direitos_humanos-01.10.13

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Direitos humanos* Marcia Cristina de Oliveira** *Versão completa do texto inédito produzido para o Curso de Prevenção do Uso de Drogas: Capacitação para Conse- lheiros e Lideranças Comunitárias, 5ª edição (2013). **Pedagoga e Mestre em Educação pela Universidade de São Paulo. É Consultora da Secretaria de Direitos Huma- nos da Presidência da República, na área de Educação e Direitos Humanos.

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  • Direitos humanos*Marcia Cristina de Oliveira**

    *Verso completa do texto indito produzido para o Curso de Preveno do Uso de Drogas: Capacitao para Conse-lheiros e Lideranas Comunitrias, 5 edio (2013).**Pedagoga e Mestre em Educao pela Universidade de So Paulo. Consultora da Secretaria de Direitos Huma-nos da Presidncia da Repblica, na rea de Educao e Direitos Humanos.

  • 2Diretos Humanos

    Direitos Humanos

    Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. So do-tadas de razo e conscincia e devem agir em relao umas s outras com

    esprito de fraternidade.

    Ao fim das unidades, voc ter compreendido que:

    os Direitos Humanos so direitos universais, inerentes pes-soa humana, e baseiam-se no princpio de respeito em rela-o ao indivduo, no qual cada pessoa um ser moral e racio-nal que merece ser tratado com dignidade. Esses direitos so considerados fundamentais porque, sem eles, a pessoa no capaz de se desenvolver e de participar plenamente da vida em sociedade;

    no existe um direito mais importante que o outro. Para o pleno exerccio da cidadania, preciso a garantia do conjun-to dos Direitos Humanos. Respeitar os Direitos Humanos promover a vida em sociedade, sem nenhum tipo de discri-minao, seja de classe social, cultura, religio, raa, etnia ou orientao sexual;

    os Direitos Humanos constituem uma poderosa referncia no enfrentamento das violncias, das desigualdades e das injusti-as sociais; da a necessidade da construo de uma rede social de promoo e de defesa desses direitos, como tambm da pro-posio e do monitoramento de polticas pblicas diversifica-das e inclusivas.

    Declarao Universal dos Di-reitos Humanos. Artigo 1. ONU.

    1948.

  • 3 Direitos Humanos

    Histria, fundamentos e proteo dos direitos humanos

    O que so os Direitos Humanos? Por que eles esto em evidncia nos dias atuais? Qual a importncia da promoo de uma cultura baseada nos Direitos Humanos?

    Um pouco da Histria e dos Fundamentos dos Direitos Humanos

    Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos.

    A histria um profeta com o olhar voltado para trs: pelo que foi, e contra o que foi, anuncia o que ser.

    (Eduardo Galeano)

    Nem sempre as sociedades estiveram organizadas como as conhecemos nos dias atuais. Ao longo da histria, a humanidade evoluiu naquilo que diz respeito s formas de sobrevivncia e de organizao da vida em comunidade, buscando consolidar princpios solidrios e de respeito vida. Parece ser um consenso: ningum vive sozinho, e contextos de grandes desigualdades e de violncias colocam a vida em situao de permanente vulnerabilidade.

    Situaes de conflito armado (causadas principalmente por divergn-cias polticas, religiosas, culturais, tnico-raciais e disputas territoriais), so uma constante em nossa histria. Por outro lado, e muitas vezes em resposta a tais situaes, temos uma histria de construo de realidades nas quais a vida considerada o valor maior e deve, portanto, ser pro-tegida e viabilizada na sua integridade. Dessa compreenso, surgem di-versos mecanismos de defesa dos Direitos Humanos e de promoo de uma cultura que se oponha radicalmente a todos os tipos de violncia.

    nesse contexto de construo de valores humanistas e de promoo de uma cultura pautada na paz, que percebemos e tecemos a Histria

  • 4Diretos Humanos

    dos Direitos Humanos. importante considerar que tal processo tem se dado em meio a conflitos, disputas e conquistas.

    Os Direitos Humanos refletem uma concepo de mundo, de sociedade que se deseja construir, e de pessoas que se deseja formar. No uma ddiva, uma inspirao intelectual, ou mais um modismo o que fun-damenta esse movimento, mas os prprios processos e aprendizagens acumulados pela humanidade, nas mais diversas reas, experincias e descobertas. um processo de construo humana, de apreenso e de recriao da realidade.

    principalmente a partir da segunda metade do sculo XX que o pa-radigma dos Direitos Humanos se consolida reunindo referenciais ju-rdicos, tericos e emprico-metodolgicos. Desde ento, ampliou-se o escopo de direitos e hoje trabalhamos com uma abordagem que rene no somente os direitos civis e polticos, mas tambm os direitos sociais, econmicos, culturais e ambientais. O princpio mximo desse paradig-ma a universalidade da dignidade humana, sendo considerada a sin-gularidade de cada indivduo e seu segmento sociocultural.

    Nesse sentido, a Declarao Universal dos Direitos Humanos, procla-mada em 1948, uma referncia basilar na qual encontramos todos os princpios e direitos expressos. Esse documento um marco para a hu-manidade, uma vez que buscou alinhar as naes a um compromisso de defesa incondicional do direito de todos vida digna em qualquer contexto em que ela se encontre.

    Vejamos o que diz a Declarao:

    DECLARAO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

    Adotada e proclamada pela resoluo 217 A (III) da Assembleia Geral das Naes Unidas em 10 de dezembro de 1948

    Prembulo

    Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da famlia humana e de seus direitos iguais e inalienveis o fundamento da liberdade, da justia e da paz no mundo,

  • 5 Direitos Humanos

    Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos brbaros que ultrajaram a conscincia da Hu-manidade e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de crena e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspi-rao do homem comum.

