announced possible problems that sports patronage (mecenato) mechanism could face in its execution due to the reality of economic inequalities and knowledge in the country After almost ten years of the promulgation of the Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Law Nordm 114382006) there are few academic studies which seek understanding operation and the impact on resource distribution For that it was necessary to draw a general picture but nationwide from the sports patronage (mecenato) from 2007 to 2015 for in a second moment deepening the path of this resource claimed by the sports institution based in Belo Horizonte For municipal research was used as snip time the 83 projects presented and 32 approved in 2013 being consolidated as information in analysis categorie Several concentration problems of resource in geographic region and sports manifestation influenced directly for the concentration in a little group of proponent observed at a national level also reproduced in Belo Horizonte territory Keywords Incentive law of sport Financing sport Puplic policy of sport and leisure

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

FIGURA 1

Organograma do Ministeacuterio do Esporte (2003)

38

FIGURA 2 Diagrama atualizado das manifestaccedilotildees esportivas no acircmbito federal 85

85

FIGURA 3 Diagrama da cadeia produtiva do esporte profissional 87

FIGURA 4 Formulaacuterio digital de cadastro da proponente para acesso ao sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

92

FIGURA 5 Diagrama de fluxo da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

94

FIGURA 6 Elementos necessaacuterios para a apresentaccedilatildeo de projeto esportivo agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporte conforme Art 9ordm do Decreto Nordm 61802007 e respectiva fase de anaacutelise

95 FIGURA 7

Formulaacuterio digital de identificaccedilatildeo do projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

99

FIGURA 8

Formulaacuterio digital de descriccedilatildeo do ObjetoMetodologia do projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

100 FIGURA 9

Inclusatildeo de anexo ao projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

101

FIGURA 10

Formulaacuterio digital de Receita Prevista dos projetos esportivos no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

106 FIGURA 11

Formulaacuterio de identificaccedilatildeo do puacuteblico beneficiaacuterio do projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

110 FIGURA 12

Organograma institucional do Ministeacuterio do Esporte a partir da reformulaccedilatildeo do Decreto Nordm 75292011

112

FIGURA 13

Diagrama de paracircmetro para a escolha e aprovaccedilatildeo dos projetos esportivos na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

115 FIGURA 14

Quadro comparativo entre valor autorizado e captado dos projetos esportivos de 2013 das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

150 FIGURA 15

Mapa com as regionais administrativas de Belo Horizonte

167

LISTA DE TABELAS

TABELA 1

Distribuiccedilatildeo do incentivo de isenccedilatildeo fiscal no acircmbito federal

81

TABELA 2 Distribuiccedilatildeo de projetos esportivos apresentados em 2013 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por entidades sediadas em Belo Horizonte

140

TABELA 3 Comparativo entre o valor autorizado e captado na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em todo o Brasil e no ano de 2013 pelas entidades sediadas em Belo Horizonte ( em Reais)

150

TABELA 4 Comparativo entre o Grupo 1 e Grupo 2 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013

151

TABELA 5 Comparativo entre o Grupo 1 e Grupo 2 pelo tipo de manifestaccedilatildeo esportiva nos projetos na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013

153

TABELA 6 Distribuiccedilatildeo dos depoacutesitos feitos por pessoa fiacutesica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

154

TABELA 7 Distribuiccedilatildeo dos depoacutesitos feitos por pessoa juriacutedica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

156

TABELA 8 Distribuiccedilatildeo das modalidades esportivas por projeto apresentado por entidade esportiva sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

159

TABELA 9 Distribuiccedilatildeo dos recursos humanos pelo tipo de accedilatildeo esportiva desenvolvida no projeto aprovado por entidade sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

160

TABELA 10 Distribuiccedilatildeo dos beneficiaacuterios valor total e per capita recurso humano pela manifestaccedilatildeo esportiva nos projetos aprovados por entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

162

TABELA 11 Descriccedilatildeo dos projetos aprovados pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte nos quesitos quantidade de beneficiaacuterios duraccedilatildeo do projeto valor per capita aprovado e captado

164

TABELA 12 Distribuiccedilatildeo dos locais de atuaccedilatildeo dos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

168

TABELA 13 Distribuiccedilatildeo do puacuteblico-alvo dos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

170

LISTA DE GRAacuteFICOS

GRAacuteFICO 1 Desempenho da Lei Rouanet no periacuteodo de 1993 a 1998 62

GRAacuteFICO 2

Comparativo entre a quantidade de empresas declarantes do imposto sobre a renda (IRPJ) e a arrecadaccedilatildeo tributaacutevel apurada no ano fiscal de 2013

79

GRAacuteFICO 3 Comparativo entre a quantidade de pessoas fiacutesica declarantes do imposto sobre a renda (IRPF) e o imposto devido no momento da entrega da declaraccedilatildeo de rendimento no ano-calendaacuterio de 2013

80

GRAacuteFICO 4 Distribuiccedilatildeo da captaccedilatildeo de recurso financeiro pela tipologia de proponente na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2014

89

GRAacuteFICO 5 Situaccedilatildeo dos projetos esportivos apresentados agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporte durante o periacuteodo de 2007 a 2014

96

GRAacuteFICO 6 Comparativo entre a distribuiccedilatildeo do PIB brasileiro e o acumulado da Captaccedilatildeo de Recurso na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por regiatildeo administrativa do paiacutes

116

GRAacuteFICO 7 Comparativo entre a distribuiccedilatildeo populacional e o acumulado da Captaccedilatildeo de Recurso na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por regiatildeo administrativa do paiacutes

116

GRAacuteFICO 8 Comparativo entre a distribuiccedilatildeo do acumulado de 2007 a 2014 do recurso autorizado e captado pela Lei Federal de Incentivo por regiatildeo administrativa do paiacutes

117

GRAacuteFICO 9 Distribuiccedilatildeo do recurso autorizado e captado pelos projetos esportivos da Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

120

GRAacuteFICO 10 Distribuiccedilatildeo da quantidade dos projetos esportivos apresentados na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

120

GRAacuteFICO 11 Distribuiccedilatildeo financeira acumulada (2007 a 2014) das 24 proponentes com maior sucesso na captaccedilatildeo na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

124

GRAacuteFICO 12 Distribuiccedilatildeo financeira da captaccedilatildeo de recurso de 2014 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por modalidade esportiva

125

GRAacuteFICO 13 Comparativo entre o valor autorizado e captado no periacuteodo de 2007 a 2014 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

129

GRAacuteFICO 14 Comparativo entre o setor econocircmico de atuaccedilatildeo e tipo de empresa do grupo dos 18 maiores apoiadores da Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2014

130

GRAacuteFICO 15 Distribuiccedilatildeo dos status dos projetos esportivos enviados em 2013 para a Lei Federal de Incentivo ao Esporte por entidades sediadas em Belo Horizonte

138

GRAacuteFICO 16 Distribuiccedilatildeo das proponentes pela quantidade de projetos esportivos apresentados e taxa de sucesso em 2013 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

141

GRAacuteFICO 17 Distribuiccedilatildeo das proponentes sediadas em Belo Horizonte quanto agrave personalidade juriacutedica e natureza de funcionamento 143

GRAacuteFICO 18 Graacutefico da distribuiccedilatildeo das proponentes sediadas em Belo Horizonte quanto agrave natureza de funcionamento e taxa de sucesso

144

GRAacuteFICO 19 Distribuiccedilatildeo dos projetos apresentadas pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

147

GRAacuteFICO 20 Comparativo da distribuiccedilatildeo dos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte pela manifestaccedilatildeo esportiva

148

GRAacuteFICO 21 Distribuiccedilatildeo dos projetos apresentadas pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

152

GRAacuteFICO 22 Comparativo da distribuiccedilatildeo da quantidade e valores dos depoacutesitos feitos por pessoa fiacutesica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

155

GRAacuteFICO 23 Comparativo da distribuiccedilatildeo da quantidade e valores dos depoacutesitos feitos por pessoa fiacutesica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

156

GRAacuteFICO 24 Graacutefico 22 ndash Distribuiccedilatildeo das modalidades esportivas apresentadas e captadas pelos projetos das entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013

158

GRAacuteFICO 25 Comparativo entre a distribuiccedilatildeo dos profissionais e dos projetos pelo tipo de accedilatildeo esportivas apresentada na proposta das entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 201

161

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14 2 O PERCURSO DA CIDADANIA SOCIAL DO DESEMPENHO ESPORTIVO A ELEMENTO DE CIDADANIA 18

21 O direito social e status conquistado pelo esporte 18 22 A institucionalizaccedilatildeo estatal do esporte poacutes-constituiccedilatildeo 29

3 MECANISMO DE MECENATO DA CULTURA AO ESPORTE 45

31 Poliacutetica estatal de cultura e o desenvolvimento do mecenato 45 32 A criaccedilatildeo do mecenato esportivo 64

4 LEI FEDERAL DE INCENTIVO AO ESPORTE DA TEORIA DA NORMA AOS NUacuteMEROS DA PRAacuteTICA 77

41 Os passos iniciais 77

42 Elaboraccedilatildeo da proposta esportiva 91 43 O tracircmite do projeto esportivo no Ministeacuterio do Esporte 110 44 Aprovaccedilatildeo de projeto e Captaccedilatildeo de Recurso 127

5 O MECENATO ESPORTIVO EM BELO HORIZONTE DISSECANDO OS PROJETOS E CONHECENDO A POLIacuteTICA NO TERRITOacuteRIO 135

51 Dados consolidados dos projetos em Belo Horizonte 135

52 Anaacutelise financeira dos projetos 149 53 Local e puacuteblico de atuaccedilatildeo dos projetos 166

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS UM ENSAIO PARA PENSAR A POLIacuteTICA DE FINANCIAMENTO AO ESPORTE 173

REFEREcircNCIAS 179

ANEXOS Erro Indicador natildeo definido

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

Nas favelas no senado Sujeira pra todo lado

Ningueacutem respeita a constituiccedilatildeo Mas todos acreditam no futuro da naccedilatildeo

Que paiacutes eacute esse Que paiacutes eacute esse Que paiacutes eacute esse

(Renato Russo 1987)

A muacutesica ldquoQue paiacutes eacute esserdquo de Renato Russo retrata um pouco dos

anseios vividos pela sociedade brasileira durante o processo de redemocratizaccedilatildeo

do paiacutes Todo esse fervor democraacutetico influenciou a elaboraccedilatildeo do novo texto

originaacuterio da naccedilatildeo o qual pela primeira vez em nossa histoacuteria contou com

mecanismos de participaccedilatildeo popular (SANTOS 2011 p52) Natildeo por acaso a

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 tambeacutem ficou conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde

A nova constituiccedilatildeo marcou a entrada definitiva dos direitos sociais no rol

de garantias da populaccedilatildeo e obrigaccedilotildees do Estado uma tentativa mesmo que

tardia de construccedilatildeo de um modelo de Estado de bem-estar social tupiniquim Aleacutem

da formalizaccedilatildeo de direitos ela trouxe um alargamento da quantidade de elementos

sociais e um novo entendimento dos direitos sociais ao propor a desmercantilizaccedilatildeo

de uma seacuterie de objetos relacionados agrave nossa heranccedila de cidadania social

(MENICUCCI 2006 ESPING-ANDERSEN1 apud HASSENTEUFEL1996)

Neste contexto o lazer e o esporte conquistaram o status de direitos

sociais constitucionais indicados nos artigos 6ordm e 217ordm respectivamente (BRASIL

1988) Por isso o objetivo central desta pesquisa consiste em investigar o processo

de fomento e promoccedilatildeo do direito social ao esporte e lazer por meio da Lei Federal

de Incentivo ao Esporte (Lei nordm 114382006)

Entretanto antes de reconstruir a trajetoacuteria do esporte no paiacutes e buscar

vestiacutegios que norteiem nosso entendimento sobre a sua conquista ao patamar de

direito eacute importante compreender o significado do termo ldquodireito socialrdquo e o seu peso

para o conceito moderno de cidadania Esta mesma cidadania que segundo

Carvalho (2002) foi aclamada nas ruas e personificada durante o processo de

redemocratizaccedilatildeo do paiacutes

Assim no segundo capiacutetulo retomamos a claacutessica obra do socioacutelogo

inglecircs Thomas Humphrey Marshall (1967) que desmembra a cidadania em direito

civil poliacutetico e social Um contraponto em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo da cidadania

brasileira baseia-se na obra ldquoCidadania no Brasil o longo caminhordquo do cientista

poliacutetico e historiador Joseacute Murilo de Carvalho (2002) Em seguida buscamos

compreender a relaccedilatildeo do esporte com o Estado e a sociedade brasileira e como

este objeto foi se organizando durante o processo de redemocratizaccedilatildeo Aleacutem disso

a integraccedilatildeo do esporte agrave concepccedilatildeo brasileira de cidadania nos estimulou a

resgatar vestiacutegios na literatura cientiacutefica sobre a possibilidade de sua construccedilatildeo

ativa e reivindicatoacuteria ou se mais uma vez refletiu o que Carvalho (2002) optou de

chama de ldquoestadaniardquo ndash um tipo de cidadania passiva e tutelada pelo Estado

No terceiro capiacutetulo passamos a explorar o histoacuterico do mecanismo de

financiamento puacuteblico baseado no sistema de mecenato o qual tem se popularizado

bastante no paiacutes no periacuteodo poacutes-constituiccedilatildeo de 1988 A cultura foi precursora desta

poliacutetica puacuteblica com a publicaccedilatildeo da Lei Sarney (Lei Nordm 75151986) e seguida pela

Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) Inicialmente o intuito do mecenato foi atrair

recurso privado para aacuterea cultural por meio da isenccedilatildeo fiscal ao contribuinte do

Imposto sobre a Renda (IR) Com o passar dos anos vaacuterias reformas foram feitas na

legislaccedilatildeo que deram mais vigor agrave participaccedilatildeo do setor privado muito embora

grande parte do recurso circulante fosse de origem puacuteblica

Concomitantemente o foco em atrair recurso privado foi sendo transferido

para a criaccedilatildeo de um robusto mercado cultural firmado no marketing e no

fortalecimento de marcas institucionais Por outro lado expressotildees culturais de

pouco apelo comercial foram negligenciadas uma vez que o forte vieacutes

mercadoloacutegico criado pelo mecenato cultural praticamente tornou-se sinocircnimo de

poliacutetica cultural

Independente das disfunccedilotildees operacionais do mecanismo de mecenato

cultural a maior oferta financeira ao setor e a agilidade com que este chegava agrave

accedilatildeo finaliacutestica fez com que o Estado brasileiro optasse pela expansatildeo do modelo

para outras aacutereas da cidadania social Assim o esporte passou a estruturar uma

poliacutetica similar de financiamento e em 29 de dezembro de 2006 foi aprovada no

Congresso Nacional a Lei Nordm 114382006 que ficou popularmente conhecida como

1 ESPING-ANDERSEN Goslashsta The Three Worlds of Welfare Capitalism Cambridge Polity Press

1990

Lei Federal de Incentivo ao Esporte Apesar da inspiraccedilatildeo no modelo da cultura a

aacuterea esportiva se apropriou pouco das discussotildees e problemas que envolviam o

mecanismo de mecenato

No quarto capiacutetulo natildeo soacute apresentamos a legislaccedilatildeo e operacionalidade

do mecanismo de mecenato esportivo como tambeacutem problematizamos algumas das

escolhas normativas feitas Para isso nos baseamos na experiecircncia e inovaccedilatildeo de

outras propostas de leis de incentivo fiscal como a Rouanet a Minas Esportiva

Incentivo ao Esporte de Minas Gerais e a Lei Estadual de Incentivo ao Esporte do

estado de Satildeo Paulo para refletir sobre a capacidade de democratizaccedilatildeo da poliacutetica

de financiamento ao esporte e o fortalecimento do interesse puacuteblico na seleccedilatildeo das

accedilotildees

Jaacute por meio do ldquoRelatoacuterio de Gestatildeo da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte de 2014rdquo trabalhamos algumas informaccedilotildees quantitativas da poliacutetica para

termos uma noccedilatildeo geral do seu desenvolvimento no acircmbito nacional no periacuteodo de

2007 a 2014 Assim notamos uma concentraccedilatildeo de recurso na manifestaccedilatildeo

rendimento (498 do valor captado de 2007-2014) e um maciccedilo investimento na

regiatildeo Sudeste (73 do valor captado de 2007-2014) Este cenaacuterio de distribuiccedilatildeo

desigual ainda estava sendo influenciado pelo acuacutemulo de recurso em um restrito

grupo de entidades esportivas (24 proponentes responsaacuteveis por 49 do valor

captado de 2007-2014) das quais algumas jaacute satildeo beneficiaacuterias de outra fonte de

recurso puacuteblico (Lei AgneloPiva ndash Lei Nordm 102642001)

Cabe mencionar que esta etapa foi necessaacuteria devido agrave falta de

referencial teoacuterico sobre o tema tendo em vista a incipiente pesquisa acadecircmica

acerca da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) Dentre as

iniciativas realizadas vale destacar Matias et al (2015) Seixas (2015) Bernardo et

al (2011) Cavazzani et al (2010) Cabral (2010) Franccedila Juacutenior e Frasson (2010) e

Monteiro (2010)

No quinto capiacutetulo passamos a analisar os projetos apresentados e

aprovados pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte para verificar a

distribuiccedilatildeo do recurso puacuteblico ao esporte no acircmbito municipal Tendo em vista o

prazo do Ministeacuterio do Esporte para consolidaccedilatildeo das informaccedilotildees referentes ao

mecanismo de mecenato esportivo no ano de 2014 receacutem-encerado e

concomitantemente ao moroso processo burocraacutetico estatal ateacute o esgotamento do

ciclo de vida dos projetos optou-se pela anaacutelise das propostas esportivas

apresentadas em 2013 delimitando o recorte temporal desta pesquisa

No segundo momento deste capiacutetulo o foco principal se direciona apenas

aos 32 projetos aprovados no periacuteodo analisados a fim de avaliar o potencial de

democratizaccedilatildeo do direito social no esporte

A delimitaccedilatildeo do grupo de anaacutelise nos permite aprofundar

qualitativamente no conteuacutedo descritivo dos projetos e para essa verificaccedilatildeo foram

utilizados dois princiacutepios constitucionais que se aplicam aos direitos sociais o

princiacutepio da universalidade (acessibilidade a toda a comunidade ou faixas-etaacuterias

populacionais) e o da descentralizaccedilatildeo (regionalizar a disponibilidade dos serviccedilos

de garantia de direitos)

No sexto e uacuteltimo capiacutetulo apresentamos as consideraccedilotildees finais sobre o

mecanismo de mecenato esportivo tentando estimular novas discussotildees

18

2 O PERCURSO DA CIDADANIA SOCIAL DO DESEMPENHO ESPORTIVO A ELEMENTO DE CIDADANIA

21 O direito social e status conquistado pelo esporte

A configuraccedilatildeo do Estado Moderno ou Estado-naccedilatildeo defronta com

termos e conceitos distintos e ateacute mesmo contraditoacuterios mas que se permitem

conviver juntos por serem parte de um longo e conflituoso processo de construccedilatildeo

histoacuterica Neste contexto terminoloacutegico a cidadania eacute um tiacutepico exemplo de palavra

que eacute cotidianamente utilizada mas que possui atributos dinacircmicos ligados agrave

formaccedilatildeo do Estado e da sociedade

De acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2016 p1) cidadania eacute a qualidade

de cidadatildeo ou seja a capacidade do indiviacuteduo ser parte integrante e ativa de uma

determinada sociedade que por sua vez eacute regida pelas normas de conviacutevio e

proteccedilatildeo de um Estado Para notar a diferenccedila temporal da palavra na Roma

Antiga por exemplo somente os membros homens e detentores de posse eram

considerados cidadatildeos e por isso tinham direito de participar das decisotildees do

Estado ndash exercer sua cidadania

Na atualidade com o aumento da complexidade das relaccedilotildees sociais natildeo

eacute possiacutevel resumir a cidadania a esses dois uacutenicos criteacuterios romanos seja o da

quantidade de terra (riqueza) seja o de gecircnero (homem e mulher) Desse modo

para pensar sobre os atributos que fazem parte do conceito moderno de cidadania

torna-se interessante a leitura da claacutessica obra ldquoCidadania Classe Social e Statusrdquo

de 1967 do socioacutelogo inglecircs Thomas Humphrey Marshall2

Para o autor a cidadania poderia ser dividida em trecircs elementos os quais

mais tarde se especializariam em categorias de direitos O primeiro elemento seria o

civil composto dos direitos necessaacuterios agrave liberdade individual ndash liberdade de ir e vir

de expressatildeo e de propriedade A instituiccedilatildeo responsaacutevel por garantir este direito

seria o tribunal de justiccedila Segundo o filoacutesofo italiano Noberto Bobbio (2004 p 20)

os direitos civis satildeo os ldquodireitos de liberdade isto eacute todos aqueles direitos que

2 No Capiacutetulo 3 do livro Cidadania Classe Social e Status Thomas H Marshall apresenta um ensaio

socioloacutegico que foi discursado na conferecircncia dedicada ao economista Alfred Marshall em 1949 na Universidade de Cambridge Nessa passagem estaacute a base do desenvolvimento do seu conceito de cidadania moderna fragmentado nos direitos civil poliacutetico e social

19

tendem a limitar o poder do Estado e a reservar para o indiviacuteduo ou para os grupos

particulares uma esfera de liberdade em relaccedilatildeo ao Estadordquo

O segundo elemento denominado de poliacutetico seria evidenciado pela

possibilidade de o indiviacuteduo atuar em qualquer instacircncia de representaccedilatildeo coletiva

que pensasse debatesse e decidisse o destino de sua sociedade As instituiccedilotildees de

exerciacutecio da cidadania poliacutetica seriam os cargos representativos nos conselhos

deliberativos e a participaccedilatildeo direta no proacuteprio Estado Para Bobbio (2004) o

elemento poliacutetico era uma complementaccedilatildeo do direito agrave liberdade individual uma vez

que concedia autonomia de participaccedilatildeo dos cidadatildeos no poder do Estado

Jaacute o elemento social da cidadania tinha como caracteriacutestica o acesso do

indiviacuteduo aos bens e serviccedilos comuns agrave sociedade ou seja a possibilidade dele

usufruir de uma vida em niacutevel civilizado tendo como base a heranccedila social e os

padrotildees determinados pela sociedade As principais instituiccedilotildees responsaacuteveis por

garantir este elemento seriam o sistema educacional transferindo conhecimento

acumulado pela sociedade aos indiviacuteduos membros e os serviccedilos assistenciais que

acolheriam os necessitados para preservaccedilatildeo do miacutenimo de civilidade dos

indiviacuteduos

Diferentemente dos dois elementos anteriores que tinham como suporte

o princiacutepio filosoacutefico da liberdade principalmente na expressatildeo da independecircncia e

autonomia do indiviacuteduo na relaccedilatildeo com o Estado o elemento social se sustentava

pelo princiacutepio da igualdade entre seus membros isto eacute a capacidade do coletivo

manter as desigualdades individuais em um niacutevel aceitaacutevel de civilidade Em outras

palavras o elemento social seria um suposto pacto da sociedade que garantiria que

o cidadatildeo na fruiccedilatildeo da sua liberdade natildeo criasse um exacerbado niacutevel de

desigualdade que levasse agrave dificuldade ou agrave exclusatildeo dos seus semelhantes da

participaccedilatildeo do legado social Bobbio (2004) complementa argumentando que o

direito social reflete o amadurecimento da sociedade por novas exigecircncias e valores

coletivos para aleacutem das necessidades individuais

Contudo Marshall (1967) indicava como regra geral uma sequecircncia

desenvolvimentista da cidadania moderna a qual se iniciava pelo elemento civil

passava pelo poliacutetico e se consolidava com a conquista do elemento social Mas sua

construccedilatildeo terminoloacutegica tinha como pilar a experiecircncia local vivida pela sociedade

inglesa o que natildeo necessariamente representaria a loacutegica de outras sociedades

20

Para mostrar as particularidades e diferenccedilas existentes na gecircnese deste

termo no Brasil o cientista poliacutetico e historiador Joseacute Murilo de Carvalho produziu

no ano de 20013 uma obra que reconta o trajeto da nossa cidadania Inicialmente

ao defrontar a experiecircncia inglesa com a brasileira foi notada uma inversatildeo na

ordem de consolidaccedilatildeo dos elementos da cidadania pois no Brasil a base de

formaccedilatildeo se deu pelo direito social para em seguida se ter o direito poliacutetico e

finalmente o direito civil (CARVALHO 2002)

Aleacutem disso o direito social teve a caracteriacutestica de ser cedido pelo Estado

brasileiro como uma contrapartida da restriccedilatildeo aos direitos poliacuteticos e civis durante

os governos autoritaacuterios (ditadura civil e militar) o que de certa forma minimizava a

ideia de pacto coletivo evidenciada pelo princiacutepio da igualdade Assim Carvalho

(2002) de forma irocircnica sugere a substituiccedilatildeo do termo cidadania por ldquoestadaniardquo

demonstrando a qualidade de cidadatildeos brasileiros tutelada pelo Estado

Para Carvalho (2002) o retrocesso e desvio no desenvolvimento dos

direitos tambeacutem foi outra possibilidade natildeo prevista na teoria de Marshall (1967)

mas bastante presente na formaccedilatildeo da cidadania brasileira O periacuteodo de 1945 a

1964 exemplifica bem essa afirmaccedilatildeo do autor pois tratou-se de um momento de

grande entusiasmo democraacutetico quando o paiacutes vivenciava boa praacutetica dos direitos

civis e poliacuteticos Poreacutem o desenvolvimento destes direitos natildeo impediu que o

seguinte golpe militar gerasse forte restriccedilatildeo ou ateacute recuo do exerciacutecio civil e

poliacutetico enquanto simultaneamente se ampliavam os direitos sociais

O conjunto de alteraccedilatildeo da piracircmide de elementos constituintes da

cidadania e o descontiacutenuo percurso de sua formaccedilatildeo remetem para um trajeto de

cidadania brasileira diferente da idealizada por Marshall (1967) Natildeo obstante

Carvalho (2002) ainda chama a atenccedilatildeo para o niacutevel de variabilidade da

identificaccedilatildeo do cidadatildeo com o Estado como outro fator de influecircncia em um

diferente exerciacutecio da cidadania Em outras palavras alguns momentos de forte crise

interna do Estado ou de comoccedilatildeo nacional poderiam ser poderosos meios de

reorganizaccedilatildeo da relaccedilatildeo da sociedade com os elementosdireitos civis poliacuteticos e

3 A obra Cidadania no Brasil o longo caminho de Joseacute Murilo de Carvalho teve como motivaccedilatildeo a

reflexatildeo sobre a comemoraccedilatildeo dos 500 anos de descoberta do Brasil completados em 2000 Em meio agraves festividades da data o autor considerou interessante resgatar a construccedilatildeo da cidadania brasileira tendo em vista o destaque que o termo teve durante o processo de redemocratizaccedilatildeo do paiacutes a partir de 1985 e sua representaccedilatildeo simboacutelica para a sociedade brasileira

21

sociais trazendo agrave tona uma nova forma de expressatildeo e gozo da cidadania distinta

da teorizada por Marshall (1967)

Nesta perspectiva podemos observar que na deacutecada de 1980 durante o

novo processo de redemocratizaccedilatildeo do paiacutes um forte sentimento nacionalista

emergiu das ruas e fez a palavra cidadania reaparecer no cotidiano das pessoas

como um quase sinocircnimo da vontade do povo ou sua proacutepria personificaccedilatildeo como

bem sugeriu Carvalho (2002 p7) ldquoa cidadania virou genterdquo ao denotar os anseios e

sentimentos da populaccedilatildeo Desta forma a lembranccedila popular da palavra cidadania

simbolizava o desejo da sociedade por um rearranjo na sua fruiccedilatildeo independente do

niacutevel evolutivo em que seus elementos se encontravam

O desenrolar dos fatos levou a um reestabelecimento do exerciacutecio do

direito civil e poliacutetico no paiacutes e tambeacutem marcou um alargamento dos direitos sociais

O novo pacto social com o Estado formalizado por meio da Constituiccedilatildeo Federal de

1988 natildeo soacute trazia garantias institucionais para a defesa da cidadania civil e poliacutetica

como tambeacutem apresentava pela primeira vez no texto constitucional um capiacutetulo

exclusivo sobre os direitos sociais ndash ldquoCapiacutetulo II - Dos Direitos Sociaisrdquo (BRASIL

1988a p1)

Art 6ordm Satildeo direitos sociais a educaccedilatildeo a sauacutede a alimentaccedilatildeo o trabalho a moradia o lazer a seguranccedila a previdecircncia social a proteccedilatildeo agrave maternidade e agrave infacircncia a assistecircncia aos desamparados na forma desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 1988a p1)

Todavia Carvalho (2002) alerta para o caraacuteter ideal de cidadania

positivado no texto constitucional pois a complexidade da sociedade

contemporacircnea possibilita imprimir uma variedade de facetas aos elementos civis

poliacuteticos e sociais o que torna aacuterduo o trabalho de seu atendimento pleno Talvez

por isso a cidadania plena seja objeto inalcanccedilaacutevel na sociedade contemporacircnea

Por outro lado a existecircncia de um modelo ideal serve como paracircmetro para avaliar a

qualidade no seu desenvolvimento

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 inovou ao apresentar um capiacutetulo

reservado aos direitos sociais no entanto outras facetas do elemento social podiam

ser encontradas em partes diversas do texto constitucional assim como jaacute acontecia

22

nas constituiccedilotildees anteriores4 Ressalta-se que desde a Carta Magna de 1934 o

constituinte vinha tendo o cuidado de designar um tiacutetulo sobre a ldquoOrdem Econocircmica

e Socialrdquo ou da ldquoOrdem Socialrdquo onde estabelecia regras de regulaccedilatildeo e intervenccedilatildeo

ativa do Estado em objetos sociais de interesse puacuteblico tendo como finalidade a

busca da justiccedila social Ou seja neste tiacutetulo era possiacutevel identificar alguns dos

direitos sociais tutelados pelo o Estado corroborando a afirmaccedilatildeo de Carvalho

(2002) sobre a supremacia do elemento social na formaccedilatildeo da cidadania brasileira

Assim tanto os elementos citados no Art 6ordm quanto os contidos no ldquoTiacutetulo

VIII ndash Da Ordem Socialrdquo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 podem ser considerados

direitos sociais necessaacuterios ao exerciacutecio pleno da cidadania social Desta forma pela

primeira vez a nova pactuaccedilatildeo da sociedade brasileira com o Estado acrescentou a

presenccedila do esporte (Tiacutetulo VIII ndash Da Ordem Social Capiacutetulo III ndash Da Educaccedilatildeo da

Cultural e do Desporto Seccedilatildeo III ndash Do Desporto) como elemento social para a

fruiccedilatildeo da cidadania moderna (BRASIL 1988a)

Logo compreender o processo de elevaccedilatildeo de status do esporte a direito

social e posterior estruturaccedilatildeo no aparato estatal nos dispotildee de subsiacutedio para refletir

sobre sua efetivaccedilatildeo como uma das facetas da cidadania Junto a isso tambeacutem nos

permite ampliar o ldquoolharrdquo sobre o financiamento de mecenato esportivo ndash Lei Federal

de Incentivo ao Esporte e os vestiacutegios dos atores sociais envolvidos e que podem

se beneficiar diretamente da escolha do modelo da poliacutetica puacuteblica

Cabe ressaltar que antes do novo pacto social a temaacutetica do esporte

estava sob a tutela disciplinar do Estado desde a publicaccedilatildeo do Decreto-Lei Nordm

3199 de 14 de abril de 1941 e posteriormente pela Lei Nordm 6251 de 8 de Outubro

de 1975 (BRASIL 1941 BRASIL 1975) Somente apoacutes a posse do primeiro

Presidente Civil Joseacute Sarney (PMDBMA) depois de um longo periacuteodo sob as

ldquoreacutedeasrdquo dos militares foi sancionado o Decreto Nordm 91452 em 19 de Julho de 1985

que instituiu a ldquocomissatildeo para realizar estudos sobre o desporto nacionalrdquo e permitiu

repensar novos rumos para o esporte (BRASIL 1985 p1) A comissatildeo teve os

4 Relaccedilatildeo de constituiccedilotildees que o paiacutes teve em sua histoacuteria sendo que somente a partir da sua 3ordf

ediccedilatildeo passou a contar com o tiacutetulo sobre a ldquoOrdem Econocircmica e Socialrdquo ou ldquoOrdem Socialrdquo a qual trata indiretamente sobre os direitos sociais (1ordf) Constituiccedilatildeo do Impeacuterio do Brasil de 1824 (2ordf) Constituiccedilatildeo dos Estados Unidos do Brasil de 1891 (3ordf) Constituiccedilatildeo dos Estados Unidos do Brasil de 1934 (4ordf) Constituiccedilatildeo dos Estados Unidos do Brasil de 1937 (5ordf) Constituiccedilatildeo dos Estados Unidos do Brasil de 1946 (6ordf) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1967 (7ordf) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1969 (8ordf) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988

23

trabalhos presididos pelo Professor Manoel Tubino que agrave eacutepoca era

simultaneamente membro da Secretaria de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desporto do

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Presidente do Conselho Nacional de Desportos

Em dezembro do mesmo ano a Comissatildeo de Reformulaccedilatildeo do Esporte

Nacional apresentou um relatoacuterio conclusivo composto por 80 indicaccedilotildees

organizadas em seis grupos temaacuteticos especiacuteficos 1) conceituaccedilatildeo do esporte e sua

natureza 2) redefiniccedilatildeo do papel dos diversos segmentos e setores da sociedade e

do Estado em relaccedilatildeo ao esporte 3) mudanccedilas juriacutedico-institucionais 4) carecircncia de

recursos humanos fiacutesicos e financeiros comprometidos com o desenvolvimento das

atividades esportivas 5) insuficiecircncia de conhecimentos cientiacuteficos aplicados ao

esporte 6) imprescindibilidade da modernizaccedilatildeo de meios e praacuteticas do esporte

(CARVALHO ATHAYDE 2015)

De acordo com o proacuteprio Tubino (2010) o relatoacuterio levou em consideraccedilatildeo

a realidade brasileira mas tambeacutem sofreu influecircncia da conjuntura internacional

Havia um movimento de questionamento sobre a exacerbaccedilatildeo do esporte de alto

rendimento principalmente pelo uso poliacutetico da sua praacutetica adotada pelo bloco

capitalista e socialista durante os jogos oliacutempicos Por outro lado uma segunda

corrente de pensamento propunha a ampliaccedilatildeo do esporte como direito dos povos e

natildeo mais apenas como prerrogativa de talento atleacutetico o qual foi formalizado por

meio do Manifesto do Esporte (1968) da Carta Europeia de Esporte para Todos

(SD) e da Carta Internacional de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Esporte da UNESCO5 (1978)

Art 1ordm - A praacutetica da educaccedilatildeo fiacutesica e do esporte eacute um direito fundamental de todos 11 Todo ser humano tem o direito fundamental de acesso agrave educaccedilatildeo fiacutesica e ao esporte que satildeo essenciais para o pleno desenvolvimento da sua personalidade A liberdade de desenvolver aptidotildees fiacutesicas intelectuais e morais por meio da educaccedilatildeo fiacutesica e do esporte deve ser garantido dentro do sistema educacional assim como em outros aspectos da vida social (UNESCO 1978 p 3)

Desta forma o relatoacuterio conclusivo apresentava sugestotildees de

estruturaccedilatildeo do esporte nacional como tambeacutem apontava indiacutecios sobre uma

possiacutevel elevaccedilatildeo do esporte ao status de direito social por primar agrave universalizaccedilatildeo

e democratizaccedilatildeo da sua praacutetica conforme orienta Menicucci (2006) Aleacutem do mais

5 Este documento foi elaborado a partir das discussotildees realizadas na I Reuniatildeo de Ministros de

Esporte organizada pela UNESCO em Paris no ano de 1976

24

o relatoacuterio sinalizava para possiacuteveis poliacuteticas sociais a fim de que o indiviacuteduo tivesse

acesso ampliado ao esporte sem tanta dependecircncia do mercado

Uma nova discussatildeo institucional sobre o esporte nacional iria comeccedilar a

partir 1ordm de fevereiro de 1987 quando foi convocada a formaccedilatildeo da Assembleia

Nacional Constituinte para elaboraccedilatildeo do novo texto constitucional do paiacutes No dia

10 de marccedilo do mesmo ano o regimento interno6 foi aprovado e estabeleceu oito

comissotildees temaacuteticas as quais por sua vez foram subdividas em subcomissotildees No

caso especifico do esporte a temaacutetica ficou incumbida agrave ldquoVIII ndash Comissatildeo da

Famiacutelia da Educaccedilatildeo Cultura e Esporte da Ciecircncia e Tecnologia e da

Comunicaccedilatildeordquo e agrave ldquoSubcomissatildeo da Educaccedilatildeo Cultura e Esporterdquo (BRASIL 1987a

p874-875 SANTOS 2011 p41-45)

Art 15 - As Comissotildees e Subcomissotildees satildeo as seguintes [] VIII ndash Comissatildeo da Famiacutelia da Educaccedilatildeo Cultura e Esportes da Ciecircncia e Tecnologia e da Comunicaccedilatildeo a) Subcomissatildeo da Educaccedilatildeo Cultura e Esportes b) Subcomissatildeo da Ciecircncia e Tecnologia e da Comunicaccedilatildeo c) Subcomissatildeo da Famiacutelia do menor e do idoso (BRASIL 1987a p874-875)

No dia 7 de abril de 1987 iniciou efetivamente o trabalho da subcomissatildeo

que contou com outras oito sessotildees de audiecircncia puacuteblica para discussatildeo dos

objetos educaccedilatildeo cultura e esporte Nestas sessotildees estiveram presentes

profissionais de destaque e organizaccedilotildees representativas visando refinar o debate

Outra possibilidade de participaccedilatildeo popular7 na elaboraccedilatildeo da proposta de texto

constitucional se deu por meio das sugestotildees populares enviadas por correio sendo

que o Relatoacuterio do Anteprojeto da Subcomissatildeo apurou o recebimento de 25

sugestotildees para o tema esporte Uma delas propunha a criaccedilatildeo do Ministeacuterio do

Esporte uma a aboliccedilatildeo do futebol profissional e as outras 23 sugestotildees

6 O Regimento Interno da Assembleia Nacional Constituinte estaacute disponiacutevel em

lthttpwww2camaralegbratividade-legislativalegislacaoConstituicoes_Brasileirasconstituicao-cidadapublicacoesregimento-interno-da-assembleia-nacionalresolucao-2-1987gt 7 De acordo com Santos (2011) a Assembleia Nacional Constituinte previa trecircs mecanismos de

participaccedilatildeo popular 1ordm) O envio de sugestotildees por entidades representativas de segmentos da sociedade 2ordm) Emenda ao projeto constitucional organizado por no miacutenimo trecircs entidades associativas legalmente constituiacutedas e subscritas por 30000 (trinta mil) ou mais eleitores brasileiro 3ordm) Apresentaccedilatildeo de conteuacutedo pelas Subcomissotildees Temaacuteticas em audiecircncia puacuteblica a entidades representativas de segmentos da sociedade

25

recomendavam o apoio agraves praacuteticas esportivas e sua democratizaccedilatildeo (BRASIL

1987b)

O Relatoacuterio do Anteprojeto da Subcomissatildeo tambeacutem apresentou a

sugestatildeo de cinco constituintes sobre o esporte sendo que apenas um deles

manifestou opiniatildeo divergente Para Aeacutecio de Borba Joseacute Queiroz Maacutercia

Kubitschek e Maacutercio Braga era necessaacuterio respeitar a autonomia das entidades

esportivas e ampliar a destinaccedilatildeo de recurso puacuteblico e benefiacutecios fiscais para o

esporte como um todo (educacional e alto rendimento) Jaacute para Florestan

Fernandes o esporte amador de dimensatildeo educacional era a uacutenica manifestaccedilatildeo

que se constituiacutea como serviccedilo social de responsabilidade direta do Estado (BRASIL

1987b)

Em meio agraves vaacuterias etapas de discussatildeo que envolveram a construccedilatildeo da

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e as seguidas alteraccedilotildees no texto original contido no

Relatoacuterio do Anteprojeto da Comissatildeo o esporte conseguiu se elevar ao status de

direito social com sua positivaccedilatildeo atraveacutes do Art 217 da Seccedilatildeo III ndash Do Desporto

do Capiacutetulo III ndash Da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto do Tiacutetulo VIII ndash Da Ordem

Social

SECcedilAtildeO III - DO DESPORTO Art 217 Eacute dever do Estado fomentar praacuteticas desportivas formais e natildeo-formais como direito de cada um observados I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associaccedilotildees quanto a sua organizaccedilatildeo e funcionamento II - a destinaccedilatildeo de recursos puacuteblicos para a promoccedilatildeo prioritaacuteria do desporto educacional e em casos especiacuteficos para a do desporto de alto rendimento III - o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o natildeo- profissional IV - a proteccedilatildeo e o incentivo agraves manifestaccedilotildees desportivas de criaccedilatildeo nacional sect 1ordm O Poder Judiciaacuterio soacute admitiraacute accedilotildees relativas agrave disciplina e agraves competiccedilotildees desportivas apoacutes esgotarem-se as instacircncias da justiccedila desportiva regulada em lei sect 2ordm A justiccedila desportiva teraacute o prazo maacuteximo de sessenta dias contados da instauraccedilatildeo do processo para proferir decisatildeo final sect 3ordm O Poder Puacuteblico incentivaraacute o lazer como forma de promoccedilatildeo social (BRASIL 1988a p1)

Para Marcellino (2010 p62) e demais estudiosos do lazer o esporte jaacute

poderia estar contemplado no direito social ao lazer considerando que se trata de

uma das suas manifestaccedilotildees como praacutetica recreativa usualmente utilizada nos

momentos de ldquoespaccedilo e tempo disponiacutevelrdquo Por outro lado ele tambeacutem poderia ser

entendido como uma expressatildeo da educaccedilatildeo como conteuacutedo de formaccedilatildeo cidadatilde

26

no acircmbito da educaccedilatildeo formal ou informal ou ainda da sauacutede como meio para

promoccedilatildeo do bem estar fiacutesico social e psicoloacutegico ambos objetos sociais

mencionados no Art 6ordm da Constituiccedilatildeo Federal de 1988

No entanto para os constituintes o esporte foi considerado ldquomateacuteria de

alto interesse soacutecio-econocircmico-culturalrdquo de forma a ser elevado a um objeto por si

soacute digno de ser desmercantilizado a todos os cidadatildeos pois ldquoenquanto atividade da

sociedade o esporte eacute a proacutepria sociedaderdquo Isto eacute o esporte deixa de ser meio para

uma determinada finalidade e passa a ser fim nele mesmo (BRASIL 1987b p22)

Diante disso para compreender o conceito de esporte presente no texto

originaacuterio da nova naccedilatildeo brasileira eacute necessaacuterio buscar vestiacutegios nas discussotildees

dos constituintes e identificar os atores sociais que participaram desta arena de

debate O Relatoacuterio do Anteprojeto da Subcomissatildeo da Educaccedilatildeo Cultura e

Esportes nos daacute alguns indiacutecios sobre a mudanccedila de paradigma que evolve o

esporte

No capiacutetulo terceiro do Relatoacuterio que trata especificamente sobre ldquoo

desportordquo o relator Joatildeo Camon menciona exemplos de elementos exoacuteticos e ateacute

mesmo supeacuterfluos agrave primeira vista na Constituiccedilatildeo da Suiacuteccedila China Estados

Unidos Meacutexico Iugoslaacutevia e Espanha mas relevantes e particulares agrave formaccedilatildeo

cultural de suas respectivas sociedades e por isso contemplados como direito

social

Eacute sabido que nas Constituiccedilotildees de inuacutemeros paiacuteses constam dispositivos que poderiam ser considerados supeacuterfluos mas que dizem de perto da histoacuteria costumes e relevacircncia na vida de cada um A Constituiccedilatildeo Suiacuteccedila por exemplo conteacutem disposiccedilotildees concernentes ao abate do gado a Chinesa assegura no art 45 o direito de o Cidadatildeo escrever nos dazibao (Jornais de parede) a Americana no art II reconhece o direito dos cidadatildeos ao uso e porte de armas a Constituiccedilatildeo Mexicana (art 123 XXX) alude agrave Construccedilatildeo de casas baratas e higiecircnicas a Constituiccedilatildeo Iugoslava (art183) restringe a liberdade de deslocamento aos cidadatildeos para impedir a propagaccedilatildeo de doenccedilas infecciosas a Constituiccedilatildeo Espanhola no art 148 sectsect 11 e 14 outorga explicitamente competecircncia legislativa agraves comunidades autocircnomas com referecircncia agrave pesca de mariscos e middotartesanato (BRASIL 1987b p22)

Em seguida o relator justifica o esporte como um elemento contido na

ldquoraiz da realidade social brasileirardquo e por isso se faz necessaacuterio criar a ldquopedra

fundamental do edifiacutecio juriacutedico-esportivo nacionalrdquo O esporte tambeacutem eacute tido como

uma maneira de expressatildeo tiacutepica da proacutepria sociedade que ldquoimpregna a cultura

27

moderna e a vida quotidiana como um dos pontos de referecircncia e convergecircncia na

vida dos brasileirosrdquo e desta forma natildeo poderia ser menosprezado pela normativa

constitucional do paiacutes Ou seja o esporte eacute ldquouma forccedila vivardquo que em alguns

momentos eacute responsaacutevel por uma quase ldquouniatildeo nacionalrdquo e nesse sentido deve ser

protegido e promovido como parte da heranccedila social construiacuteda historicamente em

nossa sociedade (BRASIL 1987b p22)

O relator ainda cita 12 entidades ligadas ao esporte que estiveram

presentes nas sessotildees de audiecircncia puacuteblica e contribuiacuteram para a elaboraccedilatildeo do

Art 217 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988

() a Confederaccedilatildeo Brasileira do Atletismo a Confederaccedilatildeo Brasileira de Basketball a Federaccedilatildeo Internacional de Futebol de Salatildeo o Comitecirc Oliacutempico Brasileiro a Confederaccedilatildeo Brasileira de Futebol de Salatildeo o Conselho Nacional de Desportos a Confederaccedilatildeo Brasileira de Futebol a Associaccedilatildeo Brasileira de Clubes de Futebol o Conselho Administrativo do Fundo de Assistecircncia ao Atleta a Associaccedilatildeo Brasileira de Cronistas Esportivos ndash ABRACE ndash o Superior Tribunal de Justiccedila Desportiva a Confederaccedilatildeo Brasileira de Futebol e a Secretaria de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desportos do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (BRASIL 1987b p22 ndash a marcaccedilatildeo taxada estaacute destacando a duplicidade de registro)

O jurista Aacutelvaro Melo Filho agrave eacutepoca membro do Conselho Nacional de

Desporto Presidente da Confederaccedilatildeo Brasileira de Futebol de Salatildeo e assessor

juriacutedico da Federaccedilatildeo Internacional de Futebol de Salatildeo afirma ter enviado trecircs

propostas bastante parecidas uma para cada entidade a fim de pressionar a

inserccedilatildeo do esporte na constituiccedilatildeo Tambeacutem relembra que coube a ele e o

Professor Manoel Tubino no dia 06 de junho de 1987 realizar o pronunciamento e a

defesa do esporte na sessatildeo de audiecircncia puacuteblica (BRASIL 1987b MELO FILHO

1990 2015)

Verificando a lista das entidades presentes na discussatildeo e analisando o

conteuacutedo do Relatoacuterio do Anteprojeto da Subcomissatildeo assim como os textos de

Melo Filho (1990 2015) e demais juristas relacionados ao trabalho da constituinte

notamos que coube agraves tradicionais entidades representativas do esporte de

rendimento o protagonismo na inclusatildeo do esporte no texto constitucional Talvez

por isso estas entidades tambeacutem sejam as primeiras a se beneficiarem do apoio

estatal principalmente do financiamento puacuteblico no periacuteodo poacutes-constituiccedilatildeo Para

Starepravo (2011) com o novo texto constitucional o setor esportivo consegue a

28

liberalizaccedilatildeo esperada mas sem romper com a tutela do financiamento puacuteblico

estatal

Todavia eacute inegaacutevel que o Art 217 se materializa simultaneamente como

ldquocarta de alforriardquo para as entidades representativas do esporte por prever sua

autonomia e liberdade de funcionamento mas tambeacutem como ldquopedra fundamentalrdquo

do direito social ao esporte por apresentar diretrizes de priorizaccedilatildeo do esporte

educacional e de lazer para o desenvolvimento da sociedade

Cabe ressaltar que a inclusatildeo do esporte como artigo constitucional natildeo

foi uma inovaccedilatildeo brasileira muito pelo contraacuterio sua presenccedila em constituiccedilotildees de

outros paiacuteses foi um argumento de legitimaccedilatildeo da sua inclusatildeo no texto nacional

(DERBLY 2002)

Na Constituiccedilatildeo Espanhola de 29 de dezembro de 1978 o esporte

aparece do seguinte modo

CAPIacuteTULO III - Dos princiacutepios orientadores da poliacutetica social e econocircmica Art 43 ndash Proteccedilatildeo a Sauacutede e Fomento ao Desporto [] 3 - Os Poderes Puacuteblicos fomentaratildeo a educaccedilatildeo sanitaacuteria a educaccedilatildeo fiacutesica e o desporto Tambeacutem facilitaratildeo a utilizaccedilatildeo adequada do lazer (ESPANHA 1978 p11 traduccedilatildeo

8 e grifo nossos)

E na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa de 2 de abril de 1976

CAPIacuteTULO III - Direitos e deveres sociais [] Art70 - Juventude 1 - Os jovens sobretudo os jovens trabalhadores gozam de protecccedilatildeo especial para efectivaccedilatildeo dos seus direitos econoacutemicos sociais e culturais nomeadamente [] c) Educaccedilatildeo fiacutesica desporto e aproveitamento dos tempos livres [] Art79 - Cultura Fiacutesica e desportiva O Estado reconhece o direito dos cidadatildeos agrave cultura fiacutesica e ao desporto como meios de valorizaccedilatildeo humana incumbindo-lhe promover estimular e orientar a sua praacutetica e difusatildeo (PORTUGAL 1976 p17-18 grifo nosso)

O novo status do esporte tambeacutem aplica ao Estado a obrigaccedilatildeo de atuar

de forma ativa na proposiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas capazes de oportunizar o acesso

e fruiccedilatildeo deste objeto social a todos os cidadatildeos em um processo que Menicucci

8 Texto original CAPIacuteTULO III De los principios rectores de la poliacutetica social y econocircmica Art 43 ndash

Proteccioacuten a la salud y fomento del deporte [] 3 - Los poderes puacuteblicos fomentaraacuten la educacioacuten sanitaria la educacioacuten fiacutesica y el deporte Asimismo facilitaraacuten la adecuada utilizacioacuten del ocio

29

(2006) e Esping-Andersen citado por Hassenteufel (1996) denominam de

desmercantilizaccedilatildeo Isto eacute a possibilidade dada ao indiviacuteduo de usufruir de um

direito social que o faz pertencente a uma determinada sociedade independente da

sua posiccedilatildeo no mercado ou do seu poder de compra ou melhor dizendo ldquoo grau

suportado pelo Estado [] do indiviacuteduo como cidadatildeo e natildeo como trabalhadorrdquo

(ESPING-ANDERSEN apud HASSENTEUFEL 1996 p143)

22 A institucionalizaccedilatildeo estatal do esporte poacutes-constituiccedilatildeo

Pensando na idealizaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas esportivas torna-se

importante refletir sobre as possibilidades de expressatildeo deste fenocircmeno A

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 natildeo deixa claro tais manifestaccedilotildees apesar de indicar

trecircs possiacuteveis alternativas o esporte educacional de alto rendimento (Art 217

inciso II) e o esporte como promoccedilatildeo do lazer (Art 217 inciso IV sect 3ordm) (BRASIL

1988a) De acordo com Tubino (2005 2010) estas possiacuteveis manifestaccedilotildees

impliacutecitas no texto constitucional satildeo na verdade uma consolidaccedilatildeo das discussotildees

realizadas pela Comissatildeo de Reformulaccedilatildeo do Desporto Nacional onde as

expressotildees Esporte-Educaccedilatildeo Esporte-Lazer e Esporte-Rendimento emergiram

Poreacutem o autor natildeo conceitua ou define as manifestaccedilotildees

Em outro texto Tubino (2002) ainda sugere uma quarta manifestaccedilatildeo

esportiva a partir do desmembramento do esporte educacional Talvez natildeo por

acaso o recente decreto presidencial que alterou a regulamentaccedilatildeo da legislaccedilatildeo do

esporte no acircmbito federal Decreto Nordm 7984 de 8 de abril de 2013 seguiu uma

loacutegica parecida a apresentada por Tubino Poreacutem ao inveacutes de criar mais uma

manifestaccedilatildeo esportiva apenas subdividiu o esporte educacional em duas outras

manifestaccedilotildees 1) esporte educacional ou de formaccedilatildeo e 2) esporte escolar

(BRASIL 2013a)

Independente desta subdivisatildeo eacute perceptiacutevel que as novas

manifestaccedilotildees esportivas satildeo dinacircmicas e passam por um processo de

amadurecimento desde sua elaboraccedilatildeo em 1985 ateacute os dias atuais E continuam

sendo uma tentativa de superaccedilatildeo das expressotildees esportivas segmentadas e

30

utilitaristas idealizadas pela Lei Nordm 62511975 durante o periacuteodo do Regime Militar9

- Esporte Comunitaacuterio Esporte Estudantil Esporte Militar e Esporte Classista

(BRASIL 1975)

Poreacutem entre a promulgaccedilatildeo da Nova Carta Magna em 05 de outubro de

1988 ateacute o iniacutecio da deacutecada de 1990 as novas manifestaccedilotildees esportivas natildeo

passavam de discussatildeo teoacuterica pois a Lei Nordm 62511975 mantinha-se em vigor

regulamentando o esporte e a estrutura estatal do esporte vinculada agrave Secretaria de

Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desporto do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Somente em 15 de marccedilo

de 1990 por meio da Medida Provisoacuteria Nordm 150 foi criada com status ministerial a

Secretaria de Desportos da Presidecircncia da Repuacuteblica para reinserir o esporte agrave

pauta da agenda puacuteblica (BRASIL 1990a) Para a direccedilatildeo da Secretaria foi

nomeado o ex-atleta de futebol Arthur Antunes Coimbra o Zico o que reafirma o

peso do esporte de rendimento durante a elaboraccedilatildeo do Art 217 da Constituiccedilatildeo

Federal de 1988

Paralelamente agrave reestruturaccedilatildeo estatal do esporte no mesmo ano o

Conselho Nacional de Desporto passou a rever suas deliberaccedilotildees e resoluccedilotildees

pois ateacute aquele momento o oacutergatildeo exercia funccedilatildeo legislativa executiva e judiciaacuteria

sobre o esporte nacional Segundo Melo Filho (2015 p9) agrave eacutepoca vice-presidente

do Conselho Nacional de Desporto das 431 normas vigentes 400 foram revogadas

de uma soacute vez por contrariar a ldquoautonomia das entidades dirigentes e associaccedilotildees

esportivasrdquo preconizada pelo inciso I do Art 217

Em 1991 a Secretaria de Desportos da Presidecircncia da Repuacuteblica enviou

ao Congresso Nacional o Projeto de Lei Nordm 965 o qual apoacutes vaacuterias discussotildees deu

origem a Lei Nordm 8672 em 6 de julho de 1993 ficando popularmente conhecida

9 O esporte comunitaacuterio era formado pelas entidades esportivas que participam das competiccedilotildees

oficiais das modalidades assim como suas federaccedilotildees e confederaccedilatildeo sendo que todas se mantinham subordinadas a CND Jaacute o esporte estudantil aquele praticado por estudantes tanto do ensino baacutesico quanto o superior Nesta tipologia foi feito a distinccedilatildeo entre o oacutergatildeo regulador sendo que o acircmbito universitaacuterio as entidades esportivas estariam submetidas agrave aacuterea de abrangecircncia da CND enquanto no ensino baacutesico o controle ficaria por conta do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura O esporte militar natildeo apresenta grandes distinccedilotildees sobre as demais praacuteticas a natildeo ser por ser realizadas por membros das forccedilas armadas e ter sua regulaccedilatildeo realizada pelo Ministeacuterio Militar (Exeacutercito Marinha Aeronaacuteutica) O Art 31ordm da legislaccedilatildeo acrescenta que o esporte militar tem como finalidade a ldquodivulgaccedilatildeo das praacuteticas desportivas em todo o territoacuterio nacional e constituir as representaccedilotildees nacionais competiccedilotildees desportivas militares internacionaisrdquo E por fim o esporte classista o qual relacionava com a formaccedilatildeo de associaccedilotildees esportivas pelos dirigentes ou empregados de uma empresa A funcionalidade desta tipologia era tatildeo abstrata que o proacuteprio oacutergatildeo regulador natildeo foi definido na legislaccedilatildeo ficando a caraacuteter do ldquoMinistro da Educaccedilatildeo e Cultura ouvido o Conselho Nacional de Desportosrdquo definir posteriormente (BRASIL 1975 p1)

31

como Lei Zico muito embora esta personagem natildeo estivesse mais agrave frente da

Secretaria (BRASIL 1993a)

A nova legislaccedilatildeo sobre o esporte no paiacutes trouxe no Capiacutetulo II diversos

princiacutepios fundamentais dentre os quais destacamos o inciso V que trata sobre o

direito social Para o legislador o direito social consistia no dever do Estado em

fomentar as praacuteticas esportivas o que de certa maneira estaacute em consonacircncia com o

processo de desmercantilizaccedilatildeo mencionado por Menicucci (2006) e Esping

Andersen citado por Hassenteufel (1996) Contudo este princiacutepio natildeo levou em

consideraccedilatildeo a concepccedilatildeo de significaccedilatildeo histoacuterica proposta por Marshall (1967)

isto eacute que o objeto pauta da legislaccedilatildeo seria fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica e

coletiva que cria sentimento de pertencimento entre os membros da sociedade e

por isso deveria ser foco de fomento pelo Estado Logo a carecircncia deste segundo

atributo resumiu o princiacutepio da lei a uma atribuiccedilatildeo de responsabilidade alienante do

Estado ndash dever por mero dever

Art 2ordm O desporto como direito individual tem como base os seguintes princiacutepios I - soberania caracterizado pela supremacia nacional na organizaccedilatildeo da praacutetica desportiva II - autonomia definido pela faculdade de pessoas fiacutesicas e juriacutedicas organizarem-se para a praacutetica desportiva como sujeitos nas decisotildees que as afetam III - democratizaccedilatildeo garantido em condiccedilotildees de acesso agraves atividades desportivas sem distinccedilotildees e quaisquer formas de discriminaccedilatildeo IV - liberdade expresso pela livre praacutetica do desporto de acordo com a capacidade e interesse de cada um associando-se ou natildeo a entidades do setor V - direito social caracterizado pelo dever do Estado de fomentar as praacuteticas desportivas formais e natildeo-formais VI - diferenciaccedilatildeo consubstanciado no tratamento especiacutefico dado ao desporto profissional e natildeo-profissional VII - identidade nacional refletido na proteccedilatildeo e incentivo agraves manifestaccedilotildees desportivas de criaccedilatildeo nacional VIII - educaccedilatildeo voltado para o desenvolvimento integral do homem como ser autocircnomo e participante e fomentado atraveacutes da prioridade dos recursos puacuteblicos ao desporto educacional IX - qualidade assegurado pela valorizaccedilatildeo dos resultados desportivos educativos e dos relacionados agrave cidadania e ao desenvolvimento fiacutesico e moral X - descentralizaccedilatildeo consubstanciado na organizaccedilatildeo e funcionamento harmocircnicos de sistemas desportivos diferenciados e autocircnomos para os niacuteveis federal estadual e municipal XI - seguranccedila propiciado ao praticante de qualquer modalidade desportiva quanto a sua integridade fiacutesica mental ou sensorial XII - eficiecircncia obtido atraveacutes do estiacutemulo agrave competecircncia desportiva e administrativa (BRASIL 1993a p1 grifo nosso)

32

A Lei Zico (Lei Nordm 86721993) tambeacutem abrigou em seu texto as trecircs

manifestaccedilotildees esportivas que emergiram das discussotildees da Comissatildeo de

Reformulaccedilatildeo do Desporto Nacional tambeacutem mencionadas por Tubino (2005 2010)

inclusive sendo o primeiro documento a tentar defini-las (BRASIL 1993a)

De acordo com Zotovici et al (2013) a Lei Zico foi bastante criticada por

regular quase que exclusivamente o futebol deixando as demais modalidades em

segundo plano Apesar disso a legislaccedilatildeo tinha um caraacuteter consultivo e natildeo sanava

muitos problemas estruturais do esporte nacional principalmente na aacuterea do futebol

No entanto Proni (1998) afirma que diante da eminente aprovaccedilatildeo da

nova legislaccedilatildeo a qual tinha como princiacutepio a profissionalizaccedilatildeo da gestatildeo do

esporte de alto rendimento a alternativa encontrada pelos principais dirigentes do

futebol foi utilizar o seu prestigio para pressionar o Congresso Nacional Nesse

sentido o projeto inicial enviado pelo poder executivo recebeu diversas emendas e

foi completamente transfigurado Assim a Lei Zico (Lei Nordm 86721993) conseguiu

manter parte dos conteuacutedos e princiacutepios modernizantes discutidos na eacutepoca da

constituinte poreacutem foi incapaz de alterar radicalmente a estrutura administrativa do

futebol brasileiro Por isso a profissionalizaccedilatildeo acabou tendo um caraacuteter consultivo e

natildeo impositivo

Apesar das criacuteticas a partir de 1993 esta legislaccedilatildeo passou a vigorar

como norma geral do esporte no paiacutes Cabe ressaltar que a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 diferentemente dos textos constitucionais anteriores tambeacutem trouxe como

novidade a possibilidade dos Estados Subnacionais e Municiacutepios10 legislarem sobre

o assunto no que couber complementaccedilatildeo ou suplementaccedilatildeo agrave norma geral fixada

pela Uniatildeo

Art 24 Compete agrave Uniatildeo aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre [] IX - educaccedilatildeo cultura ensino desporto ciecircncia tecnologia pesquisa desenvolvimento e inovaccedilatildeo (BRASIL 1988a p1 grifo nosso)

10

Embora natildeo se apresente expressamente a capacidade dos municiacutepios sobre a temaacutetica a partir da leitura do Art 24 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 existe um entendimento no meio juriacutedico de que como os municiacutepios gozam de autonomia para legislar sobre assuntos de interesse local eles teriam jurisprudecircncia para suprir ou complementar a legislaccedilatildeo federal e estadual naquilo que for interesse esportivo em seu territoacuterio (DERBLY 2002)

33

Todavia eacute bastante comum estes entes federativos criarem leis e demais

normas que em nada refletem os princiacutepios e regras gerais da legislaccedilatildeo federal Um

tiacutepico exemplo disso satildeo as manifestaccedilotildees esportivas adotadas pelo Estado de

Minas Gerais que em 2006 criou outras trecircs manifestaccedilotildees (desporto de formaccedilatildeo

desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico do setor desportivo e desporto social) para

aleacutem das jaacute existentes (MINAS GERAIS 2006) Mas estas manifestaccedilotildees sugeridas

pelo legislativo mineiro se misturam terminologicamente agraves definiccedilotildees do acircmbito

federal e mais confundem do que contribuem para a ampliaccedilatildeo do debate sobre as

expressotildees esportivas Tal fato enfraquece um possiacutevel debate nacional sobre o

esporte e o seu desenvolvimento como elemento de exerciacutecio da cidadania social

Art 3ordm - Poderatildeo ser beneficiados por esta Lei projetos de promoccedilatildeo do desporto nas seguintes aacutereas I - desporto educacional voltado para a praacutetica desportiva como disciplina ou atividade extracurricular no acircmbito do sistema puacuteblico de educaccedilatildeo infantil e baacutesica com a finalidade de complementar as atividades de segundo turno escolar e promover o desenvolvimento integral do indiviacuteduo evitando-se a seletividade e a hipercompetitividade de seus participantes II - desporto de lazer voltado para o atendimento agrave populaccedilatildeo na praacutetica voluntaacuteria de qualquer modalidade esportiva de recreaccedilatildeo ou lazer visando agrave ocupaccedilatildeo do tempo livre e agrave melhoria da qualidade de vida da sauacutede e da educaccedilatildeo do cidadatildeo III - desporto de formaccedilatildeo voltado para o desenvolvimento da motricidade baacutesica geral e para a iniciaccedilatildeo esportiva de crianccedilas e adolescentes por meio de atividades desportivas direcionadas praticadas com orientaccedilatildeo teacutecnico-pedagoacutegica IV - desporto de rendimento voltado para a formaccedilatildeo e o rendimento esportivo com orientaccedilatildeo teacutecnico-pedagoacutegica para atendimento a equipes ou atletas de qualquer idade filiados a entidades associativas de modalidades esportivas visando ao aprimoramento teacutecnico e agrave praacutetica esportiva de alto niacutevel V - desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico do setor desportivo voltado para o desenvolvimento ou aperfeiccediloamento de tecnologia aplicada agrave praacutetica desportiva para a formaccedilatildeo e treinamento de recursos humanos para o desporto e para o financiamento de publicaccedilotildees literaacuterias e cientiacuteficas sobre esporte VI - desporto social voltado para o atendimento social por meio do esporte com recursos especiacuteficos para esse fim e realizado em comunidades de baixa renda visando a promover a inclusatildeo social (MINAS GERAIS 2006 p1)

As diversas alteraccedilotildees e complementaccedilotildees11 realizadas na Lei Zico (Lei

Nordm 86721993) demonstraram sua incapacidade em suprir a regulaccedilatildeo do setor

11

Alteraccedilotildees realizadas na Lei Zico Medida Provisoacuteria nordm 386 de 8 de Dezembro de 1993 Medida Provisoacuteria nordm 411 de 7 de Janeiro de 1994 Medida Provisoacuteria nordm 426 de 9 de Fevereiro de 1994 Medida Provisoacuteria nordm 448 de 11 de Marccedilo de 1994 Medida Provisoacuteria nordm 471 de 12 de Abril de 1994 Lei Ordinaacuteria nordm 8879 de 20 de Maio de 1994 Complementaccedilotildees realizadas na Lei Zico Lei Ordinaacuteria nordm 8879 de 20 de Maio de 1994 Lei Ordinaacuteria nordm 8946 de 5 de Dezembro de 1994 Revogaccedilatildeo Parcial

34

esportivo No entanto somente com a conquista da estabilidade econocircmica trazida

pelo plano real e a posse do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDBSP)

que a estrutura estatal esportiva eacute alterada e cria-se novamente cenaacuterio

institucional oportuno para discussatildeo do tema

A Medida Provisoacuteria Nordm 813 de 1ordm de janeiro de 1995 reestrutura a

organizaccedilatildeo administrativa do poder executivo e manteacutem o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e

do Desporto criado no final de 1992 tambeacutem por Medida Provisoacuteria a de Ndeg 309

(BRASIL 1995a BRASIL 1992a) Esta manutenccedilatildeo do esporte como nome de um

Ministeacuterio de Estado mesmo que compartilhado com outra pasta mostra a

conquista poliacutetica que o tema teve a partir da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Todavia

este novo ato normativo tambeacutem cria o cargo de Ministro de Estado Extraordinaacuterio

dos Esportes ou seja embora o ministeacuterio estivesse dividido entre educaccedilatildeo e

esporte a presenccedila de um ministro exclusivo lhe dava autonomia de funcionamento

e um quase status de Ministeacuterio Extraordinaacuterio do Esporte

Para chefiar este cargo novamente um ex-atleta de futebol foi convidado

desta vez Edson Arantes do Nascimento o Peleacute A presenccedila de um membro do

esporte de rendimento na reorganizaccedilatildeo da cadeia produtiva do esporte no Brasil

demonstra mais uma vez a forccedila deste setor tradicional no cenaacuterio poliacutetico e

econocircmico nacional

Logo de iniacutecio o Ministro Peleacute teve como missatildeo buscar nova

reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo esportiva na tentativa de enfrentar o tortuoso processo

de modernizaccedilatildeo do esporte de rendimento principalmente do oligaacuterquico futebol o

qual natildeo foi alcanccedilado pela Lei Zico (Lei Nordm 86721993) Para isto o ministro se

apoiou no Projeto de Lei Nordm 1159 de 31 de outubro de 1995 do Deputado Federal

Arlindo Chinaglia (PTSP) e depois de um tramite em regime de urgecircncia e vaacuterias

discussotildees envolvendo quase que exclusivamente o esporte de rendimento o

projeto foi aprovado no Congresso Nacional em 24 de marccedilo de 1998 dando

origem agrave Lei Nordm 9615 que ficou popularmente conhecida como Lei Peleacute (BRASIL

1998a)

A nova norma geral do esporte nacional natildeo se diferencia muito da Lei

Zico (Lei Nordm 86721993) uma vez que tambeacutem tinha um foco excessivo sobre o

da Lei Zico Medida Provisoacuteria nordm 1602 de 14 de Novembro de 1997 Lei Ordinaacuteria nordm 9532 de 10 de Dezembro de 1997

35

esporte de rendimento e sobre o futebol O capiacutetulo II da nova Lei tambeacutem apresenta

os princiacutepios balizadores da legislaccedilatildeo sendo o esporte lembrado como direito

social apenas pelo atributo de dever do Estado deixando no esquecimento mais

uma vez o aspecto de significaccedilatildeo histoacuterica do objeto social conforme propunha

Marshall (1967)

No processo de redemocratizaccedilatildeo do paiacutes as trecircs manifestaccedilotildees

esportivas que emergiram satildeo registradas no texto da legislaccedilatildeo demonstrando a

consolidaccedilatildeo destas alternativas de expressatildeo do esporte Inclusive nesta

oportunidade a definiccedilatildeo das manifestaccedilotildees foi mais bem caracterizada Todavia

em 4 de agosto de 2015 a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte (Lei Nordm

13155) acrescentou uma quarta manifestaccedilatildeo esportiva ao rol de possibilidades

tendo como foco a produccedilatildeo de conhecimento na aacuterea esportiva (BRASIL 2015a)

Art 3- [] I - desporto educacional praticado nos sistemas de ensino e em formas assistemaacuteticas de educaccedilatildeo evitando-se a seletividade a hipercompetitividade de seus praticantes com a finalidade de alcanccedilar o desenvolvimento integral do indiviacuteduo e a sua formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania e a praacutetica do lazer II - desporto de participaccedilatildeo de modo voluntaacuterio compreendendo as modalidades desportivas praticadas com a finalidade de contribuir para a integraccedilatildeo dos praticantes na plenitude da vida social na promoccedilatildeo da sauacutede e educaccedilatildeo e na preservaccedilatildeo do meio ambiente III - desporto de rendimento praticado segundo normas gerais desta Lei e regras de praacutetica desportiva nacionais e internacionais com a finalidade de obter resultados e integrar pessoas e comunidades do Paiacutes e estas com as de outras naccedilotildees IV - desporto de formaccedilatildeo caracterizado pelo fomento e aquisiccedilatildeo inicial dos conhecimentos desportivos que garantam competecircncia teacutecnica na intervenccedilatildeo desportiva com o objetivo de promover o aperfeiccediloamento qualitativo e quantitativo da praacutetica desportiva em termos recreativos competitivos ou de alta competiccedilatildeo (BRASIL 1998a p1 BRASIL 2015a p1 ndash grifo nosso para destacar a manifestaccedilatildeo esportiva acrescentada)

A Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) entrou efetivamente em vigor com a

publicaccedilatildeo do Decreto Nordm 2574 de 29 de abril de 1998 Nesta mesma data

encerrou-se o trabalho do Ministro Peleacute e o cargo que tinha caraacuteter extraordinaacuterio

foi extinto Assim o objeto esporte passou a funcionar sob o comando do ministro

Paulo Renato Souza responsaacutevel pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Desporto No dia 1ordm

de janeiro de 1999 por meio da Medida Provisoacuteria Nordm 1795 uma nova

reestruturaccedilatildeo ministerial foi realizada no poder executivo e criou-se o Ministeacuterio do

Esporte e Turismo (BRASIL 1999a) Desta vez o comando da pasta natildeo foi

36

delegado a um esportista mas a um poliacutetico o Deputado Federal Rafael Greca

(PFLPR)

A nova legislaccedilatildeo esportiva teve um caraacuteter mais impositivo de

estruturaccedilatildeo da cadeia produtiva do esporte de rendimento do que a sua

antecessora poreacutem tambeacutem sofreu com vaacuterias alteraccedilotildees No site da Cacircmara dos

Deputados12 em consulta realizada no dia 26 de abril de 2016 foram verificadas 69

alteraccedilotildees realizadas na versatildeo original da lei Entretanto apesar de criar

paracircmetros e diretrizes agraves outras manifestaccedilotildees esportivas pouca coisa de concreto

contribuiu para a consolidaccedilatildeo do direito social ao esporte ao cidadatildeo comum (natildeo

atleta)

Os primeiros anos de funcionamento da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) e do

Ministeacuterio do Esporte e Turismo satildeo marcados por problemas com o Jogo do Bingo

e a relaccedilatildeo comercial entre a Confederaccedilatildeo Brasileira de Futebol (CBF) e suas

patrocinadoras o que deu origem agrave investigaccedilatildeo no legislativo com a formaccedilatildeo da

Comissatildeo Parlamentar de Inqueacuterito (CPI) conhecida na miacutedia como a CPI do

Futebol (BUENO 2008)

Com relaccedilatildeo ao financiamento no esporte a Lei Peleacute apresentou nos

Arts 56 e 57 as possiacuteveis origens de recurso estatal para o desenvolvimento de

poliacutetica puacuteblica para o gozo deste elemento de cidadania social no paiacutes Entretanto

somente com a alteraccedilatildeo da legislaccedilatildeo por meio da Lei Nordm 10264 de 16 de julho de

2001 conhecida como Lei AgneloPiva o recurso de parte do precircmio das loterias

federais passou a ser repassado ao Comitecirc Oliacutempico Brasileiro (COB) e ao Comitecirc

Paraoliacutempico Brasileiro (CPB) (BRASIL 1998A BRASIL 2001a) Assim o benefiacutecio

financeiro puacuteblico chegou primeiro ao esporte de rendimento que agraves outras

manifestaccedilotildees esportivas (BUENO 2008 ZOTOVICI et al 2013)

No entanto priorizar o financiamento puacuteblico ao esporte de rendimento foi

uma afronta ao inciso II do Art 217 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o qual define

expressamente a prevalecircncia do esporte educacional em relaccedilatildeo ao de rendimento

(BRASIL 1988a) Por outro lado a Lei AgneloPiva (Lei Nordm 102642001) marcou o

formato de financiamento escolhido pelo Estado brasileiro para fomentar um

elemento social constitucional isto eacute a destinaccedilatildeo de grande parte do recurso

12

Site oficial da Cacircmara dos Deputados Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfedlei1998lei-9615-24-marco-1998-351240-norma-plhtmlgt Acesso em 26 de Abril de 2016

37

puacuteblico para o esporte por meio de uma via extraorccedilamentaacuteria ndash repasse direto do

lucro de uma entidade puacuteblica (BRASIL 2001a) Inclusive o percurso fora do

orccedilamento puacuteblico seria novamente adotado anos mais tarde com a promulgaccedilatildeo

da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

O trajeto do financiamento nos faz refletir sobre os dilemas do direito

social ao esporte pois uma vez que o esporte alcanccedila o status de direitos social

passa ser problema de Estado e natildeo mais apenas do indiviacuteduo qual eacute o papel

estatal na garantia deste direito Aparentemente a decisatildeo do Estado brasileiro tem

sido a de repassar recurso puacuteblico para o setor privado de esporte para este

desenvolver uma das facetas deste direito (esporte de rendimento) Poreacutem a

escolha por um caminho extraorccedilamentaacuterio pode expressar a retirada deste

elemento social de cidadania da pauta de discussotildees legislativas (arena de debate e

conflitos) e ainda fragilizar o controle que administraccedilatildeo puacuteblica tem sobre o gasto

deste recurso

Apesar do dilema sobre a forma e a prioridade do financiamento do

esporte de rendimento em prol das demais foi inegaacutevel que a Lei AgneloPiva (Lei

Nordm 102642001) proporcionou a promoccedilatildeo e desenvolvimento do esporte

competitivo no paiacutes muito embora ainda exista criacutetica sobre a discricionariedade na

partilha do recurso entre as entidades representativas do esporte (BUENO 2008)

Durante o periacuteodo de vigecircncia do Ministeacuterio do Esporte e Turismo apoacutes

Rafael Greca outro poliacutetico de carreira assumiu o cargo o Deputado Federal Carlos

Carmo Melles (PFLMG) sucedido pelo especialista em turismo Caio Cibella de

Carvalho Uma nova estruturaccedilatildeo ministerial relevante ao esporte somente viria a

acontecer com a posse do Presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio Lula da Silva

(PTSP)

Apoacutes a posse do presidente Lula a Medida Provisoacuteria Nordm 103 de 01 de

janeiro de 2003 desmembrou o turismo do esporte e criou o Ministeacuterio do Esporte

(BRASIL 2003a) Agrave frente desta pasta exclusiva para tratar da temaacutetica do esporte

foi indicado o Deputado Federal Agnelo Queiroz (PCdoBDF) o mesmo que

participou ativamente na aprovaccedilatildeo da lei de financiamento agraves entidades

representativas do esporte ndash Lei AgneloPiva (Lei Nordm 10264200)

Aleacutem de ter sido a primeira experiecircncia do esporte em um ministeacuterio

exclusivo a organizaccedilatildeo das suas secretarias permitiu efetivamente incluir as

manifestaccedilotildees educacionais e de participaccedilatildeo na agenda puacuteblica Assim foram

38

criadas a Secretaria Nacional de Esporte Educacional (SNEE) a Secretaria Nacional

de Esporte e Lazer (SNEL) e a Secretaria Nacional de Esporte de Rendimento

(SNER) cada uma responsaacutevel por desenvolver uma das manifestaccedilotildees esportivas

consolidadas na legislaccedilatildeo federal

Fonte Starepravo et al (2015 p222)

Apesar da nova estrutura de funcionamento estatal do esporte

Starepravo et al (2015) chamam a atenccedilatildeo para o conflito de interesse poliacutetico-

partidaacuterio entre PT e PCdoB durante a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio do Esporte e suas

respectivas secretaacuterias nacionais Para o autor existiu um tensionamento entre o

capital poliacutetico e o capital cultural teacutecnico e especiacutefico do esporte sendo que o

primeiro teve uma preponderacircncia sobre o segundo Desta forma aspectos como

visibilidade das accedilotildees estatais e influecircncia poliacutetica foram norteadoras na indicaccedilatildeo

dos nomes que compuseram os cargos comissionados do 2ordm e 3ordm escalatildeo do

Ministeacuterio do Esporte Em contrapartida nomes de notoacuterio conhecimento teacutecnico e

envolvidos politicamente na discussatildeo do esporte foram esquecidos ou ficaram em

segundo plano para a ocupaccedilatildeo de cargos diretivos no ministeacuterio

Independente da motivaccedilatildeo que levou agrave organizaccedilatildeo e indicaccedilatildeo de

nomes ao Ministeacuterio do Esporte este periacuteodo foi marcado pela criaccedilatildeo do Programa

Figura 1 ndash Organograma do Ministeacuterio do Esporte (2003)

39

Segundo Tempo (PST) e Programa Esporte e Lazer da Cidade (PELC) ou seja as

primeiras iniciativas do Estado brasileiro de democratizar o esporte educacional e de

participaccedilatildeo respectivamente Estes programas colocaram o Estado brasileiro no

papel de executor de poliacuteticas puacuteblicas de esporte dialogando com a localidade por

meio de um processo de municipalizaccedilatildeo das suas atividades Com isso a

diversificaccedilatildeo do esporte para aleacutem dos tradicionais programas competitivos e a

proximidade da poliacutetica puacuteblica com o seu beneficiaacuterio direito trouxe novos atores

sociais13 para o campo de discussatildeo esportiva

Essa perspectiva tambeacutem foi levada em consideraccedilatildeo ante a criaccedilatildeo do

novo foacuterum nacional de discussatildeo sobre o esporte a Conferecircncia Nacional do

Esporte14 instituiacuteda pelo Decreto Presidencial SN de 21 de janeiro de 2004 e

regulamentada pelas Portarias do Ministeacuterio do Esporte Nordm 13 de 03 de fevereiro de

2004 e Nordm 23 de 11 de marccedilo de 2004 (BRASIL 2004a BRASIL 2004b BRASIL

2004c) O evento foi composto de etapa municipal e estadual15 precedentes agrave etapa

nacional com o intuito de filtrar proposiccedilotildees e auxiliar no diagnoacutestico do esporte no

paiacutes A etapa nacional aconteceu em Brasiacutelia no dia 17 de junho do mesmo ano e

gerou vaacuterias propostas de accedilotildees divididas em oito eixos temaacuteticos contidos no

ldquoCaderno de Propostasrdquo Aleacutem disso da 1ordf Conferecircncia Nacional de Esporte

emergiram quatro princiacutepios seis diretrizes e seis objetivos norteadores para a

Poliacutetica Nacional de Esporte e Lazer (BRASIL 2004d BRASIL 2004e)

Esta ampla discussatildeo que desta vez natildeo levou em consideraccedilatildeo apenas

a ala dos representantes do esporte de rendimento permitiu aprofundar

efetivamente o entendimento do esporte como direito social aproximando a temaacutetica

da concepccedilatildeo de heranccedila social e pertencimento na sociedade idealizada por

Marshall (1967) A associaccedilatildeo de dever estatal e inclusatildeo dos cidadatildeos no

13

A partir do Programa Segundo Tempo (PST) e Programa Esporte e Lazer da Cidade (PELC) as comunidades e populaccedilatildeo em geral atendidas pelos os programas passaram a discutir o esporte seja como forma reflexiva ou como fruiccedilatildeo da praacutetica A aacuterea acadecircmica tambeacutem participou da elaboraccedilatildeo das propostas e agregou uma nova perspectiva sobre o objeto esportivo Por fim como estes programas tinham como meta o processo de municipalizaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas tambeacutem temos a participaccedilatildeo do poder puacuteblico municipal no debate do esporte local 14

Documentaccedilatildeo sobre as Conferecircncias Nacionais de Esporte estatildeo disponiacuteveis em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoconferencias-2571-i-conferencia-nacional-de-esportegt 15

De acordo com o ldquoCaderno de Propostasrdquo e ldquoRelatoacuterio da Conferecircncia Nacional do Esporterdquo ambos formulados pelo Ministeacuterio do Esporte apoacutes a 1ordf Conferecircncia Nacional de Esporte foram organizadas 60 Conferecircncias Municipais e 116 Regionais e 26 conferecircncias estaduais e uma no Distrito Federal precedentes a etapa nacional com participaccedilatildeo de aproximadamente 83 mil pessoas (BRASIL 2004d p 3 BRASIL 2004e p1)

40

patrimocircnio esportivo colocam o Estado brasileiro na posiccedilatildeo de formulador de

poliacutetica puacuteblica para o exerciacutecio pleno da cidadania social

Quase um ano apoacutes a 1ordf Conferecircncia Nacional do Esporte foi lanccedilada

pelo Conselho Nacional do Esporte oacutergatildeo colegiado de assessoria ao Ministro do

Esporte a Resoluccedilatildeo Nordm 05 em 14 de junho de 2005 denominada Poliacutetica Nacional

do Esporte (BRASIL 2005a) O conteuacutedo desta resoluccedilatildeo16 foi um desdobramento

do ldquoCaderno de Propostasrdquo da 1ordf Conferecircncia Nacional do Esporte apresentando

cinco objetivos quatro princiacutepios oito diretrizes e 18 accedilotildees estrateacutegicas para o

desenvolvimento do esporte no paiacutes (BRASIL 2004e)

Interessante mencionar que tanto o ldquoCaderno de Propostasrdquo da

conferecircncia quanto a Poliacutetica Nacional do Esporte apresentam no seu referencial a

consolidaccedilatildeo do direito social ao esporte como uma missatildeo do Ministeacuterio

demonstrando o amadurecimento institucional e do objeto esporte no periacuteodo

posterior agrave criaccedilatildeo do Ministeacuterio do Esporte

Eacute missatildeo do Ministeacuterio do Esporte ldquoformular e implementar poliacuteticas

puacuteblicas inclusivas e de afirmaccedilatildeo do esporte e do lazer como direitos sociais dos

cidadatildeos colaborando para o desenvolvimento nacional e humano (BRASIL 2004e

p7 BRASIL 2005a p14)

Apesar do Ministro Agnelo Queiroz (PCdoBDF) realizar a publicaccedilatildeo da

Poliacutetica Nacional do Esporte a escolha por uma resoluccedilatildeo ao inveacutes de outro ato

normativo de maior poder hieraacuterquico demonstrou a vulnerabilidade deste

documento o que a acabou deixando em segundo plano na suplementaccedilatildeo das

poliacuteticas estatais Ou seja a resoluccedilatildeo por natildeo ter um caraacuteter impositivo como

acontece com a lei decreto eou portaria deixou de ser adotada como uma norma

geral para o avanccedilo das poliacuteticas puacuteblicas de esporte como deveria ser A resoluccedilatildeo

acabou assumindo um caraacuteter sugestivo agrave aplicaccedilatildeo da Lei Peleacute (Lei Nordm

96151998)

O regimento da Conferecircncia Nacional do Esporte Portaria do Ministeacuterio

do Esporte Nordm 132004 previa em seu Art 1ordm a realizaccedilatildeo ordinaacuteria do evento a

cada dois anos (BRASIL 2004b) Assim no dia 20 de outubro de 2005 a Portaria do

Ministeacuterio do Esporte Nordm 133 criou as normas para a realizaccedilatildeo da segunda ediccedilatildeo

16

As resoluccedilotildees do Conselho Nacional de Esporte estatildeo disponiacuteveis em lthttpwwwesportegovbrindexphpinstitucionalo-ministerioconselho-nacional-do-esporteresolucoesgt

41

da conferecircncia (BRASIL 2005b) Novamente o evento foi dividido em etapa

municipalregional e estadual e de 04 a 07 de maio de 2006 aconteceu a etapa

nacional em Brasiacutelia O tema desta ediccedilatildeo foi ldquoConstruindo o Sistema Nacional de

Esporte e Lazerrdquo (BRASIL 2006a)

Cabe salientar que embora os registros do Ministeacuterio do Esporte

comentem como resultado da primeira ediccedilatildeo da conferecircncia a aprovaccedilatildeo da

resoluccedilatildeo de criaccedilatildeo do Sistema Nacional de Esporte e Lazer aparentemente o

respectivo documento trata-se de uma deliberaccedilatildeo final da conferecircncia firmando o

compromisso das autoridades presentes No entanto mais uma vez foi gerado um

documento institucionalmente fraacutegil tanto que natildeo deu origem a nenhuma norma

oficial de Estado e por isso a comunidade esportiva continua aguardando por sua

implementaccedilatildeo (BRASIL 2007a)

Ao final da 2ordf Conferecircncia Nacional do Esporte foi feita uma nova

tentativa de sugestatildeo de resoluccedilatildeo para a estruturaccedilatildeo do Sistema Nacional do

Esporte As proposiccedilotildees foram organizadas em quatro eixos 1) Estrutura

organizaccedilatildeo agentes e competecircncias 2) Recursos humanos e formaccedilatildeo 3) Gestatildeo

e controle social e 4) Financiamento (BRASIL 2007a) No entanto sua formalizaccedilatildeo

continua aguardando a publicaccedilatildeo de uma norma estatal o que demonstra a

dificuldade do Ministeacuterio do Esporte em organizar a cadeia produtiva do esporte

nacional

No eixo de financiamento do Sistema Nacional do Esporte foi sugerida a

elaboraccedilatildeo de ldquoEmenda Constitucional que institua a vinculaccedilatildeo e destinaccedilatildeo de um

percentual miacutenimo [1] da receita tributaacuteriardquo agraves poliacuteticas puacuteblicas de esporte aos

trecircs entes federativos ndash Uniatildeo Estados Subnacionais Municiacutepios e Distrito Federal

(BRASIL 2007a p18-19) De acordo com o jurista Melo Filho (2015) desde a

promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Art 217 jaacute foi foco de oito Projetos

de Emenda Constitucional (PEC) sendo trecircs destes para a definiccedilatildeo de limite de

recurso financeiro para o esporte (PEC Nordm 1752007 PEC Nordm 1912007 PEC Nordm

4172009)

Neste eixo temaacutetico ainda foi proposta agrave criaccedilatildeo de leis de incentivo fiscal

nos trecircs niacuteveis de governo de forma equitativa para atender agrave demanda de fomento

das diferentes dimensotildees de esporte e lazer Na proacutepria proposta foram sugeridos

impostos que poderiam ser alvo deste mecanismo de financiamento

extraorccedilamentaacuterio percentual de Imposto de Renda (IR) de Imposto de Renda

42

Retido na Fonte (IRPF) e de Imposto de Renda Pessoa Juriacutedica (IRPJ) Imposto

sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) Imposto sobre Serviccedilo de

Qualquer Natureza (ISSQN) Contribuiccedilatildeo de Intervenccedilatildeo no Domiacutenio Econocircmico

(CIDE) Imposto de Telefonia Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) Imposto

sobre a Propriedade Territorial Urbana (IPTU) Contribuiccedilatildeo Provisoacuteria sobre

Movimentaccedilatildeo ou Transmissatildeo de Valores e de Creacuteditos e Direitos de Natureza

Financeira (CPMF) Seguro obrigatoacuterio de veiacuteculos e Produto Interno Bruto (PIB)

(BRASIL 2007a)

Como modelo de mecanismo de fomento aos demais entes federativos e

tambeacutem como resposta antecipada agrave comunidade esportiva na 2ordf Conferecircncia

Nacional do Esporte o Ministeacuterio do Esporte encaminhou ao Congresso Nacional

no dia 08 de maio de 2006 o Projeto de Lei Nordm 6999 que tratava sobre benefiacutecios

fiscais para a aacuterea do esporte O projeto foi agregado ao Projeto de Lei Nordm 1367 de

01 de julho de 2003 do Deputado Federal Bismarck Maia (PSDBCE) que jaacute

tramitava havia um tempo na casa A iniciativa do executivo tramitou com pedido de

urgecircncia e no dia 29 de dezembro de 2006 foi aprovado dando origem agrave Lei Nordm

11438 popularmente conhecida como Lei Federal de Incentivo ao Esporte

(BRASIL 2006b)

A legislaccedilatildeo criou mais uma alternativa de financiamento agraves tradicionais

entidades representativas do esporte mas desta vez tambeacutem permitiu a participaccedilatildeo

dos novos atores sociais do esporte educacional e de participaccedilatildeo (lazer) O

mecanismo de fomento foi inspirado na experiecircncia de mecenato cultural instituiacuteda

pela Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) A gecircnese do mecenato cultural tinha como

ideia trazer mais recurso financeiro agrave aacuterea cultural por meio da participaccedilatildeo direta

do setor privado mas parte desta discussatildeo foi deixada de lado durante a criaccedilatildeo do

mecenato esportivo Este por sua vez foi aprovado em 2006 e colocado em praacutetica

em 2007 pelo Decreto Nordm 6180 Sua criaccedilatildeo foi bastante comemorada pela

comunidade esportiva pois ampliava a oferta de recurso financeiro para a aacuterea do

esporte mesmo que 100 deste valor fosse de origem puacuteblica (extraorccedilamentaacuterio)

mas precisasse ser captado no setor privado pela isenccedilatildeo fiscal do Imposto sobre a

Renda (IR)

O mecanismo tambeacutem marcou uma nova ruptura da poliacutetica puacuteblica de

esporte pois o Estado brasileiro ao inveacutes de continuar no papel de executor de

poliacutetica puacuteblica principalmente da manifestaccedilatildeo educacional e participaccedilatildeo passou

43

a financiar as propostas de iniciativa das entidades esportivas Poreacutem a decisatildeo

sobre a efetivaccedilatildeo das propostas esportivas ficou nas ldquomatildeosrdquo do mercado sem

necessariamente precisar investir nenhum capital privado Neste contexto seraacute que

o mercado e as entidades esportivas (sociedade civil organizada) teratildeo capacidade

de garantir o direito social Ou o Estado brasileiro estaacute enfraquecendo as

discussotildees e debates em seu ldquoseiordquo sobre o esporte como um elemento de

exerciacutecio da cidadania social

Paralelamente agrave operacionalizaccedilatildeo do mecenato esportivo e possiacuteveis

dilemas que envolveriam o modelo de financiamento o Ministeacuterio do Esporte passou

a trabalhar na candidatura do paiacutes para sede da Copa do Mundo de Futebol de 2014

e para sede dos Jogos Oliacutempicos de 2016 Apoacutes uma articulaccedilatildeo que extrapolou a

proacutepria pasta do esporte veio a confirmaccedilatildeo de ecircxito nas candidaturas no dia 30 de

outubro de 2007 e 2 de outubro de 2009 respectivamente

O novo foco de convencimento das entidades internacionais a Federaccedilatildeo

Internacional de Futebol (FIFA) e o Comitecirc Oliacutempico Internacional (COI) sobre a

capacidade do Estado brasileiro de organizar os eventos talvez tenha deixado a

organizaccedilatildeo da 3ordf Conferecircncia Nacional do Esporte em segundo plano Assim a

conferecircncia que estava prevista para acontecer em 2008 foi realizada somente em

junho de 2010 quatro anos apoacutes a sua uacuteltima ediccedilatildeo em desacordo com o prazo

estipulado pelo Art 1ordm da Portaria do Ministeacuterio do Esporte Nordm 132004 (BRASIL

2004b)

Nas duas conferecircncias anteriores o tema de elaboraccedilatildeo do Sistema

Nacional do Esporte e Lazer vinha tendo uma relevacircncia na discussatildeo haja vista a

importacircncia de organizar a cadeia esportiva nacional Poreacutem a terceira ediccedilatildeo da

conferecircncia teve como tema o desenvolvimento do ldquoPlano Decenal de Esporte e

Lazerrdquo cujo slogan fazia alusatildeo ao desempenho atleacutetico nos megaeventos

esportivos ldquo10 pontos em 10 anos para projetar o Brasil entre os 10 maisrdquo Uma fala

do proacuteprio Ministro do Esporte Orlando Silva (PCdoBSP) inscrita no caderno de

orientaccedilotildees reforccedila a mudanccedila na diretriz do esporte nacional ldquocolocar o paiacutes entre

as dez maiores potecircncias esportivas do mundordquo (BRASIL 2010a p5)

Percebemos que a negociaccedilatildeo do Estado brasileiro para a realizaccedilatildeo dos

megaeventos esportivos marcou um ponto de novo desequiliacutebrio entre as

manifestaccedilotildees esportivas delineado pela maior ecircnfase ao esporte de rendimento na

3ordf Conferecircncia Nacional do Esporte Contudo desde a elevaccedilatildeo do esporte ao

44

status de direito social notamos a forte presenccedila dos atores sociais do esporte de

rendimento

O periacuteodo de formulaccedilatildeo dos Programas Segundo Tempo (PST) e

Esporte e Lazer da Cidade (PELC) foi importante para a materializaccedilatildeo das

manifestaccedilotildees educacional e participaccedilatildeo respectivamente e trazer novos atores

para a arena de debate do esporte Um novo equiliacutebrio sobre as trecircs expressotildees do

esporte foi possiacutevel conduzindo a discussatildeo para o acircmbito do desenvolvimento do

esporte como elemento da cidadania social para aleacutem da exigecircncia de desempenho

atleacutetico Mas a escolha estatal por criar um mecanismo de financiamento com forte

apelo mercadoloacutegico para tratar de um direito social que tem como ideal o processo

de desmercantilizaccedilatildeo pode gerar impacto no tensionamento de forccedilas entre as

manifestaccedilotildees esportivas Por isso nos capiacutetulos seguintes passaremos a explorar o

funcionamento do mecanismo de mecenato esportivo inaugurado pela Lei Federal

de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

A princiacutepio buscaremos o histoacuterico do mecanismo de mecenato cultural

por ser precursor da poliacutetica de financiamento adotada pelo o esporte Na

construccedilatildeo do referencial histoacuterico adentraremos na discussatildeo que envolveu a

escolha e aprovaccedilatildeo do mecenato esportivo Suprida a etapa de conhecimento do

mecanismo passaremos agrave anaacutelise das 32 propostas aprovadas na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte por entidades esportivas sediadas na cidade de Belo

Horizonte A partir da investigaccedilatildeo local verificaremos a possibilidade de garantia agrave

populaccedilatildeo em geral no acesso ao esporte e no exerciacutecio pleno na cidadania social

45

3 MECANISMO DE MECENATO DA CULTURA AO ESPORTE

31 Poliacutetica estatal de cultura e o desenvolvimento do mecenato

A Lei Federal de Incentivo ao Esporte Lei Nordm 114382006 teve como

inspiraccedilatildeo o mecanismo de mecenato cultural inaugurado pela Lei Sarney (Lei Nordm

75051986) e posteriormente consolidada pela Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) E

para compreender melhor como o mecanismo de financiamento agrave cultura

transformou-se em base para outras poliacuteticas de financiamento puacuteblico na aacuterea

social (esporte sauacutede direito do idoso direito da crianccedila e adolescente pesquisa

etc) torna-se importante resgatar a sua trajetoacuteria na histoacuteria

Antes de ser um modelo de poliacutetica de financiamento o termo mecenato

jaacute era bastante corriqueiro na aacuterea cultural usado para qualificar a pessoa de grande

apreccedilo e apoio agraves artes De acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2016 p1) a palavra eacute

sinocircnimo de ldquopatrocinador generoso protetor das Letras Ciecircncias e Artes dos

artistas e saacutebiosrdquo

A origem do termo faz referecircncia a Caius Cilnius Mecenas ministro do

imperador romano Caio Julio Augusto entre 74 aC e 8 dC Esta personagem se

destacou por construir uma poliacutetica de relacionamento entre governo e sociedade

tendo as artes como instrumentos de disseminaccedilatildeo das conquistas e da filosofia do

regime autoritaacuterio do imperador O sucesso deste sutil sistema de legitimaccedilatildeo pela

fusatildeo de poder e cultura fez o nome Mecenas ficar marcado na histoacuteria como

patrono das artes (ALMEIDA 1994)

Experiecircncias posteriores de uso do mecenato cultural com fins de

propaganda do pensamento oficial de uma classe dominante podem ser facilmente

encontradas na histoacuteria da humanidade Na Renascenccedila por exemplo periacuteodo de

grande efervescecircncia artiacutestica na Europa vaacuterias famiacutelias da aristocracia e membros

do clero incentivaram por meio de doaccedilotildees e apadrinhamento de artistas

(mecenato) a produccedilatildeo de quadros esculturas e peccedilas teatrais como forma de

expressatildeo do seu status social Por outro lado a emergente burguesia tambeacutem

buscou na praacutetica do mecenato demonstrar seu poder econocircmico e ao mesmo

tempo ostentar seu apreccedilo pela cultura erudita possibilitando sua inserccedilatildeo na

restrita elite da eacutepoca

46

Para o cientista poliacutetico e estudioso da aacuterea cultural Joseacute Aacutelvaro Moiseacutes

(1998) a versatildeo contemporacircnea do mecenato teve iniacutecio nos Estados Unidos entre

o final do seacuteculo XIX e comeccedilo do seacuteculo XX O contexto de um significativo

crescimento econocircmico decorrente do capital emigrado da Inglaterra para os

emergentes negoacutecios no novo continente propiciou que algumas pessoas de origem

simples acumulassem grandes fortunas Mas apesar de todo o dinheiro

conquistado estas pessoas natildeo possuiacuteam a inserccedilatildeo social desejada Logo o

financiamento agraves artes foi a forma encontrada para a tentativa de inclusatildeo e

legitimaccedilatildeo destas pessoas agrave seleta classe dominante estadunidense

No entanto Moiseacutes (1998) chama a atenccedilatildeo para a existecircncia de uma

legislaccedilatildeo especiacutefica a Deduction Tax nos Estados Unidos introduzida em 1917

que incentivou o contribuinte a apoiar accedilotildees de artistas ou instituiccedilotildees culturais O

mecanismo estatal de mecenato norte-americano estimulou a criaccedilatildeo de um forte

mercado cultural por meio da participaccedilatildeo direta da pessoa fiacutesica e mais tarde da

pessoa juriacutedica

Sobrenomes como Guggenheim Whitney Rockfeller e Ford se

destacaram como grandes mecenas inclusive com a criaccedilatildeo de instituiccedilotildees culturais

e filantroacutepicas tais como a Fundaccedilatildeo Rockfeller a Universidade de Chicago a

Guggenheim Memorial Foudation o Instituto Rockfeller de Pesquisa Meacutedica o

Museu Guggenheim dentre outras Mas cabe ressaltar que ateacute 1986 o valor

apoiado era integralmente deduzido no Imposto sobre a Renda o que representava

um forte subsiacutedio puacuteblico ao setor (MOISEacuteS 1998)

Nos Estados Unidos a deacutecada de 1980 marcou vaacuterias reformas na

deduction tax principalmente por alteraccedilatildeo nos percentuais e no valor do teto

individual de deduccedilatildeo fiscal Ainda hoje a legislaccedilatildeo tem sido foco de discussatildeo no

parlamento tanto que o Escritoacuterio de Orccedilamento do Congresso (Congressional

Budget Office - CBO) tem feito simulaccedilotildees sobre o impacto financeiro de novas

mudanccedilas na deduccedilatildeo fiscal Poreacutem um fato eacute certo para o governo estadunidense

a atual diretriz da lei eacute atrair capital privado ao montante de recurso puacuteblico investido

na aacuterea filantroacutepica ou seja natildeo existe mais deduccedilatildeo integral do apoio do

contribuinte (CBO 2011)

Jaacute a experiecircncia de mecenato brasileiro tem contornos diferentes

marcada pela forma de desenvolvimento da poliacutetica cultural no paiacutes De acordo com

Rubim (2011) a aacuterea cultural no paiacutes tem como caracteriacutestica a instabilidade

47

transitando entre momentos de ausecircncia de uma poliacutetica (1822 a 1930 1945 a

1964) e de desenvolvimento embora associados ao autoritarismo (1930 a 1945

1964 a 1985)

A poliacutetica cultural nacional foi inaugurada com a indicaccedilatildeo de Maacuterio de

Andrade para o Departamento de Cultura da Prefeitura de Satildeo Paulo (1935-1938) e

Gustavo Capanema para o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Sauacutede (1934 ateacute 1945)

personagens que estimularam o apoio estatal agrave aacuterea das artes patrimocircnio (material

e imaterial) e manifestaccedilotildees populares (RUBIM 2011)

O cenaacuterio de estiacutemulo ao desenvolvimento cultural juntamente ao

processo de industrializaccedilatildeo no paiacutes principalmente em Satildeo Paulo proporcionou a

emersatildeo de uma nova classe social (burguesia industrial) com alto poder econocircmico

disposta a se mostrar como siacutembolo da modernidade Este traccedilo de contraponto agraves

antigas e conservadoras oligarquias rurais foi terreno feacutertil para o investimento na

aacuterea cultural e o surgimento dos primeiros mecenas brasileiros

Nomes como Francisco Matarazzo Franco Zampari e Assis

Chateaubriand se destacam como nobres apoiadores das artes em Satildeo Paulo

responsaacuteveis pela criaccedilatildeo do Museu de Arte Moderna Teatro Brasileiro de Comeacutedia

Cinemateca Brasileira Museu de Arte Contemporacircnea e a Fundaccedilatildeo Bienal de Satildeo

Paulo O Rio de Janeiro antiga capital brasileira tambeacutem natildeo ficou atraacutes Nomes

como Paulo Bittencourt e Niomar Moniz Sondreacute foram responsaacuteveis pela criaccedilatildeo do

Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 1947 (MOISEacuteS 1998)

Com o teacutermino da ditadura civil (Estado Novo) e redemocratizaccedilatildeo do

paiacutes a aacuterea cultural consegue se elevar a niacutevel ministerial com a criaccedilatildeo do

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura em 1953 Poreacutem efetivamente pouca coisa foi

feita para o fomento ou contiacutenuo desenvolvimento do setor A ineacutercia cultural do

periacuteodo natildeo proporcionou o surgimento e destaque de novos nomes de mecenas

(RUBIM 2011)

O periacuteodo subsequente de ditadura-militar (1964 a 1985) foi marcado por

contradiccedilotildees Ao mesmo tempo em que o governo autoritaacuterio censura e reprime

artistas e intelectuais existe significativo investimento do Estado brasileiro no setor

cultural Foi instituiacutedo o Conselho Federal de Cultural em 1966 e criada a

infraestrutura de telecomunicaccedilotildees para a propagaccedilatildeo da ideologia nacionalista A

Poliacutetica Nacional de Cultura foi elaborada em 1975 e inuacutemeras instituiccedilotildees puacuteblicas

de cultura foram criadas como a Fundaccedilatildeo Nacional das Artes (1975) o Centro

48

Nacional de Referecircncia Cultural (1975) o Conselho Nacional de Cinema (1976) a

RADIOBRAacuteS (1976) e a Fundaccedilatildeo Proacute-Memoacuteria (1979) (RUBIM 2011)

O protagonismo do Estado no desenvolvimento da cultura minimizou o

contexto para o surgimento de novos mecenas ou ao menos obscureceu os seus

feitos individuais Assim a falta de nomes relevantes corrobora com a afirmativa de

Moiseacutes (1998) sobre a escassez de exemplos de mecenas culturais na histoacuteria do

paiacutes diferentemente do que aconteceu nos Estados Unidos

Durante o periacuteodo ditatorial o ainda Senador Joseacute Sarney (ARENAMA)

apresentou o Projeto de Lei Nordm 54 de 26 de outubro de 197217 propondo a

deduccedilatildeo do Imposto sobre a Renda (IR) de pessoa juriacutedica e pessoa fiacutesica para fins

culturais Segundo Sarkovas (2011) o projeto recebeu indicaccedilatildeo negativa da aacuterea

econocircmica do governo militar mas mesmo natildeo sendo aprovado foi o embrionaacuterio da

primeira lei de incentivo fiscal no paiacutes No dia 08 de marccedilo de 1976 o projeto de lei

foi arquivado no Senado

Em 15 de marccedilo de 1985 durante o novo processo de redemocratizaccedilatildeo

do Brasil Joseacute Sarney (PMDBMA) na posiccedilatildeo de vice-presidente assumiu o cargo

interino da Presidecircncia da Repuacuteblica devido agrave doenccedila do presidente eleito

indiretamente Tancredo Neves (PMDBMG) No dia 21 de abril com a morte do

presidente acabou empossado de forma definitiva A primeira medida do governo

civil foi a reestruturaccedilatildeo poliacutetico-administrativa do poder executivo a qual elevou a

cultura ao status de pasta exclusiva com a criaccedilatildeo do Ministeacuterio da Cultura a partir

da desvinculaccedilatildeo do antigo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura

Uma das tarefas do novo Ministeacuterio da Cultura foi tratar do financiamento

do setor produtivo cultural Para isso em 9 de junho de 1986 o ministeacuterio enviou ao

Congresso Nacional o Projeto de Lei Nordm 779318 que visava conceder benefiacutecio

fiscal agraves entidades culturais Na praacutetica a medida era uma quase reapresentaccedilatildeo do

Projeto de Lei Nordm 54 de 1972 poreacutem agora com Joseacute Sarney (PMDBMA) tendo

autonomia sobre as decisotildees do setor econocircmico do governo federal

O projeto tramitou com pedido de urgecircncia e em menos de um mecircs foi

aprovado no Congresso Nacional dando origem a Lei Nordm 7505 em 2 de julho de

17

Tracircmite do projeto de lei disponiacutevel em lthttpwww25senadolegbrwebatividadematerias-materia25985gt 18

Tracircmite do projeto de lei disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=232355gt

49

1986 Devido o protagonismo do entatildeo presidente ldquosobre benefiacutecios fiscais na aacuterea

do imposto de renda concedidos a operaccedilotildees de caraacuteter cultural ou artiacutesticordquo a lei

ficou popularmente conhecida como Lei Sarney

Para Rubim (2011) a Lei Sarney vai na contramatildeo das demais accedilotildees

realizadas pelo Estado brasileiro pois aleacutem da gecircnese do Ministeacuterio da Cultura o

governo federal vinha criando toda uma rede de estrutura de gestatildeo da cultura

como as Secretarias de Apoio agrave Produccedilatildeo Cultural (1986) a Fundaccedilatildeo Nacional de

Artes Cecircnicas (1987) a Fundaccedilatildeo do Cinema Brasileiro (1987) a Fundaccedilatildeo

Nacional Proacute-Leitura reunindo a Biblioteca Nacional e o Instituto Nacional do Livro

(1987) e a Fundaccedilatildeo Palmares (1988)

No entanto a crise financeira que na eacutepoca alarmava o paiacutes foi o

principal argumento para diminuir o recurso de origem orccedilamentaacuteria para a aacuterea da

cultura ao mesmo tempo em que criava um mecanismo de financiamento que

dialogasse com o mercado Em tese a ideia era estimular a figura do mecenas

cultural (apoiador privado) e agregar recurso privado agraves accedilotildees do setor

