direito penal militar

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CFO / PMRO - 2015 Prof Delson Xavier / Marcelo Oliveira DIREITO PENAL MILITAR I DIREITO PENAL MILITAR I

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Page 1: Direito Penal Militar

CFO / PMRO - 2015

Prof Delson Xavier / Marcelo Oliveira

DIREITO PENAL MILITAR IDIREITO PENAL MILITAR I

Page 2: Direito Penal Militar

ROTEIRO

A Lei Penal Militar Distinguir o crime da contravenção penal Distinguir o crime militar do crime comum e da transgressão disciplinar Caracterizar os crimes militares próprios e impróprios Distinguir o Direito Penal Militar do Direito Processual Penal Militar Enunciar os princípios gerais e específicos da lei penal militar.

Page 3: Direito Penal Militar

Direito é o conjunto de regras de conduta coativamente impostas pelo Estado, que garantem a convivência social, estabelecendo limites à ação de cada um de seus membros.

Entende-se por Direito Penal como “o conjunto de normas que ligam ao crime, como fato, a pena como consequência, e disciplinam também as relações jurídicas daí derivadas, para estabelecer a aplicabilidade das medidas de segurança e a tutela do direito de liberdade em face do poder de punir do Estado”. (Frederico Marques)

DIREITO PENAL E CONTRAVENCIONAL

Page 4: Direito Penal Militar

Magalhães Noronha ensina que Direito Penal “é o conjunto de normas jurídicas que regulam o poder punitivo do Estado, tendo em vista os fatos de natureza criminal e as medidas aplicáveis a quem os pratica”.

É o ramo do direito público, que trata do estudo das normas que ligam o crime à pena, disciplinando as relações daí existentes. No ensinamento de Cezar Bitencourt: “Conjunto de normas jurídicas que tem por objeto a determinação de infrações de natureza penal e suas sanções correspondentes - penas e medidas de segurança”.

DIREITO PENAL E CONTRAVENCIONAL

Page 5: Direito Penal Militar

A infração penal é a violação da norma penal, cometida por ação ou omissão.

Conforme a importância do bem ou necessidade da vida legalmente protegidos, a infração penal se constituirá, pelo sistema dicotômico brasileiro, em crime ou contravenção penal.

CRIME E CONTRAVENÇÃO

Page 6: Direito Penal Militar

Contravenção penal “é a infração penal que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.” (Art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal - LICP). As contravenções estão tipificadas na Lei das Contravenções Penais (Decreto–Lei n.º 3.688, de 3 de outubro de 1941).

CONTRAVENÇÃO PENAL

Page 7: Direito Penal Militar

O crime, por sua vez, é “a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa.” (Art. 1º da LICP).

Caracteriza-se por ser um ato externo comissivo (ação) ou omissivo (omissão) legalmente imputável, antijurídico e típico, a que a lei comina uma pena.

CRIME

Page 8: Direito Penal Militar

A diferença que existe entre crime e contravenção penal não é de substância, mas reside na importância dos bens jurídicos tutelados e na quantidade e qualidade da sanção aplicada aos infratores.

No Brasil, o Código Penal define e delimita as condutas ditas criminosas (crimes) e estipula os limites da punibilidade e o quantum de pena mínima e máxima a ser aplicada em cada caso que enumera. Em geral, constituem penas privativas de liberdade e/ou penas restritivas de direitos, combinadas ou não com penas de multa; podendo ainda ser aplicadas, em substituição às primeiras, medidas de segurança contra o réu.

CRIME E CONTRAVENÇÃO

Page 9: Direito Penal Militar

Já as contravenções penais foram definidas por meio do Dec-Lei nº 3.688/41 e suas penas variam de multa a prisão simples de no máximo dois anos. Também admite penas de restrição de direitos e medidas de segurança. Um dos diferenciais do crime em relação à contravenção é que o condenado por contravenção não pode cumprir sua pena em um mesmo local que outro condenado por crime com pena de detenção ou reclusão.

CRIME E CONTRAVENÇÃO

Page 10: Direito Penal Militar

DIFERENÇA ENTRE CRIME E CONTRAVENÇÃO

Page 11: Direito Penal Militar

Cabe destacar três aspectos:

1 - A Lei nº 9.099/95, amparada no art. 98, I da Constituição Federal/1988, modificada pelas Leis nº 9.839/99 e 11.313/06, instituiu os Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito estadual, com competência para tratar das infrações penais de pequeno potencial ofensivo: “todas as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa”(Art. 61 da Lei nº 9.099/95).

Assim, todos os crimes comuns e as contravenções penais enquadrados nesta situação passaram a ser objeto de transação penal, aplicando as penas restritivas de direitos (penas alternativas) ou multas, com os propósitos de evitar a desnecessária imposição da pena privativa de liberdade; reparar os danos e prejuízos sofridos pela vítima; ser mais célere e desafogar o Poder Judiciário.

CRIME E CONTRAVENÇÃO

Page 12: Direito Penal Militar

Já a Lei nº 10.259/01 instituiu os Juizados Especiais Federais, com competência para processar e julgar os feitos de competência da Justiça Federal, relativos às infrações penais de menor potencial ofensivo, praticadas contra bens, serviços ou interesses da União.

De resto, é bom lembrar que, pelo Art. 90-A da Lei nº 9.099/95, as disposições contidas em ambas as leis (9.099/95 e 10.259/01) não se aplicam no âmbito da Justiça Militar; e a competência do Juizado Especial Federal não inclui causa que tenha por objeto a impugnação de punição disciplinar aplicada a militar.

