direito civil vi - toda a matéria de 3 pontos

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SHIRU, Caio Shiguemy Cassiano Ishii – [email protected] 1 DIREITO CIVIL VI 01 de fevereiro de 2011 Gilberto Notário Ligero PROVA: 05 de abril DIREITO DAS COISAS As relações humanas, como nunca, estão cada vez mais estabelecidas no “ter”. O materialismo é uma característica estrutural da sociedade. Isso gera, sem dúvidas, relações jurídicas específicas, exigindo da literalidade legal e da interpretação jurisdicional certo enquadramento fático á respectiva norma vigente. Conceito O que é Direito das Coisas? É um ramo do Direito Civil composto por textos normativos e princípios que regulamentam o poder que as pessoas exercem sobre as coisas materiais que podem ser apropriadas bem como regulamentam o tratamento da utilização econômica dessas coisas. Direito das Coisas é o ramo do Direito Civil que tem como conteúdo relações jurídicas estabelecidas entre pessoas e coisas determinadas, ou mesmo, determináveis. Como coisas, aliás, deve-se entender tudo aquilo que não é humano.

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SHIRU, Caio Shiguemy Cassiano Ishii – [email protected] 1

DIREITO CIVIL VI 01 de fevereiro de 2011 Gilberto Notário Ligero

PROVA: 05 de abril

DIREITO DAS COISAS

As relações humanas, como nunca, estão cada vez mais estabelecidas no

“ter”. O materialismo é uma característica estrutural da sociedade. Isso gera, sem dúvidas,

relações jurídicas específicas, exigindo da literalidade legal e da interpretação jurisdicional certo

enquadramento fático á respectiva norma vigente.

Conceito

O que é Direito das Coisas? É um ramo do Direito Civil composto por

textos normativos e princípios que regulamentam o poder que as pessoas exercem sobre as

coisas materiais que podem ser apropriadas bem como regulamentam o tratamento da

utilização econômica dessas coisas.

Direito das Coisas é o ramo do Direito Civil que tem como conteúdo relações jurídicas estabelecidas entre pessoas e coisas determinadas, ou mesmo, determináveis. Como coisas, aliás, deve-se entender tudo aquilo que não é humano.

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A doutrinadora Maria Helena DINIZ inclui no conceito de Direito das

Coisas os bens incorpóreos, como Direito Autoral, Propriedade Intelectual, etc. Malgrado tal

afirmação, a posição legislativa é contrária no Novo Código Civil. Carlos Roberto GONÇALVES

afirma estarem todos esses bens incorpóreos no ramo de Direito da Personalidade, possuindo

regramento próprio em leis esparsas.

Qual a expressão correta a utilizar: Direito das Coisas ou Direitos Reais?

Diversos doutrinadores entendem que coisa é um grande gênero que engloba uma série de

bens, que são espécies. Nesse sentido, a utilização da nomenclatura “Direitos Reais” pressupõe

a exclusão do capítulo “Posse” que o próprio Código Civil estatui dentro do Direito das Coisas,

uma vez que a posse não é um Direito Real propriamente dito.

Outros afirmam que a palavra “real” vem do latim res, que significa

“coisa”. É preferível a expressão Direito das Coisas, por ter sido a opção metodológica do

Código Civil de 2002.

Características

Nos primórdios, os Direitos Reais não eram um direito propriamente dito,

e sim um poder que o homem detinha sobre determinada coisa. O sujeito não tinha um direito

sobre o imóvel, mas um poder sobre esse. Não havia preocupação em diferenciar, portanto,

Direitos Reais de Obrigacionais ou Pessoais.

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DIREITO CIVIL VI 02 de fevereiro de 2011 Gilberto Notário Ligero

DIREITO DAS COISAS

Teorias Justificadoras do Direito Real

Com a evolução da própria sociedade, a relação com as coisas passou a

ser chamada de “Direito” estabelecendo características específicas, criando uma relação

jurídica entre o homem e a coisa. Surgiu, assim, duas correntes para explicar os Direitos Reais:

1. Teoria Unitária;

a. Personalista;

b. Realista ou Impersonalista;

2. Teoria Dualista.

A tese UNITÁRIA se subdivide em personalista e realista ou

impersonalista. Integram as normas de direitos pessoais e de direitos reais em um só sistema.

Opõem-se a ela, no entanto, as teses unitárias, que não aceitam o aludido dualismo e procuram integrar ambos os grupos de normas num só sistema. Dividem-se elas em duas teorias opostas: a personalista e a realista ou impersonalista.

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Para a teoria unitária PERSONALISTA, não existem diferenças

substanciais entre os direitos reais e os pessoais, uma vez que os primeiros não seriam senão

direitos obrigacionais, nos quais a prestação consistiria sempre em uma abstenção que estaria a

cargo de todas as pessoas. O direito obrigacional é, deste modo, colocado no centro de todo o

Direito Civil, abrangendo todas as relações jurídicas civis, inclusive a do direito real.

direito obrigacional direito das coisas

direito pessoal

Afirmam que não existe relação jurídica entre pessoa e coisa, somente

entre pessoa e pessoa. A preocupação recai sobre a relação existente entre uma pessoa e

outra.

proprietário coletividade

(sujeito ativo) (sujeito passivo universal)

prestação

Para a teoria unitária REALISTA, tanto nos direitos pessoais quanto nos

direitos reais, o que importa é o bem, é o “ter”. Então, afirma essa corrente que os direitos

reais e pessoais pertencem a um só gênero, qual seja, direitos patrimoniais.

A teoria unitária realista procura unificar os direitos reais e obrigacionais a partir do critério patrimônio, considerando que o direito das coisas e o direito das obrigações fazem parte de uma realidade mais ampla, que seria o direito patrimonial. Segundo esse critério, os denominados direitos pessoais não recaem sobre a pessoa do devedor, mas sobre o seu patrimônio. A tese sustentada encontraria apoio no princípio geral segundo o qual o patrimônio do devedor constitui a garantia comum dos credores e responde por suas obrigações.

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direito patrimonial direito das coisas

direitos obrigacionais

Para a teoria dualista, o Direito Real e o Direito Pessoal compõem dois

entes manifestamente distintos. Há duas relações jurídicas totalmente diferentes. Nos Direitos

Obrigacionais, a relação jurídica se compõe de um sujeito ativo, sujeito passivo determinado e

prestação obrigacional. Já nos Direitos Reais, há a figura do sujeito ativo, do poder e da coisa.

É possível existir uma relação de poder entre o sujeito ativo e a coisa,

algo contrário a tese unitária personalista.

Segundo a concepção clássica, o direito real consiste no poder jurídico, direto e imediato, do titular sobre a coisa, com exclusividade e contra todos. No pólo passivo incluem-se os membros da coletividade, pois todos devem abster-se de qualquer atitude que possa turbar o direito do titular. No instante em que alguém viola esse dever, o sujeito passivo, que era indeterminado, torna-se determinado.

(...)

A mencionada teoria clássica ou tradicional é também denominada dualista, precisamente pela apontada contraposição entre os conceitos de direito pessoal e direito real, que são apresentados como dois conceitos completamente distintos: o de direito real é formulado, como foi dito, considerando-se como uma relação direta e imediata entre seu titular (sujeito de direito) e a coisa (objeto do direito); e o daquele, por oposição, é concebido como a relação entre uma pessoa, titular do direito (sujeito ativo) e o devedor (sujeito passivo) obrigado a cumprir uma prestação (objeto do direito) em benefício do primeiro.

A teoria mais moderna, neocontratualismo, que estuda a justificação dos

Direitos Reais, aponta para a contratualização do Direito Privado. Afirmam que é necessário

repensar o Direito Civil por inteiro, já que todas as relações possuem um viés contratual.

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Princípios

São princípios norteadores dos Direitos Reais:

1. Absolutismo – posso exercer meus direitos reais e todos devem colaborar com isso,

com a limitação da função social da coisa;

2. Publicidade – são direitos postos contra todos, erga omnes. Os registro públicos dão

publicidade aos Direitos Reais;

3. Taxatividade – os Direitos Reais são numerus clausus. Somente o legislador pode criar

Direitos Reais – art. 1.225 do CC;

4. Sequela – de um modo geral, o titular do Direito Real pode perseguir a coisa onde quer

que ela esteja;

5. Preferência – todo titular de Direito Real tem preferência em relação a qualquer outro.

Como exemplo, a hipoteca – direito real de garantia –, caso a obrigação principal não for

cumprida, o credor tem o direito de pegar esse imóvel e levantar o valor da dívida. Esse

credor tem preferência com relação a outros credores.

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Quadro-resumo

DIREITOS PESSOAIS DIREITOS REAIS

Normas dispositivas Normas de ordem pública

Mediatidade – sempre haverá um sujeito ativo e um sujeito passivo;

Imediatidade – o exercício dos direitos reais não depende da outra pessoa; o proprietário exerce por sua própria vontade o poder sobre a coisa.

Coisa genérica ou determinável Coisa determinada – Sempre será previamente determinado; é “o veículo X, o imóvel Y”.

Transitório – são direitos relativos; as prestações são cumpridas e ponto.

Absoluto – não há transitoriedade, pois o proprietário exerce o seu poder sempre. O sujeito pode impor seu direito a todos, erga omnes.

“numerus apertus” – significa número aberto, ou seja, o rol de direitos pessoais é exemplificativo; como exemplo, os contratos atípicos.

“numerus clausus” – em tese, majoritariamente, os direitos reais são taxativos.

Objeto: prestação – a prestação é o liame entre sujeito ativo e passivo.

Objeto: coisa – a coisa é que ficará submetida ao poder do titular do Direito Real.

Patrimônio – é a garantia da obrigação. Sequela – o direito de sequela significa ter o direito de buscar o bem onde quer que esteja.

Direitos Reais Direitos Pessoais de cunho Patrimonial

Relações jurídicas entre uma pessoa (sujeito ativo) e uma coisa. O sujeito

passivo não é determinado, mas é toda a coletividade.

