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Material de Apoio Direito Civil IV Direitos Reais Prof.ª Gisele Echterhoff 1 DIREITOS REAIS CONCEITO: É o conjunto de normas reguladoras das relações jurídicas que possuem como objeto as coisas suscetíveis de apropriação pelo homem. IMPORTÂNCIA : trata da parte do direito civil que regula a propriedade. HISTÓRICO DIREITOS REAIS X DIREITOS PESSOAIS Direito Real : poder jurídico do titular sobre a coisa com exclusividade e contra toda a coletividade, sendo que todos devem se abster de qualquer ato perturbador do direito do titular. Erga omnes elementos: S.A., COISA, DOMÍNIO (relação de poder do S.A. sobre a coisa). Direito Pessoal : Relação jurídica pela qual o SA pode exigir do SP a realização de determinada prestação. Relação de pessoa a pessoa elementos: S.A., S.P. e PRESTAÇÃO. CARACTÉRES DISTINTIVOS 1) Quanto à natureza: D.P. D.R. Relativos os direitos e obrigações que surgem da relação jurídica afetam tão somente, em regra, a esfera jurídica do SA e do SP. Absolutos afetam indistintamente todas as pessoas 2) Quanto ao conteúdo: D.P. D.R. Não necessariamente possuem natureza patrimonial Possuem natureza patrimonial 3) Quanto ao objeto: D.P. D.R. Exigem o cumprimento de uma prestação Incidem sobre uma coisa/BEM. Objeto pode ser determinável. Objeto sempre tem que ser uma coisa determinada.

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Material de Apoio Direito Civil IV – Direitos Reais

Prof.ª Gisele Echterhoff

1

DIREITOS REAIS

CONCEITO: É o conjunto de normas reguladoras das relações jurídicas que possuem como objeto as coisas suscetíveis de apropriação pelo homem.

IMPORTÂNCIA: trata da parte do direito civil que regula a propriedade.

HISTÓRICO

DIREITOS REAIS X DIREITOS PESSOAIS Direito Real: poder jurídico do titular sobre a coisa com exclusividade e contra toda a coletividade, sendo que todos devem se abster de qualquer ato perturbador do direito do titular.

Erga omnes elementos: S.A., COISA, DOMÍNIO (relação de poder do S.A. sobre a coisa).

Direito Pessoal: Relação jurídica pela qual o SA pode exigir do SP a realização de determinada prestação.

Relação de pessoa a pessoa elementos: S.A., S.P. e PRESTAÇÃO. CARACTÉRES DISTINTIVOS

1) Quanto à natureza:

D.P. D.R.

Relativos – os direitos e obrigações que surgem da relação jurídica afetam tão somente, em regra, a esfera jurídica do SA e do SP.

Absolutos – afetam indistintamente todas as pessoas

2) Quanto ao conteúdo:

D.P. D.R.

Não necessariamente possuem natureza patrimonial

Possuem natureza patrimonial

3) Quanto ao objeto:

D.P. D.R.

Exigem o cumprimento de uma prestação Incidem sobre uma coisa/BEM.

Objeto pode ser determinável. Objeto sempre tem que ser uma coisa determinada.

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4) Quanto ao sujeito

D.P. D.R.

Sujeito é determinável ou determinado Sujeito é indeterminado (DEVER GERAL OU SUJEITO PASSIVO UNIVERSAL) Só encontra o Sujeito Passivo quando é violado.

5) Quanto à duração:

D.P. D.R.

São transitórios e se extinguem pelo cumprimento ou por outros meios, como a prescrição.

São perpétuos, não se extinguindo pelo não-uso, apenas nos casos expressos em lei.

6) Quanto à formação:

D.P. D.R.

Podem resultar da vontade das partes, sendo inúmeros os contratos inominados (numerus apertus).

Só podem ser criados pela lei, sendo que as espécies de direitos reais são limitados e regulados por lei (numerus clausus).

7) Quanto ao exercício:

D.P. D.R.

Para o seu exercício se exige uma figura intermediária – o devedor.

São exercidos diretamente sobre a coisa, sem a necessidade da existência de um sujeito passivo.

8) Quanto às normas reguladoras:

D.P. D.R.

Normas dispositivas ou facultativas Normas de ordem pública cogente

FIGURAS HÍBRIDAS

3. OBRIGAÇÕES REAIS (PROPTER REM EM RAZÃO / EM VISTA DA COISA)

Também conhecidas como ob rem POR CAUSA DA COISA. Recai sobre uma pessoa, por força de determinado direito real.

Direitos reais direitos sobre a coisa / na coisa

Obrigações propter rem direitos por causa da coisa / advindos da coisa

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4. OBRIGAÇÕES COM EFICÁCIA REAL Direitos obrigacionais → direitos relativos Direitos reais → direitos absolutos, oponíveis erga omnes As obrigações com eficácia real são obrigações oponíveis a terceiros.

PRINCÍPIOS DO DIREITO REAL a) Princípio da aderência, especialização ou inerência b) Princípio do absolutismo c) Princípio da publicidade ou da visibilidade d) Princípio da taxatividade ou numerus clausus e) Princípio da atipicidade f) Princípio da perpetuidade g) Princípio da exclusividade h) Princípio do desmembramento e da reunificação

CLASSIFICAÇÃO Direitos reais sobre a coisa própria; e Os direitos reais Direitos reais sobre a coisa classifica-se em – de gozo ou fruição alheia: – de garantia

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DA POSSE NOÇÕES GERAIS

A posse nada mais é do que a relação de fato entre a pessoa e a coisa, independentemente de ser ou não proprietário.

PROTEÇÃO DA POSSE → paz social e segurança das relações sociais,

FIM ÚLTIMO DA SUA PROTEÇÃO → a proteção da propriedade JUS POSSIDENDI E IUS POSSESSIONIS Jus possessionis ou posse formal: é o direito à proteção da posse que não decorre do direito de propriedade, pois deriva de posse autônoma, independente de título jurídico. Jus possidendi ou posse casual: é o direito à proteção da posse fundado no direito de propriedade ou em outros direitos reais. Neste caso a posse não é autônoma e está vinculada a um direito real, sendo conteúdo deste direito real. TEORIAS SOBRE A POSSE Teoria Subjetiva – Friedrich Von SAVIGNY A posse se caracteriza pela conjugação de dois elementos: - corpus: elemento objetivo que consiste no poder físico sobre a coisa - animus: elemento subjetivo que consiste na vontade, na intenção de ter a coisa como sua, de exercer sobre ela o direito de propriedade (ANIMUS DOMINI). Teoria Objetiva – Rudolf Von IHERING Para caracterizar a posse basta o elemento objetivo/material, o corpus, considerando irrelevante o animus domini. Porém, IHERING não considerava o corpus como mero contato físico da pessoa com a coisa, mas sim como conduta de dono, a vontade de agir como proprietário (affectio tenendi ou animus tenendi), explorando a coisa com fins econômicos. CONCEITO: a posse é o exercício de fato de um dos poderes inerentes à propriedade sobre uma coisa, ao qual a legislação atribui proteção. (art. 1196 – CCB). ELEMENTOS:

Corpus: relação material do homem com a coisa → destinação econômica da coisa. Animus: intenção de proceder com a coisa como faz normalmente o proprietário (affectio tenendi).

POSSE E DETENÇÃO → SAVIGNY: há detenção quando há corpus, mas não há animus domini (animus rem sibi habendi).

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→ IHERING haverá detenção quando mesmo se caracterizando a posse, por uma previsão legal há a degradação da posse em detenção. → Art. 1.198 – CCB: relação de subordinação ou dependência econômica → empregado. → o detentor ou fâmulo exerce a posse no interesse do proprietário ou possuidor. → não têm o direito de invocar a proteção possessória. → autoproteção. → outras hipóteses de detenção:

- art. 1.208 do CCB, primeira parte: permissão ou tolerância. - art. 1.208 do CCB, segunda parte: atos violentos ou clandestinos → detenção

independente. - art. 1.224 do CCB: momento da perda da posse.

NATUREZA JURÍDICA DA POSSE → FATO ou DIREITO

1ª. CORRENTE: a posse é um direito, pois os direitos são os interesses juridicamente protegidos. 2ª. CORRENTE: a posse é um fato, não tem autonomia, sendo protegida em razão do direito de propriedade. 3ª. CORRENTE: a posse é um fato e um direito. → DIREITO REAL ou DIREITO OBRIGACIONAL ou DIREITO ESPECIAL

CLASSIFICAÇÃO DA POSSE POSSE DIRETA E INDIRETA: art. 1.197 do CCB. → desmembramento da posse. → Possuidor indireto ou mediato: é o próprio proprietário ou possuidor que cede o seu bem a outrem → tem a detenção objetiva. → Possuidor direito ou imediato: é a quem a coisa é cedida, passando a ter o contato físico com a coisa, passando a usufruir economicamente do bem → detém a posse subjetivamente. - estas posses coexistem, não colidem, nem se excluem. - possibilidade de defesa autônoma, mesmo entre os possuidores. - desmembramento sucessivo da posse.

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POSSE EXCLUSIVA, COMPOSSE E POSSES PARALELAS POSSE EXCLUSIVA: a coisa é possuída por uma única pessoa. COMPOSSE: quando há simultaneidade do exercício da posse, por mais de um titular. (art. 1.199 – CCB). - proteção possessória

Composse pro indiviso: ocorre quando todos os compossuidores exercem conjuntamente a posse sobre toda a coisa, sem uma divisão especifica. Composse pro diviso: ocorre quando os compossuidores estabelecem uma divisão de fato do exercício da posse. COMPOSSE E POSSES PARALELAS - Composse: exercício concomitante da posse. - Posses paralelas: existência de várias posses, mas de natureza diversa sobre a mesma coisa.

POSSE JUSTA E INJUSTA: art. 1.200 – CCB.

- vícios: violência, clandestinidade ou precariedade. Posse violenta: violência física ou moral/psicológica - no ato do estabelecimento da posse - POSSE VIOLENTA x POSSE MANSA E PACÍFICA - vítima: esbulhado ou pessoas que exerciam a posse em nome daquele - agente: o próprio esbulhador ou outrem por ordem ou com a posterior aprovação. - detenção → posse - convalescimento do vício ou transmudação da detenção em posse Posse clandestina - detenção → posse - ciência do possuidor? → possibilidade de conhecimento. Posse precária - pode decorrer:

- possuidor indireto - detentor

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- inversão do estado de ânimo x inversão do título. - não cabe a convalescença - posse injusta → posse justa: aquisição inter vivos ou causa mortis - proteção possessória? POSSE DE BOA E MÁ FÉ: art. 1.201 do CCB. - ignorância ou não do vício - critério subjetivo - proteção possessória: só se analisa se a posse é justa - análise da boa ou má-fé da posse:

* usucapião; * frutos e benfeitorias; * perda e deterioração da coisa.

- justo título → presunção de boa-fé (parágrafo único do art.1.201 – CCB).

- Justo título → justa causa possessionis - presunção juris tantum

- perda da boa-fé: art. 1.202 do CCB. POSSE NOVA E VELHA - idade da posse: ano e dia - posse nova e velha x ação de força nova (art. 924 do CPC) e ação de forma velha POSSE NATURAL E CIVIL - Posse natural: detenção efetiva e material da coisa. - Posse civil ou jurídica: decorre de força de lei POSSE AD INTERDICTA E AD USUCAPIONEM - Posse ad interdicta: ações possessórias - Posse ad usucapionem: gera a aquisição do domínio por meio da usucapião POSSE PRO DIVISO E PRO INDIVISO - decorre da composse Posse pro indiviso: posse conjunta - parte ideal. Posse pro diviso: divisão de fato do exercício da posse

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AQUISIÇÃO, CONSERVAÇÃO, TRANSMISSÃO E PERDA DA POSSE 1. AQUISIÇÃO DA POSSE - propriedade x posse - importância de se fixar o momento exato da aquisição da posse 1.1. MODOS DE AQUISIÇÃO DA POSSE - art. 1.204 do CCB → Teoria Objetiva - modos de aquisição em geral - Classificação: aquisição originária aquisição derivada 1.2. AQUISIÇÃO ORIGINÁRIA - ato de assenhoreamento autônomo (Caio Mario) - livre dos vícios da posse anterior. - nova situação de fato. APREENSÃO DA COISA

Pode decorrer da:

1) apropriação da coisa “sem dono”. → coisa abandonada (res derelicta) → coisa de ninguém (res nullius).

2) retirada a coisa de outrem sem a sua permissão.

Apreensão de bens móveis → esfera de influência. Apreensão de bens imóveis → ocupação 1.3. AQUISIÇÃO DERIVADA OU TRANSMISSÃO DA POSSE - negócio jurídico → transmissão da posse - vícios do possuidor anterior. - art. 1.203 e 1.206 do CCB. 1.3.1. TRADIÇÃO - acordo de vontades. - o ato de entrega da coisa.

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Espécies de tradição: Tradição real

Tradição simbólica Tradição ficta - Constituto possessório ou cláusula constituti - traditio brevi manu 1.3.2. SUCESSÃO NA POSSE

SUCESSÃO CAUSA MORTIS

- art. 1.206 e 1.207 do CCB

Pode haver:

1) Sucessão universal → sucessão legítima

Princípio da Saisine – art. 1.784 do CCB 2) Sucessão a título singular → legado

- COM OS MESMOS CARACTERES

→ subcessio patrimonio ou successio possessionis. SUCESSÃO INTER VIVOS

→ acessio possessionis.

→ união de posses: faculdade → vícios da posse anterior

1.4. QUEM PODE ADQUIRIR A POSSE - art. 1.205 do CCB

a) pela própria pessoa ou seu representante legal.

- incapaz b) por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação.

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2. PERDA DA POSSE

- atos de posse - art. 1.223 do CCB.

2.1. PERDA DA POSSE PELO ABANDONO - derelicitio - voluntariendade - não exercício contínuo da posse

Portanto, o abandono depende de: 1) Não uso do bem 2) Ânimo de renunciar o direito

- apurar o ânimo: análise das circunstâncias concretas.

- ≠ perda da coisa → é contra a vontade do possuidor.

- perda da posse pelo abandono do representante.