    Considerando essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem no seja compelido, como ltimo recurso, rebelio contra a tirania e a opresso,

    Considerando essencial promover o desenvolvimento de relaes amistosas entre as naes,

    Considerando que os povos das Naes Unidas reafirmaram, na Car-ta, sua f nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no val-or da pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condies de vida em uma liberdade mais ampla,

    Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a desen-volver, em cooperao com as Naes Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e liberdades fundamentais e a observncia desses direitos e liberdades,

    Considerando que uma compreenso comum desses direitos e liber-dades da mais alta importncia para o pleno cumprimento desse compromisso,

    A Assembleia Geral proclama

    A presente Declarao Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as naes, com o objetivo de que cada indivduo e cada rgo da sociedade, tendo sempre em mente esta Declarao, se esforce, atravs do ensino e da educao, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoo de medidas progressivas de carter nacional e interna-cional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observncia uni-versais e efetivos, tanto entre os povos dos prprios Estados-Mem-bros, quanto entre os povos dos territrios sob sua jurisdio.

  • 6Diretos Humanos

    Artigo I Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. So dotadas de razo e conscincia e devem agir em relao umas s outras com esprito de fraternidade.

    Artigo II Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declarao, sem distino de qualquer espcie, seja de raa, cor, sexo, lngua, religio, opinio poltica ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condio.

    Artigo III Toda pessoa tem direito vida, liberdade e segurana pessoal.

    Artigo IV Ningum ser mantido em escravido ou servido, a escravido e o trfico de escravos sero proibidos em todas as suas formas.

    Artigo V Ningum ser submetido tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

    Artigo VI Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a lei.

    Artigo VII Todos so iguais perante a lei e tm direito, sem qualquer distino, a igual proteo da lei. Todos tm direito a igual proteo contra qualquer discriminao que viole a presente Declarao e contra qualquer incitamento a tal discriminao.

    Artigo VIII Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais competentes remdio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituio ou pela lei.

    Artigo IX Ningum ser arbitrariamente preso, detido ou exilado. [...].

    => Para continuar a ler este documento, que possui 30 artigos, acesse: http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm.

  • 7 Direitos Humanos

    Os Direitos Humanos so, portanto, um conjunto de princpios e de direitos que, juntos, representam a defesa e a promoo da vida digna para a pessoa humana. Isso implica considerar a universalidade do ser humano e tambm as especificidades de cada pessoa, ou seja, a prtica dos Direitos Humanos deve considerar que o direito vida digna um princpio que rege todas as polticas pblicas diante da especificidade de cada grupo e de cada segmento social. Segundo Rodrigues (2007, p.11),

    A Declarao consolidou uma viso contempornea de direitos humanos marcada pela universalidade, pela indivisibilidade e pela interdependncia.A universalidade implica o reconhecimento de que todos os indivduos tm direitos pelo mero fato de sua humanidade. [...]A indivisibilidade implica na percepo de que a dignidade humana no pode ser buscada apenas pela satisfao de direitos civis e polticos, [...].J a interdependncia aponta para a ligao existente entre os diversos direitos humanos. A efetivao do voto, que um direito poltico, depende da garantia do direito educao, que um direito social. [...]O conceito atual de direitos humanos foi confirmado com a realizao da Conferncia mundial sobre Direitos Humanos, ocorrida em Viena, em 1993. Naquela ocasio, foram elaborados a Declarao e o Programa de Ao de Viena. Em seu pargrafo quinto, a Declarao estabelece que: Todos os direitos humanos so universais, interdependentes e inter-relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos humanos globalmente de forma justa e equitativa, em p de igualdade e com a mesma nfase.

    nessa esteira que a luta pelo direito vida digna na diversidade vem consolidando novos debates e promovendo a constituio de um marco legal abrangente (mundial, regional e local) e de um marco terico atua-lizado, multidisciplinar, que considere novas compreenses e as culturas instituintes dessas realidades, e, sobretudo, pautando a proposio de polticas pblicas diversificadas e inclusivas.

    Proteger, promover e consolidar a cultura dos Direitos Humanos

    A essncia dos Direitos Humanos o direito a ter direitos.(Hannah Arendt)

    O movimento em defesa dos Direitos Humanos ganhou fora, interna-cionalmente, principalmente aps o fim da Segunda Guerra Mundial

    Atente-se para o fato de que a

    Declarao Universal pressupe igual-

    dade formal, e no igualdade de condi-es ou materiais. Existem, todavia,

    direitos especficos para grupos espec-ficos, as chamadas

    minorias. Tais direitos no se

    destinam a garantir privilgios, mas an-tes igualdades de

    condies. Quanto a essa questo,

    Ghiraldelli (2013, p. 50) ressalta que As minorias no so minorias pela

    questo quantitati-va, mas por razes que tm a ver com

    as prticas e as necessidades ou desejos de seus

    integrantes, como tambm porque

    possuem uma re-presentao social e/ou poltica menos

    hegemnica.

  • 8Diretos Humanos

    (1945). J no Brasil, o final do perodo da Ditadura Militar (1985) pos-sibilitou a ampliao da mobilizao em defesa dos direitos fundamen-tais e, consequentemente, a consolidao de conquistas importantes nesse campo, entre elas a nossa Constituio Federal (1988).

    Como j dito anteriormente, o paradigma dos Direitos Humanos re-presenta um ideal de mundo e de ser humano. No est dado, precisa ser recriado permanentemente diante de cada contexto e demanda dos diferentes povos. Isso implica: profundo respeito e valorizao da vida e do regime democrtico; conhecimento das diferentes culturas, mo-dos de vida e necessidades dos segmentos sociais; compreenso do fun-cionamento das instituies polticas; organizao da sociedade civil; e monitoramento do funcionamento do Estado.

    Esse conjunto dinmico e qualificado de instituies e sujeitos polticos pode fazer a diferena em contextos de luta pela garantia de direitos. Ao olharmos para a histria, percebemos no s as muitas conquistas e mudanas, mas tambm o quanto precisa ser feito. Talvez estejamos somente iniciando a nossa tarefa, uma vez que:

    ainda existem muitos conflitos armados no mundo e no Brasil;

    a fome e a misria esto presentes nos continentes colonizados pelos europeus e norte-americanos;

    a discriminao de todos os tipos ainda est por ser vencida;

    o acesso ao saneamento bsico e sade absolutamente pre-crio para grande parte da populao mundial;

    a explorao indiscriminada do meio ambiente causa proble-mas quase irreversveis para a vida no planeta;

    a compreenso de crianas, adolescentes, jovens e idosos, como prioridade, uma construo a ser consolidada;

    a violncia e a tortura esto presentes e visveis, sendo uma cul-tura a ser superada.

