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Direito Empresarial III – Prof. Carlos da Fonseca Nadais 1 Teoria Geral dos Títulos de Crédito (módulo 01) 1. Noções históricas - evolução do escambo para o crédito O título de crédito serve para colocar no papel um crédito que alguém tem contra uma pessoa. Faz parte do direito das obrigações e a obrigação sempre vai ter conteúdo econômico, seja ela de dar, fazer ou não fazer, mas principalmente dar (coisa certa ou incerta). Tem natureza de troca (dinheiro por documento). Assim para um melhor entendimento acerca de títulos de crédito, devemos, antes, analisar o instituto do crédito. 1.1. A doutrina (sem citar autores) elaborou os seguintes conceitos econômicos de crédito: a) Crédito é a troca no tempo e não no espaço; b) Crédito é a permissão de usar capital alheio; c) Crédito é o saque contra o futuro e, d) Crédito confere poder de compra a quem não dispõe de recursos. e) troca de uma prestação atual por uma prestação futura. Assim podem sintetizar um conceito de crédito como a possibilidade de dispor imediatamente de bens presentes, através de um recurso próprio ou de terceiro, que estará disponível no futuro. Também temos o conceito natural de crédito, pertinente ao sentido etmológico. O temo crédito deriva do latim creditum, que por sua vez deriva de credere, que significa confiança, ter fé. Logo crédito está intimamente ligado à confiança, à fidúcia, entre credor e devedor. Mitigando o primeiro contexto - econômico - representa o poder de compra conferido a alguém que não tem condição de pagá-lo à vista, mas que se tem confiança que o terá no futuro, fará o respectivo pagamento. Percebemos então que, aglutinando esses dois conceitos temos que o crédito é composto pelos seguintes elementos: fidúcia (confiança) e tempo. 1.2. Os créditos podem ser classificados em função: 1.2.1. da sua garantia: a) crédito real, quando estiver garantido por um determinado bem do devedor (penhor/móveis ou hipoteca/imóveis), ficando esse bem vinculado ao cumprimento da obrigação; b) crédito pessoal, quando estiver garantido pela integridade dos bens do devedor (fiança e aval) e não por um bem específico; 1.2.2. da finalidade de sua utilização: a) crédito para consumo, quando utilizado para satisfação de suas necessidades individuais; b) crédito para produção, quando utilizado para produção de determinados bens (comercial, industrial, agrícola, imobiliário, etc...); 1.2.3. do tempo decorrido entre cumprimento da obrigação atual e da futura: a) curto, b) médio ou c) longo prazo; 1.2.4. do instrumento de sua realização: a) título de crédito; b) contrato (mútuo, venda a prazo, etc...); 1.2.5. da pessoa que se beneficia do crédito (tomador do crédito): a) privado ou b) público; 1.2.6. do local da obtenção do crédito: a) interno ou b) externo;

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Direito Empresarial III – Prof. Carlos da Fonseca Nadais

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Teoria Geral dos Títulos de Crédito (módulo 01)

1. Noções históricas - evolução do escambo para o crédito

O título de crédito serve para colocar no papel um crédito que alguém tem contra uma pessoa. Faz parte do direito das obrigações e a obrigação sempre vai ter conteúdo econômico, seja ela de dar, fazer ou não fazer, mas principalmente dar (coisa certa ou incerta). Tem natureza de troca (dinheiro por documento). Assim para um melhor entendimento acerca de títulos de crédito, devemos, antes, analisar o instituto do crédito.

1.1. A doutrina (sem citar autores) elaborou os seguintes conceitos econômicos de crédito:

a) Crédito é a troca no tempo e não no espaço;

b) Crédito é a permissão de usar capital alheio;

c) Crédito é o saque contra o futuro e,

d) Crédito confere poder de compra a quem não dispõe de recursos.

e) troca de uma prestação atual por uma prestação futura.

Assim podem sintetizar um conceito de crédito como a possibilidade de dispor imediatamente de bens presentes, através de um recurso próprio ou de terceiro, que estará disponível no futuro.

Também temos o conceito natural de crédito, pertinente ao sentido etmológico. O temo crédito deriva do latim creditum, que por sua vez deriva de credere, que significa confiança, ter fé. Logo crédito está intimamente ligado à confiança, à fidúcia, entre credor e devedor. Mitigando o primeiro contexto - econômico - representa o poder de compra conferido a alguém que não tem condição de pagá-lo à vista, mas que se tem confiança que o terá no futuro, fará o respectivo pagamento.

Percebemos então que, aglutinando esses dois conceitos temos que o crédito é composto pelos seguintes elementos: fidúcia (confiança) e tempo.

1.2. Os créditos podem ser classificados em função:

1.2.1. da sua garantia: a) crédito real, quando estiver garantido por um determinado bem do

devedor (penhor/móveis ou hipoteca/imóveis), ficando esse bem vinculado ao cumprimento da obrigação; b) crédito pessoal, quando estiver garantido pela integridade dos bens do

devedor (fiança e aval) e não por um bem específico;

1.2.2. da finalidade de sua utilização: a) crédito para consumo, quando utilizado para satisfação de suas necessidades individuais; b) crédito para produção, quando utilizado para produção de determinados bens (comercial, industrial, agrícola, imobiliário, etc...);

1.2.3. do tempo decorrido entre cumprimento da obrigação atual e da futura: a) curto, b) médio ou c) longo prazo;

1.2.4. do instrumento de sua realização: a) título de crédito; b) contrato (mútuo, venda a prazo, etc...);

1.2.5. da pessoa que se beneficia do crédito (tomador do crédito): a) privado ou b) público;

1.2.6. do local da obtenção do crédito: a) interno ou b) externo;

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2. Obrigação Cambial

Temos como Direito Obrigacional o conjunto de normas que regula as relações entre as pessoas, onde uma pode exigir uma prestação da outra, ou seja, entre o sujeito ativo, credor ou accipiens, e o sujeito passivo, devedor ou solvens.

As prestações podem ser de dar (coisa certa ou incerta); fazer ou não fazer.

O vínculo jurídico obrigacional que pode nascer do contrato, da lei, de um título de crédito, de uma sentença, etc. Desse modo a obrigação cambial tem como vínculo jurídico obrigacional um título de crédito

Várias são as teorias para determinar as fontes da obrigação em um título de crédito:

2.1. Teoria contratualista: para esta teoria a natureza da obrigação assumida no título de crédito seria derivada de um contrato. O emitente de um título de crédito se obriga, em razão de uma relação contratual subjacente. Esta teoria sofreu inúmeras críticas, pois, não consegue explicar o princípio da autonomia das obrigações, uma vez que, se a obrigação cambiária surge consubstanciada em um contrato, então, o terceiro que receber o título estará adquirindo direito derivado e não autônomo e original como realmente ocorre.

2.2. Teoria da declaração unilateral de vontade: para esta teoria, a fonte da obrigação cartular não seria um contrato, mas sim, uma declaração unilateral de vontade livre e incondicional do devedor. Esta teoria também sofreu inúmeras críticas, pois, o emitente estaria sempre obrigado, ainda que houvesse exceções pessoais, desde que o título tenha sido emitido regularmente.

2.3. Teoria dúplice de Vivante: para esta teoria deve-se analisar a posição do devedor sob duas vertentes: i) perante seu credor: o fundamento será o contrato; ii) perante terceiro de boa-fé: o fundamento será uma declaração unilateral de vontade. Desse modo, essa teoria mitiga ambas as anteriores.

Baseado nessa teoria e nos conceitos dados por Vivante que se conceitua titulos de crédito, sendo abarcado pela legislação pátria no art. 887, CC, e retiramos algumas caracterísitcas dos títulos de crédito: cartularidade (i), literalidade (ii) e autonomia (iii), que se juntarão a outros atributos (módulo 01 - item 5)

Art. 887 CC. O título de crédito, documento (i) necessário ao exercício do direito literal (ii) e autônomo (iii) nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.

3. Noções históricas - evolução dos títulos de crédito

Os títulos de crédito são documentos representativos de obrigações pecuniárias. Não se confundem com a própria obrigação, mas se distinguem dela na exata medida em que a representam. As obrigações representadas em um título de crédito ou têm origem extracambial, ou de um contrato de compra e venda, ou de mútuo, etc., ou têm origem exclusivamente cambial, como na obrigação do avalista.

Os títulos de créditos surgiram na Idade Média, com intuito de fomentar o comércio, simplificando e agilizando as transações comerciais. A evolução da utilização dos títulos de crédito podem ser compartimentadas nos seguintes lapsos temporais:

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a) Período italiano (até 1.650) – Durante a Idade Média a estrutura política na Europa era o feudal, caracterizado pela descentralização do poder. Na Itália havia a proeminência das cidades marítimas, potências comerciais, que atraiam grande quantidade de mercadores da época. Não havendo uma "moeda" de curso em todas cidades, surge então o câmbio

trajetício, pelo qual o banqueiro ficava responsável pelo transporte das moedas. Nesse procedimento tivemos o embrião da nota promissória - cautio - pois o banqueiro reconhecia a 'dívida' e comprometia-se a 'pagá-la' na data e local determinados; e da letra de câmbio - littera cambii - pois também ordenava ao correspondente que pagasse a quantia ali determinada. Entretanto não tínhamos, ainda, a figura do endosso, os títulos tinham beneficiários únicos e específicos

b) Período francês (1.650 a 1848) – Surgia, então, o endosso, que possibilitava a circulação desses títulos, independente da autorização do sacador, utilizando-se da cláusula à ordem. Também estabeleceu-se a comprovação/garantia da existência de fundos para a compensação da carta de crédito junto ao emitente pelo destinatário.

c) Período alemão (1.848 a 1930) – Em 1848 tivemos a codificação de normas disciplinadoras cambiais, com viés internacionalizado, com a Ordenação Geral do Dirieto Cambiário. Houve a consolidação da letra de câmbio, como instrumento de crédito.

No Brasil: Código Comercial – Decreto 2.044/1908 derrogou a parte de títulos de crédito que havia no Código Comercial. obs.1

e) Período Uniforme (a partir de 1.930) – Influenciada pela ordenação alemã tivemos a elaboração da Lei Uniforme de Genebra (LUG), consolidando três convenções: a) as partes contraentes - Estados - se obrigam a introduzir em suas respectivas legislações a LUG (uniformização espacial); b) regulamentação de controvérsias/conflitos de leis em matéria de nota promissória e letra de câmbio; c) as partes contraentes se obrigam a não fazer depender a validade das obrigações cambiárias do cumprimentos de disposições internas pertinentes ao imposto do selo.

No Brasil: As ratificações dessas convenções se deram: b) Decreto 57.663/66 – que visou uniformizar a letra de câmbio e nota promissória com a LUG; b) Decreto 57.595/66 pertinente a convenções sobre o cheque, e que foi revogada pela Lei 7.357/85; e Lei 5.794/68 que regula a duplicata, mas que determina, expressamente no seu art. 25, a utilização subsidiária da LUG. Tais dispositivos serão objeto de análise mais apurada

quando do estudo de cada um desses títulos de crédito.

obs. 1. Nem todos os dispositivos da LUG entraram em vigor no Brasil, pois foram feitas algumas reservas, ou seja, reservou-se o direito de introduzir, parcialmente, em nosso ordenamento, a LUG, o que nos levou a um sistema híbrido, sendo uma parte regida pelo Decreto 2.044/08, outra pelos Decretos 57.663/66 e 57.595/66 e ainda pelo Código Civil.

4. Natureza jurídica dos títulos de crédito:

Título de Crédito é um título executivo extrajudicial, conforme disposto no art. 585 do CPC, nesse contexto também é denominado como título falimentar, posto que falência do devedor pode ser decretada com base na impontualidade (art. 94, I, L 11.101/2005); com base na prática de atos de falência (art. 94, II, L 11.101/2005) e com base na auto-falência (art. 97, I cc art. 105, L 11.101/2005) - tais assuntos serão estudados mais amiúde em Direito Empresarial IV.

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Art. 585 CPC. São títulos executivos extrajudiciais: I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque; II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; o documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas; o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores; III - os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução, bem como os de seguro de vida; IV - o crédito decorrente de foro e laudêmio; V - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio; VI - o crédito de serventuário de justiça, de perito, de intérprete, ou de tradutor, quando as custas, emolumentos ou honorários forem aprovados por decisão judicial; VII - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei; VIII - todos os demais títulos a que, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva.

Art. 94 LRF. Será decretada a falência do devedor que: I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência; II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal;

Art. 97 LRF. Podem requerer a falência do devedor: I – o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107 desta Lei;

Art. 105 LRF. O devedor em crise econômico-financeira que julgue não atender aos requisitos para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer ao juízo sua falência, expondo as razões da impossibilidade de prosseguimento da atividade empresarial, (...):

5. Atributos dos títulos de créditos.

Alguns doutrinadores preconizam os atributos como características, outros vice-versa e ainda temos os que entendem que atributos e características são sinônimos. Faremos então uma síntese desses entendimentos, ou como característica ou como atributos, sem preocupação com essas diferentes nomenclaturas, mas focando no conteúdo.

Art. 887 CC. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. (g.n.)

Pela leitura simples do art. 887 CC podemos perceber que os atributos essenciais do título de crédito são: negociabilidade (5.4), executividade (5.5) e autonomia (5.6) e literalidade (5.2 e 5.3). Vamos ver o que a doutrina majoritária apresenta para nós:

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5.1. natureza comercial: Os títulos de crédito tem natureza comercial, tanto que letra de câmbio e nota promissória estavam disciplinados no Código Comercial, e ressaltando que o direito cambiário é um sub-ramo específico do Direito Comercial.

5.2. documentos formais: os títulos de crédito somente produzem efeito ao observar os requisitos essenciais previstos na legislação cambiária, como se demonstra na leitura do art. 887 CC in fine.

5.3. títulos de apresentação: o credor, para exigir a obrigação contida no título de crédito (princípio

da literalidade - módulo 02 item 6.2), deve apresentar o documento original ao exercício desse direito (princípio da cartularidade - módulo 02 - item 6.1), desde que preenchido os requisitos legais (princípio do formalismo - módulo 01 - item 5.1). Assim o devedor deve ter a oportunidade de avaliar esses quesitos e, por esta razão, que se exige a apresentação do documento original.

5.4. títulos de circulação ou negociação: os títulos de crédito devem estar aptos a circular, uma vez que sua principal função é a circulabilidade ou negociabilidade dos direitos incorporados ao título de crédito (não necessariamente e exclusivamente o crédito, como podemos interpretar pelo conhecimento de transporte ou conhecimento de depósito)

5.5. representam obrigações líquidas, certas e exigíveis: os títulos de crédito representam uma obrigação líquida, certa e exigível (art. 618, I do CPC). A certeza quanto à existência (an debeatur) e a liquidez determinada ou determinável (quantum debeatur), dão a natureza executiva ao título de crédito (art. 585, I, CPC).

Art. 585, CPC . São títulos executivos extrajudiciais: I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque

Art. 618, CPC. É nula a execução: I - se o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação certa, líquida e exigível (art. 586 CPC)

5.6. eficácia processual abstrata ou de auto-executoriedade: Os títulos de crédito tem força executiva e gera para o credor um poder processual independente do mérito da pretensão consubstanciada no título. O título de crédito não é prova de crédito porque desta prova não há necessidade, e o que autoriza a execução é exclusivamente o título, e não a obrigação que o gerou. (art. 580 c.c. art. 585, I, CPC). Essa caracteristica deriva do princípio da autonomia dos títulos de crédito (módulo 02 - item 6.3)

Art. 580, CPC. A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a obrigação certa, líquida e exigível, consubstanciada em título executivo (art. 585, I , CPC).

Em uma execução, pode o credor requerer a tutela jurisdicional com base na aparência formal do título (legitimidade extrínseca). O juiz vai analisar se o documento, que instrui a inicial, possui algum vício de forma. Caso haja deve o juiz reconhecê-lo de ofício, caso contrário mandará citar o executado. Se houver algum vício, que não seja de forma (legitimidade intrínseca), o juiz não poderá reconhecê-lo de oficio, pois só podem ser reconhecidos mediante provocação do executado, através de embargos.

5.7. títulos de resgate: os títulos de crédito, como vimos na construção do conceito de crédito, pressupõe o futuro pagamento em dinheiro, para que se extinga a relação cambiária. Ressalvado-se apenas que, em não havendo data de vencimento no título de crédito, a exigência será à vista.

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5.8. obrigação querable ou quesível: uma obrigação cambiária é dita quesível ou querable, posto que para ser cumprida, ou satisfeita, é necessário que o credor procure o devedor para exigir o pagamento do título na data e local aprazado.

5.9. natureza pro solvendo: os títulos de crédito tem, via de regra, natureza pró solvendo (e não pró soluto), não implica em novação no que tange a relação causal (causa debendi), que subsiste a relação cambiária, porque a duas relações subsistem. Um exemplo bem elucidativo pode ser dado pelo contrato de compromisso de compra e venda, com promitente comprador obrigando-se a pagar o preço no prazo de 90 dias, a contar da data de celebração da avença, e, representando esse preço, emite uma nota promissória no valor do preço e na data avençada. A emissão da nota promissória não extingue a obrigação do pagamento do preço, e, caso o promitente comprador não pague o preço, o promitente vendedor poderá optar entre a) promover a ação de cobrança da referida nota promissória, ou b) interpelar o promitente comprador para que no prazo de 15/30 dias (loteamento/parcelamento solo urbano) o faça o pagamento, sob pena de rescisão da promessa de compra e venda. Percebe-se que as duas relações subsistem concomitantemente.

CASO CONCRETO: Augusto e Bernardo, em virtude de dívida contraída por aquele em favor deste, resolveram criar um documento que pudesse representar tal obrigação. Dessa forma, questionam você, famoso advogado dessa área:

a) De que maneira o título de crédito se distingue dos demais tipos representativos de obrigação, quanto à cobrança e circulação do crédito?

Os títulos de crédito têm como características principais, a negociabilidade/ circulabilidade (fácil circulação do crédito através do endosso ou da tradição) e a executoriedade (em tese, mais fácil de cobrar). Os demais títulos representativos da obrigação (contrato, carnê, cartão de crédito, confissão de dívida, dentre outros) não têm tais características.

b) Porque o título de crédito é considerado, fundamentalmente, um título de apresentação?

Se for este o título escolhido para representar a obrigação, por ser de muito fácil negociação, o devedor somente poderá pagar a dívida àquele que o apresentar o documento, ou seja, o título, (cartularidade) mesmo que saiba quem é o seu credor original, sob o risco de ter que pagar duas vezes a mesma obrigação.

QUESTÃO OBJETIVA: As principais características de um título de crédito cambial são:

a) literalidade, forma, causa.

b) forma, causa, abstração.

c) negociabilidade, autonomia e literalidade.

d) modelo, cártula, autonomia

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Princípios gerais dos títulos de crédito (módulo 02)

6. Princípios gerais dos títulos de crédito

Como vimos na Teoria dúplice de Vivante e, por conseguinte, no conceito de titulo de crédito, determinado no art. 887, CC, extraímos algumas características dos títulos de crédito: cartularidade

(i), literalidade (ii) e autonomia (iii), que também se consubstanciam nos Princípios Gerais dos títulos de crédito:

Art. 887 CC. O título de crédito, documento necessário (i) ao exercício do direito literal (ii) e autônomo (iii) nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.

6.1. Princípio da cartularidade. Quando se afirma que o título de crédito é o "documento

necessário ao exercício do direito (...) nele contido" (i), entendemos que o exercício de qualquer direito representado no título pressupõe uma posse legítima. Somente quem exibe a cártula (o papel em que se lançaram os atos cambiários constitutivos de crédito) pode pretender a satisfação de uma pretensão relativamente ao direto representado no título ou documento (módulo 1 - item 5.3).

O documento é um meio de prova, qualquer meio físico que se pode colocar algo é documento. O título de crédito sempre terá uma manifestação física, só tendo valor o seu original. Para que o credor de um título de crédito exerça os direitos por ele representados é indispensável que se encontre na posse do documento. Exceção a essa regra são as duplicatas, que admitem a execução judicial de crédito representado por este tipo de título, sem a sua apresentação pelo credor, segundo o art. 15, § 2º, da Lei 5.474/68.

Art. 15, L 5.474/68 - A cobrança judicial de duplicata ou triplicata será efetuada de conformidade com o processo aplicável aos títulos executivos extrajudiciais, de que cogita o Livro II do Código de Processo Civil ,quando se tratar: I - de duplicata ou triplicata aceita, protestada ou não; II - de duplicata ou triplicata não aceita, contanto que, cumulativamente: a) haja sido protestada; b) esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da entrega e recebimento da mercadoria; e c) o sacado não tenha, comprovadamente, recusado o aceite, no prazo, nas condições e pelos motivos previstos nos arts. 7º e 8º desta Lei. § 2º - Processar-se-á também da mesma maneira a execução de duplicata ou triplicata não aceita e não devolvida, desde que haja sido protestada mediante indicações do credor ou do apresentante do título, nos termos do art. 14, preenchidas as condições do inciso II deste artigo

A exceção da apresentação do título de crédito para aparelhar a execução, ou ainda, a indicação para protesto, é pertinente a duplicata virtual, onde todo o trâmite é feito por meios magnéticos ou digitais, não havendo a necessidade da cártula propriamente dita. Abaixo um acórdão do Superior Tribunal de Justiça que representa a jurisprudência dominante:

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EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL DUPLICATA VIRTUAL. PROTESTO POR INDICAÇÃO. BOLETO BANCÁRIO ACOMPANHADO DO COMPROVANTE DE RECEBIMENTODAS MERCADORIAS. DESNECESSIDADE DE EXIBIÇÃO JUDICIAL DO TÍTULO DECRÉDITO ORIGINAL. 1. As duplicatas virtuais - emitidas e recebidas por meio magnético ou de gravação eletrônica - podem ser protestadas por mera indicação, de modo que a exibição do título não é

imprescindível para o ajuizamento da execução judicial. Lei 9.492 /97. 2. Os boletos de cobrança bancária vinculados ao título virtual,devidamente acompanhados dos instrumentos de protesto por indicação e dos comprovantes de entrega da mercadoria ou da prestação dos serviços, suprem a ausência física do título cambiário eletrônico e constituem, em princípio, títulos executivos extrajudiciais. (STJ - REsp 1024691 PR 2008/0015183-5 - Terceira Turma - rel. Min. NANCY ANDRIGHI - j. 22/03/2011 - DJe 12/04/2011)

6.2. Princípio da literalidade. Quando se afirma que o título de crédito é o "documento necessário ao exercício do direito literal (...) nele contido" (ii), entendemos que o exercício de qualquer direito representado será direito que literalmente estiver escrito no título de crédito, não se admitindo interpretação extensiva ou restritiva. Assim, o título de crédito vale pelo que está escrito. O credor pode exigir tudo o que está expresso na cártula, por outro lado, o devedor tem o direito de só pagar o que está expresso no título. Em regra, não se pode colocar cláusulas de juros em título de crédito. Pode-se até cobrar, mas não pode estar contida no título (art. 890 do CC).

Art. 890, CC. Consideram-se não escritas no título a cláusula de juros, a proibitiva de endosso, a excludente de responsabilidade pelo pagamento ou por despesas, a que dispense a observância de termos e formalidade prescritas, e a que, além dos limites fixados em lei, exclua ou restrinja direitos e obrigações.

Art. 51, D 2.044/08. Na ação cambial, somente é admissível defesa fundada no direito pessoal do réu contra o autor, em defeito de forma do título e na falta de requisito necessário ao exercício da ação.

6.3. Princípio da autonomia. Quando se afirma que o título de crédito é o "documento necessário ao exercício do direito (...) autônomo nele contido" (ii), entendemos que o título de crédito configura documento constitutivo de um direito novo, autônomo, originário e completamente

desvinculado das relação que lhe deu origem. As obrigações cambiais, constantes no título de crédito, são autônomas e independentes (art.13 da Lei 7357/85), assim os vícios que comprometem a validade de uma relação jurídica, documentada em título de crédito, não se estendem às demais relações abrangidas no mesmo documento.

Art. 13 L 7.357/85. As obrigações contraídas no cheque são autônomas e independentes.

Art. 43 D 2.044/08. As obrigações cambiais, são autônomas e independentes umas das outras. (...)

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Do princípio da autonomia extraem-se dois sub-princípios:

6.3.1. Subprincípio da abstração. Quando o título de crédito é posto em circulação (saindo da esfera do credor original para terceiros), se desvincula da obrigação que lhe deu origem (art. 17 LUG e art. 25 L 7.357/85). A abstração somente se verifica se o título circula, ou seja, só quando é transferido para terceiros de boa-fé, opera-se o desligamento entre o título de crédito e a relação em que teve origem. Se o terceiro estiver de má-fé o princípio não se aplica. Esse subprincípio está ligado ao aspecto

material do princípio da autonomia, pois diz respeito à obrigação.

Art. 17 LUG. As pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem opor ao portador as exceções fundadas sobre as relações pessoais delas com o sacador ou com os portadores anteriores, a menos que o portador ao adquirir a letra tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor.

Art. 25 L 7.357/85. Quem for demandado por obrigação resultante de cheque não pode opor ao portador exceções fundadas em relações pessoais com o emitente, ou com os portadores anteriores, salvo se o portador o adquiriu conscientemente em detrimento do devedor.

6.3.2. Subprincípio da Inoponibilidade de exceções contra terceiro de boa-fé. Quando o título de crédito é objeto de execução, o portador do título não pode ser atingido por defesas relativas a negócio do qual ele não participou. O título chega a ele completamente livre dos vícios que eventualmente adquiriu em relações pretéritas. Esse subprincípio está ligado ao aspecto processual do princípio da autonomia, pois diz respeito ao processo de execução (art. 915 e art. 916 CC; art. 17 Lei 57.663/66 - LUG).

Art. 915 CC. O devedor, além das exceções fundadas nas relações pessoais que tiver com o portador, só poderá opor a este as exceções relativas à forma do título e ao seu conteúdo literal, à falsidade da própria assinatura, a defeito de capacidade ou de representação no momento da subscrição, e à falta de requisito necessário ao exercício da ação

Art. 916 CC. As exceções, fundadas em relação do devedor com os portadores precedentes, somente poderão ser por ele opostas ao portador, se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé.

Art. 17 L 57.663/66 - LUG. As pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem opor ao portador as exceções fundadas sobre as relações pessoais delas com o sacador ou com os portadores anteriores, a menos que o portador ao adquirir a letra tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor.

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CASO CONCRETO: Antônio emitiu uma nota promissória em favor de Bernardo, que circulou através de diversos endossos até chegar ao atual portador, que decidiu executar um dos endossantes, face à inadimplência do devedor original. Uma vez executado, o endossante apresentou exceção de pré-executividade, para demonstrar sua total incapacidade processual, já que que ele teve o título transferido de um incapaz, o que prejudicaria a cadeia de endossos.

a) A defesa deve ser acolhida pelo Juiz da causa?

Não merece acolhida a defesa apresentada, tendo em vista que ao lançar sua assinatura no título, o endossante vinculou sua obrigação de pagar como garantidor, pelo Princípio da Autonomia. (tecer comentários sobre a exceção de pré-executividade)

b) Determine o princípio cambiário aplicável ao caso em tela.

No caso em tela é aplicável; i) Princípios da Autonomia, em que cada obrigação é autônoma com relação às demais, independentemente da situação do obrigado, e ii) da Inoponibilidade das Exceções Pessoais, cuja relação pessoal com quaisquer dos obrigados não pode ser alegada como defesa. (arts. 7 e 17 da LUG)

QUESTÃO OBJETIVA: Assinale a assertiva correta sobre títulos de crédito.

a) Pelo princípio da abstração, os direitos decorrentes do título são independentes do negócio que deu lugar ao seu nascimento, a partir do momento em que ele é posto em circulação;

b) Pelo princípio da abstração, os direitos decorrentes do título de crédito não se vinculam ao negócio que deu lugar ao seu nascimento, independentemente de sua circulação;

c) Pelo princípio da autonomia, o cumprimento da obrigação assumida por alguém no título não está vinculado a outra obrigação, a menos que o título tenha circulado.

d) Pelo princípio da autonomia, vale nos títulos somente o que neles está escrito.

Obs: O Princípio da Abstração versa sobre a liberação do título de crédito da obrigação que lhe deu causa no momento em que é posto em circulação

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Classificação dos títulos de crédito (módulo 03)

7. Classificam-se os títulos de crédito segundo diversos critérios, sendo que cada doutrinador utiliza parâmetros que entende mais relevantes. Faremos, então, um compendio das classificações dos principais doutrinadores, lembrando que não há como esgotar a apresentação de todas divisões possíveis, sendo que nem é intuito desse trabalho.

7.1. Quanto ao modelo: 7.1.1. livres. só exigem alguns dos requisitos legais, mas não têm uma forma prevista em lei (podem ser feitos em casa, por exemplo). Ex.: nota promissória.

7.1.2. vinculados – necessariamente devem ser emitidos apenas por quem tem autorização para isso. A forma é a essência do documento, sendo requisito de validade. Modelo previsto em lei. Ex.: cheque. Um cheque somente será um cheque se lançado no formulário próprio fornecido, por talão, pelo próprio banco sacado. Mesmo que se lancem, em um instrumento diverso, todos os requisitos que a lei estabelece para o cheque, este instrumento não será título de crédito, não produzirá os efeitos jurídicos do cheque.

7.2. Quanto à forma ou estrutura: 7.2.1. ordens de pagamento – representa uma determinação de pagamento. Tem-se três situações jurídicas diferentes: a) sacador: aquele que dá a ordem, que emite, assina o cheque; b) sacado: para quem a ordem é dada. No caso do cheque será o banco; c) tomador: quem se beneficia pela ordem de pagamento (beneficiário).

Em geral, tem-se as três figuras na ordem de pagamento, contudo, quando vou trocar um cheque de minha propriedade, sacador e tomador confundem-se na mesma pessoa, o mesmo ocorre na duplicata, que é a exceção à regra, eis que sua emissão gera só sacador e tomador. São exemplos de ordens de pagamento: cheque e letra de câmbio. Por não ser o cheque dinheiro propriamente dito, é lícita sua não aceitação.

7.2.2. promessas de pagamento – tem apenas duas figuras: a) sacado (quem emite); e b) tomador (pessoa que receberá o valor). São exemplos de promessa de pagamento: a nota promissória e a cédula de crédito bancária.

7.3. Quanto às hipóteses de emissão: 7.3.1. abstratos. não precisam estar vinculados a um negócio jurídico anterior. Pode ser criado por qualquer causa, para representar obrigação de qualquer natureza no momento do saque. Por exemplo: letra de câmbio; nota promissória e cheque.

7.3.2. causais. só podem ser emitidos se houver uma causa prévia, explícita na lei, ou seja, se ocorrer o fato que a lei elegeu como causa possível para sua emissão. Ex.: duplicata (só pode ser emitida se houver compra e venda empresarial e só pode ser emitida pelo empresário em sua atividade empresarial. Para emitir a duplicata deve-se ter uma nota fiscal de prestação de serviços ou de compra e venda, sob pena de estar cometendo o crime de

duplicata simulada.

Art. 172 CP. Expedir ou aceitar duplicata que não corresponda, juntamente com a fatura respectiva, a uma venda efetiva de bens ou a uma real prestação de serviço. Pena - Detenção de um a cinco anos, e multa equivalente a 20% sobre o valor da duplicata.

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7.4. Quanto à circulação ou forma de transferência:

7.4.1. ao portador. apesar de estar previsto no CC (art. 904 e ss.), não tem validade prática. O único exemplo existente no Brasil é o cheque de até cem reais. Não indica o nome do beneficiário, qualquer pessoa que esteja de posse dele pode se beneficiar, circula de mera tradição, sendo esta a regra. Hoje não temos mais títulos ao portador por força da L 8.021/90 - plano Collor.