2.2. PERDA DA POSSE PELA TRADIÇÃO - intenção de transferir a posse a outrem de forma definitiva 2.3. PERDA OU DESTRUIÇÃO DA COISA - POSSE: possibilidade de contato físico com a coisa (corpus) - tentativa de recuperá-la. - perecendo o objeto extingue-se o direito - perda da posse contra a vontade do possuidor.

Perde o corpus e o affectio tenendi...animus tendendi

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DOS EFEITOS DA POSSE 1. INTRODUÇÃO - efeitos → interpretação dos artigos 1.210 a 1.222 e 1.238 do CCB 2. A PERCEPÇÃO DOS FRUTOS 2.1. NOÇÃO E ESPÉCIES DE FRUTOS - acessórios (art. 92 e 95 do CCB). - frutos x produtos (art. 95 do CCB). - Classificação dos frutos:

1) Quanto à origem: a) Naturais b) Industriais c) Civis

2) Quanto ao seu estado: a) Pendentes b) Percebidos ou colhidos c) Estantes d) Percipiendos e) Consumidos

- regra: os acessórios seguem a sorte do principal → proprietário. - exceção: possuidor de boa-fé

2.2. REGRAS DE RESTITUIÇÃO (art. 1.214 a 1.216 do CCB).

POSSUIDOR DE BOA-FÉ POSSUIDOR DE MÁ-FÉ

Enquanto durar a boa-fé tem direito aos frutos percebidos.

O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio. (art. 1216)

Não faz jus aos frutos pendentes, os quais devem ser restituídos, deduzidas as despesas de produção e custeio)

Não faz jus aos colhidos antecipadamente (devem ser restituídos, deduzidas as despesas de produção e custeio)

Sob pena de enriquecimento sem causa

- Momento que se reputam colhidos: art. 1.215 do CCB. 3. A RESPONSABILIDADE PELA PERDA E DETERIORAÇÃO DA COISA

- POSSUIDOR DE BOA-FÉ: art. 1.217 do CCB. - POSSUIDOR DE MÁ-FÉ: art. 1.218 do CCB.

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- dever de zelar pela conservação - presunção iuris tantum de culpa - ônus da prova

4. A INDENIZAÇÃO PELAS BENFEITORIAS E O DIREITO DE RETENÇÃO 4.1. NOÇÃO E ESPÉCIES DE BENFEITORIAS - art. 96 do CCB: Benfeitorias necessárias úteis voluptuárias - BENFEITORIAS X ACESSÕES INDUSTRIAIS (art. 1.253 a 1.259 do CCB). 4.2. REGRAS DA INDENIZAÇÃO DAS BENFEITORIAS (arts. 1.219 a 1.222 do CCB).

POSSUIDOR DE BOA-FÉ POSSUIDOR DE MÁ-FÉ

Indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis. (o credor terá que indenizar pelo valor atual)

Indenização somente pelas benfeitorias necessárias, sob pena de enriquecimento ilícito. (o credor pode optar entre pagar o valor atual ou o seu custo)

Direito de retenção enquanto não for indenizado pelas benfeitorias necessárias e úteis.

Não tem direito de retenção.

Benfeitorias voluptuárias: se não forem pagas, pode levantá-las sem detrimento da coisa.

Não tem direito de levantamento das benfeitorias voluptuárias.

4.3. DIREITO DE RETENÇÃO - meio de defesa ou de garantia - meio coercitivo de pagamento. - direito real

Requisitos: a) posse de boa-fé; b) crédito exigível c) nexo causal d) inexistência de exclusão

5. A PROTEÇÃO POSSESSÓRIA - principal efeito da posse - modos:

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a) autodefesa

a.1) legítima defesa a.2) desforço imediato

b) ações possessórias Ações tipicamente possessórias → interditos possessórios

b.1) manutenção de posse. b.2) reintegração de posse. b.3) interdito proibitório.

2.1. AUTOTUTELA - art. 1.210, § 1º do CCB - legítima defesa: presença no momento da turbação - desforço imediato: esbulho e retomada da coisa logo após. - por sua própria força - autotutela pelos fâmulos da posse - Limites da autotutela - ação imediata - extensão dos atos de defesa 2.2. REGRAS GERAIS APLICÁVEIS ÀS AÇÕES POSSESSÓRIAS TÍPICAS - ações tipicamente possessórias - ações possessórias em sentido estrito - interditos possessórios:

- manutenção de posse. - reintegração de posse. - interdito proibitório.

- ações afins dos interditos possessórios. 2.2.1. CONVERSÃO DA AÇÃO POSSESSÓRIA EM AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - cumulação de pedidos (art. 921, I do CPC)

2.2.2. A FUNGIBILIDADE DOS INTERDITOS - art. 920 do CPC - existe uma ação de proteção possessória → varia de acordo com as condições fáticas.

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- somente se aplicam às ações possessórias em sentido estrito - exceção à regra que impede o julgamento extra petita (art. 460 do CPC) 2.2.3. CUMULAÇÃO DOS PEDIDOS - art. 921 do CPC: faculdade 2.2.4. CARÁTER DÚPLICE DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS - art. 922 do CPC - ações de natureza dúplice: ambas as partes necessitam da tutela jurisdicional - ambos alegam serem possuidores → Juiz analisa a melhor posse - requerimento expresso - aplica-se somente às ações possessórias em sentido estrito 2.2.5. DISTINÇÃO ENTRE JUÍZO POSSESSÓRIO E JUÍZO PETITÓRIO: exceptio domini - jus possessionis x jus possidendi - ação possessória → instaura o juízo possessório → ius possessionis. - ação petitória → ius possidendi. - art. 1.210, § 2º. do CPC → impossibilidade da exceptio domini (com base no domínio pretende a posse da coisa) ≠ posse justificada no domínio 2.2.6. PROCEDIMENTO - art. 924 do CPC → procedimento especial previsto no art. 926 a 931 do CPC - vantagem → liminar → ação de força nova (art. 928 do CPC). - rito especial → duas fases

1) até a concessão da liminar 2) após a concessão ou não da liminar e a citação do réu o processo seguirá o rito

comum ordinário (art. 930 e 931 do CPC).

2.2.7. A EXIGÊNCIA DE PRESTAÇÃO DE CAUÇÃO - art. 925 do CPC - garantia de indenização - ônus da prova do réu

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- caução real ou fidejussória - conseqüência: depósito

Requisitos: - comprovação da inidoneidade financeira do autor; - requerimento a qualquer momento - direito de defesa do autor; - poder discricionário do Juiz.

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DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS 1. INTRODUÇÃO - FINALIDADE. - MODOS DE PROTEÇÃO - CONCEITO DE TURBAÇÃO (perturbação da posse): embora molestado o possuidor continua na posse da coisa. - CONCEITO DE ESBULHO (perda total da posse): o possuidor ficou privado da sua posse. 1. DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS TÍPICAS: INTERDITOS POSSESSÓRIOS 1.1. DA MANUTENÇÃO E DA REINTEGRAÇÃO DE POSSE 1.1.1. Introdução

- tratamento pelo CPC

a) ação de manutenção de posse: turbação - manter na sua posse. b) ação de reintegração de posse: esbulho recuperar a posse perdida. - art. 926, CPC - art. 1.210, CCB

1.1.2. Requisitos: art. 927 do CPC a) Posse - pressuposto fundamental - basta posse justa - prova → turbação: mantém a posse esbulho: tinha a posse, mas a perdeu - Aquisição da posse por meio de ato inter vivos ou causa mortis

- transmissão por escritura: posse civil ou jurídica.

b) Turbação ou esbulho praticado pelo réu TURBAÇÃO - comprovar os atos que estão a molestar a sua posse

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- cerceamento do livre exercício da posse.

- não necessita de prova de prejuízo

Turbação de fato x turbação de direito Turbação de fato → agressão material ao exercício da posse.

Turbação de direito → contestação ou ataques judiciais à posse (GONÇALVES). quando se realiza o ato de turbação pela via judicial ou administrativa (CAIO MÁRIO).

Turbação direta x turbação indireta

Turbação direta → é a exercida diretamente sobre o bem Turbação indireta → quando é realizada por medidas indiretas ESBULHO - efetiva perda da posse contra a sua vontade - Situações em que há duvida sobre a existência de turbação ou esbulho → princípio da fungibilidade

- Esbulho pacífico: vício da precariedade.

c) Data da turbação ou do esbulho - estabelecer se a ação a ser proposta é de força nova ou força velha - ambas tem caráter de ação possessória - prazo de ano e dia é decadencial

- momento do início da contagem Reiterados atos de turbação DESCONEXOS: o prazo é computado a partir de cada ato. COMPLEMENTARES: o prazo é computado do 1° ato.

d) Continuação ou perda da posse 1.2. DO INTERDITO PROIBITÓRIO 1.2.1. Introdução e Conceito

- caráter preventivo

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- impedir a concretização de uma ameaça de turbação ou esbulho da posse. - gradação dos atos de ofensa da posse Mera ameaça → INTERDITO PROIBITÓRIO Turbação → MANUTENÇÃO DE POSSE Esbulho → REINTEGRAÇÃO DE POSSE

1.2.2. Requisitos: art. 932 do CPC

a) posse atual do autor;

b) ameaça de turbação ou esbulho por parte do réu;

A ameaça deve ser - séria - iminente - inevitável

c) justo receio de ser concretizada a ameaça.

- Ameaça x exercício regular de direito

1.2.3. Cominação de pena pecuniária: astreintes

- meio de coerção - valor da pena pecuniária - ameaça concretizada x liquidação da pena

1.2.4. Procedimento: art. 933 do CPC 2. AÇÕES AFINS AOS INTERDITOS POSSESSÓRIOS - a posse é defendida de forma direta ou indireta.

- não possuem natureza possessória porque não possuem como fundamento a posse. Ações afins aos interditos possessórios:

a) Ação de imissão na posse; b) Ação de nunciação de obra nova; c) Embargos de terceiro; d) Ação de dano infecto.

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DA PROPRIEDADE

1. CONCEITO - conceito dinâmico e histórico - é o direito que a pessoa possui, dentro dos limites normativos, de usar, gozar e dispor de um bem, corpóreo ou incorpóreo, bem como de o reivindicar de quem injustamente o detenha. 2. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS - conteúdo: artigo 1228 do CC → poderes do proprietário → elementos constitutivos São elementos: jus utendi, jus fruendi, jus abutendi e a rei vindicatio. DIREITO DE USAR - jus utendi – faculdade de o dono servir-se da coisa e de utilizá-la da maneira que entender mais conveniente, excluindo terceiros de igual uso. DIREITO DE GOZAR OU DE USUFRUIR - jus fruendi: significa a possibilidade, dentro dos limites legais, de aproveitar-se economicamente dos seus rendimentos (frutos e produtos). DIREITO DE DISPOR - jus abutendi: significa a possibilidade, dentro dos limites legais, de aliená-la a título gratuito ou oneroso, gravá-la de ônus ou submetê-la ao serviço de outrem. DIREITO DE REIVINDICAR ou REAVER – rei vindicatio: significa a possibilidade, dentro dos limites legais, de mover ação reivindicatória para obter – reaver - o bem, de quem o injustamente detenha ou possua, em virtude do direito de seqüela. 3. CARACTERES; Caráter absoluto: art. 1.231 do CCB. - mais amplo poder jurídico sobre a coisa. - oponível erga omnes - absoluto x ilimitado. Caráter da exclusividade: A mesma coisa não pode pertencer com exclusividade e simultaneidade a duas pessoas. Caráter de perpetuidade (irrevogável): não se extingue pelo não-uso da coisa pelo proprietário. 4. ESPÉCIES Quanto à extensão do direito PLENA: quando todos seus elementos constitutivos da propriedade acham-se presentes em uma só pessoa, o proprietário → Art. 1.231 do CCB

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RESTRITA OU LIMITADA: quando se desmembra um ou alguns de seus poderes que passam a ser de outrem (direito real sobre coisa alheia). Quanto à perpetuidade: PERPÉTUA: duração ilimitada. RESOLÚVEL ou REVOGÁVEL: encontra em título constitutivo uma razão para sua extinção, na forma de condição resolutiva da propriedade (1359 e 1360 CC). 5. FUNÇÃO SOCIAL - Revolução Francesa: direito absoluto e individual.

- nitidamente de conteúdo privado, não era passível de intervenção pelo Estado. - Estado Social → interesse público comum (função social) - limitações ou restrições ao Direito de Propriedade:

Código de Minas

Código de Águas CF/88(art. 176)

Código Florestal

Lei do Inquilinato

Limitações do Direito de Vizinhança

Função Social da Propriedade (art. 5º, XXIII)

Estatuto da Cidade (usucapião coletiva)

CC/02 art. 1.228, § 1º - fundamento legal

Constituição Federal de 1988: art. 5º., XXII e XXIII Código Civil de 2002: art. 1.228, § 1º. e 2º.

- funcionalização dos institutos de Direito: Atribuir ao instituto jurídico uma utilidade ou impor-lhe um papel social. - significa remodelar a justiça social em volta do coletivo, do não individual - é uma cláusula geral orientadora da condição da propriedade. - é um instrumento prático da consolidação da solidariedade constitucional. Eroulths CORTIANO JUNIOR afirma que a função social da propriedade não é um limite externo ao direito de propriedade, sendo que o próprio conceito do direito de propriedade se alterou, pois a função social fazer parte deste conceito. 6. AÇÃO REIVINDICATÓRIA - direito de reivindicar (vindicatio) a coisa → ação reivindicatória - direito de seqüela: direito de perseguir a coisa onde quer que se encontre ou com quem quer que se encontre.

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- cabimento: quando o proprietário não possuidor pretende reaver a coisa do possuidor não proprietário, que a possui injustamente. 6.1. PRESSUPOSTOS E NATUREZA JURÍDICA - natureza de ação real. - pressupostos:

1) a titularidade do domínio da coisa;

2) a individuação da coisa, com todos os elementos e detalhes;

3) posse ou detenção injusta do réu: sem causa, sem título que justifique. Posse injusta → verifica-se tão somente se a posse tem titulo que a fundamente. - efeito imediato: a obrigação do possuidor a restituir ao proprietário, com todos os seus acessórios, tais como frutos e rendimentos (art. 1.232 do CCB).

