direito penal (1)

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Aula 1 Noções Introdutórias da Parte Geral do Código Penal O CP atual: - Não detém somente normas incriminadoras. - Descentralização das leis penais. Normas incriminadoras e punitivas encontram-se espalhadas por leis espaças no ordenamento, não importa se somente no CP. Ex: lei de drogas, CTB, CDC, Lei de Crimes Ambientais, Lei de Crimes contra o Sistema Financeiro. Obs: há autores que reconhecem a existência de uma parte geral da parte especial. Há uma divisão doutrinária. Atenção: Principio da Reserva Legal (art. 5°, XXXIX da CF) se manifesta na parte especial do CP. Divisão do CP, para fins de organização : títulos capítulos seções Preceitos do Tipo a) Preceito primário: tipificação penal. Principalmente nas normas incriminadoras, os elementos típicos, as circunstancias essenciais para a configuração do crime, os requisitos de tempo espaço e etc. encontram-se no chamado preceito primário. b) Preceito secundário: delimitação da pena. Os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade devem ser respeitados no preceito secundário, mas isso não ocorre na realidade. É uma crítica feita. Majorantes e Minorantes: são sinônimos de causas de aumento e de diminuição. As causas de aumento e de diminuição

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Page 1: Direito Penal (1)

Aula 1

Noções Introdutórias da Parte Geral do Código Penal

O CP atual:

- Não detém somente normas incriminadoras.

- Descentralização das leis penais. Normas incriminadoras e punitivas encontram-se espalhadas por leis espaças no ordenamento, não importa se somente no CP. Ex: lei de drogas, CTB, CDC, Lei de Crimes Ambientais, Lei de Crimes contra o Sistema Financeiro.

Obs: há autores que reconhecem a existência de uma parte geral da parte especial. Há uma divisão doutrinária.

Atenção: Principio da Reserva Legal (art. 5°, XXXIX da CF) se manifesta na parte especial do CP.

Divisão do CP, para fins de organização : títulos capítulos seções

Preceitos do Tipoa) Preceito primário: tipificação penal. Principalmente nas normas

incriminadoras, os elementos típicos, as circunstancias essenciais para a configuração do crime, os requisitos de tempo espaço e etc. encontram-se no chamado preceito primário.

b) Preceito secundário: delimitação da pena. Os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade devem ser respeitados no preceito secundário, mas isso não ocorre na realidade. É uma crítica feita.

Majorantes e Minorantes: são sinônimos de causas de aumento e de diminuição. As causas de aumento e de diminuição gerais e especiais se diferenciam pela sua localização no CP.

- Causas gerais de aumento ou diminuição de pena: estão na parte geral

- Causas especiais de aumento e diminuição de pena: estão na parte especial

Obs: qualificadoras são diferentes da causa de aumento ou diminuição ainda que ambos os preceitos normativos derivem do tipo principal, há que se ressaltar que somente as qualificadoras trazem preceito secundário autônomo, diferente das causas de aumento e diminuição de pena, que preveem, mediante FRAÇÃO, a consequência a ser aplicada na pena.

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Ler: classificação doutrinária dos crimes. Greco, Bittencourt, Capez.

Aula 2 – 27/05

Função do Direito Penal

pelo viés criminológico

- Função Declarada: proteção dos bem jurídicos mais relevantes, o mantenedor da paz social, a legitimação da atuação do individuo frente a limitação da atuação legal do Estado

- Função Não Declarada: rotulação e criação de estigma das populações marginais, forma de segregação

Claus Roxin – o nome mais vinculante quando se trata da mudança de viés crítico no desenvolvimento funcional do Direito Penal (virada paradigmática) – o pensar o Direito Penal ficou mais pensado/filtrado, por quê?:

- fragmentariedade* e subsidiaridade do Direito Penal- intervenção mínima (*lesões mais graves aos bens jurídicos mais importantes)

Crítica (prof. Daniel): não se realiza, tal contexto, no Brasil.

BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal

Elemento Subjetivo

é o viés psicológico do agente na prático do crime (culpa em latu sensu)- traduz a ideia de dolo (consciência + vontade)- traduz a ideia de culpa em strictu sensu

“elemento subjetivo especial/dolo com finalidade/fim específica”v.g Art. 159 – sequestrar pessoa com o fim de obter vantagem (dolo específico – não é a pura vontade e consciência de sequestrar e sim de obter vantagem)

Núcleo

- diz respeito a ação consoante no tipo penal

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Análise do núcleo do tipo depende de uma configuração contextual (análise de um conceito dogmaticamente – há o desdobramento do núcleo, valendo-se de outros conceitos)- análise verbal- análise dogmática/doutrinária

Sujeitos

Ativo – quem comete a conduta principal (observa o verbo nuclear do tipo) Crime próprio – o sujeito ativo (ou mesmo o sujeito passivo) tem uma

qualidade especial para a configuração do crime, apenas tais sujeitos “próprios” podem cumprir o verbo nuclear do tipo – tipo infanticídio e peculato

Passivo – não confundir vítima com o sujeito passivo (v.g o detentor de coisa no crime de roubo é vítima, mas o sujeito passivo é o proprietário da coisa)

Quem sofre as consequências da ação dos sujeitos ativos em comparação com a tutela do bem jurídico em questão

Existem crimes próprios em relação ao sujeito passivo (estupro de vunerável) Existem crimes bipróprios (os sujeitos ativo e passivo devem ser próprios –

definidos – como no crime de infanticídio)

- DOS CRIMES CONTRA A PESSOACrimes Contra a Vida

- a primazia da tutela da vida é um fenômeno relativamente novo, nos outros diplomas legais os crimes contra o Estado vinham primeiro, em colocação topológica, e com penas mais severas do que aqueles crimes contra vida. - centralidade da pessoa e tutela de sua vida

- Quando se inicia a vida?Para o Direito Penal, a vida começa a partir da nidação. Da nidação até o parto é a tutela da vida intrauterina, e após o nascimento trata-se da tutela da vida em latu sensu – vida pós-uterina

Homicídio

É importante frisar que nem toda ação de pessoa contra pessoa que o resultado casuístico seja a morte é homicídio – como as ações legitimadas pela exclusão de ilicitude que atente contra a vida de outra pessoa, ou crimes cuja observação do tipo é mais complexa que atentem contra a vida, v.g genocídio, aborto, auxílio ao suicídio. Além disso há os crimes preterdolosos – dolo no antecedente e culpa no consequente

Page 4: Direito Penal (1)

– como roubo seguido de morte, estupro seguido de morte, lesão corporal seguida de morte – nos exemplos relacionados não há homicídio.

Art. 121

Caput => Simples § 1 => Homicídio Privilegiado§ 2 => Qualificado§ 3 => Culposo§ 4 => Causas de Aumento§ 5 => Perdão Judicial§ 6 => Causas de Aumento (milícia e grupos de extermínios)

Nem toda morte é homicídio, o exemplo mais clássico de morte sem homicídio são as justificantes (legitima defesa, excludente de ilicitude), no entanto, nos crimes preterdolosos ou de resultado o mesmo acontece. Ex: estupro seguido de morte, lesão corporal seguida de morte, extorsão seguida de morte.

Crimes Preterdolosos ou de Resultado - possuem dois substratos:

1) Substrato antecedente: o dolo do agente encontra-se no substrato antecedente, há intenção de cometer aquele crime.

2) Substrato consequente: ausência de intenção do resultado, que ocorre por culpa do agente, mas não por dolo.

O resultado do crime tem que ser necessariamente previsto na lei para caracterizar um crime preterdoloso.

Aula 3 – 29/05

Sujeitos:

Ativo: qualquer pessoa com capacidade penal (crime comum) Passivo: qualquer pessoa com capacidade penal (crime comum).

Existem sujeitos passivos especiais.a) art. 29 da lei 7.170 (lei de segurança nacional) – homicídio cometido com

razoes políticas contra o Presidente da Republica, Presidente do Senado, Presidente da Câmara e Presidente do STF

“Art. 29 - Matar qualquer das autoridades referidas no art. 26 (Presidente da República, o do Senado Federal, o da Câmara dos Deputados ou o do Supremo Tribunal Federal). Pena: reclusão, de 15 a 30 anos.”

Page 5: Direito Penal (1)

b) nascente ou neonato: não há que se falar em homicídio, mas em infanticídio

c) cadáver: crime impossível por absoluta impropriedade do objeto (vide art. 17 do CP). Não se pode falar nos crimes dos arts. 211 ou 212, pois há ausência do elemento subjetivo (dolo).

Obs: irmãos xipófagos (siameses, grudados por órgãos vitais). Dolo direto de 1° grau e dolo direto de 2° grau (dolo de consequências necessárias).

Tipo objetivo: matar alguém (vontade livre e consciente para ceifar a vida de outro)O homicídio é um crime de execução livre

a) meios físicos ou materiais. Ex: facada, tiro, estrangulamento.b) meios morais. Ex: susto, direcionar um cego com dolo de matar. c) meios indiretos. Ex: usar alguém para matar outrem, mãe bota veneno na

mamadeira que prepara para a babá dar ao filho, mas a babá não sabia de nada. Chama-se essa situação de autoria mediata. O autor utiliza um “longa manus” para praticar a conduta típica.

d) omissão. Ex: posição de garante ou garantidor.

Tipo (elemento) subjetivoDolo: “animus necandi” - vontade livre e consciente de matar.Obs: o dolo pode ser direto de 1° ou de 2° grau ou dolo eventual. Obs 2: Racha – na jurisprudência prevalece o dolo eventual.

ConsumaçãoO homicídio se consuma quando o resultado morte ocorre.A morte ocorre quando se constata morte cerebral (art. 3° da Lei 9.434/97) por laudo pericial. Obs: o autor do crime pode ser punido ainda que mate pessoa diversa daquela que pretendia matar (art. 73 do CP) – erro na execução.

Laudo Pericial: arts. 158 e 167 do CPP.O que é laudo pericial indireto? Divergência. 1ª corrente: o exame de corpo de delito ou laudo pericial indireto é sinônimo de prova testemunhal suplementar. É a corrente que prevalece. Etapas: 1) exame direto; 2) prova testemunhal. 2ª corrente: o exame indireto ainda é realizado por peritos, pois necessita de um juízo de valoração técnico (é um meio termo até se chegar na prova testemunhal). Etapas: 1) exame direto; 2) exame indireto; 3) prova testemunhal.

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Tentativa

Crime plurissubsistente: o “inter criminis” pode ser fracionado, ou seja, a execução pode se dividir em momentos.Sempre que a execução se dividir em momentos pontuais, é possível falar em tentativa.

Um indivíduo começou a perseguir alguém com o animo de matar, a execução começou ou não? Não há que se falar em tentativa, pois o bem jurídico vida não começou a ser lesado no momento da perseguição.

Linha do Crime

Cogitação Preparação Execução Consumação

Ação Penal: é pública incondicionada, inicia-se com a denúncia do Ministério Público.

Competência absoluta (art 5°, XXXVIII da CF): tribunal do júri (crimes dolosos contra a vida). Se o homicídio foi culposo, será julgado pelo juízo comum. Crimes preter dolosos não serão julgados pelo tribunal do júri, pois o elemento subjetivo não se volta para lesar o bem jurídico vida, a morte é apenas um resultado do crime cometido.

- Homicídio Simples (art. 121, caput): reúne todos os elementos típicos do homicídio.