CRIME E CONTRAVENÇÃO

Page 13: Direito Penal Militar

2 - Além do Código Penal e da Lei das Contravenções Penais, outras normas extravagantes ao Código poderão definir crimes, tais como a Lei de Segurança Nacional, a Lei Antidrogas, Lei do Meio Ambiente, Estatuto do Desarmamento, Estatuto da Criança e do Adolescente, Estatuto do Idoso, Lei de Falências, Código Brasileiro de Trânsito e inúmeras outras.

3 - Também é possível a estipulação de crimes por meio de legislação especial, cuja apreciação, julgamento e condenação caibam a ramos especializados da Justiça, tais como os crimes eleitorais e militares.

CRIME E CONTRAVENÇÃO

Page 14: Direito Penal Militar

O crime pode ser:

1) comum - a que se sujeitam todos os cidadãos e que são julgados pela justiça comum, estadual ou federal, conforme a competência jurisdicional (Vide Art. 109, incisos IV ao VI e VIII ao X da CF/88).

2) especial - o direito especial dentro do nosso sistema político são categorias que se diversificam em razão do órgão que deve aplicá-los jurisdicionalmente. Este é o melhor critério para uma distinção precisa, pelo menos no que tange ao direito penal: se a norma objetiva somente se aplica por meio de órgãos especiais constitucionalmente previstos, tal norma agendi tem caráter especial; se a sua aplicação não demanda jurisdições próprias, mas se realiza pela justiça comum, sua qualificação será a de norma penal comum. Atendendo a esse critério, teremos um direito penal comum e um direito penal militar.

DIREITO PENAL COMUM E MILITAR

Page 15: Direito Penal Militar

b. Direito Penal Comum e Militar

Portanto, podemos inferir destes ensinamentos que os crimes especiais são todos aqueles que devam ser tratados por órgãos jurisdicionais especiais, constitucionalmente previstos, como os crimes militares, julgados pela Justiça Militar; os crimes eleitorais, julgados pela Justiça Eleitoral, etc. Cabe destacar que essa distinção não é pacífica, divergindo a respeito notáveis doutrinadores pátrios e de outras nacionalidades (Vide Art. 121; 122 ao 124 e 125, §§ 3º ao 5º, tudo da CF/88).

DIREITO PENAL COMUM E MILITAR

Page 16: Direito Penal Militar

Preliminarmente, é preciso que identifiquemos como a lei penal militar foi construída. O CPM se compõe de uma Parte Geral, montada em um Livro Único, que vai do Art. 1º ao Art. 135. E de uma Parte Especial, composta por dois Livros:

- O Livro I: que trata dos crimes militares em tempo de paz (Art.136 ao 354)

- O Livro II: que aborda os crimes militares em tempo de guerra (Art. 355 ao 408).

CRIME MILITAR EM TEMPO DE PAZ

Page 17: Direito Penal Militar

c. Crimes Militar em Tempo de Paz

O Art. 9º do CPM informa em quais situações uma determinada conduta humana, positiva ou negativa, terá o condão de disparar o sistema de apuração, instrução e julgamento dos crimes militares em tempo de paz, envolvendo atos e procedimentos das autoridades militares, do ministério público militar e da justiça militar, bem como, eventualmente, de outros órgãos e sistemas públicos e privados. É importante salientar, contudo, que sua construção não é das mais claras, podendo-se afirmar que o legislador não foi de todo feliz ao determinar seu conteúdo.

Está dividido em três incisos, os quais se diferenciam entre si pela natureza dos institutos penais incriminadores; pela qualidade dos agentes ativos e passivos dos crimes; e/ou pelo local, tempo ou situação em que os crimes são cometidos.

CRIME MILITAR EM TEMPO DE PAZ

Page 18: Direito Penal Militar

1) Inciso I do Art. 9º do CPM:

O inciso I do Art. 9º dispõe que são crimes militares aqueles que só estão previstos no CPM ou que, embora também tratados na legislação penal comum, se encontram no CPM com redação diversa, não importando, nestes casos, quem seja o agente do crime (um militar ou um civil).

A título de exemplo, o crime de deserção (Art. 187) como um crime que só está previsto no CPM; enquanto o crime de estupro (Art. 232 do CPM e Art. 213 do CP) é descrito de forma diversa, nos dois Códigos Penais.

CRIME MILITAR EM TEMPO DE PAZ

Page 19: Direito Penal Militar

O termo final “qualquer que seja o agente, salvo disposição especial” diz respeito a que determinados crimes são de autoria necessária, como o de dormir em serviço (Art. 203), que requer a condição de militar do agente; ou o crime de exercício de comércio por oficial (Art. 204), onde somente oficial pode ser o agente ativo; ou ainda o crime de insubmissão (Art. 183), que só pode ser cometido por civil convocado para o serviço militar.

CRIME MILITAR EM TEMPO DE PAZ

Page 20: Direito Penal Militar

2) Inciso II do Art. 9º do CPM:

O inciso II do Art. 9º considera que serão crimes militares todos aqueles que estão previstos no CPM, embora também estejam previstos na legislação penal comum, mas impõe a condição de que o agente do crime seja militar da ativa.

Isto significa que, normalmente, tais condutas criminosas seriam consideradas crimes comuns, mas quando praticadas por militar da ativa e nas situações que estão enumeradas nas alíneas de “a” a “e”, passariam a ser considerados crimes militares e da competência da Justiça Militar.

