direito e economia cap. 3

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  • 7/26/2019 Direito e Economia Cap. 3

    1/10

    Senado Federal

    Secretaria de Gesto da Informao e Documentao

    Coordenao de Biblioteca

    Pesquisa realizada pela

    Biblioteca do Senado Federal

  • 7/26/2019 Direito e Economia Cap. 3

    2/10

    Traduo:

    LUIS MARCOS SANDER

    FRANCISCO ARAJO DA COSTA

    Reviso tcnica:

    BRUNO MEYERHOF

    SALAMA

    Mestre e Doutor

    em Direito UC Berkeley Boalt

    Hall School of Law

    Professor D ireito Gv So Paulo

    EUGNIO BATTESINI

    Doutor

    em Direito pela

    UFRGS

    Professor do Curso de Especializao em Direito

    e

    Economia

    da Faculdade

    de Direito

    da

    UFRGS

    Visiting

    Scholar na

    Columbia

    Law

    School in

    the

    City

    of

    New York

    Procurador

    Federal

    da Advocacia-Geral

    da Unio

    FLvIA

    VERA

    Mestre e Doutora em Direito pela U niversidade da Califrnia em

    Berkeley

    Professora do Instituto

    Brasiliense de Direito

    Pblico

    GICOMO BALBINOTTO NETO

    Doutor

    em

    Economia pela

    USP

    Professor

    de

    Economia

    do

    PPGE/UFRGS

    e do

    Curso de Especializao em

    Direito

    e

    Economia da Faculdade

    de

    Direito

    da

    UFRGS

    LUCIANO

    BENETTI TIMM

    Ps-Doutorado

    UC Berkeley EUA

    Doutorado e Mestrado UFRGS

    LLM Warwick

    University

    Inglaterra

    Professor da

    Faculdade de

    Direito da PUCRS

    RONALD

    OTTO HILLBRECHT

    Doutor

    em Economia University

    of

    Illinois

    at Urbana-Champaign

    Professor de Economia

    do

    PPGE/UFRGS

    e do

    Curso

    de

    Direito

    e

    Economia da

    Faculdade

    de

    Direito

    da

    UFRGS

    C779d Cooter Robert.

    Direito economia / Robert Cooter Thomas Ulen ;

    traduo: Luis Marcos Sander Francisco Arajo da Costa. -

    5. ed. - Porto Alegre: Bookman 2010.

    560 p. ; 25 em.

    ISBN 978-85-7780-722-2

    1.

    Direito. 2. Economia. I. Ulen Thomas. lI. Ttulo.

    CDU 34:33

    Catalogao na publicao: Ana Paula M. Magnus - CRB-1OIProv-009/1O

    ROBERT

    COOTER

    THOM S

    ULEN

    UNIVERSITY OF

    CALlFORNIA

    BERKELEY

    UNIVERSITY OF ILLlNOIS, URBANA-CHAMPAIGN

    DIREITO

    E O

    OMI

    QUINTA EDIO

    2010

  • 7/26/2019 Direito e Economia Cap. 3

    3/10

    7 ireito e Economia

    2.18. Quais dos bens seguintes so privados e poderi am, portanto, ser fornecidos em

    quantidades socialmente timas por maximizadores privados de lucros? Quais de-

    les so bens pblicos e deveriam, portanto, ser fornecidos pelo setor pblico ou

    pelo setor privado com subsdios pblicos?

    a.

    Uma piscina grande o suficiente para acomodar centenas de pessoas.

    b. Um espetculo de fogos de artifcio.

    c.

    Um

    transplante de corao.

    d. Vacinao contra uma doena altamente infecciosa.

    e. Uma rea despovoada.

    f.

    Formao profissional.

    g. Treinamento no emprego.

    h. Ensino mdio.

    2.19. O que quer dizer eficincia de Pareto ou timo de Pareto? Qual a importncia da

    distribuio inicial de recursos para determinar qual ser a distribuio de recursos

    depois de todas as melhorias de Pareto terem sido feitas?

    2.20. Um recurso valioso em que, normalmente, proibimos a troca voluntria so os

    votos. Isso pode ser ineficiente porque, como vimos, dada qualquer dotao de re

    cursos inicial, a troca voluntria sempre deixa as duas partes numa situao melhor

    (na ausncia de quaisquer fontes claras de falha de mercado). Mostre que permitir

    um mercado legal para votos seria uma melhoria de Pareto. Existem fontes claras

    de falha de mercado no mercado de votos? Em caso positivo, que correes regu

    latrias voc aplicaria a esse mercado? incmodo o fato de haver uma ampla va-

    riao de renda e riqueza entre os participantes desse mercado e, em caso positivo,

    por que essa variao mais perturbadora nesse mercado do que em outros, e o que

    voc faria a respeito disso no mercado de votos?

    2.21. Distinga entre o critrio de Pareto e o critrio de Kaldor-Hicks (ou potencial de

    Pareto) para avaliar uma mudana social em que haja ganhadores e perdedores.

    2.22. O que uma estratgia dominante num jogo? Quando os dois jogadores num jogo

    de duas pessoas tm uma estratgia dominante, h uma soluo de equilbrio para o

    jogo? O que um equilbrio de Nash? Um equilbrio de estratgia dominante um

    equilbrio de Nash? Quais so as possveis deficincias do equilbrio de Nash num

    jogo?

    SUGESTES E LEITURA

    EATWELL, JOHN; MILGATE, MURRAY; NEWMAN PETER. TH N W PALGRAVE: A DICTIONARY OF

    Eco-

    NOMICS.

    1991. 4

    V.

    KREPS DAVID. A COURSE IN MICROECONOMIC THEORY.

    1990.

    LANDSBURG, STEPHEN.

    THEARMcHAIREcONOMIST.

    1991.

    P NDYK, ROBERT; RUBINFELD, DANIEL. MICROECONOMICS. 6.

    ed. 2004.

    WINTER

    HAROLD.

    TRADE-OFFS:

    AN INTRODUCTION TO ECONOMIC REASONING AND SOCIAL ISSUES.

    2005.

    Introduo

    o

    Direito

    e

    s Instituies Jurdicas

    Voc est velho , disse o moo, e os dentes seus no mastigam

    Nada mais duro que um chourio,

    Mas todo o pato, com bico e ossos, comeu:

    Quer me dizer como consegue fazer isso?

    Quando era moo , disse o pai, fui advogado,

    E discutia os casos com minha mulher.

    Isso

    me

    deu aos queixos um vigor danado,

    Que eu uso agora para o que der e vier.

    "Pai Joo", in:

    LEWIS CARROLL,

    ALICE

    NO

    P s DAS MARAVILHAS

    [VERSO DE NICOLAU SEVCENKO]

    A vida do direito no tem sido lgica: ela tem sido experincia. A percepo das necessidades da poca, as

    teorias morais e polticas predominantes, instituies

    de

    polticas pblicas. reconhecidas ou inconscientes,

    mesmo os preconceitos que os juzes compartilham com seus semelhantes, tm tido bem mais a ver do que

    o silogismo na determinao das regras e normas pelas quais os homens deveriam ser governados.

