direito constitucional - democracia, igualdade e liberdade

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SABER DIREITO – FORMULÁRIO TÍTULO DO CURSO DEMOCRACIA, LIBERADE E IGUALDADE PROFESSOR MÁRCIO MORAIS DE SOUSA QUALIFICAÇÃO ADVOGADO, DIRETOR ADMINISTRATIVO, CONSULTOR, PROFESSOR UNIVERSITÁRIO, MESTRANDO EM FILOSOFIA PELA UNISINOS, ESPECIALISTA EM DIREITO CONSTITUCIONAL, BACHAREL EM DIREITO. AULA 01 TÍTULO AFINAL, O QUE É DEMOCRACIA? ROTEIRO DE ESTUDO Preâmbulo: Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. ADI 2649 (valores / orientação) / ADI 2076 (invocação de deus, não reprodução obrigatória, sem força normativa) Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como

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Page 1: Direito Constitucional - Democracia, igualdade e liberdade

SABER DIREITO – FORMULÁRIOTÍTULO DO CURSO

DEMOCRACIA, LIBERADE E IGUALDADEPROFESSOR

MÁRCIO MORAIS DE SOUSAQUALIFICAÇÃO ADVOGADO, DIRETOR ADMINISTRATIVO, CONSULTOR,

PROFESSOR UNIVERSITÁRIO, MESTRANDO EM FILOSOFIA PELA UNISINOS, ESPECIALISTA EM DIREITO CONSTITUCIONAL, BACHAREL EM DIREITO.

AULA 01TÍTULO AFINAL, O QUE É DEMOCRACIA?

ROTEIRO DE ESTUDO Preâmbulo: Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

ADI 2649 (valores / orientação) / ADI 2076 (invocação de deus, não reprodução obrigatória, sem força normativa)

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I - a soberania;

II - a cidadania;

III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V - o pluralismo político.

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Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

"Controle jurisdicional da atividade persecutória do estado: uma exigência inerente ao Estado Democrático de Direito. O Estado não tem o direito de exercer, sem base jurídica idônea e suporte fático adequado, o poder persecutório de que se acha investido, pois lhe é vedado, ética e juridicamente, agir de modo arbitrário, seja fazendo instaurar investigações policiais infundadas, seja promovendo acusações formais temerárias, notadamente naqueles casos em que os fatos subjacentes à persecutio criminis revelam-se destituídos de tipicidade penal. Precedentes." (HC 98.237, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 15-12-2009, Segunda Turma, DJE de 6-8-2010.)

Afinal, o que é a democracia?

Constitucionalismo x Democracia

CONSTITUCIONALISMO

-sentido moderno: movimento histórico de natureza jurídica, política, filosófica e social, com vistas à LIMITAÇÃO DO PODER e à GARANTIA DOS DIREITOS, que levou à adoção de constituições escritas pelos Estados.

- constitucionalismo é a teoria normativa política que objetiva limitar o poder estatal no sentido de se preservar os direitos individuais.

- a inovação trazida pelo constitucionalismo não foi a criação das constituições. Constituições em sentido material sempre existiram, a inovação trazida pelo constitucionalismo foi a constituição escrita.

- constitucionalismo é um fenômeno que está intimamente ligado à política. [busca transformar em norma jurídica o que é debatido pela política].

- CANOTILHO: “o constitucionalismo é no fundo uma teoria normativa da política”.

Constitucionalismo

“Os recursos tradicionais do constitucionalismo – legislativo bicameral, separação de poderes combinada com equilíbrio e controles, uma declaração de direitos com apreciação judicial – limitam a abrangência do princípio da participação. Suponho, porém, que essas ordenações são consistentes com a liberdade política igual, desde que as restrições semelhantes se apliquem a todos e que os limites introduzidos tendam com o tempo a atingir igualmente todos os setores da sociedade”

Page 3: Direito Constitucional - Democracia, igualdade e liberdade

(RAWLS, TJ, 36, p. 245).

Constitucionalismo = Limitação do poder e Supremacia da Lei (estado de direito)

Democracia = Soberania popular / governo da maioria

Democracia já não se reduz à prerrogativa popular de eleger representantes, serve (segundo Pereira Neto) para: - Institucionalizar um Estado democrático de direito, fundado na soberania popular e na limitação do poder; - Assegurar o respeito aos direitos fundamentais, inclusive e especialmente os das minorias políticas; - Contribuir para o desenvolvimento econômico e para a justiça social; - Prover mecanismos que garantam a boa administração, com racionalidade e transparência nos processos de tomada de decisão, de modo a propiciar governos eficientes e probos.

RESUMO FINAL Afinal, o que é a democracia?

Constitucionalismo x Democracia

CONSTITUCIONALISMO

-sentido moderno: movimento histórico de natureza jurídica, política, filosófica e social, com vistas à LIMITAÇÃO DO PODER e à GARANTIA DOS DIREITOS, que levou à adoção de constituições escritas pelos Estados.

- constitucionalismo é a teoria normativa política que objetiva limitar o poder estatal no sentido de se preservar os direitos individuais.

- a inovação trazida pelo constitucionalismo não foi a criação das constituições. Constituições em sentido material sempre existiram, a inovação trazida pelo constitucionalismo foi a constituição escrita.

- constitucionalismo é um fenômeno que está intimamente ligado à política. [busca transformar em norma jurídica o que é debatido pela política].

- CANOTILHO: “o constitucionalismo é no fundo uma teoria normativa da política”.

Constitucionalismo = Limitação do poder e Supremacia da Lei (estado de direito)

Democracia = Soberania popular / governo da maioriaAULA 02

TÍTULO LIBERDADE

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ROTEIRO DE ESTUDO CF

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à VIDA, à LIBERDADE, à IGUALDADE, à SEGURANÇA e à PROPRIEDADE, nos termos seguintes:

PREÂMBULO: 3 dos direitos previstos no caput do art. 5º estão expressamente previsto no texto do preâmbulo LIBERDADE SEGURANÇA e IGUALDADE. [RATIFICAÇÃO DO ENTENDIMENTO QUE O PREÂMBULO ESTÁ EM CONSONÂNCIA COM ART. 5º]

DIREITO À LIBERDADE

LIBERDADE: aspiração primeira do ser humano; aspiração mais natural do ser humano.

