direito sao bernardo tgdp - direito imagem - transsexual - 110304

4
180 •/SlPi' >; ?&r«?, PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRÁTICA REGISTRADO(A) SOB N° ACÓRDÃO •02942903* Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação n° 994.04.088435-0, da Comarca de São Vicente, em que é apelante ROGÉRIO ALVES DE SOUZA sendo apelado A TRIBUNA DE SANTOS JORNAL E EDITORA LTDA. ACORDAM, em 3 a Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. 0 julgamento teve a participação dos Desembargadores BERETTA DA SILVEIRA (Presidente) e DONEGÁ MORANDINI. São Paulo, 27 de abril de 2010. JESUS LOFRANO RELATOR

Upload: pedro-kurbhi

Post on 24-May-2015

632 views

Category:

Documents


3 download

TRANSCRIPT

Page 1: Direito sao bernardo   tgdp - direito imagem - transsexual - 110304

180

•/SlPi' >; ?&r«?,

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRÁTICA

REGISTRADO(A) SOB N°

ACÓRDÃO •02942903*

Vistos, relatados e discutidos estes autos de

Apelação n° 994.04.088435-0, da Comarca de São

Vicente, em que é apelante ROGÉRIO ALVES DE SOUZA

sendo apelado A TRIBUNA DE SANTOS JORNAL E EDITORA

LTDA.

ACORDAM, em 3a Câmara de Direito Privado do

Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte

decisão: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO. V. U.", de

conformidade com o voto do Relator, que integra este

acórdão.

0 julgamento teve a participação dos

Desembargadores BERETTA DA SILVEIRA (Presidente) e

DONEGÁ MORANDINI.

São Paulo, 27 de abril de 2010.

JESUS LOFRANO RELATOR

Page 2: Direito sao bernardo   tgdp - direito imagem - transsexual - 110304

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Apelação com Revisão n° 994.04.088435-0

Apelante: Rogério Alves de Souza

Apelado: A Tribuna de Santos Jornal e Editorial Ltda.

Comarca de São Vicente

Voto n° 13881

Indenização por danos morais - Notícia veiculada em jornal local - Violação da vida privada e imagem - Inocorrência - Recurso improvido.

A partir do momento em que a apelante expôs a sua intimidade em programa de tele­visão de projeção nacional, não parece razoável que a notícia veiculada pelo jornal lo­cal, que apenas relatou o ocorrido, tenha violado a sua vida privada - que já tinha sido exposta em rede nacional.

O jornal apenas reproduziu a imagem da autora que foi veiculada em rede nacional pe­la emissora de televisão, razão pela qual também não há que falar em violação ao di­reito de imagem.

1. Trata-se de apelação interposta por Rogério Alves

de Souza contra sentença em que o juiz julgou improcedente ação indenizató-

ria que move contra A Tribuna de Santos Jornal e Editorial Ltda.

Alega o apelante, em síntese, que a notícia publica­

da pela ré atingiu a sua vida privada, tendo em vista que houve divulgação da

sua profissão e domicílio; a ré não tinha autorização para publicar a sua ima­

gem, a notícia teve cunho sensacionalista.

O recurso foi recebido e processado.

2. O autor busca indenização por dano moral porque

entende que houve violação da sua imagem e vida privada em razão da notícia

veiculada pela ré: "Cabeleireira de São Vicente confessa na tevê que é transe­

xual" (fl. 31).

i Apelação com Revisão n° 994.04.088435-0

Page 3: Direito sao bernardo   tgdp - direito imagem - transsexual - 110304

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Segundo consta, o autor participou do programa te­

levisivo "A Hora da Verdade", exibido pela Rede Bandeirantes, em 18 de se­

tembro de 2002, ocasião em que revelou que é transexual, a fim de conseguir

ajuda para a realização de cirurgia de mudança de sexo, porque alega não ter

condição de custeá-la; no dia seguinte à exibição, a ré publicou aquilo que o-

correra no programa, nos seguintes termos: A cabeleireira Adriana, que traba­

lha em um salão na cidade de São Vicente, foi ao programa A Hora da Verda­

de", ontem à tarde, para revelar ao namorado que é transexual. A atração, a-

presentada por Márcia Goldschimit, vai ao ar ao vivo e em rede nacional. 'Você

não pode viver escondendo isso, que é pior. É difícil, mas é uma realidade que

você tem de conviver', aconselhou a apresentadora, que completou: 'Ninguém

nasce do jeito que escolheu. Ela errou por ter enganado o rapaz, mas ela não

tem esse problema porque quis ser assim'. Adriana pediu perdão, mas o rapaz

não quis saber de conversa. O relacionamento acabou ali mesmo, no palco.

'Você vai é continuar enganando um monte de otário' (fl. 32).

Ocorre, todavia, que a notícia apenas reproduziu o

que aconteceu no aludido programa televisivo. Ora, a partir do momento em

que a apelante expôs a sua intimidade em programa de televisão de projeção

nacional, não parece razoável que a notícia veiculada pelo jornal local, que a-

penas relatou o ocorrido, tenha violado a sua vida privada - que já tinha sido

exposta em rede nacional.

Como observou o juiz: (...) a curta matéria veiculada

pela ré, de acordo com os documentos de fls. 31 e 32, reproduziu apenas o

que ocorreu no programa televisivo, sem acrescentar fatos novos, adjetivos ou

expressões sórdidas sobre o ocorrido. Os fatos não foram criados, foram re­

produzidos. Observa-se que o requerente deu publicidade à sua imagem e in­

timidade, ao procurar ajuda em um programa televisivo de alcance nacional. O

caso apontado pelo autor, por não ser cotidiano, despertou o interesse da im­

prensa local, que não o criticou ou apoiou, mas apenas mostrou o que uma

pessoa de São Vicente fez publicamente na televisão. Além do mais, não se

2 Apelação com Revisão n° 994.04.088435-0

Page 4: Direito sao bernardo   tgdp - direito imagem - transsexual - 110304

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

pode atribuir a ilicitude ao jornal por ter divulgado a identidade do requerente,

uma vez que este não se preocupou em preservar sua imagem-retrato durante

o programa, deixando revelar sua identidade explicitamente.

Enéas Costa Garcia, ao abordar o tema, especifica­

mente a "exposição unilateral da vida privada em programa de radiodifusão",

ressalta que aquele que expõe a sua intimidade não pode se queixar de qual­

quer violação da vida privada, pelo contrário, busca esta exposição.1

No mais, quanto à alegação de que a ré não tinha

autorização para publicar a sua foto, o jornal apenas reproduziu a imagem que

foi veiculada em rede nacional pela emissora de televisão, razão pela qual

também não há que falar em violação ao direito de imagem.

Assim, a hipótese é de improcedência do pedido.

Diante do exposto, nego provimento ao recurso.

JesusjLofrano relator

1 Responsabilidade civil dos meios de comunicação, Sâo Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2002, p. 252. 3

Apelação com Revisão n° 994.04.088435-0