    OLlVER WENDELL HOLMES,

    THE COMMON LAW 1 (188 J)

    m economista que ler uma revista de direito entender muito mais dela do que

    um advogado que pegar uma revista de economia. Por esta razo, no difcil

    convencer um advogado de que ele no conhece economia. (Convenc-lo de que

    ele deveria aprender economia mais difcil ) Por outro lado,

    s

    vezes difcil convencer

    os economistas de que qualquer aspecto da vida social no em sua raiz, realmente eco

    nomia. Em relao ao direito, os economistas

    s

    vezes se perguntam o que

    os

    advogados

    realmente estudam: o direito um ramo da filosofia?

    uma lista de casos ou processos

    famosos? Uma coleo de regras ou normas?

    Em

    todo caso, os economistas no podem contribuir significativamente para o direito

    sem estud-lo. Este captulo oferece uma introduo ao direito para quem no jurista.

    Explicaremos, primeiro, as diferenas e semelhanas entre

    as duas grandes tradiesjur

    dicas que se espalharam da Europa para grande parte do mundo; segundo, a estrutura dos

    sistemas judicirios federal e estadual dos Estados Unidos; terceiro, como se encaminha

  • 7/26/2019 Direito e Economia Cap. 3

    4/10

    7 Direito e Economia

    e se resolve uma disputa jurdica em sistemas como o dos Estados Unidos; e, finalmente,

    como as regras ou normas jurdicas feitas por juzes se desenvolvem.

    I. AS TRADIES

    DO IVIL

    L W E

    DO COMMON

    L W

    Os legislativos fazem leis aprovando projetos de lei, que os juzes devem interpretar e

    aplicar. Se a legislao deliberadamente vaga o u inadvertidamente ambgua, os juzes

    podem escolher entre vrias interpretaes diferentes. s vezes a escolha de uma inter

    pretao eclipsa a aprovao do projeto de lei, e neste caso o juiz faz a lei mais do que

    o legislativo. Os juzes fazem o direito ao interpretar a legislao em todos os sistemas

    jurdicos

    com

    tribunais independentes.

    Os juzes tambm fazem o direito de outras maneiras.

    Na

    Europa medieval,

    na

    maioria

    dos pases, o rei podia emitir pronunciamentos qu e eram lei, e os tribunais reais possuam

    poderes semelhantes. Entretanto, no tinham a liberdade de declarar como lei qualquer

    ordem que desejassem.

    De

    acordo com uma tradio

    na

    teoria jurdica, os tribunais reais

    ingleses deveriam examinar a vida da comunidade e "encontrar" ou definir a lei j exis

    tente. Os tribunais reais ingleses deveriam selecionar entre as normas sociais predominan

    tes e colocar em vigor algumas delas. Estas normas sociais passveis de execuo eram

    supostamente as "leis da natureza", que a razo e a necessidade prescreviam.

    A determinao de uma regra do direito

    por

    um tribunal reias ingleses criava um pre

    cedente, e esperava-se que os tribunais o seguissem

    no

    futuro. O precedente era segui

    do de forma flexvel, no servil, de modo que o direito mudou gradativamente. Duran

    te muitos anos, os tribunais reais "encontraram" ou definiram muitas leis importantes,

    especialmente

    na

    rea de crimes, propriedade, contratos e acidentes ("responsabilidade

    civil extracontratual"). Estas leis j existentes so chamadas de common law, porque elas

    supostamente esto enraizadas nas prticas comuns das pessoas. O common law ainda

    aplicado nos pases de lngua inglesa, exceto onde foi substitudo

    pela

    legislao.

    A histria do direito diferente

    na

    Frana e nos outros pases da Europa: quando a

    Frana se revoltou no final do sculo 18, os revolucionrios pensavam que os juzes fos

    sem to corruptos e imprestveis quanto o rei, de

    modo

    que mataram o rei, extinguiram

    suas leis, abolindo, assim, o common law

    na

    Frana, e se puseram a colocar o direito

    sobre

    uma

    base mais popular.

    Era

    necessrio

    um

    conjunto abrangente de leis fixadas por

    escrito para preencher o vcuo, de modo que as pessoas soubessem o qu e considerado

    propriedade, como se forma

    um

    contrato vlido e

    quem

    deve arcar

    com

    os custos de aci

    dentes. Napoleo providenciou esse conjunto de leis incumbindo especialistas

    em

    direito

    de formular as regras ou normas chamadas de Cdigo Napolenico, que foi promulgado

    em 1804. Os especialistas que o redigiram tomaram como seu modelo o Corpus Jris

    Civilis ("Corpo do Direito Civil"), que foi compilado e editado em 528-534 a.C., por or-

    dem do imperador romano Justiniano. Portanto, os revolucionrios franceses recorreram

    a fontes antigas e razo pura para fazer as leis, e no herana mais prxima derivada

    dos tempos medievais.

    Os exrcitos de Napoleo espalharam o Cdigo Napolenico por grande parte da Eu

    ropa, onde ele permaneceu muito tempo depois que suas tropas se retiraram. De modo

    semelhante, os europeus espalharam seu direito por todo o mundo, e esta influncia

    I "Precedente" designa a p rtica de resolver casos semelhantes de forma semelhante. Caso se saiba que um tribunal resol

    ver uma disputa aplicando o precedente, ento os litigantes tero

    uma

    boa ideia de qual dever ser a resoluo jurdica

    e

    sua disputa. Isto pode induzir os litigantes a resolver a questo eles mesmos com base no pano de fundo jurdico que eles

    sabem que o tribunal ir usar.

    Captulo 3 Introdu o ao Direito e Instituies Jurdicas

    77

    persistiu

    muito

    tempo depois que os imprios coloniais entraram

    em

    colapso. A "tra

    dio do

    civillaw , como

    chamada,

    predomina na maior parte da

    Europa Ocidental,

    Amrica Central e do Sul, nas partes da sia colonizadas por pases europeus que no

    a Gr-Bretanha, e mesmo em bolses do universo do common law como, por exemplo,

    Luisiana, Qubec e Porto Rico. A tradio do common law, que se originou na Inglater

    ra, prevalece no somente na Gr-Bretanha, mas tambm

    na

    Irlanda, nos Estados Uni

    dos, Canad, Austrlia',Nova Zelnd ia e nas partes da frica e sia que a Gr-Bretanha

    colonizou, incluindo a India.

    Alm destas duas grandes tradies, a histria especfica de cada pas pe sua prpria

    marca no direito. O Japo, p or exemplo, que nun ca foi colonizado, adotou voluntariamen

    te um cdigo que se baseia fortemente no cdigo civil alemo, embora ainda permanea

    caracteristicamente japons. Em grande parte do Oriente Mdio, o direito islmico se

    mesclou com o direito dos colonialistas europeus ou o substituiu. Na Europa Oriental, o

    comunismo submeteu a tradio do civillaw a suas prprias finalidades, e agora os regi

    mes ps-comunistas esto tentando corrigi-lo.

    As tradies do civil law e do common

    lawdiferem

    significativamente no tocante

    maneira como as normas jurisprudenciais so justificadas. Tradicionalmente, os juzes do

    common law justificam suas decises judiciais fazendo referncia a precedentes e normas

    sociais, ou a amplas exigncias da racionalidade pressuposta pelas polticas pblicas. Tra

    dicionalmente, os juzes do civillaw justificam sua interpretao de

    um

    cdigo fazendo

    referncia direta a seu significado, que os especialistas depreendem e expem em ex

    tensos comentrios. Como os juzes do common law se baseiam relativamente mais nas

    decises passadas de tribunais e os juzes do

    civil law

    se baseiam relativamente mais nas

    palavras dos estatutos, o sistema do common law est mais baseado nos precedentes do

    que o sistema do civillaw. A diferena no padro de justificao afeta a formao dos ad

    vogados. O mtodo do common law ensinado por meio da leitura de casos ou processos

    e argumentando-se diretamente a partir deles, ao passo q ue o mtodo do civillaw ensi

    nado por meio da leitura do cdigo e argumentando-se a partir de comentrios sobr e ele.

