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Ementa e Acórdão 02/12/2014 SEGUNDA TURMA AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 745.745 MINAS GERAIS RELATOR :MIN. CELSO DE MELLO AGTE.(S) : MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE AGDO.(A/S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS E M E N T A: RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO (LEI Nº 12.322/2010) – MANUTENÇÃO DE REDE DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – DEVER ESTATAL RESULTANTE DE NORMA CONSTITUCIONAL – CONFIGURAÇÃO , NO CASO, DE TÍPICA HIPÓTESE DE OMISSÃO INCONSTITUCIONAL IMPUTÁVEL AO MUNICÍPIO DESRESPEITO À CONSTITUIÇÃO PROVOCADO POR INÉRCIA ESTATAL (RTJ 183/818-819) – COMPORTAMENTO QUE TRANSGRIDE A AUTORIDADE DA LEI FUNDAMENTAL DA REPÚBLICA (RTJ 185/794-796) – A QUESTÃO DA RESERVA DO POSSÍVEL : RECONHECIMENTO DE SUA INAPLICABILIDADE , SEMPRE QUE A INVOCAÇÃO DESSA CLÁUSULA PUDER COMPROMETER O NÚCLEO BÁSICO QUE QUALIFICA O MÍNIMO EXISTENCIAL (RTJ 200/191-197) – O PAPEL DO PODER JUDICIÁRIO NA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS INSTITUÍDAS PELA CONSTITUIÇÃO E NÃO EFETIVADAS PELO PODER PÚBLICO – A FÓRMULA DA RESERVA DO POSSÍVEL NA PERSPECTIVA DA TEORIA DOS CUSTOS DOS DIREITOS : IMPOSSIBILIDADE DE SUA INVOCAÇÃO PARA LEGITIMAR O INJUSTO INADIMPLEMENTO DE DEVERES ESTATAIS DE PRESTAÇÃO CONSTITUCIONALMENTE IMPOSTOS AO PODER PÚBLICO – A TEORIA DA “RESTRIÇÃO DAS RESTRIÇÕES ” (OU DA LIMITAÇÃO DAS LIMITAÇÕES ”) – CARÁTER COGENTE E Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 7482896. Supremo Tribunal Federal Supremo Tribunal Federal Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 26

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  • Ementa e Acrdo

    02/12/2014 SEGUNDA TURMA

    AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINRIO COM AGRAVO 745.745 MINAS GERAIS

    RELATOR : MIN. CELSO DE MELLOAGTE.(S) :MUNICPIO DE BELO HORIZONTE PROC.(A/S)(ES) :PROCURADOR-GERAL DO MUNICPIO DE BELO

    HORIZONTE AGDO.(A/S) :MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE MINAS

    GERAIS PROC.(A/S)(ES) :PROCURADOR-GERAL DE JUSTIA DO ESTADO DE

    MINAS GERAIS

    E M E N T A: RECURSO EXTRAORDINRIO COM AGRAVO (LEI N 12.322/2010) MANUTENO DE REDE DE ASSISTNCIA SADE DA CRIANA E DO ADOLESCENTE DEVER ESTATAL RESULTANTE DE NORMA CONSTITUCIONAL CONFIGURAO, NO CASO, DE TPICA HIPTESE DE OMISSO INCONSTITUCIONAL IMPUTVEL AO MUNICPIO DESRESPEITO CONSTITUIO PROVOCADO POR INRCIA ESTATAL (RTJ 183/818-819) COMPORTAMENTO QUE TRANSGRIDE A AUTORIDADE DA LEI FUNDAMENTAL DA REPBLICA (RTJ 185/794-796) A QUESTO DA RESERVA DO POSSVEL: RECONHECIMENTO DE SUA INAPLICABILIDADE, SEMPRE QUE A INVOCAO DESSA CLUSULA PUDER COMPROMETER O NCLEO BSICO QUE QUALIFICA O MNIMO EXISTENCIAL (RTJ 200/191-197) O PAPEL DO PODER JUDICIRIO NA IMPLEMENTAO DE POLTICAS PBLICAS INSTITUDAS PELA CONSTITUIO E NO EFETIVADAS PELO PODER PBLICO A FRMULA DA RESERVA DO POSSVEL NA PERSPECTIVA DA TEORIA DOS CUSTOS DOS DIREITOS: IMPOSSIBILIDADE DE SUA INVOCAO PARA LEGITIMAR O INJUSTO INADIMPLEMENTO DE DEVERES ESTATAIS DE PRESTAO CONSTITUCIONALMENTE IMPOSTOS AO PODER PBLICO A TEORIA DA RESTRIO DAS RESTRIES (OU DA LIMITAO DAS LIMITAES) CARTER COGENTE E

    Documento assinado digitalmente conforme MP n 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileira - ICP-Brasil. Odocumento pode ser acessado no endereo eletrnico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o nmero 7482896.

    Supremo Tribunal FederalSupremo Tribunal FederalInteiro Teor do Acrdo - Pgina 1 de 26

  • Ementa e Acrdo

    ARE 745745 AGR / MG

    VINCULANTE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS, INCLUSIVE DAQUELAS DE CONTEDO PROGRAMTICO, QUE VEICULAM DIRETRIZES DE POLTICAS PBLICAS, ESPECIALMENTE NA REA DA SADE (CF, ARTS. 6, 196 E 197) A QUESTO DAS ESCOLHAS TRGICAS A COLMATAO DE OMISSES INCONSTITUCIONAIS COMO NECESSIDADE INSTITUCIONAL FUNDADA EM COMPORTAMENTO AFIRMATIVO DOS JUZES E TRIBUNAIS E DE QUE RESULTA UMA POSITIVA CRIAO JURISPRUDENCIAL DO DIREITO CONTROLE JURISDICIONAL DE LEGITIMIDADE DA OMISSO DO PODER PBLICO: ATIVIDADE DE FISCALIZAO JUDICIAL QUE SE JUSTIFICA PELA NECESSIDADE DE OBSERVNCIA DE CERTOS PARMETROS CONSTITUCIONAIS (PROIBIO DE RETROCESSO SOCIAL, PROTEO AO MNIMO EXISTENCIAL, VEDAO DA PROTEO INSUFICIENTE E PROIBIO DE EXCESSO) DOUTRINA PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL EM TEMA DE IMPLEMENTAO DE POLTICAS PBLICAS DELINEADAS NA CONSTITUIO DA REPBLICA (RTJ 174/687 RTJ 175/1212-1213 RTJ 199/1219-1220) EXISTNCIA, NO CASO EM EXAME, DE RELEVANTE INTERESSE SOCIAL RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO.

    A C R D O

    Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidncia do Ministro Teori Zavascki, na conformidade da ata de julgamentos e das notas taquigrficas, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso de agravo, nos termos do voto do Relator.

    Braslia, 02 de dezembro de 2014.

    CELSO DE MELLO RELATOR

    2

    Documento assinado digitalmente conforme MP n 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileira - ICP-Brasil. Odocumento pode ser acessado no endereo eletrnico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o nmero 7482896.

    Supremo Tribunal Federal

    ARE 745745 AGR / MG

    VINCULANTE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS, INCLUSIVE DAQUELAS DE CONTEDO PROGRAMTICO, QUE VEICULAM DIRETRIZES DE POLTICAS PBLICAS, ESPECIALMENTE NA REA DA SADE (CF, ARTS. 6, 196 E 197) A QUESTO DAS ESCOLHAS TRGICAS A COLMATAO DE OMISSES INCONSTITUCIONAIS COMO NECESSIDADE INSTITUCIONAL FUNDADA EM COMPORTAMENTO AFIRMATIVO DOS JUZES E TRIBUNAIS E DE QUE RESULTA UMA POSITIVA CRIAO JURISPRUDENCIAL DO DIREITO CONTROLE JURISDICIONAL DE LEGITIMIDADE DA OMISSO DO PODER PBLICO: ATIVIDADE DE FISCALIZAO JUDICIAL QUE SE JUSTIFICA PELA NECESSIDADE DE OBSERVNCIA DE CERTOS PARMETROS CONSTITUCIONAIS (PROIBIO DE RETROCESSO SOCIAL, PROTEO AO MNIMO EXISTENCIAL, VEDAO DA PROTEO INSUFICIENTE E PROIBIO DE EXCESSO) DOUTRINA PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL EM TEMA DE IMPLEMENTAO DE POLTICAS PBLICAS DELINEADAS NA CONSTITUIO DA REPBLICA (RTJ 174/687 RTJ 175/1212-1213 RTJ 199/1219-1220) EXISTNCIA, NO CASO EM EXAME, DE RELEVANTE INTERESSE SOCIAL RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO.

    A C R D O

    Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Presidncia do Ministro Teori Zavascki, na conformidade da ata de julgamentos e das notas taquigrficas, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso de agravo, nos termos do voto do Relator.

    Braslia, 02 de dezembro de 2014.

    CELSO DE MELLO RELATOR

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    Documento assinado digitalmente conforme MP n 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileira - ICP-Brasil. Odocumento pode ser acessado no endereo eletrnico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o nmero 7482896.

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  • Relatrio

    02/12/2014 SEGUNDA TURMA

    AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINRIO COM AGRAVO 745.745 MINAS GERAIS

    RELATOR : MIN. CELSO DE MELLOAGTE.(S) :MUNICPIO DE BELO HORIZONTE PROC.(A/S)(ES) :PROCURADOR-GERAL DO MUNICPIO DE BELO

    HORIZONTE AGDO.(A/S) :MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE MINAS

    GERAIS PROC.(A/S)(ES) :PROCURADOR-GERAL DE JUSTIA DO ESTADO DE

    MINAS GERAIS

    R E L A T R I O

    O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO (Relator): Trata-se de recurso de agravo, tempestivamente interposto, contra deciso que conheceu do agravo (previsto e disciplinado na Lei n 12.322/2010), para negar seguimento ao recurso extraordinrio, eis que o acrdo recorrido est em harmonia com diretriz jurisprudencial prevalecente nesta Suprema Corte.

    Inconformada com esse ato decisrio, a parte ora agravante interpe o presente recurso, postulando o provimento do agravo que deduziu.

    Por no me convencer das razes expostas, submeto, apreciao desta colenda Turma, o presente recurso de agravo.

    o relatrio.