CRIME MILITAR EM TEMPO DE PAZ

Page 21: Direito Penal Militar

c. Crimes Militar em Tempo de Paz

Ainda no inciso II são destacados os objetos da ação criminosa:

Um militar em situação de atividade;

Um militar da reserva ou reformado;

Um civil;

O patrimônio sob a responsabilidade da administração militar, seja ele público ou privado;

A ordem administrativa militar.

 É importante sinalizar alguns pontos que podem suscitar dúvidas:

a) Militar em situação de atividade:a) Militar em situação de atividade:É aquele que está no serviço ativo, nos termos do Art. 6º do E-1; não

importando que esteja agregado, de folga, à paisana, de licença, férias, ou ainda fora de local sob a administração militar. Se estiver incorporado às Forças Armadas é considerado militar em situação de atividade (Vide Art. 3º, §1º, alínea “a”, do E-1).

CRIME MILITAR EM TEMPO DE PAZ

Page 22: Direito Penal Militar

c. Crimes Militar em Tempo de Paz

b) Assemelhado:Figura jurídica referente à determinada categoria de servidor público, já extinta e inexistente, que se sujeitava aos regulamentos disciplinares das Forças Armadas.

c) Militar da reserva:É aquele que tendo servido nas Forças Armadas, pertence ao rol de militares inativos e remunerados pela União, ainda considerados mobilizáveis nos termos da lei. Note-se que o militar da reserva ou reformado, quando empregado na administração militar (PTTC), equipara-se ao militar da ativa, para fins de aplicação da lei penal militar (Vide Art. 3º, § 1º, alínea “b”, incisos I e III do E-1 e Art. 12 do CPM).

CRIME MILITAR EM TEMPO DE PAZ

Page 23: Direito Penal Militar

c. Crimes Militar em Tempo de Paz

d) Militar reformado:

É aquele que tendo pertencido aos efetivos das Forças Armadas, foi enquadrado em uma das hipóteses previstas no Art. 106 do E-1. Estão definitivamente dispensados de prestação de serviço na ativa, mas continuam a receber remuneração da União (Vide Art. 3º, § 1º, alínea “b”, inciso II, do E-1 e Art. 12 do CPM). 

CRIME MILITAR EM TEMPO DE PAZ

Page 24: Direito Penal Militar

c. Crimes Militar em Tempo de Paz

e) Lugar sujeito à administração militar:

É todo e qualquer lugar onde unidades ou frações das Forças Armadas realizam suas atividades, tais como quartéis, navios, aeronaves, campos de prova ou de exercício e de instrução, estabelecimentos de ensino militar, estabelecimentos industriais militares, de saúde, de suprimento ou manutenção (arsenais, parques, depósitos de subsistência ou de material). Neste conceito, não estão incluídos os próprios nacionais residenciais (PNR), localizados nas vilas militares (ou fora delas), distribuídos a militares e civis, os quais têm a proteção constitucional da inviolabilidade do domicílio (Art. 5º, inciso XI, da CF/88). Isto, contudo, não significa que eventuais crimes cometidos no seu interior ou contra o patrimônio estatal não possa configurar um crime militar. Um exemplo disso é a situação em que um militar agride outro militar no interior do PNR, causando-lhe lesão corporal (Art. 209 do CPM); ou no caso do militar, usuário e responsável por determinado PNR, que danifica o imóvel que lhe foi distribuído (Art. 259 do CPM).

CRIME MILITAR EM TEMPO DE PAZ

Page 25: Direito Penal Militar

c. Crimes Militar em Tempo de Paz

f) Patrimônio sob a administração militar:

Deve ser entendido por patrimônio sob a administração militar, não só a imensa variedade de bens públicos distribuídos à administração militar para desempenho de suas atividades-fim ou atividades-meio; bem como aqueles que sejam privados, mas que cedidos ou locados para determinados fins de interesse militar, tais como imóveis, máquinas e equipamentos.

 

g) Ordem administrativa militar:

Nesse caso, o bem jurídico tutelado é a administração pública, seja ela a administração militar ou a administração judiciária militar. São os crimes descritos nos Títulos VII e VIII do Livro I da Parte Especial do CPM (Arts. 298 ao 354).

CRIME MILITAR EM TEMPO DE PAZ

Page 26: Direito Penal Militar

c. Crimes Militar em Tempo de Paz

3) Inciso III do Art. 9º do CPM:

O inciso III do Art. 9º do CPM trata dos militares da reserva ou reformados e dos civis como agentes ativos do crime e inclui, como hipóteses de incidência penal, as situações abrangidas pelos incisos I e II desse artigo. Isto significa dizer que um militar da reserva, reformado ou um civil poderá praticar um crime militar que esteja descrito:

a.Apenas no CPM;

b.Tanto no CP como no CPM, embora descrito de forma diversa em um dos Códigos;

c.De forma idêntica tanto no CP como no CPM Em qualquer uma das situações acima, para ser considerado crime militar tem que se enquadrar em uma das hipóteses listadas nas alíneas de “a” até “d” do inciso III do Art. 9º.

CRIME MILITAR EM TEMPO DE PAZ

Page 27: Direito Penal Militar

c. Crimes Militar em Tempo de Paz

4) Parágrafo único do Art. 9º do CPM:

É importante, para concluir a análise e reflexão dos fundamentos do Art. 9º do CPM, fazer algumas considerações sobre o parágrafo único dessa norma.

 A edição inicial do CPM não continha um parágrafo único no seu Art. 9º, mas a Lei nº 9.299/96 trouxe uma novidade, qual seja, a inclusão de um dispositivo de ordem processual em norma substantiva. Isso causou espécie e ampla discussão técnica a respeito de ser o dispositivo constitucional ou não. Naquela oportunidade, ficou assentado que os crimes dolosos contra a vida e praticados por militares contra civis passariam a ser da competência jurisdicional da justiça comum e não mais da justiça militar. Resolvendo a demanda, o STF considerou a norma constitucional e de plena eficácia, a partir da sua entrada em vigor.