Relações jurídicas entre uma pessoa (sujeito ativo – credor) e outra (sujeito

passivo – devedor)

Princípio da Publicidade (tradição e registro)

Princípio da autonomia privada (liberdade)

Efeitos erga omnes. Os efeitos podem ser restringidos.

Efeitos inter partes. Há uma tendência de ampliação dos efeitos.

Rol taxativo (numerus clausus), segundo a visão clássica – art. 1.225 do CC.

Rol exemplificativo (numerus apertus) – art. 425 do CC – criação dos contratos

atípicos.

A coisa responde (direito de sequela) Os bens do devedor respondem (princípio

da responsabilidade patrimonial).

Caráter permanente. Instituto típico: propriedade.

Caráter transitório, em regra, o que vem sendo mitigado pelos contratos

relacionais ou cativos de longa duração. Instituto típico: contrato.

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DIREITO CIVIL VI 08 de fevereiro de 2011 Gilberto Notário Ligero

ROTEIRO

DIREITO DAS COISAS Obrigações Ambulatoriais Direito das Coisas e a Constituição Federal POSSE Introdução

DIREITO DAS COISAS

Obrigações Ambulatórias

São obrigações que não nascem da vontade das partes, como contratos,

e sim, aquelas que nascem independentemente da vontade das partes, pois o seu nascimento

deriva da titularidade de um direito real. Também chamadas de obrigações propter rem ou

híbridas (mistura de direito pessoal com direito real), ou ainda ambulatórias (aquilo que

acompanha). Ela decorre da coisa, ou seja, está ligado ao exercício do Direito Real. Ex.:

pagamento de IPTU, normas de direito de vizinhança, de condomínio, etc.

pagamento de IPTU

titular coisa

(proprietário) (imóvel)

dever de abstenção

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Essa relação infra acompanha, claramente, a teoria dualista. O sujeito

ativo é o município, pois é esse que tem de receber. O sujeito passivo é o proprietário.

Direito das Coisas e a Constituição Federal

Atualmente, a realidade jurídica a efetivação do Direito Constitucional

nas relações privadas. Com relação ao Direito das Coisas, é necessário se ater ao Direito

Constitucional de PROPRIEDADE (art. 5°, caput, inciso XXII e XXIII). Sob esse enfoque, o “ter”

cede lugar para o “ser”, sendo que a função social da propriedade é uma contraprestação

inerente ao próprio direito de ser proprietário.

Outro Direito Constitucional importante é a MORADIA (art. 6° da CF). Não

é mais um símbolo de propriedade, ou seja, ter uma casa. É, na verdade, um direito social

pertencente a um patrimônio mínimo à dignidade do ser humano.

POSSE

A posse, após o Código Civil de 2002, é tão importante quanto à

propriedade, a ponto de se falar da função social da posse. Nesse codex, é possível encontrar os

textos normativos entre os arts. 1196 a 1224, que inauguram o Direito das Coisas.

O que é, efetivamente, a posse? É um poder fático de domínio sobre uma

coisa. A posse é uma situação visível, e não uma situação que nasce exclusivamente de um

direito. O exemplo do proprietário e do locatário é que, o primeiro detém a posse indireta, e o

segundo, posse direta, e justifica esse primeiro conceito porque, caso haja algum problema,

tanto o primeiro quanto o segundo poderão se valer do direito de reintegração de posse.

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Surge a questão se a posse é mesmo um fato, ou, na verdade, trata-se de

um direito? Para responder, é possível valer-se da Teoria Tridimensional de Miguel REALE (fato,

valor e norma), no seguinte contexto:

Premissa 1: Posse é um domínio fático, ou seja, um fato;

Premissa 2: Direito é fato, valor e norma;

Conclusão: A posse é um direito.

A primeira dúvida que pode surgir quanto ao instituto refere-se à seguinte indagação: a posse é um fato ou um direito? Na visão clássica, muitos autores enfrentaram muito bem a questão, como fez José Carlos Moreira Alves (Posse..., 1999, v. II, t. I, p. 69-137). Esse doutrinador aponta duas grandes correntes, a que afirma se tratar de um mero fato e outra pela qual a posse, realmente, constitui um direito. A segunda corrente, que prega o entendimento de que a posse é um direito é a que acaba prevalecendo na doutrina.

A bem da verdade, a posse é um direito especial. Não é Direito Real, pois

esse é taxativo. Não é Direito Obrigacional, pois não se encontra no livro “Das Obrigações”.

Trata-se, portanto, de um Direito Híbrido. No anteprojeto do Novo Código Cívil, o novo título

que trata do Direito das Coisas é “Da Posse e Dos Direitos Reais”.

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DIREITO CIVIL VI 09 de fevereiro de 2011 Gilberto Notário Ligero

ROTEIRO

POSSE Natureza Jurídica – Teorias Justificadoras Da Posse 1. Teoria Objetivista; 2. Teoria Subjetivista; 3. Principais Fundamentos.

POSSE

Natureza Jurídica da Posse

O exemplo clássico do sujeito que passa usando um chapéu. De quem é

esse acessório? Para a explicação, é necessário desvendar duas teorias.

TEORIA SUBJETIVA

Seu principal defensor foi Friedrich Carl SAVIGNY. Essa teoria prega que a

posse é um fenômeno caracterizado pelo fato de se exercer o domínio sobre uma coisa que se

encontra, efetivamente, nas mãos do possuidor e que pode defendê-la sempre que necessário,

comportando-se como proprietário. A posse possui dois elementos: um elemento chamado

VONTADE (desejo de ter a coisa como sua) e outro, chamado CORPO (ter a coisa no seu campo

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de visão). Possuidor é todo aquele que tem direta e concretamente o poder sobre uma

determinada coisa e o ânimo inequívoco de ser dono deste bem.

POSSE (TEORIA SUBJETIVISTA) = CORPUS + ANIMUS DOMINI

Essa teoria é chamada também de teoria da defesa, pois há uma

exaltação dos poderes defensórios do possuidor. Ex.: no contrato de locação, a figura do

locatário, para esse corrente, não detém a posse da coisa.

Primeiramente, para a teoria subjetivista ou subjetiva, cujo principal defensor foi Friedrich Carl SAVIGNY, a posse pode ser conceituada como o poder direto ou imediato que a pessoa tem de dispor fisicamente de um bem com a intenção de tê-lo para si e de defendê-lo contra a intervenção ou agressão de quem quer que seja. A posse, para essa corrente, possui dois elementos.

O primeiro seria o corpus, elemento material da posse, constituído pelo poder físico ou de disponibilidade sobre a coisa. O segundo elemento seria o subjetivo, o animus domini, a intenção de ter a coisa para si, de exercer sobre ela o direito de propriedade.

TEORIA OBJETIVA

Seu principal defensor foi Rudolf Von IHERING. Para essa teoria, a posse é

a disposição física da coisa, ou ainda, a possibilidade de exercer esse contato físico com a

intenção de explorá-la economicamente. Para gozar da posse, basta ter a coisa ou tê-la a sua

disposição. Na maioria das vezes, a posse é a exteriorização da propriedade, é tirar proveito da

coisa do ponto de vista econômico. Possuidor é todo aquele que tem a coisa e que possui uma

relação com esta, explorando-a economicamente.

POSSE (TEORIA OBJETIVISTA) = CORPUS

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Ex.: nos termos do contrato de locação, o locatário possui a posse. Além

disso, pode ele se voltar contra o próprio proprietário em uma eventual ação de reintegração

de posse.

Para a segunda corrente, precursora de uma teoria objetivista ou objetiva da posse, cujo principal defensor foi Rudolf Von IHERING, para constituir-se a posse basta que a pessoa disponha fisicamente da coisa ou que tenha a mera possibilidade de exercer esse contato.

TEORIA DA FUNÇÃO SOCIAL DA POSSE

Seu principal defensor foi Raymond SALEILLES. Na evolução da Ciência do

Direito, a posse está cada vez mais valorizada juridicamente como um fato social de ímpar

relevância. Aplica-se a posse o ponto de vista da coletividade.

Nesse sentido, vale registrar que foram as teorias sociológicas da posse, a partir do século XX, na Itália, com Silvio Perozzi. Na França com Raynmoond Saleillese, na Espanha, com Antonio Hernandez Gil, que não só colocaram por terra as célebres teorias objetiva e subjetiva de Ihering e Savigny, como também se tornaram responsáveis pelo novo conceito desses importantes institutos no mundo contemporâneo, notadamente a posse, como exteriorização da propriedade (sua verdadeira “função social”).

A posse é um direito que se aproxima da realidade social uma vez que

seu uso e trabalho que recai sobre a coisa visam às necessidades humanas básicas justificando-

se, dessa forma, o dever geral de abstenção perante a situação do possuidor e a garantia do

desfrute de bens essenciais.

A função social da posse advém da função social da propriedade (art 5°, XXIII, da CF), aplicada conjuntamente com o princípio constitucional da isonomia substancial (art. 5°,

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caput, da CF). Isso porque, se é concedida ao proprietário determinada tutela decorrente do exercício das posições jurídicas inerentes ao domínio e, em contrapartida, se exige dele uma série de deveres, não é substancialmente isonômico que se conceda tutela semelhante ao possuidor, que exerce faticamente grande parte das posições jurídicas do dominus, e dele nada se exija. Não há, nesse ponto, diferenças substanciais que permitam um tratamento diverso da lei.

Ex.: dentro do contrato de locação, o locatário, além da posse, tem o

dever de respeitar toda a coletividade, efetivando-se no gozo da posse sua função social.

Na simbologia do sujeito que anda com um chapéu por uma rua, que no

começo foi levantado, veja-se:

De acordo com a teoria de SAVIGNY, é ele possuidor, pois tem a intenção de ser dono do chapéu. A par da teoria de IHERING, há posse porque a pessoa se apresenta com o chapéu, tendo o domínio fático da coisa. Por fim, pela visão de PEROZZI e GIL, há posse diante do reconhecimento e da aceitação da coletividade de que essa pessoa é possuidora.