-PARADOXO – embora ser a ASPIRAÇÃO PRIMEIRA, a LIBERDADE ABSOLUTA representaria a NEGAÇÃO DO DIREITO. O objetivo do direito é a LIMITAÇÃO DA LIBERDADE ABSOLUTA, esta culminaria na superação de uns pelos outros pela força bruta. O direito é uma convenção humana que restringe a liberdade.

A pergunta que se coloca agora é como a COAÇÃO entraria como NOTA CARACTERÍSTICA DO DIREITO se o CONCEITO DE LIBERDADE encontra-se subjacente à idéia de Direito.

-o direito impede a violência privada, mas legitima a utilização da violência pelo Estado (OBRIGAR O CIDADÃO A FAZER OU DEIXAR DE FAZER ALGUMA COISA).

Na origem do contrato social, podemos perceber como toda LIBERDADE INDIVIDUAL possui sempre a tendência a se EXPANDIR INDEFINIDAMENTE. Ora, desde logo, podemos notar que haverá um CONFLITO INEVITÁVEL entre essas LIBERDADES INDIVIDUAIS. E Kant busca, através das análises sobre as idéias de HOBBES e ROUSSEAU, uma possível solução para o difícil problema do contrato social. Partindo do inevitável conflito entre as liberdades individuais, poderíamos dizer que nos restariam três possíveis soluções para o problema: Em PRIMEIRO LUGAR, poderíamos imaginar que CADA INDIVÍDUO FOSSE PARA UM LUGAR ISOLADO, DISTANTE DE TODOS OS OUTROS. Nesse caso, a liberdade permaneceria total, pois afastaríamos o conflito com o isolamento. KANT, no entanto, pergunta como poderíamos imaginar um progresso na humanidade a partir dessa idéia? Ou melhor, que tipo de humanidade poderíamos esperar de indivíduos isolados entre si? Esse indivíduo, que se afasta e se isola de todos os outros, é justamente o homem selvagem e bruto, descrito por Rousseau no Discurso sobre a

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origem da desigualdade entre os homens. Num SEGUNDO MOMENTO, KANT nos mostra que poderíamos supor UM SOBERANO DÉSPOTA QUE SUPRIMISSE TODAS AS LIBERDADES INDIVIDUAIS. Ou seja, a solução para o conflito estaria no sufocamento de qualquer liberdade individual. Nesse caso, a coação seria total, resultando no fim do estado de guerra entre as liberdades individuais. Entretanto, poderíamos pensar em progresso da humanidade em um Estado onde o essencial da humanidade está impedido de se manifestar? Em outras palavras: como imaginar uma sociedade onde a liberdade, pressuposto do caráter mais essencial do homem, é impedida de manifestar-se? Uma TERCEIRA SOLUÇÃO seria imaginar um ACORDO JUSTO ENTRE AS LIBERDADES. Para tal fim, deveríamos imaginar uma RECIPROCIDADE JUSTA NA COAÇÃO, pois sob leis é imprescindível a coação; entretanto, não podemos nos arriscar a voltar ao segundo momento, onde um soberano déspota impõe atos coercitivos desequilibrados. E é justamente aqui que reside o direito, pois o equilíbrio entre as coações é o papel mesmo do direito. Com isso, a meta final do direito se confundiria com aquela da humanidade.

-a LIBERDADE ILIMITADA seria a NEGAÇÃO DO DIREITO:

“LIBERDADE É O PODER DE FAZER TUDO O QUE A LEI AUTORIZA. POIS SE O HOMEM PUDESSE FAZER O QUE ELA PROÍBE, ELE JÁ NÃO TERIA LIBERDADE, PORQUE OS OUTROS TAMBÉM TERIAM ESSE PODER.”

[Montesquieu, “O Espírito das Leis”]

“ENTRE O FORTE E O FRACO, É A LIBERDADE QUE OPRIME, E A LEI QUE LIBERTA.”

[Padre Lacordaire]

LIGAÇÃO DA LIBERDADE À LEGALIDADE

-embora a liberdade seja a ASPIRAÇÃO PRIMEIRA, é discutível se a aspiração não seria a de ser conduzido: CONTRATO SOCIAL homem nasceu livre, mas por todo lado está preso;

-espécies de liberdade:

a)INTERNA (SUBJETIVA, PSICOLÓGICA, MORAL) - MANIFESTAÇÃO DE PENSAMENTO, RELIGIOSA ...

b)EXTERNA (OBJETIVA) - DIREITO DE LOCOMOÇÃO.

possui um remédio constitucional próprio para

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sua proteção – HC.

LIBERDADE FORMAL X LIBERDADE MATERIAL

a noção de que o conceito de LIBERDADE se limitaria a inexistência de coerção externa está superada (CONSTITUCIONALISMO LIBERAL). Não basta a LIBERDADE FORMAL, é preciso que o Estado implemente as condições para que uma LIBERDADE SUBSTANCIAL se efetive, neste sentido a noção de AUTONOMIA passa a fazer parte do conceito de liberdade. [Daniel Sarmento]

DIMENSÃO PRIVADA: IDÉIA DE AUTONOMIA.

DIMENSÃO COLETIVA: IDÉIA DE DEMOCRACIA.

LIBERDADE MATERIAL - PROJEÇÃO DIFERENCIADA – a verdadeira liberdade deve ser entendida como a POSSIBILIDADE, EFETIVAMENTE, PODER FAZER ESCOLHAS. [ex.: liberdade de ir para Paris – existe uma falsa escolha, a única escolha é não ir pela falta de dinheiro]

-trata-se de conceito de liberdade em um sentido amplo; LIBERDADE DE TER SAÚDE, EDUCAÇÃO ...

-sua efetivação depende de ASPECTOS ECONÔMICAS e SOCIAIS.

-essa é a visão de LIBERDADE que preside todo o SISTEMA INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS.

é considerado como desenvolvido aquele país onde as pessoas podem fazer escolhas.

o DIREITO AO DESENVOLVIMENTO não é sinônimo de CRESCIMENTO ECONÔMICO. [CRESCIMENTO ECONÔMICO É UM DOS INSTRUMENTOS EXISTENTES PARA A EFETIVAÇÃO DO DIREITO AO DESENVOLVIMENTO]

-a LIBERDADE é o OBJETIVO do DESENVOLVIMENTO e ao mesmo tempo um INSTRUMENTO.

OBJETIVO – atinge-se a LIBERDADE tendo LIBERDADE.

INSTRUMENTO - existem LIBERDADES INSTRUMENTAIS para que se possa atingir a liberdade como todo.