- limite temporal: imprescritível. - USUCAPIÃO COMO MATÉRIA DE DEFESA

Impossibilidade de o Juízo acolher a usucapião como matéria de defesa declarando o domínio do réu.

EXCEÇÕES LEGAIS: Usucapião Especial de Imóvel Urbano: Estatuto da Cidade (Lei n.º 10.257/2001) Usucapião Especial de Imóveis Rurais: Lei n.º 6.969/1981 (art. 7º.)

7. DA DESCOBERTA

A descoberta é o achado de coisa perdida por seu dono. - art. 1.233 do CCB. Coisa perdida ≠ coisa abandonada

Dever de restituir x Apropriação de coisa achada (art. 169, II do CP)

Restituição x direito à recompensa (achádego): art. 1.234 e parágrafo único do CCB

Dever de conservação e responsabilidade pelos prejuízos: art. 1.235 do CCB Comunicação da descoberta e venda em hasta pública: art. 1.236 e 1.237 do CCB

Procedimento para venda da coisa alheia: art. 1.170 e segs. do CPC

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DA AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE IMÓVEL

1. INTRODUÇÃO CCB 2002: arts. 1238 a 1259 CC

- Usucapião - Registro do título - Acessão

DIREITO HEREDITÁRIO: também é um modo de aquisição da propriedade.

- art. 1.784 do CCB → princípio da saisine. → princípio da continuidade do registro do imóvel. CLASSIFICAÇÃO DAS FORMAS DE AQUISIÇÃO: Aquisição originária: quando não há qualquer relação entre o domínio atual e o anterior. Aquisição derivada: será derivada quando houver transmissibilidade de domínio por ato causa mortis ou inter vivos. Há transmissão com os mesmos vícios ou limitações existentes. Aquisição a título singular: quando tem por objeto bens individualizados, particularizados. Aquisição a título universal: quando a transmissão recai sobre um conjunto de bens, sobre um patrimônio. 2. USUCAPIÃO 2.1. CONCEITO Modo originário de aquisição da propriedade e de outros direitos reais (servidões e usufruto), fundado no elemento tempo (POSSE PROLONGADA), também chamada de prescrição aquisitiva. Atenção: art. 1.244 do CCB → aplicam-se ao lapso temporal as mesmas regras de extinção, suspensão e interrupção dos prazos prescricionais da parte geral do CCB → art. 197 a 204. 2.2. REQUISITOS GERAIS DA USUCAPIÃO

a) Coisa hábil: o bem é suscetível de usucapião; b) Posse com animus domini: ter como seu → a vontade de possuir como se dono fosse.

c) Posse mansa e pacífica: exercida sem oposição.

Não basta a propositura de demanda possessória ou petitória, é necessária que a referida demanda seja julgada contra o possuidor que pretende o usucapião. Providências extrajudiciais não significam, verdadeiramente, oposição.

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d) Posse contínua: sem interrupção até o ajuizamento da ação de usucapião, mas podendo somar a dos antecessores. Soma de posses: Accessio possessionis → transmissão da posse por ato inter vivos → (art. 1.207 c/c art. 1.243 do CCB). Successio possessionis → aquisição da posse a título universal → por herança.

e) Lapso temporal (continuatio possessionis): ao lado da posse o transcurso do tempo são

requisitos básicos e estruturais do usucapião. f) Justo título: é todo ato formalmente adequado a transferir o domínio ou o direito real de

que trata, mas que deixa de produzir tal efeito em decorrência de algum fato impeditivo. Compromisso de compra e venda irretratável e irrevogável mesmo sem registro é justo título.

g) Posse de boa-fé: deve ignorar os vícios que o impedem de adquirir a coisa.

É a crença firme e completa na legitimidade e regularidade do título. → convicção da aquisição legítima. Presunção de boa-fé: art. 1.201 do CCB. → PRESUNÇÃO RELATIVA.

2.3. ESPÉCIES DE USUCAPIÃO Usucapião extraordinária Usucapião ordinária Usucapião especial ou constitucional Rural (pro labore) Urbana (pró-moradia ou pro misero) Usucapião indígena 2.3.1. USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA Previsão legal: art. 1.238 do CCB Requisitos: a) Posse de 15 anos (reduzível a 10 anos – moradia habitual ou serviços produtivos) b) Posse com ânimo de dono (animus domini) c) posse contínua, mansa e pacífica OBS.: Dispensa justo título e boa fé Redução do prazo: CCB/1916 era de 20 anos → CCB/2002 é de 15 anos → art. 2.028 do CCB/2002. Posse trabalho: parágrafo único do art. 1.238 do CCB → INOVAÇÃO

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Direito intertemporal: art. 2.029 do CCB/2002. 2.3.2. USUCAPIÃO ORDINÁRIA Previsão legal: art. 1.242 do CCB Requisitos: a) Posse de 10 anos (reduzível a 5 anos – adquirido onerosamente e moradia ou investimento de interesse social e econômico); b) Posse com ânimo de dono (animus domini); c) Posse contínua, mansa e pacífica; d) Posse fundada em justo título e boa-fé. Redução do prazo: CCB/1916 era de 20 anos → CCB/2002 é de 15 anos → art. 2.028 do CCB/2002. Transcrição cancelada: parágrafo único do art. 1.242 do CCB → INOVAÇÃO Direito intertemporal: art. 2.029 do CCB/2002. 2.3.3. USUCAPIÃO ESPECIAL RURAL - também chamada de usucapião constitucional rural ou usucapião pro labore Previsão legal: Lei n.º 6.969/81, art.1.239 do CCB e CF art.191 Requisitos: a) Não possuir outra propriedade urbana ou rural; b) Posse de 5 anos; c) Posse com ânimo de dono (animus domini); d) Posse ininterrupta, sem oposição; e) Tenha tornado a área produtiva e estabelecido moradia → fixação do homem no campo → ocupação produtiva → beneficio da família. f) Área rural de 50 hectares. OBS.: Independe de justo título e boa fé Atenção: não é possível a soma de posses (accessio possessionis). Matéria de defesa e registro: art. 7º da Lei n.º 6.969/81 2.3.4. USUCAPIÃO ESPECIAL URBANO - também chamada de usucapião constitucional urbana ou usucapião pro moradia. Previsão legal: art.1.240 do CCB e CF art.183 Requisitos: a) Não possuir outra propriedade urbana ou rural; b) Posse de 5 anos; c) Posse com ânimo de dono (animus domini);

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d) Posse ininterrupta, sem oposição; e) Tenha estabelecido moradia no imóvel; f) Área urbana de 250 m2: tanto o terreno como a construção. Área maior: desde que a posse esteja limitada aos 250 m2 OBS.: Independe de justo título e boa fé Atenção: se aplica tão somente a terreno urbano com construção, pois é requisito que tenha sido estabelecida a moradia. 2.3.5. USUCAPIÃO URBANA INDIVIDUAL DO ESTATUTO DA CIDADE Previsão legal: art. 9º da Lei n.º 10.257/2001 (Estatuto da Cidade). Requisitos: a) Não possuir outra propriedade urbana ou rural; b) Posse de 5 anos; c) Posse com ânimo de dono (animus domini); d) Posse ininterrupta, sem oposição; e) Tenha estabelecido moradia no imóvel; f) Área ou edificação urbana de 250 m2: tanto o terreno como a construção. Área maior: desde que a posse esteja limitada aos 250 m2 Matéria de defesa e registro: art. 13 do Estatuto da Cidade Procedimento: sumário → art. 14 do Estatuto da Cidade 2.3.6. USUCAPIÃO URBANA COLETIVA DO ESTATUTO DA CIDADE Previsão legal: art. 10 da Lei n.º 10.257/2001 (Estatuto da Cidade).

Requisitos: a) área urbana maior de 250m2, sendo que cada ocupante não pode pretender usucapir área individual maior de que este limite; b) área ocupada por pessoas de baixa renda; c) Tenha estabelecido moradia no imóvel; d) posse de 5 anos; e) impossibilidade de localização da posse de cada usucapiente; f) não terem os possuidores outro imóvel urbano ou rural; Atenção: possibilidade de accessio possessionis → § 1º. do art. 10 do Estatuto da Cidade

A aquisição se dá em regime de condomínio (conforme art. 10, §§ 3º, 4º e 5º). Matéria de defesa e registro: art. 13 do Estatuto da Cidade 2.3.7. USUCAPIÃO INDÍGENA Previsão legal: art. 33 da Lei n.º 6.001/73

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Requisitos: a) índio integrado ou não b) trechos de terras rurais e particulares inferior a cinqüenta hectares c) Posse de 10 anos; c) Posse com ânimo de dono (animus domini); d) Posse ininterrupta, sem oposição; 2.4. AÇÃO DE USUCAPIÃO

O possuidor com posse ad usucapionem pode ajuizar ação declaratória. Regulamentação: arts. 941 a 945 do CPC e 1.241 do CCB Competência: foro da situação do imóvel Necessidade de individuação do imóvel na inicial: juntar planta da área usucapienda (art.

942, CPC).

Intervirá obrigatoriamente em todos os atos do processo o MP;

Trata-se de ação real. Para propor a ação, exige-se a outorga do outro cônjuge (CPC, art. 10).

Devem ser obrigatoriamente citados: a) aquele em cujo nome estiver registrado o imóvel (certidão negativa); b) os confinantes/confrontantes do imóvel; c) aqueles que estiverem em lugar incerto e os eventuais interessados serão citados por

editais. Deve haver a intimação da fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e

dos Municípios. A sentença que julgá-la procedente terá natureza meramente declaratória. A sentença será transcrita, mediante mandado, no registro de imóveis (Cartório de

Registro de Imóveis - CRI), satisfeitas as obrigações fiscais (art. 945, CPC). 3. AQUISIÇÃO PELO REGISTRO DO TÍTULO 3.1. INTRODUÇÃO

Só o contrato não transfere o domínio (art. 481 do CCB), sendo necessária a tradição para móveis e o registro do título para imóveis (art. 1.245 do CCB).

A propriedade imóvel só se transfere pela transcrição de título. Então o registro geral direito real para o adquirente e transfere o domínio.

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4. AQUISIÇÃO POR ACESSÃO 4.1. CONCEITO E FORMAS

Modo originário de aquisição, criado por lei, pelo qual tudo o que se une ou se incorpora a um bem pertence ao proprietário deste.

Requisitos: a) conjunção entre duas coisas, até então separadas; b) caráter de acessória de uma dessas coisas, em confronto com a outra.

Segue a regra de que o acessório segue o principal, evitando o enriquecimento sem causa ao prever pagamento de indenização ao proprietário desfalcado. Espécies: art. 1.248 do CCB 4.2. ACESSÕES FÍSICAS OU NATURAIS

É a que ocorre em virtude de fatos da natureza. 4.2.1. ACESSÃO PELA FORMAÇÃO DE ILHAS

Acúmulo de areia e materiais (cascalho ou fragmentos de terra) levados pela correnteza aumentando a área ribeirinha ou decorrente do rebaixamento de águas, deixando descoberto e a seco uma parte do fundo ou do leito.

Regramento: art. 1.249 do CCB. 4.2.2. ALUVIÃO

Acréscimo de terra formado sucessiva e imperceptivelmente nas margens do rio pela força da água, mediante lentos e imperceptíveis depósitos ou aterros naturais ou desvio das águas.

Regramento: art. 1.250 do CCB. ESPÉCIES: Própria: a aluvião quando o acréscimo se forma pelos depósitos ou aterros naturais nos terrenos marginais do rio; Imprópria: quando tal acréscimo se forma em razão do afastamento (retração) das águas que descobrem parte do álveo. 4.2.3. AVULSÃO

Parte de um imóvel é destacada do seu terreno e acrescida a outro, por ocasião de força abrupta e violenta.

Regramento: art. 1.521 do CCB. Dever de Indenização.

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4.2.4. ÁLVEO ABANDONADO

Álveo é o leito do rio. Se o rio desvia seu leito, ou caso ele seque, o álveo pertence aos donos do terreno ribeirinho por onde passava. (art. 1.252 do CCB) 4.3. ACESSÕES INDUSTRIAIS: CONSTRUÇÕES E PLANTAÇÕES.

As acessões industriais derivam de um comportamento ativo humano, sendo os acréscimos que aderem ao solo e a ele se incorpora.

Regra geral: art. 1.253 do CCB. PRESUNÇÃO RELATIVA – JURIS TANTUM → pode ser elidida nas hipóteses do art.

1.254 e segs do CCB. 1) Proprietário que semeia, planta ou edifica em terreno próprio, mas com sementes, plantas ou materiais alheios: art. 1.254 do CCB.

O acessório segue a sorte do principal. Evitar enriquecimento sem causa: dever de ressarcir o valor das sementes, plantas ou materiais alheios. Perdas e danos: se agiu de má-fé. 2) Terceiro que semeia, planta ou edifica em terreno alheio: art. 1.255 do CCB.

O acessório segue a sorte do principal. Terceiro de boa-fé: será indenizado.

Valor do terreno x valor da construção ou plantação: terceiro de boa-fé adquire a propriedade do solo, mediante indenização. → espécie de desapropriação no interesse privado.

3) Tanto o proprietário como terceiro obraram de má-fé: art. 1.256 e 1.257 do CCB → o proprietário adquire as acessões, mas deve indenizar o terceiro. 4) Invasão de parte do solo alheio por construção: art. 1.258 e 1.259 do CCB. 4.1) quando a invasão não excede a vigésima parte do solo alheio: art. 1.258 do CCB.

Requisitos para que ocorra a aquisição do solo:

a) que a construção tenha sido feita parcialmente em solo próprio, mas havendo invasão de solo alheio;

b) que a invasão do solo alheio não seja superior à vigésima parte deste; c) que o construtor tenha agido de boa-fé; d) que o valor da construção exceda o da parte invadida; e) que o construtor indenize o dono do terreno invadido, pagando-lhe o valor da área perdida

e a desvalorização da área remanescente.

Se o construtor estiver de má-fé: 10x o valor da área perdida e a desvalorização da área remanescente.

