direito sao bernardo aula 090926 estudo de caso acordao tjrs

22
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA OS Nº 70030285670 2009/CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. OFENSA À IMAGEM. COMERCIALIZAÇÃO DA IMAGEM DO AUTOR, JOGADORES DE FUTEBOL, SEM SUA AUTORIZAÇÃO. ÁLBUM DE FIGURINHAS DE CAMPEONATO BRASILEIRO. DANO MORAL OCORRENTE. 1. RESPONSABILIDADE CIVIL. A divulgação da imagem do autor em álbum de figurinhas sem sua autorização é apta a gerar dano moral in re ipsa, o qual independe de prova, decorrendo diretamente da violação ao atributo da personalidade. 2. DENUNCIAÇÃO À LIDE. Havendo contrato escrito entre a denunciante e a denunciada, por meio do qual esta transfere os direitos inerentes à divulgação da imagem do autor para a denunciante e assume a responsabilidade por eventuais reclamações posteriores, há de se dar procedência à demanda regressiva. 3. QUANTUM INDENIZATÓRIO. O quantum indenizatório deve representar para a vítima uma satisfação capaz de amenizar de alguma forma o sofrimento impingido. A eficácia da contrapartida pecuniária está na aptidão para proporcionar tal satisfação em justa medida, de modo que não signifique um enriquecimento sem causa para a vítima e produza impacto bastante no causador do mal a fim de dissuadi-lo de novo atentado. Ponderação que orienta a manutenção do valor nominalmente arbitrado em sentença, todavia, com alteração do data inicial de incidência dos juros de mora. 4. JUROS DE MORA. Na hipótese de reparação por dano moral, cabível o início da contagem a partir da fixação do quantum indenizatório, é dizer, a contar do julgamento no qual foi arbitrado o valor da condenação. 5. ÔNUS SUCUMBENCIAIS. O contrato de licença entabulado entre ré e litisdenunciado prevê de maneira expressa que caberia à associação desportiva ressarcir todos os prejuízos que porventura viesse a embargante a ter em razão da referida avença, devendo aí ser compreendidas inclusive as custas e honorários relativos à ação principal. NEGARAM PROVIMENTO AO APELO DO AUTOR. DERAM PARCIAL PROVIMENTO AOS APELOS DA RÉ E DA LITISDENUNCIADA. UNÂNIME. 1

Upload: pedro-kurbhi

Post on 10-Jul-2015

903 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Direito Sao Bernardo   Aula 090926   Estudo De Caso   Acordao Tjrs

ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

OSNº 700302856702009/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. OFENSA À IMAGEM. COMERCIALIZAÇÃO DA IMAGEM DO AUTOR, JOGADORES DE FUTEBOL, SEM SUA AUTORIZAÇÃO. ÁLBUM DE FIGURINHAS DE CAMPEONATO BRASILEIRO. DANO MORAL OCORRENTE. 1. RESPONSABILIDADE CIVIL. A divulgação da imagem do autor em álbum de figurinhas sem sua autorização é apta a gerar dano moral in re ipsa, o qual independe de prova, decorrendo diretamente da violação ao atributo da personalidade.2. DENUNCIAÇÃO À LIDE. Havendo contrato escrito entre a denunciante e a denunciada, por meio do qual esta transfere os direitos inerentes à divulgação da imagem do autor para a denunciante e assume a responsabilidade por eventuais reclamações posteriores, há de se dar procedência à demanda regressiva.3. QUANTUM INDENIZATÓRIO. O quantum indenizatório deve representar para a vítima uma satisfação capaz de amenizar de alguma forma o sofrimento impingido. A eficácia da contrapartida pecuniária está na aptidão para proporcionar tal satisfação em justa medida, de modo que não signifique um enriquecimento sem causa para a vítima e produza impacto bastante no causador do mal a fim de dissuadi-lo de novo atentado. Ponderação que orienta a manutenção do valor nominalmente arbitrado em sentença, todavia, com alteração do data inicial de incidência dos juros de mora.4. JUROS DE MORA. Na hipótese de reparação por dano moral, cabível o início da contagem a partir da fixação do quantum indenizatório, é dizer, a contar do julgamento no qual foi arbitrado o valor da condenação.5. ÔNUS SUCUMBENCIAIS. O contrato de licença entabulado entre ré e litisdenunciado prevê de maneira expressa que caberia à associação desportiva ressarcir todos os prejuízos que porventura viesse a embargante a ter em razão da referida avença, devendo aí ser compreendidas inclusive as custas e honorários relativos à ação principal.NEGARAM PROVIMENTO AO APELO DO AUTOR. DERAM PARCIAL PROVIMENTO AOS APELOS DA RÉ E DA LITISDENUNCIADA. UNÂNIME.

1

Page 2: Direito Sao Bernardo   Aula 090926   Estudo De Caso   Acordao Tjrs

ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

OSNº 700302856702009/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL NONA CÂMARA CÍVEL

Nº 70030285670 COMARCA DE PORTO ALEGRE

JOAO MANUEL ROCHA MONTEIRO CORREA

APELANTE/APELADO

EDITORA ABRIL S.A. APELANTE/APELADO

SPORT CLUB INTERNACIONAL APELANTE/APELADO

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes da Nona Câmara

Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em: (a) negar

provimento ao apelo do autor; (b) dar parcial provimento aos apelos das rés.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário, as eminentes

Senhoras DES.ª IRIS HELENA MEDEIROS NOGUEIRA (PRESIDENTE E REVISORA) E DES.ª MARILENE BONZANINI BERNARDI.