- preside o programa das NAÇÕES UNIDAS para o

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desenvolvimento.

- AMARTYA UMAR SEN – ganhador do prêmio NOBEL DE ECONOMIA em 1.998 DESENVOLVIMENTO COMO LIBERDADE.

- LIBERDADE: [“(...) livre (...)”] - o CONCEITO DE LIBERDADE está intimamente ligado ao CONCEITO DE DIGNIDADE, SEM LIBERDADE NÃO HÁ DIGNIDADE. [noção de interdependência de direitos]

- IGUALDADE: [“(...) igual (...)”] - o CONCEITO DE IGUALDADE está intimamente ligado ao CONCEITO DE DIGNIDADE, SEM IGUALDADE NÃO HÁ DIGNIDADE. [noção de interdependência de direitos]

- INTERDEPENDÊNCIA DAS NOÇÕES DE DIGNIDADE, IGUALDADE E LIBERDADE - as noções de liberdade, igualdade e dignidade não existem umas sem as outras. Liberdade sem igualdade não é verdadeira liberdade, a pessoa é livre formalmente, mas de fato essa liberdade não existe.

-ex.: os direitos de 1ª, 2ª e 3ª dimensões são interdependentes.

- CONVIVÊNCIA: [“(...) convivência digna, livre e igual de todas as pessoas.”] - a noção de CONVIVÊNCIA ENTRE AS TODAS AS PESSOAS é fundamental para a proteção dos direitos fundamentais.

- reconhecimento dos direitos humanos como tema de direito internacional que transcende e extrapola o domínio reservado do Estado ou a competência nacional exclusiva. Reconhece-se que a forma que um ser humano é tratado, EM QUALQUER LUGAR QUE ELE ESTEJA, INTERESSA A TODOS. NÃO É POSSÍVEL COMPARTIMENTAR AS VIOLAÇÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DENTRO DOS LIMITES TERRITORIAIS DE CADA PAÍS.

-análise da DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO:

ART. 1º

DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO

Art.1.º Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum.

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RESUMO FINAL

AULA 03TÍTULO IGUALDADE

ROTEIRO DE ESTUDO DIREITO À IGUALDADE

livro: ações afirmativas – Ministro Joaquim Gomes.

-o direito à igualdade na CF:

a)[PREÂMBULO]

PREÂMBULO

“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a IGUALDADE e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL”.

b)[art. 3º, III e IV, CF] – ERRADICAÇÃO DA POBREZA E MARGINALIZAÇÃO, REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS E REGIONAIS, PROMOÇÃO DO BEM DE TODOS SEM PRECONCEITOS DE ORIGEM, RAÇA, SEXO, COR, IDADE E QUAISQUER OUTRAS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO como OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA REPÚBLICA.

CF

Art. 3º CONSTITUEM OBJETIVOS FUNDAMENTAIS da REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL:

III - ERRADICAR A POBREZA E A MARGINALIZAÇÃO e REDUZIR AS DESIGUALDADES SOCIAIS E REGIONAIS;

IV - PROMOVER O BEM DE TODOS, SEM PRECONCEITOS DE ORIGEM, RAÇA, SEXO, COR, IDADE E QUAISQUER OUTRAS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO.

c)[art. 5º, III e IV, CF] – todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.

CF

Art. 5º TODOS SÃO IGUAIS PERANTE A LEI, SEM

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DISTINÇÃO DE QUALQUER NATUREZA, GARANTINDO-SE AOS BRASILEIROS E AOS ESTRANGEIROS RESIDENTES NO PAÍS A INVIOLABILIDADE DO DIREITO À VIDA, À LIBERDADE, À IGUALDADE, À SEGURANÇA E À PROPRIEDADE, NOS TERMOS SEGUINTES:

I - HOMENS E MULHERES SÃO IGUAIS EM DIREITOS E OBRIGAÇÕES, NOS TERMOS DESTA CONSTITUIÇÃO;

esses dispositivos não estão tratando da mesma igualdade.

DIREITO À IGUALDADE:

a)IGUALDADE FORMAL – corresponde à igualdade “PERANTE A LEI” citada no caput do art. 5º;

b)IGUALDADE MATERIAL – é aquela realizada no MUNDO DOS FATOS. É a equiparação de todos no que diz respeito ao GOZO e FRUIÇÃO DE DIREITOS, assim como à SUJEIÇÃO A DEVERES.

-a IGUALDADE prevista como OBJETIVO FUNDAMENTAL DA REPÚBLICA é a IGUALDADE MATERIAL, ou seja, IGUALDADE NO MUNDO DOS FATOS. [art. 3º, III e IV, CF]

-a IGUALDADE FORMAL deve ser concebida como um instrumento para que a IGUALDADE MATERIAL seja atingida, e não como um obstáculo a esse desiderato. Ela não representa um direito absoluto, por isso ser possível a sua relativização.

-IGUALDADE atribuída à Aristóteles IGUALDADE ARISTOTÉLICA – TRATAR OS DESIGUALMENTE OS DESIGUAIS.

TEORIAS SOBRE IGUALDADES:

a)CORRENTE NOMINALISTA

b)CORRENTE IDEALISTA

c)CORRENTE REALISTA

a)CORRENTE NOMINALISTA – a igualdade é um simples nome, pois os homens NASCEM, CRESCEM e MORREM desiguais; [TODOS OS HOMENS SÃO DESIGUAIS]

b)CORRENTE IDEALISTA – corrente que postula uma IGUALDADE ABSOLUTA entre as pessoas, as quais, no “ESTADO DE NATUREZA” se encontram absolutamente iguais. [TODAS AS PESSOAS NO ESTADO DA NATUREZA ENCONTRA-SE EM IGUALDADE]

c)CORRENTE REALISTA – reconhece que os homens SÃO

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DESIGUAIS sob MÚLTIPLOS ASPECTOS (NATURAIS, FÍSICOS, MORAIS, POLÍTICOS), mas são idênticos em essência, POIS SÃO SERES HUMANOS.

-essa corrente reconhece que EXISTEM DESIGUALDADES, mas existe uma ESSÊNCIA que torna todos iguais.

