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DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Prof. Salomão Viana E-mail: [email protected] E-mail turma: [email protected] Senha: obichovaipegar 08.03.12 Onde quer que exista uma pessoa (física ou jurídica) esta sempre manifestará interesse em relação a determinado bem da vida. Interesse = posição favorável de alguém em relação a um determinado BV. Não terá tendência a gerar problema se este interesse for satisfeito todas as vezes. Todavia, o ser humano tende a se agrupar. Assim, se juntamos pessoas, juntamos interesses e, provavelmente, mais de uma pessoa manifeste interesse num único BV, bem este insuficiente para satisfazer as necessidades de todos. Assim, há um desequilíbrio, pois não há bens da vida suficientes para satisfazer o interesse de todos. Nos deparamos, então com um quadro de conflito de interesses = mais de um sujeito e apenas um bem de vida. CONFLITO INTERSUBJETIVO DE INTERESSES. Este quadro é capaz de gerar desagregação, por isso é necessário resolver este conflito, para que não se alastre pela sociedade, pondo em risco a sua existência. É natural, portanto, que alguns membros desse grupo criem meios de resolução desses conflitos de interesses. Existem diversos métodos de composição destes conflitos: AUTOCOMPOSIÇÃO – os próprios envolvidos adotam providências para a sua resolução. AUTOTUTELA ou AUTODEFESA – o uso da força. Não é desejável, pois violência gera violência. Mais tarde aquele que se sentiu 1

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL I

Prof. Salomão Viana

E-mail: [email protected]

E-mail turma: [email protected]

Senha: obichovaipegar

08.03.12

Onde quer que exista uma pessoa (física ou jurídica) esta sempre manifestará interesse em relação a determinado bem da vida. Interesse = posição favorável de alguém em relação a um determinado BV. Não terá tendência a gerar problema se este interesse for satisfeito todas as vezes.

Todavia, o ser humano tende a se agrupar. Assim, se juntamos pessoas, juntamos interesses e, provavelmente, mais de uma pessoa manifeste interesse num único BV, bem este insuficiente para satisfazer as necessidades de todos.

Assim, há um desequilíbrio, pois não há bens da vida suficientes para satisfazer o interesse de todos. Nos deparamos, então com um quadro de conflito de interesses = mais de um sujeito e apenas um bem de vida. CONFLITO INTERSUBJETIVO DE INTERESSES. Este quadro é capaz de gerar desagregação, por isso é necessário resolver este conflito, para que não se alastre pela sociedade, pondo em risco a sua existência.

É natural, portanto, que alguns membros desse grupo criem meios de resolução desses conflitos de interesses. Existem diversos métodos de composição destes conflitos:

AUTOCOMPOSIÇÃO – os próprios envolvidos adotam providências para a sua resolução.

AUTOTUTELA ou AUTODEFESA – o uso da força. Não é desejável, pois violência gera violência. Mais tarde aquele que se sentiu prejudicado pela resolução dada pela força, pode se sentir mais forte e tentar dar outra solução ao caso. Porém, há situações poucas que o legislador admite a autotutela, nos casos em que o estado não pode estar presente de imediato. Mas esses casos são a exceção, a regra é a vedação do uso da autotutela. Tanto que o legislador penal instituiu um tipo penal do uso das próprias razões.EXEMPLO - legitima defesa, estado de necessidade, disforço incontinente, retenção de bagagem do hospede que não pagou, retenção da bagagem daquele que utilizou o transporte sem pagar.

TRANSAÇÃO SUBMISSÃO DESISTÊNCIA MEDIAÇÃO – este tipo os envolvidos trazem um terceiro para compor o conflito.

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O problema é que não há como nós depositarmos a esperança que eles tenham o toque da definitividade. Pois o mesmo espirito que levou às pessoas a chegarem àquela solução, pode rapidamente desaparecer, gerando situações de recrudescimento. Ou seja, ela não é confiável. Não podemos esperar que o ser humano esteja sempre num estado de espírito elevado.

Mas, a composição é altamente desejável, tanto que durante o processo civil há diversos momentos para oportunizar as partes comporem.

HETEROCOMPOSIÇÃO – um terceiro é trazido não para fazer o papel de mediador (este não compõe nada, ele estimula, ele mostra o caminho para os envolvidos para a solução), mas para este terceiro dê uma solução para o conflito. Os envolvidos perdem assim a possibilidade deles mesmos resolverem. Este terceiro pode ser um árbitro, a arbitragem é um caso clássico de heterocomposição. Há tendência de atribuir à arbitragem jurisdição.

Mas, a heterocomposição padece de certas falhas. Para que se escolha o árbitro tem que recair a pessoas com certas características especiais. Os bens devem poder ser discutidos por esta via.

DIREITO OBJETIVO – conjunto de normas que regra o acesso das pessoas aos bens da vida. Mas não todos os bens da vida. Só aqueles bens da vida com potencial para gerar conflitos no grupo. Assim há bens da vida que são tutelados e outros que não são por esse conjunto de normas.

Esse conjunto de normas diminui o risco de conflito, pois as pessoas poderiam consultá-lo para saber quem é o titular do interesse protegido. Este estaria numa situação jurídica ativa. Já o titular do interesse juridicamente subordinado está numa situação jurídica passiva. Quem está nesta situação, deve dar acesso ao outro, não pode criar obstáculo para que o outro, na situação jurídica positiva, ter acesso ao bem.

Todas as vezes que ocorrer um fato que o direito determine determinado efeito. Um ato jurídico todas as vezes gera uma relação jurídica. Todas as vezes que nos depararmos com uma pessoa numa posição positiva e negativa temos uma relação jurídica.

RELAÇÃO JURÍDICA = é conflito de interesses regulado pelo direito. Em quase todas as vezes ela está em equilíbrio. Há um potencial de conflito, mas este não ocorre. Por exemplo, eu gostaria de pagar muito barato por uma camisa, e o vendedor gostaria de receber muito. Mas nenhum dos dois fará isso, a relação então se desenvolve com harmonia.

Quando isso não ocorre, não há harmonia. As pessoas envolvidas no conflito, não conseguem chegar a conclusão quem é titular do interesse juridicamente protegido.

Assim a criação deste conjunto de normas que regrem a conduta das pessoas na sociedade não é o suficiente para permitir o equilíbrio social, pois ainda persiste a possibilidade de conflito. Instalar-se um quadro de pretensão de um lado e resistência do outro.

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LIDE = relação jurídica qualificada por uma pretensão resistida. Ou, um conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida.

Um pretende um bem da vida e o outro resiste.

Precisamos então nos estruturar para resolver este quadro de patologia social: lide. A solução que encontramos é nos especializarmos em mais uma face. Já tínhamos uma face voltada para a administração e para a criação de normas gerais. A terceira face necessária seria a de dizer o direito objetivo aplicável no caso concreto. Dizer quem se encontra na situação juridicamente ativa, e o outro na situação juridicamente passiva, dizendo então que aquela tem que ter acesso ao bem da vida e outro tem que respeitar esse acesso.

Mas essa visão é bem primitiva do Poder judiciário, como se o juiz fosse um mero identificado da norma, ou seja, a natureza da atividade seria meramente declaratória. Mas quando dizemos que deve dizer qual o direito objetivo aplicável no caso concreto, deve-se entender cabe ao incumbido de dizer qual o direito, extrair do direito objetivo qual a norma que deve ser aplicada ao caso, e esta norma nem sempre está escrita. Por vezes a busca por esta norma leva a raciocínios elaborados. O juiz ainda tem que raciocinar se a norma achada no sistema jurídico está de acordo com todo o sistema jurídico. É necessário que o juiz se debruce sobre ela e veja se ela está de acordo com os valores constitucionais e os supraconstitucionais. Ele não pode simplesmente encaixar o caso concreto na norma sem fazer um juízo de valor sobre aquela norma.

É preciso extrair daquela norma a serviço de que ela está ali. A mera adequação da norma ao caso concreto, muitas vezes resulta em soluções injustas. Exemplo, da escola conveniada a cessão de vagas e não de salas; cotista; UFBA. A norma escrita por vezes transmite uma ideia completamente incompatível o sistema jurídico.

Dizer o direito é um juízo exegético. Exige, pois, que se busque no texto jurídico não uma norma, mas aquilo que esteja de acordo com os textos normativos superiores. . O juiz não cria uma norma inexistente, nem um direito para o caso, uma vez que este já está criado – ao buscar no conjunto dos textos normativos, estou sobre algo que preexiste, mas se cria/declara uma norma individualizada. É uma tarefa criativa em cima de algo que preexiste, pois o juiz não cria algo que o sistema jurídico não permita. Este é o limite do juiz, não há como ultrapassá-lo: a sociedade não quis atribuir aos juízes de criar o direito no sentindo de impor no caso concreto uma solução contrária ao que o sistema jurídico diz.

13.03.12

As relações normalmente se encontram em equilíbrio pois as pessoas envolvidas se reconhecem como titulares de direitos ou obrigações (titular de interesse protegido ou subordinado, respectivamente).

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A atividade jurisdicional é uma atividade criativa. Não é uma atividade de criação do direito, pois este já está posto. Atividade voltada para extrair do conjunto positivado ou não a norma individual que deve ser aplicado no caso concreto.

A atividade jurisdicional é uma atividade político, e por isso, o magistrado é um agente político. Para um país ser soberano ele tem que ser capaz de extirpar os conflitos n seio da sua sociedade. Exercem uma atividade por meio da qual o estado manifesta a sua soberania.

O Poder judiciário é obrigado a responder por meio de um agente político seu, a provocação de qualquer pessoa. Nem que seja para dizer que a pessoa não poderia provocar o Poder Judiciário. Isto não ocorre com os outros poderes.

DIFERENÇAS DA ATIVIDADE JURISDICIONAL EM RELAÇÃO AS OUTRAS – A atividade jurisdicional não é de criação de direito, mas é uma atividade eminentemente criativa. A atividade legislativa é marcada por uma ANTERIORIDADE em relação a atividade jurisdicional. Apesar de criativa, a atv jurisdicional jamais poderá criar algo indesejado por um sistema normativo preexistente. Não é possível criar fora dele. A criação não passa de uma característica do raciocínio desenvolvido.

A anterioridade marca a diferença entre a ativ legislativa e jurisdição. Aquela é sempre anterior.

Atv. Administrativa x atv. Jurisdicional. É possível dizer que o poder judiciário atua como um terceiro judiciário? Ou há casos, muitas vezes quando o estado também faz parte da lide, que o poder judiciário teria interesse no caso. Nesses casos, a solução foi a criação de facetas separadas, autônomas, com auto administração.

A atuação desse órgão julgador não é substituir uma das partes.

Não é a substituição que caracteriza a diferença é a substituição da atividade. Não entendi.

Jurisdição una. Não quer dizer que qualquer juiz pode julgar qualquer causa. É necessária a criação de uma hierarquia e limites a cada órgão. A divisão de tarefas consiste em atribuir a determinados órgãos julgadores porções de jurisdição, isto é, competência.

UNIDADE DE JURISDIÇÃO - Qualquer que seja o órgão julgador, e qualquer matéria que for posta a ser julgada, essa atividade sempre consistirá em dizer qual a norma do sistema normativo será aplicado ao caso concreto.

É comum, porém, acrescentar ao vocábulo jurisdição um adjetivo, criando “espécies de jurisdição”. Mas estas não tem nenhuma consequência de ordem prática. É uma divisão meramente didática.

A jurisdição voluntária é também jurisdição. O que ocorre é uma situação em que o estado se manifesta de maneira tal que retira das pessoas a possibilidade de extrair de certo ato qualquer efeito. Ele impõe, então, que tal ato seja praticado frente a ele, para que possa gerar efeitos. A vontade dos interessados no ato deve se somar na vontade do estado, ou seja, o reconhecimento

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do estado que aquele ato pode ser praticado, é os interessados poderão extrair daquele ato os efeitos desejados.

O exemplo clássico de jurisdição voluntária é a venda de um bem de um menor.

CARACTERÍSTICAS GERAIS DA JURISÇÃO –

1. Secundariedade

A atividade jurisdicional estatal só atua secundariamente a atividade das pessoas envolvidas no conflito intersubjetivo de interesses. É obvio que se essas pessoas autocomporem, não será necessária a atividade jurisdicional. Esta só será requerida quando os envolvidos não conseguirem resolver o conflito.

2. Instrumentalidade

O direito já está posto no sistema normativo, positivado ou não. Quando surge dúvida, quando há uma lide instaurada, o estado então retirou das pessoas a possibilidade de usar das próprias forças para resolver o conflito. Podem, porém, comporem. O Estado se dispõe a tornar efetivo o direito criado pela atividade legiferante. A atividade jurisdicional é um instrumento para a realização do direito objetivo. Essa é a marca do direito processual.

3. Declaratividade, executividade e cautelaridade

Essa característica pode se manifestar de três formas. Ora seremos procurados por uma pessoa que dirá que é titular do direito tal, e fulano não está reconhecendo minha titularidade. Danou meu bem, e se recusa a pagar indenização, pois não me reconhece como titular de direito. Busca, portanto, uma certificação de direito. Para que possa ser imposta a obrigação de pagar, primeiro é necessário certificar a existência de direito. Nessa situação a atividade tem a marca da DECLARATIVIDADE no seu sentido mais amplo. Pode ser pura, apenas declarar. Como no caso da declaração da inexistência da relação jurídica (negativa de paternidade).

Só posso desconstituir um contrato, depois de declarar que essa relação preexistente existe.

Essa característica está presente em todos estes tipos de declaração. Seja naquela que pede a obrigação de fazer, não fazer, dar coisa certa ou coisa certa. Seja modificação, desconstituição ou constituição de relação jurídica.

Ao lado da declaratividade existe a EXECUTIVIDADE. Há postulações tendentes a pedir a prática de atos tendentes a realizar o que ele previamente certificou. Só posso executar aquilo que previamente foi certificado.

Adoção de providencia para resguardar o resultado útil do processo. Mas é necessário que haja indícios que o crédito existe. Se nada for feito nesse tipo de caso, o resultado do processo não

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servirá para nada. Se estiverem presentes o fumus bonis iuris e o periculum e mora. É uma atividade voltada para o RESGUARDO do resultado do processo. É a marca da CAUTELARIDADE.

Processo sincrético. Unidade. Está é a regra hoje em dia. Antes a regra era a de segregação. Isto é, depois de certificado direito, era necessário a propositura de outra demanda, se era necessário acautelar, era necessário propor uma ação independente.

Os processos, embora sincréticos, é possível identificar uma fase dele mais voltada para certificação, e assim por diante. Porém, nada impede que nessa fase de certificação, por exemplo, identifiquemos a prática de atos de natureza acautelatória.

4. Desinteresse

Desinteresse no sentido que o estado juiz terá sempre que ser um terceiro desinteressado. Não no sentido de que o estado juiz não se compadece da situação de A ou B. O que é importante é que o órgão julgador se abstenha de qualquer tipo de sentimento no momento de julgamento de uma causa. O agente do poder judiciário não pode julgar causas que ele tenha algum tipo de interesse. Para garantir essa característica, existem as hipóteses de suspeição e ???.

5. Não Espontaneidade

O Poder judiciário permanece inerte e parado. Mas não no mau sentido. Inércia no sentido de que ele será sempre provocado. A regra é a provocação. O poder judiciário está pronto para ser provocado, por exceção, é que ele atua ex oficio.

Por exemplo, se o inventário não for instaurado em 30 dias, o juiz poderá instaurá-lo. Essas situações de exceção normalmente são casos de jurisdição voluntária, ou situações que tendem a jurisdição voluntária.

15.03.2012

Atribuição de cada órgão julgador = competência.

É possível executar algo que ainda não certifiquei, como medida cautelar. Uma medida cautelar não acresce em nada o patrimônio físico de quem a requereu e obteve.

PRINCÍPIOS BÁSICOS DA JURISDIÇÃO

1. Princípio da investidura

Exerce a jurisdição estatal aquele que foi nela investido. A investidura no cargo é um ato administrativo complexo. A investidura é essencial para o exercício da atividade jurisdicional pelo Estado. Essa investidura se dá por meio de concurso público de provas e títulos. Nos tribunais a investidura se dá por promoção de magistrados: por antiguidade ou merecimento. Outra parte dos membros do tribunal é da classe dos advogados e outra da parte de membros do Ministério

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Público. O provimento de cargos para os tribunais superiores: 1/3 integrantes oriundos dos tribunais de justiça (desembargadores), 1/3 desembargadores dos tribunais federais, 1/3 do membros de advogados e membros do ministério público.

2. Princípio do Juiz Natural

Seria melhor falar em princípio do Juízo natural. Mas há ocasiões em que se trata de um juiz antural, pois certas causas ficam vinculados a pessoa do juiz. Por exemplo, se eu juiz proferir a instrução do processo, eu terei que proferir a sentença.

Aspecto amplo. Surgiu para evitar os chamados tribunais de exceção. Evitar situações em que depois de se saber quem será julgado, criar um tribunal para julgá-lo. Esse princípio do juízo natural assegura que todas as pessoas que se envolvam em conflitos de interesses saberem qual será o órgão julgador que julgará aquela causa.

Muitas vezes não dá para saber exatamente qual o órgão julgador, mas saberá qual o tipo de órgão julgador será. Um dos juízos das varas cíveis da justiça federal, por exemplo.

Aspecto específico. Protejo este princípio quanto as eventuais investidas de tentativa de escolha do órgão julgador específico dentro de vários que tem a mesma competência. Não é possível escolher o juiz da causa se são vários os competentes. A escolha terá que se dar por livre sorteio. Há não ser que haja uma situação que justifique que sua distribuição se dar de forma diferente.

3. Princípios da iprorrogalidade e da indeclinabilidade

Os limites que foram constitucionalmente traçados pelo exercício da jurisdicional para determinado órgão, lei infraconstitucional alterar de sorte a distender os limites da jurisdição daquele órgão. Pois é o legislador que promove a partilha constitucional da jurisdição.

O órgão não tem JURISDIÇÃO (não competência) para atuar em diferentes matérias que as definidas pela constituição.

Até porque, se estender os limites da jurisdição daquilo que foi constitucionalmente estabelecendo, estará reduzindo a jurisdição de outro órgão.

Se o legislador infraconstitucional quiser solapar certas jurisdição, delegando a outro órgão certas matérias, ele estará declinando jurisdição, e não pode.

4. P. inevitabilidade

A jurisdição é inevitável. Uma vez provocada a jurisdição e comunicado o réu, este se submeterá ao resultado do processo. Ela terá que adotar providencias pois é inevitável que ela sofra consequências da sentença que derivará do processo.

5. P. da inafastabilidade

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Nenhuma lesão ou ameaça de lesão a direito pode escapar da apreciação do poder judiciário. Então há todos é assegurado ao acesso à justiça. Não se refere apenas ao acesso formal à justiça. O que se assegura por este princípio é o acesso a uma ordem jurídica justa, implica numa tutela jurisdicional adequada. Quem quer que esteja em juízo, autor ou réu, tem o direito de receber o provimento jurisdicional que seja adequado à sua situação jurídica.

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COMPETÊNCIA

OBSERVAÇÕES LIVRO: Afirmar que qualquer juiz, de qualquer órgão jurisdicional, tem jurisdição em todo território nacional não significa que possa exercer a função jurisdicional de forma ilimitada. O ao do juiz, devidamente investido na jurisdição, sem existirá, mas por vezes , quando exercido fora de certos limites traçados pela lei, poderá ser nulo, estando nessa determinação de limites a importância do fenômeno da competência.

A competência é justamente a limitação do exercício legítimo da jurisdição. O juiz incompetente estará, portanto, exercendo de forma ilegítima sua jurisdição. Algo bem diferente, inclusive em termos da gravidade do vício gerado, da situação em que um sujeito qualquer pratica atos que exigiriam o poder jurisdicional sem estar devidamente investido.

Prova maior de que o órgão jurisdicional, mesmo sem competência, tem jurisdição é a aplicação do princípio Kompetenz Kompetenz, que atribuiu ao órgão incompetente a competência para declarar sua própria incompetência. Caso a ausência de competência gerasse ausência de jurisdição, essa declaração de incompetência seria ato inexistente, o que naturalmente não ocorre.

Cumpre registrar que as regras de competência buscam atingir dois objetivos principais: organização de tarefas e racionalização do trabalho. (FIM OBS.)

É necessário que seja feita uma partilha lógica do trabalho de retirar da sociedade as lides. Mas não está se falando da partilha que foi efetuado na Constituição. Quem possuir uma fatia da partilha constitucional não tem jurisdição das outras fatias, a não ser que o legislador constitucional preveja.

Dentro das respectivas fatias divididas pelo legislador constitucional ainda há necessidade de estruturação dentro de cada um deles.

A competência é a quantidade de jurisdição atribuída a cada órgão ou grupo de órgãos do poder judiciário. O legislador diz: essa jurisdição será exercida pela justiça estadual. Normas então são criadas para se atribuir porções de jurisdição dentro dessa fatia, promovida previamente pela Cf.

É por isso que se diz que a competência é o limite da jurisdição.

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NÃO TER COMPETÊNCIA X NÃO TER JURISDIÇÃO – Salomão juiz federal não tem competência para julgar causas criminais. Porém, se uma vaga de juiz federal da vara criminal ele pode ser transferido, ele não precisará ser investido novamente. Ele poderá ter uma limitação a uma jurisdição que eu possuo (competência não criminal). Mas se ele julgar causas de jurisdição da JE terá que fazer outro concurso público e ser investido novamente, pois ele não foi investido neste tipo de jurisdição.

Necessidades de ordem prática e política para a organização do serviço.

Estabelecimento de competência tem necessariamente base normativa. As normas de competência estão assentadas, positivadas. Não são sempre normas presentes em lei em sentido estrito. Temos normas de competência também na Constituição Federal.

Por exemplo, no art. 109, da CF. Entada-se onde tem compete, entanda-se cabe a jurisdição ao juiz federal. Já a norma que está no §2º é norma de competência, pois ele define onde poderá ser ajuizada as ações dentro da justiça federal. Há normas de competência em leis complementares. Há ainda normas de competência em normas administrativas de tribunal.

Competência = algo que está dentro do campo de partilha constitucional da jurisdição. Porção da jurisdição que é atribuído a um órgão do poder judiciário ou a um conjunto deles. Divisão de trabalho de acordo com ordem práticas e políticas. Há sempre uma reserva normativa.

Limita-se a jurisdição preexistente determinada pelo legislador constitucional.

COMPETÊNCIA RELATIVA x COMPETÊNCIA ABSOLUTA – As regras de competência relativa prestigiam a vontade das partes, por meio da criação de normas que buscam proteger as partes (autor ou réu), franqueando a elas a opção pela sua aplicação ou não no caso concreto. Em razão da sua maior flexibilidade, também a lei poderá modificar tais regras. Surgem assim as regras de competência relativa, dispositivas por natureza e que buscam privilegiar a liberdade das partes.

As regras de competência absoluta são fundadas em razoes de ordem pública, para as quais a liberdade das partes deve ser desconsiderada, em virtude da prevalência do interesse público sobre os interesses particulares. Nesse caso, não há flexibilização, seja pela vontade dos interessados, seja pela própria lei, tratando-se de norma de natureza cogente que deverá ser aplicada sem nenhuma ressalva ou restrição. (/livro)

COMPTÊNCIA EXTERNA OU INTERNACIONAL – A primeira divisão que temos que fazer é o que podemos julgar que tenha alguma relação com o estrangeiro: competência externa ou internacional. E o que podemos julgar à competência interna.

Então, o legislador cuida primeiro, logo no primeiro momento, de estabelecer quais são os limites da competência externa dos órgãos julgadores brasileiros. A competência externa ou também chamada de competência geral, e também chamada de competência internacional, que está regrada no CPC nos artigos 88 a 90. Portanto, quando falarmos em competência internacional,

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competência internacional ou geral, ou externa, a gente vai lembrar no campo cível das normas contidas nos artigos 88 a 90 do CPC. Neste momento, portanto, o esforço do legislador é aquele voltado para separar o que é que o juiz brasileiro pode julgar relativamente a causas em que haja um teor internacional, e o que é que ele não pode julgar.

No que toca a competência externa, internacional ou geral, o legislador dedicou os arts: 88 à 90. Existem ainda LICC (mudou de nome para Normas de introdução ao direito brasileiro), art. 15 e 17, existem regras a respeito da competência.

O princípio da efetividade determina que a justiça brasileira só deva se considerar competente para julgar demandas cuja decisão gere efeitos em território nacional ou em Estado estrangeiro que reconheça tal decisão, tornando assim sua atuação sempre útil e teoricamente eficaz.

Competência internacional concorrente e exclusiva

Art. 88. É competente a autoridade judiciária brasileira quando:I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil;II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;III - a ação se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil.

Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, reputa-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que aqui tiver agência, filial ou sucursal.

Este artigo prevê as hipóteses de competência internacional concorrente, o que significa dizer que tanto o juízo brasileiro como o juízo estrangeiro têm competência para o julgamento do processo envolvendo as matérias e situações previstas no dispositivo legal. Dessa forma, caso a demanda tramite em país estrangeiro, a questão de competência não será obstáculo para a homologação de sentença estrangeira perante o STJ.

Art. 89. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;II - proceder a inventário e partilha de bens, situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do território nacional.

Nos casos elencados no art. 89, nenhum outros Estado, ainda que contenha norma interna apontando para sua competência, poderá proferir decisão que seja eficaz em território nacional.

Litispendência internacional

Art. 90. A ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz litispendência, nem obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas.

Tal artigo diz respeito à litispendência (mesmos elementos – partes, causa de pedir, pedido) em trâmite perante dois países diferentes. Assim, ao que interessa ao nosso direito interno, que a existência de um processo estrangeiro não obsta que um processo idêntico àquele exista no Brasil.

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A litispendência é um fenômeno fático, qual seja, a existência concomitante de dois processos idênticos. O efeito da litispendência é a extinção sem a resolução de mérito de um deles (art. 219, CPP). Ora, havendo dois processos idênticos, ainda que em países diferentes, haverá a situação fática a ensejar litispendência; o que não haverá será seu efeito, já que ambos poderão conviver contemporaneamente.

COMPETÊNCIA INTERNA – Levaremos em conta fatores de ordem prática e política (sentido puro). O legislador leva em conta estes dois tipos de fatores, mas está se lixando para aquilo que a doutrina criou. Não diz: vou criar uma norma de competência territorial, etc. Nós NÃO vamos nos impressionar com a interpretação literal tal qual está escrita. Vamos interpretar as normas que estabelecem a competência de forma sistêmica, a luz de todo o conjunto normativo e daí extrair as consequências que nos interessam. Se aquela norma comporta uma competência absoluta ou relativa. O exercício que faremos é sistematizar aquilo que o legislador fez.

Essas tentativas da doutrina de sistematizar aquilo que o legislador fez ao longo da vida no que concerne a atribuição de competência.

Os antigos praxistas diziam que o direito processual era um aspecto do direito material. Eles falavam de uma competência em razão da matéria, da pessoa e do lugar. Tentaram sistematizar a luz destes três critérios. Deixaram, no entanto, lacunas, pois há momentos que o legislador estabelece competência levando em conta o valor (art. 91 e 92, CPC) da causa, a função do órgão julgador no processo (art. 93).

Quem melhor sistematizou isso foi Chiovenda. Ele sistematizou os critérios de que normalmente o legislador se utiliza para estabelecer as normas de competência. Mas não quer dizer que o legislador vai lá consultar o que Chiovenda diz para depois criar a norma. Não, ele cria a norma e nós vamos buscar ver qual o critério que se valeu o legislador para criar determinada norma.

CRITÉRIOS DE DETERMINAÇÃO DE COMPETÊNCIA CRIADOS POR CHIOVENDA

a) CRITÉRIO OBJETIVO Matéria (absoluto) Valor da causa (relativo) Pessoas (absoluto)

Dentro deste critério, ele levou em conta aspectos, qualidades que são externas ao processo, por isso chama-se de objetivo. Por exemplo, a qualidade das pessoas que estão na disputa, ou o tipo da matéria que está sendo discutida, ou o valor do bem que é o objeto da disputa.

EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS – Busca-se a especialização do atendimento jurisdicional em relação às pessoas. Exemplo clássico disso é a Vara da Fazenda Pública, que concentra as demandas envolvendo o Estado e o Município.