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4.2) quando a invasão excede a vigésima parte do solo alheio: art. 1.259 do CCB. Construtor de boa-fé: indeniza pelo valor que a invasão acrescer a sua construção, mais o valor da área perdida, mais o valor da desvalorização da área remanescente. Construtor de má-fé: é obrigado a demolir a construção, devendo pagar em dobro as perdas e danos.

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DA AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE MÓVEL 1. USUCAPIÃO 1.1. CONCEITO

Modo originário de aquisição da propriedade e de outros direitos reais (servidões e usufruto), fundado no elemento tempo (POSSE PROLONGADA), também chamada de prescrição aquisitiva. 1.2. ESPÉCIES Usucapião ordinário Usucapião extraordinário 1.3. USUCAPIÃO ORDINÁRIO Previsão legal: art. 1.260 do CCB. Requisitos:

a) Posse por mais de 03 anos; b) Posse com ânimo de dono (animus domini); c) Posse ininterrupta e sem oposição; d) Posse fundada em justo título e boa-fé.

1.4. USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIO Previsão legal: art. 1.261 do CCB. Requisitos:

a) Posse de 05 anos; b) Posse com ânimo de dono (animus domini); c) Posse de forma contínua, ininterrupta, mansa e pacífica.

OBS.: Dispensa justo título e boa-fé. 1.5. REGRAS GERAIS (art. 1.262 do CCB). 2. OCUPAÇÃO

É modo originário de aquisição de propriedade da coisa móvel ou semovente, sem dono,

quando o agente se apropria da coisa sem dono, com animus domini. (art. 1.263 do CCB). Coisas “sem dono”: → coisa abandonada (res derelicta)

→ coisa de ninguém (res nullius).

Abandono não se presume → depende de:

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3) Não uso do bem 4) Ânimo de renunciar o direito

3. ACHADO DO TESOURO

É o depósito antigo de coisas preciosas, oculto, de cujo dono não se haja memória. (art. 1.264 a 1.266 do CCB).

4. TRADIÇÃO 4.1. CONCEITO

É a entrega de coisa móvel ao adquirente, com a intenção de lhe transferir o domínio. (art. 1.267 do CCB).

Só gera efeitos se quem transfere a propriedade é seu legítimo dono. 4.2. ESPÉCIES DE TRADIÇÃO Tradição real: quando há a entrega efetiva e material da coisa, o deslocamento material da coisa da propriedade de um para outro.

Tradição simbólica: representada por ato que traduza a transmissão da posse. (traditio longa manu). Tradição ficta: é subdividida em traditio brevi manu e no constituto possessório. - Constituto possessório ou cláusula constituti: ocorre quando o alienante transfere o domínio para outrem, mas conserva a posse da coisa, na qualidade de locatário ou de detentor. - traditio brevi manu: é o inverso do constituto possessório, pois neste caso há um possuidor direto da coisa (locatário, usufrutuário, etc.) que passa a exercer esta posse em nome próprio, pois adquiriu o domínio da coisa, tornando-se proprietário. 4.3. TRADIÇÃO FEITA POR QUEM NÃO É PROPRIETÁRIO

→ aquisição a non domino (art. 1.268 do CCB)

5. ESPECIFICAÇÃO

É modo de aquisição mediante a transformação de coisa móvel em espécie nova, em virtude do trabalho ou da indústria do especificador, dede que não seja mais possível reduzi-la a sua forma primitiva (art. 1.269 do CCB).

Se a matéria prima não pertencer ao especificador, dependerá de sua boa ou má-fé:

- Boa-fé → adquire a propriedade: art. 1.270, caput do CCB.

- Má-fé → a coisa pertencerá ao dono: § 1º do art. 1.270 do CCB

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- De boa ou má-fé quando o valor da coisa exceder consideravelmente o da matéria-prima (pintura numa tela) → pertencerá ao especificador: § 2º do art. 1.270 do CCB.

Ressarcimento (art. 1.271 do CCB).

6. CONFUSÃO, COMISSÃO E ADJUNÇÃO.

Quando coisas que pertencem a pessoas diversas se mesclam de tal forma que seja impossível separá-las.

CONFUSÃO: mistura de coisas líquidas;

COMISTÃO: mistura de coisas sólidas ou secas;

ADJUNÇÃO: quando há justaposição de uma coisa a outra. Quando as coisas puderem ser separadas sem deterioração (art. 1.272, caput do CCB). Quando as coisas não puderem ser separadas sem deterioração ou se a sua separação for muito onerosa (§ 1º do art. 1.272 do CCB). Se uma das coisas puder ser considerada principal (§ 2º do art. 1.272 do CCB). Se a confusão, comistão ou adjunção ocorrer de má-fé (art. 1.273 do CCB). Se com a mistura surgir coisa nova (art. 1.274 do CCB).

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DA PERDA DA PROPRIEDADE 1. INTRODUÇÃO

Uma vez que o direito a propriedade é perpétuo, só pode ser perdido por vontade do dono (modos voluntários – alienação, renúncia ou abandono) ou determinação legal (modos involuntários – usucapião ou desapropriação).

Previsão legal dos modos de perda da propriedade: art. 1.275 do CCB 2. MODOS DE PERDA 2.1. ALIENAÇÃO

É a transferência do direito de propriedade para outrem, por meio de negócio jurídico bilateral.

Pode ser dar por título oneroso ou gratuito. Os efeitos da perda da propriedade estão subordinados ao registro do título (art. 1.275,

parágrafo único do CCB). 2.2. RENÚNCIA

É ato unilateral por meio do o titular do direito de propriedade abre mão de seus direitos sobre a coisa (bem móvel ou imóvel), de forma expressa.

Os efeitos da perda da propriedade estão subordinados ao registro do título (art. 1.275, parágrafo único do CCB). 2.3. ABANDONO

É ato unilateral por meio do qual o proprietário do imóvel abre mão de seus direitos sobre a coisa, de forma não expressa, com a intenção de não ter mais a coisa para si.

O abandono depende de: 5) Não uso do bem 6) Ânimo de renunciar o direito

≠ perda da coisa → é contra a vontade do proprietário.

Coisa imóvel abandonada e sem que terceiro venha a conservar no seu patrimônio →

arrecadado como propriedade do Município ou do Distrito Federal ou, ainda, da União (art. 1.276 do CCB). 2.4. USUCAPIÃO

Ao mesmo tempo em que é modo originário de aquisição da propriedade pelo possuidor (posse prolongada), passa a ser modo involuntário de perda da propriedade pelo então proprietário.

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2.5. PERECIMENTO DO IMÓVEL

Decorre da perda de seu objeto, pode resultar tanto de atos involuntários (fenômenos da natureza), como de atos voluntários (destruição da coisa). 2.6. DESAPROPRIAÇÃO

Trata-se de modo involuntário de perda da propriedade. Perde-se a propriedade por desapropriação por necessidade e utilidade pública ou interesse social.

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DOS DIREITOS DE VIZINHANÇA 1. INTRODUÇÃO

Os direitos de vizinhança decorrem de previsões legais que visam conciliar o exercício do direito de propriedade de prédios contíguos.

São obrigações propter REM → obrigações negativas → mau uso da propriedade. 2. DO MAU USO DA PROPRIEDADE

O proprietário tem o direito de fazer cessar as interferências anormais decorrentes do mau uso da propriedade vizinha (art. 1.277 do CCB).

Essas interferências prejudiciais atingem a saúde, o sossego e a segurança.

2.1. ESPÉCIES DE ATOS NOCIVOS São atos:

a) ilegais: são os atos ilícitos → direito à indenização (art. 186 e 927 do CCB); b) abusivos: atos que embora lícitos, vem trazer incômodo exagerado prejudicando o

vizinho. (Teoria do abuso de direito). c) lesivos: são os atos que, embora estejam dentro do uso normal da propriedade,

causam danos aos vizinhos. Critérios para aferição do uso prejudicial: parágrafo único do art. 1.277 do CCB.

a) Deve se proceder a verificação da extensão do dano ou do incômodo causado;

b) Deve estar em desacordo com a zona, os usos e costumes do local.

c) Deve considerar a anterioridade da posse. (Teoria da pré-ocupação). 2.2. SOLUÇÕES PARA O CONFLITO

a) INCÔMODO TOLERÁVEL: não deve ser reprimido. b) INCÔMODO INTOLERÁVEL:

1º) deve o Juízo determinar que seja reduzido a proporções normais → art. 1.279 do CCB. 2º) cessação da atividade.

3º) quanto a atividade for de interesse social e o incômodo não puder ser reduzido a níveis toleráveis o causador do dano terá que indenizar. → art. 1.278 do CCB.

MEDIDAS JUDICIAIS:

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a) ação cominatória (astreintes) podendo ser cumulada com reparação de danos causados. → art. 287, 461, § 4º e 644 do CPC.

b) ação reparatória quando o dano já se consumou.

4º) Demolição ou reparação de prédio que ameace ruína. → art. 1.280 do CCB. 5º) Garantia de obras a serem realizadas por outrem no seu imóvel → art. 1.281 do CCB. Garantia → caução real ou fidejussória → art. 827 do CPC.

3. ÁRVORES LIMÍTROFES 1º) condomínio de árvores existentes na linha divisória: (art. 1.282 do CCB). → presunção juris tantum.

Consequentemente:

a) os frutos e o tronco são de ambos proprietários; b) se a árvore for cortada ou arrancada deve ser repartida entre ambos proprietários; c) o corte ou a sua extração depende do consentimento de ambos os proprietários; d) possibilidade de recorrer ao Judiciário.

2º) propriedade dos frutos caídos naturalmente: art. 1.284 do CCB → exceção a regra de que os acessórios seguem a sorte do principal. 3º) raízes e ramos de árvores que ultrapassam a divisa invadindo terreno vizinho: art. 1.283 do CCB. 4. DA PASSAGEM FORÇADA

O proprietário do prédio encravado tem o direito de constranger o vizinho a lhe dar passagem, mediante indenização adequada. (art. 1.285 do CCB).

Visa atender ao interesse social e à finalidade econômica da utilização da propriedade. Requisitos:

a) Só tem cabimento quando o encravamento é natural e absoluto: - Não é encravado o imóvel que tenha outra saída. - Encravamento decorrente de alienação de parte do imóvel: §§2º e 3º do art. 1.285 do

CCB. b) Não havendo acordo entre os proprietários contíguos, a fixação do direito de passagem e

o valor da indenização ser fixado judicial (menor ônus possível ao prédio serviente, utilizando-se do imóvel que mais natural e facilmente se preste à passagem. art. 1.285 e § 1º do CCB).

c) Direito à indenização → equivale a uma desapropriação no interesse particular.

Ocorre a extinção do direito de passagem forçada quanto deixa de existir a necessidade do

imóvel encravado.

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DIREITO DE PASSAGEM FORÇADA SERVIDÃO

Direito de vizinhança. Direito real sobre coisa alheia

Decorre de lei. Geralmente nasce de um contrato,

Visa evitar a inutilidade econômica de um prédio.

Independe da necessidade decorrente da situação dos imóveis, podendo ser criada por mera conveniência e comodidade do dono de um imóvel que nem mesmo seja encravado.

5. PASSAGEM DE TUBULAÇÕES E CABOS É uma inovação do CCB/2002 que obriga o proprietário, mediante indenização, a tolerar, a passagem, através de seu imóvel, de cabos, tubulações e outros condutores de serviços de utilidade pública, sempre que de outro modo for impossível ou excessivamente oneroso (art. 1.286 do CCB).

Instalação menos gravosa possível para o imóvel onerado (parágrafo único do art. 1.286 do CCB).

Realização de obras que visem à segurança para evitar danos (art. 1.287 do CCB).

6. CANALIZAÇÃO E ESCOAMENTO DE ÁGUA 1º) Chuva ou escoamento de água:

a) os prédios inferiores são obrigados a receber as águas que NATURALMENTE corram

dos superiores (art. 1.288 do CCB). b) os prédios inferiores (imóveis localizados a jusante) não são obrigados a receber as águas que SUPERFICIALMENTE corram dos superiores (art. 1.289 do CCB) → direito a reclamar o desvio ou à indenização

2º) Direito às sobras das águas nascentes e das águas pluviais: art. 1.290 do CCB. → servidão das águas supérfluas. 3º) Mau uso das águas pelos proprietários de prédios superiores: art. 1.291 do CCB. 4º) Possibilidade de represamento (art. 1.292 do CCB). 5º) Construção de canais por prédio de outrem (art. 1.293 do CCB).

→ para as necessidades básicas, para agricultura e atividades econômicas. → direito à servidão de aqueduto.

7. DOS LIMITES ENTRE PRÉDIOS E DO DIREITO DE TAPAGEM

Com a finalidade de estabelecer os limites entre os prédios o proprietário pode (art. 1.297 do CCB):

- cercar, murar, valar ou tapar o seu imóvel;

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- compelir seu confinante a demarcar os prédios, bem como, a praticar os atos para aviventar rumos apagados e a renovar marcos destruídos, dividindo-se proporcionalmente as despesas.

AÇÃO APROPRIADA: Ação demarcatória (art. 946 a 966 do CPC).

Confusão de limites (art. 1.298 do CCB). 8. DIREITO DE CONSTRUIR

Respeitado o direito dos vizinhos e os regulamentos administrativos o proprietário pode construir o que lhe aprouver (art. 1.299 do CCB).

8.1. DEVASSAMENTO DA PROPRIEDADE VIZINHA A legislação cria algumas regras que limitam o direito de construir no claro intuito de prevenir a perturbação do recato e da privacidade familiar (art. 1.301 e parágrafos do CCB).

Súmula 120 do STF.

Prazo decadencial para impugnar a construção: art. 1.302 do CCB.

Passado o lapso temporal não poderá depois impugnar, tampouco construir sem respeitar as normas.

Não há servidão do uso da luz → parágrafo único do art. 1.302 do CCB.

Zona Rural: art. 1.303 do CCB.

8.2. DESPEJO DE ÁGUAS E BEIRAIS

O proprietário construirá de modo que não despeje (água correm naturalmente) diretamente sobre o prédio vizinho (art. 1.300 do CCB). 8.3. PAREDES DIVISÓRIAS

Regras sobre parede-meia: art. 1.304 a 1.306 do CCB. O confinante pode levantar parede divisória:

a) somente em seu terreno → único proprietário b) na linha divisória, com meia espessura no terreno vizinho → condomínio (art. 1.305 do

CCB).

