direito & justiça 30/06/2016

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4 FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL. Quinta-feira, 30 de junho de 2016 [email protected] Pág. 8 CONDOMÍNIO Inadimplência pode levar o bem à penhora em três dias

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Jornal O Estado (Ceará)

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Page 1: Direito & Justiça 30/06/2016

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FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL. Quinta-feira, 30 de junho de 2016 [email protected]

Pág. 8

CONDOMÍNIOInadimplência pode levar o bem à penhora em três dias

Page 2: Direito & Justiça 30/06/2016

Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 30 de junho de 2016 O ESTADO 2

M oradores de condomínios não podem deixar de dar prioridade às taxas condominiais. Após as mudanças com o novo Código de Processo Civil

(CPC), o prazo para quitar as dívidas passou a ser de apenas três dias. A inadimplência pode levar o condômino a ter o nome negativado, a conta bancária bloqueada e até o imóvel penho-rado. Quem comenta a modificação é o advoga-do Danny Memoria, em matéria na página 08. Segundo ele, a nova legislação traz mais agilida-de e efetividade ao processo de cobrança.

Na página 03, a edição deste mês, do Direito & Justiça, traz entrevista com a nova presidente do Tribunal Regional do Trabalho do Ceará (TRT/CE), desembargadora Maria José Girão. Além de ter de gerir uma das maiores demandas processu-

ais do País, Maria José terá de enfrentar a redução da Lei Orçamentária Anual deste ano, de 29% na parte de custeio e 90% na parte de investimento.

Na internet, o crime tem sido um estilo de vida. Jovens estão utilizando suas redes sociais para divulgar fotos e vídeos que mostram uma vida de ostentação com drogas, dinheiro e ar-mas. Destemidos, eles não escondem o rosto, muitas vezes ameaçam, e até deixam claro que são do crime. Especialistas afirmam que a sensa-ção de poder é a principal motivação. Na avalia-ção do advogado José Ricardo Ramalho, especia-lista em Direito Penal, o fato de não esconderem os rostos é o que mais causa preocupação. Em matéria, na página 07, o advogado afirma que quem publica essas imagens na internet pode responder pelos crimes de apologia e associação

ao tráfico. A pena de detenção varia de três a seis meses. A delegada adjunta da Divisão de Comba-te ao Tráfico de Drogas (DCTD), Patrícia Bezerra, em Fortaleza, ressalta que quando a Polícia chega aos criminosos e são indagados sobre as fotos, “eles demonstram desespero”. O deputado federal Cabo Sabino (PR-CE), que é membro da Comis-são de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, da Câmara dos Deputados, cobra da Polícia e de legisladores, uma legislação mais dura a crimes dessa espécie nas redes sociais, e critica a facilidade de qualquer pessoa possuir uma arma.

Veja também nesta edição que usar o WhatsA-pp para resolver problemas do trabalho fora do expediente pode contar hora extra. E mais: saiba como a lei protege o ciclista e quais os órgãos que protegem os direitos dos idosos.

Inadimplência de condomínio

EDITORIAL

Corrupção e poder

Medida socioeducativa de internação

Quantas vezes você já se pegou checando e-mails pelo celular no horário do almo-ço? Ou verificando, a cada cinco minutos, se chegou uma nova mensagem de texto? Se você se identifica com as situações aci-ma, cuidado: esses podem ser sinais da nomofobia — síndro-me em que o paciente fica dependente do te-

lefone ou da internet.Temos internações agora em clínicas de recuperação em Fortaleza.

— Aquela pessoa que usa muito o celular por causa do trabalho, ou por algum outro motivo, não necessariamente tem a doença. Mas se o esquecimento do aparelho em casa já é suficiente para gerar um sofrimento, é preci-so procurar ajuda e com urgência.

— A nomofobia não costuma aparecer so-zinha. Em geral, está associada aos transtor-

nos de ansiedade, que podem ser síndrome do pânico, transtorno bipolar, estresse pós-trau-mático, entre outros. Tratando essas doenças com remédios e terapia, a nomofobia também desaparece.Como grande parte das depen-dências já descritas, a digital não é facilmente reconhecida, e muito menos quando o assun-to é a nomofobia. Afinal, hoje em dia é cada vez mais comumencontrarmos pessoas cami-nhando na rua, jantando com seus parceiros, em um encontro com amigos, dirigindo e até na sala de cinema... vidradas na tela do smar-tphone, existem pessoas que são incapazes de manter um diálogo sem olhar no tal celular, sai com os amigos passam o tempo checando mensagens , vai fazer sexo e o celular está ali do lado...

Se você se identificou com as situações aci-ma, calma! Não necessariamente será enqua-drado como um dependente (ainda que tais comportamentos estejam longe de um padrão adequado de comportamento).

— O que podemos considerar como adi-ção é quando determinado uso gera prejuízo, como escolar, acadêmico, social. Ou até pre-

juízos mais físicos, como alteração no sono, pessoas que se acordam para ver se tem algu-ma mensagem...

Entre os sintomas físicos que sinalizam que uma pessoa passou dos limites estão a dificul-dade de dormir pela ansiedade de usar os apa-relhos e o “toque fantasma” — quando a pes-soa acredita ouvir o telefone tocar, mesmo que esteja sem ele, esse tipo é bem comum hoje em dia, o mais comum ainda é ver alguns tolos, alguns “ donos da verdade” sempre dirigindo e batendo papo nos celulares, pessoas essas que se dizem “ corretas” , donos(as) de si.

Quando você repete determinado compor-tamento, como, por exemplo, o jogo compulsi-vo, depois de poucos minutos ocorre a libera-ção de dopamina (conhecida como “hormônio do prazer”), que faz com que a motivação seja aumentada, renovada, criando assim um cír-culo vicioso. No caso do smartphone, este comportamento leva a pessoa à necessidade de ficar cada vez mais conectada, em conta-to com o aparelho. Realmente é uma doença e merece atenção,Afinal o que é melhor sua paz ou essa maldição?

Em sua traje-tória de desen-volvimento desde os primórdios, a humanidade se caracteriza pela busca do poder, consequentemente pela sobreposição de indivíduos so-bre os outros.

Neste aspecto singular do ho-mem a corrupção sempre foi fator para essa sobrepo-

sição. Impérios se constituíram e se ruina-ram devido à essa chaga.

O próprio império Romano estabeleceu de forma institucional a corrupção, e por conseguinte foi a fissura aberta para o seu desmantelamento.

Com o surgimento da moeda que está intimamente transmitida ao dinheiro e das trocas comerciais, especialmente no que diz respeito a passagem de uma economia baseada na troca direta para outra indireta (denominada monetária), a moeda surgiu em múltiplas civilizações com várias for-mas de representação até culminar no hoje “dinheiro”.

Hoje, o dinheiro para muitos cumpre o papel de verdadeiro “Deus” e que por ele se mata e se morre, se comete todo o tipo de insanidade, a ponto de escravizar o homem de forma irremediável.

A correlação do dinheiro e o poder é umbilical, porquanto o dinheiro compra o poder. Para muitos, sinônimo de poder é di-nheiro e vice-versa, correlativamente o di-nheiro na obtenção do poder gera também a corrupção, ou seja, o poder corrompe.

No Brasil, a corrupção tem suas raízes em nosso Colonialismo e no impetuoso Escravagismo, que induziram pessoas a se corromperem para se ter o mínimo de li-berdade. Nascia ali o “ jeitinho”.

O arrigado patrimonialismo compõe da mesma forma as raízes corruptivas no Bra-sil, e esse conceito não distingue o público do privado, afinal o Estado é mantenedor dos privilégios de uma elite constituída para se locupletar de nossas riquezas.

Essa somatória de fatores criou uma cultu-ra corruptiva secular que está intrínseca em nossa sociedade. Os corruptos são em geral os donos do poder como algo ordinário.

O historiador e pensador britânico Lord Acton ponderou: “a corrupção reside fun-damentalmente no poder. Continuamente cita sua celebre frase: o poder tem a ten-dência a se corromper e o absoluto poder corrompe absolutamente e adicionava ain-da que: meu dogma é a geral maldade dos homens portadores de autoridade, são os que mais se corrompem.”

Neste aspecto contextualiza-se que o poder se materializa no dinheiro. Quanto mais dinheiro, mais poder.

Para obtê-lo não é necessário o labor edi-ficante virtuoso, mas perversamente se utili-zar de todas as formas de corrupção e usur-pação para sua multiplicação indecorosa.

Esses são os parâmetros que têm regido a sociedade brasileira, em especial a política pátria.

Não há idealismo ou projetos edificado-res da construção de uma nação justa, so-berana e fraterna. Há a busca do dinheiro para manutenção do poder, o poder pelo dinheiro para alguns privilegiados.