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Existem outras regras na CF, nas Constituições estaduais, bem como nas leis de organização judiciária.

EM RELAÇÃO À MATÉRIA – Em razão da matéria, o legislador entendeu, por uma questão de sistematização política, de colocar certos órgãos para julgar determinados tipos de matérias. Uma vez que, com isso, ele especializa o órgão e torna mais fácil para o processamento dos feitos. É óbvio que um juízo que julgue apenas causas criminais vai ter mais facilidade para julgamento de causas criminais, do que um juízo que, além de julgar causas criminais, também julga causas cíveis. Portanto, diz o legislador, “eu só devo deixar juízo com competência para julgar feitos criminais e feitos cíveis, quando se tratar de um lugar onde o número de processos é pequeno e permita que isso aconteça”. Porque se o número de processos é elevado, é melhor fazer uma especialização: juízo só para causas criminais, juízo só para causas cíveis, por exemplo. E se houver muitas causas cíveis? Vamos especializá-los: juízos só para causas de família, juízos só para causas de registro público, etc, de acordo com o interesse do legislador.

EM RELAÇÃO AO VALOR DA CAUSA - Vamos agora pensar nessa relatividade aqui no critério em razão do valor da causa. Há duas situações aqui que vocês vão identificar o relativismo que está inserido esse critério:

1) É relativo de cima para baixo, mas não é relativo de baixo para cima. Assim, se for valor menor, pode ser julgado por um órgão julgador que tem competência para julgar causa de valor maior; mas se for maior não pode ser julgado por órgão que tenha competência para julgar causas de valor menor (porque quem pode mais pode menos).

2) Já no que se refere aos órgãos que somente tem competência para julgar causas ATÉ determinado valor, este critério seria absoluto, porque este órgão não poderia exceder este valor, no particular. Portanto, este critério de determinação da competência que leva em conta o valor: é relativo? É. Mas ele é somente relativo de cima para baixo e não de baixo para cima, neste último caso, ele é absoluto.

OBS.: E, a partir desse entendimento, extrair a conclusão: é relativo ou é absoluto? É relativo se for em razão do valor ou do território, caso o legislador não diga diferente. É absoluto se for em razão da matéria, da pessoa, ou critério funcional.

A competência em relação da matéria

b) CRITÉRIO FUNCIONAL Funcional vertical (absoluto) Funcional horizontal (absoluto)

O critério funcional leva em conta a função do órgão julgador dentro do processo. O critério funcional leva em conta o tipo de função que o órgão julgador exerce dentro do processo.

Identificamos uma competência funcional vertical e horizontal.

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EXEMPLO 1 – Competência funcional vertical - Quem aqui não sabe que uma ação qualquer, proposta, tramitará junto ao juízo de 1º grau, que vai conduzir o processo até a sentença? Profere a sentença. Da sentença cabe apelação. A apelação é interposta e esse juízo de 1º grau não julgará a apelação. A apelação interposta é interposta junto ao próprio juízo de 1º grau, que a processa, examina se está tudo em ordem, manda a parte contrária emitir as contra-razões, mas não emite juízo de valor sobre o julgamento do recurso. O julgamento do recurso é feito pelo órgão julgador de 2º grau. Ele processa o recurso para dar condições de o órgão julgador de 2º grau julgá-lo. O que é que eu tenho aí? Eu tenho aí, vejam bem, um órgão julgador atuando até o momento do processamento do recurso que foi interposto contra a sentença dele e ele não tem competência para atuar no julgamento do próprio recurso. Vejam que aí vocês têm dois órgãos julgadores distintos atuando dentro do mesmo processo, no exemplo dado, em etapas distintas do mesmo processo. Assim como não pode o órgão julgador de 1º grau, em regra (pois vocês vão ver na prática que isso, às vezes, é possível), julgar a apelação, manifestar-se sobre o mérito da apelação, também não pode o órgão julgador do 2º grau apreciar o processo pra proferir sentença. Então nós temos aí, dentro de um só processo, funções distintas, de órgãos jurisdicionais distintos atuando no mesmo processo. Aí vocês percebem que, quando eu falei de critério funcional e dei esse exemplo, vocês identificam nele uma óbvia verticalidade. Nesse exemplo dado, temos um critério funcional vertical.

EXEMPLO 2 – Competência funcional horizontal - Imaginem que uma execução é proposta em Salvador. Imaginem de acordo com as normas de competência estabelecidas pelo legislador para saber qual o juízo onde tramitará o processo de execução... Imaginem que alguém tenha uma nota promissória e a praça de pagamento estipulada nessa nota promissória seja aqui em Salvador. Então a execução será proposta em Salvador. E é proposta, então, em uma das Varas Cíveis da Comarca de Salvador. Pronto! O autor, exeqüente, mora em Salvador, o local do pagamento é em Salvador. Mas aí, no curso do processo constata-se que, o executado possui bens em Barreiras. Vejam bem, o juízo competente para processar e julgar a execução é um dos juízes de uma das varas cíveis da comarca de Salvador, mas há uma peculiaridade, o executado tem bens em Barreiras, no exemplo dado, então por conta disso, com o objetivo de facilitar que a execução tenha procedimento, o legislador no art. 658 do CPC diz assim: “se o devedor não tiver bens no foro da causa, far-se-á a execução por carta (é a carta precatória de um juízo para outro juízo do mesmo grau. Então, é expedida uma carta precatória) penhorando-se (Penhorar o bem é proceder à sua apreensão para que seja avaliado, alienado, seja vendido para que se pague o credor), avaliando-se e alienando-se os bens no foro da situação”. Ou seja, os bens que contam. Claro, é muito mais fácil pegar os bens e penhorar em Barreiras e pedir para o juiz de Barreiras que lá em Barreiras mesmo avalie o bem, aliene o bem, e apure o dinheiro. Mas o juiz de Barreiras não paga o exeqüente, ele pega o dinheiro e manda para Salvador e o juiz de Salvador paga o exeqüente. O que é que vocês têm aí? No curso do mesmo processo, atos processuais sendo praticados por juízos do mesmo grau, mas com funções absolutamente distintas dentro de um mesmo processo. Percebeu? Então, aí neste caso trata-se de uma competência horizontal. Eu não tenho uma competência funcional vertical, mas sim uma funcional horizontal. Perceberam? Nem o juiz daqui

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pode ordenar penhora, avaliação e alienação ao juiz de Barreiras, nem o juiz de Barreiras poderia processar a petição inicial, nem entregar o dinheiro ao exeqüente. Por quê? Porque dentro desse mesmo processo, no mesmo grau de jurisdição, funções distintas são exercidas em distintos juízos.

c) CRITÉRIO TERRITORIAL

Por meio da competência territorial se determina qual o foro competente para a demanda, o que significa dizer qual a circunscrição judiciária competente (comarca na Justiça Estadual e seção judiciária na Justiça Federal).

São as normas elencadas nos arts. 94 à 100 do CPC.

Norma geral. O foro comum previsto pelo ordenamento brasileiro, em tradição seguida universalmente, é o do domicílio do réu. Segundo o art. 94, do CPC, essa regra somente se aplica aos processos fundados em direito pessoais (sobre bens móveis e imóveis) e direito real sobre bens móveis.

As normas seguintes ao art. 94 estabelecem exceções a esta norma geral.

OBS.: Art. 95. Nas ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro da situação da coisa. Pode o autor, entretanto, optar pelo foro do domicílio ou de eleição, não recaindo (se não versar sobre essas matérias o foro poderá ser escolhido) o litígio sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova.

No art. 95 do CPC, o legislador se utilizou de um critério relativo e disse que era relativo. Mas, se

a causa versar sobre qualquer dessas matérias (que é critério absoluto), não é possível levar em

conta o território. Ou seja, prevalece a questão da matéria. Aqui, o legislador não tornou

absoluto critério relativo. Ele não tornou absoluto critério territorial, mas se utilizou de outro

critério. No mesmo dispositivo, ele se utilizou de critérios distintos. Cabe a nós perceber isso.

Eu sigo a linha segundo a qual ele não “absolutizou” o critério territorial, mas sim se valeu de

outro critério. Mas, se você quiser dizer, FUNDAMENTADAMENTE, que continuou o legislador a

usar o critério territorial, mas apenas o “absolutizou”, não tem erro não; você estará bem seguido

por parte da doutrina. O importante é que você entenda o raciocínio: para que ele “absolutizasse”,

ele levou em conta a matéria; aí você tem que concordar. Para mim, ao utilizar o critério matéria,

ele criou uma situação paralela à situação geral.

Não é o artigo, é a norma. Um artigo pode conter diversas normas. Esse artigo é um dispositivo

legal com diversas normas.

20.03.12

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As normas de competência contidas na CF são sempre normas de competência absoluta. Temos também que distinguir entre as regras de competência interna das de competência internacional.

A competência tem base normativa.

Num mesmo processo, muitas vezes mais de um órgão julgador participa. Por exemplo, a maioria começa num juízo singular, de primeiro grau, e depois um TJ, competência recursal. Competência funcional vertical.

Quando o legislador determina competência em razão do valor e do território, esta competência é relativa. Isto é, comporta relativização. A competência relativa há sempre possibilidade legislador “absolutizá-la”. Por exemplo, a competência em razão do valor é absoluta é só de baixo para cima, quer dizer, um órgão que tem competência que até o valor x, não poderá causas acima desse valor. Mas, se for ao contrário, ele julgar um valor abaixo da sua base, esse valor pode ser relativizado, em razão da vontade da lei ou das partes.

Ex.) art. 3, §3º juizados especiais federais. 10559. Neste caso é absoluta também de cima para baixo, e não só de baixo para cima.

DISTINÇÕES ENTRE A COMPETÊNCIA ABSOLUTA E A RELATIVA

1. Prorrogação de competência

Se o juiz tem em mãos uma causa para qual ele não é competente, só há possibilidade de que a competência deste juízo se prorrogue para que ele possa vir a julgar também aquela causa (não é que ele vai passar a julgar todas as causas daquele tipo, mas naquele caso específico, a competência dele se prorrogará para que ele passe a julgar também aquela causa, que não se situa originariamente na sua competência), quando a norma que determina a competência for de critério relativo.

Se for por critério absoluto, não é possível a prorrogação da competência. A norma de competência que levar em conta o critério relativo admite a possibilidade de prorrogação da competência: se ninguém argüir nada, o juiz pode julgar a causa, ou seja, sua esfera de competência se prorroga, se estende, se dilata para poder julgar também aquela causa (não todas as causas, mas aquela causa específica que foi parar em suas mãos). Somente a incompetência por critério relativo é prorrogável.

2. Prazo para arguição de incompetência

Se o juiz tem em mãos uma causa para qual ele não é competente e o sistema jurídico estabelece um prazo para a arguição da incompetência seja feita, de modo que, se nesse prazo não houver arguição da incompetência (preclusão do direito), não se poderá mais tratar como incompetente esse juízo, estaremos diante de um caso de incompetência relativa.

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A incompetência absoluta pode ser arguida independentemente de prazo, não está submetida a prazo. Somente os casos em que o critério de determinação da competência for relativo estarão submetidos a um prazo para a arguição, que, segundo o art. 305/CPC, é de 15 dias (prazo de oferecimento da chamada exceção de incompetência).

Art. 305. Este direito pode ser exercido em qualquer tempo, ou grau de jurisdição, cabendo à parte oferecer exceção, no prazo de 15 (quinze) dias, contado do fato que ocasionou a incompetência, o impedimento ou a suspeição.

Se a incompetência for absoluta, ela pode ser alegada a qualquer tempo, em qualquer grau de jurisdição, podendo, inclusive, se não havendo mais possibilidade de recurso, a propositura de ação rescisória. Somente a incompetência relativa está submetida a um prazo para arguição.

3. Forma de arguição de incompetência

A arguição da incompetência relativa tem que ser feita por uma peça específica, chamada exceção de incompetência. A incompetência relativa para ser argüida tem que se dar no prazo de 15 dias.

Esta peça autônoma é apresentada pela parte que alega a incompetência relativa do juízo, é autuada em separado, em autos em apenso. Isto é, esta peça não vai ser inserida nos autos já existentes. Esta peça dará surgimento a outros autos. Não dará surgimento a outro processo não, é o mesmo processo. Apenas será processada em autos apartados. Então surge ali o provimento de exceção de incompetência, surge ali o ente processual que é autuado em apartado.

Então já vimos que somente a incompetência relativa se prorroga, somente quando o critério é relativo que se pode falar que há um prazo para a arguição de incompetência, somente quando o critério é relativo que se tem que valer de instrumento próprio (peça autônoma), no caso a exceção de incompetência, que é apresentado em separado para ser autuada em apartado. Por isso, não posso arguir a incompetência relativa numa peça de defesa, dentro da contestação.

Em relação a incompetência absoluta, se eu posso arguir a qualquer tempo, em qualquer grau de jurisdição, não estou submetido a prazo, será que eu preciso de uma forma específica para arguição? Vamos arguir em qualquer tempo ou mesmo em qualquer peça! Como preliminar da defesa, no meio do processo, com a petição pode-se arguir a incompetência absoluta com base nisso ou naquilo. Então, a incompetência absoluta não precisa de peça especifica para arguição. Ela pode ser argüida a qualquer tempo ou mesmo em qualquer peça.

OBS.: O novo CPC não dará continuidade a este tipo de exigência. A incompetência relativa será arguida no bojo da própria peça contestatória, não terá uma peça separada, a ser apresentada em autos diversos, apensos ao processo original, para ser processado em separado.

OBS.: Discute-se o que ocorreria na possibilidade de utilização de qualquer das partes da via inadequada para suscitar a incompetência. A incompetência absoluta por meio de exceção e a relativa no bojo de peça contestatória.

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Em relação da competência absoluta poderá ser apresentada desta forma, porém o juiz poderá despachar que não recebe como exceção de incompetência, juntando aos autos normais, ou poderá indefere liminarmente o processamento da exceção, fala para o translado da peça para os autos principais, e neste discute a incompetência absoluta. Ele não pode dar margem na suspensão da pratica do processo.

Contudo o uso da via inadequada da arguição da incompetência relativa poderá acarretar no não recebimento da peça. Porém, temos que ter em vista princípio do aproveitamento dos atos processual, p. instrumentalidade das formas, p. da liberdade da forma, se não acarretar em danos para a outra parte poderá receber a peça. O descumprimento de uma exigência formal leva a invalidade de um ato. Os atos inválidos são estão atos a produzir efeitos. Todavia não se pode confundir a invalidade de um ato, com o reconhecimento da invalidade do ato com a aplicação da invalidação do ato. Há atos que são inválidos, mas não são reconhecidamente inválidos. Malgrado exista defeito de ordem formal, esta invalidade nem sempre deverá ser pronunciada.

4. Quanto aos atos processuais

O que é que vocês acham relativamente aos atos do processo: o atos praticados por um juiz relativamente incompetente são válidos? E o que se dá com os atos praticados por um juiz absolutamente incompetente?

Vamos começar pelos atos praticados por um juiz absolutamente incompetente: são inválidos. Agora, cuidado com isso de invalidade, pois o legislador é canguinha, mão de vaca. O legislador não desperdiça ato processual, o que ele puder aproveitar, aproveita. Restinho de ato, caquinho de ato, ele aproveita. Então quando ele diz invalidade, ele trabalha assim: os atos decisórios praticados por um juiz absolutamente incompetente são inválidos. E diz isso no §2º do art. 113 do CPC. Daí a gente deduz que os atos que não forem decisórios são válidos, mesmo praticados por juiz absolutamente incompetente. Portanto, atos decisórios praticados por juiz absolutamente incompetente são inválidos no termo do §2º do art. 113 do CPC. Atos não decisórios são válidos, mesmo praticados por juiz absolutamente incompetente:

Art. 113. § 2o Declarada a incompetência absoluta, somente os atos decisórios serão nulos, remetendo-se os autos ao juiz competente.

Já os atos praticados por juiz relativamente incompetente são válidos, todos eles. Não padecem de invalidade os atos praticados por juiz relativamente incompetente, mesmo os atos decisórios.

Assim, os atos decisórios praticados por juiz absolutamente incompetente são inválidos, art. 113, §2º do CPC. E quanto aos atos não decisórios? Esses são válidos, mesmo os praticados por um juiz absolutamente incompetente. E quando tratar-se de juiz relativamente incompetente? Nenhum dos atos é inválido. Todos os atos são válidos.

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OBS.: decisão que antecipa a tutela de direito pleiteado em juízo também é ato decisório, e será considerado inválido se o juiz for absolutamente competente. Os atos que não tem conteúdo decisórios são aqueles que apenas fazem o processo andar.

RESUMINDO: Atos praticados por juiz relativamente incompetente são válidos, sem exceção! Já os atos praticados por juiz absolutamente incompetente, se tiverem conteúdo decisório serão inválidos! Mas, observe que nada impede que após os autos sejam mandados para o juiz competente, que este revogue os atos do juiz relativamente incompetente.

5. A sentença do juiz absolutamente incompetente

Nesses casos de incompetência absoluta, quanto aos atos decisórios, mesmo depois que o processo está encerrado, que transita em julgado a sentença, é possível a ação rescisória, art. 485, II. Portanto, os atos decisórios praticados por juiz absolutamente incompetente postam inválidos e, assim, podem ser declarados inválidos no curso do processo. E mais: após encerrado o processo, a sentença de mérito que foi conferida por esse juiz absolutamente incompetente pode vir a ser rescindida nos termos do art. 485, II do CPC.

Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:

II - proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente;

Existe, porém o prazo de 180 dias para propor uma ação rescisória (não tenho certeza quanto o prazo).

6. Reconhecimento da incompetência

O que é que vocês acham, sendo o juiz absolutamente incompetente ele pode reconhecer de ofício essa incompetência absoluta ou ele precisa ser provocado? De ofício, claro, ele está afetando a regularidade do processo.

Agora, sendo ele relativamente incompetente ele pode reconhecer de ofício? Não. Precisa ser provocado por meio de exceção de incompetência a ser oferecida em um prazo de 15 dias e tudo quanto nós vimos aqui.

Em outras palavras, quando se tratar de incompetência relativa, o juiz não pode conhecer de ofício, quando se tratar de competência absoluta, o juiz pode conhecer de ofício a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição.

Art. 113. A incompetência absoluta deve ser declarada de ofício e pode ser alegada, em qualquer tempo e grau de jurisdição, independentemente de exceção.

Obs.: Competência atômica de todos os juízos para reconhecer sua própria incompetência.

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Atenção! Mais recentemente o CPC foi modificado nos arts. 112, § único, e 114 para albergar uma norma do Código de defesa do consumidor. Todavia com a absorção desta norma pelo CPC, esta passou a se aplicar a todas as relações.

Art. 112, Parágrafo único. A nulidade da cláusula de eleição de foro, em contrato de adesão, pode ser declarada de ofício pelo juiz, que declinará de competência para o juízo de domicílio do réu.(Incluído pela Lei nº 11.280, de 2006)

Ele pode reconhecer de ofício a abusividade da cláusula (imposta pela parte hiperssuficiente, seria aquele foro dificulta o exercício do direito de defesa da parte hipossuficiente), mas ao fazer isso ele está dizendo que os autos não deveriam estar naquele juízo, isto é reconhecendo sua própria incompetência relativa.

Art. 114. Prorrogar-se-á a competência se dela o juiz não declinar na forma do parágrafo único do art. 112 desta Lei ou o réu não opuser exceção declinatória nos casos e prazos legais. (Redação dada pela Lei nº 11.280, de

2006)

O artigo colacionado dispõe que o juiz ao reconhecer sua própria incompetência relativa, no caso de cláusula de eleição de foro abusiva, porém, se não o fizer, e o réu não opor exceção de incompetência, a competência do juízo será prorrogado.

Há um entendimento doutrinário, não respaldado em lei, que apesar de o juiz poder reconhecer de ofício sua incompetência relativa neste caso, ele não poderá fazê-lo em qualquer momento do processo, só poderá fazê-lo ao examinar a petição inicial.

QUAIS SÃO OS CRITÉRIOS QUE DETERMINAM A COMPETENCIA DE MODO ABSOLUTO – pessoa, matéria, função do órgão julgador.

CRITERIO COMPETENCIA RELATIVA – valor da causa, território.

A doutrinadores que identificam no art. 95 do CPC hipóteses de absolutização da competencia territorial.

Art. 95. Nas ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro da situação da coisa. Pode o autor, entretanto, optar pelo foro do domicílio ou de eleição, não recaindo o litígio sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova.

Tem gente que diz que aqui tem uma exceção a que a competência escolhida de acordo com o território, neste caso seria absoluta. Mas salomão acha que aqui é absoluta pois ele começa a falar em competência em razão da matéria.

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MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA

SITUAÇÕES EM QUE O JUÍZOS ENVOLVIDOS SÃO COMPETENTES. Estamos falando da modificação de competência, daqueles que SÃO competentes. As vezes podem ocorrer no plano da incompetência relativa.

Havendo mais de um juízo igualmente competente, a competência se firma em razão daquele que em primeiro lugar tomou conhecimento da causa. Arts. 106 e 219.

Aparente antinomia entre esses artigos. A prevenção é determinada pelo primeiro despacho ou pela primeira citação válida. Usamos a regra do art. 106 para as situações neles descritas. As situações restantes são reguladas a do 219 (juízos distintos com competências territoriais distintas).

29.03.12

PROVA 1: 26/04 – PROVA 2: 26/06

Partilha constitucional do poder. No caso do poder judiciário é uma partilha constitucional da

jurisdição.

MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIAHavendo um órgão competente, examinar as situações em que a competência deste órgão pode ser modificada. O grande fator gerador da modificação da competência é a conexão (e continência), que está intimamente ligado ao fenômeno da prevenção.

PREVENÇÃO – A prevenção é o fenômeno pelo qual, havendo mais de um juízo competente, deverão as causas ser processadas e julgadas por um só (o juízo prevento), de modo a que se evite o risco de decisões contraditórias. Repetindo: a prevenção é o fenômeno pelo qual, havendo mais de um juízo competente, deverão os processos ser reunidos para julgamento simultâneo apenas por um deles, de modo a evitar o provimento de decisões contraditórias.

Quando é que eu tenho decisões contraditórias? Decisão contraditória não é decisão logicamente incompatível uma com a outra.

EXEMPLO - José e João são servidores públicos estaduais. José e João, ambos, se sentem lesados no que se refere aos seus vencimentos, porque entendem que o estado da Bahia deveria lhes pagar uma gratificação, por conta de uma norma contida na lei M. José ingressa com o seu processo, propõe a sua demanda, que cai no juízo X. O juízo X denega a José o pedido, e aquela sentença, depois de recurso, transita em julgado, e José acaba perdendo a causa. Mas, bem pode acontecer de João ajuizar a sua demanda e cair nas mãos de outro juiz, e esse outro juiz entender que João tem razão, e a sentença transitar em julgado. Conclusão: José e João, que possuem casos absolutamente similares; mas um tem direito e outro não tem direito.

Essas sentenças são contraditórias? Sabe qual é a pergunta que a gente faz para poder responder? É simples: a execução de uma será excluída no todo ou em parte pela execução da outra? Ou seja, se João passar a alegar o direito como sendo devido, e o Poder Judiciário alegou como sendo

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devido, mas José não recebe gratificação coisa nenhuma, tem-se como pagar a João a gratificação dele e não pagar a José a gratificação dele? Tem. São decisões logicamente incompatíveis? Sim. Não deveria acontecer isso, mas pode acontecer. Não são decisões contraditórias.

Decisões contraditórias são aquelas que não comportam execução simultânea na prática, porque a execução de uma exclui no todo ou em parte a execução da outra.

Quando se fala em decisões contraditórias, fala-se numa incompatibilidade prática entre os comandos emergentes do processo. Quando se fala em decisões que não sejam contraditórias, mas que têm problema lógico, a gente fala apenas numa incompatibilidade lógica. Há, portanto, nos casos de decisões contraditórias uma incompatibilidade prática, de modo que, o comando emergente de um dos processos não pode ser executado porque, no todo ou em parte, está em conflito com o comando emergente de outro processo.

Para evitar situações desse tipo, bem como com o objetivo de preservar o princípio do Juiz Natural – no seu aspecto mais amplo, aquele que assegura a todos o direito de não ter um órgão criado apenas para julgar o seu caso, não haver tribunais de exceção; na sua visão mais restrita, aquele que proíbe a escolha do juiz que vai julgar a causa -, a questão da distribuição do processo vem regulada no art. 253 do CPC.

CPC, Art. 253. Distribuir-se-ão por dependência as causas de qualquer natureza:

I - quando se relacionarem, por conexão ou continência, com outra já ajuizada;

II - quando, tendo sido extinto o processo, sem julgamento de mérito, for reiterado o pedido, ainda que em litisconsórcio com outros autores ou que sejam parcialmente alterados os réus da demanda;

III - quando houver ajuizamento de ações idênticas, ao juízo prevento.

Parágrafo único. Havendo reconvenção ou intervenção de terceiro, o juiz, de ofício, mandará proceder à respectiva anotação pelo distribuidor.

“Distribuir-se-ão por dependência as causas de qualquer natureza” - a petição inicial que vai ser apresentada será encaminhada para o juízo no qual já está em tramitação o outro processo. Então, a distribuição não se dá livremente, por livre sorteio; se dá por dependência, ou seja, já é direcionada para aquele juízo em que já há determinado processo.

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Voltando, havendo mais de um juiz competente, ambos os processos serão juntados sob um juízo para julgamento simultâneo. Nesses casos, há que se determinar qual será este juízo, conhecido como prevento. Existem dois dispositivos que tratam de conceitua-lo:

Art. 106. Correndo em separado ações conexas perante juízes que têm a mesma competência territorial, considera-se prevento aquele que despachou em primeiro lugar.

Art. 219. A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a prescrição.

ATENÇÃO! Há uma aparente antinomia entre essas normas. Se você for ler sem atenção, você dirá que as duas normas estão estabelecendo um critério de prevenção: uma, para o que despachar em primeiro lugar, e a outra, onde houver primeiro a citação. A norma do art. 106, CPC, no entanto, tem um toque a mais de especialidade, diz assim: “correndo em separado ações conexas perante juízes que têm a mesma competência territorial, considerar-se-á prevento aquele que despachou em primeiro lugar”. O art. 219 não alude a nada, só se refere à citação – quanto a parte que realmente nos interessa. Como vamos solucionar? Aplico a norma do art. 106 toda vez que estiver diante de juízos com mesma competência territorial. E aplicarei a regra do art. 219 toda vez que tiver ações conexas correndo em separado, em juízos de competências territoriais distintas.

Há prevenção ocorre quando nos deparamos com casos de conexão e continência.

CONEXÃO – Ocorre quando alguns dos elementos da ação são idênticos. Mas o que são elementos da ação? São elementos da ação tudo o que se tirarmos da ação, esta deixa de ser ação, e se mudarmos passamos a ter uma ação diferente. São elementos da ação: partes, causa de pedir e pedido.

A situação de conexão deriva do fato de haver identidade entre causa de pedir de ambas as demandas OU identidade de pedido de ambas às demandas - um dos dois elementos ou os dois; mas, para serem os dois elementos é preciso que as partes sejam distintas, porque, caso contrário, ou seja, se tivermos os três elementos iguais, as causas deixam de ter conexão e passam a ter identidade. Se os três elementos forem idênticos eu terei a mesma demanda, repetição de demanda.

Art. 103. Reputam-se conexas duas ou mais ações, quando Ihes for comum o objeto ou a causa de pedir.

Objeto da ação é a mesma coisa do elemento pedido.

Um dos efeitos da conexão é fazer com que as demandas sejam julgadas por um mesmo juízo, o juízo prevento.

ATENÇÃO! Algumas vezes apesar da causa de pedir é idêntica (remota) é igual, não há risco de decisões contraditórias, então nem sempre a letra fria da lei vale. Temos que analisar se há o risco

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aludido. Pois se modifico a competência sem que haja risco, viola-se o princípio do juiz natural. Mais importante do que este princípio é evitar que o Poder Judiciário produza decisões contraditórias. Temos que ter certeza que há a necessidade. OBS. (Diferença entre conexão e afinidade de fato ou de direito): O exemplo dado, acima, sobre os funcionários públicos que acham que têm direito a uma gratificação, que o Estado da Bahia não lhes deu, trata-se de um exemplo de conexão? Aquele exemplo dos dois funcionários públicos, em que no final um resultou sem o reconhecimento do direito à gratificação e o outro viu reconhecido o direito a gratificação, não haveria nesses dois casos uma conexão a determinar que esses processos fossem para o mesmo juiz, de sorte a evitar que essas decisões sejam logicamente incompatíveis? Não, porque os elementos dessas demandas não são idênticos.