7.4.2. nominativos ou nominais – há a indicação do beneficiário. Para circular precisa de endosso ou cessão de crédito. Os nominativos à ordem circulam mediante tradição acompanhada de endosso, e os com a cláusula não à ordem circulam com a tradição acompanhada de cessão de crédito.

7.5. Quanto ao conteúdo da declaração cartular:

7.5.1. títulos próprios: são aqueles que efetivamente consubstanciam operações de crédito e assim, todos os institutos do regime cambiário aplicam-se a eles: endosso, aval, protesto, saque. Por exemplo: letra de câmbio, cheque, nota promissória, duplicata, debêntures (art. 585, I, CC: cambiais; os demais incisos: contratuais - direito civil).

Art. 16 D 57.663/66 - O detentor de uma letra é considerado portador

legítimo se justifica o seu direito por uma série ininterrupta de endossos, mesmo se o último for em branco. (documento de legitimação)

7.5.2. títulos impróprios: são aqueles que, embora atenda aos princípios cambiários (cartularidade, literalidade, autonomia), documentam outros direitos que não os direitos de crédito. Assim nem sempre representam créditos, também podem representar outros direitos. São exemplos: conhecimento de depósito de mercadorias e warrant (títulos armazeneiros - Decreto 1.102/1903); Conhecimento de transporte; títulos de crédito rurais (Decreto Lei 167/67).

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CASO CONCRETO: Um empresário que trabalha no ramo de venda a varejo pretende utilizar, nas suas operações a crédito, duplicatas ao invés de cheques, em virtude da alta taxa de inadimplência. Procura você para consulta acerca das diferenças básicas entre tais títulos. Responda ao consulente de acordo com as classificações dos títulos de crédito.

Inicialmente, cheque e duplicata assemelham-se nas modalidades de modelo, ambos são vinculados, e de circulação, com relação à modalidade nominal à ordem, cujo ao cheque se aplica nos valores acima de R$ 100,00 (cem reais). Diferem quanto às demais modalidades, pois na de estrutura, o cheque é ordem de pagamento, em que outra pessoa que não o devedor, deve efetuar o pagamento, enquanto que na duplicata, por ser promessa de pagamento, o devedor é aquele que deve efetuar o pagamento, e na hipótese de pagamento, a duplicata é título causal. É nesse ponto que para o empresário a troca é impossível para o empresário, uma vez que não se aplica às vendas a varejo, mas apenas à compra e venda mercantil. Dessa forma, o empresário deverá manter o cheque nas operações a crédito.

QUESTÃO OBJETIVA: São títulos de crédito que contêm ordem de pagamento:

a) nota promissória e duplicata.

b) warrant e partes beneficiárias.

c) nota promissória e debênture.

d) letra de câmbio e cheque

Obs: (letra de câmbio e cheque são considerados ordem de pagamento, em virtude de haver um terceiro vinculado ao saque, terceiro este que realiza o pagamento em nome do devedor)

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Letra de câmbio (módulo 04)

10.1. Conceito de letra de câmbio

Como vimos a letra de câmbio é o título de crédito com origem mais remota, passando por todos os períodos de evolução do direito cambiário (módulo - 01 item 03), sendo considerado por muitos, como título de crédito mais apropriado ao estudo da teoria geral dos atos cambiários.

A letra de câmbio é um título de crédito abstrato (i), correspondendo a documento formal (ii), decorrente de relação ou relações de crédito, entre duas ou mais pessoas (iii), pela qual a designada sacador, dá ordem de pagamento (iv) pura e simples, à vista ou à prazo, a outra pessoa denominada sacado, a seu favor ou de terceira pessoa chamada tomador ou beneficiário.

A abstração (i) decorre de poder se originar de qualquer causa (módulo 03 - item 7.3.1.); é documento formal (ii) porque só pode ser considerada como tal se observar os requisitos essenciais fixados em lei (art. 1° e 2° do Decreto 2.044/1908); as figuras jurídicas (iii) envolvidas, por ser uma ordem de pagamento (iv), são sacador, sacado e tomador ou beneficiário (módulo 03 - item 7.2.1.).

Art. 1º D 2.044/1.908 *. A letra de câmbio é uma ordem de pagamento e deve conter requisitos, lançados, por extenso, no contexto:

I. A denominação “letra de câmbio” ou a denominação equivalente na língua em que for emitida.

II. A soma de dinheiro a pagar e a espécie de moeda.

III. O nome da pessoa que deve pagá-la. Esta indicação pode ser inserida abaixo do contexto.

IV. O nome da pessoa a quem deve ser paga. A letra pode ser ao portador e também pode ser emitida por ordem e conta de terceiro. O sacador pode designar-se como tomador.

V. A assinatura do próprio punho do sacador ou do mandatário especial. A assinatura deve ser firmada abaixo do contexto.

Art. 2º D 2.044/1.908 *. Não será letra de câmbio o escrito a que faltar qualquer dos requisitos acima enumerados.

10.2. Pressuposto para a criação da letra de câmbio:

O pressuposto para a criação da letra de câmbio é a existência de direito de crédito de uma pessoa em relação à outra, e, com base nesse direito o credor (sacador), dá ordem de pagamento ao seu devedor na relação causal (sacado), para que lhe pague o valor no vencimento, especificados no título.

10.3. Figuras intervenientes na letra de câmbio.

Numa letra de câmbio, como vimos no item 10.1, temos três figuras jurídicas (iii):

10.3.1. o sacador (emitente) que emite a letra de câmbio, que dá ordem de pagamento, determina o valor que será pago ao tomador/credor/beneficiário;

10.3.2. o tomador (credor/beneficiário) que recebe a letra de câmbio

10.3.3. o sacado (devedor) aquele que deve realizar o pagamento da letra de câmbio ao tomador/credor/beneficiário (dentro das condições estabelecidas); para quem a ordem é dada e que deve dar o aceite no título.

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Podemos identificá-las na figura abaixo que representa uma letra de câmbio.

letra de câmbio e suas 'figuras jurídicas'

10.4. Requisitos para emissão da letra de câmbio.

Para que um documento produza efeitos de letra de câmbio, deve atender determinados requisitos

essenciais estabelecidos em lei (art. 1° e art. 2° do Decreto 2.044/1908 *). Tais requisitos podem ser

definidos em intrínsecos e extrínsecos.

10.4.1. Requisitos intrínsecos da letra de câmbio (internos).

Os requisitos intrínsecos, também chamados subjetivos ou substanciais, são aqueles pertinentes a qualquer negócio jurídico, como capacidade, consentimento, forma e objeto idôneo (art. 104 CC). Se não forem respeitados tais requisitos, o título será nulo (validade).

Art. 104 CC. A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei.

10.4.2. Requisitos extrínsecos da letra de câmbio (externos)

Os requisitos extrínsecos, também chamados objetivos ou formais, e podem ser divididos em essenciais e não essenciais.

10.4.2.1. Requisitos extrínsecos essenciais:

São aqueles que a LUG considera imprescindíveis para que o documento valha como uma letra de câmbio, ou seja, não terá valor cambiário, mas tão somente servirá de início de prova para o direito comum. (art. 1° e art. 2° do Decreto 2.044/1908 * c/c art. 889 CC).

Art. 889 CC. Deve o título de crédito conter a data da emissão, a indicação precisa dos direitos que confere, e a assinatura do emitente.

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a) denominação "letra de câmbio" - cláusula cambiária (art. 1°, I D 2.044/1.908). A expressão “letra de câmbio” deve estar inserida no próprio texto da letra de câmbio e na língua em que foi dada a ordem de pagamento;

b) ordem incondicional de pagamento de quantia determinada (art. 1°, II D 2.044/1.908 - LUG). A ordem de pagamento deve ser pura e simples, não tendo lugar para a inserção de condições suspensivas ou resolutivas. A incondicionalidade do pagamento é pressuposto necessário para a circulação do título de crédito, assim uma cláusula impeditiva à circulação do título violaria o princípio da literalidade (módulo 02 - item 6.2). A ordem de pagamento deve ser em quantia determinada, ou seja, aquela que corresponda a uma soma de dinheiro.

c) nome da pessoa que deve pagar - sacado (art. 1°, III D 2.044/1.908)

Deve estar contida o nome da pessoa, natural ou jurídica, que irá pagar, ou seja, o sacado, que é a pessoa que recebe a ordem do sacador de pagar o título, baseada na relação de crédito que há entre os dois.

O nome do sacado pode ser abreviado se, dessa forma, for possível a sua identificação. Também será possível que conste o nome do sacado em qualquer lugar do anverso do título, não sendo obrigatório que seja feita no texto. Se o sacado for incapaz absolutamente deverá indicar o representante legal, ao passo que, no caso de sacado relativamente incapaz deverá o aceite ter também a assinatura do seu assistente.

Pluralidade de sacados: quando várias pessoas são nomeadas sacadas pelo sacador ocorre a luralidade de sacados. A LUG não trata da hipótese, mas o Decreto 2.044/1908 a admite no art. 10 e art. 20, § 2º. Nesses casos a apresentação deverá ser sucessiva, ainda que os sacados tenham sido nomeados conjunta ou alternativamente. Assim, o portador fará a apresentação ao primeiro sacado e, se este não aceitar, será apresentado ao próximo sacado se este for domiciliado na mesma praça.

Art. 10 D 2.044/1908. Sendo dois ou mais os sacados, o portador deve apresentar a letra ao primeiro nomeado; na falta ou recusa do aceite, ao segundo, se estiver domiciliado da mesma praça; assim, sucessivamente, sem embargo da forma da indicação na letra dos nomes sacados

Art. 20 D 2.044/1908. A letra deve ser apresentada ao sacado ou ao aceitante para o pagamento, no lugar designado e no dia do vencimento ou, sendo este dia feriado por lei, no primeiro dia útil imediato, sob pena de perder o portador o direito de regresso contra o sacador, endossadores e avalistas. (...) § 2º No caso de recusa ou falta de pagamento pelo aceitante, sendo dois ou

mais os sacados, o portador deve apresentar a letra ao primeiro nomeado, se estiver domiciliado na mesma praça; assim sucessivamente, sem embargo da forma da indicação na letra dos nomes dos sacados.

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d) nome da pessoa para quem deve ser pago o título - tomador (art. 1°, IV D 2.044/1.908)

A letra de câmbio denomina tomador, beneficiário ou mesmo credor aquele que irá receber o pagamento do título. A falta de menção do credor originário do documento causa total ineficácia para Direito Cambiário, posto que a letra de câmbio ao portador poderia, em tese, concorrer com o papel moeda. O art. 1°, IV D 2.044/1.908 admitia os títulos ao portador ("A letra pode ser ao portador"), mas temos a vedação expressa de "qualquer título" "ao portador" (art. 907 CC cc art. 1° e art. 2° L 8.021/90)

Art. 1° L 8.021/1990. A partir da vigência desta lei, fica vedado o pagamento ou resgate de qualquer título ou aplicação, bem como dos seus rendimentos ou ganhos, a beneficiário não identificado.

Art. 2° L 8.021/90. A partir da data de publicação desta lei fica vedada: II - a emissão de títulos e a captação de depósitos ou aplicações ao portador ou nominativos-endossáveis;

Art. 907 CC/2002. É nulo o título ao portador emitido sem autorização de lei especial.

Pluralidade de tomadores: No caso de indicação conjunta ou disjunta do tomador da letra de câmbio, o seu possuidor é considerado, para os efeitos cambiais, p credor único da obrigação, podendo endossar e protestar o título, bom como mover as ações cambiárias cabíveis.

Art. 39 D 2.044/1908. O possuidor é considerado legítimo proprietário da letra ao portador e da letra endossada em branco. § 1º No caso de pluralidade de tomadores ou de endossatários, conjuntos ou disjuntos, o tomador ou o endossatário possuidor da letra é considerado, para os efeitos cambiais, o credor único da obrigação.

Art. 8º D 2.044/1908. O endosso transmite a propriedade da letra de câmbio. Para a validade do endosso, é suficiente a simples assinatura do próprio punho do endossador ou do mandatário especial, no verso da letra. O endossatário pode completar este endosso. § 3º É vedado o endosso parcial.

e) assinatura do sacador (art. 1°, V D 2.044/1.908 e art. 1.8 LUG). Da assinatura do sacador decorre a constituição do crédito, pois o sacador torna-se codevedor da letra de câmbio. Se o sacado não aceitar a ordem que lhe foi dirigida pelo sacador, ou tendo aceito não a cumpriu no vencimento, o credor poderá cobrar o sacador, uma vez atendidas as condições próprias do regime cambial. Entretanto tal assertiva na LUG foi objeto de reserva (Anexo II, artigo 2º), de forma que o Decreto 2.044/1908; em seu art.1º, V; art. 8°, segunda parte; art. 11 e art. 14, segunda parte; traz a possibilidade de o ato cambiário ser praticado por mandatário com poderes especiais.

Art. 8º D 2.044/1908. O endosso transmite a propriedade da letra de câmbio. Para a validade do endosso, é suficiente a simples assinatura do próprio punho do endossador ou do mandatário especial, no verso da letra. O endossatário pode completar este endosso.

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Art. 11 D 2.044/1908. Para a validade do aceite é suficiente a simples assinatura do próprio punho do sacado ou do mandatário especial, no anverso da letra.

Art. 14. D 2.044/1908. O pagamento de uma letra de câmbio, independente do aceite e do endosso, pode ser garantido por aval. Para a validade do aval, é suficiente a simples assinatura do próprio punho do avalista ou do mandatário especial, no verso ou no anverso da letra.

O mandato especial só é possível para operações civis, não para operações de consumo (art. 51, VIII, CDC e Súmula 60, STJ – cláusula com mandato).

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo consumidor;

Súmula 60 STJ - Obrigação Cambial - Procurador do Mutuário Vinculado ao Mutuante. É nula a obrigação cambial assumida por procurador do mutuário vinculado ao mutuante, no exclusivo interesse deste.

f) data do saque: requisito essencial previsto na LUG (art. 1.7, LUG), mas não

para o Decreto 2.044/1908 (art. 1°, D 2.044/1908), não a considerava como requisito de validade do título. O dia e o ano podem ser escritos em algarismos, mas o mês deve ser por extenso.

Art.1°. LUG. A letra contém: 7. A indicação da data em que, e do lugar, onde a letra é passada

10.4.2.2. Requisitos extrínsecos não essenciais (supríveis ou acidentais)

São aqueles que na sua ausência não afetam a validade do documento da letra de câmbio, pois, a própria lei irá suprir a ausência destes requisitos (art. 2º LUG):

a) época do vencimento (art. 20, § 1º, primeira parte D 2.044/1908 e art. 2.2 LUG):

Não contendo a Letra de Câmbio a época do vencimento, será considerada como pagável à vista, ou seja, contra a sua apresentação. São nulas as letras com vencimentos diferentes ou sucessivos, conforme artigo 33 LUG.

Art. 20. D 2.044/1908. A letra deve ser apresentada ao sacado ou ao aceitante para o pagamento, no lugar designado e no dia do vencimento ou, sendo este dia feriado por lei, no primeiro dia útil imediato, sob pena de perder o portador o direito de regresso contra o sacador, endossadores e avalistas. § 1º Será pagável à vista a letra que não indicar a época do vencimento. Será pagável, no lugar mencionado ao pé do nome do sacado, a letra que não indicar o lugar do pagamento.

Art. 33 LUG. Uma letra pode ser sacada: A vista; A um certo termo de vista; A um certo termo de data Pagável num dia fixado As letras, quer com vencimentos diferentes, quer com vencimentos sucessivos, são nulas.

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De modo reverso, pela leitura do art. 33 da LUG, temos que não são admissíveis:

i) datas incertas (próximo de 20/01/2014)

ii) datas impossíveis (31/02/2014)

iii) datas alternativas (20/01/2014 ou 21/01/2014)

iv) datas distintas/vencimentos parcelados (uma única letra de câmbio no valor de $3.000, com vencimentos 20/01/2014; 25/01/2014/30/01/2014 cada parcela no valor de $ 1.000)

b) lugar do pagamento (art. 20, § 1º, segunda parte D 2.044/1908 e art. 2.3 LUG): Trata-se de requisito acessório, porque, se não constar da letra de câmbio, a lei supre, considerando como sendo o lugar designado ao lado do nome do sacado, que presume ser o lugar do seu domicílio.

Art. 2º LUG. O escrito em que faltar algum dos requisitos indicados no artigo anterior não produzirá efeitos, salvo nos casos determinados nas alíneas seguintes: Na falta de indicação especial, o lugar designado ao lado do nome do

sacado considera-se como sendo o lugar do pagamento, e, ao mesmo tempo, o lugar do domicilio do sacado.

Art. 20. D 2.044/1908. A letra deve ser apresentada ao sacado ou ao aceitante para o pagamento, no lugar designado e no dia do vencimento ou, sendo este dia feriado por lei, no primeiro dia útil imediato, sob pena de perder o portador o direito de regresso contra o sacador, endossadores e avalistas. § 1º Será pagável à vista a letra que não indicar a época do vencimento. Será pagável, no lugar mencionado ao pé do nome do sacado, a letra que não indicar o lugar do pagamento.

c) lugar do saque (artigo 2.4 LUG):

Art. 2º LUG. O escrito em que faltar algum dos requisitos indicados no artigo anterior não produzirá efeitos, salvo nos casos determinados nas alíneas seguintes: A letra sem indicação do lugar onde foi passada considera-se como tendo-o sido no lugar designado, ao lado do nome do sacador.

O STF Considera ainda vigente o artigo 54, § 1º do Decreto 2.044/1908, de forma que, em sendo omisso o local ao lado do nome do sacador, não será caso de nulidade do título, porque, segundo o Decreto 2.044/1908, o portador poderá inserir o local do saque.

Súmula 387 STF - Cambial Emitida ou Aceita com Omissões, ou em Branco - Complementação pelo Credor de Boa-Fé antes da Cobrança ou do Protesto. A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto.

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CASO CONCRETO: Augusto comprou de Bernardo um apartamento no valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) que, com o crédito venda de seu imóvel, também comprou um apartamento, pelo mesmo valor, de seu amigo Cardoso. Por ter ouvido falar em um título capaz de vincular todas as partes, Bernardo lhe procura para prestar as seguintes orientações:

a) É possível a emissão de uma letra de câmbio, a fim de vincular augusto ao pagamento e ainda assim dar garantia a Cardoso?

Sim, é possível, uma vez que Augusto é devedor de Bernardo que é devedor da mesma quantia de Cardoso. Assim, ao sacar uma letra de câmbio, envolverá Augusto como sacado no pagamento e dará garantia a Cardoso, pois se aquele não aceitar ou não pagar a letra, Bernardo, como sacador, garante o pagamento (art. 9 LUG).

b) por nunca ter visto uma letra de câmbio, questiona acerca dos requisitos necessários para validade do título em tela.

Letra de câmbio é classificada como título livre, conforme a modalidade de classificação relativa ao modelo. Dessa forma, para ser considerado letra de câmbio, o título deve conter os requisitos contidos nos arts. 1° e 2° LUG, com aplicação subsidiária da Súmula STF 387. (discorrer alíneas)

QUESTÃO OBJETIVA: Não é requisito essencial da letra de câmbio:

a) Época do pagamento;

b) Valor

c) Assinatura do emitente;

d) Cláusula à ordem

Obs. art. 1°: 4 c/c art. 2°: 1, ambos da LUG

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Declarações cambiárias e atos cambiários: emissão; saque e endosso (módulo 05)

11. Declarações cambiárias

As declarações cambiárias são manifestações de vontade em relações cambiárias que podem ser:

11.1. originárias são as manifestações de vontade que dão origem ao título de crédito, faz nascer

a obrigação cambiária. As declarações originárias são: a) as emissões da nota promissória e do cheque e b) os saques da letra de câmbio e da duplicata.

11.2. sucessivas são as manifestações da vontade emitidas depois da constituição do título de

crédito. É a manifestação que sucede à declaração cambiária originária do título de crédito. As declarações sucessivas são: c) endosso, d) aceite e e) aval.

11.3. necessárias são as manifestações de vontade imprescindíveis para a existência do título de crédito, assim sem a declaração cambiária necessária o título de crédito não existe. São as declarações necessárias justamente as declarações cambiárias originárias: a) emissões e b) saques.

11.4. eventuais são as manifestações de vontade que se não existirem não afetam a existência do título de crédito. As declarações eventuais são c) endosso, d) aceite e e) aval.

Em regra, toda declaração cambiária originária é também uma declaração cambiária necessária. Na letra de câmbio toda declaração cambiária sucessiva também será uma declaração cambiária eventual.

Todas as manifestações de vontade emitidas no título de crédito são declarações cambiárias, tal como o aceite, o endosso e o aval. A diferença está no conteúdo destas manifestações de vontade. No aceite há a manifestação de vontade de aceitar o pagamento do título de crédito. No endosso há a manifestação de vontade de transferir o título de crédito. No aval há a manifestação de vontade de garantir o título de crédito. Todas estas manifestações de vontade são declarações cambiárias.

12. Atos cambiários.

O ato cambiário principal da letra de cambio é o saque (item 14), com o preenchimento da letra de cambio com a determinação de ordem de pagamento. temos também os atos cambiários secundários como: endosso (item - 15 - transferência); aceite (item - 16 - completa-se o título) e aval (item - 17 - garantia). Passaremos rapidamente pela emissão (item - 13) e nos atentaremos agora pelo o saque e o endosso.

13. Emissão

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14. Saque

O saque é o ato cambial de criação do título de crédito e dá ordem de pagamento ao sacado através

da letra de câmbio. Assim, tratando-se a letra de câmbio, de uma ordem de pagamento (módulo 03 - item 7.2.1) correspondendo a uma obrigação originária (primeiro ato cambiário) e necessária (sem o saque, não existe letra de câmbio), ou seja, é a primeira manifestação de vontade que se traduz no título de crédito para ensejar seu nascimento.

A criação do letra de câmbio, decorre o surgimento de três figuras jurídicas diversas: sacador, sacado e tomador (módulo 04 - item 10.3) e a autorização para o tomador procurar o sacado para, dadas certas condições, poder receber dele a quantia referida no título (módulo 04 - item __). Entretanto, o saque produz outro efeito: vincular o sacador ao pagamento da letra de câmbio.

obs. A emissão é a entrega do título ao beneficiário, que no caso do cheque e nota promissória cria o título de crédito. Para letra de câmbio e duplicata o ato gerador do título é o saque.

15. Endosso

Uma das características dos títulos de crédito é a possibilidade de sua circulação (módulo 01 - item 5.3), considerados como bens móveis. O endosso é o ato pelo qual o credor de um título de crédito com a cláusula à ordem (i) transmite os seus direitos à outra pessoa. Só os títulos de credito são passíveis de endosso, mas nem todo título de crédito é passível de endosso. Nos títulos ao portador a transferência se dá mediante a simples tradição e nos títulos nominativos ou à ordem opera-se a circulação mediante o endosso. A cláusula à ordem (i) pode ser expressa ou tácita, ou seja, basta que não tenha sido inserida a cláusula “não à ordem” na letra de câmbio para que ela seja transferível por endosso (art. 11 LUG).

Art. 11 LUG. Toda a letra de câmbio, mesmo que não envolva expressamente a cláusula à ordem, é transmissível por via de endosso.

O endosso é o ato exclusivamente cambiário abstrato (porque se desvincula da sua causa originária, sendo sempre incondicionado - art. 17, 12.1 LUG - art. 25 L 7.357/85 lei do cheque - módulo 02 - item 6.3.1) e formal (porque só pode ser considerada como tal se observado os requisitos essenciais fixados em lei); e decorrente de declaração unilateral de vontade e manifestada no próprio título de crédito e, portanto, uma declaração cambiária sucessiva (ocorre depois da criação do título) e eventual (não é requisito essencial do título de crédito - módulo 04 - item 7.3), pela qual o portador do título (titular do direito cambiário) – transfere o título de crédito e os direitos deles constantes para terceiros, obrigando-o indiretamente pelo cumprimento da obrigação constante no título.

Art. 17 LUG. As pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem opor ao portador as exceções fundadas sobre as relações pessoais delas com o sacador ou com os portadores anteriores, a menos que o portador ao adquirir a letra tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor.

Art. 25 L 7.357/85. Quem for demandado por obrigação resultante de cheque não pode opor ao portador exceções fundadas em relações pessoais com o emitente, ou com os portadores anteriores, salvo se o portador o adquiriu conscientemente em detrimento do devedor.

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Existem outros meios de transferência de títulos como a sucessão hereditária, testamento, operações societárias (cisão, incorporação e fusão) e a cessão de crédito, entretanto esse não se confunde com endosso (arts. 286 a 298 CC).

15.1. Diferenças entre endosso e cessão de crédito:

O endosso é o ato pelo qual o credor de um título de crédito com a cláusula à ordem transmite os seus direitos à outra pessoa. A cessão de crédito é o ato pelo qual o credor de um título de crédito com a cláusula não à ordem transmite os seus direitos à outra pessoa.

No endosso, quem transfere o título de crédito responde pela existência do título e também pelo seu pagamento, mas o devedor não pode alegar exceções pessoais contra o endossatário de boa-fé. Na cessão de crédito, quem transfere o título de crédito só responde pela existência do título, mas não responde pelo seu pagamento, mas o devedor pode alegar exceções pessoais contra o cessionário de boa-fé.

O endosso é um ato unilateral de vontade, não receptício, ou seja, não precisa do conhecimento da outra pessoa, que também exige-se uma forma escrita (ato solene). A cessão de crédito é ato

bilateral que pode ser concretizado por qualquer forma.

No endosso, o credor deve assinar no verso do título (se em branco ou em preto), enquanto que na cessão de crédito sempre deve ter o nome do cedente.

15.2. Natureza jurídica do endosso:

Posto que para o endosso produzir efeitos, depende simplesmente da vontade do endossante, sua natureza jurídica é a declaração unilateral de vontade e autônoma. O endosso transfere um direito de crédito sem nenhum vício intrínseco. Há diversas teorias sobre a natureza jurídica, então apresentamos a que nos parece mais adequada (ou menos temerária) e corroborada por ROSA JR, para continuação dos nossos estudos.

15.3. Forma e local do endosso

Em regra, o endosso é dado no verso do título, podendo ser uma simples assinatura: “Pague-se”. Se for dado na frente, deve-se apor alguma expressão caracterizando o endosso, será obrigatória a identificação do ato cambiário praticado, não podendo o endossante se limitar a assinar a letra.

15.4. Partes no endosso

15.4.1. endossante: é o signatário do endosso (aquele que transfere o título), logo somente o credor pode ser o endossante, mesmo assim deve ter capacidade jurídica para assumir as obrigações cambiárias (art. 42 L 2.044/1908). Assim, o primeiro endossante de qualquer letra de câmbio será sempre o tomador.

Art. 42. L 2.044/1908. Pode obrigar-se, por letra de câmbio, quem tem a capacidade civil ou comercial.

15.4.2. endossatário: é o beneficiário do endosso, ou seja, aquele que se beneficia do endosso (aquele que recebe o título), que, por sinal, pode endossar para outra pessoa, e assim sucessivamente, e também, do mesmo modo, para tornar-se endossante deve ter capacidade jurídica para endossar (item 11.2.4.1). Não há qualquer limite para o número de endossos de um título de crédito; ele pode ser endossado diversas vezes.

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15.5. Requisitos do endosso

Os requisitos para existência válida de um endosso estão intimamente ligados ás suas características. Vamos relacioná-los, bem rapidamente, posto que já foram esmiuçados.

15.5.1. Ato simples e puro, deve corresponder a uma declaração de vontade, pura e simples (art. 12.1 LUG e art. 18 L 7.357/85 - lei do cheque).

15.5.2. É uma declaração abstrata, porque não têm vinculação com a causa que deu origem ao título, e autônoma em relação às demais declarações constantes nos títulos.

15.5.3. Ato formal, pois é válida qualquer forma que indique, de maneira inequívoca, à vontade da pessoa em transferir os direitos decorrentes do título. O endosso pode resultar também da simples assinatura do endossante, sem identificar a pessoa do endossatário (endosso em branco), entretanto esta liberdade na caracterização do endosso não significa que não corresponda a ato formal.

O endosso é ato formal e, por isto, só pode ser lançado no título de crédito ou na folha de alongamento (art. 13.1 LUG e art. 19 L 7.357/85), não podendo, portanto, ser formalizado em documento separado

15.5.4. Não exigência da datação e do lugar do endosso, pois a legislação cambiária não as exige. No caso de endosso sem data presume-se que foi feito antes de expirado o prazo para protesto. (art. 20.2 LUG). A datação do endosso tem a vantagem de possibilitar apurar se, no momento do endosso, o endossante tinha capacidade jurídica para praticar o ato.

15.6. Efeitos do endosso

15.6.1. transferência dos direitos decorrentes do título: abrange o a) efeito natural, pois decorre de sua própria natureza - e b) efeito real, pois opera a transferência da propriedade do título (art. 8° D 2.044/1908). O endossatário torna-se credor do título e do crédito, no lugar do primitivo beneficiário, entretanto para que o endosso se aperfeiçoe há a necessidade da tradição do titulo para o endossatário (art. 16. 1 LUG, art. 910 §2° CC e art. 22 L 7.357/85 - lei do cheque). Desse modo a transferência do título depende do endosso e da

tradição.

Art. 8º D 2.044/1908. O endosso transmite a propriedade da letra de câmbio

Art. 14. 1 LUG. O endosso transmite todos os direitos emergentes da letra.

Art. 16. 1 LUG. O detentor de uma letra é considerado portador legítimo, se justifica o seu direito por uma série ininterrupta de endossos, mesmo se o último for em branco.

Art. 22 L 7.357/85. O detentor de cheque "à ordem’’ é considerado portador

legitimado, se provar seu direito por uma série ininterrupta de endossos, mesmo que o último seja em branco.

Art. 910 CC. O endosso deve ser lançado pelo endossante no verso ou anverso do próprio título. § º A transferência por endosso completa-se com a tradição do título.

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15.6.2. Em regra, o endossante garante o aceite e o pagamento do título no seu vencimento, salvo, cláusula em contrário que deverá estar expressa no título (art. 15. 1 LUG; art. 21. L 7.357/85 - lei do cheque) bem como responde pela existência lícita do crédito O endossante torna-se coobrigado pelo pagamento do crédito (art. 43 LUG). Assim, o credor poderá cobrar do endossante, do sacado ou do sacador, solidários com a obrigação cambial.

Art. 15. 1. LUG O endossante, salvo clausula em contrário, é garante tanto na aceitação como no pagamento da letra.

Art. 21 L 7.357/85. Salvo estipulação em contrário, o endossante garante o pagamento.

Art. 43 LUG. O portador de uma letra pode exercer os seus direitos de ação contra os endossantes, sacador e outros coobrigados.

15.7. Endosso sem garantia

O endosso, portanto, não transfere apenas o crédito, mas também a efetiva garantia do seu pagamento. Pode o endosso conter a cláusula sem garantia, que exonera, expressamente, o endossante da responsabilidade pela obrigação constante no título.

Desse modo, o endosso sem garantia é uma exceção, pois esta cláusula permite que se realize o endosso próprio (módulo 05 - item 15.12.1), entretanto afasta a garantia do pagamento. No endosso com cláusula sem garantia há a transferência de um direito autônomo, um direito limpo, e, portanto, incide o principio da autonomia e abstração, que apenas suprime o efeito da garantia do

pagamento.

15.8. Clausula proibitiva de novo endosso.

A cláusula proibitiva de novo endosso transfere o direito de crédito autônomo constante no título de crédito, entretanto o endossante que a insere não vai garantir o pagamento dos endossos que forem realizados adiante, entretanto endossante que a insere garante o pagamento das relações cambiárias existentes anteriores ao seu endosso. Resumidamente endossante que insere a cláusula proibitiva de

novo endosso está apenas afirmando que não garantirá o pagamento dos futuros endossos

posteriores ao seu.

