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ROTEIRO DE CURSO 2010.1 1ª EDIÇÃO DIREITO DAS SUCESSÕES VOLUME I AUTOR: EDUARDO TAKEMI KATAOKA

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Page 1: Direito das sucessões

ROTEIRO DE CURSO2010.1

1ª EDIÇÃO

DIREITO DASSUCESSÕES

VOLUME I

AUTOR: EDUARDO TAKEMI KATAOKA

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SumárioDireito das Sucessões

InTRODUçãO ..................................................................................................................................................................................3

PlanO gERal DO CURSO .................................................................................................................................................................6

Parte I: Conceitos Fundamentais de Direito das Sucessões ...................................................... 6

Aula 1: Sucessão: conceito e Fundamentos. Abertura da Sucessão. Tempo e Lugar da Sucessão. Conseqüências da abertura da sucessão............................................................................... 7

Aula 2: Ordem de Vocação Sucessória. Aceitação e renúncia da herança. Heranças e Legados. Herança Jacente e Herança Vacante. .................................................................................. 19

Aula 3: Capacidade e Legitimidade para Suceder. Exclusão de Herdeiros e Legatários (indignidade e deserdação). ............................................................................................... 37

Aula 4: Cálculo da Legítima. Doações Anteriores à Abertura da Sucessão. Colação e Sonegados. ... 45

Aula 5: Ordem de Vocação Hereditária. Sucessão de Ascendentes e Descendentes. Sucessão concorrente do Cônjuge. .................................................................................... 62

Aula 6: Ordem de Vocação Hereditária. Sucessão dos cônjuges e companheiros. Sucessão dos colaterais. ..................................................................................................... 75

Aula 7: Introdução à Sucessão Testamentária. Formas Testamentárias. Liberdade de Testar e os seus Limites. ............................................................................................................... 96

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introdução

O presente programa de Direito das Sucessões está fundado na premissa de que os alunos deverão estudar uma média de 30 páginas/semana para as aulas respec-tivas. A metodologia empregada será aquela socrática, exigindo a participação do aluno em diversos níveis: nos debates em sala de aula, escrevendo artigos para a Wiki, etc.

A ênfase do curso será no planejamento sucessório, dado o projeto pedagógico da Escola de Direito Rio da Fundação Getúlio Vargas. Objetiva-se com a disciplina possibilitar que o aluno se capacite para atuar como advogado em operações de planejamento sucessório, bem como, avaliar a legalidade das operações realizadas, dadas as duas possíveis vertentes de especialização do aluno na Escola.

Todo um direcionamento será dado, portanto, para a formação prática do aluno, possibilitando que ele raciocine com os conceitos fundamentais do Direito das Su-cessões, em um mundo progressivamente mais exigente de soluções ágeis e seguras para garantir a gestão e circulação do patrimônio. A sucessão causa mortis é, por sinal, uma das formas mais relevantes de circulação patrimonial.

Um planejamento sucessório adequado induz uma sucessão tranqüila e com menores custos financeiros e emocionais para a família envolvida. Ademais, quando existe um patrimônio cuja gestão é complexa, possibilitar a escolha do sucessor mais capaz, ou mesmo garantir a terceirização (profissionalização) da administração é uma forma de preservar o próprio patrimônio familiar.

Para o adequado desenvolvimento da proposta, o curso será dividido em duas grandes unidades: Fundamentos da Sucessão e Instrumentos de Planejamento Su-cessório. O inventário enquanto procedimento judicial será discutido apenas de forma incidental e limitada, já que o objetivo do curso é precisamente mostrar ao aluno como é possível evitar-se um inventário longo e complexo.

Na Primeira Parte serão discutidos os conceitos fundamentais de Direito das Su-cessões, que são indispensáveis para o estudo proposto. A segunda parte terá parte das aulas dedicada ao estudo de instrumentos de planejamento sucessório, tanto com o titular do patrimônio ainda em vida, como após a sua morte.

Em cada aula será indicada a bibliografia obrigatória. Está sugerido o livro dos Prof. Giselda Hironaka e Francisco Cahali como bibliografia básica. A opção se deve à correção dos conceitos ali apresentados, de forma sucinta e didática, bem como às fartas citações de jurisprudência, que auxiliam o aluno a compreender a concretiza-ção e operacionalidade dos conceitos estudados. O aluno pode, contudo, alternativa-mente ler qualquer manual de Direito das Sucessões que esteja atualizado.

Além disto, ao final desta apostila de curso, será apresentada uma bibliografia geral, com aproximações críticas, que permitam ao aluno melhor selecionar a lite-ratura que deseja consultar. São, também, indicados alguns manuais nesta parte da bibliografia.

No que toca às avaliações, a primeira nota será constituída integralmente por participação em aula e a escrita de verbetes para a Wiki (20% e 80% da nota,

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respectivamente). No que toca à participação em sala, contarão: presença em sala de aula, pontualidade, intervenções pertinentes e leitura dos textos obrigatórios e complementares. A segunda avaliação, no último dia de aula, será realizada por intermédio de uma prova, valendo 8,0 (oito pontos) com possibilidade de con-sulta a legislação não comentada, envolvendo um caso concreto e utilização dos instrumentos de planejamento sucessório discutidos para equacionar os diversos interesses envolvidos. Ademais, serão atribuídos globalmente 2,0 (dois pontos) pelo desempenho no jogo de equipes em planejamento sucessório.

Para a redação de verbetes para a Wiki, é necessário que estes mencionem legisla-ção, doutrina e jurisprudência a respeito de cada um dos temas. O uso da jurispru-dência jamais deve ser acrítico, mas sempre comentado, confrontando-se a doutrina e a legislação criticamente com a jurisprudência. A extensão de cada verbete deve ser de, no mínimo, 1500 palavras e no máximo 2500. A entrega deverá ser feita até a 8ª aula do semestre. Todos os temas devem ser escolhidos. Por isso, o aluno deve entregar uma lista com 3 possíveis verbetes que, em caso de mais de um interessado, será sorteado.

Esta apostila, longe de pretender esgotar os temas apresentados, é apenas um roteiro para que o aluno retire das leituras indicadas os conceitos e aspectos funda-mentais da sucessão.

Lista de verbetes que podem ser usados para a redação de verbetes para a Wiki

Herdeiro•Legatário•Sucessão legítima•Sucessão testamentária•Legítima•Cessão de Direitos hereditários•Planejamento sucessório•Pacto sucessório•Sonegados•Colação•Inventário•Partilha•Poder de controle•Usufruto•Acordo de acionistas•Ações sem direito de voto•Testamento•Testamento público•Testamento particular•Codicilo•

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Vocação hereditária•Aceitação da herança•Renúncia da herança•Herdeiros necessários•Legado•Herança•Direito de • saisineDeserdação•Indignidade sucessória•Sucessão por direito de representação•Sucessão por direito próprio•Fideicomisso•Deserdação•

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Plano geral do curso

Parte I: ConCeItos FundamentaIs de dIreIto das suCessões

Nesta primeira Parte de nosso Programa apresentaremos alguns conceitos fun-damentais e a sua operabilidade.

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aula 1: sucessão: conceito e Fundamentos. abertura da sucessão. temPo e lugar da sucessão. conseqüências da abertura da sucessão.

apresentação geraL da discipLina e metodoLogias de trabaLho e avaLiação

Nesta primeira aula devem ser estudados os conceitos fundamentais do Direito das sucessões. O primeiro ponto relevante é saber a diferença entre sucessão em geral e sucessão causa mortis. A sucessão implica sempre em uma mudança na titu-laridade de bens e direitos (por exemplo, o comprador é sucessor do vendedor). Na sucessão que estudaremos este sentido é mais estrito: a sucessão se dá em função do falecimento de uma pessoa.

Para que o seu patrimônio não fique acéfalo, é preciso transmiti-lo aos herdeiros, o que é feito desde logo por força do princípio da saisine (art. 1.784 CC/02). Neste sentido, é importante definir quais os direitos que se transmitem, se apenas os pa-trimoniais não personalíssimos, ou também os direitos da personalidade, havendo rica divergência neste sentido.

Da mesma sorte, é preciso que se saiba que os herdeiros não respondem por encargos superiores às forças da herança (intra vires hereditatis). Ou seja, não é pos-sível receber mais dívidas do que bens no sistema do Direito Brasileiro (art. 1.792 CC/02).

A sucessão se abre no momento da morte do autor da herança e no local onde ele tinha o seu domicílio. Estas definições são relevantes para que se possa avaliar a competência para julgar a sucessão e as regras que definem a sucessão (tempus regit actum).

A sucessão também pode ter diferentes fundamentos: os laços familiares (su-cessão legítima), ou a vontade do autor da herança (sucessão testamentária). Na primeira forma de sucessão, incidem as regras legais de sucessão, ao passo que na segunda torna-se eficaz negócio jurídico feito pelo autor da herança ainda em vida dando destino ao seu patrimônio.

Esta, por sinal, a grande virtude da sucessão testamentária no planejamento su-cessório: permite que o autor da herança determine vários aspectos de como se fará a divisão, e conseqüentemente, gestão de seu patrimônio depois de sua morte. Ativos estratégicos podem ser destinados a sucessores estratégicos. Direitos reais constituídos de modo a proteger determinados herdeiros, entre outras possibilida-des. Estas questões serão estudadas no momento próprio.

Existem diferentes efeitos patrimoniais relevantes na abertura da sucessão. O primeiro deles é precisamente a passagem da titularidade dos bens do defunto para os herdeiros, incumbindo-lhes a gestão do patrimônio, segundo regras próprias.

Da mesma sorte, é possível alienar-se bens da herança individualmente conside-rados, assim como o direito a sucessão como um todo. Estes negócios jurídicos são regulados pelas normas pertinentes do Código Civil.

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Leitura obrigatória para a auLa

HIRONAKA, Giselda Maria e CAHALI, Francisco José. Direito das Sucessões. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, pp. 19-38 e 52-69. Em todas as aulas estas indicações de leitura incluem a parte de bibliografia, daí o número ser um pouco superior ao padrão de 30 páginas. Não é obrigatória, apesar de recomendável, a leitura das Referências Doutrinárias (trechos de doutrina que são transcritos ao final de cada capítulo).

acórdão para discussão

Superior Tribunal de JustiçaRECURSO ESPECIAL Nº 521.697 - RJ (2003/0053354-3)RELATOR: MINISTRO CESAR ASFOR ROCHARECORRENTE: EDITORA SCHWARCZ LTDAADVOGADO: ANTÔNIO AUGUSTO ALCKMIN NOGUEIRA E OUTROSRECORRENTE: MARIA CECÍLIA DOS SANTOS CARDOSO E OU-

TROSADVOGADO: LUIZ EDUARDO SALLES NOBRE E OUTRORECORRIDO: OS MESMOSEMENTACIVIL. DANOS MORAIS E MATERIAIS. DIREITO À IMAGEM E À

HONRA DE PAI FALECIDO.Os direitos da personalidade, de que o direito à imagem é um deles, guardam

como principal característica a sua intransmissibilidade. Nem por isso, contudo, deixa de merecer proteção a imagem e a honra de quem falece, como se fossem coisas de ninguém, porque elas permanecem perenemente lembradas nas memórias, como bens imortais que se prolongam para muito além da vida, estando até acima desta, como sentenciou Ariosto. Daí porque não se pode subtrair dos filhos o direito de defender a imagem e a honra de seu falecido pai, pois eles, em linha de normalidade, são os que mais se desvanecem com a exaltação feita à sua memória, como são os que mais se abatem e se deprimem por qualquer agressão que lhe possa trazer mácula.

Ademais, a imagem de pessoa famosa projeta efeitos econômicos para além de sua morte, pelo que os seus sucessores passam a ter, por direito próprio, legitimidade para postularem indenização em juízo, seja por dano moral, seja por dano material.

Primeiro recurso especial das autoras parcialmente conhecido e, nessa parte, par-cialmente provido.

Segundo recurso especial das autoras não conhecido.Recurso da ré conhecido pelo dissídio, mas improvido.ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acor-

dam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformi-dade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, prosseguindo no julgamento, ante

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a aposentadoria do Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira e o afastamento do Sr. Ministro Barros Monteiro, que eram os votos faltantes, decidiu dar por encerrado o julgamento deste processo, uma vez que já está aperfeiçoado pela maioria; portanto, por unanimidade, conhecer parcialmente do primeiro recurso especial, o dos autores e, nessa parte, dar-lhe parcial provimento; não conhecer do segundo recurso espe-cial, o das autoras; conhecer do recurso especial da ré e negar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Brasília, 16 de fevereiro de 2006 (data do julgamento).MINISTRO CESAR ASFOR ROCHARelatorDocumento: 429547 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 20/03/2006

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Superior Tribunal de JustiçaRECURSO ESPECIAL Nº 521.697 - RJ (2003/0053354-3)RELATÓRIOO EXMO. SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA: - As autoras, filhas her-

deiras de Manoel dos Santos, consagrado como Garrincha, promoveram uma ação ordinária contra Editora Schwarcz Ltda. (Companhia das Letras Editora, nome fan-tasia), por esta ter lançado o livro intitulado “Estrela Solitária - Um brasileiro chama-do Garrincha”, sem autorização das autoras, alegando violação ao direito à imagem, ao nome, à intimidade, à vida privada, à honra e todos os conexos da personalidade do referido ídolo, execrando a sua memória, postulando pela indenização de danos patrimonial e moral.

Em primeiro grau a ação foi julgada parcialmente procedente, reconhecendo a existência apenas de danos morais a serem indenizados no valor equivalente a mil salários mínimos, com juros de 6% ao ano, desde a citação, e em honorários advo-catícios fixados em 10% sobre o valor da condenação.

As partes apelaram.As autoras, para aumentar o valor da condenação por danos morais, para obter o

reconhecimento de danos materiais, juros desde o lançamento do livro e honorários em 20%.

A ré, buscando a nulidade da sentença por falta de apreciação adequada da prova, e, no mérito, a improcedência ou a redução da indenização dos danos morais e a aplicação do art. 21 do CPC.

O eg. Tribunal local decidiu, sem discrepância, ter por incabível o dano moral, e, por maioria, admitiu o dano material a ser indenizado no valor correspondente a cinco por cento sobre o total do preço do livro a ser apurado em liquidação. Os declaratórios das autoras foram rejeitados e improvidos os infringentes da ré. As autoras interpuseram dois recursos especiais. O primeiro (fls. 565/575), por alega-do dissídio e violação dos artigos 159 e 1.553 do Código Civil de 1916, buscando reparação pelos danos morais em valor correspondente a dez mil salários mínimos, postulando pela contagem dos juros a partir do ato ilícito, e que a liquidação seja feita por arbitramento.

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O segundo (fls. 638/643), com as mesmas postulações do primeiro. A ré, por seu turno, também ingressou com recurso especial (fls 669/680), ale-

gando ofensa aos artigos 6º e 126 do CPC, 4º da LICC, 160, I, e 1.526 do Código Civil de 1916, e 38, caput, da Lei 9.610/98, isso porque o direito de imagem é personalíssimo, não se transmitindo para as filhas, aduzindo, fundamentalmente, que elas não teriam legitimidade para ajuizarem a presente ação.

Devidamente respondidos, os recursos foram obstados na origem, tendo o seu curso sido desembaraçado em face do provimento dado aos agravos de instrumento, para melhor exame, pelo eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, então relator. Era o de importante a relatar.

Os direitos da personalidade, de que o direito à imagem é um deles, guardam como principal característica a sua intransmissibilidade. Nem por isso, contudo, deixa de merecer proteção a imagem e a honra de quem falece, como se fossem coisas de ninguém, porque elas permanecem perenemente lembradas nas memórias, como bens imortais que se prolongam para muito além da vida, estando até acima desta, como sentenciou Ariosto. Daí porque não se pode subtrair dos filhos o direito de defender a imagem e a honra de seu falecido pai, pois eles, em linha de normalidade, são os que mais se desvanecem com a exaltação feita à sua memória, como são os que mais se abatem e se deprimem por qualquer agressão que lhe possa trazer mácula.

Ademais, a imagem de pessoa famosa projeta efeitos econômicos para além de sua morte, pelo que os seus sucessores passam a ter, por direito próprio, legitimidade para postularem indenização em juízo, seja por dano moral, seja por dano material.

Primeiro recurso especial das autoras parcialmente conhecido e, nessa parte, par-cialmente provido.

Segundo recurso especial das autoras não conhecido. Recurso da ré conhecido pelo dissídio, mas improvido.VOTOO EXMO. SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA (Relator):01. Começo este voto por examinar o segundo recurso das autoras, aquele lança-

do contra o v. acórdão dos embargos infringentes.Como consignado no relatório, a sentença reconheceu a existência apenas de

danos morais, a serem indenizados no valor equivalente a mil salários mínimos, com juros de 6% ao ano, desde a citação, e em honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor da condenação.

Ao julgar a apelação, o eg. Tribunal local decidiu reformar a sentença em dois dis-tintos pontos: no primeiro, sem discrepância, para ter por incabível o dano moral;no segundo, e por maioria, para admitir o dano material, a ser indenizado no Valor correspondente a cinco por cento sobre o total do preço dos livros, a ser apurado em liquidação de sentença.

O pedido referente a condenação em dano moral não pode ser aqui apreciado, pois este tópico foi unanimemente afastado na apelação. Será objeto de apreciação quando analisado o primeiro recurso especial das autoras.

Igualmente não merece acolhida a postulação referente à contagem dos juros a partir do ato ilícito, e a que pretende que a liquidação seja procedida por arbitra-

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mento. É que esses pontos adotados no v. acórdão da apelação, reformando a sen-tença, contra os quais se volta a insurgência, foram tomados por maioria, não tendo as autoras ingressado com os necessários infringentes, sendo, como se sabe, “inad-missível recurso especial quando cabíveis embargos infringentes contra acórdão proferido no tribunal de origem” (verbete sumular n. 207/STJ).

Nem se diga que seria cabível veicular essas inconformações nesse seu segundo recurso especial, ao argumento de que essas conclusões foram adotadas no r. aresto dos embargos infringentes interpostos pela ré, o que teria o condão de ensejar nova oportunidade para recorrer. É que, sobre essas conclusões, ocorreu a preclusão, obs-táculo intransponível para a admissibilidade de qualquer recurso, inclusive o especial de que ora se cuida.

Com efeito, não conheço do segundo recurso especial das autoras. 02. Aprecio agora o primeiro recurso especial das autoras e limito-me a examinar

apenas o pedido referente ao reconhecimento da ocorrência de dano moral e a sua conseqüente indenização.

É que os demais pedidos dirigem-se a conclusões chegadas por maioria da Turma julgadora da apelação, não tendo as autoras, como acima dito, interposto embargos infringentes, sendo “inadmissível recurso especial quando cabíveis embargos infringen-tes contra acórdão proferido no tribunal de origem” (verbete sumular n. 207/STJ).

Ao relatar o agravo regimental contra a liminar no mandado de segurança que concedeu a busca e apreensão dos exemplares disponíveis ao público do livro aqui ventilado, o ilustre Desembargador Sérgio Cavalieri Filho, com a sua reconhecida autoridade sobre o assunto, assim registrou, com maestria:

“Este relator, por dever de ofício, já que não é entusiasta do futebol, nem torce para qualquer time, leu o Livro no último fim de semana para que pudesse proferir este voto. Lamentavelmente, constatei que a obra não faz justiça a um grande jogador de futebol que por duas vezes levou o Brasil a ser campeão do Mundo. Não se limitou o autor a re-latar o futebol do Garrincha, a habilidade que o tornou um mito mundial, suas proezas nos gramados e vitórias nos campeonatos; infelizmente foi muito além, invadindo a inti-midade do cidadão Manoel do Santos e apequenando a sua imagem. Se um quadro vale por mil palavras, como diz o ditado chinês, a capa do livro em exame é um longo discurso contra a imagem do Garrincha. Em lugar do atleta chutando a bola em gol ou dando os seus dribles que levavam as galeras ao delírio, mostra um homem deprimido e desolado, quase a figura de um farrapo humano. Pior que tudo, a imagem da capa é retratada em páginas de dolorosa impiedade, que aos poucos vai despindo o mito, transformando-o em profissional derrotado, pai irresponsável, marido infiel e ébrio inveterado. Ao final do Livro, Garrincha não passa de um grande logro, autêntico exemplo de fracasso humano.

Se tal não bastasse, atenta ainda o Livro agressivamente contra a intimidade do Gar-rincha, trazendo a público relato de fatos da sua mais restrita privacidade, desde a sua meninice até a sua morte. Seus dotes sexuais, seus vícios ocultos, seus casos amorosos, seus fracassos na cama, tudo é investigado com microscópio e depois ampliado e divulgado sem retoques. Nem mesmo a intimidade de sua vida familiar foi poupada. Seria de mau gosto reproduzir aqui trechos de alguns capítulos do Livro; seria grosseiro e deprimente, mas se alguém quiser conferir verifique fls. 29/30, 32, 45, 74/75, 77, 90, 199, 217/218 etc.