O vizinho pode utilizar a parede meia para levantar construção, mas deve respeitar as seguintes condições (art. 1.304 do CCB):

a) que a nova construção se levante em prédio urbano; b) que a edificação esteja obrigada a determinado alinhamento

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c) a parede divisa deve suportar a nova construção; d) deverá indenizar a metade da parede divisa; e) deve se assegurar de qualquer risco de segurança ou, ainda, não deverá desrespeitar

a divisa. Condomínio de paredes divisórias: art. 1.306 do CCB. Alteamento das paredes divisórias: art. 1.307 do CCB. Restrições as construções em paredes divisórias: art. 1.308 do CCB. 8.4. USO DO PRÉDIO VIZINHO

O dono do prédio deverá tolerar a entrada do vizinho sempre que necessário, mediante aviso prévio (restrições quanto a horários), para reparos, construção ou limpeza da casa (art. 1.313 do CCB). 8.5. OUTRAS RESTRIÇÕES: art. 1.309 a 1.312 do CCB.

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DA PROPRIEDADE RESOLÚVEL E DA PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA

1. DA PROPRIEDADE RESOLÚVEL 1.1. CONCEITO “A propriedade é resolúvel quando o título de aquisição está subordinado a uma condição resolutiva ou ao advento do termo”. (GONÇALVES, 2006, p. 397). 1.2. CAUSAS DE RESOLUÇÃO DA PROPRIEDADE 1.2.1. Resolução pelo implemento da condição ou pelo advento do termo: art. 1.359 do CCB.

- o termo e a condição se encontram no próprio título aquisitivo da propriedade; - condição ou termo pré-estabelecidos;

- a condição ou termo operam efeitos ex tunc → art. 128 do CCB. 1.2.2. Resolução por causa superveniente: art. 1.360 do CCB.

- a causa é superveniente; - opera efeitos ex nunc.

2. DA PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA 2.1. CONCEITO - o próprio Código Civil conceitua a propriedade fiduciária no seu art. 1.361. - negócio jurídico com elemento acidental (condição resolutiva).

- bens móveis infungíveis. - alienação fiduciária em garantia.

2.2. LEGISLAÇÃO APLICÁVEL 2.2.1. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BENS MÓVEIS - Lei n.º 4.728/65 → modificada pelo Decreto-lei n.º 911/69. - CCB de 2002 → normas gerais sobre o instituto (art. 1.361 a 1.368) → entende-se que os dispositivos de direito material da legislação anterior foram revogados, mantendo-se as regras de natureza processual do Decreto-lei n.º 911/69 (art. 2.043 do CCB).

- novo direito real de garantia.

2.2.2. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BENS IMÓVEIS - regulada pela Lei n.º 9.514/1997 → art. 1.368-A do CCB. 2.3. REGRAS PARA A SUA CONSTITUIÇÃO → art. 1.361, § 1º do CCB. → requisitos:

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a) negócio jurídico que deve ser formalizado por escrito; b) público ou particular; c) deve conter (art. 1.362 do CCB): I - valor total da dívida ou sua estimativa; II - prazo para pagamento; III - taxa de juros;

IV - descrição da coisa objeto da transferência, com os elementos indispensáveis à sua identificação.

d) deve ser registrado para ser oponível a terceiros, inclusive, anotado no documento do veículo;

Súmula 92 do STJ: a terceiro de boa-fé não é oponível a alienação não anotada no Certificado de Registro de Veículo Auto-motor

e) há tradição ficta (constituto possessório).

2.4. DA POSSE E DA PROPRIEDADE: §§ 2º e 3º do art. 1.361 e art. 1.363 do CCB. - com a alienação fiduciária em garantia a posse do bem móvel se desdobra:

a) posse indireta: fiduciário; b) posse direta: fiduciante.

- enquanto perdurar o débito, o fiduciante poderá utilizar o bem, porém permanece como

seu depositário. Em caso de não pagamento tem o dever de entregá-lo ao fiduciário (art. 1.363 do CCB). - a propriedade até o implemento da condição é do fiduciário (propriedade resolúvel) → condicionada ao pagamento do débito.

- com o implemento da condição a propriedade se resolve e é transferida ao devedor/fiduciante, com efeitos ex tunc. (§ 3º do art. 1.361 do CCB). 2.5. DIREITOS E OBRIGAÇÕES DO FIDUCIANTE (Carlos Roberto Gonçalves)

a) permanecer com a posse direta da coisa; b) direito de reaver a propriedade com a quitação do débito; c) purgar a mora, diante de ação de busca e apreensão; d) receber o saldo quando da venda efetuada pelo fiduciário; e) mantém-se obrigado por eventual saldo da dívida; f) não dispor do bem alienado (cessão de direitos);

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g) entregar o bem, em caso de inadimplemento do contrato, sujeitando-se a pena de prisão por depositário infiel.

2.6. DIREITOS E OBRIGAÇÕES DO FIDUCIÁRIO (Carlos Roberto Gonçalves)

a) proporcionar ao fiduciante o financiamento; b) respeitar a posse direta do fiduciante; c) diante da inadimplência o fiduciário pode apreender o bem e vender, judicial ou extrajudicialmente, aplicando o preço para solução da dívida e pagando o remanescente.

2.7. PACTO COMISSÓRIO - é a cláusula que permite que o credor fique com a coisa que garantia o débito, em caso de inadimplemento do fiduciante. - é nulo de pleno direito (atinge somente a cláusula) → art. 1.365 do CCB.

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SUPERFÍCIE 1. DIREITOS REAIS SOBRE COISA ALHEIA Os direitos reais sobre coisa alheia se subdividem em duas categorias: 1) direitos reais de gozo ou fruição: permitem a utilização da coisa de forma semelhante ao proprietário pleno (superfície, enfiteuse, servidão, usufruto, uso, habitação); 2) direitos reais de garantia: vinculam a coisa a uma relação obrigacional como garantia do seu adimplemento (penhor, anticrese e hipoteca). 2. INTRODUÇÃO

Foi reintroduzido pelo CCB/2002, substituindo a enfiteuse, a qual foi abolida pelo novo Código.

Trata-se de direito real de fruição ou gozo sobre coisa alheia.

Visa dar concretização à própria função social da propriedade.

Princípio da acessão X Superfície.

Fundieiro/concedente: aquele que concede o direito de superfície → posse indireta da coisa → proprietário do solo;

Superficiário/concessionário: aquele que passa a ser titular do direito de superfície → posse direta da coisa → proprietário da construção ou plantação. Implante: é a obra e/ou a plantação que decorre do direito de superfície. 3. CONCEITO

O direito de superfície é conceituado pelo art. 1.369 do CCB. É uma limitação espontânea do direito de propriedade. 4. ESTATUDO DA CIDADE: art. 23 ao 24 da Lei n.º 10.257/2001 “Enunciado 93. Art. 1.369. As normas previstas no Código Civil, regulando o direito de superfície, não revogam as normas relativas a direito de superfície constantes do Estatuto da Cidade (Lei n.º 10.257/2001) por ser instrumento de política de desenvolvimento urbano”

ESTATUDO DA CIDADE CÓDIGO CIVIL

Exploração do solo é mais ampla, não se restringe a construção e/ou plantação (art. 21, § 1º)

Exploração do solo mais restrita, somente para construção e/ou plantação (art. 1.369 do CCB).

Imóvel urbano Imóvel urbano (onde não houver plano urbanístico) ou rural

Cessão por prazo determinado ou indeterminado. (art. 21)

Cessão por prazo determinado (art. 1.369 do CCB).

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Abrange o direito de utilizar o solo, o subsolo ou o espaço aéreo relativo ao terreno (art. 21, § 1º).

O uso do subsolo é restrito (parágrafo único do art. 1.369 do CCB).

O superficiário responderá integralmente pelos encargos e tributos que incidirem sobre a propriedade superficiária, arcando, ainda, proporcionalmente à sua parcela de ocupação efetiva, com os encargos e tributos sobre a área objeto da concessão do direito de superfície, salvo disposição em contrário do contrato respectivo.

O superficiário responderá pelos encargos e tributos que incidirem sobre o imóvel.

5. REGRAMENTO a) via de regra, não permite uso do subsolo (parágrafo único do art. 1.369 do CCB); b) somente admite o direito real de superfície por tempo determinado (caput do art. 1.369 do CCB);

c) pode ser gratuita ou onerosa (art. 1.370 do CCB). → Valor pago é denominado de solarium ou canon superficiário. d) deve ser instituído por escritura pública e levado a registro no Cartório de Registro de Imóveis; e) o contrato que lhe dá origem somente gera direitos pessoais, sendo que o direito real de superfície surge somente com o registro no Cartório de Registro de Imóveis (art. 1.369 do CCB); f) admite-se direito de superfície por cisão: direito de superfície sobre construções ou plantações pré-existentes. Enunciado 250 – Art. 1.369: Admite-se a constituição do direito de superfície por cisão. g) o superficiário responde por encargos e tributos que incidirem sobre o imóvel (art. 1.371 do CCB); “Enunciado 94 – Art. 1.371. As partes têm plena liberdade para deliberar no contrato respectivo sobre o rateio dos encargos e tributos que recairão sobre a área incidida.” h) o fundieiro ou concedente não pode praticar atos que impeçam ou prejudiquem a concretização ou livre exercício do direito de superfície; i) admite-se a transferência do direito de superfície por ato inter vivos ou causa mortis (art. 1.372 do CCB), na transmissão inter vivos não se admite onerosidade. j) em caso de cessão da superfície ou quando o terreno for alienado, o concedente e o superficiário terão direito de preferência (art. 513 e segs. do CCB). k) Mesmo os direitos constituídos por pessoa jurídica de direito público interno regem-se pelo Código Civil, no que não for diversamente disciplinado em lei especial.

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6. EXTINÇÃO DO DIREITO DE SUPERFÍCIE O direito real de superfície se extingue, por ser instituído por prazo determinado, extingue-se com o advento do termo. Pode ocorrer ainda a extinção quando o superficiário dá destinação diversa daquela acordada quando da concessão da superfície. (art. 1.374 do CCB).

Ao final da concessão, com o advento do termo, o fundieiro receberá a coisa com a obra ou plantação, salvo estipulação em contrário. (art. 1.375 do CCB).

Na hipótese de desapropriação serão ambos indenizados, proporcionalmente de acordo

com o direito real de cada um. (art. 1.376 do CCB).

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DA ENFITEUSE 1. INTRODUÇÃO

O direito de superfície veio substituir a enfiteuse. Enfiteuses → perpetuidade (art. 679 do CCB/1916)1 → ainda podem existir várias

enfiteuses instituídas → art. 2.038 do CCB/2002 regula a matéria determinando a aplicação as enfiteuses ainda existentes das normas do CCB/1916.

2. CONCEITO

O Código Civil de 1916 disciplinava a enfiteuse em seu artigo 678 da seguinte forma:

“Dá-se a enfiteuse, aforamento ou emprazamento, quando por ato entre vivos, ou de última vontade, o proprietário atribui a outrem o domínio útil do imóvel, pagando a pessoa, que o adquire, e assim, se constitui enfiteuta, ao senhorio direto uma pensão, ou foro, anual, certo e invariável”.

A enfiteuse constitui direito real sobre coisa alheia. Contratantes: - senhorio direto → proprietário do bem - foreiro ou enfiteuta → titular do domínio útil.

3. REGRAMENTO a) objeto da enfiteuse: recai apenas sobre as terras não cultivadas ou terrenos que se destinem a edificação (Art. 680 do CCB/1916). → não é possível a constituição de enfiteuse sobre terrenos já edificados;

b) constitui-se por ato inter vivos ou disposição de última vontade (art. 678 do CCB/1916). c) o enfiteuta ou foreiro tem direito de uso, gozo e de disposição (aliená-la ou transmiti-la por herança – art. 681 do CCB/1916);

d) o foreiro é obrigado a pagar anualmente ao senhorio certa quantia (cânon ou pensão) invariável (Art. 678 do CCB/1916); e) a falta do pagamento do foro por três anos consecutivos acarreta no comisso, que é uma forma de extinção da enfiteuse (art. 692, II do CCB/1916);

f) em caso de cessão da enfiteuse (domínio útil) ou do terreno (domínio direto) for alienado, o senhorio e o enfiteuta terão direito de preferência (art. 683 a 685 do CCB/1916). g) o foreiro deve pagar o laudêmio ao senhorio direto quando da alienação do bem enfitêutico (Art. 686, CC/1916) → Observação: § 1º, inciso I do art. 2.038 do CCB/2002.

1 Art. 679. O contrato de enfiteuse é perpétuo. A enfiteuse por tempo limitado considera-se arrendamento, e

como tal se rege.

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h) direito de resgate: o enfiteuta pode vir a ser proprietário, consolidando a plenitude do domínio, se exercer o seu direito de resgate (Art. 693 do CC/1916). 4. EXTINÇÃO DA ENFITEUSE Pelo disposto no art. 692 do Código Civil de 1916 existiam três modos de extinção da enfiteuse: I - pela natural deterioração do prédio aforado, quando chegue a não valer o capital correspondente ao foro e mais um quinto deste; II - pelo comisso, deixando o foreiro de pagar as pensões devidas, por 3 (três) anos consecutivos, caso em que o senhorio o indenizará das benfeitorias necessárias; III - falecendo o enfiteuta, sem herdeiros, salvo o direito dos credores.

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DAS SERVIDÕES 1. CONCEITO

Direito real pelo meio do qual um prédio serve a outro para lhe facilitar o seu uso, restringindo a propriedade de um (serviente) em favor do outro (dominante), mediante vontade das partes.

Previsão legal: art. 1.378 a 1.389 do CCB. Limitação do direito de propriedade: alguns dos poderes inerentes à propriedade são desmembrados e transferidos ao senhor do prédio dominante.

Ônus imposto voluntariamente: decorre da vontade das partes. Formas:

a) servidão de trânsito ou de passagem; b) servidão de aqueduto (canalização); c) servidão de iluminação ou ventilação; d) servidão de pastagem; e) servidão de não construir a certa altura.