Para operacionalizar seu funcionamento a Lei Sarney (Lei Nordm

75051986) criou trecircs modalidades de apoio a doaccedilatildeo o patrociacutenio e o

investimento A primeira tratava da transferecircncia definitiva de bens ou dinheiro agrave

entidade cultural mas sem retorno financeiro ou publicitaacuterio para o apoiador assim

permitindo a deduccedilatildeo de ateacute 100 da doaccedilatildeo O patrociacutenio se caracterizava pela

promoccedilatildeo do apoiador por meio da atividade cultural mas sem proveito financeiro ou

patrimonial direto Nesta modalidade era permitida a deduccedilatildeo de ateacute 80 do valor

patrocinado A uacuteltima modalidade o investimento permitia que o apoiador tivesse

retorno financeiro ou patrimonial sobre a accedilatildeo cultural Por isso era autorizada a

deduccedilatildeo maacutexima de 50 da quantia investida (BRASIL 1986)

De acordo com Sarkovas (2011) o modelo de mecenato criado pela Lei

Sarney (Lei Nordm 75051986) era uacutenico quando comparado a outros paiacuteses Porque

no caso da doaccedilatildeo e patrociacutenio realizado por pessoa juriacutedica aleacutem da permissatildeo de

inclusatildeo do depoacutesito de apoio como despesa operacional diminuindo o valor do

lucro operacional (lucro liacutequido) ainda havia autorizaccedilatildeo para deduzir uma segunda

parte no valor do imposto devido sobre a renda Ou seja o governo federal isentava

o contribuinte duas vezes pelo mesmo depoacutesito de apoio

Assim embora o recurso para as entidades culturais natildeo viesse

diretamente do orccedilamento da Uniatildeo grande parte da sua origem era totalmente

50

puacuteblica mas tomando um trajeto extraorccedilamentaacuterio Aleacutem do mais a suposta

participaccedilatildeo do recurso privado na aacuterea da cultura pela natildeo deduccedilatildeo integral das

modalidades patrociacutenio (80) e investimento (50) foi minimizada pela duplicidade

de incidecircncia da isenccedilatildeo fiscal ndash como despesa operacional e deduccedilatildeo do imposto

devido sobre a renda

Contudo a maior criacutetica enfrentada pela Lei Sarney (Lei Nordm 75051986)

foi quanto agrave falta de controle na aplicaccedilatildeo do recurso destinado agraves entidades

culturais Para ser beneficiaacuteria do mecanismo de mecenato a pessoa juriacutedica de

natureza cultural com ou sem fins lucrativos realizava um cadastro no Ministeacuterio da

Cultura Apoacutes a aprovaccedilatildeo do cadastro e emissatildeo do certificado de qualificaccedilatildeo a

entidade estava apta a receber recurso independentemente de projeto ou plano de

trabalho Nesse sentido a entidade cultural tinha liberdade para gastar o recurso

como bem entendesse (GRUMAN 2011 SESI 2007 DURAD et al 1997)

Nos quase quatro anos que esteve em vigor19 (1986-1990) estima-se que

cerca de 7200 entidades culturais se habilitaram mas os nuacutemeros financeiros ainda

natildeo satildeo conhecidos Segundo Gruman (2011) os recursos captados estariam em

torno de R$ 100 milhotildees enquanto para Durad et al (1997) teria chegado a

aproximadamente US$ 450 milhotildees mas deste uacuteltimo montante para o SESI

(2007) apenas US$ 112 milhotildees seriam realmente de origem puacuteblica Vale destacar

que a Secretaria da Receita Federal foi o oacutergatildeo responsaacutevel pelo controle financeiro

enquanto o Conselho Federal de Cultura pela supervisatildeo e acompanhamento da

execuccedilatildeo das accedilotildees culturais

O contexto de incerteza financeira associado agrave fraude fiscal por conta da

emissatildeo de notas fiscais culturais sem o devido pagamento do contribuinte levou agrave

debilidade operacional do mecanismo Ainda somou-se ao problema de controle a

carecircncia de criteacuterios na utilizaccedilatildeo do recurso puacuteblico isto eacute a falta de distinccedilatildeo entre

as accedilotildees culturais que precisavam de apoio puacuteblico das que tinham potencial

comercial ou ateacute mesmo daquelas com niacutetido interesse puacuteblico

No dia 15 de marccedilo de 1990 foi empossado o novo Presidente da

Repuacuteblica Fernando Collor (PRNAL) e por meio da Medida Provisoacuteria Nordm 150 foi

19

Com a promulgaccedilatildeo do Decreto Nordm 93335 de 3 de outubro de 1986 a Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) passou a vigorar poreacutem os depoacutesitos de apoio realizados no ano calendaacuterio (1986 1987 1988 1989 1990) eram deduzidos no ano fiscal subsequente (1987 1988 1989 1990 1991) A suspensatildeo da legislaccedilatildeo no ano de 1990 impediu que novas destinaccedilotildees fossem feitas as entidades culturais e por sua vez comprometesse a arrecadaccedilatildeo da Uniatildeo de 1991

51

feita nova reestruturaccedilatildeo da administraccedilatildeo puacuteblica O Ministeacuterio da Cultura perdeu o

status ministerial e passou a funcionar como Secretaria da Cultura da Presidecircncia da

Repuacuteblica Vaacuterias entidades puacuteblicas ligadas agrave cultura tambeacutem foram extintas como

a Fundaccedilatildeo Nacional de Artes (Funarte) a Fundaccedilatildeo Nacional de Artes Cecircnicas

(Fundacen) a Fundaccedilatildeo do Cinema Brasileiro (FCB) a Fundaccedilatildeo Cultural Palmares

(FCP) a Fundaccedilatildeo Nacional Proacute-Memoacuteria (Proacute-Memoacuteria) e a Fundaccedilatildeo Nacional

Proacute-Leitura (Proacute-Leitura) (BRASIL 1990a)

No mesmo dia da posse outras 22 medidas provisoacuterias20 foram assinadas

pelo novo presidente nuacutemero excessivo comparado ao exerciacutecio dos demais chefes

do poder executivo no periacuteodo democraacutetico A Medida Provisoacuteria Nordm 161 alterou a

legislaccedilatildeo do Imposto sobre a Renda e suspendeu por tempo indeterminado todos

os incentivos fiscais (BRASIL 1990b) Assim aleacutem do desmonte da estrutura estatal

para a cultura o setor tambeacutem teve paralisado a sua poliacutetica de financiamento a Lei

Sarney (Lei Nordm 75051986) Ressalta-se que a grande maioria destas medidas

provisoacuterias foi posteriormente acatada pelo Congresso Nacional e convertida em lei

demonstrando o consenso do poder legislativo com a poliacutetica em curso

O decorrer do ano de 1990 foi marcado por um vaacutecuo na poliacutetica nacional

de cultura de forma que os Estados e Municiacutepios passaram a sofrer pressatildeo para a

criaccedilatildeo de legislaccedilatildeo proacutepria de apoio cultural A cidade de Satildeo Paulo saiu agrave frente

com a Lei Municipal Nordm 10923 de 30 de dezembro de 1990 conhecida como Lei

Mendonccedila (SESI 2007)

Esta legislaccedilatildeo se inspirou na Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) buscando

criar a figura do mecenas cultural mas tentou corrigir alguns dos erros de controle

financeiro observados no acircmbito federal Novamente foi estimulado o apoio do setor

privado agrave aacuterea cultural por meio de isenccedilatildeo fiscal poreacutem o recurso deveria estar

vinculado a um projeto previamente aprovado pela Secretaria Municipal de Cultural

de Satildeo Paulo A deduccedilatildeo fiscal tambeacutem natildeo seria integral ficando limitada ao valor

de 70 do montante apoiado o qual seria descontado da quantia a ser paga pelo

contribuinte no ISSQN eou no IPTU (SAtildeO PAULO 1990)

Todavia as experiecircncias locais natildeo supriram a carecircncia de uma poliacutetica

nacional tanto que no dia 10 de marccedilo de 1991 o Secretaacuterio da Cultura da

20

As medidas provisoacuterias do governo do Presidente Fernando Collor (PRNAL) assim como demais atos puacuteblicos do poder executivo como um todo podem ser acompanhados no site da Casa Civil da Presidecircncia da Repuacuteblica Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03gt

52

Presidecircncia da Repuacuteblica Ipojuca Pontes foi substituiacutedo pelo socioacutelogo Seacutergio

Paulo Rouanet Sob nova direccedilatildeo a secretaacuteria apresentou ao Congresso Nacional o

Projeto de Lei Nordm 144821 de 22 de agosto de 1991 visando reformar a suspensa

Lei Sarney (Lei Nordm 75051986)

O projeto tramitou com pedido de urgecircncia e no dia 23 de dezembro

daquele ano deu origem agrave Lei Nordm 8313 que restabelecia os princiacutepios da Lei

Sarney (Lei Nordm 75051986) e criava o Programa Nacional de Apoio agrave Cultura

(PRONAC) A nova legislaccedilatildeo ficou popularmente conhecida como Lei Rouanet (Lei

Nordm 83131991) por ter sido promulgada no mandado do respectivo secretaacuterio

De acordo com Sarkovas (2011 p51) o Secretaacuterio Seacutergio Rouanet tinha

consciecircncia de que o ldquofinanciamento puacuteblico agrave cultura natildeo poderia ser regulado

exclusivamente pelos interesses mercadoloacutegicos eou pessoais inerentes ao

patrociacuteniordquo por isso aleacutem do mecanismo de mecenato cultural incluiu agrave proposta de

lei a criaccedilatildeo de outros mecanismos para incentivar projetos

Art 2deg O PRONAC seraacute implementado atraveacutes dos seguintes mecanismos I - Fundo Nacional da Cultura (FNC) II - Fundos de Investimento Cultural e Artiacutestico (FICART) III - Incentivo a projetos culturais [mecenato cultural] (BRASIL 1991 p1)

O antigo Fundo de Promoccedilatildeo Cultural (FPC) criado pela Lei Sarney (Lei

Nordm 75051986) e que pouco funcionou por ser uma opccedilatildeo concorrente ao

mecanismo de mecenato cultural foi transformado em Fundo Nacional de Cultura

(FNC) Agora aleacutem do recurso de isenccedilatildeo fiscal depositado pelo contribuinte o

fundo tambeacutem contava com recurso direto do Tesouro Nacional percentual das

loterias federais saldo remanescente de projetos do mecenato cultural dentre

outras formas (BRASIL 1991a)

O fundo seria administrado pela Secretaria da Cultura da Presidecircncia da

Repuacuteblica e tinha como diretriz o apoio a projetos culturais com importante caraacuteter

de identidade e diversidade nacional mas que ao mesmo tempo tambeacutem

possuiacutessem baixo atrativo comercial Os projetos selecionados natildeo seriam

financiados integralmente com o recurso puacuteblico pois estava previsto o apoio de ateacute

80 do recurso oriundo do fundo e o percentual restante como contrapartida da

21

Tracircmite do projeto de lei disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=192259gt

53

entidade cultural Cabe salientar que a contrapartida poderia ser mensurada

monetariamente por meio de bens ou serviccedilos oferecidos pela entidade cultural

(BRASIL 1991a)

A versatildeo de Fundo Nacional de Cultura (FNC) trazida pela Lei Rouanet

(Lei Nordm 83131991) conseguiu se operacionalizar por possuir fonte de arrecadaccedilatildeo

independente da destinaccedilatildeo direta do contribuinte Poreacutem o montante financeiro

originaacuterio do Tesouro Nacional e das demais fontes de fomento ainda era escasso

diante da diversidade de demandas culturais

Para Sarkovas (2011) outro problema enfrentado pelo Fundo foi a

carecircncia de princiacutepio puacuteblico na gestatildeo do recurso como a falta de transparecircncia

nos criteacuterios de seleccedilatildeo de projetos e o discutiacutevel meacuterito cultural das propostas

escolhidas Aleacutem disso em muitas vezes o poder executivo era o maior beneficiaacuterio

do proacuteprio Fundo ao destinar recurso para as suas entidades subsidiaacuterias ao inveacutes

de apoiar a produccedilatildeo cultural de iniciativa da sociedade civil

A outra modalidade de fomento criada pela Lei Rouanet (Lei Nordm

83131991) o Fundo de Investimento Cultural e Artiacutestico (FICART) visava

transformar alguns projetos culturais em objetos lucrativos no mercado financeiro de

accedilotildees Para isso o projeto aprovado seria convertido em um fundo monetaacuterio

(condomiacutenio) sem personalidade juriacutedica e em seguida dividido em vaacuterias quotas

As quotas seriam ofertadas a investidores no mercado financeiro de accedilotildees que

mediante o sucesso na execuccedilatildeo do projeto poderia receber os dividendos

(distribuiccedilatildeo do lucro) com isenccedilatildeo do Imposto sobre Operaccedilotildees de Creacutedito Cacircmbio

e Seguro ou relativas aos Tiacutetulos ou Valores Mobiliaacuterios (IOF) A administraccedilatildeo das

quotas seria feita por instituiccedilatildeo financeira cadastrada e fiscalizada pela Comissatildeo

de Valores Mobiliaacuterios (CVM) (BRASIL 1991a)

Este mecanismo tem tido pouca operaccedilatildeo inclusive havendo duacutevida

quanto agrave sua viabilidade A princiacutepio porque os projetos culturais satildeo de curto prazo

de execuccedilatildeo (maacuteximo de 24 meses) mas negociados em um mercado que visa o

retorno do investimento a meacutedio e longo prazos (acima de 24 meses) O mercado de

accedilotildees tambeacutem vive da especulaccedilatildeo no curto prazo poreacutem esta natildeo seria uma

caracteriacutestica aplicaacutevel ao negoacutecio cultural Por outro lado ainda existe a falta de

conhecimento e popularidade do mercado financeiro de accedilotildees para a grande maioria

das entidades culturais e dos apoiadores o que poderia afastar o aporte de recurso

54

A terceira modalidade de incentivo prevista tratava da reformulaccedilatildeo da

antiga modalidade de mecenato cultural criada pela Lei Sarney (Lei Nordm 75051986)

poreacutem inspirada nas alteraccedilotildees operacionais feitas pela Lei de Incentivo agrave Cultura da

Cidade de Satildeo Paulo - Lei Mendonccedila (Lei Municipal Nordm 109231990) O apoio do

contribuinte passava a ser vinculado a um projeto cultural previamente aprovado

pela Comissatildeo Nacional de Incentivo agrave Cultura oacutergatildeo colegiado ligado agrave Secretaria

da Cultura da Presidecircncia da Repuacuteblica

Apenas os apoios fiscais doaccedilatildeo e patrociacutenio satildeo mantidos na nova

legislaccedilatildeo de mecenato cultural poreacutem sem a existecircncia de deduccedilatildeo integral dos

valores No caso de apoiador pessoa fiacutesica era permitida a deduccedilatildeo no Imposto

sobre a Renda (IR) de 80 do valor das doaccedilotildees e 60 do valor dos patrociacutenios

observando o limite percentual de 3 do imposto ainda devido agrave Secretaria da

Receita Federal Jaacute a pessoa juriacutedica tributada na modalidade lucro real poderia

deduzir 40 do valor das doaccedilotildees e 30 do valor dos patrociacutenios observando

inicialmente o limite de 1 do imposto devido Para este uacuteltimo contribuinte tambeacutem

era permitido lanccedilar o valor do apoio (doaccedilatildeo ou patrociacutenio) como despesa

operacional havendo novamente a dupla incidecircncia de isenccedilatildeo fiscal (BRASIL

1991a)

Apesar da raacutepida aprovaccedilatildeo da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) no

Congresso Nacional o decreto que deveria regulamentar a lei teve prazo mais

longo A difiacutecil negociaccedilatildeo do decreto no poder executivo com concomitante

escacircndalo de corrupccedilatildeo envolvendo o Presidente da Repuacuteblica que mais tarde deu

iniacutecio ao processo de impeachment de Fernando Collor (PRNAL) deixou a temaacutetica

da cultura em segundo plano Somente no dia 26 de fevereiro de 1992 foi publicado

o Decreto Nordm 455 que estabelecia as regras de funcionamento da poliacutetica de

financiamento da cultura

No dia 29 de setembro de 1992 a Cacircmara dos Deputados acatou o

pedido de impeachment de Fernando Collor (PRNAL) afastando-o temporariamente

da presidecircncia No dia 2 de outubro o vice-presidente Itamar Franco (PMDBMG)

assumiu interinamente o cargo de chefe do poder executivo federal e fez a troca do

secretaacuterio Seacutergio Rouanet pelo intelectual literaacuterio Antocircnio Houaiss

A Medida Provisoacuteria Nordm 309 de 16 de outubro de 1992 fez a nova

reestruturaccedilatildeo administrativa do governo federal e a Cultura novamente volta a ser

tema ministerial com a recriaccedilatildeo do Ministeacuterio da Cultura (BRASIL 1992a) O agora

55

ministro de cultura Antocircnio Houaiss tinha como missatildeo reorganizar a poliacutetica de

Estado para a aacuterea cultural

Contudo a nova conjuntura governamental privilegiou um segmento da

aacuterea cultural No dia 11 de junho de 1993 foi enviado ao Congresso Nacional o

Projeto de Lei Nordm 390822 que buscava criar um mecanismo de fomento reservado

ao audiovisual Para Sarkovas (2011) os diretores e atores do setor cinematograacutefico

brasileiro por uma maior proximidade com o presidente em exerciacutecio conseguiram

espaccedilo para discutir um mecanismo de financiamento exclusivo que viesse suprir o

vaacutecuo estatal deixado pela extinta Empresa Brasileira de Filmes (EMBRAFILME)

Ao verificar a disposiccedilatildeo administrativa do recriado Ministeacuterio da Cultura

notamos a presenccedila de uma secretaria restrita ao segmento ndash Secretaria para o

Desenvolvimento Audiovisual diferindo das outras trecircs que eram de temaacuteticas gerais

ndash Secretaria de Informaccedilotildees Estudos e Planejamento Secretaria de Intercacircmbio e

Projetos Especiais e Secretaria de Apoio agrave Cultura Ainda em relaccedilatildeo aos oacutergatildeos

estatais ligados ao ministeacuterio foi criada a Comissatildeo Nacional de Incentivo agrave Cultura

para discutir a poliacutetica de financiamento do setor cultural mas paralelamente a ela

funcionava tambeacutem a Comissatildeo de Cinema a fim de debater unicamente sobre o

audiovisual Aparentemente a organizaccedilatildeo estatal privilegiava o setor audiovisual

(BRASIL 1992)

Independente das motivaccedilotildees o Projeto de Lei Nordm 39081993 tramitou

em regime de urgecircncia no Congresso Nacional e foi aprovado no dia 20 de julho de

1993 dando origem agrave Lei Nordm 8685 popularmente conhecida como Lei do

Audiovisual O modelo de fomento idealizado pela legislaccedilatildeo visava agrave criaccedilatildeo da

figura do mecenas por meio de duas modalidades de isenccedilatildeo fiscal ao contribuinte

do Imposto sobre a Renda (IR)

Na primeira modalidade contida no Art 1ordm da Lei do Audiovisual (Lei Nordm

86851993) o projeto de produtora independente23 previamente aprovado pelo

Ministeacuterio da Cultura estaria apto a receber recurso de pessoa fiacutesica ou juriacutedica O

valor do apoio poderia ser deduzido integralmente ateacute o limite de 3 do imposto

22

Tracircmite do projeto de lei disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=217037gt 23

As produtoras independentes satildeo agecircncias de audiovisual que possuem autonomia no desenvolvimento no seu conteuacutedo devido agrave falta de viacutenculo com empresas programadoras distribuidoras eou emissoras de televisatildeo Aleacutem disso natildeo possuem contrato de veto ou exclusividade comercial que impeccedila comercializaccedilatildeo de suas obras para terceiros

56

devido sobre a renda de pessoa fiacutesica e o limite de 1 para pessoa juriacutedica O

mesmo valor autorizado de deduccedilatildeo tambeacutem poderia ser lanccedilado como despesa

operacional diminuindo a quantia do IR a ser pago pelo contribuinte (BRASIL

1993b)

Na praacutetica o mecanismo gerava um benefiacutecio fiscal ao contribuinte

apoiador pois a dupla incidecircncia de deduccedilatildeo gerava um abatimento de 125 do

valor apoiado Aleacutem do mais o apoiador pode se tornar proprietaacuterio do direito de

comercializaccedilatildeo sobre a obra cinematograacutefica tendo participaccedilatildeo no lucro auferido

desde que a operaccedilatildeo de apoio tenha sido feita em corretora no mercado financeiro

de accedilotildees

Esta modalidade de mecenato cultural repetia a foacutermula de financiamento

da Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) com dupla incidecircncia de isenccedilatildeo fiscal no valor

apoiado mas ldquoinovavardquo ume vez que permitia ao contribuinte ser remunerado pelo

sucesso do projeto Aleacutem de natildeo existir recurso privado aplicado no setor

audiovisual o Estado brasileiro ainda permitia ao apoiador receber recurso com o

investimento puacuteblico

A segunda modalidade criada pelo Art 3ordm da lei teve como objetivo

incentivar o produtor estrangeiro agrave coproduccedilatildeo de obras nacionais cinematograacuteficas

(longa meacutedia e curta-metragem) telefilmes minisseacuteries ou a investir no

desenvolvimento de projetos cinematograacuteficos brasileiros de longa-metragem Para

isso o produtor estrangeiro que paga o Imposto sobre a Renda (IR) por conta da

exploraccedilatildeo comercial da sua obra audiovisual em territoacuterio nacional poderia apoiar

projetos de produtoras independentes aprovados pelo Ministeacuterio da Cultura O valor

do apoio poderia ser integralmente deduzido observando o limite de 70 do

imposto devido (BRASIL 1993b)

Esta segunda modalidade de mecenato do audiovisual tinha uma loacutegica

mais coerente com o interesse puacuteblico pois pensava em atrair o produtor

internacional para o cenaacuterio brasileiro incentivando a troca de experiecircncia A

possibilidade de construccedilatildeo de conhecimento e tecnologia cinematograacutefica nacional

poderia dar autonomia futura ao setor do audiovisual

Com a aprovaccedilatildeo da Lei do Audiovisual (Lei Nordm 86851993) faltava a

publicaccedilatildeo do decreto do poder executivo para a poliacutetica passar a funcionar

Paradoxalmente a questatildeo financeira tambeacutem era um problema vivenciado na

gestatildeo do Ministeacuterio da Cultura tanto que a insatisfaccedilatildeo com o baixo orccedilamento

57

somada aos problemas de sauacutede fizeram Antocircnio Houaiss deixar o cargo de

ministro em 1ordm de setembro de 1993 Ficou por conta do ministro Jerocircnimo

Moscardo aprovar o Decreto Nordm 974 em 8 de novembro de 1993 que habilitava o

pleno funcionamento da legislaccedilatildeo do mecenato do audiovisual

De acordo com Sarkovas (2011) o mecanismo de mecenato do

audiovisual natildeo trouxe recurso imediato para o setor pois o teto autorizado de 1

do imposto devido sobre a renda da pessoa juriacutedica era baixo para o apoio exclusivo

de projetos ndash apoiador exclusivo Tambeacutem faltava divulgaccedilatildeo do mecanismo o qual

natildeo era conhecido de grande parte dos produtores e apoiadores

Dificuldade similar na mobilizaccedilatildeo de recurso tambeacutem foi percebida na Lei

Rouanet (Lei Nordm 83131991) (SESI 2007) Tal constataccedilatildeo pode ser observada nos

nuacutemeros disponiacuteveis no sistema do Ministeacuterio da Cultura24 quando apenas dois

apoiadores participaram (R$ 2121278) em 1993 e sete apoiadores (R$

53375157) em 1994

A passagem de Jerocircnimo Moscardo pelo Ministeacuterio da Cultura foi raacutepida

e em 15 de dezembro de 1993 ele foi sucedido pelo advogado Luiz Roberto

Nascimento Silva que havia colaborado com a implantaccedilatildeo da legislaccedilatildeo de apoio

ao audiovisual A nomeaccedilatildeo do novo ministro de cultura aleacutem de mostrar a forccedila do

setor do audiovisual no governo do presidente Itamar Franco (PMDBMG) tambeacutem

vai ao encontro da afirmaccedilatildeo de Rubim (2011) sobre a instabilidade da poliacutetica

estatal de cultura entre os anos de 1985 a 1993 nomeou dez chefes diferentes para

a pasta

A posse do novo Presidente da Repuacuteblica Fernando Henrique Cardoso

(PSDBSP) em janeiro de 1995 natildeo alterou a estrutura ministerial no governo

federal poreacutem novos nomes passaram a ocupar os cargos dos primeiros escalotildees

O cientista poliacutetico Francisco Weffort passou a exercer o cargo de Ministro da

Cultura com a tarefa de dinamizar a poliacutetica de financiamento da aacuterea e encorajar a

parceria entre entidade cultural e iniciativa privada (SESI 2007)

Em 17 de maio deste ano foi publicado o Decreto Nordm 1494 que trazia

nova regulamentaccedilatildeo da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) mas sem grandes

alteraccedilotildees Foi uma atualizaccedilatildeo de nomenclaturas devido agrave alteraccedilatildeo de nome das

24

Sistema da Lei Federal de Incentivo agrave Cultura Disponiacutevel em lthttpsistemasculturagovbrsalicnetgt

58

entidades supervisionadas pelo Ministeacuterio da Cultura e da proacutepria pasta que agrave

eacutepoca do antigo decreto era Secretaria da Cultura da Presidecircncia da Repuacuteblica

(BRASIL 1995b)

A primeira alteraccedilatildeo relevante veio dois dias depois da promulgaccedilatildeo do

decreto com a publicaccedilatildeo da Medida Provisoacuteria Nordm 1003 ampliando o teto da

isenccedilatildeo fiscal cultural de 2 do imposto devido da pessoa juriacutedica 1 na Lei

Rouanet (Lei Nordm 83131991) e 1 na Lei do Audiovisual (Lei Nordm 86851993) para

o somatoacuterio de 5 (BRASIL 1995c) Em de 20 de junho de 1995 a medida

provisoacuteria foi acatada pelo Congresso Nacional e convertida na Lei Nordm 9064

No dia 22 de novembro daquele ano o Decreto Nordm 1711 regulamentou o

Art 34 da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) criando a Ordem do Meacuterito Cultural

Esta foi uma condecoraccedilatildeo nacional agraves pessoas de notoacuteria contribuiccedilatildeo agrave cultura do

paiacutes tendo na figura do Presidente da Repuacuteblica o Gratildeo-Mestre e o Ministro de

Estado da Cultura o Chanceler da ordem Embora natildeo tivesse impacto direto no

funcionamento do mecanismo de financiamento foi uma medida estatal para

reforccedilar a figura pessoal do mecenas cultural (BRASIL 1995d)

A Medida Provisoacuteria Nordm 1515 de 7 de novembro de 1996 fez nova

alteraccedilatildeo no limite percentual da isenccedilatildeo fiscal de pessoa juriacutedica mas agora para o

mecanismo de mecenato do audiovisual O valor que anteriormente era de 1

passou para 3 sem concorrer diretamente com o percentual da Lei Rouanet (Lei

Nordm 83131991) A pessoa juriacutedica tributada na modalidade lucro real estava

autorizada a destinar ateacute 8 do valor do imposto devido sobre a renda para a aacuterea

cultural (BRASIL 1996a)

O limite ampliado do audiovisual teve vida curta porque o Congresso

Nacional na conversatildeo da medida provisoacuteria na Lei Nordm 9323 de 5 de dezembro de

1996 vetou o aumento (BRASIL 1996b) A motivaccedilatildeo foi o conflito de normas uma

vez que o somatoacuterio de 8 ultrapassava a autorizaccedilatildeo existente de 5 na

legislaccedilatildeo do Imposto sobre a Renda (IR) Logo voltou a vigorar o percentual de 4

para a Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) e mais 1 na Lei do Audiovisual (Lei Nordm

86851993)

Outra alteraccedilatildeo pra movimentar financeiramente o setor cultural foi a

efetivaccedilatildeo da transferecircncia do recurso das loterias federais para o Fundo Nacional

de Cultura (FNC) regulamentada pelo Decreto Nordm 2290 de 4 de agosto de 1997

(BRASIL 1997a) Esta foi uma opccedilatildeo estrateacutegica de receita perioacutedica e contiacutenua ao

59

fundo tendo em vista o deacutebil repasse direto do Tesouro Nacional No entanto a

escolha por uma fonte de receita extraorccedilamentaacuteria (lucro das loterias federais)

reflete um enfraquecimento no debate do elemento social no seio do orccedilamento

puacuteblico local onde satildeo definidas as prioridades das poliacuteticas do Estado brasileiro

O Ministeacuterio da Cultura continuava a estudar alteraccedilotildees na poliacutetica de

financiamento cultural para dar mais vigor ao mecanismo de mecenato cultural

Assim em 24 de setembro de 1997 foi publicada a Medida Provisoacuteria Nordm 1589 com

o intuito de modernizar e simplificar os tracircmites dos projetos (BRASIL 1997b) A

medida provisoacuteria foi encaminhada ao Congresso Nacional junto com o ofiacutecio de

justificativa25

[] busca-se os procedimentos simplificar os procedimentos administrados de tramitaccedilatildeo dos processos eliminando-se a submissatildeo e a aprovaccedilatildeo dos projetos culturais a oacutergatildeos colegiados como o Comitecirc Assessor e a Comissatildeo Nacional de Incentivo agrave Cultura [] (BRASIL 1997c p15659)

A extinccedilatildeo do Comitecirc Assessor oacutergatildeo formado exclusivamente por

servidores puacuteblicos e responsaacutevel por representar o interesse estatal na poliacutetica

simbolizou a reduccedilatildeo da intervenccedilatildeo do Estado brasileiro na decisatildeo dos rumos da

poliacutetica de financiamento cultural Poreacutem a supressatildeo do oacutergatildeo natildeo foi

acompanhada pela criaccedilatildeo de uma diretriz puacuteblica para o mecenato cultural o que

acabou elevando o peso das escolhas do setor privado na alocaccedilatildeo e

direcionamento do recurso puacuteblico

O segundo eixo de alteraccedilotildees proposto pela Medida Provisoacuteria Nordm

15891997 teve como ecircnfase criar maior atrativo ao setor privado aumentando o

percentual de deduccedilatildeo fiscal do apoio e privilegiando as manifestaccedilotildees culturais que

o Ministeacuterio da Cultura julgou mais fraacutegeis naquele momento (BRASIL 1997b)

As mudanccedilas promoveram o funcionamento de dois mecanismos de

mecenato cultural dentro da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) O primeiro regido

pelo Art 18 permitia que os projetos de a) artes cecircnicas b) livros de valor artiacutestico

literaacuterio ou humaniacutestico c) muacutesica erudita ou instrumental d) circulaccedilatildeo de

exposiccedilotildees de artes plaacutesticas e) doaccedilotildees de acervos para bibliotecas puacuteblicas e

25

O oficio ldquoEM Interministerial Nordm 01897rdquo acompanhou a proposta de alteraccedilatildeo da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) encaminhada pelo Ministeacuterio da Cultura ao Presidente da Repuacuteblica que por sua vez tambeacutem o despachou ao Congresso Nacional como carta de motivaccedilatildeo do poder executivo Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfedmedpro1997medidaprovisoria-1589-24-setembro-1997-376673-exposicaodemotivos-146331-pehtmlgt

60

para museus tivessem 100 de deduccedilatildeo fiscal Jaacute os projetos das demais

categorias culturais seriam guiados pelo Art 26 que previa a deduccedilatildeo fiscal de 80

nas doaccedilotildees e 70 nos patrociacutenios de pessoa fiacutesica e 40 nas doaccedilotildees e 30

nos patrociacutenios de pessoa juriacutedica Mas para esta uacuteltima contribuinte tambeacutem era

permitido o lanccedilamento do apoio como despesa operacional (BRASIL 1997)

Segundo Sarkovas (2011) a escolha das manifestaccedilotildees culturais do Art

18 foi feita de forma arbitraacuteria e levou em consideraccedilatildeo apenas o relacionamento

que alguns segmentos culturais tinham com o atual governo Por sua vez Brant

(2004) argumenta que a deduccedilatildeo integral das aacutereas indicadas pelo Art 18 foi uma

forma de privilegiar a cultura tradicionalmente institucionalizada e tida como

sinocircnimo de culta em detrimento das manifestaccedilotildees culturais populares

negligenciadas durante toda a gestatildeo do ministro Francisco Weffort

A Medida Provisoacuteria Nordm 15891997 ainda autorizou a inclusatildeo do

pagamento de serviccedilo especializado para a elaboraccedilatildeo de proposta e captaccedilatildeo de

recurso por meio do acreacutescimo do paraacutegrafo uacutenico no Art 28 Este serviccedilo deixava

de ser interpretado como intermediaccedilatildeo do objeto da proposta como acontecia

anteriormente e passava a ser considerado um lobby autorizado para aproximar a

entidade cultural das empresas privadas O serviccedilo foi autorizado a ser incluiacutedo

como despesa do projeto cultural e custeado em grande parte com recurso puacuteblico

(BRASIL 1997b)

De acordo com o SESI (2007) o profissional prestador deste serviccedilo era

detentor do conhecimento das aacutereas tributaacuteria de financcedila e de marketing ainda natildeo

dominadas pela maioria das entidades culturais Por isso este profissional permitiu

uma maior interlocuccedilatildeo do setor cultural com as empresas contribuindo para criar

um mercado de negoacutecios culturais (marketing cultural) e de fortalecimento de

imagem institucional

A consolidaccedilatildeo normativa de todas as mudanccedilas da Medida Provisoacuteria

Nordm 15891997 natildeo foi tema faacutecil para o proacuteprio poder executivo Tanto que a ela foi

reeditada duas vezes (Nordm 1589-1 de 23101997 e Nordm 1589-2 de 20111997) e

antes do teacutermino legal para sua votaccedilatildeo no Congresso Nacional foi alterada pelas

Medidas Provisoacuterias Nordm 1611 (reeditada 12 vezes) Nordm 1739 (reeditada 6 vezes) e

Nordm 1871 (reeditada 4 vezes) ateacute dar origem agrave Lei Nordm 9847 de 23 de novembro de

1999

61

As alteraccedilotildees iniciadas em 1997 fizeram circular mais recurso financeiro

no mecanismo de mecenato cultural Todavia o receio do governo federal em

ultrapassar a meta da renuacutencia fiscal prevista para o ano (1997) o levou agrave publicaccedilatildeo

da Medida Provisoacuteria Nordm 1602 de 14 de novembro de 1997 alterando mais uma

vez o percentual de limite da isenccedilatildeo fiscal dos contribuintes O valor de apoio da

pessoa juriacutedica foi ajustado em 4 do imposto devido sobre a renda para a Lei

Rouanet (Lei Nordm 83131991) mas com 1 autorizado pela Lei do Audiovisual (Lei

Nordm 86851993) concorrente Mais tarde a medida provisoacuteria foi convertida na Lei Nordm

9532 em 10 de dezembro de 1997 (BRASIL 1995d)

Segundo Brant (2004) para aleacutem do pressuposto de modernizaccedilatildeo e

celeridade do mecanismo de mecenato cultural as mudanccedilas na legislaccedilatildeo foram

uma resposta do governo federal para o mercado que estava bastante tendencioso

a apoiar apenas os projetos de audiovisual devido o maior benefiacutecio fiscal

O conjunto de mudanccedilas no mecanismo de mecenato surtiu efeito pois

foi crescente o nuacutemero de projetos aprovados e efetivamente captados aleacutem do

aumento na quantidade de apoiadores conforme pode ser observado nos nuacutemeros

disponiacuteveis no sistema do Ministeacuterio da Cultura Para Moiseacutes (1998) o governo

federal tambeacutem contribuiu com o crescimento do mecenato cultural participando

ativamente com as empresas puacuteblicas

Apesar de o graacutefico demonstrar a evoluccedilatildeo no mecanismo de mecenato

cultural devemos lembrar que grande parte do recurso circulante eacute de origem

puacuteblica oriunda da isenccedilatildeo fiscal Desta forma potencialmente o recurso financeiro

existiria por meio do recolhimento do Imposto sobre a Renda (IR) poreacutem natildeo teria

garantia de aplicaccedilatildeo integral na aacuterea da cultura uma vez que a alocaccedilatildeo

dependeria do debate que envolve a construccedilatildeo do orccedilamento puacuteblico

62

Fonte Elaborado pelo autor a partir dos dados do Ministeacuterio da Cultura atualizado em 29 de maio de 2016

Por isso a escolha por uma via extraorccedilamentaria deve ser regularmente

avaliada pelo Ministeacuterio da Cultura pelo Congresso Nacional pelo Conselho

Nacional de Cultura e demais oacutergatildeos de participaccedilatildeo mista (sociedade civil e poder

puacuteblico) pois se trata de um recurso puacuteblico que natildeo possui as tradicionais amarras

do Estado

Gruman (2011) chama a atenccedilatildeo para natildeo se perder de vista a finalidade

da legislaccedilatildeo em atrair capital privado para a aacuterea poreacutem alerta para a excessiva

mercantilizaccedilatildeo da cultura durante o governo do presidente Fernando Henrique

Cardoso (PSDBSP) Para o autor a cultura perde a identidade de elemento social

da cidadania e passa a ser tratado como mercadoria a ser enquadrada agraves ldquoleis de

mercadordquo

A reeleiccedilatildeo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDBSP) e a

manutenccedilatildeo do Ministeacuterio da Cultura na reestruturaccedilatildeo administrativa feita pela

Medida Provisoacuteria Nordm 1651-43 de 5 de maio de 1998 marcam um periacuteodo de

estabilidade na aacuterea estatal da cultura (BRASIL 1998b) Para Rubim (2011) um dos

grandes problemas no periacuteodo foi que o mecenato cultural virou um quase sinocircnimo

Graacutefico 1 ndash Desempenho da Lei Rouanet no periacuteodo de 1993 a 1998

63

da poliacutetica cultural muito embora esta segunda fosse mais ampla e necessaacuteria para

direcionar o financiamento do setor

Em 6 de setembro de 2001 a Medida Provisoacuterio Nordm 2228 criou a Poliacutetica

Nacional do Cinema e a Agecircncia Nacional do Cinema (ANCINE) aleacutem de outros

oacutergatildeos do setor para dar direcionamento agrave poliacutetica de financiamento cinematograacutefico

brasileiro (BRASIL 2001b) A medida provisoacuteria poderia sinalizar para uma alteraccedilatildeo

na gestatildeo da cultura com maior regulaccedilatildeo do Estado brasileiro poreacutem na verdade

foi uma resposta pontual ao ldquoDiagnoacutestico da cadeia produtiva do audiovisualrdquo que

apontava para o fracasso do mecanismo para criar a sustentabilidade do setor

(SARKOVAS 2011 p53) A medida provisoacuteria tambeacutem prorrogou a vigecircncia da Lei

do Audiovisual (Lei N 86851993) que estava prevista para durar 10 anos ou seja

ateacute 2003

O decorrer da gestatildeo do ministro Francisco Weffort natildeo trouxe outras

novidades para a aacuterea cultural a natildeo ser o contiacutenuo esvaziamento da importacircncia

do Ministeacuterio da Cultura o qual segundo Rubim (2011) fechou o ano de 2002 com

o percentual de 014 de participaccedilatildeo no orccedilamento puacuteblico da Uniatildeo Enquanto

isso o mecanismo de mecenato cultural seguia funcionando sem contingenciamento

de despesas e com valor de renuacutencia fiscal quase igualado agrave dotaccedilatildeo orccedilamentaacuteria

do ministeacuterio (SESI 2007)

A eleiccedilatildeo e posse do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (PTSP) em

2002 manteve o status ministerial para a cultura poreacutem teve o compositor e cantor

Gilberto Gil como o primeiro Ministro de Estado de Cultura desta gestatildeo Para Rubim

(2011) o novo ministro buscou resgatar o protagonismo do Estado no

desenvolvimento de uma poliacutetica nacional de cultura e ampliar a concepccedilatildeo da aacuterea

para aleacutem do tradicional erudito e claacutessico

Em relaccedilatildeo agrave reforma e aprimoramento da Lei Rouanet (Lei Nordm

83131991) Sarkovas (2011) comenta que o processo de visita e consulta

democraacutetica a vaacuterios municiacutepios do paiacutes movimento denominado Cultura para

Todos iniciado pelo ministro Gilberto Gil foi bastante longo e pouco efetivo devido agrave

falta de um plano estrateacutegico

Todavia no dia 27 de abril de 2006 foi publicado o Decreto Nordm 576

trazendo nova regulamentaccedilatildeo agrave Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) No Art 2ordm satildeo

listadas 13 finalidades para o apoio da poliacutetica de financiamento o que caracteriza

uma iniciativa do poder executivo em traccedilar uma diretriz puacuteblica ao mecanismo Foi

64

criada para o Fundo Nacional de Cultura uma comissatildeo exclusiva formada por

servidores puacuteblicos para avaliar os projetos e definir criteacuterios para a liberaccedilatildeo do

recurso atendendo a uma antiga reivindicaccedilatildeo do setor cultural por mais

transparecircncia na gestatildeo (BRASIL 1997e)

Por sua vez no dia 12 de dezembro de 2007 foi publicado o Decreto Nordm

6304 trazendo novo regramento ao funcionamento da Lei do Audiovisual (Lei Nordm

86851993) O decreto natildeo alterou a forma de operaccedilatildeo do mecanismo de

mecenato do audiovisual poreacutem trouxe maior institucionalidade ao apresentar regras

que estavam expressas apenas em portarias ou instruccedilotildees normativas

O ministro Gilberto Gil continuou no cargo ateacute o dia 30 de julho de 2008

quando acabou se afastando por motivos pessoais Foi substituiacutedo pelo Secretaacuterio

Executivo Juca Ferreira que ficou ateacute o final do mandato do Presidente da

Repuacuteblica Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (PTSP) O ministro Juca Ferreira tambeacutem teve

passagem no governo da Presidente da Repuacuteblica Dilma Rousseff (PTDF) no

periacuteodo de 1ordm de janeiro de 2015 a 12 de maio de 2016 e tem como marca o

discurso sobre o resgate da contrapartida de capital privado na Lei Rouanet (Lei Nordm

83131991) Este debate passa pelo enfretamento do tema no poder legislativo mas

encontra restriccedilatildeo no proacuteprio setor cultural por receio de queda de recurso para a

aacuterea

Enfim apesar da posse de um governo de matriz mais igualitaacuteria e de

intervenccedilatildeo do Estado nas aacutereas sociais a poliacutetica de financiamento ao setor cultural

continuou tendo grande viacutenculo com o modelo de mecenato Buscou-se

democratizar o acesso ao mecanismo para novos segmentos culturais poreacutem a

foacutermula de investimento quase integral de recurso puacuteblico pela via extraorccedilamentaacuteria

continuou intacta

32 A criaccedilatildeo do mecenato esportivo

Podemos notar que o percurso de elaboraccedilatildeo da poliacutetica de

financiamento da cultura natildeo foi linear nem tampouco seguiu uma diretriz de

desenvolvimento Foi construiacuteda por uma confluecircncia de atores e pressotildees setoriais

que variaram durante os governos Mas ao longo de todo o periacuteodo uma

65

caracteriacutestica se manteve comum a todos os governantes a busca de promoccedilatildeo das

entidades culturais atraveacutes da aproximaccedilatildeo com o setor privado

A princiacutepio a promoccedilatildeo se daria pelo incentivo agrave criaccedilatildeo da figura do

mecenas cultural tendo como plano de fundo a dificuldade econocircmica vivida pelo

Estado brasileiro Poreacutem a instabilidade estatal na aacuterea da cultura marcada pela

sucessiva troca de ministros e pela criaccedilatildeoextinccedilatildeo de entidades responsaacuteveis pela

regulaccedilatildeo dos setores culturais esmaeceu o objetivo primordial do mecanismo de

fundir recurso privado ao capital puacuteblico investido

Vaacuterias reformas foram realizadas no mecenato cultural e aos poucos o

Estado brasileiro foi se afastando da posiccedilatildeo de orientador do financiamento cultural

Ao mesmo tempo em que os recursos puacuteblicos se distanciavam mais mais era

injetado de forma indireta no setor por meio da ampliaccedilatildeo nos atrativos fiscais para

o setor privado A missatildeo do mecanismo migrava do foco de atrair capital privado

para estimular um forte mercado cultural baseado no marketing e no fortalecimento

de marcas institucionais

A maior oferta de recurso expandiu a produccedilatildeo cultural no paiacutes mas

tambeacutem reforccedilou desigualdades geograacuteficas e de manifestaccedilotildees Problemas de

concentraccedilatildeo de recurso em regiotildees onde tradicionalmente jaacute tinham boa estrutura

institucional e a carecircncia de apoio financeiro agraves expressotildees populares satildeo dilemas

a serem superados pela sociedade e pelo Estado por conta dos arranjos da poliacutetica

de financiamento (GRUMAN 2011)

Contudo independente das imperfeiccedilotildees de funcionamento o mecanismo

de mecenato tem sido um modelo aacutegil para levar o recurso agraves iniciativas oriundas da

sociedade civil organizada Tanto que tem sido foco de expansatildeo para outras aacutereas

de poliacutetica social como esporte sauacutede idoso crianccedila e adolescente pesquisa etc

Mas a proliferaccedilatildeo do mecanismo de mecenato natildeo pode eliminar o enfretamento

que a sociedade e o poder legislativo loacutecus do debate puacuteblico tecircm que fazer para

garantir os rumos de desenvolvimento da cidadania social

O esporte foi o segundo elemento social a buscar um mecanismo de

financiamento pela via da isenccedilatildeo fiscal e aproximaccedilatildeo com o setor privado nos

moldes da Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) Ainda durante as discussotildees de

elaboraccedilatildeo do novo texto constitucional o Deputado Federal Antocircnio Carlos Mendes

66

Thame (PSDBSP) apresentou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei Nordm 41826 de

2 de marccedilo de 1988 tratando sobre benefiacutecios fiscais para o esporte amador

Como justificativa o autor da proposta mencionou o apreccedilo da populaccedilatildeo

pela praacutetica esportiva reforccedilando a perspectiva do objeto como elemento social da

cidadania conforme estava sendo trabalhado na Assembleia Nacional Constituinte

Por outro lado o deputado exibiu o setor privado como importante provedor deste

direito haja vista que a ldquoassistecircncia governamental faz-se de modo desorganizado e

middotquase insignificanterdquo (BRASIL 1988b p438) Por isso a necessidade de ampliar o

financiamento agraves entidades esportivas como meio de expandir o acesso da

populaccedilatildeo ao esporte

O projeto teve tracircmite raacutepido nas Comissotildees de Constituiccedilatildeo e Justiccedila de

Esporte e Turismo e de Financcedilas na Cacircmara dos Deputados imprimindo apenas

uma emenda ao texto original No dia 14 de setembro de 1988 o relator Deputado

Federal Maacutercio Braga (PMDBRJ) apresentou na plenaacuteria da casa a aprovaccedilatildeo do

meacuterito da proposta Poreacutem ao pronunciar sobre o tema argumentou acerca do

deferimento fazendo uma relaccedilatildeo direita entre o baixo investimento no esporte

amador e a falta de profissionalismo do setor Ou seja o deputado estava

defendendo o esporte amador como uma sequecircncia evolutiva para o esporte

profissional e natildeo como duas possiacuteveis expressotildees do fenocircmeno esportivo

Na sua justificaccedilatildeo o ilustre representante revela o seu intuito de proteger o esporte amador praacutetica extremamente apreciada pelo povo e que tem suprido geralmente a ausecircncia de recursos para o profissionalismo Somente as entidades particulares contribuem para essa atividade esportiva sem qualquer assistecircncia do Estado Natildeo pode o Poder Puacuteblico ignorar o amadorismo desportivo no Paiacutes motivo dos nossos modestos desempenhos nos jogos oliacutempicos Natildeo temos como e nem por que discordar da justificaccedilatildeo muito menos dos termos do Projeto que prevecirc detalhadamente sua pr6pria execuccedilatildeo natildeo faltando a penalogia para os infratores Far-se-ia com o desporto amador o mesmo que o Presidente Sarney tem buscado fazer pela cultura (BRASIL 1988c p2465)

Apesar da contradiccedilatildeo terminoloacutegica do relator o projeto foi aprovado na

sessatildeo e encaminhado para apreciaccedilatildeo do Senado Federal No dia 25 de novembro

de 1988 o projeto retornou agrave Cacircmara dos Deputados com nove emendas ao texto

original Poucos dias depois foi reapresentado na sessatildeo plenaacuteria da casa e

26

Projeto de Lei Nordm 418 Disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=176602gt

67

aprovado com todas as indicaccedilotildees do Senado Federal O projeto seguiu para a

promulgaccedilatildeo do Presidente Joseacute Sarney (PMDBMA) mas no dia 21 de dezembro

foi vetado sob a justificativa de incompatibilidade teacutecnica da legislaccedilatildeo tendo em

vista a recente reforma da lei do Imposto sobre a Renda (IR)

O projeto que visava criar a figura do mecenas para o esporte pelo

estiacutemulo fiscal mas tambeacutem tinha isenccedilatildeo do Imposto sobre Produto Industrializado

(IPI) e Imposto sobre Importaccedilatildeo (II) para a aquisiccedilatildeo de equipamentos esportivos e

autorizaccedilatildeo de envio de recurso financeiro livre de imposto para atleta ou entidade

esportiva que estivesse fora do paiacutes participando de competiccedilatildeo internacional foi

avaliado como excessivo O conjunto de desoneraccedilatildeo tributaacuteria e a dificuldade de

controle fiscal reforccedilaram a justificativa de veto do presidente (BRASIL 1988d)

No retorno do projeto agrave Cacircmara dos Deputados foi instituiacuteda Comissatildeo

Parlamentar Mista para avaliar o veto presidencial No dia 22 de marccedilo de 1989 o

Deputado Federal Denisar Arneiro (PMDBRJ) fez um discurso na sessatildeo plenaacuteria

defendendo os benefiacutecios do Projeto de Lei Nordm 4181988 No entanto mais uma

vez a defesa do incentivo fiscal natildeo estava na garantia do direito social ao esporte

agora jaacute consagrado no Art 217 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 mas na

necessidade de massificar a praacutetica esportiva visando aumentar a base do esporte

de alto rendimento

Sr Presidente Srordf e Srs Deputados o que eacute necessaacuterio para a Fabricaccedilatildeo de um atleta Por que defendemos que o Brasil precisa urgentemente igualar-se agraves Grandes naccedilotildees esportivas do mundo Por considerarmos que estaacute em nossas matildeos a soluccedilatildeo que julgamos simples de contarmos com a boa vontade hoje do Congresso Nacional rejeitando o veto do Sr Presidente da Repuacuteblica ao Projeto de Lei Nordm 418-D88 Poderiacuteamos nos estender mais dando alguns paracircmetros para a formaccedilatildeo de um atleta que natildeo eacute tatildeo simples como parece mas que depende de uma massificaccedilatildeo esportiva a fim de revelar novos valores Teriacuteamos depois a avaliaccedilatildeo dos atletas com um periacuteodo de adestramento que depende de a) tratamento meacutedico b) alimentaccedilatildeo adequada c) escolaridade necessaacuteria de assimilaccedilatildeo mental d) desenvolvimento teacutecnico e taacutetico e) manutenccedilatildeo do indiviacuteduo para poder competir f) famiacutelia com suporte emocional do atleta (BRASIL 1989a p1400)

Em 5 de abril de 1989 a Cacircmara dos Deputados rejeitou o veto

presidencial e manteve a aprovaccedilatildeo do texto com as vaacuterias isenccedilotildees fiscais O

projeto foi reencaminhado ao presidente Joseacute Sarney (PMDBMA) que natildeo se

pronunciou sobre o tema e tatildeo pouco promulgou a lei Por esgotamento do prazo

legal para manifestaccedilatildeo do poder executivo o projeto foi convertido na Lei Nordm 7752

68

de 14 de abril de 1989 pelo presidente do Senado Federal Nelson Carneiro

(PMDBRJ)

Desta forma em aparente desacordo entre poder executivo e legislativo

foi aprovada a primeira lei de incentivo fiscal ao esporte no paiacutes a Lei Mendes

Thame (Lei Nordm 77521989) A nova legislaccedilatildeo autorizava trecircs modalidades de apoio

ao esporte doaccedilatildeo patrociacutenio e investimento A primeira tratava da transferecircncia

definitiva de bens ou dinheiro agrave entidade esportiva mas sem retorno financeiro ou

publicitaacuterio para o apoiador O suporte financeiro agrave categoria de base esportiva ateacute o

niacutevel Junior tambeacutem tinha status de doaccedilatildeo logo sendo permitida a deduccedilatildeo integral

do valor apoiado O patrociacutenio caracterizava pela promoccedilatildeo do apoiador por meio

da atividade esportiva mas sem proveito financeiro ou patrimonial direto Nesta

modalidade era permitida a deduccedilatildeo de ateacute 80 do valor patrocinado Jaacute o

investimento permitia que o apoiador tivesse retorno financeiro ou patrimonial sobre

a accedilatildeo esportiva Por isso era autorizada a deduccedilatildeo maacutexima de 50 da quantia

investida (BRASIL 1989b)

Nas modalidades patrociacutenio e investimento a pessoa juriacutedica ainda tinha o

incentivo de acumular anualmente mais 5 de deduccedilatildeo fiscal ateacute alcanccedilar o

percentual similar agrave doaccedilatildeo (100) para cada ano de apoio ininterrupto a projeto

esportivo Desta maneira o apoio posterior a dez anos na modalidade investimento

ou 4 anos na patrociacutenio geraria a deduccedilatildeo integral e apesar da criaccedilatildeo do viacutenculo

da entidade esportiva com o setor privado o financiamento passaria a ser todo de

origem puacuteblica pela via da isenccedilatildeo fiscal

A pessoa fiacutesica estava autorizada a apoiar ateacute o limite de 10 da sua

renda bruta enquanto a pessoa juriacutedica o valor de apoio era de 4 do imposto

devido sobre a renda A legislaccedilatildeo aleacutem de criar o mecanismo de mecenato

esportivo de forma bastante parecida com a idealizada pela Lei Sarney (Lei Nordm

75051986) tambeacutem criava benefiacutecios tributaacuterios agrave cadeia do esporte de

rendimento O atleta em competiccedilatildeo oficial fora do paiacutes e com devida autorizaccedilatildeo do

Conselho Nacional de Desportos (CND) ficava dispensado do pagamento de

qualquer imposto sobre empreacutestimo financeiro operaccedilatildeo de cambio e compra de

passagem internacional Por sua vez a entidade esportiva teria isenccedilatildeo integral do

Imposto sobre Importaccedilatildeo (II) para a aquisiccedilatildeo de equipamento esportivo de

fabricaccedilatildeo estrangeira que natildeo tivesse similar nacional Mais tarde a Lei Nordm 7988

69

de 28 de dezembro de 1989 alterou a isenccedilatildeo de 100 do Imposto sobre

Importaccedilatildeo (II) para 50

A Lei Mendes Thame (Lei Nordm 77521989) exibiu no Art 2ordm as aacutereas de

intervenccedilatildeo onde podemos notar accedilotildees tanto de estiacutemulo ao esporte amador

quanto ao de rendimento muito embora a legislaccedilatildeo se anunciasse como exclusiva

para o esporte amador

Art 2ordm Para os objetivos da presente Lei consideram-se atividades desportivas I - a firmaccedilatildeo desportiva escolar e universitaacuteria II - o desenvolvimento de programas desportivos para o menor carente o idoso e o deficiente fiacutesico III - o desenvolvimento de programas desportivos nas proacuteprias empresas em benefiacutecio de seus empregados e respectivos familiares IV - conceder precircmios a atletas nacionais em torneios e competiccedilotildees realizados no Brasil V - doar bens moacuteveis ou imoacuteveis a pessoa juriacutedica de natureza desportiva cadastrada no Ministeacuterio da Educaccedilatildeo VI - o patrociacutenio de torneios campeonatos e competiccedilotildees desportivas amadoras VII - erigir ginaacutesios estaacutedios e locais para praacutetica de desporto VIII - doaccedilatildeo de material desportivo para entidade de natureza desportiva IX - praacutetica de jogo de xadrez X - doaccedilatildeo de passagens aeacutereas para que atletas brasileiros possam competir no exterior XI - outras atividades assim consideradas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (BRASIL 1989b p1 grifo nosso para destacar o incentivo ao esporte de

rendimento)

O controle no cadastro das entidades esportivas e na operacionalizaccedilatildeo

da Lei Mendes Thame (Lei Nordm 77521989) ficou sob a responsabilidade do

Conselho Nacional de Desportos (CND) na eacutepoca oacutergatildeo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

A discussatildeo no poder executivo perdurou durante o ano de 1989 e somente no dia

18 de dezembro foi publicado o Decreto Nordm 98595 regulamentando o

funcionamento do mecanismo de mecenato esportivo Cabe ressaltar que o decreto

ao inveacutes de utilizar o termo esporte amador usou a expressatildeo esporte natildeo

profissional como maneira de delimitar a natildeo utilizaccedilatildeo do recurso para o esporte

profissional e de alto rendimento

Em 13 de marccedilo de 1990 a Instruccedilatildeo Normativa Nordm 31 da Secretaria da

Receita Federal normatizou a forma dos depoacutesitos de apoio ao mecenato esportivo

autorizando o pleno funcionamento do mecanismo (BRASIL 1990c) Todavia dois

dias depois com a posse do novo Presidente da Repuacuteblica Fernando Collor

(PRNAL) foi publicada a Medida Provisoacuteria Nordm 161 alterando a legislaccedilatildeo do

70

Imposto sobre a Renda (IR) e suspendendo por tempo indeterminado todos os

incentivos fiscais (BRASIL 1990b)

Algumas isenccedilotildees fiscais voltaram a vigorar no paiacutes como o caso do

mecenato cultural mas a poliacutetica de financiamento para o esporte criada pela Lei

Mendes Thame (Lei Nordm 77521989) natildeo foi mais debatida Parte do esquecimento

desta legislaccedilatildeo tem haver com a divergecircncia de conceitos em relaccedilatildeo ao debate

conduzido na Assembleia Nacional Constituinte Isto eacute a Lei Mendes Thame (Lei Nordm

77521989) tinha grande fundamentaccedilatildeo na Lei Nordm 62511975 a qual era entendida

como ultrapassada para a nova concepccedilatildeo do fenocircmeno esportivo Desta forma era

necessaacuterio discutir a legislaccedilatildeo esportiva antes de pensar em uma poliacutetica de

financiamento para o setor

A nova organizaccedilatildeo estatal dada pela Medida Provisoacuteria Nordm 150 de 15 de

marccedilo de 1990 criou uma estrutura que apoiava o desenvolvimento do esporte

nacional Cabe mencionar que enquanto o setor cultural amargava o rebaixamento

do Ministeacuterio da Cultura ao status de Secretaria da Cultura da Presidecircncia da

Repuacuteblica o setor esportivo comemorava a criaccedilatildeo da Secretaria do Desporto da

Presidecircncia da Repuacuteblica27 (BRASIL 1990a)

Somente apoacutes a superaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo de uma norma geral (Lei Zico -

Lei Nordm 86721993 e depois Lei Peleacute - Lei Nordm 9615) a elevaccedilatildeo do tema a niacutevel

ministerial (Ministeacuterio do Esporte e Turismo 1999 a 2002 Ministeacuterio do Esporte a

partir de 2003) a formalizaccedilatildeo de uma poliacutetica de fomento ao esporte de alto

rendimento (Lei AgneloPiva - Lei Nordm 102642001) e a organizaccedilatildeo de dois foacuteruns

nacionais de debate (a 1ordf Conferecircncia Nacional de Esporte em 2004 e a 2ordf

Conferecircncia Nacional de Esporte em 2006) a aacuterea do esporte se mostrou madura

para reivindicar mais recurso por meio da ampliaccedilatildeo da poliacutetica de financiamento

Os primoacuterdios do corrente modelo de mecenato esportivo surgiram do

Projeto de Lei Nordm 136728 de 01 de julho de 2003 do Deputado Federal Bismarck

Maia (PSDBCE) O projeto teve tracircmite demorado pois vaacuterias outras propostas29 de

27

Antes da criaccedilatildeo da Secretaria do Desporto da Presidecircncia da Repuacuteblica a temaacutetica do esporte era atribuiacuteda agrave Secretaria de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desporto oacutergatildeo vinculado ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo 28

Tracircmite do projeto de lei disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=122383gt 29

Os demais projetos de lei que foram apresentados na Cacircmara dos Deputados e apreciados para compor o texto final do Projeto de Lei Nordm 13672003 foi PL Nordm 1663 (12082003) - Deputado Federal Antocircnio Carlos Mendes Thame (PSDBSP) PL Nordm 2331 (21102003) - Deputado Federal Ronaldo Vasconcellos (PTBMG) PL Nordm 4207 (06102004) - Deputado Federal Takayama

71

conteuacutedo similar foram apresentadas e incorporadas ao texto original durante sua

anaacutelise na Comissatildeo do Turismo e Desporto da Cacircmara dos Deputados

Em setembro de 2003 o Deputado Federal Bismarck Maia (PSDBCE)

solicitou agrave presidecircncia da Cacircmara dos Deputados a realizaccedilatildeo de uma audiecircncia

puacuteblica com os representantes do Comitecirc Oliacutempico Brasileiro (COB) da Comissatildeo

Nacional de Atletas (CNA) e da Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento

para auxiliarem no parecer da comissatildeo O que demonstra que mesmo apoacutes o

esporte de rendimento jaacute ter conquistado uma fonte exclusiva de financiamento pela

Lei AgneloPiva (Lei Nordm 102642001) seus atores continuavam a ser peccedila

fundamental para a formulaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo do mecanismo de mecenato esportivo

Do periacuteodo de 19 de agosto de 2003 a 22 de junho de 2005 o projeto

esteve em discussatildeo na Comissatildeo do Turismo e Desporto verificando o meacuterito da

proposta Nos dois pareceres emitidos pela respectiva comissatildeo foi citada a Lei

AgneloPiva (Lei Nordm 102642001) como um mecanismo de financiamento beneacutefico

ao setor do esporte de rendimento poreacutem insuficiente para suprir agrave demanda da

diversidade e da abrangecircncia territorial do paiacutes Aleacutem disso a legislaccedilatildeo vigente

negligenciava as modalidades natildeo oliacutempicas inclusive as genuinamente nacionais

previstas no inciso IV do Art 217 e as manifestaccedilotildees esportivas educacionais e de

participaccedilatildeo Nesse sentido a Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) e a Lei Rouanet (Lei

Nordm 83131991) eram lembradas como alternativa de poliacutetica de financiamento para

suprir a deficiecircncia de recurso para as lacunas deixadas pela Lei AgneloPiva (Lei

Nordm 102642001)

Cabe ressaltar que o Projeto de Lei Nordm 13672003 previa duas

modalidades de apoio por meio de isenccedilatildeo no imposto devido sobre a renda a

doaccedilatildeo sem vantagem financeira ou patrimonial para o apoiador permitindo 100

de deduccedilatildeo fiscal e o patrociacutenio com vantagem promocional ao apoiador com

autorizaccedilatildeo de 75 de deduccedilatildeo

O projeto de mecenato esportivo somente tomou corpo com o envio ao

Congresso Nacional do Projeto de Lei Nordm 6999 de 08 de maio de 2006

acompanhado de pedido de urgecircncia Esta era uma medida do Ministeacuterio do Esporte

(PMDBPR) PL Nordm 4306 (21102004) - Deputado Federal Joaquim Francisco (PTBPE) e por fim PL Nordm 6999 (08102006) de iniciativa do poder executivo Disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=122383gt

72

para ser apresentada na 2ordf Conferecircncia Nacional do Esporte como possibilidade de

mecanismo de fomento para a aacuterea

A proposta de iniciativa do poder executivo foi agregada ao Projeto de Lei

Nordm 13672003 e depois de uma raacutepida passagem pela Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e

Justiccedila e de Cidadania para apreciaccedilatildeo da constitucionalidade foi encaminhada agrave

Comissatildeo de Financcedilas e Tributaccedilatildeo para anaacutelise de viabilidade operacional

Do dia 14 de junho a 2 de agosto de 2006 o projeto esteve na pauta de

discussotildees da Comissatildeo de Financcedilas e Tributaccedilatildeo tendo como relator o Deputado

Federal Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) Aleacutem das reuniotildees da comissatildeo o projeto de

lei foi debatido por seis vezes na plenaacuteria da Cacircmara dos Deputados O parecer30 do

relator da comissatildeo se mostrou favoraacutevel agrave proposta apesar alertar sobre as criacuteticas

que o sistema de mecenato havia recebendo

Os incentivos fiscais de outra parte tecircm sido vistos com certa desconfianccedila pelos doutrinadores que se dedicam ao estudo das financcedilas puacuteblicas porque trazem distorccedilotildees na aplicaccedilatildeo dos recursos do Estado em prejuiacutezo na sua visatildeo de aspectos como a isonomia a transparecircncia e a seguranccedila quanto agrave correta realizaccedilatildeo das despesas Natildeo se pode negar no entanto que tais incentivos tecircm representado impulso importantiacutessimo em vaacuterias aacutereas como no Desenvolvimento Regional por exemplo ou na Pesquisa Tecnoloacutegica ou no jaacute mencionado campo da Cultura demonstrando que a despeito dos questionamentos teoacutericos configuram soluccedilatildeo eficaz para os setores beneficiados Assim uma vez providenciados mecanismos que garantam a regularidade da realizaccedilatildeo da despesa e a transparecircncia dos criteacuterios de concessatildeo dos benefiacutecios parece claro que os incentivos em questatildeo podem contribuir para o desenvolvimento do desporto e do para desporto em nosso Paiacutes (BRASIL 2006c p6)

Contudo o maior problema natildeo estava no modelo de financiamento

escolhido mas na falta de um estudo preacutevio que demonstrasse o impacto na

arrecadaccedilatildeo da Uniatildeo que um mecanismo de isenccedilatildeo fiscal ao esporte poderia

trazer de imediato Aleacutem disso a incerteza financeira da medida contrariava o Art 99

da Lei de Diretrizes Orccedilamentaacuterias de 2006 (LDO Nordm 111782015) e o Art 14 da Lei

de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar Nordm 1012000) que exigiam

estimativa de renuacutencia de receita para o ano de iniacutecio da vigecircncia e nos dois

30

Parecer da Comissatildeo de Financcedilas e Tributaccedilatildeo da Cacircmara dos Deputados emitido pelo Deputado Federal Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) sobre o Projeto de Lei Nordm Nordm 13672003 que trata do mecanismo de financiamento ao esporte (Lei Federal de Incentivo ao Esporte) Disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebprop_mostrarintegracodteor=403294ampfilename=Tramitacao-PL+13672003gt

73

subsequentes como garantia de natildeo haver prejuiacutezo agraves metas fiscais do governo

federal (BRASIL 2006c)

Nesse sentido o relator propocircs trecircs soluccedilotildees para o impasse A primeira

seria prever a queda de receita na Lei Orccedilamentaacuteria Anual de 2007 sem impacto na

meta fiscal Todavia natildeo foi uma soluccedilatildeo possiacutevel devido agrave falta de previsibilidade

financeira do novo mecanismo A segunda alternativa consistia em diminuir

despesas de outras aacutereas que compensasse o financiamento no esporte Poreacutem

mais uma vez a soluccedilatildeo esbarrava na inexistecircncia de previsatildeo financeira para poder

realizar cortes aleacutem da tradicional falta de prestiacutegio do esporte na pauta

orccedilamentaacuteria A terceira e selecionada soluccedilatildeo foi a de incluir o novo mecanismo de

financiamento junto agrave previsatildeo de renuacutencia orccedilamentaacuteria jaacute existente para outras

poliacuteticas de isenccedilatildeo fiscal

A primeira dessas condiccedilotildees eacute a comprovaccedilatildeo de que a renuacutencia foi considerada na estimativa de receita da lei orccedilamentaacuteria e que natildeo afetaraacute as metas de resultados fiscais previstos no anexo proacuteprio da lei de diretrizes orccedilamentaacuterias A outra que a proposiccedilatildeo contemple medidas de compensaccedilatildeo no periacuteodo mencionado por meio da reduccedilatildeo de outras despesas ou do aumento de receita proveniente da elevaccedilatildeo de aliacutequotas ampliaccedilatildeo de base de caacutelculo majoraccedilatildeo ou criaccedilatildeo de tributo ficando a entrada em vigor do benefiacutecio condicionada agrave implementaccedilatildeo dessas medidas Os projetos ora sob anaacutelise assim como as emendas apresentadas em Plenaacuterio deixaram de oferecer medidas compensatoacuterias para a renuacutencia de receita decorrente dos benefiacutecios fiscais propostos de modo que apenas se podem reputar adequadas as proposiccedilotildees que evidenciem ainda que implicitamente terem sido consideradas na estimativa da receita orccedilamentaacuteria Tal condiccedilatildeo atende apenas as que limitam as reduccedilotildees do tributo devido por doaccedilotildees patrociacutenios ou investimentos realizados com finalidade desportiva ao teto jaacute estabelecido em lei para outras doaccedilotildees patrociacutenios e investimentos uma vez que nesses casos o valor maacuteximo da renuacutencia fiscal natildeo se altera permanecendo vaacutelidas as previsotildees de arrecadaccedilatildeo consignadas na Lei Orccedilamentaacuteria (BRASIL 2006c p5)

Inicialmente os parlamentares escolheram colocar o mecanismo de

mecenato esportivo junto agrave renuacutencia orccedilamentaacuteria prevista para a Lei Rouanet (Lei

Nordm 83131991) Entretanto o compartilhamento despertou o descontentamento da

ala cultural do paiacutes receosa com a perda de recurso Tambeacutem existia o temor da

migraccedilatildeo do apoio cultural para o esporte principalmente pela sua capacidade em

gerar miacutedia espontacircnea o que poderia ser um atrativo a mais ao benefiacutecio fiscal

No dia 28 de novembro de 2006 o projeto foi apresentado na plenaacuteria da

Cacircmara dos Deputados onde recebeu emendas ao texto legal e acabou retornando

agraves comissotildees para correccedilatildeo Com o texto atualizado o projeto foi encaminhado ao

74

Senado Federal para apreciaccedilatildeo no dia 06 de dezembro daquele ano O Senado

Federal sugeriu duas emendas ao texto do projeto de lei sendo que uma delas

visava minimizar a repercussatildeo negativa da legislaccedilatildeo com o setor cultural

Foi sugerido alterar a origem da renuacutencia orccedilamentaacuteria da previsatildeo da Lei

Rouanet (Lei Nordm 83131991) para a do Programa de Alimentaccedilatildeo do Trabalhador

(PAT)31 O tema foi levado agrave discussatildeo na sessatildeo extraordinaacuteria da Cacircmara dos

Deputados em 20 de dezembro de 2006 Esta era a uacuteltima sessatildeo do ano antes do

recesso do legislativo e caso o projeto de lei natildeo fosse aprovado natildeo teria como

entrar em vigor no ano fiscal de 2007

Apoacutes uma calorosa discussatildeo entre os parlamentares e o impasse sobre

a origem da renuacutencia fiscal o Deputado Federal Agnelo Queiroz (PCdoBDF)

esclareceu a todos sobre as opccedilotildees de voto para a resoluccedilatildeo da aprovaccedilatildeo da lei de

financiamento ao esporte

Sr Presidente [Aldo Rabelo] eacute preciso que a Casa [Cacircmara dos Deputados] seja esclarecida definitivamente A emenda do Senado coloca a isenccedilatildeo do esporte com o Programa de Alimentaccedilatildeo do Trabalhador que com 30 anos de existecircncia teve ano passado [2005] desconto de 207 milhotildees ou seja 03 do total a que tem direito - 4 Portanto o projeto natildeo retira dinheiro do PAT coisa nenhuma porque esse programa jaacute estaacute consolidado haacute 30 anos Temos de tomar providecircncias para ampliaacute-lo Eacute esse o compromisso que todos temos de ter presente Colocar a isenccedilatildeo do esporte com o PAT natildeo retira dinheiro de recurso do trabalhador Agora o projeto da Cacircmara representa uma outra opccedilatildeo isto eacute ficar com a cultura A cultura teve isenccedilatildeo de 600 milhotildees no ano passado [2005] montante muito superior aos 200 milhotildees do PAT Esclarecidos os nuacutemeros vamos optar a favor do acordo feito no Senado que eacute junto com o PAT e natildeo tira dinheiro dele ou optar pelo texto da Cacircmara que eacute junto com a cultura e tambeacutem natildeo tira dinheiro da cultura (BRASIL 2006d p 56726)

Assim a Cacircmara dos Deputados votou pela rejeiccedilatildeo das emendas do

Senado Federal e o projeto de lei foi aprovado tendo como renuacutencia orccedilamentaacuteria o

compartilhamento da previsatildeo de R$ 600 milhotildees para o esporte e cultura Depois

de alguns dias de tracircmite administrativo interno e recesso de Natal o Projeto de Lei

31

O Programa de Alimentaccedilatildeo do Trabalhador (PAT) estimula a empresa por meio de isenccedilatildeo fiscal a manter serviccedilo proacuteprio de refeiccedilatildeo ou distribuir alimentos (cesta baacutesica ticket alimentaccedilatildeo etc) para atendimento aos trabalhadores de baixa renda (que recebam ateacute cinco salaacuterios miacutenimos mensais) Para isso a Lei Nordm 6321 de 14 de abril de 1976 que foi posteriormente regulamentada pelo Decreto Nordm 5 de 14 de janeiro de 1991 permite que a empresa tributada na modalidade lucro real destine ateacute 4 do seu imposto devido sobre a renda para o programa

75

Nordm 13672003 foi convertido na Lei Nordm 11438 em 29 de dezembro de 2006 que

ficou popularmente conhecida como Lei Federal de Incentivo ao Esporte

Poreacutem no mesmo dia da publicaccedilatildeo de criaccedilatildeo do mecenato esportivo o

poder executivo encaminhou a Medida Provisoacuteria Nordm 342 alterando o teto do

percentual de contribuiccedilatildeo do imposto devido sobre a renda da pessoa juriacutedica

passando de 4 para 1 Tambeacutem vinculou o valor da renuacutencia de receita do

orccedilamento da Uniatildeo a ato puacuteblico do poder executivo resolvendo o problema do

compartilhamento de recurso entre cultura e esporte para o ano de 2007 (BRASIL

2006e)

Esta medida provisoacuteria foi convertida na Lei Nordm 11472 de 2 de maio de

2007 alterando o texto legal da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) Durante o tracircmite de conversatildeo ainda foi acrescentado o Art 13-C o

qual exigia do Ministeacuterio do Esporte a apresentaccedilatildeo de relatoacuterio detalhado sobre a

aplicaccedilatildeo do recurso de isenccedilatildeo fiscal ao Congresso Nacional Esta foi uma maneira

encontrada para gerar controle legislativo ao recurso do esporte que fazia uma clara

opccedilatildeo pelo financiamento puacuteblico mas por uma via fora do orccedilamento direto da

Uniatildeo No dia 3 de agosto de 2007 o poder executivo publicou o Decreto Nordm 6180

regulamentando o funcionamento do mecenato esportivo que no mesmo ano jaacute teve

os primeiros projetos apoiados

Percebemos que depois do surgimento de interesse do poder executivo

em criar o mecenato esportivo como atendimento agrave expectativa do setor para a 2ordf

Conferecircncia Nacional de Esporte o tracircmite ateacute sua efetivaccedilatildeo foi relativamente

raacutepido Entretanto a experiecircncia dos anos de operacionalizaccedilatildeo do mecenato

cultural com a Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) e Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991)

associada agraves discussotildees da Lei Mendes Thame (Lei Nordm 77521989) quase natildeo foi

incorporada agrave elaboraccedilatildeo da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) Desta forma problemas de concentraccedilatildeo de recurso jaacute anunciados na

poliacutetica cultural tendem a se reproduzir na aacuterea do esporte

Por outro lado grande parte do debate no poder legislativo se concentrou

em aspectos teacutecnicos de viabilizaccedilatildeo do mecanismo enquanto o conteuacutedo sobre a

missatildeo e objetivo da legislaccedilatildeo acabou perdendo relevacircncia Este cenaacuterio vai

impactar na ausecircncia de diretriz para o financiamento puacuteblico do esporte de maneira

similar ao que aconteceu com a poliacutetica cultural quando foi extinto o Comitecirc

Assessor

76

Por isso nos capiacutetulos seguintes passaremos a explorar a legislaccedilatildeo do

mecenato esportivo e o seu resultado atentando para a atribuiccedilatildeo do esporte como

elemento social da cidadania brasileira

77

4 LEI FEDERAL DE INCENTIVO AO ESPORTE DA TEORIA DA NORMA AOS NUacuteMEROS DA PRAacuteTICA

41 Os passos iniciais

No segundo capiacutetulo resgatamos o trajeto que conduziu a elevaccedilatildeo do

esporte ao status de direito social constitucional e sua posterior estruturaccedilatildeo estatal

para elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica de esporte No terceiro capiacutetulo o foco foi

buscar o contexto de formaccedilatildeo e desenvolvimento da poliacutetica de financiamento da

cultura a qual foi precursora do modelo de mecenato no paiacutes A partir da

compreensatildeo dos significados que envolveram a escolha do mecenato cultural

passamos a verificar a arena de debate que levou a criaccedilatildeo da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

Neste capiacutetulo o objetivo foi investigar a operacionalidade da legislaccedilatildeo

do mecenato esportivo e o seu desdobramento praacutetico no periacuteodo de 2007 a 2014 A

partir de uma visatildeo geral da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) por meio da anaacutelise da lei decreto portaria e Relatoacuterio de Gestatildeo

Interna do Ministeacuterio do Esporte pretendemos ter maior subsiacutedio para no capiacutetulo

seguinte aprofundar na investigaccedilatildeo do mecanismo na localidade de Belo

Horizonte

Cabe ressaltar que o esforccedilo de observaccedilatildeo ampliada do mecenato

esportivo foi necessaacuterio devido agrave incipiente pesquisa acadecircmica sobre o tema

valendo destacar a iniciativa de Matias et al (2015) Seixas (2015) Bernardo et al

(2011) Cavazzani et al (2010) Cabral (2010) Franccedila Juacutenior e Frasson (2010) e

Monteiro (2010)

O Art 1ordm da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

estipula o prazo de vigecircncia da legislaccedilatildeo inicialmente previsto de 2007 a 2015 No

entanto o Ministeacuterio do Esporte entendendo que a legislaccedilatildeo de mecenato

esportivo natildeo havia atingido seu objetivo pleno de promoccedilatildeo do esporte e que a

revogaccedilatildeo traria nova lacuna no seu financiamento enviou ao Congresso Nacional a

Medida Provisoacuteria Nordm 67132 de 19 de marccedilo de 2015 sugerindo alteraccedilatildeo do prazo

32

A Medida Provisoacuteria Nordm 671 de 19 de marccedilo de 2015 foi convertida na Lei Nordm 13155 de 4 de agosto de 2015 tambeacutem conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte Pois aleacutem de prorrogar a vigecircncia da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) tambeacutem

78

A medida provisoacuteria foi acatada e transformada na Lei Nordm 13155 de 4 de agosto de

2015 que estendeu o mecanismo ateacute ano de 2022 (BRASIL 2015b)

Embora exista a percepccedilatildeo do mecenato esportivo natildeo ter alcanccedilado a

plenitude de seu objetivo ndash argumento inclusive reproduzido por um membro do

Ministeacuterio do Esporte durante minha visita agrave Brasiacutelia para a coleta de dados natildeo

localizei documento oficial que expresse formalmente a finalidade da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) Nesse sentido este eacute um dos primeiros

pontos a serem questionados sobre o mecanismo de mecenato esportivo Pois

aparentemente ele tem se apresentado como uma mera alternativa de

financiamento esportivo tomando a via extraorccedilamentaacuteria o que eacute extremamente

limitado para uma poliacutetica puacuteblica de Estado

O Art 1ordm ainda menciona quem satildeo os mecenas ou melhor os potenciais

apoiadores do esporte brasileiro A legislaccedilatildeo escolheu os contribuintes do Imposto

sobre a Renda (IR) sendo autorizado que a pessoa fiacutesica declarante da modalidade

completa possa destinar ateacute 6 do seu imposto devido enquanto a pessoa juriacutedica

optante da modalidade lucro real possa destinar o limite de 1

As demais modalidades de tributaccedilatildeo do Imposto sobre a Renda (IR) natildeo

tiveram permissatildeo de usufruir da isenccedilatildeo fiscal pois a Secretaria da Receita Federal

entende que jaacute aplica uma aliacutequota de desconto sobre o valor do imposto devido

pelo contribuinte Entretanto a alegaccedilatildeo eacute questionaacutevel uma vez que o valor da

isenccedilatildeo fiscal natildeo visa beneficiar o contribuinte mas o elemento da cidadania social

para o qual o recurso eacute destinado Isto eacute o mecenato esportivo gera alternativa de

alocaccedilatildeo do recurso puacuteblico seja por meio do recolhimento do imposto ao Tesouro

Nacional ou pela escolha de um projeto esportivo chancelado pelo Ministeacuterio do

Esporte

Por outro lado a motivaccedilatildeo para a escolha exclusiva da modalidade de

tributaccedilatildeo lucro real pode ser encontrada na tabela de dados da Declaraccedilatildeo do

Imposto sobre a Renda das Pessoas Juriacutedicas disponibilizada pela Secretaria da

Receita Federal Os nuacutemeros mostram que apesar das empresas desta modalidade

representarem apenas 3 do universo empresarial do paiacutes satildeo responsaacuteveis por

estabeleceu princiacutepios de responsabilidade fiscal e gestatildeo transparente nas entidades esportivas de futebol profissional (BRASIL 2015 p1)

79

aproximadamente 78 da arrecadaccedilatildeo do Imposto sobre a Renda (IR) de pessoa

juriacutedica33

Fonte Secretaria da Receita Federal Acesso aos dados no dia 30 de abril de 2016 referente ao ano fiscal de 2013 - elaboraccedilatildeo proacutepria

Situaccedilatildeo similar tambeacutem pode ser observada na Declaraccedilatildeo do Imposto

sobre a Renda de Pessoa Fiacutesica34 quando 42 das pessoas optam pela

modalidade completa embora o percentual represente 67 do imposto devido Vale

fazer a distinccedilatildeo entre o imposto devido e o recolhido na fonte No caso do

mecanismo de mecenato esportivo o contribuinte somente pode apoiar os projetos

com um percentual do valor do imposto ainda devido ao Estado brasileiro pois a

quantia jaacute recolhida natildeo entra no caacutelculo da permissatildeo da isenccedilatildeo fiscal

33

Relatoacuterio de dados setoriais de 2009 a 2013 da Declaraccedilatildeo de Imposto sobre a Renda das Pessoas Juriacutedicas Disponiacutevel em lthttpidgreceitafazendagovbrdadosreceitadataestudos-e-tributarios-e-aduaneirosestudos-e-estatisticasestudos-diversosdados-setoriais-2009-2013pdfgt Acesso em 2 de maio de 2016 34

Os dados para elaboraccedilatildeo do graacutefico foram retirados da ldquoTabela 1 - Resumo das Declaraccedilotildees Por Tipo de Formulaacuteriordquo do banco de dados ldquoGrandes Nuacutemeros DIRPF 2014 ndash Ano-calendaacuterio 2013rdquo Disponiacutevel em lthttpidgreceitafazendagovbrdadosreceitadataestudos-e-tributarios-e-aduaneirosestudos-e-estatisticas11-08-2014-grandes-numeros-dirpfgrandes-numeros-dirpf-capagt Acesso em 2 de maio de 2016

Graacutefico 2 ndash Comparativo entre a quantidade de empresas declarantes do imposto sobre a renda

(IRPJ) e a arrecadaccedilatildeo tributaacutevel apurada no ano fiscal de 2013

80

Fonte Secretaria da Receita Federal Acesso aos dados no dia 30 de abril de 2016 referente ao ano fiscal de 2013 - elaboraccedilatildeo proacutepria

Apesar dos nuacutemeros mostrarem supremacia de arrecadaccedilatildeo do imposto

devido para estas duas modalidades existe um movimento encampado pelas

entidades culturais para a ampliaccedilatildeo dos apoiadores a outras modalidades de

tributaccedilatildeo do Imposto sobre a Renda (IR) A justificativa seria a compreensatildeo de que

o mecanismo de mecenato eacute tambeacutem um instrumento de empoderamento e

participaccedilatildeo social e por isso natildeo poderia haver segregaccedilatildeo dos apoiadores

Diferentemente do mecenato cultural (manifestaccedilotildees do Art 26) o Art 1ordm

da lei apresenta como vedaccedilatildeo o lanccedilamento do apoio como despesa operacional

evitando uma dupla incidecircncia da isenccedilatildeo fiscal e reduccedilatildeo na base de caacutelculo do

imposto devido Aleacutem disso a legislaccedilatildeo natildeo permite apoio de projeto proacuteprio da

empresa ou que seus gestores estejam vinculados direta ou indiretamente

Art 1ordm [] sect 5ordm Consideram-se vinculados ao patrocinador ou ao doador I - a pessoa juriacutedica da qual o patrocinador ou o doador seja titular administrador gerente acionista ou soacutecio na data da operaccedilatildeo ou nos 12 (doze) meses anteriores II - o cocircnjuge os parentes ateacute o terceiro grau inclusive os afins e os dependentes do patrocinador do doador ou dos titulares administradores acionistas ou soacutecios de pessoa juriacutedica vinculada ao patrocinador ou ao doador nos termos do inciso I deste paraacutegrafo III - a pessoa juriacutedica coligada controladora ou controlada ou que tenha como titulares administradores acionistas ou soacutecios alguma das pessoas a que se refere o inciso II deste paraacutegrafo (BRASIL 2006b p1)

Graacutefico 3 ndash Comparativo entre a quantidade de pessoas fiacutesica declarantes do imposto sobre a renda (IRPF) e o imposto devido no momento da entrega da declaraccedilatildeo de rendimento no ano-

calendaacuterio de 2013

81

Mas este tipo de vedaccedilatildeo eacute de difiacutecil controle pois o confronto de

informaccedilatildeo eacute feito pelo nome dos dirigentes da entidade proponente contidos na ata

de posse da diretoria que deve acompanhar o projeto esportivo e o nome do

responsaacutevel da empresa disponiacutevel no Cadastro Nacional de Pessoa Juriacutedica

(CNPJ) da Secretaacuteria da Receita Federal Assim outros dirigentes com poder de

decisatildeo na empresa podem assumir algum viacutenculo com a entidade proponente e

haver benefiacutecio direto na indicaccedilatildeo de projeto

O Art 1ordm ainda destaca que a isenccedilatildeo fiscal proporcionada pela Lei

Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) natildeo exclui ou reduz outros

benefiacutecios fiscais em vigor Desta forma a pessoa fiacutesica estaacute autorizada pelo

Congresso Nacional a utilizar ateacute 8 do seu imposto devido sobre a renda em

mecanismos fiscais de cidadania social podendo mesclar 6 em cultura esporte

direito do idoso eou direto da crianccedila e adolescente mais 1 exclusivo para a aacuterea

da pessoa com deficiecircncia (PRONASPCD35) e outro 1 para a aacuterea da oncologia

(PRONON) Por sua vez a pessoa juriacutedica pode utilizar o somatoacuterio de ateacute 9 do

seu imposto devido observando o limite de cada lei

Tabela 1 ndash Distribuiccedilatildeo do incentivo de isenccedilatildeo fiscal no acircmbito federal

Fundo da Infacircncia e

Adolescecircncia

Fundo do Idoso

Lei Rouanet

Lei do Aacuteudio- Visual

Lei de Incentivo Esporte

PRONON PRONAS

Pessoa Fiacutesica

6 1 1

Pessoa Juriacutedica

1 1 4 1 1 1

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

No Art 2ordm da lei as trecircs manifestaccedilotildees esportivas surgidas na discussatildeo

da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e consolidadas com a Lei Zico (Lei Nordm 86721993)

e Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) satildeo citadas como foco do incentivo fiscal Nesse

sentido mostra que a legislaccedilatildeo tinha um caraacuteter amplo de financiamento ao

esporte situaccedilatildeo oposta a Lei AgneloPiva (Lei Nordm 102642001) que teve como

35

O Programa Nacional de Apoio agrave Atenccedilatildeo Oncoloacutegica (PRONON) e o Programa Nacional de Apoio agrave Atenccedilatildeo da Sauacutede da Pessoa com Deficiecircncia (PRONASPCD) foram instituiacutedos pela Lei Nordm 127152012 e trazem o mecanismo de mecenato para a aacuterea da sauacutede tendo o Ministeacuterio da Sauacutede como oacutergatildeo regulador

82

marca ser uma poliacutetica focal ao esporte de rendimento O Decreto Nordm 61802007

que regulamenta o mecenato esportivo apresenta descritivo das manifestaccedilotildees

suplementando o texto legal da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998)

Art 2ordm [] I - desporto educacional cujo puacuteblico beneficiaacuterio deveraacute ser de alunos regularmente matriculados em instituiccedilatildeo de ensino de qualquer sistema nos termos dos arts 16 a 20 da Lei nordm 9394 de 20 de dezembro de 1996 evitando-se a seletividade e a hipercompetitividade de seus praticantes com a finalidade de alcanccedilar o desenvolvimento integral do indiviacuteduo e a sua formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania e a praacutetica do lazer II - desporto de participaccedilatildeo caracterizado pela praacutetica voluntaacuteria compreendendo as modalidades desportivas com finalidade de contribuir para a integraccedilatildeo dos praticantes na plenitude da vida social na promoccedilatildeo da sauacutede e educaccedilatildeo e na preservaccedilatildeo do meio ambiente e III - desporto de rendimento praticado segundo regras nacionais e internacionais com a finalidade de obter resultados integrar pessoas e comunidades do Paiacutes e estas com as de outras naccedilotildees (BRASIL 2007a p1)

Neste ponto sobre as manifestaccedilotildees esportivas eacute interessante chamar a

atenccedilatildeo para a recente alteraccedilatildeo no decreto que regulamenta a Lei Peleacute (Lei Nordm

96151998) o Decreto Nordm 7984 de 8 de abril de 2013 que trouxe como novidade

uma subdivisatildeo da manifestaccedilatildeo esporte educacional conforme previa Tubino

(2001)

sect 1ordm O desporto educacional pode constituir-se em I - esporte educacional ou esporte formaccedilatildeo com atividades em estabelecimentos escolares e natildeo escolares referenciado em princiacutepios socioeducativos como inclusatildeo participaccedilatildeo cooperaccedilatildeo promoccedilatildeo agrave sauacutede co-educaccedilatildeo e responsabilidade e II - esporte escolar praticado pelos estudantes com talento esportivo no ambiente escolar visando agrave formaccedilatildeo cidadatilde referenciado nos princiacutepios do desenvolvimento esportivo e do desenvolvimento do espiacuterito esportivo podendo contribuir para ampliar as potencialidades para a praacutetica do esporte de rendimento e promoccedilatildeo da sauacutede (BRASIL 2013a p1 ndash grifo nosso)

A subdivisatildeo permitiu a inclusatildeo de princiacutepios competitivos e de alto

rendimento para dentro do ambiente escolar sugerindo uma expansatildeo da

manifestaccedilatildeo rendimento e um retorno ao padratildeo atleacutetico de praacutetica esportiva A

aplicaccedilatildeo desta subdivisatildeo na Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) pode mascarar accedilotildees de esporte de rendimento pela via escolar

dentro da manifestaccedilatildeo educacional gerando imprecisatildeo na anaacutelise da distribuiccedilatildeo

do recurso para a aacuterea estritamente educacional

83

Meses depois da publicaccedilatildeo do decreto foi aprovada no Congresso

Nacional a Lei Nordm 12868 de 15 de outubro de 2013 que aumentou o regramento

ao financiamento puacuteblico para projetos da manifestaccedilatildeo rendimento com a inclusatildeo

do Art 18 - A na Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) (BRASIL 2013b) Este aumento na

dificuldade para o acesso ao recurso de projetos de esporte de rendimento pode

corroborar para a migraccedilatildeo de accedilotildees para a subdivisatildeo de esporte escolar

principalmente na praacutetica esportiva de categoria de base agravando o problema da

distinccedilatildeo na distribuiccedilatildeo do recurso entre manifestaccedilotildees

Contudo a nova legislaccedilatildeo foi uma tentativa do Estado brasileiro de

aumentar o controle e fiscalizaccedilatildeo sobre o recurso puacuteblico repassado de forma

extraorccedilamentaacuteria agraves entidades representativas do esporte Cabe ressaltar que a

norma natildeo feria a autonomia de funcionamento das entidades esportivas

conquistada na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 pois estava atrelada ao repasse de

recurso puacuteblico Isto eacute a entidade esportiva que natildeo tivesse receita puacuteblica natildeo tinha

a obrigatoriedade de realizar adequaccedilatildeo estatutaacuteria

Art 18-A [] I - seu presidente ou dirigente maacuteximo tenham o mandato de ateacute 4 (quatro) anos permitida 1 (uma) uacutenica reconduccedilatildeo [] VII - estabeleccedilam em seus estatutos a) princiacutepios definidores de gestatildeo democraacutetica b) instrumentos de controle social c) transparecircncia da gestatildeo da movimentaccedilatildeo de recursos d) fiscalizaccedilatildeo interna e) alternacircncia no exerciacutecio dos cargos de direccedilatildeo f) aprovaccedilatildeo das prestaccedilotildees de contas anuais por conselho de direccedilatildeo precedida por parecer do conselho fiscal g) participaccedilatildeo de atletas nos colegiados de direccedilatildeo e na eleiccedilatildeo para os cargos da entidade e VIII - garantam a todos os associados e filiados acesso irrestrito aos documentos e informaccedilotildees relativos agrave prestaccedilatildeo de contas bem como agravequeles relacionados agrave gestatildeo da respectiva entidade de administraccedilatildeo do desporto os quais deveratildeo ser publicados na iacutentegra no siacutetio eletrocircnico desta (BRASIL 2013b p1)

A mudanccedila teve impacto direto nos projetos de rendimento apresentados

na Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) No dia 15 de abril de

2014 apoacutes a anaacutelise e emissatildeo do parecer Nordm 1042014 da Consultoria Juriacutedica do

Ministeacuterio do Esporte (CONJURME) os projetos em anaacutelise no mecenato esportivo

foram paralisados para o envio de diligecircncia para adequaccedilatildeo documental (BRASIL

2014a) Mas somente no dia 18 de setembro a Portaria Ministerial Nordm 224

84

estabeleceu procedimentos para verificaccedilatildeo do cumprimento das exigecircncias do Art

18-A da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) e a anaacutelise dos projetos de rendimento foi

normalizada (BRASIL 2014b)

Art 3ordm [] III - prever em seu estatuto social a) instrumentos de controle social b) transparecircncia na gestatildeo da movimentaccedilatildeo de recursos e de fiscalizaccedilatildeo interna c) a garantia de existecircncia e autonomia de seu conselho fiscal d) a aprovaccedilatildeo das prestaccedilotildees de contas anuais por conselho de direccedilatildeo precedida por parecer do conselho fiscal e) a garantia de acesso irrestrito a todos os associados e filiados aos documentos e informaccedilotildees relativos agrave prestaccedilatildeo de contas bem como agravequeles relacionados agrave gestatildeo da respectiva entidade de administraccedilatildeo do desporto os quais deveratildeo ser publicados na iacutentegra no siacutetio eletrocircnico desta f) a garantia de representaccedilatildeo da categoria de atletas 1) no acircmbito dos oacutergatildeos e conselhos teacutecnicos incumbidos da aprovaccedilatildeo de regulamentos das competiccedilotildees por elas eventualmente organizadas 2) nos colegiados de direccedilatildeo e na eleiccedilatildeo para os cargos da entidade g) a alternacircncia no exerciacutecio dos cargos de direccedilatildeo sem prejuiacutezo da limitaccedilatildeo da duraccedilatildeo do mandato de seu presidente ou dirigente maacuteximo a 4 (quatro) anos permitida 1 (uma) uacutenica reconduccedilatildeo h) a vedaccedilatildeo agrave eleiccedilatildeo do cocircnjuge e parentes consanguiacuteneos ou afins ateacute o 2ordm (segundo) grau ou por afinidade do presidente ou dirigente maacuteximo da entidade e i) a determinaccedilatildeo para aplicaccedilatildeo integral de seus recursos na manutenccedilatildeo e desenvolvimento dos seus objetivos sociais (BRASIL 2014b p89)

Aleacutem da conduta expressa no estatuto social a Portaria Ministerial Nordm

2242014 tambeacutem solicitou vaacuterias declaraccedilotildees por parte do representante legal da

entidade esportiva com a finalidade de garantir a idoneidade institucional Cabe

mencionar que a declaraccedilatildeo de informaccedilotildees falsas poderia acarretar em crime penal

ao representante legal o que natildeo deixaria de ser uma maneira de controle e puniccedilatildeo

ao mau uso do patrimocircnio puacuteblico

Outra recente mudanccedila nas manifestaccedilotildees esportivas foi gerada pela

aprovaccedilatildeo da Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte (Lei nordm 131552015) a

mesma que alterou o prazo de vigecircncia do mecenato esportivo A legislaccedilatildeo

acrescentou uma quarta manifestaccedilatildeo na Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) exclusiva

para a qualificaccedilatildeo profissional e produccedilatildeo de conhecimento na aacuterea do esporte

(BRASIL 2015b) Esta alteraccedilatildeo ainda natildeo foi absorvida na legislaccedilatildeo da Lei

Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) muito embora pudesse ser

contemplada em uma visatildeo ampliada de atividade do esporte educacional

85

Art 3ordm []

IV - desporto de formaccedilatildeo caracterizado pelo fomento e aquisiccedilatildeo inicial dos conhecimentos desportivos que garantam competecircncia teacutecnica na intervenccedilatildeo desportiva com o objetivo de promover o aperfeiccediloamento qualitativo e quantitativo da praacutetica desportiva em termos recreativos competitivos ou de alta competiccedilatildeo (BRASIL 2015b p1 ndash grifo nosso)

Fonte Inspirado em BRASIL (1998a p1) BRASIL (2013a p1) BRASIL (2015b p1) ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Retornando a discussatildeo especiacutefica do texto legal da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) o Art 2ordm trata da vedaccedilatildeo de

remuneraccedilatildeo a atletas profissionais O Decreto Nordm 61802007 complementa o artigo

trazendo a interpretaccedilatildeo de remuneraccedilatildeo dos Arts 457 e 458 da Consolidaccedilatildeo das

Leis Trabalhistas ndash CLT (Decreto-Lei Nordm 54521943) os quais englobam

remuneraccedilatildeo como o salaacuterio em dinheiro o abono de feacuterias o deacutecimo terceiro

salaacuterio as gratificaccedilotildees os precircmios e mais qualquer tipo de benefiacutecio que integre

por forccedila de contrato ou de costume a relaccedilatildeo da entidade esportiva com o atleta

profissional (BRASIL 2007b BRASIL 1943)

Um ponto de extrema confusatildeo no paiacutes eacute quanto a caracterizaccedilatildeo do que

seria esporte profissional A Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) indica como esporte de

rendimento organizado ou praticado de modo profissional aquele ldquocaracterizado pela

remuneraccedilatildeo pactuada em contrato formal de trabalho entre o atleta e a entidade de

praacutetica desportivardquo Enquanto o esporte natildeo profissional eacute ldquoidentificado pela

Esporte Educacional ou

Formaccedilatildeo

Esporte Escolar

Manifestaccedilotildees Esportivas

Esporte Educacional

Esporte de Participaccedilatildeo

Esporte de Rendimento

Esporte de Formaccedilatildeo

Figura 2 ndash Diagrama atualizado das manifestaccedilotildees esportivas no acircmbito federal

86

liberdade de praacutetica e pela inexistecircncia de contrato de trabalho sendo permitido o

recebimento de incentivos materiais e de patrociacuteniordquo (BRASIL 1998a p1)

Nesse sentido o pagamento financeiro ao atleta natildeo profissional nos

projetos de esporte de rendimento na Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) aconteceria pela formalizaccedilatildeo de contrato devido Agrave necessidade

documental para a prestaccedilatildeo de contas O contrato poderia evidenciar um possiacutevel

viacutenculo de atleta e se converter na vedaccedilatildeo trazida pela legislaccedilatildeo Por isso o

Ministeacuterio do Esporte passou a adotar a nomenclatura ldquobolsardquo com caraacuteter

indenizatoacuterio (ressarcimento de despesas) e natildeo mais remuneratoacuterio para o

pagamento de atleta natildeo profissional Esta tipologia de subsiacutedio ao atleta natildeo

profissional foi inclusive legitimada pelo paraacutegrafo uacutenico inciso III Art 4ordm do

Decreto Nordm 79842013

Art 4ordm [] Paraacutegrafo uacutenico Consideram-se incentivos materiais na forma disposta no inciso II do caput entre outros I - benefiacutecios ou auxiacutelios financeiros concedidos a atletas na forma de bolsa de aprendizagem prevista no sect 4ordm do art 29 da Lei nordm 9615 de 1998 II - Bolsa-Atleta prevista na Lei nordm 10891 de 9 de julho de 2004 III - bolsa paga a atleta por meio de recursos dos incentivos previstos na Lei nordm 11438 de 29 de dezembro de 2006 ressalvado o disposto em seu art 2ordm sect 2ordm e IV - benefiacutecios ou auxiacutelios financeiros similares previstos em normas editadas pelos demais entes federativos (BRASIL 2013a p1 ndash grifo nosso)

No entanto o Decreto Nordm 61802007 natildeo parou na normatizaccedilatildeo da

proibiccedilatildeo de remuneraccedilatildeo ao atleta profissional e estendeu o veto agrave equipe e

competiccedilatildeo profissional

Art 5ordm []

sect 2ordm Eacute vedada ainda a utilizaccedilatildeo dos recursos de que trata o caput para o pagamento de quaisquer despesas relativas agrave manutenccedilatildeo e organizaccedilatildeo de equipes desportivas ou paradesportivas profissionais de alto rendimento nos termos do inciso I do paraacutegrafo uacutenico do art 3ordm da Lei Nordm 9615 de 1998 ou de competiccedilotildees profissionais nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 26 daquela Lei (BRASIL 2007b p3 ndash grifo nosso)

A Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) define no Art 26 a competiccedilatildeo

profissional como ldquoaquela promovida para obter renda e disputada por atletas

profissionais cuja remuneraccedilatildeo decorra de contrato de trabalho desportivordquo (BRASIL

1998a p1) Se a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) restringe

87

apenas a remuneraccedilatildeo logo estariam autorizados projetos de competiccedilatildeo desde

que o pagamento dos atletas profissionais fosse oriundo de outra fonte

O caso de equipe profissional carece de uma definiccedilatildeo legal poreacutem

poderiacuteamos recorrer a processo anaacutelogo ou seja o mecenato esportivo permitiria o

pagamento da comissatildeo teacutecnica (teacutecnico preparador fiacutesico fisioterapeuta etc)

desde que a remuneraccedilatildeo do atleta profissional natildeo estivesse vinculada ao projeto

Os dois casos podem sugerir ato de ilegalidade uma vez que o decreto

estaacute extrapolando o texto da lei Por outro lado aparentemente marca um

posicionamento do Ministeacuterio do Esporte em privilegiar accedilotildees da manifestaccedilatildeo

educacional e de participaccedilatildeo haja vista que a manifestaccedilatildeo rendimento possui a

Lei AgneloPiva (Lei Nordm 102642001) para financiamento exclusivo

Fonte inspirado em BRASIL (1998a p1) ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

O Art 3ordm da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

apresenta a distinccedilatildeo entre os termos patrociacutenio e doaccedilatildeo O primeiro envolve a

aplicaccedilatildeo financeira com finalidade promocional e de publicidade do apoiador

enquanto o segundo tem um caraacuteter filantroacutepico e isento de intencionalidade O

decreto que regulamenta a legislaccedilatildeo em nada acrescenta sobre as definiccedilotildees

Apesar da distinccedilatildeo as duas modalidades permitem 100 de deduccedilatildeo

fiscal Os termos satildeo vestiacutegios da discussatildeo da legislaccedilatildeo no Congresso Nacional

quando inicialmente o patrociacutenio permitiria deduzir apenas 75 do valor apoiado e

Atleta profissional

Competiccedilatildeo Profissional

Conceito possui contrato formal de trabalho com a entidade de praacutetica esportiva

Equipe Profissional

Legislaccedilatildeo Art 3ordm sect1ordm inciso I da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998)

Conceito formada por atletas profissionais

Legislaccedilatildeo natildeo possui definiccedilatildeo legal

Conceito disputada por atleta profissional eou com o objetivo de obter renda renda Legislaccedilatildeo Art 26 paraacutegrafo uacutenico Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998)

Figura 3 ndash Diagrama da cadeia produtiva do esporte profissional

88

os 25 restantes seriam de capital privado atraiacutedo para a aacuterea do esporte (BRASIL

2006c)

Independente da similaridade funcional uma segunda vertente questiona

a viabilidade dos termos pela transposiccedilatildeo da semacircntica de caraacuteter privado para o

espaccedilo puacuteblico O patrociacutenio seria o ato de colocar recurso particular em um objeto

que possa dar retorno em publicidade ou agregar valor simboacutelico a uma marca

enquanto a doaccedilatildeo seria a transferecircncia de recurso particular a outra pessoa sem

nenhuma vantagem direta ou indireta Mas como o valor do apoio (patrociacutenio ou

doaccedilatildeo) pode ser integralmente deduzido estamos lidando com aplicaccedilatildeo de

recurso puacuteblico indireto e natildeo particular Neste contexto o termo mais indicado seria

destinaccedilatildeo de recurso pois cabe ao apoiador escolher a alocaccedilatildeo do imposto entre

projeto esportivo chancelado pelo Ministeacuterio do Esporte ou Tesouro Nacional

A ausecircncia de recurso privado no mecanismo coloca em suspeita as

chances de criaccedilatildeo da figura do mecenas esportivo No entanto a manutenccedilatildeo do

termo mecenato esportivo para o formato de poliacutetica de financiamento se torna

importante para natildeo perder de vista que a finalidade inicial do diaacutelogo com o setor

privado era agregar mais recurso ao setor esportivo e natildeo apenas transferir a

tomada de decisatildeo de alocaccedilatildeo puacuteblica para o particular

O Art 3ordm da lei ainda demarca que a ldquopessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou

de direito privado com fins natildeo econocircmicos [sem fins lucrativos] de natureza

esportivardquo pode ser proponente de accedilotildees na Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei

Nordm 114382006) (BRASIL 2006b p1) Entidades esportivas e secretarias

municipais e estaduais de esporte disputariam o mesmo recurso Poreacutem em tese

um oacutergatildeo puacuteblico teria maior poder de ldquobarganhardquo visto que tem acesso a

informaccedilotildees fiscais privilegiadas do setor privado em sua aacuterea de abrangecircncia

A princiacutepio poderia parecer uma competiccedilatildeo desleal principalmente pela

incipiente profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas Mas ao verificar os dados do

Relatoacuterio de Gestatildeo Interna da Lei Federal de Incentivo ao Esporte de 201436

notamos que o sucesso na captaccedilatildeo de recurso das organizaccedilotildees de direito puacuteblico

eacute baixa apenas 1 do montante total captado em 2014

36

Para apuraccedilatildeo da tipologia da proponente o Ministeacuterio do Esporte adota a classificaccedilatildeo do nome fantasia ou razatildeo social da entidade esportiva Todavia esta classificaccedilatildeo pode gerar erros aos distinguir ONG associaccedilatildeo e demais tipologias sendo que todas possuem a personalidade juriacutedica de associaccedilatildeo Neste sentido foi reorganizado levando em consideraccedilatildeo a natureza juriacutedica e a similaridade de funccedilatildeo social

89

Outra questatildeo quanto agrave natureza da proponente estaacute na impossibilidade

do proacuteprio atleta apresentar um projeto Para se ter ideia na proporccedilatildeo do atleta

individual na cadeia esportiva das 42 modalidades previstas para acontecer nos

Jogos Oliacutempicos do Rio de Janeiro37 31 delas satildeo disputas individuais Aleacutem disso

se a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) foi baseada na

experiecircncia do mecenato cultural que permite a participaccedilatildeo do artista individual e

produtor cultural por que natildeo permitir a participaccedilatildeo do atleta individual Parte da

resposta estaacute na dificuldade do Estado brasileiro em penalizar a pessoa fiacutesica por

mau uso do recurso puacuteblico

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizados em 27 de marccedilo de 2015 ndash adaptado

O Art 4ordm da lei menciona a criaccedilatildeo da Comissatildeo Teacutecnica oacutergatildeo colegiado

ligado ao Ministeacuterio do Esporte e responsaacutevel pela aprovaccedilatildeo dos projetos

esportivos A comissatildeo eacute formada por membros governamentais designados pelo

proacuteprio ministro e representantes do setor esportivo indicados pelo Conselho

Nacional de Esporte (CNE) O Decreto Nordm 61802007 suplementa sobre distribuiccedilatildeo

das vagas da comissatildeo

37

Disponiacutevel em ltwwwrio2016comgt

Graacutefico 4 ndash Distribuiccedilatildeo da captaccedilatildeo de recurso financeiro pela tipologia de proponente na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2014

90

Art 7ordm - A Comissatildeo Teacutecnica seraacute composta por seis membros da seguinte forma I - trecircs representantes governamentais indicados pelo Ministro de Estado do Esporte e II - trecircs representantes dos setores desportivo e paradesportivo indicados pelo Conselho Nacional do Esporte (BRASIL 2007b p3)

De acordo com o decreto o presidente da comissatildeo seraacute um dos trecircs

representantes do poder puacuteblico e teraacute como responsabilidade dirigir as reuniotildees

ordinaacuterias que tecircm acontecido mensalmente em Brasiacutelia e por convocar a reuniatildeo

extraordinaacuteria quando julgar necessaacuterio O cargo de presidente daacute direito ao voto de

qualidade no caso de empate das votaccedilotildees Tradicionalmente o diretor do

Departamento de Incentivo e Fomento ao Esporte (DIFE) oacutergatildeo ligado a Secretaria-

