direito, gênero e transexualidade: uma investigação ... · sugere que a transexualidade é uma...

1
Anais da 14ª Jornada UNIFACS de Iniciação Científica - JUIC Universidade Salvador – UNIFACS 06 a 11 de novembro de 2017 ISSN 2237-3055 Direito Direito, Gênero e Transexualidade: uma investigação jurídico-sociológica acerca da eficácia social dos direitos das pessoas transexuais no Brasil e em Salvador/Ba Maria Gabriela Antunes V. Nascimento 1 *, Carolina Pereira Grant 2 1. Estudante de Direito* [email protected] 2. Professora de Direito da UNIFACS Palavras Chave: Direito, Transexualidade, eficácia Introdução A pretensão primordial com a construção desta pesquisa foi compreender melhor o tema da Transexualidade, que é um tema complexo e de grande importância a ser discutido na ótica social e jurídico. Berenice Bento, inclusive, sugere que a transexualidade é uma experiência identitária, caracterizada pelo conflito com as normas de gênero, destoando, dessa forma, da definição apresentada pela medicina e ciências psi que classificam como doença mental. O Direito à Dignidade da Pessoa Humana, assegurado pela Constituição Federal de 1988 é trazido como fundamento do Estado e deve ser garantido indistintamente à todos os cidadãos – podendo se notar na consolidação do entendimento atual do Supremo Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal acerca do transexual. Já os Direitos da Personalidade dizem respeito a atributos físicos, psíquicos e morais da pessoa em suas projeções sociais. Portanto, defende-se a criação de uma Lei Federal específica que regulamente o direito do transexual em alterar seu nome e sexo, para evitar a necessidade de ação judicial. Sobre essa necessidade de regulamentação, inclusive, há projetos de Lei que visam a garantia de direitos ao sujeito transsexual, como o PL 5.003/2012 do Jean Wyllys e o Estatuto da Diversidade da OAB. No âmbito da Saúde referente a esse tema, há hoje uma equipe para acompanhar o transexual nesse processo de mudança e requisitos necessários para realização da cirurgia – é um avanço legislativo que instituiu no SUS o Processo transexualizador. Todavia, há uma crise de saúde mental em nossa sociedade, que por rejeitarem essa figura do sujeito transexual, vem trazendo altos índices de suicídios, que refletem a falta de direitos que deveriam ser garantidos. Então, o foco desta pesquisa foi: o que fazer para modificar esta realidade, especificamente do Brasil e Salvador/Ba? Este é o objetivo dessa pesquisa, debater os problemas e encontrar soluções. Metodologia Essa foi uma pesquisa teórica, com pretensão de uma futura pesquisa de campo desenvolvida através do uso da técnica da análise do discurso de doutrina, legislação e jurisprudência, mas principalmente através do levantamento bibliográfico, com uma análise crítica acerca do recorte dos conteúdos. Adotou-se o método raciocínio dedutivo como condutor da pesquisa, de modo a partir da fixação de premissas gerais (conceitos/categorias), de forma que a pesquisa vai afunilando o raciocínio. As premissas gerais partiram “do que é gênero”, para uma compreensão do que se trata esta categoria. E a partir da compreensão do que é direito enquanto um fenômeno social, enquanto um objeto cultural e da compreensão dos marcadores sociais passou-se a compreender melhor, dentro da categoria de gênero, a eficácia social dos direitos dos transexuais no Brasil e em Salvador/Ba, em um contexto de necessário interdisciplinaridade. Por fim, os resultados teóricos (parciais e finais) foram debatidos com a orientadora e pares, de modo que verificou a testagem da hipótese original, identifcou e discutiu soluções jurídicas viáveis para os problemas identificados no estudo de caso. Resultados e Discussão Esse trabalho resultou em uma compreensão do conceito de gênero e transexualidade, na identificação dos reflexos jurídicos acerca do sujeito transexual; na análise da jurisprudência atual dos Tribunais Superiores sobre os problemas envolvendo o transsexual; na investigação do panorama da realidade soteropolitana das pessoas transexuais; e na elaboração individual de um esboço de artigo cientifico. Conclusões Apesar da Inexistência de legislação específica sobre o tema da transexualidade, é possível verificar, sobretudo após a recente decisão do Superior Tribunal de Justiça, que as pessoas transexuais podem pleitear a efetivação de direitos fundamentais, como o direito à saúde global, e direitos da personalidade, como o direito à alteração do seu registro civil (nome e sexo registrais), mesmo antes da realização da cirurgia de “redesignação sexual”, tudo com fundamento último na proteção à sua dignidade. Há fundamento para a garantia desses direitos na Lei de Identidade de gênero Argentina, nos direitos humanos, na Lei de Registros Públicos. Não obstante, a eficácia social destes direitos ainda carece de uma maior discussão, a fim de sensibilizar a sociedade para uma melhor compreensão temática, da forma como tratar as pessoas transexuais e, principalmente, no âmbito da saúde, para que estas pessoas possam ter real acesso ao chamado “processo transexualizador”, sem passar pelo estigma da patologização e diminuição da sua identidade através de um tratamento conferido ao que parecem ser “cidadãos de segunda categoria”.