Por que não são idênticos? Quanto às partes, logicamente, não há identidade, pois tem até o mesmo réu, mas a parte autora é diferente; e, mesmo assim, já vimos que a identidade de partes não é suficiente para determinar a conexão. Mas, aí pergunta-se: a causa de pedir não foi a mesma? Ou seja, os fundamentos apresentados para embasar os pedidos não são os mesmos? E pior: e os pedidos? Os dois não estão pedindo uma gratificação?

Eu quero saber o seguinte: a gratificação que João está pedindo é a mesma gratificação que José também está? Ou seja, a gratificação que irá entrar no bolso de João é a mesma que irá entrar no bolso de José? Não. Ambos querem gratificações da mesma natureza, mas a gratificação de um é de um, vai enriquecer aquele um; a gratificação do outro, é do outro, irá aumentar o patrimônio jurídico daquele outro. E a causa de pedir? João diz: “Sou servidor público estadual, encontro-me na situação jurídica X, em decorrência do que tenho direito à determinada coisa - a gratificação”. Situação de José: “Sou servidor público estadual, encontro-me na situação jurídica X, similar à de João, e tenho direito à gratificação”. A isto se dá o nome de afinidade por ponto comum de fato ou de direito. A isto não se dá o nome de conexão, há aí uma mera afinidade por ponto comum de fato ou de direito. Pois, dali jamais derivarão provimentos contraditórios. Dali pode até derivar a ocorrência de provimentos logicamente incompatíveis, mas não de provimentos incompatíveis praticamente. Há uma mera afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito. A afinidade não se confunde com identidade, as situações são afins, não são idênticas.

Conclusão: mesmo que a causa de pedir seja a mesma, não é possível falar em conexão, se não há possibilidade de decisões contraditórias, fala-se neste caso em afinidade de fato ou de direito. Se há uma afinidade de fato ou direito não há autorização para a reunião do processo. Neste exemplo dado, não há possibilidade de decisões contraditórias e como não há este risco, se modificássemos a competência de um dos juízos, estaríamos violando o princípio do juiz natural a toa.

CONTINÊNCIA – Resolveu gastar um artigo do código sem ter necessidade. É uma conexão mais qualificada.

Art. 104. Dá-se a continência entre duas ou mais ações sempre que há identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o objeto de uma, por ser mais amplo, abrange o das outras.

Percebam: quando o legislador diz que há identidade de causa de pedir, indubitavelmente, ele me jogou na vala comum da conexão. Mas, na verdade, o que ele está realmente querendo dizer é que quando essa conexão tiver essa característica a mais, ou seja, a identidade da causa de pedir + a identidade de partes + o

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pedido de uma parte abrangendo o das demais, haverá a chamada continência. Atenção! Os pedidos não podem ser os mesmos, pois se eles forem, juntamente com a identidade de partes e de causa de pedir, estaremos diante de demandas idênticas, e não conexas.

EXEMPLO - Uma empresa sofre uma autuação fiscal e irresigna-se com a autuação que lhe foi imposta. Entende a empresa que não poderia sofrer a cobrança daquele tributo, que lhe está sendo imposto, porque ela não desenvolve nenhuma atividade que seja subsumível à hipótese de incidência do tributo. A empresa, então, vai a juízo, propõe uma demanda para ver desconstituído aquele ato administrativo, tendo em vista que nunca praticou nenhum ato que possa se subsumir à hipótese de incidência do tributo. “Sou apenas uma empresa que prestadora de serviços X, eu não industrializo nada, eu não tenho de pagar IPI, eu apenas presto serviço. É pelo fato de não existir entre mim, parte autora, e o fisco, que está cobrando o IPI, uma relação jurídica de natureza tributária, eu não posso ser compelido a pagar esse tributo. Por isso, peço que seja desconstituído o auto de infração que foi lavrado”. Vamos imaginar agora, que aquela empresa constate que aquela conduta do fisco passou a ser uma conduta generalizada e ela passou a sofrer outras autuações. A empresa, então, decide não mais se defender contra cada auto de infração, vai propor uma demanda para pedir ao juiz que declare a inexistência de relação jurídica de natureza tributaria, de modo que possa impedir que seja cobrado da empresa o IPI.

A empresa não quer mais discutir se o auto de infração X ou Y é procedente. Ela quer, agora, um provimento generalizado que declare inexistência de relação jurídica de direito material entre a empresa , e o fisco – União -, de sorte que, inexistindo relação jurídica de direito material, não poderá a União, cobrar da empresa, a qualquer título, o tributo.

Na primeira demanda - que tem como objeto a desconstituição do auto de infração: quem é a parte autora? A empresa. A ré? União. Qual o foi o fundamento do pedido? Inexiste relação jurídica de direito material entre a empresa e a União, pois a empresa não pratica qualquer ato que lhe subsuma à hipótese de cobrança do tributo do IPI . Qual foi o pedido? Desconstituir o auto de infração. Na segunda demanda. Quem é parte autora? A empresa. A ré? A União. A causa de pedir? A mesma da primeira – “não pratico qualquer ato (...), por isso não há relação jurídica entre a mim e a União.” Qual o pedido? Declarar, por sentença, a inexistência da relação jurídica.

Indaga-se: o pedido da segunda demanda abrange ou não abrange o pedido da primeira demanda? Sim. Estamos aí diante de um caso claro de continência.

Conclui-se, não muda nada na prática. Conexão e continência geram os mesmos efeitos: a reunião dos processos para julgamento simultâneo.

OBS.: A conexão pode tornar competente, juiz relativamente incompetente. Mas a conexão não tem possibilidade de tornar competente, quem é incompetente absolutamente.

ATENÇÃO! Eu não falei que a conexão só é cabível quando houver risco de decisões contraditórias. Eu disse que a conexão capaz de produzir o efeito da reunião dos processos para julgamento simultâneo é a conexão entre feitos da qual se extrai risco de decisões contraditórias . Repetindo:

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a simples conexão prevista na lei não deixa de ser conexão, uma vez que o legislador diz que ali há uma conexão. Só que, para que se extraia dessa conexão o efeito da reunião dos processos conexos, é preciso que exista o risco de que naqueles processos sejam proferidas decisões contraditórias. Caso contrário, eles não deixarão de ser conexos, mas essa conexão não irá gerar a reunião dos processos para julgamento simultâneo.

PRORROGAÇÃO DA COMPETÊNCIA

Para pensarmos em prorrogação teremos que trabalhar com a competência relativa. Ela pode se dar de três formas:

1) PRORROGAÇÃO VOLUNTÁRIA TÁCITA - Salomão afirma que já aludiu à expressão “prorrogação de competência”, quando falou da incompetência relativa, nas situações em que a parte incumbida de oferecer a exceção de incompetência não o faz, no prazo de 15 dias a que alude o art.305, CPC. Nesse caso, aquele juízo que não teria competência para apreciar aquela causa, tem a sua competência prorrogada para apreciar aquela causa. Esse é um tipo de prorrogação da competência, chamada de prorrogação voluntária tácita, por que decorreu de um não-ato, no caso o não oferecimento da exceção de incompetência no prazo estabelecido , um ato que a parte ré resolveu não praticar. Trata-se de uma concordância tácita, manifestada pelo silêncio, voluntariamente.

2) PRORROGAÇÃO VOLUNTÁRIA EXPRESSA - Se dá quando duas ou mais pessoas resolvem eleger determinado juízo para processar e julgar a causa decorrente de um eventual litígio que venha, entre elas, a se instalar. É o foro de eleição! Essa prorrogação se dá, portanto, quando duas ou mais pessoas resolvem realizar um negócio jurídico, por meio do qual elegem um foro, que será o foro competente para apreciar eventual questão que venha a ocorrer, em decorrência do negócio jurídico entre eles celebrado. Não pode haver prorrogação voluntária expressa depois de instalado o conflito, por exemplo: “Já que estamos brigando entre nós, vamos escolher o juiz X para puder resolver o nosso problema.” Não pode. Para que haja cláusula de eleição, para que haja prorrogação voluntária expressa é preciso:

a) Que se trate de caso em que eu possa escolher o juízo que seja competente ou que, não sendo, a incompetência seja relativa. Por exemplo: se eu tivesse que aplicar normas comuns de competência, o Juízo competente seria o da Comarca de Irecê, no entanto, o contrato nosso prevê que, em havendo problemas, a causa será julgada por um Juízo de Direito da Comarca de Feira de Santana. O Juízo de Direito da Comarca de Feira de Santana não seria o Juízo competente, se fôssemos aplicar as normas comuns de competência; mas, a incompetência desse Juízo de Direito da Comarca de FSA seria relativa e, por conta disso, nós, que vamos celebrar o contrato, podemos fazer constar no nosso contrato que, em caso de haver questões decorrentes do contrato, fica eleito o foro da Comarca de FSA para a resolução do assunto. O Juízo de Direito da Comarca de FSA não teria competência para julgar, mas a sua incompetência é relativa e, por ser incompetência

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relativa, eu posso elegê-lo. Com isso, eu prorroguei, voluntária e expressamente, a competência do Juízo de Direito da Comarca de FSA.

Há quem queira colocar um crivo nisso para dizer que o caso, em verdade, não é de prorrogação voluntária expressa, mas de derrogação da competência do Juízo de Direito de Irecê. É a mesma coisa, não é? Sim. São as duas faces da mesma moeda. No momento em que eu disse que a causa que originariamente seria julgada pelo Juízo de Direito da Comarca de Irecê, será julgada pelo Juízo de Direito da Comarca de FSA, eu quis dizer que, de um lado, prorroguei a competência do Juízo de Direito da Comarca de FSA e derroguei, de outro lado, a competência do Juízo de Direito da Comarca de Irecê.

Portanto, as expressões, a rigor, “prorrogação voluntária expressa” e “derrogação de competência” terminam sendo sinônimas, não passando de faces da mesma moeda. Então, para que eu prorrogue a competência, primeiro, é preciso que o Juízo eleito, ou seja, o foro de eleição tenha competência relativa, absoluta jamais.

b) Não se pode ter o litígio já instalado. Quando o contrato é celebrado não há litígio instalado, mas sim há uma congruência de vontades; essa congruência de vontades é que faz gerar, inclusive, uma das manifestações dessa consonância de vontades, qual seja, a eleição de um foro da vontade de ambos.

3) PRORROGAÇÃO LEGAL DA COMPETÊNCIA - A prorrogação legal derivaria de situações impostas pelo legislador. O legislador diz assim: “O Juiz de foro competência para julgar a causa principal também é competente para julgar a causa acessória.”. Por exemplo, se você quiser a adoção de uma medida acautelatória, e olhar somente para ela, você dirá: “Competente para julgar essa causa é o Juízo X, situado em tal lugar.”. Mas, se você observar a ação principal, a que vai ser proposta ainda, e olhar somente para ela, você dirá: “Competente para julgar essa causa é o Juízo Y.”. Então diz o legislador que, nesses casos, o competente para o julgamento da ação acessória será o Juízo que for o competente para o julgamento da ação da demanda principal.

CPC, art. 108. A ação acessória será proposta perante o juiz competente para a ação principal.

CPC, art. 109. O juiz da causa principal é também competente para a reconvenção, a ação declaratória incidente, as ações de garantia e outras que respeitam ao terceiro interveniente.

CPC, art. 800. As medidas cautelares serão requeridas ao juiz da causa; e, quando preparatórias, ao juiz competente para conhecer da ação principal.

OBS.: A cláusula de eleição de foro também é chamada de cláusula de derrogação de competência. Pois, ao prorrogar a competência de um juízo, derroga-se a de outro.

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DECLARAÇÃO DE INCOMPETÊNCIA

Se se tratar de competência absoluta, o juiz pode declarar sua competência de ofício ou por provocação da parte, ordenando que os autos sejam enviados ao autos para o juízo competente, que deliberará a respeito dos atos praticados .

Se for incompetência relativa o juiz só poderá se declarar incompetente nos atos da exceção de incompetência, se uma das partes interpor esta peça específica.

Via de regra, apenas o réu pode interpor esta peça, pois há uma preclusão logica para o autor. Mas não podemos descartar a possibilidade de por conta de uma reorganização judiciária, a ação venha a ser proposta num juízo relativamente incompetente.

EFEITOS DA DECLARAÇÃO DA INCOMPETENCIA – Se for relativa não resulta nada. Se for absoluta resulta na invalidade dos atos decisórios que foram praticados.

Pode resultar a extinção do processo sem a análise do mérito, na incompetência territorial (relativa), na lei dos juizados, 9099, art. 51.

Incompetência internacional. Seu reconhecimento resulta na extinção do processo, não se manda os autos para o juiz estrangeiro.

PERPETUAÇÃO DA JURISDIÇÃO

A rigor, em verdade, não deveria ser usada a expressão “perpetuação da jurisdição” e, sim, “perpetuação da competência”, porque estamos tratando de competência, e jurisdição é coisa distinta. Vocês vão encontrar no art. 87 do CPC a seguinte norma:

CPC, Art. 87. Determina-se a competência no momento em que a ação é proposta. São irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a competência em razão da matéria ou da hierarquia.

O que seria competência em razão da hierarquia? Quando estudamos os critérios determinativos da competência, falamos da competência em razão da hierarquia? O legislador está aludindo a uma competência funcional vertical, usou apenas uma expressa imprópria. Até porque não existe hierarquia entre órgãos julgadores, cada órgão julgador julga de acordo com o seu livre convencimento. O outro pode reformar, mas não pode obrigar o de baixo a julgar como ele quer que seja julgado.

Bom, então, o que é que essa norma do art.87, CPC quer dizer? Ela quer dizer que uma vez proposta a demanda, é aquele Juízo o competente, e acabou a conversa. Situações posteriores que venham a, em tese, alterar a competência, não se aplicarão para aquela demanda.

EXEMPLO - o foro competente é o da mulher para as causas que versem sobre o casamento, de acordo com o art. 100, I, CPC. Maria conheceu José, casou-se com José. José saía todo dia para trabalhar e Maria ficava em casa. Vizinho de Maria, tinha João, que não trabalhava. João começou a

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cantar Maria, se encantou com Maria. Resolveram ter algo entre si e resolveram fugir, foram para Manaus. José ficou abandonado em Salvador, quer se separar de Maria, que agora está em Manaus; José terá que propor a sua ação em Manaus, foro de Maria. Mas José é um itinerante, tem sangue cigano, não para em lugar nenhum, resolveu se mudar para o Amapá. E ai? José, que propôs ação em Manaus terá que agora pegar aquele processo e pedir que seja remetido para o Amapá? Não. Ação foi proposta em Manaus, porque, na época, o foro competente era Manaus e lá em Manaus vai continuar, independentemente de José haver mudado de cidade. Portanto, perpetua-se a competência.

EXCEÇÕES A REGRA

a) Agora, o legislador traz exceções, ele diz assim: “salvo quando suprimirem o órgão judiciário.” = se acabou o órgão judiciário. Por exemplo, o TJ-BA tinha, como um dos seus órgãos fracionários, um órgão chamado de Câmara Especial para julgamento de Prefeitos, etc. Recentemente, com a lei nova de organização judiciária, extingui-se aquele órgão chamado de Câmara Especial. Com a extinção da Câmara Especial, os processos que lá estavam não vão poder continuar lá, têm que ser agora redistribuídos, como foram, obviamente; tem que ir para o outro órgão que absorveu as atribuições daquele órgão jurisdicional que foi extinto, não há novidade nisso.

Ou seja, não faria sentido que este órgão não continuasse existindo, em detrimento da lei que o extinguiu, até que todos os processos que estavam lá fossem julgados.

b) O que eu quero discutir com vocês é a etapa seguinte da norma, que diz o seguinte: “ou alterarem a competência em razão da matéria ou da hierarquia.”. O critério em relação à matéria e o critério funcional vertical são absolutos. E o critério em razão da pessoa, que também absoluto? Entra ou não entra na interpretação deste dispositivo? Entra! Há quem diga que não, a maioria diz que sim. Mas, por quê? O que se interpreta aí é que o legislador disse o seguinte: “a perpetuação da competência se dará sempre, exceto se houver: 1) supressão de órgão judiciário, 2) se for alterada a competência com base em critério absoluto.”. Essa é a melhor interpretação. Dos critérios absolutos ele fez referencia a dois, quais sejam: em razão da matéria e em razão de critério funcional vertical. Mas, também vale funcional horizontal e em razão da pessoa. É a melhor interpretação a ser dada.

Aonde vemos exemplos claros disso? Nas Varas da Justiça Estadual, em que a movimentação é pequena nesse aspecto, não se vê com freqüência. Mas vamos imaginar o seguinte: Suponha que entenda o legislador em criar uma vara aqui em Salvador específica para o julgamento de feitos de falência. Esta Vara será provida por um juiz, por servidores, móveis, equipamentos, computadores. Esta vara ficará esperando que entre o primeiro feito de falência para poder ir para lá, o segundo feito de falência para ir pra lá? Não ! Ou pegará todos os processos de falência existentes nas atuais varas cíveis e encaminhar para ela? Claro! Ou seja, foi criado um órgão julgador com competência absoluta em razão da matéria e, por conta disso, não se opera aí a chamada perpetuação da competência, pois em razão da matéria houve alteração.

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A mesma coisa na Justiça Federal. Criaram Varas de Execução Fiscal, há algum tempo atrás; de acordo com o art. 87, CPC, os processos sob competência das varas “gerais” foram mandados para as varas de execução. Foram criadas Varas Criminais, de modo que os feitos criminais foram para lá mandados. Foram criados Juizados Especiais: feitos de até determinado valor foram mandados para lá.

03.04.12

UNIDADE 2

DIREITO DE AÇÃO

NATUREZA JURÍDICA DO DIREITO DE AÇÃO – O direito de ação corresponde a outra face da jurisdição. Veja só: vimos que a jurisdição é a atividade estatal que consiste em dizes no caso concreto qual o direito objetivo a ser aplicado. Vimos também que o Estado monopolizou a atividade jurisdicional, obrigando a todos irem até ele para resolver seus conflitos quando não houvesse possibilidade de composição. Ao fazer isto, o Estado então criou um direito para todos que corresponde a um dever para ele. Todos tem o direito de acionar o Estado para compor seus conflitos de interesses, e este não pode simplesmente não responder ao provimento que lhe está sendo requerido. Ele é obrigado a responder.

Por isso, se diz que o direito de ação é um direito subjetivo público. Pois, é o direito de todos os cidadãos que é exercido contra o Estado.

Assim, o direito de ação consiste no direito de provocar a atuação da atividade jurisdicional. Este direito se materializa no ato de propositura de uma demanda frente ao Estado. E esta demanda é proposta por meio da protocolização da petição inicial. Por ser a peça que fara com que a máquina estatal inicie as suas atividades jurisdicionais, por isso se chama de petição inicial.

Note-se que o direito de ação não é exercitado contra o futuro réu da ação quando e costuma dizer: “A propôs uma demanda contra B”. Na verdade, o que é correto dizer é que A propôs uma demanda contra o Estado com vistas a obter um provimento jurisdicional em face de B.

Jurisdição = Poder-dever. De um lado o dever de responder do outro o poder de dizer o direito de dizer o direito objetivo no caso concreto.

AUTONOMIA DO DIREITO DE AÇÃO - Constatamos, assim que não existe um atrelamento definitivo, insolúvel, entre o direito de ação e o direito material. Isto é, há uma autonomia entre o direito de ação e o direito material alegado pelo o autor. Percebam: O que é o direito de ação? É o

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direito público subjetivo de fazer com que o Estado empregue a atividade jurisdicional; portanto, fazer com que o Estado diga qual o direito objetivo que nesta lide, em que eu me envolvi, deve ser aplicado. Mas, eu não estou com isso dizendo que quem exercita esse direito de ação tem o direito de obter do Estado uma resposta do jeito que ele quer. Eu disse isso? Não. Eu disse que o direito de ação é o direito de fazer com que o Estado componha a lide, mesmo que o Estado diga: “O senhor não tem razão! O seu pedido deve ser rejeitado!” ou “O caso que você me trouxe, em verdade, é um caso em que você se comportou indevidamente”. Essa conclusão só ocorreu na ultima fase do estudo do direito processual.

A primeira fase do direito processual, os praxistas consideravam que direito material e direito processual eram a mesma coisa. O direito processual seria o direito material reagindo a violação ou ameaça de violação. Mas ai todas as vezes que eu dissesse que o direito material não existe, o direito de ação nunca existiu. Mas como engar que o Estado não foi provocado.

Por conta desta conclusão surgiu a segunda fase do direito processual, a fase autonomista. Excessivamente autonomista. O direito processual ganhou foros de um crescimento exagerado dos valores do processo a ponto de em certos momento chegar a um nível de apuramento técnico que exigia-se muito da forma em detrimento do conteúdo.

Na terceira fase, chamada de instrumentalista, houve uma aproximação do direito processual do material, com o reconhecimento da função instrumental do processo em relação ao direito material. Autonomia existe, mas há a consciência que o direito processual existe em função do direito material. Uma função instrumental.

Na quarta fase, chamada de neoprocessualismo, ou de formalismo valorativo, em que a instrumentalidade processual deve ser vista a luz do conjunto normativo máximo previsto na CF.

ELEMENTOS DA DEMANDA

PARTES - Para que eu tenha uma demanda, é preciso que existam partes (no plural)! Eu não posso ter uma demanda sem que exista alguém que proponha a demanda e sem que exista a pessoa em relação a quem foi formulado o pedido, frente ao Poder Judiciário, o pedido respectivo, à outra parte. Tenho que ter partes.

Teremos, então, sempre uma parte autora, aquela que comparece em juízo, aquela que provoca a máquina estatal; teremos sempre uma pessoa que afirma ser titular do direito juridicamente protegido frente a outro, e por estar encontrando neste outro uma resistência (que não pode ser removida pelo exercício das suas próprias forças), resolve, então, provocar o Poder Judiciário, para que este resolva o obstáculo que ela – quem provocou o Estado - encontrou para que tenha acesso ao bem da vida. A parte autora atribui à outra pessoa, a parte ré, a responsabilidade pelas dificuldades, pelos obstáculos existentes para que ela, a parte autora, tenha acesso ao bem da vida. Terei sempre, pois, duas partes. A parte ré é quem sofrerá eventualmente as consequências do provimento judicial.

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Quem comparece em juízo, sempre comparece em nome próprio, para defender seus próprios interesses. Ninguém comparece em juízo para defender direitos e interesses dos outros . José pode propor demanda para defender os seus direitos que se refere ao crédito que ele reputa ter frente a Antônio? Claro! Ele vai propor a demanda dele frente ao Poder Judiciário para obter o crédito que afirma a possuir junto a Antonio. E João, amigo de José, vendo que José está sofrendo porque Antonio não quer pagar ao seu amigo, pode propor a demanda para defender os interesses de José, que não se sentiu animado a cobrar o dinheiro de Antônio? Não! Somente pode propor a demanda, em regra, o próprio titular do direito. A regra é essa, cada um cuida de defender seus próprios interesses. É por isso que há uma vedação expressa no art. 6° do CPC:

CPC, Art. 6°. Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei.

A regra, portanto, é essa: a ninguém é dado comparecer em juízo para defender direito e interesses que não são seus. Mas, existem dois casos especiais: representação e substituição processual.

Obs.: Quando há o instituto da confusão, isto é, quando o autor se confunde com o réu, por exemplo, quando duas empresas litigam e uma compra a outra, deixa de haver o elemento PARTES, pessoas distintas. Dessa forma, deixa de estar caracterizada uma demanda. Perde, portanto, todo o sentido dar prosseguimento ao processo, por isso dispõe o art. 267, X do CPC:

Art. 267, X - Extingue-se o processo, sem resolução de mérito, quando ocorrer confusão entre autor e réu.

OBS.: Mandado de segurança. A parte ré não é a autoridade impetrada, empregado do Estado que praticou o ato combatido. O réu é a pessoa jurídica a quem a autoridade está vinculada.

PEDIDO - Imagine que alguém se sinta vítima de um evento danoso no seu patrimônio e vá postular uma indenização. O autor, então, pede ao juiz que se imponha obrigação ao réu de pagar a ele – autor -, o valor de 50 mil reais, baseada em ato ilícito praticado pelo réu que o obrigou a ir ao Judiciário. Vamos nos atentar à parte final dessa situação, que é o pedido: “Peço a Vossa Excelência que imponha ao réu a obrigação de pagar ao autor a quantia de R$ 50.000,00”.

A petição inicial está completa, está perfeita; o juiz manda citar o réu; o réu apresenta contestação (a depender do conteúdo da contestação, é possível que o autor se manifeste); inicia a fase de instrução, ouve testemunhas e, se for o caso, faz perícia; depois, alegações finais das partes. Ao final, o juiz profere a sentença. O juiz constata que tudo quanto o autor diz aconteceu e considera o pedido do autor acolhido. Repetindo: Qual foi o pedido do autor? “Peço a Vossa Excelência que imponha ao réu a obrigação de pagar ao autor a quantia de R$ 50.000,00”. O juiz vai proferir a sentença, fundamenta adequadamente, e diz que acolhe o pedido, para o fim de impor ao réu a pagar ao autor a quantia de R$50.000,00.

Pergunta: Tudo que o autor pediu obteve? Tudo que pediu obteve. Ele pediu a Vossa Excelência que impunha ao réu a obrigação de pagar ao autor a quantia de R$ 50.000,00. Mas, será que ele

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quer isso mesmo? Será que ele quer que o juiz diga que ele tem direito aos R$ 50.000,00 ou ele quer os próprios R$50.000,00? Ele quer os próprios R$50.000,00. Ora, daí a gente conclui que há uma situação em que a gente verifica que há uma pretensão imediata. Um pedido imediato. E esse pedido imediato está voltado para a obtenção de um provimento jurisdicional. Mas, por trás daquilo, está um pedido que, em verdade, é mediato. Há uma pretensão mediata, um pedido mediato. Essa pessoa, que ao ter postulado, ganha um provimento jurisdicional que a assegura, reconhece a ele esses R$50.000,00, ele quer os próprios R$50.000,00, ou seja, ele quer o bem da vida.

Pedido imediato – provimento jurisdicional.

Pedido mediato – bem da vida almejado.

Há situações em que estes dois pedidos se fundem. Isto ocorre, geralmente, em provimentos jurisdicionais declaratórios ou constitutivos (positivos, negativos ou modificativos).

Algumas vezes, quando se trata de provimentos declaratórios ou constitutivos o bem da vida almejado é a própria declaração, não sendo necessário qualquer execução.

Por exemplo, no caso que alguém busca a declaração de negativa relação de paternidade. O bem da vida é a declaração de que ele não é pai. Neste caso não é necessário a prática de atos executivos. Não há o que executar.

Mas não se pode dizer que os provimentos de natureza meramente declaratória não podem ser executados. Em certos casos, se extrai daquela declaração a obrigação de fazer ou não. Nesse exemplo, após a declaração, não se dá a uma das partes, principalmente o réu, de sair dizendo por ai que o autor é seu pai. Se impõe ao réu a obrigação de não fazer, através de multa diária, por exemplo.

CAUSA DE PEDIR - A causa de pedir, como o nome diz, é a causa em que se embasa o pedido, é o fundamento no qual o pedido está embasado. Estes fundamentos são fundamentos fáticos. A causa de pedir diz respeito a fundamentos fáticos, corresponde à narrativa fática, não tem haver com fundamentação jurídica.

A causa de pedir se divide, ainda, em CAUSA DE PEDIR PRÓXIMA e REMOTA. Os fatos que são mais remotos, são fatos que, a rigor, não geraram a própria propositura da demanda. Os fatos que são mais próximos são exatamente aqueles fatos que conduziram o autor a bater na porta do Poder Judiciário.

