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DIREITO CONTRATUAL Prof. Leandro Panfilo

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AULA 3

3. Defeitos do Negócio Jurídico

3.1 Do Erro ou Ignorância

Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio. Art. 139. O erro é substancial quando: I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico.

O erro consiste em uma falsa representação da realidade, contudo, ao contrário do que acontece com o dolo, o agente engana-se sozinho. Tanto o erro, que é a representação falsa da realidade, como, também, a

ignorância, que é o completo desconhecimento da realidade são considerados como vício de consentimento, e se equiparam em seus

efeitos jurídicos. Espécies de erro:

Erro Substancial: O erro essencial ou substancial é o que recai sobre

circunstâncias e aspectos relevantes do negócio jurídico. O erro substancial ou essencial é aquele que se configura no elemento determinante do negócio jurídico, sem o qual este não teria se realizado.

O erro essencial ou substancial é de tal importância que, sem ele, o negócio jurídico não se realizaria, ou seja, se a parte conhecesse a verdade, certamente não realizaria o negócio jurídico.

De acordo com o que se pode retirar do artigo 139, o erro substancial pode ser:

a) Erro sobre a natureza do negócio: é o declarado no inciso I, do artigo 139, do CC, ou seja, é aquele que ocorre quando a pessoa pretende celebrar um negócio jurídico, quando na verdade, celebra outro

diferente daquilo que queria. Quando pretende o agente praticar um ato a acaba praticando outro. Exemplo de erro sobre a natureza do negócio é pensar estar alugando o imóvel para alguém, quando na verdade está

vendendo o bem para esta pessoa; ou ainda, quando a pessoa pensa estar recebendo uma coisa em doação e na verdade está recebendo a

coisa por empréstimo; ou ainda da pessoa que vende o bem a outra, que a recebe pensando estar recebendo em doação; etc. b) Erro sobre o objeto principal da declaração: é também descrito pelo

inciso I, do artigo 139, é aquele que ocorre quando a manifestação de

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vontade recai sobre objeto diverso daquele que o agente tinha em

mente. Exemplo: o de um comprador que acredita estar adquirindo um terreno que supõe valorizado, pois situado em uma rua importante, mas

que, na verdade, tem pouco valor, porque localizado em rua do mesmo nome, porém de um pequeno vilarejo; ou ainda, o da pessoa que adquire um quadro de um aprendiz, supondo tratar-se de tela de um

pintor famoso, etc. c) Erro sobre as qualidades essenciais do objeto principal: é também o descrito no inciso I, do artigo 139, é aquele que ocorre quando há a

suposição por uma das partes de que o objeto do negócio jurídico possui qualidades que posteriormente se verifica não existirem.

Exemplo: o de um comprador que acredita estar adquirindo uma máquina nova, quando na verdade está adquirindo uma máquina usada e com defeito; quando se adquire um cavalo pensando ser um cavalo de

corrida, mas na verdade é um cavalo de carga; quando se adquire um quadro pensando ser original pelo alto preço, mas na verdade se tratava

de cópia; quando se adquire uma estatueta pensando ser de marfim, mas na verdade é feita de osso. d) Erro quanto à identidade ou qualidade da pessoa: quando afeta a

identidade física ou moral da pessoa ou suas qualidades essenciais, no caso em que a consideração relativa à pessoa tenha sido principal e determinante.

Para que seja possível anular um negócio jurídico que haja erro com relação à identidade ou qualidade da pessoa, é necessário que este erro

tenha influenciado diretamente e de modo relevante a declaração de vontade do autor do erro. Exemplo: testamento deixando bens a alguém que o testador pensa ser seu filho, mas ele não é; casamento de uma

mulher com um homem que descobre depois ser homossexual. e) Erro de direito: é o falso conhecimento, interpretação incorreta ou

ignorância do que dispõe a lei no caso em concreto. Nestes casos o agente pensa que está atuando de acordo com a lei, mas não está, seja porque a lei mudou, seja porque foi revogada, seja porque a

interpretação feita foi incorreta, seja porque não existe lei regulamentando tal situação. Desta feita, apesar da ignorância da lei não poder ser alegada por qualquer pessoa para justificar seu