CRIME MILITAR EM TEMPO DE PAZ

Page 28: Direito Penal Militar

c. Crimes Militar em Tempo de Paz

Nos crimes que se enquadram nas hipóteses do Art. 9º − se dolosos contra a vida de civis − será competente para julgar a suposta ação delitiva a justiça comum; valendo dizer, caso a denúncia seja aceita, a submissão do acusado a um tribunal do júri. Ressalte-se que de acordo com o Art. 82, § 2º do CPPM, a autoridade de polícia judiciária militar presidirá o IPM e remeterá os autos do inquérito à Justiça Militar, e esta, se for o caso, os encaminhará à justiça comum.

CRIME MILITAR EM TEMPO DE PAZ

Page 29: Direito Penal Militar

c. Crimes Militar em Tempo de Paz

Contudo, a Lei nº 12.432/11 trouxe uma nova redação ao parágrafo único do Art. 9º, excepcionando seus efeitos originários, para devolver à justiça militar a competência jurisdicional nos casos de uma ação militar praticada nos estritos limites do Art. 303, §2º do Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei nº 7.565/86). Isto se refere, especificamente, ao uso de meios extremos contra aeronaves hostis, que violem o espaço aéreo brasileiro e não se submetam à ordem de pouso em aeródromo nacional. Nestes casos, a lei autoriza o tiro de destruição (tiro de abate) e foi para tais casos que o parágrafo único do Art. 9º do CPM foi modificado. Permanece, nas demais situações de ação dolosa contra a vida de civis, a competência da justiça comum (tribunal do júri – Art. 5º, XXXVIII da CF/88) para conduzir o processo e o julgamento.

CRIME MILITAR EM TEMPO DE PAZ

Page 30: Direito Penal Militar

c.

 1) Considerações gerais

Por força da lei, os crimes militares se subdividem em crimes militares próprios e crimes militares impróprios. O CPM não os distingue, visto que trata a todos como crimes militares.

No entanto, saber distingui-los é de fundamental importância para o comandante ou para quem esteja exercendo as atribuições de polícia judiciária militar por delegação (o encarregado de IPM). Vejamos as razões:

CRIMES PROPRIAMENTE MILITARES

Page 31: Direito Penal Militar

c. Crimes propriamente militares

 (a) a CF/88 em seu Art. 5º LXI nos informa o Princípio da Liberdade, vedando a prisão de indivíduos, salvo nos casos de flagrante delito, ordem judicial, transgressão disciplinar, ou crime propriamente militar

definido em lei.

(b) o Código Penal Comum também faz referência a tais tipos de crimes em seu Art. 64, II, quando dispõe que condenação anterior por cometimento de crime propriamente militar não será considerada para fins de reincidência;

CRIMES PROPRIAMENTE MILITARES

Page 32: Direito Penal Militar

c. Crimes propriamente militares

(c) o CPPM, em seu art. Art. 18, construído sob a égide normativa e política vigente em 1969, autoriza (em tese) a detenção de indiciado em IPM, durante o período de investigação policial e por um prazo inicial de 30 (trinta) dias; prazo este prorrogável por até mais 20 (vinte) dias, por autoridade de Comando Regional (Cmt RM no âmbito do Exército). Pela leitura atenta do citado dispositivo conclui-se que a decisão de prender caberá à autoridade de polícia judiciária militar que conduz as investigações, ou a quem tiver sido delegada tal atribuição, vale dizer os encarregados de IPM. Porém, o Art. 18 do CPPM não distingue, na possibilidade de prisão sem ordem judicial, a hipótese de crime própria ou impropriamente militar, mas tão somente no gênero “crime militar”.

CRIMES PROPRIAMENTE MILITARES

Page 33: Direito Penal Militar

c. Crimes propriamente militares

(d) do confronto entre o disposto no Art. 5º, LXI da CF/88, em destaque na alínea “a” acima, com o contido no Art. 18 do CPPM, constatamos que a CF/88 não recepcionou de todo o Art. 18 do CPPM, mas, contudo, possibilitou sua eficácia para os casos de crimes propriamente militares. Portanto, é de fundamental importância que o oficial, investido de encargos de polícia judiciária militar, saiba distinguir se determinado crime se enquadra como propriamente militar ou impropriamente militar. Se for propriamente militar poderá realizar a detenção do indiciado e posteriormente comunicar a prisão ao juiz competente. No caso contrário, se o crime for impropriamente militar, só poderá prender o indiciado depois de solicitar e obter o competente mandado de prisão. Se o oficial se equivocar nesta classificação e recolher indevidamente alguém à prisão, poderá vir a responder pelo abuso cometido quer nas esferas penal, civil, e/ou administrativa.

CRIMES PROPRIAMENTE MILITARES

Page 34: Direito Penal Militar

c. Crimes propriamente militares

2) Definição de crime propriamente militar

Ao longo dos tempos a subdivisão dos crimes militares em próprios ou impróprios tem suscitado acaloradas discussões doutrinárias e nas cortes nacionais e internacionais.

Como a lei é omissa em tal distinção, o tema tem sido objeto de variada e rica abordagem.

As teorias existentes não atendem de forma satisfatória e plena às inúmeras facetas que o assunto comporta.