    Documento assinado digitalmente conforme MP n 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileira - ICP-Brasil. Odocumento pode ser acessado no endereo eletrnico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o nmero 7482897.

    Supremo Tribunal Federal

    02/12/2014 SEGUNDA TURMA

    AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINRIO COM AGRAVO 745.745 MINAS GERAIS

    RELATOR : MIN. CELSO DE MELLOAGTE.(S) :MUNICPIO DE BELO HORIZONTE PROC.(A/S)(ES) :PROCURADOR-GERAL DO MUNICPIO DE BELO

    HORIZONTE AGDO.(A/S) :MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE MINAS

    GERAIS PROC.(A/S)(ES) :PROCURADOR-GERAL DE JUSTIA DO ESTADO DE

    MINAS GERAIS

    R E L A T R I O

    O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO (Relator): Trata-se de recurso de agravo, tempestivamente interposto, contra deciso que conheceu do agravo (previsto e disciplinado na Lei n 12.322/2010), para negar seguimento ao recurso extraordinrio, eis que o acrdo recorrido est em harmonia com diretriz jurisprudencial prevalecente nesta Suprema Corte.

    Inconformada com esse ato decisrio, a parte ora agravante interpe o presente recurso, postulando o provimento do agravo que deduziu.

    Por no me convencer das razes expostas, submeto, apreciao desta colenda Turma, o presente recurso de agravo.

    o relatrio.

    Documento assinado digitalmente conforme MP n 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileira - ICP-Brasil. Odocumento pode ser acessado no endereo eletrnico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o nmero 7482897.

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  • Voto - MIN. CELSO DE MELLO

    02/12/2014 SEGUNDA TURMA

    AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINRIO COM AGRAVO 745.745 MINAS GERAIS

    V O T O

    O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO (Relator): No assiste razo parte ora recorrente, eis que a deciso agravada ajusta-se, com integral fidelidade, diretriz jurisprudencial firmada pelo Supremo Tribunal Federal na matria ora em exame.

    Com efeito, a discusso sobre a essencialidade do direito sade fez com que o legislador constituinte qualificasse, como prestaes de relevncia pblica , as aes e servios de sade (CF , art. 197), em ordem a legitimar a atuao do Poder Judicirio naquelas hipteses em que os rgos estatais, anomalamente , deixassem de respeitar o mandamento constitucional, frustrando-lhe , arbitrariamente, a eficcia jurdico-social , seja por intolervel omisso, seja por qualquer outra inaceitvel modalidade de comportamento governamental desviante .

    Assim, a questo central da presente causa verificar se se revela possvel ao Judicirio, sem que incorra em ofensa ao postulado da separao de poderes, determinar a adoo, pelo Municpio, quando injustamente omisso no adimplemento de polticas pblicas constitucionalmente estabelecidas, de medidas ou providncias destinadas a assegurar, concretamente, coletividade em geral, o acesso e o gozo de direitos afetados pela inexecuo governamental de deveres jurdico-constitucionais.

    Observo, quanto a esse tema, que, ao julgar a ADPF 45/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, proferi deciso assim ementada (Informativo/STF n 345/2004):

    ARGIO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. A QUESTO DA LEGITIMIDADE

    Documento assinado digitalmente conforme MP n 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileira - ICP-Brasil. Odocumento pode ser acessado no endereo eletrnico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o nmero 7482898.

    Supremo Tribunal Federal

    02/12/2014 SEGUNDA TURMA

    AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINRIO COM AGRAVO 745.745 MINAS GERAIS

    V O T O

    O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO (Relator): No assiste razo parte ora recorrente, eis que a deciso agravada ajusta-se, com integral fidelidade, diretriz jurisprudencial firmada pelo Supremo Tribunal Federal na matria ora em exame.

    Com efeito, a discusso sobre a essencialidade do direito sade fez com que o legislador constituinte qualificasse, como prestaes de relevncia pblica , as aes e servios de sade (CF , art. 197), em ordem a legitimar a atuao do Poder Judicirio naquelas hipteses em que os rgos estatais, anomalamente , deixassem de respeitar o mandamento constitucional, frustrando-lhe , arbitrariamente, a eficcia jurdico-social , seja por intolervel omisso, seja por qualquer outra inaceitvel modalidade de comportamento governamental desviante .

    Assim, a questo central da presente causa verificar se se revela possvel ao Judicirio, sem que incorra em ofensa ao postulado da separao de poderes, determinar a adoo, pelo Municpio, quando injustamente omisso no adimplemento de polticas pblicas constitucionalmente estabelecidas, de medidas ou providncias destinadas a assegurar, concretamente, coletividade em geral, o acesso e o gozo de direitos afetados pela inexecuo governamental de deveres jurdico-constitucionais.

    Observo, quanto a esse tema, que, ao julgar a ADPF 45/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, proferi deciso assim ementada (Informativo/STF n 345/2004):

    ARGIO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. A QUESTO DA LEGITIMIDADE

    Documento assinado digitalmente conforme MP n 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileira - ICP-Brasil. Odocumento pode ser acessado no endereo eletrnico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o nmero 7482898.

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  • Voto - MIN. CELSO DE MELLO

    ARE 745745 AGR / MG

    CONSTITUCIONAL DO CONTROLE E DA INTERVENO DO PODER JUDICIRIO EM TEMA DE IMPLEMENTAO DE POLTICAS PBLICAS, QUANDO CONFIGURADA HIPTESE DE ABUSIVIDADE GOVERNAMENTAL. DIMENSO POLTICA DA JURISDIO CONSTITUCIONAL ATRIBUDA AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. INOPONIBILIDADE DO ARBTRIO ESTATAL EFETIVAO DOS DIREITOS SOCIAIS, ECONMICOS E CULTURAIS. CARTER RELATIVO DA LIBERDADE DE CONFORMAO DO LEGISLADOR. CONSIDERAES EM TORNO DA CLUSULA DA RESERVA DO POSSVEL. NECESSIDADE DE PRESERVAO, EM FAVOR DOS INDIVDUOS, DA INTEGRIDADE E DA INTANGIBILIDADE DO NCLEO CONSUBSTANCIADOR DO MNIMO EXISTENCIAL. VIABILIDADE INSTRUMENTAL DA ARGIO DE DESCUMPRIMENTO NO PROCESSO DE CONCRETIZAO DAS LIBERDADES POSITIVAS (DIREITOS CONSTITUCIONAIS DE SEGUNDA GERAO).

    Salientei, ento, em referida deciso, que o Supremo Tribunal Federal, considerada a dimenso poltica da jurisdio constitucional outorgada a esta Corte, no pode demitir-se do gravssimo encargo de tornar efetivos os direitos econmicos, sociais e culturais que se identificam enquanto direitos de segunda gerao (ou de segunda dimenso) com as liberdades positivas, reais ou concretas (RTJ 164/158-161, Rel. Min. CELSO DE MELLO RTJ 199/1219-1220, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.).

    que, se assim no for, restaro comprometidas a integridade e a eficcia da prpria Constituio, por efeito de violao negativa do estatuto constitucional, motivada por inaceitvel inrcia governamental no adimplemento de prestaes positivas impostas ao Poder Pblico, consoante j advertiu, em tema de inconstitucionalidade por omisso, por mais de uma vez

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    Documento assinado digitalmente conforme MP n 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileira - ICP-Brasil. Odocumento pode ser acessado no endereo eletrnico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o nmero 7482898.

    Supremo Tribunal Federal

    ARE 745745 AGR / MG

    CONSTITUCIONAL DO CONTROLE E DA INTERVENO DO PODER JUDICIRIO EM TEMA DE IMPLEMENTAO DE POLTICAS PBLICAS, QUANDO CONFIGURADA HIPTESE DE ABUSIVIDADE GOVERNAMENTAL. DIMENSO POLTICA DA JURISDIO CONSTITUCIONAL ATRIBUDA AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. INOPONIBILIDADE DO ARBTRIO ESTATAL EFETIVAO DOS DIREITOS SOCIAIS, ECONMICOS E CULTURAIS. CARTER RELATIVO DA LIBERDADE DE CONFORMAO DO LEGISLADOR. CONSIDERAES EM TORNO DA CLUSULA DA RESERVA DO POSSVEL. NECESSIDADE DE PRESERVAO, EM FAVOR DOS INDIVDUOS, DA INTEGRIDADE E DA INTANGIBILIDADE DO NCLEO CONSUBSTANCIADOR DO MNIMO EXISTENCIAL. VIABILIDADE INSTRUMENTAL DA ARGIO DE DESCUMPRIMENTO NO PROCESSO DE CONCRETIZAO DAS LIBERDADES POSITIVAS (DIREITOS CONSTITUCIONAIS DE SEGUNDA GERAO).

    Salientei, ento, em referida deciso, que o Supremo Tribunal Federal, considerada a dimenso poltica da jurisdio constitucional outorgada a esta Corte, no pode demitir-se do gravssimo encargo de tornar efetivos os direitos econmicos, sociais e culturais que se identificam enquanto direitos de segunda gerao (ou de segunda dimenso) com as liberdades positivas, reais ou concretas (RTJ 164/158-161, Rel. Min. CELSO DE MELLO RTJ 199/1219-1220, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.).

    que, se assim no for, restaro comprometidas a integridade e a eficcia da prpria Constituio, por efeito de violao negativa do estatuto constitucional, motivada por inaceitvel inrcia governamental no adimplemento de prestaes positivas impostas ao Poder Pblico, consoante j advertiu, em tema de inconstitucionalidade por omisso, por mais de uma vez

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    Documento assinado digitalmente conforme MP n 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileira - ICP-Brasil. Odocumento pode ser acessado no endereo eletrnico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o nmero 7482898.

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  • Voto - MIN. CELSO DE MELLO

    ARE 745745 AGR / MG

    (RTJ 175/1212-1213, Rel. Min. CELSO DE MELLO), o Supremo Tribunal Federal:

    DESRESPEITO CONSTITUIO MODALIDADES DE COMPORTAMENTOS INCONSTITUCIONAIS DO PODER PBLICO.

