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DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV
2015/2016 – Mestrado Forense / Turma B (Rui Pinto)
EXAME FINAL (12.1.2016) - Duração 2 h 30 m
I. LEIA o seguinte ac. RL 16-1-2014/Proc. 4817/07.7TBALM.L2-6 (ANTÓNIO MARTINS):
Acordam no Tribunal da Relação de Lisboa:
I- RELATÓRIO
1. O A instaurou contra o R. a presente acção declarativa, “nos termos do DL 108/2006 de 08 de
Junho”, pedindo a sua procedência e, em consequência:
“a) Declarar-se ser o A legítimo proprietário das parcelas e edificações dos autos; e
b) Condenar-se o Réu/Município de Almada reconvindo a reconhecer tal direito e a abster-se de
quaisquer actos turbadores do seu exercício;…
[…]
Contestou o R. pedindo a improcedência da acção e a sua absolvição do pedido.
[…]
Foi elaborado o despacho saneador, aí se concluindo pela competência do tribunal e
verificação dos restantes pressupostos processuais, incluindo a legitimidade do R., assim como
se concluiu pela inexistência de nulidades, outras excepções dilatórias ou peremptórias, bem
como questões prévias de conhecimento oficioso.
Procedeu-se à selecção dos factos assentes e à elaboração da base instrutória, sem
reclamação.
2. Veio entretanto o R., pelo requerimento de fls 521, invocando o “art.º 512º nº 1 do
CPC”, apresentar “rol de testemunhas”, o que foi indeferido pelo despacho de 12.05.2010, a fls
533, “por intempestivo – […]
Deste despacho interpôs o R., em simultâneo, em 25.05.2010, reclamação (cfr. fls 536/543)
e recurso (cfr. fls 544/6), pretendendo com este a revogação daquele despacho.
Por despacho de 14.06.2010 (cfr. fls 547/9) foi aquela reclamação indeferida e o recurso
admitido […]
Alegando, conclui o R:
I. O Tribunal “a quo” decide não atender ao requerimento probatório apresentado pela Ré, com
fundamento na circunstância de ao presente processo ser aplicável o regime experimental,
aprovado pelo Decreto-lei nº 108/2006, de 8 de Junho.
II. A verdade é que o presente processo nunca tramitou como processo experimental de acordo
com as regras definidas no decreto-lei nº 108/2006, de 8 de Agosto, com as alterações que
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entretanto lhe foram sendo introduzidas, em momento algum foram respeitadas as normas legais
impostas pelo diploma legal em apreço.
[…]
3. Prosseguindo o processo os seus regulares termos veio a final a ser proferida sentença, em
25.02.2013, que julgou a acção procedente e em consequência declarou o direito de
propriedade do autor sobre as parcelas acima identificadas e condenou o réu a reconhecer esse
direito.
4. É desta decisão que, inconformado, o R. vem apelar, alegações que apresentou em
03.05.2013, pretendendo a revogação da sentença recorrida.
[…]
Estabelece o art.º 660º do actual CPC que “o tribunal só dá provimento à impugnação das
decisões interlocutórias,…, quando a infracção cometida possa modificar aquela decisão ou
quando, independentemente dela, o provimento tenha interesse para o recorrente”.
[…]
Assim, pese embora a diferença de redacção entre o art.º 660º do CPC actual e o art.º
710º do CPC1961, afigura-se-nos que o propósito do legislador é o mesmo, pelo que não haverá
que conhecer – não se trata apenas de não dar provimento, como poderia pensar-se resultar da
expressão “só dá provimento…” inserta no citado art.º 660º - dos recursos das decisões
interlocutórias que não tenham relevância para a decisão final, a menos que o seu provimento
tenha interesse para o recorrente, independentemente do sentido da decisão final (como
acontecerá, por exemplo, no recurso de um despacho que aplique uma multa por junção de
documento fora de prazo).
Afigura-se-nos assim que no citado art.º 660º o legislador disse menos do que queria
dizer e o princípio da economia processual justifica tal interpretação pois constituiria um acto
inútil analisar e apreciar os fundamentos do recurso e concluir pela sua procedência mas, depois,
não a declarar porque isso seria irrelevante dado o ganho de causa da decisão final
[…]
Nestes termos conclui-se que não é de conhecer do recurso [do despacho que indeferiu o
requerimento probatório] porque da sua procedência não resultaria a modificação da decisão
final, como adiante se fundamentará, quando se conhecer do recurso de apelação.
[…]
III- DECISÃO
Pelos fundamentos expostos, acordam os Juízes que integram a 6ª Secção Cível deste Tribunal
em julgar procedente a apelação e, em consequência, revoga-se a decisão recorrida e julga-se
improcedente o pedido do A, dele absolvendo o R.
Custas a cargo do A.