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É bem verdade que a Constituição Federal, em seu artigo 5, inciso IX, garante a liberdade de expressão da atividade intelectual, artistica, científica e de comunica-ção, independentemente de censura ou licença. Até que ponto, entretanto, escudado nessa liberdade de expressão pode alguém invadir a intimidade alheia, conspurcar a sua imagem ou dela tirar proveito econômico? Tenho como certo que o limite é en-contrado no próprio texto constitucional tendo em vista que logo no inciso seguinte (nº X, do artigo 5) ele garante a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas. Ensina a melhor doutrina que sempre que direitos constitucionais são colocados em confronto, um condiciona o outro, atuando como limites estabelecidos pela própria Lei Maior para impedir excessos e arbítrios. As-sim, se o direito à livre expressão da atividade intelectual contrapõe-se o direito à inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem segue-se como conseqüência lógica que este último condiciona o exercício do primeiro.

À luz destes princípios, pondera o insigne Carlos Alberto Bittar que na divulga-ção da imagem é vedada qualquer ação que importe em lesão à honra, à reputação, ao decoro (ou à chamada imagem moral ou conceitual), à intimidade e a outros valores da pessoa (uso torpe)... Não são permitidas, pois, quaisquer operações que redundem em sacrifício desses valores, que receberão sancionamento em confor-midade com o bem violado e nos níveis possíveis. (Os Direitos da Personalidade, Forense Universitária, 1988, p. 90/91).

O direito à privacidade, por seu turno, segundo doutrina da Suprema Corte dos Estados Unidos universalmente aceita, é o direito que toda pessoa tem de estar só, de ser deixada em paz e de tomar sozinha as decisões na esfera de sua privacidade. O ponto nodal desse direito, na precisa lição do já citado Carlos Alberto Bittar, encontra-se na exigência de isolamento mental ínsita no psiquismo humano, que leva a pessoa a não desejar que certos aspectos de sua personalidade e de sua vida cheguem ao conhecimento de terceiros. Limita-se, com esse direito, o quanto pos-sível, a inserção de estranho na esfera privada ou íntima da pessoa. São elementos: a vida privada, o lar, a família etc... No campo do direito à intimidade são protegidos, dentre outros, os seguintes bens: confidências, informes de ordem pessoal, recorda-ções pessoais, memórias, relações familiares, vida amorosa ou conjugal, saúde física ou mental, afeições, atividades domésticas etc. Esse direito, conclui, reveste-se das conotações fundamentais dos direitos da personalidade, devendo-se enfatizar a sua condição de direito negativo, ou seja, expresso exatamente pela não exposição a conhecimento de terceiro de elementos particulares da esfera reservada do titular. Nesse sentido, pode-se acentuar que consiste no direito de impedir o acesso a tercei-ros nos domínios da confidencialidade (obra citada p. 103/104).

Costuma-se ressalvar, no tocante à inviolabilidade da intimidade, a pessoa do-tada da notoriedade, principalmente quando exerce vida pública. Fala-se então nos chamados “direito à informação e direito à história” a título de justificar a revelação de fatos de interesse público, independentemente da anuência da pessoa envolvida. Entende-se que, nesse caso, existe redução espontânea dos limites da privacidade (como ocorre com os políticos, atletas, artistas e outros que se mantêm em contato com o público). Mas o limite da confidencialidade persiste preservado ; sobre fatos

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íntimos, sobre a vida familiar etc não é lícita a divulgação sem o consentimento do interessado.

E assim é, segundo essa mesma doutrina, porque a vida dessas pessoas com-preende um aspecto voltado para o exterior e outro voltado para o interior. A vida exterior, que envolve a pessoa nas relações sociais e nas atividades públicas, pode ser objeto das pesquisas e das divulgações de terceiros, porque é pública. A vida interior, todavia, que se debruça sobre a mesma pessoa, sobre os membros de sua família, sobre seus amigos, integra o conceito de vida privada, inviolável nos termos da Constituição.

Dir-se-á a esta altura: mas Garrincha já morreu e a morte extingue a personali-dade, e com ela a honra, a imagem, a intimidade etc. por se tratar de bens persona-líssimos. O morto não é sujeito de direito, mormente personalíssimo. Tenha-se em conta, todavia, que o Código Penal pune a Calúnia contra os mortos (art. 138, § 2º), sendo ainda certo que a Lei de Imprensa vai ainda além no seu artigo 24, punin-do não só a calúnia contra os mortos, mas também a injúria e a difamação.

Como se vê, mesmo depois da morte a memória, a imagem, a honra e a inti-midade das pessoas continuam a merecer a tutela da lei. Essa proteção é feita em benefício dos parentes dos mortos para se evitar os danos reflexos que podem sofrer em decorrência da injusta agressão moral a um membro da família já falecido. Assim como a morte do chefe da família acarreta dano material reflexo aos seus dependen-tes, por ficarem sem o sustento, a ofensa aos mortos atinge também reflexamente a honra, a imagem, a reputação dos seus familiares sobreviventes. Quem gostaria que fosse divulgado que é filho de um beberrão, de um irresponsável e mulherengo? Quem não se empenharia em impedir que a memória do seu falecido pai fosse assim conspurcada. Se a honradez ou a boa fama de um nosso antepassado reflete sua luz benéfica sobre o nosso nome e a lembrança da honorabilidade dele constitui um prestígio para nós no seio da sociedade, de modo que a sua boa fama se torna um direito nosso, o descrédito lançado sobre a memória de um nosso parente morto projeta igualmente sobre nós sua sombra funesta e de certo modo nos comunica o mesmo desdouro, vexando-nos e diminuindo o nosso valor moral. O respeito aos mortos outra coisa não é que o respeito à integridade moral dos seus descendentes e a consideração que desfrutam junta à sociedade. O direito violado pela ofensa aos mortos é, portanto, um verdadeiro e próprio direito que reside na pessoa dos seus parentes supérstites.

Há um último aspecto a ser destacado. Garrincha morreu pobre, nada deixou de he-rança à sua numerosa prole, a não ser seu nome, a sua lembrança, a sua imagem. Além do aspecto moral até aqui ressaltado, essa imagem, se tem algum valor econômico, perten-ce aos seus herdeiros, cabendo a eles, e só a eles, o direito de explorá-la. Entender de outra forma é admitir a apropriação indébita desse patrimônio dos herdeiros de Garrincha. Importa então em dizer que exploração econômica do nome, imagem e fama de Mané Garrincha, quer através de livros, quer de filmes ou outra forma qualquer, depende da expressa autorização dos seus herdeiros. Essa foi a única herança deixada por Garrincha e a Justiça não pode permitir que terceiros dela se apropriem em detrimento de sua prole.” (fls. 611/615).

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Verifica-se, assim, terem as autoras sofrido danos morais que reclamam indeni-zação, que, pelas peculiaridades da espécie, estipulo no valor correspondente a cem salários mínimos para cada uma.

É nesses termos que, conheço parcialmente deste primeiro recurso especial das autoras, e nessa parte, dou-lhe parcial provimento. 03. Aprecio, por fim, o recurso especial da ré, e o faço valendo-me, pela falta de erudição equivalente, do judicioso voto do ilustre Desembargador Sérgio Cavalieri Filho, de onde extraio os seguintes trechos: “A matéria que se coloca no presente recurso envolve basicamente os direitos da personalidade. Consiste em saber se são ou não sempre intransmissíveis ou se há, em certas situações, transmissibilidade de direitos. Ninguém desconhece que os direitos da persona-lidade extinguem-se com a morte, o que os torna física e juridicamente intransmissíveis. Mas não se pode igualmente desconhecer que a personalidade das pessoas famosas prejetam efeitos jurídicos para além da morte e que afetam os seus sucessores. É o que ocorre, por exemplo, com pessoas já falecidas cuja imagem continua sendo explorada comercialmente através de filmes, vídeos, fotografias, publicidade, livros, memórias, biografias etc. Os efei-tos econômicos daí decorrentes incorporam-se ao patrimônio dos herdeiros do falecido e só por eles podem ser comercialmente explorados. O mesmo pode ocorrer quanto aos efeitos morais. Os ataques e ofensas à memória do morto são ofensas aos seus parentes próximos, causando-lhes sofrimento e revolta. Dessa forma, os parentes próximos de pessoas famosas falecidas passam a ter um direito próprio, distinto dos direitos de que era titular o de cujus, que os ligitima para, por direito próprio, pleitearem indenização em juízo.

Tal é a espécie dos autos, porquanto as autoras pleiteiam indenização, por direito próprio, por danos materiais e morais que alegam ter sofrido pela publicação não autori-zada da biografia do seu falecido pai. Como atleta famoso do futebol, a imagem, o nome e os feitos do biografado projetaram efeitos patrimoniais para além de sua morte, que se incorporaram ao patrimônio das autoras.

O novo Código Civil, atento aos princípios constitucionais e a toda legislação esparsa em nosso ordenamento jurídico relativos a esta matéria, disciplina os direitos da perso-nalidade em seus arts. 11/21. Em seu art. 11 estabelece, após ressalvar casos previstos em lei, a intransmissibilidade e a irrenunciabilidade dos direitos da personalidade. Prevê, todavia, no parágrafo único do art. 12, que qualquer ameaça ou lesão a esse direito gera perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei e, em se tratando de morto, como no caso presente, os herdeiros indicados e o cônjuge são legitimados para buscar o ressarcimento ou a indenização decorrente de lesão. Concernente ao mérito, cumpre assinalar que a biografia de uma pessoa relata fatos relacionados com o seu nome, imagem, intimidade e outros aspectos vinculados aos direitos da personalidade. Sendo assim, e à luz dos princípios acima expostos, é forçoso concluir que terceiros não podem se apropriar desses direitos e publicar obra biográfica de pessoa já falecida sem a auto-rização dos herdeiros, por mais erudita que seja a obra e nobres os seus propósitos. O exercício da livre manifestação do pensamento, da expressão intelectual e da profissão não autorizam a apropriação dos direitos de outrem para fins comerciais e de lucro, por se encontrar isso fora do direito de informar. Configura locupletamento sem causa explorar comercialmente a popularidade do biografado sem autorização de quem de direito ou sem lhe dar a devida participação. De forma ainda mais explícita, em seu art. 20 e seu

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parágrafo único o novo Código Civil prevê a prévia autorização para a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa, pena de render ensejo a indenização, ocorrendo lesão a honra e a boa forma ou respeitabilidade, ou se destinarem a fins comerciais. Destaca, em seu parágrafo único, que em se tratando de morto, o caso presente, são partes legítimas para requerer a proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes. Diante do acima, embora não tenha entrado em vigor o novo Código Civil, revelam as normas atinentes ao direito da personalidade o pensamento jurídico extraído das esparsas normas legais hoje existentes e em vigor em nosso país, bem como da doutrina e da jurisprudência. No julgamento do Recurso Especial nº 268.660-RJ, interposto contra acórdão de minha relatoria prolatado na Apelação Cível nº 8.250/97, a Quarta Turma do STJ, relator o Min. Cesar Asfor Rocha, assim se pronunciou sobre questão idêntica: “Vê-se, assim, ser certo que os direitos da personalidade, de que o direito à imagem é um deles, guardam como principal característica a sua intransmissibilidade. Nem por isso, contudo, deixa de merecer proteção a imagem de quem falece, como se fosse coisa de ninguém, porque ela permanece perenemente lembrada nas memórias, como bem imortal que se prolonga para muito além da vida, estando até acima dela, como sentenciou Ariosto. Daí porque não se pode subtrair da mãe o direito de defender a imagem da sua falecida filha, pois são os pais aqueles que, em linha de normalidade, mais se desvanecem com a exaltação feita à memória e à imagem do falecido filho, como são os que mais se abatem e se deprimem por qualquer gesto que possa lhes trazer máculas. Daí porque têm eles legitimidade ativa para postular reparação por ofensas morais feitas à imagem de seus filhos, o que digo apenas de passagem já que o dano moral não foi aqui reconhecido e nem está mais sendo questio-nado. Ora, se é assim com razão maior se dá quando se cuida de buscar indenização pela ocorrência de dano material, por veiculação indevida e desautorizada da imagem da fi-lha falecida pois a mãe também postula por direito próprio na condição de sua sucessora.” A prévia autorização é um mecanismo protetor e permite garantir aos herdeiros a justa remuneração do correspondente uso da imagem e da exploração comercial da obra de bio-grafia, evitando que terceiro sem título jurídico algum obtenham ganhos remuneratórios. Destarte, a prévia autorização dos herdeiros de Garrincha para a exploração comercial de sua biografia era medida indispensável, certo que o v. acórdão centra o seu fundamento como razão de decidir neste ponto essencial, destacando que a ilicitude, que gera o direito a indenização do dano material, foi a publicação não autorizada e se correto afir-mar que os direitos da personalidade são intransmissíveis, nem por isto deixam de merecer proteção em favor de familiares próximos. Não há nenhum reparo a ser feito no v. acórdão, estando em perfeita sintonia com os princípios legais encontrados em nosso ordenamento jurídico, inclusive a transmissibilidade dos direitos contemplados nos incisos I a IV, do art. 24 da Lei 9.610/98, que são da personalidade.” (fls. 557/560). Quanto à compensação dos honorários, observo que esta Quarta Turma tem enten-dido que, em ação de reparação de danos morais, sendo os honorários advocatícios fixados sobre o valor da condenação, o acolhimento parcial do valor da indenização postulado na inicial, do que decorre diminuição do quanto ali requerido, já importa em que os honorários sejam tidos como distribuídos e compensados. Com efeito, conheço do recurso da ré pelo dissídio mas para lhe negar provimento.

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04. Diante de tais pressupostos, dos recursos das autoras, o primeiro conheço parcialmente e, nessa parte, dou parcial provimento, não conhecendo do segundo; e o recurso da ré conheço pelo dissídio, para negar-lhe provimento, em face do que a ação é julgada parcialmente procedente para, reconhecendo a ocorrência de danos materiais e morais, condenar a ré a pagar às autoras, as indenizações, a título de dano moral, no valor correspondente a cem salários mínimos para cada uma, com incidência de juros de mora de seis por cento ao ano deste a data do lançamento do livro, e, a título de dano material, no valor correspondente a cinco por cento sobre o total do preço do livro a ser apurado em liquidação, com juros de seis por cento ao ano contados a partir da citação, já que este ponto não foi atacado via embargos infringentes, ocorrendo a preclusão.

RECURSO ESPECIAL Nº 521.697 - RJ (2003/0053354-3)VOTOEXMO. SR. MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR(PRESIDENTE): Srs. Ministros, também estou de acordo com o Sr. Ministro-

Relator. Entendo que é devido dano moral, sem dúvida nenhuma, e creio que é muito razoável que se compreenda que um ataque ao pai ou à mãe já falecidos fere um direito dos filhos. Isso é tão óbvio, que dispensa maiores justificativas a respeito. Por isso, acompanho o eminente Relator, e, também, em relação ao valor do dano moral, em função dos parâmetros que têm sido aqui observados em vários preceden-tes. Quanto ao recurso da ré, dele também conheço, mas nego-lhe provimento.

CERTIDÃO DE JULGAMENTOQUARTA TURMANúmero Registro: 2003/0053354-3 RESP 521697 / RJNúmeros Origem: 200300053600 2270PAUTA: 18/09/2003 JULGADO: 18/09/2003RelatorExmo. Sr. Ministro CESAR ASFOR ROCHAPresidente da SessãoExmo. Sr. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIORSubprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. WASHINGTON BOLÍVAR DE BRITTO JÚNIORSecretáriaBela. CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECKAUTUAÇÃORECORRENTE: EDITORA SCHWARCZ LTDAADVOGADO: ALEXANDRE LESSMANN BUTTAZZI E OUTROSRECORRENTE: MARIA CECÍLIA DOS SANTOS CARDOSO E OU-

TROSADVOGADO: LUIZ EDUARDO SALLES NOBRE E OUTRORECORRIDO: OS MESMOSASSUNTO: Civil - Responsabilidade Civil - Indenização - Ato Ilícito - Dano

Material c/c Moral

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SUSTENTAÇÃO ORALSustentaram, oralmente, os Drs. LUIZ EDUARDO SALLES NOBRE, pelas

Recorrentes/Recorridas MARIA CECÍLIA DOS SANTOS CARDOSO E OU-TROS; e ANTÔNIO

AUGUSTO NOGUEIRA, pela Recorrente/Recorrida EDITORA SCHWAR-CZ LTDA.

CERTIDÃOCertifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe

na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: Após o voto do Sr. Minis-tro Relator, seguido dos votos dos Srs. Ministros Fernando Gonçalves e Aldir Passa-rinho Junior, conhecendo em parte do primeiro recurso especial dos autores e, nessa parte, dando-lhe parcial provimento, não conhecendo do segundo recurso especial das autoras e conhecendo do recurso especial da ré, mas negando-lhe provimento, pediu vista dos autos o Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira. Os Srs. Ministros Fernando Gonçalves e Aldir Passarinho Junior votaram com o Sr.

Ministro Relator. Aguarda o Sr. Ministro Barros Monteiro.O referido é verdade. Dou fé.Brasília, 18 de setembro de 2003CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECKSecretáriaDocumento: 429547 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 20/03/2006

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Superior Tribunal de JustiçaCERTIDÃO DE JULGAMENTOQUARTA TURMANúmero Registro: 2003/0053354-3 REsp 521697 / RJNúmeros Origem: 200300053600 2270PAUTA: 18/09/2003 JULGADO: 16/02/2006RelatorExmo. Sr. Ministro CESAR ASFOR ROCHAPresidente da SessãoExmo. Sr. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIORSubprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. DURVAL TADEU GUIMARÃESSecretáriaBela. CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECKAUTUAÇÃORECORRENTE: EDITORA SCHWARCZ LTDAADVOGADO: ANTÔNIO AUGUSTO ALCKMIN NOGUEIRA E OU-

TROSRECORRENTE: MARIA CECÍLIA DOS SANTOS CARDOSO E OU-

TROSADVOGADO: LUIZ EDUARDO SALLES NOBRE E OUTRO

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RECORRIDO: OS MESMOSASSUNTO: Civil - Responsabilidade Civil - Indenização - Ato Ilícito - Dano

Material c/c MoralCERTIDÃOCertifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na

sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: Prosseguindo no julgamento, ante a aposentadoria do Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira e o afastamento do Sr. Ministro Barros Monteiro, que eram os votos faltantes, a Turma decidiu dar por encerrado o julgamento deste processo, uma vez que já está aperfeiçoado pela maioria; portanto, a Turma, por unanimidade, conheceu parcialmente do primeiro recurso especial, o dos autores e, nessa parte, deu-lhe parcial provimento; não co-nheceu do segundo recurso especial, o das autoras; conheceu do recurso especial da ré e negou-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Brasília, 16 de fevereiro de 2006CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECKSecretáriaDocumento: 429547 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 20/03/2006

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caso gerador

Marina Morena faleceu na cidade de São Paulo em 28/01/2002, deixando vários imóveis naquela cidade, bem como uma grande quantidade de contas bancárias abertas, aplicações financeiras e o seu apartamento no Rio de Janeiro, local onde passava a maior parte da semana, apesar de trabalhar em São Paulo. Marina tinha dois filhos: Antônio e Carlos. Este último resolve ceder os seus direitos hereditários para Jobim, usando um instrumento particular, por R$ 10.000.000,00 (dez mi-lhões de reais), mas é enganado por este em relação ao valor, já que ele sabia valer a herança mais de R$ 20.000.000,00. Jobim sabia, ainda, que Carlos tinha neces-sidade de um grande volume de capital para a construção de um novo edifício de onde ele esperava retirar o lucro necessário para pagar o tratamento médico de seu filho Waldemar, necessitado de um tratamento no exterior que custaria mais de R$ 5.000.000,00.

Antonio, inconformado, resolve questionar judicialmente esta alienação, sus-tentando que lhe deveria ser dado o direito de preferência para adquirir os bens do acervo hereditário.

Pergunta-se: qual o foro competente para processar o inventário de Marina? Qual a lei aplicável a esta sucessão? A alienação feita por Carlos é válida? Pode ser questionada por Antônio? Com que fundamento(s)? O filho de Carlos pode ques-tionar a alienação dos bens feita por seu pai? E o próprio Carlos? Comente estes aspectos do caso e os demais que entender relevante.

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aula 2: ordem de vocação sucessória. aceitação e renúncia da herança. heranças e legados. herança Jacente e herança vacante.

Nesta segunda aula, será iniciado o estudo das formas de sucessão (a título sin-gular e a título universal), bem como da ordem legal de sucessão estabelecida pelo Código Civil. Regras sobre a aceitação e renúncia da herança. Conseqüências da não aceitação pelos herdeiros da herança.

Inicialmente é importante destacar que a sucessão não é obrigatória. Ou seja, o sucessor, uma vez aberta a sucessão pode aceitar a herança, ou rejeitá-la. A aceitação, trata-se de ato gratuito, pode ser tácita, ao passo que o ato jurídico de renúncia é formal.

Existem dois tipos de sucessores no Direito: herdeiros e legatários. Os herdeiros têm direito a uma fração da herança, ao passo que os legatários a um bem específico (um é sucessor universal, o outro singular). Podemos ter herdeiros legítimos ou testamentários; legatários apenas por testamento.

No que toca aos herdeiros, existe uma ordem de vocação para suceder. Ou seja, existem pessoas que recebem antes de outras, sendo que, ao contrário do que acon-tece, por exemplo na falência onde todos os credores virão a receber, a existência de uma classe de herdeiros, em geral exclui a seguinte, apesar desta regra comportar ex-ceções (por exemplo, a sucessão conjunta do cônjuge e o direito de representação).

