direito civil iii - 3

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AULA N 01 DIREITO CIVIL III PROF. MAURCIO - CONSIDERAES GERAIS

2 SEMESTRE RESPONSABILIDADE CIVIL

O tema da responsabilidade civil tratado em poucos dispositivos legais. Isso se justifica diante da grande dificuldade em se estabelecer todas as hipteses que ensejariam responsabilidade civil. Por esta razo, o legislador preferiu deixar em aberto, incumbindo aos estudiosos do Direito conceituar. o que acontece, p. ex, com o art. 186 do CC, que diz que aquele que agir com culpa deve reparar o dano. Quando algum age com culpa? Ns vamos ter que analisar caso a caso e ponderar para saber at que ponto h ilcito civil. Deste modo, trabalharemos basicamente com conceitos, o que dificulta de certo modo o estudo. Por outro lado, a responsabilidade civil est mais prxima do nosso dia-a-dia, mais prximo da nossa realidade, tipo: O meu vizinho bateu no meu porto. Fulano ofendeu a minha me. Tal tema est to prximo de ns, que basta lembrar o recente acidente com o avio da TAM. Somente neste caso temos diversos exemplos. O avio da TAM no consegue parar, bate de frente com um prdio e explode matando todos a bordo. O taxista que estava no posto de combustvel do lado atingido e tambm morre. Portanto, j so 186 pessoas no avio, mais as pessoas do prdio, mais o taxista. O que um posto de combustvel est fazendo do lado de um aeroporto? Como possvel a construo de um aeroporto sem rea de escape? Quem deve ser responsabilizado? Quanto se vai poder cobrar? Outro caso recentssimo o que aconteceu nos EUA, onde a ponte que passa sobre o rio Mississipi caiu. No houve imploso, nenhum navio trombou, ela simplesmente caiu, matando vrias pessoas, danificando carros e etc. Quem ns vamos processar? Outros ex: Uma mulher foi fazer alisamento no cabelo e morreu intoxicada com o formol, substncia que ela era alrgica e o produto possua uma quantidade excessiva. Podemos processar algum? Uma mulher fazia compras no supermercado quando uma garrafa pet de refrigerante explodiu, atingindo-a no olho, fazendo-a perder parte da viso. Quem pode ser processado?. Assim, se a gente parar para perceber, no nosso dia-a-dia ns estamos cercados de situaes interessantes para o estudo do presente tema, sendo a melhor forma de estudo justamente a leitura de jornais, revistas, noticirios, etc. Devemos sempre nos questionar quando nos depararmos com alguma situao: Quem deve pagar? Quanto? Por qu? Como dito, ns estaremos aprimorando conceitos, ns estaremos estabelecendo uma lgica de responsabilidade civil dentro do nosso sistema (brasileiro). Ns teremos que tentar esquecer algumas questes como, p. ex, de cultura americana. O brasileiro comeou a se dar conta de uma cultura judicial, tipo, tudo motivo para se processar. Essa uma cultura tipicamente americana cultura do processo tudo processo. Isso cria na prpria coletividade uma necessidade de uma conduta diferenciada, mais diligente, cautelosa, diferentemente do que acontecia at ento (sndrome do temor do processo). Fato que ocorreu nos EUA: Uma pessoa vai ao dentista. Este, aps diagnosticar, informa ao paciente que dever ser feito um tratamento que ir durar 6 meses ou, caso ele preferisse,que tambm seria possvel extrair os dentes e colocar uma prtese. O paciente opta pela segunda opo. Ocorre que no dia seguinte o dentista procurado por um advogado do paciente informando que ele estava sendo processado por ter arrancado dente sem necessidade, haja vista que havia possibilidade de tratamento. Como o dentista no tinha provas de que a extrao havia sido escolha do indivduo, ele foi processado e condenado a pagar indenizao no valor de quinze mil dlares. Mas ele agiu errado? De repente sim, de repente no, mas ele tinha que tomar algum tipo de cautela. Como se v, nos EUA, as pessoas possuem um pensamento equivocado. Eles olham a responsabilidade civil como fonte de indenizao. A nossa filosofia, isto , a nossa idia de responsabilidade civil uma idia de reparar ou indenizar o dano, baseado na nossa evoluo. Nossa evoluo se iniciou nas famosas Leis de Talio. No princpio, a idia de responsabilidade era sempre uma idia de vingana (fazer voc responder pelo mau que voc me fez mau pelo mau. Ex..: Algum pisa no meu p. Eu, ento, encho a pessoa de bomba e a explodo em mil pedaos, ou seja, eu simplesmente fiz o mau para ela, assim como ela me havia feito). Nisso, veio a interessante Lei de Talio. Interessante porque surge no nosso sistema uma idia de proporcionalidade. Essa proporcionalidade faz com que voc responda exatamente por aquilo que voc fez, nem mais e nem menos. Isso extremamente interessante. Se a Juliana pisou no meu p, eu posso pisar no p dela. No posso dar um soco no rosto, mas tambm no posso dar um tapinha no brao olho por olho, dente por dente. Portanto, hoje devemos pensar na responsabilidade exatamente ponderando sobre esta questo. Ns queremos que voc seja reparado voltar ao estado quo ante se puder voltar in natura melhor, mas voltar tal como voc se encontrava, mas se no for possvel, a gente pode compensar economicamente voc volta economicamente quela posio em que voc se encontrava anteriormente nem mais e nem menos eu no quero que voc ganhe dinheiro, mas tambm no quero que voc perca. Nesse contexto: A Juliana tem uma caneta e eu a

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estraguei. No justo que eu devolva uma Bicpara ela, pois ela possua uma caneta melhor (no justo que ela perca), s que tambm ela no pode me cobrar uma Mont Blanc. Fazendo isso, a gente traz exatamente a nossa lgica, a nossa idia de responsabilidade exclusivamente econmica e no um ato punitivo. Desde o Direito Romano com a ciso da responsabilidade civil com o direito penal. Disso surgem dois prismas: Civil finalidade de ressarcimento econmico. Penal finalidade punitiva. Pensando nisso, quando se manda algum reparar algum dano, no se est punindo a pessoa (isso cabe ao direito penal), est-se tentando fazer com que o lesado retorne ao status quo ante. nisso que a gente tem que pensar para criar a nossa cultura sobre responsabilidade no para se ganhar dinheiro e nem para se perder. Como dito, este pensamento para se diferenciar daquele pensamento americanizado, onde a gente muitas vezes acaba verificando que o critrio utilizado no o econmico, a responsabilidade civil acaba no se diferenciando da responsabilidade penal. Ento, eles jogam a responsabilidade para um lado punitivo e muito severo. Exemplos: Um sujeito fuma e em dado momento da sua vida ele descobre que tem cncer. Como o cncer j se encontra em um estgio avanado, ele sabe que vai morrer. Ele, ento, processa a indstria tabagista. O juiz acolhe a ao e condena a empresa tabagista a pagar um valor de aproximadamente 500 bilhes de dlares para um nico fumante. Isso gera um pensamento de levar vantagem, p. ex, uma pessoa toma cincia desta indenizao e resolve comear a fumar para tambm conseguir este valor. Uma mulher vai ao Mc Donald e pede um caf. O caf estava quente e ela se queimou. Pela dor e pela vergonha que passou, ela resolve processar o Mc Donald e fatura de indenizao trs bilhes de dlares. Um sujeito compra uma escada e na hora que foi subir a colocou em uma superfcie escorregadia e caiu quebrando a perna. Ele processa o fabricante e leva uma indenizao de sete milhes de dlares porque o fabricante deveria avisar que no se pode colocar uma escada sobre uma superfcie escorregadia. Um indivduo pula na casa do vizinho e fica atentando o cachorro at que este d uma mordida nele. Ele processa o dono do cachorro e ganha 35 milhes de dlares de indenizao. Um sujeito vai um bar e tenta escapar pela janela do banheiro para no pagar a conta. Ele fica entalado e processa o estabelecimento pela situao vexatria ganhando a ttulo de indenizao 75 milhes de dlares. Um ladro, aproveitando-se de que a famlia no estava em casa a invadiu. Ao empreender fuga ele acaba ficando preso na garagem da residncia e l permanece por aproximadamente 15 dias. Durante este perodo ele foi obrigado a sobreviver com refrigerante e rao de cachorro que se encontrava na garagem. Tal sujeito processa a famlia pelo trauma psicolgico que sofreu e ganha um milho e meio de dlares. Com isso a gente acaba vendo a responsabilidade como uma forma de ganhar dinheiro. Isso tpico de uma cultura americana, uma cultura burra. Esse semestre ns estaremos tentando tirar esta idia e estaremos tentando fazer o enquadramento da responsabilidade civil dentro da nossa lgica, dentro do nosso sistema. Na nossa forma de trabalhar, a primeira coisa que a gente vai comentar sobre os elementos: 1) So ELEMENTOS da responsabilidade civil: CONDUTA; NEXO CAUSAL; DANO e Eventualmente CULPA.

a) b)

c)d)

Porque eventualmente culpa? No Direito Romano, um ponto importante que surgiu foi uma lei denominada Lex Aqilia. Esta norma trouxe um fato inovador consistente no seguinte: At ento a responsabilidade era derivada do dano, isto , se causou um dano tinha que responder. A lex aqilia fala em indenizao, mas proveniente de um dano injusto (no depende apenas da ocorrncia de um dano, este tem que ser injusto. Se o dano, a contrario sensu, fosse justo, no haveria necessidade de reparar). Este dano injusto posteriormente foi devidamente traduzido para culpa. Portanto, tem que haver culpa para poder haver reparao. Durante muito tempo foi esse entendimento que predominou: o elemento fundamental da responsabilidade sempre foi a culpa. Ento, a responsabilidade se palpava em quatro elementos, quais sejam, conduta, nexo causal, dano e CULPA. Foi a poca de ouro da chamada responsabilidade subjetiva, ou seja, a responsabilidade fundada na culpa (para que houvesse a obrigatoriedade da reparao havia a necessidade de comprovao da culpa). Metade do sculo passado para c, comeou a surgir uma nova ideologia que no levava mais em considerao a culpa, mas j comeava a pensar em uma estrutura moderna calcada no chamado RISCO. Muitas vezes, existem determinadas atividades que por si s englobam uma lgica de risco e aquele que se aventura quela atividade automaticamente assume o risco do que ela possa vir a causar. Essa responsabilidade calcada no risco independia do seu consentimento (culpa). Ento, desaparece a culpa como elemento da responsabilidade civil, bastava que a sua conduta causasse um dano isso se chama responsabilidade objetiva. No Brasil, a Teoria do risco integral somente aplicada nos casos de dano ambiental ou dano nuclear.