    O desrespeito Constituio tanto pode ocorrer mediante ao estatal quanto mediante inrcia governamental. A situao de inconstitucionalidade pode derivar de um comportamento ativo do Poder Pblico, que age ou edita normas em desacordo com o que dispe a Constituio, ofendendo-lhe, assim, os preceitos e os princpios que nela se acham consignados. Essa conduta estatal, que importa em um facere (atuao positiva), gera a inconstitucionalidade por ao.

    Se o Estado deixar de adotar as medidas necessrias realizao concreta dos preceitos da Constituio, em ordem a torn-los efetivos, operantes e exeqveis, abstendo-se, em conseqncia, de cumprir o dever de prestao que a Constituio lhe imps, incidir em violao negativa do texto constitucional. Desse non facere ou non praestare, resultar a inconstitucionalidade por omisso, que pode ser total, quando nenhuma a providncia adotada, ou parcial, quando insuficiente a medida efetivada pelo Poder Pblico.

    ................................................................................................... A omisso do Estado que deixa de cumprir, em maior ou

    em menor extenso, a imposio ditada pelo texto constitucional qualifica-se como comportamento revestido da maior gravidade poltico-jurdica, eis que, mediante inrcia, o Poder Pblico tambm desrespeita a Constituio, tambm ofende direitos que nela se fundam e tambm impede, por ausncia de medidas concretizadoras, a prpria aplicabilidade dos postulados e princpios da Lei Fundamental.

    (RTJ 185/794-796, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno)

    certo tal como observei no exame da ADPF 45/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO (Informativo/STF n 345/2004) que no se inclui,

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    Documento assinado digitalmente conforme MP n 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileira - ICP-Brasil. Odocumento pode ser acessado no endereo eletrnico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o nmero 7482898.

    Supremo Tribunal Federal

    ARE 745745 AGR / MG

    (RTJ 175/1212-1213, Rel. Min. CELSO DE MELLO), o Supremo Tribunal Federal:

    DESRESPEITO CONSTITUIO MODALIDADES DE COMPORTAMENTOS INCONSTITUCIONAIS DO PODER PBLICO.

    O desrespeito Constituio tanto pode ocorrer mediante ao estatal quanto mediante inrcia governamental. A situao de inconstitucionalidade pode derivar de um comportamento ativo do Poder Pblico, que age ou edita normas em desacordo com o que dispe a Constituio, ofendendo-lhe, assim, os preceitos e os princpios que nela se acham consignados. Essa conduta estatal, que importa em um facere (atuao positiva), gera a inconstitucionalidade por ao.

    Se o Estado deixar de adotar as medidas necessrias realizao concreta dos preceitos da Constituio, em ordem a torn-los efetivos, operantes e exeqveis, abstendo-se, em conseqncia, de cumprir o dever de prestao que a Constituio lhe imps, incidir em violao negativa do texto constitucional. Desse non facere ou non praestare, resultar a inconstitucionalidade por omisso, que pode ser total, quando nenhuma a providncia adotada, ou parcial, quando insuficiente a medida efetivada pelo Poder Pblico.

    ................................................................................................... A omisso do Estado que deixa de cumprir, em maior ou

    em menor extenso, a imposio ditada pelo texto constitucional qualifica-se como comportamento revestido da maior gravidade poltico-jurdica, eis que, mediante inrcia, o Poder Pblico tambm desrespeita a Constituio, tambm ofende direitos que nela se fundam e tambm impede, por ausncia de medidas concretizadoras, a prpria aplicabilidade dos postulados e princpios da Lei Fundamental.

    (RTJ 185/794-796, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno)

    certo tal como observei no exame da ADPF 45/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO (Informativo/STF n 345/2004) que no se inclui,

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    Documento assinado digitalmente conforme MP n 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileira - ICP-Brasil. Odocumento pode ser acessado no endereo eletrnico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o nmero 7482898.

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  • Voto - MIN. CELSO DE MELLO

    ARE 745745 AGR / MG

    ordinariamente, no mbito das funes institucionais do Poder Judicirio e nas desta Suprema Corte, em especial a atribuio de formular e de implementar polticas pblicas (JOS CARLOS VIEIRA DE ANDRADE, Os Direitos Fundamentais na Constituio Portuguesa de 1976, p. 207, item n. 05, 1987, Almedina, Coimbra), pois, nesse domnio, o encargo reside, primariamente, nos Poderes Legislativo e Executivo.

    Impende assinalar , contudo, que a incumbncia de fazer implementar polticas pblicas fundadas na Constituio poder atribuir-se, ainda que excepcionalmente , ao Judicirio, se e quando os rgos estatais competentes, por descumprirem os encargos poltico- -jurdicos que sobre eles incidem em carter vinculante, vierem a comprometer , com tal comportamento, a eficcia e a integridade de direitos individuais e/ou coletivos impregnados de estatura constitucional, como sucede na espcie ora em exame .

    Corretssimo, portanto, o v. acrdo emanado do E. Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais, que bem examinou a controvrsia constitucional, dirimindo-a com apoio em fundamentos que tm o beneplcito da jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal.

    Vale destacar, por oportuno, fragmento dessa unnime deciso proferida pelo E. Tribunal de Justia local, cujo teor acha-se a seguir reproduzido, no ponto que interessa resoluo do presente litgio:

    Anoto que fato incontroverso a inexistncia de rede municipal de assistncia pessoa portadora de deficincia fsica, visual, auditiva, com paralisia cerebral, distrbios comportamentais, deficincia mental ou com autismo capaz de atender a demanda do Municpio de Belo Horizonte. Estes os fatos.

    No que respeita ao direito, anoto que o art. 196 da Constituio da Repblica dispe que a sade direito de todos e o Estado tem o dever de promover aes preventivas ou de recuperao de quem esteja doente. A norma constitucional enfocada decorre do princpio da

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    Supremo Tribunal Federal

    ARE 745745 AGR / MG

    ordinariamente, no mbito das funes institucionais do Poder Judicirio e nas desta Suprema Corte, em especial a atribuio de formular e de implementar polticas pblicas (JOS CARLOS VIEIRA DE ANDRADE, Os Direitos Fundamentais na Constituio Portuguesa de 1976, p. 207, item n. 05, 1987, Almedina, Coimbra), pois, nesse domnio, o encargo reside, primariamente, nos Poderes Legislativo e Executivo.

    Impende assinalar , contudo, que a incumbncia de fazer implementar polticas pblicas fundadas na Constituio poder atribuir-se, ainda que excepcionalmente , ao Judicirio, se e quando os rgos estatais competentes, por descumprirem os encargos poltico- -jurdicos que sobre eles incidem em carter vinculante, vierem a comprometer , com tal comportamento, a eficcia e a integridade de direitos individuais e/ou coletivos impregnados de estatura constitucional, como sucede na espcie ora em exame .

    Corretssimo, portanto, o v. acrdo emanado do E. Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais, que bem examinou a controvrsia constitucional, dirimindo-a com apoio em fundamentos que tm o beneplcito da jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal.

    Vale destacar, por oportuno, fragmento dessa unnime deciso proferida pelo E. Tribunal de Justia local, cujo teor acha-se a seguir reproduzido, no ponto que interessa resoluo do presente litgio:

    Anoto que fato incontroverso a inexistncia de rede municipal de assistncia pessoa portadora de deficincia fsica, visual, auditiva, com paralisia cerebral, distrbios comportamentais, deficincia mental ou com autismo capaz de atender a demanda do Municpio de Belo Horizonte. Estes os fatos.

    No que respeita ao direito, anoto que o art. 196 da Constituio da Repblica dispe que a sade direito de todos e o Estado tem o dever de promover aes preventivas ou de recuperao de quem esteja doente. A norma constitucional enfocada decorre do princpio da

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  • Voto - MIN. CELSO DE MELLO

    ARE 745745 AGR / MG

    dignidade humana estabelecido no art. 1, III, da mesma Constituio.

    ...................................................................................................Ressalto que certo que o Poder Judicirio no pode substituir o

    Poder Executivo na prtica do ato administrativo. A misso constitucional deste a de exercer o controle judicial do referido ato. Deve distanciar-se do critrio poltico, isto , fica circunscrito apenas em verificar se o agente pblico atuou dentro dos princpios constitucionais da legalidade, moralidade, eficincia, impessoalidade, finalidade, bem como aos atributos do mesmo ato. Todavia, quando o Poder Judicirio determina ao Poder Executivo o cumprimento de obrigao constitucional e legal, no est substituindo o Administrador Pblico, mas apenas determinando que se cumpra a lei.

    No se pode perder de vista que o objetivo maior do Administrador o bem estar pblico. E, no caso, este bem-estar a proteo das crianas e adolescentes em situao de riscos, os quais, efetivamente, tm o direito de serem amparados pelo Poder Pblico. E este, insista-se, tem a obrigao, dentre outras, de garantir a assistncia integral sade, conforme estabelece o 1, do art. 227, da Constituio da Repblica.

    Est patenteado o desrespeito ao direito sade constitucionalmente assegurado ao menor. E, na condio de executor das aes e servios afetos ao sistema nico de sade, o apelante voluntrio omitiu-se quanto ao seu dever elementar.

    Portanto, a sentena est correta e merece integral confirmao.

    Mais do que nunca, preciso enfatizar que o dever estatal de atribuir efetividade aos direitos fundamentais, de ndole social, qualifica-se como expressiva limitao discricionariedade administrativa.

    Isso significa que a interveno jurisdicional, justificada pela ocorrncia de arbitrria recusa governamental em conferir significao real ao direito sade, tornar-se- plenamente legtima (sem qualquer ofensa, portanto, ao postulado da separao de poderes), sempre que se impuser, nesse processo de ponderao de interesses e de valores em

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    Supremo Tribunal Federal

    ARE 745745 AGR / MG

    dignidade humana estabelecido no art. 1, III, da mesma Constituio.

    ...................................................................................................Ressalto que certo que o Poder Judicirio no pode substituir o

    Poder Executivo na prtica do ato administrativo. A misso constitucional deste a de exercer o controle judicial do referido ato. Deve distanciar-se do critrio poltico, isto , fica circunscrito apenas em verificar se o agente pblico atuou dentro dos princpios constitucionais da legalidade, moralidade, eficincia, impessoalidade, finalidade, bem como aos atributos do mesmo ato. Todavia, quando o Poder Judicirio determina ao Poder Executivo o cumprimento de obrigao constitucional e legal, no est substituindo o Administrador Pblico, mas apenas determinando que se cumpra a lei.