Quando não existem herdeiros que possam suceder, temos primeiro a jacência e posteriormente a vacância da herança, segundo as regras do Código Civil.

Observe-se que para fazer os casos geradores adequadamente sugere-se

acórdão para debate (ainda do tema da auLa passada)

RECURSO ESPECIAL Nº 54.519 - SP (1994/0029276-7)RELATOR: MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIORRECORRENTE: CYBELE APARECIDA D’ÁVILA GALLO MARTINELLI

E OUTROSADVOGADO: RENATO VASCONCELOS DE ARRUDA E OUTROSRECORRIDO: NATAL RUBENS ALEOTTI E OUTROSADVOGADO: ERASMO VALLADÃO AZEVEDO E NOVAES FRANCA E

OUTROSRECORRIDO: PEDREIRA CACHOEIRA S/A E OUTROSADVOGADO: ADALBERTO JOSÉ DE CAMARGO ARANHA E OU-

TROSRECORRIDO: CLEONICE TURRINI GALLOADVOGADO: MARCOS FURKIM NETTORECORRIDO: MARIA MARINA ALEOTTI TEIXEIRA DE CARVA-

LHO

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ADVOGADO: ARYSTOBULO DE OLIVEIRA FREITAS E OU-TROS

EMENTACIVIL E PROCESSUAL. RECURSO ESPECIAL.PREQUESTIONAMENTO. INSUFICIÊNCIA. INVENTÁRIO. VENDA

DE AÇÕES AO PORTADOR PELA VIÚVA MEEIRA DO TITULAR. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE E REINTEGRAÇÃO DE POSSE MOVI-DA POR CO-HERDEIROS DO ESPÓLIO. UNIVERSALIDADE DOS BENS. LEGITIMIDADE ATIVA RECONHECIDA. POSSIBILIDADE JURÍDICA DA AÇÃO CONTRA TERCEIROS COMPRADORES. ILEGITIMIDADE PASSI-VA DA EMPRESA. SÚMULA N. 211-STJ. CC, ARTS. 57 E 1.580, PARÁGRA-FO ÚNICO. CPC, ART. 992, I.

I. Incidência da Súmula n. 211 do STJ em relação a normas legais suscitadas no especial, mas não prequestionadas.

II. Os herdeiros têm legitimidade ativa para propor ação declaratória de nulidade de ato processual praticado pela inventariante e viúva meeira, em detrimento dos seus direitos no espólio de seu pai, consubstanciado pela venda, a terceiros, de ações ao portador de sociedade comercial a todos pertencente, ante o princípio da univer-salidade que rege os bens deixados pelo de cujus, até a sua partilha.

III. Ilegitimidade passiva, de outro lado, da sociedade anônima cujas ações foram negociadas, por não haver praticado qualquer ato atinente à controvérsia jurídica sub judice.

IV. A venda de bens sonegados a terceiros e o direito às perdas e danos dos lesados em relação ao inventariante, prevista no art. 1.783 do Código Civil anterior, não ex-clui a pretensão de nulificação da venda a terceiros e a recomposição do patrimônio do espólio, se esta foi a via legal escolhida pelos herdeiros.

V. Recurso especial conhecido em parte e parcialmente provido.ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, Decide a

Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, à unanimidade, conhecer em parte do recurso e, nessa parte, dar-lhe parcial provimento, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros Jorge Scartezzini, Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Fernando Gonçalves.

Custas, como de lei.Brasília (DF), 14 de junho de 2005(Data do Julgamento)MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIORRelator

RECURSO ESPECIAL Nº 54.519 - SP (1994/0029276-7)RELATÓRIOEXMO. SR. MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR:Adoto o minucioso relatório da sentença singular, verbis (fls. 423/430):

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“CYBELLE APARECIDA D’AVILA GALLO MARTILENELLI e s/m REYNAL-DO MARTINELLI FILHO, YVONE CECÍLIA D’AVILA GALLO, EDUARDO FRANCISCO D’AVILA GALLO, SÉRGIO ROBERTO D’AVILA GALLO e ESPÓ-LIO DE WALDOMIRO ANTONIO D’AVILA GALLO ajuizaram a presente ação ordinária contra PEDREIRA CACHOEIRA, na pessoa de seu representante legal, Natal Rubens Aleotti e os ESPÓLIOS DE VICENTINA BIANCO ALEOTTI e AMBRÓSIO ALEOTTI e seus herdeiros NATAL RUBENS ALEOTTI e s/m ROSA MARIA ALE-OTTI, MARIA MARINA ALEOTTI TEIXEIRA DE CARVALHO e ESPÓLIO DE JARBAS TEIXEIRA DE CARVALHO, por ela representado, e CLEONICE TURRINI GALLO, sustentando que Waldomiro Gallo, pai dos autores faleceu em 27 de outubro de 1.976; estando em curso inventário de seus bens perante o Juízo da 7º Vara de Família e Sucessões da Capital, tendo como inventariante Cleonice Turrim Gallo, também reque-rida nesta ação. Por ocasião da abertura da sucessão, deveria constar dos bens a inven-tariar as ações da Companhia Pedreira Cachoeira S/A, das quais o casal era titular, pois casados sob o regime de comunhão universal de bens, o que não ocorreu. Constatando-se ao final que estes bens não foram declarados, Cleonice Turrim Gallo os havia cedido a Ambrósio Aleotti por instrumento particular de transferência de ações celebrado em 27 de janeiro de 1.980, pendente o inventário, sem a necessária e imprescindível autorização judicial.

Entendendo que não poderia a viúva dispor dos bens do falecido marido, até porque, apesar de serem marido e mulher, a mulher possuía 715.822 ações, enquanto o varão 1.100.977, em razão do regime de bens do casal, ambos possuíam cada ação, já que a ação é indivisível, nos termos do art. 28 da Lei nº 6.404/76 e o próprio estatuto social, resulta que a ação só pode ser adquirida em condomínio, de sorte que todas as ações eram do casal Waldomiro Gallo e s/m.

Falecido o cônjuge varão, cumpria à inventariante ter arrolado as ações para saber-se quais ações lhe caberiam por efeito da meação.

Ademais, tinha entre os herdeiros um incapaz, Sérgio Roberto D’Avila Gallo, tendo à época do falecimento do marido 16 anos.

Assim, Cleonice cedeu a Ambrósio as ações da Pedreira Cachoeira S/A, das quais não tinha a titularidade; questão agravada pela existência de um menor entre os herdeiros. De outra parte, Ambrósio adquiriu a non domino, nada adquiriu, estando o negócio eivado de nulidade absoluta. Tomaram conhecimento os autores, de que o adquirente Ambrósio e s/m faleceram, deixando em testamento as ações ao filho Natal Rubens Aleot-ti; estando em curso inventário de seus bens. Fizeram relatório da situação da empresa; teceram outras considerações e finalizaram pedindo fosse declarada nula a cessão das ações da Pedreira Cachoeira S/A reconhecendo serem elas todas de propriedade do Espó-lio de Waldomiro Gallo; e por conseqüência pertencerem ao Espólio as respectivas ações derivadas daquelas (bonificações e subscrições); reintegrá-lo na posse das referidas ações; bem como condenar Cleonice a compor perdas e danos decorrentes da transferência ilegal. Como os herdeiros de Waldomiro Antônio D’Avila Galo são menores, pedem a interven-ção da M.P. Com os demais pedidos de estilo, instruíram com documentos de fls. 20/132. Com vista, o Dr. Curador subscreveu as razões da inicial (fls. 135/137). Pedreira Ca-choeira S/A contestou (fls 281/288), sustentando em preliminar ilegitimidade de parte,

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porque à sociedade pouco importa quais sejam os titulares das ações, não lhe cabendo escolher ou reconhecer se legítimo o patrimônio dos autores; não havendo nos seus registros qualquer transferência em livro próprio, mesmo porque as ações eram ao portador; não praticou qualquer ato que legitimasse a transferência.

Quanto ao mérito, reiterou a preliminar. Maria Marina Aleotti Teixeira de Car-valho contestou (fls. 338/342), sustentando em preliminar que a demanda foi ajui-zada também contra o Espólio de seu ex-marido, Jarbas Teixeira de Carvalho, cujo inventário está encerrado, de sorte que deve ser renovada a citação. Quanto ao mé-rito, que desconhece a concretização de qualquer alienação das ações da Pedreira Cachoeira S/A.

De qualquer forma, as ações, cuja transferência impugnam os autores, ao que consta, eram ao portador, razão porque a transferência e cessão em questão não reclamou registro em livro próprio de transferência de ações da Pedreira Cachoei-ra S/A. Também, os autores alegam terem sido proprietários de ações, o que não provam. Também não podem reclamar a totalidade das ações, pois aos herdeiros caberia apenas a metade das ações cabentes ao espólio, já que outra metade caberia à co-ré. Por outro lado, a transferência das ações opera-se pela simples tradição, não havendo necessidade da transferência; o detentor, segundo a Lei nº 6.407/76, art. 33, presume-se proprietário.

Desta sorte, a co-requerida Cleonice Gallo, em posse das ações, poderia aliená-las, sem qualquer vício que maculasse o ato. Resulta portanto, que o negócio jurídico realizado entre Cleonice Gallo e Ambrósio Aleotti reputa-se perfeito, não havendo fundamentação ao pedido dos autores.

No tocante à reintegração na posse das ações da Pedreira Cachoeira S/A, igual-mente há que ser indeferida, porque não há prova do domínio (art 505 do C.C.) E quanto ao pedido de indenização, deve ser indeferido, porque não há fato imputável e causador de danos aos autores. Com outras considerações, pediu a improcedência e consectários legais. Natal Rubens Aleotti e s/m Rosa Maria Aleotti contestaram (fls. 344/357), sustentando em preliminar ilegitimidade de parte dos autores, por-que deveria ser o Espólio de Waldomiro Gallo a figurar no pólo ativo, cabendo a representação à inventariante; e os autores integrarem a lide como litisconsortes assistentes. Ainda em preliminar, que se deveria determinar que o Espólio de Waldo-miro Gallo integrasse a lide, conforme jurisprudência colacionada; e no pólo passivo deveriam figurar, além de Cleonice Turrim Gallo, o Espólio de Ambrósio Aleotti e o Espólio de Vicentina Bianco Aleotti. Os herdeiros, filhos de Vicentina e de Am-brósio seriam

partes ilegítimas. Ainda em preliminar, que a ação está prescrita, conforme dou-trina colacionada, porque o documento particular de compra e venda ocorreu em 27 de janeiro de 1.980; de sorte que em se tratando de coisa móvel, ocorreu a prescrição aquisitiva. Sustentou ainda a impossibilidade jurídica do pedido, vez que a preten-são de direito material está prescrita e inépcia da inicial, porque contém pedidos incompatíveis entre si. Quanto ao mérito, consta que todas as 1.823.129 ações da Pedreira Cachoeira S/A, vendidas por Cleonice Turrim Gallo ao Sr Ambrósio Aleotti eram ao portador.

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Como tal, nos termos do art. 33 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1.976, o detentor de ações ao portador é seu proprietário, operando-se a transferência por simples tradição, de sorte que há como admitir que a própria mãe dos autores, inventariante dos bens deixados por Waldomiro Gallo tivesse apropriado daquelas ações para vendê-las a terceiro.

De outro lado, não se pode admitir que Ambrósio Aleotti, sócio dos autores e condô-mino em diversos bens de raiz fosse praticar ato de má-fé, eivado de dolo ou fraude. Mes-mo a alegada menoridade de um dos autores, este foi emancipado em 1.981, deixando escoar in albis o prazo estabelecido pelo art. 619 do C.P.C.

Teceram outras considerações evidenciando má-fé dos autores, que ainda não tinham partilhado os bens e finalizou pedindo a improcedência e consectários legais. Espólio de Vicentina Bianco Aleotti e Ambrósio Aleotti contestaram (fls. 359/372) denunciando à lide Cleonice Turrini Gallo, vendedora das ações, para responder pela evicção. No mais, ainda que com outras palavras, reiteraram as teses defendidas por Natal Rubens Aleotti e s/m. Cleonice Turrim Gallo contestou (fls. 403/405) sustentando que quando do fale-cimento do marido, pendia na 5ª Vara da Justiça Federal do Rio de Janeiro uma ação executiva promovida pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico � BNDE contra a Pedreira Cachoeira S/A, Natal Rubens Aleotti e s/m Rosa Maria Aleotti, Am-brósio Aleotti e s/m Vicentina Bianco Aleotti, Alfredo Bruno Gomes Martins e s/m Yvone Crissiuna Gomes Martins, e também contra Waldomiro Gallo e s/m Cleonice Turrini Gallo, ora contestante. A dívida cobrada naquela execução decorria de empréstimo efe-tuado pelo BNDE à Pedreira Cachoeira S/A., figurando a ré e seu marido como terceiros garantes, decorrentes de fiança prestada à empresa em favor do credor.

Em virtude do longo relacionamento negocial e da amizade que Ambrósio Aleotti manteve com Waldomiro Gallo, marido da contestante, esta se impressionou quando após a morte de Waldomiro, Ambrósio a procurou para comprar ações da Pedreira Cachoeira afirmando que sua casa no Bairro de Higienópolis poderia ser comprometida na execução promovida pelo BNDE. Anteriormente, aconselhada pelo mesmo Ambrósio, deixou de arrolar as ações na Pedreira Cachoeira S/A. no inventário de seu marido, pois, sempre segundo ele, com isso poderia perder a sua casa que estaria garantindo a dívida noticia-da. Foi, segundo os conselhos de Ambrósio que agiu como agiu, acabando por lhe ceder as ações da Pedreira Cachoeira S/A. tendo o cessionário, na cláusula 5ª do ‘instrumento particular de cessão e transferência de ações’ se obrigado a honrar perante o BNDE even-tual responsabilidade da ré e de seu marido, pactuando-se ainda, que Ambrósio e tercei-ros ficavam...’sem direito a qualquer execução ou reembolso contra o referido Espólio e a cedente’. A contestante fez o que melhor entendeu correto para a família, pensando que podia ceder as ações da forma como fez, pois assim fora aconselhada na transação.

Além disso, Ambrósio Aleotti era sócio majoritário e diretor da Pedreira Cachoeira S/A., circunstâncias que tranquilizaram a ré no sentido de que estava fazendo tudo conforme a lei. Infelizmente, parece que não estava, tendo que se sujeitar a este processo, indispondo-se com os filhos. Por estes fatos, entende ter sido levada a erro, confessa a ação. (instruiu com documentos de fls. 407/412).

Réplica a fls. 416/429. O Dr. Curador subscreveu a réplica, pelo afastamento das preliminares, e produção de provas.”

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A ação foi julgada improcedente em 1o grau (fls. 423/434). Em 2ª instância, a 4ª Câmara do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por maioria, negou pro-vimento à apelação dos autores e deu provimento ao recurso adesivo, para, acatando a preliminar de ilegitimidade ativa dos autores e de ilegitimidade passiva de parte dos réus (fls. 529/533), extinguir a ação por força do art. 267, VI, do CPC. Foram opostos embargos declaratórios (fls. 536/548), rejeitados às fls. 556/558.

Inconformados, os autores Cybele Aparecida D’Avila Gallo Martinelli e outros interpõem, pela letra �a� do autorizador constitucional, recurso especial alegando, em síntese, que a ação declaratória de nulidade de ato jurídico, cumulada com rein-tegração de posse e indenização por perdas e danos foi proposta pelos co-herdeiros do espólio de Waldomiro Gallo contra a empresa Pedreira Cachoeira S.A. e outros, para dêsconstituição da cessão das ações da empresa-ré pela inventariante e viúva meeira, Cleonice Turrini Gallo, em 27.01.1980, que não haviam sido colacionadas e, ainda, alienadas sem autorização judicial, ainda mais que existia entre os herdeiros um menor, vítima da sonegação de bens. Aduzem que (fls. 565/567):

“4. Invocaram-se, como protegendo, o direito dos Aa.-recorrentes os seguintes textos federais de lei: 1º) art. 53, inc. II, do Código Civil, salientando-se serem, por lei, indi-visíveis os bens da herança; art. 44, inc. III, do Código Civil, sublinhando ser a suces-são aberta e os bens que a compõem, bens imóveis; 2º) art. 57, inc. I, do Código Civil, observando-se que a herança se constitui numa universalidade; 3º) art. 1.580 e seu parágrafo único, do Código Civil, porque, pertencentes as ações à universalida-de da herança, e, por isso indivisíveis, o negócio através do qual foram alienadas foi nulo, sendo lícito a qualquer co-herdeiro, com legitimidade para isso, recupe-rá-las da posse de terceiro, em cujas mãos ilegitimamente se encontrem, sem que este possa [sequer] pretender ilegitimidade de parte do herdeiro, nos precisos e inequívocos termos do art. 1580 e seu parágrafo único, do C. Civil; 4º) a ausência de autorização judicial, que houvesse antecedido ao negócio, ademais, violou o art. 992, inc. I, do Código de Processo Civil; 5º) demonstrou-se que as ações, objeto dessa alie-nação ilícita, porque o falecido e sua mulher, foram casados sob o regime da comunhão universal, eram, ambos, por isso mesmo, antes do falecimento de Waldomiro Gallo, con-dôminos em cada uma das ações; 6º) deixou-se claro que, em face do art. 28, da Lei das Sociedades por Ações (lei 6.404/1976) e em face do estatuto social da Pedreira Cachoeira S.A., ré e recorrida, conquanto em relação à sociedade as ações sejam indivisíveis, e, pois, deve haver, em relação à sociedade um só titular, a circunstância do falecido e sua viúva terem sido casados sob regime comunhão universal, tornava-os condômi-nos em todas as acões, independentemente do nome de quem essas estavam. E, justamente por isto, não poderiam deixar de ter sido arroladas, porque eram e são bens Espólio e, muito menos, poderiam ter sido alienadas, como o foram. 7º) como conseqüência, fixou-se na petição inicial que a venda foi a non domino, o que constitui uma nulidade de pleno direito (pet. in., itens 1.9 e 2.1). A tudo isto, em essência, o E. Tribunal de Justiça de São Paulo, pura e simplesmente, acabou decidindo pela ilegitimidade ativa dos autores, e, por isso, era inviável a demanda. Textualmente, nos embargos de declaração restou dito que ‘Resolvido que inviável a demanda não há mais o que resolver’ (V. Ac. dos embargos de

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declaração, fls. 558, § 3º, medio-grifou-se). Deixou o V. Acórdão de aplicar os arts. 442 inc. III, 53, 57 e principalmente, o art. 1580, parágrafo único, todos do Código Civil; e ao art. 992, inc. I, do Código de Processo Civil. Quanto a este último, onde a lei confere legitimidade aos autores-recorrentes, o V. Acórdão, pura e simplesmente, ignorou o estabelecido na lei civil. Negou-lhe vigência o V. Acórdão, da forma mais ostensiva possível. Ignorou-lhe a existência.”

Salientam, ainda, quanto ao art. 1.580 e seu parágrafo único do Código Civil anterior, que é certo que a ação poderia, também, ter sido proposta pelo Espólio de Waldomiro Gallo, mas que isso não exclui a legitimidade ativa concorrente dos co-herdeiros, por serem também co-titulares dos bens, nos termos do art. 1.572, e tal não foi reconhecido pelo aresto estadual. Indicando a vulneração aos arts. 44, III, 53, 57, 1.580 e parágrafo único, do Código Civil revogado e 992, I, do CPC, pedem os recorrentes, ao final, que (fl. 575): �7.1 Deve ser reformado o V. Acórdão, para, eli-minada a carência da ação, e, reconhecida a legitimidade ativa dos Aa.-recorrentes e a passiva dos Rr.-recorridos, se venha a decidir as ações pelo seu mérito, cancelada a sucumbência�. Contra-razões às fls. 578/589 por Natal Rubens Aleotti e outros, alegando que a ação somente poderia ter sido promovida contra a ré Cleonice Tur-rini Gallo, mãe dos autores, porquanto sendo indivisível seu direito hereditário, e aqui alusivo a ações ao portador, não têm eles direito de ação judicial contra a socie-dade comercial, mas apenas contra a representante do condomínio instituído com o falecimento de Waldomiro Gallo, Cleonice, de acordo com os arts. 28 da Lei n. 6.404/1976 e 627 da lei substantiva civil. Acrescentam que em se cuidando de ações ao portador, desnecessária a autorização judicial para sua cessão, por se presumir a titularidade de seu detentor, qual seja, a viúva meeira Cleonice, natureza aquele que não se altera pela sucessão. Dizem, mais, que mesmo que não trazida à colação, a ação correta seria a de sonegados, respondendo a inventariante pela perda da sua parte sobre tais bens, além de responder por perdas e danos (art. 1.783 do Código Civil). Esta é a sanção prevista, e não a invalidade do ato em relação a terceiros adquirentes. Destacam que esse fundamento do acórdão não foi atacado no especial, atraindo a incidência da Súmula n. 283 do C. STF à espécie. Argumentam, também, que a legitimidade ativa é do espólio e não dos co-herdeiros e que da legitimidade passiva devem ser excluídos os herdeiros do comprador das ações, já falecido, Ambrósio Aleotti, eis que tampouco realizada a partilha de seus bens. Finalizam, dizendo (fls. 588/589): �12) Ante o exposto, e o mais que será acrescentado pelos Eminentes Ministros Julgadores, requer-se, preliminarmente, o indeferimento do presente recurso especial, e, no mérito, o seu improvimento. Na absurda hipótese de ser o mesmo conhecido e provido – o que se admite, data venia, por amor ao debate - requer-se, então, retornem os autos ao Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo, a fim de que a Colenda Quarta Câmara Civil prossiga no julgamento, apreciando as demais preliminares e, se porventura passar ao mé-rito, também o pedido de denunciação da lide da vendedora das ações, objeto do recurso adesivo de fls. 470 e seguintes”. O recurso especial foi admitido na instância de origem pelo despacho presidencial de fls. 595/596. Parecer da douta Subprocuradoria-Geral da República às fls. 614/621, pelo Dr. Pedro Henrique Távora Niess, no sentido do parcial conhecimento e provimento, em parte, do recurso especial, litteris: �3.2.