    Entretanto, todas essas generalizaes sobre a diferena entre as duas tradies pare

    cem simplistas em comparao com a sutileza e complexidade da realidade. Por exemplo,

    embora os Estados Unidos sejam ostensivamente um pas do common law, os estados

    norte-americanos tentaram obter maior uniformidade no direito comercial promulgando

    o Cdigo Comercial Uniforme. A deciso de disputas que ocorrem sob o Cdigo Comer

    cial Uniforme nos Estados Unidos tem muitas semelhanas com a deciso de disputas

    submetidas ao Cdigo Civil francs. Alm disso, o Instituto Americano do Direito, uma

    organizao fundada

    na

    dcada de 1920, rene-se periodicamente para reformular o direi

    to que est surgindo nos vrios estados. Estas reformulaes, como a Reformulao Se-

    gunda) e Contratos e a Reformulao Segunda) e Atos Ilcitos Civis, tm uma funo

    semelhante aos cdigos que so considerados caractersticos dos pases do civillaw. Os

    especialistas

    em

    direito comparado debatem vigorosamente se as diferenas entre civil

    law e common law so mais aparentes do que reais.

    Alm

    da diferena histrica entre common law e civil law, as leis so aplicadas de

    formas diferentes nas duas tradies. Nos pases do commom law, as argumentaes

    em

    favor dos dois lados n uma disputa so feitas exclusivamente por seus advogados, e o juiz

    no deve conduzir um interrogatrio nem desenvolver uma argumentao. Neste proces

    so adversarial, o juiz age mais ou menos como

    um

    rbitro neutro que faz os advogados

    seguirem as regras de procedimento processual e apresentao de provas. O princpio

    subjacente ao sistema adversarial que a verdade surgir a partir de

    um

    debate vigoroso

    dos dois lados.

  • 7/26/2019 Direito e Economia Cap. 3

    5/10

    78

    Direito e Economia

    Em contraposio a isso, o juiz do civil law tem um papel ativo fazendo perguntas e

    desenvolvendo argumentaes. Neste processo inquisitorial, espera-se que o juiz descu

    bra a verdade. Os advogados frequentemente tm de responder ao juiz, e no desenvolver

    o caso eles prprios. O princpio subjacente ao sistema inquisitorial o de que o tribunal

    tem um interesse direto em encontrar ou definir a verdade concernente a disputas ou cri

    mes privados.

    Outra diferena entre os dois sistemas refere-se ao uso de jris.

    mais comum usar

    jris em sistemas do common law. Nos Estados Unidos, normalmente ambas as partes de

    uma disputa tm o direito a um julgamento pelo jri, embora, s vezes, ambas as partes

    desistam deste direito e permitam que o juiz decida o caso. Na Inglaterra, o jri foi abo

    lido em quase todos os julgamentos civis desde 1966,2 mas frequentemente usado em

    julgamentos penais. (Observe o uso diferente de civil na frase anterior.

    3

    Na Frana, en

    tretanto, o jri foi abolido em todos os julgamentos exceto dos crimes mais graves, como

    assassinato. Em geral, a abolio dos jris est mais avanada na Europa continental do

    que em alguns pases do common law. Num julgamento do common law diante de um

    jri, o juiz deve decidir questes relativas s leis, ao passo que o jri deve decidir questes

    relativas aos fatos.

    Em

    todo sistema jurdico,

    as

    leis formam uma hierarquia. A constituio tem pre

    cedncia sobre as leis, e as leis normalmente tm precedncia sobre normas emitidas

    pelo executivo ou por rgos governamentais. Nos pases do

    common law

    as leis tm

    precedncia sobre elas. Ter precedncia significa que a lei mais alta prevalece em caso

    de conflito. Os tribunais, como os intrpretes principais da lei, precisam decidir se

    as

    leis

    esto em conflito. Explicamos que os juzes fazem o direito indiretamente interpretando

    leis ou cdigos. Outra maneira de os juzes fazerem o direito encontrando um conflito

    entre leis e pondo de lado a lei de nvel mais baixo. Finalmente, os juzes fazem o

    common

    law

    diretamente nos pases que mantm o sistema do

    common law

    - um processo que

    explicaremos mais adiante neste captulo.

    As

    constituies so necessariamente gerais e vagas, de modo que sua interpretao

    especialmente problemtica. O poder de revisar a legislao para verificar sua constitu

    cionalidade d aos tribunais o poder, em princpio, de pr de lado leis promulgadas pelo

    legislativo. Este poder potencialmente perigoso porque coloca os juzes em conflito

    com os representantes eleitos da nao. At que ponto este poder exercido varia muito

    de um pas para outro. Nos Estados Unidos, os tribunais federais tm poucos limites em

    sua capacidade de derrubar leis que, na opinio dos tribunais, contradizem a Constituio.

    Algumas das mais profundas leis dos Estados Unidos foram feitas por tribunais ao inter

    pretarem a Constituio, como no caso

    Brown

    v

    Education Board

    de

    1954,

    que acabou

    pondo fim s leis que determinavam a segregao racial nas escolas. Em outros pases,

    como a Gr-Bretanha, os tribunais no tm o poder de revisar as leis para verificar sua

    constitucionalidade, e os tribunais nunca derrubam a legislao por ser inconstitucional.

    O alcance da reviso constitucional, que fundamental para o poder e prestgio dos tri

    bunais, no est necessariamente vinculado ao fato de a tradio jurdica do pas ser o

    common law ou o civillaw.

    2 Exceto em processos que impliquem difamao.

    3

    Civi llaw tem dois sentidos. O termo pode designar o sistema jurdico da maior parte da Europa continental que rejeita o

    c.ommon law.

    Alm

    disso, ci villa w pode designar as leis que controlam discrdias entre duas partes privadas, que pode

    ~ a m s m g l r ~ I g a m o s de um contrato rompido ou de um acidente de trnsito. Neste ltimo sentido, o oposto de civil law

    e o direIto cnmmal ou penal, em que aes so iniciadas pelo promotor pblico contra algum acusado de transgredir uma

    leI penal, como falSIficao ou assassinato. Assim, o

    common law

    de, digamos, contratos pode ser descrito como direito

    CIVIl ,

    que significa direito privado ou direito no penal .

    Captulo 3 - Introduo ao Direito e Institui es Jurdicas

    11 AS INSTITUiES DOS

    SISTEMAS

    JUDICIRIOS FEDERAL E

    ESTADUAL NOS ESTADOS UNIDOS

    79

    Nos Estados Unidos, seja em nvel federal ou estadual, os sistemas judicirios esto orga

    nizados em trs camadas. Essas camadas constituem uma pirmide hierrquica, com uma

    base muito ampla formada por muitos tribunais, um nvel intermedirio com um nmero

    menor de tribunais e um nico tribunal no topo da pirmide. No nvel mais baixo esto

    os tribunais de primeira instncia de jurisdio geral. Esses so os tribunais de nvel de

    entrada onde uma ampla gama de disputas civis e penais tm sua primeira audincia.