EXEMPLO - “o autor celebrou com o réu contrato de locação tendo por objeto imóvel situado em tal lugar. Autor e réu convieram que fosse pago a título de aluguel a quantia de R$ 10.000,00. O réu vem a adimplir com suas obrigações até o mês de agosto de 2008. Todavia, quanto ao aluguel do mês de setembro de 2008 o réu não cuidou de adimplir com a obrigação respectiva; em razão do que (...)” – postula-se agora o pedido de despejo. Qual a narrativa fática? “Celebrou um contrato de

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locação e no contrato de locação ficou avençado que seria pago um aluguel mensal na quantia de R$10.000,00 - até aí, não tem lide, perceberam? - “Todavia, vencido o aluguel do mês de Setembro - aí o pau começou a quebrar”. Aí teremos a causa de pedir próxima, o motivo que conduziu o autor a bater na porta do poder judiciário.

O legislador faz alusão à causa de pedir em seu art. 282:

CPC, Art.282, III. A petição inicial indicará os fatos e os fundamentos jurídicos do pedido.

Este dispositivo, porém, deve ser interpretado da seguinte forma: os fatos a causa de pedir remota; os fundamentos jurídicos a causa de pedir próxima. Por que o legislador chamou de “fundamentos jurídicos” a causa de pedir próxima? Porque foi com base nesses fatos que o autor teve que bater à porta do Poder Judiciário. Essa é a fundamentação que faz com que o autor compareça em juízo. O legislador entendeu de chamar isso de fundamentos jurídicos. Não se confunde com fundamentação legal. Fundamentação legal é o mero raciocínio teórico que o autor postula. O que importa para o juiz? A narrativa fática em cotejo com o pedido que lhe foi formulado.

OBS.: Há doutrinadores, inclusive Ada Pellegrini, que vinculam a causa de pedir com a fundamentação legal. Esta linha de raciocínio dá um passo muito perigoso no que toca a “fundamentos jurídicos” no sentido de conduzir o leitor a acreditar que a causa de pedir é integrada também pela fundamentação legal. E não é. O juiz, para acolher o pedido, ele aplicará o direito que for o direito aplicável. O juiz, para acolher o pedido, não está vinculado ao raciocínio jurídico que o autor fez. O juiz se vincula aos fatos e ao pedido.

A causa de pedir remota é exigível que assim seja para que o juiz aprecie adequadamente o pedido. Ao exigir que seja demonstrada a causa de remota e próxima se afiliou a teoria da substanciação que se distingue da teoria da individualização, que exige apenas a exposição da causa de pedir próximo.

Fundamentação legal é diferente da fundamentação jurídica. A primeira são os dispositivos legais em que aqueles fatos se subsumem. Não é necessário demonstrar isto na petição inicial. Não está o juiz atrelado aos dispositivos legais que o réu ou autor invocou nas suas respectivas iniciais.

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Só há demanda se identificar: partes, pedido e causa de pedir. Estes são os elementos da demanda. Estes elementos integram a estrutura ôntica da demanda. Se houver uma alteração desses elementos, se tratará de outra demanda.

Por isso que o estado impõe restrições para haver mudança nos elementos da demanda. Ele não admite que ocorram tais mudanças livremente.

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Para comparar duas demandas, temos que comparar seus elementos. Não se compara o tipo de procedimento utilizado para o julgamento da demanda. É com base nisso que há litispendência, coisa julgada, de conexão etc. Qualquer alegação deste tipo tenho que fazer com base nos elementos da demanda.

O ato de propositura da demanda tem que ter sido praticado com regularidade. Isto é, temos que agregar qualidades aos elementos da demanda. A isso se dá o nome de condições de ação. Trataremos disso na próxima aula.

10.04.12

Exercício do direito de ação através da propositura da demanda, que por sua vez se materializa por meio da petição inicial.

CONDIÇÕES DA AÇÃO

Para identificar que uma demanda está sendo proposta é preciso que eu me situe em relação aos seus elementos. É necessário identificar pedido, causa de pedir e partes. Mas para que eu diga que há regularidade no exercício do direito de ação, então é preciso adicionar qualidades a seus elementos. As partes, além de existirem, tem que ser legítimas. Tem que ser possível extrair do elemento causa de pedir o interesse pedir. E, por último o pedido tem que ser juridicamente possível.

Esta teoria é originária de um processualista italiano que veio ao Brasil, chamado de Liebmann. Dizia Liebman: “O juízo de admissibilidade do processo passa pelo exame não apenas dos pressupostos (o quanto necessário para que o procedimento exista), mas também disso que passou a ser rotulado de ‘condições da ação’. Para que o direito de ação esteja sendo regularmente exercido”. Esta teoria, contudo apresenta três pontos controversos:

As condições da ação de fato existem?

Condições ou requisitos?

Quantos requisitos existem?

Quem diz que as condições da ação não existem, obviamente, devem dizer: “Não existem porque, em verdade, as condições da ação se confundem com o mérito”. E quem defende a existência dessas condições devem responder, dizendo que “As condições da ação não se confundem com o mérito, porque o mérito é diferente das condições da ação”. O mérito como se sabe é o cotejo entre a causa de pedir e o cotejo. Para estes doutrinadores as condições de ação fariam parte do juízo prévio de admissibilidade do mérito, que precederia obviamente o exame do mérito.

Segundo Salomão, se estas condições de fato fazem parte desse juízo de admissibilidade, elas estão muito próximas do mérito, razão pela qual temos que ter muito cuidado ao analisa-las.

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Não bastasse essa discussão quanto a se existem ou não, a gente esbarra num outro problema: o rótulo. Pelo o que já foi dito aqui, pressuposto é tudo quanto precisa existir para que a coisa possa ser a coisa; requisito é tudo quanto precisa estar presente para que a coisa tenha validade; condição é tudo o que eu preciso que aconteça para que a coisa produza seus efeitos. Pressuposto está no plano da existência, requisito no plano da validade e condição no plano da eficácia.

Conclusão: condições da ação, em verdade, não são condições, mas sim são requisitos. Lembrar sempre disso: “requisitos da ação”. Condições da ação são, em verdade, requisitos da demanda, requisitos para o regular exercício do direito de ação.

OBS.: Plano da existência, da validade e da eficácia do ato. Esses planos se intercomunicam, interrelacionam. Em linhas gerais os atos jurídicos a produzir efeitos são os atos válidos, mas isto não impede que o sistema jurídico possa atribuir efeitos a um ato inválido. Há atos jurídicos que se submetem a uma condição ou a um termo. A ideia de condição está atrelada a eficácia do ato e não a validade. O que se chama condições da ação, não são, são requisitos para o exercício regular do direito de ação. O nome condições da ação é inadequado, malgrado, o legislador o escolheu, bem como a doutrina a usa. Então, todas as vezes que pensarmos em condições de ação, estamos pensando em requisitos para que o direito de ação está sendo exercitado de maneira regular.

Um outro problema, quais são esses requisitos? Seriam aqueles que nos referimos aqui: legitimidade ad causam, possibilidade jurídica e interesse de agir? Vamos ao art. 3° do CPC:

CPC, Art 3º: Para propor e contestar ações, é preciso ter legitimidade e interesse.

Percebam que neste dispositivo, não há referência à possibilidade jurídica do pedido. Mas, observando o artigo 267, VI, do CPC diz o seguinte:

CPC, Art. 267 - Extingue-se o processo, sem resolução de mérito:

(...)

VI - quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual.

Em um pedaço do Código, há alusão a 2 condições - que significa, na verdade, requisitos. No outro pedaço do Código, há alusão a 3 condições - que são requisitos. Essa tal condição “possibilidade jurídica do pedido” é a mais controvertida de todos os requisitos. Por quê? O próprio Liebman fez uma revisão da sua obra, e retirou essa condição da ação, passando a tratar apenas de duas. O maior exemplo que ele dava de impossibilidade jurídica do pedido era alguém ir a juízo e formular o pedido de divórcio, quando a Constituição Italiana dizia que o casamento era indissolúvel; portanto seria um pedido juridicamente impossível. Mas, com a morte desse dispositivo na Constituição da Itália, que passou a permitir o divórcio, acabou o exemplo de Liebman, então ele teve que rever a sua posição.

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POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO – O pedido deve ser juridicamente possível, segundo a doutrina de Liebmann, para que o direito de ação seja regularmente exercido. O pedido juridicamente possível seria aquele que abstratamente considerado se inclui dentre as pretensões reguladas pelo direito.

Para analisar se o pedido é juridicamente possível, excluímos todo o resto. Não importa quem pede, a quem pede, assim como não importa quais os fundamentos do pedido. Interessa apenas o pedido. Esse é o raciocínio abstrato, não se leva em conta nada mais, além do pedido. Então, como fico sabendo se o pedido é juridicamente possível ou impossível? Eu devo ler somente esse pedido, e perguntar: há previsão no ordenamento jurídico de pedido dessa natureza? Se houver previsão no ordenamento jurídico de um pedido dessa natureza, estarei diante de um pedido juridicamente possível. Conclui-se, então, que praticamente todos os pedido terão previsão legal. Se não houver vedação, há previsão!

EXEMPLO PEDIDO JURIDICAMENTE POSSÍVEL - Vamos falar, primeiramente, do maior exemplo dado pela doutrina de pedido juridicamente IMPOSSÍVEL, porém que Salomão utiliza em sala de aula como o maior e mais didático exemplo de um pedido juridicamente POSSÍVEL. Para Cândido Dinamarco e Ada Pellegrini, um exemplo de pedido juridicamente impossível é o pedido de cobrança de dívida de jogo. No entanto, Salomão acredita ser um pedido juridicamente possível . Por quê?

Já foi dito que o mérito é o cotejo entre a causa de pedir e o pedido.

Vamos fazer agora uma petição inicial de uma cobrança de dívida de jogo:

“Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara X. João da Silva, brasileiro, por seu advogado, vem perante Vossa Excelência propor ação de cobrança contra José dos Santos. O autor disputou com o réu 10 partidas de pôquer, com o réu na data tal. Dessas partidas, o autor ganhou 7 delas, do que resultou uma dívida, contraída pelo réu, no valor de 10.000 reais. Malgrado houvesse o réu se comprometido com o pagamento de dívida, este não adimpliu a obrigação assumida, por isso não restando outro meio senão bater às portas do Judiciário para que se imponha ao réu o pagamento da obrigação por ele assumida - causa de pedir. Diante do exposto, pede a vossa excelência que imponha ao réu a obrigação de pagar ao autor a quantia de 10.000 reais – pedido ”. É um pedido juridicamente impossível? Não. Mas por que vamos concluir depois que esse pedido não deve ser acolhido? Por que iremos fazer, posteriormente, o cotejo da causa de pedir com o pedido – estaremos analisando aí o mérito.

Logo, este exemplo não é caso de a petição inicial não ser admitida por ausência de condição da ação, qual seja a impossibilidade jurídica do pedido, pois o pedido NÃO é juridicamente impossível. O que acontece é que a causa de pedir que não é capaz de sustentar o pedido, pois ela cotejada com o pedido levará à conclusão do juiz, através da análise do mérito, de que aquele pedido deve ser rejeitado, mas não a petição ser inadmitida. É só lembrar, sempre, que deve se analisar apenas o pedido, não importa quem pede, a quem pede; importa apenas o quê se pede. Posteriormente à

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análise de o pedido é juridicamente possível ou não, é que se fará um cotejo com a causa de pedir, para que se analise o mérito.

EXEMPLO DE UM PEDIDO JURIDICAMENTE IMPOSSÍVEL: “O autor celebrou com o réu um contrato por meio do qual se comprometeu o autor a pagar o réu a quantia de 50.000 reais em prestações iguais e sucessivas pagas no dia tal, do mês tal. Adimpliu o autor com todas as suas obrigações, todavia, não cumpriu o réu com as suas, pois o réu se comprometeu a, tão logo paga a prestação, no prazo de 5 dias, tomar as diligências para matar fulano de tal, e não matou fulano de tal no prazo. Diante do exposto, peço a Vossa Excelência que imponha ao réu a obrigação de fazer, consistente em matar fulano de tal no período de 5 dias”. É um pedido juridicamente impossível? Sim! Trata-se de um ato ilícito bem evidente; qualquer que seja o pedido obrigando alguém a cometer um ato ilícito (qualquer um), será um pedido juridicamente impossível.

INTERESSE DE AGIR – A expressão interesse de agir quer dizer a utilidade no exercício do direito de ação. Haverá interesse de agir toda vez que me for útil o exercício do direito de ação.

Alguns doutrinadores que acreditam que o interesse utilidade é uma espécie, uma vertente do que é o direito de agir. Porém, para Salomão, interesse de agir utilidade é o gênero de que são espécies o interesse-necessidade e o interesse- adequação.

NECESSIDADE

INTERESSE DE AGIR

(= utilidade) ADEQUAÇÃO

O direito de ação me será útil todas as vezes que houver necessidade de propositura de uma demanda, bem como quando houver adequação da via escolhida.

Haverá necessidade de exercitar o direito de ação, sempre que no caso em tela, houver um conflito intersubjetivo de interesses em relação a um bem da vida específico, qualificado por uma pretensão resistida.

Assim, como não é possível, via de regra, o uso das próprias forças para resolver este conflito, o indivíduo não tem outra escolha, tem, portanto a necessidade de voltar-se para o Estado-Juiz requerendo um provimento jurisdicional que componha esta Lide. Em síntese: haverá necessidade do exercício do interesse de ação sempre que constatarmos a existência de LIDE no caso concreto.

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Em outras palavras: para que se diga que há utilidade no exercício do direito de ação, é porque ou se exercita o direito de ação – propositura da demanda -, ou não se terá, jamais, acesso ao bem da vida pretendido, uma vez que se está sendo oferecida uma resistência que não se pode remover com o uso das próprias forças. Para resolver a lide, deve-se utilizar do Poder Judiciário, e para se utilizar do Poder Judiciário, é preciso exercitar o direito de ação.

Assim, é necessário demonstrar na causa de pedir – percebam o atrelamento à causa de pedir - que está sendo oferecida uma resistência à minha pretensão. Porque se não houver resistência à minha pretensão, ou seja, se for possível ter acesso ao bem da vida independentemente de provocação do Poder Judiciário, nenhuma utilidade há no exercício do direito de ação.

Mas, não basta que o exercício do direito de ação seja necessário, para que haja uma utilidade, é preciso ainda que, ao exercitar o direito de ação, eu o faça, valendo-me da via adequada , valendo-me do instrumento adequado; colocando nas mãos do Poder Judiciário o instrumento próprio para que ele possa conhecer daquele conflito que está sendo exposto. Existem caminhos que não são os adequados.

Alguns instrumentos processuais possuem ritos específicos, de modo que em certas situações a resposta que poria um fim à lide não é possível, pois naquele rito não são permitidos certos atos processuais, impedindo, pois que o magistrado conheça a causa de forma correta, de maneira a possibilitá-lo a dar uma resposta que será útil no sentido de por fim à lide estabelecida.

EXEMPLO 1 - existem pessoas que recebem um auxilio previdenciário, um auxílio-doença, por exemplo. A pessoa diz que está doente - muito comum nos casos de LER, lesão por esforço repetitivo – e que fez o exame junto a médicos peritos do INSS e que esses médicos reconheceram a existência da doença, e que esse beneficio previdenciário vem sendo percebido há dois anos. Sucede que na ultima perícia feita - a perícia é feita periodicamente - o médico do INSS concluiu que aquele quadro de que a pessoa padeceria não existe mais, e que essa pessoa já está habilitada a voltar a atividade profissional dela. A pessoa, então, discorda, dizendo que não está curada ainda, mas o INSS diz que ela está curada, sim. Essa pessoa impetra um mandado de segurança para retornar a atividade. Utilizou-se da via adequada? Não! Porque para se investigar o fato controvertido – a pessoa está curada x não está curada -, não se pode fazê-lo por via documental é preciso uma perícia, porque só o médico pode chegar a uma conclusão se a pessoa está curada ou não.

OBS.: Mandado de segurança é um tipo de demanda que exige a chamada prova pré-constituída; a prova precisa ser documental, não é possível por meio de mandado de segurança, produzir prova pericial, ou produzir prova testemunhal; é preciso prova documental, a prova tem que estar à vista do magistrado documentalmente. E essa prova documental, no mandado de segurança, é um documento em sentido estrito, não vale filmagem, não vale fotografia, é um documento no sentido de papel escrito.

EXEMPLO 2 - não se pode lançar mão de um procedimento cautelar - aquele por meio do qual se objetiva obter uma prestação jurisdicional que tenha por objeto proteger, resguardar, o resultado útil de um processo - para formular um pleito de certificação de direito. Por exemplo, não se pode

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pedir um procedimento cautelar em que o juiz diga que A deve a B quantia de R$10.000,00, pois o procedimento cautelar não serve para isso; procedimento cautelar não foi montado para certificar direitos; o procedimento cautelar foi montado para a adoção de providências acautelatórias do resultado de um outro provimento jurisdicional.

Diante de todo o exposto, conclui-se que há, pois, duas vertentes, no interesse de agir: deve-se examinar o interesse de agir à luz da presença da necessidade e à luz da presença da adequação.

Qual adequação? A adequação da via escolhida pelo autor; o autor deve colocar nas mãos do Poder Judiciário uma via processual que permita ao Estado-Juiz investigar tudo quanto for necessário para que, ao final, se chegue a alguma conclusão quanto a se o pedido deve ser acolhido ou não.

Imaginem os exemplos dados acima, do mandado de segurança relativo ao auxílio-doença, e do mandado de segurança relativo ao concurso público. Se o juiz recebe um mandado de segurança com uma matéria desse tipo, o juiz não terá como investigar o fato, ele não terá como apreciar o fato. O juiz, assim, vai julgar sem a apreciação de mérito o mérito, porque, para se apreciar o mérito, é preciso fazer o cotejo entre o pedido e a causa de pedir. Quanto à causa de pedir, o juiz não poderá investigar, o processo não lhe permite investigar. Conclusão: o juiz não tem como apreciar o mérito. E se o juiz extingue o processo sem exame do mérito, a lide continuará existindo, não sendo útil neste caso o exercício do direito de ação por meio de uma demanda. Assim, falta uma das condições da ação, que é o interesse de agir. Falta o interesse de agir na modalidade interesse-adequação.

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Não necessariamente, a inadequação da via escolhida vai resultar a inadmissibilidade do exame do mérito, extinção do processo sem o exame do mérito por falta de uma das condições da ação. A tendência hoje é do aproveitamento dos atos processuais, conforme o art. 249, §2º do CPC colacionado abaixo. Extrair dos atos processuais o máximo de utilidade possível. O ato proposto é inválido, cuidado, todavia, a circunstância de um ato ser invalido não conduz necessariamente a sua invalidação. Uma coisa é constatar que este ato é invalido, outra coisa é invalidá-lo. Apesar de inválido, é possível que não seja necessário invalidá-lo, em decorrência do princípio do aproveitamento dos atos processuais.

Art. 249. O juiz, ao pronunciar a nulidade, declarará que atos são atingidos, ordenando as providências necessárias, a fim de que sejam repetidos, ou retificados.§ 1º O ato não se repetirá nem se Ihe suprirá a falta quando não prejudicar a parte.§ 2º Quando puder decidir do mérito a favor da parte a quem aproveite a declaração da nulidade, o juiz não a pronunciará nem mandará repetir o ato, ou suprir-lhe a falta.

Havendo inadequação, o juiz deve aproveitar o ato, tanto o quanto possível, determinando ao autor as modificações que forem necessárias para que a ação se torne adequada. A via adequada tem a ver com a forma da forma.

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OBS.: O interesse de agir pode desaparecer no curso do processo. Há situações em que ocorre a perda superveniente do direito de agir. Uma pessoa um pleito administrativo de beneficio penitenciário. É negado, ai a pessoa vai para o Judiciário. Lá na frente tem-se a notícia de que foi concedido a pessoa o benefício, neste caso o processo é extinto pela perda superveniente do direito de agir.

LEGITIMIDADE DAS PARTES – Outra necessidade de raciocínio abstracionista. Para que se examine se as partes são legítimas, deve-se fazer um exame, em verdade, a respeito da narrativa posta em juízo. A depender da narrativa feita pelo autor, sem se importar se o que o autor está dizendo é verdade ou é mentira - apenas se admite, em princípio, como se tudo o quanto está narrado fosse verdadeiro -, deve-se analisar se aquele quadro narrado pelo autor se subsume a uma previsão legal.

EXEMPLO LEGITIMIDADE - A diz que era empregado de B, e que B, como empregadora, o demitiu e não pagou parcelas rescisórias. A ajuíza, com isso, demanda trabalhista e pede que a B seja imposta a obrigação de pagar uma quantia em dinheiro, a título de quanto lhe seja devido de verbas rescisórias. B, o réu, a reclamada, vai contestar e diz que A nunca foi sua empregada. Pergunta: este caso é de legitimidade ou de ilegitimidade? O caso é de legitimidade! Por quê? Não me importa se é verdade ou não, eu preciso assimilar que seja, para chegar a uma conclusão quanto a legitimidade. Qual é a pergunta que eu faço? Quem comparece em juízo dizendo que foi empregado do outro, e outro tendo o demitido, não pagou as verbas rescisórias, pode postular o pagamento de verbas rescisórias? Pode. A questão se A é empregado ou não é matéria de mérito, irá se concluir isso fazendo o cotejo da causa de pedir com o pedido (mérito). Se, depois de analisar o mérito, o juiz concluir que A nunca foi empregado de B, e que nada lhe deve, o pedido de A não vai ser acolhido, resolve-se o mérito.

EXEMPLO ILEGITIMIDADE - caso comum da JF: “O autor circulava com o seu veículo pela rodovia federal X, à época da existência do DNER, quando no km Y se deparou com um enorme buraco na pista, em razão do que não teve tempo para desviar, o carro caiu no buraco, capotou, causou danos ao veículo, causou danos físicos ao autor, que veio a ser submetido a cirurgias, etc. Tudo isso em decorrência do fato de o Departamento Nacional de Estradas e Rodagens não promover a conservação das estradas, tal qual lhe compete” – causa de pedir. “Diante do exposto, pede à Vossa Excelência que imponha à União a obrigação de pagar ao autor a quantia de tantos mil reais a título de indenização”. Não sabe o autor que DNER, malgrado seja um “Departamento”, é uma autarquia, ou seja, tem capacidade jurídica própria, tem patrimônio jurídico próprio, pode demandar e ser demandada. Então, o autor atribuiu, numa outra visão, o tempo inteiro “fatos relativos a José, mas pediu que João lhe pagasse”. Tem cabimento isso? Se ajusta a um modelo legal? Eu posso comparecer em juízo dizendo que X praticou ato lesivo contra o meu patrimônio, mas concluir dizendo que Y vai me indenizar? Não! É um caso típico de ilegitimidade passiva.

Portanto, se for verificado que não há uma pertinência subjetiva entre quem está pedindo e a narrativa feita, estaremos diante de um caso de ilegitimidade ad causam ativa. Se a falta de

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pertinência subjetiva for entre contra quem se está pedindo - em face de quem se está pedindo - e a narrativa feita, estamos diante de um caso de ilegitimidade ad causam passiva.

ATENÇÃO! Em regra as pessoas somente podem ir a juízo postular em NOME PRÓPRIO, DIREITO PRÓPRIO. Em regra, não cabe a ninguém postular em juízo em nome próprio, direito alheio.

CONTUDO, Há situações em que o sistema jurídico permite que alguém compareça em NOME PRÓPRIO para a defesa de DIREITOS E INTERESSES QUE NÃO SÃO SEUS. Quais são esses casos? Legitimação autônoma (=legitimação extraordinária), que são casos de SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL, em que alguém comparece em juízo em nome próprio para defesa de direitos e interesses que não são seus, mas de outra pessoa. Estes são casos em que, se não houvesse a norma legal permissiva, essa pessoa não teria legitimidade ad causam. A legitimidade ad causam deriva do permissivo legal expresso. Por conta da existência da permissão legal é que ela está legitimada. Essa legitimação é, pois, não uma legitimação ordinária, mas uma legitimação extraordinária, para uma situação excepcional.

EXEMPLO - a legitimação do sindicato para a defesa dos direitos e interesses individuais ou coletivos da categoria (art. 8º, III, CF); a legitimação de uma associação civil para a propositura de um mandado de segurança coletivo (art. 5º, inciso LXX, CF); a legitimação do MP para a propositura de certas ações na defesa de direitos coletivos e difusos; a legitimação do cidadão para propor ação popular, mas não é para a defesa dos seus próprios interesses, mas sim para a defesa dos interesses da coletividade. São casos em que o próprio legislador permite que alguém compareça em juízo em nome próprio para a defesa de direitos e interesses que não são seus.

Ao contrário da representação em que a pessoa comparece em juízo em nome alheio, postulando direito alheio, na substituição a parte não será o substituído mas o próprio “substituidor”, apesar do substituído ser titular da relação de direito material que será discutido no processo.

Proxima aula = classificação da ação e relação de subordinação entre questões.

12.04.12

PREJUDICIALIDADE

Para se entender esta matéria temos que ter em mente que durante o processo surgem questões a serem resolvidas. Questões consistem basicamente em pontos controvertidos. Ponto a rigor consiste numa afirmação relevante feita por qualquer das partes. Esta afirmação pode ser implícita como explícita.

Podemos identificar o ponto da competência do juízo, que implicitamente o autor ao dirigir a petição ao juiz destacou, e outro quando celebrou com o réu um contrato, afirmação explícita.

No momento em que o réu lança sobre qualquer desses pontos uma dúvida, uma controvérsia. Surge assim uma questão. Todas as vezes que surgir uma questão no processo, deverá o magistrado sobre ela se debruçar.

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No processo, existem questões da máxima importância (questão principal), bem como questões com importância diminuta. A questão principal corresponde ao pedido, aquela questão que será pelo juiz resolverá, de modo a implicar num potencial de fazer coisa julgada. A resolução dada por um juiz a questão principal poderá vir a ser protegida pela coisa julgada material.

Portanto, num processo sempre haverá uma questão principal, mas poderão existir também várias questões principais, quando múltiplo for o pedido.

Questões incidentais são todas as questões que exigem uma resolução até que a questão principal possa ser resolvida. Resolvendo a questão incidental é que chegarei a uma conclusão em relação a questão principal. A questão incidental, ao ser resolvida, interfere com a resolução da questão principal.

As questões incidentais não são resolvidas na parte dispositiva da sentença, e sim na fundamentação da sentença. A questão principal que será resolvida na parte dispositiva da sentença.

MUDA-SE O ÂNGULO DE VER AS QUESTÕES.

Existe um tipo de questão que exige uma resolução antes das questões que a ele estão vinculados. Há questões que mantem entre si um tipo de relação, e por vezes essa relação é de subordinação, de modo que uma questão se antepõe logicamente a outra. Eu somente posso chegar a outra se primeiro resolver ela. Eu somente posso chegar ao exame do mérito, se eu ultrapassar as questões que foram lançadas no sentido que o mérito não pode ser apreciado. Então, todas as questões de admissibilidade do exame do mérito são questões que precisam ser resolvidas antes das questões de mérito.

Essa relação não se dá apenas entre questões de admissibilidade do exame do mérito e questões do mérito, este tipo de relação também ocorre entre questões de exame de mérito, ou de admissibilidade de exame do mérito.

EXEMPLO – Ao contestar o réu alega que o juízo é absolutamente incompetente, que a ele a parte ré não está legitimada a ocupar o polo passivo da relação processual. Estas duas questões não podem ser resolvidas em qualquer ordem. Primeiro temos que resolver a questão da competência absoluta, se o juiz é absolutamente incompetente ele não poderá decidir sobre a legitimidade das partes. Se decidir primeiro se a parte é legitimada ou não e depois concluir que ele, o juiz, é absolutamente incompetente a decisão em relação a legitimidade das partes será invalidada.

Estas questões guardam entre si uma relação de subordinação. Sendo a questão relativa a competência prévia a questão relativa a legitimidade das partes.

Se houvesse uma questão relativa ao impedimento do juiz, esta se antepõe logicamente a resolução das outras duas. Somente se o juiz não for impedido, ele poderá deliberar sobre a competência do juízo, bem como sobre a legitimidade das partes.

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Outro exemplo é que a questão relativa a prescrição guarda uma relação de subordinação com a questão relativa a existência ou não do direito de indenização. A questão da prescrição já é exame de mérito (art. 269, IV, CPC), e é a questão subordinante. De nada adiante, certificar a existência do direito, mas dizer que não é para pagar, pois a pretensão já está prescrita.