CRIMES PROPRIAMENTE MILITARES

Page 35: Direito Penal Militar

c. Crimes propriamente militares

2) Definição de crime propriamente militarTodos os entendimentos, sem exceção, quando transitam na tentativa de enquadrar os diversos tipos penais em uma ou outra classe, assomam inconsistências que trazem certo grau de insegurança para aqueles que efetivamente deverão tratar dos inúmeros casos concretos, os quais ocorrem na prática castrense.

Modernamente tem sido observado quase que um retorno ao posicionamento dos antigos jurisconsultos, se consolidando uma visão que entendemos ser a que melhor atende à segurança jurídica dos militares, os quais têm por obrigação funcional obedecer aos ditames da lei penal militar.

CRIMES PROPRIAMENTE MILITARES

Page 36: Direito Penal Militar

c. Crimes propriamente militares

Vejamos a posição de alguns autores:

a) Esmeraldino Bandeira, citando o direito na Roma antiga, nos ensina que “[...] crime propriamente militar é aquele que só o soldado pode cometer.” (1915, p.18).

b) Célio Lobão, citando Virgílio Carvalho, nos informa sobre acórdão do STF, o qual decidiu que “o crime propriamente militar é o que só por militares pode ser cometido, isto é, o que constitui uma infração específica e funcional da profissão de soldado” (1999, p. 69).

CRIMES PROPRIAMENTE MILITARES

Page 37: Direito Penal Militar

c. Crimes propriamente militares

c) o ministro aposentado do STM, já falecido, Jorge Alberto Romeiro, nos oferece uma “teoria processual” para fazer a distinção, que é o objeto deste estudo. O jurista nos ensina que “Crime propriamente militar seria aquele cuja ação penal só pode ser proposta contra militar.” (1994, p. 73).

d) Célio Lobão leciona ainda que “Como crime propriamente militar entende-se a infração penal, prevista no Código Penal Militar, específica e funcional do ocupante do cargo militar, que lesiona bens ou interesses das instituições militares, no aspecto particular da disciplina, da hierarquia, do serviço e do dever militar” (1999, p. 69).

CRIMES PROPRIAMENTE MILITARES

Page 38: Direito Penal Militar

e) Por fim, Jorge César de Assis, dá uma definição que melhor se adapta à situação presente, quando ensina que “crime militar próprio é aquele que só está previsto no Código Penal Militar e que só pode ser praticado por militar, exceção feita, ao de INSUBMISSÃO, que, apesar de só estar previsto no Código Penal Militar (art.183), só pode ser cometido por civil.” (2008, p. 43).

CRIMES PROPRIAMENTE MILITARES

Page 39: Direito Penal Militar

c. Crimes propriamente militares

Concluindo,

CRIME PROPRIAMENTE MILITAR É AQUELE QUE SÓ ESTÁ PREVISTO NO CPM E QUE SÓ PODE SER PRATICADO POR MILITAR, EXCETO O CRIME DE INSUBMISSÃO, QUE SÓ PODE SER COMETIDO POR CIVIL, MAS QUE EXIGE A CONDIÇÃO DE MILITAR PARA O INÍCIO DA AÇÃO PENAL.

CRIMES PROPRIAMENTE MILITARES

Page 40: Direito Penal Militar

d. Crimes impropriamente militares

Feita a caracterização dos crimes propriamente militares, fica facilitada a tarefa de definir os crimes impropriamente militares.

Vale trazer, em primeiro lugar, a ideia de que os agentes ativos de tais crimes podem ser tanto civis, quanto militares.

Em segundo, que tais crimes, em sua maioria, estão previstos tanto no CPM, quanto na legislação penal comum (CP ou legislação extravagante); embora, algumas vezes, descritos de forma diversa; porém, com o objetivo de tutelar bens jurídicos idênticos ou muito semelhantes.

CRIMES IMPROPRIAMENTE MILITARES

Page 41: Direito Penal Militar

d. Crimes impropriamente militaresO termo “legislação extravagante” engloba as normas legais vinculadas a determinado ramo do direito, mas que se situam fora da codificação disponível. A Lei nº 7.170/83, Lei de Segurança Nacional (LSN), por exemplo, que lista crimes contra a segurança externa do país e que não está inserida no Código Penal.

Bandeira informa que os crimes impropriamente militares:

São crimes intrinsecamente comuns, mas que se tornam militares, já pelo caráter militar do agente, já pela natureza militar do local, já pela anormalidade da época ou do tempo em que são cometidos.(BANDEIRA, 1915, p. 13).

CRIMES IMPROPRIAMENTE MILITARES

Page 42: Direito Penal Militar

d. Crimes impropriamente militaresAssim, considerando o Art. 9º do CPM, os crimes impropriamente militares seriam todos aqueles que:

a. Só estão previstos no CPM, ou estão previstos de forma diversa no CPM em relação à legislação penal comum, e que admitem qualquer pessoa como agente ativo do crime (Art. 9º, inciso I do CPM); Exemplo: furto de uso (Art. 241 do CPM).

b. Os previstos de forma idêntica tanto no CPM como na legislação penal comum, que têm como agente ativo um militar da ativa, nas hipóteses listadas nas alíneas do inciso II do Art. 9º do CPM; Exemplo: homicídio praticado por um militar da ativa (Art. 205 do CPM).

CRIMES IMPROPRIAMENTE MILITARES

Page 43: Direito Penal Militar

d. Crimes impropriamente militares

c. Os que têm como agente ativo do crime um militar da reserva ou reformado, ou um civil; quer seja o crime previsto apenas no CPM, ou previsto de forma diversa no CPM em relação à legislação penal comum; ou ainda previsto de forma idêntica tanto no CPM como na legislação penal comum, desde que praticados nas hipóteses listadas nas alíneas do inciso III do Art. 9º do CPM. Exemplo: lesão corporal (Art. 209 do CPM).