Seguindo a lite-ralidade do estatuto menorista, é possível verificar que foram arroladas de maneira taxativa seis espécies de medidas socioe-ducativas, cada uma transportando dife-rentes graus de inter-venção estatal na vida dos jovens infratores. Dentre elas a inter-nação em estabele-

cimento educacional é, indubitavelmente, a reprimenda mais drástica, subtraindo com-pletamente a liberdade dos adolescentes du-rante todo o período do recolhimento. Além dos regramentos normativos específicos para este tipo particular de corretivo, a internação ainda está submissa a três princípios basilares e setoriais, utilizados como vetores interpreta-

tivos em toda relação protecionista.O primeiro, princípio da brevidade, assina-

la que a medida radical da internação deve ser aplicada durante um período curto de tempo, no menor lapso temporal possível, servin-do a reclusão em estabelecimento educacio-nal apenas o rigorosamente suficiente para a ressocialização do adolescente, funcionando o confinamento transitório do jovem como uma nova chance para ref lexão sobre a gravi-dade da prática delituosa cometida, sofrendo a necessária interferência pedagógica estatal. O segundo, princípio da excepcionalidade, enaltece que a medida extrema da internação somente deve ser aplicada quando se mostrar profundamente necessária ao caso, desde que a situação fática esteja previamente acober-tada pelas situações específicas autorizativas: por ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa; por reiteração no cometimento de outras infrações graves; por descumprimento reiterado e injustificável

da medida anteriormente imposta. O tercei-ro, princípio do respeito à condição peculiar da pessoa em desenvolvimento, ressalta que a medida hostil da internação deve ser encara-da como forma especial de reeducar os ado-lescentes, atentando para as circunstâncias diferenciadas que norteiam essa faixa etária, marcada por inúmeras transformações físicas e psíquicas, assumindo o estado um papel de guardião, zelando pelo atendimento das ne-cessidades singularizadas dos menores.

Assim, é possível inferir que a medida so-cioeducativa de internação não possui so-mente a clássica função punitiva, de caráter retributivo, visando mostrar aos adolescentes infratores a censura da sociedade com relação àqueles atos executados análogos a crime ou contravenção penal, mas também é equipada, principalmente, da relevante função pedagó-gica, de caráter educativo, objetivando reedu-car os jovens para, no futuro breve, devolvê--los à sociedade de maneira habilitada.

EDITORA Solange Palhano REPÓRTER Anatália Batista GESTÃO COMERCIAL Glauber Luna DESIGNER GRÁFICO J. Júnior FOTOS Beth Dreher, Iratuã Freitas e Nayana Melo www.oestadoce.com.br

Vício do celular

Súmulas Eleitorais XVAo superar esta

série de textos com abordagem acerca das súmulas eleitorais, so-brou a última até en-tão editada pelo TSE, de nº 21, afirmativa de que “o prazo para ajuizamento da repre-sentação contra doa-ção de campanha aci-ma do limite legal é de 180 dias, contados da data da diplomação.” Para o tema, destaque, inicialmente, para a

novidade trazida pela reforma eleitoral advin-da da Lei nº 13.165, de 29 de setembro de 2015, relativamente à impossibilidade de doação de pessoal jurídica, em campanha eleitoral. Ou seja, aquelas doações de até 2% do faturamen-to, antes possíveis, oriundos de empresas, agora não mais o são, restando apenas, para recursos em campanha, os originários do próprio can-didato, doações de pessoas naturais, de outros partidos ou outros candidatos, comercialização de bens e serviços ou promoção de eventos de

arrecadação, recursos próprios de partidos e re-ceitas e aplicação financeira (art. 14, I a VI da Resolução nº 23.463/2015-TSE).

Relativamente à discussão travada para a edição do enunciado, o TSE, deparando-se com teses opostas, pacificou o entendimento no sentido de que aquelas representações fun-dadas em doações em excesso deveriam seguir o prazo previsto no art. 32 da lei das eleições, o qual dispõe ser exatamente de até 180 dias, após a diplomação, o tempo para os candida-tos ou partidos conservarem a documentação concernente a suas contas, preceptivo este sem alteração por parte da dita reforma.

No ponto, todavia, a Lei nº 9.504/97, em dis-positivo incluído pela reformulação, tratou de estabelecer, em boa hora, um “iter” para a apu-ração de doação acima do limite. O TSE compi-lará as doações registradas até 31 de dezembro do exercício financeiro a ser apurado, conside-rando: (I) as prestações de contas anuais dos partidos políticos, entregues à Justiça Eleitoral até 30 de abril do ano subsequente ao da apura-ção e, (II) as prestações de contas dos candida-tos às eleições ordinárias ou suplementares que tenham ocorrido no exercício financeiro a ser apurado. Depois, o Tribunal Superior enviará

as informações à Secretaria da Receita Federal do Brasil até 30 de maio do ano seguinte ao da apuração, à qual compete proceder ao cruza-mento de dados para, apurando indício de ex-cesso, comunicar o fato, até 30 de julho do ano seguinte ao da apuração, ao Ministério Público Eleitoral (MPE). O fiscal da ordem jurídica po-derá, até o final do exercício financeiro (31 de dezembro) apresentar representação com vistas à aplicação da penalidade prevista no art. 23 da LE e de outras sanções que julgar cabíveis.

Ou seja, considerando a inovação legislati-va, vê-se claramente ter o legislador elastecido o prazo para o aforamento da demanda judi-cial, inclusive sem mais se falar na diplomação, como termo inicial para a contagem de tempo. Encontra-se, então, a súmula superada pela no-vel regulamentação.

E, por fim, considerando a inexistência de possibilidade de doação por pessoa jurídica, não mais se fala em sanção de proibição de par-ticipar de licitação com o Poder Público, para processos futuros (art. 81 da LE revogado), re-manescendo, no entanto, na forma disposta no art. 23, § 3º, da lei das eleições, a sujeição do infrator ao pagamento de multa no valor de 5 a 10 vezes a quantia doada em excesso.

HENRIQUE MATTHIESEN BACHAREL EM DIREITO

ROSSANA BRASIL KOPF ADVOGADA

RODRIGO CAVALCANTESECRETÁRIO

DE CONTROLE INTERNO

NO TRE/CE

MARCO PRAXEDESANALISTA

JUDICIÁRIO

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O ESTADO Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 30 de junho de 2016 3

MARIA JOSÉ GIRÃOEm 2015, 60 mil novos processos surgiram; é o maior número nos últimos 10 anos na Justiça do Trabalho

Aprocura pela Justiça do Trabalho, no Ceará, é a maior nos últimos 10 anos. Somente em

2015, foram 61.456 novos pro-cessos, 20% a mais que em 2014, onde a média de crescimento anual era de 5%. São mais de 149 mil processos trabalhistas na primeira instância da Justiça do Trabalho no Ceará, e quase 10 mil no segundo grau.

Esse será um dos grandes desafios da nova presidente do Tribunal Regional do Trabalho no Ceará (TRT/CE), desem-bargadora Maria José Girão. Eleita por unanimidade, a ela tomou posse do cargo no últi-mo dia 10 deste mês e assume a administração durante biênio 2016/2018.

Além de ter de gerir uma das maiores demandas processuais do País, Maria José terá de enfrentar a redução da Lei Or-çamentária Anual deste ano, de 29% na parte de custeio e 90% de investimento. Confiante, ela garante que sua gestão irá tra-balhar no sentido de melhorar a situação na qual encontra-se a Justiça trabalhista cearense. Em entrevista ao Direito & Justiça, do jornal O Estado, a desembargadora defende mudanças para atualizar a CLT, mas critica sinalizações do presidente da República em exercício, Michel Temer, de alterar alguns direitos já conquistados pelos trabalha-dores brasileiros. “A partir do momento que a gente vai mu-dar uma lei ou um regimento qualquer, para prejudicar direitos adquiridos, o negócio não vai dar certo”, criticou.

[Direito & Justiça]: A sua gestão terá como um dos de-safios, o aumento de 20% em novos processos trabalhistas. É a maior procura pela Justi-ça do Trabalho nos últimos 10 anos. Qual a expectativa daqui pra frente?

[Maria José Girão]: A ten-dência é aumentar ainda mais, devido ao problema que esta-mos enfrentando, hoje, no Bra-sil, de desemprego acelerado. Muitas empresas fechando e pessoas perdendo os empregos. A gente vê em quase todos os estados da Federação e no Es-tado do Ceará não é diferente. Temos uma taxa bem elevada de desemprego e tudo reflete na Justiça do Trabalho, porque lá é o local que eles têm para recorrer e receber os direitos trabalhistas.

[Direito & Justiça]: Segun-do o presidente da Confede-ração Nacional da Indústria (CNI), a legislação atual não favorece acordos coletivos pelo contrário, estimula con-flitos. Por isso, o número de ações na Justiça aumenta a cada dia. O que acha disso?

[Maria José Girão]: Acho que nem muito nem pouco. Há uma necessidade também, que a gente tem que olhar, de um fortalecimento melhor do sindicalismo no mundo, prin-cipalmente no Brasil, porque a questão da negociação tem um lado muito positivo, desde que nós tenhamos sindicatos bons, bem constituídos. Os próprios sindicatos, nos países mais de-senvolvidos, são quem decidem a questão salarial. Então, a nego-ciação coletiva, a princípio, é uma coisa saudável, desde que não fira direitos de ambas as partes na negociação. É preciso que haja esse amadurecimento, de sempre respeitar a lei, nesses ajustes.

[Direito & Justiça]: Há al-guma medida para atender essa demanda de novos pro-

cessos? Além da realização de concursos para juízes e pes-soal, o que, em sua opinião, poderia ser feito para a Justiça do Trabalho ser mais ágil?