    Tal cenrio pode ser desvelado medida que nos interessarmos por co-nhecer e enfrentar essas realidades; no de qualquer maneira, mas com

    Ditadura MilitarSobre esse perodo da histria do Bra-sil, voc pode as-

    sistir aos seguintes filmes: Pra frente

    Brasil (1982); O que isso, companheiro (1997); Zuzu Angel (2006); Batismo de sangue (2007); O ano em que meus

    pais saram de frias (2006).

    Constituio Federal

    A Constituio de 1988 conhecida

    como a Consti-tuio Cidad por

    abarcar uma gama indita de direitos e deveres, bem como pelo prprio proces-so de construo, que contou com ampla participa-o popular. O texto atualizado

    da Constituio da Repblica Federa-tiva do Brasil est

    disponvel em http://www.senado.gov.br/

    legislacao/const/.

  • 9 Direitos Humanos

    responsabilidade e compromisso. Essas realidades precisam ser trans-formadas por meio de polticas de Estado, permanentes, de amplo al-cance, diversificadas e inclusivas. Ao mesmo tempo, indispensvel a atuao comprometida da sociedade civil organizada e de cada cidado. Essa parceria possibilita: o atendimento das necessidades locais (espe-cficas), e globais (universais); a construo de conhecimentos; e a pro-posio de poltica pblica diferenciadas, meios para consolidar novas prticas culturais.

    O caminho longo, no tenhamos dvidas.

    Apresentamos, a seguir, algumas das principais conquistas no marco jurdico dos Direitos Humanos, no campo internacional e no campo nacional. Tais conquistas tm se desdobrado em dispositivos legais, em instituies governamentais e no governamentais, e organizado redes de proteo de direitos.

    Esfera Internacional

    Declarao Universal dos Direitos Humanos (1948)

    Declarao dos Direitos da Criana (1959)

    Declarao sobre a Eliminao de Todas as Formas de Discri-minao Racial (1963)

    Declarao sobre o Fomento entre a Juventude dos Ideais de Paz, Respeito Mtuo e Compreenso entre os Povos (1965)

    Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Polticos e Pacto Internacional dos Direitos Econmicos, Sociais e Culturais (1966)

    Conveno sobre a Eliminao de Todas as Formas de Discri-minao Contra a Mulher (1979)

    Conveno Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruis, Desumanos ou Degradantes (1984)

    Conveno sobre os Direitos da Criana (1989)

    Carta de Princpios sobre a Proteo de Pessoas Acometidas de Transtorno mental (1991)

    Polticas de Estado

    Conforme Oliveira (2011, p. 329), Con-sidera-se que polti-cas de governo so aquelas que o Exe-cutivo decide num

    processo elementar de formulao e

    implementao de determinadas me-didas e programas, visando responder s demandas da agenda poltica

    interna, ainda que envolvam escolhas complexas. J as

    polticas de Estado so aquelas que

    envolvem mais de uma agncia do

    Estado, pas- sando em geral pelo Parlamento ou por instncias diversas de dis-

    cusso, resultando em mudanas de

    outras normas ou disposies

    preexistentes, com incidncia em seto-res mais amplos da

    sociedade.

    Marco jurdicoVoc pode saber

    mais sobre esses e outros documentos consultando alguns

    stios: www.onu.org.br; www.mj.gov.br; www.sdh.gov.br; www.direitoshuma-

    nos.usp.br

  • 10Diretos Humanos

    Declarao sobre Educao para Todos (2000)

    Declarao Universal sobre a Diversidade Cultural (2001)

    Conveno sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia (2007)

    Esfera Nacional

    Constituio Federal (1988)

    Lei n 7.716 (1989): define os crimes resultantes de preconcei-to, de raa ou de cor.

    Estatuto da Criana e do Adolescente (Lei n 8.069/1990)

    Criao do SUS (Lei n 8.080/1990)

    Programa Nacional de Direitos Humanos (1996)

    Lei de Diretrizes e Bases da Educao (Lei n 9.394/1996)

    Lei de Crimes Ambientais/Lei da Natureza (Lei n 9.605/1998)

    Plano Nacional de Educao (2000)

    Lei n 10.216 de (2001): sobre a proteo e os direitos das pes-soas portadoras de transtorno mental e o redirecionamento do modelo assistencial em sade mental.

    Estatuto do Idoso (Lei n 10.741/2003)

    Plano Nacional de Educao em Direitos Humanos (2003)

    Plano Nacional de Polticas para as Mulheres (2005)

    Plano Nacional de Enfrentamento ao Trfico de Pessoas (2008)

    Plano Nacional de Promoo da Igualdade Racial (2009)

    Poltica Nacional para Incluso Social da Populao em Situa-o de Rua (2009)

    Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficincia (2011)

  • 11 Direitos Humanos

    Esses so alguns exemplos de que vivemos tempos nos quais a democra-cia, a cidadania, a participao e os direitos fundamentais ganham no-vos significados e devem ser a referncia para a estruturao de polticas pblicas cada vez mais inclusivas, capazes de atender as necessidades dos diferentes segmentos sociais e, principalmente, ser um poderoso instrumento de combate s desigualdades de todos os tipos, ainda per-sistentes em nosso pas.

    A organizao e a participao, nesse sentido, so aspectos funda-mentais para que consigamos realmente viver novas realidades naquilo que tange aos Direitos Humanos.

    Resumo

    Nesta unidade voc aprendeu que os Direitos Humanos so direitos universais, inerentes pessoa humana e representam uma importante referncia na luta contra todos os tipos de violncia e desigualdades. Conheceu a Declarao Universal dos Direitos Humanos e alguns documentos internacionais e nacionais que organizam o marco jurdico desse importante paradigma.

    Atividade de sistematizao 1:

    Para refletir e debater

    Assista ao vdeo O que so os Direitos Humanos. A Histria dos Direitos Humanos e, em seguida, responda s questes abaixo. Aps esse mo-mento de estudo, realize um debate com seus colegas, socializando suas ideias e respostas.