TEORIA ADOTADA PELO CÓDIGO CIVIL DE 2002

É possível afirmar que o Código Civil adotou parcialmente a teoria

objetivista, pois, pelo art. 1.196, não há necessidade do animus. Isso não significa que o Código

não permita a adoção das outras teorias. Nem todos os institutos são vistos com essa óptica.

Como exemplo, o art. 1.238 que trata da usucapião, deixando clara a teoria subjetivista. O art.

1.238, parágrafo único, do CC estabelece a Teoria da Função Social da Posse.

Art. 1.196: Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.

Dessa forma, o locatário, o comodatário, entre outros, para o nosso direito, são possuidores e, como tais, podem utilizar as ações possessórias, inclusive contra o próprio

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proprietário. Assim sendo, o art. 1.196 do CC define a posse como o exercício pleno ou não de alguns dos poderes inerentes à propriedade. Em outras palavras, pela atual codificação, todo proprietário é possuidor, mas nem todo possuidor é proprietário.

O projeto 276/2007 realizado pelo deputado Ricardo Fiúza, o art. 1.196

se transformaria, passando a ter o seguinte texto normativo:

Art. 1.196: Considera-se possuidor todo aquele que tem poder fático de ingerência sócio-econômica, absoluto ou relativo, direto ou indireto, sobre determinado bem da vida, que se manifesta através do exercício ou possibilidade de exercício inerente á propriedade ou outro direito real suscetível de posse.

A doutrina afirma que a definição atual do CC é reducionista/legalista,

principalmente no que se refere à função social da propriedade.

Pensando na pessoa do possuidor, surge a questão: quem pode ser

possuidor? Será que é possível um ente despersonalizado ser possuidor? Pessoa jurídica pode?

SIM. A bem da verdade, todas essas figuras podem ser possuidores.

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DIREITO CIVIL VI 15 de fevereiro de 2011 Gilberto Notário Ligero

ROTEIRO

POSSE Objeto da Posse a) Caso prático Detenção Fontes da Posse

POSSE

Objeto da Posse

CASO PRÁTICO

1. Direitos autorais podem ser objetos de posse?

2. Energia elétrica, água encanada (bens semi-incorpóreos), podem ser objetos de posse?

3. Bens públicos podem ser objeto de posse?

4. Bens que estão fora do comércio podem ser objeto de posse?

Marcos é um conhecido autor de livros de romances. Recentemente, foi

advertido por amigos que uma editora que não possui seus direitos autorais, publicou sua

primeira obra literária. Sentindo-se lesado, procurou um advogado para obter informações

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sobre o caso, inclusive o tipo de demanda a ser proposta. Diante da situação, como deve

proceder o causídico para defender os interesses de Marcos?

Marcos pode cobrar eventualmente aquilo que foi indevidamente

recebido pela editora, pode impedir a publicação de outros livros e retirar do mercado os livros

já publicados.

Surge a questão: os direitos autorais podem ser possuídos? Em regra

geral, os bens que podem ser objeto de posse são coisas corpóreas, visíveis e passíveis de

disposição. Tem-se entendido também que coisas semi-corpóreas também podem ser objetos

da posse (ex: energia elétrica, dados, água encanada, etc.).

Mas e as coisas incorpóreas e os Direitos Pessoais podem ser objeto da

posse? Será que é possível um interdito proibitório (ação possessória) de Marcos contra a

editora tentando evitar que essas obras cheguem à livraria? Os Direitos Autorais podem ser

objeto da posse?

A doutrina e jurisprudência já são majoritárias no sentido de afirmar que

NÃO são objetos de posse os Direitos Autorais e outros Direitos Pessoais. Inclusive há a

Súmula 228 do STJ que veda a possibilidade de interdito proibitório para a proteção de Direitos

Autorais. Outros textos normativos que tratam do assunto: Lei 9.610/98, Lei 9.609/98, Lei

9.279/96.

Então, para defender Marcos, é necessária busca e apreensão cominada

com tutela antecipada de obrigação de não fazer.

Bens públicos podem ser objeto da posse? Art. 98 a 103 do CC.

Os bens dominicais são passíveis de posse. São bens que não estão

recebendo uma utilização específica. Ex.: o ente público pode receber uma autorização para

locar ou vender. Ainda que isso seja admitido, em hipótese nenhuma é possível a usucapião.

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Coisas que estão fora do comércio podem ser objeto de posse? Ex.: um

bem que está gravado com cláusula de inalienabilidade. Não é possível tais bens serem objetos

de posse.

Detenção

Art. 1.198 do CC.

Ex.: hipótese de um sujeito que leva seu veículo para concerto em uma

oficina mecânica. Deixa lá o mesmo e, o tempo vai passando, e o dono do carro não vai buscá-

lo. O mecânico concerta o veículo e, como o tempo passou, ele efetua o pagamento dos

devidos impostos pelo veículo. Ele vai a juízo e requer a usucapião desse objeto. É possível a

concessão desse pedido?

Em um caso bem parecido no Rio de Janeiro, não ficou demonstrada a

posse. No máximo, ficou provada a detenção. Foi julgada improcedente essa ação, vez que não

houve o animus domini – não se comportou como possuidor.

O que é a detenção? Trata-se de uma posse desqualificada, pois, a

detenção é um fenômeno fático que se caracteriza pelo exercício da posse em nome de

outrem, ou, nas hipóteses em que o detentor tem a coisa por mera permissão ou concessão.

No art. 1.198 do CC há uma espécie de detenção subordinada

denominada fâmulo da posse ou servidor da posse. É o caso mais conhecido de detenção.

Ex.: caseiro ou chacareiro (quando há relação de emprego, em tese, não

há posse); sujeito que utiliza o veículo da empresa para realizar vendas; etc. Então, todas as

vezes que o sujeito tiver uma coisa, mas faz isso em nome de outrem, há detenção. Portanto,

não há de se falar em posse, mesmo porque o legislador adotou a teoria objetiva da posse.

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VISÃO SEGUNDO A TEORIA OBJETIVA: Segunda essa teoria (objetiva),

como se explica a locação? O locatário tem posse ou detenção da coisa? Tem POSSE, por causa

do art. 1.196 do CC. Posse é corpus da coisa ou tê-la a sua disposição para fins econômicos,

segundo IHERING.

VISÃO SEGUNDO A TEORIA SUBJETIVA: Se fizermos o mesmo raciocínio

pela teoria subjetivista, a locação é explicada segundo a afirmação de que o locatário não é

possuidor, pela falta de animus domini. O locatário é, portanto, detentor.

Imagine um locatário e, da noite pro dia, o vizinho começa a causar

interferências na utilização da coisa. Pela teoria subjetivista, só o proprietário pode resolver tal

problema. Pela teoria objetiva, o próprio locatário pode resolver todo o problema.

Fontes da Posse

Há três possibilidades:

1. Posse Natural;

2. Posse Obrigacional – decorre dos contratos (ex.: locação, comodato, depósito);

3. Posse Real – (ex.: propriedade, usufruto, servidão).

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DIREITO CIVIL VI 16 de fevereiro de 2011 Gilberto Notário Ligero

ROTEIRO

Classificação da Posse - quanto à relação pessoa-coisa a) composse - quanto à presença de vícios

POSSE

Classificação da Posse

CLASSIFICAÇÃO QUANTO À RELAÇÃO PESSOA-COISA

1. POSSE DIRETA OU IMEDIATA – é a posse exercida por aquele que, efetivamente, tem a

coisa em suas mãos (ex.: locatário);

2. POSSE INDIRETA OU MEDIATA – é a posse exercida por quem não tem materialmente a

coisa, contudo, é titular de um ou mais atributos da propriedade (ex.: locador,

proprietário do bem).

A professora Maria Helena DINIZ diz que essas posses são chamadas

PARALELAS, pois elas não se excluem e jamais se encontrarão em um ponto comum.

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O art. 1.197 do CC retrata a posse direta e indireta. A tendência é sempre

voltar nas mãos de uma só pessoa, quais sejam, nas do proprietário. Por isso há a característica

da temporariedade expressa nesse texto normativo.

Ilustrando, imagine-se um caso em que, vigente um contrato de locação de imóvel urbano, o locatário viaje e, quando volta, percebe que o imóvel foi invadido pelo próprio proprietário. Nesse caso caberá uma ação de reintegração de posse do locatário (possuidor direto) em face do locador (possuidor indireto), pois o contrato ainda estava em vigor e deveria ter sido respeitado.

Ex.1: João, proprietário de um imóvel, colocou em locação os três quartos

que ali há. Percebe-se que há nesse imóvel, além dos quartos individuais, áreas comuns, como

banheiro, sala e quintal. Pedro, Thiago e Paulo resolvem locar esse imóvel. Como fica a

classificação dessa posse de acordo com o critério relação pessoa-coisa?

Trata-se, nesse caso, de composse (contrário a posse exclusiva). É a

situação pela qual duas ou mais pessoas exercem simultaneamente poderes possessórios sobre

a mesma coisa (art. 1.199 do CC). Os elementos que caracterizam esse tipo de posse são:

1. Pluralidade de sujeitos, e

2. Coisa indivisa ou em estado de indivisão.

No mesmo exemplo, imagine-se que os três sujeitos vão,

temporariamente, viajar. Pedro resolve voltar primeiro e, surpreendentemente, encontra um

sujeito ali morando. Pode o Pedro defender a posse com uma ação sem anuência dou outros

dois? Sim, não é necessária a autorização dos outros.

Ex.2: Um imóvel rural, objeto de herança, foi herdado por Huguinho,

Zézinho e Luizinho. Trata-se de uma gleba de terras e esses sujeitos decidem por dividir esse

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imóvel, colocando cercas para a demarcação. Entretanto, no registro do imóvel, todos são co-

proprietários e eles não quiseram realizar o registro da divisão na matrícula do mesmo.