    Os tribunais de primeira instncia de jurisdio geral so tribunais de registro ; isto , o

    processo registrado por es cri to e guardado pelo governo. Nos sistemas estaduais, esses

    tribunais geralmente esto organizados com base nos territrios dos condados. No estado

    de Illinois, por exemplo, h 102 condados, e cada

    um

    deles tem uma comarca que fun

    ciona como o tribunal de primeira instncia de jurisdio geral dentro do condado. Esses

    tribunais de primeira instncia tm nomes diferentes em diferentes estados: na Califrnia,

    eles se chamam tribunais superiores ; no estado de Nova York, supremos tribunais . A

    prtica quase universal que cada processo civil e penal sej a julgado por um nico juiz e,

    possivelmente, por um jri.

    No sistema federal, todo o pas est dividido em 94 distritos judiciais, e cada um deles

    contm uma vara distrital federal, que o tribunal de primeira instncia de jurisdio

    geral para o judicirio federal. Cada estado da Unio tem pelo menos uma vara distrital

    federal, e mais ou menos a metade deles tm apenas uma. O Distrito Federal tem sua

    prpria vara distrital. Os estados maiores, onde surge um nmero maior de disputas que

    implicam questes federais, tm at quatro varas distritais, que geralmente esto organi

    zadas de acordo com as divises geogrficas do estado. Nova York tem quatro distritos:

    o do sul, do norte, do leste e do oeste. Illinois tem trs distritos federais: o do norte, do

    centro e do sul. medida que o volume de litgios federais aumentou, o Congresso reagiu

    no criando mais distritos, mas nomeando um maior nmero de juzes dentro de cada

    distrito. Um dos distritos mais movimentados o Distrito do Sul de Nova York, que con

    tm a maior parte da cidade de Nova York, e h 25 juzes na vara daquele distrito. Outro

    distrito movimentado, o Distrito do Norte de Illinois, tem 12. O procedimento usual nos

    distritos federais que um nico juiz examine cada processo, mas s vezes um colgio de

    trs juzes examina um processo.

    Alm disso, o sistema judicirio federal contm diversos tribunais especializados. H,

    por exemplo, tribunais de fazenda especiais, e agncias administrativas federais, como,

    por exemplo, a Comisso Federal de Comunicaes, que tm juzes de direito administra

    tivo que examinam os argumentos referentes a questes que envolvam esses rgos. H

    tambm, como veremos em breve, um tribunal recursal especial no sistema federal para

    lidar com processos referentes propriedade intelectual.

    Acima dos tribunais de primeira instncia nos sistemas estaduais e federal

    h

    tribunais

    recursais ou tribunais de recurso. Na maioria dos sistemas juducirios estaduais, h ape

    nas

    um

    tribunal de recurso. Mas cerca de um tero dos estados e todos os distritos federais

    tem tribunais recursais intermedirios que se situam entre os tribunais de primeira instn

    cia de jurisdio geral e o mais alto tribunal ou tribunal de ltimo recurso.

    Em

    Illinois, por

    exemplo,

    h

    cinco distritos recursais intermedirios com um total de pouco mais

    de

    50

    desembargadores. Onde esses tribunais existem,

    as

    partes do tribunal de primeira instn

    cia podem recorre r dessa deciso inferior de direito . Isso significa que, desde que este

    jam dispostas a pagar os custos implicados,

    as

    partes sempre podem buscar uma reviso

    recursal da sentena de um tribunal inferior. O recurso tambm um direito existente no

    sistema federal, pelo menos das varas distritais aos tribunais recursais intermedirios.

  • 7/26/2019 Direito e Economia Cap. 3

    6/10

    8

    Direito e Economia

    Embora possa haver

    um

    direito de qualquer

    uma

    das partes recorrer da sentena dos

    tribunais de primeira instncia de jurisdio geral, a situao pode ser diferente se qual

    quer uma das partes deseja recorrer da sentena de um tribunal recursal intermedirio.

    Tanto no judicirio estadual quanto federal, o supremo tribunal recursal tem, normalmen

    te, um direito de reviso discricionrio. Isso significa que o Supremo Tribunal de Illi

    nois, a Suprema Corte dos Estados Unidos e todos os outros tribunais de ltimo recurso

    podem selecionar quais casos ou processos iro revisar, dentro de certos limites. Alguns

    processos - disputas entre dois estados, por exemplo - vo diretamente para a Suprema

    Corte norte-americana e sem o poder discricionrio dos ministros. E em muitos estados

    o supremo tribunal obrigado a revisar sentenas de morte. Portanto, a Suprema Corte

    dos Estados Unidos e os supremos tribunais dos estados controlam a maior parte, mas no

    todo o seu protocolo.

    Um

    tribunal recursal intermedirio no judicirio federal se chama Tribunal Recursal

    da Circunscrio .

    H 13

    circunscries dessas, como indica a Figura 3.1. Onze desses

    tribunais recursais so numerados; por exemplo: a Primeira Circunscrio est na Nova

    Inglaterra; a Stima Circunscrio abrange Indiana, Illinois e Wisconsin; e a Nona Cir

    cunscrio abrange a Costa Oeste, alguns dos chamados mountain states [Arizona, Co

    lorado, Idaho, Montana, Nevada, Novo Mxico, Ut ah e Wyoming] e o Alasca e o Hava.

    O Distrito Federal constitui sua prpria circunscrio e tambm tem sua vara distrital pr

    pria. Todas as outras circunscries compr eendem vrios estados.

    Um

    litigante que no

    teve xito na vara distrital federal pod e recorrer, de direito, ao tribunal recursal. Muitas

    vezes, esses tribunais despacham nu m colgio de trs juzes. s vezes, para um processo

    particularmente significativo, todos os juzes da circunscrio despacham juntos para de

    cidir o processo. Neste caso, diz-se que o tribunal est

    em

    sesso en bane (plenria). Onde

    mais de um juiz examina

    um

    processo, a questo decidida pelo voto da maioria.

    H tambm um tribunal recursal intermedirio especial no sistema federal apenas para

    examinar questes referentes pr opriedade intelectual: o Tribunal Recursal dos Estados

    Unidos para a Circunscrio Federal. O Congresso estabeleceu esse tribunal

    em

    1982.

    Esse o nico tribunal recursal norte-americano definido pela jurisdio de seu objeto, e

    no pela geografia. O Tribunal Recursal dos Estados Unidos para a Circunscrio Federal

    assumiu a jurisdio do Tribunal Recursal Norte-Americano de Tributos Alfandegrios

    Figura 3.1

    Tribunais recursais e varas federais dos Estados Unidos.

    c:;=

    Ilhas

    Virgens

    3

    D.C.

    Washington

    FEDERAL

    Washington D.C.

    propriedade

    intelectual)

    'j 'u '_

    9 . {

    c Ilhas

    i Marianas

    Guam do Norte

    4

    Captulo 3 Introduo ao Direito e Instituie s Jurdicas

    81

    e Patentes e a jurisdio recursal do Tribunal Norte-Americano de Reclamaes. H 12

    juzes

    na

    Circunscrio Federal.

    A Supr ema Corte dos Estados Unidos o mais elevado tribunal do judicirio federal.