Prédios vizinhos, mas não necessariamente contíguos.

2. CARACTERÍSTICAS

a) gera uma obrigação propter rem: obrigação de se abster ou de permitir a utilização do seu imóvel para certo fim.

b) os prédios devem pertencer a donos diversos;

Serventia: dois prédios pertencentes a um mesmo dono.

c) a servidão serve a coisa e não ao dono: vincula o proprietário do imóvel serviente a uma obrigação negativa.

d) impresumibilidade: a servidão não se presume.

→ interpretação restritiva: na dúvida não se presume e julga contrariamente a servidão. → ônus da prova é de quem alega a servidão.

e) a servidão deve ser útil ao prédio dominante. f) é direito real e acessório: está vinculado ao direito de propriedade. g) a servidão tem duração indefinida (perpétua – caráter de permanência): não pode ser

estabelecida por prazo determinado. (CARLOS ROBERTO GONÇALVES) h) a servidão é indivisível: art. 1.386 do CCB → só pode ser reclamada como um todo, ainda

que o prédio dominante venha a pertencer a diversas pessoas.

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i) a servidão é inalienável: decorre de uma necessidade do prédio dominante.

j) a servidão transmite-se por sucessão mortis causa ou inter vivos, acompanhando o prédio.

3. CLASSIFICAÇÃO

a) Negativa → traduzem uma abstenção

b) Positiva → traduzem uma permissão

c) Contínuas: após estabelecidas persistem independe da ação humana para o seu exercício;

d) Descontínuas: após estabelecidas o seu exercício está condicionado a ato humano para que permaneçam;

e) Aparentes: se manifesta por obras exteriores

f) Não aparentes: obrigação de não edificar a certa altura.

Combinações Contínua e aparente → aqueduto. Contínua e não aparente → a de não abrir janela ou porta.

Descontínua e aparente → de trânsito (caminho marcado no solo). Descontínua e não aparente → de trânsito (caminho sem marcas no solo).

Importância:

Ex.:

1) exercício dos interditos possessórios (art. 1.213 do CCB) 2) suscetível de posse ad usucapionem (art. 1.379 do CCB). 4. MODOS DE CONSTITUIÇÃO - registro no Cartório de Registro de Imóveis. 4.1. SERVIDÃO CONSTITUÍDA POR ATO HUMANO 4.1.1. Negócio Jurídico Causa Mortis ou Inter Vivos - causa mortis: testamento

- inter vivos: contrato, em regra, oneroso. 4.1.2. Sentença proferida em ação de divisão Ação de divisão (art. 967 a 981 do CPC). Art. 979, II do CPC

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4.1.3. Usucapião: art. 1.379 do CCB.

a) Usucapião ordinária de servidão:

Requisitos: - posse de 10 anos;

- posse incontestada e contínua; - posse com ânimo de dono - justo título; - servidão aparente (exteriorização da posse).

b) Usucapião extraordinária de servidão:

Requisitos: - posse de 20 anos;

- posse incontestada e contínua; - posse com ânimo de dono - servidão aparente (exteriorização da posse).

4.1.4. Destinação do proprietário Dá-se a servidão por destinação do proprietário quando ele, proprietário de dois imóveis,

estabelece uma serventia visível sobre um em benefício do outro e, posteriormente, aliena um deles → só nasce a servidão com a alienação de um dos imóveis. 4.2. SERVIDÃO CONSTITUÍDA POR FATO HUMANO → servidão de trânsito: surge quando o proprietário do prédio dominante costuma servir-se habitualmente de determinado caminho aberto no prédio serviente. → deve ser visível (Súmula 415 do STF).

→ não é visível: ato de mera permissão/tolerância. 5. REGULAMENTAÇÃO a) obras necessárias a sua conservação e uso: em regra, cabem ao proprietário do prédio dominante. (art. 1.380 a 1.382 do CCB). b) não poderá o proprietário do prédio serviente embaraçar o exercício legítimo da servidão, sob pena de se sujeitar aos interditos possessórios. (art. 1.383 do CCB) c) a servidão poderá ser removida de um local para outro dentro do mesmo imóvel (art. 1.384 do CCB). - pelo dono do prédio serviente: deve ser realizada à sua custa e desde que não haja diminuição das vantagens ao prédio dominante; - pelo dono do prédio dominante: deve ser realizada à sua custa, deve haver considerável incremento da utilidade da servidão e não pode vir a prejudicar o prédio serviente. d) o exercício da servidão deve ser feito de modo a impor o menor incômodo possível ao dono do prédio serviente. (art. 1.385 do CCB).

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e) não pode haver ampliação da destinação das servidões (§ 1º do art. 1.385 do CCB). Exceções: - § 2º - servidões de trânsito; - anuência com o aumento das servidões de trânsito; - § 3º - decorrentes das necessidades da cultura ou da indústria. 6. AÇÕES QUE PROTEGEM AS SERVIDÕES a) confessória: procedimento de rito ordinário que visa o reconhecimento do direito de servidão negada pelo dono do prédio serviente. b) negatória: demanda a ser utilizada pelo dono do prédio serviente para buscar a declaração de inexistência de servidão ou de direito a sua ampliação (exercício abusivo da servidão). c) possessória: turbação ou esbulho no exercício da posse decorrente da servidão poderá ensejar o uso dos interditos possessórios, tanto em face do dono do prédio serviente, como em face de terceiros. e) ação de nunciação de obra nova: servidão de meter trave na parede do vizinho. (art. 934, I do CPC). f) usucapião: art. 1.379 do CCB. 7. DA EXTINÇÃO DAS SERVIDÕES → art. 1.387 a 1.389 do CCB. a) com o cancelamento do registro (art. 1.387 do CCB), salvo nas desapropriações (forma originária de aquisição de propriedade → independe de registro). b) art. 1.388 do CCB: O dono do prédio serviente tem direito, pelos meios judiciais, ao cancelamento do registro, embora o dono do prédio dominante lho impugne: I - quando houver renúncia da servidão: o dono do prédio dominante deve ter capacidade e poder de disposição; II - quando tiver cessado, para o prédio dominante, a utilidade ou a comodidade, que determinou a constituição da servidão; III - quando o dono do prédio serviente resgatar a servidão: desde que expressamente convencionado. Neste caso, o resgate fica vinculado à forma como foi estabelecido. c) art. 1.389 do CCB: Também se extingue a servidão, ficando ao dono do prédio serviente a faculdade de fazê-la cancelar, mediante a prova da extinção:

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I - pela reunião dos dois prédios no domínio da mesma pessoa.

II - pela supressão das respectivas obras por efeito de contrato, ou de outro título expresso.

III - pelo não uso, durante dez anos contínuos: revela o desinteresse e a desnecessidade. d) destruição do prédio dominante ou do prédio serviente. e) por advento do tempo convencionado ou implemento da condição estabelecida.

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DO USUFRUTO 1. CONCEITO Direito real conferido a uma pessoa, durante certo tempo, que autoriza retirar da coisa alheia os frutos e utilidades que ela produz, através do uso, da administração e da posse direta, impondo-lhe o dever de conservar a sua substância. Nu-proprietário: mantém o direito à substância da coisa, o direito de dispor da coisa e a expectativa de recuperar a propriedade plena pela consolidação do domínio pleno da coisa quando da extinção do usufruto. → posse indireta Usufrutuário: direito de uso e gozo temporários da coisa. → posse direta

Objeto: bens móveis e imóveis, patrimônio inteiro ou parte dele (art. 1.390 e 1.392 do CCB).

2. CARACTERÍSTICAS

a) direito real sobre coisa alheia

b) é temporária: art. 1.410 do CCB. c) é inalienável: não é possível a transferência do direito a outrem, mas tão somente de seu

exercício → art. 1.393 e 1.399 do CCB. 3. MODOS DE CONSTITUIÇÃO 3.1. DETERMINAÇÃO LEGAL: quando decorre de previsão legal. - usufruto dos pais sobre os bens do filho menor (art. 1.689, I do CCB); - usufruto do cônjuge sobre os bens do outro (art. 1.625, I do CCB); 3.2. ATO DA VONTADE: resulta ou do negócio jurídico (oneroso ou gratuito) ou do testamento. → registro no Cartório de Registro de Imóveis (art. 1.391 do CCB). 3.3. USUCAPIÃO - Usucapião de direitos reais sobre coisa alheia. - Distinção: pelo animus – de proprietário, de usufrutuário, etc. 4. ESPÉCIES a) Legal (decorre de previsão de lei) ou convencional (decorre de um negócio jurídico); b) Temporário (estabelecido com prazo certo de vigência) ou vitalício (estabelecido para durar enquanto viver o usufrutuário); c) Próprio (coisas infungíveis) ou impróprio (coisas fungíveis, quase-usufruto – art. 1.392. § 1º do CCB);

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d) Universal (recai sobre uma universalidade de bens) ou particular (recai sobre um determinado objeto); e) Pleno (compreende todos os frutos e utilidades que a coisa produz) ou restrito (estabelece restrições ao gozo da coisa somente a algumas utilidades); f) Simultâneo (instituído a favor de duas ou mais pessoas ao mesmo tempo, podendo incluir o direito de acrescer) ou sucessivo (é o instituído a favor de uma pessoa até a sua morte, quando então será atribuído a outrem → proibido em nosso CC) Direito de acrescer: com o falecimento de um dos usufrutuários ao outro é dado o direito de usufruir do bem com exclusividade. (art. 1.411 e art. 1.946 do CCB). 5. MODALIDADES PECULIARES DE USUFRUTO a) Usufruto sobre títulos de crédito: art. 1.395 do CCB. → notificação do devedor. b) Usufruto sobre o rebanho: art. 1.397 do CCB → frutos naturais. Dá direito a desfrutar de tudo por eles produzido. c) Usufruto sobre bens consumíveis: § 1º do art. 1.392 do CCB → usufruto impróprio ou quase usufruto d) Usufruto de florestas e minas: § 2º do art. 1.392 do CCB. Falta de previsão no título: não deve haver o exercício abusivo → meio termo → utilização razoável. e) Usufruto sobre universalidade ou quota-parte: § 3º do art. 1.392 do CCB. → abrange qualquer vantagem que lhe advenham. 6. DOS DIREITOS DO USUFRUTUÁRIO: art. 1.394 do CCB

a) a posse: tendo o usufrutuário a posse direta do bem, pode ele valer-se dos interditos possessórios para protegê-la, até contra o instituidor do usufruto ou contra o nu-proprietário;

b) o uso: que é o de fruir as utilidades da coisa, inclusive podendo ceder a título gratuito ou oneroso a terceiro o exercício do direito de usufruto (art. 1.393 e 1.399 do CCB). - Proibição de modificação da destinação econômica (ex.: residencial => comercial)

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c) de administração: que é o de administrar a coisa sem a ingerência do nu-proprietário no intuito de extrair da coisa a sua maior utilidade, desde que não lhe transforme ou altere a substância. d) de percepção dos frutos: tendo o usufrutuário direito aos frutos e produtos produzidos pela coisa, dependente do começo ou cessação do usufruto. Regras: art. 1.396, 1.397 e 1.398 do CCB. 7. DOS DEVERES DO USUFRUTUÁRIO: art. 1.400 a 1.409 do CCB. 7.1. OBRIGAÇÕES ANTERIORES AO USUFRUTO: art. 1.400 do CCB a) inventariar, à sua custa, os bens que receber, determinando o estado em que se encontram;

Falta do inventário → presunção juris tantum do bom estado de conservação.

b) dar caução, caso lhe exija o nu-proprietário, de velar pela conservação da coisa e entregá-la quando extinto o usufruto.

Falta da caução → perda do direito de administração do usufrutuário, passando o nu-proprietário a administrar o usufruto. (art. 1.401 do CCB). Usufrutuários dispensados do dever de dar caução: - o doador, que reserva para si o usufruto da coisa doada (parágrafo único do art. 1.400 do CCB); - os pais, usufrutuários legais dos bens dos filhos menores; - quando o nu-proprietário dispensa a caução ao conceder o usufruto.

7.2. OBRIGAÇÕES SIMULTÂNEAS AO USUFRUTO a) Conservação da coisa a.1) despesas ordinárias, prestações e tributos: responsabilidade do usufrutuário. (art. 1.403 do CCB).

a.2) reparações extraordinárias e as ordinárias que não forem de custo módico (art. 1.404 do CCB): responsabilidade do nu-proprietário.

a.3) deteriorações resultantes do exercício regular (art. 1.402 do CCB): não há responsabilidade.

b) Contribuições de seguro (art. 1.407 do CCB). - somente se a coisa já estiver segurada quando da instituição do usufruto.

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c) dar ciência ao nu-proprietário em caso de lesão produzida contra a posse da coisa ou aos seus direitos (art. 1.406 do CCB).

7.3. OBRIGAÇÕES POSTERIORES AO USUFRUTO a) de restituir a coisa após a extinção do usufruto 8. DA EXTINÇÃO DO USUFRUTO: art. 1.410 do CCB. I - pela renúncia ou morte do usufrutuário; O usufruto pode se manter mesmo após a morte do usufrutuário quando for instituído a favor de mais de uma pessoa conjuntamente. II - pelo termo de sua duração; - implemento de condição resolutiva. III - pela extinção da pessoa jurídica, em favor de quem o usufruto foi constituído, ou, se ela perdurar, pelo decurso de trinta anos da data em que se começou a exercer; IV - pela cessação do motivo de que se origina; V - pela destruição da coisa, guardadas as disposições dos arts. 1.407, 1.408, 2ª parte, e 1.409; - haverá porém a manutenção do usufruto quando o perecimento for parcial.

Quando a coisa for segurada e a indenização do seguro for aplicada à reconstrução do prédio se restabelecerá o usufruto (art. 1.408 do CCB).

Sub-rogação no ônus do usufruto: quando a coisa for desapropriada (sobre o valor da

indenização) ou quando a destruição da coisa ocorreu por culta de terceiro condenado a reparar o dano (sobre o valor da reparação) → art. 1.409 do CCB. VI - pela consolidação: quando na mesma pessoa se consolida as qualidades de usufrutuário e de nu-proprietário. VII - por culpa do usufrutuário, quando aliena, deteriora, ou deixa arruinar os bens, não lhes acudindo com os reparos de conservação, ou quando, no usufruto de títulos de crédito, não dá às importâncias recebidas a aplicação prevista no parágrafo único do art. 1.395;

VIII - Pelo não uso, ou não fruição, da coisa em que o usufruto recai (arts. 1.390 e 1.399).