Nesse caso, como não há mais composse, a jurisprudência já pacificou

que ali não há mais compartilhamento de posse. Isso é importante, vez que, caso uma das

glebas seja invadida, não são ambos que poderão proteger a terra, somente aquele que tem a

posse. Trata-se de uma composse pro diviso.

Se supormos que os irmãos decidam trabalhar juntos e estipulam apenas

uma linha imaginária em vez de cercas – no caso, a denominação é composse pro indiviso (a

coisa está em estado de indivisão).

Ex.3: pensando num caso de semovente, imagine-se que Felipe e Caio

compram um cavalo juntos. Evidente que a coisa é indivisa. Então, nesse caso, fala-se em

composse pro indiviso. A questão da composse pro diviso e indiviso gera bastante discussões

em sede das melhores doutrinas (Maria Helena DINIZ e Nelson ROSENVALD).

Composse pro indiviso é a espécie de situação possessória em que duas

ou mais pessoas exercem, ao mesmo tempo, sobre o todo, os poderes possessórios, sendo a

coisa indivisa ou em estado de indivisão.

Composse pro diviso, na visão do professor Carlos Roberto GONÇALVES,

é possível falar nesse tipo de composse, que significa a situação fática onde duas ou mais

pessoas exercem, ao mesmo tempo, posse sobre coisa divisa na qualidade de co-proprietários.

Quanto aos efeitos da composse, os compossuidores pro indiviso têm o

direito de defender, sem a anuência dos demais, o todo. Por outro lado, na denominada

composse pro diviso cada um dos possuidores tem o direito de defender a sua parte.

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DIREITO CIVIL VI 23 de fevereiro de 2011 Gilberto Notário Ligero

ROTEIRO

Classificação da Posse - quanto à presença de vícios a) posse justa; b) posse injusta; - posse violenta; - posse clandestina; - posse precária. - quanto à boa-fé

POSSE

Classificação da Posse

CLASSIFICAÇÃO QUANTO À PRESENÇA DE VÍCIOS

O critério para avaliar a posse nesse tipo de classificação é a violência, a

clandestinidade e a precariedade. São denominados vícios objetivos, pois os atos de violência

são sempre exteriores, visíveis. Exemplo: violência contra um veículo.

1. POSSE JUSTA – é a posse obtida normalmente, sem a presença de vícios. É a que não

apresenta os vícios da violência, da clandestinidade ou da precariedade, sendo uma

posse justa ou limpa;

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2. POSSE INJUSTA – é a espécie de posse obtida em contrariedade ao ordenamento

jurídico, de acordo com o art. 1.200 do CC, estabelecendo-se de modo vicioso.

Apresenta os referidos vícios, pois foi adquirida por meio de ato de violência, ato

clandestino ou de precariedade

a) Posse violenta – a coisa obtida por roubo lembra sempre esse tipo de posse. Pode

ser uma ameaça ou uso da força propriamente dita. O art. 1.224 do CC afirma que,

nesses casos, enquanto não cessar essa violência ou clandestinidade, não se adquire

posse, ou seja, há detenção.

Posse violenta – é a obtida por meio de esbulho, for força física ou violência moral (vis). A doutrina tem o costume de associá-la ao crime de roubo. Exemplo: integrantes de um movimento popular invadem violentamente, removendo e destruindo obstáculos, uma propriedade rural que está sendo utilizada pelo proprietário, cumprindo a sua função social.

b) Posse clandestina – é a espécie de posse obtida às escondidas, de maneira que o

atual possuidor não tenha conhecimento do fato, ou seja, não há publicidade. Como

exemplo, é o furto propriamente dito.

Posse clandestina – é a obtida por às escondidas, de forma oculta, à surdina, na calada da noite (clam). É assemelhada ao crime de furto. Exemplo: integrantes de um movimento popular invadem, à noite e sem violência, uma propriedade rural que está sendo utilizada pelo proprietário, cumprindo a sua função social.

c) Posse precária – é possível compará-la ao crime de estelionato (fraude) ou

apropriação indébita (se aproveitar do fato de ter a posse para perpetuá-la contra a

vontade do proprietário). Quando se fala em precariedade, lembra aquilo que falta,

aquilo que está ausente.

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Ex.: “Os haitianos vivem de forma precária”, ou seja, não possuem o mínimo. A

posse precária também guarda essa idéia. Falta na posse precária um elemento de

justificação, de legalidade.

É a posse obtida em razão do abuso de confiança por parte do possuidor que,

ilegalmente, não devolve a coisa no momento adequado, seja por força de uma

posse obrigacional, ou por força de uma posse real.

Posse precária – é a obtida com abuso de confiança ou de direito (precário). Tem forma assemelhada ao crime de estelionato ou ä apropriação indébita, sendo também denominada esbulho pacífico. Exemplo: locatário de um bem móvel que não devolve o veículo ao final do contrato.

Segundo a doutrina majoritária, a posse precária não convalesce, ou seja,

nunca se tornará posse justa, pois o precarista sabe que a coisa não pode lhe pertencer. Ex.:

usufrutuário que deveria ter devolvido a coisa e não o fez. A posse violenta e a posse

clandestina podem convalescer – passado um ano e um dia, é possível a posse justa.

Há ao menos uma corrente minoritária que entende que a posse precária

pode “convalescer”. Entre aspas porque, na verdade, o possuidor precário é que pode mudar

seu animus. O fenômeno interversio possessionis (interversão possessória) marca a mudança de

animus. O Enunciado 237, da III Jornada de Direito Civil, diz que:

É cabível a modificação do titula da posse – interversio possessionis – na hipótese em que o até então possuidor direto demonstrar ato exterior inequívoco de oposição do antigo possuidor indireto, tendo por efeito a caracterização do animus domini.

Os vícios são relativos – só podem ser opostos inter partes. Em relação ao

sujeito “A” que tenta possuir a coisa por vício, o possuidor direto “B” que possuiu a coisa por

vício pode opor-se lançando mão de ações possessórias contra esse o sujeito “A”, só não

podendo ir contra a vítima do caso.

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Trata-se da idéia de que os vícios objetivos somente podem ser opostos

por aquele que sofreu o ato ilegal. Ex.: “A” é possuidor e sofreu um esbulho possessório por

parte do “B”. Algum tempo depois, “C” pratica um ato de esbulho em relação à “B”. “B” pode

se valer da proteção possessória contra o “C”, contudo, “B” não pode dizer que sua posse é

justa em relação a “A”.

De início, a posse, mesmo que injusta, ainda é posse e pode ser defendida por ações do juízo possessório, não contra aquele de quem se tirou a coisa, mas sim em face de terceiros. Isso porque a posse somente é viciada em relação a uma determinada pessoa (efeitos inter partes), não tendo o vício efeitos contra todos, ou seja, erga omnes (VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil..., 2005, p. 78).

Ainda com relação ao art. 1200, Marcos Rios GONÇALVES afirma tratar-se

apenas de um rol exemplificativo. Imagine a situação de pessoas que não empregam violência,

não se aproveitam da calada da noite, não abusam da confiança do proprietário, e o sujeito

simplesmente adentra e toma a coisa. Nelson ROSENVALD defende tese contrária, afirmando

que é taxativo esse rol, justamente pela função social da posse – se não, qualquer coisa seria

considerada posse injusta.

Com relação à usucapião:

Por fim, é importante deixar claro que aquele que tem posse injusta não tem a posse usocapível (ad usucapionem), ou seja, não pode adquirir a coisa por usucapião.

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DIREITO CIVIL VI 23 de fevereiro de 2011 Gilberto Notário Ligero

ROTEIRO

Classificação da Posse - quanto à boa-fé

POSSE

Classificação da Posse

CLASSIFICAÇÃO QUANTO À BOA-FÉ

Essa classificação traz a tona os vícios subjetivos. São questões

relacionadas à psique humana. Analisa-se aqui o animus, o ter conhecimento ou não de algo.

Encontra normatização no art. 1201 do CC.

Vícios subjetivos: são aqueles verificados todas as vezes que o possuidor

tiver pleno conhecimento de fatos que geram obstáculos instransponíveis à aquisição da coisa.

Vícios objetivos: estão expressamente ditos pelo legislador.

Ex.: sujeito é receptador, sabedor de que determinado bem é objeto de

furto. Mesmo assim compra o objeto. Trata-se de um sujeito que não furtou, mas tem ciência

da obtenção criminosa da coisa. Assim, consubstancia-se em uma posse justa de má-fé.

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O princípio da boa-fé objetiva está ligado ao comportamento. Um

negocio é feito com boa-fé quando as partes agem com lealdade, com justas expectativas. A

busca da idoneidade das pessoas envolvidas na relação é fundamental.

Não se trata mais de analise da boa-fé subjetiva, que existe no plano da intenção, mas de caráter normativo, como verdadeira regra de conduta daquele que negocia. Explica Sílvio de Salvo Venosa que, para a análise da boa-fé objetiva, o intérprete parte de um padrão de conduta comum, do homem médio, no caso concreto. É um dever de agir de acordo com determinados padrões sociais estabelecidos e reconhecidos (Direito Civil..., 2003, v. 3, p. 378).

Um possuidor está de boa-fé na exata proporção em que tomou todos os

cuidados para a concretização da relação. A conduta dele tem de estar adequada, cercando-se

de informações capazes de sustentar a boa-fé.

Há duas teorias que explicam a boa-fé: psicológica pura (saber ou não) e

a ética (leva em consideração a conduta que a pessoa teve – não basta alegar a ciência ou não

ciência, é necessário também demonstrar efetivos cuidados para uma boa relação).