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Tem-se entendido o seguinte: Fora dito que na responsabilidade objetiva independe de culpa. muito comum ouvir algum falando que a responsabilidade objetiva aquela em que o agente age sem culpa. No foi isso o que foi dito, fora dito que independe. Isso significa que no interessa como o agente tenha agido, ou seja, agindo com culpa ou no, se o agente causa um dano ele obrigado a reparar. Portanto, se a gente fosse tratar da responsabilidade objetiva bastaria que existissem trs elementos, quais sejam, conduta, nexo causal e dano. Em suma: Responsabilidade objetiva 3 elementos: Conduta, nexo causal e dano. (art. 927, nico) Responsabilidade subjetiva 4 elementos: Conduta, nexo causal, dano e culpa. (art. 186 e 927) Para que se tem que saber os elementos? Tem que conhecer bem os elementos, pois se faltar um dos elementos, automaticamente, no h falar-se em responsabilidade. Todos os elementos tm que estar presentes. Ex.: A Andressa est dirigindo bbada a 160 km/h, na contra mo na avenida principal de Prudente. Se ela no bater em ningum, no atropelar ningum (lembre-se que aqui no estamos discutindo responsabilidade administrativa ex. multa e nem a responsabilidade penal e sim a responsabilidade civil), ou seja, se no houver DANO no haver responsabilidade civil. Todos os elementos tm que estar presentes ao mesmo tempo! Contratual deriva de uma relao contratual, de trs fases: pr-contrato, contratao e ps-contratao, sendo que seu inadimplemento surge um dever de ressarci o dano. Extracontratual - A Lex Aquilia deriva de uma relao extracontratual, fora de uma relao contratual, p. ex., uma briga, alguma desavena em mbito familiar, etc. Segundo passo: A partir do momento que a gente sai dos elementos e verifica a presena destes, o segundo passo que a gente tem que averiguar para que se possa falar em responsabilidade civil : inexistir o que se chama causa excludente. 2) INEXISTNCIA DE CAUSA EXCLUDENTE No basta que os elementos estejam presentes, se estiver presente tambm uma causa excludente, no se pode falar em responsabilidade civil. Ex.: Eu efetuei quatro tiros contra algum e o matei. Houve um dano? Houve (morte). Houve uma conduta da minha parte? Houve (peguei o revlver e atirei). O dano foi conseqncia direta da minha conduta (nexo causal)? Foi (o indivduo morreu porque eu atirei nele). Houve culpa lato sensu? Houve (na realidade dolo (culpa lato sensu). Esto presentes os elementos da responsabilidade civil? Esto. Agora a gente tem que comear a verificar se no h causas excludentes. Uma destas causas, segundo o que diz o CC no art. 188 a legtima defesa. Tal indivduo queria me matar e dirigiu-se contra mim. Tentei faz-lo parar de todo jeito, mas ele continuou. Vi que no tinha jeito, peguei o meu revlver e disparei o primeiro tiro. Como ele no parou, disparei o segundo tiro. Como no tinha soluo dei mais dois tiros e o matei. Foi legtima defesa? Foi. Ento, embora eu tenha agido intencionalmente e causado um dano, como h uma causa excludente, automaticamente desaparece a responsabilidade. Portanto este o nosso segundo passo: comear estudando os elementos e depois estudar as causas excludentes. 3) Por fim, no final do semestre a gente vai avaliar a RESPONSABILIDADE CIVIL EM ESPCIE. Avaliaremos situaes especficas de responsabilidade civil. Ex.: Responsabilidade civil do Estado. Bibliografia correlata: Curso e Manuais de Direito Civil: - Slvio Venosa Vol. 4; - Maria Helena Diniz Vol. 7; - Caio Mrio Vol. 1; - Washington Monteiro de Barros Vol. 1; - Orlando Gomes Vol. 1. Livros Especficos: - Carlos Alberto Gonalves; - Srgio Cavalhieri Filho; * Para fins pedaggicos, o professor recomenda estes dois autores. ** Melhor obra de responsabilidade civil segundo o professor: - Ruy Stoco Tratado de Responsabilidade Civil. No recomendado para acadmicos (primeira leitura), tal obra voltada para o uso profissional (aprofundamento).

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AULA N. 02 DIREITO CIVIL III PROF. MAURCIO - SNTESE DA AULA PASSADA Na aula passada ns estvamos falando sobre a responsabilidade objetiva e subjetiva. Na nossa tica, a gente acabaria vislumbrando o seguinte: a regra geral a responsabilidade subjetiva, ou seja, a princpio, a conduta que vai causar o dano tem que ser uma conduta culposa. Ento, pra esse tipo de responsabilidade tem que haver quatro elementos: conduta, nexo causal, dano e culpa. Ao lado dela a gente encontra a responsabilidade chamada responsabilidade objetiva. Responsabilidade objetiva cuja lgica diz que ela no fundada, ela no derivada da culpa. Desta forma, no precisa o agente ter agido com culpa, basta que a sua conduta cause o dano. Na nossa forma de raciocnio que tivemos na aula passada, a lgica dela se baseia na idia do risco. A partir do instante em que eu optar em tomar alguma atividade, eu assumo naturalmente os riscos do que possa vir a acontecer. Se acontecer alguma coisa, eu pago por isso. Ex: Desenvolvimento de atividade nuclear para produo de energia. H outras alternativas, mas a usina nuclear tem um lado interessante: o impacto ambiental muitas vezes menor; as necessidades e insurgncias climticas so bem menores (ex.: energia solar pode ser prejudicada por tempo chuvoso, a energia elica precisa do vento, energia hbrida precisa que os rios estejam cheios, porque no tempo de seca diminui a capacidade de produzir energia, etc.) Em contrapartida, a energia nuclear consegue produzir independente de fatores externos, mas tem seus riscos. Assim, quem se aventura nesta atividade deve assumir os seus riscos. Portanto, a responsabilidade objetiva est fundada na idia do risco, tanto que o Cdigo diz que a responsabilidade objetiva, ou em razo desses riscos naturais, ou porque a lei manda. Se a lei manda no tem o que discutir, lei lei. Nesse tipo de responsabilidade agente encontraria s trs elementos, bastando haver a conduta, dano e o nexo causal. Conforme a gente mencionou na aula passada, qual a importncia dos elementos? que se faltar um dos elementos, no h que se falar em responsabilidade civil. Ex.: Se na responsabilidade subjetiva faltar conduta, nexo causal, dano ou a culpa no tem que se falar em responsabilidade, pelo menos a civil. Na objetiva se faltar conduta, nexo causal ou dano, no haver responsabilizao. Situao: a Juliana vinha dirigindo a 160 km/h na contramo, bbada, s quatro horas da madrugada. O que a gente vislumbraria neste caso? Se ela no atropelar ningum, se no bater em nada, no nos interessa. s a parte civil que nos interessa. No nos interessa se ela avanou o sinal (interesse do direito administrativo - cassar a carteira porque estava dirigindo na contramo em alta velocidade, etc.) Para o direito civil, s vai comear a interessar se ela atropelar algum, bater num poste, atropelar um gato, etc. Primeiro elemento: 1) CONDUTA Art. 186 do CC: Aquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia ou imprudncia, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilcito. Aquele que, por ao ou omisso voluntria.... Portanto, o artigo 186 est para aquilo que a gente chama de RESPONSABILIDADE DIRETA, ou seja, determina que o sujeito responda pelo que ele faz, pratique. Isto significa que ns somos responsveis pelos nossos prprios atos. O que a gente pode extrair deste dispositivo? Ele nos diz que aquele que com sua ao ou omisso voluntria... Ento, podemos concluir que poder haver responsabilidade por uma conduta: POSITIVA: ao; ou NEGATIVA: omisso. Deste modo, a gente visualiza duas coisas: ou eu sou responsvel por alguma coisa que eu fao (positiva uma ao); ou por alguma coisa que eu deixo de fazer (negativa omisso). A ao a situao mais simples da gente imaginar porque a ao, lgico, ela se exterioriza, ela se transparece para o mundo externo. De alguma maneira a gente consegue constatar efetivamente que ouve uma conduta que eu pratiquei, por ex., se eu bato na Juliana, lgico que isso vai se exteriorizar no mundo externo, se eu ofender tambm, porque embora seja por palavras ela vai se exteriorizar. E com isso torna muito mais fcil para a gente imaginar at uma idia de nexo de causalidade, p. ex., brigando com a Juliana eu dei um soco no olho dela, descolamento de retina, ficou roxo e tal. Ento a gente evidencia mais ou menos o seguinte: em razo da minha prtica, porque eu bati na Juliana, ela vai perder viso, descolamento de retina, vai prejudicar a viso, caso de hospital e polcia e etc. Evidente que a gente consegue facilmente constatar o nexo de causalidade, ou seja, a Juliana vai ter essa diminuio da capacidade visual em razo da minha conduta, foi meu soco quem causou o dano para ela. Ento a ao nos liga mais facilmente ao nexo de causalidade.

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De outro lado, quando a gente fala em omisso, mais complicada a sua visualizao, haja vista que a omisso deixar de fazer, a omisso no aparece, no uma coisa que eu quis fazer e sim uma coisa que eu deixo de fazer. A omisso merece certas restries, certas limitaes, porque se a gente fosse partir do pressuposto de que voc possa ligar ao nexo qualquer omisso que voc tenha praticado, em fato concreto, voc poderia se responsabilizar por tudo, por ex., o que voc doou na campanha do agasalho esse ano? Nada. Muita gente morreu este ano por causa do frio. Se voc tivesse doado talvez aquelas pessoas no morreriam. Ento a gente poderia dizer que voc responsvel pela morte do pedinte que morreu? No! Por qu? No que isso no tem nexo de causalidade, a gente poderia buscar um nexo de causalidade longnquo onde tudo pode ser responsabilizado por tudo. Concluindo: a omisso que leva a responsabilidade, a omisso de no algo que eu poderia, mas algo que eu deveria, por determinao legal ou profissional que se esperava aquilo, obrigao legal ou profissional que eu tivesse praticado, mas em razo de eu no ter feito causou o dano. Ex: acidente de trnsito policial, mdico, bombeiro e o prprio causador do acidente tm o dever de socorrer porque seno omisso de socorro. Voc como transeunte poderia ter parado, socorrido, de repente poderia at ter salvado, mas voc como transeunte no tem o dever e, por conseqncia, no tem responsabilidade. Ao passo que se voc fosse policial voc teria que agir. Se voc fosse o causador do acidente voc teria que socorrer, se voc mdico voc teria que socorrer. Para eles ns poderamos dizer, houve a omisso de socorro, omisso como um dever legal, eles tm que ter esse tipo de conscincia. Se ficar constatado que em razo da ausncia dele, que a ausncia da atividade do profissional ou do causador agravou o dano ou causou a morte, ele vai ser o responsvel. Portanto, a omisso que a gente est trabalhando, a omisso do dever legal ou profissional, aquilo que voc deveria ter feito. Outro exemplo: Nos cruzamentos com ferrovia, sempre havia uma pessoa responsvel ligar os alarmes e fechar a cancela quando o trem se aproximava para impedir o trnsito naquele instante. Vrias vezes aconteciam acidentes porque no havia a baixa da cancela. Voc at escutava o trem, mas voc no o via, s vezes ele vinha fazendo uma curva, quando voc ia cruzando, o trem pegava o carro no meio do caminho, por culpa daquela pessoa que deveria ter acionado, mas no o fez. Ento eu no estou respondendo pelo que eu fiz, por que no fui eu quem jogou o carro ou fez alguma coisa, na verdade pelo que eu no fiz, poderia ter acionado a cancela para parar o trnsito e em razo de eu no ter feito isso, aconteceu o acidente. Ento esse tipo de omisso omisso de um dever legal ou profissional que deixa de cumprir, e em razo disso sobrevenha o acidente, ele responde pela sua culpa. o que a doutrina chama de responsabilidade direta. Responsabilidade direta, lgico, recai sobre o agente causador. Ao lado dessa chamada responsabilidade direta, a gente encontra tambm uma coisa que a doutrina chama de RESPONSABILIDADE INDIRETA. Responsabilidade indireta so situaes em que no voc quem pratica o ato, mas ao ditame da lei voc quem vai, ou tambm vai responder pelo dano. No sou eu quem fiz, mas a lei diz, sou eu quem vou pagar, ou sou eu que tambm vou pagar. Fui na casa da Juliana e l tinha um cachorro. Ela me disse que ele no mordia, mas quando eu entrei, ele me mordeu. Quem que mordeu? O cachorro. Quem que vai pagar? O dono. Nessa situao a gente fala na responsabilidade indireta, voc pode nem ter praticado o ato, no foi voc quem causou o dano, mas para efeito legal voc quem vai ter que ressarcir. Na realidade, alguns doutrinadores argumentam dizendo que tanto na responsabilidade direta como na responsabilidade indireta, algum que tinha algum tipo de dever se omitiu, ex, a Juliana tinha que cuidar do cachorro, e o cachorro me mordeu, quem mordeu foi o cachorro, mas a Ju agiu de forma omissa porque ela deixou o cachorro me morder. Situao: Eu peguei o carro da Juliana emprestado e atropelei algum. A responsabilidade direta do motorista e a responsabilidade indireta do dono do carro, da Juliana, porque o carro dela, ela tinha que ter tomado mais cuidado com o carro dela. E se houvesse avisos de cuidado co bravo e cachorro feroz? Para um analfabeto ou uma criana pequena isso no quer dizer nada. Ento a gente poderia dizer o seguinte: eventualmente pode at interferir ou minimizar, mas no tira tua responsabilidade, basicamente pensaramos: por que o cachorro me mordeu? Porque o instinto do cachorro e voc sabe disso. Ento, por que voc no cuida do seu cachorro? Pois se ele me mordeu porque voc no est cuidando do seu cachorro direito. Ento voc o responsvel para efeito de reparao, voc sabe que o cachorro morde. Dentro da idia da responsabilidade indireta, est: 1) Responsabilidade pelo fato de terceiro; 2) Responsabilidade pelo fato da coisa; 3) Responsabilidade pelo fato do animal. 1) RESPONSABILIDADE PELO FATO DE TERCEIRO Responsabilidade por fato de terceiro, como eu falei, no sou eu quem pratica o ato, no sou eu quem realiza a conduta, sou eu quem tambm vou responder com a vtima. Tambm por qu? Porque ao dizer do legislador, lgico, de forma solidria, a vtima poderia acionar o agente causador direto, aquele que causou o dano, e o chamado responsvel indireto. Ento, em relao vtima, h uma solidariedade entre os dois, pra vtima os dois