    No se pode perder de vista que o objetivo maior do Administrador o bem estar pblico. E, no caso, este bem-estar a proteo das crianas e adolescentes em situao de riscos, os quais, efetivamente, tm o direito de serem amparados pelo Poder Pblico. E este, insista-se, tem a obrigao, dentre outras, de garantir a assistncia integral sade, conforme estabelece o 1, do art. 227, da Constituio da Repblica.

    Est patenteado o desrespeito ao direito sade constitucionalmente assegurado ao menor. E, na condio de executor das aes e servios afetos ao sistema nico de sade, o apelante voluntrio omitiu-se quanto ao seu dever elementar.

    Portanto, a sentena est correta e merece integral confirmao.

    Mais do que nunca, preciso enfatizar que o dever estatal de atribuir efetividade aos direitos fundamentais, de ndole social, qualifica-se como expressiva limitao discricionariedade administrativa.

    Isso significa que a interveno jurisdicional, justificada pela ocorrncia de arbitrria recusa governamental em conferir significao real ao direito sade, tornar-se- plenamente legtima (sem qualquer ofensa, portanto, ao postulado da separao de poderes), sempre que se impuser, nesse processo de ponderao de interesses e de valores em

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    conflito, a necessidade de fazer prevalecer a deciso poltica fundamental que o legislador constituinte adotou em tema de respeito e de proteo ao direito sade.

    Cabe referir , neste ponto, ante a extrema pertinncia de suas observaes, a advertncia de LUIZA CRISTINA FONSECA FRISCHEISEN, ilustre Procuradora Regional da Repblica, hoje eminente Conselheira do Conselho Nacional de Justia (Polticas Pblicas A Responsabilidade do Administrador e o Ministrio Pblico, p. 59, 95 e 97, 2000, Max Limonad), cujo magistrio , a propsito da limitada discricionariedade governamental em tema de concretizao das polticas pblicas constitucionais, corretamente assinala :

    Nesse contexto constitucional, que implica tambm na renovao das prticas polticas, o administrador est vinculado s polticas pblicas estabelecidas na Constituio Federal; a sua omisso passvel de responsabilizao e a sua margem de discricionariedade mnima, no contemplando o no fazer.

    .......................................................................................................Como demonstrado no item anterior, o administrador pblico

    est vinculado Constituio e s normas infraconstitucionais para a implementao das polticas pblicas relativas ordem social constitucional, ou seja, prpria finalidade da mesma: o bem-estar e a justia social.

    ...................................................................................................Conclui-se, portanto, que o administrador no tem

    discricionariedade para deliberar sobre a oportunidade e convenincia de implementao de polticas pblicas discriminadas na ordem social constitucional, pois tal restou deliberado pelo Constituinte e pelo legislador que elaborou as normas de integrao.

    .......................................................................................................As dvidas sobre essa margem de discricionariedade devem ser

    dirimidas pelo Judicirio, cabendo ao Juiz dar sentido concreto

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    conflito, a necessidade de fazer prevalecer a deciso poltica fundamental que o legislador constituinte adotou em tema de respeito e de proteo ao direito sade.

    Cabe referir , neste ponto, ante a extrema pertinncia de suas observaes, a advertncia de LUIZA CRISTINA FONSECA FRISCHEISEN, ilustre Procuradora Regional da Repblica, hoje eminente Conselheira do Conselho Nacional de Justia (Polticas Pblicas A Responsabilidade do Administrador e o Ministrio Pblico, p. 59, 95 e 97, 2000, Max Limonad), cujo magistrio , a propsito da limitada discricionariedade governamental em tema de concretizao das polticas pblicas constitucionais, corretamente assinala :

    Nesse contexto constitucional, que implica tambm na renovao das prticas polticas, o administrador est vinculado s polticas pblicas estabelecidas na Constituio Federal; a sua omisso passvel de responsabilizao e a sua margem de discricionariedade mnima, no contemplando o no fazer.

    .......................................................................................................Como demonstrado no item anterior, o administrador pblico

    est vinculado Constituio e s normas infraconstitucionais para a implementao das polticas pblicas relativas ordem social constitucional, ou seja, prpria finalidade da mesma: o bem-estar e a justia social.

    ...................................................................................................Conclui-se, portanto, que o administrador no tem

    discricionariedade para deliberar sobre a oportunidade e convenincia de implementao de polticas pblicas discriminadas na ordem social constitucional, pois tal restou deliberado pelo Constituinte e pelo legislador que elaborou as normas de integrao.

    .......................................................................................................As dvidas sobre essa margem de discricionariedade devem ser

    dirimidas pelo Judicirio, cabendo ao Juiz dar sentido concreto

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    ARE 745745 AGR / MG

    norma e controlar a legitimidade do ato administrativo (omissivo ou comissivo), verificando se o mesmo no contraria sua finalidade constitucional, no caso, a concretizao da ordem social constitucional. (grifei)

    No deixo de conferir, no entanto, assentadas tais premissas, significativo relevo ao tema pertinente reserva do possvel (LUS FERNANDO SGARBOSSA, Crtica Teoria dos Custos dos Direitos, vol. 1, 2010, Fabris Editor; STEPHEN HOLMES/CASS R. SUNSTEIN, The Cost of Rights, 1999, Norton, New York; ANA PAULA DE BARCELLOS, A Eficcia Jurdica dos Princpios Constitucionais, p. 245/246, 2002, Renovar; FLVIO GALDINO, Introduo Teoria dos Custos dos Direitos, p. 190/198, itens ns. 9.5 e 9.6, e p. 345/347, item n. 15.3, 2005, Lumen Juris), notadamente em sede de efetivao e implementao (usualmente onerosas) de determinados direitos cujo adimplemento, pelo Poder Pblico, impe e exige, deste, prestaes estatais positivas concretizadoras de tais prerrogativas individuais e/ou coletivas.

    No se ignora que a realizao dos direitos econmicos, sociais e culturais alm de caracterizar-se pela gradualidade de seu processo de concretizao depende, em grande medida, de um inescapvel vnculo financeiro subordinado s possibilidades oramentrias do Estado, de tal modo que, comprovada, objetivamente, a alegao de incapacidade econmico-financeira da pessoa estatal, desta no se poder razoavelmente exigir, ento, considerada a limitao material referida, a imediata efetivao do comando fundado no texto da Carta Poltica.

    No se mostrar lcito, contudo, ao Poder Pblico, em tal hiptese, criar obstculo artificial que revele a partir de indevida manipulao de sua atividade financeira e/ou poltico-administrativa o ilegtimo, arbitrrio e censurvel propsito de fraudar, de frustrar e de inviabilizar o estabelecimento e a preservao, em favor da pessoa e dos cidados, de condies materiais mnimas de existncia (ADPF 45/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Informativo/STF n 345/2004).

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    norma e controlar a legitimidade do ato administrativo (omissivo ou comissivo), verificando se o mesmo no contraria sua finalidade constitucional, no caso, a concretizao da ordem social constitucional. (grifei)

    No deixo de conferir, no entanto, assentadas tais premissas, significativo relevo ao tema pertinente reserva do possvel (LUS FERNANDO SGARBOSSA, Crtica Teoria dos Custos dos Direitos, vol. 1, 2010, Fabris Editor; STEPHEN HOLMES/CASS R. SUNSTEIN, The Cost of Rights, 1999, Norton, New York; ANA PAULA DE BARCELLOS, A Eficcia Jurdica dos Princpios Constitucionais, p. 245/246, 2002, Renovar; FLVIO GALDINO, Introduo Teoria dos Custos dos Direitos, p. 190/198, itens ns. 9.5 e 9.6, e p. 345/347, item n. 15.3, 2005, Lumen Juris), notadamente em sede de efetivao e implementao (usualmente onerosas) de determinados direitos cujo adimplemento, pelo Poder Pblico, impe e exige, deste, prestaes estatais positivas concretizadoras de tais prerrogativas individuais e/ou coletivas.

    No se ignora que a realizao dos direitos econmicos, sociais e culturais alm de caracterizar-se pela gradualidade de seu processo de concretizao depende, em grande medida, de um inescapvel vnculo financeiro subordinado s possibilidades oramentrias do Estado, de tal modo que, comprovada, objetivamente, a alegao de incapacidade econmico-financeira da pessoa estatal, desta no se poder razoavelmente exigir, ento, considerada a limitao material referida, a imediata efetivao do comando fundado no texto da Carta Poltica.

    No se mostrar lcito, contudo, ao Poder Pblico, em tal hiptese, criar obstculo artificial que revele a partir de indevida manipulao de sua atividade financeira e/ou poltico-administrativa o ilegtimo, arbitrrio e censurvel propsito de fraudar, de frustrar e de inviabilizar o estabelecimento e a preservao, em favor da pessoa e dos cidados, de condies materiais mnimas de existncia (ADPF 45/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Informativo/STF n 345/2004).

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    ARE 745745 AGR / MG

    Cumpre advertir, desse modo, que a clusula da reserva do possvel ressalvada a ocorrncia de justo motivo objetivamente afervel no pode ser invocada, pelo Estado, com a finalidade de exonerar-se, dolosamente, do cumprimento de suas obrigaes constitucionais, notadamente quando, dessa conduta governamental negativa, puder resultar nulificao ou, at mesmo, aniquilao de direitos constitucionais impregnados de um sentido de essencial fundamentalidade.

    Tratando-se de tpico direito de prestao positiva, que se subsume ao conceito de liberdade real ou concreta, a proteo sade que compreende todas as prerrogativas, individuais ou coletivas, referidas na Constituio da Repblica (notadamente em seu art. 196) tem por fundamento regra constitucional cuja densidade normativa no permite que, em torno da efetiva realizao de tal comando, o Poder Pblico disponha de um amplo espao de discricionariedade que lhe enseje maior grau de liberdade de conformao, e de cujo exerccio possa resultar, paradoxalmente, com base em simples alegao de mera convenincia e/ou oportunidade, a nulificao mesma dessa prerrogativa essencial.

