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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA GESIEL CEZAR DE MELO DIREITO DE COMUNICAÇÃO X PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA: A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA OPINIÃO PÚBLICA. Florianópolis 2015

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Page 1: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINAGESIEL CEZAR DE MELO

DIREITO DE COMUNICAÇÃO X PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA:A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA OPINIÃO PÚBLICA.

Florianópolis

2015

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GESIEL CEZAR DE MELO

DIREITO DE COMUNICAÇÃO X PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA:A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA OPINIÃO PÚBLICA.

Trabalho de Conclusão de Cursoapresentado ao Curso de Graduação emDireito, da Universidade do Sul de SantaCatarina, como requisito parcial paraobtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof.ª Patrícia Ribeiro Mombach, Ms.

Florianópolis

2015

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Dedico o presente trabalho acadêmico à

minha mãe, Maria Terezinha Teixeira,

pelo esforço incansável em custear meus

estudos, além do incentivo que esta

representa em minha vida. Agradeço por

dedicar-se intensamente à mim, amando-

me incondicionalmente.

Page 6: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por ter me dado saúde e forças para superar as

dificuldades, mesmo nos momentos em que pensei em desistir.

A minha mãe, Maria Terezinha Teixeira, pelo amor, incentivo e apoio

incondicional, ao meu pai, Mario Cezar de Melo, bem como minha madrasta, Cleri

Klein, que também estiveram ao meu lado, me apoiando em todos os momentos.

A minha irmã, Elaine Cristine de Melo e cunhado Charles Fabiano

Machado, pelo apoio de sempre e pelo maior presente de minha vida, minha

sobrinha Sara de Melo Machado. Ao meu irmão, João Vidal Junior, pela parceria e

pelos momentos de apoio.

A família Inácio/Cândido, em especial a Tamara de Sousa Cândido e

Maycon de Sousa Cândido, pelo apoio e incentivo ao longo desta etapa. Vocês

foram essenciais para que chegasse até aqui.

A minha orientadora, Patrícia Ribeiro Mombach, pela dedicação, entrega

e atenção dispensados neste semestre.

Aos meus amigos, Fabiano Folster e Carlos Alberto Duarte, pela amizade

de anos e pelo apoio de sempre.

A minha amiga, Francine Vieira Costa, à qual tive o prazer de conhecer

durante a faculdade, e que levarei esta amizade ao longo da vida. Obrigado pelo

apoio e amizade.

As amizades conquistadas durante o curso, em especial, à Fernanda

Barreto, Tamires Formentin, Raissa Gevaerd, Marluce Lima, Emerson Salvagnini,

Paulo Roberto Jr., e demais amigos que, de certa forma, contribuíram para que esta

caminhada se tornasse mais agradável e proveitosa. Meu eterno obrigado!

Aos amigos, André Ramos e a Josi Silva, pela amizade e pelos longos

sete anos de convívio profissional.

Aos meus amigos, Renan Isidoro Ávila, Higor Bittencourt, Welerson

Liberato, Gustavo Santos, e demais irmãos de fé conquistados no 459º Cursilho

Jovem, pela amizade e companheirismo de sempre.

Aos mestres da Universidade do Sul de Santa Catarina, por

compartilharem conosco seus ensinamentos, e a todos, que direta ou indiretamente

fizeram parte da minha formação.

Muito obrigado!

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“Os cidadãos também têm uma obrigação: a de serem ativos e não

passivos na busca de informações”. (Ignacio Ramonet).

Page 8: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

RESUMO

A presente monografia tem por objetivo analisar a influência exercida pelos meios de

comunicação à vida social do acusado/investigado de determinado crime, uma vez

que esta contribui significativamente para a formação da opinião púbica, podendo

ocorrer a violação de um princípio constitucionalmente garantido a todos os

cidadãos, qual seja, a Presunção de Inocência. Dela se extrai que todos são

presumidamente inocentes até que haja sentença penal condenatória do Estado.

Desta forma, buscou-se fazer uma breve análise sobre as garantias constitucionais

imprescindíveis e inerentes à pessoa, garantindo ao cidadão a ordem e a segurança

perante o processo e à sociedade. Neste sentido, fez-se uma introdução sobre a

trajetória da mídia na sociedade brasileira, percebendo a sua facilitação ao acesso e

sua importância na formação da opinião pública, graças ao seu alcance e sua

utilidade, abordando, ainda, o sensacionalismo na divulgação da informação. Ao

final, buscou-se compreender o motivo que leva o crime à mídia de forma

exploratória, demonstrando, através de casos concretos, o direito de comunicação

em detrimento à presunção de inocência, onde constatou-se que o exercício abusivo

daquele coloca os sujeitos passivos a mercê de sanções não vindas pelo judiciário.

Palavras-chave: Direito de Comunicação. Presunção de Inocência. Opinião Pública.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................102 DAS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS: DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA EPRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA X LIBERDADE DE COMUNICAÇÃO .......................122.1 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.........................................................................12

2.2 PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA ......................................................14

2.3 PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA: DIMENSÃO INTERNA E

EXTERNA ...............................................................................................................................16

2.4 LIBERDADE DE PENSAMENTO, EXPRESSÃO, INFORMAÇÃO E DECOMUNICAÇÃO....................................................................................................................19

3 A ATIVIDADE MIDIÁTICA NA SOCIEDADE .............................................................273.1 A HISTÓRIA DA MÍDIA NO BRASIL..........................................................................27

3.1.1 Das Revoluções à Independência .......................................................................303.1.2 A imprensa na passagem de Monarquia à Proclamação da República, omovimento Abolicionista e a virada do século XIX....................................................313.1.3 O século XX e a Imprensa ......................................................................................333.2 AS ESPÉCIES DE MÍDIA NO BRASIL......................................................................38

3.2.1 Mídias de Massa .......................................................................................................393.3 A MÍDIA E O SEU PAPEL NA DIVULGAÇÃO DA NOTÍCIA .................................42

3.3.1 O sensacionalismo na mídia .................................................................................453.3.1.1 Manchetes sensacionalistas ..................................................................................47

4 A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA VIDA SOCIAL DO INVESTIGADO/ACUSADO ..504.1 POR QUE ALGUNS CASOS POSSUEM GRANDE REPERCUSSÃO NAMÍDIA?.....................................................................................................................................50

4.2 A MÍDIA E AS PROPAGAÇÕES DOS CASOS CRIMINAIS..................................53

4.3 OS CASOS MIDIÁTICOS QUE FERIRAM O PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE

INOCÊNCIA ............................................................................................................................56

4.3.1 O caso Escola Base.................................................................................................564.3.2 O caso Fabiane Maria de Jesus ...........................................................................604.4 DIREITO DE COMUNICAÇÃO X PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA.......................61

5 CONCLUSÃO...................................................................................................................65REFERÊNCIAS .....................................................................................................................67ANEXOS .................................................................................................................................75

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ANEXO A – LUAN SANTANA MORTO A TIROS ..........................................................76ANEXO B – REPORTAGEM SOBRE A INDENIZAÇÃO DO CAVALEIRO DODA. .77ANEXO C – CASO ESCOLA BASE ..................................................................................78ANEXO D – CASO FABIANE MARIA DE JESUS ..........................................................79

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10

1 INTRODUÇÃO

Ao se falar sobre estado democrático de direito, limpidamente vem à tona

os direitos, deveres e garantias constitucionais, preconizadas pela Carta

Constitucional que vigora desde 1988. Não obstante a isso, em meio a um mundo

informatizado e globalizado, em que qualquer cidadão pode buscar informação e se

expressar da forma que achar conveniente, há empresas e pessoas que se findam

no propósito de garantir à notícia a qualquer custo, não visualizando se tal garantia

de comunicação virá influenciar a vida de algum cidadão comum.

Neste contexto nasceu o problema de pesquisa investigado na presente

monografia, qual seja: Se a influência da mídia na formação da opinião pública pode

acarretar a violação ao Princípio da Presunção da Inocência. Para tanto, se usará o

método dedutivo de abordagem, através de técnica de pesquisa bibliográfica e

documental.

Assim, faz-se necessário dividir a presente pesquisa em capítulos, com os

assuntos assim delimitados:

No primeiro capítulo, compreender-se-á as garantias e liberdades

constitucionais, para que se crie uma linha tênue entre o direito e o limite em que

este se esbarra. A Carta Magna de 1988 tem como fundamento principal a

Dignidade da Pessoa Humana, garantida no artigo 1º, inciso III, onde a pessoa deve

ser respeitada acima de qualquer hipótese. Após, mas não menos importante, há, no

artigo 5º, inciso LVII da Carta de 88, a Presunção de Inocência, tida como um dever

do Estado e da sociedade em tratar o cidadão como inocente até que este venha a

ser considerado culpado, por meio da sentença penal condenatória transitada em

julgado.

De encontro com estas garantias há as liberdades de expressão e

comunicação como privilégios ao cidadão, no que diz respeito ao seu direito de

comunicar-se com o outro. Há, porém, ressalvas nestas liberdades, onde se

resguarda a segurança ao acusado, que só será considerado culpado após todos os

trâmites comuns da justiça.

No segundo capítulo, trar-se-á da história da mídia, desde seu surgimento

no Brasil até os dias atuais, onde se verifica que indiscutivelmente esta evoluiu com

o passar dos tempos e o avanço das tecnologias. Para demonstrar a propagação da

notícia, serão analisadas as ferramentas que auxiliam na difusão da informação, e

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11

serão abordados os tipos de mídia de massa disponíveis e que levam a informação

aos quatro cantos do mundo.

Há, porém, a informação sensacionalista, que muitas vezes é utilizada

para chamar a atenção da população sobre determinado assunto. São empregados

verdadeiros artifícios apelativos, com o intuito de vender jornal/revista, ou garantir

um número elevado de acessos e ”curtidas”, ou até mesmo o acréscimo aos

números de ibope.

No terceiro capítulo, verificar-se-á o motivo em que somente alguns casos

sofrem grande difusão e repercussão na mídia, visto ocorrer diversos crimes

homônimos na sociedade e que não ganham o mesmo destaque. Buscar-se-á ainda

demonstrar a consequências destas notícias difundidas indiscriminadamente, sendo

analisado o caso Escola Base, onde o casal responsável pelo colégio, juntamente

com outros dois casais, foram acusados de abuso sexual contra crianças que na

escola estudavam, e o caso da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, que teve seu

nome envolvido em sequestro de criança para rituais de magia negra em uma rede

social.

Por meio da análise dos citados casos concretos e com base no

referencial teórico exposto no presente trabalho, será respondido o problema de

pesquisa em tela, verificando-se se a veiculação indiscriminada de informações nas

mídias disponíveis nos dias atuais pode violar o princípio da presunção de inocência.

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2 DAS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS: DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA EPRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA X LIBERDADE DE COMUNICAÇÃO

No que se refere às questões relacionadas ao Estado Democrático de

Direito, é imprescindível ter-se em mente as garantias constitucionais que são

inerentes à pessoa humana e ao processo penal como um todo. Tais garantias

devem ser aplicadas em todas as etapas do processo no decorrer do seu

andamento, respeitando-se assim o princípio do Devido Processo Legal.

Assim, necessário se faz a análise de algumas garantias processuais que

visam à ordem e a segurança do indivíduo, seja na forma processual ou em seu

meio social. Tendo isto em mente, será possível constatar um melhor andamento

processual, sem que haja o ferimento pela inobservância das garantias

constitucionais.

2.1 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 preconiza

alguns princípios fundamentais e garantias constitucionais básicas ao convívio entre

quaisquer cidadãos existentes em nosso país. Ela visa proteger o indivíduo através

de garantias fundamentais, para que este possa viver em harmonia com o restante

da sociedade.

Nas palavras de Uadi Lammêgo Bulos (2008, p. 387), “Princípios

fundamentais são diretrizes imprescindíveis à configuração do Estado, determinam-

lhe o modo e a forma de ser”. Bulos ainda traz o entendimento de que “tais princípios

possuem força expansiva, agregando, em torno de si, direitos inalienáveis, básicos e

imprescritíveis, como a dignidade da pessoa humana, cidadania, o pluralismo

político, etc.”. (2008, p. 387).

Nesta mesma linha, preconiza Luís Roberto Barroso (2011, p. 272) o

seguinte entendimento de que “a dignidade da pessoa humana é o valor e o

princípio subjacente ao grande mandamento, de ordem religiosa, do respeito ao

próximo. Todas as pessoas são iguais e têm direito a tratamento igualmente digno”.

Assim, identifica-se que o princípio da dignidade da pessoa humana

assegura a todas as pessoas uma integridade por sua simples existência no mundo.

(BARROSO, 2011).

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Para Julio César Finger (apud LENZA, 2012, p.55) informa que “os

princípios constitucionais, [...], têm por meta orientar a ordem jurídica para a

realização de valores da pessoa humana como titular de interesses existenciais,

para além dos meramente patrimoniais”.

A dignidade da pessoa humana que tanto é preconizada em nossa Carta

Magna de 1988 como um fundamento do Estado, não significa somente o

reconhecimento do valor cidadão no que tange sua liberdade, mas também por que

o próprio Estado Democrático se constitui primordialmente com base neste princípio.

(CARVALHO, 1999).

No que se refere ao princípio da Dignidade da Pessoa Humana, tema do

presente capítulo, tem-se consolidado em nossa Carta Magna de 1988, em seu

artigo 1º, inciso III, a referida garantia constitucional, que diz:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúveldos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em EstadoDemocrático de Direito e tem como fundamentos:[...]III - a dignidade da pessoa humana; (BRASIL, 1988).

Nossa Carta Magna quando proclama a garantia da dignidade da pessoa

humana ela está proclamando um imperativo de justiça social, de uma importância

suprema, corporificando a individualidade da integridade moral do ser humano, não

sendo esta distinguida pela raça, credo, cor, origem ou status social. (BULOS, 2008).

Rodrigo César Rebello Pinho (2011, p. 90-91) fortalece ainda que:

O valor dignidade da pessoa humana deve ser entendido como o absolutorespeito aos direitos fundamentais de todo ser humano, assegurando-secondições dignas de existência para todos.O ser humano é considerado pelo Estado brasileiro como um fim em simesmo, jamais como meio para atingir outros objetivos.

Remete-se assim tal autor ao entendimento de que tal princípio deve ser

reconhecido formalmente pelo Estado, sempre buscando concretizá-lo e incorporá-lo

aos cidadãos no dia a dia. (PINHO, 2011).

Ao tratar dos direitos humanos, Ricardo Castilho (2011, p. 137) levanta a

concepção do princípio da dignidade da pessoa humana. Ele esclarece que “a

dignidade da pessoa humana está fundada no conjunto de direitos inerentes à

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personalidade da pessoa (liberdade e igualdade) e também no conjunto de direitos

estabelecidos para a coletividade (sociais, econômicos, e culturais).”.

Luís Roberto Barroso (2011, p. 275) nos apresenta em sua doutrina a

seguinte perspectiva:

O princípio da dignidade da pessoa humana expressa um conjunto devalores civilizatórios que se pode considerar incorporado ao patrimônio dahumanidade, sem prejuízo da persistência de violações cotidianas ao seuconteúdo. Dele se extrai o sentido mais nuclear dos direitos fundamentais,para tutela da liberdade, da igualdade e para a promoção da justiça.

Conceituando e pondo em evidência tal princípio, Paulo Bonavides (2001,

p. 233), nos proporciona o entendimento de que “nenhum princípio é mais valioso

para compendiar a unidade material da Constituição que o princípio da dignidade da

pessoa”.

Em resumo, tem-se assim o entendimento que a dignidade da pessoa

humana está no núcleo essencial dos direitos fundamentais, podendo dela se colher

a tutela do mínimo existencial e da personalidade humana, sendo na dimensão física

ou moral. (BARROSO, 2011).

2.2 PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

No que diz respeito a este princípio constitucional, a Presunção de

Inocência, ela está alicerçada no artigo 5º, inciso LVII da CRFB/88, que dispõe:

Art.5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país ainviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e àpropriedade, nos termos seguintes:[...]LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado desentença penal condenatória; (BRASIL, 1988).