    Para assistir ao vdeo, acesse: http://br.humanrights.com/#/what-are-hu-

    man-rights

  • 12Diretos Humanos

    Questes

    Que situaes do seu cotidiano voc identifica como violao dos

    Direitos Humanos?

    Que instituies voc conhece que atuam na defesa e/ou na pro-moo dos Direitos Humanos?

    Em sua opinio, qual a importncia de consolidarmos uma cultura dos Direitos Humanos?

    Para organizar um acervo pessoal:

    Alm das dicas disponibilizadas ao longo do texto, listamos a seguir outras referncias sobre a temtica abordada nesta Unidade, para que voc possa continuar estudando e conhecendo mais sobre como atuar na perspectiva dos Direitos Humanos.

    Livros de interesse:

    PIOVESAN, Flavia (Coord.). Direitos humanos. Curitiba: Juru, 2006. V.1. 736p.

    Sinopse: Este livro, estruturado em sete partes, aborda temticas centrais relativas reflexo contempornea que afeta os direitos humanos, compreendendo inicialmente o debate sobre o fundamento desses direitos (no marco da teoria geral dos direitos humanos), para, ento, enfocar temticas especficas relativas aos povos indgenas, ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentvel; direitos econmicos, sociais e culturais; aes afirmativas, direito ao trabalho e direito educao; direito vida, patrimnio gentico e avanos tecnolgicos; justia internacional e Tribunal Penal Internacional; e sistema interamericano de proteo dos Direitos Humanos e o Direito brasileiro.

    DEVINE, Carol; HANSEN, Carol Era; WILDE, Ralph; LARSSON, Fbio;POOLE, Hilary (Orgs.). Direitos Humanos: Referncias Essenciais. So Paulo: EDUSP Ncleo de Estudos da Violncia, 2007. 488p. (Srie Direitos Humanos, n 3).

    Sinopse: Este livro apresenta um panorama histrico dos Direitos Humanos e as mais importantes questes contemporneas relacionadas ao tema.

  • 13 Direitos Humanos

    TRINDADE, Jos Damio de Lima. Histria social dos Direitos Humanos. So Paulo: Peirpolis. 2002. 213p.

    Sinopse: Apresenta a histria dos Direitos Humanos, compondo um quadro amplo e documentado de sua evoluo, das mudanas de seu significado e de seus desdobramentos prticos nos ltimos 20 anos.

    Vdeos de interesse:

    O que so os Direitos Humanos. A Histria dos Direitos Humanos. (http://br.humanrights.com/#/what-are-human-rights).Documentrio produzido por United for the Human Rights

    Evoluo Histrica dos Direitos Humanos. (10 Mai. 2012 54 min. Direitos Humanos Evoluo Histrica dos Direitos Humanos)(http://www.youtube.com/watch?v=FwEZsvvmTWM)

    Ciclo de Debates Direitos Humanos, Justia e Memria_1. (11 jul. 2012 - 65 min FLACSO.)(http://www.youtube.com/watch?v=MIIAlbcOh6Y).

    Ciclo de Debates Direitos Humanos, Justia e Memria_2. (13 jul. 2012 - 112 min FLACSO) (http://www.youtube.com/watch?v=kszkGxxSVEY)

    Ciclo de Debates Direitos Humanos, Justia e Memria_3.(13 jul. 2012 - 71 min FLACSO) (http://www.youtube.com/watch?v=mPLx19qwOSg)

    -A FLACSO, em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidncia da Repblica e com o patrocnio da PETROBRAS, desenvolve o Ciclo de Debates Direitos Humanos, Justia e Memria. A iniciativa faz parte da Campanha Os Povos So Sua Memria, destinada a promover aes que contribuam com um amplo debate sobre os Direitos Humanos, a justia social e a memria histrica no Brasil.

    Stios de interesse

    Direitos Humanos no Brasil (http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/social-and-human-sciences/human-rights/). Direitos Humanos no Brasil, incluindo sua evoluo no pas.

  • 14Diretos Humanos

    Secretaria de Direitos Humanos da Presidncia da Repblica (SDH-PR) (www.direitoshumanos.gov.br/).Portal da Secretaria de Direitos Humanos da Presidncia da Repblica.

    Conectas Direitos Humanos.(www.conectas.org/).Uma organizao internacional no governamental, sem fins lucrativos, criada em So Paulo com a misso de fortalecer o respeito dos Direitos Humanos.

  • 16Sujeitos e atuao em direitos humanos

    Sujeitos e atuao em direitos humanos

    Quando falamos em Direitos Humanos, estamos nos dirigindo a quem? Que situaes nos remetem a esse paradigma? Como atuar nesse cam-po? Que estratgias existem para garantir os Direitos Humanos?

    Somos todos sujeitos de direitos

    Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. So do-tadas de razo e conscincia e devem agir em relao umas s outras com

    esprito de fraternidade.

    Como j vimos, viver com dignidade em um contexto de respeito aos direitos fundamentais tem sido uma busca permanente da sociedade civil e dos movimentos sociais, processo que se acentuou nas dcadas fi-nais do sculo XX, perodo conhecido como redemocratizao do Brasil. Foi a partir dos anos oitenta que os processos de defesa e concretizao dos direitos constitucionais e dos Direitos Humanos ganharam nova energia e visibilidade e, culturalmente, passaram a fazer parte do coti-diano nacional de uma maneira mais universalizada. Podemos conside-rar que, com o fim da Ditadura, a retomada dos princpios e garantias universais, instituintes da vida, e da vida em comunidade, se tornou um objetivo para a sociedade brasileira.

    Historicamente, os Direitos Humanos vm se transformando e am-pliando sua abordagem frente s conquistas sociais e transformaes culturais. A princpio, referiam-se ao homem na sua condio de indiv-duo (direitos de liberdade). Em seguida, observamos uma compreenso de homem como sujeito social e poltico (direitos de igualdade), aspecto que amplia o campo dos direitos para essas dimenses. Atualmente, a abordagem dos direitos humanos bem mais ampla, na medida em que se compreende o homem como um ser coletivo (direitos de fraternida-de e solidariedade), que existe em um mundo em interao, complexo,

    Declarao Universal dos Di-reitos Humanos, 1948. Artigo 1.

    amplia o campo dos direitos para essas dimenses

    At pouco tempo atrs, a palavra

    democracia levava o ima-

    ginrio social a remeter-se ao

    que chamado de regime socio-poltico, aquele

    no qual uma nao decide seu destino por meio da sua maioria.