    Esse tribunal tem nove membros, consistindo no presidente e em oito ministros. Todos

    os ministros, e no um colgio, decidem cada processo. A Corte inicia seu trabalho

    na

    primeira segunda-feira de outubro e conclui seu perodo de funcionamento em algum

    dia de junho do ano seguinte. A carga de trabalho da Corte aumentou significativamente

    at a dcada de 1980; desde ento, o nmero de pareceres emitidos pela Suprema Cor

    te diminuiu significativamente. Normalmente, os ministros decidem menos de 10% das

    aes submetidas a sua reviso. Debate-se intensamente sobre se esse nmero grande

    demais ou pequeno demais. No passado recente, alguns comentadores insistiram que o

    Congresso criasse um tribunal nacional de recursos situado entre os tribunais recursais e

    a Suprema Corte. O argumento que esse Tribunal Nacional trataria dos recursos mais

    rotineiros provenientes das l3 circunscries (por exemplo, dos recursos em que h uma

    ciso entre as circunscries, o que q uer dizer que algumas circunscries interpretam a

    lei de uma maneira e outras a interpretam de modo oposto). Seus proponentes dizem que

    isso liberaria a Suprema Corte para dedicar suas energias mais a processos verdadeira

    mente importantes.

    Finalmente,

    h

    regras que especificam se uma disputa deveria ser examinada no sis

    tema judicirio estadual ou federal.

    4

    Esta , muitas vezes, uma questo de grande impor

    tncia estratgica na forma como um advogado lida com um a ao. As regras gerais para

    a definio da jurisdio so relativamente fceis de compreender. Os tribunais estaduais

    tm jurisdio

    em

    disputas que envolvam leis estaduais ou

    em

    aes de direito civil entre

    residentes do respectivo estado ou em processos que surgem sob a lei federal quando o

    Congresso no tenha dado jurisdio exclusiva aos tribunais federais.

    A competncia dos tribunais federais d efinida pelo Congresso, atravs dos poderes

    atribudos na Constituio. Essa jurisdio se limita a trs reas principais:

    1.

    Questes federais - ou seja, os assuntos que surgem sob a Constituio norte

    -americana ou leis ou tratados federais.

    5

    2. Aes das quais os Estados Unidos sejam parte. Normalmente, estas so aes

    penais sob o direito das leis federais.

    3. Processos com diversidade de cidadania - qualquer disputa de direito civil que

    envolva mais de US$ 75.000,00 entre cidados de estados diferentes. No final do

    sculo 18, o Con gresso permitiu que essas disputas passas sem de tribunais esta

    duais para cortes federais, pois achou que

    as

    lealdades aos estados eram to fortes

    que o cidado de outro estado poderia perder a ao num tribunal estadual, inde

    pendentemente dos mritos de sua ao, simplesmente por ser

    estrangeiro .6

    Caso uma vara distrital federal examine uma disputa com diversidade de cidadania

    que no impliqu e uma questo federal, o Tribunal geralmente ir aplicar a lei do estado

    no qual despacha. Atualmente, a diversidade de cidadania no mais

    uma

    razo to im

    perativa para que os tribunais federais assumam a jurisdio quanto er a h 200 anos. Co m

    As

    regras para resolver se uma lei estadual ou federal deve ser aplicada numa disputa especfica so complexas e consti-

    5 tuem

    uma cadeira especial da Faculdade de Direito chamada Conflito de Leis .

    Havia, no passado, uma quantia mnima em dlares em litgio (US$ 10.000,00) para que um processo pudesse ser um

    processo federal, mesmo que fosse uma questo federal. Esse mnimo no se aplica mais a assuntos que surjam sob a lei

    federal.

    6

    O Cougresso tem aumentado periodicamente a quantia mnima em litgio nos processos com diversidade de cidadania a

    fim

    de alterar a carga de aes dos tribunais federais. Est claro que quanto maior for o valor exigido no litgio, tanto me

    nor ser o nmero de aes com diversidade de cidadania que estaro aptas a serem resolvidas pelos tribunais federais.

  • 7/26/2019 Direito e Economia Cap. 3

    7/10

    8

    Direito e Economia

    efeito, Burger, o ex-presidente

    da

    Suprema Corte, sugeriu ao Congresso que diminusse a

    carga de processos do judicirio federal tirando inteiramente as aes com diversidade de

    cidadania

    da

    jurisdio federal.

    7

    Quanto seleo e ao tempo de mandato dos juzes,

    h

    duas prticas amplas. Para a

    magistratura federal, a regra a nomeao pelo presidente, com o conselho e consenti

    mento do Senado, para

    um

    mandato vitalcio, e uma remoo s possvel por impedi

    mento declarado pela Cmara dos Deputados e po r condenao por parte do Senado. Para

    os juzes estaduais

    na

    maioria dos estados, a regra a eleio para a magistratura com

    mandato limitado. Para os demais estados, o judicirio estadual nomeado pelo poder

    executivo e aprovado pelo legislativo para mandatos variveis, mas fixos.

    111 A

    NATUREZA DE UMA

    DISPUTA JURDICA

    Uma

    disputa

    ~ r d i c a

    surge quando algum afirma ter sido ilegalmente prejudicado por

    outra pessoa. E possvel que a vtima e o autor do dano consigam resolver seu litgio por

    si mesmos, mas s vezes isso no possvel. A pessoa que se sente lesada pode ter uma

    causa de pedir cause o action), isto uma reivindicao jurdica vlida contra outra pes

    soa ou organizao. Para fazer valer esse direito de ao, ela prope uma petio, sendo,

    por isso, designada de demandante ou autor da ao. A petio precisa enunciar o que

    aconteceu, por que o autor

    da

    ao acha que foi prejudicado, que rea do direito est im-

    plicada, que lei relevante e qual o remdio jurdico judicial remedy) que ele quer que

    o tribunal lhe d. A petio e o gerenciamento dos aspectos subsequentes

    da

    disputa so

    questes complicadas; normalmente, os cidados privados contratam os servios de

    um

    advogado que geralmente tem

    bem

    mais experincia nesses assuntos do que o cidado,

    para ajud-lo

    em

    tudo isso.

    8

    A pessoa que acusada de ter lesado a vtima ou autor

    da

    ao chamada de ru e

    precisa responder petio. A resposta ou contestao no entra

    em

    detalhes a respeito

    da

    questo

    em

    pauta; antes, uma declarao breve do que o ru pretende sustentar de-

    talhadamente caso a questo v a julgamento. Portanto, a contestao poder dizer que

    os fatos alegados so verdadeiros, mas que, mesmo assim, o ru no juridicamente res

    ponsvel pelo infortnio do autor

    da

    ao. Figurativamente, essa forma de resposta diz:

    E

    da? Ou a contestao poder dizer que os fatos alegados na petio so incorretos e

    que, quando os fatos verdadeiros forem conhecidos, ver- se- que o indiciado inocente

    de qualquer delito.

    Pode ser que a disputa pare neste ponto. Por exemplo, as partes podero decidir no

    continuar

    com

    o processo. Elas podero simplesmente abandonar a questo toda ou entrar

    em

    acordo para resolver a disputa - isto , alcanar

    um

    acordo mutuamente satisfatrio

    de

    modo a resolver a questo.