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so solidrios, depois a questo da relao interna a gente vai ver em um momento posterior, mas por enquanto a gente vai trabalhar com o que? Para a vtima, a responsabilidade dos dois. Assim, pode-se tanto acionar o responsvel quanto o responsvel indireto, ou, ainda, os dois. Quando se fala em responsabilidade indireta, a anlise que se faz, leva sempre em considerao o artigo 932. * Obs.: Este artigo NO TAXATIVO! Isto significa que h outras situaes que podem ocorrer fora das hipteses do art. 932, mas as situaes fora do art. 932, a responsabilidade subjetiva. Quais so as vantagens do art. 932? 1) Nas hipteses do artigo 932, no cabe discusso quando se fala em responsabilidade indireta, porque a lei diz que responsvel e ponto final (imposio legal). Ex.: O pai em relao ao filho. Por que o pai tem que responder pelo filho? Tem as lgicas, mas tambm tem o ditame legal, a lei diz que o pai vai responder pelo filho, ento acabou a discusso, essa a primeira grande vantagem, nessas hipteses no tem que se questionar a responsabilidade por fato de terceiro. 2) Ns vislumbramos o seguinte: na evoluo da responsabilidade pelo fato de terceiro a gente constata que no Cdigo velho, esse regra estava no art. 521 mais ou menos, mas por uma questo de lobby, no Cdigo velho veio a se incluir uma regra que veio a se firmar no artigo 1523, que diz que os responsveis indiretos, responsveis pelo fato de terceiro s respondiam se provada sua culpa. O que no primeiro momento levou a uma situao de irresponsabilidade, porque para vtima ficava praticamente impossvel demonstrar culpa. Ento, vamos imaginar o pai em relao ao filho, patro em relao ao empregado, eu no sei quais foram os critrios que o patro utilizou para admitir o empregado, se eu no sei quais foram os critrios como eu posso dizer que ele errou na hora de escolh-lo? Situao B: como eu posso falar que o pai errou na criao de seu filho se eu no fao a mnima idia de como ele foi criado? Ento levou a uma situao de irresponsabilidade. No segundo momento houve uma situao de presuno de culpa. A idia que a jurisprudncia firmou, jogava a situao para presuno de culpa, na idia de que agente presume que o patro errou na hora de contratar o empregado, a gente presume que o pai errou ao criar filho, porque se tivesse contratado bem ou criado bem no tinha acontecido o ilcito. Mas essa presuno em nenhum momento levou a inverso do nus da prova, na idia de que, o patro que tinha que provar que acertou, que usou os critrios corretos ao escolher o seu funcionrio, ou o pai tinha que provar que usou os meios adequados pra educao do filho. Aps houve uma progresso: essa presuno passou a ser uma presuno absoluta, ao qual no cabia mais discusso. Veio a cominar no Cdigo atual, art. 932 caput, que diz que a responsabilidade pelo fato de terceiro nas pessoas ali do art. 932 ela OBJETIVA, ou seja, independe de comprovao da culpa. Esta mais uma vantagem do art. 932. Como dito, as hipteses deste artigo no so taxativas e so de responsabilidade objetivas. Contudo, Para se responsabilizar pelo fato de terceiro fora do art. 932, deve-se constatar um dever e provar culpa. Anlise dos incisos do art. 932: Art. 932 So tambm responsveis pela reparao civil: Inciso I os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; Trata-se da responsabilidade do pai em relao ao filho. O que a gente constata o seguinte: o pai responsvel pelo filho, mas no uma responsabilidade ad perpetua, o pai responsvel pelo filho enquanto estiver sobre sua autoridade, enquanto estiver em uma menoridade para efeitos legais. O pai responde pela conduta do filho. A vantagem que se est a conduta nas hipteses do art. 932 legal, ento, voc responde independentemente de culpa, a responsabilidade civil objetiva, porm se no estiver nas hipteses do art. 932, cai na regra geral de ser comprovada a culpa lato sensu, da responsabilidade civil subjetiva. Requisitos: 1) Relao de paternidade (civil ou natural). 2) Autoridade: autoridade representada na idia do poder familiar, ptrio poder. Ento, enquanto ele detiver esse poder familiar sobre o filho, dele a responsabilidade, o que o filho praticar de danoso quem responde o pai. Se porventura eu estiver suspenso, ou perdido esse poder familiar, esse ptrio poder, evidente que a gente no pode falar agora em responsabilidade do pai. Ento se legalmente eu perdi o ptrio poder, est suspenso o ptrio poder no sou o responsvel, ento na suspenso ou na perda, a partir da perda eu j no repondo mais pelo dano. 3) Companhia: Tambm vai responder pelo filho que tiver autoridade e o filho estar em sua companhia, o que implica, lgico, no dever de guarda. Para se imaginar: Maurcio casou com a Juliana. Tivemos um filho e nos separamos, a guarda ficou com a Juliana, eu tenho ptrio poder? Tenho, mas no tenho a guarda, o direito de guarda, a guarda pertence a Juliana. Nesse caso quem que vai responder objetivamente na forma do artigo 932, inciso I se o menor praticar algum mal, algum ato ilcito? Objetivamente a Juliana. Por qu? Porque ela tem o ptrio poder e tem companhia legal, ela tem o direito e o dever de guarda sobre a criana. E o pai? O pai no est enquadrado no art. 932, inciso I, o que no significa entanto, que o pai no vai responder por nada, estou dizendo s que ele no responsvel objetivamente, ele pode ser responsvel subjetivamente, porque ele embora ele no detenha a guarda, ele tambm detm o poder familiar, s no tem mais o direito de guarda, mas ele tem poder familiar sobre o menor.

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Justificando: aqui, o dever de guarda significa dever de vigilncia, estar cuidando, estar tomando conta, quem tem a guarda tem esse dever. Vamos imaginar a situao: voc pegou seu filho, levou pra escolinha e foi trabalhar. Na escolinha a criana pegou uma pedra e deu uma pedrada em um transeunte que vem passando, posso responsabilizar os pais? Posso porque o pai, se ele tem o poder familiar e o direito e dever de guarda a responsabilidade dele objetivamente falando, no h desculpa pra isso. Uma vez dando essa aula um aluno me perguntou: quer dizer ento que se eu levar pra escola ou deixar com a av eu sou o responsvel? Pra vtima , voc o responsvel. Quer dizer que eu tenho que ficar tomando conta 24 horas do meu filho? Sim. Isso porque at a Constituio de 1967, havia-se uma noo de famlia que vinha desde os primrdios da humanidade, baseado em: o Maurcio casou com a Juliana, somos uma sociedade conjugal. Ento uma das finalidades primordiais do casamento era a procriao, porque at ento em 1950 quem transava antes do casamento era considerada prostituta. Ento, a maternidade s poderia decorrer, de acordo com os costumes da sociedade, de uma relao de casamento, o casamento vinha pra viabilizar a procriao. O que a gente constava, por isso que o dote era muito comum, vrias vezes o dote dava a noo clara da funo social da mulher, a funo social da mulher era naturalmente parideira, a nica funo da mulher era parir, no tinha outra funo. Hoje a gente percebe que j no mais uma finalidade essencial, vital para o casamento, vamos dizer: uma finalidade secundria. At ento a Juliana era criada pra casar, ser boa esposa, parir e cuidar os filhos. Hoje a gente percebe que a funo da mulher na sociedade ela mudou, hoje ela participa ativamente, hoje a mulher criada para ser uma boa profissional (mdica, advogada, etc.). Com isso eu quero chegar no seguinte: a maternidade opo, ou voluntria ou involuntria, mas opo e um risco. Se voc optou por ter um filho, nada mais justo que voc o eduque. Voc tem a opo de educar seu filho, porque a partir do instante que voc educou seu filho ele no vai te dar problemas, agora se voc no criar seu filho voc vai responder por isso, ou passar 24 horas cuidando dele. Observaes: 1) Maioridade cessa responsabilidade dos pais. Como dito, estava em sua autoridade e companhia, no caso havendo o rompimento do ptrio poder, rompe-se a responsabilidade do pai. Ento isso interessante a gente avaliar, principalmente porque tange a idia de emancipao. A Juliana at os 18 anos, o que ela fez de errado, quem responde o pai, 18 anos j adulta, o pai pode ser responsvel? S se demonstrar culpa havendo uma situao onde ele no mais objetivamente responsvel. 2) Emancipao por casamento: a Juliana, 17 anos, casou, o casamento forma de emancipao legal, ento, a partir do instante que ela casou ela passa a ser maior, agente capaz, e como contingncia disso, cessa a responsabilidade do pai. 3) Emancipao voluntria: O que a doutrina e a jurisprudncia tm acrescentado de diferente nesse contexto, mais ou menos o seguinte: emancipao voluntria. Emancipao voluntria aquela que os pais emancipam o filho, a partir dos 16 anos eles vo ao cartrio e emancipam o filho para ele j ser responsvel por seus atos, o que a doutrina e jurisprudncia dizem? A emancipao voluntria s isenta a responsabilidade dos pais se demonstrada que ela foi feita no interesse exclusivo do menor, foi antecipada. Porque tem entendido a doutrina e jurisprudncia, que no seria justo, no seria lcito, os pais para retirar o peso de suas costas, emanciparem o filho para no terem que responder pelos seus atos. Ex.: admitamos que a Juliana recebeu uma herana do av, empresas, fazenda, gado, dinheiro, ela menor, como ela sempre foi criada com o av, como ela sabe mexer com o gado, sabe mexer com a fazenda, para que ela possa administrar e tomar conta do seu patrimnio, a gente emancipa ela, para ela poder tomar cuidado e no ficar na dependncia dos pais, at pode existir uma situao nesse contexto. Situao B: o Felipe um cara revoltado, uma pessoa problemtica, no respeita os pais, no tem noo de limite, e agora ele inventou que quer fazer cursinho em So Paulo e fazer direito na USP. Se aqui debaixo da minha asa eu no consigo controlar o Felipe, vive fazendo atrapalhadas uma atrs da outra, em So Paulo longe das minhas vistas vai ser muito pior. Qual a soluo? Emancipao. E se ele fizer alguma besteira azar o dele, eu no tenho mais nada a ver com isso, e exatamente isso que a jurisprudncia, o juiz no tem aceitado, eu vou emancipar o Felipe no porque para o bem dele, mas pensando direta ou indiretamente em excluir a minha responsabilidade, isso no teria como, no legal, ento mesmo que eu tenha emancipado, se o Felipe praticar um ato ilegal, o pai tem que responder. Inciso II o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condies; Para os tutores e curadores em relao aos tutelados e curatelados, analogicamente, aplica-se a mesma situao do inciso I, s que ao invs dos pais, tambm esse dever de autoridade e fiscalizao recaindo sobre tutores em relao a menores, e curadores sobre os demais incapazes, pois possuem uma obrigao similar dos pais. Inciso III o empregador ou comitente, por seus empregados, serviais e prepostos, no exerccio do trabalho que lhes competir, ou em razo dele; Os patres ou comitentes em relao aos seus empregados ou prepostos. Vamos dizer que h direta ou indiretamente uma situao de representao, onde o patro responde pelos atos do empregado, ou aquele que designar algum para agir em seu nome, em relao aos atos desse seu preposto. Na forma do cdigo velho, isso seria uma evoluo se atentar a chamar culpa in eligendo (culpa na escolha), uma evoluo da idia de que a partir