    O caso ora em exame pe em evidncia o altssimo relevo jurdico-social que assume, em nosso ordenamento positivo, o direito sade, especialmente em face do mandamento inscrito no art. 196 da Constituio da Repblica, que assim dispe:

    Art. 196. A sade direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para sua promoo, proteo e recuperao. (grifei)

    Na realidade, o cumprimento do dever poltico-constitucional consagrado no art. 196 da Lei Fundamental do Estado, consistente na

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    Cumpre advertir, desse modo, que a clusula da reserva do possvel ressalvada a ocorrncia de justo motivo objetivamente afervel no pode ser invocada, pelo Estado, com a finalidade de exonerar-se, dolosamente, do cumprimento de suas obrigaes constitucionais, notadamente quando, dessa conduta governamental negativa, puder resultar nulificao ou, at mesmo, aniquilao de direitos constitucionais impregnados de um sentido de essencial fundamentalidade.

    Tratando-se de tpico direito de prestao positiva, que se subsume ao conceito de liberdade real ou concreta, a proteo sade que compreende todas as prerrogativas, individuais ou coletivas, referidas na Constituio da Repblica (notadamente em seu art. 196) tem por fundamento regra constitucional cuja densidade normativa no permite que, em torno da efetiva realizao de tal comando, o Poder Pblico disponha de um amplo espao de discricionariedade que lhe enseje maior grau de liberdade de conformao, e de cujo exerccio possa resultar, paradoxalmente, com base em simples alegao de mera convenincia e/ou oportunidade, a nulificao mesma dessa prerrogativa essencial.

    O caso ora em exame pe em evidncia o altssimo relevo jurdico-social que assume, em nosso ordenamento positivo, o direito sade, especialmente em face do mandamento inscrito no art. 196 da Constituio da Repblica, que assim dispe:

    Art. 196. A sade direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para sua promoo, proteo e recuperao. (grifei)

    Na realidade, o cumprimento do dever poltico-constitucional consagrado no art. 196 da Lei Fundamental do Estado, consistente na

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    ARE 745745 AGR / MG

    obrigao de assegurar, a todos, a proteo sade, representa fator, que, associado a um imperativo de solidariedade social, impe-se ao Poder Pblico, qualquer que seja a dimenso institucional em que atue no plano de nossa organizao federativa.

    A impostergabilidade da efetivao desse dever constitucional desautoriza o acolhimento do pleito que o Municpio de Belo Horizonte deduziu em sede recursal extraordinria.

    Tal como pude enfatizar em deciso por mim proferida no exerccio da Presidncia do Supremo Tribunal Federal, em contexto assemelhado ao da presente causa (Pet 1.246/SC), entre proteger a inviolabilidade do direito vida e sade que se qualifica como direito subjetivo inalienvel a todos assegurado pela prpria Constituio da Repblica (art. 5, caput, e art. 196) ou fazer prevalecer, contra essa prerrogativa fundamental, um interesse financeiro e secundrio do Estado, entendo, uma vez configurado esse dilema, que razes de ordem tico-jurdica impem, ao julgador, uma s e possvel opo: aquela que privilegia o respeito indeclinvel vida e sade humanas.

    Essa relao dilemtica, que se instaura na presente causa, conduz os Juzes deste Supremo Tribunal a proferir deciso que se projeta no contexto das denominadas escolhas trgicas (GUIDO CALABRESI e PHILIP BOBBITT, Tragic Choices, 1978, W. W. Norton & Company), que nada mais exprimem seno o estado de tenso dialtica entre a necessidade estatal de tornar concretas e reais as aes e prestaes de sade em favor das pessoas, de um lado, e as dificuldades governamentais de viabilizar a alocao de recursos financeiros, sempre to dramaticamente escassos, de outro.

    Mas, como precedentemente acentuado, a misso institucional desta Suprema Corte, como guardi da superioridade da Constituio da Repblica, impe, aos seus Juzes, o compromisso de fazer prevalecer os

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    obrigao de assegurar, a todos, a proteo sade, representa fator, que, associado a um imperativo de solidariedade social, impe-se ao Poder Pblico, qualquer que seja a dimenso institucional em que atue no plano de nossa organizao federativa.

    A impostergabilidade da efetivao desse dever constitucional desautoriza o acolhimento do pleito que o Municpio de Belo Horizonte deduziu em sede recursal extraordinria.

    Tal como pude enfatizar em deciso por mim proferida no exerccio da Presidncia do Supremo Tribunal Federal, em contexto assemelhado ao da presente causa (Pet 1.246/SC), entre proteger a inviolabilidade do direito vida e sade que se qualifica como direito subjetivo inalienvel a todos assegurado pela prpria Constituio da Repblica (art. 5, caput, e art. 196) ou fazer prevalecer, contra essa prerrogativa fundamental, um interesse financeiro e secundrio do Estado, entendo, uma vez configurado esse dilema, que razes de ordem tico-jurdica impem, ao julgador, uma s e possvel opo: aquela que privilegia o respeito indeclinvel vida e sade humanas.

    Essa relao dilemtica, que se instaura na presente causa, conduz os Juzes deste Supremo Tribunal a proferir deciso que se projeta no contexto das denominadas escolhas trgicas (GUIDO CALABRESI e PHILIP BOBBITT, Tragic Choices, 1978, W. W. Norton & Company), que nada mais exprimem seno o estado de tenso dialtica entre a necessidade estatal de tornar concretas e reais as aes e prestaes de sade em favor das pessoas, de um lado, e as dificuldades governamentais de viabilizar a alocao de recursos financeiros, sempre to dramaticamente escassos, de outro.

    Mas, como precedentemente acentuado, a misso institucional desta Suprema Corte, como guardi da superioridade da Constituio da Repblica, impe, aos seus Juzes, o compromisso de fazer prevalecer os

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    direitos fundamentais da pessoa, dentre os quais avultam, por sua inegvel precedncia, o direito vida e o direito sade.

    Cumpre no perder de perspectiva, por isso mesmo, que o direito pblico subjetivo sade representa prerrogativa jurdica indisponvel, assegurada generalidade das pessoas pela prpria Constituio da Repblica. Traduz bem jurdico constitucionalmente tutelado, por cuja integridade deve velar, de maneira responsvel, o Poder Pblico, a quem incumbe formular e implementar polticas sociais e econmicas que visem a garantir, aos cidados, o acesso universal e igualitrio assistncia mdico-hospitalar.

    O carter programtico da regra inscrita no art. 196 da Carta Poltica que tem por destinatrios todos os entes polticos que compem, no plano institucional, a organizao federativa do Estado brasileiro (JOS CRETELLA JNIOR, Comentrios Constituio de 1988, vol. VIII/4332-4334, item n. 181, 1993, Forense Universitria) no pode convert-la em promessa constitucional inconsequente, sob pena de o Poder Pblico, fraudando justas expectativas nele depositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegtima, o cumprimento de seu impostergvel dever por um gesto irresponsvel de infidelidade governamental ao que determina a prpria Lei Fundamental do Estado.

    Nesse contexto, incide, sobre o Poder Pblico, a gravssima obrigao de tornar efetivas as aes e prestaes de sade, incumbindo-lhe promover, em favor das pessoas e das comunidades, medidas preventivas e de recuperao , que, fundadas em polticas pblicas idneas, tenham por finalidade viabilizar e dar concreo ao que prescreve, em seu art. 196, a Constituio da Repblica, tal como este Supremo Tribunal tem reiteradamente reconhecido:

    O DIREITO SADE REPRESENTA CONSEQNCIA CONSTITUCIONAL INDISSOCIVEL DO DIREITO VIDA.

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    direitos fundamentais da pessoa, dentre os quais avultam, por sua inegvel precedncia, o direito vida e o direito sade.

    Cumpre no perder de perspectiva, por isso mesmo, que o direito pblico subjetivo sade representa prerrogativa jurdica indisponvel, assegurada generalidade das pessoas pela prpria Constituio da Repblica. Traduz bem jurdico constitucionalmente tutelado, por cuja integridade deve velar, de maneira responsvel, o Poder Pblico, a quem incumbe formular e implementar polticas sociais e econmicas que visem a garantir, aos cidados, o acesso universal e igualitrio assistncia mdico-hospitalar.

    O carter programtico da regra inscrita no art. 196 da Carta Poltica que tem por destinatrios todos os entes polticos que compem, no plano institucional, a organizao federativa do Estado brasileiro (JOS CRETELLA JNIOR, Comentrios Constituio de 1988, vol. VIII/4332-4334, item n. 181, 1993, Forense Universitria) no pode convert-la em promessa constitucional inconsequente, sob pena de o Poder Pblico, fraudando justas expectativas nele depositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegtima, o cumprimento de seu impostergvel dever por um gesto irresponsvel de infidelidade governamental ao que determina a prpria Lei Fundamental do Estado.

    Nesse contexto, incide, sobre o Poder Pblico, a gravssima obrigao de tornar efetivas as aes e prestaes de sade, incumbindo-lhe promover, em favor das pessoas e das comunidades, medidas preventivas e de recuperao , que, fundadas em polticas pblicas idneas, tenham por finalidade viabilizar e dar concreo ao que prescreve, em seu art. 196, a Constituio da Repblica, tal como este Supremo Tribunal tem reiteradamente reconhecido:

    O DIREITO SADE REPRESENTA CONSEQNCIA CONSTITUCIONAL INDISSOCIVEL DO DIREITO VIDA.

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  • Voto - MIN. CELSO DE MELLO

    ARE 745745 AGR / MG

    O direito pblico subjetivo sade representa prerrogativa jurdica indisponvel assegurada generalidade das pessoas pela prpria Constituio da Repblica (art. 196). Traduz bem jurdico constitucionalmente tutelado, por cuja integridade deve velar, de maneira responsvel, o Poder Pblico, a quem incumbe formular e implementar polticas sociais e econmicas idneas que visem a garantir, aos cidados, o acesso universal e igualitrio assistncia farmacutica e mdico-hospitalar.

    O direito sade alm de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas representa conseqncia constitucional indissocivel do direito vida. O Poder Pblico, qualquer que seja a esfera institucional de sua atuao no plano da organizao federativa brasileira, no pode mostrar-se indiferente ao problema da sade da populao, sob pena de incidir, ainda que por censurvel omisso, em grave comportamento inconstitucional.