CRIMES IMPROPRIAMENTE MILITARES

Page 44: Direito Penal Militar

d. Crimes impropriamente militares

Assim, podemos sintetizar da seguinte forma:

 

CRIME IMPROPRIAMENTE MILITAR É AQUELE QUE, ESTANDO PREVISTO NO CPM, PODE SER PRATICADO INDISTINTAMENTE POR MILITAR DA ATIVA, DA RESERVA, REFORMADO, OU CIVIL; DESDE QUE SE ENQUADRE EM UMA DAS HIPÓTESES DO ART. 9º DO CPM.

CRIMES IMPROPRIAMENTE MILITARES

Page 45: Direito Penal Militar

d. Crimes impropriamente militares

Concluindo: para se caracterizar uma determinada situação ou fato da vida com sendo um crime militar em tempo de paz, temos que enquadrá-la em pelo menos uma das hipóteses descritas no Art. 9º do CPM e incisos; mas também, e fundamentalmente, em pelo menos uma das hipóteses de tipos penais descritos na Parte Especial, Livro I do CPM, o qual é delimitado entre os Art. 136 e 354 do citado Código.

CRIMES IMPROPRIAMENTE MILITARES

Page 46: Direito Penal Militar

Feitas as considerações sobre crime militar, e ainda a caracterização em próprio ou impróprio, resta-nos falar acerca do crime comum.

Se considera crime comum quando descritos nas inúmeras normas penais brasileiras, notadamente no Código Penal comum (Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940) e que serão em princípio julgados e processados pela Justiça Comum, estadual ou federal.

CRIME COMUM

Page 47: Direito Penal Militar

e. Crime Comum

Sendo assim, podemos estabelecer uma definição de crime comum em comparação aos militares:

O CRIME É COMUM QUANDO SÓ ESTÁ PREVISTO NA LEGISLAÇÃO PENAL COMUM OU ESTANDO TAMBÉM NO CPM, AINDA QUE DE FORMA IDÊNTICA OU SEMELHANTE, NÃO SE ENQUADRA EM NENHUMA DAS HIPÓTESES DO ART. 9º DO CPM.

CRIME COMUM

Page 48: Direito Penal Militar

.

Art. 49, *II e 84, XIX da CF/88; e Art. 15; 18; 20; 25; e 355 ao 408 do CPM.

Os crimes militares em tempo de guerra estão especificados no Art. 10 do CPM:

Pelo Art. 10 são considerados crimes militares em tempo de GUERRA:

(a) Os previstos no Livro II da Parte Especial do CPM (Art. 355 ao 408); como, por exemplo, os crimes de TRAIÇÃO, COVARDIA, ESPIONAGEM, SAQUE e RAPTO (Art. 10, inciso I do CPM).

(b) Todos os crimes previstos para o tempo de paz, dentro da classificação de propriamente militares; como os crimes de DESERÇÃO e INSUBORDINAÇÃO (Art. 10, inciso II do CPM).

CRIME MILITAR EM TEMPO DE GUERRA

Page 49: Direito Penal Militar

f. Crime Militar em Tempo de Guerra .

(c) Todos os crimes previstos para o tempo de paz, dentro da classificação de impropriamente militares; como os crimes de FURTO, ROUBO, LESÃO CORPORAL, etc (Art. 10, inciso III do CPM).

(d) Todos os crimes definidos na lei penal comum ou especial, embora não previstos no CPM, quando praticados em zona de efetivas operações militares ou em território estrangeiro, militarmente ocupado (Art. 10, inciso IV do CPM).

CRIME MILITAR EM TEMPO DE GUERRA

Page 50: Direito Penal Militar

f. Crime Militar em Tempo de Guerra .

Em síntese, os crimes em tempo de guerra, afora os específicos para o tempo de guerra e os enquadrados na Lei de Segurança Nacional (lei especial), são os mesmos para o tempo de paz, quer na legislação penal especial como na comum (inciso IV do Art. 10) com suas penas aumentadas, incluindo-se, então, a pena de morte como grau máximo para alguns dos mais graves.

CRIME MILITAR EM TEMPO DE GUERRA

Page 51: Direito Penal Militar

O Direito Processual Penal Militar, também conhecido como Direito Adjetivo ou Formal Militar, trata da maneira de atuar ou fazer valer as normas do direito penal substantivo ou material (direito penal militar) diante de um caso concreto, por meio de um Processo. Estas normas estão estabelecidas, em regra, no Código de Processo Penal Militar, o qual foi instituído por meio do Dec-Lei nº 1.002, de 21 Out 1969.

DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR

Page 52: Direito Penal Militar

g. Princípios Gerais e Específicos da Lei Penal Militar

Lei Penal Militar no Tempo

a) Princípio da Legalidade ou da Reserva Legal e da Anterioridade.

O princípio da legalidade ou da reserva legal encontra-se assim dividido:

(1) o princípio da legalidade genérico, previsto no Art. 5º, inciso II, da Constituição Federal de 1988, diz que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”;

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g. Princípios Gerais e Específicos da Lei Penal Militar

(2) o princípio da legalidade específico em matéria penal, previsto no Art. 5º, inciso XXXIX, da Constituição Federal de 1988 e consubstanciado no Art. 1º, do CPM, diz que “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal” (Nullum crimen, nulla poena sine lege).Nestes dispositivos encontramos ainda o princípio da anterioridade no período “não há crime sem lei anterior que o defina”. Ou seja, para haver o crime é necessária a existência de uma lei anterior à data do ato praticado prevendo que tal ato seja delituoso, e também que, para este delito, exista uma lei prevendo-lhe uma pena.