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Reconhecida a legitimidade ativa da parte deve a ação prosseguir em face dos demais réus cuja ilegitimidade não fora declarada, quais sejam: o espólio de AMBRÓSIO ALE-OTTI, o de VICENTINA BIANCO ALEOTTI, e CLEONICE TURRINI GALLO, porque é de se constatar que a empresa Pedreira Cachoeira S.A. não é terceiro que possui o bem reclamado, tampouco cada um dos outros co-demandados, individualmente, uma vez que as ações fazem parte do montante deixado por AMBRÓSIO ALEOTTI. Ante o exposto, o parecer é pelo conhecimento parcial do recurso e, na parte conhecida pelo seu parcial provimento, devendo os autos retornarem ao Tribunal de origem a fim de que seja apreciada a matéria de fundo da demanda�.

O processo foi sucessivamente distribuído, no STJ, aos eminentes Ministros Fontes de Alencar, Bueno de Souza e a este relator. É o relatório.

RECURSO ESPECIAL Nº 54.519 - SP (1994/0029276-7)VOTOEXMO. SR. MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR(Relator): Trata-se de ação declaratória de nulidade de ato jurídico, cumulada

com reintegração de posse e indenização por perdas e danos movida por co-herdei-ros do Espólio de Waldomiro Antonio D’Avila Gallo, contra a viúva meeira, Cleo-nice Turrini Gallo, e mais os adquirentes-cessionários de ações da empresa Pedreira Cachoeira S/A, bem assim em desfavor, também, da própria pessoa jurídica, objeti-vando, fundamentalmente, a desconstituição da alienação e o retorno das mesmas ao patrimônio do espólio. Em 2o grau a ação foi extinta com base no art. 267, VI, do CPC, sem julgamento do mérito, entendido que faltou aos autores legitimidade ativa ad causam, bem assim que igualmente figuraram indevidamente no pólo pas-sivo a empresa Pedreira Cachoeira S.A. e os adquirentes das ações. O voto condutor do acórdão estadual, de relatoria do eminente Desembargador Cunha de Abreu, que improveu a apelação dos autores e acolheu o recurso adesivo dos réus, está assim fundamentado (fls. 530/532): “Expungido este processado de tudo aquilo não essencial ao seu desate, tem-se: a) os autores são filhos do casal de Waldomiro Gallo e Cleonice Turrini Gallo, viúva-inventariante do varão (fls. 31) com quem era casada sob o regime de comunhão universal de bens; b) estando em curso a sucessão e por razões melhormente aduzidas no corpo dos autos, vendeu Cleonice diretamente a terceiro, no caso Ambrósio Aleotti, lote de ações de sociedade anônima familiar, anotado que os títulos não foram arrolados no processo sucessório, nada obstante e como cediço detectarem-se interesses de terceiros, inclusive menores; c) daí em diante pulverizaram-se as ações redundando em que o adquirente-vendedor e os últimos titulares conhecidos das mesmas, mais a própria sociedade emissora erigiram-se nos componentes do pólo passivo; d) a demanda objetiva a declaração de nulidade do primitivo negócio entre Cleonice e Ambrósio, ipso facto anulados subsequentes efeitos, retornando a situação ao estado anterior, com todas as conseqüências daí derivadas (releia o pedido de fls. 16/17). Repetindo.

A inquinação vestibular desenganadamente se volta contra ato da inventariante Cle-onice, que tendo vendido as ações desencadeou a lesão patrimonial noticiada e mote do pedido. Cleonice, demonstrando inusitada bonomia e eqüidistância dos contendores, confessou a ação consoante leitura da peça de fls. 369/371,como de resto percuciente-mente detectado pelo digno magistrado oficiante, (fls. 428/430) colocando-se a mercê do

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Juízo. O inventário de Waldomiro ainda não se encerrou, de molde que passível em tese o monte mór de sofrer alterações.

Posta assim a questão, não poderia mesmo a demanda prosperar, qualquer que seja o ponto de vista sob o qual se a observe. Veja-se. Acatada a composição ativa da lide, - e aceitos os seus termos - não estaria ela bem voltada contra os atuais componentes de seu pólo passivo, visto que deveria coerentemente guerrear, única e exclusivamente, o espólio de Waldomiro, virtual devedor de seus herdeiros e/ou quem de direito, in casu e porven-tura Cleonice, a inventariante-vendedora. É que, já se vê, o prejuízo dos autores como vestibularmente colocado seria exigente de apuração contra o monte e não contra terceiros estranhos a relação sucessória, estes, até prova em contrário, adquirentes-detentores de boa-fé. No mesmo diapasão, desemparado o ingresso da sociedade anônima na posição passiva, assente que contra ela não se argúi a perpetração de ato vulnerador às normas vigentes. Derradeiramente, instalada a lide como está, não exibe o pólo ativo a indispen-sável legitimação visto que, repita-se, a pretensão contra os réus remanescentes deveria, na hipótese, - o que se alinha por amor ao debate -, ser patrocinada pelo espólio de Wal-domiro Gallo. Diante dessa constatação, despiciendo maior adentramento da composição do pólo passivo. Diversamente composto estivesse o pólo ativo pela massa dos bens de Waldomiro, alvo da ação, passivamente ilegitimados se entremostrariam os atuais réus, observado que melhormente substituídos quiçá pela autora das alienações anulandas, a própria inventariante Cleonice. Isto posto, mantém-se o resultado de insucesso monocra-ticamente ditado. Apenas se o exaspera para, atendido o reclamo adesivo de fls. 471/480 alterar o dispositivo, que passa a ser o do inciso VI do artigo 267 do CPC, extinto o feito sem julgamento de mérito.

Diante do que ficou julgado,mantém-se a cominação honorária cujo montante será eqüitativamente e na forma da r. sentença (fls. 434) dividido entre todos os contestantes. Negaram provimento ao recurso dos autores e deram-no ao

adesivo.” É suscitada no especial, aviado pela letra �a� do autorizador constitu-cional, ofensa aos arts. 44, III, 53, 57, 1.580 e parágrafo único, do Código Civil revogado e 992, I, do CPC. No tocante aos arts. 44, III e 53 da lei substantiva civil, que versam sobre natureza imobiliária do direito à herança e à sua indivisibilidade, não foram, em absoluto, objeto de enfrentamento explícito ou implícito no acórdão, que tampouco foi complementado em sede de embargos declaratórios, incidindo, na espécie, a Súmula n. 211 do STJ, que reza: �Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo.” Quanto às demais normas, estão implicitamente abordadas pela rejeição do pólo ativo da lide e, em parte, do pólo passivo indicado, os arts. 992 e inciso I, do CPC, o art. 57 e o parágrafo único do art. 1.580 do Código Civil, cujo prequestionamento permite tenham sua aplicação examinada em sede especial.

Rezam os referenciados dispositivos legais, que: “Art. 992. Incumbe ainda ao in-ventariante, ouvidos os interessados e com autorização do juiz: I � alienar bens de qual-quer espécie�.

................................................................................................................Art. 57. O patrimônio e a herança constituem coisas universais, ou universalidades,

e como tais, subsistem, embora não constem de objetos materiais”.

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................................................................................................................Art. 1.580....Parágrafo único. Qualquer dos co-herdeiros pode reclamar a universalidade da he-

rança ao terceiro, que indevidamente a possua, não podendo este opor-lhe, em exceção, o caráter parcial do seu direito nos bens da sucessão�.

Figuraram no pólo passivo da ação os co-herdeiros de Waldomiro Gallo e no pas-sivo a empresa Pedreira Cachoeira S.A, a viúva meeira de Waldomiro Gallo, Cleoni-ce Gallo, os espólios de Ambrósio Aleotti e de sua mulher, que adquiriram as ações vendidas pela meeira Cleonice, bem assim os herdeiros desses espólios compradores. O parecer da douta Subprocuradoria-Geral da República, de lavra do Dr. Pedro Henrique Távora Niess, diz o seguinte (fls. 618/621): �3. Da análise do v. acórdão recorrido temos que os autores foram considerados partes ilegítimas, sob o argumento de que deveria figurar no pólo ativo da lide a ‘massa dos bens de Waldomiro’ (espólio). Tam-bém considerou-se legitimada para compor o pólo passivo da atual demanda, dentre os que ali figuravam, apenas a ré Cleonice, excluída a legitimidade dos demais réus. Neste diapasão, extinguiu-se o processo sem julgamento de mérito, com fulcro no artigo 267, VI, do Diploma Processual Civil. Todavia, o v. julgado está a merecer reforma.

Disciplina o artigo 1.580 da Lei Civil de 1916: ‘Sendo chamadas simultaneamente, a uma herança, duas ou mais pessoas, será indivisível o seu direito, quanto à posse e ao domínio, até se ultimar a partilha.

Parágrafo único. Qualquer dos co-herdeiros pode reclamar a universalidade da he-rança ao terceiro, que individualmente a possua, não podendo este opor-lhe, em exceção, o caráter parcial do seu direito nos bens da sucessão’.

Diante deste dispositivo conclui-se que a herança é um todo indivisível, uma uni-versalidade, que enseja a formação de um condomínio entre os herdeiros, que poderão reclamá-la, inclusive individualmente, de quem indevidamente a possua, desde que exer-çam atos possessórios que não excluam os direitos dos demais, reclamando que o bem volte ao monte hereditário, e não ao seu patrimônio individual, que só se perfaz com a distribuição do seu quinhão, após a partilha.

3.1. No caso dos autos os co-herdeiros e o espólio de WALDOMIRO ANTÔNIO D’AVILLA GALLO vieram pleitear a reintegração de posse de ações ao próprio espólio, estando perfeitamente legitimado o pólo ativo da lide. Sobre o tema, vale destacar enten-dimento já esposado por esse E. Sodalício:

‘Ação Reivindicatória. Petição de herança. Segundo o acórdão, trata-se de direitos hereditários defendidos pelo espólio, ‘através de sua representante legalmente nomeada’. Ora, qualquer dos co-herdeiros pode reclamar de quem indevidamente possua a herança. O STJ já admite que a promessa de compra e venda serve como título em que se fundar a reivindicatória (REsp’s 32.972 e 55.941). Ausência de ofensa a texto do Cód. Civil. 2. Quem tem direito à indenização das benfeitorias é o possuidor de boa-fé; caso em que se reconheceu a má-fé. Súmula 7/STJ. 3. Duplo grau de jurisdição. Súmulas 282, 356 e 284/STF. 4. Recurso especial não conhecido’ (RESP 9605 7/MG, Rel. Min. NILSON NAVES, DJ de 22/03/1999, p. 188- N. g.).

‘DIREITOS CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DECLARATÓRIA AJUIZADA POR HERDEIRO PLEITEANDO A INEFICÁCIA, CONTRA SI, DE SENTENÇA

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PROFERIDA EM AÇÃO DE DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADE QUE IMPLICOU MEAÇÃO DOS BENS DO FALECIDO. DEFESA DA HERANÇA. UM SÓ HER-DEIRO. INTERESSE. AÇÃO DE DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADE DE FATO. LEGITIMIDADE PASSIVA. DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA. RECURSO PROVIDO.

1 - COMO ANOTADO POR ERNANE FIDELIS, ONTOLOGICAMENTE A HERANÇA SE DISTINGUE DO ESPÓLIO. ESTE É VISTO DO ÂNGULO DOS PRÓPRIOS BENS QUE O CONSTITUEM, ENQUANTO A HERANÇA SE VÊ DO ÂNGULO DE POSIÇÃO DOS PRÓPRIOS HERDEIROS.

II - OS DESCENDENTES CO-HERDEIROS QUE, COM BASE NO DIS-POSTO NO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 1.580, CC, DEMANDAM EM PROL DA HERANÇA, AGEM COMO MANDATÁRIOS TÁCITOS DOS DE-MAIS CO-HERDEIROS AOS QUAIS APROVEITA O EVENTUAL REIN-GRESSO DO BEM NA ‘UNIVERSITAS RERUM’, EM DEFESA TAMBÉM DOS DIREITOS DESTES.

III - UM DOS HERDEIROS, AINDA QUE SEM A INTERVENIÊNCIA DOS DEMAIS, PODE AJUIZAR DEMANDA VISANDO À DEFESA DA HERAN-ÇA, SEJA O SEU TODO, QUE VAI ASSIM PERMANECER ATÉ A EFETIVA PARTILHA, SEJA O QUINHÃO QUE LHE COUBER POSTERIORMENTE.

IV - NA AÇÃO DE DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADE DE FATO EM QUE SE PLEITEIA A MEAÇÃO DOS BENS DE CONCUBINO FALECIDO, DETÉM LEGITIMIDADE PARA FIGURAR NO PÓLO PASSIVO DA CAUSA OS HER-DEIROS, TENDO EM VISTA QUE A SENTENÇA A SER PROFERIDA PODE, INDUBITAVELMENTE, ATINGIR O QUINHÃO DE CADA HERDEIRO.

V - IMPOSSIBILIDADE DE SE INDEFERIR PETIÇÃO INICIAL DE AÇÃO PROPOSTA POR HERDEIRO QUE NÃO PARTICIPOU DA DISSOLUÇÃO E QUE BUSCA A DECLARAÇÃO DE INEFICÁCIA CONTRA SI DA SENTENÇA QUE RECONHECEU A MEAÇÃO DE BENS, ATÉ PORQUE O FUNDAMENTO PRINCIPAL É A EXISTÊNCIA DE CONLUIO ENTRE A CONCUBINA E O IN-VENTARIANTE QUE REPRESENTOU O ESPÓLIO NA DISSOLUÇÃO’ (RESP 36700/SP, Rel. Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, DJ de 11/11/1996, p. 43713 – N. g.). ‘PROCESSO CIVIL. AÇÃO PROPOSTA POR NETOS VISANDO AO RECONHECIMENTO DA INVALIDADE DE VENDA REALIZADA PELO AVÔ (FALECIDO) A TIO, POR MEIO DE INTERPOSTA PESSOA. IMPROCE-DÊNCIA. TRÂNSITO EM JULGADO. NOVAS AÇÕES PROMOVIDAS POR OUTROS DESCENDENTES DO AUTOR DA HERANÇA BUSCANDO, DA MESMA FORMA E COM BASE EM IDÊNTICA CAUSA PETENDI, O RETOR-NO DO BEM AO ACERVO HEREDITÁRIO, EXTENSÃO SUBJETIVA DA RES IUDICATA ESTABELECIDA NA PRIMITIVA CAUSA. SUBSTITUIÇÃO PRO-CESSUAL. LEGITIMAÇÃO CONCORRENTE. ARTS. 6. E 472, CPC. 1.132 E 1.580, PARÁGRAFO ÚNICO, CC. RECURSO DESACOLHIDO.

1 - OS DESCENDENTES CO-HERDEIROS QUE, COM BASE NO DIS-POSTO NO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 1.580, CC, DEMANDAM EM PROL DA HERANÇA, COMO NA AÇÃO EM QUE POSTULAM O RECO-

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NHECIMENTO DA INVALIDADE DE VENDA REALIZADA PELO SEU AUTOR COM AFRONTA AO ART. 1.132, CC, AGEM COMO MANDATÁ-RIOS TÁCITOS DOS DEMAIS CO-HERDEIROS AOS QUAIS APROVEITA O EVENTUAL REINGRESSO DO BEM NA ‘UNIVERSITAS RERUM,’ EM DEFESA TAMBÉM DOS DIREITOS DESTES.

II - ATUAM, DESTARTE, NA QUALIDADE DE SUBSTITUTOS PROCESSU-AIS DOS CO-HERDEIROS PREJUDICADOS QUE, EMBORA LEGITIMADOS, NÃO INTEGREM A RELAÇÃO PROCESSUAL COMO LITISCONSORTES OU ASSISTENTES LITISCONSORCIAIS, IMPONDO-SE A ESTES, SUBSTITUÍ-DOS, SUJEIÇÃO À ‘AUTORITAS REI IUDICATAE’ (RESP 44925/GO, Rel. Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, DJ de 15/08/1994, p. 20339 - N.g.).

3.2. Reconhecida a legitimidade ativa da parte deve a ação prosseguir em face dos demais réus cuja ilegitimidade não fora declarada; quais sejam: o espólio de AMBRÓ-SIO ALEOTTI, o de VICENTINA BIANCO ALEOTTI, e CLEONICE TURRINI GALLO, porque é de se constatar que a empresa Pedreira Cachoeira S. A. não é terceiro que possui o bem reclamado, tampouco cada um dos outros co-demandados, individual-mente, uma vez que as ações fazem parte do montante deixado por AMBRÓSIO ALE-OTTI.” Tenho que acertado o pronunciamento do ilustre representante do parquet federal, forte na jurisprudência do STJ. De efeito, independentemente da natureza do bem, portanto ainda que se cuidem de ações ao portador, se pertencem elas ao espólio, e sobre isso não resta dúvida alguma, posto que confessado pela viúva me-eira e ré-alienante, como consta do acórdão a quo à fl. 531, devem ser colacionadas no inventário. Aqui, cuida-se de direito sucessório, de modo que não se discutindo a titularidade sobre as ações, reconhecidamente do espólio, é sob sua égide que deve ser resolvida.

Em tais circunstâncias, têm, em princípio, os herdeiros necessários direito de reivindicar os bens indevidamente de posse de terceiros. Aliás, se a inventariante era ré, difícil imaginar-se que iria intentar ação em nome do espólio de Waldomiro contra ela própria, daí a lei assegurar esse direito autônomo e independente aos herdeiros. O art. 992 do CPC, a seu turno, permite que a alienação se faça no curso do inventário, porém precedida da anuência dos demais herdeiros e de autorização judicial, nem uma, nem outra, aqui havidas. E a doutrina, por óbvio, endossa a re-dação cristalina do texto legal, verbis: “1. Prática de atos de inventariança dependentes de prévia autorização judicial: Sem prejuízo das funções ordinariamente exercidas em razão da inventariança (e já enumeradas no artigo anterior), outras há que dependem, para seu exercício, de prévia manifestação dos herdeiros e expressa autorização judicial � sem o que, convém salientar, é absolutamente nulo o ato praticado pelo inventariante, que responderá pelos prejuízos sofridos pelos herdeiros ou terceiros. Sendo necessária ou conveniente a alienação de bem do espólio (v. g., ameaçado de deterioração, de ma-nutenção custosa etc.), deverá o inventariante consultar prévia e formalmente os her-deiros e obter a indispensável autorização judicial para a prática do negócio jurídico. As mesmas exigências deverão ser atendidas para a concretização de transação, judicial ou extrajudicial, pois tendo ela por finalidade prevenir ou pôr fim a litígios, mediante mútuas concessões (CC, art. 840), o inventariante somente poderá transigir, em nome e

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por conta do espólio, se e quando assim concordarem os interessados e autorizá-lo o juiz. Dependerão de consulta e autorização judicial, ainda, o pagamento das dívidas do es-pólio (ver arts. 1.017 a 1.021) e a realização das despesas necessárias com a conservação e o melhoramento dos bens que o compõem. (Antonio Carlos Marcato, “Código de Processo Civil Interpretado,” Ed. Atlas S.A., SP, 2004, p.2489) Não é o caso de se adentrar, neste especial, no exame da legitimidade passiva dos herdeiros dos adqui-rentes, que também já faleceram, porque para tanto ter-se-ia de examinar elementos fáticos que não constam do acórdão, sobre se as partilhas das ações herdadas dos compradores ocorreu ou não. Mas, em um ponto, correto o acórdão estadual. É ilegítima, passivamente, a empresa Pedreira Cachoeira S.A, visto que não praticou a sociedade qualquer ato em discussão, apenas as suas ações é que estão no centro da disputa patrimonial, o que não a atrai à lide, absolutamente. Ela é uma pessoa jurídica a lattere da controvérsia jurídica instaurada pela inicial. O argumento de que eventuais atos praticados pela sociedade serão afetados pela nulidade da venda não procede, posto que se estaria admitindo, previamente, e em tese, repercussões que nem se sabem quais sejam e que poderiam, também, afetar terceiros e até os empregados da empresa, que não são, e nem poderiam ser, parte na lide. Não tem cabimento, pois, que ela figure na demanda. Cabe registrar, ainda, em atenção às contra-razões do especial, que a regra do art. 1.783 do Código Civil, sobre a ação de sonegados e seus efeitos, não excluiu a possibilidade jurídica da restituição da coisa ao patrimônio do espólio, ainda que tenha havido a sua alienação a terceiros. Na hipótese disto não ter sido requerido judicialmente, e obtido, ou, se o preferirem os lesados, podem intentar a ação pedindo, do responsável (aqui Cleonice), as perdas e danos, mas essa situação inexiste na espécie, ao menos por agora, porquanto a opção foi pelo pedido de nulidade da cessão das ações, de sorte que reversível, em tese, o ato ilídimo. Em conclusão, a venda a terceiros não constitui fator impeditivo da ação declaratória de nulidade da cessão, posto que ela pode ser desfeita. Ante o exposto, conheço em parte do recurso especial e lhe dou parcial provimento, para afastar a ilegitimidade ativa e passiva dos autores e réus, salvo em relação à empresa Pedreira Cachoeira S.A, que fica excluída da lide, cabendo ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo prosseguir no exame dos demais pontos constantes da apelação dos autores e do recurso adesivo dos réus.É como voto.