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do instante que voc opta que algum vai fazer o trabalho no seu lugar, voc responde pela opo que voc fez. Se eu vou designar um empregado pra exercer determinada atividade no meu lugar, se ele fizer uma bobagem quem responde sou eu, porque eu errei pessoalmente. Ou por relao ao preposto, eu podia ter feito, mas como eu mandei algum pra agir em meu nome, fazer no meu nome, eu respondo. H de se entender o seguinte: em relao a esse inciso III, o que a gente vislumbra, o Cdigo diz que o patro ou comitente em relao ao empregado ou preposto, ela existe ou ela se situa na idia do que? A responsabilidade a ocorre se o ato danoso advm desse responsvel direto no exerccio da atividade para o qual foi nomeado, ou em razo dele. EXERCCIO DA ATIVIDADE: No exerccio, cumprindo aquilo para o qual foi nomeado. Ex.: contratei o Tiago que est com capacete pra ser entregador de pizza, ento eu coloco ele pra entregar pizza, e tem os pedidos, ele vai entregar, cruza o sinal vermelho e bate num carro, para o dono do carro quem responde? Voc (Tiago) o causador direto, e eu (Maurcio) o responsvel indireto, por qu? Porque ele causou o acidente no exerccio da atividade, ele no entrega pizza? Ele no bateu a moto indo ou voltando da entrega da pizza? Mais eu no o mandei cruzar o sinal vermelho, mas foi voc que escolheu o Tiago, ento se ele indo levar a pizza ou voltando causa-se um acidente, estaria ligado ao exerccio da atividade, ele bateu porque dirigindo de moto indo entregar a pizza, ou voltando da entrega da pizza. Situao B: O Tiago tem que entregar a pizza aqui na sala do terceiro B, enquanto ele entregava a pizza ele viu o Felipe, seu desafeto, e aproveitou e deu um tiro no Felipe, quem responde? S o Tiago. Por qu? Porque no tem nada a ver com a atividade, no foi nem entregando pizza, e nem na execuo do servio, ele simplesmente praticou o ato. EM RAZO DELE (atividade): o Cdigo tambm diz que eu sou responsvel em razo do meu funcionrio, se ele pratica o ato em razo da atividade. Em razo da atividade a gente poderia colocar mais ou menos a idia do que? De imaginar que ele foi facilitado. Se no fosse a funo no teria praticado, ento no foi pelo exerccio, no isso o que ocorre aqui, mas ele facilitado, s permitido que aquilo ocorra porque exerce a condio tpica de empregado. Situao: Se o Felipe for secretaria vo deixar ele mexer nas notas da Juliana? No. Se eu for secretaria vo me deixar eu mexer no computador e nas notas da Juliana? Vo. Eu posso alterar as notas da Juliana? Se for a meu critrio eu poderia. A situao a seguinte: eu passei uma cantada na Juliana e ela me deu um corte, me deu um no, por causa disso eu vou ferrar ela. A eu vou l e vou dar trs em tudo, trs em penal, trs em processo, tudo quanto nota que ela tiver eu vou abaixar tudo pra trs. Se eu for secretaria vo me deixar usar o computador? Vo me deixar ter acesso as notas e eu vou poder mexer nas notas? Vo. O que no tem nada a ver com a minha atividade, porque eu estou indo l por um motivo diferente, s vo permitir que eu tenha acesso e possa a fazer isso por qu? Porque eu sou professor. Ento no foi no exerccio, isso no faz parte das minhas atividades, a faculdade no me mandou fazer isso, mas eu sou facilitado pela funo que eu exero, eu sou professor e eu posso mexer nas notas. Houve situao que eu achei interessante alguns anos atrs, que foi o seguinte: o sujeito era segurana do shopping, e aps seu horrio de expediente ele estava saindo do shopping armado, e os seguranas do shopping sabiam que ele estava saindo armado. Durante uma discusso no estacionamento por causa de uma vaga, ele deu um tiro e matou um cliente do shopping. Posso responsabilizar o shopping? Digo quanto ao exerccio da funo que seja diferente de, por ex., um policial, durante uma batida, uma blits disparasse um tiro e matasse algum. Teve aquele caso bem antigo em que um policial durante uma blits discutiu com um cara, o cara indo embora o policial pegou a arma, deu um tiro e matou o cara, foi no exerccio, ele estava a servio e tal, ele estava fazendo uma blits, mas no exerccio ele acabou excedendo e acabou matando algum. Mas a gente imagina o seguinte, se ele pratica o ato, tipo assim: chega um bombeiro e diz que esto tendo um problema, houve um tremor de terra e as estruturas de algumas casas esto abaladas, e eles esto fazendo uma fiscalizao na rea pra ver se h algum risco de desabamento de alguma casa. Se voc forem l ele no vai deixar entrar. Mas por que deixa o bombeiro? Porque ele bombeiro. Nem que ele no esteja l em horrio de servio, nem fardado, mas ele s vai poder entrar porque ele bombeiro. Situao dois: vai l um funcionrio da telefnica e diz: ns estamos com alguns problemas em algumas casas que em algumas ligaes elas esto cruzadas, ento as ligaes da senhora podem ter sido ouvidas por outras pessoas ou estarem grampeadas, e a gente est fazendo fiscalizao nos pontos pra poder verificar o porqu desse problema, ela deixaria o funcionrio da telefnica entrar? Deixaria. Voltando ao exemplo do segurana: Por qu que esse cara estava andando armado no shopping? Porque ele era segurana e todo mundo sabia que ele estava saindo do servio e porque segurana pode andar armado. Ento permitiam e ponderavam porque ele segurana, se fosse qualquer outra pessoa que sabe que est armado teria sido preso. S pode praticar o ato porque estava facilitado pela sua funo, e o que o Cdigo diz, ou no exerccio, fazendo aquilo para o qual foi contratado, ou facilitado por isso.

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Aquela histria l do motoboy em So Paulo que pegava as menininhas estuprava e matava. Por que nunca quiseram processar o patro? Porque nunca foi no exerccio, ele era motoboy e fazia entregas de pacotes, no era moto-txi. Ento seria diferente, voc vai montar na moto de qualquer cara que vocs desconhece? Se fosse um mototxi que voc tivesse ligado, voc liga e chama o moto-txi, voc sairia com ele? Voc nunca viu a cara, mas mesmo assim voc montaria. Por que? Porque est na funo. E se ele para no meio do mato estupra e mata? S foi permitido e facilitado porque ele est na funo de moto-txi. Agora o motoboy, fazia entrega de pacotes, ele nunca cometeu o crime no exerccio, e nem facilitado por ele. E ele dizia pra moas o que? Que ele era fotgrafo, voc linda vamos fazer umas fotos e no sei o que, vamos l. Seria diferente se ele fosse mesmo fotgrafo, se ele fosse fotgrafo da Editora Abril. Voc uma moa bonita, vamos l comigo tirar umas fotos de repente voc aparece na Playboy. A voc at poderia ir. Se ele fosse l te estuprasse e matasse, haveria responsabilidade da Editora? At haveria, porque eu s consegui aquilo porque eu fui facilitado pela minha funo, eu era mesmo fotgrafo da Abril. AULA N. 03 DIREITO CIVIL III PROF. MAURCIO - SNTESE DA AULA PASSADA Na aula passada ns estvamos analisando os elementos da responsabilidade civil objetiva e subjetiva. Na objetiva, a responsabilidade civil derivada de uma conduta assumida que leva uma idia de risco. Na subjetiva (regra geral) no basta a conduta, tem que se comprovar que o agente agiu com culpa, ou seja, que o agente agiu intencionalmente, com negligncia, imprudncia ou impercia (tem que haver necessariamente resqucios de culpa na conduta). Vimos, ento, que quando se trata de responsabilidade civil objetiva, devem estar presentes trs elementos (conduta, nexo causal e dano). J na responsabilidade subjetiva h um quarto elemento, qual seja, a culpa. Comeamos a falar sobre o primeiro elemento conduta. A primeira responsabilidade e a lgica natural a responsabilidade direta, atravs do qual voc paga pelo que voc fez. Portanto, o sujeito causador do dano vai pagar pelo que provocou, quer seja por sua ao, quer seja por sua omisso. Falamos tambm da responsabilidade indireta no fui eu quem causou o dano, mas eu tambm vou responder por ele (no causei o dano diretamente). Normalmente essa responsabilidade deriva de um fato onde a gente vislumbra que o sujeito falhou em algum ponto e por isso ter que pagar, mas o ato em si no foi ele quem provocou. Ao falar sobre a responsabilidade civil indireta, ns passamos a comentar sobre: 1) Responsabilidade pelo fato de terceiro; 2) Responsabilidade pelo fato da coisa e 3) Responsabilidade pelo fato do animal. Ns comeamos a falar sobre a RESPONSABILIDADE PELO FATO DE TERCEIRO. Estvamos comentando sobre as hipteses do art. 932 do CC e dissemos, primeiramente, que este dispositivo no taxativo. Vimos que a vantagem deste dispositivo reside no fato de que em suas situaes no cabe discusso. Ex.: O pai responde em relao aos atos do filho. Por qu? Porque pai e pronto. No cabe discusso, trata-se de uma imposio legal. A responsabilidade nestes casos objetiva. Outras pessoas tambm poderiam eventualmente ser responsabilizadas, mas haveria a necessidade de demonstrar a culpa. Comeamos a analisar os incisos do infra citado dispositivo: Inciso I os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; Responsabilidade do pai em relao ao filho. O pai em relao ao filho enquanto menor possui o chamado poder familiar. O pai tem dever de alimentao, educao e dever de vigilncia em relao ao filho - se algo acontecer, a responsabilidade lhe pertence. Como vimos, a responsabilidade neste caso objetiva, independendo de culpa. Inciso II o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condies; Responsabilidade dos tutores e curadores em relao aos seus tutelados e curatelados. Vimos que a mesma situao dos pais, ou seja, possuem os mesmos deveres educao, alimentao, vigilncia, enfim, todos os deveres que um pai tem em relao ao filho. Inciso III o empregador ou comitente, por seus empregados, serviais e prepostos, no exerccio do trabalho que lhes competir, ou em razo dele; Responsabilidade dos patres ou comitentes em relao ao empregado ou preposto. Quando eu voluntariamente indico algum para aja em meu nome, eu assumo a responsabilidade por ele. aquilo que na origem do CC velho se falava sobre culpa in eligendo (culpa na escolha). Neste caso, assim como nos outros deste artigo, no interessa se o sujeito agiu com culpa ou no, a responsabilidade objetiva (o indivduo responder por sua escolha). Portanto, se escolho algum para agir em meu nome e este algum comete um ato ilcito, eu sou obrigado a reparar, desde que o ato tenha sido praticado no exerccio daquilo pelo qual foi nomeado ou em razo dele.