    Hoje, no entanto, em termos gerais,

    dizemos que uma democracia liberal plena se, com a prtica de governo da maio-

    ria, est asso-ciada garantia dos direitos das minorias, princi-

    palmente o direito de existncia,

    livre expresso, proteo da lei

    e representao poltica.

    (GHIRALDELLI, 2013, p. 52)

  • 17 Sujeitos e atuao em direitos humanos

    quase sem fronteiras, que graas aos avanos tecnolgicos amplia in-finitamente as possibilidades de trocas, de construo de conhecimento e de acesso s informaes.

    A construo histrica dos Direitos Humanos

    Direitos da primeira gerao ou direitos de liberdade: Surgiram nos sculos XVII e XVIII e foram os primeiros reconhecidos pelos textos constitucionais. Compreendem direitos civis e polticos, inerentes ao ser humano e oponveis ao Estado, visto na poca como grande opressor das liberdades individuais. Incluem-se nessa gerao o direito vida, segurana, justia, propriedade privada, liberdade de pensamento, voto, expresso, crena, locomoo, entre outros.

    Direitos da segunda gerao ou direitos de igualdade: Surgiram aps a Segunda Guerra Mundial com o advento do Estado Social. So os chamados direitos econmicos, sociais e culturais que devem ser prestados pelo Estado atravs de polticas de justia distributiva. Abrangem o direito sade, trabalho, educao, lazer, repouso, habi-tao, saneamento, greve, livre associao sindical, etc.

    Direitos da terceira gerao ou direitos de fraternidade/solidariedade: So considerados direitos coletivos por excelncia, pois esto volta-dos humanidade em sua totalidade. Nas palavras de Paulo Bona-vides (2003, p. 569), so [...] direitos que no se destinam especifi-camente proteo dos interesses de um indivduo, de um grupo ou de um determinado Estado. Tm por primeiro destinatrio o gnero humano mesmo, em um momento expressivo de sua afirmao como

    valor supremo em termos de existencialidade concreta. Incluem-se aqui o direito ao desenvolvimento, paz, comunicao, ao meio am-biente, conservao do patrimnio histrico e cultural da humani-dade, entre outros.

    Adaptado. Fonte: (http://juriscondictio.blogspot.com.br/2011/01/resumo-de-direitos-humanos.html). Pesquisado em 10/10/2012.

  • 18Sujeitos e atuao em direitos humanos

    Assim como se transformou a compreenso sobre o conjunto de direi-tos a serem garantidos, tambm tem se reconfigurado a compreenso sobre quem so os sujeitos desses direitos e qual a dinmica que se estabelece nessa relao, pois um indivduo , ao mesmo tempo, um sujeito social e coletivo. Dependendo da situao em que se encontra, pode demandar, acessar e buscar usufruir de um determinado conjunto de direitos. Assim sendo, voltamos compreenso de indivisibilidade e interdependncia dos Direitos Humanos. importante termos a cla-reza de que ns, cada indivduo, grupo ou coletivo, temos o direito de acessar os direitos, enquanto o Estado tem o dever de prover e garantir o acesso a eles.

    Sobre esse aspecto, vejamos uma sntese possvel, a seguir:

    Os sujeitos dos Direitos Fundamentais

    Sujeito Ativo Na situao de sujeito ativo, podemos categorizar quatro conjuntos de direitos, a depender da condio/das demandas dos indivduos:

    I. Os Direitos Individuais: So aqueles cujo titular uma pessoa fsica, um indivduo, um ser humano. A ele assimila-se todo direito de um ente personalizado.

    II. Os Direitos de Grupos: So, na definio legal do art. 81, pargrafo nico, III, do Cdigo do Consumidor, os direitos individuais homog-neos, assim entendidos os decorrentes de origem comum. Na ver-dade, consistem numa agregao de direitos individuais que, todavia, tm uma origem comum.

    III. Direitos Coletivos: o transindividual de natureza indivisvel. (Cdi-go do Consumidor, art.81, pargrafo nico, II), ou seja, o de que titu-lar de uma coletividade, povo, categoria, classe, etc., cujos membros esto entre si vinculados por uma relao jurdica bsica.

    IV. Direitos Difusos: o que se reconhece, sem individualizao, a toda uma srie indeterminada de pessoas que partilham de certas

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    condies. Isto , os transindividuais de natureza indivisvel, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstncias de fato. (Cdigo do Consumidor, art. 81, pargrafo nico, I).

    - De modo geral, as liberdades so direitos individuais, os direitos de solidariedade, direitos difusos, os direitos sociais, direitos individu-ais ou grupais. Os direitos-garantia podem ser direitos individuais, grupais ou difusos.

    Sujeito Passivo

    Na condio de sujeito passivo, pode-se dizer que o Estado ocupa essa posio em todos os casos. De fato, ele quem deve, principal-mente, respeitar as liberdades, prestar os servios correspondentes aos direitos sociais, igualmente prestar a proteo judicial, assim como zelar pelas situaes objeto dos direitos de solidariedade. Note-se, todavia, que no fica ele sozinho no polo passivo dos direitos

    fundamentais. Quanto s liberdades e aos direitos de solidariedade, todos esto adstritos a respeit-los. E, no tocante a direitos sociais especficos, a Constituio, por exemplo, inclui no polo passivo do

    direito educao a famlia. Ao lado do Estado (art. 205), quanto ao direito seguridade, inclui a sociedade (art. 195).

    Adaptado. Fonte: (http://juriscondictio.blogspot.com.br/2011/01/resumo-de-direitos-humanos.html). Pesquisado em 10/10/2012.