Assim, conclui-se que as questões podem guardar uma relação de subordinação entre si.

QUESTÃO PRÉVIA, SUBORDINANTE, VINCULANTE OU PRIORITÁRIA – é a questão que se antepõe logicamente à resolução da outra.

QUESTÃO SUBORDINADA, SUBMISSA, VINCULADA OU DEPENDENTE - Aquela que sofre a vinculação, que só poderá ser resolvida depois.

EFEITOS DESSA RELAÇÃO DE SUBORDINAÇÃO - Essa relação de subordinação pode gerar efeitos distintos. A depender da resolução que for dada a questão prévia, eu examinarei ou não a questão subordinada. A depender da resolução da questão subordinante, poderá haver o impedimento da resolução da questão subordinada.

EXEMPLO – Se o juiz concluir que não há legitimidade da parte ré, ele extinguirá o processo sem a resolução do mérito. Ele não conhecerá a questão principal suscitada inicialmente pelo o autor. Tem-se um óbice a resolução do mérito.

Se, porém, o juiz decidir pela legitimidade da parte ré, ele poderá decidir da forma que quiser em relação a questão principal situada no mérito.

Assim, CONCLUI-SE: não há qualquer possibilidade da questão subordinante INTERFERIR na resolução da questão subordinada ela pode IMPEDIR o exame, mas ela não poderá intervir neste. Ou ela deixa que a questão subordinada seja examinada, ou ela não deixa.

Isto fica claro entre uma questão de admissibilidade do exame do mérito e de mérito. Mas também é claro entre duas questões de exame do mérito, por exemplo, a questão da prescrição e da existência do direito de indenizar. Se o juiz concluir que a pretensão está prescrita, ele não analisará se existe ou não obrigação de pagar a indenização.

RELAÇÃO DE SUBORDINAÇÃO POR PRELIMINARIEDADE se dá todas as vezes que uma questão se antepuser logicamente a outra com potencial para IMPEDIR o seu exame, e sem qualquer potencial para interferir no seu exame caso ele seja feita, no resultado. Quando nos deparamos com este quadro há uma relação de subordinação por preliminariedade.

Há casos, porém que há questões que guardam relação de subordinação, mas não por preliminariedade. Por exemplo, no caso anteriormente dado, em vez do réu alegar que a pretensão está prescrita, ele alega que o contrato nunca foi celebrado e que, portanto não já dívida. Há questão relativa ter havido ou não a celebração do contrato deve ser resolvida antes da resolução da existência ou não de pagar. Resolva o juiz que o contrato foi celebrado ou não, resolvendo isto

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eu resolverei também a questão subordinada. Afinal, se o contrato não foi celebrado não há dívida, mas se o contrato foi celebrado, certamente há dívida (porque pode ser que tenha outra questão que impeça a existência da dívida).

A questão subordinante neste caso, não tem força para impedir a resolução da outra, esta será examinada. Contudo, ela tem força para interferir na resolução a ser dada. Pois, se eu concluir que não houve a celebração do contrato, eu direcionarei automaticamente meu raciocínio para o entendimento de que não há dívida.

RELAÇÃO DE SUBORDINAÇÃO POR PREJUDICIALIDADE - Todas as vezes que uma questão se antepuser logicamente a outra, com potencial NÃO PARA IMPEDIR seu exame, MAS PARA INTERFERIR no resultado deste, existe estre essas questões uma relação de subordinação por prejudicialidade.

A prejudicialidade pode ser INTERNA ou EXTERNA. A interna ocorre quando a relação de subordinação por prejudicialidade se dá entre questões no mesmo processo. Será externa, porém, se questões que guardam um vínculo de subordinação por prejudicialidade estiverem em demandas distintas. Isto ocorrerá apenas quando a relação de subordinação por prejudicialidade se der entre as demandas principais de cada processo.

EXEMPLO – Uma pessoa discute na vara de família da justiça estadual se mantéu ou não união estável com uma já falecida pessoa. A questão principal do processo gira em torno da existência ou não da união estável. Ao mesmo tempo essa pessoa que afirma ter vivido em união estável com o falecido, demanda na vara de fazenda pública uma pensão por morte, pois ela na qualidade de companheira do falecido servidor, tem direito a esta pensão. A questão principal deste processo é a existência de direito de pensão por morte.

Existe entre essas questões uma relação de subordinação. A questão referente à existência ou não da união estável tem de ser resolvida antes daquela relativa à existência do direito da pensão por morte.

Ter havido ou não ter havido união estável, jamais será fator para impedir o exame da questão do direito de pensão. Ela, contudo poderá interferir no resultado do exame. Não tendo havido união estável ela não terá direito à pensão por morte. Tendo havido união estável ela poderá ter direito à pensão (porque depende de outras coisas também). Então estas demandas há uma conexão por prejudicialidade.

Nestes casos, se não houver outros obstáculos, o desejável é que estes processos sejam reunidos para julgamento simultâneo. Contudo, neste exemplo não há competência absoluta de nenhum dos dois juízos para analisar as duas questões. O juiz de família não tem qualquer competência para examinar a questão do direito ao beneficio da pensão por morte. E o juiz da fazenda não tem qualquer competência para julgar a questão da existência ou não da união estável.

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Assim, não poderão ser reunidos para julgamento instaurando-se um clima de insegurança jurídica. Nesses casos, os atos do processo da questão subordinada serão suspensos, até a questão subordinante seja resolvida.

Para que haja conexão basta que a causa de pedir remota seja igual? E o pedido, basta que o pedido imediato seja igual? A causa de pedir próxima e o pedido mediato não tem força para gerar conexão dos processos?

INTERNALIZAÇÃO DA PREJUDICIALIDADE - Se identificar questões prejudiciais em processos distintos, prejudicialidade externa, e se não houver óbice para que estes processos sejam reunidos, eu posso reunir estas questões, pois há também conexão. Ao reunir os processos, as questões passam a ter um vínculo de subordinação por prejudicialidade interna.

AÇÃO DECLARTATÓRIA INCIDENTAL

Vamos analisar o exemplo de que o autor propõe uma demanda para reconhecer seu direito a uma quantia em dinheiro, por conta de um contrato celebrado com o réu. O réu contesta, dizendo que nunca celebrou tal contrato. Tais questões guardam uma relação de subordinação por prejudicialidade. A questão em torno da existência ou não da dívida é uma questão principal, já que o pedido do réu foi o reconhecimento do da obrigação do autor de pagar uma quantia de dinheiro. Já a questão de ter celebrado ou não o contrato é uma questão incidental.

Mas, se além de dizer que nunca praticou o contrato o réu requerer (autorizado pelo sistema processual – na qualidade então de autor de uma demanda) que o juiz reconheça na sentença a não existência da relação jurídica que o autor clama existir para cobrança da dívida.

Contudo, quando o réu requer isto, ele eleva a questão da existência ou não do contrato do nível de questão incidental ao nível de questão principal, passando haver no mesmo processo duas questões principais. Quando o réu faz isso ele propõe a demanda declaratória incidental. Incidental porque se dá no curso do processo.

A propositura da DEMANDA DECLARATÓRIA INCIDENTAL ocorre quando no curso do procedimento é suscitada uma questão que guarda relação de subordinação por prejudicialidade com a questão principal, e esta questão é suscitada já sob a forma também de questão principal. É uma questão que poderia ser incidental, mas por conta da forma que foi suscitada, pedindo sua resolução por sentença, ela surge como questão principal. Esta demanda é proposta no momento da apresentação da resposta à acusação do réu.

OBS.: Existe discussão de qual seria a via adequada para o réu propor essa demanda declaratória incidental. Parte da doutrina acredita que deve ser proposta por meio de reconvenção.

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DEMANDA DECLARATÓRIA INCIDENTAL PARA O AUTOR – há possibilidade dentro de um processo, em relação as questões potencialmente incidentais que dizem respeito a existência ou não da relação jurídica, serem erigidas a qualidade de QUESTÃO PRINCIPAL PELA INICIATIVA DO AUTOR, diante da circunstância do réu haver suscitado a questão incidentalmente, sem pedir ao juiz que declarasse a inexistência da relação por sentença, o juiz então pergunta ao autor se este quer que aquela questão incidental seja erigida a questão principal – para que ele possa usar esta declaração a seu favor em outros casos, evitando a formação de lides – propondo ele a demanda declaratória incidental.

Art. 325, CPC - Contestando o réu o direito que constitui fundamento do pedido, o autor poderá requerer, no prazo de 10 (dez) dias, que sobre ele o juiz profira sentença incidente, se da declaração da existência ou da inexistência do direito depender, no todo ou em parte, o julgamento da lide (art. 5o).

É dado assim o réu a possibilidade de formular outro pedido, suscitando, criando outra questão principal.

OBS.: Toda relação de subsidiariedade entre pretensões, são relações reveladoras de relações de preliminariedade.

“CLASSISFICAÇÃO” DAS AÇÕES

Três tipos básicos de pretensões que as pessoas podem formular perante o Poder Judiciário.

1. COGNITIVAS ou DECLARATÓRIA LATO SENSU

A pretensão em relação à certificação do direito. Estas pretensões exigem uma atuação do juiz uma atividade de CONHECIMENTO, de investigação, cognitiva, por isso se costuma dizer que esta demanda é uma ação de conhecimento, já que para resolver esta questão principal o Poder Judiciário terá que de tudo conhecer.

Estas demandas são chamadas também de demandas de conhecimento, de cognição de declaratória lato sensu. Esta natureza se divide em declaratória stricto sensu; constitutiva; e “condenatória”.

a) Meramente declaratórias (declaratórias stricto sensu)

Inserem-se no âmbito das pretensões de natureza declaratória stricto sensu aquelas demandas em que: 1) a pretensão do autor se dá com relação à declaração de existência ou inexistência de uma relação jurídica ou situação jurídica; 2) a pretensão do autor se dá com relação à declaração da autenticidade ou inautenticidade de um documento.

O legislador traz essas duas possibilidades no art. 4°, CPC.

CPC, Art. 4°. O interesse do autor pode limitar-se à declaração:I - da existência ou da inexistência de relação jurídica;

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II - da autenticidade ou falsidade de documento.Parágrafo único. É admissível a ação declaratória, ainda que tenha ocorrido a violação do direito.

OBS.: Estamos nos referindo somente ao vício do documento de natureza material, e não ideológica. A falsidade ideológica não se inclui nessa possibilidade; tem de ser uma falsidade material.

b) Constitutivas (positivas, negativas e modificativas)

Neste caso, alguém comparece em juízo com a seguinte pretensão:

I. Ver desconstituída uma relação jurídica; II. Ver modificada essa mesma relação jurídica; III. Ver nascida uma relação jurídica a partir de outra que pré-existente.

Nas três situações, a pessoa parte da afirmativa de que a relação jurídica existe. A pessoa diz: “eu quero ver modificada a relação jurídica” - a pessoa não pode modificar relação jurídica inexistente; “eu quero ver extinta a relação jurídica” - a pessoa não pode extinguir relação jurídica inexistente; “eu quero que uma relação jurídica nasça a partir de outra pré-existente” – a pessoa não pode fazer nascer a segunda se a primeira não existir.

É por isso que em toda pretensão de natureza constitutiva há, implicitamente, uma afirmativa de natureza declaratória. Para o juiz acolher qualquer desses pedidos, terá que reconhecer que a relação jurídica existe. Se o juiz não reconhecer, não poderá modificá-la, não poderá extingui-la e não poderá fazer que outra nasça a partir dela. Por isso, é necessário provar que a relação jurídica existe mesmo nesses procedimentos em que a declaração de sua existência não é o objetivo principal.

Podemos, então, ter uma demanda de natureza cognitiva constitutiva positiva (quando a partir de uma relação jurídica nasce outra), constitutiva negativa (quando a pretensão estiver voltada para a extinção/desconstituição da relação jurídica), ou constitutiva modificativa (quando a pretensão estiver voltada para a modificação de uma relação ou situação jurídica).

c) Condenatórias

Podemos ter pleitos que a doutrina costuma rotular de “condenatórios”, uma pretensão de natureza condenatória. A pretensão de natureza condenatória é aquela da qual resulta a imposição de obrigação de fazer, não fazer ou dar (coisa certa, incerta ou dinheiro).

2. EXECUTIVAS

Existem ainda as demandas de EXECUÇÃO. Estas demandas tanto podem estar calcadas num título executivo judicial, como num documento que a lei atribui a mesma foça. Estes documentos são chamados de títulos executivos extrajudiciais, tais como o cheque, o título de crédito, etc. Neste tipo de demanda o autor busca a satisfação do direito, ele quer uma atividade satisfativa, executiva,

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de execução de provimento anterior que certificou a existência do direito (no caso de ser baseado em título judicial).

OBS.: As demandas executivas fundadas em título judicial servem NORMALMENTE para viabilizar a prática dos atos de realização de um direito que foi previamente certificado por meio de uma demanda de conhecimento de natureza “condenatória”.

Isto porque, conforme vimos anteriormente, o pedido mediato e imediato das demandas meramente declaratórias e constitutivas se confundem, o que levou a doutrina a dizer que não se podem extrair obrigações a serem executadas deste tipo de pretensão. Mas, também vimos que isto não é verdade. Nestes casos, é possível também ser necessária a prática de atos executivos.

3. ACAUTELATÓRIAS

Por fim existem demandas ACAUTELATÓRIAS, originárias de pretensões cautelares. Este tipo de demanda resulta da atividade do sujeito que provoca o Estado-Juiz para dizer que há um risco de que a atividade a ser desempenhada pelo Poder Judiciário, seja por conta de uma provocação em razão de pretensão cognitiva ou executiva, corre o risco de se tornar inútil. Ele busca a adoção de providências acautelatórias em relação àquele processo.

Assim, na demanda cautelar, identificamos que a pretensão deduzida em juízo é uma pretensão à adoção de uma providência que resguarde o resultado útil da atividade jurisdicional executiva ou da atividade jurisdicional cognitiva.

Note que se, por exemplo, num arresto de bens, nada é acrescido ao patrimônio do autor.

NATUREZA DA PRETENSÃO

OBS.: A regra é o processo sincrético. Mas, permanecem ainda exceções. Esta dicotomia existe nos processos de execução de obrigação de dar dinheiro contra a fazenda pública. A atividade de execução ela se dá no bojo do mesmo processo que a certificação se deu, geralmente. Mas existe ainda processo que nasce apenas para execução, como aqueles fundados em título extrajudicial, ou aqueles de execução contra a fazenda pública.

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DE CONHECIMENTO

EXECUTIVA

CAUTELAR

Constitutiva (positiva, negativa e modificativa)

Meramente declaratória

Condenatória

Título executivo judicial

Título executivo extra-judicial

Há ainda um processo de execução, no sentido de procedimento, só que dentro da mesma relação jurídica processual iniciada, por exemplo, para a certificação de determinado jurídica.

17.04.12

UNIDADE III

Vamos pensar no resultado sob o ponto de vista técnico, do surgimento de uma relação jurídica processual em razão da dedução desta pretensão. Quando o direito de ação é exercitado, exercício este que se dá por meio da propositura da demanda, que se materializa através da apresentação da petição inicial. Quando este ato de propositura se dá, quando se firma este vínculo entre quem precisa do provimento jurisdicional e o próprio Estado-Juiz, neste momento extraímos dois efeitos.

O ato de propositura da demanda produz dois efeitos (em geral, há exceções):

Constituição da relação jurídica processual, efeito de um ato jurídico. Essa relação se dá entre quem propôs a demanda e o Estado juiz, é uma relação jurídica processual. Não se confunde com a relação jurídica que o autor diz com a outra pessoa em relação a quem fez o pedido, com a parte contrária.

Deflagração uma sequência de atos coordenados entre si, voltados para a concepção de um objetivo: a obtenção de uma providência jurisdicional. É deflagrado, portanto, o procedimento.

PROCESSO

O procedimento é coisa visível, palpável, material. É possível ver os atos praticados. EM relação a relação jurídica processual não é possível vê-la, não é algo material. A relação jurídica processual é um elo. E, o processo é exatamente este conjunto formado pela relação jurídica - de quem provocou e o Estado-Juiz - e pelo procedimento. A sequência de atos é o meio pelo qual a relação jurídica irá se desenvolver.

CONCEITO PROCESSO - Uma relação jurídica que se desenvolve por meio de um complexo de atos voltados para a obtenção de provimento jurisdicional.

O processo nasce pelo primeiro ato do procedimento que é a propositura da demanda. Num determinado momento ela se extinguirá. Um ato jurídico será praticado no procedimento com força suficiente para extinguir a relação jurídica processual.

FACE INTRÍNSECA, IMATERIAL, IMPALPÁVEL – relação jurídica.

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FACE EXTRÍNSECA - PROCEDIMENTO

FACE INTRÍNSECA – RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL

FACE EXTRÍNSECA, MATERIAL, PALPÁVEL – procedimento.

O procedimento é deflagrado por um ato jurídico que é a propositura da demanda, contudo ele mesmo é um ato jurídico: um ato jurídico complexo, que tem como primeiro ato integrante de sua estrutura executiva o ato de propositura da demanda.

Vamos imaginar agora que nós fomos incumbidos pela sociedade de criar os meios necessários para que estas demandas sejam adequadamente processadas. Teria lógica criarmos o mesmo procedimento para demandas de naturezas diferentes? Será que o processamento de uma demanda onde se discute a existência de um direito da mesma forma que uma demanda de natureza executória? Obviamente que não, afinal nas demandas cognitivas o juiz terá de tudo conhecer, abrir oportunidade para produção de provas, exercício da ampla defesa e do contraditório. Numa demanda cautelatória se tem uma nuance de urgência os prazos não poderão ser os mesmos. Entre outras coisas.

Portanto, a depender da natureza da demanda, teremos diferentes tipos de procedimento para o processamento delas. Por conta disso, o legislador criou procedimentos distintos para os diferentes tipos de demanda, dividindo o CPC da seguinte forma:

Art. 270. Este Código regula o processo de conhecimento (Livro I), de execução (Livro II), cautelar (Livro III) e os procedimentos especiais (Livro IV).

Assim como o procedimento vai variar de acordo com a natureza da demanda, a relação jurídica processual também. Uma demanda de natureza cautelar faz surgir uma relação jurídica processual cautelar, e assim por diante.

Por conta de um ato do poder judiciário foi concedido a A o direito de perceber uma indenização. Que ato é esse? O procedimento, que por sua vez é formado por diversos atos, sendo, portanto um ato complexo. Formado por atos que não podem ser praticados cronologicamente desordenados, de formação cronológica indiferente, são atos coordenados entre si. Também não são atos que são praticados de uma vez só, portanto, não se trata de um ato jurídico de formação instantânea. Trata-se de um ato jurídico complexo de formação sucessiva.

Neste ato complexo tem um primeiro ato (petição inicial, em regra) e o ato final (em regra, a sentença), que extingue o procedimento. Todos os atos que antecedem o ato final, são atos que são práticas com vistas a viabilizar a prática deste ato final. São atos, pois que preparatórios do ato final. Assim, como todo ato jurídico de formação sucessiva o procedimento é formado por atos preparatórios e por um ato final.

PROCESSO x PROCEDIMENTO - Existe diferença entre processo e procedimento? Depende de como você lança o seu olhar. O processo é procedimento porque se analisarmos o processo por sua ótica extrínseca processo se confunde com procedimento. Mas se olhar pela ótica Intrínseca o processo é relação jurídica. E essas duas faces mantem íntimo contato, pois é por meio da face extrínseca, procedimento, que a fase intrínseca, relação jurídica, se desenvolve.

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Como todo o ato jurídico, posso examiná-lo de três formas: a luz de sua existência, validade e eficácia:

EXISTÊNCIA - Há certos atos que para que possam existir, exigem que outros atos lhe antecedam. Nestes casos, eu digo que a existência de um ato está atrelada à prática de outros atos antecedentes. Quando identifico este ato desta natureza, posso concluir que os atos antecedentes são PRESSUPOSTOS daquele ato. Estou examinando o ato jurídico a luz de sua EXISTENCIA. Ao examinar a existência do ato, posso fazê-lo sob duas óticas, verificando a ocorrência dos atos pressupostos do ato e posso analisa-lo a luz de sua estrutura ôntica, verificando se seus ELEMENTOS estão presentes.

VALIDADE - A luz de sua estrutura interna (estrutura ôntica, executiva), examinado tudo que o integra para ver se tudo está em conformidade com as exigências do ordenamento jurídico. Analiso tudo que está dentro dele para verificar se tudo o quanto integra está em conformidade como posta as normas jurídicas. Estamos analisando o processo dele para ele mesmo, a luz de sua estrutura ôntica. Vemos atos que o integram para ver se ele é valido ou não. E, para isso, verifico se os atos que integram foram feitos conforme o direito, tornando esse ato saudável, rígido e valido. Essas exigências feitas pelo ordenamento jurídico estão relacionados com a validez do procedimento e são chamadas de requisitos. A ideia de requisito, pois está intimamente atrelada a validade do ato.

EFICÁCIA – Posso examiná-lo, ainda, à luz de sua eficácia. Em regra temos uma sequencia lógica. Para que eu diga que algo é válido, este algo tem que existir. Para que eu diga que algo produz efeitos ele tem que ser válido (em regra). O ato jurídico válido é o ato jurídico apto a produzir efeitos. O que não significa que o legislador não possa imputar efeitos a atos jurídicos inválidos, isto porque no que diz respeito a efeitos de atos jurídicos, vigora em nosso ordenamento o regime de IMPUTAÇÃO. É o legislador que tem liberdade para dizer que de tal ato deve ser extraído este efeito. Dentro desta liberdade o legislador pode atribuir efeitos distintos a atos similares, e atribuir efeitos similares a atos distintos. Pode inclusive atribuir efeitos a atos inválidos.

Quando penso na eficácia do ato, vou raciocinar em torno da existência ou não de termo ou condição, que de alguma forma impeça a produção imediata dos efeitos. Termo é um evento futuro e certo, uma condição é um evento futuro e incerto.

Sem o ato da propositura da demanda: a petição inicial, o procedimento não existe. O ato de apresentação logicamente, a rigor, antecede o ato de recebimento. O ato de apresentação é o ato que é pressuposto para deflagração do procedimento. O primeiro ato do procedimento é o ato que casa com a manifestação do poder judiciário.

O ato de apresentação da PI sela um ato de um alguém em direção a outro alguém (o PJ ). Para que se diga que esse procedimento nasceu, eu não posso dizer que ele nasceu se eu não identificar o alguém que vai praticar o ato, o outro alguém que vai receber (seja pelo braço do servidor ou pelos

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sistemas informatizados) e o próprio ato jurídico (ato de apresentação). A existência do procedimento depende da existência desses 3 aspectos:

1. AUTOR (no ex. acima alguém que propõe a demanda)2. A OUTR PARTE COM QUEM O AUTOR ESTABELECE UMA RELACAO JURIDICA PROCESSUAL

(QUE É O ESTADO-JUIZ)3. O PROPRIO ATO JURIDICO PRATICADO: PROPOSITURA DA DEMANDA

Estes são os VERDADEIROS PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS. Sem isso o processo não vai existir, sob sua face extrínseca. Então quando aludo a pressupostos processuais estou aludindo a tudo que é necessário para que este grande ato procedimento exista.

Percebemos que o processo é fluido ele muda conforme a pratica dos outros, os atos estão interligados, de maneira que um ato é pressuposto para outro, a prática de um ato interfere na pratica do outro, etc.

A citação é pressuposto para que um processo exista? Não. Agora, para que o resultado do processo produza efeitos para o réu, eu preciso da citação. O ato citatório é, então, um ato que está vinculado à eficácia do processo em relação ao réu.

Imaginemos que alguém queira impor uma obrigação à B, porém este foi citado de forma inválida. É suscitada, pelo réu, a invalidade do processo por conta da citação inválida. Por conta deste ato inválido, no início do procedimento, os subsequentes estarão maculados pela mesma invalidade, se não houver maneira de aproveitá-lo, através do sistema de aproveitamento dos atos jurídicos. Se não for possível aproveitar o magistrado não terá outra escolha, senão pronunciar a invalidade do procedimento.

Os atos surgidos antes da citação são validos, os atos que dependerem deste ato que foi inválido estão atingidos pela invalidade. Então, olhando a citação eu constato que ela é condição para que o processo produza efeitos para o réu e ao mesmo tempo é requisito para que o procedimento seja válido.

Contudo, a doutrina pôs sob o rotulo de pressupostos processuais, muitas coisas que não são pressupostos processuais. Posta a crítica vamos estudar o que a doutrina consagrou como sendo pressupostos processuais.

Para a DOUTRINA CLÁSSICA a relação jurídica processual - o processo - se formará, somente estará definitivamente constituído quando houver a angularização da relação jurídica processual (três pólos: autor, réu e juiz). Em outras palavras, quando a relação jurídica processual chegar ao réu, a angularização terá acontecido.

Partindo dessa linha de raciocínio, a doutrina clássica conclui que tudo quanto for necessário existir antes que a relação jurídica se angularize é pressuposto.

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Sob está ótica é necessária a prática de uma sequencia de atos para que o processo esteja constituído. É necessário que alguém apresente uma petição inicial, que esta esteja apta a produzir efeitos, esteja acompanhada de um instrumento de mandado, o juiz, então, verifica se a petição atende todos os requisitos exigidos pelo sistema jurídico, ordenando, em seguida, que o réu seja citado, sendo este citado. Para esta doutrina a citação seria o último ato da sequência de atos necessários para que o processo se constitua.

Esse foi todo o mecanismo que se chama de mecanismo de constituição da relação jurídica processual. De acordo com esse mecanismo, teríamos a formação do processo não pela só prática de um só ato, mas sim pela deflagração da prática de uma seqüência de atos, que se inicia pela protocolização da petição inicial, e se ultima (=completa) com a citação válida. À luz desse mecanismo, passaremos a identificar o que a doutrina clássica chama de pressupostos processuais.

Vejam que começa a aparecer coisas e pessoas. Portanto, podemos concluir que há pressupostos processuais vinculados às pessoas, que são os pressupostos subjetivos, e os pressupostos processuais vinculados ás coisas, que são pressupostos objetivos.

1. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS OBJETIVOS

Os pressupostos processuais objetivos podem ser positivos (ou intrínsecos) ou negativos (ou extrínsecos). Positivos porque devem estar presentes na demanda; negativos porque devem estar ausentes na. demanda. Intrínsecos porque são pressupostos retirados de dentro do mecanismo. Extrínsecos porque são pressupostos que não integram o mecanismo, estão fora dele.

1.1. POSITIVOS OU INTRÍNSECOS

a) PETIÇÃO INCIAL

Como é que o processo se forma, como é que o processo se constitui? A relação jurídica processual se forma, se constitui perante a apresentação de uma petição inicial. Sem uma petição inicial não podemos pensar no nascimento de um processo. E a doutrina clássica ainda prossegue, dizendo que não é uma petição inicial qualquer! É uma petição inicial apta a produzir efeitos, caso contrário o processo será extinto sem a resolução do mérito ao menos que a falha seja sanada.

b) INSTRUMENTO DE MANDADO

A relação jurídica processual se constitui mediante a apresentação de uma petição inicial apta a produzir efeitos, acompanhada de um instrumento de mandato outorgado pelo autor ao advogado que subscreve a petição inicial. Identifica a doutrina clássica, pois, como um pressuposto processual objetivo, um instrumento de mandato - a procuração - outorgado pelo autor ao advogado que subscreve a petição inicial.

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Obs.: O instrumento do contrato de mandado é a procuração. Estes dois conceitos não são sinônimos. Há casos em que não se exige a presença do advogado. A procuração serve para que alguém fale em nome de outrem. Se você não precisa que alguém fale em seu nome, não precisa de procuração.

c) CITAÇÃO VÁLIDA

Dentro daquele mecanismo de formação da relação jurídica processual, temos que o mecanismo é deflagrado pela apresentação da petição inicial apta a produzir efeitos, acompanhada de um instrumento de mandato outorgado pelo autor ao advogado que subscreve a petição inicial. Petição inicial esta que é entregue ao juiz competente (pela distribuição, se houver mais de um juiz competente, ou diretamente a ele, se ele for o único juiz competente). O juiz examinará a petição inicial, verificando se ela está em ordem, e estando, o juiz ordena que a citação se dê, e a citação válida ocorre. Identificamos, pois a terceira coisa necessária para que, à luz da doutrina clássica, o processo exista: a citação. Mas não é uma citação qualquer, é uma citação válida.