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g. Princípios Gerais e Específicos da Lei Penal Militar

As fontes do direito penal militar podem ser materiais (ou substanciais, ou de produção) quando informam como é produzido e elaborado o Direito Penal; ou podem ser formais (ou de conhecimento, ou de cognição) quando tratamos do modo ou forma como se exterioriza o direito, isto é, como se dá o seu conhecimento.A única fonte material do Direito Penal é o Estado, pois assim determina a CF/88 em seu Art. 22, inciso I, atribuindo competência privativa à União para legislar sobre direito penal.

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g. Princípios Gerais e Específicos da Lei Penal Militar

Beve abordagem sobre as FONTES DO DIREITO PENAL MILITAR.

O termo significa, figurativamente, a origem, de onde provém algo. Ao se tratar de fontes do Direito Penal Militar estamos estabelecendo as origens da norma penal militar.

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As fontes formais que exteriorizam o direito, que lhe dão forma e o revelam podem ser diretas ou imediatas e indiretas ou mediatas (ou subsidiárias).

A única fonte formal direta do Direito Penal é a lei, tendo em vista o Princípio da Reserva Legal (ou da Legalidade) já estudado.

As fontes formais indiretas são de aplicação restrita no Direito Penal tendo em vista o Princípio da Legalidade e são: a analogia; os costumes; os princípios gerais do Direito; a equidade; a doutrina e a jurisprudência.

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Os tratados e convenções internacionais a que o Brasil adere, depois de referendados pelo Congresso Nacional, tornam-se leis e, portanto, fonte formal direta do Direito Penal Militar.

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Eficácia da Lei Penal Militar no Tempo – Conflito Aparente de Normas

Princípio da Irretroatividade da Lei Penal Militar

Em regra, a lei penal militar não retroagirá. É o que podemos inferir da 1ª parte do Art. 5º, inciso XL, da Constituição Federal de 1988, que diz que “a lei penal não retroagirá...”.

Com base neste princípio podemos solucionar dois conflitos aparentes de normas, a saber:

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(1) novatio legis incriminadora - é o caso em que a lei nova torna típico um fato que antes não se considerava como crime. A lei penal nova não retroagirá para prejudicar aquele agente que tenha praticado o ato em momento anterior à sua entrada em vigor.

(2) Novatio legis in pejus - ocorre quando a lei nova é mais severa que a lei anterior. Neste caso também a lei mais severa não retroagirá para atingir atos praticados anteriormente à sua vigência.

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Princípio da Retroatividade da Lei Penal Militar Exceção à regra da irretroatividade, este princípio só

atingirá a lei penal militar quando for para beneficiar o agente ativo. É o que podemos inferir do Art. 5º, XL, da Constituição Federal de 1988, quando diz “..., salvo para beneficiar o réu.” Este princípio constitucional está consubstanciado no Art. 2º, § 1º, do CPM:

“Art. 2º ........

§ 1º - A lei posterior que, de qualquer outro modo, favorece o agente, aplica-se retroativamente, ainda quando já tenha sobrevindo sentença condenatória irrecorrível.”

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Neste caso, também, podemos solucionar dois conflitos aparentes de normas:

(1) abolitio criminis - ocorre quando a lei posterior deixa de considerar fato anterior como crime. Neste caso, a lei retroagirá para beneficiar o réu, mesmo que já tenha havido sentença condenatória irrecorrível, ressalvado os efeitos de natureza civil. (Lei n. 11.106/05, que remodelou o Código Penal e aboliu os crimes de sedução, rapto e adultério – Crimes contra os costumes)

É o que nos mostra o Art. 2º, caput do CPM:

“Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando, em virtude dela, a própria vigência de sentença condenatória irrecorrível, salvo quanto aos efeitos de natureza civil.”

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(2) novatio legis in mellius – é o caso em que a lei posterior é menos gravosa que a anterior, quer seja em qualidade, quando muda, por exemplo, uma pena de reclusão para detenção, quer seja em quantidade, quando diminui o quantum da pena, ou até mesmo eliminando suas circunstâncias qualificadoras ou agravantes.

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Princípio da Ultratividade – entende-se por este princípio, que a lei penal, em determinados casos, é aplicada após a sua revogação, nos fatos ocorridos durante o seu império.

O Art. 4º do CPM caracteriza bem este princípio:

“Art. 4º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período da sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.”

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“Lei excepcional é a editada em situações anormais de vida social, como revoluções, epidemias e outras calamidades públicas. E lei temporária é a baixada para vigorar num determinado período de tempo, por ela própria fixado”.

Exemplo (Temporária): Lei nº 12.663, de 05 Jun 2012, que dispõe sobre a Copa das Confederações/2013 e a Jornada Mundial da Juventude/2013 (eventos já realizados) e com vigência durante a duração dos eventos.

Excepcional: Durante calamidades, guerras.

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“Ambas se auto-revogam: a lei excepcional pela cessação das ‘circunstâncias que a determinaram’; e a lei temporária pelo decurso do período de sua duração . ‟Sendo ambas de vigência transitória, se auto-revogando com a cessação do período de sua duração, importante é a expressa menção legal de sua ultratividade, ou seja, aplicação ao fato praticado durante sua vigência. Pois, na ausência de tão importante menção legal, poder-se-ia argumentar que os fatos ainda não julgados, ocorridos na vigência dessas leis, após a auto-revogação delas, seriam abrangidos pela lei posterior mais benigna”. (Romeiro).