[Maria José Girão]: Nós não podemos controlar o direito do trabalhador entrar na Justiça. O que precisamos, é termos uma força de trabalho mais elevada, de mais juízes, mais servidores, para que a gente possa dar conta dessa demanda. Nosso número de servidores ainda é insuficiente, e o de juízes também. Temos, inclusive, dois projetos de criação de cargos tramitando no Congresso Na-cional. Um contempla cinco cargos de juízes e mais de 40 de analistas de judiciários e técnicos de judiciários. Temos um outro projeto específico da Secretaria de Tecnologia da TI, que contempla 25 cargos.

[Direito & Justiça]: Temos, hoje, 11 milhões de desem-pregados no Brasil. A senhora seria a favor da redução da jornada de trabalho e salários para que não haja demissões?

[Maria José Girão]: Essa questão da redução da jornada de trabalho depende muito do tipo de trabalho que a pes-soa faz. Às vezes, diminuir a jornada pode ser um ganho, mas pode não ser. Já estando no contrato de trabalho, fazer esses ajustes tem que ser com a essência do empregado. Então, o empregado concordando de maneira consciente, orientado pelo seu sindicato, é uma coisa que não fere a lei, desde que não haja redução salarial dele. São ajustes que pode haver na re-lação de trabalho, mas sempre mantendo essa anuência das

duas partes, porque o contrato de trabalho é bilateral. Tenho o lado do empregador e do trabalhador.

[Direito & Justiça]: A se-nhora já tem uma vasta expe-riência na Justiça do Trabalho, sem dúvida, seu maior desa-fio, agora, como presidente do TRT-CE, será enfrentar o corte de 29% no orçamento anual e 90% na parte de inves-timento. Qual a realidade da Justiça do Trabalho no Ceará, hoje, e qual a expectativa de viabilizar os trabalhos com um orçamento tão reduzido?

[Maria José Girão]: Agora em junho, completo 30 anos na Justiça do Trabalho. Já ad-ministrei seis varas trabalhistas e já administrei a corregedoria do tribunal por dois anos. Todas essas experiências, que a gente vai tendo, vamos co-nhecendo melhor a Justiça do Trabalho no nosso Estado. Essa questão do corte orçamentá-rio foi muito prejudicial. Não foi só a Justiça do Trabalho no Ceará, mas em todos os estados. O corte foi de duas formas. Temos um corte que vai exatamente para verba de custeio, que é essa verba que o tribunal precisa no dia a dia, para fazer jus aos contratos que tem. Isso tudo atingiu. O outro corte, que também veio com a Lei de Diretrizes Orçamentárias, entrou em vigência em janeiro, e atinge a parte de investimento. Ou seja, nós temos, hoje, um PJE que já está em 100%, mas exis-te esse risco de, se precisar, por exemplo, fazer novas melhorias no sistema, o Tribunal terá uma grande dificuldade.

[Direito & Justiça]: O corte está, inclusive, interferindo na conclusão do prédio De-sembargador Manoel Arízio de Castro, no Centro. Qual o impacto e prejuízo com essa obra parada. Com 98,5% concluídos?

[Maria José Girão]: Lá, es-távamos com quatro varas que foram transferidas para outro prédio enquanto termina. Pre-juízo há e eu lhe diria que é um grande prejuízo. Quem sofre com tudo isso é exatamente o jurisdicionado, aquela pessoa que pode ser jurídica, porque o jurisdicionado é o emprega-do e o empregador. Todos os dois lados buscam a Justiça do Trabalho. Eles que estão sendo prejudicados diretamente com esse corte orçamentário.

[Direito & Justiça]: O pré-dio deveria ter sido concluído este ano. Não há previsão e mesmo inaugurado, estaria em condições de funcionar?

[Maria José Girão]: O de-sembargador Tarcísio Lima Verde Júnior, enquanto presi-dente, não teve condições de inaugurar, porque faltou verba. Também está precisando algu-mas melhorias nos elevadores que são bem antigos. Recebi o laudo dos engenheiros e ainda tem uma série de coisas para colocar no edifício. Ainda tem muitos acabamentos que preci-so fazer, e é custo. Vou precisar de dinheiro para isso.

[Direito & Justiça]: Então, não existe previsão?

[Maria José Girão]: O gran-de problema, é que existe uma verba, que já é própria para isso. O orçamento do tribunal,

como todo tribunal, tem suas verbas específicas. Temos, por exemplo, a folha de pagamento e a parte para obras. O tribunal não trabalha sem dinheiro. Temos uma série de coisas para fazer na Justiça do Trabalho. Também precisamos construir uma vara em São Gonçalo do Amarante, que lá funciona de maneira muito precária, já temos o terreno, mas ainda não foi possível construir. Temos também o prédio Dom Helder Câmara, onde o revestimento está caindo. Existem outras coisas mais simples, como na Vara de Maracanaú, que preci-samos fazer um banheiro para servidores e outros ajustes aqui mesmo dentro do tribunal.

[Direito & Justiça]: Houve cortes nos estagiários?

[Maria José Girão]: Metade dos estagiários foi dispen-sada. Os cortes foram feitos ainda pela administração do presidente anterior, mas está havendo corte nos contratos. Estamos conseguindo ter apoio dos contratantes, porque estão entendendo a situação. Nin-guém pode fazer o corte unila-teral, porque senão o tribunal vai pagar multa. Os tribunais estão poupando como podem. Eu também vou poupar. Es-tamos desenvolvendo uma cultura de poupar. Economizar mesmo. Se não fizer isso, o tribunal para total.

[Direito & Justiça]: O presi-dente interino Michel Temer, sinalizou algumas mudanças para uma reforma trabalhista, que implica na flexibilização de alguns direitos trabalhistas como 13º salário, férias, licen-

ça-maternidade assegurados na CLT. Essas propostas, real-mente, se aprovadas, tendem a dar mais segurança nos contratos trabalhistas, como defendem, ou é um retrocesso aos direitos já conquistados pelos trabalhadores?

[Maria José Girão]: Aquilo que é relacionado ao trabalho do ser humano, o que a gente tem que levar em conta são os direitos dos trabalhadores. Então, qualquer política que venha prejudicar esses direitos, já conquistados pela lei, não é saudável para o trabalhador. O trabalhador tem direitos garantidos pela lei trabalhista, até também pela Constituição Federal e pela jurisprudência. É preciso que haja um bom senso de quem vai querer fazer algu-mas mudanças nesse sentido.

[Direito & Justiça]: A se-nhora apoiaria uma mudança na CLT?

[Maria José Girão]: A CLT precisa de algumas mudanças, porque é um diploma legal, que já está há muitos anos. Existem algumas coisas que precisam melhorar, mas a gente pode melhorar a CLT sem afetar os direitos dos trabalhadores e de quem emprega. A partir do momento que a gente vai mudar uma lei ou um regimen-to qualquer, para prejudicar direitos adquiridos, o negócio não vai dar certo.

[Direito & Justiça]: Concor-da com esta afirmação que a Justiça do Trabalho é prote-cionista, ou seja, sempre ao lado dos trabalhadores?

[Maria José Girão]: Não. Eu não vejo assim. Não acho que seja protecionista de ninguém. Estou há 30 anos na Justiça do Trabalho e sempre lidei com processos trabalhistas, e todos os requisitos jurídicos que apliquei no meu trabalho, não são protecionistas. São o mínimo legal necessário para um trabalhador sobreviver. A Justiça do Trabalho não protege ninguém, até porque ela não cria lei. Nós, juízes do Trabalho, desembargadores, não criamos lei. Aplicamos a lei existente no processo.

[Direito & Justiça]: Quais

expectativas para sua gestão, mesmo com estes desafios, o pensamento é de otimismo, de luta, para garantir melho-rias para o funcionamento da Justiça do Trabalho?

[Maria José Girão]: A gente vai ter que fazer um trabalho no sentido de procurar melho-rar essa situação e eu lhe digo: sou uma pessoa que não sou pessimista. Nunca fui. Sempre acredito que as coisas vão me-lhorar. Até porque, se eu não acreditar nisso, não vai ser bom para mim também. Sempre gosto de ver o lado positivo da vida. Sei que terei desafios a vencer. Estou consciente disso. Mas, vamos enfrentar. Acredito na consciência dessas pessoas que lidam nos setores respon-sáveis por essas mudanças. Temos uma Lei de Diretrizes Orçamentária que não foi uma lei como deveria ter sido, por-que reduziu o orçamento dos tribunais, mas isso não quer dizer que vai continuar, até porque essas leis não são anu-ais. Estou esperando que haja uma mudança de postura de quem faz as leis, porque, a essas alturas, já estão também sen-tindo o resultado desses cortes orçamentários, de modo que espero que toda essa crise difícil passe. Espero que o Brasil saia dessa dificuldade toda. Quero o melhor para o meu país.

FOTO BETH DREHER

Os tribunais estão poupando como podem. Estamos desenvolvendo uma cultura de poupar. Economizar mesmo. Se não fizer isso, o tribunal para total.

Temos que levar em conta, são os direitos dos trabalhadores. Qualquer política que venha prejudicar esses direitos, já conquistados pela lei, não é saudável para o trabalhador.

Há uma necessidade de um fortalecimento do sindicalismo no mundo, principalmente no Brasil, porque a questão da negociação tem um lado muito positivo.