Executiva do Ministeacuterio do Esporte tem sido indicado como presidente da Comissatildeo

Teacutecnica embora natildeo exista regra expliacutecita sobre a situaccedilatildeo (BRASIL 2007b)

No caso da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) o Ministeacuterio da Cultura tem

optado por realizar uma reuniatildeo ordinaacuteria da comissatildeo de aprovaccedilatildeo de projetos em

Brasiacutelia e uma subsequente em alguma capital do paiacutes Esta foi uma estrateacutegia

adotada pela pasta da cultura para a divulgaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo do mecanismo de

mecenato cultural Medida itinerante similar poderia ser adotada pelo Ministeacuterio do

Esporte para dar maior visibilidade ao mecenato esportivo principalmente pelo

problema de concentraccedilatildeo de projetos e recurso na regiatildeo Sudeste do paiacutes

Outra medida bastante interessante e de baixo custo de democratizaccedilatildeo

tem sido adotada pela Secretaria do Esporte Lazer e Juventude do Estado de Satildeo

Paulo O oacutergatildeo tem gravado as reuniotildees da ldquoComissatildeo de Analises e Aprovaccedilatildeo de

Projetosrdquo da Lei Paulista de Incentivo ao Esporte e disponibilizado no seu canal

institucional no YouTube38 Aleacutem de dar mais transparecircncia ao processo de

discussatildeo e aprovaccedilatildeo de projetos a utilizaccedilatildeo da ferramenta digital permite que

mais pessoas tenham acesso agrave reuniatildeo jaacute que atualmente as vagas satildeo limitadas

agrave capacidade fiacutesica da sala de reuniatildeo Este tipo de recurso tecnoloacutegico tambeacutem

permite que as proponentes se manifestem mesmo que a posteriori sobre as

discussotildees realizadas pela comissatildeo haja vista que na reuniatildeo presencial natildeo eacute

permitida a participaccedilatildeo ativa

38

Canal do YouTube da Secretaria do Esporte Lazer e Juventude do Estado de Satildeo Paulo onde eacute possiacutevel assistir as gravaccedilotildees das reuniotildees da ldquoComissatildeo de Analises e Aprovaccedilatildeo de Projetosrdquo da Lei Paulista de Incentivo ao Esporte Disponiacutevel em lthttpswwwyoutubecomplaylistlist=PLNqAR3y4NKpDAdQoQfdRvpv4YSmaUSvslgt

91

42 Elaboraccedilatildeo da proposta esportiva

A partir do Art 5ordm da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) abordaremos o processo de cadastro e apresentaccedilatildeo de projetos

Grande parte do procedimento estaacute contida no Decreto Nordm 61802007 e Portaria

Ministerial Nordm 1202009

O primeiro passo trazido pelo decreto se refere ao cadastro das entidades

esportivas junto ao Ministeacuterio do Esporte para acesso ao sistema da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte Este procedimento eacute feito no proacuteprio site do Ministeacuterio do

Esporte com o preenchimento do formulaacuterio on-line39 com dados da entidade

esportiva e de seu representante legal Ao final do cadastro eacute gerado um nuacutemero de

usuaacuterio e senha para acesso ao sistema

Embora a etapa seja bastante simples ela tem sido foco de vaacuterias

criacuteticas porque natildeo eacute necessaacuterio envio de nenhuma documentaccedilatildeo comprobatoacuteria

Todavia todo projeto precisa ter anexado em sua parte documental ldquocoacutepias

autenticadas do CNPJ do estatuto e das respectivas alteraccedilotildees da ata da

assembleia que empossou a atual diretoria do Cadastro de Pessoa Fiacutesica - CPF e

do documento Registro Geral - RG dos diretores ou responsaacuteveis legaisrdquo conforme

consta no inciso II Art 9ordm do Decreto Nordm 61802007 (BRASIL 2007b p4-5)

Cada entidade esportiva pode apresentar ateacute seis projetos por ano40

Como cada proposta tem que ser acompanhada de documentos institucionais

autenticados gera-se um gasto excessivo com cartoacuterio de nota e ofiacutecio e uma

duplicidade de documentos institucionais da proponente Aleacutem disso o tracircmite

interno do Ministeacuterio do Esporte ateacute a anaacutelise dos projetos pela equipe teacutecnica tem

sido bastante demorado Esta morosidade ocasiona o vencimento de alguns

documentos e por meio de diligecircncia documental precisam ser reenviados

autenticados para habilitar a anaacutelise de meacuterito da proposta

39

Link para cadastro no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm114382006) disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrindexphpinstitucionalsecretaria-executivalei-de-incentivo-ao-esportecadastro-de-proponentegt 40

O limite de apresentaccedilatildeo de projetos por ano consta no Art 22ordm do Decreto Nordm 61802007 e no Art 8ordm da Portaria Nordm 1202009

92

Fonte Ministeacuterio do Esporte 2016

Figura 4 ndash Formulaacuterio digital de cadastro da proponente para acesso ao sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

93

Uma alternativa processual mais eficiente seria solicitar essa

documentaccedilatildeo durante o cadastro da proponente para acesso ao sistema de

mecenato esportivo A documentaccedilatildeo recebida pelo Ministeacuterio do Esporte

organizaria um grande banco de dados sobre as entidades esportivas auxiliando

inclusive na elaboraccedilatildeo futura de um diagnoacutestico sobre o perfil das entidades

esportivas participantes da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006)

A atualizaccedilatildeo dos dados ficaria a cargo do representante legal da

proponente e com isso a documentaccedilatildeo institucional seria enviada uma uacutenica vez

Em outras palavras a documentaccedilatildeo estaria vinculada ao cadastro da entidade

esportiva e natildeo mais diretamente ao projeto Procedimento similar foi adotado pela

Secretaria de Estado de Esporte de Minas Gerais para a gestatildeo da sua lei de

incentivo fiscal41

A fim de facilitar a compreensatildeo sobre os procedimentos que cercam o

tracircmite da Lei Federal de Incentivo ao Esporte foi elaborado o diagrama a seguir

41

Na lei de incentivo ao esporte de Minas Gerais (Minas Esportiva Incentivo ao Esporte) a Secretaria de Estado de Esporte (SEESP) adotou o Cadastro Geral de Convenentes (CAGEC) como a plataforma ativa de conferecircncia das informaccedilotildees das entidades esportivas Assim as entidades proponentes manteacutem suas informaccedilotildees documentais e fiscais ativas nesta plataforma uacutenica do Estado de Minas Gerais

94

Figura 5 ndash Diagrama de fluxo da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

Fonte Inspirado em BRASIL (2006b p1) BRASIL (2007b p1) BRASIL (2009a p1) ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Cadastro da proponente no

sistema

Cadastro do projeto no sistema

Protocolo do projeto no Ministeacuterio do

Esporte

Preacute-anaacutelise

Anaacutelise Teacutecnica

Comissatildeo Teacutecnica

Libera o acesso da proponente ao sistema da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte

Cadastro do projeto esportivo no formulaacuterio digital da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte

Finalizado o cadastro digital deve-se imprimir uma versatildeo do projeto e enviar ao Ministeacuterio do Esporte

A aacuterea teacutecnica do Ministeacuterio do Esporte analisa a parte

documental da proponente

A aacuterea teacutecnica ou perito parecerista analisa o meacuterito da

proposta emitindo parecer

Baseado no parecer o relator aprova ou rejeita a proposta

Captaccedilatildeo de Recurso

O projeto aprovado eacute publicado no DOU e autorizado a buscar

recurso no mercado

Execuccedilatildeo do Projeto

A proponente assina o Termo de Compromisso para iniciar a

execuccedilatildeo do projeto

Prestaccedilatildeo de Contas

A proponente envia os documentos comprobatoacuterios da

execuccedilatildeo do projeto

O descumprimento documental gera rejeiccedilatildeo

automaacutetica do projeto

Pode ser enviada diligecircncia solicitando complementaccedilatildeo

de informaccedilatildeo

O relator pode pedir mais informaccedilotildees ou na rejeiccedilatildeo a proponente entrar recurso

A proponente pode solicitar prorrogaccedilatildeo de prazo por

uma uacutenica vez

Captou no miacutenimo 20 do valor - readequa a proposta

para comeccedilar a executar

A proponente natildeo presta conta passa pela Tomada

de Contas Especial do TCU

Caso Positivo do Projeto Caso Negativo do Projeto Descriccedilatildeo da Etapa

1

2

3

4

5

6

7

8

9

95

Apoacutes o cadastro no sistema o passo seguinte indicado no Decreto Nordm

61802007 refere-se agraves informaccedilotildees necessaacuterias para a apresentaccedilatildeo de um

projeto esportivo Todos os itens exigidos constam no Art 9ordm e iremos dividi-los em

elemento Documental Orccedilamentaacuterio e Teacutecnico-operativo levando em consideraccedilatildeo

a tipologia do conteuacutedo e a forma de organizaccedilatildeo dos processos pelo Ministeacuterio do

Esporte (BRASIL 2007b p4-5)

Fonte inspirado em BRASIL (2007b p4-5) ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

A parte documental satildeo os documentos da instituiccedilatildeo e do seu

responsaacutevel legal - os mesmos que haacute pouco argumentaacutevamos que natildeo deveriam

acompanhar o projeto mas um cadastro uacutenico das entidades esportivas Ressalta-se

que assim que os projetos esportivos chegam ao Ministeacuterio do Esporte passam por

uma triagem para verificaccedilatildeo desta documentaccedilatildeo etapa chamada de preacute-anaacutelise A

falta de algum documento ou de sua autenticaccedilatildeo em cartoacuterio impede a avaliaccedilatildeo do

projeto levando a rejeiccedilatildeo por natildeo cumprimento do Art 9ordm do Decreto Nordm

61802007

O graacutefico a seguir elaborado a partir dos dados do Relatoacuterio de Gestatildeo

Interna da Lei Federal de Incentivo ao Esporte de 2014 e extrato da Nota

Presidencial de 2016 mostra como eacute restritiva a etapa documental para o processo

de funcionamento do mecanismo

Figura 6 ndash Elementos necessaacuterios para a apresentaccedilatildeo de projeto esportivo agrave Lei Federal de

Incentivo ao Esporte conforme Art 9ordm do Decreto Nordm 61802007 e respectiva fase de anaacutelise

96

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizados em 11 de marccedilo de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Notamos que 340 (3374) dos projetos satildeo rejeitados sem a anaacutelise do

meacuterito da proposta Ou seja os nuacutemeros reforccedilam a proposiccedilatildeo de alteraccedilatildeo do

procedimento documental para o momento do cadastro da proponente pois

atualmente tem gerado um trabalho adicional ao Ministeacuterio do Esporte (anaacutelise e

rejeiccedilatildeo documental na etapa de preacute-anaacutelise) o que podemos considerar como uma

forma ampliada de desperdiacutecio de recurso puacuteblico Por outro lado tambeacutem natildeo

podemos descartar a necessidade do Ministeacuterio do Esporte promover capacitaccedilotildees

agraves entidades esportivas para minimizar a incidecircncia das rejeiccedilotildees

Jaacute o elemento orccedilamentaacuterio estaacute relacionado ao balizamento dos preccedilos

dos itens solicitados para a execuccedilatildeo do projeto

Art 9ordm []

IV - orccedilamento analiacutetico e comprovaccedilatildeo de que os preccedilos orccedilados satildeo compatiacuteveis com os praticados no mercado ou enquadrados nos paracircmetros estabelecidos pelo Ministeacuterio do Esporte (BRASIL 2007b p5)

O paraacutegrafo uacutenico do Art 5ordm da Portaria Ministerial Nordm 1202009

estabelece que o limite de preccedilo de cada despesa natildeo pode ser superior agrave meacutedia

aritmeacutetica do valor apresentado nos trecircs orccedilamentos (BRASIL 2009a) Por isso na

Graacutefico 5 ndash Situaccedilatildeo dos projetos esportivos apresentados agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporte durante o

periacuteodo de 2007 a 2014

97

etapa de preacute-anaacutelise eacute feito um relatoacuterio42 com todas as despesas suas respectivas

cotaccedilotildees de preccedilo e valor da meacutedia aritmeacutetica para auxiliar na anaacutelise teacutecnica e

emissatildeo do parecer conclusivo

A falta de algum item orccedilamentaacuterio natildeo gera a rejeiccedilatildeo imediata do

projeto Nesta situaccedilatildeo a entidade esportiva seraacute notificada por meio de diligecircncia

teacutecnica sobre a necessidade de apresentaccedilatildeo de orccedilamento ou explicar o motivo da

ausecircncia dos trecircs orccedilamentos Uma das possibilidades de natildeo apresentaccedilatildeo de

todos os orccedilamentos eacute o caso de fornecedor uacutenico (ex taxas de federaccedilotildees

encargos sociais e trabalhistas etc) assim sendo autorizado o envio de orccedilamento

exclusivo com a devida justificativa

Cabe salientar que a anaacutelise orccedilamentaacuteria foi um dos pontos destacados

como fraacutegeis no ldquoRelatoacuterio de Auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeordquo agrave Lei

Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

Em todos os projetos da amostra verificou-se a realizaccedilatildeo de anaacutelise de custos baseada unicamente nos orccedilamentos enviados pelos proponentes natildeo havendo afericcedilatildeo por parte do Ministeacuterio da adequaccedilatildeo dos preccedilos a partir de outras fontes bem como da possibilidade de aquisiccedilatildeo de itens semelhantes de custo mais baixo (BRASIL 2013c p9-10)

A escolha da amostra de orccedilamento pode influenciar no distanciamento

entre o valor solicitado e o preccedilo real praticado pelo mercado principalmente porque

o Ministeacuterio do Esporte natildeo possui um sistema de conferecircncia da compatibilidade

dos preccedilos No entanto a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

funciona em uma plataforma digital onde todas as proponentes tecircm que cadastrar

as propostas e o valor de compra dos materiais Bastaria um ajuste operacional para

transformar a plataforma em um enorme banco de dados de preccedilo

Sabendo que alteraccedilotildees na plataforma digital demandam tempo e

dispecircndio financeiro no curto prazo seria interessante que o Ministeacuterio do Esporte

selecionasse sites confiaacuteveis de pesquisa de preccedilo para o balizamento dos produtos

esportivos Cabe ressaltar que praacutetica similar jaacute tem sido adotada pela aacuterea teacutecnica

para consultar o salaacuterio dos profissionais contratados nos projetos

42

Na parte de anexos desta pesquisa encontra-se acostado um modelo do ldquoRelatoacuterio de Preacute-anaacuteliserdquo o qual eacute utilizado como lista de checagem documental e relatoacuterio consolidado de preccedilos dos materiais solicitados

98

Independente da estrateacutegia adotada pelo Ministeacuterio do Esporte eacute de

suma importacircncia dar maior celeridade ao processo de anaacutelise dos projetos

Atualmente um projeto pode tramitar anos no Ministeacuterio do Esporte ateacute a emissatildeo

do parecer final Desta forma o preccedilo apresentado pode natildeo corresponder agrave

realidade do mercado indiferentemente de ter sido compatibilizado ou natildeo

Inclusive esta pode ser uma explicaccedilatildeo para as proponentes apresentarem

orccedilamento acima do valor de mercado como foi destacado no mesmo relatoacuterio de

auditoria (BRASIL 2013c)

O uacuteltimo elemento do projeto eacute sua fundamentaccedilatildeo na accedilatildeo esportiva

propriamente dita aleacutem dos documentos que comprovem a viabilidade teacutecnica e

operacional da proponente

Art 9ordm [] III - descriccedilatildeo do projeto contendo justificativa objetivos cronograma de execuccedilatildeo fiacutesica e financeira estrateacutegias de accedilatildeo metas qualitativas e quantitativas e plano de aplicaccedilatildeo dos recursos [] V - comprovaccedilatildeo da capacidade teacutecnico-operativa do proponente [] VII - nos casos de construccedilatildeo ou reforma de imoacutevel comprovaccedilatildeo de pleno exerciacutecio dos poderes inerentes agrave propriedade do respectivo imoacutevel ou da posse conforme dispuser o Ministeacuterio do Esporte (BRASIL 2007b p4-5)

A descriccedilatildeo do projeto conforme preconiza o inciso III Art 9ordm do Decreto

Nordm 61802007 eacute preenchida em formulaacuterio digital no sistema da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte Neste formulaacuterio temos

1 Identificaccedilatildeo Titulo do projeto Objeto Locais de Execuccedilatildeo Manifestaccedilatildeo esportiva Beneficiaacuterios (quantitativo e faixa-etaacuteria) dentre outros

2 Descriccedilatildeo dos Objetivos Objetivo (Geral e Especifico) e Metodologia

3 Justificativa

4 Metas Metas Qualitativas e Quantitativas

5 Orccedilamento Atividade fim e Atividade meio

6 Accedilotildees Atividade fim e Atividade meio

7 ANEXOS Fases de Execuccedilatildeo com Cronograma de atividades Quadro de horaacuterio das aulas e dos profissionais Calendaacuterio de eventos eou competiccedilotildees Comprovaccedilatildeo de Capacidade Teacutecnica e Termo de Cessatildeo de Uso do Espaccedilo Esportivo ou Registro de Posse do Imoacutevel

99

Fonte Ministeacuterio do Esporte 2016

Cada um dos campos de fundamentaccedilatildeo do projeto possui um cabeccedilalho

explicativo e em seguida o espaccedilo para a proponente descrever a informaccedilatildeo

Entretanto as questotildees norteadoras satildeo bastante amplas e natildeo contribuem para a

proponente inexperiente formatar um texto de qualidade Assim seria interessante a

subdivisatildeo destes campos e a inclusatildeo de mais perguntas norteadoras No campo

Metodologia por exemplo caberiam questotildees como Descriccedilatildeo de Puacuteblico-alvo

Criteacuterio de seleccedilatildeo dos beneficiaacuterios Descriccedilatildeo das condiccedilotildees de acessibilidade

Organizaccedilatildeo das atividadesaulastreinamentos dentre vaacuterias outras

Por outro lado a carecircncia argumentativa e de conteuacutedo observada nos

projetos analisados nesta pesquisa tambeacutem refletem uma incipiente

profissionalizaccedilatildeo do setor esportivo Desta forma o mecanismo de mecenato

Figura 7 ndash Formulaacuterio digital de identificaccedilatildeo do projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

100

esportivo pode contribuir para a profissionalizaccedilatildeo da aacuterea por meio da exigecircncia de

um planejamento formal da accedilatildeo esportiva O acircmbito profissionalizante deveria ser

encarado como uma das possiacuteveis missotildees da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

(Lei Nordm 1143811) poreacutem existe uma tendecircncia por consideraacute-la como uma simples

poliacutetica de financiamento ao esporte - distribuiccedilatildeo de recurso puacuteblico

Figura 8 ndash Formulaacuterio digital de descriccedilatildeo do ObjetoMetodologia do projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Continua)

101

Fonte Ministeacuterio do Esporte 2016

O sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte tambeacutem exige que a

proponente inclua no miacutenimo trecircs anexos na etapa de elaboraccedilatildeo da proposta para

habilitar a opccedilatildeo ldquosalvarrdquo Mas natildeo existe disponiacutevel no site do Ministeacuterio do Esporte

modelo ou padratildeo destes documentos (Fase de execuccedilatildeo Grade Horaacuteria Quadro

Horaacuterio dos profissionais Calendaacuterio de Evento Criteacuterio de Seleccedilatildeo de Beneficiaacuterio

Atividade Complementar) Fica a cargo de cada proponente criar seu formulaacuterio

anexo e mais uma vez a qualidade das informaccedilotildees pode ficar comprometida ou

dificultar a anaacutelise teacutecnica

Fonte Ministeacuterio do Esporte 2016

Figura 9 ndash Inclusatildeo de anexo ao projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

102

Vale destacar que no site do Ministeacuterio do Esporte existe uma seacuterie de

manuais instruccedilotildees declaraccedilotildees e modelos de formulaacuterios43 As uacutenicas exceccedilotildees

satildeo os documentos necessaacuterios como anexo na etapa de elaboraccedilatildeo da proposta

esportiva Ou seja ocorreu uma preocupaccedilatildeo elevada do Ministeacuterio do Esporte nas

demais fases do mecenato esportivo mas a etapa de planejamento da accedilatildeo sendo

parcialmente negligenciada

Com relaccedilatildeo agrave capacidade teacutecnica da proponente a Portaria Ministerial

Nordm 1202009 acrescenta dois paraacutegrafos admitindo a comprovaccedilatildeo por meio de

portfoacutelio e fotos das atividades jaacute desenvolvidas pela entidade esportiva ou pelo

curriacuteculo dos profissionais que estaratildeo diretamente envolvidos no projeto esportivo

(BRASIL 2009a)

Art 6ordm [] sect 1ordm A capacidade teacutecnico-operativa de que trata o caput poderaacute ser comprovada por meio de informaccedilotildees anexas ao projeto apresentado que esclareccedilam as caracteriacutesticas propriedades e habilidades do proponente dos membros ou de terceiros associados envolvidos diretamente na execuccedilatildeo do projeto apresentado sect 2ordm A comprovaccedilatildeo da capacidade teacutecnico-operativa de que trata o caput poderaacute ser validamente aceita desde que o objeto a ser executado no projeto desportivo ou paradesportivo apresentado seja proacuteprio das atividades regulares e habituais desenvolvidas pelo proponente (BRASIL 2009a p2)

A cobranccedila para a proponente apresentar relatoacuterio curriacuteculo de

profissionais e documentos das atividades realizadas visa minimizar o risco do poder

puacuteblico na aplicaccedilatildeo do recurso financeiro Entretanto como a proacutepria proponente eacute

responsaacutevel pela organizaccedilatildeo destas informaccedilotildees existe possibilidade de

sobrestimar a sua capacidade operacional Logo esta eacute uma exigecircncia fraacutegil para a

comprovaccedilatildeo operativa da entidade esportiva

Se assumirmos que uma das possibilidades (ou objetivos) do mecenato

esportivo eacute a qualificaccedilatildeo da cadeia produtiva do esporte e natildeo apenas fomento as

suas praacuteticas o estimulo do Art 6ordm da Portaria Ministerial Nordm 1202009 para a

proponente organizar seus feitos e realizaccedilotildees eacute extremamente beneacutefico O

documento deixa de ter um caraacuteter uacutenico e exigiacutevel de comprovaccedilatildeo de capacidade

para ser uma atividade inicial no processo de profissionalizaccedilatildeo da entidade

43

Na margem esquerda do site do Ministeacuterio do Esporte que trata sobre a Lei Federal de Incentivo ao Esporte possui o link para vaacuterios documentos modelos do mecenato esportivo Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrindexphpinstitucionalsecretaria-executivalei-de-incentivo-ao-esportegt

103

esportiva Isto eacute um miacutenimo necessaacuterio para a proponente mostrar sua capacidade

de administrar o recurso puacuteblico na execuccedilatildeo da sua atividade finaliacutestica

Nas duas interpretaccedilotildees levantadas para o artigo de comprovaccedilatildeo de

capacidade teacutecnico-operativa eacute de extrema relevacircncia que o Ministeacuterio do Esporte

realize a fiscalizaccedilatildeo in loco para resguardar o interesse puacuteblico no recurso

investido No caso de foco da poliacutetica como mero instrumento de financiamento a

fiscalizaccedilatildeo objetiva controlar os desvios de funccedilatildeo e a apropriaccedilatildeo privada do

recurso Por sua vez o foco na profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas visa

garantir que o recurso siga o cronograma de accedilatildeo e crie materialidade da sua

execuccedilatildeo

No entanto a fiscalizaccedilatildeo in loco eacute um dos ldquogargalosrdquo do controle da Lei

Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) O ldquoRelatoacuterio de Auditoria do

Tribunal de Contas da Uniatildeordquo mostrou que no final de 2009 o Ministeacuterio do Esporte

nunca havia feito fiscalizaccedilatildeo presencial aos projetos em execuccedilatildeo Passados cinco

anos da auditoria o extrato da Nota Presidencial de 201644 informou que em 2015

foram iniciados 499 novos projetos poreacutem feito visita a apenas 36 (72) ou seja

um nuacutemero ainda pequeno de fiscalizaccedilatildeo (BRASIL 2013c)

O Decreto Nordm 61802007 autoriza que 15 do recurso dos projetos

possa ser utilizado na atividade meio ou seja accedilotildees administrativas ou

complementares necessaacuterias para o desenvolvimento do projeto mas que natildeo

possuam viacutenculo direto com o objeto esportivo45 Tambeacutem existe permissatildeo para a

inclusatildeo das despesas de encargos sociais e trabalhistas dos funcionaacuterios ligados

diretamente ao projeto (BRASIL 2007a)

Para esta uacuteltima permissatildeo a proponente tem que deixar expresso no

projeto a escolha pela modalidade de trabalho (empregado ou autocircnomo) e ainda

descriminar os tributos que seratildeo recolhidos O tema trabalhista eacute recorrente fonte

de problema nas propostas tanto que satildeo comuns as diligecircncias teacutecnicas solicitando

esclarecimento sobre a forma de contrataccedilatildeo ndash empregado seguindo as normas da

44

Devido a natildeo divulgaccedilatildeo do desempenho da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) em 2015 ateacute o fechamento da pesquisa parte das informaccedilotildees foram extraiacutedas da Nota enviada pelo Ministeacuterio do Esporte agrave Presidente da Repuacuteblica 45

Geralmente a atividade meio eacute composta por serviccedilos de terceiros tais como assessoria contaacutebil juriacutedica administrativa consultoria de lei de incentivo fiscal ou profissionais contratados via projeto para executar estas mesmas funccedilotildees Tambeacutem pode compor a atividade meio serviccedilos de limpeza manutenccedilatildeo e outros que mesmo tendo maior proximidade com a atividade fim natildeo satildeo consideradas essenciais para a execuccedilatildeo do objeto esportivo

104

Consolidaccedilatildeo da Legislaccedilatildeo Trabalhista (CLT) e incidindo os encargos sociais e

trabalhistas (FGTS INSS PIS 13ordm salaacuterio feacuterias abono feacuterias rescisatildeo de trabalho

etc) ou como autocircnomo seguindo contrato de prestaccedilatildeo de serviccedilo e os encargos

sociais (INSS)

Vale lembrar que qualquer trabalho desempenhado por pessoa fiacutesica em

que haja pessoalidade subordinaccedilatildeo juriacutedica onerosidade natildeo eventualidade

(habitualidade) eou exclusividade de fonte pagadora configura relaccedilatildeo de

emprego46 regida pela CLT Por sua vez o trabalho de profissional autocircnomo eacute

caracterizado pela liberdade da pessoa fiacutesica no desenvolvimento do serviccedilo para o

qual foi contratado de forma eventual (BRASIL 1943)

O consentimento no pagamento dos encargos sociais e trabalhistas com

recurso da isenccedilatildeo fiscal e a orientaccedilatildeo do Ministeacuterio do Esporte via diligecircncia

teacutecnica pode ser avaliado como uma iniciativa para a profissionalizaccedilatildeo e

formalizaccedilatildeo do setor esportivo Esta eacute uma accedilatildeo importante visto que o mercado de

trabalho no esporte eacute marcado pela informalidade (SEBRAE 2013) Por outro lado

este quadro reforccedila o potencial profissionalizante do mecanismo de mecenato

esportivo o qual deve ser mais bem explorado

O decreto estabelece como vedaccedilatildeo a contrataccedilatildeo de um terceiro para

executar o projeto o que caracterizaria a intermediaccedilatildeo de atividade Este ato eacute

tipificado pela transferecircncia da responsabilidade do objeto de pactuaccedilatildeo com o

Ministeacuterio do Esporte para uma pessoa fiacutesica ou juriacutedica diferente da proponente

Mas da mesma maneira como acontece no mecenato cultural a contrataccedilatildeo de

pessoa fiacutesica ou juriacutedica responsaacutevel por auxiliar na elaboraccedilatildeo do projeto e realizar

a captaccedilatildeo de recurso financeiro natildeo eacute designada como intermediaccedilatildeo Desta forma

existe um mercado paralelo de serviccedilo especializado nos mecanismos de leis de

incentivo fiscal atuando em todas as etapas do processo ndash elaboraccedilatildeo de proposta

captaccedilatildeo de recurso e prestaccedilatildeo de contas (BRASIL 2007b)

46

O Art 3ordm do Decreto-Lei Nordm 5452 de 1ordm de maio de 1943 denominado Consolidaccedilatildeo das Leis Trabalhistas (CLT) define os elementos da formalizaccedilatildeo do vinculo empregatiacutecio Satildeo 1) Pessoalidade - o trabalhador deve ser pessoa fiacutesica que assume em caraacuteter intransferiacutevel a prestaccedilatildeo continuada do serviccedilo 2) Subordinaccedilatildeo ndash o trabalhador estaacute subordinado hierarquicamente agraves ordens do empregador como determinaccedilatildeo do lugar da forma do modo e do tempo (dia e hora) da execuccedilatildeo do trabalho 3) Onerosidade - eacute a contraprestaccedilatildeo (remuneraccedilatildeo) devida ao trabalhador pelos serviccedilos prestados 4) Habitualidade - a continuidade na prestaccedilatildeo de serviccedilo independente da periodicidade ou seja um trabalho natildeo eventual 5) Exclusividade - o trabalhador possui como uacutenica fonte de renda o serviccedilo prestado a um empregador exclusivo mantendo uma relaccedilatildeo de dependecircncia

105

O pagamento deste tipo de serviccedilo pode ser incluiacutedo como uma despesa

da proposta esportiva O seu custo eacute calculado como um percentual do valor total do

projeto com aliacutequota maacutexima vinculada a manifestaccedilatildeo esportiva (5 para esporte

de rendimento 7 para esporte de participaccedilatildeo e 10 para esporte educacional) ou

ateacute o teto bruto de R$ 10000000 por proposta (BRASIL 2009a) Ressalta-se que a

proacutepria proponente natildeo pode se remunerar por este tipo de serviccedilo pois

obrigatoriamente tem que ser uma pessoa externa

Este lobby autorizado pelo Estado brasileiro apesar de ampliar as

chances de efetivaccedilatildeo dos projetos devido ao relacionamento das entidades

especializadas com os grandes apoiadores tende a fortalecer o viacutenculo mercantilista

da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) Neste escopo as

accedilotildees esportivas tomam forma de produto a ser comercializado no mercado de

responsabilidade social e fortalecimento de marca O interesse comercial dos

potenciais apoiadores passa a influenciar diretamente o conteuacutedo e sucesso das

propostas esportivas deixando a necessidade e demanda das entidades esportivas

em segundo plano

Outra vedaccedilatildeo apresentada pelo decreto eacute quanto agrave aquisiccedilatildeo de espaccedilo

publicitaacuterio em qualquer meio de comunicaccedilatildeo com o recurso da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) A cobranccedila de valor pecuniaacuterio (dinheiro)

dos beneficiaacuterios de projetos de praacutetica esportiva continuada como as ldquoescolinhas

esportivasrdquo por exemplo tambeacutem apresentam restriccedilatildeo normativa No entanto o

Ministeacuterio do Esporte tem aceitado a cobranccedila de taxa de inscriccedilatildeo mensalidade

eou ingresso no caso de eventos esportivos por natildeo ter o caraacuteter de accedilatildeo

permanente Mas tem estipulando valores acessiacuteveis uma vez que a finalidade do

recurso incentivado eacute democratizar o acesso ao esporte (BRASIL 2007b)

O recurso arrecadado pela proponente com a execuccedilatildeo do projeto

esportivo deve ser utilizado em accedilotildees da proacutepria proposta inclusive a estimativa de

receita deve ser indicada no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

106

Fonte Ministeacuterio do Esporte 2016

A arrecadaccedilatildeo dos projetos de isenccedilatildeo fiscal eacute tema polecircmico Um

primeiro ponto trata da dificuldade em apurar a quantidade real de beneficiaacuterios em

eventos de esporte principalmente da manifestaccedilatildeo participaccedilatildeo o que pode gerar

uma subestimaccedilatildeo entre a arrecadaccedilatildeo declarada e a realizada (receita real) A

variabilidade na quantidade de beneficiaacuterios durante o planejamento somada a falta

de uma fiscalizaccedilatildeo in loco possibilita a apropriaccedilatildeo indevida da receita gerada pelo

projeto por parte da proponente

Como alternativa ao distanciamento do poder puacuteblico na execuccedilatildeo dos

projetos o Ministeacuterio da Sauacutede por exemplo exigiu como requisito obrigatoacuterio no

seu mecanismo de isenccedilatildeo fiscal (PRONON e PRONASPCD) a existecircncia de uma

auditoria independente inserida como despesa do proacuteprio projeto Estrateacutegia similar

poderia ser adotada pelo Ministeacuterio do Esporte para aumentar o controle da receita e

despesa realizada pelos projetos esportivos Aleacutem disso seria uma maneira de

minimizar erros operacionais da proponente e ser um tipo de primeiro filtro para a

Figura 10 ndash Formulaacuterio digital de Receita Prevista dos projetos esportivos no sistema da Lei

Federal de Incentivo ao Esporte

107

prestaccedilatildeo de contas diminuindo (ou facilitando) o trabalho do setor responsaacutevel pela

anaacutelise das contas no Ministeacuterio do Esporte

O segundo ponto de controversa tem a ver com o potencial comercial de

alguns eventos esportivos incentivados pelo mecenato esportivo Grandes circuitos

de corrida de rua por exemplo tidos como autossustentaacuteveis eou que jaacute tinham

realizado outras ediccedilotildees passaram a se beneficiar do recurso da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) com a motivaccedilatildeo de democratizaccedilatildeo do

acesso A questatildeo foi discutida pelo Tribunal de Contas da Uniatildeo com

argumentaccedilatildeo de vedaccedilatildeo sustentada pelo inciso II do Art 24 do Decreto

61802007 (BRASIL 2013c)

Art 24 Eacute vedada a concessatildeo de incentivo a projeto desportivo [] II - em que haja comprovada capacidade de atrair investimentos independente dos incentivos de que trata este Decreto (BRASIL 2007b p7)

Para os membros do Ministeacuterio do Esporte questionados no ldquoRelatoacuterio de

Auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeordquo existe dificuldade de rejeiccedilatildeo das

propostas esportivas porque a comprovada capacidade de atrair investimento seria

materializada com o patrociacutenio formalizado em conta bancaacuteria ou em outros fatos e

documentos concretos Caso contraacuterio seria meramente especulativa a capacidade

do projeto ou proponente de atrair patrociacutenio (BRASIL 2013c)

O Tribunal de Contas da Uniatildeo concordou com a falta de criteacuterios

objetivos para definir a ldquocapacidade de atrair investimentosrdquo poreacutem sugeriu ao

Ministeacuterio do Esporte que levasse em consideraccedilatildeo o contexto e cenaacuterio das

propostas Assim paracircmetros como o apelo comercial da proposta o puacuteblico que

visa atingir e se jaacute teve versatildeo anterior custeado com recurso natildeo incentivado

deveriam ser observados Aleacutem disso orientou

[] a Comissatildeo Teacutecnica natildeo deve esperar que a comprovaccedilatildeo da capacidade de atrair investimento dependa unicamente da declaraccedilatildeo dada pelo proponente sobre a existecircncia de outros patrocinadores em formulaacuterio exigido na inscriccedilatildeo Aliaacutes a anaacutelise do projeto como um todo natildeo deve se apoiar apenas nas informaccedilotildees trazidas pelo proponente mesmo que a Lei em seus arts 10 e 11 disponha sobre sua penalizaccedilatildeo em caso de agir com dolo fraude ou simulaccedilatildeo (BRASIL 2013c p33)

108

A discussatildeo mostra a deficiecircncia nos objetivos do mecanismo de

mecenato esportivo o qual se apresentando como mera poliacutetica de financiamento

permite que qualquer proposta que atenda ao vago preceito normativo seja alvo de

incentivo puacuteblico Desta forma a democratizaccedilatildeo do acesso ao direito social ao

esporte e a promoccedilatildeo das manifestaccedilotildees educacional e de participaccedilatildeo prioridades

constitucionais satildeo fragilizadas diante da falta de diretriz

Nesta situaccedilatildeo tambeacutem observamos uma tendecircncia de transferecircncia do

custeio de accedilotildees esportivas jaacute existentes para o poder puacuteblico Tanto que o relatoacuterio

de auditoria apresenta o incocircmodo do Tribunal de Contas da Uniatildeo sobre a

capacidade do mecanismo de mecenato esportivo de iniciar uma relaccedilatildeo comercial

entre entidade esportiva e setor privado uma vez que ldquoapoacutes a entrada em vigecircncia

da Lei 114382006 muitas empresas optaram pelo financiamento de projetos

esportivos somente mediante o incentivo fiscalrdquo (BRASIL 2013c p37)

Entatildeo fica a duacutevida sobre a existecircncia de um ldquorecurso novordquo de caraacuteter

privado incentivando o objeto esportivo ou se eacute apenas um aumento no montante

puacuteblico para a aacuterea Esta eacute uma indagaccedilatildeo fundamental para mensurar o resultado

da poliacutetica puacuteblica que optou pela escolha de financiamento extraorccedilamentaacuterio ndash

isenccedilatildeo fiscal ndash com o intuito de criar um viacutenculo comercial entre entidade esportiva

e setor privado ou seja a figura do mecenas esportivo

Ainda na temaacutetica do conteuacutedo teacutecnico-operativo da proposta esportiva o

Decreto Nordm 61802007 determina que 50 dos beneficiaacuterios de projetos da

manifestaccedilatildeo educacional devem estar ldquoregularmente matriculados no sistema

puacuteblico de ensinordquo Por sua vez todos os projetos incentivados com recurso de

isenccedilatildeo fiscal independente de manifestaccedilatildeo esportiva devem ldquoproporcionar

condiccedilotildees de acessibilidade a pessoas idosas e com deficiecircnciardquo (BRASIL 2007b

p7)

A Portaria Ministerial Nordm 1202009 natildeo agregou nenhuma normativa a

temaacutetica da acessibilidade por isso as propostas esportivas tem se limitado a citar

que o espaccedilo fiacutesico atende a prerrogativa do Art 16 do Decreto Nordm 61802007

Art 16 - Nos projetos desportivos e paradesportivos desenvolvidos com recursos oriundos dos incentivos previstos no art 1ordm deveratildeo constar accedilotildees com vistas a proporcionar condiccedilotildees de acessibilidade a pessoas idosas e portadoras de deficiecircncia (BRASIL 2007b p7 ndash grifo nosso)

109

Mais uma vez o Ministeacuterio do Esporte se baseia apenas na informaccedilatildeo

fornecida pela proponente sem um relatoacuterio fotograacutefico descritivo detalhado ou

parecer de profissional especializado (engenheiro ou arquiteto) para atestar que o

local do projeto possui infraestrutura com condiccedilotildees de acessibilidade Aleacutem disso a

norma de acessibilidade eacute ampla (deficiecircncia visual auditiva locomoccedilatildeo etc) e natildeo

ficam claras as medidas estruturais que foram tomadas pelas proponentes para o

cumprimento da exigecircncia do Art 16

O ldquoRelatoacuterio de Auditoria Operacional do Tribunal de Contas da Uniatildeo

Acessibilidade nos oacutergatildeos puacuteblicos federais47rdquo demonstra que mesmo existindo

dotaccedilatildeo orccedilamentaacuteria e orientaccedilatildeo para adaptaccedilatildeo agrave acessibilidade em obras de

reforma ampliaccedilatildeo ou construccedilatildeo na administraccedilatildeo puacuteblica federal direta e indireta

ainda haacute um grande deacuteficit no atendimento da universalizaccedilatildeo da acessibilidade

(BRASIL 2012) No entanto realidade diferente parece ser encontrada na aacuterea do

esporte pois a maioria das proponentes declara atender mesmo que

genericamente as condiccedilotildees estruturais de acessibilidade

Por outro lado tambeacutem chama atenccedilatildeo a restriccedilatildeo do termo

acessibilidade a adaptaccedilotildees exclusivamente estruturais e arquitetocircnicas por parte

das proponentes pois o Art 16 do Decreto Nordm 61802007 menciona ldquoaccedilotildeesrdquo com

vista agrave acessibilidade (BRASIL 2007b) Ou seja o desenvolvimento de uma turma

exclusiva para pessoa com deficiecircncia ou idosa reserva de ingressos em evento

esportivo dentre uma variedade de outras accedilotildees pode gerar uma condiccedilatildeo de

acessibilidade mais efetiva a este grupo de necessidades especiais

Para induzir a efetividade desta poliacutetica inclusiva nas propostas esportivas

da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) o Ministeacuterio do Esporte

poderia acrescentar no formulaacuterio digital um campo de descriccedilatildeo das accedilotildees a serem

desenvolvidas pela proponente Como exemplo temos a medida adotada na Lei

Municipal de Incentivo agrave Cultura de Belo Horizonte48 Na oportunidade a Fundaccedilatildeo

Municipal de Cultura incluiu no edital de seleccedilatildeo de projetos o criteacuterio acessibilidade

o qual passou a pontuar de 0 a 5 e o resultado integrar o somatoacuterio da nota final da

47

O ldquoRelatoacuterio de Auditoria Operacional do Tribunal de Contas da Uniatildeo Acessibilidade nos oacutergatildeos puacuteblicos federaisrdquo eacute um documento conclusivo sobre o trabalho de apuraccedilatildeo de questionaacuterio eletrocircnico a seis oacutergatildeos e entidades federais (Caixa Correios INSS Ministeacuterio do Trabalho e Emprego Receita Federal e Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo) de atendimento ao cidadatildeo Disponiacutevel em lthttpportaltcugovbrlumisportalfilefileDownloadjspfileId=8A8182A24F0A728E014F0B24E1417E4Bgt 48

Disponiacutevel em lthttpbhfazculturapbhgovbrgt

110

proposta (nota maacutexima de 100 pontos) O formulaacuterio de projeto passou a ter o

campo ldquoproposta de acessibilidaderdquo e o conteuacutedo avaliado pela comissatildeo julgadora

Para encerrar a temaacutetica sobre o grupo de necessidades especiais

destacamos o caraacuteter discriminatoacuterio do formulaacuterio digital da Lei Federal de Incentivo

ao Esporte agrave pessoa com deficiecircncia Na parte de ldquoBreve Descriccedilatildeo do Puacuteblico

Beneficiaacuteriordquo o Ministeacuterio do Esporte adota o criteacuterio faixa-etaacuteria para quantificar o

nuacutemero de atendidos No caso da pessoa com deficiecircncia a faixa etaacuteria eacute ignorada

e tratada como uma categoria a parte Poreacutem accedilotildees esportivas desenvolvidas para

o puacuteblico com deficiecircncia tambeacutem devem variar em relaccedilatildeo agrave faixa-etaacuteria logo

suprimir esta informaccedilatildeo demonstra no miacutenimo desconsideraccedilatildeo com este

segmento populacional

Fonte Ministeacuterio do Esporte 2016

Cabe ressaltar que apesar do formulaacuterio digital exibir as faixas-etaacuterias

como categorias 1) Crianccedilas 2) Adolescentes 3) Adulto e 4) Idosos na versatildeo

impressa do projeto que deve ser enviada ao Ministeacuterio do Esporte estas tambeacutem

apresentam a delimitaccedilatildeo das idades 1) Crianccedilas (0 a 12 anos) 2) Adolescentes

(10 a 18 anos) 3) Adultos (18 a 59 anos) 4) Idosos (a partir de 60 anos) Mas a

correta faixa-etaacuteria da categoria adolescente seria 13 a 17 anos conforme consta no

Art 2ordm do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Nordm 80691990)

43 O tracircmite do projeto esportivo no Ministeacuterio do Esporte

Encerradas as exigecircncias teacutecnico-operativas para a etapa de elaboraccedilatildeo

e lanccedilamento da proposta esportiva no sistema a proponente deve protocolar o

Figura 11 ndash Formulaacuterio de identificaccedilatildeo do puacuteblico beneficiaacuterio do projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

111

projeto junto ao Ministeacuterio do Esporte Isto eacute mesmo com o projeto lanccedilado no

sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte a entidade esportiva ainda precisa

gerar uma coacutepia impressa anexando corretamente todos os documentos e

orccedilamentos e enviar ao Ministeacuterio do Esporte via correspondecircncia com aviso de

recebimento (AR) ou pessoalmente no setor de protocolo

A etapa seguinte descrita pelo Decreto Nordm 61802007 como ldquoAnaacutelise e

Aprovaccedilatildeo dos Projetosrdquo comeccedila com o recebimento do projeto pelo setor de

protocolo do Ministeacuterio do Esporte O setor tem dois dias uacuteteis para registrar um

nuacutemero de processo interno e encaminhar o projeto para a preacute-anaacutelise setor

responsaacutevel pela conferecircncia documental (BRASIL 2007b BRASIL 2009a) Caso a

documentaccedilatildeo esteja de acordo com o Art 9ordm do decreto o projeto segue para a

aacuterea teacutecnica para anaacutelise do meacuterito esportivo Natildeo existe um prazo determinado

entre a preacute-anaacutelise e a anaacutelise teacutecnica sendo que a segunda eacute hoje o maior

ldquogargalordquo do processo pois o Ministeacuterio do Esporte natildeo conta com um nuacutemero

satisfatoacuterio de analistas

Em 2009 o ldquoRelatoacuterio de Auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeordquo

registrou a carecircncia de equipe teacutecnica especializada para anaacutelise dos projetos de

mecenato esportivo (BRASIL 2013c) Naquela eacutepoca os projetos eram avaliados

pela Secretaria Nacional de Esporte Educacional (SNEE) Secretaria Nacional de

Esporte e Lazer (SNEL) e Secretaria Nacional de Esporte de Rendimento (SNER)

dependendo do tipo de manifestaccedilatildeo esportiva apresentada pelo projeto

A partir de 21 de julho de 2011 o Decreto Nordm 7529 reestruturou a parte

administrativa do Ministeacuterio do Esporte e criou o Departamento de Incentivo e

Fomento ao Esporte (BRASIL 2011) O oacutergatildeo ligado agrave Secretaria-executiva do

ministeacuterio passou a contar com equipe proacutepria para o funcionamento da Lei Federal

de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) e dar apoio operacional a Comissatildeo

Teacutecnica conforme previa o sect4ordm inciso III do Art 7ordm do Decreto Nordm 61802007

Apesar da criaccedilatildeo de uma estrutura especiacutefica para a gestatildeo da Lei

Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) a auditoria realizada pela

Controladoria-Geral da Uniatildeo no Ministeacuterio do Esporte em 2013 indicou que o

oacutergatildeo precisaria de um nuacutemero superior de servidores para atender a demanda O

relatoacuterio da auditoria ainda apresentou que 51 do grupo de funcionaacuterios lotados no

oacutergatildeo eram do tipo terceirizado e outros 15 estagiaacuterios demonstrando a

fragilidade institucional para a execuccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica (BRASIL 2014c)

112

Fonte BRASIL (2012 p1) apud por Starepravo et al (2015 p224)

Para tentar agilizar o tracircmite das propostas esportivas e minimizar o

passivo de projetos aguardando anaacutelise de meacuterito em 2 de dezembro de 2013 a

Portaria Ministerial Nordm 295 divulgou 63 nomes de profissionais autocircnomos

habilitados para atuar como perito parecerista no mecenato esportivo (BRASIL

2013d) Estrateacutegia similar jaacute vinha sendo utilizada pelo Ministeacuterio da Cultura para dar

maior celeridade agrave anaacutelise de projetos na Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991)

Em 29 de fevereiro de 2016 a Portaria Ministerial Nordm 50 reafirmou o

modelo de ampliaccedilatildeo do corpo teacutecnico do Ministeacuterio do Esporte com a

habilitaccedilatildeorenovaccedilatildeo de 59 peritos pareceristas (BRASIL 2016b) Todavia o

aumento no apoio operacional do Ministeacuterio do Esporte aconteceu mais uma vez

sem ampliaccedilatildeo na quantidade de servidor puacuteblico o que natildeo sana a debilidade

institucional

Figura 12 ndash Organograma institucional do Ministeacuterio do Esporte a partir da reformulaccedilatildeo do

Decreto Nordm 75292011

113

Cabe frisar que fui habilitado nos dois editais de seleccedilatildeo de perito

parecerista do Ministeacuterio do Esporte (Portaria Ministerial Nordm 2952013 e Nordm 502016)

e por conta disso pude vivenciar parcialmente o tracircmite interno dos projetos na Lei

Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

A fase da anaacutelise teacutecnica do meacuterito da proposta esportiva pode ser feita

pela equipe teacutecnica do Departamento de Incentivo e Fomento do Ministeacuterio do

Esporte (DIFE) ou por perito parecerista mas este uacuteltimo supervisionado por um

servidor puacuteblico que assina junto o parecer conclusivo

A carecircncia de perguntas norteadoras no formulaacuterio digital da Lei Federal

de Incentivo ao Esporte e a incipiente profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas

dificultam a emissatildeo de um parecer conclusivo na primeira anaacutelise da grande maioria

dos projetos Entatildeo eacute comum o envio de diligecircncia teacutecnica a proponente solicitando

esclarecimento e mais informaccedilotildees sobre a proposta Nesta etapa tambeacutem pode ser

solicitado orccedilamentos extras ou explicaccedilotildees sobre a memoacuteria de caacutelculo dos

materiais e serviccedilos contratados ou seja anaacutelise do elemento orccedilamentaacuterio do

projeto

Para exemplificar o desalinhamento entre Ministeacuterio do Esporte e

proponente durante a fase de elaboraccedilatildeo o qual acaba refletindo em solicitaccedilatildeo de

esclarecimentos na etapa subsequente de anaacutelise de meacuterito recorremos a alguns

itens costumeiros nas diligecircncias teacutecnicas Por parte do Ministeacuterio do Esporte existe

uma seacuterie de exigecircncias normativas que a proponente deve atender tais como

informar que usaraacute o selo da Lei Federal de Incentivo ao Esporte e demais

logomarcas oficiais informar as condiccedilotildees de acessibilidade a pessoas idosas e com

deficiecircncia informar se haveraacute alguma fonte de recurso advinda da realizaccedilatildeo do

projeto Se estas questotildees estivessem expliacutecitas no formulaacuterio digital poderia evitar

o trabalho adicional de diligenciar as entidades esportivas Lembrando que o

trabalho adicional realizado por servidor puacuteblico devido agrave falha de processo pode ser

considerado uma forma ampliada de desperdiacutecio de recurso puacuteblico

Por parte das proponentes agraves vezes falta coerecircncia entre objetivos e

metas sendo que algumas metas podem extrapolar a capacidade de intervenccedilatildeo do

projeto Um exemplo eacute ldquodiminuir a evasatildeo escolarrdquo49 Ora os projetos de esporte

49

Todos os trechos entre aspas deste paraacutegrafo foram extraiacutedos de projetos em que realizei anaacutelise como perito parecerista da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) no periacuteodo de 2014 a 2015

114

educacional podem influenciar na retenccedilatildeo dos seus beneficiaacuterios mas o problema

da evasatildeo escolar envolve toda a comunidade escolar e natildeo apenas os atendidos

pela accedilatildeo esportiva Assim eacute necessaacuterio cautela nos objetivos e metas para natildeo

reproduzir de forma simplista o discurso salvacionista enraizado no esporte Outra

meta recorrente foi a ldquomelhora na qualidade de vidardquo Neste caso o termo qualidade

de vida eacute bastante amplo e de cunho subjetivo e individual gerando uma dificuldade

teacutecnica para mensurar o cumprimento desta meta Um terceiro exemplo seria

ldquoImpulsionar o desenvolvimento da induacutestria nacionalrdquo Por mais que a compra de

materiais seja relevante para alguns projetos esportivos uma uacutenica accedilatildeo gerar um

impacto na cadeia produtiva do esporte nacional parece exagero Enfim cabe uma

reflexatildeo sobre a adequaccedilatildeo entre os objetivos e metas e a real viabilidade do

resultado a ser mensurado

Neste contexto os projetos usualmente satildeo insuficientes de informaccedilatildeo

sobre a accedilatildeo esportiva pleiteada ou apresentam problemas teacutecnicos Apoacutes

notificaccedilatildeo da entrega da diligecircncia teacutecnica a proponente passa a ter 15 dias uacuteteis

para manifestar resposta podendo o prazo ser estendido pelo mesmo periacuteodo uma

uacutenica vez (BRASIL 2009a) A falta de resposta agrave diligecircncia dentro do prazo leva a

rejeiccedilatildeo do projeto esportivo conforme consta no Art 26ordm do Decreto Nordm

61802007

Art 26 Nos casos de natildeo-atendimento tempestivo de diligecircncia requerida ao proponente indeferimento do projeto ou do pedido de reconsideraccedilatildeo o projeto seraacute rejeitado e devolvido ao interessado (BRASIL 2007b p7)

Somente apoacutes sanar todas as duacutevidas e problemas eacute possiacutevel a emissatildeo

de um parecer conclusivo O parecer consta de 1) histoacuterico da entidade esportiva

junto ao mecanismo de Lei Federal de Incentivo ao Esporte 2) anaacutelise da viabilidade

teacutecnica do projeto a partir das informaccedilotildees descritivas apresentadas no formulaacuterio e

resposta de diligecircncia teacutecnica 3) anaacutelise orccedilamentaacuteria onde se verifica o

quantitativo e o balizamento de preccedilo dos itens solicitados para operacionalizaccedilatildeo

do projeto 4) comprovaccedilatildeo da capacidade teacutecnico-operativa da proponente e por

fim 5) conclusatildeo final argumentando pela aprovaccedilatildeo aprovaccedilatildeo parcial (exclusatildeo

de alguns itens) ou rejeiccedilatildeo do projeto

Vale ressaltar que o parecer conclusivo tem caraacuteter sugestivo pois a

decisatildeo final eacute realizada pela Comissatildeo Teacutecnica atraveacutes da votaccedilatildeo aberta dos seus

115

seis membros Para nortear o voto dos membros o inciso I do Art 21 do Decreto

Nordm 61802007 sinaliza para um possiacutevel principio democraacutetico (natildeo concentraccedilatildeo)

de escolha de maneira a natildeo levar em consideraccedilatildeo apenas o meacuterito das

propostas

Art 21 Quando da anaacutelise dos projetos apresentados a Comissatildeo Teacutecnica observaraacute os seguintes paracircmetros I - natildeo-concentraccedilatildeo por proponente por modalidade desportiva ou paradesportiva por manifestaccedilatildeo desportiva ou paradesportiva ou por regiotildees geograacuteficas nacionais II - capacidade teacutecnico-operativa do proponente III - atendimento prioritaacuterio a comunidades em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social IV - inexistecircncia de outro patrociacutenio doaccedilatildeo ou benefiacutecio especiacutefico para as accedilotildees inseridas no projeto (BRASIL 2007b p7 ndash grifo nosso)

Fonte Inspirado em BRASIL (2007b p7) ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Contudo os graacuteficos a seguir elaborados a partir do ldquoRelatoacuterio de Gestatildeo

da Lei Federal de Incentivo ao Esporte de 2014rdquo e das ldquoContas Regionais do Brasil

2010-2013rdquo do IBGE50 mostram que existe uma alta concentraccedilatildeo de incentivo fiscal

para o esporte na regiatildeo Sudeste do paiacutes superior inclusive agrave distribuiccedilatildeo

percentual do Produto Interno Bruto (PIB) Ou seja apesar da orientaccedilatildeo pela natildeo

concentraccedilatildeo em regiatildeo geograacutefica nota-se que o mecanismo de mecenato

esportivo tem reproduzido e ateacute mesmo reforccedilado o mapa da desigualdade

econocircmica do paiacutes

50

Disponiacutevel em lthttpbibliotecaibgegovbrvisualizacaolivrosliv94952pdfgt

Paracircmetro Natildeo concentraccedilatildeo

Por proponente

Por modalidade esportiva

Por manifestaccedilatildeo

esportiva

Por regiotildees geograacuteficas

Figura 13 ndash Diagrama de paracircmetro para a escolha e aprovaccedilatildeo dos projetos esportivos na

Lei Federal de Incentivo ao Esporte

116

Fonte IBGE (2013 p12) Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Haacute espaccedilo para contra argumentar que a maior distribuiccedilatildeo do recurso na

regiatildeo Sudeste teria relaccedilatildeo com a concentraccedilatildeo da populaccedilatildeo Poreacutem ao se

verificar a distribuiccedilatildeo territorial da populaccedilatildeo nas regiotildees administrativas do paiacutes

referenciada pelo Censo do IBGE de 201051 natildeo percebemos similaridade entre os

percentuais Logo a orientaccedilatildeo de natildeo concentraccedilatildeo do mecenato esportivo por

regiatildeo geograacutefica natildeo tem sido cumprida pela Comissatildeo Teacutecnica

Fonte IBGE acesso ao SIDRA no dia 4 de marccedilo de 2016 referente a dados de 2013

Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

51

Disponiacutevel em lthttpwwwsidraibgegovbrgt

Graacutefico 6 ndash Comparativo entre a distribuiccedilatildeo do PIB brasileiro e o acumulado da Captaccedilatildeo de

Recurso na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por regiatildeo administrativa do paiacutes

Graacutefico 7 ndash Comparativo entre a distribuiccedilatildeo populacional e o acumulado da Captaccedilatildeo de

Recurso na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por regiatildeo administrativa do paiacutes

117

O ldquoRelatoacuterio de Auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeordquo em 2009 jaacute

alertava o Ministeacuterio do Esporte sobre a concentraccedilatildeo de recurso e projetos na

regiatildeo Sudeste Na eacutepoca o Ministeacuterio do Esporte se retratou justificando a

dificuldade em favorecer as demais regiotildees administrativas do paiacutes uma vez que as

diferenccedilas culturais e econocircmicas historicamente presentes no paiacutes favoreciam uma

maior apresentaccedilatildeo de projetos da regiatildeo Sudeste (BRASIL 2013c)

Ao observar o valor aprovado pelo mecenato esportivo por regiatildeo

administrativa do paiacutes no periacuteodo acumulado de 2007 a 2014 notamos que o

montante autorizado diminuiu para 731 (R$ 309262349300) na regiatildeo Sudeste

quando comparado ao percentual de 789 (R$ 38684513622) calculado em 2009

(BRASIL 2013c p26) Poreacutem a quantia que foi realmente captada e efetivada em

accedilatildeo esportiva mostrou um aumento nocivo na desproporcionalidade regional sendo

823 (R$ 112193248500) destinado agrave regiatildeo Sudeste Ou seja o somatoacuterio do

recurso financeiro captado por todas as demais regiotildees (R$ 24126717300) durante

o acumulado no periacuteodo de 2007 a 2014 foi inferior ao que se aplica no Sudeste

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Desta forma embora o mecanismo de mecenato esportivo tenha levado

um ldquorecurso novordquo para a aacuterea do esporte ele tem sido incapaz de minimizar

desigualdades regionais e levar o direito social ao esporte para locais onde

tradicionalmente o Estado brasileiro tem pequena presenccedila como Norte e Nordeste

(MATIAS et al 2015) Portanto como uma poliacutetica puacuteblica nacional torna-se

Graacutefico 8 ndash Comparativo entre a distribuiccedilatildeo do acumulado de 2007 a 2014 do recurso

autorizado e captado pela Lei Federal de Incentivo por regiatildeo administrativa do paiacutes

118

importante que o Ministeacuterio do Esporte reflita sobre estrateacutegias para pulverizar o

recurso e dar oportunidade agraves entidades esportivas sediadas nas demais regiotildees do

paiacutes

O mecanismo de mecenato cultural da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991)

apresenta limitaccedilatildeo geograacutefica similar poreacutem a legislaccedilatildeo tambeacutem conta com o

Fundo Nacional de Cultura (FNC) que recebe resiacuteduo financeiro de projetos recurso

direto do orccedilamento da Uniatildeo dentre outras fontes52 O Fundo Nacional de Cultura

(FNC) possibilita a abertura de editais direcionados e o investimento em localidades

em que o incentivo fiscal natildeo consegue chegar seja por falta de apoiadores

(empresas tributadas pela modalidade lucro real ou pessoas com declaraccedilatildeo

completa do Imposto sobre a Renda) ou de pouca visibilidade comercial (BRASIL

1991a)

No caso do esporte o inciso I do Art 56 da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998)

prevecirc a criaccedilatildeo do Fundo Desportivo poreacutem ateacute o momento natildeo regulamentado

(BRASIL 1998a) O Fundo Desportivo poderia ser viabilizado inicialmente com os

resiacuteduos financeiros da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

como por exemplo o recurso captado por projetos que natildeo atingiram o patamar

miacutenimo de executabilidade (20 do valor total) ou o rendimento da aplicaccedilatildeo

financeira dos projetos executados Atualmente os resiacuteduos do mecenato esportivo

satildeo recolhidos ao Tesouro Nacional por meio da Guia de Recolhimento da Uniatildeo

(GRU) Neste trabalho natildeo foi possiacutevel mensurar o montante financeiro alusivo a

este resiacuteduo mas trata-se de uma alternativa de direcionamento puacuteblico agrave poliacutetica de

financiamento ao esporte

O mecanismo de incentivo ao esporte de Minas Gerais adotou artifiacutecio

similar para minimizar o impacto da concentraccedilatildeo de recurso e projeto na regiatildeo

metropolitana de Belo Horizonte centro poliacutetico e administrativo do estado A

52

O Art 5ordm da Lei Rouanet define a origem do recurso constituinte do Fundo Nacional de Cultura como sendo 1) Tesouro Nacional 2) doaccedilotildees 3) legados 4) subvenccedilotildees e auxiacutelios de entidades de qualquer natureza inclusive de organismos internacionais 5) saldos natildeo utilizados na execuccedilatildeo dos projetos 6) devoluccedilatildeo de recursos de projetos natildeo iniciados ou interrompidos com ou sem justa causa 7) 1 da arrecadaccedilatildeo dos Fundos de Investimentos Regionais a que se refere a Lei ndeg 8167 de 16 de janeiro de 1991 obedecida na aplicaccedilatildeo a respectiva origem geograacutefica regional 8) 3 da arrecadaccedilatildeo bruta dos concursos de prognoacutesticos e loterias federais deduzindo-se este valor do montante destinados aos precircmios 9) reembolso das operaccedilotildees de empreacutestimo realizadas atraveacutes do fundo a tiacutetulo de financiamento reembolsaacutevel observados criteacuterios de remuneraccedilatildeo que no miacutenimo lhes preserve o valor real 10) resultado das aplicaccedilotildees em tiacutetulos puacuteblicos federais 11) conversatildeo da diacutevida externa com entidades e oacutergatildeos estrangeiros unicamente mediante doaccedilotildees 12) saldos de exerciacutecios anteriores 13) recursos de outras fontes

119

legislaccedilatildeo do Minas Esportiva Incentivo ao Esporte (Lei Estadual Nordm 202842013)

criou uma fonte de arrecadaccedilatildeo para a Secretaria de Estado de Esporte depositada

em um fundo especifico para o esporte estadual Assim 10 do valor total captado

por todos os projetos satildeo recolhidos neste fundo e disponibilizado em editais

especiacuteficos dando oportunidade de financiamento agravequeles projetos com maior

dificuldade de captaccedilatildeo e entidades esportivas sediadas em municiacutepios com menor

Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDHm) (MINAS GERAIS 2013)

Para fins de suposiccedilatildeo se a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) tivesse acolhido estrateacutegia de criaccedilatildeo de fundo esportivo idecircntica a de

Minas Gerais o recolhimento do percentual de 10 do valor captado na regiatildeo

Sudeste (R$ 11219324900) daria um montante superior ao somatoacuterio da quantia

conseguida pelas regiotildees Norte Nordeste e Centro-Oeste (R$ 8875997600) no

acumulado de 2007 a 2014

Todavia a formaccedilatildeo de fundo esportivo com recurso de origem da proacutepria

captaccedilatildeo pode ser beneacutefica para a distribuiccedilatildeo regional mas impacta negativamente

no aumento no valor total do projeto Projetos mais caros podem dificultar ainda mais

a captaccedilatildeo de recursos das pequenas entidades esportivas e daquelas propostas

com baixo potencial comercial Ademais as entidades esportivas passam a ser

captadoras de recurso para a pasta do esporte (fundo puacuteblico do esporte)

recolhendo tributo pela via extraorccedilamentaacuteria quando na verdade o debate do

fomento e alocaccedilatildeo do recurso puacuteblico deveria estar abrigado no debate de

formaccedilatildeo do orccedilamento puacuteblico

Uma segunda orientaccedilatildeo do Decreto Nordm 61802007 para a aprovaccedilatildeo

de projetos pela Comissatildeo Teacutecnica eacute a natildeo concentraccedilatildeo por manifestaccedilatildeo esportiva

(BRASIL 2007b) No entanto mais uma vez os dados do ldquoRelatoacuterio Gerencial da

Lei federal de Incentivo ao Esporte de 2014rdquo Nota Presidencial de 2016 e do

ldquoRelatoacuterio de Auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeordquo demonstram uma disfunccedilatildeo

no funcionamento do mecanismo de mecenato esportivo (BRASIL 2015c BRASIL

2013c)

120

Graacutefico 9 ndash Distribuiccedilatildeo do recurso autorizado e captado pelos projetos esportivos da Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizados em 27 de marccedilo de 2013

Apesar de uma suposta priorizaccedilatildeo do mecanismo de isenccedilatildeo fiscal ao

esporte educacional e de participaccedilatildeo por conta da vedaccedilatildeo do Art 5ordm do Decreto

Nordm 61802007 ao pagamento de remuneraccedilatildeo a atleta profissional o impedimento

foi incapaz de restringir a supremacia na apresentaccedilatildeo dos projetos de esporte de

rendimento

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 11 de marccedilo de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Graacutefico 10 ndash Distribuiccedilatildeo da quantidade dos projetos esportivos apresentados na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

121

Nota-se que o ano de 2007 foi o de menor participaccedilatildeo percentual dos

projetos na manifestaccedilatildeo rendimento com 410 do total apresentado Enquanto o

ano de 2009 exibiu a maior proporccedilatildeo com 528 do montante de projetos A meacutedia

geral da proporccedilatildeo de projetos apresentados na manifestaccedilatildeo rendimento foi de

498 calculada pelo acumulado de 2007 a 2015 das propostas apresentadas por

esta manifestaccedilatildeo (5702) e o total geral de projetos do mecanismo (11459)

A concentraccedilatildeo de projetos e recurso financeiro na manifestaccedilatildeo

rendimento eacute justificada pelo Ministeacuterio do Esporte como fruto do histoacuterico cultural do

paiacutes que tem no atleta e no esporte competitivo oportuno meio de transmissatildeo de

valores morais para a construccedilatildeo da sociedade (BRASIL 2013c)

Aliado agrave questatildeo cultural ainda devemos considerar que a

obrigatoriedade de profissionalizaccedilatildeo esportiva existe apenas para o futebol e para o

peatildeo de rodeio segundo consta no Art 94 da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) e Lei Nordm

102202001 respectivamente (BRASIL 1998a BRASIL 2001c) Nas demais

modalidades do esporte a profissionalizaccedilatildeo tem um caraacuteter facultativo e por conta

disso pode permitir o acesso das tradicionais entidades de rendimento ao recurso

da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) Tal constataccedilatildeo exibe

a necessidade de ter precisatildeo no objetivo e missatildeo do mecenato esportivo pois as

manifestaccedilotildees educacional e de participaccedilatildeo formulaccedilotildees mais recentes e ainda

fraacutegeis de materialidade estatildeo disputando espaccedilo em par de igualdade com o jaacute

consolidado esporte de rendimento

Como medida preventiva para minimizar o impacto na concentraccedilatildeo de

recurso no esporte de rendimento o Ministeacuterio do Esporte acordou com a Secretaria

da Receita Federal um ato normativo (Decreto Nordm 63382007 e Decreto Nordm

6684200853) para fixar limite de isenccedilatildeo fiscal entre as manifestaccedilotildees (BRASIL

2007c BRASIL 2008) A designaccedilatildeo do valor de isenccedilatildeo fiscal tambeacutem visava

53

De acordo com a consulta realizada ao Ministeacuterio do Esporte em 12 de abril de 2016 atraveacutes da Lei de Acesso a Informaccedilatildeo (Lei Nordm 125272011) me foi informado que o Decreto Nordm 66842008 continua em vigecircncia estipulando o valor do teto da renuacutencia fiscal ao esporte No entanto o decreto trata expressamente do ano-fiscal de 2008 e natildeo possui registro de alteraccedilatildeo do seu texto Desta forma este ato expirou a validade e natildeo possui legalidade para fixar o teto do mecanismo de mecenato esportivo apesar de ser sido informado pelo ministeacuterio O que existe atualmente eacute uma tabela da Secretaria da Receita Federal que acompanha o projeto de Lei Orccedilamentaacuteria Anual (LOA) onde existe uma estimativa da renuacutencia fiscal do ano vigente baseada no recurso captado no ano antecedente Contudo a falta de um ato do Poder Executivo fixando expressamente o valor anual da renuncia descumpre a exigecircncia do Art 13-A da Lei Federal de Incentivo ao Esporte Disponiacutevel em lthttpidgreceitafazendagovbrdadosreceitadatarenuncia-fiscalprevisoes-ploaarquivos-e-imagensdemonstrativos-dos-gastos-tributarios-dgtgt

122

atender as exigecircncias do Art 13-A da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006)

Art 1ordm - O valor maacuteximo das deduccedilotildees do imposto sobre a renda devido a tiacutetulo de patrociacutenios ou doaccedilotildees no apoio direto a projetos desportivos e paradesportivos de que trata o art 1ordm da Lei nordm 11438 de 29 de dezembro de 2006 eacute fixado para o ano-calendaacuterio de 2008 em R$ 40000000000 (quatrocentos milhotildees de reais) sendo que desse valor I - R$ 20000000000 (duzentos milhotildees de reais) correspondem [] projetos desportivos e paradesportivos na aacuterea do desporto educacional II - R$ 5332000000 (cinquenta e trecircs milhotildees trezentos e vinte mil reais) correspondem [] projetos desportivos e paradesportivos na aacuterea do desporto de participaccedilatildeo e III - R$ 14668000000 (cento e quarenta e seis milhotildees seiscentos e oitenta mil reais) correspondem [] projetos desportivos e paradesportivos na aacuterea do desporto de rendimento (BRASIL 2008 p1)

No entanto o mecanismo de mecenato esportivo ainda se encontra

distante do teto fiscal de R$ 400 milhotildees assim o ato teve pouco impacto como

medida disciplinadora Natildeo obstante eacute importante o Ministeacuterio do Esporte ponderar

outras estrateacutegias para minimizar a concentraccedilatildeo na modalidade rendimento pois

aleacutem de contrariar o paracircmetro de natildeo concentraccedilatildeo do Decreto Nordm 61802007

ainda tem como agravante divergir do Art 217 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o

qual recomenda prioridade de investimento no esporte educacional e de

participaccedilatildeo

Uma alternativa tendo em vista a embrionaacuteria profissionalizaccedilatildeo das

entidades esportivas seria a elaboraccedilatildeo de cartilha educativa oferta de curso e

seminaacuterio sobre a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

focando na distinccedilatildeo das manifestaccedilotildees esportivas Outra possibilidade seria a

aproximaccedilatildeo do Departamento de Incentivo e Fomento ao Esporte com a secretaria

gestora dos programas Segundo Tempo (PST) e Esporte e Lazer da Cidade (PELC)

seguida pela disponibilizaccedilatildeo de um projeto modelo destes programas para auxiliar

a elaboraccedilatildeo das proponentes inexperientes

O terceiro paracircmetro indicado pelo Decreto Nordm 61802007 trata da natildeo

concentraccedilatildeo por proponente (BRASIL 2007b) Mas os dados do ldquoRelatoacuterio

Gerencial da Lei Federal de Incentivo ao Esporte de 2014rdquo mostram que no periacuteodo

de 2007 a 2014 apenas 24 proponentes concentraram 466 (aproximadamente R$

61777700000) de todo o montante captado pelo mecanismo de mecenato

esportivo (R$ 132711914300) (BRASIL 2015c)

123

Quando analisamos este grupo de sucesso notamos que 10 entidades

esportivas estatildeo no estado de Satildeo Paulo e satildeo responsaacuteveis por 490

(aproximadamente R$ 30283700000) do recurso Ou seja as 10 proponentes

paulistas concentram quase frac14 de todo o recurso acumulado no periacuteodo de 2007 a

2014 O grupo eacute formado por outras 10 proponentes do Rio de Janeiro que

acumulam 364 (aproximadamente R$ 22491600000) e mais trecircs proponentes

de Minas Gerais que somaram 123 (aproximadamente R$ 7592000000) do

montante Fechando o grupo das 24 proponentes temos uma uacutenica integrante que

estaacute no Paranaacute responsaacutevel pelo percentual de 23 (aproximadamente R$

1410400000) do recurso

Percebemos que este seleto grupo de 24 proponentes estaacute

predominantemente sediado na regiatildeo Sudeste o que contribuiu para reforccedilar a

concentraccedilatildeo regional que verificamos anteriormente Contudo chama a atenccedilatildeo

quando verificamos a tipologia destas proponentes O percentual de 229

(aproximadamente R$ 14124100000) do recurso estaacute distribuiacutedo para seis

confederaccedilotildees ou entidades representativas do esporte nacional No entanto estas

satildeo entidades que jaacute recebem recurso puacuteblico da Lei AgneloPiva (Lei Ndeg

102642001) para promoccedilatildeo do esporte de rendimento

No dia 11 de marccedilo de 2016 por meio do site do Ministeacuterio do Esporte

consultamos sobre a manifestaccedilatildeo esportiva das propostas recentemente aprovadas

por estas seis entidades (periacuteodo de 01082013 a 31122015) Apesar da baixa

confiabilidade54 do site verificamos a quantia de 20 propostas sendo 19 de

rendimento e uma de esporte educacional Desta forma estimamos que estas

entidades representativas do esporte estejam contribuindo para a concentraccedilatildeo de

recurso na manifestaccedilatildeo rendimento tendo em vista o histoacuterico das uacuteltimas

propostas aprovadas e o sucesso acumulado na captaccedilatildeo de recurso

54

Durante a pesquisa foi identificada inconformidade entre as informaccedilotildees fornecidas pelo relatoacuterio interno do sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte e o disponibilizado no site do Ministeacuterio do Esporte O problema de confiabilidade do sistema tambeacutem foi observado no ldquoRelatoacuterio de Auditoria Anual de Contas da Controladoria-Geral da Uniatildeordquo em 2013 o qual ainda comenta sobre a utilizaccedilatildeo excessiva de planilhas eletrocircnicas pelos servidores para o controle do programa (BRASIL 2013)

124

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Tambeacutem temos dois clubes recreativosesportivos concentrando 194

(aproximadamente R$ 11993400000) de todo o recurso captado pelo grupo Trata-

se de um clube de Satildeo Paulo e outro de Minas Gerais O massivo financiamento em

apenas um clube regional pode criar uma discrepacircncia de desempenho tatildeo grande

com relaccedilatildeo aos seus pares que os torneios perdem em competitividade e gera-se

um quase monopoacutelio esportivo e consequente disfunccedilatildeo na cadeia produtiva do

esporte de rendimento

O grupo das proponentes de sucesso ainda eacute formado por mais dois

clubes de futebol com 65 (aproximadamente R$ 3992700000) do recurso

seguido por uma cooperativa com 44 (aproximadamente R$ 2731600000) Cabe

ressaltar que esta uacuteltima apesar da monta natildeo foi localizado site para verificar a

experiecircncia com projetos esportivos Por fim 13 entidades esportivas tinham a

personalidade juriacutedica de associaccedilatildeo e foram responsaacuteveis por 468

(aproximadamente R$ 28932900000) de todo o recurso do grupo

A anaacutelise na concentraccedilatildeo de recurso por proponente permitiu verificar

impacto direto e negativo na concentraccedilatildeo por regiatildeo e de manifestaccedilatildeo esportiva

Nesse sentido seria interessante o Ministeacuterio do Esporte estabelecer um teto de

participaccedilatildeo deste grupo na captaccedilatildeo de recurso para limitar o aumento das

desigualdades Por outro lado seria interessante aprofundar na compreensatildeo deste

grupo verificando suas estrateacutegias de sucesso e avaliando o resultado dos projetos

na promoccedilatildeo (ou natildeo) do direito social ao esporte

Graacutefico 11 ndash Distribuiccedilatildeo financeira acumulada (2007 a 2014) das 24 proponentes com maior

sucesso na captaccedilatildeo na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

125

O quarto e uacuteltimo paracircmetro trata da natildeo concentraccedilatildeo por modalidade

esportiva No formulaacuterio digital da Lei Federal de Incentivo ao Esporte foi possiacutevel

identificar 183 modalidades de esporte Entretanto alguns itens satildeo apenas

categorias ou derivaccedilotildees da ldquomodalidade raizrdquo como o motociclismo que desponta

com 7 distinccedilotildees 1) Enduro 2) Enduro de Regularidade 3) Rally 4) Trial 5)

Motocross 6) Moto Jump 7) Motovelocidade Desta maneira para facilitar a

compreensatildeo do fenocircmeno as categorias foram agrupadas em torno da modalidade

raiz

De acordo com o ldquoRelatoacuterio de Gestatildeo da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte de 2014rdquo oito modalidades captaram 560 (R$ 14271871900) de todo o

montante arrecadado para o ano de 2014 (R$ 25475370500) Para este caacutelculo as

modalidades voleibol (R$ 1168037000) e vocirclei de praia (R$ 869791000) foram

agrupadas assim como ciclismo (R$ 775546500) e bike (R$ 531661400)

(BRASIL 2015c)

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Graacutefico 12 ndash Distribuiccedilatildeo financeira da captaccedilatildeo de recurso de 2014 na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte por modalidade esportiva

126

A corrida de rua natildeo foi integrada ao atletismo apesar de ser considerada

uma derivaccedilatildeo desta pois gostariacuteamos de chamar atenccedilatildeo para esta categoria Em

2013 a corrida de rua aparecia na 5ordf colocaccedilatildeo entre as modalidades mais

incentivadas com o valor de R$ 1225904800 Mas em 2014 a corrida de rua

superou o futebol tradicionalmente o 1ordm colocado com a monta de R$

2187101600 (BRASIL 2014d BRASIL 2015c)

A preocupaccedilatildeo com a sauacutede e a facilidade da praacutetica esportiva que natildeo

requer muitos equipamentos foram fatores cruciais para a popularizaccedilatildeo da corrida

de rua No entanto o que pode ser duvidoso neste processo eacute a quantidade de

eventos de corrida de rua incentivados com recurso puacuteblico Vaacuterios desses eventos

eram tidos como autossustentaacuteveis e geradores de renda para seus organizadores

No entanto mesmo assim passaram a solicitar apoio do mecanismo de mecenato

esportivo e a cobrar taxa ou inscriccedilatildeo de participaccedilatildeo dos seus beneficiaacuterios Mesmo

sendo do conhecimento de todos que a receita gerada deve ser aplicada na proacutepria

accedilatildeo esportiva notou-se uma proliferaccedilatildeo destes eventos na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) Nesse sentido seria interessante o

Ministeacuterio do Esporte manter-se atento a fiscalizaccedilatildeo de processo e de resultado

destes projetos

Por outro lado o Ministeacuterio do Esporte tambeacutem deve se indagar sobre o

limite de recurso puacuteblico a ser investido em uma modalidade ou em uma categoria

desta modalidade Somente para exemplificar a Lagoa da Pampulha tradicional

espaccedilo de lazer em Belo Horizonte chegou a ter seu calendaacuterio de 2014 saturado55

por eventos de corrida de rua Para comportar excessiva demanda os

organizadores passaram a realizar corridas tanto pela manhatilde quanto pela noite

Diante deste surto de eventos de corrida de rua fica a duacutevida sobre a necessidade

de aplicaccedilatildeo de recurso da isenccedilatildeo fiscal para ampliar a oferta desta categoria do

atletismo

A partir da anaacutelise dos quatro paracircmetros orientadores da decisatildeo da

Comissatildeo Teacutecnica observamos problemas de harmonia na distribuiccedilatildeo do recurso

puacuteblico no mecanismo de mecenato esportivo Logo cabe ao Ministeacuterio do Esporte

suprir os seis membros da Comissatildeo Teacutecnica de subsiacutedios da realidade operacional

55

O exemplo utilizado natildeo remete necessariamente a projetos de corrida incentivados pelo mecanismo de mecenato esportivo Foi uma situaccedilatildeo para refletir sobre o limite de recurso e eventos na aacuterea da corrida de rua e para a promoccedilatildeo do direito social ao esporte

127

do mecanismo para que tomem as decisotildees mais assertivas uma vez que a palavra

final sobre a aprovaccedilatildeo aprovaccedilatildeo parcial ou rejeiccedilatildeo eacute deliberada por este comitecirc

44 Aprovaccedilatildeo de projeto e Captaccedilatildeo de Recurso

O presidente da Comissatildeo Teacutecnica eacute responsaacutevel por montar a pauta da

reuniatildeo deliberativa e realizar o sorteio de distribuiccedilatildeo dos projetos aos membros

Cada integrante da Comissatildeo Teacutecnica torna-se relator de um projeto e utiliza o

parecer conclusivo da aacuterea teacutecnica ou do perito parecerista para basear seu voto

Antes de votar o membro relator apresenta um resumo da proposta esportiva aos

demais membros para que todos tenham subsiacutedio para o voto

Caso o membro relator natildeo esteja convicto das informaccedilotildees ou durante o

debate surjam novas duacutevidas sobre a accedilatildeo esportiva o projeto pode retornar agrave aacuterea

teacutecnica do Ministeacuterio do Esporte para envio de diligecircncia teacutecnica adicional agrave

proponente Os demais membros tambeacutem podem ldquopedir vistardquo do projeto o que

representa fazer uma anaacutelise mais apurada por meio de leitura integral do parecer

conclusivo e do projeto como um todo Assim a proposta esportiva eacute encaminhada

ao membro solicitante e retorna para deliberaccedilatildeo na proacutexima sessatildeo da Comissatildeo

Teacutecnica

Sanada a questatildeo de conteuacutedo e exposiccedilatildeo do meacuterito da accedilatildeo esportiva

pelo membro relator o presidente da Comissatildeo Teacutecnica abre para votaccedilatildeo da

aprovaccedilatildeo do projeto O primeiro voto eacute do membro relator seguido pelos demais

O projeto eacute aprovado com maioria simples dos votos e no caso de empate uma vez

que satildeo seis membros cabe ao presidente o voto de qualidade

No caso de rejeiccedilatildeo da proposta esportiva o Art 25 do Decreto Nordm

61802007 prevecirc que a proponente tem cinco dias uacuteteis apoacutes notificaccedilatildeo para

interpor um recurso com contra argumentaccedilatildeo (BRASIL 2007b) Este recurso seraacute

analisado pela aacuterea teacutecnica e incluiacutedo aos autos do processo do projeto no Ministeacuterio

do Esporte Em seguida o processo eacute encaminhado ao presidente para incluir na

pauta da proacutexima sessatildeo deliberativa onde os membros da Comissatildeo Teacutecnica

votaratildeo pela rejeiccedilatildeo definitiva ou acolhimento da argumentaccedilatildeo com aprovaccedilatildeo

integral ou parcial

128

A aprovaccedilatildeo parcial independente de recurso ou em projeto de primeira

votaccedilatildeo consiste na proposta que tem seu meacuterito esportivo referendado pela

Comissatildeo Teacutecnica mas tem a exclusatildeo (glosa) ou reduccedilatildeo de valores de algum

item Mais uma vez eacute possiacutevel a proponente entrar com recurso para contra

argumentar

Jaacute a aprovaccedilatildeo simples reside no acolhimento integral da proposta

apresentada pela proponente Cabe salientar que durante as diligecircncias teacutecnicas a

proponente vai adequando o projeto agraves exigecircncias do Ministeacuterio do Esporte de

forma que a versatildeo final encaminhada agrave Comissatildeo Teacutecnica pode ser diferente da

primeira versatildeo protocolada no oacutergatildeo Todas as alteraccedilotildees ficam registradas no

processo do projeto

Apoacutes o projeto esportivo passar pela arena de debate da poliacutetica puacuteblica

(sessatildeo da Comissatildeo Teacutecnica) retorna para a aacuterea teacutecnica que iraacute solicitar e

conferir a comprovaccedilatildeo da regularidade fiscal e tributaacuteria da proponente nos acircmbitos

federal estadual e municipal conforme orienta o Art 27 do Decreto Nordm 61802007

Confirmada a regularidade o projeto aprovado tem sua publicaccedilatildeo no Diaacuterio Oficial

da Uniatildeo (DOU) chancelando a proponente a buscar recurso puacuteblico no setor

privado

Art 27 Publicar-se-aacute no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo extrato do projeto aprovado contendo I - tiacutetulo do projeto II - nuacutemero de registro no Ministeacuterio do Esporte III - instituiccedilatildeo proponente e respectivo CNPJ IV - manifestaccedilatildeo desportiva beneficiada V - valor autorizado para captaccedilatildeo especificando-se se patrociacutenio ou doaccedilatildeo VI - prazo de validade da autorizaccedilatildeo para captaccedilatildeo (BRASIL 2007b p7)

Com o extrato do projeto publicado a proponente passa para a etapa de

captaccedilatildeo de recurso Os dados do ldquoRelatoacuterio de Gestatildeo da Lei Federal de Incentivo

ao Esporte de 2014rdquo e a Nota Presidencial de 2016 exibem que a captaccedilatildeo de

recurso eacute um dos grandes ldquogargalosrdquo do mecenato esportivo pois se aprova um

valor em projetos muito superior ao montante que eacute efetivamente captado (BRASIL

2015c)

No entanto observamos que o valor efetivo de captaccedilatildeo de recurso vem

aumentando ano apoacutes ano com exceccedilatildeo dos anos de 2012 e 2015 que registraram

129

queda Mas o valor captado ainda estaacute distante da autorizaccedilatildeo de R$ 400 milhotildees

registrada nos Decretos Nordm 63382007 e Nordm 66842008

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

O Ministeacuterio do Esporte tem adotado a estrateacutegia de aprovar mais projetos

que o teto da renuacutencia fiscal como maneira de ampliar a oferta de accedilotildees esportivas

ao setor privado Todavia o ano de 2007 foi o que registrou a maior taxa de sucesso

entre a relaccedilatildeo aprovaccedilatildeo e captaccedilatildeo 793 seguido por 2014 com o patamar de

442 A meacutedia geral de sucesso na captaccedilatildeo de recurso estaacute em 323 calculada

pelo somatoacuterio autorizado no periacuteodo de 2007 a 2014 (aproximadamente R$

421840700000) e o total geral captado (aproximadamente R$ 136319300000)

No ano de 2014 o mecenato esportivo contou com a participaccedilatildeo de

2586 empresas e 2664 pessoas fiacutesicas destinando recurso aos projetos esportivos

Inclusive este foi o primeiro ano que o nuacutemero de pessoas fiacutesicas superou o de

empresas muito embora a quantia financeira acumulada por esta uacuteltima ainda seja

maior56

56

Nesta pesquisa natildeo foi possiacutevel apurar o valor financeiro da captaccedilatildeo de recurso da pessoa juriacutedica e da pessoa fiacutesica para o mecenato esportivo No entanto o ldquoRelatoacuterio de dados setoriais de 2009 a 2013 da Declaraccedilatildeo de Imposto sobre a Renda das Pessoas Juriacutedicasrdquo e ldquoTabela 1 - Resumo das Declaraccedilotildees Por Tipo de Formulaacuteriordquo permitem verificar que o montante de imposto de renda devido ou arrecadado na fonte eacute extremamente superior na pessoa juriacutedica do que na pessoa fiacutesica

Graacutefico 13 ndash Comparativo entre o valor autorizado e captado no periacuteodo de 2007 a 2014

na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

130

Ao verificar o grupo dos maiores apoiadores identificamos que os 25

primeiros foram responsaacuteveis por destinar 385 (aproximadamente R$

9798987100) do total captado no ano de 2014 (R$ 25475370500) Ao analisar

este seleto grupo optamos por reduzi-lo para 18 empresas pois algumas pessoas

juriacutedicas faziam parte do mesmo grupo econocircmico logo com objetivos e metas

comerciais compartilhadas

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Desta forma examinamos que oito empresas do setor financeiro

destinaram 773 (R$ 7574209300) do recurso deste grupo Seguido por duas

empresas do setor de energia eleacutetrica com representaccedilatildeo de 71 (R$

699510300) duas do setor de telecomunicaccedilatildeo com 42 (R$ 408569500) duas

do setor petroquiacutemico com 40 (R$ 395837900) duas do setor de mineraccedilatildeo e

metalurgia com 38 (R$ 376860100) uma do setor de informaacutetica e eletrocircnico

com 19 (R$ 184000000) e por fim uma do setor de saneamento com 16 (R$

160000000) Cabe destacar que em 2013 uma destas empresas do setor

petroquiacutemico estava entre as maiores apoiadoras do mecenato esportivo mas

devido agrave crise financeira diminuiu sua destinaccedilatildeo de recurso

Poreacutem o fato que chama atenccedilatildeo surge quando verificamos a origem do

capital das empresas Quase frac14 do recurso destinado por este grupo mais

Graacutefico 14 ndash Comparativo entre o setor econocircmico de atuaccedilatildeo e tipo de empresa do grupo dos

18 maiores apoiadores da Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2014

131

especificadamente 242 (R$ 2371918300) tem origem de duas empresas

puacuteblicas Percentual parecido 215 (R$ 2102762600) eacute destinado por cinco

empresas de capital misto isto eacute aquelas que tecircm o poder puacuteblico como maior

acionista e detentor da tomada de decisatildeo muito embora tambeacutem trabalhe com

acionista de capital privado Completando a amostra temos um conglomerado de 11

empresas privadas que destinam 543 (R$ 5324306200) do recurso do grupo

Assim aleacutem da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

funcionar exclusivamente com a destinaccedilatildeo de recurso puacuteblico e ter no proacuteprio

Estado brasileiro a figura do mecenas ela ainda apresenta no rol dos maiores

apoiadores as proacuteprias empresas puacuteblicas Nesse sentido o Estado eacute

simultaneamente donataacuterio e beneficiaacuterio da poliacutetica de financiamento do esporte

O resultado simboacutelico desta trama eacute o Estado brasileiro assumindo o

dever constitucional de fomento do direito social ao esporte poreacutem retirando este

elemento social da cidadania da arena de debate do legislativo e do orccedilamento

puacuteblico por optar pelo caminho da isenccedilatildeo fiscal Ao mesmo tempo o Estado deixa

a execuccedilatildeo das accedilotildees esportivas para o setor privado sem fins lucrativos e a

tomada de decisatildeo do que deve ser promovido nas ldquomatildeosrdquo do mercado

No entanto apenas fazendo um contraponto na participaccedilatildeo das

empresas puacuteblicas no mecenato esportivo esta pode ser uma accedilatildeo estrateacutegica e

pedagoacutegica do poder executivo para dar funcionalidade ao mecanismo e demonstrar

para o mercado o benefiacutecio de unir sua a marca ao esporte

Ainda em relaccedilatildeo agrave etapa de captaccedilatildeo de recurso a Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) natildeo determina prazo legal ao projeto

assim ficando a criteacuterio da Comissatildeo Teacutecnica o periacuteodo de chancelada do Estado

Geralmente os projetos recebem autorizaccedilatildeo de um ano para buscar recurso no

mercado sendo permitido prorrogaacute-lo por duas vezes apoacutes solicitaccedilatildeo formal

conforme orienta o Art 64 da Portaria Ministerial Nordm 1202009 (BRASIL 2009a)

A proponente tem doze meses para buscar a captaccedilatildeo de recurso poreacutem

grande parte dos depoacutesitos bancaacuterios de apoio acontece nos uacuteltimos meses do ano

pois eacute quando as empresas tributadas na modalidade lucro real estatildeo fechando o

balanccedilo patrimonial e apurando lucro ou prejuiacutezo do exerciacutecio fiscal Tambeacutem existe

uma pequena parcela de empresas que satildeo tributadas na modalidade lucro real

trimestral isto eacute faz fechamento de balanccedilo patrimonial e demonstrativo de

resultado a cada trecircs meses Estas uacuteltimas teriam uma chance maior de pulverizar

132

seu apoio ao longo do ano todavia trata-se de uma quantidade menor de empresas

neste universo tributaacuterio

A pessoa fiacutesica tambeacutem pode destinar seu apoio durante todo o ano

poreacutem a maior dificuldade eacute a cultura de apurar o imposto devido dentro do proacuteprio

ano fiscal Normalmente o brasileiro preocupa-se com o Imposto sobre a Renda (IR)

na proximidade do envio da Declaraccedilatildeo de Informes de Rendimento de Pessoa

Fiacutesica que finaliza ateacute o dia 30 de abril de todos os anos Poreacutem neste informe agrave

Secretaria da Receita Federal a pessoa fiacutesica estaacute declarando sua movimentaccedilatildeo

financeira do ano anterior Desta forma o depoacutesito de apoio ao projeto esportivo jaacute

deveria ter acontecido Entatildeo o desafio de fazer a pessoa fiacutesica participar do

mecanismo de mecenato esportivo eacute criar esta cultura de ter uma estimativa do

imposto a pagar ou a apuraccedilatildeo das suas despesas ainda no ano fiscal

Cada projeto aprovado possui uma conta bancaacuteria exclusiva denominada

conta captaccedilatildeo para receber os depoacutesitos dos apoiadores Esta conta bancaacuteria eacute

aberta pelo proacuteprio Ministeacuterio do Esporte e a proponente natildeo tem acesso a sua

movimentaccedilatildeo Apesar desta medida gerar controle financeiro dos projetos pois

vincula cada proposta a uma conta bancaacuteria ela contraria o princiacutepio da unidade do

orccedilamento puacuteblico que determina que o orccedilamento deve ser uacutenico para cada

exerciacutecio fiscal Assim passa a coexistir com o orccedilamento puacuteblico aprovado pelo

legislativo vaacuterios mini-orccedilamentos de esporte controlados e fiscalizados pelo

Ministeacuterio do Esporte

A proponente que tem ecircxito e consegue captar o recurso financeiro

integral da sua proposta precisa apenas enviar um ofiacutecio avisando o Ministeacuterio do

Esporte e aguardar a elaboraccedilatildeo e assinatura do Termo de Compromisso o qual

consta no miacutenimo de

Art 27 [] I ndash preacircmbulo com os dados cadastrais do Ministeacuterio do Esporte do proponente e dos respectivos representantes legais II - claacuteusulas que disponham sobre o objeto as obrigaccedilotildees das partes os valores aprovados prestaccedilatildeo de contas eficaacutecia vigecircncia e foro e III - assinatura dos representantes legais das partes e duas testemunhas sect1ordm - No ato da assinatura do Termo de Compromisso o proponente deveraacute apresentar cronograma fiacutesico-financeiro do projeto a ser executado sect2ordm- No caso de renovaccedilatildeo de projeto a assinatura do Termo de Compromisso fica condicionada agrave apresentaccedilatildeo de laudo teacutecnico favoraacutevel relativo ao projeto jaacute executado (BRASIL 2009a p8)

133

De acordo com o Art 37 da Portaria Ministerial Nordm 1202009 a

proponente que conseguir captar a quantia miacutenima de 20 do valor total do projeto

pode solicitar uma readequaccedilatildeo da proposta para a sua nova realidade financeira

(BRASIL 2009a) Eacute permitido alterar apenas valores e quantidades de

serviccedilosprodutos da proposta original sem inclusatildeo de novos itens para evitar a

alteraccedilatildeo do objeto inicialmente aprovado Com a readequaccedilatildeo avaliada pela aacuterea

teacutecnica do Ministeacuterio do Esporte e aprovada pela Comissatildeo Teacutecnica esta

proponente tambeacutem passa a aguardar a elaboraccedilatildeo e assinatura do Termo de

Compromisso

Com o Termo de Compromisso assinado entre Ministeacuterio do Esporte e

proponente nova conta bancaacuteria eacute aberta com o nome de conta de livre

movimentaccedilatildeo Parte do recurso da conta bloqueada do projeto eacute transferida para

esta nova conta onde a proponente iraacute realizar os pagamentos de despesas da

accedilatildeo esportiva O repasse do restante do recurso da conta bloqueada estaacute

condicionado agrave apresentaccedilatildeo da prestaccedilatildeo de contas parcial por parte da

proponente ainda durante a execuccedilatildeo do projeto (BRASIL 2009a)

A partir da assinatura do Termo de Compromisso e abertura da conta de

livre movimentaccedilatildeo inicia-se a etapa de execuccedilatildeo do projeto seguida da prestaccedilatildeo

de contas (parcial e final) (BRASIL 2009a) Poreacutem como estas etapas natildeo satildeo foco

da anaacutelise do objeto desta pesquisa vamos nos ater ateacute as etapas descritas no

momento

Contudo o processo de anaacutelise parcial dos dados gerais da Lei Federal

de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) foi necessaacuterio para se ter uma melhor

compreensatildeo do desenvolvimento da poliacutetica de financiamento no acircmbito nacional

Esta etapa foi importante para dar subsiacutedio agrave anaacutelise em recorte municipal (Belo

Horizonte) principalmente pela escassez de trabalhos acadecircmicos sobre o tema

Neste contexto observamos que existem procedimentos que podem ser

aperfeiccediloados para dar maior celeridade seguranccedila e transparecircncia ao mecanismo

de mecenato esportivo A agilidade e simplicidade processual satildeo preacute-requisitos

para a democratizaccedilatildeo da poliacutetica de financiamento ao esporte haja vista a

diversidade socioeconocircmica das entidades no paiacutes que atuam com este elemento

social da cidadania As alternativas abordadas neste capiacutetulo jaacute foram colocadas em

praacutetica seja em outras leis de incentivo fiscal no governo federal ou por outros entes

134

federativos (Estados Subnacionais e Municiacutepios) por isso possuem materialidade

para avaliaccedilatildeo de resultado e referecircncia para serem replicadas

Por outro lado o contiacutenuo desenvolvimento do mecenato esportivo

tambeacutem depende da reflexatildeo sobre a missatildeo da sua existecircncia porque atualmente

tem se configurado como uma corriqueira poliacutetica de distribuiccedilatildeo de recurso puacuteblico

ao esporte Mas esta visatildeo eacute extremamente limitada para uma poliacutetica estatal

principalmente tratando da promoccedilatildeo de um elemento da cidadania social

Nesse sentido eacute essencial questionar os objetivos do mecenato esportivo

mas tambeacutem traccedilar diretrizes do que se quer incentivar no esporte e o puacuteblico que

se quer atingir pois no formato vigente tem se percebido um reforccedilo das

desigualdades jaacute existentes no paiacutes Isto eacute tem acontecido uma concentraccedilatildeo de

recurso na manifestaccedilatildeo rendimento (498 do valor captado de 2007-2014) e um

maciccedilo investimento na regiatildeo Sudeste (73 do valor captado de 2007-2014) Este

cenaacuterio de distribuiccedilatildeo desigual ainda eacute influenciado diretamente pelo acumulo de

recurso em um restrito grupo de entidades esportivas (24 proponentes responsaacuteveis

por 490 do valor captado de 2007-2014) das quais algumas satildeo beneficiaacuterias de

outra fonte de recurso puacuteblico (Lei AgneloPiva ndash Lei Nordm 102642001)

135

5 O MECENATO ESPORTIVO EM BELO HORIZONTE DISSECANDO OS PROJETOS E CONHECENDO A POLIacuteTICA NO TERRITOacuteRIO

51 Dados consolidados dos projetos em Belo Horizonte

Neste capiacutetulo vamos nos debruccedilar nos projetos apresentados e

aprovados pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte para verificar a

distribuiccedilatildeo do recurso puacuteblico ao esporte no acircmbito municipal (anaacutelise

microespacial) A partir dos elementos de estudo levantados no capiacutetulo anterior

onde foi observada uma concentraccedilatildeo de recurso em regiatildeo geograacutefica por

manifestaccedilatildeo e modalidade esportiva todas fortemente influenciadas pelo acuacutemulo

de recurso em algumas poucas proponentes verificaremos se fenocircmeno similar

acontece na capital mineira Por uacuteltimo analisaremos o conteuacutedo das propostas

aprovadas na Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) para avaliar

o seu potencial de democratizaccedilatildeo do direito social ao esporte

Para a formalizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte (Lei Nordm 114382006) no territoacuterio de Belo Horizonte foi enviado no dia 30

de outubro de 2014 um ofiacutecio do Colegiado de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos do Lazer

da Escola de Educaccedilatildeo Fiacutesica Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG ao Sr

Paulo Vieira na eacutepoca diretor do Departamento de Incentivo e Fomento ao Esporte

(DIFE) oacutergatildeo do Ministeacuterio do Esporte responsaacutevel pela gestatildeo do mecenato

esportivo Natildeo obtivemos resposta escrita mas tacitamente foi comunicado por

telefone que estava autorizado o acesso agraves informaccedilotildees do banco de dados do

Ministeacuterio do Esporte

Desta forma no dia 13 de janeiro de 2015 fui recebido presencialmente

pela coordenaccedilatildeo do departamento para a primeira coleta dos dados Tendo em

vista o prazo do Ministeacuterio do Esporte para consolidaccedilatildeo das informaccedilotildees referentes

ao mecanismo de mecenato esportivo no ano de 2014 receacutem-encerrado e

concomitantemente ao moroso processo burocraacutetico estatal ateacute o esgotamento do

ciclo de vida dos projetos optou-se para esta pesquisa como recorte temporal a

anaacutelise das propostas esportivas apresentadas em 2013 Assim nesta primeira

visita foram coletados 23 projetos aprovados por entidades esportivas sediadas em

Belo Horizonte aleacutem de seus respectivos anexos cadastrados no sistema da Lei

136

Federal de Incentivo ao Esporte e o relatoacuterio de captaccedilatildeo de recurso financeiro de

cada proposta

Contudo a conjuntura poliacutetica do paiacutes que se seguiu a posteriori dificultou

a obtenccedilatildeo de novas informaccedilotildees oficiais do sistema da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte O Ministeacuterio do Esporte passou por mudanccedila de trecircs ministros de estado57

e o Departamento de Incentivo e Fomento ao Esporte (DIFE) acumulou trecircs trocas

de diretores aleacutem dos sucessivos diretores interinos O departamento ainda contou

com mudanccedila de endereccedilo fiacutesico que levou a sua paralisaccedilatildeo parcial de atividades

no final de 2015 e iniacutecio de 2016

Durante este conturbado periacuteodo realizei outras trecircs visitas presenciais

(03112015 28012016 e 15042016) para atualizaccedilatildeo dos dados poreacutem sem

sucesso A revisatildeo das informaccedilotildees e inclusatildeo de nove novos projetos agrave amostra

que foram aprovados durante o desenvolvimento da pesquisa somente foi possiacutevel

por meio da Lei de Acesso a Informaccedilatildeo (Lei Nordm 125272011) No entanto apesar

do respaldo da lei a maioria das informaccedilotildees natildeo foi obtida em solicitaccedilatildeo de 1ordf

instacircncia sendo portanto necessaacuterio contra argumentar agrave instacircncia superior58 A

dificuldade imposta pelos servidores do departamento ao acesso agrave informaccedilatildeo

puacuteblica foi registrada em reclamaccedilatildeo na ouvidoria do Ministeacuterio do Esporte na

tentativa de aumentar a transparecircncia aos dados da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte (Lei Nordm 114382006)

Neste contexto a amostra de projetos coletados para a pesquisa consiste

em 32 propostas aprovadas ateacute o dia 15 de fevereiro de 2016 do total de 83

enviadas por entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte no ano de 2013

Para a anaacutelise dos projetos foi montado uma ficha de padronizaccedilatildeo de conteuacutedo

tendo 1) Manifestaccedilatildeo esportiva 2) Modalidade esportiva 3) Local de execuccedilatildeo 4)

57

Durante o iniacutecio desta pesquisa o Ministeacuterio do Esporte foi gerido pelo Deputado Federal Aldo Rebelo (PCdoBSP) Jaacute durante a coleta de dados o ministro foi o Deputado Federal George Hilton (PRBMG) seguido pela passagem raacutepida do administrador puacuteblico Ricardo Leyser e por fim o tambeacutem Deputado Federal Leonardo Picciani (PMDBRJ) Por sua vez o Departamento de Incentivo e Fomento ao Esporte ao iniacutecio da pesquisa teve como diretor o Sr Paulo Prado sucedido por Marcos Ceacutesar Garcia e atualmente de forma interina o Sr Newton Koji Uchida 58

Nem todas as informaccedilotildees solicitadas via Lei de Acesso a Informaccedilatildeo (Lei Nordm 125272011) foram atendidas na 1ordf instacircncia sendo necessaacuterio entrar com recurso para o niacutevel hieraacuterquico superior A justificativa utilizada pela 1ordf instacircncia argumentava possiacutevel conflito de interesse entre a minha habilitaccedilatildeo como perito parecerista e o trabalho de pesquisador muito embora natildeo existisse vedaccedilatildeo legal e de fato para tal afirmaccedilatildeo Cabe ressaltar que a qualidade das informaccedilotildees fornecidas pelo Ministeacuterio do Esporte foi descritivamente inferior agraves obtidas do Ministeacuterio da Cultura e Secretaria da Receita Federal tendo em vista o mesmo sistema de solicitaccedilatildeo (e SIC ndash Sistema Eletrocircnico do Serviccedilo de Informaccedilatildeo ao Cidadatildeo disponiacutevel em lthttpwwwacessoainformacaogovbrgt

137

Tempo de execuccedilatildeo do projeto 5) Quantidade de beneficiaacuterios 6) Valor aprovado

7) Valor captado 8) Valor do serviccedilo de captaccedilatildeo de recurso 9) Iniacutecio do prazo de

captaccedilatildeo de recurso 10) Final do prazo de captaccedilatildeo de recurso 11) Objetivo do

projeto 12) Puacuteblico-alvo 13) Metodologia 14) Justificativa 15) Metas Qualitativas

16) Metas Quantitativas 17) Tipos de anexos Todos estes campos contam com um

espaccedilo adicional para comentaacuterio e registro de observaccedilotildees

As categorias de anaacutelise foram consolidadas para se ter uma noccedilatildeo geral

do trajeto de desenvolvimento do mecenato esportivo em Belo Horizonte Tambeacutem

sempre que possiacutevel foi feita uma anaacutelise comparativa entre os resultados no

territoacuterio da capital mineira com os mensurados nacionalmente tendo como base o

capiacutetulo anterior desta pesquisa e o ldquoRelatoacuterio de Gestaccedilatildeo da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte de 2013 e 2014rdquo Para verificar a fase em que o projeto se

encontrava dentro do ciclo de vida da poliacutetica puacuteblica foi examinado o ldquoRelatoacuterio

interno de status dos projetos59rdquo o qual foi gerado por servidor com senha de

administrador do sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

Partindo para a anaacutelise dos dados observamos que no ano de 2013 a Lei

Federal de Incentivo ao Esporte recebeu 1614 propostas de todo o paiacutes Destas 511

(317) foram rejeitadas por ter algum tipo de problema documental previsto no Art

9ordm do Decreto Nordm 61802007 Este patamar de rejeiccedilatildeo encontra-se proacuteximo da

meacutedia nacional de 340 mensurada a partir dos valores acumulados no periacuteodo de

2007 a 2014

Da monta de projetos de 2013 83 (524) foram enviados por entidades

esportivas sediadas em Belo Horizonte sendo que 18 (216) delas foram

rejeitadas por situaccedilatildeo semelhante de problema documental ateacute o dia 15 de

fevereiro de 2016

Aparentemente os nuacutemeros belorizontinos podem sugerir uma maior

capacidade teacutecnica das entidades esportivas uma vez que o percentual de rejeiccedilatildeo

documental estaacute 635 abaixo da meacutedia nacional Entretanto ao se verificar as

demais possibilidades de status dos projetos no Graacutefico 15 notamos que 15

(181) propostas tiveram seu meacuterito esportivo rejeitado pela Comissatildeo Teacutecnica O

59

O ldquo1ordm Relatoacuterio interno de status dos projetosrdquo foi gerado no dia 13 de janeiro de 2015 e indicou 23 projetos aprovados enquanto a sua segunda versatildeo emitida em 15 de fevereiro de 2016 apontou 32 propostas aprovadas para as entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte Aleacutem de sinalizar para os projetos aprovados tambeacutem era possiacutevel verificar o status das outras 51 propostas do total de 83 apresentadas no ano de 2013

138

grupo de insucesso incluiacutedo por outros dois (24) projetos em que a proponente

desistiu do pleito e solicitou o seu arquivamento alcanccedila o patamar de 35 (422)

propostas (marcaccedilatildeo graacutefica em vermelho)

Ou seja por mais que as entidades sediadas em Belo Horizonte tenham

tido um percentual menor de rejeiccedilatildeo documental em 2013 a quantidade de

projetos que satildeo reprovados (rejeiccedilatildeo documental de meacuterito ou desistecircncia) ao

longo do processo eacute extremamente relevante e ateacute mesmo superior ao nuacutemero de

aprovaccedilotildees - 32 (386) projetos com sucesso na aprovaccedilatildeo (marcaccedilatildeo graacutefica em

verde) Entatildeo a suposta supremacia teacutecnica das entidades de Belo Horizonte eacute

refutada com a sequecircncia dos dados

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Os demais grupos de categorias satildeo representados por ldquoproposta de

status indefinidardquo (marcaccedilatildeo graacutefica em azul) trazendo trecircs (36) projetos sem

informaccedilatildeo ou identificado como protocolado e ldquopropostas em tracircmiterdquo (marcaccedilatildeo

graacutefica em amarelo) com 13 (156) projetos ainda em anaacutelise documental (Preacute-