15.9. Endosso parcial.

Como vimos o instituto do endosso visa dar efetividade a uma das propriedades mais importantes dos títulos de crédito: a circulabilidade. O endosso parcial dificulta a circulabilidade e é nulo de pleno direito (art. 12. 2 LUG; art. 912, CC e art. 18 § 1º L 7357/85 - lei do cheque), sendo que o endossante, mesmo inserindo tal cláusula (que é nula), continua obrigado pela totalidade do crédito.

Art. 912, CC. Considera-se não escrita no endosso qualquer condição a que o subordine o endossante. Parágrafo único. É nulo o endosso parcial.

Art. 12.2, LUG. O endosso deve ser puro e simples. Qualquer condição a que ele seja subordinado, considera-se como não escrita. O endosso parcial é nulo.

Art. 18 L 7.357/85. O endosso deve ser puro e simples, reputando-se não-escrita qualquer condição a que seja subordinado. § 1º São nulos o endosso parcial e o do sacado.

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15.10. Endosso condicional.

O endosso condicional não gera efeitos (como endosso parcial), mas não se qualifica como nulo, somente a condição, resolutiva ou suspensiva, se torna ineficaz, posto que a lei considera como "não escrita". A leitura dos dispositivos legais (item 11.2.8) deixa clara essa distinção separando convenientemente a "nulidade", contida nos parágrafos; da "ineficácia", contida no caput. (art. 12.1 LUG; art. 912 caput CC e art. 18 caput L 7.357/85 - lei do cheque)

15.11. Endosso em preto e em branco.

O endosso poderá ser feito em preto ou em branco, diferenciando-se pela indicação ou não do endossatário (beneficiário).

15.11.1. Endosso em preto é aquele que identifica, expressamente, a quem está sendo transferida a titularidade do crédito, também chamado nominal, complemento ou pleno.

15.11.2. Endosso em branco é aquele que não indica o nome do endossatário, também chamado de endosso ao portador. Nesse caso o endossante simplesmente assina o verso do título, sem identificar a quem está endossando.

O art. 19, da Lei 8.088/90 (Plano Collor) determina que “Todos os títulos, valores

mobiliários e cambiais serão emitidos sempre sob a forma nominativa, sendo transmissíveis

somente por endosso em preto.”, desse modo, poder-se-ia concluir que no Brasil não existe mais o endosso em branco, entretanto a doutrina majoritária entende ainda existir, porque é permitido pela LUG, que é lei específica, seguindo-se o princípio da especialidade.

A extinção do endosso em branco levaria, em tese, a denúncia da Convenção de Genebra. Segundo ULHOA a interpretação mais adequada seria que "não se aplica à letra de câmbio, nota promissória e duplicata. Trata-se de norma destinada aos títulos de crédito impróprios de investimento".

15.12. Classificação do endosso:

Os endossos podem ser subdivididos em endossos próprios e endossos impróprios.

15.12.1. endosso próprio: configura uma declaração cambiária sucessiva e eventual feita pelo credor de um título de crédito nominal à ordem em que se transfere a titularidade do direito de crédito a uma terceira pessoa (art. 16. 1 LUG e art. 22 L 7.357/85 - lei do cheque), que em regra se torna devedor cambiário indireto e de regresso (translativa do título e do crédito). O endosso próprio se aperfeiçoa com a assinatura no verso da cártula e com a tradição, que é a entrega da cártula ao endossatário (módulo 05 - item 11.2.6.a). É também chamado de endosso regular ou endosso propriamente dito.

15.12.2. endosso impróprio: Configura uma declaração cambiária que legitima a posse que determinada pessoa exerce sobre o título, sem, contudo, transferir-lhe o crédito. Nesse sentido a impropriedade se manifesta pela inoperância de um de seus efeitos: a transferência de titularidade. É também chamado de endosso irregular. São exemplos de endosso desse tipo: endosso-mandato e o endosso-caução.

15.12.2.1. endosso-mandato ou endosso-procuração: confere ao endossatário apenas a) o direito de cobrar o crédito representado pelo título, e b) a legitimidade da posse sobre a cártula exercida pelo detentor. O crédito continua pertencendo ao endossante (art. 18 LUG; art. 917 CC e art. 23 L 7.357/85 Lei cheque). Ex: boleto bancário.

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Art. 18 LUG. Quando o endosso contém a menção "valor a cobrar", "para cobrança", "Por procuração", ou qualquer outra menção que implique um simples mandato, o portador pode exercer todos os direitos emergentes da letra, mas só pode endossá-la na qualidade de procurador.

Art. 26 L 7.357/85. Quando o endosso contiver a cláusula ‘’valor em cobrança’’, ‘’para cobrança’’, ‘’por procuração’’, ou qualquer outra que implique apenas mandato, o portador pode exercer todos os direitos resultantes do cheque, mas só pode lançar no cheque endosso-mandato. Neste caso, os obrigados somente podem invocar contra o portador as exceções oponíveis ao endossante.

Art. 917 CC. A cláusula constitutiva de mandato, lançada no endosso, confere ao endossatário o exercício dos direitos inerentes ao título, salvo restrição expressamente estatuída.

15.12.2.2. endosso-caução ou endosso-pignoratício ou endosso em garantia: atribui-se um penhor sobre o título de crédito. O título de crédito é considerado um bem móvel, logo pode ser onerado por penhor, em favor de um credor do endossante. O

crédito não se transfere para o endossatário (por isso é um endosso impróprio), agora credor pignoratício do endossante (art. 19 LUG e art. 918 CC)

Cumprida a obrigação garantida pelo penhor, deve a cártula retornar à posse do endossante. Somente o não cumprimento da obrigação garantida é que o endossatário apropria-se do crédito representado pelo título de crédito. Se o débito que se está garantindo ainda não venceu, não se pode colocar o título endossado em circulação, caso contrário, haverá um ilícito civil. Tem-se um débito com dois garantidores, mas a cobrança advém somente se o devedor principal não pague. Ex.: Contrato de empréstimo em banco, tendo como garantia uma nota promissória, cujo devedor é beneficiário.

Art. 19 LUG. Quando o endosso contém a menção "valor em garantia", "valor em penhor" ou qualquer outra menção que implique uma caução, o portador pode exercer todos os direitos emergentes da letra, mas um endosso feito por ele só vale como endosso a título de procuração.

Art. 918 CC. A cláusula constitutiva de penhor, lançada no endosso, confere ao endossatário o exercício dos direitos inerentes ao título. § 1º. O endossatário de endosso-penhor só pode endossar novamente o título na qualidade de procurador.

15.13. Endosso póstumo ou tardio.

É efetuado após o protesto por falta de pagamento ou de expirar o prazo legal para sua efetivação, ou seja, uma transferência intempestiva. Se o endosso for feito antes de findar o prazo para

protesto, o seu efeito é o mesmo do endosso anterior, contudo, se o endosso for feito após o

protesto (ou seu prazo) o efeito é de cessão de ordinária de crédito (art. 20 LUG). Assim o endosso póstumo produz efeitos idênticos aos de cessão de crédito (módulo 05 - item 11.2.1.), entretanto não se trata de cessão, pois a transferência se deu pela clausula à ordem (cessão de crédito se dá pela cláusula não à ordem), mas seus efeitos são idênticos. É também chamado de endosso tardio.

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Art. 20 LUG. O endosso posterior ao vencimento tem os mesmos efeitos que o endosso anterior. Todavia, o endosso posterior ao protesto por falta de pagamento, ou feito depois de expirado o prazo fixado para se fazer o protesto, produz apenas os efeitos de uma cessão ordinária de créditos.

15.14. Endosso de retorno e reendosso

O reendosso é o endosso realizado para alguém que já fazia parte da relação cambiária, posto que nada o impede de realizar um novo endosso. O reendosso pressupõe um endosso de retorno, que é o recebimento de um título em o sujeito que já havia participado da relação cambiária e assim volta a participar dela. O endosso de retorno provém do recebimento do título já endossado (ou originário) e o reendosso da retransmissão, por novo endosso desse mesmo título.

CASO CONCRETO: Augusto emite uma letra de câmbio em face de Bernardo e a favor de Cardoso, que a endossa em preto para Danilo, o qual também endossa em preto para Eduardo que, porém, endossa em branco para Fernando. Este repassa o título por tradição a Gustavo, e assim vai por Hernani, Ivo, João e Karine. A esta foi exigida por Luiz, no momento da transferência, que fosse realizada por endosso, o que foi feito, porém, em preto. Indaga-se:

a) Determine a legalidade da cadeia de transferência do título e quais são os obrigados pelo pagamento.

Não há impedimento algum o título nominal passar a ser ao portador e, posteriormente, voltar a ser nominal, mediante a cadeia de endosso nas modalidades em preto ou em branco. Os obrigados serão Augusto (sacador), Bernardo (caso aceite), Cardoso (tomador-endossante), Danilo (endossante), Eduardo (endossante) e Karine (endossante) devido terem recebido por endosso em preto.

b) Especifique o principal efeito do endosso realizado por Karine.

O principal efeito do endosso em preto é fazer com que o título fique nominal e, caso o portador queira transferi-lo, obrigatoriamente deverá fazê-lo por endosso, em preto ou em branco.

QUESTÃO OBJETIVA: Quanto à nota promissória já protestada por falta de pagamento:

a) O endosso não transfere a propriedade do título

b) O endosso não impede que o devedor oponha ao endossatário as exceções pessoais que tinha contra o endossante.

c) O endosso não produz efeitos jurídicos

d) O endosso é nulo

Obs. Art. 20 LUG, pois após o protesto o endosso passa a ter efeito de cessão civil de crédito, assim, pode haver oposição de exceção pessoal, pois perde os efeitos cambiais

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Aceite (módulo 06)

16. Aceite

Aceite é a declaração cambiária manifestada pelo sacado pelo qual aceita a obrigação que lhe é

dirigida, tornando-se, então, obrigado a pagar pela letra de câmbio ou duplicata conforme

destacado no título, assim o aceite é o reconhecimento da ordem de pagamento, transformando-se em um devedor cambiário. Desse modo, até antes do aceite é mero sacado, nada podendo lhe ser exigido, porque o sacado não é devedor cambiário, (i) até que faça o aceite (art. 28 da LUG e art. 2º L 5474/68 - lei das duplicatas), e estará vinculado ao pagamento do título apenas se concordar em atender à ordem que lhe é dirigida.

Art. 28 LUG. O sacado (i) obriga-se pelo aceite pagar a letra a data do vencimento.

Art. 2º L 5474/68. No ato da emissão da fatura, dela poderá ser extraída uma duplicata para circulação como efeito comercial, não sendo admitida qualquer outra espécie de título de crédito para documentar o saque do vendedor pela importância faturada ao comprador. § 1º. A duplicata conterá: VIII - a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de

pagá-la, a ser assinada pelo comprador, como aceite, cambial;

No cheque, é uma ordem de pagamento, não existe o aceite, pois o banco não tem nenhuma

obrigação na relação cambiária e o próprio emitente reconhece a obrigação na emissão do cheque (art. 6° L 7.357/85). Na nota promissória, que é promessa de pagamento, também não existe o aceite, posto que pela emissão da nota promissória pelo próprio devedor, também reconhece a obrigação (omissão na L 2.044/1908 - só trata assunto na letra de câmbio).

Art. 6º L 7.357/85. O cheque não admite aceite considerando-se não escrita qualquer declaração com esse sentido.

O aceite é ato formal, pois somente pode ser feito no título; abstrato, na medida em que desvinculado da relação original, e um ato de declaração unilateral de vontade, sendo uma declaração cambiária sucessiva (módulo 05 - item 11)

16.1. Local da aposição do aceite

O aceite pode ser feito em qualquer lugar do título, se for no anverso pode constituir-se de mera assinatura, entretanto se for lançada a assinatura no verso, deve identificar o aceite praticado pela expressão “aceito”, "concordo", "prometo pagar" ou outra equivalente (art. 25 LUG; art. 11 L 2.044/1908). ressalta-se que a datação do aceite não é exigência legal.

Art. 25 LUG. O aceite é escrito na própria letra. Exprime-se pela palavra "aceite" ou qualquer outra palavra equivalente; o aceite é assinado pelo sacado. Vale como aceite a simples assinatura do sacado aposta na parte anterior da letra.

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Art. 11 L 2.044/1908. Para a validade do aceite é suficiente a simples

assinatura do próprio punho do sacado ou do mandatário especial, no

anverso da letra.

16.2. Falta de aceite e recusa do aceite.

A falta de aceite e a recusa de aceite são institutos distintos.

A falta de aceite caracteriza-se quando não puder ser obtido em razão do sacado não ser localizado pelo portador ou por sua morte, interdição, etc., inviabilizando a própria apresentação da letra de câmbio.

Art. 13 L 5.478/68. A duplicata é protestável por falta de aceite de devolução ou pagamento

A recusa do aceite (art. 26 e 44 LUG) ocorre quando não existe qualquer impedimento para sua obtenção, tanto que a letra é apresentada, mas sacado não o firma, não recepciona a ordem de pagamento dada pelo sacador.

Art. 44 LUG. A recusa de aceite ou de pagamento deve ser comprovada por um ato formal (protesto por falta de aceite ou falta de pagamento).

Art. 26 LUG O aceite é puro e simples, mas o sacado pode limitá-lo a uma parte da importância sacada.

Qualquer outra modificação introduzida pelo aceite no enunciado da letra equivale a uma recusa de aceite. O aceitante fica, todavia, obrigado nos termos do seu aceite.

Assim sendo é lícito ao sacado se recusar a apor a assinatura mesmo que seja lícita a obrigação. Em recusando, a dívida entre sacador e beneficiário vence automaticamente (art. 19, I, L 2.044/1908 e Art. 21 L 9. 492/97 - lei de protestos). Na recusa do aceite, deve-se protestar o título. Sem o protesto, não poderá o portador executar o sacador, os endossantes e seus respectivos avalistas.

Art. 19 L 2.044/1908. A letra é considerada vencida, quando protestada:

I. pela falta ou recusa do aceite;

II. pela falência do aceitante.

Art. 21 L 9.492/97. O protesto será tirado por falta de pagamento, de aceite ou de devolução.

A recusa do aceite gera a antecipação dos direitos insculpidos no título de crédito (art. 43 LUG).

Art. 43 LUG. O portador de uma letra pode exercer os seus direitos de ação contra os endossantes, sacador e outros co-obrigados:

No vencimento:

Se o pagamento não foi efetuado.

Mesmo antes do vencimento:

1 - Se houve recusa total ou parcial de aceite;

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16.3. Prazos para efetivação do aceite (arts. 21 e 23 LUG)

Os prazos para efetivação do aceite estão definidos em lei, e são eles:

16.3.1. à vista: é o mero pagamento. O tomador deve procurar o sacado até o máximo de 1 ano após o saque, sendo apresentada não para aceite, mas para pagamento (art. 34 LUG).

Art. 34 LUG. A letra à vista é pagável a apresentação. Deve ser apresentada a pagamento dentro do prazo de um ano, a contar da sua data. O sacador pode reduzir este prazo ou estipular um outro mais longo. Estes prazos podem ser encurtados pelos endossantes. O sacador pode estipular que uma letra pagável à vista não deverá ser apresentada a pagamento antes de uma certa data. Nesse caso, o prazo para a apresentação conta-se dessa data.

16.3.2. certo termo da vista. Pode-se estipular o pagamento após um certo termo do aceite

dado pelo sacado. Ex.: 30 dias após o aceite. O beneficiário tem até um ano para apresentar o título para o sacado dar o aceite, a partir de então começa a correr o prazo do pagamento (art. 23 LUG). Passado o prazo de um ano o beneficiário não mais poderá cobrar seu crédito pela letra nem do sacado, tampouco do sacador, somente podendo cobrar deste por meio de algum outro título que comprove a dívida, eis que a letra de câmbio já estará prescrita

Art. 23 LUG As letras a certo termo de vista devem ser apresentadas ao aceite dentro do prazo de um ano das suas datas.

16.3.3. certo termo da data do saque. Começa a contar o prazo para o pagamento da data que a letra é emitida (art. 21 LUG).

Art. 21 LUG. A letra pode ser apresentada, até o vencimento, ao aceite do sacado, no seu domicílio , pelo portador ou até por um simples detentor.

16.3.4. data certa. Elege-se uma data que é aposta na letra de câmbio. Ex.: pague no dia 20 de janeiro de 2014.

16.3.5. Prazo de respiro

O prazo de respiro e lapso de tempo dado ao sacado para que decide pelo aceite ou não. Se destina a possibilitar ao sacado a realização de consultas ou a mediação acerca da conveniência de aceitar ou recusar o aceite. Caso não seja dado até o dia seguinte, será considerado como não aceito.

Art. 24 LUG. O sacado pode pedir que a letra lhe seja apresentada uma segunda vez no dia seguinte ao da primeira apresentação. Os interessados somente podem ser admitidos a pretender que não foi dada satisfação a este pedido no caso de ele figurar no protesto

16.4. Espécies de aceite

16.4.1. total: o aceitante concorda em pagar o valor total do título e nas condições descritas na cártula (art. 28.1. LUG).

Art. 28 LUG. O sacado obriga-se pelo aceite pagar a letra a data do vencimento.

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16.4.2. parcial ou limitado: diz respeito ao valor do título, pois o sacado não aceita pagar como está determinado na cártula, e faz algum tipo de ressalva, ou seja, o aceitante pode aceitar pagar apenas uma parte do valor estipulado na ordem de pagamento. Neste caso, o credor terá que protestar por falta de aceite o restante do valor (recusa de aceite), pois haverá necessidade de protesto do valor que não foi aceito pelo sacado a fim de que assim seja possível cobrar do sacador o valor não aceito pelo sacado. (art. 26.1. LUG)

16.4.3. modificativo: diz respeito às condições do título, como local e data do pagamento (art. 26.2 LUG). Sendo alterada a data do pagamento o beneficiário pode cobrar do sacador na data originária ou do sacado na data alterada, o mesmo quanto ao lugar. Se o credor não acatar o aceite modificativo, ele poderá recusá-lo e neste caso haverá o vencimento antecipado da letra de câmbio (recusa de aceite).

Art. 26 LUG. O aceite é puro e simples, mas o sacado pode limitá-lo a uma

parte da importância sacada (16.4.2.).

Qualquer outra modificação introduzida pelo aceite (16.4.3.) no enunciado da letra equivale a uma recusa de aceite. O aceitante fica, todavia, obrigado nos termos do seu aceite.

Lembrando novamente que a recusa do aceite tem como consequencia a antecipação das obrigações constates no título. (art. 43 LUG).

Para evitar esse a ocorrência do aceite parcial ou modificativo, o sacado pode incluir a “cláusula

não-aceitável” no título (art. 22 LUG), retirando do beneficiário a possibilidade de ele ir até o sacado fazer o aceite, assim, a dívida não vence antecipadamente e o beneficiário só poderá procurar o sacado para receber na data do pagamento. Com essa cláusula, a negativa do sacado em acolher a ordem que lhe fora dirigida não importará em nenhuma consequência prática excepcional em relação ao sacador, posto que a recusa do aceite ocorre após o vencimento do título, época em que ele já deveria estar preparado para a eventualidade de pagá-lo.

Art. 22 LUG. O sacador pode em qualquer letra, estipular que ela será apresentada ao aceite, com ou sem fixação de prazo. Pode proibir na própria letra a sua apresentação ao aceite, salvo se se tratar de uma letra pagável em domicílio de terceiro, ou de uma letra pagável em localidade diferente da do domicílio do sacado, ou de uma letra sacada a certo termo de vista. O sacador pode também estipular que a apresentação ao aceite não poderá efetuar-se antes de determinada data. Todo endossante pode estipular que a letra deve ser apresentada ao aceite, com ou sem fixação de prazo, salvo se ela tiver sido declarada não aceitável pelo sacador.

16.5. Aceite por intervenção

A intervenção é o ato cambiário pelo que uma pessoa, estranha ou não à letra de câmbio, estranha ou não à letra de câmbio, nela intervém, espontaneamente ou por força de indicação feita pelo sacador, dos devedores indiretos e regresso. Assim o aceite por intervenção ocorre quando o sacado não faz o aceite porém uma terceira pessoa intervém na relação cambiária fazendo o aceite no lugar do sacado, tornando-se devedor cambiário. Apesar de disciplinada é um instituto de pouco uso.

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Art. 56 LUG. O aceite por intervenção pode realizar-se em todos os casos em que portador de uma letra aceitável, tem direito de ação antes do vencimento. Quando na letra se indica uma pessoa para em caso de necessidade a aceitar ou a pagar no lugar do pagamento, o portador não pode exercer o seu direito de ação antes do vencimento contra aquele que indicou essa pessoa e contra os signatários subseqüentes a não ser que tenha apresentado a letra a pessoa designada e que, tendo esta recusado o aceite, se tenha feito o protesto. Nos outros casos de intervenção, o portador pode recusar o aceite por intervenção. Se, porém , o admitir, perde o direito de ação antes do vencimento contra aquele por quem a aceitação foi dada e contra os signatários subseqüentes.

16.6. Cancelamento do aceite

O aceite produz efeitos importantes na relação entre sacador, o portadores e os devedores indiretos, como vimos no início desse módulo. A irrevogabilidade é regra, mas uma vez dado o aceite, ele ainda pode ser cancelado. Se o sacado dá o aceite e antes de devolver ao tomador ele se arrepende, pode riscar o aceite, sendo que a dívida vencerá imediatamente. Essa possibilidade está prevista no art. 29 da LUG e segue o princípio da literalidade (módulo 02 - item 6.1), o cancelamento do aceite deve vir na letra de câmbio. O sacado até pode recusar o aceite em documento a parte, depois de entregue a letra de câmbio ao tomador, mas valerá apenas para o sacador ou para o tomador, não tendo efeitos o cancelamento para terceiros.

Art. 29 LUG. Se o sacado, antes da restituição da letra, riscar o aceite que

tiver dado, tal aceite é considerado como recusado. Salvo prova em contrário, a anulação do aceite considera-se feita antes da

restituição da letra. Se porém, o sacado tiver informado por escrito o portador ou qualquer outro signatário da letra de que a aceita, fica obrigado para com estes, nos termos do seu aceite.

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CASO CONCRETO: Augusto emitiu uma letra de câmbio no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais) contra Bernardo e em favor de seu credor Cardoso, que endossou a cambial para Danilo que ao levar o título a aceite, obteve o aceite parcial modificativo de data de pagamento.Indaga-se:

a) Pode o sacado, no caso acima, limitar o aceite?

O aceite parcial é autorizado pela LUG, art. 26, 2, no caso em tela, modificativo.

b) Quais os efeitos produzidos pelo aceite parcial?

O aceite parcial gera o vencimento antecipado, mesmo o modificativo (art. 43, 1, LUG). Na realidade, o portador fica com a faculdade de acionar o sacador ou o endossante, antes do vencimento, ou o aceitante, na data estipulada.

QUESTÃO OBJETIVA:

Em relação ao aceite nas letras de câmbio é incorreto afirmar:

a) A letra pode ser apresentada até o vencimento pelo portador ou até por um simples detentor.

b) É vedado ao sacado riscar aceite já dado, mesmo antes da restituição da letra.

c) O sacador pode determinar que a apresentação ao aceite não poderá efetuar-se antes de determinada data.

d) O sacado pode limitar o aceite a uma parte da importância sacada.

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Aval (módulo 07)

17. Aval

Passamos pela emissão (módulo 05 - item - 13), saque (módulo 05 - item - 14); endosso (módulo 05 - item - 15) e o aceite (módulo 06 - item - 16) e agora atentaremos para outro ato cambial importante no direito cambiário: o aval.

O aval é um ato cambial em que um terceiro (avalista), estranha ou não a operação correspondente ao título de crédito, assume obrigação cambiária autônoma e incondicional de garantir pessoalmente (art. 32.1 LUG), total ou parcialmente, o pagamento do título ou o cumprimento da obrigação cambiária nas condições nele estabelecidas, tornando-se sempre um devedor cambiário de regresso (art. 32.3 LUG e art. 899 §1° CC), que por sua vez poderá ser um devedor cambiário direto ou indireto

Não existe fiança nos títulos de crédito, eis que ela é acessória de um contrato, e nas relações

cambiárias fala-se apenas em aval, que é uma relação autônoma, independente da do avalizado (sem direito do benefício de ordem), assim não se confunde com a fiança, que é uma garantia

contratual, típico e próprio do direito civil.

Art. 30 LUG. O pagamento de uma letra pode ser no todo ou em parte garantido por aval. Esta garantia é dada por um terceiro ou mesmo por um signatário da letra.

Art. 32 LUG. O dador de aval é responsável da mesma maneira que a

pessoa por ele afiançada [leia-se avalizada]. A sua obrigação mantém-se, mesmo no caso de a obrigação que ele garantiu ser nula por qualquer razão que não seja um vicio de forma. Se o dador de aval paga a letra, fica sub-rogado nos direitos emergentes da letra contra a pessoa a favor de quem foi dado o aval e contra os obrigados para com esta em virtude da letra.

Art. 29 L 7.357/85. O pagamento do cheque pode ser garantido, no todo ou em parte, por aval prestado por terceiro, exceto o sacado, ou mesmo por signatário do título.

Art. 31 L 7.357/85. O avalista se obriga da mesma maneira que o avaliado. Subsiste sua obrigação, ainda que nula a por ele garantida, salvo se a nulidade resultar de vício de forma. Parágrafo único - O avalista que paga o cheque adquire todos os direitos dele resultantes contra o avalizado e contra os obrigados para com este em virtude do cheque.

Art. 899 CC. O avalista equipara-se àquele cujo nome indicar; na falta de indicação, ao emitente ou devedor final. § 1° Pagando o título, tem o avalista ação de regresso contra o seu avalizado e demais coobrigados anteriores. § 2o Subsiste a responsabilidade do avalista, ainda que nula a obrigação daquele a quem se equipara, a menos que a nulidade decorra de vício de forma.

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17.1. Local da aposição do aval:

O aval pode ser aposto tanto no verso quanto no anverso (frente) do título (art. 31 LUG, art. 14 D 2.044/1908; art. 30 L 7.357/85 - lei do cheque e art. 898 CC):

17.1.1. quando feito no anverso, é feito pela simples assinatura;

17.1.2. quando feito no verso: deve ser precedido das expressões "por aval", "bom para aval", "em garantia de …", etc.

Art. 31 LUG. O aval é escrito na própria letra ou numa folha anexa. Exprime-se pelas palavras "bom para aval" ou por qualquer fórmula equivalente; e assinado pelo dador do aval. O aval considera-se como resultante da simples assinatura do dador aposta na face anterior da letra, salvo se se trata das assinaturas do sacado ou do sacador.

Art. 14 D 2.044/1908.. O pagamento de uma letra de câmbio, independente do aceite e do endosso, pode ser garantido por aval. Para a validade do aval, é suficiente a simples assinatura do próprio punho do avalista ou do mandatário especial, no verso ou no anverso da letra.

Art. 30 L 7.357/85. O aval é lançado no cheque ou na folha de

alongamento. Exprime-se pelas palavras ‘’por aval’’, ou fórmula equivalente, com a assinatura do avalista. Considera-se como resultante da simples assinatura do avalista, aposta no anverso do cheque, salvo quando se tratar da assinatura do emitente.

Art. 898 CC. O aval deve ser dado no verso ou no anverso do próprio título. § 1o Para a validade do aval, dado no anverso do título, é suficiente a simples assinatura do avalista. § 2o Considera-se não escrito o aval cancelado.

17.2. Data do aval:

Quando não há data do aval aposto no título, considera-se que foi feito antes do vencimento do titulo.

17.3. Natureza jurídica do aval:

A doutrina majoritária entende que o aval é uma declaração unilateral de vontade que consiste em uma garantia autônoma, ou seja, se a obrigação do avalizado tiver algum defeito, este defeito não poderá ser alegado pelo seu avalista. Do mesmo modo, as defesas pessoais do avalizado não poderão ser alegadas pelo avalista, pois nesta no aval, também engloba o principio da autonomia (módulo 02 - item 6.3)

17. 4. Efeitos jurídicas do aval:

O aval dado a alguém, equipara o avalista a mesma condição do avalizado (art. 32 LUG). Assim, se João dá aval ao endossante José, tanto João quanto José encontram-se no mesmo nível obrigacional no título de crédito. Se não está especificado quem é o avalizado, equipara-se o avalista ao criador do título (art. 31.4 LUG; art. 15 D 2.044/1908; art. 899, segunda parte, CC; art. 30 p.u., segunda

parte, L 7.357/85 - lei do cheque):

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a) no caso de letra de câmbio, ao sacador;

b) na nota promissária e ao cheque, ao emitente;

c) na duplicata, ao comprador

Art. 32 LUG. O dador de aval é responsável da mesma maneira que a pessoa por ele afiançada [leia-se avalizada].

Art. 31 LUG. O aval é escrito na própria letra ou numa folha anexa.

(...) O aval deve indicar a pessoa por quem se dá. Na falta de indicação

entender-se-á ser pelo sacador.

Art. 15 D 2.044/1908. O avalista é equiparado àquele cujo nome indicar; na

falta de indicação, àquele abaixo de cuja assinatura lançar a sua; fora

destes casos, ao aceitaste e, não estando aceita a letra, ao sacador. Art. 899 CC. O avalista equipara-se àquele cujo nome indicar; na falta de

indicação, ao emitente ou devedor final.

Art. 30 L 7.357/85. O aval é lançado no cheque ou na folha de alongamento. (...) Parágrafo único - O aval deve indicar o avalizado. Na falta de indicação,

considera-se avalizado o emitente 17.5. Figuras intervenientes no aval

Em principio, qualquer pessoa com capacidade pode ser avalista. Torna-se avalista aquele emite declaração de vontade de garantir, para um terceiro (avalizado) o pagamento do título de crédito. Em contrapartida tornando-se um devedor cambiário de regresso, pois poderá cobrar tanto dos devedores indiretos como de seu avalizado.

17.5.1. avalista: quem se responsabiliza pelo pagamento, que presta o aval.

17.5.2. avalizado: quem tem a garantia do pagamento, por quem é dado o aval.

A legislação genebrina silencia sobre a capacidade cambiária, assim a regra do art. 42 do D 2.044/1908 prevalece sobre o tema: pode assumir obrigações cambiárias quem tem capacidade

jurídica.

Art. 42 D 2.044/1908. Pode obrigar-se, por letra de câmbio, quem tem a capacidade civil ou comercial.

17.6. Direitos dos avalistas

O avalista que cumpre a obrigação constante no título de crédito subroga-se dos direitos emergentes do título (direito de regresso - art. 899 pu CC) contra quem avalizou (avalizado) e os demais obrigados para com tal avalizado (devedores indiretos). Caso haja pluralidade de avalistas, cada um poderá se subrogar da cota parte do aval.

Art. 899 CC. O avalista equipara-se àquele cujo nome indicar (...). § 1° Pagando o título, tem o avalista ação de regresso contra o seu

avalizado e demais coobrigados anteriores.

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17.7. Deveres ou obrigações dos avalistas

O avalista responde pelo pagamento do título perante todos os credores do avalizado e da mesma maneira que o avalizado (art. 32.1 LUG e art. 31 L 7.357/85 - lei do cheque): a) se o avalizado for devedor direto, o avalista será igualmente devedor direto; b) se for devedor indireto, o seu avalista será também devedor indireto (endossante). Ressalta-se que, sendo o aval é autônomo em relação à obrigação, mesmo que esta desapareça ele continua existindo, inclusive se a obrigação for nula (art. 32.2 LUG).

Art. 32 LUG. O dador de aval é responsável da mesma maneira que a pessoa por ele afiançada [leia-se avalizada]. A sua obrigação mantém-se, mesmo no caso de a obrigação que ele

garantiu ser nula por qualquer razão que não seja um vicio de forma.