Ex.: sujeito que pretende adquirir um imóvel. Negocia com o vendedor e,

este, aparentemente, não é maior de idade. Lá adiante, descobre-se que o sujeito vendedor era

menor de fato. Como fica a questão da boa-fé? Pela teoria ética, que é adotada por nosso

ordenamento, o sujeito comprador deveria ter tomado todos os cuidados para com o negócio.

a) Posse de boa-fé – presente quando o possuidor ignora os vícios ou os obstáculos que lhe impedem a aquisição da coisa ou do direito possuído ou, ainda, quando tem um justo título que fundamente a sua posse. Orlando Gomes a divide em posse de boa-fé real quando “a convicção do possuidor se apóia em elementos objetivos tão evidentes que nenhuma dúvida pode ser suscitada quanto à legitimidade de sua aquisição” e posse de boa-fé presumida “quando o possuidor tem o justo título” (Direitos reais..., 2004, p. 54).

b) Posse de má-fé – situação em que alguém sabe do vício que acomete a coisa, mas mesmo assim pretende exercer o domínio fático sobre esta. Neste caso, o possuidor nunca possui um justo título. De qualquer modo, ainda que de má-fé, esse possuidor não

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perde o direito de ajuizar a ação possessória competente para proteger-se de um ataque de terceiro.

Venda a non domino. Sujeito não proprietário que vende a coisa.

Art. 1201 do CC. Justo titulo significa toda causa justa, toda situação que

represente uma aquisição de boa fé. Normalmente são contratos, mas, pode ser também uma

sentença ou qualquer outro documento que traga informações sobre a aquisição. O parágrafo

único traz uma presunção relativa (iuris tantum) da boa-fé quando o possuidor possui o justo

título.

O art. 1202 do CC traz como tema a transformação de posse de boa-fé

em posse de má-fé (convolação). Esse texto normativo é contrário ao princípio da permanência

da posse, admitindo a possibilidade de convolação.

Ex.: sujeito que adquire um imóvel, tomou todos os cuidados na relação,

construiu diversas benfeitorias, etc. Um belo dia, chega um oficial de justiça trazendo uma

citação de anulação de negócio jurídico sob a alegação de que o sujeito que realizou a venda

não era o dono. O sujeito que comprou, com a citação, tem consciência do fato. No final, a ação

é julgada procedente. Entre o momento da citação até o julgamento da demanda, o sujeito

comprador continuou realizando as benfeitorias. O que vai acontecer? Até o momento da

citação ele é possuidor de boa fé, então, terá direito às benfeitorias úteis e necessárias. Após a

citação, as benfeitorias úteis e voluptuárias não serão ressarcidas, somente, eventualmente, as

benfeitorias necessárias.

No caso da convolação, entram em cena duas teorias, uma romanista e

outra canônica. Os romanos sempre defenderam a tese de que, se uma posse começa de boa

fé, termina de boa fé, e o contrário é verdadeiro. Por outro lado, a teoria canonista traz a idéia

de que é possível a alteração da intenção do sujeito.

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DIREITO CIVIL VI 01 de março de 2011 Gilberto Notário Ligero

ROTEIRO

Classificação da Posse - quanto aos títulos a) posse titulada; b) posse não titulada; - quanto aos efeitos a) posse ad interdicta; b) posse ad usucapionem; - quanto ao tempo a) posse nova; b) posse velha.

POSSE

Classificação da Posse

CLASSIFICAÇÃO QUANTO À PRESENÇA DE TÍTULO

A posse pode ser titulada (causal) ou não titulada (natural).

A posse é TITULADA quando ela apresenta uma causa e essa causa está

intimamente ligada ao antigo vendedor. Todas as formas de transmissão da posse por títulos,

há uma certeza mais concreta com relação a posse.

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No caso da posse titulada que gera desmembramento do objeto, o

principal reflexo é a grande possibilidade do sujeito possuidor direto se tornar possuidor

precário. A posse titulada no desdobramento possessório NÃO GERA DIREITO A USUCAPIÃO,

somente posse para os interditos. O locatário pode se defender contra ataques de terceiros e

até mesmo contra o locador. Entretanto, não é possível usar da ação de usucapião.

a) Posse com titulo – situação em que há uma causa representativa da transmissão da posse, caso de um documento escrito, como ocorre na vigência de um contrato de locação ou de comodato, por exemplo.

A posse NÃO TITULADA é aquela que não tem causa subjacente. Não há

nenhuma causa anterior. As hipóteses são: sujeito que encontra uma posse não titulada e a

retém, sujeito que invade um imóvel. É importante frisar que esse tipo de posse é passível de

usucapião.

b) Posse sem titulo – situação em que não há uma causa representativa, pelo menos aparente, da transmissão do domínio fático. A titulo de exemplo, pode ser citada a situação em que alguém acha um tesouro, deposito de coisas preciosas, sem a intenção de fazê-lo. Nesse caso, a posse é qualificada como um ato-fato jurídico, pois não há uma vontade juridicamente relevante para que exista um ato jurídico.

Para o professor Washington de Barros MONTEIRO, o ius possidendi é o

direito de posse fundado no fato da posse nesse aspecto externo, e o ius possessionis como o

direito de posse fundado na propriedade. O mesmo ocorre com Carlos Roberto Gonçalves,

dividindo em posse natural ou posse civil ou jurídica.

CLASSIFICAÇÃO QUANTO AOS EFEITOS

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Posse ad interdita é a posse que autoriza a utilização dos interditos

possessórios. Quem pode exercer esse tipo de posse? Todo e qualquer possuidor – todo o

possuidor tem o direito de defender a coisa. Essa posse não pode levar a usucapião. O efeito

produzido é APENAS A UTILIZAÇÃO DOS INTERDITOS POSSESSÓRIOS. Quais as principais

características?

1. Detenção da coisa;

2. Posse justa;

3. Exercício do domínio fático sobre a coisa visando exploração econômica.

a) Posse ad interdicta – constituindo regra geral, é a posse que pode ser defendida pelas ações possessórias diretas ou interditos possessórios. Exemplificando, tanto o locador quanto o locatário podem defender a posse de uma turbação ou esbulho praticado por um terceiro. Essa posse não conduz a usucapião.

Posse ad usucapionem é uma posse para a usucapião, cuja prova recairá

para demonstrar a possibilidade desse eventual direito. Normalmente, quem possui esse tipo

de posse também detém posse ad interdicta. Quais as principais características?

1. Possibilidade de aquisição da propriedade;

2. Posse ininterrupta, mansa e pacífica;

3. Conhecimento público.

b) Posse ad usucapionem – exceção à regra, é que se prolonga por determinado lapso de tempo previsto na lei, admitindo-se a aquisição da propriedade pela usucapião , desde que obedecidos os parâmetros legais. Em outras palavras, é aquela posse com olhos à usucapião (posse usucapível), pela presença dos seus elementos, que serão estudados oportunamente. A posse ad usucapionem deve ser mansa, pacifica, duradoura por lapso temporal previsto em lei, initerrupta e com intenção de dono (animus domini – conceito de SAVIGNY). Além disso, em regra, deve ter os requisitos do justo título e da boa-fé.

CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO TEMPO

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Nesse tipo de classificação, leva-se em conta a idade possessória. O

Código Civil de 1916 tratava, em certos dispositivos, desse tema. O Código Civil de 2002 aboliu

esses artigos, sendo necessário, portanto, busca no CPC elementos para identificação desse

tipo de posse. A matéria encontra pacificação, portanto, no art. 924 do CPC.

Posse nova (ação rápida) é a posse que alguém está exercendo até um

ano. Posse velha – é possível lançar mão de procedimento especial –, (ação tardia) é a posse

que alguém está exercendo há um ano e um dia ou mais – só é possível sob o rito ordinário.

A origem do prazo do art. 924 gera divergência na doutrina. A idéia mais

difundida é a de que esse prazo viria dos períodos de colheitas. Trata-se de um prazo

decadencial, pois se refere a um direito potestativo – se fosse prescricional, o direito de ação

iria se perder, o que não ocorre – na verdade, perde-se o direito de ação possessória sob o

fulcro do procedimento especial.

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DIREITO CIVIL VI 02 de março de 2011 Gilberto Notário Ligero

ROTEIRO

EFEITOS POSSESSÓRIOS

Efeitos Possessórios

EFEITOS MATERIAIS DA POSSE

Art. 1210 a 1222 CC.

Quando se pensa em frutos naturais, o que isso significa? São acessórios

obtidos a partir do principal sem que se perca sua substância. Ex.: vaca e bezerro. Frutos

industriais são obtidos a partir da força humana. Ex.: televisão, automóveis. Os frutos civis são

todos aqueles relacionados a rendimentos. Ex.: aluguéis, juros, dividendos.

É imprescindível diferenciar frutos de produto. Esse último faz com que a

coisa principal se altere, perdendo sua substância. Fruto também é diferente de pertenças, que

são coisas pertencentes ao proprietário que aformoseiam a coisa.

Ex.: MIAMAR é proprietário de um imóvel rural no bairro da Líbia.

Recentemente, ele deu em comodato a referida área, que contém um grande pomar de

mangueiras, para Osama. Iniciado o comodato, com o desdobramento possessório, pergunta-

se: a quem pertencerão os frutos pendentes?

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Trata-se de frutos pendentes e de posse de boa-fé, justa e titulada. Esses

frutos pertencem ao comodatário, conforme o art. 1214 do CC, se nada for estipulado no

contrato.

Mas, e se nesse caso o possuidor estiver de má-fé? Art. 1216 do CC. Ele

precisa restituir TUDO a partir do momento que é possuidor de má-fé.

Fruto pendente é aquele que ainda não foi colhido. Fruto percebido é

aquele que já foi colhido do principal e separado. Frutos armazenados ou estantes são os

colhidos e que já estão nas caixas para ir para fábrica. Frutos consumidos são aqueles que não

mais estão ali (já foram consumidos). Frutos percepiendos são aqueles que já deveriam ser

colhidos.

- Frutos pendentes – são aqueles que estão ligados à coisa principal, e que não foram colhidos. Exemplo: maças que ainda estão presas à macieira.