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948 da ONU, em seu

artigo XI, nos traz o prisma deste inciso, qual seja:

Artigo XI1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de serpresumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada deacordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sidoasseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.(ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948).

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Tem-se o entendimento que o princípio da presunção de inocência é um

princípio penal, na qual ninguém poderá atribuir culpa a outro indivíduo pela prática

de qualquer crime, sem que ao menos seja julgado por um juiz, garantindo-lhe o

contraditório e ampla defesa. (TAVARES, 2009).

Alexandre Cebrian Araújo Reis e Victor Eduardo Rios Gonçalves (2012, p.

77) expõem que “apenas quando não forem cabíveis mais recursos contra a

sentença condenatória é que o réu poderá ser considerado culpado”.

Diante disso, é de suma importância salientarmos a opinião de Uadi

Lammêgo Bulos (2010, p. 336) sobre a seguinte premissa:

Se esse enunciado fosse respeitado, na grandiosidade de sua formulaçãoconstitucional, estaria liquidada, no Brasil, a contumeliosa prática da“condenação antecipada”, da “execração pública predatória” e do“denuncisismo institucionalizado”, este último inadmitido pelo SupremoTribunal Federal (STF, HC 84.409/SP, rel. p/ acórdão Min. Gilmar Mendes,Clipping do DJ de 19-8-2005).

O enunciado exposto pelo autor nas palavras acima, refere-se ao texto do

inciso LVII do artigo 5º da CRFB/88. Inclusive, ressalta-se ainda que a presunção de

inocência reporta-se tanto aos processos penais, quanto aos processos cíveis e

administrativos. (BULOS, 2010).

Ademais, entende-se que cabe ao Ministério Público, ora Fiscal da Lei,

fazer prova da culpa, visto que, por parte do acusado, tem-se a inocência presumida.

(LENZA, 2012). Assim, tal entendimento vai ao encontro do que diz o Código de

Processo Penal, quando diz em seu artigo 156 que a prova da acusação caberá a

quem fizer, no caso, cabendo então, ao Ministério Público. (BRASIL, 1941)

Assim, é de entendimento que o Fiscal da Lei assume inteiramente seu

papel dentro do Estado Democrático de Direito, qual seja, o de órgão fiscalizador, na

qual recai sobre si o ônus da acusação. (RANGEL. 2007).

Alexandre de Moraes (2014, p. 123) expõe que o princípio da presunção

de inocência é “um dos princípios basilares do Estado de Direito como garantia

processual penal, visando à tutela da liberdade pessoal”. O autor ainda salienta, que

“há necessidade de o Estado comprovar a culpabilidade do indivíduo, que é

constitucionalmente presumido inocente, sob pena de voltarmos ao total arbítrio

estatal”.

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Com isso, oferece-se ao acusado a prerrogativa de não ser considerado

culpado por um ato delituoso até que haja sentença penal condenatória transitada

em julgado, evitando aplicação errônea de sanções punitivas previstas na lei

(FERRARI, 2012).

Outro sim, Rodrigo César Rebello Pinho (2011, p. 147) recepciona em sua

obra o parecer de que “esse princípio veda, de forma absoluta, no processo penal, a

adoção de institutos como a presunção de culpa em determinadas situações [...]“.

Então, entende-se que, somente quando a situação originária do

processo for absolutamente resolvida, é que deveria então incluir o acusado no rol

de culpados, visto que há a presunção de inocência na forma relativa da não

culpabilidade dos que compõem as figuras dos réus nos processos criminais

condenatórios. (BULOS, 2010).

Tais prerrogativas expostas são embasadas em doutrinadores

constitucionalistas, sendo claramente percebido e compreendido o dever do Estado

em proporcionar ao acusado a garantia da Presunção de Inocência, sem que isto

torne seu estado processual e social mais agravado pela não observância deste

princípio constitucional.

2.3 PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA: DIMENSÃO INTERNA E

EXTERNA

Após sucinta exposição constitucional de alguns doutrinadores em

relação ao princípio da presunção de inocência, suas peculiaridades e objetivos

chega-se ao ponto de influência e alcance que tal princípio possa sofrer.

Fernando da Costa Tourinho Filho (2008, p. 29), relata claramente que o

conceito de presunção de inocência pode vir de encontro com a situação processual

do acusado. Veja-se:

Claro que a expressão “presunção de inocência” não pode ser interpretadaao pé da letra, literalmente, do contrário os inquéritos e os processos nãoseriam toleráveis, posto não ser possível inquérito ou processo em relação auma pessoa inocente. Sendo o homem presumidamente inocente, suaprisão antes do trânsito em julgado da sentença condenatória implicariaantecipação da pena, e ninguém pode ser punido antecipadamente, antesde ser definitivamente condenado, a menos que a prisão seja indispensávela título de cautela.

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O princípio da presunção de inocência, ou não culpabilidade, como já dito,

faz-se entender que seja ele intrínseco ao ser humano, sendo esse seu estado

natural, razão esta que deve ser indispensável que o Estado-acusação evidencie ao

Estado-juiz, através de provas, a culpa do acusado. (NUCCI, 2014).

Segundo entendimento de Aury Lopes Junior (2012, p.239):

A presunção de inocência, enquanto princípio reitor do processo penal deveser maximizada em todas suas nuances, mas especialmente no que serefere à carga da prova [...] e às regras de tratamento do imputado (limites àpublicidade abusiva [estigmatização do imputado] e à limitação do (ab) usodas prisões cautelares).

A presunção de inocência atua em duas dimensões: dimensão interna ao

processo e dimensão externa ao processo, e que de certa forma impõem um dever

de tratamento, mesmo por que se exige que o réu seja tratado como inocente

(LOPES JUNIOR, 2012).

No tocante a dimensão interna do princípio da presunção de inocência,

Allyson George Alves de Castro (2013) traz o entendimento de que a presunção

interna “representa uma regra de tratamento processual ao acusado, pois todos

devem tratá-lo como inocente, até o advento da sentença penal condenatória

transitada em julgado”.

O mesmo autor traz o papel do juiz como de essencial importância para a

aplicabilidade do princípio internamente:

No que se refere ao juiz, este deverá transferir o ônus probatóriointeiramente ao acusador, tendo em vista que no Estado Democrático deDireito não cabe ao cidadão provar a sua inocência. Da mesma forma,quando da gestão das provas, o magistrado deve absolver o acusado nocaso de dúvida sobre a autoria e a materialidade do crime, tendo em vistaque o sistema acusatório veda ao juiz assumir uma postura ativa na buscade elementos probatórios, sob pena de violar a sua imparcialidade.(CASTRO, 2013).

Nesse diapasão, Aury Lopes Junior (2012, p.239), apoia o tocante acima,

demonstrando a seguinte afirmação sobre a dimensão interna da presunção interna:

É um dever de tratamento imposto – primeiramente – ao juiz, determinandoque a carga da prova seja inteiramente do acusador (pois, se o réu éinocente, não precisa provar nada) e que a dúvida conduza inexoravelmenteà absolvição; ainda na dimensão interna, implica severas restrições ao (ab)uso das prisões cautelares (como prender alguém que não foidefinitivamente condenado?).

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Por conseguinte e finalizando o entendimento desta dimensão, Allyson

George Alves de Castro (2013) exibe que o “referido princípio impede que haja a

utilização arbitrária das prisões processuais, tendo em vista que a regra é a

liberdade, devendo a prisão ocorrer somente depois do transito em julgado da

sentença condenatória”.

Uma vez entendida a dimensão interna deste princípio, passa-se,

portanto, ao entendimento da dimensão externa.

Sobre a dimensão externa do princípio da presunção de inocência, Aury

Lopes Junior (2012, p. 239) assinala que “a presunção de inocência exige uma

proteção contra a publicidade abusiva e a estigmatização (precoce) do réu”.

Ou seja, a presunção de inocência deve ser imposta como verdadeiro

limite democrático contra a banalização midiática que é gerada em torno do fato tido

como crime, englobando assim também o próprio processo judicial. (LOPES

JUNIOR, 2012).

Dimensão externa, nas palavras de Allyson George Alves de Castro

(2013) soa com o seguinte entendimento:

Exige que se ponha um limite na exploração abusiva da imagem doacusado e do fato criminoso, tendo em vista que, o julgamento socialantecipado, e o preconceito em relação ao acusado antes da formação daculpa, acarreta um ônus a ser suportado por ele quando da sua reinserçãona sociedade após o término da instrução processual.

Aury Lopes Junior (2012, p. 239) acrescenta que “O bizarro espetáculo

montado pelo julgamento midiático deve ser coibido pela eficácia da presunção de

inocência”.

Torna-se claro, diante de todo o exposto, que tal princípio constitucional é

essencial à condição do acusado no processo penal, e uma vez estremecido, torna-

se incalculável os prejuízos no processo e na vida do acusado.

Estabelecendo uma relação entre o Princípio da Presunção de Inocência

com o Direito de Comunicação, torna-se necessário vislumbrarmos algumas

liberdades garantidas constitucionalmente, a fim de que seja possível compreender

que tais liberdades não se sobrepõem à Presunção de Inocência, caso contrário,

está-se diante de uma violação ao Devido Processo Legal.

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2.4 LIBERDADE DE PENSAMENTO, EXPRESSÃO, INFORMAÇÃO E DE

COMUNICAÇÃO.

No que tange tais liberdades previstas em nossa Constituição Federal,

elas se tornam essenciais à prática da democracia, levando a informação aos

cidadãos de todas as formas, seja via televisiva, rádio, mídias sociais, jornais

impressos, etc., e tais liberdades se não bem utilizadas podem se tornar uma arma

às pessoas.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, além de

possuir cláusulas de extrema importância para um correto e democrático convívio

social, traz também entendimentos que concedem tais liberdades, e que se chocam

ao modo que serão expostas a seguir.

No que diz respeito à liberdade de manifestação do pensamento, ela

encontra-se abarcada na Constituição Federal de 1988, no artigo 5º, inciso IV, na

qual expõe o seguinte texto:

Art.5º “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país ainviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e àpropriedade, nos termos seguintes:[...]IV- é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato.(BRASIL, 1988).

O pensamento é intrínseco ao ser humano. Nas palavras de Priscila

Coelho de Barros Almeida (2010), “O pensamento abarca todos os sentimentos do

homem; é aí que ele vai buscar refúgio, e encontrar guarida para sua consciência,

com seus valores, concepções e crenças”.

O direito à informação, segundo definição de Aluízio Ferreira da Silva

(apud BITELLI, 2004, p. 26):

Consiste no direito que “todos os seres humanos têm de obter informaçõesou conhecimentos para satisfazer às suas necessidades de saber,compreender as faculdades de buscar ou procurar e receber informações, oque equivale a afirmar que a pessoa pode estar informada tanto por terpesquisado, como por lhe haver sido dada a informação”.

Tal entendimento do texto constitucional em relação à Liberdade de

Informação não pode ser visto como absoluto, pois em hipótese alguma poderá tal

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20

liberdade ferir a quem quer que seja, seja materialmente ou moralmente (BULOS,

2010).

Segundo Rodrigo César Rebello Pinho (2011, p. 114):

O pensamento, em si, é absolutamente livre. Ninguém possui condições decontrolá-lo, de conhecer o que, de certo ou errado, passa pela mente de umser humano. Está absolutamente fora do poder social. O pensamentopertence ao próprio indivíduo, é uma questão de foro íntimo. A tutelaconstitucional surge no momento em que ele é exteriorizado com a suamanifestação. Se o pensamento, em si, é absolutamente livre, suamanifestação já não pode ser feita de forma descontrolada, pois o abusodesse direito é passível de punição.

No tocante ao anonimato presente no texto do inciso IV do artigo 5º, a

Constituição Federal de 1988 o veda, justamente, pois, em uma sociedade

democrática, a liberdade dada pelo legislador constituinte gera um dever de

responsabilidade pela manifestação dada, até o limite em que tal liberdade fira os

direitos de outrem. A vedação tem por fundamento evitar que eventuais

responsáveis sejam identificados perante uma violação de algumas das garantias

fundamentais. (MARCO CIVIL DA INTERNET, 2015).

Uma vez entendido tal direito, passa-se ao tema da liberdade de

expressão. A Carta Magna, no título correspondente aos direitos e garantias

fundamentais, também traz o entendimento sobre a liberdade de expressão e, que

diz:

Art.5º “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país ainviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e àpropriedade, nos termos seguintes:[...]IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e decomunicação, independentemente de censura ou licença; (BRASIL, 1988).

Entende-se que liberdade de expressão deriva-se da liberdade de

pensamento. É a forma de manifestação da palavra, da imagem, da escrita, a par de

outras manifestações. (MIRANDA, 1998).

A doutrina de Edilsom Farias, de nome Liberdade de Expressão e

Comunicação (2004, p. 55) nos brinda com o entendimento que “a liberdade de

expressão, por ter conteúdo subjetivo e abstrato, não se encontra submetida ao

limite interno da verdade”.

Page 22: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

21

Segundo André Ramos Tavares (2009, p. 593, grifo do autor) “há na

doutrina brasileira uma patente imprecisão do real significado e abrangência da

locução liberdade de expressão”. O autor coloca parte desta responsabilidade sob

os constituintes, por talvez terem pulverizado, conscientemente ou não,

manifestações distintas de uma mesma e possível liberdade de expressão, visto ao

texto de diversos incisos do art. 5º da CF de 1988. (TAVARES, 2009).

Para melhor compreender o anunciado acima, há de se entender que a

liberdade de expressão encontra limites na própria Constituição Federal, não sendo

assim um direito absoluto. (BULOS, 2008).

Colhe-se o seguinte entendimento sobre liberdade de expressão

(EMBAIXADA DOS ESTADOS UNIDOS, 2015):

A liberdade de expressão é um direito fundamental, mas não é absoluto, enão pode ser usado para justificar a violência, a difamação, a calúnia, asubversão ou a obscenidade. As democracias consolidadas geralmenterequerem um alto grau de ameaça para justificar a proibição da liberdade deexpressão que possa incitar à violência, a caluniar a reputação de outros, aderrubar um governo constitucional ou a promover um comportamentolicencioso. A maioria das democracias também proíbe a expressão queincita ao ódio racial ou étnico.

Nas palavras de André Ramos Tavares (2009, p. 593, grifo do autor) o

dito acima:

Serve para agravar o problema o uso da locução liberdade de expressão noinciso IX desse mesmo artigo: “é livre a expressão da atividade intelectual,artística, científica e de comunicação, independentemente de censura oulicença”, o que deixa transparecer que a liberdade de expressão seria direitode natureza diversa, v. g., do direito à manifestação do pensamento, o qualtem como lastro o inciso IV do art. 5º da C.F.

Vidal Serrano Nunes (apud TAVARES, 2009, p. 593), entende que a

liberdade de expressão volta-se “para a exteriorização de sensações, tais como a

música, a pintura, a manifestação teatral, a fotografia etc.”. Assim, é através da

expressão que é exteriorizado a criatividade, sensações, pensamentos, conceitos.

(TAVARES, 2009).

Corrobora com este entendimento José Afonso da Silva, (apud

TAVARES, 2009, p. 594) onde menciona que tal liberdade de expressão “trata-se de

liberdade de conteúdo intelectual e supõe o contacto [sic] do indivíduo com seus

semelhantes”.

Page 23: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

22

A Percepção sobre o conceito de liberdade de expressão vem de

encontro a outros direitos constitucionais, como por exemplo, o inciso X do artigo 5º,

que demonstra ser inviolável a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,

assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua

violação. (BRASIL, 1988).

Diante disso encontra-se aqui um limite à liberdade de expressão, tendo

em vista que a liberdade de se expressar acaba quando este viola a garantia

constitucional de outrem.

No que diz respeito a liberdade de informação, como nos outros direitos,

também está amparada na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º inciso

XIV, que expressa que “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado

o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”. (BRASIL, 1988).

Neste sentido, Alexandre de Moraes (2014, p. 868) nos brinda com o

entendimento de que:

O direito de receber informações verdadeiras é um direito de liberdade ecaracteriza-se essencialmente por estar dirigido a todos os cidadãos,independentemente da raça, credo ou convicção político-filosófica, com afinalidade de fornecimento de subsídios para a formação de convicçõesrelativas a assuntos públicos.

