direto econômico e economia política

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 Direto Econômico e Economia Política 1. A Economia Política do Desenvolvimento 2. Epistemologia. Conceitos e teorias do Direito Econômico como Ramo e como Método. Dir eito econômico é o direito das pol ític as públ ica s na economia. É o conju nt o de normas e ins ti tut os jur ídi cos que permitem ao Es ta do ex er cer influência, orientar, direcionar, estimular, proibir ou reprimir comportamentos dos agentes econômicos num dado país ou conjunto de países (AGUILAR). Visto como ramo jurídico, o direito econômico tem suas normas inseridas emx outros ramos, marcando-os, porém, com seu caráter específico de normas instrumentais de polí tica econômica. Comportaria, portanto, subdivisões em diversas outras disciplinas especializadas atreladas à disciplina mãe ( v.g. direito pena l econômico, direito administrativo econômico etc). Seg undo NUSDEO, essa abordagem, por tra zer cer tas sobreposições, é de dif ícil inserção na divisão tradicional dos ramos do direito. GRAU aponta que o direito econômico como ramo pode ser fundamentado no art. 24, I, da CF, podendo-se conceituá-lo como uma tradução normativa para regulamentação da política econômica do Estado. Visto como método, consiste em utilizar de todo o conhecimento quanto à mecânica dos sistemas econômicos, inclusive de seu direcionamento pelas normas de política econômica e na análise e interpretação do Direito, e, à luz desse conhecimento, observar o fenômeno jurídico de uma nova maneira, distinguindo os processos econômicos embutidos no sistema jurídico. Seria assim um novo método de análise substancial e crítica. Numa definição convencionalista, temos que o Direito Econômico estuda o papel que o Estado desempenha na organização jurídica da estrutura do modo de produção econômica, notadamente na implantação de políticas públicas (A GUILAR). Deve-se distinguir também o caráter de Direito Econômico de certas normas de seu conteúdo econômico. Só é norma de Direito Econômico aquela que aponta para certos objetivos de política econômica. 3. Constituição Dirigente, Constituição Econômica e Ordem Econômica. Constitui ção Econ ômi ca e Democracia de Massas. A Incorporaç ão do Conflito no Texto Constitucional. Segundo EROS GRAU, a ordem econômica pode ser definida como o conjunt o de normas que define, institucionalmente, um determinado modo de produção econômica. Assim, ordem econômica, parcela da ordem jurídica (mundo do dever- ser), não é senão o conjunto de normas que institucionaliza uma determinada

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Direto Econômico e Economia Política

1. A Economia Política do Desenvolvimento

2. Epistemologia. Conceitos e teorias do Direito Econômico como Ramo e

como Método.

Direito econômico é o direito das políticas públicas na economia. É oconjunto de normas e institutos jurídicos que permitem ao Estado exercer 

influência, orientar, direcionar, estimular, proibir ou reprimir comportamentos dos

agentes econômicos num dado país ou conjunto de países (AGUILAR). 

Visto como ramo jurídico, o direito econômico tem suas normas inseridasemx outros ramos, marcando-os, porém, com seu caráter específico de normasinstrumentais de política econômica. Comportaria, portanto, subdivisões emdiversas outras disciplinas especializadas atreladas à disciplina mãe (v.g. direitopenal econômico, direito administrativo econômico etc). Segundo NUSDEO, essaabordagem, por trazer certas sobreposições, é de difícil inserção na divisãotradicional dos ramos do direito. GRAU aponta que o direito econômico como ramopode ser fundamentado no art. 24, I, da CF, podendo-se conceituá-lo como umatradução normativa para regulamentação da política econômica do Estado.

Visto como método, consiste em utilizar de todo o conhecimento quanto à

mecânica dos sistemas econômicos, inclusive de seu direcionamento pelas normasde política econômica e na análise e interpretação do Direito, e, à luz desseconhecimento, observar o fenômeno jurídico de uma nova maneira, distinguindo osprocessos econômicos embutidos no sistema jurídico. Seria assim um novo métodode análise substancial e crítica.

Numa definição convencionalista, temos que o Direito Econômico estuda opapel que o Estado desempenha na organização jurídica da estrutura do modo deprodução econômica, notadamente na implantação de políticas públicas (AGUILAR).