Porto Alegre, 02 de setembro de 2009.

DES. ODONE SANGUINÉ, Relator.

R E L A T Ó R I O

DES. ODONE SANGUINÉ (RELATOR)

1. Cuida-se de apelações cíveis interpostas por JOÃO MANUEL ROCHA MONTEIRO CORRÊA (autor), EDITORA ABRIL S/A (ré)

2

Page 3: Direito Sao Bernardo   Aula 090926   Estudo De Caso   Acordao Tjrs

ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

OSNº 700302856702009/CÍVEL

e SPORT CLUB INTERNACIONAL (litisdenunciado) contra sentença das

fls. 265/272, que: (a) julgou procedente a ação principal, condenando a

EDITORA ABRIL S/A a pagar ao autor indenização por danos morais no

valor de R$ 5.000,00, quantia essa a ser corrigida monetariamente pelo IGP-

M desde a sentença, e acrescida de juros de mora de 1% ao mês, a contar

da citação; (b) julgou procedente a denunciação à lide, para condenar o

SPORT CLUB INTERNACIONAL a reembolsar ao litisdenunciante os

valores por este pagos; (c) condenou o réu ao pagamento das custas

processuais e honorários advocatícios ao patrono do autor, fixados em 15%

sobre o valor da condenação, ao passo que ao litisdenunciado coube o

pagamento das custas processuais relativas à lide regressiva, e verba

honorária devida ao patrono da litisdenunciante, também arbitrada em 15%

sobre o valor da condenação.

2. Em razões de apelo (fls. 274/278), sustenta que tanto os

juros moratórios quanto a correção monetária devem incidir desde o ato

ilícito praticado, nos termos das Súmulas 43 e 54 do STJ, retroagindo, assim

à data de publicação do álbum de figurinhas em que figurara o demandante.

Assim, pede seja dado provimento ao apelo, para determinar a retroação da

correção e dos juros à data do ilícito, observando-se os limites legais.

3. Em razões recursais (fls. 285/308), assevera serem

inaplicáveis as disposições da CF/88, visto que o suposto ato ilícito teria sido

praticado ainda sob a égide da CF/69. Assevera que houvera consentimento

tácito por parte do autor, conforme costumes da época, para que sua

imagem fosse veiculada em álbum de figurinhas de 1987. Destaca, nesse

sentido, que o requerente fora fotografado trajando o uniforme do clube que

defendia à época, sendo essa circunstância prova cabal de sua

aquiescência, tanto o sendo que sequer qualquer reclamação fora

3

Page 4: Direito Sao Bernardo   Aula 090926   Estudo De Caso   Acordao Tjrs

ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

OSNº 700302856702009/CÍVEL

formulada. Salienta que a avença se dera de boa-fé, seguindo os usos e

costumes da época e que o Contrato de Licença de Uso de Imagem firmado

com o clube do demandado previa que caberia a este repassar 20% do valor

recebido da editora para seus atletas. Alega ser desnecessária autorização

escrita. Sustenta que, de qualquer forma, agira respaldada por contrato

escrito, assinado com o Sport Club Internacional, que, apresentando-se

como titular do direito de uso e exploração da imagem de seus jogadores,

autorizara a utilização da fotografia do demandante. Repisa que o caso

concreto deve ser apreciado à luz das práticas dos anos 80, quando a

imagem dos jogadores não era negociada individualmente, estando essa em

realidade ínsita ao próprio contrato de trabalho firmado. Pondera que era de

próprio interesse dos atletas terem sua imagem veiculada em álbuns da

espécie, dada a carência de veículos de comunicação adequados, fato esse

inclusive observado pelo fotógrafo Gladstone Mendes Campos, ouvido em

processo símile. Aduz ainda que o álbum possuía caráter informativo, e não

comercial, pois visava tão somente inserir o autor em painel de jogadores do

Sport Club Internacional, apresentando ao público em geral o jogador e o

clube em que atuava. Ressalta não ter havido dano moral, em razão da

inocorrência de efetivo abalo à imagem do demandante. Sustenta, também,

que, em sendo mantida a sentença, deverá a agremiação esportiva

litisdenunciada ser condenada ao pagamento também das custas e

honorários devidos em razão da ação principal, por força do disposto na

cláusula oitava da avença entabulada entre as partes. Assim, pede seja

dado provimento ao apelo, para julgar improcedente a demanda ou pelo

menos determinar que os ônus sucumbenciais devidos em razão da ação

principal também sejam arcados pelo litisdenunciado.

4. Em razões de apelo (fls. 314/318), cita precedentes em que

feitos análogos foram julgados de forma dissimilada à decisão proferida

4

Page 5: Direito Sao Bernardo   Aula 090926   Estudo De Caso   Acordao Tjrs

ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

OSNº 700302856702009/CÍVEL

nestes autos. Ressalta que o contrato de trabalho registrado junto à CBF

concedia ao clube o direito de uso de imagem do atleta. Refere que

somente com a edição da Lei Pelé, em 1998, é que passou a ser

regulamentada, de forma específica, a utilização da imagem dos jogadores.