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Hipteses: - exerccio do ato pelo qual foi nomeado. Ex.: Eu contrato um segurana para a minha loja e este espanca um indivduo. Eu no mandei bater em ningum, vou ter que responder? Sim. Fui eu quem o escolhi e como ele agrediu uma pessoa enquanto estava fazendo a segurana, a responsabilidade minha (empregador). - em razo do ato pelo qual foi nomeado. Dentro do havamos falado na aula passada, este em razo dele significa o fato de o a gente ter se favorecido. O ato somente acontece, isto , somente possvel porque ele funcionrio. Se no fosse isso, o sujeito no praticaria o ilcito. Ex.: Indivduo usando o uniforme da Telefnica pede permisso para checar a linha do telefone, mas na verdade ele deseja grampe-lo. Voc somente vai deix-lo entrar exatamente porque ele funcionrio da Telefnica, ou seja, ele favorecido pelo fato de ser funcionrio da referida empresa. Outro ex.: Um funcionrio saiu da empresa no fim do expediente e foi para um boteco da esquina com o uniforme. L ele encontra um desafeto e o agride. Neste caso, o agredido poder processar o empregador? No, haja vista que o sujeito no estava em servio e nem fez isso por estar favorecido por ser empregado. O fato de estar l com o uniforme da empresa no significa nada. diferente se o sujeito fosse policial, ex, o indivduo entra fardado no boteco e solicita ao proprietrio um cmodo para levar o seu desafeto e l espanclo. O proprietrio somente consentiria pelo fato dele ser policial, ou seja, o sujeito estaria sendo favorecido pela sua condio. * Observao: lembrem-se que o que fora dito se aplica uma responsabilidade objetiva, contudo, no exclui eventual responsabilidade subjetiva. Responsabilidade subjetiva em que contexto? Se puder provar culpa do empregador (ainda que fora do exerccio da atividade), ele eventualmente tambm poderia vir a ser responsvel. Repetindo: essa responsabilidade que ns estamos tratando a responsabilidade objetiva, no exerccio da atividade ou facilitado em razo da atividade, no exclui eventualmente uma responsabilidade subjetiva em razo da culpa, ou seja, no sendo no exerccio da funo ou fora da atividade em que de repente decorresse uma situao onde voc teria essa facilitao. Inciso IV os donos de hotis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educao, pelos seus hspedes, moradores e educandos; Hotis, Penses, Motis, Hospedagens, enfim, onde se receba por dinheiro em razo de seus hspedes. Vale a mesma regra em relao s escolas (estabelecimentos de ensino) em relao aos seus educandos. Ento, se algum ato ilcito praticado pelo hspede, na condio de hspede, quem responde para a vtima tambm o hotel (motel, etc.). Se algum ato praticado por aluno durante o perodo de aulas, dentro do estabelecimento, em relao vtima quem responde tambm a escola. Nestes casos a gente poderia processar tanto o responsvel direto, no caso do primeiro exemplo o hspede, como tambm o responsvel indireto hotel. *Observaes: 1) A gente tem que observar pressupostos para o enquadramento do ato neste inciso. Tal pressuposto que se receba por dinheiro (obs.: a expresso usada pelo CC albergue por dinheiro). Portanto, tanto faz tratar-se de um hotel, quanto de um motel, ou mesmo estabelecimentos de ensino, mas necessariamente tm que ser pagos, pois se fossem gratuitos no se enquadrariam nesta situao. Ex.: Recebo algum gratuitamente em minha casa. Se esta pessoa vier a causar algum ato ilcito, a minha responsabilidade ser nula. Mas se eu, p. ex, moro na praia e alugo um quarto um conhecido meu e este pratica um ato ilcito, eu tambm serei responsvel pelos prejuzos. O mesmo ocorre em relao aos estabelecimentos de ensino se tiver recebido gratuitamente, no h falar-se em responsabilidade. Vamos supor que algum resolva fazer um ato de solidariedade e resolva alfabetizar o pessoal de um bairro pobre da cidade (ato voluntrio) no h responsabilidade pelos atos dos educandos. Agora, se esta pessoa cobrar, ela ser responsvel pelos alunos. 2) Escolas Pblicas. A no ser que estivermos diante de uma situao do tipo amigos da escola (ato voluntrio), as escolas pblicas respondem pelos atos de seus alunos. Justificativa: escolas pblicas so pagas (professores recebem, diretores, enfim, todos os funcionrios recebem. Ademais, ns pagamos atravs dos impostos). 3) Instituies de Ensino Superior. Faculdades, Universidades, etc. Entende a doutrina e a jurisprudncia se posiciona neste sentido que os estabelecimentos de ensino superior no se enquadram na hiptese do inciso IV. A justificativa que os alunos que cursam ensino superior j possuem idade e inteligncia o suficiente para saber o que certo e o que errado e no compete faculdade tomar conta destes. Portanto, no haveria necessidade de vigilncia constante, assim como necessrio se ter nas outras instituies de ensino, at pela prpria funo social destas ltimas, qual seja, educao, formar capacidade intelectual e moral dos alunos, e nas instituies de ensino superior no, nestas a nica finalidade ensinar uma profisso. * Mas porque este entendimento se estende apenas s instituies de ensino superior? Qual a justificativa de, p. ex, em um motel haver a responsabilidade por este inciso j que a entrada permitida apenas a maiores de idade?

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Como dito, no se aplica aos estabelecimentos de ensino superior porque os alunos j possuem idade e INTELIGNCIA o suficiente para entender o que certo e o que errado. A maioridade no significa nada para muitas pessoas que embora completaram 18 anos, no possuem capacidade para compreender certas coisas, j que muitos no tm a oportunidade de estudar, ler jornais, revistas, internet, ou seja, no possuem a mesma capacidade intelectual de uma pessoa que esta cursando ensino superior. Estes obrigatoriamente passaram pelos 1 e 2 graus, vestibular e agora cursam faculdade. Concluindo: as pessoas que cursam uma faculdade possuem capacidade intelectual muito melhor que a maioria da populao, que possuem livre acesso a hotis, motis, etc. Isso no quer dizer que os estabelecimentos de ensino superior no tenham responsabilidade! Eles possuem, mas no a do inciso IV, ou seja, no tm responsabilidade objetiva, contudo, possuem responsabilidade subjetiva (tem que comprovar a culpa). Ex.: Trote. Se a faculdade verifica que podem ocorrer trotes violentos contra calouros nos limites de sua propriedade, o que esta tem que fazer? Impedir, colocando seguranas, etc., isto , no pode ser omissa, dado ao fato de que poderia ser responsabilizada. Para tanto, h que se provar a culpa da instituio (no caso do exemplo, tem que se provar a omisso). Inciso V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, at a correspondente quantia. Diz respeito a responsabilidade daqueles que gratuitamente concorreram para o produto do crime. Estas pessoas so responsveis at o limite daquilo que se beneficiaram. Ex.: Trs indivduos (A e B) resolvem assaltar uma joalheria. A doa um relgio do crime para seu amigo, que sabe do crime realizado. B faz o mesmo e doa uma corrente a uma amiga, contudo a pessoa para quem ele doou no sabe do crime. O que o CC diz? Neste caso, pouco importa se o indivduo sabe ou no que o bem de origem criminosa, pois os dois (A e B) em relao vtima (joalheria) vo responder de forma indireta (por bvio, de forma direta vo responder aqueles que praticaram o crime) at o limite em que foram beneficiados (vai poder ser cobrado de A o relgio e de B a corrente). Justificativa: Na lgica do legislador, se a gente parar para imaginar, quem tenha participado gratuitamente, na pior das hipteses, respondendo pelo produto do crime, no perder nada. Por isso que o CC diz que eles respondem, pois no perderam nada, pouco importando se sabiam ou no do crime. E quem concorre de forma onerosa? Quem concorre de forma gratuita no perde nada, agora quem concorre de forma onerosa no, por isso que o legislador tenta proteger o terceiro de boa f. Se algum compra uma jia sem saber (e no tinha como saber) que era de origem criminosa, tem que se proteger este terceiro. Ex.: A comprou uma corrente de ouro por 50 reais e B comprou por 800 uma jia que vale mil reais de um indivduo. B est de boa f, pois no sabe e nem tinha como saber que a jia era produto de crime, pois pagou um valor muito prximo do real, por isso ele ser tutelado (terceiro de boa f).A certamente sabe que produto de crime ou deveria ao menos saber, haja vista que pagou por uma pea um valor muito aqum do real. Portanto, ele est de m f culpa! Desta feita, ela responder at o limite daquilo que ela se beneficiou (responsabilidade subjetiva agiu com culpa!). Assim, quem participa gratuitamente responde objetivamente pelo que se beneficiou e quem participa onerosamente somente responde se provada a culpa (responsabilidade subjetiva). REGRESSO Em relao vtima, os responsveis diretos e indiretos so solidariamente responsveis. Portanto, a vtima pode acionar tanto o responsvel direto, quanto o indireto, ou ainda, se preferir, poder acionar ambos. Resolvida a questo externa, ou seja, resolvida a questo entre os responsveis diretos e indiretos em relao vtima, como fica a relao interna (relao entre os prprios responsveis)? Art. 934 CC Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz. Quando o responsvel indireto repara o dano, este poder regressar contra o responsvel direto (causador do dano). Quanto? Poder ser cobrado no regresso, via de regra, tudo o que foi desembolsado para ressarcir o dano (100%). Pode ocorrer o inverso? Ou seja, pode o responsvel indireto regressar contra o direto? Por bvio no. Dever arcar com a reparao do dano aquele que o causou o dano diretamente. Mas porque ento o responsvel direto tambm responde? Como fora dito, ambos so solidariamente responsveis em relao vtima! A idia do legislador foi fazer com que a vtima tenha mais garantias para ter o seu dano reparado e, no final das contas, quem vai ter que arcar com o prejuzo o causador do dano (responsvel direto), nem que seja via regresso. *Art. 934 CC ...SALVO se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz EXCEO.