DESIGUALDADE SEGUNDO ROSSEAU:

a)DESIGUALDADE FÍSICA

b)DESIGUALDADE MORAL OU POLÍTICA

a)DESIGUALDADE FÍSICA – desigualdade estabelecida pela natureza. Decorre da diferença DAS IDADES, DA SAÚDE, DAS FORÇAS DO CORPO e DAS QUALIDADES DO ESPÍRITO ou DA ALMA.

b)DESIGUALDADE MORAL OU POLÍTICA – DESIGUALDADE DECORRENTE DE UMA CONVENÇÃO ESTABELECIDA / AUTORIZADA pelo consentimento dos homens. Trata-se das desigualdades que são fruto das convenções humanas.

“Concebo, na espécie humana, DUAS ESPÉCIES DE DESIGUALDADE: uma a que chamo NATURAL, OU FÍSICA, POR SER ESTABELECIDA PELA NATUREZA, e que consiste na DIFERENÇA DAS IDADES, DA SAÚDE, DAS FORÇAS DO CORPO e DAS QUALIDADES DO ESPÍRITO OU DA ALMA; a outra, a que se pode chamar DESIGUALDADE MORAL OU POLÍTICA, POR DEPENDER DE UMA ESPÉCIE DE CONVENÇÃO E SER ESTABELECIDA, OU PELO MENOS AUTORIZADA, PELO CONSENTIMENTO DOS HOMENS. Esta consiste nos diferentes PRIVILÉGIOS que uns usufruem em prejuízo dos outros, como serem mais ricos, mais reverenciados e mais poderosos do que eles, ou mesmo em ser fazerem obedecer por eles.” (DISCURSO SOBRE A ORIGEM E O FUNDAMENTO DAS DESIGUALDADES ENTRE OS HOMENS)

em termos JURÍDICOS NADA É UM DADO, tudo é UM CONSTRUÍDO. É possível a mudança dos paradigmas existentes. Basta perceber que as convenções não são algo de natural e eterno. Essa é a idéia tratada por Rousseau ao afirma que a riqueza seria uma convenção, e não algo natural.

IGUALDADE NA CF/88:

a)ENTRE HOMENS E MULHERES, ALÉM DE HOMOSSEXUAIS (IMPLÍCITO)

[arts. 5º, I, CF]

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CF

Art. 5º TODOS SÃO IGUAIS PERANTE A LEI, SEM DISTINÇÃO DE QUALQUER NATUREZA, GARANTINDO-SE AOS BRASILEIROS E AOS ESTRANGEIROS RESIDENTES NO PAÍS A INVIOLABILIDADE DO DIREITO À VIDA, À LIBERDADE, À IGUALDADE, À SEGURANÇA E À PROPRIEDADE, NOS TERMOS SEGUINTES:

I - HOMENS E MULHERES SÃO IGUAIS EM DIREITOS E OBRIGAÇÕES, NOS TERMOS DESTA CONSTITUIÇÃO;

[arts. 7º, XXX, CF]

CF

Art. 7º SÃO DIREITOS DOS TRABALHADORES URBANOS E RURAIS, ALÉM DE OUTROS QUE VISEM À MELHORIA DE SUA CONDIÇÃO SOCIAL:

XXX - PROIBIÇÃO DE DIFERENÇA DE SALÁRIOS, DE EXERCÍCIO DE FUNÇÕES e DE CRITÉRIO DE ADMISSÃO POR MOTIVO DE SEXO, IDADE, COR ou ESTADO CIVIL;

b)PERANTE A TRIBUTAÇÃO

[art. 145, § 1º, CF] – SEMPRE QUE POSSÍVEL os IMPOSTOS terão CARÁTER PESSOAL e serão graduados segundo a CAPACIDADE ECONÔMICA do contribuinte.

CF

Art. 145.

§ 1º - SEMPRE QUE POSSÍVEL, OS IMPOSTOS TERÃO CARÁTER PESSOAL E SERÃO GRADUADOS SEGUNDO A CAPACIDADE ECONÔMICA DO CONTRIBUINTE, FACULTADO À ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA, ESPECIALMENTE PARA CONFERIR EFETIVIDADE A ESSES OBJETIVOS, IDENTIFICAR, RESPEITADOS OS DIREITOS INDIVIDUAIS E NOS TERMOS DA LEI, O PATRIMÔNIO, OS RENDIMENTOS E AS ATIVIDADES ECONÔMICAS DO CONTRIBUINTE.

[art. 150, II, CF] – vedação à instituição de TRATAMENTO DESIGUAL entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente. Sendo proibida a distinção EM RAZÃO DE OCUPAÇÃO PROFISSIONAL ou FUNÇÃO EXERCIDA, INDEPENDENTEMENTE da DENOMINAÇÃO JURÍDICA dos RENDIMENTOS, TÍTULOS ou DIREITOS.

CF

Art. 150. SEM PREJUÍZO DE OUTRAS GARANTIAS

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ASSEGURADAS AO CONTRIBUINTE, É VEDADO À UNIÃO, AOS ESTADOS, AO DISTRITO FEDERAL E AOS MUNICÍPIOS:

II - INSTITUIR TRATAMENTO DESIGUAL ENTRE CONTRIBUINTES QUE SE ENCONTREM EM SITUAÇÃO EQUIVALENTE, PROIBIDA QUALQUER DISTINÇÃO EM RAZÃO DE OCUPAÇÃO PROFISSIONAL OU FUNÇÃO POR ELES EXERCIDA, INDEPENDENTEMENTE DA DENOMINAÇÃO JURÍDICA DOS RENDIMENTOS, TÍTULOS OU DIREITOS;

c)PERANTE A LEI PENAL

[art. 5º, XLVI, CF] – a lei regulará a INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA, ou seja, a pena aplicada deverá ser definida de acordo com a CULPABILIDADE DE CADA AGENTE.

NCC

Art. 5º.

XLVI - A LEI REGULARÁ A INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA E adotará, entre outras, as seguintes:

d)SEM DISTINÇÃO DE QUALQUER NATUREZA (HOMOSSEXUAIS, NORDESTINOS, NEGROS, ETC)

[art. 3º, IV, CF]

CF

Art. 3º CONSTITUEM OBJETIVOS FUNDAMENTAIS da REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL:

IV - PROMOVER O BEM DE TODOS, SEM PRECONCEITOS DE ORIGEM, RAÇA, SEXO, COR, IDADE E QUAISQUER OUTRAS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO.