Repisa que a imagem dos atletas, em condições de jogo, com o fardamento

oficial da entidade desportiva, é da titularidade dessa, o que não geraria

qualquer direito de indenização pela publicação do álbum. Ressalva que,

acaso mantida a sentença, deverá pelo menos ser reduzido o valor fixado a

título de indenização. Assim, pede sejam desprovidas a ação principal e a

litisdenunciação, ou pelo menos reduzida a verba indenizatória,

originariamente arbitrada.

5. Em contrarrazões aos apelos do litisdenunciado e da ré (fls.

322/328 e 329/339, respectivamente), pede o autor sejam esses

desprovidos.

6. Em contrarrazões aos apelos interpostos pelo autor e pela

litisdenunciada (fls. 364/372 e 373/380, respectivamente), a EDITORA

ABRIL pede sejam esses desprovidos, com o julgamento de improcedência

da demanda ou pelo menos a redução da verba indenizatória arbitrada em

primeiro grau.

7. Em contrarrazões (fls. 381/383), o SPORT CLUB

INTERNACIONAL pede seja desprovido o recurso interposto pelo autor.

8. Após certificada a ausência de contrarrazões por parte do

litisdenunciado ao apelo interposto pela ré (fls. 385/386), retornaram os

autos, prontos para julgamento.

5

Page 6: Direito Sao Bernardo   Aula 090926   Estudo De Caso   Acordao Tjrs

ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

OSNº 700302856702009/CÍVEL

É o relatório.

V O T O S

DES. ODONE SANGUINÉ (RELATOR)

Eminentes colegas:

9. Cuida-se de ação de indenização por meio da qual postula o

autor a condenação da ré ao pagamento de indenização por danos morais

decorrentes de divulgação de imagem sem a respectiva autorização.

10. Narra o autor em sua inicial que a EDITORA ABRIL lançara

em 1987 o “álbum de figurinhas” da Copa União, a qual possuía, além de

informações dos clubes de futebol, fotografias dos jogadores (fls. 12/15).

Alega nunca ter autorizado a ré a comercializar sua imagem e que o ato

ilícito praticado ensejaria a reparação a título de danos morais.

11. Em contestação (fls. 35/50), a ré, além de impugnar os

termos da peça exordial, denunciou à lide o SPORT CLUB

INTERNACIONAL, qual teria licenciado o uso da imagem à editora ora

demandada, sendo este o responsável, de acordo com o referido contrato de

licenciamento, por eventuais prejuízos advindos da utilização da imagem do

jogador.

12. Deferida a litisdenunciação (fls. 138/140), o SPORT CLUB

INTERNACIONAL então ofereceu contestação (fls. 145/153).

6

Page 7: Direito Sao Bernardo   Aula 090926   Estudo De Caso   Acordao Tjrs

ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

OSNº 700302856702009/CÍVEL

13. Processada a demanda, adveio assim a sentença das fls.

265/272, que: (a) julgou procedente a ação principal, condenando a

EDITORA ABRIL S/A a pagar ao autor indenização por danos morais no

valor de R$ 5.000,00, quantia essa a ser corrigida monetariamente pelo IGP-

M desde a sentença, e acrescida de juros de mora de 1% ao mês, a contar

da citação; (b) julgou procedente a denunciação à lide, para condenar o

SPORT CLUB INTERNACIONAL a reembolsar ao litisdenunciante os

valores por este pagos; (c) condenou o réu ao pagamento das custas

processuais e honorários advocatícios ao patrono do autor, fixados em 15%

sobre o valor da condenação, ao passo que ao litisdenunciado coube o

pagamento das custas processuais relativas à lide regressiva, e verba

honorária devida ao patrono da litisdenunciante, também arbitrada em 15%

sobre o valor da condenação.

14. Inconformadas, todos os litigantes recorreram: (a) o

demandante, postulando a readequação do marco inicial de incidência dos

juros e correção monetária para 1987 (fls. 274/278); (b) a ré, a

improcedência da demanda, em razão da inexistência da prática de ato

ilícito de sua parte, dado a existência de contrato a resguardar sua conduta,

ou mesmo de dano moral indenizável, pois inocorrente abalo à imagem do

requerente (fls. 285/308); (c) o litisdenunciado, a improcedência tanto do

feito principal quanto do secundário, porque inexistente, à época da

contratação, a prática de cobrança de direito de imagem de forma

desvinculada ao contrato de trabalho, ou pelo menos a redução da verba

reparatória (fls. 314/318).

Examine-se.

7

Page 8: Direito Sao Bernardo   Aula 090926   Estudo De Caso   Acordao Tjrs

ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

OSNº 700302856702009/CÍVEL

I. Mérito

a) Responsabilidade Civil

15. De início cumpre referir que incontroverso o fato da ré ter

lançado no mercado, no ano de 1987, o álbum de figurinhas da Copa União

(fls.12/15), no qual figurava o autor como integrante do SPORT CLUB

INTERNACIONAL.

16. A questão dos autos está em definir, portanto, se a conduta

praticada pela ré ocorreu de maneira ilícita, bem como se de tal conduta

decorreram danos morais ao autor.