Graacutefico 15 ndash Distribuiccedilatildeo dos status dos projetos esportivos enviados em 2013 para a Lei Federal de Incentivo ao Esporte por entidades sediadas em Belo Horizonte

139

anaacutelise) ou de meacuterito (Anaacutelise Teacutecnica Em diligecircncia ndash Comissatildeo Teacutecnica Preacute-

pauta60)

A maior representatividade dos projetos reprovados em relaccedilatildeo aos

demais grupos de categorias reforccedila a constataccedilatildeo dos dados nacionais que

sugerem que o Ministeacuterio do Esporte amplie a interlocuccedilatildeo com as proponentes a

fim de aumentar a familiaridade com as exigecircncias legais e diminuir a quantidade de

rejeiccedilotildees Poreacutem esta mudanccedila no tratamento com as proponentes passa pela

alteraccedilatildeo no entendimento da poliacutetica puacuteblica por parte do Ministeacuterio do Esporte Isto

eacute natildeo tratar o mecenato esportivo apenas como uma poliacutetica de distribuiccedilatildeo de

recurso financeiro mas tambeacutem como um potencial instrumento de

profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas espalhadas por todo o paiacutes

Por outro lado tambeacutem eacute preciso refletir sobre o processo burocraacutetico

estatal pois passados dois anos fiscais completos (2014 e 2015) ainda existem

projetos belorizontinos sem a emissatildeo de um parecer conclusivo por perito

parecerista ou pela aacuterea teacutecnica do Ministeacuterio do Esporte Nesse sentido a

expectativa de investigar os projetos do ano de 2013 pelo esgotamento do seu ciclo

de vida natildeo foi observado e por isso a pesquisa acabou adotando a data da uacuteltima

coleta de dados como linha de corte temporal para a anaacutelise

Cabe ressaltar que o longo prazo de tramitaccedilatildeo dos projetos pode defasar

aspectos documentais e orccedilamentaacuterios das propostas iniciais e mesmo que sejam

posteriormente aprovados inviabilizar financeiramente a execuccedilatildeo Somente para se

ter uma ideia sobre a variaccedilatildeo de preccedilos nos dois anos o Iacutendice de Preccedilos ao

Consumidor Amplo (IPCA)61 calculado pelo IBGE para o acumulado do periacuteodo

destes 24 meses (2014 e 2015) estaacute em 1684 Ou seja em meacutedia o conjunto

dos produtos e materiais orccedilados pelas proponentes em 2013 jaacute sofreu um reajuste

de preccedilo de quase 16 do seu valor original

A morosidade na anaacutelise associada ao incerto prazo de efetivaccedilatildeo da

captaccedilatildeo de recurso talvez corrobore para apresentaccedilatildeo de orccedilamentos de

fornecedores acima do preccedilo de mercado conforme foi identificado no ldquoRelatoacuterio de

60

De acordo com conversa telefocircnica mantida com membro do Ministeacuterio do Esporte todas as categorias citadas no ldquoRelatoacuterio interno de status de projetosrdquo satildeo atualizadas manualmente podendo haver erro entre o lanccedilamento e a fase real do projeto O sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte tambeacutem natildeo possui categorias preacute-definidas tendo o servidor puacuteblico a liberdade na escrita da fase do projeto 61

Disponiacutevel em lthttpwwwibgegovbrhomeestatisticaindicadoresprecosinpc_ipcaipca-inpc_201602_1shtmgt

140

Auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeo agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporterdquo

(BRASIL 2013c) A maior celeridade na anaacutelise das propostas esportivas poderia

contribuir para uma maior confluecircncia entre preccedilo orccedilado e o necessaacuterio para a

execuccedilatildeo do projeto

Conjuntamente o Ministeacuterio do Esporte deveria focar na criaccedilatildeo de um

sistema de referecircncia de preccedilos62 pois aleacutem de ser uma das exigecircncias

documentais mais trabalhosas para a proponente tambeacutem amplia o controle do

gasto puacuteblico Cabe ressaltar que atualmente o balizamento de preccedilo fica a mercecirc

da seleccedilatildeo da amostra de orccedilamento feita pela proponente uma estrateacutegia

extremamente precaacuteria para o controle do dispecircndio de recurso puacuteblico

Ao adentrar no universo dos projetos apresentados em 2013 pelas

entidades sediadas em Belo Horizonte foi averiguada a participaccedilatildeo de 46

proponentes distintas Estas entidades foram agrupadas tendo em vista os projetos

aprovados rejeitados e em tracircmite Como cada proponente poderia enviar ateacute seis

projetos por ano eacute possiacutevel que uma mesma entidade faccedila parte dos trecircs grupos

fazendo com que o somatoacuterio de participantes seja superior ao registro de 46

proponentes

Tabela 2 ndash Distribuiccedilatildeo de projetos esportivos apresentados em 2013 na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte por entidades sediadas em Belo Horizonte

Quantidade proponente

Proponente c projeto aprovado

Proponente c projeto rejeitado

Proponente c projeto em tracircmite

46 (83) 20 (32) 25 (35) 9 (13) ( ) quantidade de projetos na categoria 1 proponente natildeo possui informaccedilatildeo de status sobre o seu uacutenico projeto 2 projetos identificados como protocolados natildeo puderam ser categorizados por inconsistente no status

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo

proacutepria

62

Como foi mencionado no capiacutetulo anterior o proacuteprio sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte poderia ser utilizado como banco de referecircncia de preccedilo uma vez que todas as informaccedilotildees orccedilamentaacuterias satildeo digitadas pelas proponentes Procedimento similar foi adotado pelo governo federal no acircmbito da sauacutede com a criaccedilatildeo do SIGEM (Sistema de Informaccedilatildeo e Gerenciamento de Equipamentos e Materiais) Disponiacutevel em lthttpwwwfnssaudegovbrvisaopesqui-sarEquipamentosjsfgt

141

Notamos que 20 proponentes tiveram ecircxito na aprovaccedilatildeo de seus

projetos o que representa um montante de 32 propostas das 83 apresentadas no

ano de 2013 Neste grupo ainda temos uma proponente que tem simultaneamente

ao seu projeto aprovado um projeto em tracircmite e outro rejeitado trecircs proponentes

com quatro projetos rejeitados e duas proponentes com cinco projetos ainda em

tracircmite Por sua vez o grupo de projetos rejeitados eacute formado por 25 proponentes

que somam propostas esportivas seguido pelo grupo de projetos em tracircmite com

nove proponentes e 13 projetos

Para verificar se o ecircxito na aprovaccedilatildeo de projetos teve alguma relaccedilatildeo

com a quantidade de propostas apresentadas por cada proponente foi criado o

indicador ldquotaxa de sucessordquo Esta medida eacute a relaccedilatildeo entre a quantidade de

proponente com projeto aprovado na categoria e sua respectiva populaccedilatildeo sendo o

resultado apresentado em uma escala percentual de 0 a 100 Mais uma vez as

categorias superiores a 1 projeto poderiam ter proponente registrando-se

simultaneamente nas trecircs possibilidades das propostas ndash aprovada rejeitada

tramite

Obs 1 proponente natildeo possui informaccedilatildeo de status sobre o seu uacutenico projeto 2 projetos identificados como protocolados natildeo puderam ser categorizados por inconsistente no status

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016

Graacutefico 16 ndash Distribuiccedilatildeo das proponentes pela quantidade de projetos esportivos

apresentados e taxa de sucesso em 2013 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

142

Observamos que a medida modal das entidades esportivas de Belo

Horizonte foi a apresentaccedilatildeo de um projeto na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

(Lei Nordm 114382006) Apesar de mais da metade das entidades esportivas

apresentarem uma uacutenica proposta apenas sete delas tiveram seus projetos

aprovados enquanto outras 15 (272) obtiveram indeferimento das propostas Este

resultado mostra que a taxa de sucesso para um uacutenico projeto foi a menor registrada

entre as categorias com apenas 259 de ecircxito Contudo as informaccedilotildees coletadas

nesta pesquisa natildeo permitiram verificar se o projeto enviado pelas 27 entidades

esportivas da categoria tratava-se da primeira participaccedilatildeo na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte Ou seja apurar o niacutevel familiaridade da proponente com o

mecanismo de mecenato esportivo

As categorias 5 e 6 projetos que apresentaram a maior taxa de sucesso

(1000) e estatildeo representadas cada uma por uma uacutenica proponente apesar de

terem ecircxito na aprovaccedilatildeo de projetos esportivos natildeo tiveram todas as suas

propostas contempladas Do somatoacuterio de 11 propostas apresentadas por estas

categorias cinco foram aprovadas quatro estavam em tracircmite e duas rejeitadas

(uma por problema documental e outra por meacuterito) Assim a suposta expertise que

as entidades esportivas que almejaram uma quantidade maior de projetos natildeo

representou necessariamente em ecircxito total na aprovaccedilatildeo das suas propostas

Valendo destacar mais uma vez uma rejeiccedilatildeo de projeto por problema documental

Na tentativa de traccedilar um perfil institucional das entidades que estatildeo

propondo accedilotildees esportivas63 a presente pesquisa adotou a classificaccedilatildeo pelo tipo

de personalidade juriacutedica 1) Entidade puacuteblicaautarquia para tratar de qualquer

personalidade juriacutedica de direito puacuteblico 2) Associaccedilotildees e 3) Fundaccedilotildees para tratar

da personalidade juriacutedica de direito privado mas sem fins lucrativos Embora as

classificaccedilotildees seguintes pudessem estar inclusas na categoria 2) ou 3) iremos

diferenciaacute-las devido a algumas particularidades de natureza de funcionamento

Assim teremos 4) ConfederaccedilatildeoFederaccedilatildeo por ser uma associaccedilatildeo de caraacuteter

representativo da modalidade esportiva 5) Clube esportivorecreativo por ser uma

63

O Ministeacuterio do Esporte adota as seguintes categorias no seu relatoacuterio gerencial da Lei Federal de Incentivo ao Esporte 1) ONGrsquos 2) Associaccedilotildees 3) Fundaccedilotildees 4) Institutos 5) Clube esportivorecreativo 6) Cooperativa 7) Clube de Futebol 8) Liga Esportiva 9) Federaccedilatildeo 10) Confederaccedilatildeo 11) Prefeiturasuniversidades O criteacuterio adotado para a organizaccedilatildeo desta informaccedilatildeo eacute o nome fantasia ou denominaccedilatildeo da proacutepria entidade No entanto formatos como ONGrsquos institutos e associaccedilotildees satildeo classificados de forma distinta embora todos tenham a personalidade juriacutedica de associaccedilatildeo privada conforme consta no Coacutedigo Civil brasileiro (Lei Nordm 104062002)

143

associaccedilatildeo de desenvolvimento do esporte de base e de lazer 6) Clube de Futebol

por ser uma associaccedilatildeo com grande representativa na cultura brasileira 7) Outros

para personalidades juriacutedicas atiacutepicas (originaacuterias por lei)

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Analisando as 46 entidades temos que 26 (565) delas satildeo associaccedilotildees

que possuem o desenvolvimento do esporte como objeto em seu estatuto social ou

pelo menos deveriam ter como apontou a possibilidade de falha documental por

parte do Ministeacuterio do Esporte no ldquoRelatoacuterio de Auditoria do Tribunal de Contas da

Uniatildeo agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporterdquo (BRASIL 2013c)

Em seguida temos sete (152) federaccedilotildees esportivas estaduais e seis

(130) tradicionais clubes esportivosrecreativos de Belo Horizonte A quantidade

de federaccedilotildees participando do mecanismo de mecenato esportivo foi aparentemente

baixa tendo em vista que grande parte destas entidades representativas do esporte

de Minas Gerais encontra-se sediada na capital mineira64 Aleacutem disso contraria a

64

No site da Secretaria de Estado de Esporte de Minas Gerais (SEESP) constam 38 federaccedilotildees esportivas listadas das quais 35 estatildeo sediadas em Belo Horizonte 1 em Contagem 1 em Betim e 1

Graacutefico 17 ndash Distribuiccedilatildeo das proponentes sediadas em Belo Horizonte quanto agrave

personalidade juriacutedica e natureza de funcionamento

144

tendecircncia nacional tendo em vista que a categoria das Confederaccedilotildees e Federaccedilatildeo

foi a segunda em participaccedilatildeo na captaccedilatildeo de recurso em 2014 com

aproximadamente 21 de todo o montante da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

Novamente optamos por utilizar o indicador ldquotaxa de sucessordquo para

verificar a possiacutevel relaccedilatildeo entre o ecircxito na aprovaccedilatildeo de projetos e a personalidade

juriacutedica da proponente O resultado varia em escala percentual de 0 a 100 sendo o

menor valor o insucesso da categoria na aprovaccedilatildeo e o escore maior o sucesso

Obs 1 proponente natildeo possui informaccedilatildeo de status sobre o seu uacutenico projeto 2 projetos identificados como protocolados natildeo puderam ser categorizados por inconsistente no status

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Apesar das associaccedilotildees serem maioria tanto na tipologia de

personalidade juriacutedica (26 proponentes) quanto na concentraccedilatildeo de propostas (50

projetos) natildeo apresentaram a maior taxa de sucesso (462) Ao verificar as 12

em Uberlacircndia Disponiacutevel em lthttpwwwesportesmggovbr2015-10-27-20-44-50federacoes-e-associacoesgt

Graacutefico 18 ndash Distribuiccedilatildeo das proponentes sediadas em Belo Horizonte quanto agrave natureza de funcionamento e taxa de sucesso

145

proponentes com projetos aprovados nesta categoria observamos que quatro delas

tiveram cinco propostas rejeitadas enquanto outras duas ainda aguardavam o

tracircmite de cinco propostas Outras 14 proponentes e mais 20 projetos se juntam ao

grupo de propostas rejeitas que ajudam a diminuir a eficiecircncia desta categoria

Contudo a categoria associaccedilatildeo trata de um universo de entidades de

porte e estrutura bastante variada Somente para termos ideia da diferenccedila uma das

associaccedilotildees deste grupo estaacute na 18ordf colocaccedilatildeo das entidades que mais captaram

recurso no acumulado de 2007 a 2014 com o valor aproximado de R$

1502000000 segundo o ldquoRelatoacuterio de Gestatildeo da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte de 2014rdquo

Os clubes esportivosrecreativos foram os que tiveram a maior taxa de

sucesso (833) mesmo apresentando uma populaccedilatildeo de apenas seis

proponentes O maior ecircxito desta categoria tambeacutem eacute observado quando calculamos

a taxa de sucesso em relaccedilatildeo ao quantitativo de projetos aprovados (750) Assim

quase frac34 dos projetos apresentados pelos clubes esportivosrecreativos foram

aprovados no mecanismo de mecenato esportivo

Foi verificado que das nove propostas aprovadas pelos clubes

esportivosrecreativos apenas trecircs natildeo tinham provisionado o percentual autorizado

para pagamento de serviccedilo de terceiros ndash auxiacutelio na elaboraccedilatildeo do projeto e

captaccedilatildeo de recurso Destas trecircs propostas duas eram de uma tradicional entidade

esportiva de Belo Horizonte a qual possui um departamento especializado na

elaboraccedilatildeo e acompanhamento das suas propostas A expertise deste clube

esportivorecreativo tambeacutem pode ser observada pelo 3ordm lugar ocupado no rank

nacional acumulado (2007 a 2014) de captaccedilatildeo de recurso com o valor de

aproximadamente R$ 4710200000 Mas mesmo jaacute possuindo estrutura

especializada identificamos que na sua terceira proposta apresentada e aprovada

em 2013 havia a solicitaccedilatildeo do teto legal da captaccedilatildeo de recurso (R$ 10000000)

Cabe ressaltar que existe vedaccedilatildeo legal para se autorremunerar por este tipo de

serviccedilo

Outras cinco propostas aprovadas tinham o percentual para a captaccedilatildeo

de recurso sendo que quatro delas referentes a duas proponentes tinham

caracteriacutesticas de escrita e organizaccedilatildeo do conteuacutedo bastante similar sugerindo ter

sido auxiliada por mesma pessoa ou empresa especializada

146

Neste contexto podemos inferir que a utilizaccedilatildeo do percentual de auxilio

na elaboraccedilatildeo e captaccedilatildeo de recurso por parte dos clubes esportivosrecreativos

pode ter influenciado na maior taxa de sucesso da categoria Contudo fica a duacutevida

se a contrataccedilatildeo deste tipo de serviccedilo tem contribuiacutedo para a transferecircncia de

conhecimento e profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas ou se estaacute acontecendo

apenas uma delegaccedilatildeo de responsabilidade sobre o projeto a ser apresentado

Ainda sobre o quesito personalidade juriacutedica chamou a atenccedilatildeo a falta de

ecircxito (00) da entidade puacuteblicaautarquia na aprovaccedilatildeo das suas propostas

esportivas uma vez que se esperava maior familiaridade da pessoa juriacutedica de

direito puacuteblico com o tracircmite burocraacutetico estatal As duas proponentes participantes

desta categoria satildeo oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica diretamente responsaacuteveis pela

gestatildeo esportiva nas suas aacuterea de abrangecircncia Dos cinco projetos apresentados

por esta categoria quatro deles foram rejeitados por problemas documentais e um

uacuteltimo continuava em tracircmite

Estes dados colaboram para a tese de revisatildeo das exigecircncias

documentais no processo do mecenato esportivo pois o proacuteprio poder puacuteblico em

instacircncias subnacionais estaacute tendo dificuldade na aprovaccedilatildeo das suas propostas

Por outro lado pode-se levantar a hipoacutetese de incipiente profissionalizaccedilatildeo da aacuterea

esportiva estatal assim como eacute percebido no setor privado sem fins lucrativos o

que por sua vez influenciaria o elevado iacutendice de rejeiccedilatildeo de projetos Poreacutem

mesmo que esta uacuteltima situaccedilatildeo seja verdadeira natildeo isenta o Ministeacuterio do Esporte

da sua responsabilidade de oacutergatildeo indutor do comportamento social e de buscar na

Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) o seu potencial

profissionalizante e natildeo a restrita funccedilatildeo distributiva de recurso

A anaacutelise seguinte agrupou os 83 projetos pelo tipo de manifestaccedilatildeo

esportiva Mais uma vez adotou-se o indicador ldquotaxa de sucessordquo para mensurar a

relaccedilatildeo de ecircxito na aprovaccedilatildeo de projeto e a manifestaccedilatildeo esportiva O resultado

calculado varia em escala percentual de 0 a 100 sendo que quanto mais proacuteximo da

nota maacutexima (100) maior a chance de sucesso na aprovaccedilatildeo da proposta

147

Obs 2 projetos foram descartados por natildeo apresentarem status vaacutelido para mensurar a situaccedilatildeo (sem informaccedilatildeo e protocolado) 1 projeto foi descartado por natildeo apresentar status vaacutelido para mensurar a situaccedilatildeo (protocolado)

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

A maioria das propostas apresentadas (602) pelas entidades sediadas

em Belo Horizonte eacute da manifestaccedilatildeo esportiva de rendimento Este quadro

reproduz a realidade nacional da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) e se verifica que aproximadamente metade dos projetos apresentados

(498) no periacuteodo acumulado de 2007 a 2015 foi de accedilotildees de rendimento No

entanto ao se investigar a taxa de sucesso desta manifestaccedilatildeo em Belo Horizonte

observamos que foi a que apresentou o menor ecircxito em aprovaccedilatildeo (340) seguido

pelo esporte de participaccedilatildeo (400) e esporte educacional (500)

Esperaacutevamos que o esporte de rendimento tivesse uma taxa de sucesso

maior pois se trata de um tipo de manifestaccedilatildeo esportiva mais tradicional e

consolidada na sociedade brasileira Ao examinar os projetos rejeitados da

Graacutefico 19 ndash Distribuiccedilatildeo dos projetos apresentadas pelas entidades esportivas sediadas

em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

148

manifestaccedilatildeo rendimento notamos que 11 propostas (nove proponentes) tiveram

rejeiccedilatildeo do meacuterito esportivo nove projetos (oito proponentes) por problemas

documentais e dois projetos (um proponente) a entidade esportiva desistiu da

solicitaccedilatildeo de pleito

A maior taxa de sucesso dos projetos educacionais e de participaccedilatildeo foi

beneacutefica para diminuir a representatividade das propostas da manifestaccedilatildeo

rendimento No entanto o somatoacuterio das duas primeiras ainda natildeo alcanccedila a

participaccedilatildeo dos projetos de rendimento seja em nuacutemeros relativos ou absolutos

Tal fato mostra o longo caminho a ser percorrido ateacute a harmonizaccedilatildeo e equiliacutebrio das

manifestaccedilotildees esportivas na sociedade

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

A supremacia da manifestaccedilatildeo rendimento tambeacutem expotildee a fragilidade do

poder puacuteblico diante desta poliacutetica puacuteblica para atender os preceitos constitucionais

do Art 217 ou seja de priorizar o esporte educacional e de participaccedilatildeo (BRASIL

1988a) Pois a demanda da poliacutetica puacuteblica eacute feita pela necessidade segmentada da

entidade esportiva e interesse comercial do setor privado com fins lucrativos sem

muito instrumento de regulaccedilatildeo por parte do Ministeacuterio do Esporte

Desta forma acaba acontecendo o que Marshall (1967) descreve como

uma categorizaccedilatildeo do direito civil Isto eacute aqueles grupos com maior poder de

negociaccedilatildeo pressionam o Estado pela ampliaccedilatildeo dos seus benefiacutecios sem

Graacutefico 20 ndash Comparativo da distribuiccedilatildeo dos projetos esportivos das entidades sediadas

em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte pela manifestaccedilatildeo esportiva

149

realmente haver uma discussatildeo do direito social porque este uacuteltimo precisa do

consenso coletivo e pacto da sociedade como um todo

52 Anaacutelise financeira dos projetos

Na etapa subsequente foi feita anaacutelise das 32 propostas aprovadas para

mensurar o possiacutevel impacto da poliacutetica puacuteblica no territoacuterio de Belo Horizonte Este

grupo de projetos foi aprovado por 20 entidades esportivas e somou o montante

financeiro de R$ 2781428728 o que representa 38 de todo o recurso autorizado

(aproximadamente R$ 72837000000) na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no

ano de 2013

O valor autorizado para as entidades esportivas sediadas em Belo

Horizonte estava distribuiacutedo em 898 (R$ 2497434621) para atividade fim que

envolve o desenvolvimento da accedilatildeo esportiva propriamente dita e 60 (R$

168278579) para a atividade meio que satildeo accedilotildees complementares e

administrativas necessaacuterias para a execuccedilatildeo do projeto esportivo Ainda temos

42 (R$ 115715528) destinados ao pagamento do serviccedilo de terceiros ndash auxilio

na elaboraccedilatildeo e captaccedilatildeo de recurso

Cabe ressaltar que trecircs projetos aprovados previam agregar recurso de

origem distinta da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) em um

total de R$ 808721662 Um quarto projeto possuiacutea previsatildeo de receita de R$

25499969 pela cobranccedila de inscriccedilatildeo a qual no entanto deveria ser reinvestida

na proacutepria accedilatildeo esportiva aprovada Todos estes valores natildeo foram contabilizados

para a anaacutelise desta pesquisa pois o foco da averiguaccedilatildeo foi o recurso autorizado

diretamente pelo mecanismo de mecenato esportivo isto eacute o recurso puacuteblico

potencialmente aplicado aos projetos

Do valor autorizado para os 32 projetos temos que R$ R$ 1068892843

foram efetivamente captados pelas proponentes ateacute a data de 15 de fevereiro de

2016 Este valor estaacute distribuiacutedo em 20 propostas distintas das quais duas (total de

R$ 21300000) natildeo atingiram o percentual miacutenimo de 20 do recurso para solicitar

readequaccedilatildeo do projeto Dos outros 18 projetos quatro jaacute haviam sido executados e

apresentado prestaccedilatildeo de contas final 11 estavam em execuccedilatildeo e trecircs mantinham-

150

se ativos na busca de recurso financeiro embora jaacute tivessem atingido o percentual

miacutenimo de 20

Figura 14 ndash Quadro comparativo entre valor autorizado e captado dos projetos esportivos de 2013 das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

Total Autorizado R$ 2781428728

Atividade Fim R$ 2497434621 (898) Atividade Meio R$ 168278579 ( 60) Serviccedilo de Captaccedilatildeo R$ 115715528 (42)

Total de projetos 32

Total de proponentes 20

Total Captado R$ 1068892843

02 projetos abaixo de 20 R$ 21300000 (20) 04 em prestaccedilatildeo de contas R$ 448069073 (419) 11 projetos em execuccedilatildeo R$ 527132599 (493) 03 acima 20 em captaccedilatildeo R$ 72391171 ( 68)

Total de projetos 20

Total de proponentes 12

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizados em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Aplicando o indicador ldquotaxa de sucessordquo para mensurar a relaccedilatildeo entre o

valor autorizado e o captado dos projetos das entidades sediadas em Belo

Horizonte temos o valor de 384 de ecircxito na escala que vai de 0 a 100 Este

percentual estaacute acima dos 323 calculados como meacutedia nacional acumulada (2007

a 2014) mas abaixo do valor nacional para os anos de 2007 (793) 2012 (431)

e 2014 (442)

Tabela 3 ndash Comparativo entre o valor autorizado e captado na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em todo o Brasil e no ano de 2013 pelas entidades sediadas em Belo Horizonte

( em Reais)

Ano fiscal

Valor autorizado (mil reais)

Valor captado (mil reais)

Taxa de Sucesso ()

2007 R$ 6418600 R$ 5092100 793 2008 R$ 24175800 R$ 8221400 340 2009 R$ 39428600 R$ 11082800 281 2010 R$ 83904200 R$ 19322000 230 2011 R$ 88315200 R$ 22104100 250 2012 R$ 49137300 R$ 21192000 431 2013 R$ 72837000 R$ 23829500 327 2014 R$ 57624000 R$ 25475400 442

Total R$ 421840700 R$ 136319300 323

2013 (BH)

R$ 2781428728 R$ 1068892843 384

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

151

No entanto devemos destacar que o suposto maior ecircxito das entidades

esportivas de Belo Horizonte pode ter sido influenciado pela presenccedila das duas

proponentes que compotildeem o rank da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) como maiores captadores de recurso no acumulado de 2007 a 2014

Ao descartar da amostra os sete projetos aprovados por estas duas proponentes

temos uma queda da taxa de sucesso para 265 com valor autorizado de R$

1498603920 e captado de R$ 396586555

Por sua vez a amostra formada apenas por estas duas proponentes tem

uma taxa de sucesso de 524 com valor autorizado de R$ 1282824808 e

captado de R$ 672306288 Ou seja duas proponentes (uma associaccedilatildeo e um

clube esportivorecreativo) tem tido papel de relevacircncia no direcionamento da

poliacutetica do mecenato esportivo em Belo Horizonte

Tabela 4 ndash Comparativo entre o Grupo 1 e Grupo 2 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013

Grupo Quantidade Proponente

Quantidade Projetos

Valor autorizado (Reais)

Valor captado (Reais)

Taxa de Sucesso

()

1 2 7 R$ 1282824808 R$ 672306288 524 2 18 25 R$ 1498603920 R$ 396586555 265

Total 20 32 R$ 2781428728 R$ 1068892843 384 Grupo 1 ndash entidades esportivas participantes do rank de maiores captadores de recurso no periacuteodo de 2007-2014 Grupo 2 ndash demais entidades sediadas em Belo Horizonte com projeto aprovado

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Estes dados estatildeo em consonacircncia com os resultados nacionais quando

foi identificado que 24 proponentes concentravam quase metade (466) do recurso

captado no acumulado de 2007 a 2014 e influenciavam para a preponderacircncia do

mecenato esportivo na regiatildeo Sudeste e na manifestaccedilatildeo rendimento

Nesse sentido eacute importante que o Ministeacuterio do Esporte reflita sobre a

diretriz e objetivo da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) uma

vez que a proposiccedilatildeo dos projetos fica a cargo das entidades esportivas e

atualmente um pequeno grupo tem sido responsaacutevel por efetivar a poliacutetica puacuteblica

Verificando a distribuiccedilatildeo do recurso em relaccedilatildeo agrave manifestaccedilatildeo esportiva

temos mais uma vez uma preponderacircncia financeira para o esporte de rendimento

registrando R$ 1570074334 (17 projetos) autorizados e R$ 617815265 (11

152

projetos) captados Jaacute o esporte educacional ficou em segundo lugar com R$

793488314 (nove projetos) aprovados e R$ 381453215 (cinco projetos)

captados seguido pela manifestaccedilatildeo de participaccedilatildeo com R$ 417866080 (seis

projetos) e R$ 69624363 (quatro projetos) respectivamente

Ao aplicar o indicador ldquotaxa de sucessordquo para mensurar a relaccedilatildeo entre os

valores autorizados e captados observamos que o esporte rendimento teve um

percentual de 393 de ecircxito Este valor foi inferior aos 481 calculados para a

manifestaccedilatildeo educacional o que contribuiu para uma melhor harmonizaccedilatildeo entre as

manifestaccedilotildees Contudo a quantia captada pelo esporte de rendimento (R$

617815265) continua sendo superior ao somatoacuterio dos valores efetivados pelos

projetos de esporte educacional e participaccedilatildeo (R$ 451077578) muito embora o

quantitativo de projetos seja muito parecido - 11 projetos captados na manifestaccedilatildeo

rendimento contra nove captados no somatoacuterio de educacional e participaccedilatildeo

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Graacutefico 21 ndash Distribuiccedilatildeo dos projetos apresentadas pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

153

Novamente ao descartar as duas proponentes que compotildeem o rank de

maiores captadores de recurso da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) no periacuteodo de 2007 a 2014 temos alteraccedilatildeo nos resultados Foi

registrada uma brusca queda na taxa de sucesso do esporte educacional que

passou de 481 para 137 de ecircxito na captaccedilatildeo Tal constataccedilatildeo aconteceu

porque uma das proponentes do grupo de sucesso foi responsaacutevel pela aprovaccedilatildeo

de quatro propostas dessa manifestaccedilatildeo (R$ 465149770) e captaccedilatildeo total ou

parcial de todas (R$ 336345215) Ao que tudo indica esta proponente se

especializou no desenvolvimento de projetos de esporte educacional e por isso

alcanccedilou uma taxa de sucesso de 723 Cabe ressaltar que apesar da expertise

da proponente foi identificada a rejeiccedilatildeo de outras duas propostas apresentadas no

ano de 2013 uma por problema documental (projeto educacional) e outra por meacuterito

(projeto de participaccedilatildeo)

Jaacute a segunda proponente participante do rank tambeacutem impactou no

desempenho do esporte de rendimento fazendo a taxa de sucesso cair de 393

para 357 Mas a maior diferenccedila foi percebida na distribuiccedilatildeo financeira pois

enquanto os dois projetos de rendimento aprovados por esta proponente alcanccedilaram

o montante efetivado de R$ 335961073 outras sete (nove projetos) conseguiram

apenas o somatoacuterio de R$ 281854192

Tabela 5 ndash Comparativo entre o Grupo 1 e Grupo 2 pelo tipo de manifestaccedilatildeo esportiva nos projetos na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013

Grupo Quantidade Proponente

Quantidade de Projetos

Manifestaccedilatildeo Esportiva

Valor autorizado (Reais)

Valor captado (Reais)

Taxa de Sucesso

()

1 2

2 Rendimento R$ 780919163 R$ 335961073 430

4 Educacional R$ 465149770 R$ 336345215 723

1 Participaccedilatildeo R$ 36755875 - 00

Total 2 7 R$ 1282824808 R$ 672306288 524

2 18

15 Rendimento R$ 789155171 R$ 281854192 357

5 Educacional R$ 328338544 R$ 45108000 137

5 Participaccedilatildeo R$ 381110205 R$ 69624363 183

Total 28 25 R$ 1498603920 R$ 396586555 265

Geral 20 32 R$ 2781428728 R$ 1068892843 384

Grupo 1 ndash entidades esportivas participantes do rank de maiores captadores de recurso no periacuteodo de 2007-2014 Grupo 2 ndash demais entidades sediadas em Belo Horizonte com projeto aprovado

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

154

Nesse sentido mais uma vez os nuacutemeros mostram como estas duas

proponentes tecircm influenciado no direcionamento do mecenato esportivo em Belo

Horizonte Como uma delas atuou no desenvolvimento do esporte educacional

acabou interferindo na melhora dos dados da manifestaccedilatildeo No entanto este

resultado proveniente da participaccedilatildeo exclusiva de uma proponente deve ser

avaliado com cuidado pois pode ocultar a fragilidade das demais entidades do

segmento Exemplo disso eacute que as outras quatro proponentes (cinco projetos) que

tambeacutem tiveram projetos de esporte educacional aprovado (R$ 328338544)

conseguiram captar somente R$ 45108000 registrando uma das piores taxa de

sucesso com o valor de 137

Investigando a origem do recurso captado pelos 20 projetos (12

proponentes) que conseguiram algum montante financeiro observou-se o registro de

406 depoacutesitos bancaacuterios sendo 283 (697) realizados por pessoa fiacutesica e 123

(303) por pessoa juriacutedica

Do grupo das pessoas fiacutesicas 280 depoacutesitos apoiavam um mesmo projeto

esportivo somando a quantia de R$ 16279151 Este projeto tinha como proponente

um tradicional clube esportivorecreativo de Belo Horizonte o qual provavelmente

realizou campanha entre seus associados As outras trecircs pessoas fiacutesicas que

completam este grupo somaram um montante de R$ 404307 disperso em trecircs

propostas esportivas distintas

Tabela 6 ndash Distribuiccedilatildeo dos depoacutesitos feitos por pessoa fiacutesica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

Categoria Quantidade depoacutesitos

Distribuiccedilatildeo ()

Total (R$)

Distribuiccedilatildeo ()

Distribuiccedilatildeo Acumulada

()

R$ 100 - R$ 50000 193 682 2128392 128 128

R$ 50100 - R$ 100000 46 163 3824866 229 357

R$ 100100 - R$ 200000 27 95 4343000 260 617

R$ 200100 - R$ 300000 10 35 2707200 162 779

R$ 300100 - R$ 400000 5 18 1860000 111 891

R$ 400100 - R$ 500000 1 04 420000 25 916

acima de R$ 500100 1 04 1400000 84 1000

Total Geral 283 1000 16683458 1000

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

155

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

O maior valor aportado por pessoa fiacutesica foi de R$ 1400000 enquanto o

menor foi de R$ 500 A meacutedia dos valores de depoacutesito foi calculada em R$ 58952 e

a moda encontrada foi de R$ 2500 com 34 depoacutesitos Foram 58 categorias de

valores de depoacutesito apuradas no caacutelculo da moda

Os dados mostram que a partir do agrupamento de pessoa fiacutesica eacute

possiacutevel gerar um montante significativo para o investimento em projetos do

mecenato esportivo No entanto o potencial de Imposto sobre a Renda (IR) devido

de pessoa fiacutesica eacute bastante inferior ao da pessoa juriacutedica o que restringe a

capacidade de efetivar uma quantidade suficiente de propostas esportivas e ateacute

mesmo levanta duacutevida sobre a eficaacutecia deste apoiador como fonte de financiamento

da poliacutetica puacuteblica Em contrapartida a inserccedilatildeo da pessoa fiacutesica como estrateacutegia de

participaccedilatildeo na ldquocoisa puacuteblicardquo eacute extremamente educativa e vaacutelida

Jaacute o grupo das pessoas juriacutedicas representa aproximadamente 13 dos

apoiadores de Belo Horizonte poreacutem em valores monetaacuterios concentra 984 (R$

1052209385) de todo o recurso aplicado nos projetos Deste montante R$

662133022 (629) foi destinado por 72 empresas privadas e R$ 390076363

(371) por seis empresas de capital misto (puacuteblico e privado) Cabe destacar que

Graacutefico 22 ndash Comparativo da distribuiccedilatildeo da quantidade e valores dos depoacutesitos feitos por pessoa fiacutesica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei

Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

156

uma uacutenica empresa de capital misto foi responsaacutevel pelo investimento de R$

238601363 isto eacute 223 de todo o investimento nos projetos esportivos

Tabela 7 ndash Distribuiccedilatildeo dos depoacutesitos feitos por pessoa juriacutedica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

Categoria Quantidade

depoacutesitos Distribuiccedilatildeo

() Total (R$)

Distribuiccedilatildeo ()

Distribuiccedilatildeo Acumulada

()

R$ 100 - R$ 100000 27 220 12710229 12 12

R$ 1000100 - R$ 2500000 16 130 28953887 28 40

R$ 2500100 - R$ 5000000 27 220 102290390 97 137

R$ 5000100 - R$ 7500000 12 98 74531670 71 208

R$ 7500100 - R$ 10000000 10 81 93303546 89 296

R$ 10000100 - R$ 20000000 18 146 277101363 263 560

R$ 20000100 - R$ 30000000 8 65 223368300 212 772

R$ 30000100 - R$ 40000000 2 16 67450000 64 836

acima de R$ 40000100 3 24 172500000 164 1000

Total Geral 123 1000 1052209385 1000

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Graacutefico 23 ndash Comparativo da distribuiccedilatildeo da quantidade e valores dos depoacutesitos feitos por pessoa fiacutesica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na

Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

157

Da mesma forma que acontece no acircmbito nacional as empresas

administradas pelo poder puacuteblico satildeo destaque no apoio aos projetos do mecenato

esportivo em Belo Horizonte Todavia se um dos princiacutepios da lei eacute (ou deveria ser)

aproximar as entidades esportivas do mercado para que mais capital privado venha

a se juntar ao recurso puacuteblico aportado na causa do esporte natildeo faz sentido que a

poliacutetica tenha no poder puacuteblico beneficiaacuterio e donataacuterio ao mesmo tempo Inclusive

caberia uma investigaccedilatildeo para avaliar a forma de seleccedilatildeo dos projetos apoiados

pela empresa puacuteblica de maneira que o mecenato esportivo natildeo se transforme em

um instrumento de apadrinhamento poliacutetico-partidaacuterio

Como alternativa para dar transparecircncia agrave participaccedilatildeo das empresas

puacuteblicas Costa (2011) sugere o estiacutemulo a editais de seleccedilatildeo puacuteblica de projetos

Inclusive esta deveria ser uma praacutetica adotada tanto para empresa de capital

puacuteblico como privado haja vista que grande parte do financiamento do mecanismo

de mecenato eacute de origem puacuteblica ndash fruto da isenccedilatildeo fiscal

Ainda em relaccedilatildeo aos depoacutesitos de pessoa juriacutedica observamos que o

maior valor aportado foi de R$ 70000000 enquanto o menor foi de R$ 120000 A

meacutedia dos valores de depoacutesito foi calculada em R$ 8554548 e a moda encontrada

foi de R$ 3000000 com sete depoacutesitos realizados Foram 84 categorias de valores

de depoacutesito apurado no caacutelculo da moda

A anaacutelise seguinte considerou a amostra das 32 propostas aprovadas e

investigou as modalidades esportivas pleiteadas Foram contabilizadas 28

modalidades esportivas distintas sendo que apenas o basquetebol e tecircnis

solicitaram tambeacutem a sua versatildeo paraoliacutempica Tivemos um total de 75 citaccedilotildees de

modalidade sendo a mais lembrada o Voleibol (10) seguido do Futsal (8) Nataccedilatildeo

(7) Basquetebol (6) e Tecircnis (6) Quando comparamos este panorama esportivo com

as propostas que tiveram ecircxito na captaccedilatildeo de recurso temos uma reduccedilatildeo para 43

citaccedilotildees distribuiacutedas em 19 modalidades esportivas conforme pode ser observada

no graacutefico a seguir

158

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Cada projeto poderia trabalhar mais de uma modalidade esportiva poreacutem

a apuraccedilatildeo da moda registrou que 23 propostas optaram por ser accedilatildeo exclusiva de

uma modalidade esportiva Deste grupo 16 projetos eram da manifestaccedilatildeo

rendimento cinco de esporte de participaccedilatildeo e dois de esporte educacional O

caraacuteter de especializaccedilatildeo do esporte de rendimento contribuiu para a

preponderacircncia desta manifestaccedilatildeo no grupo de uacutenica modalidade esportiva

Por sua vez das nove propostas que visam desenvolver mais de uma

modalidade esportiva sete satildeo da manifestaccedilatildeo educacional uma de participaccedilatildeo e

uma de rendimento Cabe ressaltar que um projeto educacional pretendia

desenvolver 13 modalidades esportivas

Graacutefico 24 ndash Distribuiccedilatildeo das modalidades esportivas apresentadas e captadas pelos projetos das entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo

ao Esporte em 2013

159

Tabela 8 ndash Distribuiccedilatildeo das modalidades esportivas por projeto apresentado por entidade esportiva sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

Categoria Quantidade

projetos Manifestaccedilatildeo Educacional

Manifestaccedilatildeo Participaccedilatildeo

Manifestaccedilatildeo Rendimento

1 modalidade esportiva 23 2 5 16

2 modalidades esportivas 1 1 - -

3 modalidades esportivas 2 2 - -

4 modalidades esportivas 2 1 1 -

6 modalidades esportivas 2 1 - 1

10 modalidades esportivas 1 1 - -

13 modalidades esportivas 1 1 - -

Total Geral 32 9 6 17

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

A maior representatividade do esporte educacional nas propostas que

visam desenvolver mais de uma modalidade esportiva sugere um cuidado das

proponentes deste segmento em diversificar a cultura esportiva dos beneficiaacuterios

Esta pluralidade e ampliaccedilatildeo na oferta das modalidades esportivas satildeo

caracteriacutesticas importantes para garantia do direito social ao esporte por isso reforccedila

a relevacircncia no pleito da manifestaccedilatildeo educacional no mecanismo de mecenato

esportivo

Vale destacar que a uacutenica proponente que apresenta o desenvolvimento

de mais de uma modalidade esportiva na manifestaccedilatildeo rendimento eacute um tradicional

clube esportivorecreativo de Belo Horizonte Ao investigar a sua proposta natildeo fica

claro se o projeto estaacute ampliando as accedilotildees jaacute realizadas ou estaacute havendo uma

transferecircncia no custeio das suas accedilotildees esportivas para a Lei Federal de Incentivo

ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

O projeto em questatildeo tambeacutem apresenta uma contrapartida da

proponente no valor de R$ 525686599 poreacutem natildeo existe informaccedilatildeo sobre a

origem do recurso Como a proponente possui outras formas de repasse de recurso

puacuteblico (convecircnio termo de parceria etc) existe a possibilidade da contrapartida

natildeo ter origem privada A ausecircncia deste lastro da contrapartida financeira pode

sinalizar para a sobreposiccedilatildeo de atividades e financiamento ou seja a proponente

receber recurso puacuteblico de entes federativos distintos (Uniatildeo Estados e Municiacutepios)

para desenvolver a mesma accedilatildeo esportiva

160

Para a proacutexima anaacutelise os 32 projetos foram agrupados pelo tipo de accedilatildeo

esportiva sendo que a pesquisa levantou as seguintes categorias 1) Escola de

esporte - visa o ensino e aprendizagem de uma modalidade esportiva sem foco no

alto rendimento ou participaccedilatildeo de competiccedilatildeo oficial 2) Evento eou Competiccedilatildeo -

propotildee a realizaccedilatildeo de um evento de promoccedilatildeo de uma praacutetica esportiva ou a

organizaccedilatildeo de uma competiccedilatildeo esportiva 3) Treinamento de equipe - objetiva a

repeticcedilatildeo continua e sistematizada do conteuacutedo esportivo na busca da melhoria do

desempenho competitivo e 4) Viagem para competiccedilotildees - viabilizar a participaccedilatildeo

de equipes esportivas em competiccedilotildees oficiais

Aleacutem disso foi contabilizada a quantidade de recurso humano solicitado

pela proponente para a execuccedilatildeo da accedilatildeo esportiva Para efeito deste caacutelculo foram

descartados os serviccedilos terceirizados da atividade meio prestado por pessoa

juriacutedica tais como assessoria contaacutebil juriacutedica administrativa ou similar poreacutem

consideramos as pessoas fiacutesicas vinculadas diretamente ao projeto

Tabela 9 ndash Distribuiccedilatildeo dos recursos humanos pelo tipo de accedilatildeo esportiva desenvolvida no projeto aprovado por entidade sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao

Esporte no ano de 2013

Categoria Total de

profissionais

Qtde profis Manifestaccedilatildeo Educacional

Qtde profis Manifestaccedilatildeo Participaccedilatildeo

Qtde profis Manifestaccedilatildeo Rendimento

Escola de Esporte 160 (12) 133 (9) 27 (3) -

Evento eou competiccedilatildeo 172 (5) - 137 (3) 35 (2)

Treinamento de equipe 159 (13) - - 159 (13)

Viagem para competiccedilatildeo - (2) - - - (2)

Total Geral 491 (32) 133 (9) 164 (6) 194 (17)

Meacutedia Profissional Contratado 153 148 273 114

( ) quantidade de projetos na categoria

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Desta forma 30 projetos encaminharam a contrataccedilatildeo de recurso

humano totalizando um montante de 491 profissionais contratados no sistema de

CLT eou como autocircnomos (RPA) As duas propostas que natildeo solicitaram

contrataccedilatildeo de profissionais pleiteavam custeio de viagem de equipe para participar

de competiccedilatildeo oficial A primeira viagem era para a categoria de base de um dos

grandes clubes de futebol de Belo Horizonte enquanto a segunda era para a

161

categoria maacutester de um clube esportivorecreativo participar de um torneio

internacional de voleibol

A viagem internacional de equipe maacutester de voleibol se adequa ao

conceito de esporte de rendimento do Inciso III do Art 3ordm da Lei Peleacute (Lei Nordm

96151998) quando trata da ldquofinalidade de obter resultados e integrar pessoas e

comunidades do Paiacutes e estas com as de outras naccedilotildeesrdquo Poreacutem eacute necessaacuterio

avaliar o impacto real da participaccedilatildeo desta equipe para a imagem do paiacutes ou a

integraccedilatildeo das naccedilotildees

Aleacutem disso o grupo participante aparenta ter poder aquisitivo alto por

fazer parte de um importante segmento econocircmico do paiacutes o que levanta a duacutevida

sobre a real necessidade do recurso puacuteblico para esta viagem Ademais o projeto

natildeo apresenta criteacuterio de seleccedilatildeo dos atletas logo natildeo fica claro se seratildeo atendidos

apenas os usuaacuterios do clube esportivorecreativo ou seraacute feito uma convocaccedilatildeo para

representar o paiacutes neste evento

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo

proacutepria

O valor modal encontrado foi a contrataccedilatildeo de cinco profissionais por

projeto presente em cinco propostas seguido de 11 profissionais (quatro

propostas) quatro profissionais (trecircs propostas) e trecircs profissionais (trecircs propostas)

Nesta anaacutelise foram contabilizadas 17 categorias sendo 127 profissionais a maior

Graacutefico 25 ndash Comparativo entre a distribuiccedilatildeo dos profissionais e dos projetos pelo tipo de accedilatildeo esportivas apresentada na proposta das entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na

Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013

162

quantidade de contratados em um projeto Trata-se de um competiccedilatildeo de motocross

dividida em quatro etapas e que a proponente contrata vaacuterios staffs para auxiliar na

logiacutestica de execuccedilatildeo

Ao observar a distribuiccedilatildeo do recurso humano nos projetos de

rendimento verificamos um valor absoluto maior (194) mas no caacutelculo da meacutedia

apresentou o menor escore (114 profissionais) entre as manifestaccedilotildees Este valor

meacutedio contraria a expectativa do projeto de rendimento possuir uma quantidade

maior de profissionais devido agrave especializaccedilatildeo da comissatildeo teacutecnica (fisioterapeuta

teacutecnico preparador fiacutesico psicoacutelogo etc)

Contudo ao apurar a quantidade de profissionais nos 20 projetos que

tiveram ecircxito na captaccedilatildeo de recurso65 notamos uma elevaccedilatildeo na meacutedia de

profissionais envolvidos nos projetos de rendimento (134 profissionais) poreacutem o

valor continua abaixo da meacutedia de profissionais dos projetos educacionais (aprovado

148 profissionais e captado 150 profissionais)

Tabela 10 ndashDistribuiccedilatildeo dos beneficiaacuterios valor total e per capita recurso humano pela manifestaccedilatildeo esportiva nos projetos aprovados por entidades esportivas sediadas em Belo

Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

Descriccedilatildeo Total Manifestaccedilatildeo Educacional

Manifestaccedilatildeo Participaccedilatildeo

Manifestaccedilatildeo Rendimento

Beneficiaacuterios Diretos 35066 (32) 11136 (9) 16116 (6) 7814 (17)

Valor Aprovado (R$) 2781428728 793488314 417866080 1570074334

Valor per capita Aprovado (R$) 79320 71254 25929 200931

Quantidade de Profissionais 491 133 164 194

Meacutedia Profissional Contratado 153 148 273 114

Responsabilidade profissional 714 837 983 403

Beneficiaacuterios Diretos 23184 (20) 6058 (5) 15396 (4) 1730 (11)

Valor Captado (R$) 1068892843 381453215 69624363 617815265

Valor per capita Capitado (R$) 46105 62967 4522 357119

Quantidade de Profissionais 248 75 26 147

Meacutedia Profissional Contratado 124 150 65 134

Responsabilidade profissional 935 808 5922 118

( ) quantidade de projetos na categoria

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

65

Este caacutelculo eacute uma estimativa pois a anaacutelise estaacute levando em consideraccedilatildeo os projetos originalmente aprovados No entanto aquelas propostas que natildeo captaram 100 do recurso autorizado podem solicitar readequaccedilatildeo do projeto e logo alteraccedilatildeo na quantidade de profissionais e beneficiaacuterios De acordo com informaccedilatildeo de um membro do Ministeacuterio do Esporte o sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte natildeo armazena a versatildeo readequada do projeto

163

Uma vez que a meacutedia de profissionais contratados natildeo mostrou

diferenccedilas entre as manifestaccedilotildees esportivas e na comparaccedilatildeo de valor autorizado e

captado foi feita nova anaacutelise mas agora levando em consideraccedilatildeo a quantidade de

beneficiaacuterios O indicador criado foi o de ldquoresponsabilidade profissionalrdquo que

representa a quantidade de beneficiaacuterios que fica sobre a supervisatildeo e

responsabilidade de um profissional contratado O caacutelculo foi realizado pela divisatildeo

aritmeacutetica da quantidade de beneficiaacuterios pela quantidade de profissionais

Notamos que nos projetos de esporte de rendimento cada profissional

orienta em meacutedia 403 (projeto aprovado) e 118 (projeto captado) beneficiaacuterios

enquanto no esporte educacional a meacutedia estaacute em torno de 80 beneficiaacuterios (837 no

projeto aprovado e 808 no projeto captado) Jaacute para a manifestaccedilatildeo de participaccedilatildeo

o valor variou bastante ficando entre 983 (aprovado) e 5922 (captado)

beneficiaacuterios para cada profissional

Nesse sentido a diferenccedila entre as manifestaccedilotildees esportivas dos projetos

apresentados pelas entidades esportivas de Belo Horizonte natildeo estaacute na quantidade

de profissionais pleiteados mas no nuacutemero de beneficiaacuterios atendidos por cada um

destes profissionais Assim o niacutevel de atenccedilatildeo e tempo despendido para cada

beneficiaacuterio no esporte de rendimento tende a ser maior que o das demais

manifestaccedilotildees em contrapartida haacute um menor potencial de atendimento Poreacutem a

democratizaccedilatildeo do direito social ao esporte estaacute no acesso a sua fruiccedilatildeo logo

diminuir a capacidade de atendimento pode ter impacto negativo

Outro indicador que mostrou grande diferenccedila entre as manifestaccedilotildees

esportivas foi o ldquovalor per capitardquo dos projetos isto eacute o valor investido pelo projeto

em cada beneficiaacuterio Para o caacutelculo meacutedio deste indicador dividiu-se o montante

financeiro dos projetos pela quantidade de beneficiaacuterios correspondente O resultado

encontrado eacute o valor financeiro meacutedio investido em cada beneficiaacuterio por projeto

Observa-se que o investimento meacutedio nos beneficiaacuterios do esporte de rendimento

(projeto aprovado R$ 200931 e projeto captado R$ 357119) foi muito superior ao

do esporte educacional (projeto aprovado R$ 71254 e projeto captado R$ 62967) e

do esporte de participaccedilatildeo (projeto aprovado R$ 25929 e projeto captado R$ 4522)

164

Tabela 11 ndash Descriccedilatildeo dos projetos aprovados pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte nos quesitos quantidade de beneficiaacuterios

duraccedilatildeo do projeto valor per capita aprovado e captado

Identificaccedilatildeo do Projeto

Manifestaccedilatildeo Esportiva

Quantidade de

beneficiaacuterios

Duraccedilatildeo projeto

Valor Per capita aprovado

(R$)

Valor Per capita captado

(R$)

10 Educacional 4050 12 1339 -

15 Educacional 600 12 5946 5946

7 Educacional 3436 12 6293 4073

14 Educacional 1117 12 7867 5804

18 Educacional 605 12 7908 6581

29 Educacional 150 12 9535 -

30 Educacional 400 12 10612 -

20 Educacional 478 12 11722 -

8 Educacional 300 12 35532 12530

Maacuteximo 4050 12 35532 12530

Miacutenimo 150 12 1339 5804

Meacutedia 12373 120 10750 6987

25 Participaccedilatildeo 12000 12 412 100

0 Participaccedilatildeo 3000 2 3252 3252

28 Participaccedilatildeo 200 12 5923 5923

17 Participaccedilatildeo 520 11 6426 -

19 Participaccedilatildeo 196 12 32095 9141

31 Participaccedilatildeo 200 12 88576 -

Maacuteximo 12000 12 88576 9141

Miacutenimo 200 2 412 100

Meacutedia 26860 101 22781 4604

12 Rendimento 5000 6 3132 -

24 Rendimento 1000 6 3609 -

2 Rendimento 210 12 10824 10824

5 Rendimento 150 12 42430 37222

9 Rendimento 96 13 43827 24760

1 Rendimento 210 12 48621 27778

13 Rendimento 50 13 52311 52311

26 Rendimento 64 12 53663 716

27 Rendimento 40 12 69269 -

4 Rendimento 150 12 77473 11528

11 Rendimento 710 10 86521 34783

3 Rendimento 40 12 91780 45417

6 Rendimento 10 12 113234 79792

22 Rendimento 32 5 193360 -

21 Rendimento 10 12 304061 -

16 Rendimento 40 9 462832 247222

23 Rendimento 2 12 820481 -

Maacuteximo 5000 13 820481 247222

Miacutenimo 2 5 3132 716

Meacutedia 4596 107 145731 52032

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

165

No entanto independente da manifestaccedilatildeo esportiva os projetos satildeo

bastante distintos entre eles e o ldquovalor per capitardquo meacutedio torna-se apenas uma

referecircncia para comparaccedilotildees de projetos sem levar em consideraccedilatildeo o conteuacutedo ou

meacuterito esportivo Por isso a tabela anterior apresentou um panorama geral dos 32

projetos aprovados ateacute a data de 15 de fevereiro de 2016

Cabe ressaltar que na tabela o calculo do ldquovalor per capitardquo levou em

conta a quantia autorizada ou captada pelo projeto e sua relaccedilatildeo com o montante de

beneficiaacuterios a ser atendido mas tambeacutem o tempo de execuccedilatildeo da proposta Desta

maneira foi parametrizado o investimento mensal do projeto para o atendimento de

cada beneficiaacuterio Notamos que os valores calculados satildeo bastante diferentes entre

eles poreacutem os de rendimento satildeo os que possuem os maiores registros tanto que

cinco projetos implicam em investimento mensal superior a R$ 100000 em cada

atendido

Natildeo existe normativa sobre o investimento per capita em projetos

contudo levando em consideraccedilatildeo que um dos princiacutepios para a existecircncia da

poliacutetica de financiamento puacuteblico ao esporte eacute gerar a democratizaccedilatildeo do acesso a

este elemento da cidadania social devemos observar se o valor empregado no

projeto natildeo eacute superior ao serviccedilo similar ofertado pelo mercado Isto eacute um projeto de

ldquoescolinha de esporterdquo na manifestaccedilatildeo educacional que tem um investimento

mensal previsto em R$ 35532 como o de identificaccedilatildeo nuacutemero 8 na tabela natildeo

estaacute ofertando uma atividade esportiva igual agrave contratada no mercado mas com

valor superior

Nesse sentido o valor per capita pode ser utilizado como um quesito para

comparaccedilatildeo dos valores utilizados nos projetos com os praticados pelo mercado

funcionando como um balizador de preccedilo No entanto torna-se necessaacuterio ter

clareza no objetivo do mecanismo de mecenato esportivo pois tanto autorizar

projetos com chancela estatal a captar recurso de isenccedilatildeo fiscal quanto contratar um

serviccedilo privado com recurso puacuteblico (direto ou indireto) podem gerar o mesmo

resultado de acesso ao esporte Poreacutem o impacto na profissionalizaccedilatildeo e na cadeia

produtiva esportiva podem ser diferentes

166

53 Local e puacuteblico de atuaccedilatildeo dos projetos

Uma das novas diretrizes trazidas pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 foi a

descentralizaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas de maneira a proporcionar uma maior

proximidade entre o poder estatal e os beneficiaacuterios da accedilatildeo puacuteblica Nesse sentido

busca-se uma maior cooperaccedilatildeo entre os entes federativos (Uniatildeo Estados

Subnacionais e Municiacutepios) mas o Estado brasileiro tambeacutem passou a contar com o

apoio da sociedade civil organizada (associaccedilatildeo e fundaccedilotildees) para o

desenvolvimento e execuccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas

A participaccedilatildeo das entidades civis tem sido avaliada pelos gestores

puacuteblicos federais como beneacutefica devido agrave capacidade de fortalecimento da rede de

solidariedade jaacute existente aleacutem de possibilitar a ampliaccedilatildeo na abrangecircncia territorial

de atendimento das poliacuteticas puacuteblicas Ademais as entidades civis por estarem

envolvidas com a execuccedilatildeo de accedilotildees sociais satildeo detentoras de uma expertise

operacional que contribui no aprimoramento das poliacuteticas estatais (LOPEZ e

ABREU 2014)

Neste contexto a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) pode ser considerada uma ferramenta de descentralizaccedilatildeo da poliacutetica

esportiva pois permite que tanto a pessoa juriacutedica de direito puacuteblico quanto de

direito privado participe do chancelamento de projetos esportivos sem restriccedilatildeo de

lugar ou espaccedilo para a praacutetica

Para verificar a distribuiccedilatildeo territorial dos 32 projetos aprovados por

entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte foi feito o levantamento das

citaccedilotildees de locais de atividade Como cada proposta poderia sugerir mais de um

lugar de intervenccedilatildeo esportiva o nuacutemero consolidado foi superior a 32 indicaccedilotildees

Para a anaacutelise em Belo Horizonte levamos em consideraccedilatildeo a organizaccedilatildeo do

municiacutepio em nove regionais administrativas sendo 1) Barreiro 2) Centro-Sul 3)

Leste 4) Nordeste 5) Noroeste 6) Norte 7) Oeste 8) Pampulha 9) Venda Nova

(BELO HORIZONTE 2008)

167

Fonte Belo Horizonte (2008 p14) ndash Adaptado

Registramos 34 locais de intervenccedilatildeo esportiva na cidade sendo que a

Regional Centro-Sul foi a mais lembrada com 12 citaccedilotildees seguida pelas Regionais

Oeste (7) e Pampulha (5) Por sua vez as Regionais Venda Nova Norte e Noroeste

natildeo receberam nenhuma citaccedilatildeo muito embora os dados do Censo do IBGE de

2010 mostrem que estatildeo entre as quatro menores rendas domiciliares per capita66

da cidade Ou seja as regionais administrativas que natildeo estatildeo sendo atendidas pela

Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) satildeo as que abrigam

pessoas com maior dificuldade financeira para acessar o direito social ao esporte

pela via do mercado Logo a capacidade de capilarizaccedilatildeo da poliacutetica esportiva para

territoacuterios de vaacutecuo estatal natildeo foi observado no cenaacuterio belorizontino

66

Dados do Censo do IBGE de 2010 mas acessadas no site da Prefeitura de Belo Horizonte Disponiacutevel em lthttpportalpbhpbhgovbrpbhecpfilesdoevento=downloadampurlArqPlc=des-t072xlsgt

Figura 15 ndash Mapa com as regionais administrativas de Belo Horizonte

77

55

1122

22

22

44

168

Tabela 12 ndash Distribuiccedilatildeo dos locais de atuaccedilatildeo dos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

Belo Horizonte Renda

Domiciliar per capita

Citaccedilotildees Distribuiccedilatildeo

() Interior de

Minas Gerais Citaccedilotildees

Distribuiccedilatildeo ()

Barreiro R$ 67537 2 50 Araguari 1 13

Centro-Sul R$ 333743 12 150 Barroso 1 13

Leste R$ 108878 4 50 Betim 2 25

Nordeste R$ 108337 2 25 Brumadinho 3 38

Noroeste R$ 104817 - - Contagem 2 25

Norte R$ 75926 - - Ibiriteacute 2 25

Oeste R$ 134840 7 88 Ipatinga 4 50

Pampulha R$ 163359 5 63 Itabirito 2 25

Venda Nova R$ 70456 - - Naque 1 13

Nova Lima 1 13

Paracatu 1 13

Patos de Minas 1 13

Piriquito 2 25

Poccedilos de

Caldas 1 13

Santa Luzia 2 25

Satildeo Gonccedilalo

do Rio Abaixo 1 13

Sarzedo 1 13

Timoacuteteo 1 13

Trecircs Coraccedilotildees 1 13

Trecircs Pontas 1 13

Tupaciguara 1 13

Uberlacircndia 1 13

Varginha 1 13

Vespasiano 1 13

Outros

Estados 11 138

MeacutediaTotal R$ 129766 34 425 Total Geral 46 575

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

A falta de accedilotildees esportivas nas regionais Venda Nova Norte e Noroeste

pode sugerir uma carecircncia de qualificaccedilatildeo das entidades sediadas nestas

localidades haja vista que Belo Horizonte possui 518 entidades privadas sem fins

lucrativos de natureza recreativa segundo dados do IBGE67 Deste universo de

entidades apenas 46 apresentaram projetos no mecenato esportivo em 2013 sendo

67

Disponiacutevel em lthttpwwwcidadesibgegovbrcartogramamapaphplang=ampcoduf=31ampcodmun=310620ampidtema=101ampcodv=v11ampsearch=minas-gerais|belo-horizonte|sintese-das-informacoes-gt

169

que 20 tiveram ecircxito na aprovaccedilatildeo mas somente 12 conseguiram efetivar as suas

accedilotildees Trata-se de um nuacutemero muito restrito de participaccedilatildeo na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) principalmente para o contexto de uma

das maiores capitais do paiacutes Por isso aleacutem de melhorar a divulgaccedilatildeo do

mecanismo tambeacutem se torna preciso capacitar as entidades esportivas de forma

que aquelas localizadas em regiotildees menos favorecidas tenham chances de competir

em niacutevel de igualdade

Outro nuacutemero que chamou a atenccedilatildeo na distribuiccedilatildeo geograacutefica dos

projetos foi haacute alta incidecircncia de accedilotildees fora da capital Foram contabilizadas 35

citaccedilotildees de atividade esportiva a serem realizadas em 24 cidades do interior de

Minas Gerais apesar de todas as entidades estarem sediadas na capital mineira

Este dado mostra a possibilidade de transferecircncia de conhecimento e tecnologia

esportiva para regiotildees interioranas por meio da execuccedilatildeo de accedilotildees para aleacutem da

cidade sede da proponente

Contudo este tipo de accedilatildeo deve ser avaliado com certo cuidado pois a

falta de articulaccedilatildeo com a rede de serviccedilos do interior pode causar desestiacutemulo para

as entidades esportivas atuantes localmente Assim ao inveacutes das accedilotildees do

mecenato esportivo fortalecerem o que jaacute existe podem esta substituindo

temporariamente o atendimento sem haver troca de experiecircncia e no futuro

criando um novo vazio esportivo

Ainda catalogamos accedilotildees esportivas em 10 cidades localizadas na Bahia

e uma no Paraacute Ao verificar os trecircs projetos que pleiteavam atividades fora de Minas

Gerais observamos que todos eram de uma uacutenica proponente a mesma que

compunha o rank das maiores captadoras de recurso da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte (Lei Nordm 114382006)

Por conta da distacircncia entre Belo Horizonte e as cidades destes outros

estados torna-se importante refletir sobre o impacto de uma entidade esportiva

assumir uma responsabilidade de abrangecircncia territorial tatildeo grande Cabe lembrar

que uma das motivaccedilotildees para o Estado brasileiro utilizar das entidades civis para a

execuccedilatildeo de poliacutetica puacuteblica eacute sua maior proximidade com a populaccedilatildeo beneficiaacuteria

Neste caso a relaccedilatildeo de afinidade pode ficar abalada ou no miacutenimo prejudicada

A escolha do puacuteblico-alvo do projeto eacute outra fonte de informaccedilatildeo

interessante para verificar o potencial de democratizaccedilatildeo do direito social ao

esporte Assim o quantitativo de beneficiaacuterios dos 32 projetos aprovados foi

170

consolidado levando em consideraccedilatildeo a faixa-etaacuteria e a manifestaccedilatildeo esportiva

Como cada projeto poderia atender mais de uma categoria de faixa-etaacuteria o

somatoacuterio de incidecircncia nas propostas pode ser um valor superior as 32 aprovaccedilotildees

Tabela 13 ndash Distribuiccedilatildeo do puacuteblico-alvo dos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

Faixa-etaacuteria Quantidade

Beneficiaacuterios Distribuiccedilatildeo

() Educacional Rendimento Participaccedilatildeo

Crianccedila (0 a 12 anos) 7739 221 7077 (9) 324 (9) 338 (1)

Adolescente (10 a 18 anos) 7511 214 3878 (9) 2951 (13) 682 (3)

Adulto (18 a 59 anos) 16812 479 163 (5) 3249 (7) 13400 (5)

Idoso (a partir de 60 anos) 2250 64 - 750 (1) 1500 (2)

Pessoa com deficiecircncia 754 22 18 (1) 540 (2) 196 (2)

Total Geral 35066 1000 11136 (24) 7814 (32) 16116 (13)

idades delimitadas pelo sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte ( ) quantidade de projetos

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Notamos que 435 (15250) dos projetos visa atender o segmento jovem

sendo que 718 (10955) deste montante estaacute vinculado a manifestaccedilatildeo de esporte

educacional Os nuacutemeros mostram a abrangecircncia dos projetos educacionais para

garantir o acesso do puacuteblico jovem a este elemento social da cidadania

Ao buscar nas nove propostas educacionais mais informaccedilotildees descritivas

sobre a caracteriacutestica do puacuteblico jovem notamos que nenhuma trazia dado adicional

agrave delimitaccedilatildeo de idade Desta forma procuramos extrair os atributos dos

beneficiaacuterios dos possiacuteveis criteacuterios de seleccedilatildeo para a participaccedilatildeo na accedilatildeo Foi

recorrente mencionar que o projeto atenderia jovens em situaccedilatildeo de vulnerabilidade

social (2) ou risco social (3) aleacutem da repeticcedilatildeo da exigecircncia legal de 50 de

beneficiaacuterios matriculados em escola puacuteblica Mas apenas uma proposta indicou

articulaccedilatildeo com o Centro de Referecircncia em Assistecircncia Social (CRAS) da regiatildeo

para captar o puacuteblico-alvo e demonstrar o cumprimento do atributo Aparentemente

os demais projetos utilizaram os termos (vulnerabilidade e risco social) como

maneira de dar relevacircncia social a accedilatildeo esportiva a ser realizada pois natildeo havia

evidecircncias de comprovaccedilatildeo do contexto de fragilidade Outras quatro propostas natildeo

acrescentaram nenhuma informaccedilatildeo ao puacuteblico-alvo do projeto

171

Ter bom comportamento em sala ter presenccedila na escola e estarem dento do perfil do projeto que eacute assistir crianccedilas e adolescente de baixa renda e que moram em comunidades em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social (PROJETO 15 p5) [] eacute um projeto soacutecio-educativo de cunho esportivo para crianccedilas e adolescentes de 06 a 17 anos em situaccedilatildeo de risco social em quadra de tecircnis proacutexima agrave escola dos participantes (PROJETO 20 p4)

Esta debilidade argumentativa nas propostas aprovadas coloca em duacutevida

quem satildeo os possiacuteveis beneficiaacuterios dos projetos Mas natildeo foi um problema

exclusivo dos projetos educacionais pois esteve presente na grande maioria das

propostas No caso dos 13 projetos da manifestaccedilatildeo esporte de rendimento que

atenderiam o puacuteblico jovem ainda havia o agravante de um possiacutevel criteacuterio de

desempenho preacutevio (7) ou jaacute participar da entidade esportiva (4) Outras duas

propostas nada acrescentaram sobre o puacuteblico ou criteacuterio de seleccedilatildeo

40 atletas jovens e adultos [da proponente] das categorias juvenil a secircnior com qualidades fiacutesicas e habilidades teacutecnicas apropriadas para o desenvolvimento do esporte de alto rendimento na modalidade de nataccedilatildeo (PROJETO 16 p3 ndash entre colchetes substituiu o nome da proponente) Atletas praticantes da modalidade futsal com comprovado domiacutenio da praacutetica deste esporte 50 provenientes de escolas puacuteblicas de belo horizonte e regiatildeo Adolescentes do sexo masculino em sua parte estudantes de escolas puacuteblicas com capacidade teacutecnica comprovada para o desenvolvimento da modalidade direcionado ao desporto de rendimento Importante salientar que por se tratar de grande parte de pessoas carentes eacute de suma importacircncia o auxiacutelio transporte (PROJETO 26 p4)

Nesse sentido os jovens participantes dos projetos de rendimento jaacute

teriam que ter tido contato preacutevio com a modalidade logo o direito social ao esporte

deveria ter sido garantido por outra via que natildeo fosse o mecenato esportivo

Contudo a maior vedaccedilatildeo estaacute na seleccedilatildeo feita entre o puacuteblico da proacutepria

proponente ou seja apesar do recurso ter caraacuteter puacuteblico existe uma condicionante

de acesso agrave populaccedilatildeo em geral como por exemplo o pagamento da mensalidade

para ser associado do clube esportivorecreativo

Por outro lado os projetos de rendimento tambeacutem natildeo deixam claro se o

puacuteblico a ser atendido eacute fruto de uma ampliaccedilatildeo da accedilatildeo desenvolvida pela

proponente ou se estaacute havendo apenas uma transferecircncia do custeio de atividade jaacute

realizada Neste segundo caso o mecanismo de mecenato esportivo natildeo traria

nenhum beneficio adicional agrave sociedade haja vista que natildeo proporcionaria

ampliaccedilatildeo de acesso ao esporte e tatildeo pouco inovaccedilatildeo para a aacuterea

172

Enfim a forma de distribuiccedilatildeo do recurso no territoacuterio associado agrave

deficiecircncia argumentativa na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo dos projetos aprovados exibe

uma fragilidade no desenvolvimento do mecenato esportivo na capital mineira

Grande parte da conjuntura poderia ser justificada pela incipiente profissionalizaccedilatildeo

do setor esportivo Entretanto duas proponentes de destaque nacional na Lei

Federal de Incentivo ao Esporte estatildeo sediadas em Belo Horizonte e apresentaram

problemas similares em suas propostas embora tenham aprovado e captado Logo

a questatildeo natildeo estaacute apenas na profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas mas

tambeacutem na relaccedilatildeo que o Ministeacuterio do Esporte manteacutem com o mecanismo de

mecenato esportivo Isto eacute tratar a poliacutetica como meramente financeira quando na

verdade ela tem uma responsabilidade de desenvolvimento do esporte e

democratizaccedilatildeo do acesso a um elemento social da cidadania Mas para efetivar

este segundo eixo torna-se necessaacuterio discutir e propor uma diretriz para a poliacutetica

puacuteblica

173

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS UM ENSAIO PARA PENSAR A POLIacuteTICA DE FINANCIAMENTO AO ESPORTE

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 foi um marco para a sociedade brasileira

mas tambeacutem para o setor esportivo brasileiro ao incluir pela primeira vez na histoacuteria

do paiacutes o esporte como direito social O novo status do esporte acarretou a

obrigaccedilatildeo do Estado de atuar de forma ativa na proposiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de oportunizar o acesso e fruiccedilatildeo deste objeto social a todos os cidadatildeos

Ao investigar os documentos da Assembleia Nacional Constituinte

notamos que coube agraves tradicionais entidades representativas do esporte de

rendimento o protagonismo na inclusatildeo do tema no texto constitucional Assim o Art

217 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representou a ldquocarta de alforriardquo destas

entidades por prever autonomia e liberdade de funcionamento ao mesmo tempo

em que manteve a tradicional tutela do financiamento puacuteblico estatal Esta relaccedilatildeo

poderia ser considerada contraditoacuteria natildeo fosse o status de direito social Isto eacute o

entendimento do esporte como elemento da heranccedila social que agrega e gera

pertencimento dos indiviacuteduos agrave sociedade brasileira Por isso estabelece-se motivo

para o financiamento do Estado agraves entidades colaboradoras

No processo de reformulaccedilatildeo do esporte tambeacutem emergiu novas

expressotildees a manifestaccedilatildeo educacional (Art 217 inciso II) e esporte como

promoccedilatildeo do lazer (Art 217 inciso IV sect 3ordm) aleacutem do jaacute tradicional esporte de

rendimento (Art 217 inciso II) (BRASIL 1988a) Para Tubino (2005 2010) estas

possiacuteveis manifestaccedilotildees impliacutecitas no texto constitucional satildeo na verdade uma

consolidaccedilatildeo das discussotildees realizadas pela Comissatildeo de Reformulaccedilatildeo do

Desporto Nacional quando os termos Esporte-Educaccedilatildeo Esporte-Lazer e Esporte-

Rendimento apareceram As novas manifestaccedilotildees satildeo uma tentativa de expandir o

conceito esportivo para aleacutem da conversadora expressatildeo atleacutetica de desempenho

competitivo

Contudo ateacute a criaccedilatildeo da Secretaria de Desportos da Presidecircncia da

Repuacuteblica as novas manifestaccedilotildees esportivas natildeo passavam de discussotildees no

campo teoacuterico A nova estrutura estatal trouxe o esporte mais uma vez para a

agenda puacuteblica e no dia 6 de julho de 1993 foi aprovada a Lei Zico (Lei Nordm

86721993) A legislaccedilatildeo que se apresentava como norma geral do esporte

consolidou as trecircs manifestaccedilotildees Aleacutem disso mostrou a forccedila do setor do alto

174

rendimento ao conseguir flexibilizar no Congresso Nacional a eminente reforma

administrativa das entidades do esporte profissional principalmente no segmento do

futebol

A incapacidade da Lei Zico (Lei Nordm 86721993) de superar os problemas

estruturais da cadeia esportiva nacional estimulou nova rodada de debate para

reformulaccedilatildeo da norma geral para a aacuterea Depois de quase trecircs anos de tracircmite no

Congresso Nacional foi aprovada a Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) que reafirmou as

trecircs manifestaccedilotildees esportivas esporte de rendimento esporte educacional e esporte

de participaccedilatildeo aleacutem de trazer novas mas limitadas modernizaccedilotildees ao esporte

Em 16 de julho de 2001 foi aprovada a Lei AgneloPiva (Lei Nordm

102642001) que alterou o Art 56 da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) e possibilitou o

repasse de parte da receita das loterias federais para o esporte As beneficiaacuterias do

financiamento puacuteblico foram as entidades representativas do esporte sendo que um

percentual maior do recurso ficou vinculado agrave manifestaccedilatildeo rendimento Assim

mesmo sendo o esporte educacional e de participaccedilatildeo prioridades constitucionais

(inciso II do Art 217) o esporte de rendimento foi o primeiro a conquistar uma fonte

de financiamento puacuteblica Este fato mostra a forccedila e prestigio deste setor para

influenciar os formuladores de poliacutetica puacuteblica

Somente com a posse do Presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio Lula da

Silva (PTSP) e criaccedilatildeo do Ministeacuterio do Esporte com a Secretaria Nacional de

Esporte Educacional (SNEE) a Secretaria Nacional de Esporte e Lazer (SNEL) e

Secretaria Nacional de Esporte de Rendimento (SNER) foi possiacutevel uma estrutura

para o desenvolvimento de todas as manifestaccedilotildees esportivas O Programa

Segundo tempo (PST) e Programa Esporte e Lazer da Cidade (PELC) foram as

primeiras iniciativas para democratizar o esporte educacional e de participaccedilatildeo

respectivamente Estes programas tambeacutem colocaram o Estado brasileiro no papel

de executor de poliacuteticas puacuteblicas de esporte

Talvez este seja o momento de maior materializaccedilatildeo do direito social ao

esporte na sociedade brasileira contemporacircnea pois os novos programas

permitiram a fruiccedilatildeo do elemento social sem objetivo de formaccedilatildeo do atleta mas

como uma possibilidade de acesso a heranccedila social Novos atores sociais surgem

no campo do debate esportivo e passa a existir um diaacutelogo com a localidade por

meio de um processo de municipalizaccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica

175

As duas Conferecircncias Nacionais do Esporte (2004 2006) que se seguem

foram importantes para o amadurecimento do setor esportivo e acuacutemulo de capital

de conhecimento Especificadamente na segunda ediccedilatildeo da conferecircncia

argumentou-se sobre alternativas de financiamento puacuteblico para as entidades que

contribuem para a promoccedilatildeo do esporte havendo a sugestatildeo de leis de incentivo

fiscal nos trecircs entes federativos (Uniatildeo Estados Subnacionais e Municiacutepios) Como

estrateacutegia modelo o Ministeacuterio do Esporte havia encaminhado ao Congresso

Nacional o Projeto de Lei Nordm 69992006 que tratava sobre incentivo fiscal para a

aacuterea do esporte O projeto natildeo foi aprovado ateacute a data da conferecircncia mas serviu de

exemplo do governo federal para os demais governos subnacionais

Apesar do envio do projeto pelo Ministeacuterio do Esporte desde 2003 jaacute

tramitava no poder legislativo um projeto de lei similar de incentivo ao esporte do

Deputado Federal Bismarck Maia (PSDBCE) O pedido de urgecircncia do poder

executivo agilizou o processo e no dia 29 de dezembro de 2006 foi aprovada a Lei

Nordm 11438 popularmente conhecida como Lei Federal de Incentivo ao Esporte

Durante a passagem do projeto no Congresso Nacional foi recorrente a

lembranccedila da Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) e Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991)

como modelos de financiamento beneacuteficos para o crescimento do setor cultural No

entanto o mecanismo de mecenato cultural jaacute apresentava problemas na maneira

de distribuiccedilatildeo do recurso Grande parte dos impasses poderia ser minimizada com

a elaboraccedilatildeo de uma diretriz puacuteblica para o financiamento Mas independente da

realidade posta na aacuterea cultural o debate de criaccedilatildeo do mecanismo de mecenato

esportivo se restringiu quase exclusivamente agrave questatildeo teacutecnica orccedilamentaacuteria

Somente no comeccedilo das discussotildees legislativas sobre a Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) foi exibida a intenccedilatildeo do mecanismo em

beneficiar apenas as manifestaccedilotildees de esporte educacional e de participaccedilatildeo aleacutem

das modalidades natildeo oliacutempicas do esporte de rendimento Isso porque a Lei

AgneloPiva (Lei Nordm 102642001) jaacute canalizava recurso para o esporte oliacutempico

Contudo este argumento logo perdeu forccedila ateacute transformar o mecenato esportivo

em uma poliacutetica de financiamento ao esporte no geral Outro argumento presente

apenas no princiacutepio tratava da necessidade de contrapartida financeira do apoiador

como maneira de ampliar o montante disponiacutevel para o setor esportivo Esta opccedilatildeo

perdeu espaccedilo para a deduccedilatildeo integral do recurso apoiado tanto que no texto final

da legislaccedilatildeo ficou sem sentido a distinccedilatildeo entre patrociacutenio e doaccedilatildeo

176

Cabe ressaltar que a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) natildeo foi o primeiro mecanismo de mecenato esportivo aprovado na

aacuterea muito embora seja o primeiro a ser efetivado No final da deacutecada de 1980 e

iniacutecio de 1990 o poder legislativo em desacordo com o poder executivo aprovou a

Lei Mendes Thame (Lei Nordm 77521989) que criou trecircs modalidades de apoio via

mecanismo de mecenato esportivo Mas a legislaccedilatildeo vigorou apenas um dia por

contada suspensatildeo de todos os incentivos fiscais pelo receacutem-empossado Presidente

da Repuacuteblica Fernando Collor (PRNAL) Entretanto a discussatildeo deste mecanismo

de financiamento sequer foi lembrada durante a discussatildeo da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

Neste contexto notamos que o debate para aprovaccedilatildeo da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) se apropriou pouco do arcabouccedilo teoacuterico

e praacutetico existente sobre o funcionamento do mecanismo de mecenato O resultado

disso foi a reproduccedilatildeo de problemas experimentados na aacuterea cultural para o setor

esportivo tais como a concentraccedilatildeo de recurso na manifestaccedilatildeo rendimento (498

do valor captado de 2007-2014) e um maciccedilo investimento na regiatildeo Sudeste (73

do valor captado de 2007-2014) Este cenaacuterio de distribuiccedilatildeo desigual ainda foi

diretamente influenciado pelo acuacutemulo de recurso em um restrito grupo de 24

entidades esportivas (responsaacuteveis por 490 do valor captado de 2007-2014) das

quais seis satildeo tambeacutem beneficiarias da Lei AgneloPiva (Lei Nordm 102642001)

Ao analisar a conjuntura da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) no ano de 2013 para as entidades esportivas sediadas em Belo

Horizonte percebemos que dos 83 projetos apresentados 35 (422) foram

rejeitados 32 (386) aprovadas 13 (156) estavam em tracircmite e trecircs (36) natildeo

tinham informaccedilatildeo ou estavam identificados como protocolados Estes dados

mostram como eacute relevante o nuacutemero de rejeiccedilatildeo de projetos no funcionamento do

mecanismo

Seja por meacuterito ou por problemas documentais eacute importante que o

Ministeacuterio do Esporte amplie a interlocuccedilatildeo com as proponentes para minimizar as

restriccedilotildees de acesso Isso porque um dos objetivos da poliacutetica eacute (ou deveria ser)

aproximar o setor privado das entidades esportivas para que em um futuro proacuteximo

o montante disponiacutevel no setor seja maior que o recurso puacuteblico investido Nesse

sentido o mecenato esportivo natildeo pode ser entendido apenas como uma poliacutetica de

177

distribuiccedilatildeo de recurso mas tambeacutem como um potencial instrumento de

profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas

Verificando a distribuiccedilatildeo financeira dos 32 projetos aprovados (20

proponentes) notamos que dois proponentes que compotildeem o rank nacional dos

maiores captadores de recurso da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) no periacuteodo de 2007 a 2014 influenciaram diretamente no resultado

Estas proponentes foram responsaacuteveis pela aprovaccedilatildeo de sete projetos e a

autorizaccedilatildeo do montante de R$ 1282824808 dos quais R$ 672306288 foram

efetivamente captados Estes nuacutemeros representaram um taxa de sucesso de 524

da relaccedilatildeo entre valor autorizado e captado Por sua vez as demais 18 proponentes

que tiveram projetos aprovados responsaacuteveis por outros 25 projetos (R$

1498603920) conseguiram captar apenas R$ 396586555 Este montante

representa uma taxa de sucesso de 265

Os nuacutemeros mostram como a poliacutetica puacuteblica tem sido direcionada por um

grupo restrito de entidades esportivas A escolha de alocaccedilatildeo de recurso destas

proponentes acaba reforccedilando a concentraccedilatildeo de recurso existente na regiatildeo

Sudeste do paiacutes e na manifestaccedilatildeo esporte de rendimento No caso de Belo

Horizonte uma das proponentes de destaque optou pelos projetos de esporte

educacional o que acabou sendo beneacutefico para a manifestaccedilatildeo Todavia a decisatildeo

de alocaccedilatildeo do recurso educacional ficou quase que exclusivamente ldquonas matildeosrdquo

desta proponente Desta forma notamos o caraacuteter privado e particular que envolve a

aplicaccedilatildeo do recurso puacuteblico

Ao analisar como as accedilotildees esportivas das 32 propostas aprovadas

estavam espalhadas no territoacuterio de Belo Horizonte identificamos 34 locais de

intervenccedilatildeo dos quais a regional Centro-Sul foi a mais lembrada com 12 citaccedilotildees

Todavia esta eacute a regional com a maior meacutedia de renda domiciliar per capita do

municiacutepio ou seja onde as pessoas teriam as melhores condiccedilotildees de ter acesso ao

direito social do esporte pela via do mercado Em contrapartida as regionais Venda

Nova Norte e Noroeste que estatildeo entre as quatro piores meacutedias de renda domiciliar

per capita natildeo foram sequer lembradas

Estes dados ilustram a dificuldade do recurso chegar aos locais onde

tradicionalmente a poliacutetica puacuteblica jaacute tem dificuldade de estar A mudanccedila da

realidade depende de qualificaccedilatildeo das entidades esportivas locais eou do

direcionamento do financiamento por uma diretriz puacuteblica Esta perspectiva reforccedila o

178

argumento do potencial profissionalizante da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

(Lei Nordm 114382006) mas por outro lado mostra o problema de deixar a decisatildeo

da alocaccedilatildeo de recurso exclusivamente no setor privado

Enfim da mesma forma como aconteceu no setor cultural a maior

disponibilidade de recurso financeiro para a aacuterea esportiva estimulou a promoccedilatildeo

deste elemento social da cidadania Poreacutem a escolha pelo caminho

extraorccedilamentaacuterio retira o esporte da arena de debate do poder puacuteblico e transfere a

tomada de decisatildeo para o setor privado o que pode gerar distorccedilotildees na destinaccedilatildeo

do recurso Por isso tratar a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) como mero mecanismo de financiamento eacute limitado Assim eacute

necessaacuterio resgatar o seu principio de agregador de recurso privado ao montante

puacuteblico mas tambeacutem compreender o mecanismo como um poderoso instrumento de

profissionalizaccedilatildeo do ainda incipiente setor esportivo

REFEREcircNCIAS

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________ Medida Provisoacuteria Nordm 2228-1 de 6 de setembro de 2001 Estabelece princiacutepios gerais da Poliacutetica Nacional do Cinema cria o Conselho Superior do Cinema e a Agecircncia Nacional do Cinema - ANCINE institui o Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Cinema Nacional - PRODECINE autoriza a criaccedilatildeo de Fundos de Financiamento da Induacutestria Cinematograacutefica Nacional - FUNCINES altera a legislaccedilatildeo sobre a Contribuiccedilatildeo para o Desenvolvimento da Induacutestria Cinematograacutefica Nacional e daacute outras providecircncias ndash Ainda natildeo foi convertida em lei Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2001b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpv2228-1htmgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Lei Nordm 10220 de 11 de abril de 2001 Institui normas gerais relativas agrave atividade de peatildeo de rodeio equiparando-o a atleta profissional Brasiacutelia Congresso Nacional 2001c Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03leisLEIS_2001L10220htmgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Medida Provisoacuteria Nordm 103 de 1ordm de janeiro 2003 Dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Presidecircncia da Repuacuteblica e dos Ministeacuterios e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 10683 de 28 de maio de 2003 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2003a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpvantigas_2003103htmgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Decreto de 21 de janeiro de 2004 Institui a Conferecircncia Nacional do Esporte e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2004a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-20062004DnnDnn10107htmgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Portaria Nordm 13 de 03 de fevereiro de 2004 Aprovar o anexo Regulamento Geral da Conferecircncia Nacional do Esporte e as normas baacutesicas de sua primeira reuniatildeo Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2004Bb Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoconferencias-2571-i-conferencia-nacional-de-esportegt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Portaria Nordm 23 de 11 de marccedilo de 2004 Institui a Comissatildeo Organizadora Nacional da primeira reuniatildeo da Conferecircncia Nacional do Esporte Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2004c Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoimagespdfsconferenciasEsporteregimento_1_conferencia_esportedocgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Documento Final - Deliberaccedilotildees para a Conferecircncia Nacional do Esporte Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2004d Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoimagespdfsconferenciasEsportedeliberacoes_1_conferencia_esportepdfgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Caderno de propostas - Conferecircncia Nacional do Esporte Esporte lazer e desenvolvimento humano Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2004e Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoimagespdfsconferenciasEsportedeliberacoes_1_conferencia_esportepdfgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Resoluccedilatildeo Nordm 5 de 14 de junho de 2005 Aprova a Poliacutetica Nacional do Esporte Brasiacutelia Conselho Nacional de Esporte 2005a Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosconselhoEsporteresolucoesresolucaoN5pdfgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Portaria Nordm 133 de 20 de outubro de 2005 Aprovar o anexo Regulamento Geral da II Conferecircncia Nacional do Esporte e Normas Baacutesicas Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2005b Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoimagespdfsconferenciasEsporte_IIregimento_2_conferencia_esportepdfgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Manual da II Conferecircncia Nacional de Esporte 2006 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2006a Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoimagespdfsconferenciasEsporte_IItexto_base_2_conferencia_esportepdfgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Lei Nordm 11438 de 29 de dezembro de 2006 - Dispotildee sobre incentivos e benefiacutecios para fomentar as atividades de caraacuteter desportivo e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Congresso Nacional 2006b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato200420062006LeiL11438compiladohtmgt Acesso em 15 de marccedilo de 2014

________ Parecer da Comissatildeo de Financcedilas e Tributaccedilatildeo sobre o Projeto de Lei Nordm 13672003 de 14 de junho de 2006 Parecer do Relator Deputado Federal Luiz Carlos Hauly sobre o Projeto de Lei Nordm 13672003 do Deputado Federal Bismarck Maia Brasiacutelia Cacircmara dos Deputados 2006c Disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebprop_mostrarintegracodteor=403294ampfilename=Tramitacao-PL+13672003gt Acesso em 15 de marccedilo de 2014

________ Transcriccedilatildeo da Plenaacuteria da Cacircmara dos Deputados sobre o Projeto de Lei Nordm 13672003 de 20 de dezembro de 2006 Transcriccedilatildeo do debate da Sessatildeo Plenaacuteria da Cacircmara dos Deputados sobre o Projeto de Lei Nordm 13672003 Brasiacutelia Cacircmara dos Deputados p56721-56732 2006d Disponiacutevel em lthttpimagemcamaragovbrImagemdpdfDCD21DEZ2006pdfpage=309gt Acesso em 15 de marccedilo de 2014 ________ Medida Provisoacuteria Nordm 342 de 29 de dezembro de 2006 Altera e acresce dispositivos agrave Lei no 11438 de 29 de dezembro de 2006 que dispotildee sobre incentivos e benefiacutecios para fomentar as atividades de caraacuteter desportivo ndash Convertida na Lei Nordm 11472 de 2 de maio de 2007 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2006e Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_ato2004-20062006Mpv342htmgt Acesso em 15 de marccedilo de 2014

________ Resoluccedilotildees da II Conferecircncia Nacional do Esporte 30 de janeiro de 2007 Propostas aprovadas na plenaacuteria final da II Conferecircncia Nacional do Esporte Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2007a Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoconferencias-2571-i-conferencia-nacional-de-esportegt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Decreto Nordm 6180 3 de agosto de 2007 Regulamenta a Lei nordm 11438 de 29 de dezembro de 2006 que trata dos incentivos e benefiacutecios para fomentar as atividades de caraacuteter desportivo Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2007b Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosleiIncentivoEsportedecretoN618003082007pdfgt Acesso em 18 de marccedilo de 2014

________ Decreto Nordm 6338 de 31 de dezembro de 2007 Fixa o valor absoluto do limite global das deduccedilotildees do imposto sobre a renda devido a tiacutetulo de doaccedilotildees e patrociacutenios no apoio direto a projetos desportivos e paradesportivos Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2007c Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102007DecretoD6338htmgt Acesso em 18 de marccedilo de 2014 ________ Decreto Nordm 6684 9 de Dezembro de 2008 Fixa para o ano-calendaacuterio de 2008 o valor maacuteximo das deduccedilotildees do imposto sobre a renda devido a tiacutetulo de patrociacutenio ou doaccedilatildeo no apoio direto a projetos desportivos e paradesportivos Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2008 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008DecretoD6684htmgt Acesso em 20 de marccedilo de 2014 ________ Portaria Nordm 120 3 de julho de 2009 Dispotildee sobre a tramitaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo e a aprovaccedilatildeo do enquadramento dos projetos desportivos ou paradesportivos bem como a captaccedilatildeo o acompanhamento e monitoramento da execuccedilatildeo e da prestaccedilatildeo de contas os projetos devidamente aprovados de que tratam a Lei nordm 11438 de 2 9 de dezembro de 2006 e o Decreto nordm 6180 de 3 de agosto de 2007 no acircmbito do Ministeacuterio do Esporte e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosleiIncentivoEsporteportariaN12003072009pdfgt Acesso em 28 de fevereiro de 2015

________ Texto Baacutesico da III Conferecircncia Nacional do Esporte 2010 Ministeacuterio do Esporte 2010a Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoimagespdfsconferenciasEsportes_IIItexto_base_3_conferencia_esportespdfgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Decreto Nordm 7529 de 21 de julho de 2011 Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissatildeo e das Funccedilotildees Gratificadas do Ministeacuterio do Esporte Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2011 Acesso em 16 de maio de 2016 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_ato2011-20142011decretod7529htmgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Relatoacuterio de Auditoria Operacional do Tribunal de Contas da Uniatildeo Acessibilidade nos oacutergatildeos puacuteblicos federais 2012 Brasiacutelia Tribunal de Contas da Uniatildeo 2012 Disponiacutevel em lthttpportaltcugovbrlumisportalfilefileDownloadjspfileId=8A8182A24F0A728E014F0B24E1417E4Bgt Acesso em 16 de maio de 2016

_________ Decreto Nordm 7984 de 8 de abril de 2013 Regulamenta a Lei Nordm 9615 de 24 de marccedilo de 1998 que institui normas gerais sobre desporto Brasiacutelia Presidecircncia da Republica 2013a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-20142013DecretoD7984htmgt Acesso em 08 de fevereiro de 2015 ________ Lei Nordm 12868 15 de Outubro de 2013 Altera a Lei no 12793 de 2 de abril de 2013 para dispor sobre o financiamento de bens de consumo duraacuteveis a beneficiaacuterios do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) constitui fonte adicional de recursos para a Caixa Econocircmica Federal altera a Lei no 12741 de 8 de dezembro de 2012 que dispotildee sobre as medidas de esclarecimento ao consumidor para prever prazo de aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas na Lei no 8078 de 11 de setembro de 1990 altera as Leis no 12761 de 27 de dezembro de 2012 no 12101 de 27 de novembro de 2009 no 9532 de 10 de dezembro de 1997 e no 9615 de 24 de marccedilo de 1998 e daacute outras providecircncia Brasiacutelia Congresso Nacional 15 de outubro de 2013b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-20142013LeiL12868htmart19gt Acesso em 08 de fevereiro de 2015 ________ Relatoacuterio de Auditoria agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporte 2013 Relatoacuterio de Auditoacuteria agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporte realizado em 2009 Brasiacutelia Tribunal de Contas 2013c Disponiacutevel em ltwwwtcugovbrconsultasjurisdocsjudocacord20130205ac_0092_03_13_pdocgt Acesso em 28 de fevereiro de 2015 ________ Portaria do Ministeacuterio do Esporte Nordm 294 de 2 de dezembro de 2013 Dispotildee sobre o credenciamento dos peritos pareceristas para anaacutelise de projetos esportivos conforme regras estabelecidas pela Portaria do Ministeacuterio do Esporte Nordm 189 de 7 de agosto de 2013 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2013c Disponiacutevel em lthttppesquisaingovbrimprensajspvisualizaindexjspjornal=2amppagina=45ampdata=03122013gt Acesso em 28 de fevereiro de 2015 ________ Parecer da Consultoria Juriacutedica do Ministeacuterio do Esporte de 15 de abril de 2014 Vigecircncia do Art 18-A da Lei Nordm 96151998 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2014a Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosleiIncentivoEsporteParecer20CONJURME20n20104-2014pdfgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Portaria do Ministeacuterio do Esporte de 18 de setembro de 2014 Dispotildee sobre o procedimento para verificaccedilatildeo pelos oacutergatildeos do Ministeacuterio do Esporte acerca do cumprimento das exigecircncias previstas nos artigos 18 e 18-A da Lei nordm 9615 de 24 de marccedilo de 1998 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2014b Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosleiIncentivoEsportePortaria20n2022420Exigncia20Art201820e201820A2018092014pdfgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Relatoacuterio de Auditoria Anual de Contas de janeiro de 2014 Relatoacuterio Anual de Auditoria realizada no Ministeacuterio do Esporte em 2013 Brasiacutelia Controladoria-geral da Uniatildeo 2014c Disponiacutevel em lthttpsistemas2cgugovbrrelatsuploadsRA201305660pdfgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Relatoacuterio de Gestatildeo 2013 de 07 de julho de 2014 Relatoacuterio gerencial da Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2014d Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosleiIncentivoEsporterelatorioGestao2013pdfgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Lei Nordm 13155 de 4 de agosto de 2015 Estabelece princiacutepios e praacuteticas de responsabilidade fiscal e financeira e de gestatildeo transparente e democraacutetica para entidades desportivas profissionais de futebol institui parcelamentos especiais para recuperaccedilatildeo de diacutevidas pela Uniatildeo cria a Autoridade Puacuteblica de Governanccedila do Futebol - APFUT dispotildee sobre a gestatildeo temeraacuteria no acircmbito das entidades desportivas profissionais cria a Loteria Exclusiva - LOTEX altera as Leis nos 9615 de 24 de marccedilo de 1998 8212 de 24 de julho de 1991 10671 de 15 de maio de 2003 10891 de 9 de julho de 2004 11345 de 14 de setembro de 2006 e 11438 de 29 de dezembro de 2006 e os Decretos-Leis nos 3688 de 3 de outubro de 1941 e 204 de 27 de fevereiro de 1967 revoga a Medida Provisoacuteria no 669 de 26 de fevereiro de 2015 cria programa de iniciaccedilatildeo esportiva escolar e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Congresso Nacional 2015a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2015-20182015LeiL13155htmgt Acesso em 08 de fevereiro de 2015 _________ Medida Provisoacuteria Nordm 671 de 19 de marccedilo de 2015 Institui o Programa de Modernizaccedilatildeo da Gestatildeo e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro dispotildee sobre a gestatildeo temeraacuteria no acircmbito das entidades desportivas profissionais e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 13155 de 4 de agosto de 2015 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2015b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2015-20182015Mpvmpv671htmgt Acesso em 16 de maio de 2016 _________ Relatoacuterio de Gestatildeo 2014 de 25 de junho de 2015 Relatoacuterio gerencial da Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2014 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2015c Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosleiIncentivoEsporterelatorioGestao2014V2pdfgt Acesso em 16 de maio de 2016

_________ Portaria do Ministeacuterio do Esporte Nordm 50 de 29 de fevereiro de 2016 Dispotildee sobre o credenciamento dos peritos pareceristas para anaacutelise de projetos esportivos conforme regras estabelecidas pelo Edital de Credenciamento Nordm 12015 de 16 de dezembro de 2015 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2013c Disponiacutevel em lthttppesquisaingovbrimprensajspvisualizaindexjspdata=18122015ampjornal=3amppagina=169amptotalArquivos=304gt Acesso em 28 de fevereiro de 2015 ESPANHA Constitucioacuten Espantildeola de 29 de dezembro de 1978 La Constitucioacuten Espantildeola de 1978 Madri Congresso 1978 Disponiacutevel em lthttpwwwlamoncloagobesdocumentsconstitucion_es1pdfgt Acesso em 14 de maio de 2016 MINAS GERAIS Lei Estadual Nordm 16318 de 11 de agosto de 2006 Dispotildee sobre a concessatildeo de desconto para pagamento de creacutedito tributaacuterio inscrito em diacutevida ativa com o objetivo de estimular a realizaccedilatildeo de projetos desportivos no Estado Belo Horizonte Assembleia Legislativa 2006 Disponiacutevel em lthttpwwwalmggovbrconsultelegislacaocompletacompletahtmltipo=LEIampnum=16318ampcomp=ampano=2006ampaba=js_textoAtualizadogt Acesso em 28 de marccedilo de 2016 _____________ Lei Estadual Nordm 20824 de 31 de julho de 2013 Altera as Leis nordms 6763 de 26 de dezembro de 1975 14937 de 23 de dezembro de 2003 e 14941 de 29 de dezembro de 2003 revoga dispositivo da Lei nordm 15424 de 30 de dezembro de 2004 concede incentivo a projetos esportivos e daacute outras providecircncias Belo Horizonte Assembleia Legislativa 2013 Disponiacutevel em lthttp2001984935incentivowp-contentuploads201310LEI-NC2BA-20824-DE-31-07-2013-Minas-Olimpica-Incentivo-ao-Esportepdfgt Acesso em 16 de maio de 2016 PORTUGAL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa de 25 de Abril de 1976 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa Lisboa Congresso Nacional 1976 Disponiacutevel em lthttpwwwparlamentoptparlamentodocumentscrp1976pdfgt Acesso em 14 de maio de 2016 SAtildeO PAULO Lei Municipal Nordm 10923 de 30 de dezembro de 1990 Dispotildee sobre incentivo fiscal para a realizaccedilatildeo de projetos culturais no acircmbito do Municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Cacircmara Municipal de Satildeo Paulo 1990 Disponiacutevel em lthttpwwwprefeituraspgovbrcidadesecretariasculturalei_de_incentivoindexphpp=6gt Acesso em 14 de maio de 2016

Page 4: Disciplina: Introdução à recreação e estudos sobre o lazer€¦ · Rafael Silva Diniz MECENATO ESPORTIVO: O trajeto da Lei Federal de Incentivo ao Esporte em Belo Horizonte Dissertação

AGRADECIMENTOS

Em 2014 quase sete anos apoacutes a graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo fiacutesica o

destino me trouxe novamente a EEFFTO-UFMG Na ocasiatildeo buscava mais

informaccedilotildees sobre o mestrado (o que eacute onde como por que) e a primeira pessoa

que encontrei foi uma ex-colega de sala Priscila Campos na eacutepoca doutoranda da

UNICAMP Depois de colocar o ldquopapordquo em dia e tirar as duacutevidas ela comentou sobre

um professor receacutem-chegado na unidade que estudava e gostava de poliacutetica na aacuterea

do esporte e lazer Logo ela saiu pelos corredores da unidade a procuraacute-lo e me

apresentou o prof Dr Luciano Pereira da Silva

Na nossa primeira conversa o prof Luciano me convidou a assistir como

ouvinte a sua disciplina de ldquoPoliacuteticas Puacuteblicas de Esporte e Lazerrdquo para a graduaccedilatildeo

em Educaccedilatildeo Fiacutesica Natildeo me hesitei e comecei a frequentar a disciplina Passei a

conhecer o prof Luciano melhor e admirar sua capacidade argumentativa aliada a

sua simplicidade e humildade o que nem sempre satildeo atributos que andam juntos na

aacuterea acadecircmica Estava decido caso conseguisse entrar no mestrado queria que o

prof Luciano fosse meu orientador Poreacutem faltava a segunda parte passar no

processo seletivo e ele querer me orientar

Foi neste momento que outro ex-colega de sala o Luiz Nicaacutecio entrou na

histoacuteria Marcamos uma ldquoresenhardquo para ele me ajudar com o projeto de pesquisa

pois ele jaacute tinha um percurso de sucesso na aacuterea acadecircmica ndash como mestre Nicaacutecio

E realmente diante de todas as duacutevidas e anseios profissionais que eu o contei ele

teve a sensibilidade de captar a ideia do que eu desejava pesquisar (porque eu

mesmo natildeo sabia) Ele criou o objetivo do projeto de pesquisa e me deu a diretriz

dos temas que precisava desenvolver Passado uma semana estava criado o projeto

de pesquisa O Luiz ainda me preparou para a prova escrita e para a arguiccedilatildeo ndash

nesta uacuteltima demos boas risadas porque natildeo conseguia responder as perguntas

dele (ainda tenho duacutevidas sobre vaacuterias)

Nesta curta passagem que relembra o iniacutecio da minha trajetoacuteria no

mestrado marca como pessoas satildeo decisivas para o resultado do que somos

Entatildeo natildeo poderia deixar de agradecer aos ex-colegas de sala mas amigos de

vida Priscila Campos e Luiz Nicaacutecio Ao prof Luciano pela paciecircncia confianccedila e

amizade neste periacuteodo que natildeo foi faacutecil para mim uma vez que ldquoabracei o mundordquo

5

com outra graduaccedilatildeo (Processos Gerenciais) criando uma instituiccedilatildeo (Associaccedilatildeo

Movimenta Brasil) montando um lar em Tiradentes e ainda fazendo pesquisa

(Mestrado em Estudos do Lazer)

Entretanto a conquista do mestrado somente foi possiacutevel pelo apoio

incondicional da minha companheira de vida Luciana Bonuti (Linda) tanto nos

momentos bons quanto nos ruins Linda obrigado por me fazer uma pessoa melhor

(ainda longe da pessoa que vocecirc merece) e por aceitar compartilhar sua vida

comigo

ldquoEacute no conhecimento que existe a chance de libertaccedilatildeo Uma pessoa que decide natildeo conhecer aceita sua condiccedilatildeo de escravo aceita sua condiccedilatildeo de submissatildeo Conhecer eacute a condiccedilatildeo para eu libertar de mim mesmo e das amarras sociaisrdquo

Leandro Karnal 2016

RESUMO

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 marcou a inclusatildeo do esporte no rol de direitos sociais que formam a cidadania brasileira Os anos que se seguiram apoacutes a promulgaccedilatildeo do Art 217 foi de discussatildeo para elaboraccedilatildeo de uma norma geral para o esporte e reestruturaccedilatildeo estatal do elemento social Somente com aprovaccedilatildeo da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) e criaccedilatildeo do Ministeacuterio do Esporte (2003) o setor se organizou para a gecircnese de uma poliacutetica de financiamento puacuteblico a todas as manifestaccedilotildees do esporte O exemplo da Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) e da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) que buscou aproximar as entidades culturais do setor privado estimulando a figura do mecenas cultural por meio do incentivo fiscal tambeacutem foi considerado como oportuno para o setor esportivo Assim no final de 2006 foi aprovado no Congresso Nacional a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) Mas a experiecircncia na cultura jaacute anunciava possiacuteveis problemas que o mecanismo de mecenato esportivo poderia enfrentar na sua efetivaccedilatildeo fruto da realidade de desigualdades econocircmicas e de conhecimento no paiacutes Passados quase dez anos da promulgaccedilatildeo da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) ainda satildeo poucos os trabalhos acadecircmicos que buscam compreender o funcionamento e o impacto na distribuiccedilatildeo do recurso Por isso foi necessaacuterio traccedilar um panorama geral mas de abrangecircncia nacional do financiamento do mecenato esportivo no periacuteodo de 2007 a 2015 para em um segundo momento aprofundar no trajeto deste recurso pleiteado pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte Para a investigaccedilatildeo municipal foi utilizado como recorte temporal os 83 projetos apresentados e os 32 aprovados em 2013 sendo as informaccedilotildees consolidadas em categorias de anaacutelise Vaacuterios problemas de concentraccedilatildeo de recurso em regiatildeo geograacutefica e manifestaccedilatildeo esportiva influenciadas diretamente pela concentraccedilatildeo em um pequeno grupo de proponente observados em niacutevel nacional tambeacutem se reproduziram no territoacuterio de Belo Horizonte Palavras-chave Lei de Incentivo ao Esporte Financiamento ao esporte Poliacutetica puacuteblica de esporte e lazer

ABSTRACT

The Federal Constitution of 1988 stood out the inclusion of sport in the list of social rights which form the Brazilian citizenship The years that followed after the promulgation of Art 217 was discussion in order to elaborate a general rule for sport and state restructuring the social element Only with the approval of Lei Peleacute (Law Nordm 96151998) and creation of the Ministry of Sport (2003) the sector was organized for the genesis of a public financing policy to all manifestations of the sport The example of Lei Sarney (Law Nordm 75051986) and Lei Rouanet (Law Nordm 83131991) which sought to bring the cultural institution of the private sector stimulating the figure of the cultural mecenas through the tax incentive it was also considered appropriate for the sports sector Thus at the end of 2006 it was approved in the National Congress the Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Law Nordm 114382006) The experience in the culture already announced possible problems that sports patronage (mecenato) mechanism could face in its execution due to the reality of economic inequalities and knowledge in the country After almost ten years of the promulgation of the Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Law Nordm 114382006) there are few academic studies which seek understanding operation and the impact on resource distribution For that it was necessary to draw a general picture but nationwide from the sports patronage (mecenato) from 2007 to 2015 for in a second moment deepening the path of this resource claimed by the sports institution based in Belo Horizonte For municipal research was used as snip time the 83 projects presented and 32 approved in 2013 being consolidated as information in analysis categorie Several concentration problems of resource in geographic region and sports manifestation influenced directly for the concentration in a little group of proponent observed at a national level also reproduced in Belo Horizonte territory Keywords Incentive law of sport Financing sport Puplic policy of sport and leisure

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

FIGURA 1

Organograma do Ministeacuterio do Esporte (2003)

38

FIGURA 2 Diagrama atualizado das manifestaccedilotildees esportivas no acircmbito federal 85

85

FIGURA 3 Diagrama da cadeia produtiva do esporte profissional 87

FIGURA 4 Formulaacuterio digital de cadastro da proponente para acesso ao sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