[art. 5º, caput, CF]

CF

Art. 5º TODOS SÃO IGUAIS PERANTE A LEI, SEM DISTINÇÃO DE QUALQUER NATUREZA, GARANTINDO-SE AOS BRASILEIROS E AOS ESTRANGEIROS RESIDENTES NO PAÍS A INVIOLABILIDADE DO DIREITO À VIDA, À LIBERDADE, À IGUALDADE, À SEGURANÇA E À PROPRIEDADE, NOS TERMOS SEGUINTES:

há distinções na CF/88. ex.: art. 40, “a”, CF/88. [mulheres se aposentam mais cedo]

IGUALDADE E AÇÕES AFIRMATIVAS - AÇÕES

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AFIRMATIVAS são instrumentos que utilizam TRATAMENTOS FORMAIS DESIGUAIS com o objetivo de ALCANÇAR TRATAMENTO MATERIAL IGUALITÁRIO. Obedecem à LÓGICA DE TRATAR DESIGUALMENTE OS DESIGUAIS.

-normalmente constituem POLÍTICAS PÚBLICAS DE PROMOÇÃO DE IGUALDADE. [IGUALDADE MATERIAL]

-COTAS são uma espécie de AÇÃO AFIRMATIVA.

-AÇÕES AFIRMATIVAS devem ser TEMPORÁRIAS, não podem ter CARÁTER PERMANENTE. A TEMPORARIEDADE é uma característica inata a qualquer ação afirmativa.

-fundamentos para terem caráter temporário:

a)SE O OBJETIVO FOI ATINGIDO - a permanência das AÇÕES AFIRMATIVAS não mais se justifica.

b)SE O OBJETIVO NÃO FOI ATINGIDO – a medida teria sido INÚTIL, não mais se justificando sua permanência.

-AÇÕES AFIRMATIVAS buscam realizar as DUAS DIMENSÕES DE JUSTIÇA:

a)JUSTIÇA DISTRIBUTIVA – ligada à questão ECONÔMICA/FINANCEIRA.

b)JUSTIÇA DE RECONHECIMENTO DE IDENTIDADES – reconhecimento de identidade como forma de se garantir a igualdade.

MANIFESTAÇÃO NA COMPOSIÇÃO DO STF – Min.Joaquim Barbosa (negro), Mins. Ellen Gracie e Carmen Barbosa (mulheres)

PLURALISMO POLÍTICO – o PLURALISMO POLÍTICO é um dos FUNDAMENTOS da REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL não se limita à existência do MULTIPARTIDARISMO, significa, também, o RESPEITO AO DIFERENTE.

DISSERTAÇÃO SOBRE POLÍTICA DE COTAS: independentemente da posição defendida (CRÍTICA OU ELOGIO) a dissertação deverá, necessariamente, analisar as duas dimensões.

-exemplos de AÇÕES AFIRMATIVAS na CONSTITUIÇÃO:

a)[art. 7, XX, CF] – proteção do MERCADO DA MULHER.

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CF

Art. 7º SÃO DIREITOS DOS TRABALHADORES URBANOS E RURAIS, ALÉM DE OUTROS QUE VISEM À MELHORIA DE SUA CONDIÇÃO SOCIAL:

XX - PROTEÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO DA MULHER, MEDIANTE INCENTIVOS ESPECÍFICOS, NOS TERMOS DA LEI;

b)[art. 7, XX, CF] – proteção em face da AUTOMAÇÃO.

CF

Art. 7º SÃO DIREITOS DOS TRABALHADORES URBANOS E RURAIS, ALÉM DE OUTROS QUE VISEM À MELHORIA DE SUA CONDIÇÃO SOCIAL:

XXVII - PROTEÇÃO EM FACE DA AUTOMAÇÃO, NA FORMA DA LEI;

interessante AÇÃO AFIRMATIVA visando a proteção do HOMEM contra a MÁQUINA; [PROTEÇÃO DIFERENTE CONTRA A MÁQUINA]

c)[art. 37, VIII, CF] – reservas de vagas no SERVIÇO PÚBLICO para DEFICIENTE FÍSICOS.

CF

Art. 37.

VIII - A LEI RESERVARÁ PERCENTUAL DOS CARGOS E EMPREGOS PÚBLICOS PARA AS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA e DEFINIRÁ OS CRITÉRIOS DE SUA ADMISSÃO;

d)[art. 170, IX, CF] – tratamento favorecido para EPP.

CF

Art. 170. A ORDEM ECONÔMICA, FUNDADA NA VALORIZAÇÃO DO TRABALHO HUMANO E NA LIVRE INICIATIVA, TEM POR FIM ASSEGURAR A TODOS EXISTÊNCIA DIGNA, CONFORME OS DITAMES DA JUSTIÇA SOCIAL, OBSERVADOS OS SEGUINTES PRINCÍPIOS:

IX - TRATAMENTO FAVORECIDO PARA AS EMPRESAS DE PEQUENO PORTE CONSTITUÍDAS SOB AS LEIS BRASILEIRAS E QUE TENHAM SUA SEDE E ADMINISTRAÇÃO NO PAÍS. (Redação dada pela Emenda

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Constitucional nº 6, de 1995)

QUESTIONAMENTO: se as AÇÕES AFIRMATIVAS têm NATUREZA TEMPORÁRIA os dispositivos constitucionais que estabelecem tais situações poderiam ser considerados como CLÁUSULAS PÉTREAS?? Ou DEVEM SER RETIRADAS DA CONSTITUIÇÃO; ou EXISTEM SITUAÇÕES EXCEPCIONAIS, que não serão permanentes.

CABM – requisitos para se considerar legitima uma discriminação baseada em ações afirmativas – são 3: que o elemento de discriminação seja razoável; que a finalidade eleita pelo fator de discriminação seja legitima na ordem constitucional; que o expediente adotado seja idôneo para a correção da discriminação eleita;

IGUALDADE – a noção de igualdade presente no texto é meramente formal.

- esse documento inaugura a 1ª DIMENSÃO DOS DIREITOS HUMANOS, a noção de igualdade no sentido material somente aparece em um momento posterior.

- a escravidão ainda era admitida em algumas colônias francesas.

- as distinções sociais somente poderão ocorrer quando fundamentadas na utilidade comum.

condicionamento do tratamento diferenciado ao atendimento à utilidade pública.

ex.: questão do foro por prerrogativa de função.

ART. 2º

DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO

Art. 2.º A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a LIBERDADE, a PROPRIEDADE, a SEGURANÇA e a RESISTÊNCIA À OPRESSÃO.