Destaca-se ainda que, Jean François Revel (apud MORAES, 2014, p.

868) faz uma distinção deveras importante entre a livre manifestação de

pensamento, já abordada no capítulo, com o direito de informar: “a primeira deve ser

reconhecida inclusive aos mentirosos e loucos, enquanto o segundo,

diferentemente, deve ser objetivo, proporcionando informação exata e séria”.

Para complementar tal entendimento ao acesso à informação, reza ainda

o texto do artigo 5º, inciso XXXIII que:

Todos tem direito a receber dos órgãos púbicos informações de seuinteresse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadasno prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujosigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. (BRASIL,1988)

O acesso à informação é regulado pela lei 12.527 de 2011, onde traz em

seu texto os órgãos que são subordinados a ela. Veja-se:

Page 24: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

23

Art. 1o Esta Lei dispõe sobre os procedimentos a serem observados pelaUnião, Estados, Distrito Federal e Municípios, com o fim de garantir oacesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5o, no inciso II do §3º do art. 37e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal.Parágrafo único. Subordinam-se ao regime desta Lei:I - os órgãos públicos integrantes da administração direta dos PoderesExecutivo, Legislativo, incluindo as Cortes de Contas, e Judiciário e doMinistério Público;II - as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, associedades de economia mista e demais entidades controladas direta ouindiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. (BRASIL,2011).

A liberdade de informação trata-se de um direito individual presente na

Constituição Federal de 1988, na qual pode ser entendido como a procura, o

recebimento e o acesso à informação, seja por qualquer meio, porém sem

dependência de censura, na qual cada indivíduo arcará pelos abusos que surgirem

através de tal liberdade. (SILVA, 2005).

Após breves exposições, adentra-se a outro tópico de suma importância

ao presente trabalho, qual seja a liberdade de informação jornalística, tido como a

Liberdade de Imprensa, presente na Lei Maior de 1988 do mesmo modo que as

liberdades tratadas anteriormente. A liberdade de imprensa encontra-se amparada

no capítulo que trata sobre a comunicação social, nos artigos 220 a 224. (BRASIL,

1988).

O artigo 220 do presente capítulo da Constituição Federal de 1988, traz o

entendimento de que “A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a

informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer

restrição, observado o disposto nesta Constituição.” (BRASIL, 1988).

No que diz respeito ao artigo supracitado, Marcos Alberto Sant’Anna Bitelli

(2004, p. 190) apresenta o entendimento de que:

O art. 220 inserido no capítulo da comunicação social é uma explicitação deum direito de difundir, sob algumas reservas, o exercício das prerrogativasfundamentais previstas no art. 5.º, IX, da mesma Constituição, que asseguraindividual e coletivamente a liberdade de expressão da atividade intelectual,artística, científica e de comunicação, sem qualquer censura ou licença.Esse direito de liberdade de expressão, por seu turno, advém da liberdadede manifestação do pensamento constante do inc. IV do mesmo art. 5.º -que se materializa num direito de comunicação.

O capítulo referente à liberdade de comunicação social, mais

precisamente o texto presente no artigo 220, da CRFB/88 é uma consequência no

texto previsto no artigo 5º, inciso IX, na qual se destina à liberdade de expressão da

Page 25: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

24

atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente da

censura ou licença. (MORAES, 2014).

Para Uadi Lammêgo Bulos, (2010, p. 683) este capítulo da comunicação

social “é fruto do momento e que a constituição foi elaborada. O país estava saindo

da ditadura, donde proveio o esforço de garantir, ao máximo, as liberdades de

imprensa, informação, criação artística etc.”.

Segundo Jorge Miranda (apud MORAES, 2014, p. 895), ao escrever

sobre comunicação social em seu livro, traz o entendimento que:

O que se pretende proteger nesse novo capítulo é o meio pelo qual o direitoindividual constitucionalmente garantido será difundido, por intermédio dosmeios de comunicação em massa. Essas normas, apesar de não seconfundirem, complementam-se, pois a liberdade de comunicação socialrefere-se aos meios específicos de comunicação.

A liberdade de informação jornalística é compreendida pelo direito de

informar e o direito do cidadão em ser informado. (PINHO, 2011 p. 118). Faz-se

necessário entender que, apesar da liberdade ser declarada pelo texto

constitucional, o próprio texto, nos parágrafos seguintes, engloba limites à prática de

comunicação social. (BRASIL, 1988).

Esta garantia constitucional, para o Rodrigo César Rebello Pinho, (2011,

p. 117), pode-se dar por diversas formas, porém, deixa expresso em sua obra o

seguinte cuidado:

Contudo, nas expressões artísticas feitas pelos veículos de comunicaçãosocial (imprensa, rádio e televisão) ou de forma pública (cinemas, teatros,casas de espetáculos), que atingem pessoas indeterminadas, a Constituiçãoadmite certas formas de controle. Tratando-se de diversões e espetáculospúblicos, o Poder Público poderá estabelecer faixas etárias recomendadas,locais e horários para a apresentação. Ao mesmo tempo, lei federal deveráestabelecer meios para que qualquer pessoa ou família possa defender-sede programações de rádio e televisão que atentem contra os valores éticosvigentes [...].

Tal entendimento embasa-se nos textos dos parágrafos do artigo 220, da

CRFB/88, que trazem os limites da liberdade. Nas palavras de Rodrigo César

Rebello Pinho, (2011, p. 118), “a liberdade de informação jornalística deve ser

exercida de forma compatível com a tutela constitucional da intimidade e da honra

das pessoas, evitando situações de abuso ao direito de informação previsto na

Constituição.”.

Page 26: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

25

Assim, necessita-se observar o poder informativo viabilizado pela

comunicação e o dever de atentar às regras fundamentais em relação ao poder-

dever de informar o cidadão. (BITELLI, 2004).

Em relação à violação dos limites impostos pela nossa Constituição

Federal de 1988, há que se falar da responsabilidade civil ocasionada quando se

viola os direitos inerentes à pessoa. Como forma de concretizar o exposto, cabe aqui

colacionar o entendimento da 10ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça

de São Paulo sobre o assunto:

RESPONSABILIDADE CIVIL. LIBERDADE. IMPRENSA. Pretensão daautora à indenização por danos morais decorrentes de ofensa pelaimputação de crime ambiental. Fatos negados pela autora. 1. MECANISMOCONSTITUCIONAL DE CALIBRAÇÃO DE PRINCÍPIOS. A ConstituiçãoFederal garante a liberdade de imprensa (art. 220, da ConstituiçãoFederal) e consequentemente o direito à informação. Entretanto, aConstituição Federal também garantiu a indenização por dano material,moral ou à imagem (art. 5º, inc. V) e considerou invioláveis a vidaprivada, a honra e a imagem das pessoas (art. 5º, inc. X). Houve,portanto, a imposição de limite à plena liberdade de imprensa. O exercíciodeste direito, previsto na Constituição, não pode violar direitosfundamentais igualmente estabelecidos na Constituição. 2. A ré,valendo-se do direito à manifestação livre do pensamento e da informação,não poderia violar a honra da autora ao imputar a ela a prática de crimeambiental. 3. Se houve como alegou a ré, investigação conduzida porjornalistas durante quatro meses, os dados dessa investigação deveriam tersido trazidos aos autos a fim de que fosse comprovado o indicativo decometimento de crime pela autora. No entanto, esta prova essencial não foitrazida aos autos. Nenhum dado da investigação foi trazido aos autos a fimde que fosse comprovada a veracidade da informação divulgada, o queconfirma, portanto, o ato ilícito cometido pela ré. Valor de indenizaçãocorretamente fixado. Sentença de procedência do pedido mantida. Recursonão provido. (SÃO PAULO, 2014, grifo nosso).

É límpido o entendimento do julgado acima quando percebido a ofensa à

violação do artigo 5º, inciso X da Constituição Federal de 1988. Guinther Spode

(apud BITELLI, 2004, p. 192) evidencia “não serem raras as situações em que a

liberdade de comunicação conflita com outros valores igualmente erigidos ao

patamar de direito fundamental”.

Assim como no julgado, limitações são impostas em face dos princípios

fundamentais. Como exemplo pode-se expor o texto do art. 1º da CF/88, o princípio

da dignidade da pessoa humana, pois possui imensa importância em nosso

ordenamento jurídico, aonde vem preceder intrinsecamente todo o texto

constitucional, a fim de que tal princípio seja considerado uma das maiores e mais

importantes garantias do ordenamento jurídico brasileiro. (BRASIL, 1988).

Page 27: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

26

Realizada a análise das garantias fundamentais sob a égide da

Constituição Federal de 1988, juntamente com a apresentação de explicações a

alguns princípios e garantias concedidas aos cidadãos brasileiros, é relevante que

se faça um breve estudo quanto à atividade midiática na sociedade, tamanha sua

influência na difusão da informação, trazendo seu contexto histórico no Brasil, os

tipos de mídias existentes, bem como o seu papel na divulgação da informação e o

sensacionalismo existente na difusão de algumas notícias, sendo após isso

apresentado alguns exemplos de manchetes sensacionalistas, a fim de que possa

compreender o objetivo do presente trabalho.

Page 28: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

27

3 A ATIVIDADE MIDIÁTICA NA SOCIEDADE

Para uma melhor compreensão do presente trabalho faz-se necessário

apresentar a evolução histórica da mídia na sociedade brasileira. De fato é nítida

sua importância na sociedade na difusão das informações e na formação da opinião

pública, visto seu vasto alcance e os diversos tipos de propagação da informação.

Ela tornou a sociedade atualizada perante os fatos e acontecimentos, contribuindo

para o desenvolvimento intelectual e social dos indivíduos.

Neste sentido, far-se-á um exame de sua evolução histórica junto à

sociedade, sendo levantadas informações a fim de se compreender sua evolução à

sua utilidade, bem como será demonstrado às espécies de mídia existentes no

Brasil. Torna-se evidente que, devido à globalização e evolução tecnológica, a

difusão da informação ao leitor tornou-se ainda mais eficiente, sendo possível buscá-

la através de um jornal ou de um simples toque em um celular.

Além disto, será analisado também qual o papel da mídia nas divulgações

de uma notícia, sendo apresentado o real intuito de sua importância perante a

sociedade.

3.1 A HISTÓRIA DA MÍDIA NO BRASIL

Adentrando ao tema do capítulo, é de entendimento para alguns autores

que a imprensa no Brasil teve seu nascimento de forma tardia. Segundo Marialva

Barbosa (2010, p. 19), “[...] procura-se justificar as razões desse atraso em função

de fatores culturais, econômicos e políticos que teriam retardado o início da

imprensa no Brasil.”.

Segundo extrai-se do site da Associação Nacional de Jornais (2015), tal

entendimento ocasiona:

[...] um legado de analfabetismo e concentração da renda que, sentidos atéhoje, significaram condicionantes da evolução da imprensa brasileira aoimpedir que o público leitor nacional atingisse o percentual registrado empaíses com economia de porte semelhante ou maior.

Até que ocorresse a chegada de D. João VI ao Brasil, a administração

colonial portuguesa impedia toda e qualquer atividade tipográfica e jornalística, o

que ocasionou o atraso de três séculos na inauguração da imprensa no Brasil.

Page 29: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

28

(BAHIA, 1990). Antes de 1808, todas as máquinas de impressão gráfica que

adentravam no Brasil eram destruídas e os seus donos processados, ocasionando-

se assim o imenso atraso na educação da população e nas difusões de ideias.

(MAMELUCO, 2015a).

O surgimento da imprensa no Brasil se deu através da criação da

Imprensa Régia, na data de 13 de maio de 1808, no estado do Rio de Janeiro. A

criação ocorreu após a chegada de D. João VI ao Brasil, que veio a constituir uma

atividade administrativa para a corte portuguesa, que chegara junto com ele.

(BARBOSA, 2010).

Esta atividade administrativa competia a uma junta, e a ela era atribuída a

gerência da atividade, como também o exame e fiscalização dos papeis e livros que

viessem a ser publicados, para que nada viesse a ser impresso contra alguns temas,

como a religião, o governo e os bons costumes. (SODRÉ, 2011).

Através desta oficina, começou-se a circular no dia 10 de setembro de

1808, portanto quatro meses após a implantação da imprensa Régia no Brasil, a

Gazeta do Rio de Janeiro. (BARBOSA, 2010).

Nelson Werneck Sodré (2011, p. 41) traz o conteúdo deste primeiro

número da Gazeta do Rio de Janeiro:

Era um pobre papel impresso, preocupado quase que tão somente com oque se passava na Europa, de quatro páginas in 4º, poucas vezes mais,semanal de inicio, tri-semanal [sic], depois, custando a assinatura semestral3$800, e 80 réis o número avulso, encontrado na loja de Paul Martin Filho,mercador de livros.

John Armitage (apud SODRÉ, 2011, p. 42) também expressa o conteúdo

da Gazeta do Rio de Janeiro à época:

Por meio dela só se informava ao público, com toda a fidelidade, do estadode saúde de todos os príncipes da Europa e, de quando em quando, assuas páginas eram ilustradas com alguns documentos de ofício, noticias dosdias natalícios, odes e panegíricos da família reinante. Não se manchavamestas páginas com as efervescências da democracia, nem com a exposiçãode agravos. A julgar-se do Brasil pelo seu único periódico, devia serconsiderado um paraíso terrestre, onde nunca se tinha expressado um sóqueixume.

Há, porém, neste período, uma controvérsia em relação ao precursor da

imprensa no Brasil. Em 13 de maio de 1808 surgiu a Imprensa Régia, que em 10 de

Page 30: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

29

setembro colocou em circulação o primeiro jornal no Brasil, a Gazeta do Rio de

Janeiro. (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAIS, 2015). Já em 1º de junho de

1808, é lançado em Londres, por Hipólito da Costa, o Correio Brasiliense, tendo seu

primeiro exemplar circulado no Rio de Janeiro em outubro do mesmo ano. (BAHIA,

1990).

Nelson Werneck Sodré (2011, p. 43) traz a justificativa de Hipólito da

Costa em fazer seu jornal em terras estrangeiras:

Resolvi lançar esta publicação na capital inglesa dada a dificuldade depublicar obras periódicas, no Brasil, já pela censura prévia, já pelos perigosa que os redatores se exporiam, falando livremente das ações dos homenspoderosos.

John Armitage (apud BAHIA, 1990, p. 24) notara que as diferenças nos

jornais iam além das datas de surgimento. Armitage expunha que “o Brasil visto pela

Gazeta “deveria ser considerado como paraíso terrestre, onde nunca se tinha

expressado nenhum queixume”. O Correio, ao contrário, questiona essa falsa

realidade”.

Mensalmente, o jornal de Hipólito reunia em suas páginas questões

importantes, que afetavam a Inglaterra, Portugal e o Brasil. (SODRÉ, 2011).

Contudo, à época, era considerado o Correio Brasiliense como o principal periódico

tido como maldito pelos olhos da Corte Portuguesa, devido às criticas que eram

realizadas ao regime da época. (BARBOSA, 2010).

Diante disto, Juarez Bahia (1990, p. 25) diz sobre o Correio Brasiliense:

O jornal é proibido, apreendido, censurado, processado. Não só no Brasil.Em Portugal a leitura do Correio Brasiliense é violação da lei. Aadministração do Reino edita avisos e mobiliza a polícia para impedir a suacirculação, [...] alcança as províncias e ostenta uma influência e umprestígio significativos.

Juarez Bahia (1990, p. 21) expõe que a chegada da corte portuguesa “é

provavelmente o principal ato da fase final da desintegração do velho sistema

colonial, suscetível, por isso mesmo, de desencadear ações renovadoras que vão

permitir a autonomia nacional”.

Após o surgimento da Imprensa Régia, outros jornais começaram a surgir.

Alguns anos depois da Gazeta do Rio de Janeiro, por exemplo, surge um novo

Page 31: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

30

periódico no Brasil de nome “A Idade d’ouro do Brasil” em 1811, na capital baiana.

Único periódico na cidade até 1820. (BARBOSA, 2010).