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Sinal de bom senso e de justiça, caso contrário, aquele que tivesse violado a lei no início de sua vigência poderia vir a ser condenado; e outro que violasse a mesma lei, porém no seu derradeiro dia de vigência, ficaria impune, o que contraria até mesmo o princípio constitucional da isonomia; visto que o Estado-Juiz estaria tratando de forma desigual indivíduos situados em uma mesma condição de infratores da lei excepcional ou temporária.

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Tempo do Crime

Três são as teorias utilizadas pelo ordenamento jurídico penal mundial.

(1) Teoria da atividade – considera-se o crime praticado no momento da ação, pouco importando quando se dará o resultado.

(2) Teoria do resultado – considera o crime praticado no momento da produção de seu resultado. Por exemplo, no homicídio, o tempus delict seria o do resultado (morte) e não o da ação.

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Tempo do Crime

(3) Teoria mista ou da ubiquidade – esta teoria considera como tempo do crime tanto o da ação quanto o do resultado.

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Tempo do Crime

O CPM, em seu Art. 5º, adotou a TEORIA DA ATIVIDADE como norma, pois “considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o do resultado”.

Desta forma, aplica-se a lei vigente no momento da ação e não eventual lei nova vigente no momento em que ocorreu o resultado. E isto é de vital importância, porque se no intervalo entre a ação e o resultado surgisse lei nova mais gravosa, esta seria a aplicável ao caso.

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Lei Penal Militar no Espaço

Eficácia Da Lei Penal Militar no Espaço

Art. 7º do CPM:

“Art. 7º - Aplica-se a lei penal militar, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido, no todo ou em parte, no território nacional ou fora dele, ainda que, neste caso, o agente esteja sendo processado ou tenha sido julgado pela justiça estrangeira”.

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Deste dispositivo legal podemos inferir dois princípios:

(1) Princípio da Territorialidade – este princípio estabelece que aos crimes militares praticados dentro do território nacional, compreendendo a sua área terrestre, o seu espaço aéreo e as águas fluviais e marítimas, ressalvado os direitos estabelecidos em convenções, tratados e regras de direito internacional, aplica-se a legislação penal militar pátria.

O conceito de território nacional compreende, ainda, o território nacional por extensão, que são as aeronaves e os navios brasileiros, sob comando militar ou a serviço de Força Armada brasileira (Art. 7º, §1º do CPM).

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(2) Princípio da Extraterritorialidade – o legislador adotou também o princípio da extraterritorialidade, pois alcança o agente nos crimes militares cometidos fora do território nacional, mesmo que “o agente esteja sendo processado ou tenha sido julgado pela justiça estrangeira”.

Segundo Romeiro, “a irrestrita aplicação extraterritorial do CPM justifica-se com o fato de os crimes militares afetarem as instituições militares, que se destinam à defesa do país (Art.142, CF/88), e poderem ser, por inteiro, cometidos em outros países e até mesmo em benefício destes, que não teriam, assim, qualquer interesse na punição de seus autores. Daí não ser entregue à justiça estrangeira o processo e o julgamento dos crimes militares”.

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Lugar do crime

Estudar e conhecer a regra legal que define o lugar em que determinado delito foi cometido é de fundamental importância para se estabelecer qual será o órgão da Justiça Militar que terá competência para conhecer e julgar tal crime; visto que o território nacional é dividido em circunscrições judiciárias, cada qual com uma ou mais auditorias militares.

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Lugar do crime

Três são as teorias adotadas pela legislação penal mundial:

(1) Teoria da atividade – considera o lugar do crime aquele em que se deu a conduta delituosa (ação ou omissão). Em crime de homicídio, podemos falar do local onde ocorreram os disparos de uma arma de fogo que atingiram a vítima.

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Lugar do crime

(2) Teoria do resultado – esta teoria considera o lugar do crime onde se produziu o resultado. No crime de homicídio citado, seria o local onde a vítima tenha morrido.

(3) Teoria da ubiquidade – esta teoria considera como lugar do crime tanto o local da conduta como o do resultado. No nosso exemplo de homicídio, tanto poderia ser considerado o local onde se efetuaram os disparos; como, também, o local em que a vítima veio a falecer.

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b. Lugar do crime

O CPM adotou a teoria da ubiquidade, pois no Art. 6º diz que “considera-se praticado o fato no lugar em que se desenvolveu a atividade criminosa, no todo ou em parte, e ainda que sob a forma de participação, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. Nos crimes omissivos, o fato considera-se praticado no lugar em que deveria realizar-se a ação omitida.”

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Lugar do crime

•Daí temos que, nos crimes de ação (também chamados comissivos), o legislador penal adotou a Teoria da Ubiquidade. Todavia, em relação aos crimes de omissão (chamados de omissivos), adotou-se a Teoria da Atividade.

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Outros Princípios e Definições do CPM

Para os efeitos da lei penal militar, é importante atentar para:

Art. 11 - discorre sobre os militares estrangeiros.

Art. 12 - equiparação a militar da ativa.

Art. 13 - responsabilidades e prerrogativas do militar da reserva ou reformado.

Art. 15 - enquadra juridicamente o tempo de guerra.

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Outros Princípios e Definições do CPM

Art. 16 - contagem de prazo (diferente do Direito Civil)

Art. 20 - crimes praticados em tempo de guerra e sua pena.

Art. 23 - equiparação a comandante.

Art. 25 - crime praticado em presença do inimigo.

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