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No poder haver regresso se o responsvel direto for descendente do responsvel indireto, absoluta ou relativamente incapaz (obs.: Inovao em relao ao CC velho. Este proibia o regresso contra descendente. Com o CC novo, no basta o agente ser descendente, tem que ser tambm incapaz). Ex.: Meu filho causa um dano a outrem e eu reparo tal dano. Eu no poderei regressar contra o meu filho. O av tutor ou curador de uma pessoa repara um dano causado por este. Ele tambm no poder regressar contra o neto. E se o tio for tutor? No caso do tio, assim como os demais colaterais, poder regressar, haja vista que no ascendente do causador do dano. Questo: Este regra poderia gerar uma situao de injustia. Ex.: A possui 17 e te um irmo (B) de 20 anos. Este ltimo responsvel, cursa faculdade, faz estgio, no bebe, no fuma, etc. A vai um baile e bebe bebida alcolica. No final do baile esta pessoa pega o carro de algum para dirigir e acaba colidindo com diversos carros. Como vimos, o pai ter que reparar o dano causado por A. O pai que possua um patrimnio de aproximadamente 1 milho de reais teve que desembolsar 500 mil reais pelos danos. Esta formulao acabar prejudicando o irmo, que sempre se comportou bem, pois o patrimnio que iria receber via sucesso reduziu em metade. Soluo apresentada pelo CC COLAO. Esses valores que o pai teve que gastar em indenizaes de atos ilcitos, o herdeiro inocente poderia chamar de volta colao. Ento, no caso do exemplo acima, j que quando o pai morreu somente possua 500 mil de patrimnio, 250 mil seria de A e 250 mil seria de B. Mas, B pode fazer com que os 500 mil que foram gastos com indenizao volte colao, ou seja, 500 mil para cada um (A no receber, pois j os recebeu quando o pai teve que indenizar). Portanto, uma forma de se fazer um acerto atravs do instituto da colao! RESPONSABILIDADE CIVIL PELO FATO DA COISA Neste caso, o agente responde pelas coisas que lhe pertence. Para melhor compreenso, vamos imaginar as seguintes hipteses: Se voc tivesse uma criana em casa, voc deixaria uma faca sobre o sof? Voc deixaria uma faca na gaveta da cozinha? Voc deixaria uma folha de papel na sala? Voc deixaria um revlver na gaveta da cozinha? Facas eventualmente podem ferir. Agora, a arma s existe uma funo matar. Voc at poderia deixar a faca na gaveta da cozinha, mas o revlver no. Eu estou falando isso para que vocs entendam que todo e qualquer objeto possui um risco inerente. Papel pode ferir? Eventualmente pode, mas muito mais difcil de ferir do que com uma faca e muito mais ainda do que um revlver, que muito mais perigoso. A idia do CC que para algum ter algo, tudo questo de opo e agente tem que pagar por nossas escolhas. Segundo ponto: j que voc possui um bem, o que se espera que voc faa? Cuide deste bem. J que voc escolheu ter, ento voc que cuide da coisa e se responsabilize por ela. Cada objeto tem um potencial de perigo diferente. Por isso que agente aceita que voc deixe um papel sobre o sof, mas jamais uma faca. A faca exige um cuidado muito maior do que com um pedao de papel. Quanto mais perigoso o objeto, maior a proteo que deve ser dispensada. Guardei minha arma sobre o armrio. Est bem guardado? Parece que no. Guardei na minha gaveta de roupas, est bem guardada? Tambm no. Por sua periculosidade, a arma necessita de um cuidado especial. isso que a gente tem que ponderar. Alguns autores dizem que a responsabilidade objetiva se a coisa for usada para um ato ilcito. Parece mais lgico dizer que a responsabilidade subjetiva com presuno de culpa. Voc, a princpio, responder, a no ser que voc prove que guardou com o cuidado preciso em razo do objeto. Tem um julgado que extremamente interessante caso concreto: Furtaram um carro de algum. Ao fugir ele atropelou uma senhora. Tal senhora processou o dono do carro. Ele dever responder? Depende. Como que furtaram o carro? Fora guardado com o cuidado preciso? Ex: Eu estacionei o meu carro no estacionamento da Toledo e o deixei trancando e com o alarme acionado. Mesmo assim o ladro o furtou. Eu respondo? No, pois agi com o cuidado preciso. Agora, se o agente deixa o seu carro aberto, com as chaves no contado (como ocorreu o caso em concreto), ele no agiu com o cuidado devido. O julgado entendeu que ele dever responder, haja vista que no dispensou ao carro o cuidado devido (o carro um objeto perigoso). Se for procurado no CC uma regra especfica, no encontraremos nada sobre esta responsabilidade. Trata-se de uma construo doutrinria. Ns temos no CC sobre a responsabilidade da coisa apenas duas regras voltadas questo de edificao. - Art. 937 do CC O dono do edifcio ou construo responde pelos danos que resultarem de sua runa, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta. Obs.: - Edifcio = edificao pronta; - Construo = edificao em obra. - Runa = parte ou o todo do edifcio ou construo que cai. Ex.: reboque que solta da parede. O dono do edifcio ou construo responde pela runa se esta decorre da falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta. Devemos entender o seguinte: Se ruiu porque precisava de reparos! Tanto precisava de reparos que ruiu. O que somente seria possvel ao dono alegar que a runa se deu, no pela falta de reparos, mas de uma situao fortuita (situao externa). Ex.: A parede da sala desaba sobre o Tiago. A princpio quem o responsvel?

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A Toledo. Suponhamos que uma pessoa tenha trombado com o carro na parede e a derrubado sobre ele. Neste caso a Toledo poderia ter excluda a sua responsabilidade no foi por falta de reparos. Portanto, a culpa exclusiva de terceiros, o caso fortuito ou a fora maior poderia excluir a responsabilidade. Questo: Vamos supor que eu tenha colocado a minha filha na escola da Juliana. A minha filha atirou um brinquedo para fora e acertou o Tiago que estava passando de moto pela rua. Ele caiu da moto, machucou-se e teve sua moto deteriorada. Quem o responsvel direto? A minha filha. E o responsvel indireto? Eu (pai) e a escola da Juliana. Se houver o pagamento ao Tiago, quem pode regressar contra quem, porque e por quanto? AULA N. 04 DIREITO CIVIL III PROF. MAURCIO - SNTESE DA AULA PASSADA Na ltima aula a gente estava falando sobre responsabilidade civil de fato de terceiro, ento a gente falava que a responsabilidade por fato de terceiro decorre daquela antiga noo de culpa in eligendo, e eu responderia por que eu indico algum pra agir em meu nome. A diferena que no Cdigo isso ficou com uma anlise de responsabilidade objetiva, a partir do instante em que algum age em meu nome eu falo de responsabilidade objetiva desde que caracterizado dentro daquelas situaes do artigo 932 menor sobre a responsabilidade da famlia; tutor ou curador em relao ao curatelado; o patro pelo seu empregado; o preposto, no exerccio da profisso, no exerccio da atividade se for facilitado por esta, escolas ou hotis em relao aos estudantes e aos hspedes, e quem concorre gratuitamente ao benefcio tambm. Vimos tambm as possibilidades de regresso, onde o justo e o correto seria que aquele que agiu de forma ilcita, ou seja, o agente causador direto, seja quem pague pelo dano que ele causou, afinal de contas foi ele quem provocou tudo aquilo. O Cdigo apresentou pra gente a idia da possibilidade de que, se o responsvel indireto for quem pagar a indenizao, ele poder regressar contra o responsvel direto a fim de se ressarcir daquilo que houver desembolsado, daquilo que houver gasto. Como dissemos, via de regra, 100%. Ento, se eu for fazer regresso eu vou regressar contra o agente que cometeu o ilcito em 100%, salvo exceo que ns trabalhamos naquela histria do prprio Cdigo que ele mesmo menciona no art. 134, quando ele diz esta regra no tem aplicao quando o responsvel direto for descendente seu e incapaz, (absoluta ou relativamente incapaz, no importa). Nesse caso a gente poderia regressar, e, como dito, quando muito ns s admitiramos que por via do instituto da colao voc pudesse vir fazer um acerto. Na realidade poderia acertar com os demais herdeiros, uma vez que, sentindo-se prejudicados pela conduta ilcita causada pelo irmo, filho, etc, ele pudesse vir a recobrar aquilo, acertar aquilo via o instituto da colao. Observao: essa lgica que foi passada, a princpio se regressa em 100%, e se quem pagou foi o responsvel direto no h regresso contra o responsvel indireto. Ento eu sou o patro da Juliana. Se eu tiver que pagar alguma indenizao por algum ato ilcito que ela tenha praticado, eu poderei regressar contra ela em 100%. Agora, se ela que paga, resolve-se o problema e no tem mais o que acertar. Entretanto, lgico que pode sofrer variveis, existem situaes que podem afetar essa lgica desse regresso, e poderiam interferir no montante que vocs poderiam calcular. Ex.: Vamos imaginar uma situao, aquela histria de que eu tenha dado uma orientao pra Juliana, ela est consertando uma TV e eu digo, vai l e corta o fio vermelho, ela corta o fio vermelho e explode. Lgico, ela responsvel direta, mais houve interferncia indireta da minha culpa, eu agi de forma errada e isso a tambm vai ser utilizado, vai ser avaliado pra efeito de reparao, no que diz respeito a esse direito de regresso. Ento se eu paguei tudo e for ressarcir contra a Juliana, teria que ser computado a minha interferncia de culpa tambm, porque ela s agiu, s cortou o fio vermelho porque essa foi a orientao que eu passei pra ela. Da mesma maneira se ela que paga, tambm no justo que ela fique com 100% do prejuzo, uma vez que a conduta dela teve origem direta na minha orientao, ento isso seria dividido futuramente, vamos ressarci-la. Mas numa situao como diz o Cdigo, objetiva, teoricamente onde no houvesse culpa da minha parte, mas simplesmente ilicitude da conduta do responsvel direto, a Juliana, seu eu pagar, eu regresso 100%. Eu deixei uma pergunta pra vocs na aula passada, onde ns imaginamos o seguinte: eu contratei uma bab pra tomar conta da minha filha, ou coloquei minha filhinha na escolinha. Enquanto sobre a vigilncia da bab, ou da escolinha, a minha filha pegou uma pedra ou um brinquedo, jogou por cima do muro, acertou na cabea de algum, poderia ser um ciclista que passando caiu e se machucou, responsvel direto, quem o responsvel direto? A criana, quem que cometeu o ilcito? Foi a minha filha que jogou alguma coisa e derrubou o ciclista, ele o responsvel direto, aquele que com sua ao ou omisso. Quem que agiu e com isso causou uma leso no ciclista? A criana, ela a responsvel direta. Responsvel indireto? A escola e os pais, ela tem dois responsveis indiretos, a escola, porque estava dentro da escola, e o pai porque pai, responsabilidade objetiva, 932 inciso I. admitamos que,