3.1.1 Das Revoluções à Independência

Já na época em que antecedia a independência, é de entendimento de

Juarez Bahia (1990, p. 29) que “às vésperas da Independência o papel

desempenhado por Hipólito da Costa já é reconhecido como fundamental para a

renovação política do país. O jornal editado em Londres abre caminho para a

história [...]”.

Em 18 de junho de 1822, D. Pedro, ora Regente da época, elaborou um

decreto contra os abusos da imprensa. O decreto permaneceu em vigor até 1823,

onde passou a vigorar um projeto de lei que tratava da liberdade de imprensa, que

viera a ser alcançada, de certa forma, na promulgação da Constituição de 1824.

(BARBOSA, 2010). Em 7 de Setembro daquele ano, proclama então a

Independência do Brasil de Portugal. (MAMELUCO, 2015b).

Juarez Bahia (1990, p. 35) expõe que “A imprensa é o elemento que

faltava na composição de forças, de anseios e de aspirações voltados para a

independência, para um ato de afirmação da autonomia”.

Após a Independência Brasileira de Portugal, surge no ano de 1824 a

primeira Constituição Brasileira, que viera a ser outorgada por D. Pedro I. Ela trouxe

em seu texto o entendimento sobre a liberdade de imprensa como norma, porém

juntamente com algumas limitações, para inibir o governo de aplicar restrições e

represálias à liberdade. (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAIS, 2015).

Resgata-se então, ipsis litteris, o texto da primeira constituição Brasileira,

datada de 25 de março de 1824 que fora promulgada à época, em que traz, entre

ressalvas, a liberdade de imprensa:

Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos CidadãosBrazileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e apropriedade, é garantida pela Constituição do Imperio, pela maneiraseguinte.[...]IV. Todos podem communicar os seus pensamentos, por palavras,escriptos, e publical-os pela Imprensa, sem dependencia de censura; comtanto que hajam de responder pelos abusos, que commetterem no exerciciodeste Direito, nos casos, e pela fórma, que a Lei determinar. (BRASIL,1824).

Page 32: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

31

Após este grande passo, Marco Morel (apud BARBOSA, 2010, p. 56)

mostra o seguinte:

Num interessante estudo, [...] mostra como a imprensa entre 1820-1840 éusada como fonte e produção de um tipo de imagem no qual tempreponderância um vocabulário em que emerge, [...], uma espécie de“zoologia política”.

Sempre seguindo seus ideais, passou-se à imprensa por sua segunda

fase de história, que começa em 1880. Foi perceptível a modernização desta

indústria tipográfica, e Juarez Bahia (1990, p. 105) expõe que “a tipografia perde o

seu caráter artesanal para situar-se numa linha de produção que exige

aparelhamento técnico e manipulação competente”. A imprensa ainda lutara contra o

atraso tecnológico que dela mesma se decorre, posto visto o atraso de três séculos

no seu surgimento. (BAHIA, 1990).

3.1.2 A imprensa na passagem de Monarquia à Proclamação da República, omovimento Abolicionista e a virada do século XIX

A imprensa, ao final dos anos de 1880 começa a dar seus primeiros

passos, assumindo uma nova forma. Gradativamente o Brasil passou a criar um

púbico letrado, onde os periódicos passaram a circular durante décadas por todo o

país. Em Rio de Janeiro e São Paulo, passasse a encontrar um número maior de

tipografias, aonde é possível perceber que outros impressos passam a ser

produzidos, o que, com o aperfeiçoamento dos sistemas de transporte e correios,

permite-se uma melhor distribuição dos periódicos à época. (BARBOSA, 2010).

Neste diapasão, é de entendimento de Juarez Bahia (1990, p. 108), em

relação às mudanças desta época:

O desenvolvimento do jornalismo no período que abrange o fim da primeirae o começo da segunda fase absorve as profundas mudanças econômicasque vive o país na passagem do Império para a República. A economiaassinala, então, duas transições: uma, para o trabalho assalariado e, outra,para um sistema industrial.

Do mesmo modo que se modernizam, há uma fundamental diferença

entre a imprensa da época da Independência e a imprensa à época da Abolição e da

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32

República. As ideias e a consciência nacional crescem e se refletem na imprensa,

onde tudo se transforma. (BAHIA, 1990).

Marialva Barbosa (2010, p. 121) expõe as novas características à época

destes novos periódicos:

Cria-se, no Rio de Janeiro, desde os anos de 1880, e com mais intensidadea partir da década seguinte, um novo jornalismo que muda o padrãoeditorial das publicações. Agora, os textos pretendem, sobretudo, informar,com isenção, neutralidade, imparcialidade e veracidade, sobre a realidade.E esses objetivos se repetem nos periódicos.

Esta grande transformação que o jornalismo alcançou observa-se também

em relação à impressão dos periódicos, pois surgiram nesta época técnicas

inovadoras, que fizeram com que os jornais passassem a apresentar ilustrações e

fotos, sem contar que o tempo de produção de um periódico diminuiu em relação ao

início do século XIX em que surgira a imprensa. (BARBOSA, 2010).

Segundo Juarez Bahia (1990, p. 120), “esses anos iniciais da República,

contudo, não se esgotam nas barreiras à liberdade de imprensa [...]”. A nova

constituição promulgada em 24 de fevereiro de1891 não trouxe avanços em relação

à liberdade, o que era esperado, visto todo aprimoramento e atualização que esta

indústria alcançou. (BRASIL, 1891).

Nelson Werneck Sodré (2011, p. 405), ao finalizar os estudos sobre a

imprensa ao final do século XIX, expõe o seguinte:

A imprensa, no início do século, havia conquistado o seu lugar definido asua função, provocado a divisão do trabalho em seu setor específico,atraído capitais. Significava muito por si mesma, e refletia, mal ou bem, asalterações que, iniciadas nos dois últimos decênios do século XIX, estavammais ou menos definidas nos primeiros anos do século XX.

Os jornais, ao iniciar o século XX, começam a dar mais ênfase aos

noticiários e as reportagens, ao invés de enfatizarem artigos. Jovens intelectuais

puderam começar sua vida jornalística ao passo que escreviam na imprensa, pois

isso possibilitava seu reconhecimento, distinguindo-se dos demais na sociedade.

(BARBOSA, 2010).

Page 34: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

33

3.1.3 O século XX e a Imprensa

Nelson Werneck Sodré (2011, p. 405) aduz a seguinte afirmação sobre a

importância da virada do século para a imprensa. Veja-se:

A passagem do século, assim, assinala, no Brasil, a transição de pequena àgrande imprensa. Os pequenos jornais, de estrutura simples, as folhastipográficas, cedem lugar às empresas jornalísticas, com estruturaespecífica, dotadas de equipamento gráfico necessário ao exercício de suafunção. Se é, assim, afetado o plano da produção, o da circulação tambémo é, alterando-se as relações do jornal com o anunciante, com a política,com os leitores. Essa transição começara antes do fim do século,naturalmente, quando se esboçara, mas fica bem marcada quando se abrea nova centúria.

O século se abre para a imprensa com a ciência que a sua prioridade é a

notícia. O espaço utilizado para publicações são revistos para melhor utilizar seus

folhetins. (BAHIA, 1990).

Juarez Bahia (1990, p. 131) ainda relata sobre a questão das publicações

à época:

A informação diária se populariza com a divulgação do sorteio dos bichos, apublicação de folhetins, o destaque aos eventos policiais e esportivos;porém há algo mais que os leitores esperam, como o relato político menosengajado, a visão ampla do que acontece no exterior, e, sobretudo, aincorporação à pauta das ocorrências locais.

Marialva Barbosa (2007, p. 22) exterioriza algumas das transformações à

época com o surgimento da tecnologia na Imprensa:

Também os periódicos mais importantes da cidade implantam outrosartefatos tecnológicos que mudam significativamente a maneira como seproduzem jornais: máquinas linotipos capazes de substituir o trabalho de até12 das antigas composições manuais; máquinas de imprimir capazes de“vomitar” de 10 a 20 mil exemplares por hora; máquinas de fotografarcapazes de reproduzir em imagens o que antes apenas podia ser descrito;métodos fotoquímicos que permitem a publicação de clichês em cores. Osperiódicos transformam gradativamente seus modos de produção e odiscurso com que se auto-referenciam [sic]. Passam a ser cada vez maisícones da modernidade, numa cidade que quer ser símbolo de um novotempo.

Nelson Werneck Sodré (2011, p. 413) também traz uma síntese da

imprensa à época:

Page 35: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

34

O equipamento dos jornais acompanhava a etapa empresarial; os velhosequipamentos eram encontrados ou vendidos a folhas do interior. É difícilacompanhar a evolução do equipamento da fase empresarial, todo deimportação. A Impressão Régia fora organizada à base de rudimentaresimpressoras de madeira, compradas na Inglaterra por 100 libras esterlinas;só em 1845 tivera prelo mecânico para atender as impressoras francesas einglesas que possuía; o reequipamento de 1877 ficara em menos de 111contos de réis; só em 1889, com a República, recebera a Active, deMarinoni, e duas Alauzet, uma das quais podia imprimir 64 páginas de umasó vez; em 1894, tinha quatro motores, que acionavam 10 Alauzet e 7Marinoni; só em 1902 recebeu a primeira rotativa e, logo em seguida, maisduas, que rodavam 15 000 exemplares em uma hora. Os jornais contavamcom equipamento mais moderno, embora menos numeroso; em 1911,entrava, no Brasil, o prelo Koenig; dois anos depois, o Werk-Augsburg.

Notas sensacionalistas passam a tomar conta das principais páginas dos

periódicos desde 1910. Deixam-se de lado as discussões políticas e passa-se a

expor os horrores cotidianos em suas manchetes. (BARBOSA, 2007).

Juarez Bahia (1990, p. 131-132) diz que “é no curso da I Guerra Mundial

que a imprensa assimila os efeitos e profundas mudanças na sociedade e nas

relações dos povos com o sistema de comunicação de massa”.

A I Grande Guerra tem início em 28 de julho de 1914, porém, no Brasil,

passa a ocupar uma maior atenção dos jornais somente na fase final. (BAHIA,

1990). Segundo Juarez Bahia (1990, p. 135), “Os jornais dividem a cobertura do

conflito mundial e de suas consequências nas relações internacionais com temas

que antecedem ou se desdobram a ele [...]”.

É de 1910 a 1920 que os avanços em relação às transformações são

mais visíveis nos conteúdos e produções de periódicos à época. Isto continuaria se

aperfeiçoando com o passar dos anos. (BAHIA, 1990).

A imprensa passava por um processo de transformação urbana, devido

ao crescimento demográfico significativo de domicílios e prédios na cidade. Em meio

a mutações políticas, tecnológicas e econômicas, a imprensa dependia de favores

oficiais a fim de garantir a sobrevivência dos seus periódicos. (BARBOSA, 2007).

Esta época foi de grandes transformações. Surge então, em 20 de abril

de 1923, entra no ar a primeira emissora brasileira de rádio, a Rádio Sociedade do

Rio de Janeiro, marcando a expansão editorial em todo o Brasil. O povo lotava as

ruas a fim de ouvir nos alto-falantes espalhados pela cidade o som que

revolucionara a nova era da comunicação. O precursor do rádio no Brasil, Roquete

Pinto, mencionava ser o rádio um livro falado, que levava para todos os ouvintes a

educação, ensino e alegria. (BAHIA, 1990).

Page 36: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

35

Em meados de 1930, inicia-se o período conhecido como a Era Vargas,

período em que os jornais têm sua liberdade cerceada pela ação da censura. Tem-

se aqui o que fora conhecido como Estado-Novo, que engloba todas as mudanças

ocasionadas entre os anos de 1930 a 1945. (BARBOSA, 2007).

Corroborando com o mesmo entendimento, Juarez Bahia (1990, p. 208)

expõe que “a censura se abate sobre o país no contexto de um Estado policial,

totalitário. Não só a imprensa é vítima, mas também toda a nação é ofendida pela

ditadura”.

A Constituição Federal de 1937, promulgada por Getúlio Vargas, trazia

assim o entendimento de liberdade de imprensa:

Art. 122 - A Constituição assegura aos brasileiros e estrangeiros residentesno País o direito à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nostermos seguintes:[...]15) todo cidadão tem o direito de manifestar o seu pensamento, oralmente,ou por escrito, impresso ou por imagens, mediante as condições e noslimites prescritos em lei.A lei pode prescrever:a) com o fim de garantir a paz, a ordem e a segurança pública, a censuraprévia da imprensa, do teatro, do cinematógrafo, da radiodifusão,facultando à autoridade competente proibir a circulação, a difusão ou arepresentação;[...] (BRASIL, 1937).

Nelson Werneck Sodré (2011, p. 558) traz em sua doutrina o

entendimento dos órgãos que regularão a censura no Brasil. Assim dispõe:

A ditadura criou órgão específico, o Departamento de Imprensa ePropaganda, [...], segundo o modelo nazista; o famigerado DIP controlava aimprensa e o rádio e baixava lista de assuntos proibidos. Nos estados,foram instalados os Departamentos Estaduais de Imprensa, DEI, que faziamo mesmo serviço.

Através do texto constitucional supracitado, pelo Departamento de

Imprensa e Propaganda (criado em 1939) e também suas ramificações, tem-se um

controle autoritário da informação. Tal organização dava ao governo o monopólio da

informação, e a estes cabiam o controle da cultura nacional. (SANTANA, 2015).

Mediante todo exposto, Marialva Barbosa (2007, p. 112) expressa que,

“Apesar dessas ingerências, a imprensa, de maneira geral, se alinha ao ideário do

Estado Novo”. Independentemente do ocorrido em relação à censura, restava para a

Page 37: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

36

imprensa à época o recurso da clandestinidade, que fora muito usado. (SODRÉ,

2011).

Com a proximidade do fim da II Guerra Mundial, e vendo que os objetivos

antes impostos ao DIP tornara-se inexigíveis, visível foi a crescente pressão popular

pelo fim dos órgãos cerceadores da liberdade, que fora criado durante o Estado

Novo. Isto levou à extinção dos Departamentos de Imprensa e Propaganda no ano

de 1945. (ARAÚJO. 2015).

O período entre 1945 a 1964 foi de transição do Brasil e de sua imprensa,

segundo a Associação Nacional de Jornal. Tinha-se nesta fase certa liberdade, e o

número de jornais e revistas crescera, e em contrapartida, a televisão surgia entre

esta fase de transição, entretanto, o jornal continuara sendo o meio de comunicação

mais utilizado, seguido do rádio. (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAL, 2015).

O Golpe Militar de 1964 e a censura à imprensa se instalariam na década

de 60. Nelson Werneck Sodré (2011, p. 636) assim dita o que acontecia:

Logo nos primeiros dias, começou a destruição de qualquer resistência naimprensa: Última hora foi invadida e depredada; os jornais e revistasnacionalistas ou esquerdistas foram fechados; instaurou-se rigorosíssimacensura no rádio e na televisão; numerosos jornalistas foram presos,torturados, exilados, e alguns tiveram seus direitos políticos cassados; [...].

O Golpe militar atentou à liberdade de imprensa nacional. Este movimento

militar gerou transformações abruptas no país, tendo como apoio grande maioria da

imprensa, juntamente com uma grande parcela da população, e pelos detentores de

cargos eletivos. (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAL. 2015).

Durante este processo, houve uma preocupação em relação à divulgação

que a imprensa poderia expor à sociedade, tendo sido criado então, em 1964, o

Serviço Nacional de Informações – SNI, na qual geria e coordenaria as atividades de

informações e contrainformações, sendo esse órgão ligado à Presidência da

República, da mesma forma, seria usufruído em proveito do Presidente e do

Conselho de Segurança Nacional. (BRASIL, 2015).

É com Ernesto Geisel, em 1974, que se anunciava uma lenta, gradativa e

segura distensão ao regime militar. Ainda continuaram de certa forma, os atentados

aos direitos humanos, e a liberdade de imprensa na época. (ASSOCIAÇÃO

NACIONAL DE JORNAIS, 2015).

Page 38: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

37

Por conseguinte, Juarez Bahia (1990, p. 434) diz que, ”o desenvolvimento

industrial do jornalismo atinge nos anos 80 o seu vértice e abrange os principais

meios impressos; dos jornais e revistas à edição de livros e artigos comerciais”.