92

FIGURA 5 Diagrama de fluxo da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

94

FIGURA 6 Elementos necessaacuterios para a apresentaccedilatildeo de projeto esportivo agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporte conforme Art 9ordm do Decreto Nordm 61802007 e respectiva fase de anaacutelise

95 FIGURA 7

Formulaacuterio digital de identificaccedilatildeo do projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

99

FIGURA 8

Formulaacuterio digital de descriccedilatildeo do ObjetoMetodologia do projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

100 FIGURA 9

Inclusatildeo de anexo ao projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

101

FIGURA 10

Formulaacuterio digital de Receita Prevista dos projetos esportivos no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

106 FIGURA 11

Formulaacuterio de identificaccedilatildeo do puacuteblico beneficiaacuterio do projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

110 FIGURA 12

Organograma institucional do Ministeacuterio do Esporte a partir da reformulaccedilatildeo do Decreto Nordm 75292011

112

FIGURA 13

Diagrama de paracircmetro para a escolha e aprovaccedilatildeo dos projetos esportivos na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

115 FIGURA 14

Quadro comparativo entre valor autorizado e captado dos projetos esportivos de 2013 das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

150 FIGURA 15

Mapa com as regionais administrativas de Belo Horizonte

167

LISTA DE TABELAS

TABELA 1

Distribuiccedilatildeo do incentivo de isenccedilatildeo fiscal no acircmbito federal

81

TABELA 2 Distribuiccedilatildeo de projetos esportivos apresentados em 2013 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por entidades sediadas em Belo Horizonte

140

TABELA 3 Comparativo entre o valor autorizado e captado na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em todo o Brasil e no ano de 2013 pelas entidades sediadas em Belo Horizonte ( em Reais)

150

TABELA 4 Comparativo entre o Grupo 1 e Grupo 2 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013

151

TABELA 5 Comparativo entre o Grupo 1 e Grupo 2 pelo tipo de manifestaccedilatildeo esportiva nos projetos na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013

153

TABELA 6 Distribuiccedilatildeo dos depoacutesitos feitos por pessoa fiacutesica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

154

TABELA 7 Distribuiccedilatildeo dos depoacutesitos feitos por pessoa juriacutedica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

156

TABELA 8 Distribuiccedilatildeo das modalidades esportivas por projeto apresentado por entidade esportiva sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

159

TABELA 9 Distribuiccedilatildeo dos recursos humanos pelo tipo de accedilatildeo esportiva desenvolvida no projeto aprovado por entidade sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

160

TABELA 10 Distribuiccedilatildeo dos beneficiaacuterios valor total e per capita recurso humano pela manifestaccedilatildeo esportiva nos projetos aprovados por entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

162

TABELA 11 Descriccedilatildeo dos projetos aprovados pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte nos quesitos quantidade de beneficiaacuterios duraccedilatildeo do projeto valor per capita aprovado e captado

164

TABELA 12 Distribuiccedilatildeo dos locais de atuaccedilatildeo dos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

168

TABELA 13 Distribuiccedilatildeo do puacuteblico-alvo dos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

170

LISTA DE GRAacuteFICOS

GRAacuteFICO 1 Desempenho da Lei Rouanet no periacuteodo de 1993 a 1998 62

GRAacuteFICO 2

Comparativo entre a quantidade de empresas declarantes do imposto sobre a renda (IRPJ) e a arrecadaccedilatildeo tributaacutevel apurada no ano fiscal de 2013

79

GRAacuteFICO 3 Comparativo entre a quantidade de pessoas fiacutesica declarantes do imposto sobre a renda (IRPF) e o imposto devido no momento da entrega da declaraccedilatildeo de rendimento no ano-calendaacuterio de 2013

80

GRAacuteFICO 4 Distribuiccedilatildeo da captaccedilatildeo de recurso financeiro pela tipologia de proponente na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2014

89

GRAacuteFICO 5 Situaccedilatildeo dos projetos esportivos apresentados agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporte durante o periacuteodo de 2007 a 2014

96

GRAacuteFICO 6 Comparativo entre a distribuiccedilatildeo do PIB brasileiro e o acumulado da Captaccedilatildeo de Recurso na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por regiatildeo administrativa do paiacutes

116

GRAacuteFICO 7 Comparativo entre a distribuiccedilatildeo populacional e o acumulado da Captaccedilatildeo de Recurso na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por regiatildeo administrativa do paiacutes

116

GRAacuteFICO 8 Comparativo entre a distribuiccedilatildeo do acumulado de 2007 a 2014 do recurso autorizado e captado pela Lei Federal de Incentivo por regiatildeo administrativa do paiacutes

117

GRAacuteFICO 9 Distribuiccedilatildeo do recurso autorizado e captado pelos projetos esportivos da Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

120

GRAacuteFICO 10 Distribuiccedilatildeo da quantidade dos projetos esportivos apresentados na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

120

GRAacuteFICO 11 Distribuiccedilatildeo financeira acumulada (2007 a 2014) das 24 proponentes com maior sucesso na captaccedilatildeo na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

124

GRAacuteFICO 12 Distribuiccedilatildeo financeira da captaccedilatildeo de recurso de 2014 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por modalidade esportiva

125

GRAacuteFICO 13 Comparativo entre o valor autorizado e captado no periacuteodo de 2007 a 2014 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

129

GRAacuteFICO 14 Comparativo entre o setor econocircmico de atuaccedilatildeo e tipo de empresa do grupo dos 18 maiores apoiadores da Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2014

130

GRAacuteFICO 15 Distribuiccedilatildeo dos status dos projetos esportivos enviados em 2013 para a Lei Federal de Incentivo ao Esporte por entidades sediadas em Belo Horizonte

138

GRAacuteFICO 16 Distribuiccedilatildeo das proponentes pela quantidade de projetos esportivos apresentados e taxa de sucesso em 2013 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

141

GRAacuteFICO 17 Distribuiccedilatildeo das proponentes sediadas em Belo Horizonte quanto agrave personalidade juriacutedica e natureza de funcionamento 143

GRAacuteFICO 18 Graacutefico da distribuiccedilatildeo das proponentes sediadas em Belo Horizonte quanto agrave natureza de funcionamento e taxa de sucesso

144

GRAacuteFICO 19 Distribuiccedilatildeo dos projetos apresentadas pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

147

GRAacuteFICO 20 Comparativo da distribuiccedilatildeo dos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte pela manifestaccedilatildeo esportiva

148

GRAacuteFICO 21 Distribuiccedilatildeo dos projetos apresentadas pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

152

GRAacuteFICO 22 Comparativo da distribuiccedilatildeo da quantidade e valores dos depoacutesitos feitos por pessoa fiacutesica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

155

GRAacuteFICO 23 Comparativo da distribuiccedilatildeo da quantidade e valores dos depoacutesitos feitos por pessoa fiacutesica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

156

GRAacuteFICO 24 Graacutefico 22 ndash Distribuiccedilatildeo das modalidades esportivas apresentadas e captadas pelos projetos das entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013

158

GRAacuteFICO 25 Comparativo entre a distribuiccedilatildeo dos profissionais e dos projetos pelo tipo de accedilatildeo esportivas apresentada na proposta das entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 201

161

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 14 2 O PERCURSO DA CIDADANIA SOCIAL DO DESEMPENHO ESPORTIVO A ELEMENTO DE CIDADANIA 18

21 O direito social e status conquistado pelo esporte 18 22 A institucionalizaccedilatildeo estatal do esporte poacutes-constituiccedilatildeo 29

3 MECANISMO DE MECENATO DA CULTURA AO ESPORTE 45

31 Poliacutetica estatal de cultura e o desenvolvimento do mecenato 45 32 A criaccedilatildeo do mecenato esportivo 64

4 LEI FEDERAL DE INCENTIVO AO ESPORTE DA TEORIA DA NORMA AOS NUacuteMEROS DA PRAacuteTICA 77

41 Os passos iniciais 77

42 Elaboraccedilatildeo da proposta esportiva 91 43 O tracircmite do projeto esportivo no Ministeacuterio do Esporte 110 44 Aprovaccedilatildeo de projeto e Captaccedilatildeo de Recurso 127

5 O MECENATO ESPORTIVO EM BELO HORIZONTE DISSECANDO OS PROJETOS E CONHECENDO A POLIacuteTICA NO TERRITOacuteRIO 135

51 Dados consolidados dos projetos em Belo Horizonte 135

52 Anaacutelise financeira dos projetos 149 53 Local e puacuteblico de atuaccedilatildeo dos projetos 166

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS UM ENSAIO PARA PENSAR A POLIacuteTICA DE FINANCIAMENTO AO ESPORTE 173

REFEREcircNCIAS 179

ANEXOS Erro Indicador natildeo definido

14

1 INTRODUCcedilAtildeO

Nas favelas no senado Sujeira pra todo lado

Ningueacutem respeita a constituiccedilatildeo Mas todos acreditam no futuro da naccedilatildeo

Que paiacutes eacute esse Que paiacutes eacute esse Que paiacutes eacute esse

(Renato Russo 1987)

A muacutesica ldquoQue paiacutes eacute esserdquo de Renato Russo retrata um pouco dos

anseios vividos pela sociedade brasileira durante o processo de redemocratizaccedilatildeo

do paiacutes Todo esse fervor democraacutetico influenciou a elaboraccedilatildeo do novo texto

originaacuterio da naccedilatildeo o qual pela primeira vez em nossa histoacuteria contou com

mecanismos de participaccedilatildeo popular (SANTOS 2011 p52) Natildeo por acaso a

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 tambeacutem ficou conhecida como Constituiccedilatildeo Cidadatilde

A nova constituiccedilatildeo marcou a entrada definitiva dos direitos sociais no rol

de garantias da populaccedilatildeo e obrigaccedilotildees do Estado uma tentativa mesmo que

tardia de construccedilatildeo de um modelo de Estado de bem-estar social tupiniquim Aleacutem

da formalizaccedilatildeo de direitos ela trouxe um alargamento da quantidade de elementos

sociais e um novo entendimento dos direitos sociais ao propor a desmercantilizaccedilatildeo

de uma seacuterie de objetos relacionados agrave nossa heranccedila de cidadania social

(MENICUCCI 2006 ESPING-ANDERSEN1 apud HASSENTEUFEL1996)

Neste contexto o lazer e o esporte conquistaram o status de direitos

sociais constitucionais indicados nos artigos 6ordm e 217ordm respectivamente (BRASIL

1988) Por isso o objetivo central desta pesquisa consiste em investigar o processo

de fomento e promoccedilatildeo do direito social ao esporte e lazer por meio da Lei Federal

de Incentivo ao Esporte (Lei nordm 114382006)

Entretanto antes de reconstruir a trajetoacuteria do esporte no paiacutes e buscar

vestiacutegios que norteiem nosso entendimento sobre a sua conquista ao patamar de

direito eacute importante compreender o significado do termo ldquodireito socialrdquo e o seu peso

para o conceito moderno de cidadania Esta mesma cidadania que segundo

Carvalho (2002) foi aclamada nas ruas e personificada durante o processo de

redemocratizaccedilatildeo do paiacutes

Assim no segundo capiacutetulo retomamos a claacutessica obra do socioacutelogo

inglecircs Thomas Humphrey Marshall (1967) que desmembra a cidadania em direito

civil poliacutetico e social Um contraponto em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo da cidadania

brasileira baseia-se na obra ldquoCidadania no Brasil o longo caminhordquo do cientista

poliacutetico e historiador Joseacute Murilo de Carvalho (2002) Em seguida buscamos

compreender a relaccedilatildeo do esporte com o Estado e a sociedade brasileira e como

este objeto foi se organizando durante o processo de redemocratizaccedilatildeo Aleacutem disso

a integraccedilatildeo do esporte agrave concepccedilatildeo brasileira de cidadania nos estimulou a

resgatar vestiacutegios na literatura cientiacutefica sobre a possibilidade de sua construccedilatildeo

ativa e reivindicatoacuteria ou se mais uma vez refletiu o que Carvalho (2002) optou de

chama de ldquoestadaniardquo ndash um tipo de cidadania passiva e tutelada pelo Estado

No terceiro capiacutetulo passamos a explorar o histoacuterico do mecanismo de

financiamento puacuteblico baseado no sistema de mecenato o qual tem se popularizado

bastante no paiacutes no periacuteodo poacutes-constituiccedilatildeo de 1988 A cultura foi precursora desta

poliacutetica puacuteblica com a publicaccedilatildeo da Lei Sarney (Lei Nordm 75151986) e seguida pela

Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) Inicialmente o intuito do mecenato foi atrair

recurso privado para aacuterea cultural por meio da isenccedilatildeo fiscal ao contribuinte do

Imposto sobre a Renda (IR) Com o passar dos anos vaacuterias reformas foram feitas na

legislaccedilatildeo que deram mais vigor agrave participaccedilatildeo do setor privado muito embora

grande parte do recurso circulante fosse de origem puacuteblica

Concomitantemente o foco em atrair recurso privado foi sendo transferido

para a criaccedilatildeo de um robusto mercado cultural firmado no marketing e no

fortalecimento de marcas institucionais Por outro lado expressotildees culturais de

pouco apelo comercial foram negligenciadas uma vez que o forte vieacutes

mercadoloacutegico criado pelo mecenato cultural praticamente tornou-se sinocircnimo de

poliacutetica cultural

Independente das disfunccedilotildees operacionais do mecanismo de mecenato

cultural a maior oferta financeira ao setor e a agilidade com que este chegava agrave

accedilatildeo finaliacutestica fez com que o Estado brasileiro optasse pela expansatildeo do modelo

para outras aacutereas da cidadania social Assim o esporte passou a estruturar uma

poliacutetica similar de financiamento e em 29 de dezembro de 2006 foi aprovada no

Congresso Nacional a Lei Nordm 114382006 que ficou popularmente conhecida como

1 ESPING-ANDERSEN Goslashsta The Three Worlds of Welfare Capitalism Cambridge Polity Press

1990

Lei Federal de Incentivo ao Esporte Apesar da inspiraccedilatildeo no modelo da cultura a

aacuterea esportiva se apropriou pouco das discussotildees e problemas que envolviam o

mecanismo de mecenato

No quarto capiacutetulo natildeo soacute apresentamos a legislaccedilatildeo e operacionalidade

do mecanismo de mecenato esportivo como tambeacutem problematizamos algumas das

escolhas normativas feitas Para isso nos baseamos na experiecircncia e inovaccedilatildeo de

outras propostas de leis de incentivo fiscal como a Rouanet a Minas Esportiva

Incentivo ao Esporte de Minas Gerais e a Lei Estadual de Incentivo ao Esporte do

estado de Satildeo Paulo para refletir sobre a capacidade de democratizaccedilatildeo da poliacutetica

de financiamento ao esporte e o fortalecimento do interesse puacuteblico na seleccedilatildeo das

accedilotildees

Jaacute por meio do ldquoRelatoacuterio de Gestatildeo da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte de 2014rdquo trabalhamos algumas informaccedilotildees quantitativas da poliacutetica para

termos uma noccedilatildeo geral do seu desenvolvimento no acircmbito nacional no periacuteodo de

2007 a 2014 Assim notamos uma concentraccedilatildeo de recurso na manifestaccedilatildeo

rendimento (498 do valor captado de 2007-2014) e um maciccedilo investimento na

regiatildeo Sudeste (73 do valor captado de 2007-2014) Este cenaacuterio de distribuiccedilatildeo

desigual ainda estava sendo influenciado pelo acuacutemulo de recurso em um restrito

grupo de entidades esportivas (24 proponentes responsaacuteveis por 49 do valor

captado de 2007-2014) das quais algumas jaacute satildeo beneficiaacuterias de outra fonte de

recurso puacuteblico (Lei AgneloPiva ndash Lei Nordm 102642001)

Cabe mencionar que esta etapa foi necessaacuteria devido agrave falta de

referencial teoacuterico sobre o tema tendo em vista a incipiente pesquisa acadecircmica

acerca da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) Dentre as

iniciativas realizadas vale destacar Matias et al (2015) Seixas (2015) Bernardo et

al (2011) Cavazzani et al (2010) Cabral (2010) Franccedila Juacutenior e Frasson (2010) e

Monteiro (2010)

No quinto capiacutetulo passamos a analisar os projetos apresentados e

aprovados pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte para verificar a

distribuiccedilatildeo do recurso puacuteblico ao esporte no acircmbito municipal Tendo em vista o

prazo do Ministeacuterio do Esporte para consolidaccedilatildeo das informaccedilotildees referentes ao

mecanismo de mecenato esportivo no ano de 2014 receacutem-encerado e

concomitantemente ao moroso processo burocraacutetico estatal ateacute o esgotamento do

ciclo de vida dos projetos optou-se pela anaacutelise das propostas esportivas

apresentadas em 2013 delimitando o recorte temporal desta pesquisa

No segundo momento deste capiacutetulo o foco principal se direciona apenas

aos 32 projetos aprovados no periacuteodo analisados a fim de avaliar o potencial de

democratizaccedilatildeo do direito social no esporte

A delimitaccedilatildeo do grupo de anaacutelise nos permite aprofundar

qualitativamente no conteuacutedo descritivo dos projetos e para essa verificaccedilatildeo foram

utilizados dois princiacutepios constitucionais que se aplicam aos direitos sociais o

princiacutepio da universalidade (acessibilidade a toda a comunidade ou faixas-etaacuterias

populacionais) e o da descentralizaccedilatildeo (regionalizar a disponibilidade dos serviccedilos

de garantia de direitos)

No sexto e uacuteltimo capiacutetulo apresentamos as consideraccedilotildees finais sobre o

mecanismo de mecenato esportivo tentando estimular novas discussotildees

18

2 O PERCURSO DA CIDADANIA SOCIAL DO DESEMPENHO ESPORTIVO A ELEMENTO DE CIDADANIA

21 O direito social e status conquistado pelo esporte

A configuraccedilatildeo do Estado Moderno ou Estado-naccedilatildeo defronta com

termos e conceitos distintos e ateacute mesmo contraditoacuterios mas que se permitem

conviver juntos por serem parte de um longo e conflituoso processo de construccedilatildeo

histoacuterica Neste contexto terminoloacutegico a cidadania eacute um tiacutepico exemplo de palavra

que eacute cotidianamente utilizada mas que possui atributos dinacircmicos ligados agrave

formaccedilatildeo do Estado e da sociedade

De acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2016 p1) cidadania eacute a qualidade

de cidadatildeo ou seja a capacidade do indiviacuteduo ser parte integrante e ativa de uma

determinada sociedade que por sua vez eacute regida pelas normas de conviacutevio e

proteccedilatildeo de um Estado Para notar a diferenccedila temporal da palavra na Roma

Antiga por exemplo somente os membros homens e detentores de posse eram

considerados cidadatildeos e por isso tinham direito de participar das decisotildees do

Estado ndash exercer sua cidadania

Na atualidade com o aumento da complexidade das relaccedilotildees sociais natildeo

eacute possiacutevel resumir a cidadania a esses dois uacutenicos criteacuterios romanos seja o da

quantidade de terra (riqueza) seja o de gecircnero (homem e mulher) Desse modo

para pensar sobre os atributos que fazem parte do conceito moderno de cidadania

torna-se interessante a leitura da claacutessica obra ldquoCidadania Classe Social e Statusrdquo

de 1967 do socioacutelogo inglecircs Thomas Humphrey Marshall2

Para o autor a cidadania poderia ser dividida em trecircs elementos os quais

mais tarde se especializariam em categorias de direitos O primeiro elemento seria o

civil composto dos direitos necessaacuterios agrave liberdade individual ndash liberdade de ir e vir

de expressatildeo e de propriedade A instituiccedilatildeo responsaacutevel por garantir este direito

seria o tribunal de justiccedila Segundo o filoacutesofo italiano Noberto Bobbio (2004 p 20)

os direitos civis satildeo os ldquodireitos de liberdade isto eacute todos aqueles direitos que

2 No Capiacutetulo 3 do livro Cidadania Classe Social e Status Thomas H Marshall apresenta um ensaio

socioloacutegico que foi discursado na conferecircncia dedicada ao economista Alfred Marshall em 1949 na Universidade de Cambridge Nessa passagem estaacute a base do desenvolvimento do seu conceito de cidadania moderna fragmentado nos direitos civil poliacutetico e social

19

tendem a limitar o poder do Estado e a reservar para o indiviacuteduo ou para os grupos

particulares uma esfera de liberdade em relaccedilatildeo ao Estadordquo

O segundo elemento denominado de poliacutetico seria evidenciado pela

possibilidade de o indiviacuteduo atuar em qualquer instacircncia de representaccedilatildeo coletiva

que pensasse debatesse e decidisse o destino de sua sociedade As instituiccedilotildees de

exerciacutecio da cidadania poliacutetica seriam os cargos representativos nos conselhos

deliberativos e a participaccedilatildeo direta no proacuteprio Estado Para Bobbio (2004) o

elemento poliacutetico era uma complementaccedilatildeo do direito agrave liberdade individual uma vez

que concedia autonomia de participaccedilatildeo dos cidadatildeos no poder do Estado

Jaacute o elemento social da cidadania tinha como caracteriacutestica o acesso do

indiviacuteduo aos bens e serviccedilos comuns agrave sociedade ou seja a possibilidade dele

usufruir de uma vida em niacutevel civilizado tendo como base a heranccedila social e os

padrotildees determinados pela sociedade As principais instituiccedilotildees responsaacuteveis por

garantir este elemento seriam o sistema educacional transferindo conhecimento

acumulado pela sociedade aos indiviacuteduos membros e os serviccedilos assistenciais que

acolheriam os necessitados para preservaccedilatildeo do miacutenimo de civilidade dos

indiviacuteduos

Diferentemente dos dois elementos anteriores que tinham como suporte

o princiacutepio filosoacutefico da liberdade principalmente na expressatildeo da independecircncia e

autonomia do indiviacuteduo na relaccedilatildeo com o Estado o elemento social se sustentava

pelo princiacutepio da igualdade entre seus membros isto eacute a capacidade do coletivo

manter as desigualdades individuais em um niacutevel aceitaacutevel de civilidade Em outras

palavras o elemento social seria um suposto pacto da sociedade que garantiria que

o cidadatildeo na fruiccedilatildeo da sua liberdade natildeo criasse um exacerbado niacutevel de

desigualdade que levasse agrave dificuldade ou agrave exclusatildeo dos seus semelhantes da

participaccedilatildeo do legado social Bobbio (2004) complementa argumentando que o

direito social reflete o amadurecimento da sociedade por novas exigecircncias e valores

coletivos para aleacutem das necessidades individuais

Contudo Marshall (1967) indicava como regra geral uma sequecircncia

desenvolvimentista da cidadania moderna a qual se iniciava pelo elemento civil

passava pelo poliacutetico e se consolidava com a conquista do elemento social Mas sua

construccedilatildeo terminoloacutegica tinha como pilar a experiecircncia local vivida pela sociedade

inglesa o que natildeo necessariamente representaria a loacutegica de outras sociedades

20

Para mostrar as particularidades e diferenccedilas existentes na gecircnese deste

termo no Brasil o cientista poliacutetico e historiador Joseacute Murilo de Carvalho produziu

no ano de 20013 uma obra que reconta o trajeto da nossa cidadania Inicialmente

ao defrontar a experiecircncia inglesa com a brasileira foi notada uma inversatildeo na

ordem de consolidaccedilatildeo dos elementos da cidadania pois no Brasil a base de

formaccedilatildeo se deu pelo direito social para em seguida se ter o direito poliacutetico e

finalmente o direito civil (CARVALHO 2002)

Aleacutem disso o direito social teve a caracteriacutestica de ser cedido pelo Estado

brasileiro como uma contrapartida da restriccedilatildeo aos direitos poliacuteticos e civis durante

os governos autoritaacuterios (ditadura civil e militar) o que de certa forma minimizava a

ideia de pacto coletivo evidenciada pelo princiacutepio da igualdade Assim Carvalho

(2002) de forma irocircnica sugere a substituiccedilatildeo do termo cidadania por ldquoestadaniardquo

demonstrando a qualidade de cidadatildeos brasileiros tutelada pelo Estado

Para Carvalho (2002) o retrocesso e desvio no desenvolvimento dos

direitos tambeacutem foi outra possibilidade natildeo prevista na teoria de Marshall (1967)

mas bastante presente na formaccedilatildeo da cidadania brasileira O periacuteodo de 1945 a

1964 exemplifica bem essa afirmaccedilatildeo do autor pois tratou-se de um momento de

grande entusiasmo democraacutetico quando o paiacutes vivenciava boa praacutetica dos direitos

civis e poliacuteticos Poreacutem o desenvolvimento destes direitos natildeo impediu que o

seguinte golpe militar gerasse forte restriccedilatildeo ou ateacute recuo do exerciacutecio civil e

poliacutetico enquanto simultaneamente se ampliavam os direitos sociais

O conjunto de alteraccedilatildeo da piracircmide de elementos constituintes da

cidadania e o descontiacutenuo percurso de sua formaccedilatildeo remetem para um trajeto de

cidadania brasileira diferente da idealizada por Marshall (1967) Natildeo obstante

Carvalho (2002) ainda chama a atenccedilatildeo para o niacutevel de variabilidade da

identificaccedilatildeo do cidadatildeo com o Estado como outro fator de influecircncia em um

diferente exerciacutecio da cidadania Em outras palavras alguns momentos de forte crise

interna do Estado ou de comoccedilatildeo nacional poderiam ser poderosos meios de

reorganizaccedilatildeo da relaccedilatildeo da sociedade com os elementosdireitos civis poliacuteticos e

3 A obra Cidadania no Brasil o longo caminho de Joseacute Murilo de Carvalho teve como motivaccedilatildeo a

reflexatildeo sobre a comemoraccedilatildeo dos 500 anos de descoberta do Brasil completados em 2000 Em meio agraves festividades da data o autor considerou interessante resgatar a construccedilatildeo da cidadania brasileira tendo em vista o destaque que o termo teve durante o processo de redemocratizaccedilatildeo do paiacutes a partir de 1985 e sua representaccedilatildeo simboacutelica para a sociedade brasileira

21

sociais trazendo agrave tona uma nova forma de expressatildeo e gozo da cidadania distinta

da teorizada por Marshall (1967)

Nesta perspectiva podemos observar que na deacutecada de 1980 durante o

novo processo de redemocratizaccedilatildeo do paiacutes um forte sentimento nacionalista

emergiu das ruas e fez a palavra cidadania reaparecer no cotidiano das pessoas

como um quase sinocircnimo da vontade do povo ou sua proacutepria personificaccedilatildeo como

bem sugeriu Carvalho (2002 p7) ldquoa cidadania virou genterdquo ao denotar os anseios e

sentimentos da populaccedilatildeo Desta forma a lembranccedila popular da palavra cidadania

simbolizava o desejo da sociedade por um rearranjo na sua fruiccedilatildeo independente do

niacutevel evolutivo em que seus elementos se encontravam

O desenrolar dos fatos levou a um reestabelecimento do exerciacutecio do

direito civil e poliacutetico no paiacutes e tambeacutem marcou um alargamento dos direitos sociais

O novo pacto social com o Estado formalizado por meio da Constituiccedilatildeo Federal de

1988 natildeo soacute trazia garantias institucionais para a defesa da cidadania civil e poliacutetica

como tambeacutem apresentava pela primeira vez no texto constitucional um capiacutetulo

exclusivo sobre os direitos sociais ndash ldquoCapiacutetulo II - Dos Direitos Sociaisrdquo (BRASIL

1988a p1)

Art 6ordm Satildeo direitos sociais a educaccedilatildeo a sauacutede a alimentaccedilatildeo o trabalho a moradia o lazer a seguranccedila a previdecircncia social a proteccedilatildeo agrave maternidade e agrave infacircncia a assistecircncia aos desamparados na forma desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 1988a p1)

Todavia Carvalho (2002) alerta para o caraacuteter ideal de cidadania

positivado no texto constitucional pois a complexidade da sociedade

contemporacircnea possibilita imprimir uma variedade de facetas aos elementos civis

poliacuteticos e sociais o que torna aacuterduo o trabalho de seu atendimento pleno Talvez

por isso a cidadania plena seja objeto inalcanccedilaacutevel na sociedade contemporacircnea

Por outro lado a existecircncia de um modelo ideal serve como paracircmetro para avaliar a

qualidade no seu desenvolvimento

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 inovou ao apresentar um capiacutetulo

reservado aos direitos sociais no entanto outras facetas do elemento social podiam

ser encontradas em partes diversas do texto constitucional assim como jaacute acontecia

22

nas constituiccedilotildees anteriores4 Ressalta-se que desde a Carta Magna de 1934 o

constituinte vinha tendo o cuidado de designar um tiacutetulo sobre a ldquoOrdem Econocircmica

e Socialrdquo ou da ldquoOrdem Socialrdquo onde estabelecia regras de regulaccedilatildeo e intervenccedilatildeo

ativa do Estado em objetos sociais de interesse puacuteblico tendo como finalidade a

busca da justiccedila social Ou seja neste tiacutetulo era possiacutevel identificar alguns dos

direitos sociais tutelados pelo o Estado corroborando a afirmaccedilatildeo de Carvalho

(2002) sobre a supremacia do elemento social na formaccedilatildeo da cidadania brasileira

Assim tanto os elementos citados no Art 6ordm quanto os contidos no ldquoTiacutetulo

VIII ndash Da Ordem Socialrdquo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 podem ser considerados

direitos sociais necessaacuterios ao exerciacutecio pleno da cidadania social Desta forma pela

primeira vez a nova pactuaccedilatildeo da sociedade brasileira com o Estado acrescentou a

presenccedila do esporte (Tiacutetulo VIII ndash Da Ordem Social Capiacutetulo III ndash Da Educaccedilatildeo da

Cultural e do Desporto Seccedilatildeo III ndash Do Desporto) como elemento social para a

fruiccedilatildeo da cidadania moderna (BRASIL 1988a)

Logo compreender o processo de elevaccedilatildeo de status do esporte a direito

social e posterior estruturaccedilatildeo no aparato estatal nos dispotildee de subsiacutedio para refletir

sobre sua efetivaccedilatildeo como uma das facetas da cidadania Junto a isso tambeacutem nos

permite ampliar o ldquoolharrdquo sobre o financiamento de mecenato esportivo ndash Lei Federal

de Incentivo ao Esporte e os vestiacutegios dos atores sociais envolvidos e que podem

se beneficiar diretamente da escolha do modelo da poliacutetica puacuteblica

Cabe ressaltar que antes do novo pacto social a temaacutetica do esporte

estava sob a tutela disciplinar do Estado desde a publicaccedilatildeo do Decreto-Lei Nordm

3199 de 14 de abril de 1941 e posteriormente pela Lei Nordm 6251 de 8 de Outubro

de 1975 (BRASIL 1941 BRASIL 1975) Somente apoacutes a posse do primeiro

Presidente Civil Joseacute Sarney (PMDBMA) depois de um longo periacuteodo sob as

ldquoreacutedeasrdquo dos militares foi sancionado o Decreto Nordm 91452 em 19 de Julho de 1985

que instituiu a ldquocomissatildeo para realizar estudos sobre o desporto nacionalrdquo e permitiu

repensar novos rumos para o esporte (BRASIL 1985 p1) A comissatildeo teve os

4 Relaccedilatildeo de constituiccedilotildees que o paiacutes teve em sua histoacuteria sendo que somente a partir da sua 3ordf

ediccedilatildeo passou a contar com o tiacutetulo sobre a ldquoOrdem Econocircmica e Socialrdquo ou ldquoOrdem Socialrdquo a qual trata indiretamente sobre os direitos sociais (1ordf) Constituiccedilatildeo do Impeacuterio do Brasil de 1824 (2ordf) Constituiccedilatildeo dos Estados Unidos do Brasil de 1891 (3ordf) Constituiccedilatildeo dos Estados Unidos do Brasil de 1934 (4ordf) Constituiccedilatildeo dos Estados Unidos do Brasil de 1937 (5ordf) Constituiccedilatildeo dos Estados Unidos do Brasil de 1946 (6ordf) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1967 (7ordf) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1969 (8ordf) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988

23

trabalhos presididos pelo Professor Manoel Tubino que agrave eacutepoca era

simultaneamente membro da Secretaria de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desporto do

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Presidente do Conselho Nacional de Desportos

Em dezembro do mesmo ano a Comissatildeo de Reformulaccedilatildeo do Esporte

Nacional apresentou um relatoacuterio conclusivo composto por 80 indicaccedilotildees

organizadas em seis grupos temaacuteticos especiacuteficos 1) conceituaccedilatildeo do esporte e sua

natureza 2) redefiniccedilatildeo do papel dos diversos segmentos e setores da sociedade e

do Estado em relaccedilatildeo ao esporte 3) mudanccedilas juriacutedico-institucionais 4) carecircncia de

recursos humanos fiacutesicos e financeiros comprometidos com o desenvolvimento das

atividades esportivas 5) insuficiecircncia de conhecimentos cientiacuteficos aplicados ao

esporte 6) imprescindibilidade da modernizaccedilatildeo de meios e praacuteticas do esporte

(CARVALHO ATHAYDE 2015)

De acordo com o proacuteprio Tubino (2010) o relatoacuterio levou em consideraccedilatildeo

a realidade brasileira mas tambeacutem sofreu influecircncia da conjuntura internacional

Havia um movimento de questionamento sobre a exacerbaccedilatildeo do esporte de alto

rendimento principalmente pelo uso poliacutetico da sua praacutetica adotada pelo bloco

capitalista e socialista durante os jogos oliacutempicos Por outro lado uma segunda

corrente de pensamento propunha a ampliaccedilatildeo do esporte como direito dos povos e

natildeo mais apenas como prerrogativa de talento atleacutetico o qual foi formalizado por

meio do Manifesto do Esporte (1968) da Carta Europeia de Esporte para Todos

(SD) e da Carta Internacional de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Esporte da UNESCO5 (1978)

Art 1ordm - A praacutetica da educaccedilatildeo fiacutesica e do esporte eacute um direito fundamental de todos 11 Todo ser humano tem o direito fundamental de acesso agrave educaccedilatildeo fiacutesica e ao esporte que satildeo essenciais para o pleno desenvolvimento da sua personalidade A liberdade de desenvolver aptidotildees fiacutesicas intelectuais e morais por meio da educaccedilatildeo fiacutesica e do esporte deve ser garantido dentro do sistema educacional assim como em outros aspectos da vida social (UNESCO 1978 p 3)

Desta forma o relatoacuterio conclusivo apresentava sugestotildees de

estruturaccedilatildeo do esporte nacional como tambeacutem apontava indiacutecios sobre uma

possiacutevel elevaccedilatildeo do esporte ao status de direito social por primar agrave universalizaccedilatildeo

e democratizaccedilatildeo da sua praacutetica conforme orienta Menicucci (2006) Aleacutem do mais

5 Este documento foi elaborado a partir das discussotildees realizadas na I Reuniatildeo de Ministros de

Esporte organizada pela UNESCO em Paris no ano de 1976

24

o relatoacuterio sinalizava para possiacuteveis poliacuteticas sociais a fim de que o indiviacuteduo tivesse

acesso ampliado ao esporte sem tanta dependecircncia do mercado

Uma nova discussatildeo institucional sobre o esporte nacional iria comeccedilar a

partir 1ordm de fevereiro de 1987 quando foi convocada a formaccedilatildeo da Assembleia

Nacional Constituinte para elaboraccedilatildeo do novo texto constitucional do paiacutes No dia

10 de marccedilo do mesmo ano o regimento interno6 foi aprovado e estabeleceu oito

comissotildees temaacuteticas as quais por sua vez foram subdividas em subcomissotildees No

caso especifico do esporte a temaacutetica ficou incumbida agrave ldquoVIII ndash Comissatildeo da

Famiacutelia da Educaccedilatildeo Cultura e Esporte da Ciecircncia e Tecnologia e da

Comunicaccedilatildeordquo e agrave ldquoSubcomissatildeo da Educaccedilatildeo Cultura e Esporterdquo (BRASIL 1987a

p874-875 SANTOS 2011 p41-45)

Art 15 - As Comissotildees e Subcomissotildees satildeo as seguintes [] VIII ndash Comissatildeo da Famiacutelia da Educaccedilatildeo Cultura e Esportes da Ciecircncia e Tecnologia e da Comunicaccedilatildeo a) Subcomissatildeo da Educaccedilatildeo Cultura e Esportes b) Subcomissatildeo da Ciecircncia e Tecnologia e da Comunicaccedilatildeo c) Subcomissatildeo da Famiacutelia do menor e do idoso (BRASIL 1987a p874-875)

No dia 7 de abril de 1987 iniciou efetivamente o trabalho da subcomissatildeo

que contou com outras oito sessotildees de audiecircncia puacuteblica para discussatildeo dos

objetos educaccedilatildeo cultura e esporte Nestas sessotildees estiveram presentes

profissionais de destaque e organizaccedilotildees representativas visando refinar o debate

Outra possibilidade de participaccedilatildeo popular7 na elaboraccedilatildeo da proposta de texto

constitucional se deu por meio das sugestotildees populares enviadas por correio sendo

que o Relatoacuterio do Anteprojeto da Subcomissatildeo apurou o recebimento de 25

sugestotildees para o tema esporte Uma delas propunha a criaccedilatildeo do Ministeacuterio do

Esporte uma a aboliccedilatildeo do futebol profissional e as outras 23 sugestotildees

6 O Regimento Interno da Assembleia Nacional Constituinte estaacute disponiacutevel em

lthttpwww2camaralegbratividade-legislativalegislacaoConstituicoes_Brasileirasconstituicao-cidadapublicacoesregimento-interno-da-assembleia-nacionalresolucao-2-1987gt 7 De acordo com Santos (2011) a Assembleia Nacional Constituinte previa trecircs mecanismos de

participaccedilatildeo popular 1ordm) O envio de sugestotildees por entidades representativas de segmentos da sociedade 2ordm) Emenda ao projeto constitucional organizado por no miacutenimo trecircs entidades associativas legalmente constituiacutedas e subscritas por 30000 (trinta mil) ou mais eleitores brasileiro 3ordm) Apresentaccedilatildeo de conteuacutedo pelas Subcomissotildees Temaacuteticas em audiecircncia puacuteblica a entidades representativas de segmentos da sociedade

25

recomendavam o apoio agraves praacuteticas esportivas e sua democratizaccedilatildeo (BRASIL

1987b)

O Relatoacuterio do Anteprojeto da Subcomissatildeo tambeacutem apresentou a

sugestatildeo de cinco constituintes sobre o esporte sendo que apenas um deles

manifestou opiniatildeo divergente Para Aeacutecio de Borba Joseacute Queiroz Maacutercia

Kubitschek e Maacutercio Braga era necessaacuterio respeitar a autonomia das entidades

esportivas e ampliar a destinaccedilatildeo de recurso puacuteblico e benefiacutecios fiscais para o

esporte como um todo (educacional e alto rendimento) Jaacute para Florestan

Fernandes o esporte amador de dimensatildeo educacional era a uacutenica manifestaccedilatildeo

que se constituiacutea como serviccedilo social de responsabilidade direta do Estado (BRASIL

1987b)

Em meio agraves vaacuterias etapas de discussatildeo que envolveram a construccedilatildeo da

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e as seguidas alteraccedilotildees no texto original contido no

Relatoacuterio do Anteprojeto da Comissatildeo o esporte conseguiu se elevar ao status de

direito social com sua positivaccedilatildeo atraveacutes do Art 217 da Seccedilatildeo III ndash Do Desporto

do Capiacutetulo III ndash Da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto do Tiacutetulo VIII ndash Da Ordem

Social

SECcedilAtildeO III - DO DESPORTO Art 217 Eacute dever do Estado fomentar praacuteticas desportivas formais e natildeo-formais como direito de cada um observados I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associaccedilotildees quanto a sua organizaccedilatildeo e funcionamento II - a destinaccedilatildeo de recursos puacuteblicos para a promoccedilatildeo prioritaacuteria do desporto educacional e em casos especiacuteficos para a do desporto de alto rendimento III - o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o natildeo- profissional IV - a proteccedilatildeo e o incentivo agraves manifestaccedilotildees desportivas de criaccedilatildeo nacional sect 1ordm O Poder Judiciaacuterio soacute admitiraacute accedilotildees relativas agrave disciplina e agraves competiccedilotildees desportivas apoacutes esgotarem-se as instacircncias da justiccedila desportiva regulada em lei sect 2ordm A justiccedila desportiva teraacute o prazo maacuteximo de sessenta dias contados da instauraccedilatildeo do processo para proferir decisatildeo final sect 3ordm O Poder Puacuteblico incentivaraacute o lazer como forma de promoccedilatildeo social (BRASIL 1988a p1)

Para Marcellino (2010 p62) e demais estudiosos do lazer o esporte jaacute

poderia estar contemplado no direito social ao lazer considerando que se trata de

uma das suas manifestaccedilotildees como praacutetica recreativa usualmente utilizada nos

momentos de ldquoespaccedilo e tempo disponiacutevelrdquo Por outro lado ele tambeacutem poderia ser

entendido como uma expressatildeo da educaccedilatildeo como conteuacutedo de formaccedilatildeo cidadatilde

26

no acircmbito da educaccedilatildeo formal ou informal ou ainda da sauacutede como meio para

promoccedilatildeo do bem estar fiacutesico social e psicoloacutegico ambos objetos sociais

mencionados no Art 6ordm da Constituiccedilatildeo Federal de 1988

No entanto para os constituintes o esporte foi considerado ldquomateacuteria de

alto interesse soacutecio-econocircmico-culturalrdquo de forma a ser elevado a um objeto por si

soacute digno de ser desmercantilizado a todos os cidadatildeos pois ldquoenquanto atividade da

sociedade o esporte eacute a proacutepria sociedaderdquo Isto eacute o esporte deixa de ser meio para

uma determinada finalidade e passa a ser fim nele mesmo (BRASIL 1987b p22)

Diante disso para compreender o conceito de esporte presente no texto

originaacuterio da nova naccedilatildeo brasileira eacute necessaacuterio buscar vestiacutegios nas discussotildees

dos constituintes e identificar os atores sociais que participaram desta arena de

debate O Relatoacuterio do Anteprojeto da Subcomissatildeo da Educaccedilatildeo Cultura e

Esportes nos daacute alguns indiacutecios sobre a mudanccedila de paradigma que evolve o

esporte

No capiacutetulo terceiro do Relatoacuterio que trata especificamente sobre ldquoo

desportordquo o relator Joatildeo Camon menciona exemplos de elementos exoacuteticos e ateacute

mesmo supeacuterfluos agrave primeira vista na Constituiccedilatildeo da Suiacuteccedila China Estados

Unidos Meacutexico Iugoslaacutevia e Espanha mas relevantes e particulares agrave formaccedilatildeo

cultural de suas respectivas sociedades e por isso contemplados como direito

social

Eacute sabido que nas Constituiccedilotildees de inuacutemeros paiacuteses constam dispositivos que poderiam ser considerados supeacuterfluos mas que dizem de perto da histoacuteria costumes e relevacircncia na vida de cada um A Constituiccedilatildeo Suiacuteccedila por exemplo conteacutem disposiccedilotildees concernentes ao abate do gado a Chinesa assegura no art 45 o direito de o Cidadatildeo escrever nos dazibao (Jornais de parede) a Americana no art II reconhece o direito dos cidadatildeos ao uso e porte de armas a Constituiccedilatildeo Mexicana (art 123 XXX) alude agrave Construccedilatildeo de casas baratas e higiecircnicas a Constituiccedilatildeo Iugoslava (art183) restringe a liberdade de deslocamento aos cidadatildeos para impedir a propagaccedilatildeo de doenccedilas infecciosas a Constituiccedilatildeo Espanhola no art 148 sectsect 11 e 14 outorga explicitamente competecircncia legislativa agraves comunidades autocircnomas com referecircncia agrave pesca de mariscos e middotartesanato (BRASIL 1987b p22)

Em seguida o relator justifica o esporte como um elemento contido na

ldquoraiz da realidade social brasileirardquo e por isso se faz necessaacuterio criar a ldquopedra

fundamental do edifiacutecio juriacutedico-esportivo nacionalrdquo O esporte tambeacutem eacute tido como

uma maneira de expressatildeo tiacutepica da proacutepria sociedade que ldquoimpregna a cultura

27

moderna e a vida quotidiana como um dos pontos de referecircncia e convergecircncia na

vida dos brasileirosrdquo e desta forma natildeo poderia ser menosprezado pela normativa

constitucional do paiacutes Ou seja o esporte eacute ldquouma forccedila vivardquo que em alguns

momentos eacute responsaacutevel por uma quase ldquouniatildeo nacionalrdquo e nesse sentido deve ser

protegido e promovido como parte da heranccedila social construiacuteda historicamente em

nossa sociedade (BRASIL 1987b p22)

O relator ainda cita 12 entidades ligadas ao esporte que estiveram

presentes nas sessotildees de audiecircncia puacuteblica e contribuiacuteram para a elaboraccedilatildeo do

Art 217 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988

() a Confederaccedilatildeo Brasileira do Atletismo a Confederaccedilatildeo Brasileira de Basketball a Federaccedilatildeo Internacional de Futebol de Salatildeo o Comitecirc Oliacutempico Brasileiro a Confederaccedilatildeo Brasileira de Futebol de Salatildeo o Conselho Nacional de Desportos a Confederaccedilatildeo Brasileira de Futebol a Associaccedilatildeo Brasileira de Clubes de Futebol o Conselho Administrativo do Fundo de Assistecircncia ao Atleta a Associaccedilatildeo Brasileira de Cronistas Esportivos ndash ABRACE ndash o Superior Tribunal de Justiccedila Desportiva a Confederaccedilatildeo Brasileira de Futebol e a Secretaria de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desportos do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (BRASIL 1987b p22 ndash a marcaccedilatildeo taxada estaacute destacando a duplicidade de registro)

O jurista Aacutelvaro Melo Filho agrave eacutepoca membro do Conselho Nacional de

Desporto Presidente da Confederaccedilatildeo Brasileira de Futebol de Salatildeo e assessor

juriacutedico da Federaccedilatildeo Internacional de Futebol de Salatildeo afirma ter enviado trecircs

propostas bastante parecidas uma para cada entidade a fim de pressionar a

inserccedilatildeo do esporte na constituiccedilatildeo Tambeacutem relembra que coube a ele e o

Professor Manoel Tubino no dia 06 de junho de 1987 realizar o pronunciamento e a

defesa do esporte na sessatildeo de audiecircncia puacuteblica (BRASIL 1987b MELO FILHO

1990 2015)

Verificando a lista das entidades presentes na discussatildeo e analisando o

conteuacutedo do Relatoacuterio do Anteprojeto da Subcomissatildeo assim como os textos de

Melo Filho (1990 2015) e demais juristas relacionados ao trabalho da constituinte

notamos que coube agraves tradicionais entidades representativas do esporte de

rendimento o protagonismo na inclusatildeo do esporte no texto constitucional Talvez

por isso estas entidades tambeacutem sejam as primeiras a se beneficiarem do apoio

estatal principalmente do financiamento puacuteblico no periacuteodo poacutes-constituiccedilatildeo Para

Starepravo (2011) com o novo texto constitucional o setor esportivo consegue a

28

liberalizaccedilatildeo esperada mas sem romper com a tutela do financiamento puacuteblico

estatal

Todavia eacute inegaacutevel que o Art 217 se materializa simultaneamente como

ldquocarta de alforriardquo para as entidades representativas do esporte por prever sua

autonomia e liberdade de funcionamento mas tambeacutem como ldquopedra fundamentalrdquo

do direito social ao esporte por apresentar diretrizes de priorizaccedilatildeo do esporte

educacional e de lazer para o desenvolvimento da sociedade

Cabe ressaltar que a inclusatildeo do esporte como artigo constitucional natildeo

foi uma inovaccedilatildeo brasileira muito pelo contraacuterio sua presenccedila em constituiccedilotildees de

outros paiacuteses foi um argumento de legitimaccedilatildeo da sua inclusatildeo no texto nacional

(DERBLY 2002)

Na Constituiccedilatildeo Espanhola de 29 de dezembro de 1978 o esporte

aparece do seguinte modo

CAPIacuteTULO III - Dos princiacutepios orientadores da poliacutetica social e econocircmica Art 43 ndash Proteccedilatildeo a Sauacutede e Fomento ao Desporto [] 3 - Os Poderes Puacuteblicos fomentaratildeo a educaccedilatildeo sanitaacuteria a educaccedilatildeo fiacutesica e o desporto Tambeacutem facilitaratildeo a utilizaccedilatildeo adequada do lazer (ESPANHA 1978 p11 traduccedilatildeo

8 e grifo nossos)

E na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa de 2 de abril de 1976

CAPIacuteTULO III - Direitos e deveres sociais [] Art70 - Juventude 1 - Os jovens sobretudo os jovens trabalhadores gozam de protecccedilatildeo especial para efectivaccedilatildeo dos seus direitos econoacutemicos sociais e culturais nomeadamente [] c) Educaccedilatildeo fiacutesica desporto e aproveitamento dos tempos livres [] Art79 - Cultura Fiacutesica e desportiva O Estado reconhece o direito dos cidadatildeos agrave cultura fiacutesica e ao desporto como meios de valorizaccedilatildeo humana incumbindo-lhe promover estimular e orientar a sua praacutetica e difusatildeo (PORTUGAL 1976 p17-18 grifo nosso)

O novo status do esporte tambeacutem aplica ao Estado a obrigaccedilatildeo de atuar

de forma ativa na proposiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas capazes de oportunizar o acesso

e fruiccedilatildeo deste objeto social a todos os cidadatildeos em um processo que Menicucci

8 Texto original CAPIacuteTULO III De los principios rectores de la poliacutetica social y econocircmica Art 43 ndash

Proteccioacuten a la salud y fomento del deporte [] 3 - Los poderes puacuteblicos fomentaraacuten la educacioacuten sanitaria la educacioacuten fiacutesica y el deporte Asimismo facilitaraacuten la adecuada utilizacioacuten del ocio

29

(2006) e Esping-Andersen citado por Hassenteufel (1996) denominam de

desmercantilizaccedilatildeo Isto eacute a possibilidade dada ao indiviacuteduo de usufruir de um

direito social que o faz pertencente a uma determinada sociedade independente da

sua posiccedilatildeo no mercado ou do seu poder de compra ou melhor dizendo ldquoo grau

suportado pelo Estado [] do indiviacuteduo como cidadatildeo e natildeo como trabalhadorrdquo

(ESPING-ANDERSEN apud HASSENTEUFEL 1996 p143)

22 A institucionalizaccedilatildeo estatal do esporte poacutes-constituiccedilatildeo

Pensando na idealizaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas esportivas torna-se

importante refletir sobre as possibilidades de expressatildeo deste fenocircmeno A

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 natildeo deixa claro tais manifestaccedilotildees apesar de indicar

trecircs possiacuteveis alternativas o esporte educacional de alto rendimento (Art 217

inciso II) e o esporte como promoccedilatildeo do lazer (Art 217 inciso IV sect 3ordm) (BRASIL

1988a) De acordo com Tubino (2005 2010) estas possiacuteveis manifestaccedilotildees

impliacutecitas no texto constitucional satildeo na verdade uma consolidaccedilatildeo das discussotildees

realizadas pela Comissatildeo de Reformulaccedilatildeo do Desporto Nacional onde as

expressotildees Esporte-Educaccedilatildeo Esporte-Lazer e Esporte-Rendimento emergiram

Poreacutem o autor natildeo conceitua ou define as manifestaccedilotildees

Em outro texto Tubino (2002) ainda sugere uma quarta manifestaccedilatildeo

esportiva a partir do desmembramento do esporte educacional Talvez natildeo por

acaso o recente decreto presidencial que alterou a regulamentaccedilatildeo da legislaccedilatildeo do

esporte no acircmbito federal Decreto Nordm 7984 de 8 de abril de 2013 seguiu uma

loacutegica parecida a apresentada por Tubino Poreacutem ao inveacutes de criar mais uma

manifestaccedilatildeo esportiva apenas subdividiu o esporte educacional em duas outras

manifestaccedilotildees 1) esporte educacional ou de formaccedilatildeo e 2) esporte escolar

(BRASIL 2013a)

Independente desta subdivisatildeo eacute perceptiacutevel que as novas

manifestaccedilotildees esportivas satildeo dinacircmicas e passam por um processo de

amadurecimento desde sua elaboraccedilatildeo em 1985 ateacute os dias atuais E continuam

sendo uma tentativa de superaccedilatildeo das expressotildees esportivas segmentadas e

30

utilitaristas idealizadas pela Lei Nordm 62511975 durante o periacuteodo do Regime Militar9

- Esporte Comunitaacuterio Esporte Estudantil Esporte Militar e Esporte Classista

(BRASIL 1975)

Poreacutem entre a promulgaccedilatildeo da Nova Carta Magna em 05 de outubro de

1988 ateacute o iniacutecio da deacutecada de 1990 as novas manifestaccedilotildees esportivas natildeo

passavam de discussatildeo teoacuterica pois a Lei Nordm 62511975 mantinha-se em vigor

regulamentando o esporte e a estrutura estatal do esporte vinculada agrave Secretaria de

Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desporto do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Somente em 15 de marccedilo

de 1990 por meio da Medida Provisoacuteria Nordm 150 foi criada com status ministerial a

Secretaria de Desportos da Presidecircncia da Repuacuteblica para reinserir o esporte agrave

pauta da agenda puacuteblica (BRASIL 1990a) Para a direccedilatildeo da Secretaria foi

nomeado o ex-atleta de futebol Arthur Antunes Coimbra o Zico o que reafirma o

peso do esporte de rendimento durante a elaboraccedilatildeo do Art 217 da Constituiccedilatildeo

Federal de 1988

Paralelamente agrave reestruturaccedilatildeo estatal do esporte no mesmo ano o

Conselho Nacional de Desporto passou a rever suas deliberaccedilotildees e resoluccedilotildees

pois ateacute aquele momento o oacutergatildeo exercia funccedilatildeo legislativa executiva e judiciaacuteria

sobre o esporte nacional Segundo Melo Filho (2015 p9) agrave eacutepoca vice-presidente

do Conselho Nacional de Desporto das 431 normas vigentes 400 foram revogadas

de uma soacute vez por contrariar a ldquoautonomia das entidades dirigentes e associaccedilotildees

esportivasrdquo preconizada pelo inciso I do Art 217

Em 1991 a Secretaria de Desportos da Presidecircncia da Repuacuteblica enviou

ao Congresso Nacional o Projeto de Lei Nordm 965 o qual apoacutes vaacuterias discussotildees deu

origem a Lei Nordm 8672 em 6 de julho de 1993 ficando popularmente conhecida

9 O esporte comunitaacuterio era formado pelas entidades esportivas que participam das competiccedilotildees

oficiais das modalidades assim como suas federaccedilotildees e confederaccedilatildeo sendo que todas se mantinham subordinadas a CND Jaacute o esporte estudantil aquele praticado por estudantes tanto do ensino baacutesico quanto o superior Nesta tipologia foi feito a distinccedilatildeo entre o oacutergatildeo regulador sendo que o acircmbito universitaacuterio as entidades esportivas estariam submetidas agrave aacuterea de abrangecircncia da CND enquanto no ensino baacutesico o controle ficaria por conta do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura O esporte militar natildeo apresenta grandes distinccedilotildees sobre as demais praacuteticas a natildeo ser por ser realizadas por membros das forccedilas armadas e ter sua regulaccedilatildeo realizada pelo Ministeacuterio Militar (Exeacutercito Marinha Aeronaacuteutica) O Art 31ordm da legislaccedilatildeo acrescenta que o esporte militar tem como finalidade a ldquodivulgaccedilatildeo das praacuteticas desportivas em todo o territoacuterio nacional e constituir as representaccedilotildees nacionais competiccedilotildees desportivas militares internacionaisrdquo E por fim o esporte classista o qual relacionava com a formaccedilatildeo de associaccedilotildees esportivas pelos dirigentes ou empregados de uma empresa A funcionalidade desta tipologia era tatildeo abstrata que o proacuteprio oacutergatildeo regulador natildeo foi definido na legislaccedilatildeo ficando a caraacuteter do ldquoMinistro da Educaccedilatildeo e Cultura ouvido o Conselho Nacional de Desportosrdquo definir posteriormente (BRASIL 1975 p1)

31

como Lei Zico muito embora esta personagem natildeo estivesse mais agrave frente da

Secretaria (BRASIL 1993a)

A nova legislaccedilatildeo sobre o esporte no paiacutes trouxe no Capiacutetulo II diversos

princiacutepios fundamentais dentre os quais destacamos o inciso V que trata sobre o

direito social Para o legislador o direito social consistia no dever do Estado em

fomentar as praacuteticas esportivas o que de certa maneira estaacute em consonacircncia com o

processo de desmercantilizaccedilatildeo mencionado por Menicucci (2006) e Esping

Andersen citado por Hassenteufel (1996) Contudo este princiacutepio natildeo levou em

consideraccedilatildeo a concepccedilatildeo de significaccedilatildeo histoacuterica proposta por Marshall (1967)

isto eacute que o objeto pauta da legislaccedilatildeo seria fruto de uma construccedilatildeo histoacuterica e

coletiva que cria sentimento de pertencimento entre os membros da sociedade e

por isso deveria ser foco de fomento pelo Estado Logo a carecircncia deste segundo

atributo resumiu o princiacutepio da lei a uma atribuiccedilatildeo de responsabilidade alienante do

Estado ndash dever por mero dever

Art 2ordm O desporto como direito individual tem como base os seguintes princiacutepios I - soberania caracterizado pela supremacia nacional na organizaccedilatildeo da praacutetica desportiva II - autonomia definido pela faculdade de pessoas fiacutesicas e juriacutedicas organizarem-se para a praacutetica desportiva como sujeitos nas decisotildees que as afetam III - democratizaccedilatildeo garantido em condiccedilotildees de acesso agraves atividades desportivas sem distinccedilotildees e quaisquer formas de discriminaccedilatildeo IV - liberdade expresso pela livre praacutetica do desporto de acordo com a capacidade e interesse de cada um associando-se ou natildeo a entidades do setor V - direito social caracterizado pelo dever do Estado de fomentar as praacuteticas desportivas formais e natildeo-formais VI - diferenciaccedilatildeo consubstanciado no tratamento especiacutefico dado ao desporto profissional e natildeo-profissional VII - identidade nacional refletido na proteccedilatildeo e incentivo agraves manifestaccedilotildees desportivas de criaccedilatildeo nacional VIII - educaccedilatildeo voltado para o desenvolvimento integral do homem como ser autocircnomo e participante e fomentado atraveacutes da prioridade dos recursos puacuteblicos ao desporto educacional IX - qualidade assegurado pela valorizaccedilatildeo dos resultados desportivos educativos e dos relacionados agrave cidadania e ao desenvolvimento fiacutesico e moral X - descentralizaccedilatildeo consubstanciado na organizaccedilatildeo e funcionamento harmocircnicos de sistemas desportivos diferenciados e autocircnomos para os niacuteveis federal estadual e municipal XI - seguranccedila propiciado ao praticante de qualquer modalidade desportiva quanto a sua integridade fiacutesica mental ou sensorial XII - eficiecircncia obtido atraveacutes do estiacutemulo agrave competecircncia desportiva e administrativa (BRASIL 1993a p1 grifo nosso)

32

A Lei Zico (Lei Nordm 86721993) tambeacutem abrigou em seu texto as trecircs

manifestaccedilotildees esportivas que emergiram das discussotildees da Comissatildeo de

Reformulaccedilatildeo do Desporto Nacional tambeacutem mencionadas por Tubino (2005 2010)

inclusive sendo o primeiro documento a tentar defini-las (BRASIL 1993a)

De acordo com Zotovici et al (2013) a Lei Zico foi bastante criticada por

regular quase que exclusivamente o futebol deixando as demais modalidades em

segundo plano Apesar disso a legislaccedilatildeo tinha um caraacuteter consultivo e natildeo sanava

muitos problemas estruturais do esporte nacional principalmente na aacuterea do futebol

No entanto Proni (1998) afirma que diante da eminente aprovaccedilatildeo da

nova legislaccedilatildeo a qual tinha como princiacutepio a profissionalizaccedilatildeo da gestatildeo do

esporte de alto rendimento a alternativa encontrada pelos principais dirigentes do

futebol foi utilizar o seu prestigio para pressionar o Congresso Nacional Nesse

sentido o projeto inicial enviado pelo poder executivo recebeu diversas emendas e

foi completamente transfigurado Assim a Lei Zico (Lei Nordm 86721993) conseguiu

manter parte dos conteuacutedos e princiacutepios modernizantes discutidos na eacutepoca da

constituinte poreacutem foi incapaz de alterar radicalmente a estrutura administrativa do

futebol brasileiro Por isso a profissionalizaccedilatildeo acabou tendo um caraacuteter consultivo e

natildeo impositivo

Apesar das criacuteticas a partir de 1993 esta legislaccedilatildeo passou a vigorar

como norma geral do esporte no paiacutes Cabe ressaltar que a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 diferentemente dos textos constitucionais anteriores tambeacutem trouxe como

novidade a possibilidade dos Estados Subnacionais e Municiacutepios10 legislarem sobre

o assunto no que couber complementaccedilatildeo ou suplementaccedilatildeo agrave norma geral fixada

pela Uniatildeo

Art 24 Compete agrave Uniatildeo aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre [] IX - educaccedilatildeo cultura ensino desporto ciecircncia tecnologia pesquisa desenvolvimento e inovaccedilatildeo (BRASIL 1988a p1 grifo nosso)

10

Embora natildeo se apresente expressamente a capacidade dos municiacutepios sobre a temaacutetica a partir da leitura do Art 24 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 existe um entendimento no meio juriacutedico de que como os municiacutepios gozam de autonomia para legislar sobre assuntos de interesse local eles teriam jurisprudecircncia para suprir ou complementar a legislaccedilatildeo federal e estadual naquilo que for interesse esportivo em seu territoacuterio (DERBLY 2002)

33

Todavia eacute bastante comum estes entes federativos criarem leis e demais

normas que em nada refletem os princiacutepios e regras gerais da legislaccedilatildeo federal Um

tiacutepico exemplo disso satildeo as manifestaccedilotildees esportivas adotadas pelo Estado de

Minas Gerais que em 2006 criou outras trecircs manifestaccedilotildees (desporto de formaccedilatildeo

desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico do setor desportivo e desporto social) para

aleacutem das jaacute existentes (MINAS GERAIS 2006) Mas estas manifestaccedilotildees sugeridas

pelo legislativo mineiro se misturam terminologicamente agraves definiccedilotildees do acircmbito

federal e mais confundem do que contribuem para a ampliaccedilatildeo do debate sobre as

expressotildees esportivas Tal fato enfraquece um possiacutevel debate nacional sobre o

esporte e o seu desenvolvimento como elemento de exerciacutecio da cidadania social

Art 3ordm - Poderatildeo ser beneficiados por esta Lei projetos de promoccedilatildeo do desporto nas seguintes aacutereas I - desporto educacional voltado para a praacutetica desportiva como disciplina ou atividade extracurricular no acircmbito do sistema puacuteblico de educaccedilatildeo infantil e baacutesica com a finalidade de complementar as atividades de segundo turno escolar e promover o desenvolvimento integral do indiviacuteduo evitando-se a seletividade e a hipercompetitividade de seus participantes II - desporto de lazer voltado para o atendimento agrave populaccedilatildeo na praacutetica voluntaacuteria de qualquer modalidade esportiva de recreaccedilatildeo ou lazer visando agrave ocupaccedilatildeo do tempo livre e agrave melhoria da qualidade de vida da sauacutede e da educaccedilatildeo do cidadatildeo III - desporto de formaccedilatildeo voltado para o desenvolvimento da motricidade baacutesica geral e para a iniciaccedilatildeo esportiva de crianccedilas e adolescentes por meio de atividades desportivas direcionadas praticadas com orientaccedilatildeo teacutecnico-pedagoacutegica IV - desporto de rendimento voltado para a formaccedilatildeo e o rendimento esportivo com orientaccedilatildeo teacutecnico-pedagoacutegica para atendimento a equipes ou atletas de qualquer idade filiados a entidades associativas de modalidades esportivas visando ao aprimoramento teacutecnico e agrave praacutetica esportiva de alto niacutevel V - desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico do setor desportivo voltado para o desenvolvimento ou aperfeiccediloamento de tecnologia aplicada agrave praacutetica desportiva para a formaccedilatildeo e treinamento de recursos humanos para o desporto e para o financiamento de publicaccedilotildees literaacuterias e cientiacuteficas sobre esporte VI - desporto social voltado para o atendimento social por meio do esporte com recursos especiacuteficos para esse fim e realizado em comunidades de baixa renda visando a promover a inclusatildeo social (MINAS GERAIS 2006 p1)

As diversas alteraccedilotildees e complementaccedilotildees11 realizadas na Lei Zico (Lei

Nordm 86721993) demonstraram sua incapacidade em suprir a regulaccedilatildeo do setor

11

Alteraccedilotildees realizadas na Lei Zico Medida Provisoacuteria nordm 386 de 8 de Dezembro de 1993 Medida Provisoacuteria nordm 411 de 7 de Janeiro de 1994 Medida Provisoacuteria nordm 426 de 9 de Fevereiro de 1994 Medida Provisoacuteria nordm 448 de 11 de Marccedilo de 1994 Medida Provisoacuteria nordm 471 de 12 de Abril de 1994 Lei Ordinaacuteria nordm 8879 de 20 de Maio de 1994 Complementaccedilotildees realizadas na Lei Zico Lei Ordinaacuteria nordm 8879 de 20 de Maio de 1994 Lei Ordinaacuteria nordm 8946 de 5 de Dezembro de 1994 Revogaccedilatildeo Parcial

34

esportivo No entanto somente com a conquista da estabilidade econocircmica trazida

pelo plano real e a posse do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDBSP)

que a estrutura estatal esportiva eacute alterada e cria-se novamente cenaacuterio

institucional oportuno para discussatildeo do tema

A Medida Provisoacuteria Nordm 813 de 1ordm de janeiro de 1995 reestrutura a

organizaccedilatildeo administrativa do poder executivo e manteacutem o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e

do Desporto criado no final de 1992 tambeacutem por Medida Provisoacuteria a de Ndeg 309

(BRASIL 1995a BRASIL 1992a) Esta manutenccedilatildeo do esporte como nome de um

Ministeacuterio de Estado mesmo que compartilhado com outra pasta mostra a

conquista poliacutetica que o tema teve a partir da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 Todavia

este novo ato normativo tambeacutem cria o cargo de Ministro de Estado Extraordinaacuterio

dos Esportes ou seja embora o ministeacuterio estivesse dividido entre educaccedilatildeo e

esporte a presenccedila de um ministro exclusivo lhe dava autonomia de funcionamento

e um quase status de Ministeacuterio Extraordinaacuterio do Esporte

Para chefiar este cargo novamente um ex-atleta de futebol foi convidado

desta vez Edson Arantes do Nascimento o Peleacute A presenccedila de um membro do

esporte de rendimento na reorganizaccedilatildeo da cadeia produtiva do esporte no Brasil

demonstra mais uma vez a forccedila deste setor tradicional no cenaacuterio poliacutetico e

econocircmico nacional

Logo de iniacutecio o Ministro Peleacute teve como missatildeo buscar nova

reformulaccedilatildeo da legislaccedilatildeo esportiva na tentativa de enfrentar o tortuoso processo

de modernizaccedilatildeo do esporte de rendimento principalmente do oligaacuterquico futebol o

qual natildeo foi alcanccedilado pela Lei Zico (Lei Nordm 86721993) Para isto o ministro se

apoiou no Projeto de Lei Nordm 1159 de 31 de outubro de 1995 do Deputado Federal

Arlindo Chinaglia (PTSP) e depois de um tramite em regime de urgecircncia e vaacuterias

discussotildees envolvendo quase que exclusivamente o esporte de rendimento o

projeto foi aprovado no Congresso Nacional em 24 de marccedilo de 1998 dando

origem agrave Lei Nordm 9615 que ficou popularmente conhecida como Lei Peleacute (BRASIL

1998a)

A nova norma geral do esporte nacional natildeo se diferencia muito da Lei

Zico (Lei Nordm 86721993) uma vez que tambeacutem tinha um foco excessivo sobre o

da Lei Zico Medida Provisoacuteria nordm 1602 de 14 de Novembro de 1997 Lei Ordinaacuteria nordm 9532 de 10 de Dezembro de 1997

35

esporte de rendimento e sobre o futebol O capiacutetulo II da nova Lei tambeacutem apresenta

os princiacutepios balizadores da legislaccedilatildeo sendo o esporte lembrado como direito

social apenas pelo atributo de dever do Estado deixando no esquecimento mais

uma vez o aspecto de significaccedilatildeo histoacuterica do objeto social conforme propunha

Marshall (1967)

No processo de redemocratizaccedilatildeo do paiacutes as trecircs manifestaccedilotildees

esportivas que emergiram satildeo registradas no texto da legislaccedilatildeo demonstrando a

consolidaccedilatildeo destas alternativas de expressatildeo do esporte Inclusive nesta

oportunidade a definiccedilatildeo das manifestaccedilotildees foi mais bem caracterizada Todavia

em 4 de agosto de 2015 a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte (Lei Nordm

13155) acrescentou uma quarta manifestaccedilatildeo esportiva ao rol de possibilidades

tendo como foco a produccedilatildeo de conhecimento na aacuterea esportiva (BRASIL 2015a)

Art 3- [] I - desporto educacional praticado nos sistemas de ensino e em formas assistemaacuteticas de educaccedilatildeo evitando-se a seletividade a hipercompetitividade de seus praticantes com a finalidade de alcanccedilar o desenvolvimento integral do indiviacuteduo e a sua formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania e a praacutetica do lazer II - desporto de participaccedilatildeo de modo voluntaacuterio compreendendo as modalidades desportivas praticadas com a finalidade de contribuir para a integraccedilatildeo dos praticantes na plenitude da vida social na promoccedilatildeo da sauacutede e educaccedilatildeo e na preservaccedilatildeo do meio ambiente III - desporto de rendimento praticado segundo normas gerais desta Lei e regras de praacutetica desportiva nacionais e internacionais com a finalidade de obter resultados e integrar pessoas e comunidades do Paiacutes e estas com as de outras naccedilotildees IV - desporto de formaccedilatildeo caracterizado pelo fomento e aquisiccedilatildeo inicial dos conhecimentos desportivos que garantam competecircncia teacutecnica na intervenccedilatildeo desportiva com o objetivo de promover o aperfeiccediloamento qualitativo e quantitativo da praacutetica desportiva em termos recreativos competitivos ou de alta competiccedilatildeo (BRASIL 1998a p1 BRASIL 2015a p1 ndash grifo nosso para destacar a manifestaccedilatildeo esportiva acrescentada)

A Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) entrou efetivamente em vigor com a

publicaccedilatildeo do Decreto Nordm 2574 de 29 de abril de 1998 Nesta mesma data

encerrou-se o trabalho do Ministro Peleacute e o cargo que tinha caraacuteter extraordinaacuterio

foi extinto Assim o objeto esporte passou a funcionar sob o comando do ministro

Paulo Renato Souza responsaacutevel pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Desporto No dia 1ordm

de janeiro de 1999 por meio da Medida Provisoacuteria Nordm 1795 uma nova

reestruturaccedilatildeo ministerial foi realizada no poder executivo e criou-se o Ministeacuterio do

Esporte e Turismo (BRASIL 1999a) Desta vez o comando da pasta natildeo foi

36

delegado a um esportista mas a um poliacutetico o Deputado Federal Rafael Greca

(PFLPR)

A nova legislaccedilatildeo esportiva teve um caraacuteter mais impositivo de

estruturaccedilatildeo da cadeia produtiva do esporte de rendimento do que a sua

antecessora poreacutem tambeacutem sofreu com vaacuterias alteraccedilotildees No site da Cacircmara dos

Deputados12 em consulta realizada no dia 26 de abril de 2016 foram verificadas 69

alteraccedilotildees realizadas na versatildeo original da lei Entretanto apesar de criar

paracircmetros e diretrizes agraves outras manifestaccedilotildees esportivas pouca coisa de concreto

contribuiu para a consolidaccedilatildeo do direito social ao esporte ao cidadatildeo comum (natildeo

atleta)

Os primeiros anos de funcionamento da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) e do

Ministeacuterio do Esporte e Turismo satildeo marcados por problemas com o Jogo do Bingo

e a relaccedilatildeo comercial entre a Confederaccedilatildeo Brasileira de Futebol (CBF) e suas

patrocinadoras o que deu origem agrave investigaccedilatildeo no legislativo com a formaccedilatildeo da

Comissatildeo Parlamentar de Inqueacuterito (CPI) conhecida na miacutedia como a CPI do

Futebol (BUENO 2008)

Com relaccedilatildeo ao financiamento no esporte a Lei Peleacute apresentou nos

Arts 56 e 57 as possiacuteveis origens de recurso estatal para o desenvolvimento de

poliacutetica puacuteblica para o gozo deste elemento de cidadania social no paiacutes Entretanto

somente com a alteraccedilatildeo da legislaccedilatildeo por meio da Lei Nordm 10264 de 16 de julho de

2001 conhecida como Lei AgneloPiva o recurso de parte do precircmio das loterias

federais passou a ser repassado ao Comitecirc Oliacutempico Brasileiro (COB) e ao Comitecirc

Paraoliacutempico Brasileiro (CPB) (BRASIL 1998A BRASIL 2001a) Assim o benefiacutecio

financeiro puacuteblico chegou primeiro ao esporte de rendimento que agraves outras

manifestaccedilotildees esportivas (BUENO 2008 ZOTOVICI et al 2013)

No entanto priorizar o financiamento puacuteblico ao esporte de rendimento foi

uma afronta ao inciso II do Art 217 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o qual define

expressamente a prevalecircncia do esporte educacional em relaccedilatildeo ao de rendimento

(BRASIL 1988a) Por outro lado a Lei AgneloPiva (Lei Nordm 102642001) marcou o

formato de financiamento escolhido pelo Estado brasileiro para fomentar um

elemento social constitucional isto eacute a destinaccedilatildeo de grande parte do recurso

12

Site oficial da Cacircmara dos Deputados Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfedlei1998lei-9615-24-marco-1998-351240-norma-plhtmlgt Acesso em 26 de Abril de 2016

37

puacuteblico para o esporte por meio de uma via extraorccedilamentaacuteria ndash repasse direto do

lucro de uma entidade puacuteblica (BRASIL 2001a) Inclusive o percurso fora do

orccedilamento puacuteblico seria novamente adotado anos mais tarde com a promulgaccedilatildeo

da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

O trajeto do financiamento nos faz refletir sobre os dilemas do direito

social ao esporte pois uma vez que o esporte alcanccedila o status de direitos social

passa ser problema de Estado e natildeo mais apenas do indiviacuteduo qual eacute o papel

estatal na garantia deste direito Aparentemente a decisatildeo do Estado brasileiro tem

sido a de repassar recurso puacuteblico para o setor privado de esporte para este

desenvolver uma das facetas deste direito (esporte de rendimento) Poreacutem a

escolha por um caminho extraorccedilamentaacuterio pode expressar a retirada deste

elemento social de cidadania da pauta de discussotildees legislativas (arena de debate e

conflitos) e ainda fragilizar o controle que administraccedilatildeo puacuteblica tem sobre o gasto

deste recurso

Apesar do dilema sobre a forma e a prioridade do financiamento do

esporte de rendimento em prol das demais foi inegaacutevel que a Lei AgneloPiva (Lei

Nordm 102642001) proporcionou a promoccedilatildeo e desenvolvimento do esporte

competitivo no paiacutes muito embora ainda exista criacutetica sobre a discricionariedade na

partilha do recurso entre as entidades representativas do esporte (BUENO 2008)

Durante o periacuteodo de vigecircncia do Ministeacuterio do Esporte e Turismo apoacutes

Rafael Greca outro poliacutetico de carreira assumiu o cargo o Deputado Federal Carlos

Carmo Melles (PFLMG) sucedido pelo especialista em turismo Caio Cibella de

Carvalho Uma nova estruturaccedilatildeo ministerial relevante ao esporte somente viria a

acontecer com a posse do Presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio Lula da Silva

(PTSP)

Apoacutes a posse do presidente Lula a Medida Provisoacuteria Nordm 103 de 01 de

janeiro de 2003 desmembrou o turismo do esporte e criou o Ministeacuterio do Esporte

(BRASIL 2003a) Agrave frente desta pasta exclusiva para tratar da temaacutetica do esporte

foi indicado o Deputado Federal Agnelo Queiroz (PCdoBDF) o mesmo que

participou ativamente na aprovaccedilatildeo da lei de financiamento agraves entidades

representativas do esporte ndash Lei AgneloPiva (Lei Nordm 10264200)

Aleacutem de ter sido a primeira experiecircncia do esporte em um ministeacuterio

exclusivo a organizaccedilatildeo das suas secretarias permitiu efetivamente incluir as

manifestaccedilotildees educacionais e de participaccedilatildeo na agenda puacuteblica Assim foram

38

criadas a Secretaria Nacional de Esporte Educacional (SNEE) a Secretaria Nacional

de Esporte e Lazer (SNEL) e a Secretaria Nacional de Esporte de Rendimento

(SNER) cada uma responsaacutevel por desenvolver uma das manifestaccedilotildees esportivas

consolidadas na legislaccedilatildeo federal

Fonte Starepravo et al (2015 p222)

Apesar da nova estrutura de funcionamento estatal do esporte

Starepravo et al (2015) chamam a atenccedilatildeo para o conflito de interesse poliacutetico-

partidaacuterio entre PT e PCdoB durante a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio do Esporte e suas

respectivas secretaacuterias nacionais Para o autor existiu um tensionamento entre o

capital poliacutetico e o capital cultural teacutecnico e especiacutefico do esporte sendo que o

primeiro teve uma preponderacircncia sobre o segundo Desta forma aspectos como

visibilidade das accedilotildees estatais e influecircncia poliacutetica foram norteadoras na indicaccedilatildeo

dos nomes que compuseram os cargos comissionados do 2ordm e 3ordm escalatildeo do

Ministeacuterio do Esporte Em contrapartida nomes de notoacuterio conhecimento teacutecnico e

envolvidos politicamente na discussatildeo do esporte foram esquecidos ou ficaram em

segundo plano para a ocupaccedilatildeo de cargos diretivos no ministeacuterio

Independente da motivaccedilatildeo que levou agrave organizaccedilatildeo e indicaccedilatildeo de

nomes ao Ministeacuterio do Esporte este periacuteodo foi marcado pela criaccedilatildeo do Programa

Figura 1 ndash Organograma do Ministeacuterio do Esporte (2003)

39

Segundo Tempo (PST) e Programa Esporte e Lazer da Cidade (PELC) ou seja as

primeiras iniciativas do Estado brasileiro de democratizar o esporte educacional e de

participaccedilatildeo respectivamente Estes programas colocaram o Estado brasileiro no

papel de executor de poliacuteticas puacuteblicas de esporte dialogando com a localidade por

meio de um processo de municipalizaccedilatildeo das suas atividades Com isso a

diversificaccedilatildeo do esporte para aleacutem dos tradicionais programas competitivos e a

proximidade da poliacutetica puacuteblica com o seu beneficiaacuterio direito trouxe novos atores

sociais13 para o campo de discussatildeo esportiva

Essa perspectiva tambeacutem foi levada em consideraccedilatildeo ante a criaccedilatildeo do

novo foacuterum nacional de discussatildeo sobre o esporte a Conferecircncia Nacional do

Esporte14 instituiacuteda pelo Decreto Presidencial SN de 21 de janeiro de 2004 e

regulamentada pelas Portarias do Ministeacuterio do Esporte Nordm 13 de 03 de fevereiro de

2004 e Nordm 23 de 11 de marccedilo de 2004 (BRASIL 2004a BRASIL 2004b BRASIL

2004c) O evento foi composto de etapa municipal e estadual15 precedentes agrave etapa

nacional com o intuito de filtrar proposiccedilotildees e auxiliar no diagnoacutestico do esporte no

paiacutes A etapa nacional aconteceu em Brasiacutelia no dia 17 de junho do mesmo ano e

gerou vaacuterias propostas de accedilotildees divididas em oito eixos temaacuteticos contidos no

ldquoCaderno de Propostasrdquo Aleacutem disso da 1ordf Conferecircncia Nacional de Esporte

emergiram quatro princiacutepios seis diretrizes e seis objetivos norteadores para a

Poliacutetica Nacional de Esporte e Lazer (BRASIL 2004d BRASIL 2004e)

Esta ampla discussatildeo que desta vez natildeo levou em consideraccedilatildeo apenas

a ala dos representantes do esporte de rendimento permitiu aprofundar

efetivamente o entendimento do esporte como direito social aproximando a temaacutetica

da concepccedilatildeo de heranccedila social e pertencimento na sociedade idealizada por

Marshall (1967) A associaccedilatildeo de dever estatal e inclusatildeo dos cidadatildeos no

13

A partir do Programa Segundo Tempo (PST) e Programa Esporte e Lazer da Cidade (PELC) as comunidades e populaccedilatildeo em geral atendidas pelos os programas passaram a discutir o esporte seja como forma reflexiva ou como fruiccedilatildeo da praacutetica A aacuterea acadecircmica tambeacutem participou da elaboraccedilatildeo das propostas e agregou uma nova perspectiva sobre o objeto esportivo Por fim como estes programas tinham como meta o processo de municipalizaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas tambeacutem temos a participaccedilatildeo do poder puacuteblico municipal no debate do esporte local 14

Documentaccedilatildeo sobre as Conferecircncias Nacionais de Esporte estatildeo disponiacuteveis em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoconferencias-2571-i-conferencia-nacional-de-esportegt 15

De acordo com o ldquoCaderno de Propostasrdquo e ldquoRelatoacuterio da Conferecircncia Nacional do Esporterdquo ambos formulados pelo Ministeacuterio do Esporte apoacutes a 1ordf Conferecircncia Nacional de Esporte foram organizadas 60 Conferecircncias Municipais e 116 Regionais e 26 conferecircncias estaduais e uma no Distrito Federal precedentes a etapa nacional com participaccedilatildeo de aproximadamente 83 mil pessoas (BRASIL 2004d p 3 BRASIL 2004e p1)

40

patrimocircnio esportivo colocam o Estado brasileiro na posiccedilatildeo de formulador de

poliacutetica puacuteblica para o exerciacutecio pleno da cidadania social

Quase um ano apoacutes a 1ordf Conferecircncia Nacional do Esporte foi lanccedilada

pelo Conselho Nacional do Esporte oacutergatildeo colegiado de assessoria ao Ministro do

Esporte a Resoluccedilatildeo Nordm 05 em 14 de junho de 2005 denominada Poliacutetica Nacional

do Esporte (BRASIL 2005a) O conteuacutedo desta resoluccedilatildeo16 foi um desdobramento

do ldquoCaderno de Propostasrdquo da 1ordf Conferecircncia Nacional do Esporte apresentando

cinco objetivos quatro princiacutepios oito diretrizes e 18 accedilotildees estrateacutegicas para o

desenvolvimento do esporte no paiacutes (BRASIL 2004e)

Interessante mencionar que tanto o ldquoCaderno de Propostasrdquo da

conferecircncia quanto a Poliacutetica Nacional do Esporte apresentam no seu referencial a

consolidaccedilatildeo do direito social ao esporte como uma missatildeo do Ministeacuterio

demonstrando o amadurecimento institucional e do objeto esporte no periacuteodo

posterior agrave criaccedilatildeo do Ministeacuterio do Esporte

Eacute missatildeo do Ministeacuterio do Esporte ldquoformular e implementar poliacuteticas

puacuteblicas inclusivas e de afirmaccedilatildeo do esporte e do lazer como direitos sociais dos

cidadatildeos colaborando para o desenvolvimento nacional e humano (BRASIL 2004e

p7 BRASIL 2005a p14)

Apesar do Ministro Agnelo Queiroz (PCdoBDF) realizar a publicaccedilatildeo da

Poliacutetica Nacional do Esporte a escolha por uma resoluccedilatildeo ao inveacutes de outro ato

normativo de maior poder hieraacuterquico demonstrou a vulnerabilidade deste

documento o que a acabou deixando em segundo plano na suplementaccedilatildeo das

poliacuteticas estatais Ou seja a resoluccedilatildeo por natildeo ter um caraacuteter impositivo como

acontece com a lei decreto eou portaria deixou de ser adotada como uma norma

geral para o avanccedilo das poliacuteticas puacuteblicas de esporte como deveria ser A resoluccedilatildeo

acabou assumindo um caraacuteter sugestivo agrave aplicaccedilatildeo da Lei Peleacute (Lei Nordm

96151998)

O regimento da Conferecircncia Nacional do Esporte Portaria do Ministeacuterio

do Esporte Nordm 132004 previa em seu Art 1ordm a realizaccedilatildeo ordinaacuteria do evento a

cada dois anos (BRASIL 2004b) Assim no dia 20 de outubro de 2005 a Portaria do

Ministeacuterio do Esporte Nordm 133 criou as normas para a realizaccedilatildeo da segunda ediccedilatildeo

16

As resoluccedilotildees do Conselho Nacional de Esporte estatildeo disponiacuteveis em lthttpwwwesportegovbrindexphpinstitucionalo-ministerioconselho-nacional-do-esporteresolucoesgt

41

da conferecircncia (BRASIL 2005b) Novamente o evento foi dividido em etapa

municipalregional e estadual e de 04 a 07 de maio de 2006 aconteceu a etapa

nacional em Brasiacutelia O tema desta ediccedilatildeo foi ldquoConstruindo o Sistema Nacional de

Esporte e Lazerrdquo (BRASIL 2006a)

Cabe salientar que embora os registros do Ministeacuterio do Esporte

comentem como resultado da primeira ediccedilatildeo da conferecircncia a aprovaccedilatildeo da

resoluccedilatildeo de criaccedilatildeo do Sistema Nacional de Esporte e Lazer aparentemente o

respectivo documento trata-se de uma deliberaccedilatildeo final da conferecircncia firmando o

compromisso das autoridades presentes No entanto mais uma vez foi gerado um

documento institucionalmente fraacutegil tanto que natildeo deu origem a nenhuma norma

oficial de Estado e por isso a comunidade esportiva continua aguardando por sua

implementaccedilatildeo (BRASIL 2007a)

Ao final da 2ordf Conferecircncia Nacional do Esporte foi feita uma nova

tentativa de sugestatildeo de resoluccedilatildeo para a estruturaccedilatildeo do Sistema Nacional do

Esporte As proposiccedilotildees foram organizadas em quatro eixos 1) Estrutura

organizaccedilatildeo agentes e competecircncias 2) Recursos humanos e formaccedilatildeo 3) Gestatildeo

e controle social e 4) Financiamento (BRASIL 2007a) No entanto sua formalizaccedilatildeo

continua aguardando a publicaccedilatildeo de uma norma estatal o que demonstra a

dificuldade do Ministeacuterio do Esporte em organizar a cadeia produtiva do esporte

nacional

No eixo de financiamento do Sistema Nacional do Esporte foi sugerida a

elaboraccedilatildeo de ldquoEmenda Constitucional que institua a vinculaccedilatildeo e destinaccedilatildeo de um

percentual miacutenimo [1] da receita tributaacuteriardquo agraves poliacuteticas puacuteblicas de esporte aos

trecircs entes federativos ndash Uniatildeo Estados Subnacionais Municiacutepios e Distrito Federal

(BRASIL 2007a p18-19) De acordo com o jurista Melo Filho (2015) desde a

promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o Art 217 jaacute foi foco de oito Projetos

de Emenda Constitucional (PEC) sendo trecircs destes para a definiccedilatildeo de limite de

recurso financeiro para o esporte (PEC Nordm 1752007 PEC Nordm 1912007 PEC Nordm

4172009)

Neste eixo temaacutetico ainda foi proposta agrave criaccedilatildeo de leis de incentivo fiscal

nos trecircs niacuteveis de governo de forma equitativa para atender agrave demanda de fomento

das diferentes dimensotildees de esporte e lazer Na proacutepria proposta foram sugeridos

impostos que poderiam ser alvo deste mecanismo de financiamento

extraorccedilamentaacuterio percentual de Imposto de Renda (IR) de Imposto de Renda

42

Retido na Fonte (IRPF) e de Imposto de Renda Pessoa Juriacutedica (IRPJ) Imposto

sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) Imposto sobre Serviccedilo de

Qualquer Natureza (ISSQN) Contribuiccedilatildeo de Intervenccedilatildeo no Domiacutenio Econocircmico

(CIDE) Imposto de Telefonia Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) Imposto

sobre a Propriedade Territorial Urbana (IPTU) Contribuiccedilatildeo Provisoacuteria sobre

Movimentaccedilatildeo ou Transmissatildeo de Valores e de Creacuteditos e Direitos de Natureza

Financeira (CPMF) Seguro obrigatoacuterio de veiacuteculos e Produto Interno Bruto (PIB)

(BRASIL 2007a)

Como modelo de mecanismo de fomento aos demais entes federativos e

tambeacutem como resposta antecipada agrave comunidade esportiva na 2ordf Conferecircncia

Nacional do Esporte o Ministeacuterio do Esporte encaminhou ao Congresso Nacional

no dia 08 de maio de 2006 o Projeto de Lei Nordm 6999 que tratava sobre benefiacutecios

fiscais para a aacuterea do esporte O projeto foi agregado ao Projeto de Lei Nordm 1367 de

01 de julho de 2003 do Deputado Federal Bismarck Maia (PSDBCE) que jaacute

tramitava havia um tempo na casa A iniciativa do executivo tramitou com pedido de

urgecircncia e no dia 29 de dezembro de 2006 foi aprovado dando origem agrave Lei Nordm

11438 popularmente conhecida como Lei Federal de Incentivo ao Esporte

(BRASIL 2006b)

A legislaccedilatildeo criou mais uma alternativa de financiamento agraves tradicionais

entidades representativas do esporte mas desta vez tambeacutem permitiu a participaccedilatildeo

dos novos atores sociais do esporte educacional e de participaccedilatildeo (lazer) O

mecanismo de fomento foi inspirado na experiecircncia de mecenato cultural instituiacuteda

pela Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) A gecircnese do mecenato cultural tinha como

ideia trazer mais recurso financeiro agrave aacuterea cultural por meio da participaccedilatildeo direta

do setor privado mas parte desta discussatildeo foi deixada de lado durante a criaccedilatildeo do

mecenato esportivo Este por sua vez foi aprovado em 2006 e colocado em praacutetica

em 2007 pelo Decreto Nordm 6180 Sua criaccedilatildeo foi bastante comemorada pela

comunidade esportiva pois ampliava a oferta de recurso financeiro para a aacuterea do

esporte mesmo que 100 deste valor fosse de origem puacuteblica (extraorccedilamentaacuterio)

mas precisasse ser captado no setor privado pela isenccedilatildeo fiscal do Imposto sobre a

Renda (IR)

O mecanismo tambeacutem marcou uma nova ruptura da poliacutetica puacuteblica de

esporte pois o Estado brasileiro ao inveacutes de continuar no papel de executor de

poliacutetica puacuteblica principalmente da manifestaccedilatildeo educacional e participaccedilatildeo passou

43

a financiar as propostas de iniciativa das entidades esportivas Poreacutem a decisatildeo

sobre a efetivaccedilatildeo das propostas esportivas ficou nas ldquomatildeosrdquo do mercado sem

necessariamente precisar investir nenhum capital privado Neste contexto seraacute que

o mercado e as entidades esportivas (sociedade civil organizada) teratildeo capacidade

de garantir o direito social Ou o Estado brasileiro estaacute enfraquecendo as

discussotildees e debates em seu ldquoseiordquo sobre o esporte como um elemento de

exerciacutecio da cidadania social

Paralelamente agrave operacionalizaccedilatildeo do mecenato esportivo e possiacuteveis

dilemas que envolveriam o modelo de financiamento o Ministeacuterio do Esporte passou

a trabalhar na candidatura do paiacutes para sede da Copa do Mundo de Futebol de 2014

e para sede dos Jogos Oliacutempicos de 2016 Apoacutes uma articulaccedilatildeo que extrapolou a

proacutepria pasta do esporte veio a confirmaccedilatildeo de ecircxito nas candidaturas no dia 30 de

outubro de 2007 e 2 de outubro de 2009 respectivamente

O novo foco de convencimento das entidades internacionais a Federaccedilatildeo

Internacional de Futebol (FIFA) e o Comitecirc Oliacutempico Internacional (COI) sobre a

capacidade do Estado brasileiro de organizar os eventos talvez tenha deixado a

organizaccedilatildeo da 3ordf Conferecircncia Nacional do Esporte em segundo plano Assim a

conferecircncia que estava prevista para acontecer em 2008 foi realizada somente em

junho de 2010 quatro anos apoacutes a sua uacuteltima ediccedilatildeo em desacordo com o prazo

estipulado pelo Art 1ordm da Portaria do Ministeacuterio do Esporte Nordm 132004 (BRASIL

2004b)

Nas duas conferecircncias anteriores o tema de elaboraccedilatildeo do Sistema

Nacional do Esporte e Lazer vinha tendo uma relevacircncia na discussatildeo haja vista a

importacircncia de organizar a cadeia esportiva nacional Poreacutem a terceira ediccedilatildeo da

conferecircncia teve como tema o desenvolvimento do ldquoPlano Decenal de Esporte e

Lazerrdquo cujo slogan fazia alusatildeo ao desempenho atleacutetico nos megaeventos

esportivos ldquo10 pontos em 10 anos para projetar o Brasil entre os 10 maisrdquo Uma fala

do proacuteprio Ministro do Esporte Orlando Silva (PCdoBSP) inscrita no caderno de

orientaccedilotildees reforccedila a mudanccedila na diretriz do esporte nacional ldquocolocar o paiacutes entre

as dez maiores potecircncias esportivas do mundordquo (BRASIL 2010a p5)

Percebemos que a negociaccedilatildeo do Estado brasileiro para a realizaccedilatildeo dos

megaeventos esportivos marcou um ponto de novo desequiliacutebrio entre as

manifestaccedilotildees esportivas delineado pela maior ecircnfase ao esporte de rendimento na

3ordf Conferecircncia Nacional do Esporte Contudo desde a elevaccedilatildeo do esporte ao

44

status de direito social notamos a forte presenccedila dos atores sociais do esporte de

rendimento

O periacuteodo de formulaccedilatildeo dos Programas Segundo Tempo (PST) e

Esporte e Lazer da Cidade (PELC) foi importante para a materializaccedilatildeo das

manifestaccedilotildees educacional e participaccedilatildeo respectivamente e trazer novos atores

para a arena de debate do esporte Um novo equiliacutebrio sobre as trecircs expressotildees do

esporte foi possiacutevel conduzindo a discussatildeo para o acircmbito do desenvolvimento do

esporte como elemento da cidadania social para aleacutem da exigecircncia de desempenho

atleacutetico Mas a escolha estatal por criar um mecanismo de financiamento com forte

apelo mercadoloacutegico para tratar de um direito social que tem como ideal o processo

de desmercantilizaccedilatildeo pode gerar impacto no tensionamento de forccedilas entre as

manifestaccedilotildees esportivas Por isso nos capiacutetulos seguintes passaremos a explorar o

funcionamento do mecanismo de mecenato esportivo inaugurado pela Lei Federal

de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

A princiacutepio buscaremos o histoacuterico do mecanismo de mecenato cultural

por ser precursor da poliacutetica de financiamento adotada pelo o esporte Na

construccedilatildeo do referencial histoacuterico adentraremos na discussatildeo que envolveu a

escolha e aprovaccedilatildeo do mecenato esportivo Suprida a etapa de conhecimento do

mecanismo passaremos agrave anaacutelise das 32 propostas aprovadas na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte por entidades esportivas sediadas na cidade de Belo

Horizonte A partir da investigaccedilatildeo local verificaremos a possibilidade de garantia agrave

populaccedilatildeo em geral no acesso ao esporte e no exerciacutecio pleno na cidadania social

45

3 MECANISMO DE MECENATO DA CULTURA AO ESPORTE

31 Poliacutetica estatal de cultura e o desenvolvimento do mecenato

A Lei Federal de Incentivo ao Esporte Lei Nordm 114382006 teve como

inspiraccedilatildeo o mecanismo de mecenato cultural inaugurado pela Lei Sarney (Lei Nordm

75051986) e posteriormente consolidada pela Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) E

para compreender melhor como o mecanismo de financiamento agrave cultura

transformou-se em base para outras poliacuteticas de financiamento puacuteblico na aacuterea

social (esporte sauacutede direito do idoso direito da crianccedila e adolescente pesquisa

etc) torna-se importante resgatar a sua trajetoacuteria na histoacuteria

Antes de ser um modelo de poliacutetica de financiamento o termo mecenato

jaacute era bastante corriqueiro na aacuterea cultural usado para qualificar a pessoa de grande

apreccedilo e apoio agraves artes De acordo com o Dicionaacuterio Aureacutelio (2016 p1) a palavra eacute

sinocircnimo de ldquopatrocinador generoso protetor das Letras Ciecircncias e Artes dos

artistas e saacutebiosrdquo

A origem do termo faz referecircncia a Caius Cilnius Mecenas ministro do

imperador romano Caio Julio Augusto entre 74 aC e 8 dC Esta personagem se

destacou por construir uma poliacutetica de relacionamento entre governo e sociedade

tendo as artes como instrumentos de disseminaccedilatildeo das conquistas e da filosofia do

regime autoritaacuterio do imperador O sucesso deste sutil sistema de legitimaccedilatildeo pela

fusatildeo de poder e cultura fez o nome Mecenas ficar marcado na histoacuteria como

patrono das artes (ALMEIDA 1994)

Experiecircncias posteriores de uso do mecenato cultural com fins de

propaganda do pensamento oficial de uma classe dominante podem ser facilmente

encontradas na histoacuteria da humanidade Na Renascenccedila por exemplo periacuteodo de

grande efervescecircncia artiacutestica na Europa vaacuterias famiacutelias da aristocracia e membros

do clero incentivaram por meio de doaccedilotildees e apadrinhamento de artistas

(mecenato) a produccedilatildeo de quadros esculturas e peccedilas teatrais como forma de

expressatildeo do seu status social Por outro lado a emergente burguesia tambeacutem

buscou na praacutetica do mecenato demonstrar seu poder econocircmico e ao mesmo

tempo ostentar seu apreccedilo pela cultura erudita possibilitando sua inserccedilatildeo na

restrita elite da eacutepoca

46

Para o cientista poliacutetico e estudioso da aacuterea cultural Joseacute Aacutelvaro Moiseacutes

(1998) a versatildeo contemporacircnea do mecenato teve iniacutecio nos Estados Unidos entre

o final do seacuteculo XIX e comeccedilo do seacuteculo XX O contexto de um significativo

crescimento econocircmico decorrente do capital emigrado da Inglaterra para os

emergentes negoacutecios no novo continente propiciou que algumas pessoas de origem

simples acumulassem grandes fortunas Mas apesar de todo o dinheiro

conquistado estas pessoas natildeo possuiacuteam a inserccedilatildeo social desejada Logo o

financiamento agraves artes foi a forma encontrada para a tentativa de inclusatildeo e

legitimaccedilatildeo destas pessoas agrave seleta classe dominante estadunidense

No entanto Moiseacutes (1998) chama a atenccedilatildeo para a existecircncia de uma

legislaccedilatildeo especiacutefica a Deduction Tax nos Estados Unidos introduzida em 1917

que incentivou o contribuinte a apoiar accedilotildees de artistas ou instituiccedilotildees culturais O

mecanismo estatal de mecenato norte-americano estimulou a criaccedilatildeo de um forte

mercado cultural por meio da participaccedilatildeo direta da pessoa fiacutesica e mais tarde da

pessoa juriacutedica

Sobrenomes como Guggenheim Whitney Rockfeller e Ford se

destacaram como grandes mecenas inclusive com a criaccedilatildeo de instituiccedilotildees culturais

e filantroacutepicas tais como a Fundaccedilatildeo Rockfeller a Universidade de Chicago a

Guggenheim Memorial Foudation o Instituto Rockfeller de Pesquisa Meacutedica o

Museu Guggenheim dentre outras Mas cabe ressaltar que ateacute 1986 o valor

apoiado era integralmente deduzido no Imposto sobre a Renda o que representava

um forte subsiacutedio puacuteblico ao setor (MOISEacuteS 1998)

Nos Estados Unidos a deacutecada de 1980 marcou vaacuterias reformas na

deduction tax principalmente por alteraccedilatildeo nos percentuais e no valor do teto

individual de deduccedilatildeo fiscal Ainda hoje a legislaccedilatildeo tem sido foco de discussatildeo no

parlamento tanto que o Escritoacuterio de Orccedilamento do Congresso (Congressional

Budget Office - CBO) tem feito simulaccedilotildees sobre o impacto financeiro de novas

mudanccedilas na deduccedilatildeo fiscal Poreacutem um fato eacute certo para o governo estadunidense

a atual diretriz da lei eacute atrair capital privado ao montante de recurso puacuteblico investido

na aacuterea filantroacutepica ou seja natildeo existe mais deduccedilatildeo integral do apoio do

contribuinte (CBO 2011)

Jaacute a experiecircncia de mecenato brasileiro tem contornos diferentes

marcada pela forma de desenvolvimento da poliacutetica cultural no paiacutes De acordo com

Rubim (2011) a aacuterea cultural no paiacutes tem como caracteriacutestica a instabilidade

47

transitando entre momentos de ausecircncia de uma poliacutetica (1822 a 1930 1945 a

1964) e de desenvolvimento embora associados ao autoritarismo (1930 a 1945

1964 a 1985)

A poliacutetica cultural nacional foi inaugurada com a indicaccedilatildeo de Maacuterio de

Andrade para o Departamento de Cultura da Prefeitura de Satildeo Paulo (1935-1938) e

Gustavo Capanema para o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Sauacutede (1934 ateacute 1945)

personagens que estimularam o apoio estatal agrave aacuterea das artes patrimocircnio (material

e imaterial) e manifestaccedilotildees populares (RUBIM 2011)

O cenaacuterio de estiacutemulo ao desenvolvimento cultural juntamente ao

processo de industrializaccedilatildeo no paiacutes principalmente em Satildeo Paulo proporcionou a

emersatildeo de uma nova classe social (burguesia industrial) com alto poder econocircmico

disposta a se mostrar como siacutembolo da modernidade Este traccedilo de contraponto agraves

antigas e conservadoras oligarquias rurais foi terreno feacutertil para o investimento na

aacuterea cultural e o surgimento dos primeiros mecenas brasileiros

Nomes como Francisco Matarazzo Franco Zampari e Assis

Chateaubriand se destacam como nobres apoiadores das artes em Satildeo Paulo

responsaacuteveis pela criaccedilatildeo do Museu de Arte Moderna Teatro Brasileiro de Comeacutedia

Cinemateca Brasileira Museu de Arte Contemporacircnea e a Fundaccedilatildeo Bienal de Satildeo

Paulo O Rio de Janeiro antiga capital brasileira tambeacutem natildeo ficou atraacutes Nomes

como Paulo Bittencourt e Niomar Moniz Sondreacute foram responsaacuteveis pela criaccedilatildeo do

Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 1947 (MOISEacuteS 1998)

Com o teacutermino da ditadura civil (Estado Novo) e redemocratizaccedilatildeo do

paiacutes a aacuterea cultural consegue se elevar a niacutevel ministerial com a criaccedilatildeo do

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura em 1953 Poreacutem efetivamente pouca coisa foi

feita para o fomento ou contiacutenuo desenvolvimento do setor A ineacutercia cultural do

periacuteodo natildeo proporcionou o surgimento e destaque de novos nomes de mecenas

(RUBIM 2011)

O periacuteodo subsequente de ditadura-militar (1964 a 1985) foi marcado por

contradiccedilotildees Ao mesmo tempo em que o governo autoritaacuterio censura e reprime

artistas e intelectuais existe significativo investimento do Estado brasileiro no setor

cultural Foi instituiacutedo o Conselho Federal de Cultural em 1966 e criada a

infraestrutura de telecomunicaccedilotildees para a propagaccedilatildeo da ideologia nacionalista A

Poliacutetica Nacional de Cultura foi elaborada em 1975 e inuacutemeras instituiccedilotildees puacuteblicas

de cultura foram criadas como a Fundaccedilatildeo Nacional das Artes (1975) o Centro

48

Nacional de Referecircncia Cultural (1975) o Conselho Nacional de Cinema (1976) a

RADIOBRAacuteS (1976) e a Fundaccedilatildeo Proacute-Memoacuteria (1979) (RUBIM 2011)

O protagonismo do Estado no desenvolvimento da cultura minimizou o

contexto para o surgimento de novos mecenas ou ao menos obscureceu os seus

feitos individuais Assim a falta de nomes relevantes corrobora com a afirmativa de

Moiseacutes (1998) sobre a escassez de exemplos de mecenas culturais na histoacuteria do

paiacutes diferentemente do que aconteceu nos Estados Unidos

Durante o periacuteodo ditatorial o ainda Senador Joseacute Sarney (ARENAMA)

apresentou o Projeto de Lei Nordm 54 de 26 de outubro de 197217 propondo a

deduccedilatildeo do Imposto sobre a Renda (IR) de pessoa juriacutedica e pessoa fiacutesica para fins

culturais Segundo Sarkovas (2011) o projeto recebeu indicaccedilatildeo negativa da aacuterea

econocircmica do governo militar mas mesmo natildeo sendo aprovado foi o embrionaacuterio da

primeira lei de incentivo fiscal no paiacutes No dia 08 de marccedilo de 1976 o projeto de lei

foi arquivado no Senado

Em 15 de marccedilo de 1985 durante o novo processo de redemocratizaccedilatildeo

do Brasil Joseacute Sarney (PMDBMA) na posiccedilatildeo de vice-presidente assumiu o cargo

interino da Presidecircncia da Repuacuteblica devido agrave doenccedila do presidente eleito

indiretamente Tancredo Neves (PMDBMG) No dia 21 de abril com a morte do

presidente acabou empossado de forma definitiva A primeira medida do governo

civil foi a reestruturaccedilatildeo poliacutetico-administrativa do poder executivo a qual elevou a

cultura ao status de pasta exclusiva com a criaccedilatildeo do Ministeacuterio da Cultura a partir

da desvinculaccedilatildeo do antigo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e Cultura

Uma das tarefas do novo Ministeacuterio da Cultura foi tratar do financiamento

do setor produtivo cultural Para isso em 9 de junho de 1986 o ministeacuterio enviou ao

Congresso Nacional o Projeto de Lei Nordm 779318 que visava conceder benefiacutecio

fiscal agraves entidades culturais Na praacutetica a medida era uma quase reapresentaccedilatildeo do

Projeto de Lei Nordm 54 de 1972 poreacutem agora com Joseacute Sarney (PMDBMA) tendo

autonomia sobre as decisotildees do setor econocircmico do governo federal

O projeto tramitou com pedido de urgecircncia e em menos de um mecircs foi

aprovado no Congresso Nacional dando origem a Lei Nordm 7505 em 2 de julho de

17

Tracircmite do projeto de lei disponiacutevel em lthttpwww25senadolegbrwebatividadematerias-materia25985gt 18

Tracircmite do projeto de lei disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=232355gt

49

1986 Devido o protagonismo do entatildeo presidente ldquosobre benefiacutecios fiscais na aacuterea

do imposto de renda concedidos a operaccedilotildees de caraacuteter cultural ou artiacutesticordquo a lei

ficou popularmente conhecida como Lei Sarney

Para Rubim (2011) a Lei Sarney vai na contramatildeo das demais accedilotildees

realizadas pelo Estado brasileiro pois aleacutem da gecircnese do Ministeacuterio da Cultura o

governo federal vinha criando toda uma rede de estrutura de gestatildeo da cultura

como as Secretarias de Apoio agrave Produccedilatildeo Cultural (1986) a Fundaccedilatildeo Nacional de

Artes Cecircnicas (1987) a Fundaccedilatildeo do Cinema Brasileiro (1987) a Fundaccedilatildeo

Nacional Proacute-Leitura reunindo a Biblioteca Nacional e o Instituto Nacional do Livro

(1987) e a Fundaccedilatildeo Palmares (1988)

No entanto a crise financeira que na eacutepoca alarmava o paiacutes foi o

principal argumento para diminuir o recurso de origem orccedilamentaacuteria para a aacuterea da

cultura ao mesmo tempo em que criava um mecanismo de financiamento que

dialogasse com o mercado Em tese a ideia era estimular a figura do mecenas

cultural (apoiador privado) e agregar recurso privado agraves accedilotildees do setor

Para operacionalizar seu funcionamento a Lei Sarney (Lei Nordm

75051986) criou trecircs modalidades de apoio a doaccedilatildeo o patrociacutenio e o

investimento A primeira tratava da transferecircncia definitiva de bens ou dinheiro agrave

entidade cultural mas sem retorno financeiro ou publicitaacuterio para o apoiador assim

permitindo a deduccedilatildeo de ateacute 100 da doaccedilatildeo O patrociacutenio se caracterizava pela

promoccedilatildeo do apoiador por meio da atividade cultural mas sem proveito financeiro ou

patrimonial direto Nesta modalidade era permitida a deduccedilatildeo de ateacute 80 do valor

patrocinado A uacuteltima modalidade o investimento permitia que o apoiador tivesse

retorno financeiro ou patrimonial sobre a accedilatildeo cultural Por isso era autorizada a

deduccedilatildeo maacutexima de 50 da quantia investida (BRASIL 1986)