    A INTERPRETAO DA NORMA PROGRAMTICA NO PODE TRANSFORM-LA EM PROMESSA CONSTITUCIONAL INCONSEQENTE.

    O carter programtico da regra inscrita no art. 196 da Carta Poltica que tem por destinatrios todos os entes polticos que compem, no plano institucional, a organizao federativa do Estado brasileiro no pode convert-la em promessa constitucional inconseqente, sob pena de o Poder Pblico, fraudando justas expectativas nele depositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegtima, o cumprimento de seu impostergvel dever, por um gesto irresponsvel de infidelidade governamental ao que determina a prpria Lei Fundamental do Estado.

    (RE 393.175-AgR/RS, Rel. Min. CELSO DE MELLO)

    O sentido de fundamentalidade do direito sade (CF, arts. 6 e 196) que representa, no contexto da evoluo histrica dos direitos bsicos da pessoa humana, uma das expresses mais relevantes das liberdades reais ou concretas impe ao Poder Pblico um dever de prestao positiva que somente se ter por cumprido, pelas instncias

    11

    Documento assinado digitalmente conforme MP n 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileira - ICP-Brasil. Odocumento pode ser acessado no endereo eletrnico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o nmero 7482898.

    Supremo Tribunal Federal

    ARE 745745 AGR / MG

    O direito pblico subjetivo sade representa prerrogativa jurdica indisponvel assegurada generalidade das pessoas pela prpria Constituio da Repblica (art. 196). Traduz bem jurdico constitucionalmente tutelado, por cuja integridade deve velar, de maneira responsvel, o Poder Pblico, a quem incumbe formular e implementar polticas sociais e econmicas idneas que visem a garantir, aos cidados, o acesso universal e igualitrio assistncia farmacutica e mdico-hospitalar.

    O direito sade alm de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas representa conseqncia constitucional indissocivel do direito vida. O Poder Pblico, qualquer que seja a esfera institucional de sua atuao no plano da organizao federativa brasileira, no pode mostrar-se indiferente ao problema da sade da populao, sob pena de incidir, ainda que por censurvel omisso, em grave comportamento inconstitucional.

    A INTERPRETAO DA NORMA PROGRAMTICA NO PODE TRANSFORM-LA EM PROMESSA CONSTITUCIONAL INCONSEQENTE.

    O carter programtico da regra inscrita no art. 196 da Carta Poltica que tem por destinatrios todos os entes polticos que compem, no plano institucional, a organizao federativa do Estado brasileiro no pode convert-la em promessa constitucional inconseqente, sob pena de o Poder Pblico, fraudando justas expectativas nele depositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegtima, o cumprimento de seu impostergvel dever, por um gesto irresponsvel de infidelidade governamental ao que determina a prpria Lei Fundamental do Estado.

    (RE 393.175-AgR/RS, Rel. Min. CELSO DE MELLO)

    O sentido de fundamentalidade do direito sade (CF, arts. 6 e 196) que representa, no contexto da evoluo histrica dos direitos bsicos da pessoa humana, uma das expresses mais relevantes das liberdades reais ou concretas impe ao Poder Pblico um dever de prestao positiva que somente se ter por cumprido, pelas instncias

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  • Voto - MIN. CELSO DE MELLO

    ARE 745745 AGR / MG

    governamentais, quando estas adotarem providncias destinadas a promover, em plenitude, a satisfao efetiva da determinao ordenada pelo texto constitucional.

    V-se, desse modo, que, mais do que a simples positivao dos direitos sociais que traduz estgio necessrio ao processo de sua afirmao constitucional e que atua como pressuposto indispensvel sua eficcia jurdica (JOS AFONSO DA SILVA, Poder Constituinte e Poder Popular, p. 199, itens ns. 20/21, 2000, Malheiros) , recai, sobre o Estado, inafastvel vnculo institucional consistente em conferir real efetividade a tais prerrogativas bsicas, em ordem a permitir, s pessoas, nos casos de injustificvel inadimplemento da obrigao estatal, que tenham elas acesso a um sistema organizado de garantias instrumentalmente vinculadas realizao, por parte das entidades governamentais, da tarefa que lhes imps a prpria Constituio.

    No basta , portanto, que o Estado meramente proclame o reconhecimento formal de um direito. Torna-se essencial que, para alm da simples declarao constitucional desse direito, seja ele integralmente respeitado e plenamente garantido , especialmente naqueles casos em que o direito como o direito sade se qualifica como prerrogativa jurdica de que decorre o poder do cidado de exigir, do Estado, a implementao de prestaes positivas impostas pelo prprio ordenamento constitucional.

    Tenho para mim, desse modo, presente tal contexto, que o Estado no poder demitir-se do mandato constitucional, juridicamente vinculante, que lhe foi outorgado pelo art. 196, da Constituio, e que representa como anteriormente j acentuado fator de limitao da discricionariedade poltico- -administrativa do Poder Pblico, cujas opes, tratando-se de proteo sade, no podem ser exercidas de modo a comprometer, com apoio em juzo de simples convenincia ou de mera oportunidade, a eficcia desse direito bsico de ndole social.

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    Supremo Tribunal Federal

    ARE 745745 AGR / MG

    governamentais, quando estas adotarem providncias destinadas a promover, em plenitude, a satisfao efetiva da determinao ordenada pelo texto constitucional.

    V-se, desse modo, que, mais do que a simples positivao dos direitos sociais que traduz estgio necessrio ao processo de sua afirmao constitucional e que atua como pressuposto indispensvel sua eficcia jurdica (JOS AFONSO DA SILVA, Poder Constituinte e Poder Popular, p. 199, itens ns. 20/21, 2000, Malheiros) , recai, sobre o Estado, inafastvel vnculo institucional consistente em conferir real efetividade a tais prerrogativas bsicas, em ordem a permitir, s pessoas, nos casos de injustificvel inadimplemento da obrigao estatal, que tenham elas acesso a um sistema organizado de garantias instrumentalmente vinculadas realizao, por parte das entidades governamentais, da tarefa que lhes imps a prpria Constituio.

    No basta , portanto, que o Estado meramente proclame o reconhecimento formal de um direito. Torna-se essencial que, para alm da simples declarao constitucional desse direito, seja ele integralmente respeitado e plenamente garantido , especialmente naqueles casos em que o direito como o direito sade se qualifica como prerrogativa jurdica de que decorre o poder do cidado de exigir, do Estado, a implementao de prestaes positivas impostas pelo prprio ordenamento constitucional.

    Tenho para mim, desse modo, presente tal contexto, que o Estado no poder demitir-se do mandato constitucional, juridicamente vinculante, que lhe foi outorgado pelo art. 196, da Constituio, e que representa como anteriormente j acentuado fator de limitao da discricionariedade poltico- -administrativa do Poder Pblico, cujas opes, tratando-se de proteo sade, no podem ser exercidas de modo a comprometer, com apoio em juzo de simples convenincia ou de mera oportunidade, a eficcia desse direito bsico de ndole social.

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    ARE 745745 AGR / MG

    Entendo, por isso mesmo, como j anteriormente assinalado, que se revela invivel o recurso extraordinrio deduzido pelo Municpio de Belo Horizonte, notadamente em face da jurisprudncia que se formou, no Supremo Tribunal Federal, sobre a questo ora em anlise.

    Nem se atribua, indevidamente, ao Judicirio, no contexto em exame, uma (inexistente) intruso em esfera reservada aos demais Poderes da Repblica.

    que, dentre as inmeras causas que justificam esse comportamento afirmativo do Poder Judicirio (de que resulta uma positiva criao jurisprudencial do direito), inclui-se a necessidade de fazer prevalecer a primazia da Constituio da Repblica, muitas vezes transgredida e desrespeitada por pura, simples e conveniente omisso dos poderes pblicos.

    Na realidade, o Supremo Tribunal Federal, ao suprir as omisses inconstitucionais dos rgos estatais e ao adotar medidas que objetivam restaurar a Constituio violada pela inrcia dos Poderes do Estado, nada mais faz seno cumprir a sua misso institucional e demonstrar, com esse gesto, o respeito incondicional que tem pela autoridade da Lei Fundamental da Repblica.

    A colmatao de omisses inconstitucionais, realizada em sede jurisdicional, notadamente quando emanada desta Corte Suprema, torna-se uma necessidade institucional, quando os rgos do Poder Pblico se omitem ou retardam, excessivamente, o cumprimento de obrigaes a que esto sujeitos por expressa determinao do prprio estatuto constitucional, ainda mais se se tiver presente que o Poder Judicirio, tratando-se de comportamentos estatais ofensivos Constituio, no pode se reduzir a uma posio de pura passividade.

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    Supremo Tribunal Federal

    ARE 745745 AGR / MG

    Entendo, por isso mesmo, como j anteriormente assinalado, que se revela invivel o recurso extraordinrio deduzido pelo Municpio de Belo Horizonte, notadamente em face da jurisprudncia que se formou, no Supremo Tribunal Federal, sobre a questo ora em anlise.

    Nem se atribua, indevidamente, ao Judicirio, no contexto em exame, uma (inexistente) intruso em esfera reservada aos demais Poderes da Repblica.

    que, dentre as inmeras causas que justificam esse comportamento afirmativo do Poder Judicirio (de que resulta uma positiva criao jurisprudencial do direito), inclui-se a necessidade de fazer prevalecer a primazia da Constituio da Repblica, muitas vezes transgredida e desrespeitada por pura, simples e conveniente omisso dos poderes pblicos.

    Na realidade, o Supremo Tribunal Federal, ao suprir as omisses inconstitucionais dos rgos estatais e ao adotar medidas que objetivam restaurar a Constituio violada pela inrcia dos Poderes do Estado, nada mais faz seno cumprir a sua misso institucional e demonstrar, com esse gesto, o respeito incondicional que tem pela autoridade da Lei Fundamental da Repblica.

    A colmatao de omisses inconstitucionais, realizada em sede jurisdicional, notadamente quando emanada desta Corte Suprema, torna-se uma necessidade institucional, quando os rgos do Poder Pblico se omitem ou retardam, excessivamente, o cumprimento de obrigaes a que esto sujeitos por expressa determinao do prprio estatuto constitucional, ainda mais se se tiver presente que o Poder Judicirio, tratando-se de comportamentos estatais ofensivos Constituio, no pode se reduzir a uma posio de pura passividade.