1.2. NEGATIVOS OU EXTRÍNSECOSa) AUSÊNCIA DE LITISPENDÊNCIA

Não se pode levar para discussão no Poder Judiciário uma causa que já está em discussão junto ao Poder Judiciário. Isto, demandas iguais: mesma causa de pedir, pedido e partes.

b) AUSÊNCIA DE COISA JULGADA

Não se pode fazer nascer um processo para discutir uma causa que já foi objeto de decisão pelo poder Judiciário, que já obteve uma sentença transitada em julgado, que já produziu coisa julgada material. Então, há uma coisa que não pode acontecer, que é a coisa julgada. Não se pode levar para discussão em juízo uma matéria que já foi objeto de apreciação pelo próprio Poder Judiciário. Coisa julgada não pode acontecer.

c) AUSÊNCIA DE PEREMPÇÃO

A demanda que está sendo proposta não pode ser uma demanda que já foi proposta três vezes anteriormente, ocasiões nas quais o autor abandonou o processo fazendo com que ele fosse extinto sem a resolução do mérito por abandono.

CPC, Art. 268. Parágrafo único. Se o autor der causa, por três vezes, à extinção do processo pelo fundamento previsto no no III do artigo anterior, não poderá intentar nova ação contra o réu com o mesmo objeto, ficando-lhe ressalvada, entretanto, a possibilidade de alegar em defesa o seu direito.

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CPC, Art. 267, III - Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: III - quando, por não promover os atos e diligências que lhe competir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias;

d) AUSÊNCIA DE CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM

Há uma previsão legal que diz que se as partes houverem celebrado uma convenção de arbitragem, elas não podem levar o conflito à apreciação do Poder Judiciário; elas têm que levar ao árbitro, porque as partes vincularam a solução do conflito em que se envolveram à arbitragem. A convenção de arbitragem se dá de 2 maneiras possíveis:

1) Cláusula compromissória1: é uma cláusula prevista nos contratos que diz “Insurgindo qualquer litígio oriundo do presente contrato, soluciona-se por meio da arbitragem” - não há conflito jurídico ainda.

2) Compromisso arbitral: o conflito já surgiu e as partes resolvem, diante do conflito concreto existente, leva-lo à resolução por meio do árbitro.

Essas modalidades de convenção de arbitragem se dão nos termos da Lei 9.307/96. Bom, então, não se pode levar ao Poder Judiciário, para a resolução, uma lide em que já foi comprometido que ela seria resolvida pelo juízo arbitral. Portanto, não pode haver convenção de arbitragem.

e) AUSÊNCIA DE DÉBITOS (art. 268, CPC)

O mesmo autor propôs a mesma demanda antes e deixou esta ser extinta sem a resolução do mérito, não necessariamente por abandono, e ainda não pagou as custas do processo anterior.

CPC, Art. 267, V - Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de coisa julgada;

CPC, Art. 268 - Salvo o disposto no art. 267, V, a extinção do processo não obsta a que o autor intente de novo a ação. A petição inicial, todavia, não será despachada sem a prova do pagamento ou do depósito das custas e dos honorários de advogado.

2. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS SUBJETIVOS

1 A cláusula compromissória é a convenção em que as partes se comprometem a resolver eventuais litígios por

arbitragem. O CBMA (Centro Brasileiro de Mediação e Arbitragem) indica, em seu Regulamento de

Arbitragem, a colocação da cláusula compromissória, nos seguintes termos: “Todas as controvérsias oriundas

do presente contrato serão resolvidas de forma definitiva por arbitragem, nos termos do Regulamento do

Centro Brasileiro de Mediação e Arbitragem, por um ou mais árbitros nomeados na conformidade do mesmo

regulamento.”- Artigo 4º, § 1º, da Lei nº 9.307/96, que instituiu a Arbitragem.

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2.1. REFERENTE ÀS PARTES

a) CAPACIDADE DE SER PARTE

Em regra, o sistema jurídico atribui a capacidade de ser parte a todos que possuam personalidade jurídica. Assim, tanto o incapaz tem capacidade de ser parte, como a pessoa jurídica.

Exceções a esta regra: o NASCITURO também tem capacidade de ser parte, visto que o sistema jurídico apesar de não reconhecer sua personalidade jurídica, já atribui a ele a titularidade de direitos.

O sistema jurídico outorga capacidade de ser parte a entidades que não possuem personalidade jurídica, é a chamada CAPACIDADE JUDICIÁRIA. Porém, somente será outorgada quando se concluir que eles estão em juízo por seus interesses institucionais, quando está em risco a própria existência do órgão. Conclui-se que não é qualquer demanda que eles podem propor.

EXEMPLO - É admissível que a Câmara de Vereadores, que é um ente despersonalizado que compõe o município, proponha uma demanda. O mesmo ocorre com a Assembleia Legislativa.

Existem tributos federais que incidem sobre a folha de salário, a câmara de vereadores é um poder dentro do município que tem seus próprios servidores, ela é comandada pelo Presidente, e é ele responsável pelo pagamento dos salários dessas pessoas. O tributo que ai incide é da Câmara dos Vereadores que tem CNPJ próprio, mas a rigor, quem tá pagando é o Município.

Se a Câmara de Vereadores cismar que a união está cobrando esse tributo indevidamente ela não terá capacidade de postular isso. Só o município pode fazer isso porque aqui a entidade despersonalizada não está lutando pela sua própria existência.

Vamos dar um exemplo em que essa demanda seria possível: vamos imaginar que um prefeito tem a chave do cofre não esteja passando os recursos para a câmara dos vereadores, então ela bate nas portas do Judiciário para alegar isso, e vai poder ser parte porque está na defesa de interesses institucionais, relacionados à sua existência. Nesse caso ela tem capacidade judiciaria de ser parte, malgrado ela não tenha essa capacidade de ser parte.

OBS.: a capacidade judiciária é outorgada para que se proponha demandas, ou seja, é muito raro a outorga desta capacidade para que seja proposta uma demanda contra a entidade.

b) CAPACIDADE DE ESTAR EM JUÍZO (SOZINHO) ou CAPACIDADE PROCESSUAL ou LEGITIMATIO AD PROCESSUM

Todas as vezes que pensarmos nesta capacidade, pensaremos: capacidade de estar em Juízo SOZINHO, não precisar ser assistido ou representado. O menor tem capacidade de ser parte, mas não tem a capacidade de estar em juízo (sozinho). A eventual incapacidade de estar em juízo (sozinho) precisa de um suprimento dos institutos da representação ou da assistência.

c) CAPACIDADE POSTULATÓRIA

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Sabemos que o Poder Judiciário não abre as portas para qualquer um, somente abre para quem tem certa qualidade, que a capacidade postulatória. Quem tem, invariavelmente, a capacidade de, batendo às portas do Poder Judiciário, fazer com que elas se abram? O advogado inscrito na OAB. E não tendo, como se supre a ausência da capacidade postulatória? Constituindo um advogado. É por isso que o advogado é necessário, para figurar nas diversas relações jurídicas processuais.

Há, todavia, situações em que o legislador resolveu atribuir capacidade postulatória a quem não é advogado. Exemplo: nos Juizados Especiais, na Justiça do Trabalho; são situações em que a pessoa pode postular em juízo porque a lei autoriza que a postulação se dê sem a necessidade de advogado. Atribui-se, portanto, a tais pessoas, em tais situações, uma capacidade postulatória que, em regra, ela não possui.

2.2. REFERENTE AO JUIZa) INVESTIDURA

É preciso que se esteja postulando frente a um juiz investido no cargo de juiz. Caímos ai no problema da partilha constitucional da jurisdição. O juiz federal tem investidura para julgar causas que a constituição estabeleceu ser da responsabilidade da Justiça Federal. Não tem investidura, portanto, não tem jurisdição para julgar uma causa de direito da família, ele é, neste caso, um não juiz.

Percebam a diferença entre a partilha constitucional da jurisdição e a competência absoluta. Salomão precisa se submeter a um concurso público para ser investido no cargo de Juiz de Direito, pois ele não é Juiz de Direito, mas sim Juiz Federal. Obviamente, o inverso se repete.

b) COMPETÊNCIA

Não basta que estejamos diante de um órgão julgador (que possui jurisdição), é necessário ainda que ele seja o órgão julgador competente.

c) COMPATIBILIDADE SUBJETIVA

Não basta que estejamos de um órgão do Poder Judiciário competente, é preciso ainda que o magistrado seja compatível para com a causa, é uma compatibilidade subjetiva que significa que não existe nem impedimento e nem suspeição. Os institutos do impedimento e da suspeição estão previstos nos arts. 135 à 138 do CPC.

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PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

OBJETIVOS SUBJETIVOS

POSITIVOS ouINTRÍNSECOS

NEGATIVOS ouEXTRÍNSECOS

REFERENTE ÀS PARTES

REFERENTE AO JUIZ

1. PETIÇÃO INICIAL APTA A PRODUZIR EFEITOS.

2. INSTRUMENTO DE MANDADO.

3. CITAÇÃO VÁLIDA.

1. LITISPENDÊNCIA.

2. COISA JULGADA.

3. PEREMPÇÃO.

4. CONVÊNIO DE ARBITRAGEM.

5. DÉBITOS.

1. CAPACIDADE DE SER PARTE.

2. CAPACIDADE PROCESSUAL

3. CAPACIDADE POSTULATÓRIA.

1. INVESTIDURA

2. COMPETÊNCIA

3. COMPATIBILIDADE

19.04.12

Voltaremos nossos olhos agora aos sujeitos da relação jurídica processual.

PARTES - Ao pensar em partes, pensamos na parte autora e na parte ré. Estas são as PARTES PROCESSUAIS. Não podemos confundi-las, com as PARTES DA RELAÇÃO JURÍDICA DE DIREITO MATERIAL. Comumente elas são as mesmas. Mas nem sempre isso é verdade, já que existe a figura do SUBSTITUTO PROCESSUAL: a possibilidade aberta pelo ordenamento jurídico de alguém comparecer em nome próprio (sendo parte processual), para defesa de interesses e direitos que não são seus – então não é parte na relação de direito material.

Então, o conceito de parte processual é o conceito amplo dado por CHIOVENDA que enuncia: parte é aquele que pede (abrange tanto aquele que pede para si mesmo, como aquele que pede para outrem – substituto processual) ou em nome de quem é pedida (alude aqui ao representante – menor representado por sua genitora, por exemplo), a atuação da vontade da lei no caso concreto (até aqui só fala sobre quem postula), bem como em face de quem essa atuação é pedida (contra quem é postulado).

É importante que tenhamos uma noção a respeito do fato de que o processo é uma relação jurídica muito dinâmica, móvel, vai se alterando, adquirindo formas a medida que os atos são praticados. A depender do ângulo que se observa o processo, podemos ver os diversos sujeitos da relação processual de modo distinto.

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Dependendo do ângulo há sujeitos outros da relação jurídica processual, que não as partes processuais que atuam com parcialidade. E, quem quer que atue com parcialidade é parte. Exemplo, do juiz em razão do qual é acusado de ser suspeito.

Além da noção de parte processual e da noção de partes do direito material, temos que atentar para o fato de que a depender do momento em que o processo se encontre, do incidente examinado, existem sujeitos outros da relação jurídica processual que podem ser tratados como parte.

Por exemplo, o juiz determina que certa pessoa jurídica cumpra a obrigação de fazer. Não é cumprida porque o gerente está se recusando a cumprir a determinação que o juiz deu. A determinação é para a pessoa jurídica, e esta pode sofrer apenações por não está cumprindo a determinação. O gerente também pode sofrer sanções, pois foi inserido no art. 14 do CPC o instituto do contept of court, permitindo que o juiz imponha multa a este, por impor óbice.

Art. 14, CPC - São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma participam do processo:

I - expor os fatos em juízo conforme a verdade;

II - proceder com lealdade e boa-fé;

III - não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes de que são destituídas de fundamento;

IV - não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou defesa do direito.

V - cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou final.

Parágrafo único. Ressalvados os advogados que se sujeitam exclusivamente aos estatutos da OAB, a violação do disposto no inciso V deste artigo constitui ato atentatório ao exercício da jurisdição, podendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa em montante a ser fixado de acordo com a gravidade da conduta e não superior a vinte por cento do valor da causa; não sendo paga no prazo estabelecido, contado do trânsito em julgado da decisão final da causa, a multa será inscrita sempre como dívida ativa da União ou do Estado.

O CPC permite que o juiz imponha sanções a pessoas que não são partes processuais. Sujeitos outros podem atuar com parcialidade, inclusive o juiz, num incidente de suspeição ou impedimento, malgrado no processo ele não seja parte, no incidente de suspeição ele é parte.

CAPACIDADE PROCESSUAL – O legislador trata no art. 7 do CPC. Esta capacidade de estar em juízo (sozinho) ou legitimatio ad processum já foi tratada. Quem é capaz de praticar todos os atos da vida civil pessoalmente possuem a capacidade processual.

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Art. 7o Toda pessoa que se acha no exercício dos seus direitos tem capacidade para estar em juízo.

O legislador previu no art. 10 do CPC, tira a capacidade processual das pessoas casadas, sobre demandas que versem sobre direitos reais imobiliários. Nestes casos a propositura da demanda depende da aquiescência, da outorga uxória ou marital, para que a demanda seja proposta. Neste caso, a pessoa casada não possui plena capacidade processual para a propositura de demandas que versem sobre direito real imobiliário.

Art. 10. O cônjuge somente necessitará do consentimento do outro para propor ações que versem sobre direitos reais imobiliários. § 1o Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para as ações: (...).

O parágrafo primeiro do art. 10 não tem nada a ver com a capacidade processual e sim com litisconsórcio necessário.

SUBSTITUIÇÃO DAS PARTES – Não é a mesma coisa de substituição processual. O termo correto seria SUCESSÃO DAS PARTES, houve um equívoco. O quadro de substituição processual em nada se mistura com a substituição das partes. Na substituição processual é a autorização do ordenamento jurídico dá alguém para postular em juízo em nome próprio, para a defesa de interesses e direitos alheios.

SUBSTITUIÇÃO DAS PARTES OU SUCESSÃO PROCESSUAL se dá quando ocorre morte da parte, pessoa natural, ou extinção da parte, pessoa jurídica, precisando então sucedida. Está regrado no art. 43. A pessoa que morre, esta será sucedida pelo espólio quando ainda não se sabe quem são os sucessores. Enquanto não houver a partilha, determinando o quinhão que cabe a cada sucessor, o espólio sucederá o de cujus em juízo.

Espólio e inventário são institutos completamente distintos. O espólio nasce, no momento da morte do de cujus.

Art. 43. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a substituição pelo seu espólio ou pelos seus sucessores, observado o disposto no art. 265.

OBS.: Situação regrada no art. 42, decorrente da alienação da coisa ou do direito no curso do processo por ato intervivos. Disputa-se no processo determinado bem, não existe nenhum impedimento a vender o bem objeto de disputa judicial, desde que o outro saiba que este seja objeto de litígio.

Diz o legislador, que a venda não altera a legitimidade das partes iniciais, o comprador pode suceder o alienante desde que a parte contrária concorde, contudo, se a parte contrária não aquiescer o comprador não poderá adentrar sucedendo o alienante, mas pode ingressar no processo assistindo o alienante, já que ele tem interesse jurídico.

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NOTE, PORÉM, que o alienante ao continuar atuando no processo, pela não aquiescência, ele passa a estar no processo defendendo interesse de quem comprou o bem, mas continua em nome próprio, sendo, portanto, SUBSTITUTO PROCESSUAL DO COMPRADOR.

Art. 42. A alienação da coisa ou do direito litigioso, a título particular, por ato entre vivos, não altera a legitimidade das partes.

§ 1o O adquirente ou o cessionário não poderá ingressar em juízo, substituindo o alienante, ou o cedente, sem que o consinta a parte contrária.

§ 2o O adquirente ou o cessionário poderá, no entanto, intervir no processo, assistindo o alienante ou o cedente.

§ 3o A sentença, proferida entre as partes originárias, estende os seus efeitos ao adquirente ou ao cessionário.

RESPONSABILIDADES E DOS DEVERES DAS PARTES – As regras que regem esta matéria não servem apenas para as partes em sentido processual, elas se aplicam a qualquer sujeito da relação jurídica processual. Atinge a todos que de qualquer forma atuem no processo, devendo atuar com boa fé.

Art. 14, caput, CPC - São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma participam do processo (...)

Aqueles que atuarem de modo a impedir a execução de uma determinação judicial, responderão as sanções aludidas no Parágrafo Único do art. 14, CPC. Este é um instituto de proteção à eficácia das determinações judiciais. Submetendo a todos que criarem óbices às determinações judiciais às sanções previstas naquele dispositivo. Sanções esta que vão desde o plano processual, chegando passando pela responsabilidade civil, chegando à responsabilidade penal.

O advogado não pode se submeter a este tipo de sanção, pois obstruiria a liberdade que o advogado precisa para atuar em juízo. Não quer dizer, porém, que ele pode agir com má fé, ele só irá estar submetido às sanções previstas no estatuto da OAB. O juiz reunirá os documentos que demonstrem a atuação do advogado, e as encaminhará a OAB.

LITIGÂNCIA DE MÁ FÉ – A litigância de má fé está regrada nos arts. 17 e 18 do CPC. São diversas as sanções. São diversas também as situações elencadas pelo legislador, como caracterizadoras de litigância de má fé. Pode ser resumida na expressão: boa fé objetiva processual. São aplicados também os institutos da boa fé objetiva no campo privado. Os institutos atrelados ao instituto da boa fé objetiva (funções reativas da boa fé objetiva) podem ser aplicados no campo processual.

ENCARGOS E DESPESAS PROCESSUAIS – As despesas precisam ser adiantadas. Adiantar e pagar as despesas são diferentes. O autor adianta as custas do processo. Quem vai pagar depende. Se o autor perder, aquilo que adiantou fica como pagamento. Se ele ganhar, ele será ressarcido pela parte ré de todas as despesas efetuadas no processo. Assim, é do autor o ônus de adiantar todas as

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despesas do processo, inclusive as despesas de produção de provas. A única hipótese em que o réu terá que efetuar qualquer adiantamento, é quando apenas o réu requisita a produção de prova.

No caso do benefício ao autor a gratuidade da justiça, o estado pagará as despesas processuais, o ônus não será transferido, de maneira alguma, para o réu.

GRATUIDADE DA JUSTIÇA - Esta é regida pela lei 1060 de 1950. Esta lei assegura a gratuidade da Justiça para os necessitados. Estes serão aqueles que assim se afirmarem. Aqueles que disserem que são pobres e que o pagamento das despesas do processo implicará em dificuldades na sua própria subsistência ou a subsistência de sua família. Esta lei infraconstitucional é mais ampla do que a constitucional, pois esta diz que é necessário provar que são necessitados. Mas, isso não quer dizer que o legislador infraconstitucional ampliar o conceito. O que não poderia acontecer é restringir direito assegurado pela Constituição.

A lei 1060/1950 só alude a pessoas naturais. Quando tratarmos de pessoas jurídicas teremos que aplicar o dispositivo constitucional, e portanto, estas terão que comprovar a sua necessidade. Contudo, os tribunais tem decidido que as pessoas jurídicas sem fins lucrativos tem direito a usufruir dos benefícios da gratuidade da justiça.

Os benefícios da gratuidade da justiça consistem em não arcar com despesas com perícia, deslocamento de testemunhas, honorários sucumbenciais, custas processuais.

Observe-se que aquela norma em verdade garante a gratuidade da justiça enquanto o estado de pobreza permanecer. Caso, esta situação se altere, ela terá que pagar as despesas. É por isso que as sentenças, quando há litigante que sucumbe e é beneficiado pela gratuidade de justiça, deve haver a imposição obrigação de pagar as custas do processo e os honorários advocatícios. Deve ser fixado o valor de honorários advocatícios sucumbenciais. Na sequência é que o juiz dirá que a parte não poderá ser compelida a pagar a obrigação enquanto permanecer pobre. Então, não é que a obrigação não existe, ela existe, só não é exigível.

OBS.: O art. 12 da lei 1060 impõe que passados 5 anos da criação da obrigação, esta estará prescrita. A pretensão à cobrança estará prescrita.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – Os advogados são regidos pelo estatuto dos advogados e da ordem dos advogados do Brasil (lei 8906 de 1994), bem como da cobrança de seus honorários. Estabelecendo tabelas para cobrança. Não é uma cobrança impositiva, mas que deve servir de parâmetro, principalmente na observância do valor mínimo no início da carreira. Ver também o Código de Ética Advocatício.

SUBSTITUIÇÃO DE ADVOGADO – O advogado celebra com seu constituindo o contrato de mandado. A procuração é o instrumento deste contrato. Não se pode confundir um contrato com seu instrumento. Eu posso celebrar um contrato verbal com alguém e ele não estará instrumentalizado.

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O contrato de mandado gera para o advogado o contrato ad judicia, que dá poderes para procurar em juízo em nome do seu constituinte, os atos comuns do processo (apresentação de contestação, juntada de documento...), para alguns atos específicos todavia, o legislador exige que sejam outorgados poderes especiais, como por exemplo para receber citação em nome de alguém, para que o advogado transija (faça concessões) em nome de seu cliente, para que o advogado reconheça a procedência do pedido formulado contra seu cliente, para que ele desista do direito de ação, para que ele renuncie em nome de seu cliente ao direito material que é discute, etc.

Art. 38. A procuração geral para o foro, conferida por instrumento público, ou particular assinado pela parte, habilita o advogado a praticar todos os atos do processo, salvo para receber citação inicial, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre que se funda a ação, receber, dar quitação e firmar compromisso.

Parágrafo único. A procuração pode ser assinada digitalmente com base em certificado emitido por Autoridade Certificadora credenciada, na forma da lei específica.

A procuração geral para foro permite que o advogado pratique os atos comuns do processo.

É comum a extinção deste contrato pela renúncia ao cliente. Esta renúncia se materializa nos autos, produzindo efeitos no processo, e o advogado juntar prova de que notificou sua renúncia (art. 45). Após esta o advogado ainda é obrigado à representar seu cliente nos dez dias seguintes a notificação. Se ele não cumprir esta obrigação, deixando de apresentar um recurso, por exemplo, nada acontecerá no processo, isto é, o cliente sofrerá os danos, mas isto poderá ter efeitos na relação de direito material travada entre eles.

Art. 45, CPC - O advogado poderá, a qualquer tempo, renunciar ao mandato, provando que cientificou o mandante a fim de que este nomeie substituto. Durante os 10 (dez) dias seguintes, o advogado continuará a representar o mandante, desde que necessário para Ihe evitar prejuízo.

O substabelecimento é o subcontrato do contrato de mandato. Transferência dos poderes outorgados. Pode se dar de duas formas: COM RESERVAS DE PODERES e SEM RESERVAS DE PODERES. Com reservas de poderes quer dizer que o advogado está substabelecendo os poderes conferidos pelo cliente, mas está guardando para si os mesmos poderes. Já o sem reserva é quando o advogado substabelece para outro e sai da relação jurídica de direito material. De um modo geral, para que sob de vista da responsabilidade civil, o substabelecimento sem reserva de poderes deve ser feita aquiescência de seu cliente.

REVOGAÇÃO TÁCITA ocorre quando o cliente outorga um novo contrato mandado com poderes similares aquele que foram outorgados a outro procurador, sem que se ressalve que o procurador antigo continua procurador, isto implica revogação tácita do mandado antigo.

03.05.12

Analisaremos agora a situação em que se identifica a presença de um litisconsórcio. A circunstancia de haver litisconsórcio no processo é perfeitamente natural. O legislador ao produzir normas de natureza processual ele não pode, pois é impossível para a atv legislativa ficar imaginando as

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diversas situações em todos os casos. Ele precisa trabalhar com uma situação modelo, concentra normas que regulam a situação que saem do modelo. As situações que saem deste modelo não podem estar o tempo inteiro na cogitação do legislador. Concentra o regramento da excepcionalidade.

Temos que despertar a nossa atenção para duas situações básicas que não pode sair da nossa cabeça ao tratar de litisconsórcioo:

- trata-se de um caso que as pessoas poderiam ou não se listiconsorciar, ou é o caso que há a necessidade de se litisconsorciar? NECESSIDADE OU FACULTATIVIDADE DO LISTISCONSÓRCIO.

- Diante desta situação existe um laço entre as epssoas que justifique o tratamento diferenciado pelo poder judiciário? É uma circunstancia que obriga ou não o poder judiciário, tratar com uniformidade essas pessoas. É POSSÍVEL PELO PODER JUDICIÁRIO PODE DECIDIR DIFERENTEMENTE EM RELAÇÃO AOS LITISCONSÓRCIO? Ou terá que decidir igualmente?

O resto é perfumaria.

EXEMPLO – MP propor uma demanda para declarar a invalidade de um casamento. Poderia o MP propor a demanda apenas em desfavor do marido? Não. O poder judiciário ao se manifestar vai atingir o patrimônio jurídico dos dois, portanto ambos tem que estar em juízo. É possível o poder judiciário dar um tratamento distinto entre os litisconsórcio? Obviamente que não. O tratamento tem que ser unitário.

CONCEITO – litisconsórcio é o laço que prende no processo dois ou mais litigantes, seja como autores, seja como réus. Mas ai a gente já começa a andar mal. O trecho após a virgula, a gente começa a tentar a estabilizar aquela relação que existe entre os litisconsortes. Parece que aqueles sujeitos serão o tempo inteiro autores, ou o tempo todo serão réus. A relação jurídica processual é por natureza dinâmica. Então, é melhor parar o conceito na virgula. Não é possível a pessoa está na mesma situação o tempo inteiro.

Capítulos da defesa ensejam relações diversas entre estes que chamamos de litisconsortes.

O nome é normalmente utilizado para há mais de um autor ou há mais de um réu. Mas temos que atentar para o fato de que a rigor o listisconsorcio é o laço que liga os litigantes. E, no curso do procedimento este ldo pode mudar de lado. O laço é móvel. Tecnicamente até o autor e um dos réus podem compartilhar um laço de litisconsórcio, mas não poderemos dizer que ele é litisconsórcio para facilitar a comunicação.

O modelo de litisconsórcio é um processo em que existe dois ou mais autores ou dois ou mais réus.

A luz do polo .A vista do polo onde o litisconsórcio se encontra. Passivo ou ativo. Mais de um autor ou mais de um réu. Pode ainda ser misto com mais de um autor e mais de um réu. Essa classificação

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é feita a luz do ato de propositura da demanda. Temos que estar atentos neste caso para o momento da propositura da demanda, deflagrando o procedimento.

Posso pensar ainda a luz do momento da sua formação. Litisconsórcios que já são formados por ocasião da propositura da demanda. Litisconsórcio que é formado no momento em que o procedimento começa, sendo portanto LITISCONSÓRCIO INICIAL. Se vier a ser formado no curso do procedimento. Dizemos que este litisconsórcio é ULTERIOR.

Há uma divergência doutrinaria a respeito do litisconsórcio ulterior. Um litisconsórcio que deveria ser formado desde o inicio do procedimento, mas não o é, sendo apenas corrigido posteriormente. Neste caso, diz a doutrina que esse litisconsórcio deveria ser chamado inicial. Mas como formo um litisconsórcio ulteriormente? Mas ao formar o litisconsórcio ulteriormente eu não estaria atentando contra o princípio do juiz natural? Sim, mormente se for um litisconsórcio ativo. O litisconsórcio ulterior não é vedado pelo sistema jurídico. Mas é preciso que tenhamos cuidado com ele, pois ele carrega em si um forte potencial para violar o princípio do juiz natural.

Essas classificações servem apenas para facilitar a comunicação. Pouco efeito prático daí decorre.

Vamos entrar agora na seara das espécies de litisconsórcio importante para que dominemos o tema.

Nos casos em que os laços não podem ser cindidos. Independentemente que o legislador dizer que a demanda terá que ser proposta contra ambos, ela terá que ser proposta por ambos. É necessário. Esse laço é de natureza tal que o patrimônio jurídico das pessoas será potencialmente atingido. O litisconsórcio é necessário seja por conta da natureza do laço entre os litigantes, seja por ordem da lei. Quando o legislador diz que será necessária a citação de a b e c, ele em verdade está retirando do interprete a possibilidade de chegar a possibilidade diversa. Em outras vezes, ele o faz não porque o laço exista, mas porque existe possibilidade do laço existir. É o que ocorre na usucapião. Neste caso o legislador obriga que não sejam citados não só as pessoas em nome de quem o bem está registrado, mas também os confrontantes deste bem imóvel, bem como terceiro que eventualmente possam ter interesse na demanda.