Deve-se distinguir também o caráter de Direito Econômico de certas normas

de seu conteúdo econômico. Só é norma de Direito Econômico aquela que apontapara certos objetivos de política econômica.

3. Constituição Dirigente, Constituição Econômica e Ordem Econômica.

Constituição Econômica e Democracia de Massas. A Incorporação do

Conflito no Texto Constitucional.

Segundo EROS GRAU, a ordem econômica pode ser definida como o conjunto

de normas que define, institucionalmente, um determinado modo de produção

econômica. Assim, ordem econômica, parcela da ordem jurídica (mundo do dever-

ser), não é senão o conjunto de normas que institucionaliza uma determinada

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ordem econômica (mundo do ser). Ainda segundo o autor, havia uma ordemeconômica nas constituições não escritas, bem como nas liberais. Todavia, há umamudança quando a ordem econômica passa a predicar o aprimoramento da ordemeconômica (mundo do ser), visando à sua preservação. Portanto, é errado afirmarque o Direito Econômico surge apenas após o progressivo intervencionismo

estatal: na ordem liberal, a proteção ao contrato e à propriedade privada, porexemplo, representavam certa organização normativa que configurava a ordemeconômica liberal. Neste sentido, Gilberto Bercovici aponta que, “[f]ormalmente,as Constituições do século XX diferenciam-se das anteriores por, entre outrosmotivos, conterem uma expressão formal da Constituição Econômica, com umaestruturação mais ou menos sistemática em um capítulo próprio.”

É possível classificar tipologicamente as constituições (dentre outrasclassificações) em:

• Constituição estatutária ou orgânica: definem um estatuto do poder,concebendo-se como mero “instrumento de governo”, enunciadoras decompetências e reguladoras de processos. Segundo Eros Grau, apenasrecebem a ordem econômica do mundo do ser;

• Constituição dirigente/diretiva ou programática-doutrinária : não sãoapenas um instrumento de governo, enunciando também diretrizes,programas e fins a serem realizados pela sociedade e pelo Estado. Ouseja, os teóricos da Constituição Dirigente visam à vinculação dolegislador, positiva ou negativamente, à Constituição, numa espécie de“programa para o futuro”. Conforme ensina Gilberto Bercovici, o que

marca essa mudança para o constitucionalismo programático/dirigente éa constatação de que haveria uma estrutura econômica problemáticaque deveria ser estruturalmente alterada pela Constituição Econômica.

Nas duas formas constitucionais há uma Constituição Econômica, a qualpode ser definida, de acordo com VITAL MOREIRA, como o conjunto de preceitos e

instituições jurídicas que, garantindo os elementos definidores de um determinado

sistema econômico, instituem uma determinada forma de organização e

funcionamento da economia e constituem, por isso mesmo, uma determinada

ordem econômica. Neste sentido, mesmo um Estado que não estabelece

explicitamente os princípios possui uma Constituição Econômica (dita ConstituiçãoEconômica natural).

Assim, é possível apontar a existência de uma Constituição Econômica

Material, que integra o núcleo fundamental de normas jurídicas que regem osistema e os princípios básicos das instituições econômicas quer constem ou nãono texto constitucional, e de uma Constituição Econômica Formal, que compreendeapenas as normas presentes no texto constitucional formal com incidênciaeconômica, ainda que desprovidas daquela importância material.

Acerca desse tema, GILBERTO BERCOVICI aponta: “[a] característica essencial das

constituições econômicas do século XX é o seu caráter diretivo ou programático,que incorpora conteúdos de política econômica e social. Esta característica é fruto