Prazo a ser aplicado: art. 205 do CCB → 10 anos.

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DO USO, DA HABITAÇÃO E DOS DIREITOS DO PROMITENTE COMPRADOR

1. DO USO 1.1. CONCEITO Trata-se de direito real sobre coisa alheia, muito próximo do usufruto, porém com restrições, por isso é considerado de usufruto-restrito. É concedido ao usuário somente a utilização restrita da coisa, nos limites da sua manutenção e da sua família. Art. 1.412 e 1.413 do CCB.

Direito de fruir: de perceber frutos limitados as suas necessidades e de seus familiares. Aplicação subsidiária das regras do usufruto: art. 1.413 do CCB.

1.2. CARACTERÍSTICAS

a) Indivisível; b) Incessível; c) Temporário; d) Consensual.

1.3. OBJETO DO USO Tanto coisas móveis como imóveis, entendendo-se ser possível o uso sobre coisas móveis fungíveis ou consumíveis (quase-uso), pela aplicação das regras do usufruto (art. 1.413 do CCB). 1.4. NECESSIDADES PESSOAS E DA FAMÍLIA DO USUÁRIO Critérios de aferição:

a) conforme a sua condição social e o lugar onde viver (§ 1º do art. 1.412 do CCB); b) não se inclui as necessidades profissionais do usuário; c) as necessidades da família compreendem as do cônjuge (ou companheiro), filhos solteiros

(parentesco civil ou consangüíneo) e demais pessoas de seu serviço doméstico (§ 2º do art. 1.412 do CCB).

1.5. MODOS DE EXTINÇÃO DO USO Mesmas hipóteses da extinção do usufruto (art. 1.410 do CCB), com exceção do não-uso. 2. DA HABITAÇÃO 2.1. CONCEITO

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Trata-se de direito real sobre coisa alheia que atribui ao seu titular o direito de residir ou habitar gratuitamente em casa alheia, sem qualquer outro direito, sendo proibida a alienação ou locação a qualquer título. Somente tem o direito de usar o imóvel para a sua moradia (com todos os seus acessórios), não podendo extrair do imóvel nenhuma outra utilidade. Art. 1.414 ao 1.416 do CCB. 2.2. CARACTERÍSTICAS

a) Direito real: → Registro no Cartório de Registro de Imóveis. b) Divisível: (art. 1.415 do CCB). c) Incessível; d) Temporário; e) Personalíssimo; f) Existe direito de habitação por previsão legal:

Art. 1.831 do CCB e parágrafo único do art. 7º da Lei n.º 9.278/96. 2.3. OBJETO DA HABITAÇÃO: somente bens imóveis. 2.4. REGULAMENTAÇÃO: art. 1.416 do CCB.

2.5. MODOS DE EXTINÇÃO Mesmas hipóteses da extinção do usufruto (art. 1.410 do CCB), com exceção do não-uso. 3. DOS DIREITOS DO PROMITENTE COMPRADOR. 3.1. CONCEITO

É um direito real sobre coisa alheia que devidamente inscrito no Registro de Imóvel confere ao compromissário comprador, por força da lei, um direito real sobre a coisa, cujo conteúdo é a oponibilidade erga omnes (direito de reivindicar a coisa de quem quer que a detenha) e a possibilidade de obrigar à adjudicação compulsória do bem gravado, entre outros efeitos.

Este direito surge de um contrato de compromisso de compra e venda.

Art. 1.417 e 1.418 do CCB. 3.2. NATUREZA JURÍDICA Controversa, existindo teses de que é pré-contrato, contrato, contrato com Eficácia Real, e outras teses mais aceitas de que é Direito Real Sobre Coisa Alheia, sendo que a doutrina se divide em saber qual direito real seria:

D.R.S.C. Alheia de Gozo ou Fruição; D.R.S.C. Alheia em Garantia, e; D.R.S.C. Alheia de Aquisição.

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3.3. LEGISLAÇÃO APLICÁVEL

Arts. 1417 e 1418 do Código Civil. Decreto-Lei n.º 58/73 → loteamentos rurais. Lei n.º 6.766/79 alterada pela Lei n.º 9.235/99 → loteamentos urbanos.

3.4. SUJEITOS

Promitente-vendedor: aquele que vende o bem. Compromissário ou promitente-comprador: aquele que compra o bem

3.5. REQUISITOS

a) irretratabilidade do compromisso: art. 1.417 do CCB. b) recair sobre bem imóvel loteado ou não, rural ou urbano, desde que possa ser alienado. c) contrato pode ser por instrumento público ou particular; d) outorga conjugal: art. 1.647 do CCB. e) inscrição no registro imobiliário.

Súmula 239 do STJ: “O direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao registro do compromisso de compra e venda no cartório de imóveis”. Súmula 84 do STJ: “É admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de posse advinda de compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que desprovido do registro.” Discussão após a vigência do CCB???

3.6. EFEITOS JURÍDICOS

a) oponibilidade erga omnes; b) direito de seqüela; c) imissão na posse; d) cessibilidade do compromisso; e) transmissibilidade aos herdeiros por morte do comprador ou vendedor; f) adjudicação compulsória: comprovada a mora na outorga de escritura definitiva do credor e

a quitação de suas obrigações.

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g) purgação da mora: o compromissário-comprador deve ser constituído em mora, sendo intimado, a requerimento do credor, pelo oficial de Registro de Imóveis, a satisfazer as prestações vencidas e as que se vencerem até a data do pagamento, os juros convencionados e as custas de intimação. Súmula 76 do STJ: “A falta de registro do compromisso de compra e venda de imóvel não dispensa a prévia interpelação para constituir em mora o devedor”.

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DOS DIREITOS REAIS DE GARANTIA 1. DIREITOS REAIS SOBRE COISA ALHEIA Os direitos reais sobre coisa alheia se subdividem em duas categorias: 1) direitos reais de gozo ou fruição: permitem a utilização da coisa de forma semelhante ao proprietário pleno (superfície, enfiteuse, servidão, usufruto, uso, habitação); 2) direitos reais de garantia: vinculam a coisa a uma relação obrigacional como garantia do seu adimplemento (penhor, anticrese e hipoteca). 2. CONCEITO Os direitos reais de garantia conferem ao seu titular o privilégio de obter o pagamento de uma dívida com o valor de um bem dado em garantia. (art. 1.419 do CCB). 3. HIPÓTESES LEGAIS a) Hipoteca: art. 1.473 a 1.505 do CCB. b) Penhor: art. 1.431 a 1.472 do CCB. c) Anticrese: art. 1.506 a 1.510 do CCB. 4. CARACTERÍSTICAS - é direito acessório: pois o direito principal é a dívida que o direito real de garantia vem a garantir, sendo que o direito real é acessório a este contrato principal. - é direito absoluto: oponível erga omnes. - é direito solene: o contrato que, com seu registro, cria direito real precisa respeitar várias formalidades (art. 1.424 do CCB); - é direito típico porque exige previsão legal. 5. REQUISITOS a) quem pretende dar em garantia real uma coisa deve possuir, além da capacidade geral para os atos da vida civil, capacidade especial para alienar (art. 1.420 do CCB). b) somente os bens passíveis de alienação podem ser objeto de direitos reais de garantia (art. 1.420 do CCB). c) é indispensável a observância de certos requisitos formais para a regular constituição de direitos reais de garantia; Especialização: descrição pormenorizada e com precisão da dívida e da coisa dada em garantia (art. 1.424 do CCB).

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Publicidade: a garantia real somente surge com o registro do título constitutivo no Registro de Imóveis (art. 1.438 e 1.492 do CCB e art. 167 da LRP) ou no Registro de Títulos e documentos (art. 221 do CCB e art. 127 do LRP). 6. EFEITOS 6.1. DIREITO DE PREFERÊNCIA Também chamado de jus praeferendi ou prelação no direito. O direito de preferência é o privilégio que o credor tem de ver o valor do bem dado em garantia aplicado prioritariamente à satisfação do seu crédito (art. 1.422 do CCB). Exceções: parágrafo único do art. 1.422 do CCB.

Se o valor obtido com a venda for insuficiente o credor com garantia real continuará sem privilégio pelo que faltar, passando, por esta parte, a ser considerado credor quirografário. (art. 1.430 do CCB). 6.2. DIREITO DE SEQUELA (jus persequendi) É o direito do credor pode perseguir o bem para penhorá-lo e excuti-lo, não importando com quem o bem esteja. 6.3. DIREITO DE EXCUSSÃO O credor com garantia real tem direito de promover a venda da coisa em hasta pública, por meio do processo de execução judicial (art. 1.422, primeira parte do CCB). 6.4. INDIVISIBILIDADE O princípio da indivisibilidade consiste na manutenção da garantia real na sua integralidade, mesmo quando do pagamento parcial da divida. Não se dá a exoneração da garantia proporcional ao valor pago (art. 1.421 e 1.429 do CCB). 7. VENCIMENTO ANTECIPADO DA DÍVIDA Como forma de reforçar a garantia real a nossa legislação, no art. 333 e 1.425 do CCB, estabelece algumas hipóteses em que o vencimento da dívida será antecipado, sendo esta uma forma de favorecer o credor que nestas hipóteses terá diminuída a probabilidade de recebimento do seu crédito. Vencida a dívida o credor poderá exercer o seu direito de excussão da coisa dada em garantia real. 8. GARANTIA REAL OUTORGADA POR TERCEIRO: art. 1.427 do CCB. 9. CLÁUSULA COMISSÓRIA

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É vedada a cláusula comissória, ou seja, o credor com garantia real não pode ficar com o bem, deve vendê-lo caso a dívida não seja paga, aplicando o valor do bem na quitação do débito e devolvendo eventual sobra ao devedor (art. 1.428 do CCB) Admite-se que após o vencimento haja dação em pagamento por iniciativa do devedor e aceite do credor (parágrafo único do art. 1.428 e art. 356 do CCB).

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PENHOR 1. CONCEITO É o direito real que se constitui pela entrega – tradição - de uma coisa móvel pelo devedor ao credor, a título de garantia da dívida, para ser devolvida tão logo seja paga a dívida. (art. 1.431 do CCB).

Contrato real → obrigatoriedade de entrega da coisa. 2. CARACTERÍSTICAS a) é direito real. b) é direito acessório. c) em regra, é indispensável a tradição da coisa (exceção: parágrafo único do art. 1.431 do CCB) → contrato real. d) decorre de contrato solene (art. 1.432 e 1.438 do CCB), sendo que o registro é indispensável → Registro (art. 1.432 do CCB) no Cartório de Títulos e Documentos (art. 127, II da LRP) ou no de Registro de Imóveis (art. 167, I, nº 15 da LRP). 3. OBJETO DO PENHOR Em regra, o objeto do penhor tradicional é coisa móvel. Compreendem os acessórios que não tenham sido excluídos expressamente (frutos e produtos). 4. DIREITOS DO CREDOR PIGNORATÍCIO a) previstos expressamente no art. 1.433 do CCB. I - à posse da coisa empenhada: é, em regra, da essência do penhor a entrega do bem ao credor. Posse direta: credor pignoratício → interditos possessórios. Posse indireta: devedor pignoratício. Salvo estipulação em contrário, embora o credor pignoratício tenha a posse do bem não tem direito de usá-lo. II - à retenção dela, até que o indenizem das despesas devidamente justificadas, que tiver feito, não sendo ocasionadas por culpa sua; III - ao ressarcimento do prejuízo que houver sofrido por vício da coisa empenhada; IV - a promover a execução judicial, ou a venda amigável, se lhe permitir expressamente o contrato, ou lhe autorizar o devedor mediante procuração; Vencida a dívida e não paga o credor tem as seguintes opções:

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- execução judicial: penhora e excussão dos bens; - venda amigável quando lhe permitir o contrato ou lhe autorizar o devedor mediante procuração. → prestação de contas e restituição do saldo devedor. V - a apropriar-se dos frutos da coisa empenhada que se encontra em seu poder; VI - a promover a venda antecipada, mediante prévia autorização judicial, sempre que haja receio fundado de que a coisa empenhada se perca ou deteriore, devendo o preço ser depositado. O dono da coisa empenhada pode impedir a venda antecipada, substituindo-a, ou oferecendo outra garantia real idônea. b) direito de sub-rogar-se no valor do seguro dos bens, da indenização ou da desapropriação até o limite do indispensável ao recebimento integral da dívida (art. 1.425, V e § 1º do CCB); c) art. 1.434 do CCB: O credor não pode ser constrangido a devolver a coisa empenhada, ou uma parte dela, antes de ser integralmente pago (principio da indivisibilidade da garantia real), podendo o juiz, a requerimento do proprietário, determinar que seja vendida apenas uma das coisas, ou parte da coisa empenhada, suficiente para o pagamento do credor. 5. OBRIGAÇÕES DO CREDOR PIGNORATÍCIO: art. 1.435 do CCB. I - à custódia da coisa, como depositário, e a ressarcir ao dono a perda ou deterioração de que for culpado, podendo ser compensada na dívida, até a concorrente quantia, a importância da responsabilidade; II - à defesa da posse da coisa empenhada e a dar ciência, ao dono dela, das circunstâncias que tornarem necessário o exercício de ação possessória; III - a imputar o valor dos frutos, de que se apropriar (art. 1.433, inciso V) nas despesas de guarda e conservação, nos juros e no capital da obrigação garantida, sucessivamente; IV - a restituí-la, com os respectivos frutos e acessões, uma vez paga a dívida; V - a entregar o que sobeje do preço, quando a dívida for paga, no caso do inciso IV do art. 1.433. 6. DIREITOS E OBRIGAÇÕES DO DEVEDOR PIGNORATÍCIO (Carlos Roberto GONÇALVES) 6.1. DIREITOS DO DEVEDOR PIGNORATÍCIO a) reaver a coisa dada em garantia com seus frutos e acessões quando da quitação da dívida (interditos possessórios); b) conservar a titularidade do domínio e a posse indireta da coisa empenhada, durante a vigência do contrato; c) o de receber indenização correspondente ao valor da coisa empenhada, em caso de perecimento ou deterioração por culpa do credor.