Art. 31 L 7.357/85. O avalista se obriga da mesma maneira que o avaliado. Subsiste sua obrigação, ainda que nula a por ele garantida, salvo se a nulidade resultar de vício de forma.

17.8. Espécies de aval

17.8.1. O aval pode ser dado em branco ou em preto:

17.8.1.1. aval em branco: essa modalidade de aval não se identifica o avalizado e é aposta a assinatura no anverso (frente) do título ou no verso dizendo apenas “avalizo. No caso da letra de câmbio, presume-se em favor do sacador (art. 31.4 LUG; art. 77.3 LUG; art. 30 L 7.357/85 e art. 899, caput, segunda parte, CC); nos demais títulos, cheque (art. 30, parágrafo único da lei de cheque), nota promissória e duplicata art. 12 da lei de duplicata, em favor do emitente.

Art. 31 LUG. O aval é escrito na própria letra ou numa folha anexa... (...) O aval deve indicar a pessoa por quem se dá. Na falta de indicação

entender-se-á ser pelo sacador.

Art. 77 LUG São aplicáveis às notas promissórias, na parte em que não sejam contrárias a natureza deste título... (...) São também aplicáveis às notas promissórias as disposições relativas ao aval (artigos 30 a 32); no caso previsto na ultima alínea do artigo 31, se o

aval não indicar a pessoa por quem é dado entender-se-á ser pelo

subscritor da nota promissória.

Art. 30 L 7.357/85. O aval é lançado no cheque ou na folha de alongamento. Parágrafo único - O aval deve indicar o avalizado. Na falta de indicação,

considera-se avalizado o emitente.

Art. 899 CC. O avalista equipara-se àquele cujo nome indicar; na falta de

indicação, ao emitente ou devedor final.

17.8.1.2. aval em preto: nessa modalidade de aval indica-se qual o sujeito que está sendo avalizado.

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17.8.2. O aval também pode ser parcial ou total (art. 30.1 LUG; art. 29 L 7.357/85 - lei do cheque):

17.8.2.3. aval total: é a modalidade de aval que garante a dívida toda.

17.8.2.4. aval parcial: é a modalidade de aval que garante apenas uma parte da obrigação. Para que haja o aval parcial é preciso que o avalista insira na cártula, no verso ou no anverso, esta peculiaridade, uma expressão que o identifique expressamente tal manifestação (garantir apenas uma parte da obrigação), caso contrário o aval será considerado total.

Art. 29 L 7.357/85. O pagamento do cheque pode ser garantido, no todo ou em parte, por aval prestado por terceiro, exceto o sacado, ou mesmo por signatário do título

Art. 30 LUG. O pagamento de uma letra pode ser no todo ou em parte garantido por aval.

17.8.3. Aval plúrimo ou pluralidade de avais

17.8.3.1. aval sucessivo ou aval do aval. No aval sucessivo o sujeito da relação cambiária é avalizado por um avalista e posteriormente este avalista é avalizado por outro avalista e sucessivamente. No aval sucessivo, entre os avalistas a solidariedade é cambiária e há o direito de regresso apenas em relação aos avalistas anteriores, pois os avalistas que concederam o aval depois do que realizou o pagamento, não serão obrigados ao pagamento.

EX.: emitente: A; beneficiário: B; avalista de A: X; avalista de X: Y e avalista de Y: Z. Tratando-se de avais sucessivos, são obrigados do mesmo grau. Se X pagar o título terá ação somente contra A, seu avalizado. Não poderia cobrar de Y e Z por serem posteriores.

B

A � X (avalista A) � Y (avalista de X) � Z (avalista de Y)

17.8.3.2. aval simultâneo ou co-avais: É a pluralidade de avais concedidos ao mesmo tempo, simultaneamente, em relação a uma mesma obrigação cambiária, mas são considerados, juntos, como uma só pessoa (um só avalista). No aval simultâneo a solidariedade é civil, aquele que pagar o titulo poderá ingressar com ação de regresso contra todos os demais avalistas.

Ex. emitente: A; beneficiário: B; avalistas de A: X Y e Z. Tratando-se de avais

simultâneos, se X pagar o título terá ação cambiária contra A, seu avalizado. Se

cobrar de Y e Z, terá apenas cota parte de ⅓ de cada um dos co-avalistas.

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X Y Z (todos avalistas de A)

� � �

A � B

A relação existente entre os avalistas e o credor será a mesma tanto no aval sucessivo ou no simultâneo, pois credor pode cobrar de um, de alguns ou de todos os avalistas, que são devedores diretos, pois avalizam o emitente, logo não há necessidade nem mesmo do protesto.

A diferença entre o aval sucessivo e o aval simultâneo se dá na relação interna entre os

avalistas, pois se o aval for sucessivo a solidariedade entre os avalistas será cambiária; e se o aval for simultâneo a solidariedade entre os avalistas é civil.

17.9. Aval após o vencimento do título

Para analisar esse tema temos que dividir o lapso temporal em três fases: (i) antes do vencimento; (ii) depois do vencimento, mas antes do protesto ou o decurso de prazo e (iii) depois do protesto. No primeiro caso (i) não há nada a acrescentar, o aval tem efeitos normal. O segundo (ii) e terceiro casos (iii) é que necessita de melhor atenção, tanto pelo viés doutrinário, quanto pela legislação cambiária.

O Decreto 2.044/1908 silencia sobre o tema, mas o Código Civil, em seu art. 900 trata do assunto e a analisando o art. 20 da LUG e o art. 27 da Lei 7.3.57/85 - lei do cheque, que tratam do endosso

póstumo, podemos, por analogia, construir que esse recorte temporal tem relevância na análise dos efeitos do aval. Se o endossante póstumo não é devedor cambiário, o avalista póstumo também deve ter o mesmo tratamento.

Art. 900 CC. O aval posterior ao vencimento produz os mesmos efeitos do anteriormente dado [aval anterior].

Art. 20 LUG. O endosso posterior ao vencimento tem os mesmos efeitos que o endosso anterior. Todavia, o endosso posterior ao protesto por falta

de pagamento, ou feito depois de expirado o prazo fixado para se fazer o protesto, produz apenas os efeitos de uma cessão ordinária de créditos.

Art . 27 L 7.357/85. O endosso posterior ao protesto, ou declaração

equivalente, ou à expiração do prazo de apresentação produz apenas os efeitos de cessão.

O entendimento doutrinário majoritário é de que o aval dado após o vencimento, mas antes do

protesto ou do decurso do prazo (ii), tem eficácia, porque mero vencimento não exaure a vida cambiária do título, ou seja, não retira do título sua natureza cambiária, que só ocorre com o protesto, ou declaração equivalente; ou com o decurso do prazo para efetivação do protesto (iii).

Logo, o aval dado após o protesto ou do decurso do prazo para sua efetivação, não tem eficácia como aval, mas sim como cessão de crédito, e, salvo cláusula específica em contrário, o cedente não garante o pagamento, mas somente a existência do título (modulo 05 - item 15.1).

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17.10. Aval por mandato - necessidade de poderes especiais

O aval por mandato exige poderes especiais. O avalista pode obrigar-se mediante assinatura de próprio punho ou por procurador a quem tenha conferido “poderes especiais” para avalizar. exigência de poderes especiais (art. 14 D 2.044/1908).

Pelo raciocínio reverso, temos que o art. 661 CC assevera que o mandato, em termos gerais, só outorga poderes de administração, que não é o caso do aval, logo há a necessidade de mandato com poderes especiais para aposição do aval. Também por esse viés temos que o art. 8° da LUG aponta que aquele que não tem poderes para apor assinatura na letra, fica responsável pelas obrigações nela contida, logo a outorga de poderes especiais sana esse problema.

Art. 14 D 2.044/1908. O pagamento de uma letra de câmbio, independente do aceite e do endosso, pode ser garantido por aval. Para a validade do aval, é suficiente a simples assinatura do próprio punho do avalista ou do

mandatário especial, no verso ou no anverso da letra.

Art. 661 CC. O mandato em termos gerais só confere poderes de

administração.

Art. 8º LUG Todo aquele que apuser a sua assinatura numa letra, como representante duma pessoa, para representar a qual não tinha de fato poderes, fica obrigado em virtude da letra e, se a pagar, tem os mesmos direitos que o pretendido representado. A mesma regra se aplica ao representante que tenha excedido os seus poderes.

17.11. Consentimento do cônjuge no aval

Em regra, os bens do casal não respondem pelas dívidas assumidas por um dos cônjuges. O credor deverá provar o benefício para a casal de quem prestou o aval. Cabe ao cônjuge fazer a prova em contrário. O art. 899 CC cc art. 1.647 III CC, preve a possibilidade de ser considerado nulo o aval sem consentimento expresso do cônjuge. Há críticas doutrinárias acerca do dispositivo e a jurisprudência está amplamente inclinada pela não nulidade do aval, mas sim preservar a meação do cônjuge prejudicado.

Art. 899, CC – outorga uxória ou marital, é exigida sob pena de nulidade do aval. Exige-se em razão de que com o aval pode acabar havendo uma confusão patrimonial.

Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode,

sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta: III - prestar fiança ou aval;

“APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS DE TERCEIRO. AVAL. AUSÊNCIA DE OUTORGA UXÓRIA. NULIDADE. INEXISTÊNCIA. INEFICÁCIA APENAS QUANTO AO CÔNJUGE. O desatendimento da autorização do cônjuge para a prestação de fiança ou aval não importa em nulidade, mas apenas em ineficácia em relação à sua meação do patrimônio comum do

casal. Inteligência do artigo 1.647, II, CCB.” (TJMG, AC n° 1.0073.05.021706-3/001, 13ª CC, Rel. Des. Luiz Carlos Gomes da Mata, J. 25/11/2010, Publ 19/01/2011.)

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17.12. Cancelamento e extinção do aval.

A extinção do aval ocorrerá pelas seguintes razões:

a) pelo pagamento: meio comum para extinção de uma obrigação. b) pela anulação: nas causas referidas no art. 171 CC. c) pela decadência: (i) na falta de protesto, em se tratando de avalista de devedor

indireto de letra de câmbio, nota promissória ou duplicata (art. 53 LUG e art. 13 § 4° L 5.474/68 - lei da duplicata); ou (ii) pela não apresentação no prazo legal ao banco sacado ou pela não comprovação da recusa de pagamento, ambos no caso de cheque (art. __ LCH).

d) pela prescrição cambiária: (art. 70 LUG, art. 59 L 9999/99 - lei do cheque e art. 18 L 5.474/68 - lei da duplicata)

e) pelo cancelamento da assinatura do avalista (art. 44, §1° D 2.044/1908).

Art. 171 CC. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa do agente; II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.

Art. 53 LUG Depois de expirados os prazos fixados: I- para a apresentação de uma letra à vista ou a certo termo de vista; II- para se fazer o protesto por falta de aceite ou por falta de pagamento; III- para a apresentação a pagamento no caso da cláusula "sem despesas"; O portador perdeu os seus direitos de ação contra os endossantes contra o sacador e contra os outros co-obrigados, a exceção do aceitante. Na falta de apresentação ao aceite no prazo estipulado pelo sacador, o portador perdeu os seus direitos de ação, tanto por falta de pagamento como por falta de aceite, a não ser que dos termos da estipulação se conclua que o sacador apenas teve em vista exonerar-se da garantia do aceite. Se a estipulação de um prazo para a apresentação constar de um endosso, somente aproveita ao respectivo endossante.

Art. 70 LUG Todas as ações contra ao aceitante relativas a letras prescrevem em três anos a contar do seu vencimento. As ações ao portador contra os endossantes e contra o sacador prescrevem num ano, a contar da data do protesto feito em tempo útil ou da data do vencimento, se se trata de letra que contenha cláusula "sem despesas". As ações dos endossantes uns contra os outros e contra o sacador prescrevem em seis meses a contar do dia em que o endossante pagou a letra ou em que ele próprio foi acionado.

Art. 13 L 5.474/68. A duplicata é protestável por falta de aceite de devolução ou pagamento. § 4º O portador que não tirar o protesto da duplicata, em forma regular e dentro do prazo da 30 (trinta) dias, contado da data de seu vencimento, perderá o direito de regresso contra os endossantes e respectivos avalistas.

Art 18 L 5.474/68. A pretensão à execução da duplicata prescreve: I - contra o sacado e respectivos avalistas, em 3 (três) anos, contados da data do vencimento do título;

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II - contra endossante e seus avalistas, em 1 (um) ano, contado da data do protesto; III - de qualquer dos coobrigados contra os demais, em 1 (um) ano, contado da data em que haja sido efetuado o pagamento do título. § 1º - A cobrança judicial poderá ser proposta contra um ou contra todos os coobrigados, sem observância da ordem em que figurem no título. § 2º - Os coobrigados da duplicata respondem solidariamente pelo aceite e pelo pagamento

Art. 59 L 7.357/85. Prescrevem em 6 (seis) meses, contados da expiração do prazo de apresentação, a ação que o art. 47 desta Lei assegura ao portador. Parágrafo único - A ação de regresso de um obrigado ao pagamento do cheque contra outro prescreve em 6 (seis) meses, contados do dia em que o obrigado pagou o cheque ou do dia em que foi demandado.

A extinção do aval, via de regra, se dá como o pagamento do título (art. 24 D 2.044/1908). Com o pagamento, extingue-se a vida cambiária do título por ocorrer pagamento extintivo.

Art. 24 D 2.044/1908. O pagamento feito pelo aceitante ou pelos respectivos avalistas desonera da responsabilidade cambial todos os

coobrigados. Podemos, entretanto, ter a extinção do aval por outros motivos, que o pagamento do título, denominado como cancelamento do aval. Este assunto deve ser analisado à luz do artigo 44 §1° do Decreto 2.044/1908, que considera não escrito, para os efeitos cambiais, o endosso ou aval cancelado.

Art. 44 D 2.044/1908. Para os efeitos cambiais, são consideradas não escritas: § 1º Para os efeitos cambiais, o endosso ou aval cancelado é considerado

não escrito

17.13. Aval parcial.

A doutrina é divergente ao tratar do aval parcial, posto que há um conflito de leis, entre o Código Civil e a LUG, uma antinomia jurídica, mas a solução é, de certa forma, simples

A LUG trata do tema nos art. 30, prevendo o aval parcial:

Art. 30 LUG.O pagamento de uma letra pode ser no todo ou em parte garantido por aval.

O Código Civil trata diferentemente e, expressamente, vedou o aval parcial

Art. 897 CC. O pagamento de título de crédito, que contenha obrigação de pagar soma determinada, pode ser garantido por aval. Parágrafo único. É vedado o aval parcial.

O art. 903 do CC determina que deve prevalecer o disposto nas leis especiais, entretanto é imprescindível que o aval parcial conste literalmente na cártula, face ao principio da literalidade, caso contrário a vedação prevalece.

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Art. 903 CC. Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste Código.

Art. 29 L 7.357/85. O pagamento do cheque pode ser garantido, no todo ou em parte, por aval prestado por terceiro, exceto o sacado, ou mesmo por signatário do título.

Art. 25. Lei 5474/68. Aplicam-se à duplicata e à triplicata, no que couber, os dispositivos da legislação sôbre emissão, circulação e pagamento das Letras de Câmbio.

CASO CONCRETO: Ao receber uma letra de câmbio por endosso, Augusto exigiu de Bernardo um avalista, mesmo a letra já aceita e com a assinatura do sacador e de mais três endossantes. Assim, Bernardo conseguiu com seu pai o aval, porém este não indicou que Bernardo seria seu avalizado e o fez na modalidade parcial. Indaga-se:

a) Determine a responsabilidade do avalista nesse título.

Por ter sido aval em branco, o avalista vai se responsabilizar da mesma maneira que o sacador e, por tal razão, será devedor principal (art. 31.3 LUG)

b) É possível a modalidade parcial do aval?

Sim, é possível para Letra de Câmbio, pois se tratar de título regido por lei especial (art. 30 Dec. 57.663/66) e não se aplica o art. 897 pu CC, por força do art. 903 CC.

QUESTÃO OBJETIVA:

O aval

a) tem o mesmo efeito do endosso no título de crédito cambial.

b) tem o mesmo efeito de uma cessão do título de crédito cambial.

c) é garantia de pagamento dos contratos públicos e privados.

d) é uma garantia de pagamento.

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Vencimento e pagamento de títulos de crédito (módulo 08)

18. Vencimento

O saque (módulo __ - item 14), o aceite (módulo __ - item 15), o endosso (módulo __ - item 16) e aval (módulo __ - item 17) são os atos constitutivos do crédito cambiário. Assim, constituído o crédito, poderá ser exigido, e o momento em que a soma cambiária pode ser exigida dos devedores cambiários pelos portador do título de crédito denomina-se vencimento.

O vencimento tem importância para mundo cambiário pois:

a) permite ao portador do título de crédito promover a execução, caso o titulo não tenha sido pago, contra os devedores diretos e indiretos, para haver o valor não pago (art. 43 LUG);

b) constitui o termo inicial da fluência de juros de mora (art. 48.1 LUG);

c) corresponde ao termo inicial do prazo prescricional do direito de ação cambiária contra os devedores principais (aceitante da letra de cambio, emitente da nota promissória, e respectivos avalistas) (art. 70.1 LUG);

d) permite que qualquer dos devedores depositar judicialmente o valor da obrigação (art. 42 LUG e art. 20 D 2.044/85)

e) endosso feito após o vencimento produz os efeitos cambiários comuns, mas quando efetivado após o protesto ou decurso de prazo legal produz apenas efeitos de cessão civil de crédito (art. 20 LUG)

Art. 42 LUG Se a letra não for apresentada a pagamento dentro do prazo fixado no artigo 38, qualquer devedor tem a faculdade de depositar a sua

importância junto da autoridade competente, a custa do portador e sob a responsabilidade deste.

Art. 43 LUG O portador de uma letra pode exercer os seus direitos de ação contra os endossantes, sacador e outros co-obrigados: No vencimento: Se o pagamento não foi efetuado.

Art. 48 LUG O portador pode reclamar daquele contra quem exerce o seu direito de ação: 1 - O pagamento da letra não aceite não paga, com juros se assim foi

estipulado;

Art. 70 LUG Todas as ações contra ao aceitante relativas a letras prescrevem em três anos a contar do seu vencimento.

Art. 20. A letra deve ser apresentada ao sacado ou ao aceitante para o pagamento, no lugar designado e no dia do vencimento ou, sendo este dia feriado por lei, no primeiro dia útil imediato, sob pena de perder o portador

o direito de regresso contra o sacador, endossadores e avalistas

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18.1. Efeitos jurídicos do vencimento

Torna-se o título exigível para pagamento, desse modo, deve o credor procurar o devedor para que este faça o pagamento da obrigação constante no título.

18.1.1. exigibilidade do título; 18.1.2. tem obrigação a pagar somente com apresentação do título original; 18.1.3. Direito de exigir o recibo (pagamento total tem direito ao título, no pagamento

parcial não, só recibo do valor pago).

18.2. Modalidades de vencimento

As modalidades de vencimento estão intrinsecamente ligados ao momento da exigibilidade do título: vencimento ordinário (18.2.1) e vencimento extraordinário (18.2.2.)

18.2.1. vencimento ordinário é aquele que se opera quando o título atinge o prazo nele marcado, ou seja, que se opera pelo fato jurídico do tempo ou pela apresentação da letra ao sacado, quando à vista. A letra de câmbio pode ser passada: 18.2.1.1. à vista, 18.2.1.2. a certo tempo de vista, 18.2.1.3. a um certo tempo da data e a 18.2.1.4. dia certo. (art. 33 LUG e art. 17 L 2.044/1908).

Art. 33 LUG. Uma letra pode ser sacada: [i] à vista; [ii] a um certo termo de vista; [iii] a um certo termo de data; [iv] pagável num dia fixado.

Art. 17 L 2.044/1908. A letra à vista [i] vence-se no ato da apresentação ao sacado. A letra, a dia certo [iv], vence-se nesse dia. A letra, a dias da data [iii] ou da vista [ii] , vence-se no último dia do prazo; não se conta, para a primeira, o dia do saque, e, para a segunda, o dia do aceite.

18.2.1.1. à vista.

Trata-se da modalidade de cambial que vence contra a sua apresentação pelo portador (credor) ao sacado (devedor) da letra de câmbio ou emitente da nota promissória (art. 34 LUG). Não se exige o emprego do termo "à vista", pode ser utilizado "à apresentação" ou "à qualquer tempo", por exemplo.

a) ocorre na apresentação do título ao obrigado principal

b) deve ocorrer no máximo até um ano após a data da emissão do título.

c) se não há data no título, considera-se à vista.

Art. 34 LUG. A letra à vista é pagável a apresentação. Deve ser apresentada a pagamento dentro do prazo de um ano, a contar da sua data. O sacador pode reduzir este prazo ou estipular um outro mais longo. Estes prazos podem ser encurtados pelos endossantes. O sacador pode estipular que uma letra pagável à vista não deverá ser apresentada a pagamento antes de uma certa data. Nesse caso, o prazo para a apresentação conta-se dessa data.

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18.2.1.2. a um certo termo de vista.

Trata-se de modalidade cambial que vence quando for fixado prazo para pagamento [i] a partir da apresentação do título ao sacado, para aceite; [ii] ou do protesto, caso haja recusa em dar o aceite, vence naquele momento (necessária a apresentação do título ao sacado para caracterização do vencimento). caracteriza-se pelos dizeres "vencimento: 30 dias de vista" ou "vencimento: 1 ano de vista", etc.

Art. 35 LUG. O vencimento de uma letra a certo termo de vista determina-se, quer pela data do aceite [i], quer pela do protesto [ii]. Na falta de protesto, o aceite não datado entende-se, no que respeita ao aceitante, como tendo sido dado no último dia do prazo para a apresentação ao aceite.

18.2.1.3. a um certo termo de data

Trata-se de modalidade cambial que vence no dia do pagamento determinado a partir do momento em que a letra é sacada - em termos de aceite, o prazo fica estabelecido entre a data do saque e a data do vencimento.

O vencimento fixado para o “princípio”, o “meado” ou o “fim” do mês, devem ser entendidas como o "dia primeiro", "o dia quinze" e o "último dia do mês".

Art. 36 LUG. O vencimento de uma letra sacada a um ou mais meses de data ou de vista será na data correspondente do mês em que o pagamento se deve efetuar. Na falta de data correspondente o vencimento será no último dia desse mês. Quando a letra é sacada a um ou mais meses e meio de data ou de vista, contam-se primeiro os meses inteiros. Se o vencimento for fixado para o princípio, meado ou fim do mês, entende-se que a letra será vencível no primeiro, no dia quinze, ou no último dia desse mês. As expressões "oito dias" ou "quinze dias" entendem-se não como uma ou duas semanas, mas como um prazo de oito ou quinze dias efetivos. A expressão "meio mês" indica um prazo de quinze dias.

18.2.1.4. num dia fixado

Trata-se de modalidade cambial que vence na exata data que está fixada no título, e é também chamada "a termo certo". É a modalidade mais comum de vencimento dos títulos de crédito. O cuidado a se ter é que se a data for inexistente acarretará a nulidade

do título (30/02/2014), e não confundir com "falta de data", situação que não acarreta nulidade, mas sim vencimento na apresentação do título (vide item 18.2.1.1.c).

18.2.2. vencimento extraordinário é aquele que se opera quando da [i] recusa do aceite ou [ii] pela falência do aceitante ou emitente da nota promissória (obrigado principal), produzindo, assim, o vencimento antecipado (art. 43. 1 e 2 LUG; art. 19 L 2.044/1908 e at. 77 L11.101/05 - lei de falências), entretanto, cabe ressaltar, que a falência do avalista do

aceitante, endossante e sacador não é causa de vencimento extraordinário da letra de câmbio.

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Art. 43 LUG. O portador de uma letra pode exercer os seus direitos de ação contra os endossantes, sacador e outros co-obrigados: Mesmo antes do vencimento: 1 - Se houve recusa total ou parcial de aceite[i]; 2 - Nos casos de falência do sacado [ii], quer ele tenha aceite, quer não, de suspensão de pagamentos do mesmo, ainda que não constatada por sentença, ou de ter sido promovida, sem resultado, execução dos seus bens.

Art. 19 L 2.044/1.908.. A letra é considerada vencida, quando protestada: I. pela falta ou recusa do aceite[i]; II. pela falência do aceitante [ii].

Art. 77 L 11.101/05. A decretação da falência determina o vencimento

antecipado das dívidas do devedor e dos sócios ilimitada e solidariamente responsáveis, com o abatimento proporcional dos juros, e converte todos os créditos em moeda estrangeira para a moeda do País, pelo câmbio do dia da decisão judicial, para todos os efeitos desta Lei.

18.3. Inserção de data de vencimento do título de crédito incompleto

Súmula 387 STF. A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto.

Art. 891 CC. O título de crédito, incompleto ao tempo da emissão, deve ser preenchido de conformidade com os ajustes realizados. Parágrafo único. O descumprimento dos ajustes previstos neste artigo pelos que deles participaram, não constitui motivo de oposição ao terceiro portador, salvo se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé.

Art. 10 LUG. Se uma letra incompleta no momento de ser passada tiver sido completada contrariamente aos acordos realizados, não pode a inobservância desses acordos ser motivo de oposição ao portador, salvo se este tiver adquirido a letra de má-fé ou, adquirindo-a, tenha cometido uma falta grave. II – Protesto – caso não queira preencher o título, pode-se protestá-lo. O protesto serve para marcar a data exata do vencimento da obrigação.

19. Pagamento do título de crédito

O pagamento do valor contido no título é o ato pelo qual, normalmente, se extingue a obrigação cambiária. É também chamado de resgate cambial

19.1. Natureza jurídica do pagamento

Se o pagamento é feito pelo devedor, a natureza jurídica desse pagamento é de extinção da

obrigação, caso seja feito pelo aceitante é de desconstituição da totalidade dos vínculos creditícios, liberando o sacador, endossante e avalista do título.

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19.2. Prazo para pagamento

No Brasil a letra de câmbio deve ser paga na data do vencimento ou, recaindo este num dia não útil, no primeiro dia útil seguinte (art. 72.1 LUG e art. 20 L 2.044/1.908).

Art. 72 LUG O pagamento de uma letra cujo vencimento recai em dia feriado legal só pode ser exigido no primeiro dia útil seguinte. Da mesma maneira, todos os atos relativos a letra, especialmente a apresentação ao aceite e o protesto, somente podem ser feitos em dia útil. Quando um destes atos tem de ser realizado em um determinado prazo e o último dia deste prazo é feriado legal, fica o dito prazo prorrogado até ao primeiro dia útil que se seguir ao seu termo.

Art. 20 L 2.044/1908. A letra deve ser apresentada ao sacado ou ao aceitante para o pagamento, no lugar designado e no dia do vencimento ou, sendo este dia feriado por lei, no primeiro dia útil imediato, sob pena de perder o portador o direito de regresso contra o sacador, endossadores e avalistas.

19.3. Formas de pagamento

Em razão do princípio da cartularidade no ato do pagamento o devedor deve exigir que lhe seja entregue o título, eis que o pagamento é provado pelo próprio título de crédito, estando o devedor com o título em mãos, presume-se que houve pagamento.

Em razão também do princípio da literalidade, a quitação deve ser dada no próprio título, posto que o recibo à parte não tem validade contra terceiros de boa-fé, mas, caso seja feito o recibo apartado, ele deve estar colado no título.

Por fim, cabe ressaltar que se a letra for endossada a portador de boa-fé, o devedor não poderá furtar-se a um segundo pagamento, por força do princípio da autonomia das obrigações cambiais. O endossante que pagar uma letra poderá riscar o seu endosso e os endossos posteriores.

19.4. Modalidades de pagamento.

19.4.1. Pagamento parcial e pagamento integral (total)

19.4.1.1. Parcial é aquele em que se paga apenas uma parte da obrigação

constituida no título. Não pode ser recusado pelo credor (art. 39.2 LUG; art. 22 §1° L 2.044/1908; art. 902 § 1º CC), mas deve-se colocar no título que está se pagamento parcialmente (art. 39.3 LUG; art. 902 § 2º CC) . Lembrando que no direito comum o credor não é obrigado a receber pagamento parcial - art. 314 CC.

Art. 314 CC. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou.

Visto isso, não se pode invocar, no caso, a indivisibilidade do título e da soma

cambiária para pretender anular o endosso pelo valor não pago. O título é indivisível quanto à sua circulação e não quanto ao seu pagamento.

Art. 39 LUG. O sacado que paga uma letra pode exigir que ela lhe seja entregue com a respectiva quitação. O portador não pode recusar qualquer pagamento parcial.

No caso de pagamento parcial, o sacado pode exigir que desse pagamento se faça menção na letra e que dele lhe seja dada quitação.

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Art. 22. L 2.044/1908. O portador não é obrigado a receber o pagamento antes do vencimento da letra. Aquele que paga uma letra, antes do respectivo vencimento, fica responsável pela validade desse pagamento. § 1º O portador é obrigado a receber o pagamento parcial, ao tempo do vencimento

Art. 902 CC. Não é o credor obrigado a receber o pagamento antes do vencimento do título, e aquele que o paga, antes do vencimento, fica responsável pela validade do pagamento. § 1º No vencimento, não pode o credor recusar pagamento, ainda que parcial. § 2º No caso de pagamento parcial, em que se não opera a tradição do título, além da quitação em separado, outra deverá ser firmada no próprio título.

19.4.1.2. Integral ou total é aquele em que se paga totalmente a obrigação do título e, como consequência, o devedor pode exigir a entrega do original.

19.4.2. Pagamento extintivo e pagamento recuperatório

19.4.2.1. Pagamento extintivo é aquele que extingue a vida ativa da cambial, por não permitir o exercício do direito de regresso, e ocorre quando feito pelo devedor principal. Realizado pelo obrigado principal, desonera todos os outros coobrigados e o título não pode mais circular.

19.4.2.2. Pagamento recuperatório é aquele feito pelo devedor de regresso porque lhe permite recuperar o valor pagos dos obrigados que o garantem na relação cambiária (art. 49 LUG e art. 53 L 7.357/85 - lei do cheque). O pagamento feito pelo devedor de regresso não extingue a vida da cambial, tanto que os obrigados anteriores não se eximem de responsabilidades, mas libera os obrigados posteriores.

A ação cambial regressiva é aquela que o portador do título move contra um, alguns ou todos os obrigados indiretos que lhe são anteriores, cuja obrigação cambiária não

foi adimplida (comprovada pelo o protesto) e para deles haver a soma do título

vencida e não paga, acrescida das despesas que realizou para o recebimento. Esta comprovação ocorre. Pode ser ajuizada mesmo antes do vencimento da letra de câmbio, nos casos de recusa total ou parcial de aceite (módulo __ - item ___) e falência do aceitante (módulo __ - item ___)

Art. 53 L 7.357/85 Quem paga o cheque pode exigir de seus garantes: I - a importância integral que pagou; II - os juros legais, a contar do dia do pagamento; III - as despesas que fez; IV - a compensação pela perda do valor aquisitivo da moeda, até o embolso das importâncias mencionadas nos itens antecedentes.

Art. 49 LUG. A pessoa que pagou uma letra pode reclamar dos seus garantes: 1 - A soma integral que pagou; 2 - Os juros da dita soma, calculados a taxa de 6 por cento, desde a data em que a pagou; 3 - As despesas que tiver feito.

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19.4.3. Pagamento direto e pagamento indireto

19.4.3.1. pagamento direto é aquele corresponde ao meio direto e normal de extinção da obrigação cambiária, efetuado de forma voluntário e em dinheiro

19.4.3.2. pagamento indireto é aquele que utiliza das mesmas modalidades previstas no direito comum, como compensação (art. 368 CC), confusão (art. 381 CC), novação (art. 360 CC), remissão (art. 385 CC), transação (art. 840 CC), etc.