De acordo com Sarkovas (2011) o modelo de mecenato criado pela Lei

Sarney (Lei Nordm 75051986) era uacutenico quando comparado a outros paiacuteses Porque

no caso da doaccedilatildeo e patrociacutenio realizado por pessoa juriacutedica aleacutem da permissatildeo de

inclusatildeo do depoacutesito de apoio como despesa operacional diminuindo o valor do

lucro operacional (lucro liacutequido) ainda havia autorizaccedilatildeo para deduzir uma segunda

parte no valor do imposto devido sobre a renda Ou seja o governo federal isentava

o contribuinte duas vezes pelo mesmo depoacutesito de apoio

Assim embora o recurso para as entidades culturais natildeo viesse

diretamente do orccedilamento da Uniatildeo grande parte da sua origem era totalmente

50

puacuteblica mas tomando um trajeto extraorccedilamentaacuterio Aleacutem do mais a suposta

participaccedilatildeo do recurso privado na aacuterea da cultura pela natildeo deduccedilatildeo integral das

modalidades patrociacutenio (80) e investimento (50) foi minimizada pela duplicidade

de incidecircncia da isenccedilatildeo fiscal ndash como despesa operacional e deduccedilatildeo do imposto

devido sobre a renda

Contudo a maior criacutetica enfrentada pela Lei Sarney (Lei Nordm 75051986)

foi quanto agrave falta de controle na aplicaccedilatildeo do recurso destinado agraves entidades

culturais Para ser beneficiaacuteria do mecanismo de mecenato a pessoa juriacutedica de

natureza cultural com ou sem fins lucrativos realizava um cadastro no Ministeacuterio da

Cultura Apoacutes a aprovaccedilatildeo do cadastro e emissatildeo do certificado de qualificaccedilatildeo a

entidade estava apta a receber recurso independentemente de projeto ou plano de

trabalho Nesse sentido a entidade cultural tinha liberdade para gastar o recurso

como bem entendesse (GRUMAN 2011 SESI 2007 DURAD et al 1997)

Nos quase quatro anos que esteve em vigor19 (1986-1990) estima-se que

cerca de 7200 entidades culturais se habilitaram mas os nuacutemeros financeiros ainda

natildeo satildeo conhecidos Segundo Gruman (2011) os recursos captados estariam em

torno de R$ 100 milhotildees enquanto para Durad et al (1997) teria chegado a

aproximadamente US$ 450 milhotildees mas deste uacuteltimo montante para o SESI

(2007) apenas US$ 112 milhotildees seriam realmente de origem puacuteblica Vale destacar

que a Secretaria da Receita Federal foi o oacutergatildeo responsaacutevel pelo controle financeiro

enquanto o Conselho Federal de Cultura pela supervisatildeo e acompanhamento da

execuccedilatildeo das accedilotildees culturais

O contexto de incerteza financeira associado agrave fraude fiscal por conta da

emissatildeo de notas fiscais culturais sem o devido pagamento do contribuinte levou agrave

debilidade operacional do mecanismo Ainda somou-se ao problema de controle a

carecircncia de criteacuterios na utilizaccedilatildeo do recurso puacuteblico isto eacute a falta de distinccedilatildeo entre

as accedilotildees culturais que precisavam de apoio puacuteblico das que tinham potencial

comercial ou ateacute mesmo daquelas com niacutetido interesse puacuteblico

No dia 15 de marccedilo de 1990 foi empossado o novo Presidente da

Repuacuteblica Fernando Collor (PRNAL) e por meio da Medida Provisoacuteria Nordm 150 foi

19

Com a promulgaccedilatildeo do Decreto Nordm 93335 de 3 de outubro de 1986 a Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) passou a vigorar poreacutem os depoacutesitos de apoio realizados no ano calendaacuterio (1986 1987 1988 1989 1990) eram deduzidos no ano fiscal subsequente (1987 1988 1989 1990 1991) A suspensatildeo da legislaccedilatildeo no ano de 1990 impediu que novas destinaccedilotildees fossem feitas as entidades culturais e por sua vez comprometesse a arrecadaccedilatildeo da Uniatildeo de 1991

51

feita nova reestruturaccedilatildeo da administraccedilatildeo puacuteblica O Ministeacuterio da Cultura perdeu o

status ministerial e passou a funcionar como Secretaria da Cultura da Presidecircncia da

Repuacuteblica Vaacuterias entidades puacuteblicas ligadas agrave cultura tambeacutem foram extintas como

a Fundaccedilatildeo Nacional de Artes (Funarte) a Fundaccedilatildeo Nacional de Artes Cecircnicas

(Fundacen) a Fundaccedilatildeo do Cinema Brasileiro (FCB) a Fundaccedilatildeo Cultural Palmares

(FCP) a Fundaccedilatildeo Nacional Proacute-Memoacuteria (Proacute-Memoacuteria) e a Fundaccedilatildeo Nacional

Proacute-Leitura (Proacute-Leitura) (BRASIL 1990a)

No mesmo dia da posse outras 22 medidas provisoacuterias20 foram assinadas

pelo novo presidente nuacutemero excessivo comparado ao exerciacutecio dos demais chefes

do poder executivo no periacuteodo democraacutetico A Medida Provisoacuteria Nordm 161 alterou a

legislaccedilatildeo do Imposto sobre a Renda e suspendeu por tempo indeterminado todos

os incentivos fiscais (BRASIL 1990b) Assim aleacutem do desmonte da estrutura estatal

para a cultura o setor tambeacutem teve paralisado a sua poliacutetica de financiamento a Lei

Sarney (Lei Nordm 75051986) Ressalta-se que a grande maioria destas medidas

provisoacuterias foi posteriormente acatada pelo Congresso Nacional e convertida em lei

demonstrando o consenso do poder legislativo com a poliacutetica em curso

O decorrer do ano de 1990 foi marcado por um vaacutecuo na poliacutetica nacional

de cultura de forma que os Estados e Municiacutepios passaram a sofrer pressatildeo para a

criaccedilatildeo de legislaccedilatildeo proacutepria de apoio cultural A cidade de Satildeo Paulo saiu agrave frente

com a Lei Municipal Nordm 10923 de 30 de dezembro de 1990 conhecida como Lei

Mendonccedila (SESI 2007)

Esta legislaccedilatildeo se inspirou na Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) buscando

criar a figura do mecenas cultural mas tentou corrigir alguns dos erros de controle

financeiro observados no acircmbito federal Novamente foi estimulado o apoio do setor

privado agrave aacuterea cultural por meio de isenccedilatildeo fiscal poreacutem o recurso deveria estar

vinculado a um projeto previamente aprovado pela Secretaria Municipal de Cultural

de Satildeo Paulo A deduccedilatildeo fiscal tambeacutem natildeo seria integral ficando limitada ao valor

de 70 do montante apoiado o qual seria descontado da quantia a ser paga pelo

contribuinte no ISSQN eou no IPTU (SAtildeO PAULO 1990)

Todavia as experiecircncias locais natildeo supriram a carecircncia de uma poliacutetica

nacional tanto que no dia 10 de marccedilo de 1991 o Secretaacuterio da Cultura da

20

As medidas provisoacuterias do governo do Presidente Fernando Collor (PRNAL) assim como demais atos puacuteblicos do poder executivo como um todo podem ser acompanhados no site da Casa Civil da Presidecircncia da Repuacuteblica Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03gt

52

Presidecircncia da Repuacuteblica Ipojuca Pontes foi substituiacutedo pelo socioacutelogo Seacutergio

Paulo Rouanet Sob nova direccedilatildeo a secretaacuteria apresentou ao Congresso Nacional o

Projeto de Lei Nordm 144821 de 22 de agosto de 1991 visando reformar a suspensa

Lei Sarney (Lei Nordm 75051986)

O projeto tramitou com pedido de urgecircncia e no dia 23 de dezembro

daquele ano deu origem agrave Lei Nordm 8313 que restabelecia os princiacutepios da Lei

Sarney (Lei Nordm 75051986) e criava o Programa Nacional de Apoio agrave Cultura

(PRONAC) A nova legislaccedilatildeo ficou popularmente conhecida como Lei Rouanet (Lei

Nordm 83131991) por ter sido promulgada no mandado do respectivo secretaacuterio

De acordo com Sarkovas (2011 p51) o Secretaacuterio Seacutergio Rouanet tinha

consciecircncia de que o ldquofinanciamento puacuteblico agrave cultura natildeo poderia ser regulado

exclusivamente pelos interesses mercadoloacutegicos eou pessoais inerentes ao

patrociacuteniordquo por isso aleacutem do mecanismo de mecenato cultural incluiu agrave proposta de

lei a criaccedilatildeo de outros mecanismos para incentivar projetos

Art 2deg O PRONAC seraacute implementado atraveacutes dos seguintes mecanismos I - Fundo Nacional da Cultura (FNC) II - Fundos de Investimento Cultural e Artiacutestico (FICART) III - Incentivo a projetos culturais [mecenato cultural] (BRASIL 1991 p1)

O antigo Fundo de Promoccedilatildeo Cultural (FPC) criado pela Lei Sarney (Lei

Nordm 75051986) e que pouco funcionou por ser uma opccedilatildeo concorrente ao

mecanismo de mecenato cultural foi transformado em Fundo Nacional de Cultura

(FNC) Agora aleacutem do recurso de isenccedilatildeo fiscal depositado pelo contribuinte o

fundo tambeacutem contava com recurso direto do Tesouro Nacional percentual das

loterias federais saldo remanescente de projetos do mecenato cultural dentre

outras formas (BRASIL 1991a)

O fundo seria administrado pela Secretaria da Cultura da Presidecircncia da

Repuacuteblica e tinha como diretriz o apoio a projetos culturais com importante caraacuteter

de identidade e diversidade nacional mas que ao mesmo tempo tambeacutem

possuiacutessem baixo atrativo comercial Os projetos selecionados natildeo seriam

financiados integralmente com o recurso puacuteblico pois estava previsto o apoio de ateacute

80 do recurso oriundo do fundo e o percentual restante como contrapartida da

21

Tracircmite do projeto de lei disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=192259gt

53

entidade cultural Cabe salientar que a contrapartida poderia ser mensurada

monetariamente por meio de bens ou serviccedilos oferecidos pela entidade cultural

(BRASIL 1991a)

A versatildeo de Fundo Nacional de Cultura (FNC) trazida pela Lei Rouanet

(Lei Nordm 83131991) conseguiu se operacionalizar por possuir fonte de arrecadaccedilatildeo

independente da destinaccedilatildeo direta do contribuinte Poreacutem o montante financeiro

originaacuterio do Tesouro Nacional e das demais fontes de fomento ainda era escasso

diante da diversidade de demandas culturais

Para Sarkovas (2011) outro problema enfrentado pelo Fundo foi a

carecircncia de princiacutepio puacuteblico na gestatildeo do recurso como a falta de transparecircncia

nos criteacuterios de seleccedilatildeo de projetos e o discutiacutevel meacuterito cultural das propostas

escolhidas Aleacutem disso em muitas vezes o poder executivo era o maior beneficiaacuterio

do proacuteprio Fundo ao destinar recurso para as suas entidades subsidiaacuterias ao inveacutes

de apoiar a produccedilatildeo cultural de iniciativa da sociedade civil

A outra modalidade de fomento criada pela Lei Rouanet (Lei Nordm

83131991) o Fundo de Investimento Cultural e Artiacutestico (FICART) visava

transformar alguns projetos culturais em objetos lucrativos no mercado financeiro de

accedilotildees Para isso o projeto aprovado seria convertido em um fundo monetaacuterio

(condomiacutenio) sem personalidade juriacutedica e em seguida dividido em vaacuterias quotas

As quotas seriam ofertadas a investidores no mercado financeiro de accedilotildees que

mediante o sucesso na execuccedilatildeo do projeto poderia receber os dividendos

(distribuiccedilatildeo do lucro) com isenccedilatildeo do Imposto sobre Operaccedilotildees de Creacutedito Cacircmbio

e Seguro ou relativas aos Tiacutetulos ou Valores Mobiliaacuterios (IOF) A administraccedilatildeo das

quotas seria feita por instituiccedilatildeo financeira cadastrada e fiscalizada pela Comissatildeo

de Valores Mobiliaacuterios (CVM) (BRASIL 1991a)

Este mecanismo tem tido pouca operaccedilatildeo inclusive havendo duacutevida

quanto agrave sua viabilidade A princiacutepio porque os projetos culturais satildeo de curto prazo

de execuccedilatildeo (maacuteximo de 24 meses) mas negociados em um mercado que visa o

retorno do investimento a meacutedio e longo prazos (acima de 24 meses) O mercado de

accedilotildees tambeacutem vive da especulaccedilatildeo no curto prazo poreacutem esta natildeo seria uma

caracteriacutestica aplicaacutevel ao negoacutecio cultural Por outro lado ainda existe a falta de

conhecimento e popularidade do mercado financeiro de accedilotildees para a grande maioria

das entidades culturais e dos apoiadores o que poderia afastar o aporte de recurso

54

A terceira modalidade de incentivo prevista tratava da reformulaccedilatildeo da

antiga modalidade de mecenato cultural criada pela Lei Sarney (Lei Nordm 75051986)

poreacutem inspirada nas alteraccedilotildees operacionais feitas pela Lei de Incentivo agrave Cultura da

Cidade de Satildeo Paulo - Lei Mendonccedila (Lei Municipal Nordm 109231990) O apoio do

contribuinte passava a ser vinculado a um projeto cultural previamente aprovado

pela Comissatildeo Nacional de Incentivo agrave Cultura oacutergatildeo colegiado ligado agrave Secretaria

da Cultura da Presidecircncia da Repuacuteblica

Apenas os apoios fiscais doaccedilatildeo e patrociacutenio satildeo mantidos na nova

legislaccedilatildeo de mecenato cultural poreacutem sem a existecircncia de deduccedilatildeo integral dos

valores No caso de apoiador pessoa fiacutesica era permitida a deduccedilatildeo no Imposto

sobre a Renda (IR) de 80 do valor das doaccedilotildees e 60 do valor dos patrociacutenios

observando o limite percentual de 3 do imposto ainda devido agrave Secretaria da

Receita Federal Jaacute a pessoa juriacutedica tributada na modalidade lucro real poderia

deduzir 40 do valor das doaccedilotildees e 30 do valor dos patrociacutenios observando

inicialmente o limite de 1 do imposto devido Para este uacuteltimo contribuinte tambeacutem

era permitido lanccedilar o valor do apoio (doaccedilatildeo ou patrociacutenio) como despesa

operacional havendo novamente a dupla incidecircncia de isenccedilatildeo fiscal (BRASIL

1991a)

Apesar da raacutepida aprovaccedilatildeo da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) no

Congresso Nacional o decreto que deveria regulamentar a lei teve prazo mais

longo A difiacutecil negociaccedilatildeo do decreto no poder executivo com concomitante

escacircndalo de corrupccedilatildeo envolvendo o Presidente da Repuacuteblica que mais tarde deu

iniacutecio ao processo de impeachment de Fernando Collor (PRNAL) deixou a temaacutetica

da cultura em segundo plano Somente no dia 26 de fevereiro de 1992 foi publicado

o Decreto Nordm 455 que estabelecia as regras de funcionamento da poliacutetica de

financiamento da cultura

No dia 29 de setembro de 1992 a Cacircmara dos Deputados acatou o

pedido de impeachment de Fernando Collor (PRNAL) afastando-o temporariamente

da presidecircncia No dia 2 de outubro o vice-presidente Itamar Franco (PMDBMG)

assumiu interinamente o cargo de chefe do poder executivo federal e fez a troca do

secretaacuterio Seacutergio Rouanet pelo intelectual literaacuterio Antocircnio Houaiss

A Medida Provisoacuteria Nordm 309 de 16 de outubro de 1992 fez a nova

reestruturaccedilatildeo administrativa do governo federal e a Cultura novamente volta a ser

tema ministerial com a recriaccedilatildeo do Ministeacuterio da Cultura (BRASIL 1992a) O agora

55

ministro de cultura Antocircnio Houaiss tinha como missatildeo reorganizar a poliacutetica de

Estado para a aacuterea cultural

Contudo a nova conjuntura governamental privilegiou um segmento da

aacuterea cultural No dia 11 de junho de 1993 foi enviado ao Congresso Nacional o

Projeto de Lei Nordm 390822 que buscava criar um mecanismo de fomento reservado

ao audiovisual Para Sarkovas (2011) os diretores e atores do setor cinematograacutefico

brasileiro por uma maior proximidade com o presidente em exerciacutecio conseguiram

espaccedilo para discutir um mecanismo de financiamento exclusivo que viesse suprir o

vaacutecuo estatal deixado pela extinta Empresa Brasileira de Filmes (EMBRAFILME)

Ao verificar a disposiccedilatildeo administrativa do recriado Ministeacuterio da Cultura

notamos a presenccedila de uma secretaria restrita ao segmento ndash Secretaria para o

Desenvolvimento Audiovisual diferindo das outras trecircs que eram de temaacuteticas gerais

ndash Secretaria de Informaccedilotildees Estudos e Planejamento Secretaria de Intercacircmbio e

Projetos Especiais e Secretaria de Apoio agrave Cultura Ainda em relaccedilatildeo aos oacutergatildeos

estatais ligados ao ministeacuterio foi criada a Comissatildeo Nacional de Incentivo agrave Cultura

para discutir a poliacutetica de financiamento do setor cultural mas paralelamente a ela

funcionava tambeacutem a Comissatildeo de Cinema a fim de debater unicamente sobre o

audiovisual Aparentemente a organizaccedilatildeo estatal privilegiava o setor audiovisual

(BRASIL 1992)

Independente das motivaccedilotildees o Projeto de Lei Nordm 39081993 tramitou

em regime de urgecircncia no Congresso Nacional e foi aprovado no dia 20 de julho de

1993 dando origem agrave Lei Nordm 8685 popularmente conhecida como Lei do

Audiovisual O modelo de fomento idealizado pela legislaccedilatildeo visava agrave criaccedilatildeo da

figura do mecenas por meio de duas modalidades de isenccedilatildeo fiscal ao contribuinte

do Imposto sobre a Renda (IR)

Na primeira modalidade contida no Art 1ordm da Lei do Audiovisual (Lei Nordm

86851993) o projeto de produtora independente23 previamente aprovado pelo

Ministeacuterio da Cultura estaria apto a receber recurso de pessoa fiacutesica ou juriacutedica O

valor do apoio poderia ser deduzido integralmente ateacute o limite de 3 do imposto

22

Tracircmite do projeto de lei disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=217037gt 23

As produtoras independentes satildeo agecircncias de audiovisual que possuem autonomia no desenvolvimento no seu conteuacutedo devido agrave falta de viacutenculo com empresas programadoras distribuidoras eou emissoras de televisatildeo Aleacutem disso natildeo possuem contrato de veto ou exclusividade comercial que impeccedila comercializaccedilatildeo de suas obras para terceiros

56

devido sobre a renda de pessoa fiacutesica e o limite de 1 para pessoa juriacutedica O

mesmo valor autorizado de deduccedilatildeo tambeacutem poderia ser lanccedilado como despesa

operacional diminuindo a quantia do IR a ser pago pelo contribuinte (BRASIL

1993b)

Na praacutetica o mecanismo gerava um benefiacutecio fiscal ao contribuinte

apoiador pois a dupla incidecircncia de deduccedilatildeo gerava um abatimento de 125 do

valor apoiado Aleacutem do mais o apoiador pode se tornar proprietaacuterio do direito de

comercializaccedilatildeo sobre a obra cinematograacutefica tendo participaccedilatildeo no lucro auferido

desde que a operaccedilatildeo de apoio tenha sido feita em corretora no mercado financeiro

de accedilotildees

Esta modalidade de mecenato cultural repetia a foacutermula de financiamento

da Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) com dupla incidecircncia de isenccedilatildeo fiscal no valor

apoiado mas ldquoinovavardquo ume vez que permitia ao contribuinte ser remunerado pelo

sucesso do projeto Aleacutem de natildeo existir recurso privado aplicado no setor

audiovisual o Estado brasileiro ainda permitia ao apoiador receber recurso com o

investimento puacuteblico

A segunda modalidade criada pelo Art 3ordm da lei teve como objetivo

incentivar o produtor estrangeiro agrave coproduccedilatildeo de obras nacionais cinematograacuteficas

(longa meacutedia e curta-metragem) telefilmes minisseacuteries ou a investir no

desenvolvimento de projetos cinematograacuteficos brasileiros de longa-metragem Para

isso o produtor estrangeiro que paga o Imposto sobre a Renda (IR) por conta da

exploraccedilatildeo comercial da sua obra audiovisual em territoacuterio nacional poderia apoiar

projetos de produtoras independentes aprovados pelo Ministeacuterio da Cultura O valor

do apoio poderia ser integralmente deduzido observando o limite de 70 do

imposto devido (BRASIL 1993b)

Esta segunda modalidade de mecenato do audiovisual tinha uma loacutegica

mais coerente com o interesse puacuteblico pois pensava em atrair o produtor

internacional para o cenaacuterio brasileiro incentivando a troca de experiecircncia A

possibilidade de construccedilatildeo de conhecimento e tecnologia cinematograacutefica nacional

poderia dar autonomia futura ao setor do audiovisual

Com a aprovaccedilatildeo da Lei do Audiovisual (Lei Nordm 86851993) faltava a

publicaccedilatildeo do decreto do poder executivo para a poliacutetica passar a funcionar

Paradoxalmente a questatildeo financeira tambeacutem era um problema vivenciado na

gestatildeo do Ministeacuterio da Cultura tanto que a insatisfaccedilatildeo com o baixo orccedilamento

57

somada aos problemas de sauacutede fizeram Antocircnio Houaiss deixar o cargo de

ministro em 1ordm de setembro de 1993 Ficou por conta do ministro Jerocircnimo

Moscardo aprovar o Decreto Nordm 974 em 8 de novembro de 1993 que habilitava o

pleno funcionamento da legislaccedilatildeo do mecenato do audiovisual

De acordo com Sarkovas (2011) o mecanismo de mecenato do

audiovisual natildeo trouxe recurso imediato para o setor pois o teto autorizado de 1

do imposto devido sobre a renda da pessoa juriacutedica era baixo para o apoio exclusivo

de projetos ndash apoiador exclusivo Tambeacutem faltava divulgaccedilatildeo do mecanismo o qual

natildeo era conhecido de grande parte dos produtores e apoiadores

Dificuldade similar na mobilizaccedilatildeo de recurso tambeacutem foi percebida na Lei

Rouanet (Lei Nordm 83131991) (SESI 2007) Tal constataccedilatildeo pode ser observada nos

nuacutemeros disponiacuteveis no sistema do Ministeacuterio da Cultura24 quando apenas dois

apoiadores participaram (R$ 2121278) em 1993 e sete apoiadores (R$

53375157) em 1994

A passagem de Jerocircnimo Moscardo pelo Ministeacuterio da Cultura foi raacutepida

e em 15 de dezembro de 1993 ele foi sucedido pelo advogado Luiz Roberto

Nascimento Silva que havia colaborado com a implantaccedilatildeo da legislaccedilatildeo de apoio

ao audiovisual A nomeaccedilatildeo do novo ministro de cultura aleacutem de mostrar a forccedila do

setor do audiovisual no governo do presidente Itamar Franco (PMDBMG) tambeacutem

vai ao encontro da afirmaccedilatildeo de Rubim (2011) sobre a instabilidade da poliacutetica

estatal de cultura entre os anos de 1985 a 1993 nomeou dez chefes diferentes para

a pasta

A posse do novo Presidente da Repuacuteblica Fernando Henrique Cardoso

(PSDBSP) em janeiro de 1995 natildeo alterou a estrutura ministerial no governo

federal poreacutem novos nomes passaram a ocupar os cargos dos primeiros escalotildees

O cientista poliacutetico Francisco Weffort passou a exercer o cargo de Ministro da

Cultura com a tarefa de dinamizar a poliacutetica de financiamento da aacuterea e encorajar a

parceria entre entidade cultural e iniciativa privada (SESI 2007)

Em 17 de maio deste ano foi publicado o Decreto Nordm 1494 que trazia

nova regulamentaccedilatildeo da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) mas sem grandes

alteraccedilotildees Foi uma atualizaccedilatildeo de nomenclaturas devido agrave alteraccedilatildeo de nome das

24

Sistema da Lei Federal de Incentivo agrave Cultura Disponiacutevel em lthttpsistemasculturagovbrsalicnetgt

58

entidades supervisionadas pelo Ministeacuterio da Cultura e da proacutepria pasta que agrave

eacutepoca do antigo decreto era Secretaria da Cultura da Presidecircncia da Repuacuteblica

(BRASIL 1995b)

A primeira alteraccedilatildeo relevante veio dois dias depois da promulgaccedilatildeo do

decreto com a publicaccedilatildeo da Medida Provisoacuteria Nordm 1003 ampliando o teto da

isenccedilatildeo fiscal cultural de 2 do imposto devido da pessoa juriacutedica 1 na Lei

Rouanet (Lei Nordm 83131991) e 1 na Lei do Audiovisual (Lei Nordm 86851993) para

o somatoacuterio de 5 (BRASIL 1995c) Em de 20 de junho de 1995 a medida

provisoacuteria foi acatada pelo Congresso Nacional e convertida na Lei Nordm 9064

No dia 22 de novembro daquele ano o Decreto Nordm 1711 regulamentou o

Art 34 da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) criando a Ordem do Meacuterito Cultural

Esta foi uma condecoraccedilatildeo nacional agraves pessoas de notoacuteria contribuiccedilatildeo agrave cultura do

paiacutes tendo na figura do Presidente da Repuacuteblica o Gratildeo-Mestre e o Ministro de

Estado da Cultura o Chanceler da ordem Embora natildeo tivesse impacto direto no

funcionamento do mecanismo de financiamento foi uma medida estatal para

reforccedilar a figura pessoal do mecenas cultural (BRASIL 1995d)

A Medida Provisoacuteria Nordm 1515 de 7 de novembro de 1996 fez nova

alteraccedilatildeo no limite percentual da isenccedilatildeo fiscal de pessoa juriacutedica mas agora para o

mecanismo de mecenato do audiovisual O valor que anteriormente era de 1

passou para 3 sem concorrer diretamente com o percentual da Lei Rouanet (Lei

Nordm 83131991) A pessoa juriacutedica tributada na modalidade lucro real estava

autorizada a destinar ateacute 8 do valor do imposto devido sobre a renda para a aacuterea

cultural (BRASIL 1996a)

O limite ampliado do audiovisual teve vida curta porque o Congresso

Nacional na conversatildeo da medida provisoacuteria na Lei Nordm 9323 de 5 de dezembro de

1996 vetou o aumento (BRASIL 1996b) A motivaccedilatildeo foi o conflito de normas uma

vez que o somatoacuterio de 8 ultrapassava a autorizaccedilatildeo existente de 5 na

legislaccedilatildeo do Imposto sobre a Renda (IR) Logo voltou a vigorar o percentual de 4

para a Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) e mais 1 na Lei do Audiovisual (Lei Nordm

86851993)

Outra alteraccedilatildeo pra movimentar financeiramente o setor cultural foi a

efetivaccedilatildeo da transferecircncia do recurso das loterias federais para o Fundo Nacional

de Cultura (FNC) regulamentada pelo Decreto Nordm 2290 de 4 de agosto de 1997

(BRASIL 1997a) Esta foi uma opccedilatildeo estrateacutegica de receita perioacutedica e contiacutenua ao

59

fundo tendo em vista o deacutebil repasse direto do Tesouro Nacional No entanto a

escolha por uma fonte de receita extraorccedilamentaacuteria (lucro das loterias federais)

reflete um enfraquecimento no debate do elemento social no seio do orccedilamento

puacuteblico local onde satildeo definidas as prioridades das poliacuteticas do Estado brasileiro

O Ministeacuterio da Cultura continuava a estudar alteraccedilotildees na poliacutetica de

financiamento cultural para dar mais vigor ao mecanismo de mecenato cultural

Assim em 24 de setembro de 1997 foi publicada a Medida Provisoacuteria Nordm 1589 com

o intuito de modernizar e simplificar os tracircmites dos projetos (BRASIL 1997b) A

medida provisoacuteria foi encaminhada ao Congresso Nacional junto com o ofiacutecio de

justificativa25

[] busca-se os procedimentos simplificar os procedimentos administrados de tramitaccedilatildeo dos processos eliminando-se a submissatildeo e a aprovaccedilatildeo dos projetos culturais a oacutergatildeos colegiados como o Comitecirc Assessor e a Comissatildeo Nacional de Incentivo agrave Cultura [] (BRASIL 1997c p15659)

A extinccedilatildeo do Comitecirc Assessor oacutergatildeo formado exclusivamente por

servidores puacuteblicos e responsaacutevel por representar o interesse estatal na poliacutetica

simbolizou a reduccedilatildeo da intervenccedilatildeo do Estado brasileiro na decisatildeo dos rumos da

poliacutetica de financiamento cultural Poreacutem a supressatildeo do oacutergatildeo natildeo foi

acompanhada pela criaccedilatildeo de uma diretriz puacuteblica para o mecenato cultural o que

acabou elevando o peso das escolhas do setor privado na alocaccedilatildeo e

direcionamento do recurso puacuteblico

O segundo eixo de alteraccedilotildees proposto pela Medida Provisoacuteria Nordm

15891997 teve como ecircnfase criar maior atrativo ao setor privado aumentando o

percentual de deduccedilatildeo fiscal do apoio e privilegiando as manifestaccedilotildees culturais que

o Ministeacuterio da Cultura julgou mais fraacutegeis naquele momento (BRASIL 1997b)

As mudanccedilas promoveram o funcionamento de dois mecanismos de

mecenato cultural dentro da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) O primeiro regido

pelo Art 18 permitia que os projetos de a) artes cecircnicas b) livros de valor artiacutestico

literaacuterio ou humaniacutestico c) muacutesica erudita ou instrumental d) circulaccedilatildeo de

exposiccedilotildees de artes plaacutesticas e) doaccedilotildees de acervos para bibliotecas puacuteblicas e

25

O oficio ldquoEM Interministerial Nordm 01897rdquo acompanhou a proposta de alteraccedilatildeo da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) encaminhada pelo Ministeacuterio da Cultura ao Presidente da Repuacuteblica que por sua vez tambeacutem o despachou ao Congresso Nacional como carta de motivaccedilatildeo do poder executivo Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfedmedpro1997medidaprovisoria-1589-24-setembro-1997-376673-exposicaodemotivos-146331-pehtmlgt

60

para museus tivessem 100 de deduccedilatildeo fiscal Jaacute os projetos das demais

categorias culturais seriam guiados pelo Art 26 que previa a deduccedilatildeo fiscal de 80

nas doaccedilotildees e 70 nos patrociacutenios de pessoa fiacutesica e 40 nas doaccedilotildees e 30

nos patrociacutenios de pessoa juriacutedica Mas para esta uacuteltima contribuinte tambeacutem era

permitido o lanccedilamento do apoio como despesa operacional (BRASIL 1997)

Segundo Sarkovas (2011) a escolha das manifestaccedilotildees culturais do Art

18 foi feita de forma arbitraacuteria e levou em consideraccedilatildeo apenas o relacionamento

que alguns segmentos culturais tinham com o atual governo Por sua vez Brant

(2004) argumenta que a deduccedilatildeo integral das aacutereas indicadas pelo Art 18 foi uma

forma de privilegiar a cultura tradicionalmente institucionalizada e tida como

sinocircnimo de culta em detrimento das manifestaccedilotildees culturais populares

negligenciadas durante toda a gestatildeo do ministro Francisco Weffort

A Medida Provisoacuteria Nordm 15891997 ainda autorizou a inclusatildeo do

pagamento de serviccedilo especializado para a elaboraccedilatildeo de proposta e captaccedilatildeo de

recurso por meio do acreacutescimo do paraacutegrafo uacutenico no Art 28 Este serviccedilo deixava

de ser interpretado como intermediaccedilatildeo do objeto da proposta como acontecia

anteriormente e passava a ser considerado um lobby autorizado para aproximar a

entidade cultural das empresas privadas O serviccedilo foi autorizado a ser incluiacutedo

como despesa do projeto cultural e custeado em grande parte com recurso puacuteblico

(BRASIL 1997b)

De acordo com o SESI (2007) o profissional prestador deste serviccedilo era

detentor do conhecimento das aacutereas tributaacuteria de financcedila e de marketing ainda natildeo

dominadas pela maioria das entidades culturais Por isso este profissional permitiu

uma maior interlocuccedilatildeo do setor cultural com as empresas contribuindo para criar

um mercado de negoacutecios culturais (marketing cultural) e de fortalecimento de

imagem institucional

A consolidaccedilatildeo normativa de todas as mudanccedilas da Medida Provisoacuteria

Nordm 15891997 natildeo foi tema faacutecil para o proacuteprio poder executivo Tanto que a ela foi

reeditada duas vezes (Nordm 1589-1 de 23101997 e Nordm 1589-2 de 20111997) e

antes do teacutermino legal para sua votaccedilatildeo no Congresso Nacional foi alterada pelas

Medidas Provisoacuterias Nordm 1611 (reeditada 12 vezes) Nordm 1739 (reeditada 6 vezes) e

Nordm 1871 (reeditada 4 vezes) ateacute dar origem agrave Lei Nordm 9847 de 23 de novembro de

1999

61

As alteraccedilotildees iniciadas em 1997 fizeram circular mais recurso financeiro

no mecanismo de mecenato cultural Todavia o receio do governo federal em

ultrapassar a meta da renuacutencia fiscal prevista para o ano (1997) o levou agrave publicaccedilatildeo

da Medida Provisoacuteria Nordm 1602 de 14 de novembro de 1997 alterando mais uma

vez o percentual de limite da isenccedilatildeo fiscal dos contribuintes O valor de apoio da

pessoa juriacutedica foi ajustado em 4 do imposto devido sobre a renda para a Lei

Rouanet (Lei Nordm 83131991) mas com 1 autorizado pela Lei do Audiovisual (Lei

Nordm 86851993) concorrente Mais tarde a medida provisoacuteria foi convertida na Lei Nordm

9532 em 10 de dezembro de 1997 (BRASIL 1995d)

Segundo Brant (2004) para aleacutem do pressuposto de modernizaccedilatildeo e

celeridade do mecanismo de mecenato cultural as mudanccedilas na legislaccedilatildeo foram

uma resposta do governo federal para o mercado que estava bastante tendencioso

a apoiar apenas os projetos de audiovisual devido o maior benefiacutecio fiscal

O conjunto de mudanccedilas no mecanismo de mecenato surtiu efeito pois

foi crescente o nuacutemero de projetos aprovados e efetivamente captados aleacutem do

aumento na quantidade de apoiadores conforme pode ser observado nos nuacutemeros

disponiacuteveis no sistema do Ministeacuterio da Cultura Para Moiseacutes (1998) o governo

federal tambeacutem contribuiu com o crescimento do mecenato cultural participando

ativamente com as empresas puacuteblicas

Apesar de o graacutefico demonstrar a evoluccedilatildeo no mecanismo de mecenato

cultural devemos lembrar que grande parte do recurso circulante eacute de origem

puacuteblica oriunda da isenccedilatildeo fiscal Desta forma potencialmente o recurso financeiro

existiria por meio do recolhimento do Imposto sobre a Renda (IR) poreacutem natildeo teria

garantia de aplicaccedilatildeo integral na aacuterea da cultura uma vez que a alocaccedilatildeo

dependeria do debate que envolve a construccedilatildeo do orccedilamento puacuteblico

62

Fonte Elaborado pelo autor a partir dos dados do Ministeacuterio da Cultura atualizado em 29 de maio de 2016

Por isso a escolha por uma via extraorccedilamentaria deve ser regularmente

avaliada pelo Ministeacuterio da Cultura pelo Congresso Nacional pelo Conselho

Nacional de Cultura e demais oacutergatildeos de participaccedilatildeo mista (sociedade civil e poder

puacuteblico) pois se trata de um recurso puacuteblico que natildeo possui as tradicionais amarras

do Estado

Gruman (2011) chama a atenccedilatildeo para natildeo se perder de vista a finalidade

da legislaccedilatildeo em atrair capital privado para a aacuterea poreacutem alerta para a excessiva

mercantilizaccedilatildeo da cultura durante o governo do presidente Fernando Henrique

Cardoso (PSDBSP) Para o autor a cultura perde a identidade de elemento social

da cidadania e passa a ser tratado como mercadoria a ser enquadrada agraves ldquoleis de

mercadordquo

A reeleiccedilatildeo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDBSP) e a

manutenccedilatildeo do Ministeacuterio da Cultura na reestruturaccedilatildeo administrativa feita pela

Medida Provisoacuteria Nordm 1651-43 de 5 de maio de 1998 marcam um periacuteodo de

estabilidade na aacuterea estatal da cultura (BRASIL 1998b) Para Rubim (2011) um dos

grandes problemas no periacuteodo foi que o mecenato cultural virou um quase sinocircnimo

Graacutefico 1 ndash Desempenho da Lei Rouanet no periacuteodo de 1993 a 1998

63

da poliacutetica cultural muito embora esta segunda fosse mais ampla e necessaacuteria para

direcionar o financiamento do setor

Em 6 de setembro de 2001 a Medida Provisoacuterio Nordm 2228 criou a Poliacutetica

Nacional do Cinema e a Agecircncia Nacional do Cinema (ANCINE) aleacutem de outros

oacutergatildeos do setor para dar direcionamento agrave poliacutetica de financiamento cinematograacutefico

brasileiro (BRASIL 2001b) A medida provisoacuteria poderia sinalizar para uma alteraccedilatildeo

na gestatildeo da cultura com maior regulaccedilatildeo do Estado brasileiro poreacutem na verdade

foi uma resposta pontual ao ldquoDiagnoacutestico da cadeia produtiva do audiovisualrdquo que

apontava para o fracasso do mecanismo para criar a sustentabilidade do setor

(SARKOVAS 2011 p53) A medida provisoacuteria tambeacutem prorrogou a vigecircncia da Lei

do Audiovisual (Lei N 86851993) que estava prevista para durar 10 anos ou seja

ateacute 2003

O decorrer da gestatildeo do ministro Francisco Weffort natildeo trouxe outras

novidades para a aacuterea cultural a natildeo ser o contiacutenuo esvaziamento da importacircncia

do Ministeacuterio da Cultura o qual segundo Rubim (2011) fechou o ano de 2002 com

o percentual de 014 de participaccedilatildeo no orccedilamento puacuteblico da Uniatildeo Enquanto

isso o mecanismo de mecenato cultural seguia funcionando sem contingenciamento

de despesas e com valor de renuacutencia fiscal quase igualado agrave dotaccedilatildeo orccedilamentaacuteria

do ministeacuterio (SESI 2007)

A eleiccedilatildeo e posse do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (PTSP) em

2002 manteve o status ministerial para a cultura poreacutem teve o compositor e cantor

Gilberto Gil como o primeiro Ministro de Estado de Cultura desta gestatildeo Para Rubim

(2011) o novo ministro buscou resgatar o protagonismo do Estado no

desenvolvimento de uma poliacutetica nacional de cultura e ampliar a concepccedilatildeo da aacuterea

para aleacutem do tradicional erudito e claacutessico

Em relaccedilatildeo agrave reforma e aprimoramento da Lei Rouanet (Lei Nordm

83131991) Sarkovas (2011) comenta que o processo de visita e consulta

democraacutetica a vaacuterios municiacutepios do paiacutes movimento denominado Cultura para

Todos iniciado pelo ministro Gilberto Gil foi bastante longo e pouco efetivo devido agrave

falta de um plano estrateacutegico

Todavia no dia 27 de abril de 2006 foi publicado o Decreto Nordm 576

trazendo nova regulamentaccedilatildeo agrave Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) No Art 2ordm satildeo

listadas 13 finalidades para o apoio da poliacutetica de financiamento o que caracteriza

uma iniciativa do poder executivo em traccedilar uma diretriz puacuteblica ao mecanismo Foi

64

criada para o Fundo Nacional de Cultura uma comissatildeo exclusiva formada por

servidores puacuteblicos para avaliar os projetos e definir criteacuterios para a liberaccedilatildeo do

recurso atendendo a uma antiga reivindicaccedilatildeo do setor cultural por mais

transparecircncia na gestatildeo (BRASIL 1997e)

Por sua vez no dia 12 de dezembro de 2007 foi publicado o Decreto Nordm

6304 trazendo novo regramento ao funcionamento da Lei do Audiovisual (Lei Nordm

86851993) O decreto natildeo alterou a forma de operaccedilatildeo do mecanismo de

mecenato do audiovisual poreacutem trouxe maior institucionalidade ao apresentar regras

que estavam expressas apenas em portarias ou instruccedilotildees normativas

O ministro Gilberto Gil continuou no cargo ateacute o dia 30 de julho de 2008

quando acabou se afastando por motivos pessoais Foi substituiacutedo pelo Secretaacuterio

Executivo Juca Ferreira que ficou ateacute o final do mandato do Presidente da

Repuacuteblica Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (PTSP) O ministro Juca Ferreira tambeacutem teve

passagem no governo da Presidente da Repuacuteblica Dilma Rousseff (PTDF) no

periacuteodo de 1ordm de janeiro de 2015 a 12 de maio de 2016 e tem como marca o

discurso sobre o resgate da contrapartida de capital privado na Lei Rouanet (Lei Nordm

83131991) Este debate passa pelo enfretamento do tema no poder legislativo mas

encontra restriccedilatildeo no proacuteprio setor cultural por receio de queda de recurso para a

aacuterea

Enfim apesar da posse de um governo de matriz mais igualitaacuteria e de

intervenccedilatildeo do Estado nas aacutereas sociais a poliacutetica de financiamento ao setor cultural

continuou tendo grande viacutenculo com o modelo de mecenato Buscou-se

democratizar o acesso ao mecanismo para novos segmentos culturais poreacutem a

foacutermula de investimento quase integral de recurso puacuteblico pela via extraorccedilamentaacuteria

continuou intacta

32 A criaccedilatildeo do mecenato esportivo

Podemos notar que o percurso de elaboraccedilatildeo da poliacutetica de

financiamento da cultura natildeo foi linear nem tampouco seguiu uma diretriz de

desenvolvimento Foi construiacuteda por uma confluecircncia de atores e pressotildees setoriais

que variaram durante os governos Mas ao longo de todo o periacuteodo uma

65

caracteriacutestica se manteve comum a todos os governantes a busca de promoccedilatildeo das

entidades culturais atraveacutes da aproximaccedilatildeo com o setor privado

A princiacutepio a promoccedilatildeo se daria pelo incentivo agrave criaccedilatildeo da figura do

mecenas cultural tendo como plano de fundo a dificuldade econocircmica vivida pelo

Estado brasileiro Poreacutem a instabilidade estatal na aacuterea da cultura marcada pela

sucessiva troca de ministros e pela criaccedilatildeoextinccedilatildeo de entidades responsaacuteveis pela

regulaccedilatildeo dos setores culturais esmaeceu o objetivo primordial do mecanismo de

fundir recurso privado ao capital puacuteblico investido

Vaacuterias reformas foram realizadas no mecenato cultural e aos poucos o

Estado brasileiro foi se afastando da posiccedilatildeo de orientador do financiamento cultural

Ao mesmo tempo em que os recursos puacuteblicos se distanciavam mais mais era

injetado de forma indireta no setor por meio da ampliaccedilatildeo nos atrativos fiscais para

o setor privado A missatildeo do mecanismo migrava do foco de atrair capital privado

para estimular um forte mercado cultural baseado no marketing e no fortalecimento

de marcas institucionais

A maior oferta de recurso expandiu a produccedilatildeo cultural no paiacutes mas

tambeacutem reforccedilou desigualdades geograacuteficas e de manifestaccedilotildees Problemas de

concentraccedilatildeo de recurso em regiotildees onde tradicionalmente jaacute tinham boa estrutura

institucional e a carecircncia de apoio financeiro agraves expressotildees populares satildeo dilemas

a serem superados pela sociedade e pelo Estado por conta dos arranjos da poliacutetica

de financiamento (GRUMAN 2011)

Contudo independente das imperfeiccedilotildees de funcionamento o mecanismo

de mecenato tem sido um modelo aacutegil para levar o recurso agraves iniciativas oriundas da

sociedade civil organizada Tanto que tem sido foco de expansatildeo para outras aacutereas

de poliacutetica social como esporte sauacutede idoso crianccedila e adolescente pesquisa etc

Mas a proliferaccedilatildeo do mecanismo de mecenato natildeo pode eliminar o enfretamento

que a sociedade e o poder legislativo loacutecus do debate puacuteblico tecircm que fazer para

garantir os rumos de desenvolvimento da cidadania social

O esporte foi o segundo elemento social a buscar um mecanismo de

financiamento pela via da isenccedilatildeo fiscal e aproximaccedilatildeo com o setor privado nos

moldes da Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) Ainda durante as discussotildees de

elaboraccedilatildeo do novo texto constitucional o Deputado Federal Antocircnio Carlos Mendes

66

Thame (PSDBSP) apresentou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei Nordm 41826 de

2 de marccedilo de 1988 tratando sobre benefiacutecios fiscais para o esporte amador

Como justificativa o autor da proposta mencionou o apreccedilo da populaccedilatildeo

pela praacutetica esportiva reforccedilando a perspectiva do objeto como elemento social da

cidadania conforme estava sendo trabalhado na Assembleia Nacional Constituinte

Por outro lado o deputado exibiu o setor privado como importante provedor deste

direito haja vista que a ldquoassistecircncia governamental faz-se de modo desorganizado e

middotquase insignificanterdquo (BRASIL 1988b p438) Por isso a necessidade de ampliar o

financiamento agraves entidades esportivas como meio de expandir o acesso da

populaccedilatildeo ao esporte

O projeto teve tracircmite raacutepido nas Comissotildees de Constituiccedilatildeo e Justiccedila de

Esporte e Turismo e de Financcedilas na Cacircmara dos Deputados imprimindo apenas

uma emenda ao texto original No dia 14 de setembro de 1988 o relator Deputado

Federal Maacutercio Braga (PMDBRJ) apresentou na plenaacuteria da casa a aprovaccedilatildeo do

meacuterito da proposta Poreacutem ao pronunciar sobre o tema argumentou acerca do

deferimento fazendo uma relaccedilatildeo direita entre o baixo investimento no esporte

amador e a falta de profissionalismo do setor Ou seja o deputado estava

defendendo o esporte amador como uma sequecircncia evolutiva para o esporte

profissional e natildeo como duas possiacuteveis expressotildees do fenocircmeno esportivo

Na sua justificaccedilatildeo o ilustre representante revela o seu intuito de proteger o esporte amador praacutetica extremamente apreciada pelo povo e que tem suprido geralmente a ausecircncia de recursos para o profissionalismo Somente as entidades particulares contribuem para essa atividade esportiva sem qualquer assistecircncia do Estado Natildeo pode o Poder Puacuteblico ignorar o amadorismo desportivo no Paiacutes motivo dos nossos modestos desempenhos nos jogos oliacutempicos Natildeo temos como e nem por que discordar da justificaccedilatildeo muito menos dos termos do Projeto que prevecirc detalhadamente sua pr6pria execuccedilatildeo natildeo faltando a penalogia para os infratores Far-se-ia com o desporto amador o mesmo que o Presidente Sarney tem buscado fazer pela cultura (BRASIL 1988c p2465)

Apesar da contradiccedilatildeo terminoloacutegica do relator o projeto foi aprovado na

sessatildeo e encaminhado para apreciaccedilatildeo do Senado Federal No dia 25 de novembro

de 1988 o projeto retornou agrave Cacircmara dos Deputados com nove emendas ao texto

original Poucos dias depois foi reapresentado na sessatildeo plenaacuteria da casa e

26

Projeto de Lei Nordm 418 Disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=176602gt

67

aprovado com todas as indicaccedilotildees do Senado Federal O projeto seguiu para a

promulgaccedilatildeo do Presidente Joseacute Sarney (PMDBMA) mas no dia 21 de dezembro

foi vetado sob a justificativa de incompatibilidade teacutecnica da legislaccedilatildeo tendo em

vista a recente reforma da lei do Imposto sobre a Renda (IR)

O projeto que visava criar a figura do mecenas para o esporte pelo

estiacutemulo fiscal mas tambeacutem tinha isenccedilatildeo do Imposto sobre Produto Industrializado

(IPI) e Imposto sobre Importaccedilatildeo (II) para a aquisiccedilatildeo de equipamentos esportivos e

autorizaccedilatildeo de envio de recurso financeiro livre de imposto para atleta ou entidade

esportiva que estivesse fora do paiacutes participando de competiccedilatildeo internacional foi

avaliado como excessivo O conjunto de desoneraccedilatildeo tributaacuteria e a dificuldade de

controle fiscal reforccedilaram a justificativa de veto do presidente (BRASIL 1988d)

No retorno do projeto agrave Cacircmara dos Deputados foi instituiacuteda Comissatildeo

Parlamentar Mista para avaliar o veto presidencial No dia 22 de marccedilo de 1989 o

Deputado Federal Denisar Arneiro (PMDBRJ) fez um discurso na sessatildeo plenaacuteria

defendendo os benefiacutecios do Projeto de Lei Nordm 4181988 No entanto mais uma

vez a defesa do incentivo fiscal natildeo estava na garantia do direito social ao esporte

agora jaacute consagrado no Art 217 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 mas na

necessidade de massificar a praacutetica esportiva visando aumentar a base do esporte

de alto rendimento

Sr Presidente Srordf e Srs Deputados o que eacute necessaacuterio para a Fabricaccedilatildeo de um atleta Por que defendemos que o Brasil precisa urgentemente igualar-se agraves Grandes naccedilotildees esportivas do mundo Por considerarmos que estaacute em nossas matildeos a soluccedilatildeo que julgamos simples de contarmos com a boa vontade hoje do Congresso Nacional rejeitando o veto do Sr Presidente da Repuacuteblica ao Projeto de Lei Nordm 418-D88 Poderiacuteamos nos estender mais dando alguns paracircmetros para a formaccedilatildeo de um atleta que natildeo eacute tatildeo simples como parece mas que depende de uma massificaccedilatildeo esportiva a fim de revelar novos valores Teriacuteamos depois a avaliaccedilatildeo dos atletas com um periacuteodo de adestramento que depende de a) tratamento meacutedico b) alimentaccedilatildeo adequada c) escolaridade necessaacuteria de assimilaccedilatildeo mental d) desenvolvimento teacutecnico e taacutetico e) manutenccedilatildeo do indiviacuteduo para poder competir f) famiacutelia com suporte emocional do atleta (BRASIL 1989a p1400)

Em 5 de abril de 1989 a Cacircmara dos Deputados rejeitou o veto

presidencial e manteve a aprovaccedilatildeo do texto com as vaacuterias isenccedilotildees fiscais O

projeto foi reencaminhado ao presidente Joseacute Sarney (PMDBMA) que natildeo se

pronunciou sobre o tema e tatildeo pouco promulgou a lei Por esgotamento do prazo

legal para manifestaccedilatildeo do poder executivo o projeto foi convertido na Lei Nordm 7752

68

de 14 de abril de 1989 pelo presidente do Senado Federal Nelson Carneiro

(PMDBRJ)

Desta forma em aparente desacordo entre poder executivo e legislativo

foi aprovada a primeira lei de incentivo fiscal ao esporte no paiacutes a Lei Mendes

Thame (Lei Nordm 77521989) A nova legislaccedilatildeo autorizava trecircs modalidades de apoio

ao esporte doaccedilatildeo patrociacutenio e investimento A primeira tratava da transferecircncia

definitiva de bens ou dinheiro agrave entidade esportiva mas sem retorno financeiro ou

publicitaacuterio para o apoiador O suporte financeiro agrave categoria de base esportiva ateacute o

niacutevel Junior tambeacutem tinha status de doaccedilatildeo logo sendo permitida a deduccedilatildeo integral

do valor apoiado O patrociacutenio caracterizava pela promoccedilatildeo do apoiador por meio

da atividade esportiva mas sem proveito financeiro ou patrimonial direto Nesta

modalidade era permitida a deduccedilatildeo de ateacute 80 do valor patrocinado Jaacute o

investimento permitia que o apoiador tivesse retorno financeiro ou patrimonial sobre

a accedilatildeo esportiva Por isso era autorizada a deduccedilatildeo maacutexima de 50 da quantia

investida (BRASIL 1989b)

Nas modalidades patrociacutenio e investimento a pessoa juriacutedica ainda tinha o

incentivo de acumular anualmente mais 5 de deduccedilatildeo fiscal ateacute alcanccedilar o

percentual similar agrave doaccedilatildeo (100) para cada ano de apoio ininterrupto a projeto

esportivo Desta maneira o apoio posterior a dez anos na modalidade investimento

ou 4 anos na patrociacutenio geraria a deduccedilatildeo integral e apesar da criaccedilatildeo do viacutenculo

da entidade esportiva com o setor privado o financiamento passaria a ser todo de

origem puacuteblica pela via da isenccedilatildeo fiscal

A pessoa fiacutesica estava autorizada a apoiar ateacute o limite de 10 da sua

renda bruta enquanto a pessoa juriacutedica o valor de apoio era de 4 do imposto

devido sobre a renda A legislaccedilatildeo aleacutem de criar o mecanismo de mecenato

esportivo de forma bastante parecida com a idealizada pela Lei Sarney (Lei Nordm

75051986) tambeacutem criava benefiacutecios tributaacuterios agrave cadeia do esporte de

rendimento O atleta em competiccedilatildeo oficial fora do paiacutes e com devida autorizaccedilatildeo do

Conselho Nacional de Desportos (CND) ficava dispensado do pagamento de

qualquer imposto sobre empreacutestimo financeiro operaccedilatildeo de cambio e compra de

passagem internacional Por sua vez a entidade esportiva teria isenccedilatildeo integral do

Imposto sobre Importaccedilatildeo (II) para a aquisiccedilatildeo de equipamento esportivo de

fabricaccedilatildeo estrangeira que natildeo tivesse similar nacional Mais tarde a Lei Nordm 7988

69

de 28 de dezembro de 1989 alterou a isenccedilatildeo de 100 do Imposto sobre

Importaccedilatildeo (II) para 50

A Lei Mendes Thame (Lei Nordm 77521989) exibiu no Art 2ordm as aacutereas de

intervenccedilatildeo onde podemos notar accedilotildees tanto de estiacutemulo ao esporte amador

quanto ao de rendimento muito embora a legislaccedilatildeo se anunciasse como exclusiva

para o esporte amador

Art 2ordm Para os objetivos da presente Lei consideram-se atividades desportivas I - a firmaccedilatildeo desportiva escolar e universitaacuteria II - o desenvolvimento de programas desportivos para o menor carente o idoso e o deficiente fiacutesico III - o desenvolvimento de programas desportivos nas proacuteprias empresas em benefiacutecio de seus empregados e respectivos familiares IV - conceder precircmios a atletas nacionais em torneios e competiccedilotildees realizados no Brasil V - doar bens moacuteveis ou imoacuteveis a pessoa juriacutedica de natureza desportiva cadastrada no Ministeacuterio da Educaccedilatildeo VI - o patrociacutenio de torneios campeonatos e competiccedilotildees desportivas amadoras VII - erigir ginaacutesios estaacutedios e locais para praacutetica de desporto VIII - doaccedilatildeo de material desportivo para entidade de natureza desportiva IX - praacutetica de jogo de xadrez X - doaccedilatildeo de passagens aeacutereas para que atletas brasileiros possam competir no exterior XI - outras atividades assim consideradas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (BRASIL 1989b p1 grifo nosso para destacar o incentivo ao esporte de

rendimento)

O controle no cadastro das entidades esportivas e na operacionalizaccedilatildeo

da Lei Mendes Thame (Lei Nordm 77521989) ficou sob a responsabilidade do

Conselho Nacional de Desportos (CND) na eacutepoca oacutergatildeo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

A discussatildeo no poder executivo perdurou durante o ano de 1989 e somente no dia

18 de dezembro foi publicado o Decreto Nordm 98595 regulamentando o

funcionamento do mecanismo de mecenato esportivo Cabe ressaltar que o decreto

ao inveacutes de utilizar o termo esporte amador usou a expressatildeo esporte natildeo

profissional como maneira de delimitar a natildeo utilizaccedilatildeo do recurso para o esporte

profissional e de alto rendimento

Em 13 de marccedilo de 1990 a Instruccedilatildeo Normativa Nordm 31 da Secretaria da

Receita Federal normatizou a forma dos depoacutesitos de apoio ao mecenato esportivo

autorizando o pleno funcionamento do mecanismo (BRASIL 1990c) Todavia dois

dias depois com a posse do novo Presidente da Repuacuteblica Fernando Collor

(PRNAL) foi publicada a Medida Provisoacuteria Nordm 161 alterando a legislaccedilatildeo do

70

Imposto sobre a Renda (IR) e suspendendo por tempo indeterminado todos os

incentivos fiscais (BRASIL 1990b)

Algumas isenccedilotildees fiscais voltaram a vigorar no paiacutes como o caso do

mecenato cultural mas a poliacutetica de financiamento para o esporte criada pela Lei

Mendes Thame (Lei Nordm 77521989) natildeo foi mais debatida Parte do esquecimento

desta legislaccedilatildeo tem haver com a divergecircncia de conceitos em relaccedilatildeo ao debate

conduzido na Assembleia Nacional Constituinte Isto eacute a Lei Mendes Thame (Lei Nordm

77521989) tinha grande fundamentaccedilatildeo na Lei Nordm 62511975 a qual era entendida

como ultrapassada para a nova concepccedilatildeo do fenocircmeno esportivo Desta forma era

necessaacuterio discutir a legislaccedilatildeo esportiva antes de pensar em uma poliacutetica de

financiamento para o setor

A nova organizaccedilatildeo estatal dada pela Medida Provisoacuteria Nordm 150 de 15 de

marccedilo de 1990 criou uma estrutura que apoiava o desenvolvimento do esporte

nacional Cabe mencionar que enquanto o setor cultural amargava o rebaixamento

do Ministeacuterio da Cultura ao status de Secretaria da Cultura da Presidecircncia da

Repuacuteblica o setor esportivo comemorava a criaccedilatildeo da Secretaria do Desporto da

Presidecircncia da Repuacuteblica27 (BRASIL 1990a)

Somente apoacutes a superaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo de uma norma geral (Lei Zico -

Lei Nordm 86721993 e depois Lei Peleacute - Lei Nordm 9615) a elevaccedilatildeo do tema a niacutevel

ministerial (Ministeacuterio do Esporte e Turismo 1999 a 2002 Ministeacuterio do Esporte a

partir de 2003) a formalizaccedilatildeo de uma poliacutetica de fomento ao esporte de alto

rendimento (Lei AgneloPiva - Lei Nordm 102642001) e a organizaccedilatildeo de dois foacuteruns

nacionais de debate (a 1ordf Conferecircncia Nacional de Esporte em 2004 e a 2ordf

Conferecircncia Nacional de Esporte em 2006) a aacuterea do esporte se mostrou madura

para reivindicar mais recurso por meio da ampliaccedilatildeo da poliacutetica de financiamento

Os primoacuterdios do corrente modelo de mecenato esportivo surgiram do

Projeto de Lei Nordm 136728 de 01 de julho de 2003 do Deputado Federal Bismarck

Maia (PSDBCE) O projeto teve tracircmite demorado pois vaacuterias outras propostas29 de

27

Antes da criaccedilatildeo da Secretaria do Desporto da Presidecircncia da Repuacuteblica a temaacutetica do esporte era atribuiacuteda agrave Secretaria de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Desporto oacutergatildeo vinculado ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo 28

Tracircmite do projeto de lei disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=122383gt 29

Os demais projetos de lei que foram apresentados na Cacircmara dos Deputados e apreciados para compor o texto final do Projeto de Lei Nordm 13672003 foi PL Nordm 1663 (12082003) - Deputado Federal Antocircnio Carlos Mendes Thame (PSDBSP) PL Nordm 2331 (21102003) - Deputado Federal Ronaldo Vasconcellos (PTBMG) PL Nordm 4207 (06102004) - Deputado Federal Takayama

71

conteuacutedo similar foram apresentadas e incorporadas ao texto original durante sua

anaacutelise na Comissatildeo do Turismo e Desporto da Cacircmara dos Deputados

Em setembro de 2003 o Deputado Federal Bismarck Maia (PSDBCE)

solicitou agrave presidecircncia da Cacircmara dos Deputados a realizaccedilatildeo de uma audiecircncia

puacuteblica com os representantes do Comitecirc Oliacutempico Brasileiro (COB) da Comissatildeo

Nacional de Atletas (CNA) e da Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento

para auxiliarem no parecer da comissatildeo O que demonstra que mesmo apoacutes o

esporte de rendimento jaacute ter conquistado uma fonte exclusiva de financiamento pela

Lei AgneloPiva (Lei Nordm 102642001) seus atores continuavam a ser peccedila

fundamental para a formulaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo do mecanismo de mecenato esportivo

Do periacuteodo de 19 de agosto de 2003 a 22 de junho de 2005 o projeto

esteve em discussatildeo na Comissatildeo do Turismo e Desporto verificando o meacuterito da

proposta Nos dois pareceres emitidos pela respectiva comissatildeo foi citada a Lei

AgneloPiva (Lei Nordm 102642001) como um mecanismo de financiamento beneacutefico

ao setor do esporte de rendimento poreacutem insuficiente para suprir agrave demanda da

diversidade e da abrangecircncia territorial do paiacutes Aleacutem disso a legislaccedilatildeo vigente

negligenciava as modalidades natildeo oliacutempicas inclusive as genuinamente nacionais

previstas no inciso IV do Art 217 e as manifestaccedilotildees esportivas educacionais e de

participaccedilatildeo Nesse sentido a Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) e a Lei Rouanet (Lei

Nordm 83131991) eram lembradas como alternativa de poliacutetica de financiamento para

suprir a deficiecircncia de recurso para as lacunas deixadas pela Lei AgneloPiva (Lei

Nordm 102642001)

Cabe ressaltar que o Projeto de Lei Nordm 13672003 previa duas

modalidades de apoio por meio de isenccedilatildeo no imposto devido sobre a renda a

doaccedilatildeo sem vantagem financeira ou patrimonial para o apoiador permitindo 100

de deduccedilatildeo fiscal e o patrociacutenio com vantagem promocional ao apoiador com

autorizaccedilatildeo de 75 de deduccedilatildeo

O projeto de mecenato esportivo somente tomou corpo com o envio ao

Congresso Nacional do Projeto de Lei Nordm 6999 de 08 de maio de 2006

acompanhado de pedido de urgecircncia Esta era uma medida do Ministeacuterio do Esporte

(PMDBPR) PL Nordm 4306 (21102004) - Deputado Federal Joaquim Francisco (PTBPE) e por fim PL Nordm 6999 (08102006) de iniciativa do poder executivo Disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=122383gt

72

para ser apresentada na 2ordf Conferecircncia Nacional do Esporte como possibilidade de

mecanismo de fomento para a aacuterea

A proposta de iniciativa do poder executivo foi agregada ao Projeto de Lei

Nordm 13672003 e depois de uma raacutepida passagem pela Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e

Justiccedila e de Cidadania para apreciaccedilatildeo da constitucionalidade foi encaminhada agrave

Comissatildeo de Financcedilas e Tributaccedilatildeo para anaacutelise de viabilidade operacional

Do dia 14 de junho a 2 de agosto de 2006 o projeto esteve na pauta de

discussotildees da Comissatildeo de Financcedilas e Tributaccedilatildeo tendo como relator o Deputado

Federal Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) Aleacutem das reuniotildees da comissatildeo o projeto de

lei foi debatido por seis vezes na plenaacuteria da Cacircmara dos Deputados O parecer30 do

relator da comissatildeo se mostrou favoraacutevel agrave proposta apesar alertar sobre as criacuteticas

que o sistema de mecenato havia recebendo

Os incentivos fiscais de outra parte tecircm sido vistos com certa desconfianccedila pelos doutrinadores que se dedicam ao estudo das financcedilas puacuteblicas porque trazem distorccedilotildees na aplicaccedilatildeo dos recursos do Estado em prejuiacutezo na sua visatildeo de aspectos como a isonomia a transparecircncia e a seguranccedila quanto agrave correta realizaccedilatildeo das despesas Natildeo se pode negar no entanto que tais incentivos tecircm representado impulso importantiacutessimo em vaacuterias aacutereas como no Desenvolvimento Regional por exemplo ou na Pesquisa Tecnoloacutegica ou no jaacute mencionado campo da Cultura demonstrando que a despeito dos questionamentos teoacutericos configuram soluccedilatildeo eficaz para os setores beneficiados Assim uma vez providenciados mecanismos que garantam a regularidade da realizaccedilatildeo da despesa e a transparecircncia dos criteacuterios de concessatildeo dos benefiacutecios parece claro que os incentivos em questatildeo podem contribuir para o desenvolvimento do desporto e do para desporto em nosso Paiacutes (BRASIL 2006c p6)

Contudo o maior problema natildeo estava no modelo de financiamento

escolhido mas na falta de um estudo preacutevio que demonstrasse o impacto na

arrecadaccedilatildeo da Uniatildeo que um mecanismo de isenccedilatildeo fiscal ao esporte poderia

trazer de imediato Aleacutem disso a incerteza financeira da medida contrariava o Art 99

da Lei de Diretrizes Orccedilamentaacuterias de 2006 (LDO Nordm 111782015) e o Art 14 da Lei

de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar Nordm 1012000) que exigiam

estimativa de renuacutencia de receita para o ano de iniacutecio da vigecircncia e nos dois

30

Parecer da Comissatildeo de Financcedilas e Tributaccedilatildeo da Cacircmara dos Deputados emitido pelo Deputado Federal Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) sobre o Projeto de Lei Nordm Nordm 13672003 que trata do mecanismo de financiamento ao esporte (Lei Federal de Incentivo ao Esporte) Disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebprop_mostrarintegracodteor=403294ampfilename=Tramitacao-PL+13672003gt

73

subsequentes como garantia de natildeo haver prejuiacutezo agraves metas fiscais do governo

federal (BRASIL 2006c)

Nesse sentido o relator propocircs trecircs soluccedilotildees para o impasse A primeira

seria prever a queda de receita na Lei Orccedilamentaacuteria Anual de 2007 sem impacto na

meta fiscal Todavia natildeo foi uma soluccedilatildeo possiacutevel devido agrave falta de previsibilidade

financeira do novo mecanismo A segunda alternativa consistia em diminuir

despesas de outras aacutereas que compensasse o financiamento no esporte Poreacutem

mais uma vez a soluccedilatildeo esbarrava na inexistecircncia de previsatildeo financeira para poder

realizar cortes aleacutem da tradicional falta de prestiacutegio do esporte na pauta

orccedilamentaacuteria A terceira e selecionada soluccedilatildeo foi a de incluir o novo mecanismo de

financiamento junto agrave previsatildeo de renuacutencia orccedilamentaacuteria jaacute existente para outras

poliacuteticas de isenccedilatildeo fiscal

A primeira dessas condiccedilotildees eacute a comprovaccedilatildeo de que a renuacutencia foi considerada na estimativa de receita da lei orccedilamentaacuteria e que natildeo afetaraacute as metas de resultados fiscais previstos no anexo proacuteprio da lei de diretrizes orccedilamentaacuterias A outra que a proposiccedilatildeo contemple medidas de compensaccedilatildeo no periacuteodo mencionado por meio da reduccedilatildeo de outras despesas ou do aumento de receita proveniente da elevaccedilatildeo de aliacutequotas ampliaccedilatildeo de base de caacutelculo majoraccedilatildeo ou criaccedilatildeo de tributo ficando a entrada em vigor do benefiacutecio condicionada agrave implementaccedilatildeo dessas medidas Os projetos ora sob anaacutelise assim como as emendas apresentadas em Plenaacuterio deixaram de oferecer medidas compensatoacuterias para a renuacutencia de receita decorrente dos benefiacutecios fiscais propostos de modo que apenas se podem reputar adequadas as proposiccedilotildees que evidenciem ainda que implicitamente terem sido consideradas na estimativa da receita orccedilamentaacuteria Tal condiccedilatildeo atende apenas as que limitam as reduccedilotildees do tributo devido por doaccedilotildees patrociacutenios ou investimentos realizados com finalidade desportiva ao teto jaacute estabelecido em lei para outras doaccedilotildees patrociacutenios e investimentos uma vez que nesses casos o valor maacuteximo da renuacutencia fiscal natildeo se altera permanecendo vaacutelidas as previsotildees de arrecadaccedilatildeo consignadas na Lei Orccedilamentaacuteria (BRASIL 2006c p5)

Inicialmente os parlamentares escolheram colocar o mecanismo de

mecenato esportivo junto agrave renuacutencia orccedilamentaacuteria prevista para a Lei Rouanet (Lei

Nordm 83131991) Entretanto o compartilhamento despertou o descontentamento da

ala cultural do paiacutes receosa com a perda de recurso Tambeacutem existia o temor da

migraccedilatildeo do apoio cultural para o esporte principalmente pela sua capacidade em

gerar miacutedia espontacircnea o que poderia ser um atrativo a mais ao benefiacutecio fiscal

No dia 28 de novembro de 2006 o projeto foi apresentado na plenaacuteria da

Cacircmara dos Deputados onde recebeu emendas ao texto legal e acabou retornando

agraves comissotildees para correccedilatildeo Com o texto atualizado o projeto foi encaminhado ao

74

Senado Federal para apreciaccedilatildeo no dia 06 de dezembro daquele ano O Senado

Federal sugeriu duas emendas ao texto do projeto de lei sendo que uma delas

visava minimizar a repercussatildeo negativa da legislaccedilatildeo com o setor cultural

Foi sugerido alterar a origem da renuacutencia orccedilamentaacuteria da previsatildeo da Lei

Rouanet (Lei Nordm 83131991) para a do Programa de Alimentaccedilatildeo do Trabalhador

(PAT)31 O tema foi levado agrave discussatildeo na sessatildeo extraordinaacuteria da Cacircmara dos

Deputados em 20 de dezembro de 2006 Esta era a uacuteltima sessatildeo do ano antes do

recesso do legislativo e caso o projeto de lei natildeo fosse aprovado natildeo teria como

entrar em vigor no ano fiscal de 2007

Apoacutes uma calorosa discussatildeo entre os parlamentares e o impasse sobre

a origem da renuacutencia fiscal o Deputado Federal Agnelo Queiroz (PCdoBDF)

esclareceu a todos sobre as opccedilotildees de voto para a resoluccedilatildeo da aprovaccedilatildeo da lei de

financiamento ao esporte

Sr Presidente [Aldo Rabelo] eacute preciso que a Casa [Cacircmara dos Deputados] seja esclarecida definitivamente A emenda do Senado coloca a isenccedilatildeo do esporte com o Programa de Alimentaccedilatildeo do Trabalhador que com 30 anos de existecircncia teve ano passado [2005] desconto de 207 milhotildees ou seja 03 do total a que tem direito - 4 Portanto o projeto natildeo retira dinheiro do PAT coisa nenhuma porque esse programa jaacute estaacute consolidado haacute 30 anos Temos de tomar providecircncias para ampliaacute-lo Eacute esse o compromisso que todos temos de ter presente Colocar a isenccedilatildeo do esporte com o PAT natildeo retira dinheiro de recurso do trabalhador Agora o projeto da Cacircmara representa uma outra opccedilatildeo isto eacute ficar com a cultura A cultura teve isenccedilatildeo de 600 milhotildees no ano passado [2005] montante muito superior aos 200 milhotildees do PAT Esclarecidos os nuacutemeros vamos optar a favor do acordo feito no Senado que eacute junto com o PAT e natildeo tira dinheiro dele ou optar pelo texto da Cacircmara que eacute junto com a cultura e tambeacutem natildeo tira dinheiro da cultura (BRASIL 2006d p 56726)

Assim a Cacircmara dos Deputados votou pela rejeiccedilatildeo das emendas do

Senado Federal e o projeto de lei foi aprovado tendo como renuacutencia orccedilamentaacuteria o

compartilhamento da previsatildeo de R$ 600 milhotildees para o esporte e cultura Depois

de alguns dias de tracircmite administrativo interno e recesso de Natal o Projeto de Lei

31

O Programa de Alimentaccedilatildeo do Trabalhador (PAT) estimula a empresa por meio de isenccedilatildeo fiscal a manter serviccedilo proacuteprio de refeiccedilatildeo ou distribuir alimentos (cesta baacutesica ticket alimentaccedilatildeo etc) para atendimento aos trabalhadores de baixa renda (que recebam ateacute cinco salaacuterios miacutenimos mensais) Para isso a Lei Nordm 6321 de 14 de abril de 1976 que foi posteriormente regulamentada pelo Decreto Nordm 5 de 14 de janeiro de 1991 permite que a empresa tributada na modalidade lucro real destine ateacute 4 do seu imposto devido sobre a renda para o programa

75

Nordm 13672003 foi convertido na Lei Nordm 11438 em 29 de dezembro de 2006 que

ficou popularmente conhecida como Lei Federal de Incentivo ao Esporte

Poreacutem no mesmo dia da publicaccedilatildeo de criaccedilatildeo do mecenato esportivo o

poder executivo encaminhou a Medida Provisoacuteria Nordm 342 alterando o teto do

percentual de contribuiccedilatildeo do imposto devido sobre a renda da pessoa juriacutedica

passando de 4 para 1 Tambeacutem vinculou o valor da renuacutencia de receita do

orccedilamento da Uniatildeo a ato puacuteblico do poder executivo resolvendo o problema do

compartilhamento de recurso entre cultura e esporte para o ano de 2007 (BRASIL

2006e)

Esta medida provisoacuteria foi convertida na Lei Nordm 11472 de 2 de maio de

2007 alterando o texto legal da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) Durante o tracircmite de conversatildeo ainda foi acrescentado o Art 13-C o

qual exigia do Ministeacuterio do Esporte a apresentaccedilatildeo de relatoacuterio detalhado sobre a

aplicaccedilatildeo do recurso de isenccedilatildeo fiscal ao Congresso Nacional Esta foi uma maneira

encontrada para gerar controle legislativo ao recurso do esporte que fazia uma clara

opccedilatildeo pelo financiamento puacuteblico mas por uma via fora do orccedilamento direto da

Uniatildeo No dia 3 de agosto de 2007 o poder executivo publicou o Decreto Nordm 6180

regulamentando o funcionamento do mecenato esportivo que no mesmo ano jaacute teve

os primeiros projetos apoiados

Percebemos que depois do surgimento de interesse do poder executivo

em criar o mecenato esportivo como atendimento agrave expectativa do setor para a 2ordf

Conferecircncia Nacional de Esporte o tracircmite ateacute sua efetivaccedilatildeo foi relativamente

raacutepido Entretanto a experiecircncia dos anos de operacionalizaccedilatildeo do mecenato

cultural com a Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) e Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991)

associada agraves discussotildees da Lei Mendes Thame (Lei Nordm 77521989) quase natildeo foi

incorporada agrave elaboraccedilatildeo da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) Desta forma problemas de concentraccedilatildeo de recurso jaacute anunciados na

poliacutetica cultural tendem a se reproduzir na aacuterea do esporte

Por outro lado grande parte do debate no poder legislativo se concentrou

em aspectos teacutecnicos de viabilizaccedilatildeo do mecanismo enquanto o conteuacutedo sobre a

missatildeo e objetivo da legislaccedilatildeo acabou perdendo relevacircncia Este cenaacuterio vai

impactar na ausecircncia de diretriz para o financiamento puacuteblico do esporte de maneira

similar ao que aconteceu com a poliacutetica cultural quando foi extinto o Comitecirc

Assessor

76

Por isso nos capiacutetulos seguintes passaremos a explorar a legislaccedilatildeo do

mecenato esportivo e o seu resultado atentando para a atribuiccedilatildeo do esporte como

elemento social da cidadania brasileira

77

4 LEI FEDERAL DE INCENTIVO AO ESPORTE DA TEORIA DA NORMA AOS NUacuteMEROS DA PRAacuteTICA

41 Os passos iniciais

No segundo capiacutetulo resgatamos o trajeto que conduziu a elevaccedilatildeo do

esporte ao status de direito social constitucional e sua posterior estruturaccedilatildeo estatal

para elaboraccedilatildeo de uma poliacutetica puacuteblica de esporte No terceiro capiacutetulo o foco foi

buscar o contexto de formaccedilatildeo e desenvolvimento da poliacutetica de financiamento da

cultura a qual foi precursora do modelo de mecenato no paiacutes A partir da

compreensatildeo dos significados que envolveram a escolha do mecenato cultural

passamos a verificar a arena de debate que levou a criaccedilatildeo da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

Neste capiacutetulo o objetivo foi investigar a operacionalidade da legislaccedilatildeo

do mecenato esportivo e o seu desdobramento praacutetico no periacuteodo de 2007 a 2014 A

partir de uma visatildeo geral da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) por meio da anaacutelise da lei decreto portaria e Relatoacuterio de Gestatildeo

Interna do Ministeacuterio do Esporte pretendemos ter maior subsiacutedio para no capiacutetulo

seguinte aprofundar na investigaccedilatildeo do mecanismo na localidade de Belo

Horizonte

Cabe ressaltar que o esforccedilo de observaccedilatildeo ampliada do mecenato

esportivo foi necessaacuterio devido agrave incipiente pesquisa acadecircmica sobre o tema

valendo destacar a iniciativa de Matias et al (2015) Seixas (2015) Bernardo et al

(2011) Cavazzani et al (2010) Cabral (2010) Franccedila Juacutenior e Frasson (2010) e

Monteiro (2010)

O Art 1ordm da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

estipula o prazo de vigecircncia da legislaccedilatildeo inicialmente previsto de 2007 a 2015 No

entanto o Ministeacuterio do Esporte entendendo que a legislaccedilatildeo de mecenato

esportivo natildeo havia atingido seu objetivo pleno de promoccedilatildeo do esporte e que a

revogaccedilatildeo traria nova lacuna no seu financiamento enviou ao Congresso Nacional a

Medida Provisoacuteria Nordm 67132 de 19 de marccedilo de 2015 sugerindo alteraccedilatildeo do prazo

32

A Medida Provisoacuteria Nordm 671 de 19 de marccedilo de 2015 foi convertida na Lei Nordm 13155 de 4 de agosto de 2015 tambeacutem conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte Pois aleacutem de prorrogar a vigecircncia da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) tambeacutem

78

A medida provisoacuteria foi acatada e transformada na Lei Nordm 13155 de 4 de agosto de

2015 que estendeu o mecanismo ateacute ano de 2022 (BRASIL 2015b)

Embora exista a percepccedilatildeo do mecenato esportivo natildeo ter alcanccedilado a

plenitude de seu objetivo ndash argumento inclusive reproduzido por um membro do

Ministeacuterio do Esporte durante minha visita agrave Brasiacutelia para a coleta de dados natildeo

localizei documento oficial que expresse formalmente a finalidade da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) Nesse sentido este eacute um dos primeiros

pontos a serem questionados sobre o mecanismo de mecenato esportivo Pois

aparentemente ele tem se apresentado como uma mera alternativa de

financiamento esportivo tomando a via extraorccedilamentaacuteria o que eacute extremamente

limitado para uma poliacutetica puacuteblica de Estado

O Art 1ordm ainda menciona quem satildeo os mecenas ou melhor os potenciais

apoiadores do esporte brasileiro A legislaccedilatildeo escolheu os contribuintes do Imposto

sobre a Renda (IR) sendo autorizado que a pessoa fiacutesica declarante da modalidade

completa possa destinar ateacute 6 do seu imposto devido enquanto a pessoa juriacutedica

optante da modalidade lucro real possa destinar o limite de 1

As demais modalidades de tributaccedilatildeo do Imposto sobre a Renda (IR) natildeo

tiveram permissatildeo de usufruir da isenccedilatildeo fiscal pois a Secretaria da Receita Federal

entende que jaacute aplica uma aliacutequota de desconto sobre o valor do imposto devido

pelo contribuinte Entretanto a alegaccedilatildeo eacute questionaacutevel uma vez que o valor da

isenccedilatildeo fiscal natildeo visa beneficiar o contribuinte mas o elemento da cidadania social

para o qual o recurso eacute destinado Isto eacute o mecenato esportivo gera alternativa de

alocaccedilatildeo do recurso puacuteblico seja por meio do recolhimento do imposto ao Tesouro

Nacional ou pela escolha de um projeto esportivo chancelado pelo Ministeacuterio do

Esporte

Por outro lado a motivaccedilatildeo para a escolha exclusiva da modalidade de

tributaccedilatildeo lucro real pode ser encontrada na tabela de dados da Declaraccedilatildeo do

Imposto sobre a Renda das Pessoas Juriacutedicas disponibilizada pela Secretaria da

Receita Federal Os nuacutemeros mostram que apesar das empresas desta modalidade

representarem apenas 3 do universo empresarial do paiacutes satildeo responsaacuteveis por

estabeleceu princiacutepios de responsabilidade fiscal e gestatildeo transparente nas entidades esportivas de futebol profissional (BRASIL 2015 p1)

79

aproximadamente 78 da arrecadaccedilatildeo do Imposto sobre a Renda (IR) de pessoa

juriacutedica33

Fonte Secretaria da Receita Federal Acesso aos dados no dia 30 de abril de 2016 referente ao ano fiscal de 2013 - elaboraccedilatildeo proacutepria

Situaccedilatildeo similar tambeacutem pode ser observada na Declaraccedilatildeo do Imposto

sobre a Renda de Pessoa Fiacutesica34 quando 42 das pessoas optam pela

modalidade completa embora o percentual represente 67 do imposto devido Vale

fazer a distinccedilatildeo entre o imposto devido e o recolhido na fonte No caso do

mecanismo de mecenato esportivo o contribuinte somente pode apoiar os projetos

com um percentual do valor do imposto ainda devido ao Estado brasileiro pois a

quantia jaacute recolhida natildeo entra no caacutelculo da permissatildeo da isenccedilatildeo fiscal

33

Relatoacuterio de dados setoriais de 2009 a 2013 da Declaraccedilatildeo de Imposto sobre a Renda das Pessoas Juriacutedicas Disponiacutevel em lthttpidgreceitafazendagovbrdadosreceitadataestudos-e-tributarios-e-aduaneirosestudos-e-estatisticasestudos-diversosdados-setoriais-2009-2013pdfgt Acesso em 2 de maio de 2016 34

Os dados para elaboraccedilatildeo do graacutefico foram retirados da ldquoTabela 1 - Resumo das Declaraccedilotildees Por Tipo de Formulaacuteriordquo do banco de dados ldquoGrandes Nuacutemeros DIRPF 2014 ndash Ano-calendaacuterio 2013rdquo Disponiacutevel em lthttpidgreceitafazendagovbrdadosreceitadataestudos-e-tributarios-e-aduaneirosestudos-e-estatisticas11-08-2014-grandes-numeros-dirpfgrandes-numeros-dirpf-capagt Acesso em 2 de maio de 2016

Graacutefico 2 ndash Comparativo entre a quantidade de empresas declarantes do imposto sobre a renda

(IRPJ) e a arrecadaccedilatildeo tributaacutevel apurada no ano fiscal de 2013

80

Fonte Secretaria da Receita Federal Acesso aos dados no dia 30 de abril de 2016 referente ao ano fiscal de 2013 - elaboraccedilatildeo proacutepria

Apesar dos nuacutemeros mostrarem supremacia de arrecadaccedilatildeo do imposto

devido para estas duas modalidades existe um movimento encampado pelas

entidades culturais para a ampliaccedilatildeo dos apoiadores a outras modalidades de

tributaccedilatildeo do Imposto sobre a Renda (IR) A justificativa seria a compreensatildeo de que

o mecanismo de mecenato eacute tambeacutem um instrumento de empoderamento e

participaccedilatildeo social e por isso natildeo poderia haver segregaccedilatildeo dos apoiadores

Diferentemente do mecenato cultural (manifestaccedilotildees do Art 26) o Art 1ordm

da lei apresenta como vedaccedilatildeo o lanccedilamento do apoio como despesa operacional

evitando uma dupla incidecircncia da isenccedilatildeo fiscal e reduccedilatildeo na base de caacutelculo do

imposto devido Aleacutem disso a legislaccedilatildeo natildeo permite apoio de projeto proacuteprio da

empresa ou que seus gestores estejam vinculados direta ou indiretamente

Art 1ordm [] sect 5ordm Consideram-se vinculados ao patrocinador ou ao doador I - a pessoa juriacutedica da qual o patrocinador ou o doador seja titular administrador gerente acionista ou soacutecio na data da operaccedilatildeo ou nos 12 (doze) meses anteriores II - o cocircnjuge os parentes ateacute o terceiro grau inclusive os afins e os dependentes do patrocinador do doador ou dos titulares administradores acionistas ou soacutecios de pessoa juriacutedica vinculada ao patrocinador ou ao doador nos termos do inciso I deste paraacutegrafo III - a pessoa juriacutedica coligada controladora ou controlada ou que tenha como titulares administradores acionistas ou soacutecios alguma das pessoas a que se refere o inciso II deste paraacutegrafo (BRASIL 2006b p1)

Graacutefico 3 ndash Comparativo entre a quantidade de pessoas fiacutesica declarantes do imposto sobre a renda (IRPF) e o imposto devido no momento da entrega da declaraccedilatildeo de rendimento no ano-

calendaacuterio de 2013

81

Mas este tipo de vedaccedilatildeo eacute de difiacutecil controle pois o confronto de

informaccedilatildeo eacute feito pelo nome dos dirigentes da entidade proponente contidos na ata

de posse da diretoria que deve acompanhar o projeto esportivo e o nome do

responsaacutevel da empresa disponiacutevel no Cadastro Nacional de Pessoa Juriacutedica

(CNPJ) da Secretaacuteria da Receita Federal Assim outros dirigentes com poder de

decisatildeo na empresa podem assumir algum viacutenculo com a entidade proponente e

haver benefiacutecio direto na indicaccedilatildeo de projeto

O Art 1ordm ainda destaca que a isenccedilatildeo fiscal proporcionada pela Lei

Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) natildeo exclui ou reduz outros

benefiacutecios fiscais em vigor Desta forma a pessoa fiacutesica estaacute autorizada pelo

Congresso Nacional a utilizar ateacute 8 do seu imposto devido sobre a renda em

mecanismos fiscais de cidadania social podendo mesclar 6 em cultura esporte

direito do idoso eou direto da crianccedila e adolescente mais 1 exclusivo para a aacuterea

da pessoa com deficiecircncia (PRONASPCD35) e outro 1 para a aacuterea da oncologia

(PRONON) Por sua vez a pessoa juriacutedica pode utilizar o somatoacuterio de ateacute 9 do

seu imposto devido observando o limite de cada lei

Tabela 1 ndash Distribuiccedilatildeo do incentivo de isenccedilatildeo fiscal no acircmbito federal

Fundo da Infacircncia e

Adolescecircncia

Fundo do Idoso

Lei Rouanet

Lei do Aacuteudio- Visual

Lei de Incentivo Esporte

PRONON PRONAS

Pessoa Fiacutesica

6 1 1

Pessoa Juriacutedica

1 1 4 1 1 1

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

No Art 2ordm da lei as trecircs manifestaccedilotildees esportivas surgidas na discussatildeo

da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e consolidadas com a Lei Zico (Lei Nordm 86721993)

e Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) satildeo citadas como foco do incentivo fiscal Nesse

sentido mostra que a legislaccedilatildeo tinha um caraacuteter amplo de financiamento ao

esporte situaccedilatildeo oposta a Lei AgneloPiva (Lei Nordm 102642001) que teve como

35

O Programa Nacional de Apoio agrave Atenccedilatildeo Oncoloacutegica (PRONON) e o Programa Nacional de Apoio agrave Atenccedilatildeo da Sauacutede da Pessoa com Deficiecircncia (PRONASPCD) foram instituiacutedos pela Lei Nordm 127152012 e trazem o mecanismo de mecenato para a aacuterea da sauacutede tendo o Ministeacuterio da Sauacutede como oacutergatildeo regulador

82

marca ser uma poliacutetica focal ao esporte de rendimento O Decreto Nordm 61802007

que regulamenta o mecenato esportivo apresenta descritivo das manifestaccedilotildees

suplementando o texto legal da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998)

Art 2ordm [] I - desporto educacional cujo puacuteblico beneficiaacuterio deveraacute ser de alunos regularmente matriculados em instituiccedilatildeo de ensino de qualquer sistema nos termos dos arts 16 a 20 da Lei nordm 9394 de 20 de dezembro de 1996 evitando-se a seletividade e a hipercompetitividade de seus praticantes com a finalidade de alcanccedilar o desenvolvimento integral do indiviacuteduo e a sua formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania e a praacutetica do lazer II - desporto de participaccedilatildeo caracterizado pela praacutetica voluntaacuteria compreendendo as modalidades desportivas com finalidade de contribuir para a integraccedilatildeo dos praticantes na plenitude da vida social na promoccedilatildeo da sauacutede e educaccedilatildeo e na preservaccedilatildeo do meio ambiente e III - desporto de rendimento praticado segundo regras nacionais e internacionais com a finalidade de obter resultados integrar pessoas e comunidades do Paiacutes e estas com as de outras naccedilotildees (BRASIL 2007a p1)

Neste ponto sobre as manifestaccedilotildees esportivas eacute interessante chamar a

atenccedilatildeo para a recente alteraccedilatildeo no decreto que regulamenta a Lei Peleacute (Lei Nordm

96151998) o Decreto Nordm 7984 de 8 de abril de 2013 que trouxe como novidade

uma subdivisatildeo da manifestaccedilatildeo esporte educacional conforme previa Tubino

(2001)

sect 1ordm O desporto educacional pode constituir-se em I - esporte educacional ou esporte formaccedilatildeo com atividades em estabelecimentos escolares e natildeo escolares referenciado em princiacutepios socioeducativos como inclusatildeo participaccedilatildeo cooperaccedilatildeo promoccedilatildeo agrave sauacutede co-educaccedilatildeo e responsabilidade e II - esporte escolar praticado pelos estudantes com talento esportivo no ambiente escolar visando agrave formaccedilatildeo cidadatilde referenciado nos princiacutepios do desenvolvimento esportivo e do desenvolvimento do espiacuterito esportivo podendo contribuir para ampliar as potencialidades para a praacutetica do esporte de rendimento e promoccedilatildeo da sauacutede (BRASIL 2013a p1 ndash grifo nosso)

A subdivisatildeo permitiu a inclusatildeo de princiacutepios competitivos e de alto

rendimento para dentro do ambiente escolar sugerindo uma expansatildeo da

manifestaccedilatildeo rendimento e um retorno ao padratildeo atleacutetico de praacutetica esportiva A

aplicaccedilatildeo desta subdivisatildeo na Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) pode mascarar accedilotildees de esporte de rendimento pela via escolar

dentro da manifestaccedilatildeo educacional gerando imprecisatildeo na anaacutelise da distribuiccedilatildeo

do recurso para a aacuterea estritamente educacional

83

Meses depois da publicaccedilatildeo do decreto foi aprovada no Congresso

Nacional a Lei Nordm 12868 de 15 de outubro de 2013 que aumentou o regramento

ao financiamento puacuteblico para projetos da manifestaccedilatildeo rendimento com a inclusatildeo

do Art 18 - A na Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) (BRASIL 2013b) Este aumento na

dificuldade para o acesso ao recurso de projetos de esporte de rendimento pode

corroborar para a migraccedilatildeo de accedilotildees para a subdivisatildeo de esporte escolar

principalmente na praacutetica esportiva de categoria de base agravando o problema da

distinccedilatildeo na distribuiccedilatildeo do recurso entre manifestaccedilotildees

Contudo a nova legislaccedilatildeo foi uma tentativa do Estado brasileiro de

aumentar o controle e fiscalizaccedilatildeo sobre o recurso puacuteblico repassado de forma

extraorccedilamentaacuteria agraves entidades representativas do esporte Cabe ressaltar que a

norma natildeo feria a autonomia de funcionamento das entidades esportivas

conquistada na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 pois estava atrelada ao repasse de

recurso puacuteblico Isto eacute a entidade esportiva que natildeo tivesse receita puacuteblica natildeo tinha

a obrigatoriedade de realizar adequaccedilatildeo estatutaacuteria

Art 18-A [] I - seu presidente ou dirigente maacuteximo tenham o mandato de ateacute 4 (quatro) anos permitida 1 (uma) uacutenica reconduccedilatildeo [] VII - estabeleccedilam em seus estatutos a) princiacutepios definidores de gestatildeo democraacutetica b) instrumentos de controle social c) transparecircncia da gestatildeo da movimentaccedilatildeo de recursos d) fiscalizaccedilatildeo interna e) alternacircncia no exerciacutecio dos cargos de direccedilatildeo f) aprovaccedilatildeo das prestaccedilotildees de contas anuais por conselho de direccedilatildeo precedida por parecer do conselho fiscal g) participaccedilatildeo de atletas nos colegiados de direccedilatildeo e na eleiccedilatildeo para os cargos da entidade e VIII - garantam a todos os associados e filiados acesso irrestrito aos documentos e informaccedilotildees relativos agrave prestaccedilatildeo de contas bem como agravequeles relacionados agrave gestatildeo da respectiva entidade de administraccedilatildeo do desporto os quais deveratildeo ser publicados na iacutentegra no siacutetio eletrocircnico desta (BRASIL 2013b p1)

A mudanccedila teve impacto direto nos projetos de rendimento apresentados

na Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) No dia 15 de abril de

2014 apoacutes a anaacutelise e emissatildeo do parecer Nordm 1042014 da Consultoria Juriacutedica do

Ministeacuterio do Esporte (CONJURME) os projetos em anaacutelise no mecenato esportivo

foram paralisados para o envio de diligecircncia para adequaccedilatildeo documental (BRASIL

2014a) Mas somente no dia 18 de setembro a Portaria Ministerial Nordm 224

84

estabeleceu procedimentos para verificaccedilatildeo do cumprimento das exigecircncias do Art

18-A da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) e a anaacutelise dos projetos de rendimento foi

normalizada (BRASIL 2014b)

Art 3ordm [] III - prever em seu estatuto social a) instrumentos de controle social b) transparecircncia na gestatildeo da movimentaccedilatildeo de recursos e de fiscalizaccedilatildeo interna c) a garantia de existecircncia e autonomia de seu conselho fiscal d) a aprovaccedilatildeo das prestaccedilotildees de contas anuais por conselho de direccedilatildeo precedida por parecer do conselho fiscal e) a garantia de acesso irrestrito a todos os associados e filiados aos documentos e informaccedilotildees relativos agrave prestaccedilatildeo de contas bem como agravequeles relacionados agrave gestatildeo da respectiva entidade de administraccedilatildeo do desporto os quais deveratildeo ser publicados na iacutentegra no siacutetio eletrocircnico desta f) a garantia de representaccedilatildeo da categoria de atletas 1) no acircmbito dos oacutergatildeos e conselhos teacutecnicos incumbidos da aprovaccedilatildeo de regulamentos das competiccedilotildees por elas eventualmente organizadas 2) nos colegiados de direccedilatildeo e na eleiccedilatildeo para os cargos da entidade g) a alternacircncia no exerciacutecio dos cargos de direccedilatildeo sem prejuiacutezo da limitaccedilatildeo da duraccedilatildeo do mandato de seu presidente ou dirigente maacuteximo a 4 (quatro) anos permitida 1 (uma) uacutenica reconduccedilatildeo h) a vedaccedilatildeo agrave eleiccedilatildeo do cocircnjuge e parentes consanguiacuteneos ou afins ateacute o 2ordm (segundo) grau ou por afinidade do presidente ou dirigente maacuteximo da entidade e i) a determinaccedilatildeo para aplicaccedilatildeo integral de seus recursos na manutenccedilatildeo e desenvolvimento dos seus objetivos sociais (BRASIL 2014b p89)

Aleacutem da conduta expressa no estatuto social a Portaria Ministerial Nordm

2242014 tambeacutem solicitou vaacuterias declaraccedilotildees por parte do representante legal da

entidade esportiva com a finalidade de garantir a idoneidade institucional Cabe

mencionar que a declaraccedilatildeo de informaccedilotildees falsas poderia acarretar em crime penal

ao representante legal o que natildeo deixaria de ser uma maneira de controle e puniccedilatildeo

ao mau uso do patrimocircnio puacuteblico

Outra recente mudanccedila nas manifestaccedilotildees esportivas foi gerada pela

aprovaccedilatildeo da Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte (Lei nordm 131552015) a

mesma que alterou o prazo de vigecircncia do mecenato esportivo A legislaccedilatildeo

acrescentou uma quarta manifestaccedilatildeo na Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) exclusiva

para a qualificaccedilatildeo profissional e produccedilatildeo de conhecimento na aacuterea do esporte

(BRASIL 2015b) Esta alteraccedilatildeo ainda natildeo foi absorvida na legislaccedilatildeo da Lei

Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) muito embora pudesse ser

contemplada em uma visatildeo ampliada de atividade do esporte educacional

85

Art 3ordm []

IV - desporto de formaccedilatildeo caracterizado pelo fomento e aquisiccedilatildeo inicial dos conhecimentos desportivos que garantam competecircncia teacutecnica na intervenccedilatildeo desportiva com o objetivo de promover o aperfeiccediloamento qualitativo e quantitativo da praacutetica desportiva em termos recreativos competitivos ou de alta competiccedilatildeo (BRASIL 2015b p1 ndash grifo nosso)

Fonte Inspirado em BRASIL (1998a p1) BRASIL (2013a p1) BRASIL (2015b p1) ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Retornando a discussatildeo especiacutefica do texto legal da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) o Art 2ordm trata da vedaccedilatildeo de

remuneraccedilatildeo a atletas profissionais O Decreto Nordm 61802007 complementa o artigo

trazendo a interpretaccedilatildeo de remuneraccedilatildeo dos Arts 457 e 458 da Consolidaccedilatildeo das

Leis Trabalhistas ndash CLT (Decreto-Lei Nordm 54521943) os quais englobam

remuneraccedilatildeo como o salaacuterio em dinheiro o abono de feacuterias o deacutecimo terceiro

salaacuterio as gratificaccedilotildees os precircmios e mais qualquer tipo de benefiacutecio que integre

por forccedila de contrato ou de costume a relaccedilatildeo da entidade esportiva com o atleta

profissional (BRASIL 2007b BRASIL 1943)

Um ponto de extrema confusatildeo no paiacutes eacute quanto a caracterizaccedilatildeo do que

seria esporte profissional A Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) indica como esporte de

rendimento organizado ou praticado de modo profissional aquele ldquocaracterizado pela

remuneraccedilatildeo pactuada em contrato formal de trabalho entre o atleta e a entidade de

praacutetica desportivardquo Enquanto o esporte natildeo profissional eacute ldquoidentificado pela

Esporte Educacional ou

Formaccedilatildeo

Esporte Escolar

Manifestaccedilotildees Esportivas

Esporte Educacional

Esporte de Participaccedilatildeo

Esporte de Rendimento

Esporte de Formaccedilatildeo

Figura 2 ndash Diagrama atualizado das manifestaccedilotildees esportivas no acircmbito federal

86

liberdade de praacutetica e pela inexistecircncia de contrato de trabalho sendo permitido o

recebimento de incentivos materiais e de patrociacuteniordquo (BRASIL 1998a p1)

Nesse sentido o pagamento financeiro ao atleta natildeo profissional nos

projetos de esporte de rendimento na Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) aconteceria pela formalizaccedilatildeo de contrato devido Agrave necessidade

documental para a prestaccedilatildeo de contas O contrato poderia evidenciar um possiacutevel

viacutenculo de atleta e se converter na vedaccedilatildeo trazida pela legislaccedilatildeo Por isso o

Ministeacuterio do Esporte passou a adotar a nomenclatura ldquobolsardquo com caraacuteter

indenizatoacuterio (ressarcimento de despesas) e natildeo mais remuneratoacuterio para o

pagamento de atleta natildeo profissional Esta tipologia de subsiacutedio ao atleta natildeo

profissional foi inclusive legitimada pelo paraacutegrafo uacutenico inciso III Art 4ordm do

Decreto Nordm 79842013

Art 4ordm [] Paraacutegrafo uacutenico Consideram-se incentivos materiais na forma disposta no inciso II do caput entre outros I - benefiacutecios ou auxiacutelios financeiros concedidos a atletas na forma de bolsa de aprendizagem prevista no sect 4ordm do art 29 da Lei nordm 9615 de 1998 II - Bolsa-Atleta prevista na Lei nordm 10891 de 9 de julho de 2004 III - bolsa paga a atleta por meio de recursos dos incentivos previstos na Lei nordm 11438 de 29 de dezembro de 2006 ressalvado o disposto em seu art 2ordm sect 2ordm e IV - benefiacutecios ou auxiacutelios financeiros similares previstos em normas editadas pelos demais entes federativos (BRASIL 2013a p1 ndash grifo nosso)

No entanto o Decreto Nordm 61802007 natildeo parou na normatizaccedilatildeo da

proibiccedilatildeo de remuneraccedilatildeo ao atleta profissional e estendeu o veto agrave equipe e

competiccedilatildeo profissional

Art 5ordm []

sect 2ordm Eacute vedada ainda a utilizaccedilatildeo dos recursos de que trata o caput para o pagamento de quaisquer despesas relativas agrave manutenccedilatildeo e organizaccedilatildeo de equipes desportivas ou paradesportivas profissionais de alto rendimento nos termos do inciso I do paraacutegrafo uacutenico do art 3ordm da Lei Nordm 9615 de 1998 ou de competiccedilotildees profissionais nos termos do paraacutegrafo uacutenico do art 26 daquela Lei (BRASIL 2007b p3 ndash grifo nosso)

A Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) define no Art 26 a competiccedilatildeo

profissional como ldquoaquela promovida para obter renda e disputada por atletas

profissionais cuja remuneraccedilatildeo decorra de contrato de trabalho desportivordquo (BRASIL

1998a p1) Se a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) restringe

87

apenas a remuneraccedilatildeo logo estariam autorizados projetos de competiccedilatildeo desde

que o pagamento dos atletas profissionais fosse oriundo de outra fonte

O caso de equipe profissional carece de uma definiccedilatildeo legal poreacutem

poderiacuteamos recorrer a processo anaacutelogo ou seja o mecenato esportivo permitiria o

pagamento da comissatildeo teacutecnica (teacutecnico preparador fiacutesico fisioterapeuta etc)

desde que a remuneraccedilatildeo do atleta profissional natildeo estivesse vinculada ao projeto

Os dois casos podem sugerir ato de ilegalidade uma vez que o decreto

estaacute extrapolando o texto da lei Por outro lado aparentemente marca um

posicionamento do Ministeacuterio do Esporte em privilegiar accedilotildees da manifestaccedilatildeo

educacional e de participaccedilatildeo haja vista que a manifestaccedilatildeo rendimento possui a

Lei AgneloPiva (Lei Nordm 102642001) para financiamento exclusivo

Fonte inspirado em BRASIL (1998a p1) ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

O Art 3ordm da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

apresenta a distinccedilatildeo entre os termos patrociacutenio e doaccedilatildeo O primeiro envolve a

aplicaccedilatildeo financeira com finalidade promocional e de publicidade do apoiador

enquanto o segundo tem um caraacuteter filantroacutepico e isento de intencionalidade O

decreto que regulamenta a legislaccedilatildeo em nada acrescenta sobre as definiccedilotildees

Apesar da distinccedilatildeo as duas modalidades permitem 100 de deduccedilatildeo

fiscal Os termos satildeo vestiacutegios da discussatildeo da legislaccedilatildeo no Congresso Nacional

quando inicialmente o patrociacutenio permitiria deduzir apenas 75 do valor apoiado e

Atleta profissional

Competiccedilatildeo Profissional

Conceito possui contrato formal de trabalho com a entidade de praacutetica esportiva

Equipe Profissional

Legislaccedilatildeo Art 3ordm sect1ordm inciso I da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998)

Conceito formada por atletas profissionais

Legislaccedilatildeo natildeo possui definiccedilatildeo legal

Conceito disputada por atleta profissional eou com o objetivo de obter renda renda Legislaccedilatildeo Art 26 paraacutegrafo uacutenico Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998)

Figura 3 ndash Diagrama da cadeia produtiva do esporte profissional

88

os 25 restantes seriam de capital privado atraiacutedo para a aacuterea do esporte (BRASIL

2006c)

Independente da similaridade funcional uma segunda vertente questiona

a viabilidade dos termos pela transposiccedilatildeo da semacircntica de caraacuteter privado para o

espaccedilo puacuteblico O patrociacutenio seria o ato de colocar recurso particular em um objeto

que possa dar retorno em publicidade ou agregar valor simboacutelico a uma marca

enquanto a doaccedilatildeo seria a transferecircncia de recurso particular a outra pessoa sem

nenhuma vantagem direta ou indireta Mas como o valor do apoio (patrociacutenio ou

doaccedilatildeo) pode ser integralmente deduzido estamos lidando com aplicaccedilatildeo de

recurso puacuteblico indireto e natildeo particular Neste contexto o termo mais indicado seria

destinaccedilatildeo de recurso pois cabe ao apoiador escolher a alocaccedilatildeo do imposto entre

projeto esportivo chancelado pelo Ministeacuterio do Esporte ou Tesouro Nacional

A ausecircncia de recurso privado no mecanismo coloca em suspeita as

chances de criaccedilatildeo da figura do mecenas esportivo No entanto a manutenccedilatildeo do

termo mecenato esportivo para o formato de poliacutetica de financiamento se torna

importante para natildeo perder de vista que a finalidade inicial do diaacutelogo com o setor

privado era agregar mais recurso ao setor esportivo e natildeo apenas transferir a

tomada de decisatildeo de alocaccedilatildeo puacuteblica para o particular

O Art 3ordm da lei ainda demarca que a ldquopessoa juriacutedica de direito puacuteblico ou

de direito privado com fins natildeo econocircmicos [sem fins lucrativos] de natureza

esportivardquo pode ser proponente de accedilotildees na Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei

Nordm 114382006) (BRASIL 2006b p1) Entidades esportivas e secretarias

municipais e estaduais de esporte disputariam o mesmo recurso Poreacutem em tese

um oacutergatildeo puacuteblico teria maior poder de ldquobarganhardquo visto que tem acesso a

informaccedilotildees fiscais privilegiadas do setor privado em sua aacuterea de abrangecircncia

A princiacutepio poderia parecer uma competiccedilatildeo desleal principalmente pela

incipiente profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas Mas ao verificar os dados do

Relatoacuterio de Gestatildeo Interna da Lei Federal de Incentivo ao Esporte de 201436

notamos que o sucesso na captaccedilatildeo de recurso das organizaccedilotildees de direito puacuteblico

eacute baixa apenas 1 do montante total captado em 2014

36

Para apuraccedilatildeo da tipologia da proponente o Ministeacuterio do Esporte adota a classificaccedilatildeo do nome fantasia ou razatildeo social da entidade esportiva Todavia esta classificaccedilatildeo pode gerar erros aos distinguir ONG associaccedilatildeo e demais tipologias sendo que todas possuem a personalidade juriacutedica de associaccedilatildeo Neste sentido foi reorganizado levando em consideraccedilatildeo a natureza juriacutedica e a similaridade de funccedilatildeo social

89

Outra questatildeo quanto agrave natureza da proponente estaacute na impossibilidade

do proacuteprio atleta apresentar um projeto Para se ter ideia na proporccedilatildeo do atleta

individual na cadeia esportiva das 42 modalidades previstas para acontecer nos

Jogos Oliacutempicos do Rio de Janeiro37 31 delas satildeo disputas individuais Aleacutem disso

se a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) foi baseada na

experiecircncia do mecenato cultural que permite a participaccedilatildeo do artista individual e

produtor cultural por que natildeo permitir a participaccedilatildeo do atleta individual Parte da

resposta estaacute na dificuldade do Estado brasileiro em penalizar a pessoa fiacutesica por

mau uso do recurso puacuteblico

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizados em 27 de marccedilo de 2015 ndash adaptado

O Art 4ordm da lei menciona a criaccedilatildeo da Comissatildeo Teacutecnica oacutergatildeo colegiado

ligado ao Ministeacuterio do Esporte e responsaacutevel pela aprovaccedilatildeo dos projetos

esportivos A comissatildeo eacute formada por membros governamentais designados pelo

proacuteprio ministro e representantes do setor esportivo indicados pelo Conselho

Nacional de Esporte (CNE) O Decreto Nordm 61802007 suplementa sobre distribuiccedilatildeo

das vagas da comissatildeo

37

Disponiacutevel em ltwwwrio2016comgt

Graacutefico 4 ndash Distribuiccedilatildeo da captaccedilatildeo de recurso financeiro pela tipologia de proponente na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2014

90

Art 7ordm - A Comissatildeo Teacutecnica seraacute composta por seis membros da seguinte forma I - trecircs representantes governamentais indicados pelo Ministro de Estado do Esporte e II - trecircs representantes dos setores desportivo e paradesportivo indicados pelo Conselho Nacional do Esporte (BRASIL 2007b p3)

De acordo com o decreto o presidente da comissatildeo seraacute um dos trecircs

representantes do poder puacuteblico e teraacute como responsabilidade dirigir as reuniotildees

ordinaacuterias que tecircm acontecido mensalmente em Brasiacutelia e por convocar a reuniatildeo

extraordinaacuteria quando julgar necessaacuterio O cargo de presidente daacute direito ao voto de

qualidade no caso de empate das votaccedilotildees Tradicionalmente o diretor do

Departamento de Incentivo e Fomento ao Esporte (DIFE) oacutergatildeo ligado a Secretaria-

Executiva do Ministeacuterio do Esporte tem sido indicado como presidente da Comissatildeo

Teacutecnica embora natildeo exista regra expliacutecita sobre a situaccedilatildeo (BRASIL 2007b)

No caso da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991) o Ministeacuterio da Cultura tem

optado por realizar uma reuniatildeo ordinaacuteria da comissatildeo de aprovaccedilatildeo de projetos em

Brasiacutelia e uma subsequente em alguma capital do paiacutes Esta foi uma estrateacutegia

adotada pela pasta da cultura para a divulgaccedilatildeo e disseminaccedilatildeo do mecanismo de

mecenato cultural Medida itinerante similar poderia ser adotada pelo Ministeacuterio do