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da democracia de massas. A tentativa de incorporação da totalidade do povo noEstado passa a exigir a presença de uma série de dispositivos constitucionais quevisam a alterar ou transformar a realidade sócio-econômica. A reação a estaincorporação de temas de política econômica e social nos textos constitucionaisgera boa parte do debate político-constitucional do século XX. Deste modo, a

importância da constituição econômica é a possibilidade que ela abre de seanalisar a totalidade da formação social, com suas contradições e conflitos. Aconstituição econômica, assim, torna mais clara a ligação da constituição com apolítica e com as estruturas sociais e econômicas. As constituições econômicas doséculo XX buscam a configuração política do econômico pelo Estado. Deste modo,a característica essencial da atual constituição econômica, dado que as disposiçõeseconômicas sempre existiram nas constituições, é a previsão de uma ordemeconômica programática, estabelecendo uma constituição econômica diretiva. E,em minha opinião, isto ocorre justamente, por causa da expansão do sufrágio e daincorporação dos setores economicamente desfavorecidos na esfera de atuação

estatal. A transformação progressiva dos regimes liberais (nominais ou efetivos)europeus em democracias de massa, processo que se acelera logo após a PrimeiraGuerra Mundial, vai gerar uma crise sem precedentes no modelo jurídicotradicional e, com raríssimas exceções, os teóricos do Estado e os publicistas vãoter dificuldades para conseguir lidar com esse novo fenômeno do século XX: a

 participação popular e a ampliação da democracia e seus reflexos na incorporação

de conteúdos econômicos e sociais nas constituições que serão elaboradas no

decorrer de todo o período”.

4. Aspectos internos da soberania econômica. A internalização dos

centros de decisão econômica e a proteção constitucional ao mercado

interno.

Conforme o art. 219 da CF, o mercado interno está integrado ao patrimônio

nacional. Este dispositivo, lido também à luz dos arts. 170-174 da CF, autoriza autilização do mercado interno em prol dos valores expressos no caput , a saber:desenvolvimento cultural e sócio-econômico, bem estar da população e autonomia

tecnológica. De acordo com EROS GRAU, sua integração no patrimônio nacional se dána medida que a CF o toma como expressão da soberania econômica nacional,estando esta soberania presente no art. 170, I, da CF.

A questão da internalização dos centros de decisão econômica foi enfocadapela teoria do subdesenvolvimento da CEPAL (Comisión Económica para AméricaLatina), cujas teses davam fundamentação científica para a tradiçãointervencionista e industrialista existente no Brasil desde 1930. A este respeito,aponta BERCOVICI que “[a] concepção do Estado como promotor do desenvolvimento,coordenado por meio do planejamento, dando ênfase à integração do mercadointerno e à internalização dos centros de decisão econômica, bem como o

reformismo social, característica do discurso cepalino, foram plenamenteincorporadas pelo nacional-desenvolvimentistas brasileiros.” Assim, para a CEPAL,

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era essencial uma política de longo prazo e planificadora, com a presença de umforte estado intervencionista. As reformas estruturais seriam o centro destapolítica.

CELSO FURTADO, um dos grandes nomes na construção doutrinária cepalina,

afirmou que, além de um deslocamento do centro dinâmico da economia brasileirapara o setor industrial, houve tambem a internalizacao dos centros de decisao das  medidas de politica economica, dos interesses ligados ao setor externo para  aqueles voltados para o desenvolvimento interno, cristalizados no Estado.

Este modelo de desenvolvimento “para dentro” coloca o Estado em umaposição de planejado, desempenhando um papel preponderante naindustrialização por substituição de importações e proteção alfandegária domercado interno. Visa portanto à ampliação e diversificação da capacidadeprodutiva industrial.

Por fim, vale citar que a doutrina e a jurisprudência majoritárias entendemque, após a revogação do art. 171 da CF, não há mais possibilidade dediscriminação entre empresas. Contudo, uma série de “discriminações positivas”tem surgido pela via da legislação infraconstitucional, como por exemplo a LC n°123/2006 que prevê tratamento diferenciado à micro e pequena empresa embenefício do desenvolvimento nacional.

5. Atividade econômica em sentido estrito e serviço público. O debate

sobre a concepção de serviço público.

Em regra, de acordo com a CF, os serviços públicos são de competênciaestatal enquanto as atividades econômicas restantes são reservadas, em princípio,aos particulares. Portanto, essa divisão é matéria constitucional, sendo apenasresidualmente de competência do legislador ordinário.

