direitos humanos

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Nesta aula, vamos continuar estudando as três gerações de direitos humanos, a começar pela segunda geração, que é a dos direitos sociais e econômicos, reconhecidos em caráter global pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, da Organização das Nações Unidas, de 1948. Os direitos humanos fundamentais de segunda geração, de natureza social, econômica e cultural , possuem origem mais ligada às lutas das classes trabalhadoras após a Revolução Industrial e se inserem nas esferas do trabalho, das relações de produção e dos direitos à assistência social, à associação sindical, ao descanso, ao lazer, à saúde, à educação, à livre participação na vida cultural da comunidade, entre outros. Ao final, estudaremos a terceira geração de direitos fundamentais, que se encontra em acelerado processo de consolidação e diz respeito aos direitos da solidariedade, mais relacionados à qualidade de vida. Vale lembrar sempre que cada nova geração de direitos humanos vem se somar às anteriores, sem negá-las e só aumentando a proteção. A Evolução dos Direitos Fundamentais: Direitos Econômicos e Sociais e os Novos Direitos da Solidariedade Conforme estudado em aulas anteriores, a evolução dos direitos humanos fundamentais teve início com o reconhecimento das Liberdades Públicas, que foram a primeira geração de direitos humanos. É importante sempre lembrar que, até este momento, na história dos direitos fundamentais, sempre que surge uma nova geração de direitos humanos, essa nova geração vem para se somar às anteriores, representando um novo reconhecimento de direitos em caráter de ampliação da proteção, nunca com o intuito de negar qualquer direito que tenha sido anteriormente reconhecido. Evolução Histórica e Doutrinária dos Direitos Humanos de Segunda Geração Os direitos humanos fundamentais de segunda geração, de natureza social, econômica e cultural, possuem origem mais ligada às lutas das classes trabalhadoras após a Revolução Industrial e se inserem nas esferas do trabalho, das relações de produção e dos

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Page 1: Direitos Humanos

Nesta aula, vamos continuar estudando as três gerações de direitos humanos, a começar pela segunda geração, que é a dos direitos sociais e econômicos, reconhecidos em caráter global pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, da Organização das Nações Unidas, de 1948.

Os direitos humanos fundamentais de segunda geração, de natureza social, econômica e cultural, possuem origem mais ligada às lutas das classes trabalhadoras após a Revolução Industrial e se inserem nas esferas do trabalho, das relações de produção e dos direitos à assistência social, à associação sindical, ao descanso, ao lazer, à saúde, à educação, à livre participação na vida cultural da comunidade, entre outros.

Ao final, estudaremos a terceira geração de direitos fundamentais, que se encontra em acelerado processo de consolidação e diz respeito aos direitos da solidariedade, mais relacionados à qualidade de vida. Vale lembrar sempre que cada nova geração de direitos humanos vem se somar às anteriores, sem negá-las e só aumentando a proteção.

A Evolução dos Direitos Fundamentais: Direitos Econômicos e Sociais e os Novos Direitos da Solidariedade

Conforme estudado em aulas anteriores, a evolução dos direitos humanos fundamentais teve início com o reconhecimento das Liberdades Públicas, que foram a primeira geração de direitos humanos. É importante sempre lembrar que, até este momento, na história dos direitos fundamentais, sempre que surge uma nova geração de direitos humanos, essa nova geração vem para se somar às anteriores, representando um novo reconhecimento de direitos em caráter de ampliação da proteção, nunca com o intuito de negar qualquer direito que tenha sido anteriormente reconhecido.

Evolução Histórica e Doutrinária dos Direitos Humanos de Segunda Geração

Os direitos humanos fundamentais de segunda geração, de natureza social, econômica e cultural, possuem origem mais ligada às lutas das classes trabalhadoras após a Revolução Industrial e se inserem nas esferas do trabalho, das relações de produção e dos direitos à assistência social, à associação sindical, ao descanso e ao lazer, à saúde, à educação, à livre participação na vida cultural da comunidade, entre outros. Para uma efetiva compreensão de como surgiram e se consolidaram, é muito importante que seja traçada uma linha do tempo retratando fatos e ideias de grande destaque ao longo do século XIX e início do XX.