Obs: o homicídio simples é crime hediondo quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio (art. 1° da Lei de Crimes Hediondos – n° 8.072)

- Homicídio Privilegiado (art. 121, § 1°): são 3 hipóteses de homicídio privilegiado

Natureza jurídica: causa especial de diminuição de pena, pois está na parte especial do CP.

Fundamento: menor reprovabilidade

Motivos:

- relevância: a intensidade do motivo deve ser alta.

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a) motivo de relevante valor social: ampla ou coletiva. Quando há envolvimento de interesses coletivos, há consenso na menor reprovabilidade. A coletividade compreende a prática do ato a ponto de legitimar a diminuição da pena. Exemplo clássico: morte do traidor da pátria, morte do traficante que ameaça toda a comunidade.

b) motivo de relevante valor moral: subjetivo, no entanto, reconhecida no viés exterior. Tem um viés predominantemente subjetivo, não há um envolvimento da sociedade tamanho como no relevante valor social. Entretanto, há uma visualização externa e coletiva do motivo. Trata-se de valores superiores e intensos, como piedade, misericórdia, compaixão (viés positivo – ex: eutanásia), honra, impulso subjetivo (viés negativo – ex: matar o estuprador da sua filha).

Obs: existem atenuantes no art. 65, III, a que preveem a circunstancia do homicídio privilegiado. Elas não se aplicam para o homicídio (art. 121, § 1°), pois já estão previstas no tipo penal.

Aula 05/06

- Eutanásia Morte antes do tempo (término de sofrimento) Envolvimento psicológico (sentimento) – reconhecimento do sofrimento

do doente por outrem, compadecimento com a situação da pessoa doente.

Divisãoa) Ativa: prática de atos comissivos (ex: aplicar um remédio, desligar

um aparelho)b) Passiva: omissão de medida ou tratamento indispensável

Importante: ainda existiam tratamentos

Consequências: Tem tipicidade penal, se enquadra na hipótese de homicídio

privilegiado por relevante valor moral.

- Ortonásia Morte no tempo correto Não interferência no processo inevitável de morte mediante suspensão

ou não indicação de medidas que perderam a eficácia Opção médica

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Importante: não há mais previsão de tratamento. É uma escolha médica.

Importante! Ortotanásia ≠ Eutanásia passivaNa eutanásia passiva ainda há tratamentos possíveis, enquanto na ortotanásia não há.

Consequências: Tem o apoio da classe médica (resolução 1.805/2006 do CRM)

- Distanásia: não se prolonga a vida, mas sim o processo de morrer. Morte lenta (sofrimento indevido) Abuso de utilização de recursos médicos Alongamento artificial

É uma escolha médica.

Consequências: Infração disciplinar (não é ilícito penal)

- “Domínio de Violenta Emoção”: algo que seja capaz de reduzir completamente o controle que a pessoa tem da situação. A pessoa não faria aquilo se não estivesse sob o domínio dessa emoção.

Ausência de auto-controle Mudança no organismo

- “Logo em seguida” (requisito temporal)

Nexo com o domínio

Há duas correntes:

1) Doutrina moderna (Regis Prado, Greco, Nucci, Bittencourt): proporcionalidade, exclui o caráter imediato do ato, mas traz lapsos temporais pequenos. Atualmente, essa doutrina tem prevalecido. Ex: saída rápida para buscar arma

2) Doutrina clássica (Nelson Hungria): a reação deve ser imediatamente após a injusta provocação da vítima.

- “Injusta provocação”

Física ou moral

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Importante: injusta provocação é diferente de injusta agressão. Na injusta agressão não há crime, pois configura legítima defesa.

Redução de pena quanto ao homicídio privilegiado:

- Compete ao juiz

- É um direito subjetivo do acusado

- Discricionariedade do juiz para discutir o quantum de redução

Comunicabilidade do privilégio

- Elementar: dado que agregado ao tipo altera o crime. Ex: subtrair coisa alheia móvel (furto) e subtrair com violência coisa alheia móvel (roubo).

- Circunstâncias: dado que agregado ao tipo altera a pena, sem alterar o crime.

As elementares e as circunstancias podem ser objetivas ou subjetivas:

Objetiva: meios e modos de execução. Ex: fogo, explosivo, veneno. Subjetiva: relativo ao estado anímico ou motivação do agente.

Interpretação do art. 30 do CP:

Circunstancias subjetivas não se comunicam. Elementares subjetivas se comunicam. Elementares e circunstancias objetivas se comunicam.

O privilégio no homicídio se trata de circunstancia subjetiva, portanto não se comunica com um possível co-autor.

Aula 10/06

Homicídio Qualificado

. Hediondo (art. 1°, I, 8.072)

. Topografia (art. 121, § 2° do CP)

I- Motivo- Paga: pagamento prévio

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- Promessa de recompensa: expectativa de receber pagamento por parte do executor do crime. É irrelevante o recebimento de pagamento para fins de aplicação da qualificadora, pois o motivo já estava qualificado mesmo que não ocorra o pagamento. Também não é necessário que haja uma delimitação prévia de valor.Natureza econômica? 1ª corrente: paga e promessa de recompensa tem natureza estritamente econômica. Não precisa ser necessariamente dinheiro. É a corrente que prevalece2ª corrente: não há que se ter vinculação econômica, uma vez que não se trata de um crime contra o patrimônio. Comunicabilidade no homicídio mercenário1ª corrente: por expresso mandamento do art. 30 do CP, as circunstâncias subjetivas quando não elementares do crime (o que é o caso da paga e da promessa de recompensa) não se comunicam. A doutrina concorda com esse pensamento. 2ª corrente: parte da jurisprudência trata as circunstancias do inciso I como elementares subjetivas, portanto se comunicam (errado tecnicamente). Outra parte da jurisprudência traz para o aspecto motivacional a natureza objetiva.- Motivo torpe: motivo torpe é um motivo vil, que traz repugnância, aversão social. Contrário ao sentido ou sentimento ético da sociedade. Ex: matar por herança, por cobiça, matar para ficar com o dinheiro do seguro de vida. Obs: motivo torpe e motivo injusto são diferentes, todo homicídio é injusto, mas nem todos são torpes. Obs 2: não há possibilidade de convivência entre motivo torpe e motivo fútil, o torpe prevalece. STJ: não há uma vinculação necessária entre vingança ou ciúme e motivo torpe. (ver STF – HC 83.309 e STJ – HC 53.556)

II- Motivo- Motivo fútil: desproporcionalidade entre o valor dado à vida e ao motivo do crime. Não se dá valor mínimo à vida. Ausência de motivos e motivo fútil: discussão 1ª corrente: se o autor é punido por motivo fútil, a ausência de motivos, que é ainda pior, também deve ser punida. Portanto, motivo fútil e ausência de motivo se equiparam. Há desproporcionalidade patente. 2ª corrente: ausência de motivos não pode ser equipara a motivo fútil, pois se trata de uma afronta clara à reserva legal. Ademais, não pode haver analogia “in malam partem” (em prejuízo do réu). Bittencourt sugere uma alteração no art. 121, adicionando ausência de motivos como qualificadora.

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Obs: falta de comprovação de motivo é completamente diferente de ausência de motivo.

III- Meios Interpretação analógica sobre o que pode ser um meio insidioso, cruel ou de perigo comum.Trata-se de circunstancias objetivas do crime, portanto comunicam-se com eventual co-autor. -Veneno: Toda substancia biológica ou química que introduzida no organismo pode produzir lesões, podendo inclusive matar.

tem que ser meio insidioso (dissimulado, escondido), de forma que a vitima não saiba que esta sendo envenenada, para que se caracterize a qualificadora. Se a pessoa é obrigada a ingerir o veneno, não se caracteriza a qualificadora, pois não ocorreu sem a vitima saber o que estava ingerindo. Entretanto, pode se caracterizar meio cruel.

Exige perícia para comprovar que a morte ocorreu em decorrência do veneno.

Substancias inofensivas também podem configurar: dar amendoim para uma pessoa alérgica àquele alimento.

- Fogo ou Explosivo:

Exige perícia para comprovar a utilização de fogo ou explosivo Pode ser caracterizado como meio cruel ou de perigo comum

-Asfixia: impedimento da função respiratória com a consequente falta de oxigênio no organismo do individuo.

Mecânica: quando há contato bruto entre autor e vitima (esganadura, enforcamento).

Afogamento Tóxica: quando se utiliza alguma substancia para causar asfixia. Ex:

gás tóxico. Exige perícia para comprovar a morte por asfixia

-Tortura: na própria lei de tortura não há definição do que é tortura (lei n° 9.455/97). Conceito de tortura pode ser encontrado no art. 1° da Convenção contra Tortura e outros Tratamentos Cruéis e Degradantes – Decreto n° 40.

“designa qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato cometido; de intimidar ou coagir

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esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimento são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos consequência unicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções ou delas decorram.”

Na tortura, há a intenção de matar, e a tortura é o meio, o caminho para a morte.

Homicídio qualificado pela tortura ≠ Tortura com resultado morte

No homicídio qualificado por tortura (art. 121, §2°, III do CP), há intenção de matar. Na tortura com resultado morte (§3° da lei n° 9.455) não há intenção de matar, mas por um exagero na tortura a vítima acaba morrendo.

Ex: um torturador, tentando obter uma informação, tortura um sujeito. O sujeito se nega a falar e em determinado cospe no rosto do torturador. O torturador, que a principio não tinha a intenção de matar, fica com raiva e mata o torturado.

- Meio insidioso: meio camuflado, escondido, dissimulado, ardiloso. Cuidado: meio insidioso é diferente de modo insidioso. No meio insidioso, a coisa em si utilizada para causar a morte deve ser insidiosa. Vide exposição de motivos do CP – meio insidioso é aquele escondido na eficiência maléfica.

- Meio cruel: causa sofrimento desnecessário, inútil à vítima. Completa ausência de sentimento humanitário por parte do agente, brutalidade enorme. Máximo sofrimento da vítima.

Obs: a mera repetição de golpes não necessariamente qualifica como meio cruel, pois se no primeiro golpe a pessoa já morre, os outros golpes são indiferentes.

IV- Modos (art. 121, § 2°, IV)O legislador trouxe a imprevisibilidade, de forma a impossibilitar a defesa da vítima.a) Traição: pressupõe uma pré-relação entre agente e vítima. É um ataque

súbito de deslealdade. Obs: a traição pode ser de cunho moral. Tiro pelas costas X Tiro nas costas

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A traição liga-se ao tiro pelas costas, a pessoa não espera, é algo sorrateiro.Se a vítima foge ou percebe o intento do autor não há traição.

b) Emboscada: tocaia, espera pela vítima. O agente espera sorrateiramente pela vítima. “A espera oculta para um ataque indefensável.”

c) Dissimulação: o agente oculta sua intenção de matar a ponto de conquistar momentaneamente confiança da vítima. O agente faz uma cena teatral, se disfarça.

Há que se utilizar a interpretação analógica para encontrar outros modos que dificultem ou tornem impossível a defesa do ofendido. Exemplos que são utilizados: morte enquanto a vítima dorme, surpresa (ataque inesperado, sorrateiro, com possibilidade quase nula de a pessoa fugir). Não há uma necessária vinculação entre morte por tiro e impossibilidade de defesa da vítima. Não se pode trazer o pensamento para a vítima, o que é observado aqui é o caminho utilizado pelo agente. Se a vítima for um idoso ou uma criança, somente isso não caracteriza a impossibilidade da vítima. É necessário que algum modo específico seja utilizado, de forma que o modo em si impossibilite a defesa.

V- Fins“Assegurar”...