As atividades econômicas em geral estão divididas em atividade econômica

em sentido estrito e serviço público. Se a atividade econômica é serviço público,então ela deve ser desempenhada pelo Estado de acordo com certas regras. Casocontrário, diante do princípio da livre iniciativa econômica, a atividade pode ser

explorada pelos particulares sem as restrições típicas do serviço público. Nestesentido há, na Constituição, uma nítida divisão entre serviços públicos (art. 175) eatividades econômicas stricto sensu (art. 173), cabendo os primeiros ao Estado eos segundos aos particulares. Caso o particular queira prestar um serviço públicoou vice-versa, devem ser observadas as restrições e requisitos legais (v.g.

licitação, segurança nacional etc).

Portanto, a exploração pelo Estado de atividade econômica em sentidoestrito deve ser excepcional e subsidiária, admitia apenas em razão da segurançanacional ou de relevante interesse coletivo, vedado o monopólio, salvo hipótesesprevistas na Constituição (v.g. art. 177). Por outro lado, a prestação de serviço

público só pode ser transferida ao particular sob regime de concessão oupermissão (art. 175).

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Quanto à definição de serviço público, há aqueles que defendem umaposição convencionalista-legalista, ou seja, de que a definição de serviço públicoestá na Constituição ou em leis ordinárias editadas de acordo com as diretrizesconstitucionais (v.g. CELSO ANTÔNIO, SUNDFELD, MARIA S YLVIA) e outros que defendem umaposição essencialista, no sentido de que seria serviço público toda atividade

relevante que não pudesse ser satisfatoriamente prestada pelo particular (v.g.CARMEN LÚCIA, EROS GRAU).

Neste último sentido, na definição de EROS GRAU, serviço público é “atividadeindispensável à consecução da coesão social. Mais: o que determina acaracterização de determinada parcela da atividade econômica em sentido amplocomo serviço público é sua vinculação ao interesse social.” E prossegue: “ointeresse social exige a prestação de serviço público; o relevante interesse coletivo

e o imperativo da segurança nacional, o empreendimento de atividade econômica

em sentido estrito pelo Estado.”

 Já de acordo com a definição convencionalista, serviço público em sentidoestrito é aquele que pode ser suscetível de licitação para concessão ou permissão.Ou seja, serviço público em sentido estrito é atividade econômica atribuída ao

Estado, em regime de privilégio, e que pode ser desempenhada pela iniciativa

 privada de acordo com certas formalidades e requisitos ( AGUILLAR ).

Pois bem. Da análise do art. 175, único que trata do serviço público, surge anecessidade de se distinguir entre serviço público em sentido estrito e serviçopúblico em sentido amplo, sendo que apenas o primeiro conceito refere-se aodispositivo constitucional citado. A primeira categoria refere-se às funções

estatais. Desses conceitos defluem algumas consequências:

i. nem todo serviço público é delegado a particulares, mas todo serviçopúblico desempenhado por particulares só poderá sê-lo medianteconcessão ou permissão;

ii. as atividades desempenhadas por particulares que não o sejammediante concessão ou permissão não são serviços públicos, ouentão estão em situação irregular;

iii. nem toda atividade concedida ou permitida é serviço público (v.g.

lavra de minerais), mas todo serviço público pode ser concedido oupermitido a particulares;

iv. se houver vedação a que uma determinada atividade seja delegadapelo Estado a particulares, então ela não pode ser consideradaserviço público;

v. se uma atividade puder ser desempenhada por particulares semconcessão ou permissão, ela não pode ser considerada serviçopúblico.

De modo geral, são características do regime de direito público aplicável aoserviço público: submissão estrita ao princípio da legalidade, utilização de técnicas

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autoritárias (v.g. Ato unilateral), presunção de legitimidade, revogabilidade,autoexecutoriedade, unilateral declaração de nulidade, continuidade necessáriadas atividades tidas como públicas, obediência à isonomia (CABM).

As concessões de serviço foram regulamentadas, de forma geral, pelas Leis

n º 8.987/95 e 9.074/95. Pode-se apontar as seguintes características gerais deconcessão e permissão:

• há fiscalização e acompanhamento por parte do Estado;

• concessionária recebe remuneração diretamente do usuário, explorando aatividade por sua conta e risco;

• escolha feita por licitação pública;

• devem, em regra, atender aos princípios da continuidade do serviço público

e da universalização;

• concessionárias devem prestar contas ao Estado de seus atos e responderem face dos direitos dos usuários.

Segundo Aguillar, todo serviço público é delegável, sendo que a Constituiçãosequer impõe necessariamente uma política de concentração regulatóriaoperacional em matéria de serviços públicos. OUTRAS POSIÇÕES.

O Estado pode desempenhar atividades econômicas em sentido estritoquando houver autorização constitucional e quando assim permitir a lei fundada

em motivo de segurança nacional ou relevante interesse coletivo. E o Estado podedesempenhar serviços públicos desde que previstos constitucionalmente.

Neste sentido, não é a essencialidade da atividade econômica quedetermina sua natureza de serviço público, mas sim o direito positivo(Constituição). Por exemplo: a saúde e educação, apesar de serviços essenciais,são atividades livres para a iniciativa privada (arts. 199 e 209). De outro lado, oEstado pode prestar certas atividades econômicas em sentido estrito nãonecessariamente para atender a interesse relevante coletivo, desde que previstoconstitucionalmente. Portanto, a definição de serviço público seguiria um caráterconvencionalista (AGUILLAR).

EROS GRAU, seguindo uma definição essencialista, distingue serviços públicos

 privativos dos não privativos. Entre os primeiros, estariam aqueles cuja prestaçãoé privativa do Estado, sendo sua execução por particular admitida somente sobconcessão ou permissão. Entre os segundos, aqueles que podem ser prestadospelo particular independentemente de concessão, permissão ou autorização, comoo caso de serviços de saúde e educação. Assim, nestes casos, mesmo quando umparticular preste o serviço de saúde ou educação, estaríamos diante de um serviçopúblico. Ademais, para este autor, nem toda atividade cuja exploração é atribuídaao Estado pode ser considerada serviço público. Aquelas executadas em regime de

monopólio por razões outras que não “os interesses do trabalho” não são serviçopúblico (v.g. lavra de minérios ou exploração de serviços e instalações nucleares).

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As atividades econômicas prestadas pelo Estado estão previstas naConstituição ou na legislação ordinária. Somente a União pode monopolizaratividades econômicas. Podem ser suscetíveis ou não de contratação com ainiciativa privada (exceção: atividades de exploração de minerais nucleares). Asatividades econômicas desempenhadas pelo Poder Público, em regime de

concorrência, que não estiverem previstas na CF, devem ser instituídas apenasmediante lei.

6. A ordem econômica internacional

a) Organização Mundial do Comércio (OMC):

O GATT (Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio) foi instituído em 1947,estabelecendo que a circulação de mercadoria deveria ser livre. E, em 1995, foi

criada a OMC , instituição autônoma da ONU, para implementar o GATT. Destaforma, os países que adotem medidas protecionistas podem ser sancionados pelaOMC, que tem o poder de autorizar retaliações comerciais1. Atualmente osmembros da OMC representam mais de 90% do mercado mundial.

A função principal da OMC é permitir um comércio internacional livre debarreiras e tratamentos discriminatórios, sendo que sua atuação abrangemercadorias, serviços e IP. Tem como tarefas: administrar os acordos sob suaégide, resolver conflitos comerciais, monitorar políticas comerciais nacionais,prestar assistência a países em desenvolvimento e cooperar com organizaçõesinternacionais.

É possível que os países-membros abram processos na OMC (Painéis) combase em alegação de infração de algum acordo. Os julgamentos são então feitospor especialistas independentes que interpretam os acordos. Não há mais apossibilidade de veto por um só país.

A OMC atua, ainda, como órgão consultivo.

b) Fundo Monetário Internacional (FMI):

Criado em 1944 na Conferência de Bretton Woods para ser a instituição

encarregada de preservar o funcionamento harmonioso do sistema monetáriointernacional. Estebeleceu ainda um sistema de câmbio fixo (regime de BrettonWoods), que durou de 1945 a 1973, e que tinha como padrão de referência o dólar.Contudo, após sucessivas crises, os EUA optaram por suspender a conversibilidadedo dólar em outro, levando a uma livre flutuação do valor do dólar e acabando como sistema de Bretton Woods. Desde então a principal função do FMI tem sido aassistência financeira temporária a países em desenvolvimento.

1 GATT se refere a: i) órgão que foi extinto e substituído pela OMC; ii) tratado, ainda emvigor, que é o principal repositório de normas que regem o comércio internacional.

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Neste novo contexto a principal função do FMI é monitorar os países para osquais emprestou, verificando se suas políticas públicas estão de acordo com asregras do Fundo.

Quanto ao sistema decisório, o controle do FMI é distribuído de acordo com

a contribuição de seus membros. O órgão com maior poder é o Comitê deGovernadores, composto normalmente pelo Ministro das Finanças ou presidente doBanco Central de cada país e seu suplente.

c) Banco Mundial:

 Também criado em 1944, tem uma estrutura análoga ao FMI, contando comos mesmos membros e com direção atribuída ao Comitê de Governadores. Temespecial influência na formulação das condições para execução de contratos definanciamento. É composto por 5 instituições:

• BIRD (Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento): fazempréstimos em condições favoráveis a países subdesenvolvidos;

• IDA (Associação do Desenvolvimento Internacional): faz financiamento sem juros aos 81 países mais pobres;

• IFC (Grupo de Corporação Financeira Internacional): financiamento ao setorprivado, mas sem garantias governamentais;

• MIGA (Agência de Garantia de Investimento Multilateral): fornece garantias ainvestidores contra riscos não comerciais;

• ICSID (Centro Internacional para Solução de Controvérsias Relativas aInvestimento): propicia instalações para a conciliação e a arbitragem delitígios em matéria de investimentos.

d) ONU:

Criada em 1945 pela Carta de São Francisco é a principal organizaçãomultilateral contemporânea. No plano das políticas econômicas sua participação einfluência se dá por meio de Conferências permanentes, programas de ação,resolução da Assembleia Geral e manifestação de seus Conselhos.

No tocante às declarações, vale destacar: Declaração do Programa de Ação

 para o Estabelecimento de uma Nova Ordem Econômica Mundial (1974), Carta dos

Direitos e Deveres Econômicos dos Estados (1974) e a recente Conferência

Internacional sobre o Financiamento do Desenvolvimento (2002).

Quanto às instituições e programas, destacam-se:

• ECOSOC (Conselho Econômico e Social): estuda temas relacionados àsquestões econômicas e sociais e apresenta recomendações práticas;

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• UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e oDesenvolvimento): instituição voltada a influenciar os debates políticossobre o desenvolvimento sustentável;

• PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento): organismo

operacional do sistema de assistência da ONU, tem por missão promover odesenvolvimento social, ambiental, tecnológico e eliminar a pobreza;

• PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente): cuida dasquestões ligadas ao meio ambiente.

e) Sistema Generalizado de Preferências:

Há uma regra geral entre os membros do GATT-OMC, chamada Cláusula daNação mais favorecida (NMF), que estabelece que todas as vantagens, favores,privilégios ou imunidades concedidas por um contratante a um produto

proveniente ou com destino a qualquer outro país signatário serão imediata eincondicionalmente estendidos a produto similar proveniente ou com destinaçãoao território de todos os países signatários. Contudo, o regime apresenta certasexceções a esse preceito.

7. A redução das desigualdades regionais e sociais. Desenvolvimento e

planejamento regional. Desenvolvimento regional e federalismo

cooperativo.

A partir da Constituição de 1946, todas as Constituições brasileiras têm seocupado em consagrar instrumentos para a redução das desigualdades regionais.Mas é com a CF/88 que a questão ganha maior importância.

Estando presente no art. 3º da CF, a questão da redução das desigualdadesregionais como um dos objetivos da República vincula todos os poderes públicos.Assim, devem agir no sentido de concretizar tal objetivo. E, neste sentido, umaatuação dos poderes em contrariedade a tal objetivo pode ensejar a declaração deinconstitucionalidade material.

O chamado federalismo cooperativo é erigido sobre o fundamento básico da

cooperação entre as unidades federadas tendo por finalidade o objetivo nacionaldo desenvolvimento equilibrado. Assim, os entes federativos devem atuar deforma coordenada com o Poder Central em busca de um objetivo comum. Esteposicionamento está de acordo com a autonomia de cada unidade federada, comreservas de áreas exclusivas (competência indelegável) ou privativas(possibilidade de delegação) e áreas de atuação comum, onde as entidadesfederativas agem de forma paralela e concorrente, com a União traçando asdiretrizes gerais. Este Federalismo Cooperativo estaria, segundo BERCOVICI, emestreita ligação com o Estado intervencionista (Estado Social), que tem porobjetivos, entre outros, por determinação expressa da Constituição Federal, a

igualação das condições sociais de vida e a redução das desigualdadessocioeconômicas no território nacional.