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    ARE 745745 AGR / MG

    As situaes configuradoras de omisso inconstitucional ainda que se cuide de omisso parcial derivada da insuficiente concretizao, pelo Poder Pblico, do contedo material da norma impositiva fundada na Carta Poltica refletem comportamento estatal que deve ser repelido, pois a inrcia do Estado qualifica-se como uma das causas geradoras dos processos informais de mudana da Constituio, tal como o revela autorizado magistrio doutrinrio (ANNA CNDIDA DA CUNHA FERRAZ, Processos Informais de Mudana da Constituio, p. 230/232, item n. 5, 1986, Max Limonad; JORGE MIRANDA, Manual de Direito Constitucional, tomo II/406 e 409, 2 ed., 1988, Coimbra Editora; J. J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Fundamentos da Constituio, p. 46, item n. 2.3.4, 1991, Coimbra Editora).

    O fato inquestionvel um s: a inrcia estatal em tornar efetivas as imposies constitucionais traduz inaceitvel gesto de desprezo pela Constituio e configura comportamento que revela um incompreensvel sentimento de desapreo pela autoridade, pelo valor e pelo alto significado de que se reveste a Constituio da Repblica.

    Nada mais nocivo, perigoso e ilegtimo do que elaborar uma Constituio, sem a vontade de faz-la cumprir integralmente, ou, ento, de apenas execut-la com o propsito subalterno de torn-la aplicvel somente nos pontos que se mostrarem convenientes aos desgnios dos governantes, em detrimento dos interesses maiores dos cidados.

    A percepo da gravidade e das consequncias lesivas derivadas do gesto infiel do Poder Pblico que transgride, por omisso ou por insatisfatria concretizao, os encargos de que se tornou depositrio, por efeito de expressa determinao constitucional, foi revelada, entre ns, j no perodo monrquico, em lcido magistrio, por PIMENTA BUENO (Direito Pblico Brasileiro e Anlise da Constituio do Imprio, p. 45, reedio do Ministrio da Justia, 1958) e reafirmada por eminentes

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    Supremo Tribunal Federal

    ARE 745745 AGR / MG

    As situaes configuradoras de omisso inconstitucional ainda que se cuide de omisso parcial derivada da insuficiente concretizao, pelo Poder Pblico, do contedo material da norma impositiva fundada na Carta Poltica refletem comportamento estatal que deve ser repelido, pois a inrcia do Estado qualifica-se como uma das causas geradoras dos processos informais de mudana da Constituio, tal como o revela autorizado magistrio doutrinrio (ANNA CNDIDA DA CUNHA FERRAZ, Processos Informais de Mudana da Constituio, p. 230/232, item n. 5, 1986, Max Limonad; JORGE MIRANDA, Manual de Direito Constitucional, tomo II/406 e 409, 2 ed., 1988, Coimbra Editora; J. J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, Fundamentos da Constituio, p. 46, item n. 2.3.4, 1991, Coimbra Editora).

    O fato inquestionvel um s: a inrcia estatal em tornar efetivas as imposies constitucionais traduz inaceitvel gesto de desprezo pela Constituio e configura comportamento que revela um incompreensvel sentimento de desapreo pela autoridade, pelo valor e pelo alto significado de que se reveste a Constituio da Repblica.

    Nada mais nocivo, perigoso e ilegtimo do que elaborar uma Constituio, sem a vontade de faz-la cumprir integralmente, ou, ento, de apenas execut-la com o propsito subalterno de torn-la aplicvel somente nos pontos que se mostrarem convenientes aos desgnios dos governantes, em detrimento dos interesses maiores dos cidados.

    A percepo da gravidade e das consequncias lesivas derivadas do gesto infiel do Poder Pblico que transgride, por omisso ou por insatisfatria concretizao, os encargos de que se tornou depositrio, por efeito de expressa determinao constitucional, foi revelada, entre ns, j no perodo monrquico, em lcido magistrio, por PIMENTA BUENO (Direito Pblico Brasileiro e Anlise da Constituio do Imprio, p. 45, reedio do Ministrio da Justia, 1958) e reafirmada por eminentes

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    Documento assinado digitalmente conforme MP n 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileira - ICP-Brasil. Odocumento pode ser acessado no endereo eletrnico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o nmero 7482898.

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  • Voto - MIN. CELSO DE MELLO

    ARE 745745 AGR / MG

    autores contemporneos em lies que acentuam o desvalor jurdico do comportamento estatal omissivo (JOS AFONSO DA SILVA, Aplicabilidade das Normas Constitucionais, p. 226, item n. 4, 3 ed., 1998, Malheiros; ANNA CNDIDA DA CUNHA FERRAZ, Processos Informais de Mudana da Constituio, p. 217/218, 1986, Max Limonad; PONTES DE MIRANDA, Comentrios Constituio de 1967 com a Emenda n. 1, de 1969, tomo I/15-16, 2 ed., 1970, RT, v.g.).

    O desprestgio da Constituio por inrcia de rgos meramente constitudos representa um dos mais graves aspectos da patologia constitucional, pois reflete inaceitvel desprezo, por parte das instituies governamentais, da autoridade suprema da Lei Fundamental do Estado.

    Essa constatao, feita por KARL LOEWENSTEIN (Teoria de la Constitucin, p. 222, 1983, Ariel, Barcelona), coloca em pauta o fenmeno da eroso da conscincia constitucional, motivado pela instaurao, no mbito do Estado, de um preocupante processo de desvalorizao funcional da Constituio escrita, como j ressaltado, pelo Supremo Tribunal Federal, em diversos julgamentos, como resulta evidente da seguinte deciso consubstanciada em acrdo assim ementado:

    () DESCUMPRIMENTO DE IMPOSIO CONSTITUCIONAL LEGIFERANTE E DESVALORIZAO FUNCIONAL DA CONSTITUIO ESCRITA.

    O Poder Pblico quando se abstm de cumprir, total ou parcialmente, o dever de legislar, imposto em clusula constitucional, de carter mandatrio infringe, com esse comportamento negativo, a prpria integridade da Lei Fundamental, estimulando, no mbito do Estado, o preocupante fenmeno da eroso da conscincia constitucional (ADI 1.484-DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO).

    A inrcia estatal em adimplir as imposies constitucionais traduz inaceitvel gesto de desprezo pela autoridade da Constituio e configura, por isso mesmo, comportamento que deve ser evitado. que nada se revela mais nocivo, perigoso e ilegtimo do que elaborar uma

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    Supremo Tribunal Federal

    ARE 745745 AGR / MG

    autores contemporneos em lies que acentuam o desvalor jurdico do comportamento estatal omissivo (JOS AFONSO DA SILVA, Aplicabilidade das Normas Constitucionais, p. 226, item n. 4, 3 ed., 1998, Malheiros; ANNA CNDIDA DA CUNHA FERRAZ, Processos Informais de Mudana da Constituio, p. 217/218, 1986, Max Limonad; PONTES DE MIRANDA, Comentrios Constituio de 1967 com a Emenda n. 1, de 1969, tomo I/15-16, 2 ed., 1970, RT, v.g.).

    O desprestgio da Constituio por inrcia de rgos meramente constitudos representa um dos mais graves aspectos da patologia constitucional, pois reflete inaceitvel desprezo, por parte das instituies governamentais, da autoridade suprema da Lei Fundamental do Estado.

    Essa constatao, feita por KARL LOEWENSTEIN (Teoria de la Constitucin, p. 222, 1983, Ariel, Barcelona), coloca em pauta o fenmeno da eroso da conscincia constitucional, motivado pela instaurao, no mbito do Estado, de um preocupante processo de desvalorizao funcional da Constituio escrita, como j ressaltado, pelo Supremo Tribunal Federal, em diversos julgamentos, como resulta evidente da seguinte deciso consubstanciada em acrdo assim ementado:

    () DESCUMPRIMENTO DE IMPOSIO CONSTITUCIONAL LEGIFERANTE E DESVALORIZAO FUNCIONAL DA CONSTITUIO ESCRITA.

    O Poder Pblico quando se abstm de cumprir, total ou parcialmente, o dever de legislar, imposto em clusula constitucional, de carter mandatrio infringe, com esse comportamento negativo, a prpria integridade da Lei Fundamental, estimulando, no mbito do Estado, o preocupante fenmeno da eroso da conscincia constitucional (ADI 1.484-DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO).

    A inrcia estatal em adimplir as imposies constitucionais traduz inaceitvel gesto de desprezo pela autoridade da Constituio e configura, por isso mesmo, comportamento que deve ser evitado. que nada se revela mais nocivo, perigoso e ilegtimo do que elaborar uma

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    Constituio, sem a vontade de faz-la cumprir integralmente, ou, ento, de apenas execut-la com o propsito subalterno de torn-la aplicvel somente nos pontos que se mostrarem ajustados convenincia e aos desgnios dos governantes, em detrimento dos interesses maiores dos cidados.

    DIREITO SUBJETIVO LEGISLAO E DEVER CONSTITUCIONAL DE LEGISLAR : A NECESSRIA EXISTNCIA DO PERTINENTE NEXO DE CAUSALIDADE .

    O direito legislao s pode ser invocado pelo interessado, quando tambm existir simultaneamente imposta pelo prprio texto constitucional a previso do dever estatal de emanar normas legais. Isso significa que o direito individual atividade legislativa do Estado apenas se evidenciar naquelas estritas hipteses em que o desempenho da funo de legislar refletir, por efeito de exclusiva determinao constitucional, uma obrigao jurdica indeclinvel imposta ao Poder Pblico. (...).

    (RTJ 183/818-819, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno)

    Em tema de implementao de polticas governamentais previstas e determinadas no texto constitucional, notadamente nas reas de educao infantil (RTJ 199/1219-1220) e de sade pblica (RTJ 174/687 RTJ 175/1212-1213), a Corte Suprema brasileira tem proferido decises que neutralizam os efeitos nocivos, lesivos e perversos resultantes da inatividade governamental, em situaes nas quais a omisso do Poder Pblico representava um inaceitvel insulto a direitos bsicos assegurados pela prpria Constituio da Repblica, mas cujo exerccio estava sendo inviabilizado por contumaz (e irresponsvel) inrcia do aparelho estatal.