- direitos destacados como fundamentais: [1ª DIMENSÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS]

- LIBERDADE

- PROPRIEDADE

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- SEGURANÇA

- RESISTÊNCIA À OPRESSÃORESUMO FINAL

AULA 04TÍTULO LIBERDADE E IGUALDADE COMO JUSTIÇA

ROTEIRO DE ESTUDO Jonh Rawls é o mais conhecido e celebrado filósofo político norte-americano, autor de traço liberal, é responsável pela principal teoria democrática liberal em debate nos dias atuais, seu posicionamento e seus textos influenciaram e influenciam grandes nomes no cenário político-filosófico mundial. Suas ideias de justiça a partir de uma leitura do contrato social propõem-se a responder como devemos analisar as instituições sociais no sentido da justeza.

Formula então a teoria da justiça como equidade propondo um modelo para o entendimento comum do que seria justo. A partir de uma posição original (termo cunhado pelo autor), ou seja, da volta a um estado da natureza, seriam escolhidos os princípios de justiça. Para evitar que as posições sociais, culturais, vantagens etc, influenciassem na decisão usar-se-ia o véu da ignorância, ou seja, um estado de total desconhecimento do todo, funcionando com base apenas na ideia de liberdade e igualdade. Se o individuo, descaracterizado de suas idiossincrasias devesse decidir o futuro decidiria por aquele que garantisse a todos a liberdade e a igualdade (os dois princípios de justiça).

Por óbvio a explicação aqui dada não faz jus à extensa obra do autor e nem explica todas as peculiaridades, trata-se apenas de uma visão geral da ideia de Rawls. Com uma leitura mais profunda da obra Liberalismo Político, de 1993, podemos destacar alguns conceitos importantes para este artigo, o primeiro deles, a ideia do próprio nome da obra, o liberalismo político.

Dênis Coitinho diz que “o liberalismo político enquanto teoria da justiça como equidade, quer refletir a maneira de se garantir a estabilidade (stability) de uma sociedade bem-ordenada, dado o fato do pluralismo razoável (fact of reasonable pluralism).” A constatação é simples, somos individuos, porém, diferentes, com culturas e subculturas afloradas, assim como, a partir da existência de uma doutrina abrangente, seria possível garantir estabilidade? Para Rawls seria então necessário introduzir a ideia de um consenso sobreposto (overlapping consensus) sobre doutrinas abrangentes razoáveis. (SILVEIRA, 2005).

E o que viria a ser “consenso sobreposto”? Coitinho, lendo Rawls, diz “(...) A categoria de consenso sobreposto é introduzida para estabelecer uma idéia de uma sociedade

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bem-ordenada mais realista e ajustada às condições históricas e sociais das sociedades democráticas, o que incluí o fato do pluralismo razoável (reasonable pluralism)”. (SILVEIRA, 2005).

Para Rawls existem duas questões centrais para o liberalismo político na perspectiva de um regime constitucional razoavelmente bem-ordenado, quais sejam: “(...) as questões sobre os fundamentos constitucionais e as questões de justiça básica devem ser resolvidas no âmbito dos valores políticos apenas” e “(...) esses valores políticos têm peso para superar outros valores que podem conflitar com eles”. (SILVEIRA, 2005).

Assim, é importante entender que se é necessário a intervenção do poder público para que se determine uma doutrina abrangente, feriu-se completamente a ideia de razoabilidade. Para Coitinho “(...) O liberalismo político é possível porque sua proposta é apresentar uma concepção de justiça política que estabeleça os princípios fundamentais para a estrutura básica da sociedade e que especifique os termos da cooperação social com base em valores puramente políticos que sejam auto-sustentados (freestanding view)”. (SILVEIRA, 2005).

Assim, entramos em um tema que nos é caro neste artigo. Rawls sustenta que, para que cheguemos ao consenso sobreposto, sobreponível ou overlapping consensus, deveremos antes ultrapassar outros dois momentos. O primeiro deles o modus vivendi e o segundo, o consenso constitucional, que, baseado na democracia, é o objeto deste artigo.

Modus vivendi seria uma confluência de interesses fundado em uma aparente unidade e estabilidade. Aparente pois é dividida pela cultura, posicionamentos políticos e religosos diversos, que, se colocados em confronto, dividiria a sociedade.

1- Superação das Posições Dicotômicas de Direito

- Positivismo (Hart, Kelsen): distinção entre Direito (Regras) e Moral (Princípios Justiça).

- Utilitarismo (Bentham e Mill): melhores consequências = ordem social - Justiça como Equidade: Conexão necessária entre o Direito e a Moral = Constituição + Direitos Fundamentais = Teoria Neocontratualista Pjs = Princípios norteadores da ordem jurídica Conferem legitimidade ao sistema jurídico

Sequência em 4 Estágios

1. Estágio: Posição original e escolha dos PJs 2. Estágio: Convenção Constituinte e elaboração de uma Constituição Justa = 1 PJ = Direitos e Liberdades Fundamentais. 3. Estágio:

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Legislatura e elaboração de uma Legislação Justa = 2 PJ = Estrutura econômica e social. 4. Estágio: Aplicação das Regras e casos particulares pelo Executivo e Judiciário.

Liberdades Fundamentais e sua Prioridade

PJ1 é prioritário em relação à PJ2: Determinado na escolha na P.O pelas Partes. Atribui status especial às liberdades fundamentais, apresentadas em uma lista. Objeção de Hart: Texto: “Rawls On Liberty and Its Priority”, University Chicago Review, 1973: A interpretação das liberdades fundamentais e sua prioridade contém dois problemas:

1- Fundamentos não estão bem explicados;

2- Ausência de Justificativa p/ especificar as liberdades nos estágios 2, 3 e 4.

1- Concepção de pessoa razoável (pessoas como livres e iguais. Pessoas morais e não apenas racionais + Bens primários: coisas necessárias para realização do Fim: Lib. Fund. e Direitos + Renda e Riqueza + Bases Sociais do Autorrespeito. 2- Véu da Ignorância menos espesso nos estágios subsequentes: 1- P.O; 2 – Constitucional; 3- Legislativo; 4 – Judiciário e Executivo.

§ 1 Objetivo inicial Lista das Liberdades Fundamentais: - Liberdade de Pensamento e Consciência - Liberdades Políticas e de Associação - Direitos e Libs. protegidos pelo império da lei. Elaboração: 1- Histórica: Pesquisamos as Constituições dos Estados democráticos e fazemos uma lista das liberdades fundamentais e sua prioridade. 2- Ideal: Partes na P.O: Escolhem os 2 PJs, que contêm uma lista das liberdades fundamentais e sua prioridade. Fonte: Tradição histórica da Fil. Moral e Política.