Assim, no L dito necessário ou indispensável, se identifica um tipo de laço que é incindível entre os colitigantes. Não há como o p judiciário sem admitir a hipótese de que pode ser que a decisão possa atingir o patrimônio de mais alguém. Nestes casos, pois o litisconsórcio será necessário. Se ele não for formado no momento da propositura da demanda, o juiz deverá ordenar a sua formação. Se o autor não proceder a esta inclusão, o juiz estará autorizado a extinguir o processo sem a resolução do mérito.

OBS.1: Existem autores que preconizam que o juiz constatando a necessidade da formação de um litisconsórcio não deve esperar o autor requerer a citação daquele que deveria ser litisconsorte junto com outro. Isto porque é um formalismo exagerado, devendo o juiz ter uma certa proatividade. Afinal o que é um mero requerimento de citação. Requerer é só uma expressão, cabe

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ao interprete extrair o sentido correto. Não se trata de um mero requerimento de citação, mas sim um requerimento da inclusão daquele que não foi incluído e deveria ter sido feito no polo jurídico passivo. O juiz não pode agir neste caso sem provocação, pois o juiz não pode escolher com quem o autor vai brigar. Talvez não seja nem um pouco conveniente que o autor proponha a demanda contra aquela pessoa.

EXEMPLO –

OBS.2: Não há litisconsórcio necessário ativo. Se houvesse estaria colocando um limite no exercício do dirieto de ação. Tanto é assim quando o legislador trata ... Condominos de um bem e o outro também se considera dono do mesmo bem, de modo a excluir o direito dos outros. Qualquer dos quatro pode formular um pleito. Quando o litisconsórcio é necessário estamos cuidando da regularidade do procedimento. Pois quando o L é necessário, e ele não é formado, estamos diante de um procedimento inválido.

O legislador não admite com prazer o litisconsórcio necessário.

08.05.12

Cumulação subjetiva no listisconsórcio. Quando há cumulação de pedido ou de causa de pedir, nós temos cumulação objetiva.

A maior tendência é que os interesses dos litisconsórcio estejam em consonância ao longo da relação processual. Mas não podemos descartar a possibilidade de em um dado momento processual seus interesses sejam distintos ou opostos. Note que interesses distintos não são iguais a interesses idênticos. Ver art. 509 do CPC.

EXEMPLO – concurso de delegado de policial, exame psicoteste. Interesses idênticos, distintos ou opostos?

Na situação do L necessário a preocupação do legislador é zelar pela regularidade do procedimento, de modo que ao procedimento sejam integradas todas as pessoas que podem ter seu patrimônio jurídico atingindo pelo provimento jurisdicional que do processo emergirá.

ATENÇÃO! Não estou pensando no provimento concretamente nascido, estou pensando abstratamente. Toda pessoa que PUDER, VIR A TER, seu patrimônio jurídico invadido. Assim, independentemente de violação ou não do patrimônio, o sujeito deveria ter participado. Se a pessoa não participar, o procedimento padece de um vício, posso até dizer que é inválido. Mas isso não quer dizer que o procedimento será invalidado, porque não necessariamente haverá motivos para que o procedimento seja invalidado. Nulidades será estudado no final do semestre.

Quando o legislador pensa no facultativo a ideia dele é a seguinte: devo encontrar meios para fazer com que de um só processo, eu possa extrair provimentos jurisdicionais tão amplo quanto possível. Um só processo terá servido para tirar do seio da sociedade, várias lides. Mas não posso também

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abrir as portas para que essas pessoas entrem descontroladamente no processo, pq senão inviabiliza o processo.

O legislador então criou um conjunto normativo que regulamente, estabelece limites para que as epssoas possam se litisconsorciar. Eu desejo que elas se litisconsorciem, mas esse desejo é acompanhado de um freio, da preservação da viabilidade do processo, pois pode ficar inútil, pq é candidato a nunca se encerrar.

O litisconsórcio necessário assim o será quando o legislador assim disser, e quando o patrimônio jurídico de alguém puder vir a ser atingindo pelo provimento jurisdicional que advém do processo.

QUADRO INTERESSANTE DE COMUNHÃO INCINDÍVEL – Neste caso o legislador resolve de propósito cindir a comunhão que a rigor seria incindível. 36. Permite expressamente que um condômino possa reivindicar de 3º coisa comum, mesmo que os outros não o façam. Esta norma vem na proteção do exercício do direito.

Caso o L necessário não seja formado no momento da propositura da demanda, cabe o juiz que ordene que ele se forme. Nos termos no art. 47. Mas não podemos esquecer a discussão da aula passada a respeito deste ordem de requerimento de citação. Sendo um excesso de formalismo ou não. Não posso compelir a parte a brigar, se ela não quer brigar.

Não existe litisconsórcio ativo necessário.

OBS.: Há doutrinadores que admitem litisconsórcio ativo necessário. Poucos. Candido Dinamarco. Cobrado em alguns concursos, tipo juiz federal e procurador da república.

15.05.12

Falta aula passada, pegar com tuany.

INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

Situações em que há um quadro ou um terceiro é provocado para integrar a relaçõ jurídica processual, ou o terceiro se apresenta espontaneamente para integrar a RJP.

Terceiro é um conceito excluedente, é aquele que não integra a relação jurídica processual. Obviamente quando ele passa a integrar a rjp, ele não será mais terceiro. Apesar disso, o legislador continua chamando o indivíduo de terceiro, para facilitar a comunicação com o interprete.

Uma vez dentro ele passará a atuar com parcialidade, integrando portanto o conceito de parte.

Intervenção – intervenir, intervir. Quem intervem vem no inter. Alude-se ao comparecimento de alguém no curso de algo. A chegada da pessoa se dê no curso de, e não no começo, e que a chegada desta pessoa, este passe a integrar a rjp. Sem com isso fazer nascer uma nova relação

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jurídica processual. Se a aparição desta pessoa fazer nascer uma nova rjp, eu não teria uma intervenção, mas um ato jurídico que faz surgir uma rj.

A entrada deste terceiro terá que passar pelo crivo de admissibilidade do magistrado. Sob a pena do magistrado perder o controle do processo. A RJP deve permanecer tão estável quanto possível.

A chegada de mais alguém no processo o torna mais complexo.

ATENÇÃO – n tem intervenção de terceiros nos juizados especiais. 9099.

Quanto mais celeridade se deseja, menos intervenções de terceiro haverá.

As intervenções de terceiro. Não sendo o terceiro assistente ao integrar a rjp, ele terá interesses em consonância com alguém está ali. Logo, o comparecimento do terceiro no processo pode gerar um quadro de litisconsórcio. Vamos estudar as situações que permitem o seu ingresso. Depois de dentro, usaremos os conhecimentos que já temos sobre a parte interna da rjp.

Não são assuntos que se excluem, mas se complementam: litisconsórcio e intervenção de terceiros.

A ideia básica é correção do integrante do polo passivo da rjp.

1,2, 3, as intervenções provocadas ou coatos. Pois não comparecem espontaneamente. Já 4 e 5 intervenção de terceiros espontâneos ou voluntários. Estes são caracterizadas pela espontaneidade do terceiro, o que não impede que o legislador crie exceções.

1. Nomeação à autoria

Quem nomeia dá nome. Indica nome. Autoria nos dá a ideia de autor. Autoria aqui tem origem no latim autor, que quer dizer responsável. Quer dizer na verdade dar o nome ao responsável. Porque num processo o réu teria que dar o nome do responsável? Quando proporam a demanda contra ele, mas ele não é o responsável, mas ele sabe quem é.

O autor cria toda uma narrativa, imputando fatos a A, quando na verdade deveria ser imputado a B.

Art. 62 e 63, CPC.

A parte ré é legitimada para lança mao do instituto. E ela é obrigada a fazê-lo. Na prática A propõe demanda contra B. Citado, B tem prazo para contestar. Se o caso é de nomeação a autoria, ele não contesta, ele nomeia C à autoria. Cabe ao autor escolher com quem ele vai litigar. Se A propôs demanda contra B, e há a nomeação de C. É natural que o legislador estabeleça que o autor deve ser ouvido, para aceitar ou não a autoria.

Na primeira aceitação – ele estará dizendo que escolheu mau o réu. Ai, requer a citação de C. Citado C, ou ele aceita a qualidade que lhe é atribuído ou ele nega a qualidade. Se ele negar, morre

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ai a nomeação à autoria. Se C recusar, o processo prossegue contra A e B. Mas isso é quase condenar o processo a ...

Para que C aceite, A tinha que ter manifestado a aceitação. Somente nesta hipótese o instituto de nomeação se aperfeiçoa. C então passar a ocupar o lugar de B no processo (extromissao de parte). Isto é aquele que era parte originariamente é retirada do processo. A extromissao requer uma dupla aceitação.

Se ele rejeitar a nomeação – o processo prossegue entre ele e B. O juiz intimará B a respeito da rejeição, e a partir daí voltará a correr o prazo de defesa para B. prazo integralmente devolvido.

2. Denunciação da lide

Quem denuncia a existência da lide, porque quer exercitar seu direito de regresso. Cuidade, diferentemente no que se dava no código de 1939, que era necessário exercer a denunciação da lide antes para poder exercitar o direito de regresso. É por meio da denunciação da lide já se exercita o direito de regresso. O objetivo é permitir que essas lides sejam compostas de uma vez. De A com B e de qualquer um dois litigar, no caso de um deles perder. Característica que chama a atenção.

Exemplo – disputa da propriedade em torno de um bem imóvel. Já na petição inicial formula o pedido contra ao réu, e contra o terceiro. Mas ai este terceiro é réu no processo. Só que o pedido que formulei contra ele, é um pedido de subsidiariedade. Ele é tão réu quanto o de lá, só que ele é réu subsidiário. Também podemos elaborar o raciocínio com o réu. O

Obvia vinculação entre as questões. Vínculo de subordinação entre as questões por preliminariedade.

A litisdenunciação feita pelo autor, não há uma legítima intervenção de terceiro. Porque já na proposição da petição inicial o autor faz a denunciação, então não está no inter. A citação do litisdenunciado é feita antes da do réu, ainda por cima. Já a litisdenunciação feita pelo réu é uma legítima intervenção de terceiros.

Na peça de defesa, há um capítulo fazendo a litisdenunciação.

Art. 76, redação equivocada.Só cuidou da litisdenunciação feita pelo réu. A sentença que acolhe o pedido, torna o réu perdedor. Tem que ser interpretado não do jeito que está escrito dizendo que a sentença quando o litisdenunciante for vencido na demanda principal, já impondo a eventual obrigação de indenizar regressivamente.

17.05.12

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No caso na evicção o CC exige que ao se discutir o direito de propriedade judicialmente . Sob pena do direito de ser indenizado. Isto tem aos poucos sendo amenizado pelo superior tribunal de justiça. Esta exigência representa uma limitação do direito de ação.

(a gravação não começou do início).

Obrigatoriedade da denunciação a lide. Aparece proeminentemente nos casos que se discutirá a evicção.

3. Chamamento ao processo

Evoca de imediato a ideia de solidariedade. Instituto que está atrelado a uma situação em que alguém que se vê demandado, por conta da assunção de uma obrigação solidaria, adota uma postura tendente a constituir um título em relação aqueles que também se obrigaram solidariamente pela mesma obrigação. Isto é, no caso de ser obrigado a pagar sozinho a obrigação, ele vai querer no bojo do mesmo processo ganhar um título judicial que já permita o direito de regresso dos outros devedores solidários.

Por aplicação do princípio da eventualidade, numa determinada etapa da defesa, é logico que a pessoa assuma o raciocínio, que se todavia ele for compelido a pagar sozinho a obrigação, mas ela foi assumida solidariamente. Caso eu seja obrigado a pagar para a hipótese de vossa exa. Acolher o pedido do autor, requeiro ser reconhecida a solidariedade de A B e C em relação a esta obrigação, para que possa cobrar dos demais.

Se os outros quiserem discutir a existência ou não da solidariedade, eles terão que fazê-lo durante este mesmo processo, e não num novo.

Lei 8906.

Não se dá apenas nos casos de devedores solidários. Pode ser chamado ao processo o devedor em que o fiador é réu (art. 77, II). Dos outros fiadores quando para a ação for citada apenas um deles. Tem que chamar todos os demais fiadores, não pode escolher (art. 77, II).

OBS.: Chamamento ao processo está no campo da opção, da vontade daquele que sendo réu no processo. Uma vez tendo o réu optado por chamar ao processo, tendo resolvido chamar, o chamado não tem a opção de aceitar. Quem chama ao processo é Chamante ou chamador. Note que nos outros dois institutos, denunciação a lide e a nomeação a autoria são obrigatórias para o litisdenunciante e para nomeador, podendo sofrer sanções.

O chamado ao processo vai adotar como linha de defesa será negar a existência da solidariedade, pode se dizer, então, que há um litisconsórcio entre Chamante e chamado? NÃO. Agora por raciocínio lógico, em outro capítulo da defesa, haverá litisconsórcio de interesses, pois será alegado que a dívida que o autor clama, não existe. Aqui há um típico litisconsórcio, mas ele aparece se

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extravasa e surge no capítulo da defesa que o chamado vier a apresentar, em que o chamado e Chamante estão em consonância de seus interesses.

Note que na denunciação a lide apesar do legislador tratar como litisconsórcio, tecnicamente trata-se de assistência. Apesar disso, será extrair os efeitos do litisconsórcio.

Esvaziamento do direito do credor numa obrigação solidária, num primeiro momento. Mas mais a frente da vantagem é devolvida (não prestei atenção como). 20 min. Art. 456 do cc.

Utilidade do instituto, art. 80, cpc.

O réu se defende e além de se defender num capítulo da defesa, chama ao processo. Suspende-se os atos do procedimento originário entre o réu e o autor, para que sejam citados os chamados. Apresentam então suas defesas.

4. Oposição

Deduzir em juízo uma pretensão que exclui as pretensões afirmadas por autor e réu. E como já uma disputa entre duas pessoas, para que ele compareça, exercendo essa oposição, ele exercitará este direito frente a ambas as partes. Na oposição haverá a formação de um litisconsórcio passivo: entre autor e réu da demanda originária.

No curso de um procedimento, resolve-se mais de uma lide.

Limite para admitir o ingresso deste terceiro, na primitiva relação jurídica processual. Escolha política: iniciada a audiência de instrução e julgamento. Art.. Ele quer evitar que a oposição tardiamente oferecida, acarrete efeitos temporais indesejáveis para o processo já em curso. Mas não é um marco absoluto. Dá-se uma margem para que o juiz permita que a oposição tardiamente oferecida, seja processada como se tivesse sido oferecida antes da audiência de instrução e julgamento.

Uma dentro processada dentro da relação jurídica processual, ficando mais complexa. Mas tudo se resolverá dentro da mesmo rjp. Já a oposição tardia fará nascer uma nova relação jurídica processual. O segundo exemplo de tema tratado pelo legislador no âmbito das intervenções de terceiro e que em verdade intervenção não é, pois neste caso o opoente ao propor esta demanda faz nascer uma nova rjp. Portanto, não há uma INTERvenção do processo, há sim a criação de uma nova rjp.

Oferecimento de oposição será sempre oferecimento de demanda. Mas ai há diferença quanto as efeitos, isto é, há casos em que originará uma nova RJP e outros que não fará surgir um novo processo.

A doutrina usa as seguintes expressões para separar a O tardia e a O não tardia: oposição legítima intervenção e a outra é a oposição como intervenção autônoma. Mas segundo Salomão a demanda

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de oposição é sempre autônoma, seja tardia ou não. Poderá não haver a autonomia do procedimento.

Características: nos casos da oposição é utilizado o procedimento ordinário sempre, com algumas peculiaridades. O julgamento quando se tratar de oposição como legítima intervenção a oposição será apensada aos autos originários – não há uma relação de Acessoriedade entre a demanda originária e a do opente, por isso não podemos nos referiar a uma demanda principal e uma demanda acessoria, ao contrario do que ocorre na denunciação da lide, onde a subsidiaária se discute a existência ou não da relação de solidariedade -. Estas demandas são processadas simultaneamente. O opoente ele ingressa na primitiva RJP tornando-a mais rica e complexa, com isso há alterações naquela relação jurídica processual. É uma petição que deve atender todos os requisitos de uma petição normal. É uma petição inicial. A distribuição se dará por dependência, haverá uma prevenção do juízo onde tramita a demanda originária. A citação é feita em nome dos advogados das partes. Mas neste caso o legislador que quer, apesar de em outras passagens o legislador dizer que o adv precisa de poder especial para receber citação.

Art. 57. Em prazo comum de 15 dias. Caso típico de exceção a regra do art. 191,cpc, que há o prazo em dobro para os litisconsórcios apresentar suas respectivas defesas.

Caso aconteça que um dos opostos reconhecer a procedência do pedido formulado do opoente. Neste caso, não vincula o outro oposto. A oposição continua contra o outro. E este ao reconhecer a pretensão do opoente, isto repercute na relação jurídica processual originária. Obviamente ele irá perder a demanda originária.

A oposição legítima será julgada junto com a demanda originária na mesma sentença.

A oposição tardia, que uma vez oferecida, fará nascer uma nova RJP. Porque foi oferecida depois da audiência, e o juiz verificou que não é caso de sobrestamento dos atos. O julgamento dela se dá independentemente do julgamento da demanda originária. Não há impedimento que a originária seja juglada antes da oposição. Será julgada pelo mesmo juiz. Petição inicial da emsma forma, atendimento das normas 282 e 283. A citação por igual modo se dará na pessoa dos advogados. Prazo de 15 dias, mesmo quando há advogados distintos para os procuradores. Será oferecida oferecida até a sentença da demanda originária.

Se for oferecida depois de proferida a sentença, a demanda será tratada como outra qualquer, não gozando de nenhum dos benefícios que a oposição dá.

Não há qualquer impedimento a oposições sucessivas. Não é comum a oposição, muito menos a oposição sucessiva.

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29.05.12

5. Assistência

De todas as modalidades de intervenção de terceiros esta é a mais comum. Este quadro que possibilita ingressar a alguém ingressar num processo é muito mais amplo. Art. 50. Ao pensarmos em assistência, pensamos em ajuda. Ajuda quem quer ajudar. Intervenção de terceiro é espontânea, excetuando-se as situações em que o legislador determina que alguém seja intimado alguém para adentrar no processo na qualidade de assistente. O TERCEIRO QUE TIVER INTERESSE JURÍDICO.

Quando podemos dizer que há interesse jurídico? Há interesse jurídico quando se reconhecer que esta pessoa se afirmar titular de um direito que pode vir a ser contrariado em todo ou em parte pode ser contrariado, negado, pelo poder judiciário ao declarar o direito aplicável no caso concreto.

OBS.: comumente o interesse econômico é interesse jurídico. Mas há interesses econômicos que não chegam a ser jurídicos, e vice e versa.

Percebam que o sublocatário não mantem com o locador qualquer relação jurídica. A relação jurídica dele é com o sublocador, que é o locatário do locador. Neste caso há interesse jurídico do sublocatário. Há uma relação de subsidiariedade, subalterna.

Dentro dos interesses jurídicos identificamos aqueles que guarda uma relação de Acessoriedade com o objeto do processo, enquanto outros não guardam esta relação de Acessoriedade, pois o “assistente” guarda uma relação conflituosa com a outra parte que litiga com o assistido.

No procedimento sumário, cautelar, na de execução (se houver algum tipo de defesa pelo executado e o juiz tenha que fazer um juízo de valor). Só não é vabível nos casos de juizados especiais cíveis, tanto estaduais, como federais.

Art. 51. O assistente deve apresentar uma peça onde demonstrará seu interesse jurídico na ação. Afirme que é titular de um direito que pode vir a ser negado no todo ou em parte pelo direito que o direito vier a declarar como aplicável no caso concreto.

O assistente requer, e, então, o juiz ouvirá ambas as partes, para que eles digam se tem alguma objeção à assistência. Não havendo resistência, o juiz terá a faculdade de deferir, no sentido de que precisa passar pelo crivo do judiciário, só deferindo o pedido, se ele identificar o interesse jurídico. Atenção, todas as intervenções de terceiros exigem o crivo do judiciário para existirem.

O legislador quer dizer que se não houver discussões em torno do direito de assistência, deflagradas por qualquer das partes, (o eventual assistido pode impugnar também!), qualquer que seja a resistência, surge então o INCIDENTE DE ASSISTÊNCIA. Este incidente terá um tratamento procedimental distinto, que ainda não estudamos, implicará na determinação do juiz que sejam desentranhadas do processo as peças relativas ao requerimento da assistência e a impugnação,

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formando-se autos apartados, para que o juiz decida acerca do requisito de assistência. Este incidente pode demandar alguma instrução.

Quem atua como assistente, o assistente simples, ad adjuvandum, o chamado assistente adesivo. Esta modalidade de assistência deixa o assistente numa situação de subordinação, ele o assistente não pode contrariar interesses do assistido. Assim, este assistente este deve se restringir a ajudar o assistido. Se o assistido não quer a produção de prova pericial, ele não pode ir aos autos pedindo a produção de prova pericial, etc.

Nos casos em que o assistido silenciar, ele poderá atuar como gestor de negócios processuais do assistido. O legislador fala em quando o assistido for revel, mas este não é o único caso. Isto terá aplicação em qualquer caso em que o assistido silenciar.

A situação muda completamente quando se identifica um interesse jurídico do assistente está em pé de igualdade com o interesse jurídico de quem está sendo assistido. O assistente mantem com o oponente do assistindo uma relação jurídica litigiosa. O legislador neste caso dá um tratamento diferente. O assistente mantem relação jurídica não só com o assistido, mas também com o oponente do assistido. Isto é chamado de ASSISTENCIA LITISCONSORCIAL. Enseja muitas controvérsias no campo do direito processual. Casos em que poderia haver litisconsórcio, mas não houve, ou seja, são casos em que poderia ter havido litisconsórcio facultativo e não houve.

Houve pluralidade de sujeitos no processo além do autor e do réu, precisamos ter a maior cautela possível.

Ninguém nega ao assistente litisconsorcial completa autonomia para atuar no processo. Ele atua com liberdade.

Quais são os degraus quando nos deparamos com o caso concreto? (a) Identificação do interesse jurídico. (b) Examinar este interesse jurídico, para ver se é subordinado ou autônomo.

Cumpre ainda falar da INTERVENÇÃO ANÔMOLA DAS PESSOAS DE DIREITO PÚBLICO. Art. 5, 9469.

31.05.12

Seguimento do estudo dos sujeitos processuais. Existem outros sujeitos que não vamos tratar ainda. Como o advogado, ele pratica atos tanto em nome próprio, como em nome de uma das partes.

MINISTÉRIO PÚBLICO – Sempre a ideia do MP que é o órgão que personifica o interesse coletivo junto aos órgãos jurisdicionais. Mas ele não atua apenas no âmbito dos órgãos jurisdicionais. A tudo que é interesse da ordem jurídica. Pode atuar como substituto processual, como fiscal da ordem jurídica (“custos legis”). Quero que fique claro que de algum modo ele personifica os interesses da sociedade.

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Comumente se diz que o MP ou atua como substituto social (postula em nome próprio, interesses alheios, da coletividade, por exemplo uma ação civil público). A doutrina e a jurisprudência nega a legitimidade do mp para atuar em prol de interesses direitos individuais homogêneos. O MP está legitimado para atuar em defesa de interesses difusos e coletivos.

Em outros casos o mp atua como fiscal da lei. Uma demanda em que se discute a validade de certo casamento. Esta discussão exige a atuação do MP, para atuar em defesa da ordem jurídica, e em não ajudando o cônjuge A ou B. nestes casos em que o sistema normativo abre oportunidade para o mp se pronuncie como fiscal da lei. Há muitas disposições legais em que se abre oportunidade para o MP se pronuncie. O MP atua em procedimento de MS, por exemplo. Mesmo se for para dizer que ele não tem interesse no procedimento. Nestes casos o legislador identifica um maior potencial de necessidade para o MP se pronunciar. Abre-se vistas para o MP, e ele então diz se é ou não o caso de interesse público para que ele se pronuncie.

Interesse público não se confunde com interesse da fazenda pública. Este interesse é de cobrar tributos, e isso nem de longe se confunde com o interesse público.

Nas causas em que houver interesse de incapaz o mp tem que ser sempre ouvido. Sempre zelando pela preservação pelos interesses do incapaz. Ele não está atuando de forma imparcial. Ele atua em verdade como assistente. Ele atua de maneira parcial. Não é uma atuação como fiscal da lei, mas como uma modalidade de substituição processual subordinada (assistência).

Nos casos em que o mp deve intervir no processo, o comum é que o juiz abra oportunidade para que esta manifestação se dê. Não há necessidade que haja requerimento da aprte para que seja aberta oportunidade para ele se manifestar. Não se contaminem com uma interpretação equivocada da norta contida no art. 84, do CPC. Se é ato natural do procedimento, não há necessidade de requerimento da parte. A invalidade do procedimento pela não intervenção do mp, precisa ser visto com ares crítico. Este procedimento padece de uma mácula, de um mal. Mas uma coisa é um ato jurídico inválido, outra coisa é a necessidade de invalidar o ato jurídico (procedimento). Por vezes os ato jurídico é inválido, mas não há porque invalidado. Então ele passa a produzir efeitos como ato jurídico válido fosse. Isto porque há possibilidade de corrigir o defeito, abrindo vistas nos autos para o mp se manifestar no 2 grau. Neste caso o defeito do 1 grau pode vir a ser corrigido. A menos que o mp demonstre que a falta de atuação do mp no 1 grau, gerou algum tipo de invalidade incorrigível, demonstrando, portanto a necessidade da invalidação do procedimento.

O mp é um órgão que se estrutura organizacionalmente. MPE: quem ingressa no mpe ingressa no cargo de promotor de justiça, primeiro grau. Quando é promovido para o 2 º grau passa a ser procurador de justiça. O chefe do MPE que só é uma pessoa é chamado de procurador geral de justiça. MPF: promotor de justiça = procurador da república. Procurador de justiça = procuradores regionais da república. Atuam junto aos tribunais superiores os sub-procuradores gerais da república. E no pico da estrutura do MPF está o procurador geral da república, chefe nacional do MPF.

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O MP tem independência. Garantias similares da magistraturas. O mp está vinculado a nenhum poder, assemelha-se a um quarto poder, com total autonomia.

JUIZ é diferente de JUÍZO. Não estava na sala. Juiz agente de poder do âmbito do poder judiciário. Os poderes do juiz no processo são muitos, e ao lado dos poderes ordinatórios (fazer que o processo ande), decisórios (decidir as questões trazidas), (...). Ao lado de todos os poderes, possui apenas um dever, prestar a atividade jurisdicional num tempo razoável. Este tempo razoável para quem promove a atividade de forma responsável, é uma agonia para os magistrados.

Suspeição e impedimento. Este são sempre objetivos, aqueles guardam sempre uma carga de subjetividade. Nos casos de suspeição, que prepondera a carga subjetiva, o legislador deixa para o controle das partes. A parte que quiser, se ela achar que mesmo o magistrado se adequar numa daquelas hipóteses, ainda assim atuar com imparcialidade, ela poderá não arguir a suspeição no prazo de 15 dias e não poderá arguir mais. Nos casos de impedimento, é de ordem absoluta, a parte não pode aceitar o juiz impedido. Ela poderá arguir no prazo de 15 dias, não impede que ela o faça depois, não há preclusão. Se a parte não fizer a arguição no prazo, ela poderá arcar com as despesas que ao processo podem ser adicionadas por conta da sua não arguição. O magistrado também pode se declarar suspeito por motivo de foro intimo. Há diversas situações que geram a necessidade do magistrado se afastar do processo.

AUXILIARES DA JUSTIÇA – 95% dos atos praticados num processo são praticados pelos auxiliares de justiça, que atuam por meio dos cartórios. Estes cartórios integram as chamas serventias judiciais. Serviços ofícios (cartório de registro de pessoa natural, (...) e serventias judiciais. Falta muita coisa.