Maria José Girão vai administrar o TRT/CE, no biênio 2016/2018

Page 4: Direito & Justiça 30/06/2016

Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 30 de junho de 2016 O ESTADO 4

Pedro Augusto Carneiro Lessa, filho do Coronel José Pedro Lessa e de D. Francis-ca Amélia Carneiro Lessa, nasceu em 25 de setembro de 1859, na cidade do Serro, província de Minas Gerais. Havendo concluído em sua província o curso de Humani-dades, seguiu para São Paulo, onde matriculou-se na Facul-dade de Direito e, com as mais distintas notas, fez os estudos, recebendo o grau de Bacharel, em 1883, e o de Doutor, em 1888, depois de defender tese.

Iniciou a vida pública na Relação de São Paulo, exer-cendo o cargo de Secretário, para o qual foi nomeado em decreto de 30 de maio de 1885. No ano de 1891, foi nomeado Chefe de Polícia do Estado de São Paulo e eleito Deputado ao Congresso Constituinte do Estado, onde foi um dos principais colaboradores da respectiva Constituição.

Abandonando a política,

dedicou-se exclusi-vamente à pro-fissão de ad-vogado e ao magistério super ior, e m q u e deu nova orientação ao estudo da Filosofia do Direito no Brasil. Seus tr iunfos como advogado deram-lhe tal destaque que os conselhos e pareceres que emitia eram acatados em toda parte. Em decreto de 26 de outubro de 1907, do presidente Afonso Pena, foi nomeado Ministro do Supremo Tribunal Federal, preenchendo a vaga ocorrida com a aposentadoria de Lúcio de Mendonça. Tomou posse em 20 de novembro seguinte.

Seus votos e manifestações no mais alto tribunal do País foram sempre brilhantes fon-

Pedro Lessa EX-MINISTRO STF (1859 – 1921)

tes de ciência jurídica, contribuindo para a

interpretação da C onst it u iç ão,

destacando-se os que permi-t i ra m cons-truir a famosa teoria brasi-leira do habe-

as corpus, que veio a culminar

com o mandado de segurança.

Brasileiro notável pelo saber e pelo caráter, publicou valiosas obras e consagrou seus últimos anos à Liga da Defesa Nacional, onde deixou exuberantes provas do seu grande patriotismo e civismo. Pertenceu ao Instituto Histó-rico e Geográfico Brasileiro e à Academia Brasileira de Letras, na qual ocupou a vaga de Lúcio de Mendonça.

Divulgou, entre outros, os seguintes trabalhos: Theses e dissertação apresentadas

à Faculdade de Direito de São Paulo para o concurso a uma vaga de Lente Substituto (1887); Memória histórica acadêmica da Faculdade de Direito de São Paulo (1889); Interpretação dos art. 34, nº 23, art. 63 e art. 65, nº 2, da Constituição Federal (1889); É a história uma ciência (1900); O determinismo psí-quico e a imputabilidade e responsabilidade criminais (1905); Discursos (1909);Es-tudos Jurídicos (1909); Dis-sertações e polêmicas (1909); Estudos de Filosofia do Direi-to (1912); Do Poder Judiciário (1915); Discursos e conferên-cias (1916) e A idéia da Justiça — conferência (1917).

Era casado com D. Paula de Aguiar, filha do Dr. Fran-cisco de Aguiar e Castro. Pedro Lessa faleceu na cidade do Rio de Janeiro, no dia 25 de julho de 1921.

Fonte: STF

GRANDES NOMES DO DIREITO

O procurador geral da Repú-blica, Rodrigo Janot, ajuizou, no Supremo Tribunal Federal, a ação direta de inconstitucionalidade para questionar dispositivo de lei do Estado do Rio de Janeiro que obriga hospitais, casas de saúde e maternidades a coletar material genético de mães e bebês, no momento do parto, para arquivamento. Os artigos 1º, parte final, e 2º, inciso III, da Lei 3.990/2002, do Rio de Janeiro,

determinam o armazenamento do material genético na unidade de saúde, à disposição da Justi-ça, em caso de dúvida quanto a uma possível troca de bebês, como medida de segurança. Para o autor da ação, a norma viola os direitos fundamentais à proteção da privacidade e da intimidade e ao devido processo legal (artigo 5º, incisos X e LIV, da Constituição Federal).

Fonte: Conjur

A Comissão de Educação da Câmara dos Deputados aprovou, na última terça-feira, o projeto de lei 2249/15, do deputado Alfredo Nascimento (PR-AM), que pro-íbe a cobrança da primeira via de diplomas por universidades e escolas públicas e privadas. Atualmente, o Ministério da Educação já proíbe o estabeleci-mento de ensino de repassar o custo de emissão sobre diploma e histórico escolar ao aluno, independentemente do tempo de requisição. Entretanto, o autor do projeto argumenta que nem sempre essa norma é cumprida. Relator da matéria, o deputado Lobbe Neto (PSDB-SP) observou

que o Supremo Tribunal Federal (STF) já se posicionou contrário à cobrança nas universidades públicas. Nesse caso, a corte entendeu que a medida viola o objetivo do ensino gratuito, que é viabilizar o acesso à educação sem prejudicar o sustento da família. Em relação às universidades privadas, o deputado disse que as taxas de emissão de histórico escolar, certificado de conclusão de curso, bem como de expedição de diplomas já estão incluídas nas mensalidades. O projeto inclui a proibição de cobrança no texto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/96).

Fonte: Agência Câmara

O plenário do Supremo Tribu-nal Federal (STF) entendeu que o chamado tráfico privilegiado, no qual as penas podem ser reduzidas, conforme o artigo 33, parágrafo 4º, da lei 11.343/2006 (Lei de Drogas), não deve ser considerado crime de natureza hedionda. No tráfico privilegia-do, as penas poderão ser redu-zidas de um sexto a dois terços, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização crimi-nosa. No caso concreto, Ricardo Evangelista Vieira de Souza e Robinson Roberto Ortega foram condenados a sete anos e um

mês de reclusão pelo juízo da comarca de Nova Andradina (MS). Por meio de recurso, o Mi-nistério Público conseguiu ver reconhecida, no Superior Tribu-nal de Justiça (STJ), a natureza hedionda dos delitos. Contra essa decisão, a Defensoria Pú-blica da União (DPU) impetrou em favor dos condenados o HC em julgamento pelo Supremo. O processo começou a ser julgado pelo plenário em 24 de junho do ano passado, quando a relatora, ministra Cármen Lúcia, votou no sentido de conceder o HC e afastar o caráter de hediondez dos delitos em questão.

Fonte: STF

A Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado aprovou proposta que cassa o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) de estabelecimentos e empresas envolvidas com o tráfico de pes-soas e com a exploração sexual. O texto determina que sofrerão a punição os empreendimentos comerciais condenados, em sentença transitada em julgado, por “realizarem, facilitarem, cederem o local de que têm

propriedade, posse, guarda ou detenção, ou ainda por contri-buírem de qualquer modo para a exploração da prostituição ou para o trafico de pessoas”. A pro-posta prevê ainda que uma nova inscrição no CNPJ só poderá ocorrer cinco anos após o trânsito em julgado da sentença. Os sócios da empresa ficarão impedidos de exercer atividade comercial pelo prazo de cinco anos após o cumprimento da pena.

Fonte: Agência Câmara

A Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público aprovou, no último dia 15, pro-posta que destina integralmente ao músico o valor arrecadado com a cobrança de couvert artístico em bares e restaurantes. O texto aprovado é um substi-tutivo apresentado pelo relator, deputado Leonardo Monteiro (PT-MG), aos projetos de lei 7710/14, do ex-deputado Onofre Santo Agostini, e 8274/14, do deputado Heuler Cruvinel (PSD-GO). As propostas, de teor

idêntico, tratam do repasse do couvert. Segundo o substitutivo, o instrumento de formalização do trabalho do músico poderá ser o contrato de trabalho ou a nota contratual, como previsto na lei 6.533/78, que dispõe sobre a regulamentação das profissões de artistas. O texto original do projeto faz menção à assinatura de um contrato entre o estabe-lecimento comercial e o músico, tratando das obrigações e dos direitos de ambas as partes.

Fonte: Agência Câmara

PGR questiona lei do RJ que determina coleta dematerial genético de bebês

Comissão aprova projetoque torna lei a gratuidade da 1ª via de diploma

Crime de tráfico privilegiadode entorpecentes não tem natureza hedionda

Empresa envolvida com exploração sexual pode ter CNPJ cassado

Comissão aprova destinação integral de couvert a músico

Você, com certeza, já ouviu a frase: “eu saio do trabalho, mas o trabalho não sai de

mim”. A expressão muito utilizada por quem costuma levar trabalho para casa, tam-bém é útil para quem costuma atender demandas relaciona-das ao trabalho pelo aplicativo de mensagens, WhatsApp. A questão é identificar até que ponto o uso dessa tecnologia respeita a jornada de trabalho dos funcionários.

Se seu chefe manda mensa-gens sobre o seu trabalho antes de você chegar até a empresa, ou pede para que solucione algum problema por meio do aplicativo em seu dia de folga ou ao fim do expediente, você pode estar realizando hora extra. De acordo com o artigo 6º da CLT, é possível que o

empregado realize suas ativi-dades a distância, até mesmo em sua própria residência.