    O Supremo Tribunal Federal, em referidos julgamentos, colmatou a omisso governamental, conferiu real efetividade a direitos essenciais, dando-lhes concreo, e, desse modo, viabilizou o acesso das pessoas plena fruio de direitos fundamentais, cuja realizao prtica lhes estava sendo negada, injustamente, por arbitrria absteno do Poder Pblico.

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    Supremo Tribunal Federal

    ARE 745745 AGR / MG

    Constituio, sem a vontade de faz-la cumprir integralmente, ou, ento, de apenas execut-la com o propsito subalterno de torn-la aplicvel somente nos pontos que se mostrarem ajustados convenincia e aos desgnios dos governantes, em detrimento dos interesses maiores dos cidados.

    DIREITO SUBJETIVO LEGISLAO E DEVER CONSTITUCIONAL DE LEGISLAR : A NECESSRIA EXISTNCIA DO PERTINENTE NEXO DE CAUSALIDADE .

    O direito legislao s pode ser invocado pelo interessado, quando tambm existir simultaneamente imposta pelo prprio texto constitucional a previso do dever estatal de emanar normas legais. Isso significa que o direito individual atividade legislativa do Estado apenas se evidenciar naquelas estritas hipteses em que o desempenho da funo de legislar refletir, por efeito de exclusiva determinao constitucional, uma obrigao jurdica indeclinvel imposta ao Poder Pblico. (...).

    (RTJ 183/818-819, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno)

    Em tema de implementao de polticas governamentais previstas e determinadas no texto constitucional, notadamente nas reas de educao infantil (RTJ 199/1219-1220) e de sade pblica (RTJ 174/687 RTJ 175/1212-1213), a Corte Suprema brasileira tem proferido decises que neutralizam os efeitos nocivos, lesivos e perversos resultantes da inatividade governamental, em situaes nas quais a omisso do Poder Pblico representava um inaceitvel insulto a direitos bsicos assegurados pela prpria Constituio da Repblica, mas cujo exerccio estava sendo inviabilizado por contumaz (e irresponsvel) inrcia do aparelho estatal.

    O Supremo Tribunal Federal, em referidos julgamentos, colmatou a omisso governamental, conferiu real efetividade a direitos essenciais, dando-lhes concreo, e, desse modo, viabilizou o acesso das pessoas plena fruio de direitos fundamentais, cuja realizao prtica lhes estava sendo negada, injustamente, por arbitrria absteno do Poder Pblico.

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    Documento assinado digitalmente conforme MP n 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileira - ICP-Brasil. Odocumento pode ser acessado no endereo eletrnico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o nmero 7482898.

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    ARE 745745 AGR / MG

    Para alm de todas as consideraes que venho de fazer, h, ainda, um outro parmetro constitucional que merece ser invocado no caso ora em julgamento.

    Refiro-me ao princpio da proibio do retrocesso , que, em tema de direitos fundamentais de carter social, impede que sejam desconstitudas as conquistas j alcanadas pelo cidado ou pela formao social em que ele vive, consoante adverte autorizado magistrio doutrinrio (GILMAR FERREIRA MENDES, INOCNCIO MRTIRES COELHO e PAULO GUSTAVO GONET BRANCO, Hermenutica Constitucional e Direitos Fundamentais, 1 ed./2 tir., p. 127/128, 2002, Braslia Jurdica; J. J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional e Teoria da Constituio, p. 320/322, item n. 03, 1998, Almedina; ANDREAS JOACHIM KRELL, Direitos Sociais e Controle Judicial no Brasil e na Alemanha, p. 40, 2002, Sergio Antonio Fabris Editor; INGO W. SARLET, Algumas consideraes em torno do contedo, eficcia e efetividade do direito sade na Constituio de 1988, in Interesse Pblico, p. 91/107, n. 12, 2001, Notadez; THAIS MARIA RIEDEL DE RESENDE ZUBA, O Direito Previdencirio e o Princpio da Vedao do Retrocesso, p. 107/139, itens ns. 3.1 a 3.4, 2013, LTr, v.g.).

    Na realidade, a clusula que probe o retrocesso em matria social traduz, no processo de sua concretizao, verdadeira dimenso negativa pertinente aos direitos sociais de natureza prestacional (como o direito sade), impedindo, em consequncia, que os nveis de concretizao dessas prerrogativas, uma vez atingidos, venham a ser reduzidos ou suprimidos, exceto na hiptese de todo inocorrente na espcie em que polticas compensatrias venham a ser implementadas pelas instncias governamentais.

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    Documento assinado digitalmente conforme MP n 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileira - ICP-Brasil. Odocumento pode ser acessado no endereo eletrnico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o nmero 7482898.

    Supremo Tribunal Federal

    ARE 745745 AGR / MG

    Para alm de todas as consideraes que venho de fazer, h, ainda, um outro parmetro constitucional que merece ser invocado no caso ora em julgamento.

    Refiro-me ao princpio da proibio do retrocesso , que, em tema de direitos fundamentais de carter social, impede que sejam desconstitudas as conquistas j alcanadas pelo cidado ou pela formao social em que ele vive, consoante adverte autorizado magistrio doutrinrio (GILMAR FERREIRA MENDES, INOCNCIO MRTIRES COELHO e PAULO GUSTAVO GONET BRANCO, Hermenutica Constitucional e Direitos Fundamentais, 1 ed./2 tir., p. 127/128, 2002, Braslia Jurdica; J. J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional e Teoria da Constituio, p. 320/322, item n. 03, 1998, Almedina; ANDREAS JOACHIM KRELL, Direitos Sociais e Controle Judicial no Brasil e na Alemanha, p. 40, 2002, Sergio Antonio Fabris Editor; INGO W. SARLET, Algumas consideraes em torno do contedo, eficcia e efetividade do direito sade na Constituio de 1988, in Interesse Pblico, p. 91/107, n. 12, 2001, Notadez; THAIS MARIA RIEDEL DE RESENDE ZUBA, O Direito Previdencirio e o Princpio da Vedao do Retrocesso, p. 107/139, itens ns. 3.1 a 3.4, 2013, LTr, v.g.).

    Na realidade, a clusula que probe o retrocesso em matria social traduz, no processo de sua concretizao, verdadeira dimenso negativa pertinente aos direitos sociais de natureza prestacional (como o direito sade), impedindo, em consequncia, que os nveis de concretizao dessas prerrogativas, uma vez atingidos, venham a ser reduzidos ou suprimidos, exceto na hiptese de todo inocorrente na espcie em que polticas compensatrias venham a ser implementadas pelas instncias governamentais.

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    Documento assinado digitalmente conforme MP n 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileira - ICP-Brasil. Odocumento pode ser acessado no endereo eletrnico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o nmero 7482898.

    Inteiro Teor do Acrdo - Pgina 20 de 26

  • Voto - MIN. CELSO DE MELLO

    ARE 745745 AGR / MG

    Lapidar , sob todos os aspectos, o magistrio de J. J. GOMES CANOTILHO, cuja lio , a propsito do tema, estimula as seguintes reflexes (Direito Constitucional e Teoria da Constituio, p. 320/321, item n. 3, 1998, Almedina):

    O princpio da democracia econmica e social aponta para a proibio de retrocesso social.

    A idia aqui expressa tambm tem sido designada como proibio de contra-revoluo social ou da evoluo reaccionria. Com isto quer dizer-se que os direitos sociais e econmicos (ex.: direito dos trabalhadores, direito assistncia, direito educao), uma vez obtido um determinado grau de realizao, passam a constituir, simultaneamente, uma garantia institucional e um direito subjectivo. A proibio de retrocesso social nada pode fazer contra as recesses e crises econmicas (reversibilidade fctica), mas o principio em anlise limita a reversibilidade dos direitos adquiridos (ex.: segurana social, subsdio de desemprego, prestaes de sade), em clara violao do princpio da proteco da confiana e da segurana dos cidados no mbito econmico, social e cultural, e do ncleo essencial da existncia mnima inerente ao respeito pela dignidade da pessoa humana. O reconhecimento desta proteo de direitos prestacionais de propriedade, subjetivamente adquiridos, constitui um limite jurdico do legislador e, ao mesmo tempo, uma obrigao de prossecuo de uma poltica congruente com os direitos concretos e as expectativas subjectivamente aliceradas. A violao no ncleo essencial efectivado justificar a sano de inconstitucionalidade relativamente aniquiladoras da chamada justia social. Assim, por ex., ser inconstitucional uma lei que extinga o direito a subsdio de desemprego ou pretenda alargar desproporcionadamente o tempo de servio necessrio para a aquisio do direito reforma (). De qualquer modo, mesmo que se afirme sem reservas a liberdade de conformao do legislador nas leis sociais, as eventuais modificaes destas leis devem observar os princpios do Estado de direito vinculativos da actividade legislativa e o ncleo essencial dos direitos sociais. O princpio da proibio de retrocesso social pode formular-se assim: o ncleo essencial dos

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    Documento assinado digitalmente conforme MP n 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileira - ICP-Brasil. Odocumento pode ser acessado no endereo eletrnico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o nmero 7482898.

    Supremo Tribunal Federal

    ARE 745745 AGR / MG

    Lapidar , sob todos os aspectos, o magistrio de J. J. GOMES CANOTILHO, cuja lio , a propsito do tema, estimula as seguintes reflexes (Direito Constitucional e Teoria da Constituio, p. 320/321, item n. 3, 1998, Almedina):

    O princpio da democracia econmica e social aponta para a proibio de retrocesso social.

    A idia aqui expressa tambm tem sido designada como proibio de contra-revoluo social ou da evoluo reaccionria. Com isto quer dizer-se que os direitos sociais e econmicos (ex.: direito dos trabalhadores, direito assistncia, direito educao), uma vez obtido um determinado grau de realizao, passam a constituir, simultaneamente, uma garantia institucional e um direito subjectivo. A proibio de retrocesso social nada pode fazer contra as recesses e crises econmicas (reversibilidade fctica), mas o principio em anlise limita a reversib