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6.2. OBRIGAÇÕES DO DEVEDOR PIGNORATÍCIO a) ressarcir as despesas devidamente justificadas de guarda e conservação da coisa efetuadas pelo credor; b) indenizar o credor dos prejuízos por este sofrido devido a vícios e defeitos ocultos da coisa; c) reforçar ou substituir a garantia se o bem empenhado deteriorar-se ou sofrer depreciação; d) obter prévia licença do credor, em caso de venda da coisa empenhada (art. 171, § 2º, III do CP). 7. ESPÉCIES DE PENHOR a) penhor convencional: resulta de acordo de vontades. b) penhor legal: resulta de previsão legal. c) penhor comum ou tradicional: é o que se constitui pela tradição efetiva que ao credor faz o devedor de um objeto móvel suscetível de alienação, para segurança do direito daquele. d) penhor especial: não seguem ao padrão tradicional, estando sujeitos a regras específicas, em face de peculiaridades que o distanciam do penhor comum. Porém, quando a lei expressamente não as afastar, aplicam-se as regras gerais sobre o penhor comum. Os penhores especiais se subdividem em: d.1) Penhor Rural: art. 1.438 ao 1.446 do CCB. d.2) Penhor Industrial e Mercantil: Art. 1.447 ao 1.450 do CCB. d.3) Penhor de Direitos e Títulos de Crédito - Art. 1.451 ao 1.460 do CCB. d.4) Penhor de Veículos: Art. 1.461 ao 1.466 do CCB d.5) Penhor Legal: Art. 1.467 ao 1.472 do CCB. 8. EXTINÇÃO DO PENHOR: art. 1.436 e 1.437 do CCB 8.1. HIPÓTESES LEGAIS → rol exemplificativo. I - extinguindo-se a obrigação; II - perecendo a coisa; Perecimento indenizado (por terceiro ou seguro): sub-rogação da garantia no valor recebido (art. 1.425, § 1º do CCB). III - renunciando o credor;

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A renúncia da garantia não importa em renúncia do crédito, mas o inverso sim (art. 387 do CCB). Renúncia pode ser: - expressa; - tácita: § 1º do art. 1.436 do CCB. IV - confundindo-se na mesma pessoa as qualidades de credor e de dono da coisa; Confusão parcial: § 2º do art. 1.436 do CCB. V - dando-se a adjudicação judicial, a remissão ou a venda da coisa empenhada, feita pelo credor ou por ele autorizada. 8.2. EFEITOS DA EXTINÇÃO Deve haver a restituição do bem empenhado ao devedor; A extinção somente produz efeitos após a averbação do cancelamento do registro (art. 1.437 do CCB).

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HIPOTECA 1. CONCEITO É o direito real de garantia que se estabelece, a princípio, sobre bens imóveis, o qual não é entregue ao credor, mas lhe garante o recebimento do seu crédito, preferencialmente. 2. CARACTERÍSTICAS a) possui natureza civil; b) é direito real; c) o bem dado em garantia deve ser do devedor ou de terceiro; d) o bem dado em garantia permanece na posse do devedor; e) é indivisível; f) é direito acessório; g) decorre de contrato solene, sendo exigível escritura pública para a sua constituição (art. 108 do CCB) e o respectivo registro (art. 1.492 a 1.498 do CCB e art. 167, I, n.º 2 e art. 176 da LRP) h) confere ao titular direito de preferência e seqüela; i) assenta-se em dois princípios: o da especialização e o da publicidade. 3. OBJETO DA HIPOTECA a) objeto dado em garantia hipotecária: art. 1.473 do CCB. I - os imóveis e os acessórios dos imóveis conjuntamente com eles;

II - o domínio direto; III - o domínio útil;

IV - as estradas de ferro;

Regulamentação específica: art. 1.502 a 1.505 do CCB. V - os recursos naturais a que se refere o art. 1.230, independentemente do solo onde se acham: art. 176 da CF/1988;

VI - os navios: regulados por legislação especial (§ 1º do art. 1.473 do CCB e Lei 7.652 de 1988).

VII - as aeronaves: regulados por legislação especial (§ 1º do art. 1.473 do CCB e Código Brasileiro de Aeronáutica – Lei 7.565 de 1986). VIII - o direito de uso especial para fins de moradia;

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Hely Lopes Meirelles: concessão de uso é o contrato administrativo pelo qual o Poder Público atribui a utilização exclusiva de um bem de seu domínio a particular, para que o explore segundo sua destinação específica. Regulamentação: MP 2.220/2001 IX - o direito real de uso: cujo titular é o usuário (art. 1.412 do CCB). X - a propriedade superficiária: cujo titular é o superficiário ou concessionário (art. 1.369 do CCB).

b) A hipoteca do bem imóvel abrange os acessórios: art. 1.474 do CCB. c) Somente os bens passíveis de alienação podem ser objeto de direitos reais de garantia

d) não se admite hipoteca de bens futuros, haja vista a exigência do principio da especialização (especificar o bem na escritura pública). Art. 1.488, §§ 1º ao 3º do CCB: exceção ao principio da indivisibilidade. 4. ESPÉCIES DE HIPOTECA 4.1. HIPOTECA COMUM e HIPOTECA ESPECIAL HIPOTECA COMUM: quando incide sobre bem imóvel, seguindo as regras previstas no CCB. HIPOTECA ESPECIAL: quando é submetida a regime legal especifico, como nas hipóteses de hipoteca sobre aviões, navios e vias férreas. 4.2. HIPOTECA CONVENCIONAL, HIPOTECA LEGAL e HIPOTECA JUDICIAL HIPOTECA CONVENCIONAL: constituída em contrato, por acordo de vontade das partes, para garantir uma obrigação principal. HIPOTECA LEGAL: conferida a certos credores em razão de determinação legal. (art. 1.489 do CCB). Hipóteses: art. 1.489 do CCB. Reforço de hipoteca: art. 1.490 do CCB. Substituição por caução de títulos da divida pública: art. 1.491 do CCB Procedimento para especialização da hipoteca: art. 1.205 a 1.210 do CPC. HIPOTECA JUDICIAL: a hipoteca legal visa dar efetividade as decisões judiciais, pois após ser proferida sentença condenatória do réu ao pagamento de uma prestação em dinheiro ou em coisa, esta sentença constitui título constitutivo de hipoteca judiciária, cabendo ao Juiz ordenar a sua inscrição no Registro de Imóveis. (art. 466 do CPC).

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5. PLURALIDADE DE HIPOTECAS Art. 1.476 do CCB: permite outra hipoteca (Segunda hipoteca: subipoteca). O título da primeira hipoteca pode vedar a constituição de nova hipoteca. Há preferência entre os vários credores hipotecários, a qual se determina pela ordem de registro dos títulos constitutivos no Registro de Imóveis. Credor da segunda hipoteca: prerrogativa de remir a dívida da primeira hipoteca (art. 1.478 do CCB), sub-rogando-se nos direitos do credor satisfeito (art. 346, I do CCB). Somente com o vencimento da primeira hipoteca, o credor da segunda poderá executar o bem hipotecado: art. 1.477 do CCB. 6. EFEITOS DA HIPOTECA 6.1. EFEITOS EM RELAÇÃO AO DEVEDOR (Silvio Rodrigues e Carlos Roberto Gonçalves) a) antes de proposta a ação executiva: nessa fase o devedor pode exercitar todos os direitos sobre a coisa. O devedor pode até mesmo alienar o imóvel objeto da hipoteca (art. 1.475 do CCB). b) depois de proposta a ação executiva: o devedor perde a posse da coisa dada em garantia e, por conseqüência, o direito de aliená-la e de receber os frutos. 6.2. EFEITOS EM RELAÇÃO AO CREDOR: o bem dado em garantia hipotecaria fica gravado e afetado à satisfação da dívida, tendo o credor direito de preferência na excussão. 6.3. EFEITOS EM RELAÇÃO A TERCEIROS: após o registro da hipoteca no Registro de Imóveis nasce o direito real oponível contra todos, não podendo terceiro-adquirente de imóvel hipotecado impedir que o credor hipotecário promova a execução. O adquirente do bem imóvel pode: a) Remir a dívida: art. 1.481 do CCB. b) Exonerar-se da hipoteca abandonando-o: art. 1.479 e 1.480 do CCB. Venda judicial do bem por outros credores e exigência de notificação do credor hipotecário: art. 1.501 do CCB. 7. DIREITO DE REMIÇÃO: liberar o bem do vínculo que o prende ao pagamento da dívida, pagando-se ao credor o valor desta ou do bem dado em garantia. Este direito compete:

a) ao próprio devedor, cônjuge, descendentes ou ascendentes: art. 1.482 do CCB → pelo valor da avaliação ou do maior lance oferecido.

b) ao credor da segunda hipoteca: art. 1.478 do CCB.

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c) ao adquirente do imóvel hipotecado: art. 1.481 do CCB. 8. PEREMPÇÃO DA HIPOTECA Conforme dispõe o art. 1.424, II do CCB, deve o contrato de hipoteca mencionar o seu prazo de vencimento. Esse prazo pode ser prorrogado, mas não poderá ultrapassar trinta anos da data do contrato (art. 1.485 do CCB). Decorrido o prazo, haverá a perempção da hipoteca. Somente haverá perempção no caso da hipoteca convencional. 9. EXTINÇÃO DA HIPOTECA: art. 1.499 a 1.501 do CCB. Hipóteses legais: art. 1.499 do CCB → rol exemplificativo. I - pela extinção da obrigação principal; II - pelo perecimento da coisa; Perecimento indenizado (por terceiro ou seguro): sub-rogação da garantia no valor recebido (art. 1.425, § 1º do CCB). Perecimento parcial: a garantia permanecerá sobre a parte remanescente (art. 1.425, § 2º do CCB). III - pela resolução da propriedade; Propriedade resolutiva ou sujeita a termo: o credor hipotecário esta sujeito as conseqüências do implemento da condição ou do termo (art. 1.359 do CCB). IV - pela renúncia do credor; Somente é possível a renúncia da hipoteca convencional. Renúncia tácita: quando o credor requer o cancelamento da hipoteca antes da quitação da dívida (art. 1.500 do CCB). V - pela remição: efetuado por quaisquer das pessoas que podem remir a hipoteca (item 7) ou a dívida (art. 651 do CPC). VI - pela arrematação ou adjudicação.

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ANTICRESE 1. CONCEITO ORLANDO GOMES: “O direito real sobre imóvel alheio, em virtude do qual o credor obtém a posse da coisa a fim de perceber-lhe os frutos e imputá-los no pagamento da dívida, juros e capital”. (art. 1.506 do CCB). A sua garantia encontra-se na percepção dos frutos. 2. CARACTERÍSTICAS a) é direito real. b) é direito acessório. c) na anticrese o credor não possui preferência, nem direito a excussão do bem dado em garantia, podendo opor-se a excussão alegando direito de retenção com o fim de solver seu crédito com os rendimentos do imóvel (art. 1.423 do CCB); d) o credor anticrético não terá preferência sobre a indenização do seguro, quando o prédio seja destruído, nem, se forem desapropriados os bens, com relação à desapropriação. (§ 2º do art. 1.509 do CCB); e) o bem dado em anticrese pode ser hipotecado pelo devedor ao credor anticrético, ou a terceiros, assim como o imóvel hipotecado poderá ser dado em anticrese (§ 2º do art. 1.506 do CCB); f) objeto da anticrese é tão somente bem imóvel; g) é indispensável a tradição do imóvel – contrato real. 3. EFEITOS DA ANTICRESE a) o imóvel gravado fica sob a administração do credor anticrético, o qual fica autorizado a perceber-lhe os frutos e rendimentos em pagamento da dívida (art. 1.506 do CCB). Arrendamento dos bens dados em anticrese a terceiro (§ 2º do art. 1.507 do CCB). b) o credor anticrético tem obrigação de conservar a coisa e administrá-la de acordo com a sua finalidade natural, tendo o dever de prestar contas, quando reclamadas pelo devedor (art. 1.507 do CCB); 4. DIREITOS E OBRIGAÇÕES DO CREDOR ANTICRÉTICO (CARLOS ROBERTO GONÇALVES E ORLANDO GOMES) 4.1. DIREITOS DO CREDOR ANTICRÉTICO a) manter a posse direta do bem gravado com anticrese;

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b) perceber-lhe os frutos e rendimentos; c) direito de retenção enquanto a dívida seja saldada; d) reivindicar seus direitos em face de terceiro adquirente, bem como em face de credores quirografários e hipotecários posteriores ao registro (art. 1.509 do CCB); e) haver do produto da venda do bem anticrético o valor atual dos rendimentos para quitação da sua divida, em caso de falência do devedor. 4.2. OBRIGAÇÕES DO CREDOR ANTICRÉTICO a) guardar a coisa como se fosse sua; b) responder pelas deteriorações que o imóvel sofrer por culpa sua (art. 1.508 do CCB); c) responder pelos frutos que deixar de perceber por sua negligencia; d) prestar contas ao proprietário da coisa (art. 1.507 do CCB); e) devolver o imóvel quando da quitação do débito. 5. DIREITOS E OBRIGAÇÕES DO DEVEDOR ANTICRÉDITO 5.1. DIREITOS DO DEVEDOR ANTICRÉDITO a) reaver o imóvel, após a quitação da dívida; b) ser indenizado do dano oriundo de deterioração do imóvel decorrente de culpa do credor; c) ressarcir-se do valor dos frutos que o credor tenha deixado de perceber por negligência; d) exigir a prestação de contas do credor. 5.2. OBRIGAÇÕES DO DEVEDOR ANTICRÉDITO a) entregar o imóvel ao credor quando da constituição da anticrese; b) pagar a dívida; c) ceder ao credor o direito de perceber os frutos e rendimentos da coisa. 6. EXTINÇÃO DA ANTICRESE a) extinguindo-se a obrigação; b) perecendo a coisa; c) pela caducidade (art. 1.423 do CCB): ao atingir o prazo de 15 anos de sua constituição.

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