O fato de o empregador não estar fiscalizando diretamente a prestação de serviço do fun-cionário, não afasta a obriga-toriedade de remunerar pelas horas trabalhadas. É o que explica a advogada Patrícia Moura. “A prestação de horas extras estará caracterizada quando o empregado perma-necer à disposição do seu em-pregador, após cumprida sua jornada normal de trabalho, e deve ser remunerada com adicional de, no mínimo, 50% sobre o valor da hora normal. Assim, se não existe acordo prévio entre as partes para co-municação via WhatsApp, po-derá o empregado se recusar a responder uma mensagem na qual se exige a realização de

trabalho extra”, detalha.

JustiçaSe você perceber que está

trabalhando virtualmente sem receber nada por isso, a orientação da advogada é recorrer à Justiça em busca do seu direito. No entanto, conforme Patrícia explica, é necessário reunir provas do serviço extra prestado. “Tais como testemunhas que par-ticipam do grupo de trabalho ou mesmo os clientes atendi-dos após a jornada, arquivos das mensagens trocadas com registro do dia e hora, prints da tela do celular, dentre ou-tros”, aconselha.

Patrícia Moura aponta também que, mesmo que seja comum que algumas empresas exijam que seus empregados disponibilizem

os telefones pessoais, para que seja possível o contato imediato em qualquer hora, isto deve ser evitado. Segundo a advogada, o empregado não precisa estar integralmente disponível para seu traba-lho, pois existe um horário previamente estabelecido no contrato e o direito de usu-fruir seu intervalo para des-canso e férias é indisponível.

Outra orientação da advo-gada é para que o empregador estabeleça os limites para a utilização de troca de mensa-gens pelo WhatsApp e assim evitar prejuízos à empresa e aos clientes, de modo a per-mitir que o empregado não trabalhe além da sua jornada ou, se permanecer conectado virtualmente ao trabalho, possa ser devidamente remu-nerado por isso.

Usar WhatsApp fora do expediente pode caracterizar hora extra

JORNADA DE TRABALHO

Patrícia Moura – “A prestação de horas extras estará caracterizada quando o empregado permanecer à disposição do seu empregador, após cumprida sua jornada normal de trabalho”

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Page 5: Direito & Justiça 30/06/2016

Desde que o Estatuto da Pessoa com Defi-ciência entrou em vi-gor, em janeiro deste

ano, as regras para a curatela mudaram. Com a mudança, houve reforço na autonomia das pessoas com deficiência. Agora, os juízes precisam analisar cada caso individual-mente e determinar a curatela conforme as necessidades de cada um.

Anterior à lei, as decisões tendiam a ser mais abran-gente, conforme explica a su-pervisora das Defensorias de Família, Sucessões e Registros Públicos, Denise Castelo. “An-tes, os pedidos de interdição costumavam ser mais genéri-cos e as decisões judiciais mais abrangentes, restringindo direitos e deveres de forma ampla, sem perseguir as li-mitações individuais de casa um e não se atendendo para os atos que cada interditando era capaz de praticar”, ressaltou a defensora pública.

A curatela é o termo jurí-dico usado para denominar a função de um adulto respon-sável em cuidar, zelar, proteger e se responsabilizar pelos bens de uma pessoa declarada incapaz. Pela nova legislação, o termo passou a ser exceção. Agora, a Justiça só pode atri-buir essa responsabilidade a alguém se constatado os moti-vos e necessidades. O estatuto esclarece, no artigo 84, que a medida protetiva deve ocorrer de forma extraordinária e pelo

menor tempo possível.

Laudo pericialSegundo Denise, a mudan-

ça já pode ser percebida no cotidiano das varas de Família do Fórum Clóvis Beviláqua. Conforme explica, o laudo pericial é o que dá apoio à decisão judicial. Portanto, destaca que o mesmo deve ser o mais específico possível e mencionar os atos da vida civil dos quais o curatelado pode praticar. Como por exemplo: casar, votar, comprar e vender.

RespaldoAo conferir autonomia às

pessoas com deficiência, o estatuto retira do portador de deficiência intelectual a condição de incapaz. Segundo a Coordenadora de Políticas

Públicas para a Pessoa com Deficiência, Rebecca Cortez Dauer, o novo Estatuto da Pessoa com Deficiência é uma ferramenta que dá respaldo às pessoas com deficiência, a fim de exercerem seu papel em diversas esferas sociais e econômicas, e traz a inclusão em sua totalidade. “O estatuto traz mudança em relação as ações que devem ser tomadas perante a pessoas com deficiên-cia. Antes, as ações eram vol-tadas a preparar aquela pessoa para viver em sociedade. Hoje, já temos a total percepção que é a sociedade é quem precisa se ajustar para receber todas as pessoas em igualdade de direitos na sua totalidade”.

No que tange à curatela, a coordenadora afirma ser de extrema importância a

ratificação dos direitos civis dessas pessoas. “A pessoa com deficiência tem assegu-rado sua participação plena e capacidade civil preservada, respeitando sua autonomia em questões individuais, sendo incapacitadas dessas práticas e a necessidade de curatela ape-nas em casos extraordinários”.

Com a nova lei, a curatela não deverá alcançar nem restringir direitos de família (como casar e ter filhos), de trabalhar, direito de votar e ser votado, por exemplo. É o caráter de excepcionalidade que impõe ao juiz a obriga-toriedade de fazer constar da sentença as razões e motiva-ções para a curatela específica e seu tempo de duração.

Assim, legislação surge como demanda social e fer-ramenta que busca valorizar e respeitar as individuali-dades de cada deficiência. “O Estatuto da Pessoa com Deficiência trata-se de um sistema normativo inclusivo, que homenageia o princípio da dignidade da pessoa hu-mana, na medida que almeja que o sujeito com deficiência deixasse de ser taxado como incapaz de forma plena, do-tando-o de capacidade legal, ainda que haja a necessidade de adoção de institutos as-sistenciais específicos, como a tomada de decisão apoiada e a curatela, para a prática de atos na vida civil”, destaca a supervisora e defensora pu-blica, Denise Castelo.

Com a f inalidade de explicar à sociedade sobre a realidade do judiciário cearense e,

consequentemente, a demora e qualidade dos serviços de justiça, a Associação Cearense de Magistrados (ACM) lançou a campanha “O juiz é por você”. A campanha destaca as deficiências estruturais do Poder Judiciário e enfoca a valorização do trabalho do juiz. “O objetivo é esclarecer para população as reais con-dições do judiciário do Estado do Ceará, falar da atividade do juiz, o que ele faz, como desenvolve a atividade dele no dia a dia, e quais as impli-cações que tem as decisões dos juízes perante a sociedade e o que é que o juiz precisa para realizar essas atividades – os meios necessários, condições de trabalho, servidores, a es-trutura”, afirma o presidente da ACM, Antônio Araújo.

De acordo com o magis-trado, a sociedade não sabe como se desenvolve o trabalho do juiz e como se compõe os autos de suas atividades. “Muitas vezes, um parente, um conhecido chega a você e diz: ‘olha, o meu processo está na mesa do juiz e só falta ele assinar’. A gente sabe que não é assim. É como se o processo já chegasse pronto, apenas pra ele (juiz) assinar. Não é. Ele é quem faz o processo. Outra coisa, o processo tem várias etapas, vários autos. Não é só o juiz quem realiza o proces-so, é um conjunto de atores. Tem o juiz, o representante do Ministério Público, defesa, ad-vogado ou defensor público”, explica o magistrado.

A campanha, que foi lançada em 30 de maio e tem duração de seis meses, ocorrerá em diálogo

com a população para mostrar as causas pelas quais um proces-so custa a ser concluído e como um juiz realiza seu trabalho.

RealidadeHoje, são cerca de 1,5 mi-

lhão de processos que trami-tam na Justiça do Ceará para 458 juízes. Segundo dados da Justiça, em números de 2015, do Conselho Nacional de Jus-tiça (CNJ), cada juiz cearense julga, em média, 1.245 proces-sos por ano, o que representa 5,1 processos julgados por dia útil e quase o dobro do que julgam os demais juízes pelo mundo, cujo a média é de 736 processos julgados por ano.

De acordo com a ACM, o orçamento do judiciário, abai-xo das necessidades, evidencia a despesa total do judiciário

por habitante. Enquanto a média da Justiça Estadual do Brasil é de R$ 185, 44, no Ce-ará é de apenas R$ 120,26. O número é ainda menor, com-parado ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que chega a R$ 693,74.

Outra estatística apontada pela ACM, é referente ao nú-mero de servidores. A Justiça do Estado do Ceará possui o menor índice de servidores por 100.000 habitantes. São 60 servidores, enquanto a média nacional é de 134. “Nosso or-çamento é ínfimo, apertado. Nossa dotação orçamentaria é aquém da nossa necessidade, tendo em vista o número de processos. Não temos servi-dores a contendo. Não temos assessores. No resto do Brasil, todo juiz possui, dois, três as-

sessores. Aqui, nós não temos nenhum porque não temos como pagar. Não temos boa estrutura de trabalho”, recla-ma Antônio Araújo, afirman-do que o orçamento destinado à Justiça cearense corresponde a menos que 4% da receita total do Estado. “Levariam anos para os juízes apreciarem todos os processos”, conclui o presidente da ACM.