No ano de 1988 ocorreu a promulgação da atual Carta Magna vigente, e

eis que nesta tem-se consolidado o princípio da liberdade de imprensa como em

nenhuma outra constituição anterior. (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAIS,

2015).

A Liberdade de Imprensa, tanto buscada pela mídia desde o primeiro

instante, encontra-se exibida no atual texto constitucional de 1988, em um capítulo

específico relacionado à comunicação social (art. 220 a 224), No que diz respeito à

liberdade de imprensa, o parágrafo 1º e o 2º do artigo 220 expressam o seguinte:

Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e ainformação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquerrestrição, observado o disposto nesta Constituição.§ 1º - Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço àplena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo decomunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.§ 2º - É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica eartística. (BRASIL, 1988).

Já na década de 90, tem-se o momento em que a cultura da comunicação

passa adquirir forma. As mudanças históricas à época, como nas relações sociais e

nas representações do indivíduo e da coletividade, entre outros, conduziram todos

os efeitos que foram fundamentais à comunicação. (BARBOSA, 2007).

Juarez Bahia (1990, p. 436), finalizando seu entendimento da imprensa

nesta época, é enfático em dizer:

A renovação das técnicas da imprensa, a industrialização do país, aconquista de mercados externos, a renovação dos meios de produçãotécnico-científica, estimulam o crescimento dos jornais e o seu caráter deinvestimento empresarial. A imprensa desde então amplia a sua presençana sociedade.

Tem-se agora, uma nova virada de século. A busca pela preferência do

cidadão brasileiro intensificou-se. Em meio às novas mídias disponibilizadas, como

TV por assinatura e a internet, o cidadão há de ir atrás das fontes que mais o agrada

em pleno século XXI. (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAIS, 2015).

Page 39: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

38

Cabe então, analisar a seguir, os tipos de mídias que podem ser

encontradas no Brasil, levantando pontualmente as existentes, e após,

especificamente na área da atividade das mídias, torna-se necessário analisar o

papel dela na sociedade, pois, ao tornarem a sociedade tendenciosamente mais

conhecida e reconhecível por ela própria, elas contribuíram desde que surgiram,

levando a ocorrência de modificações sociais profundas. (SOUSA, 2002).

3.2 AS ESPÉCIES DE MÍDIA NO BRASIL

Adentrando ao assunto das espécies de mídia no Brasil, faz-se

necessário um breve relato sobre a evolução desta junto à sociedade, para após

levantarmos as espécies existências na sociedade. João Batista Libânio (2010)

explica:

As últimas décadas assistiram a um fenômeno novo. A globalização [...].Não se necessita sair de um lugar para estar em outro. Aquilo que ametafísica proibia absolutamente no mundo físico, o desenvolvimentotecnológico da informática possibilita-o de maneira virtual. É-nos dado estarsimultaneamente em vários lugares. [...].

Com o avançado desenvolvimento das tecnologias e em meio à

globalização atual, faz-se necessário então analisar as espécies de mídias, ou meios

de comunicação, que existem, e que proporcionam à sociedade um melhor alcance

da informação.

Ao começar a viver em sociedade, o homem sentiu-se na necessidade de

se comunicar com o outro, seja para expressar um sentimento, sua cultura, algum

perigo, etc. (FOTON DROPS, 2008).

Guilherme Fernandes Neto (2004, p. 36), explica o seguinte sobre

comunicação:

A concepção de comunicação implica a existência de quem emite amensagem (emissor) e de seu destinatário (receptor), sedo comum amenção pela doutrina de que o objetivo é transmitir o significado entre aspartes. As pesquisas pertinentes à comunicação demonstram a evolução daconcepção pertinente aos efeitos das mensagens, até mesmo quanto àimportância do significante no processo comunicativo.

Page 40: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

39

Feitos esses levantamentos, importante se faz distinguir os dois contextos

de comunicação humana. Nas palavras de Helena Abdo (2011, p. 65, grifo do autor),

divide-se em:

(a) comunicação intersubjetiva, ou seja, aquela que se realiza entre dois oumais indivíduos ou entre grupos de indivíduos e (b) o da comunicaçãosocial, ou comunicação de massa, isto é, aquela realizada por intermédio deorganizações institucionais denominadas meios de comunicação social,meios de comunicação de massa, mass media ou, ainda, simplesmentemídia.

Corroborando com o mesmo entendimento, Edilsom Farias (2004, p. 100)

distingue a comunicação massiva da seguinte maneira:

A relevância da sobredita distinção entre os dois contextos comunicativosestá no fato singular de a comunicação massiva ser realizada por intermédiode organizações institucionais bastante típicas das sociedadescontemporâneas, comumente designadas por meios de comunicação demassa, veículos ou órgãos de comunicação social, [...].

Devido ao fato da comunicação em massa ser a que mais alcança a

sociedade em relação à difusão da informação será abordado no tópico a seguir os

meios de comunicação em massa que a sociedade faz relevante uso, quais sejam, a

mídia impressa, audiovisual (TV), sonora e a virtual (internet).

3.2.1 Mídias de Massa

Uma vez entendido que a comunicação em massa alcança maior

quantidade de pessoas na difusão da informação, imprescindível se faz a análise

delas. Assim, será apresentado breve resumo sobre estas mídias, devido ao seu

importante papel na formação da opinião pública.

Helena Abdo (2011, p. 67) expõe o seguinte em relação aos meios de

comunicação de massa:

São aqueles encarregados da transmissão pública e massiva demensagens, por uma ou mais técnicas [...] indiretas, geralmente num únicosentido (ou seja, sem grande interação entre os que transmitem amensagem e aqueles que a recebem) e a uma dada audiência.

Alice Martins Morais (2011) declara:

Page 41: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

40

Os meios de comunicação – em especial, os de massa – têm, atualmente,um poder grandioso sobre a população brasileira. Eles exercem um papelfundamental na formação da opinião pública e na formação de ideologias,seja influenciando positivamente, seja influenciando negativamente.

Em relação aos meios de comunicação em massa, vários veículos de

comunicação se encaixam nesta categoria, como a mídia escrita, como os jornais,

revistas e livros, as emissoras de TV e rádio e também a internet. (ABDO, 2011).

No que tange a mídia escrita, ela é o sistema simbólico que representa a

fala. A sua origem vem da necessidade que o homem encontrou em conservar a

mensagem articulada, para que este possa transmiti-la ou veiculá-la. (VANOYE,

2003).

Gabriela E. Possolli Vesce (2015a), ao escrever sobre a mídia impressa,

diz que “a popularização do computador na última década impulsionada pelas novas

tecnologias da informação e comunicação não eliminaram o uso do papel e da mídia

impressa”.

Jornais, revistas e livros - mídias escritas -, desde que ingressaram à

imprensa, começaram a alterar o rumo da história. O surgimento destas mídias dá

dimensão à comunicação humana. Estas mídias atingiram certo patamar, qual seja o

de informar e de formar opiniões. (PEREIRA, 1945).

Com o passar dos anos, e com o advento às tecnologias, surge a

televisão como o meio de comunicação que veio a assumir um importante papel na

sociedade, Tal mídia televisiva é um veículo de conhecimento e de informação, que

assumiu importante papel na educação e no entretenimento à população.

(MARCELO, 2015).

Segundo o último Censo de 2010 realizado pelo IBGE, os domicílios

brasileiros que possuem aparelho televisor chegam à marca de 95,1%, superando

outros aparelhos, como geladeiras, rádios, etc. (ÚLTIMO SEGUNDO, 2012). Assim,

pode-se considerar a televisão como a principal mídia de massa no Brasil. (LUÍS,

2013).

Rodiney Marcelo (2015) expõe:

É necessária a utilização da televisão como veículo de comunicação einformação, porém precisamos resignificar seu papel na sociedade, deforma que possamos usá-la como uma ferramenta de educação,entretenimento, dando a partir da nossa leitura de mundo um significadopara esse objeto, que não passa de uma criação do homem.

Page 42: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

41

Esta mídia, conhecida também por mídia audiovisual, proporciona ao seu

público uma reflexão racional sobre o que se assiste. Pode-se dela colher a

realidade pelos olhos de outrem, porém, há de ter-se cuidado ao realizar a análise

distanciada e crítica do que se recebe, uma vez que a ela pode ser acrescentada

ideias e visões tecnicamente construídas pra manipular os indivíduos que dela

fazem uso. (VESCE, 2015b).

O rádio, conhecido por ser uma mídia sonora, desde que surgiu mostra

ser de grande contribuição o seu uso para a sociedade. Segundo Amaurícia

Brandão e Rosane Nunes (2015), tem-se este entendimento, “por ser um dos meios

que apresenta menor exclusão social, além de, após as descobertas tecnológicas,

ter a capacidade de acompanhar o ouvinte, onde quer que ele esteja”.

Encontra-se relevante conteúdo sobre esta mídia no site da rádio Só Boas

Novas (2015), que diz:

Como todo meio de massa, a comunicação pode ser caracterizada comopública, transitória e rápida. Ela é pública, porque, na medida em que asmensagens não são endereçadas a ninguém em particular, seu conteúdoesta aberto ao critério público. Rápida porque as mensagens sãoendereçadas para atingir grande audiência em tempo relativamente curto,ou mesmo simultaneamente. Transitória, pois a intenção é de que sejamconsumidas imediatamente, não se destinando a registros permanentes,naturalmente há exceções, como filmotecas, gravações etc.

Logo, segundo Moacir Pereira (1945, p. 26), “o rádio, o jornal e a TV,

afinal, colocam-nos o universo, diariamente, em nossos lares ou em qualquer lugar

onde se esteja. Passou-se a ter conhecimentos gerais sobre tudo [...]”. Estes três

meios de comunicação são detentores dos maiores números de usuários, podendo

àqueles serem puramente informativos, de opinião, culturais ou de entretenimento.

(VIEIRA, 2003).

Com o avanço da tecnologia, passou-se a vislumbrar o aumento

significativo da mídia virtual, guiado pela quantidade expressiva de computadores e

celulares que possuem acesso à internet.

Segundo Censo 2010, realizado pelo IBGE (BRASIL, 2011), a existência

de computadores nos domicílios brasileiros triplicou:

Em relação à existência de bens duráveis nos domicílios, entre 2000 e22010, houve redução apenas da presença do rádio (de 87,9% para81,4%). Todos os demais bens registraram aumento de presença, comdestaque para o computador, que teve o maior aumento no período, de10,6% para 38,3% dos domicílios.

Page 43: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

42

Acrescentando ao pensamento acima, devido ao crescimento dos

computadores nas residências no Brasil, passou a crescer também o uso da internet,

totalizando 30,7% de residências que possuem acesso à rede. (OLHAR DIGITAL,

2012).

Com o aumento do uso da internet, faz-se importante abrir pequeno

adendo referente ao uso de redes sociais. Elas inter-relacionam as pessoas,

conectando-as e as fazendo se relacionar de acordo com suas preferências.

(ADAMI, 2015).

Há hoje diversos tipos de redes sociais, como o twitter, instagram,

facebook, entre outros, como há também aplicativos de troca de mensagens, no

caso, WhatsApp, um dos mais utilizados nos dias atuais. (TOP10+, 2015).

Segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia de 2015, realizada pela

Secretaria de Comunicação Social – Secom, o Facebook é a rede social mais

utilizada entre os brasileiros (83%), seguido pelo aplicativo WhatsApp (58%),

YouTube (17%), Instagram (12%) e Twitter (5%). A mesma pesquisa mostra que

71% dos entrevistados utilizam o computador como suporte de acesso, 66% via

celular, e 7% tablets. (BRASIL, 2014).

Todos os citados acima dependem do uso da internet, o que vem a

aumentar os índices de uso, visto que nos dias atuais os smartphones e tablets

possuem suporte às mídias sociais, tendo o uso se tornado contínuo. O facebook,

sendo a rede social mais utilizada, é palco para as exteriorizações da liberdade de

expressão. Adiante, ver-se-á o que esta liberdade, quando utilizada

indiscriminadamente, causa as outras pessoas.

Isto posto, o advento das mídias de massa relatadas só passaram a ser

consideradas de tal forma, devido ao processo de desenvolvimento tecnológico e

industrial ocorrido ao longo do século XX, podendo assim ser explicado o fenômeno

de alcance destas mídias. (ABDO, 2011).

3.3 A MÍDIA E O SEU PAPEL NA DIVULGAÇÃO DA NOTÍCIA

Entendendo os meios de comunicação que fazem parte do cotidiano

social, faz-se necessário analisar o papel em que estas mídias possuem ao divulgar

Page 44: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

43

a notícia. Edilsom Farias (2004, p. 112) apresenta o seu entendimento em relação

ao assunto:

As funções dos meios de comunicação social podem ser inferidas daimportância que o acesso, a recepção e a difusão dos pensamentos, idéias[sic], opiniões, informações e notícias têm tanto para o desenvolvimento dapersonalidade humana quanto para a promoção de uma saudávelconvivência social, porquanto essas necessidades humanas encontram-sehoje em grande parte dependentes da ação dos órgãos de comunicação.

Corroborando com o entendimento citado, Ana Lúcia Menezes Vieira

(2003, p. 45) expõe:

O direito de informar se traduz na possibilidade de noticiar fatos, narrando-os da forma mais imparcial e neutra possível. Uma vez optando o órgão daimprensa pela publicação da matéria jornalística, surge para o leitor oureceptor da notícia o direito à informação verdadeira e completa.

Além de informar, sendo esta a função principal dos meios de

comunicação, as mídias possuem outras funções derivadas, como o de entreter,

educar, difundir conteúdos culturais, estimular debates relevantes, fiscalizar

determinados órgãos, vender produtos e serviços, entre outros. (ABDO, 2011).

Em relação ao conteúdo, Denis McQUAIL (apud ABDO, 2011, p. 68)

acrescenta que:

Todos estes papeis assumidos pelos meios de comunicação são deextrema e indiscutivelmente importantes, dadas as consequênciaspotenciais que podem gerar sobre a opinião pública, a coesão social, o graude conhecimento público acerca de determinados temas, o funcionamentodas instituições e, ainda, sobre os próprios processos democráticos.

É preciso que o profissional que exporá os acontecimentos seja

responsável sobre a versão dos fatos, pois ele será o precursor da opinião pública,

que será tomada com base nos acontecimentos na qual noticiará. Deve-se expor a

informação completa, não sendo utilizado de meias-verdades, sendo dever da

imprensa o de apresentar as informações verídicas e de forma abrangente. (VIEIRA,

2003).

Isto posto, cabe ressaltar que os meios de comunicação possuem

também função política, quais sejam os de fiscalizar órgãos do Estado e seus

Page 45: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

44

funcionários, fornecendo aos cidadãos informações para que possam cumprir o seu

papel democrático, objetivando debates públicos. (FARIAS, 2004).

Tonificando este entendimento, Guilherme Döring Cunha Pereira (2002, p.

42) menciona:

É convicção comum, frequentemente repetida, que esse papel tem duasvertentes principais: de um lado, subministrar aquele conjunto deinformações acerca da coisa pública, em todos os seus aspectos,necessárias para o responsável exercício dos direitos de cidadania, muitoespecialmente o de voto; e, de outro, exercer constante monitoramento dopoder, isto é, atuar como fiscal permanente do governo.

Consequentemente, através disto, forma-se a opinião pública. Jürgen

Habermas (apud ABDO, 2011, p. 74) descreve opinião pública conceituando antes a

esfera pública, que, segundo ele “diz respeito a uma “teia” na qual se desenvolvem

atividades de comunicação de conteúdos, tomadas de posição e de opiniões, as

quais, após passarem por um sistema de filtros, cristalizam-se em torno de

determinados temas”.

Com isto, segundo Habermas (apud ABDO, 2001, p. 74) opinião pública

não é “a simples soma de opiniões individuais, mas sim a opinião geral constituída

por meio do consenso alcançado a partir das possibilidades reais de discussão de

temas de interesse comum na esfera pública”.

Ignácio Ramonet (2010, p. 24) ainda expõe:

Ninguém nega a indispensável função da comunicação de massa numademocracia, pelo contrário. A informação continua sendo essencial ao bomandamento da sociedade, e sabe-se que não há democracia possível semuma boa rede de comunicação e sem o máximo de informações livres. Todomundo está de fato convencido de que é graças à informação que o serhumano vive como um ser livre.