No caso, pretende a ré seja reconhecida a existência da

autorização tácita do jogador, em razão do fato do requerente ter posado de

livre e espontânea vontade para o álbum de figurinhas em questão, inclusive

com o fardamento do clube. Alega, ainda, que o feito deve ser analisado sob

a ótica da CF/69, bem como que sua conduta estaria respaldada pelas

práticas da época e pelo documento das fls. 75/81, consistente em contrato

de licença para uso de imagem firmado entre ela e o SPORT CLUBE

INTERNACIONAL, através do qual a agremiação esportiva a autorizava a

comercializar a imagem de seus jogadores no referido “álbum de figurinhas”.

A litisdenunciada, por sua vez, ressalta que o contrato de

trabalho registrado junto à CBF concedia ao clube o direito de uso de

imagem do atleta. Refere, nesse sentido, que somente com a edição da Lei

8

Page 9: Direito Sao Bernardo   Aula 090926   Estudo De Caso   Acordao Tjrs

ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

OSNº 700302856702009/CÍVEL

Pelé, em 1998, é que passou a ser regulamentada, de forma específica, a

utilização da imagem dos jogadores.

O autor, contudo, nega em sua inicial que tenha conferido

autorização ao clube de futebol, para o qual competia, para que este

divulgasse sua imagem na revista comercializada pela ré. De outro lado, a ré

não traz aos autos qualquer autorização nesse sentido por parte do autor da

ação.

17. Dito isso, convém de pronto destacar, em citação à AC nº

70028349793, da lavra do eminente Des. Tasso Caubi Soares Delabary,

que na doutrina CARLOS ROBERTO GONÇALVES refere orientação do

Supremo Tribunal Federal, anterior a constituição de 1988, quando já

reconhecia a possibilidade de indenização por violação ao direito de

imagem, através da interpretação das disposições que emanavam do art.

666, X, in fine, do Código Civil de 1916 e 49, I, f, e 82 da Lei n. 5.988/73,

quando esta lei se referia às limitações ao direito do autor, ao fazer

depender do titular da imagem o exercício do direito de reprodução ou

divulgação pelo autor da obra, acabou por proclamar que, “embora parcos

os dispositivos legais que se dediquem ao momentoso tema, a proteção à

imagem, como direito decorrente ou integrante dos direitos essenciais da

personalidade, está firmemente posta em nosso direito positivo, destacando

que em julgamento por aquele Sodalício, confirmando decisão do Tribunal

de Justiça do Rio de Janeiro, ficou assentado de que a reprodução da

imagem da embargada é emanação da própria pessoa e somente ela

poderia autorizar sua reprodução, ainda que o fotógrafo seja o autor da obra

protegida. E essa autorização não existiu. Na oportunidade o julgamento

restou ementado da seguinte forma: “Direito à imagem. Fotografia.

Publicidade comercial. Indenização. A divulgação da imagem da pessoa,

9

Page 10: Direito Sao Bernardo   Aula 090926   Estudo De Caso   Acordao Tjrs

ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

OSNº 700302856702009/CÍVEL

sem o seu consentimento, para fins de publicidade comercial, implica

locupletamento ilícito à custa de outrem, que impõe a reparação do dano.

Recurso extraordinário não conhecido.”1

Ou seja, ainda que os fatos em questão tenham ocorrido antes

da vigência da CF/88, seria possível se cogitar de dano moral, em razão da

utilização indevida da imagem do autor, à luz do arcabouço legal previsto no

CC/1916 e na Lei nº 5.988/73, então vigente à época dos fatos. Sobre o

reconhecimento da existência de violação ao direito de imagem, sob a égide

dos referidos diplomas legais, veja-se o seguinte aresto: CIVIL. DIREITO DE

IMAGEM. REPRODUÇÃO INDEVIDA. LEI N. 5.988/73 (ART. 49, I, "F").

DEVER DE INDENIZAR. CODIGO CIVIL (ART. 159). A IMAGEM E A

PROJEÇÃO DOS ELEMENTOS VISIVEIS QUE INTEGRAM A

PERSONALIDADE HUMANA, E A EMANAÇÃO DA PROPRIA PESSOA, E

O EFLUVIO DOS CARACTERES FISICOS QUE A INDIVIDUALIZAM. A

SUA REPRODUÇÃO, CONSEQUENTEMENTE, SOMENTE PODE SER

AUTORIZADA PELA PESSOA A QUE PERTENCE, POR SE TRATAR DE

DIREITO PERSONALISSIMO, SOB PENA DE ACARRETAR O DEVER DE

INDENIZAR QUE, NO CASO, SURGE COM A SUA PROPRIA UTILIZAÇÃO

INDEVIDA. E CERTO QUE NÃO SE PODE COMETER O DELIRIO DE, EM

NOME DO DIREITO DE PRIVACIDADE, ESTABELECER-SE UMA

REDOMA PROTETORA EM TORNO DE UMA PESSOA PARA TORNA-LA

IMUNE DE QUALQUER VEICULAÇÃO ATINENTE A SUA IMAGEM;

TODAVIA, NÃO SE DEVE EXALTAR A LIBERDADE DE INFORMAÇÃO A

PONTO DE SE CONSENTIR QUE O DIREITO A PROPRIA IMAGEM SEJA

POSTERGADO, POIS A SUA EXPOSIÇÃO DEVE CONDICIONAR-SE A

EXISTENCIA DE EVIDENTE INTERESSE JORNALISTICO QUE, POR SUA

VEZ, TEM COMO REFERENCIAL O INTERESSE PUBLICO, A SER

1 RT 568/21510

Page 11: Direito Sao Bernardo   Aula 090926   Estudo De Caso   Acordao Tjrs

ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

OSNº 700302856702009/CÍVEL

SATISFEITO, DE RECEBER INFORMAÇÕES, ISSO QUANDO A IMAGEM

DIVULGADA NÃO TIVER SIDO CAPTADA EM CENARIO PUBLICO OU

ESPONTANEAMENTE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (REsp

58.101/SP, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA,

julgado em 16/09/1997, DJ 09/03/1998 p. 114).