19.4.4. Pagamento por intervenção

O pagamento por intervenção é aquele feito por intervenção∆

de um terceiro (inventor), que

pode ser estranho a relação cambiária, ou o sacado ou por qualquer coobrigado no título (exceto, obviamente, pelo aceitante, pois nesse caso não seria 'intervenção'). Feito o pagamento pelo terceiro interventor, ficam desonerados os coobrigados posteriores ao devedor. Ressaltando que o terceiro interventor fica sub-rogado nos direitos de quem pagou.

∆ discorremos sobre a intervenção (módulo __ - item ___)

CASO CONCRETO: Augusto, portador de Letra de Câmbio, apresentou o título para aceite do sacado Bernardo, que não aceitou, sob alegação de não possuir relação alguma com o sacador. Protestado o título por falta de aceite, Augusto promoveu ação de execução em face de Bernardo que, devidamente citado, alegou ilegitimidade passiva, uma vez que sua assinatura não consta do título, bem como falta a Augusto a qualidade de credor, por falta do aceite. Indaga-se:

a) Procedentes as alegações de Bernardo?

Sim, procedem, em virtude de que o aceite não é ato obrigatório e o sacado se obriga na letra apenas pelo aceite (art. 28, LUG). O Sacado não precisa apresentar qualquer justificativa legal para a falta de aceite.

b) Um endossante que eventualmente venha pagar o título em tela, terá direito a alguma ação?

O coobrigado que paga o título sub-roga-se nos direitos do credor e pode cobrar, em ação de regresso, dos obrigado anteriores, pelo que libera os posteriores (art. 50 da LUG)

QUESTÃO OBJETIVA: O vencimento extraordinário da letra de câmbio pode ocorrer devido:

a) ao aceite, na modalidade a termo certo de vista;

b) ao não pagamento na modalidade à vista

c) à falência do sacado, mesmo sem o aceite, na modalidade a termo certo de data.

d) não há possibilidade de vencimento extraordinário, salvo na hipótese do título à vista

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Protesto (módulo 09)

20. Conceito

O conceito legal de protesto é "o (i) ato formal e solene pelo qual se (ii) prova a inadimplência e o

descumprimento de obrigação originada em (iii) títulos e outros documentos de dívida", que está insculpido no art. 1°, Lei 9.492/97 - Lei de protestos, donde faremos algumas ponderações:

(i) é um ato formal ou solene, ou seja, só produz efeitos se forem cumpridos todos os requisitos da lei. Entretanto a lei não indica quais são os tipos de protestos.

(ii) é um ato destinado a provar inadimplência ou descumprimento de obrigação, assim, serve como prova do inadimplemento. A partir do momento que se tenha descumprido/inadimplido determinada obrigação, o ato do protesto prova esse inadimplemento. Entretanto a lei fala de inadimplência, de forma genérica, mas, como já vimos, o protesto pode ser por falta de pagamento, por falta de aceite ou, ainda, por falta de

devolução. (módulo ___ - item __)

(iii) via de regra, qualquer título ou documento pode ser protestado. Nesse título/documento deve constar a obrigação e a data em que ela deveria ser adimplida. Entretanto a lei não

indica quais títulos podem ser objeto de protesto.

Percebemos que há algumas lacunas nesse conceito, assim, para melhor efeito didático, utilizaremos o conceito de Fábio Ulhoa, como "ato praticado pelo credor, perante competente cartório [cartório

de protestos] para fins de incorporar ao título de crédito a prova de fato relevante para as relações cambiais, como por exemplo, a falte aceite ou de pagamento de letra de câmbio".

20.1. Títulos protestáveis.

Atinentes ao conceito doutrinário acima, podemos afirmar que são passíveis de protesto os títulos executivos judiciais ou extrajudiciais, exigíveis, e que documentem uma obrigação pecuniária, mas pelo conceito legal temos a expressão “outros documentos”, que para uns deve ser interpretada ampliativa, ou seja, qualquer documento de valor pode ser objeto de protesto (entendimento da prática cartorária).

20.2. Natureza jurídica do protesto:

Para a doutrina majoritária o Protesto é um ato comprobatório.

20.3. Lugar do protesto

O lugar do protesto é determinado no local do vencimento/pagamento, ou no lugar do aceite da

letra, sua relevância está em definir o juízo competente para a execução. Na falta de determinação do local do pagamento ou do aceite, o protesto deverá ser feito no domicílio do sacado. (art. 28 D 2.044/1908)

20.4. Requisitos do protesto

Os requisitos do protesto podem ser encontrados no art. 22 L 9.492/07 - lei de protestos:

Art. 22 L 9.492/07. O registro do protesto e seu instrumento deverão conter: I – data e número de protocolização; II – nome do apresentante e endereço;

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III – reprodução ou transcrição do documento ou das indicações feitas pelo apresentante e declarações nele inseridas; IV – certidão das intimações feitas e das respostas eventualmente oferecidas; V – indicação dos intervenientes voluntários e das firmas por eles honradas; VI – a aquiescência do portador ao aceite por honra; VII– nome, número do documento de identificação do devedor e endereço; VIII- data e assinatura do Tabelião de Protesto, de seus substitutos ou de Escrevente autorizado.

Quando o título é levado ao cartório de protestos, o serventuário somente analisa os aspectos

formais do título, se constam todos os requisitos exigidos pela lei (lei de protestos...). Ele não vai analisar o pagamento do título, eventual prescrição ou decadência, etc.

20.5. Efeitos do protesto:

Ao se protestar um título de crédito são produzidos os seguintes efeitos nas relações cambiárias:

20.5.1. interrompe o prazo prescricional. (art. 202, III CC 'cancelou' Súmula 153 STF).

20.5.2. viabiliza ação cambiária indireta – execução dos devedores indiretos;

20.5.3. produz prova insubstituível da apresentação do título para aceite. O protesto por falta de aceite produz o vencimento antecipado da dívida e viabiliza a cobrança do sacador da letra de câmbio (art. 19 D 2.044/1.908).

20.5.4. fixa o marco para verificação da ocorrência de endosso póstumo. O endosso realizado após o protesto produz efeitos de uma cessão civil de crédito.

20.5.5. autoriza o pedido de falência fundado na impontualidade do devedor (art. 94, I L 11.101/05)

20.5.6. O protesto fixa o marco inicial do termo legal da falência (período suspeito. O termo legal levará em conta a data do primeiro protesto e fixará um termo desta data para trás. O primeiro protesto é o marco inicial onde será contado o período que antecedeu ao primeiro protesto.

Art. 202 CC. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: III - por protesto cambial;

Art. 19 D 2.044/1.908. A letra é considerada vencida, quando protestada: I. pela falta ou recusa do aceite; II. pela falência do aceitante.

Art. 94 L 11.101/05. Será decretada a falência do devedor que: I– sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados, cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência.

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20.6. Espécies de protesto

Em vista dos efeitos do protesto, elencados no item anterior, podemos subdividir os protestos em: protestos necessários ou obrigatórios e protestos facultativos:

20.6.1. protesto necessário ou obrigatório

O protesto é necessário para o credor possa cobrar o valor do título dos devedores indiretos

- coobrigados e endossantes (item 20.5.2.), para prova de falta de aceite ou falta de

pagamento - art. 44.1 e art. 53.2 LUG (item 20.5.3.); para provar a data de vencimento quando a letra de câmbio for pagável a certo termo da vista e não houver a data para esse momento (art. 25 LUF). Como pressuposto processual, o protesto também é necessário para o requerimento de falência, disposto no art. 94, §3° L 11.101/2005 (art. 20.5.5.), chamado protesto especial (art. 94 da LF), como também para interrupção da prescrição, desde que respeitadas art. 202, III CC (item 20.5.1).

20.6.2. protesto facultativo

O protesto é facultativo para o credor possa cobrar o valor do título dos devedores diretos - devedor principal e avalista, e, de certo modo, serve para compelir o devedor a pagar a dívida antes da lavratura do protesto.

20.7 Prazos para protesto

Se o protesto não for feito no prazo, perde-se o direito de regresso, podendo cobrar somente dos devedores principais.

20.7.1. Por falta de pagamento (art. 43 LUG): o prazo será o dia do vencimento da letra. Assim, o credor deverá providenciar o protesto já no primeiro dia útil seguinte ao do vencimento. Quando trata-se de data certa, certo termo de data e certo termo da vista (quando foi dado o aceite), o protesto deve ser feito em dois dias úteis do dia do vencimento, passado esse prazo estará decaído do direito de execução.

20.7.2. Por falta de aceite (art. 44 LUG): o portador deverá protestar o título até o fim do prazo de apresentação ao sacado ou no dia seguinte ao término do prazo se a letra foi apresentada no último dia deste e o sacado solicitou o prazo de respiro. Logo, se houver a recusa do aceite o prazo vai até o primeiro dia útil posterior. Ou seja, venceu a letra de câmbio sem que tenha havido aceite, ter-se-á até um dia útil para protestá-la.

Art. 43 D 57.663/66- O portador de uma letra pode exercer os seus direitos de ação contra os endossantes, sacador e outros co-obrigados: No vencimento: Se o pagamento não foi efetuado. Mesmo antes do vencimento: 1 - Se houve recusa total ou parcial de aceite; 2 - Nos casos de falência do sacado, quer ele tenha aceite, quer não, de suspensão de pagamentos do mesmo, ainda que não constatada por sentença, ou de ter sido promovida, sem resultado, execução dos seus bens. 3 - Nos casos de falência do sacador de uma letra não aceitável.

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Art. 44 D 57.663/66. A recusa de aceite ou de pagamento deve ser comprovada por um ato formal (protesto por falta de aceite ou falta de pagamento). O protesto por falta de aceite deve ser feito nos prazos fixados para a apresentação ao aceite. Se, no caso previsto na alínea 1 do artigo 24, a primeira apresentação da letra tiver sido feita no último dia do prazo, pode fazer-se ainda o protesto no dia seguinte.

20.8. Sustação e cancelamento

20.8.1. Sustação do protesto

A sustação é um ato judicial para prevenir eventual má-fé do credor, que pode querer protestar um título que, por exemplo, já tenha sido pago. Assim, a sustação deve ser realizada antes da efetivação do protesto, por meio da propositura de medida judicial, cautelar, nominada e típica, denominada medida cautelar de sustação de protesto.

Art. 17 L 9.492/97. Permanecerão no Tabelionato, à disposição do Juízo respectivo, os títulos ou documentos de dívida cujo protesto for judicialmente sustado. § 1º O título do documento de dívida cujo protesto tiver sido sustado judicialmente só poderá ser pago, protestado ou retirado com autorização judicial. § 2º Revogada a ordem de sustação, não há necessidade de se proceder a nova intimação do devedor, sendo a lavratura e o registro do protesto efetivados até o primeiro dia útil subseqüente ao do recebimento da revogação, salvo se a materialização do ato depender de consulta a ser formulada ao apresentante, caso em que o mesmo prazo será contado da data da resposta dada. § 3º Tornada definitiva a ordem de sustação, o título ou o documento de dívida será encaminhado ao Juízo respectivo, quando não constar determinação expressa a qual das partes o mesmo deverá ser entregue, ou se decorridos trinta dias sem que a parte autorizada tenha comparecido no Tabelionato para retirá-lo.

20.8.2. Cancelamento

O cancelamento pode ser feito pelo pagamento ou por ação principal declaratória de

inexigibilidade do título. Assim percebemos que o cancelamento do protesto pode ser feito pela via administrativa ou extrajudicial, perante o tabelião, ou pela via judicial.

Quando o devedor paga o título e tem o título em suas mãos basta a sua apresentação para que o tabelião cancele o protesto. Se o devedor que paga o título, mas não o tem em mãos, a declaração de todos os credores supre essa falta (art. 26 § 1º L 9.492/97).

Art. 26 L 9.492/97. O cancelamento do registro do protesto será solicitado diretamente no Tabelionato de Protesto de Títulos, por qualquer interessado, mediante apresentação do documento protestado, cuja cópia ficará arquivada.

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§ 1º Na impossibilidade de apresentação do original do título ou documento de dívida protestado, será exigida a declaração de anuência, com identificação e firma reconhecida, daquele que figurou no registro de protesto como credor, originário ou por endosso translativo. § 2º Na hipótese de protesto em que tenha figurado apresentante por endosso-mandato, será suficiente a declaração de anuência passada pelo credor endossante. § 3º O cancelamento do registro do protesto, se fundado em outro motivo que não no pagamento do título ou documento de dívida, será efetivado por determinação judicial, pagos os emolumentos devidos ao Tabelião. § 4º Quando a extinção da obrigação decorrer de processo judicial, o cancelamento do registro do protesto poderá ser solicitado com a apresentação da certidão expedida pelo Juízo processante, com menção do trânsito em julgado, que substituirá o título ou o documento de dívida protestado.

20.9. Ação cambial

A ação cambial é uma ação executiva, ou seja, não há necessidade de um prévio processo de conhecimento (art. 566 I CPC), contra título certo, líquido e exigível (arts. 580, 586 e 618, CPC) denominada direta quando proposta contra os obrigados principais: emitente da nota promissória, aceitante da letra de câmbio, sacado na duplicata, emitente do cheque e seus respectivos avalistas e de regresso quando proposta contra os demais coobrigados. A ação executiva direta só pode ser proposta no vencimento do título, enquanto a de regresso pode ser proposta, em casos específicos, também antes do vencimento do título, no caso da letra de câmbio, pela recusa parcial ou total do aceite ou na falência do aceitante (art. 19 L 2.044/1908). A ação direta não necessita do protesto do título.

Art. 566 CPC. Podem promover a execução forçada: I - o credor a quem a lei confere título executivo;

Art. 580 CPC. A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a obrigação certa, líquida e exigível, consubstanciada em título executivo.

Art. 586 CPC. A execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível.

Art. 618 CPC. É nula a execução: I - se o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação certa, líquida e exigível (art. 586

Art. 19 L 2.044/1908. A letra é considerada vencida, quando protestada: I. pela falta ou recusa do aceite; II. pela falência do aceitante.

20.9.1. Prazos prescricionais das ações cambiais

Para a letra de câmbio estabeleceu os seguintes prazos (art. 70 LUG):

a) 6 meses: a contar do pagamento ou do ajuizamento da execução cambial, para o exercício do direito de regresso por qualquer um dos coobrigados;

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b) 1 ano: para o exercício do direito de crédito contra os coobrigados, isto é, contra o sacador, endossante e respectivos avalistas

c) 3 anos: para o exercício do direito de crédito contra o aceitante (sacado) e seu avalista (dos devedores principais), a contar do vencimento.

20.9.2. Interrupção dos prazos prescricionais das ações cambiais

A partir da efetivação do protesto, o prazo para a ação cambial volta a contar inteiro novamente (interrupção). Passado o prazo prescricional, perde-se a força executiva do título, mas ele continua valendo como quirógrafo, ou seja, um documento que retrata que existe uma obrigação. A partir de então, terá o prazo de cinco anos para ingressar com uma ação de conhecimento para recebimento da obrigação (art. 206 § 5° CC)

Art. 202 CC. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: III - por protesto cambial;

Art. 206 CC. Prescreve: § 5o Em cinco anos: I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular;

CASO CONCRETO: Augusto, portador de Letra de Câmbio, apresentou o título para aceite do sacado Bernardo, que não aceitou, sob alegação de não possuir relação alguma com o sacador. Protestado o título por falta de aceite, Augusto promoveu ação de execução em face de Bernardo que, devidamente citado, alegou ilegitimidade passiva,uma vez que sua assinatura não consta do título, bem como falta a Augusto a qualidade de credor, por falta do aceite. Indaga-se:

a) Procedentes as alegações de Bernardo?

Sim, procedem, em virtude de que o aceite não é ato obrigatório e o sacado se obriga na letra apenas pelo aceite (art. 28, LUG). O Sacado não precisa apresentar qualquer justificativa legal para a falta de aceite.

b) Possível o protesto por falta de aceite na letra de Câmbio?

A lei admite o protesto por falta de aceite para que seja possível ao portador exercer seu direito de ação em face dos demais coobrigados (art. 44, LUG)

QUESTÃO OBJETIVA: O protesto de uma letra de câmbio pode ocorrer devido:

a) ao seu não pagamento

b) à declaração de falência do credor

c) ao seu extravio, de forma a viabilizar a emissão da segunda via

d) à morte do devedor, de forma a torná-lo exigível junto ao espólio

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Nota promissória (módulo 10)

21. Conceito

A nota promissória é uma promessa de pagamento (módulo __ - item __); título de crédito abstrato (módulo __ - item __), resultando em documento formal(módulo __ - item __), decorrente de relação de crédito entre duas pessoas, pela qual a designada emitente ou sacador ou promitente ou subscritor (como denomina a LUG), faz promessa de pagamento à vista ou à prazo em tempo certo a outra pessoa denominada beneficiário ou tomador. Acostumem-se com essas diversas nomenclaturas, para não termos surpresas na leitura das doutrinas nem das questões de concursos.

21.1. Origens da nota promissória

Na idade média a operação de câmbio originou o surgimento da letra de câmbio e da cautio, um documento emitido por um banqueiro em reconhecimento à dívida que contraíra junto ao mercador em determinada cidade. A cautio é apontada como o documento que originou a nota promissória, como conhecemos hoje.

Outros doutrinadores citam ainda sua origem no direito romano, onde havia o chirografo, que era o documento aonde se assumia a obrigação de pagar determinada prestação, desse maneira o devedor se vinculava ao credor.

21.2. Figuras intervenientes na nota promissória.

Temos duas figuras jurídicas relevantes na composição da nota promissória

21.2.1. sacador, ou promitente, ou subscritor, ou emitente é aquele que vai emitir a nota promissória.

21.2.2. beneficiário ou tomador: é aquele que vai se beneficia da promessa. A nota promissória não é título causal (módulo __ - item __), ou seja, não vai estar vinculada a uma obrigação jurídica anterior, assim pode ser emitida a qualquer tempo e por qualquer motivo. É um título de emissão livre (módulo __ - item __), podendo ser emitida de qualquer forma, entretanto deve respeitar todos os requisitos legais, assim como a letra de câmbio. Caso não atenda tais especificações terá, somente, efeitos civis (art. 76, I LUG).

21.3. Requisitos para emissão da nota promissória

A nota promissória como vimos é título livre, mas que deve atender as especificações formais extrínsecas legais mínimas. Podemos então subdividi-las em requisitos extrínsecos essenciais e requisitos extrínsecos supríveis.

21.3.1. Requisitos extrínsecos essenciais:

Esses estão elencados no art. 75 LUG, quais sejam:

21.3.1.1. denominação: há de estar escrito “nota promissória” no texto do título.

21.3.1.2. promessa incondicional, pura e simples, de pagar quantia determinada: uma quantia certa e exata, sem nenhum tipo de encargo ou condição – com valor em extenso.

21.3.1.3. nome da pessoa a quem (beneficiário), ou à ordem de quem, deve ser

paga: indicação de quem será o beneficiário, eis que não existe nota promissória ao portador, entretanto, admite-se o endosso em branco e, nesta hipótese, o título pode circular por mera tradição.

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21.3.1.4. indicação da data da emissão/saque: Trata-se de requisito essencial, em razão da importância em se saber a) se o devedor, no momento da emissão: tinha capacidade jurídica para assumir obrigações cambiárias (art. 42 D 2.044/1908); b) se

o mandatário tinha poderes especiais como representante do emitente (art. 8° LUG); c) o termo inicial da fluência dos juros compensatórios (módulo __ - item __); d) o vencimento da nota por tempo certo de data (módulo __ - item __).

21.3.1.5. assinatura do emitente, com qualificação da pessoa: a emissão corresponde à declaração cambiária originária por ser a primeira manifestação de vontade que se expressa na cártula.

21.3.2. Requisitos extrínsecos supríveis ou não essenciais ou acessórios:

Esses requisitos estão elencados no art. 76 LUG, que, na omissão/ falta deles, não anulam e nem o tornam ineficaz a nota promissória.

21.3.2.1. época do pagamento: na omissão, considera-se pagamento à vista ou a contra-apresentação

21.3.2.2. local do pagamento: na omissão, considera-se o domicílio do emitente, onde ela foi sacada.

21.3.2.3. lugar de emissão: na omissão, considera-se que foi emitida no lugar designado ao lado do nome do emitente.

21.4. Regime jurídico da notas promissórias

A nota promissória está disciplinada pelo mesmo regime jurídico aplicável a letra de câmbio, entretanto devemos recordar que a letra de câmbio é uma ordem de pagamento (módulo __ - item __), logo as regras incompatíveis com promessa de pagamento (módulo __ - item __) devem ser desconsideradas, como, por exemplo, prazos para apresentação do sacado, recusa parcial, formas de aceite, etc. pois vejamos:

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21.4.1. não se aplicam: aceite (não há de se falar em aceite na nota promissória, pois seu subscritor já é considerado o seu devedor principal), consequentemente não haverá recusa

de aceite e nem cláusula não aceitável, e o protesto é facultativo, e não obrigatório.

21.4.2. aplicam-se: endosso; aval; vencimento; pagamento e prescrição. A prescrição da nota promissória, assim como da letra de câmbio, é de três anos contra o devedor principal, e de seis meses contra os coobrigados (endossatários, avalistas, etc), no direito de regresso.

21.5. Diferenças e similitudes entre nota promissória e letra de câmbio:

Apesar de dispensarmos atenção sobre esse assunto, iremos pontualmente relacionar esses quesitos:

21.5.1. Ambos são títulos abstratos, pois podem decorrer de qualquer causa, entretanto:

21.5.2. A nota promissória encerra a promessa de pagamento, enquanto a letra de câmbio nasce de uma ordem de pagamento dada pelo sacador, também baseada de uma promessa de pagamento, se houver aceite.

21.5.3. A nota promissória só envolve duas figuras jurídicas, o emitente e o beneficiário, enquanto a letra de câmbio compreende três figuras jurídicas, o sacador, o sacado e o beneficiário tomador.

21.5.4. Não existe na nota promissória o instituto do aceite, porque quem cria o título reconhece o dever e promete pagar, enquanto na letra de câmbio a promessa de pagamento é objeto de aceite.

21.5.4. Na nota promissória quem faz a declaração cambiaria necessária e originária é o devedor direto e na letra de câmbio tal declaração emana do sacador que é devedor indireto.

21.5.5. A nota promissória já nasce tendo devedor direto, mas, a letra de câmbio pode não ter devedor direto se o sacado não firma o aceite.

21.5.6. Na nota promissória quem faz a cambiária necessária e originária é ao mesmo tempo devedor direto e principal, enquanto na letra de câmbio o sacador é devedor indireto e de

regresso, tornando-se devedor principal apenas quando o sacado não dá o aceite.

21.5.7. Na nota promissória o emitente manifesta declaração cambiária originária e

necessária, mas, na letra de câmbio o sacado faz declaração cambiária sucessiva e eventual.

21.5.8. Na nota promissória o próprio emitente promete efetuar o pagamento, enquanto na letra de câmbio o sacador promete ao tomador/beneficiário que o sacado efetuará o

pagamento.

21.5.9. Na nota promissória o aval é dado em favor do devedor direto (emitente), enquanto na letra de câmbio o avalizado é o devedor indireto (o sacador).

21.5.10. O portador da nota promissória tem o direito de tirar cópias, mas não extraí-la com

pluralidades de exemplares (art. 67 e 68 LUG), enquanto a letra de câmbio pode ser sacada

por várias vias (art. 64 e 66 LUG), e o portador tem direito a tirar cópias.

21.5.11. Na nota promissória o portador só tem direito de ação antes do vencimento, contra os devedores indiretos, pela falência do emitente, enquanto a letra de câmbio vence antecipadamente, em relação aos devedores indiretos também, por recusa total ou parcial de

aceite (art. 43.1 LUG).

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CASO CONCRETO: Augusto emitiu uma nota promissória em favor de Bernardo, em 30.04.2006, sem constar a data para pagamento. Em 28.02.2007, o título foi apresentado para pagamento, o qual não foi realizado. A ação executiva, porém, foi intentada somente em 15.01.2010, e o devedor, citado, alegou a prescrição do título. Como juiz da causa, verifique se o prazo para apresentação do título foi respeitado e se realmente ocorreu a prescrição.

A nota promissória tornou-se título à vista por não conter data de vencimento (art. 76, I, LUG). Assim, o título à vista deve ser apresentado em até um ano da sua emissão (art. 77 c/c art. 34, LUG) e, após essa data é que começa a correr o prazo prescricional (art. 77 c/c art. 70, I, LUG), por aplicação do art. 78, do mesmo dispositivo legal.

QUESTÃO OBJETIVA: Assinale a alternativa que indica quais dos títulos de créditos abaixo não admitem aceite

a) Cheque e Nota de Crédito Comercial.

b) Cheque e Nota Promissória

c) Duplicata e Letra de Câmbio

d) Nota Promissória e Duplicata.

(obs. o cheque não comporta aceite, pois o sacado apenas verifica se há ou não fundos disponíveis, enquanto que a nota promissória, ao ser emitida, já representa a aceitação do devedor em pagar)

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Duplicata (módulo 11)

22. Duplicata e a fatura.

A duplicata é título de crédito formal, pois deve conter os requisitos próprios elencados no arts. 1° e 2° da L 5.478/68 (módulo __ - item __), impróprio, pois não consubstancia operação de crédito (módulo __ - item __), causal, pois visa documentar o saque pelo vendedor/prestador de serviço (módulo __ - item __), à ordem, pois deve conter obrigatoriamente a cláusula à ordem, como determina art. 2° §1° VII L 5.478/68 (módulo __ - item __), extraído por vendedor ou prestador de serviços, objetivando documentar o saque originado pela compra e venda mercantil ou prestação de serviços e que tem como pressuposto a extração de fatura.

A fatura em si não é título de crédito, o que será título de crédito é a duplicata que se extrai da

fatura. A fatura é a representação de um contrato de compra e venda havido entre um empresário e outra pessoa. Assim, para haver duplicata deve haver, necessariamente, a emissão de uma fatura. Só pode ser emitida duplicata em compra e venda mercantil ou em prestação de serviços. Não pode ser emitida em negócios civis.

22.1. Origem da duplicata.

A duplicata é um título de crédito criado pelo direito brasileiro. O Código Comercial, de 1850, impunha ao comerciantes atacadistas a fatura, a relação por escrito das mercadorias entregues. Assim nascia a duplicata como instrumento de política fiscal, que controlava a incidência do imposto do selo. Os comerciantes, ao realizarem operações de venda, eram obrigados a emitir a duplicata e, ao assiná-la, deviam utilizar os selos, adquiridos nas repartições fiscais. O uso da duplicata migrou da política fiscal para política comercial e se desenvolveu a largos passos pelo quase desuso da letra de câmbio pelo comércio, e pela elaboração de regulação mais apropriada ao

comércio: L 5.474/68 - lei das duplicatas e DL 436/69.

22.2. Regulamentação

A duplicata é regulada por lei específica - L 5.474/68 - e, no que couber, aplica-se o D 57.663/66 – LUG, haja vista a semelhança de estrutura entre os dois títulos e porque o legislador conferiu à duplicata as garantias básicas de endossabilidade e de inoponibilidade de exceção pelo devedor

perante o terceiro de boa fé.

22.3. Causalidade da duplicata

A duplicata é um título de crédito causal, eis que só pode ser emitido na ocorrência de uma hipótese legal – a compra e venda (arts. 1° e 2° L 5.474/68), diferente do que ocorre com o cheque e a nota promissória. Se a duplicata for emitida fora dessas hipóteses, não tem validade como título de crédito, sendo meramente um documento representativo da dívida. A lei penal, para reprimir o mau uso do título, contempla no art. 172 pena para emissão de duplicata em desacordo com a fatura, tal dispositivo foi incluído pelo art. 26 L 5.474/68 - lei das duplicatas.

Art. 172 CP Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado. Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquele que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de Registro de Duplicatas.

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A lei não admite a emissão de uma duplicata representativa de mais de uma fatura (art. 2° §2° L 5.474/68). Sendo o preço da venda parcelado (art. 2° §3° L 5.474/68), será possível ao vendedor optar pelo saque de uma única duplicata, em que se discriminem os diversos vencimentos, ou pela emissão de uma duplicata mercantil para cada parcela, as quais terão o mesmo número de ordem, discriminadas, no entanto, pelo acréscimo de uma letra do alfabeto (ex.: NF 3313-A, NF 3313-B).

22.4. Figuras intervenientes na duplicata

22.4.1. emitente, que é o vendedor ou prestador de serviços, e

22.4.2. sacado, necessariamente o comprador.

22.5. Natureza Jurídica da duplicata

É pacífico o entendimento doutrinário de que a duplicata não pode ser considerada um título de crédito próprio, porque não consubstancia operação de crédito. A natureza jurídica da duplicata é de um título de crédito impróprio principalmente por ser causal, cuja existência está intrinsecamente ligada à extração da fatura. Sem compra e venda mercantil ou prestação de serviços não existe duplicata.Não é título cambiário, pois sua criação precípua não foi para circular. É título assemelhável aos títulos de crédito para fim de circulação por endosso. A legislação sobre emissão e pagamento das letras de câmbio só se aplica, subsidiariamente à duplicata, no que couber (art. 25 L 5.474/68).

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A dinâmica de uso da duplicata está dividida em quatro fases: emissão (22.6), remessa (22.7), aceite (22.8), e devolução (22.9):

22.6. Emissão da duplicata:

Como vimos a fatura é a representação de um contrato de compra e venda ou de prestação de

serviços havido entre um empresário e outra pessoa, empresária ou não, mas ressaltando que a fatura não pode ser emitida em negócios civis. No caso de compra e venda, se o lapso temporal entre a entrega da mercadoria e o pagamento, seja superior ou igual a 30 dias a emissão, será obrigatória a emissão da fatura (art. 1º L 5.474/68), caso contrário será facultativa (art. 3º, §2º L 5.474/68). No caso de prestação de serviços a emissão será sempre facultativa (art. 20 L 5.474/68), posto que a legislação não faz menção sobre tais prazos.

Da fatura extrai-se a duplicata. Em todos os casos anteriores, se o credor quiser circular o crédito terá de emitir a duplicata para documentar o crédito do vendedor em relação ao comprador e torná-

lo indiscutível, líquido, certo e exequível judicialmente.

Art. 1º L 5.474/68. Em todo o contrato de compra e venda mercantil entre partes domiciliadas no território brasileiro, com prazo não inferior a 30 (trinta) dias, contado da data da entrega ou despacho das mercadorias, o vendedor extrairá a respectiva fatura para apresentação ao comprador. § 1º A fatura discriminará as mercadorias vendidas ou, quando convier ao vendedor, indicará somente os números e valores das notas parciais expedidas por ocasião das vendas, despachos ou entregas das mercadorias.

Art. 20 L 5.474/68. As empresas, individuais ou coletivas, fundações ou sociedades civis, que se dediquem à prestação de serviços, poderão, também, na forma desta lei, emitir fatura e duplicata.

Art. 3º L 5.474/68. A duplicata indicará sempre o valor total da fatura, ainda que o comprador tenha direito a qualquer rebate, mencionando o vendedor o valor líquido que o comprador deverá reconhecer como obrigação de pagar. § 1º Não se incluirão no valor total da duplicata os abatimentos de preços das mercadorias feitas pelo vendedor até o ato do faturamento, desde que constem da fatura. § 2º A venda mercantil para pagamento contra a entrega da mercadoria ou do conhecimento de transporte, sejam ou não da mesma praça vendedor e comprador, ou para pagamento em prazo inferior a 30 (trinta) dias, contado

da entrega ou despacho das mercadorias, poderá representar-se, também, por duplicata, em que se declarará que o pagamento será feito nessas condições.