Somos Todos JuízesCom o apoio da ACM, a

Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) também está lançando campanha em todo Brasil para estimular à sociedade a refletir sobre os desafios e responsabilidades que cada um tem na tomada de grandes e pequenas deci-sões. A campanha #Somos-TodosJuízes tem o objetivo de promover o debate, não só sob a ótica dos magistrados, mas como cidadãos diante de atos e escolhas no dia a dia, no combate à corrupção.

“Nosso objetivo, é esta-belecer uma relação entre a magistratura e a sociedade através de uma reflexão sobre o papel de decidir, porque o juiz tem essa atribuição con-dicional de tomar decisões, mas também é uma atribuição de todos nós cidadãos. [...] A campanha tem esse objetivo de, levar a reflexão, para ver o quão é importante as decisões que temos que tomar. Quando tomamos decisões corretas, erradas, refletir sobre a impor-tância das nossas decisões em relação à outras pessoas. Tem esse conteúdo ético, muito im-portante nesse momento que o país vive”, afirmou o presi-dente da AMB, João Ricardo Costa, durante lançamento da campanha em Fortaleza.

O ESTADO Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 30 de junho de 2016 5

Mudanças nas regras exigem análise criteriosa em pedidos de curatela

Cerca de 1,5 milhão de processos tramitam na Justiça do Ceará para 458 juízes

PESSOAS COM DIFICIÊNCIA

REALIDADE DO JUDICIÁRIO

Denise Castelo afirma que medida já está sendo percebida no cotidiano das varas de Família no Fórum Clóvis Beviláqua

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CAACE - Rua D. Sebastião Leme, 1033 Bairro de Fátima (85) 3272.3412 www.caace.org.br. Notícias para coluna [email protected]

Arraiá dos Advogados ocorre próximodia 8 de julho

Nova CAACE promove passeios noturnos de bike aos advogados

Celebrado acordo para ambulância no Fórum Autran Nunes

O Arraiá dos Advogados ocorre próximo dia 8 de julho, a partir das 20h, no Clube dos Diários (R. E, 100 – Dunas – Fortaleza). Os ingressos para a festa estão à venda na sede da OAB-CE (Rua Lívio Barreto, 668 – Dionísio Torres); da Nova CAACE (Rua Dom Sebastião Leme, 1033 – Bairro de Fátima) e Sala Vip (estacionamento do Fórum Clóvis Beviláqua), mediante apresentação da carteira da OAB, em dinheiro ou cartão de crédito.

Cada advogado poderá

comprar até dois ingressos no valor de R$ 20 reais cada. Ingressos adicionais serão no valor de R$ 40 reais cada.

Música, quadrilha junina, comidas típicas, estaciona-mento privativo com ma-nobrista, segurança no local e torres de iluminação no caminho serão os atrativos do Arraiá dos Advogados. A ideia é promover uma grande confraternização da advocacia cearense. Os shows ficarão por conta da dupla Fran e Diego, Lagosta Bronzeada, Binha Cardoso e o Dj SanDiego.

Caixa de Assistência dos Advogados do Ceará está realizando passeios ciclísti-cos semanais aos advogados e seus familiares. O projeto acontece toda quarta-feira, às 19h30, saindo da praça da nova sede da OAB-CE, na Avenida Washington Soares nº 800. Os roteiros de pedal passarão por vários bairros da cidade e são organizados pelo Grupo Ceará Bike.

A estrutura dos passeios conta com batedores ex-perientes, carro de apoio sinalizado, água, Kit de primeiros socorros e ferra-mentas de Bike. Essa é mais uma opção de lazer que a

Nova CAACE proporciona à advocacia, tendo como obje-tivo integrar diversos grupos de amigos e familiares.

Segundo Erinaldo Dantas, presidente da Nova CA-ACE, apoiar os grupos de pedaladas é mais uma forma de incentivar atividades es-portivas e hábitos saudáveis. “Esperamos a participação dos advogados e seus fami-liares. Serão percursos com aproximadamente 20km, num ritmo de pedalada ideal para todas as idades. Estamos sendo rigorosos no cumprimento da legislação de trânsito, para garantir a segurança de todos”.

A Nova CAACE e a OAB--CE celebraram acordo com o Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região, representado pelo Desembargador Tarcísio Lima Verde Júnior, para objetivar a viabilização da utilização do serviço de ambulância da Caixa de Assistência para aten-dimento médico emergencial dos magistrados, servidores,

advogados e demais usuários, nas dependências do Fórum Autran Nunes. Estiveram presentes os diretores da OAB--CE, Marcelo Mota (Presiden-te); Gladson Mota (Tesourei-ro); Fábio Timbó (Secretário Geral Adjunto); e os diretores da Nova CAACE, Erinaldo Dantas (Presidente); e Fernan-do Martins (Tesoureiro).

Antônio Araújo explica que campanha da ACM “O juiz é por você” faz alerta à população sobre realidade do judiciário cearense

FOTO BETH DREHER

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Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 30 de junho de 2016 O ESTADO 6

Presidente do Tribunal de Justica do Ceara Iracema do Vale com homenageados

Leila Dumont recebe homenagem do juiz Antonio Alves Araujo

Des. Haroldo Maximo homenageia Marcelo Piragibe Magalhaes

Haroldo Maximo, Juvencio Vasconcelos, Manoel Cefas e Sergia Miranda

Tarcisio Lima Verde, Iracema do Vale e Marcelo Piragibe

Luciana Souza e Valeska Rolim Francisco Aguiar e Vanja Fontenele

Iracema do Vale com homenageado Paulo Bonavides

Des. Francisco de Assis Filgueiras Mendes e Jackason Coelho Sampaio

Des. Lincoln Araujo entrega a comenda para Euwladia Cunha

Rossana Raia e Paulo Bonavides

Juvencio Viana entrega comenda para Des. Sergia Miranda que representou Roberto Portugal Bacellar

Des. Gomes de Moura entrega homenagem para o Min Napoleao Nunes Maia rep por sua filha

Byron Frota, Vanja Fontenele e Gomes de Moura

Silvia Gois e Luciano Lima

FOTOS IRATUÃ FREITAS

MedalhaEm comemoração aos seus 30 anos de fundação, a ESMEC - Escola Superior da Magistratura do Ceará, outorgou, durante solenidade,

a Medalha Desembargador Julio Carlos Miranda Bezerra para 07 personalidades que contribuiram com a instituição.

Crimes ModernosO Impacto da Tecnologia no Direito

A presente obra enfoca primordialmente o Direito Penal, examinando as mais diversas práticas de ilícitos, tendo o desenfreado desenvolvimento tecnológico como principal aliado. Aborda questões

relativas à interpretação, fundadas na legislação vigente, na doutrina e na jurisprudência, alertando os operadores do Direito sobre prováveis riscos e possibilidades de incidência em erros, bem como da possibilidade de subsunção desses “crimes” modernos aos tipos legais atualmente estabelecidos.

AUTOR: PEDRO AUGUSTO ZANIOLOEDITORA: JURUÁPÁGINAS: 600PREÇO: R$ 119,90

Delação PremiadaLegitimidade e Procedimento

A presente obra trata da colaboração premiada, mais conhecida no Brasil por delação premiada, instituto utilizado amplamente em nações estrangeiras como

Itália, Espanha e nos países anglo-saxônicos, cuja finalidade primordial é de reforço na investigação e prova da moderna criminali¬dade associativa, organizada e econômico-financeira. O tema é dos mais recorrentes no meio jurídico, sendo constantemente objeto de preocupação e notícias, ten¬do em vista a quantidade de investigações penais de grande repercussão nas quais se menciona a utilização da delação premiada como instrumento de apuração de delitos associativos.

AUTOR: FREDERICO VALDEZ PEREIRAEDITORA: JURUÁPÁGINAS: 238PREÇO: R$ 79,90

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ULG

ÃO

DIREITO E LITERATURA

Page 7: Direito & Justiça 30/06/2016

O ESTADO Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 30 de junho de 2016 7

Ameaçar ciclistas com o carro é infração gravíssima

Jovens ostentam armas e drogas nas redes sociais em troca de falso poder

PROTEÇÃO

APOLOGIA AO CRIME

Definitivamente, a bi-cicleta conquistou as ruas de Fortaleza. Com 154,2 quilôme-

tros de infraestrutura ciclovi-ária na Cidade, o modal já se firmou como meio alternativo de transporte. Contribui com a redução dos gases do efeito estufa, e ainda com a mobi-lidade urbana. Do total, 84,1 quilômetros são de ciclovias e 70,1 quilômetros de ciclo-faixas. Contudo, apesar dos avanços nas malhas cicloviá-rias, a questão da segurança dos ciclistas ainda preocupa os adeptos ou simpatizantes ao uso da bicicleta.

O advogado e consultor jurídico do grupo Vá de Bike, Fernando Torres, especialista em Direito de Contratos, esclarece alguns direitos e legislação para os ciclistas. De acordo com ele, cabe aos órgãos de trânsito, a obriga-ção de garantir a segurança dos ciclistas. “Compete aos órgãos e entidades do exe-cutivo, planejar, projetar e regulamentar o trânsito de veículos, pedestres e animais, e promover o desenvolvimen-to e a circulação e segurança do ciclista”, afirma.