    Um

    juiz precisa determinar, com base na petio e na contes

    tao, se

    h

    razes suficientes para levar o caso a julgamento. O juiz p oder determinar

    que o autor da ao no conseguiu expressar uma causa de pedir vlida ou que o ru deu

    uma respos ta completa e convincente petio. Neste caso, ele poderia indeferir a peti

    o ou julgar antecipadamente a lide a favor do ru. Geralmente, permitir que as partes

    continuem com a ao judicial. As partes podero recorrer de

    um

    julgamento antecipado

    da

    lide ou indeferimento.

    7 Mas ainda h um argumento a favor da manuteno da jurisdio federal em processos

    com

    diversidade de cidadania em

    que os benefcios de uma deciso possam ca ber ao povo de

    um

    estado e os custos recaiam sobre o povo de outro estado.

    S Os cidados privados podem, naturalmente, representar a si mesmos numa disputa jurdica. Isto designado de algum

    que comparece pro se - isto por si mesmo . Uma piada comum entre os advogados que a pessoa que representa a

    si

    mesma tem

    um

    bobo como cliente.

    Captulo 3 Introdu o ao Direito e Instituies Jurdicas 83

    ~ ~ ~ ~ ~ = = ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~

    9

    Se a disputa levada a julgamento,

    um jri

    poder ser formado para determinar os

    fatos, ou ento a ao ser julgada por

    um

    juiz sem jri; esta ltima situao chama

    da

    j u l g m ~ n t o

    perante juiz togado. Cada lado produzir provas e testemunhos para

    apOlar suas afIrmaes, e ento o

    jri

    ou juiz ir se retirar para determinar qu em ganha.

    9

    O critrio

    ~ u e

    o jri ou juiz usar para tomar ess a deciso a preponderncia das provas.

    Isto

    q ~ e r ~ ~ e r

    que se os argumentos do autor

    da

    ao so mais dignos de crdito do que

    os do mdIC1ado o autor da ao ganha; se os do ru so mais dignos de crdito, o ru

    ganha. Algumas pessoas dizem que o critrio da prepon derncia das provas significa que

    se a verso do autor da ao tem um a credibilidade de

    51

    %, ele ganha. Observe que este

    critrio, padro rotineiro

    em

    processos que envolvam partes privadas como litigantes,

    diferente do critrio usado em processos penais. Neles, a promo toria precisa convencer o

    jri de que o ru culpado sem qualqu er dvida razovel, o que

    um

    critrio muito mais

    exigente que a preponderncia das provas.

    Os tribunais podem estabelecer e tm estabelecido outros critrios que prevaleam

    em

    litgios

    u r d ~ c o s

    privados. Por exemplo, algumas jurisdies criaram

    um

    critrio de prova

    clara e convmcente para alguns aspectos de uma ao civil, como a outorga de indeni

    zao punitiva. Ningum pod e ter certeza do que esse critrio acarreta exatamente mas

    ele certamente mais exigente do que o critrio

    da

    preponderncia das provas e

    ~ n o s

    exigente do que o critrio do sem qualquer dvida razovel do direito penal.

    O

    jri

    retoma com

    um

    veredicto, que simplesmente diz qual parte ganha. Mas o ve

    redicto no o fim

    da

    questo. O juiz precisa registrar a sentena com base nele. a

    sentena, e no o veredicto, que constitui a ao controladora do tribunal. Na maioria

    das vezes, o juiz emite uma sentena que segue exatamente o veredicto do jri. Mas,

    em

    alguns casos raros, o juiz decide que o jri entendeu a questo de maneira completamente

    errada e registra uma sentena non obstante veredicto (sentena no obstante o veredicto),

    resolvendo exatamente o oposto do que o jri decidiu.

    Numa

    disputa de direito civil, qualquer parte, quem ganha ou quem perde, poder

    recorrer da deciso judicial do tribunal. O ganhador pode recorrer porque acha que no

    recebeu t ~ d o a que tem. direito; o perdedor pode recorrer pela bvia razo de que acha

    ~ u e

    ~ e v e n

    ter ganho. E interessante que a razo do recurso precisa ser a de que o juzo

    mfenor

    cometeu

    um

    erro

    em

    relao lei relevante, incluindo os princpios gerais rele

    vantes que o tribunal aplicou e os procedimentos pro cessuais usados no tribunal, mas no

    em

    relao aos fatos. Por exemplo, o recorrente (a parte que entra com o recurso) poder

    alegar que o juiz deu ao jri instrues inapropriadas a respeito de qual er a a lei relevante

    a respe.ito. dos

    f a t ~ s

    que eles poderiam e no poderiam levar

    em

    considerao ou que o

    JUIZ

    excluIU mapropn adamente alguma prova ou testemunho da considerao do jri.

    No nvel do recurso no haver a apresentao de novas provas ou fatos. O tribunal re

    cursal entende os fatos produzidos no tribunal de primeira instncia como dados. As nicas

    pessoas a comparecer perante o colgio recursal sero os advogados do recorrente e do recor

    rido. Os advogados submetero um resumo dos fatos por escrito ao colgio recursal e, depois,

    c ~ m p r e ~ e r ~

    perante o colgio para apresentar sua argumentao oral, durante a qual pode

    rao sermmUClOsamente questionados a respeito das questes em pauta. Poder haver resumos

    adicionais apresentados por partes que so chamados de amici curiae (amigos da corte); essas

    partes no esto diretamente envolvidas no litgio jurdico, mas acham que a questo jurdica

    em pauta toca seus interesses suficientemente para que elas queiram que o tribunal leve em

    considerao seus argumentos, alm dos argumentos do recorrente e do recorrido.

    ~ e s m o

    depois de o julgamento ter iniciado, mas antes de o juiz ou jri retornar com um veredicto as partes tm a liberdade

    e_entrar em acordo. H at exemplos - sobre os quais temos uma pergunta no Captulo 10 - de

    s i ~ u e s

    em que o autor da

    aao entrou secretamente em acordo com um de mltiplos rus, mas permite que o julgamento continue e seja concludo.

  • 7/26/2019 Direito e Economia Cap. 3

    8/10

    8

    Direito e Economia

    o colgio recursal se retira para deliberar sobre a questo e, mais tarde, emite seu pa

    recer. Os juzes podero es tar unanimemente de acordo e emitir um

    s

    parecer. Entretanto,

    poder haver uma ciso no colgio, e essa ciso poder resultar em pareceres mltiplos:

    uma maioria e uma minoria ou pareceres dissidentes. O colgio recursal poder confrrmar

    a sentena do juzo inferior ou reformar essa sentena.

    Em

    alguns casos, o colgio baixa

    processo (isto , manda-o de volta) para o juzo inferior para que haja uma ao corretiva

    especfica, como, por exemplo, um novo clculo da indenizao devida ao autor da ao.

    IV.

    COMO

    SE

    DESENVOLVEM

    AS

    NORMAS JURDICAS

    Agora vamos considerar uma sequncia de processos a fim de aplicar as ideias preceden

    tes e mostrar como o direito evolui. Os trs casos vm da Inglaterra e dizem respeito

    ao

    direito da responsabilidade civil extracontratual, que compreende os acidentes.

    8utterfieid v.