§ 9 Como as liberdades se encaixam num sistema coerente 1- Lib. Políticas iguais e de pensamento = devem assegurar a aplicação livre dos PJs pelo exercício do senso de justiça dos cidadãos à E.B.S: - Requerem um regime democrático - Proteção à lib. de expressão política, de imprensa, de reunião etc. 2- Lib. de consciência e de associação = devem assegurar a aplicação plena das fac. da razão deliberativa dos cidadãos para formação, revisão e busca racional de realização de uma concepção de bem ao longo de toda a vida. 3- Lib. e integridade da pessoa e direitos e lib. defendidos pelo império da lei = podem ser vinculados aos 2 casos fundamentais. - Asseguram o status comum e garantido dos cidadãos iguais numa sociedade democrática bem-ordenada. - Sequência em 4 Estágios: (2)- Estágio Constitucional: PJ1: concepção de cooperação social aceita pelos cidadãos (3)- Legislativo: PJ2 e outras liberdades. Em cada estágio, o razoável circunscreve e subordina o racional: - V.I

O papel da justiça como equidade “Uma concepção de justiça

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desempenha seu papel social desde que pessoas igualmente conscienciosas e partilhando crenças aproximadamente iguais concluam que, ao endossar o quadro de referência para a deliberação que essa concepção estabelece, são normalmente levadas à cooperação social efetiva e equitativa. Minha discussão das liberdades fundamentais e de sua prioridade deve ser vista por esse prisma (PL, VIII, 14, p. 427).”

RESUMO FINAL

AULA 05TÍTULO O ESTADO DE EXCEÇÃO

ROTEIRO DE ESTUDO Carl Schmitt , em seu livro Teologia política, estabelecia uma contiguidade essencial entre a lógica da soberania e o estado de exceção. Schmitt define o soberano como “aquele que decide sobre o estado de exceção”. Agamben retoma a problemática com novas perspectivas. Há um consenso teórico que o estado de necessidade sobre o qual se fundamenta o estado de exceção, não pode ter uma formulação jurídica pré-definida, pois ele (o estado de necessidade) se situa no limiar do direito e a política. O estado de exceção coloca-se no limite da ordem e do direito; ele define os limiares que (des)velam os fundamentos políticos da ordem e a legitimidade de qualquer direito. As medidas excepcionais encontram-se numa situação paradoxal já que elas não podem ser apreendidas nem compreendidas plenamente no plano do direito por sua própria condição de excepcionalidade, caso contrário não seriam excepcionais. Por isso o estado de exceção criouse como forma legal daquilo que não pode ser legal. Tenta legitimar aquilo que não tem legitimidade jurídica, ou seja, a exceção, e como consequência a arbitrariedade de quem decide a exceção.

Na base da exceção encontra-se sempre uma vontade soberana que tem o poder de decretála, de forma mais ou menos arbitrária, suspendendo total ou parcialmente a ordem. A exceção revela o soberano. Ao decretar a exceção, o soberano sai das penumbras do direito e mostra-se como aquele que tem o poder de suspender o direito e impor uma ordem a partir de sua vontade soberana.

Agamben analisa que exceção não só revela o soberano, mas também que existe em relação à vida humana. A vontade soberana não exerce sua soberania sobre as coisas, as instituições, o território ou a riqueza, senão sobre a vida humana. A soberania só existe como vontade arbitrária que captura a vida humana sob a norma de sua vontade. Sem a captura da vida humana, a soberania se desmancha em seus fundamentos. Eis por que Agamben pode afirmar que a exceção é o dispositivo original graças ao qual o direito se refere à vida. Tal referência é paradoxal, como a própria soberania, já que inclui a vida dentro de si (dentro da exceção) por meio da suspensão do direito. É uma inclusão excludente, ou uma exclusão inclusiva. Exclui do direito para incluir a vida

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na exceção. A exceção opera como estrutura política paradoxal que captura a vida humana ao mesmo tempo em que a abandona à condição de mero ser vivente.

Uma vontade oculta

Há de se constatar que o estado de exceção é uma figura jurídica criada pelo Estado de direito. Nos regimes de soberania absoluta não era necessário o estado de exceção, pois a vontade soberana governava como exceção permanente. Ela era a norma arbitrária da ordem e do direito. Nesse caso a exceção é desnecessária porque é permanente. Nos regimes absolutistas, como nos autoritarismos, a exceção é norma, já que a norma emana da vontade

soberana que vigora com pleno arbítrio. O Estado de direito foi instituído para abolir a

arbitrariedade da vontade soberana e em seu lugar instituir a lei de forma isonômica. Porém, o que a tese de Agamben desvela é que o Estado de direito não conseguiu abolir plenamente a vontade soberana, senão que ela persiste oculta como potência do Estado para ser utilizada quando necessária.

A figura do estado de exceção desvela a vontade soberana oculta nas penumbras do Estado de direito, pronta para ser invocada como técnica política de governo da vida humana. Cada vez que a ordem social estiver ameaça por qualquer pessoa ou grupo social, poderá ser invocada a figura da exceção para suspender total o parcialmente o direito sobre essas pessoas. A exceção retira o direito da vida e torna a vida humana pura vida nua, homo sacer. Nessa condição, a vida humana se torna frágil, vulnerável e facilmente controlável. O estado de exceção visa sempre o controle (bio)político da vida humana. Ele se torna uma técnica biopolítica e policial muito eficiente para controlar e governar os grupos sociais perigosos. Nesta condição os Estados modernos não cessam de utilizar uma e outra vez a exceção jurídica como uma técnica política e policial de governar as populações que eles consideram perigosas. Nesse sentido que Agamben enuncia a tese de que o estado de exceção tende cada vez mais a se apresentar como o paradigma de governo dominante da política contemporânea. Há uma tentação dos Estados em deslocar as medidas provisórias e excepcionais para técnicas de governo. Enquanto as medidas excepcionais se tornam mais habituais, a exceção tende a ser normal, a tornar-se norma. O uso constante da exceção como forma de controle das vidas “perigosas”, torna-a uma técnica política de governo da vida humana amplamente utilizada pelos Estados modernos.