descumprimento, não se pode confundir com o erro de direito, uma vez que tal erro pode ser argüido quando a pessoa tinha o propósito de

cumprir com a lei, mas achando que a conhecia realizou negócio jurídico por ele vedado, não autorizado, ou em desacordo com a norma (seja pela falsa interpretação que fez da lei, seja pela ignorância das

normas constantes no ordenamento jurídico). O erro de direito está previsto pelo artigo 139 do Código Civil, que dispõe que é possível anular negócio jurídico viciado pelo erro, quando ele, o erro, for o

motivo determinante do negócio, e quando não implicar em recusa à aplicação da lei. Exemplo: pessoa que contrata a importação de

determinada mercadoria ignorando que existe lei que proíbe tal importação. Como tal ignorância foi causa determinante do ato, pode ser alegada para anular o contrato, sem com isto pretender que a lei

seja descumprida.

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Erro acidental: O erro acidental se refere a circunstâncias menos importantes, as quais não acarretam efetivo prejuízo para quem

padeceu do erro uma vez que, mesmo que soubesse a realidade, ainda assim a parte realizaria o negócio jurídico. O erro de cálculo é um exemplo de erro acidental. É um erro na

elaboração aritmética dos dados do objeto do negócio, ocorrendo, por exemplo, em casos em que a parte fixa o preço da venda com base na quantia unitária e computa, de forma inexata, o preço global. Nestes

casos de erro de cálculo, permite o Código Civil que o erro de cálculo seja retificado, ou seja, corrigido, quando ambas as partes do negócio

jurídico têm conhecimento do exato valor do negócio. O erro acidental também pode ser dar com relação às qualidades secundárias da pessoa ou do objeto, e por isso também não levará à

anulação do negócio jurídico, uma vez que, conforme já dito em momento anterior, tais características são secundárias. Exemplos: erro

na identificação da pessoa (nº de documento errado), mas a pessoa pode ser identificada por outros dados; erro no número do imóvel que está sendo vendido, mas a descrição do imóvel e a visita do comprador

ao imóvel correto deixam claro o erro. Para que o negócio jurídico possa ser passível de anulação em função de constar o erro como vício de consentimento, necessário se faz que

estejam presentes as seguintes características: a) O erro precisa ser substancial, ou seja, precisa ser o motivo

determinante da realização do negócio jurídico, a ponto de que a pessoa que soubesse da realidade, não realizaria tal negócio. b) O erro precisa ser escusável, ou seja, justificável, desculpável, não

pode ser um erro grosseiro, um erro ridículo, pois somente será passível de anulação aquele erro que somente o homem médio, ou seja, o

homem normal, com diligência normal, com hábitos e inteligência normal, também pudesse cometer. c) O erro precisa ser real, ou seja, precisa ter causado prejuízo concreto

para o interessado. Exemplo: haverá um erro real e um prejuízo econômico grandioso, se eu comprar um carro do ano de 1995, pensando estar pagando e comprando um de 2005, entretanto, meu

erro será acidental se ao invés de preto eu achar que estou adquirindo um carro azul marinho.

Falso motivo: O erro com relação às idéias, com relação às razões, com relação aos motivos que levaram a pessoa a realizar o negócio jurídico normalmente não o viciam, exceto quando ficarem constando

expressamente no negócio jurídico, e quando forem razão essencial ou determinante para que o negócio tenha se realizado. Exemplo: alguém faz uma doação em testamento a outra porque

acredita que ela salvou sua vida, contudo, na verdade tal pessoa que ele se refere no testamento não salvou sua vida.

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3.2 Do Dolo

Dolo é artifício ou expediente astucioso, empregado para induzir alguém

à prática de um ato jurídico, que o prejudica, aproveitando ao autor do dolo ou a terceiro.

Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.

Pelo princípio da boa-fé, as partes têm o dever de dizer a verdade. O uso de ardil e de falácias para induzir alguém a praticar um ato que o

prejudica torna o ato passível de anulação. Importante diferenciar o erro e o dolo. No erro, o engano do agente é espontâneo, surgindo em seu espírito sem a influência intencional da outra parte. Aquele que

erra, tendo sua vontade viciada, o faz sozinho. Já no dolo, o engano é provocado, ou seja, o agente é induzido à erro pelo emprego de meios

falaciosos da outra parte. No erro a idéia falsa é do agente; no dolo, é uma elaboração da malícia alheia.