    Entendemos que as mudanas culturais aquelas que definem nossos modos de ser, agir e pensar ganham universalidade quando ampara-das na construo de um referencial jurdico-formal. Da mesma forma, as mudanas desencadeadas pelos textos legais s encontram sentido se refletem os anseios e sentimentos coletivos. Cultura e ao poltica se completam em cenrios de transformao, e nesse encontro, de mu-danas aceleradas e de composio de foras e de significados, que a temtica dos Direitos Humanos vem se constituindo.

    muito importante que as pessoas se apropriem, cada vez mais, desses conceitos, da histria e dos marcos constitudos, de modo a compreen-

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    derem seus papis sociais e tambm as responsabilidades dos governos e do Estado nesse processo dinmico e complexo de transformao social.

    Direitos Humanos, Democracia e Cidadania

    A Democracia o regime, por excelncia, promotor da cultura dos Di-reitos Humanos. Vejamos uma leitura possvel sobre essa questo:

    So cinco os princpios da democracia. So cinco e, juntos, totalmente suficientes. Cada um separado j uma revoluo. Pensar a liberdade, o que acontece em sua falta e o que se pode fazer com sua presena. A igualdade, o direito de absolutamente todos e a luta sem fim para que seja realidade. E assim o poder da solidariedade, a riqueza da diversidade e a fora da participao.E quanta mudana ocorre por meio deles. Se cada um separado quase daria para transformar o mundo, imagine todos eles juntos. O desafio de juntar igualdade com diversidade; de temperar com solidariedade conseguida pela participao. Essa a questo da democracia: a simultaneidade na realizao concreta dos cinco princpios, meta sempre irrealizvel, e ao mesmo tempo, possvel de se tentar a cada passo, em cada relao, em cada aspecto da vida. [...]. Cidadania e democracia se fundam em princpios ticos e, por isso, tm o infinito como seu limite. No existe o limite para a solidariedade, para a liberdade, para a igualdade, para a participao e para a diversidade... A democracia uma obra inesgotvel.

    Conversando com Betinho. In: Democracia Viva. N. 28, ago./set. 2005.

    Na concepo do autor, os princpios-direitos que fundamentam a de-mocracia e o exerccio da cidadania so os mesmos instituintes dos Di-reitos Humanos. Essa aproximao, essa organicidade, fundamental quando entendemos que os Direitos Humanos se concretizam em espa-os, tempos e condies concretas da vida das pessoas, das sociedades e, principalmente, na relao com o Estado. Sabemos que a existncia da lei no suficiente para garantir a existncia de novas realidades, mas fundamental para promover e garantir novas condutas. Precisamos de polticas, de prticas, de pessoas e de instituies comprometidas com a promoo de novas perspectivas polticas quando a temtica o bem-estar de todos.

    Nesse sentido, pensar e fazer a democracia acontecer em sua plenitude talvez seja um dos maiores desafios enfrentados pelas sociedades con-

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    temporneas. Outros existem e esto nas pautas governamentais: de-senvolvimento sustentvel com justia social, relaes internacionais e cultura da paz, por exemplo; mas a questo da instituio de uma de-mocracia na qual os processos de participao sejam efetivos, capazes de enfrentar e superar as imensas desigualdades existentes, parece ser o eixo que d sustentao a agendas mais promissoras e avanadas do ponto de vista da viabilidade e do fortalecimento da relao entre Esta-do e sociedade civil, na perspectiva da cidadania ativa.

    A Constituio Federal de 1988 formalizou no campo da lei a deman-da por modelos mais qualitativos de participao da sociedade civil nos processos de proposio, implantao e acompanhamento das polticas pblicas. Inmeros dispositivos e espaos de participao foram criados: Conselhos, Fruns, Conferncias, Audincias Pbli-cas, Oramentos Participativos, Ouvidorias, cada um deles tendo a legislao como um dos aportes para a estruturao de grupos de trabalho e rotinas voltadas a processos participativos.

    No campo das prticas democrticas, almejamos avanar do modelo de democracia de baixa intensidade (caracterizado por mecanismos de re-presentao eleies, voto) para o modelo de democracia de alta in-tensidade, cuja tnica busca articular mecanismos de representao e de participao, procedimento que tende a potencializar a qualifica-o do regime democrtico naquilo que diz respeito no somente representatividade, mas tambm diversidade, ao alcance e trans-parncia dos governos e da gesto das polticas pblicas.

    No entendimento de Santos e Avritzer (2003), o que se almeja rein-ventar a emancipao social, ou seja, precisamos valorizar e praticar a democracia da participao, que se alimenta dos debates, das di-ferentes realidades e demandas dos segmentos da populao. Essa a dinmica a ser vivida, elaborada e pronunciada nos tempos atuais. Podemos e devemos nos voltar para algumas experincias em curso no pas: experincias de criao e consolidao de espaos pblicos alternativos, nos quais real e concreto pensar e fazer poltica na perspectiva da qualidade e da diversidade, mesmo em cenrios em que a convivncia com padres de autoritarismo, clientelismo e vio-lncia ainda so a tnica da poltica e do convvio social.

    EmancipaoEmancipao um termo usado para descrever vrios esforos de obteno de direitos polticos ou de igualdade, frequentemente por um grupo

    especificamente privado de seus direitos ou mais

    genericamente na discusso de tais

    questes.

    ClientelismoVcio do compor-tamento poltico. Prtica poltica de troca de favores,

    na qual os eleitores so tidos como

    clientes. O poltico pauta seus projetos e funes de acor-do com interesses de indivduos ou grupos, com os

    quais cultiva uma relao de proxi-midade pessoal.

    Em troca, o poltico recebe votos. Desta

    forma, clientelis-mo diz respeito a trocas individuais de bens privados entre atores desi-

    guais, chamados de patres e clientes.

    A origem dessas re-laes vinculada sociedade rural tradicional, aos

    laos entre latifun-dirios e campone-ses, fundados na

    reciprocidade, con-fiana e lealdade

    (JUSBRASIL, 2013, no paginado).

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    Muito h que avanarmos nessa empreitada, de maneira inovadora, contextualizada. Cenrios em que o valor da argumentao e da diver-sidade das experincias de vida ganham destaque e passam a ser refe-rncia para a construo de realidades socialmente mais democrticas, mais justas e mais solidrias.