- Execução: o agente mata alguém para cometer crime futuro. Entretanto, não é obrigatória a consumação do crime posterior. Necessariamente no contexto deve haver outro crime. A doutrina chama esse instituto de conexão teleológica. Ex: o agente mata um homem para estuprar sua esposa.Cuidado: há crimes que no próprio tipo já preveem essa qualificadora, como o latrocínio (matar para roubar), nesses casos não se aplica a qualificadora, mas sim o tipo penal específico.- Ocultação e Impunidade: o crime já aconteceu. Na ocultação, o que vem a ser ocultado é a existência do crime, as autoridades não chegam a ter ciência do crime. Já na impunidade, a existência do crime anterior é conhecida, mas o autor não é conhecido e o que se pretende com o homicídio é que permaneça assim. - Vantagem: garantir o aproveitamento da vantagem que o crime pôde proporcionar. A prática do homicídio é para assegurar a vantagem de um crime que já aconteceu. A vantagem, na maioria das vezes, é econômica.

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Obs. 1: necessariamente a infração anterior ou posterior deve ser crime, não pode ser contravenção penal para configurar essa qualificadora.Obs. 2: o crime anterior pode inclusive ser tentado. Quanto ao crime posterior, o agente não vai querer cometer um crime tentado, vai querer consumá-lo. Obs. 3: não desaparece a qualificadora se o crime anterior ou posterior tiver extinta sua punibilidade, conforme a 2ª parte do art. 108 do CP.

Observações Gerais sobre o Homicídio Qualificado: 1) Premeditação: não necessariamente configura homicídio qualificado. 2) Dosimetria e mais de uma qualificadora:

- 1ª corrente: quanto mais qualificadoras, mais próximo ao patamar máximo de pena. Essa corrente não prevalece.- 2ª corrente: somente uma circunstancia tem o condão de qualificar o crime e as demais são valoradas na dosimetria.

Pesquisa: é possível a existência de homicídio qualificado privilegiado?É pacífico o entendimento da jurisprudência e da doutrina de que é cabível o homicídio privilegiado qualificado. Entretanto, deve-se atentar que isso somente é possível caso a qualificadora seja de cunho objetivo (art. 121, III e IV), pois os privilégios são todos de cunho subjetivo e não é possível que circunstâncias subjetivas se cumulem. Homicídio qualificado privilegiado não é hediondo. A existência do privilégio no contexto de homicídio qualificado afasta a hediondez do crime. Isso porque seria contrário à essência da lei dos crimes hediondos.

Aula 19/06

Homicídio CulposoConceito: “o agente, com manifesta negligência, imprudência ou imperícia, deixa de empregar a atenção de era capaz, provocando com sua conduta o resultado morte, previsível naquele contexto, porém jamais querido ou aceito pelo agente.”Todo crime culposo deve ter previsão legal. Requisitos:- Quebra do dever geral de cuidado: negligência, imperícia ou imprudência.- Resultado: morte- Nexo de causalidade entre a quebra do dever geral de cuidado e o resultado morte.

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- Previsibilidade.

Obs. 1: se o homicídio culposo é na direção de veículo (art. 302 do CTB). Há uma discussão se há uma afronta ao princípio da igualdade no preceito secundário do art. 302 do CTB, uma vez que o resultado morte é o mesmo do art. 121, § 3°, mas a pena prevista é maior. - 1ª corrente: o preceito secundário do art. 302 é inconstitucional, por haver uma afronta do princípio da igualdade.- 2ª corrente: o preceito secundário do art. 302 não é considerado inconstitucional, pois ainda que o resultado seja o mesmo, o desvalor da ação é diferenciado. Para o legislador, o homicídio culposo no transito é mais reprovável do que o homicídio culposo sem ser no transito.

Ex: um pai tem dever legal de cuidar do seu filho. Na sua casa, tem uma varanda com um parapeito muito baixo e a criança cai, causando sua morte. Configura homicídio culposo, pois o pai tinha o dever de garante perante o seu filho e ao deixá-lo desprotegido agiu com negligencia. O resultado morte decorreu dessa negligencia, havendo nexo causal. Além disso, era previsível que essa tragédia poderia ocorrer.

Ex: A mata alguém culposamente e B vê a situação. A percebe que B viu tudo e o mata para que ele não revele nada. É caso de qualificadora para ocultar um crime.

Obs. 2: a culpa concorrente da vítima não retira a punibilidade do agente. A culpa exclusiva da vítima, se comprovada, tem o condão de retirar a punibilidade do agente.

Art. 121, § 4°

Causas de aumento do Homicídio Culposo (§4°, primeira parte):-inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício.Há uma discussão se não haveria Bin in idem pois quando se fala nessa causa de aumento se pensa em imperícia, e imperícia já é utilizada para caracterizar o homicídio culposo.Não se trata de imperícia para caracterizar o homicídio culposo, pois na imperícia o agente não detém a técnica para fazer o que vai fazer. Nessa causa de aumento, o agente tem a técnica, mas não a observa.

- Há bis in idem. (STF: HC 95078)

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- não há bis in idem, pois a inobservancia de regra técnica não é essencial para caracterizar homicídio culposo, trata-se de um substrato adicional. É a corrente que prevalece.

- Deixar de prestar imediato socorro à vítima.a) Não configura o crime do art. 135, não há cumulo material de crimes. b) Se o agente sai do local por comprovado perigo de vida para ele, não configura a majorante. Ex: perigo de linchamento. c) O juízo acerca da impossibilidade de socorro não pode ser feito pelo agente se ele podia ajudar. Ex: atirar em alguém e, vendo que a pessoa não poderá ser salva, não chamar o socorro.

Causas de aumento do Homicídio Doloso (§ 4° , segunda parte e § 6°):- crime praticado contra menor de 14 anos ou maior de 60 anos. É necessário que o agente tenha consciência da idade da vítima. - milícia privada, sob pretexto de prestação de serviço de segurança. A intenção da milícia no primeiro momento é trazer uma paz, segurança para uma determinada comunidade, e acaba se tornando um “coronel” naquele contexto. - grupo de extermínio. A intenção do grupo de extermínio é de matar determinadas pessoas, muitas vezes é inclusive financiado por empresários ou pessoas interessadas no extermínio do grupo visado. Crítica: o § 6° está fadado à inaplicabilidade, pois quase sempre haverá um homicídio qualificado na majorante dessa causa especial de aumento.

Aula 24/06

Perdão judicial (art. 121, § 5° do CP): há crime, mas a natureza jurídica da sentença de perdão judicial é declaratória de extinção de punibilidade (Súmula 18 do STJ). Só é possível com previsão expressa em lei. Entretanto, apesar de no CTB não haver previsão expressa de perdão judicial, aplica-se também aos crimes culposos de transito.

Art. 122 – Induzimento, Instigação ou Auxílio a Suicídio

O suicídio não é uma conduta punida penalmente, mas isso não quer dizer que seja uma conduta lícita. Ainda que não seja punido penalmente (o direito penal não pune a auto-lesão), o suicídio é um ilícito no ordenamento, pois a vida é um bem jurídico máximo dentro do ordenamento.

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Conceito de Suicídio: eliminação direta e voluntária da própria vida.

O agente do crime do art. 122 não pratica qualquer ato de execução (ato que de fato é definitivo e contribui ou dá vazão para o resultado delituoso). É a vítima que tira a própria vida, o agente do crime somente faz condutas acessórias. As condutas do agente são principais da conduta típica que caracteriza participação no suicídio. O legislador eleva as três condutas típico-verbais ao patamar de núcleos essenciais do tipo penal.

Nesse crime, as condutas do agente não se tratam de condutas de caráter auxiliar, de participação, como no art. 29. Na realidade, são condutas principais, típicas do crime, mesmo que tenham um caráter auxiliar.

Observar o art. 146, § 3°, II do CP.

- Induzir: fazer nascer na cabeça da vítima a vontade do suicídio. - Instigar: a ideia de se matar já existe na cabeça da vítima e o agente estimula essa ideia. Induzir e instigar são do âmbito moral.- Auxiliar: existe auxílio material para o suicídio. Ex: emprestar a arma. Cuidado, aqui são condutas tangenciais, mas não pode haver práticas essenciais para a morte do sujeito, se não configura homicídio.

No induzimento e na instigação, as condutas praticadas pelo sujeito ativo tem que ter o condão de influenciar decisivamente para a decisão do sujeito de se suicidar. No auxílio, a pessoa que vai se suicidar tem que utilizar os objetos fornecidos pelo agente. A ajuda material disponibilizada pelo agente deve ser decisiva para o resultado final.

Tipo Misto Alternativo: se o agente induzir, instigar e auxiliar a vítima, ele não cometeu mais de um crime, permanece um crime só, mesmo que o agente tenha praticado mais de uma conduta.

Sujeitos:- Ativo: crime comum (aquele que pode ser cometido por qualquer pessoa). O agente tem que ser uma pessoa que seja capaz de induzir outrem. Pode haver participação no crime de participação de suicídio. Ex: A induz B a instigar e auxiliar C a se matar.

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- Passivo: é a pessoa que se autoexecuta. Deve ser capaz de entender as condutas externadas pelo sujeito ativo.

Autoria mediata: o agente se utiliza da incapacidade de outrem para cometer o crime. Ex: o agente que faz com que o inimputável se mate comete o crime de homicídio, na categoria autoria mediata, neste caso, a incapacidade da vítima é o instrumento de que se vale o agente para atingir o seu intento.

Elemento SubjetivoDolo do agente em ver a vítima morta.Obs: animus jocandi é uma brincadeira, não se trata do elemento subjetivo.

Art. 122 e Omissão Imprópria: art. 13, § 2°, c.A quer que B se suicide. A induz e auxilia B para isso. Enquanto B estava se enforcando, ele diz que desistiu de se matar e pede ajuda de A para se livrar. A não ajuda e B morre. Quando há o resultado morte e o sujeito ativo se encontrava na posição de garante ou garantidor, tendo o dever de evitar o resultado, pratica o crime de homicídio na modalidade omissão imprópria.

A vítima deve ser certa e delimitada. Não cabe falar no crime do art. 122 se o induzimento, instigação ou auxílio for genérico.

Caso Jim Jones (1978): o pastor induziu os seus fiéis a se matarem. Nesse caso, as vítimas eram definidas, mesmo que fossem mais de uma pessoa. Há o crime do art. 122.

Consumação:- 1ª corrente: a consumação do crime ocorria na prática dos núcleos verbais do tipo e a punição estava condicionada aos resultados morte ou lesão grave. Hipóteses:a) Núcleo + morte: consumação + punição.b) Núcleos + lesão grave: consumação + punição.c) Núcleos + lesão leve ou nada: consumação + não há punição.

- 2 ª corrente: a prática dos núcleos é execução e a morte ou lesão grave são consumação. A consumação está condicionada pelos resultados

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previstos no tipo, diferente do que acontece na 1ª corrente, onde a punição é condicionada. É a corrente que prevalece. Hipóteses:

a) Núcleos + morte: consumaçãob) Núcleos + lesão grave: consumaçãoc) Núcleos + lesão leve ou nada: atipicidade

Tentativa- 1ª corrente: não cabe tentativa. É a corrente que prevalece. - 2 ª corrente (Bittencourt): admite tentativa quando há lesão grave, pois para Bittencourt só há consumação quando há morte. É uma tentativa prevista na parte especial, segundo ele. Entretanto, é um erro afirmar isso, pois a tentativa prevista no preceito secundário do art. 122 trata-se de tentativa de homicídio e não de tentativa de participação no suicídio.