12.06.12

Nos interessa estudar agora o ato complexo procedimento a luz de sua validade. É complexo pq é integrado por uma série de atos. Digressão necessária, estudar o primeiro ato integrante do ato jurídico complexo procedimento: é comum que se diga a petição inicial. Mas a rigor não é A PETIÇÃO INICIAL. É a apresentação de petição inicial. Enquanto ela esteja na minha mao ainda não é considerada petição inicial. É a sua apresentação que deflagrará o procedimento. O ato da apresentação é seguido pelo ato de recebimento. É este curso circuito destes dois atos que faz surgir o processo. Recebido por um serventuário ou mesmo por via eletrônico. Após isto a petição é autuada, e são formados os autos.

Mesmo que a petição inicial esteja eivada de defeitos, ainda assim ela será o primeiro ato do procedimento, e o deflagrará. O juiz poderá até extinguir o procedimento se for um defeito insanável. Encerrará por meio de uma sentença. Mas o procedimento começou e teve mais de uma ato e se encerrou.

Assim há um ato que inicia e outro que encerra. A apresentação da petição inicial o inicia e a “sentença” a finda. Mas na verdade a sentença encerra UM PROCEDIMENTO. Depois dela outros procedimentos podem surgir, no caso dos recursos ou como o procedimento de execução. A

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interposição de agravo de instrumento faz surgir um procedimento incidental que correrá paralelo ao processo principal.

Procedimento incidental x sucessivos. O procedimento executivo fundado em título judicial é um procedimento sucessivo ao procedimento que certificou a existência daquele direito.

Há alguns procedimentos que possuem a características de surgir no mesmo momento em que a relação jurídica processual, e outro que surgem depois que esta relação já existe – e esse surgimento não é acompanhado por uma nova relação jurídica processual. O procedimento que nasce contemporaneamente com a a relação jurídica processual é encerrado pela sentença. Já o outro não tem a autonomia que tem o outro, não é encerrado por sentença.

Coordenação em série. Unidade de escopo entre os atos, voltados para obter um provimento jurisdicional. Estes atos mantem entre si uma maior ou menor interdependência. Há situações em que a interdependência não é verificável. Galhos diferentes. Tronco. Os atos que do ato inválido não sejam independentes, não são contaminados pelo ato (...)

FORMA DOS ATOS PROCESSUAIS – esse vocábulo forma tem sido objeto ao longo do tempo de uma guerra. Quando se fala na forma, não se está referindo a acessório dispensável. A forma aqui aludimos aqui é a forma já estudado por Montesquieu no seu livro espírito das leis. Não a forma pela forma, mas a forma como meio de garantia da segurança. A forma que precisa ser preservada é a forma que preserva a segurança jurídica. A forma é o preço que todo o cidadão paga por sua segurança jurídica. É baseado na forma que ninguém pode ser preso que não seja em flagrante ou por ordem da autoridade competente, que para decretá-la tem que verificar várias circunstancias autorizadora da decretação. Vamos estudar a forma no processo como instrumento a serviço da segurança jurídica. Tudo que for forma mais que não diga respeito a segurança jurídica, é formalismo, indesejável.

É um desvio formal que atingiu a segurança jurídica, ou é um desvio formal que não atingiu a segurança jurídica, e cumpriu o objetivo do ato.

Celeridade x segurança. Valores que se contrapõem. E a segurança está intimamente ligada a forma.

PRINCÍPIOS QUE REGEM AS FORMAS DO ATOS JURÍDICOS

1. PRINCÍPIO DA LIBERDADE DAS FORMAS

É aquele que preconiza que o ato não poderá ser invalidado se ele atingir a finalidade sem causar prejuízo. Ele pode ser praticado de qualquer maneira desde que atingida a finalidade sem causar prejuízo. 55. Exceto nos casos em que o legislador estabelece a forma e diz que é invalido de pleno direito se não observá-la, o resto das situações, ...

Art. 154

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2. INSTRUMENTALIDADE

Forma é instrumento, está a serviço de, não existe para si mesma, está a serviço do conteúdo. Não se deve invalidar o ato só por não ter atendido uma exigência da forma. Princípio casado com a da liberdade das formas.

3. PUBLICIDADE – os atos processuais de modo geral devem ser públicos. Por isso podemos assistir uma audiência qualquer. As decisões de sentença são publicadas. Os autos do processo são públicos, qualquer advogado pode ter acesso a eles. Alguns atos tem sua publicidade limitada: nos casos do interesse público o exigir ou nos casos de proteção a intimidade. Não é só apenas que está presente o interesse público, este deve exigir o sigilo. Art. 155.

Os atos são classificados pela doutrina. Dos atos judiciais, separa os atos do juiz em despachos (atps sem qualquer causa decisórias), interlocutórias (decisão dada pelo juiz no curso do procedimento) e sentenças (atos capazes de encerrar um procedimento autônomo). É comum que se classifiquem as sentenças em terminativas (não há resolução do mérito – hipóteses do art. 267) e definitivas (há exame do mérito da causa – art. 269).

Ao lado da forma há o LUGAR. Os atos processuais devem ser praticados em determinado lugar. Este local normalmente esta vinculado ao local do agente. Os atos praticados pelo juiz normalmente são praticados no seu gabinete ou na sala de audiências. Do escrivão no cartório. Do oficial de justiça fora das dependências do fórum. Os atos processuais são praticados em regra na sede do juízo, dependências. Há exceções, colher depoimento de parte que está recolhida em hospital. Ex. 411, certas autoridades podem ser ouvidas em seu local de trabalho. Mas os atos tem que respeitar os limites da comarca ou da seção judiciária. Com exceção do oficial de justiça, desde que se trate de ato praticado em comarca contígua e de fácil acesso, ou de comarcas que independentemente disso, comarcas que integrem a mesma região metropolitana. Essas regiões são sempre reconhecidas por lei. Nestas o oficial de justiça pode circular livremente. Mas o juiz não pode realizar atos fora de sua comarca ou seção judiciária.

TEMPO PARA PRÁTICA DOS ATOS DO PROCESSO – quando alido atempo, não estou me referindo ao prazo, por enquanto. Estou me referindo a momento adequado. Os atos processuais devem ser praticados das 6h das 20h, nos dias úteis, excetuado os atos praticados por meio de via eletrônica. Sábado não é dia útil, domingo é considerado feriado. Chama-se o sábado de dia não útil, o novo CPC diz que é feriado também. É normal que os oficiais de justiça façam diligencias aos sábados, e não se questiona a validade destes atos. Art. 172.

Não se confunde com a visão do prazo, estudaremos na próxima aula. Estamos com a noção de tempo, tempo adequado para a pratica do ato. É muito comum que se o use o vocábulo termo como sinônimo de tempo. Dies a quo e dies ad quem, termo inicial e termo final. O vocábulo termo tem um sentido que não é unívoco, é utilizado por diversos significados. Dias inicial e dia final. É usado como sinônimo de prazo. Como também é preciso que saibamos que tem atos processuais

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que são rotulados de termo, como o termo de penhora, termo de data. Essas são expressões muitos comuns no foro, termo é a documentação escrita e autentica de um ato processual realizado por um serventuário de justiça no exercício de suas atribuição. Um sinônimo de termo neste sentido é auto, normalmente quando a documentação é feito fora das dependências da sede do juízo, auto como modalidade de termo.

Autos é a materialização do processo. Conjunto físico ou virtual de termos e demais atos praticados no curso do procedimento. Se os autos forem extraviados, eu suspendo a prática dos atos do procedimento, é iniciado um procedimento de restauração dos autos. Restaurados os autos, o processo que tramitava nos autos extraviados, volta a tramitar, nos autos restaurados.

14.06.12

(CAI NA PROVA!!!)

PRAZO

Necessidade de entender pela necessidade dos prazos. Os prazos não são fixados apenas para as partes, mas para o juiz, os servidores da justiça, enfim todos os atores da relação jurídica processual. Decorre do fato de que o processo é uma marcha para frente, abrange um sistema de preclusões. Se há um momento para a prática do ato, tem que estar atrelado a um prazo para a pratica do ato. Posso definir que o momento da apresentação da peça contestatória , após a citação do réu, mas o prazo é aquele definido pelo processo civil, no procedimento ordinário em regra é de 15 dias. Se se tratar de litisconsortes com procuradores distintos esse prazo dobra.

Princípios básicos: BREVIDADE E ISONOMIA.

BREVIDADE (misturou tudo) – Último dos incisos do art. 5. Princípio da duração razoável do processo. Consiste em verdade em uma regra de concretização do princípio da duração razoável do processo. Esse princípio é efetivado por meio de regras de efetivação. Todas as regras que estabelecem um prazo é uma regra de concretização deste princípio. Passa também pelo princípio da paridade ou isonomia, segundo o qual as partes devem ser tratadas igualmente no limite de sua igualdade, e desigualmente naquilo que forem desiguais.

Qual a crítica fácil, repulsiva: a ideia que os prazos para a defesa contados em quadruplo para a fazenda pública, essa norma seria um princípio violadora da isonomia. Não é, pois este órgão tem particularidades que não são vividas pelo particular. A regra básica concretizadora da isonomia, é a aquela segundo a qual que um tratamento deve ser tratadas igualmente, se estiverem em situação de igualdade. Mas as regras que estabelecem prazos distintos para as partes, são também de concretização do princípio da isonomia.

Situação em que a própria parte tem uma peculiaridade que exige que a ela seja dada um tratamento especial. Como o caso das fazendas públicas, o MP, e as autarquias, tem prazo em

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quadruplo para contestar e em dobro para recorrer. Art. 188, CPC. A regra que incluem as fazendas públicas estão na lei 9469/97. A fazenda pública tem um prazo em quadruplo por que?

ATENÇÃO! Prazo em dobro para recorrer, não para apresentar contrarrazões. A regra é de exceção devendo ser interpretada de forma restritiva. É apenas quadruplo para contestar. Para manifestar ao longo do processo não tem prazo dilatado.

Outro quadro dispensado tratamento especial, é a decorrente dos litisconsortes com procuradores distintos. De um modo geral muito comumente são instados a se manifestar no processo de uma só vez, num só tempo. Neste caso, eles teriam que ter acesso aos autos por metade do tempo do que se fossem só um. O prazo é EM DOBRO. Não importa se forem 10 litisconsortes com procuradores diversos.

Há situações ensejadoras de prazos diferenciados, não decorrentes da situação da parte, mas do local em que o processo tramita. Há comarcas que são . nos casos das comarcas em locais de difícil acesso, em que houver dificuldade de transporte, ou nos casos de calamidade pública, qualquer que seja o caso pode ser prorrogado pelo magistrado por até 60 dias, e se for caso de calamidade pública (decretado pelo poder executivo) a prorrogação pode exceder os 60 dias.

EXEMPLO - 17 min. O qudro de calamidade pública a par

A situação especial não decorre da parte ou do local onde o processo tramita, mas da representação judicial da parte, que por lei tem prazo diferenciado. Por exemplo, a defensoria pública prazo em dobro para tudo! É a defensoria pública não serviços que prestam atividades similares, a exemplo do SAJU. Tem que beneficiar a defensoria pública ou em órgão público similar. 9060, §5º, art. 5.

Estudo dos princípios informativos do próprios prazos:

UTILIDADE – Por este princípio todo prazo tem que ser o prazo necessário e suficiente para a prática do ato. Famoso binômio: necessidade-suficiencia. É baseado neste princípio que o legislador fixa de acordo com sua política legislativa o prazo para a pratica de certos atos, como o juiz 2 dias para despachar e 10 dias para decidir. Está no Código, mas ninguém consegue. O serventuário tem 24h para fazer os autos concluso para o juiz. A de contestação de 15 dias. A fixação de todos os prazos são fixados com base neste

Quando houver silencio da lei e do magistrado, não houver lei específica, o prazo para a prática do ato será de 5 dias. art. 185 CPC. Muitas vezes é o juiz que terá que fixar o prazo. É por conta deste princípio que vem aquelas normas que dizem “se o dia do inicio do prazo coincidir com feriado, dia não útil, expediente acabar mais cedo, o inicio deste prazo será portraido para o dia útil seguinte”. O dia do vencimento do prazo coincidir com estes mesmos dias, esse dia de vencimento será portraido para o primeiro dia útil seguinte.

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Se o ato de comunicação processual se der num dia não útil, como num sábado, ela é considerada ocorrida no primeiro dia útil seguinte. Art. 240. Com base no princípio da utilidade que se considera por exemplo que se ocorrer feriado no curso do prazo não altera a contagem do prazo.

É com base neste início que o legislador estabelece suspensão e interrupção de prazos. Diferença entre interrupção e suspensão. No primeiro o prazo volta a contar por inteiro, no segundo volta a contar do que faltava.

Quando se suspende o processo, não necessariamente os prazos para a prática dos atos do processo serão suspensos.

O legislador também diz que os prazos serão a depender do qudro devolvidos, na hipótese de obstáculo criados por uma das partes, ou do serventuário da justiça. Art. 180 CPC.

Art. 183 – ocorrendo justa causa, o juiz assinara um novo prazo para a parte praticar o ato. Se a parte provar que não pode praticar certo ato, por fato alheio a sua vontade. Assinatura de um novo prazo, não há a rigor suspensão, mas motivo de assinação para um novo prazo que pode ser igual ou não o prazo inteiro, ou ao prazo que sobejeado, bem como pode ser um prazo distinto. Este justa causa não é motivo para suspensão ou interrupção de prazo, mas de assinação de um novo prazo.

CONTINUIDADE DOS PRAZOS PROCESSUAIS – art. 178. O prazo é contínuo não se interrompendo, nem se suspendendo nos feriados. Por este princípio os prazos são contínuos não se suspende ou interrompem. Há exceções já listadas.

INALTERABILIDADE DOS PRAZOS PELO JUIZ – os prazos são inalteráveis, possui exceções nos casos de calamidade pública ou dificuldade de transporte, por exemplo. IRREDUTIBILIDADE e IMPRORROGABILIDADE. Mas há situações que o juiz pode alterar para menos ou para mais. Poderá alterar para menos. São casos raros, mas é possível.

Os prazos dilatórios são aqueles que comportam acerto entre as partes para que este prazo sejam alterados para mais ou menos. Se contrapõem aos prazos peremptórios, não permitem que as partes o negociem. Não há um critério para saber se certo prazo é dilatório ou peremptório. O que se costuma usar é que o prazo será peremptório todas as vezes que o seu descumprimento gerar um acréscimo no patrimônio jurídico da outra parte. Prazo para defesa, recurso, etc. a alusão aos prazos dilatórios, art. 181, CPC.

Envolve acima de tudo bem senso. Um prazo para qualquer das partes se manifestar sobre documento aos autos, tem o prazo de 5 dias para nele se manifestar.

PEREMPTORIEDADE – cuidado este princípio nada tem a ver com prazo dilatório e peremptório. Este princípio determina que o prazo se encerra, se acaba, pelo só fato do tempo passar, não há necessidade de que ninguém diga que o prazo acabou. Não precisa que ninguém certifique que o prazo se esgotou. Esta certidão só serve de notícia, não interfere com o esgotamento do prazo.

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PRECLUSÃO – Uma vez decorrido o prazo não se pode mais praticar o ato, não poderá mais praticar o ato determinado a ser praticado naquele momento. Há prazos que são preclusivos, e outros que não são. Quanto se trata de questão de ordem pública o juízo pode se manifestar de ofício. Se a incompetência for absoluta a incompetência pode ser alegada a qualquer tempo. Estas situações relativas a materia de ordem pública, são situações que podem ser objeto de alegação ou conhecimento do poder judiciário a qualquer tempo. Estes prazos a este tipo de alegação não são prazos preclusivos. Então este princípio existe, mas o ato deve ser praticado no prazo para tanto determinado pelo juiz ou pela lei. Se não for praticado, não poderá mais sê-lo, a não ser se for prazo não preclusivo, quando se tratar de matéria de ordem pública.

OBS.: Duas modalidades de preclusao. A atrelada aos prazos, denomina-se a PRECLUSÃO TEMPORAL. Quem deixa de arrolar testemunha no prazo, deixa de apresentar quesitos para que ser respondido, etc. Consiste no fato da circunstancia da impossibilidade de praticar o ato, decorrer do fim do prazo para que o ato seja praticado. PRECLUSAO LÓGICA a impossibilidade de praticar o ato decorre do fato, que o outro ato foi anteriormente praticado, que impede que outro ato depois seja praticado. Incide no venire contra factum proprio. Fruto da boa fé objetiva. Quem praticar ato em determinado sentido, não pode praticar depois ato em sentido oposto. Art. 503, CPC. São atos incompatíveis. PRECLUSÃO CONSUMATIVA, a impossibilidade de praticar o ato, decorre de que um ato anterior foi praticado esgotou os efeitos do ato que se quer praticar. Por exemplo, alguém insiste quanto a necessidade de praticar o ato pericial. Vai aquele sujeito que recorreu, pelo indeferimento da produção de prova pericial, na sentença, quando perde, apelar da sentença pois não. Ele não pode alegar no recurso de apelação o cerceio do direito de defesa, pois este ato dele, ele quer obter efeitos que já foram consumados em razão de um ato anterior. 57.

CLASSIFICAÇÃO DE PRAZOS – há quem aluda a prazos próprios e impróprios. Aqueles são aqueles cujo o descumprimento geram efeitos de natureza processual, são prazos da parte. Os impróprios tem como destinatário o juiz, o serventuário, o mp custos legis, estes prazos uma vez descumpridos há impossibilidade de praticá-los. Pelo contrário, uma vez descumprido ai que ele precisa cumprir. São extraíveis apenas efeitos de ordem administrativo ou disciplinar, dos prazos impróprios, não se extraem efeitos de ordem processual.

Costuma-se falar ainda dos prazos de acordo com a origem da sua fixação: legais, judiciais, convencionais. Há possibilidade de as partes convencionarem a suspensão da pratica dos procedimentos, pode implicar a suspensão por até 6 meses. É um prazo convencional.

CONTAGEM DOS PRAZOS (!!!) – Inicio da contagem, regra geral: momento da intimação. Há situações todavia que temos que ter atenção para as intimações em dias nos quais o expediente forense acabou mais cedo, em feriado, dia não útil, não contadas ocorridas no primeiro dia útil seguinte, art. 240. Outra situação especial, os processos em que a intimação não se dá pelo diário oficial, mas por meio do diário da justiça eletrônico (lei 11419, art. 4, §§3 e 4). Diz esta lei que a data que é disponibilizada esta informação, não corresponde a data da publicação, esta será sempre a data do dia útil seguinte a disponibilização da informação.

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Regra geral: os prazos são contados excluindo-se o dia do começo e incluindo-se o dia do final. Prazo começa no dia dez, prazo de 5 dias, o prazo termina no dia 15 (:O).

Contagem de prazo de hora, minuto, mês e ano. Lei 810/49. A contagem de mês acaba no dia equivalente do mês final.

OBS.: a lei não alude aos casso em que o evento excepcional, como o encerramento do expediente, no dia da disponibilização da informação. A lei CPC, fala apenas quando o dia da intimação corresponder a um dia que o expediente forense terminar mais cedo. Se o dia da intimação coincidindo com um dia que o expediente terminou mais cedo, eu desprezo este dia e reputo como feita no primeiro dia útil seguinte. H´aum espaço em branco na legislação.

EU SEMPRE COMEÇO A CONTAR EM DIA ÚTIL, NÃO POSSO COMEÇAR EM DIA QUE NÃO SEJA ÚTIL, PORQUE NÃO POSSO PEGAR OS AUTOS NO CARTÓRIO EM DIA QUE NÃO TEM FERIADO.

19.06.12

O inicio do prazo se dá no dia da intimação, sendo que há exceções, como já dito antes, como por exemplo quando ela ocorre numa sexta ou sábado. Nos processos eletrônicos por força de disposição legal considera-se que o dia da publicação não é o dia da disponibilização da informação no sitio eletrônico, mas o dia seguinte. É preciso identificar o termo inicial. A regra é o momento da intimação. Há no que concerne esta regra duas situações especiais: quando a intimação se da naqueles dias, ou se a intimação se der pela via eletrônica, o próprio legislador não se considera que a publicação se deu no dia da disponibilização da informação, mas no dia seguinte.

Formula pratica de contagem do prazo em dias, implica na exclusão do dia do começo e a inclusão da do final. Excluo o dia do começo, e o dia 1 do prazo será o dia útil seguinte do dia do começo . O dia do começo é o dia da intimação (dia zero).

Se no meio da contagem sobrevier, sábado, feriado, expediente forense acabar mais cedo, isso em nada altera o prazo. Mas se este tipo de dia coincidir com o final do prazo, este será transferido para o primeiro dia útil seguinte.

ATENÇÃO! Numa greve, normalmente a greve é desencadeada por servidores, e a administração tende a resistir. A JUSTA CAUSA já vimos aqui pode ser criada pelo clima de insegurança de uma greve, do impasse entre os servidores e a administração. A justa causa não é causa de suspensão, mas causa de assinar novo prazo. Que pode ser um prazo distinto daquele que restar, ou mesmo igual o maior. Art. 183, §2º, CPC.

Lei 810/49. Contagem de prazos em ano, mês.

Demanda rescisória, prazo 2 anos. Conto dois anos, não duas vezes 365 dias. MS prazo de 120 dias para propor a demanda. Vencidos os 120 dias ele não pode mais lançar mão do procedimento de MS, mas não impede que use o procedimento normal. Percebam que são 120 dias, e não 4 meses!

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Havendo dúvida, uma situação controvertida quanto a contagem de prazo, o órgão julgador ou o órgão que atue como fiscal da lei, deve optar pela linha de raciocínio que favoreça mais para aquele contra quem o prazo corre. Mas os advogados não podem adotar essa conduta.

Quando trabalhamos com prazo temos que atentar com o princípio da segurança jurídica. Os atos administrativos normalmente incluem o dia da deliberação

Art. 241. Dies a quo e dies ad quem.

REGRA: Os prazos, em regra, que demandarem a prática de ato por advogado (juntada de uma peça), eles somente começam a acorrer após o aperfeiçoamento da comunicação, que se dá pelo ingresso nos autos da prova que a comunicação ocorreu. Se a intimação ou citação se der pelo correio, o termo inicial do prazo será na data de juntada aos autos do termo de recebimento.

Esta situação de que o prazo só é deflagrado com a juntada do AR aos autos, quando o to a ser praticado está a cargo do representante judicial da parte. Situação que não se confunde com “senhor comerciante tome as providencias cabíveis para tirar o nome do autor do SPC”. O prazo que ela cumpra não vai ser contada a partir do momento que o AR for juntado aos autos. O ato a ser praticado não é um ato processual, mas um ato da vida que a própria pessoa tiver q praticar.

ATENCÃO! Se o ato a ser praticado não é um ato a ser praticado pelo advogado, e sim pela própria pessoa, de natureza geralmente executiva, o prazo começa a ocorrer a partir do dia da comunicação da ordem.

Se o ato foi praticado por meio de oficial de justiça, este então tinha um mandado em mãos, e por conta disso, o prazo (se se tratar de ato processual o prazo será contado a partir da juntada do mandado aos autos, o dia que for cortado vai ser a data da juntada do AR ou do mandado aos autos).

CUIDADO existe uma chamada uma citação por mandado com hora certa. O oficial neste caso, procura três vezes a pessoa não acha e suspeita de ocultação. Estarei aqui amanha ou depois de amanha, as tantas horas, se o citando não estiver, ele dará por citado. Neste caso específico a lei prevê que o escrivão vai expedir uma carta para a pessoa, ela não transmuta a natureza do ato que aconteceu, a citação continuou sendo por mandado, a carta é apenas um complemento, a juntada desta carta, não vai importar inicio de prazo nenhum, pois a citação foi feita POR MANDADO. Por ser uma citação ficta o legislador deu essa precaução, para avisar “olhe o senhor foi dado por citado, o prazo já começou a correr”.

Se a citação (e não intimação!) for de vários réus o prazo para a defesa começará a correr da data no dia da juntada aos autos da prova da última citação feita. Quando começar a correr o prazo do que foi citado por último. A intimação o prazo é individual, se vários réus forem intimados, o prazo começa a correr no momento que a prova de cada intimação foi juntada aos autos.

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CUIDADO: a data da última juntada aos autos. O dia que será cortado será o dia que vier os autos o último aperfeiçoamento de todos os atos de citação, que foram praticados.

Quando o ato, citação, terá que ser cumprido por meio de CARTA PRECATÓRIO, OU ROGATÓRIA..., o prazo vai correr da juntada aos autos principais da carta precatória. Isto ainda quando for um ato processual que terá que ser praticado.

Se se tratar por citação/intimação por edital. A pessoa a ser citada é incerta ou desconhecida neste caso será por edital. Quando o réu está em local incerto, algum lugar numa cidade, ou num lugar ignorado, quando não faz ideia nem da cidade, faz pelo edital, em local de difícil acesso, as favelas do rj eram consideradas locais de difícil acesso. Prazo de dilação editalícia é um prazo que corre a partir do momento (...) 57. Exige a contagem de dois prazo, o da própria aperfeiçoamento da citação editalícia, e o prazo da própria prática do ato.

E se a intimação for feita na audiência, o prazo começa a contar a partir da data da audiência.

PRAZO PARA PRÁTICA DE ATOS PARA O JUIZ E PARA O SERVENTUÁRIO - O prazo para o juiz começa a correr da data do termo da conclusão. É a data que na regra pratica será cortada. Para seventuario pratica ato. O termo de data marca o momento de devolução dos autos para os auxiliares da justiça praticarem seus atos. Como são muitos, o entendimento é que o prazo para o serventuário é de 48h.

RECESSO JUDICIÁRIO – lei 5010. 20 de dezembro a 6 de janeiro. Art. 34. São feriados na JF. 19 de dezembro ultimo dia de expediente. Apesar de lei falar como feriado, deve ser interpretado como se fosse férias forenses. Este período deve ser interpretado como período de suspensão. Volta a correr no primeiro dia útil. Não tem mais dia para cortar. 7 é o dia que volta. Inspeção faz com que os prazos sejam suspensos tb.

FALTOU AULA PASSADA

03.07.12

MODALIDADES DE ATO CITATÓRIO –

a) Citação pelo correio

Se dá por meio de um simples envio de uma correspondência acompanhada pelos documentos que a própria lei determina: copia da petição inicial... Entregue mediante um AVISO DE RECEBIMENTO, que deverá ser assinado diretamente pelo réu, do contrário vai ser frustrado o ato. Quando se trata de pessoa jurídica deve ser entregue a quem os estatutos designarem como pessoa em condição de representar em juízo a pj, art. 12 e 223. Ou a pessoa que detenha poderes de administração ou com poderes gerais de gerencia. O STJ tem flexibilizado a análise, ou o rigor da análise do atendimento das exigências formais do ato citatório pelo carteiro, dizendo, por exemplo, se for empregado de uma pj responsável pelo recebimento de cartas, o ato citatório valerá.

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A citação pelo correio veio para reduzir o numero de citação por mandado. Regrou a partir do art. 222 do CPC. Casos em que este tipo de citação não pode acontecer.

b) Citação por mandado

A mais clássica e comum. Ir no endereço do réu para citá-lo. Entrega a copia do mandado junto com a copia da petição inicial. O oficial colhe a assinatura do réu. E então devolve o mandado aos autos. Não confundir a citação por hora certa, com aquele ato que envia-se correspondência notificando de que houve a citação por hora certa.

c) Citação por edital

O legislador elenca os casos em que há necessidade de citação por edital. Há casos em que não estão no CPC. Mas o legislador faz a previsão quando trata de procedimentos especiais. Resumindo é quando o réu é pessoa desconhecida, isto é, não se tem ideia de quem é o réu. Ou quando o réu ser pessoa incerta, diferente de pessoa desconhecida, naquele caso se sabe que o réu integra determinado grupo, mas não quem é especificamente. Ou quando é ignorado o local onde se encontra o réu, não sei de forma alguma onde o réu está. Ou quando o local é incerto, sei mais ou menos onde o réu o está, mas ainda não sei precisar. Ou quando o réu se encontrar em país que não permita o ato de comunicação processual. É considerado local inacessível algumas das favelas do rio controladas pelo tráfico. Local inacessível também permite a citação editalícia.

d) Citação eletrônica

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