Esporte para dar maior visibilidade ao mecenato esportivo principalmente pelo

problema de concentraccedilatildeo de projetos e recurso na regiatildeo Sudeste do paiacutes

Outra medida bastante interessante e de baixo custo de democratizaccedilatildeo

tem sido adotada pela Secretaria do Esporte Lazer e Juventude do Estado de Satildeo

Paulo O oacutergatildeo tem gravado as reuniotildees da ldquoComissatildeo de Analises e Aprovaccedilatildeo de

Projetosrdquo da Lei Paulista de Incentivo ao Esporte e disponibilizado no seu canal

institucional no YouTube38 Aleacutem de dar mais transparecircncia ao processo de

discussatildeo e aprovaccedilatildeo de projetos a utilizaccedilatildeo da ferramenta digital permite que

mais pessoas tenham acesso agrave reuniatildeo jaacute que atualmente as vagas satildeo limitadas

agrave capacidade fiacutesica da sala de reuniatildeo Este tipo de recurso tecnoloacutegico tambeacutem

permite que as proponentes se manifestem mesmo que a posteriori sobre as

discussotildees realizadas pela comissatildeo haja vista que na reuniatildeo presencial natildeo eacute

permitida a participaccedilatildeo ativa

38

Canal do YouTube da Secretaria do Esporte Lazer e Juventude do Estado de Satildeo Paulo onde eacute possiacutevel assistir as gravaccedilotildees das reuniotildees da ldquoComissatildeo de Analises e Aprovaccedilatildeo de Projetosrdquo da Lei Paulista de Incentivo ao Esporte Disponiacutevel em lthttpswwwyoutubecomplaylistlist=PLNqAR3y4NKpDAdQoQfdRvpv4YSmaUSvslgt

91

42 Elaboraccedilatildeo da proposta esportiva

A partir do Art 5ordm da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) abordaremos o processo de cadastro e apresentaccedilatildeo de projetos

Grande parte do procedimento estaacute contida no Decreto Nordm 61802007 e Portaria

Ministerial Nordm 1202009

O primeiro passo trazido pelo decreto se refere ao cadastro das entidades

esportivas junto ao Ministeacuterio do Esporte para acesso ao sistema da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte Este procedimento eacute feito no proacuteprio site do Ministeacuterio do

Esporte com o preenchimento do formulaacuterio on-line39 com dados da entidade

esportiva e de seu representante legal Ao final do cadastro eacute gerado um nuacutemero de

usuaacuterio e senha para acesso ao sistema

Embora a etapa seja bastante simples ela tem sido foco de vaacuterias

criacuteticas porque natildeo eacute necessaacuterio envio de nenhuma documentaccedilatildeo comprobatoacuteria

Todavia todo projeto precisa ter anexado em sua parte documental ldquocoacutepias

autenticadas do CNPJ do estatuto e das respectivas alteraccedilotildees da ata da

assembleia que empossou a atual diretoria do Cadastro de Pessoa Fiacutesica - CPF e

do documento Registro Geral - RG dos diretores ou responsaacuteveis legaisrdquo conforme

consta no inciso II Art 9ordm do Decreto Nordm 61802007 (BRASIL 2007b p4-5)

Cada entidade esportiva pode apresentar ateacute seis projetos por ano40

Como cada proposta tem que ser acompanhada de documentos institucionais

autenticados gera-se um gasto excessivo com cartoacuterio de nota e ofiacutecio e uma

duplicidade de documentos institucionais da proponente Aleacutem disso o tracircmite

interno do Ministeacuterio do Esporte ateacute a anaacutelise dos projetos pela equipe teacutecnica tem

sido bastante demorado Esta morosidade ocasiona o vencimento de alguns

documentos e por meio de diligecircncia documental precisam ser reenviados

autenticados para habilitar a anaacutelise de meacuterito da proposta

39

Link para cadastro no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm114382006) disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrindexphpinstitucionalsecretaria-executivalei-de-incentivo-ao-esportecadastro-de-proponentegt 40

O limite de apresentaccedilatildeo de projetos por ano consta no Art 22ordm do Decreto Nordm 61802007 e no Art 8ordm da Portaria Nordm 1202009

92

Fonte Ministeacuterio do Esporte 2016

Figura 4 ndash Formulaacuterio digital de cadastro da proponente para acesso ao sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

93

Uma alternativa processual mais eficiente seria solicitar essa

documentaccedilatildeo durante o cadastro da proponente para acesso ao sistema de

mecenato esportivo A documentaccedilatildeo recebida pelo Ministeacuterio do Esporte

organizaria um grande banco de dados sobre as entidades esportivas auxiliando

inclusive na elaboraccedilatildeo futura de um diagnoacutestico sobre o perfil das entidades

esportivas participantes da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006)

A atualizaccedilatildeo dos dados ficaria a cargo do representante legal da

proponente e com isso a documentaccedilatildeo institucional seria enviada uma uacutenica vez

Em outras palavras a documentaccedilatildeo estaria vinculada ao cadastro da entidade

esportiva e natildeo mais diretamente ao projeto Procedimento similar foi adotado pela

Secretaria de Estado de Esporte de Minas Gerais para a gestatildeo da sua lei de

incentivo fiscal41

A fim de facilitar a compreensatildeo sobre os procedimentos que cercam o

tracircmite da Lei Federal de Incentivo ao Esporte foi elaborado o diagrama a seguir

41

Na lei de incentivo ao esporte de Minas Gerais (Minas Esportiva Incentivo ao Esporte) a Secretaria de Estado de Esporte (SEESP) adotou o Cadastro Geral de Convenentes (CAGEC) como a plataforma ativa de conferecircncia das informaccedilotildees das entidades esportivas Assim as entidades proponentes manteacutem suas informaccedilotildees documentais e fiscais ativas nesta plataforma uacutenica do Estado de Minas Gerais

94

Figura 5 ndash Diagrama de fluxo da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

Fonte Inspirado em BRASIL (2006b p1) BRASIL (2007b p1) BRASIL (2009a p1) ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Cadastro da proponente no

sistema

Cadastro do projeto no sistema

Protocolo do projeto no Ministeacuterio do

Esporte

Preacute-anaacutelise

Anaacutelise Teacutecnica

Comissatildeo Teacutecnica

Libera o acesso da proponente ao sistema da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte

Cadastro do projeto esportivo no formulaacuterio digital da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte

Finalizado o cadastro digital deve-se imprimir uma versatildeo do projeto e enviar ao Ministeacuterio do Esporte

A aacuterea teacutecnica do Ministeacuterio do Esporte analisa a parte

documental da proponente

A aacuterea teacutecnica ou perito parecerista analisa o meacuterito da

proposta emitindo parecer

Baseado no parecer o relator aprova ou rejeita a proposta

Captaccedilatildeo de Recurso

O projeto aprovado eacute publicado no DOU e autorizado a buscar

recurso no mercado

Execuccedilatildeo do Projeto

A proponente assina o Termo de Compromisso para iniciar a

execuccedilatildeo do projeto

Prestaccedilatildeo de Contas

A proponente envia os documentos comprobatoacuterios da

execuccedilatildeo do projeto

O descumprimento documental gera rejeiccedilatildeo

automaacutetica do projeto

Pode ser enviada diligecircncia solicitando complementaccedilatildeo

de informaccedilatildeo

O relator pode pedir mais informaccedilotildees ou na rejeiccedilatildeo a proponente entrar recurso

A proponente pode solicitar prorrogaccedilatildeo de prazo por

uma uacutenica vez

Captou no miacutenimo 20 do valor - readequa a proposta

para comeccedilar a executar

A proponente natildeo presta conta passa pela Tomada

de Contas Especial do TCU

Caso Positivo do Projeto Caso Negativo do Projeto Descriccedilatildeo da Etapa

1

2

3

4

5

6

7

8

9

95

Apoacutes o cadastro no sistema o passo seguinte indicado no Decreto Nordm

61802007 refere-se agraves informaccedilotildees necessaacuterias para a apresentaccedilatildeo de um

projeto esportivo Todos os itens exigidos constam no Art 9ordm e iremos dividi-los em

elemento Documental Orccedilamentaacuterio e Teacutecnico-operativo levando em consideraccedilatildeo

a tipologia do conteuacutedo e a forma de organizaccedilatildeo dos processos pelo Ministeacuterio do

Esporte (BRASIL 2007b p4-5)

Fonte inspirado em BRASIL (2007b p4-5) ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

A parte documental satildeo os documentos da instituiccedilatildeo e do seu

responsaacutevel legal - os mesmos que haacute pouco argumentaacutevamos que natildeo deveriam

acompanhar o projeto mas um cadastro uacutenico das entidades esportivas Ressalta-se

que assim que os projetos esportivos chegam ao Ministeacuterio do Esporte passam por

uma triagem para verificaccedilatildeo desta documentaccedilatildeo etapa chamada de preacute-anaacutelise A

falta de algum documento ou de sua autenticaccedilatildeo em cartoacuterio impede a avaliaccedilatildeo do

projeto levando a rejeiccedilatildeo por natildeo cumprimento do Art 9ordm do Decreto Nordm

61802007

O graacutefico a seguir elaborado a partir dos dados do Relatoacuterio de Gestatildeo

Interna da Lei Federal de Incentivo ao Esporte de 2014 e extrato da Nota

Presidencial de 2016 mostra como eacute restritiva a etapa documental para o processo

de funcionamento do mecanismo

Figura 6 ndash Elementos necessaacuterios para a apresentaccedilatildeo de projeto esportivo agrave Lei Federal de

Incentivo ao Esporte conforme Art 9ordm do Decreto Nordm 61802007 e respectiva fase de anaacutelise

96

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizados em 11 de marccedilo de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Notamos que 340 (3374) dos projetos satildeo rejeitados sem a anaacutelise do

meacuterito da proposta Ou seja os nuacutemeros reforccedilam a proposiccedilatildeo de alteraccedilatildeo do

procedimento documental para o momento do cadastro da proponente pois

atualmente tem gerado um trabalho adicional ao Ministeacuterio do Esporte (anaacutelise e

rejeiccedilatildeo documental na etapa de preacute-anaacutelise) o que podemos considerar como uma

forma ampliada de desperdiacutecio de recurso puacuteblico Por outro lado tambeacutem natildeo

podemos descartar a necessidade do Ministeacuterio do Esporte promover capacitaccedilotildees

agraves entidades esportivas para minimizar a incidecircncia das rejeiccedilotildees

Jaacute o elemento orccedilamentaacuterio estaacute relacionado ao balizamento dos preccedilos

dos itens solicitados para a execuccedilatildeo do projeto

Art 9ordm []

IV - orccedilamento analiacutetico e comprovaccedilatildeo de que os preccedilos orccedilados satildeo compatiacuteveis com os praticados no mercado ou enquadrados nos paracircmetros estabelecidos pelo Ministeacuterio do Esporte (BRASIL 2007b p5)

O paraacutegrafo uacutenico do Art 5ordm da Portaria Ministerial Nordm 1202009

estabelece que o limite de preccedilo de cada despesa natildeo pode ser superior agrave meacutedia

aritmeacutetica do valor apresentado nos trecircs orccedilamentos (BRASIL 2009a) Por isso na

Graacutefico 5 ndash Situaccedilatildeo dos projetos esportivos apresentados agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporte durante o

periacuteodo de 2007 a 2014

97

etapa de preacute-anaacutelise eacute feito um relatoacuterio42 com todas as despesas suas respectivas

cotaccedilotildees de preccedilo e valor da meacutedia aritmeacutetica para auxiliar na anaacutelise teacutecnica e

emissatildeo do parecer conclusivo

A falta de algum item orccedilamentaacuterio natildeo gera a rejeiccedilatildeo imediata do

projeto Nesta situaccedilatildeo a entidade esportiva seraacute notificada por meio de diligecircncia

teacutecnica sobre a necessidade de apresentaccedilatildeo de orccedilamento ou explicar o motivo da

ausecircncia dos trecircs orccedilamentos Uma das possibilidades de natildeo apresentaccedilatildeo de

todos os orccedilamentos eacute o caso de fornecedor uacutenico (ex taxas de federaccedilotildees

encargos sociais e trabalhistas etc) assim sendo autorizado o envio de orccedilamento

exclusivo com a devida justificativa

Cabe salientar que a anaacutelise orccedilamentaacuteria foi um dos pontos destacados

como fraacutegeis no ldquoRelatoacuterio de Auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeordquo agrave Lei

Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

Em todos os projetos da amostra verificou-se a realizaccedilatildeo de anaacutelise de custos baseada unicamente nos orccedilamentos enviados pelos proponentes natildeo havendo afericcedilatildeo por parte do Ministeacuterio da adequaccedilatildeo dos preccedilos a partir de outras fontes bem como da possibilidade de aquisiccedilatildeo de itens semelhantes de custo mais baixo (BRASIL 2013c p9-10)

A escolha da amostra de orccedilamento pode influenciar no distanciamento

entre o valor solicitado e o preccedilo real praticado pelo mercado principalmente porque

o Ministeacuterio do Esporte natildeo possui um sistema de conferecircncia da compatibilidade

dos preccedilos No entanto a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

funciona em uma plataforma digital onde todas as proponentes tecircm que cadastrar

as propostas e o valor de compra dos materiais Bastaria um ajuste operacional para

transformar a plataforma em um enorme banco de dados de preccedilo

Sabendo que alteraccedilotildees na plataforma digital demandam tempo e

dispecircndio financeiro no curto prazo seria interessante que o Ministeacuterio do Esporte

selecionasse sites confiaacuteveis de pesquisa de preccedilo para o balizamento dos produtos

esportivos Cabe ressaltar que praacutetica similar jaacute tem sido adotada pela aacuterea teacutecnica

para consultar o salaacuterio dos profissionais contratados nos projetos

42

Na parte de anexos desta pesquisa encontra-se acostado um modelo do ldquoRelatoacuterio de Preacute-anaacuteliserdquo o qual eacute utilizado como lista de checagem documental e relatoacuterio consolidado de preccedilos dos materiais solicitados

98

Independente da estrateacutegia adotada pelo Ministeacuterio do Esporte eacute de

suma importacircncia dar maior celeridade ao processo de anaacutelise dos projetos

Atualmente um projeto pode tramitar anos no Ministeacuterio do Esporte ateacute a emissatildeo

do parecer final Desta forma o preccedilo apresentado pode natildeo corresponder agrave

realidade do mercado indiferentemente de ter sido compatibilizado ou natildeo

Inclusive esta pode ser uma explicaccedilatildeo para as proponentes apresentarem

orccedilamento acima do valor de mercado como foi destacado no mesmo relatoacuterio de

auditoria (BRASIL 2013c)

O uacuteltimo elemento do projeto eacute sua fundamentaccedilatildeo na accedilatildeo esportiva

propriamente dita aleacutem dos documentos que comprovem a viabilidade teacutecnica e

operacional da proponente

Art 9ordm [] III - descriccedilatildeo do projeto contendo justificativa objetivos cronograma de execuccedilatildeo fiacutesica e financeira estrateacutegias de accedilatildeo metas qualitativas e quantitativas e plano de aplicaccedilatildeo dos recursos [] V - comprovaccedilatildeo da capacidade teacutecnico-operativa do proponente [] VII - nos casos de construccedilatildeo ou reforma de imoacutevel comprovaccedilatildeo de pleno exerciacutecio dos poderes inerentes agrave propriedade do respectivo imoacutevel ou da posse conforme dispuser o Ministeacuterio do Esporte (BRASIL 2007b p4-5)

A descriccedilatildeo do projeto conforme preconiza o inciso III Art 9ordm do Decreto

Nordm 61802007 eacute preenchida em formulaacuterio digital no sistema da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte Neste formulaacuterio temos

1 Identificaccedilatildeo Titulo do projeto Objeto Locais de Execuccedilatildeo Manifestaccedilatildeo esportiva Beneficiaacuterios (quantitativo e faixa-etaacuteria) dentre outros

2 Descriccedilatildeo dos Objetivos Objetivo (Geral e Especifico) e Metodologia

3 Justificativa

4 Metas Metas Qualitativas e Quantitativas

5 Orccedilamento Atividade fim e Atividade meio

6 Accedilotildees Atividade fim e Atividade meio

7 ANEXOS Fases de Execuccedilatildeo com Cronograma de atividades Quadro de horaacuterio das aulas e dos profissionais Calendaacuterio de eventos eou competiccedilotildees Comprovaccedilatildeo de Capacidade Teacutecnica e Termo de Cessatildeo de Uso do Espaccedilo Esportivo ou Registro de Posse do Imoacutevel

99

Fonte Ministeacuterio do Esporte 2016

Cada um dos campos de fundamentaccedilatildeo do projeto possui um cabeccedilalho

explicativo e em seguida o espaccedilo para a proponente descrever a informaccedilatildeo

Entretanto as questotildees norteadoras satildeo bastante amplas e natildeo contribuem para a

proponente inexperiente formatar um texto de qualidade Assim seria interessante a

subdivisatildeo destes campos e a inclusatildeo de mais perguntas norteadoras No campo

Metodologia por exemplo caberiam questotildees como Descriccedilatildeo de Puacuteblico-alvo

Criteacuterio de seleccedilatildeo dos beneficiaacuterios Descriccedilatildeo das condiccedilotildees de acessibilidade

Organizaccedilatildeo das atividadesaulastreinamentos dentre vaacuterias outras

Por outro lado a carecircncia argumentativa e de conteuacutedo observada nos

projetos analisados nesta pesquisa tambeacutem refletem uma incipiente

profissionalizaccedilatildeo do setor esportivo Desta forma o mecanismo de mecenato

Figura 7 ndash Formulaacuterio digital de identificaccedilatildeo do projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

100

esportivo pode contribuir para a profissionalizaccedilatildeo da aacuterea por meio da exigecircncia de

um planejamento formal da accedilatildeo esportiva O acircmbito profissionalizante deveria ser

encarado como uma das possiacuteveis missotildees da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

(Lei Nordm 1143811) poreacutem existe uma tendecircncia por consideraacute-la como uma simples

poliacutetica de financiamento ao esporte - distribuiccedilatildeo de recurso puacuteblico

Figura 8 ndash Formulaacuterio digital de descriccedilatildeo do ObjetoMetodologia do projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Continua)

101

Fonte Ministeacuterio do Esporte 2016

O sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte tambeacutem exige que a

proponente inclua no miacutenimo trecircs anexos na etapa de elaboraccedilatildeo da proposta para

habilitar a opccedilatildeo ldquosalvarrdquo Mas natildeo existe disponiacutevel no site do Ministeacuterio do Esporte

modelo ou padratildeo destes documentos (Fase de execuccedilatildeo Grade Horaacuteria Quadro

Horaacuterio dos profissionais Calendaacuterio de Evento Criteacuterio de Seleccedilatildeo de Beneficiaacuterio

Atividade Complementar) Fica a cargo de cada proponente criar seu formulaacuterio

anexo e mais uma vez a qualidade das informaccedilotildees pode ficar comprometida ou

dificultar a anaacutelise teacutecnica

Fonte Ministeacuterio do Esporte 2016

Figura 9 ndash Inclusatildeo de anexo ao projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

102

Vale destacar que no site do Ministeacuterio do Esporte existe uma seacuterie de

manuais instruccedilotildees declaraccedilotildees e modelos de formulaacuterios43 As uacutenicas exceccedilotildees

satildeo os documentos necessaacuterios como anexo na etapa de elaboraccedilatildeo da proposta

esportiva Ou seja ocorreu uma preocupaccedilatildeo elevada do Ministeacuterio do Esporte nas

demais fases do mecenato esportivo mas a etapa de planejamento da accedilatildeo sendo

parcialmente negligenciada

Com relaccedilatildeo agrave capacidade teacutecnica da proponente a Portaria Ministerial

Nordm 1202009 acrescenta dois paraacutegrafos admitindo a comprovaccedilatildeo por meio de

portfoacutelio e fotos das atividades jaacute desenvolvidas pela entidade esportiva ou pelo

curriacuteculo dos profissionais que estaratildeo diretamente envolvidos no projeto esportivo

(BRASIL 2009a)

Art 6ordm [] sect 1ordm A capacidade teacutecnico-operativa de que trata o caput poderaacute ser comprovada por meio de informaccedilotildees anexas ao projeto apresentado que esclareccedilam as caracteriacutesticas propriedades e habilidades do proponente dos membros ou de terceiros associados envolvidos diretamente na execuccedilatildeo do projeto apresentado sect 2ordm A comprovaccedilatildeo da capacidade teacutecnico-operativa de que trata o caput poderaacute ser validamente aceita desde que o objeto a ser executado no projeto desportivo ou paradesportivo apresentado seja proacuteprio das atividades regulares e habituais desenvolvidas pelo proponente (BRASIL 2009a p2)

A cobranccedila para a proponente apresentar relatoacuterio curriacuteculo de

profissionais e documentos das atividades realizadas visa minimizar o risco do poder

puacuteblico na aplicaccedilatildeo do recurso financeiro Entretanto como a proacutepria proponente eacute

responsaacutevel pela organizaccedilatildeo destas informaccedilotildees existe possibilidade de

sobrestimar a sua capacidade operacional Logo esta eacute uma exigecircncia fraacutegil para a

comprovaccedilatildeo operativa da entidade esportiva

Se assumirmos que uma das possibilidades (ou objetivos) do mecenato

esportivo eacute a qualificaccedilatildeo da cadeia produtiva do esporte e natildeo apenas fomento as

suas praacuteticas o estimulo do Art 6ordm da Portaria Ministerial Nordm 1202009 para a

proponente organizar seus feitos e realizaccedilotildees eacute extremamente beneacutefico O

documento deixa de ter um caraacuteter uacutenico e exigiacutevel de comprovaccedilatildeo de capacidade

para ser uma atividade inicial no processo de profissionalizaccedilatildeo da entidade

43

Na margem esquerda do site do Ministeacuterio do Esporte que trata sobre a Lei Federal de Incentivo ao Esporte possui o link para vaacuterios documentos modelos do mecenato esportivo Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrindexphpinstitucionalsecretaria-executivalei-de-incentivo-ao-esportegt

103

esportiva Isto eacute um miacutenimo necessaacuterio para a proponente mostrar sua capacidade

de administrar o recurso puacuteblico na execuccedilatildeo da sua atividade finaliacutestica

Nas duas interpretaccedilotildees levantadas para o artigo de comprovaccedilatildeo de

capacidade teacutecnico-operativa eacute de extrema relevacircncia que o Ministeacuterio do Esporte

realize a fiscalizaccedilatildeo in loco para resguardar o interesse puacuteblico no recurso

investido No caso de foco da poliacutetica como mero instrumento de financiamento a

fiscalizaccedilatildeo objetiva controlar os desvios de funccedilatildeo e a apropriaccedilatildeo privada do

recurso Por sua vez o foco na profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas visa

garantir que o recurso siga o cronograma de accedilatildeo e crie materialidade da sua

execuccedilatildeo

No entanto a fiscalizaccedilatildeo in loco eacute um dos ldquogargalosrdquo do controle da Lei

Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) O ldquoRelatoacuterio de Auditoria do

Tribunal de Contas da Uniatildeordquo mostrou que no final de 2009 o Ministeacuterio do Esporte

nunca havia feito fiscalizaccedilatildeo presencial aos projetos em execuccedilatildeo Passados cinco

anos da auditoria o extrato da Nota Presidencial de 201644 informou que em 2015

foram iniciados 499 novos projetos poreacutem feito visita a apenas 36 (72) ou seja

um nuacutemero ainda pequeno de fiscalizaccedilatildeo (BRASIL 2013c)

O Decreto Nordm 61802007 autoriza que 15 do recurso dos projetos

possa ser utilizado na atividade meio ou seja accedilotildees administrativas ou

complementares necessaacuterias para o desenvolvimento do projeto mas que natildeo

possuam viacutenculo direto com o objeto esportivo45 Tambeacutem existe permissatildeo para a

inclusatildeo das despesas de encargos sociais e trabalhistas dos funcionaacuterios ligados

diretamente ao projeto (BRASIL 2007a)

Para esta uacuteltima permissatildeo a proponente tem que deixar expresso no

projeto a escolha pela modalidade de trabalho (empregado ou autocircnomo) e ainda

descriminar os tributos que seratildeo recolhidos O tema trabalhista eacute recorrente fonte

de problema nas propostas tanto que satildeo comuns as diligecircncias teacutecnicas solicitando

esclarecimento sobre a forma de contrataccedilatildeo ndash empregado seguindo as normas da

44

Devido a natildeo divulgaccedilatildeo do desempenho da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) em 2015 ateacute o fechamento da pesquisa parte das informaccedilotildees foram extraiacutedas da Nota enviada pelo Ministeacuterio do Esporte agrave Presidente da Repuacuteblica 45

Geralmente a atividade meio eacute composta por serviccedilos de terceiros tais como assessoria contaacutebil juriacutedica administrativa consultoria de lei de incentivo fiscal ou profissionais contratados via projeto para executar estas mesmas funccedilotildees Tambeacutem pode compor a atividade meio serviccedilos de limpeza manutenccedilatildeo e outros que mesmo tendo maior proximidade com a atividade fim natildeo satildeo consideradas essenciais para a execuccedilatildeo do objeto esportivo

104

Consolidaccedilatildeo da Legislaccedilatildeo Trabalhista (CLT) e incidindo os encargos sociais e

trabalhistas (FGTS INSS PIS 13ordm salaacuterio feacuterias abono feacuterias rescisatildeo de trabalho

etc) ou como autocircnomo seguindo contrato de prestaccedilatildeo de serviccedilo e os encargos

sociais (INSS)

Vale lembrar que qualquer trabalho desempenhado por pessoa fiacutesica em

que haja pessoalidade subordinaccedilatildeo juriacutedica onerosidade natildeo eventualidade

(habitualidade) eou exclusividade de fonte pagadora configura relaccedilatildeo de

emprego46 regida pela CLT Por sua vez o trabalho de profissional autocircnomo eacute

caracterizado pela liberdade da pessoa fiacutesica no desenvolvimento do serviccedilo para o

qual foi contratado de forma eventual (BRASIL 1943)

O consentimento no pagamento dos encargos sociais e trabalhistas com

recurso da isenccedilatildeo fiscal e a orientaccedilatildeo do Ministeacuterio do Esporte via diligecircncia

teacutecnica pode ser avaliado como uma iniciativa para a profissionalizaccedilatildeo e

formalizaccedilatildeo do setor esportivo Esta eacute uma accedilatildeo importante visto que o mercado de

trabalho no esporte eacute marcado pela informalidade (SEBRAE 2013) Por outro lado

este quadro reforccedila o potencial profissionalizante do mecanismo de mecenato

esportivo o qual deve ser mais bem explorado

O decreto estabelece como vedaccedilatildeo a contrataccedilatildeo de um terceiro para

executar o projeto o que caracterizaria a intermediaccedilatildeo de atividade Este ato eacute

tipificado pela transferecircncia da responsabilidade do objeto de pactuaccedilatildeo com o

Ministeacuterio do Esporte para uma pessoa fiacutesica ou juriacutedica diferente da proponente

Mas da mesma maneira como acontece no mecenato cultural a contrataccedilatildeo de

pessoa fiacutesica ou juriacutedica responsaacutevel por auxiliar na elaboraccedilatildeo do projeto e realizar

a captaccedilatildeo de recurso financeiro natildeo eacute designada como intermediaccedilatildeo Desta forma

existe um mercado paralelo de serviccedilo especializado nos mecanismos de leis de

incentivo fiscal atuando em todas as etapas do processo ndash elaboraccedilatildeo de proposta

captaccedilatildeo de recurso e prestaccedilatildeo de contas (BRASIL 2007b)

46

O Art 3ordm do Decreto-Lei Nordm 5452 de 1ordm de maio de 1943 denominado Consolidaccedilatildeo das Leis Trabalhistas (CLT) define os elementos da formalizaccedilatildeo do vinculo empregatiacutecio Satildeo 1) Pessoalidade - o trabalhador deve ser pessoa fiacutesica que assume em caraacuteter intransferiacutevel a prestaccedilatildeo continuada do serviccedilo 2) Subordinaccedilatildeo ndash o trabalhador estaacute subordinado hierarquicamente agraves ordens do empregador como determinaccedilatildeo do lugar da forma do modo e do tempo (dia e hora) da execuccedilatildeo do trabalho 3) Onerosidade - eacute a contraprestaccedilatildeo (remuneraccedilatildeo) devida ao trabalhador pelos serviccedilos prestados 4) Habitualidade - a continuidade na prestaccedilatildeo de serviccedilo independente da periodicidade ou seja um trabalho natildeo eventual 5) Exclusividade - o trabalhador possui como uacutenica fonte de renda o serviccedilo prestado a um empregador exclusivo mantendo uma relaccedilatildeo de dependecircncia

105

O pagamento deste tipo de serviccedilo pode ser incluiacutedo como uma despesa

da proposta esportiva O seu custo eacute calculado como um percentual do valor total do

projeto com aliacutequota maacutexima vinculada a manifestaccedilatildeo esportiva (5 para esporte

de rendimento 7 para esporte de participaccedilatildeo e 10 para esporte educacional) ou

ateacute o teto bruto de R$ 10000000 por proposta (BRASIL 2009a) Ressalta-se que a

proacutepria proponente natildeo pode se remunerar por este tipo de serviccedilo pois

obrigatoriamente tem que ser uma pessoa externa

Este lobby autorizado pelo Estado brasileiro apesar de ampliar as

chances de efetivaccedilatildeo dos projetos devido ao relacionamento das entidades

especializadas com os grandes apoiadores tende a fortalecer o viacutenculo mercantilista

da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) Neste escopo as

accedilotildees esportivas tomam forma de produto a ser comercializado no mercado de

responsabilidade social e fortalecimento de marca O interesse comercial dos

potenciais apoiadores passa a influenciar diretamente o conteuacutedo e sucesso das

propostas esportivas deixando a necessidade e demanda das entidades esportivas

em segundo plano

Outra vedaccedilatildeo apresentada pelo decreto eacute quanto agrave aquisiccedilatildeo de espaccedilo

publicitaacuterio em qualquer meio de comunicaccedilatildeo com o recurso da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) A cobranccedila de valor pecuniaacuterio (dinheiro)

dos beneficiaacuterios de projetos de praacutetica esportiva continuada como as ldquoescolinhas

esportivasrdquo por exemplo tambeacutem apresentam restriccedilatildeo normativa No entanto o

Ministeacuterio do Esporte tem aceitado a cobranccedila de taxa de inscriccedilatildeo mensalidade

eou ingresso no caso de eventos esportivos por natildeo ter o caraacuteter de accedilatildeo

permanente Mas tem estipulando valores acessiacuteveis uma vez que a finalidade do

recurso incentivado eacute democratizar o acesso ao esporte (BRASIL 2007b)

O recurso arrecadado pela proponente com a execuccedilatildeo do projeto

esportivo deve ser utilizado em accedilotildees da proacutepria proposta inclusive a estimativa de

receita deve ser indicada no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

106

Fonte Ministeacuterio do Esporte 2016

A arrecadaccedilatildeo dos projetos de isenccedilatildeo fiscal eacute tema polecircmico Um

primeiro ponto trata da dificuldade em apurar a quantidade real de beneficiaacuterios em

eventos de esporte principalmente da manifestaccedilatildeo participaccedilatildeo o que pode gerar

uma subestimaccedilatildeo entre a arrecadaccedilatildeo declarada e a realizada (receita real) A

variabilidade na quantidade de beneficiaacuterios durante o planejamento somada a falta

de uma fiscalizaccedilatildeo in loco possibilita a apropriaccedilatildeo indevida da receita gerada pelo

projeto por parte da proponente

Como alternativa ao distanciamento do poder puacuteblico na execuccedilatildeo dos

projetos o Ministeacuterio da Sauacutede por exemplo exigiu como requisito obrigatoacuterio no

seu mecanismo de isenccedilatildeo fiscal (PRONON e PRONASPCD) a existecircncia de uma

auditoria independente inserida como despesa do proacuteprio projeto Estrateacutegia similar

poderia ser adotada pelo Ministeacuterio do Esporte para aumentar o controle da receita e

despesa realizada pelos projetos esportivos Aleacutem disso seria uma maneira de

minimizar erros operacionais da proponente e ser um tipo de primeiro filtro para a

Figura 10 ndash Formulaacuterio digital de Receita Prevista dos projetos esportivos no sistema da Lei

Federal de Incentivo ao Esporte

107

prestaccedilatildeo de contas diminuindo (ou facilitando) o trabalho do setor responsaacutevel pela

anaacutelise das contas no Ministeacuterio do Esporte

O segundo ponto de controversa tem a ver com o potencial comercial de

alguns eventos esportivos incentivados pelo mecenato esportivo Grandes circuitos

de corrida de rua por exemplo tidos como autossustentaacuteveis eou que jaacute tinham

realizado outras ediccedilotildees passaram a se beneficiar do recurso da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) com a motivaccedilatildeo de democratizaccedilatildeo do

acesso A questatildeo foi discutida pelo Tribunal de Contas da Uniatildeo com

argumentaccedilatildeo de vedaccedilatildeo sustentada pelo inciso II do Art 24 do Decreto

61802007 (BRASIL 2013c)

Art 24 Eacute vedada a concessatildeo de incentivo a projeto desportivo [] II - em que haja comprovada capacidade de atrair investimentos independente dos incentivos de que trata este Decreto (BRASIL 2007b p7)

Para os membros do Ministeacuterio do Esporte questionados no ldquoRelatoacuterio de

Auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeordquo existe dificuldade de rejeiccedilatildeo das

propostas esportivas porque a comprovada capacidade de atrair investimento seria

materializada com o patrociacutenio formalizado em conta bancaacuteria ou em outros fatos e

documentos concretos Caso contraacuterio seria meramente especulativa a capacidade

do projeto ou proponente de atrair patrociacutenio (BRASIL 2013c)

O Tribunal de Contas da Uniatildeo concordou com a falta de criteacuterios

objetivos para definir a ldquocapacidade de atrair investimentosrdquo poreacutem sugeriu ao

Ministeacuterio do Esporte que levasse em consideraccedilatildeo o contexto e cenaacuterio das

propostas Assim paracircmetros como o apelo comercial da proposta o puacuteblico que

visa atingir e se jaacute teve versatildeo anterior custeado com recurso natildeo incentivado

deveriam ser observados Aleacutem disso orientou

[] a Comissatildeo Teacutecnica natildeo deve esperar que a comprovaccedilatildeo da capacidade de atrair investimento dependa unicamente da declaraccedilatildeo dada pelo proponente sobre a existecircncia de outros patrocinadores em formulaacuterio exigido na inscriccedilatildeo Aliaacutes a anaacutelise do projeto como um todo natildeo deve se apoiar apenas nas informaccedilotildees trazidas pelo proponente mesmo que a Lei em seus arts 10 e 11 disponha sobre sua penalizaccedilatildeo em caso de agir com dolo fraude ou simulaccedilatildeo (BRASIL 2013c p33)

108

A discussatildeo mostra a deficiecircncia nos objetivos do mecanismo de

mecenato esportivo o qual se apresentando como mera poliacutetica de financiamento

permite que qualquer proposta que atenda ao vago preceito normativo seja alvo de

incentivo puacuteblico Desta forma a democratizaccedilatildeo do acesso ao direito social ao

esporte e a promoccedilatildeo das manifestaccedilotildees educacional e de participaccedilatildeo prioridades

constitucionais satildeo fragilizadas diante da falta de diretriz

Nesta situaccedilatildeo tambeacutem observamos uma tendecircncia de transferecircncia do

custeio de accedilotildees esportivas jaacute existentes para o poder puacuteblico Tanto que o relatoacuterio

de auditoria apresenta o incocircmodo do Tribunal de Contas da Uniatildeo sobre a

capacidade do mecanismo de mecenato esportivo de iniciar uma relaccedilatildeo comercial

entre entidade esportiva e setor privado uma vez que ldquoapoacutes a entrada em vigecircncia

da Lei 114382006 muitas empresas optaram pelo financiamento de projetos

esportivos somente mediante o incentivo fiscalrdquo (BRASIL 2013c p37)

Entatildeo fica a duacutevida sobre a existecircncia de um ldquorecurso novordquo de caraacuteter

privado incentivando o objeto esportivo ou se eacute apenas um aumento no montante

puacuteblico para a aacuterea Esta eacute uma indagaccedilatildeo fundamental para mensurar o resultado

da poliacutetica puacuteblica que optou pela escolha de financiamento extraorccedilamentaacuterio ndash

isenccedilatildeo fiscal ndash com o intuito de criar um viacutenculo comercial entre entidade esportiva

e setor privado ou seja a figura do mecenas esportivo

Ainda na temaacutetica do conteuacutedo teacutecnico-operativo da proposta esportiva o

Decreto Nordm 61802007 determina que 50 dos beneficiaacuterios de projetos da

manifestaccedilatildeo educacional devem estar ldquoregularmente matriculados no sistema

puacuteblico de ensinordquo Por sua vez todos os projetos incentivados com recurso de

isenccedilatildeo fiscal independente de manifestaccedilatildeo esportiva devem ldquoproporcionar

condiccedilotildees de acessibilidade a pessoas idosas e com deficiecircnciardquo (BRASIL 2007b

p7)

A Portaria Ministerial Nordm 1202009 natildeo agregou nenhuma normativa a

temaacutetica da acessibilidade por isso as propostas esportivas tem se limitado a citar

que o espaccedilo fiacutesico atende a prerrogativa do Art 16 do Decreto Nordm 61802007

Art 16 - Nos projetos desportivos e paradesportivos desenvolvidos com recursos oriundos dos incentivos previstos no art 1ordm deveratildeo constar accedilotildees com vistas a proporcionar condiccedilotildees de acessibilidade a pessoas idosas e portadoras de deficiecircncia (BRASIL 2007b p7 ndash grifo nosso)

109

Mais uma vez o Ministeacuterio do Esporte se baseia apenas na informaccedilatildeo

fornecida pela proponente sem um relatoacuterio fotograacutefico descritivo detalhado ou

parecer de profissional especializado (engenheiro ou arquiteto) para atestar que o

local do projeto possui infraestrutura com condiccedilotildees de acessibilidade Aleacutem disso a

norma de acessibilidade eacute ampla (deficiecircncia visual auditiva locomoccedilatildeo etc) e natildeo

ficam claras as medidas estruturais que foram tomadas pelas proponentes para o

cumprimento da exigecircncia do Art 16

O ldquoRelatoacuterio de Auditoria Operacional do Tribunal de Contas da Uniatildeo

Acessibilidade nos oacutergatildeos puacuteblicos federais47rdquo demonstra que mesmo existindo

dotaccedilatildeo orccedilamentaacuteria e orientaccedilatildeo para adaptaccedilatildeo agrave acessibilidade em obras de

reforma ampliaccedilatildeo ou construccedilatildeo na administraccedilatildeo puacuteblica federal direta e indireta

ainda haacute um grande deacuteficit no atendimento da universalizaccedilatildeo da acessibilidade

(BRASIL 2012) No entanto realidade diferente parece ser encontrada na aacuterea do

esporte pois a maioria das proponentes declara atender mesmo que

genericamente as condiccedilotildees estruturais de acessibilidade

Por outro lado tambeacutem chama atenccedilatildeo a restriccedilatildeo do termo

acessibilidade a adaptaccedilotildees exclusivamente estruturais e arquitetocircnicas por parte

das proponentes pois o Art 16 do Decreto Nordm 61802007 menciona ldquoaccedilotildeesrdquo com

vista agrave acessibilidade (BRASIL 2007b) Ou seja o desenvolvimento de uma turma

exclusiva para pessoa com deficiecircncia ou idosa reserva de ingressos em evento

esportivo dentre uma variedade de outras accedilotildees pode gerar uma condiccedilatildeo de

acessibilidade mais efetiva a este grupo de necessidades especiais

Para induzir a efetividade desta poliacutetica inclusiva nas propostas esportivas

da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) o Ministeacuterio do Esporte

poderia acrescentar no formulaacuterio digital um campo de descriccedilatildeo das accedilotildees a serem

desenvolvidas pela proponente Como exemplo temos a medida adotada na Lei

Municipal de Incentivo agrave Cultura de Belo Horizonte48 Na oportunidade a Fundaccedilatildeo

Municipal de Cultura incluiu no edital de seleccedilatildeo de projetos o criteacuterio acessibilidade

o qual passou a pontuar de 0 a 5 e o resultado integrar o somatoacuterio da nota final da

47

O ldquoRelatoacuterio de Auditoria Operacional do Tribunal de Contas da Uniatildeo Acessibilidade nos oacutergatildeos puacuteblicos federaisrdquo eacute um documento conclusivo sobre o trabalho de apuraccedilatildeo de questionaacuterio eletrocircnico a seis oacutergatildeos e entidades federais (Caixa Correios INSS Ministeacuterio do Trabalho e Emprego Receita Federal e Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo) de atendimento ao cidadatildeo Disponiacutevel em lthttpportaltcugovbrlumisportalfilefileDownloadjspfileId=8A8182A24F0A728E014F0B24E1417E4Bgt 48

Disponiacutevel em lthttpbhfazculturapbhgovbrgt

110

proposta (nota maacutexima de 100 pontos) O formulaacuterio de projeto passou a ter o

campo ldquoproposta de acessibilidaderdquo e o conteuacutedo avaliado pela comissatildeo julgadora

Para encerrar a temaacutetica sobre o grupo de necessidades especiais

destacamos o caraacuteter discriminatoacuterio do formulaacuterio digital da Lei Federal de Incentivo

ao Esporte agrave pessoa com deficiecircncia Na parte de ldquoBreve Descriccedilatildeo do Puacuteblico

Beneficiaacuteriordquo o Ministeacuterio do Esporte adota o criteacuterio faixa-etaacuteria para quantificar o

nuacutemero de atendidos No caso da pessoa com deficiecircncia a faixa etaacuteria eacute ignorada

e tratada como uma categoria a parte Poreacutem accedilotildees esportivas desenvolvidas para

o puacuteblico com deficiecircncia tambeacutem devem variar em relaccedilatildeo agrave faixa-etaacuteria logo

suprimir esta informaccedilatildeo demonstra no miacutenimo desconsideraccedilatildeo com este

segmento populacional

Fonte Ministeacuterio do Esporte 2016

Cabe ressaltar que apesar do formulaacuterio digital exibir as faixas-etaacuterias

como categorias 1) Crianccedilas 2) Adolescentes 3) Adulto e 4) Idosos na versatildeo

impressa do projeto que deve ser enviada ao Ministeacuterio do Esporte estas tambeacutem

apresentam a delimitaccedilatildeo das idades 1) Crianccedilas (0 a 12 anos) 2) Adolescentes

(10 a 18 anos) 3) Adultos (18 a 59 anos) 4) Idosos (a partir de 60 anos) Mas a

correta faixa-etaacuteria da categoria adolescente seria 13 a 17 anos conforme consta no

Art 2ordm do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente (Lei Nordm 80691990)

43 O tracircmite do projeto esportivo no Ministeacuterio do Esporte

Encerradas as exigecircncias teacutecnico-operativas para a etapa de elaboraccedilatildeo

e lanccedilamento da proposta esportiva no sistema a proponente deve protocolar o

Figura 11 ndash Formulaacuterio de identificaccedilatildeo do puacuteblico beneficiaacuterio do projeto esportivo no sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

111

projeto junto ao Ministeacuterio do Esporte Isto eacute mesmo com o projeto lanccedilado no

sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte a entidade esportiva ainda precisa

gerar uma coacutepia impressa anexando corretamente todos os documentos e

orccedilamentos e enviar ao Ministeacuterio do Esporte via correspondecircncia com aviso de

recebimento (AR) ou pessoalmente no setor de protocolo

A etapa seguinte descrita pelo Decreto Nordm 61802007 como ldquoAnaacutelise e

Aprovaccedilatildeo dos Projetosrdquo comeccedila com o recebimento do projeto pelo setor de

protocolo do Ministeacuterio do Esporte O setor tem dois dias uacuteteis para registrar um

nuacutemero de processo interno e encaminhar o projeto para a preacute-anaacutelise setor

responsaacutevel pela conferecircncia documental (BRASIL 2007b BRASIL 2009a) Caso a

documentaccedilatildeo esteja de acordo com o Art 9ordm do decreto o projeto segue para a

aacuterea teacutecnica para anaacutelise do meacuterito esportivo Natildeo existe um prazo determinado

entre a preacute-anaacutelise e a anaacutelise teacutecnica sendo que a segunda eacute hoje o maior

ldquogargalordquo do processo pois o Ministeacuterio do Esporte natildeo conta com um nuacutemero

satisfatoacuterio de analistas

Em 2009 o ldquoRelatoacuterio de Auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeordquo

registrou a carecircncia de equipe teacutecnica especializada para anaacutelise dos projetos de

mecenato esportivo (BRASIL 2013c) Naquela eacutepoca os projetos eram avaliados

pela Secretaria Nacional de Esporte Educacional (SNEE) Secretaria Nacional de

Esporte e Lazer (SNEL) e Secretaria Nacional de Esporte de Rendimento (SNER)

dependendo do tipo de manifestaccedilatildeo esportiva apresentada pelo projeto

A partir de 21 de julho de 2011 o Decreto Nordm 7529 reestruturou a parte

administrativa do Ministeacuterio do Esporte e criou o Departamento de Incentivo e

Fomento ao Esporte (BRASIL 2011) O oacutergatildeo ligado agrave Secretaria-executiva do

ministeacuterio passou a contar com equipe proacutepria para o funcionamento da Lei Federal

de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) e dar apoio operacional a Comissatildeo

Teacutecnica conforme previa o sect4ordm inciso III do Art 7ordm do Decreto Nordm 61802007

Apesar da criaccedilatildeo de uma estrutura especiacutefica para a gestatildeo da Lei

Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) a auditoria realizada pela

Controladoria-Geral da Uniatildeo no Ministeacuterio do Esporte em 2013 indicou que o

oacutergatildeo precisaria de um nuacutemero superior de servidores para atender a demanda O

relatoacuterio da auditoria ainda apresentou que 51 do grupo de funcionaacuterios lotados no

oacutergatildeo eram do tipo terceirizado e outros 15 estagiaacuterios demonstrando a

fragilidade institucional para a execuccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica (BRASIL 2014c)

112

Fonte BRASIL (2012 p1) apud por Starepravo et al (2015 p224)

Para tentar agilizar o tracircmite das propostas esportivas e minimizar o

passivo de projetos aguardando anaacutelise de meacuterito em 2 de dezembro de 2013 a

Portaria Ministerial Nordm 295 divulgou 63 nomes de profissionais autocircnomos

habilitados para atuar como perito parecerista no mecenato esportivo (BRASIL

2013d) Estrateacutegia similar jaacute vinha sendo utilizada pelo Ministeacuterio da Cultura para dar

maior celeridade agrave anaacutelise de projetos na Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991)

Em 29 de fevereiro de 2016 a Portaria Ministerial Nordm 50 reafirmou o

modelo de ampliaccedilatildeo do corpo teacutecnico do Ministeacuterio do Esporte com a

habilitaccedilatildeorenovaccedilatildeo de 59 peritos pareceristas (BRASIL 2016b) Todavia o

aumento no apoio operacional do Ministeacuterio do Esporte aconteceu mais uma vez

sem ampliaccedilatildeo na quantidade de servidor puacuteblico o que natildeo sana a debilidade

institucional

Figura 12 ndash Organograma institucional do Ministeacuterio do Esporte a partir da reformulaccedilatildeo do

Decreto Nordm 75292011

113

Cabe frisar que fui habilitado nos dois editais de seleccedilatildeo de perito

parecerista do Ministeacuterio do Esporte (Portaria Ministerial Nordm 2952013 e Nordm 502016)

e por conta disso pude vivenciar parcialmente o tracircmite interno dos projetos na Lei

Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

A fase da anaacutelise teacutecnica do meacuterito da proposta esportiva pode ser feita

pela equipe teacutecnica do Departamento de Incentivo e Fomento do Ministeacuterio do

Esporte (DIFE) ou por perito parecerista mas este uacuteltimo supervisionado por um

servidor puacuteblico que assina junto o parecer conclusivo

A carecircncia de perguntas norteadoras no formulaacuterio digital da Lei Federal

de Incentivo ao Esporte e a incipiente profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas

dificultam a emissatildeo de um parecer conclusivo na primeira anaacutelise da grande maioria

dos projetos Entatildeo eacute comum o envio de diligecircncia teacutecnica a proponente solicitando

esclarecimento e mais informaccedilotildees sobre a proposta Nesta etapa tambeacutem pode ser

solicitado orccedilamentos extras ou explicaccedilotildees sobre a memoacuteria de caacutelculo dos

materiais e serviccedilos contratados ou seja anaacutelise do elemento orccedilamentaacuterio do

projeto

Para exemplificar o desalinhamento entre Ministeacuterio do Esporte e

proponente durante a fase de elaboraccedilatildeo o qual acaba refletindo em solicitaccedilatildeo de

esclarecimentos na etapa subsequente de anaacutelise de meacuterito recorremos a alguns

itens costumeiros nas diligecircncias teacutecnicas Por parte do Ministeacuterio do Esporte existe

uma seacuterie de exigecircncias normativas que a proponente deve atender tais como

informar que usaraacute o selo da Lei Federal de Incentivo ao Esporte e demais

logomarcas oficiais informar as condiccedilotildees de acessibilidade a pessoas idosas e com

deficiecircncia informar se haveraacute alguma fonte de recurso advinda da realizaccedilatildeo do

projeto Se estas questotildees estivessem expliacutecitas no formulaacuterio digital poderia evitar

o trabalho adicional de diligenciar as entidades esportivas Lembrando que o

trabalho adicional realizado por servidor puacuteblico devido agrave falha de processo pode ser

considerado uma forma ampliada de desperdiacutecio de recurso puacuteblico

Por parte das proponentes agraves vezes falta coerecircncia entre objetivos e

metas sendo que algumas metas podem extrapolar a capacidade de intervenccedilatildeo do

projeto Um exemplo eacute ldquodiminuir a evasatildeo escolarrdquo49 Ora os projetos de esporte

49

Todos os trechos entre aspas deste paraacutegrafo foram extraiacutedos de projetos em que realizei anaacutelise como perito parecerista da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) no periacuteodo de 2014 a 2015

114

educacional podem influenciar na retenccedilatildeo dos seus beneficiaacuterios mas o problema

da evasatildeo escolar envolve toda a comunidade escolar e natildeo apenas os atendidos

pela accedilatildeo esportiva Assim eacute necessaacuterio cautela nos objetivos e metas para natildeo

reproduzir de forma simplista o discurso salvacionista enraizado no esporte Outra

meta recorrente foi a ldquomelhora na qualidade de vidardquo Neste caso o termo qualidade

de vida eacute bastante amplo e de cunho subjetivo e individual gerando uma dificuldade

teacutecnica para mensurar o cumprimento desta meta Um terceiro exemplo seria

ldquoImpulsionar o desenvolvimento da induacutestria nacionalrdquo Por mais que a compra de

materiais seja relevante para alguns projetos esportivos uma uacutenica accedilatildeo gerar um

impacto na cadeia produtiva do esporte nacional parece exagero Enfim cabe uma

reflexatildeo sobre a adequaccedilatildeo entre os objetivos e metas e a real viabilidade do

resultado a ser mensurado

Neste contexto os projetos usualmente satildeo insuficientes de informaccedilatildeo

sobre a accedilatildeo esportiva pleiteada ou apresentam problemas teacutecnicos Apoacutes

notificaccedilatildeo da entrega da diligecircncia teacutecnica a proponente passa a ter 15 dias uacuteteis

para manifestar resposta podendo o prazo ser estendido pelo mesmo periacuteodo uma

uacutenica vez (BRASIL 2009a) A falta de resposta agrave diligecircncia dentro do prazo leva a

rejeiccedilatildeo do projeto esportivo conforme consta no Art 26ordm do Decreto Nordm

61802007

Art 26 Nos casos de natildeo-atendimento tempestivo de diligecircncia requerida ao proponente indeferimento do projeto ou do pedido de reconsideraccedilatildeo o projeto seraacute rejeitado e devolvido ao interessado (BRASIL 2007b p7)

Somente apoacutes sanar todas as duacutevidas e problemas eacute possiacutevel a emissatildeo

de um parecer conclusivo O parecer consta de 1) histoacuterico da entidade esportiva

junto ao mecanismo de Lei Federal de Incentivo ao Esporte 2) anaacutelise da viabilidade

teacutecnica do projeto a partir das informaccedilotildees descritivas apresentadas no formulaacuterio e

resposta de diligecircncia teacutecnica 3) anaacutelise orccedilamentaacuteria onde se verifica o

quantitativo e o balizamento de preccedilo dos itens solicitados para operacionalizaccedilatildeo

do projeto 4) comprovaccedilatildeo da capacidade teacutecnico-operativa da proponente e por

fim 5) conclusatildeo final argumentando pela aprovaccedilatildeo aprovaccedilatildeo parcial (exclusatildeo

de alguns itens) ou rejeiccedilatildeo do projeto

Vale ressaltar que o parecer conclusivo tem caraacuteter sugestivo pois a

decisatildeo final eacute realizada pela Comissatildeo Teacutecnica atraveacutes da votaccedilatildeo aberta dos seus

115

seis membros Para nortear o voto dos membros o inciso I do Art 21 do Decreto

Nordm 61802007 sinaliza para um possiacutevel principio democraacutetico (natildeo concentraccedilatildeo)

de escolha de maneira a natildeo levar em consideraccedilatildeo apenas o meacuterito das

propostas

Art 21 Quando da anaacutelise dos projetos apresentados a Comissatildeo Teacutecnica observaraacute os seguintes paracircmetros I - natildeo-concentraccedilatildeo por proponente por modalidade desportiva ou paradesportiva por manifestaccedilatildeo desportiva ou paradesportiva ou por regiotildees geograacuteficas nacionais II - capacidade teacutecnico-operativa do proponente III - atendimento prioritaacuterio a comunidades em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social IV - inexistecircncia de outro patrociacutenio doaccedilatildeo ou benefiacutecio especiacutefico para as accedilotildees inseridas no projeto (BRASIL 2007b p7 ndash grifo nosso)

Fonte Inspirado em BRASIL (2007b p7) ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Contudo os graacuteficos a seguir elaborados a partir do ldquoRelatoacuterio de Gestatildeo

da Lei Federal de Incentivo ao Esporte de 2014rdquo e das ldquoContas Regionais do Brasil

2010-2013rdquo do IBGE50 mostram que existe uma alta concentraccedilatildeo de incentivo fiscal

para o esporte na regiatildeo Sudeste do paiacutes superior inclusive agrave distribuiccedilatildeo

percentual do Produto Interno Bruto (PIB) Ou seja apesar da orientaccedilatildeo pela natildeo

concentraccedilatildeo em regiatildeo geograacutefica nota-se que o mecanismo de mecenato

esportivo tem reproduzido e ateacute mesmo reforccedilado o mapa da desigualdade

econocircmica do paiacutes

50

Disponiacutevel em lthttpbibliotecaibgegovbrvisualizacaolivrosliv94952pdfgt

Paracircmetro Natildeo concentraccedilatildeo

Por proponente

Por modalidade esportiva

Por manifestaccedilatildeo

esportiva

Por regiotildees geograacuteficas

Figura 13 ndash Diagrama de paracircmetro para a escolha e aprovaccedilatildeo dos projetos esportivos na

Lei Federal de Incentivo ao Esporte

116

Fonte IBGE (2013 p12) Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Haacute espaccedilo para contra argumentar que a maior distribuiccedilatildeo do recurso na

regiatildeo Sudeste teria relaccedilatildeo com a concentraccedilatildeo da populaccedilatildeo Poreacutem ao se

verificar a distribuiccedilatildeo territorial da populaccedilatildeo nas regiotildees administrativas do paiacutes

referenciada pelo Censo do IBGE de 201051 natildeo percebemos similaridade entre os

percentuais Logo a orientaccedilatildeo de natildeo concentraccedilatildeo do mecenato esportivo por

regiatildeo geograacutefica natildeo tem sido cumprida pela Comissatildeo Teacutecnica

Fonte IBGE acesso ao SIDRA no dia 4 de marccedilo de 2016 referente a dados de 2013

Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

51

Disponiacutevel em lthttpwwwsidraibgegovbrgt

Graacutefico 6 ndash Comparativo entre a distribuiccedilatildeo do PIB brasileiro e o acumulado da Captaccedilatildeo de

Recurso na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por regiatildeo administrativa do paiacutes

Graacutefico 7 ndash Comparativo entre a distribuiccedilatildeo populacional e o acumulado da Captaccedilatildeo de

Recurso na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por regiatildeo administrativa do paiacutes

117

O ldquoRelatoacuterio de Auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeordquo em 2009 jaacute

alertava o Ministeacuterio do Esporte sobre a concentraccedilatildeo de recurso e projetos na

regiatildeo Sudeste Na eacutepoca o Ministeacuterio do Esporte se retratou justificando a

dificuldade em favorecer as demais regiotildees administrativas do paiacutes uma vez que as

diferenccedilas culturais e econocircmicas historicamente presentes no paiacutes favoreciam uma

maior apresentaccedilatildeo de projetos da regiatildeo Sudeste (BRASIL 2013c)

Ao observar o valor aprovado pelo mecenato esportivo por regiatildeo

administrativa do paiacutes no periacuteodo acumulado de 2007 a 2014 notamos que o

montante autorizado diminuiu para 731 (R$ 309262349300) na regiatildeo Sudeste

quando comparado ao percentual de 789 (R$ 38684513622) calculado em 2009

(BRASIL 2013c p26) Poreacutem a quantia que foi realmente captada e efetivada em

accedilatildeo esportiva mostrou um aumento nocivo na desproporcionalidade regional sendo

823 (R$ 112193248500) destinado agrave regiatildeo Sudeste Ou seja o somatoacuterio do

recurso financeiro captado por todas as demais regiotildees (R$ 24126717300) durante

o acumulado no periacuteodo de 2007 a 2014 foi inferior ao que se aplica no Sudeste

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Desta forma embora o mecanismo de mecenato esportivo tenha levado

um ldquorecurso novordquo para a aacuterea do esporte ele tem sido incapaz de minimizar

desigualdades regionais e levar o direito social ao esporte para locais onde

tradicionalmente o Estado brasileiro tem pequena presenccedila como Norte e Nordeste

(MATIAS et al 2015) Portanto como uma poliacutetica puacuteblica nacional torna-se

Graacutefico 8 ndash Comparativo entre a distribuiccedilatildeo do acumulado de 2007 a 2014 do recurso

autorizado e captado pela Lei Federal de Incentivo por regiatildeo administrativa do paiacutes

118

importante que o Ministeacuterio do Esporte reflita sobre estrateacutegias para pulverizar o

recurso e dar oportunidade agraves entidades esportivas sediadas nas demais regiotildees do

paiacutes

O mecanismo de mecenato cultural da Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991)

apresenta limitaccedilatildeo geograacutefica similar poreacutem a legislaccedilatildeo tambeacutem conta com o

Fundo Nacional de Cultura (FNC) que recebe resiacuteduo financeiro de projetos recurso

direto do orccedilamento da Uniatildeo dentre outras fontes52 O Fundo Nacional de Cultura

(FNC) possibilita a abertura de editais direcionados e o investimento em localidades

em que o incentivo fiscal natildeo consegue chegar seja por falta de apoiadores

(empresas tributadas pela modalidade lucro real ou pessoas com declaraccedilatildeo

completa do Imposto sobre a Renda) ou de pouca visibilidade comercial (BRASIL

1991a)

No caso do esporte o inciso I do Art 56 da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998)

prevecirc a criaccedilatildeo do Fundo Desportivo poreacutem ateacute o momento natildeo regulamentado

(BRASIL 1998a) O Fundo Desportivo poderia ser viabilizado inicialmente com os

resiacuteduos financeiros da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

como por exemplo o recurso captado por projetos que natildeo atingiram o patamar

miacutenimo de executabilidade (20 do valor total) ou o rendimento da aplicaccedilatildeo

financeira dos projetos executados Atualmente os resiacuteduos do mecenato esportivo

satildeo recolhidos ao Tesouro Nacional por meio da Guia de Recolhimento da Uniatildeo

(GRU) Neste trabalho natildeo foi possiacutevel mensurar o montante financeiro alusivo a

este resiacuteduo mas trata-se de uma alternativa de direcionamento puacuteblico agrave poliacutetica de

financiamento ao esporte

O mecanismo de incentivo ao esporte de Minas Gerais adotou artifiacutecio

similar para minimizar o impacto da concentraccedilatildeo de recurso e projeto na regiatildeo

metropolitana de Belo Horizonte centro poliacutetico e administrativo do estado A

52

O Art 5ordm da Lei Rouanet define a origem do recurso constituinte do Fundo Nacional de Cultura como sendo 1) Tesouro Nacional 2) doaccedilotildees 3) legados 4) subvenccedilotildees e auxiacutelios de entidades de qualquer natureza inclusive de organismos internacionais 5) saldos natildeo utilizados na execuccedilatildeo dos projetos 6) devoluccedilatildeo de recursos de projetos natildeo iniciados ou interrompidos com ou sem justa causa 7) 1 da arrecadaccedilatildeo dos Fundos de Investimentos Regionais a que se refere a Lei ndeg 8167 de 16 de janeiro de 1991 obedecida na aplicaccedilatildeo a respectiva origem geograacutefica regional 8) 3 da arrecadaccedilatildeo bruta dos concursos de prognoacutesticos e loterias federais deduzindo-se este valor do montante destinados aos precircmios 9) reembolso das operaccedilotildees de empreacutestimo realizadas atraveacutes do fundo a tiacutetulo de financiamento reembolsaacutevel observados criteacuterios de remuneraccedilatildeo que no miacutenimo lhes preserve o valor real 10) resultado das aplicaccedilotildees em tiacutetulos puacuteblicos federais 11) conversatildeo da diacutevida externa com entidades e oacutergatildeos estrangeiros unicamente mediante doaccedilotildees 12) saldos de exerciacutecios anteriores 13) recursos de outras fontes

119

legislaccedilatildeo do Minas Esportiva Incentivo ao Esporte (Lei Estadual Nordm 202842013)

criou uma fonte de arrecadaccedilatildeo para a Secretaria de Estado de Esporte depositada

em um fundo especifico para o esporte estadual Assim 10 do valor total captado

por todos os projetos satildeo recolhidos neste fundo e disponibilizado em editais

especiacuteficos dando oportunidade de financiamento agravequeles projetos com maior

dificuldade de captaccedilatildeo e entidades esportivas sediadas em municiacutepios com menor

Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDHm) (MINAS GERAIS 2013)

Para fins de suposiccedilatildeo se a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) tivesse acolhido estrateacutegia de criaccedilatildeo de fundo esportivo idecircntica a de

Minas Gerais o recolhimento do percentual de 10 do valor captado na regiatildeo

Sudeste (R$ 11219324900) daria um montante superior ao somatoacuterio da quantia

conseguida pelas regiotildees Norte Nordeste e Centro-Oeste (R$ 8875997600) no

acumulado de 2007 a 2014

Todavia a formaccedilatildeo de fundo esportivo com recurso de origem da proacutepria

captaccedilatildeo pode ser beneacutefica para a distribuiccedilatildeo regional mas impacta negativamente

no aumento no valor total do projeto Projetos mais caros podem dificultar ainda mais

a captaccedilatildeo de recursos das pequenas entidades esportivas e daquelas propostas

com baixo potencial comercial Ademais as entidades esportivas passam a ser

captadoras de recurso para a pasta do esporte (fundo puacuteblico do esporte)

recolhendo tributo pela via extraorccedilamentaacuteria quando na verdade o debate do

fomento e alocaccedilatildeo do recurso puacuteblico deveria estar abrigado no debate de

formaccedilatildeo do orccedilamento puacuteblico

Uma segunda orientaccedilatildeo do Decreto Nordm 61802007 para a aprovaccedilatildeo

de projetos pela Comissatildeo Teacutecnica eacute a natildeo concentraccedilatildeo por manifestaccedilatildeo esportiva

(BRASIL 2007b) No entanto mais uma vez os dados do ldquoRelatoacuterio Gerencial da

Lei federal de Incentivo ao Esporte de 2014rdquo Nota Presidencial de 2016 e do

ldquoRelatoacuterio de Auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeordquo demonstram uma disfunccedilatildeo

no funcionamento do mecanismo de mecenato esportivo (BRASIL 2015c BRASIL

2013c)

120

Graacutefico 9 ndash Distribuiccedilatildeo do recurso autorizado e captado pelos projetos esportivos da Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizados em 27 de marccedilo de 2013

Apesar de uma suposta priorizaccedilatildeo do mecanismo de isenccedilatildeo fiscal ao

esporte educacional e de participaccedilatildeo por conta da vedaccedilatildeo do Art 5ordm do Decreto

Nordm 61802007 ao pagamento de remuneraccedilatildeo a atleta profissional o impedimento

foi incapaz de restringir a supremacia na apresentaccedilatildeo dos projetos de esporte de

rendimento

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 11 de marccedilo de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Graacutefico 10 ndash Distribuiccedilatildeo da quantidade dos projetos esportivos apresentados na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

121

Nota-se que o ano de 2007 foi o de menor participaccedilatildeo percentual dos

projetos na manifestaccedilatildeo rendimento com 410 do total apresentado Enquanto o

ano de 2009 exibiu a maior proporccedilatildeo com 528 do montante de projetos A meacutedia

geral da proporccedilatildeo de projetos apresentados na manifestaccedilatildeo rendimento foi de

498 calculada pelo acumulado de 2007 a 2015 das propostas apresentadas por

esta manifestaccedilatildeo (5702) e o total geral de projetos do mecanismo (11459)

A concentraccedilatildeo de projetos e recurso financeiro na manifestaccedilatildeo

rendimento eacute justificada pelo Ministeacuterio do Esporte como fruto do histoacuterico cultural do

paiacutes que tem no atleta e no esporte competitivo oportuno meio de transmissatildeo de

valores morais para a construccedilatildeo da sociedade (BRASIL 2013c)

Aliado agrave questatildeo cultural ainda devemos considerar que a

obrigatoriedade de profissionalizaccedilatildeo esportiva existe apenas para o futebol e para o

peatildeo de rodeio segundo consta no Art 94 da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) e Lei Nordm

102202001 respectivamente (BRASIL 1998a BRASIL 2001c) Nas demais

modalidades do esporte a profissionalizaccedilatildeo tem um caraacuteter facultativo e por conta

disso pode permitir o acesso das tradicionais entidades de rendimento ao recurso

da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) Tal constataccedilatildeo exibe

a necessidade de ter precisatildeo no objetivo e missatildeo do mecenato esportivo pois as

manifestaccedilotildees educacional e de participaccedilatildeo formulaccedilotildees mais recentes e ainda

fraacutegeis de materialidade estatildeo disputando espaccedilo em par de igualdade com o jaacute

consolidado esporte de rendimento

Como medida preventiva para minimizar o impacto na concentraccedilatildeo de

recurso no esporte de rendimento o Ministeacuterio do Esporte acordou com a Secretaria

da Receita Federal um ato normativo (Decreto Nordm 63382007 e Decreto Nordm

6684200853) para fixar limite de isenccedilatildeo fiscal entre as manifestaccedilotildees (BRASIL

2007c BRASIL 2008) A designaccedilatildeo do valor de isenccedilatildeo fiscal tambeacutem visava

53

De acordo com a consulta realizada ao Ministeacuterio do Esporte em 12 de abril de 2016 atraveacutes da Lei de Acesso a Informaccedilatildeo (Lei Nordm 125272011) me foi informado que o Decreto Nordm 66842008 continua em vigecircncia estipulando o valor do teto da renuacutencia fiscal ao esporte No entanto o decreto trata expressamente do ano-fiscal de 2008 e natildeo possui registro de alteraccedilatildeo do seu texto Desta forma este ato expirou a validade e natildeo possui legalidade para fixar o teto do mecanismo de mecenato esportivo apesar de ser sido informado pelo ministeacuterio O que existe atualmente eacute uma tabela da Secretaria da Receita Federal que acompanha o projeto de Lei Orccedilamentaacuteria Anual (LOA) onde existe uma estimativa da renuacutencia fiscal do ano vigente baseada no recurso captado no ano antecedente Contudo a falta de um ato do Poder Executivo fixando expressamente o valor anual da renuncia descumpre a exigecircncia do Art 13-A da Lei Federal de Incentivo ao Esporte Disponiacutevel em lthttpidgreceitafazendagovbrdadosreceitadatarenuncia-fiscalprevisoes-ploaarquivos-e-imagensdemonstrativos-dos-gastos-tributarios-dgtgt

122

atender as exigecircncias do Art 13-A da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006)

Art 1ordm - O valor maacuteximo das deduccedilotildees do imposto sobre a renda devido a tiacutetulo de patrociacutenios ou doaccedilotildees no apoio direto a projetos desportivos e paradesportivos de que trata o art 1ordm da Lei nordm 11438 de 29 de dezembro de 2006 eacute fixado para o ano-calendaacuterio de 2008 em R$ 40000000000 (quatrocentos milhotildees de reais) sendo que desse valor I - R$ 20000000000 (duzentos milhotildees de reais) correspondem [] projetos desportivos e paradesportivos na aacuterea do desporto educacional II - R$ 5332000000 (cinquenta e trecircs milhotildees trezentos e vinte mil reais) correspondem [] projetos desportivos e paradesportivos na aacuterea do desporto de participaccedilatildeo e III - R$ 14668000000 (cento e quarenta e seis milhotildees seiscentos e oitenta mil reais) correspondem [] projetos desportivos e paradesportivos na aacuterea do desporto de rendimento (BRASIL 2008 p1)

No entanto o mecanismo de mecenato esportivo ainda se encontra

distante do teto fiscal de R$ 400 milhotildees assim o ato teve pouco impacto como

medida disciplinadora Natildeo obstante eacute importante o Ministeacuterio do Esporte ponderar

outras estrateacutegias para minimizar a concentraccedilatildeo na modalidade rendimento pois

aleacutem de contrariar o paracircmetro de natildeo concentraccedilatildeo do Decreto Nordm 61802007

ainda tem como agravante divergir do Art 217 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 o

qual recomenda prioridade de investimento no esporte educacional e de

participaccedilatildeo

Uma alternativa tendo em vista a embrionaacuteria profissionalizaccedilatildeo das

entidades esportivas seria a elaboraccedilatildeo de cartilha educativa oferta de curso e

seminaacuterio sobre a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

focando na distinccedilatildeo das manifestaccedilotildees esportivas Outra possibilidade seria a

aproximaccedilatildeo do Departamento de Incentivo e Fomento ao Esporte com a secretaria

gestora dos programas Segundo Tempo (PST) e Esporte e Lazer da Cidade (PELC)

seguida pela disponibilizaccedilatildeo de um projeto modelo destes programas para auxiliar

a elaboraccedilatildeo das proponentes inexperientes

O terceiro paracircmetro indicado pelo Decreto Nordm 61802007 trata da natildeo

concentraccedilatildeo por proponente (BRASIL 2007b) Mas os dados do ldquoRelatoacuterio

Gerencial da Lei Federal de Incentivo ao Esporte de 2014rdquo mostram que no periacuteodo

de 2007 a 2014 apenas 24 proponentes concentraram 466 (aproximadamente R$

61777700000) de todo o montante captado pelo mecanismo de mecenato

esportivo (R$ 132711914300) (BRASIL 2015c)

123

Quando analisamos este grupo de sucesso notamos que 10 entidades

esportivas estatildeo no estado de Satildeo Paulo e satildeo responsaacuteveis por 490

(aproximadamente R$ 30283700000) do recurso Ou seja as 10 proponentes

paulistas concentram quase frac14 de todo o recurso acumulado no periacuteodo de 2007 a

2014 O grupo eacute formado por outras 10 proponentes do Rio de Janeiro que

acumulam 364 (aproximadamente R$ 22491600000) e mais trecircs proponentes

de Minas Gerais que somaram 123 (aproximadamente R$ 7592000000) do

montante Fechando o grupo das 24 proponentes temos uma uacutenica integrante que

estaacute no Paranaacute responsaacutevel pelo percentual de 23 (aproximadamente R$

1410400000) do recurso

Percebemos que este seleto grupo de 24 proponentes estaacute

predominantemente sediado na regiatildeo Sudeste o que contribuiu para reforccedilar a

concentraccedilatildeo regional que verificamos anteriormente Contudo chama a atenccedilatildeo

quando verificamos a tipologia destas proponentes O percentual de 229

(aproximadamente R$ 14124100000) do recurso estaacute distribuiacutedo para seis

confederaccedilotildees ou entidades representativas do esporte nacional No entanto estas

satildeo entidades que jaacute recebem recurso puacuteblico da Lei AgneloPiva (Lei Ndeg

102642001) para promoccedilatildeo do esporte de rendimento

No dia 11 de marccedilo de 2016 por meio do site do Ministeacuterio do Esporte

consultamos sobre a manifestaccedilatildeo esportiva das propostas recentemente aprovadas

por estas seis entidades (periacuteodo de 01082013 a 31122015) Apesar da baixa

confiabilidade54 do site verificamos a quantia de 20 propostas sendo 19 de

rendimento e uma de esporte educacional Desta forma estimamos que estas

entidades representativas do esporte estejam contribuindo para a concentraccedilatildeo de

recurso na manifestaccedilatildeo rendimento tendo em vista o histoacuterico das uacuteltimas

propostas aprovadas e o sucesso acumulado na captaccedilatildeo de recurso

54

Durante a pesquisa foi identificada inconformidade entre as informaccedilotildees fornecidas pelo relatoacuterio interno do sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte e o disponibilizado no site do Ministeacuterio do Esporte O problema de confiabilidade do sistema tambeacutem foi observado no ldquoRelatoacuterio de Auditoria Anual de Contas da Controladoria-Geral da Uniatildeordquo em 2013 o qual ainda comenta sobre a utilizaccedilatildeo excessiva de planilhas eletrocircnicas pelos servidores para o controle do programa (BRASIL 2013)

124

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Tambeacutem temos dois clubes recreativosesportivos concentrando 194

(aproximadamente R$ 11993400000) de todo o recurso captado pelo grupo Trata-

se de um clube de Satildeo Paulo e outro de Minas Gerais O massivo financiamento em

apenas um clube regional pode criar uma discrepacircncia de desempenho tatildeo grande

com relaccedilatildeo aos seus pares que os torneios perdem em competitividade e gera-se

um quase monopoacutelio esportivo e consequente disfunccedilatildeo na cadeia produtiva do

esporte de rendimento

O grupo das proponentes de sucesso ainda eacute formado por mais dois

clubes de futebol com 65 (aproximadamente R$ 3992700000) do recurso

seguido por uma cooperativa com 44 (aproximadamente R$ 2731600000) Cabe

ressaltar que esta uacuteltima apesar da monta natildeo foi localizado site para verificar a

experiecircncia com projetos esportivos Por fim 13 entidades esportivas tinham a

personalidade juriacutedica de associaccedilatildeo e foram responsaacuteveis por 468

(aproximadamente R$ 28932900000) de todo o recurso do grupo

A anaacutelise na concentraccedilatildeo de recurso por proponente permitiu verificar

impacto direto e negativo na concentraccedilatildeo por regiatildeo e de manifestaccedilatildeo esportiva

Nesse sentido seria interessante o Ministeacuterio do Esporte estabelecer um teto de

participaccedilatildeo deste grupo na captaccedilatildeo de recurso para limitar o aumento das

desigualdades Por outro lado seria interessante aprofundar na compreensatildeo deste

grupo verificando suas estrateacutegias de sucesso e avaliando o resultado dos projetos

na promoccedilatildeo (ou natildeo) do direito social ao esporte

Graacutefico 11 ndash Distribuiccedilatildeo financeira acumulada (2007 a 2014) das 24 proponentes com maior

sucesso na captaccedilatildeo na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

125

O quarto e uacuteltimo paracircmetro trata da natildeo concentraccedilatildeo por modalidade

esportiva No formulaacuterio digital da Lei Federal de Incentivo ao Esporte foi possiacutevel

identificar 183 modalidades de esporte Entretanto alguns itens satildeo apenas

categorias ou derivaccedilotildees da ldquomodalidade raizrdquo como o motociclismo que desponta

com 7 distinccedilotildees 1) Enduro 2) Enduro de Regularidade 3) Rally 4) Trial 5)

Motocross 6) Moto Jump 7) Motovelocidade Desta maneira para facilitar a

compreensatildeo do fenocircmeno as categorias foram agrupadas em torno da modalidade

raiz

De acordo com o ldquoRelatoacuterio de Gestatildeo da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte de 2014rdquo oito modalidades captaram 560 (R$ 14271871900) de todo o

montante arrecadado para o ano de 2014 (R$ 25475370500) Para este caacutelculo as

modalidades voleibol (R$ 1168037000) e vocirclei de praia (R$ 869791000) foram

agrupadas assim como ciclismo (R$ 775546500) e bike (R$ 531661400)

(BRASIL 2015c)

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Graacutefico 12 ndash Distribuiccedilatildeo financeira da captaccedilatildeo de recurso de 2014 na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte por modalidade esportiva

126

A corrida de rua natildeo foi integrada ao atletismo apesar de ser considerada

uma derivaccedilatildeo desta pois gostariacuteamos de chamar atenccedilatildeo para esta categoria Em

2013 a corrida de rua aparecia na 5ordf colocaccedilatildeo entre as modalidades mais

incentivadas com o valor de R$ 1225904800 Mas em 2014 a corrida de rua

superou o futebol tradicionalmente o 1ordm colocado com a monta de R$

2187101600 (BRASIL 2014d BRASIL 2015c)

A preocupaccedilatildeo com a sauacutede e a facilidade da praacutetica esportiva que natildeo

requer muitos equipamentos foram fatores cruciais para a popularizaccedilatildeo da corrida

de rua No entanto o que pode ser duvidoso neste processo eacute a quantidade de

eventos de corrida de rua incentivados com recurso puacuteblico Vaacuterios desses eventos

eram tidos como autossustentaacuteveis e geradores de renda para seus organizadores

No entanto mesmo assim passaram a solicitar apoio do mecanismo de mecenato

esportivo e a cobrar taxa ou inscriccedilatildeo de participaccedilatildeo dos seus beneficiaacuterios Mesmo

sendo do conhecimento de todos que a receita gerada deve ser aplicada na proacutepria

accedilatildeo esportiva notou-se uma proliferaccedilatildeo destes eventos na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) Nesse sentido seria interessante o

Ministeacuterio do Esporte manter-se atento a fiscalizaccedilatildeo de processo e de resultado

destes projetos

Por outro lado o Ministeacuterio do Esporte tambeacutem deve se indagar sobre o

limite de recurso puacuteblico a ser investido em uma modalidade ou em uma categoria

desta modalidade Somente para exemplificar a Lagoa da Pampulha tradicional

espaccedilo de lazer em Belo Horizonte chegou a ter seu calendaacuterio de 2014 saturado55

por eventos de corrida de rua Para comportar excessiva demanda os

organizadores passaram a realizar corridas tanto pela manhatilde quanto pela noite

Diante deste surto de eventos de corrida de rua fica a duacutevida sobre a necessidade

de aplicaccedilatildeo de recurso da isenccedilatildeo fiscal para ampliar a oferta desta categoria do

atletismo

A partir da anaacutelise dos quatro paracircmetros orientadores da decisatildeo da

Comissatildeo Teacutecnica observamos problemas de harmonia na distribuiccedilatildeo do recurso

puacuteblico no mecanismo de mecenato esportivo Logo cabe ao Ministeacuterio do Esporte

suprir os seis membros da Comissatildeo Teacutecnica de subsiacutedios da realidade operacional

55

O exemplo utilizado natildeo remete necessariamente a projetos de corrida incentivados pelo mecanismo de mecenato esportivo Foi uma situaccedilatildeo para refletir sobre o limite de recurso e eventos na aacuterea da corrida de rua e para a promoccedilatildeo do direito social ao esporte

127

do mecanismo para que tomem as decisotildees mais assertivas uma vez que a palavra

final sobre a aprovaccedilatildeo aprovaccedilatildeo parcial ou rejeiccedilatildeo eacute deliberada por este comitecirc

44 Aprovaccedilatildeo de projeto e Captaccedilatildeo de Recurso

O presidente da Comissatildeo Teacutecnica eacute responsaacutevel por montar a pauta da

reuniatildeo deliberativa e realizar o sorteio de distribuiccedilatildeo dos projetos aos membros

Cada integrante da Comissatildeo Teacutecnica torna-se relator de um projeto e utiliza o

parecer conclusivo da aacuterea teacutecnica ou do perito parecerista para basear seu voto

Antes de votar o membro relator apresenta um resumo da proposta esportiva aos

demais membros para que todos tenham subsiacutedio para o voto

Caso o membro relator natildeo esteja convicto das informaccedilotildees ou durante o

debate surjam novas duacutevidas sobre a accedilatildeo esportiva o projeto pode retornar agrave aacuterea

teacutecnica do Ministeacuterio do Esporte para envio de diligecircncia teacutecnica adicional agrave

proponente Os demais membros tambeacutem podem ldquopedir vistardquo do projeto o que

representa fazer uma anaacutelise mais apurada por meio de leitura integral do parecer

conclusivo e do projeto como um todo Assim a proposta esportiva eacute encaminhada

ao membro solicitante e retorna para deliberaccedilatildeo na proacutexima sessatildeo da Comissatildeo

Teacutecnica

Sanada a questatildeo de conteuacutedo e exposiccedilatildeo do meacuterito da accedilatildeo esportiva

pelo membro relator o presidente da Comissatildeo Teacutecnica abre para votaccedilatildeo da

aprovaccedilatildeo do projeto O primeiro voto eacute do membro relator seguido pelos demais

O projeto eacute aprovado com maioria simples dos votos e no caso de empate uma vez

que satildeo seis membros cabe ao presidente o voto de qualidade

No caso de rejeiccedilatildeo da proposta esportiva o Art 25 do Decreto Nordm

61802007 prevecirc que a proponente tem cinco dias uacuteteis apoacutes notificaccedilatildeo para

interpor um recurso com contra argumentaccedilatildeo (BRASIL 2007b) Este recurso seraacute

analisado pela aacuterea teacutecnica e incluiacutedo aos autos do processo do projeto no Ministeacuterio

do Esporte Em seguida o processo eacute encaminhado ao presidente para incluir na

pauta da proacutexima sessatildeo deliberativa onde os membros da Comissatildeo Teacutecnica

votaratildeo pela rejeiccedilatildeo definitiva ou acolhimento da argumentaccedilatildeo com aprovaccedilatildeo

integral ou parcial

128

A aprovaccedilatildeo parcial independente de recurso ou em projeto de primeira

votaccedilatildeo consiste na proposta que tem seu meacuterito esportivo referendado pela

Comissatildeo Teacutecnica mas tem a exclusatildeo (glosa) ou reduccedilatildeo de valores de algum

item Mais uma vez eacute possiacutevel a proponente entrar com recurso para contra

argumentar

Jaacute a aprovaccedilatildeo simples reside no acolhimento integral da proposta

apresentada pela proponente Cabe salientar que durante as diligecircncias teacutecnicas a

proponente vai adequando o projeto agraves exigecircncias do Ministeacuterio do Esporte de

forma que a versatildeo final encaminhada agrave Comissatildeo Teacutecnica pode ser diferente da

primeira versatildeo protocolada no oacutergatildeo Todas as alteraccedilotildees ficam registradas no

processo do projeto

Apoacutes o projeto esportivo passar pela arena de debate da poliacutetica puacuteblica

(sessatildeo da Comissatildeo Teacutecnica) retorna para a aacuterea teacutecnica que iraacute solicitar e

conferir a comprovaccedilatildeo da regularidade fiscal e tributaacuteria da proponente nos acircmbitos

federal estadual e municipal conforme orienta o Art 27 do Decreto Nordm 61802007

Confirmada a regularidade o projeto aprovado tem sua publicaccedilatildeo no Diaacuterio Oficial

da Uniatildeo (DOU) chancelando a proponente a buscar recurso puacuteblico no setor

privado

Art 27 Publicar-se-aacute no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo extrato do projeto aprovado contendo I - tiacutetulo do projeto II - nuacutemero de registro no Ministeacuterio do Esporte III - instituiccedilatildeo proponente e respectivo CNPJ IV - manifestaccedilatildeo desportiva beneficiada V - valor autorizado para captaccedilatildeo especificando-se se patrociacutenio ou doaccedilatildeo VI - prazo de validade da autorizaccedilatildeo para captaccedilatildeo (BRASIL 2007b p7)

Com o extrato do projeto publicado a proponente passa para a etapa de

captaccedilatildeo de recurso Os dados do ldquoRelatoacuterio de Gestatildeo da Lei Federal de Incentivo

ao Esporte de 2014rdquo e a Nota Presidencial de 2016 exibem que a captaccedilatildeo de

recurso eacute um dos grandes ldquogargalosrdquo do mecenato esportivo pois se aprova um

valor em projetos muito superior ao montante que eacute efetivamente captado (BRASIL

2015c)

No entanto observamos que o valor efetivo de captaccedilatildeo de recurso vem

aumentando ano apoacutes ano com exceccedilatildeo dos anos de 2012 e 2015 que registraram

129

queda Mas o valor captado ainda estaacute distante da autorizaccedilatildeo de R$ 400 milhotildees

registrada nos Decretos Nordm 63382007 e Nordm 66842008

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

O Ministeacuterio do Esporte tem adotado a estrateacutegia de aprovar mais projetos

que o teto da renuacutencia fiscal como maneira de ampliar a oferta de accedilotildees esportivas

ao setor privado Todavia o ano de 2007 foi o que registrou a maior taxa de sucesso

entre a relaccedilatildeo aprovaccedilatildeo e captaccedilatildeo 793 seguido por 2014 com o patamar de

442 A meacutedia geral de sucesso na captaccedilatildeo de recurso estaacute em 323 calculada

pelo somatoacuterio autorizado no periacuteodo de 2007 a 2014 (aproximadamente R$

421840700000) e o total geral captado (aproximadamente R$ 136319300000)

No ano de 2014 o mecenato esportivo contou com a participaccedilatildeo de

2586 empresas e 2664 pessoas fiacutesicas destinando recurso aos projetos esportivos

Inclusive este foi o primeiro ano que o nuacutemero de pessoas fiacutesicas superou o de

empresas muito embora a quantia financeira acumulada por esta uacuteltima ainda seja

maior56

56

Nesta pesquisa natildeo foi possiacutevel apurar o valor financeiro da captaccedilatildeo de recurso da pessoa juriacutedica e da pessoa fiacutesica para o mecenato esportivo No entanto o ldquoRelatoacuterio de dados setoriais de 2009 a 2013 da Declaraccedilatildeo de Imposto sobre a Renda das Pessoas Juriacutedicasrdquo e ldquoTabela 1 - Resumo das Declaraccedilotildees Por Tipo de Formulaacuteriordquo permitem verificar que o montante de imposto de renda devido ou arrecadado na fonte eacute extremamente superior na pessoa juriacutedica do que na pessoa fiacutesica

Graacutefico 13 ndash Comparativo entre o valor autorizado e captado no periacuteodo de 2007 a 2014

na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

130

Ao verificar o grupo dos maiores apoiadores identificamos que os 25

primeiros foram responsaacuteveis por destinar 385 (aproximadamente R$

9798987100) do total captado no ano de 2014 (R$ 25475370500) Ao analisar

este seleto grupo optamos por reduzi-lo para 18 empresas pois algumas pessoas

juriacutedicas faziam parte do mesmo grupo econocircmico logo com objetivos e metas

comerciais compartilhadas

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 27 de marccedilo de 2015 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Desta forma examinamos que oito empresas do setor financeiro

destinaram 773 (R$ 7574209300) do recurso deste grupo Seguido por duas

empresas do setor de energia eleacutetrica com representaccedilatildeo de 71 (R$

699510300) duas do setor de telecomunicaccedilatildeo com 42 (R$ 408569500) duas

do setor petroquiacutemico com 40 (R$ 395837900) duas do setor de mineraccedilatildeo e

metalurgia com 38 (R$ 376860100) uma do setor de informaacutetica e eletrocircnico

com 19 (R$ 184000000) e por fim uma do setor de saneamento com 16 (R$

160000000) Cabe destacar que em 2013 uma destas empresas do setor

petroquiacutemico estava entre as maiores apoiadoras do mecenato esportivo mas

devido agrave crise financeira diminuiu sua destinaccedilatildeo de recurso

Poreacutem o fato que chama atenccedilatildeo surge quando verificamos a origem do

capital das empresas Quase frac14 do recurso destinado por este grupo mais

Graacutefico 14 ndash Comparativo entre o setor econocircmico de atuaccedilatildeo e tipo de empresa do grupo dos

18 maiores apoiadores da Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2014

131

especificadamente 242 (R$ 2371918300) tem origem de duas empresas

puacuteblicas Percentual parecido 215 (R$ 2102762600) eacute destinado por cinco

empresas de capital misto isto eacute aquelas que tecircm o poder puacuteblico como maior

acionista e detentor da tomada de decisatildeo muito embora tambeacutem trabalhe com

acionista de capital privado Completando a amostra temos um conglomerado de 11

empresas privadas que destinam 543 (R$ 5324306200) do recurso do grupo

Assim aleacutem da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

funcionar exclusivamente com a destinaccedilatildeo de recurso puacuteblico e ter no proacuteprio

Estado brasileiro a figura do mecenas ela ainda apresenta no rol dos maiores

apoiadores as proacuteprias empresas puacuteblicas Nesse sentido o Estado eacute

simultaneamente donataacuterio e beneficiaacuterio da poliacutetica de financiamento do esporte

O resultado simboacutelico desta trama eacute o Estado brasileiro assumindo o

dever constitucional de fomento do direito social ao esporte poreacutem retirando este

elemento social da cidadania da arena de debate do legislativo e do orccedilamento

puacuteblico por optar pelo caminho da isenccedilatildeo fiscal Ao mesmo tempo o Estado deixa

a execuccedilatildeo das accedilotildees esportivas para o setor privado sem fins lucrativos e a

tomada de decisatildeo do que deve ser promovido nas ldquomatildeosrdquo do mercado

No entanto apenas fazendo um contraponto na participaccedilatildeo das

empresas puacuteblicas no mecenato esportivo esta pode ser uma accedilatildeo estrateacutegica e

pedagoacutegica do poder executivo para dar funcionalidade ao mecanismo e demonstrar

para o mercado o benefiacutecio de unir sua a marca ao esporte

Ainda em relaccedilatildeo agrave etapa de captaccedilatildeo de recurso a Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) natildeo determina prazo legal ao projeto

assim ficando a criteacuterio da Comissatildeo Teacutecnica o periacuteodo de chancelada do Estado

Geralmente os projetos recebem autorizaccedilatildeo de um ano para buscar recurso no

mercado sendo permitido prorrogaacute-lo por duas vezes apoacutes solicitaccedilatildeo formal

conforme orienta o Art 64 da Portaria Ministerial Nordm 1202009 (BRASIL 2009a)

A proponente tem doze meses para buscar a captaccedilatildeo de recurso poreacutem

grande parte dos depoacutesitos bancaacuterios de apoio acontece nos uacuteltimos meses do ano

pois eacute quando as empresas tributadas na modalidade lucro real estatildeo fechando o

balanccedilo patrimonial e apurando lucro ou prejuiacutezo do exerciacutecio fiscal Tambeacutem existe

uma pequena parcela de empresas que satildeo tributadas na modalidade lucro real

trimestral isto eacute faz fechamento de balanccedilo patrimonial e demonstrativo de

resultado a cada trecircs meses Estas uacuteltimas teriam uma chance maior de pulverizar

132

seu apoio ao longo do ano todavia trata-se de uma quantidade menor de empresas

neste universo tributaacuterio

A pessoa fiacutesica tambeacutem pode destinar seu apoio durante todo o ano

poreacutem a maior dificuldade eacute a cultura de apurar o imposto devido dentro do proacuteprio

ano fiscal Normalmente o brasileiro preocupa-se com o Imposto sobre a Renda (IR)

na proximidade do envio da Declaraccedilatildeo de Informes de Rendimento de Pessoa

Fiacutesica que finaliza ateacute o dia 30 de abril de todos os anos Poreacutem neste informe agrave

Secretaria da Receita Federal a pessoa fiacutesica estaacute declarando sua movimentaccedilatildeo

financeira do ano anterior Desta forma o depoacutesito de apoio ao projeto esportivo jaacute

deveria ter acontecido Entatildeo o desafio de fazer a pessoa fiacutesica participar do

mecanismo de mecenato esportivo eacute criar esta cultura de ter uma estimativa do

imposto a pagar ou a apuraccedilatildeo das suas despesas ainda no ano fiscal

Cada projeto aprovado possui uma conta bancaacuteria exclusiva denominada

conta captaccedilatildeo para receber os depoacutesitos dos apoiadores Esta conta bancaacuteria eacute

aberta pelo proacuteprio Ministeacuterio do Esporte e a proponente natildeo tem acesso a sua

movimentaccedilatildeo Apesar desta medida gerar controle financeiro dos projetos pois

vincula cada proposta a uma conta bancaacuteria ela contraria o princiacutepio da unidade do

orccedilamento puacuteblico que determina que o orccedilamento deve ser uacutenico para cada

exerciacutecio fiscal Assim passa a coexistir com o orccedilamento puacuteblico aprovado pelo

legislativo vaacuterios mini-orccedilamentos de esporte controlados e fiscalizados pelo

Ministeacuterio do Esporte

A proponente que tem ecircxito e consegue captar o recurso financeiro

integral da sua proposta precisa apenas enviar um ofiacutecio avisando o Ministeacuterio do

Esporte e aguardar a elaboraccedilatildeo e assinatura do Termo de Compromisso o qual

consta no miacutenimo de

Art 27 [] I ndash preacircmbulo com os dados cadastrais do Ministeacuterio do Esporte do proponente e dos respectivos representantes legais II - claacuteusulas que disponham sobre o objeto as obrigaccedilotildees das partes os valores aprovados prestaccedilatildeo de contas eficaacutecia vigecircncia e foro e III - assinatura dos representantes legais das partes e duas testemunhas sect1ordm - No ato da assinatura do Termo de Compromisso o proponente deveraacute apresentar cronograma fiacutesico-financeiro do projeto a ser executado sect2ordm- No caso de renovaccedilatildeo de projeto a assinatura do Termo de Compromisso fica condicionada agrave apresentaccedilatildeo de laudo teacutecnico favoraacutevel relativo ao projeto jaacute executado (BRASIL 2009a p8)

133

De acordo com o Art 37 da Portaria Ministerial Nordm 1202009 a

proponente que conseguir captar a quantia miacutenima de 20 do valor total do projeto

pode solicitar uma readequaccedilatildeo da proposta para a sua nova realidade financeira

(BRASIL 2009a) Eacute permitido alterar apenas valores e quantidades de

serviccedilosprodutos da proposta original sem inclusatildeo de novos itens para evitar a

alteraccedilatildeo do objeto inicialmente aprovado Com a readequaccedilatildeo avaliada pela aacuterea

teacutecnica do Ministeacuterio do Esporte e aprovada pela Comissatildeo Teacutecnica esta

proponente tambeacutem passa a aguardar a elaboraccedilatildeo e assinatura do Termo de

Compromisso

Com o Termo de Compromisso assinado entre Ministeacuterio do Esporte e

proponente nova conta bancaacuteria eacute aberta com o nome de conta de livre

movimentaccedilatildeo Parte do recurso da conta bloqueada do projeto eacute transferida para

esta nova conta onde a proponente iraacute realizar os pagamentos de despesas da

accedilatildeo esportiva O repasse do restante do recurso da conta bloqueada estaacute

condicionado agrave apresentaccedilatildeo da prestaccedilatildeo de contas parcial por parte da

proponente ainda durante a execuccedilatildeo do projeto (BRASIL 2009a)

A partir da assinatura do Termo de Compromisso e abertura da conta de

livre movimentaccedilatildeo inicia-se a etapa de execuccedilatildeo do projeto seguida da prestaccedilatildeo

de contas (parcial e final) (BRASIL 2009a) Poreacutem como estas etapas natildeo satildeo foco

da anaacutelise do objeto desta pesquisa vamos nos ater ateacute as etapas descritas no

momento

Contudo o processo de anaacutelise parcial dos dados gerais da Lei Federal

de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) foi necessaacuterio para se ter uma melhor

compreensatildeo do desenvolvimento da poliacutetica de financiamento no acircmbito nacional

Esta etapa foi importante para dar subsiacutedio agrave anaacutelise em recorte municipal (Belo

Horizonte) principalmente pela escassez de trabalhos acadecircmicos sobre o tema

Neste contexto observamos que existem procedimentos que podem ser

aperfeiccediloados para dar maior celeridade seguranccedila e transparecircncia ao mecanismo

de mecenato esportivo A agilidade e simplicidade processual satildeo preacute-requisitos

para a democratizaccedilatildeo da poliacutetica de financiamento ao esporte haja vista a

diversidade socioeconocircmica das entidades no paiacutes que atuam com este elemento

social da cidadania As alternativas abordadas neste capiacutetulo jaacute foram colocadas em

praacutetica seja em outras leis de incentivo fiscal no governo federal ou por outros entes

134

federativos (Estados Subnacionais e Municiacutepios) por isso possuem materialidade

para avaliaccedilatildeo de resultado e referecircncia para serem replicadas

Por outro lado o contiacutenuo desenvolvimento do mecenato esportivo

tambeacutem depende da reflexatildeo sobre a missatildeo da sua existecircncia porque atualmente

tem se configurado como uma corriqueira poliacutetica de distribuiccedilatildeo de recurso puacuteblico

ao esporte Mas esta visatildeo eacute extremamente limitada para uma poliacutetica estatal

principalmente tratando da promoccedilatildeo de um elemento da cidadania social

Nesse sentido eacute essencial questionar os objetivos do mecenato esportivo

mas tambeacutem traccedilar diretrizes do que se quer incentivar no esporte e o puacuteblico que

se quer atingir pois no formato vigente tem se percebido um reforccedilo das

desigualdades jaacute existentes no paiacutes Isto eacute tem acontecido uma concentraccedilatildeo de

recurso na manifestaccedilatildeo rendimento (498 do valor captado de 2007-2014) e um

maciccedilo investimento na regiatildeo Sudeste (73 do valor captado de 2007-2014) Este

cenaacuterio de distribuiccedilatildeo desigual ainda eacute influenciado diretamente pelo acumulo de

recurso em um restrito grupo de entidades esportivas (24 proponentes responsaacuteveis

por 490 do valor captado de 2007-2014) das quais algumas satildeo beneficiaacuterias de

outra fonte de recurso puacuteblico (Lei AgneloPiva ndash Lei Nordm 102642001)

135

5 O MECENATO ESPORTIVO EM BELO HORIZONTE DISSECANDO OS PROJETOS E CONHECENDO A POLIacuteTICA NO TERRITOacuteRIO

51 Dados consolidados dos projetos em Belo Horizonte

Neste capiacutetulo vamos nos debruccedilar nos projetos apresentados e

aprovados pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte para verificar a

distribuiccedilatildeo do recurso puacuteblico ao esporte no acircmbito municipal (anaacutelise

microespacial) A partir dos elementos de estudo levantados no capiacutetulo anterior

onde foi observada uma concentraccedilatildeo de recurso em regiatildeo geograacutefica por

manifestaccedilatildeo e modalidade esportiva todas fortemente influenciadas pelo acuacutemulo

de recurso em algumas poucas proponentes verificaremos se fenocircmeno similar

acontece na capital mineira Por uacuteltimo analisaremos o conteuacutedo das propostas

aprovadas na Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) para avaliar

o seu potencial de democratizaccedilatildeo do direito social ao esporte

Para a formalizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte (Lei Nordm 114382006) no territoacuterio de Belo Horizonte foi enviado no dia 30

de outubro de 2014 um ofiacutecio do Colegiado de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos do Lazer

da Escola de Educaccedilatildeo Fiacutesica Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG ao Sr

Paulo Vieira na eacutepoca diretor do Departamento de Incentivo e Fomento ao Esporte

(DIFE) oacutergatildeo do Ministeacuterio do Esporte responsaacutevel pela gestatildeo do mecenato

esportivo Natildeo obtivemos resposta escrita mas tacitamente foi comunicado por

telefone que estava autorizado o acesso agraves informaccedilotildees do banco de dados do

Ministeacuterio do Esporte

Desta forma no dia 13 de janeiro de 2015 fui recebido presencialmente

pela coordenaccedilatildeo do departamento para a primeira coleta dos dados Tendo em

vista o prazo do Ministeacuterio do Esporte para consolidaccedilatildeo das informaccedilotildees referentes

ao mecanismo de mecenato esportivo no ano de 2014 receacutem-encerrado e

concomitantemente ao moroso processo burocraacutetico estatal ateacute o esgotamento do

ciclo de vida dos projetos optou-se para esta pesquisa como recorte temporal a

anaacutelise das propostas esportivas apresentadas em 2013 Assim nesta primeira

visita foram coletados 23 projetos aprovados por entidades esportivas sediadas em

Belo Horizonte aleacutem de seus respectivos anexos cadastrados no sistema da Lei

136

Federal de Incentivo ao Esporte e o relatoacuterio de captaccedilatildeo de recurso financeiro de

cada proposta

Contudo a conjuntura poliacutetica do paiacutes que se seguiu a posteriori dificultou

a obtenccedilatildeo de novas informaccedilotildees oficiais do sistema da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte O Ministeacuterio do Esporte passou por mudanccedila de trecircs ministros de estado57

e o Departamento de Incentivo e Fomento ao Esporte (DIFE) acumulou trecircs trocas

de diretores aleacutem dos sucessivos diretores interinos O departamento ainda contou

com mudanccedila de endereccedilo fiacutesico que levou a sua paralisaccedilatildeo parcial de atividades

no final de 2015 e iniacutecio de 2016

Durante este conturbado periacuteodo realizei outras trecircs visitas presenciais

(03112015 28012016 e 15042016) para atualizaccedilatildeo dos dados poreacutem sem

sucesso A revisatildeo das informaccedilotildees e inclusatildeo de nove novos projetos agrave amostra

que foram aprovados durante o desenvolvimento da pesquisa somente foi possiacutevel

por meio da Lei de Acesso a Informaccedilatildeo (Lei Nordm 125272011) No entanto apesar

do respaldo da lei a maioria das informaccedilotildees natildeo foi obtida em solicitaccedilatildeo de 1ordf

instacircncia sendo portanto necessaacuterio contra argumentar agrave instacircncia superior58 A

dificuldade imposta pelos servidores do departamento ao acesso agrave informaccedilatildeo

puacuteblica foi registrada em reclamaccedilatildeo na ouvidoria do Ministeacuterio do Esporte na

tentativa de aumentar a transparecircncia aos dados da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte (Lei Nordm 114382006)

Neste contexto a amostra de projetos coletados para a pesquisa consiste

em 32 propostas aprovadas ateacute o dia 15 de fevereiro de 2016 do total de 83

enviadas por entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte no ano de 2013

Para a anaacutelise dos projetos foi montado uma ficha de padronizaccedilatildeo de conteuacutedo

tendo 1) Manifestaccedilatildeo esportiva 2) Modalidade esportiva 3) Local de execuccedilatildeo 4)

57

Durante o iniacutecio desta pesquisa o Ministeacuterio do Esporte foi gerido pelo Deputado Federal Aldo Rebelo (PCdoBSP) Jaacute durante a coleta de dados o ministro foi o Deputado Federal George Hilton (PRBMG) seguido pela passagem raacutepida do administrador puacuteblico Ricardo Leyser e por fim o tambeacutem Deputado Federal Leonardo Picciani (PMDBRJ) Por sua vez o Departamento de Incentivo e Fomento ao Esporte ao iniacutecio da pesquisa teve como diretor o Sr Paulo Prado sucedido por Marcos Ceacutesar Garcia e atualmente de forma interina o Sr Newton Koji Uchida 58

Nem todas as informaccedilotildees solicitadas via Lei de Acesso a Informaccedilatildeo (Lei Nordm 125272011) foram atendidas na 1ordf instacircncia sendo necessaacuterio entrar com recurso para o niacutevel hieraacuterquico superior A justificativa utilizada pela 1ordf instacircncia argumentava possiacutevel conflito de interesse entre a minha habilitaccedilatildeo como perito parecerista e o trabalho de pesquisador muito embora natildeo existisse vedaccedilatildeo legal e de fato para tal afirmaccedilatildeo Cabe ressaltar que a qualidade das informaccedilotildees fornecidas pelo Ministeacuterio do Esporte foi descritivamente inferior agraves obtidas do Ministeacuterio da Cultura e Secretaria da Receita Federal tendo em vista o mesmo sistema de solicitaccedilatildeo (e SIC ndash Sistema Eletrocircnico do Serviccedilo de Informaccedilatildeo ao Cidadatildeo disponiacutevel em lthttpwwwacessoainformacaogovbrgt

137

Tempo de execuccedilatildeo do projeto 5) Quantidade de beneficiaacuterios 6) Valor aprovado

7) Valor captado 8) Valor do serviccedilo de captaccedilatildeo de recurso 9) Iniacutecio do prazo de

captaccedilatildeo de recurso 10) Final do prazo de captaccedilatildeo de recurso 11) Objetivo do

projeto 12) Puacuteblico-alvo 13) Metodologia 14) Justificativa 15) Metas Qualitativas

16) Metas Quantitativas 17) Tipos de anexos Todos estes campos contam com um

espaccedilo adicional para comentaacuterio e registro de observaccedilotildees

As categorias de anaacutelise foram consolidadas para se ter uma noccedilatildeo geral

do trajeto de desenvolvimento do mecenato esportivo em Belo Horizonte Tambeacutem

sempre que possiacutevel foi feita uma anaacutelise comparativa entre os resultados no

territoacuterio da capital mineira com os mensurados nacionalmente tendo como base o

capiacutetulo anterior desta pesquisa e o ldquoRelatoacuterio de Gestaccedilatildeo da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte de 2013 e 2014rdquo Para verificar a fase em que o projeto se

encontrava dentro do ciclo de vida da poliacutetica puacuteblica foi examinado o ldquoRelatoacuterio

interno de status dos projetos59rdquo o qual foi gerado por servidor com senha de

administrador do sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

Partindo para a anaacutelise dos dados observamos que no ano de 2013 a Lei

Federal de Incentivo ao Esporte recebeu 1614 propostas de todo o paiacutes Destas 511

(317) foram rejeitadas por ter algum tipo de problema documental previsto no Art

9ordm do Decreto Nordm 61802007 Este patamar de rejeiccedilatildeo encontra-se proacuteximo da

meacutedia nacional de 340 mensurada a partir dos valores acumulados no periacuteodo de

2007 a 2014

Da monta de projetos de 2013 83 (524) foram enviados por entidades

esportivas sediadas em Belo Horizonte sendo que 18 (216) delas foram

rejeitadas por situaccedilatildeo semelhante de problema documental ateacute o dia 15 de

fevereiro de 2016

Aparentemente os nuacutemeros belorizontinos podem sugerir uma maior

capacidade teacutecnica das entidades esportivas uma vez que o percentual de rejeiccedilatildeo

documental estaacute 635 abaixo da meacutedia nacional Entretanto ao se verificar as

demais possibilidades de status dos projetos no Graacutefico 15 notamos que 15

(181) propostas tiveram seu meacuterito esportivo rejeitado pela Comissatildeo Teacutecnica O

59

O ldquo1ordm Relatoacuterio interno de status dos projetosrdquo foi gerado no dia 13 de janeiro de 2015 e indicou 23 projetos aprovados enquanto a sua segunda versatildeo emitida em 15 de fevereiro de 2016 apontou 32 propostas aprovadas para as entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte Aleacutem de sinalizar para os projetos aprovados tambeacutem era possiacutevel verificar o status das outras 51 propostas do total de 83 apresentadas no ano de 2013

138

grupo de insucesso incluiacutedo por outros dois (24) projetos em que a proponente

desistiu do pleito e solicitou o seu arquivamento alcanccedila o patamar de 35 (422)

propostas (marcaccedilatildeo graacutefica em vermelho)

Ou seja por mais que as entidades sediadas em Belo Horizonte tenham

tido um percentual menor de rejeiccedilatildeo documental em 2013 a quantidade de

projetos que satildeo reprovados (rejeiccedilatildeo documental de meacuterito ou desistecircncia) ao

longo do processo eacute extremamente relevante e ateacute mesmo superior ao nuacutemero de

aprovaccedilotildees - 32 (386) projetos com sucesso na aprovaccedilatildeo (marcaccedilatildeo graacutefica em

verde) Entatildeo a suposta supremacia teacutecnica das entidades de Belo Horizonte eacute

refutada com a sequecircncia dos dados

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Os demais grupos de categorias satildeo representados por ldquoproposta de

status indefinidardquo (marcaccedilatildeo graacutefica em azul) trazendo trecircs (36) projetos sem

informaccedilatildeo ou identificado como protocolado e ldquopropostas em tracircmiterdquo (marcaccedilatildeo

graacutefica em amarelo) com 13 (156) projetos ainda em anaacutelise documental (Preacute-

Graacutefico 15 ndash Distribuiccedilatildeo dos status dos projetos esportivos enviados em 2013 para a Lei Federal de Incentivo ao Esporte por entidades sediadas em Belo Horizonte

139

anaacutelise) ou de meacuterito (Anaacutelise Teacutecnica Em diligecircncia ndash Comissatildeo Teacutecnica Preacute-

pauta60)