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para efeito da vtima, ns dissemos, somos solidariamente responsveis, ento em tese, o ciclista teria a possibilidade de acionar a escola ou o pai porque pai, e teoricamente tambm a criana porque ela foi a agente causadora direta. Ento pra efeito dele h uma solidariedade, pode acionar todo mundo, pode acionar a parte dele, pode acionar um deles, do jeito que ele bem entender . E a pergunta que eu fiz foi: admitindo que um deles pague, quem regressa contra quem? Por que? E por quanto? 100%? 50%? 80%, etc? Quem pode regressar contra quem? Os pais podem regressar contra escola? Nesse caso, aquilo que acabei de falar pra vocs, que no regresso pode haver elementos que geram interferncia, ento voc poderia no regresso ter essa interferncia. Situaes que poderiam vir a ter interferncia: somos casados em separao de bens. Ento, cada um tem o seu, nosso filho apronta, um processado ou os dois so processados, mas s um que paga, penhoraram dinheiro da minha conta e etc, mas s um que paga. Eu posso regressar contra a esposa? Posso 50%. Por que? J que ns somos casados em separao de bens, cada um tem o seu patrimnio, cada um tem o seu, metade do problema seu, metade dos direitos so seus, metade meu e metade seu, ento metade de cada um. Nesse caso, nesse problema anterior que eu passei pra vocs, o que a gente apuraria seria mais ou menos o seguinte, quem arcaria com o prejuzo integral no final das contas seria a escola, ento se a escola pagar morreu o problema, se os pais pagarem eles podem regressar em 100% contra a escola. Justificativa, o que no tem nada a ver com responsabilidade civil, mas tem haver com que o Tiago falou de pagamento, contrato, porque eu contratei a escola e pago pra ela cuidar e vigiar o meu filho, mesma coisa que aconteceria com bab. Lgico, para a vtima, eu pai sou sempre responsvel, mas isso pra vtima, agora o nosso acerto na relao interna, a gente vai ponderar nas questes que nos envolvem, e o que nos envolve aqui que eu pago pra escola tomar conta do meu filho, no horrio de aula pra tomar conta do meu filho enquanto eu vou trabalhar e isso a, se por ventura eu for obrigado a pagar, porque meu filho aprontou alguma coisa, sinal que a escola no est cumprindo a parte dela no contrato, h um descumprimento contratual, ela responderia pelo vcio que ela est causando. - RESPONSABILIDADE CIVIL PELO FATO DA COISA (continuao) Na aula passada a gente comeou a falar sobre a idia de responsabilidade pelo fato da coisa, e ns adiantamos que todo e qualquer objeto tem um risco que a gente pode chamar de risco natural, risco inerente, alguns maiores, alguns so menores, mas todo objeto vai transferir esse risco. O que eu disse pra vocs? Primeiro, ter ou no ter objeto so opes. Opes individuais e cada um tem a sua, voc pode ter ou no ter um carro, ter a moto ou no ter a moto, cada um tem as opes que acha mais adequada. Agora, o que ns tambm apuramos na aula passada? Ns apuramos mais ou menos o seguinte: ns consideramos que, no justo, no correto que voc trate todas as coisas de forma igual, porque todos os objetos no so iguais, em potencial no que diz respeito a sua potencialidade e o seu perigo. Dentro disso nos falamos sobre a situao em que voc at deixaria eventualmente uma folha de papel, uma folha de mercado, um folder, aspecto de loja jogado no sof da sala, mas a gente j no aceita que voc deixe jogada uma faca. A gente aceita que voc guarde a faca na gaveta da cozinha, mas no aceite que voc guarde o revlver na gaveta da cozinha. E cada um deles tem um grau em potencial de risco, perigo, e cada um deles merece a cautela proporcional a esse risco que ele causa, desse modo o que ns mais ou menos pensamos? Ns dissemos que se por ventura o seu objeto foi utilizado por um objeto que leva a um dano, via de regra, a responsabilidade sua, salvo se voc provar que guardava com o cuidado preciso, ou seja, guardava com a cautela que merecia o objeto em razo do perigo que ele representava. Tanto que eu disse pra vocs, h algumas decises que so interessantes, tipo: furtaram um carro e o ladro em fuga acabou atropelando uma pessoa, o dono do carro teve que pagar. Justificativa: o carro no estava guardado com o cuidado preciso, e a situao dele ser furtado foi facilitada porque voc largou em uma condio oportuna pra que isso acontecesse (ex.: deixar a chave no contato, deixar a porta destravada, etc.). Vamos trabalhar com essa sistemtica, isto , a princpio vrios autores falam em responsabilidade objetiva, que esta seria uma responsabilidade objetiva quanto a coisa. Segundo o professor, tal responsabilidade seria muito mais subjetiva com presuno de culpa. A gente admite que voc possa provar que guardava sua coisa com o cuidado preciso, ou seja, que eu tomei as cautelas pra guardar aquilo que me pertencia, que eu no errei, eu no agi com culpa, ento seria mais uma noo subjetiva. Entretanto, responsabilidade civil pelo fato da coisa, ele no tem uma regra nesse contexto dentro do Cdigo, na verdade ns s temos duas regras lgicas que falam sobre responsabilidade pelo fato da coisa, que esto mais ligadas a questo de edificaes. Art. 937 O dono de edifcio ou construo responde pelos danos que resultarem de sua runa, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta. 1 Regra. O art. 937 apresenta a responsabilidade do dono do edifcio ou construo - leia-se o dono do imvel. Edifcio so paredes, telhado, etc, j realizadas. Construo a obra em realizao, est em construo, ainda no foi acabada, mas o edifcio a que ele se refere essa edificao j acabada. Se fosse um galpo, as

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pilastras e a cobertura j so suficientes pra caracterizar o edifcio. Ento ou ele j est pronto, ou ele est sendo montado. O dono do edifcio ou construo responde pelos danos causados pela sua RUNA. De que se trata essa runa? A runa diz respeito a parte ou todo do edifcio que cai. Ento ou o edifcio desaba, ou parte do edifcio desprende e cai. Ex.: telhas que se desprendem e cai, parte do reboco que cai, etc. Em Maring tinha um prdio que era todo pastilhado, e ele estava soltando. Tinha um toldo de uma loja embaixo que estava todo perfurado, ento do jeito que caa ele j perfurava, caa sobre os carros que estavam estacionados, nunca caiu sobre ningum, mas isso a idia de runa. Poderia ser runa ento, uma luminria que cai, poderia ser runa um ar condicionado que desprende, porque faz parte do edifcio, faz parte da construo porque foi agregado. Diz o Cdigo: o dono do edifcio ou construo responsvel pelos danos provocados pela runa, desde que essa runa seja decorrente da falta de reparos cuja necessidade fosse manifesta. E assim uma situao interessante, ento no o fato de simplesmente ruir, ruir pela falta de reparos, falta de consertos, cuja necessidade fosse manifesta. Quando a gente vai avaliar necessidade manifesta? Vamos imaginar que esse ar condicionado aqui se desprenda e caia, ou essa luminria se desprende e cai, ou est caixa de som se desprende e cai. Nas trs hipteses, quando que ns vamos mandar poder processar a Toledo? Voc percebeu que tem uma rachadura na parede em baixo do ar condicionado? Normalmente essas rachaduras de ordem diagonal so problemas de estrutura. Quando na horizontal, normalmente problema de acabamento, voc no espera o cimento assentar, a voc vem e j faz o reboco, mas quando na diagonal problema de estrutura, e a rachadura comea exatamente no buraco aonde quiseram colocar o ar. Em quais hipteses a Toledo responsvel? Na realidade, o grande problema que (esse dispositivo basicamente a mesma coisa que havia no Cdigo velho) trs que se a gente imaginasse: depois que ruiu lgico que a aparncia nunca vai ser boa, houve alguma coisa que rompeu, caiu, quebrou. Ento vai haver uma aparncia de desastre, e muitas vezes a prova complicada, porque a prova pericial logo de cara, se feita logo aps o fato ocorrer impossvel verificar se efetivamente houve ou havia necessidade anterior. Em razo disso, o que se tem adotado um critrio que j vem sendo utilizado h uns quarenta. Ele dizia assim: se ruiu porque precisava de reparos. Como a gente falou, alguma coisa est errada, se ruiu precisava de reparos, tanto precisava de reparos que ruiu, se no precisasse de reparos e estivesse tudo certo no tinha rudo, se caiu, se ruiu porque algum problema existia. Ento haveria uma presuno da responsabilidade do dono. Toda vez que houvesse a runa, ns presumiramos que alguma coisa estava errada. Competiria ao dono a prova que o fato foi decorrncia de um fator externo que no a falta de reparos. Ex. Eu tinha feito um pacote, estava mandando via rea at que o airbus bateu num prdio e caiu em cima do meu pacote. Eu vou processar a Tam porque a laje caiu em cima do meu pacote e estragou aquilo que eu estava mandando. Evidentemente vai ser demonstrado que a queda da laje no foi problema estrutural, no foi problema do edifcio, a queda da laje foi por conta do acidente do airbus. Deste modo, se for demonstrado o dono isenta-se de responsabilidade, se no for demonstrado seria o responsvel. Outro ex.: Uma senhora foi se esconder da chuva e entrou em um prdio alugado para a agncia dos correios. Ela entrou no prdio e em razo da chuva o prdio desabou, matando-a juntamente com dois funcionrios. Discusso: at que ponto haveria responsabilidade do dono do prdio? Porque a alegao que se fez foi a seguinte: De fato, naquele ano choveu demais, choveu um absurdo em toda regio sul, passou praticamente 40, 45 dias chovendo. Todas as estradas estavam tudo esburacadas por causa do excesso de chuva. Esse prdio ficava em Santa Catarina. L o terreno muito acidentado, tudo fica no meio de morro, ento so morros e a cidade est l no meio, e essa agncia do correio ficava bem no p do morro. O excesso de chuva caia gua abaixo, e por uma convergncia de terreno todo esse excesso de chuva, que no era absorvido pela terra, acabava convergindo no mesmo ponto, e formava praticamente um rio, e desaguava bem no meio da parede do prdio, e em decorrncia desse excesso de gua a parede no suportou mais a presso e desabou. Haveria responsabilidade do dono do prdio? Nessa situao especfica com essas caractersticas no, ele pode provar que com esse excesso de chuva e a canalizao em cima da parede que acabou gerando isso como conseqncia, e no foi nem uma chuva, foram 40 dias de chuva castigando, jorrando direto aquela gua ali, e no tinha o que fazer, no tem como contornar essa situao, no tinha como fazer essa paralisao. Todavia, competiria a ele fazer essa demonstrao, e isso tudo foi apurado. Art. 938 Aquele que habitar prdio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que de que carem ou forem lanadas em lugar indevido. 2 Regra. Este artigo diz respeito a coisas que no so mais integrantes do imvel, mas objetos slidos ou lquidos que so atirados ou derrubados. Um vaso derrubado, lata de cerveja, casca de banana, slidos ou lquidos. A quem pertence responsabilidade se esses objetos so atirados ou que so derrubados vier causar dano? Pelo que diz o art. 938, pertencem ao morador, no est ligado ento a propriedade, est ligado ao morador, aquele que