Há um claro significado biopolítico na estrutura original do estado de exceção em que o direito inclui em si o vivente por meio da suspensão do próprio direito. Todas as ditaduras

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latino-americanas, entre outras, utilizaram-se do estado de exceção como figura jurídica para suspender a ordem, os direitos e garantias constitucionais com objetivo de defender essa mesma ordem. Todos os opositores dos regimes foram imediatamente inscritos na forma da exceção e incluídos pela suspensão dos direitos; ficaram excluídos na forma de novos

homo sacer. Os sucessivos Atos Institucionais decretados pelos militares brasileiros a partir de 1964 eram formas cada vez mais sofisticadas de excepcionalidade jurídico-política com objetivo de capturar, de forma mais detalhada e eficiente, a vida humana dos opositores do regime.

Nos regimes ditatoriais a exceção é evidente ao ponto de se tornar a norma. Contudo, a questão central que Agamben coloca é que a exceção não se limita aos regimes ditatoriais, mas que ela permanece como potência na sombra do Estado de direito e ainda se alastra como técnica de governo. Nesse caso, a exceção poderá ser invocada a cada circunstância em que alguém (a vontade soberana) a considere necessária para se defender a ordem. Há que se ter em conta que, sob o conceito de defesa da ordem jurídica, oculta-se, na maioria das vezes, a defesa de interesses corporativos. Sendo a exceção uma potência permanente do Estado, ela se torna uma ameaça constante para a vida de todos. A vida humana nos estados de direito não está livre da vontade soberana. Pelo contrário, continua a existir como ameaça potencial que se mostrará real quando invocar a necessidade de impor a exceção. A exceção revela o soberano oculto nos marasmos institucionais e captura a vida humana pela exclusão inclusiva dos direitos fundamentais. Lembremos nas proximidades do 11 de setembro que o dia 26 de outubro de 2001, o senado norte-americano promulgou o Patriot Act que permitia ao “Attoney general” manter preso a qualquer estrangeiro (alien) que fosse sequer suspeito (não precisava de provas ou evidências) de atividades que colocassem em perigo (não precisava ter cometido um ato, só pensar que podia representar uma ameaça) a “segurança nacional dos EUA”. Este ato legal do presidente Bush anulava radicalmente o estatuto jurídico do indivíduo conduzindo-o a um ser inominável, inclassificável juridicamente. As constantes práticas de cárceres clandestinas da Otan por diversos países para encerrar, interrogar e torturar estes prisioneiros suspeitos de terrorismo (descobriu-se que Kadafi tinha permitido aos EUA e à Inglaterra a instalação, na Líbia, de campos de prisioneiros para serem interrogados), a situação dos migrantes sem documentos, os decretos de exceção nos tumultos em bairros da França ou Inglaterra, a situação de muitas favelas de Rio de Janeiro e São Paulo, as contínuas tentativas de criminalizar os movimentos sociais no Brasil, o fato de governar por decretos presidenciais (que são atos de exceção), entre outros, são

exemplos vivos em que a exceção continua operando como técnica de governo de populações perigosas. Cada vez que

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um grupo social representar uma ameaça para a ordem, o Estado de direito invocará a exceção para suspender seus direitos tornando-o vulnerável e como consequência facilmente governável. Nesse ato de excepcionalidade captura-se a vida humana mas também se revela a vontade soberana, oculta no Estado de direito.

Exclusão social e estado de exceção

Agamben assinala que o estado de exceção revela não só a vontade soberana oculta no Estado de direito, mas deixa transparecer a natureza constitutiva da ordem jurídica. Ainda Walter Benjamin captou outra dimensão da exceção quando na sua tese VIII da obra Teses sobre o conceito de História, afirma que “para os oprimidos o estado de exceção é a norma”. Nos oprimidos políticos opera um estado de exceção de direito que suspende os direitos fundamentais por decreto de uma vontade soberana e reduz sua vida a uma mera vida nua. Contudo, nos excluídos sociais opera um outro tipo de exceção que é muito mais paradoxal e como consequência mais difícil de captar. O excluído social sobrevive privado de direitos fundamentais. Sobre ele se abate um estado de exceção de fato, pois está privado de direitos básicos que reduzem sua vida a uma sobrevivência muitas vezes indigna que, em muitos casos, simplesmente o conduz diretamente para a morte. A vida do excluído é uma vida nua, um homo sacer reduzido, em diversos graus, à sobrevivência indigna e, em muitos casos, a uma morte certa. (Pensemos nas milhares de pessoas que morrem no Brasil, e cujas mortes poderiam ser evitadas, simplesmente porque não tem o atendimento de saúde necessário.) Na vida destes excluídos “a exceção é norma”. Vivem em um permanente estado de exceção. Às vezes por muitas gerações vêm sobrevivendo numa condição de vida nua, de suspensão de direitos fundamentais que torna sua vida uma vida indigna.

Na condição dos excluídos a exceção é a norma, porém de uma forma paradoxal. É uma exceção que não foi decretada por uma vontade soberana explícita. Não há um decreto jurídico ou político suspendendo os direitos dos excluídos. Pelo contrário, eles têm garantidos “formalmente” todos os direitos. É a garantia

formal dos direitos que torna os excluídos invisíveis para o direito. Ao não existir um ato soberano de direito que suspenda os direitos dos excluídos, sua condição de vida nua não é reconhecida pelo direito como um ato de exceção. Como consequência ele, o direito, não se considera responsável pela sua condição de homo sacer.

Nos excluídos o estado de exceção opera como autêntica técnica de governo da vida. Porém é uma exceção decretada além do direito, na economia política. A exceção imperante sobre a vida nua dos excluídos emerge de uma vontade soberana anônima operativa na burocracia do Estado e nas

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corporações do mercado. A exceção se tornou uma técnica de governo da vida humana que se ativa cada vez que se decide soberanamente cortar investimentos em saúde, educação, salário mínimo, moradia... Ao decretar por um ato de governo do Estado, ou por uma decisão administrativa da corporação, que é necessário o sacrifício de milhares de pessoas para um ajuste fiscal ou aumento de lucros, aplica-se uma suspensão efetiva de condições necessárias para uma vida digna dessas milhares de pessoas e sua inexorável condenação à condição de homo sacer.

Cada vez mais a vida humana está implicada na política, o que torna a política moderna uma biopolítica. Na biopolítica, a exceção tende a ser utilizada como técnica eficiente do governo da vida humana, o que, cada vez mais, faz da exceção uma norma de governo, uma forma normal de governar através da normatização excepcional da vida.

RESUMO FINAL