    Desde 2003 essa realidade est em transformao, experincia promo-vida no mbito do Governo Federal, com desdobramentos nos estados e municpios, conforme constata Lambertucci (2009, p. 72-73):

    A governabilidade poltica do pas constituda por meio da relao do Poder Executivo com o Legislativo democracia representativa , mas, no atual mandato presidencial, ganha importncia a relao do estado com a sociedade-democracia participativa. Ambas se complementam, fortalecendo a democracia de um modo geral. Na concepo desse governo no existe contradio entre modalidades de representao participativa (conferncias, conselhos, mesas de dilogos, ouvidorias e precursoras) e representativa. Elas so absolutamente complementares. As demandas sociais, que muitas vezes so dinmicas e mudam rapidamente, exigem debate contnuo. Neste contexto a participao social assume lugar de importncia, porque possibilita o dilogo cotidiano, permanente e dinmico entre a sociedade e os vrios representantes, estejam eles no Executivo ou no Legislativo, e permite canais de influncia consistentes.

    O mesmo autor (2009, p. 71) prossegue destacando a importncia da participao social em espaos institucionalizados de formulao de polticas pblicas:

    O Governo do Presidente Lula recuperou as funes do Estado combalidas pelo esvaziamento neoliberal, o que possibilitou maior eficincia administrativa, aes mais contundentes contra a corrupo e mais transparncia.Por outro lado, adotou, na gesto pblica, o dilogo social com as entidades da sociedade civil e o fortalecimento e consolidao dos espaos de participao social como forma de elaborao, aperfeioamento e acompanhamento das polticas pblicas, sempre reconhecendo a importncia das entidades da sociedade civil e respeitando sua representatividade e autonomia.A participao social no Governo Lula uma necessidade e assume papel central porque amplia e fortalece a democracia, contribui para a cultura da paz, do dilogo e da coeso social e a espinha dorsal do desenvolvimento social, da equidade e da justia. Acreditamos que a democracia participativa revela-se um excelente mtodo para enfrentar e resolver problemas fundamentais da sociedade brasileira.

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    A participao social ganha centralidade na promoo da cultura de paz, dos Direitos Humanos. pela participao que profissionais e ci-dados vo se constituindo agentes da democracia e sujeitos de direitos. uma conquista, um aprendizado. Essa participao pode se dar em diversos nveis (global, regional, local), e tambm pode ter qualidades diferentes, uma vez que podemos assumir papis diferentes em situa-es diferentes (atuar na proposio, na execuo, no monitoramento das polticas). O importante garantir a formao de uma rede capaz de agir e de incidir nas mais diversas situaes e contextos.

    ResumoNesta unidade, voc aprendeu que todas as pessoas so sujeitos dos Direitos Humanos, independente de grupo social, raa, religio, opo politica, idade, ou nacionalidade. Aprendeu que o Estado responsvel pela promoo e garantia desses direitos, e que a democracia e a participao cidad so processos indispensveis para a consolidao de realidades socialmente justas.

    Atividade de sistematizao 2:

    Para refletir e debater

    Assista ao vdeo Conselhos Municipais e, em seguida, responda s questes abaixo. Aps esse momento de estudo, realize um debate com seus colegas, socializando suas ideias e respostas.

    Para assistir ao vdeo, acesse: (https://www.youtube.com/watch?v=APE1vfcyZ_M&feature=related)

    Como voc caracteriza a cultura de participao da sua co-munidade?

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    Que questes voc identifica como dificultadoras da promo-o dos Direitos Humanos nos dias atuais?

    Qual o papel e a importncia dos Conselheiros e das Lide-ranas Comunitrias nos processos de garantia dos Direi-tos Humanos?

    Para organizar um acervo pessoal:

    Alm das dicas disponibilizadas ao longo da unidade, listamos a seguir outras referncias sobre a temtica abordada para que voc continue estudando e conhecendo mais sobre como atuar na perspectiva dos Direitos Humanos.

    Livros de interesse:

    GORENDER, Jacob. Direitos Humanos: o que so (ou devem ser). So Paulo: Senac So Paulo, 2003. 143p. (Srie Ponto Futuro, n 17).

    Sinopse: O autor, combatente em favor da justia social, intelectual militante que j sofreu as agruras da violao de seus direitos, comenta-os mostrando que, embora concernentes a todas as pessoas, eles so de algum modo ainda negados aos pobres, s mulheres, s crianas e adolescentes, aos idosos, aos operrios, aos homossexuais, etc.

    Comisso dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados. Direitos Humanos: Cidadania e Igualdade. Portugal: Princpia, 2006. 317p.

    Sinopse: Este anurio de atividades da Comisso dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados (2005) pretende dar continuidade ao objetivo de fazer conhecer atividades e textos considerados relevantes no combate em defesa da Cidadania, da Igualdade e dos Direitos do Homem, em Portugal, na Europa e no mundo bem como atividades e textos que tenham sido fruto da iniciativa dos membros da dita Comisso e da recentemente criada Subcomisso de Colaboradores, composta por jovens advogados e advogados-estagirios. Do presente volume fazem parte, entre outros, textos sobre o direito vida, a procriao medicamente assistida e os direitos fundamentais em geral, comunicados sobre as mais diversas matrias (contra a violncia, a misria, o terrorismo, o racismo, os atentados privacidade e intimidade da vida privada e familiar, as ameaas liberdade de expresso e de opinio), alm de

  • 25 Sujeitos e atuao em direitos humanos

    queixas e denncias de situaes de desrespeito aos direitos fundamentais da pessoa humana, de escritos sobre bases de dados genticas, o segredo de justia, a priso preventiva, ou pareceres sobre matrias to diversas quanto os direitos dos estrangeiros, a assistncia aos cidados nas esquadras, os direitos das pessoas portadoras de deficincias, a proteo a crianas e jovens em perigo, ou a promoo da igualdade entre pessoas de sexos diferentes.