18. Ora, como visto do precedente acima, o direito à imagem,

mesmo antes da CF/88, deve ser considerado como atributo de

personalidade, de cunho personalíssimo, não se podendo presumir a

concessão do direito de explorá-la comercialmente, muito menos de forma

tácita ou base em eventuais costumes vigentes à época, cuja prática, aliás,

não poderia ser invocada para permitir a prática de ilícitos, ainda que de

ordem civil.

De outra banda, faz-se importante salientar que o álbum em

questão possuía claro intuito comercial, pois a ré, ao divulgar os times

participantes da Copa União, buscava, ao utilizar a imagem de atletas, lucrar

através da venda de cromos colecionáveis. Em síntese, a publicação em

questão não possuía conteúdo meramente informativo, como alegado.

Assim, em não vindo aos autos qualquer autorização expressa

do autor nesse sentido, impende concluir não possuía o clube de futebol,

SPORT CLUBE INTERNACIONAL, o direito de conceder a autorização aqui

discutida.

Veja-se ainda, nesse sentido, que a cláusula décima sétima do

“Contrato de Trabalho de Atleta Profissional de Futebol” das fls. 156/157v,

registrada junto à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), tampouco faz

11

Page 12: Direito Sao Bernardo   Aula 090926   Estudo De Caso   Acordao Tjrs

ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

OSNº 700302856702009/CÍVEL

presumir que o clube em questão deteria os direitos de imagem do atleta.

Ora, com efeito, referida cláusula, em verdade, somente dispunha acerca da

necessidade do atleta envergar exclusivamente o uniforme do clube, com

todos os seus sinais distintivos, inclusive para fins publicitários, nada

referindo acerca da autorização, pelo atleta, para que sua imagem fosse

utilizada em álbuns de figurinhas.

Aliás, nem se é possível enquadrar o caso em tela nos lindes

do direito de arena previsto no art. 100 da Lei nº 5.988/73, vigente à época

da divulgação. Nesse sentido a jurisprudência do STJ: INDENIZAÇÃO.

DIREITO À IMAGEM. JOGADOR DE FUTEBOL. ÁLBUM DE FIGURINHAS.

ATO ILÍCITO. DIREITO DE ARENA. -É inadmissível o recurso especial

quando não ventilada na decisão recorrida a questão federal suscitada

(súmula nº 282-STF). - A exploração indevida da imagem de jogadores de

futebol em álbum de figurinhas, com intuito de lucro, sem o consentimento

dos atletas, constitui prática ilícita a ensejar a cabal reparação do dano. - O

direito de arena, que a lei atribui às entidades desportivas, limita-se à

fixação, transmissão e retransmissão de espetáculo esportivo, não

alcançando o uso da imagem havido por meio da edição de "álbum de

figurinhas". Precedentes da Quarta Turma. Recursos especiais não

conhecidos. (REsp 67.292/RJ, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, QUARTA

TURMA, julgado em 03.12.1998, DJ 12.04.1999 p. 153).

19. Assim, tem-se que a divulgação da imagem do autor por

parte da ré se deu de maneira ilícita, cabendo a esta indenizar os eventuais

danos daí decorrentes.

Reconhecida assim a responsabilidade da ré no feito principal,

passo, pois, à análise da litisdenunciada no feito secundário.12

Page 13: Direito Sao Bernardo   Aula 090926   Estudo De Caso   Acordao Tjrs

ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

OSNº 700302856702009/CÍVEL

20. Pois bem, o “Instrumento Particular de Contrato de Licença

para Uso de Imagem, Cessão de Direitos Autorias” (fls. 75/81) revela que a

ré, na condição de cessionária do direito de imagem dos jogadores, pagou à

entidade desportiva ora denunciada – cedente do direito de imagem – pelo

uso da imagem (cláusula 10ª, item “c”, fl. 79), cabendo a esta o repasse de

20% de tal quantum aos jogadores. Não restou demonstrado, no entanto, tal

repasse.

Além disso, consta do contrato firmado entre o denunciante e a

denunciada que esta arcaria com eventuais prejuízos sofridos pela

cessionária oriundos de eventuais reclamações futuras (cláusula 8ª, fl. 77).

Tem-se, nesse diapasão, fundamentado em obrigação

contratual, o direito regressivo da ré sobre a denunciada, o que autoriza a

denunciação da lide, a teor do que disposto no artigo 70, III, do Código de

Processo Civil. Nesse norte, aliás, assim já decidi: (...) 5. DENUNCIAÇÃO À

LIDE. Havendo contrato escrito entre a denunciante e a denunciada, por

meio do qual esta transfere os direitos inerentes à divulgação da imagem do

autor para a denunciante e assume a responsabilidade por eventuais

reclamações posteriores, há de se dar procedência à demanda regressiva.