    Forrester,

    11

    East 60 1

  • 7/26/2019 Direito e Economia Cap. 3

    9/10

    86

    ireito eEconomia

    em

    questo, o jumento estava pastando do lado direito de uma estrada com cerca de 8 jardas de

    largura,

    quando a carroa do

    ru,

    equipada com

    trs cavalos,

    descendo uma

    leve

    inclinao num

    ritmo que a testemunha chamou de atrevido, colidiu com o jumento, derrubou-o, e, como

    as ro-

    das

    passaram por cima

    dele, ele

    morreu

    logo

    depois [ ] O erudito

    juiz disse aos

    jurados que [ ]

    se

    eles

    pensavam que o acidente poderia ter sido evitado pelo exerccio de precauo por parte do

    carroceiro, deveriam decidir a favor do autor da ao. O jri determinou seu veredicto a favor da

    vtima.

    [ ]

    Ento Godson postulou

    um

    novo julgamento por razes de instruo errnea.

    [Isto ,

    o ad

    vogado do

    ru

    recorreu da sentena alegando que o juiz do tribunal de primeira instncia tinha

    instrudo

    incorretamente o

    jri

    quanto a

    lei

    a

    ser

    aplicada

    aos fatos

    deste

    processo.]

    O ato

    da vtima

    de levar o burro para a estrada pblica

    foi

    ilegal,

    e visto que o dano surgiu principalmente a partir

    desse

    ato,

    o autor da ao no tinha direito a uma indenizao pelo dano que, que

    se

    no fosse por

    seu

    prprio ato

    ilegal, jamais

    teria ocorrido. [ ] O princpio jurdico dedudvel dos processos que

    onde

    um

    acidente resulta de

    falhas

    de ambos

    os lados,

    nenhuma parte pode sustentar uma

    ao.

    Assim, em Butterfield v Forrester, 11

    East 60,

    decidiu-se que uma pessoa que ferida por uma obs-

    truo

    na

    estrada contra a

    qual

    caiu no pode sustentar uma

    ao,

    caso

    se

    constate que

    ela

    estava

    cavalgando com grande violncia e carncia de precauo, sem

    as

    quais poderia ter visto e evitado

    a obstruo.

    LORDE

    ABINGER,

    C B Visto

    que o

    ru

    poderia, sendo precavido, ter evitado

    ferir

    o animal e no

    o

    fez,

    ele responsvel pelas consequncias de sua negligncia, embora o animal pudesse estar l

    inapropriadamente.

    PARKE,

    B A

    negligncia

    que deve impedir uma vtima

    de ser

    ressarcida numa ao dessa natu

    reza

    deve

    ser tal que,

    usando de precauo,

    ela

    poderia ter evitado

    as

    consequncias da negligncia

    do

    ru.

    [ ] Embora o jumento talvez estivesse l ilicitamente, ainda assim o

    ru

    tinha a obrigao de

    andar num ritmo tal que provavelmente impediria o prejuzo. Se assim no fosse, um homem po

    deria

    justificar o fato de passar por cima de mercadorias deixadas numa estrada pblica, ou mesmo

    de um

    homem que estivesse deitado l dormindo, ou o fato de colidir intencionalmente com uma

    carruagem

    que

    estivesse do lado

    errado

    da

    estrada [

    ]

    [Novo

    julgamento indeferido.]

    Pergunta

    3.3:

    a Quem recorreu da sentena)

    b

    Quem ganhou o

    recurso?

    c Qual a deciso do juiz?

    Na

    verdade, h trs pareceres. Eles esto em concordncia?

    Um autor de ao sofreu um prejuzo: seu burro foi morto, supostamente porque o ru

    estava dirigindo uma carroa numa velocidade excessiva para

    as

    condies da estrada.

    continuao) O tribunal de equidade era o Court of Chancery, assim chamado porque era presidido pelo chanceler

    [Chancellor], o mais importante membro do Conselho do Rei. A Inglaterr a estabeleceu es se tribunal no final do sculo 15

    como

    tribunal especializado na dispensao de uma espcie mais flexvel de justia do que aquela que estava disponvel

    nos

    chamados tribunais de lei ou tribunais de justia, especialment e no tocante aos remdios jurdicos. H, portanto,

    uma grande diferena histrica e substantiva entre os tribunais de jus tia e o tribunal de equidade. U ma das mais importan

    tes diferenas tem a ver com os tipos de remdios jurdicos disponveis para um autor de ao que a tivesse ganho. Falando

    grosso

    modo,

    um tribunal de justia s outorgaria

    uma

    indenizao pecuniria - uma quantia que indenizaria a vtima por

    seu dano. Um tribunal de equidade possivelmente faria mais do que isso se o autor da ao pudesse demonstrar que

    os

    danos que sofreu foram tais que um pagamento de indenizao pecuniria inevitavelmente o subindenizaria.

    Na Lei da Judicatura de 1873 e na Lei sobre a Corte Suprema da Judicatura (Consolidao) de 1925, o Parlamento

    ingls substituiu todos esses tribunais - e a distino entre lei e equidade - por uma est rutura bastante simpli ficada que no

    fazia distino entre direito comum e equidade.

    Como

    veremos no Captulo 4, essas questes histricas empoeiradas so relevantes para um dos mais famosos exem

    plos

    da

    associao do direito e da economia: o argumento de Calabresi e Melamed sobre o mais eficiente mtodo para

    proteger um ttulo jurdico.

    Captulo 3 Introduoao Direito es InstituiesJurdicas

    8

    Entretanto, o prprio autor da ao foi negligente por ter deixado seu burro sem ser vigia

    do, ainda que preso,

    ao

    lado de uma estrada pblica. Seguindo rigorosamente a norma de

    Butterfield, a negligncia da vtima contribuiu para seus danos e, portanto, deveria impe

    dir seu ressarcimento. precisamente isso que o advogado de Mann sustentou

    ao

    recorrer

    da sentena do juzo inferior a favor do autor da ao. Mas no julgamento o tribunal achou

    que os fatos em Davies v. Mann eram distintos dos fatos de processos anteriores em que

    um autor de ao concorrentemente negligente no teve a permisso de ser indenizado

    por um ru negligente. Parece haver duas razes para escusar a negligncia da vtima nos

    pareceres de lorde Abinger e de Baron Parke. Primeiro, h o elemento do tempo. Embora

    o autor da ao fosse negligente ao deixar seu burro sem ser vigiado na estrada pblica,

    a negligncia do ru aconteceu depois. E se o ru no estivesse dirigindo de maneira te

    merria, ele teria tido tempo de evitar o burro parando ou desviando ainda que o burro

    no devesse ter estado, sem ser vigiado, onde estava. Claramente, a negligncia do ru

    ocorreu depois e determinou o resultado. Esta doutrina veio a ser conhecida como a nor

    ma da ltima chance clara : se

    as

    duas partes envolvidas num acidente so negligentes,

    a parte que teve a ltima chance clara de evitar o acidente ser responsabi lizada por danos

    decorrentes do acidente.

    O segundo argumento para escusar a negligncia do autor da ao incentivar pre

    caues no futuro por parte de pessoas que estejam numa situao como a do ru. Neste

    caso, o Baron Parke expressa bem este aspecto: Embora o jumento talvez estivesse l ili

    citamente, ainda assim o ru tinha a obrigao de andar num ritmo tal que provavelmente

    impediria o prejuzo. Se assim no fosse, um homem poderia justificar o fato de passar

    por cima de mercadorias deixadas numa estrada pblica, ou mesmo de

    um

    homem que

    estivesse deitado l dormindo, ou o fato de colidir intencionalmente com uma carruagem

    que estivesse do lado errado da estrada. Esta interpretao da lei sugere que as decises

    judiciais deveriam criar incentivos para evitar acidentes.