A maior representatividade dos projetos reprovados em relaccedilatildeo aos

demais grupos de categorias reforccedila a constataccedilatildeo dos dados nacionais que

sugerem que o Ministeacuterio do Esporte amplie a interlocuccedilatildeo com as proponentes a

fim de aumentar a familiaridade com as exigecircncias legais e diminuir a quantidade de

rejeiccedilotildees Poreacutem esta mudanccedila no tratamento com as proponentes passa pela

alteraccedilatildeo no entendimento da poliacutetica puacuteblica por parte do Ministeacuterio do Esporte Isto

eacute natildeo tratar o mecenato esportivo apenas como uma poliacutetica de distribuiccedilatildeo de

recurso financeiro mas tambeacutem como um potencial instrumento de

profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas espalhadas por todo o paiacutes

Por outro lado tambeacutem eacute preciso refletir sobre o processo burocraacutetico

estatal pois passados dois anos fiscais completos (2014 e 2015) ainda existem

projetos belorizontinos sem a emissatildeo de um parecer conclusivo por perito

parecerista ou pela aacuterea teacutecnica do Ministeacuterio do Esporte Nesse sentido a

expectativa de investigar os projetos do ano de 2013 pelo esgotamento do seu ciclo

de vida natildeo foi observado e por isso a pesquisa acabou adotando a data da uacuteltima

coleta de dados como linha de corte temporal para a anaacutelise

Cabe ressaltar que o longo prazo de tramitaccedilatildeo dos projetos pode defasar

aspectos documentais e orccedilamentaacuterios das propostas iniciais e mesmo que sejam

posteriormente aprovados inviabilizar financeiramente a execuccedilatildeo Somente para se

ter uma ideia sobre a variaccedilatildeo de preccedilos nos dois anos o Iacutendice de Preccedilos ao

Consumidor Amplo (IPCA)61 calculado pelo IBGE para o acumulado do periacuteodo

destes 24 meses (2014 e 2015) estaacute em 1684 Ou seja em meacutedia o conjunto

dos produtos e materiais orccedilados pelas proponentes em 2013 jaacute sofreu um reajuste

de preccedilo de quase 16 do seu valor original

A morosidade na anaacutelise associada ao incerto prazo de efetivaccedilatildeo da

captaccedilatildeo de recurso talvez corrobore para apresentaccedilatildeo de orccedilamentos de

fornecedores acima do preccedilo de mercado conforme foi identificado no ldquoRelatoacuterio de

60

De acordo com conversa telefocircnica mantida com membro do Ministeacuterio do Esporte todas as categorias citadas no ldquoRelatoacuterio interno de status de projetosrdquo satildeo atualizadas manualmente podendo haver erro entre o lanccedilamento e a fase real do projeto O sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte tambeacutem natildeo possui categorias preacute-definidas tendo o servidor puacuteblico a liberdade na escrita da fase do projeto 61

Disponiacutevel em lthttpwwwibgegovbrhomeestatisticaindicadoresprecosinpc_ipcaipca-inpc_201602_1shtmgt

140

Auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeo agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporterdquo

(BRASIL 2013c) A maior celeridade na anaacutelise das propostas esportivas poderia

contribuir para uma maior confluecircncia entre preccedilo orccedilado e o necessaacuterio para a

execuccedilatildeo do projeto

Conjuntamente o Ministeacuterio do Esporte deveria focar na criaccedilatildeo de um

sistema de referecircncia de preccedilos62 pois aleacutem de ser uma das exigecircncias

documentais mais trabalhosas para a proponente tambeacutem amplia o controle do

gasto puacuteblico Cabe ressaltar que atualmente o balizamento de preccedilo fica a mercecirc

da seleccedilatildeo da amostra de orccedilamento feita pela proponente uma estrateacutegia

extremamente precaacuteria para o controle do dispecircndio de recurso puacuteblico

Ao adentrar no universo dos projetos apresentados em 2013 pelas

entidades sediadas em Belo Horizonte foi averiguada a participaccedilatildeo de 46

proponentes distintas Estas entidades foram agrupadas tendo em vista os projetos

aprovados rejeitados e em tracircmite Como cada proponente poderia enviar ateacute seis

projetos por ano eacute possiacutevel que uma mesma entidade faccedila parte dos trecircs grupos

fazendo com que o somatoacuterio de participantes seja superior ao registro de 46

proponentes

Tabela 2 ndash Distribuiccedilatildeo de projetos esportivos apresentados em 2013 na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte por entidades sediadas em Belo Horizonte

Quantidade proponente

Proponente c projeto aprovado

Proponente c projeto rejeitado

Proponente c projeto em tracircmite

46 (83) 20 (32) 25 (35) 9 (13) ( ) quantidade de projetos na categoria 1 proponente natildeo possui informaccedilatildeo de status sobre o seu uacutenico projeto 2 projetos identificados como protocolados natildeo puderam ser categorizados por inconsistente no status

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo

proacutepria

62

Como foi mencionado no capiacutetulo anterior o proacuteprio sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte poderia ser utilizado como banco de referecircncia de preccedilo uma vez que todas as informaccedilotildees orccedilamentaacuterias satildeo digitadas pelas proponentes Procedimento similar foi adotado pelo governo federal no acircmbito da sauacutede com a criaccedilatildeo do SIGEM (Sistema de Informaccedilatildeo e Gerenciamento de Equipamentos e Materiais) Disponiacutevel em lthttpwwwfnssaudegovbrvisaopesqui-sarEquipamentosjsfgt

141

Notamos que 20 proponentes tiveram ecircxito na aprovaccedilatildeo de seus

projetos o que representa um montante de 32 propostas das 83 apresentadas no

ano de 2013 Neste grupo ainda temos uma proponente que tem simultaneamente

ao seu projeto aprovado um projeto em tracircmite e outro rejeitado trecircs proponentes

com quatro projetos rejeitados e duas proponentes com cinco projetos ainda em

tracircmite Por sua vez o grupo de projetos rejeitados eacute formado por 25 proponentes

que somam propostas esportivas seguido pelo grupo de projetos em tracircmite com

nove proponentes e 13 projetos

Para verificar se o ecircxito na aprovaccedilatildeo de projetos teve alguma relaccedilatildeo

com a quantidade de propostas apresentadas por cada proponente foi criado o

indicador ldquotaxa de sucessordquo Esta medida eacute a relaccedilatildeo entre a quantidade de

proponente com projeto aprovado na categoria e sua respectiva populaccedilatildeo sendo o

resultado apresentado em uma escala percentual de 0 a 100 Mais uma vez as

categorias superiores a 1 projeto poderiam ter proponente registrando-se

simultaneamente nas trecircs possibilidades das propostas ndash aprovada rejeitada

tramite

Obs 1 proponente natildeo possui informaccedilatildeo de status sobre o seu uacutenico projeto 2 projetos identificados como protocolados natildeo puderam ser categorizados por inconsistente no status

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016

Graacutefico 16 ndash Distribuiccedilatildeo das proponentes pela quantidade de projetos esportivos

apresentados e taxa de sucesso em 2013 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

142

Observamos que a medida modal das entidades esportivas de Belo

Horizonte foi a apresentaccedilatildeo de um projeto na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

(Lei Nordm 114382006) Apesar de mais da metade das entidades esportivas

apresentarem uma uacutenica proposta apenas sete delas tiveram seus projetos

aprovados enquanto outras 15 (272) obtiveram indeferimento das propostas Este

resultado mostra que a taxa de sucesso para um uacutenico projeto foi a menor registrada

entre as categorias com apenas 259 de ecircxito Contudo as informaccedilotildees coletadas

nesta pesquisa natildeo permitiram verificar se o projeto enviado pelas 27 entidades

esportivas da categoria tratava-se da primeira participaccedilatildeo na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte Ou seja apurar o niacutevel familiaridade da proponente com o

mecanismo de mecenato esportivo

As categorias 5 e 6 projetos que apresentaram a maior taxa de sucesso

(1000) e estatildeo representadas cada uma por uma uacutenica proponente apesar de

terem ecircxito na aprovaccedilatildeo de projetos esportivos natildeo tiveram todas as suas

propostas contempladas Do somatoacuterio de 11 propostas apresentadas por estas

categorias cinco foram aprovadas quatro estavam em tracircmite e duas rejeitadas

(uma por problema documental e outra por meacuterito) Assim a suposta expertise que

as entidades esportivas que almejaram uma quantidade maior de projetos natildeo

representou necessariamente em ecircxito total na aprovaccedilatildeo das suas propostas

Valendo destacar mais uma vez uma rejeiccedilatildeo de projeto por problema documental

Na tentativa de traccedilar um perfil institucional das entidades que estatildeo

propondo accedilotildees esportivas63 a presente pesquisa adotou a classificaccedilatildeo pelo tipo

de personalidade juriacutedica 1) Entidade puacuteblicaautarquia para tratar de qualquer

personalidade juriacutedica de direito puacuteblico 2) Associaccedilotildees e 3) Fundaccedilotildees para tratar

da personalidade juriacutedica de direito privado mas sem fins lucrativos Embora as

classificaccedilotildees seguintes pudessem estar inclusas na categoria 2) ou 3) iremos

diferenciaacute-las devido a algumas particularidades de natureza de funcionamento

Assim teremos 4) ConfederaccedilatildeoFederaccedilatildeo por ser uma associaccedilatildeo de caraacuteter

representativo da modalidade esportiva 5) Clube esportivorecreativo por ser uma

63

O Ministeacuterio do Esporte adota as seguintes categorias no seu relatoacuterio gerencial da Lei Federal de Incentivo ao Esporte 1) ONGrsquos 2) Associaccedilotildees 3) Fundaccedilotildees 4) Institutos 5) Clube esportivorecreativo 6) Cooperativa 7) Clube de Futebol 8) Liga Esportiva 9) Federaccedilatildeo 10) Confederaccedilatildeo 11) Prefeiturasuniversidades O criteacuterio adotado para a organizaccedilatildeo desta informaccedilatildeo eacute o nome fantasia ou denominaccedilatildeo da proacutepria entidade No entanto formatos como ONGrsquos institutos e associaccedilotildees satildeo classificados de forma distinta embora todos tenham a personalidade juriacutedica de associaccedilatildeo privada conforme consta no Coacutedigo Civil brasileiro (Lei Nordm 104062002)

143

associaccedilatildeo de desenvolvimento do esporte de base e de lazer 6) Clube de Futebol

por ser uma associaccedilatildeo com grande representativa na cultura brasileira 7) Outros

para personalidades juriacutedicas atiacutepicas (originaacuterias por lei)

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Analisando as 46 entidades temos que 26 (565) delas satildeo associaccedilotildees

que possuem o desenvolvimento do esporte como objeto em seu estatuto social ou

pelo menos deveriam ter como apontou a possibilidade de falha documental por

parte do Ministeacuterio do Esporte no ldquoRelatoacuterio de Auditoria do Tribunal de Contas da

Uniatildeo agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporterdquo (BRASIL 2013c)

Em seguida temos sete (152) federaccedilotildees esportivas estaduais e seis

(130) tradicionais clubes esportivosrecreativos de Belo Horizonte A quantidade

de federaccedilotildees participando do mecanismo de mecenato esportivo foi aparentemente

baixa tendo em vista que grande parte destas entidades representativas do esporte

de Minas Gerais encontra-se sediada na capital mineira64 Aleacutem disso contraria a

64

No site da Secretaria de Estado de Esporte de Minas Gerais (SEESP) constam 38 federaccedilotildees esportivas listadas das quais 35 estatildeo sediadas em Belo Horizonte 1 em Contagem 1 em Betim e 1

Graacutefico 17 ndash Distribuiccedilatildeo das proponentes sediadas em Belo Horizonte quanto agrave

personalidade juriacutedica e natureza de funcionamento

144

tendecircncia nacional tendo em vista que a categoria das Confederaccedilotildees e Federaccedilatildeo

foi a segunda em participaccedilatildeo na captaccedilatildeo de recurso em 2014 com

aproximadamente 21 de todo o montante da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

Novamente optamos por utilizar o indicador ldquotaxa de sucessordquo para

verificar a possiacutevel relaccedilatildeo entre o ecircxito na aprovaccedilatildeo de projetos e a personalidade

juriacutedica da proponente O resultado varia em escala percentual de 0 a 100 sendo o

menor valor o insucesso da categoria na aprovaccedilatildeo e o escore maior o sucesso

Obs 1 proponente natildeo possui informaccedilatildeo de status sobre o seu uacutenico projeto 2 projetos identificados como protocolados natildeo puderam ser categorizados por inconsistente no status

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Apesar das associaccedilotildees serem maioria tanto na tipologia de

personalidade juriacutedica (26 proponentes) quanto na concentraccedilatildeo de propostas (50

projetos) natildeo apresentaram a maior taxa de sucesso (462) Ao verificar as 12

em Uberlacircndia Disponiacutevel em lthttpwwwesportesmggovbr2015-10-27-20-44-50federacoes-e-associacoesgt

Graacutefico 18 ndash Distribuiccedilatildeo das proponentes sediadas em Belo Horizonte quanto agrave natureza de funcionamento e taxa de sucesso

145

proponentes com projetos aprovados nesta categoria observamos que quatro delas

tiveram cinco propostas rejeitadas enquanto outras duas ainda aguardavam o

tracircmite de cinco propostas Outras 14 proponentes e mais 20 projetos se juntam ao

grupo de propostas rejeitas que ajudam a diminuir a eficiecircncia desta categoria

Contudo a categoria associaccedilatildeo trata de um universo de entidades de

porte e estrutura bastante variada Somente para termos ideia da diferenccedila uma das

associaccedilotildees deste grupo estaacute na 18ordf colocaccedilatildeo das entidades que mais captaram

recurso no acumulado de 2007 a 2014 com o valor aproximado de R$

1502000000 segundo o ldquoRelatoacuterio de Gestatildeo da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte de 2014rdquo

Os clubes esportivosrecreativos foram os que tiveram a maior taxa de

sucesso (833) mesmo apresentando uma populaccedilatildeo de apenas seis

proponentes O maior ecircxito desta categoria tambeacutem eacute observado quando calculamos

a taxa de sucesso em relaccedilatildeo ao quantitativo de projetos aprovados (750) Assim

quase frac34 dos projetos apresentados pelos clubes esportivosrecreativos foram

aprovados no mecanismo de mecenato esportivo

Foi verificado que das nove propostas aprovadas pelos clubes

esportivosrecreativos apenas trecircs natildeo tinham provisionado o percentual autorizado

para pagamento de serviccedilo de terceiros ndash auxiacutelio na elaboraccedilatildeo do projeto e

captaccedilatildeo de recurso Destas trecircs propostas duas eram de uma tradicional entidade

esportiva de Belo Horizonte a qual possui um departamento especializado na

elaboraccedilatildeo e acompanhamento das suas propostas A expertise deste clube

esportivorecreativo tambeacutem pode ser observada pelo 3ordm lugar ocupado no rank

nacional acumulado (2007 a 2014) de captaccedilatildeo de recurso com o valor de

aproximadamente R$ 4710200000 Mas mesmo jaacute possuindo estrutura

especializada identificamos que na sua terceira proposta apresentada e aprovada

em 2013 havia a solicitaccedilatildeo do teto legal da captaccedilatildeo de recurso (R$ 10000000)

Cabe ressaltar que existe vedaccedilatildeo legal para se autorremunerar por este tipo de

serviccedilo

Outras cinco propostas aprovadas tinham o percentual para a captaccedilatildeo

de recurso sendo que quatro delas referentes a duas proponentes tinham

caracteriacutesticas de escrita e organizaccedilatildeo do conteuacutedo bastante similar sugerindo ter

sido auxiliada por mesma pessoa ou empresa especializada

146

Neste contexto podemos inferir que a utilizaccedilatildeo do percentual de auxilio

na elaboraccedilatildeo e captaccedilatildeo de recurso por parte dos clubes esportivosrecreativos

pode ter influenciado na maior taxa de sucesso da categoria Contudo fica a duacutevida

se a contrataccedilatildeo deste tipo de serviccedilo tem contribuiacutedo para a transferecircncia de

conhecimento e profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas ou se estaacute acontecendo

apenas uma delegaccedilatildeo de responsabilidade sobre o projeto a ser apresentado

Ainda sobre o quesito personalidade juriacutedica chamou a atenccedilatildeo a falta de

ecircxito (00) da entidade puacuteblicaautarquia na aprovaccedilatildeo das suas propostas

esportivas uma vez que se esperava maior familiaridade da pessoa juriacutedica de

direito puacuteblico com o tracircmite burocraacutetico estatal As duas proponentes participantes

desta categoria satildeo oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica diretamente responsaacuteveis pela

gestatildeo esportiva nas suas aacuterea de abrangecircncia Dos cinco projetos apresentados

por esta categoria quatro deles foram rejeitados por problemas documentais e um

uacuteltimo continuava em tracircmite

Estes dados colaboram para a tese de revisatildeo das exigecircncias

documentais no processo do mecenato esportivo pois o proacuteprio poder puacuteblico em

instacircncias subnacionais estaacute tendo dificuldade na aprovaccedilatildeo das suas propostas

Por outro lado pode-se levantar a hipoacutetese de incipiente profissionalizaccedilatildeo da aacuterea

esportiva estatal assim como eacute percebido no setor privado sem fins lucrativos o

que por sua vez influenciaria o elevado iacutendice de rejeiccedilatildeo de projetos Poreacutem

mesmo que esta uacuteltima situaccedilatildeo seja verdadeira natildeo isenta o Ministeacuterio do Esporte

da sua responsabilidade de oacutergatildeo indutor do comportamento social e de buscar na

Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) o seu potencial

profissionalizante e natildeo a restrita funccedilatildeo distributiva de recurso

A anaacutelise seguinte agrupou os 83 projetos pelo tipo de manifestaccedilatildeo

esportiva Mais uma vez adotou-se o indicador ldquotaxa de sucessordquo para mensurar a

relaccedilatildeo de ecircxito na aprovaccedilatildeo de projeto e a manifestaccedilatildeo esportiva O resultado

calculado varia em escala percentual de 0 a 100 sendo que quanto mais proacuteximo da

nota maacutexima (100) maior a chance de sucesso na aprovaccedilatildeo da proposta

147

Obs 2 projetos foram descartados por natildeo apresentarem status vaacutelido para mensurar a situaccedilatildeo (sem informaccedilatildeo e protocolado) 1 projeto foi descartado por natildeo apresentar status vaacutelido para mensurar a situaccedilatildeo (protocolado)

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

A maioria das propostas apresentadas (602) pelas entidades sediadas

em Belo Horizonte eacute da manifestaccedilatildeo esportiva de rendimento Este quadro

reproduz a realidade nacional da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) e se verifica que aproximadamente metade dos projetos apresentados

(498) no periacuteodo acumulado de 2007 a 2015 foi de accedilotildees de rendimento No

entanto ao se investigar a taxa de sucesso desta manifestaccedilatildeo em Belo Horizonte

observamos que foi a que apresentou o menor ecircxito em aprovaccedilatildeo (340) seguido

pelo esporte de participaccedilatildeo (400) e esporte educacional (500)

Esperaacutevamos que o esporte de rendimento tivesse uma taxa de sucesso

maior pois se trata de um tipo de manifestaccedilatildeo esportiva mais tradicional e

consolidada na sociedade brasileira Ao examinar os projetos rejeitados da

Graacutefico 19 ndash Distribuiccedilatildeo dos projetos apresentadas pelas entidades esportivas sediadas

em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

148

manifestaccedilatildeo rendimento notamos que 11 propostas (nove proponentes) tiveram

rejeiccedilatildeo do meacuterito esportivo nove projetos (oito proponentes) por problemas

documentais e dois projetos (um proponente) a entidade esportiva desistiu da

solicitaccedilatildeo de pleito

A maior taxa de sucesso dos projetos educacionais e de participaccedilatildeo foi

beneacutefica para diminuir a representatividade das propostas da manifestaccedilatildeo

rendimento No entanto o somatoacuterio das duas primeiras ainda natildeo alcanccedila a

participaccedilatildeo dos projetos de rendimento seja em nuacutemeros relativos ou absolutos

Tal fato mostra o longo caminho a ser percorrido ateacute a harmonizaccedilatildeo e equiliacutebrio das

manifestaccedilotildees esportivas na sociedade

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

A supremacia da manifestaccedilatildeo rendimento tambeacutem expotildee a fragilidade do

poder puacuteblico diante desta poliacutetica puacuteblica para atender os preceitos constitucionais

do Art 217 ou seja de priorizar o esporte educacional e de participaccedilatildeo (BRASIL

1988a) Pois a demanda da poliacutetica puacuteblica eacute feita pela necessidade segmentada da

entidade esportiva e interesse comercial do setor privado com fins lucrativos sem

muito instrumento de regulaccedilatildeo por parte do Ministeacuterio do Esporte

Desta forma acaba acontecendo o que Marshall (1967) descreve como

uma categorizaccedilatildeo do direito civil Isto eacute aqueles grupos com maior poder de

negociaccedilatildeo pressionam o Estado pela ampliaccedilatildeo dos seus benefiacutecios sem

Graacutefico 20 ndash Comparativo da distribuiccedilatildeo dos projetos esportivos das entidades sediadas

em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte pela manifestaccedilatildeo esportiva

149

realmente haver uma discussatildeo do direito social porque este uacuteltimo precisa do

consenso coletivo e pacto da sociedade como um todo

52 Anaacutelise financeira dos projetos

Na etapa subsequente foi feita anaacutelise das 32 propostas aprovadas para

mensurar o possiacutevel impacto da poliacutetica puacuteblica no territoacuterio de Belo Horizonte Este

grupo de projetos foi aprovado por 20 entidades esportivas e somou o montante

financeiro de R$ 2781428728 o que representa 38 de todo o recurso autorizado

(aproximadamente R$ 72837000000) na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no

ano de 2013

O valor autorizado para as entidades esportivas sediadas em Belo

Horizonte estava distribuiacutedo em 898 (R$ 2497434621) para atividade fim que

envolve o desenvolvimento da accedilatildeo esportiva propriamente dita e 60 (R$

168278579) para a atividade meio que satildeo accedilotildees complementares e

administrativas necessaacuterias para a execuccedilatildeo do projeto esportivo Ainda temos

42 (R$ 115715528) destinados ao pagamento do serviccedilo de terceiros ndash auxilio

na elaboraccedilatildeo e captaccedilatildeo de recurso

Cabe ressaltar que trecircs projetos aprovados previam agregar recurso de

origem distinta da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) em um

total de R$ 808721662 Um quarto projeto possuiacutea previsatildeo de receita de R$

25499969 pela cobranccedila de inscriccedilatildeo a qual no entanto deveria ser reinvestida

na proacutepria accedilatildeo esportiva aprovada Todos estes valores natildeo foram contabilizados

para a anaacutelise desta pesquisa pois o foco da averiguaccedilatildeo foi o recurso autorizado

diretamente pelo mecanismo de mecenato esportivo isto eacute o recurso puacuteblico

potencialmente aplicado aos projetos

Do valor autorizado para os 32 projetos temos que R$ R$ 1068892843

foram efetivamente captados pelas proponentes ateacute a data de 15 de fevereiro de

2016 Este valor estaacute distribuiacutedo em 20 propostas distintas das quais duas (total de

R$ 21300000) natildeo atingiram o percentual miacutenimo de 20 do recurso para solicitar

readequaccedilatildeo do projeto Dos outros 18 projetos quatro jaacute haviam sido executados e

apresentado prestaccedilatildeo de contas final 11 estavam em execuccedilatildeo e trecircs mantinham-

150

se ativos na busca de recurso financeiro embora jaacute tivessem atingido o percentual

miacutenimo de 20

Figura 14 ndash Quadro comparativo entre valor autorizado e captado dos projetos esportivos de 2013 das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte

Total Autorizado R$ 2781428728

Atividade Fim R$ 2497434621 (898) Atividade Meio R$ 168278579 ( 60) Serviccedilo de Captaccedilatildeo R$ 115715528 (42)

Total de projetos 32

Total de proponentes 20

Total Captado R$ 1068892843

02 projetos abaixo de 20 R$ 21300000 (20) 04 em prestaccedilatildeo de contas R$ 448069073 (419) 11 projetos em execuccedilatildeo R$ 527132599 (493) 03 acima 20 em captaccedilatildeo R$ 72391171 ( 68)

Total de projetos 20

Total de proponentes 12

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizados em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Aplicando o indicador ldquotaxa de sucessordquo para mensurar a relaccedilatildeo entre o

valor autorizado e o captado dos projetos das entidades sediadas em Belo

Horizonte temos o valor de 384 de ecircxito na escala que vai de 0 a 100 Este

percentual estaacute acima dos 323 calculados como meacutedia nacional acumulada (2007

a 2014) mas abaixo do valor nacional para os anos de 2007 (793) 2012 (431)

e 2014 (442)

Tabela 3 ndash Comparativo entre o valor autorizado e captado na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em todo o Brasil e no ano de 2013 pelas entidades sediadas em Belo Horizonte

( em Reais)

Ano fiscal

Valor autorizado (mil reais)

Valor captado (mil reais)

Taxa de Sucesso ()

2007 R$ 6418600 R$ 5092100 793 2008 R$ 24175800 R$ 8221400 340 2009 R$ 39428600 R$ 11082800 281 2010 R$ 83904200 R$ 19322000 230 2011 R$ 88315200 R$ 22104100 250 2012 R$ 49137300 R$ 21192000 431 2013 R$ 72837000 R$ 23829500 327 2014 R$ 57624000 R$ 25475400 442

Total R$ 421840700 R$ 136319300 323

2013 (BH)

R$ 2781428728 R$ 1068892843 384

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

151

No entanto devemos destacar que o suposto maior ecircxito das entidades

esportivas de Belo Horizonte pode ter sido influenciado pela presenccedila das duas

proponentes que compotildeem o rank da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) como maiores captadores de recurso no acumulado de 2007 a 2014

Ao descartar da amostra os sete projetos aprovados por estas duas proponentes

temos uma queda da taxa de sucesso para 265 com valor autorizado de R$

1498603920 e captado de R$ 396586555

Por sua vez a amostra formada apenas por estas duas proponentes tem

uma taxa de sucesso de 524 com valor autorizado de R$ 1282824808 e

captado de R$ 672306288 Ou seja duas proponentes (uma associaccedilatildeo e um

clube esportivorecreativo) tem tido papel de relevacircncia no direcionamento da

poliacutetica do mecenato esportivo em Belo Horizonte

Tabela 4 ndash Comparativo entre o Grupo 1 e Grupo 2 na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013

Grupo Quantidade Proponente

Quantidade Projetos

Valor autorizado (Reais)

Valor captado (Reais)

Taxa de Sucesso

()

1 2 7 R$ 1282824808 R$ 672306288 524 2 18 25 R$ 1498603920 R$ 396586555 265

Total 20 32 R$ 2781428728 R$ 1068892843 384 Grupo 1 ndash entidades esportivas participantes do rank de maiores captadores de recurso no periacuteodo de 2007-2014 Grupo 2 ndash demais entidades sediadas em Belo Horizonte com projeto aprovado

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Estes dados estatildeo em consonacircncia com os resultados nacionais quando

foi identificado que 24 proponentes concentravam quase metade (466) do recurso

captado no acumulado de 2007 a 2014 e influenciavam para a preponderacircncia do

mecenato esportivo na regiatildeo Sudeste e na manifestaccedilatildeo rendimento

Nesse sentido eacute importante que o Ministeacuterio do Esporte reflita sobre a

diretriz e objetivo da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) uma

vez que a proposiccedilatildeo dos projetos fica a cargo das entidades esportivas e

atualmente um pequeno grupo tem sido responsaacutevel por efetivar a poliacutetica puacuteblica

Verificando a distribuiccedilatildeo do recurso em relaccedilatildeo agrave manifestaccedilatildeo esportiva

temos mais uma vez uma preponderacircncia financeira para o esporte de rendimento

registrando R$ 1570074334 (17 projetos) autorizados e R$ 617815265 (11

152

projetos) captados Jaacute o esporte educacional ficou em segundo lugar com R$

793488314 (nove projetos) aprovados e R$ 381453215 (cinco projetos)

captados seguido pela manifestaccedilatildeo de participaccedilatildeo com R$ 417866080 (seis

projetos) e R$ 69624363 (quatro projetos) respectivamente

Ao aplicar o indicador ldquotaxa de sucessordquo para mensurar a relaccedilatildeo entre os

valores autorizados e captados observamos que o esporte rendimento teve um

percentual de 393 de ecircxito Este valor foi inferior aos 481 calculados para a

manifestaccedilatildeo educacional o que contribuiu para uma melhor harmonizaccedilatildeo entre as

manifestaccedilotildees Contudo a quantia captada pelo esporte de rendimento (R$

617815265) continua sendo superior ao somatoacuterio dos valores efetivados pelos

projetos de esporte educacional e participaccedilatildeo (R$ 451077578) muito embora o

quantitativo de projetos seja muito parecido - 11 projetos captados na manifestaccedilatildeo

rendimento contra nove captados no somatoacuterio de educacional e participaccedilatildeo

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Graacutefico 21 ndash Distribuiccedilatildeo dos projetos apresentadas pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte por manifestaccedilatildeo esportiva

153

Novamente ao descartar as duas proponentes que compotildeem o rank de

maiores captadores de recurso da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) no periacuteodo de 2007 a 2014 temos alteraccedilatildeo nos resultados Foi

registrada uma brusca queda na taxa de sucesso do esporte educacional que

passou de 481 para 137 de ecircxito na captaccedilatildeo Tal constataccedilatildeo aconteceu

porque uma das proponentes do grupo de sucesso foi responsaacutevel pela aprovaccedilatildeo

de quatro propostas dessa manifestaccedilatildeo (R$ 465149770) e captaccedilatildeo total ou

parcial de todas (R$ 336345215) Ao que tudo indica esta proponente se

especializou no desenvolvimento de projetos de esporte educacional e por isso

alcanccedilou uma taxa de sucesso de 723 Cabe ressaltar que apesar da expertise

da proponente foi identificada a rejeiccedilatildeo de outras duas propostas apresentadas no

ano de 2013 uma por problema documental (projeto educacional) e outra por meacuterito

(projeto de participaccedilatildeo)

Jaacute a segunda proponente participante do rank tambeacutem impactou no

desempenho do esporte de rendimento fazendo a taxa de sucesso cair de 393

para 357 Mas a maior diferenccedila foi percebida na distribuiccedilatildeo financeira pois

enquanto os dois projetos de rendimento aprovados por esta proponente alcanccedilaram

o montante efetivado de R$ 335961073 outras sete (nove projetos) conseguiram

apenas o somatoacuterio de R$ 281854192

Tabela 5 ndash Comparativo entre o Grupo 1 e Grupo 2 pelo tipo de manifestaccedilatildeo esportiva nos projetos na Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013

Grupo Quantidade Proponente

Quantidade de Projetos

Manifestaccedilatildeo Esportiva

Valor autorizado (Reais)

Valor captado (Reais)

Taxa de Sucesso

()

1 2

2 Rendimento R$ 780919163 R$ 335961073 430

4 Educacional R$ 465149770 R$ 336345215 723

1 Participaccedilatildeo R$ 36755875 - 00

Total 2 7 R$ 1282824808 R$ 672306288 524

2 18

15 Rendimento R$ 789155171 R$ 281854192 357

5 Educacional R$ 328338544 R$ 45108000 137

5 Participaccedilatildeo R$ 381110205 R$ 69624363 183

Total 28 25 R$ 1498603920 R$ 396586555 265

Geral 20 32 R$ 2781428728 R$ 1068892843 384

Grupo 1 ndash entidades esportivas participantes do rank de maiores captadores de recurso no periacuteodo de 2007-2014 Grupo 2 ndash demais entidades sediadas em Belo Horizonte com projeto aprovado

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

154

Nesse sentido mais uma vez os nuacutemeros mostram como estas duas

proponentes tecircm influenciado no direcionamento do mecenato esportivo em Belo

Horizonte Como uma delas atuou no desenvolvimento do esporte educacional

acabou interferindo na melhora dos dados da manifestaccedilatildeo No entanto este

resultado proveniente da participaccedilatildeo exclusiva de uma proponente deve ser

avaliado com cuidado pois pode ocultar a fragilidade das demais entidades do

segmento Exemplo disso eacute que as outras quatro proponentes (cinco projetos) que

tambeacutem tiveram projetos de esporte educacional aprovado (R$ 328338544)

conseguiram captar somente R$ 45108000 registrando uma das piores taxa de

sucesso com o valor de 137

Investigando a origem do recurso captado pelos 20 projetos (12

proponentes) que conseguiram algum montante financeiro observou-se o registro de

406 depoacutesitos bancaacuterios sendo 283 (697) realizados por pessoa fiacutesica e 123

(303) por pessoa juriacutedica

Do grupo das pessoas fiacutesicas 280 depoacutesitos apoiavam um mesmo projeto

esportivo somando a quantia de R$ 16279151 Este projeto tinha como proponente

um tradicional clube esportivorecreativo de Belo Horizonte o qual provavelmente

realizou campanha entre seus associados As outras trecircs pessoas fiacutesicas que

completam este grupo somaram um montante de R$ 404307 disperso em trecircs

propostas esportivas distintas

Tabela 6 ndash Distribuiccedilatildeo dos depoacutesitos feitos por pessoa fiacutesica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

Categoria Quantidade depoacutesitos

Distribuiccedilatildeo ()

Total (R$)

Distribuiccedilatildeo ()

Distribuiccedilatildeo Acumulada

()

R$ 100 - R$ 50000 193 682 2128392 128 128

R$ 50100 - R$ 100000 46 163 3824866 229 357

R$ 100100 - R$ 200000 27 95 4343000 260 617

R$ 200100 - R$ 300000 10 35 2707200 162 779

R$ 300100 - R$ 400000 5 18 1860000 111 891

R$ 400100 - R$ 500000 1 04 420000 25 916

acima de R$ 500100 1 04 1400000 84 1000

Total Geral 283 1000 16683458 1000

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

155

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

O maior valor aportado por pessoa fiacutesica foi de R$ 1400000 enquanto o

menor foi de R$ 500 A meacutedia dos valores de depoacutesito foi calculada em R$ 58952 e

a moda encontrada foi de R$ 2500 com 34 depoacutesitos Foram 58 categorias de

valores de depoacutesito apuradas no caacutelculo da moda

Os dados mostram que a partir do agrupamento de pessoa fiacutesica eacute

possiacutevel gerar um montante significativo para o investimento em projetos do

mecenato esportivo No entanto o potencial de Imposto sobre a Renda (IR) devido

de pessoa fiacutesica eacute bastante inferior ao da pessoa juriacutedica o que restringe a

capacidade de efetivar uma quantidade suficiente de propostas esportivas e ateacute

mesmo levanta duacutevida sobre a eficaacutecia deste apoiador como fonte de financiamento

da poliacutetica puacuteblica Em contrapartida a inserccedilatildeo da pessoa fiacutesica como estrateacutegia de

participaccedilatildeo na ldquocoisa puacuteblicardquo eacute extremamente educativa e vaacutelida

Jaacute o grupo das pessoas juriacutedicas representa aproximadamente 13 dos

apoiadores de Belo Horizonte poreacutem em valores monetaacuterios concentra 984 (R$

1052209385) de todo o recurso aplicado nos projetos Deste montante R$

662133022 (629) foi destinado por 72 empresas privadas e R$ 390076363

(371) por seis empresas de capital misto (puacuteblico e privado) Cabe destacar que

Graacutefico 22 ndash Comparativo da distribuiccedilatildeo da quantidade e valores dos depoacutesitos feitos por pessoa fiacutesica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei

Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

156

uma uacutenica empresa de capital misto foi responsaacutevel pelo investimento de R$

238601363 isto eacute 223 de todo o investimento nos projetos esportivos

Tabela 7 ndash Distribuiccedilatildeo dos depoacutesitos feitos por pessoa juriacutedica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

Categoria Quantidade

depoacutesitos Distribuiccedilatildeo

() Total (R$)

Distribuiccedilatildeo ()

Distribuiccedilatildeo Acumulada

()

R$ 100 - R$ 100000 27 220 12710229 12 12

R$ 1000100 - R$ 2500000 16 130 28953887 28 40

R$ 2500100 - R$ 5000000 27 220 102290390 97 137

R$ 5000100 - R$ 7500000 12 98 74531670 71 208

R$ 7500100 - R$ 10000000 10 81 93303546 89 296

R$ 10000100 - R$ 20000000 18 146 277101363 263 560

R$ 20000100 - R$ 30000000 8 65 223368300 212 772

R$ 30000100 - R$ 40000000 2 16 67450000 64 836

acima de R$ 40000100 3 24 172500000 164 1000

Total Geral 123 1000 1052209385 1000

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Graacutefico 23 ndash Comparativo da distribuiccedilatildeo da quantidade e valores dos depoacutesitos feitos por pessoa fiacutesica aos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na

Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

157

Da mesma forma que acontece no acircmbito nacional as empresas

administradas pelo poder puacuteblico satildeo destaque no apoio aos projetos do mecenato

esportivo em Belo Horizonte Todavia se um dos princiacutepios da lei eacute (ou deveria ser)

aproximar as entidades esportivas do mercado para que mais capital privado venha

a se juntar ao recurso puacuteblico aportado na causa do esporte natildeo faz sentido que a

poliacutetica tenha no poder puacuteblico beneficiaacuterio e donataacuterio ao mesmo tempo Inclusive

caberia uma investigaccedilatildeo para avaliar a forma de seleccedilatildeo dos projetos apoiados

pela empresa puacuteblica de maneira que o mecenato esportivo natildeo se transforme em

um instrumento de apadrinhamento poliacutetico-partidaacuterio

Como alternativa para dar transparecircncia agrave participaccedilatildeo das empresas

puacuteblicas Costa (2011) sugere o estiacutemulo a editais de seleccedilatildeo puacuteblica de projetos

Inclusive esta deveria ser uma praacutetica adotada tanto para empresa de capital

puacuteblico como privado haja vista que grande parte do financiamento do mecanismo

de mecenato eacute de origem puacuteblica ndash fruto da isenccedilatildeo fiscal

Ainda em relaccedilatildeo aos depoacutesitos de pessoa juriacutedica observamos que o

maior valor aportado foi de R$ 70000000 enquanto o menor foi de R$ 120000 A

meacutedia dos valores de depoacutesito foi calculada em R$ 8554548 e a moda encontrada

foi de R$ 3000000 com sete depoacutesitos realizados Foram 84 categorias de valores

de depoacutesito apurado no caacutelculo da moda

A anaacutelise seguinte considerou a amostra das 32 propostas aprovadas e

investigou as modalidades esportivas pleiteadas Foram contabilizadas 28

modalidades esportivas distintas sendo que apenas o basquetebol e tecircnis

solicitaram tambeacutem a sua versatildeo paraoliacutempica Tivemos um total de 75 citaccedilotildees de

modalidade sendo a mais lembrada o Voleibol (10) seguido do Futsal (8) Nataccedilatildeo

(7) Basquetebol (6) e Tecircnis (6) Quando comparamos este panorama esportivo com

as propostas que tiveram ecircxito na captaccedilatildeo de recurso temos uma reduccedilatildeo para 43

citaccedilotildees distribuiacutedas em 19 modalidades esportivas conforme pode ser observada

no graacutefico a seguir

158

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Cada projeto poderia trabalhar mais de uma modalidade esportiva poreacutem

a apuraccedilatildeo da moda registrou que 23 propostas optaram por ser accedilatildeo exclusiva de

uma modalidade esportiva Deste grupo 16 projetos eram da manifestaccedilatildeo

rendimento cinco de esporte de participaccedilatildeo e dois de esporte educacional O

caraacuteter de especializaccedilatildeo do esporte de rendimento contribuiu para a

preponderacircncia desta manifestaccedilatildeo no grupo de uacutenica modalidade esportiva

Por sua vez das nove propostas que visam desenvolver mais de uma

modalidade esportiva sete satildeo da manifestaccedilatildeo educacional uma de participaccedilatildeo e

uma de rendimento Cabe ressaltar que um projeto educacional pretendia

desenvolver 13 modalidades esportivas

Graacutefico 24 ndash Distribuiccedilatildeo das modalidades esportivas apresentadas e captadas pelos projetos das entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo

ao Esporte em 2013

159

Tabela 8 ndash Distribuiccedilatildeo das modalidades esportivas por projeto apresentado por entidade esportiva sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

Categoria Quantidade

projetos Manifestaccedilatildeo Educacional

Manifestaccedilatildeo Participaccedilatildeo

Manifestaccedilatildeo Rendimento

1 modalidade esportiva 23 2 5 16

2 modalidades esportivas 1 1 - -

3 modalidades esportivas 2 2 - -

4 modalidades esportivas 2 1 1 -

6 modalidades esportivas 2 1 - 1

10 modalidades esportivas 1 1 - -

13 modalidades esportivas 1 1 - -

Total Geral 32 9 6 17

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

A maior representatividade do esporte educacional nas propostas que

visam desenvolver mais de uma modalidade esportiva sugere um cuidado das

proponentes deste segmento em diversificar a cultura esportiva dos beneficiaacuterios

Esta pluralidade e ampliaccedilatildeo na oferta das modalidades esportivas satildeo

caracteriacutesticas importantes para garantia do direito social ao esporte por isso reforccedila

a relevacircncia no pleito da manifestaccedilatildeo educacional no mecanismo de mecenato

esportivo

Vale destacar que a uacutenica proponente que apresenta o desenvolvimento

de mais de uma modalidade esportiva na manifestaccedilatildeo rendimento eacute um tradicional

clube esportivorecreativo de Belo Horizonte Ao investigar a sua proposta natildeo fica

claro se o projeto estaacute ampliando as accedilotildees jaacute realizadas ou estaacute havendo uma

transferecircncia no custeio das suas accedilotildees esportivas para a Lei Federal de Incentivo

ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

O projeto em questatildeo tambeacutem apresenta uma contrapartida da

proponente no valor de R$ 525686599 poreacutem natildeo existe informaccedilatildeo sobre a

origem do recurso Como a proponente possui outras formas de repasse de recurso

puacuteblico (convecircnio termo de parceria etc) existe a possibilidade da contrapartida

natildeo ter origem privada A ausecircncia deste lastro da contrapartida financeira pode

sinalizar para a sobreposiccedilatildeo de atividades e financiamento ou seja a proponente

receber recurso puacuteblico de entes federativos distintos (Uniatildeo Estados e Municiacutepios)

para desenvolver a mesma accedilatildeo esportiva

160

Para a proacutexima anaacutelise os 32 projetos foram agrupados pelo tipo de accedilatildeo

esportiva sendo que a pesquisa levantou as seguintes categorias 1) Escola de

esporte - visa o ensino e aprendizagem de uma modalidade esportiva sem foco no

alto rendimento ou participaccedilatildeo de competiccedilatildeo oficial 2) Evento eou Competiccedilatildeo -

propotildee a realizaccedilatildeo de um evento de promoccedilatildeo de uma praacutetica esportiva ou a

organizaccedilatildeo de uma competiccedilatildeo esportiva 3) Treinamento de equipe - objetiva a

repeticcedilatildeo continua e sistematizada do conteuacutedo esportivo na busca da melhoria do

desempenho competitivo e 4) Viagem para competiccedilotildees - viabilizar a participaccedilatildeo

de equipes esportivas em competiccedilotildees oficiais

Aleacutem disso foi contabilizada a quantidade de recurso humano solicitado

pela proponente para a execuccedilatildeo da accedilatildeo esportiva Para efeito deste caacutelculo foram

descartados os serviccedilos terceirizados da atividade meio prestado por pessoa

juriacutedica tais como assessoria contaacutebil juriacutedica administrativa ou similar poreacutem

consideramos as pessoas fiacutesicas vinculadas diretamente ao projeto

Tabela 9 ndash Distribuiccedilatildeo dos recursos humanos pelo tipo de accedilatildeo esportiva desenvolvida no projeto aprovado por entidade sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao

Esporte no ano de 2013

Categoria Total de

profissionais

Qtde profis Manifestaccedilatildeo Educacional

Qtde profis Manifestaccedilatildeo Participaccedilatildeo

Qtde profis Manifestaccedilatildeo Rendimento

Escola de Esporte 160 (12) 133 (9) 27 (3) -

Evento eou competiccedilatildeo 172 (5) - 137 (3) 35 (2)

Treinamento de equipe 159 (13) - - 159 (13)

Viagem para competiccedilatildeo - (2) - - - (2)

Total Geral 491 (32) 133 (9) 164 (6) 194 (17)

Meacutedia Profissional Contratado 153 148 273 114

( ) quantidade de projetos na categoria

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Desta forma 30 projetos encaminharam a contrataccedilatildeo de recurso

humano totalizando um montante de 491 profissionais contratados no sistema de

CLT eou como autocircnomos (RPA) As duas propostas que natildeo solicitaram

contrataccedilatildeo de profissionais pleiteavam custeio de viagem de equipe para participar

de competiccedilatildeo oficial A primeira viagem era para a categoria de base de um dos

grandes clubes de futebol de Belo Horizonte enquanto a segunda era para a

161

categoria maacutester de um clube esportivorecreativo participar de um torneio

internacional de voleibol

A viagem internacional de equipe maacutester de voleibol se adequa ao

conceito de esporte de rendimento do Inciso III do Art 3ordm da Lei Peleacute (Lei Nordm

96151998) quando trata da ldquofinalidade de obter resultados e integrar pessoas e

comunidades do Paiacutes e estas com as de outras naccedilotildeesrdquo Poreacutem eacute necessaacuterio

avaliar o impacto real da participaccedilatildeo desta equipe para a imagem do paiacutes ou a

integraccedilatildeo das naccedilotildees

Aleacutem disso o grupo participante aparenta ter poder aquisitivo alto por

fazer parte de um importante segmento econocircmico do paiacutes o que levanta a duacutevida

sobre a real necessidade do recurso puacuteblico para esta viagem Ademais o projeto

natildeo apresenta criteacuterio de seleccedilatildeo dos atletas logo natildeo fica claro se seratildeo atendidos

apenas os usuaacuterios do clube esportivorecreativo ou seraacute feito uma convocaccedilatildeo para

representar o paiacutes neste evento

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo

proacutepria

O valor modal encontrado foi a contrataccedilatildeo de cinco profissionais por

projeto presente em cinco propostas seguido de 11 profissionais (quatro

propostas) quatro profissionais (trecircs propostas) e trecircs profissionais (trecircs propostas)

Nesta anaacutelise foram contabilizadas 17 categorias sendo 127 profissionais a maior

Graacutefico 25 ndash Comparativo entre a distribuiccedilatildeo dos profissionais e dos projetos pelo tipo de accedilatildeo esportivas apresentada na proposta das entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na

Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013

162

quantidade de contratados em um projeto Trata-se de um competiccedilatildeo de motocross

dividida em quatro etapas e que a proponente contrata vaacuterios staffs para auxiliar na

logiacutestica de execuccedilatildeo

Ao observar a distribuiccedilatildeo do recurso humano nos projetos de

rendimento verificamos um valor absoluto maior (194) mas no caacutelculo da meacutedia

apresentou o menor escore (114 profissionais) entre as manifestaccedilotildees Este valor

meacutedio contraria a expectativa do projeto de rendimento possuir uma quantidade

maior de profissionais devido agrave especializaccedilatildeo da comissatildeo teacutecnica (fisioterapeuta

teacutecnico preparador fiacutesico psicoacutelogo etc)

Contudo ao apurar a quantidade de profissionais nos 20 projetos que

tiveram ecircxito na captaccedilatildeo de recurso65 notamos uma elevaccedilatildeo na meacutedia de

profissionais envolvidos nos projetos de rendimento (134 profissionais) poreacutem o

valor continua abaixo da meacutedia de profissionais dos projetos educacionais (aprovado

148 profissionais e captado 150 profissionais)

Tabela 10 ndashDistribuiccedilatildeo dos beneficiaacuterios valor total e per capita recurso humano pela manifestaccedilatildeo esportiva nos projetos aprovados por entidades esportivas sediadas em Belo

Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

Descriccedilatildeo Total Manifestaccedilatildeo Educacional

Manifestaccedilatildeo Participaccedilatildeo

Manifestaccedilatildeo Rendimento

Beneficiaacuterios Diretos 35066 (32) 11136 (9) 16116 (6) 7814 (17)

Valor Aprovado (R$) 2781428728 793488314 417866080 1570074334

Valor per capita Aprovado (R$) 79320 71254 25929 200931

Quantidade de Profissionais 491 133 164 194

Meacutedia Profissional Contratado 153 148 273 114

Responsabilidade profissional 714 837 983 403

Beneficiaacuterios Diretos 23184 (20) 6058 (5) 15396 (4) 1730 (11)

Valor Captado (R$) 1068892843 381453215 69624363 617815265

Valor per capita Capitado (R$) 46105 62967 4522 357119

Quantidade de Profissionais 248 75 26 147

Meacutedia Profissional Contratado 124 150 65 134

Responsabilidade profissional 935 808 5922 118

( ) quantidade de projetos na categoria

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

65

Este caacutelculo eacute uma estimativa pois a anaacutelise estaacute levando em consideraccedilatildeo os projetos originalmente aprovados No entanto aquelas propostas que natildeo captaram 100 do recurso autorizado podem solicitar readequaccedilatildeo do projeto e logo alteraccedilatildeo na quantidade de profissionais e beneficiaacuterios De acordo com informaccedilatildeo de um membro do Ministeacuterio do Esporte o sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte natildeo armazena a versatildeo readequada do projeto

163

Uma vez que a meacutedia de profissionais contratados natildeo mostrou

diferenccedilas entre as manifestaccedilotildees esportivas e na comparaccedilatildeo de valor autorizado e

captado foi feita nova anaacutelise mas agora levando em consideraccedilatildeo a quantidade de

beneficiaacuterios O indicador criado foi o de ldquoresponsabilidade profissionalrdquo que

representa a quantidade de beneficiaacuterios que fica sobre a supervisatildeo e

responsabilidade de um profissional contratado O caacutelculo foi realizado pela divisatildeo

aritmeacutetica da quantidade de beneficiaacuterios pela quantidade de profissionais

Notamos que nos projetos de esporte de rendimento cada profissional

orienta em meacutedia 403 (projeto aprovado) e 118 (projeto captado) beneficiaacuterios

enquanto no esporte educacional a meacutedia estaacute em torno de 80 beneficiaacuterios (837 no

projeto aprovado e 808 no projeto captado) Jaacute para a manifestaccedilatildeo de participaccedilatildeo

o valor variou bastante ficando entre 983 (aprovado) e 5922 (captado)

beneficiaacuterios para cada profissional

Nesse sentido a diferenccedila entre as manifestaccedilotildees esportivas dos projetos

apresentados pelas entidades esportivas de Belo Horizonte natildeo estaacute na quantidade

de profissionais pleiteados mas no nuacutemero de beneficiaacuterios atendidos por cada um

destes profissionais Assim o niacutevel de atenccedilatildeo e tempo despendido para cada

beneficiaacuterio no esporte de rendimento tende a ser maior que o das demais

manifestaccedilotildees em contrapartida haacute um menor potencial de atendimento Poreacutem a

democratizaccedilatildeo do direito social ao esporte estaacute no acesso a sua fruiccedilatildeo logo

diminuir a capacidade de atendimento pode ter impacto negativo

Outro indicador que mostrou grande diferenccedila entre as manifestaccedilotildees

esportivas foi o ldquovalor per capitardquo dos projetos isto eacute o valor investido pelo projeto

em cada beneficiaacuterio Para o caacutelculo meacutedio deste indicador dividiu-se o montante

financeiro dos projetos pela quantidade de beneficiaacuterios correspondente O resultado

encontrado eacute o valor financeiro meacutedio investido em cada beneficiaacuterio por projeto

Observa-se que o investimento meacutedio nos beneficiaacuterios do esporte de rendimento

(projeto aprovado R$ 200931 e projeto captado R$ 357119) foi muito superior ao

do esporte educacional (projeto aprovado R$ 71254 e projeto captado R$ 62967) e

do esporte de participaccedilatildeo (projeto aprovado R$ 25929 e projeto captado R$ 4522)

164

Tabela 11 ndash Descriccedilatildeo dos projetos aprovados pelas entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte nos quesitos quantidade de beneficiaacuterios

duraccedilatildeo do projeto valor per capita aprovado e captado

Identificaccedilatildeo do Projeto

Manifestaccedilatildeo Esportiva

Quantidade de

beneficiaacuterios

Duraccedilatildeo projeto

Valor Per capita aprovado

(R$)

Valor Per capita captado

(R$)

10 Educacional 4050 12 1339 -

15 Educacional 600 12 5946 5946

7 Educacional 3436 12 6293 4073

14 Educacional 1117 12 7867 5804

18 Educacional 605 12 7908 6581

29 Educacional 150 12 9535 -

30 Educacional 400 12 10612 -

20 Educacional 478 12 11722 -

8 Educacional 300 12 35532 12530

Maacuteximo 4050 12 35532 12530

Miacutenimo 150 12 1339 5804

Meacutedia 12373 120 10750 6987

25 Participaccedilatildeo 12000 12 412 100

0 Participaccedilatildeo 3000 2 3252 3252

28 Participaccedilatildeo 200 12 5923 5923

17 Participaccedilatildeo 520 11 6426 -

19 Participaccedilatildeo 196 12 32095 9141

31 Participaccedilatildeo 200 12 88576 -

Maacuteximo 12000 12 88576 9141

Miacutenimo 200 2 412 100

Meacutedia 26860 101 22781 4604

12 Rendimento 5000 6 3132 -

24 Rendimento 1000 6 3609 -

2 Rendimento 210 12 10824 10824

5 Rendimento 150 12 42430 37222

9 Rendimento 96 13 43827 24760

1 Rendimento 210 12 48621 27778

13 Rendimento 50 13 52311 52311

26 Rendimento 64 12 53663 716

27 Rendimento 40 12 69269 -

4 Rendimento 150 12 77473 11528

11 Rendimento 710 10 86521 34783

3 Rendimento 40 12 91780 45417

6 Rendimento 10 12 113234 79792

22 Rendimento 32 5 193360 -

21 Rendimento 10 12 304061 -

16 Rendimento 40 9 462832 247222

23 Rendimento 2 12 820481 -

Maacuteximo 5000 13 820481 247222

Miacutenimo 2 5 3132 716

Meacutedia 4596 107 145731 52032

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

165

No entanto independente da manifestaccedilatildeo esportiva os projetos satildeo

bastante distintos entre eles e o ldquovalor per capitardquo meacutedio torna-se apenas uma

referecircncia para comparaccedilotildees de projetos sem levar em consideraccedilatildeo o conteuacutedo ou

meacuterito esportivo Por isso a tabela anterior apresentou um panorama geral dos 32

projetos aprovados ateacute a data de 15 de fevereiro de 2016

Cabe ressaltar que na tabela o calculo do ldquovalor per capitardquo levou em

conta a quantia autorizada ou captada pelo projeto e sua relaccedilatildeo com o montante de

beneficiaacuterios a ser atendido mas tambeacutem o tempo de execuccedilatildeo da proposta Desta

maneira foi parametrizado o investimento mensal do projeto para o atendimento de

cada beneficiaacuterio Notamos que os valores calculados satildeo bastante diferentes entre

eles poreacutem os de rendimento satildeo os que possuem os maiores registros tanto que

cinco projetos implicam em investimento mensal superior a R$ 100000 em cada

atendido

Natildeo existe normativa sobre o investimento per capita em projetos

contudo levando em consideraccedilatildeo que um dos princiacutepios para a existecircncia da

poliacutetica de financiamento puacuteblico ao esporte eacute gerar a democratizaccedilatildeo do acesso a

este elemento da cidadania social devemos observar se o valor empregado no

projeto natildeo eacute superior ao serviccedilo similar ofertado pelo mercado Isto eacute um projeto de

ldquoescolinha de esporterdquo na manifestaccedilatildeo educacional que tem um investimento

mensal previsto em R$ 35532 como o de identificaccedilatildeo nuacutemero 8 na tabela natildeo

estaacute ofertando uma atividade esportiva igual agrave contratada no mercado mas com

valor superior

Nesse sentido o valor per capita pode ser utilizado como um quesito para

comparaccedilatildeo dos valores utilizados nos projetos com os praticados pelo mercado

funcionando como um balizador de preccedilo No entanto torna-se necessaacuterio ter

clareza no objetivo do mecanismo de mecenato esportivo pois tanto autorizar

projetos com chancela estatal a captar recurso de isenccedilatildeo fiscal quanto contratar um

serviccedilo privado com recurso puacuteblico (direto ou indireto) podem gerar o mesmo

resultado de acesso ao esporte Poreacutem o impacto na profissionalizaccedilatildeo e na cadeia

produtiva esportiva podem ser diferentes

166

53 Local e puacuteblico de atuaccedilatildeo dos projetos

Uma das novas diretrizes trazidas pela Constituiccedilatildeo Federal de 1988 foi a

descentralizaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas de maneira a proporcionar uma maior

proximidade entre o poder estatal e os beneficiaacuterios da accedilatildeo puacuteblica Nesse sentido

busca-se uma maior cooperaccedilatildeo entre os entes federativos (Uniatildeo Estados

Subnacionais e Municiacutepios) mas o Estado brasileiro tambeacutem passou a contar com o

apoio da sociedade civil organizada (associaccedilatildeo e fundaccedilotildees) para o

desenvolvimento e execuccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas

A participaccedilatildeo das entidades civis tem sido avaliada pelos gestores

puacuteblicos federais como beneacutefica devido agrave capacidade de fortalecimento da rede de

solidariedade jaacute existente aleacutem de possibilitar a ampliaccedilatildeo na abrangecircncia territorial

de atendimento das poliacuteticas puacuteblicas Ademais as entidades civis por estarem

envolvidas com a execuccedilatildeo de accedilotildees sociais satildeo detentoras de uma expertise

operacional que contribui no aprimoramento das poliacuteticas estatais (LOPEZ e

ABREU 2014)

Neste contexto a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) pode ser considerada uma ferramenta de descentralizaccedilatildeo da poliacutetica

esportiva pois permite que tanto a pessoa juriacutedica de direito puacuteblico quanto de

direito privado participe do chancelamento de projetos esportivos sem restriccedilatildeo de

lugar ou espaccedilo para a praacutetica

Para verificar a distribuiccedilatildeo territorial dos 32 projetos aprovados por

entidades esportivas sediadas em Belo Horizonte foi feito o levantamento das

citaccedilotildees de locais de atividade Como cada proposta poderia sugerir mais de um

lugar de intervenccedilatildeo esportiva o nuacutemero consolidado foi superior a 32 indicaccedilotildees

Para a anaacutelise em Belo Horizonte levamos em consideraccedilatildeo a organizaccedilatildeo do

municiacutepio em nove regionais administrativas sendo 1) Barreiro 2) Centro-Sul 3)

Leste 4) Nordeste 5) Noroeste 6) Norte 7) Oeste 8) Pampulha 9) Venda Nova

(BELO HORIZONTE 2008)

167

Fonte Belo Horizonte (2008 p14) ndash Adaptado

Registramos 34 locais de intervenccedilatildeo esportiva na cidade sendo que a

Regional Centro-Sul foi a mais lembrada com 12 citaccedilotildees seguida pelas Regionais

Oeste (7) e Pampulha (5) Por sua vez as Regionais Venda Nova Norte e Noroeste

natildeo receberam nenhuma citaccedilatildeo muito embora os dados do Censo do IBGE de

2010 mostrem que estatildeo entre as quatro menores rendas domiciliares per capita66

da cidade Ou seja as regionais administrativas que natildeo estatildeo sendo atendidas pela

Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) satildeo as que abrigam

pessoas com maior dificuldade financeira para acessar o direito social ao esporte

pela via do mercado Logo a capacidade de capilarizaccedilatildeo da poliacutetica esportiva para

territoacuterios de vaacutecuo estatal natildeo foi observado no cenaacuterio belorizontino

66

Dados do Censo do IBGE de 2010 mas acessadas no site da Prefeitura de Belo Horizonte Disponiacutevel em lthttpportalpbhpbhgovbrpbhecpfilesdoevento=downloadampurlArqPlc=des-t072xlsgt

Figura 15 ndash Mapa com as regionais administrativas de Belo Horizonte

77

55

1122

22

22

44

168

Tabela 12 ndash Distribuiccedilatildeo dos locais de atuaccedilatildeo dos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

Belo Horizonte Renda

Domiciliar per capita

Citaccedilotildees Distribuiccedilatildeo

() Interior de

Minas Gerais Citaccedilotildees

Distribuiccedilatildeo ()

Barreiro R$ 67537 2 50 Araguari 1 13

Centro-Sul R$ 333743 12 150 Barroso 1 13

Leste R$ 108878 4 50 Betim 2 25

Nordeste R$ 108337 2 25 Brumadinho 3 38

Noroeste R$ 104817 - - Contagem 2 25

Norte R$ 75926 - - Ibiriteacute 2 25

Oeste R$ 134840 7 88 Ipatinga 4 50

Pampulha R$ 163359 5 63 Itabirito 2 25

Venda Nova R$ 70456 - - Naque 1 13

Nova Lima 1 13

Paracatu 1 13

Patos de Minas 1 13

Piriquito 2 25

Poccedilos de

Caldas 1 13

Santa Luzia 2 25

Satildeo Gonccedilalo

do Rio Abaixo 1 13

Sarzedo 1 13

Timoacuteteo 1 13

Trecircs Coraccedilotildees 1 13

Trecircs Pontas 1 13

Tupaciguara 1 13

Uberlacircndia 1 13

Varginha 1 13

Vespasiano 1 13

Outros

Estados 11 138

MeacutediaTotal R$ 129766 34 425 Total Geral 46 575

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

A falta de accedilotildees esportivas nas regionais Venda Nova Norte e Noroeste

pode sugerir uma carecircncia de qualificaccedilatildeo das entidades sediadas nestas

localidades haja vista que Belo Horizonte possui 518 entidades privadas sem fins

lucrativos de natureza recreativa segundo dados do IBGE67 Deste universo de

entidades apenas 46 apresentaram projetos no mecenato esportivo em 2013 sendo

67

Disponiacutevel em lthttpwwwcidadesibgegovbrcartogramamapaphplang=ampcoduf=31ampcodmun=310620ampidtema=101ampcodv=v11ampsearch=minas-gerais|belo-horizonte|sintese-das-informacoes-gt

169

que 20 tiveram ecircxito na aprovaccedilatildeo mas somente 12 conseguiram efetivar as suas

accedilotildees Trata-se de um nuacutemero muito restrito de participaccedilatildeo na Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) principalmente para o contexto de uma

das maiores capitais do paiacutes Por isso aleacutem de melhorar a divulgaccedilatildeo do

mecanismo tambeacutem se torna preciso capacitar as entidades esportivas de forma

que aquelas localizadas em regiotildees menos favorecidas tenham chances de competir

em niacutevel de igualdade

Outro nuacutemero que chamou a atenccedilatildeo na distribuiccedilatildeo geograacutefica dos

projetos foi haacute alta incidecircncia de accedilotildees fora da capital Foram contabilizadas 35

citaccedilotildees de atividade esportiva a serem realizadas em 24 cidades do interior de

Minas Gerais apesar de todas as entidades estarem sediadas na capital mineira

Este dado mostra a possibilidade de transferecircncia de conhecimento e tecnologia

esportiva para regiotildees interioranas por meio da execuccedilatildeo de accedilotildees para aleacutem da

cidade sede da proponente

Contudo este tipo de accedilatildeo deve ser avaliado com certo cuidado pois a

falta de articulaccedilatildeo com a rede de serviccedilos do interior pode causar desestiacutemulo para

as entidades esportivas atuantes localmente Assim ao inveacutes das accedilotildees do

mecenato esportivo fortalecerem o que jaacute existe podem esta substituindo

temporariamente o atendimento sem haver troca de experiecircncia e no futuro

criando um novo vazio esportivo

Ainda catalogamos accedilotildees esportivas em 10 cidades localizadas na Bahia

e uma no Paraacute Ao verificar os trecircs projetos que pleiteavam atividades fora de Minas

Gerais observamos que todos eram de uma uacutenica proponente a mesma que

compunha o rank das maiores captadoras de recurso da Lei Federal de Incentivo ao

Esporte (Lei Nordm 114382006)

Por conta da distacircncia entre Belo Horizonte e as cidades destes outros

estados torna-se importante refletir sobre o impacto de uma entidade esportiva

assumir uma responsabilidade de abrangecircncia territorial tatildeo grande Cabe lembrar

que uma das motivaccedilotildees para o Estado brasileiro utilizar das entidades civis para a

execuccedilatildeo de poliacutetica puacuteblica eacute sua maior proximidade com a populaccedilatildeo beneficiaacuteria

Neste caso a relaccedilatildeo de afinidade pode ficar abalada ou no miacutenimo prejudicada

A escolha do puacuteblico-alvo do projeto eacute outra fonte de informaccedilatildeo

interessante para verificar o potencial de democratizaccedilatildeo do direito social ao

esporte Assim o quantitativo de beneficiaacuterios dos 32 projetos aprovados foi

170

consolidado levando em consideraccedilatildeo a faixa-etaacuteria e a manifestaccedilatildeo esportiva

Como cada projeto poderia atender mais de uma categoria de faixa-etaacuteria o

somatoacuterio de incidecircncia nas propostas pode ser um valor superior as 32 aprovaccedilotildees

Tabela 13 ndash Distribuiccedilatildeo do puacuteblico-alvo dos projetos esportivos das entidades sediadas em Belo Horizonte na Lei Federal de Incentivo ao Esporte no ano de 2013

Faixa-etaacuteria Quantidade

Beneficiaacuterios Distribuiccedilatildeo

() Educacional Rendimento Participaccedilatildeo

Crianccedila (0 a 12 anos) 7739 221 7077 (9) 324 (9) 338 (1)

Adolescente (10 a 18 anos) 7511 214 3878 (9) 2951 (13) 682 (3)

Adulto (18 a 59 anos) 16812 479 163 (5) 3249 (7) 13400 (5)

Idoso (a partir de 60 anos) 2250 64 - 750 (1) 1500 (2)

Pessoa com deficiecircncia 754 22 18 (1) 540 (2) 196 (2)

Total Geral 35066 1000 11136 (24) 7814 (32) 16116 (13)

idades delimitadas pelo sistema da Lei Federal de Incentivo ao Esporte ( ) quantidade de projetos

Fonte Ministeacuterio do Esporte dados atualizado em 15 de fevereiro de 2016 ndash elaboraccedilatildeo proacutepria

Notamos que 435 (15250) dos projetos visa atender o segmento jovem

sendo que 718 (10955) deste montante estaacute vinculado a manifestaccedilatildeo de esporte

educacional Os nuacutemeros mostram a abrangecircncia dos projetos educacionais para

garantir o acesso do puacuteblico jovem a este elemento social da cidadania

Ao buscar nas nove propostas educacionais mais informaccedilotildees descritivas

sobre a caracteriacutestica do puacuteblico jovem notamos que nenhuma trazia dado adicional

agrave delimitaccedilatildeo de idade Desta forma procuramos extrair os atributos dos

beneficiaacuterios dos possiacuteveis criteacuterios de seleccedilatildeo para a participaccedilatildeo na accedilatildeo Foi

recorrente mencionar que o projeto atenderia jovens em situaccedilatildeo de vulnerabilidade

social (2) ou risco social (3) aleacutem da repeticcedilatildeo da exigecircncia legal de 50 de

beneficiaacuterios matriculados em escola puacuteblica Mas apenas uma proposta indicou

articulaccedilatildeo com o Centro de Referecircncia em Assistecircncia Social (CRAS) da regiatildeo

para captar o puacuteblico-alvo e demonstrar o cumprimento do atributo Aparentemente

os demais projetos utilizaram os termos (vulnerabilidade e risco social) como

maneira de dar relevacircncia social a accedilatildeo esportiva a ser realizada pois natildeo havia

evidecircncias de comprovaccedilatildeo do contexto de fragilidade Outras quatro propostas natildeo

acrescentaram nenhuma informaccedilatildeo ao puacuteblico-alvo do projeto

171

Ter bom comportamento em sala ter presenccedila na escola e estarem dento do perfil do projeto que eacute assistir crianccedilas e adolescente de baixa renda e que moram em comunidades em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social (PROJETO 15 p5) [] eacute um projeto soacutecio-educativo de cunho esportivo para crianccedilas e adolescentes de 06 a 17 anos em situaccedilatildeo de risco social em quadra de tecircnis proacutexima agrave escola dos participantes (PROJETO 20 p4)

Esta debilidade argumentativa nas propostas aprovadas coloca em duacutevida

quem satildeo os possiacuteveis beneficiaacuterios dos projetos Mas natildeo foi um problema

exclusivo dos projetos educacionais pois esteve presente na grande maioria das

propostas No caso dos 13 projetos da manifestaccedilatildeo esporte de rendimento que

atenderiam o puacuteblico jovem ainda havia o agravante de um possiacutevel criteacuterio de

desempenho preacutevio (7) ou jaacute participar da entidade esportiva (4) Outras duas

propostas nada acrescentaram sobre o puacuteblico ou criteacuterio de seleccedilatildeo

40 atletas jovens e adultos [da proponente] das categorias juvenil a secircnior com qualidades fiacutesicas e habilidades teacutecnicas apropriadas para o desenvolvimento do esporte de alto rendimento na modalidade de nataccedilatildeo (PROJETO 16 p3 ndash entre colchetes substituiu o nome da proponente) Atletas praticantes da modalidade futsal com comprovado domiacutenio da praacutetica deste esporte 50 provenientes de escolas puacuteblicas de belo horizonte e regiatildeo Adolescentes do sexo masculino em sua parte estudantes de escolas puacuteblicas com capacidade teacutecnica comprovada para o desenvolvimento da modalidade direcionado ao desporto de rendimento Importante salientar que por se tratar de grande parte de pessoas carentes eacute de suma importacircncia o auxiacutelio transporte (PROJETO 26 p4)

Nesse sentido os jovens participantes dos projetos de rendimento jaacute

teriam que ter tido contato preacutevio com a modalidade logo o direito social ao esporte

deveria ter sido garantido por outra via que natildeo fosse o mecenato esportivo

Contudo a maior vedaccedilatildeo estaacute na seleccedilatildeo feita entre o puacuteblico da proacutepria

proponente ou seja apesar do recurso ter caraacuteter puacuteblico existe uma condicionante

de acesso agrave populaccedilatildeo em geral como por exemplo o pagamento da mensalidade

para ser associado do clube esportivorecreativo

Por outro lado os projetos de rendimento tambeacutem natildeo deixam claro se o

puacuteblico a ser atendido eacute fruto de uma ampliaccedilatildeo da accedilatildeo desenvolvida pela

proponente ou se estaacute havendo apenas uma transferecircncia do custeio de atividade jaacute

realizada Neste segundo caso o mecanismo de mecenato esportivo natildeo traria

nenhum beneficio adicional agrave sociedade haja vista que natildeo proporcionaria

ampliaccedilatildeo de acesso ao esporte e tatildeo pouco inovaccedilatildeo para a aacuterea

172

Enfim a forma de distribuiccedilatildeo do recurso no territoacuterio associado agrave

deficiecircncia argumentativa na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo dos projetos aprovados exibe

uma fragilidade no desenvolvimento do mecenato esportivo na capital mineira

Grande parte da conjuntura poderia ser justificada pela incipiente profissionalizaccedilatildeo

do setor esportivo Entretanto duas proponentes de destaque nacional na Lei

Federal de Incentivo ao Esporte estatildeo sediadas em Belo Horizonte e apresentaram

problemas similares em suas propostas embora tenham aprovado e captado Logo

a questatildeo natildeo estaacute apenas na profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas mas

tambeacutem na relaccedilatildeo que o Ministeacuterio do Esporte manteacutem com o mecanismo de

mecenato esportivo Isto eacute tratar a poliacutetica como meramente financeira quando na

verdade ela tem uma responsabilidade de desenvolvimento do esporte e

democratizaccedilatildeo do acesso a um elemento social da cidadania Mas para efetivar

este segundo eixo torna-se necessaacuterio discutir e propor uma diretriz para a poliacutetica

puacuteblica

173

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS UM ENSAIO PARA PENSAR A POLIacuteTICA DE FINANCIAMENTO AO ESPORTE

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 foi um marco para a sociedade brasileira

mas tambeacutem para o setor esportivo brasileiro ao incluir pela primeira vez na histoacuteria

do paiacutes o esporte como direito social O novo status do esporte acarretou a

obrigaccedilatildeo do Estado de atuar de forma ativa na proposiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de oportunizar o acesso e fruiccedilatildeo deste objeto social a todos os cidadatildeos

Ao investigar os documentos da Assembleia Nacional Constituinte

notamos que coube agraves tradicionais entidades representativas do esporte de

rendimento o protagonismo na inclusatildeo do tema no texto constitucional Assim o Art

217 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representou a ldquocarta de alforriardquo destas

entidades por prever autonomia e liberdade de funcionamento ao mesmo tempo

em que manteve a tradicional tutela do financiamento puacuteblico estatal Esta relaccedilatildeo

poderia ser considerada contraditoacuteria natildeo fosse o status de direito social Isto eacute o

entendimento do esporte como elemento da heranccedila social que agrega e gera

pertencimento dos indiviacuteduos agrave sociedade brasileira Por isso estabelece-se motivo

para o financiamento do Estado agraves entidades colaboradoras

No processo de reformulaccedilatildeo do esporte tambeacutem emergiu novas

expressotildees a manifestaccedilatildeo educacional (Art 217 inciso II) e esporte como

promoccedilatildeo do lazer (Art 217 inciso IV sect 3ordm) aleacutem do jaacute tradicional esporte de

rendimento (Art 217 inciso II) (BRASIL 1988a) Para Tubino (2005 2010) estas

possiacuteveis manifestaccedilotildees impliacutecitas no texto constitucional satildeo na verdade uma

consolidaccedilatildeo das discussotildees realizadas pela Comissatildeo de Reformulaccedilatildeo do

Desporto Nacional quando os termos Esporte-Educaccedilatildeo Esporte-Lazer e Esporte-

Rendimento apareceram As novas manifestaccedilotildees satildeo uma tentativa de expandir o

conceito esportivo para aleacutem da conversadora expressatildeo atleacutetica de desempenho

competitivo

Contudo ateacute a criaccedilatildeo da Secretaria de Desportos da Presidecircncia da

Repuacuteblica as novas manifestaccedilotildees esportivas natildeo passavam de discussotildees no

campo teoacuterico A nova estrutura estatal trouxe o esporte mais uma vez para a

agenda puacuteblica e no dia 6 de julho de 1993 foi aprovada a Lei Zico (Lei Nordm

86721993) A legislaccedilatildeo que se apresentava como norma geral do esporte

consolidou as trecircs manifestaccedilotildees Aleacutem disso mostrou a forccedila do setor do alto

174

rendimento ao conseguir flexibilizar no Congresso Nacional a eminente reforma

administrativa das entidades do esporte profissional principalmente no segmento do

futebol

A incapacidade da Lei Zico (Lei Nordm 86721993) de superar os problemas

estruturais da cadeia esportiva nacional estimulou nova rodada de debate para

reformulaccedilatildeo da norma geral para a aacuterea Depois de quase trecircs anos de tracircmite no

Congresso Nacional foi aprovada a Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) que reafirmou as

trecircs manifestaccedilotildees esportivas esporte de rendimento esporte educacional e esporte

de participaccedilatildeo aleacutem de trazer novas mas limitadas modernizaccedilotildees ao esporte

Em 16 de julho de 2001 foi aprovada a Lei AgneloPiva (Lei Nordm

102642001) que alterou o Art 56 da Lei Peleacute (Lei Nordm 96151998) e possibilitou o

repasse de parte da receita das loterias federais para o esporte As beneficiaacuterias do

financiamento puacuteblico foram as entidades representativas do esporte sendo que um

percentual maior do recurso ficou vinculado agrave manifestaccedilatildeo rendimento Assim

mesmo sendo o esporte educacional e de participaccedilatildeo prioridades constitucionais

(inciso II do Art 217) o esporte de rendimento foi o primeiro a conquistar uma fonte

de financiamento puacuteblica Este fato mostra a forccedila e prestigio deste setor para

influenciar os formuladores de poliacutetica puacuteblica

Somente com a posse do Presidente da Repuacuteblica Luiz Inaacutecio Lula da

Silva (PTSP) e criaccedilatildeo do Ministeacuterio do Esporte com a Secretaria Nacional de

Esporte Educacional (SNEE) a Secretaria Nacional de Esporte e Lazer (SNEL) e

Secretaria Nacional de Esporte de Rendimento (SNER) foi possiacutevel uma estrutura

para o desenvolvimento de todas as manifestaccedilotildees esportivas O Programa

Segundo tempo (PST) e Programa Esporte e Lazer da Cidade (PELC) foram as

primeiras iniciativas para democratizar o esporte educacional e de participaccedilatildeo

respectivamente Estes programas tambeacutem colocaram o Estado brasileiro no papel

de executor de poliacuteticas puacuteblicas de esporte

Talvez este seja o momento de maior materializaccedilatildeo do direito social ao

esporte na sociedade brasileira contemporacircnea pois os novos programas

permitiram a fruiccedilatildeo do elemento social sem objetivo de formaccedilatildeo do atleta mas

como uma possibilidade de acesso a heranccedila social Novos atores sociais surgem

no campo do debate esportivo e passa a existir um diaacutelogo com a localidade por

meio de um processo de municipalizaccedilatildeo da poliacutetica puacuteblica

175

As duas Conferecircncias Nacionais do Esporte (2004 2006) que se seguem

foram importantes para o amadurecimento do setor esportivo e acuacutemulo de capital

de conhecimento Especificadamente na segunda ediccedilatildeo da conferecircncia

argumentou-se sobre alternativas de financiamento puacuteblico para as entidades que

contribuem para a promoccedilatildeo do esporte havendo a sugestatildeo de leis de incentivo

fiscal nos trecircs entes federativos (Uniatildeo Estados Subnacionais e Municiacutepios) Como

estrateacutegia modelo o Ministeacuterio do Esporte havia encaminhado ao Congresso

Nacional o Projeto de Lei Nordm 69992006 que tratava sobre incentivo fiscal para a

aacuterea do esporte O projeto natildeo foi aprovado ateacute a data da conferecircncia mas serviu de

exemplo do governo federal para os demais governos subnacionais

Apesar do envio do projeto pelo Ministeacuterio do Esporte desde 2003 jaacute

tramitava no poder legislativo um projeto de lei similar de incentivo ao esporte do

Deputado Federal Bismarck Maia (PSDBCE) O pedido de urgecircncia do poder

executivo agilizou o processo e no dia 29 de dezembro de 2006 foi aprovada a Lei

Nordm 11438 popularmente conhecida como Lei Federal de Incentivo ao Esporte

Durante a passagem do projeto no Congresso Nacional foi recorrente a

lembranccedila da Lei Sarney (Lei Nordm 75051986) e Lei Rouanet (Lei Nordm 83131991)

como modelos de financiamento beneacuteficos para o crescimento do setor cultural No

entanto o mecanismo de mecenato cultural jaacute apresentava problemas na maneira

de distribuiccedilatildeo do recurso Grande parte dos impasses poderia ser minimizada com

a elaboraccedilatildeo de uma diretriz puacuteblica para o financiamento Mas independente da

realidade posta na aacuterea cultural o debate de criaccedilatildeo do mecanismo de mecenato

esportivo se restringiu quase exclusivamente agrave questatildeo teacutecnica orccedilamentaacuteria

Somente no comeccedilo das discussotildees legislativas sobre a Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) foi exibida a intenccedilatildeo do mecanismo em

beneficiar apenas as manifestaccedilotildees de esporte educacional e de participaccedilatildeo aleacutem

das modalidades natildeo oliacutempicas do esporte de rendimento Isso porque a Lei

AgneloPiva (Lei Nordm 102642001) jaacute canalizava recurso para o esporte oliacutempico

Contudo este argumento logo perdeu forccedila ateacute transformar o mecenato esportivo

em uma poliacutetica de financiamento ao esporte no geral Outro argumento presente

apenas no princiacutepio tratava da necessidade de contrapartida financeira do apoiador

como maneira de ampliar o montante disponiacutevel para o setor esportivo Esta opccedilatildeo

perdeu espaccedilo para a deduccedilatildeo integral do recurso apoiado tanto que no texto final

da legislaccedilatildeo ficou sem sentido a distinccedilatildeo entre patrociacutenio e doaccedilatildeo

176

Cabe ressaltar que a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) natildeo foi o primeiro mecanismo de mecenato esportivo aprovado na

aacuterea muito embora seja o primeiro a ser efetivado No final da deacutecada de 1980 e

iniacutecio de 1990 o poder legislativo em desacordo com o poder executivo aprovou a

Lei Mendes Thame (Lei Nordm 77521989) que criou trecircs modalidades de apoio via

mecanismo de mecenato esportivo Mas a legislaccedilatildeo vigorou apenas um dia por

contada suspensatildeo de todos os incentivos fiscais pelo receacutem-empossado Presidente

da Repuacuteblica Fernando Collor (PRNAL) Entretanto a discussatildeo deste mecanismo

de financiamento sequer foi lembrada durante a discussatildeo da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006)

Neste contexto notamos que o debate para aprovaccedilatildeo da Lei Federal de

Incentivo ao Esporte (Lei Nordm 114382006) se apropriou pouco do arcabouccedilo teoacuterico

e praacutetico existente sobre o funcionamento do mecanismo de mecenato O resultado

disso foi a reproduccedilatildeo de problemas experimentados na aacuterea cultural para o setor

esportivo tais como a concentraccedilatildeo de recurso na manifestaccedilatildeo rendimento (498

do valor captado de 2007-2014) e um maciccedilo investimento na regiatildeo Sudeste (73

do valor captado de 2007-2014) Este cenaacuterio de distribuiccedilatildeo desigual ainda foi

diretamente influenciado pelo acuacutemulo de recurso em um restrito grupo de 24

entidades esportivas (responsaacuteveis por 490 do valor captado de 2007-2014) das

quais seis satildeo tambeacutem beneficiarias da Lei AgneloPiva (Lei Nordm 102642001)

Ao analisar a conjuntura da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) no ano de 2013 para as entidades esportivas sediadas em Belo

Horizonte percebemos que dos 83 projetos apresentados 35 (422) foram

rejeitados 32 (386) aprovadas 13 (156) estavam em tracircmite e trecircs (36) natildeo

tinham informaccedilatildeo ou estavam identificados como protocolados Estes dados

mostram como eacute relevante o nuacutemero de rejeiccedilatildeo de projetos no funcionamento do

mecanismo

Seja por meacuterito ou por problemas documentais eacute importante que o

Ministeacuterio do Esporte amplie a interlocuccedilatildeo com as proponentes para minimizar as

restriccedilotildees de acesso Isso porque um dos objetivos da poliacutetica eacute (ou deveria ser)

aproximar o setor privado das entidades esportivas para que em um futuro proacuteximo

o montante disponiacutevel no setor seja maior que o recurso puacuteblico investido Nesse

sentido o mecenato esportivo natildeo pode ser entendido apenas como uma poliacutetica de

177

distribuiccedilatildeo de recurso mas tambeacutem como um potencial instrumento de

profissionalizaccedilatildeo das entidades esportivas

Verificando a distribuiccedilatildeo financeira dos 32 projetos aprovados (20

proponentes) notamos que dois proponentes que compotildeem o rank nacional dos

maiores captadores de recurso da Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) no periacuteodo de 2007 a 2014 influenciaram diretamente no resultado

Estas proponentes foram responsaacuteveis pela aprovaccedilatildeo de sete projetos e a

autorizaccedilatildeo do montante de R$ 1282824808 dos quais R$ 672306288 foram

efetivamente captados Estes nuacutemeros representaram um taxa de sucesso de 524

da relaccedilatildeo entre valor autorizado e captado Por sua vez as demais 18 proponentes

que tiveram projetos aprovados responsaacuteveis por outros 25 projetos (R$

1498603920) conseguiram captar apenas R$ 396586555 Este montante

representa uma taxa de sucesso de 265

Os nuacutemeros mostram como a poliacutetica puacuteblica tem sido direcionada por um

grupo restrito de entidades esportivas A escolha de alocaccedilatildeo de recurso destas

proponentes acaba reforccedilando a concentraccedilatildeo de recurso existente na regiatildeo

Sudeste do paiacutes e na manifestaccedilatildeo esporte de rendimento No caso de Belo

Horizonte uma das proponentes de destaque optou pelos projetos de esporte

educacional o que acabou sendo beneacutefico para a manifestaccedilatildeo Todavia a decisatildeo

de alocaccedilatildeo do recurso educacional ficou quase que exclusivamente ldquonas matildeosrdquo

desta proponente Desta forma notamos o caraacuteter privado e particular que envolve a

aplicaccedilatildeo do recurso puacuteblico

Ao analisar como as accedilotildees esportivas das 32 propostas aprovadas

estavam espalhadas no territoacuterio de Belo Horizonte identificamos 34 locais de

intervenccedilatildeo dos quais a regional Centro-Sul foi a mais lembrada com 12 citaccedilotildees

Todavia esta eacute a regional com a maior meacutedia de renda domiciliar per capita do

municiacutepio ou seja onde as pessoas teriam as melhores condiccedilotildees de ter acesso ao

direito social do esporte pela via do mercado Em contrapartida as regionais Venda

Nova Norte e Noroeste que estatildeo entre as quatro piores meacutedias de renda domiciliar

per capita natildeo foram sequer lembradas

Estes dados ilustram a dificuldade do recurso chegar aos locais onde

tradicionalmente a poliacutetica puacuteblica jaacute tem dificuldade de estar A mudanccedila da

realidade depende de qualificaccedilatildeo das entidades esportivas locais eou do

direcionamento do financiamento por uma diretriz puacuteblica Esta perspectiva reforccedila o

178

argumento do potencial profissionalizante da Lei Federal de Incentivo ao Esporte

(Lei Nordm 114382006) mas por outro lado mostra o problema de deixar a decisatildeo

da alocaccedilatildeo de recurso exclusivamente no setor privado

Enfim da mesma forma como aconteceu no setor cultural a maior

disponibilidade de recurso financeiro para a aacuterea esportiva estimulou a promoccedilatildeo

deste elemento social da cidadania Poreacutem a escolha pelo caminho

extraorccedilamentaacuterio retira o esporte da arena de debate do poder puacuteblico e transfere a

tomada de decisatildeo para o setor privado o que pode gerar distorccedilotildees na destinaccedilatildeo

do recurso Por isso tratar a Lei Federal de Incentivo ao Esporte (Lei Nordm

114382006) como mero mecanismo de financiamento eacute limitado Assim eacute

necessaacuterio resgatar o seu principio de agregador de recurso privado ao montante

puacuteblico mas tambeacutem compreender o mecanismo como um poderoso instrumento de

profissionalizaccedilatildeo do ainda incipiente setor esportivo

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________ Lei Nordm 7752 14 de abril de 1989 Dispotildee sobre benefiacutecios fiscais na aacuterea do imposto sobre a renda e outros tributos concedidos ao desporto amador Brasiacutelia Congresso Nacional 1989b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03LEISL7752htmgt Acesso em 08 de junho de 2016

________ Decreto Nordm 98595 de 18 de dezembro de 1989 Regulamenta a Lei ndeg 7752 de 14 de abril de 1989 que dispotildee sobre benefiacutecios fiscais na aacuterea do imposto de renda concedidos ao desporto natildeo profissional e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1989c Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto1980-1989D98595htmgt Acesso em 08 de junho de 2016 ________ Medida Provisoacuteria Nordm 150 de 15 de marccedilo de 1990 Dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Presidecircncia da Repuacuteblica e dos Ministeacuterios e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 8028 de 12 de abril de 1990 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1990a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpv1990-1995150htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Medida Provisoacuteria Nordm 161 de 15 de marccedilo de 1990 Altera a legislaccedilatildeo do Imposto de Renda das pessoas juriacutedicas e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 8034 de 12 de abril de 1990 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1990b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03MPV1990-1995161htmart2gt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Instruccedilatildeo Normativa Nordm 31 de 13 de marccedilo de 1990 Dispotildee sobre procedimentos a serem adotados para o gozo dos benefiacutecios fiscais ao desporto natildeo profissional instituiacutedos pela Lei Nordm 775289 Brasiacutelia Secretaria da Receita Federal 1990c Disponiacutevel em lthttppesquisaingovbrimprensajspvisualizaindexjspdata=14031990ampjornal=1amppagina=43amptotalArquivos=248gt Acesso em 8 de junho de 2016 _________ Lei Nordm 8313 23 de dezembro de 1991 Restabelece princiacutepios da Lei Ndeg 7505 de 2 de julho de 1986 institui o Programa Nacional de Apoio agrave Cultura (Pronac) e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Congresso Nacional 1991a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl8313conshtmgt Acesso em 07 de fevereiro de 2015 _________ Medida Provisoacuteria Nordm 309 de 16 de outubro de 1992 Dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Presidecircncia da Repuacuteblica e dos Ministeacuterios e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 8490 de 19 de novembro de 1992 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1992a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03MPV1990-1995309htmgt Acesso em 14 de maio de 2016

_________ Lei Nordm 8672 de 6 de julho de 1993 Institui normas gerais sobre desportos e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Congresso Nacional 1993a Acesso em 18 de marccedilo de 2014 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03leisL8672htmgt Acesso em 18 de marccedilo de 2014 _________ Lei Nordm 8685 de 20 de julho de 1993 Cria mecanismos de fomento agrave atividade audiovisual e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Congresso Nacional 1993b Disponiacutevel em lthttpswwwplanaltogovbrccivil_03leisl8685htmgt Acesso em 16 de maio de 2016 _________ Medida Provisoacuteria Nordm 813 de 1ordm de janeiro de 1995 Dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Presidecircncia da Repuacuteblica e dos Ministeacuterios e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 9649 de 27 de maio de 1998 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1995a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpvAntigas813htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Decreto Nordm 1494 de 17 de maio de 1995 Regulamenta a Lei nordm 8313 de 23 de dezembro de 1991 estabelece a sistemaacutetica de execuccedilatildeo do Programa Nacional de Apoio agrave Cultura (PRONAC) e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1995b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03decretoD1494htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Medida Provisoacuteria Nordm 1003 de 19 de maio de 1995 Daacute nova redaccedilatildeo a dispositivos das Leis Nordm 8849 de 28 de janeiro de 1994 e 8541 de 23 de dezembro de 1992 que alteram a legislaccedilatildeo do imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 9064 de 20 de junho de 1995 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1995c Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpvAntigas1003htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Decreto Nordm 1711 de 22 de novembro de 1995 Aprova o Regulamento da Ordem do Meacuterito Cultural instituiacuteda pelo art 34 da Lei ndeg 8313 de 23 de dezembro de 1991 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1995d Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfeddecret1995decreto-1711-22-novembro-1995-431722-publicacaooriginal-1-pehtmlgt Acesso em 14 de maio de 2016

_________ Medida Provisoacuteria Nordm 1515 de 15 de agosto de 1996 Altera o limite de deduccedilatildeo de que trata o sect 2ordm do art 1ordm da Lei nordm 8685 de 20 de julho de 1993 que cria mecanismos de fomento agrave atividade audiovisual e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 9323 de 5 de dezembro de 1996 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1996a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpv1996-20001515htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Lei Nordm 9323 de 5 de dezembro de 1996 Altera o limite de deduccedilatildeo de que trata o sect 2o do art 1o da Lei no 8685 de 20 de julho de 1993 que cria mecanismos de fomento agrave atividade audiovisual e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Congresso Nacional 1996b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisL9323htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Decreto Nordm 2290 de 4 de agosto de 1997 Regulamenta o disposto no art 5ordm inciso VIII da Lei nordm 8313 de 23 de dezembro de 1991 e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1997a Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfeddecret1997decreto-2290-4-agosto-1997-437200-publicacaooriginal-1-pehtmlgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Medida Provisoacuteria Nordm 1589 de 24 de setembro de 1997 Altera dispositivos da Lei nordm 8313 de 23 de dezembro de 1991 e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 9847 de 23 de novembro de 1999 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1997b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpvAntigas1589htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ EM Interministerial Nordm 01897 de 24 de setembro de 1997 Exposiccedilatildeo de Motivos da Medida Provisoacuteria Nordm 1589 de 24 de setembro de 1997 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1997c Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfedmedpro1997medidaprovisoria-1589-24-setembro-1997-376673-exposicaodemotivos-146331-pehtmlgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Medida Provisoacuteria Nordm 1602 de 14 de novembro de 1997 Altera a legislaccedilatildeo tributaacuteria federal e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 9532 de 10 de dezembro de 1997 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1997d Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03LEISL9532htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 _________ Lei Nordm 9615 de 24 de marccedilo de 1998 Institui normas gerais sobre desporto e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Congresso Nacional 1998a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl9615consolhtmgt Acesso em 20 de marccedilo de 2014

_________ Medida Provisoacuteria Nordm 1651-43 de 5 de maio de 1998 Dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Presidecircncia da Repuacuteblica e dos Ministeacuterios e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 9649 de 27 de maio de 1998 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1998b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpvAntigas1651-43htmgt Acesso em 14 de maio de 2016 ________ Medida Provisoacuteria Nordm 1795 de 1ordm de janeiro de 1999 Altera dispositivos da Lei Nordm 9649 de 27 de maio de 1998 que dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Presidecircncia da Repuacuteblica e dos Ministeacuterios e daacute outras providecircncias ndash Continua em tramite para conversatildeo em lei Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 1999a Disponiacutevel em lthttpswwwplanaltogovbrccivil_03mpvantigas1795htmgt Acesso em 14 de maio de 2016

________ Lei Nordm 10264 de 16 de julho de 2001 Acrescenta inciso e paraacutegrafos ao art 56 da Lei no 9615 de 24 de marccedilo de 1998 que institui normas gerais sobre desporto Brasiacutelia Congresso Nacional 2001a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03leisLEIS_2001L10264htmgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Medida Provisoacuteria Nordm 2228-1 de 6 de setembro de 2001 Estabelece princiacutepios gerais da Poliacutetica Nacional do Cinema cria o Conselho Superior do Cinema e a Agecircncia Nacional do Cinema - ANCINE institui o Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Cinema Nacional - PRODECINE autoriza a criaccedilatildeo de Fundos de Financiamento da Induacutestria Cinematograacutefica Nacional - FUNCINES altera a legislaccedilatildeo sobre a Contribuiccedilatildeo para o Desenvolvimento da Induacutestria Cinematograacutefica Nacional e daacute outras providecircncias ndash Ainda natildeo foi convertida em lei Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2001b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpv2228-1htmgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Lei Nordm 10220 de 11 de abril de 2001 Institui normas gerais relativas agrave atividade de peatildeo de rodeio equiparando-o a atleta profissional Brasiacutelia Congresso Nacional 2001c Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03leisLEIS_2001L10220htmgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Medida Provisoacuteria Nordm 103 de 1ordm de janeiro 2003 Dispotildee sobre a organizaccedilatildeo da Presidecircncia da Repuacuteblica e dos Ministeacuterios e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 10683 de 28 de maio de 2003 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2003a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03mpvantigas_2003103htmgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Decreto de 21 de janeiro de 2004 Institui a Conferecircncia Nacional do Esporte e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2004a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-20062004DnnDnn10107htmgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Portaria Nordm 13 de 03 de fevereiro de 2004 Aprovar o anexo Regulamento Geral da Conferecircncia Nacional do Esporte e as normas baacutesicas de sua primeira reuniatildeo Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2004Bb Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoconferencias-2571-i-conferencia-nacional-de-esportegt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Portaria Nordm 23 de 11 de marccedilo de 2004 Institui a Comissatildeo Organizadora Nacional da primeira reuniatildeo da Conferecircncia Nacional do Esporte Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2004c Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoimagespdfsconferenciasEsporteregimento_1_conferencia_esportedocgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Documento Final - Deliberaccedilotildees para a Conferecircncia Nacional do Esporte Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2004d Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoimagespdfsconferenciasEsportedeliberacoes_1_conferencia_esportepdfgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Caderno de propostas - Conferecircncia Nacional do Esporte Esporte lazer e desenvolvimento humano Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2004e Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoimagespdfsconferenciasEsportedeliberacoes_1_conferencia_esportepdfgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Resoluccedilatildeo Nordm 5 de 14 de junho de 2005 Aprova a Poliacutetica Nacional do Esporte Brasiacutelia Conselho Nacional de Esporte 2005a Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosconselhoEsporteresolucoesresolucaoN5pdfgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Portaria Nordm 133 de 20 de outubro de 2005 Aprovar o anexo Regulamento Geral da II Conferecircncia Nacional do Esporte e Normas Baacutesicas Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2005b Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoimagespdfsconferenciasEsporte_IIregimento_2_conferencia_esportepdfgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Manual da II Conferecircncia Nacional de Esporte 2006 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2006a Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoimagespdfsconferenciasEsporte_IItexto_base_2_conferencia_esportepdfgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Lei Nordm 11438 de 29 de dezembro de 2006 - Dispotildee sobre incentivos e benefiacutecios para fomentar as atividades de caraacuteter desportivo e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Congresso Nacional 2006b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato200420062006LeiL11438compiladohtmgt Acesso em 15 de marccedilo de 2014

________ Parecer da Comissatildeo de Financcedilas e Tributaccedilatildeo sobre o Projeto de Lei Nordm 13672003 de 14 de junho de 2006 Parecer do Relator Deputado Federal Luiz Carlos Hauly sobre o Projeto de Lei Nordm 13672003 do Deputado Federal Bismarck Maia Brasiacutelia Cacircmara dos Deputados 2006c Disponiacutevel em lthttpwwwcamaragovbrproposicoesWebprop_mostrarintegracodteor=403294ampfilename=Tramitacao-PL+13672003gt Acesso em 15 de marccedilo de 2014

________ Transcriccedilatildeo da Plenaacuteria da Cacircmara dos Deputados sobre o Projeto de Lei Nordm 13672003 de 20 de dezembro de 2006 Transcriccedilatildeo do debate da Sessatildeo Plenaacuteria da Cacircmara dos Deputados sobre o Projeto de Lei Nordm 13672003 Brasiacutelia Cacircmara dos Deputados p56721-56732 2006d Disponiacutevel em lthttpimagemcamaragovbrImagemdpdfDCD21DEZ2006pdfpage=309gt Acesso em 15 de marccedilo de 2014 ________ Medida Provisoacuteria Nordm 342 de 29 de dezembro de 2006 Altera e acresce dispositivos agrave Lei no 11438 de 29 de dezembro de 2006 que dispotildee sobre incentivos e benefiacutecios para fomentar as atividades de caraacuteter desportivo ndash Convertida na Lei Nordm 11472 de 2 de maio de 2007 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2006e Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_ato2004-20062006Mpv342htmgt Acesso em 15 de marccedilo de 2014

________ Resoluccedilotildees da II Conferecircncia Nacional do Esporte 30 de janeiro de 2007 Propostas aprovadas na plenaacuteria final da II Conferecircncia Nacional do Esporte Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2007a Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoconferencias-2571-i-conferencia-nacional-de-esportegt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Decreto Nordm 6180 3 de agosto de 2007 Regulamenta a Lei nordm 11438 de 29 de dezembro de 2006 que trata dos incentivos e benefiacutecios para fomentar as atividades de caraacuteter desportivo Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2007b Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosleiIncentivoEsportedecretoN618003082007pdfgt Acesso em 18 de marccedilo de 2014

________ Decreto Nordm 6338 de 31 de dezembro de 2007 Fixa o valor absoluto do limite global das deduccedilotildees do imposto sobre a renda devido a tiacutetulo de doaccedilotildees e patrociacutenios no apoio direto a projetos desportivos e paradesportivos Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2007c Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102007DecretoD6338htmgt Acesso em 18 de marccedilo de 2014 ________ Decreto Nordm 6684 9 de Dezembro de 2008 Fixa para o ano-calendaacuterio de 2008 o valor maacuteximo das deduccedilotildees do imposto sobre a renda devido a tiacutetulo de patrociacutenio ou doaccedilatildeo no apoio direto a projetos desportivos e paradesportivos Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2008 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008DecretoD6684htmgt Acesso em 20 de marccedilo de 2014 ________ Portaria Nordm 120 3 de julho de 2009 Dispotildee sobre a tramitaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo e a aprovaccedilatildeo do enquadramento dos projetos desportivos ou paradesportivos bem como a captaccedilatildeo o acompanhamento e monitoramento da execuccedilatildeo e da prestaccedilatildeo de contas os projetos devidamente aprovados de que tratam a Lei nordm 11438 de 2 9 de dezembro de 2006 e o Decreto nordm 6180 de 3 de agosto de 2007 no acircmbito do Ministeacuterio do Esporte e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosleiIncentivoEsporteportariaN12003072009pdfgt Acesso em 28 de fevereiro de 2015

________ Texto Baacutesico da III Conferecircncia Nacional do Esporte 2010 Ministeacuterio do Esporte 2010a Disponiacutevel em lthttpwwwipeagovbrparticipacaoimagespdfsconferenciasEsportes_IIItexto_base_3_conferencia_esportespdfgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Decreto Nordm 7529 de 21 de julho de 2011 Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissatildeo e das Funccedilotildees Gratificadas do Ministeacuterio do Esporte Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2011 Acesso em 16 de maio de 2016 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_ato2011-20142011decretod7529htmgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Relatoacuterio de Auditoria Operacional do Tribunal de Contas da Uniatildeo Acessibilidade nos oacutergatildeos puacuteblicos federais 2012 Brasiacutelia Tribunal de Contas da Uniatildeo 2012 Disponiacutevel em lthttpportaltcugovbrlumisportalfilefileDownloadjspfileId=8A8182A24F0A728E014F0B24E1417E4Bgt Acesso em 16 de maio de 2016

_________ Decreto Nordm 7984 de 8 de abril de 2013 Regulamenta a Lei Nordm 9615 de 24 de marccedilo de 1998 que institui normas gerais sobre desporto Brasiacutelia Presidecircncia da Republica 2013a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-20142013DecretoD7984htmgt Acesso em 08 de fevereiro de 2015 ________ Lei Nordm 12868 15 de Outubro de 2013 Altera a Lei no 12793 de 2 de abril de 2013 para dispor sobre o financiamento de bens de consumo duraacuteveis a beneficiaacuterios do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) constitui fonte adicional de recursos para a Caixa Econocircmica Federal altera a Lei no 12741 de 8 de dezembro de 2012 que dispotildee sobre as medidas de esclarecimento ao consumidor para prever prazo de aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees previstas na Lei no 8078 de 11 de setembro de 1990 altera as Leis no 12761 de 27 de dezembro de 2012 no 12101 de 27 de novembro de 2009 no 9532 de 10 de dezembro de 1997 e no 9615 de 24 de marccedilo de 1998 e daacute outras providecircncia Brasiacutelia Congresso Nacional 15 de outubro de 2013b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-20142013LeiL12868htmart19gt Acesso em 08 de fevereiro de 2015 ________ Relatoacuterio de Auditoria agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporte 2013 Relatoacuterio de Auditoacuteria agrave Lei Federal de Incentivo ao Esporte realizado em 2009 Brasiacutelia Tribunal de Contas 2013c Disponiacutevel em ltwwwtcugovbrconsultasjurisdocsjudocacord20130205ac_0092_03_13_pdocgt Acesso em 28 de fevereiro de 2015 ________ Portaria do Ministeacuterio do Esporte Nordm 294 de 2 de dezembro de 2013 Dispotildee sobre o credenciamento dos peritos pareceristas para anaacutelise de projetos esportivos conforme regras estabelecidas pela Portaria do Ministeacuterio do Esporte Nordm 189 de 7 de agosto de 2013 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2013c Disponiacutevel em lthttppesquisaingovbrimprensajspvisualizaindexjspjornal=2amppagina=45ampdata=03122013gt Acesso em 28 de fevereiro de 2015 ________ Parecer da Consultoria Juriacutedica do Ministeacuterio do Esporte de 15 de abril de 2014 Vigecircncia do Art 18-A da Lei Nordm 96151998 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2014a Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosleiIncentivoEsporteParecer20CONJURME20n20104-2014pdfgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Portaria do Ministeacuterio do Esporte de 18 de setembro de 2014 Dispotildee sobre o procedimento para verificaccedilatildeo pelos oacutergatildeos do Ministeacuterio do Esporte acerca do cumprimento das exigecircncias previstas nos artigos 18 e 18-A da Lei nordm 9615 de 24 de marccedilo de 1998 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2014b Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosleiIncentivoEsportePortaria20n2022420Exigncia20Art201820e201820A2018092014pdfgt Acesso em 16 de maio de 2016

________ Relatoacuterio de Auditoria Anual de Contas de janeiro de 2014 Relatoacuterio Anual de Auditoria realizada no Ministeacuterio do Esporte em 2013 Brasiacutelia Controladoria-geral da Uniatildeo 2014c Disponiacutevel em lthttpsistemas2cgugovbrrelatsuploadsRA201305660pdfgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Relatoacuterio de Gestatildeo 2013 de 07 de julho de 2014 Relatoacuterio gerencial da Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2013 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2014d Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosleiIncentivoEsporterelatorioGestao2013pdfgt Acesso em 16 de maio de 2016 ________ Lei Nordm 13155 de 4 de agosto de 2015 Estabelece princiacutepios e praacuteticas de responsabilidade fiscal e financeira e de gestatildeo transparente e democraacutetica para entidades desportivas profissionais de futebol institui parcelamentos especiais para recuperaccedilatildeo de diacutevidas pela Uniatildeo cria a Autoridade Puacuteblica de Governanccedila do Futebol - APFUT dispotildee sobre a gestatildeo temeraacuteria no acircmbito das entidades desportivas profissionais cria a Loteria Exclusiva - LOTEX altera as Leis nos 9615 de 24 de marccedilo de 1998 8212 de 24 de julho de 1991 10671 de 15 de maio de 2003 10891 de 9 de julho de 2004 11345 de 14 de setembro de 2006 e 11438 de 29 de dezembro de 2006 e os Decretos-Leis nos 3688 de 3 de outubro de 1941 e 204 de 27 de fevereiro de 1967 revoga a Medida Provisoacuteria no 669 de 26 de fevereiro de 2015 cria programa de iniciaccedilatildeo esportiva escolar e daacute outras providecircncias Brasiacutelia Congresso Nacional 2015a Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2015-20182015LeiL13155htmgt Acesso em 08 de fevereiro de 2015 _________ Medida Provisoacuteria Nordm 671 de 19 de marccedilo de 2015 Institui o Programa de Modernizaccedilatildeo da Gestatildeo e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro dispotildee sobre a gestatildeo temeraacuteria no acircmbito das entidades desportivas profissionais e daacute outras providecircncias ndash Convertida na Lei Nordm 13155 de 4 de agosto de 2015 Brasiacutelia Presidecircncia da Repuacuteblica 2015b Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2015-20182015Mpvmpv671htmgt Acesso em 16 de maio de 2016 _________ Relatoacuterio de Gestatildeo 2014 de 25 de junho de 2015 Relatoacuterio gerencial da Lei Federal de Incentivo ao Esporte em 2014 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2015c Disponiacutevel em lthttpwwwesportegovbrarquivosleiIncentivoEsporterelatorioGestao2014V2pdfgt Acesso em 16 de maio de 2016

_________ Portaria do Ministeacuterio do Esporte Nordm 50 de 29 de fevereiro de 2016 Dispotildee sobre o credenciamento dos peritos pareceristas para anaacutelise de projetos esportivos conforme regras estabelecidas pelo Edital de Credenciamento Nordm 12015 de 16 de dezembro de 2015 Brasiacutelia Ministeacuterio do Esporte 2013c Disponiacutevel em lthttppesquisaingovbrimprensajspvisualizaindexjspdata=18122015ampjornal=3amppagina=169amptotalArquivos=304gt Acesso em 28 de fevereiro de 2015 ESPANHA Constitucioacuten Espantildeola de 29 de dezembro de 1978 La Constitucioacuten Espantildeola de 1978 Madri Congresso 1978 Disponiacutevel em lthttpwwwlamoncloagobesdocumentsconstitucion_es1pdfgt Acesso em 14 de maio de 2016 MINAS GERAIS Lei Estadual Nordm 16318 de 11 de agosto de 2006 Dispotildee sobre a concessatildeo de desconto para pagamento de creacutedito tributaacuterio inscrito em diacutevida ativa com o objetivo de estimular a realizaccedilatildeo de projetos desportivos no Estado Belo Horizonte Assembleia Legislativa 2006 Disponiacutevel em lthttpwwwalmggovbrconsultelegislacaocompletacompletahtmltipo=LEIampnum=16318ampcomp=ampano=2006ampaba=js_textoAtualizadogt Acesso em 28 de marccedilo de 2016 _____________ Lei Estadual Nordm 20824 de 31 de julho de 2013 Altera as Leis nordms 6763 de 26 de dezembro de 1975 14937 de 23 de dezembro de 2003 e 14941 de 29 de dezembro de 2003 revoga dispositivo da Lei nordm 15424 de 30 de dezembro de 2004 concede incentivo a projetos esportivos e daacute outras providecircncias Belo Horizonte Assembleia Legislativa 2013 Disponiacutevel em lthttp2001984935incentivowp-contentuploads201310LEI-NC2BA-20824-DE-31-07-2013-Minas-Olimpica-Incentivo-ao-Esportepdfgt Acesso em 16 de maio de 2016 PORTUGAL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa de 25 de Abril de 1976 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Portuguesa Lisboa Congresso Nacional 1976 Disponiacutevel em lthttpwwwparlamentoptparlamentodocumentscrp1976pdfgt Acesso em 14 de maio de 2016 SAtildeO PAULO Lei Municipal Nordm 10923 de 30 de dezembro de 1990 Dispotildee sobre incentivo fiscal para a realizaccedilatildeo de projetos culturais no acircmbito do Municiacutepio de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Cacircmara Municipal de Satildeo Paulo 1990 Disponiacutevel em lthttpwwwprefeituraspgovbrcidadesecretariasculturalei_de_incentivoindexphpp=6gt Acesso em 14 de maio de 2016

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