DERAM PROVIMENTO AO RECURSO E JULGARAM PROCEDENTE A

DENUNCIAÇÃO À LIDE. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70023429319,

Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Odone Sanguiné,

Julgado em 18/06/2008)

13

Page 14: Direito Sao Bernardo   Aula 090926   Estudo De Caso   Acordao Tjrs

ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

OSNº 700302856702009/CÍVEL

Assim, reconhecido o dever da ré em reparar eventuais

prejuízos ao demandante, e ao litisdenunciado, por sua vez, ressarcir

regressivamente a requerida, passo à análise da efetiva existência de abalo

moral na espécie.

b) Danos Morais

21. Quanto aos danos morais experimentados pelo autor, tenho

que esses se revelam evidentes na espécie.

22. Com efeito, a proteção à imagem pode ser dividida em dois

aspectos para fins de indenização por dano moral. Primeiro, pode-se fazer

referência à ofensa à imagem-retrato, consistente na simples divulgação da

imagem da pessoa sem sua autorização. Segundo, tem-se a imagem-

atributo, consistente na forma como indivíduo é visto pela sociedade. Nesse

último caso, a ofensa à imagem-atributo somente se verificará quando

denegrida a imagem do autor na sociedade em que vive.

De fato, assiste razão à ré quanto ao fato de não ter o autor

apelante sofrido abalo em sua imagem-atributo, porquanto, nada de

pejorativo trouxe a comercialização do álbum de figurinhas à forma como o

autor era, ou é, visto socialmente. No entanto, o argumento perde força no

que toca à imagem-retrato do autor, porquanto sua fotografia foi veiculada

nacionalmente sem o seu consentimento, situação que se encontra vedada

pelo ordenamento jurídico.

Nesse sentido, manifestou-se esta Corte em recente decisão:

APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL.

14

Page 15: Direito Sao Bernardo   Aula 090926   Estudo De Caso   Acordao Tjrs

ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

OSNº 700302856702009/CÍVEL

DIREITO À IMAGEM. PUBLICAÇÃO NÃO AUTORIZADA DE FOTO EM

ÁLBUM DE FIGURINHAS. AGRAVO RETIDO. PRESCRIÇÃO.

DENUNCIAÇÃO DA LIDE. (...). Quanto ao apelo do autor, cumpre registrar

que a proteção constitucional da imagem encerra dois aspectos: o primeiro,

relativo à imagem física do cidadão (imagem-retrato), e o segundo, referente

à condição social da pessoa (imagem-atributo). No caso dos autos, a

veiculação da imagem do autor não foi desonrosa, razão por que não há

falar em dano à imagem-atributo. Entretanto, violada está a imagem-retrato,

pois restou divulgada a fotografia do autor, jogador de futebol, em álbum de

figurinhas, sem que tenha havido a necessária autorização prévia. Tal

situação acarreta dano na modalidade ¿in re ipsa¿, sendo inerente ao

próprio fato. A indenização, arbitrada em R$ 10.000,00 (dez mil reais), deve

ser suportada, regressivamente, pelo Sport Club Internacional, em virtude do

contrato havido com a Editora Abril Panini. Inteligência do artigo 70, inciso

III, do Código de Processo Civil. Agravo retido desprovido. Apelo do autor

provido, prejudicado o recurso adesivo. (Apelação Cível Nº 70021337100,

Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Umberto Guaspari

Sudbrack, Julgado em 13/02/2008).

23. Tal situação acarreta dano na modalidade “in re ipsa”,

decorrente da própria divulgação indevida da imagem do autor. Tal

entendimento vem sendo adotado por esta Corte: (a) APELAÇÃO CÍVEL.

AGRAVO RETIDO. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE

INDENIZAÇÃO. VEICULAÇÃO INDEVIDA DE IMAGEM DE ATLETA

PROFISSIONAL EM LIVRO ILUSTRADO. VIOLAÇÃO DO DIREITO DE

IMAGEM. DANOS MORAIS. QUANTUM. (...) 4. A utilização da imagem de

atleta profissional em livro ilustrado deve ser precedida de sua autorização,

pois a imagem é direito personalíssimo e configura ilícito a sua utilização

indevida, ainda mais quando possui finalidade lucrativa. Evidenciada a

15

Page 16: Direito Sao Bernardo   Aula 090926   Estudo De Caso   Acordao Tjrs

ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

OSNº 700302856702009/CÍVEL

ocorrência de danos morais. 5. Reduzido o quantum indenizatório a título de

danos morais para R$ 8.500,00 (oito mil e quinhentos reais), considerando

as peculiaridades do caso em tela. 6. Juros de mora de 1% ao mês e

correção monetária pela variação mensal do IGP-M, ambos desde a data

deste acórdão. Orientação desta Nona Câmara Cível. 7. Honorários

advocatícios fixados em 15% sobre o valor da condenação, observado o art.

20, § 3º do CPC. AGRAVOS RETIDOS DESPROVIDOS. APELOS

PARCIALMENTE PROVIDOS. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70023651359,

Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Iris Helena

Medeiros Nogueira, Julgado em 30/04/2008). No mesmo norte, o

entendimento do 5º grupo Cível: Embargos Infringentes Nº 70028775039,

Quinto Grupo de Câmaras Cíveis, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge

Alberto Schreiner Pestana, Julgado em 15/05/2009.