22.6.1. Requisitos para emissão da duplicata

Na duplicata, diferentemente da letra de câmbio, cheque e nota promissória, não existem os requisitos supríveis (art. 2°, §1° L 5.474/68), porém permite-se a inserção no título de cláusulas adicionais (art. 24 L 5.474/68) desde que não afetem a sua característica de documentar o saque pelo vendedor da importância faturada ao comprador ou do saque pelo prestador de serviços pela importância faturada a seu beneficiário. Então vejamos:

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a) deve constar a denominação “duplicata”, por se tratar de cláusula cambiária

b) a data de sua emissão: objetiva informar se o título foi extraído dentro do prazo legal.

c) número da fatura: a duplicata é título causal e só poderá ser extraída em decorrência de fatura que comprove a compra e venda mercantil ou a prestação de serviços. A duplicata tem sua origem na fatura sem ser, no entanto, sua cópia ou reprodução.

d) número de ordem: serve para determinar a quantidade de títulos semelhantes extraídos pelo vendedor e para diferenciá-lo dos demais títulos. Assim, toda fatura deve conter um número que vai individualizar aquele documento. Esse número deve ser repetido na duplicata, para vincular a duplicata à fatura.

e) época do vencimento ou a declaração de que é à vista, quando o for: sendo título causal, a duplicata só pode ter vencimento com data certa ou à vista, não se admitindo, portanto, vencimento a tempo certo de data ou a tempo certo de vista

f) nome e domicílio do vendedor e do comprador: visam a identificar as partes da compra e venda mercantil devendo o vendedor ser comerciante, mas o comprador pode ser ou não, sem que o documento deixe de ter natureza mercantil.

g) importância a pagar, em algarismos e por extenso: a duplicata só pode ser expressa em moeda nacional, sob pena de nulidade, ainda mais que o vendedor e o comprador devem ser domiciliados no Brasil.

h) local do pagamento: visa identificar a cidade onde a duplicata deverá ser paga e que normalmente corresponde ao domicílio do comprador. Mas isto pode ser convencionado entre as partes.

i) cláusula à ordem: é cláusula importante para a transmissão da duplicata por endosso, porque a L 5.474/68 não contém regra equivalente art. 11.1 da LUG, pela qual a cambial é transmissível por endosso mesmo que não envolva a cláusula à ordem.

j) declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la, a ser assinada pelo comprador, como aceite cambial considerando que a duplicata é título causal, este requisito visa à dação de aceite pelo sacado da duplicata e ao mencionar que a declaração do reconhecimento da exatidão da duplicata e da obrigação de pagá-la deve ser assinada pelo comprador, como aceite cambial, torna obrigatório o aceite na duplicata, diferente do que ocorre com a letra de câmbio, em que o aceite é ato facultativo.

k) assinatura do emitente a duplicata nasce com o ato cambiário do saque pelo vendedor ou prestador de serviços. O saque corresponde a uma declaração cambiária originária, porque é a primeira manifestação de vontade que se consubstancia no título, dando vida à duplicata.

Art. 24 L 5.474/68. Da duplicata poderão constar outras indicações, desde

que não alterem sua feição característica.

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22.7. Remessa da duplicata para cobrança

Depois de emitida, a duplicata deve ser remetida ao comprador/devedor, no prazo de 30 dias, contado da data de sua emissão (próprio credor) ou de 10 dias contados da data de seu recebimento na praça de pagamento (instituição financeira), para que possa esse conferir os dados que constem do título, o que configurará a duplicata como papel indiscutível e exequível.

Art. 6º L 5.474/68. A remessa de duplicata poderá ser feita diretamente pelo vendedor ou por seus representantes, por intermédio de instituições financeiras, procuradores ou, correspondentes que se incumbam de apresentá-la ao comprador na praça ou no lugar de seu estabelecimento, podendo os intermediários devolvê-la, depois de assinada, ou conservá-la em seu poder até o momento do resgate, segundo as instruções de quem lhes cometeu o encargo.

§ 1º O prazo para remessa da duplicata será de 30 (trinta) dias, contado da data de sua emissão.

§ 2º Se a remessa for feita por intermédio de representantes instituições financeiras, procuradores ou correspondentes êstes deverão apresentar o título, ao comprador dentro de 10 (dez) dias, contados da data de seu recebimento na praça de pagamento

22.8. Aceite da duplicata.

Emitida e remetida ao devedor/comprador, resta o devedor dar o aceite no título, que, como também já vimos (módulo __ - item __), representa a aceitação de que é devedor de obrigação constante no título. Podem ser subdivididas em aceite ordinário, por comunicação e por presunção:

a) aceite ordinário: resulta da assinatura do comprador aposta no local apropriado da duplicata (art. 7° caput L 5.474/68). O CMN aponta o canto inferior esquerdo do título. Entretanto se a duplicata é emitida por meio eletrônico (módulo __ - item __, o aceite não é materializável por mera "assinatura de próprio punho".

b) aceite por comunicação: resulta da comunicação, por escrito, ao vendedor, de seu aceite, quando da retenção da duplicata pelo comprador, devidamente autorizado pela instituição bancária cobradora (art. 7°, §1° L 5.474/68). Está quase em total desuso, pela inclinação do comércio a utilização quase exclusiva de meios eletrônicos de registro de crédito.

c) aceite por presunção: resulta do recebimento da mercadoria, com ou sem devolução do título ao vendedor, sem qualquer recusa formal. O comprovante de recebimento ("canhoto" da nota fiscal) devidamente assinado é a forma mais comum.

Art. 7º L 5.474/68. A duplicata, quando não for à vista, deverá ser devolvida pelo comprador ao apresentante dentro do prazo de 10 (dez) dias, contado da data de sua apresentação, devidamente assinada ou acompanhada de declaração, por escrito, contendo as razões da falta do aceite.

§ 1º Havendo expressa concordância da instituição financeira cobradora, o sacado poderá reter a duplicata em seu poder até a data do vencimento, desde que comunique, por escrito, à apresentante o aceite e a retenção.

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22.8.1. Recusa do aceite da duplicata.

O aceite da duplicata é obrigatório, mas não irrecusável. Pode haver a recusa do aceite quando houver avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não

entregues por conta e risco do comprador; quando houver vícios, defeitos e diferenças na

qualidade ou na quantidade das mercadorias, devidamente comprovados; ou ainda quando houver divergência nos prazos ou preços ajustados, conforme rol do art. 8º L 5.474/68.

Há divergência doutrinária se esse rol é ou não taxativo, mas majoritariamente se entende que é taxativa, não exemplificativa, mas com a evolução das tecnologias tanto pelo viés do registro, como pelas transações, cabe acompanharmos as oscilações dos entendimentos jurisprudenciais.

Art. 8º L 5.474/68. O comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo de: I - avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por sua conta e risco; II - vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, devidamente comprovados; III- divergência nos prazos ou nos preços ajustados.

22.8.2. Suprimento do aceite da duplicata

A aceite pode ser suprido, no caso de recusa, nas seguintes situações:

a) Se o sacado declarar, por escrito, a retenção da duplicata, com consentimento do credor/sacador. Esse documento (declaração por escrito) supre o aceite que não foi dado. Esse entendimento se dá pela leitura reversa do art. 7° caput L 5.474/68.

b) Se a duplica for protestada por falta de aceite, podendo o sacado, caso se oponha, ajuizar as medidas cabíveis, como o cancelamento ou sustação do aceite. (art. 15 L 5.474/68).

c) Se a duplicata for protestada por indicação, quando da falta de restituição do título ao vendedor (art. 15, §2° L 5.474/68)

Art. 15 L 5.474/68. A cobrança judicial de duplicata ou triplicata será efetuada de conformidade com o processo aplicável aos títulos executivos extrajudiciais (...) §2° – quando o comprador não restituiu o título ao vendedor, o protesto

pode ser feito por indicações do credor fornecidas ao cartório de protesto. Neste caso é permitido o Exercício de direito cambiário sem a posse do título, eis que prescinde de exibição da cártula.

22.9. Devolução da duplicata após aceite

Passada emissão, a remessa e o aceite, o próximo passa é a devolução do título ao credor. Temos duas situações dessa ocorrência: a) feito o aceite de duplicata, cuja pagamento não é à vista, o devedor/comprador deverá devolvê-la ao representante, no prazo de 10 dias da data de sua apresentação (art. 7° caput L 5.474/68); e b) não feito o aceite na duplicata, o devedor/comprador deverá devolvê-la ao apresentante, no mesmo prazo, acompanhado de declaração, por escrito, das razões da falta do aceite (art. 8º L 5.474/68)

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22.9.1 Retenção da duplicata pelo sacado

A devolução da duplicata é obrigatória, mas não irrecusável. Havendo concordância expressa da instituição financeira cobradora, o sacado poderá reter a duplicata em seu poder até a data de seu vencimento, desde que comunique, por escrito, à apresentante, que promoveu o aceite da duplicata e pretende retê-la até a sua liquidação (art. 7° caput L 5.474/68). Esta declaração substituirá a duplicata no ato do protesto ou na execução judicial, nos casos em que esses procedimentos se façam necessários (módulo __ - item 22.8.2.a)

22.10. Endosso da duplicata

A duplicata é emitida com cláusula à ordem conforme determina o art. 2° §1° VII L 5.474/68 (módulo __ - item __), o que significa que é transmissível via endosso. Aplica-se todas as regras do endosso já vistas na letra de câmbio, inclusive com a colocação da cláusula não à ordem, quando então será apenas transferida mediante cessão de crédito. Entretanto a doutrina majoritária entende que não cabe nenhum endosso com cláusula sem garantia na duplicata, por força do art. 18 §2 L 5.474/68.

22.11. Aval da duplicata

Do mesmo modo que o endosso (módulo ___ - item __), também cabe o uso do aval nas duplicatas (art. 12 L 5.474/68).

a) aval em preto: está expressamente indicado quem é o avalizado;

b) aval em branco: não está expressamente indicado quem será o avalizado, é prestado em favor daquele cuja assinatura estiver acima da do avalista, ou, se inexistir uma assinatura assim situada, em favor do comprador /sacado.

c) aval póstumo: dado posteriormente ao vencimento do título, que pode também ser levado a protesto, tendo o mesmo efeito do que o aval prestado anteriormente.

Art. 12 L 5.474/68. O pagamento da duplicata poderá ser assegurado por

aval, sendo o avalista equiparado àquele cujo nome indicar; na falta da

indicação, àquele abaixo de cuja firma lançar a sua; fora desses casos, ao

comprador. Parágrafo único. O aval dado posteriormente ao vencimento do título produzirá os mesmos efeitos que o prestado anteriormente àquela ocorrência.

22.12. Protesto da duplicata

(vide aula de protesto)

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22.13. Triplicata

No caso de protesto pode ser retirada uma triplicata, ou seja, uma segunda via da duplicata, para que ela seja levada a execução (art. 23 L 5.474/68). Essa segunda via, então, serve para protesto e para sua execução. Como já não houve o aceite anteriormente, pode ser feito o protesto diretamente.

Art. 23 L 5.474/68. A perda ou extravio da duplicata obrigará o vendedor a extrair triplicata, que terá os mesmos efeitos e requisitos e obedecerá às mesmas formalidades daquela.

22.14. Duplicata "virtual"

Com avanço das novas tecnologias, as duplicatas virtuais encontraram respaldo legal no art. 8º, pu L 9.492/97 - lei dos protesto, e no art. 889, parágrafo 3° CC. Quando o contrato de compra e venda ou de prestação de serviço é concretizado, o vendedor envia, pela internet, a uma instituição financeira os dados referentes ao negócio realizado. A instituição financeira, também pela internet, encaminha um boleto bancário, ao comprador ou tomador de serviço, para que pague a compra/serviço. Esse boleto não é um título de crédito ele contém as características da duplicata virtual.

Art. 8º L 9.492/97. Os títulos e documentos de dívida serão recepcionados, distribuídos e entregues na mesma data aos Tabelionatos de Protesto, obedecidos os critérios de quantidade e qualidade. Parágrafo único. Poderão ser recepcionadas as indicações a protestos das Duplicatas Mercantis e de Prestação de Serviços, por meio magnético ou de

gravação eletrônica de dados, sendo de inteira responsabilidade do apresentante os dados fornecidos, ficando a cargo dos Tabelionatos a mera instrumentalização das mesmas.

Art. 889 CC. Deve o título de crédito conter a data da emissão, a indicação precisa dos direitos que confere, e a assinatura do emitente. (...) § 3º O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em

computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, observados os requisitos mínimos previstos neste artigo.

22.15. Ação cambial para duplicatas

A execução de um cheque, letra de câmbio ou nota promissória, basta a cártula, entretanto no caso da uma duplicata há necessidade da execução estar aparelhada de documentos específicos, dependendo do tipo de aceite da duplicata (módulo 11 - item 22.8)

a) Se for uma execução de duplicata com aceite ordinário, basta a juntada do título. O protesto apenas será necessário quando for para executar um coobrigado, e facultativo quanto ao devedor principal.

b) Se for uma execução de duplicata com aceite por comunicação, deve ser juntada aos autos a comunicação que foi enviada ao comprador, relativa ao aceite.

c) Se for uma execução de duplicata com aceite por presunção, terá que ser juntado o instrumento de protesto e também o comprovante da entrega da mercadoria. Esses requisitos são condições da ação. Se faltar essa documentação na execução, ela será anulada.

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22.15.1. Prazo de prescrição da ação cambial.

Os prazos de prescrição da ação cambial estão previstos no art. 18 L 5.474/68, dependendo de quem o réu da ação, e, resumidamente, são

a) contra o sacado e seu avalista prescreve em três anos, contados da data do vencimento do título.

b) contra o endossante e seus avalistas, prescreve em um ano, contados da data do protesto.

c) contra os coobrigados (entre si - direito de regresso) prescreve em um ano, contado da data do pagamento do título.

Após o vencimento desses prazos, há ainda outras possibilidade, mas não são ações cambiais: (i) mais três anos para ajuizar ação de enriquecimento ilícito e, passado esse prazo, (ii) mais cinco anos para ajuizar ação monitória.

22.16. Duplicata e letra de câmbio: semelhança e diferenças

22.16.1. Semelhanças estruturais entre a duplicata e a letra de câmbio.

a) existência do ato cambiário do aceite, como declaração cambiária sucessiva;

b) os títulos originam-se do ato cambiário do saque, como declaração cambiária

originária e necessária, resultando ordem de pagamento à vista ou à tempo certo, dada pelo sacador ao sacado e assim, a ausência da assinatura do sacador implica na não existência do documento.

22.16.2. Diferenças entre a duplicata e a letra de câmbio.

a) a letra de câmbio é título de crédito próprio e abstrato, mas a duplicata é título impróprio e causal;

b) Na letra de câmbio o aceite é facultativo, pode ser recusado e só pode ser dado expressamente. Na duplicata, o aceite é obrigatório, porque só pode ser recusado com base em uma das razões do art. 8° L 5.474/68 (módulo __ - item 22.8.1) e admite sua configuração tacitamente (módulo __ - item 22.8.c).

c) Na letra de câmbio o beneficiário ou tomador pode ser o sacador ou terceiro mas na duplicata o beneficiário só pode ser o sacador por se tratar de título causal.

d) A letra de câmbio nasce da declaração cambiária manifestada por devedor indireto (sacador), na duplicata o sacador não se torna devedor ao praticar o ato cambiário do saque, porque só integrará a relação cambiária como devedor indireto se coloca-la em circulação mediante endosso.

e) A letra de câmbio comporta três figuras jurídicas distintas, ou seja, sacador, sacado e tomador. mas a duplicata só existem duas figuras sacador e sacado.

f) A letra de câmbio pode ter vencimento à vista, com data certa, a tempo certo de data e a tempo certo de vista. Entretanto, a duplicata só admite vencimento à vista ou com data certa.

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CASO CONCRETO: Augusto, empresário do ramos de peças de automóveis, emitiu duplicata em face de seu Bernardo, pessoa física que comprou uma peça para uso próprio. Face à falta de aceite e a inadimplência de Bernardo, Augusto ingressou com ação executiva e, em defesa, foi alegado que o título foi emitido em operação estranha ao permissivo legal, portanto, indevida a ação executiva.

a) Em que casos são admissíveis a falta de aceite de uma duplicata?

Na duplicata de venda, o aceite é obrigatório, salvo nos casos do art. 8, da Lei n. 5.474/68.

b) A alegação de Bernardo procede?

Deverá ser procedente, tendo em vista que duplicata é um título de crédito causal e uma das causas previstas em lei para sua emissão é a compra e venda mercantil, aquela realizada para revenda com intuito lucrativo, o que não ocorreu no caso em tela.

QUESTÃO OBJETIVA: Sobre a duplicata de prestação de serviços pode-se afirmar:

a) somente pode ser emitida por sociedades comerciais que prestem serviços;

b) constitui documento hábil para a transcrição do instrumento de protesto a efetiva prestação dos serviços e o vínculo contratual que a autorizou;

c) constitui documento hábil para a transcrição do instrumento de protesto somente a prestação dos serviços;

d) a fatura deverá discriminar somente o valor dos serviços prestados

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Cheque (módulos 12 e 13)

23.1. Origem do cheque

Na Idade Média, grandes bancos de depósitos italianos encarregados da guarda de grandes quantias em valores comerciais que poderiam ser mobilizados a qualquer momento através de ordens de pagamentos de seus depositantes, utilizando-se de instrumentos denominado certificados, e se difundiu na Inglaterra e França, tomando corpo como título de crédito, como conhecemos hoje, como ferramenta moderna que corresponde como a) meio de pagamento a vista; b) instrumento de

compensação de débitos e créditos; bem como c) instrumento de comprovação de pagamento.

23.2. Conceito de cheque

Cheque é uma ordem de pagamento à vista emitida por uma pessoa (emitente ou sacador) contra um banco (sacado), para que este pague uma determinada quantia em dinheiro a uma pessoa (beneficiário ou tomador), dada com base em suficiente provisão de fundos ou decorrente de contrato de abertura de crédito disponíveis em banco ou instituição financeira equiparada.

23.3 Classificação do cheque

Assim como a letra de câmbio, o cheque é uma ordem de pagamento (módulo __ - item __), porém apenas à vista, com total provisão de fundos. É documento literal e abstrato. Endossado o cheque a terceiro de boa-fe, eventuais questões ligadas a causa debendi originária não podem ser manifestadas contra terceiro legitimo portador do titulo (principio da inoponibilidade - módulo __ - item __). É um título não causal, pois não é necessário que se prove um negócio jurídico subjacente para sua emissão.

O cheque de modelo vinculado, só terá validade se for, necessariamente, expedido pelo sacado, um banco, que segue um modelo padrão, com a mesma disposição de caracteres, mesmo tamanho (17,5cm x 8cm), e por deliberação do Banco Central do Brasil, através do Conselho Monetário impondo o sistema de caracteres magnéticos codificados em sete barras (CMC-7) na sua extremidade inferior, em toda a sua extensão, cuja a medida, de forma rigorosa de 16mm por 175mm.

22.4. Figuras intervenientes no cheque

O cheque é uma ordem de pagamento, em que há três figuras intervenientes: sacador, sacado,

tomador/beneficiário.

22.4.1. emitente ou passador ou sacador: é (i) quem emite, passa ou saca a ordem o cheque; (ii) devedor principal de um cheque; (iii) quem se obriga com o beneficiário e (iv) quem realizou um contrato de depósito, de conta-corrente ou de abertura de crédito, com a instituição financeira

22.4.2. sacado: é, necessariamente, uma instituição financeira∆

, nunca um particular, em

poder do qual se acham os fundos, e que deve efetuar o pagamento;

22.4.3. beneficiário ou tomador ou portador: é aquele que está de posse do cheque. Presume-se que a posse do cheque torna a pessoa credora, beneficiária do sacador. Sendo uma ordem de pagamento, a pessoa não é obrigada a receber o cheque, entretanto, se um estabelecimento comercial recusando o cheque, deve fazer uma explicação clara para o não recebimento (Código de Defesa do Consumidor).

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23.5. Legislação aplicada ao cheque

A legislação que disciplina o cheque é L 7.357/85 (Lei do cheque), entretanto o legislador somente pode dispor da matéria não contemplada pela LUG, mais precisamente pelo Decreto 57.595/66. Temos ainda, como outras diretrizes, as resoluções do BACEN.

23.6. Natureza jurídica do cheque

A doutrina diverge quanto a natureza jurídica do cheque, faremos, então, apresentação delas:

1ª corrente: entende que o cheque não é um título de crédito por não existir o elemento crédito, sendo apenas um título de pagamento à vista, portanto de vida breve extinguindo-se quando do seu pagamento pelo banco (Pontes de Miranda).

2ª corrente: classifica o cheque como título de crédito impróprio, posto que necessita de provisão de fundos pelo emitente, descaracterizando como crédito em abstrato (Fran Martins).

3ª corrente: caracteriza o cheque como título de crédito, mesmo quando não circula, desde que emitido em favor de terceiros (Fabio Ulhoa e entendimento majoritário)

23.7. Requisitos para emissão de cheque

23.7.1. requisitos essenciais do cheque estão relacionados no art. 1° L 7.357/85

a) denominação “cheque” inscrita no texto do título;

b) ordem incondicional de pagar quantia determinada (em cifra e por extenso) – obrigação pura e simples (não admite-se condição ou encargo). Mesmo o cheque não possuindo fundos, não será desnaturado como título de crédito. Deve haver indicação numérica e por extenso do valor, havendo divergência entre ambos, prevalece o que está por extenso (art. 12 L 7.357/85).

c) nome do sacado: identificação do banco ou instituição financeira que deve pagar;

d) lugar do pagamento (em geral consta no cheque o endereço do sacado).

e) data da emissão (em geral a lei não exige que se coloque o mês por extenso).

f) nome do emitente (sacador) com identificação (RG e CPF)

g) assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com poderes especiais.

23.7.2. requisito não essencial do cheque é o local da emissão, que pode ficar em branco, presumindo-se, então, que seja o endereço do sacado (art. 2 II L 7.357/85). Benef.

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23.8. Espécies de cheque

23.8.1. Quanto à circulação:

a) cheque ao portador (permitido para cheques com valores de até R$ 100,00 (art. 2, III L 8.021/90 cc art. 69 L 9.069/95);

b) cheque nominativo (obrigatório para cheques com valores acima de R$ 100,00):

b.1) cheque nominativo não à ordem

b.2) cheque nominativo à ordem

Art. 2º Lei 8.021/1990 - plano Collor. A partir da data de publicação desta lei fica vedada: III - a emissão de cheque de valor superior ao equivalente a cem Bônus do

Tesouro Nacional (BTN) no mês da emissão, sem a identificação do

beneficiário.

Art. 69 L 9.069/95 - plano Real. A partir de 1º de julho de 1994, fica vedada a emissão, pagamento e compensação de cheque de valor superior a R$

100,00 (cem reais), sem identificação do beneficiário.

23.8.2. Quanto à forma:

a) cheque visado: é aquele em que o banco sacado lança no cheque uma declaração

de suficiência de fundos (art. 7º L 7.357/85), a pedido do emitente ou do portador legitimado, ficando, banco sacado, obrigado a compensá-lo. Para tanto o banco

sacado reserva, da conta corrente do sacador, em benefício do credor, quantia equivalente ao valor do cheque, durante o prazo de apresentação (art. 7º §§1º 2º L 7.357/85). Ressalta-se que não se trata de aceite pelo banco, posto que não implica de nenhuma obrigação cambial pelo banco, nem mesmo exora o emitente e eventuais codevedores de responsabilidade pelo se pagamento.

Art. 7º L 7.357/85. Pode o sacado, a pedido do emitente ou do portador legitimado, lançar e assinar, no verso do cheque não ao portador e ainda não endossado, visto, certificação ou outra declaração equivalente, datada e por quantia igual à indicada no título. § 1º A aposição de visto, certificação ou outra declaração equivalente obriga o sacado a debitar à conta do emitente a quantia indicada no cheque e a reservá-la em benefício do portador legitimado, durante o prazo de apresentação, sem que fiquem exonerados o emitente, endossantes e demais coobrigados. § 2º - O sacado creditará à conta do emitente a quantia reservada, uma vez vencido o prazo de apresentação; e, antes disso, se o cheque lhe for entregue para inutilização.

b) cheque administrativo ou bancário ou tesouraria: é aquele emitido pelo próprio banco/sacado contra ele mesmo, para ser liquidado em uma de suas agências (art. 9º III L 7.357/85).

Art. 9º L 7.357/85. O cheque pode ser emitido: I - à ordem do próprio sacador; II - por conta de terceiro; III - contra o próprio banco sacador, desde que não ao portador.

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Sua utilização mais corriqueira está em duas situações:

b.1) para troca ou transporte de moeda estrangeira - traveller’s check. nesse procedimento a pessoa 'compra' um cheque do banco de um país e, ao chegar no país de destino, faz a troca por dinheiro local.

b.2) para o pagamento do título em cartório: em regra, exige-se o cheque administrativo (item 25.1. das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça), eis que dá certeza de que terá fundos (art. 19 § 3º L 9.492/97 - lei de

protesto), só não pode ser exigido para as micro e pequenas empresas (art. 73, II LC 123/06 - estatuto da micro pequena empresa)

25.1. NS GGJ. O interessado poderá fazer o pagamento [do protesto] de três formas: em dinheiro, mediante cheque (visado e cruzado ou administrativo) ou, ainda, por meio eletrônico on line (Sistema SELTEC - Sistema Eletrônico de Liquidação de Títulos em Cartório - mantido pelas instituições bancárias).

Art. 19 L 9.492/97. O pagamento do título ou do documento de dívida apresentado para protesto será feito diretamente no Tabelionato competente, no valor igual ao declarado pelo apresentante, acrescido dos emolumentos e demais despesas. § 3º Quando for adotado sistema de recebimento do pagamento por meio de cheque, ainda que de emissão de estabelecimento bancário, a quitação dada pelo Tabelionato fica condicionada à efetiva liquidação.

Art. 73 LC 123/06. O protesto de título, quando o devedor for microempresário ou empresa de pequeno porte, é sujeito às seguintes condições: II - para o pagamento do título em cartório, não poderá ser exigido cheque

de emissão de estabelecimento bancário, mas, feito o pagamento por meio de cheque, de emissão de estabelecimento bancário ou não, a quitação dada pelo tabelionato de protesto será condicionada à efetiva liquidação do cheque;

c) cheque cruzado: é aquele que se caracteriza pela aposição de dois traços

transversais no anverso (frente) do título e possibilita, a qualquer tempo, a identificação da pessoa em favor de quem foi liquidado, ou seja, impede que seja sacado em dinheiro no caixa do banco, como se houve inserido uma cláusula do tipo "válido somente para depósito na conta do favorecido" (art. 44 e 45 L 7.357/85). Apresentam-se em duas submodalidades:

c.1) cruzado em preto ou cruzado especial: entre os traços está expressamente indicado o banco que deve ser depositado (art. 44 §2º L 7.357/85).

c.2) cruzado em branco ou cruzado geral: nessa modalidade não se indica o banco a ser liquidado, mas faz-se o cruzamento do cheque (art. 44 §1º L 7.357/85)

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Art. 44 L 7.357/85. O emitente ou o portador podem cruzar o cheque, mediante a aposição de dois traços paralelos no anverso do título. § 1º O cruzamento é geral se entre os dois traços não houver nenhuma indicação ou existir apenas a indicação ‘’banco’’, ou outra equivalente. O cruzamento é especial se entre os dois traços existir a indicação do nome do banco.

Art. 45 L 7.357/85. O cheque com cruzamento geral só pode ser pago pelo sacado a banco ou a cliente do sacado, mediante crédito em conta. o cheque com cruzamento especial só pode ser pago pelo sacado ao banco indicado, ou, se este for o sacado, a cliente seu, mediante crédito em conta. pode, entretanto, o banco designado incumbir outro da cobrança. §1º O banco só pode adquirir cheque cruzado de cliente seu ou de outro banco. só pode cobrá-lo por conta de tais pessoas. §2º O cheque com vários cruzamentos especiais só pode ser pago pelo sacado no caso de dois cruzamentos, um dos quais para cobrança por câmara de compensação. §3º Responde pelo dano, até a concorrência do montante do cheque, o sacado ou o banco portador que não observar as disposições precedentes.

d) cheque para ser creditado em conta: é aquele cheque que não pode ser pago em dinheiro, devendo ser creditado em conta do beneficiário. Visa impedir não só a sua liquidação em dinheiro, mas também a transferência de beneficiário, pois o banco somente pode efetuar o depósito na conta do favorecido pelo cheque.

Tem o mesmo objetivo que o cheque cruzado, só que não necessita apor as linhas transversais, mas a aposição de uma cláusula expressa contendo “apenas pode ser depositado por" ou ainda "na conta de”. Nesse caso, está implícito que não há possibilidade de endosso.

Art. 46 L 7.357/85. O emitente ou o portador podem proibir que o cheque seja pago em dinheiro mediante a inscrição transversal, no anverso do título, da cláusula ‘’para ser creditado em conta’’, ou outra equivalente. Nesse caso, o sacado só pode proceder a lançamento contábil (crédito em conta, transferência ou compensação), que vale como pagamento. O depósito do cheque em conta de seu beneficiário dispensa o respectivo endosso.

23.9. Endosso do cheque

O cheque é pagável a pessoa nomeada e à vista, podendo ser negociado e possa circular, por meio de endosso, bastando à assinatura do beneficiário no verso se tornando o endossante, a simplicidade do procedimento deve entretanto acompanhar regras específicas determinadas pela L 7.357/85:

a) o cheque pagável a pessoa nomeada, com a cláusula "não à ordem", ou outra equivalente, só é transmissível pela forma e com os efeitos de cessão;

b) o endosso pode ser feito ao emitente, ou a outro obrigado, que podem novamente endossar o cheque;

c) o endosso ao portador vale como endosso em branco.

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d) o endosso deve ser lançado no cheque ou na folha de alongamento e assinado pelo endossante ou seu mandatário com poderes especiais.

e) o endossante garante o pagamento, salvo se tiver estipulação em contrario, podendo ele proibir novo endosso neste caso não garante o pagamento a quem o cheque seja endossado posteriormente.

f) o endosso posterior ao protesto, ou declaração equivalente, ou à expiração do prazo de apresentação produz apenas os efeitos de cessão, entretanto, salvo prova em contrário, o endosso sem data presume-se anterior ao protesto, ou declaração equivalente, ou à expiração do prazo de apresentação.

g) endosso não pode ser parcial e nem do sacado (banco): O endosso deve ser puro e simples, não podendo ficar subordinado à nenhuma condição, bem não pode ser parcial, considerado nulo (art. 18 § 1º L 7.357/85)

Art. 18 L 7.357/85. O endosso deve ser puro e simples, reputando-se não-escrita qualquer condição a que seja subordinado. § 1º São nulos o endosso parcial e o do sacado.

23.10. Pagamento parcial do cheque

Pode ocorrer o pagamento parcial do cheque, não podendo o portador recusar este pagamento de acordo com art. 38 pu L 7.357/85 - Lei do cheque;

Art. 38 L 7.357/85. O sacado pode exigir, ao pagar o cheque, que este lhe seja entregue quitado pelo portador. Parágrafo único. O portador não pode recusar pagamento parcial, e, nesse caso, o sacado pode exigir que esse pagamento conste do cheque e que o portador lhe dê a respectiva quitação.

23.11. Cheque pós-datado

O cheque, como vimos, é uma ordem de pagamento à vista. A obrigatoriedade de depósito em data posterior à sua emissão é considera inválida, ou não escrita (art. 32 L 7.357/85), entretanto é uma prática comercial muito difundida no Brasil, sobretudo pelas limitações de crédito impostas por planos econômicos e altas taxas de juros, que impediam o acesso a outras modalidade de transações, como, por exemplo, o cartão de crédito.