CERTIDÃO DE JULGAMENTOQUARTA TURMANúmero Registro: 1994/0029276-7 REsp 54519 / SPNúmeros Origem: 154589 1854851PAUTA: 14/06/2005 JULGADO: 14/06/2005RelatorExmo. Sr. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIORPresidente da SessãoExmo. Sr. Ministro JORGE SCARTEZZINISubprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. ANTÔNIO CARLOS PESSOA LINS

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SecretáriaBela. CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECKAUTUAÇÃORECORRENTE: CYBELE APARECIDA D’ÁVILA GALLO MARTINELLI

E OUTROSADVOGADO: RENATO VASCONCELOS DE ARRUDA E OUTROSRECORRIDO: NATAL RUBENS ALEOTTI E OUTROSADVOGADO: ERASMO VALLADÃO AZEVEDO E NOVAES FRANCA E

OUTROSRECORRIDO: PEDREIRA CACHOEIRA S/A E OUTROSADVOGADO: ADALBERTO JOSÉ DE CAMARGO ARANHA E OUTROSRECORRIDO: CLEONICE TURRINI GALLOADVOGADO: MARCOS FURKIM NETTORECORRIDO: MARIA MARINA ALEOTTI TEIXEIRA DE CARVALHOADVOGADO: ARYSTOBULO DE OLIVEIRA FREITAS E OUTROSASSUNTO: Civil - Direito das Coisas - Posse - ReintegraçãoCERTIDÃOCertifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe

na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Turma, por unanimi-dade, conheceu em parte do recurso e, nessa parte, deu-lhe parcial provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Jorge Scartezzini, Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justifi-cadamente, o Sr. Ministro Fernando Gonçalves.

Brasília, 14 de junho de 2005CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECKSecretáriaDocumento: 557283 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 22/08/2005

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Acórdão para debate 2:Processo: REsp 33698 / MGRECURSO ESPECIAL 1993/0009018-6Relator(a): MIN. CLÁUDIO SANTOS (1087)Órgão Julgador: T3 - TERCEIRA TURMAData do Julgamento: 29/03/1994Data da Publicação/Fonte: DJ 16/05/1994 p. 11759EmentaHERANÇA. RENUNCIA TRANSLATIVA. INOCORRENCIA FACE A AU-

SENCIA DE MENÇÃO AO DESTINATARIO DA HERANÇA RENUNCIA-DA. PARA HAVER A RENUNCIA “IN FAVOREM”, E MISTER QUE HAJA ACEITAÇÃO TACITA DA HERANÇA PELOS HERDEIROS QUE, EM ATO SUBSEQUENTE, TRANSFEREM OS DIREITOS HEREDITARIOS A BENE-FICIARIO CERTO, CONFIGURANDO VERDADEIRA DOAÇÃO. RECUR-SO NÃO CONHECIDO.

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AcórdãoPor unanimidade, não conhecer do recurso especial.Referência LegislativaLEG:FED LEI:003071 ANO:1916***** CC-16 CODIGO CIVIL ART:00085 ART:01582 ART:01588

Acórdão para Debate 3

Superior Tribunal de JustiçaRECURSO ESPECIAL N° 431.695 - SP (2002/0049944-5)RELATOR: MINISTRO ARI PARGENDLERRECORRENTE: ARLETE LEONARDO E OUTROADVOGADO: PEDRO PAES FILHO E OUTROSRECORRIDO: LEO HENRIQUE TJURSADVOGADO: JOSÉ MURILO PROCOPIO DE CARVALHO EOUTROSEMENTACIVIL. HERANÇA. RENÚNCIA. A renúncia à herança depende de ato solene,

a saber, escritura pública ou termo nos autos de inventário; petição manifestando a renúncia, com a promessa de assinatura do termo judicial, não produz efeitos sem que essa formalidade seja ultimada. Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do recurso especial. Os Srs. Ministros Carlos Alberto Menezes Direito, Nancy Andrighi, Castro Filho e Antônio de Pádua Ribeiro vota-ram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília, 21 de maio de 2002 (data do julgamento).Ministro Ari PargendlerPresidente e RelatorDocumento: IT2951 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 05/08/2002

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Superior Tribunal de JustiçaRECURSO ESPECIAL N° 431.695 - SP (2002/0049944-5)RELATÓRIOEXMO. SR. MINISTRO ARI PARGENDLER (Relator):Arlete Leonardo e Outro interpuseram agravo de instrumento (fl. 41/45), nos

autos do arrolamento sumário, contra a seguinte decisão, in verbis: “Como ensina Carlos Roberto Gonçalves, a renúncia à herança é o negócio jurídico unilateral, pelo qual o herdeiro manifesta a intenção de se demitir dessa qualidade. Há de ser expressa e constar, obrigatoriamente, de escritura pública ou termo judicial, lançado nos autos

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do inventário (CC, art. 1581), sendo, portanto, solene (a sua vontade depende de ob-servância da forma prescrita em lei). Não se admite renúncia tácita ou presumida, por-que constitui abdicação de direitos, nem promessa de renúncia, porque implicaria ilegal pacto sucessório (Direito das Sucessões - Sinopses Jurídicas - ed. saraiva, vol. 4, p. 8/9). A aceitação da herança pode ser expressa ou tácita; a renúncia, porém, deverá constar, expressamente, de escritura pública ou termo judicial, como dispõe, taxativamente, o art. 1581, do Código Civil. Ora, a simples renúncia anterior, por si só, não revela a vontade de não aceitar a herança. Não se pode olvidar, que esta mesma renúncia ocorreu sob o calor do infausto acontecimento na vida do herdeiro, além do que, se fosse realmente essa a sua vontade, com certeza nenhum empecilho estaria sendo criado com vista à não ratificação por termo judicial da primitiva manifestação de vontade.

Não sendo, portanto, essa a intenção do herdeiro que renunciou a renúncia à herança, e consequentemente, não havendo nos autos termo judicial de renúncia, a renúncia pre-térita não carrega qualquer eficácia, impossibilitando o petitótio no sentido de que essa vontade venha a ser substituída por determinação judicial” (fl. 60/61).

A Eg. Oitava Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Relator o eminente Desembargador César Lacerda, negou provimento ao agravo, nos termos do acórdão assim ementado, in verbis: “Herança. - Renún-cia mediante declaração particular – Subseqüente recusa de ratificação por termo nos autos Ineficácia da renúncia - Indispensabilidade da escritura pública ou do termo nos autos - art. 1581 do Código Civil - Recurso improvido” (fl. 13). Opostos embargos de declaração (fl. 91/93), foram rejeitados (fl. 996/97). Daí o presente recurso especial, interposto por Arlete Leonardo e Outros, com fundamento no artigo 105, inciso III, letra “a”, da Constituição Federal, por violação aos artigos 1.581 a 1.590 do Código Civil (fl. 17/21). Originariamente não admitido (fl. 28/33), o recurso especial foi processado por força de agravo de instrumento, provido nos termos do artigo 544, § 3o, do Código de Processo Civil (fl. 139).

Documento: IT2951 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 05/08/2002 Página 2 de 4

Superior Tribunal de JustiçaRECURSO ESPECIAL N° 431.695 - SP (2002/0049944-5)VOTO EXMO. SR. MINISTRO ARI PARGENDLER (Relator):Os autos dão conta de que Arlete Leonardo e Leo Henrique Tjurs requereram a

abertura do inventário e partilha dos bens deixados por Luiz Carlos Leonardo Tjurs (fl. 46/47), sendo prestadas as primeiras declarações (fl. 49/51). Léo Henrique Tjurs atravessou nos autos petição, renunciando a herança (fl. 52), e após, aproximada-mente um ano e dez meses, pediu ao juiz a nulidade da declaração de renúncia, incluindo-o como herdeiro, vez que o ato anteriormente praticado não se exauriu, já que não foi assinado o termo judicial acostado à fl. 89 - fl. 63/66.

A renúncia foi manifestada nos seguintes termos, assinada pelo próprio interessa-do: “Eu, LEO HENRIQUE TJURS, brasileiro, separado judicialmente, declaro para os devidos fins de direito que renuncio os bens deixados por meu filho LUIZ CARLOS LEO-NARDO TJURS, falecido nesta Capital em 03 de novembro de 1.996, conforme certidão

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de óbito constante nos autos, comprometendo-me a firmar em cartório o Termo Judicial” (fl. 52). O MM. Juiz de Direito, Dr. Francisco Occhiuto Júnior, deferiu o pedido, determinando a retificação das primeiras declarações (fl. 60/61). Essa decisão foi ata-cada pelo agravo de instrumento originário, que foi mantida pela Eg. Oitava Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. As razões do recur-so especial dizem, essencialmente, que o acórdão proferido pelo Tribunal a quo violou os artigos 1.581 a 1.590 do Código Civil, sem, no entanto, enfrentar todos os dis-positivos legais; justificando a interposição apenas quanto aos artigos 1.581, 1.584 e 1.590 daquele diploma. O acórdão está a salvo de censura. A renúncia da herança, ao contrário da aceitação, depende de solenidade, “precisa ser formulada de modo expresso e deve constar, obrigatoriamente, como ato solene que é, de escritura pública, ou de termo nos autos de inventário, com homologação pelo juiz” (Monteiro, Washington de Barros, in Curso de Direito Civil, v. 6. Direito das Sucessões. 30a Edição, p. 45).

A renúncia não se formalizou, pois a declaração acostada à fl. 52 deixou de ser revestida de solenidade que a lei considera essencial para a sua validade, qual seja, o termo judicial, aplicando-se, assim, o disposto no artigo 145 do Código Civil. Se a renúncia não se caracterizou, não há que se falar em ofensa ao artigo 1.590 do Códi-go Civil. Voto, por isso, no sentido de não conhecer do recurso especial.

Documento: IT2951 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 05/08/2002 Página 3 de 4

Superior Tribunal de JustiçaCERTIDÃO DE JULGAMENTOTERCEIRA TURMANúmero Registro: 2002/0049944-5 RESP 431695 / SPNÚMEROS ORIGEM: 1095534 200000390631PAUTA: 21/05/2002 JULGADO: 21/05/2002RelatorExmo. Sr. Ministro ARI PARGENDLERPresidente da SessãoExmo. Sr. Ministro ARI PARGENDLERSubprocuradora-Geral da RepúblicaExma. Sra. Dra. ARMANDA SOARES FIGUEIREDOSecretáriaBela SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSOAUTUAÇÃORECORRENTE: ARLETE LEONARDO E OUTROADVOGADO: PEDRO PAES FILHO E OUTROSRECORRIDO: LEO HENRIQUE TJURSADVOGADO: JOSÉ MURILO PROCOPIO DE CARVALHO E OUTROSASSUNTO: Civil - Sucessão - HerançaCERTIDÃOCertifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe

na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: “A Turma, por unanimi-

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dade, não conheceu do recurso especial.” Os Srs. Ministros Carlos Alberto Menezes Direito, Nancy Andrighi, Castro Filho e Antônio de Pádua Ribeiro votaram com o Sr. Ministro Relator. O referido é verdade. Dou fé.

Brasília, 21 de maio de 2002SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSOSecretáriaDocumento: IT2951 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 05/08/2002

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Leitura obrigatória para a auLa

HIRONAKA, Giselda Maria e CAHALI, Francisco José. Direito das Sucessões. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, pp. 41-51, 70-97 e 86-98.

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aula 3: caPacidade e legitimidade Para suceder. exclusão de herdeiros e legatários (indignidade e deserdação).

Nesta aula cuidaremos das condições necessárias para ser herdeiro ou legatário (ou seja, capacidade para suceder). O Código Civil regula cuidadosamente a capa-cidade e a legitimidade para suceder.

Na exclusão de herdeiros e legatários tem-se uma situação em que uma pessoa normalmente sucederia, mas que, por força de alguma penalidade não pode mais fazê-lo. É preciso destacar que tal perda pode ou não se dar e, no caso da deserdação, é possível o perdão pelo autor da herança ainda em vida.

acórdão para debate

Ver Acórdão nas páginas seguintes.

caso gerador 1

Clint deixa para seu sobrinho Eastwood todos os seus bens passíveis de serem dispostos por meio de testamento.Clint não tinha filhos vivos, o seu herdeiro Willian Muny havia falecido pouco antes dele, sem deixar filhos. Ocorre que a sua esposa, Claudia, de quem Clint já estava separado há muitos anos, resolve implan-tar um embrião congelado que o então casal havia produzido e, passados 10 anos da morte de Clint, nasce Harry. A partir daí pergunta-se: poderá Eastwood perder uma parcela de sua herança? Ou perdê-la integralmente em função de uma ação de reconhecimento de paternidade cominada com petição de herança?

Leitura obrigatória para a auLa

HIRONAKA, Giselda Maria e CAHALI, Francisco José. Direito das Sucessões. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, pp. 70-85, 99-123 e 298-307.

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aula 4: cálculo da legítima. doações anteriores à abertura da sucessão. colação e sonegados.

O tema desta aula é uma continuação natural ao da anterior e visa a já prepara o aluno para o debate da Parte II do curso. A legítima constitui um importante limite na disposição de bens pelo autor da herança.

acórdão para debate

Superior Tribunal de JustiçaRECURSO ESPECIAL Nº 730.483 - MG (2005/0036318-3)RELATORA: MINISTRA NANCY ANDRIGHIRECORRENTE: JOSÉ JORGE PENNA JÚNIOR - ESPÓLIO E OUTROSADVOGADO: MARCO ANTÔNIO MUNDIM E OUTROSREPR.POR: ADRIANA PENA - INVENTARIANTEADVOGADO: GUSTAVO CAPANEMA DE ALMEIDA E OUTROSRECORRIDO: RENATA ELISABETE PENNA VALERIANOADVOGADO: HELENA LANNA FIGUEIREDO E OUTROSEMENTARecurso especial. Sucessões. Inventário. Partilha em vida. Negócio formal. Do-

ação. Adiantamento de legítima. Dever de colação. Irrelevância da condição dos herdeiros. Dispensa. Expressa manifestação do doador.

- Todo ato de liberalidade, inclusive doação, feito a descendente e/ou herdeiro neces-sário nada mais é que adiantamento de legítima, impondo, portanto, o dever de trazer à colação, sendo irrelevante a condição dos demais herdeiros: se supervenientes ao ato de liberalidade, se irmãos germanos ou unilaterais. É necessária a expressa aceitação de todos os herdeiros e a consideração de quinhão de herdeira necessária, de modo que a inexistên-cia da formalidade que o negócio jurídico exige não o caracteriza como partilha em vida. - A dispensa do dever de colação só se opera por expressa e formal manifestação do doador, determinando que a doação ou ato de liberalidade recaia sobre a parcela disponível de seu patrimônio. Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da TERCEIRA

TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, não conhecer do recurso espe-cial. Os Srs. Ministros Castro Filho e Antônio de Pádua Ribeiro votaram com a Sra. Ministra Relatora. Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Humberto Gomes de Barros e Carlos Alberto Menezes Direito.

Brasília (DF), 03 de maio de 2005 (data do julgamento).MINISTRA NANCY ANDRIGHIRelatoraDocumento: 545471 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 20/06/2005

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Superior Tribunal de JustiçaRECURSO ESPECIAL Nº 730.483 - MG (2005/0036318-3)RECORRENTE: JOSÉ JORGE PENNA JÚNIOR - ESPÓLIO E OUTROSREPR.POR: ADRIANA PENA - INVENTARIANTEADVOGADO: GUSTAVO CAPANEMA DE ALMEIDA E OUTROSRECORRIDO: RENATA ELISABETE PENNA VALERIANOADVOGADO: HELENA LANNA FIGUEIREDO E OUTROSRELATORA: MINISTRA NANCY ANDRIGHIRELATÓRIOTrata-se de recurso especial interposto por JOSÉ JORGE PENNA JÚNIOR -

ESPÓLIO E OUTROS, arrimado nas alíneas “a” e “c” do permissivo constitucional, contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais.

Ação: de inventário de bens de José Jorge Penna Júnior.Decisão: determinou a colação dos bens constantes da relação de fls. 74/80, no

importe de 50%, respeitada a meação da ex-cônjuge do falecido (Maria Alice Soares Penna) a fim de recompor o patrimônio e igualar a legítima de todos os herdeiros – filhos havidos do casamento (Adriana Pena, José Jorge Pena Neto, Carlos Alberto Pena, José Eduardo Pena) e a ora recorrida, filha de outro leito. Em que pese não constar dos autos cópia das fls. 74/80 dos autos do inventário, o acórdão noticia que os bens litigiosos são duas fazendas, Santa Cândida do Cedro e Primavera, que foram repassadas aos filhos do falecido com Maria Alice, por escritura pública, res-pectivamente, em 16/12/65 e 07/07/76, esta última por ocasião do desquite do falecido, cujo pedido foi protocolado em 1.971. Irresignados com a referida decisão, a inventariante, juntamente com seus irmãos germanos, interpôs recurso de agravo de instrumento, pretendendo a cassação da decisão agravada. Acórdão: negou pro-vimento ao agravo de instrumento, nos termos da ementa seguinte:

EMENTA: AGRAVO - INVENTÁRIO - COLAÇÃO DE BENS - PARTILHA EM VIDA - DESCARACTERIZAÇÃO - DOAÇÃO - FILHO DE OUTRO LEITO NÃO CONTEMPLADO - OBRIGAÇÃO DE COLACIONAR - FRUIÇÃO DE FRUTOS DE BENS PATERNOS - REMESSA ÀS VIAS ORDINÁRIAS.

Recurso especial: alegam violação aos arts. 85, 1.721 e 1.776 do CC/16, argu-mentando, em síntese, no seguinte sentido:

I - Os bens litigiosos (fazendas Santa Cândida do Cedro e Primavera) não foram objeto de doação, mas de partilha em vida, e, em razão disso, excluído está o dever de colacionar;

II - A partilha foi feita anteriormente ao nascimento da recorrida, e, por aplica-ção do art. 85, do CC/16, a verdadeira intenção do falecido foi a partilha em vida, que não a incluiu;

III - Deve ser excluída a parcela disponível do patrimônio do falecido, de modo que, se houver dever de colação, deve incidir tão somente sobre 25% dos referidos bens imóveis.

Contra-razões: entende a recorrida que o conhecimento do recurso especial está obstado pelas Súmulas 5 e 7, do STJ; pela ausência de prequestionamento da ma-

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téria; pela não demonstração do cotejo analítico; e, no mérito, alega, em síntese, o seguinte:

I - A hipótese em comento é de doação e não de partilha em vida, sujeitando-se, portanto, ao dever de colação;

II - A data das doações não altera o dever de colação;III - Não há nos autos qualquer ressalva quanto à parcela disponível do patrimô-

nio do falecido, de maneira que a colação deve incidir sobre os 50% das fazendas;IV - Não houve dispensa da colação, o que a torna devida.Inadmitido na origem, dei provimento ao agravo de instrumento, para determi-

nar a subida dos autos. É o breve relatório.VOTOO presente recurso especial foi interposto pelas alíneas “a” e “c” do permissivo

constitucional. Pela alínea “c”, contudo, não merece seguimento, considerando não estar devidamente demonstrado o cotejo analítico. Passo, então, ao exame do recur-so pela alínea “a”.

A controvérsia está centrada em dois pontos: o primeiro definir se os bens imó-veis foram objeto de doação ou de partilha em vida; o segundo ponto refere-se à necessidade da colação dos referidos bens ao inventário, conforme decidido pelo juízo de primeiro grau e confirmado pelo acórdão recorrido.

I - Da natureza do negócio jurídico - violação ao art. 85, CC/16 Assim en-tendeu o acórdão recorrido: “Com sincero respeito à opinião dos ilustres patronos dos agravantes, peço vênia para, recusar-me a prestigiar a alegada partilha em vida, que, com outra vênia, creio não ter existido e, em circunstância da qual resulta preterição do princípio da igualdade dos filhos.” (fl. 201)

A doutrina se divide quanto à natureza jurídica da partilha em vida. Há quem entenda tratar-se de doação, denominando-a partilha-doação, e há quem entenda tratar-se de negócio sui generis. O STJ, no julgamento do REsp 6.528/RJ por esta 3ª Turma, de Relatoria do Ministro Nilson Naves, publicado no DJ de 12/08/1991, já examinou a questão, diferenciando os institutos da partilha em vida e da doação, entendendo o seguinte: “5. Definido, pois, o negócio em questão como partilha em vida (‘os disponentes não quiseram doar, mas sim distribuir, através de partilha em vida, todos os seus bens, obtendo - porque necessário à sua validade - o consentimento dos descen-dentes’, do acórdão, fls. 518/9), não vejo como escapar da ponderação do Desembargador Fernando Whitaker, ao notar a inviabilidade do recurso pela alínea a, verbis:

‘Não se constatam as negativas de vigência, cuidando-se, sim, de razoável interpre-tação dada às normas, haja vista ter o aresto examinado acuradamente a questão para concluir no sentido de que teria havido uma partilha antecipada, por terem sido dis-tribuídos todos os bens, em um mesmo dia, no mesmo Cartório e mesmo livro, com o expresso consentimento dos descendentes, não a desvirtuando o fato de terem sido feitas através de cinco escrituras, e não de uma única, além de ter a menor sido assistida por sua genitora, considerando-se, ainda, ter o decisória buscado robustos subsídios doutrinários para excluir a colação e apontar outra via judicial, que não o inventário, para a apura-ção de eventuais prejuízos às legítimas, pelo que se tem como incidente a Súmula 400 do Egrégio Supremo Tribunal Federal’

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6. Vou além: na espécie em comento, irrepreensível, ao que suponho a conclusão das instâncias ordinárias. É que não se cuidando, como não se cuida de doação, não se tem como aplicar o citado art. 1.786, que limita, de modo expresso, a conferência às hipóteses de doação e de dote.”