Aula 26/06 Inciso II-

Se a vítima é menor (...). Aqui refere-se à vítima menor de 18 anos.E quando a vítima é menor de 14 anos? Há divergências na doutrina.

- 1ª corrente: presume-se falta de discernimento da vítima, portanto não se pode falar em participação no suicídio, mas pode-se falar em homicídio por autoria mediata. O art. 217-A do CP pode ser utilizado para argumentar.- 2ª corrente: depende do caso e de suas peculiaridades. Pode-se falar nos crimes dos arts. 121 ou 122.

Capacidade de resistência diminuída. Cuidado: capacidade diminuída é diferente de capacidade anulada (ex: pessoa hipnotizada). Ex: pessoa drogada, pessoa embriagada.

“Brincadeirinhas Saudáveis”1) Duelo Americano (art. 122 ao sobrevivente)2) Roleta Russa (art. 122 ao sobrevivente)3) Pacto de Morte: um casal combina de se matar. O homem liga a válvula

de gás.a) Os dois morrem – nenhum resultado jurídicob) Só a mulher morre – se o sobrevivente é aquele que praticou ato de

execução (o homem), a ele é imputado crime de homicídio.

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c) Só o homem morre – se o sobrevivente é aquele que não praticou nenhum ato de execução (a mulher), a ele é imputado crime de participação no suicídio.

d) Os dois sobrevivem – ao sobrevivente que pratica ato de execução será imputado o crime de tentativa de homicídio. Ao sobrevivente que não praticou ato de execução, a imputação do crime é condicionada ao resultado. Se a pessoa não tem nenhuma lesão, é atípico e não há crime. Se a pessoa tem lesão grave, trata-se do crime de participação no suicídio consumado.

Ação Penal Pública Incondicionada, julgada pelo tribunal do júri. Infanticídio (art. 123 do CP)O infanticídio não deixa de ser uma modalidade especial de homicídio, mas muito mais específico.

1) Sujeito Ativo EspecialÉ um crime próprio. A mãe da vítima comete o crime.

2) Sujeito Passivo EspecialNascente (liga-se ao elemento cronológico “durante”) ou neonato (liga-se ao elemento cronológico “logo após”). Tem que ser o filho da mulher, da agente.Exceção: a mulher pode ser punida por infanticídio sem ter matado o próprio filho por erro sobre a pessoa (art. 20, § 3°).

3) Elemento Psicológico ou Psíquico Estado puerperal. “Perturbação psíquica grave que ocasiona alterações fisiológicas relevantes à parturiente, influenciando-a drasticamente nos aspectos emocionais, mentais e etc.” O estado puerperal no infanticídio tem a capacidade de fazer com que a mulher externe impulsos maldosos contra o seu próprio filho. Cuidado! Estado puerperal é diferente de depressão pós parto e de puerpério. O estado puerperal tem que ser essencial para o resultado morte do nascente ou neonato. Deve haver nexo de causalidade entre o resultado morte e o estado puerperal. A perícia tem o condão de provar o estado puerperal.

4) Elemento Cronológico“Durante” ou “logo após” o parto. O “logo após” dura o tempo que durar o estado puerperal. Deve haver proporcionalidade no tempo de duração do estado puerperal.

Elemento Subjetivo: DOLO

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Consumação: ocorre quando o bebe morre.Se o bebe nasceu morte, há impropriedade absoluta do objeto, portanto é crime impossível. Não há crime.

Não é crime hediondo, pois não se encontra no rol dos crimes hediondos.

Para efeitos de dosimetria da pena, não há que se agravar a pena pelo art. 61, II, h, pois assim ocorreria “bis in idem”.

Crime comum: pode ser cometido por qualquer pessoa. Admite co-autoria e participação.Crime próprio: as praticas de atos de execução tem que ser exercidos por uma pessoa determinada. Admite co-autoria (o co-autor também pratica atos de execução) e participação (são atos acessórios). O estado puerperal é elementar do crime de infanticídio.Ao co-autor também será imputado o crime de infanticídio, pois as elementares se comunicam (art. 30 do CP). Mao Própria: só admite participação.

Concurso de Pessoas no Infanticídio1) juntos praticam atos de execução – ambos cometem infanticídio2) se o terceiro auxilia mas não pratica atos de execução, ele é participe do crime de infanticídio3) a mãe não pratica atos de execução, só auxilia tangencialmente a conduta. O médico mata a criança. Correntes:- Ambos cometem homicídio. Não é aceita, pois seria absurdo que a mãe fosse condenada por um crime mais grave do que o infanticídio.- O médico comete homicídio e a mãe comete infanticídio. Não é possível, pois é contra a teoria monista.- A corrente aceita é a que ambos respondem por infanticídio.

Aborto

Conceito: é a interrupção da gravidez com a destruição do produto da nidação. Bem jurídico tutelado: vida intrauterina.

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Art. 124: Aborto ProvocadoÉ direcionado especificamente à mãe. Auto-aborto Consentir

É um crime de mão própria, não admite co-autoria, mas admite participação. A pessoa, que não a mãe, que pratica atos de execução, pratica o crime do art. 126. Trata-se de uma exceção à teoria monista.

Sujeito passivo: feto

Sujeito ativo: mãe

Não há tal crime na modalidade culposa.

Elemento subjetivo: dolo

É possível vislumbrar dolo eventual nesse crime. Por exemplo, se a mulher está grávida e usa “crack” ou tenta se matar, mas só a criança morre.

Consumação:

- Emprego de meios abortivos idôneos e eficazes

- Resultado morte do feto ou embrião. Para comprovar a morte, deve haver exame pericial obrigatório.

Deve haver nexo de causalidade entre ambos os elementos da consumação.

Há possibilidade de tentativa, se houver emprego de meios abortivos idôneos e eficazes, mas sem causar o resultado morte.

Art. 125: Aborto SofridoÉ um crime comum, qualquer pessoa pode praticar.Os sujeitos passivos são muito bem delimitados: o feto e a gestantePossibilidades:- prática de aborto sem consentimento.- prática de aborto em menor de 14 anos (§ único do art. 126). Não admite modalidade culposa.

Art. 126: Aborto ConsentidoSujeito ativo: terceiro que pratica o aborto na mulher com o seu consentimento.

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Sujeito passivo: fetoO consentimento da mulher é elementar desse crime.Não admite modalidade culposa.

Art. 127Não se aplica essa causa de aumento ao art. 124, somente aos arts. 125 e 126. Isso porque não se pune a auto-lesão. Há que se falar em preter dolo. O agente não tinha a intenção de causar lesão grave ou a morte da mulher, somente o dolo de causar o aborto. Portanto, há dolo de causar o aborto e culpa no resultado lesão grave ou morte. Aborto com resultado morte (art. 125 ou 126 c/c 127) é completamente diferente de lesão corporal gravíssima com resultado aborto. É preciso atentar para o elemento subjetivo.

É possível a aplicação da majorante se o resultado aborto não acontece. Isso porque, na interpretação do artigo, conclui-se que a lesão ou a morte da mulher podem ocorrer pelo emprego dos meios utilizados para o aborto, mesmo que este não ocorra. Além disso, em decorrência do substrato doloso, pode-se aplicar a majorante, ainda que o aborto seja tentado.

Observações gerais aos três tipos de aborto:- Para que exista aborto, o feto tem que estar vivo. Caso contrário, é crime impossível.- Aborto espontâneo é atípico.- Não existe auto-aborto culposo.- Pessoas que anunciam meios abortivos (art. 20 da Lei de Contravenções Penais).- Gravidez de gêmeos: dois abortos? Só há concurso formal de crimes na gravidez de gêmeos se a pessoa sabe da gravidez de gêmeos, se o agente tem a intenção de matar os dois fetos.

Aula 29/07

Furto

Cabe a pratica do crime de furto mediante omissão imprópria? Sim, se a pessoa exercer função de garante como nos casos de vigia, segurança, depositário fiel.

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Consumação do crime: 1) Teoria da “Concrectatio”: o crime de furto de consuma com o mero

contato do sujeito com a coisa. Quando a pessoa com a intenção de subtrair a coisa, no momento em que toca na coisa, já se consuma o furto.

2) Teoria da “Ilatio”: além do contato, o agente tem que deslocar a coisa para onde ele quer levá-la.

3) Teoria da “Amotio”: apropriação da coisa com a retirada da esfera de disponibilidade da vítima, ainda que por pouco tempo, mas sem necessidade de posse mansa e passiva da coisa.

4) Teoria “Ablatio”: apropriação da coisa com a retirada da esfera de disponibilidade da vítima, ainda que por pouco tempo, com posse mansa e passiva da coisa.

No ordenamento brasileiro, há duas correntes bem delimitadas, para as quais as correntes acima servem de influência teórica. A discussão entre as correntes é sobre a necessidade de haver ou não posse mansa e passiva da coisa.

- 1ª corrente: exige a posse mansa e passiva da coisa

- 2ª corrente: não há necessidade da posse mansa e passiva. Essa corrente privilegia a retirada da esfera de disponibilidade da vítima. É a corrente adotada pelo STJ e STF.

Portanto após a discussão das correntes “prevalece que o furto se consuma no momento em que a coisa é retirada da esfera de posse e disponibilidade da vítima, ingressando consequentemente na do agente, ainda que não tenha ele a posse tranquila sobre a coisa”.

Tentativa: é possível a tentativa no crime de furto por ser um crime plurissubsistente em que é possível fracionar o iter criminis.

- Obs: “bolso vazio”

Ex: no ônibus, o agente bota a mão no bolso de alguém com a intenção de subtrair alguma coisa, mas não encontra nada naquele bolso.

1 corrente: sempre tentativa (Nelson Hungria)

2 corrente: a pessoa tinha alguma coisa para ser furtada? Se sim, o patrimônio foi ameaçado e pode-se falar em tentativa. Se a pessoa não tinha nada, trata-se de crime impossível.

- Vigilância eletrônica

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Há possibilidade de consumação do crime de furto em estabelecimentos com vigilancia eletrônica?

1ª corrente: é crime impossível, por impropriedade do meio, não havendo nenhuma possibilidade de consumação do crime.

2ª corrente: há, ainda que ínfima, possibilidade de consumação do crime, portanto não é crime impossível. Prevalece no STJ e no STF.

§ 1° - Repouso Noturno

Trata-se de causa de aumento sociológica, pois é necessário analisar a sociedade onde o furto aconteceu para delimitar os horários do repouso noturno.

Repouso noturno é o período em que, à noite, pessoas se recolhem para o descanso diário. O fundamento para que isso exista no ordenamento é que as pessoas, durante esse período, estão mais vulneráveis, portanto seu patrimônio também.

Problematizacão: alguém que trabalha à noite e dorme durante o dia é roubado. Pode-se aumentar a pena alegando ter acontecido o crime em repouso noturno? Não, repouso noturno é somente à noite.

O furto tem que ser em uma casa? Não tem necessidade de ser casa, pode ser um estabelecimento comercial.

O local tem que estar habitada? Bittencourt afirma que o local tem que estar habitado. O que prevalece é que o local não necessariamente tem que estar habitado.

Tem que haver pessoas dormindo? Não necessariamente tem que haver pessoas dormindo.É entendimento do STF e do STJ (HC 191.300 - STJ)

Essa causa de aumento só se aplica ao furto do caput, ou seja, ao furto simples.

§ 2°- Privilégio – é um direito subjetivo do acusado

Requisito subjetivo: primariedade. Há possibilidade de o réu ser primário mesmo já tendo sido condenado, basta que já tenha passado 5 anos após o cumprimento total da pena (art. 64 do CP).