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habitar no todo ou em parte o edifcio responsvel pelos objetos que carem ou forem atirados. Porque morador? Porque o morador ou ele atirou, ou ele sabe quem atirou, porque dentro da casa dele s est quem ele permite. Assim eu aciono o morador e se ele souber quem foi ele regressa contra quem tenha praticado diretamente o ato. Em um condomnio de apartamentos, condomnio vertical, se um objeto foi atirado ou derrubado a quem pertence responsabilidade? A todo o condomnio. O Cdigo diz aquele que habitar no todo ou em parte ento todos podem ser acionados. Deste modo, para a vtima, paga o condomnio, depois eles se acertam entre eles. H algumas decises que admitiram nessa histria do acertam entre eles, principalmente entendendo que dentro da relao de condomnio poderia ser limitado isso da, por ex., se porventura a gente sabe quem que causou o ilcito, o condomnio poderia ir direto nessa pessoa. Contudo, para vtima quem paga o condomnio, em regresso a gente poderia regressar eu sei que foi o Tiago, ento o condomnio paga e depois regressa contra o Tiago. Lado inverso: mesmo no sendo possvel, algumas decises tem admitido que nessas situaes que o morador possa provar impossibilidade dele mesmo ter praticado o ilcito, excluir-se dessa partilha do condomnio. Por ex. Eu tive um problema num prdio, e durante um perodo que choveu muito tambm a tubulao no conseguiu dispensar toda a gua, e em conseqncia da gua se acumulando nas calhas, como ela no conseguiu descer pela tubulao ela desembocou para dentro, acabou parando dentro do prdio e empoou a laje, e apesar de ter sido passado um produto para impermeabilizar ela no suportou aquele excesso de gua. Tinha praticamente uns 20 cm de gua. Ento ela acabou absorvendo e a minha sala que ficava no ltimo andar, chovia mais l dentro do que do lado de fora. Quando deu uma secada a gente foi ver o que tinha acontecido, a calha no deu conta, porque as sadas dgua estavam entupidas, entupidas porque tinham l, sacos plsticos, latas de cerveja, casca de banana, camisinha usada, etc. Do lado do meu prdio tem um prdio residencial, nesse caso considerando que a minha sala no sexto andar, na hora de acionar a gente poderia acionar o condomnio como um todo, mas na hora de partilhar quem seria responsvel? Do stimo pra cima. Por que do stimo pra cima? Porque como a minha fica no sexto, quem est no sexto se jogar vai pra baixo, mas do stimo pra cima quem jogar pode cair pra dentro do telhado, o que previsvel, se voc est do stimo pra cima ia jogando e ia acumulando em cima do telhado, e foi esse fator que acabou sendo utilizado. Ento caracterizado que no h como determinadas pessoas terem praticado o ilcito, elas poderiam ser excludas. Aconteceu uma situao dessas onde foi excluda a parte de trs do condomnio. Em um condomnio de apartamentos, quatro apartamentos, dois na frente e dois no fundo, alguma coisa foi atirada, pegou em algum na rua, as pessoas que moravam na parte do fundo do prdio pediram pra ser excludas, porque elas no poderiam ter atirado. O prdio no tinha playground e nem salo de festas, ento no havia um lugar onde todo mundo poderia estar naquele instante, s poderia ento ter praticado esse ilcito quem mora na frente, s os da frente poderiam ser responsabilizados, mas isso em uma relao interna, entre eles. Para a vtima o responsvel o condomnio. - RESPONSABILIDADE PELO FATO DO ANIMAL Art. 936 O dono, ou detentor, do animal ressarcir o dano por este causado, se no provar culpa da vtima ou fora maior. Nesse caso, tal como os objetos, a responsabilidade pelo fato do animal decorre da opo de voc ter determinado animal, o que implica no fato de que voc vai ter que guardar o animal com o cuidado preciso e necessrio para que ele no cause danos a algum. O Cdigo diz que os danos provocados pelo animal vo ser indenizados pelo dono ou detentor. Ento se eu deixo o meu cachorrinho com a Juliana para ela ir passear, somos responsveis: o Maurcio (dono) e a Juliana que est como detentora, guardi do animal. O Cdigo diz no art. 936, que essa responsabilidade s no ocorreria se provada culpa da vtima. Vamos estabelecer como critrio no s culpa da vtima, mas culpa exclusiva da vtima, caso fortuito e/ou fora maior. Ento no sendo uma dessas situaes, entende-se a responsabilidade pelos danos provocados pelo animal. Ex.: Uma tem um buldogue e na casa dela embaixo o gradil bem fechado, bem estreito, e em cima mais aberto, ento at determinada altura, gradil duplo, mais fechado e em cima ainda mais aberto. Um moleque atentado ia l e vivia provocando o cachorro, at que em dado momento ele colocou a mo l para provocar o cachorro e o cachorro deu mordia na mo do moleque. A me do moleque foi l reclamar com o dono. O dono tem alguma responsabilidade civil em relao ao moleque? Em uma situao ao menos mais simples de imaginar: a gente pode falar que o meu cachorro fugiu e foi l e deu uma mordida no moleque, bom responsabilidade minha. Eu lembro quando eu era moleque, a gente tinha sempre um problema porque voltando da escola pra casa, tinha um senhor l que tinha um cachorro, era um pastor alemo, e quando a gente passava l e estvamos l brincando e correndo, e daqui a pouco quando a gente passava s via o cachorro, e o cachorro quando estava solto vinha igual um louco, e o muro era na altura de uma janela, muro baixo. O que significava que quando o cachorro estava solto, a gente ouvia o latido e j tinha que sair correndo porque esse muro baixo ele pulava. Lgico, se esse cachorro morde algum na rua, responsabilidade do dono, se tem um cachorro com esse porte e um muro desse tamanho, evidente que o cachorro vai conseguir pular, e lgico que voc no est aguardando seu animal como deveria, principalmente

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por ser um cachorro grande. Ento um cachorro como todo e qualquer animal irracional, morde de forma instintivamente, voc deveria guardar com outro tipo de cautela. Vacas, animais na pista, ento fugiram algumas vacas da minha fazenda e adentraram a pista, vai algum e atropela a vaca ou o cavalo, lgico que a responsabilidade do dono do animal, se o animal dele ele deveria cuidar pra eu no conseguisse fugir, se fugiu porque no est guardando com a cautela que deveria. Mas nesse caso o moleque foi l e enfiou a mo pra dentro, pra provocar o animal, e da? Culpa exclusiva da vtima ento? Deixa-me fazer uma pergunta pra vocs: porque o cachorro no mordeu o p do menino? Porque no passa o p, mais fcil colocar a mo do que o p. A idia que me parece est mais ou menos no seguinte: evitvel? Dava pra ter evitado? Ento vamos pensar de outro lado, voc tem um cachorro bravo, muito bravo, algum poderia enfiar a mo l intencionalmente ou acidentalmente. Voc poderia ter evitado que nesse caso o cachorro mordesse algum? De repente se fosse interia a grade no poderia ter evitado? E depois que o cachorro mordeu, o dono desse animal colocou tela na grade, e interessante porque depois que ela colocou essa tela o cachorro no mordeu mais ningum, por qu? Porque impediu que as pessoas coloquem a mo e o cachorro no morde mais ningum. O dono do cachorro e da casa est errado? Ela responsvel pela reparao? Como vimos no foi por culpa exclusiva da vtima. Tem que pagar? Tem, pois foi opo dele ter um cachorro. Agora eu quero que vocs entendam, quando eu digo que o dono a responsvel, eu estou querendo usar essa expresso a contrrio censo de dizer, no, ela no tem responsabilidade alguma, ela no pode simplesmente dizer, h ele colocou a mo, tudo bem ningum est dizendo que o moleque acertou, ningum est dizendo que o moleque est certo, que os pais desse menino esto certos. errado, lgico que est errado. O que eu estou dizendo pra vocs : o dono tambm no est certo, porque ele sabe que tem um animal em casa, sabe que isso pode acontecer, pode evitar, mas no o faz. Ento o que vai acontecer? Quando eu for processar, voc vai acabar fazendo uma responsabilizao dele lgico, mas ele no vai acabar pagando isso de forma integral, isso vai ser dividido conforme cada um tenha participado do evento, a culpa de cada um. Ento voc vai dizer, ele agiu com culpa, mas uma culpa leve, uma culpa pequena, o menino que est bem errado porque ele colocou a mo l pra ficar atentando o cachorro, ou os dois esto igualmente errados. Ento voc vai fazer uma ponderao em relao ao ato que est sendo praticado, e a fazer uma diviso dentro das responsabilidades. Vamos dizer, o moleque gastou R$ 500,00 na farmcia tomando vacina e etc. Nessa diviso ns entendemos o seguinte: est bem errado o dono porque ele sabia que os moleques passavam l provocando o cachorro e ele no fazia nada, mas o moleque tambm est errado. Portanto, os dois agiram igualmente errados, 50 % pra cada um. Se entendermos que o menino est mais errado, est mais errado porque no tinha nada que enfiar a mo por dentro da grade, ento vamos dividir em 60 e 40. Se entendermos o menino est muito mais errado, o ato dele muito mais errado do que o dela, porque no s pra provocar, mas pra qualquer outro ato ele no poderia estar enfiando a mo na casa dos outros, ento 70 e 30, 80 e 20, isso vai servir conforme a anlise que a gente fizer da conduta de cada um. Mas o que eu quis, e o que eu acho que a gente deve ponderar sempre so o seguinte: o que ns no podemos nessa situao excluir a responsabilidade do dono do cachorro, porque completamente certo ele no est, e a excludente que o Cdigo apresenta o que? Culpa exclusiva da vtima, e isso no acontece (ou caso fortuito e fora maior). Uma coisa que vocs j deve ter percebido que o Cdigo fala s em fora maior. Normalmente caso fortuito, quando ocorre por caso fortuito ele engloba tambm a fora maior e vice-versa. At porque no h uma definio exata e precisa do que seja fora maior. Assim ns vamos entender que a excludente englobaria tanto caso fortuito ou fora maior. A responsabilidade do dono do animal ou do detentor poderia ser medida em face de umas dessas. O que ns avaliamos at agora? Primeiro o elemento da responsabilidade. Como eu falei pra vocs, a gente avaliou primeiro o elemento da responsabilidade conduta para saber exatamente porque que eu quero que voc pague o prejuzo. Eu no posso simplesmente eleger algum. Ex.: Estouraram o vidro do meu carro e quem vai pagar o Tiago. Por que o Tiago. Porque ele tem dinheiro. Isso no justificativa. Ento tem que haver alguma situao que justifique o porqu dele est vinculado ao ressarcimento, ao pagamento. O que ns consideramos? Ou pela minha conduta, fato prprio; ou por fato de terceiro, no foi ele que fez, mas ele tem um vnculo com o que o terceiro fez e, por isso, torna-se responsvel; ou, ainda, pelo fato da coisa ou fato do animal. O Tiago tem um cachorro que vive na rua, o cachorro ficou mordendo at estourar o meu pneu, ento ele o responsvel porque ele o dono do animal. Desta maneira a conduta que vai justificar esse elo de ligao que vai fazer com que o sujeito seja o responsvel por aquela ao dentro dessas hipteses que ns vimos.Vamos passar agora para o estudo do segundo elemento da responsabilidade civil, qual seja, nexo de causalidade. 2 elemento da responsabilidade civil: NEXO DE CAUSALIDADE Qual que a grande idia do nexo de causalidade? O nexo de causalidade eu tenho de um lado uma conduta, uma ao ou omisso, uma prova, um fato de terceiro, fato de animal, alguma coisa, e de outro eu tenho

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um dano. O nexo de causalidade aquele elo que vai fazer a ligao, que vai fazer a ponte entre essa sua conduta da prova, responsabilidade por fato de terceiro ou de animal; e o dano que eu quero ver ressarcir. Nexo de causalidade tem a prpria designao constando causa e efeito, que minha conduta seja causa do qual deriva o efeito dano. Nexo de causalidade Conduta---------------------------------------Dano Quando vocs estudaram Direito Penal, qual foi a teoria que vocs adotaram sobre nexo de causalidade? Chama-se Teoria da equivalncia de causas ou condicio sine qua non. Parte do press