3.3 Da Coação Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.

Coação seria qualquer pressão física ou moral exercida sobre a pessoa, os bens ou a honra de um contratante para obrigá-lo ou induzi-lo a

efetivar um negócio jurídico; para que se configure a coação moral é necessária a ocorrência dos seguintes requisitos:

a) a coação deve ser a causa determinante do negócio jurídico; b) deve incutir à vítima a um temor justificado; c) o temor deve dizer a respeito a um dano iminente;

d) o dano deve ser considerável ou grave; e) a ameaça deve referir-se a prejuízo que influencie a vontade do coacto a ponto de alterar suas determinações.

Excluem a coação: a ameaça do exercício normal de um direito ou o simples temor reverencial. A coação exercida por terceiro, ainda que

dela não tenha ciência o contratante, vicia o negócio, causando sua anulabilidade; porém, se for previamente conhecida pela parte a quem aproveitar, esta responderá solidariamente com aquele por todas as

perdas e danos. 3.4 Do Estado de Perigo

Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.

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O estado de perigo é espécie de estado de necessidade e constitui uma

situação de extrema necessidade que conduz a pessoa a celebrar negócio jurídico que assume obrigação desproporcional e excessiva.

Os exemplos clássicos são o náufrago que promete pagar uma fortuna a quem lhe salvar de afogamento, ou ainda, dentro da famosa literatura inglesa em Shakespeare quando Ricardo III brada aos berros: “Meu

reino por um cavalo!”. No estado de perigo a pessoa é compelida a efetivar depósito ou prestar garantia (caução) sob forma de emissão de cheques ou notas

promissórias (ou outros títulos cambiais) para, por exemplo, prover atendimento clínico-hospitalar emergencial ou ainda para obter

internação de paciente que corre grave perigo de vida. O dano não precisa ser inevitável para sua caracterização. Para haver os efeitos anulatórios do estado de perigo é necessário conhecimento da

outra parte contratante das circunstâncias sofridas pelo declarante da vontade negocial.

O estado de perigo é forma especial de coação, pois o negociante temeroso de sofrer grave dano acaba por celebrar negócio jurídico mediante prestação exorbitante. Assim, a venda celebrada e motivada

pelo desespero da pessoa que quer, por exemplo, salvar o filho, é negócio jurídico anulável.

3.5 Da Lesão

Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.

Além da desproporção das prestações assumidas, vale-se o sujeito da

inexperiência ou da premente necessidade do outro. É a lesão que transformou o famoso “negócio da China” em negócio jurídico anulável.

Aliás, é possível que ao invés de anulação, se obtenha uma revisão contratual. A revisão contratual por lesão se diferencia da revisão por onerosidade

excessiva porque a lesão é contemporânea ao momento da celebração do negócio jurídico, enquanto que aquela pressupõe onerosidade

excessiva percebida no momento da execução do contrato. Na verdade o negócio jurídico muito desproporcional (mais de 50% ou menos de 50% do preço justo) é anulado por ser injusto. Por ser contra

a boa-fé. O direito não é a favor dos aproveitadores. 3.6 Da Fraude Contra Credores

Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos.

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Há dois elementos característicos: eventus damni (a insolvência) e o consilium fraudis (conluio fraudulento). Podemos ao analisar certo

contrato presumi-lo como fraudulento, por exemplo, se este ocorre na clandestinidade, se há continuação da posse de bens alienados pelo

devedor; se há falta de causa do negócio; se há parentesco ou afinidade entre o devedor e o terceiro; se ocorre a negociação a preço vil (muito baixo); e pela alienação de todos os bens.

A ação que pode socorrer os credores em caso de fraude é a ação pauliana ou revocatória e, pode incidir não só nas alienações onerosas, mas igualmente nas gratuitas (doações).

Há a tipificação de fraudes aos credores também quando ocorre a remissão de dívidas (perdão) ou a concessão fraudulenta de garantias

ou pagamento antecipado de dívidas.