Na Europa do século XIX, o cenário era de Liberalismo Econômico, com um Estado minimamente interventor e vigência das normas decorrentes das revoluções liberais. Também como consequência da Revolução Industrial, o mundo conheceu um acúmulo de riquezas antes jamais vivenciado na história da humanidade, porém essa riqueza ficou concentrada nas mãos de poucos empresários, a burguesia. Enquanto isso, a classe trabalhadora, afundada em uma situação de penúria e miséria, contrastava totalmente com essa conjuntura de prosperidade econômica da classe burguesa. Com a explosão das máquinas, as consequências foram piores que as imaginadas: uma imensa massa de desempregados e, para quem tinha emprego, baixos salários, condições de trabalho

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penosas e insalubres nas fábricas, trabalho infanto-juvenil e condições indignas de trabalho das mulheres, levando a uma marginalização da classe operária.

Este contexto histórico, chamado de “Questão Social”, na acepção burguesa, e de “Luta de Classes”, na terminologia marxista, colocou as instituições liberais e o desenvolvimento econômico em cheque, culminando com um final de século XIX marcado por debates de ideias e batalhas políticas.

Na esfera política, a luta da classe trabalhadora era pelo sufrágio universal, neste momento, apenas em relação aos homens. Aos poucos, os detentores do poder do Estado tiveram de ir cedendo, e, paulatinamente, a classe trabalhadora foi conquistando direito ao voto e sendo disputada pelos movimentos e partidos, o que proporcionou um momento histórico propício para o surgimento de mudanças. No campo das ideias, a crítica marxista veio denunciar o caráter formal das liberdades públicas, como direitos que, para serem exercidos, dependiam de condições econômicas e financeiras de que não dispunha a classe operária.

Deve-se, no entanto, esclarecer que, mesmo entre os socialistas, as ideias não eram unívocas, ponto em que se deve destacar a dicotomia entre Socialismo Revolucionário e Socialismo Reformista.

Postando-se na linha revolucionária, para marxistas, socialistas radicais e anarquistas, a única solução seria a extinção da classe exploradora, a burguesia, o que dependeria de Revolução.

Para os reformistas, defensores de posturas difundidas pelo Positivismo, pela social democracia e pelo cristianismo social, a solução era pacificadora, de reconciliação da classe proletária com o Estado e demais classes sociais. Neste ponto, foi muito importante o apoio da doutrina social da Igreja Católica, a partir da Encíclica Rerum Novarum, editada pelo Papa Leão XIII, em 1891, com base na tese de Tomás de Aquino sobre o bem comum e a vida digna.

Em consequência de todos esses precedentes, as primeiras duas décadas do século XX foram marcadas por inúmeros fatos históricos que levaram à consolidação dos direitos econômicos e sociais. Os principais foram os seguintes:

Constituição Mexicana de 1917: grande marco da segunda geração de direitos fundamentais, consagra direitos sociais como reforma agrária e direitos do trabalhador.

Declaração Russa de 1918 ou Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado: documento de caráter meramente propagandístico que possui como valor os princípios que enuncia contra a exploração burguesa.

Tratado de Versalhes de 1919: firmado para definir as condições de paz entre Aliados e Alemanha, ao final da Primeira Guerra Mundial, institui a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e consagra os direitos do trabalhador como obrigatórios para todos os Estados signatários.

Constituição Alemã de 1919 (Constituição Weimar): inteiramente marcada pelo espírito da segunda geração de direitos humanos, consagra a função social da propriedade, a reforma agrária, a socialização de empresas, o direito de sindicalização, a proteção ao trabalho, a previdência social, entre outros direitos sociais.