    Observe que Davies v. Mann muda a lei determinada em Butterfield v. Forrester.

    A norma geral emanada do caso anterior - a culpa concorrente constitui uma barreira

    completa ao ressarcimento - foi alterada pelos juzes que se defrontavam com uma si

    tuao nova. Podemos dizer que, depois de Davies v. Mann, a norma jurdica se tomou

    a seguinte:

    A culpa concorrente

    um impedimento completo ao ressarcimento

    a menos que o ru tenha

    tido a ltima chance clara de evitar o acidente e no a tenha aproveitado.

    A doutrina da ltima chance clara foi rapidamente adotada em todo o universo do

    common

    law

    4

    J4 Mas a histria da culpa concorrente e da ltima chance clara no terminou a. Para examinar um fascinante episdio

    posterior, veja British Columbia Electric

    ail

    Co., Lld.

    v

    Loach, [1916]1 A.C. 719. Resumindo, o objeto de disputa neste

    processo era o seguinte: Benjamin Sands estava conduzindo

    uma

    carroa puxada por cavalos e conversando com um ami

    go.

    Sem prestar ateno ao entorno, chegou at a linha frrea e parou. Ele levantou os olhos e viu um trem se aproximan

    do.

    O maquinista do trem acionou os freios assim que viu Sands e sua carroa sobre os trilhos. Infelizmente, os freios, sem

    que o maquinista o soubesse, estavam com um defeito e no conseguiram parar o trem antes de este atropelar e matar o Sr.

    Sands. Loach, o testamenteiro do patrimnio de Sand, processou a British Columbia Electric Rail Co.

    com

    base numa teo

    ria da responsabilidade civil extracontratual subjetiva. A empresa ferroviria alegou, seguindo

    Butteifield,

    que no deveria

    ser responsabilizada porque Sands fora concorrentemente negligente. Loach respondeu que a empresa tivera, seguindo

    Davies, a ltima chance clara de evitar o dano e no aproveitara essa oportunidade. A via frrea sustentou que, de fato, ela

    no tivera ltima chance clara porque os freios estavam com um defeito. (Todos concordavam que o trem teria parado

    em

    tempo se os freios estivessem em boas condies de funcionamento e que a empresa ferroviria deveria ter verificado os

    freios antes de o trem sair da rotunda naquela manh.) A deciso foi de que a empresa deveria ser responsabilizada: uma

    deciso diferente, disse o tribunal, criaria um incentivo para no se manter o prprio trem (ou veculo ou carroa ou outro

    dispositivo)

    em

    bom estado de funcionamento.

  • 7/26/2019 Direito e Economia Cap. 3

    10/10

    Direito e

    Economia

    Para obter mais informaes sobre

    como

    o direito funciona, veja

    www.cooter-ulen.com

    sob

    o Captulo 3. L colocamos

    um

    excerto de outra ao famosa e perguntas

    para

    ajudar voc

    a

    entender como se deve pensar sobre disputas jurdicas reais.

    CONCLUSO

    Resumindo, comparamos duas grandes tradies jurdicas - a do

    civillaw

    e a do

    common

    law.

    Examinamos a estrutura hierrquica dos tribunais norte-americanos. Observamos

    algumas das caractersticas gerais de uma dispu ta jurdica:

    um

    autor de ao que alega ter

    sido lesado por um ru e recorre ao tribunal para obter remdio jurdico. Aprendemos

    al-

    guns mtodos que os ju zes usam para resolver novas questes. Finalmente, examinamos

    a evoluo da doutrina

    da

    culpa concorrente desenvolvida pelos tribunais. Este captulo

    oferece uma breve introduo seletiva a alguns dos fatos bsicos relativos ao direito, que

    analisaremos usando a economia no restante do livro.

    SUGESTES

    E lEITURA

    BERMAN, HAROLD

    H.;

    GREINER, WILLIAM

    R.

    THE NATURE AND FUNCTIONS OF LAW.

    4. ed. 1980.

    CARDOZO, BENJAMIN. THE NATURE OF THE JUDICIAL PROCESS.

    1921.

    EISENBERG, MELVIN

    A

    THE NATURE OF THE COMMON LAW.

    1989.

    FRANKLIN,

    MARC

    A

    THE

    BIOGRAPHY OF A LEGAL DISPUTE:

    AN

    INTRODUCTION TO AMERICAN CIVIL

    PROCEDURE.

    1968.

    LEVI, EDWARD H. AN INTRODUCTION TO LEGAL REASONING. 1949.

    MERRYMAN, JOHN H. THE CIVIL LAW TRADITION: AN lNTRODUCTION TO THE LEGAL SYSTEMS OF

    WES-

    TERN EUROPE AND LATIN AMERICA.

    2. ed. 1985.

    ma

    Teoria Econmica

    da Propriedade

    No

    h

    nada que afete a imaginao e cative os sentimentos do gnero humano de maneira to geral

    quando o direito de propriedade, ou aquele domnio exclusivo e desptico que um homem reivindica

    e exerce sobre as coisas exteriores do mundo, excluind o totalmente o direito de qual quer outro

    indivduo no universo. Ainda assim, h muito poucos que se do o trabalho de considerar a origem e o

    fundamento desse direito.

    WILLIAM BLACKSTONE,

    COMMENTARIES ON

    THE

    LAWS OF ENGLAND,

    LIVRO 2 CAPo 1, P. 2

    (1765-69)

    Na tribo africana chamada Barotse, o direito da proprieda de define no tanto os direitos das pessoa s

    sobre as coisas quanto as obrigaes devidas entre pessoa s em relao s coisas .

    MAX GLUCKMAN,

    lDEAS IN BAROTSE JURISPRUDENCE 171

    (1965)

    A teoria dos comunistas pode ser resumida numa nica sentena: abolio

    d

    propriedade privada.

    KARL MARX E FRIEDRICH ENGELS,

    O MANIFESTO COMUNISTA (1848)

    direito

    da

    propriedade fornece a estrutura jurdica para a alocao de recursos

    e a distribuio

    da

    riqueza. Como indicam as citaes contrastantes acima, as

    pessoas e sociedades discordam incisivamente quanto ao modo de alocar recur

    sos e distribuir a riqueza. Na concepo de Blackstone, a prop riedade dava a seu dono o

    controle completo sobre os recursos, e ele considerava esta liberdade de control ar coisas

    materiais

    a

    guardi de todo e qualquer outro direito . Glu ckman constatou que, na tribo

    dos Barotse, a propriedade transmitia responsabilidade a seu dono, e no liberdade. Por

    exemplo, os Barotse responsabilizam as pessoas ricas por contribuir para a prosperidade

    de seus parentes. Finalmente, Marx e Engels consideravam a propriedade a instituio

    pela qual po ucos escravizavam muitos.

    Os filsofos clssicos tentam resolver essas disputas prof undas sobre organizao so

    cial explicando o que a propriedade realmente . O apndice deste captulo

    d

    alguns

    exemplos de teorias filosficas, como a teoria de que a propriedade

    uma

    expectativa

    (Bentham), o objeto de distribuio just a (Aristteles),

    um

    meio de autoexpresso (Hegel)

    ou o fundamento

    da

    liberdade na vida comunitria (Burke).

    Em

    vez de tentar explicar o