Dessa forma, pela jurisprudência do STJ, o negócio jurídico da partilha em vida envolve cumprimento de formalidades, inclusive com aceitação expressa de todos os herdeiros que não se compatibiliza com o dever de colacionar. A partilha em vida é como um “inventário em vida”, dispensando, até, o inventário post mortem. Nos dizeres de João Alberto Leivas Job, “a partilha procede como se, por suposição implícita, se considerasse, no instante em que é feita, a morte do ascendente, visto que se subordina a todas as cláusulas fundamentais da composição distributiva de uma partilha”. (Da nulidade da partilha, São Paulo, Saraiva, 1980, p. 732). Tomando os fatos tais como delineados no acórdão recorrido, tenho que a hipótese em comento não é de partilha em vida. Não foi considerado o quinhão de herdeira necessária, não houve expressa aceitação de todos os herdeiros, de modo que não há como considerar os negócios jurídicos ou as liberalidades que envolveram os bens imóveis como partilha em vida, exatamente pela inexistência da formalidade que ela exige.

Diante disso, seguindo ensinamento de Pontes de Miranda, “o que se doou, ou por outro ato de liberalidade se prestou ao sucessível, tem-se como adiantamento da legí-tima necessária. Aí, em vez de haver cláusula de adiantamento de legítima, que pode ser inserta no negócio jurídico gratuito, ou no testamento, há a regra jurídica implícita, de que o dever de colação é um dos efeitos da incidência. A lei estatui que tudo se passe, nos cálculos como se a liberalidade não tivesse ocorrido e haja de ser incluída no quinhão.” (Pontes de Miranda, Tratado de Direito Privado, Parte Especial, tomo LV, p. 309, Direito das Sucessões: Sucessão em Geral. Sucessão legítima, 1972, 3ª Edição, Edi-tor Borsoi, Rio de Janeiro)

Tenho, portanto, que a liberalidade de transferência das fazendas aos herdeiros havidos do casamento, por escritura pública, não pode ser considerada partilha em vida. Se não foi doação, foi liberalidade do falecido e, assumindo tal natureza, estão os herdeiros sujeitos ao dever de colacionar.

Nessa toada, também não se pode considerar o ato de liberalidade como con-dição escolhida pelos cônjuges para viabilizar o acordo da separação, porque essa prática poderia gerar fraudes em detrimento de outros eventuais direitos subjetivos, quer em relação aos filhos, quer em relação a credores.

II - Do dever de colação - violação aos arts. 1.721 e 1.776, CC/16Ainda nos ensinamentos de Pontes de Miranda, “quem é descendente e herdeiro

necessário tem de colacionar o que lhe foi atribuído, salvo se explicitamente se afastou a incidência da regra jurídica que estabeleceu, como ius dispositivum, ser adiantamento da legítima necessária o que o descendente, herdeiro necessário, recebeu.” (Pontes de Miranda, Tratado de Direito Privado, Parte Especial, tomo LV, p. 317, Direito das Sucessões: Sucessão em Geral. Sucessão legítima, 1972, 3ª Edição, Editor Borsoi, Rio de Janeiro)

Os ora recorrentes, em suas razões, procuraram excluir o dever de colação, argu-mentando que, na ocasião da doação da fazenda Santa cândida, em 1965, a recorrida

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nem sequer havia nascido (o que se deu em 1971) de modo que não teria direito à parcela do referido bem. Quanto a outra fazenda, aduziram os recorrentes que foi objeto da separação de bens por ocasião do desquite, e que, por esse motivo, não po-deria ser atribuída parcela do bem à recorrida. E, argumentam por fim que, se dever de colação existir, ele só deve incidir sobre 25% dos bens, considerada esta a parcela indisponível dos bens do falecido. Primeiramente, “não importa o tempo em que foi feita a liberalidade, se doada antes de ter nascido o filho, ou antes do casamento do decujo com o genitor do herdeiro necessário” (Pontes de Miranda, Tratado de Direito Privado, Parte Especial, tomo LV, p. 318, Direito das Sucessões: Sucessão em Geral. Sucessão legítima, 1972, 3ª Edição, Editor Borsoi, Rio de Janeiro). Ou seja, é irrelevante o fato de a recorrida ter nascido após a doação. Para cumprir-se o dever de colação, também, não existe diferença entre os descendentes, sejam irmãos germanos ou uni-laterais, e mesmo supervenientes à separação ou divórcio do doador. Nos moldes dos princípios estatuídos pela Constituição Federal, não há qualquer distinção entre os filhos: é irrelevante falar em irmãos, filhos dos mesmos pais ou de pais diferentes, supervenientes à liberalidade, supervenientes à separação judicial ou divórcio do doador, ou mesmo os havidos fora do casamento. Já não se fala sequer em herdeiros legítimos e ilegítimos. O dever de colação é imperioso para aquele herdeiro des-cendente que recebeu qualquer bem do doador/falecido, a título de liberalidade ou doação, que, como dito, nada mais é que adiantamento de legítima. Nesse sentido, REsp 9081/SP, desta 3ª Turma, de Relatoria do Ministro Cláudio Santos, publicado no DJ de 20/04/1992, assim ementado:

“RECURSO ESPECIAL. INVENTARIO. DOAÇÃO. COLAÇÃO. PROVIMEN-TO. DEVEM OS HERDEIROS DONATARIOS TRAZER A COLAÇÃO OS BENS RECEBIDOS EM DOAÇÃO A FIM DE SER MANTIDA A IGUALDADE DAS LEGITIMAS.RECURSO ESPECIAL PROVIDO.”

Importante destacar que o dever de colacionar os bens recebidos a título de li-beralidade só se dispensa por expressa manifestação do doador, determinando que a doação seja extraída da parte disponível de seus bens, o que também não ocorreu na hipótese presente, conforme noticiado no acórdão recorrido. Diante disso, tam-pouco prospera o argumento dos recorrentes no sentido de se admitir a colação tão somente sobre 25% das fazendas. Em vista da inexistência de dispensa do dever de colacionar pelo falecido, o que só se admitiria sobre a parcela disponível de seu patrimônio, a colação deve-se dar sobre os 50% das fazendas, tal como determinado pelo juiz de primeiro grau e confirmado pelo acórdão do TJMG.

Não prosperam, portanto, os argumentos dos recorrentes. E, não se configuran-do a alegada violação aos dispositivos legais mencionados, é de se manter a decisão recorrida. Forte em tais razões, NÃO CONHEÇO do recurso especial.

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Superior Tribunal de JustiçaCERTIDÃO DE JULGAMENTOTERCEIRA TURMA

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Número Registro: 2005/0036318-3 RESP 730483 / MGNúmeros Origem: 200401452489 3175411 701020094762PAUTA: 03/05/2005 JULGADO: 03/05/2005RelatoraExma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHIPresidenta da SessãoExma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHISubprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. FRANCISCO DIAS TEIXEIRASecretárioBel. MARCELO FREITAS DIASAUTUAÇÃORECORRENTE: JOSÉ JORGE PENNA JÚNIOR - ESPÓLIO E OUTROSADVOGADO: MARCO ANTÔNIO MUNDIM E OUTROSREPR.POR: ADRIANA PENA - INVENTARIANTEADVOGADO: GUSTAVO CAPANEMA DE ALMEIDA E OUTROSRECORRIDO: RENATA ELISABETE PENNA VALERIANOADVOGADO: HELENA LANNA FIGUEIREDO E OUTROSASSUNTO: Civil - Sucessão - Inventário - Partilha - NulidadeCERTIDÃOCertifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe

na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Turma, por unanimida-de, não conheceu do recurso especial. Os Srs. Ministros Castro Filho e Antônio de Pádua Ribeiro votaram com a Sra. Ministra Relatora. Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Humberto Gomes de Barros e Carlos Alberto Menezes Direito.

Brasília, 03 de maio de 2005MARCELO FREITAS DIASSecretárioDocumento: 545471 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 20/06/2005

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Acórdão para debate 2

Superior Tribunal de JustiçaRECURSO ESPECIAL Nº 345.668 - SP (2001/0109311-4)RELATOR: MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIORRECORRENTE: FRANCISCO VIDAL DE CASTRO E OUTROSADVOGADO: MAÉRCIO TADEU J DE ABREU SAMPAIO E OUTROSRECORRENTE: VERA MARIA PEREIRA DE CASTRO - ASSISTENTEADVOGADO: MAERCIO TADEU JORGE DE ABREU SAMPAIO E OU-

TROSRECORRIDO: BENEDICTO ARTHUR SALLES PACHECO - INVENTA-

RIANTE

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ADVOGADO: CLÁUDIO ANTÔNIO MESQUITA PEREIRA E OUTROSEMENTACIVIL E PROCESSUAL. APELAÇÃO. FUNGIBILIDADE RECURSAL.

FIDEICOMISSO. CLÁUSULA TESTAMENTÁRIA. INCIDÊNCIA SOBRE A LEGÍTIMA. INCOMUNICABILIDADE DE BENS ENTRE CÔNJUGES RE-CONHECIDA EM JULGAMENTO DE RECURSO ESPECIAL ANTERIOR. CC, ART. 1.733. VONTADE DO TESTADOR. CC, ARTS. 1.733 E 1.666.

I. Admissível a fungibilidade recursal quando existente razoável dúvida, à época, sobre qual a via processual para impugnar decisão que admite incidência de fidei-comisso.

II. Reconhecida, em julgamento anterior, a total incomunicabilidade de bens entre a filha falecida do testador e seu esposo, em respeito à vontade do testador de manter o patrimônio no seio familiar, a situação reflete sobre o fideicomisso, afastando-se a pretensão do cônjuge supérstite em vê-lo nulificado sobre a parte legítima, posto que sobre ela não teria direitos.

III. Recurso especial conhecido em parte e provido.ACÓRDÃOVistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a

Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, à unanimidade, conhecer em parte do recurso e, nessa parte, dar-lhe provimento, na forma do relatório e notas taqui-gráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julga-do. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Hélio Quaglia Barbosa, Massami Uyeda e Cesar Asfor Rocha. Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Jorge Scarte-zzini.

Brasília (DF), 07 de dezembro de 2006.(Data do Julgamento)MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIORRelatorDocumento: 668124 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 26/03/2007

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Superior Tribunal de JustiçaRECURSO ESPECIAL Nº 345.668 - SP (2001/0109311-4)RELATÓRIOO EXMO. SR. MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR:Francisco Vidal de Castro e Maria Alice de Castro Rocha interpõem, pela letra “a”

do art. 105, III, da Constituição Federal, recurso especial contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, assim ementado (fl. 245): “Testamento. Instituição de fideicomisso sobre a legítima de herdeira necessária. Descabimento. Recurso provido.” Alegam os recorrentes que habilitaram-se nos autos do inventário dos bens de Odete Alice de Castro Pacheco, na qualidade de fideicomissários e herdeiros na linha cola-teral; que no primeiro caso, fizeram-no em razão de um fideicomisso instituído no testamento do pai da inventariada e, no segundo, com base no testamento da mãe da inventariada, que deixou bens com cláusulas expressas de incomunicabilidade e inalienabilidade; que o acórdão objurgado entendeu que o fideicomisso era nulo

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pois incidira na herança necessária de Odete, de modo que não poderia o testador estabelecê-lo. A decisão de primeiro grau foi proferida em sede interlocutória, que deferira o pedido de habilitação dos recorrentes apenas a título de fideicomissários e indeferira a pretensão de serem admitidos como herdeiros na linha colateral. Daí, foi interposto agravo de instrumento pelos recorrentes, pelo seu não reconhecimento na qualidade de herdeiros colaterais, questão que se acha pendente em outro recurso especial. Em contrapartida, dizem que o recorrido, também inconformado com a mesma decisão que reconheceu o fideicomisso, interpôs, ao inverso, apelação, que, além de indevidamente recebida, foi provida pela Corte a quo. Afirmam que o erro � interposição de apelação e não agravo de instrumento � foi grosseiro, de sorte que não poderia ter sido conhecido o recurso, sob pena de afronta, como aconteceu, dos arts. 513 e 522 do CPC.

No mérito, salientam que também foram contrariados os arts. 1.733 e 1.666 da Lei Substantiva anterior, posto que não há restrição no fideicomisso quanto aos bens não poderem exceder a parte disponível do patrimônio que compõe a legítima, argumen-tando que (fl. 279): “Se o legislador permitiu, no artigo 1723, do mesmo Estatuto, que em benefício do próprio herdeiro e da família, à herança necessária se impusesse até mesmo a inalienabilidade e a incomunicabilidade, com muito maior razão esteve a admitir a instituição do fideicomisso, que sequer restringe esses poderes de disposição: ‘Quem pode o mais pode o menos’. Constituiu regra basilar de interpretação a de que ‘restrições ao uso ou posse de qualquer direito, faculdade ou prerrogativa não se presumem ‘.’’

Argumentam, mais, que é princípio do art. 1.666 o respeito à ordem do testador na interpretação da cláusula testamentária, destacando que os termos do testamento indicavam a real vontade do testador sobre a prevalência do fideicomisso em qual-quer circunstância, “no sentido de não permitir que o Sr. Benedicto Arthur de Salles Pacheco venha a receber a herança ora disputada, para que se mantenha no âmbito familiar” (fl. 280).

Assim, concluem, não importa que os gravames e a substituição venham a atingir a legítima, pois podem alcançar a universalidade dos bens, de sorte que o fideicomis-so pode e deve ser mantido como estabelecido, destacando que no caso dos autos não há herdeiros necessários e sim cônjuge sobrevivente, terceiro na vocação heredi-tária, o que não se enquadra na definição do art. 1.721 do Código Civil.

Contra-razões às fls. 295/305, afirmando que inobstante interposta apelação, ela o foi sob os cuidados de ser aviada em dez dias, expôs a divergência doutrinária e jurisprudencial acerca da dubiedade sobre qual o recurso cabível e ainda arguiu o princípio da fungibilidade; e que a exegese do art. 1.733 dada pelo acórdão está correta, pois não poderia ser admitida a liberalidade além do que o testador poderia dispor. O recurso especial foi admitido na instância de origem pelo despacho presi-dencial de fls. 307/308.

Parecer da douta Subprocuradoria-Geral da República às fls. 314/319, pelo Dr. Henrique Fagundes Filho, no sentido do não-conhecimento do recurso. À fl. 355, foi deferida por decisão irrecorrida a admissão de Vera Maria Pereira de Castro, como substituta processual de Francisco Vidal de Castro, em relação a metade dos direitos hereditários por ele postulados, ante a separação do casal recorrente.

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É o relatório.VOTOO EXMO. SR. MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR(Relator): Trata-se de recurso especial, aviado pela letra “a” do autorizador cons-

titucional, decorrente de acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que acolhendo apelação interposta pelo recorrido, declarou “nulo o fideicomisso instituído sobre a legítima da autora da herança deste inventário” (fl. 249). Inicialmente, rejeito a alegada ofensa aos arts. 513 e 522 do CPC, posto que demonstrada a existência de razoável dúvida doutrinária e jurisprudencial acerca do recurso cabível contra a deci-são que admitiu parcialmente o fideicomisso, o que torna admissível a fungibilidade, e interposta a apelação, pelo ora recorrido, no prazo do agravo de instrumento.

No julgamento do REsp n. 246.693/SP, esta Turma, por maioria, decidiu que:“CIVIL. ACÓRDÃO ESTADUAL. NULIDADE NÃO CONFIGURADA. IN-

VENTÁRIO. TESTAMENTO. QUINHÃO DE FILHA GRAVADO COM CLÁU-SULA RESTRITIVA DE INCOMUNICABILIDADE. HABILITAÇÃO DE SO-BRINHOS E NETOS. DISCUSSÃO SOBRE A SUA EXTINÇÃO EM FACE DA CLÁUSULA, PELO ÓBITO, ANTERIOR, DA HERDEIRA, A BENEFICIAR O CÔNJUGE SUPÉRSTITE. PREVALÊNCIA DA DISPOSIÇÃO TESTAMENTÁ-RIA. CC, ARTS. 1676 E 1666.

I. A interpretação da cláusula testamentária deve, o quanto possível, harmonizar-se com a real vontade do testador, em consonância com o

art. 1666 do Código Civil anterior.II. Estabelecida, pelo testador, cláusula restritiva sobre o quinhão da herdeira, de in-

comunicabilidade, inalienabilidade e impenhorabilidade, o falecimento dela não afasta a eficácia da disposição testamentária, de sorte que procede o pedido de habilitação, no inventário em questão, dos sobrinhos da de cujus.

III. Recurso especial conhecido e provido.”(Rel. p/ acórdão Min. Aldir Passarinho Junior, DJU de 17.05.2004) Proferi voto

que prevaleceu à ocasião, nos seguintes termos: “Em apertada síntese, Vidal Antônio de Castro deixou testamento gravando o quinhão da legítima de sua filha Odete Alice de Castro Pacheco da seguinte forma (fl. 28): ‘c) tudo quanto, a qualquer título, sua citada filha, dona Odete Alice, receber, quer de quota legitimária, quer da cota dis-ponível, impõe ele testador expressamente que fique vinculado vitaliciamente de incomunicabilidade, inalienabilidade e impenhorabilidade, esta extensiva aos frutos e rendimentos e livre e exclusiva administração por ela herdeira, para que, por morte dela dona Odete Alice, tudo seja transmitido aos filhos seus, se existirem, e, não existindo, seja transmitido, em partes iguais e por cabeça, aos sobrinhos, netos do testador, filhos de Fernando.’ A filha Odete era casada com Benedicto Arthur de Salles Pacheco. Com o falecimento do testador e, mais tarde, da filha Odete, abriu-se a sucessão desta última, que faleceu sem deixar ascendentes ou descendentes, nem testamento. Aber-to arrolamento pelo viúvo de Odete, Benedicto, os sobrinhos da de cujus e netos de Vidal, requereram a sua admissão no inventário na qualidade de herdeiros e fideicomissários relativamente à parte dos bens do espólio que, originariamente, advinham da legítima deixada pelo avô. Em 1ª instância obtiveram êxito, porém a decisão que os admitira foi

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reformada pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, ao entendimento de que as cláusulas restritivas se extinguiram com o óbito da herdeira Odete, de sorte que os bens deveriam ser sucedidos pelo seu cônjuge, Benedicto.

O recurso especial foi interposto pelos sobrinhos por violação aos arts. 535, II, 458, I e II, do CPC, e 1.666 e 1.676 do Código Civil, a par de dissídio jurisprudencial. O eminente relator, Min. Ruy Rosado de Aguiar, não conheceu do recurso, afastando o defeito processual sustentado pelos recorrentes e, no mérito, entendeu na mesma linha de pensamento da Corte a quo, ou seja, pela incidência dos arts. 1.603, 1.611, 1.721 e 1.723 da lei substantiva civil. Pedi vista para melhor exame da matéria e passo a proferir o voto. Quanto à preliminar de nulidade do acórdão, também rejeito-a porque não se cuidou de omissão ou de falta de fundamentação, apenas de ponto de vista contrário ao interesse da parte, nada mais.

No tocante ao mérito, rezam os arts. 1.676 e 1.666 do Código Civil, que: ‘Art. 1.676. A cláusula de inalienabilidade temporária, ou vitalícia, imposta aos bens pe-los testadores ou doadores, não poderá, em caso algum, salvo os de expropriação por necessidade ou utilidade pública, e de execução por dívidas provenientes de impos-tos relativos aos respectivos imóveis, ser invalidada ou dispensada por atos judiciais de qualquer espécie, sob pena de nulidade’.