Na mesma linha, precedente da minha Relatoria: (...) 3.

RESPONSABILIDADE CIVIL. A divulgação da imagem do autor em álbum

de figurinhas sem sua autorização é apta a gerar dano moral in re ipsa, o

qual independe de prova, decorrendo diretamente da violação ao atributo da

personalidade. (...) (Apelação Cível Nº 70024677676, Nona Câmara Cível,

Tribunal de Justiça do RS, Relator: Odone Sanguiné, Julgado em

17/12/2008).

No mesmo sentido, o STJ nos seguintes julgados: (a) REsp

113.963/SP, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA,

julgado em 20.09.2005, DJ 10.10.2005 p. 369; (b) REsp 67.292/RJ, Rel.

Ministro BARROS MONTEIRO, QUARTA TURMA, julgado em 03.12.1998,

DJ 12.04.1999 p. 153; (c) REsp 100.764/RJ, Rel. Ministro RUY ROSADO DE

AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado em 24.11.1997, DJ 16.03.1998 p. 137;

16

Page 17: Direito Sao Bernardo   Aula 090926   Estudo De Caso   Acordao Tjrs

ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

OSNº 700302856702009/CÍVEL

(d) REsp 148.213/RJ, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA

TURMA, julgado em 04.11.1997, DJ 19.12.1997 p. 67516.

24. No que toca quantum indenizatório, frise-se que o valor a

ser concedido deve representar para a vítima uma satisfação capaz de

amenizar de alguma forma o sofrimento impingido. A eficácia da

contrapartida pecuniária está na aptidão de proporcionar tal satisfação em

justa medida, de modo que não signifique um enriquecimento sem causa

para a vítima e produza impacto suficiente no causador do mal, a fim de

dissuadi-lo de novo atentado.

Nesta linha, entendo que a condição econômica das partes, a

repercussão do fato e a conduta do agente devem ser perquiridos para a

justa dosimetria do valor indenizatório.

O autor, que hoje é comerciante, litiga sob o amparo da

assistência judiciária gratuita, o que indica ser de baixa condição financeira.

A ré, por sua vez, é empresa de porte nacional, de condição econômica

privilegiada.

Cumpre referir que a conduta da ré, ainda que ilícita, estava

amparada por documento com a qual acreditava estar autorizada a divulgar

a imagem do autor. Tal fato deve ser sopesado na quantificação aqui

proposta.

25. Assim, ponderados tais critérios, tenho que o valor

nominalmente fixado na origem, qual seja, R$ 5.000,00 (cinco mil reais),

acrescido de juros moratórios desde a citação e correção monetária desde a

sentença, mostra-se suficiente para atenuar as consequências dos danos

17

Page 18: Direito Sao Bernardo   Aula 090926   Estudo De Caso   Acordao Tjrs

ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

OSNº 700302856702009/CÍVEL

causados à imagem do ofendido, não significando um enriquecimento sem

causa, punindo o responsável e dissuadindo-o da prática de novo atentado.

26. Nesse aspecto, aliás, calha referir que a correção

monetária não constitui plus, e sim mera atualização da moeda, devendo

incidir a partir da fixação do quantum devido, é dizer, a partir do julgamento,

ou seja, da sentença. Nesse sentido, a Súmula 362 do STJ: “A correção

monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do

arbitramento”.

Portanto, em se tratando de condenação ao pagamento de

indenização por danos morais, deve a correção monetária fluir da data da

sentença.

27. Todavia, deve ser alterada a data inicial para a incidência

dos juros de mora. Neste ponto, não há que se falar em violação ao princípio

do tantum devolutum quantum appellatum, ou à vedação da reformatio in

pejus, pois entendo que a correção monetária e os juros moratórios integram

o montante da indenização, razão pela qual é possível alterá-los quando

haja recurso para majorar ou minorar a verba reparatória. Ademais, trata-se

de pedido implícito, nos termos do art. 293 do Código de Processo Civil,

podendo o magistrado concedê-los ex officio.

Assim, na hipótese de reparação por dano moral, entendo

cabível o início da contagem dos juros moratórios a partir da fixação do

quantum indenizatório, ou seja, a contar do julgamento no qual foi arbitrado

o valor da condenação. Dessa forma, além de se ter o quantum indenizatório

justo e atualizado, evita-se que a morosidade processual ou a demora do

18

Page 19: Direito Sao Bernardo   Aula 090926   Estudo De Caso   Acordao Tjrs

ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

OSNº 700302856702009/CÍVEL

ofendido em ingressar com a correspondente ação indenizatória gere

prejuízos à parte demandada, sobretudo, em razão do caráter pecuniário da

condenação (REsp 618940/MA; Rel. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro;

Terceira Turma; julgado em 24/05/2005; DJ 08.08.2005 p. 302.).

Saliento, por oportuno, que tal posicionamento não afronta o

verbete da Súmula nº 54 do STJ, ao revés, harmoniza-se com o

entendimento daquela Corte. A ultima ratio do enunciado sumular é destacar

que a reparação civil por dano moral deve possuir tratamento diferenciado

na sua quantificação em relação ao dano material, dado o objetivo

pedagógico, punitivo e reparatório da condenação.

Assim, mantido o valor nominal fixado em sentença, devem os

juros moratórios também fluir a partir da sentença.