Lisboa, 16 de Janeiro de 2014
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RESPONDA FUNDAMENTADAMENTE ÀS SEGUINTES PERGUNTAS:
1. Relativamente ao despacho saneador que concluiu pela competência do tribunal
verifique se admitia recurso e, em caso afirmativo, quem teria legitimidade para o
recurso e qual seria o regime desse recurso. [4 valores]
I. Admissibilidade de recurso (1 valor):
a. art. 627º, 629º (duplo limite), exclusão legal (maxime, art. 630)
b. discussão de se o saneador genérico admite recurso
c. Pressupostos gerais (competência, personalidade, capacidade, patrocínio); não
renúncia
II. Regime do recurso (1, 5 valores):
i. Ou o réu não levantou nenhuma exceção de incompetência, pelo que a
questão foi genericamente decidida, podendo ser recorrida em sede
de art. 644º nº 3, com discussão de se o saneador genérico admite
recurso; apelação diferida e acessória cumulada com o recurso da
decisão final (em 30 dias, pelo rt. 638º/1 primeira parte), sem prejuizo
do art. 660º
ii. Ou o réu arguiu incompetência, pelo que valia o art. 644º nº 2 al. b) se
arguiu incompetência absoluta ou o art. 105º nº 4 se arguiu
incompetência relativa; apelação imediata e autónoma em 15 dias
(art. 638º/1 segunda parte)
III. Legitimidade (1, 5 valores):
a. ou a decisão sobre a competência é puramente oficiosa, pois o réu não
levantou nenhuma exceção de incompetência, pelo que tem legitimidade pelo
critério material do art. 631º nº 1; discussão de se um réu que não arguiu a
falta do pressuposto processual conserva legitimidade para recorrer da
decisão que oficiosamente julga o pressuposto
b. Ou o réu arguiu incompetência, pelo que tem legitimidade pelo critério formal
do art. 631º nº 1
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2. Relativamente ao despacho que rejeitou o requerimento de junção do rol de
testemunhas verifique se admitia recurso e, em caso afirmativo, quem teria
legitimidade para o recurso e qual seria o regime desse recurso. [4 valores]
I. Admissibilidade de recurso (1 valor):
a. art. 627º, 629º (duplo limite), exclusão legal (maxime, art. 630)
b. Pressupostos gerais (competência, personalidade, capacidade, patrocínio); não
renúncia
II. Regime do recurso (1, 5 valores):
i. Decisão interlocutória
ii. Sujeita-se ao artigo 644º nº 2 al. d)
iii. apelação imediata e autónoma em 15 dias (art. 638º/1 segunda parte)
iv. sobe em separado (art. 645º nº 2) e com efeito-regra meramente
devolutivo (art. 647º nº 1)
III. Legitimidade (1, 50 valores):
a. o réu tem legitimidade pelo critério formal do art. 631º nº 1 (sem prejuizo do
critério material)
3. Relativamente à sentença final verifique se admitia recurso e, em caso afirmativo,
quem teria legitimidade para o recurso e qual seria o regime desse recurso. [4
valores]
I. Admissibilidade de recurso (1 valor):
a. art. 627º, 629º (duplo limite), exclusão legal (maxime, art. 630)
b. Pressupostos gerais (competência, personalidade, capacidade, patrocínio); não
renúncia
II. Regime do recurso (1,50 valores):
i. Decisão final (art. 644º nº 1 al. a)
ii. apelação imediata e autónoma em 30 dias (art. 638º/1 primeira parte)
iii. sobe nos próprios autos (art. 645º nº 1 a) ) e com efeito-regra
meramente devolutivo (art. 647º nº 1)
III. Legitimidade (1, 50 valor):
a. o réu tem legitimidade pelo critério formal do art. 631º nº 1 (sem prejuizo do
critério material)
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4. Relativamente ao presente acórdão, verifique se admitia recurso e, em caso
afirmativo, quem teria legitimidade para esse recurso e qual seria o regime desse
recurso. [3 valores]
I. Cabe recurso de revista (1 ,50 valor):
a. Art. 671 nº 1 (decisão final da Relação)
b. Fundamentos de direito (art. 674º)
c. Pressupostos gerais (competência, personalidade, capacidade, patrocínio); não
renúncia
d. Não se verifica dupla conforme: não há conformidade decisória nem
conformidade subjetiva (quem recorre de revista não será quem foi apelante)
II. Regime do recurso (0, 5 valores):
i. Sobre nos próprios autos (art. 675º nº 1 ) e com efeito-regra
meramente devolutivo (art. 676º nº 1 a contrario)
III. Legitimidade (1 valor):
a. o autor tem legitimidade pelo critério formal do art. 631º nº 1 (sem prejuizo do
critério material)
II. COMENTE o seguinte acórdão STJ 18-9-2014/Proc. 630/11.5TBCBR.C1.S1 (ANTÓNIO DA SILVA GONÇALVES)) [5 valores]
Em acção de responsabilidade civil por incumprimento contratual em que a ré foi
absolvida do pedido em ambas as instâncias, na 1.ª instância porque se considerou que […]
afastou a presunção [legal] de culpa sobre si incidente […], e na 2.ª instância porque se
considerou que a ré não incumpriu o contrato ou cumpriu defeituosamente as obrigações que
assumiu […], ambas as resoluções comportam enquadramento no mesmo regime substantivo,
sendo desnecessária a admissibilidade de um terceiro grau de jurisdição
I. Dupla conforme (1 valor)
a. Noção
b. Função
c. Requisitos
II. O requisito da conformidade essencial de fundamentos (4 valores)
a. Explicar as teses teóricas (2 valores)
b. Aplicar ao caso concreto (2 valores)