Portanto, é sabida a importância vital que os meios de comunicação em

massa possuem na construção dos valores sociais, e na formação da opinião

pública. Revela-se desta forma o quão forte é o poder que lhes são inerentes,

observando sempre os critérios e os limites no seu exercício, visto serem suas

funções fundamentais na construção de uma sociedade democrática. (ABDO, 2011).

Page 46: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

45

3.3.1 O sensacionalismo na mídia

Uma vez discutido o importante papel da mídia perante a sociedade,

importante será a análise das desvirtuações desses papeis primordiais na

construção da opinião pública.

Nas palavras de Ana Lúcia Menezes Vieira (2003, p. 52):

O sensacionalismo é uma forma diferente de passar uma informação; umaopção por assuntos que podem surpreender, capazes de chocar o público;uma estratégia dos meios de comunicação que trabalham com a linguagem-clichê, vulgar, compacta, conhecida como lugar-comum, de fácilcompreensão por aquele que a recebe.

A imprensa, juntamente com os meios de comunicação, constrói um

modelo informativo na qual se espalha e ultrapassa os limites do real e do

imaginário. Nas palavras de Ana Lúcia Menezes Vieira (2003, p. 53), “nada do que

se vê (imagem televisiva), do que se ouve (rádio) e do que se lê (imprensa

jornalística) é indiferente ao consumidor da notícia sensacionalista. As emoções

fortes criadas pela imagem são sentidas pelo telespectador”.

Edilsom Farias (2004, p. 131) apresenta o entendimento que:

Todavia, a ação dos meios de comunicação social passa a ser negativa àmedida que produz a uniformidade das consequências, da linguagem e doscostumes, especialmente quando efetivada por intensa publicidade, queresulta em um individualismo conformista e conservador bastante prejudicialà solidariedade social e aos valores comunitários; que propaga uma culturade massa que leva consigo um gigantesco sincretismo, que solapa adiversidade cultural e degrada o cidadão, notadamente nos casos em que,condicionada pelos interesses comerciais, o seu único propósito é atingir ummaior número de pessoas, não importando a mediocridade das obviedadese clichês culturais; que divulga informações falsas com o escopo de“provocar de maneira artificial uma reação da opinião pública”; ou quedeforma a opinião pública quando intencionalmente desvia o interesse doscidadãos dos problemas importantes para assuntos secundários e semrelevância comunitária.

Guilherme Fernandes Neto (2004, p. 129) corrobora com todo o exposto e

ressalta o seguinte:

O processo comunicativo, especialmente no que tange ao jornalismo, devebuscar a informação e não a persuasão; todavia, mesmo sem intenção, avisão do jornalista pode implicar a alteração da interpretação dos fatos porele relatados e, eventualmente, interpretados, [...].

Page 47: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

46

A televisão hoje é o meio de comunicação onde se usa maior linguagem

sensacionalista, visto ser a televisão o meio que transmite a informação fornecendo

a aparência e a ilusão do real. Grande parte das vezes se transmitem verdadeiros

espetáculos, nas qual o telespectador encontra sua informação aliada ao processo

psicológico do divertimento, porém, estas linguagens espetaculares usadas pelos

meios de comunicação influenciam a opinião pública, muitas vezes formada pela

maneira em que a notícia é comunicada. (VIEIRA, 2003).

É sabido que há a influência das mídias na formação da opinião pública,

visto seu poder de pressão psicológica, porém, se houvesse parâmetros judiciais

mais brandos de certeza, haveria um afrouxamento nas formas de satisfazer a

informação do receptor da notícia, ao invés da “verdade subjetiva” do profissional

que repassa a informação. (PEREIRA, 2002).

Ana Lúcia Menezes Vieira (2003, p. 54) complementa:

Cabe ao jornalista fazer despertar o interesse e a atenção do receptorconsumidor da mensagem e o faz por meio do impacto. Ele cria mediantetécnicas sofisticadas – utilizadas sobre tudo pela televisão – o impacto danotícia sensacionalista na primeira etapa do processo de comunicação,visando, assim, a atingir o público e levá-lo a se interessar pelo que serátransmitido.

E ainda acrescenta:

[...] o jornalismo sensacionalista enaltece o fato e fabrica uma nova notíciacom cargas emotiva e apelativa. Extrapola o fato real, utiliza um tomescandaloso na narrativa, sensacionalizando o que não é sensacional. É aexploração do que fascina, do extraordinário, do desvio e da aberração.(VIERA, 2003, p.55).

Entretanto, ressalta-se que, devido ao avanço tecnológico que fora

fundamental na formação das novas mídias, como a internet, a exposição da notícia

se expandiu vertiginosamente, visto aos diversos fatores, entre eles, a

multimidialidade e instantaneidade. É perceptível o uso da potencialidade da internet

na prática do sensacionalismo, onde, dentre tantos causos, expõem fotografias de

impacto, majoração, valorização e intensificação das notícias. (ROCHA, 2011).

Destarte, a credibilidade dos meios de comunicação, como já exposto em

tópico precedente, é somada à notícia vinculada. Os usuários de internet, os leitores

dos periódicos e a audiência dos meios audiovisuais acabam por depositar a

Page 48: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

47

confiança nas informações repassadas, e devido a isso, acaba por replicá-las sem o

devido questionamento ou investigação mais severa. (ABDO, 2011).

3.3.1.1 Manchetes sensacionalistas

Visto sobre o papel da mídia e sua influência perante a sociedade, e os

distorces que os meios de comunicação exercem perante a divulgação, a qual se dá

o nome de sensacionalismo, passar-se-á a apresentação de algumas matérias na

qual a mídia fez uso do sensacionalismo.

O tabloide carioca Meia Hora, conhecido por ser sensacionalista em suas

postagens, estampa em suas capas matérias de humor e textos com duplo sentido,

que leva o leitor muitas vezes a entender de forma equivocada a notícia. Um

exemplo disto extrai-se em uma capa do jornal, vinculada no ano de 2011, na qual

traz o texto “Luan Santana morto a tiros”, precedido pelo texto “Um meteoro de

balas”. (Vide anexo A). Na verdade, foi realizada uma alusão à música do cantor,

procedida da manchete em que fora morto, todavia, em letras menores abaixo, lia-se

que um homônimo do cantor é quem havia falecido. (UOL ENTRETENIMENTO,

2011).

Em recente julgado pela 3ª turma do Superior Tribunal de Justiça, a

Editora Caras foi condenada a pagar indenização ao atleta Álvaro Affonso Miranda

Neto, conhecido como cavaleiro Doda, por divulgar fotos do casamento sem

autorização, e por uma publicação na capa da revista, a qual dizia “Cavaleiro que

ainda recebe mesada do pai, de 45 mil reais, casa-se com a jovem mais rica do

mundo”. (Vide anexo B). (CONSULTOR JURÍDICO, 2015).

O casamento ocorreu em 2005, e em março de 2015 a 3ª turma do STJ

entendeu que a manchete “ultrapassou em muito os limites da liberdade de

informação”. Pela reprodução não autorizada das fotos, fixou-se indenização por

danos materiais em R$ 30 mil reais, e a reparação por danos morais pela manchete

depreciativa à honra do atleta foi fixada em R$ 50 mil reais. (BRASIL, 2015).

Em 1994, ocorreu o que se considera um caso clássico de

sensacionalismo, lembrado até os dias atuais, em que as emissoras e os jornais

cobriram chamando de O Caso Escola Base, na qual gerou uma cobertura

jornalística imensa e sensacionalista e que prejudicou permanentemente a vida das

pessoas envolvidas, sendo lembrado ate os dias de hoje como exemplo a não ser

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48

seguido. Os donos da Escola de Educação Infantil foram acusados de abuso contra

as crianças que estudavam no colégio, porém, antes que surgissem evidências que

pudesses acusar os suspeitos, a mídia fez-se valer das conclusões do delegado, em

que mencionava que o inquérito era a prova do caso. (BITTENCOURT, 2011).

O que o chefe da investigação dizia, a mídia difundia em seus meios de

comunicação, mesmo antes das informações constarem nos inquéritos. Após

resultado de exame de corpo e delito divulgado pelo IML, na qual concluiu terem

sido as crianças vítimas de atos libidinosos, os jornais e revistas à época exploraram

o fato e o noticiavam de maneira sensacionalista. (RIBEIRO, 2001).

O Jornal Notícias populares foi o periódico que explorou demasiadamente

a cobertura do caso, e difundia as informações com as seguintes manchetes: “Kombi

era motel na escolinha do sexo” (Vide anexo C), “Perua escolar levava crianças pra

orgia no maternal do sexo”. A Revista Veja à época também se pronunciou da

seguinte maneira em relação ao caso: “Uma escola de horrores”. Mais tarde, porém,

o exame fora considerado inconclusivo, sendo que tais lesões poderiam ser

causadas problemas intestinais, o que mais tarde ficou comprovado.

(BITTENCOURT, 2011).

Nas palavras de Ana Lúcia Menezes Vieira (2003, p. 56), este tipo de

imprensa:

Utiliza-se de formas sádicas, calunia e ridiculariza as pessoas. Explora ostemas agressivos, dos submundos da sociedade hierarquizada onde o crimese integra em condições de normalidade. É o jornalismo de escândalo quetem por fim agredir com o que é proibido, obsceno, temido, criando umaficção que seduz. Não se presta a informar, e sim a vender aparência,entretenimento barato que consiste no lado atraente dos escândalosenvolvendo crimes.

Desta forma, torna-se evidente que o sensacionalismo prejudica a difusão

da informação, tendo consequências muitas vezes danosas aos envolvidos na

acusação. Muitas vezes, ao divulgar a notícia, não se leva em consideração o

impacto que será causado na sociedade, sendo apresentados fatos muitas vezes

diferentes do original, distorcendo completamente a informação, levando à

sociedade uma informação errônea. (PORTO, 2015).

Realizada uma breve exposição sobre a história da mídia no Brasil, os

tipos de mídias de massa existentes, seus papeis na divulgação da notícia, bem

como o sensacionalismo na divulgação, importante se faz analisar a influência da

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49

mídia na vida do cidadão, buscando compreender o motivo de somente alguns

crimes tornarem-se midiáticos e a forma de propagação dos casos criminais pela

mídia. Após isso, apresentar-se-á casos concretos em que houve detrimento à

Presunção de Inocência e, por fim, o entendimento sobre o Direito de Comunicação

em detrimento à Presunção de Inocência, a fim de que se possa compreender o

objetivo do presente trabalho.

Page 51: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

50

4 A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA VIDA SOCIAL DO INVESTIGADO/ACUSADO

Ao adentrar no último capítulo do presente trabalho, far-se-á uma

abordagem sobre o motivo em que leva a mídia a repercutir alguns casos, sendo

que casos iguais ocorrem a qualquer momento em nossa sociedade e em várias

classes sociais, bem como se tratará também do exercício da mídia na divulgação

dos casos criminais, levantando o estudado no capítulo precedente, no que tange o

sensacionalismo da difusão da informação.

Ainda, abordar-se-á a violação do princípio da presunção de inocência

perante a sociedade, levantando alguns casos emblemáticos que se tem notícia

sobre esta violação, onde será relembrado o caso e exposto os prejuízos que os

suspeitos à época tiveram em suas vidas.

Por fim, tendo toda a pesquisa tida como pauta, será realizada uma

abordagem sobre o Direito a Comunicação e a Presunção de Inocência, onde

àquela torna-se muitas vezes prejudicial a esta.

4.1 POR QUE ALGUNS CASOS POSSUEM GRANDE REPERCUSSÃO NAMÍDIA?

Ao levar em consideração alguns casos ocorridos pela não observância

do limite das liberdades garantidas pela Carta Maior de 1988, importante se faz

analisar um dos motivos que levam com que a imprensa repercuta determinados

crimes.

Adentrando ao assunto, importante se faz introdução dada por Bismael B.

Moraes (2005, p. 23-24):

A Filosofia nos leva à reflexão, e em busca da verdade do pensamento edas idéias [sic]; a História, que é ciência e não mente, registra os fatos e ostransmite à posteridade; A Sociologia, filha da Filosofia, analisa os sereshumanos, suas tradições, seus costumes. Das tribos mais antigas,passando pelos clãs, feudos e principados da Idade Média, chegamos àfigura do Estado moderno, imaginado e criado pelas pessoas, organizandopoliticamente a sociedade e visando o bem coletivo. Mas esse mesmoEstado, com toda sua estrutura jurídica e seu requinte, depende dosindivíduos, bons e maus, com virtudes e vícios morais... .

Inicialmente, há que se fazer uma análise no que diz respeito a uma

sociedade ordenada e desordenada, para relacionarmos então com a difusão de

determinados crimes pela mídia.

Page 52: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

51

Para o homem, segundo relato da antropóloga britânica Mary Douglas

(2014, p. 20) “coisas sagradas e lugares sagrados devem ser protegidos contra

profanação”. Faz-se assim uma relação com a sociedade, onde a ordem e a pureza

são aceitas pelos indivíduos que nela habitam, não ocasionando mal estar entre

estes uma vez que há a ordem. (DOUGLAS, 2014).

Acrescentando ao dito, Zygmunt Bauman (1998, p. 15) fala que:

“Ordem” significa um meio regular e estável para os nossos atos; um mundoem que as probabilidades dos acontecimentos não estejam distribuídas aoacaso, mas arrumadas numa hierarquia estrita – de modo que certosacontecimentos sejam altamente prováveis, outros menos prováveis, algunsvirtualmente impossíveis.

E ainda aduz o seguinte:

A pureza é uma visão das coisas colocadas em lugares diferentes do queelas ocupariam, se não fossem levadas a se mudar para outro,impulsionadas, arrastadas ou incitadas; e é uma visão de ordem – isto é, deuma situação em que cada coisa se acha em seu justo lugar e em nenhumoutro. (BAUMAN, 1998, p. 14).

O oposto da pureza, o imundo, o sujo, acaba por estragar o padrão

preestabelecido, ocasionando uma perturbação e gerando a desordem. (DOUGLAS,

2014). Logo, Mary Douglas (2014, p. 117) expressa que “assim, a desordem por

implicação é ilimitada, nenhum padrão é realizado nela, mas é indefinido seu

potencial para padronização. Daí por que, embora procuremos criar ordem, nós

simplesmente não condenamos a desordem”.

Zygmunt Bauman (1998, p. 14) expressa que “não são as características

intrínsecas das coisas que as transformam em “sujas”, mas tão somente sua

localização na ordem de coisas idealizada [sic] pelos que procuram a pureza”.

Simbolicamente, o sociólogo Zygmunt Bauman (1998) e a antropóloga

Mary Douglas (2014) trabalham com o entendimento de que a desordem causa a

sujeira e torna o ambiente impuro à vista da sociedade. Em uma correlação ao tema

do presente estudo, tem-se o crime como a “impureza” causadora da desordem,

ocasionando o mal estar na sociedade.

Mary Douglas (2014, p. 50) faz uma relação da ideia de sujeira:

Sapatos não são em si sujos, mas é sujeira coloca-los na mesa da sala dejantar; comida não é sujeira em si, mas é sujeira deixar utensílios de

Page 53: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

52

cozinha no quarto, ou deixar comida salpicada na roupa; do mesmo modo,equipamento do banheiro na sala de visitas; roupa pendurada nas cadeiras;coisas que são para serem deixadas fora da casa dentro de casa; [...].

Já Zygmunt Bauman (1998, p. 14) expressa mais objetivamente esta

relação, onde a imagem de pureza torna-se impura, suja, pelo fato das coisas

estarem “fora de seus lugares”:

Sapatos magnificamente lustrados e brilhantes tornam-se sujos quandocolocados na mesa de refeições. Restituídos ao monte dos sapatos, elesrecuperam a prístina pureza. Uma omelete, uma obra de arte culinária quedá água na boca quando no prato do jantar, torna-se uma mancha nojentaquando derramada sobre o travesseiro.