Requisito objetivo: coisa de pequeno valor. Atenção: coisa de pequeno valor é diferente de coisa de valor insignificante para fins penais. A doutrina delimitou coisa de pequeno valor é aquela que, não sendo insignificante, possui valor em torno de um salário mínimo (é um conceito objetivo, não há que se relativizar quanto ao poder aquisitivo da vítima). (HC STF 148.946)

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Aula 31/07

§ 3° : trata-se de uma cláusula de equiparação.

Não deve se interpretar única e exclusivamente a energia elétrica. Não é essa a intenção da clausula de equiparação.

Retirar a energia de algum local e se apossar daquela energia. A energia pode ser mecânica, eólica, solar e etc. Outro exemplo de energia é a energia genética (um boi é comprado por mais de R$ 1 milhão pela sua herança genética, portanto é possível roubar essa energia).

Nesse caso de furto de energia, tem que ser possível visualizar um deslocamento da fonte geradora principal até o local onde a energia furtada será utilizada. Ou então, deve ser possível visualizar um aparato utilizado para desviar a energia furtada.

Quem é o sujeito passivo do furto de energia elétrica?

Depende. Se a energia está sendo furtada antes de chegar no local para onde ela originalmente iria, é a companhia de energia elétrica o sujeito passivo. Se a energia é desviada do próprio local onde ela está sendo utilizada, então o sujeito passivo é o “vizinho”.

Há duas situações possíveis de ocorrer:

1) Alterar o relógio de medição da energia elétrica para pagar menos pela energia elétrica utilizada – trata-se de estelionato, pois ocorre uma entrega voluntária da energia pela empresa. A empresa incorre em erro.

2) Utilizar um aparato para desviar a energia elétrica para a sua casa – trata-se de furto.

Obs: furto de energia é um exemplo de crime permanente (crime permanente é aquele cujo efeito de consumação se perpetua), ou seja, aquele que a consumação se arrasta ao longo do tempo, enquanto durar a execução. Uma pessoa que furta energia está sempre em flagrante (art. 303 do CPP). Além disso, aplica-se a súmula 711 do STF, que permite que a lei penal mais grave seja aplicada a esse crime.

Sinal de TV – Discussão: O sinal de TV pode se equiparar a um tipo de energia?

- 1ª corrente – (Bittencourt, Greco e STF/2011): não há que se falar em equiparação de sinal de TV com energia. A energia se consome, se esgota, diminui. Isso não acontece com o sinal de televisão.

Usufruir do sinal de TV não é o mesmo que consumir, pois o sinal de TV não tem a possibilidade de se esgotar como a energia elétrica.

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Além disso, não pode haver essa equiparação pois seria analogia “in malan partem”.

- 2ª corrente – (Nucci e STJ): o sinal de TV se equipara a energia. Argumentos: é possível visualizar subtração e não há analogia “in malan partem”. Há prejuízo à empresa

Furto Qualificado (art. 155, §4° )

Natureza Jurídica: qualificadora

Inciso I – furto com violência à coisa que serve como obstáculo ao furto.

Obstáculo: tudo aquilo que é empregado para proteger a coisa, sendo-lhe EXTERIOR. Ex: cofre, vidro, grade, janela, porta. Estrutura própria feita para a proteção daquela coisa .

Rompimento: cortar cerrar, deslocar, arrombar, esticar, alargar. Não é preciso destruir completamente o obstáculo, só fazer o necessário para chegar até a coisa roubada. A coisa é estragada, mas não ocorre a destruição.

Greco afirma que se a coisa não tiver nenhuma desconfiguracão, não configura rompimento. Ex: desarmar alarme, abrir cofre, tirar a telha e depois colocar no lugar.

Obs: a destruição ou rompimento pode acontecer antes, durante ou depois da subtração do objeto. A destruição ou rompimento tem que acontecer dentro do mesmo contexto da subtração.

Furto de veículo e rompimento de obstáculo.

Ex: o agente, no intento de furtar o carro, destrói o seu vidro. Se o vidro não é exterior ao carro, não é furto qualificado, mas sim furto simples.

Ex 2: o agente, querendo roubar um computador dentro do carro, destrói o vidro do carro. Trata-se de furto qualificado, ainda que seja desproporcional, pois de o agente roubar o carro com o computador dentro será um furto simples.

Inciso II

a) Abuso de confiança : abuso de uma confiança depositada no sujeito ativo pelo sujeito passivo. Trata-se de uma confiança pré-existente e excepcional. Isto é, por causa da confiança existente, o agente tem acesso fácil à coisa furtada. Para caracterização da qualificadora deve haver facilidade na

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execução em razão da confiança. A confiança pode ser anterior ou posterior ao nascimento do dolo de furtar.

Caso não seja possível caracterizar essa qualificadora, é possível agravar a pena (art. 61, II, “f”), dependendo do caso concreto. Ex: em um estabelecimento comercial, o dono pede para o empregado fechar o caixa. Há uma relação de muita confiança, portanto cabe essa qualificadora.

Furto com Abuso de confiança ≠ Apropriacao indébitaNa apropriação indébita o agente já tem a posse legítima da coisa e essa posse é desvigiada. O abuso de confiança que qualifica o crime de furto não se confunde com a confiança implícita da apropriação indébita. - Furto: posse vigiada, contato constante com a coisa, vontade de praticar o furto anterior à posse da coisa.- Apropriacao indébita: posse desvigiada, transferência legítima de posse, vontade para se apropriar após receber legitimamente a posse da coisa.

Aula 05/08

b) furto mediante fraude: trata-se de uma relação instantânea de confiança formada a partir de um ardil (dissimulação, farsa). O agente perpetra fraude para desviar atenção do dono ou possuidor da coisa, para vencer vigilância da vítima.

Atenção! Furto mediante fraude é completamente diferente de estelionato. Em ambos há uma dissimulação, uma enganação do sujeito ativo. No furto, essa fraude é perpetrada para retirar a vigilancia da vitima sobre a coisa (a vítima não quer entregar a coisa – inversão de posse unilateral). No estelionato a vítima é enganada a ponto de entregar voluntariamente a coisa ao agente (inversão de posse bilateral). No furto mediante fraude há posse vigiada, no estelionato não há posse vigiada. No estelionato a fraude visa com que a vítima entregue a coisa espontaneamente, logo aqui a vontade de alterar a posse é bilateral (há um consentimento viciado da vítima de entregar a coisa, possibilita que o agente tenha acesso a coisa, sem dissenso). Ex: dois caras chegam na casa da velhinha, disfarçados de empregados da TV a cabo. Um deles pede para subir com ela para mexer na antena, enquanto isso o outro roubou coisas da casa e os dois fugiram. Trata-se de furto mediante fraude.Ex: dois caras chegam na casa da velhinha, disfarçados de empregados da TV a cabo. Eles afirmam que é a nova política da empresa cobrar pessoalmente a mensalidade de clientes que estão com o pagamento atrasado. A velhinha acredita nisso e entrega o dinheiro aos caras. Trata-se de estelionato.

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Ex: em uma boate, a pessoa afirma que suas coisas estão em um Box que na verdade não é o seu. O funcionário entrega as coisas do Box para a pessoa. Trata-se de estelionato, pois o agente perpetrou fraude para adquirir a posse da coisa.Ex: chegando em um restaurante de carro, um criminoso finge ser funcionário do valet parking. Enganado, o dono do carro entrega as chaves para o criminoso estacionar o carro. O agente rouba o carro. Trata-se de estelionato. Naquele momento, a vitima entregou a coisa voluntariamente, mesmo que espere e acredite que, mais tarde, terá a coisa de volta.

Pesquisa: Test Drive: furto mediante fraude ou estelionato?

Por razoes de política criminal, para resguardar o interesse das concessionárias (as seguradoras só cobrem furto), subtração de veículo no contexto de test drive é considerado como furto mediante fraude. Isso é grave, pois privilegiando o interesse patrimonial de pouco em detrimento da liberdade de uns, imputa-se uma pena mais gravosa ao agente, que é a pena de furto qualificado.

c) Escalada: para fins de direito penal escalada não é subir uma montanha. Trata-se de utilização de via anormal para ingressar em determinado local e empreendimento de um esforço incomum. Prevalece na doutrina que se comprova a via incomum e o esforço incomum mediante perícia. Ex: assalto ao banco central. Pessoas alugam casa perto de um banco e durante meses cavam um túnel para atingir o cofre do banco, vindo a roubá-lo. Trata-se de escalada, pois os criminosos entraram no banco por um túnel, que não é uma via normal. Saída do local por via incomum: não é pacífico que se trata de escalada. Não há posicionamento jurisprudencial e nem muitas discussões sobre o assunto. Ex: o criminoso pula um muro de 1,5 m para furtar coisas. Não se trata de um furto mediante escalada, pois não é uma via anormal e nem houve esforço incomum. Entretanto, se o muro tem 3 m e é cheio de cacos de vidro em cima, pode-se considerar escalada.Ex: o criminoso quer furtar fio de cobre que se encontra em cima do poste de energia. Ele é da Bahia e está acostumado a subir no coqueiro sem nada para ajudar. Ele sobe no poste e furta os fios de cobre. Não se trata de escalada, pois o agente não utilizou via anormal para chegar ao objeto, pois a única forma de chegar ao objeto é realmente subindo no poste.

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d) Destreza: é a peculiar habilidade física ou manual capaz de possibilitar que o agente pratique o crime sem que a vítima perceba que está sendo despojada. É a qualificadora para os famosos mão-leve (“punguista”), os batedores de carteira. Essa qualificadora se enquadra para o furto de coisas que estão na presença da vítima, normalmente carregadas no corpo (ex: carteira no bolso).A destreza tem que ser analisada no âmbito exclusivo da vítima. Se a vítima percebe na hora que foi furtada, não há qualquer destreza. Ex: O cara consegue subtrair algo de dentro da bolsa da vítima, sem que ela perceba. Terceiro, que viu o empreendimento criminoso, corre atrás do criminoso, pega a coisa de volta e devolve para a vítima. Nesse caso, não houve furto consumado, mas tentado. Houve o emprego de destreza, uma vez que a vítima não percebeu que foi furtada, somente um terceiro. Como a análise da destreza baseia-se exclusivamente na vítima, há que se falar em furto tentado qualificado por destreza. Obs: furto qualificado por destreza não se confunde com furto por arrebatamento. Arrebatamento é trombada, que o agente dá um encontrão na pessoa e furta a coisa.

III- Emprego de chave falsa: chave falsa é todo instrumento, com ou sem forma de chave, destinado, naquele contexto, a abrir fechadura. Discussão: a chave verdadeira obtida fraudulentamente pode ser considerada como chave falsa? - A grande maioria da doutrina entende que a chave verdadeira não pode ser considerada chave falsa, não importando como foi obtida. Obs: se o agente manda fazer uma chave com o molde da chave verdadeira, será considerado chave falsa. Ex: o agente pega a chave verdadeira e faz o molde no sabão, depois manda fazer a chave com o chaveiro, utilizando-a no crime. Trata-se então de chave falsa. Não é necessário que o agente tenha sucesso no empreendimento criminoso para fins de caracterização da qualificadora. Se alguém é preso com a posse de algo que em tese pode se caracterizar como chave falsa não caracteriza crime, pois o direito penal não pune atos preparatórios. Entretanto, se a pessoa já tiver sido condenada por crime de furto ou roubo, o fato se enquadra na contravenção penal do art. 25 da LCP.

IV- Concurso de Pessoas- Fundamento doutrinário para a qualificadora: há uma junção de forcas na pratica criminosa, o que, em tese, traria mais eficiência na prática criminosa.