......................................................................................‘Art. 1666. Quando a cláusula testamentária for suscetível de interpretações di-

ferentes, prevalecerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador.’ Os termos legais são, indubitavelmente, fortes. Quis o legislador, muito expressamente, salvaguardar a manutenção das restrições à disponibilidade do bens, chegando quase a advertir o próprio Judiciário sobre eventuais decisões que tenham o escopo de contornar o desejo daqueles que já se foram, em relação ao patrimônio que deixaram para seus herdeiros ou sucessores. Não cabe ao intérprete, por melhor intencionado que possa estar na avaliação dos fatos, penetrar na vontade subjetiva dos testadores e doadores que, de seu lado, devem ter tido suas razões para instituir tais cláusulas: medo de um filho estróina ou aventureiro; sem equilíbrio emocional ou ingênuo; casado com alguém que não inspira a confiança dos sogros; simples querer que o patrimônio permaneça atrela-do aos parentes consangüíneos, e mais inúmeros outros motivos que poderiam ser aqui elencados. Seja qual a razão, ela é íntima do testador ou doador, na sua subjetiva ava-liação das circunstâncias que cercam sua família mais próxima. Tenho certeza, é muito mais cômodo para nós, intérpretes da lei, decidirmos a respeito, do que para o próprio instituidor, quando deliberou, em determinado momento de sua vida, estabelecer cláu-sulas tão vigorosas, e que, por serem também muito desconfortáveis para o próprio, pelo constrangimento porque passou ao estabelecê-las, em face da reação que geram sobre as pessoas gravadas ou prejudicadas, devem, tais cláusulas, por isso mesmo, ser consideradas e respeitadas. Se a vontade do testador se dá, sempre, post mortem obrigatoriamente, em meu pensamento pouco importa que o herdeiro tenha, mais tarde, também desaparecido. Importa, sobretudo, a restrição, que transcende tais vidas, porquanto o efeito prático da incomunicabilidade é o de evitar que o cônjuge do herdeiro fique com o bem do testador. Assim, o efeito prático de tal cláusula, seu objeto, só se perde com o óbito do outro cônjuge, pois o seu apoderamento sobre aquele patrimônio da testadora é o que ele,

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testador, desejou evitar. Observe-se, inclusive, que no caso dos autos, o testador, Vidal, possuía dois filhos: Odete e Fernando Vidal de Castro, ambos falecidos. Os filhos deste, portanto sobrinhos de Odete e netos do testador é que disputam os bens em comento. E restou explícito na passagem do testamento que de início se reproduziu, que a intenção do testador Vidal era que apenas sua filha Odete e, após sua morte, seus filhos, se existissem, ou os filhos de Fernando, todos seus netos, é que ficassem com os bens, que eles perma-necessem em família (fl. 28). É certo que na hipótese não se cuida de interpretação de cláusula, porém se há tal orientação na lei, de máxime respeito à disposição do testador, porquê criar-se limitação a sua vontade, impedindo a sua eficácia plena e efetiva já que, como acima frisado, no caso da incomunicabilidade, importa é a não sucessão do bem pelo cônjuge do herdeiro, e se aquele é supérstite, fica frustrado o desejo do testador. Aliás, a cláusula de incomunicabilidade, por si só, é bastante para revelar tal intenção. No caso, a destinação secundária aos netos ou sobrinhos foi um ‘plus’. Tenho, de outro lado, que o art. 1.723 do Código Civil, restringe, em sua parte final, a inalienabilidade (“A cláusula de inalienabilidade, entretanto, não obstará...”), mas não a incomunicabilidade a que versa a espécie em comento. A incomunicabilidade é prevista na primeira parte da citada norma, e no tocante a ela não se pode dizer que a expressão da segunda parte “...livre e desembaraçado de qualquer ônus...” se enderece. Fosse assim, a redação dessa segunda parte do art. 1.723 seria outra. Portanto, ficam excluídos esses bens incomuni-cáveis da ordem sucessória do art. 1.603.

Ante o exposto, pedindo vênia ao ilustrado relator, cujo voto, reconheço, se acha res-paldado em forte doutrina, conheço do recurso e dou-lhe provimento, para autorizar a habilitação dos sobrinhos agravantes no inventário de Odete Alice de Castro Pacheco.” Como visto, o entendimento da maioria turmária, à época, foi a de que deveria pre-valecer a vontade do testador Vidal Antônio de Castro, de sorte que tinham os netos daquele, sobrinhos de Odete, direito à habilitação no inventário como herdeiros na linha colateral – aliás únicos herdeiros � dos bens do citado Vidal Antônio de Cas-tro, excluído o esposo de Odete, porque incomunicáveis tais bens, segundo cláusula que se houve por respeitar, consoante o mesmo aresto deste colegiado, já transita-do em julgado. Agora, como visto, a questão se refere à nulidade do fideicomisso declarada sobre a legítima de Odete, em razão do testamento de Vidal Antonio de Castro. Mas a solução, tenho eu, com a devida vênia, há de ser a mesma. É que, se, no aludido precedente, considerou-se que não havia comunicação de bens entre Odete e seu esposo, Benedicto, portanto este não era dela sucessor, a mesma cláu-sula testamentária que impôs a não-comunicação e o fideicomisso, antes transcrita, há de prevalecer por inteiro. Em outras palavras, se não houve comunicação, o que alcançou inclusive a legítima mesmo após a morte de Odete, não há como se afastar dessa mesma situação o fideicomisso, exatamente na linha da vontade do testador, que deve ser privilegiada, ao teor do disposto no art. 1.666 do Código Civil. Não impressiona o argumento de que a cláusula de fideicomisso seria nula por invadir a legítima, pois, no caso específico dos autos, a vindicação da nulidade não parte da filha Odete, que faleceu antes, mas de seu esposo, que não seria sucessor dada a incomunicabilidade de bens já chancelada por esta Turma no Resp n. 246.693/SP. Portanto, a confirmar a decisão do Tribunal estadual, incidir-se-ia em contradição,

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pois seria como contornar o que já ficou declarado naquele julgamento, sobre a in-comunicabilidade dos bens em geral. Se Benedicto não sucede Odete porque os bens deixados por Vidal são incomunicáveis, também não pode afastar o fideicomisso sobre a legítima de Odete, porque teria, para tanto, primeiramente, que ser titular daquela mesma legítima, e já disse este STJ que não é.

Ante o exposto, conheço em parte do recurso especial e lhe dou provimento, para negar provimento ao recurso de fls. 158/185, restabelecendo, nesse ponto, a decisão monocrática de fl. 142. É como voto.

CERTIDÃO DE JULGAMENTOQUARTA TURMANúmero Registro: 2001/0109311-4 REsp 345668 / SPNúmeros Origem: 1105594 97615497PAUTA: 07/12/2006 JULGADO: 07/12/2006RelatorExmo. Sr. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIORPresidente da SessãoExmo. Sr. Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSASubprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. FERNANDO HENRIQUE OLIVEIRA DE MACEDOSecretáriaBela. CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECKAUTUAÇÃORECORRENTE: FRANCISCO VIDAL DE CASTRO E OUTROSADVOGADO: MAÉRCIO TADEU J DE ABREU SAMPAIO E OUTROSRECORRENTE: VERA MARIA PEREIRA DE CASTRO - ASSISTENTEADVOGADO: MAERCIO TADEU JORGE DE ABREU SAMPAIO E OU-

TROSRECORRIDO: BENEDICTO ARTHUR SALLES PACHECO - INVENTA-

RIANTEADVOGADO: CLÁUDIO ANTÔNIO MESQUITA PEREIRA E OUTROSASSUNTO: Civil - Sucessão - TestamentoCERTIDÃOCertifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe

na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Turma, por unanimi-dade, conheceu em parte do recurso e, nessa parte, deu-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Hélio Quaglia Barbosa, Massami Uyeda e Cesar Asfor Rocha votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, ocasional-mente, o Sr. Ministro Jorge Scartezzini. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Hélio Quaglia Barbosa. Brasília, 07 de dezembro de 2006

CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECKSecretáriaDocumento: 668124 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 26/03/2007

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acórdão para debate 2

RECURSO ESPECIAL Nº 112.254 - SP (1996/0069084-7)RELATOR: MINISTRO FERNANDO GONÇALVESRECORRENTE: CLÓVIS DOMINGOS DANDARO E CÔNJUGEADVOGADO: JOANILSON BARBOSA DOS SANTOS E OUTRORECORRIDO: ALCIDES WALDOMIRO DANDARO E OUTROSADVOGADO: ANTÔNIO ALMUSSA FILHO E OUTROEMENTACIVIL. DOAÇÃO INOFICIOSA.1. A doação ao descendente é considerada inoficiosa quando ultrapassa a parte

que poderia dispor o doador, em testamento, no momento da liberalidade. No caso, o doador possuía 50% dos imóveis, constituindo 25% a parte disponível, ou seja, de livre disposição, e 25% a legítima. Este percentual é que deve ser dividido entre os 6 (seis) herdeiros, tocando a cada um 4,16%. A metade disponível é excluída do cálculo.

2. Recurso especial não conhecido.ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma

do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Os Ministros Aldir Passarinho Junior, Jorge Scartezzini, Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha votaram com o Mi-nistro Relator. Brasília, 16 de novembro de 2004 (data de julgamento).

MINISTRO FERNANDO GONÇALVES, Relator

RECURSO ESPECIAL Nº 112.254 - SP (1996/0069084-7)RELATÓRIOEXMO. SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES:Por CLÓVIS DOMINGOS DÂNDARO E DIRCE SCHIAVINATODÂNDARO foi ajuizada ação ordinária contra ALCIDES VALDOMIRO

DÂNDARO, MARIA DIRCE RODRIGUES DÂNDARO, ANTONIA MARIL-DA DÂNDARO MAXIMINO. LUIZ CARLOS MAXIMINO, MARIA JOSÉ DÂNDARO RISSATO, LUIZ ARNALDO RISSATO, FATIMA AUGUSTA DÂNDARO BONFIM, JOSÉ VAZ BONFIM E ANTONIO PEDRO DÂNDA-RO, visando a declaração de nulidade de doação realizada por Domingos Dândaro, falecido em 19.08.87, e Dozolina Gemente Dândaro, pais do primeiro requerente, na parte excedente da metade da qual o doador, no momento da liberalidade, po-deria dispor em testamento. O pedido foi julgado procedente, declarando nula a doação feita para os réus por Domingos Dândaro, dos imóveis matriculados sob os nºs. 21.639, 21.640, 21.641 e 21.642, referentes à parte inoficiosa, correspondente a 25% de cada um, determinando a expedição de mandado de cancelamento ao cartório de Registro de Imóveis, após o trânsito em julgado.

Após rejeitados embargos de declaração, inconformados, apelaram os réus e os autores, pretendendo estes a reforma da sentença para reconhecer que a parte ino-

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ficiosa é de 8,33% dos imóveis doados e aqueles, preliminarmente, a decretação de nulidade do decisum, em razão do julgamento antecipado da lide, e, no mérito, a fixação do percentual de 4,16% em relação a cada imóvel.

A Quinta Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, afastando a preliminar de nulidade da sentença, nega provimento ao apelo dos autores e dá provimento ao recurso dos réus em acórdão assim sintetizado:

“Anulatória de doação na parte inoficiosa. Argüição de existência de adiamento de legítima em favor dos autores. Irrelevância. Circunstância se eventualmente caracteri-zada poderá autorizar, em sede de inventário, a exigibilidade de colação de bens. Ino-ficiosidade que deve ser reconhecida com base no patrimônio existente no momento da liberalidade. Recurso dos réus provido para fixação do percentual de inoficiosidade que corresponde à porção em que a legítima do autor foi desrespeitada.” (fls. 123)

Sobreveio, então, o presente recurso especial, interposto por Clóvis Domingos Dândaro e outra, com fundamento nas letras “a” e “c” do permissivo constitucional, assinalando violação aos arts. 1.178 e 1.790, ambos do Código Civil, bem como dissídio pretoriano, pedindo, ao final, que seja reconhecido como parte inoficiosa o correspondente a 8,33% de cada um dos imóveis doados, em razão de a doação ter sido realizada de ascendente para descendente, devendo ser conservado o direito de igualdade na herança. Apresentadas as contra-razões e admitido o recurso na origem, ascenderam os autos a esta Corte, manifestando-se a douta Subprocuradoria-Geral da República pelo seu desprovimento.

É o relatório.VOTOEXMO. SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES (RELATOR):O cerne da controvérsia gira em torno do valor fixado pelo Tribunal de origem,

relativo à parte inoficiosa da doação, correspondente a 4,16% de cada um dos imó-veis doados, valendo transcrever excerto do acórdão recorrido ao asseverar:

“Observe-se que a nulidade, na forma do artigo 1.176 do Código Civil, existe tão-somente em relação à parte que exceder à de que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento.

“É nula, pois, insista-se, a doação na parte que vulnera a legítima e que se chama inoficiosa; mas, a nulidade só atinge a porção excedente, no que tem de imodesta, no excesso da legítima; a liberalidade deverá ser assim reduzida às devidas proporções” (Wa-shington de Barros Monteiro, Curso de Direito Civil, Saraiva, 1975, página 127).

Deve-se consignar que na sistemática do Código Civil, inexiste qualquer impedimen-to à disposição pelo doador de sua parte disponível, mesmo que for em benefício de seus herdeiros. Tanto assim que como preleciona Sílvio Rodrigues nada impede ao testador “declarar que a gratificação, levada a efeito em vida, se deve incluir em sua metade disponível, pois, é seu propósito melhor aquinhoar determinado herdeiro, em detrimento dos outros” (Sílvio Rodrigues, in Direito Civil, Volume 7, Direito das Sucessões, Saraiva, 1975, página 287).

Vê-se que a quota disponível é “a porção do patrimônio do finado de que pode ele dis-por, por testamento, sem qualquer restrição” (Sílvio Rodrigues, in Direito Civil, Volume 7, Direito das Sucessões, Saraiva, 1975, página 199).

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O mesmo conceito de quota disponível é aplicável, no caso de disposição por doação, em face ao que decorre do artigo 1.176 do Código Civil.” (fls. 129/130)

“O artigo 1.790 do Código Civil estabelece que “o que renunciou à herança, ou dela foi excluído, deve, não obstante, conferir as doações recebidas para o fim de repor a parte inoficiosa” sendo que o § único deste dispositivo ao dispor que “considera-se inoficiosa a parte da doação, ou do dote, que exceder a legítima e mais a metade disponível”, não constitui impedimento à livre disposição da parte disponível. Consoante ainda explica o Professor Sílvio Rodrigues “a idéia que inspira o mandamento legal é a de que a libera-lidade feita ao renunciante ou ao indigno pode ser de tal vulto que absorva não apenas a parte disponível do de cujus, mas também a parte da legítima de seus herdeiros neces-sários. Por isso que a liberalidade deve ser conferida, para o fim de ser ela reduzida ao limite legal, ou seja, para o fim de reportar-se a parte inoficiosa. Parte inoficiosa é a que excede à legítima do descendente, mais a porção disponível do testador” (Obra citada, página 287).” (fls. 130/131) “O artigo 1.178 é norma jurídica inserta no Livro III do Código Civil relativo ao Direito das Obrigações e traz disposição geral a respeito do con-trato de doação, sem qualquer conteúdo voltado ao direito sucessório, ou especificamente no tocante à isonomia entre filhos e herdeiros. A regra simplesmente estabelece que salvo disposição em contrário, a doação em comum a mais de uma pessoa entende-se distribu-ída entre elas por igual. Isto quer dizer que a norma atinge os donatários que são partes no contrato de doação.

Destarte, a disposição não tem qualquer proveito relativamente aos autores que não são partes no impugnado contrato de doação.” (fls. 131/132) “O doador falecido possuía 50% dos imóveis, e portanto, a divisão deverá ser feita na seguinte forma: 25% cons-tituem a parte disponível e que poderia ser objeto integral de doação. Os outros 25% constituem a legítima dos herdeiros necessários. No que se refere a estes últimos 25% (legítima), o mesmo deve ser dividido entre os seis herdeiros, cabendo a cada um 4,16%.” (fls. 132)

De início, consoante ressaltado no julgado a quo, não há falar em violação ao art. 1.178 do Código Civil, que versa sobre matéria alheia às questões debatidas nos autos, referentes à sucessão. Outrossim, aplicável ao caso em tela do disposto no art. 1.790 do Código Civil, porquanto cuida a espécie de doação de ascendente para des-cendentes, das quais pretendem os recorrentes seja reconhecida a parte inoficiosa.

Entretanto, o cálculo a ser realizado é diverso daquele declinado nas razões de recurso, onde pretendido o reconhecimento como parte inoficiosa o percentual de 8,33% de cada um dos imóveis doados, como forma de manutenção do direito de igualdade na herança. A propósito, vale transcrever a lição de Sílvio Venosa, in Di-reito das Sucessões, Ed. Atlas, edição de 2001, verbis: “A doação ao descendente será considerada inoficiosa quando for superior a sua parte legítima, mais a parte disponível. A invalidade não é total. Só no que suplantar esse cálculo aritmético. Nesse caso, é feita a redução até caber nesse limite. Os sucessores nomeados no testamento só recebem se sobrar patrimônio após tais reduções. Consideremos o exemplo no qual existem dois filhos. A doação foi feita quando o patrimônio do doador era de 2.000. O valor da doação foi de 1.600. Há uma parte inoficiosa. Isso porque, quando da doação, o titular do patrimônio tinha como sua parte disponível o valor de 1.000 (a metade do acervo). A outra metade

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de 1.000 constituía a legítima dos dois filhos, cabendo 500 para cada um. A doação avançou em 100 da legítima do filho não donatário, porque o valor da mesma não po-deria ultrapassar 1.500. A inoficiosidade refere-se, portanto, ao valor de 100, que deve ser reposto pelo herdeiro-donatário.”

Outro não é o escólio de Carlos Maximiliano, citado por J.M. Carvalho Santos, in Código Civil Brasileiro Interpretado, Direito das Sucessões, 11ª edição, Ed. Li-vraria Freitas Bastos S.A: “Considera-se inoficiosa a parte da doação ou do dote, que exceder a legítima e mais a porção disponível. O Código define aqui o que seja parte ino-ficiosa, a cuja reposição estão obrigados o indigno e o renunciante, por incidir a doação em tais condições sôbre a parte indisponível da herança. Conforme assinala CARLOS MAXIMILIANO, a lei completou, neste dispositivo, em prol do renunciante da herança, o determinado no art. 1.176: enquanto êste retira aos donatários o que não cabe na cota disponível, aquêle conserva em poder do renunciante o que não vai além da soma da cota referida com a legítima (Obra e loc. cits.). Esclarece, abaixo, que não há contradição entre os dois textos: “Em verdade, os atos benéficos jamais poderão prejudicar a legítima; por isso, o primeiro preceito anula a parcela excedente da cota disponível; porém o her-deiro necessário tem direito à reserva; logo prevalece a dádiva que cabe na sua legítima e como também é lícito a cada um a metade do seu patrimônio, segue-se a conclusão de ser válido o dom igual em valor à soma da reserva individual do filho com a íntegra da cota disponível do espólio” (Obra e loc. cits, a nota 3)” Então, adequado o cálculo do ven. acórdão, porquanto apenas se pode reputar inoficiosa a doação naquilo que ultrapassa a parte de que poderia dispor o doador, em testamento, no momento da liberalidade. Como já declinado, o doador, na dicção do julgado, possuía 50% dos imóveis, constituindo 25% a parte disponível, ou seja, de livre disposição, e 25% a legítima. Este percentual é que deve ser dividido entre os 6 (seis) herdeiros, tocando a cada um 4,16%. A metade disponível é excluída do cálculo.

Quanto ao dissenso pretoriano, como bem lembrado no despacho de admissibi-lidade, aplica-se a súmula 13 do Superior Tribunal de Justiça, porquanto o acórdão paradigma, a exemplo do julgado recorrido, é também do Tribunal de Justiça de São Paulo.

Não conheço do recurso.

CERTIDÃO DE JULGAMENTOQUARTA TURMANúmero Registro: 1996/0069084-7 RESP 112254 / SPNúmeros Origem: 127493 2543591PAUTA: 16/11/2004 JULGADO: 16/11/2004RelatorExmo. Sr. Ministro FERNANDO GONÇALVESPresidente da SessãoExmo. Sr. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIORSubprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. ANTÔNIO CARLOS PESSOA LINSSecretária

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Bela. CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECKAUTUAÇÃORECORRENTE: CLÓVIS DOMINGOS DANDARO E CÔNJUGEADVOGADO: JOANILSON BARBOSA DOS SANTOS E OUTRORECORRIDO: ALCIDES WALDOMIRO DANDARO E OUTROSADVOGADO: ANTÔNIO ALMUSSA FILHO E OUTROASSUNTO: Civil - Contrato - DoaçãoCERTIDÃOCertifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe

na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Turma, por unanimi-dade, não conheceu do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior, Jorge Scartezzini, Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha votaram com o Sr. Ministro Relator.

O referido é verdade. Dou fé.Brasília, 16 de novembro de 2004CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECKSecretáriaDocumento: 513475 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 06/12/2004

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caso gerador

Al doa para um de seus filhos Pacino uma quantia de R$ 40.000.000,00, saben-do que o seu patrimônio é de R$ 180.000.000,00. Contudo, ele acaba perdendo quase todos os seus bens, pois passa, depois de algum tempo, a jogar habitualmente todos os seus bens, freqüentando os cassinos mais conhecidos do mundo, Mônaco, Salt Lake City, Las Vegas, etc. Quando falece os seus bens montam a meros R$ 500.000,00. Aberto o inventário, Pacino não colaciona estes bens, dizendo que, no momento da doação, o seu pai poderia doá-los, o que é violentamente repelido pelos seus dois irmãos Donna e Slade. Sabendo que eles também receberam doações de valores semelhantes, mas não colacionaram, indaga-se: como fica a sucessão de Al? E se apenas Donna houvesse colacionado, o resultado seria idêntico?

Leitura obrigatória para a auLa

HIRONAKA, Giselda Maria e CAHALI, Francisco José. Direito das Sucessões. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, pp. 388-403.