Conforme explicação do advogado, a essência do Có-digo Brasileiro de Trânsito (CBT), criado em 1997, é de proteger a vida. Portanto, existe uma hierarquia a ser respeitada, a qual o CBT fala

em responsabilidade do veí-culo de maior porte ao de me-nor porte, dos motorizados aos não motorizados, ambos responsáveis pela segurança do pedestre. “O ciclista é visto como o cidadão vulnerável perto das motos, dos carros, dos caminhões e dos ônibus, assim como o pedestre é vulnerável em relação ao ciclista, ao ska-tista ou patinador”, destaca.

É por isso, segundo Fer-nando, que por questão de segurança e de respeitar a hierarquia, o ciclista tem a ciclofaixa, ou na falta, deve trafegar pela via de rolamen-to. Ele deve ser protegido pelos carros, e, portanto, não deve trafegar pela calçada para não comprometer a se-gurança dos pedestres. “Os órgãos de trânsito e o ente governamental tem o dever de promover o desenvolvi-mento de ciclofaixas para os ciclistas”, disse o advogado, que apontou também sobre a importância de as prefei-turas realizarem campanhas educativas e informativas. “É muito interessante que as pessoas falam: ‘colocaram ci-clofaixa e ninguém usa. Com o tempo começa a passar mais e mais gente ali. Você vê que muita gente passa, as pessoas vão se acostumando com esses novos caminhos e tomando conta disso. É bastante recompensador para mim, e isso traz novas discus-

sões e novas relações entre as pessoas. É muito positivo”, observa.

• Motoristas não de-vem “fechar” bicicletas - O Art. 38, do CBT, diz que: antes de entrar à direita ou à esquerda, em outra via ou em lo-tes lindeiros, o condu-tor deverá ceder pas-sagem aos pedestres e ciclistas;• Ameaçar o ciclista com o carro é infração gravíssima - É passível de suspensão do di-reito de dirigir e apre-ensão do veículo e da habilitação; • Colar na traseira do ciclista ou apertá-lo contra a calçada é in-fração grave;• Deixar de dar prefe-rência de passagem ao ciclista quando ele já estiver atravessando a via, mesmo se o sinal abrir, é infração gravís-sima;• Tirar fina é infração média e se for em alta velocidade, cabem duas multas – confor-me o Art. 29, do CBT, “o trânsito de veícu-los nas vias terrestres abertas à circulação obedecerá às se-guintes normas: todo

condutor ao efetuar a ultrapassagem deverá: a) indicar com ante-cedência a manobra pretendida, acionan-do a luz indicadora de direção do veículo ou por meio de gesto convencional de braço; b) afastar-se do usu-ário ou usuários aos quais ultrapassa, de tal forma que deixe livre uma distância lateral de segurança;c) retomar, após a efetivação da mano-bra, a faixa de trânsito de origem, acionando a luz indicadora de direção do veículo ou fazendo gesto conven-cional de braço, ado-tando os cuidados ne-cessários para não pôr em perigo ou obstruir o trânsito dos veículos que ultrapassou”.

N a internet, o crime tem sido um estilo de vida. Jovens es-tão utilizando suas

redes sociais para divulgar fotos e vídeos que mostram uma vida de ostentação com drogas, dinheiro e armas. Destemidos, eles não escon-dem o rosto, muitas vezes, ameaçam, e até deixam claro que são do crime.

A maioria é da perife-ria, jovens e adolescentes. No perfil do Facebook, eles também utilizam o próprio nome e, por vezes, abrevia-ções de facções em que são membros. A frequência com que isso vem acontecendo, não só no Ceará, mas em todo o Brasil, preocupa as autoridades, que afirmam que a sensação de poder é a principal motivação.

Na avaliação do advogado José Ricardo Ramalho, es-pecialista em direito penal, a principal motivação das postagens, é aparentar uma vida de poder. O fato de não esconderem os rostos é o que mais causa preocupação. “É evidente que diversos jovens estão sujeitos às más inf luências de tais imagens, já que revelam, de cer to modo, poder. É uma espécie de propaganda do tráfico, para aliciar ‘soldados’. Não é exagero dizer que se tra-ta de um chamariz, já que normalmente há também divulgação de objetos de alto valor e dinheiro”, disse.

De acordo com o espe-cialista, quem publica essas imagens na internet pode responder pelos crimes de apologia e associação ao tráfico. A pena de detenção varia de três a seis meses.

Para o deputado federal

Cabo Sabino (PR-CE), que é membro da Comissão de Segurança Pública e Com-bate ao Crime Organizado, da Câmara dos Deputados, as pessoas que praticam esse tipo de crime na internet sentem-se empoderadas e superior a outras por pos-suírem uma arma. “É uma

maneira que eles encontram de intimidar aquelas pessoas no meio que convivem, e isso se dá exatamente pelo crime organizado. Tem se tornado cada vez mais frequente no nosso estado e precisa ser feito um trabalho em cima disso”, ressaltou, criticando que é uma afronta ao povo

brasileiro, ver pessoas osten-tando arma como sinônimo de poder.

O parlamentar cobra da polícia e de legisladores, uma legislação mais dura a crimes dessa espécie nas redes sociais. “Se ele (crimi-noso) se mostra dessa forma na internet, imagina como

deve ser na sua comunidade ou com seus pais, sua fa-mília?”, questiona. “Existe uma facilidade de menores, de qualquer pessoa, possuir arma no Brasil, e armas que sabemos que vem de fora, que são contrabandeadas, que entram pelas fronteiras e entram com facilidade no

Estado do Ceará”, criticou.

InvestigaçõesMesmo os casos em que os

criminosos evitem mostrar o rosto ou utilizar abrevia-ções ou apelidos. Os crimes ocorridos na esfera virtual também deixam rastros. “Na internet, ao contrário do que muitos pensam, não é tão simples se manter anônimo. Todas as ações realizadas deixam rastros e através dessas “pegadas virtuais” a polícia consegue chegar ao criminoso”, explica o advo-gado José Ricardo Ramalho.

A delegada adjunta da Di-visão de Combate ao Tráfico de Drogas (DCTD), Patrícia Bezerra, em Fortaleza, disse que não poderia informar de que forma a polícia chega até esses criminosos, “pois poderia atrapalhar nas in-vest igações”. Contudo, o especialista em direito pe-nal, afirmou que a maneira mais simples de localizar os criminosos seria a realiza-ção de monitoramento de páginas suspeitas. Depois, “é feita uma busca por fotos de pessoas ostentando armas, drogas e dinheiro”, afirmou José Ricardo.

DesesperoSegundo a delegada, quan-

do a polícia chega aos crimi-nosos e são indagados sobre as fotos, “eles demonstram desespero”. “As pessoas que postam fotos com armas e drogas, não tem muita coisa na cabeça. É uma irrespon-sabilidade e não param para imaginar as consequências do que pode vir. Quando a gente pergunta sobre as fotos, eles demonstram de-sespero”, afirmou Patrícia.

Fernando Torres - “Os órgãos de trânsito e o ente governamental tem o dever de promover o desenvolvimento de ciclofaixas para os ciclistas”

José Ricardo Ramalho afirma que jovens podem responder por apologia ao crime e associação ao tráfico

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Saiba mais Ciclovia. É a pista própria para bici-cletas, separada do tráfego comum..

Ciclofaixa. É parte da pista comum de-limitada por sinali-zação para circula-ção de bicicletas.

Page 8: Direito & Justiça 30/06/2016

Fortaleza, Ceará, Brasil Quinta-feira, 30 de junho de 2016 O ESTADO 8

Após as mudanças com o novo Código de Proces-so Civil (CPC), em vigor desde março deste ano,

os moradores de condomínios não podem deixar de dar prio-ridade às taxas condominiais. O prazo pa=ra quitar as dívidas passou a ser de apenas três dias. A inadimplência pode levar o condômino a ter o nome nega-tivado, a conta bancária bloque-ada e até o imóvel penhorado. “O novo CPC conferiu status de título executivo extrajudicial aos referidos créditos, o que já ocorria, por exemplo, com o cheque”, explica o advogado especialista em Direito Condo-minial, Danny Memoria.

Segundo o advogado, a nova legislação traz mais agili-dade e efetividade ao processo de cobrança. “Fundamental-mente, ocasionará efeito peda-gógico à massa condominial, restando clara a desvantagem de dar às cotas condominiais vaga no final da lista de prio-ridade no momento de pagar as contas”, ressalta.

Com as mudanças do novo CPC, o devedor terá o prazo de três dias para pagar a dívida. A mudança acontece no mo-mento em que chega à Justiça. Após o devedor ser citado como inadimplente, ele terá três dias para quitar a dívida ou nomear bens à penhora, que pode ser o próprio imóvel que o levou a dívida, se passado o prazo. Depois dos três dias, o oficial de

Justiça lavra a penhora do bem como garantia.

Antes, tratada como ação de cobrança. Agora, como

ação de execução, e o devedor, portanto, já pode ser levado a processo desde o primeiro dia de atraso. De acordo com

Danny, a cobrança facilitada torna o procedimento mais célere ao passar diretamente para a fase de execução.