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- Discussão doutrinária: considera-se só os co-autores ou também os partícipes. No passado doutrinário havia divergências, atualmente já é mais pacífico.. 1ª corrente doutrinária (Nelson Hungria): para a caracterizacao do crime qualificado só se englobaria co-autores, aqueles que efetivamente realizaram atos de execução. Isso vai contra a exposição de motivos, que reprova facilidade na pratica criminosa. Bittencourt concorda com essa corrente.. 2ª corrente: para a caracterização da qualificadora basta a simples pluralidade de agente, isto é, abrange também os partícipes. A jurisprudência atual comunga com essa 2ª corrente. A doutrina crítica atual, representada sobretudo por Greco e Bittencourt, trabalha sobre a vontade da pessoa de participar da empreitada criminosa. Há preocupação com o fato de haver ou não consciência e vontade dos participantes do crime (conluio de vontades, acordo subjetivo de participar da empreitada). Deve haver:No âmbito objetivo – número: duas ou mais pessoasNo âmbito subjetivo: acordo de vontade entra as pessoas.Excluem a qualificadora de concurso de pessoas:a) Se o sujeito não queria participar e não sabia do crime, não há

possibilidade de caracterizar-se a qualificadora. b) Autoria colateral: pessoas que convergem na mesma prática criminosa

sem necessariamente haver uma assunção de que querem praticar o mesmo crime. Não há um acordo de vontades prévio antes da prática do crime, portanto, seguindo a doutrina crítica, não haveria que se falar em concurso de pessoas.Ex: durantes as manifestações varias lojas foram invadidas, as pessoas que entraram para furtar os produtos não tinham um acordo de vontades prévio para tal, apesar de praticarem o mesmo crime.

A jurisprudência, atualmente, somente considera o aspecto objetivo, desprezando o aspecto subjetivo dos agentes.

- Descoberta de somente um dos agentes: ao agente que foi encontrado será imputado o furto qualificado pelo concurso de pessoas. É indispensável saber a identidade de todos, desde que se tenha provas (testemunhos, vídeo) nos autos de que houve outros agentes.

Ex: dois caras furtam uma loja. A polícia pega apenas um dos agentes, o outro agente que participou do furto não foi encontrado a polícia e sua identidade não é nem

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conhecida. O dono da loja, que estava no local no momento, afirma que haviam dois agentes. O cara que foi preso será acusado de furto qualificado.

- Menor de idade no cômputo da qualificadora: computa-se a participação de menor para efeitos de caracterizar a qualificadora para o agente maior.

É possível tentar sustentar a tese de que o menor (de 14 anos) não tem discernimento para haver uma acordo de vontades entre os agentes e, portanto, não há concurso.

- Problemática da pena: comparação com o roubo

Um crime mais grave, o roubo, tem um aumento de pena menor do que um crime menos grave , o furto. O roubo é um crime complexo, que protege mais bens jurídicos (propriedade/posse + integridade da pessoa) do que o crime de furto (propriedade/posse). Para o legislador brasileiro é mais grave cometer furto mediante concurso de pessoas do que cometer roubo nas mesmas circunstancias, uma vez que o concurso de pessoas é uma qualificadora no furto e uma causa de aumento no roubo.

São violados os princípios da proporcionalidade, da isonomia (o cara que praticou o crime mais grave é tratado de maneira mais benéfica), da razoabilidade.

Discussão sobre possíveis soluções para esse problema:

. 1ª corrente: o preceito secundário do furto qualificado nessa qualificadora é inconstitucional por afronta aos princípios mencionados, dessa maneira, deveria ser aplicado o aumento de pena do roubo no furto dentro dessas circunstâncias. Aplica-se a causa de aumento do roubo no furto simples. (Bittencourt, Hamilton Bueno de Carvalho, Lênio Streck).

. 2ª corrente: PREVALECE! Essa solução de utilizar o preceito secundário de um crime em outro crime fere o princípio da legalidade. Isso seria o juiz legislando, o que não pode acontecer. Súmula 442 do STJ.

Considerações Gerais:

Furto qualificado privilegiado?

. 1ª corrente: existia essa corrente que dizia que “a gravidade da qualificadora é incompatível com o privilégio”. Outro argumento é a posição topográfica do privilégio em relação às qualificadoras. Essa era a posição do STF.

. 2ª corrente: “assim como admitimos homicídio qualificado privilegiado, também é possível furto qualificado privilegiado”. É a posição atual dos tribunais (STF e STJ).

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Bittencourt: é proporcional que não se impute a mesma pena ao réu primário que subtrai coisa de pequeno valor com destreza, àquele que subtraiu coisa valiosa com destreza.

Art. 155, § 5°

É uma qualificadora que está separada das outras pois o seu substrato mínimo é maior.

É mais um exemplo de lei influenciada pela mídia. Trata-se de um adendo legislativo feito em 1996. Essa lei veio ao mundo para repressão de gangues que furtavam carros e levavam para o cambio negro de outro estado ou de outro país.

- Elementar objetiva espacial: para tipificação desse crime, há uma exigência espacial, qual seja, que o agente transporte o veículo e ultrapasse os limites fronteiriços de outro estado ou país.

Elemento subjetivo especial: levar o veículo para outro estado ou país.

Polêmica: “distrito federal” – o tipo fala em estado ou país, cabe tipificar? Sim, já sedimentou-se o entendimento de que incide a qualificadora. Mesmo que o agente saia de Goiás para o DF.

Consumação: quando ocorre o veículo ultrapassa a fronteira para outro estado ou outro país.

Obs: partes do veículo não tem o condão de caracterizar a qualificadora.

Cabe ou não cabe tentativa nesse crime?

Art. 157 do CP – Roubo

Topografia:Caput: roubo próprio§ 1°: roubo impróprio§ 2°: causas de aumento de pena§ 3°: qualificadoras

1ª parte: roubo qualificado por lesão grave2ª parte: latrocínio

Bem jurídico tutelado: é um crime complexo, protege mais de um bem jurídico. O patrimônio é consenso entre a doutrina. Quanto ao outro bem jurídico, alguns falam em liberdade pessoal e outros falam em incolumidade pessoal. O prof. Daniel prefere falar em patrimônio + liberdade individual. Ele não entende ser possível falam ser em

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incolumidade pessoal (integridade corporal e mental), pois nem sempre esse bem jurídico é lesado no roubo, depende do resultado que acontece. Não é impossível visualizar uma afronta à incolumidade pessoal, mas nem sempre ocorre, pois há vezes em que esse bem jurídico não é lesado, e para se falar no crime é preciso visualizar uma afronta ao seu bem jurídico tutelado.

O roubo nada mais é do que a soma do furto (art. 155) e do constrangimento ilegal (art. 146). Isso confirma que o roubo é um crime complexo.

Art. 157, caput: roubo próprio

Subtrair coisa alheia móvel para si ou para outrem: olhar a análise do crime de furto.

Violência: violência própria. “vis corporalis”. É violência física. Se ocorre uma violência mental, se enquadra mais na grave ameaça. Deve haver contato corporal entre agente e vítima. Pode ocorrer lesão ou vias de fato. Quase sempre o que antecede a violência é uma grave ameaça.

Ex: o ladrão chega para um cara parado no sinal no seu carro. Pede para que ele saia do carro, o cara pede para conversar e o ladrão lhe dá uma porrada no rosto. O ladrão manda ele sair do carro se não vai lhe dar uma facada. Finalmente, o homem sai do carro. O ladrão lhe dá uma facada no braço, por ele ter demorado para sair do carro e foge. A facada configura apenas lesão leve.

O roubo absorve a lesão leve e as vias de fato. Se acontece lesão grave ou gravíssima, qualifica-se o crime de roubo pelo § 3°.

Grave ameaça: violência própria. “vis compulsiva”. . A ameaça do roubo é diferente da ameaça do art. 147 do CP. É o caráter temporal que diferencia principalmente, no roubo a ameaça é imediata. No art. 147 a ameaça é de um mal injusto, grave e FUTURO contra alguém. . Tem que ser uma ameaça plausível. Ex: passa agora o seu relógio se não o bicho papão vai te pegar. Passa agora a bolsa se não vai cair um raio na sua cabeça. Obs: as características de fragilidade da vítima podem influenciar, configurando uma ameaça para ela. Portanto, as características da vítima tem que ser consideradas. Ex: o ladrão, um homem bem grande e mau encarado, chega para uma mocinha e fala oi, ela já entrega a bolsa.. Não há necessidade de ser uma ameaça expressa. Para analisar isso, deve-se pensar nas características da vítima, que devem ser consideradas. Ex: o ladrão fala “perdeu”.

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Ex: o ladrão esconde uma possível arma debaixo da roupa. Ex: apontar para a coisa com cara de mau.

“Qualquer outro meio: violência imprópria. Roubo próprio pode acontecer também com violência imprópria. . Utilização de recursos que retiram a capacidade de resistência da vítima, sendo estes diferentes de grave ameaça ou violência.. A subtração acontece depois da utilização do recurso. Isso torna isso de difícil aplicação. Aqui há um lapso temporal maior entre a violência e a subtração da coisa. Ex: dar boa noite cinderela, dopagem, sonífero para a vítima. . Quando a capacidade de resistência é reduzida pela própria vítima, não há violência imprópria. Se a pessoa já se encontrava impossibilitada, bêbada ou drogada, por exemplo, não há violência imprópria, já que foi a vítima que buscou aquela situação. Ex: um cara estava muito bêbado no bar, você espera até ele dar PT e pega as coisas dele enquanto ele está “desmaiado”. Aqui não há que se falar em roubo com violência imprópria, mas sim em furto simples. . Prevalece que a pessoa que tem contato com a outra, fazendo ela inalar algo ou obrigando a pessoa a beber algo, é violência própria.

A principal característica do roubo próprio é que a violência é antecedente à subtração da coisa. O agente emprega a violência própria ou imprópria para depois subtrair a coisa.

§ 1°: Roubo ImpróprioA violência é posterior à subtração da coisa. Ela inclusive tem um intento tipificado, tem uma finalidade especial: assegurar a subtração da coisa. Não pode haver roubo impróprio com violência imprópria. Roubo impróprio só existe com violência própria (violência ou grave ameaça). Em respeito ao princípio da legalidade e da vedação da analogia “in malam partem”, não há que se falar na violência imprópria, pois a própria redação do artigo não fala nesse tipo de violência.

Furto + Lesão CorporalEx: o agente está subtraindo algo e escuta alguém chegando. O agente deixa a coisa e enquanto tentava fugir, dá um soco na pessoa que chegava. Trata-se de tentativa de furto com lesão corporal. Não há que se falar em roubo impróprio.

Há possibilidade de roubo impróprio sem “ vis corporalis”?

No roubo impróprio é imprescindível que tenha o contato do agente com a coisa. Alguns doutrinadores chamam isso de “apoderamento”. Somente depois desse contato é que ocorre a violência. A violência não necessariamente ocorre contra o

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proprietário da coisa, pode ocorrer com o detentor da coisa, com aquele que vigia a coisa, com a fuga com a coisa. O roubo impróprio é um furto que deu errado.

Exemplo mais difícil! O agente tem o contato com a coisa, mas não leva embora pois é surpreendido. Ele agride a pessoa que o surpreendeu mediante violência. Há que se cumular tentativa de furto e lesão corporal, por exemplo.

Roubo Impróprio e Consumação do Furto

Ex: João e José entra em uma casa e rouba a televisão. Já estava fora do apartamento e já tinha colocado a TV dentro do seu carro. Nesse momento, Joao percebe que esqueceu sua carteira dentro da casa e volta para busca-la, enquanto José já vai embora com a TV roubada. Chegando lá dentro, e surpreendido pelo dono da casa. Para garantir a sua fuga, ele agride-o.

Não se fala em roubo impróprio quando o furto se consuma. Esse é o limite temporal para diferenciar o roubo impróprio de furto. Se o furto não se consumou, pode-se falar em roubo impróprio. A coisa ainda está na esfera de disponibilidade da vítima no roubo impróprio.

O roubo impróprio é o furto que, ainda não consumado, se transforma em roubo, em virtude do posterior emprego de violência dentro do contexto de subtração.

Elemento Subjetivo

. Roubo Próprio: apropriação definitiva da coisa, para si ou para outrem (é o começo p/ caracterizar o crime). Roubo impróprio há também um dolo de finalidade específica: assegurar a detenção ou impunidade. Ou seja, apropriação definitiva da coisa + assegurar detenção ou impunidade.

- Diferencie rapidamente o roubo próprio do roubo impróprio:Momento do emprego da violênciaImpossibilidade de violência imprópria no roubo impróprio.Dolo de finalidade específica no roubo impróprio.

Consumação: Roubo Próprio: mesmo raciocínio do crime de furto. A influência principal é da corrente “Amotio”. Transferência da esfera de disponibilidade da coisa, dispensando a posse mansa e pacífica.

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Pode haver tentativa, que ocorre quando não há transferência da esfera de disponibilidade da coisa, por circunstancias alheias à sua vontade.A jurisprudência tem aceitado um lapso temporal menor para a consumação do roubo. Isso é uma questão prática.Roubo Impróprio: consuma-se com o emprego da violência ou grave ameaça, dispensando-se também a posse mansa e pacífica.

OBS: Rogério Greco e Weber Mouro defendem que a consumação, no roubo próprio e impróprio, ocorre com a posse mansa e pacífica da coisa. NÃO PREVALECE!

Aula 19/08

Problemáticas da consumação:1) “Bolso vazio”: o agente emprega violência contra a vítima e procura algo para

roubar, mas a pessoa não tem nada para ser roubado. Bittencourt afirma que há tentativa de roubo, a execução do crime já foi iniciada. Por ser um crime complexo, um dos bens jurídicos tutelados já foi violado. Damásio de Jesus defende que não há roubo, nem mesmo tentado, uma vez que não havia patrimônio, e o crime protege sobretudo o patrimônio. O agente deve responder pelos atos já praticados, podendo ser: vias de fato, ameaça, lesão corporal, constrangimento.

2) “Roubo do cadáver”: se o agente subtrai algo de um cadáver, sem saber que a pessoa estava morta, entende-se que há furto. As vítimas do crime de furto são a família do cadáver.

Tentativa do Roubo Impróprio:

- 1ª corrente: não há que se falar em tentativa, pois o roubo impróprio se consuma com o emprego da violência. Ou o agente emprega a violência e consuma o crime, ou não emprega violência e há furto tentado. É impossível de fracionar o iter criminis. Essa corrente é majoritária na doutrina clássica (Damásio, Hungria, Noronha) e prevalece no STJ.

- 2ª corrente: admite tentativa quando o agente é preso após subtrair a coisa, no momento em que tenta empregar a violência, mas não consegue. O raciocínio tem que se voltar para a tentativa de empregar violência. A violência não foi utilizada por circunstancias alheias à vontade do agente. É o posicionamento da doutrina contemporânea.

Destaques:

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a) “Roubo de uso”: o agente emprega violência ou grave ameaça com o intuito de subtrair a coisa e devolver depois. - 1ª corrente: STJ e STF entendem que é roubo consumado. - 2ª corrente: não há roubo, mas pode configurar outro crime como o constrangimento. O roubo seria furto + constrangimento. Como não há o substrato do furto, sobra o constrangimento. Não há o animus de transferir a esfera de disponibilidade da coisa para sempre. Não prevalece!

b) Princípio da Insignificância: não há possibilidade de aplicação do princípio da insignificância no roubo.

c) Aplicação do privilégio do furto no roubo: - 1ª corrente: é possível analogia in bonam partem, então é possível aplicar o privilegio do § 2° do furto no crime de roubo. - 2ª corrente: STJ e STF não admitem a aplicação do privilégio, pois há uma afronta ao princípio da legalidade. A violência intrínseca ao crime afasta a possibilidade de analogia in bonam partem.

Art. 157, § 2° - Causas de Aumento de Pena no Roubo:

Em que pese tribunais superiores, doutrina e mídia chamarem o roubo majorado de roubo qualificado, estamos diante de clara hipótese de causa de aumento de pena.

As causas de aumento valem tanto paro o roubo próprio, como para o roubo impróprio, mas não se aplicam ao roubo qualificado.

Se houver mais de uma causa de aumento, o juiz, na dosimetria da pena, pode aumentar a pena em um patamar mais alto que 1/3, desde que fundamentadamente. Súmula 443 do STJ. Inciso I: emprego de arma. O que é arma? No ordenamento brasileiro arma tem um sentido amplo, não é restrito a um caráter bélico. Arma é todo instrumento com ou sem finalidade bélica capaz de servir ao ataque. A doutrina faz distinção entre arma própria e imprópria:- Arma própria originalmente tem função de ataque ou de proteção. - Arma imprópria é aquela que não é feita exclusivamente para ataque ou proteção.

Aula 21/08 Problemáticas:

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Poder de Intimidação + Potencialidade LesivaDeve ser observado sempre que se pensar na utilização de arma no crime de roubo. Toda arma deve ter poder de intimidação e potencialidade lesiva, não basta que tenha apenas um desses fatores.

O sujeito efetivamente tem que utilizar a arma ou o simples fato de a arma ser mencionada já basta para caracterização da qualificadora?

- 1ª corrente: é necessária a efetiva utilização da arma, sendo esta um elemento essencial para a subtração da coisa (Bittencourt).- 2ª corrente: “porte ostensivo” - não necessariamente a arma tem que ser utilizada, basta que a arma seja mencionada. O agente tem a arma e faz dela parte essencial da sua ameaça. PREVALECE! Ex: o agente porta arma na cintura e mostra para a vítima, ameaçando-a.

Arma de BrinquedoAté 2001 a doutrina e a jurisprudência afirmava que arma de brinquedo se assemelha à arma de verdade (Súmula 174 do STJ). A súmula 174 do STJ foi cancelada, pois a arma não possui a menor potencialidade lesiva. Arma de brinquedo não autoriza o aumento de pena.

Arma Desmuniciada ou Inapta para o DisparoNão há possibilidade de configuração da majorante. Exceções: - Se a arma masca (inapta p/ o disparo), em um contexto de exceção, alguns entendem pela configuração da majorante.- Se o agente tem pronta disponibilidade da munição, parcela da doutrina entende que também pode se caracterizar a majorante.

Simulação de Arma Não incide a majorante. Trata-se de um roubo simples mediante ameaça.

Apreensão da ArmaApreensão da arma para fazer perícia. Há uma discussão se há necessidade de apreender a arma para fazer perícia (é muito oscilante).- 1ª corrente: é indispensável a apreensão da arma para fazer perícia para fins de qualificação da majorante. - 2ª corrente: é aconselhável e muito importante a apreensão da arma, mas não é obrigatória. Isso porque existem outras maneiras de comprovar a existência de arma de fogo no contexto. No entanto se o réu alega a ausência de potencialidade lesiva ou a inexistência de arma, o ônus de provar isso é do próprio réu.

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Observações Finais sobre arma de fogo: Arma de fogo e porte de arma: regra geral, o contexto de roubo absorve o

crime de porte ilegal de arma (princípio da consunção ou absorção). Excecao: há possibilidade de falar em dois crimes quando o contexto de apreensão da arma de fogo é completamente diferente do contexto do crime de roubo. Ex: uma não após o roubo, a polícia recebe uma denuncia anônima sobre quem seria o agente. Uma arma dele é apreendida e por exame de perícia comprova-se que foi a arma utilizada no roubo. Como o contexto de apreensão foi diferente, pode-se falar em cumulação de crimes.

A utilização de arma de fogo é circunstancia objetiva do crime de roubo, portanto se comunica com eventuais co-autores.

Inciso II – Concurso de PessoasAs reflexões feitas no crime de furto são aproveitadas. Todas as testemunhas falam que havia 3 agentes, qualifica. O partícipe também entra na contagem para qualificar. Menor de idade conta para majorar o crime do agente maior. Deve haver vinculo subjetivo entre todos os co-autores ou partícipes na prática delitiva. Importante: há possibilidade de cúmulo material desse crime majorado (art. 157, § 2°, II) + crime de formação de quadrilha (art. 288 do CP)? - 1ª corrente: é bis in idem. O número de pessoas é considerado duas vezes para prejudicar os réus: para configuração do crime de quadrilha e também para a configuração da majorante do crime de roubo. Aplica-se somente o crime majorado. - 2 corrente: não é bis in idem. Primeiramente, o momento de consumação é diferente, o crime do art. 288 já ocorreu no momento de associação e o crime de roubo ocorre somente depois. O segundo argumento é que os bens jurídicos são diferentes, um tutela a paz/segurança pública (art. 288) e o outro tutela o patrimônio (art. 157). Para essa corrente aplica-se o crime de roubo majorado + crime de quadrilha.

Inciso III – Se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstânciaO conhecimento é obrigatório não só nessa majorante, mas em toda e qualquer circunstancia no direito penal. Trata-se de uma atecnia do legislador, pois isso não precisava ser falado.

- O que são valores? Valores são qualquer tipo de bem que realmente tenha cunho patrimonial, força valorativa (ex: dinheiro, títulos, pedras preciosas, joias, obras de arte).

Transporte de valores não necessariamente é de um carro forte. Pode ser um office boy que vai levar o caixa do estabelecimento comercial para o banco, por exemplo.

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Pode-se configurar a majorante também no transporte de carga. Tem que ser necessariamente no contexto de prestação de serviço, ou seja, se o próprio dono do bem é roubado, não cabe a majorante. O sujeito passivo imediato é quem não é dono dos valores transportados. Não é necessário que seja atividade habitual do funcionário o transporte de valores, pode ser uma situação eventual.Existe uma doutrina minoritária que diz que a majorante somente se aplica a carro forte.

Inciso IV: Subtração de veículo automotorMesma coisa do furto, lá é qualificadora aqui é causa de aumento.

Inciso V: Restrição de liberdade da vítimaA restrição da liberdade ocorre com o intento de garantir a subtração da coisa. A pergunta essencial é: o agente conseguiria fazer isso sem restringir a liberdade da vítima? Sim! A restrição da liberdade não é essencial para a prática do crime, ela apenas garante o sucesso da subtração da coisa ou a fuga. A restrição de liberdade é circunstancial, é momentânea. Ex: o ladrão rouba um estabelecimento comercial e quando está indo embora prende os funcionários dentro do banheiro. Ex: o agente, depois de roubar uma loja, leva o vendedor para impedir que ele chame a polícia imediatamente, liberando-o bem longe dali algum tempo depois. Obs: é diferente da situação em que o agente pega a vítima e a obriga a passar no caixa eletrônico e lhe dar o dinheiro. Aqui a restrição de liberdade da vítima é essencial para a prática do crime, sem isso o agente não conseguiria cometer o crime.

Aula 26/08

Súmula 443 do STJ: necessidade de fundamentação para aplicação das causas de aumento. É possível aplicar mais de uma causa de aumento, desde que fundamentadamente.

§ 3° - Qualificadora

Generalidades:

- se há lesão leve, o crime de roubo absorve a lesão leve. Não há que cumular o crime de roubo com crime de lesão leve.

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- não se fala de roubo qualificado oriundo de grave ameaça. Só há possibilidade se caracterizar a qualificadora se houver “vis corporalis”. Ex: um homem assalta uma velhinha, quando ele fala “passa a bolsa” ela toma um susto tão grande que tem um infarto, vindo a falecer no local.

- pode-se caracterizar a qualificadora tanto para roubo próprio quanto para roubo impróprio.

- a violência é dolosa, entretanto o resultado lesão grave ou morte pode se dar de maneira dolosa ou culposa. Crítica: aplica-se a mesma pena ao crime, independente se ele é culposo ou doloso. Bittencourt afirma que há uma afronta ao princípio da proporcionalidade.

- não se aplicam as majorantes do parágrafo anterior ao roubo qualificado. As penas previstas na qualificadoras já englobam toda a gravidade das majorantes. Além disso, a localização topográfica do parágrafo também não permitiria.

- a pessoa que sofre o resultado lesão grave ou morte não necessariamente tem que ser o proprietário ou detentor da coisa. Pode ser outra pessoa, por exemplo, o vigia, o policial. Tem que existir uma relação com o contexto da subtração. Se não houver nexo, pode-se pensar em concurso de crimes. Ex: após cometer um roubo, uma quadrilha comemora dando tiros para o alto. Um desses tiros atinge uma pessoa, matando-a. Nesse caso não há roubo qualificado, mas concurso de roubo + homicídio.

Latrocínio

O latrocínio é um crime hediondo.

A violência que causa a morte se dá durante o assalto e em razão dele. Fator tempo + Fator nexo.

Ex: o cara com plena vontade de subtrair determinadas coisa dentro de um escritório. Subtraiu o que queria, tendo ameaçado as pessoas que trabalhavam no escritório. Uma das pessoas era um antigo inimigo seu, ele mata esse cara. Nesse caso, não se trata de latrocínio, pois apesar de ter havido o fator tempo, não houve o fator nexo. Há cumulação de crimes.

Ex 2: um assaltante rouba um banco e não mata ninguém. Com medo que o vigia tenha visto o seu rosto, no dia seguinte ele volta e mata-o na saída do trabalho. Aqui há o fator nexo, mas não tem o fator tempo. Há cumulação de crimes, tratando-se de homicídio qualificado.

A regra geral é que não se configura latrocínio se um dos comparsas morre. Entretanto, há possibilidade de configurar latrocínio quando um dos comparsas morre se ocorrer aberratio ictus (art. 73).

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Súmula 603 do STF: latrocínio é crime contra o patrimônio, não é crime contra a vida, portanto não atrai a competência para o Tribunal do Júri.

Pluralidade de mortes: independente da pluralidade de morte, se envolvido um único patrimônio, trata-se de um latrocínio só. Exceção: pode ser qualificado 2 latrocínios se for possível delimitar 2 patrimônios diferentes. O assaltante tem que saber que se tratam de 2 ou mais patrimônios distintos.

Consumação ou Tentativa do Latrocínio

1) Subtração consumada + morte consumada: latrocínio consumado2) Subtração tentada + morte tentada: latrocínio tentado3) Subtração tentada + morte consumada: latrocínio consumado (súmula 610 do

STF). Crítica: o latrocínio é um crime contra o patrimônio, mas nesse caso o STF privilegia a proteção ao bem jurídico vida. Greco afirma que há uma afronta ao art. 14, I, uma vez que não estão presentes todos os elementos da definição legal do crime.

4) Subtração consumada + morte tentada: durante muitos anos, foi jurisprudência tranquila nos tribunais de que se trata de latrocínio tentado. Isso revela que a vida é o bem jurídico que é priorizado. Trata-se de um paradoxo em relação à hipótese anterior, pois aqui interpreta-se que, por não haver todos os elementos do crime, que é um crime tentado. Mas na hipótese anterior, também não há todos os elementos do crime, pois a subtração não foi consumada. Atualmente, em números, também prevalece o entendimento de que se trata de latrocínio tentado. Entretanto, há uma outra corrente que leva em conta o elemento subjetivo:a) Elemento subjetivo voltado para lesão

Se o resultado advém dolosa ou culposamente, trata-se do art. 157, § 3°, 1ª parte

b) Elemento subjetivo voltado para morteJá que a morte não ocorre, trata-se de um concurso material de crimes: roubo + tentativa de homicídio qualificado(art. 121, § 2°, V)

Os últimos julgamentos do STF tem sido neste sentido (ex: HC 91583/RJ, RHC 94775). Ver informativo 520 do STF. Essa nova interpretação surgiu, pois se toda vez que houvesse morte tentada se falasse em latrocínio tentado, a 1ª parte do § 3° estaria fadado ao fracasso. OBS: tem que haver dolo na violência para aplicação do § 3° do art. 157, seja 1ª parte ou latrocínio. Ler em: Regis Prado, Rogério Shanches, Kleber Maçon

Consequências desse pensamento:

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- 1 corrente – latrocínio tentado: competência da justiça comum e é crime hediondo- 2 corrente

Art. 157, § 3°, 1ª parte: competência da Justiça comum e não é crime hediondo.

Roubo + tentativa de homicídio qualificado: competência do Tribunal do Júri e o homicídio qualificado é hediondo.

Observações Finais do Latrocínio:- as majorantes do § 2° não se aplicam ao § 3°.

- Cooperação Dolosamente DistintaEx: Daniel e Barbara planejam um furto, mas Barbara afirma que só participaria se não houvesse violência contra a velhinha que seria furtada. Eles pesquisaram sobre a vida da senhora e descobriram que todas as manhas ela não estava em casa. Daniel entra na casa, mas a velhinha estava lá. Ela grita, Barbara escuta e foge. Daniel mata a velhinha e pega o anel de diamantes. A Barbara se imputa o crime de furto tentado (art. 29, § 2°, 1ª parte) e a Daniel o crime de latrocínio consumado. Isso não fere a teoria monista, pois os elementos subjetivos dos agentes são diversos.

Ex. 2: A e B combinam de furtar um carro. No momento do furto, o dono do carro chega. A foge nesse momento, mas B aplica violência contra o dono e mata-o, fugindo com o carro. A cometeu o crime de furto tentado (art. 29, § 2°) e B cometeu o crime de latrocínio.

ART. 158 – EXTORSÃO

A extorsão nada mais é do que um constrangimento ilegal agravado pelo intuito de obter vantagem econômica.

1) Bens jurídicos tutelados: patrimônio + liberdade individual A proteção ao patrimônio, no crime de extorsão, é mais ampla do que no crime de roubo. O crime de roubo protege apenas coisa móvel, já a extorsão protege todo tipo de bem que possui valor econômico. Ex: Titulo de crédito, porcentagem de lucro.

2) Tipo Objetivo- Fazer- Deixar de fazer- Tolerar que se faça

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A linha é muito tênue entre deixar de fazer e tolerar que se faça. Entretanto, é possível pensar que o deixar de fazer exige uma conduta negativa do agente, enquanto que o tolerar que se faca exige que a vítima tolere uma ação do agente.

Vantagem: tem que ser indevida. Se for vantagem devida, não configura extorsão.

Como diferenciar o crime de extorsão do crime de roubo?Fórmula de Frank: o ladrão subtrai e o extorsionário faz com que a vítima lhe entregue a coisa.

Roubo Extorsão O ladrão subtrai (não depende exclusivamente da vítima)

O agente faz com que a vítima lhe entregue (papel da vítima)

A vantagem buscada é imediata A vantagem buscada é futuraColaboração da vítima dispensável Colaboração da vítima indispensávelO mal é iminente (quase que imediato)

O constrangimento aponta para o futuro

Vantagem restrita (palpável) Vantagem ampla (econômica)

Na extorsão a vítima pode escolher se render ou não à ameaça. Crítica feita pelo Greco: ler!

Sujeito ativo:

Sujeito passivo: é possível pluralidade de sujeitos passivos. Uma pessoa sofre lesão contra o bem jurídico liberdade pessoal e outra pessoa sofre lesão contra o bem jurídico patrimônio. Ex: eu ameaço agredir Maria para conseguir vantagem econômica de João, seu pai. Pessoa jurídica pode ser vítima de extorsão? Sim, desde que o bem jurídico atingido seja o patrimônio. Quanto ao bem jurídico liberdade pessoal, a vítima deve ser uma pessoa física.

Elemento Subjetivo: é um crime doloso, que possui finalidade específica. Dolo de finalidade especifica voltado para obter vantagem econômica. Não é possível na modalidade culposa.É possível o crime de extorsão por omissão (omissão imprópria – art. 13, § 2°). Ex: um agente da lei, que tem o dever de impedir o crime ou ao menos denunciar, mas vê o crime acontecendo e não faz nada, para prejudicar a vítima.

Consumação: é pacífico que o crime de extorsão consuma-se com o constrangimento da vítima, dispensando-se a obtenção da indevida vantagem econômica. Súmula 96

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do STJ. Trata-se de um crime formal, não material, pois não exige a ocorrência de um resultado. O recebimento da vantagem por parte do sujeito ativo é o exaurimento do crime. O momento da consumação influencia no momento do flagrante. Não há que se falar em flagrante no momento do mero exaurimento do crime. A prescrição também é contada do momento que se consuma o crime (art. 111, I do CP).

É possível tentativa, ainda que o crime seja formal. Ex: a carta extorsionária é interceptada. Ex. 2: o agente ameaça a vítima e já se prepara para cumprir a sua ameaça, mas a vítima chama a polícia e por circunstancias alheias à sua vontade ele não consegue cumprir a ameaça. A prova maior do constrangimento é a vítima fazer o que o agente pede.

Observações finais: - Na extorsão a ameaça tem que ter o potencial lesivo à vítima, realmente tem que ter a possibilidade de constranger a vítima. Ex: a ameaça do agente é jogar uma macumba na vítima. Não há crime. - Ação Penal Pública Incondicionada. - As lesões leves e a ameaça são absorvidos pelo crime de extorsão.

Majorante§1° Diferente do roubo e do furto, na extorsão não se aceita partícipes no computo do concurso de pessoas, somente co-autores. Em relação a arma, mesmas considerações do roubo.

Qualificadora§ 2° Há remissão expressa ao roubo qualificado. Só as lesões leves são absorvidas pelo crime. É crime hediondo quando ocorre o resultado morte (art. 1°, III da lei 8.072).

Qualificadora§ 3° A restrição de liberdade da vítima na extorsão é uma qualificadora, enquanto no roubo é uma majorante. Extorsão com a restrição da liberdade da vítima + morte (2ª parte). Esse tipo surgiu em função dos sequestros relâmpagos. Esse crime também é hediondo?- 1 corrente: não é crime hediondo, pois a lei de crimes hediondos (lei 8.072) é expressa ao citar somente o § 2° do art. 158. Seria uma afronta ao princípio da legalidade, estaria ocorrendo analogia in malam partem. PREVALECE! - 2 corrente: por uma questão de coerência, é crime hediondo, uma vez que o crime do § 2°, que é menos grave, é hediondo. Então o crime mais grave também deve ser considerado hediondo. Ademais, há referencia ao resultado morte na lei de crimes hediondos. Outro argumento é que a interpretação literal deve ser interpretada por uma interpretação racional, acompanhando com a estrutura do ordenamento.

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