- Frutos percebidos – são os já colhidos do principal e separados. Exemplo: maçãs que foram colhidas pelo produtor.

- Frutos estantes – são os frutos que foram colhidos e encontram-se armazenados. Exemplo: maçãs colhidas e colocadas em caixas em um armazém.

- Frutos percipiendos – são os que deveriam ter sido colhidos, mas não foram. Exemplo: maçãs maduras que deveriam ter sido colhidas e que estão apodrecendo.

- Frutos consumidos – são os que foram colhidos e não existem mais. São as maçãs que foram colhidas pelo produtor e vendidas a terceiros.

Art. 1214, parágrafo único, do CC. Surge a questão: como será regulada a

distribuição dos frutos no caso de cessação de boa fé?

Ex.: Lucas é proprietário de um imóvel rural. Por força de contrato de

arrendamento, entregou tal imóvel para Jair. No local além de existir uma plantação de arroz,

há uma grande plantação de coqueiros. O arrendamento foi ajustado por cinco anos. No dia

10/01/2011, expirou o contrato. Considerando que os coqueiros estão produzindo, Jair não

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devolveu o imóvel sob a alegação de que teve altas despesas com a produção, e, portanto, fará

a colheita dos frutos visando o ressarcimento. Jair está agindo corretamente?

Em tese, Jair não pode ter esse tipo de ação, salvo se houvesse alguma

convenção em contrário. Ele deveria ter devolvido. Como não devolveu, passou a agir de má-fé.

Assim, aplica-se a ele o art. 1214, parágrafo único, do CC.

Como se percebe os frutos civis? São colhidos diariamente, e se referem

a rendimentos. Ex.: caderneta de poupança.

Art. 1216 do CC. Trata-se do possuidor de má-fé, que responde por

TODOS os frutos percebidos e também os percipiendos. Nesse último caso, é necessário que se

prove a culpa.

Benfeitorias

São bens que são acrescidos na coisa, de forma a melhorá-la de alguma

forma. Podem ser classificadas da seguinte forma, em conformidade com o art. 96 do CC.

1. Necessárias;

2. Úteis;

3. Voluptuárias;

É importante para o deslinde dessa matéria observar as peculiaridades

nos casos em que a benfeitoria é realizada por terceiro. Quando feita pelo proprietário, trata-se

de ascensão.

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As benfeitorias são bens acessórios introduzidos em um bem móvel ou imóvel, visando a sua conservação ou melhora da sua utilidade. Enquanto os frutos e produtos decorrem do bem principal, as benfeitorias são nele introduzidas. É fundamental aqui relembrar a antiga classificação das benfeitorias que remonta ao Direito Romano, e que consta do art. 96 do CC.

Surge a questão: o possuidor direto realizou benfeitoria no imóvel. Tem

ele direito de ser ressarcido? Aplica-se o art. 1219 do CC.

Benfeitorias - necessárias jus retentionis

- úteis boa-fé

- voluptuárias jus tollendi

É importante frisar que, no caso de locação, o regramento é diverso – art.

35 e 36 da Lei 8.245/91. As necessárias serão sempre ressarcidas. As úteis, é necessária

autorização do locador. Salvo, sempre, disposição em contrário contratual.

Art. 1220 do CC. Trata do possuidor de má-fé e das benfeitorias que esse,

eventualmente, realiza na coisa. O direito de indenização resta prejudicado na maior parte dos

casos.

Art. 1217 do CPC. Irresponsabilidade do possuidor de boa-fé – é a não

responsabilização, em regra, do possuidor de boa-fé. Exceto se este der causa.

Art. 1218 do CPC. Para os possuidores de má-fé, há a responsabilidade

objetiva quando houver deterioração ou perda da coisa, exceto se conseguir provar que de

igual modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante.

Compensação entre valor a ser recebido e danos eventualmente

causados. O legislador trouxe a possibilidade de realizar a compensação. Trata-se de

compensação legal – art. 1221 do CC. O que significa evicção na segunda parte desse

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dispositivo? É a retomada da coisa. Portanto, somente vai se operar se houver benfeitoria

existente e dano verificado.

Art. 1222 do CC. Parâmetros para o ressarcimento. A primeira parte do

artigo traz um direito do “reivindicante” (todo aquele que vai receber a coisa de volta) – a

utilização desse termo justifica-se pelo fato de que essa afirmação recai sobre possuidor de má-

fé. As benfeitorias que serão ressarcidas são somente as necessárias. Na segunda parte do

dispositivo, não há nenhum direito – o legislador impõe uma regra, qual seja, indenizar pelo

valor atual.

POSSUIDOR DE MÁ FÉ � BENFEITORIAS NECESSÁRIAS � OPÇÃO � CUSTO OU VALOR ATUAL

POSSUIDOR DE BOA FÉ � BENFEITORIAS NECESSÁRIAS E ÚTEIS � DIREITO (NÃO OPÇÃO) � VALOR ATUAL

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DIREITO CIVIL VI 15 de março de 2011 Gilberto Notário Ligero

ROTEIRO

EFEITOS POSSESSÓRIOS Efeitos Processuais da Posse Espécies de atentado Art. 1210 do CC

Efeitos Possessórios

EFEITOS PROCESSUAIS DA POSSE

Não há mais a velha idéia de exclusão de normas. Ainda se fala em

normas antinômicas, mas a doutrina da Teoria Geral do Direito tem se preocupado muito mais

com a integração das normas do que a exclusão das mesmas.

Os efeitos processuais da posse estão intimamente ligados a defesa

possessória.

Art. 1210 do CC. “Turbação”, “esbulho” e “molestado” são três termos

que representam espécies de atentado a posse e merecem destaque.

Os interditos possessórios são as ações possessórias diretas. O possuidor tem a faculdade de propor essas demandas objetivando manter-se na posse ou que esta lhe seja restituída. Para tanto, devem ser observadas as regras processuais previstas a partir do art. 920 do CPC.

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SHIRU, Caio Shiguemy Cassiano Ishii – [email protected] 40

O que é MOLESTAR? É um risco de atentado a posse. Não há ainda

turbação, nem esbulho – existem fatos que podem gerar tais atentados. Ou seja, há um risco

eminente da ocorrência de um atentado. Resolve-se a base da ação de interdito proibitório,

que contem um pedido de uma obrigação de não fazer.

O que é TURBAÇÃO? É um atentado parcial e fracionado da posse. Alguns

doutrinadores afirmam que também é um embaraço ao exercício da posse. Ex.: proprietários

rurais que separam seus imóveis por uma cerca. Um dos vizinhos está se aproveitando para se

alimentar no pasto do outro. Após alguns dias, esse mesmo vai a posse do vizinho e retira um

pouco de capim. Portanto, turbação é um atentado a posse que se resolve a base da ação de

manutenção da posse.

O que é ESBULHO? É uma espécie de atentado que gera perda da posse.

É um atentado consolidado à posse. Normalmente, está relacionado ao emprego de violência,

força, ameaça, de maneira que o atentado se consolida com a retirada da coisa. Resolve-se a

base da ação de reintegração de posse.

O que se percebe, na prática, são três situações concretas que possibilitam a propositura de três ações correspondentes, apesar da falta de rigidez processual em relação às medidas judiciais cabíveis:

- No caso da ameaça à posse (risco de atentado à posse) = caberá ação de interdito proibitório.

- No caso de turbação (atentados fracionados à posse) = caberá ação de manutenção de posse.

- No caso de esbulho (atentado consolidado à posse) = caberá ação de reintegração de posse.

AMEAÇA � AÇÃO DE INTERDITO PROIBITÓRIO � PROTEÇÃO DO POSSUIDOR DE PERIGO EMINENTE

TURBAÇÃO � AÇÃO DE MANUTENÇÃO DE POSSE � PRESERVAÇÃO DA POSSE

ESBULHO � AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DA POSSE � DEVOLUÇÃO DA POSSE

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PROVA: Caso de invasão parcial de um terreno – ação cabível é a reintegração de posse.

A B

Ex.: o autor “B” pede em petição inicial que a reintegração se de

liminarmente. Ele precisa demonstrar que se trata de um esbulho novo para a concessão dessa

tutela jurisdicional. A liminar possessória possui certos requisitos, encontrados no art. 927 do

CPC. Incumbe ao autor demonstrar e provar a posse, a turbação/esbulho praticado pelo réu, a

data da turbação/esbulho (é necessário descobrir se o procedimento está correto), a

continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção ou a perda da posse na ação

de reintegração.

Apesar do termo “liminar” retomar, muitas vezes, a palavra urgência,

lembre-se: NÃO HÁ URGÊNCIA. Liminar vem do latim limen, que significa “soleira”, algo que

vem antes. No caso da ação possessória não é necessário a demonstração de urgência.

É possível a concessão antecipada da tutela no rito ordinário? SIM.

Aplica-se aí o art. 273 e 461 do CPC.

É importante frisar que toda reintegração ou manutenção concedida

antes da sentença é uma forma de antecipação da tutela e não de cautelar.

E se for proposta a ação errada? Art. 920 do CPC. O juiz tem um

permissivo legal para aplicação da fungibilidade total entre as medidas possessórias.

De qualquer forma, as diferenças práticas em relação às três ações pouco interessam, eis que o art. 920 do CPC prevê a fungibilidade total entre as três medidas, nos seguintes termos: “A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o

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juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela, cujos requisitos estejam provados”. Pelo que consta do dispositivo instrumental, uma ação possessória pode ser convertida em outra livremente, se for alterada a situação fática que a fundamenta, ou seja, há a possibilidade de transmudação de uma ação em outra. Essa conversão também é possível nos casos em que o autor da ação possessória se engana quanto à medida cabível, havendo um desapego ao rigor formal, o que é aplicação do princípio da instrumentalidade das formas.

Arts. 920/933 do CPC.

Art. 928 do CPC.