No CPC antigo, havendo o interesse do condomínio em recuperar créditos devidos, era necessário o ajuizamento de ação de cobrança, que acontecia de forma ampla e preliminar. “Havia, portanto, ampla possi-bilidade de defesa e colheita de provas de ambas as partes até a decisão do magistrado, que, sendo condenatória, demanda-va, ainda, o pedido de cumpri-mento da sentença prolatada, ato que iniciava a citada fase de execução”, afirma.

Para Danny, a medida atual supre a fase de conhecimento em decorrência de crédito condominial de título execu-tivo, o que considera, desne-cessária. “Existindo inadim-plência, pode o condomínio ajuizar ação de execução de verbas condominiais, com fundamento no art. 784, X, do NCPC, juntando-se, en-tre outros documentos, o demonstrativo detalhado do débito e de seus encargos. O ajuizamento da execução dará ensejo à citação do condômino inadimplente para, no prazo de três dias, pagar o valor devido sob pena de penhora de tantos bens, tantos quanto bastem à satisfação do crédito, podendo a penhora recair, inclusive, sobre o bem imóvel objeto da ação”, explicou.

Atrasar condomínio por três dias pode levar imóvel à penhora

NOVA LEGISLAÇÃO

Danny Memoria – “Nova sistemática surtirá maior efetividade às cobranças condominiais e, fundamentalmente, ocasionará efeito pedagógico à massa condominial”

Alberto Hermogenes – “As financeiras não prestam as informações necessárias, e eles acabam fazendo vários empréstimos que extra-polam o valor da aposentadoria”

FOTO ARQUIVO PESSOAL

FOTO BETH DREHER

OAB Ceará lança TV OAB na Web

OAB-CE e Tribunal de Contas firmam convênio em defesa da transparência nas eleições

Seminário destaca a importância datransparência para combater a corrupção

OAB-CE recebe advogados para planejar atividades em prol da classe

Pensando na modernidade e comodidade que a internet oferece, a OAB Ceará está produzindo um programa de TV totalmente na web. A transmissão começa em de julho e será feita por meio do Canal do YouTube: OABCE na TV. O programa terá lançamentos de víde-os semanais, às segundas, quartas e sextas-feiras. A produção traz para a OABCE um novo olhar, uma forma objetiva e direta de comuni-car possibilitando acesso fácil

e rápido. Além de oferecer comodidade e dinamismo, o objetivo da TV OAB na Web é atualizar e aproximar, cada vez mais, os advogados e a sociedade da ordem cearense. O programa traz novidades, como entrevista especial com os presidentes das subseccio-nais, notícias do Interior e da Capital, debate sobre assuntos do momento, reportagens en-volvendo as comissões temá-ticas, a sociedade e um espaço especial para o advogado e a defesa das prerrogativas.

Os presidentes da OAB Ceará, Marcelo Mota, e do Tribunal de Contas do Ceará, conselheiro Edilberto Pontes, assinaram acordo de coope-ração entre os dois órgãos, com o objetivo de levar mais transparência à socie-dade, principalmente neste ano eleitoral, quando serão escolhidos prefeitos e verea-dores. “Vivemos momentos em que a cidadania clama por

transparência na administra-ção pública. Em ano eleitoral, trabalhamos conjuntamente com as 15 subseccionais para fazer com que as eleições sejam limpas. A OAB será a porta-voz da cidadania, recebendo denúncias e enca-minhando aos órgãos respon-sáveis”, disse Marcelo Mota. As denúncias podem ser feitas por uma central gratuita da Ordem: 0800 724 2116.

Um dos pontos mais debatidos durante o seminário ‘Desafios e Mudanças: Eleições 2016’, promovido pela Comissão de Ética na Política e Combate à Corrupção da OAB-CE, foi a importância da transparência nas gestões públicas. O evento trouxe à tona discussões sobre o atual momento do País, como as mudanças nas legislações, com-bate ao caixa 2 e financiamento de campanha. O presidente da

Comissão, Rafael Reis, lem-brou que o financiamento de campanhas é feito, exclusiva-mente, por pessoas físicas. “Nós estamos sempre atentos a esses assuntos e vamos nos empenhar para fiscalizar e acompanhar o decorrer das eleições”, ressaltou. O secretário geral adjunto da ordem, Fábio Timbó, disse que a entidade vai estar vigilante nas questões que visam o combate à corrupção.

O presidente da OAB-CE, Marcelo Mota, esteve reunido com representantes do Con-selho Federal, Caace e Escola Superior da Advocacia para estabelecer planejamento das atividades da Seccional. “É muito importante que nós continuemos trabalhando em harmonia. Esse encontro foi produtivo para a sincronia das ações, visando o melhor cenário para o exercício da advocacia, valorização e fortalecimento da classe”, disse Mota. Estiveram presentes os representantes no Conselho Federal, Valdetário

Monteiro e Ricardo Bacelar; secretário adjunto da OAB-CE, Fábio Timbó; diretor de Rela-ções Institucionais, Pedro Bru-no Amorim; tesoureiro adjunto, Rodrigo da Costa; presidente e vice da Caace, Erinaldo Dantas e Waldir Xavier; secretário--geral, Dejarino Santos Filho; secretário-geral adjunto, Mário David de Albuquerque; tesou-reiro, Fernando Martins; con-selheira fiscal, Ticiana Timbó Queiroz; o diretor executivo da ESA, Marcell Feitosa; a diretora executiva, Ana Karine Moreira e o conselheiro Sormane Freitas.

N o último dia 15, foi celebrado o Dia Inter-nacional de Combate à Violência Contra a

Pessoa Idosa. A negligência continua sendo a principal violência, conforme aponta as reclamações recebidas pelo Disque 100, durante o ano de 2015, da Secretaria de Direi-tos Humanos. No entanto, além da falta de atenção e de cuidado com a pessoa idosa, há outros tipos de violência que precisam ser lembrados e prevenidos. Os abusos finan-ceiros e patrimoniais também estão entre os mais recorren-tes, seguindo da violência física e sexual.

A idosa, Maria Tereza, con-ta que nunca sofreu nenhum tipo de abuso, mas preocupa--se com quem sofre e com quem pratica. “Acho que as pessoas têm que se colocar no lugar do outro. Pequenas ati-tudes, como dar o lugar dentro do ônibus. Aquele idoso po-deria ser sua mãe, seus avós, correndo risco de cair, então tem que ceder o lugar. Graças a Deus sempre fui respeitada”, disse a funcionária pública.

Segundo o advogado Alber-to Hermogenes, membro da Comissão de Direito dos Ido-sos da OAB/CE, a maioria das ações na Justiça, pleiteadas por pessoas idosas, são relaciona-das a propagandas enganosas, por financeiras que oferecem empréstimo consignado. “Os idosos, normalmente, reali-zam o empréstimo no impul-so. As financeiras não prestam as informações necessárias, e eles (idosos) acabam fazendo vários empréstimos que extra-polam o valor da aposentado-ria”, ressaltou.

De acordo com Ismael Braz, assessor jurídico do Decon--CE, o órgão identificou que

os idosos são o maior público atingido por práticas abusivas de empresas. Para celebrar e sensibilizar sobre o Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Pessoa Idosa, o Decon-CE lançou uma cartilha de Direitos do Consumidor Idoso. A reco-mendação é que, apenas 30% do valor do benefício pode ser comprometido para paga-mento das mensalidades de crédito consignado. O Decon--CE reforça, também, que os dados bancários nunca devem ser fornecidos a estranhos ou por telefone.

“O sentido dessa cartilha é de orientar o consumidor e informar alguns direitos básicos que eles têm. São in-formações voltadas somente para o público idoso. No intuito de realmente mostrar para esses consumidores, que existe um órgão que pode fa-zer a sua defesa”, disse Ismael, ressaltando que o informa-tivo é importante contra a violência psicológica contra o idoso. “Muitas vezes, tem idosos com empréstimos con-tratados que nunca realizou, nunca recebeu, e isso afeta o psicológico dessa pessoa, que

às vezes não tem nem o que comer”, completou.

AuxílioAlberto Hermogenes tam-

bém aponta a preocupação em casos onde os idosos são violentados pela própria fa-mília dentro de casa. “Nós, da comissão, trabalhamos juntos com órgãos que li-dam na questão da defesa da pessoa idosa, fiscalizando e indicando alguns procedi-mentos para que não sofram discriminação nem essa en-ganação”, afirmou.

Os idosos podem buscar ajuda nos órgãos de defesa dos consumidores; na Promotoria dos Idosos, do Ministério Pú-blico do Estado do Ceará; na Defensoria Pública Estadual e na Comissão de Direito dos Idosos da OAB/CE.

TrânsitoOs idosos representam

15,35% dos mortos no trân-sito, segundo informações do Data SUS de 2013, e a cada hora, pelo menos, dois idosos sofrem algum tipo de violên-cia no Brasil, segundo levan-tamento anual da Secretaria dos Direitos Humanos do Governo Federal. Tomando por base essa questão, a De-fensoria Pública do Estado do Ceará, o Sindicato das Em-presas de Transporte de Pas-sageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus) e o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Intermunicipal e In-terestadual do Ceará (Sinte-rônibus) firmaram parceria e lançaram a Campanha Idosos Primeiro, voltada para que os operadores e usuários do sistema de transporte coletivo de passageiros do Ceará se-jam capacitados e informados sobre o tema.

Engano com empréstimos consignados geram mais ações na Justiça

VIOLÊNCIA CONTRA IDOSOS