Para demonstrar tal visão, Aury Lopes Jr (2006, p. 12) nos brinda com o

seguinte entendimento:

O exemplo é interessante e bastante ilustrativo, principalmente num paíscomo o nosso, em que vira notícia no Jornal Nacional o fato de um grupo defavelados terem “descido o morro” e “invadido” um shopping center no Riode Janeiro. Ou seja, enquanto estiverem no seu devido lugar, as coisasestão em ordem. Mas, ao descerem o morro e invadirem o espaço daburguesia, está posta a (nojenta) omelete no travesseiro.

Analisando analogamente os ditos acima, límpida é a visão de que ao

ocorrer o crime, a impureza, este causa a desordem inesperada. Relacionando todo

dito ao crime, uma vez que este ocorre onde há a ordem, torna-se evidente a

exploração midiática. O crime em meio à ordem causa mal estar aos que na ordem

habitam, e para quem pertence a classes mais abastadas, estruturadas, acaba por

entender que as práticas dos crimes devem ocorrer em âmbito diferente ao seu.

(DOUGLAS, 2014).

A repercussão exacerbada pela mídia ocorre ao passo de que o crime

acontece em local errado. Ocorrendo crime em classes altas, surge a desordem, e

consequentemente o interesse pelos meios de comunicação, como nos

emblemáticos casos de Suzanne Von Richtoffen, Isabela Nardoni, Elize Matsunaga,

entre outros, ao passo que, em classes pobres, também ocorrerem crimes dessa

natureza, ou até mais graves, mas sem notório conhecimento midiático, pois eles

ocorrem aonde tem que ocorrer. Sem o mal estar causado pela desordem, inexiste

interesse popular no caso, afastando a atuação da mídia.

Page 54: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

53

4.2 A MÍDIA E AS PROPAGAÇÕES DOS CASOS CRIMINAIS

Nos dias atuais, tem-se o crime como um dos fatores que levam à

sociedade a praticar a opinião pública. Violência e mortes tornam-se espetáculo

perante a mídia, e nisto se acresce a concorrência entre as empresas na divulgação

da matéria, as quais buscam serem precursores de uma foto do crime, de uma

informação importante, etc.. Em muitos casos não há a devida análise do fato para

que se haja a divulgação. (RAMONET, 2010).

No que diz respeito às propagações dos casos criminais pela mídia, Ana

Lúcia Menezes Vieira (2003, p. 191) traz o seguinte texto:

As atividades de investigação do fato criminoso, encetadas ela polícia, sãoas que mais interessam e alimentam a crônica policial. Pela maiorproximidade do crime, o impacto da notícia de um acontecimentoinesperado, grave, violento e intenso desperta a curiosidade pública erepercute socialmente.

Corroborando no mesmo entendimento, Oacir Silva Mascarenhas (2010)

nos diz que:

A mídia, portanto, dá acesso à informação e ao mesmo tempo tenta formara opinião pública. Indiretamente, nota-se também a presença uma série decarga valorativa nos processos de seleção e publicação da notícia. Nestalinha, os meios de comunicação acabam por controlar a sociedade namedida em que estereotipa certas situações, cria mitos, generalizaenfoques, perspectivas e comportamentos diante de um determinado fatoou conflito.

A informação de determinado crime na forma da notícia é recebida com

sensibilidade pelo receptor da mensagem, sendo assim capaz de abranger uma

vasta área dentre várias classes sociais, tornando maior sua abrangência de

influências. (VIEIRA, 2003).

Assim sendo, Eleonora Rangel Nacif (2010) expõe o seguinte em relação

ao desvirtuamento do verdadeiro papel da mídia, quando o assunto é a divulgação

dos casos criminais:

A função social da imprensa num Estado Democrático de Direito e suaspremissas éticas vêm sendo corriqueiramente deixadas de lado, em virtudeda frenética busca por maiores índices de audiência e, consequentemente,maior lucro com publicidade. A mídia elege determinados cidadãos, osquais, muitas vezes, nem chegaram a ser réus em processo criminal, e,

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54

numa tentativa de substituir os próprios Tribunais, transfere para si a sededo julgamento, prejulgando e crucificando homens e mulheres, não importase culpados ou inocentes.

A condição de flagrante do suspeito encaminhado à delegacia e sua

apresentação à autoridade oficial por si só são alvos da imprensa pela maneira com

que tudo acontece. O policial estará armado na condução do preso que está

algemado até a viatura policial, na qual esta se encontrará com as sirenes ligadas, o

suspeito cabisbaixo, sob as luzes das câmeras e tentando fugir acuado mediante ao

bombardeio de perguntas incisivas sobre o delito. (VIEIRA, 2003).

Pode-se ser observado nas publicações das matérias que, ao invés de

possuírem caráter informativo, passam a explorar de forma abusiva e

sensacionalista, sendo violados direitos e princípios inerentes ao investigado,

causando assim danos irreparáveis ao seu direito de defesa. (NACIF, 2010).

A Lei 5.250 de 1967, tida como a Lei de Imprensa, possuía em seu artigo

16, inciso I, punição a quem divulgava notícias de forma incompleta ou errada:

Art. 16. Publicar ou divulgar notícias falsas ou fatos verdadeiros truncadosou deturpados, que provoquem:I - perturbação da ordem pública ou alarma social;[...]Pena: De 1 (um) a 6 (seis) meses de detenção, quando se tratar do autor doescrito ou transmissão incriminada, e multa de 5 (cinco) a 10 (dez) salários-mínimos da região.Parágrafo único. Nos casos dos incisos I e II, se o crime é culposo:Pena: Detenção, de 1 (um) a (três) meses, ou multa de 1 (um) a 10 (dez)salários-mínimos da região. (BRASIL, 1967)

Todavia, tal lei de imprensa foi considerada inconstitucional pela maioria

dos ministros do Supremo Tribunal Federal, sob o entendimento de que tal lei não foi

recepcionada pela atual ordem democrática no Brasil, visto ter sido constituída a

partir de uma visão punitiva e cerceadora de liberdade de expressão à época.

(HAIDAR, 2009).

Ana Lúcia Menezes Vieira (2003, p. 192) acrescenta o seguinte sobre a

atividade midiática nos casos criminais:

A cena criada e desenvolvida pelos meios de comunicação, no palco doespetáculo do crime, é transformada em notícia divulgada não comoinformação, mas como condenação definitiva. O suspeito ou indiciado étransformado em réu, as circunstâncias ainda não apuradas do crime sãoprovas cabais da materialidade, e a matéria jornalística é veiculada comodecreto de morte moral do indivíduo submetido, ainda, às investigações. Eestas só se iniciaram.

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55

Nesta mesma linha, Fábio Martins de Andrade (2015, p. 8) diz:

Ademais, registre-se que o descompasso entre a pressa com a qualtrabalha o jornalismo hoje e o rito processual que leva à (ponderada)decisão final no âmbito do Judiciário conduz a uma evidente antecipação dapena para os suspeitos que, por obra predominantemente da Mídia, jáforam condenados em verdadeiro “linchamento midiático”, como referidoanteriormente.

Importante se faz introduzir o entendimento de Ana Lúcia Menezes Vieira

(2003, p. 192), que acrescenta ao assunto:

Essa maneira sensacionalista, e muitas vezes irresponsável, de atuação damídia em relação aos fatos criminais, mais propriamente em relaçãoàqueles que estão sendo investigados, é a realidade que vivenciamos nodia-a-dia – reputações, imagens, dignidade pessoais são destruídas,irreversivelmente, pelo estrépito público da crônica policial.

É claro o entendimento de que a mídia, por vezes, contribui com a

atividade policial. Em determinados casos, a publicação de informações pela

imprensa torna-se importante para as investigações e solução de determinado delito,

como a divulgação de uma fotografia para descobrir-se a autoria de um crime, a

localização de vítimas, possíveis testemunhas, etc., Com isso, às vezes a publicação

é essencial para colheita de dados preciosos para desvendar com êxito um inquérito

policial. (VIEIRA, 2003).

Importante salientar que nossa Carta Magna de 1988 garante a

publicidade dos atos processuais em seu artigo 5º, inciso LX, conforme abaixo:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País ainviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e àpropriedade, nos termos seguintes:[...]LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando adefesa da intimidade ou o interesse social o exigirem. (BRASIL 1988).

As funções que são inerentes a este princípio são a de proteger as partes

contra juízos arbitrários, garantindo o devido processo legal, e a possibilidade da

participação e controle sobre exercício da atividade jurisdicional. (ABDO, 2011).

O entendimento sobre a primeira função é o de resguardar ao acusado

sobre possíveis abusos perpetrados no decorrer do exercício jurisdicional, como

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56

parcialidade do magistrado, corrupções, torturas como meio de prova, custas

processuais elevadas, demora do cumprimento dos atos processuais, etc. Já a

segunda função da publicidade, garante o instrumento de fiscalização popular sobre

os atos e exercício da função jurisdicional. (ABDO, 2011).

Eleonora Rangel Nacif (2010) elucida o seguinte com relação à

importância da publicidade:

Portanto, a publicidade surge com estas finalidades, e ela não pode serusada para outros fins. É sob este ponto de vista, portanto, que a relação damídia com o processo penal e a publicidade dos atos processuais deve seranalisada: a publicidade surgiu para favorecer, como algo positivo, para porum fim à possibilidade de processos secretos. Infelizmente com o passar dotempo esta garantia (que tem muitos aspectos positivos), foi setransformando, pois é esta mesma garantia que possibilita a superexposiçãoatualmente tão corriqueira, é esta mesma publicidade, com toda a força damídia, que escancara processos e vidas privadas [Ibidem].

Destarte, além do efeito negativo causado a imagem do investigado, a

publicidade do fato atinge outros valores que são relevantes, como a função estatal

de repreensão criminal, quando turbada a realização de uma investigação criminal,

onde também se veem prejudicados o princípio da ampla defesa e o princípio da

presunção de inocência. (VIEIRA, 2003).

4.3 OS CASOS MIDIÁTICOS QUE FERIRAM O PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE

INOCÊNCIA

Tendo sido visto os assuntos relacionados ao tema, torna-se importante

demonstrar os casos em que a mídia feriu gravemente a presunção de inocência dos

supostos envolvidos, expondo-os à sociedade de forma irresponsável e cruel,

ocasionando a estes cidadãos danos irreversíveis.

4.3.1 O caso Escola Base

Era ano de 1992, quando Maria Aparecida Shimada (conhecida como

Cida), comprara o estabelecimento à Rua da Aclimação em decadência, junto com

sua prima Paula Milhin de Monteiro Alvarenga, com apenas 17 alunos e estes

prestes a cancelar suas matrículas. (RIBEIRO, 2001).

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57

Até o início de 1994, Maria Aparecida Shimada (Cida) e seu marido

Icushiro Shimada (Batizado como Ayres na igreja católica), juntamente com sua

prima Paula Milhin de Monteiro Alvarenga e seu marido Maurício de Monteiro

Alvarenga, realizaram, nas suas horas vagas, serviços na escola por conta própria,

durante os finais de semana e feriados. Em 1994, dois anos após aquisição do

estabelecimento, a escola passara de 17 para 72 alunos, porém, a sorte da Escola

Base esvaiu-se na noite do dia 26 de março de 1994. (RIBEIRO, 2001).

Diego Bayer e Bel Aquino (2015) aduzem o seguinte em relação ao fato:

Duas mães, Lúcia Eiko Tanoue e Cléa Parente de Carvalho, se dirigiram à6ª Delegacia de Polícia, na zona sul de São Paulo e “prestaram queixa”contra três casais que trabalhavam na Escola de Educação Infantil Base,localizada no bairro da Aclimação, em São Paulo.

A acusação de abuso sexual realizada pelas mães surgiu após algumas

conversas com seus filhos e a percepção de comportamentos estranhos. Com base

no que as crianças de quatro anos diziam, as mães constatavam que elas haviam

sido vítimas de abusos enquanto estavam na escola. (RIBEIRO, 2001).

Assim, surgira o caso repercutido em diversas manchetes de jornais do

Brasil, tendo ganhado notícia também na Europa, Estados Unidos, Canadá e Japão.

(VEJA, 2014). Segundo a Folha de São Paulo (2014), “o episódio, divulgado em

1994, ficou conhecido como um dos mais marcantes erros cometidos pela

imprensa”.

À época, as crianças foram conduzidas ao Instituto Médico Legal (IML)

para realizar o exame de corpo de delito, pois as crianças apresentavam assaduras,

e, com um mandado de busca e apreensão, o delegado do caso revistou a casa de

um casal de pais de aluno que também foram acusados de participação no crime,

com base em relatos das crianças às mães. Nada fora encontrado na residência do

casal Saulo e Mara. Descontentes com os resultados obtidos, as mães das vítimas

acionaram a Rede Globo, onde o caso passou a tomar grande repercussão.

(BAYER; AQUINO, 2015).

À época, o delegado divulgava informações para a imprensa dizendo que

era verídica a acusação da autoria dos crimes, sem ao menos verificar a veracidade

das denúncias, fundado apenas no laudo do IML, o qual era compatível para prática

de atos libidinosos. Os acusados foram à delegacia para interrogatório, e a mídia, a

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58

partir disto, passou a divulgar de forma ampla as notícias, sendo difundidas as

informações de forma infundada e sensacionalista. (SANTOS, 2013).

Alex Ribeiro (2001, p. 43) exprime em seu livro:

Até então, havia provas muito precárias: um telex do IML e as acusações deduas mães. Sozinho, nenhum jornalista poderia assumir uma denúnciadessa gravidade. Narrar declarações e atos administrativos de umaautoridade oficial seria a maneira correta de levar ao ar uma denúncia frágilcomo aquela.

Diego Bayer e Bel Aquino (2015) aduzem que:

A partir daí, o delegado deu início a uma série de declarações à mídia, oque levou a opinião pública a classificar essas seis pessoas – MariaAparecida, Ayres, Paula, Maurício, Saulo e Mara – como CULPADOS porpedofilia. Ademais, como nada de grande impacto estava acontecendo naépoca, raros os jornais que não trouxeram a Escola Base como manchete.Eles foram acusados de drogar os alunos, fotografá-los nus e de terem feitotodo o tipo de perversidades com as crianças. Foram presos, fotografados,expostos na mídia ANTES de conclusas as investigações sobre o possívelfato criminoso.

A mídia à época chegou a sugerir o consumo de drogas e contaminação

pelo vírus HIV. Algumas mídias impressas davam as seguintes manchetes: “Perua

carregava crianças para orgia”; “Kombi era motel na escolinha do sexo”. (Vide anexo

C). A Escola Base também foi depredada, e os suspeitos esconderam-se para não

serem linchados pela população local. A mídia explorou o sofrimento das mães das

vítimas, entrevistou crianças, não se preocupando com a ética e a presunção de

inocência dos acusados. (BAYER; AQUINO, 2015).

Como relata Alex Ribeiro (2001, p. 47):

O caso Escola Base não encontrou obstáculos para tomar o espaço dasmatérias frias. Era uma notícia de impacto: crianças de classe médiaestariam sofrendo abusos sexuais justamente dos responsáveis por umaescolinha, que deveriam zelar por sua integridade.

Dentre tantos contrapontos do delegado do caso, como a demora no

colhimento do depoimento dos casais acusados, bem como incertezas tidas como

certeza à mídia, devido a uma denúncia anônima, chegou-se a pessoa de Richard

Harrod Pedicini, um gringo que fora localizado por denúncia anônima, simplesmente,

pois em frente a sua casa fora visto uma Kombi escolar. Ao levar as crianças para

reconhecimento do local, uma das crianças gostou e pediu para brincar com uma

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59

tartaruga de pelúcia. Isto, para a polícia, foi o suficiente para que o local dos abusos

fosse identificado. (RIBEIRO, 2001).

Esta situação foi o suficiente para que a mídia no dia seguinte

apresentasse manchetes com teores acusatórios, como: “Alunos da Escola Base

reconhecem casa de americano”, como também “Criança liga americano a abuso de

escola”. Mais tarde, após acareações e investigações, constatara-se que Richard

não possuía ligação com o caso. (RIBEIRO, 2001).

Aos poucos constataram que muitas acusações não passavam de

achismos, e Alex Ribeiro (2001, p. 134) fala “o inquérito chegava às suas oitocentas

páginas e, em vez de confirmar as denúncias das mães, ficava clara a inocência dos

acusados”.