    ANDREOPOULOS, George J. Educao em Direitos Humanos para o sculo XXI. So Paulo: EDUSP: Ncleo de Estudos da Violncia, 2007 (Srie Direitos Humanos). 888p.

    Sinopse: Educao em Direitos Humanos para o sculo XXI uma abrangente fonte para o treinamento e a educao acerca dos direitos humanos e suas liberdades fundamentais. Os colaboradores so ativistas experientes, especialistas em educao e representantes de diversas organizaes governamentais internacionais. Em seus artigos, fornecem um amplo leque de ideias e propostas para iniciar, planejar e implementar programas de educao que mostram uma grande variedade de possibilidades formais e no formais para a defesa desses direitos essenciais. O livro apresenta tambm interessante discusso terica sobre o tema e analisa os diferentes contextos sociais e histricos, incluindo, ao final, sees dedicadas ao treinamento de professores, educao de adultos e de comunidades, e ao levantamento de fundos para programas voltados promoo e difuso dos Direitos Humanos.

    NOVAES, Regina; VALENTE, Ana Lcia Eduardo Farah (Orgs.). Direitos Humanos: temas e perspectivas. Rio de Janeiro: 2001. 174p.

    Sinopse: Dividido em trs partes, este livro apresenta pensamentos sobre os impasses gerados para a construo de uma poltica de Direitos Humanos em uma sociedade cada vez mais desigual e violenta.

    Livros de interesse:

    Pensar Direitos Humanos: Democracia de Mnimos e a Negao dos Direitos Fundamentais(https://www.youtube.com/watch?v=b0lhbls_NWo)

    Sinopse: Dentro do Projeto Pensar Direitos Humanos, o professor Castor Bartolom Ruiz, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, fala sobre o tema Democracia de Mnimos e a Negao dos Direitos Fundamentais.

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    Pensar Direitos Humanos: Formao cidad(https://www.youtube.com/watch?v=aFXhexA517o&feature=relmfu-)

    Sinopse: Dentro do Projeto Pensar Direitos Humanos, o professor Castor Bartolom Ruiz, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, fala sobre o tema Formao Cidad.

    Acessibilidade: Siga essa ideia(https://www.youtube.com/watch?v=sfktCgSPE88)

    Sinopse: Vdeo do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficincia (CONADE) sobre a acessibilidade dos equipamentos urbanos (www.viaciclo.org.br).

    Stios de interesse:

    Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH)(http://www.mndh.org.br/)

    O Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) presta sua irrestrita solidariedade ao Ncleo de Cidadania e Direitos Humanos, Comisso de Direitos Humanos e ao Centro de Referncia de Direitos Humanos da Universidade Federal da Paraba repudiando o tratamento ilegal, constrangedor e abusivo praticado pela administrao penitenciria do PB1, e por policiais militares, dispensado aos membros do Conselho Estadual de Direitos Humanos (CEDH/PB), durante uma fiscalizao institucional, no dia 28 de agosto, para averiguar denncias de familiares de presos sobre irregularidades cometidas naquela unidade prisional.

    Observatrio de Direitos Humanos UFSC. (www.direitoshumanos.ufsc.br/)

    O Observatrio de Direitos Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) um projeto coordenado pela Professora Dra. Danielle Annoni, do Centro de Cincias Jurdicas da Universidade e conta com a participao de orientandos do curso de graduao em Relaes Internacionais. Criado aps a primeira edio da Semana de Direitos Humanos, o Observatrio atualmente trabalha com a execuo de dois projetos: a Semana de Direitos Humanos e os Anais do Evento, envolvendo voluntrios, tanto da graduao quanto da ps-graduao e promovendo pesquisa e extenso em torno da temtica pertinente.

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    Biblioteca Virtual de Direitos Humanos da USP(www.direitoshumanos.usp.br/).

    A Biblioteca Virtual de Direitos Humanos da Universidade de So Paulo, criada pela sua Comisso de Direitos Humanos, um servio que a Universidade de So Paulo coloca disposio dos interessados, via internet.

    Rede de Educao Cidad (RECID) (www.recid.org.br).

    A RECID uma articulao de diversos atores sociais, entidades e movimentos populares do Brasil que assumem solidariamente a misso de realizar um processo sistemtico de sensibilizao, mobilizao e educao popular dos brasileiros principalmente de grupos vulnerveis econmica e socialmente (indgenas, negros, jovens, LGBT, mulheres, etc.), promovendo o dilogo e a participao ativa na superao da misria, afirmando um projeto popular, democrtico e soberano de Nao.

    Consideraes finais

    Constituem objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil:I - construir uma sociedade livre, justa e solidria;II - garantir o desenvolvimento nacional;III - erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades sociais e regionais;IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao.

    Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988. Artigo 3.

    O Brasil possui um conjunto de estudos, leis e instituies capazes de imprimir a mudana necessria em nossa sociedade naquilo que tange compreenso do que seja viver e conviver em contextos de promoo e de defesa dos Direitos Humanos e de qualificao da nossa democracia.

    As lutas travadas no campo dos direitos, assim como as conquistas oriundas de tais lutas, possibilitam perceber melhor o que tem sido fei-to, e o que ainda falta fazer quando o assunto o papel do Estado diante dos desafios da garantia dos Direitos Humanos.

  • 28Sujeitos e atuao em direitos humanos

    As ltimas trs dcadas foram marcadas por uma acentuada qualifica-o de nossa democracia e de vizibilizao da pauta dos Direitos Huma-nos e, consequentemente, da consolidao de polticas pblicas mais in-clusivas e diversificadas. A sociedade civil organizada e os movimentos sociais tm papel relevante nesse processo.

    A necessidade de continuar avanando e consolidando as conquistas enorme. Existe muito a conquistar e, neste momento, urgente qua-lificar os debates e garantir a participao diferenciada da populao no enfrentamento das desigualdades e injustias e, evidentemente, sua participao na definio do destino do pas.

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    _______. Comit Nacional de Educao em Direitos Humanos. Plano Nacional de Educao em Direitos Humanos. Braslia: Secretaria Especial dos Direitos Humanos; Ministrio da Educao; Ministrio da Justia, 2007.

  • 29 Sujeitos e atuao em direitos humanos

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