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DIREITO CIVIL VI 15 de março de 2011 Gilberto Notário Ligero

ROTEIRO

EFEITOS POSSESSÓRIOS Efeitos Processuais da Posse Espécies de atentado Art. 1210 do CC

Efeitos Possessórios

EFEITOS PROCESSUAIS DA POSSE

Ações Dúplices

As ações possessórias possuem caráter dúplice, ou seja, ações que

comportam, na contestação, pedido contraposto em favor do réu. Não é reconvenção, pois

esta é feita em apartado. No caso de ações dúplices, o pedido é feito nos próprios autos.

Ex.: João entra com ação possessória contra Thiago. Por sua vez, na

contestação Thiago afirma que João não é possuidor e pede a manutenção da posse em seu

favor, dizendo ser o verdadeiro possuidor.

Segundo o art. 922 do CPC é lícito ao réu, na contestação do interdito possessório, alegando que foi o ofendido em sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor. Pelo que consta desse dispositivo, e isso é notório, as ações possessórias diretas têm

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natureza dúplice, cabendo pedido contraposto em favor do réu para que a sua posse seja protegida no caso concreto. Esse pedido contraposto pode ser de proibição, de manutenção ou mesmo de reintegração da posse em seu favor. Portanto, está totalmente dispensada a necessidade.

Cumulação de Ações

Art. 921, incido I, do CPC. No caso do interdito proibitório, o pedido

principal é uma obrigação de não fazer – será um mandado proibitório, ou seja, que o réu não

pratique um esbulho ou turbação que está pensando em praticar. Mas, é possível a cumulação

com danos emergentes e lucros cessantes, nos termos dos arts. 402 e 404 do CC, bem como

cominação de pena (multa diária, por exemplo).

Exceptio Proprietatis

Dentro da defesa de mérito, é possível lançar mão de exceções

substanciais. Ex.: exceção do contrato não cumprido – imagine que João quer que Thiago

cumpra algo. João entra com um processo e Thiago alega que só não cumpriu porque o autor

também não o fez, conforme acordado anteriormente.

A exceptio proprietatis, ou exceção de domínio, é uma exceção

substancial – significa a alegação do réu dizendo ser proprietário da coisa. Surge a questão: é

possível alegar a exceção de domínio como defesa nas ações possessórias? NÃO.

Art. 923 do CPC e 1210, §2°, do CC e Súmula 487 do STF. Na leitura e

interpretação desses artigos, é possível asseverar que há uma total separação entre ius

possessioni e ius possidendis. Há grande diferença, no ordenamento atual, entre juízo

possessório e juízo petitório, onde no primeiro discute-se posse e no segundo propriedade.

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Art. 932 e 933 do CPC. Regras para o interdito proibitório – tutela

inibitória (visa inibir o esbulho e a turbação). Cabe pedido de concessão liminar do mandado

proibitório? A doutrina e jurisprudência admitem a possibilidade de liminar.

A resposta parece ser positiva, uma vez que o art. 933 do CPC manda aplicar, ao interdito proibitório, as regras relativas às ações de manutenção ou reintegração de posse. Concluindo assim, aplica-se o art. 928 do CPC àquela ação, sendo a liminar para fixação de multa, com o fim de impedir a turbação e o esbulho.

Art. 1211 do CC. Possuidor aparente – é aquele que se diz possuidor e

alega estar com a coisa, mas paira uma discussão quanto a isso. Ex.: ação possessória

tramitando para que se descubra de quem é a posse. O termo “provisoriamente” usado neste

codex é essencialmente processual.

Entretanto, pelo próprio dispositivo, se for demonstrado que o possuidor aparente tem a coisa com um vício, seja objetivo ou subjetivo, poderá esta ser-lhe retirada. É de se concordar com Joel Dias Figueira Jr., quando afirma que “o principal critério abalizador da manutenção ou reintegração de posse haverá de ser, indubitavelmente, a utilização sócio-econômica do bem litigioso e não mais o prazo de ano e dia de titularidade da posse. Portanto, substitui-se o critério puramente objetivo do parágrafo único do antigo art. 507 pelos critérios sócio-políticos e econômicos ancorados na função social da propriedade que, em última análise, reside na própria posse. Não significa dizer, contudo, que os juízes não possam considerar em suas decisões, como elemento de formação de seus convencimentos, os ‘títulos’ de posse e/ou a sua respectiva data, ou, ainda que não possam, de ofício, utilizar-se do poder geral de cautela, autorizada expressamente pelos arts. 798 e 799.

Art. 1212 do CC. É de bom grado lembrar da figura do receptador, cujo

objeto receptivo possui natureza indevida. O sujeito vítima do esbulho ou turbação pode se

voltar contra terceiro em sede de tutela jurisdicional – ação possessória persaltum.

Auto-tutela ou Auto-defesa da Posse

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A legitima defesa da posse está prevista no art. 1.210, §1°, do CC.

A legítima defesa da posse e o desforço imediato constituem formas de autotutela, autodefesa ou de defesa direta, independentemente de ação judicial, cabíveis ao possuidor direto ou indireto contra as agressões de terceiro. Nos casos de ameaça e turbação, em que o atentado à posse não foi definitivo, cabe a legítima defesa. Havendo esbulho, a medida cabível é o desforço imediato, para a retomada do bem esbulhado.

São duas as espécies:

1. Legítima defesa – para os casos de ameaça;

2. Desforço Imediato – para os casos de esbulho;

Os atos não podem ir além do necessário.

Os requisitos, que são comuns para ambas as espécies, são:

1. Os atos devem ser rápidos/imediatos – assim que ficar sabendo, o mais rápido possível;

2. Razoabilidade dos atos – o possuidor que irá se defender deve agir dentro dos limites

do direito.

TOMAR CUIDADO COM O PRAZO PARA AUTO DEFESA.

Ex.: sujeito que se depara com um imóvel com aparência de abandonado,

dizendo que irá construir algo ali. No primeiro dia ele limpa todo o imóvel, depois resolve fazer

uma cerca tampando todo o terreno. Após alguns dias, deposita ali areia e pedra. Chama um

pedreiro, que começa a realizar a obra.

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Neste caso, há uma espécie de turbação. Caso apareça o dono daquele

terreno quando as valas estão sendo cavadas. A partir de quanto começará a contar o prazo

para a defesa possessória? A doutrina e jurisprudência entendem que é do primeiro ato de

turbação, desde que o proprietário tenha conhecimento.

Ex.: sujeito que leva seus animais para pastar no imóvel vizinho. De onde

começa a contar o prazo para a defesa? Tanto doutrina como jurisprudência entendem que é

do último ato, pois cada ato é independente – não há nexo entre um ato e outro. Trata-se de

turbações sucessivas.

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DIREITO CIVIL VI 22 de março de 2011 Gilberto Notário Ligero

ROTEIRO

Outras demandas utilizadas para proteção possessória a) Embargos de terceiro; b) Ação de nunciação de obra nova; c) Ação de imissão de posse; d) Ação publiciana

POSSE

Outras Demandas Utilizadas para Proteção Possessória

Ações que são utilizadas para defesa da posse, mas não são ações

possessórias propriamente ditas. Traduzem também os efeitos processuais do instituto em

estudo.

a) Embargos de terceiro

b) Ação de nunciação de obra nova

c) Ação de imissão de posse

d) Ação Publiciana

EMBARGOS DE TERCEIRO

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Sujeito que está sofrendo uma turbação determinada pelo juiz. Podem

ser considerados tanto como ação petitória como quanto ação possessória, a depender se o

sujeito é só possuidor ou não.

Trata-se de remédio processual para a defesa da posse, ou mesmo da propriedade, por aquele que for turbado ou esbulhado por atos de apreensão judicial. Os embargos de terceiro seguem rito especial, conforme os arts. 1.046 a 1.054 do CPC.

AÇÃO DE NUNCIAÇÃO DE OBRA NOVA

Art. 934 do CPC. É também conhecida como embargo de obra nova. O

que se busca com essa ação é SEGURANÇA. Está mais ligada ao direito de vizinhança do que a

posse, propriamente dita. Não se discute posse: a proteção da posse, na verdade, é reflexa. Na

prática, na grande maioria das vezes, está fundada no domínio, assumindo a feição de ação

petitória.

Essa ação visa a impedir a continuação de obras no terreno vizinho que lhe prejudiquem ou que estejam em desacordo com os regulamentos civis e administrativos. Tem rito especial previsto no Código de Processo Civil entre os seus arts. 934 a 940.

Ex.: sujeito que observa em sua casa diversas rachaduras, causadas pela

construção/reforma da casa vizinha.

AÇÃO DE IMISSÃO DE POSSE

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O CPC atual não prevê esse tipo de ação. Trata-se de uma demanda

petitória por meio da qual o autor pretende obter a posse que nunca teve decorrente da

propriedade ou de outro direito real. Correrá sob o fulcro do procedimento ordinário. De

forma reflexa, está sendo protegida a posse.

Em suma, a ação é fundada em título de propriedade, sem que o interessado tenha tido posse. O exemplo típico de propositura dessa ação é para proteger o proprietário que arrematou o bem em leilão e quer adentrar no imóvel.

AÇÃO PUBLICIANA

É necessário relembrar da usucapião, que é uma forma de prescrição

aquisitiva da propriedade. Observados todos os requisitos, consumando-se a usucapião, o juiz

concede declaração. É uma ação petitória, onde se discute o fato de ter ou não o domínio pela

usucapião. Caso tenha, o sujeito pode ser protegido, utilizando da ferramenta usucapião.

Portanto, essa ação petitória visa à retomada do bem com base no

domínio da usucapião.

Encerrando quanto às ações, a exemplo da ação de imissão da posse, a ação publiciana também é uma ação petitória, fundada no domínio. Todavia, essa ação também visa proteger a posse daquele que adquiriu o bem por usucapião. Segundo Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery a sua finalidade é “Retomar a posse por que a perdeu, mas com fundamento no fato de já haver adquirido (de fato – já que não há título) a propriedade pela usucapião. É a ‘reivindicatória’ do proprietário de fato” (Código de Processo Civil..., 2006, p. 919). A ação segue rito ordinário não se aplicando as regras previstas para as ações possessórias diretas.