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Em meio a todos esses precedentes tivemos a Primeira Guerra Mundial que, a despeito do Tratado de Versalhes e da Constituição Weimar, teve sua feridas malcuradas, abrindo espaço para doutrinas como o Nazismo e o Fascismo, até que eclodisse, com todos os seus horrores, a Segunda Guerra Mundial.

Coerentemente com o contexto histórico-evolutivo apresentado e as doutrinas abordadas, ao término da Segunda Guerra Mundial, o cenário encontrado era de um mundo castigado pelos horrores das guerras mundiais, clamando por uma reafirmação dos direitos humanos de primeira geração, brutalmente violados nas guerras, bem como de um reconhecimento universal dos direitos humanos de segunda geração.

A resposta veio por parte da comunidade internacional de nações, por meio da Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas de 1948, documento que veio:

Reafirmar as liberdades públicas e os direitos civis e políticos, classificados como direitos humanos de primeira geração.

Confirmar os direitos sociais, econômicos e culturais, considerados os direitos humanos de segunda geração

A Expansão do Modelo dos Direitos Humanos de Segunda Geração

A partir da Constituição Weimar e, sobretudo, após a Declaração da ONU em 1948, o que se passou a ver foram as Constituições da maioria dos Estados seguindo o modelo de reconhecimento dos direitos sociais e econômicos, contemplando-os em seus respectivos sistemas de garantia.

E, deste modo, da mesma forma que os direitos de primeira geração, os direitos sociais e econômicos não estão meramente declarados, mas integram as ordens jurídicas dos Estados de Direito, constituindo verdadeiros direitos subjetivos a serem exigidos por seus destinatários. É assim que os direitos sociais e econômicos estão reconhecidos e contemplados no sistema de garantias da Constituição Federal Brasileira de 1988, mediante proteção disseminada por todo o texto constitucional, com destaque para:

Em relação aos caracteres dos direitos sociais, Ferreira Filho (2012) destaca os seguintes:

Natureza: a exemplo das liberdades da primeira geração, os direitos sociais, econômicos e culturais são direitos subjetivos, mas não são meros poderes de agir, e sim poderes de exigir do Estado a prestação concreta de saúde, educação, cultura, lazer etc.

Sujeito passivo: a rigor, o Estado é considerado o responsável pelo atendimento a esses direitos, mas não só ele, uma vez ser representante da sociedade; assim, alguns direitos sociais possuem responsabilidade compartilhada, como são os casos: i) da Seguridade Social, responsabilidade de toda a sociedade (CF, art. 195); e ii) da educação, responsabilidade partilhada com a iniciativa privada e a família (CF, art. 205).

Objeto: geralmente, é uma prestação de serviço de saúde, educação, assistência social e outros, mas também pode ser um prestação em dinheiro, como é o caso do seguro-desemprego.

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Fundamentos: pressupõem a existência de sociedade, no que parecem distinguir-se das liberdades públicas, que se fundamentam no direito natural, muito embora a sociabilidade seja de natureza humana, de modo que também não é absurdo dizer que, no fundo, também são direitos naturais reconhecidos.

Garantia: em uma primeira frente possuem garantia institucional, mas, quando violados, não há dúvidas de que as vítimas podem recorrer ao Poder Judiciário, por exemplo, mediante a propositura de uma reclamação trabalhista.

Os Direitos Humanos de Terceira Geração: Direitos da Solidariedade Há uma terceira geração de direitos fundamentais em acelerado processo de consolidação, mais relacionados à solidariedade entre os povos e à qualidade de vida.

Cabe realçar que o desenvolvimento desses direitos ocorreu no plano internacional em documentos firmados no âmbito da ONU e da UNESCO, tais como o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos da ONU de 1966, Declaração de Estocolmo de 1972, Carta dos Direitos e Deveres Econômicos de 1974, Declaração sobre a Raça e os Preconceitos Sociais de 1978, Carta Africana dos Direitos dos Povos de 1981, Carta de Paris para uma Nova Europa de 1990, e a Declaração do Rio de Janeiro de 1992 (ECO 92).