Sendo então um procedimento comercial aceito, tanto pelo comprador, como pelo vendedor, temos uma situação que deve ser protegido pelo direito, como uma convenção entre as partes numa relação cambial. Assim depósito de um cheque pós-datado implica em indenização ao emitente do cheque, no caso de devolução do título por falta de provisão de fundo, sendo que há uma súmula do STJ sobre o tema:

Súmula 370 do STJ – Caracteriza dano moral a apresentação antecipada do cheque pré-datado

23.12. Sustação do cheque

A lei prevê duas hipóteses em que o sacador emite uma ordem ao sacado proibindo a compensação do cheque (sustação): a oposição e a contra-ordem

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23.12.1. por contra-ordem ou por revogação: trata-se de ato exclusivo do emitente do cheque. Gera efeitos apenas após o término do prazo de apresentação e, caso o cheque não tenha sido, ainda liquidado. Exige-se uma ordem por escrito. Pode-se comunicar ao banco, simplesmente, que está revogando um cheque emitido, por qualquer motivo. A revogação é um direito potestativo, ou seja, pode ser exercido sem que haja necessidade de justificar a

atitude (art. 35 L 7.357/85).

23.12.2. por oposição: trata-se do mesmo método da revogação, entretanto há uma

justificativa e produção de efeitos a partir da cientificação do banco sacado, desde que anterior à liquidação do título. Pode ser feita, por exemplo, quando o cheque foi extraviado, furtado, etc. (art. 36 L 7.357/85). Ao banco só cabe fazer a sustação sem fazer juízo de valor ou exigir documentos que "comprovem" o motivo (art. 36 §2º L 7.357/85).

O alerta é de que a sustação, seja por revogação ou por oposição, pode configurar crime de estelionato, se o emitente ou portador presumivelmente legitimado agirem dolosa e fraudulentamente, provocando dano ao portador do cheque.

Art. 35 L 7.357/85. O emitente do cheque pagável no Brasil pode revogá-lo,

mercê de contra-ordem dada por aviso epistolar, ou por via judicial ou extrajudicial, com as razões motivadoras do ato. Parágrafo único - A revogação ou contra-ordem só produz efeito depois de

expirado o prazo de apresentação e, não sendo promovida, pode o sacado pagar o cheque até que decorra o prazo de prescrição, nos termos do art. 59 desta Lei.

Art. 36 L 7.357/85. Mesmo durante o prazo de apresentação, o emitente e o portador legitimado podem fazer sustar o pagamento, manifestando ao sacado, por escrito, oposição fundada em relevante razão de direito. § 1º A oposição do emitente e a revogação ou contra-ordem se excluem reciprocamente. § 2º Não cabe ao sacado julgar da relevância da razão invocada pelo oponente.

23.13. Prazos para apresentação do cheque

O prazo para apresentação é o lapso temporal para que o cheque seja pago/depositado junto a instituição financeira, servindo para indicar o período a ser observado para garantir o direito de executar os co-devedores (art. 33 L 7.357/85). Se for apresentado fora do prazo, se houver fundos e não estiver prescrito, deve ser pago, exceto se passado o prazo prescricional. Logo prazo de apresentação nada tem haver com prazo prescricional, mas assemelha-se ao prazo para protesto.

a) cheque emitido na mesma praça de pagamento: coincidem município de emissão e da agência pagadora do sacado: 30 dias

b) cheque emitido diferente da praça de pagamento: 60 dias

Os efeitos da inobservância do prazo de apresentação são a perda do direito a) de execução contra coobrigados (endossantes e avalistas de endossantes); b) contra o emitente do cheque, se havia fundos durante o prazo de apresentação e eles deixaram de existir, em seguida ao término deste prazo, por culpa não-imputável ao correntista (art. 47 § 4º L 7.357.85)

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Art. 33 L 7.357/85. O cheque deve ser apresentado para pagamento, a contar do dia da emissão, no prazo de 30 (trinta) dias, quando emitido no lugar onde houver de ser pago; e de 60 (sessenta) dias, quando emitido em outro lugar do País ou no exterior. Parágrafo único - Quando o cheque é emitido entre lugares com calendários diferentes, considera-se como de emissão o dia correspondente do calendário do lugar de pagamento.

Art. 47 L 7.357/85. Pode o portador promover a execução do cheque: § 4º A execução independe do protesto e das declarações previstas neste artigo, se a apresentação ou o pagamento do cheque são obstados pelo fato de o sacado ter sido submetido a intervenção, liquidação extrajudicial ou

falência.

23.13. Prazos para protesto do cheque

O prazo para protesto segue o mesmo prazos para a apresentação do cheque: a) 30 dias, quando emitido na mesma praça, ou b) 60 dias, quando em praça diversa. A exceção é o protesto for para fins especiais de falência, que pode ser feito fora do prazo de apresentação. O protesto do cheque, no entanto, pode ser substituído por declaração escrita e datada pelo banco sacado, com indicação do dia da apresentação (art. 47, II L 7.357/85).

Art. 47 L 7.357/85. Pode o portador promover a execução do cheque: I - contra o emitente e seu avalista; II - contra os endossantes e seus avalistas, se o cheque apresentado em tempo hábil e a recusa de pagamento é comprovada pelo protesto ou por

declaração do sacado, escrita e datada sobre o cheque, com indicação do

dia de apresentação, ou, ainda, por declaração escrita e datada por câmara de compensação. § 1º Qualquer das declarações previstas neste artigo dispensa o protesto e

produz os efeitos deste.

23.13. Prazos para prescrição do cheque e as ações cambiárias pertinentes

O cheque prescreve a ação executiva, deixando de ser considerado título executivo, no prazo de seis meses, contados do término do prazo de apresentação (art. 59 L 7.357/85), ou seja, inicia-se o prazo prescricional (6 meses) após fluido totalmente o prazo de apresentação (30 dias ou 60 dias) [cuidado: um prazo é em meses o outro é em dias].

Se, no entanto, este for apresentado dentro do prazo legal e houver recusa de pagamento, o prazo da prescrição inicia da data da mencionada recusa, porque neste momento, consuma-se o prejuízo do portador.

Em se tratando de cheque pós-datado, apresentado antes da data lançada como emissão, para fins de cálculo do prazo prescricional, considera-se como data de emissão do título não a que nele consta, mas a da sua apresentação a pagamento.

Art. 59 L 7.357/85. Prescreve em 6 (seis) meses, contados da expiração do prazo de apresentação, a ação que o Art. 47 desta Lei assegura ao portador

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23.14. Ações cambiárias pertinentes

Para cobrança do cheque por via de execução (arts. 566, I e 586, I CPC), o art. 70 da D 57.663/63 (LUG) determina prazos prescricionais:

a) 3 (três) anos a contar do vencimento, para o exercício do direito de crédito contra o devedor principal e seus avalista;

b) 1 (um) ano a contar do protesto - endossantes e avalistas dos demais coobrigados;

c) 6 (seis) meses a contar do pagamento, ou do ajuizamento da execução cambial, para o exercício do direito de regresso contra um dos coobrigados.

Art. 70 D 57.663/63 Todas as ações contra ao aceitante relativas a letras prescrevem em três anos a contar do seu vencimento. As ações ao portador contra os endossantes e contra o sacador prescrevem num ano, a contar da data do protesto feito em tempo útil ou da data do vencimento, se se trata de letra que contenha cláusula "sem despesas". As ações dos endossantes uns contra os outros e contra o sacador prescrevem em seis meses a contar do dia em que o endossante pagou a letra ou em que ele próprio foi acionado.

Art. 566 CPC. Podem promover a execução forçada: I - o credor a quem a lei confere título executivo;

Art. 586 CPC. A execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível

Passado o prazo prescricional para ação cambiária executória, pelo prazo de 2 anos, poderá propor contra o emitente ou outros obrigados, que se locupletaram com o não pagamento do cheque (art. 61 L 7.357/85). Novamente os prazos não são cumulativos, passado prazo de apresentação, passado prazo prescrição da ação executória, inicia-se a fluência do prazo para propositura da ação

de enriquecimento ilícito.

Art. 61 L 7.357/85. Após o vencimento tem-se o prazo de sete ou oito meses (conforme a praça) para executar. Passado esse prazo tem-se o prazo de dois anos para entrar com ação de enriquecimento ilícito. Passado esse prazo também, tem-se, ainda, mais cinco anos pra entrar com ação ordinária ou monitória (art. 206 §5° CC).

Não interposta a ação nos prazos acima mencionados (executória e enriquecimento ilícito), poderá o portador, alegando enriquecimento de outrem à sua custa (rito ordinário), entrar com uma ação

ordinária de locupletamento cujo prazo prescricional é de 10 anos, contando-se a partir dos 6

meses contados da expiração do prazo para apresentação.

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CASO CONCRETO: Augusto é titular de conta corrente conjunta com sua esposa, Bruna, e emitiu um cheque no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais) em favor de uma clínica médica. Posteriormente, a beneficiária verificou que não constava da cártula o local de emissão, porém, mesmo com tal omissão, foi promovida execução em face de Bruna, já que esta havia se utilizado do serviço prestado.

a) Há alguma implicação legal na omissão apontada?

Não haverá implicação alguma, por força do art. 2, II L 7.357/85 e a Súmula STF 387.

b) Será procedente a execução do cheque realizada contra Bruna, por se tratar de conta corrente conjunta?

Impossível a cobrança em face de Bruna, uma vez que fere o Princípio da Literalidade, o que acarretará ilegitimidade passiva.

QUESTÃO OBJETIVA: O cheque pré-datado

a) não pode ser avalizado ou endossado.

b) pode ser apresentado para pagamento antes do dia indicado como data de emissão, e pagável no dia da apresentação.

c) não é considerado cheque, em razão da pré-datação.

d) para ser pago é necessário o seu depósito em conta corrente.

CASO CONCRETO: Augusto compareceu a uma revendedora de automóveis com o objetivo de adquirir veículo com pagamento à vista. Foi exigido pela revendedora que o pagamento se desse por cheque visado pelo Banco do Brasil.

a) Qual a providência deve ser tomada pelo banco sacado a ser solicitado o visto pelo correntista?

Ao visar o cheque o banco sacado deve fazer reserva na conta corrente do seu valor respectivo, cujo numerário ficará retido para pagamento do cheque, conforme art. 7 L 7.357/85.

b) O visto exonera o emitente e os demais coobrigados as obrigações cambiais?

Não exonera nenhum dos obrigados da cambial, justamente por falta de dispositivo legal.

QUESTÃO OBJETIVA: Considera-se prescrito o cheque

a) 6 (seis) meses após o prazo de apresentação.

b) 6 (seis) meses após a sua emissão.

c) 12 (doze) meses após a sua emissão.

d) 2 (dois) meses após o prazo de apresentação.

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Contratos empresariais - primeira parte (módulo 14)

24.1. Conceitos

Contrato é um negócio jurídico (espécie de ato jurídico) bilateral por força do qual duas ou mais

pessoas acordam entre si a geração, modificação ou extinção de uma relação jurídica de índole patrimonial de natureza comercial. Pede-se cuidado em não confundir instrumento com contrato: instrumento é o documento comprobatório do contrato. Obrigação é a consequencia que o direito posto atribui a um determinado fato, no caso do contrato, a manifestação de vontade dos contratantes.

24.2. Princípios gerais contratuais

Os princípios que informam o regime jurídico contratual dos empresários.

24.2.1. princípio da autonomia da vontade: princípio fundamental da teoria geral do direito contratual, que assegura às pessoas a liberdade de contratar, desde que respeitada a função social dos contratos (art. 421 CC), os preceitos de ordem pública e bons costumes, para escolher (i) com quem se mantém relação contratual; (ii) objeto da relação contratual; e (iii) conteúdo dessa relação.

Art. 421 CC. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.

24.2.2. princípio do consensualismo ou do consentimento: o contrato é uma convergência

de vontades entre proponente ou policitante e aceitante ou oblato, sendo desnecessária

qualquer outra condição para que o contrato se aperfeiçoe. Temos algumas excepcionalidades à esse princípio, como a) contratos reais, que torna imprescindível a

entrega da coisa para que se aperfeiçoe, como por exemplo, contrato de depósito, de mútuo, de comodato, dentre outros; e b) contratos solenes, que torna imprescindível a submissão a formalidades específicas, sem as quais o contrato não se aperfeiçoa (incomuns no direito comercial, pela própria dinâmica da atividade empresarial)

24.2.3. princípio da relatividade: o contrato gera efeitos apenas entre as partes

contratantes, bem como seus herdeiros, salvo se o contrato é personalíssimo. Também aqui temos algumas excepcionalidades, como, por exemplo, o contrato de seguro de vida.

24.2.4. princípio da força obrigatória: o contrato determina direito e deveres entre as partes, que equivale a ser lei entre os contratantes (pacta sunt servanda). Implicitamente entendemos que há dois subprincípios implícitos, que dão garantia de segurança jurídica nas relações contratuais:

24.2.4.1. cláusula de irretratabilidade: posto que, por esse princípio, não existe possibilidade de dissolução total do vínculo por simples vontade de uma das partes.

24.2.4.2. cláusula de intangibilidade: posto que, por esse princípio, não existe possibilidade de alteração unilateral das condições, prazos, valores e demais cláusulas.

Entretanto, cabe ressaltar que temos, também, algumas excepcionalidades ao princípio da força obrigatória, abarcadas pela teoria da imprevisão que prescreve a revisão das condições em contratos comutativos (equilíbrio entre vantagem e contraprestação) em virtude de

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alteração da situação econômica que torna o contrato excessivamente oneroso a um dos

contratantes em decorrência de fatores imprevisíveis e independentes de sua vontade (cláusula rebus sic stantibus). Um exemplo interessante foi o efeito da desvalorização da moeda, real, face a dólar, nos contratos de leasing atrelados à moeda estadunidense.

Art. 478 CC. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.

24.2.5. princípio da boa-fé: o contrato, ao ser interpretado, deve buscar a real intenção das partes, não apenas na "letra fria" das cláusulas escritas (art. 422 CC)

Art. 422 CC. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.

24.3. Exceção do contrato não cumprido: não se trata de um princípio, mas de uma cláusula

resolutiva tácita, para que uma parte não pode exigir o cumprimento do contrato pela outra se estiver em mora em relação à sua própria prestação (exceptio non adimpleti contractus)

Art. 476 CC. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro.

24.4. Elementos do contrato:

Como qualquer negócio jurídico, temos elementos essenciais à sua validade (art. 104 CC)

24.4.1. objetivos: objeto lícito e possível; forma prescrita e não defesa em lei.

24.4.2. subjetivos: capacidade das partes contratantes; acordo ou consentimento recíproco.

Art. 104 CC. A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III- forma prescrita ou não defesa em lei. Art. 3° CC . São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III- os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Art. 4° CC. São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III- os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV- os pródigos.

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Contratos empresariais - segunda parte - espécies de contratos mercantis (módulo 15)

25. Contrato de compra e venda mercantil

25.1. Conceito

O contrato de compra e venda tem sua definição dada pelo art. 481 CC que assevera que "pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro". A compra e venda é mercantil quando comprador e vendedor são empresários. Trata-se do contrato elementar da atividade empresarial.

Art. 481 CC. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro.

25.2. Classificação do contrato de compra e venda mercantil: (uma única profundidade)

a) bilateral ou sinalagmático: existem obrigações recíprocas entre as partes contratantes, onde uma obrigação é causa de outra.

b) oneroso: estabelece vantagens e desvantagens para ambas as partes contratantes.

c) comutativo ou aleatório: as obrigações são certas e as partes poderão prever troca (comuta) de vantagens e desvantagens que, normalmente, se equivalem, entretanto poderá, excepcionalmente, ser aleatório quanto tiver por objeto coisas futuras ou existentes, mas

sujeitas a risco.

d) consensual ou solene: exige apenas a existência de uma oferta e de uma aceitação. Os contratos consensuais tornam-se perfeitos e acabados com a integração das duas declarações de vontade (suficiente o encontro de vontades). Contratos solenes (formais) obedecem a forma prescrita em lei, caso contrário, o contrato não é válido.

e) translativo do domínio: transmissão da propriedade geradora de uma obrigação de entregar a coisa alienada é o fundamento da tradição ou do registro.

25.3. Elementos essenciais para contrato de compra e venda mercantil (fechamento)

Visto disposto nos art. 482 do Código Civil e a doutrina majoritária temos os elementos essenciais a caracterização do contrato de compra e venda:

Art. 482 CC. A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes acordarem (25.3.1) no objeto (25.3.2) e no preço (25.3.3).

25.3.1. consentimento: deve ser livre e espontâneo, sob pena de ser anulável (art. 138 CC)

Art. 138 CC. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.

25.3.2. coisa: pode ser um bem móvel, semovente, imóvel e até mesmo incorpóreo. Também não necessita estar presente, no momento da celebração do contrato, podendo ser objeto do contato seja coisa futura (art. 483 CC), como por exemplo o contrato de compra de safra. A coisa pode ser bem de qualquer espécie, inclusive incorpóreo, desde que não esteja fora do

comércio.

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Art. 483 CC. A compra e venda pode ter por objeto coisa atual ou futura. Neste caso, ficará sem efeito o contrato se esta não vier a existir, salvo se a intenção das partes era de concluir contrato aleatório.

25.3.3. preço: pode estar determinado ou ser determinado por fixação do preço pela taxa de mercado ou de bolsa ou ainda por terceiro. Caso não haja preço estipulado aplica-se a regra do art. 488 CC.

Art. 485 CC. A fixação do preço pode ser deixada ao arbítrio de terceiro, que os contratantes logo designarem ou prometerem designar. Se o terceiro não aceitar a incumbência, ficará sem efeito o contrato, salvo quando acordarem os contratantes designar outra pessoa.

Art. 486 CC. Também se poderá deixar a fixação do preço à taxa de mercado ou de bolsa, em certo e determinado dia e lugar.

Art. 487 CC. É lícito às partes fixar o preço em função de índices ou parâmetros, desde que suscetíveis de objetiva determinação.

Art. 488 CC. Convencionada a venda sem fixação de preço ou de critérios para a sua determinação, se não houver tabelamento oficial, entende-se que as partes se sujeitaram ao preço corrente nas vendas habituais do vendedor.

Parágrafo único. Na falta de acordo, por ter havido diversidade de preço, prevalecerá o termo médio.

Art. 489 CC. Nulo é o contrato de compra e venda, quando se deixa ao arbítrio exclusivo de uma das partes a fixação do preço.

25.4. Obrigação do vendedor

25.4.1. transferir o domínio da coisa (art. 481 CC)

Art. 481 CC. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro.

25.4.2. responder pelos vícios (art. 441 e 442 CC)

Art. 441 CC. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor.

Art. 442 CC. Em vez de rejeitar a coisa, redibindo o contrato (art. 441), pode o adquirente reclamar abatimento no preço.

25.4.3. responder pela evicção (art. 447 primeira parte CC)

Art. 447 CC. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública.

25.4.4. receber o pagamento, no local, data e modo combinado. Caso o vendedor não receber o preço, como e onde foi convencionado, incorre em mora accipiendi.

Obs: a execução do contrato pode depender de uma condição, pode ser imediata, diferida ou continuada

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25.5. Obrigações do comprador

25.5.1. pagar o preço, no local e data combinados. (art. 394; 313. 327 e 331CC)

Art. 394 CC. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer.

Art. 313 CC. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa.

Art. 327 CC. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as

partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias. (faz-se a leitura reversa desse dispositivo)

Art. 331 CC. Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada

época para o pagamento, pode o credor exigi-lo imediatamente. (faz-se a leitura reversa desse dispositivo)

25.5.2. receber a coisa, no local, nata e modo combinado. caso o comprador não receber a coisa, como e onde foi convencionado, incorre em mora accipiendi.

25.6. Responsabilidade pela coisa comprada

25.6.1. antes da entrega da coisa: o vendedor que alienar, consumir ou deteriorar a coisa vendida, responde pela coisa, inclusive por lucros cessantes. Não havendo estipulação em contrário, as despesas acessórias são por conta do vendedor. A interpelação judicial é necessária para que uma parte seja considerada em mora.

Art. 502 CC. O vendedor, salvo convenção em contrário, responde por todos os débitos que gravem a coisa até o momento da tradição.

25.6.2. depois da entrega da coisa: O vendedor responde por vício redibitório e evicção

Art. 441 CC. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor.

Art. 447 CC. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública.

25.7. Cláusulas especiais da compra e venda

25.7.1. retrovenda: é aquela que assegura ao vendedor, nos contratos de compra e venda de bens imóveis, o direito de recomprá-lo, no prazo máximo de 3 anos após a venda (art. 505 CC), sendo tal direito transmissível (art. 507 CC)

Art. 505 CC. O vendedor de coisa imóvel pode reservar-se o direito de recobrá-la no prazo máximo de decadência de três anos, restituindo o preço recebido e reembolsando as despesas do comprador, inclusive as que, durante o período de resgate, se efetuaram com a sua autorização escrita, ou para a realização de benfeitorias necessárias.

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25.7.2. venda a contento: é aquela em que a venda é realizada sob condição suspensiva que pode estar condicionado: a) ao agrado ou desagrado na manifestação do comprador (subjetiva) com a coisa (art. 509 CC); ou a certeza da qualidade da coisa (objetiva), denominada então venda sujeita à prova. (art. 510 CC)

Art. 509 CC. A venda feita a contento do comprador entende-se realizada sob condição suspensiva, ainda que a coisa lhe tenha sido entregue; e não se reputará perfeita, enquanto o adquirente não manifestar seu agrado.

Art. 510 CC. Também a venda sujeita a prova presume-se feita sob a condição suspensiva de que a coisa tenha as qualidades asseguradas pelo vendedor e seja idônea para o fim a que se destina.

25.7.3. preferência ou preempção: é aquela que assegura ao vendedor, a compra da coisa vendida ao comprador, nas condições e preço que o comprador ofertar a terceiros (art. 513 CC). É também chama de direito de prelação.

Art. 513 CC. A preempção, ou preferência, impõe ao comprador a obrigação de oferecer ao vendedor a coisa que aquele vai vender, ou dar em pagamento, para que este use de seu direito de prelação na compra, tanto por tanto. Parágrafo único. O prazo para exercer o direito de preferência não poderá exceder a cento e oitenta dias, se a coisa for móvel, ou a dois anos, se imóvel.

25.7.4. reserva de domínio: é aquela que assegura ao vendedor a reserva de domínio sobre a coisa vendida, até que o comprador pague integralmente o preço (art. 521 CC). Nessa situação o comprador, enquanto não pagar integralmente o preço, não tem a propriedade da coisa móvel, que continua sendo do vendedor, mas somente a posse (art. 524 primeira parte CC). Caso o preço não seja totalmente pago, poderá vendedor cobrar a dívida ou recuperar a posse da coisa vendida (art. 526 CC).

Art. 521 CC. Na venda de coisa móvel, pode o vendedor reservar para si a propriedade, até que o preço esteja integralmente pago.

Art. 524 CC. A transferência de propriedade ao comprador dá-se no momento em que o preço esteja integralmente pago. Todavia, pelos riscos da coisa responde o comprador, a partir de quando lhe foi entregue.

Art. 526 CC. Verificada a mora do comprador, poderá o vendedor mover contra ele a competente ação de cobrança das prestações vencidas e vincendas e o mais que lhe for devido; ou poderá recuperar a posse da coisa vendida.

25.8. Incoterms:

Para uniformizar a distribuição das obrigações entre os contratantes, principalmente em se tratando de contratos envolvendo países diferentes, a Câmara de Comércio Internacional - CCI convencionou alguns padrões mundiais chamados Incoterms: a) EXW (ex work – retirada na origem); b) FCA (free carrier – transporte livre de despesas); c) FAS (free alongside ship – entrega no costado do navio); d) FOB (free on board – posto a bordo); e) C&R (cost and freight – custo e frete); f) CIF (cost, insurance and freight – custo, seguro e frete); g) CIP (carriage and insurance paid to – frete e seguro pagos).

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26. Contrato de representação comercial

26.1. Conceito

O contrato de representação comercial (arts. 710 a 721 CC) é aquele pelo qual uma das partes (representante comercial autônomo) se obriga a obter pedidos de compra e venda de mercadorias fabricadas ou comercializadas pela outra parte (representado). O representante comercial, pessoa jurídica ou pessoa física, exerce tal atividade sem vínculo empregatício e em caráter não eventual.

Art. 1º L 4.886/65. Exerce a representação comercial autônoma a pessoa jurídica ou a pessoa física, sem relação de emprego, que desempenha, em

caráter não eventual por conta de uma ou mais pessoas, a mediação para a

realização de negócios mercantis, agenciando propostas ou pedidos, para, transmití-los aos representados, praticando ou não atos relacionados com a execução dos negócios. Parágrafo único. Quando a representação comercial incluir poderes atinentes ao mandato mercantil, serão aplicáveis, quanto ao exercício deste, os preceitos próprios da legislação comercial.

Art. 710 CC. Pelo contrato de agência, uma pessoa assume, em caráter não eventual e sem vínculos de dependência, a obrigação de promover, à conta de outra, mediante retribuição, a realização de certos negócios, em zona determinada, caracterizando-se a distribuição quando o agente tiver à sua disposição a coisa a ser negociada. Parágrafo único. O proponente pode conferir poderes ao agente para que este o represente na conclusão dos contratos.

O exercício da representação comercial autônoma está disciplinada na L 4.886/65, alterada pela L 8.420/92, e determina registro dos representantes comerciais autônomos nos conselhos regionais.

Art. 2º L 4.886/65. É obrigatório o registro dos que exerçam a representação comercial autônoma nos Conselhos Regionais criados pelo art. 6º desta Lei.

26.1. Requisitos essenciais ao contrato de representação comercial

Os requisitos essenciais ao contrato de representação comercial autônoma, estão elencados no at. 27 L 4.886/65:

Art. 27 L 4.886/65. Do contrato de representação comercial, além dos

elementos comuns e outros a juízo dos interessados, constarão obrigatoriamente:

a) condições e requisitos gerais da representação;

b) indicação genérica ou específica dos produtos ou artigos objeto da representação;

c) prazo certo ou indeterminado da representação

d) indicação da zona ou zonas em que será exercida a representação;

e) garantia ou não, parcial ou total, ou por certo prazo, da exclusividade de zona ou setor de zona;

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f) retribuição e época do pagamento, pelo exercício da representação, dependente da efetiva realização dos negócios, e recebimento, ou não, pelo representado, dos valores respectivos;

g) os casos em que se justifique a restrição de zona concedida com exclusividade;

h) obrigações e responsabilidades das partes contratantes:

i) exercício exclusivo ou não da representação a favor do representado;

j) indenização devida ao representante pela rescisão do contrato fora dos casos previstos no art. 35, cujo montante não poderá ser inferior a 1/12 (um doze avos) do total da retribuição auferida durante o tempo em que exerceu a representação.

26.2. Responsabilidade do representante:

Quanto aos atos que praticar, responde segundo as normas do contrato e, sendo este omisso, na conformidade do direito comum.

26.3. Contraprestação da representação comercial:

O representante comercial adquire direito às comissões, logo que o comprador efetue o respectivo pagamento ou na medida que o faça, parceladamente. As comissões devidas serão pagas mensalmente.

26.5. Rescisão do contrato de representação comercial:

26.5.1. pelo representado:

a) a desídia do representante (preguiça, desleixo, descuido) no cumprimento das obrigações decorrentes do contrato;

b) a prática de atos que importem em descrédito comercial do representado;

c) a falta de cumprimento de quaisquer obrigações inerentes ao contrato de representação comercial;

d) a condenação definitiva por crime considerado infamante;

e) força maior.

26.5.2. pelo representante:

a) redução de esfera de atividade do representante em desacordo com as cláusulas do contrato;

b) a quebra, direta ou indireta, da exclusividade, se prevista no contrato;

c) a fixação abusiva de preços em relação à zona do representante, com o exclusivo escopo de impossibilitar-lhe ação regular;

d) o não-pagamento de sua retribuição na época devida;

e) força maior.

A denúncia, por qualquer das partes, sem causa justificada, do contrato de representação, ajustado por tempo indeterminado e que haja vigorado por mais de seis meses, obriga o denunciante à

concessão de pré-aviso, com antecedência mínima de 30 dias, ou ao pagamento de importância igual a um terço (1/3) das comissões auferidas pelo representante, nos três meses anteriores.

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28. Contrato de comissão mercantil

28.1. Conceito

O contrato de comissão mercantil é contrato de colaboração em que um empresário - comissário - se obriga a realizar negócios mercantis por conta de outro empresário (comitente), mas em nome próprio, assumindo, portanto, perante terceiros, a responsabilidade pessoal pelos atos praticados. (art. 693 CC). Logo o comissário age no interesse e seguindo ordens do comitente. A professora Maria Helena Diniz conceitua como contrato de comissão é aquele pelo qual “uma pessoa (comissário ou compromissário) adquire ou vende bens, em nome e responsabilidade próprios, mas por ordem e por conta de outrem (o comitente), em troca de certa remuneração, obrigando-se para com terceiros com quem contrata”.(DINIZ, Maria Helena. Tratado Teórico e Prático dos Contratos. vol. 3. São Paulo: Saraaiva. 2003, p. 435)

Art. 693 CC. O contrato de comissão tem por objeto a aquisição ou a venda de bens pelo comissário, em seu próprio nome, à conta do comitente.

28.2. Classificação do contrato de comissão mercantil:

Segundo a professora Maria Helena Diniz temos na comissão os seguintes elementos: a) bilateral ou sinalagmático; b) oneroso: o comitente tem direito à comissão pelos negócios executados; c) comutativo ou aleatório; d) consensual ou solene: se formam pelo simples consenso entre comitente e comissário; e) intuito personae: a confiança é elemento essencial.

28.3. Obrigação do comissário

O comissário deve agir nos estritos termos determinados pelo comitente (arts. 694 a 696 CC)

Art. 694 CC. O comissário fica diretamente obrigado para com as pessoas com quem contratar, sem que estas tenham ação contra o comitente, nem este contra elas, salvo se o comissário ceder seus direitos a qualquer das partes.

Art. 695 CC. O comissário é obrigado a agir de conformidade com as ordens e instruções do comitente, devendo, na falta destas, não podendo pedi-las a tempo, proceder segundo os usos em casos semelhantes. Parágrafo único. Ter-se-ão por justificados os atos do comissário, se deles houver resultado vantagem para o comitente, e ainda no caso em que, não admitindo demora a realização do negócio, o comissário agiu de acordo com os usos.

Art. 696 CC. No desempenho das suas incumbências o comissário é obrigado a agir com cuidado e diligência, não só para evitar qualquer prejuízo ao comitente, mas ainda para lhe proporcionar o lucro que razoavelmente se podia esperar do negócio. Parágrafo único. Responderá o comissário, salvo motivo de força maior, por qualquer prejuízo que, por ação ou omissão, ocasionar ao comitente.

28.4. Direitos do comissário:

O comissário deverá ser remunerado pelos negócios que realizar, porto que são efetivados a mando e interesse do comitente. A essa remuneração dá-se nome de comissão. (art. 701 a 708 CC), que é um crédito com privilégio geral na falência (art. 707 CC e art. 83, V, 'c' L 11.101/2005).

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Art. 701 CC. Não estipulada a remuneração devida ao comissário, será ela arbitrada segundo os usos correntes no lugar.

Art. 702. CC No caso de morte do comissário, ou, quando, por motivo de força maior, não puder concluir o negócio, será devida pelo comitente uma remuneração proporcional aos trabalhos realizados.

Art. 703 CC. Ainda que tenha dado motivo à dispensa, terá o comissário direito a ser remunerado pelos serviços úteis prestados ao comitente, ressalvado a este o direito de exigir daquele os prejuízos sofridos.

Art. 705 CC. Se o comissário for despedido sem justa causa, terá direito a ser remunerado pelos trabalhos prestados, bem como a ser ressarcido pelas perdas e danos resultantes de sua dispensa.