Upload: dobao

Post on 28-Jan-2019

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Direito, Gênero e Transexualidade: uma investigação ... · sugere que a transexualidade é uma experiência identitária, caracterizada pelo conflito com as normas de gênero,

Anais da 14ª Jornada UNIFACS de Iniciação Científica - JUIC Universidade Salvador – UNIFACS – 06 a 11 de novembro de 2017 ISSN 2237-3055

Direito

Direito, Gênero e Transexualidade: uma investigação jurídico-sociológica acerca da eficáciasocial dos direitos das pessoas transexuais no Brasil e em Salvador/Ba

Maria Gabriela Antunes V. Nascimento1*, Carolina Pereira Grant2

1. Estudante de Direito* [email protected]. Professora de Direito da UNIFACS

Palavras Chave: Direito, Transexualidade, eficácia

IntroduçãoA pretensão primordial com a construção desta pesquisa foi compreender melhor o tema da Transexualidade,

que é um tema complexo e de grande importância a ser discutido na ótica social e jurídico. Berenice Bento, inclusive,sugere que a transexualidade é uma experiência identitária, caracterizada pelo conflito com as normas de gênero,destoando, dessa forma, da definição apresentada pela medicina e ciências psi que classificam como doença mental. ODireito à Dignidade da Pessoa Humana, assegurado pela Constituição Federal de 1988 é trazido como fundamento doEstado e deve ser garantido indistintamente à todos os cidadãos – podendo se notar na consolidação do entendimentoatual do Supremo Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal acerca do transexual. Já os Direitos daPersonalidade dizem respeito a atributos físicos, psíquicos e morais da pessoa em suas projeções sociais. Portanto,defende-se a criação de uma Lei Federal específica que regulamente o direito do transexual em alterar seu nome esexo, para evitar a necessidade de ação judicial. Sobre essa necessidade de regulamentação, inclusive, há projetos deLei que visam a garantia de direitos ao sujeito transsexual, como o PL 5.003/2012 do Jean Wyllys e o Estatuto daDiversidade da OAB. No âmbito da Saúde referente a esse tema, há hoje uma equipe para acompanhar o transexualnesse processo de mudança e requisitos necessários para realização da cirurgia – é um avanço legislativo que instituiuno SUS o Processo transexualizador. Todavia, há uma crise de saúde mental em nossa sociedade, que por rejeitaremessa figura do sujeito transexual, vem trazendo altos índices de suicídios, que refletem a falta de direitos que deveriamser garantidos. Então, o foco desta pesquisa foi: o que fazer para modificar esta realidade, especificamente do Brasil eSalvador/Ba? Este é o objetivo dessa pesquisa, debater os problemas e encontrar soluções.

MetodologiaEssa foi uma pesquisa teórica, com pretensão de uma futura pesquisa de campo desenvolvida através do uso

da técnica da análise do discurso de doutrina, legislação e jurisprudência, mas principalmente através do levantamentobibliográfico, com uma análise crítica acerca do recorte dos conteúdos. Adotou-se o método raciocínio dedutivo comocondutor da pesquisa, de modo a partir da fixação de premissas gerais (conceitos/categorias), de forma que a pesquisavai afunilando o raciocínio. As premissas gerais partiram “do que é gênero”, para uma compreensão do que se trata estacategoria. E a partir da compreensão do que é direito enquanto um fenômeno social, enquanto um objeto cultural e dacompreensão dos marcadores sociais passou-se a compreender melhor, dentro da categoria de gênero, a eficácia socialdos direitos dos transexuais no Brasil e em Salvador/Ba, em um contexto de necessário interdisciplinaridade. Por fim, osresultados teóricos (parciais e finais) foram debatidos com a orientadora e pares, de modo que verificou a testagem dahipótese original, identifcou e discutiu soluções jurídicas viáveis para os problemas identificados no estudo de caso.

Resultados e DiscussãoEsse trabalho resultou em uma compreensão do conceito de gênero e transexualidade, na identificação dos

reflexos jurídicos acerca do sujeito transexual; na análise da jurisprudência atual dos Tribunais Superiores sobre osproblemas envolvendo o transsexual; na investigação do panorama da realidade soteropolitana das pessoastransexuais; e na elaboração individual de um esboço de artigo cientifico.

ConclusõesApesar da Inexistência de legislação específica sobre o tema da transexualidade, é possível verificar, sobretudo

após a recente decisão do Superior Tribunal de Justiça, que as pessoas transexuais podem pleitear a efetivação dedireitos fundamentais, como o direito à saúde global, e direitos da personalidade, como o direito à alteração do seuregistro civil (nome e sexo registrais), mesmo antes da realização da cirurgia de “redesignação sexual”, tudo comfundamento último na proteção à sua dignidade. Há fundamento para a garantia desses direitos na Lei de Identidade degênero Argentina, nos direitos humanos, na Lei de Registros Públicos. Não obstante, a eficácia social destes direitosainda carece de uma maior discussão, a fim de sensibilizar a sociedade para uma melhor compreensão temática, daforma como tratar as pessoas transexuais e, principalmente, no âmbito da saúde, para que estas pessoas possam terreal acesso ao chamado “processo transexualizador”, sem passar pelo estigma da patologização e diminuição da suaidentidade através de um tratamento conferido ao que parecem ser “cidadãos de segunda categoria”.