Aquisição, Transmissão e Perda da Posse

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O legislador não traz os meios/mecanismos. Ele criou uma cláusula geral,

ou seja, só será preenchida pelo caso concreto (numerus apertus). No Código anterior, era

previsto tais meios, no art. 493, que hoje nos servem como exemplos. São eles:

a) Apreensão da coisa;

b) Exercício de direito;

c) Fato de disposição da coisa;

d) Qualquer outro modo geral de aquisição de direitos.

Ressaltasse que há duas formas de aquisição da coisa:

1. ORIGINÁRIA – a posse é obtida sem intermediários, havendo um contato direto da

pessoa com a coisa. Ex.: coisa perdida ou abandonada, onde alguém apreende a coisa,

tomando-a para si;

2. DERIVADA – todas as vezes que houver a presença de um intermediário, em que a

posse é obtida de outrem. Ex.: negócio jurídico, doação, comodato, compra e venda,

etc.

Dessas formas de aquisição, deve-se lembrar que há formas de aquisição originárias, em que há um contato direto entre a pessoa e a coisa; e formas de aquisição derivadas, em que há uma intermediação pessoal (Cf. DINIZ, Maria Helena, Curso..., 2007, v. 4, p. 68-69).

Como forma originária, o exemplo típico se dá no ato de apreensão de bem móvel, quando a coisa, não tem dono (res nullius) ou for abandonada (res derelicta).

Como modalidade derivada, o caso mais importante envolve a tradição que vem a ser a entrega da coisa, principal forma de aquisição da propriedade móvel.

Quem pode adquirir a posse? Tanto pessoa física como pessoa jurídica,

até mesmo entes despersonalizados. Na análise do art. 1.205 do CC, é possível afirmar que há

situações em que terceiros poderão adquirir a posse. Terceiro sem mandato é qualquer pessoa

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que adquiri a posse de outrem, exigindo-se apenas a confirmação. Qual a importância prática

desse dispositivo legal?

Art. 1.206 do CC. Fala-se em transmissão possessória. A posse transmite-

se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmo caracteres. Traz a tona o princípio

da continuidade do caráter possessório. Entretanto, existe a possibilidade de mudança do

caráter possessória – intervetio possessionis.

Art. 1.207 do CC. O legislador traz uma especialização do princípio da

continuidade. O sucessor universal continua o direito à posse do seu antecessor; e ao sucessor

singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais.

O que significa transmissão a título universal? Ocorre nas situações em

que há uma transmissão de grande quantidade de bens que pertencem a uma universalidade.

Ex.: herança legítima – o herdeiro recebe com universalidade de bens, todos os bens do

falecido. Todas as vezes que houver uma transmissão a título universal, diz o legislador que o

sucessor continua de direito a posse de seu antecessor.

O que significa sucessão a título singular? Ex.: compra e venda, doação

ou legado. Há uma união de posses (acessão). Enquanto na sucessão universal não se fala em

soma, nesse segundo caso, o sucessor pode ou não somar sua posse com a do antecessor.

Assim, como se nota, a lei diferencia dois tipos de sucessão: a universal (nos casos de herança legítima) e a singular (nos casos de compra e venda, doação ou legado). No primeiro caso, a lei prevê a continuidade, no segundo, a união de posses (acessão). Como esclarece Orlando Gomes, “o que distingue a sucessão da união ‘e o modo de transmissão da posse, sendo a titulo universal, há sucessão; sendo o título singular, há união. Não importa que a sucessão seja inter vivos ou mortis causa. Na sucessão mortis causa a título singular, a acessão se objetiva pela forma da união. A sucessão de posses é imperativa; a união, facultativa enquanto ao singular é facultado unir sua posse à precedente. Sendo, nesta última hipótese, uma faculdade, o possuidor atual só usará se lhe convier, limitando-se à sua posse quando do seu interesse” (Direitos reais..., 2004, p. 70). Sintetizando, quanto à defesa possessória, tanto o sucessor universal quanto o singular poderão defendê-la, em continuidade ou acessão á posse anterior.

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Art. 1.784 do CC. Transação causa mortis ocorre de forma automática.

É possível pensar em uma sucessão inter vivos universal? Alguns

doutrinadores admitem essa possibilidade e colocam como exemplo o casamento com

comunhão universal de bens. Entretanto, a regra geral é da sucessão inter vivos singular

(compra e venda, doação, etc.).

causa mortis universal

Sucessão singular

inter vivos universal

singular

O herdeiro legítimo, legal, continua na posse. O sucessor causa mortis,

singular, legatário, continua a posse do antecessor ou tem a faculdade de unir sua posse a do

seu antecessor? Aplica-se a primeira ou segunda parte do art. 1.207? Há duas posições

doutrinárias diversas. PROVA

PRIMEIRA CORRENTE: Leva em conta a forma como a coisa foi obtida.

Nelson ROSENVALD e Clóvis BEVILAQUA afirmam que, apesar de o legado ser modo singular de

aquisição de posse, entende-se que o legatário continua a posse do antecessor, pois recebe a

coisa por força da morte deste. Aplica-se, portanto, a regra da sucessio possessionis (primeira

parte do art. 1.207 do CC).

SEGUNDA CORRENTE: Leva em consideração somente a lei. Orlando

GOMES defende a tese de que, o que distingue a sucessão da união/junção é o modo de

transmissão da posse. Sendo a titulo universal, há transmissão. Se a titulo singular, há união. Na

sucessão mortis causa a título singular, a acessão se objetiva pela forma da união. Aplica-se,

portanto, a regra do acessio possessionis (segunda parte do art. 1.207 do CC).

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A acessão ou acessio possessionis possui TRÊS REQUISITOS:

1. CONTINUIDADE – o novo possuidor necessita querer a posse, o desejo de somar a posse

ao seu patrimônio;

2. HOMOGENEIDADE – que as posses tenham os mesmos caracteres (não é possível somar

posse junta com injusta, ou de boa fé com de má fé);

3. VÍNCULO JURÍDICO – Na tese inter vivos singular é o título de aquisição da coisa ou

contrato que transmitiu os direitos possessórios. Na tese causa mortis é o testamento.

Art. 1.208 do CC. Mitigação ao art. 1.206 – o princípio da continuidade

do caráter possessório é relativizado, afirmando ser possível a modificação do caráter da posse.

Art. 1.209 do CC. Está relacionado tanto a aquisição como transmissão da

posse. Nesse artigo, há uma presunção de posse dos bens móveis que acompanham o imóvel.

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DIREITO CIVIL VI 23 de março de 2011 Gilberto Notário Ligero

ROTEIRO

Aquisição, transmissão e perda da posse

POSSE

Aquisição, Transmissão e Perda da Posse

PERDA DA POSSE

Art. 1.223 e 1.224 do CC. Em comparação com o Código Civil anterior,

houve uma modificação – não há mais, expressamente, as hipóteses de perda. Tanto a

aquisição quanto a perda da posse são cláusulas gerais. O artigo anterior serve, hoje, como

exemplos. Ex.: abandono, tradição

Ex.: Contrato em que o sujeito era apenas detentor do bem. Ele adquire

este bem por compra e venda, passando a ter a propriedade/posse. Há necessidade de que o

bem volte ao antigo proprietário para ocorrer a tradição? Não. Nesse caso, há tradição ficta.

O principal exemplo da tradição simbólica é a entrega das chaves.

Quando se fala em tradição, fala-se em atos bilaterais. Até na doação: se

o pretenso donatário não aceitar, não há doação.

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É importante pensar no art. 1.223 do CC quando da expressão “embora

contra a vontade do possuidor” – são casos de perda da posse por precariedade, violência ou

clandestinidade. Mesmo nesses casos, pode ocorrer perda da posse. Sujeito perde a posse para

outrem ainda que de forma injusta.

Qual a justificativa? O legislador não pretende proteger a pessoa injusta,

mas sim, dar vida própria a posse. Um dos caracteres mais importantes da posse, pela Teoria

Objetiva, é a finalidade econômica da coisa e também a própria defesa da coisa. Pensando

dessa maneira, se o sujeito que tinha a posse não procura defender a sua posse é porque,

relativamente, ele não tem mais interesse sobre a coisa. Com o tempo, ele acabará perdendo a

posse, ainda que de forma injusta.

Art. 1.224 do CC. É um complemento ao artigo anterior. Nesse caso, o

esbulhador tem, num primeiro momento, a detenção. Quem o legislador quis proteger? Na

verdade, há uma tentativa do legislador em racionalizar a briga, atraindo o litígio para si,

quando houver violência por parte do esbulhador ao repelir a tentativa de retomada.

CONSTITUTO POSSESSÓRIO

Cláusula Constituti. É uma cláusula contratual que prevê um acordo de

vontades, tanto no sentido da aquisição da posse, quanto da sua perda. Há a figura de um

sujeito que tinha a posse da coisa em nome próprio e passa a possuir em nome alheio.

Ex.1: sujeito proprietário de um bem imóvel. Além de ser proprietário,

está instalado com sua família neste. Resolve vender este imóvel. Ao celebrar a escritura

pública de compra e venda com o comprador, celebram também uma cláusula constituti,

afirmando que o antigo dono continuará no bem na qualidade de locatário.

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Ex.2: André, proprietário do bem, vendeu e tornou-se empregado de

Juliano, mas vai continuar com a coisa. Juliano vai ter posse? Por ter subordinação, há, no caso,

DENTENÇÃO. André continuará no imóvel apenas como empregado do novo proprietário. Esse

caso é também de constituto possessório.

Há o Enunciado 77 da Jornada Civil que, expressamente, menciona o

instituto do constituto possessório como transmissão da posse. É uma pacificação de que a idéia

de que o constituto possessório é uma forma de perda da posse.