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aula 5: ordem de vocação hereditária. sucessão de ascendentes e descendentes. sucessão concorrente do cônJuge.

Esta aula tem como objetivo abordar a ordem legal de vocação hereditária, apre-sentando assuntos de alto relevo na sucessão legítima, como o direito de represen-tação, bem como as partilhas por estirpe e por cabeça.

Também será abordada a sucessão concorrente do cônjuge com ascendentes e descendentes.

acórdão para debate:

Ver o Acórdão nas páginas seguintes.

caso gerador 1

Caio falece deixando dois filhos, Tício e Mévio, e três netos de outro filho já falecido, Mário, Alberto e Antônio e um bisneto (Jaime) de outro neto(James), também já falecido. Além disso, estão vivos um de seus irmãos, Carmelo, e um de seus tios paternos, Pereira. Antônio lavra, mediante a ameaça de Mário de parar de pagar as suas despesas, uma promessa de renúncia a sucessão de Caio. Caio era, ainda, casado em comunhão parcial de bens com Maria, havendo um apartamento em comum e 18 fazendas que não haviam se comunicado por força do regime de bens. Diante destes fatos, explique como ficaria a situação sucessória de Caio.

caso gerador 2

Márcio falece deixando vivos o seu pai Alberto e os seus avós maternos Rita e Marcelo, bem como sua esposa Márcia com quem era casado pelo regime da co-munhão universal de bens. Márcio não tinha filhos vivos, apenas uma menina que ele criou desde pequena e que era socialmente vista como tal, apesar de nunca ter sido adotada. Márcio deixou R$1.500.000,00 em aplicações financeiras e mais três fazendas no valor de R$ 10.000.000,00 cada uma. Como você faria esta sucessão?

Leitura para a auLa

HIRONAKA, Giselda Maria e CAHALI, Francisco José. Direito das Suces-sões. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, pp. 142-160.

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aula 6: ordem de vocação hereditária. sucessão dos cônJuges e comPanheiros. sucessão dos colaterais.

Continuação da aula anterior, é apresentada nesta a sucessão do cônjuge e as diferenças que existem com aquela do companheiro. Aborda-se, ainda a sucessão dos colaterais.

acórdão para debate

Superior Tribunal de JustiçaRECURSO ESPECIAL Nº 1.047.538 - RS (2008/0077834-2)RELATORA: MINISTRA NANCY ANDRIGHIRECORRENTE: MARIA CRISTINA DA GAMA ANDREWSRECORRENTE: VERA MARIA DA GAMA ANDREWSADVOGADO: JAQUELINE SANTOSRECORRIDO: ADELINA LEA MENDESADVOGADO: LUIS OTÁVIO POHLMANN E OUTRO(S)INTERES.: GBOEX-GREMIO BENEFICENTEADVOGADO: ELIANE JUNG E OUTRO(S)EMENTADireito civil. Recursos especiais. Contratos, família e sucessões. Contrato de se-

guro instituído em favor de companheira. Possibilidade.- É vedada a designação de concubino como beneficiário de seguro de vida, com a

finalidade assentada na necessária proteção do casamento, instituição a ser preservada e que deve ser alçada à condição de prevalência, quando em contraposição com institutos que se desviem da finalidade constitucional.

- A união estável também é reconhecida constitucionalmente como entidade familiar; o concubinato, paralelo ao casamento e à união estável, enfrenta obstáculos à geração de efeitos dele decorrentes, especialmente porque concebido sobre o leito do impedimento dos concubinos para o casamento.

- Se o Tribunal de origem confere à parte a qualidade de companheira do falecido, essa questão é fática e posta no acórdão é definitiva para o julgamento do recurso espe-cial.

- Se o capital segurado for revertido para beneficiário licitamente designado no con-trato de seguro de vida, sem desrespeito à vedação imposta no art. 1.474 do CC/16, porque instituído em favor da companheira do falecido, o instrumento contratual não merece ter sua validade contestada.

- Na tentativa de vestir na companheira a roupagem de concubina, fugiram as re-correntes da interpretação que confere o STJ à questão, máxime quando adstrito aos elementos fáticos assim como descritos pelo Tribunal de origem.

Recursos especiais não conhecidos.ACÓRDÃO

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Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes dos autos, prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Sidnei Beneti, por unanimidade, não conhecer de ambos recursos especiais, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Massami Uyeda e Sidnei Beneti votaram com a Sra. Ministra

Relatora.Brasília (DF), 04 de novembro de 2008(data do julgamento).MINISTRA NANCY ANDRIGHIRelatora

RECURSO ESPECIAL Nº 1.047.538 - RS (2008/0077834-2)RECORRENTE: MARIA CRISTINA DA GAMA ANDREWSRECORRENTE: VERA MARIA DA GAMA ANDREWSADVOGADO: JAQUELINE SANTOSRECORRIDO: ADELINA LEA MENDESADVOGADO: LUIS OTÁVIO POHLMANN E OUTRO(S)INTERES.: GBOEX-GREMIO BENEFICENTEADVOGADO: ELIANE JUNG E OUTRO(S)Relatora: MINISTRA NANCY ANDRIGHI‘RELATÓRIORecursos especiais interpostos por MARIA CRISTINA DA GAMA ANDREWS

e VERA MARIA DA GAMA ANDREWS, ambos fundamentados nas alíneas “a” e “c” do permissivo constitucional, contra acórdão exarado pelo TJ/RS.

Ação: de consignação em pagamento, proposta por GBOEX GRÊMIO BENE-FICENTE, em face de ADELINA LEA MENDES e VERA MARIA DA GAMA ANDREWS, ante o surgimento de dúvida a quem pagar pecúlios do ex-segurado ROBERT CARLOS ANDREWS, filiado desde 1º/6/1958, falecido em 25/10/2004, cujos valores atualizados até a data da propositura da ação somam R$ 80.003,93 (oi-tenta mil e três reais, e noventa e três centavos). Alega que, de acordo com a proposta de ingresso, o ex-associado indicou como beneficiárias, em primeiro lugar, VERA MARIA DA GAMA ANDREWS, sua mulher, em segundo lugar, MARIA CRISTINA DA GAMA ANDREWS, sua filha e, em terceiro lugar, REGINA ANDREWS CARAC-CIOLO. Ocorre que em 27/8/1999, o ex-segurado fez uma alteração de beneficiárias, indicando, em primeiro lugar, ADELINA LEA MENDES, sua companheira, com 100% do legado e, em segundo lugar, MARIA CRISTINA DA GAMA ANDREWS, sua filha, também com 100% do legado, na falta da primeira indicada. Após o sinistro, habilitaram-se ao recebimento do legado, perante a entidade seguradora, as beneficiá-rias ADELINA e VERA MARIA, a primeira na condição de companheira e a segunda na de viúva do ex-associado, o que gerou a necessidade manifestação do Juízo.

Sentença: diante da inexistência de impugnação dos valores depositados, o pedi-do de consignação em pagamento foi julgado procedente e, por conseguinte, decla-rada extinta a obrigação de GBOEX, passando a correr o processo entre as rés, nos termos do art. 898 do CPC (fls. 148/150).

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Decisão: ao argumento de que não importa, “para o deslinde da presente demanda, se o segurado extinto se encontrava ou não separado de fato de sua esposa Vera” e sim, “a sua declaração de vontade, sem eiva, quando da alteração do cartão-proposta” (fl. 162), declarou, o i. Juiz, legitimada ao recebimento do pecúlio a ora recorrida, ADELINA e, em igual proporção, a filha do falecido e uma das ora recorrentes, MARIA CRIS-TINA, pelo que determinou a liberação do valor depositado em Juízo.

Embargos de declaração: opostos por ADELINA e por GBOEX, foram re-jeitados (fl. 182). Acórdão: o TJ/RS conferiu provimento ao recurso de apelação interposto por ADELINA e negou provimento aos recursos adesivos interpostos respectivamente por VERA MARIA e MARIA CRISTINA, ora recorrentes, ao en-tendimento de que “é beneficiária, por inteiro, aquela pessoa designada, nominalmente, pelo associado no respectivo cartão-proposta. Somente em caso de falecimento da primeira beneficiada, é que se poderia cogitar em passar para o segundo indicado” (fl. 274).

Embargos de declaração: interpostos pelas recorrentes, foram rejeitados (fl. 283).Recursos especiais: interpostos sob alegação de ofensa aos arts. 1.177, 1.473,

1.474, 1.603 e 1.719, do CC/16. Contra-razões: às fls. 341/351.Admissibilidade recursal: às fls. 363/365.Parecer do MPF: o i. Subprocurador-Geral da República, MaurícioVieira Bracks, opinou pelo “conhecimento parcial dos recursos especiais e, nesta

extensão, pelo provimento da súplica interposta por MARIA CRISTINA DA GAMA ANDREWS, e pelo não provimento da subscrita por VERA MARIA DA GAMA AN-DREWS” (fls. 376/377).

É o relatório.

RECURSO ESPECIAL Nº 1.047.538 - RS (2008/0077834-2)RELATORA: MINISTRA NANCY ANDRIGHIRECORRENTE: MARIA CRISTINA DA GAMA ANDREWSRECORRENTE: VERA MARIA DA GAMA ANDREWSADVOGADO: JAQUELINE SANTOSRECORRIDO: ADELINA LEA MENDESADVOGADO: LUIS OTÁVIO POHLMANN E OUTRO(S)INTERES.: GBOEX-GREMIO BENEFICENTEADVOGADO: ELIANE JUNG E OUTRO(S)VOTOA EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relatora): Cinge-se a

controvérsia a saber se é válida a designação de companheira – assim reconhecida pelo Tribunal de origem – como beneficiária em seguro de vida, instituído por ho-mem casado.

Os recursos especiais, um deles interposto pela alegada viúva do segurado, e o outro por sua filha, serão analisados conjuntamente, porquanto idênticos.

- Da violação aos arts. 1.177, 1.473, 1.474, 1.603 e 1.719, do CC/16.Preenchido o pressuposto de admissibilidade recursal do prequestionamento,

passo à análise da nulidade da destinação de seguro à companheira, pelas recorrentes

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considerada concubina, porque instituído por homem casado, sem prova de even-tual separação de fato. Esta Corte já se posicionou a respeito do tema, porém no que concerne à concubina, seguindo preceito normativo contido na interpretação conjugada dos arts. 1.177 e 1.474 do CC/16, e cristalizada nos arts. 550 e 793 do CC/02, de que o seguro não pode ser instituído em favor de concubino, conforme se extrai da ementa do seguinte julgado:

“DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. SEGURO. CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO. PRÊMIO. ARTIGOS 1.177 E 1.474 DO CÓDIGO CIVIL DE 1916. VEDAÇÃO.

Há distinção doutrinária entre ‘companheira’ e ‘concubina’. Companheira é a mulher que vive, em união estável, com homem desimpedido para o casamento ou, pelo menos, separado judicialmente, ou de fato, há mais de dois anos, apresentando-se à sociedade como se com ele casada fosse. Concubina é a mulher que se une, clan-destinamente ou não, a homem comprometido, legalmente impedido de se casar. Na condição de concubina, não pode a mulher ser designada como segurada pelo cônjuge adúltero, na inteligência dos artigos 1.177 e 1.474 do Cód. Civil de 1916. Pre-cedentes. Recurso especial provido por unanimidade.” (REsp 532.549/RS, DJ de 20/6/2005).

Todavia, a base fática do precedente citado é distinta da delineada no acórdão impugnado, o qual reconhece expressamente à recorrida a condição de companheira do falecido.

Na orientação do STJ, a regra proibitiva é no sentido de vedar a designação de concubino como beneficiário de seguro, com a finalidade assentada na necessária proteção do casamento, instituição a ser preservada e que deve ser alçada à condição de prevalência, quando em contraposição com institutos que se desviem da finali-dade constitucional.

A união estável, também reconhecida como entidade familiar, pelo § 3º do art. 226 da CF/88, tem tutela assegurada e o concubinato, paralelo a ambos os institu-tos jurídicos – casamento e união estável –, enfrenta obstáculos à geração de efeitos dele decorrentes, notadamente porque concebido sobre o leito do impedimento dos concubinos para o casamento.

No processo em julgamento, o Tribunal de origem confere, repita-se, à recorrida, a qualidade de companheira do falecido. Essa questão é fática e posta no acórdão é definitiva para o julgamento do recurso especial.

O capital segurado foi, portanto, revertido para beneficiário licitamente designa-do no contrato de seguro de vida, sem desrespeito à vedação imposta no art. 1.474 do CC/16, porque instituído em favor da companheira do falecido.

O instrumento contratual, dessa forma, não merece ter sua validade contestada, remanescendo incólume o acórdão impugnado.

- Do dissídio jurisprudencial.Os julgados apontados pelas recorrentes como divergentes do entendimento fi-

xado no acórdão impugnado não se contrapõem à posição adotada pelo STJ, de que à companheira não incide a regra proibitiva do art. 1.474 do CC/16. Na tentativa de vestir na recorrida a roupagem de concubina, fugiram as recorrentes da interpre-

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tação que confere este Tribunal ao tema ora analisado, máxime quando adstrito aos elementos fáticos assim como descritos pelo Tribunal de origem.

Forte em tais razões, NÃO CONHEÇO dos recursos especiais.

CERTIDÃO DE JULGAMENTOTERCEIRA TURMANúmero Registro: 2008/0077834-2 REsp 1047538 / RSNúmeros Origem: 10505783405 10523062242 119056415 70019301738

70023049919PAUTA: 21/10/2008 JULGADO: 21/10/2008RelatoraExma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHIPresidente da SessãoExmo. Sr. Ministro SIDNEI BENETISubprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. JUAREZ ESTEVAM XAVIER TAVARESSecretáriaBela. SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSOAUTUAÇÃORECORRENTE: MARIA CRISTINA DA GAMA ANDREWSRECORRENTE: VERA MARIA DA GAMA ANDREWSADVOGADO: JAQUELINE SANTOSRECORRIDO: ADELINA LEA MENDESADVOGADO: LUIS OTÁVIO POHLMANN E OUTRO(S)INTERES.: GBOEX-GREMIO BENEFICENTEADVOGADO: ELIANE JUNG E OUTRO(S)ASSUNTO: Civil - Contrato - Seguro - VidaSUSTENTAÇÃO ORALPelos recorrentes: Dra. Jaqueline SantosCERTIDÃOCertifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe

na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: Após o voto da Sra. Minis-tra Relatora, não conhecendo dos recursos especiais, no que foi acompanhada pelo Sr. Ministro Massami Uyeda, pediu vista o Sr. Ministro Sidnei Beneti.

Brasília, 21 de outubro de 2008SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSOSecretáriaDocumento: 830414 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe:

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Superior Tribunal de JustiçaRECURSO ESPECIAL Nº 1.047.538 - RS (2008/0077834-2)VOTOEXMO. SR. MINISTRO MASSAMI UYEDA(Relator):

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Sr. Presidente, acompanhei não só a sustentação da advogada, mas o percuciente voto da Sra. Ministra Nancy Andrighi. Esbarraremos, com a vedação da Súmula 7, na impossibilidade de analisar o contexto fático-probatório. E se o venerando acórdão recorrido é expresso em dizer que a companheira, a respeito dessa distinção doutrinária que se faz entre a figura da companheira e da concubina, não temos como escapar dessa conclusão de que não se pode conhecer, exatamente pela impos-sibilidade de adentrar e revolver a matéria fática.

Não teria maiores indagações, a não ser, evidentemente, no campo doutrinário, mas, em conclusão, esbarraríamos, para efeito de julgamento do especial, nessa im-possibilidade de rever a matéria fática.

Acompanho o voto da Sra. Ministra Relatora, não conhecendo dos recursos es-peciais.

Ministro MASSAMI UYEDADocumento: 830414 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe:

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Superior Tribunal de JustiçaRECURSO ESPECIAL Nº 1.047.538 - RS (2008/0077834-2)RELATORA: MINISTRA NANCY ANDRIGHIRECORRENTE: MARIA CRISTINA DA GAMA ANDREWSRECORRENTE: VERA MARIA DA GAMA ANDREWSADVOGADO: JAQUELINE SANTOSRECORRIDO: ADELINA LEA MENDESADVOGADO: LUIS OTÁVIO POHLMANN E OUTRO(S)INTERES.: GBOEX-GREMIO BENEFICENTEADVOGADO: ELIANE JUNG E OUTRO(S)VOTO-VISTAO EXMO. SR. MINISTRO SIDNEI BENETI:1.- Pedi vista diante das peculiaridades do caso, preocupado em que do julga-

mento pudesse resultar afastamento da vedação de instituição de seguro em prol da concubina do cônjuge, na constância do casamento, em afronta ao disposto nos arts. 1177 e 1474 do Cód. Civil de 1916, que rege o caso, os quais dispõem: Art. 1177 - A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada pelo outro cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até 2 (dois) anos depois de dissolvida a sociedade conjugal (arts. 178, par. 7o, VI, e 248, IV). Art. 1474 - Não se pode instituir beneficiária pessoa que for legalmente imbuída de receber a doação do segurado.

2.- No caso, contudo, não há afronta a essas disposições legais, pois o Acórdão recorrido não afirmou que o cônjuge, na constância do casamento, pudesse instituir seguro em prol da concubina -- caracterizada a relação concubinária como extra-conjugal durante o casamento. Ao contrário, o que o Acórdão afirmou, repetindo o que a sentença já o fizera, foi que a beneficiária expressamente instituída em substi-tuição à recorrente, Adelina Lea Mendes, era companheira, e não concubina. Essa foi a base fática do Acórdão, isto é, que não se tratava de relação concubinária, mas, sim, de união de fato, a caracterizar a beneficiária do seguro como companheira.

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Se o Acórdão, na trilha da sentença, reconheceu bem, ou reconheceu mal, essa qualidade jurídica do relacionamento, esse é assunto diverso do posto sub judice no presente Recurso Especial, tornando-se, ademais, matéria fática cujo exame agora é vedado pela Súmula n. 7 deste Tribunal. O julgamento permanece, portanto, intac-to, tal como julgado pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que deu ao caso a última palavra sobre a matéria fática.

3.- Não houve, pois, conclusão contrária ao disposto nos arts. 1177 e 1474 do Cód. Civil de 1916, nem houve discrepância do julgado no Resp 532549/RS, DJ 20.6.2005, que distinguiu as situações de concubina e companheira.

4.- Pelo exposto, acompanho o voto da E. Ministra Relatora.Ministro SIDNEI BENETIRelatorDocumento: 830414 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe:

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Superior Tribunal de JustiçaCERTIDÃO DE JULGAMENTOTERCEIRA TURMANúmero Registro: 2008/0077834-2 REsp 1047538 / RSNúmeros Origem: 10505783405 10523062242 119056415 70019301738

70023049919PAUTA: 21/10/2008 JULGADO: 04/11/2008RelatoraExma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHIPresidente da SessãoExmo. Sr. Ministro SIDNEI BENETISubprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. MAURÍCIO VIEIRA BRACKSSecretáriaBela. SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSOAUTUAÇÃORECORRENTE: MARIA CRISTINA DA GAMA ANDREWSRECORRENTE: VERA MARIA DA GAMA ANDREWSADVOGADO: JAQUELINE SANTOSRECORRIDO: ADELINA LEA MENDESADVOGADO: LUIS OTÁVIO POHLMANN E OUTRO(S)INTERES.: GBOEX-GREMIO BENEFICENTEADVOGADO: ELIANE JUNG E OUTRO(S)ASSUNTO: Civil - Contrato - Seguro - VidaCERTIDÃOCertifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe

na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: Prosseguindo no julga-mento, após o voto-vista do Sr. Ministro Sidnei Beneti, a Turma, por unanimidade, não conheceu de ambos recursos especiais, nos termos do voto da Sra. Ministra

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Relatora. Os Srs. Ministros Massami Uyeda e Sidnei Beneti votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Brasília, 04 de novembro de 2008SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSOSecretáriaDocumento: 830414 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe:

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acórdão para debate 2

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caso gerador

Celso falece deixando como parentes vivos os seus tios Antônio e Bandeira e a sua esposa Flávia Mello, casada pelo regime da separação de bens. Sabendo que o único

Leitura para a auLa

HIRONAKA, Giselda Maria e CAHALI, Francisco José. Direito das Sucessões. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, pp. 161-212.

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aula 7: introdução à sucessão testamentária. Formas testamentárias. liberdade de testar e os seus limites.

Esta última aula da Parte I, já é um ponto de transição para a Parte II. O testa-mento certamente pode ser visto, a partir das múltiplas possibilidades de disposição que podem ser usadas pelo testador, como uma das formas de planejamento suces-sório. Discutem-se as formas testamentárias ordinárias e extraordinárias, com uma maior ênfase, naturalmente, ao testamento público.

Neste ponto a liberdade de testar é abordada de forma mais genérica, preparan-do o terreno para a aula seguinte sobre as disposições testamentárias.

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Leitura para a auLa:

HIRONAKA, Giselda Maria e CAHALI, Francisco José. Direito das Sucessões. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, pp. 213-265.

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EDUaRDO TakEmI kaTaOkaÉ mestre e doutor em direito civil pela uerj. Advogado no escritório castro, Barros, sobral, Gomes. Autor de vários livros e artigos

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Fundação Getulio Vargas

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Joaquim FalcãoDIRETOR

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