28. Destarte, nego provimento ao apelo do autor e dou parcial

provimento ao apelo da litisdenunciada nesse tocante, de forma a,

minorando o quantum indenizatório fixado na origem, determinar que sobre

o valor arbitrado em sentença incidam juros moratórios de 12% ao ano, a

contar da sentença.

c) Ônus Sucumbenciais

29. A EDITORA ABRIL S/A, postulou, em sede de apelo, que,

em caso da manutenção da decisão no que se refere ao feito principal, fosse

a litisdenunciada condenada ao pagamento também dos ônus

sucumbenciais relativo àquela lide, dos prejuízos por ela suportados, com

base no contrato juntado aos autos às fls. 75/81.

19

Page 20: Direito Sao Bernardo   Aula 090926   Estudo De Caso   Acordao Tjrs

ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

OSNº 700302856702009/CÍVEL

O contrato referido, como já referido anteriormente, versa sobre

a licença concedida pelo denunciado SPORT CLUB INTERNACIONAL à

denunciante, para que esta divulgasse a imagem do autor da ação em

álbum de figurinhas. No referido contrato, consta, em sua cláusula oitava,

que a cedente assumia total e exclusiva responsabilidade pelos direitos

cedidos por força deste contrato, obrigando-se, por conseguinte, a

responder a toda e qualquer reivindicação realizada à cessionária por

eventuais prejuízos por ela sofridos oriundos de eventuais reclamações (fl.

77 - grifei).

Ora, conforme se extrai, a cedente, aqui denunciada, assumiu

a total responsabilidade por todo e qualquer prejuízo sofrido pela cessionária

em decorrência de qualquer direito abrangido pela avença, devendo ser aí

computadas as custas da demanda principal, no qual restara a ré

sucumbente, porque decorrem indiretamente do ato ilícito praticado pelo

clube litisdenunciado.

30. Aliás, tal entendimento coaduna-se com a própria teleologia

do artigo 70, inciso III, do CPC, que dispõe que a denunciação à lide é

sempre obrigatória àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a

indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a demanda: ou seja,

não faz o referido dispositivo qualquer distinção entre as espécies de

prejuízos que poderá o denunciante exigir que o denunciado garanta, sejam

eles relativos a eventuais pleitos indenizatórios, ou mesmo os ônus

sucumbenciais advindos de tais ações. Portanto, pela locução da cláusula

oitava da avença mantida entre a embargante a litisdenunciada, pode-se

perfeitamente inferir que caberia à associação desportiva arcar com todos os

prejuízos advindos do contrato de cessão de imagem, inclusive aqueles

20

Page 21: Direito Sao Bernardo   Aula 090926   Estudo De Caso   Acordao Tjrs

ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

OSNº 700302856702009/CÍVEL

atinentes aos ônus sucumbenciais relativos à ações em que porventura se

envolvesse em razão da referida avença.

Nesse norte, assim já me manifestei: EMBARGOS

DECLARATÓRIOS. OMISSÃO SANADA COM EFEITO INFRINGENTE. 1.

Admissível o acolhimento de embargos declaratórios para sanar omissão,

contradição ou obscuridade existentes no acórdão, importando ou não na

modificação do julgado atacado. 2. Na hipótese, o acórdão foi efetivamente

omisso ao não dispor que também caberia à litisdenunciada arcar com os

ônus sucumbenciais derivados da ação principal. Com efeito, os termos

contratuais prevêem de maneira expressa que caberia à associação

desportiva ressarcir todos os prejuízos que porventura viesse a embargante

a ter em razão da referida avença, aí compreendidas inclusive as custas e

honorários relativos à ação principal. ACOLHERAM OS EMBARGOS DE

DECLARAÇÃO, COM EFEITO INFRINGENTE. UNÂNIME. (Embargos de

Declaração Nº 70025101569, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do

RS, Relator: Odone Sanguiné, Julgado em 30/07/2008).

Desta feita, dou provimento ao apelo da ré nesse ponto, para

condenar a litisdenunciada a também ressarcir a ré pelos ônus

sucumbenciais por esta última suportados, em razão do resultado de

procedência da lide principal.

II. Dispositivo

31. Destarte, voto por: (a) negar provimento ao apelo do autor;

(b) dar parcial provimento ao apelo da litisdenunciada, para determinar que

sobre o quantum indenizatório incidam juros moratórios de 12% ao ano, a

21

Page 22: Direito Sao Bernardo   Aula 090926   Estudo De Caso   Acordao Tjrs

ESTADO DO RIO GRANDE DO SULPODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

OSNº 700302856702009/CÍVEL

partir da sentença; (c) dar parcial provimento ao apelo da ré, para condenar

a litisdenunciada a ressarcir a ré pelos ônus sucumbenciais por esta última

suportados, em razão do resultado da lide principal.

DES.ª IRIS HELENA MEDEIROS NOGUEIRA (PRESIDENTE E REVISORA) - De acordo.

DES.ª MARILENE BONZANINI BERNARDI - De acordo.

DES.ª IRIS HELENA MEDEIROS NOGUEIRA - Presidente - Apelação Cível

nº 70030285670, Comarca de Porto Alegre: "NEGARAM PROVIMENTO AO

APELO DO AUTOR. DERAM PARCIAL PROVIMENTO AOS APELOS DA

RÉ E DA LITISDENUNCIADA. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: MARIA THEREZA BARBIERI

22