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Sob a Constituicao de 1988, portanto, o grande objetivo do federalismo e a  busca da cooperacao entre Uniao e entes federados, equilibrando a  descentralizacao federal com os imperativos da integracao economica nacional.  Assim, o fundamento do federalismo cooperativo, em termos fiscais, e a  cooperacao financeira, que se desenvolve em virtude da necessidade de  

solidariedade federal por meio de politicas publicas conjuntas e de compensacoes  das disparidades regionais

Ademais, a descentralizacao das politicas publicas deve ser realizada de  forma gradual, apoiada em programas de assistencia tecnica e financeira, com o  objetivo de evitar rupturas e prejuizos para a populacao. Ou seja, a  descentralizacao deve ser realizada de maneira articulada, nao conflitiva, como  vem ocorrendo.

8. Política industrial e política de inovação tecnológica. Desenvolvimentotecnológico, capacidade internacional e superação do

subdesenvolvimento.

Observando-se o art. 219 da CF à luz do desenvolvimento nacional (art. 3º,II, da CF), temos que a Constituição traçou, em relação à ciência e tecnologia, umpapel central para garantia da emancipação nacional, relacionando-o, portanto,com o art. 218. Em síntese, o sistema econômico deve ser apoiado paradesenvolver-se e ampliar o desenvolvimento do país e, consequentemente, asuperação do subdesenvolvimento.

A questão remonta ao pensamento de Celso Furtado, o qual cunhou aexpressão “desenvolvimento tecnológico dependente”, ligado à ideia de que oavanço tecnológico chegava ao Brasil através da difusão dos bens de consumo quesua evolução produzia nos centros do sistema capitalista. Foi por influência dopensamento da CEPAL e do desenvolvimentismo que, entre 1949 e 1964, o Estadoevolui de mero prestador de serviços para agente responsável pela transformaçãodas estruturas econômicas, promovendo a industrialização.

9. Direito Econômico, políticas públicas e desenvolvimento. O debateentre perspectivas setoriais e a visão de totalidade.

De acordo com Maria Paula Dallari Bucci, “politicas publicas sao os  programas de acao governamental visando coordenar os meios a disposicao do  Estado e as atividades privadas, para a realizacao de objetivos socialmente  relevantes e politicamente determinados”. Buscam, portanto, a concretizacao do  programa constitucional e a reformulacao das concepcoes tradicionais do nosso  direito publico, especialmente a reconstrucao do direito administrativo a partir da  acao do Estado para a satisfacao do interesse social.

Entretanto, em que pese a importância das políticas públicas, nao e possivel  promover ou compreender o papel do Estado no processo de desenvolvimento

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exclusivamente atraves das politicas publicas. As politicas publicas sao sempre  programas setoriais. O choque que existe se da entre uma visao global e de  territorialidade, que e a do desenvolvimento e do planejamento, com uma visao  setorial e fragmentada, que e a das politicas publicas. Segundo Gilberto Bercovici,  a expressão “política pública” substitui o “serviço público” da doutrina de Leon

Duguit.

Neste sentido, nao e possivel buscar compreender a unidade politica por  meio da analise fragmentada das politicas publicas. A rearticulacao do direito  publico deve se dar em torno de uma renovada Teoria do Estado, com visao de  totalidade, capaz de compreender as relacoes entre a politica, a democracia, a  soberania, a constituicao e o Estado. Portanto, para o estudo do desenvolvimento,  com todas as suas possibilidades emancipatorias, nao faz sentido a fragmentacao  da atual analise de politicas publicas. O desenvolvimento impoe a necessidade de  repensarmos um planejamento abrangente.

Vale sublinhar, por fim, que esta questão tem íntima ligação com ofederalismo cooperativo.

10. Direito econômico e empresa. A empresa como agente econômico.