Art. 707 CC. O crédito do comissário, relativo a comissões e despesas feitas, goza de privilégio geral, no caso de falência ou insolvência do comitente.

Art. 708 CC. Para reembolso das despesas feitas, bem como para recebimento das comissões devidas, tem o comissário direito de retenção sobre os bens e valores em seu poder em virtude da comissão.

28.6. Cláusulas especiais da comissão mercantil

Os riscos do negócio cabem, em princípio, ao comitente, posto que o comissário age nos estritos termos definidos pelo comitente (art. 697 CC). As consequencias da inadimplência do terceiro serão suportadas pelo comitente, entretanto, pela cláusula del credere, pode o comissário responder pelo cumprimento das obrigações assumidas pelo terceiro com quem contratou, nesse caso em caráter solidário (art. 698 CC). Por outro lado, os riscos por vício na coisa vendida e evicção correm por conta do comitente.

Art. 697 CC. O comissário não responde pela insolvência das pessoas com quem tratar, exceto em caso de culpa e no do artigo seguinte.

Art. 698 CC. Se do contrato de comissão constar a cláusula del credere, responderá o comissário solidariamente com as pessoas com que houver tratado em nome do comitente, caso em que, salvo estipulação em contrário, o comissário tem direito a remuneração mais elevada, para compensar o ônus assumido.

28.7. Rescisão do contrato de representação comercial:

Art. 709 CC. São aplicáveis à comissão, no que couber, as regras sobre mandato.

Art. 682 CC. Cessa o mandato: I - pela revogação ou pela renúncia; II - pela morte ou interdição de uma das partes; III- pela mudança de estado que inabilite o mandante a conferir os poderes, ou o mandatário para os exercer; IV- pelo término do prazo ou pela conclusão do negócio.

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29. Contrato de distribuição ou colaboração empresarial ou contrato de concessão latu sensu

29.1. Conceito

O Contrato de Distribuição é o acordo pelo qual o fabricante/produtor, oferecendo vantagens especiais (mediante retribuição), compromete-se (assume) a vender, continuadamente (não eventual), seus produtos ao distribuidor, para revenda (coisa à disposição para ser negociada) em um determinada região (zona determinada)

Art. 710 CC. Pelo contrato de agência, uma pessoa assume, em caráter não eventual e sem vínculos de dependência, a obrigação de promover, à conta de outra, mediante retribuição, a realização de certos negócios, em zona determinada, caracterizando-se a distribuição quando o agente tiver à sua disposição a coisa a ser negociada.

O contrato de distribuição pode ser subdividido, segundo suas características em de aproximação ou de intermediação:

29.1.1. distribuição-aproximação: o distribuidor se obriga a promover a realização de certos negócios por conta d produtor, em zona determinada e tendo sob sua posse as mercadorias a serem vendidas. Se faltar a distribuição-aproximação o último requisito, isto é, se o distribuidor não tiver em mãos as mercadorias que promove, o contrato é denominado “agência” pela lei (art. 710 CC).

29.1.2. distribuição-intermediação é contrato atípico, não disciplinado na lei. É o celebrado entre distribuidoras de combustível e os postos de abastecimento de suas bandeiras, entre fábricas de cerveja e os atacadistas regionais etc. Caracteriza-se pela obrigação que o distribuidor assume, perante o produtor, de criar, consolidar ou ampliar o mercado dos produtos deste último, comprando-os para revender.

Trata-se de promessa de venda e revenda. É contrato típico e misto, pois abrange (i) compra e venda dos produtos a serem distribuídos; (ii) a agência; (iii) fornecimento de estoques e mercadorias; (iv)assistência técnica; e, (v) uso de marca. É contrato comum no setor de bebidas, combustíveis e automotivos.

29.2. Classificação do contrato de distribuição: (não necessita tal classificação)

29.3. Elementos do contrato de distribuição:

Utilizando o conceito de contrato de distribuição, podemos identificar os seguintes elementos:

29.3.1. Subjetivos: partes intervenientes do contrato: (i) concedente ou fabricante ou produtor; e (ii) concessionário ou distribuidor, que revende o produto e presta assistência técnica, em seu nome e por sua conta e risco.

29.3.2. Objetivos: (i) produto, objeto comercializado, deverá ser fabricado pelo fabricante/produtor, vendido ao distribuidor e revendido ao consumidor. (movimentos

obrigatórios); (ii) área de atuação do distribuidor, exclusiva ou não, para que não haja competição entre distribuidores da mesma rede.

29.3.3. Formais: instrumento escrito, mediante adesão do distribuidor, contendo os limites de risco e de responsabilidade de cada parte, podendo até mesmo conter cláusula que obrigue o distribuidor a prestar assistência técnica ao consumidor (terceiro).

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29.4. Direito do distribuidor

O distribuidor tem direito a a) remuneração (oneroso) correspondente aos negócios concluídos dentro de sua área, ainda que sem sua interferência, salvo ajuste diverso (art. 714 CC); b) indenização se o proponente descumprir o contrato, sem justa causa, cessando ou reduzindo fornecimentos, tornando inviável economicamente o negócio (art. 715 CC).

Art. 714 CC. Salvo ajuste, o agente ou distribuidor terá direito à remuneração correspondente aos negócios concluídos dentro de sua zona, ainda que sem a sua interferência.

Art. 715 CC. O agente ou distribuidor tem direito à indenização se o proponente, sem justa causa, cessar o atendimento das propostas ou reduzi-lo tanto que se torna antieconômica a continuação do contrato.

29.5. Deveres do distribuidor

Quanto ao distribuidor, temos as seguintes obrigações, todas pertinentes a se portar como se fosse o próprio fornecedor/produtor, com todo ônus (art. 713 CC):

a) vender os produtos fornecidos pelo fabricante;

b) submeter-se à fiscalização do concedente e à imposição de normas relativas ao preço do produto, à assistência técnica a ser prestada, etc.

c) ter reserva de estoque;

d) aparelhar adequadamente suas instalações;

e) dirigir a publicidade dentro das diretrizes gerais;

f) facilitar as inspeções técnicas por profissionais da concedente;

g) treinar seus funcionários;

h) ter oficina especializada para reparos e reposição de peças;

i) dar garantia do produto à clientela, sub-rogando-se na obrigação do fabricante;

j) pagar 5% do valor total das mercadorias que adquiriu nos últimos quatro meses do contrato, se der causa a sua rescisão.

Art. 713 CC. Salvo estipulação diversa, todas as despesas com a agência ou distribuição correm a cargo do agente ou distribuidor.

29.6. Deveres do fabricante/produtor

Como obrigações do concedente/fabricante, podemos destacar:

a) não efetuar vendas diretas, salvo previsão legal;

b) respeitar a exclusividade do distribuidor, não nomeando outro para a mesma área;

c) promover publicidade dos produtos vendidos pelo distribuidor;

d) não exigir pagamento antes do faturamento, salvo ajuste;

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29.7 Clausulas especiais do contato de distribuição

Como é contrato atípico, as relações entre os seus contraentes regem-se apenas pelo contido no respectivo instrumento de contrato. A exclusividade, territorialidade, hipóteses de rescisão, direito à indenização, prazo e os demais elementos constitutivos da relação obrigacional podem ser livremente negociados entre distribuidor e distribuído.

Também deverão existir cláusulas que (i) imponham ao distribuidor a assunção das garantias oferecidas ao cliente; (ii) se refiram ao dever de constituir um depósito de mercadorias; (iii) especifiquem a organização técnica e administrativa da empresa; (iv) estabeleçam o regime das instalações de vendas, exibição, reparação e manutenção dos produtos; (v) estipulem a participação do distribuidor na publicidade dos produtos; e, (vi) prescrevam a forma de controle econômico e contábil da empresa.

Quanto ao prazo, este será por tempo indeterminado, podendo-se limitar um mínimo, tornando-se indeterminado depois, caso não haja manifestação das partes em contrário. Se não houver prorrogação do prazo, há obrigação do concedente de readquirir o estoque. Mas caso tenha sido iniciativa do concessionário, não haverá obrigação de indenizar o concedente.

29.7.1. Exclusividade

No contrato de distribuição, costuma-se utilizar o termo “exclusividade” para denominar várias tipos de obrigações atinentes tanto ao fabricantes quanto aos distribuidores, podendo ainda designar vários termos no âmbito contratual.

A exclusividade normalmente implica em exclusividade de comercialização e na exclusividade de Aquisição (fornecimento exclusivo).

Assim, a exclusividade pode significar:

• Obrigação de comercializar apenas os produtos fabricados pelo fornecedor (produtos não concorrentes);

• Obrigação do distribuidor de comercializar apenas produtos adquiridos de terceiros indicados pelo fabricante (também há nesta hipótese, a obrigação de abstenção de comercializar produtos concorrentes);

• Obrigação do distribuidor de não comercializar quaisquer outros produtos, mesmo que não concorrentes com aqueles objeto do contrato de distribuição;

• Obrigação do fornecedor de vender sua produção exclusivamente por intermédio do distribuidor (imposição comum quando se trata do sistema de distribuição no grande varejo);

• Direito do distribuidor de ser o único a comercializar o produto distribuído em determinada área (ou em relação a determinados consumidores).

29.8. Rescisão do contrato de distribuição:

Art. 720 CC. Se o contrato for por tempo indeterminado, qualquer das partes poderá resolvê-lo, mediante aviso prévio de noventa dias, desde que transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto do investimento exigido do agente.

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Parágrafo único. No caso de divergência entre as partes, o juiz decidirá da razoabilidade do prazo e do valor devido.

Art. 721 CC. Aplicam-se ao contrato de agência e distribuição, no que couber, as regras concernentes ao mandato e à comissão e as constantes de lei especial.

Art. 682 CC. Cessa o mandato: I - pela revogação ou pela renúncia; II - pela morte ou interdição de uma das partes; III- pela mudança de estado que inabilite o mandante a conferir os poderes, ou o mandatário para os exercer; IV- pelo término do prazo ou pela conclusão do negócio.

O contrato de distribuição celebrado por prazo indeterminado, assim como nas outras formas contratuais, nos remete ao artigo 188, I CC que assegura o exercício regular do direito de denúncia do contrato. O prazo razoável para se efetuar a ruptura consiste naquele necessário ao distribuidor para redirecionar seus negócios, e, portanto, de acordo com a regra do artigo 473, pu CC.

Art. 188 CC. Não constituem atos ilícitos: I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;

Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notificada à outra parte. Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.

O contrato de distribuição celebrado por prazo determinado, encerra-se quando expirado o prazo pactuado, entretanto Paula A. Forgioni (Contrato de Distribuição, 2005:486-487), destaca três outras situações:

(i) contratos celebrados formalmente por prazo determinado, mas que têm prazo indeterminado;

(ii) existência de abuso do direito de não-renovação e

(iii) contratos celebrados por prazo determinado em que uma das partes é levada a crer na sua prorrogação além do termo contratado

30. Contrato de Franquia empresarial

30.1. Conceito

A franquia empresarial é um contrato (de colaboração por aproximação) pelo qual um empresário, denominado franqueador, licencia o uso de sua marca a outro empresário, denominado franqueado, e presta-lhe serviços de organização empresarial, com ou sem venda de produtos, recebendo uma remuneração, denominado royalties (mensais ou "por negócio") e taxa de franquia (entrada).

Tomemos a definição de franquia Maria Helena Diniz (Tratado teórico e prático dos contratos vol. 4. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 47):

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Franquia ou franchising é o contrato pelo qual uma das partes (franquador ou franchisor) concede, por certo tempo, à outra (franqueado ou franchisee) o direito de comercializar com exclusividade, em determinada área geográfica, serviço, nome comercial, título de estabelecimento. Marca de indústria ou produto que lhe pertence, com assistência técnica permanente, recebendo em troca, certa remuneração.

A definição mais abrangente está na própria lei de franquia - L 8.955/94 - em seu artigo 2º:

Art. 2º L 8.955/94. Franquia empresarial é o sistema pelo qual um franqueador cede ao franqueado o direito de uso de marca ou patente, associada ao direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, também ao direito de uso de tecnologia de

implantação e administração de negócios ou sistema operacional desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante remuneração direta

ou indireta, sem que, no entanto, fique caracterizado vínculo empregatício.

30.2. Natureza jurídica do contrato de franquia empresarial

contrato bilateral, oneroso, de execução continuada, atípico (embora o objeto tenha previsão legal), forma escrita e registro especial (INPI) como condição de validade perante terceiros.

30.3. Contrato de franquia

Assim, por esses conceitos, percebe-se que no contrato de franquia há a conjugação de dois contratos: a) licenciamento de uso de marca e b) transferência de know-how ou tecnologia (organização empresarial). Portanto, por implicar operação de licença para uso de marca e em transferência de tecnologia o contrato de franquia empresarial, para ter efeito contra terceiros, deverá ser averbado no INPI. (art. 140 e 211 L 9.279/96). Consequentemente deverá ser escrito, não só por esse motivo, mas também por força do artigo 6º da L 8.955/94.

Art. 211 L 9.279/96 O INPI fará o registro dos contratos que impliquem transferência de tecnologia, contratos de franquia e similares para produzirem efeitos em relação a terceiros

Art. 140 L 9.279/96. O contrato de licença [de uso de marca] deverá ser averbado no INPI para que produza efeitos em relação a terceiros. § 1º A averbação produzirá efeitos em relação a terceiros a partir da data de sua publicação. § 2º Para efeito de validade de prova de uso, o contrato de licença não precisará estar averbado no INPI.

Art. 6º L 8.955/94. O contrato de franquia deve ser sempre escrito e assinado na presença de 2 (duas) testemunhas e terá validade independentemente de ser levado a registro perante cartório ou órgão público

Podemos entender tecnologia ou know-how como conhecimentos técnicos acumulados que, após terem sido obtidos por meio de experiências e ensaios, põem-se àquele que os adquiriu em condições de exatidão e de precisão necessárias ao sucesso comercial

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O contrato de franquia empresarial é um contrato atípico, embora a L 8.955/94 discipline alguns de seus aspectos e trate de seu objeto, a franquia empresarial, as relações entre franqueador e franqueado regem-se exclusivamente pelas cláusulas do contrato de franquia.

30.4. Circular de oferta A circular de oferta - É o documento usado pelo Franqueador para fornecer de forma clara e acessível, contendo obrigatoriamente uma série de informações relevantes para o candidato a franqueado, dando a máxima transparência para uma análise das nuances da operação, antes do candidato optar em ingressar no sistema de franquia, e deve ser entregue pelo menos dez dias antes da assinatura do pré-contrato de franquia, para que o candidato realmente reflita e decida se quer investir na franquia em questão (art. 3º da Lei 8.955/94) A apresentação da COF ao candidato a franqueado é tão importante que pelo disposto no art. 4º parágrafo único, causa anulabilidade do contrato de franquia.

30.5. Obrigações do franqueado

a) constituir pessoa jurídica, e não transferir controle dela sem autorização do franqueador;

b) pagar a taxa de adesão e percentual do seu faturamento;

c) pagar os serviços de organização empresarial;

d) oferecer produtos ou serviços apenas da marca do franqueador;

e) obedecer às instruções do franqueador

f) usar, difundir e proteger a marca, nos termos estabelecidos no contrato;

g) adequar o imóvel (ponto comercial), às normas e padrões estabelecidos pela franqueada

h) participar, juntamente com os empregados, de todos os treinamentos e cursos determinados pelo franqueador;

i) manter absoluto sigilo do know-how transmitido pelo franqueador

j) efetuar o pagamento de todas as remunerações devidas ao franqueador

k) contratar o seguro determinado pelo franqueador.

30.6. Obrigações do franqueador

a) entregar a Circular de Oferta de Franquia – COF, por escrito em linguagem clara e acessível, 10 dias antes da assinatura do pré-contrato;

b) prestar na COF todas as informações determinadas no art. 3ª Lei de franquia.

c) conceder o direito de uso de marca;

d) orientar o franqueado na constituição da pessoa jurídica, se for caso;

e) auxiliar o franqueado na escolha do local onde serão exercidas as atividades empresariais; e aprová-la;

f) assessorar o franqueado na instalação do ponto comercial, fornecendo projetos e especificações;

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g) prestar assistência integral e contínua ao franqueado, transferindo-lhes todo o know-how de que necessitam para a implantação, operação e administração das respectivas franquias;

h) respeitar a exclusividade territorial do franqueado;

i) promover a publicidade da marca, do produto/serviço;

j) estabelecer os métodos e procedimentos que gerenciarão o funcionamento da franquia;

30.7. Vantagens e desvantagens da franquia.

30.6.1. Vantagens para o franqueador:

Expansão de baixo custo; Consolidação territorial; Maior eficiência.

30.6.2. Desvantagens para franqueador:

Não ser o dono do ponto de venda; Maior esforço de liderança.

30.6.3. Vantagens para o franqueado:

Associar marca centralizada e colher os frutos de um negócio já estabelecido; Correr menos riscos; Relação investimento / retorno.

30.6.4. Desvantagens para o franqueado:

Menor grau de liberdade; Empreendimento ligado parceiro.

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CASO CONCRETO: Em um contrato de comissão, após inúmeras vendas realizadas pelo Comissário, este percebeu que recebeu valor de repasse a menor do que o percentual que havia sido anteriormente combinado verbalmente. Ao discutir o referido contrato em juízo, percebeu-se que este não continha cláusula de remuneração. Indaga-se:

a) Existe saída legal para tal omissão?

Pelo art. 701 CC a remuneração será fixada de acordo com os usos correntes do local, mediante assentamento realizado pela Junta Comercial do Estado (art. 8 VI L 8.934/94)

b) Percebeu-se, também, a existência no contrato de cláusula del credere, oriente sobre seu significado.

Nos termos do art. 698 CC, por esta cláusula responderá o comissário solidariamente com as pessoas que contratar em nome do comitente.

QUESTÃO OBJETIVA: Entende-se por franquia empresarial ou franchising,

a) o contrato comercial pelo qual o franqueador cede, em caráter definitivo, ao franqueado, o direito de uso de marca ou patente, juntamente com o "know-how" relacionado ao produto ou serviço, sem vínculo empregatício ou remuneração.

b) o contrato comercial pelo qual o franqueador, detentor da marca ou patente, bem como de eventual "know-how" referente ao produto ou serviço respectivo, cede ao franqueado apenas o direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de mencionados produtos ou serviços, mediante remuneração, sem vínculo empregatício.

c) o contrato comercial pelo qual o franqueador, detentor da marca ou patente, bem como de eventual "know-how" referente ao produto ou serviço respectivo, contrata o franqueado, para que este realize a distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de mencionados produtos ou serviços, mediante remuneração, com vínculo empregatício.

d) o contrato comercial pelo qual se opera a cessão do direito de uso de marca ou patente, bem como de eventual "know-how" detido ou desenvolvido pelo franqueador ao franqueado, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou serviços, mediante remuneração, sem vínculo empregatício.

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Contratos Bancários Impróprios (Módulo 16)

31. Contratos Impróprios

31.1. Arrendamento Mercantil

31.2. Alienação Fiduciária Em Garantia

31.1. Arrendamento Mercantil (Leasing)

O contrato de arredamento mercantil é um contrato típico, conceituado de acordo com parágrafo

único do art. 1° da L 6.099/74, com a redação dada pela L 7.132/83.

Art. 1º L 6.099/74. O tratamento tributário das operações de arrendamento mercantil reger-se-á pelas disposições desta Lei. Parágrafo único - Considera-se arrendamento mercantil, para os efeitos desta Lei, o negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora, segundo especificações da arrendatária e para uso próprio desta.

Em vista de que o contrato de arredamento mercantil envolve, direta ou indiretamente, um financiamento, o Banco Central controla e fiscaliza as empresas arrendadoras, a semelhança das instituições financeiras, de acordo com a L 4.595/64 (cria Conselho Monetário Nacional) e a Resolução do BACEN 2.309/96 (disciplina arrendamento mercantil).

Art. 7º L 6.099/74. Todas as operações de arrendamento mercantil subordinam-se ao controle e fiscalização do Banco Central do Brasil, segundo normas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, a elas se aplicando, no que couber, as disposições da Lei 4.595/64, e legislação posterior relativa ao Sistema Financeiro Nacional.

Art. 4º L 4.595/64. Compete ao Conselho Monetário Nacional, segundo diretrizes estabelecidas pelo Presidente da República VI - Disciplinar o crédito em todas as suas modalidades e as operações creditícias em todas as suas formas, inclusive aceites, avais e prestações de quaisquer garantias por parte das instituições financeiras;

Art. 10 L 4.595/64. Compete privativamente ao Banco Central da República do Brasil: VI - Exercer o controle do crédito sob todas as suas formas; IX - Exercer a fiscalização das instituições financeiras e aplicar as penalidades previstas;

Art. 17 L 4.595/64. Consideram-se instituições financeiras, para os efeitos da legislação em vigor, as pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenham como atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros.

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Art. 3º BACEN 2.309/96. A constituição e o funcionamento das pessoas jurídicas que tenham como objeto principal de sua atividade a prática de operações de arrendamento mercantil, denominadas sociedades de

arrendamento mercantil, dependem de autorização do Banco Central do

Brasil.

Art. 1° LC 105/01 (lei do sigilo bancário). As instituições financeiras conservarão sigilo em suas operações ativas e passivas e serviços prestados. § 1° São consideradas instituições financeiras, para os efeitos desta Lei Complementar: VII – sociedades de arrendamento mercantil

Conceito: arrendamento mercantil é a locação caracterizada pela faculdade atribuída ao locatário (arrendatário) de ao término do prazo de locação, optar pela compra do bem locado, mediante um preço residual previamente fixado. Caracteriza-se pela sucessão de dois contratos: i) locação e ii) compra e venda, sendo este último é opcional.

31.1.2. Partes envolvidas no contrato: a) arrendadora (pessoa jurídica/empresa de arredamento mercantil), b) arrendatária (pessoa física ou jurídica) e c) fabricante.

31.1.13. Objeto do contrato: bens móveis ou imóveis, novos ou usados, nacionais ou estrangeiros (neste caso necessitam de autorização do Conselho Monetário Nacional).

31.1.4. Inadimplência no contrato:

No caso de não pagamento (inadimplência) das parcelas do arrendamento, o arrendadora não poderá exigir as prestações vincendas, mas há possibilidade de se resolver o contrato. Desse modo, o bem arrendado deverá ser devolvido e, se não o for, a arrendadora poderá pleitear a reintegração de

posse.

Ao final do contrato, o arrendatário tem tríplice opção:

∆ Prorroga o contrato de arrendamento mercantil; ∆ Devolver o bem arrendado ao arrendador; ∆ Adquirir o bem arrendado, pagando o valor residual.

O exercício da opção de compra antes do término do contrato de arrendamento mercantil, o contrato se descaracteriza como leasing e passa a ser considerado de compra e venda.

Art. 10. BACEN 2.309/96. A operação de arrendamento mercantil será considerada como de compra e venda a prestação se a opção de compra for exercida antes de decorrido o respectivo prazo mínimo estabelecido no art. 8º deste Regulamento.

31.1.5. Tipos de contrato de arrendamento mercantil:

A exploração da atividade de arredamento mercantil está disciplinada pela Resolução n. 2.309, de 1996, do Banco Central, que distingue duas modalidades de contrato: o arredamento mercantil financeiro (o valor residual é praticamente inexpressivo); e o arredamento mercantil operacional (o valor residual é expressivo)

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31.1.5.1. Arrendamento mercantil operacional: é o arrendamento que não transfere substancialmente todos os riscos e benefícios inerentes à propriedade do bem arrendado. A intenção do arrendatário é uso do bem por curto prazo e não de adquiri-lo ao final do contrato. O resíduo, nesse caso, é expressivo, pois o valor das prestações pagas não poderá ultrapassar o percentual de 75% do valor do bem e o resíduo a ser pago será maior, correspondente ao valor de mercado do bem arrendado.

Art. 6° BACEN 2.309/96. Considera-se arrendamento mercantil operacional a modalidade em que: I - as contraprestações a serem pagas pela arrendatária contemplem o custo de arrendamento do bem e os serviços inerentes a sua colocação à disposição da arrendatária, não podendo o valor presente dos pagamentos ultrapassar 90% (noventa por cento) do ‘custo do bem’; II - o prazo contratual seja inferior a 75% (setenta e cinco por cento) do prazo de vida útil econômica do bem; III - o preço para o exercício da opção de compra seja o valor de mercado do bem arrendado; IV - não haja previsão de pagamento de valor residual garantido.

31.1.5.2. Arrendamento mercantil financeiro: é o arrendamento mercantil propriamente dito com o agente financeiro intermediador. O arrendador adquire certo bem de um terceiro, no intuito de entrega-lo à arrendatária, mediante certa quantia, com opção de adquirir, devolver, ou prorrogar o contrato. Esse é a modalidade mais comum. Caracteriza-se pela inexistência de resíduo expressivo, ou seja, no momento da compra do bem, o valor a ser desembolsado (no final do contrato) será de pequeno valor.

Art. 5° BACEN 2.309/96. Considera-se arrendamento mercantil financeiro a modalidade em que: I - as contraprestações e demais pagamentos previstos no contrato, devidos pela arrendatária, sejam normalmente suficientes para que a arrendadora recupere o custo do bem arrendado durante o prazo contratual da operação e, adicionalmente, obtenha um retorno sobre os recursos investidos; II - as despesas de manutenção, assistência técnica e serviços correlatos à operacionalidade do bem arrendado sejam de responsabilidade da arrendatária; III - o preço para o exercício da opção de compra seja livremente pactuado, podendo ser, inclusive, o valor de mercado do bem arrendado.

31.1.5.3. Lease Back (leasing de retorno) é o arredamento mercantil em que a arrendadora e a arrendatária são a mesma pessoa. Trata-se de uma engenharia financeira, em que uma empresa, para capitalizar-se, vende (ou o dê em dação de pagamento) o bem a uma instituição financeira, que, por sua vez, imediatamente arrenda-o para a empresa vendedora, que passa de proprietária para arrendatária (imobilizado para capital de giro - aumento de liquidez da empresa). Ressalta-se que o bem arrendado não pode ser um produto fabricado pela própria arrendatária (art. 28 III BACEN 2.309/64).

31.1.5.4. Self Leasing é o arredamento mercantil em que uma empresa vende seus bens para outra sociedade do mesmo grupo econômico (empresas ligadas/coligadas), que por sua vez

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arrenda os referidos bens à empresa vendedora. Tais operações receberão o tratamento tributário da compra e venda a prazo e, nessas condições, o arrendamento mercantil é vedado (art. 28 I BACEN 2.309/96).

Art. 28 BACEN 2.309/96. Às sociedades de arrendamento mercantil e às instituições financeiras citadas no art. 13 deste Regulamento é vedada a

contratação de operações de arrendamento mercantil com:

I - pessoas físicas e jurídicas coligadas ou interdependentes; II - administradores da entidade e seus respectivos cônjuges e parentes até o segundo grau; III - o próprio fabricante do bem arrendado.

31.1.6. Prazos mínimos de duração do contrato de arrendamento mercantil:

31.1.6.1. Arrendamento mercantil financeiro

a) de 2 (dois) anos, se a vida útil do bem arrendado é de 5 anos

b) de 3 (três) anos se a vida útil do bem arrendado for maior que 5 anos

31.1.6.2. Arrendamento mercantil operacional : O prazo mínimo do contrato é de duração é de 90 dias.

Art. 8º BACEN 2.309/96. Os contratos devem estabelecer os seguintes prazos mínimos de arrendamento: I - para o arrendamento mercantil financeiro: a) 2 (dois) anos, compreendidos entre a data de entrega dos bens à arrendatária, consubstanciada em termo de aceitação e recebimento dos bens, e a data de vencimento da última contraprestação, quando se tratar de arrendamento de bens com vida útil igual "ou inferior a 5 (cinco) anos; b) 3 (três) anos, observada a definição do prazo constante da alínea anterior, para o arrendamento de outros bens; II - para o arrendamento mercantil operacional, 90 (noventa) dias

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31.2. Alienação Fiduciária em Garantia

31.2.1. Conceito: A alienação fiduciária em garantia é negócio em que uma das partes, proprietário de um bem, aliena-o em confiança para a outra, transferindo a propriedade resolúvel e a posse indireta do bem, como garantia de uma dívida, a qual se obriga a devolver-lhe a propriedade com o pagamento da referida dívida. Caracteriza-se pela ocorrência de duas relações jurídicas: i) obrigacional (dívida contraída) e ii) real (alienação temporária do bem).

A alienação fiduciária em garantia encontra-se positivada nos artigos 1.361 a 1.368 CC, com relação aos bens móveis, e na L 9.514/97, com relação a bens imóveis.

Art. 1.361 CC. Considera-se fiduciária a propriedade resolúvel de coisa

móvel infungível que o devedor, com escopo de garantia, transfere ao credor.

Art. 22 L 9.514/97. A alienação fiduciária regulada por esta Lei é o negócio jurídico pelo qual o devedor, ou fiduciante, com o escopo de garantia, contrata a transferência ao credor, ou fiduciário, da propriedade resolúvel de coisa imóvel.

31.2.2. Partes envolvidas no contrato: a) fiduciante (devedor/aquele que aliena o bem como garantia da dívida contraída) e b) fiduciário (credor/aquele que recebe o bem como garantia de dívida).

31.2.3. Objeto do contrato: bens móveis ou imóveis.

31.2.4. Inadimplência do contrato

Quando a alienação fiduciária em garantia tem por objeto bem móvel, a mora do fiduciante acarreta a imediata exigibilidade das prestações vincedas e possibilita ao credor fiduciário requerer em juízo a busca e apreensão do bem dado em garantia. Por outro lado, requerida a busca e apreensão do bem móvel alienado fiduciariamente, o fiduciante poderá emendar a mora (pagamento dos atrasados), caso tenha pago já 40% da dívida.

Quando a alienação fiduciária em garantia tem por objeto bem imóvel, o direito do credor fiduciário se torna efetivo através da consolidação da propriedade do bem, mas em nome do credor fiduciário. Essa consolidação decorre da falta de purgação da mora perante o Tabelionato de Registro de Imóveis, sendo o devedor obrigatoriamente intimado (Lei n. 9.514/97, art. 26).

Em ambos os casos – bens imóveis ou móveis – o credor fiduciário deverá vender o bem dado em

garantia a um terceiro (pacto comissório), judicialmente ou extrajudicialmente, e, com o valor auferido, quitar a dívida do devedor fiduciante.

VER:

Prisão do devedor fiduciário por depositário infiel. (art. 654 CC x Pacto San José da Costa Rica)

Posições jurisprudenciais STF e STJ

Discussão da constitucionalidade desse procedimento sumário (mora/consolidação/venda)

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Direito Empresarial III – Prof. Carlos da Fonseca Nadais

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CASO CONCRETO: Oriente o credor de um contrato de alienação fiduciária em garantia uma vez que não foram pagas várias prestações e depois de lavrado o competente instrumento de protesto, quanto à propositura da competente ação.

Medida cautelar de busca e apreensão, visando à imediata recuperação do bem alienado fiduciariamente e, em seguida, a ação principal de cobrança do crédito (Art. 3, Decreto-Lei n 911/1969 com as alterações da Lei 10.931/2004).

QUESTÃO OBJETIVA: Nos contratos de arrendamento mercantil ou "leasing", envolvendo veículo automotor, encerrado o prazo nele previsto, o arrendatário poderá

a) ficar com a propriedade do bem desde que tenha pago todas as prestações, mesmo inexistindo opção de compra.

b) alienar o bem a terceiro, após pagas todas as prestações.

c) ficar com a propriedade do bem desde que pago, também, o valor residual previsto no contrato.

d) pagas todas as prestações, exigir do arrendante a propriedade de outro veículo, porém de ano de fabricação correspondente à data do término do contrato.