Com o passar dos dias, o inquérito passou a tomar outros rumos. O novo

delegado, Gerson de Carvalho, que assumira o caso devido às reviravoltas e falta de

profissionalismo da antiga autoridade, que dava como verdadeiras todas as

informações colhidas sem ao menos investigar, apanhou algumas mentiras na

versão das mães. O novo delegado colheu novos depoimentos, de pessoas

envolvidas de alguma forma com o caso, e isto colocou em xeque as versões

apresentadas. (RIBEIRO, 2001).

Os médicos legistas, em resposta à consulta realizada pelo delegado

Gerson de Carvalho, apresentaram parecer informando que o motivo das lesões

anais das crianças poderiam ser atos libidinosos, como também micose, vermes ou

fezes duras. A mãe que denunciara os casais, antes disso, informou em depoimento

que seu filho sofria de constipação, com dores e coceira no ânus, o que poria em

xeque a acusação. Assim, o juiz à época encaminhou o inquérito para o arquivo, que

foram conclusos em relação à inocência dos seis acusados. Saulo, Mara, Ayres,

Cida, Maurício e Paula foram considerados inocentes da acusação. (RIBEIRO,

2001).

Moisés da Silva Santos (2013) apresenta o seguinte em relação aos

danos sofridos em decorrência da falsa acusação de abuso:

Mesmo sendo absolvidos do crime, os envolvidos no caso da Escola Basejamais tiveram sossego em suas vidas, que foram praticamente destruídas.Foram linchados moralmente, ameaçados de morte, acumularam problemaspsicológicos e financeiros, abandonaram suas residências para não seremagredidos fisicamente. Maurício foi denominado “estuprador de criancinhas”;

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60

todos eles ficaram marcados como molestadores de crianças, sofreramdanos irreversíveis.

Guilherme Döring Cunha Pereira (2002, p. 195) acrescenta que:

A imaginação de umas crianças pequenas o compreensível zelo de umadas mães, mais a imperdoável imprudência e vaidade de um delegadocausaram dano irreparável àqueles diretores e professores envolvidos nafantasia.

A imprensa á época começou a se retratar focando nas verdadeiras

vítimas do caso, os três casais. Anos mais tarde, algumas empresas de

comunicação social foram condenadas a pagar indenização às verdadeiras vítimas

acusadas pela prática do crime. Mas nada reconstituiria a situação. Os danos já

estavam causados, e seriam irreversíveis. (SANTOS, 2013).

4.3.2 O caso Fabiane Maria de Jesus

Desta vez, o que viria a ajudar a combater determinado crime veio de

encontro e tomou rumos trágicos. Fabiane Maria de Jesus, 33 anos, foi confundida

por um retrato falado que fora espalhado nas redes sociais, onde se atribuiu a este

um crime de sequestro de crianças para rituais de magia negra. (Vide anexo D).

(FRAZÃO, 2014).

Os administradores de uma página na rede social Facebook, de nome

Guarujá Alerta, com mais de 50 mil curtidas, postaram um retrato falado de uma

possível sequestradora de crianças na comunidade em que a vítima residia, no

bairro Morrinhos, em Guarujá, São Paulo. (Vide anexo D). A página era utilizada

como difusora de denúncias na região. No dia 28 de abril de 2014 a página alertou

sobre uma suposta sequestradora de crianças para rituais de magia negra através

de um retrato falado, porém não havia registro policial sobre o ocorrido na cidade.

(R7 NOTÍCIAS, 2014).

Diógenes Campanha (2014) aduz que “tudo não passava de um boato.

Um retrato falado feito em 2012 pela polícia do Rio foi divulgado em uma página na

internet voltada à população de Guarujá e a falsa informação levou pânico aos

moradores”. (Vide anexo D).

Após a publicação do retrato falado, Fabiane, que andava pela rua, foi

surpreendida pelos moradores da comunidade em que residia. A vítima foi agarrada,

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61

amarrada, linchada em demasia, e após isto foi arrastada pelas ruas da comunidade

até outro local, onde as agressões continuaram até a chegada da polícia militar.

Fabiane encontrava-se em estado grave, quando foi encaminhada ao hospital da

cidade, vindo a falecer dois dias após todo o ocorrido. (MENDES, 2015).

Neste caso, a liberdade de expressão realizada através da rede social

Facebook, veio de encontro à garantia de Fabiane, que deveria ser tratada como

inocente perante a sociedade e ao processo.

4.4 DIREITO DE COMUNICAÇÃO X PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

Ao adentrar ao tópico, se torna importante trazer o entendimento sobre o

Direito da Comunicação e a Presunção e Inocência, abordando após isso, o direito

daquele em detrimento deste.

No tocante ao assunto, Helena Martins (2014) menciona que “Na prática,

o direito humano à comunicação significa que todas as pessoas devem poder e ter

condições para se expressar livremente, ser produtoras de informação, fazer circular

essas manifestações, sejam elas opiniões ou produções culturais”.

Helena Abdo (2011, p. 30) complementa o exposto com as seguintes

palavras:

De todo modo, [...] revelaram que prevalece nas obras mais recentes eespecializadas a ideia de liberdade de comunicação, expressão que temsido considerada mais rica e abrangente, pois é capaz não só de englobartodos os direitos e liberdades contidos nas demais formulações (Liberdadesde pensamento, opinião, expressão, imprensa, além do direito àinformação), [...].

É possível verificar que as liberdades de expressão e comunicação

passaram por fases ao longo de suas evoluções históricas. A primeira fase voltou-se

ao reconhecimento das liberdades e sua sustentabilidade como direito fundamental.

Na segunda fase tratou-se dos limites, orientados à atuação dos meios de

comunicação. Na terceira fase destacou-se a importância do direito à informação,

levando o enfoque dos meios de comunicação para o grande público. Na quarta e

última fase, abandona-se a concepção unidirecional da informação e passa-se a

análise da questão sob um ponto de vista multilateral do direito à comunicação.

(ABDO, 2011).

Já Edilsom Farias (2004, p. 53) apresenta outra divisão:

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62

A opção pelos termos liberdade de expressão e comunicação justifica-se,em primeiro lugar, pelo fato de o termo liberdade de expressão (gênero)substituir os conceitos liberdade de manifestação do pensamento, liberdadede manifestação de opinião, liberdade de manifestação de consciência(espécies), podendo-se, pois, empregar a frase liberdade de expressão paraabranger as expressões de pensamento, de opinião, de consciência, deideia, de crença ou de juízo de valor.

Ainda:

A utilização da forma liberdade de expressão e comunicação justifica-se, emsegundo lugar, em razão de os termos liberdade de comunicaçãorepresentarem melhor do que as expressões liberdade de imprensa eliberdade de informação o atual e complexo processo de comunicação defatos ou notícias existente na vida social. (FARIAS, 2004, p. 53).

As liberdades abarcadas no artigo 5º do Texto Constitucional de 1988,

como os incisos IV, IX, XIV, e também o capítulo referente à comunicação social

(arts. 220 a 224), no entanto, não podem vir a violar direitos personalíssimos, direitos

individuais de cada cidadão. (BRASIL, 1988).

Assim como qualquer cidadão, que possui liberdades garantidas pela

CF/88, a mídia também possui. Ademais, a mídia tradicional tem demonstrado que

ainda possui grande poder, independente dos fatos e de qual seja a opinião da

maioria da população brasileira. A mídia se coloca acima das leis, apropriando-se do

argumento de defesa da democracia. (LIMA, 2012). Venício A. de Lima (2012, p.

113) ainda complementa:

Ao mesmo tempo, distorce e omite informações, sataniza movimentossociais, partidos, grupos e pessoas que não compartilham de seusinteresses, projetos e posições e, assim, estimula a intolerância, aradicalização política e o perigoso estreitamento do debate público.

Com isso, o direito a comunicação, ora garantido pela Carta Maior, uma

vez exercido exageradamente e levianamente, influenciam a opinião pública, vindo

de encontro à outra garantia constitucional, a presunção de inocência.

Referente a esta colisão de direitos fundamentais, Edilsom Farias (2004,

p. 46) nos apresenta o seguinte texto:

Tem-se a colisão de direitos fundamentais em sentido estrito, ou colisãoentre os próprios direitos fundamentais, quando o exercício de um direitofundamental por parte de um titular tem repercussões negativas sobre

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direitos fundamentais de outro titular. Em outros termos: quando opressuposto de fato ou âmbito de proteção de um direito interceptar opressuposto de fato de outro direito fundamental.

Assim, sob este entendimento, o exercício da liberdade de expressão e

comunicação, poderá colidir-se com os direitos personalíssimos, como também o

exercício da liberdade de comunicação social poderá colidir-se com o direito

fundamental à presunção de inocência. (FARIAS, 2004).

Aqui se faz a distinção. As liberdades tratadas no presente trabalho

possuem como limite a presunção de inocência. Ao acusado, deve-se garantir este

dever de tratamento, “Ninguém será considerado culpado até o transito em julgado

de sentença penal condenatória”. (BRASIL, 1988).

Como apresentado em capítulo precedente, há de o acusado não ser

considerado culpado, tanto dentro do processo como fora dele. Um suspeito pela

prática de um crime, quando exposto pela mídia, é julgado pela opinião pública,

onde todas as incertezas acabam tornando-se certezas devido a esta divulgação.

(VIEIRA, 2003).

A maneira com que se expõem os fatos criminosos e se divulga seus

possíveis autores leva a abolição do princípio jurídico da presunção de inocência.

(VIEIRA, 2003). Francesco Carnelutti (apud VIEIRA, 2003, p. 168) fala o seguinte:

Se de um princípio lógico se fez uma norma jurídica, é para determinar queas pessoas se contenham em relação ao investigado ou acusado para nãoocasionar-lhe humilhações, sentimentos de vergonha que virão da certezado crime, isto é, da condenação.

Este princípio da presunção de inocência, tipo como um princípio

processual penal, consagra ao acusado o tratamento o qual faz jus, o de não ser

considerado culpado até que haja sentença pena condenatória transitada em

julgado. Desta forma, atenta-se para que tal princípio seja posto em prática nas duas

dimensões em que se possa fazer presente: dimensão interna e externa. (LOPES

JUNIOR, 2012).

Uma vez usufruído do direito de comunicação indiscriminadamente, seja

pela imprensa (jornalista) ou por outro cidadão, fere-se este tão importante princípio

processual penal – a Presunção de Inocência -, gerando consequências trágicas aos

acusados, mesmo estes sendo considerados inocentes após determinado tempo,

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64

pois a opinião pública julga estes indivíduos, ocasionando humilhações,

xingamentos, repressões por parte da sociedade, ou até a morte.

Havendo estas consequências aos cidadãos suspeitos de determinado

crime, ferir-se-á, além do Princípio da Presunção de Inocência, a violação do

fundamento da Carta Constitucional de 1988, a Dignidade da Pessoa Humana, visto

que são assegurados valores intrínsecos ao cidadão, como a integridade, por sua

simples existência, e tal fundamento deve ser alcançado diariamente às pessoas

pelo Estado, para que haja harmonia em sociedade.

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65

5 CONCLUSÃO

A presente monografia teve como foco principal demonstrar a atuação de

um dos princípios mais importantes do ordenamento jurídico brasileiro, que impõe a

conduta de não se tratar determinada pessoa como autora de um delito sem que

esta tenha sido julgada culpada por uma sentença transitada em julgado.

Vislumbrou-se que, graças às liberdades garantidas pela Constituição Federal de

1988, estas se tornaram peças fundamentais para a democracia, e que garantem ao

indivíduo e às empresas jornalísticas a liberdade de expressão e comunicação,

respectivamente, em relação à difusão das informações.

Como visto, é de se considerar a importância das liberdades garantidas

pela Constituição Federal de 1988 para a realização de um Estado Democrático,

onde, devido às diversas mudanças ocorridas desde as constituições passadas,

caminhou-se para uma situação em que a informação, com o avanço tecnológico

dos últimos anos, passasse a ser veiculada pelos cidadãos de forma livre, tornando-

se grande chave para a democracia.

Desde a chegada de D. João VI ao Brasil, em 1808, ocorreu

significativamente a evolução na forma de transmissão da comunicação, onde

evoluiu-se até chegar nos meios de comunicação dos dias atuais, como a TV, o

rádio, Internet, tidos como meios de massa, devido ao seu grande alcance na

difusão da informação e influência nas opiniões. Passou-se a utilizar as mídias na

propagação das informações e, de porte das liberdades constitucionais tratadas no

presente trabalho, tornaram-se tais mídias influenciadoras da opinião pública.

Porém, sendo esta forma de se comunicar importante para a evolução de

um Estado Democrático, há pessoas que utilizam estas liberdades garantidas pela

Carta Maior de 1988 de forma indiscriminada, onde, através de casos concretos

apresentados, vislumbrou-se o detrimento ao princípio da Presunção de Inocência,

em que os protagonistas tiveram sua dignidade cerceada, prejudicada, e até

perdida.

Conforme demonstrado no caso Escola Base, este se tornou um exemplo

de como não se comportar em relação à notícia e a difusão da informação. A

liberdade de imprensa neste caso tornou-se uma arma letal aos supostos

envolvidos. A mídia à época divulgou a notícia de abuso sexual a três suspeitos

casais contra crianças de quatro anos de idade. Uma das mães procurou a

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66

delegacia informando o caso, e, não tendo resultados esperados, procurou a

imprensa e relatou o ocorrido. Ao ter a notícia em mãos, e após relatos nada

imparciais do delegado à época, divulgaram a notícia de abuso contra os três casais.

Após idas e vindas da investigação, constatou-se que exame de corpo de delito

realizado na criança supostamente abusada era inconclusivo, podendo a criança

estar sofrendo de problemas intestinais, o que viera a ser confirmado pela mãe da

criança mais tarde. Após longa investigação constatou-se que os suspeitos daquele

crime eram inocentes, todavia, uma vez difundida a notícia na mídia, gerou-se a

opinião pública, que julgou os suspeitos, sendo estes humilhados moralmente, tendo

seus direitos de ir e vir cerceados, tendo que se esconder para não serem linchados

pela população, e até hoje, aos que ainda permanecem vivos, há o revés de ter tido

o seu nome ligado naquele fatídico caso.

Outro caso abordado, com um destino ainda mais trágico, foi o caso da

dona de casa Fabiane Maria de Jesus. Uma rádio local, de nome Guarujá Alerta,

divulgou um retrato falado na rede social Facebook de uma suposta sequestradora

de crianças para magia negra. A comunidade local tomou conhecimento e, de forma

irresponsável, atrelou tal retrato falado à Fabiane, tendo ela sofrido graves sanções

da comunidade local, onde viera a ser arrastada em meio a rua e linchada

brutalmente pelos moradores, que se usaram de artefatos como pedaços de

madeira, deferindo ponta pés, até ser socorrida já em estado grave, vindo a falecer

dias depois. Aqui se tem a presença da liberdade de expressão, que custou a vida

de Fabiane, que após investigações fora considerada inocente.

Assim, conforme demonstrado em ambos os casos levantados, a

população toma a informação dada pela mídia como verdade absoluta, gerando

opinião pública a respeito da notícia. Quando não se toma as devidas análises à

informação, sendo esta difundida sem ao menos ter-se certeza do ocorrido, a

opinião pública julga o acusado, ferindo o princípio da presunção de inocência na

sua dimensão externa, tendo em vista que este impõe o dever de tratamento ao

investigado/acusado, como presumidamente inocente pela sociedade, acarretando

danos irreversíveis para a pessoa.

Page 68: Direito de Comunicação X Presunção de Inocência: A

67

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ANEXOS

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ANEXO A – Luan Santana morto a tiros

Reportagem traz a informação da morte de um homônimo do cantor.

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ANEXO B – Reportagem sobre a indenização do Cavaleiro Doda.

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ANEXO C – Caso Escola Base

Reportagens do jornal Notícias Populares à época do fato,

sensacionalizando o ocorrido.

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ANEXO D – Caso Fabiane Maria de Jesus

Mensagem publicada na página Guarujá Alerta sobre o suposto

sequestro:

.

Retrato falado divulgado a época:

Publicação relativa ao boato: